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0 PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL Relatos e Experiências de Quem Vive de Cultura Rodrigo Gava (ORGANIZADOR) Allan Gustavo de Sales Tibúrcio Alice Sanches Melo Amauri Rocha Brendow de Oliveira Fraga Doris Dornelles de Almeida Eduarda Nogueira Vieira Fernanda Márcia Souza José Ricardo Vitória Magnus Luiz Emmendoerfer Marcelo Soares Andrade Patrícia Lima Rodrigo Gava Sérgio Lopes Wescley Silva Xavier

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

0

PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL R e l a t o s e E x p e r i ê n c i a s d e Q u e m V i v e d e C u l t u r a

Rodrigo Gava

(ORGANIZADOR)

Allan Gustavo de Sales Tibúrcio

Alice Sanches Melo

Amauri Rocha

Brendow de Oliveira Fraga

Doris Dornelles de Almeida

Eduarda Nogueira Vieira

Fernanda Márcia Souza

José Ricardo Vitória

Magnus Luiz Emmendoerfer

Marcelo Soares Andrade

Patrícia Lima

Rodrigo Gava

Sérgio Lopes

Wescley Silva Xavier

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

1

Rodrigo Gava

(Organizador)

PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL

Relatos e Experiências de que Vive de Cultura

1ª edição

Viçosa – MG Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – UFV

(Programa de Educação Tutorial em Administração – PET-ADM) 2014

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

2

FICHA TÉCNICA

Organizador: Rodrigo Gava

Diagramação: Rodrigo Gava

Capa: Rodrigo Gava e Tomás Carneiro Roland Gava

Acabamento: Rodrigo Gava

© 2014. Todos os direitos reservados - Rodrigo Gava

A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos

direitos autorais (Lei nº 9.610). O conteúdo expresso em cada capítulo deste livro é de

responsabilidade exclusiva de seus autores.

Informações e Contato:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

Departamento de Administração e Contabilidade - DAD

Av. P.H. Rolfs, s/n, Campus Universitário - Centro

36571-000 - Viçosa, MG - Brasil

Telefones: (31) 3899-2892 / Fax: (31) 3899-2429

Homepages: www.dad.ufv.br / www.pet.ufv.br

FICHA CATALOGRÁFICA

Produção e gestão cultural: relatos e experiências de quem vive de cultura / Organizador: Rodrigo Gava

2014 Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2014.

140p. : il. ; 23cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-66482-06-5 (e-book)

1. Cultura. 2. Produção cultural. 3. Gestão cultural. 4. Programa de Educação tutorial. – Viçosa, Minas Gerais. 5. Desenvolvimento social. 6. Ensino Superior e Estado. I. Gava, Rodrigo, 1970-.

CDD 700

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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APRESENTAÇÃO

Em 2009, retornando ao Departamento de Administração e Contabilidade após meu

treinamento de doutorado, tive a oportunidade me colocar à disposição do Colegiado deste

departamento para assumir o Programa de Educação Tutorial em Administração, à época sob

responsabilidade do Prof. Adriel Rodrigues de Oliveira, do qual se afastava.

Naquele momento, minhas impressões sobre o PET tinham vínculos diretos com minha

graduação, momento em que eu, bolsista de Iniciação Científica, frequentava algumas das

atividades do PET organizadas pelos próprios alunos. Mantive, desde então, a imagem de um

espaço privilegiado para estudos e discussões que avançavam frente ao que víamos nas

disciplinas, o que colocava os petianos numa posição de destaque dentre os graduandos.

Cerca de 20 anos depois eu viria a ter a oportunidade de trabalhar com o grupo.

consolidada minha entrada como tutor do PET-ADM, o início foi de muito mais aprendizado

que ensinamentos. Os petianos ralmente eram alunos de destacada dedicação e compromisso

nas atividades que justificam o programa, como será possível ver em detalhes no primeiro

capítulo deste livro.

Considerando a importante missão de fomentar a formação cidadã dos integrantes,

ampliando sua visão de mundo ao considerar temas pouco explorados na graduação, e, assim,

avançar frente à precoce especialização técnica a que costumam ser expostos, é que

chegamos ao tema da cultura.

Como pode ser visto no capítulo que dediquei ao programa, começamos lendo O Povo

Brasileiro, de Darcy Ribeiro, e daí partimos para diversas outras contribuições que iniciaram os

petianos em temas do pensamento social brasileiro sobre nossa realidade histórica. Essa

aproximação à cultura brasileira e suas empressões artísticas vierama culminar no I Seminario

de Gestão Cultural, em 2012.

Neste seminário, vivenciamos uma tarde de discussões sobre a produção cultural local

com vários de seus promotores, à sombra de uma árvore no quintal da Divisão de Assuntos

Culturais, na Vila Gianetti. Esta primeira experiência de aproximação aos produtores culturais

locais ainda contou com quatro palestras que nos encantaram a todos; Amauri Rocha, Patrícia

Lima, Sérgio Lopes e Marcelo Andrade, cujos depoimentos estão aqui registrados.

Mantendo o tema da cultura em nossos planejamentos anuais nos anos de 2013 e

2014, chegamos ao II Seminário de Gestão Cultural, já circunscrito diante de compromissos

assumidos junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

Aliás, este e-book também faz parte dos produtos prometidos a esta fundação.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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O livro tem seus capítulos antecedidos pelo Prefácio de Wescley Silva Xavier, cuja

dedicação aos estudos organizacionais relacionados ao marxismo, estética marxista, produção

cultural, produção crítica do espaço e aos estudos históricos, passou a ser parceiro direto de

meus trabalhos de pesquisa e extensão ligados à questão cultural.

Sua chegada ao DAD representou uma ampliação significativa aos interessados nesses

temas. Fortalece-se, assim, pelo meu ponto de vista, o aprofundamento no exercício da crítica

fundamentada, que amplia os limites das percepções enlatadas e superficiais, geralmente

diagnosticadas por uma sequência linear e segura por resultar de numa dinâmica de

pensamento superficial e de fácil apego ao aparente, não a seu emaranhado novelo de

complexidades subjacentes. Meu tempo como tutor no PET-ADM se aproxima do fim, mas a

parceria iniciada nesses momentos de II Seminário já sinalizam para uma agenda de profícua

produção em nossos projetos de pesquisa e extenção no tema.

Seguindo ao prefácio, inauguro o Capítulo I do livro com um resgate das ações do PET-

ADM no tema da cultura, quando aproveito para trazer maiores esclarecimentos sobre o

próprio programa, tanto em âmbito nacional como naquilo que nos caracteriza como o PET-

ADM/UFV. Além disso, procuramos contribuir um pouco com o que marca a produção cultural

em Viçosa. Para tanto, nos dedicamos a um intenso trabalho de codificação e descrição da

produção cultural local a partir do que foi noticiado de 1985 a 2013 no Jornal da UFV e no

Jornal Folha da Mata. Apesar de ser apenas um breve resgate descritivo, o arquivo contendo

todos os dados codificados podem ser acessado na página do facebook do PET-ADM para os

interessados em proceder a novas explorações dos dados. Talvez aí resida uma contribuição

importante para pesquisadores de quaisquer níveis.

O Capítulo II é de autoria do Prof. Magnus, também do DAD, e explora os museus

universitários e a dinâmica das visitações que recebem, especialmente buscando relações

entre suas representações e as implicações para sua gestão em Viçosa. Já a Profª Doris

Dornelles, do Departamento de Dança da UFV, assume a autoria do Capítulo III, com um

emocionante depoimento sobre a (sua) vida de bailarina. Esses três capítulos encerram a

primeira parte do livro, que procura, nessas contribuições, trazer um pouco da UFV na cultura.

A segunda parte é toda dedicada a pessoas diretamente dedicadas à produção cultural

local, quando são expostos seus relatos e experiências. São aqueles que, de fato, vivem de

cultura, seja por amor ou, além disso, por ter adotado a produção e ou realização de bens

culturais e artísticos como profissão.

Eessa parte se inicia com o relato de Patrícia Lima, cuja trajetória de vida artística

guarda tamanha riqueza que é inimaginável, até este momento, não haver um resgate de seu

trabalho. Sabendo da raridade de seu tempo disponível, optamos por entrevista-la, o que foi

realizado com o apoio de um gravador que garantisse a integridade do depoimento. Para a

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elaboração deste Capítulo IV tivemos o apoio de José Ricardo Vitória e Bárbara Calçado Lopes

Martins, a quem coube todo esforço de transcrição e redação final do relato, que, finalizado,

foi encaminhado para a devida validação de Patrícia.

A mesma dinâmica decidimos proceder com Marcelo Andrade, no Capítulo V,

contando, neste caso, com o apoio de Brendow de Oliveira Fraga e José Ricardo Vitória.

Marcelo tem larga contribuição com a questão cultura, com atuações nos dois lados,

mantendo ativa agenda de produção e de atuação ao longo de sua vida. É um grande orgulho

podermos ter aqui registrado seu depoimento.

O Capítulo VI foi de autoria de Sérgio Lopes, amigo de infância que mantém a arte de

conjugar a medicina com uma consistente e crescente produção cultural por meio do ViJazz e

da Vi Produções. Participar de tais eventos sempre me faz agradecer pela possibilidade de

poder frequentar shows em Viçosa da qualidade musical que tem marcado o ViJazz. Meu

desejo é de que mantenha sua habilidade de conciliador profissional, pois as duas profissões

que assumiu são carências há muito tempo presentes em Viçosa.

Ainda nas discussões no DAD sobre o formato do livro e do seminário, entre o Prof.

Magnus, o mestrando José Ricardo Vitória e eu, houvi pela primeira vez sobre o trabalho do

Allan Tibúrcio frente ao Centro de Pesquisa e Promoção Cultural (CEPEC), ONG sediada no

Município de Araponga/MG, a cerca de 60 km de Viçosa. Ao participar da palestra dele no II

Seminário, fiquei impressionado com quanta ação de valorização da cultura do povo da Serra

do Arrepio e proximidades. Este foi o conteúdo do Capítulo VII, onde consta registrado todo

trabalho do CEPEC para o resgate, a preservação e a divulgação cultural da região, desde 2003.

Deixo aqui meus parabéns e minha admiração pelo trabalho que realizam.

O último capítulo, Capítulo VIII, conta com um breve relato de Amauri Rocha. Amauri

assume a coordenação e direção geral da AMAR Produções, uma equipe de profissionais

especializados em diversas áreas da cultura, com o objetivo de promover o desenvolvimento

da arte e da cultura, a profissionalização do setor e a otimização dos recursos obtidos através

de patrocínios, políticas de fomento e leis de incentivo, principalmente. Sua experiência revela

a riqueza de quem atua nas duas pontas de processos voltados para a captação de recursos

para a promoção cultural, uma vez que tanto auxilia aqueles que procuram apoio para buscar

os recursos quanto é concultor do próprio Ministério da Cultura nas avaliações para a

concessão dos recursos. Seu papel na produção local e extra local já acumula destaques pelos

êxitos como pode ser percebido não só em seu depoimento como de Sérgio Lopes, sobre o

caminho do sonho de se fazer o ViJazz.

Para maiores conhecimento e busca de informações sobre os autores, após o capítulo

VIII deixamos um resumo descritivo de cada um deles, assim como seus contatos.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Para finalizar, é já assumindo o risco de me olvidar de nomes, faço questão de deixar

especiais agradecimentos aos estimados petianos envolvidos com o tema da cultura, de seu

início até a realização do II Seminário. São eles, Anderson de Oliveira Reis, Andira Luiza Felipe

Barreto, Andressa de Paula Felizardo, Brenda Rodrigues Galvao, Brendow de Oliveira Fraga,

Bruna Alves Almeida, Bruno Lima da Silva, Bruno Ribeiro Targaglia, Bruno Rodrigues Lima

Madeira, Cinthya de Freitas Silva, Emanuelle dos Reis Costa, Felipe Rodrigues Cruz, Fernanda

Souza Tibúrcio, Fernando Luiz de Castro, Gabriela Brandao Lopes, Gabriela Cruz Caldeira

Teixeira, Guilherme Guimaraes Reis, Helio Junior Borel Emerick, Humberto Rodrigues

Marques, João Pedro Sobreiro, Jhenyffer de Souza Lima Coutinho, Joao Carlos Oliveira Mota,

Joao Paulo de Oliveira Louzano, Juliana Andrade Cambraia, Laiana Gonçalves Sabioni, Leticia

Moreira Andrade, Lívia Riboli de Oliveira Alves, Lucas Durso Neves Caetano, Luiz Felipe Leite

dos Reis, Lusvanio Carlos Teixeira, Maria Julia Clemente Vecchi, Marina De Carvalho Almeida,

Pamela Maria Martins de Oliveira, Patrick Guimaraes Figueiredo, Rafael Morais Pereira,

Raphael Araujo Dutra, Sabrina Olimpio Caldas de Castro, Samantha Karine de Oliveira Ferreira,

Samuel Teixeira Lopes, Tamiris Cristhina Resende da Silva, Thais de Souza Amaral, Thiara

Pereira Chiarello e Veronica Silva Ricardo. Adicionou aqui o ex-petiano e hoje meu orientado

de mestrado Marcelo de Oliveira Garcia, sempre disponível e solícito,e specialmente nos

momentos em que o tempo corre mais do que conseguimos acompanhar.

Também agradeço muito a todos que participaram como palestrantes nas duas edições

do Seminário e aos autores que aqui possibilitaram a reunião dos depoimentos. Dentre os

palestrantes, gostaria de destacar a participação de Jeane Doucas (Casa da Mãe Jeanne) e

Carlos Marques (Musical Box). Adicionais agradecimentos à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura

(PEC) e à Divisão de Assuntos Culturais (DAC), especialmente ao Prof. Gumercindo Souza Lima

e Geraldo Leandro da Silva Filho, dos respectivos setores.

Esta iniciativa teve o objetivo de tornar mais visível este trabalho, algo cumprido com

os benefícios de seu formato digital (e-book), no entanto, nossa expectativa é de que

possamos ampliar o resgate de novos depoimentos ainda não contemplados e lançar, em

versão impressa, uma segunda edição.

Desejo uma boa leitura!

Rodrigo Gava Organizador

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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SOBRE O ORGANIZADOR

Rodrigo Gava

Doutor em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV) (2009); Mestre em Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) (2000); Especialista em Gestão Estratégica de Marketing pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) (1997) e Graduado em Administração pela UFV (1995). Preside a Comissão Permanente de Propriedade Intelectual da UFV (CPPI), Coordena a Rede Mineira de Propriedade Intelectual (RMPI) e é Membro Nato do Conselho de Tecnologia e Inovação (CT&I), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FIEMG, e Tutor do Programa de Educação Tutorial em Administração da UFV (PET-ADM/UFV). É Professor do Departamento de Administração e Contabilidade (DAD) da UFV, onde leciona e pesquisa na área de Administração, com ênfase em Organizações, Inovação e Desenvolvimento e Metodologia de Pesquisa Aplicada à Administração.

Email: [email protected]

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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SUMÁRIO

PREFÁCIO

Wescley Silva Xavier.............................................................................................................. 09

PARTE I – UM POUCO DA UFV NA CULTURA

O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM ADMINISTRAÇÃO (PET-ADM/UFV) E O TEMA DA CULTURA: ENTRE DISCUSSÕES TEÓRICAS E O REGISTRO DA PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL

Rodrigo Gava ....................................................................................................................... 14

MUSEUS UNIVERSITÁRIOS E VISITAÇÕES: REPRESENTAÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA A SUA GESTÃO EM VIÇOSA (MG) – BRASIL

Magnus Luiz Emmendoerfer, Alice Sanches Melo, Fernanda Márcia Souza e Eduarda

Nogueira Vieira .................................................................................................................... 36

VIDA DE BAILARINA

Doris Dornelles de Almeida .................................................................................................. 49

PARTE II – RELATO E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

PATRÍCIA LIMA E O NÚCLEO DE ARTE E DANÇA

José Ricardo Vitória, Patrícia Lima e Bárbara Calçado Lopes Martins ................................. 61

MARCELO ANDRADE

Brendow de Oliveira Fraga, Marcelo Soares Andrade e José Ricardo Vitória ...................... 82

VIJAZZ, DO SONHO À REALIDADE

Sérgio Lopes ......................................................................................................................... 97

O CEPEC E AS AÇÕES DE RESGATE E PRESERVAÇÃO CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO

Allan Gustavo de Sales Tibúrcio e José Ricardo Vitória ........................................................ 121

ELABORAÇÃO, CAPTAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS: UM RELATO PESSOAL

Amauri Rocha ....................................................................................................................... 134

SOBRE OS AUTORES ........................................................................................................... 137

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

9

PREFÁCIO

Wescley Silva Xavier

O campo da administração tem se mostrado cada vez mais aberto à incorporação de

temáticas que vão muito além da busca pela eficiência típica em organizações capitalistas.

Essa abertura tem se consolidado como tomada de posição, tanto por permitir a inclusão de

formatos organizacionais historicamente esquecidos, quanto por incorporar temáticas para

além da esfera produtiva. A cultura como objeto de estudo não foge a esta tendência. Pelo

contrário, permite tanto a tomada de posição quanto incursões por abordagens menos

pragmáticas.

Não obstante as possibilidades, o mergulho no campo da cultura pode apresentar

armadilhas. Nesta seara, emancipação e preservação identitária podem facilmente cambiar

para aprisionamento e comercialização de identidades. Desde já me posiciono a favor da

cultura para os primeiros fins/meios, sendo este o fio condutor da argumentação aqui lançada.

O sentido de cultura como resultado da capacidade produtiva do homem remete muito

além dos produtos culturais. Etimologicamente, a palavra cultura origina-se do verbo colere.

Cultura representava o cultivo e o cuidado com plantas, animais e tudo que se relacionava a

terra, ou exatamente, agricultura – percurso este muito bem ilustrado nas obras de Terry

Eagleton e Marilena Chauí. Em complemento, o termo cultura era utilizado para tratar do

cuidado com as crianças, sua educação e o desenvolvimento de suas virtudes naturais;

puericultura. Sob outro aspecto, a filósofa húngara Hannah Arendt destaca que este cuidado

com a educação referia-se ao cultivo do espírito, sendo a cultura também atrelada ao cuidado

com os deuses, os ancestrais e seus monumentos, recobrados pela memória.

A partir do século XVIII, o termo cultura incorpora novos significados. Marcado pela

substituição da fé pela razão, no século XVIII os ideais iluministas são consolidados, bem como

as bases positivas para o desenvolvimento da ciência, da libertação do homem do período das

trevas. O ideário progressista ressoa na própria condição de vida da população,

particularmente na Europa, e encontra na cidade seu locus de manifestação, de forma que a

cidade seja vista como produto da razão e o rural do empirismo.

Esta transição implica em uma cultura mediada pela educação formal, enquanto

instrumento de transformação do espírito humano. Espírito este que se manifesta como um

campo ordenado e produtivo de ideias e comportamentos que caracterizam o ethos de um

homem educado, e que portanto, se afasta da ideia de natureza humana pura. Assim, o

homem se projeta não como produto da natureza, mas como produto de uma sociedade,

naquilo que ela apresenta de melhor. Este processo se desenvolve sob os pilares do

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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conhecimento acumulado que designa à cultura um caráter de saber. Por consequência, o

homem de cultura possui instrução, espírito cívico e público.

Estabelece-se aqui um ponto fundamental para o processo de elaboração da cultura a

partir de uma base racional, reflexiva. Para o crítico literário britânico Raymond Williams, o

termo cultura articula-se, ora positiva, ora negativamente com o termo civilização. Derivado

do latim cives e civitas, civilização referia-se ao civil dado à ordem social – sociedade civil.

Contudo, o significado de civilização extrapolava o sentido civil, representando um estado de

perfeição, uma etapa evoluída do desenvolvimento histórico-social, remetendo à ideia de

progresso.

A cultura enquanto produto é historicamente imersa neste mecanismo de distinção,

inclusão e exclusão, de modo que o processo histórico de produção artística tem sido colocado

como espectro distintivo no decorrer da história da humanidade. A busca pela distinção de

classes dominantes e o advogar das atividades exercidas por parte desta classe, num

ordenamento que assume um ar de naturalidade, é responsável por estabelecer quem deve

empregar seus esforços no processo de transformação produtiva clássica e aqueles que

destinam seu tempo ao desenvolvimento de formulações científicas e artísticas. Dessa forma,

a distinção se daria em preservar a legitimidade de alguns grupos em produzir e ditar o que

deve ser encarado como produção artística/cultural, e de outro lado, a existência de uma

massa que destinaria seu tempo ao trabalho convencional.

Apesar do caráter aprisionador, a importância da inserção cultural através de

determinadas produções artísticas confere a possibilidade de determinadas manifestações

culturais excluídas operarem a resistência frente à produção da cultura mediada pelo capital,

pelo Estado, enfim, pelos grupos que exercem hegemonia. A hegemonia constitui-se pelas

relações de atividades que podem ser fixadas e que apresentam capacidade de controlar e

produzir mudanças sociais. Seu caráter dinâmico se dá nas alterações de acordo com as

condições históricas, cujas mudanças auxiliam a manutenção da dominação.

A cultura pode tornar-se resistência quando assume sua capacidade criativa, quando se

remodela, permanecendo intacta às investidas de grupos hegemônicos, ou mesmo se

apropriando destes a fim de tornar-se um movimento coletivo pela vida, e por conseqüência,

potencializar alternativas. Este campo de batalha se opõe evidentemente frente à concepção

acadêmica de cultura, cujo pressuposto está ancorado no conhecimento formal, em

conformidade ou rompendo com o estabelecido, mas erguido sob o mesmo pano de fundo. A

resistência através da cultura emana do movimento oposto a esta dualidade que se estabelece

com os aspectos formais, estabelece-se sobre a base dos saberes construídos empírica e

historicamente, na própria luta pela vida.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Estabelece-se aqui uma situação de ambiguidade profunda, na qual apesar do potencial

da arte para que problemas sociais possam ser superados, é intensa a imputação da

manifestação artística como expressão subjetiva do homem capaz de deflagrar um processo

transformador que tenha reflexos no próprio indivíduo. À arte recai a conotação do belo, a

capacidade de tornar algo esteticamente aprazível, métrico, consonante ao classicismo

historicamente imposto. Além disso, assim como na ciência, ao artista recai certa genialidade

e capacidade criativa que o distingue dos trabalhadores comuns cujo processo de

transformação produtiva se baseia na própria capacidade corporal, dando continuidade à

distinção daquilo que deve ser considerado cultura.

A oposição a este aprisionamento seria a tomada de posição do homem frente aos

problemas sociais através da arte, em conexão com os problemas concretos de ordem tanto

econômica quanto social, e assim, determinando a originalidade da obra de arte. As produções

culturais necessitam conter em si tomadas de posições justas frente aos conflitos da vida, aos

problemas da época, sejam estas posições positivas ou negativas, expressando

adequadamente o partidarismo do artista.

Por ser a obra de arte algo que expressa objetivamente a representação que o sujeito

faz da realidade, o pensamento de Györg Lukács se faz presente ao afirmar que “a arte não

pode representar nenhum fato ou relação fora de seu partidarismo”. O fato aqui já é

carregado do partidarismo, mesmo quando projetado como mero dado, uma vez que contém

sempre atitudes positivas ou negativas diante da própria realidade. Neste sentido, podemos

assumir a produção artística e cultural, de forma mais ampla, como um artefato que é em si

expressão frente a conflitos e lutas que marcam a sociedade a partir das questões materiais da

vida, portanto, sendo representativa de uma tomada de posição.

Mas o que isso tem a ver com a gestão da cultura? Quais escolhas devem ser feitas? A

busca por respostas é a mola propulsora de muitos debates lançados neste livro. Talvez o

grande desafio seja fomentar produções culturais sem estabelecer mecanismos de distinção,

ou indo além, rompendo com a lógica mercantilista e/ou elitista da produção cultural

deflagrada no século XVIII e mantida nos dias de hoje.

A meu ver, o ponto nevrálgico do dilema se situa na divisão de classes. Se por um lado a

operação distintiva da cultura separa os cultos dos iletrados, noutro é parte de uma tentativa

de supressão das contradições existentes na vida social, no trabalho, na distribuição de renda.

Os resultados podem ser encontrados tanto na vanguarda cultural quanto na docilização do

corpo pelos produtos culturais massificados.

A dualidade no uso da cultura – embora produzindo o mesmo efeito – ocorre porque

antes disso há mediações pautadas em assimetrias de poderes. Nesta seara, é possível

observar a primazia por determinadas produções que vão ao encontro dos interesses de

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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grupos que dominam e exercem maior poder no campo da cultura. Estes grupos acabam por

delimitar não apenas o que deve circular enquanto mercadoria, mas também a quem este

produto cultural deva servir. Produção e consumo apresentam elos inelimináveis. Explicam,

por exemplo, o esvaziamento de público em eventos de cultura erudita, mesmo que gratuitos.

O distanciamento entre a produção e o público não está no desinteresse deste último, mas na

distinção historicamente imposta a este tipo de produção.

A centralidade da produção cultural não se dá de maneira isolada ou solitária. Estado e

grupos privados dão a entender que encontraram o ponto médio. No caso do primeiro, a

resignação instaura-se na suposta autonomia atribuída a produtores culturais com a

possibilidade de acesso a recursos através das leis de incentivo à cultural. Todavia, o caráter

formal imposto aos projetos por si só já limita o tipo de produção a ser contemplada. Já as

corporações privadas encontraram na prerrogativa dada pelo Estado a possibilidade de

investirem em produções culturais que lhes tragam retorno de imagem, obtendo ainda

descontos significativos em tributos. Configura-se aqui o investimento público em demanda

privada.

Retornando ao ponto de partida, é necessário refletir sobre uma política cultural que

possibilite a preservação de traços identitários e viabilize através do produto cultural

transformações sociais. Transformações sociais que infelizmente têm sido restritas à geração

de renda através da produção em escala de bens culturais, que embora seja importante,

ameaça conduzir a cultura – num sentido antropológico – à mesma lógica de mercado que a

aprisionou. Para muito além da inserção econômica, creio que a produção cultural deve

fomentar reflexões sobre o indivíduo frente à sociedade, sobre a historicidade e os processos

que têm sistematicamente operado os mecanismos de distinções e gerado círculos

privilegiados da cultura.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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PARTE I

UM POUCO DA UFV NA CULTURA

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

14

O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM ADMINISTRAÇÃO (PET-ADM/UFV) E O TEMA DA

CULTURA: ENTRE DISCUSSÕES TEÓRICAS E O REGISTRO DA PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL

Rodrigo Gava

1. INTRODUÇÃO

Buscar fontes que nos sensibilize com o País Real, revelador dos melhores extintos, em

detrimento do País oficial, caricato e burlesco1, foi o principal motivo para colocar os alunos do

PET/ADM em proximidnade com o tema da cultura.

Estando vinculados a um curso que precocemente os especializa em técnicas e pouco

nas inquietações que explicam as antecedências e consequências dos modelos que os chegam,

já no primeiro planejamento que realizei como tutor, em 2009, iniciamos os passos

comprometidos com o signicado da prática administrativa num país como o Brasil. Se nos vem

fácil o apego à afirmação de que organizações são organizações em qualquer lugar, daí

compartilharmos conteúdos tão similares em quase todas as escolas do mundo, um breve,

mas breve mesmo contato com as expressões culturais de cada local já nos dá a imediata

sensação de que as coisas não são bem assim.

Essa linha de pensamento poderia nos fazer questionar se a administração que

praticamos é mesmo nossa ou se a formatamos a partir dos países que iniciaram as escolas a

ela dedicadas, implementando-as a fórceps na prática local? Será que a prática administrativa

a mover nossas organizações não poderiam ter expressões distintas das atuais? Antropofagia à

parte, é bastante coerente percebermos que isso já acontece, embora sempre percebido

como disfunções ou desalinhamento, uma vez que a cada abrasileiramento nos afastamos do

modelo de origem, algo geralmente percebido como ruim no Brasil.

Em meio a inquietações como estas, começamos a estudar passagens importantes do

pensamento social brasileiro, especialmente a partir de leitura, documentário e discussões de

O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. Outras atividades se somaram, e mesmo com as

alterações naturais pelas saídas e entradas de novos estudantes no programa o tema da

cultura jamais saiu de cena. Desde então, ele tem estado presente em nossos planejamentos

1 Resgate que Ferraz (2014) faz a Machado de Assis em reportagem sobre Ariano Suassuna, logo após seu falecimento.

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anuais e permitido um olhar que estimula discussões e respeito da riqueza das possibilidades

humanas e o quanto somos os valores de onde nascemos e vivemos, e, assim, ajudando a nos

vermos nos outros com o devida constância.

Neste capítulo, a pretenção foi trazer mais detalhes da importante proposta dos grupos

PET, programa que leva os alunos a experimentarem atividades relacionadas à tríade

universitária – ensino, pesquisa e extensão – ainda em nível de graduação. Em seguida, o foco

se volta para uma descrição do envolvimento do grupo com o tema da cultura e, por fim,

disponibilizamos uma primeira descrição sobre a produção cultural local, feito por meio de um

panorama longitudinal fruto de intenso trabalho de resgate à matérias jornalísticas de dois

veículos de comunicação do município de Viçosa; material que foi fotografado, codificado e

tabulado, estando disponível aos interessados em acessar a memória dessa produção2.

Ademais, o principal motivo da organização panorâmica sobre a produção cultural

nestes anos de ações culturais noticiadas é despetar o ímpeto científico de pesquisadores

interessados na área e também a todos que a ela se interessam, seja para que fins forem.

2. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL - PET

O Programa de Educação Tutorial tem suas atribuições definidas pelo Ministério da

Educação – MEC para que os alunos participantes desenvolvam atividade que integram a

pesquisa, o ensino e a extensão, buscando sempre definir suas ações de forma indissociada no

equilíbrio de esforços entre essas três ações. Trata-se, pois, de um projeto do governo federal

para a melhoria da formação não só dos envolvidos, mas também do ensino superior do curso

ao qual está vinculado. Característica que são claramente definidas em seu Manual de

Orientaççoes Básicas, quando, sobre seu objetivo, indica que cabe ao PET

promover a formação ampla e de qualidade acadêmica dos alunos de cursos de

graduação envolvidos direta ou indiretamente com o programa, estimulando a

fixação de valores que reforcem a cidadania e a consciência social de todos os

participantes e a melhoria dos cursos de graduação (MEC, 2014c).

Criado em 1979 no governo militar de João Batista Figueiredo, tinha as mesmas três

letras em sua sigla, mas sua definição era distinta, como Programa Especial de Treinamento.

Neste período, era subordinado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

2 O banco de dados proveniente desta coleta está disponível em: https://www.facebook.com/petadm?fref=ts.

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Superior – CAPES e objetivava preparar de forma diferenciada um grupo de alunos, inclusive

para a Pós-Graduação. Só em 1999, após vinte anos de funcionamento, devincula-se da CAPES

e passa ao domínio do MEC, junto à Secretaria do Ensino Superior - SESu. Apesar das

tentativas em extingui-lo, por ser considerado elitista e oneroso ao erário público, mobilização

da comunidade acadêmica e dos próprios grupos PET do país levam à conquista de seu

reconhecimento legal3, em 2005, logo após se tornar vinculado ao ensino da graduação

(PORTAL PET, 2014). A partir deste momento, o PET inaugura seu forte vínculo com o

desenvolvimento de atividades relacionadas à tríade pesquisa, ensino e extensão.

Segundo o próprio MEC, o PET é desenvolvido por grupos de estudantes tutorados por

um docente, preferenciamente doutor, e orientados pelo princípio da indissociabilidade entre

ensino, pesquisa e extensão e da educação tutorial. Uma vez criado, mantém suas atividades

por tempo indeterminado, embora seus membros tenham um tempo máximo de vínculo: ao

bolsista de graduação é permitida a permanência até a conclusão da sua graduação e, ao

tutor, por um período de, no máximo, seis anos, desde que obedecidas as normas do

Programa (MEC, 2014a).

Ao participar do programa, os alunos passam a estar envolvidos e a envolver os demais

alunos do(s) curso(s) de graduação ao(s) qual(is) o programa está vinculado em experiências

não contempladas nas estruturas curriculares convencionais. O norte a orientar o trabalho dos

petianos é uma formação mais ampla do que tradicionalmente marca a graduação,

promovendo uma mescla entre a formação profissional necessária ao ingresso no mercado de

trabalho, a formação científica esperada para o êxito nos programas de pós graduação e a

formação cidadã, capaz de dar sensibilidade crítica a seus participantes e fazê-los qualificados

também em termos humanos e conscientes de seu papel na sociedade.

A tutoria, nesse âmbito, circunscreve-se como aquele que irá desenvolver nos alunos a

capacidade de resolução de problemas e pensamento crítico para além do que caracteriza o

“ensino centrado principalmente na memorização passiva de fatos e informações, e

oportuniza aos estudantes tornarem-se cada vez mais independentes em relação à

administração de suas necessidades de aprendizagem” (MANUAL, 2014).

3 O Programa de Educação Tutorial foi oficialmente instituído pela Lei 11.180/2005 e regulamentado pelas Portarias nº 3.385/2005, nº 1.632/2006 e nº 1.046/2007. A regulamentação do PET define como o programa deve funcionar, qual a constituição administrativa e acadêmica, além de estabelecer as normas e a periodicidade do processo de avaliação nacional dos grupos. A Portaria 976/2010 trouxe inovações para a estrutura do PET como, por exemplo, a flexibilização e dinamização da estrutura dos grupos, a união do PET com o Conexões de Saberes, a definição de tempo máximo de exercício da tutoria, a aproximação com a estrutura acadêmica da universidade e a definição de estruturas internas de gestão do PET (MEC, 2014b).

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Destaca-se que esses impactos complementares que marcam as atividades do PET não

se restringem aos integrantes do programa, uma vez que as mesmas são voltadas para o

incremento da formação de todos os alunos do(s) curso(s) a que está vinculado. É justamente

essa ampla gama de experiências que irá minimizar os riscos da especialização precoce à qual

estão submetidos na maior parte dos cursos de graduação.

Mas claro que há pontos que acabam destacando o privilégio da participação diária no

programa, o que acaba diferenciando os alunos do PET, bolsistas ou não, em relação aos

demais. Este é o caso da maturidade que resulta de um trabalho intenso em atividades a

serem administradas entre as demandas a que são expostos nas disciplinas de graduação. Essa

resultante deriva da relação que deve ser desenvolvida/aprimorada entre as capacidades e

interesses individuais e a percepção da responsabilidade coletiva e do compromisso social,

dado que ninguém pode se colocar acima do próprio grupo.

