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THIAGO DE OLIVEIRA MENDES Projeto de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no âmbito do Curso de Engenharia de Produção. São Paulo 2010 PRODUÇÃO SUCRO-ALCOOLEIRA: ESTRATÉGIAS FINANCEIRAS E OPERACIONAIS

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THIAGO DE OLIVEIRA MENDES

Projeto de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no âmbito do Curso de Engenharia de Produção.

São Paulo 2010

PRODUÇÃO SUCRO-ALCOOLEIRA: ESTRATÉGIAS FINANCEIRAS E OPERACIONAIS

THIAGO DE OLIVEIRA MENDES

São Paulo 2010

PRODUÇÃO SUCRO-ALCOOLEIRA: ESTRATÉGIAS FINANCEIRAS E OPERACIONAIS

Projeto de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no âmbito do Curso de Engenharia de Produção. Orientador: Profa. Dra. Celma de Oliveira Ribeiro

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, à minha irmã e ao meu pai.

AGRADECIMENTOS

À Professora Drª. Celma de Oliveira Ribeiro pela tão dedicada orientação e pelos conselhos que

foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho tão quanto para meu crescimento e

amadurecimento pessoal. Também, pela profunda compreensão e paciência nos momentos em

que foram necessárias.

Às duas intergrantes do trio parada-dura, que sempre me apoiam e que são fonte inesgotável de

carinho e amor. Tenho orgulho de fazer parte deste trio tão especial e repleto de amor e força, que

é meu chão e inspiração para minha vida. Obrigado, mãe Cláudia e irmã Bruna.

À Ana Carolina, pela imensa paciência, força, inspiração e incentivo que foram indispensáveis

nesses últimos dois anos de batalha. Muitas vezes, você tornou as coisas mais fáceis e agradáveis.

Ao meu amigo fi Lucas Antunes pela grande ajuda.

RESUMO

Este trabalho de graduação propõe a construção de um modelo de otimização para a seleção de

portfólio de um produtor de açúcar e álcool, levando-se em conta as parcelas operacional e

financeira do portfólio. As receitas operacionais de um produtor provêm da venda de açúcar e

álcool no mercado físico, enquanto as receitas financeiras são resultados de operações de hedge

no mercado de derivativos de açúcar. O modelo proposto será capaz de constuir uma fronteira

eficiente (risco vs. retorno) e, a partir disso, definir a estratégia ideal de produção (açúcar ou

álcool – mix de produção) e atuação no mercado de derivativos (razão de hedge), a partir da

característica de risco do produtor. O modelo de otimização utiliza como medida de risco o

CVaR (Conditional Value-at-Risk), por motivos detalhados no trabalho.

Palavras-Chave: Setor sucro-alcooleiro. Mix de Produção. Razão de hedge. Otimização. Gestão

de Portfólio. Pesquisa Operacional.

ABSTRACT

This graduation thesis proposes the construction of an optimization model able to select a

portfolio for a producer of sugar and ethanol, considering both the operational and the financial

portions of the portfolio. The producer’s operational revenues are originated from the sale of

sugar or ethanol in the market, while the financial revenues come from the hedging operations

with derivatives. The model will be able to create an efficient frontier (risk vs. return) for the

producer and define the optimal operational strategy (production of sugar or ethanol – the

production mix) and the ideal share of the sugar production that has to be hedged with derivatives

(hedge ratio). The model uses the Conditional Value-at-Risk (CVaR) to measure the portfolio’s

risk.

Key-words: Sugar and ethanol sector. The Production Mix. Hedge Ratio. Optimization. Portfolio

Management. Operational Research.

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Distribuição da produção de açúcar no mundo…...................................................24

GRÁFICO 2 - Distribuição da produção de cana-de-açúcar no Brasil..........................................27

GRÁFICO 3 - Evolução da colheita mecanizada (sem queima prévia da plantação).......…….....29

GRÁFICO 4 - Fronteira eficiente (risco vs. retorno).....................................................................68

GRÁFICO 5 - Fronteira eficiente do modelo (versão 1)……........................................................93

GRÁFICO 6 - Variação da razão de hedge de acordo com η (versão 1) .....................................94

GRÁFICO 7 - Variação da porcentagem de açúcar de acordo com η (versão 1).........................95

GRÁFICO 8 - Variação da porcentagem de etanol anidro de acordo com η (versão 1)...............96

GRÁFICO 9 - Variação da porcentagem de etanol hidratado de acordo com η (versão 1) .........97

GRÁFICO 10 - Fronteira eficiente do modelo (versão 2)............................................................102

GRÁFICO 11 - Variação do hedge com futuros de acordo com η (versão 2)............................103

GRÁFICO 12 - Variação do hedge com opções de acordo com η (versão 2)............................104

GRÁFICO 13 - Variação da porcentagem de açúcar de acordo com η (versão 2).....................105

GRÁFICO 14 - Variação da porcentagem de etanol anidro de acordo com η (versão 2)...........105

GRÁFICO 15 - Variação da porcentagem de etanol hidratado de acordo com η (versão 2)......106

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Retorno dos investimentos.......................................................................................67

TABELA 2 - Principais métricas dos investimentos......................................................................67

TABELA 3 - Variações dos pesos dos investimentos, do risco e do retorno.................................67

TABELA 4 - Fatores de conversão dos para preços em US$/ATR...............................................83

TABELA 5 - Histórico de preços, variações de futuros e ganhos com opções..............................84

TABELA 6 - Custos de produção do açúcar branco, etanol anidro e etanol hidratado..................85

TABELA 7 - Resultado do modelo para η =0 (versão 1)..............................................................88

TABELA 8 - Resultado do modelo para η =1 (versão 1)..............................................................90

TABELA 9 - Resultado do modelo para η =3 (versão 1)..............................................................91

TABELA 10 - Resultado do modelo para η =0 (versão 2)............................................................98

TABELA 11 - Resultado do modelo para η =1 (versão 2)............................................................99

TABELA 12 - Resultado do modelo para η =3 (versão 2)..........................................................100

TABELA 13 - Histórico de preços, variações de futuros e ganhos com opções..........................115

TABELA 14 - Variáveis de acordo com (versão 1)....................................................................116

TABELA 15 - Variáveis de acordo com (versão 2)....................................................................116

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil........................................................26

FIGURA 2 - Curva de probabilidade de perda e o VaR.................................................................39

FIGURA 3 - VaR e CVaR..............................................................................................................44

FIGURA 4 - Retorno para Titular da Call .....................................................................................50

FIGURA 5 - Retorno para Titular da Put.......................................................................................50

FIGURA 6 - Retorno para Lançador da Call..................................................................................50

FIGURA 7 - Retorno para Lançador do Put...................................................................................50

FIGURA 8 - Situação em que um vendedor do contrato futuro obtém ganhos.............................55

FIGURA 9 - Situação em que um comprador do contrato futuro obtém ganhos...........................55

FIGURA 10 - Diagrama do processo de investimento baseado na MPT.......................................69

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................17

1.1 MOTIVAÇÃO .....................................................................................................................18

1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................19

1.3 METODOLOGIA ................................................................................................................20

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO......................................................................................21

2 O MERCADO SUCRO-ALCOOLEIRO ...................................................................23

2.1 OS PRINCIPAIS NÚMEROS DO SETOR .........................................................................25

2.2 ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO.............................................................................27

2.2.1 A COLHEITA..............................................................................................................28

2.2.2 A QUALIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR COLHIDA (ATR e POL).............................29

2.2.3 AS FASES DA PRODUÇÃO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL......................................31

2.3 O MIX DE PRODUÇÃO.....................................................................................................32

2.4 CO-GERAÇÃO DE ENERGIA, UM SUBPRODUTO DA CANA-DE-AÇÚCAR..................34

3 GESTÃO DE RISCO FINANCEIRO.........................................................................36

3.1 MEDIDAS DE RISCO (VARIÂNCIA, VAR e CVAR) ..........................................................36

3.1.1 VARIÂNCIA................................................................................................................37

3.1.2 VALUE-AT-RISK (VAR) .............................................................................................39

3.1.3 CONDITIONAL VALUE-AT-RISK (CVAR) .................................................................42

3.2 ESTRATÉGIAS DE HEDGING..........................................................................................45

3.2.1 O MERCADO DE DERIVATIVOS..............................................................................46

3.2.2 OS PARTICIPANTES DO MERCADO DE DERIVATIVOS DE AÇÚCAR .................51

3.2.3 HEDGING COM FUTUROS.......................................................................................52

3.2.4 HEDGING COM OPÇÕES.........................................................................................56

3.2.5 HEDGING COM FUTUROS CONTRA HEDGING COM OPÇÕES ...........................58

3.2.6 A RAZÃO DE HEDGE................................................................................................61

3.3 MODELOS DE SELEÇÃO DE PORTFÓLIO .....................................................................64

3.3.1 MARKOWITZ E A TEORIA MODERNA DE GESTÃO DE CARTEIRAS ..................64

3.3.2 MODELO DE DI CLEMENTE – CVAR.......................................................................69

3.3.3 MODELO DE ALEXANDER ET AL. – CARTEIRA COM DERIVATIVOS ..................72

4 MODELO PROPOSTO............................................................................................... 74

4.1 PRIMEIRA VERSÃO DO MODELO – OTIMIZAÇÃO SEM OPÇÕES ...............................76

4.2 SEGUNDA VERSÃO DO MODELO – OTIMIZAÇÃO COM OPÇÕES ..............................79

4.3 PARÂMETROS DO MODELO..........................................................................................81

4.3.1 η - O PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO .......................................................81

4.3.2 M - NÚMERO DE CENÁRIOS ................................................................................81

4.3.3 ksuS , k

aniS , khidS , k

suF∂ , ksuO∂ - AÇÚCAR, ETANOL E DERIVATIVOS..........................82

4.3.4 suC , aniC e hidC - CUSTOS DE PRODUÇÃO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL............85

5 RESULTADOS DO MODELO PROPOSTO............................................................ 87

5.1 RESULTADOS DA PRIMEIRA VERSÃO – MODELO SEM OPÇÕES..............................88

5.1.1 PRODUTOR COM AVERSÃO AO RISCO NULA (η =0) ...........................................88

5.1.2 PRODUTOR COM PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO IGUAL A ...................90

5.1.3 PRODUTOR AVESSO AO RISCO (η >3)..................................................................91

5.1.4 SENSIBILIDADE DO PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO η ...........................92

5.2 RESULTADOS DA SEGUNDA VERSÃO – MODELO COM OPÇÕES.............................98

5.2.1 PRODUTOR COM AVERSÃO AO RISCO NULA (η =0) ...........................................98

5.2.2 PRODUTOR COM PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO IGUAL A 1.................99

5.2.3 PRODUTOR AVESSO AO RISCO (η >3)................................................................100

5.2.4 SENSIBILIDADE DO PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO η .........................101

5.3 PRIMEIRA VERSÃO VS. SEGUNDA VERSÃO DO MODELO.......................................106

6 CONCLUSÃO.............................................................................................................108

6.1 CONCLUSÕES DO TRABALHO E CONSIDERAÇÕES PERTINENTES.......................108

6.2 POSSÍVEIS EXTENSÕES E TRABALHOS FUTUROS ..................................................110

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................112

ANEXO I – HISTÓRICO DOS PREÇOS DE AÇÚCAR E ETANOL ....................115

ANEXO II – TABELAS DE RESULTADO COM VARIAÇÃO DO η....................116

ANEXO III– CÓDIGO DO MODELO DE VARIAÇÃO DO η ...............................117

ANEXO IV– MODELO DE BLACK - SCHOLES ....................................................120

17

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é aplicar conceitos de otimização à gestão de portfólios de ativos

operacionais e financeiros de um produtor de açúcar e álcool. Neste estudo, serão apresentadas as

possíveis estratégias de produção e de atuação no mercado financeiro, no horizonte de um

período. A partir disso, será apresentado um modelo capaz de minimizar o risco do produtor

considerando o retorno dos ativos que compõem a carteira. É importante ressaltar que o problema

de otimização precisa levar em conta as restrições de produção do usineiro, que serão mais

profundamente discutidas nos capítulos que seguem.

A decisão de produção dos usineiros é limitada a dois ativos: açúcar e álcool. A decisão de

produção é tomada no período 0 (zero), mas a venda do produto final será realizada no período 1

(um). Dessa forma, uma das grandes dificuldades do produtor de açúcar e álcool é decidir a

composição ideal da sua produção final no período 0, uma vez que essa decisão depende de

variáveis futuras que estão longe de seu controle. A proporção de açúcar e álcool produzida em

uma usina de cana-de-açúcar é conhecida como “mix de produção”.

Além disso, o produtor tem a possibilidade de se proteger contra oscilações indesejáveis dos

preços desses produtos utilizando o mercado de derivativos e, com isso, travar seus ganhos ou

perdas no período 0 (zero). Ou seja, um produtor que não deseja ter o risco implícito de

mercado, pode optar por pré-determinar seus ganhos do período 1 (um) no período 0 (zero).

Apesar de parecer, no primeiro momento, um bom procedimento a ser adotado, a operação no

mercado de derivativos e a previsibilidade das receitas futuras limitam os ganhos do produtor em

um cenário de alta dos preços dos ativos físicos. Essa trava de ganhos do produtor de

commodities é muito conhecida no mercado como operação de hedge com derivativos.

Dessa maneira, este trabalho analisa de forma conjunta as decisões de produção (álcool ou

açúcar) e de atuação no mercado financeiro (quanto da produção estará hedgeada).

18

1.1 MOTIVAÇÃO

A idéia do presente trabalho foi construída e desenvolvida paralelamente a um estágio em banco

de investimentos internacional, na área dedicada a pesquisas de empresas do setor sucro-

alcooleiro de capital aberto. Constatou-se que grande parte das empresas do setor ainda trata de

forma muito primitiva a questão da definição do mix de produção e da parcela da produção a ser

hedgeada no mercado de derivativos. Com isso, os resultados operacionais e financeiros dessas

empresas ainda apresentam grande volatilidade e incerteza que intimidam certos tipos de

investidores. Esse efeito trás diversos inconvenientes às empresas do setor, como dificuldades de

capitalização e financiamentos de projetos.

A literatura atual já aborda de várias maneiras o problema de risco de ganhos do produtor de

commodities, no entanto, pouco do que foi desenvolvido até então trata da questão de gestão de

carteira de forma tão abrangente que considera tanto os ativos físicos quanto os financeiros. Além

disso, o mercado sucro-alcooleiro no Brasil merece atenção especial.

Impulsionada principalmente pelo forte crescimento da demanda internacional, a produção de

açúcar no Brasil tem ganhado importância nas últimas décadas (MOREIRA e GOLDEMBERG,

1999) e, hoje, a exportação desse produto já representa cerca de 67% do volume total de

exportações do país. Além disso, com a criação de um programa de incentivo ao uso do álcool

como combustível automóvel em 1974, o Proálcool, o governo brasileiro incentivou a produção

desse combustível e o plantio de cana-de-açúcar no Brasil. Atualmente, o setor sucro-alcooleiro

representa 4% do Produto Interno Bruto brasileiro, segundo a União da Indústria de Cana-de-

Açúcar (UNICA).

O crescimento acelerado do setor sucro-alcooleiro no Brasil fez com que algumas deficiências e

oportunidades de melhora fossem evidenciadas ao longo do caminho. Percebeu-se, por exemplo,

a grande volatilidade de ganhos do produtor de açúcar e álcool devido às grandes oscilações dos

preços desses produtos no mercado físico. Com o desenvolvimento do mercado de derivativos no

19

Brasil e no mundo, o produtor viu à sua disposição instrumentos capazes de diminuir o risco dos

ganhos advindos da comercialização de seus produtos.

Dessa maneira, o presente trabalho tratará da gestão de riscos do ponto de vista do produtor de

açúcar e álcool. Para isso, é muito importante considerar todos os ativos que fazem parte do

portfólio do produtor, tanto os físicos como os financeiros.

1.2 OBJETIVOS

O objetivo principal do trabalho é construir e apresentar um modelo de gestão de portfólio que

minimize o risco da carteira do produtor de açúcar e álcool e, simultaneamente, maximize seus

ganhos, para um dado nível de aversão ao risco e sempre considerando as restrições de produção

das usinas. As restrições de produção estão relacionadas com o fato de que as usinas no Brasil

possuem um limite de flexibilidade para a produção de açúcar e álcool. Também, é importante

notar que a percepção de risco do produtor pode variar e, com isso, o resultado ótimo também

mudará. Dessa maneira, este trabalho também estudará o comportamento da curva risco-retorno

para diversos níveis de aversão ao risco do produtor.

Para a aplicação do modelo, serão considerados todos os ativos presentes na carteira do produtor,

não apenas os de natureza operacionais (açúcar e álcool) como também os de natureza financeira

(derivativos de açúcar). As principais variáveis que o modelo será capaz de definir são: 1) o mix

de produção ótimo e 2) a razão de hedging ideal, dada uma determinada característica de risco do

produtor e considerando as restrições de produção das usinas. Além disso, serão construídas duas

versões do modelo. A primeira versão não considerará apenas os futuros como instrumento de

hedge do produtor e a segunda incluirá as opções na análise. Essa diferenciação permitirá que a

análise sobre a importância das opções para os produtores seja mais detalhada.

O modelo proposto neste trabalho será capaz de agregar diversos conceitos de gestão de portfólio

desenvolvidos na literatura até então. A idéia principal do modelo será balizada por um conceito

20

de risco-retorno igual àquele proposto por Markowitz (1952). No entanto, diferentemente de

Markowitz, o modelo utilizará como medida de risco o CVaR (Conditional Value-at-Risk),

proposto por Rockafellar e Uryasez (2002), e ainda pouco utilizado pelos setores financeiros da

maioria das empresas. Além disso, será incorporado no modelo o conceito de ganhos com

portfólio de derivativos utilizado por Alexander et al. (2006).

Apesar da grande diversidade de conceitos agregados no modelo, artifícios matemáticos já

desenvolvidos em estudos passados permitirão com que seja possível utilizar programação linear

simples para a resolução do problema apresentado.

1.3 METODOLOGIA

A construção do modelo proposto neste trabalho será baseada em uma série de estudos e

conceitos já desenvolvidos até hoje na literatura de gestão de portfólios. Primeiro, se fez

necessário conhecer a literatura existente que trata do conceito de risco-retorno ou fronteira

eficiente, criada em 1952 por Markowitz, pai da Teoria Moderna de Gestão de Carteiras.

Decidiu-se por utilizar neste trabalho o modelo de seleção de portfólio descrita por Di Clemente

(2002), que muito se assemelha ao de Markowitz, mas que utiliza como medida de risco o CVaR

(Conditional Value-at-Risk) ao invés da variância. Como veremos, o CVaR possui melhores

características que outras medidas de risco coerente e, por isso, pode nos trazer resultados mais

consistentes.

Além disso, também foi preciso conhecer a literatura sobre a razão de hedge e sua importância na

mitigação de risco para os produtores de commodities. Como veremos, o modelo proposto

utilizará uma razão de hedge maximizadora de utilidade, que considera simultaneamente o risco e

o retorno da operação. Outro tipo de razão de hedge pode ser classificado apenas como

minimizadora de risco e não considera o retorno da carteira.

21

Finalmente, o problema proposto, mesmo com todos esses conceitos embutidos, será resolvido

através de um modelo de programação linear.

Dessa maneira, os principais conceitos retirados da literatura consultada para a construção

modelo foram:

• Modelo de seleção de portfólio baseado na relação risco-retorno;

• Medida de risco coerente (CVaR);

• Razão de hedge maximizadora de utilidade.

• Modelo de programação linear;

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A divisão deste trabalho será feita da seguinte maneira:

O capítulo 1 introduzirá o tema proposto, justificando-o e delineando os objetivos a serem

alcançados.

A intenção do capítulo 2 é situar o leitor no setor sucro-alcooleiro e esclarecer alguns pontos

essenciais para o entendimento do estudo. Para isso, discorreremos sobre o mercado sucro-

alcooleiro e apresentaremos suas principais características. Situaremos o Brasil no cenário global

e entenderemos a relevância do país no mundo, do ponto de vista do setor. Também serão

apresentados os aspectos gerais da produção de açúcar e etanol e suas principais diferenças. Por

fim, a questão do mix de produção será discutida e ainda apresentaremos um subproduto da cana-

de-açúcar, o bagaço e sua importância na co-geração de energia.

