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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA CAMILA CHULUCK DA FONSECA Produção e utilização do biopolímero poli(hidroxibutirato) (PHB) em embalagens alimentícias Lorena 2014

Produção e utilização do biopolímero poli(hidroxibutirato ... · Agradeço imensamente aos meus pais e irmãos, por todo amor e apoio ... Eugênia e Tamara. Obrigada pelo companheirismo

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

CAMILA CHULUCK DA FONSECA

Produção e utilização do biopolímero

poli(hidroxibutirato) (PHB) em embalagens

alimentícias

Lorena

2014

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CAMILA CHULUCK DA FONSECA

Produção e utilização do biopolímero

poli(hidroxibutirato) (PHB) em embalagens

alimentícias

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo como requisito parcial para conclusão da Graduação do curso de Engenharia Bioquímica.

Orientadora: Profa. Drª Rita de Cássia Lacerda Brambilla Rodrigues.

Lorena

2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,

PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A

FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena

Fonseca, Camila Chuluck da

Produção e utilização do biopolímero poli(hidroxibutirato) (PHB) em

embalagens alimentícias/ Camila Chuluck da Fonseca. - Lorena, 2014.

64 f.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso

de Graduação de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo.

Orientadora: Rita de Cássia Lacerda Brambilla Rodrigues.

1. Plásticos biodegradáveis 2. Embalagens de alimentos 3. Biodegradação;

4. Biopolímeros I.Rodrigues, Rita de Cássia Lacerda Brambilla, Orient.

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Dedicatória

Aos meus pais, José Guilherme e Silvana.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente aos meus pais e irmãos, por todo amor e apoio

durante toda minha vida e principalmente durante a faculdade.

À Profa. Dra. Rita, que se dispôs a me orientar neste trabalho dando o

suporte e atenção.

Às minhas queridas amigas, Amanda, Cinthia, Isabele e Nuala, por todo

carinho e amizade nos últimos anos.

Àquelas que foram minhas companheiras de república, Andréa, Luíza,

Eugênia e Tamara. Obrigada pelo companheirismo e pela paciência.

À Escola de Engenharia de Lorena, a seus professores e funcionários pela

contribuição no meu desenvolvimento intelectual, profissional e pessoal.

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RESUMO

DA FONSECA, C. C. Produção e utilização do biopolímero poli(hidroxibutirato) (PHB) em embalagens alimentícias. 2014. 64f. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

Os plásticos convencionais são produzidos a partir de derivados do petróleo, um recurso natural não renovável, e apresentam diversos problemas ambientais decorrentes principalmente de sua difícil decomposição que pode levar centenas de anos. Devido às suas características, os polímeros plásticos são amplamente utilizados, inclusive para embalagens alimentícias. Dessa forma, considerando o elevado volume de resíduos plásticos gerado, é necessário buscar alternativas mais sustentáveis de produção, utilização e descarte, visando diminuir os impactos causados ao meio ambiente. Nesse contexto, têm-se os bioplásticos, materiais obtidos a partir de recursos naturais renováveis, que se degradam na natureza em ambientes biologicamente ativos em curto espaço de tempo. Um dos bioplásticos utilizáveis para este fim é o poli(hidroxibutirato) (PHB), que pode ser produzido à partir da cana-de-açúcar. Sendo assim, o presente trabalho, tem por objetivo demonstrar as etapas envolvidas na produção do PHB e avaliar o potencial de substituição dos polímeros convencionais pelo PHB em embalagens alimentícias. Para a realização deste trabalho, foi feito um estudo exploratório-descritivo utilizando o método da pesquisa bibliográfica para revisão de literatura, com consulta a fontes bibliográficas de diversas referências especializadas nos assuntos abordados e concluiu-se, que de fato, o PHB é uma boa alternativa para substituição dos polímeros convencionais em embalagens plásticas alimentícias, uma vez que, este polímero pode ser facilmente processado pelos métodos de transformação de termoplásticos convencionais, além de já existir domínio da tecnologia necessária, para sua produção em escala industrial. Como os maiores impactos ambientais dos plásticos sintéticos se concentram nas fases de obtenção das matérias-primas e de descarte, a utilização do PHB em embalagens de alimentos traz, como ganho para o meio ambiente e de toda a sociedade, a redução do volume de resíduo plástico presente. Palavras-Chave: Bioplásticos; Embalagens alimentícias; PHB; Biodegradação; Biopolímeros

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ABSTRACT

DA FONSECA , C. C. Production and utilization of the biopolymer poly(hydroxybutyrate) (PHB) in food packaging 2014. 64f. Completion of course work – Escola de Engenharia de Lorena , Universidade de São Paulo , Lorena , 2013

Conventional plastics are produced from petroleum derivatives, a natural non-renewable resource, and have diverse environmental problems mainly due to its difficult decomposition that can take hundreds of years. Due to its characteristics, plastic polymers are widely used, including for food packaging. Thus, considering the high volume of plastic waste generated, it is necessary to look for more sustainable alternatives for production, utilization and disposal in order to reduce the impacts to the environment. In this context, there are bioplastics materials made from renewable natural resources, which degrade naturally in biologically active environments in a short period of time. A bioplastic usable for this purpose is the poly(hydroxybutyrate) (PHB), which can be produced from cane sugar. Thereby the present work aims to demonstrate the steps involved in the production of PHB and evaluate the potential replacement of conventional polymers by PHB in food packaging. For this work, an exploratory-descriptive study was done using the method of bibliographical research for literature review, consulting various specialized sources of bibliographic references on the subjects covered; it was concluded, indeed, that PHB is a good alternative to replace conventional polymers in food packaging plastics, since this polymer can be easily processed by conventional methods of processing thermoplastics, in addition to the existing knowledge of the technology needed for its production on an industrial scale. As the largest environmental impacts of synthetic plastics focus on the stages of obtaining raw materials and its disposal, the use of PHB in food packaging brings, as a gain for the environment and the whole society, the reduction of the volume of existing plastic waste. Keywords: Bioplastics; Food packaging; PHB; biodegradation; biopolymers

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Polietileno: relação monômero – polímero. .......................................... 15

Figura 2 - Reação de formação do politereftalto de etileno pela presença de

grupos reativos nos monômeros. ......................................................... 16

Figura 3 - Biopolímeros plásticos e seus monômeros produzidos por fermentação

microbiana combinadas com a síntese química. .................................. 18

Figura 4 - Estrutura de amilose (a) e amilopectina (b), componentes do amido ... 20

Figura 5 - Estrutura molecular do PLA .................................................................. 21

Figura 6 - Processo de produção de polilactato. ................................................... 22

Figura 7 - Grânulos de PHAs observados por microscopia de epifluorescência

após coloração com Azul de Nilo. ........................................................ 23

Figura 8 - Estrutura geral dos PHAs ..................................................................... 24

Figura 9 - Fórmulas estruturais do (a) ácido 3-butírico e do (b) polímero PHB ..... 25

Figura 10 - a) Estrutura helicoidal proposta para a molécula de PHB (a barra

representa o eixo da cadeia polimérica); b) Projeções da célula unitária

do PHB nos planos e . ................................................................. 26

Figura 11 - Estrutura do copolímero poli(3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato)... 28

Figura 12- Via biossintética de produção de PHB e PHB-HV por R.eutropha. Os

genes que codificam as principais enzimas estão indicados entre

parêntesis. Fonte: (POIRIER, 2002) ..................................................... 31

Figura 13 - Planta da PHB Industrial S/A em Serrana-SP .................................... 32

Figura 14 - PHB BYOCYCLE® produzido pela PHB Industrial. ............................ 33

Figura 15 - Fluxograma do processo de produção do PHB. ................................. 34

Figura 16 - Vias de degradação da cadeia polimérica .......................................... 38

Figura 17 - Ciclo de vida do PHB .......................................................................... 41

Figura 18 - Aspectos a serem observados para o desenvolvimento de embalagens

............................................................................................................. 43

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação dos tipos de plásticos (ASTM 6400-04). ........................ 18

Tabela 2 - Produtores industriais de alguns polímeros biodegradáveis e suas

aplicações. ........................................................................................... 19

Tabela 3 - Capacidade de acúmulo de PHA de alguns microrganismos .............. 29

Tabela 4 - Potencial de substituição dos polímeros convencionais pelos

bioplásticos. ......................................................................................... 47

Tabela 5 - Propriedades físicas do PHB e alguns copolímeros em comparação

com plásticos ....................................................................................... 47

Tabela 6 - Aplicações de alguns bioplásticos........................................................ 48

Tabela 7 - Ciclo de injeção dos potes e tampas em PHB e PP. ........................... 51

Tabela 8 - Condições de injeção comparativas entre PHB e PP. ......................... 51

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LISTA DE SIGLAS

PA Poliamida

PBS Poli(butilsuccinato)

PBT Poli(tereftalato de butila)

PC Policarbonato

PCL Poli(caprolactona)

PE Polietileno

PEAD Polietileno de alta densidade

PEBD Polietileno de baixa densidade

PET Poli(tereftalato de etila)

PHA Poli(hidroxialcanoato)

PHB Poli(hidroxibutirato)

PHB-HHx Poli(hidroxibutirato-hidroxihexanoato)

PHB-HV Poli(hidroxibutirato–hidroxivalerato)

PLA Poli(lactato)

PP Polipropileno

PS Poliestireno

PTT Poli(tereftalato de trimetileno)

PVC Poli(cloreto de vinila)

Tf Temperatura de fusão

Tg Temperatura de transição vítrea

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12

2. OBJETIVOS ................................................................................................... 14

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 15

3.1. BIOPOLÍMEROS ............................................................................................ 15

3.1.1. Polímeros .............................................................................................. 15

3.1.2. Biopolímeros ......................................................................................... 16

3.1.2.1. Classificação dos biopolímeros ......................................................... 17

3.1.3. Principais polímeros biodegradáveis .................................................... 20

3.1.3.1. Amido ................................................................................................ 20

3.1.3.2. Polilactatos (PLA) .............................................................................. 21

3.1.3.3. Polihidroxialcanoatos (PHAs) ............................................................ 22

3.1.3.4. Polihidroxibutirato (PHB) ................................................................... 24

3.1.3.4.1. Estrutura e Propriedades do poli(hidroxibutirado) .......................... 25

a) Estrutura cristalina do poli(hidroxibutirado) .............................................. 25

b) Propriedades físicas do poli(hidroxibutirado) ........................................... 26