A garantia do bom funcionamento do programa addvém do envolvimento de dois

atores na instituição de ensino superior (IES) onde o PET mantém suas atividades:

O tutor é o responsável, perante a IFES e a SESu/MEC pelo planejamento e

supervisão das atividades bem como pelo desempenho do grupo sob sua

orientação, contanto com a indispensável contribuição de outros docentes da IES

para o desenvolvimento do programa. Cabe a ele orientar os bolsistas no caminho

de uma aprendizagem segura, relevantes, ativa, planejada e adequada às

necessidades do grupo e do curso com um todo. A IES é responsável por dar o

suporte administrativo aos grupos, desenvolver o processo de acompanhamento

institucional do programa e contribuir no aumento do significado acadêmico-

pedagógico de suas atividades, garantidno a autonomia dos grupos. Estas três

finções devem ser desenvolvidas de forma coordenada por todos os afores

responsável pelo programa na IES (MEC, 2014c).

Além da atuação dos tutores e da própria IES, é importante destacar que na estrutura

desta existe a presença do Comitê local de Acompanhamento e Avaliação (CLAA), composto

por tutores, técnicos, professores conhecedores do programa e estudantes bolsistas do PET.

Em sua composição, 2/3 dos membros são indicados pelos integrantes do programa na IES e

1/3 pela Pró-Reitoria de Graduação ou órgão equivalente. No caso da UFV, este papel cabe à

Pró-Feitoria de Ensino (PRE). O CLA é o órgão responsável por representar o PET na IFES,

cabendo a ele acompanhar e orientar os grupos de sua IES sobre os aspectos que definem o

funcionamento do programa em consideração a seu Plano de Desenvolvimento Institucional e

aos projetos pedagógicos dos cursos pertinentes, coordenar e participar do processo de

acompanhamento dos grupos, referendar processos de seleção e desligamentos dos alunos

por proposta do tutor, emitir parecer a respeito dos relatórios anuais emitidos por cada grupo,

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organizar dados e informações dos PETs e emitir parecer por solicitação da SESu e orientar os

membros e órgão internos da IES sobre o PET, buscando garantir-lhes bom funcionamento,

assim como o planejamento e a execução das atividades dos grupos.

Por sua própria concepção, o PET deve ser considerado como um esforço de longo

prazo com capacidade de participar e influenciar o modelo pedagógico dentro da universidade

brasileira e apoiar a formação acadêmica de excelente nível, ajudando na formação de um

profissional crítico e atuante, orientado pela cidadania e pela função social da educação

superior. Estes termos são reforçados quando consideramos que é esperado aos cursos de

graduação que colaborem nas discussões do planejamento das atividades dos grupos, que

estimulem a interação crítica desses grupos com os respectivos projetos pedagógicos e que

acompanhem a avaliação de cada grupo por meio de uma visão acadêmico administrativa.

Os alunos que ingressam no programa formam um grupo de 18 participantes, sendo 12

bolsistas e no máximo 6 não bolsistas, embora todos tenham as mesmas atribuições e

responsabilidades, ou seja, são todos petianos, indiscriminadamente.

3. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL EM ADMINISTRAÇÃO - PET-ADM/UFV

O PET-ADM/UFV é um dos 842 grupos distribuídos entre 121 IES brasileiras. Tendo

iniciado suas atividades em 1985, é um dos PET mais antigos da UFV. Prima por contemplar

várias atividades que marcam os esforços dos graduandos que buscam ampliar sua formação.

Para uma ideia mais clara sobre a dinâmica do PET-ADM, um breve relato assumirá o

papel de traduzir a forma por meio da qual os alunos ganham independência na tomada de

decisões diárias para cumprirem com o que preza os planejamentos anuais intensamente

discutidos entre os participantes e demais interessados. Este resgate praticamente abordará a

forma de ingresso no programa e a alaboração e implementação do planejamento, esforços

que sinalizam razoável síntese de nossas atividades.

O ingresso no PET-ADM

Para ser um programa que estimule a participação de alunos nas atividades acadêmicas

que promove, o PET diferencia-se da iniciação científica, que enfatiza a investigação de um

tema científico, dos programas de estágios, cujo objetivo é promover a aplicação prática dos

conhecimentos teóricos adquiridos nos cursos de graduação, e do apoio a atividades de ensino

e de extensão por um único fato, contemplá-los todos num só espaço. No caso dos estágios,

sua relação é também de destaque, uma vez que é comum a procura de empresas por alunos

do programa para seus quadros.

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Para ingressar no PET-ADM os candidatos têm que ser graduandos dos cursos de

administração ou ciências contábeis da UFV e ter coeficiente de rendimento (CR), o que exige

que tenham completado pelo menos 1 semestre letivo. Além dessas condições, deve ser

aprovado no processo seletivo em vigor.

Atualmente, o processo seletivo se extende por 5 fases. Antes do início da seleção, os

alunos são apresentados ao programa por meio de uma palestra proferida pelos próprios

petianos. Em seguida, o processo se inicia com duas fases eliminatórias, a (1) Redação e o (2)

Apresentação Oral. No caso da redação o tema é comunicado no momento de sua realização,

enquanto o tema da apresentação é apresentado com antecedência. Em seguida, os alunos

selecionados nas primeiras fases passam por uma (3) dinâmica de grupo para, enfim,

participarem de uma (4) entrevista, onde todos os petianos do programa participam junto

com o tutor e professores convidados. Após também se considerar o histórico escolar e o

coeficiente de rendimento, definem-se os aprovados para fazerem parte de um (5) estágio

probatório de até 3 meses, quando temos uma percepção mais acurada do perfil dos

candidatos, uma vez que participam das diversas comissões, onde são exigidos em novas

apresentações e atividades.

O processos se encerra quando esta última fase é percebida como suficiente para uma

decisão final. Vale destacar que o encerramento do processo seletivo não torna o petiano

“estável” no programa, pois são constantemente avaliados frente ao que deles se espera, e no

caso de não cuprimento satisfatório das atividades e de arrefecimento de compromissos com

o programa seu afastamento pode ser solicitado ao CLAA. Cabe destacar que a cada 6 meses

os petianos são avaliados a partir de julgamento que os eles fazem de si mesmos, no que

chamamos de ‘Avaliação 360º’. O tutor não participa, apenas tabula os dados e emite os

pareceres que, somados à sua própria avaliação, sugere alterações que possam contribuir para

o aperfeiçoamento nos pontos percebidos como passíveis de melhoria pelos colegas.

Como visto, os alunos que passam a integrar o grupo tutorado passam por rigoroso

processo seletivo, e apesar de ser considerado, um coeficiente de rendimento baixo não

impede o ingresso deles, uma vez que não só outras habilidades podem ser percebidas, como

nele também pode ficar destacado o interesse do candidato em se dedicar com afinco ao

programa, requisito sempre de grande importância.

Uma vez participando do programa, os alunos orientam suas atividades com base em

quatro valores principais, a (a) busca da excelência, o (b) respeito, cooperaçao e compromisso

entre os petianos na realizaçao de suas atividades, a (c) ética nas relações sociais e

profissionais com todos aqueles com os quais se relacionam e a (d) integração com os demais

grupos PET da UFV e/ou de outras instituiçoes visando o desenvolvimento de atividades

conjuntas e o incremento da capacidade de realizaçao de seus objetivos.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Orientados por estes valores, desenvolvem ações segundo uma organização própria,

que conta com um líder, um coordenador de projetos, um tesoureiro e os coordenadores de

comissão: (1) Qualidade, (2) Gestão, (3) Divulgação e Eventos e (4) Relatório e Planejamento.

O líder e o coordenador de projetos são eleitos pelos próprios petianos, cabendo ao tutor

participar apenas nos casos de voto de minerva. Os demais são indicados em comum acordo

entre os petianos. O líder facilita o contato do grupo com o tutor e vice versa, enquanto o

coordenaor de projetos auxilia os membros com o tema de suas pesquisas e na produção e

desenvolvimento destas.

Planejamento e Relatório: antecedentes e ações relacionadas à cultura

Desde 2010 todo planejamento começou a ser implementado mediante propostas de

oficinas, reuniões temáticas, filmes e leituras de livros com conteúdos inter-relacionados,

objetivando aprofundar na formação humanística dos estudantes, estimulando uma visão de

caráter totalizante da realidade, explorando as organizações numa realidade social complexa

de intensa interação. Este esforço buscava cumprir como o amparo esperado à formação dos

petianos, no sentido de compensar a especialização típica da fragmentação do conteúdo das

disciplinas dos cursos da graduação. Aqui, resgataremos apenas as atividades relacionadas à

questão da cultura.

Antecedente importante para dar consciência crítica aos posteriores estudos voltados à

cultura foi nosso envolvimento com o tema “Organização e Globalização”. Iniciamos pela a

leitura do livro “Por uma outra globalização” de Milton Santos. Além deste, trabalhamos um

artigo sobre o tema para que esse pudesse complementar os conceitos do livro. Em fevereiro

de 2010 discutimos o livro, atividade antecedida pelo filme sobre a carreira de Milton Santos,

que permitiu um enriquecimento maior da discussão e a ampliação do conhecimento dos

petianos sobre as obras do autor. O livro possibilitou um rico debate sobre globalização,

competitividade, pobreza, e outras temáticas relacionadas. O objetivo de despertar uma

opinião crítica nos graduandos foi alcançado, pois pontos de vista diferentes foram explanados

e confrontados.

Outro tema trabalhado foi o “Pensamento Social Brasileiro e Contemporâneo”, que se

deu em três momentos: inicialmente, os petianos se capacitaram para a discussão por meio da

leitura do livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro. Num segundo momento, os petianos se

prepararam para a discussão por meio da exposição do documentário sobre a contribuição do

próprio Darcy, em “O Povo Brasileiro, Intérpretes do Brasil – “Notas sobre o Brasil”. Em um

terceiro momento foi realizada a discussão, em que cada petiano apresentou os pontos que

considerou mais importantes no livro e no filme, e logo após encerrei o debate comentando

diversos aspectos relevantes sobre os assuntos discutidos.

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No planejamento para o ano de 2011 foram realizadas consultas aos coordenadores

dos cursos de graduação em Administração e Ciêncais Contábeis, assim como à coordenadora

do programa de pós-graduação (mestrado) à época, buscando maior proximidade e inter-

relação entre as partes e objetivos do departamento.

Outra importante inovação no planejamento foi a definição de um objetivo geral a

orientar a interrelação entre as atividades. Dando continuidade aos estudos de 2010,

definimos como objetivo para 2011 “analisar expressões da organização capitalista em

território brasileiro”. Para alcançar essa motivação principal, dois objetivos intermediários

foram definidos: “a questão da inovação e o sistema capitalista”; e a “gestão cultural na

contemporaneidade capitalista”.

Dando atenção ao segundo objetivo, por sua notória relação com este capítulo, a

estratégia adotada para seu alcance foi, em um primeiro momento, a leitura dos artigos: (a)

CARVALHO, Cristina Amélia; SILVA, Rosimeri Carvalho da; GUIMARÃES, Rodrigo. Sistema

Nacional de Cultura: a tradução do dinâmico e do formal nosmunicípios da Região Sul.

Cadernos EBAPE. BR (FGV), v. 7, p. 10, 2009, (b) MADEIRO, Gustavo; CARVALHO, Cristina

Amélia. Carnaval, Mercado e Diferenciação Social. In: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de

Ciências Sociais, 2004, Coimbra. Anais do VII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências

Sociais. Braga - Portugal, 2004. v. 1. p. 1-10 e (c) SIMOES, Janaina Machado; VIEIRA, Marcelo

Milano Falcão. A influência do Estado e do mercado na administração da cultura no Brasil

entre 1920 e 2002. Rev. Adm. Pública [online]. 2010,.44(2), pp. 215-237. A segunda estratégia

foi trabalhar uma obra de referência sobre uma manifestação cultural tipicamente brasileira

como forma de nos capacitarmos para discussões sobre aspectos organizacionais na área

cultural, especialmente sua gestão e práticas administrativas. O livro escolhido foi DAMATTA,

Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de

Janeiro: Rocco, 1997.

Complementarmente, realizamos visita técnica aos estúdios do PROJAC – Rede Globo

de Televisão, que buscou relacionar teoria e prática no campo da gestão cultural. Os Estúdios

PROJAC são referência no país no campo de Gestão de Bens Culturais. A visita permitiu que os

petianos pudessem observar, analisar e criticar como se da, na prática, os temas já estudados

nas atividades previamente desenvolvidas. Outra visita técnica nos levou ao Instituto de Arte

Contemporânea Jardim Botânico-INHOTIN, em Brumadinho, MG. A visita técnica visou

complementar os estudos relacionados ao tema “Gestão Cultural”, desenvolvidos pelo grupo.

Contamos com a colaboração de um guia do museu que explicou a respeito das obras e seus

autores, contribuindo assim para uma melhor compreensão sobre a cultura e a expressão da

arte contemporânea. Tais esforços culminariam na realização do I Seminário de Gestão

Cultural, realizado já no ano seguinte, nos dias 10 e 11 de abril de 2012.

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Em 2012 o planejamento priorizou a busca por melhorias nas atividades inovadoras

elaboradas no planejamento de 2011. Assim, o seu objetivo final foi analisar, sob o enfoque

organizacional, dinâmicas da política pública brasileira, e, especificamente, mativemos o foco

na questão da (a) Gestão Cultural e adicionamos atividades relacionadas ao (b) Turismo. Vale

ressaltar que os planejamentos dos anos de 2011 e de 2012 também contaram com consultas

aos coordenadores do curso de graduação em administração e em ciências contábeis, assim

como espaços para que os graduandos manifestassem suas demandas, buscando, dessa

forma, maior proximidade e relação entre as partes e objetivos do departamento.

As leituras realizadas foram ELIAS, A.; FILHO, J.B.O.; OLIVEIRA, M.F. Empreendedorismo

criativo em cidades sem tradição cultural: uma primeira abordagem. 6 º Congresso do Instituto

Franco-Brasileiro de Administração de Empresas. 2011, p. 675 – 686, DURAND, J.C. Cultura

como Objeto de Política Pública. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2) 2001, p. 66-72 e

BOTELHO, I. Dimensões da Cultura e Políticas Públicas. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2)

2001, p. 73-83. Estes geraram a oficina Gestão Cultural: Políticas Públicas de Cultura.

Buscamos levar aos membros do PET/ADM o conhecimento a respeito da questão de Políticas

Públicas de Cultura. Além disso, trazer ao grupo discussões e reflexões acerca de temáticas

que não são abordadas no curso para que se possa desenvolver nos alunos a habilidade de

leitura crítica sobre o papel das políticas públicas na dinâmica da cultura e dos produtos

culturais, explorando seu potencial na alteração da estrutura econômica, política e social do

país e de suas regiões.

Posteriormente, lemos o livro FURTADO, Celso. Cultura e desenvolvimento em época de

crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, que acabou gerando posteriores discussões e reflexões

a acerca de temáticas também pouco abordadas no curso.

Embebidos pela temática, elaboramos um projeto sobre o tema e encaminhamos para

concorrer em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

O projeto foi aprovado, o que ampliou o apoio para realizarmos as atividades que

pretendíamos, especialmente as aque viabilizariam a realização do II Seminário de Produção e

Gestão Cultural e este e-book.

Encerramos as atividades do ano de 2012 com a visita ao Instituto de Arte

Contemporânea Jardim Botânico-INHOTIN, que complementou os estudos relacionados ao

tema “Gestão Cultural”. Contamos com a colaboração de um guia do museu que explicou a

respeito das obras e seus autores, contribuindo assim para uma melhor compreensão sobre a

cultura e a expressão da arte contemporânea. Também percorrermos o Circuito Turístico de

Petrópolis, atividade que consistiu e, visita ao Museu Casa de Santos Dumont - "A Encantada"

e ao Museu Imperial de Petrópolis, principal acervo do país relativo ao império brasileiro, em

especial sobre o Segundo Reinado.

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Em 2013 a cultura continuou nos acompanhando. Realizamos as leituras EAGLETON,

Terry. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005; BOTELHO, I. Dimensões da Cultura e

Políticas Públicas. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 15(2) 2001, p. 73-83; PAVAM, Rosane. O belo

não está à venda. Revista Carta Capital, São Paulo, p.40-42, fevereiro, 2013; PAVAM, Rosane. A

esperança em tempos de magra colheita. Revista Carta Capital, São Paulo, p. 50-52, fevereiro

2013; SILVEIRA, Daniel. O novo Iluminismo. Revista Brasileira de Cultura, São Paulo, p. 23-27,

maio 2012; SAFATLE, Vladimir. Estética Financeira. Revista Brasileira de Cultura, São Paulo,

p.28-31, maio 2012 e KODIC, Maríla. Les Inrocks and roll. Revista Brasileira de Cultura, São

Paulo, p. 32-35, maio 2012.

Tais fontes ampliaram nossa capacidade de interação nas visitas que realizamos ao

Parque Tecnológico Vale Verde, permitindo maior conhecimento sobre a cultura e história

daquilo que está enraizado na cultura mineira, a cachaça, quando também foi possível ao

grupo conhecer o processo produtivo sustentável da mesma e como passaram a explorar a

própria atividade de produção para fins turísticos.

As mesmas leituras, especialmente a referência dada por Terry Eagleton, nos levou à

reunião temática, onde resgatamos as transformações históricas e contemporâneas pelas

quais o termo cultura passou, incorporando questões filosóficas que englobam liberdade e

determinismo, mudança e identidade, o dado e o criado. O explora a superação da definição

antropológica e a estética do conceito de cultura que, segundo ele, proporcionam

respectivamente uma ideia de cultura debilitantemente ampla e desconfortavelmente rígida.

Além deste amplo panorama conceitual, discutimos sobre a crise moderna da ideia de cultura,

permitindo uma profunda análise das questões centrais do mundo contemporâneo, dentre as

quais: a homogeneização da cultura de massas, a função da cultura na estruturação do Estado-

Nação e a construção de identidades e sistemas doutrinários. Esta atividade contou com a

participação do Prof. Wescley Silva Xavier, autor do prefácio deste livro, cuja dedicação em

doutorado abordou a cultura em seu objeto de estudo.

Ainda circunscrito nos compromissos junto à FAPEMIG, iniciamos pesquisa voltada para

a descrição da Produção e Gestão Cultural Local. Para tanto, digitalizamos todo o acervo do

Jornal da UFV e do Jornal Folha da Mata, especificamente nas reportagens que se referiam a

atividades culturais. A ideia foi gerar material que pudesse permitir um panorama das práticas

culturais no município de Viçosa após a criação do Ministério Nacional de Cultura, em 1985.

Justamente este esforço que permitiu a exposição de que trata a próxima seção.

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4. A PRODUÇÃO CULTURAL LOCAL A PARTIR DA MEMÓRIA JORNALÍSTICA DO

JORNAL DA UFV E DO JORNAL FOLHA DA MATA, 1985 A 2013

O objetivo desta seção é oferecer um panorama da produção cultural local de 1985 à

2013 das notícias veiculadas nas duas fontes jornalísticas supraindicadas neste título. Sem

investidas e preocupações mais intensas com os malabarismo quantitativos e seu potencial, a

ideia é, neste momento, apenas dar este panorama, chamando a atenção para as incidências

que podem ser destacadas.

Ajudam a tranquilizar as expectativas de maior complexidade a partir dos dados já

coletados, codificados e transcritos em tabelas o fato de que estes estarão disponíveis no

facebook do PET-ADM. Fica, desde já, o estímulo aos acessos. Pesquisadores, profissionais e

demais interessados em música, dança, teatro e exposições, sirvam-se à vontade!

Breve nova metodológica

Como já antecipado, a concisa descrição aqui exposta reflete uma esforço de pesquisa

sem pretenções complexas no que se refere às quantificações que serão apresentadas. Neste

sentido, a preocupação maior foi dar apenas uma quadro geral da produção cultural limitada

pelas duas fontes utilizadas, os dois jornais já comentados.

O Jornal da UFV é uma “publicação institucional da Universidade Federal de Viçosa, de

periodicidade mensal, é distribuída para diversas pessoas e instituições do país e do exterior.

Apresentada nas versões impressa e digital” (UFV, 2014). É publicado desde 1972, estando em

seu 42º ano com última publicação tendo o número 1.457.

O Jornal Folha da Mata teve sua edição circulando pela primeira vez com o nome Folha

de Viçosa no dia 20/10/1963. Nos seus primeiros anos, o Folha teve periodicidade quinzenal,

mas posteriormente passou a ser semanal, o que perdura até hoje (JFM, 2014).

A partir dessas duas fontes, ao todo foram codificados 1.866 documentos, ou seja,

notícias relacionadas a atividades culturais em Viçosa e região, embora em sua quase absoluta

maioria se referissem apenas à Viçosa.

O trabalho de codificação seguiu a definição indicada pelo Quadro 1.

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Quadro 1: Variáveis utilizadas na codificação

Variável Definição Constitutiva Definição Operacional

Ano Ano da publicação Variável do tipo ano

Data Data da publicação Variável do tipo data

Local do Evento Local da realização do evento Variável nominal, indicação do local

Área artístico-cultural Área segundo LEIC 01/2013 Variável numérica para: música,

teatro, dança e exposição.

Responsáveis Responsável pela produção/gestão do

evento, seja pessoa física ou jurídica

Variável nominal, indicação do

nome do responsável

Patrocinadores Financiadores financeiros (moeda ou

permuta) ou econômicos (infraestrutura)

Variável nominal, indicação do

nome do patrocinador

Público Quantidade estimada de pessoas presentes Variável numérica para a escala:

Até 100 pessoas; De 100 a 500

pessoas; De 500 a 2.000 pessoas;

De 2.000 a 5.000 pessoas e Acima

de 5.000 pessoas.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

O processo de delineamento da pesquisa seguiu a dinâmica exposta na Figura 1.

Figura 1: Etapas do processo de coleta e análise dos dados.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Nota: O software estatístico Statistical Pakcage for Social Science (SPPS) versão 10.0 foi o utilizado para a análise descritiva dos dados.

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Resta indicar que o recorte temporal foi definido por mera conveniência da

disponibilidade de dados nas duas mídias impressas locais com a mais ampla e longa cobertura

jornalística a respeito da produção cultural local. Ademais, a definição das áreas artístico-

culturais seguiu referência da Secretaria de Estado da Cultura, por meio da Superintendência

de Fomento e da Diretoria da Lei Estadual de Incentivo à Cultura segundo o Edital LEIC

01/2013 para Apresentações de Projetos Culturais. Neste estão definidas as áreas artístico-

culturais para fins de envio de projetos que concorrem ao fomento.

Panorama da produção cultural em Viçosa de 1985 a 2013.

A primeira preocupação que tivemos foi tentar perceber como se distribuiu a produção

cultural local ao longo desses últimos 28 anos. Nestes termos, o ano mais produtivo foi o de

2005, com 116 eventos e aquele com a menor incidência de eventos, com apenas 33, o de

1995. Considerando todos os anos, temos uma média de 70 eventos por ano, apesar da

variação dada pelo desvio padrão ser significativa, cerca de 23 eventos, o que faz com que os

70 eventos de média possam ser mais de 90 ou menos de 50 a cada ano.

Desconsiderando o ano de 2012, quando houve queda significativa no número de

eventos, recentemente temos tido em torno de 100 eventos por ano. Tendo por referência os

cerca de 90 mil habitantes da cidade, já incluindo a população flutuante de estudantes

universitário, teríamos uma proporção de 0,001 evento para cada morador da cidade. Parece

ruim, mas isso também significa que quase a cada 3 dias temos um evento por ano em Viçosa.

Figura 2: Número de eventos culturais por ano. Fonte: Dados da pesquisa.

A Figura 2 também nos permite perceber que sempre que a produção cultural foi baixa,

o ano seguinte indicou forte reação, sendo as mais acentuadas reações a que parte de 1995,

com 33 eventos e chega, 2 anos depois, a 100 eventos. Algo similar ocorreu de 2004 a 2005,

quando em apenas 1 ano cerca de 40 eventos se tornam 116, pico que jamais voltou a ocorrer.

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Outro fato que merece aprofundamentos posteriores é a razão da queda de produção de 1990

(80 eventos) até os tais 33 por ano 5 anos mais tarde. A partir daí, as alterações de aumentos e

quedas seguem um padrão .

Ao longo da série, pôde-se notar que a maioria dos eventos foi realizado em poucos

dias, sendo que a maioria absoluta deles teve duração de apenas 1 dia (70,6%), seguidos 2 dois

(6,8%) e 3 dias (4,1%), embora haja muitos eventos cujo número de dias não foi informado,

caso de cerca de 5% das vezes.

A Figura 3 adiciona à Figura 2 duas linhas de tendência, para que pudéssemos ter um

panorama dos dados do passado em relação ao futuro da produção cultural local,

considerando contextos similares.

Figura 3: Número de eventos culturais por ano. Fonte: Dados da pesquisa.

Assim, foram consideradas duas linhas de tendências. A linha verde representa uma

tendência de média móvel4, que suaviza flutuações em dados para mostrar um padrão ou

tendência mais claramente. Já no caso da linha vermelha, a tendência é polinomial5, que é

uma linha curva usada quando os dados flutuam. É útil, por exemplo, para analisar ganhos e

perdas em um conjunto de dados grande.

4 Uma média móvel usa um número específico de pontos de dados (definido pela opção Período), determina a média e usa o valor da média como um ponto da linha de tendência. Se Período for definido como 2, por exemplo, a média dos primeiros dois pontos de dados será usada como o primeiro ponto na linha de tendência da média móvel. A média do segundo e terceiro ponto de dados será usada como o segundo ponto na linha de tendência e assim por diante 5 A ordem da polinomial pode ser determinada pelo número de flutuações nos dados ou por quantas dobras (picos e vales) aparecem na curva. Uma linha de tendência polinomial de ordem 2 geralmente só possui um pico ou vale. A ordem 3 geralmente possui um ou dois picos ou vales. A ordem 4 geralmente possui até três.

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Como pode ser percebido, nos dois casos há uma tendência de crescimento, embora a

curva vermelha tenha em sua parte final leve declínio em relação a anos anteriores, sugerindo

um enfraquecimento influenciado pelo peso da produção loca mais recente.

Figura 4: Frequência de eventos realizados em relação à duração, em dias. Fonte: Elaborado pelo próprio autor

A Figura 4 traz uma breve informação, apenas abordando o número de dias mais

comuns dos eventos produzidos localmente, quando fica evidente a absoluta maioria deles

realizados em apenas 1 dia.

A UFV e a cidade de Viçosa praticamente dividem a frequência em que são utilizadas

como locais para os eventos culturais. Apesar de lentas, têm sido sólidas as iniciativas dos

empresários em ampliar os espaços privados com este fim. Chama a atenção o fato de que

quando a UFV é o local de algum evento conjuntamente com algum espaço na cidade de

Viçosa, esse número é irrisório, com apenas 12 ocorrências. Talvez, a proximidade entre esses

dois espaços seja apenas geográfica, como é comum ouvir pelo campus e ruas da cidade.

Figura 5: Local de realização dos eventos culturais Fonte: Dados da pesquisa.

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Entre a UFV e o espaço municipal 27% dos eventos culturais foram shows musicais,

exclusivamente música, uma vez que a música associada a algum outro evento, seja ele teatro,

dança ou exposição, foram apenas 14, contra os 872 eventos apenas com música. Como pode

ser visto na Figura 5, seguem com frequências relativamente próximas eventos ligados a

exposições, teatro e dança dentre as notícias veiculadas nas fontes que utilizamos.

Figura 6: Frequência de ocorrêmncia por tipo de evento cultural. Fonte: Dados da pesquisa.

Para uma percepção exata da distribuição dos eventos segundo o tipo, seguem os

dados conforme disposição da tabela a seguir (Tabela 1).

Tabela 1: Frequência de eventos segundo o tipo

Tipo de Evento N

Música 872

Música, teatro 6

Música, teatro, dança 1

Instrumental, solo, banda (fanfarra), coral 1

Música, teatro, exposição 3

Música, dança 1

Música, exposição 3

Teatro 334

Dança 258

Exposição 379

Não identificado 8

Total: 1.866

Fonte: Dados da pesquisa.

A música é nitidamente a principal produção cultural local, com frequência duas vezes

superior ao segundo lugar, a exposição. Relativamente próximos aparecem o teatro e a dança,

sendo que apesar de ter havido eventos em que essas modalidades aparecem combinadas,

elas foram bastante tímidas. Agora, vamos avançar na forma das apresentações e nos estilos

musicais.

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Para tanto, o evento música foi todo agrupado, independentemente da modalidade.

Assim, passamos a ter um total de 887 eventos musicais (soma de música; música/teatro;

música/teatro/dança; Instrumental/solo/banda (fanfarra)/coral; música/teatro/exposição;

música/dança e música, exposição) e não mais os 872 como na Tabela 1. Dentre os 887 casos,

e desconsiderando as 70 notícias onde não foi possível fazer a identificação, passamos a

contar com 817 casos. Dentre eles, em 61% a forma da apresentação musical foi por meio de

show de bandas, seguido de apresentações instrumentais (18%) e solo (14%).

Quanto aos estilos musicais mais frequentes, foram identificados 40 modalidades

diferentes, pois a mescla deles foi considerada como uma outra entrada de dados. Foram

considerados válidos 619 eventos após a exclusão dos “não identificados”. Segundo as notícias

investigadas, os estilos mais frequentes foram a música clássica, a sertaneja, a MPB e o rock,

respectivamente, e muito próximos, com valores indo de 110 a 96 casos, entre o clássico e a

MPB, ficando o rock com presença em 76 notícias. Percebe-se que as inúmeras apresentações

das bandas anteriormente identificadas se distribuem nos vários outros 36 estilos.

Já em relação ao panorama da presença do público a esses eventos, é prudente um

imediato alerta; a de que na maioria dos casos observados essa informação não pôde ser

identificada. Isso, pois boa parte das notícias se referiam a momentos prévios aos eventos,

quando a ideia é mais de convite e incitação que de relato, ou seja, notícias posteriores aos

eventos costumam ser publicados com menos frequência.

De um total de 1866 notícias investigadas, em 1589 delas a informação sobre o público

presente não aparece, ou seja, 85% dos casos. Assim, as informações de que tratamos deste

contexto tiveram estes casos omitidos, ou seja, os pencentuais dispostos na Figura 6 refletem

públicos apenas para os casos em que houve público identificado e não em relação ao total

absoluto dos 1866 casos.

Feita essa ressalva, dos eventos cujo público pôde ser identificado, aqueles com público

a partir de 100 pessoas, que podiam chegar até mais de 5000, somaram quase 80% dos casos.

Mais espeficicamente, nota-se (Figura 6) que os eventos que contaram com a presença de até

100 pessoas foram apenas 21% deles. Quando consideramos os eventos ainda maiores, com

participação de um público maior que 5000 pessoas, percebe-se que não são uma raridade,

marcando presença em 10% das vezes.

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Figura 7: Distribuição dos eventos culturais segundo números de pessoas presentes. Fonte: Dados da pesquisa.

Antes de caminhar para anúncios derradeiros deste panorama, faremos uma breve

indicação daqueles que mais vêm se dedicando à produzir eventos culturais no município,

tanto na figura de produtor cultural quanto na de patrocinador.

A maior parte da produção fica restrita a poucos produtores, mas no total eles são

vários, chegando a representar, ao longo desses anos, 490 pessoas, a quem destacamos

agradecimentos pelo esforço em manter a cidade com a luz da produção cultural acesa, tão

importante para iluminar a penumbra diária em que vivemos.

Novamente, destacamos que dos 1866 casos que reunimos nesta pesquisa 509 deles

(27,3%) não tiveram os produtores identificados. Dos 1357 casos restantes parte da UFV e

suas divisões cerca de 22% da produção local, seguido da Prefeitura Municiapal, com 7% da

produção. Outro importante produtor local, já amplamente conhecido no ramo, é o Núcleo de

Arte e Dança, que aparece em 5% dos eventos produzidos. Isso, considerando não só o

Núcleo, como também os grupos de dança a ele relacionados e a própria responsável, Patrícia

Lima. Na casa dos produtores que aparecem com 1% da participação na produção local

aparecem restaurantes, com destaque para o Sabor e Cia e o Pau Brasil, além de colégios,

especialmente o Colégio Equipe e o Colégio Anglo e, ainda, clubes recreativos, caso do Viçosa

Clube e do Recanto das Águas. Apensar de tímida, também aparece a Câmara Municipal de

Viçosa. A consulta ao banco de dados permitirá a identificação geral dos produtores,

marcadamente gente da própria cidade.

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Parte fundamental não só para o que os eventos identificados pudessem ser realizados,

como também para que possamos traçar novas conquistas, hierarquizaremos agora os

patrocinadores. Neste caso, a situação de não identificação foi ainda mais grave. Na verdade,

muito mais grave para um bom panorama desse apoio, uma vez que em 83,4% dos 1866 casos

não foi possível identificar o patrocinador, mais precisamente em 1557 notícias avaliadas.

Essa pesquisa não buscou identificar as razões de possíveis dúvidas que a descrição

pudesse levantar. Nesse mesmo sentido, a ideia é, a partir desse panorama, incitar dúvidas e

estimular novas pesquisas explicativas desse quadro da produção cultural local. Mas já

abusando de certa licença ao leitor, é possível explicar a omissão do patrocinador como uma

característica daqueles que não pretendem ter seu nome associado ao apoio concedido.

Muitas vezes eles também podem ser pessoas físicas ou mesmo jurídica que fazem apoio

pontual e não querem ser alvo de novos pedidos. Bom, são meras elocubrações que

precisariam de um longo caminho até a prova, se situando ainda em estágio preliminar de

uma futura hipótese ou suposição de pesquisa.

Daqueles que sobraram (309 casos) e foram identificados, podemos dizer que a

realidade é bastante pulverizada depois que desconsiderando a UFV e a Prefeitura Municipal

de Viçosa. A primeira parace patrocinando 43% dos eventos locais e a segunda 13%. Apesar de

pouco expressivos, também aparecem como patrocinadores a Lei de Incentivo Estuadual à

Cultura, com 3,9% e o Núcleo de Arte e Dança, com 3,2% dos patrocínios. Todos os demais são

identificados com menos de 2% dentre os patrocinadores.

Enfim, e buscando um olhar que vislumbra pistas sobre o futuro, uma última figura. Na

verdade, pouco é possível dizer com a certeza pretendida, ainda mais que o risco do erro é

fantasma a amemdrontar qualquer futurólogo. Portanto, vamos nos ater somente à produção

cultural e que tipo de tendência os próprios dados apontam.

A Figura de número 7 mostra toda a produção cultural noticiada ao longo desses 28

anos e, reunindo os dados na forma de áreas, limitadas por linhas que indicam o número de

cada produção no respectivo ano, promove sobreposições da modalidade de eveno mais

produzida sobre a menos produziva por ano.

As duas cores preponderantes são a azul e a amarela, respetivamente as indicadoras da

produção musical e das exposições. Como, assim como nas demais, e como já abordado

anteriormente nessa descrição, os picos de alta e baixa produção são uma constante, o que

parece evidenciar uma fragilidade na organização dos eventos, sugerindo haver interesses ou

capacidade de organização que não se mantém ao longo do tempo. Geralmente, há sempre

um pico ascendente a partir de um ano com baixa produção, mas que é sucedido por novo

pico, só que descendente. Quanto ao futuro, o que essas variações parecem indicar, de forma

acumulada, é que apenas a música e a dança parecem caminhar progressivamente.