No capítulo 3, será feita uma revisão bibliográfica sobre a gestão de risco financeiro,

fundamentando e dando embasamento ao modelo proposto neste trabalho. Discutiremos as

22

diferentes medidas de risco de um portfólio de ativos e as implicações da escolha de uma em

detrimento de outras. Em seguida, faremos uma introdução ao mercado de derivativos,

evidenciando os principais participantes do mercado e as possíveis formas de atuação. Também,

serão discutidas as maneiras como o produtor de açúcar e álcool podem se proteger de eventuais

oscilações do preço desses ativos utilizando instrumentos financeiros no mercado de derivativos.

Finalmente, faremos uma revisão bibliográfica do que existe atualmente na literatura sobre

modelos de seleção de portfólios.

No capítulo 4, serão apresentadas as duas versões do modelo proposto neste trabalho. A primeira

versão não irá considerar as opções como instrumentos de hedge na otimização, enquanto na

segunda versão as opções serão consideradas. Serão analisadas as funções objetivos das duas

versões e suas restrições, bem como os aspectos mais importantes do modelo. Além disso,

evidenciaremos os principais parâmetros do modelo.

No capítulo 5, apresentaremos os resultados encontrados pelas duas versões do modelo e suas

implicações. Faremos uma análise de sensibilidade, variando o parâmetro de aversão ao risco do

produtor, e encontraremos uma fronteira eficiente do ponto de vista da produção de açúcar e do

etanol e da atuação do produtor no mercado de derivativos.

Finalmente, no capítulo 6 faremos a conclusão do trabalho a partir dos resultados encontrados

pelas diferentes versões do modelo.

23

2 O MERCADO SUCRO-ALCOOLEIRO

Hoje, a maior parte do açúcar comercializado no mercado mundial é constituída de sacarose

derivada da cana-de-açúcar ou da beterraba, que representam, respectivamente, cerca de 70% e

30% da produção total, segundo dados da ICE (Intercontinental Exchange). Independentemente

da matéria-prima (cana-de-açúcar ou beterraba), o produto final “sacarose” é exatamente o

mesmo. No entanto, as características da produção da sacarose a partir de cada uma dessas

matérias-primas são diferentes, a começar pela região de cultivo da planta: enquanto a cana-de-

açúcar é uma planta de clima quente, com as maiores áreas de produção sendo o sul da Ásia,

Caribe, sul dos Estados Unidos e Brasil, a beterraba é cultivada em zonas temperadas, como

Alemanha e França. Cabe ressaltar que todo o açúcar produzido no Brasil tem como matéria-

prima a cana-de-açúcar.

No Brasil, a introdução da cana-de-açúcar foi feita no século 17, inicialmente na Região

Nordeste, época em que o monopólio mundial do fornecimento do açúcar era detido pela França.

O país europeu contava com grandes áreas plantadas nas Ilhas do Caribe de onde saiam grandes

navios carregados com esse produto para diversas partes do mundo. Dessa forma, praticamente

toda a cana-de-açúcar plantada no Brasil era destinada à produção de açúcar para exportação.

Apenas no século 20, após a Segunda Guerra Mundial, a concentração das terras destinadas à

plantação da cana-de-açúcar passou a ser a Região Sudeste.

Desde então, a área dedicada e os esforços direcionados ao plantio da cana-de-açúcar no país têm

sido cada vez maiores devido à forte e crescente demanda por açúcar nos mercados interno e

externo, criando sólidas oportunidades para o fornecimento do produto. Além disso, o Brasil

possui características desejáveis para a produção da cana-de-açúcar como sua grande extensão

territorial, clima favorável ao desenvolvimento da planta e custos de terra relativamente baixos.

Também é válido ressaltar a importância do desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de

plantio e de colheita durante os anos, que contribuiram para a posição de destaque do Brasil

como grande produtor mundial cana-de-açúcar. Entre os anos de 1975 e 1985, a produção de

24

cana-de-açúcar cresceu, em termos de volume colhido, em praticamente quatro vezes

(MOREIRA e GOLDEMBERG, 1999). Dessa maneira, o Brasil se tornou o maior exportador

mundial de açúcar com uma produção anual de cerca de 31 milhões de toneladas na safra

2008/2009.

Ou seja, quatro séculos mais tarde a produção de açúcar mundial ficou distribuída da seguinte

maneira (dados referentes à safra 2008/2009 da União da Indústria da Cana-de-Açúcar –

UNICA):

15%

6%

3%

14%

23%

39%

Europa África Oceania Américas do Norte e Central América do Sul Ásia

Gráfico 1: Distribuição da produção de açúcar no mundo

Fonte: UNICA

Percebe-se uma maior participação na produção de açúcar no continente asiático e na América do

Sul, impulsionados pelos dois maiores produtores mundiais: Brasil e Índia.

Além da demanda interna e externa por açúcar, outra variável relevante foi recentemente

acrescentada à equação de produção de cana-de-açúcar: a demanda interna por etanol. O etanol é

um álcool combustível derivado da cana-de-açúcar, usado principalmente em frotas de veículos

25

no país como combustível puro ou misturado à gasolina. A produção anual de etanol em

2008/2009 foi de 27 bilhões de litros, com quase 83% destinado ao consumo interno.

Segundo Alves (2002) a grande parte da cana-de-açúcar colhida no Brasil é absorvida por

fábricas instaladas no país, capazes de produzir diferentes tipos de açúcar, etanol anidro

(misturado com gasolina e utilizado em automóveis como combustível) e etanol hidratado

(utilizado diretamente em automóveis como combustível). Como vimos, enquanto quase todo o

etanol produzido no Brasil é consumido pelo próprio mercado interno, grande parte do açúcar

brasileiro é exportada.

2.1 OS PRINCIPAIS NÚMEROS DO SETOR

Segundo a UNICA, o setor sucro-alcooleiro representa atualmente 4% do PIB nacional e 6% do

total das exportações brasileiras. O ciclo da cana-de-açúcar varia entre 5 a 7 anos e a safra de

2008/2009 atingiu cerca de 570 milhões de toneladas da planta, dos quais foram produzidos cerca

de 31 milhões de toneladas de açúcar e 28 bilhões de litros de etanol, respectivamente. Dos 31

milhões de toneladas de açúcar produzidos na safra 2008/2009, aproximadamente 21 milhões de

toneladas foram exportados, ou cerca de 67% da produção total. O país para o qual o Brasil

exporta maior parte do açúcar é a Rússia, com 23% das exportações. Enquanto isso, apenas 15%

da produção de etanol foi destinada à exportação na safra 2008/2009, dos quais 20% foram

exportados aos Países Baixos, o maior importador de etanol brasileiro atualmente.

Além disso, segundo a UNICA, a produção da cana-de-açúcar no Brasil ocupa hoje cerca de 6,7

milhões de hectares, o que corresponde a cerca de 4% do total das terras cultiváveis no país.

Abaixo, o mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil:

26

Figura 1: Mapa da produção de cana-de-açúcar no Brasil

Fonte: NIPE-Unicamp, IBGE e CTC

Hoje, 89% da produção de cana-de-açúcar está concentrada na Região Centro-Sul e apenas 11%

na Região Norte-Nordeste. Além disso, grande parte da produção da Região Centro-Sul está

concentrada no Estado de São Paulo (61%). A produção está divida nos Estados do Brasil da

seguinte maneira:

27

61%

8%

7%

5%

5%

3%3%

3%5%

São Paulo Paraná Minaas GeraisGoiás Alagoas PernambucoMato Grosso do Sul Mato Grosso Outros

Gráfico 2: Distribuição da produção de cana-de-açúcar no Brasil

Fonte: UNICA

2.2 ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO

Para o melhor entendimento da dinâmica do mercado de açúcar e álcool no Brasil e no mundo é

muito importante conhecer as principais fases de produção pelas quais a cana-de-açúcar passa até

se tornar os produtos finais açúcar e álcool. Além disso, precisamos conhecer as principais fontes

de custos de produção para o açúcar e o álcool.

28

2.2.1 A COLHEITA

O aumento do domínio das técnicas de processamento da cana-de-açúcar no Brasil e no mundo

fez com que o período de colheita aumentasse, em detrimento do período de não-colheita. Hoje

no Brasil, a colheita, ou período de safra, ocorre durante oito meses consecutivos entre abril e

novembro, enquanto o período de entressafra, em que o volume colhido é menor, ocorre durante

os outros quatro meses do ano entre dezembro e março.

Há dois tipos de colheita da cana-de-açúcar no Brasil: a manual e a mecanizada. Além das

diferenças operacionais óbvias dessas técnicas de colheita, é importante ressaltar que cada uma

faz o corte com a cana-de-açúcar em estados diferentes. A colheita mecanizada, em geral, faz o

corte da cana-de-açúcar quando ela está crua. Enquanto isso, para que a colheita a manual seja

possível, é preciso que a área plantada seja queimada antes da realização do corte. Esse

procedimento é necessário, pois a palha da planta crua dificulta o trabalho dos cortadores no

processo manual.

É importante observar que, ainda hoje, as duas técnicas de corte são utilizadas. No entanto, a

característica do produtor que utiliza cada uma delas é diferente. A colheita manual é realizada

principalmente por produtores menores, de baixa escala, enquanto a colheita mecanizada é

utilizada por produtores com volumes e escalas maiores. Essa é a tendência geral, pois o fluxo de

caixa inicial, ou investimento inicial, da colheita mecanizada é grande e, na maioria das vezes,

inviável para os produtores pequenos. Análises de TIR, de Valor Presente ou de “Pay Back”

podem ser utilizadas para a definição do valor desse investimento, mas não é esse o escopo do

trabalho. Além disso, esse tipo de análise pode se tornar extremamente complexo, uma vez que

não apenas valores econômicos precisam ser considerados, mas também os ambientais, que são

bastante subjetivos. Acredita-se que no futuro os produtores de pequena escala sejam

prejudicados, do ponto de vista econômico, caso haja uma pressão regulamentatória que os

obrigue a substituir o processo manual pelo mecanizado.

29

Hoje, a Lei 11.241, que dispõe sobre a “eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-

açúcar”, obriga que se elimine por completo o processo de queima da cana-de-açúcar até 2031. A

partir disso, foi criado o Protocolo Agro Ambiental, de adesão voluntária, que tem um objetivo

mais radical de eliminar a queima até 2017. Tais medidas parecem estar gerando um resultado

satisfatório, como mostrado no gráfico abaixo com a evolução da colheita mecanizada no Estado

de São Paulo.

34.2%

46.6%49.1%

55.8%

0.00%

10.00%

20.00%

30.00%

40.00%

50.00%

60.00%

2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010*

% Colheita Mecanizada Gráfico 3: Evolução da colheita mecanizada (sem queima prévia da plantação)

Fonte: UNICA. Nota*: Estimativa

2.2.2 A QUALIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR COLHIDA (ATR e POL)

Uma das principais propriedades da cana-de-açúcar é o “Açúcar Recuperável Total”, ou ATR. O

ATR é uma medida vastamente utilizada para a precificação da cana-de-açúcar, uma vez que

mede a capacidade da planta em produzir açúcar, em termos de sua massa. O ATR é definido

como a massa, em kg, do açúcar produzido, divido pela massa, em toneladas, da cana-de-açúcar

utilizada, e pode variar entre os valores 100 e 200. Por exemplo, a cana-de-açúcar com um ATR

30

de 105 é capaz de produzir uma massa de açúcar que corresponde a 5% da sua massa inicial. O

ATR da cana-de-açúcar produzida no Brasil é, em média, 114, ou seja, 14% da massa da cana

utilizada inicialmente pode ser transformado em açúcar. Na Índia, o segundo maior produtor

mundial de açúcar, esse número é de aproximadamente 110 (UNICA).

A cotação disponível na ÚNICA de agosto de 2010, a mais atualizada na presente data, mostra o

preço do ATR em R$0,35. Esse é o preço médio pago aos produtores de cana-de-açúcar, que

serve como uma referência para o mercado físico da cana-de-açúcar.

Um aspecto importante do processo de transporte da cana-de-açúcar é a distância percorrida pela

planta desde os canaviais até as usinas. A distância entre as usinas de tratamento da cana-de-

açúcar e os canaviais normalmente não ultrapassa 30 quilômetros. Isso ocorre, porque quanto

maior for a distância entre o canavial e a usina, maior é a perda de ATR da cana ocorrida durante

o trajeto, ou seja, maior a perda do valor da cana. Em outras palavras, existe uma correlação

negativa entre essa distância canavial-usina e o índice ATR da cana-de-açúcar entregue. Dessa

maneira, é de interesse do produtor que a usina esteja localizada perto do local de plantio.

Na construção do modelo de gestão de portfólios proposto neste trabalho, a definição de ATR

será de muita utilidade, pois quando comparamos a rentabilidade dos produtos finais (açúcar e

álcool) precisamos analisá-los em uma mesma base, que aqui será US$ por ATR.

Outro aspecto importante da qualidade da cana-de-açúcar colhida é o nível de polarização (POL)

do açúcar que a planta é capaz de produzir. A POL é expressa em ºZ (graus Zucker) e define a

porcentagem de sacarose do açúcar produzido. A POL também pode ser definida como o grau de

pureza do produto: POL de 99% significa que o açúcar tem 99% de sacarose e 1% de impurezas

diversas (água, glicose, frutose, sais minerais, partículas sólidas, etc.). Quanto maior a facilidade

de se produzir açúcar mais puro, melhor é a qualidade da cana-de-açúcar e maior será o preço

pago por ela.

A cana-de-açúcar colhida nos períodos mais secos do ano, entre julho e setembro, apresenta

propriedades de POL melhores, ou seja, é capaz de produzir um açúcar com maior grau de

31

pureza. Dessa maneira, os produtores direcionam seus esforços para a produção de cana-de-

açúcar se concentre nesses meses mais secos.

2.2.3 AS FASES DA PRODUÇÃO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL

As primeiras etapas da produção tanto do açúcar como do álcool são as mesmas: colheita da

cana-de-açúcar, carregamento, transporte às usinas, pesagem, descarregamento e lavagem da

cana-de-açúcar. Como dito anteriormente, a boa execução desses processos é fundamental para

que a qualidade da cana-de-açúcar seja mantida.

No caso da produção de açúcar, a cana-de-açúcar é direcionada à moagem, processo em que se

retira o caldo, separando-o do bagaço e, a partir daí, o foco da produção passa a ser caldo

resultante. Ele passa por uma purificação, por um cozimento, por uma cristalização (da sacarose)

e, finalmente, a centrifugação. Nessa última, ocorre a separação da massa cozida e dos cristais de

açúcar. O açúcar, então, é secado e estocado.

Em relação à produção de etanol, a cana-de-açúcar também passa pela moagem, obtendo-se o

caldo, que será foco da produção a partir daí. O caldo passa por um tratamento especial para a

produção do álcool e é levado para a fermentação. O “vinho” resultante é destilado e retificado

para que, finalmente, seja desidratado. Nessa fase de desidratação, decide-se se o álcool será

anidro e hidratado. O álcool anidro é usado para ser misturado com a gasolina, e o hidratado é

aquele usado direto nos carros como combustível.

É muito importante ressaltar que o estoque é sempre feito com o produto acabado, nunca com a

matéria-prima, ou seja, o açúcar ou o etanol prontos podem ser estocados, mas a cana-de-açúcar

não. O processo de estoque da cana-de-açúcar acarretaria na perda de ATR, ou perda de valor da

matéria-prima.

Além do açúcar e do etanol, há outros subprodutos que podem ser fabricados a partir da cana-de-

açúcar, como a aguardente e o álcool farmacêutico. No entanto, os volumes desses produtos em

32

relação à produção final podem ser considerados desprezíveis e, por isso, não vamos considerá-

los como fonte de receita neste trabalho.

2.3 O MIX DE PRODUÇÃO

Atualmente, o produtor de cana-de-açúcar brasileiro se depara com a decisão de dividir sua

matéria-prima entre a produção de açúcar e a produção de álcool, conhecido como “mix de

produção”. O mix de produção é determinado pelas porcentagens finais da produção de álcool e

açúcar, em termos das massas finais produzidas de cada produto (açúcar e etanol). A

determinação do mix de produção pode ser influenciada, por exemplo, pelos preços atuais e

futuros dos produtos nos mercados físicos e de derivativos. Por exemplo, se o mercado de açúcar

é altista (preço tem tendência de alta), enquanto o mercado de etanol é baixista, o produtor poderá

dar preferência para a produção de açúcar.

No entanto, essa escolha entre produção de álcool e açúcar depende de mais de um fator e pode

se tornar complexa à medida que acrescentamos variáveis ao problema. Dessa maneira, se torna

evidente a importância de um modelo com fundamentos teóricos capazes de determinar o mix de

produção ideal. Esse é um dos objetivos deste trabalho. O modelo construído será capaz de

determinar o mix de produção ótimo do ponto de vista de minimização de riscos e maximização

de receitas.

Segundo Moreira e Goldemberg (1999), em 1970 já eram produzidas cerca de 50 milhões de

toneladas de cana-de-açúcar no Brasil, que deram origem a cerca de 5 milhões de toneladas de

açúcar. Em 1996, a produção da cana-de-açúcar atingiu cerca de 273 milhões de toneladas,

originado aproximadamente 13,5 milhões de toneladas de açúcar e outros 13,9 milhões de

toneladas de álcool. Percebe-se que em 1996, a cana-de-açúcar destinada à produção de açúcar

representou 49% da massa total dos produtos finais, enquanto os outros 51% foram representados

pelo etanol.

33

Um dado mais atual da UNICA mostra que no segundo semestre de 2008 e no primeiro semestre

de 2009 foram produzidas aproximadamente 569 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que

por sua vez originaram 31 milhões de toneladas de açúcar (56%) e 26 milhões de toneladas em

etanol (44%).

Ainda em vista a crescente importância do álcool para o Brasil, a área destinada a plantações de

cana-de-açúcar no Brasil, era cerca de 4.2 milhões de hectares em 1996, dos quais 60% se

encontrava no Estado de São Paulo. No final do segundo semestre de 2009, esse número já era de

6.7 milhões de hectares, dos quais 66% era no Estado de São Paulo. Isso corresponde a um

crescimento, desde 1996, de aproximadamente 50%.

Hoje, as usinas do Brasil têm uma capacidade limitada para a produção do açúcar ou do etanol.

Grande parte das usinas brasileiras tem uma flexibilidade 40/60. Isso significa que a fábrica é

projetada para trabalhar com no máximo 60% da produção de cana-de-açúcar voltada para o

açúcar ou o etanol. Assim, o mix do produtor está limitado a essa faixa e ele nunca vai conseguir

produzir mais que 60% de um determinado produto. Mesmo que o mercado esteja favorável à

produção de mais de 60% açúcar, por exemplo, o produtor não terá essa capacidade, pois a cana

bruta perderia suas propriedades ao esperar para ser usada. O mesmo aconteceria caso o mercado

de etanol estivesse muito atrativo e fosse interessante produzir mais que 60%. O produtor

simplesmente não seria capaz. Apesar de existirem usinas que não adotam a flexibilidade 40/60,

adotamos esse número como restrição do nosso modelo.

Dessa maneira, o modelo de gestão de portfólio proposto neste trabalho precisa considerar essas

restrições físicas de produção de açúcar e álcool. Caso essa restrição não seja acrescentada no

modelo, a resposta ótima poderia se tornar não-factível do ponto de vista prático e impossibilitar

sua implementação.

34

2.4 CO-GERAÇÃO DE ENERGIA, UM SUBPRODUTO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Como na maioria dos processos produtivos, as produções do açúcar e do etanol liberam resíduos,

constituído principalmente de bagaço da cana-de-açúcar. No entanto, esse bagaço possui uma

propriedade peculiar não observada na maior parte dos resíduos de produções. Ele é capaz de

produzir energia.

O processo de tratamento do bagaço para a obtenção de energia é relativamente simples, mas

necessita de um investimento muito grande para um bom aproveitamento. São necessários

grandes recipientes, as caldeiras, onde o bagaço passará por um processo de combustão com sua

queima, a partir da qual energia é gerada.

As próprias usinas se valem dessa propriedade do bagaço para produzirem a energia que

consomem e muitas fazem disso até parte adicional de seus negócios, como fonte de receita

adicional, vendendo o excesso de energia para a prefeitura ou para quem se interessar. Dessa

maneira, essas usinas podem funcionam como pequenas centrais de geração energia.

Segundo definição da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a co-geração de energia é a

produção combinada de calor útil e energia mecânica convertida em energia elétrica, a partir de

energia química. A co-geração é a associação da geração simultânea de dois ou mais tipos de

energia, a partir de uma única fonte energética, que, no caso, é o bagaço de cana. Ao ser

queimado, o bagaço gera energia térmica em forma de vapor, que, por sua vez, gira uma turbina,

gerando energia elétrica.