3.1.3.5. Poli(hidroxibutirato–hidroxivalerato) (PHB/HV) .................................. 27

3.2. BIOSSÍNTESE DE POLIHIDROXIALCANOATOS (PHA) ............................. 28

3.2.1. Microrganismos produtores .................................................................. 28

3.2.2. Biossíntese do PHB .............................................................................. 30

3.3. PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE PHB.............................................................. 31

3.3.1. Processo fermentativo de obtenção do PHB ........................................ 34

3.3.2. Processo de extração e purificação do PHB ......................................... 37

3.4. DEGRADAÇÃO DE POLÍMEROS ................................................................. 38

3.4.1. Biodegradação ...................................................................................... 39

3.4.2. Ciclo de vida do PHB ............................................................................ 40

3.5. EMBALAGENS PLÁSTICAS PARA ALIMENTOS ........................................ 41

3.5.1. Histórico de embalagens para alimentos .............................................. 41

3.5.2. Conceito atual de embalagens ............................................................. 43

3.5.3. Funções da embalagem ....................................................................... 44

3.5.4. Seleção de materiais para embalagens alimentares ............................ 45

3.5.5. Embalagens alimentares produzidas a partir de PHB .......................... 46

3.5.6. Potencial de substituição dos polímeros convencionais por

biodegradáveis .................................................................................................. 46

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3.5.7. Custo de produção do PHB .................................................................. 48

3.5.8. Processabilidade de embalagens de PHB ............................................ 49

3.5.9. Requisitos técnicos referentes às propriedades de embalagens para

alimentos ........................................................................................................... 51

3.5.10. Avaliação de Embalagens de PHB para uso em Alimentos .............. 53

3.5.11. Gerenciamento dos resíduos das embalagens biodegradáveis ........ 54

3.5.11.1. Compostagem ................................................................................ 54

3.5.11.2. Biometanização .............................................................................. 55

4. METODOLOGIA ............................................................................................ 56

5. CONCLUSÃO ................................................................................................ 57

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 58

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1. INTRODUÇÃO

O Homem ao longo dos anos retira da natureza os elementos e produtos

essenciais à sua existência para garantir o seu conforto e qualidade de vida. Em

nome do seu bem estar e desenvolvimento, o homem explorou muitas matérias-

primas e diversos produtos disponíveis, que muitas vezes podem ser sintetizados.

Uma das bases deste desenvolvimento é constituída pelos polímeros conhecidos

vulgarmente como plásticos.

Os polímeros sintéticos convencionais são produzidos a partir de derivados

do petróleo, um recurso natural não renovável, e apresentam diversos problemas

ambientais decorrentes principalmente de sua difícil degradação que pode levar

centenas de anos. No entanto, seu uso pela sociedade está intensificado devido

ás suas propriedades interessantes, como resistência mecânica, leveza, inércia

química e baixo custo de produção e processamento (RHIM et al., 2013). O seu

uso é diversificado incluindo-se em algumas aplicações para as quais

anteriormente eram usados outros materiais, tais como metais, vidro, madeira e

papel. Sendo também usados em aplicações industriais, domésticas e ambientais,

desde garrafas, embalagens, sacos de supermercado, latas de conserva, tintas,

passando pelos cobertores, tapetes, escovas de dente, pneus ou suportes para

componentes elétricos, os polímeros encontram-se presentes em quase a

totalidade dos utensílios de uso quotidiano (COUTINHO et al., 2004). Para a

produção de embalagens destina-se aproximadamente 40% da produção dos

polímeros sendo que metade desta produção é destinada para embalagens de

alimentos (RHIM et al., 2013). Em particular, para as embalagens plásticas têm-se

métodos de descartes limitados e isto está gerando uma preocupação global

crescente com respeito aos danos ambientais e também com relação ao

esgotamento dos recursos naturais causados por embalagens plásticas

convencionais que não são biodegradáveis. Dessa forma, é necessário buscar

alternativas mais sustentáveis de produção, utilização e descarte para os

polímeros visando diminuir os impactos causados ao meio ambiente.

Com os anos, o desenvolvimento de alternativas para melhorar a gestão

deste resíduo, como a reciclagem, a incineração e mais recentemente, a

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produção e utilização de plásticos biodegradáveis, são vistos como uma futura

alternativa ecologicamente útil para os plásticos (KUMAR et al., 2004; OJUMU et

al., 2004).

Neste sentido nas últimas duas décadas, houve um crescente interesse

público e cientifico com relação ao uso e desenvolvimento de biopolímeros

(plásticos biodegradáveis). Além dos biopolímeros possuírem as tão desejadas

propriedades físicas e químicas dos plásticos sintéticos convencionais, eles

podem ser obtidos a partir de fontes renováveis (RHIM et al., 2013). Para a

produção de embalagens os biopolímeros são considerados como uma forma

sustentável para substituição dos polímeros não biodegradáveis e não

renováveis.

Existem, no mercado, diversos plásticos biodegradáveis tais como

polihidróxialcanoatos (PHAs), polihidróxibitiratos (PHB), polilactato (PLA) e

poliglicolatos (PGA), além de várias blendas, comercializados por diferentes

companhias (PRADELLA, 2006). Os PHBs além da vantagem de serem

biodegradáveis apresentam ainda outras características importantes, são

biocompativeis, produzidos a partir de recursos renováveis, possuem

propriedades termoplásticas e características físicas e mecânicas semelhantes às

dos plásticos convencionais (PRADELLA, 2006).

Os biopolímeros apresentam elevado custo de produção tornando-os

substancialmente mais caros que os plásticos sintéticos. A investigação sobre a

produção de biopolímeros a partir de fontes de carbono localmente disponíveis e

renováveis, tal como resíduos agrícolas, milho, efluente de lacticínios, entre

outras, é economicamente interessante (OJUMU et al., 2004). Com relação aos

polihidróxibitiratos (PHB), a cana-de-açúcar que é uma cultura largamente

cultivada em várias regiões do Brasil, pode servir de matéria prima para a sua

produção. Nesta produção, ocorre a fermentação do açúcar da cana, que é

inicialmente invertido por processo enzimático transformando-se em um xarope.

Posteriormente, ocorre a formação do polímero no interior de bactérias que

utilizam o xarope. Neste trabalho, através de uma pesquisa exploratório-

descritiva, serão abordadas informações relevantes com relação à produção e

propriedades de diferentes tipos de biopolímeros utilizados em embalagens

alimentícias, com ênfase na produção do poli(hidroxibutirato) (PHB).

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2. OBJETIVOS

Geral: Contribuir com informações relevantes sobre a produção e propriedades

de diferentes tipos de biopolímeros utilizados em embalagens alimentícias, com

ênfase na produção do poli(hidroxibutirato) (PHB).

Específicos:

Descrever os principais biopolímeros utilizados em embalagens

alimentícias.

Descrever as etapas de produção de poli(hidroxibutirato) (PHB) por síntese

microbiológica.

Descrever as limitações da utilização do poli(hidroxibutirato) (PHB) em

embalagens alimentícias.

Descrever o impacto ambiental ocasionado ao uso de biopolímeros na

produção de embalagens.

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. BIOPOLÍMEROS

3.1.1. Polímeros

A palavra polímero origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidades de

repetição). Dessa forma, um polímero é uma macromolécula composta por muitas

unidades de repetição (meros) ligadas por uma ligação covalente

(CANEVAROLO, 2010). A matéria-prima para a formação de um polímero é um

monômero, ou seja, uma molécula com uma unidade de repetição. Os polímeros

podem ser divididos em três classes principais: plásticos, borrachas e fibras

(CANEVAROLO, 2010). Essa classificação depende do tipo de monômero

(estrutura química), tamanho da cadeia e do tipo de ligação covalente. Para a

síntese de polímeros, é necessário que pequenas moléculas (monômeros) se

liguem entre si, formando a cadeia polimérica (CANEVAROLO, 2010). A Figura 1

mostra a formação do polímero polietileno a partir do monômero etileno. Para que

ocorra a reação de polimerização, cada monômero deve ser capaz de se

combinar a, no mínimo, outros dois monômeros. Portanto o monômero deve ter

pelo menos dois pontos reativos, também designado como funcionalidade igual a

2. A bifuncionalidade pode ser obtida com a presença de grupos reativos e/ou

duplas ligações reativas (CANEVAROLO, 2010). A Figura 2 mostra a reação de

formação do politereftalto de etileno pela presença de grupos reativos nos

monômeros.

Figura 1 – Polietileno: relação monômero – polímero. Fonte: (CURSO [...], 2014)

.

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Figura 2 - Reação de formação do politereftalto de etileno pela presença de grupos reativos nos monômeros.

Fonte:(FOGAÇA, 2014)

3.1.2. Biopolímeros

Biopolímeros ou plásticos biodegradáveis são materiais poliméricos, em que

pelo menos um passo no processo de degradação ocorre através do metabolismo

de organismos encontrados no ambiente (SORRENTINO, 2007 apud RHIM et al.,

2013). Em condições apropriadas de temperatura, umidade e disponibilidade de

oxigênio, a biodegradação leva à fragmentação ou desintegração dos plásticos

sem resíduos tóxicos ou perigosos. Vários autores, bem como entidades

normatizadoras têm se preocupado em definir plástico biodegradável. As

definições são bastante similares à adotada pela ISO:1472:1998:

Um plástico designado a sofrer mudanças significativas em sua

estrutura química sob condições ambientais específicas

resultando em perda significativa de algumas de suas

propriedades que podem variar, quando medidas por testes

padrões para plásticos. A mudança na estrutura química é

resultado da ação de microrganismos encontrados na natureza.

(ISO:1472:1998 apud CHANDRA; RUSTIGI, 1998)

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3.1.2.1. Classificação dos biopolímeros

Os biopolímeros podem ser divididos em três categorias diferentes, conforme

demonstrado da Figura 3, com base nos processos produtivos e na origem de

suas matérias-primas (CLARINVAL, 2005 apud RHIM et al., 2013):

a) Biopolímeros naturais, extraídos diretamente da natureza, como

carboidratos de plantas (amido, celulose, alginato, ágar, etc.) e de

origem animal ou vegetal como proteína de soja, glúten de trigo,

gelatina, colágeno, etc.

b) Polímeros sintéticos biodegradáveis, produzidos por síntese química. O

monômero em si, é produzido por fermentação de carboidratos.

Exemplos: Polilactato (PLA), poli(ε-caprolactonas) (PCL), poli(butileno

succinato) (PBS).

c) Biopolímeros produzidos por fermentação microbiana (incluindo

microrganismos geneticamente modificados), tais como

poli(hidroxialcanoato) (PHA), poli(hidroxibutirato) (PHB).