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No caso da música essa tendência de ascendência é bastante nítida, sendo o caso da

dança menos acentuada. A tendência de queda da produção de teatro e de exposições é lenta

e com inclinações similares.

0

10

20

30

40

50

60

70

80MÚSICA

TEATRO

DANÇA

EXPOSIÇÃO

Figura 8: Frequência das principais produções culturais locais de 1985 a 2013. Fonte: Dados da pesquisa.

Fica, portanto, o alerta aos envolvidos com a produção teatral e de exposição, pois arte

como expressão cultural é fundamental para nos questionarmos e nos reconhecermos uns nos

outros. O alerta é de esperança, que todas e ainda outras sempre cresçam em nossa

proximidade e acesso, pois a balisa mercadológica, tão importante para o apoio à produção,

também guarda seu viés original que a limita pela via exclusiva da demanda, levando à

tendência de se produzir sempre o que já é conhecido e produzido, enquanto que o que irá

marcar a boa e qualificada resposta à exposição cultural é justamente o que ainda não se

conhece, o que surpreende, o que não se sabia e nos leva ao pensar de imediato e

continuamente.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicio o enredo deste fim recuperando ressalva feita no início deste capítulo, de que os

nesta descrição a pretensão foi módica, exíqua no sentido exato da palavra. Não só porque

paralelos foram os esforços para se trazer mais luzes à organização do Programa de Educação

Tutorial, no cômputo geral, e do PET-ADM, especificamente, mas por esperar que a partir do

banco de dados que disponibilizamos novas pesquisas sejam realizadas.

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Explorar e promover discussões sobre a questão cultural foi prática inteiramente

condizente com conteúdos que escapam aos interesses de formação profissional de quem

costuma procurar e se formar administrador ou cientista contábil.

Ampliar o horizonte para além das naturalidades aparentes, ao se permitir navegar por

temas abstratos e inerentes às relações humanas, nos faz lembrar da importância de vermos

para além do alcance. Isso fortalece a opção de limpar o horizonte turvo dos acometidos pela

cegueira que resulta da formação que marca a maioria dos cursos de graduação atualmente,

fortemente compromissados com a formação técnica para tornar os alunos úteis ao mercado

de trabalho e pouco no sentido de despertá-los à crítica e aos questionamentos. Como em

muitos casos é justamente essa carga tecnicista que deixa claro a vários alunos que seu

talento é outro, talvez um curso que permita estímulos as suas aspirações artísticas acabe o

levando a afirmar: “dos cegos do castelo me despeço e vou. A pé até encontrar. Um caminho, o

lugar. Pro que eu sou”, e, assim ache seu rumo como o fez o titã Nando Reis. Estudar a cultura

aproxima, contamina, faz pensar, sonhar e mudar. Este é o espírito que personifica o próprio

PET mas, e principalmente, a educação.

A cultura local numa cidade de pequeno e médio porte vem sofrendo muito desde os

anos de 1990. A dinamização dos espaços nacionais em um grande mercado global aliciado

pelo retorno financeiro nos tirou os cinemas, encareceu o acesso aos grande nomes e inibiu as

expressões artísticas locais em detrimento do pop mastigado previamente pela TV.

Este trabalho vem acompanhado da esperança do efeito do álcool no fogo para manter

acesa a produção que pudemos aqui retratar. Fica a expectativa de que tenhamos contribuído

para a valorização de discussões culturais e estimulado quaisquer manifestações neste

sentido, afinal, se avanços já nos são nítidos para a erradicação da miséria no Brasil,

permanente também são nosso clamor de que nunca nos esqueçamos de que “agente não

quer só comida”!

8. REFERÊNCIAS

FERRAZ, A. O poeta do Brasil profundo: memória, ao selar um pacto com o País real, Ariano

Suassuna universalizou o Sertão. Carta Capital, São Paulo, n.810, p.68-69, 30 jul. 2014.

Jornal Folha da Mata (JFM). O Folha da Mata. Disponível em:

<http://www.folhadamata.com.br/site/o_folha_da_mata.php>. Acesso em: 07 ago 2014.

Ministério da Educação (MEC). Apresentação - PET. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12223&ativo=481&Ite

mid=480. Acesso em: 04 ago. 2014a.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Ministério da Educação (MEC). Apresentação - PET. Legislação - PET. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12227&Itemid=4

84>. Acesso em: 04 ago 2014b.

_______. Manual de Orientações – PET. Disponível em: <

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12228&Itemid=48

6>. Acesso em: 04 ago 2014c.

PORTAL PET. Disponível em: <http://www.portalpet.feis.unesp.br/sobreopet/>. Acesso em: 04

ago 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV). Jornal da UFV. Disponível em:

<http://www.portal.ufv.br/crp/?page_id=602:>. Acesso em: 07 ago 2014.

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MUSEUS UNIVERSITÁRIOS E VISITAÇÕES: REPRESENTAÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA A SUA GESTÃO EM

VIÇOSA (MG) – BRASIL6

Magnus Luiz Emmendoerfer, Alice Sanches Melo, Fernanda Márcia Souza e Eduarda Nogueira Vieira

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho parte da premissa de que as cidades, que estão fora das regiões

metropolitanas das capitais das unidades federativas no Brasil e que possuem Universidades

Públicas mantidas pelo governo federal possuem, por meio de uma história entrelaçada e

influenciada por estas Instituições de Ensino Superior, uma representação associada a elas.

Esta premissa surgiu da vivência dos autores deste trabalho como docente e alunos em

sua Universidade, bem como em visitas a outras Universidades brasileiras, que estão inseridas

neste contexto supramencionado.

Nesta cidade, foi criada em 1926 a Escola Superior de Agricultura e Veterinária – ESAV

por Arthur da Silva Bernardes, viçosense e então pelo presidente do Brasil. Em 1948, ESAV se

tornou Universidade Rural do Estado de Minas Gerais - UREMG. Em 1969 a UREMG passou se

chamar Universidade Federal de Viçosa (UFV, 2014). A implantação da UFV dentro do

“perímetro urbano constituiu um fator de cristalização num dos vetores de crescimento da

cidade. A UFV tem atraído pessoas em busca de emprego e traz estudantes e professores de

diversos locais do País, promovendo o crescimento da cidade” (WIKIPEDIA, 2013).

A UFV é uma instituição de difusão de conhecimento de nível internacional, sendo

historicamente a principal imagem que tem representado a cidade de Viçosa, fora dela. Porém

a UFV é vista também nesta cidade como um espaço distante da maioria de sua população,

devido aos seus conhecimentos produzidos não resultarem necessariamente em melhoria na

qualidade de vida dos habitantes de Viçosa. Pressupõe-se que isso gera uma imagem interna

negativa junto aos habitantes residentes na cidade de Viçosa, ao mesmo tempo uma imagem

positiva externa a cidade, associada aos resultados de pesquisa publicizados e parcerias

realizadas pela UFV. Somado a isso, pode acrescentar as expectativas positivas e de esperança

6 Este trabalho foi ampliado e atualizado a partir do trabalho apresentado no III Congreso Internacional de Cidades Criativas, realizado na Universidade de Campinas – UNICAMP em 2013. Cf. http://congreso2013.ciudadescreativas.es/index.php/es/

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em uma boa formação profissional que aos alunos chegam na UFV, bem como as experiências

adquiridas e levadas pelos alunos formados que vão atuar profissionalmente, em sua maioria,

em outras cidades.

Diante desta situação dessas imagens que coexistem no imaginário das pessoas que ali

convivem, nas últimas décadas a UFV tem procurado mudar essa imagem interna, buscando

estreitar seu relacionamento junto à comunidade. Assim, a instituição tem elaborado espaços

culturais como os museus, que promovem o desenvolvimento da cidade, interligando assim a

Universidade e a comunidade, de modo a beneficiar ambos.

Assim, o objetivo deste trabalho foi compreender a representação da cidade de Viçosa

a partir da relação estabelecida entre os seus habitantes e a comunidade da Universidade

Federal de Viçosa (UFV) em visitações públicas a museus nesta cidade.

2. MUSEUS E O CAMPO DO PATRIMÔNIO NA ECONOMIA CRIATIVA

Os museus7 são espaços culturais de lazer e entretenimento, abertos para visitação

pública e acessíveis para todos os tipos de públicos. Segundo o Instituto Brasileiro de Museus

(IBRAM), os museus representam um grande incentivador da cultura, pois trabalham

permanentemente com o patrimônio cultural no seu estudo, conservação e valorização e

abrem possibilidades de expressão de identidade, percepção crítica da realidade,

oportunidades de lazer e produção de conhecimentos (BRASIL, 2011). O IBRAM define que:

Os museus são casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos,

pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons e

formas. Os museus são pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos,

tempos, culturas e pessoas diferentes (BRASIL, 2011).

Assim, inspirados em Suano (1986) e Barja (2013) observa-se que o museu é um local

que preserva e expõe objetos considerados testemunhos e patrimônios materiais e imateriais

da humanidade para fins de educação, difusão da ciência e tecnologia e desenvolvimento

cultural. Os museus são locais que permitem a interação desses objetos com os visitantes, que

permitem despertar o interesse pelo conhecimento ali existente por parte dessas pessoas que

visitam os museus.

7 Para mais informações online sobre museus, Daniel Viana de Souza, mantém um site na internet que disponibiliza diversos trabalhos nacionais e internacionais sobre os museus, sua gestão e a museologia. Cf. http://minhateca.com.br/Daniel.Viana.de.Souza/Textos+diversos/Museus+e+Museologia

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Em 2013, o IBRAM juntamente com os museus em diversas cidades do Brasil, inclusive

com aqueles universitários, realizaram a semana dos museus, que é um evento anual para

estimular a visitação e sensibilizar a população sobre a importância dos conteúdos existentes

nos museus. Neste ano de 2013, o tema foi a criatividade, que pode ser conduzida e

principalmente estimula pela visita aos museus.

A associação dos Museus ao tema da criatividade tem relação com as ações que o

Ministério da Cultura (MinC) no Brasil está empreendendo nesta gestão governamental,

período 2011-2014.

Em 2011, o MinC publicou em 2011 o Plano da Secretaria da Economia Criativa, onde

são estabelecidas as diretrizes políticas e ações a serem seguidas entre 2011 e 2014 no setor

da Economia Criativa, por meio de organizações culturais nos seguintes campos(Figura 1).

A Figura 1 demonstra os campos e os segmentos ou ramos de negócios do setor

chamado economia criativa, no Brasil. Essas organizações estão inseridos neste setor porque

em suas práticas, os indivíduos em suas ocupações possuem a criatividade como base do

processo produtivo de seus serviços que são imbricados de dimensão simbólica, cujo valor é

agregado pelos consumidores ou usuários, ao contrário de outras formas de organizações no

mercado que embutem em seus produtos, elementos chave como preferências, estilos de

vida, status, padrões de consumo, e outras (EMMENDOERFER e MARTINS, 2013).

Desta forma, os produtos na economia criativa não são valorizados pela sua utilidade

prática, por sua materialidade, como os bens produzidos pelas indústrias e organizações

tradicionais, mas sim pela interpretação subjetiva (LAWRENCE e PHILLIPS, 2009) de um

significado por parte do consumidor ou usuário.

Figura 1 – Campos e setores produtivos da economia criativa

Fonte: Brasil (2011, p.30).

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Observa-se que os museus estão contemplados no campo do patrimônio no contexto

da economia criativa. Neste sentido, isso pode seu uma perspectiva para a criação de novas

imagens ou revitalizar as já existentes por meios dos bens e serviços culturais que podem ser

desenvolvidos nos museus e que necessitam de gestão (BARJA, 2013), para o desenvolvimento

deste local.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foram empregados dados documentais e de entrevistas com visitantes de museus

nesta cidade. Os documentos utilizados forma aqueles sobre os museus obtidos em suas

respectivas sedes, bem como em dados na internet obtidos no site da UFV. Além disso, foi

também manejado o plano nacional de economia criativa, disponível na internet para domínio

público, conforme constam nas referências bibliográficas deste trabalho.

Com o levantamento de dados com base em roteiros estruturados Tabela 1, aplicados

em forma de entrevista com “grupos de participantes”, considerados nesta pesquisa como

estratégicos da população viçosense. Por ser uma cidade universitária, é possível encontrar

territorialidades e diferenças na população, temos: os universitários, os ditos “nativos”,

aqueles mais velhos que presenciaram os processos de modificação que ocorreram em viçosa

- que puderam contribuir com a diversidade dos dados em seus variados aspectos e visões.

Tabela 1: Roteiro estruturado de entrevista utilizado

I- Qual o seu sexo? 1-masculino 2-feminino

II- Qual a sua idade? |___|___| anos

III- Qual é o seu grau de escolaridade?

1-Ensino Fundamental (Incompleto)

2-Ensino Fundamental (Completo)

3-Ensino Médio (Incompleto)

4-Ensino Médio (Completo)

5-Técnico

6-Ensino Superior (Completo)

7-Ensino Superior (Incompleto)

*Se cursando, qual?_________________________

VIII – O que menos agradou ou faltou na sua visita ao(s) museu(s)?

IX – O que um museu poderia ter para ser considerado um local criativo e mais atrativo?

X – Qual o tipo de museu que mais lhe atrai?

XI – Você acredita que tem algum museu em Viçosa que se destaca e que poderia representar a cidade?

NÃO CONHECE E NUNCA VISITOU EM VIÇOSA

XII – Porquê?

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8-Pós Graduação: Mestrado ou Doutorado

9-Alfabetização de Jovens e Adultos

10-Nenhuma das Alternativas

IV- Você mora em Viçosa?

1-SIM 2-NÃO - onde?_____________

V – Conhece os museus da cidade?

( ) Não e nunca visitei (vá para a questão XII)

( ) Sim, conheço, mas nunca visitei (Assinale as opções e vá para a questão XV)

( ) Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef visita:____

( ) Museu de Zoologia João Moojen visita: ____

( ) Sala Mendeleev visita:_____

( ) Museu Histórico da UFV visita: _____

( ) Pinacoteca da UFV visita:_____

( ) Casa Arthur Bernardes visita:_____

CONHECE E VISITOU ALGUM MUSEU EM VIÇOSA

VI – O que motivou a sua visitação?

VII – O que mais lhe chamou a atenção no museu?

XIII – O que um museu poderia ter para ser considerado um local criativo e mais atrativo para você?

XIV – Qual o tipo de museu que mais lhe atrai?

Conhece, mas nunca visitou na cidade

XV – Porquê?

XVI - O que um museu poderia ter para ser considerado um local criativo e mais atrativo para você?

XVII – Qual o tipo de museu que mais lhe atrai?

XVIII - Você acredita que tem algum museu em Viçosa que se destaca e que poderia representar a cidade?

Fonte: Elaboração própria.

Para conhecer a relação entre a população viçosense e os museus e espaços de ciência

da cidade, além da representação que se tem em relação aos museus da cidade, foram

realizadas com dois agrupamentos de pessoas distintos. O primeiro composto por (30) trinta

estudantes da UFV, com idades entre dezoito e vinte e cinco anos, e o segundo composto por

(65) sessenta e cinco moradores da cidade, com idades bem variadas, entre doze e noventa e

três anos, sendo que estes 2 grupos possuem indivíduos de diferentes, escolaridades e sexo.

As entrevistas foram realizadas em 6 museus, sendo que 5 são de fato e 1, apesar de

ser um espaço de ciências, possui características de organização e visitação semelhante a um

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museu. Logo, para fins desta pesquisa este último espaço, foi considerado também um museu.

Esses museus foram descritos na seção seguinte.

Os dados coletados foram cotejados e organizados por meio da análise de conteúdo

categorial que considerou os elementos indicados na Tabela 1, o roteiro de entrevista, para

exposição dos resultados.

4. MUSEUS DA CIDADE DE VIÇOSA – MINAS GERAIS – BRASIL

A Universidade Federal de Viçosa (UFV) é responsável atualmente pelos seis museus na

cidade de Viçosa - MG, sendo que estes espaços possuem grande potencial de lazer, cultura,

arte, entretenimento e conhecimento a serem explorados. Com diferentes temáticas,

atendem principalmente o público escolar, através de exposições, oficinas, minicursos e

palestras.

Contudo, cada um desses museus ou espaço de ciência tem suas próprias

particularidades, que aqui serão caracterizadas de maneira sucinta, através de um breve

histórico a fim de se entender o contexto das relações estabelecidas entre a comunidade e os

museus/universidade.

O Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, Figura 2, antigo Museu de Minerais,

Rochas e Solos, foi criado em quinze de dezembro de 1993, com o intuito de popularizar as

ciências da terra na Zona da Mata Mineira, através de ações voltadas principalmente para a

educação em solos e meio ambiente.

A exposição permanente do espaço conta com um acervo diversificado de rochas e

minerais, juntamente com o espaço denominado “Proibido Não Tocar”, onde os visitantes têm

acesso a uma abordagem mais dinâmica e interativa, aprendendo sobre solos e meio

ambiente através de demonstrações práticas.

Este Museu oferece atividades educativas a alunos das escolas da região, realizadas a

partir de exposições itinerantes, minicursos, oficinas variadas, dentre elas de tintas de solos,

percepção ambiental e biomas. Há também a existência de uma “Sala Verde”, projeto do

Ministério do Meio Ambiente para promover a educação ambiental a partir do empréstimo de

materiais como jogos, vídeos e livros com temáticas ambientais à população.

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Figura 2: Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef Fonte: Arquivo Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef.

O Museu de Zoologia João Moojen, Figura 3, teve sua exposição permanente criada em

1993, sendo composta por vários animais taxidermizados da fauna brasileira. Sua coleção

atinge mais de vinte mil exemplares, entre répteis, anfíbios, aves, mamíferos e fósseis.

Esse espaço também desenvolve várias pesquisas com espécimes, sendo possível a

realização de minicursos de identificação de serpentes e observação de aves, além de

palestras temáticas e exposições temporárias. É considerado um dos mais importantes

espaços de pesquisa zoológica em vertebrados de Minas Gerais.

Figura 3: Museu de Zoologia João Moojen

Fonte: UFV (2013).

A Sala Mendeleev, Figura 4, está inserida em um espaço de popularização científica

denominado Ciência em Ação, onde são desenvolvidos projetos de extensão do departamento

de química da UFV.

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Esse espaço possui uma exposição da Tabela periódica dos elementos gigante, com 3

metros de comprimento e 2 metros de largura, onde os visitantes podem conhecer a aplicação

prática desses elementos no cotidiano e suas curiosidades. ]

Há também a possibilidade do manuseio de amostras desses elementos e realizar

experimentos químicos demonstrativos.

Figura 4: Espaço Ciência em Ação, onde se localiza a Sala Mendeleev. Fonte: UFV (2013).

O Museu Histórico da UFV, Figura 5, foi inaugurado em 26 de Agosto de 1986 e a

Pinacoteca foi fundada em fevereiro de 1973, sendo que atualmente os dois espaços

funcionam em conjunto, em um mesmo prédio. A Pinacoteca apresenta diversas exposições

temporárias de artistas de várias partes do Brasil, conhecidos e iniciantes, além de possuir

variado acervo de arte contemporânea, sendo grande parte proveniente de doações de

artistas e colecionadores. Busca a difusão cultural entre toda a comunidade local. Possuindo

como acervo de sua exposição permanente peças que representam a trajetória e evolução da

antiga Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) até a atual Universidade Federal de

Viçosa (UFV), o Museu Histórico da UFV recebe principalmente a visita de instituições da rede

pública e particular de Viçosa e região e promove o resgate e preservação da memória da

Universidade.

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Figura 5: Museu Histórico e Pinacoteca da UFV. Fonte: Arquivo Museu Histórico da UFV.

Situada na região central da cidade de Viçosa – MG, a Casa Arthur Bernardes, Figura 6,

foi construída em 1926 para servir de residência para o então presidente e responsável pela

implantação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) – atual UFV -, Arthur da

Silva Bernardes, sendo transformada em museu em 1993, em parceria com a Universidade

Federal de Viçosa (UFV).

Figura 6: Casa Arthur Bernardes

Fonte: Lucas Teixeira

A exposição permanente é composta por fotos da carreira política e vida pessoal do ex-

presidente viçosense, além de vários objetos pessoais, condecorações e mobiliário original

que compunham a casa em Viçosa e a residência presidencial no Rio de Janeiro na época do

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seu mandato. Com ampla área externa, o espaço também é utilizado para a realização de

eventos como palestras, feiras literárias e mostras na cidade, atuando como importante

agente disseminador da cultura, arte, e história de Viçosa.

5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Na cidade de Viçosa – MG pode-se perceber através da referida pesquisa que a maioria

da população nativa da cidade conhece os museus existentes na mesma, mas nunca visitou

estes espaços, que estão abertos à visitação de toda a comunidade local e regional

gratuitamente.

Segundo os entrevistados que não conhecem e nunca visitaram os museus de Viçosa,

estes não freqüentam esses museus e espaços de ciência devido ao pouco tempo disponível,

além da realidade cultural dessa população, residente em uma cidade do interior, onde não há

o hábito e o incentivo à visitação museológica e a outros espaços culturais como forma de

lazer.

Muitos entrevistados ainda, não consideram esses locais como museus e espaços de

ciência de fato. Um exemplo notório seria a Casa Arthur Bernardes, antiga residência do ex-

presidente da República Arthur da Silva Bernardes, natural de Viçosa – MG. A Casa busca

preservar e divulgar sua trajetória política e pessoal, através de fotos, móveis e objetos

pessoais. Apesar de estar bem localizada, situada na região central da cidade, a população

desconhece seu acervo e objetivo.

Outra forma de desmotivação dessas pessoas a visitarem esses museus é a falta de

divulgação de forma que atraia àqueles espaços e o interesse pelo que está sendo exposto.

Além disso, vários entrevistados alegaram também que a falta de companhia para realizar esse

tipo de atividade é um fator relevante.

Dentre os entrevistados que conhecem e visitaram os museus, em sua maioria a

motivação foi simplesmente o interesse e curiosidade, uma vez que esses são fatores

relatados tanto pela população da cidade quanto pelos alunos da Universidade.

Devido ao vínculo de muitos funcionários desses espaços e da própria UFV com as

pessoas da cidade, muitos disseram conhecer esses lugares por terem conhecidos que

trabalham ou trabalharam na instituição.

Em sua maioria, as visitas recebidas pelos museus e espaços de ciência são motivadas

pelos professores das escolas tanto públicas quanto particulares das redes de ensino da cidade

e região, o que de alguma forma faz com que alguns pais tenham conhecimento sobre a

existência desses espaços.

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Há uma parte da população da cidade que nunca ouviu falar e por isso nunca visitou

os museus existentes, sendo que estes reclamam da falta de divulgação desses espaços pelos

meios de comunicação da cidade de viçosa da universidade, como rádio, TV, folders, cartazes e

placas indicativas. Segundo os mesmos há um descaso, ou até mesmo uma desvalorização

desses espaços pelo poder público e uma falta de recursos que promovam a cultura e o

turismo.

Focando nos alunos da Universidade entrevistados, muitos também conhecem os

museus por curiosidade ou interesse, sendo que a maioria deles já visitou alguns desses

espaços, tendo destaque o Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, que devido a algumas

disciplinas do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, ao qual este espaço

é vinculado, algumas atividades realizadas neste museu acabam se tornando parte do período

letivo, além da Casa Arthur Bernardes, também amplamente citada.

Na visão da maioria da população entrevistada da cidade de Viçosa - MG, o museu

que se destaca e que poderia representar a cidade seria a Casa Arthur Bernardes, pois

segundo os mesmos este espaço traz consigo a história da cidade vinculada à vida do ex-

presidente Arthur Bernardes que é uma figura nativa importante também na história nacional.

Outra justificativa desse espaço ser considerado um representativo da cidade seria o fato dele

estar situado no centro da cidade, uma vez que os outros museus e espaços de ciência estão

situados no espaço da Universidade, que é um ambiente visto muitas vezes como inacessível

pela população, principalmente de classes mais baixas.

Outras realidades puderam ser identificadas por meio dessa pesquisa, pois é grande o

contingente populacional da cidade que não sabe que a universidade, por ser uma instituição

pública, é aberta a qualquer cidadão, agravando a relação entre os museus e a cidade, pois

todos eles estão vinculados à mesma.

Por receber visitas de boa parte do estado de Minas Gerais, tanto por escolas como por

faculdades, o Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef, foi considerado por alguns como um

dos museus que se destaca e que poderia representar a cidade de Viçosa. Devido também a

sua estruturação e também as atividades que desenvolve fora de seu espaço físico, tendo

destaque as exposições itinerantes.

Outros consideraram que o Museu Histórico da UFV se encaixa nesse grupo, por contar

a história da universidade e sua evolução, que influenciou fortemente o crescimento da

cidade.

Porém algumas pessoas que foram entrevistadas consideraram todos os museus da

cidade como uma forma de representação da cidade de Viçosa, pois um museu conta um

tempo ou uma história daquele lugar, pois independentemente do tipo de museu que exista,

ele pode representar de alguma forma a história de determinado lugar.

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Em meio os entrevistados, foi grande o número de pessoas que enxergaram o museu

como local de caráter meramente histórico, contendo apenas peças antigas de uma

determinada época.

Esses resultados servem de evidências para a premissa que foi traçada no inicio deste

trabalho. E que apesar de Viçosa ter seis museus coordenados pela UFV, observou-se que eles

são mal utilizados, isso por que ao mesmo tempo em que há o potencial para o

desenvolvimento deste tipo de atividade no contexto da economia criativa, existe o

desconhecimento ou o desinteresse por parte da população.

6. CONCLUSÕES

As evidências identificadas e observadas nesta da pesquisa confirmaram a premissa

traçada neste trabalho de que os museus de Viçosa são uma parte da cidade praticamente

desconhecida pela população, principalmente aqueles que se encontram dentro do Campus -

que seriam todos, exceto a Casa Arthur Bernardes, que por ser um museu localizado fora do

campus, vários entrevistados disseram já o ter visitado por terem certeza que aquele não seria

um espaço restrito àqueles que têm algum vínculo com a UFV. Essas evidências trazem dados

importantes para a reflexão e a ação de gestores culturais que lidam com museus

universitários.

Com os dados levantados foi possível observar que o motivo mais relatado de

desconhecer os museus é a falta de tempo e interesse nos temas dos museus. Por

funcionarem essencialmente em horário comercial, aqueles que trabalham durante a semana,

realmente não conseguem encontrar um horário compatível para que ocorra a visitação.

Essa realidade mostrada pelas entrevistas aponta para onde teria que haver

modificações para melhorar esse cenário de desconhecimento por parte da população. Uma

maior divulgação, horários de visita mais flexíveis e abrangentes, abordagens mais dinâmicas

dos temas, interatividade do público com o acervo, foram os pontos mais destacados pelos

entrevistados.

O resultado desse distanciamento da população quanto a UFV traz um estigma à

instituição de ser um agente segregador e que seu acesso está restrito àqueles que fazem

parte dela. Isso faz com que haja um grande investimento em saberes - por parte daqueles

que integram estes espaços - a fim de atender e transmiti-los a essa comunidade, mas que

acaba não sendo aproveitado em seu todo. Tal realidade reforça a coexistência das duas

imagens centrais e incongruentes sobre Viçosa, que fragilizam sua identidade de cidade, por

meio de representações socialmente construídas e reificadas, apesar dos esforços estarem

centrados na UFV. Especificamente, no trabalho executado por professores, técnico-

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administrativos e estudantes nos museus enquanto extensionistas, mantendo estes em

condições mínimas, mas importantes, para se manter frequente as visitações.

7. REFERÊNCIAS

BARJA, W. (Org.). Gestão museológica [recurso eletrônico]: questões teóricas e práticas / Seminário Internacional sobre Gestão Museológica realizado pelo Museu Nacional do Conjunto Cultural da República. Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2013. Disponível em: http://pdf.escrbc.com/SeminarioInternacionalGestionMuseologica Brasilia2013.pdf. Acesso em 01 de agosto de 2014.

BRASIL. Plano da secretaria da economia criativa: políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014. Ministério da Cultura. 2.ed. Brasília, 2011. Online. Disponível em <http://www.cultura.gov.br>. Acesso em fevereiro de 2014.

LAWRENCE, T. B.; PHILLIPS, N. Compreendendo as indústrias culturais. In: Wood JR., T., Bendassolli, P. F., Kirschbaum, C. & Cunha, M. P. (orgs.). Indústrias criativas no Brasil. São Paulo: Atlas, 2009.

EMMENDOERFER, M. L.; MARTINS, B. C. L. Gestão de circo: um campo de atuação profissional (des)conhecido, Tourism & Management Studies, v.9, n.2, p.118-123. 2013. Disponível em http://tmstudies.net/index.php/ ectms/article/view/597. Acesso em 01 de agosto de 2014.

SUANO, M. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1986. Online. Disponível em: http://minhateca.com.br/Daniel.Viana.de.Souza/Textos+diversos/Museus+e+Museologia/SUANO*2c+M.+O+que+*c3*a9+museu,47179482.pdf. Acesso em: 01 de agosto de 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Museus. Viçosa. MG. Brasil. 2013. Online. Disponível em: http://www.portal.ufv.br/?page_id=154. Acesso em: 20 de maio de 2013.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Uma viagem pela história da instituição. Online. Disponível em: https://www2.cead.ufv.br/linhaTempo87Anos/. Acesso em: 01 de agosto de 2014.

WIKIPEDIA (2013). Viçosa. Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Vi%C3%A7osa_(Minas_Gerais). Acesso em 30 de junho de 2013.

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VIDA DE BAILARINA

Doris Dornelles de Almeida

Para introduzir a trajetória de vida dedicada à dança, farei uma breve apresentação

com um resumo do meu currículo como bailarina, coreógrafa, professora e pesquisadora nesta

área. Nasci em porto Alegre capital do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil e tenho trinta e seis

anos. Minha formação em dança ocorreu primordialmente na técnica ballet clássico, jazz e

contemporâneo.

Sou Professora de Ballet Clássico e Música do Curso de Graduação em Dança do

Departamento de Artes e Humanidades na Universidade Federal de Viçosa-UFV, bailarina com

experiência profissional nacional e internacional em companhias de dança desde 1994,

diretora, coreógrafa e fundadora do Ballet Virtuose e pesquisadora nas Ciências Humanas,

Sociais, Filosofia e Arte na temática da dança, cultura nas organizações e indústria cultural,

baseada na perspectiva do corpo sócio-histórico-cultural e do embodiment (corporalidade).

Sou Mestre em Administração e Negócios com Louvor pela Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul-PUCRS (2012), Especialista em Teoria do Teatro-Cena Contemporânea pela

Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS (2005), Bacharel em Administração de

Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS (2006) e Bacharel

em Artes-Dança - Folkwang Hochschule Essen- Alemanha (2002).

A palavra bailarina traz consigo diversos significados de origem cultural, social e

histórica, por refletir um ser apaixonado pela sua profissão: a dança. Ser bailarina significa em

poucas palavras, dedicação, disciplina, persistência, controle físico e emocional na arte da

dança.

Embora seja o sonho de toda menina, pelo menos nos países ocidentais, ser bailarina

vincula-se a imagem de que ao usar as sapatilhas, os tutus e os brilhos as pequenas

sonhadoras se transformem como num passe de magica em ‘borboletas dançantes’, fadas que

voam e dançam com seus príncipes. Os familiares apoiam e estimulam as crianças esta dança

que se inicia como uma brincadeira, entretanto a realidade se transforma quando estas

crescem e optam por seguir uma carreira profissional.

Quem já teve contato com a dança clássica percebe que por detrás desta figura ‘linda e

leve’ existem inúmeras privações que estas mulheres e homens devem fazer para tornar-se

‘BAILARINO’ como profissão. Mesmo aqueles que vivem o ballet como hobby sentem as dores

físicas e emocionais, esforços, pressões e algumas das facetas do que é ‘ser bailarino’. O

enfrentamento de uma rotina caracterizada ‘militarizada’ do ballet como profissão geram

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reflexões sobre algumas questões relacionadas sobre o uso exacerbado do corpo,

alimentação, obsessão pelo movimento, abdicação da infância e juventude nos

Conservatórios, adiamento da união familiar e maternidade, discriminação, prolongamento da

juventude e medo do corpo ‘não responder’ aos anseios da ‘mente’. A princípio ser bailarina

associa-se culturalmente aos fatores de: beleza física, leveza, destreza, magreza, agilidade

motora, sucesso, artista, feminilidade, fragilidade, sapatilhas de pontas, tutu, ser etéreo e

‘super humano’.

Os mistérios dos bastidores desta arte, em especial das vidas dos bailarinos, causam

polemicas e são registradas por diversas áreas através de filmes, documentários, livros, cartas,

vídeos, fotografias, pesquisas e relatos de vida. No entanto, esta carreira permeada pela dor e

esforço também possui seus momentos de glória. Estes momentos refletem as emoções

provenientes dos aplausos da plateia, ao interpretar um personagem, de viver

financeiramente ‘fazendo o que se gosta’, de obter reconhecimento dos pares,

professores/treinadores (ballet masters), coreógrafos, diretores e críticos e o inexplicável

prazer de dançar. Contudo, ser bailarino para além de uma função profissional de execução de

coreografias e movimentos de dança, engloba participar ativamente de processos de criação

coreográficos, ensaiar, treinar diariamente na técnica a qual dança, dedicar-se ao

conhecimento do próprio corpo e percepção dos corpos dos seus pares, participar

constantemente de testes de seleção (audições) para as obras coreográficas, desenvolver boa

comunicação verbal e corporal, ensinar dança, compartilhar experiências corporais, pesquisar

e estar atualizado sobre técnicas e obras coreográficas a nível mundial, adaptar-se a diferentes

espaços, bailarinos, coreógrafos, ballet masters (treinador de ballet), ensaiadores, técnicos de

palco, figurinos, musicas, emoções, horários de trabalho, alimentação, especialmente nas

tournées.

Quando fui convidada a escrever este capítulo de livro me deparei com reflexões sobre

como esta arte da dança delineou e ainda guia minha trajetória de vida. Estas sensações,

vivências e lembranças, traduzidas em palavras, registram esta minha experiência pessoal ha

trinta anos nesta arte tão intensa.

1. AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS EM DANÇA

Meu primeiro contato com o ballet clássico foi aos três anos de idade, com tom de

brincadeiras propostas por uma professora dentro de um Jardim de Infância em Porto Alegre-

Rio Grande do Sul; Brasil, onde as meninas faziam ballet enquanto os meninos faziam futebol

no horário destinado às atividades físicas.

Nesta época se percebe a distinção social que se incitava nas crianças do Jardim de

Infância, no qual as meninas estavam estimuladas a dançarem e os meninos ao jogo de

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futebol, entretanto trinta anos depois este modelo social em relação ao gênero e ao ballet

continua se perpetuando.