Hoje, muitas usinas são auto-suficientes. O que define a capacidade de produção própria de

energia, além da quantidade de bagaço produzido, é a capacidade do incinerador da usina. Quanto

maior a capacidade de esquentar o bagaço, maior a capacidade de co-geração de energia. Em

vista disso, tem sido uma prática comum a substituição de caldeiras antigas por novas com maior

capacidade calorífica. Um exemplo disso, hoje, é a Cosan, grande empresa do setor, que está

35

substituindo as caldeiras de quinze de suas usinas, acarretando em um investimento de

aproximadamente R$2 bilhões (dados divulgados pela empresa).

36

3 GESTÃO DE RISCO FINANCEIRO

A revisão bibliográfica da gestão de risco financeiro deste trabalho está divida em três partes.

Na primeira parte serão discutidas, com base na literatura atual, diferentes medidas de risco bem

como suas aplicações em gestão de portfólio de forma mais abrangente. Analisaremos, nessa

ordem, a variância, o VaR (Value-at-Risk) e o CVaR (Conditional Value-at-Risk). Essa discussão

dará sustentação e embasamento para a definição do modelo de hedge que apresentaremos nos

próximos capítulos. Veremos que a medida de risco que melhor atende as necessidades do nosso

modelo de otimização é o CVaR.

Na segunda parte do capítulo, discutiremos as possíveis estratégias de hedge à disposição dos

produtores de açúcar e álcool, e ainda o significado e a importância da razão de hedge.

Finalmente, na terceira parte apresentaremos dois modelos clássicos de seleção de portfólio, o de

Markowitz, que utiliza a variância como medida de risco, e o de DiClemente, que utiliza o CVaR.

3.1 MEDIDAS DE RISCO (VARIÂNCIA, VAR e CVAR)

A proposta do presente Trabalho de Formatura é a aplicação da medida de risco CVaR

(Conditional Value-at-Risk) na gestão dos ativos de produtores de açúcar e álcool a outras

medidas vastamente usadas em gestão de portfólios de ativos, quaisquer sejam, como Variância e

VaR (Value-at-Risk). PFLUG (2000) provou que a medida CVAR, apesar de mais complexa,

possui propriedades estatísticas melhores que o VaR, e a partir disso, uma série de novos estudos

de risco foram feitos embasados nessa outro método de medida de risco.

A seguir discutiremos as duas medidas mais conhecidas e utilizadas na gestão de portfólios

atualmente, a variância e o VaR, e a medida de risco utilizada neste trabalho, o CVaR.

37

3.1.1 VARIÂNCIA

Um método muito explorado pela literatura e utilizado vastamente em diferentes áreas do

conhecimento, devido à facilidade de medição, é a variância. A variância mede a dispersão de

uma variável aleatória em torno do seu valor médio. Em gestão de portfólio, a variância indica a

dispersão dos retornos em torno do retorno esperado dos ativos.

Assim sendo, a variância 2σ da variável aleatória X pode ser definida como:

][ 22 ))(( XEXE −=σ

Em que:

E(X) é a média da variável aleatória X.

Na prática, há duas maneiras de calcularmos a variância da variável aleatória X (NETO,

CYMBALISTA, 2006) dependendo das propriedades de X.

Se X é uma variável aleatória discreta, a variância 2σ é definida como:

( ) )()( 22i

ii xpXEx ×−=∑σ

Em que:

p(i

x ) = probabilidade do evento ix .

Se X é uma variável aleatória contínua, a variância 2σ é definida como:

( ) dxxfXEx )()( 22 ×−= ∫∞

∞−

σ

38

Em que:

f(x) = função densidade de probabilidade de x

Sabemos quão vasta é a aplicação da variância e de sua aplicação em diferentes áreas de estudos.

É uma medida bastante explorada pela literatura e, por isso, sua utilização e propriedades são

bastante conhecidas.

No entanto, algumas propriedades da variância, ou falta de propriedades, fazem com essa medida

de risco não seja a ideal na gestão de portfólio de ativos.

Podemos citar dois problemas da variância que a torna pouco eficiente na gestão de portfólios:

1. Desvios negativos ou positivos em torno do retorno esperado são tratados da

mesma maneira pela variância. Ou seja, ativos que oferecem retornos muito acima

da média constantemente, ou ativos que oferecem retornos muito abaixo da média

constantemente podem ser apontados como ativos de risco semelhantes pela variância.

Na gestão de portfólio, a necessidade de se dar prioridade a ativos de retorno acima da

média é evidente.

2. A variância não nos dá uma informação adequada das caudas da distribuição de

probabilidade (RIBEIRO, FERREIRA, 2004). Em cenários de estresse, uma carteira

de ativos C1 pode sofrer ou dar retornos mais negativos que uma carteira de ativos

C2, o que não é detectado pela variância. Para investidores esse é um ponto de

extrema importante, uma vez que crises financeiras, que levam a um cenário de

estresse extremo, não são tão raras e podem destruir carteiras de investimento em

ativos. A crise financeira global que teve seu auge no final de 2008 com a quebra do

Banco Lehman Brothers é um exemplo de que carteiras de ativos “defensivas” podem

ser um melhor investimento em momentos difíceis. A variância não nos prove com

essa informação.

39

Esses são os principais motivos pelos quais não utilizaremos variância neste trabalho. Também, a

partir dessas constatações, a utilização do VaR no mercado financeiro se difundiu e essa medida

passou a ser mais estudada pela literatura sobre riscos de carteira de ativos.

3.1.2 VALUE-AT-RISK (VAR)

Atualmente, a medida de risco mais popular e mais utilizada pelos gestores de ativos no mercado

financeiro é indiscutivelmente o Value-at-Risk (YOU e DAIGLER, 2007). O VaR de uma

carteira de ativos pode ser definido como a perda máxima do valor de mercado da carteira em um

determinado período de tempo com um determinado nível de confiança. Ou seja, por ser uma

medida de risco de perda potencial máxima o VaR nos oferece informação sobre a cauda inferior

da distribuição dos retornos do portfólio de ativos, diferentemente da variância.

A pergunta que o VaR responde é a seguinte: “Quanto posso perder com x% de probabilidade em

um horizonte predeterminado?”.

Figura 2: Curva de probabilidade de perda e o VaR

Fonte: Elaboração do autor

VaR = Perda Máxima

40

Em QUARANTANA e ZAFFARONI, 2008, considera-se X uma variável de retorno aleatório e

F a função de distribuição, em que:

F (a) = P{X≤ a} e 1−F (b) = min {a: F(a)≥ b}

Dessa forma, o VaR poder ser definido como:

)()( 1 αα−= FXVaR

Há mais de uma maneira de se calcular o Value-at-Risk, dentre quais destacamos três (WIENER,

1998): simulação histórica, abordagem paramétrica e a simulação de Monte Carlo.

Na simulação histórica, consideramos que os mesmos eventos do passado de mudanças de

cenários serão observados no futuro e, com isso, podemos assumir preços futuros. Dessa maneira,

quanto maior a série histórica, melhor será a simulação proposta. A partir disso, são ordenados N

retornos históricos da carteira de ativos e define-se então o VaR como o (α * N)-ésimo valor

mais negativo, em que α é o nível de confiança.

Na abordagem paramétrica, assumimos que as mudanças nos parâmetros do mercado e que a

variável retorno do portfólio seguem uma distribuição normal. Nessa abordagem, é preciso que se

construa uma matriz de covariância histórica dos retornos da carteira. Dessa maneira, o VaR

pode ser calculado como (QUARANTANA e ZAFFARONI, 2008):

RZREVaR σα+= )(

Em que:

E(R) é a média dos retornos

Rσ é o desvio-padrão dos retornos

αZ é o valor para o qual F( αZ ) = 1 - α

41

Finalmente, na simulação de Monte Carlo, assumimos que temos informação sobre a distribuição

conjunta das mudanças no mercado para que possamos construir um grande número de cenários e

precificar a carteira em cada um deles.

Com base no que foi dito, percebe-se que as metodologias de medição de VaR não necessitam de

grandes capacidades de processamento e podem ser aplicadas em exemplos práticos sem grandes

dificuldades. Além disso, o VaR consegue nos passar informações sobre a cauda da distribuição

dos retornos, i.e. informações do risco de perda, o que é considerado de grande valia para os

investidores.

Entretanto, o VaR também possui certas deficiências que podem trazer problemas de medição de

risco aos gestores de ativos, das quais evidenciamos duas:

1. O VaR não analisa a cauda da distribuição (ou perda) após o valor máximo

definido pelo intervalo de significância. Ou seja, ainda que o Var nos dê uma análise

de risco que envolve a perda máxima de uma carteira de ativos, ele não consegue

analisar a dispersão além da perda máxima para um determinado nível de confiança.

Dado um nível de confiança, dois ativos com o mesmo VaR possuem o mesmo risco

ainda que um deles tenha uma dispersão maior após o intervalo definido.

2. O VaR não é uma medida de risco coerente (ARTZNER et al., 1998). Teoria

introduzida por Artzner em 1998 define medida de risco coerente com sendo aquela

que obedece quatro axiomas:

a. ,)()( αραρ −=∗+ XrX & ,R∈∀α GX ∈∀ ;

b. 12121 ),()()( XXXXX ∀+≤+ ρρρ e GX ∈2 ;

c. GXXX ∈∀= ),()( λρλρ ;

d. XYGXYXY ≤∈∀≤ ,,),()( ρρ

42

Em que: nRG∈ e nRrrr ∈= ),...(& , e r é a taxa de retorno livre de risco.

O VaR não obedece ao axioma b, o da subaditividade. Isso que dizer que não podemos garantir

que o risco resultante da soma de dois portfólios de risco 1VaR e 2VaR seja 1VaR + 2VaR , ou

menor que isso. Na verdade, é um número que não conseguimos prever. Segundo Quarantana e

Zafaronni (2008) isso impede a convexidade e dificulta a otimização na seleção de ativos.

Dessa maneira, surgiu a necessidade de se criar uma medida de risco que sanasse os problemas

apresentados pelo VaR na otimização de seleção de ativos. O CVaR (Conditional Value-at-Risk)

parece ser uma boa solução, como veremos a seguir.

3.1.3 CONDITIONAL VALUE-AT-RISK (CVAR)

Para resolver os problemas de falta de coerência apresentados pelo VaR, a literatura de sobre

otimização de portfólio recente tem se focado em medidas de risco coerentes e especialmente no

CVaR (QUARANTA e ZAFFARONI, 2008).

Artzner em 1998 define medidas de risco coerentes como aquelas que obedecem aos axiomas

apresentados no tópico anterior. Com base nisso, Rockafellar e Uryasev (2002) introduziram

uma nova medida de risco nominada Conditional Value-at-Risk.

O CVaR nos dá o valor médio da cauda para um dado intervalo de confiança. Ou seja, o CVaR é

a média das perdas da carteira superiores ao VaR. Em outras palavras, o CVaR define o valor

médio das perdas da carteira, dado que o pior cenário já ocorreu. Dessa maneira, os problemas do

VaR identificados acima são sanados com o uso do CVaR.

Seja NRXx ⊂∈ um vetor de decisão representando o portfólio e NRYy ⊂∈ o vetor

representando as variáveis em cenários futuros, consideramos z = f (x,y) como a função de perdas

43

do portfólio. Dessa maneira, podemos representar as perdas superiores a VaR, que

denominaremos α , como sendo (QUARANTA E ZAFFARONI, 2008):

),0max(),( ααψ −= zx ou { }ααψ ≤= ),(),( yxfyPx

Ainda, Quaranta e Zaffaroni (2008) definem a as perdas acima da perda máxima, ou VaR como

sendo:

⎪⎩

⎪⎨⎧

−−=

ααψψ

1),(

0),( axax

ifif

αα

≥≤

aa

Em que:

α é o VaR da carteira.

Sendo o CVaR a média das perdas superiores a α , temos que:

)),(( αψ xECVaR =

Graficamente, a diferença entre VaR e CVaR é mais facilmente observada.

44

Figura 3: VaR e CVaR

Fonte: Elaboração do autor

Dessa maneira, podemos perceber que o CVaR de fato leva em conta a cauda acima da perda

máxima da distribuição de retornos da carteira. Além disso, como dito anteriormente, é uma

medida de risco coerente (ROCKAFELLAR e URYASEV, 2002).

Outra particularidade do CvaR, que facilita sua aplicação em problemas de seleção de portfólios,

é o fato de que podemos utilizar programação linear para minimizá-lo. Outro aspecto muito

interessante evidenciado por Rockafellar e Uryasev (2002) é de que uma otimização convexa

simples de uma dimensão é capaz de nos fornecer simultaneamente o CVaR e o VaR do

portfólio. Isso é particularmente importante, pois permite que calculemos o CVaR da carteira sem

que necessariamente conheçamos o VaR.

A formulação que nos permite encontrar o CVaR e o VaR simultaneamente é a seguinte

(ROCKAFELLAR e URYASEV, 2002):

[ ]{ }+−−

+= ayxfEaaxF ),()1(

1),(αα

VaR = Perda MáximaCVaR

45

Em que:

[ ]+− ayxf ),( = +][t =max{0,t}.

Na expressão acima, f(x,y) representa a função distribuição de perdas. Como podemos perceber

),( axFα , que representa o CVaR da carteira, é uma função linear e, por isso, sua minimização

pode ser feita de maneira direta, sem grandes complicações. Além disso, o modelo nos retornará

não apenas o CVaR ( ),( axFα ) como o VaR ( a ) também.

As facilidades de manipulação e minimização do CVaR fizeram com que essa medida de risco

ganhasse relevância na literatura de gestão de portfólio. No entanto, por se tratar de uma medida

menos trivial e menos conhecida que o VaR, o CVaR não tem sido muito utilizado pelos gestores

de ativos no mercado financeiro e ainda possui uma baixa penetração nesses meios.

Por todas as características apresentadas neste capítulo, optamos por utilizar o CVaR como

medida de risco de portfólio a ser minimizada. Em tópicos, as vantagens do CVaR são:

• É uma medida de risco coerente (ROCKAFELLAR e URYASEV, 2002);

• Analisa a cauda da distribuição de perdas;

• Minimização através de programação linear é possível;

• VaR e o CVaR são encontrados simultaneamente.

3.2 ESTRATÉGIAS DE HEDGING

A palavra hedge, que no português significa cerca, é muito conhecida no mercado financeiro. Na

maioria dos casos, ele significa proteção de uma oscilação indesejada de um determinado ativo.

O hedge permite que se minimize a exposição ao risco de mercado sem reduzir o lucro (Baxter,

1998), apenas limitando um grande crescimento.

46

No nosso caso, em que a proteção será feita por um produtor de álcool e açúcar, o hedge

minimiza o risco de uma variação indesejada do preço desses ativos (açúcar e álcool) no mercado

físico.

O hedging pode ser feito com uma grande variedade de instrumentos no mercado de derivativos.

Nos casos mais comuns, a proteção é feita com contratos futuros ou de opção, em mercados

regulamentados e que garantem o pagamento dos contratos no vencimento.

É importante que se saiba que uma operação de hedge sempre terá duas figuras: o próprio hedger,

que é normalmente o produtor, e o especulador. Nessas operações, o produtor quer se proteger

de uma eventual queda do preço de seu produto (ativo) no mercado físico e, por isso, monta uma

contraparte no mercado de derivativos que se beneficiará da queda do preço do ativo. Ou seja,

quando o preço do ativo cai, o produtor perde na venda do seu produto (vende mais barato), mas

em compensação ganha no mercado financeiro. Dessa maneira, o produtor consegue de certa

forma “travar” o preço que receberá por seus produtos. O especulador, por outro lado, só opera

no mercado financeiro e se beneficia da alta do preço do ativo.

Neste trabalho, analisaremos dois instrumentos derivativos muito usados em operações de hedge:

futuros e opções. Além disso, discutiremos sobre a porção da produção que é hedgeada, ou

travada, a chamada “razão de hedging”.

Antes, faremos uma breve descrição do mercado de contratos de derivativos e dos seus principais

participantes.

3.2.1 O MERCADO DE DERIVATIVOS

Um contrato de derivativo é caracterizado por pagamentos futuros de acordo com o

comportamento dos preços de um ativo que é negociado no mercado físico. É um contrato

47

firmado entre duas partes. Como o próprio nome propõe, é um contrato cujo valor está lastreado

em um ativo, ou seja, deriva de outro ativo.

Os principais mercados de derivativos hoje, são:

• Mercado Futuro

• Mercado de Opções

• Mercado a Termo

O mais líquido e mais conhecido desses mercados é o mercado futuro. O mercado futuro e o

mercado a termo possuem características semelhantes, mas a forma como o acordo é firmado e os

riscos que as partes estão expostas são diferentes. A semelhança principal entre esses dois

mercados é o fato de que as partes têm um acordo de compra e venda do ativo em uma data

futura por um preço determinado e ambos estão expostos à oscilação do preço do ativo.

Uma negociação no mercado futuro envolve três personagens (HULL, 2005): 1) o comprador do

contrato; 2) o vendedor do contrato; e 3) a bolsa de mercadorias e futuros, que no Brasil é a

BM&FBovespa. O comprador e o vendedor definem o número de contratos negociados e uma

data quando ocorrerá o vencimento dos contratos. Cada contrato de derivativo tem uma

quantidade definida do ativo. Por exemplo, um contrato de açúcar pode representar 50

quilogramas do ativo físico e para negociar 5 toneladas, são necessários 100 contratos.

Teoricamente, na data de vencimento o comprador pagará o valor pré-acordado por uma

determinada quantidade do ativo. No entanto, na maioria das vezes a entrega física não ocorre,

pois os contratos são liquidados antes do vencimento (HULL, 2005).

A terceira personagem no mercado futuro é aquela que garante que o vendedor do receberá o

valor quando do vencimento: a bolsa de valores. Essa é uma das principais diferenças entre o

mercado futuro e o a termo. As partes vendedora e compradora no mercado a termo têm o risco

da contraparte, pois não há alguém fazendo a intermediação do contrato. A bolsa de valores

consegue garantir que o contrato seja pago no vencimento, pois exige que haja um depósito de

margem com ajuste diário, obrigando que as margens sejam ajustadas todos os dias no

fechamento do mercado. Isso implica em uma perda ou ganho diário no mercado futuro o que faz

48

com que as partes estejam expostas a qualquer variação no preço do contrato entre a data inicial e

o vencimento. Já no mercado a termo, não há um depósito de margem e o valor só é

desembolsado pelo comprador na data de vencimento.

Em resumo, a maior semelhança entre os mercados futuro e a termo é:

• Contrato entre duas partes, uma compradora e uma vendedora, que se comprometem a

comprar e a vender determinada quantidade de um ativo, em uma data futura, por um

preço pré-estabelecido.

As maiores diferenças entre os mercados futuro e a termo são:

• O risco no mercado a termo é sempre da contraparte, enquanto no futuro o risco é da

bolsa de valores.

• Os ajustes no mercado futuro são diários, fazendo com que haja um desembolso

constante. No mercado a termo, não há ajuste e o valor é desembolsado no vencimento.

É importante ressaltar que tanto no mercado futuro como no mercado a termo, o comprador tem

retornos positivos com a alta no preço do ativo e o vendedor ganha com a baixa.

A dinâmica do mercado de opções é diferente e mais complexa que nos outros dois mercados.

No mercado de opções negociam-se “direitos”. Quem compra uma opção é chamado de titular e

sempre tem um direito, enquanto quem vende é chamado de lançador e sempre tem uma

obrigação (HULL, 2005).

Existem dois tipos de opções, ou direitos: a opção de compra (call) e a opção de venda (put).

Com a opção de compra, o titular tem o direito de comprar um ativo e o lançador tem a obrigação

de vender, caso seja exercido. Com a opção de venda, o titular tem o direito de vender o ativo e o

lançador tem a obrigação tem compra, caso seja exercido. Quando o lançador é “exercido” pelo

49

titular, significa que o titular usa seu direito de compra ou venda, obrigando o lançador a vender

ou comprar.

O contrato no mercado de opções também define uma data de vencimento, um valor e uma

quantidade que será negociada.

Em resumo:

• Titular de uma opção de compra: direito de comprar o ativo;

• Lançador de uma opção de compra: obrigação de vender o ativo, caso exercido;

• Titular de uma opção de venda: direito de vender o ativo;

• Lançador de uma opção de venda: obrigação de comprar o ativo, caso exercido.