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Figura 3 - Biopolímeros plásticos e seus monômeros produzidos por fermentação

microbiana combinadas com a síntese química. Fonte: (REDDY et al., 2013).

De acordo com a ASTM 6400-04, os termos mais utilizados para

classificação dos tipos de plásticos encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 - Classificação dos tipos de plásticos (ASTM 6400-04).

Tipo de

plástico Definição

Biodegradável

Plástico degradável no qual a degradação é resultada pela

ação de microrganismos de ocorrência natural, tais como

bactérias, fungos e algas.

Compostável

Plástico que sofre degradação por processos biológicos

durante a compostagem, produzindo CO2 e água,

componentes inorgânicos e biomassa a uma taxa

significativa quando comparada com outros materiais

compostáveis conhecidos e que não deixam quaisquer

materiais visíveis, perceptível e tóxico.

Degradável

Plástico “projetado” para sofrer uma mudança significativa

em sua estrutura química sob condições ambientais

específicas, resultando em perda de algumas

propriedades. As mudanças podem ser avaliadas por

ensaios padronizados e que são utilizados em plásticos

convencionais.

Fonte: (BUENO, 2010)

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Pela Tabela 2 podem-se observar alguns produtores industriais de

polímeros biodegradáveis, bem como os tipos de polímeros produzidos e algumas

de suas aplicações.

Tabela 2 - Produtores industriais de alguns polímeros biodegradáveis e suas aplicações.

Produtor Marca

Registrada Aplicação Materiais

Bayer BAK 1095 Filmes e chapas Poliéster amidas

Idroplast Agribag Distribuidor químico Poli(álcool vinílico) PVA

Biotec Bioplast Filmes e chapas Amido termoplástico

Novamont MasterBi Mantas protetoras de plantações e vasos

Amido / policaprolactona (PCL)

Solvay S.A. CAPA,600 Liberação controlada de fertilizantes

Policaprolactona (PCL)

Cargill Dow Eco PLA Mantas protetoras de plantações e vasos

Poli(ácido lático) (PLA)

Eastman Eastar Bio Cobertura de raízes Copoliésteres

Novon Degra-Novon Mantas protetoras de plantações e vasos

Amido modificado

TPS, Inc. Vinex Embalagens para produtos químicos

Poli(álcool vinílico) PVA

BSL Sconace II Filmes e vasos Amido modificado

Du Pont Biomax Mantas protetoras de plantações e vasos

Resinas poliéster

PHB Industrial

PHB

Embalagens, tubetes de reflorestamento e outras aplicações baseadas na injeção.

Polihidroxibutirato (PHB) produzido por bactéria

Basf Ecoflex

Fabricação de embalagens flexíveis, colaminação com papel filme para plasticultura.

Copoliéster de 1,4-butanodiol, áido adípico e ácido terefálico

Basf Ecobras

Embalagens injetadas, tubetes para reflorestamento, sacolas plásticas e embalagens para cosméticos

É um combinado do Ecoflex e um polímero vegetal à base de milho

Fonte: KLOSS, 2007

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3.1.3. Principais polímeros biodegradáveis

3.1.3.1. Amido

Amido é um polissacarídeo de reserva presente em plantas superiores. É

formado por dois polímeros: amilose que é uma cadeia linear, insolúvel em água e

se apresenta na composição, com uma porcentagem em massa da ordem de

20% e amilopectina, composta de unidades de glicose contendo um alto nível de

ligações cruzadas 1-6 entre um grupo hidroxila de uma cadeia de glicose e o

carbono 6 da glicose de outra cadeia e representa cerca de 80% da composição,

em massa (PRADELLA, 2006). A Figura 4 mostra estes componentes do amido,

ou seja, a estrutura de amilose e amilopectina (ASSIS, 2009).

Figura 4 - Estrutura de amilose (a) e amilopectina (b), componentes do amido Fonte: (ASSIS, 2009)

Devido à sua alta disponibilidade e baixo custo, cada vez mais o amido é

estudado no sentido de ser modificado ou associado a outras substâncias

químicas para o melhoramento de sua processabilidade. Além de poder ser

processado como termoplástico, pode ser incorporado aos plásticos tradicionais.

O material pode ser utilizado na produção de filmes de grande interesse na

indústria de embalagens alimentares (ASSIS, 2009).

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3.1.3.2. Polilactatos (PLA)

Polilactatos são poliésteres alifáticos obtidos pela polimerização do ácido

lático por fermentação microbiológica. A Figura 5 mostra a estrutura molecular do

polilactato (PLA) (PRADELLA, 2006).

Figura 5 - Estrutura molecular do PLA

Fonte:(PRADELLA, 2006)

Muitas matérias-primas podem ser utilizadas na produção por via

biotecnológica do ácido lático: as hexoses, principalmente glicose, além de um

grande número de compostos que podem ser facilmente convertidos a hexoses

como açúcares, melaço, caldo de açúcar de beterraba, soro de leite e amido de

arroz, trigo e batata (ARMETANO et al, 2013). A produção por via química a partir

de matérias-primas petroquímicas como etileno e acetileno também pode ser

realizada, com possível aplicação em adesivos biodegradáveis. Nos últimos anos,

a via microbiológica (Figura 6), tem sido a preponderante, dado o aumento de

demanda do mercado pelo produto produzido naturalmente (PRADELLA, 2006).

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Figura 6 - Processo de produção de polilactato. Fonte: (PRADELLA, 2006)

Atualmente a principal aplicação do PLA produzido é na área de

embalagens, cerca de 70%, sendo o restante no setor de fibras e têxtil,

agricultura, eletrônicos, utensílios domésticos (ASSIS, 2009).

3.1.3.3. Polihidroxialcanoatos (PHAs)

Os PHAs são poliésteres de origem natural, produzidos por uma larga

variedade de bactérias a partir de materiais de reserva intracelular. Estão

presentes no citoplasma das células sob a forma de grânulos rodeados por uma

membrana (SERAFIM; LEMOS; REIS, 2000). Grânulos fluorescentes de PHS

podem ser observados por microscopia de epifluorescência, utilizando corantes

lipofílicos (ex. Azul de Nilo), como mostra a Figura 7 (SERAFIM; LEMOS; REIS,

2000).

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Figura 7 - Grânulos de PHAs observados por microscopia de epifluorescência após coloração com Azul de Nilo. Fonte (SERAFIM; LEMOS; REIS, 2000).

Os PHAs são polímeros termoplásticos que podem ser obtidos a partir de

fontes renováveis. Eles são biocompatíveis e vêm sendo reconhecidos como

potenciais substitutos para os plásticos convencionais derivados do petróleo

(PRADELLA, 2006). Quando descartados, podem ser depositados nos aterros

sanitários sem que interfiram na decomposição de outros materiais presentes no

lixo. Podem ser misturados à matéria orgânica e aproveitados como

fertilizantes, além de existir a possibilidade de serem reciclados (CAMPOS, 2003

apud BUCCI, 2003).

Os membros desta família de biopolímeros termoplásticos, com a fórmula

estrutural geral mostrada na Figura 8, podem apresentar grandes variações em

suas propriedades, de plásticos rígidos e cristalinos, a plásticos flexíveis com

boas propriedades de impactos, a fortes elastômeros, o que depende do tamanho

do grupo alquila, R, bem como da composição do polímero (CHANDRA;

RUSTIGI, 1998).

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Figura 8 - Estrutura geral dos PHAs Fonte: (VIEGAS, 2005)

Foram identificados mais de 100 diferentes monômeros constituintes dos

PHAs em diversas bactérias. Essa variedade traz como vantagem a possibilidade

de poder sintetizar polímeros com as mais variadas propriedades (REDDY et al.,

2003). A massa molecular dos PHAs pode variar de 50.000 a 1.000.000 Da. O

polihidroxibutirato (PHB), constituído por monômeros de 3-hidroxibutirato, é o

PHA mais bem caracterizado e o acumulado com maior frequência por bactérias.

(BUCCI, 2003; SERAFIM; LEMOS; REIS, 2000).

3.1.3.4. Polihidroxibutirato (PHB)

Dentro da família dos PHAs, o poli-3-hidroxibutirato (PHB) (com o grupo

alquila R=CH3) é o membro mais comum; pertence ao grupo dos PHAs de cadeia

curta, com monômeros contendo de 4 a 5 átomos de carbono. A empresa Imperial

Chemical Industrie (ICI), desenvolveu e patenteou (1981), um processo de

manufatura de PHB, baseada na fermentação de açucares pela bactéria

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Alcaligenes eutrophus (BUCCI, 2003; GHANBARZADEH; ALMASI, 2013). As

fórmulas estruturais do monômero ácido 3-butírico e do polímero PHB estão

representadas na Figura 9:

Figura 9 - Fórmulas estruturais do (a) ácido 3-butírico e do (b) polímero PHB Fonte: (BUCCI, 2003)

O PHB possui propriedades termoplásticas, que lhes permitem serem

moldados ou transformados em filmes para aplicações diversas (CHANDRA;

RUSTIGI, 1998). São utilizados em várias áreas, agricultura, marinha,

apresentação de remédios e nos ramos de embalagens de alimentos, fármacos e

produtos de higiene pessoal e, por serem biocompatíveis, têm potencial para

aplicações médico-veterinárias, como suturas, suportes de culturas de tecido para

implantes, encapsulação de fármacos para liberação controlada. (BUCCI 2003;

ASSIS, 2009).

3.1.3.4.1. Estrutura e Propriedades do poli(hidroxibutirado)

O PHB no estado sólido é um material semicristalino, apresentando uma fase

cristalina e outra amorfa. O grau de cristalinidade em filmes de PHB cristalizados

a partir do estado fundido pode variar entre 60 e 90%. Este caráter semicristalino

é responsável por todas as propriedades físicas e mecânicas desse polímero

(TADA, 2009).

a) Estrutura cristalina do poli(hidroxibutirado)

Estudos de difração de raios-X em fibras cristalinas de PHB demonstraram

que as moléculas de PHB apresentam conformação helicoidal (Figura 10). As

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forças básicas deste modelo conformacional são principalmente as interações de

Van der Walls entre o oxigênio das carbonilas e os grupos metila. Devido à

estereorregularidade do PHB, o material é altamente cristalino, sendo também

opticamente ativo, com o carbono quiral sempre na configuração absoluta R,

quando se trata do PHB produzido por microrganismos (NASCIMENTO, 2001;

SUDESH et al., 2000).