O fascínio pelo primeiro espetáculo, a surpresa da sensação e a expectativa de se

apresentar em publico causavam ‘frios na barriga’, mas era emocionante pensar que em dado

momento, para um grupo de pessoas nos apresentaríamos como bailarinas. O figurino

caracterizado pela meia calca rosa, malha rosa, tutu composto por uma camada de tules

presos por uma seda e decorado com lantejoulas, as sapatilhas novas, o cabelo puxado na

forma de coque e a maquiagem nos remetiam a outro mundo, o mundo da fantasia. Ainda

guardo este tutu, pequeno, singelo, mas que carrega consigo toda emoção que ao olha-lo

sinto a emoção de pisar no palco pela primeira vez, e com essa sensação a de que aquele lugar

magico me transportava para outro lugar, um lugar do qual nunca mais conseguiria como em

um vício deixar de estar, no palco.

Contudo, além do palco me fascinavam as aulas de ballet, as músicas clássicas e as

brincadeiras lúdicas de dança ao interagir com as outras crianças dançando. A dança

possibilitava errar e acertar, viver personagens diversos, conviver com as professoras que

eram nossas guias e nosso maior exemplo, o aprendizado sobre dançar em equipe,

experimentar no corpo movimentos, desenvolver percepções auditivas, visuais, cinéticas,

espaciais, espirituais e mentais.

Após alguns anos, perto dos seis anos de idade, quando estava entrando no ensino

fundamental, a cidade de Porto Alegre oferecia na época, em meados de 1984, uma gama

variada de escolas de ballet para crianças. Minha mãe após uma pesquisa decidiu junto a meu

pai a me matricular na escola de ballet do meu novo colégio. A diretora e minha professora

era bailarina em outra escola e havia fundado aquele estabelecimento para obter uma renda

financeira para pagar por seus estudos na Universidade. Assim continuei meus estudos em

ballet, iniciando meus estudos em pontas aos nove anos de idade.

Nesta escola éramos poucas alunas, o que tornava o ensino bem particular, éramos

como uma família, tratadas com muito carinho e atenção e neste lugar dancei meu primeiro

solo coreográfico. Nossa sala de aula, localizada no andar superior do colégio, de onde víamos

diariamente o palco, e também a dançar cada vez mais e a sonhar em estar naquele lugar. A

sala era pequena e não possuía espelho, o que nos estimulava por um lado, a percepção

corporal e a criatividade, algo atípico para o ballet.

Os espetáculos se tornaram mais frequentes e junto a estes as vivencias com os

ensaios, figurinos, as estórias para contar com movimentos e a serem interpretadas eram

cuidadosamente ensinadas, com introdução a técnica do ballet, mas também dando espaço

para a ludicidade e o florescimento da bailarina que existia em cada uma de nos. Eu era

disciplinada, apaixonada por dançar, mas ainda tinha muito a aprender, então depois de seis

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anos neste ambiente ‘protegido’ pela intensa relação com as colegas e com a professora, onde

trabalhamos o lado lúdico da dança pedi para a minha mãe para ir para uma escola ‘maior’,

ambiente muito diferente do qual havia vivenciado meus primeiros contatos com a dança.

2. ESCOLAS DE DANÇA E SUAS PARTICULARIDADES

Importante destacar que nesta nova escola havia somente mulheres, não havia, com

homens dançando, com diversos níveis de aprendizado, a técnica era rígida e as bailarinas que

não atendiam prontamente a estes movimentos corporais eram desestimuladas a dançar,

havia uma competição extrema nas politicas de gestão e ensino nesta escola, as quais eram

marcadas nos uniformes, posições no espaço, onde as que eram melhores eram colocadas na

frente, nos tipos de tratamento das professoras e diretoras da escola que davam atenção

especial às alunas que se destacavam em técnica e tipo físico ‘adequado’ para a dança. Aos

onze anos de idade, junto a um grupo de alunas e diretoras desta escola realizei na minha

primeira viagem de dança internacional a Nova Iorque, Estados Unidos para assistir

espetáculos e ensaios de renomadas companhias e fazer aulas com renomados profissionais

da dança.

Esta experiência foi deslumbrante e chocante ao mesmo tempo, pois se por um lado

tivemos contato com bailarinos, escolas e companhias mais destacadas do mundo. Fiquei

emocionada ao ver os bailarnos ensaiando com figurinos somente para nós em estúdios de

dança com linóleo e cortinas, aquecidas e com piano, diferentes da realidade em que

vivíamos.

Todo aquele mundo era magico, nas aulas, no entanto, como eram realizadas em

escolas de dança abertas ao publico, onde qualquer pessoa pode pagar a aula no dia e entrar,

ai era onde começava toda a competição, tanto entre as alunas americanas, quanto entre as

alunas brasileiras. Essa atmosfera era percebida nos olhares das bailarinas quando entravamos

nas salas de aula, nos olhavam de cima abaixo como se fossemos extraterrestres, depois na

colocação espacial para os exercícios, onde ficávamos sempre atrás para que as bailarinas mais

acostumadas com a aula nos guiassem, contudo a diferença entre esta aula e a que fazíamos

em Porto Alegre era de que o professor não colocava as pessoas espacialmente, ele deixava

livre para que os bailarinos se colocassem. O uso da sapatilha de ponta e um vestuário

impecável com coques bem puxados e umas meninas ate usavam maquiagem nesta idade na

aula.

Passada esta experiência da viagem quando retornamos as aulas eram épocas de

espetáculos e na escola as seleções dos elencos eram feitas em função de quem pagava um

curso extra no final de ano para dançar. Ou seja, era uma politica capitalista de ‘pagar para

dançar’, em um âmbito de competição extrema sobre o corpo nos quesitos físico e emocional,

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de modo que muitas jovens já decidiam parar de dançar naquela idade. Vivendo diariamente

naquele ambiente por dois anos, no qual tínhamos que ser magras, com ‘peitos de pé’

salientes, pernas e torso com ampla flexibilidade, destreza técnica e nos faziam acreditar que

quem não possuísse estas características não poderia dançar. Todos aqueles acontecimentos

passados na escola de dança remetiam as expectativas físicas e técnicas disseminadas naquele

grupo sobre um estereótipo de bailarina.

3. DA ESCOLA PARA AS COMPANHIAS DE DANÇA PROFISSIONAIS

Aos treze anos, estava dançando na Escola de Bailados Clássicos Tony Seitz Petzhold.

Era uma Escola onde também funcionava uma Companhia de Dança, então a atmosfera era

outra diferente da minha ultima experiência. Aquele novo lugar possuía muitos artistas, onde

existia um tratamento interpessoal mais digno e ‘humano’, onde se trabalhava a técnica e o

artístico e havia mulheres e homens dançando. Comecei fazendo ballet com a professora

Anette Lubisco, uma bailarina expecional. Logo ela me incentivou a dancar jazz. Havia muitos

bailarinos no jazz, e já no primeiro espetáculo que dancei junto a eles no ballet e no jazz

percebi que sim, todos podiam dançar com seus diferentes corpos, apresentando suas

particularidades artísticas.

Senti muito feliz por perceber que poderia dançar novamente. Comecei a fazer outras

aulas na escola como ballet com a Sra. Tony Seitz Petzhold e também me dedicava ao Jazz, que

havia iniciado na minha primeira escola no colégio. A sensação naquele lugar e convivendo

com aqueles artistas marcou minha trajetória, e era somente o começo.

Logo surgiu audição para a Companhia Ballet Phoenix, eu tinha quinze anos e minha

professora me estimulou a realizar o teste. Eu não tinha ideia do que era uma audição e como

era trabalhar em uma companhia. A professora me deu dicas para as roupas de dança a serem

usadas na audição, fiz um coque e fui aproveitar a experiência de participar de uma seleção de

dança junto a inúmeros concorrentes experientes junto a uma banca avaliadora composta por

renomados profissionais de dança da cidade de Porto Alegre Magali Fett, Anette Lubisco e

Edson Garcia. Fui selecionada pela primeira vez como bailarina para dançar uma companhia de

dança.

O trabalho era realizado diariamente das 18 às 22h na sala de ensaios localizada perto

do Centro de Porto Alegre, com espetáculos e viagens de tournée nos finais de semana. Tinha

quinze anos e estava no colégio e possuía meu primeiro registro como bailarina no Sindicato

dos Artistas. Eu era a mais nova da companhia e o repertório variava do clássico ao jazz e

contemporâneo.

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Os bailarinos do Ballet Phoenix, por serem mais experientes me proporcionaram

aprendizados como ‘estar em cena’, estar presente com todas as suas energias desde o

momento em que se pisa no palco, a se aquecer antes de entrar em cena, dedicação constante

tanto na melhora da técnica quanto na parte artística, dançar em conjunto e em solo, cuidar

de cada detalhe do movimento, doar-se para a plateia através da expressão corporal no palco,

treinar e ensaiar constantemente no aperfeiçoamento do movimento, a aplicar maquiagem no

rosto e no corpo quando necessário para atenuar as linhas musculares, contratar artistas de

outras áreas para auxiliar no desenvolvimento artístico do grupo e a riqueza de

conhecimentos compartilhados que um grupo de artistas proporciona.

Neste mesmo ano de 1994 tive a sorte de conhecer um ator e preparador teatral que

foi trabalhar conosco na companhia, o qual me convidou a treinar ballet em uma escola

chamada Ballet Concerto de uma preparadora de ballet muito qualificada chamada Victoria

Milanez. Desde aquele momento comecei a fazer aulas de ballet e pontas com a Victoria pela

manha e pela noite dançava na companhia Ballet Phoenix. Nestes dois principais centros de

dança de Porto Alegre concentravam-se os melhores bailarinos da cidade e arredores, sendo

que no Ballet Phoenix estavam os bailarinos contemporâneos e jazz e no Ballet Concerto os de

ballet clássico, dois estilos diferentes porem complementares. Existe um ditado interessante

que diz que o ‘mundo da dança e muito pequeno’, ou seja, que muitas vezes todos acabam

trabalhando juntos em algum momento, e a Victoria já havia treinado e dado aulas de ballet

clássico para todos os bailarinos do Ballet Phoenix quando a companhia havia sido fundada.

Na escola Ballet Concerto também funcionava concomitantemente uma companhia

com bailarinos e bailarinas clássicas, e logo fui convidada para dançar junto a eles. Dançava

então em duas companhias ao mesmo tempo e começava o segundo grau. Meus turnos eram

preenchidos entre aulas no colégio, aulas de ballet clássico, aulas de ballet na companhia à

noite e ensaios para os espetáculos das respectivas companhias.

Nestas duas companhias foram os primeiros contatos com a dança profissional,

vivenciei os bastidores e a cena dançando nos melhores teatros e lugares alternativos da

capital e no interior do Rio Grande do Sul. Além disso, os espetáculos eram dançados em

palcos praticáveis no centro da cidade, orquestras ao vivo, plateias lotadas, reportagens e

críticas em diversos jornais locais e na televisão RBSTV, so diversas obras coreográficas

clássicas e contemporâneas.

Trabalhando ainda em duas companhias de dança os horários de ensaio eram

alternados e pelo menos não trabalhava mais no período noturno diariamente. Estava no

último ano do colégio me preparando para o vestibular e comecei a pesquisar Universidades

de Dança para dar continuidade nos meus estudos na área que era mina paixão a dança. Nas

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minhas primeiras pesquisas começou mina preocupação, primeiro devido ao fato de não

haverem Universidades de Dança perto da minha cidade.

Continuei minha pesquisa e o próximo destino era Nova Iorque na Julliard School, meus

sonhos eram grandes. No entanto, quando investiguei as taxas de mensalidades e moradia o

sonho acabou por terra. Acabei permanecendo em Porto Alegre e investindo em meu

aprendizado em dança, fazendo duas aulas de ballet diariamente e não desisti. Neste processo

de aprendizagem continuei como bailarina da companhia Ballet Concerto durante cinco anos,

participando também das companhias de dança Anette Lubisco e Cia e Muovere Cia de Danca.

Neste período fiz aulas de contemporâneo, ballet e jazz em diversos centros de dança,

participando da criação coreográfica, ensaios e espetáculo. Quando retornamos a Porto Alegre

fizemos tour no Rio de Janeiro e participamos de importantes eventos culturais como o Porto

Alegre em Cena.

Dançando em tempo integral, como profissão, não tínhamos nenhuma segurança social

e jurídica trabalhista, retorno financeiro e contribuição daquele trabalho para a previdência

social, enfim não existíamos socialmente como classe trabalhadora. As bailarinas precisavam

estudar e trabalhar para poderem dançar ali já que não recebíamos retorno financeiro pelo

nosso trabalho. Já no Ballet Concerto recebíamos cachês proporcionais ao trabalho realizado

com espetáculos de ballet, o que tornava o trabalho mais estimulante visto que poderíamos

ser reconhecidos como classe trabalhadora e investirmos na carreira profissional em dança.

4. BAILARINA COMO PROFISSÃO

Durante estes quatro anos dançando em quatro companhias de dança locais e uma

internacional minha família estava preocupada que tivesse uma carreira que me desse

‘sustento financeiro’ e meu pai e mãe conversavam comigo sobre o mercado de trabalho das

artes no Brasil. Após minhas experiências com as companhias de dança locais e contatos com

amigos bailarinos a nível nacional, percebia que o mercado de trabalho de dança no Brasil era

muito restrito, ou seja, havia em torno de cinco companhias de diferentes estilos (Grupo

Corpo, Theatro Municipal Rio de Janeiro, Balé da Cidade de São Paulo, Cisne Negro e Raça

Companhia de Dança) no país inteiro para absorver todos nós como profissionais. Nesta época

tinha uma amiga bailarina que havia ido recentemente para Alemanha cursar especialização

em Dança. Logo, em 1998 duas amigas minhas do Ballet Concerto haviam sido premiadas com

bolsas de estudo de dança para Alemanha, fatos que me incentivaram a tentar obter uma

carreira internacional.

Com dezenove anos de idade, decidi e me inscrevi em uma Universidade da Alemanha,

a Folkwang Hoschule Essen, a qual era uma instituição pública, dirigida por uma das maiores

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coreógrafas de todos os tempos chamada Pina Bausch. Era junho, era pleno inverno e lembro

até hoje de abrir a caixa de correio da casa e receber a carta convite da Universidade da

Alemanha. Pensava em como o contato com profissionais que viviam da dança poderiam

contribuir para minha formação e como poderia também repassar minhas experiências

adiante no futuro.

A Universidade na Alemanha possuía dois prédios com salas de dança com portas de

vidro e visão para uma floresta, salas de espetáculos, estúdios aquecidos, com piso de linóleo,

vestiários amplos com chuveiros, ou seja, infraestruturas que apenas havia tido contato breve

quando viajei por curtos períodos para dançar nos Estados Unidos e Canadá. Somados a toda

infraestrutura propícia par a dança, os bailarinos e coreógrafos da Pina Bausch e de ouras

companhias renomadas internacionalmente eram professores na Universidade. A audição

durou toda uma tarde, fizemos uma aula de ballet, uma de contemporâneo e logo cada um

dos cinqüenta pré-selecionados deveria apresentar um solo coreográfico para todos os

professores e concorrentes. No final participávamos individualmente de uma entrevista e

recebíamos as notas totais do nosso teste. Passei diretamente para o segundo ano do curso!

Fiquei muito feliz com minha colocação, éramos somente eu e outro menino que havíamos

entrado em anos superiores do curso e para mim todo aquele trabalho realizado já havia sido

recompensado com as avaliações destes profissionais.

5. DANÇAR ALÉM DAS FRONTEIRAS

Na Folkwang Hochschule Essen, dirigida Pina Bausch tínhamos oportunidade de assistir

ensaios da companhia e espetáculos gratuitamente por sermos estudantes de dança. Tive

formação com inúmeros profissionais os quais contribuíram para experiências inéditas como

Derek Williams, Agnes Pallai, Dominique Mercy, Lutz Foster, Libbie Nye, Malou Airoudo, Marie

Benatti, Norbert Steinwarz, Rodolpho Leoni, Frey Faust, Judy Bassing, Patricia Martin, Michael

Mills, entre outros. Agradeço até os dias de hoje cada momento que aquela Universidade me

proporcionou. Nossa grade de horários era no turno da manha e tarde, começávamos a

semana com aulas diárias de ballet e contemporâneo e logo eram intercaladas aulas de jazz,

flamenco, folclore europeu, Laban Kinetographie, ‘Dança Atual’, história da dança, Alexander

Technique e composição coreográfica. Graduei-me em Dança na Universidade Folkwang

Hoschule Essen em 2002.

Seis meses antes da minha formatura comecei a fazer audições em teatros na

Alemanha, foram mais de sessenta companhias para as quais audicionei, havia vezes que

passava a noite viajando de trem para chegar a cidades no interior da Alemanha de manhã

cedo para audicionar e retornar no mesmo dia para continuar as aulas na Universidade. Até

que em uma destas tentativas, em um teatro magnífico imponente pela sua arquitetura e

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pelos bailarinos e coreógrafos que lá trabalhavam de mais alto nível técnico e profissional fiz

uma audição. Era uma aula de ballet junto à companhia, na qual se encontravam presentes

trinta e cinco bailarinos, diretor, secretária, e o ballet master que ministrou o treino junto ao

pianista. Assim que terminou a audição, o diretor nos recepcionou e me ofereceu emprego

como bailarina clássica de uma companhia renomada. Meu sonho havia se tornado realidade!

6. COMPETIÇÃO NO BALLET

O ballet possui uma característica de competição, a qual é indigna da arte, pois somos

seres humanos com suas particularidades e compararmos técnicas ou artistas desmerece a

arte per se.

Quando começou a temporada em agosto de 2002 em Essen na Alemanha, minha

carreira profissional nunca esteve melhor. O teatro onde trabalhei como bailarina possuía

coreógrafos residentes, os quais eram diretores de companhias de dança renomadas, Boris

Eiffman (Russia), Heinz Sporeli (Suica), Sergei Gordiyenko (Russia), José Udaeta (Espanha),

Mário Schroder (Alemanha) e Birgit Scherzer (Alemanha), tendo a honra de interpretar e

dançar suas coreografias.

Os espetáculos no teatro eram um evento especial, no entanto existia neste ambiente

uma tensão de provocada de uma competição entre os membros da Companhia a qual ocorria

através dos olhares de superioridade quando um bailarino era elogiado ou escalado para o

repertório, no posicionamento na sala de treino, nas cenas de ciúmes (carteas e suspiros)

quando um bailarino era selecionado de última hora para substituir algum colega que estava

lesionado, nas ‘fofocas nos corredores’, e até mesmo em agressões verbais entre os bailarinos,

ou seja, a disputa pelos papéis para dançar era intensa e manifestada de diversas formas no

ambiente organizacional.

Éramos de diferentes nacionalidades, com trajetórias completamente diferentes

socialmente trabalhando juntos, havia bailarinos da Espanha, República Tcheca, Rússia,

Eslováquia, Japão, Itália, Alemanha e Brasil. As idades variavam entre dezoito e trinta e sete

anos. Nossa rotina era distribuída de segunda a sexta, entre treinos, ensaios e espetáculos,

sendo que começávamos o dia às 9h com treino de ballet e os ensaios terminavam as 18h, nos

sábados o treino começava ás 9h e os ensaios eram até ás 14h seguido de pausa atá ás

17h30min quando deveríamos estar no Teatro para o espetáculo que durava até ás 23h.

Domingos não havia treino. Havia somente um dia de descanso na semana e trabalhávamos

inclusive me datas festivas como Natal, Páscoa, Ano Novo. As férias eram no período do verão

durante quatro semanas consecutivas.

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Embora muito feliz trabalhando como bailarino no teatro, algumas vezes nos

momentos dos aplausos no final dos espetáculos, percebia que estava enfrentando uma fase

de crescimento e aquele mundo trazia consigo outros aspectos, como o fato de estar longe de

todos familiares e viver somente para os palcos. Existia dentro de mim um desejo de

contribuir para a dança em meu país.

7. DANÇA NO BRASIL

Em 2004 retornei a ‘pátria amada’ Brasil e vivi um dos momentos mais difíceis

profissionalmente ao me adaptar a realidade local e artística. Decidi dançar no Ballet Concerto

com a Victoria, a qual me acolheu de braços abertos.

Desde que cheguei dancei durante dez anos com o Ballet Concerto, onde havia iniciado

minha formação em ballet clássico. Percebendo a realidade da dança no Brasil, na qual havia

piorado o mercado de trabalho para os bailarinos, mesmo assim me dediquei a continuar

dançando.

Graduei-me em 2007 em Administração na PUCRS. Como havia residido na Alemanha e

era fluente na língua, fui trabalhar numa indústria alemã em Porto Alegre na área de

Marketing. Na rotina de trabalhar com a Administração, percebia que nunca conseguiria

trabalhar em algo que não fosse a dança e que minha experiência de quinze anos na área

deveriam ser aplicadas de outra maneira.

Então fui convidada para dançar em uma companhia em Nova Iorque de um colega de

dança da Folkwang. A dinâmica da cidade oferecia diversas oportunidades profissionais, e

treinava ballet com inúmeros bailarinos e professores considerados estrelas da dança mundial.

Nesta época aproveitei cada Segundo para fazer contatos, aprender e assistir a muitos

espetáculos de ballet, contemporâneo, festivais de dança. Dancei duas temporadas com a

companhia, incluindo uma tournée na Califórnia.

Entre 2009 até 2013, de volta ao Brasil, dancei no Ballet Concerto e fiz Pós Graduação

Mestrado, com intuito de ensinar em Universidades, pois poderia me dedicar á dança através

do ensino contínuo, da pesquisa, extensão e espetáculos artísticos.

Havia um Concurso Público para Professor de Ballet na Universidade Federal de Vicosa,

Minas Gerais. Estava disposta a mudar a situação de que não se pode trabalhar com dança no

Brasil e me dedicar com que outros bailarinos tenham formação e oportunidades de dançar,

além do fato de poder continuar dançando ou construir um grupo de dança.

Estudei e preparei diversas aulas que poderiam ser solicitadas no concurso. Foram dois

dias de concurso com provas de longa duração testando nossos conhecimentos e experiências

de todas as formas. Na primeira fase fizemos uma prova teórica e no dia seguinte, a segunda

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fase foi composta da parte páatica. Ministrei aula de ballet avançado para quarenta alunos da

dança no estúdio do Curso de Dança, com três professoras compondo a banca de avaliação,

um profissional de filmagem e plateia composta em torno de vinte estudantes do curso.

O resultado do concurso havia sido publicado no site da Universidade, e quando

cheguei em casa recebi a notícia de que havia passado. Assumi o cargo de Professora do Curso

de Graduação em Dança da Universidade Federal de Viçosa-UFV, em fevereiro de 2014.

Continuo com meus treinos de ballet, dançando em vários espetáculos que organizo e sou

convidada como artista-docente eventos internos e externos á Universidade. Além disso,

coordeno e ministro cursos de extensão, eventos, participo de congressos e aperfeiçoamentos

técnicos e práticos.

Em 2014, fundei o grupo de dança chamado Ballet Virtuose, dentro do Departamento

de Artes e Humanidades da Universidade. Atualmente neste grupo materializamos as ideias

criativas em coreografias através de uma companhia jovem. O Ballet Virtuose compõem-se de

nove bailarinos voluntários, entre eles Thamiris, Gabrielly, Cleison, Anderson, Gustavo,

Paloma, Nailanitta, Gabriela e Tarcisio, com os quais trabalho com muito orgulho e alegria.

Não possuímos financiamento para figurinos e espetáculos, então os bailarinos trazem seus

próprios, embora nosso trabalho venha sendo reconhecido pela comunidade artística. Este

breve registro está traçado por uma trajetória de abdicação e dedicação nos âmbitos

profissional e pessoal á dança, na qual trabalho para que muitos bailarinos possam se

desenvolver profissionalmente fazendo o que mais gostam: Dançar.

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PARTE II

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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PATRÍCIA LIMA E O NÚCLEO DE ARTE E DANÇA1

José Ricardo Vitória

Patrícia Lima

Bárbara Calçado Lopes Martins

O Núcleo de Arte e Dança – mais conhecido apenas como Núcleo – é um conjunto de

instituições sediadas em Viçosa - MG e que há mais de 30 anos leva a magia da arte e da dança

para todo o Brasil. Atualmente é dividido em instituições distintas: Núcleo Academia, Núcleo

de Arte e Dança e outras instituições de outros projetos com logomarcas e CNPJ separados,

formando o Núcleo. O Núcleo de Arte e Dança, é uma escola igual a qualquer outra, com

divisão de períodos letivos e férias. Já a academia funciona de janeiro a dezembro; o aluno faz

diferentes atividades – campanha de verão, campanha de inverno, entre outros – o ano todo,

se desejar. E os demais projetos do Núcleo contam com apoio de financiamentos, de

patrocínios e de leis de Incentivo á Cultura. No entanto, mesmo separadas – com o objetivo de

melhorar organização e administração – essas instituições sempre trabalharam juntas.

A história do Núcleo, por varias vezes, confunde-se com a história de Patrícia Lima, sua

fundadora e administradora durante toda sua existência. História de paixão e dedicação de

quem atuou como dançarina, professora, diretora, produtora e gestora do Núcleo. A ideia do

Núcleo começou em 1980 quando Patrícia, ainda jovem, com apenas 20 anos, se casou e

mudou pra Viçosa.

Antes de se casar Patrícia vivia em Belo Horizonte (BH), cidade onde nasceu e foi criada.

Ainda em BH, ela já havia estudado dança e, desde os 15 anos de idade, já dava aula na escola

de dança “Balé Ana Lucia”, como estagiária. Além disso, estudou administração na Fundação

Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), porém, por causa do casamento, interrompeu o

curso quando estava faltando um ano para se formar. Quando veio para Viçosa transferiu–se

para o curso de Administração da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Entretanto, devido à

1 Nota Metodológica

Este capítulo foi feito a partir de um relato, feito em entrevista, com Patrícia Lima. Posteriormente essa foi transcrita e transformada no texto que se segue. Para não perder a parte emotiva da entrevista, algumas das falas de Patrícia foram mantidas na integra e colocadas em recuo à direita. Agradecemos pela ajuda voluntária nas transcrições à; Tháila Rezende da Costa, Daniela Queiroz do Prado e Vitória das Neves de Souza.

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grade curricular ser bem diferente, na UFV ainda faltavam três anos para ela se formar e teria

que estudar quase tudo novamente. Somando a isso, não conhecia praticamente ninguém na

nova cidade. Isso a desestimulou a terminar os estudos e, dessa forma, não chegou a se

formar.

Todavia, a experiência obtida no curso a ajudou muito para que ela obtivesse sucesso

nos desafios e experiências futuras. Sempre muito organizada, programava-se e tomava conta

de tudo, do que ficaria devendo e como iria pagar, tal como havia aprendido na

Administração. De maneira que foi ela quem sempre cuidou da parte administrativa e de

como funcionavam os negócios, afirmando que seu verdadeiro diploma veio de outra maneira.

Ao se mudar para Viçosa, Patrícia se deparou com uma cidade carente de atividades

culturais e, imediatamente, começou a procurar um lugar onde pudesse montar uma escola

de dança. Porém, apesar de procurar por toda a cidade, só encontrou imóveis muito

pequenos, e com salas menores ainda, que não comportavam uma sala de dança. Os poucos

encontrados estavam indisponíveis ou apresentavam algum problema estrutural, como por

exemplo, uma pilastra no meio que inviabilizava a possibilidade de iniciar um espaço de

cultura e de arte.

Enquanto não encontrava um espaço para abrir uma escola de dança, Patrícia abriu

uma loja de artesanatos, onde trabalhava como lojista.

Um ano depois de sua mudança para Viçosa, é aberta uma nova rua – a Rua Doutor

Milton Bandeira – onde a primeira loja construída era de uma construtora do empresário

Antônio Chequer, e que havia um espaço disponível com dois pisos. Era uma sala grande de

mais ou menos 10 m por 8 m com a frente dando porta para a rua e um escritório e vestiário

ao fundo no segundo piso. E Patrícia não pensou duas vezes, já foi logo alugando o espaço.

Naquela época era uma rua de terra, mas anos depois se tornaria um dos principais centros

comerciais de Viçosa. E ali mesmo foi inaugurada a primeira sede do Núcleo de Arte e Dança.

Já no primeiro ano, em 1981,o Núcleo abriu as matriculas para todas as pessoas que

quisessem fazer aula de dança. E, como não havia muitas opções culturais em Viçosa, teve um

grande numero de inscrições, principalmente de estudantes da universidade e,

surpreendentemente, homens em sua maioria. Na universidade tinha atividades ligadas a

musica – pela história do professor Benito Taranto com o piano. Mas na dança era muito

carente, até então na cidade.

Antes de completar um ano, em outubro de 1981, o Núcleo de Arte e Dança já realizou

o seu primeiro festival, que foi o primeiro realizado em Viçosa neste formato. Nesse primeiro

festival os alunos ainda tinham pouco conhecimento sobre dança e pouca experiência – os

alunos mais experientes tinham entre 8 e 6 meses de aula. Entretanto, era preciso mostrar

para cidade o que era fazer arte, o que era fazer cultura e o que era fazer dança com

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profissionalismo. Então, o Núcleo enfrentou o desafio de fazer um espetáculo, mesmo não

tendo muitos recursos técnicos e nem artísticos.

Para sonorizar e iluminar o espetáculo foi preciso dividir o serviço e trazer parte da

estrutura de Belo Horizonte, pois em Viçosa não tinha nenhuma empresa que trabalhava com

iluminação cênica e a única empresa de sonorização era a ‘Som Fly’. Por isso veio uma kombi

de BH com a iluminação. Era ainda um pouco amadora, com iluminação no chão, mas já com

pessoas que trabalhavam propriamente com essas coisas.

Esse festival foi realizado no ginásio da Universidade e teve duração de meia hora, com

apresentações avulsas, onde tinham cinco números independentes e uma com todos os 60

alunos. Na universidade os professores Benito Taranto, juntamente com a Sandra Cavalcanti

da Divisão de Assuntos Culturais, deram todo apoio pra ter o primeiro espetáculo, ajudando a

fazer o programa, liberar o espaço físico da universidade, dentre outras coisas.

Para surpresa de Patrícia, foi um grande sucesso. Porque as pessoas da localidade ainda

não conheciam o que era e como era feito tudo aquilo. E a partir do primeiro ano, foi um

grande bum de inscrições para o Núcleo. De 60 alunos passou para mais de 170. E com apenas

uma sala, Patrícia, sozinha como professora, dava aula o dia inteiro.

...em função dessa carência de arte, de cultura, de atividades que davam prazer

as pessoas de fazer. Porque as pessoas só tinham a universidade e o Núcleo

propunha uma nova opção...

No segundo ano, já com um numero maior de alunos, inovou com o primeiro

espetáculo de formato temático, intitulado ‘Viçosa em Jazz’. Este festival contava um pouco da

história da própria cidade através do jazz, que era a dança do momento nos anos 80. Nesse

espetáculo era representada a praça Silviano Brandão com todos os seus personagens

caricatos da época como: engraxate, padeiro, leiteiro, açougueiro, babás com as crianças,

estudantes da universidade, ciclistas, dentre outros. Tudo foi contado e representado pelos

artistas, que deram vida a esses personagens com 30 bicicletas e quase 200 alunos, numa

história que ilustrava um dia inteiro vivido em Viçosa desde manhã cedinho até a noite,

quando tinham as festas típicas do lugar.

Pela primeira vez teve um cenário, onde José Antônio Santana – um artista de Viçosa –

foi convidado para ser o primeiro cenógrafo a trabalhar com Patrícia. Ela queria um cenário

que falasse um pouco da cidade. E José Antônio elaborou um, onde as próprias empresas

apoiadoras faziam parte, junto com outros elementos que se destacavam em Viçosa. Dessa

forma, tinha: a sorveteria ‘Creola’, que era também uma sorveteria diferente na cidade e que

ganhou uma coreografia exclusiva; o ‘Number one’ que era uma escola de idiomas; o bar

“Boate Avalone”, que era funcionava ao lado do Núcleo e; a ‘Pá de Coisas’, que era uma

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boutique. E para completar o cenário, trouxeram de Belo Horizonte uma equipe forte de som

e luz com tudo de mais moderno naquela época. O povo mais uma vez ficou encantado, lotou

o ginásio da UFV e foi um grande sucesso.

Dessa forma, a história do Núcleo foi se concretizando com os festivais anuais que eram

montados aumentando, a cada ano, o número de público e de alunos. Quando começou, era

apenas uma escola de dança, mas, atendendo à pedidos de mães de alunos, começou a ter

aulas de ginástica também, isso foi na segunda sede. Quando se mudaram para a sede atual, a

atividade física aumentou muito, e além da ginastica começou a musculação. E, com a renda

dessas atividades muitas dívidas da dança foram pagas. Sendo assim, as atividades físicas

minimizaram as dívidas para que pudessem continuar os festivais. A academia obteve sucesso

antes que a escola de dança e os projetos culturais do Núcleo. E por um bom tempo a

academia financiava as demais atividades. Todavia, anos mais tarde, grandes mudanças

ocorreram com as leis de incentivo, e as dívidas com os trabalhos de dança não eram mais um

problema para a academia, podendo ser desmembradas.

No terceiro no do festival foi apresentada uma versão moderna do ‘Quebra Nozes’, que

se chamou ‘O Sonho Mágico’. Era a história de um conto de natal, onde tinham 300 alunos

representando soldadinhos de chumbo, princesas e os diversos personagens de conto de

fadas. Neste ano, o público chegou a cinco mil pessoas em apenas um dia, atingindo a

capacidade máxima do ginásio da universidade.

Figura 1: O Sonho Mágico, versão moderna do Quebra Nozes (anos 1980). Fonte: Núcleo de Arte e Dança.

Até o terceiro do festival do Núcleo, Patrícia atuava nos espetáculos como bailarina, até

perceber que não tinha tempo para ensaiar. Ela ensaiava a todos, deixava todos prontos,

ficava por último e acabava tendo que fazer improvisação. Então decidiu não mais atuar nos

espetáculos e cuidar mais da direção e produção.

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Nesses primeiros anos Patrícia trabalhava praticamente sozinha, contou com apoio de

bailarinas que já se destacavam e se tornaram as primeiras professoras do Núcleo, sendo

Jaqueline Castro, a primeira delas, além de muito apoio familiar. O lado profissional e técnico

dependia da Patrícia e de seus alunos, mas o sucesso do festival contava também com o

esforço de sua família e o apoio da família dos alunos e bailarinos.

...e realmente é uma família fazendo um trabalho de arte. E por isso eu acho que

deu muito certo porque todo mundo abraçou a ideia.

Ainda neste terceiro ano, Marcelo Andrade, que se tornou ao longo do tempo um

grande amigo de Patrícia, assistiu ao espetáculo e logo em seguida foi a sua casa e a convidou

para fazer um trabalho juntos. Ele já fazia teatro antes e tinha trabalhos conhecidos e

admirados por Patrícia, que imediatamente aceitou o pedido.