O titular de uma opção de compra exercerá a opção se o ativo estiver acima de um determinado

preço. O titular de uma opção de venda exercerá a opção se o preço do ativo estiver abaixo de

certo patamar. Por exemplo, um titular de uma opção de venda de açúcar tem o direito de vender

o ativo no vencimento, por um preço pré-estabelecido. Se o ativo físico, no vencimento, estiver

abaixo de um determinado valor, pode valer a pena o titular exercer a opção, obrigando o

lançador a comprar o ativo.

Como esse tipo de contrato é negociado na bolsa de valores, também é necessário que haja um

depósito de margem por parte daquele que pode ser exercido, o lançador. Isso requer um fluxo de

caixa negativo já no tempo zero ( 0t ).

Outro aspecto importante do mercado de opções é o “prêmio da opção”. Muitos se perguntam

sobre a vantagem de ser um lançador nesse mercado de opção se essa personagem é sempre

exercida e, com isso, sempre levará o prejuízo. A resposta para isso está no prêmio da opção

(HULL, 2005). Para o titular ter a possibilidade de exercer seus direitos, é preciso que ele pague

ao lançador um preço acordado. O lançador acredita que a opção não será exercida e aceita

ganhar um prêmio para correr o risco e casa não seja exercido, ganha o prêmio. Dessa maneira, o

titular também tem um fluxo de caixa negativo no 0t .

50

A seguir são apresentados os gráficos com os retornos, no vencimento, para cada personagem do

mercado de opção.

Figura 4: Retorno para Titular da Call Figura 5: Retorno para Titular da Put

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Figura 6: Retorno para Lançador da Call Figura 7: Retorno para Lançador do Put

Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor

Gráfico do Retorno para Titular de Opção de Compra

-15

25

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50Preço À Vista do Ativo

Reto

rno

Prêmio pago pelo titular

Preço a partir do qual o titularexerce seu direito

Gráfico do Retorno para Titular de Opção de Venda

-15

25

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46Preço À Vista do Ativo

Reto

rno

Prêmio pago pelo titular

Preço a partir do qual o titular exerce seu direito

Gráfico do Retorno para Laçador de Opção de Compra

-25

15

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50Preço À Vista do Ativo

Reto

rno Prêmio recebido do titular

Preço a partir do qual o lançador é exercido

Gráfico do Retorno para Laçador de Opção de Venda

-25

15

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46Preço À Vista do Ativo

Reto

rno Prêmio recebido do titular

Preço abaixo do qual o lançador é exercido

51

3.2.2 OS PARTICIPANTES DO MERCADO DE DERIVATIVOS DE AÇÚCAR

Tratando o assunto de uma forma um pouco mais específica, o mercado de derivativos de açúcar

é composto principalmente por duas figuras: os especuladores e os produtores de cana-de-açúcar

(hedgers). Existem ainda os hedgers que não são produtores, como grandes empresas de

consumo que atuam como compradores de contratos. No entanto, desconsideraremos neste

trabalho esses personagens, que possuem baixa relevância no mercado de derivativos de açúcar.

Os especuladores geralmente atuam em diversos mercados, com o objetivo de obter ganhos com

a oscilação de preços de ativos que presumam que devem subir ou descer. Já os produtores de

cana-de-açúcar têm outro objetivo no mercado de derivativos. Eles procuram instrumentos que

lhes garantam fluxos de caixas aceitáveis e seguros em uma data futura. Ou seja, querem se

proteger de oscilações indesejáveis, o chamado hedge do produtor. A maneira como fazem isso é

atuando no mercado de derivativos, normalmente com uma posição “vendida”.

A posição “vendida” é aquela que se beneficia da queda do preço do contrato. Por exemplo, no

mercado futuro, o produtor vende contratos de açúcar para que, caso o preço do açúcar caia, ele

perca no mercado físico mais é compensado pelo ganho no mercado de derivativos. No mercado

de opção, uma estratégia seria vender opções de compra. As opções de compra são instrumentos

mais líquidos do que as opções de venda, o que faz com que grande parte dos produtores utilizem

esse tipo de opção como instrumento de hedge. Por isso, a versão do modelo proposto neste

trabalho, que considera as opções, utilizará apenas as opções de compra. Isso ainda facilitará os

cálculos do modelo.

No entanto, há opiniões contraditórias a respeito de especulação e hedging na literatura. Como

sintetizado em Wolf (1987), podemos citar pelo menos três definições relevantes. Keynes (1930)

e Hicks (1946) definem e caracterizam os especuladores pela natureza de tolerância ao risco

quando comparados com hedger, que têm uma aversão ao risco maior. Working (1953)

argumenta que a diferença entre hedgers e especuladores nasce do fato de que esses personagens

têm visões e expectativas diferentes em relação à distribuição de preços de certos ativos.

52

Finalmente, Anderson e Danthine (1981) definem hedgers como negociadores de contratos

futuros que usam o mercado futuro para proteger uma posição de caixa e especuladores como

participantes do mercado futuro que não têm o ativo físico.

A abordagem de Keynes-Hicks considera a negociação entre hedgers e especuladores um

mecanismo de transferência de risco do participante menos tolerante para o mais tolerante. As

últimas duas abordagens estão relacionadas entre si, uma vez que ambas acreditam que as

diferentes posições dos participantes são resultado de uma visão diferente sobre a distribuição de

preços futuros.

3.2.3 HEDGING COM FUTUROS

O uso de contratos futuros como instrumentos de hedging têm sido explorado com muito mais

frequência do que o uso de opções. Lapan et al. (1991) considera um produtor enfrentando risco

de preço e compara o uso de futuros com opções como instrumentos de hedging. Eles mostram

que quando o preço futuro não está enviesado, as opções são instrumentos de hedging

redundantes, pois os futuros oferecem um retorno que é linear com o risco de preço.

Hull (2005) exemplifica um hedge com futuro de derivativos. Uma empresa que ganha $10.000

para cada aumento de 1 centavo no preço de uma commodity (ativo) nos próximos três meses e

perde $10.000 para cada queda de 1 centavo nos próximos três meses. Para se hedgear a empresa

precisa assumir uma posição vendida de contratos futuros que resulte em um ganho de $10.000

para cada queda 1 centavo no preço da commodity nos próximos três meses e em uma perda de

$10.000 para cada aumento de 1 centavo. Ou seja, se o preço do ativo cai, a empresa tem uma

perda em suas operações de venda e um ganho nas suas operações financeiras que compensa a

perda operacional. Se o preço do ativo sobe, a empresa tem um ganho operacional maior, mas

tem uma perda financeira que anula o ganho.

53

Com base no exemplo acima, percebemos que o hedge limita tanto a perda quanto o ganho de

quem o opera. Quando o preço do ativo sobe no mercado físico, a empresa realiza um ganho

maior com a venda de seu produto, mas a operação de hedge com futuros que ela montou no

mercado de derivativos lhe rende uma perda que anula os ganhos da venda. Assim, o que a

empresa ganha em fazer o hedge é a segurança da receita gerada em três meses. Ela não depende

mais da variação do preço do ativo e seu ganho se torna previsível, o que lhe é vantajoso de

várias maneiras. Uma delas é a maior atratividade do ponto de vista de investimentos externos

que prezam pela certeza da entrega de lucros em um determinado período.

A operação realizada pela empresa do exemplo foi um hedge perfeito, em que a data exata de

venda do ativo foi definida e o instrumento derivativo é perfeitamente relacionado ao preço do

ativo. No entanto, as operações de hedge não são todas dessa forma e normalmente o produtor se

depara com as seguintes limitações (HULL, 2005):

• O ativo que está hedgeado pode não ser exatamente o mesmo que o relacionado com o

derivativo;

• O hedger pode não saber exatamente o dia que o ativo será vendido;

• O hedger talvez precise liquidar a posição antes do vencimento do contrato, para que não

tenha que fazer a entrega física.

No problema proposto neste trabalho, nos deparamos com dois dos três problemas apresentados.

O primeiro está relacionado com o fato de o preço do ativo não ser exatamente aquele que o

derivativo está refletindo. O produtor de açúcar brasileiro precisa fazer sua operação de hedge

com derivativos de açúcar negociados na da Intercontinental Exchange (ICE), pois os derivativos

de açúcar da BM&F não possuem nenhuma liquidez. Os derivativos de açúcar negociados na

ICE refletem as variações do preço açúcar de exportação demerara, e não do branco, que é

vendido no mercado interno. Dessa maneira, o produtor não consegue fazer um hedge perfeito

desse açúcar branco vendido internamente. No modelo proposto neste trabalho, desconsideramos

esse fato, pois a correlação entre os preços do açúcar demerara e branco é muito alta.

54

O segundo problema está relacionado com a rolagem da posição. Porque os produtores operam

no mercado financeiro só para efeitos de hedge, não têm a intenção de realmente fazer a entrega

do produto. Dessa maneira, precisam liquidar a posição antes do vencimento e nessa operação de

rolagem podem ocorrer perdas e custos de transação.

Neste trabalho, utilizaremos as seguintes notações:

1S = Preço do ativo no período 1t (“spot”)

2S = Preço do ativo no período 2t (“spot”)

1F = Preço do futuro no período 1t

2F = Preço do futuro no período 2t

Denotamos por preço spot o preço à vista do ativo no mercado físico. Se assumirmos que se trata

de um produtor de açúcar e álcool, será feita uma operação de hedge com posição vendida, ou

seja, o produtor vai vender contratos futuros de derivativos de açúcar no mercado para se

proteger da queda do preço dos ativos no mercado físico.

Se assumirmos que a curva do preço futuro está em backwardation, estamos dizendo que o preço

futuro do açúcar é menor que o preço spot (à vista) em qualquer período. De fato, é isso que

ocorre com os preços futuros e spot do açúcar no mercado de derivativos.

O ganho L ou perda do vendedor de contratos futuros pode, então, ser calculado como:

L = 1F - 2F

No vencimento, espera-se que 2F = 2S , ou seja, espera-se que as curvas futura e spot se

encontrem. Nesse caso, se o preço do ativo tem uma queda, 2S < 1S , o ganho é positivo, L > 0.

Dessa maneira, um vendedor de contratos futuros se beneficia com a queda do preço do ativo.

55

Figura 8: Situação em que um vendedor do contrato futuro obtém ganhos

Fonte: Elaboração do autor

Do ponto de vista do especulador, que está comprado no contrato futuro, quanto mais o preço do

ativo sobe, maior é o ganho, pois se espera que o preço futuro também suba. O ganho é

representado por:

L = 2F - 1F

Figura 9: Situação em que um comprador do contrato futuro obtém ganhos

Fonte: Elaboração do autor

56

É importante enfatizar que as análises deste trabalho consideram que, no vencimento, o preço do

futuro do ativo (açúcar) é o mesmo que o preço spot do mercado físico.

3.2.4 HEDGING COM OPÇÕES

A literatura sobre hedging com opções começou a ser explorada com mais intensidade na última

década (BENNINGA e OOSTERHOF, 2004). A maior complexidade embutida nas operações

com opções e a menor liquidez do mercado de opções em comparação com o de contratos futuros

acabam fazendo com que o foco da literatura seja os futuros. No entanto, o mercado de opções

pode ser um bom instrumento de mitigação de risco para alguns produtores de commodities.

Analisaremos neste trabalho se este é o caso para o produtor de açúcar é álcool.

Um produtor de açúcar tem duas maneiras de atuar no mercado de opções. É importante ressaltar

que qualquer seja a operação do produtor com opções de açúcar, ele precisa se beneficiar com a

queda do preço do ativo no mercado físico (preço spot). Dessa maneira, as operações disponíveis

para o produtor são:

1. Comprar opções de venda (puts);

2. Vender opções de compra (calls).

Na operação 1, o produtor é titular da put e, por isso, paga um prêmio r para o lançador da

opção. Na figura 7, apresentado na seção anterior mostra que o comprador da put ganha quando

o preço do ativo cai. Em Hull (2005), o resultado do titular da opção de venda é definido como:

max ( K - TS , 0)

Em que:

K é o strike da opção

TS é o preço spot do ativo

57

O K (strike) é o preço a partir do qual o titular da put vai exercer seu direito, ou peço de

exercício. Ou seja, se o preço à vista do ativo estiver maior que o strike, o titular da put não vai

exercer a opção e não vai realizar ganho nenhum, ou ganho 0 (zero). Caso o preço do ativo esteja

maior que o strike, o titular da put vai exercer a opção e vai realizar um ganho K - TS .

Na operação 2, o produtor é lançador da call. Ou seja, ele dá o direito de exercício ao titular da

call que paga um prêmio por isso. Na figura 7, percebemos que o titular da put ganha com a

queda no preço do ativo. Em Hull (2005), o resultado do lançador da opção de compra é definido

como:

-max ( TS - K, 0) ou min ( K - TS , 0)

Ou seja, quando o preço TS do ativo é maior que o K no vencimento, o lançador da call vai ser

exercido pelo titular e ter uma perda de K - TS . Caso contrário ( TS < K), o titular não vai exercer

a opção e o lançador tem ganho nulo.

O modelo proposto neste trabalho não considerará as opções de venda (puts) como instrumentos

de hedge para o produtor de açúcar e álcool. Isso, porque esse instrumentos possuem uma

liquidez muito inferior a das opções de compra (calls), o que imbutiria um fator adicional de

risco que o modelo não seria capaz de quantificar.

Ainda precisamos contabilizar o prêmio da opção nos ganhos do produtor. Como veremos na

próxima seção, Lapan et al. (1991) define o retorno total com a opção, do ponto de vista do

produtor (hedger), como vr − , em que r é o prêmio da opção e:

pkvv

−== 0

sese

kpkp

<≥

Em que:

k é o strike e p o preço do ativo no vencimento.

58

3.2.5 HEDGING COM FUTUROS CONTRA HEDGING COM OPÇÕES

Como dito anteriormente, as implicações do uso de futuros para a gestão do risco têm sido

exploradas de diversas maneiras há algum tempo. Apenas mais recentemente, o uso de opções

como instrumentos de gestão de risco tem sido estudada com maior intensidade (Hanson et al.,

1999).

O tradeoff entre futuros e opções foi estudado por Lapan, Moschini e Hanson (1991), que criaram

um modelo de otimização conhecido na literatura como LMH. O estudo começa com um cenário

base de precificação não-enviesada e depois consideram o efeito de expectativas diversas. O

resultado primário desse estudo foi que o uso das opções como instrumentos de hedge não

agregam em nada o hedging ótimo do produtor.

Neste trabalho, nos basearemos no modelo LMH para considerar os futuros e opções na gestão de

risco dos produtores de açúcar e álcool. A escolha do modelo LMH está relacionada com o fato

de que ele possui algumas semelhanças com o modelo de minimização de risco proposto neste

trabalho, dentre as quais podemos evidenciar o horizonte de investimento de um período ( 1t ). No

entanto, não necessariamente o modelo deste trabalho obterá os mesmos resultados do modelo

LMH, pois o LMH considera receitas provenientes de um único produto. No nosso caso,

precisamos estender o modelo para incluir dois produtos: o açúcar e o álcool.

O modelo LMH (com um produto) define o retorno do produtor no final do período como sendo:

zvrxpfcby )()( −+−+−=π

Em que:

b é o preço do ativo no mercado físico em 0t ;

y é o volume produzido do ativo;

c é o custo do ativo;

f é o preço inicial em 0t do futuro;

59

p é o preço final em 1t do futuro;

x é a proporção do hedge destinada aos contratos futuros ;

r é o prêmio da opção;

v é o ganho final em 1t com a opção;

z é a proporção do hedge destinada às opções;

O prêmio final da opção v é definido como:

pkvv

−== 0

sese

kpkp

<≥

Em que:

k é strike (preço acordado de venda ou compra no vencimento) da opção.

Os resultados de Lapan, Moschini e Hanson (1991) mostram que em um hedging ótimo x =1 e

z =0, ou seja, as opções não deveriam ser incluídas no portfólio dos produtores. No entanto, a

proposta deste trabalho se difere dos estudos até aqui feitos, pois analisa os instrumentos de

hedge sob a óptica do CVaR como medida de risco. O resultado disso não necessariamente será a

exclusão das opções do portfólio dos produtores.

Quando adicionamos o álcool na equação, temos um modelo um pouco diferente. É importante

lembrarmos que o produtor de álcool e açúcar no Brasil não faz operações com derivativos de

álcool, pois a liquidez desse mercado é muito limitada e o risco aumentaria ainda mais.

Dessa forma, a nova equação se transforma em:

ofaass yvryffxCAxCS )()()()( 10 −+−+−+−=π

Em que:

S é o preço do açúcar no mercado físico em 0t ;

sC é o custo do açúcar produzido;

60

sx é a proporção do açúcar no mix produção ;

A é o preço do álcool no mercado físico em 0t ;

aC é o custo do álcool produzido;

ax é a proporção do álcool no mix produção ;

0f é o preço inicial em 0t do futuro;

1f é o preço final em 1t do futuro;

fy é a proporção do hedge destinada aos contratos futuros;

r é o prêmio da opção;

v é o ganho final em 1t com a opção;

oy é a proporção do hedge destinada às opções;

Há mais de um método disponível para se calcular o r , o prêmio da opção, parâmetro de entrada

para o modelo proposto. Neste trabalho, optamos pela aplicação do método de precificação de

Black-Scholes, amplamente difundido no mercado financeiro e muito utilizado em diversas

mesas de negociação como método oficial. Maiores detalhes sobre o método de precificação de

Black-Scholes podem ser econtrados no Anexo 4 deste trabalho. Não apresentaremos o modelo

de precificação no corpo deste trabalho, por se tratar de um método de apoio que não faz parte do

modelo principal.

Além disso, uma nova variável adicionada ao modelo é o mix de produção ix , que também será

consideradda quando o risco for minimizado e o retorno maximizado. As variáveis iy que já

estavam no modelo LMH inicial, quando somadas ( fy + oy ) representam o razão de hedge do

produtor, ou seja, quanto da produção está protegida. Na próxima seção nos aprofundaremos

nesse tema.

61

3.2.6 A RAZÃO DE HEDGE

Uma das variáveis a ser encontradas no modelo proposto neste estudo é a razão de hedge, ou

hedge ratio. A razão de hedge, que pode assumir qualquer valor entre 0 (zero) e 1 (um), indica a

porcentagem da produção que está hedgeada com instrumentos derivativos. Isto é, quanto mais

próximo de 1 (um) a razão de hedge estiver, menor o risco de preço do produtor, pois todo o

prejuízo em um mercado (i.e. queda do preço do ativo leva a perda no mercado físico) será

compensado em outro (i.e. queda do preço do ativo leva a ganho no mercado de derivativos).

Assumimos aqui um mercado de derivativos não enviesado.

Se por um lado o risco diminui quanto maior for a razão de hedge, por outro o retornos positivos

ficam limitados. Se um produtor não hedgeado observa um aumento do preço spot no mercado

físico, sua receita com vendas aumenta. Se um produtor hedgeado observa um aumento do preço

spot no mercado físico, o aumento de sua receita com vendas é total ou parcialmente anulado

pela operação de hedge no mercado de derivativos. Assim, a grande questão é descobrir qual a

razão de hedge ótima.

Há um considerável número de artigos que tratam a determinação da razão de hedge ótima

baseados em diferentes critérios. Essencialmente, essa literatura sugere que a razão de hedge

pode ser classificada como minimizadora de risco de portfólio ou maximizadora de utilidade

(CHEN et al., 2008). As razões de hedge que são minimizadoras de risco são obtidas por meio de

minimizações de medidas de risco específicas (variância, VaR, semivariância, etc.). As razões de

hedge que são maximizadoras de utilidade são obtidas com a maximização da função utilidade,

que leva em conta simultaneamente risco e retorno (EDERINGTON, 1979; JOHNSON, 1960 e

MYER e THOMPSON, 1989). Nesses casos, também são usadas diversas medidas de risco.

A razão de hedge que será encontrada pelo nosso modelo é caracterizada como maximizadora de

utilidade, considera risco e retorno, levando em conta também outras variáveis existentes no

problema. No entanto, na literatura pouco se desenvolveu em termos de maximização da função

62

utilidade utilizando o CVaR como medida de risco. Ainda, há poucos estudos que consideram

retornos e riscos operacionais (de produção) e de hedge na mesma carteira. Dessa maneira, uma

das propostas do presente trabalho de formatura é construir um modelo capaz de encontrar a

razão de hedge maximizadora da função utilidade do produtor de açúcar e álcool usando como

medida de risco o CVaR e levando em conta a parcela operacional do produtor. Ainda, como

veremos, incluiremos o fator η de aversão ao risco, que quando manipulado altera o resultado

ótimo da razão de hedge. O parâmetro de aversão ao riscoη mede o “apetite” do produtor ao

risco. Ou seja, o tamanho do risco que o produtor está disposto ficar exposto para alcançar uma

maior probabilidade de retornos mais altos. Intuitivamente, já podemos falar que quanto maior o

η , menor o “apetite” ao risco e maior a razão de hedge. Ou seja, quanto maior o η , maior a

importância dada ao risco, em relação ao retorno.