Figura 10 - a) Estrutura helicoidal proposta para a molécula de PHB

(a barra representa o eixo da cadeia polimérica); b)

Projeções da célula unitária do PHB nos planos e . Fonte: (CORNIBERT, 1972 apud TADA, 2009)

b) Propriedades físicas do poli(hidroxibutirado)

A distribuição de massa molar de um polímero é a medida da distribuição de

suas massas molares individuais em torno da massa molar média. Essa

propriedade é extremamente dependente da escolha do microrganismo produtor

bem como da estratégia de produção, ou seja, duração da fermentação, taxa de

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crescimento, concentração das fontes de carbono, etc. O peso molecular do PHB

produzido por bactérias é na faixa de 1 x 104 a 3 x 106 (NASCIMENTO, 2001;

SUDESH et al., 2000).

A transição vítrea em um polímero semicristalino corresponde à mudança do

estado vítreo para o estado líquido, em sua fase amorfa (CANEVAROLO, 2010;

NASCIMENTO, 2001). A temperatura na qual ocorre a transição vítrea é

denominada temperatura de transição vítrea (Tg). Em temperaturas abaixo da Tg,

os segmentos de cadeia e grupos pendentes apresentam mobilidade restrita e

acima da Tg, as moléculas poliméricas apresentam mobilidade translacional, além

dos graus de liberdade rotacionais e vibracionais (CANEVAROLO, 2010). A Tg de

polímeros semicristalinos relaciona-se com variáveis as experimentais

(preparação da amostra, história térmica, taxa de aquecimento ou resfriamento),

os parâmetros moleculares (taticidade, massa molar, ramificações, etc.), com o

grau de cristalinidade. A Tg do PHB está em torno de 4 – 5º C, e está diretamente

relacionado à sua massa molar e ao seu grau de cristalinidade (NASCIMENTO,

2001; TADA 2009)

A alta cristalinidade associada à Tg, também, relativamente alta faz com que

os filmes de PHB sejam muito frágeis, dessa forma, são preferíveis copolímeros

com unidades contendo outros grupos alquila (especialmente R=C2H5)

(CHANDRA; RUSTIGI, 1998; GHANBARZADEH; ALMASI, 2013).

3.1.3.5. Poli(hidroxibutirato–hidroxivalerato) (PHB/HV)

Copolímeros de PHB podem ser formados pela adição simultânea de outros

substratos à glicose, como ácido propiônico, podendo resultar na formação de

polímeros contendo os monômeros 3-hidroxivalerato (3HV), 3-hidroxihexanoato

(HHx) ou 4-hidroxibutirato (4HB). A incorporação de 3HV na cadeia de PHB

resulta no polímero poli(3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) ([P(3HB-3HV)] ou

PHB/HV) (MARCHESSAULT, 1996 apud REDDY et al., 2003).

Os copolímeros de PHB com ácido hidroxivalérico (PHB/HV) (Figura 11) são

menos cristalinos, mais flexíveis e mais facilmente processáveis. O PHB e seus

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copolímeros com até 30% de ácido 3-hidroxivalérico estão comercialmente

disponíveis sob a marca Biopol® (PACHENCE et al., 2007).

Figura 11 - Estrutura do copolímero poli(3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) Fonte: (LENZ; MARCHESSAULT, 2005)

3.2. BIOSSÍNTESE DE POLIHIDROXIALCANOATOS (PHA)

Os PHAs podem ser obtidos por três vias: pela polimerização por abertura de

anel da β-butirolactona racêmica (via sintética) (MULLER; SEEBACH, 1993), pela

fermentação de fontes renováveis e não renováveis por microrganismos e pela

produção por plantas geneticamente modificadas (SURIYAMONGKOL, 2007). O

meio mais utilizado para a obtenção de PHB para fins industriais ou para pesquisa

é a síntese por microrganismos, especialmente bactérias (TADA, 2009).

3.2.1. Microrganismos produtores

Os microrganismos produtores de PHA geralmente são bactérias Gram-

positivas e Gram-negativas encontradas na natureza (BYRON, 1987). A escolha

do microrganismo e do substrato tem grande impacto no custo da fabricação de

PHAs. É desejável que as cepas tenham velocidades específicas de crescimento

e de produção elevadas, que possam utilizar substratos de baixo custo e que

tenham alto fator de conversão de substrato em produto (RAMSAY, 1994). O alto

custo de produção dos PHAs está, em grande parte, relacionado ao processo de

extração do polímero. E para que seja rentável, a cepa produtora deve ter

capacidade de acumular pelo menos 60% de sua massa celular em polímero

(BYROM, 1987; VIEGAS, 2005).

A Tabela 3 lista alguns microrganismos produtores de PHA e sua capacidade

de acumulação desse polímero.

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Tabela 3 - Capacidade de acúmulo de PHA de alguns microrganismos

Microrganismo % de acúmulo

Ralstonia eutropha 96

Azozpírillum 75

Azobacter 73

Baggiatoa 57

Leptothrix 67

Melhyocystis 70

Pseudomonas 67

Rhizobium 57

Rhodobacter 80

Fonte: (REDIFF HOME PAGE apud VIEGAS, 2005).

As bactérias produtoras de PHA podem ser divididas em dois grupos,

baseando-se na dependência de limitação de nutrientes para a produção do

biopolímero (VIEGAS, 2005). O primeiro grupo requer limitação de um dos

nutrientes (nitrogênio, oxigênio, fosfato, enxofre, etc) para produção de PHA

(exemplos: Ralstonia eutropha, antigamente denominada Alcaligenes eutrophus e

Pseudomonas oleovorans.) (VIEGAS, 2005). O segundo grupo acumula PHA

durante a fase de crescimento, pertencem a este grupo somente Alcaligenes

latus, Azobacter vinelandii, e Escherichia coli recombinante (VIEGAS, 2005).

A Ralstonia eutropha é um dos microrganismos mais estudados e

aplicados na produção dos PHAs. Esta bactéria inicia o acúmulo de PHA a partir

do final da fase exponencial de crescimento. Este microrganismo foi escolhido

pela ICI (Imperial Chemical Industries) para produção industrial de Poli-3-

hidroxibutirato-co-3-hidroxivelerato (P[3HB-co-3HV]). Este microrganismo foi

escolhido por crescer bem em meio mínimo, a 30ºC, em diversas fontes

renováveis de carbono, podendo acumular cerca de 80% de seu peso seco em

polímero (BYROM, 1992 apud VIEGAS, 2005). A produção de polímero por

R.eutropha é realizada em duas etapas, a primeira etapa é de crescimento não

limitado, visando o aumento de massa celular, e a segunda, de acúmulo de

polímero, por limitação de algum nutriente (exceto carbono) (BYROM, 1987).

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3.2.2. Biossíntese do PHB

A diversidade química dos PHAs é grande, da qual a forma mais bem

conhecida e amplamente produzida é o poli(hidroxibutirato). A síntese do PHB é

considerada a via biossintética mais simples (SURIYAMONGKOL, 2007).

O mecanismo proposto de síntese de PHB pela bactéria Ralstonia eutropha

envolve três etapas, como demonstrado na Figura 12 (TADA, 2009).

Na primeira etapa acontece a condensação de duas moléculas acetil

coenzima A em acetoacetil-CoA, catalisada pela enzima β-cetotiolase (PhaA). Na

segunda etapa ocorre a hidrogenação da acetoacetil-coA, formando o monômero

(R)-3-hidroxibutiril-CoA, catalisada pela enzima PHA-redutase. A terceira etapa

corresponde à polimerização do (R)-3-hidroxibutiril-CoA, catalisada pela enzima

PHB-polimerase (PhaC), uma PHA sintase, formando o polímero PHB (TADA,

2009; MADISON; HUISMAN, 2009 apud VIEGAS, 2005)

A iniciação da polimerização do (R)-3-hidroxibutiril-CoA envolve a ligação de

duas moléculas desse monômero a dois grupos tióis, pertencentes aos

aminoácidos (cisteína) constituintes do sítio ativo da PHB-polimerase (TADA,

2009). Segue-se a condensação de dois monômeros, sendo que um dos grupos

tióis permanece livre (TADA, 2009). A fase de propagação envolve a ligação de

outro monômero (R)-3-hidroxibutiril-CoA ao grupo tiol livre, seguida de outra

condensação, e assim por diante, resultando no crescimento da cadeia polimérica

(TADA, 2009).

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Figura 12- Via biossintética de produção de PHB e PHB-HV por R.eutropha. Os genes que codificam as principais enzimas estão indicados entre parêntesis. Fonte: (POIRIER, 2002)

A adição de ácido propiônico ou ácido valérico em meio de glicose leva à

produção do copolímero aleatório composto por HB e HV, (PHB-HV). Nesta via

(Figura 12), a condensação do propionil-CoA com a acetil-CoA é mediada por

uma cetotiolase (3-cetotiolase, bktB) (SURIYAMONGKOL, 2007). A redução do 3-

cetovaleril-CoA para (R)-3-hidroxivaleril-CoA e a subsequente polimerização

formando PHB-HV são catalisadas pelas mesmas enzimas envolvidas na síntese

do PHB, acetoacetil-CoA-redutase e PHA sintase. (POIRIER, 2002).

3.3. PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE PHB

No Brasil, a produção industrial do PHB foi desenvolvida por uma joint venture

entre a Coopersucar (Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar do Estado

de São Paulo), o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e pelo ICB (Instituto

de Ciências Biomédicas da USP) (NASCIMENTO, 2001). O método desenvolvido

consiste na produção do PHB através da fermentação da sacarose da cana-de-

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açúcar pela bactéria Ralstonia eutropha. Linhagens não modificadas de

R.eutropha não são capazes de metabolizar sacarose, apenas açúcares

invertidos. (TADA, 2009)

De 1995 a 2000, a primeira produção em planta piloto do PHB no Brasil,

utilizando a metodologia Coopersucar-IPT-ICB, foi realizada na usina de açúcar e

álcool Usina da Pedra. Essa planta piloto tinha como objetivos o teste viabilidade

do processo e desenvolvimento, a capacitação dos trabalhadores para a

produção e suprir pesquisadores com quantidade suficiente de PHB para testes e

para avaliação econômica do custo de produção de PHB. A capacidade produtiva

da Usina da Pedra em 1997 era de 8 a 10 ton de PHB por ano (VELHO, 2006

apud TADA, 2009).