Marcelo já fazia teatro e eu já assistia espetáculos dele... ‘Aurora da Minha Vida’

entre outros, e eu sempre gostava e admirava.

Dessa forma, começou uma história de trabalho conjunto que foi uma revolução para

arte em Viçosa. Juntou-se aí um grupo de alunos de dança mais experientes do Núcleo com o

grupo de atores que já trabalhavam com Marcelo Andrade, somando um total de 40 jovens

artistas. E com um projeto ousado, unindo o teatro, a dança e algumas técnicas de áudio

visual, montaram ‘O Grande Mentecapto’ da obra de Fernando Sabino.

O espetáculo tinha Patrícia e Marcelo como diretores e ele ainda fazia o papel de

‘Geraldo Viramundo’. Para a parte do audiovisual foi preciso rodar por varias cidades de Minas

Gerais, fotografando e transferindo para slides de retroprojetor. E a cada apresentação tinha

que montar os slides para ter uma fusão na interação do teatro e da dança. As fitas usadas

para sonorização do espetáculo eram rolos bem grandes. Na sua primeira versão, o espetáculo

durou três horas sem intervalo e o público com mais de mil pessoas manteve-se paralisado

assistindo atentamente até o final. Este foi apresentado no centro de vivência da UFV que,

naquela época, ainda não era um teatro, e sim um salão com cadeiras colocadas.

Mais uma vez foi um trabalho de grande sucesso, que teve a presença de Fernando

Sabino, que veio a Viçosa assistir. Ele gostou muito do que viu e, como um padrinho, os levou

para se apresentarem no Rio de Janeiro, onde ficaram por mais de um mês em uma

temporada no teatro do Glauce Rocha. A crítica ao espetáculo foi muito boa, tanto na área de

dança quanto na área de teatro, pela ousadia, pela inovação, mesmo com poucos recursos –

quase não usando cenário – mas ao mesmo tempo com um elenco muito apaixonado pelo que

fazia.

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todo mundo fazendo sempre tudo pela paixão... a gente não vivia disso, a gente

sobrevivia disso... é diferente... com o de hoje comíamos amanha, é assim que a

gente vivia.

E foi dessa maneira, trabalhando com poucos recursos e muita paixão, que Patrícia,

Marcelo e seu grupo rodaram boa parte do Brasil, se apresentando em varias capitais e nos

teatros mais famosos do país – como o Teatro Nacional de Brasília – além de rodar por quase

todo estado de Minas Gerais. Isso sempre com grande público e com críticas excelentes, o que

mais motivava o grupo.

Nós jovens saindo do interior, com um tanto de jovens mais jovens que a gente, e

fazendo arte e cultura por esse Brasil a fora, e dando certo... nos motivou muito a

lutar pela arte e a cultura, pra gente continuar a fazer o que gostávamos... foi

muito prazeroso poder sentir o retorno,,, mesmo saindo do interior conseguimos

chegar lá as capitais e fazer sucesso... acho que a gente era até... acho não, tenho

certeza que a gente não tinha tanta consciência do que estavamos fazendo. A

gente ia pela paixão e pelo impulso da alegria que nos dava aquele trabalho, de

estar fazendo aquilo, e de estar dando certo...

Depois disso, Patrícia continuou com os festivais, que foram se aprimorando, com a

divisão do balé entre o jazz e o contemporâneo, por exemplo, sempre trazendo coreógrafos e

bailarinos convidados de outras escolas, cidades, paises para poder incrementar o trabalho do

festival. Isso fez com que o Núcleo fosse sendo conhecido e reconhecido para além de Viçosa.

Pois as pessoas começaram saber da existência de uma escola de dança que trabalhava sério,

com artistas talentosos e muitos bailarinos, tendo condições de fazer um bom trabalho

artístico e de dança. Ao passo que, paralelamente, Marcelo também continuava com o teatro,

fazendo as suas turnês e os seus trabalhos de direção, roteiros e apresentações. E com muito

trabalho continuaram a crescer até que precisaram mudar de sede, pois aquela onde

começaram as ideias e trabalhos já não suportava mais o tamanho do Núcleo.

No quinto festival, com a evolução da tecnologia, utilizaram o primeiro projetor e telão

no espetáculo do Núcleo. Era ilustrada uma viagem ao mundo, onde eram projetadas imagens

de vários países, e os bailarinos representavam esses países. Coincidentemente na época que

Zé do Pedal – um atleta aventureiro de Viçosa, que rodava o mundo de bicicleta – estava

chegando de uma de suas viagens pelo mundo. Ele chegou em outubro e o festival era em

dezembro, o que gerou mais uma parceria que encaixou perfeitamente. Pois, de uma forma

intuitiva, o espetáculo já contava a história de um viajante pelo mundo. E, dessa forma,

através das fotografias do Zé e sua participação, eles contaram a sua história.

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é tudo muito intuitivo também... eu sabia o que precisava e o que queria, mas

ouvi sempre muito minha intuição ... tanto é que isso aconteceu, do Zé do Pedal

chegar uns dois meses antes do festival, foi especial e embora o que estava

programando pra ser o link do trabalho ser um grupo de turistas, se tornou o

personagem principal e tão importante – pra cidade de viçosa – como o Zé do

Pedal, e sua história pelo mundo... de rodar o mundo.

O festival de dança acontecia todos os anos e sempre foi, desde o primeiro ano,

ininterrupto. Dessa forma, ele se tornou o carro chefe, pelo fato de que foi o primeiro trabalho

artístico que existiu para daí existirem os outros projetos e as outras atividades. Foi a partir

dele que surgiu a formação da escola Núcleo, onde surgem os bailarinos que se aprimoram e

vão fazer parte de outros espetáculos.

Figura 2: Bailarinos de Capitães da Areia (anos 1990). Fonte: Núcleo de Arte e Dança.

O Grande Mentecapto também aconteceu por muitos anos, e foi considerado uma

grande ousadia, que sobreviveu devido ao grande apoio; da UFV, das prefeituras das cidades

por onde passavam, das hospedagens de viagens inesperadas em sedes de bombeiros,

quarteis, escolas, etc. Isso porque o Mentecapto sempre foi muito solicitado para

apresentações em outras cidades, pelas secretarias de cultura, em aberturas de seminários e

conferências, dentre outros tantos convites.

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Passados os primeiros anos, as ideias de trabalho conjunto com Marcelo Andrade

foram se aperfeiçoando e montaram outro espetáculo de nome ‘De Minas a Nova York’, que

também foi baseado em crônicas do Fernando Sabino, e ainda juntando em cena o teatro e a

dança, que também ficou três anos em cartaz.

Já no início da década de 90, Patrícia e Marcelo resolveram fazer um trabalho conjunto,

porém, com espetáculos separados, um de teatro e outro de dança. Nesse trabalho

escolheram homenagear a família do Jorge Amado e Zélia Gattai. Marcelo Andrade montou o

espetáculo teatral baseado nas obras“Anarquista graças a Deus” e “Um chapéu para viagem”

de Zélia Gattai, e Patrícia montou um trabalho de dança baseado na obra “Capitães de Areia”

de Jorge Amado. Isso, com a ideia de rodar com os dois espetáculos simultaneamente pelo

Brasil e encontrar na Bahia, na terra dos autores escolhidos.

Esse foi o primeiro trabalho feito com um projeto para pleitear um patrocínio, e teve a

aprovação do Banco do Brasil. Este patrocínio serviria para financiar uma turnê desses

espetáculos nos meses de janeiro e fevereiro. O projeto previa uma turnê de dois meses,

vindo de Maranhão até Ilhéus, passando de capital em capital com ‘Capitães da Areia’. Já o

espetáculo ‘Anarquistas’ viria de outra turnê, mas pro sudeste pra encontrar com a equipe do

Núcleo em Salvador. Dessa forma, estava previsto de, quando lá chegassem, Jorge Amado e

Zélia Gattai assistiriam os dois espetáculos.

Nesse espetáculo Capitães de Areia, toda cenografia, iluminação e elenco eram simples

e ao mesmo tempo complicados. Isso porque eram próprios para viajar, mas eram muito

grandes para transportar e sem contar que não tinham apoio de técnicos para montagem,

desmontagem e de atender todos detalhes de um espetáculo que durava uma hora e

quarenta minutos.

Os roteiros eram de coautoria de Marcelo Andrade e Patrícia. Ela, além do roteiro, era

responsável também pela produção e direção geral e algumas coreografias Além disso,

durante a tourné oferecia oficinas para os bailarinos e escolas de dança locais, o que tornava

tudo muito complexo para ela. Porém, contava com os produtores Paulo Bustamante e

Marcos Lourenço, que rodavam todas as cidades da turnê antes da chegada da trupe, e faziam

varias parcerias com os governos, fundações, hotéis, teatros, universidades e todos que

conseguiam, para que pudessem realizar os espetáculos.

Ao chegar a São Luiz do Maranhão toda a mídia foi procurar o grupo; radio, televisão, a

Rede globo, jornais principais da cidade. Isso atraia os artistas da cidade, principalmente por

saber que o grupo estava levando um trabalho com nome de Jorge Amado através da dança, o

que aumentava a curiosidade.

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...e uma imagem que eu não esqueço é eu sentada no teatro José de Alencar com

um monte de cenário no meu colo tendo que... organizar aquele cenário todo, por

pra funcionar e os bailarinos já tendo passado o ensaio, indo pro hotel dar uma

descansadinha e já vinha a televisão para entrevistar, e eu me via naquela

situação ‘nossa não sabia que era assim’, era uma grande loucura e uma grande

ousadia... a gente trabalhava pelo coração, mais do que ..pela experiência

mesmo... não tínhamos experiência com uma tourné deste porte. Com as viagens

do Mentecapto era mais tranquilo porque a gente ia numa cidade e voltava se

reestruturando cada vez. Então sempre dava pra organizar bem. Com os capitães

de areia não, já era uma turnê completa. Saía de uma cidade já seguia pra outra,

ficavamos três dias aqui, mais três dias em outra, seguia para próxima e tal... e

foi bastante difícil apesar das parcerias, dos apoios. E é uma coisa bem louca

porque a gente vivia dias difíceis nesta questão da produção principalmente, e

noites gloriosas, porque quando abriam-se as cortinas era um alivio. Porque o que

a gente confiava muito, era o que dava certo, era a parte artística. Então abriam-

se as cortinas e o público adorava o espetáculo, fomos sempre muito aplaudidos e

tivemos excelentes criticas. Mas o dia a dia era muito difícil... desmontagem ,

viajar de madrugada pra outras cidades, o dia seguinte de manha ministrando

oficinas na nova cidade ,montar tudo de novo em outro teatro...

Tudo corria apertado mas bem, até que chegou o dia em que o patrocinador que

deveria depositar a parcela de 50% do patrocínio cedido, não depositou. Esse fato

desestruturou todo restante da viagem, pois estavam viajando com mais ou menos 25 pessoas

de avião, ficando em hotéis , tinham que honrar com as dívidas com os parceiros e não tinham

nenhum dinheiro. Até então, estavam se alimentando com o cartão de credito que, ao chegar

à data do vencimento, parou de funcionar.

Tiveram que passar a se alimentar e viajar com a bilheteria do dia anterior. Num dia

faziam o espetáculo, pegavam bilheteria, com a qual almoçavam e jantavam no outro dia,

além de contar com o café da manhã no hotel. Tentavam conversar com o responsável pelas

passagens aéreas que constantemente ligava cobrando e alegando que eles não tinham

dinheiro – o que era verdade. E, aos poucos,Patrícia foi ficando desesperada, porque não tinha

dinheiro nem para pegar os bailarinos e manda-los de volta para Viçosa – jovens os quais os

pais haviam confiado à responsabilidade a Patrícia. Então viram que tinham que ficar vivendo

dia a dia até conseguirem voltar para casa. E foi assim por um mês e vinte dias, com pessoas

atrás deles cobrando e ameaçando em por a polícia federal atrás deles,em interditar o

espetáculo.

...até que eu peguei o telefone e falei com o senhor que estava nos cobrando as

passagens aéreas, ‘senhor– não lembro o nome dele... O Senhor é pai? Se o

Senhor é pai, então o senhor pensa por favor que se interditar o espetáculo hoje,

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eu não vou ter como mandar nossos 20 meninos embora pra casa deles, eu vou

ter de ficar com todo mundo aqui na rua.

Mesmo a equipe tendo amigos influentes que estavam tentando facilitar a liberação do

restante do dinheiro com o Banco do Brasil, e eles tentando pagar como podiam, as pessoas

foram ficando desacreditadas . Chegaram a ligar para Prefeitura de Viçosa e Universidade

explicando o que tinha acontecido e pedindo ajuda, pois eles representavam não só o seu

trabalho, mas representavam também a cidade de Viçosa. Porém, os responsáveis receberam

as notícias, ouviram os primeiros telefonemas, mostraram-se dispostos a ajudar durante um

tempo até que, a partir de um certo dia, não atenderam mais nenhum telefonema, sem ter

dado nenhuma solução concreta.

Foi muito... muito.. sacrificante , pra mim e Marcelo principalmente, como

produtores e diretora e hoje parece até engraçado como conseguimos sobreviver

a essa situação. Os bailarinos não vivenciaram os problemas não sabiam de nada.

Eles passeavam na praia de dia, se apresentavam a noite... mas a gente passou

muitos perrengues lá, de chegar o dia que não tinha como dar o café da manhã

pra eles, e... contar com o suquinho do avião, pra poder... ser o alimento da

manhã daquele dia

Ao chegar à cidade de Natal–RN– era véspera de carnaval – eles conseguiram o ginásio

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para que pudessem passar a noite.

Na época, era um ginásio mal cuidado onde só haviam alguns colchonetes para toda a equipe

dormir. Patrícia, juntamente com o produtor Marcos Lourenço, saiu para pra ver se

conseguiam resolver alguma coisa. Foram na fundação cultural da cidade e lá já não tinha mais

ninguém. Saíram andando pela cidade, pra ver o que poderiam fazer para melhorar a situação,

tentando achar algum lugar onde pudessem passar o carnaval com esse tanto de pessoas sem

dinheiro. Passando em frente ao Palácio do Governo não pensaram duas vezes e foram lá

pedir ajuda. Foram muito bem recebidos por um assessor do governador. Explicaram a

situação daqueles jovens bailarinos que estavam fazendo obra de Jorge Amado, mostraram os

jornais que tinham suas trajetórias.Todos os principais jornais, a Rede Globo do nordeste

faziam chamadas para o espetáculo, provando que era um grande sucesso – mesmo sem

dinheiro nenhum. Ouvindo isso, o assessor os encaminhou e colocou o grupo numa pousada

onde permaneceram durante toda estadia em Natal. Em troca, o grupo do Núcleo que neste

trabalho se passou a chamar Grupo Êxtase de Dança fez apresentações para o governo na

cidade de Touros - RN–na ponta do Brasil. E foi assim que passaram o carnaval em Touros,

fazendo apresentações para pagar a pousada e alimentação que o governo tinha cedido em

Natal.

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E assim foi até chegar em Salvador – BA, local que era a grande expectativa de todo o

grupo. Porque lá, Jorge Amado e Zélia Gattai iriam assistir os espetáculos. Apresentação que

proporcionou Patrícia o que ela própria chamou de, talvez, a maior emoção de sua vida nesses

35 anos de Núcleo.

Jorge Amado... ele ouvia falar da gente, mas ele não conhecia nosso trabalho ...ele

não sabia quem eu era, só tinha até então contato com o Marcelo que conseguiu

com a liberação para montar os espetáculos. No dia da estreia antes do

espetáculo estava montada uma exposição, com apoio da casa de Jorge Amado,

com as gravuras do livro, do 1° livro capitães de areia... e ele Jorge Amado estava

nessa exposição. Chegou muito cedo. E eu vendo ele com o seu neto , andando

pra lá e pra cá, curiosa, é claro, fiquei andando atrás dele, foi quando ele virou

assim... falando com o neto dele: ‘Será que vai demorar?’ – Isso ainda faltava uma

meia hora pra começar – ‘Será que vai demorar ?’ O espetáculo durava 1 hora e

40, eu pensei: ‘Nossa senhora! Como que eu vou fazer com esse cara?..’ É uma

aflição muito grande, você apresentar uma obra de um autor vivo, ele assistir já

aflito pra acabar, pra ir embora pra casa. Ai eu falei:‘Ai Deus, vamos lá!’ Foi

quando ele entrou e já sentou na plateia do teatro ... eu fiquei na cabine, numa

direção bem atrás dele pra ver tudo, até a cabecinha que ele ia mexer. Zélia

chegou foi lá e sentou-se ao lado deles... e o espetáculo acontecendo e eles

paradinhos, assim...todos eles ... ‘Ai Deus do céu! O que que vai ser né?’ Ao final,

minha surpresa quando ele foi o primeiro a se levantar, aplaudia muito de pé com

os braços pra cima, não falava nada, saiu correndo , apressadamente, foi pra

dentro do palco. Aí fui atrás dele, cheguei lá ele chorava, eu chorava, os bailarinos

choravam, todo mundo chorava, chorava, chorava e foi embora não teve...

assim... nenhuma palavra sabe...mas foi muito forte a emoção. E no dia seguinte,

quando vi o Jorge Amado foi dar uma entrevista pra televisão, quando ouvi ele

dando um depoimento que eu não esqueço nunca o que ele falou, que não sabia

que ia ser através da dança, que ele ia sentir a emoção dos personagens que ele

criou, que ele já tinha visto capitães de areia no cinema, na televisão e no teatro

e que foi através da dança que ele sentiu toda emoção dos personagens que ele

criou. Melhor premio da vida...

Depois de assistirem e saberem das dificuldades que Jorge Amado e Zélia Gattai

entraram em contato com o Banco do Brasil, no qual eram conselheiros, e conseguiram pedir

para liberarem a verba do patrocinio, mesmo com atraso. Então a turnê foi finalizada em

Ilhéus e o grupo retornou para Viçosa, onde foram recebidos pelos familiares com

comemorações, faixas e banda de música, para comemorar a vitória alcançada depois de tanto

sacrifício.

Segundo Patrícia, esses acontecimentos foram como um diploma de produção e de

aprendizado para grupo sobre o que devem ou não fazer. Desde então, o grupo não saiu mais

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de Viçosa sem a verba já estar na conta, por causa da alta pressão que isso representava. Não

apenas pela produção cultural, mas principalmente pelas pessoas e suas famílias.

O espetáculo ‘Capitães da Areia’ ainda durou muito tempo. Patrocinados pela Toyota,

foram para a Argentina e para o Paraguai com vários espetáculos extras. Apresentaram no

‘Iate Golf Clube’– um dos principais clubes do Assunção Paraguai – para a grande elite do País,

que doou toda a verba da bilheteria para instituições carentes. E o Núcleo ainda fez uma

apresentação só pra meninos carentes do Paraguai.

Foi também com Capitães de Areia e a partir dos anos 90 que o Núcleo – Grupo Êxtase

de Dança passou a se apresentar gratuitamente para meninos de rua. E esse trabalho passou

a fazer parte da história do Núcleo. Hoje trabalham com mais de mil e quinhentos jovens

através de projetos sociais.

Figura 3: Cena do espetáculo “Lago dos Cisnes” (2010). Fonte: Núcleo de Arte e Dança.

Algumas meninas do balé clássico foram crescendo e participando de muitos concursos

nacionais e internacionais. Os bailarinos se tornavam profissionais, primeiramente com o balé

clássico através de bolsas, posteriormente começaram a despontar e a ganhar bolsas no

exterior para se aperfeiçoarem.

Vários profissionais eram trazidos à Viçosa para aperfeiçoar e especializar cada dia mais

os bailarinos, possibilitando fazerem vários balés de repertório– que até hoje é uma coisa

muito rara no Brasil. Além do balé clássico e do jazz, com o tempo surgiram as danças

contemporâneas e s danças urbanas, também conhecida como dança de rua. O que levou o

Núcleo a ganhar mais de cem premiações em diversas modalidades da dança ao longo de sua

história.

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A lei estadual de incentivo a cultura começou em 1996, porém apenas em 2000 tiveram

o conhecimento e buscaram aderência à mesma. Com a entrada da lei, surgiu uma perspectiva

diferente. Pela primeira vez foi possível que trabalhassem com verba disponível para fazer um

espetáculo e leva-lo gratuitamente para pessoas que não tinham condições de pagar o

ingresso. Dessa forma, ficou mais democratizado e o foi ampliando o público que já chegou de

mil e quinhentas até duas mil pessoas assistindo gratuitamente por espetáculo e já tendo

alcançado mais de duzentas mil pessoas em todos os trabalhos.

Com isso, tiveram ampliadas as possibilidades de fazer arte cultura, pois, até então, o

que acontecia muito era que eles pagavam para se apresentar e ainda ficavam devendo.

Depois, voltavam a se apresentar para pagar as dívidas, num circulo vicioso. E isso ocorreu

dessa maneira durante anos, iniciando com festivais de dança. Além disso, havia um

crescimento artístico muito grande. Dessa forma, havia um desequilíbrio, enquanto o nível

técnico e artístico estava crescendo, os patrocínios e o nível financeiro eram baixos.

e por isso que sempre repito o que movia tudo era a paixão pela dança, paixão

pela arte, sempre foi o que mantinha tudo, o que não se tinha jeito de fazer.

Muitas coisas mudaram a partir do momento que se teve oportunidade deste apoio, a

partir das leis de incentivo a cultura. Patrícia consegue planejar e executar melhor, alcançando

melhor trabalho final, devido aos novos recursos. Com esses recursos poderia pagar e fazer as

melhores negociações, além de conseguir melhorar também os preços, aperfeiçoar os

processos, conseguindo no final qualificar mais os projetos.

Com a possibilidade de entrada de um recurso, parece que eu me vi nas nuvens...

sempre trabalhei sem nem um recurso, planejando como pagaria dividas. E agora

podendo pagar, mudou tudo , porque passei a poder fazer melhores negociações,

melhorar os preços conseguindo otimizar os projetos e qualificando mais tudo ao

final...porque uma coisa e você falar por exemplo com um cenógrafo ... ‘Eu posso

te pagar tudo em dez parcelas? – não dá não – por favor, por favor’...ou eu vou

ter dinheiro pra comprar tinta e depois começar a te pagar... ou não vai ter

cenário...mas sempre conseguia porque contei com a boa vontade de muitas

pessoas. É muito diferente quando você passa a poder contratar as pessoas com

prazos, com datas com os recursos esperados, raramente, e principalmente para

os artistas como por exemplo os bailarinos, os cenógrafos, técnicos e todos

outros que trabalham com arte, acontecia isso. Sempre busco encontrar valores

dignos porque sei o quanto que eles pelejaram também até chegar aqui. Se um

cenógrafo pede pra mim x eu faço de tudo pra conseguir pagar aquele x. Eu

trabalho pra minimizar o preço de materiais como uma gráfica, um banner, um

aluguel de teatro, para poder valorizar os artistas e tudo que o envolve .

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Um dos primeiros trabalhos feitos através da lei de incentivo – aprovado e captado no

ano 2000 – foi um espetáculo em comemoração aos quinhentos anos do Brasil. E a primeira

grande empresa incentivadora foi a Metalsider que apoia os trabalhos do grupo até hoje. O

espetáculo se chamava ‘Vera Cruz’ e era baseada na obra homônima de Eduardo Bueno. Com

ele fizeram varias apresentações em escolas públicas, e foi um dos primeiros trabalhos

apresentados em Belo Horizonte, através da Lei de Incentivo e apresentado no SESI Minas,

para grande público. Com isso, pode-se notar mudanças significativas que o Brasil passava

sobre o fazer cultural.

também tem depoimentos ... muito legais, de quem via de perto as mudanças

ocorrendo como o da Léa Medeiros jornalista... quando ela retratou sua emoção

de ver pela primeira vez um menino de chinelo de borracha, assistir um

espetáculo de arte de dança. E isso modificou toda uma historia, a seguir dai, e

que a gente não parou mais e continua tentando manter essa historia viva.

Figura 4: Espetáculo “O Menino Que Achou Uma Estrela” (2011).

Fonte: Núcleo de Arte e Dança.

Contudo, apesar das leis de incentivo e começar a melhorar a situação, não era sempre

que os projetos eram aprovados, pois não havia uma forma de aprovação clara e transparente.

Isso beneficiava muito as capitais e muito pouco o interior. E mesmo quando o interior era

beneficiado com a aprovação, era muito difícil conseguir incentivo.

Mas mesmo assim a melhora foi muito grande em vista do que se vivia antes das leis do

incentivo. Um ano era aprovado um espetáculo, dois anos depois outro até que, através da

entrada na Secretaria de Estado de Cultura Eleonora Santa Rosa, esse processo se tornou mais

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transparente, passou a ser mostrada como era a avaliação de um projeto. Assim, praticamente

todos os seus projetos passaram a ser aprovados, já que, com a transparência, puderam

perceber o que precisavam melhorar e o que deveriam seguir e antes não o faziam, abrindo a

possibilidade de se adaptarem com as exigências dos editais. Isso sem perder a essência do

espetáculo e de suas idealizações.

Apesar da história de muita luta, nunca teve que modificar o espetáculo para atender

as exigências do patrocinador ou do público. As leis de incentivo podem até ter influenciado,

através dos recursos captados dentre os projetos aprovados, porém, como diversas vezes não

se consegue captar tudo que previsto no projeto original, é necessário se adaptar

proporcionalmente a este recurso.

Um exemplo foi o que aconteceu com Êxtase em 2014, pela lei de incentivo eles não

tinham recurso para cenário. Mas como é um espetáculo feitos especialmente para a rua,

caberia muito bem ao cenário chamar atenção na rua. Iriam para as principais praças do Rio de

Janeiro e de Belo Horizonte, e o cenário completaria bem essa ideia de levar a arte para a rua.

Felizmente, ganharam o prêmio ‘Cena Minas’ dado pela Secretaria de Cultura de MG e com o

recurso fizeram o cenário. Ganharam também o premio Funarte ‘Klauss Vianna’, o que

permitiu pagar parte da turnê no Rio e em BH.

As dificuldades são de todos os tipos e níveis, como falta de empresas patrocinadoras

em Viçosa, pois algumas das empresas que já apoiaram são de Ubá e a Metalsider é de Betim.

Já foram também apoiadores a Microvet , Renner Sayerlack, Itatiaia Móveis e algumas outras

que acreditam e gostariam de apoiar mais não o fazem como o Amantino Supermercados e

Mundi Center porque passaram a pagar ICMS através de substituição tributária, outra grande

incentivadora e a empresa Haskell de Cajuri e a Serjus Anoreg de BH. Dessa forma, a grande

maioria do incentivo ainda é de fora de Viçosa.

As empresas de fora que os patrocinam não faziam apenas pelo marketing, mas sim

porque acreditavam nos trabalhos do Núcleo. Nenhuma empresa que os apoiaram

vislumbrava vender mais por apoiarem o grupo. Todas que deram o incentivo foi pela história

construída ao longo do tempo. Sempre se fez muito com muito pouco, e mesmo com pouco

recurso, o que aconteceu e é muito raro no interior é que o Núcleo passou a contar com dois

grupos profissionais de dança.

Com todas as mudanças, todavia não era possível trabalhar da mesma forma, porque as

exigências também mudaram. Uma coisa é a companhia que vem de histórias amadoras se

apresentar, outra é trabalhar de forma profissional que exige mais esforço em outras

questões. Tudo tem que ser mais impecável, se o grupo já fazia de uma forma semi

profissional sem dinheiro nenhum, espera-se que se faça ainda melhor ainda possuindo o

recurso.

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Foi quando surgiu a ideia de profissionalizar os grupos de dança, que já tinham um rico

histórico técnico e artístico, e experiência. Sabiam que público também existia, desde que se

leve a eles um espetáculo de qualidade, dessa forma, precisava profissionalizar aqueles

artistas que até então só faziam por paixão e amor a arte.

Em 2005 Patrícia Lima realizou o feito de aprovar e captar recursos para o primeiro

grupo profissional de dança de Viçosa, o grupo ‘Êxtase de Dança’. Inicialmente foram dez

bailarinos, que também pela primeira vez tinham um ajuda de custo, mesmo que fosse baixa.

Dessa forma, montaram mais uma espetáculo, baseado no livro ‘ A Caravana da Ilusão’de

Alcione Araújo, mantendo a tradição de trabalhar com a literatura. E fizeram várias

apresentações com este trabalho. Ainda no primeiro ano desta profissionalização, já ganharam

prêmios. No segundo ano houve também premiação no ‘Cena Minas’ com o espetáculo

‘Alguém atrás de mim’ do coreografo Mario Nascimento.

Figura 5: Grupo êxtase de Dança. Fonte: Núcleo de Arte e Dança.

No terceiro ano, alguns alunos dos projetos sociais já estavam em um nível técnico bom

o suficiente para se pensar na profissionalização. Fundaram então o Instituto ASAS, que é uma

ONG que busca o aperfeiçoamento e a profissionalização desses jovens vindos de projetos

sociais e que passaram por mudanças significativas através do contato com a dança. O ASAS

buscava dar melhores oportunidades de inserção no mercado de trabalho e acesso à educação

fundamental e superior.

Sendo assim, são dois grupos fazendo trabalhos profissionais: o grupo Êxtase, que está

no seu oitavo ano e o grupo Impacto, que está no seu quinto ano de trabalhos. Um projeto

consolida o outro, pois circulam pela mesma região. Já rodaram o Brasil. Mas ao perceberam

que a própria região deles é mais carente de arte e cultura do que outros lugares que estavam

indo, fizeram seus projetos com foco para a Zona da Mata de Minas Gerais. Já levaram

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espetáculos à mais de 40 cidades deste região, espalhando arte e cultura para um público de

mais de 200 mil espectadores. Junto com esses espetáculos, eles têm levado diversas oficinas

ligadas a arte e cultura para as cidades da região.

O projeto do grupo Impacto leva as cidades vizinhas de Viçosa à possibilidade de

multiplicar a ideia do projeto, na busca de mais democratização da arte. Os bailarinos vão até

as cidades, ministram as oficinas, percebem quais são os meninos que têm alguma aptidão e

capacitam esses meninos para que estes deem continuidade nos bairros das cidades deles,

isso causa o efeito multiplicador.

Figura 6: Grupo Impacto. Fonte: Núcleo de Arte e Dança.

O grupo Êxtase já ofereceu oficinas de cenografia, figurino, produção cultural,

iluminação e marketing. Já o grupo Impacto da oficina de dança urbana e capacita os jovens

que têm aptidão para que possam se tornar multiplicadores.

mais interessante de tudo é ver esse jovem lá da pontinha entrando na

Universidade, ele esta sendo sensibilizado pelo projeto, ele gosta do que

apreende, ele vê a importância disso na vida dele, ele estuda, e tem entrado na

Universidade e graças a Deus e a diversas pessoas de visão temos o curso de

dança para recebê-los.

Hoje são 18 bailarinos profissionais que vivem da dança. Além disso, empregam

maitres, diretores, produtores, fotógrafos, técnicos, cenógrafos, assessores de imprensa entre

outros, que contabilizam mais de 40 empregos diretos apenas com os projetos de dança.

Porém, ainda há a necessidade de conscientizar e qualificar os parceiros e fornecedores sobre

a real importância de se fazer cultura. Além da indigência de mão de obra qualificada,

principalmente das funções que são ligadas a produção.

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Figura 7: Cena do Espetáculo “In Sanidade”, Grupo Impacto (2012). Fonte: Núcleo de Arte e Dança

O curso de dança da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – do qual Patrícia Lima

participou da comissão de criação – é um importante aliado para a consolidação da

profissionalização dos bailarinos e alunos do Núcleo e dos projetos sociais. A cada dia tem

muito mais jovens desses projetos da região vindo para a universidade estudar graduação em

dança. Quatro ds dançarinos do grupo Impacto, com integrantes de quase 30 anos, e diversos

alunos dos projetos já estão na universidade.

Não só a técnica e a arte evoluíram, mas toda a forma de se administrar os negócios

também. Como visto anteriormente Patrícia havia feito parte do curso de Administração, e

isso a ajudou muito para que ela obtivesse sucesso nos desafios e experiências futuras.

Sempre muito organizada, programava-se e tomava conta de tudo, do que ficaria devendo e

como iria pagar. Tal como havia aprendido na Administração. No início, todo planejamento e

controle eram feitas a mão em cadernos com diferentes tipos de anotações. Todas as

contabilidades de despesas, bilheterias dos espetáculos eram feitas em cadernos que Patrícia

tem até hoje.

Hoje, com os avanços tecnológicos tudo é feito em planilhas virtuais e há um

acompanhamento de todos os números. Existe uma planilha pra cada projeto, com cada

cheque que é dado, cada movimentação bancária, e com todas entradas e saídas de caixa e

Patricia conta com apoio de diversos profissionais para isso.

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Figura 8: Cena Espetáculo “Lago dos Cisnes” (2012). Fonte: Núcleo de Arte e Dança

Atualmente, os únicos eventos não gratuitos e que mantem a bilheteria são os festivais.

por mim tudo teria de ter alguma bilheteria, por acreditar que isso que fazemos

vale muito, por acreditar que isso tudo é o meio de vida de varias pessoas, que

não podemos viver da lei de incentivo pra sempre, e outras varias muitas coisas...

Só que, se a gente não democratizar e formar público primeiro não tem jeito...

nosso papel, e a forma que enxergo é que, através do Êxtase e grupo Impacto, é

necessário primeiro formar publico. Com isso podemos ver nossos trabalhos

sendo apreciados por muita gente, como já aconteceu quando mais de

quinhentas pessoas assistiram numa segunda-feira de frio e garoa nas quatro

pilastras, seis e meia da tarde uma de nossas estreias, ou quando fomos a um

ginásio em Visconde do Rio Branco e tivemos um público de mais de duas mil

pessoas. Sempre usamos toda a mídia que temos para divulgar os trabalhos. E eu

acredito que tudo isso vem porque também, todos que nos acompanham sabem

que a gente trabalha duro e muito pelo que estamos nos propondo, e que alguma

coisa de qualidade vai ver, podendo ou não gostar, mas sabem que a gente esta

caprichando na sua execução. Uns preferem este, outros aquele espetáculo mas

vejo que esse público que temos consolidado tem aumentado.. lembrando que

mesmo para este público “consolidado” a gente sempre tem que trabalhar muito

para fidelizar... não é só traze-lo e fazer se sentar na cadeira para assistir e

pronto, não, não existe isso não tem de trabalhar duro sempre.

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Para Patrícia, hoje, seu maior objetivo é capacitar o maior número de pessoas que ela

conseguir, para que toda sua história tenha valido a pena.