Como dito anteriormente, a conceito básico do hedging é combinar as posições spot e futuras

(incluindo opções), criando um portfólio que reduz o risco de flutuações indesejadas do preço

spot. Seja tS e tF os preços spot e futuro de um ativo, respectivamente. Então, podemos definir

um portfólio hedgeado como sendo (CHEN et al., 2000):

fSh hRRR += (1)

Em que:

ttS SSR −= +1

ttf FFR −= +1

h é a razão de hedge

Em Ederington (1979), a razão de hedge minimizadora de risco é encontrada minimizando-se a

variância de hR . Ainda, outra forma de encontrar a razão de hedge minimizadora de risco foi

proposta por Lien e Shaffer (1999), que minimizaram o coeficiente de risco MEG (Mean-

Extended-Gini), )( hv RΓ , definido abaixo:

)))(,1(,()( 1−−=Γ ηη hhhv RGRCovR (2)

63

Em que:

G é a função de probabilidade acumulada

η é o parâmetro de aversão ao risco

As razões de hedge minimizadoras de riscos discutidas acima ignoram o retorno do portfólio

hedgeado, ou seja, são razões de hedge minimizadoras de risco apenas, não são maximizadoras

de utilidade (não consideram simultaneamente risco e retorno).

Um exemplo de razão de hedge maximizadora de utilidade, que considera risco e retorno, é o

conhecido Sharp hedge ratio proposto por Howard e D’Antonio (1984):

h

h iREσ

θ−

=)(

(3)

Em que:

i é a taxa livre de risco (no Brasil a Selic)

No entanto, o Sharpe ratio não incorpora explicitamente o parâmetro de aversão ao risco. Uma

razão de hedge maximizadora de utilidade que incorpora o parâmetro de aversão ao risco foi

proposta por Hsin et al. (1994), em que a razão de hedge é obtida a partir da maximização da

seguinte função risco-retorno:

2

21)();),(( hhh REREV ησησ −= (4)

Em que:

2hσ é a variância dos retornos do portfólio

η é o parâmetro de aversão ao risco

Ou seja, a razão de hedge proposta por Hsin et al. (1994) utiliza a variância como medida de risco

do portfólio, mas considera o retorno na função objetivo. Dessa maneira, ainda damos um passo

64

adicional neste trabalho, pois a razão de hedge a ser encontrada no nosso modelo é maximizadora

de utilidade, e será encontrada a partir da minimização da seguinte função risco-retorno (que

utiliza o CVaR como medida de risco):

)(),),(( hh REFFREV −= αα ηη (5)

Em que:

[ ]{ }+−−

+= ayxfEaaxF ),()1(

1),(αα = CVaR

Apesar de V ser uma função que será minimizada, a maximização de –V é um procedimento

equivalente (max [ αηFRE h −)( ]).

Dessa maneira, uma das propostas inovadoras do presente trabalho de formatura é encontrar a

razão de hedge maximizadora da função utilidade do produtor de açúcar e álcool usando como

medida de risco o CVaR.

3.3 MODELOS DE SELEÇÃO DE PORTFÓLIO

Nesta seção, dois modelos clássicos de seleção de portfólio serão discutidos. O primeiro, criado

em 1952 por Markowitz, usa como medida de risco a variância. Enquanto isso, o segundo

modelo, proposto recentemente por DiClemente (2002), com o mesmo fundamento de Markowitz

utiliza como medida de risco o CVaR. Além disso, analisaremos o modelo proposto por

Alexander et al. (2006) que minimiza o risco de um portfólio de derivativos utilizando o CVaR.

3.3.1 MODELO DE MARKOWITZ E A TEORIA MODERNA DE GESTÃO DE CARTEIRAS

65

Em 1952, o The Journal of Finance publicou um artigo chamado “Portfolio Selection”

desenvolvido por Harry Markowtiz. As idéias originadas nesse artigo fundaram a base do que

hoje é conhecido como a Teoria Moderna de Gestão de Carteiras ou MPT (Modern Portfolio

Theory). No início, o interesse levantado nesse estudado foi relativamente baixo, mas ao passar

do tempo a comunidade financeira passou a adotar essas teorias e hoje, 50 anos mais tarde, a

maioria dos modelos financeiros mais sofisticados se baseiam nesses mesmos princípios. De uma

maneira simplista, a MPT oferece uma base para construir portfólios baseado na performance

esperada dos investimentos e a aversão ao risco do investidor. A MPT também é conhecida como

análise média-variância.

Uma ideia muito explorada pelo modelo de Markowitz é a diversificação. Para quantificar essa

idéia, Markowitz utilizou a variância que se relaciona com a correlação (veja discussão da

variância na seção anterior). Com isso ele queria mostrar que a concentração de todo o capital

em investimentos de retorno muito correlacionados pode implicar em um risco muito elevado.

Isso porque se um investimento tem um retorno negativo, é muito provável que os outros também

terão dada a alta correlação entre eles. Dessa maneira, a principal contribuição de Markowitz foi

demonstrar que a carteira formada por investimentos de correlação inferior a 0 (zero) pode

resultar em uma menor variância do que simplesmente a soma das variâncias de cada

investimento.

Markowitz (1952) diz que o problema fundamental de um portfólio pode ser formulado de duas

maneiras. A primeira delas o investidor deseja minimizar o risco em relação a um dado retorno r

e segunda ele deseja maximizar o retorno para um dado risco. A medida usada por Markowitz

para medir o risco foi a variância. A medida usada para retorno esperado foi a média dos

retornos.

Markowitz define retorno esperado como:

∑=

=N

iii rwR

1

Em que:

66

iw é o peso do investimento i na carteira

ir é o retorno esperado do investimento i

Markowitz define variância como:

∑∑= =

=N

i

N

jjiij ww

1 1

2 σσ

Em que:

iw é o peso do investimento i na carteira

jw é o peso do investimento j na carteira

ijσ é a covariância entre os investimentos i e j

Dessa forma, Markowitz cria o conceito de fronteira eficiente, ou fronteira de risco-retorno.

Como apresentado acima há duas formas de analisar a fronteira: para um determinado risco, qual

o retorno esperado, ou para um determinado retorno, qual o risco mínimo.

O problema da determinação ótima de um portfólio de investimento, em que determinamos o

retorno mínimo e minimizamos o risco, pode ser definido da seguinte maneira:

Min ∑= wwxg )(

Sujeito a

GwrN

iii ≥∑

=1

11

=∑=

N

iiw

0≥iw ; Ni ,,1L=

Para tornar a análise de fronteira eficiente mais concreta, apresentamos um exemplo prático de

um investidor que possui uma carteira com os dois investimentos: AInv e BInv . Nesse exemplo,

67

ainda apresentaremos a fronteira eficiente para esse investidor. Os retornos esperados nos

próximos 10 períodos são:

Período Inv A Inv B 1 20 -3 2 6 -5 3 -3 26 4 12 -4 5 16 2 6 3 14 7 16 4 8 -3 20 9 -6 24 10 14 0

Tabela 1: Retorno dos investimentos

Dessa forma, temos:

Inv A Inv Bμ 7.50 7.80σ 8.880 11.444ρ entre A e B -0.853 Tabela 2: Principais métricas dos investimentos

Para a construção da fronteira para esse investidor construiremos 9 cenários, variando Aw e Bw :

Cenários wA wB σ A+B μ A+B 1 10% 90% 9.553 7.77 2 20% 80% 7.696 7.74 3 30% 70% 5.904 7.71 4 40% 60% 4.26 7.68 5 50% 50% 3.017 7.65 6 60% 40% 2.779 7.62 7 70% 30% 3.743 7.59 8 80% 20% 5.288 7.56 9 90% 10% 7.041 7.53

Tabela 3: Variações dos pesos dos investimentos, do risco e do retorno

68

Dessa forma, a fronteira é mostrada no gráfico a seguir:

7.50

7.55

7.60

7.65

7.70

7.75

7.80

0.000 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000

Risco

Reto

rno

Gráfico 4: Fronteira eficiente (risco vs. retorno)

Fonte: Elaboração do autor

A fronteira apresentada acima pode ser chamada de eficiente para esse investidor que possui os

dois investimentos em seu portfólio. Isso quer dizer que qualquer outro investimento abaixo

dessa fronteira, não será eficiente, ou seja, não terá um nível de risco compatível com seu retorno

quando comparado com os investimentos já existentes. A fronteira do gráfico 4 é o resultado de

um exemplo simples proposto neste trabalho e não representa um portfólio real. Uma fronteira

eficiente calculada de forma mais detalhada não terá dois retornos diferentes para um mesmo

risco.

Quando pensamos na carteira representada por todos os ativos eficientes à disposição dos

investidores, conseguimos construir uma fronteira eficiente para o mercado. É importante

ressaltar que diferentes investidores se situam em pontos distintos da linha de fronteira eficiente,

conforme sua propensão ao risco. Ou seja, quanto maior for a aversão ao risco do investidor,

69

menor o risco de seu portfólio resultante e menor o retorno esperado desse portfólio. Resumimos

então com a figura 10 abaixo o processo de investimento baseado na MPT.

Figura 10: Diagrama do processo de investimento baseado na MPT

Fonte: Elaboração do autor

3.3.2 MODELO DE DI CLEMENTE – CVAR

A teoria moderna de gestão de portfólio assume que o retorno do ativo tem uma distribuição

normal, o que nem sempre é verdade. Dados estatísticos mostram que essas distribuições muitas

vezes são assimétricas e possuem caudas pesadas (fat tail). Consequentemente, os portfólios

provenientes da minimização das variâncias podem não ser eficientes. Sabe-se que apenas

quando a distribuição do retorno for elíptica, o critério da MPT é correto. Em outros casos não-

elípticos, esse critério baseado na variância pode estar muito longe do ótimo (veja discussão

sobre as diferentes medidas de risco no tópico anterior).

Dessa maneira, Di Clemente (2002) propõe um modelo de seleção de portfólio baseado na

minimização de outra medida de risco, o CVaR (Conditional Value-at-Risk). Como discutido

anteriormente, o CVaR possui propriedades melhores que a variância e o VaR. As principais

70

delas são a coerência e o fato de que ela consegue analisar a cauda da distribuição do retorno dos

ativos que compõem o portfólio.

O modelo proposto por Di Clemente é muito semelhante ao modelo de Markowitz. Inclusive, Di

Clemente propõe a construção de uma fronteira eficiente baseada na minimização do CVaR,

como a teoria moderna de gestão de portfólio faz com a variância.

Dessa maneira, o modelo apresentado anteriormente, em que a função objetivo )(xg é a variância

(representada por ∑ww ), agora será o CVaR. Em Rockafellar e Uryasev (2002), o CVaR é

definido da seguinte maneira:

[ ]{ }+−−

+= αβ

αα ),()1(

1),( yxfEaxF

Em que:

[ ]+− ayxf ),( = +][t = max{0,t}

α é o VaR (Value-at-Risk) do portfólio

β é o nível de significância

A função ),( yxf é a distribuição de perdas do portfólio, em que nRXx ⊂∈ é o vetor de

decisão que representa o portfólio, e nRYy ⊂∈ são os cenários adotados para um determinado

conjunto de retornos dos ativos nos períodos t.

A expressão [ ]+− ayxf ),( é um fator que dificulta a minimização do CVaR. Para contornar essa

situação, criamos variáveis auxiliares tLP que substituirão [ ]+− ayxf ),( e para a qual serão

definidas restrições que fazem com que obedeçam a max{0,t}.

A vantagem dessa abordagem das variáveis auxiliares é que conseguimos transformar um modelo

relativamente complexo em um modelo para o qual podemos utilizar programação linear para a

minimização. Além disso, a partir da função apresentada, é possível se obter o VaR (Value-at-

Risk) e o CVaR simultaneamente.

71

Apesar de que o modelo deste trabalho está fundamentado no modelo proposto por Di Clemente,

é preciso haver uma adaptação para o caso de definição da razão de hedge ótima. Como

definimos anteriormente, há dois tipos de modelos que trabalham de maneira diferente ao

encontrar o hedge ótimo. O primeiro deles é um minimizador de risco e o segundo um

maximizador de utilidade. O modelo proposto aqui é um maximizador de utilidade, ou seja, ao

mesmo tempo em que minimiza o risco, maximiza o retorno. Fazemos isso incluindo na função

objetivo o retorno do portfólio.

Para notarmos a diferença entre os dois modelos (o nosso e o do Di Clemente) iremos apresentá-

los, em sequência, abaixo. Apresentaremos o modelo completo de DiClemente e apenas a

simplificação da função objetivo do modelo proposto, pois a essa altura ainda não revisamos

todos os conceitos necessários para a construção do modelo completo, com suas restrições.

Mesmo assim as diferenças entre esses dois modelos poderão ser notadas.

Modelo proposto por Di Clemente:

Min ∑−

= −−+

1

1 )1(1

)1(1 M

ttLP

Mβα

Sujeito a

α−−≥∑=

− i

N

iititt wPPLP )(

1,,1 },,1{ Mt K∈∀

0≥tLP

∑=

≥N

iii Gwr

1

∑=

=N

iiw

1

1

0≥iw ; Ni ,,1K=

Em que:

i=1,...,N são os ativos

t=1,...,M são os cenários

72

M é o número de cenários

β é o nível de significância

α é o VaR (Value-at-Risk) do portfólio, para o nível de significância β

itP , é o preço do ativo i no cenário t

iw é o peso do ativo i no portfólio total

G é o retorno esperado mínimo do portfólio selecionado

tLP são as variáveis auxiliares que substituem [ ]+− ayxf ),(

ir é o retorno esperado

Simplificação da função objetivo do modelo proposto neste trabalho (a ser minimizada):

)()1(

1)1(

1 1

1h

M

tt RELP

Ma −⎥

⎤⎢⎣

⎡−−

+ ∑−

=βη

3.3.3 MODELO DE ALEXANDER ET AL. – CARTEIRA COM DERIVATIVOS

Alexander et al. (2006) apresentam um modelo de minimização de risco de portfólio constituído

por derivativos. Eles utilizam a mesma metodologia de minimização de risco para duas medidas

de risco: o VaR (Value-at-Risk) e o CVaR (Conditional Value-at-Risk). Os autores concluem que

resultados melhores são obtidos minimizando o CVaR juntamente com os custos do portfólio.

Dado o portfólio x , Alexander et al. (2006) definem o retorno ),( tSxf de um instrumento

derivativo, para um período de tempo t > 0, como sendo:

)(),( 0VVxSxf tTt −−=

Em que, para qualquer tempo t [ ]),(),...,,( 11 tSVtSVV tn

deft = .

73

Aqui, chamaremos 0VV t − de V∂ . Dessa maneira, o retorno dR proveniente das operações de

derivativos do nosso modelo pode ser representado da seguinte maneira:

VhRd ∂=

Em que:

h é a razão de hedge do produtor ou quanto da produção está protegida.

Podemos perceber que quanto maior a razão de hedge, maior a exposição do produtor aos

resultados dos instrumentos de derivativos de açúcar.

Dessa maneira, uma das maneiras que Alexander et al. (2006) minimizaram o risco do portfólio

foi:

Min [ ]+

=∑ −∂−

−+

M

i

Ti xV

M 1)(

)1(1 αβ

α

Sujeito a:

1)( 0 =xV T ;

rxV T =∂ )( ;

uxl ≤≤ .

Ou seja, os autores utilizam o CVaR como medida de risco e adicionaram o retorno mínimo do

portfólio de derivativos nas restrições.

Além de nosso modelo utilizar o mesmo conceito de minimização de risco de Alexander et al.,

por meio do CVaR, ele utiliza o cálculo de retorno com derivativos proposto pelos autores.

No próximo capítulo, analisaremos o modelo proposto neste trabalho.

74

4 MODELO PROPOSTO

Como dito anteriormente, o modelo proposto neste trabalho tem o objetivo de analisar as

estratégias de hedging do produtor de açúcar e álcool e definir o mix de produção ótimo sempre

considerando as restrições de produção. É muito importante que as restrições de produção sejam

inclusas no modelo para que a resposta ótima seja factível do ponto de vista do modelo de

produção de álcool e açúcar utilizado pelos usineiros no Brasil. Isso incrementa a esse artigo uma

limitação quanto à flexibilidade de produção.

Para a construção do nosso modelo final, utilizamos uma série de conceitos de gestão de risco de

portfólio, que incluem minimização de risco da carteira resultante e maximização do retorno dos

ativos que compõe a carteira.

Serão apresentadas duas versões do modelo. A primeira versão se trata de uma otimização apenas

com futuros, desconsiderando as opções, pois os futuros são instrumentos menos complexos e de

maior conhecimento dos produtores de açúcar e álcool. Enquanto isso, a segunda versão do

modelo irá explorar o uso das opções como instrumentos de hedge. A separação dessas duas

análises dará uma clareza maior em relação à relevância do uso das opções como intrumentos de

hedge por produtores de açúcar e álcool.

Alexander et al. (2006) construíram um modelo para a seleção de ativos de hedge que compõem

uma carteira de derivativos que minimiza o risco e define um retorno mínimo. Utilizamos o

modelo de Alexander et al. para quantificarmos o retorno das operações de hedging no mercado

de derivativos de açúcar e, com isso, tornar possível a definição da razão de hedge. Também, a

partir dos conceitos de Chen et al. (2000), pudemos enquadrar a razão de hedge encontrada pelo

nosso modelo como sendo uma maximizadora de utilidade e não apenas uma minimizadora de

risco. Além disso, utilizamos como medida de risco o CVaR (Conditional Value-at-Risk).

As principais diferenças entre o nosso modelo e o construído por Alexander et al. são: 1)

consideramos a receita do produtor no mercado físico, fonte primária de ganhos, e 2) incluímos

75

na função objetivo o retorno do produtor, ao invés de ser uma restrição. A segunda diferença dá

ao nosso modelo a capacidade de encontrar o ponto ótimo entre o risco e o retorno do produtor

sem termos que assumir um retorno mínimo.

Além disso, usamos conceitos utilizados por Di Clemente (2002) para a aplicação do CVaR

(Conditional Value-at-Risk), medida de risco utilizada no modelo. Foi preciso construir variáveis

auxiliares para que uma otimização linear fosse possível para a minimização do risco da carteira.

Dessa maneira, o modelo proposto neste trabalho, que resulta de diferentes conceitos e definições

é capaz de:

1) Encontrar a razão de hedge ótima para o produtor de açúcar e álcool;

2) Definir o mix de produção ideal entre açúcar e álcool que maximiza os ganhos do

produtor.

O modelo utiliza preços históricos de açúcar, álcool e derivativos de açúcar (futuros e opções)

como parâmetros de entrada do modelo. Ou seja, assumimos neste trabalho que cenários de

preços futuros tendem a se comportar de maneira semelhante àqueles observados no passado.

Essa é uma premissa que fundamenta toda a análise proposta nesse estudo. Como estamos mais

preocupados com a forma como os preços dos ativos variam entre si, essa abordagem facilita a

análise uma vez que já considera, implicitamente, todas as possíveis relações de preços entre os

diferentes ativos. Uma alternativa a essa análise seria, por exemplo, utilizar simulação de Monte

Carlo para os preços futuros de açúcar, álcool e derivativos de açúcar. Para tanto, precisaríamos

definir todas as possíveis relações entre os preços dos diferentes ativos e criar cenários diversos.

Essa outra abordagem pode ser desenvolvida em trabalhos posteriores.

As principais características do modelo proposto são:

1) Considera as restrições de produção de álcool e açúcar;

2) Utiliza o CVaR (Conditional Value-at-Risk) como medida de risco;

76

3) Encontra a razão de hedge maximizadora de utilidade, que leva em conta o risco e o

retorno;

4) Utiliza o parâmetro de aversão ao risco η , que mede o “apetite” de exposição ao risco

do produtor;

5) Utiliza derivativos futuros (incluindo opções, na segunda versão do modelo) como

instrumentos de hedge.

Esse modelo se difere de qualquer outro analisado até então principalmente porque todos esses

fatores, que consideramos importantes para o estudo, são analisados simultaneamente.