Em 2000, a produção comercial de PHB se iniciou com a criação da empresa

PHB Industrial, Figura 13, em Serrana-SP, próxima à Usina da Pedra. A produção

do bioplástico pela PHB Industrial é a única produção industrial de PHB a partir de

cana-de-açúcar e integrada em usina sucroalcooleira. Essa empresa opera desde

2005 com uma planta de capacidade máxima de 60 toneladas de PHB por ano

(VELHO, 2006 apud TADA, 2009).

Figura 13 - Planta da PHB Industrial S/A em Serrana-SP

Fonte: (BYOCYCLE®, 2014)

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O nome comercial dado ao PHB produzido pela PHB Industrial é

BYOCYCLE® (Figura 14) (BIOCYCLE, 2014; VELHO, 2006 apud TADA, 2009).

Figura 14 - PHB BYOCYCLE® produzido pela PHB Industrial.

Fonte: (BYOCYCLE®, 2014)

A produção do PHB, demonstrado pela Figura 15, constitui-se basicamente

em duas etapas (NASCIMENTO, 2001). A primeira etapa consiste no processo

fermentativo, na qual o microrganismo metaboliza o açúcar e acumula o polímero

no interior da célula (VELHO, 2006 apud TADA, 2009). A segunda etapa é onde

ocorre a extração do PHB acumulado pelo microrganismo, seguida de sua

purificação até obtenção do produto final sólido e seco para posterior

processamento (VELHO, 2006 apud TADA, 2009).

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Figura 15 - Fluxograma do processo de produção do PHB.

Fonte: (BYOCYCLE®, 2014)

3.3.1. Processo fermentativo de obtenção do PHB

O processo de produção adotado pela PHB Industrial S/A, descrito

detalhadamente por Nascimento (2001), é do tipo batelada alimentada (fed

batch), onde cada ciclo é independente do outro, iniciando-se sempre a partir de

um tubo de cultura.

Inicialmente ocorre a reativação e adaptação das células ao meio nutriente

complexo, feito em um agitador de frascos (NASCIMENTO, 2001). As células em

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crescimento são transferidas para um segundo frasco, de volume maior de meio,

e de composição mais próxima ao que será utilizado no processo fermentativo

(NASCIMENTO, 2001). Esta etapa é repetida algumas vezes, visando um

aumento no número de células, e são realizadas em fermentadores com volumes

sucessivamente maiores, todos utilizando o mesmo meio de fermentação

(NASCIMENTO, 2001).

Em uma primeira fase as bactérias são induzidas ao crescimento em um meio

de cultura sem limitação de nutrientes (TADA, 2009). Em um primeiro

fermentador, xarope de açúcar invertido é utilizado com fonte de carbono, após

esterilização em autoclave, sendo esta uma matéria prima pobre de nutrientes, é

necessária a complementação com uma série de sais para a composição do

mosto (TADA, 2009). É adicionada uma solução de macro nutrientes (sais de Fe,

B, Mo, Ni, Cu, Mn, Co, Zn, Mn e Ca), fosfato de potássio ou fosfato de cálcio,

como fonte de fósforo, e hidróxido de amônio como fonte de nitrogênio e para

ajuste de pH (NONATO; MATELLATO; ROSSEL, 2001). Esta primeira etapa de

fermentação ocorre durante cerca de 16h, a uma temperatura de 34ºC em pH 6,5

levando a uma concentração celular de aproximadamente 12 g/l. Nesta etapa não

há acúmulo de PHB pela bactéria (NASCIMENTO, 2001; TADA, 2009).

Para as etapas seguintes, a composição do meio fermentativo é mantida,

sendo adaptada às exigências do processo para maiores volumes (TADA, 2009).

Na segunda fase, a síntese do PHB é induzida limitando-se os nutrientes

necessários para o crescimento celular (fósforo, por exemplo), em um meio com

excesso de carbono, no caso açúcar de cana, que é continuamente alimentado ao

fermentador na forma de xarope (TADA, 2009). Nessa etapa o fermentador

dispõe de um volume útil bastante superior ao volume inoculado inicialmente, isso

por que a concentração celular deve ser aumentada para melhor aproveitamento

das instalações e para um melhor rendimento nas etapas de purificação do

polímero (NONATO; MATELLATO; ROSSEL, 2001). Por se tratar de um processo

fermentativo aeróbico, no qual a concentração de oxigênio dissolvido no meio

exerce grande influência nos parâmetros cinéticos, devem ser garantidos níveis

satisfatórios de oxigênio controlando-se agitação e aeração do sistema

(NASCIMENTO, 2001).

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Após cerca de doze horas de fermentação, o açúcar redutor presente no

mosto é esgotado e a partir desse ponto, o xarope é continuamente adicionado,

procurando-se manter uma concentração de 3 a 5 g/l de açúcar no meio. Nesta

etapa o oxigênio dissolvido é mantido constante, aumentando-se a agitação e

aeração do sistema. Este processo continua até o esgotamento dos nutrientes no

meio, principalmente o fósforo (NASCIMENTO, 2001). Esta etapa dura cerca de

catorze horas, elevando a concentração celular a uma faixa de 35 a 40 kg/m³.

Com o esgotamento dos nutrientes e abundancia de açúcar, as células param de

se multiplicar, iniciando a fase final da fermentação, na qual ocorre o acúmulo do

polímero (BYROM, 1987; TADA 2009). A fase de acúmulo eleva o teor de

polímero no interior da célula para cerca de 80%. A transição entre a fase de

crescimento e a fase de acúmulo é facilmente observada; em um primeiro

momento após o esgotamento dos nutrientes ocorre uma elevação espontânea do

pH do meio; algumas horas mais tarde decresce a demanda por oxigênio,

diminuindo a necessidade de agitação e aeração; a taxa de consumo de açúcares

redutores também decresce, havendo a necessidade de reduzir a vazão de

alimentação do xarope para o fermentador (NASCIMENTO, 2001). O aspecto da

bactéria também se altera, passa de bastonetes longos a bastonetes curtos,

arredondados e transparentes (NASCIMENTO, 2001).

Ao final da fase de acúmulo, deve ser feita rapidamente a desativação do

complexo enzimático celular, pois ao esgotar-se a fonte de carbono pela parada

de adição do xarope, a bactéria passa a consumir o polímero acumulado como

fonte de carbono. A desativação é feita por uma pasteurização, a uma

temperatura de 80ºC durante 15 minutos (NASCIMENTO, 2001).

O meio fermentado, então, deve ser conduzido às etapas de downstream para

extração e purificação.

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3.3.2. Processo de extração e purificação do PHB

De acordo com Nascimento (2001), o processo de extração e purificação do

PHB pode ser detalhado da seguinte forma:

O material fermentado inativado contendo o PHB no interior das células

deve ser submetido a um tratamento químico, onde é diluído em água da

proporção de 1:2, com adição de ácido fosfórico seguida da adição de

hidróxido de cálcio. É feita a floculação do material pela adição de um

polieletrólito aniônico, preferencialmente uma poliacrilamida, em seguida

faz-se a homogeneização, e em seguida transferido para um decantador.

O lodo obtido passa por um sistema de extração de múltiplo estágio, em

contracorrente com o solvente retificado. O sistema opera a uma

temperatura entre 110 e 120 ºC e é constituído por três reatores, sendo o

extrato efluente do estágio subsequente e o vapor do solvente retificado,

são misturados ao lodo adicionado no primeiro estágio.

O extrato bruto passa por um processo de filtração para separação dos

sólidos insolúveis, a temperaturas de extração. O material filtrado, isento de

sólidos insolúveis, passa então por um pré-resfriamento até a faixa de 60º –

50ºC e em seguida encaminhado aos cristalizadores. O processo de

cristalização e crescimento do PHB começa com a introdução de

“sementes” (gérmens de cristalização), seguido de resfriamento. Após a

cristalização, o material apresentará duas fases, uma sólida, contendo do

PHB precipitado e outra liquida, composta pelo solvente, que podem ser

separadas por centrifugação. Obtém-se então um clarificado límpido e uma

pasta rica em PHB. Essa pasta com alto teor de PHB passa por um

processo de filtração tangencial em membrana para remoção adicional do

solvente e em seguida faz-se a remoção do solvente residual.

O sistema de remoção de solvente da pasta consiste em um sistema de

múltiplo estágio que trabalha a vácuo e em contracorrente, no qual a pasta

é adicionada ao primeiro estágio e a água e vapor, no estágio de

recuperação de solvente. No primeiro estagio é feita agitação e granulação

da pasta concomitantemente com a remoção de solvente e injeção de

vapor no estágio seguinte. A suspensão de PHB e água é removida e

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bombeada continuamente para o estágio seguinte, onde recebe injeção de

vapor do estágio subsequente. No último estágio, o material

completamente granulado e com um teor de solvente inferior a 7 ppm, e

removido e passa por uma peneira vibratória, seguida de uma secagem a

vácuo.

3.4. DEGRADAÇÃO DE POLÍMEROS

O estudo da degradação dos polímeros é importante para o entendimento dos

seus possíveis usos e aplicações, assim como sua posterior reciclagem e

descarte (INNOCENTINI-MEI; MARIANI, 2005). O termo degradação pode ser

definido como uma série de reações químicas, ocasionadas por diversos fatores

de natureza térmica, mecânica, microbiológica, entre outros, sendo caracterizado

pela perda ou alteração nas suas propriedades físicas e/ou pela sua

fragmentação (PEZZIN, 2001 apud DUARTE, 2004). A Figura 16 exemplifica as

vias de degradação a que um polímero pode estar sujeito.

Figura 16 - Vias de degradação da cadeia polimérica

Fonte: (INNOCENTINI-MEI; MARIANI, 2005)

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Normalmente, as reações de degradação são indesejáveis, pois na maioria

das vezes procura-se alta durabilidade, ou vida útil do material. Porém, a

degradação torna-se benéfica para materiais, tais como, sacos de lixo, fraldas,

embalagens e outros de materiais de rápida descartabilidade, uma vez que esses

resíduos tornam-se um problema ambiental (DUARTE, 2004).

A estrutura química do polímero tem grande influencia na capacidade de

degradação destes, entre as características estruturais destacam-se: massa

molar; ramificações; laterais; polaridade e regularidade espacial, cristalinidade,

etc. (ASSIS, 2009).