O meu projeto pessoal hoje é capacitar o maior numero de pessoas que eu

conseguir para que tudo tenha valido a pena...porque isso já esta implantado, isso

não tem jeito de morrer, mas como isso ai vai continuar, esse é grande desafio...

as vezes, vejo jovens falando comigo nossa mas esta muito difícil... eles tem

menos de 25 anos e falando assim... ai eu digo;‘olha eu vou te falar é difícil

mesmo. Eu tenho 55 anos e continua difícil, então vê bem qual é o caminho que

você vai querer seguir... se você quer isso mesmo para sua vida, porque eu acho

que ainda vai ter de muita luta, não acho que vai ser fácil pra ninguém...’

Patrícia tem participado o máximo possível junto à secretaria municipal de cultura das

iniciativas que estão realizando para Viçosa entrar no Sistema Nacional de Cultura, para vir

mais verba de cultura dos diversos âmbitos para cidade, para que se possa ter um coro

artístico completo não só de dança. Para que o município não fique dependendo de esforços

que ela começou mesmo que ela não esteja mais aqui, ou seja, seu desejo é capacitar o

máximo de pessoas, para que elas busquem o caminho delas, dependendo cada vez menos

dos trabalhos que foram feitos por ela e por outros à muitos anos atrás.

“... num encontro que tivemos eu falei lá pro pessoal do curso de dança que

minha torcida é para que cada um dos bailarinos do grupo Impacto e do Êxtase

consigam fazer o seu projeto... que isso se multiplique muito e que ai é que vai

ficar legal ...mas mesmo assim não vai ser fácil... eu tenho muita sorte de ter

conseguido fazer isso tudo. Foi por paixão que começou e por amor se solidificou,

vejo as vezes os jovens pensando assim; ‘ah vou ganhar dinheiro’ Eu digo a eles

que com a arte não se ganha dinheiro . Fui muito afortunada de ter conseguido

todos esses trabalhos... de ter credibilidade pra os apoios surgirem, para estar

fazendo o que fazemos hoje... ‘façam, acreditem’... é isso que tento passar pros

meninos”

O que já está dando frutos. Os integrantes do grupo Impacto, por exemplo, trabalham

cada um em uma cidade. Essa cidade pode ser a porta de entrada da região para que eles

possam mostrar e desenvolver o seu trabalho. Porque muitas produtoras concentradas apenas

em Viçosa podem saturar o mercado. O trabalho conjunto deve ser feito em toda região para

fazer da Zona da Mata um polo de produção Cultural.

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Figura 9: Cena do Espetáculo “For Sale”, Grupo Êxtase (2013). Fonte: Núcleo de Arte e Dança

A partir do momento que a UFV abriu o primeiro curso de formação de dança de Minas

Gerais, em nível superior, aumentou muito o potencial para o aperfeiçoamento dos bailarinos,

bem como a capacidade de desenvolvimento artístico, turístico e cultural da região. Mas o

trabalho ainda depende muito a vontade das pessoas apaixonadas pela arte.

Quando eu morrer pode por lá em cima: ‘Morreu de tanto fazer arte e cultura’.

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MARCELO ANDRADE

Brendow de Oliveira Fraga

Marcelo Soares Andrade

José Ricardo Vitória

Arte. Sendo essa o oxigênio da atuação profissional de Marcelo Soares Andrade, esse

ator construiu um legado de sonhos e oportunidades para jovens de baixa renda que desejam

se tornar artistas, por meio da ONG Humanizarte em Viçosa MG, que desde 2002, vem

democratizando a arte em vários pontos do país e trazendo desenvolvimento de

comunidades, estimulando as manifestações culturais, apregoando a inclusão e a

sustentabilidade e, sobretudo, descobrindo e potencializando talentos.

Com um profundo senso artístico e a uma clara vocação para a arte-educação, Marcelo

Andrade, iniciou por demasiado jovem sua jornada no caminho da disseminação da cultura.

Desde sua infância, Marcelo, que contribuía como coroinha na paróquia de sua comunidade

na cidade de Cajurí MG, declamava poesias para os bispos e para os fiéis, demonstrando

interesse e talento para a manifestação de sua expressividade artística. Aos cinco anos,

ganhou de seu avô um cinema para administrar, ao qual se dedicava em conciliação com a

prática teatral; atividades que o artista efetuou até os quatorze anos.

Marcelo sustentava a caixa escolar com o fruto de suas atividades teatrais. Desta

forma, com o que auferia, comprava mantimentos básicos para a comunidade escolar de seu

município e abastecia as despensas para a feitura da merenda escolar. Já aos dez anos, iniciou

a prática do ensino em pontos pobres da cidade de Cajurí.

Aos dez anos comecei a dar aula para as crianças pobres da cidade. As crianças

não gostavam muito de mim... Mas as mães me adoravam.

A infância de Marcelo é avaliada pelo mesmo como muito rica, uma vez que o

esse artista tenha experienciado na prática, os princípios da arte-educação e da dispersão do

saber à comunidade, ainda em seus primeiros passos como defensor das artes. Mesmo com os

poucos anos de vida, seu portfólio de apresentações era extenso e o mesmo se apresentava

em diversas localidades.

Eu fazia teatro na redondeza inteira... Paraguai, Coimbra, Cachoeirinha, Canaã...

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Figura 1: Marcelo, aos 14 anos de idade na cidade de Cajuri, MG. Fonte: Marcelo Soares Andrade

Aos quatorze anos, o jovem educador se mudou para Viçosa com sua e iniciou nessa

época os estudos no Colégio Viçosa, cujas turmas eram segmentadas em A, B e C, sendo as

duas primeiras voltadas para estudantes nativos e a turma C direcionada para internos.

Marcelo escolheu integrar-se à turma C, ainda que sua família residisse no município e fosse

bastante conhecida na comunidade viçosense. No convívio com pessoas advindas de diversas

localidades, Marcelo descobriu a presença de inúmeros artistas com os quais começou a

interagir. Satisfazendo à sua necessidade de fazer e viver arte, o estudante iniciou atividades

teatrais em seu ensino médio, movimentando a cultura, e transcendendo seu talento pelas

dependências da escola.

Eu comecei ali a fazer um movimento de teatro. Foi tão forte, que o diretor, Dr.

Januário de Andrade Fontes que era professor de matemática e os professores de

português José Henrique Rodrigues e Sebastião Lopes de Carvalho paravam, todas

as aulas, sábado, às dez horas, para que eu fizesse meus teatros. O Colégio inteiro.

E quem participasse dos teatros, ganhava ponto na prova de português. Você não

imagina a fila que era para participar do teatro....

Ao final do ensino médio, Marcelo se mudou para o Rio de Janeiro, para se preparar

para os exames vestibulares, tendo em vista que objetivava prestar vestibular medicina.

Fui tentar vestibular para medicina. Fazer porque... Né, aquela coisa de que ser

artista não pode. Apesar de sempre ter tido força da minha mãe. Mas assim,

artista naquela época, era coisa... Horrível! Era maior preconceito contra. Não é

igual hoje, que ser artista é chique.

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No Rio de Janeiro, os talentos artísticos deste jovem ator encontraram vias de

desenvolvimento, de modo que Marcelo participou de uma escola de teatro, tendo inclusive

realizado e sido aprovado em um teste da Rede Globo de televisão para atuar na novela

Estúpido Cupido, ainda que não tenha podido participar deste trabalho na televisão.

Após este período, Marcelo regressou a Viçosa e iniciou os estudos no curso de

Engenharia Civil, sem contudo, ter concluído essa graduação. Iniciou ainda os estudos em

outros cursos como Agronomia, Matemática, Letras e Pedagogia. Todavia, com uma extensa

carga de 60 aulas a lecionar de matemática e de teatro em Ubá, Viçosa, Ponte Nova, Visconde

do Rio Branco e Cataguazes, além da feitura de suas peças com o grupo local de teatro, não foi

possível que concluísse quaisquer destes cursos.

Entretanto, seu sucesso enquanto artista era crescente, de modo que com a Peça

Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza em 1983, conseguira grande aprovação do

público e afirmava de modo contundente sua vocação para as artes cênicas. É valido ressaltar

a preocupação deste artista com a renovação de sua equipe, a fim de se manter a excelência

nas atuações cênicas realizadas.

Figura 2: Marcelo em cena de Aurora da Mina Vida (1983). Fonte: Marcelo Soares Andrade

Durante a feitura de uma disciplina na Universidade Federal de Viçosa, Marcelo tivera

contato com o livro de Fernando Sabino, O Grande Mentecapto; pelo qual se encantou,

decidindo levar essa obra para os palcos. É neste momento, em 1984, que o artista entra em

contato com os trabalhos em dança de Patrícia Lima.

Empenhados com a excelência, mobilizando quarenta artistas, por meio de recursos

próprios e mesclando teatro, dança e artes visuais, a apresentação mostrou-se uma expressão

vívida de talento, cultura e empreendedorismo.

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Comecei a entrar em Contato com o Fernando Sabino, ele nunca me atendia,

nunca me atendia... Até que um dia, lá pelo vigésimo telefonema, eu disse: O

senhor é muito importante né? Pois eu vou fazer o seu livro, quer você queira,

quer não queira, você vai ter de mandar me prender, porque eu vou fazer. Cinco

minutos depois, me liga a secretária dele. A gente estreou lá para setembro,

outubro. E ele viria aqui lá pela décima apresentação em novembro. Nesse

interim, eu tive muito contato com a dona Stella Costa Val Brandão e a dona

Dulce Chaves na casa da cultura em Viçosa. E ai eu resolvi ir para o Rio de Janeiro

pedir apoio do Roberto Marinho, pedindo apoio da TV Globo o que me foi

concedido. Quanta audácia. O Fernando Sabino veio, assistiu, amou e começou a

divulgar o trabalho pelo Brasil. Teve Fantástico, Jornal Hoje, tudo o que você

puder imaginar em termos de veículos, principalmente da Globo. E ai eu lembro

que ele virou para mim naquela mesa grande da reitoria, e me perguntou: - O

que que você quer da vida? E falou coisas Maravilhosas comigo. O que eu tenho

escrito, do Fernando Sabino, a respeito do Viramundo, do mentecapto que eu

interpretei, é coisa que dá muita satisfação, inesquecível.

Figura 3: Marcelo em cena de O Grande Mentecapto (19??). Fonte: Marcelo Soares Andrade

Nesse momento, o talento e a arte de Marcelo ganhavam visibilidade em âmbito

nacional e as propostas de trabalhos em função dos dons artísticos dele se tornaram cada vez

mais frequentes. Com o apoio de Fernando Sabino e a equipe da Rede Globo, a equipe

viçosense de teatro, conduzida por Marcelo Andrade viajou pelo país e trouxe imenso orgulho

para a cidade. O Grande Mentecapto fora considerado pelo Jornal do Brasil um dos dez

melhores espetáculos nacionais. Essas conquistas ratificavam a excelência na produção

cultural conduzida por Marcelo, denotando que o dom para as artes se dá em qualquer lugar,

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que talento e expressividade se manifestam em quaisquer contextos e que o mundo ainda

tinha muito o que ver em relação à produção cultural deste artista-empreendedor.

Ficamos em quatro anos viajando[...] Nesse meio termo, pediram para fazer o

livro dele no cinema, O Grande Mentecapto. Ele não quis dar. Só dava o direito

autoral se eu fosse o Viramundo. E o diretor não quis. Queria um pessoal mais

conhecido. E ai ele não quis dar o direito, e o diretor pediu para eu o convencer. E

eu disse, só se for o Diogo Vilela, o mentecapto. E ai foi o Diogo Vilela, o

Viramundo[...] ”

Figura 4: Marcelo com Diogo Vilela, Débora Bloch e Marcelo Soares Andrade, durante gravação do filme O Grande Mentecapto (19??). Fonte: Marcelo Soares Andrade

O livro fora transformado em filme e Marcelo foi um agente fundamental na

consecução dos objetivos deste projeto. Além disso, como frutos de seu dinamismo e de sua

sede cultural, novos trabalhos foram criados por Marcelo. Dessa forma, a fim de perpetuar sua

disseminação da arte teatral, criou uma brilhante peça ao lado de Patrícia Lima.

Eu fiz de Minas a Nova Iorque, juntamente com Patrícia Lima de novo. Né, minha

grande parceira, com dança. Onde eu fazia o Fernando Sabino. Peguei todos os

livros de crônica dele, Encontro Marcado, mais o Encontro Marcado e criei uma

história chamada De Minas a Nova Iorque.

Concomitantemente, os Trabalhos com o Grande Mentecapto continuavam a

acontecer, bem como Marcelo realizava neste período outros trabalhos teatrais, como “E Por

Falar em Amor” da Marina Colasanti, e, “Projetos Para Um Dia de Amor” de Affonso

Romano de Sant'Anna. Além disso, lecionava matemática em várias cidades e estava com

uma graduação em andamento. Tendo no teatro sua grande paixão e devoção, Marcelo

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empregava quase todo o dinheiro que auferia, como investimento em suas peças, revelando o

caráter de afinco e autodoação que o labor artístico requer. Neste sentido, novos e novos

trabalhos foram surgindo:

Depois, eu fiz com Patrícia o espetáculo de dança, Capitães de Areia do Jorge

Amado. Eu fiz a adaptação e ensaiei o grupo de bailarinos a parte teatral. O

movimento teatral deles. E ao mesmo tempo em teatro só Zélia Gattai baseado

em Anarquistas Graças a Deus e Um Chapéu para viagem, da Zélia. Fui para a

Bahia, fiquei uma semana ou duas semanas convivendo na casa de Jorge Amado e

Zélia Gattai. Porque era a vida dos dois. E a gente começou a viajar. E a gente fez

um sucesso tremendo. Fizemos uma turnê no nordeste, patrocinado pelo banco

do Brasil, porque o Jorge Amado, pediu.

Em um outro momento, Marcelo realizara a peça Hilda Furacão de Roberto Drummond.

Além disso, efetuou com um sócio um projeto para o governo de Minas, chamado Minas Além

das Gerais, que levava cultura mineira a diversas localidades do Brasil, valorizando e

promovendo a identidade e os aspectos intrínsecos de ser mineiro. Essa produção, simbolizava

a difusão da identidade cultural de Minas para todas as regiões do país.

Nós fizemos Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Vitória, levava é... E Salvador.

Levava cultura em todas, todas as áreas. Teatro, dança, música, artes plásticas...

Show de Milton Nascimento, Tudo o que você imaginar.

A todo momento, é reconhecido e valorizado por Marcelo, o trabalho da fundadora do

Núcleo de Arte e dança de Viçosa, Patrícia Lima, artista que acompanhou a trajetória do ator

em grande parte de sua vida e atuou com ele na produção cultural de inúmeros de seus

trabalhos. Nas palavras do ator, não foram economizadas elogios, consagrações, dedicatórias

em agradecimento, e exaltações ao trabalho de Patrícia. A parceria destes dois artistas,

consolidou-se com nobreza, sofrimento, empenho dedicação, talento, esforço e doação de si.

A Patrícia é uma artista. Só que ela, além de artista, de grande criadora é também

uma maravilhosa empresária. Nos espetáculos ela cuidava, da luz, som, e de toda

técnica. Além de ser grande criadora na área de dança.

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Figura 4: Marcelo e Patrícia Lima. Fonte: Marcelo Soares Andrade

Marcelo não apenas vivia, como transcendia a arte. Com um olhar analítico e valendo-

se da cultura como um instrumento de transformação social, o professor, que lecionava em

uma rede de ensino em Viçosa, Ponte Nova, Ubá, Cataguazes e Rio Branco, percebeu que

dentre seus alunos de matemática havia um grande percentual de jovens com desempenhos

ruins. Dessa forma, Interveio e passou a ler crônicas e poesias para seus discentes nos minutos

iniciais da aula, como forma de se desenvolver a concentração, a imaginação e o raciocínio.

Como resultado, houve considerável melhora, no nível de desempenho de suas turmas.

Além disso, em 1993, Marcelo é convidado para ser o primeiro secretário de cultura

esporte, lazer e turismo de Viçosa, e não aceita, sendo que, antes, só havia a casa de cultura

como o ente público de promoção de medidas culturais na cidade. O convite se deu, quando

Geraldo Reis, um ex-aluno de matemática, ganhou as eleições municipais para prefeito.

Geraldo convidou Marcelo Andrade para assumir o cargo de secretário, mas Marcelo recusou.

Todavia, por inúmeros pedidos de agentes sociais que vislumbravam as múltiplas

possibilidades para a cultura de Viçosa que a gestão desse artista poderiam trazer, Marcelo

aceita o cargo como chefe do departamento de cultura, sob a condição de que o prefeito

autorizasse a criação de um centro experimental: uma escola de artes para jovens de escola

pública.

O prefeito aceitou essa condição e Marcelo assumia a gestão municipal da cultura de

Viçosa. A partir daí, conseguiu articular medidas com Affonso Romano de Sant’Ana que era

presidente da biblioteca nacional, de trazer o PROLER - Programa Nacional de Incentivo à

Leitura, para a cidade. A primeira cidade a implementar o PROLER foi Vitória da Conquista. A

segunda foi Viçosa.

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Figura 4: Posse de Marcelo como Secretário de Cultura de Viçosa, em 1996. Fonte: Marcelo Soares Andrade

Poucos meses depois, Marcelo tornou-se secretário e ficou doze anos e meio como tal.

Afastou-se do cargo apenas para montar Hilda Furacão, baseado no romance de Roberto

Drummond, em Belo Horizonte.

Uma das medidas mais incisivas de Marcelo, diz respeito à democratização e à sua

intenção de tornar a arte e a cultura, benesses de toda a comunidade. O centro experimental

começou com trezentas crianças e depois esse número ampliou-se para mil. Tão impactante

fora essa medida, que a empresa de telefonia TIM, valendo-se da lei de incentivo à cultura,

difundiu o projeto por doze cidades mineiras.

A TIM convidou para fazer o TIM arte educação em doze cidades mineiras. Viçosa,

Ubá, Barbacena, Lavras, Varginha, Poços de Caldas, Uberaba, Uberlândia, Montes

Claros, Governador Valadares, Divinópolis, Juiz de Fora... Treze. Durante quatro

anos em doze cidades da Bahia.

Os dirigentes da TIM ligados à cultura, sabendo da conexão de Marcelo com autores e

personalidades da literatura, convidaram-no para fazer um projeto com escritores. Dessa

forma, A TIM patrocinou a remontagem de O Grande Mentecapto. Neste projeto com

escritores, participaram alguns dos maiores nomes da literatura brasileira. Levaram-se livros

para a biblioteca e oficinas de leitura a trinta e duas cidades mineiras por oito anos, dez do Rio

de Janeiro por dois anos, três do Espirito Santo e onze da Bahia por um ano, ambas.

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Figura 5: TIM Grandes Escritores. Na foto, Zuenir Ventura, Alcione Araujo, Ignácio de Loiola Brandão, Luis Fernando Veríssimo, Marina Colasanti, Afonso Romano de Sant’Ana, Roberto DaMatta,Carlos Herculano Lopes, Bartolomeu Campos de Queiós, Nelson Motta e Marcelo. Fonte: Marcelo Soares Andrade

Após, Marcelo executou um projeto a convite do Jornal Estado de Minas, dos Diários

Associados e do Correio Brasiliense em Brasília chamado, Brasília das Gerais, o qual levava a

cultura mineira para Brasília. Nessa época, o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) o

convidou para realizar um projeto de escritores com a participação de atores. Assim,

participou com esse projeto durante três anos no CCBB de Brasília. E um ano no CCBB Rio.

Figura 6: Marcelo e Regina Duarte no Projeto Escritores Brasileiros (CCBB) Fonte: Marcelo Soares Andrade

Depois, o Banco do Brasil contratou a toda a equipe para ir em todas as capitais do

Brasil, além de Ribeirão Preto, Baurú e Campinas durante um ano. Além disso, hoje, Marcelo

continua conduzindo este projeto no SESC Juiz de Fora, mantendo, pois, a feitura da arte.

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Figura 7: Arlete Salles Luis Fernando Veríssimo e Marcelo Andrade no SESC. Fonte: Marcelo Soares Andrade

Marcelo preside também a ONG Humanizarte, porque o TIM ArtEducação, é feito pela

ONG. Com esse projeto, cento e vinte empregos diretos são gerados em Minas Gerais. São em

torno de quatro mil crianças por ano. Em quatorze anos cerca de sessenta mil crianças já

passaram pelo projeto, em diversas modalidades da oficina. A modalidades são teatro, dança,

música, artes plásticas, coral, arte digital, capoeira e contação de histórias.

Figura 8: Encontro dos TIM ArtEducadores em Sabará MG. Fonte: Marcelo Soares Andrade

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A pedido do governo de Minas, existiu também o chamado ArtEducação Digital em

Cataguazes, Leopoldina, Juiz de Fora, Ponte Nova, Viçosa, e em várias escolas públicas de Belo

Horizonte. Este projeto ensinou aos jovens arte no meio digital, gerando incentivos à

inovação, ação social e difusão de desenvolvimento tecnológico.

O TIM ArtEducaçãopatrocina isso... Em todas as cidades do projeto. E agora vai

patrocinar em Belo Horizonte. E o apoio do governo foi em um projeto da

FAPEMIG, Secretaria de Ciência e Tecnologia, da Cultura do Estado de Minas

Gerais. Uma responsabilidade muito forte. No TIM ArtEducAção cento e vinte

empregos diretos são gerados, fora os indiretos que as mostras dão. Porque

depois das oficinas têm as mostras em que todos os alunos vão ao palco. Ai você

contrata som, luz... Isso é uma revolução. Né. Porque os meninos juntam todas as

linguagens, para interagir as linguagens. Que é mostra de final de ano do TIM Arte

Educação. Ai contrata som, figurino, iluminação, mídia, assessoria de imprensa. Ai

vai dar muito mais emprego...

Figura 9: Marcelo no TIM Educação. Fonte: Marcelo Soares Andrade

O trabalho de Marcelo não se limitou ao campo das artes, se estendendo para a área

do turismo cultural. A Secretaria começou a trabalhar na área de turismo cultural,

coordenando e direcionando os esforços dos agentes sociais envolvidos com o turismo.

Entramos no Ministério do Turismo. Fizemos de Viçosa uma cidade com conselho

turístico. Eu lembro que eu fazia um projeto para o governo de Minas que se

chamava Minas Além das Gerais no Brasil e no exterior. O BNDS criou uma linha

de crédito para hotéis. Viçosa foi o primeiro lugar a receber o pessoal do BNDS.

A secretaria também se empenhou muito na gestão patrimonial local. Desenvolveu-se

um departamento de patrimônio, para trabalhar com os patrimônios móveis e imóveis.

Trabalharam muito no sentido de preservar a história das pessoas, a cultura popular, o

congado, a folia de reis, a contação de histórias. Esse resgate foi efetuado em parceria com o

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Ministério da Cultura. Dessa forma, a estação ferroviária, o Balaústre, vários colégios da cidade

e algumas casas foram tombados.

Tombamos e reformamos o balaústre. Aquela área balaustrada. Aquelas árvores

que têm ali, a gente que colocou. Né? Tudo na área de patrimônio. Para

embelezar, porque... Para ficar mais bonito. Esqueci de falar. Vários colégios na

Estaçãozinha de Silvestre. Então a gente trabalhou em todas as áreas.

Na área de esporte, Marcelo implementou o projeto “Bom de Nota, Bom de

Bola”, com várias oficinas para jovens e adolescentes de baixa renda. Essas medidas

entretanto eram advindas de recursos que o secretário auferia com patrocinadores e

apoiadores externos, de maneira que os recursos da prefeitura e das parcerias muito

contribuíam para a geração de muitas conquistas para a comunidade. Percebe-se nestas

ações, o zelo, a acurácia e a responsabilidade deste gestor, em cumprir com suas atribuições e

potencializar as aptidões das pessoas.

Através da Secretaria Municipal de Cultura entrávamos em quase todos os editais

angariar recursos do Ministério e de Secretária de Estado da Cultura. No

patrimônio, conseguimos implantar a lei Robin Hood que é estadual mas se você

trabalha adequadamente reverte verbas para o município no patrimônio. Através

desta lei, quanto mais você investe na cultura, no patrimônio, mais você recebe.

Ademais, atuando como diretor de cultura da universidade na época, Marcelo ajudou

como podia na criação do curso de dança, diretamente com o reitor, professor Evaldo Vilela

daquela época, o qual era afeto à área. Neste mesmo momento, concomitantemente surgia o

espaço Fernando Sabino.

Eu ajudava na universidade, e Fernando Sabino veio aqui várias vezes. Não tinha

nada no salão para festa. Quando eu fiz Aurora da Minha Vida, a gente fez ali um

palco tablado. E depois no Grande Mentecapto, um palco. E ai foi até chegar

naquele teatro. E ai eu trouxe o pessoal da FUNARTE, do INACEN no Rio de

Janeiro, consultoria técnica tanto ali quanto na estaçãozinha.

Marcelo Soares reconhece ainda que as leis de incentivo à cultura viabilizaram e

subsidiaram seus trabalhos culturais, os quais já impactaram positivamente a vida mais de

sessenta mil jovens que foram beneficiados com este projeto, em treze cidades mineiras. O

apoio que as empresas começaram a oferecer devido aos incentivos da lei, possibilitaram

grandes avanços no campo das artes.

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[As leis de incentivo] Deram dignidade. Fundamentais. Nós não teríamos TIM

ArtEducAção, não teria Grandes Escritores, não teria Hilda Furacão... Não teria

Comunhão de Bens.

O TIM ArtEducAção que modifica vidas e isto comprovado através de sérias

pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Viçosa a oito anos, com

professores de rede pública de ensino, com arte-educadores, com a família, com

as crianças, que participam do Projeto permitindo a TIM ganhar pontos na bolsa

de Nova Iorque. Este Projeto permite uma intensa mudança na vida dessas

crianças, desses jovens, desses pré-adolescentes que participam.

Ah::: E Patrícia [Lima] né. Com a ONG dela. Com o Instituto Asas. Com este

trabalho que ela faz aqui nas cidades vizinhas todas. Ela também, A partir das leis,

fundamentais essas leis, Viçosa Virou um Centro de Referência na área de dança

no Brasil pelo Trabalho dela, pela equipe dela, que nasceu no centro experimental

depois também com o TIM ArtEducAção, dando empregos, dignidade, auto

estima. Se não fossem as leis, como ela iria fazer?

Um dos principais frutos do brilhante trabalho realizado por Marcelo, é o

reconhecimento sua capacidade como artista e como gestor cultural na cidade de Viçosa.

A ONG é aqui. Toda a equipe é daqui. Eu nunca tirei daqui. Né. Qualquer projeto

que eu faço fora, eu tenho que chamar...

Como seus principais legados os quais deixou à população viçosense, Marcelo

considera que tenham sido o Centro Experimental de Artes, a estação e a mudança de

mentalidade. Segundo o artista, as pessoas começaram a enxergar cultura de um modo

diferente, ainda que haja muito o que progredir. A arte passou a ser respeitada. Dessa forma,

pode-se considerar que Marcelo, por meio de seus esforços, conseguiu modificar o paradigma

da arte e da cultura na região.

E o centro experimental deu muitos frutos, né? Olha o trabalho da Patrícia Lima,

Thomas Medeiros e tantos outros, né? Nasceu tudo ali. Se o poder público não

tivesse ajudado naquele início, contratando professores, alugando as salas do

Núcleo para as aulas as coisas não teriam chegado , onde chegou.

Marcelo se reconhece como artista e se orgulha de pertencer a esta categoria.

Carrega a arte em seu olhar, em sua essência, em sua alma. Não se rendeu a

desventuras políticas ou submissões a convenções e preconceitos. Avante, com a bandeira da

cultura em punho, este artista-educador mudou consideravelmente a vida de muitas pessoas

e de maneira efetiva, contribuição essa, reconhecida nos depoimentos agradecidos, pelos

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inúmeros indivíduos cujo dom fora valorizado e potencializado pelo Centro Experimental de

Artes, pelo TIM ArtEducação, ou pelo TIM Grandes escritores.

Figura 10: Marcelo e a atriz e Vera Holtz, madrinha do TIM ArtEducação, em uma comemoração do programa. Fonte: Marcelo Soares Andrade

Esse ator, educador e empreendedor cultural entrega à sociedade uma vida cuja

finalidade fora democratizar, disseminar e conscientizar o campo das artes. Suas contribuições

revelam o poder transformador da arte em outras searas do saber e do fazer humano,

mostram que as pessoas podem mudar o rumo de sua existência por meio da cultura e

sobretudo, expressam a arte tem o poder de humanizar, aprimorar e conscientizar uma

sociedade para o respeito e o pensamento crítico.

Figura 11: Marcelo em dois momentos no Projeto Escritores Brasileiros (CCBB). À esquerda com Marília Pêra e Nelson Motta e, à direita, com Eduardo Moscovis e Zuenir Ventura. Fonte: Marcelo Soares Andrade

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No decorrer de sua trajetória, Marcelo sempre tivera a preocupação de valorizar Viçosa

e legitimar que a sua arte, que ia para todo o Brasil, era originária desse município. As pessoas

na rua o agradecem e clamam por novos trabalhos, demonstrando assim, o impacto de sua

caminhada rumo à democratização e disseminação da arte, da cultura e da educação.

Minha vida se chama trabalho. E amor pela arte.

Figura 12: Leonardo Vieira, Marcelo Andrade, Eliane Giardini e Fernando Sabino na Casa da Gávea, Rio de Janeiro. Fonte: Marcelo Soares Andrade

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VIJAZZ: DO SONHO À REALIDADE

Sérgio Lopes

1. INTRODUÇÃO

Em forma de relato pessoal, pretendo descrever neste capítulo toda a trajetória do

ViJazz, desde seu início aos tempos atuais, seus princípios, seu trabalho em equipe e a

profissionalização consequente ao seu crescimento.

Afora esta breve introdução, o capítulo segue uma ordem cronológica, sendo

organizado em sete tópicos e considerações finais.

2. O INÍCIO

Tudo começou em 2001, quando a paixão pela música fez nascer a ideia de realizar um

festival de música instrumental em Viçosa. Sendo filho de uma pianista e tendo o convívio com

os sons desde pequeno, com certeza contribuiu para me fazer passear pelos instrumentos

flauta doce, clarineta e depois o saxofone, instrumento ao qual dediquei bons anos de minha

vida, até terminar a faculdade de Medicina em Juiz de Fora - MG.

Após concluir a residência médica em Otorrinolaringologia no Instituto Penido Burnier

em Campinas, voltei para Viçosa, minha terra natal, em 2000. Observando a oferta cultural na

cidade, sobretudo para os estudantes universitários, somada à vivência de grandes shows pelo

mundo afora, foi amadurecendo em mim, com o passar dos anos, a vontade de fazer algo

diferente.

No ano de 2001, na semana em que a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, da

qual faço parte, chamou atenção para os problemas das cordas vocais, organizei a Semana da

Voz em Viçosa, que, além de palestras e atendimento médico, terminou com um evento no

Departamento de Economia Rural da UFV, o Dia da Voz. Nessa ocasião, foram realizadas três

apresentações musicais que mostraram a grande capacidade do nosso sistema fonatório, com

diferenciação de timbres vocais e estilos, do popular ao canto lírico, evento este que, após

uma retrospectiva profunda, avalio que foi, sem dúvida alguma, a semente do ViJazz.

Como médico otorrinolaringologista, a possibilidade de realizar algo diferente, num

universo muito distante da minha formação básica, ficou reprimida por muitos anos, pois eu

não permitia que este anseio aflorasse.

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Em 2006, reencontrei um amigo de infância, Amauri Rocha, músico, exintegrante do

conjunto Do Fundo do Baú, banda que, em minha opinião, foi uma das mais expressivas de

Viçosa, vanguarda na sua época e da qual era confessadamente um grande fã. Ele então

presidia a FACEV (Fundação Artística, Cultural e de Educação para a Cidadania de Viçosa),

fundada em fevereiro de 1998.

Figura 1: Sérgio Lopes e Amauri Rocha. Fonte: Vi Produções.

Numa conversa informal, lancei a antiga ideia de fazermos um festival em Viçosa.

Na época, o grande evento musical da cidade era o FECAVI (Festival da Canção de

Viçosa), criado em 1996 e produzido pela TV Viçosa, Universitária FM, FACEV e Universidade

Federal de Viçosa. Além de revelar novos talentos da música popular brasileira, o evento

também tinha o caráter filantrópico de arrecadar alimentos para as famílias carentes do

município, por intermédio da Sociedade São Vicente de Paulo. Esse festival persistiu até o ano

de 2007, sendo subitamente encerrado, ocasionando, sem dúvidas, uma grande perda musical

para Viçosa e região.

Quase um ano se passou e, em agosto de 2007, após novo encontro casual com

Amauri, na Avenida P H Rolfs, quando ia trabalhar no consultório, a minha primeira pergunta

foi: “E o festival que havíamos falado, quando o faremos?” Como uma das grandes

coincidências da vida, a resposta dele foi: “Acabei de reservar o Teatro Fernando Sabino para

duas noites de música instrumental no mês de novembro. Você, que conhece muitos artistas,

monte uma programação e vamos conversando”.

No mesmo dia liguei para o meu amigo Dudu Lima, grande baixista natural de Juiz de

Fora com quem, no início de sua carreira, havia formado um conjunto e tocado muito na noite

juizdeforana. Naquela altura, além da carreira solo em ascensão, ele já fazia parte do Stanley

Jordan Trio, grupo do grande músico norte-americano que, em suas Dudu Lima, na edição de

2011 apresentações no Brasil, sempre é acompanhado pelo Dudu e por um dos maiores

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bateristas brasileiros, o Ivan Conti (Mamão) da Banda Azymuth. Iniciava-se, assim, a

negociação para o primeiro festival.

Figura 2: Dudu Lima na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

Quando a notícia se espalhou entre os amigos que faríamos um festival em Viçosa,

fomos procurados pelo Argeu Brust, que, na maior sinceridade e boa vontade, nos disse que

ficou sabendo que faríamos um festival de música instrumental em Viçosa e gostaria muito de

nos ajudar. Estava constituída a base para a produção do primeiro festival. A LBS Produções,

de propriedade do Luizinho Souza, foi então contratada e estava assim formada a equipe.

3. ViJazz 2007 e 2008

A primeira edição do ViJazz aconteceu em novembro de 2007, com 2 dias no Auditório

Fernando Sabino. Desde seu início, o festival teve como princípios a interiorização da cultura, a

democratização cultural, com ingressos populares, e a oportunidade de artistas locais se

apresentarem em estrutura profissional de produção ao qual não tinham acesso no dia a dia

dos bares onde se apresentavam. Esta oportunidade de assistir espetáculos de artistas

nacionais e internacionais e o Identidade Visual de 2007 convívio de perto com os mesmos,

em termos de trocas de experiências, é singular.

Um workshop com o músico Juarez Moreira iniciou as atividades de formação musical.

Na sexta-feira, dia 23/11, quem abriu a noite foi o violonista viçosense Roberto Rosado,

atualmente residente na Espanha, e depois o violonista mineiro Juarez Moreira. O ingresso foi

trocado por 1 kg de alimento não perecível.