Dessa maneira, apresentamos a primeira versão do modelo construído, que não considera as

opções como possíveis instrumentos de hedge.

4.1 PRIMEIRA VERSÃO DO MODELO – OTIMIZAÇÃO SEM OPÇÕES

Função Objetivo é minimizar:

( ) ( ) ( )[ ]∑∑==

∂+−+−+−−⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−

+M

ksu

ksuhidhid

khidaniani

kanisusu

ksu

M

kk hFxCSxCSxCS

MY

M 11

1)1(

αη

Sujeito a:

(1) 0≥kY , },,1{ Mk K∈∀ ;

(2) ( ) ( ) ( ) α−∂+−+−+−≥ suk

suhidhidkhidaniani

kanisusu

ksuk hFxCSxCSxCSY , },,1{ Mk K∈∀ ;

(3) susu xh ≤≤0 ;

(4) 1=++ hidanisu xxx ;

(5) sususu lsxli ≤≤ ;

(6) anianiani lsxli ≤≤ ;

77

(7) hidhidhid lsxli ≤≤ ;

(8) etahidanieta lsxxli ≤+≤ .

Em que os parâmetros (inputs) são:

η é o parâmetro de aversão ao risco;

M é o número de cenários de preços passados;

β é o nível de significância

α representa o VaR (Value-at-Risk), definido pelo próprio modelo; ksuS é o preço físico do açúcar no cenário k ;

suC é o custo de produção de açúcar;

kaniS é o preço físico do etanol anidro no cenário k ;

aniC é o custo de produção de etanol anidro;

khidS é o preço físico do etanol hidratado no cenário k ;

hidC é o custo de produção de etanol hidratado;

ksuF∂ é o retorno das operações com futuros no cenário k ;

Em que as variáveis (outputs) são:

kY são as variáveis auxiliares utilizadas para converter o problema de minimização do CVaR em

programação linear;

sux representa a quantidade de açúcar produzido em relação à produção total (%)

anix representa a quantidade de etanol anidro produzido em relação à produção total (%)

hidx representa a quantidade de etanol hidratado produzido (%)

suh é a razão de hedge;

Podemos perceber que nesse modelo o retorno do produtor faz parte da função objetivo.

Minimizar - hR (retorno do portfólio), é equivalente à maximizar + hR . Dessa maneira,

78

conseguimos juntar em uma única função objetivo o risco e o retorno da carteira de ativos, de

forma a minimizar o risco e maximizar o retorno simultaneamente. Como dito anteriormente, o

cálculo da média dos retornos é feito a partir de preços históricos, pois assumimos que cenários

passados se repetirão no futuro.

Acrescentamos, também, na função objetivo o custo de produção do açúcar, do etanol anidro e do

etanol hidratado. Dessa maneira, conseguimos eliminar o efeito dos custos no preço final do

ativo. Os dados de custo de produção são levantados pela ESALQ anualmente.

As restrições 1 e 2 fazem parte do artifício de criação de variáveis auxiliares para que seja

possível a utilização da programação linear no modelo que utiliza o CVaR (Conditional Value-at-

Risk) como medida de risco. Temos que o CVaR é (ROCKAFELLAR e URYASEV, 2002):

[ ]{ }+−−

+= ayxfEaxF ),()1(

1),(β

αα

O artifício das variáveis auxiliares permite que eliminemos o fator [ ]+− ayxf ),( da função

objetivo e torna possível a utilização da programação linear para a minimização do risco da

carteira.

A restrição 3 restringe a razão de hedge ao volume de açúcar produzido. Como o produtor só

utiliza o mercado de derivativos de açúcar para se hedgear, devido à liquidez, o volume hedgeado

não pode ser mais do que o volume de açúcar produzido. Se o produtor faz hedge de mais de

100% de sua produção de açúcar, passa a atuar como especulador no mercado de derivativos.

Eliminamos, então, essa possibilidade.

A restrição 4 garante que o modelo distribua toda a produção entre açúcar, etanol anidro e etanol

hidratado.

As restrições 5-8 garantem que não a capacidade de produção das usinas não seja excedida tanto

para o açúcar como para o etanol. Como explicado no capítulo 2 deste trabalho, a maior parte das

79

usinas de açúcar e álcool no Brasil tem uma flexibilidade de produção limitada. Essa

flexibilidade varia entre 40% e 60%. Ou seja, as usinas são capazes de produzir no máximo 60%

de açúcar ou álcool. Se o mercado de açúcar estiver muito melhor que o de álcool, por exemplo, a

produção de açúcar será de no máximo de 60% do total, enquanto a de álcool será de no mínimo

40%. Dessa forma os valores de suli e etali são 0,4, enquanto os valores de suls e etals são 0,6.

Como a produção de etanol é divida entre anidro e hidratado, precisamos criar uma restrição que

garante que a soma desses dois produtos não ultrapasse 60% da produção total. Por isso, criamos

etali e etals que nada mais são que somas dos limites inferior e superior do anidro e do hidratado.

4.2 SEGUNDA VERSÃO DO MODELO – OTIMIZAÇÃO COM OPÇÕES

A segunda versão do modelo é muito semelhante à primeira, pois os conceitos utilizados são

exatamente os mesmos. No entanto, incluiremos as opções na análise.

A Função Objetivo da segunda versão é minimizar:

( ) ( ) ( )[ ]∑∑==

∂+∂+−+−+−−⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−

+M

kO

ksuF

ksuhidhid

khidaniani

kanisusu

ksu

M

kk hOhFxCSxCSxCS

MY

M 11

1)1(

αη

Sujeito a:

(1) 0≥kY , },,1{ Mk K∈∀ ;

(2) ( ) ( ) ( ) α−∂+∂+−+−+−≥ OksuF

ksuhidhid

khidaniani

kanisusu

ksuk hOhFxCSxCSxCSY ,

},,1{ Mk K∈∀ ;

(3) suOF xhh ≤+≤0 ;

(4) 1=++ hidanisu xxx ;

80

(5) sususu lsxli ≤≤ ;

(6) anianiani lsxli ≤≤ ;

(7) hidhidhid lsxli ≤≤ ;

(8) etahidanieta lsxxli ≤+≤ .

Em que os parâmetros (inputs) são:

η é o parâmetro de aversão ao risco;

M é o número de cenários de preços passados;

β é o nível de significância

α representa o VaR (Value-at-Risk), definido pelo próprio modelo; ksuS é o preço físico do açúcar no cenário k ;

suC é o custo de produção de açúcar;

kaniS é o preço físico do etanol anidro no cenário k ;

aniC é o custo de produção de etanol anidro;

khidS é o preço físico do etanol hidratado no cenário k ;

hidC é o custo de produção de etanol hidratado;

ksuF∂ é o retorno das operações com futuros no cenário k ;

ksuO∂ é o retorno das operações com opções no cenário k ;

Em que as variáveis (outputs) são:

kY são as variáveis auxiliares utilizadas para converter o problema de minimização do CVaR em

programação linear;

sux representa a quantidade de açúcar produzido em relação à produção total (%)

anix representa a quantidade de etanol anidro produzido em relação à produção total (%)

hidx representa a quantidade de etanol hidratado produzido (%)

81

Fh é a razão de hedge relativa aos instrumentos futuros;

Oh é a razão de hedge relativa ao instrumentos de opção;

4.3 PARÂMETROS DO MODELO

Faremos agora uma análise dos parâmetros utilizados no nosso modelo. Apresentaremos as

características de cada parâmetro e, em alguns casos, seus cálculos e fontes.

4.3.1 η - O PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO

O parâmetro de aversão ao risco mede o “apetite” ao risco do produtor de açúcar e álcool.

Dependendo de como definimos esse parâmetro, o modelo nos dá um determinado resultado. Por

isso, decidimos realizar uma análise de sensibilidade do η e observar a dependência dos

resultados em relação a esse parâmetro. Variamos o parâmetro de 0 (zero) a 3 (três). A decisão de

variar o parâmetro de aversão ao risco até o 3 (três) foi feita, pois acima desse número as

variáveis do modelo não apresentaram mais alterações nos testes feitos separadamente.

Apresentaremos o resultado dessa sensibilidade no capítulo seguinte e observaremos que quanto

maior o parâmetro de aversão ao risco menor o risco do portfólio resultante.

4.3.2 M - NÚMERO DE CENÁRIOS

Decidimos usar o maior número de cenários possíveis no modelo. Um dos fatores que

determinou o tamanho de M foi a quantidade de preços históricos físicos de açúcar e álcool

oferecidos pela ESALQ. Os preços mais antigos de etanol anidro e hidratado datam de setembro

de 2000. Além disso, a análise de variações de preços dos ativos da carteira será observada nos

82

dias de vencimento do contrato futuro. Os vencimentos desses contratos acontecem quatro vezes

ao ano, nos meses de fevereiro, abril, junho e setembro. Levando em conta esses dois fatores

(quantidade de dados históricos e dias de vencimento de contrato futuro) ficamos com um

número de cenários igual a 40. Dessa forma, observamos 40 variações dos preços de açúcar,

etanol anidro, etanol hidratado e de derivativos de açúcar futuros.

4.3.3 ksuS , k

aniS , khidS , k

suF∂ , ksuO∂ - PREÇOS DE AÇÚCAR, ETANOL E DERIVATIVOS

Os preços físicos do açúcar, do etanol anidro e do etanol hidratado são disponibilizados pela

ESALQ. Como dito acima, os dados históricos foram limitados pela quantidade de preços de

etanol anidro e hidratado (desde setembro de 2000).

Em relação à variação dos preços dos contratos futuros de açúcar, utilizamos os dados oferecidos

pela própria bolsa de negociação, a ICE (Intercontinental Exchange). O que importa para a

análise dos contratos futuros de açúcar não é o preço do contrato em si, mas sua variação. Por

isso, construímos uma série com a variação do preço do contrato futuro de açúcar e assumimos

que a decisão de hedge foi realizada um ano antes do vencimento. Ou seja, a série é uma variação

do preço contrato futuro em um ano.

Em relação aos ganhos com a utilização das opções, utilizamos o conceito apresentado por

Lapan, Moschini e Hanson (1991), que define o retorno com opções or , como sendo:

vrro −=

Em que:

r é o prêmio da opção;

v é o ganho final em 1t com a opção;

83

Para o cálculo do prêmio da opção r , utilizamos o método de Black-Sholes, apresentado no

Anexo 4 deste trabalho. O modelo de Black-Scholes apresentado no anexo foi construido

utilizando a linguagem Visual Basic disponível no excel, diferente do modelo do trabalho que foi

construído no MatLab.

Os preços de açúcar e etanol oferecidos pela ESALQ estão em unidade diferentes, o que

prejudicaria a análise feita pelo nosso modelo. Por isso, precisamos utilizar o preço em uma

mesma unidade de medida e por maior facilidade de manipulação escolhemos o US$ por ATR. A

tabela abaixo mostra os fatores de conversão para o açúcar e álcool.

Açúcar Etanol Anidro Etanol Hidratado Fatores de conversão para ATR 1.0495 1.7651 1.6913

Tabela 4: Fatores de conversão dos para preços em US$/ATR

Fonte: UNICA

Dessa maneira, ao convertemos os preços para uma mesma base (US$ / ATR), obtemos a

seguinte série histórica apresentada na página seguinte.

Ainda, no Anexo I apresentamos a tabela com os preços dos ativos nas datas de vencimento, bem

como a variação do preço dos contratos futuros de açúcar, antes do ajuste proposto acima.

84

Datas de Vencimento

Açúcar (US$/kg ATR)

Anidro (US$/kg ATR)

Hidratado (US$/kg ATR)

Variação Futuro

Ganho com Opção

29-Sep-00 -0.001 -0.061 0.007 -0.063 -0.032 28-Feb-01 0.003 -0.050 -0.004 -0.093 -0.069 30-Apr-01 0.020 -0.064 -0.003 -0.068 -0.039 29-Jun-01 0.013 -0.067 -0.011 -0.024 0.015 28-Sep-01 0.011 -0.047 -0.004 0.065 0.044 28-Feb-02 -0.005 -0.056 -0.048 0.069 0.042 30-Apr-02 -0.013 -0.059 -0.048 0.073 0.041 28-Jun-02 -0.036 -0.086 -0.084 0.063 0.040 30-Sep-02 0.033 -0.037 -0.032 -0.006 0.024 28-Feb-03 0.123 0.025 0.024 -0.065 -0.037 30-Apr-03 0.093 0.028 0.025 -0.041 -0.016 30-Jun-03 0.006 -0.049 -0.043 -0.026 -0.002 30-Sep-03 -0.006 -0.047 -0.039 0.006 0.030 27-Feb-04 -0.026 -0.090 -0.074 0.046 0.027 30-Apr-04 0.014 -0.078 -0.068 0.013 0.033 30-Jun-04 0.028 -0.074 -0.064 -0.022 0.006 30-Sep-04 0.034 -0.010 -0.008 -0.045 -0.016 28-Feb-05 0.051 0.009 0.009 -0.048 -0.020 29-Apr-05 0.039 0.009 0.010 -0.038 -0.007 30-Jun-05 0.044 0.010 0.010 -0.035 0.001 30-Sep-05 0.089 0.010 0.011 -0.045 -0.005 24-Feb-06 0.272 0.011 0.011 -0.189 -0.147 28-Apr-06 0.251 0.011 0.012 -0.186 -0.147 30-Jun-06 0.248 0.011 0.011 -0.146 -0.104 29-Sep-06 0.137 0.004 0.008 0.015 0.053 28-Feb-07 0.112 -0.002 0.026 0.121 0.077 30-Apr-07 0.093 0.063 0.057 0.191 0.082 29-Jun-07 0.017 -0.055 -0.045 0.166 0.076 28-Sep-07 0.026 -0.058 -0.046 0.039 0.052 28-Feb-08 0.050 -0.009 0.004 -0.069 -0.019 30-Apr-08 0.063 -0.018 0.001 -0.033 0.008 30-Jun-08 0.048 -0.010 0.000 -0.062 -0.020 30-Sep-08 0.089 0.022 0.013 -0.054 -0.008 27-Feb-09 0.197 -0.005 -0.003 0.034 0.068 30-Apr-09 0.204 -0.024 -0.010 0.019 0.052 30-Jun-09 0.185 -0.036 -0.023 -0.068 -0.006 30-Sep-09 0.377 0.039 0.043 -0.225 -0.161 26-Feb-10 0.533 0.111 0.089 -0.251 -0.193 30-Apr-10 0.350 0.007 0.006 -0.001 0.068 30-Jun-10 0.190 0.003 0.006 -0.006 0.075

Tabela 5: Histórico de preços, variações de futuros e ganhos com opções

Fonte: UNICA

85

4.3.4 suC , aniC e hidC - CUSTOS DE PRODUÇÃO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL

A ESALQ realiza estudos anuais para a definição dos custos de produção desses três produtos

(açúcar, etanol anidro e etanol hidratado). Nesse estudo, são considerados diversos fatores de

produção que acarretam em custos diretos e indiretos de produção como preparo do solo, plantio,

tratamentos da planta, colheita, depreciação das máquinas, custos administrativos, remuneração

de capital, etc.

Como exemplo de cálculo de custo de produção, apresentamos a tabela abaixo.

Açúcar Branco (R$/ton) Etanol Anidro (R$/m3) Etanol Hidratado (R$/m3)

Custo da Cana-de-Açúcar 317,90 555,56 501,84COE 282,80 498,13 448,33

Cana de fornecedores 98,91 197,32 168,05Cana própria 183,89 300,81 280,27

Depreciações 12,98 21,24 19,79Remuneração do capital e terra 22,12 36,19 33,72

Custo Industrial 164,50 244,13 220,72Operação industiral 85,00 135,75 119,75

Mão-de-obra 23,65 38,69 36,05Insumos 18,62 27,18 18,58

Químico 11,89 21,49 13,28Eletrodos 0,81 1,32 1,23Lubrificante 1,20 1,96 1,82Eletricidade 1,48 2,42 2,25Embalagem 3,25 - -

Manutenção 35,18 57,55 53,62Material 23,92 39,14 36,46Serviço 11,26 18,42 17,16

Administração industrial 7,54 12,33 11,49Depreciação industrial 28,38 38,69 36,05Custo de Capital Industrial 51,12 69,69 64,93

Custos Administrativos 53,07 86,81 80,89Mão-de-obra 16,40 26,83 25,00Insumos e serviços 28,91 47,29 44,06Capital de giro 7,76 12,70 11,83

Custo Total 535,47 886,50 803,44 Tabela 6: Custos de produção do açúcar branco, etanol anidro e etanol hidratado

Fonte: ESALQ-USP, dados da safra 2008/2009.

86

Como observamos neste capítulo, os custos precisam ser considerados na função objetivo para

refletir o real ganho do produtor com a venda de cada um de seus produtos (açúcar, etanol anidro

e etanol hidratado).

No próximo capítulo, serão mostrados os resultados encontrados pelo modelo.

87

5 RESULTADOS DO MODELO PROPOSTO

No capítulo anterior, foi apresentado um maior detalhamento das duas versões do modelo

proposto neste trabalho, que considera tanto os ganhos do produtor com a venda física do açúcar

e do álcool, quanto o ganho no mercado de derivativos, usado para a proteção contra oscilações

indesejadas dos preços dos ativos. Dessa maneira, o modelo construído com base em diferentes

conceitos apresentados na literatura consegue nos dizer qual é mix de produção e razão de hedge

ideais para um determinado nível de aversão ao risco do produtor de açúcar e álcool.

Podemos dizer, então, que o resultado ótimo encontrado pelo modelo varia de acordo com o

apetite ao risco do produtor. Se o produtor possui uma tolerância maior ao risco, poderá incorrer

em ganhos maiores, mas por outro lado tem uma probabilidade maior de obter perdas grandes.

Apresentaremos neste capítulo de resultados quatro análises para cada uma das versões

propostas. Na primeira análise, assumiremos que o parâmetro η de aversão ao risco do produtor

é igual a zero e interpretaremos o resultado obtido. Em seguida, assumiremos que o parâmetro de

aversão ao risco do produtor é igual a 1, ou seja, o produtor não pode ser classificado como

avesso ao risco nem como não avesso ao riso, está no meio no caminho. Ainda, assumiremos que

o parâmetro de aversão ao risco do produtor é igual a 3, ou seja, possui uma grande aversão ao

risco.

A quarta e última consiste em uma análise de sensibilidade do resultado ao parâmetro η de

aversão ao risco e, com isso, replicaremos de certa forma o conceito de fronteira eficiente

proposto por Markowitz (1952). Com isso, encontraremos o mix de produção ótimo para um

determinado nível de aversão ao risco, que é equivalente a encontrar um retorno mínimo para um

determinado risco, medido aqui pelo CVaR (Conditional Value-at-Risk). Qualquer outro retorno

abaixo do encontrado para um determinado nível de risco estará abaixo da fronteira eficiente

determinada pelo modelo.

88

É importante ressaltar, no entanto, que não são tão pequenas as diferenças entre o modelo de

Markowitz e o proposto neste trabalho, como discutimos no capítulo 3. A maior diferença deve-

se ao fato de que usamos o CVaR (Conditional Value-at-Risk) uma medida de risco robusta que

leva em consideração a cauda da distribuição de perda. Além disso, incorporamos no modelo o

conceito de mercado de derivativos e razão de hedge.

5.1 RESULTADOS DA PRIMEIRA VERSÃO – MODELO SEM OPÇÕES

As análises apresentadas nesta seção são feitas a partir da primeira versão do modelo, que

considera apenas os futuros como insturmentos de hedge, e não inclui as opções.

5.1.1 PRODUTOR COM AVERSÃO AO RISCO NULA (η =0)

Nesta seção, consideraremos um produtor de açúcar e álcool com nenhuma aversão ao risco, ou

parâmetro e aversão ao risco igual a zero. Esse é o caso do produtor com a maior tolerância ao

risco possível, ou seja, o produtor está disposto a correr grandes riscos para obter retornos

maiores.

O resultado da otimização da gestão de portfólio do produtor, encontrada pelo modelo proposto

neste trabalho, é apresentado na tabela abaixo:

Hedge % Açúcar % Anidro % Hidratado CVaR Retorno η = 0 0% 60% 0% 40% 157,9987 0,0566

Tabela 7: Resultado do modelo para η =0 (versão 1)

89

Ou seja, um produtor de açúcar e álcool com aversão ao risco inexistente (η =0) não deveria fazer

hedging no mercado de derivativos. Esse resultado já era previsto, pois quanto menor a razão de

hedge, maior a exposição do produtor ao risco, mas maior a probabilidade de se obter resultados

maiores em um cenário favorável.