A degradação de um polímero pode ocorrer de forma abiótica, ou seja, com

ausência de seres vivos, sendo a luz, calor, água, oxigênio, ou atuação de

substâncias químicas, por exemplo, os fatores desencadeantes do processo de

degradação (ROSA; PANTANO FILHO, 2003 apud ASSIS 2009). Geralmente, o

ataque biológico sobre o polímero é precedido por processos abióticos. Ou ainda,

os polímeros podem ser degradados pela via biótica (biodegradação), sendo a

degradação resultado da ação de microrganismos (ASSIS, 2009).

3.4.1. Biodegradação

A biodegradação é um processo natural pelo qual compostos orgânicos, em

contato com o meio ambiente, são convertidos em compostos mais simples e

mineralizados e redistribuídos através de ciclos elementares como o do carbono,

nitrogênio e enxofre. Normalmente, derivam desse processo, componentes

celulares microbianos e outros produtos (CHANDRA; RUSTIGI, 1998).

No caso da biodegradação de polímeros biodegradáveis, lembra-se que, esta,

só ocorrerá quando os polímeros estiverem em ambientes biologicamente ativos

(ASSIS, 2009). Nos meios biológicos nos quais os polímeros serão descartados,

estão os agentes biológicos responsáveis pela deterioração das substâncias

poliméricas (ASSIS, 2009). Os agentes biológicos tais como bactérias, fungos e

suas enzimas, consomem o polímero como tipo de alimento, sem deixar resíduo

perigoso ou tóxico para o meio ambiente (ASSIS, 2009)

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A biodegradação do polímero ocorre devido, principalmente, à produção de

enzimas responsáveis pela quebra da cadeia, podendo ser processos tanto

aeróbicos quanto anaeróbicos, dependendo do microrganismo (ROSA; PANTANO

FILHO, 2003 apud ASSIS, 2009).

Para que um polímero sintético seja degradável por catálise enzimática, a

cadeia polimérica tem de ser suficientemente flexível para se ajustar ao sítio ativo

da enzima. Isto provavelmente explica o fato de que, enquanto que os poliésteres

alifáticos flexíveis são facilmente degradados por sistemas biológicos, os

aromáticos mais rígidos, como o PET (poli tereftalato de etila), são geralmente

considerados bio-inertes (CHANDRA; RUSTIGI, 1998).

3.4.2. Ciclo de vida do PHB

Tanto os meios biológicos aeróbios quanto os anaeróbios degradam os

polímeros de PHB pela ação de enzimas extracelulares secretadas pelos

microrganismos. Ao entrar em contato com o metabolismo do microrganismo, o

PHB inicia sua degradação através da ação de esterases não específicas,

formando ácido β-hidroxibutírico, que é convertido em acetoacetato, e

sequencialmente em Acetil-Coa. Os produtos finais resultantes dos meios

aeróbios são dióxido de carbono, água e biomassa e dos meios anaeróbios são

dióxido de carbono, água, metano e biomassa (BUCCI, 2003; SANTOS JR.;

WADA, 2007).

O ciclo de vida do PHB, Figura 17, quando se utiliza como substrato a

cana-de-açúcar e é empregado em sua fabricação o uso de tecnologia limpa, tem

início com a transformação do gás carbônico (CO2), água e energia solar em

biomassa (cana-de-açúcar) que então é processada e transformada em sacarose

e fibras (BIOCYCLE, 2014). A fibra contida no bagaço de cana é usada como

fonte de energia para os processos de produção (BIOCYCLE, 2014). A sacarose

é convertida em PHB, pelo processo fermentativo descrito anteriormente, durante

o processo é utilizado para a extração do polímero, um solvente orgânico (óleo

fusel) que é um subproduto da fabricação do álcool (BUCCI, 2003). O PHB

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produzido é utilizado pelas indústrias de transformação para desenvolvimento de

diversos produtos plásticos (BIOCYCLE, 2014). Estes produtos quando

descartados em ambientes naturais e biologicamente ativos (presença de

bactérias e fungos), associados à temperatura e umidade, são transformados

novamente em gás carbônico e água, concluindo o ciclo de vida sem grandes

impactos ao meio ambiente (BIOCYCLE, 2014).

Figura 17 - Ciclo de vida do PHB

Fonte: (BIOCYCLE, 2014)

3.5. EMBALAGENS PLÁSTICAS PARA ALIMENTOS

3.5.1. Histórico de embalagens para alimentos

O surgimento das embalagens está fortemente ligado ao desenvolvimento da

civilização. As primeiras embalagens para alimentos surgiram há mais de 10 mil

anos atrás, e serviam como recipientes para beber e estocar (SANTOS,

YOSHIDA, 2011). As primeiras embalagens utilizadas constituíam-se de

elementos encontrados na natureza, como cascas de coco, conchas do mar e

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chifres de animais (CAPELINI, 2007). Com o passar do tempo, e o

aprimoramento das habilidades manuais, foram produzidas tigelas de madeira,

potes de barro, cestos de fibra, entre outros (SANTOS, YOSHIDA, 2011). Por

volta do primeiro século depois de cristo o vidro começou a ser a ser amplamente

utilizado para guardar alimentos, por ser impermeável e transparente. Já no

século XIX, com a fabricação industrial do papel, ele deixou de ser utilizado

somente para escrita e passou a ter grande importância para proteger e

embrulhar alimentos (BUCCI, 2003).

A utilização do plástico como embalagem se deu após a Segunda Guerra

Mundial (MESTRINER, 2002 apud BUCCI, 2006). A vida moderna conheceu

elementos novos, um deles o supermercado, que estabeleceu padrões visuais da

embalagem tal como se conhece hoje. Surge então a necessidade de novas

embalagens, principalmente para alimentos, de fácil manuseio, estocagem,

transporte, e proteção (ASSIS, 2009). Nessa mudança de hábitos surgem as

embalagens plásticas, mais leves, mais baratas e fáceis de produzir do que as

embalagens de papel ou de metal; eram fabricadas a partir de várias resinas com

características diferentes, derivadas do petróleo, como o polietileno, poliéster,

polipropileno; teve início por volta de 1920, com o surgimento do celofane, um

filme transparente e flexível, que foi utilizado para proteger os alimentos e, ao

mesmo tempo, aumentando sua vida útil (BUCCI, 2003).

As embalagens plásticas, apesar de suas limitações como baixa resistência ao

impacto, à deformação e transmissão de luz, vêm se superando ao longo dos

anos (BUCCI, 2003). Essas limitações vêm diminuindo com o uso de novas

tecnologias, novos equipamentos, bem como o uso de novas resinas. Pode-se

citar, como exemplo, a resina PET (politereftalato de etila) entre as mais utilizadas

em embalagens de alimentos; além de ser transparente, tem como vantagem uma

ótima resistência mecânica e pode ser moldada em vários processos (BUCCI,

2003).

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3.5.2. Conceito atual de embalagens

São inúmeros os requisitos técnicos e legais que recaem sobre a embalagem,

fazendo com que essa confira proteção ao produto, viabilidade logística de

distribuição, de venda e de consumo, e que ao mesmo tempo atenda aos padrões

sociais, culturais e econômicos de nosso país (ABRE, 2001).

A embalagem não é um instrumento exclusivo da indústria para

comercializar seus produtos, mas sim de toda a sociedade para

ter acesso a bens de consumo de forma segura, prática e

economicamente viável (ABRE, 2011, p. 7).

A embalagem deve ser desenvolvida observando-se os seguintes aspectos,

conforme Figura 18:

Figura 18 - Aspectos a serem observados para o desenvolvimento de embalagens

Fonte: (ABRE, 2011)

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3.5.3. Funções da embalagem

As principais funções da embalagem são: conter, proteger, informar,

transportar e vender o produto. A escolha de uma embalagem para um produto

depende das necessidades de cada função que deve desempenhar (ASSIS,

2009; CAPELINI, 2007; SANTOS, YOSHIDA, 2011):

a) Conter: Guardar ou armazenar um produto, desde a produção até o

momento do uso pelo consumidor final.

b) Proteger: Manter a integridade sanitária do produto. Construir uma barreira

física, química e biológica. A permeabilidade a esses fatores é de grande

importância em função do tempo de vida útil do alimento, pois a

deterioração de alimentos embalados depende fortemente das

transferências que podem ocorrer entre o meio interno, dentro do material

de embalagem, e o meio externo, no qual ele é exposto aos danos na

estocagem e distribuição.

c) Vender o produto: a embalagem deve ser atrativa e conveniente, como

por exemplo, ter a possibilidade de ser subdivida (unidades menores e

isoladas), visando atender as necessidades do consumidor.

d) Informar: deve conter informações sobre a natureza do produto, forma de

utilização, quantidade, composição, procedência, fabricação, validade,

manuseio, etc. Muitas das informações contidas nas embalagens são

exigências da legislação.

e) Transportar: deve proporcionar viabilidade logística, mantendo a

integridade física do produto, e trazendo benefícios como a minimização de

perdas, a possibilidade da sua conservação durante o transporte e o

acesso em diferentes épocas do ano a produtos diversos provenientes de

outros lugares.

Além destas funções tecnológicas e mercadológicas, é importante também

ressaltar a função econômica da embalagem. O custo da embalagem deve ser

objeto de muita atenção, pois muitas vezes a embalagem custa mais que o

próprio produto que contém (GURGEL, 1995 apud BUCCI, 2003).

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3.5.4. Seleção de materiais para embalagens alimentares

O tempo de vida útil de um produto é controlado por três fatores:

características deste produto, propriedades da embalagem em si e condições de

distribuição e estocagem. A embalagem é, muitas vezes, responsável pela

garantia da qualidade do produto (BUCCI, 2003).

a) Características do produto: ao selecionar uma embalagem é necessário

conhecer as características individuais do produto. Reações deteriorativas

como reações enzimáticas, químicas, físicas e mudanças microbiológicas.

Pode-se citar a oxidação, ganho ou perda de umidade, ações enzimáticas,

perda ou mudança na constituição, especialmente aroma, cor, etc.,

mudança de textura, devidos à exposição à luz, frio e ao calor, danos

ocasionados por microrganismos ou pragas;

b) Propriedades da embalagem em si: conhecimento de características do

produto, condições de estocagem e transporte determinam as

necessidades de propriedades de barreira dos materiais de embalagem

utilizados para uma determinada aplicação. Propriedades de barreira

incluem permeabilidade a gases como oxigênio e gás carbônico, vapor

d’água, aromas e luz. Essas são propriedades vitais para manter a

qualidade e integridade dos alimentos. Os materiais de embalagens são

também escolhidos com base em fatores como: processabilidade,

propriedades mecânicas (tensão, alongamento, resistência à carga vertical,

força de ruptura, etc.), resistência química, física e biológica;

c) Condições de estocagem e distribuição: Fatores ambientais tais como

temperatura, umidade relativa, intensidade de luz, a que o produto ficará

exposto durante a estocagem e distribuição, devem ser considerados na

seleção do material da embalagem. O conhecimento das propriedades e

das vantagens dos materiais disponíveis para embalagens alimentícias é

de fundamental importância para a especificação mais adequada do

material para um determinado produto

Os principais materiais utilizados na fabricação de embalagens para alimentos

são: vidros transparentes e coloridos, papéis e papelões de várias densidades,

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metais, como aço e alumínio e principalmente, diversos tipos de plásticos

(CAPELINI, 2007).