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Figura 3: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2007 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

No segundo dia, 24/11, Stanley Jordan Trio mostrou toda sua habilidade e peculiar

técnica (tapping) onde transporta seus conhecimentos do piano, seu primeiro instrumento,

para a guitarra.

Figura 4: Stanley Jordan Trio, edição de 2007. Fonte: Vi Produções.

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A viabilidade do festival se deu através do Projeto Atividades da FACEV pelo qual

pudemos captar recursos via Leis de Incentivo nas empresas Móveis Itatiaia, Microvet,

FUNARBE, Brahma e recursos diretos da Corretora Leite Ribeiro e do Curso Praetorium Viçosa.

A Direção Geral foi de Amauri Rocha, Direção Artística Sérgio Lopes, Palco Argeu Brust,

Identidade Visual do artista plástico Sérgio Ramos e Produção LBS. Estabeleceuse uma parceria

com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFV. A cobertura fotográfica foi feita pelo

fotógrafo profissional Reyner Araujo, contando também com a colaboração de 2 fotógrafos

amadores, os professores da UFV José Lino e Luiz Eduardo Dias.

Ao todo foram cerca de 25 profissionais envolvidos na edição 2007.

Houve lotação completa nos dois dias de evento, sucesso absoluto, que nos deixou

motivados a pensar na edição 2008. O produtor de Stanley Jordan no Brasil e também

produtor do maior festival de jazz e blues da América Latina, o Sr. Stênio Matos, dono da Azul

Produções, gostou muito da vinda a Viçosa e me motivou a continuar nesta caminhada.

Como na edição 2007 a guitarra e o violão foram os instrumentos principais, resolvi, a

cada ano, escolher um instrumento como tema para o festival, o que me facilitaria na escolha

dos artistas, dado ser um processo difícil pela grande oferta de músicos talentosos. A maioria

dos artistas principais toca o instrumento escolhido do ViJazz. Quando isto não acontece, tem-

se no palco um instrumentista do tema como integrante da banda ou tem-se um artista

convidado. Esta temática de privilegiar diferentes instrumentos em cada ano do Vijazz é

muitissimamente bem representada nos trabalhos do artista plástico Sérgio Ramos, que

assumiu com maestria a identidade visual do festival.

Figura 5: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2008 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

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Em 2008, nasceu o ViJazz & Blues.

Festival que, com a introdução do blues, agregou mais estudantes ao nosso público.

Uma falha na reserva da data no auditório Fernando Sabino por parte da Pró-Reitoria de

Extensão e Cultura vigente, nos fez, menos de dois meses antes, mudar o local, sendo o II

ViJazz realizado na sede social do Clube Campestre de Viçosa. O lançamento da programação

do festival ocorreu no Restaurante Cedrus, com uma exposição das fotos da edição 2007.

Formatou-se no Clube Campestre um autêntico Jazz Club, muito elogiado até hoje por todos

os presentes, pois a informalidade e o serviço de buffet do Marquinho do Acamari deixaram as

2 noites de festival muito agradáveis. O fato de termos saído da UFV, nesta edição, diminuiu o

público universitário e aumentou o de profissionais liberais.

Na sexta-feira, 27/11, com a temática no saxofone, Leo Gandelman e Igor Prado Band fizeram

grandes espetáculos. O primeiro é o maior nome da música instrumental brasileira, e o

segundo o bluesman brasileiro mais reconhecido nos EUA com seu estilo jumping blues, com

um jovem saxofonista de 18 anos na banda, roubando a cena.

Figura 6: À esquerda, Igor Prado Band. À direta, Lynwood Slin. Fonte: Vi Produções.

No dia 28/11, Dudu Lima Trio convidou Tiago Barros, saxofonista de Viçosa atualmente

residente na Suíça, e depois se apresentou Lynwood Slin, grande nome do blues norte-

americano. Nos intervalos, o trio Maracá executava o melhor da bossa nova e da música

instrumental brasileira.

Este festival foi viabilizado através do projeto Atividades da FACEV e patrocínio

Móveis Itatiaia, Microvet, FUNARBE, Haskell e recursos diretos do Curso Praetorium

Viçosa, Distribuidoras de Bebidas Paraiso, Transportadora Eureka - Ponte Nova e apoio do

Clube Campestre de Viçosa. A Direção Geral foi Amauri Rocha, Direção Artística Sérgio Lopes,

Palco Argeu Brust e Oswaldo Santana e Identidade Visual do artista plástico Sérgio Ramos,

sendo sucesso de público e crítica. Participaram da produção cerca de 40 profissionais.

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4. ViJazz 2009 e 2010

Não houve ViJazz em 2009, por uma série de dificuldades e imprevistos com projetos,

captação e patrocinadores. O cancelamento dessa edição foi uma decisão muito difícil, fruto

principalmente do atraso na aprovação do projeto na lei federal e da saída de cena de um

importante patrocinador. Por outro lado, gerou grande aprendizado, mostrando a importância

do tempo de execução dos projetos.

Após algumas noites mal dormidas, e várias reuniões, tivemos a árdua tarefa de

comunicar aos artistas previamente consultados que o festival não ocorreria naquele ano.

Contamos com a compreensão da grande maioria dos músicos, que entenderam

perfeitamente a situação, desejaram sucesso em próximos eventos e se colocaram à

disposição para a próxima edição. Foi duro este aprendizado, mas ainda estávamos no começo

da caminhada.

Pela primeira vez tínhamos um projeto aprovado nas leis de incentivo próprio, mas não

captamos recursos suficientes para manter o festival em ritmo crescente. A falta de

experiência e orientação suficientes me fizeram desistir de fazer um evento menor que os

anteriores, o que, sem dúvida alguma, posteriormente me causou arrependimento.

No ViJazz 2010, teclas foi o tema.

Figura 7: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2010 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

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O festival foi realizado entre os dias 11 e 13 de junho. Quem abriu o festival no

auditório Fernando Sabino foi o pianista de Juiz de Fora e residente em São Paulo Fabiano de

Castro, que levou uma super banda com metais de primeira linha, incluindo o saxofonista

Vinicius Dorin.

Como um dos melhores expoentes do tema no Brasil, a grande atração da edição foi o

músico mineiro Wagner Tiso, que, com um afinadíssimo duo com o guitarrista argentino

naturalizado brasileiro Victor Biglione, deram um show de brasilidade e entrosamento.

Encerrou a noite o bluesman natural de Angola e naturalizado brasileiro Nuno Mindelis, um

dos guitarristas de blues mais festejados do mundo, que, em sua competente banda, tinha um

dos melhores tecladistas do Brasil, Flávio Naves, showman também, fechando brilhantemente

a segunda noite do festival. Este show sem dúvida alguma é listado como um dos melhores

que já passaram pelo festival.

O pianista de Chicago, Donny Nichillo, ex-integrante da banda de Budy Guy, mostrou

toda sua técnica e nos fez pensar que estávamos em um dos berços do blues americano. Fez

no improviso um “Blues for Viçosa”, sozinho no piano e tocando simultaneamente a gaita.

Encerrou a primeira noite deixando todos boquiabertos.

Figura 8: Donny Nichillo, ViJazz na edição 2010 do ViJazz.

Fonte: Vi Produções.

O domingo foi a concretização de um sonho que eu tinha desde a primeira edição, a

realização de shows ao ar livre. O local que escolhi foi a estação de trens desativada em Viçosa

há anos. Os músicos tocando na plataforma de embarque e o público embaixo deram o clima

intimista ao festival, citado por alguns como o “ovo de Colombo”. O tecladista de Viçosa Leo

Marota montou um time de primeira para abrir a noite do último dia, fazendo releituras de

grandes clássicos do jazz. A grande noite foi finalizada pelos mineiros de Barbacena Rodrigo

Nézio e DuoCondé. Iniciávamos a fórmula ideal, a meu ver, com shows indoor e outdoor.

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Figura 9: Show ao ar livre na edição 2010 do ViJazz.

Fonte: Vi Produções.

Os patrocinadores foram Supermercado Escola, Laticínios Porto Alegre, Microvet,

Frigorífico Saudali, Mundial Confecções e Calçados, Aquazero, Maxmoto, Unimed Serras de

Minas, Distribuidora de Bebidas Paraíso e a cota Apresenta pela CEMIG, que deu força ao

festival. Agradeço ao amigo Rodrigo de Castro que me apresentou ao Sr. Luiz Henrique

Michalick, Diretor de Relações Institucionais da estatal mineira. O apoio foi da PEC, Secretaria

de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova. Mídia: Atelier do Arquiteto e

Interminas. A equipe de produção contou com cerca de 50 pessoas.

Duas semanas após esta edição, a grande repercussão nacional que o festival teve

motivou o convite para uma reunião em Brasília, com mais 10 produtores de festivais de

música instrumental, jazz e blues no Brasil.

Desta reunião foi escrita uma carta, e partir da carta de Brasília e de várias reuniões em

Rio das Ostras, Salvador e

Fortaleza foi criada a ABRAFEST (Associação Brasileira dos Produtores de Festivais de

Música Instrumental, Jazz e Blues) entidade que visa fortalecer os estilos musicais no Brasil,

bem como a representatividade nas esferas Estaduais e Federais.

Fazem parte da ABRAFEST: Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras (RJ), Festival de

Jazz e Blues de Guaramiranga(CE), Bourbon Fest São Paulo (SP), Bourbon Fest Paraty (RJ),

Vijazz e Blues Festival (MG), Bossa Jazz Festival (RN), Phoenix Jazz Festival (BA) e República

Blues (DF).

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Figura 10: Integrantes da ABRAFEST. Seria legal ter os nomes.

Fonte: Vi Produções.

5. VIJAZZ 2011

Realizado entre os dias 16 a 19 de junho, o ViJazz 2011 apresentou muitas novidades.

A maior foi a inclusão da cidade vizinha de Ponte Nova - MG, com grande espírito

empreendedor e sede de importantes empresas de nosso estado.

O tema foi contrabaixo e voz. Mais uma exposição de fotos das edições anteriores foi

realizada, desta vez na Pinacoteca da UFV, com a apresentação de Julie Amaral e banda.

Figura 11: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

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Abriu a noite do dia 16 na Praça de Palmeiras, em Ponte Nova, a banda Lúdica Música,

de Juiz de Fora, interpretando o fabuloso repertório de MPB (Música Popular Boa) em versões

de jazz e blues de primeira qualidade. Na sequência, o grande baixista brasileiro Rodrigo

Mantovani, listado recentemente entre os melhores pela revista Bass Player, convidou a

simpaticíssima Tia Caroll, originária de Richmond, Califórnia, que, com uma potente voz,

encantou a todos. No final do show, se surpreendeu ela ficou surpresa em constatar que já

tinha vários fãs na cidade de Ponte Nova.

Figura 12: Tia Caroll eRodrigo Mantovani, em Viçosa, na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

Na sexta-feira, no Auditório Fernando Sabino, foi a vez da diva do jazz americano Jane

Monheit acompanhada de seu excelente trio mostrar sua belíssima voz e interpretação

singular. Em seguida, Rodrigo Mantovani e Tia Caroll.

No sábado, na lotada área externa da Estação Cultural Hervê Cordovil, foi a vez da Prata

da Casa, o baixista Nilton Santiago convidar outros artistas viçosenses para apresentações

ímpares. O baluarte da música de Viçosa Zé Boia, Chico Marimbondo, Luciano Cocó, Jule

Amaral e Thiago Barros. Em seguida, o carioca Big Joe Manfra mostrou porque é um dos

maiores do blues brasileiro, incendiando a plateia com clássicos do blues e canções autorais.

No mesmo sábado à noite, no Auditório Fernando Sabino, o viçosense Marcus Paiva,

radicado em São Paulo, exibiu seu talento ímpar no baixo acústico, tendo como convidado

nada menos que Danilo Caymmi, grande flautista e dono de uma das vozes mais belas do

Brasil. Fechou a noite o astro norte-americano Tommy Castro, da Califórnia, com uma banda

de experientes e brilhantes músicos, e, imperativo citar, com o baixista Scott Sutherland, e

com um dos maiores trompetistas do mundo, Tom Poole, ex Etta James, Santa Esmeralda,

dentre outros.

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Figura 13: Tommy Castro, em Viçosa, na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

O domingo finalizou a melhor edição do ViJazz até aquela data, no Recanto das

Cigarras, antológico lugar dentro da UFV, que estava fechado para shows há 8 anos. O baixista

mineiro de Juiz de Fora, Dudu Lima, com seu entrosadíssimo trio, convidou o também mineiro

Emmerson Nogueira e juntos fizeram um grande show com releituras do The Police e Pink

Floyd.

Figura 14: Show no Recanto das Cigarras, na UFV, na edição 2011 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

Finalizou a noite a Tommy Castro Band, que fez, sem dúvida alguma, o melhor show do

ViJazz, contagiando a todos com sua guitarra eletrizante e com solos impecáveis de todos

demais músicos, destacando-se o baixista Scott Sutherland.

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Nessa edição, houve patrocínio da CEMIG, Laticínios Porto Alegre, Saudali, Açúcar

Alvinho, Jatiboca, Supermercado Escola, Microvet, Heineken, Burn, Brasil Tem Jeito, Cadernos

Bartofil, Yamaha Instrumentos Musicais, Corretora Preferencial, Praetorium Viçosa, Mundi

Shoes, Distribuidora de Bebidas Paraíso, Guaraciaba Premium, Unimed Serras de Minas,

Unimed Ponte Nova, JL produções, Viação União, Café Braúna. O apoio foi da UFV, PEC,

Secretaria de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova. Mídia Atelier do

Arquiteto e Interminas.

O grand up grade sonoro desta edição foi proporcionado pela Yamaha Instrumentos

Musicais que desde então envia moderníssimas mesas de som, bateria, teclados e técnicos de

primeira qualidade que fizeram e fazem a diferença. Menção especial ao Aldo Linares.

Participaram da produção cerca de 60 pessoas.

Após essas 4 edições, em setembro de 2011, decidi que precisava fundar uma

produtora cultural para iniciar um processo de maior profissionalização do festival e, assim,

nasceu a Vi Produções Ltda.

6. VIJAZZ 2012

Realizado entre 17 de agosto a 7 de setembro, o ViJazz 2012 contou com uma variada

programação, e a grande novidade foi a introdução da cidade de Juiz de Fora - MG. Os músicos

e produtores culturais Big Joe Manfra e Marcelo Panisset (Marcelão) me convidaram para uma

reunião em Juiz de Fora e, então, decidimos produzir lá uma edição do ViJazz.

Figura 15: Identidade visual criada por Sérgio Ramos para a edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

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Desta vez tivemos os instrumentos de percussão e bateria como tema. Para o

lançamento, escolhemos a boite Samsara, com shows de Amauri Rocha e Banda (Viçosa), Tulio

Araujo (BH) e Thomas Santana e banda (Viçosa). Foi uma noite com um publico eclético em

uma boite que nunca tinha sido palco para esse tipo de som. Sucesso! Em seguida, a casa

noturna Galpão também foi palco para uma prévia do festival, com apresentações de Gilson

Reis e Banda seguido de Rodrigo Nézio e Duo Conde (Barbacena).

Em Ponte Nova, no dia 29 de agosto, na Praça das Palmeiras, a Big Band Palácio das

Artes mostrou porque é uma das mais conceituadas do gênero em MG. Sob a regência do

cubano Nestor Lombida a banda arrasou. No dia 30 de agosto, novamente na Praça das

Palmeiras, o Sambajazz Trio, liderado pelo pianista Kiko Continentino, mostrou a música

instrumental brasileira de uma forma irreverente, técnica e abrilhantou a noite com o

baterista ‘’Neguinho’’ (Clayton Sales), que toca bateria e trompete simultaneamente com

maestria. Em seguida, o norte-americano Coco Montoya e banda, ex guitarrista do John

Mayall na banda Bluesbrakers, mostrou sua habilidade, sendo a dinâmica mais destacada.

Figura 16: Show de Coco Montoya, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

Em Viçosa, no dia 31 de agosto, no Auditório Fernando Sabino (UFV), Célio Balona (BH)

convidou Esdra ‘Neném’ Ferreira, um dos maiores bateristas brasileiros de todos os tempos, e

também o percussionista de mais expressão em MG, Serginho Silva. Na sequência, Coco

Montoya (EUA) e banda finalizaram a noite de sexta.

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No sábado, mais uma novidade do ViJazz que veio para ficar. Na Praça das Quatro

Pilastras, entrada da UFV, ponto de integração da cidade com a universidade, houveram

shows no começo da tarde com Perifonia (Viçosa) e convidado Bituca (Barbacena). O grupo de

percussão Perifonia é liderado pelo músico, professor e produtor Thomas Medeiros (Buldog) e

é formado por crianças e adolescentes carentes da periferia viçosense, por isso o sugestivo

nome. Bituca, por outro lado, é uma escola de musica da cidade de Barbacena, que tem

excelentes professores e o padrinho é o Milton Nascimento. Foi emocionante.

Em seguida, Marco Lobo Quinteto (RJ) trouxe toda sua experiência como

percussionista, tendo tocado 8 anos na banda de Milton Nascimento e sendo atualmente

integrante da banda do norte americano Billy Cohbam. Ele veio acompanhado de belíssimos

músicos, Marco Lobo, ViJazz edição 2012 com destaques para Marcelo Martins (sax) e Rafael

Vernet (teclados). Fechou a tarde a Brazilian Blues Band, com seus irreverentes blues,

balançando as quase 6000 pessoas que lá estavam. Foi o recorde de público do ViJazz.

Figura 17: O percussionista Marco Lobo, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

Dando sequência no bar Flor&Cultura, a banda Lúdica Música, de Juiz de Fora, colocou

todos os presentes para dançar, com muito alto astral e boa música. Esta edição foi a mais

eclética de todas, com espaços diferenciados recebendo apresentações do festival.

No domingo, o Auditório Fernando Sabino recebeu José James (EUA) e banda, uma das

vozes mais belas da atualidade, que mistura hiphop, soul e jazz e, nessa apresentação,

mostrou o porque de seu crescente sucesso. Fechou a noite o paulista Ari Borger Quartet que,

com seu entrosadíssimo quarteto, agradou a todos.

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Na semana seguinte, no belo e grandioso Cine Theatro Central, construído em 1920, a

edição de Juiz de Fora teve no palco José James (EUA), Coco Montoya (EUA), que levou ao

palco o guitarrista brasileiro Big Joe Manfra, encerrando o show com um duelo de guitarras

memorável. Fechou a noite de sexta-feira a talentosa banda local São do Mato que havia

chegado na véspera de um tour na Europa.

Figura 18: José James, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

No sábado, na casa noturna Cultural em Juiz de Fora, a banda Blues Etílicos fechou a 5ª

edição do ViJazz e Blues Festival, a maior até então, em 3 cidades e 21 shows realizados.

Nessa edição, o ViJazz contou com os patrocínios da CEMIG, Bartofil, Viação Salutaris,

Saudali, Yamaha Instrumentos Musicais, Funarbe, Brasil Tem Jeito, Café Braúna, Cachaça

Guaraciaba e Distribuidora de Bebidas Paraíso, Mundial Confecções e Calçados, Libélula

Boutique, Empório Andrade, Unimed Serras de Minas, Unimed Ponte Nova, Roberto Andrade

Apoio UFV, PEC, Secretaria de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova. Mídia

Atelier do Arquiteto e Interminas. Participaram da produção cerca de 60 pessoas.

7. VIJAZZ 2013

Este ano foi, sem dúvidas, quando ocorreu o grande e ousado salto. Após convite da

ACIA (Associação Comercial e Industrial de Araxá), através do Amauri, que dá consultoria para

essa instituição há muitos anos, aprovamos o projeto de um festival de jazz e blues para lá.

Estava assim definida mais uma cidade para o festival. Pensei, então, que, com 4 cidades

(Viçosa, Ponte Nova, Araxá e Juiz de Fora), o festival evoluía para um formato de circuito.

Porque não lançá-lo em Belo Horizonte, nossa Capital, que ainda não conhecia o ViJazz?

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Criamos, assim, o projeto do Circuito ViJazz, que despertou interesse de grandes

patrocinadores e, por intermédio do Ricardo Souza, proprietário do posto de gasolina Santa

Rosa da bandeira SHELL em Viçosa, me apresentou ao setor de marketing da empresa e enfim,

depois de 6 edições, conseguimos uma grande multinacional como patrocinadora.

Foi feito o show de lançamento em BH no grandioso SESC Palladium, numa terçafeira,

com a lenda do jazz americano Stanley Clarke e banda. A vinda dele ao Brasil foi uma parceria

com o Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras, produzido pelo grande amigo Stenio Matos.

Esse show ocorreu numa terça-feira, 28 de maio, com casa quase lotada e sucesso absoluto. O

jovem baterista Michael Mitchel, de 19 anos, quase roubou a cena

Figura 19: Stanley Clarke, na abertura do Circuito ViJazz 2013, em Belo Horizonte. Fonte: Vi Produções.

O talentosíssimo artista plástico Sérgio Ramos, desenhando simultaneamente ao show

e com os seus desenhos sendo projetados no fundo do palco em tempo real, foi uma grande

surpresa e um brilho especial na noite de lançamento do Circuito Vijazz & Blues Festival.

Figura 18: José James, na edição 2012 do ViJazz. Fonte: Vi Produções.

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Na semana seguinte, recebi vários e-mails e convites de cidades que queriam o festival.

Novos rumos foram tomados.

O Circuito começou no dia 28 de agosto, na Praça de Palmeiras em Ponte Nova, com

show da Bêjazz de Araxá e em seguida o grande gaitista norte-americano Peter Madcat,

ganhador de Grammy, mostrou como a pequena gaita tem a versatilidade e variedade sonora,

inovando nos efeitos.

No dia seguinte, o artista local Zé Doné mostrou, com sua banda, que talentos locais

não faltam. Em seguida, o músico e professor de New Orleans, Johnny Sansone, eleito melhor

gaitista de blues de New Orleans em 2013, num show performático onde também executou o

acordeom no estilo cajun, fechou a edição em Ponte Nova.

Sansone foi o primeiro artista que a Vi Produções trouxe exclusivamente para o ViJazz,

pois assisti a um show dele no Festival de New Orleans em 2013 , no mês de abril, e fiz o

contato logo após o show. Foi sua primeira vez em terras brasileiras.

No dia seguinte, Viçosa recebeu o gaitista Gabriel Grossi, sem dúvidas o maior

expoente da gaita na atualidade no Brasil. Em seguida, foi a vez de o Peter MadCat mostrar

seu talento em Viçosa. No sábado, o gramado das 4 pilastras recebeu mais uma edição do

festival, com Nova shows de Vagner Moura e banda, Juarez Moreira Trio e Johnny Sansone,

eletrizando a plateia que, pela primeira vez, teve um show internacional gratuito na cidade de

Viçosa.

Figura 19: Peter MadCat, na edição 2013 do ViJazz, em Ponte Nova. Fonte: Vi Produções.

No domingo à tarde, ao estilo Central Park, começou com a Big Band do Palácio das

Artes, seguida pela excelente banda do viçosense Luciano Soares, que convidou o gaitista de

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mais expressão em Minas, Leandro Ferrari. Foi um grande show. Finalizando a edição 2013 em

Viçosa, o gaitista de blues Flávio Guimarães incendiou a plateia tocando clássicos de sua

autoria e do Blues Etílicos. Com talento e carisma ímpar, chamou ao palco o gaitista Leandro

Ferrari e depois o astro Johnny Sansone, com dois duelos de gaitas fantásticos. Foi um

encerramento à altura da cidade natal do ViJazz.

Figura 20: Flávio Guimanrães, à esquerda, e Johny Sansone, à direita, na edição 2013 do ViJazz, em Belo Horizonte. Fonte: Vi Produções.

Na semana seguinte, no dia 05 de setembro no Cine Theatro Central em Juiz de Fora, o

mestre João Donato mostrou todo seu carisma e talento, às vésperas de completar seus 80

anos. Na sequência, Johnny Sansone repetiu a performance realizada em Viçosa e Ponte Nova.

Figura 21: Cosmo Soul, na edição 2013 do ViJazz, em Juiz de Fora. Fonte: Vi Produções.

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No dia seguinte a casa Cultural foi o palco do Circuito, com um show emocionante da

Banda CosmoSoul, oriunda de Madri. Essa world band fez todos os presentes dançarem ao

som de seus hits no estilo jazz, soul e black music. Foi a primeira vinda ao Brasil, por

intermédio também da Vi Produções. Fechou a noite de sexta Big Joe Manfra e sua

competente banda, que relembrou seus bons tempos no Cultural.

No sábado, os jardins do Museu Mariano Procópio receberam os dois maiores

expoentes da musica instrumental de Juiz de Fora. Abriu a tarde Marcio Hallack e banda e

depois Dudu Lima Trio.

Figura 22: Show nos jardins do Museu Mariano Procópio, no ViJazz 2013, em Juiz de Fora. Fonte: Vi Produções.

No domingo, o belo-horizontino Juarez Moreira e seu trio abriram a tarde e quem

finalizou a edição em Juiz de Fora em altíssimo astral e estilo foi Peter Madcat, sendo recorde

de público no Museu. Gostaria de destacar aqui o apoio do diretor do Museu Mariano

Procópio, Douglas Fasolato.

Em Araxá, na sexta-feira, Juarez Moreira abriu a noite, seguido de Peter Madcat e no

sábado Vagner Faria seguido de Johnny Sansone.

No domingo, WPE (World Percussion Ensemble), outra world band sediada em

Munique, liderada pelo pianista alemão Walter Lang, fez o show de música instrumental mais

inédito, gerando uma comoção na plateia. Na tarde de domingo, um workshop com o

percussionista japonês de tambores taico, Takuia Tanigushi, também emocionou a todos. Foi

também a primeira vinda do WPE ao Brasil, pela Vi Produções.

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Figura 23: Show da banda WPE, no ViJazz 2013, em Araxá. Fonte: Vi Produções.

Encerrou o Circuito Vijazz & Blues a banda local de Araxá Big Band Blues e Afins. Todos

os shows em Araxá foram realizados no belíssimo Grande Hotel e os ingressos foram retirados

gratuitamente na ACIA.

A SHELL, CBMM, CEMIG, FUNARBE, Bartofil, Viação, Salutaris Café Braúna, Roberto

Andrade, Pão de Queijo Forno de Minas, Cachaça Guaraciaba, UNIMED (JF, Ponte Nova e

Serras de Minas) patrocinaram a edição 2013.

Apoio UFV, PEC, Secretaria de Cultura de Viçosa, Secretaria de Cultura de Ponte Nova,

Funalfa, Museu Mariano Procópio e Mídia Atelier do Arquiteto e Interminas. Participaram da

produção cerca de 70 pessoas.

No final do segundo semestre de 2013, com o objetivo de avançar na organização

administrativa da Vi Produções Ltda., e consequentemente do Circuito ViJazz & Blues,

estabeleci uma sociedade com Rosa Fontes, professora aposentada da UFV com sólida

formação na área econômico-financeira. Exerço na Sérgio Lopes e Rosa Fontes, na sede da Vi

Produções empresa a função de Diretor e ela a função de Diretora Executiva. A partir de 2014,

a empresa passou a ter sua instalação física, com todo o suporte necessário ao planejamento e

execução das atividades do Circuito ViJazz & Blues e demais iniciativas culturais9

9 Para maiores detalhes, ver www.viproducoes.com e, no Facebook, www.facebook.com/viproducoesculturais.

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Figura 24: Sérgio Lopes e Rosa Fontes, na sede da Vi Produções, em Viçosa. Fonte: Vi Produções.

Numa iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, reconhecendo a

importância e a vocação de Minas Gerais para os festivais de Cultura no ano de 2013 fomos

convidados a participar da criação do Fórum Mineiro dos Festivais de Cultura, que permite a

participação em diversas ações que estão sendo realizadas e planejadas como o fomento a

ações de intercâmbio, articulação e qualificação por meio de concessão de passagens para

gestores, produtores e curadores de Festivais Mineiros participarem de festivais e eventos

similares que acontecem no Brasil e no mundo, ações de capacitações e palestras. Em abril de

2014 como membro do Fórum participamos do 1º Pitching, para apresentação de projetos

culturais a potenciais patrocinadores, entre outros.

8. CIRCUITO VIJAZZ & BLUES 2014

Em 2014 o lançamento ocorreu no dia 5 de agosto, no SESC Palladium, em Belo

Horizonte, com o renomado baixista norte-americano Marcus Miller, ex- arranjador de Miles

Davis e além de brilhante carreira solo integrante do projeto Legends, ao lado de Eric Clapton,

David Samborn e Steve Gadd com lotação esgotada neste show.

As cidades do interior do Circuito em 2014 são Ponte Nova, Viçosa e Ubá e Juiz de Fora.

Após lançamento espetacular de Marcus Miller em Belo Horizonte no dia 5 de agosto,

no Teatro SESC Palladium, o Circuito ViJazz & Blues apresenta a programação para sua sétima

edição, nas cidades de Ponte Nova, Viçosa, Juiz de Fora e Ubá.

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Figura 25: Show de abertura do Circuito 2014, com Marcus Miller em Belo Horizonte.

Fonte: Vi Produções.

Em Ponte Nova, no dia 28, o ViJazz contará com os shows da Corporação Musical SS.

Trindade e uma das atrações internacionais desse ano, Shawn Holt and the Teardrops (EUA).

Os shows serão na Praça de Palmeiras.

Em Viçosa, o Circuito acontece nos dias 30 e 31 no Gramado das Quatro Pilastras da

UFV. No sábado, conta com as apresentações do Coral da UFV (regência do maestro

Ciro Tabet), WPE (Alemanha) e Shawn Holt and the Teardrops. Já no domingo, terá a presença

de Luciano Cruz (Cocó), Armandinho Macedo e Nuno Mindelis.

A banda de blues norte-americana Shawn Holt and the Teardrops volta aos palcos

brasileiros no ViJazz Juiz de Fora, no dia 31 de agosto, no Museu Mariano Procópio.

O Circuito se encerra com o ViJazz Ubá, que será no dia 6 de setembro, no Horto

Florestal e terá a participação dos músicos Armandinho Macedo, Nuno Mindelis, Tango

Reflections (Argentina) e Lenine. Todos os shows nas cidades do interior são gratuitos.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Circuito ViJazz & Blues, desde seus primórdios, se pautou por alguns princípios, sendo

o principal deles a descentralização e interiorização da cultura. A formação do festival, a partir

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do interior, inverteu o fluxo usual, que na maioria das vezes acontece, dos eventos culturais se

iniciarem nas metrópoles e posteriormente chegarem ao interior.

Outro princípio caro ao Circuito é a inclusão e democratização cultural, com

acessibilidade de shows a preços populares e/ou gratuitos.

Há também ênfase na formação de plateia jovem, principalmente universitários.

Através de parcerias com algumas Universidades, o Circuito, cada vez mais, se preocupa em

aprofundar na formação e capacitação musical de jovens.

Figura 26: Público no show ao ar livre, Edição de 2010, em Viçosa.

Fonte: Vi Produções.

Por último, mas não menos importante, é o princípio da valorização de artistas locais. É

única a oportunidade de artistas locais se apresentarem em estrutura profissional de produção

ao qual não tem acesso no dia a dia, a possibilidade de assistirem espetáculos de artistas

nacionais e internacionais, conviverem de perto com os mesmos e trocarem experiências.

Em termos de perspectivas futuras para 2015, existem algumas cidades fora do estado

de Minas Gerais com possibilidade de serem integradas ao Circuito, como Campinas por

exemplo. Se isso ocorrer, será iniciada a escalada interestadual do Circuito ViJazz &Blues.

Em síntese, a partir de uma primeira edição inesquecível do ViJazz, em 2007, que

começou timidamente na cidade de Viçosa, houve uma evolução, nesses sete anos, para o

atual Circuito ViJazz & Blues, consolidando-se como um dos maiores e mais importantes do

gênero no Brasil.

Vida longa ao Circuito ViJazz & Blues!

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O CEPEC E AS AÇÕES DE RESGATE E PRESERVAÇÃO CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO

Allan Gustavo de Sales Tibúrcio

José Ricardo Vitória

1. INTRODUÇÃO

No intuito de reconhecer e divulgar a cultura do Território Rural da Serra do Brigadeiro,

o CEPEC – Centro de Pesquisa e Promoção Cultural, ONG sediada no Município de

Araponga/MG cujo objetivo principal é o resgate, a preservação e a divulgação cultural da

região, vem desde a sua fundação, no ano de 2003, realizando diversos trabalhos de pesquisa

na região.

O Território Rural da Serra do Brigadeiro compreende os municípios de Araponga,

Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Rosário da Limeira, Sericita e Pedra Bonita e

podendo, ao longo dos anos, vir a englobar outros municípios. Dentro deste território

encontram-se as terras do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro – PESB, criado em 1986, que

com aproximadamente 14.000ha, sendo uma importante área de preservação da Mata

Atlântica. Rios, cachoeiras, vales, picos, montanhas e espécies vegetais e animais em extinção,

além do povo e sua cultura, são alguns dos atrativos que caracterizam e dão identidade à

região.

É importante ressaltar que nos diversos trabalhos desenvolvidos foram de suma

importância as parcerias com os governos municipais (Prefeituras e suas Secretarias,

principalmente de Cultura, Educação e Turismo); estaduais (através da Secretaria de Cultura e

de Esportes) e federais (através do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da

Cultura e Ministério do Turismo), e com a comunidade em geral e instituições parceiras como

sindicatos de trabalhadores rurais, a igreja, escolas família agrícola, associações de

trabalhadores rurais, o PESB entre outras.

2. AÇÕES PRELIMINARES DE RESGATE E PRESERVAÇÃO CULTURAL

Com a fundação do CEPEC em março de 2003, algumas ações iniciais de resgate cultural

foram realizadas no município de Araponga.

O primeiro projeto aprovado pela instituição foi junto ao BDMG, em um edital lançado

objetivando o fomento da cultura popular. O projeto aprovado visava a aquisição de roupas e

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acessórios para o grupo de dança de caboclos “Folguedo dos Arrepiados”, um grupo folclórico

que resgata as danças típicas dos índios Puris, considerado os primeiros habitantes da Serra do

Brigadeiro, anteriormente conhecida como Serra dos Arrepiados, nome dado pelos índios

devido às baixas temperaturas da região. Com o recurso liberado pelo BDMG (na época

R$720,00 apenas, o projeto vislumbrava o valor de R$1.440,00), foi possível adquirir as saias

típicas de uma tribo indígena da região do norte de Minas Gerais e alguns acessórios como

cocar, pulseiras e colares.

Figura 1: Grupo de Dança de Caboclos “Folguedo dos Arrepiados”, Araponga/MG.

Fonte: Arquivo CEPEC/2004.

Foi também realizado no município um levantamento de todas as pessoas que

trabalhavam com artesanato e trabalhos manuais, além de identificar a produção de cada um

deles. Posteriormente, com o apoio da prefeitura foi criada a “Oficina do Artesão”, um espaço

dedicado à comercialização dos produtos.