A natureza do hedge de proteger o produtor contra uma oscilação indesejável do preço físico do

produto faz com que os riscos do portfólio resultante diminua. O hedge limita tanto a perda

quanto o ganho, diminuindo a volatilidade dos ganhos e, logo, diminuindo o risco do portfólio.

Podemos ver que o CVaR encontrado com o η =0 é 157.9987, que, como veremos mais adiante, é

um número alto (risco alto). Com aumento do parâmetro de aversão ao risco, o risco, aqui

medido pelo CVaR, tende a diminuir assim como o retorno total do portfólio. Pelo menos, esse é

o resultado esperado.

O resultado encontrado com o parâmetro de aversão ao risco nulo foi de US$0,0566 por ATR. Ou

seja, cerca de seis centavos de dólar americano por cada ATR de cana-de-açúcar usado na

produção de açúcar e etanol. Esperamos que com o aumento da aversão ao risco do produtor, esse

resultado diminua.

Em relação ao mix de produção, podemos perceber que um produtor com grande apetite ao risco

deve dedicar o máximo de sua capacidade de produção ao açúcar, ou seja, deve produzir o mix de

produção deve ser 60% de açúcar e 40% de etanol. Isso porque, apesar de a volatilidade histórica

do preço do açúcar ser maior (desvio padrão de 0.12, contra cerca de 0.4 para o etanol), o retorno

com a venda deste produto, considerando o custo e a receita, é superior ao do etanol. Como o

produtor tem um grande apetite ao risco, não se intimida com a maior volatilidade do açúcar.

Ainda, percebemos que toda a produção de etanol é alocada em etanol hidratado. A justificativa

para isso é que o retorno histórico do etanol hidratado, considerando o custo e o retorno, é maior

que o do etanol anidro. No entanto, o etanol anidro possui uma volatilidade histórica menor que o

hidratado. Nesse sentido, podemos dizer que em algum momento da análise de sensibilidade do

parâmetro de aversão ao risco o etanol anidro será preferido em relação ao hidratado. É

90

importante enfatizar que assumimos neste trabalho que cenários futuros tendem a repetir cenários

passados e, por isso, utilizamos dados históricos para o cálculo dos parâmetros do modelo.

5.1.2 PRODUTOR COM PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO IGUAL A 1 (η =1)

Nesta seção, consideraremos um produtor de açúcar e álcool que não pode ser classificado nem

como avesso ao risco ou não avesso ao risco. Comparado com um produtor sem aversão ao risco

(η =0), o produtor com η =1 já precisa ter mais garantias sobre o seu retorno futuro e não corre

tanto risco. Mesmo assim, aceita ter certo risco para obtenção de retornos maiores.

O resultado encontrado pelo modelo com η =1 é apresentado na tabela a seguir:

Hedge % Açúcar % Anidro % Hidratado CVaR Retorno η = 1 40% 40% 0% 60% 0.0290 0.0256

Tabela 8: Resultado do modelo para η =1 (versão 1)

Neste caso, a composição da carteira do produtor já muda completamente. Podemos perceber que

com o aumento da aversão ao risco, o produtor já faz o hedge de toda sua produção de açúcar, ou

40%. Percebemos também, que o mix de produção agora está concentrado no etanol hidratado, ou

seja, o produtor utiliza toda sua capacidade produtiva para o etanol hidratado (60%). Isso ocorre,

pois a volatilidade histórica do açúcar é maior que o do etanol, como dito anteriormente, o que

representa maior risco, apesar de açúcar possuir um retorno histórico. Com esse nível de aversão

ao risco, o produtor já abre mão de retornos maiores para obter certa previsibilidade de retorno no

futuro. No entanto, com esse nível de aversão ao risco o produtor ainda aloca sua produção de

álcool no etanol hidratado, indicando que ainda dá preferência para o retorno maior do hidratado

mesmo esse tendo uma volatilidade e risco maiores.

91

Com toda a produção de açúcar hedgeada, o produtor possui um risco menor quando comparado

ao produtor sem nenhuma parcela de sua produção hedgeada. O CVaR para o produtor de η =1 é

de 0.0290, muito abaixo dos 157,9987 encontrado para o de η =0, o que evidencia o risco menor

com a produção hedgeada.

Por outro lado, o retorno do produtor também é impactado negativamente, indo para US$0,0256

por ATR quando η =1, contra os US$0,0566 por ATR quando η =0.

Percebemos então que um produtor com o parâmetro de aversão ao risco η =1 já possui uma

característica bastante conservadora (hedge total da produção de açúcar). Analisaremos em

seguida o produtor realmente avesso ao risco, com η =3.

5.1.3 PRODUTOR AVESSO AO RISCO (η >3)

Nesta seção, consideraremos um produtor de açúcar e álcool avesso ao risco e, para isso,

determinaremos um parâmetro de aversão ao risco η =3. Abaixo, a tabela com o resultado

encontrado.

Hedge % Açúcar % Anidro % Hidratado CVaR Retornoη = 3 40% 40% 60% 0% 0.0233 0.0189

Tabela 9: Resultado do modelo para η =3 (versão 1)

Em relação o mix de produção, toda a produção que era alocada ao etanol hidratado passou a ser

alocada ao etanol anidro. Isso porque com esse nível de aversão ao risco, o produtor optou por

diminuir a volatilidade dos resultados mesmo comprometendo seus ganhos. Como o etanol

anidro tem uma volatilidade histórica menor, mesmo com um retorno menor, o produtor optou

por alocar toda sua produção de etanol nesse produto.

92

Percebemos também que o CVaR e o retorno diminuíram, consistente com o que já dissemos que

quanto maior a versão ao risco, menor o risco do portfólio resultante e menor o resultado deste

portfólio.

Em seguida, faremos a quarta análise de sensibilidade para encontrarmos uma fronteira eficiente

para o produtor de açúcar e álcool.

5.1.4 SENSIBILIDADE DO PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO η

Nesta seção, como dito anteriormente, analisaremos a variação do resultado do produtor de

açúcar e álcool à medida que aumentamos sua aversão ao risco, variando o parâmetro η . Com

isso, encontraremos uma fronteira eficiente muito parecida com aquela proposta por Markowitz

(1952).

Como já analisamos o resultado para o caso de aversão ao risco nula (η =0), decidimos excluir

esse resultado da segunda análise. Perceberemos nesta seção que o salto do CVaR entre a

primeira iteração, em que η =0, e a segunda iteração, em que em que 0≠η , é muito grande e

distorce a análise.

Faremos com que o parâmetro de aversão ao risco η varie entre 0 e 3. Normalmente para 1<η

dizemos que o produtor não é avesso ao risco, e para 1>η dizemos que o produtor é avesso ao

risco. Levamos o η até 3 para garantir que todos os possíveis resultados. Dessa maneira, o

parâmetro de aversão ao risco será variado no seguinte intervalo:

30 ≤≤η

93

Serão feitas 3.001 iterações no modelo, pois a sensibilidade do resultado do modelo ao parâmetro

η é grande e quanto menor sua variação melhor será a análise e a interpretação do resultado

obtido. Dessa forma, a variação do parâmetro η no modelo é feita da seguinte maneira:

1000)1( −

=cη , { }3001,...,1∈c

Ou seja, a variável auxiliar c assumirá valores entre 1 e 3001, o que nos dará uma variação do η

entre 1 e 3. Podemos perceber que a magnitude do denominado (1000) nos dá uma variação

pequena entre duas iterações consecutivas.

Para a construção de uma fronteira eficiente, analisaremos o comportamento do CVaR

(Conditional Value-at-Risk) e do retorno total do produtor por meio de um gráfico de dispersão.

Espera-se que com o crescimento do parâmetro de aversão ao risco, o risco do portfólio diminua

bem como o retorno total.

Finalmente, abaixo o gráfico resultante da variação do parâmetro de aversão ao risco η :

0.000

0.010

0.020

0.030

0.040

0.050

0.060

0.070

0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060 0.070 0.080

CVaR

Reto

rno

(US$

/ ATR

)

Gráfico 5: Fronteira eficiente do modelo (versão 1)

94

Podemos perceber que o modelo tem uma coerência muito grande, uma vez que preserva a noção

de que o produtor exige um retorno menor para um risco maior, o que já era esperado.

Apresentamos a seguir o comportamento das variáveis da primeira versão do modelo com a

variação do parâmetro de aversão ao risco.

Razão de Hedge

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

Razã

o de

Hed

ge

Gráfico 6: Variação da razão de hedge de acordo com η (versão 1)

Percebemos que a razão de hedge realmente é um mitigador de risco para o produtor de açúcar e

álcool. Ou seja, a utilização de instrumentos derivativos pode ser uma boa alternativa para

produtores que apresentam maior sensibilidade ao aumento do risco de seus portfólios. O

resultado encontrado pelo modelo indica que a partir de certo parâmetro de aversão ao risco

(η =0.980) o produtor passa a fazer hedge de toda sua produção de açúcar e com isso consegue

gerir o portfólio com o risco desejável.

95

% de Açúcar

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

% d

e Açú

car

Gráfico 7: Variação da porcentagem de açúcar na produção de acordo com η (versão 1)

Percebemos que a partir de η =0.963, o produtor deixa de alocar a maior parte da produção em

açúcar e passa a alocar em etanol. Isso ocorre, pois a volatilidade do preço do açúcar é maior e

representa maior risco para o produtor, apesar de possuir um retorno maior. O salto que ocorre

entre 60% e 40% em η =0.963 acontece, pois a variação do parâmetro de aversão ao risco η não

consegue capturar os movimentos menores. Se fizéssemos uma variação menor entre os

parâmetros, encontraríamos uma variação menos brusca. No entanto, conseguimos perceber a

clara migração do mix de produção para ativos menos arriscados a partir de certo nível de apetite

ao risco.

96

% de Etanol Anidro

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

% d

e Eta

nol A

nidr

o

Gráfico 8: Variação da porcentagem de etanol anidro na produção de acordo com η (versão 1)

Ao contrário do que observamos com o açúcar, o etanol anidro ganha relevância na carteira do

produtor à medida que a aversão ao risco aumenta. Isso, porque o preço desse produto apresenta a

menor volatilidade dentre os produtos e o risco resultante diminui à medida que o produtor aloca

sua produção em um produto com menor volatilidade. Por outro lado, como sinalizamos

anteriormente, o resultado do produtor fica comprometido à medida que ele migra para um

produto de menor risco e menor retorno. Por isso, alguma alocação no etanol anidro (22%) só

ocorre acima de η =1.066 e a alocação máxima (60%) acima de η =1.276.

97

% de Etanol Hidratado

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

% d

e Eta

nol H

idra

tado

Gráfico 9: Variação da porcentagem de etanol hidratado na produção de acordo com η (versão 1)

No gráfico encontrado acima, encontramos uma tendência um pouco diferente das descritas até

agora. Podemos ver que a porcentagem do etanol hidratado entre η=0.964 e η =1.065 chega a ser

de 60% e depois cai relativamente rápido até chegar em 0% em η=1.276, quando o etanol anidro

fica 60%. Para entendermos essa tendência, precisamos enxergar que a decisão do produtor é um

trade-off entre os três produtos e no intervalo mencionado (entre η=0.964 e η =1.065) ainda não

é interessante alocar alguma parcela da produção em etanol anidro, mas é interessante alocar

maior parte da produção em etanol hidratado que em açúcar. Em η =1.065, o produtor passa a

alocar sua produção em todos os três produtos (40% em açúcar, 22% em etanol hidratado e 38%

em etanol hidratado), e só a partir de η=1.276 para de produzir etanol hidratado.

Com isso, analisamos todas as variáveis do modelo e como elas se comportam com a variação do

parâmetro de aversão ao risco. Dessa maneira, antes da construção da estratégia ótima de

alocação da produção e da definição da razão de hedge, é muito importante que conhecer a

característica do produtor e qual a relação que ele tem com a exposição ao risco. A partir disso,

encontramos o parâmetro de aversão ao risco do produtor e usamos os conceitos apresentados

98

neste trabalho para definir a estratégia ótima de atuação nos mercados físico e futuro para o

produtor.

5.2 RESULTADOS DA SEGUNDA VERSÃO – MODELO COM OPÇÕES

As análises apresentadas nesta seção são feitas a partir da segunda versão do modelo, que

considera tanto os futuros como as opções como insturmentos de hedge para os

produtores.

5.2.1 PRODUTOR COM AVERSÃO AO RISCO NULA (η =0)

Como na seção 5.1.1, aqui consideraremos um produtor de açúcar e álcool com nenhuma aversão

ao risco, ou parâmetro e aversão ao risco igual a zero.

O resultado da otimização da gestão de portfólio do produtor, encontrada pela segunda versão do

modelo proposto neste trabalho, é apresentado na tabela abaixo:

Hedge

Futuros Hedge

Opções % Açúcar % Anidro %

Hidratado CVaR Retornoη = 0 0% 0% 60% 0% 40% 157.9987 0.0566

Tabela 10: Resultado do modelo para η =0 (versão 2)

Podemos perceber que para o índice de aversão ao risco nula, nada muda em relação à versão 1

do modelo. Ou seja, um produtor de açúcar e álcool com aversão ao risco inexistente (η =0) não

deveria fazer hedging no mercado de derivativos. Esse resultado já era previsto, pois quanto

99

menor a razão de hedge, maior a exposição do produtor ao risco, mas maior a probabilidade de se

obter resultados maiores em um cenário favorável. Isso ocorre independente se o hedge será feito

só com futuros ou também com opções.

O resultado encontrado com o parâmetro de aversão ao risco nulo foi de US$0,0566 por ATR. Ou

seja, cerca de seis centavos de dólar americano por cada ATR de cana-de-açúcar usado na

produção de açúcar e etanol. Esperamos que com o aumento da aversão ao risco do produtor, esse

resultado diminua.

Outras considerações sobre o resultado podem ser encontradas na seção 5.1.1 deste trabalho.

5.2.2 PRODUTOR COM PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO IGUAL A 1 (η =1)

Nesta seção, consideraremos um produtor de açúcar e álcool que não pode ser classificado nem

como avesso ao risco ou não avesso ao risco. Comparado com um produtor sem aversão ao risco

(η =0), o produtor com η =1 já precisa ter mais garantias sobre o seu retorno futuro e não corre

tanto risco. Mesmo assim, aceita ter certo risco para obtenção de retornos maiores.

O resultado encontrado pela segunda versão do modelo com η =1 é apresentado na tabela a

seguir:

Hedge

Futuros Hedge

Opções % Açúcar % Anidro %

Hidratado CVaR Retornoη = 1 40% 0% 40% 0% 60% 0.0290 0.0256

Tabela 11: Resultado do modelo para η =1 (versão 2)

Como no caso anterior (em que η =0), para η =1 o resultado encontrado na segunda versão é

exatamente o mesmo daquele encontrado na primeira versão do modelo. Podemos perceber que

100

com o aumento da aversão ao risco, o produtor faz o hedge de toda sua produção de açúcar, ou

40%, com futuros. No entanto, nada é feito com opções. Dessa forma, para um produtor com

η =1, as opções não agregam em nada em sua decisão de hedge.

Com toda a produção de açúcar hedgeada, o produtor possui um risco menor quando comparado

ao produtor sem nenhuma parcela de sua produção hedgeada. O CVaR para o produtor de η =1 é

de 0.0290, muito abaixo dos 157,9987 encontrado para o de η =0, o que evidencia o risco menor

com a produção hedgeada.

Por outro lado, o retorno do produtor também é impactado negativamente, indo para US$0,0256

por ATR quando η =1, contra os US$0,0566 por ATR quando η =0.

Percebemos então que um produtor com o parâmetro de aversão ao risco η =1 já possui uma

característica bastante conservadora (hedge total da produção de açúcar). Analisaremos em

seguida o produtor realmente avesso ao risco, com η =3. Para maiores detalhes sobre o resultado

encontrado com η =1, consultar a seção 5.1.2 deste trabalho.

5.2.3 PRODUTOR AVESSO AO RISCO (η >3)

Nesta seção, consideraremos um produtor de açúcar e álcool avesso ao risco e, para isso,

determinaremos um parâmetro de aversão ao risco η =3. Abaixo, a tabela com o resultado

encontrado na segunda versão do modelo.

Hedge

Futuros Hedge

Opções % Açúcar % Anidro %

Hidratado CVaR Retornoη = 3 40% 0% 40% 60% 0% 0.0233 0.0189

Tabela 12: Resultado do modelo para η =3 (versão 2)

101

Mais uma vez, o resultado não mudou em relação a primeira versão do modelo. Ou seja as

opções não devem ser usadas com instrumentos de hedge por produtores com nível de aversão ao

risco η =3. Dessa maneira, percebemos que para nenhum dos três níveis de aversão ao risco η =1,

η =2 e η =3 o produtor deve usar opções como instrumentos de hedge. Mais adiante, será feita

uma análise com variações menores do nível de aversão ao risco η para que seja identificado em

que nível o uso de opções como instrumentos de hedge pode ser melhor que o uso de futuros.

Para maiores detalhes sobre o resultado encontrado com η =3, consultar a seção 5.1.2 deste

trabalho. Em seguida, faremos a quarta análise de sensibilidade para encontrarmos uma fronteira

eficiente para o produtor de açúcar e álcool para a versão 2 do modelo.

5.2.4 SENSIBILIDADE DO PARÂMETRO DE AVERSÃO AO RISCO η

Nesta seção, será analisada a variação do resultado da segunda versão do modelo à medida que a

aversão ao risco do produtor cresce, variando o parâmetro η . Como na seção 5.1.4, será

encontrada uma fronteira eficiente, mas agora para a segunda versão do modelo proposto.

Será excluída da análise de sensibilidade o caso em que η =0, já analisado anteriormente. Como

dito anteriormente, o salto do CVaR entre a primeira iteração, em que η =0, e a segunda iteração,

em que em que 0≠η , é muito grande e distorce a análise.

Como na seção anteiror, o parâmetro de aversão ao risco η irá variar entre 0 e 3. O η vai até 3

para garantir que serão considerados todos os possíveis resultados. Serão feitas novamente 3.001

iterações.

Para a construção de uma fronteira eficiente, foi feito um gráfico de dispersão que permitirá fazer

a análise do comportamento do CVaR (Conditional Value-at-Risk) e do retorno total do produtor.

102

0.000

0.010

0.020

0.030

0.040

0.050

0.060

0.070

0.000 0.010 0.020 0.030 0.040 0.050 0.060

CVaR

Reto

rno

(US$

/ ATR

)

Gráfico 10: Fronteira eficiente do modelo (versão 2)

Pode-se notar uma grande semelhança entre a fronteira eficiente da segunda versão do modelo

(gráfico 10), com opções, e a fronteira eficiente da primeira versão (gráfico 5). No Anexo 2, são

apresentadas as tabelas com os resultados numéricos que serviram para a construção da fronteira

efiente. Nessas tabelas, percebe-se que a diferença entre os resultados das versões 1 e 2 é de fato

pequena. Ou seja, o mix de produção e a razão de hedge ideias para um produtor, com uma

determinada aversão ao risco, que utiliza opção como instrumento de hedge são muito parecidos

com aqueles do produtor que utiliza apenas futuros como instrumento de hedge. Isso nos faz

concluir que o uso das opções nas estratégias de hedging de um produtor pode ser dispensado.

Além disso, não são considerados neste trabalho o custo da operação com opções, que

normalmente são maiores que os custos dos futuros e ainda possuem menos liquidez.

Um resultado semelhante foi encontrado por Lapan et al. (1991), que analisaram o uso de futuros

e opções como instrumentos de hedge e concluiram que as opções não são atrativas do ponto de

vista de risco e retorno, uma vez que essa relação para os futuros é linear e melhor definida.

103

Dessa maneira, é possível encontar na literatura estudos que embasam a descoberta deste

traballho.

Apresentamos a seguir o comportamento das variáveis da segunda versão do modelo com a

variação do parâmetro de aversão ao risco.

Hedge com Futuros

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

Hedg

e com

Fut

uros

Gráfico 11: Variação do hedge com futuros de acordo com η (versão 2)

Percebe-se que o hedge com futuros ótimo na segunda versão pouco muda em relação a razão de

hedge encontrada na primeira versão do modelo. Na verdade, há uma mudança na curva de

sensilbilidade, pois o hedge com futuros se torna 32.65% em η =0.936 quando incluímos as

opções, enquanto que na versão sem opção, a razão de hedge se torna 32.65% em η =0.857. No

entanto, essa influência das opções não é relevante do ponto de vista de risco e de retorno para o

produtor, como pode-se constatar na fronteira eficiente resultante da segunda versão (gráfico 10).