3.5.5. Embalagens alimentares produzidas a partir de PHB

As embalagens plásticas alimentares, produzidas a partir do PHB, podem

sofrer degradação de microrganismos aeróbios que promovem produção de

resíduos orgânicos estáveis, como dióxido de carbono, biomassa e água. Porém,

a degradação também pode ocorrer em condições de anaerobiose, com a

produção do metano como principal produto final (ASSIS, 2009; CHANDRA;

RUSTIGI, 1998; NASCIMENTO, 2001).

Para que estas embalagens possam de fato, serem tratadas como alternativa

para os plásticos convencionais, estas, devem ser avaliadas sobre vários

aspectos, que incluem desde o gerenciamento dos compostos gerados (biomassa

e metano) a disponibilidade de matéria prima; custos; processabilidade do

polímero; atendimento aos requisitos técnicos e de segurança alimentar

referentes às propriedades de embalagens para alimentos (ASSIS, 2009).

3.5.6. Potencial de substituição dos polímeros convencionais por

biodegradáveis

Na Tabela 4 encontra-se o potencial de substituição dos polímeros

convencionais pelos biodegradáveis (PRADELLA; 2006).

O PHB e seus copolímeros possuem propriedades físicas que se assemelham

aos polímeros convencionais (Tabela 5), podendo, portanto, substituí-los

potencialmente em diversas aplicações. É possível observar na Tabela 4 que o

PHB pode substituir as resinas PP, PEAD e PS, ou seja, as resinas mais

utilizadas para fabricação de embalagens alimentícias (PRADELLA, 2006).

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Tabela 4 - Potencial de substituição dos polímeros convencionais pelos bioplásticos.

Materiais PVC PEAD PEBD PP PS PMMA PA PET PC

Polímeros de Amido

- + + + + - - - -

PLA - + - + + - + + -

PTT - - - + - - ++ ++ +

PBT - - - ++ - - + ++ +

PHB - + - ++ + - - - -

PHB/HHx + ++ ++ ++ + - - + -

++ substituição completa; + substituição parcial; - não substuição. Fonte: (PRADELLA, 2006)

Tabela 5 - Propriedades físicas do PHB e alguns copolímeros em comparação com plásticos

Material

Tm (ºC) Tg (ºC) Tensão de Cisalhamento

(Mpa)

Elongamento na ruptura

(%)

PHB 177 4 43 5

P(HB-co-10% HV) 150 - 25 20

P(HB-co-20% HV) 135 - 20 100

P(HB-co-17% HHx) 127 -1 21 400

P(HB-co-17% HHx) 120 -2 20 850

Polipropileno (PP) 170 - 34 400

Poliestireno (OS) 110 - 50 -

Fonte: (PRADELLA, 2006)

A Tabela 6 mostra exemplos de aplicações correntes e em

desenvolvimento para os bioplásticos. Dentre estas substituições destacam-se as

áreas de embalagens, descartáveis e fibras têxteis, mercados dominantes no

consumo de termoplásticos (PRADELLA, 2006).

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Tabela 6 - Aplicações de alguns bioplásticos

Polímero Aplicações

Amido

modificado e

Amido-PCL

Embalagens: sacos; Bandejas; talheres; filme para

embrulhar.

Agricultura: filme de recobrimento; vasos para mudas;

encapsulação e agente de liberação de agroquímicos.

Outros: uso na composição de pneus como enchimento

PLA

Embalagens: alimentos, óleos e produtos gordurosos.

Fibras e tecidos: uso em interiores de automóveis;

tapetes, carpetes, tecidos para roupas.

PTT

Embalagens: Fibras e filmes para embalagens; cordas.

Fibras e tecidos: uso em interiores de automóveis;

tapetes, carpetes, tecidos para roupas.

Outros: fitas magnéticas; pisos de recobrimento; corpos de

equipamentos eletrônicos.

PBT

Elétrico-eletrônico: isolamento em eletrodomésticos e

relays; cabos de conecção; componentes para chaves e

tomadas.

PBS E PBSA

Embalagens: sacos; frascos; filme para embrulhar.

Agricultura: filme de recobrimento.

Outros: plastificante para PVC.

PHB; PHB-HV;

PHB-HHx

Embalagens: frascos para alimentos e produtos aquosos e

gordurosos; artigos de descarte rápido; filmes para

recobrimento de cartões.

Agricultura: vasos para mudas; encapsulação e agente de

liberação de agroquímicos.

Outros: microcápsulas para liberação controlada de ativos;

moldes para engenharia de tecidos; partes de fraldas e

absorventes íntimos.

Fonte: (PRADELLA, 2006)

3.5.7. Custo de produção do PHB

Um dos principais fatores que dificulta a substituição de artigos produzidos

com polímeros convencionais, produzidos a partir de derivados do petróleo, por

artigos produzidos por PHB é o seu alto custo de produção (LEE, 1999).

Considerando o processo de produção do PHB, é desejável maximizar as

variáveis de processo, como a produtividade (massa de PHB produzida por

unidade de volume, por unidade de tempo), a porcentagem de acúmulo de PHB

pelo microrganismo, e o fator de conversão de substrato em produto bem como a

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quantidade de PHB recuperada nas etapas de extração e purificação (TADA,

2009).

As formas mais estudadas para maximização das variáveis citadas são:

seleção de cepas com maior porcentagem de acúmulo intracelular de PHB,

desenvolvimento de linhagens geneticamente modificadas visando maior acúmulo

de PHB e/ou que utilizem substratos de baixo custo; desenvolvimento de

processos de recuperação do PHB intracelular que não utilizem solventes

orgânicos (CHOI; LEE, 1999).

No Brasil, a produção de PHB se beneficiou da presença e abundância de

substratos de baixo custo fornecidos pela indústria sucroalcooleira (TADA, 2009).

O atrelamento da produção de PHB com a produção em usina sucroalcooleira

junto com todas as suas vantagens (substrato de baixo custo, energia, solventes

para extração, etc) permitiu que o custo de produção do PHB pela PHB Industrial

seja o menor do mundo. Porém, esse preço ainda é superior aos preços dos

polímeros sintéticos provenientes da indústria petroquímica, o que dificulta a

ampla comercialização do PHB (SQUIO; ARAGÃO, 2004).

3.5.8. Processabilidade de embalagens de PHB

O PHB tem alta cristalinidade, é hidrofóbico, 100% biodegradável, e, como

a maioria dos termoplásticos, pode ser processado por extrusão, injeção, sopro e

termoprensagem (PACHECOSKI et al., 2013).

Com relação ao processamento, como o PHB é quimicamente instável a

altas temperaturas, o tempo de processo deve ser reduzido, ajustando-se às

propriedades deste biopolímero (REDDY et al, 2013; WESSLER, 2007)). O PHB

apresenta uma estreita janela de processabilidade, ou seja, em temperatura ao

redor de 190ºC e se submetido à altas taxas de cisalhamento o PHB sofre

degradação, sendo indicado o uso de copolímeros, tais como PHB-HV (REDDY et

al, 2013). Aditivos, misturas e compósitos são as formas mais comuns para

superar esses problemas. A resistência ao impacto aumenta com o aumento da

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porcentagem de hidroxivalerato (HV) nos copolímeros, enquanto a Tf, Tg, a

cristalinidade, a permeabilidade à água e a resistência à tração diminuem.

(REDDY et al, 2013; WESSLER, 2007).

A produção de blendas de PHB com outros polímeros visa o melhoramento

de suas propriedades físicas, do processamento. Estas blendas podem ser

biodegradáveis ou parcialmente biodegradáveis, dependendo se o polímero

combinado com o PHB é ou não biodegradável (QUENTAL et al., 2010). Outra

vantagem da preparação de blendas com PHB é o baixo custo que a mistura

apresentar em relação ao custo do PHB puro (QUENTAL et al., 2010).

A morfologia dos polímeros semicristalinos a partir do estado fundido é

caracterizada pela existência de esferulitos (CANEVAROLO, 2010). Quando um

polímero cristalizável fundido é resfriado, a cristalização se inicia em núcleos

individuais e se desenvolve radialmente, formando os esferulitos (CANEVAROLO,

2010). Estas estruturas possuem diferentes tamanhos e graus de perfeição,

interferindo nas propriedades do material (CANEVAROLO, 2010).

Devido à sua baixa densidade de nucleação, o PHB possui uma baixa taxa

de cristalização, o que leva a ciclos mais longos durante o processamento térmico

em comparação aos polímeros convencionais; ocorre também, a formação de

esferulitos grandes, reduzindo significativamente as propriedades físicas do

polímero moldado (WESSLER, 2007).

Em relação à produção de embalagens alimentícias Bucci, (2003), ressalta

que o PHB pode ser injetado nos mesmos equipamentos em que se injetam

embalagens de PP, desde que, sejam ajustas as condições de processo às

características do polímero e seja utilizado um molde especifico para ele. Em um

estudo realizado para comparação entre o PP e o PHB em injeção de

embalagens (pote e tampa) para aplicações alimentícias, Bucci (2003), chegou

aos tempos de ciclo de injeção, conforme mostrado na Tabela 7. As condições do

processo de injeção de peças de PHB e de PP utilizadas no estudo constam na

Tabela 8.

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Tabela 7 - Ciclo de injeção dos potes e tampas em PHB e PP.

Pote Tampa

Ciclo de injeção PHB PP PHB PP

15 11 13,8 9

Fonte: (BUCCI, 2003)

Tabela 8 - Condições de injeção comparativas entre PHB e PP.