Figura 2: Uma amostra do artesanato em madeira e piteira, Araponga/MG.

Fonte: Arquivo CEPEC/2004.

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Com o objetivo de divulgar e também resgatar a cultura local foi realizado, em parceria

com do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural de Araponga o I Fórum Municipal de

Cultura de Araponga, onde foram apresentados todos os trabalhos realizados na área da

cultura, palestras sobre identidade, preservação e divulgação cultural, apresentação de grupos

folclóricos como Dança de Caboclos, Folia de Reis, Banda de Música e exposição de

artesanato. Este projeto foi de suma importância para consolidar o trabalho cultural no

município, pois despertou um grande interesse na comunidade em geral. Serviu para

aproximar o tema às pessoas, que muitas vezes não davam a necessária importância para a

identidade e cultura local.

Figura 3: I Fórum cultural de Araponga/MG.

Fonte: Arquivo CEPEC/2004.

Paralelamente a tudo isso iniciava as discussões sobre o desenvolvimento do Território

da Serra do Brigadeiro e o CEPEC, juntamente com diversas outras instituições passaram a

compor o CODETER – Conselho de Desenvolvimento Territorial, onde foram criados eixos de

desenvolvimento para os municípios, nos quais o eixo Cultura, proposto pelo CEPEC, foi

considerado de grande importância para o desenvolvimento da região, uma vez que os

municípios participantes possuíam uma grande semelhança em seus aspectos culturais. Diante

disso, através de projetos de infra estrutura e custeio, financiados pela SDT (Secretaria de

Desenvolvimento Territorial) do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) o CEPEC

aprovou a construção de 02 Casas de Cultura, bem como os equipamentos e mobiliário, que

foram construídas em Araponga, que desde a sua inauguração em 2007 é também a sede

administrativa do CEPEC e Miradouro, que atualmente está sendo administrada pela

Prefeitura local. As Casas de Cultura foram concebidas para serem espaço de suporte para

todo tipo de atividade cultural e como apoio para a divulgação cultural da Serra do Brigadeiro.

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Figura 4: Casa da Cultura “Arrepiados da Serra”, Araponga/MG, às vésperas de sua

inauguração.

Fonte: Arquivo CEPEC/2004.

3. OS POVOS DA SERRA DOS ARREPIADOS: SUAS FESTAS, SUA CULTURA PRONAT/2006

Figura 4: Capa do livro “Os povos da Serra dos Arrepiados”.

Fonte: Arquivo CEPEC.

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Este projeto, financiado pela SDT/MDA, traz como resultado final o lançamento de um

inventário das festas populares da Serra do Brigadeiro. Intitulado de “Os povos da Serra dos

Arrepiados: suas festas, sua cultura”, sua função é divulgar as festas locais através de um

calendário anual permitindo assim, a preservação das manifestações culturais da região. Além

disto, este livro é o resultado de uma proposta do CEPEC baseada de que a cultura é de

essencial importância para o desenvolvimento socioeconômico do Território da Serra do

Brigadeiro. Dentro desta perspectiva, “Os povos da Serra dos Arrepiados: suas festas, sua

cultura”, vem convidar o leitor, para uma viagem à cultura local da Serra do Brigadeiro através

de suas festas e manifestações.

4. FORTALECIMENTO E PROMOÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO - PRONAT/2008: FÓRUNS TERRITORIAIS DE CULTURA

Dando continuidade aos trabalhos de resgate e preservação cultural da Serra do

Brigadeiro desenvolvido durante 18 meses, o projeto de custeio Pronat/2008 teve como

objetivo a divulgação e promoção cultural da Serra do Brigadeiro. Foram realizados 09 Fóruns

Territoriais de Cultura, 01 em cada município que compõe o Território da Serra do Brigadeiro.

Estes fóruns tinham como objetivo discutir e identificar potencialidade e problemas para

então propor diretrizes e soluções para a preservação cultural da região. Foram discutidos 04

eixos básicos, sendo eles Cultura e Patrimônio, Cultura e Tradição, Cultura e Educação e

Cultura e Turismo, nos quais todos os participantes foram convidados a participar de acordo

com o seu maior interesse. O resultado dos Fóruns atingiram resultados melhores do que

imaginavam, tanto em termos de participantes quanto em volume de discussão e propostas.

Figura 5: Banner de divulgação dos Fóruns Territoriais de Cultura.

Fonte: Arquivo CEPEC.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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5. FORTALECIMENTO E PROMOÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DA SERRA DO BRIGADEIRO - PRONAT/2008: TERREIROS CULTURAIS

Após a realização dos Fóruns Territoriais de Cultura o CEPEC promoveu o 1º Terreiro

Cultural da Serra do Brigadeiro. Esta meta do projeto teve como principal objetivo a

divulgação e promoção da cultura da Serra do Brigadeiro. O evento aconteceu no município de

Araponga e contou com a apresentação de aproximadamente 30 grupos e manifestações

folclóricas como Folias de Reis, Grupo de Caboclos, Congado, Calangueiros, Violeiros, João do

Mato, Encomendação das Almas, Banda de Música, exposição de artesanato, comida típica

entre outras, num total de aproximadamente 500 pessoas. O evento aconteceu em praça

pública, sendo acessível a toda a comunidade, sem custo algum. Posteriormente já foram

realizados mais 06 Terreiros Culturais, em diferentes municípios, objetivando o intercâmbio, a

promoção e a divulgação da diversidade cultural da Serra do Brigadeiro.

Figura 6: Diversidade Cultural da Serra do Brigadeiro: 1º Terreiro Cultura, Araponga/MG.

Fonte: Arquivo CEPEC.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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6. SERRA DO BRIGADEIRO, TERRITÓRIO DE CULTURA – FEC/2008: CONVERSA AO PÉ DA SERRA

Figura 7: Página interna do livro “Conversa ao Pé da Serra”, Araponga/MG.

Fonte: Arquivo CEPEC.

Este projeto, financiado pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais,

aprovado no edital FEC/2008 que teve como objetivo registrar os saberes do povo que habita

nossa região através de entrevistas com dezenas de moradores das diversas comunidades

rurais e urbanas dos nove municípios do Território. Foram centenas de horas de gravações de

conversas informais onde se pode registrar histórias, casos, lendas, tradições, receitas,

simpatias e tudo o mais que caracterizam os costumes desse povo que tanto tem a nos

ensinar. Um povo sofrido, mas que não se esquece nunca de suas origens e de sua identidade.

Um rico material foi levantado e um pouco dele pode ser visto nas páginas do livro intitulado

“Conversa ao Pé da Serra: saberes, sabores, casos e causos da Serra do Brigadeiro”.

Este projeto realizou também a estruturação de vários grupos folclóricos da região

através da doação de instrumentos musicais e tecidos e aviamentos para confecção de roupas

e acessórios, além do Terreiro Cultural da Serra do Brigadeiro, um encontro dos grupos

folclóricos e manifestações culturais, proporcionando uma troca de experiências para as cerca

de 500 pessoas que participaram diretamente deste evento e de todos aqueles que tiveram o

prazer de vivenciar essa experiência.

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7. BOAS PRÁTICAS PARA O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA MINTUR/2008

O Projeto ‘Boas Práticas de Turismo de Base Comunitária na Serra do Brigadeiro’

nasceu como resultado das ações das diversas entidades que trabalham no Território Rural da

Serra do Brigadeiro para permitir uma melhor diversificação de renda e uma melhor qualidade

de vida às famílias que lá residem. O CEPEC - Centro de Pesquisa e Promoção Cultural iniciou

este trabalho no ano de 2009, resgatando as ‘Boas Práticas’ da agricultura familiar, sendo

estes os principais produtos e serviços do Turismo de Base Comunitária. Neste trabalho,

financiado pelo Ministério do Turismo, contamos com a parceria da Associação Amigos de

Iracambi, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), com sede no

município de Rosário da Limeira. Nesta publicação, resultante do trabalho de 18 meses onde

30 famílias moradoras da zona rural de 05 municípios foram preparadas para inserir na sua

propriedade rural a atividade turística como uma nova opção de geração de renda para a

família, apresenta-se a economia solidária das famílias de agricultores residentes por entre as

belezas naturais desta porção de Minas Gerais, com seus modos de vida nos convidando a

viver momentos inesquecíveis. Este catálogo busca aproximar os visitantes dos povos da Serra

do Brigadeiro, através de seus modos de fazer e saberes, vividos por entre estas montanhas de

minas.

Reforçando o potencial turístico da região vale ressaltar a presença dos Circuitos

Turísticos Serras de Minas e Serra do Brigadeiro, que criados com o objetivo de fomentar o

turismo na região tem um papel importante na concretização deste projeto. Dos dois circuitos

participam cidades distintas, tornando mais heterogêneo o processo, sendo ao mesmo tempo

parte de um único objetivo: a potencialização da atividade turística na região.

O projeto ‘Boas Práticas para o Turismo de Base Comunitária’ propõe para a Serra do

Brigadeiro a valorização de seu potencial natural e de seu povo através de sua cultura,

abrangendo os modos de fazer e os saberes da região.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Figura 8: Banner de Divulgação do Projeto

Fonte: Arquivo CEPEC.

8. RESGATE DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE ARAPONGA E PEDRA BONITA - FEC/2009

Com o advento da globalização cuja tendência é a homogeneização cultural está

ocorrendo um desrespeito à singularidade de expressão de cada povo, afastando-os de suas

culturas genuínas. Portanto conhecer a própria história é relevante para qualquer população,

principalmente aquelas que possuem suas raízes culturais ricas, mas que estão se diluindo

com esse fenômeno.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Tanto Araponga quanto Pedra Bonita possuem uma história cultural muito valiosa que

está resguardada no seu patrimônio histórico material. As cidades em questão fazem parte do

Território Serra do Brigadeiro. Esta abrange uma área na qual está inserida uma importante

unidade de conservação: o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Em função da

exuberante fauna e flora do local, a paisagem natural muitas vezes aparenta ser mais atrativa

às atividades turísticas. No entanto, sabemos que a “paisagem construída”, ou seja, o

patrimônio cultural arquitetônico das cidades (entende-se como sendo as sedes de fazendas,

casas, igrejas, praças, largos, dentre outros) possui um papel importante para o

desenvolvimento da atividade turística em uma determinada região. Sendo assim objetiva-se

com este projeto, o inventário do patrimônio arquitetônico de Araponga e Pedra Bonita, a fim

de transformar este patrimônio em atrativo turístico, podendo mais tarde tal metodologia ser

utilizada nos outros municípios do território.

Neste projeto fez-se um levantamento completo das edificações mais relevantes

existentes nos municípios por meio de pesquisas bibliográfica, visitas in locu, levantamento em

cartórios, igrejas e prefeituras. Para tanto contau-se com profissionais da área de história,

arquitetura e turismo. Além disso, buscamos parcerias com as Prefeituras através dos seus

setores de educação e cultura, da ABRIGA (Associação dos Municípios Integrantes do Circuito

Turístico da Serra do Brigadeiro), EMATER, Igrejas, Universidades, EFAS (escolas famílias

agrícolas), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e todas as Associações Comunitárias e Grupos

Organizados que possam auxiliar na efetivação do inventário proposto, resgatando e

valorizando a cultura local.

No mundo contemporâneo a cultura tem uma relevante importância na formação da

identidade de um povo e de uma região. Historicamente é sabido que a arquitetura é um

registro dos modos de pensar e agir de um povo. Ao longo dos séculos a arquitetura se

modificou diversas vezes de acordo com diferentes momentos (guerras, religião, revoluções,

entre outras). Portanto, a preservação do patrimônio arquitetônico local é de suma

importância para uma comunidade, configurando-se como memória da sua própria história.

Assim a comunidade atual e as gerações futuras poderão estabelecer laços com suas raízes

tornando-se consciente, responsável, orgulhoso e atuante sobre sua riqueza patrimonial. Além

disso, ele terá uma conduta apropriada em relação a seu patrimônio cultural como um

potencial para a atividade turística na região.

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Figura 9: Capa da Publicação do Inventário Arquitetônico de Araponga e Pedra Bonita

Fonte: Arquivo CEPEC.

Figura 10: Página interna do Inventário Arquitetônico de Araponga e Pedra Bonita

Fonte: Arquivo CEPEC.

9. PONTO DE CULTURA “...OS CABOCLOS DA MATA OLELÊ...” SEC. DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS/MINC

O Território do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro que outrora se chamava Serra

do Arrepiados é, sem duvida, um importante marco no desenvolvimento do Interior de Minas

Gerais, participando ativamente no processo de desenvolvimento histórico do Estado. Em

1693 por estas paragens veio dar um bandeirante, conhecido por Antônio Rodrigues de Arzão,

sendo este o primeiro a encontrar e registrar a ocorrência de ouro nas Minas Gerais,

encontrado nas encostas da Serra dos Arrepiados, numa das nascentes do “Rio da Casa de

Casca”, hoje “Rio Casca”. Este mesmo ouro, mais tarde, precisamente em 1780, trouxe o

próprio Governador da Capitania de Minas, que à época percorreu toda a região povoando e

distribuindo sesmarias. Na ocasião, ele próprio fundou o Arraial dos Arrepiados, hoje

Araponga, um dos municípios que compõem o Território da Serra do Brigadeiro.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Esta região foi também, um dos últimos redutos dos índios da nação Puri, hoje

considerados extintos, mas com fortes marcas no cotidiano das comunidades rurais

espalhadas pela extensa encosta da Serra do Brigadeiro. Ainda hoje, há fortes evidencias desta

civilização, marcas e traços desta cultura permanecem vivas, sendo uma das expressões mais

clara o “Grupo de Dança Cabocla” que no folclore busca manter vivas as tradições dos seus

antepassados. A dança de “caboclos” é a principal representação folclórica regional, uma vez

que nos remete ao nosso passado e às nossas origens. Esta dança que até a pouco, por volta

de cem anos atrás, era praticada na forma de ritual pelos descendentes. Como eram inibidos

de praticarem suas crenças, muitos deste costumes se perderem em um curto espaço de

tempo. Hoje nos restam as manifestações em forma de folclore, que também por falta de

apoio e estímulo, foi deixando de ser praticadas, restando apenas um grupo, este localizado

em Araponga.

Outro fator de grande relevância foi devido à exploração de ouro na região, que trouxe

à época, centenas de escravos que por aqui se enraizaram, misturando-se principalmente aos

índios. Assim com a escassez do ouro esta mesma mão de obra passou a ser empregada na

“roça branca” e mais a diante na cafeicultura, que nessa época começava a se expandir na

região e hoje é o principal produto da agricultura regional, sendo responsável por oxigenar a

manter a economia desta região, tornando-se referência na produção de café para o Estado e

para o País, comprovado pelos concursos de qualidade de cafés a nível nacional.

Assim, com este projeto predente-se explorar todo este potencial cultural e econômico,

difundindo e dando segmento aos projetos já inicados por esta instituição, com foco ao

projeto “Inventario Cultural do Territorio da Serra do Brigadeiro”. Apropriando-se do

calendário festivo já produzido, como mecanismo de promoção das atividades que serão

desenvolviddas com este projeto, garantido também a manutenção e fortalecimento do

próprio evento.

No que se refere ao folclore regional, será promovida ações que visem a disseminação

e o avivamento do “caboclo”, como folclore e como “gente” portadores de uma identidade

cultural, realizando oficinas de dança, pintura, confecção de indumentários e instrumentos

como, colares, cocás, arco-e-flecha e outros, usados nas danças. Também serão ministradas

palestras naS comunidades estudantis, focando a importancia desta manifestação para nossa

cultura e para nossa própria identidade. Além do apoio e incentivo para recriação de novos

grupos, considerando que houveram vários grupos de dança cabocla na região, resgatando o

folclore e agregando valor ao turismo.

Como fomento ao desenvolvimento econômico, será implantado nas comunidades o

projeto “Arte-Café”, uma iniciativa que tem se mostrado bastante promissora, que tem como

materia prima os restos da agricultura, em especial a palha do café, abundante na região, que

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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serão transformados em artesanato, sendo o café, um dos mais importantes produtos

econômicos dos municipios que compõe o territorio da serra do brigadeiro, formados por

grandes e principalmete pequenos produtores rurais. Com o artesanato, busca-se agregar

valor aos restos da agricultura, onde serão capacitadas e treinadas pessoas em risco social

para produção. Busca-se com este projeto, ainda, o apoio na comercialização das produçõses

artesanais, as quais já vêm acontecendo de forma singela, dadas as condições e recursos.

Dentro da proposta de inclusão digital e comunicação, serão realizados cursos e

oficinas de qualificação em audio, vídeo e foto, capacitando agentes sociais locais, afim de

difundir a cultura local tradicional através de registros e documentários, implementando

assim o projeto “Cine-comunidade”, que atualmente, uma vez por semana, exibe filmes para a

comunidade do município de Araponga. Neste segmento serão propostas atividades de

registros do cotidiano destas comunidades, bem como registros das atividades desenvolvidas

pelo próprio projeto, onde depois editados, serão exibidos em suas comunidades e também

em outras comunidades, como forma incercâmbio, troca de experiencias, buscando elevar a

autoestima dos envolvidos direta e indiretamente no processo.

Por fim, aproximação da cultura popular aos alunos das escolas públicas e grupos de

maiores idade, através do desenvolvimento de ações educativas de cunho cultural, ambiental

e social, como: oficinas, palestras, exposições, debates e exibição de vídeos sobre a história e o

folclore regional e meio ambiente.

Figura 10: Oficinas do Projeto ArteCafé

Fonte: Arquivo CEPEC.

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ELABORAÇÃO, CAPTAÇÃO E GESTÃO DE PROJETOS CULTURAIS: UM BREVE RELATO

Amauri Rocha

Foi com um certo desafio que recebi a solicitação do Prof. Rodrigo Gava para “escrever

um relato sobre sua ou parte de sua vivência/experiência com a produção e/ou gestão

cultural”.

Como falar de mim, passar um pouco de minha experiência e ser útil a quem lê este

texto? Pois o que vejo nos meus colegas de trabalho, nesses mais de 25 anos de atividade, é

que os mais diversos caminhos foram trilhados em suas formações profissionais.

O que é importante na formação de um profissional em produção e/ou gestão cultural?

Escolho citar o livro da Carla Lobo “Diário de Produção” (Referência Bibliográfica: Lobo, Carla.

Diário de produção: relatos, dicas, experiências e casos de quem aprendeu a produção cultural

na prática/ Carla Maria Lobo Bastos. – Belo Horizonte: Ed. Da autora, 2009. 188 p.). Neste

livro, ela ressalta a importância de um produtor cultural dominar assuntos tais como:

LOGÍSTICA, COMUNICAÇÃO, JURÍDICA, ADMINISTRAÇÃO-FINANCEIRA & TÉCNICA. No relato

que farei a seguir, é possível perceber que convivi com todos estes procedimentos, que

permitem com que, hoje, eu seja um especialista em elaboração de projetos, captação de

recursos e gestão de projetos culturais.

Mas, antes de tudo, precede uma coisa essencial: viver a arte e a cultura. Na infância,

já participava de datas comemorativas e esquetes declamando, cantando ou representando.

Reforçando esse comportamento, ressalto também a convivência com os músicos dos anos 70

em Viçosa, minhas participações em bailes da cidade como cantor mirim e no saudoso “Show

de Ouro”, que acontecia aos domingos no Cinema Brasil. Nem todo produtor precisa ser

artista, mas é importante entender aspectos relevantes do mundo artístico. O que estamos

produzindo é arte e cultura e, se não tivermos a essência artística como base, não estaremos

afinados com o que realmente é importante no nosso trabalho.

Nos anos 80, trabalhei em lojas de discos; como músico, toquei pelo interior de Minas

Gerais, fiz várias viagens ao Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde trabalhei como “peão de

produção”(vendendo revistas programa, ajudando em setores básicos como transporte,

camarim, segurança, credenciamento e recepção), produzi vários artistas do Rock dos anos 80

e da MPB no estado e na Zona da Mata, montando e às vezes operando som e luz. É neste

período que tive a minha formação “prática”.

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PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Outro elemento importante na minha formação foi a conclusão do segundo grau e o

meu curso de tecnólogo em cooperativismo na Universidade Federal de Viçosa. Nos anos 90,

quando cheguei ao Rio de Janeiro, a profissionalização do setor estava a pleno vapor, de uma

certa forma marcada pelo sucesso do Rock in Rio anos antes. Vi então um mercado dividido

entre profissionais que conheciam bem o processo de produção, mas desconheciam técnicas

administrativas e procedimentos básicos da atividade empresarial, tais como impostos,

procedimentos contábeis, trabalhistas, planejamento, finanças etc. O contrário também era

percebido no mercado: contadores, secretárias e gerentes que não sabiam ou que

desconheciam um equipamento de som e luz, necessidades de logística, planejamento de

mídia ou posição no mercado de certo produto artístico.

A minha experiência com música e com a prática de produção cultural, associada à

minha formação acadêmica (onde aprendi a pesquisar, procurar, questionar, processar e

sistematizar o conhecimento), permitiram que me destacasse no mercado carioca, onde

trabalhei em várias funções em uma das maiores produtoras da América Latina ( DellArte

Soluções Culturais), fosse diretor de uma das principais casas de show (Rio Jazz Club), sócio de

uma empresa produtora de livros e CD’s (Amalgama Ltda) e, por fim, controlador de uma das

mais importantes agências de Marketing Cultural do Rio de Janeiro (Arte com Trato).

Já nos anos 2000, de volta à Viçosa, fui diretor da Fundação Artística, Cultural e de

Educação para a Cidadania de Viçosa – FACEV por 8 anos e Diretor do Sistema de Rádio e

Televisão da UFV por 2 anos e meio. E foi nestes anos que sedimentei um tipo de atividade

que já tinha convivido nos meus tempos de Rio de Janeiro e que até hoje resumem minha

atividade no setor cultural: a realização de projetos culturais através dos fomentos e leis de

incentivo a cultura.

Nesta atividade, uso toda a minha experiência para planejar, descrever, articular

equipes, quantificar financeiramente; estar de acordo com a legislação e impostos; ater aos

procedimentos básicos administrativos, financeiros e contábeis; estar atualizado com os

processos de comunicação e mídia, desenvolver técnicas de captação de recursos, desenvolver

formas de gestão, retornos institucionais e prestação de contas.

Até os dias hoje é isso que eu faço na minha empresa, a Amar Projetos Culturais, nos

estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, diversas cidades brasileiras e alguns que já

alcançaram todo o território nacional. Destaco aqui, entre centenas de edições, diversos

projetos da lei estadual de incentivo a cultura para a realização e fomento da produção

artística em Viçosa há 16 anos:

Programa TIM ArtEducação (14 anos), Projeto Grandes Escritores Brasileiros (12 anos),

ViJazz & Blues Festival (7 anos), FestNatal Araxá (5 anos) e coordenação em programas e

projetos de capacitação em elaboração e gestão de projetos culturais (10 anos).

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Além disso, hoje sou articulador de cultura credenciado pelo Governo de Minas Gerais

e, em nível federal, dou parecer para projetos apresentados ao Ministério da Cultura nas

áreas de literatura e audiovisual. No momento, desenvolvo um projeto de construção de um

Centro Cultural no Alto Paranaíba, composto por um teatro para 700 pessoas e uma

biblioteca e o Museu do Móvel em Ubá. Projetos na área de Dança, Teatro, Literatura, Música,

Capacitação, Manutenção de entidades culturais e Festivais, entre outros, permeiam o dia a

dia da Amar Projetos Culturais e sua equipe.

Cabe mencionar uma palavra a respeito do estilo de vida deste profissional. Preparem-

se para encontrar todos os tipos de pessoas, transitar pelas mais variadas instituições e áreas,

viajar bastante, abrir mão de uma vida rotineira (sem fins de semana ou horários

estabelecidos), desafiar o tempo, passar por decisões difíceis, situações estressantes e,

principalmente, desafios de relacionamento humano.

Encerro por aqui, com uma frase que vi na parede de uma produtora onde trabalhei:

“Talento, Tesão e Trabalho”. É uma frase que se aplica a qualquer tipo de atividade. Se faltar

algum desses elementos, os objetivos a serem alcançados ficam muito mais difíceis e

onerosos. Nesta frase, estão incluídas inúmeras outras coisas, tais como, gostar do que se faz,

alegria, paciência, criatividade, convivência profissional, princípios e ética, entre outras.

A todos aqueles que quiserem seguir este caminho, da Elaboração de Projetos, Captação de

Recursos e Gestão de Projetos Culturais, só posso desejar que realize-se e seja muito feliz,

pois, pela minha experiência e o quanto a produção cultural faz parte da minha vida, acho

que isso é muito possível.

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SOBRE OS AUTORES

Allan Gustavo de Sales

Tibúrcio

Especialista em Planejamento Municipal e Graduado em Arquitetura e Urbanismo, ambos pela UFV. Colaborador do Centro de Pesquisa e Promoção Cultural (CEPEC), de 2007 a 2010. Assessor de Planejamento do Instituto de Planejamento Municipal de Viçosa, entre março/2011 a dezembro/2012. Arquiteto consultor em Patrimônio Histórico e Cultural da Prefeitura Municipal de Araponga, de 2002 a 2010.

Site: http://www.allantiburcio.arq.br

Email: [email protected]

Alice Sanches Melo

Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Foi Estagiária no Museu de Ciências da Terra Alexis Dorofeef (2012-2014), atuando em projetos como "Circuito de Museus e Espaços de Ciência de Viçosa" sendo bolsista e no "Terra e Arte" e "Programa de Educação em Solos e Meio Ambiente", ambos como voluntária. Atualmente é bolsista do PIBID de Geografia. Também atua em pesquisas nos ramo de: ensino em geografia, solos e meio ambiente e conflitos socioambientais.

Email: [email protected]

Amauri Rocha

De 1981 a 1990 foi músico, produtor cultural e artístico de diversos eventos e festivais de música em Viçosa (MG), Belo Horizonte e Rio de Janeiro, graduou-se em Tecnologia de Cooperativismo pela Universidade Federal de Viçosa em 1989. Desde 1990, atende todo território nacional na elaboração e gestão de projetos culturais para leis, fundos e editais de incentivo à cultura públicos e privados. Presta serviços de consultoria em captação de recursos e marketing cultural. Entre os mais de 60 projetos em atividade administrados pela sua empresa, a Amar projetos culturais ltda, destacam-se o Programa TIM ArtEducAção (14 anos em 12 cidades), Sócio e co-criador do Circuito ViJazz & Blues (7 anos em 8 cidades) e FestNatal Araxá (5 anos). Já ocupou diversos cargos em empresas e entidades culturais no Rio de Janeiro onde foi produtor de eventos musicais, professor de música, assessor para marketing cultural e produtor na empresa Dellart, projeto “Minas Além das Gerais” no Rio de Janeiro e São Paulo, diretor do Rio Jazz Club e gerente financeiro da Arte com Trato (1990-2000). Em Minas Gerais foi Diretor Artístico-Cultural da FACEV (Fundação Artística, Cultural e de Educação para a Cidadania de Viçosa) de outubro de 2000 a abril de 2008, Diretor Geral da TV Viçosa e da Rádio Universitária FM de outubro de 2000 a abril de 2002, Instrutor em elaboração e gestão de projetos culturais para inúmeros projetos e eventos. É membro fundador e consultor do Instituto Asas, ONG Humanizarte e foi presidente daCooperativa de Artistas, Produtores Culturais e Técnicos de Viçosa, de janeiro de 2013 a janeiro de 2014. É parecerista do Ministério da Cultura nas áreas de Audiovisual e Eventos literários, desde 2009.

Email: [email protected]

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Brendow de Oliveira Fraga

Graduando em Administração pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Possui passagem pelo curso de Bacharelado em Cooperativismo na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Coordenador de Projetos do Programa de Educação Tutorial de Administração da Universidade Federal de Viçosa (PET/ADM/UFV). Atuou como diretor de Marketing no Conselho de Assistência Múltipla em Pesquisa e Informação Cooperativista (CAMPIC Jr.) - Empresa Junior do Bacharelado em Cooperativismo e como estagiário bolsista do Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CENTEV) na condição de assessor administrativo do pólo responsável pela Central de Empresas Juniores (CEMP). Atualmente, é monitor nível I da disciplina Teoria Geral da Administração - ADM 100 - Na Universidade Federal de Viçosa, vice-presidente do Centro Acadêmico de Administração da UFV, representante discente da comissão coordenadora e do colegiado do curso de Administração da UFV, membro do Grupo de Pesquisa/CNPq em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos e Assessor de Gestão de Pessoas na Central Estudantil de Empresas Juniores. Realiza pesquisas nas áreas de Gestão e Politicas Publicas no Turismo, Economia e Organizações Criativas, Gestão Social e Cooperativismo.

Email: [email protected]

Doris Dornelles de Almeida

Professora de Ballet Clássico e Música no Curso de Dança, Departamento de Artes e Humanidades da Universidade Federal de Viçosa-UFV. Há vinte anos atua como bailarina tendo experiência profissional nacional e internacional em companhias de dança. Também coreógrafa e pesquisadora nas Ciências Humanas, Sociais, Filosofia e Arte na temática da dança, cultura nas organizações e indústria cultural, baseada na perspectiva do corpo sócio-histórico-cultural e do embodiment (corporalidade). Mestre e Bacharel em Administração com Louvor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Especialista em Teoria do Teatro-Cena Contemporânea pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Bacharel em Artes-Danca - Folkwang Hochschule Essen- Alemanha.

Email: [email protected]

Eduarda Nogueira Vieira

Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Atuou no projeto Circuito de Museus e espaços de ciência em Viçosa: integração e valorização cultural (2013). Também atuou e atua em pesquisas nas seguintes áreas: ensino de geografia, formação docente, educação, solos e meio ambiente, cultura latino americana e PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência) com o projeto "Globalização e cultura";

Email: [email protected]

Fernanda Márcia Souza

Licencianda em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa. Estagiária no Museu de Ciẽncias da Terra Alexis Dorofeef (2012-2014), atuando em projetos como "Terra e Arte" sendo bolsista, "Circuito de Museus e Espaços de Ciência de Viçosa" e no "Programa de Educação em Solos e Meio Ambiente", ambos como voluntária. Também atua em pesquisas nos ramo de: ensino em geografia, solos e meio ambiente, turismo e cultura.

Email: [email protected]

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José Ricardo Vitória

Atualmente é mestrando do curso de Administração da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Faz parte do Grupo de Pesquisa no CNPq "Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos" e trabalha nas linhas de pesquisa " Políticas Públicas e Sustentabilidade (PPS)" e "Turismo Cultura e Lazer (TLC)". Graduado no curso de Administração da UFV. Tem experiências no setor cultural atuando nas áreas de: eventos, gestão e produção cultural, teatro e artes cênicas. Atua como DJ na equipe JP Musicas desde 2006 e na montagem e acompanhamento de eventos para Passarin Ind. e Com. de Bebidas Ltda desde 2011.

Email: [email protected]

Magnus Luiz Emmendoerfer

Pós-Doutorado em Ciências da Administração pela Universidade do Minho, Portugal. Doutor em Ciencias Humanas: Sociologia e Politica pela UFMG. Administrador e Mestre em Administracao pela UFSC. Professor no Departamento de Administracao e Contabilidade da Universidade Federal de Vicosa (UFV). Líder do Grupo de Pesquisa/CNPq em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos. Possui projetos de pesquisa e de extensão sobre Políticas Públicas de Turismo, Cultura e Economia Criativa.

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Marcelo Soares Andrade

Ator, diretor de teatro, produtor cultural, presidente da ONG Humanizarte e idealizador do programa TIM ArtEducAção e do Projeto Grandes Escritores que durante oito anos levou nomes consagrados da literatura do país, como Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti, para 55 cidades de quatro estados brasileiros: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo. Idealizou, ainda, o Projeto “Escritores Brasileiros” viabilizado por parceiras com o Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e do Rio de Janeiro e com o SESC-Brasília. Durante 18 anos Marcelo também atuou como professor de matemática e de teatro vários colégios de Viçosa e região e como Seretário de Cultura de Viçosa em 1993.

Site: http://www.humanizarte.org.br/

Email: [email protected] ou http://www.humanizarte.org.br/

Patrícia Lima

Fundadora do Núcleo de Arte e Dança, onde atuou como dançarina, professora, diretora, e é produtora e gestora há mais de 30 anos. Tem vários trabalhos desenvolvidos, na área de dança, onde se destacam; o ‘Festival Anual de Dança’, e outros projetos desenvolvidos com o grupo ‘Êxtase de Dança’ e o ‘Grupo Impacto’. Onde tem diversos trabalhos premiados a nível municipal, estadual e nacional.

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Page 141: PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL - Programa de Pós ... · 1 Rodrigo Gava (Organizador) ... começamos lendo O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, ... inauguro o Capítulo I do livro

PRODUÇÃO E GESTÃO CULTURAL: RELATOS E EXPERIÊNCIAS DE QUEM VIVE DE CULTURA

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Sérgio Lopes

Sócio fundador e Diretor da produtora cultural ViProduções Ltda. Idealizador, Diretor Artístico e Coordenador Geral do ViJazz & Blues Festival, em 7 edições, de 2007 a 2014. Membro fundador do Fórum Mineiro de Festivais Culturais. Sócio fundador e membro da Associação Brasileira dos Produtores de Festivais de Música Instrumental, Jazz & Blues (ABRAFEST). Podutor do Vídeo-curso “Circuito de Festivais - Lei Rouanet, Organização, Bastidores no Congresso Nacional de Profissionais da Música (CONAPROM)”. Palestrante sobre Empreendedorismo Cultural e participante em mesas redondas sobre Jazz e Blues. Assumiu a direção e a produção da tour da banda norte-americana Generation Esmeralda no Festival Mundial da Arte pela Paz em Ubá, Juiz de Fora (Bar Cultural) e São Paulo (Clube A e Programa Jô Soares), em 2013. Também foi diretor e produtor, pela primeira vez no Brasil, de cinco tours; da banda norte-americana Shawn Holt and The Teardrops, que se apresentou no Circuito Vijazz em Ponte Nova, Viçosa e Juiz de Fora e Rio de Janeiro, no ano de 2014, da banda espanhola CosmoSoul, que se apresentou em Ubá, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Rio de Janeiro , no ano de 2013, da banda alemã World Percussion Ensemble (WPE), que se apresentou em Ubá, Belo Horizonte, RIo de Janeiro e Araxá, em 2013, do músico e professor norte-americano de harmônica e acordeon Johnny Sansone, com shows em Viçosa, Juiz de Fora, Ponte Nova e Araxá, em 2013 e da banda norte-americana Generation Esmeralda, na Festa das Nações em Ubá, em 2012.

Site: www.viproducoes.com

Email: [email protected]

Wescley Silva Xavier

Doutor e Mestre em Administração pela UFMG; Graduado em Administração pela UFV; Professor Adjunto do Depto de Administração e Contabilidade da UFV; Membro do Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade da UFMG, e do Grupo Trabalho e Marxismo da UFJF

Email: [email protected]