104

Hedge com Opções

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

Hedg

e com

Opç

ões

Gráfico 12: Variação do hedge com opções de acordo com η (versão 2)

A segunda versão do modelo recomenda uma alocação de capital em opções de venda no

seguinte intervalo de aversão ao risco: 935.0638.0 ≤≤η . No entanto, há dois pontos que tornam

essa alocação de capital em opções pouco factível. Primeiro, a faixa de aversão ao risco em que é

recomendado vender opções de compra é bastante curta ( 935.0638.0 ≤≤η ) e qualquer

interpretação errada sobre o nível de aversão ao risco do produtor pode mudar o resultado.

Segundo, como dito anteriormente, em termos de risco e retorno essa estratégia de hedge

utilizando opções não é relevante ao produtor do ponto de vista de retorno. Dessa maneira, a

pouca importância das opções na estratégia de hedge do produtor é evidenciada neste trabalho.

105

% de Açúcar

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

% d

e Açú

car

Gráfico 13: Variação da porcentagem de açúcar na produção de acordo com η (versão 2)

Não houve mudança alguma na alocação da produção em açúcar entre a primeira versão do

modelo, sem opções, e a segunda versão.

% de Etanol Anidro

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

% d

e Eta

nol A

nidr

o

Gráfico 14: Variação da porcentagem de etanol anidro na produção de acordo com η (versão 2)

106

Não houve mudança alguma na alocação da produção em etanol anidro entre a primeira versão do

modelo, sem opções, e a segunda versão.

% de Etanol Hidratado

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00 2.20 2.40 2.60 2.80 3.00

Parâmetro de Aversão ao Risco - η

% d

e Eta

nol H

idra

tado

Gráfico 15: Variação da porcentagem de etanol hidratado na produção de acordo com η (versão 2)

Não houve mudança alguma na alocação da produção em etanol hidratado entre a primeira versão

do modelo, sem opções, e a segunda versão.

5.3 PRIMEIRA VERSÃO VS. SEGUNDA VERSÃO DO MODELO

Como observado na seção anterior, o uso das opções como instrumentos de hedge para o

produtor de açúcar e álcool é muito pouco relevante. Isso, porque em termos de risco e retorno as

opções não alteram as condições observadas quando se utiliza apenas futuros como instrumentos

107

de hedge. Apesar de a segunda versão do modelo recomendar uma alocação em opções entre

935.0638.0 ≤≤η , o impacto no retorno e no CVaR da carteira resultante é muito pequena

(Anexo 2). Além disso, esse intervalo pode ser pequeno quando consideramos que a medição da

aversão ao risco do produtor pode ser subjetiva e qualquer mudança implicaria no

desinvestimento das carteiras opções.

Também, é importante ressaltar que a segunda versão do modelo proposto não é capaz de

mensurar os riscos de liquidez e os custos de transação que o uso de opções implica. Isso, se

quantificado, aumentaria o risco do uso de opções e as tornaria ainda menos relevantes e atrativas

para o produtor de açúcar e álcool.

108

6 CONCLUSÃO

Apresentadas todas as considerações relevantes sobre o estudo realizado e o modelo construído

neste trabalho, pode-se então concluir sobre o método aplicado e os resultados atingidos com a

otimização de seleção de portfólio proposta. Além disso, serão indicadas as possíveis extensões

do presente trabalho para estudos futuros.

6.1 CONCLUSÕES DO TRABALHO E CONSIDERAÇÕES PERTINENTES

A proposta inicial deste trabalho era utilizar um método de seleção de portfólios capaz de

otimizar a relação entre risco e retorno da carteira de ativos de um produtor de açúcar e álcool e,

com isso, definir estratégias operacionais e financeiras ótimas. Nessa carteira, foram consideradas

não apenas os ativos provenientes da atividade operacional do produtor (açúcar e álccol), como

também os ativos das atividades financeiras no mercado de derivativos relacionadas com o hedge

da produção que também geram variações de receitas relevantes (futuros e opções).

Para a escolha de um modelo de seleção de portfólios que atenderia às necessidades do problema

proposto foi preciso estudar com certo detalhamento a Teoria Moderna de Gestão de Carteiras,

criada por Markowitz em 1952. A partir disso, foi possível aprofundar a análise e identificar as

semelhanças e diferenças entre o problema proposto neste trabalho e o problema resolvido pela

Teoria Moderna de Gestão de Carteiras.

O primeiro ponto levantado no trabalho foi o método de medição que seria utilizada no cálculo

do risco do portfólio resultante do modelo de otimização para seleção de portfólio. Partimos de

três medidas de risco distintas e conseguimos justificar, com base na literatura existente, a

escolha do CVaR como a melhor medida de risco a ser utilizada em nosso modelo. Desse ponto

em diante, foi necessária uma análise mais aprofundada sobre a razão de hedge, e um estudo mais

detalhado de como incorporá-la em um modelo de otimização para seleção de portfólios como

variável. Vimos que segundo classificação encontrada da na literatura existente, a razão de hedge

109

proposta neste trabalho é maximizadora de utilidade, ou seja, considera simultaneamente o risco

e o retorno do produtor.

Com todos esses conceitos em mente, foi possível construir um modelo de seleção de portfólio

capaz de encontrar o mix de produção e razão de hedge ideais para o produtor de açúcar e álcool.

A partir disso, decidiu-se construir duas versões do modelo proposto, uma que incluisse apenas

os futuros como instrumentos de hedge e outra que considerasse também opções de compra

(calls).

Dessa maneira, propomos a construção de uma fronteira eficiente (risco vs. retorno) para cada

uma das versões do modelo variando-se o parâmetro de aversão ao risco η , que reflete a

propensão, ou “apetite”, ao risco do produtor e quanto maior for, maior será a importância dada

ao risco, em relação ao retorno.

As fronteiras eficientes encontradas pelo modelo, independente do tipo de derivativos que

estavam sendo considerados (com ou sem opção), são semelhantes àquela apresentada por

Markowitz em seu estudo de risco e retorno. Ou seja, quando maior a aversão ao risco do

produtor, menor o risco da carteira resultante e menor seu retorno esperado. No entanto, como

dito anteriormente, essa fronteira eficiente foi construída com base no CVaR, uma medida de

risco coerente e que atende nossas necessidades de manipulação dos ativos da carteira. A

fronteira proposta por Markowitz foi construída com base em outra medida de risco, a variância.

Investidores com diferentes propensões ao risco estão situados em diferentes pontos da fronteira

eficiente. Para cada ponto da fronteira, há um mix de produção e uma razão de hedge diferentes,

ou seja, as estratégias operacionais e financeiras dos produtores mudam para cada investidor de

acordo com o risco que está disposto a se expor. Quanto maior a propensão ao risco, maior a

alocação pelo modelo de otimização em ativos de maiores retornos, independentemente do risco

desses ativos. À medida que se aumenta a aversão ao risco (diminui a propensão ao risco), mais

importância se dá ao risco oferecido pelos ativos em que o modelo alocará recursos.

110

Finalmente, ao comparar as fronterias eficientes de cada uma das duas versões construídas,

percebe-se que a diferença entre elas é relativamente pequena. Ou seja, a inclusão de opção na

estratégia de hedge do produtor de açúcar e álcool praticamente não altera o retorno esperado.

Conclusão semelhante já havia sido encontrada por Lapan et al. (1991) que realizaram uma

análise de comparação da relação entre risco e retorno entre estratégias de risco com e sem

opções semelhante àquela desenvolvida neste trabalho. Ainda, foram apresentados neste trabalho

os gráficos do comportamento de cada variável do modelo construído de acordo com a variação

do parâmetro η de aversão ao risco (de zero a três) e discutimos o comportamento.

Dessa maneira, pode-se identificar duas contribuições claras deste trabalho. A primeira é a

criação de um modelo capaz de construir a fronteira eficiente para um produtor de açúcar e

álcool, ou seja, um modelo capaz de definir o mix de produção e a razão de hedge ideais de um

produtor, de acordo com sua aversão ao risco. A segunda é a constatação de que a utilização de

opções como instrumentos de hedge não altera de maneira relevante a fronteira eficiente de um

produtor que utiliza apenas futuros. Ou seja, pode-se constuir um portfólio ótimo de ativos

operacioinais e financeiros para o produtor de açúcar e álcool que não utiliza opções. No entanto,

é importante salientar que a definição de aversão ao risco é subjetiva e pode acarretar em uma

escolha imprópria de estratégias de produção e hedging.

6.2 POSSÍVEIS EXTENSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Como ressaltado no início deste trabalho, o modelo proposto considera apenas os períodos inicial

e final (modelo uniperíodo), 0t e 1t . Ou seja, o produtor toma a decisão em 0t e o resultado disso

será observado em 1t . Dessa maneira, uma possível extensão deste trabalho é a construção de um

modelo capaz de considerar vários períodos futuros (modelo multiperíodo) no processo de

otimização e, com isso, achar uma resposta mais prática para os produtores de açúcar e álcool,

que se deparam com tomadas de decisão cotidianas que envolvem mais de um período futuro.

111

Para isso, é necessária a construção de diversos cenários de preços futuors para cada um dos

ativos considerados na carteira do produtor. Uma proposta de construção de cenários futuros é a

Simulação de Monte Carlo, já bastante utilizada nos artigos de seleção de portfólios, que

necessita de relações entre os preços dos ativos em questão. Também, pode-se aplicar o mesmo

conceito de construção de cenários de preços futuros aos custos de produção dos ativos em

questão. Isso seria um pouco mais simples, uma vez que as relações entre os custos são muito

mais evidentes e de simples construção quando comparadas às relaçoes entre os preços desses

ativos. Neste trabalho, utilizamos médias de preços e custos históricos dos ativos da carteira.

Além disso, é importante ressaltar que os resultados encontrados pelo modelo proposto neste

trabalho dependem da consistência dos parâmentros de entrada. Caso esses parâmetros variem, o

resultado ótimo pode sofrer alterações consideráveis e se torno inconsistente. Por isso, um

próximo passo do modelo construído poderia ser a aplicações de conceitos de modelagem

robusta, que faria com que os resultados encontrados, apesar de não-ótimos, fossem consistentes

mesmo com a variação controlada dos parâmetros dos quais o modelo depende.

Dessa maneira, este trabalho pode servir de base para uma série de aplicações futuras na área de

seleção de portfólios para produtores de commodities. Principalmente com que diz respeito a mix

de produção e razão de hedge do produtor.

112

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115

ANEXO I – HISTÓRICO DOS PREÇOS DE AÇÚCAR E ETANOL

Abaixo, a tabela com o histórico dos preços de açúcar, etanol anidro e etanol hidratado da

ESALQ e a variação dos preços dos contratos futuros e ganhos com a venda de opção de compra. Datas de Vencimento

Açúcar (US$/kg ATR)

Anidro (US$/kg ATR)

Hidratado (US$/kg ATR)

Variação Futuro

Ganho com Opção

29-Sep-00 0.240 0.352 0.403 -0.063 -0.032 28-Feb-01 0.220 0.326 0.346 -0.093 -0.069 30-Apr-01 0.222 0.273 0.324 -0.068 -0.039 29-Jun-01 0.205 0.249 0.294 -0.024 0.015 28-Sep-01 0.178 0.235 0.265 0.065 0.044 28-Feb-02 0.183 0.260 0.224 0.069 0.042 30-Apr-02 0.174 0.256 0.225 0.073 0.041 28-Jun-02 0.120 0.149 0.115 0.063 0.040 30-Sep-02 0.153 0.161 0.139 -0.006 0.024 28-Feb-03 0.254 0.281 0.244 -0.065 -0.037 30-Apr-03 0.250 0.340 0.291 -0.041 -0.016 30-Jun-03 0.163 0.212 0.182 -0.026 -0.002 30-Sep-03 0.147 0.210 0.183 0.006 0.030 27-Feb-04 0.125 0.133 0.124 0.046 0.027 30-Apr-04 0.166 0.151 0.132 0.013 0.033 30-Jun-04 0.174 0.144 0.126 -0.022 0.006 30-Sep-04 0.191 0.280 0.238 -0.045 -0.016 28-Feb-05 0.226 0.344 0.295 -0.048 -0.020 29-Apr-05 0.216 0.352 0.302 -0.038 -0.007 30-Jun-05 0.236 0.381 0.327 -0.035 0.001 30-Sep-05 0.293 0.399 0.343 -0.045 -0.005 24-Feb-06 0.493 0.416 0.357 -0.189 -0.147 28-Apr-06 0.476 0.426 0.366 -0.186 -0.147 30-Jun-06 0.466 0.411 0.353 -0.146 -0.104 29-Sep-06 0.349 0.399 0.347 0.015 0.053 28-Feb-07 0.326 0.397 0.385 0.121 0.077 30-Apr-07 0.316 0.528 0.451 0.191 0.082 29-Jun-07 0.248 0.343 0.299 0.166 0.076 28-Sep-07 0.269 0.361 0.316 0.039 0.052 28-Feb-08 0.318 0.492 0.440 -0.069 -0.019 30-Apr-08 0.333 0.479 0.436 -0.033 0.008 30-Jun-08 0.327 0.512 0.451 -0.062 -0.020 30-Sep-08 0.327 0.485 0.402 -0.054 -0.008 27-Feb-09 0.393 0.347 0.298 0.034 0.068 30-Apr-09 0.417 0.344 0.313 0.019 0.052 30-Jun-09 0.422 0.371 0.331 -0.068 -0.006 30-Sep-09 0.647 0.549 0.482 -0.225 -0.161 26-Feb-10 0.805 0.665 0.551 -0.251 -0.193 30-Apr-10 0.622 0.500 0.426 -0.001 0.068 30-Jun-10 0.446 0.476 0.411 -0.006 0.075

Tabela 13: Histórico de preços, variações de futuros e ganhos com opções – antes do ajuste. Fonte: UNICA

116

ANEXO II – TABELAS DE RESULTADO COM VARIAÇÃO DO η

Primeira versão do modelo, sem incluir opções na análise:

Hedge % Açúcar % Anidro % Hidratado CVaR Retorno 0 < η ≤ 0.856 0% 60% 0% 40% 0.0623 0.0566 0.857 ≤ η ≤ 0.962 33% 60% 0% 40% 0.0528 0.0486 0.963 ≤ η ≤ 0.978 39% 40% 0% 60% 0.0294 0.0260 0.979 ≤ η ≤ 1.065 40% 40% 0% 60% 0.0290 0.0256 1.066 ≤ η ≤ 1.103 40% 40% 22% 38% 0.0267 0.0232 1.104 ≤ η ≤ 1.274 40% 40% 29% 31% 0.0260 0.0223 1.275 ≤ η ≤ 3.000 40% 40% 60% 0% 0.0233 0.0189

Tabela 14: Variáveis de acordo com η (versão 1)

Segunda versão do modelo, com inclusão de opções na análise:

Hedge

Futuros Hedge

Opções % Açúcar % Anidro % Hidratado CVaR Retorno 0 < η ≤ 0.637 0% 0% 60% 0% 40% 0.0623 0.0566 0.638 ≤ η ≤ 0.935 0% 47% 60% 0% 40% 0.0597 0.0550 0.936 ≤ η ≤ 0.963 33% 0% 60% 0% 40% 0.5280 0.4860 0.963 ≤ η ≤ 0.978 39% 0% 40% 0% 60% 0.0294 0.0260 0.979 ≤ η ≤ 1.065 40% 0% 40% 0% 60% 0.0290 0.0256 1.066 ≤ η ≤ 1.103 40% 0% 40% 22% 38% 0.0267 0.0232 1.104 ≤ η ≤ 1.274 40% 0% 40% 29% 31% 0.0260 0.0223 1.275 ≤ η ≤ 3.000 40% 0% 40% 60% 0% 0.0233 0.0189

Tabela 15: Variáveis de acordo com η (versão 2)

117

ANEXO III– CÓDIGO DO MODELO DE VARIAÇÃO DO η

A seguir, o código utilizado para a construção da fronteria eficiente (sem opções), em que

variamos o parâmetro de aversão ao risco η do produtor e encontramos as variáveis ótimas.

M = 40; %Numero de Cenarios% beta = 0.05; %Nivel de Significancia% Retorno=[]; %Zerar a matriz Retorno% Cvar=[];%Zerar a matriz Cvar% Xsu= [];%Zerar a matriz Xsu% Xani= [];%Zerar a matriz Xani% Xhid=[];%Zerar a matriz Xhid% hedge=[];%Zerar a matriz hedge% for c=1:+1:3001 %Variar c de 1 ate 3001% N = (c-1)/1000; %Variar N de 0 a 3, somando 0,001 em cada iteracao% AUX=[]; vetorcv=[]; SU=[]; VarF=[]; ANI=[]; HID=[]; %_____________________________________________________________________% %Leitura dos históricos no Excel% SU = xlsread('C:\Users\Owner\Documents\MATLAB\work\Precos3','AJ8:AJ47'); %Le %os os precos spot do acucar% ANI = xlsread('C:\Users\Owner\Documents\MATLAB\work\Precos3','AK8:AK47'); %Le %os precos spot do etanol anidro% HID = xlsread('C:\Users\Owner\Documents\MATLAB\work\Precos3','AL8:AL47'); %Le %os precos spot do etanol hidratado% VarF = xlsread('C:\Users\Owner\Documents\MATLAB\work\Precos3','AM8:AM47'); %Le %os precos futuros do acucar (sugar 11)% %_____________________________________________________________________% %Matriz f: Funcao Objetivo% coefaux = N*(1/M)*(1/(1-beta)); %Coeficientes das variaveis auxiliares% coefXsu = -sum (SU)/ M; %Coeficiente da variavel Xsu% coefXani = -sum (ANI)/ M; %Coeficiente da variavel Xani%

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coefXhid = -sum (HID)/ M; %Coeficiente da variavel Xhid% coefh = -sum (VarF)/ M; %Coeficiente da variavel hsu% f = [1*N,coefaux*ones(1,M),coefXsu,coefXani,coefXhid,coefh] %Funcao objetivo%; %fim da construcao da matriz f% %_____________________________________________________________________% %Matriz A: restricao% A1 = [zeros(M,1);-ones(M,1);0;0;0];%Zeros na primeira coluna (coeficientes de alfa)% A2 = [-eye(M);-eye(M); zeros(1,M); zeros(1,M); zeros(1,M)]; %Coeficientes de Yi>=0 e inicio de Yi>=...% HX=[-1,0,0,1]; %restricao de que o hedge ratio (de acucar) nao pode ser maior %que a procentagem do acucar produzido, em relacao ao total% LBAH = [0,-1,-1,0]; %limites inferiores% UBAH = [0,1,1,0]; %limites superiores% A3=[zeros(M,4);SU,ANI,HID,VarF;HX;LBAH;UBAH]; A=[A1, A2, A3]; %Matriz de restricao% %_____________________________________________________________________% %Construcao da matriz b% b=[zeros(2*M+1,1);-0.40;0.60]; %_____________________________________________________________________% %Construcao das matrizes de restricao Xsu+Xani+Xhid=1% Aeq = [zeros(1,M+1),1,1,1,0]; beq=[1]; %_____________________________________________________________________% %LB e UB% LB= -Inf*ones(1,M+4); LB(M+2)=0.40; LB(M+3)=0; LB(M+4)=0; LB(M+5)=0;

119

UB= Inf*ones(1,M+4); UB(M+2)=0.60; UB(M+3)=0.60; UB(M+4)=0.60; UB(M+5)=1; %___________________________________________________________________% %otimizar% X = LINPROG(f,A,b,Aeq,beq,LB,UB) %Plotar os dados% AUX = [zeros(M+1,1);X(M+2);X(M+3);X(M+4);X(M+5)]; Retorno(c) = -f * AUX vetorcv = [1, ones(1,M)*(1/(M*(1-beta))),0,0,0,0]; Cvar(c) = vetorcv * X Xsu(c)= X(M+2) Xani(c)= X(M+3) Xhid(c)= X(M+4) hedge(c)= X(M+5) end

120

ANEXO IV– MODELO DE BLACK - SCHOLES

Preço da opção de compra (CALL):

)()( 21 dNXedSNC rT−−=

Preço da opção de venda (PUT):

)()( 12 dSNdNXeP rT −−−= −

Em que:

T

TrXS

σ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛++⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛

=2

ln2

1 TdT

TrXS

d σσ

σ

−=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛

= 1

2

2

2ln