Variável PHB PP

Temperatura Fundido (°C) 160 180

Temperatura Funil (°C) 25 25

Temperatura Alimentação (°C) 130 230

Zona Compressão (°C) 140 250

Zona Mistura (°C) 150 250

Nariz (°C) 160 250

Molde (°C) 10 - 15 10 - 15

Fonte: (BUCCI, 2003)

Para tornar o PHB um material competitivo é imprescindível à otimização

de seu processamento utilizando processos convencionais de transformação de

polímeros a partir do estado plastificado, que por sua vez é muito limitado devido

à degradação térmica sofrida pelo PHB (QUENTAL et al., 2010). A possibilidade

de processá-lo e moldá-lo como um típico termoplástico ampliariam suas

aplicações. Embora, o processamento seja visto por muitos como um grande

obstáculo, com os parâmetros adequados é perfeitamente viável processar o PHB

sem comprometer suas propriedades (QUENTAL et al., 2010).

3.5.9. Requisitos técnicos referentes às propriedades de embalagens para

alimentos

A embalagem é muitas vezes responsável pela garantia da qualidade do

produto. Sendo assim, para a seleção adequada de uma embalagem para fins

alimentícios é necessário avaliar algumas propriedades (BUCCI, 2003 apud

ASTM, 1997; RAMOS, 2014):

Propriedades dimensionais: são importantes para garantir que a embalagem

irá conter e proteger o produto devidamente, além de tecnicamente, poder avaliar

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a homogeneidade do material na peça (análise da espessura) e a contração do

material (analise das dimensões).

Peso e capacidade volumétrica: O peso é uma medida importante visto que

permite verificar rapidamente se as embalagens apresentam alguma anomalia na

produção que poderia levar a problemas de distribuição de espessura,

propriedades mecânicas e/ou de barreira. Em relação à capacidade volumétrica

total, através de sua avaliação é possível fazer a comparação de desempenho

dos diferentes materiais utilizados para produzir uma mesma embalagem;

Propriedades mecânicas: são importantes para avaliar a capacidade resistiva

da embalagem, em diversas situações, as quais estas, serão submetidas durante

sua vida útil, como por exemplo: a embalagem deve proteger o produto

acondicionado, para isto, ela não deverá sofrer deformações quando sofrer

solicitações, tais como, as forças de fechamento de maquinas, condições de

estocagem, como empilhamento etc. (resistência à compressão dinâmica). Ainda,

as embalagens estão sujeitas a quedas, durante seu manuseio, por isso torna-se

importante avaliar o impacto causado por queda livre.

Propriedades físicas: estas propriedades estão relacionadas principalmente ao

aspecto da embalagem e à transmissão de luz. A transmissão de luz é uma

importante propriedade para a maioria das embalagens de alimentos, pois a luz

afeta diretamente a qualidade dos alimentos. É importante também, avaliar o

aspecto ou aparência da embalagem para detecção de defeitos, que são

decorrentes do processo produtivo e que podem prejudicar o desempenho da

embalagem em aspectos como, resistência mecânica, propriedades de barreira e

marketing (avaliação visual);

Propriedades de interação produto-embalagem: Avaliar esta propriedade é

fundamental para garantir que a embalagem, entre outras coisas, irá manter o

sabor e o aroma do produto, ou até mesmo, devido aos materiais empregados na

fabricação da embalagem e as características do produto, não irá, ela mesmo

fornecer sabor e odor indesejáveis ao alimento (potencial de alteração sensorial

de alimentos).

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Somente, depois de avaliadas essas propriedades, é possível definir as

especificações, aplicações e condições de uso das embalagens.

3.5.10. Avaliação de Embalagens de PHB para uso em Alimentos

Em relação à fabricação de embalagens alimentícias, produzidas com PHB,

estas propriedades foram avaliadas por Bucci (2005, 2007) em estudos

comparativos, entre o PP e o PHB, com a injeção de embalagens (pote e tampa),

já mencionado anteriormente. Estes estudos avaliaram e compararam (PHB e PP)

as diversas propriedades citadas (propriedades dimensionais: dimensão e

espessura; peso e capacidade volumétrica; propriedades físicas: avaliação visual

e transmissão de luz especular; propriedades mecânicas: resistência à

compressão dinâmica e impacto por queda livre; propriedades de interação

produto-embalagem: avaliação do potencial de alteração sensorial de alimentos).

Foram avaliados os potes e as tampas injetados utilizando-se as resinas de PHB

sem pigmento (PHB N), PHB pigmentado (PHB P) e PP (BUCCI, 2005).

Através deste estudo Bucci (2005) concluiu através da avaliação dimensional,

testes de espessura, capacidade volumétrica e da inspeção visual realizados que

o PHB pode ser utilizado em processos de injeção para fabricação de

embalagens de alimentos nos mesmos equipamentos onde se injetam

embalagens de PP, desde que sejam ajustadas as condições de processo às

características daquele polímero e, uma vez que o PHB possui um grau de

contração maior em reação ao molde, que seja utilizado um molde específico para

ele. Na comparação de potes de PHB natural e pigmentado com potes de PP em

testes de compressão dinâmica e ao impacto por queda livre as diferenças nos

resultados não foram significativas, o que levou Bucci (2005) a concluir que o

PHB pode ser utilizado nas mesmas condições que o PP. Foi observado também,

que o PHB tem uma barreira natural à luz na faixa de UV o que dispensa o uso de

pigmentos ou absorvedores de UV – comum em PP, PET, PVC, por exemplo -

para proteção de alimentos facilmente oxidáveis. Os testes físicos, dimensionais,

mecânicos e sensoriais executados mostraram que o PHB pode substituir o PP ou

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outros polímeros sintéticos em embalagens para acondicionamento de grande

parte dos alimentos, inclusive para uso em freezer e micro-ondas.

Através de testes de biodegradação do PHB natural injetado Bucci (2007)

avaliou que alguns meios são bem mais favoráveis à degradação do que outros,

mas que ela ocorre na sua grande maioria, sempre que o material for descartado.

Mesmo que a embalagem seja jogada em qualquer lugar, ela degradar-se-á num

período de meses, no máximo anos e por isso, representa um problema ambiental

bem menor que as embalagens de PP, PE, PS, PET, etc. cuja degradação leva

centenas de anos.

3.5.11. Gerenciamento dos resíduos das embalagens biodegradáveis

O uso dos polímeros biodegradáveis, para redução dos problemas causados

pelos resíduos sólidos, está crescendo rapidamente. O foco na utilização destes

polímeros está na inclusão destes resíduos em tratamentos de recuperação por

via orgânica (POÇAS; FREITAS, 2003). A recuperação orgânica de embalagens,

compostagem ou biometanização, consiste no tratamento das partes

biodegradáveis da embalagem com microrganismos aeróbicos ou anaeróbicos,

respectivamente, e produção de resíduos. Sendo que, a compostagem é

realizada sobre condições aeróbica, e tem como principais produtos finais, gás

carbônico, água e biomassa (POÇAS; FREITAS, 2003). A biometanização difere

da compostagem por ocorrer em condições de anaerobiose, com a produção de

metano como principal produto final (POÇAS; FREITAS, 2003).

3.5.11.1. Compostagem

A compostagem é um dos possíveis tratamentos no âmbito da recuperação

orgânica para tratamento de resíduos de embalagens (POÇAS; FREITAS, 2003).

A matéria orgânica do lixo é devolvida à terra para ser degradada través da ação

de microrganismos (POÇAS; FREITAS, 2003).Os resíduos obtidos são então

recolhidos e tratados para a produção de fertilizantes (POÇAS; FREITAS,

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2003).O processo de compostagem ocorre em condições controladas, pela ação

de microrganismos aeróbios que degradam as partes biodegradáveis dos

resíduos de embalagem, produzindo compostos orgânicos estabilizados, como,

dióxido de carbono, água e biomassa (POÇAS; FREITAS, 2003).

3.5.11.2. Biometanização

Quando a biodegradação ocorre em condições de anaerobiose há a formação

do gás metano como principal produto final (ASSIS, 2009). Tendo em vista que,

apenas na fase inicial, durante e logo após a deposição dos resíduos nos aterros,

observam-se condições adequadas de crescimento de microrganismos aeróbios,

o restante da degradação se dá em condições anaeróbias (ASSIS, 2009). Dessa

forma, as embalagens biodegradáveis, quando não puderem ser valorizadas de

outras formas, e assim destinadas aos aterros sanitários, pode ser feito o

reaproveitamento do biogás gerado pela decomposição da matéria orgânica

(ASSIS, 2009). Fontes de energia renováveis, como o biogás, promovem maior

diversidade no suprimento energético e favorecem o desenvolvimento econômico

e social mais sustentável no país (ASSIS, 2009).

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4. METODOLOGIA

Foi empregado o estudo exploratório-descritivo através de pesquisa

bibliográfica, e da utilização de dados secundários oriundos de publicações e

resultados de pesquisas específicas sobre a produção e utilização do biopolímero

poli(hidroxibutirato) em embalagens para alimentos.

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5. CONCLUSÃO

A crescente demanda por embalagens, principalmente para alimentos,

impacta negativamente o meio ambiente através da geração de uma grande

quantidade de resíduos sólidos. Dentre as alternativas adequadas para solução

desse problema, temos a utilização de bioplásticos, como o poli(hidroxibutirato),

para fabricação de tais embalagens.

Conforme demonstrado neste trabalho, o PHB possui propriedades que lhe

permitem ser considerado um polímero biodegradável com capacidade de ser

utilizado em embalagens alimentícias, uma vez que, atende a muitos requisitos a

que uma embalagem de alimento deve conferir.

O PHB pode ser utilizado em processos de injeção para fabricação de

embalagens de alimentos nos mesmos equipamentos onde se injetam

embalagens de PP, desde que sejam ajustadas as condições de processo às

características daquele polímero e utilizado um molde específico para ele; sendo

assim, não há necessidade de grandes investimentos em equipamentos

especiais.

Como os maiores impactos ambientais dos plásticos sintéticos se

concentram nas fases de obtenção das matérias-primas e de descarte, a

utilização do PHB em embalagens de alimentos traz, como ganho para o meio

ambiente e de toda a sociedade, a redução do volume de resíduo plástico

presente.

Além disso, no Brasil, há capacidade tecnológica para a produção e o

processamento deste polímero. Outra grande vantagem do PHB é ser derivado de

recursos renováveis que podem ser produzidos no Brasil em grande escala,

gerando também empregos na indústria e no campo.

No entanto, um fator ainda limitante para a utilização destes polímeros

seria o custo. Porém, há uma crescente demanda por materiais biodegradáveis

em geral, além do constante desenvolvimento de novas tecnologias que podem

ocasionar uma queda neste elevado custo.

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