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PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE CARVÃO VEGETAL
TEORIA E PRATICA NA DEFINIÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE FORNOS DE TERRA MELHORADOS IBEK NO DISTRITO DE MABALANE- PROVÍNCIA DE GAZA
Relatório Final PARTE 2 DE 2
Ricardo Martins
Maputo, Março de 2016
AVISO LEGAL Este relatório foi preparado no âmbito da identificação e preparação ideias/propostas do
Projecto de Acções de Mitigação Nacionalmente Apropriadas para Moçambique. O Serviço de
Alterações Climáticas e o Governo Federal Belga providenciaram o apoio financeiro para este
projecto.
Os pontos de vista e opiniões expressos neste relatório são da exclusiva responsabilidade dos
autores e não vinculam terceiros. Os resultados e factos foram recolhidos e verificados com o
melhor empenho dos autores e destinam-se a informar discussões futuras para melhorar a
eficiência/sustentabilidade da cadeia de valor do carvão vegetal em Moçambique. O uso deste
documento e do seu conteúdo é da inteira responsabilidade de quem o usar.
i
Índice
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... i
LISTADETABELAS ........................................................................................................................ ii
LISTADE FIGURAS ...................................................................................................................... iii
ACRÓNIMOS ............................................................................................................................... v
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
2. TEORIA E TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO .............................................................. 2
2.1. TEORIA DO PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO............................................................................ 2
2.2. TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO .............................................................................. 4
2.2.1. FORNOS DE TERRA ............................................................................................................................ 5
2.2.2. FORNOS DE TIJOLO ........................................................................................................................... 9
2.2.3. FORNOS DE METAL ......................................................................................................................... 14
2.2.4. FORNOS TIPO RETORTA ................................................................................................................. 16
2.3. COMPARAÇÃO TÉCNICA ENTRE TIPOS DE FORNOS ............................................................. 17
2.3.1. EFICIÊNCIA EM FORNOS DE CARVÃO ............................................................................................ 17
2.3.2. TEMPO DE OPERAÇÃO ................................................................................................................... 19
2.3.3. CUSTOS DO FORNO ........................................................................................................................ 20
2.3.4. VANTAGENS E DESVANTAGENS RELATIVAS: FOCO EM MOÇAMBIQUE ..................................... 21
2.4. FORNOS PARA A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE CARVÃO ...................................................... 22
3. IMPLEMENTAÇÃO EXPERIMENTAL DE UM FORNO IBEK EM MABALANE ............................ 25
3.1. ABORDAGEM METODOLÓGICA ............................................................................................. 25
3.1.1. DECISÃO PARTICIPADA DE TECNOLOGIA ...................................................................................... 25
3.1.2. RECOLHA DE DADOS E ANÁLISE COMPARATIVA DE TECNOLOGIAS ........................................... 27
3.2. IMPLEMENTAÇÃO PRÁTICA E RESULTADOS ......................................................................... 28
3.2.1. WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPATIVO ..................................................................................... 28
3.2.2. CONSTRUÇÃO DOS FORNOS IBEK EM DJODJO E MAVUMBUQUE .............................................. 32
3.2.3. CÁLCULO DE EFICIÊNCIAS E CORRELAÇÕES .................................................................................. 34
4. CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ........................................................................ 41
5. RECOMENDAÇÕES ............................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 46
ANEXO A- SLIDES USADOS NOS WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPATIVOS ............................. A
ANEXO B - PARTICIPANTES NOS WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPATIVOS ............................. D
i
AGRADECIMENTOS Este trabalho nunca teria saído do forno sem a preciosa ajuda dos Carvoeiros de Djodjo e
Mavumbuque. A Sérgio e Henrique Tchauque e o Papá Albertp Tchauque e todos os seus
colegas de trabalho em Djodjo e a Filipe e Jonas e as suas equipas em Mavumbuque o meu
muito obrigado! A preciosa ajuda do Sr. Administrador de Mabalane, o Sr. Luís Sumbane, e da
equipa técnica do SDAE de Mabalane, com particular atenção para o Sr. Hanhanhe, Sr.
Bartolomeu, e o Sr. Sitoe que foram muito importantes para que este projecto fosse posto em
prática. Aos alunos do curso de Mestrado em Simulação de Projecto da UEM o meu
agradecimento sentido por me terem ajudado no trabalho de campo, em particular ao Aluno
Pascoal Gota que me ajudou imenso com as traduções simultâneas e o trabalho prático de
campo e o assistente Arsénio Jorge. Um agradecimento também ao Professor Luís Artur e
Bruno que facilitaram a cooperação institucional e operacional entre a GreenLight e a UEM.
Agradecimento também a todos os participantes nos Workshops de Design Participado
realizados na UEM em Maputo, na DPA do Xai-Xai e nas instalações do governo distrital em
Combomune e Mabalane Sede. O autor queria também deixar um agradecimento especial a
Sra. Patrica Grobben pela sua paciência, comentários e sugestões que muito enriqueceram a
qualidade deste trabalho. A todos, Kanimambo!!!
ii
LISTADETABELAS Tabela 2.1- Características genéricas da produção familiar/tradicional e industrial de carvão
[Fonte: baseado em Emrich 1985: 19, 107]. ....................................................................................... 4
Tabela 2.2- Tipos de fornos de tijolo para a produção de carvão mais comuns (INTERNA- Energia
de Carbonização obtida por queima de parte da madeira alimentada ao forno; EXTERNA-
Carbonização feita com gases quentes alimentados ao forno) [Fonte: Emrich 1985: 57; FAO
1987]. ................................................................................................................................................... 10
Tabela 2.3- Valores de eficiência da literatura(TODOS- todos os testes disponíveis) [Fonte:
Gmünder et al. 2014; Joaquim 2001, 2002; Joaquim & Brouwer 2009; Kammen&Lew2005; KRFI
2006; Morgan-Brown & Samweli 2016; Schenkel et al.1998]. ........................................................ 18
Tabela 2.4- Tempo médio despendido por operador e por m3 de lenha alimentado ao forno
[Fonte: FAO 1987; KRFI 2006; Schenkel et al. 1998]. ....................................................................... 19
Tabela 2.5- Estimativas de custos dos fornos de tijolo, metal e retortas [Fonte: Colombo et al.
2006; Emrich 1985; FAO 1987]. ......................................................................................................... 20
Tabela 2.6- Vantagens e desvantagens das várias tecnologias de fornos no contexto
Moçambicano [Fonte: o Autor baseado em §2.2]. .......................................................................... 21
Tabela 3.1- Resumo das várias perspectivas prevalentes nos WDP em relação com a tecnologia
escolhida.............................................................................................................................................. 32
Tabela 3.2- Medições de massa realizadas em Mavumbuque e Djodjo [Fonte: Trabalho de
Campo]. ............................................................................................................................................... 35
Tabela 3.3- Calculo das diferentes eficiências para cada um dos fornos [Fonte: Trabalho de
Campo]. ............................................................................................................................................... 38
Tabela 3.4- Cálculo da densidade de cada um dos fornos [Fonte: Trabalho de Campo]. ............. 39
Tabela 3.5- Tabela de conversão entre diferentes unidades de uso comum [Fonte: Trabalho de
Campo]. ............................................................................................................................................... 39
iii
LISTADE FIGURAS Figura 2.1- As operações unitárias envolvidas na produção de carvão. Dentro de cada operação
unitária há diferentes actividades, e.g., a operação de um forno de terra inclui: construção;
controlo e abertura do forno [Fonte: o Autor]. .................................................................................. 2
Figura 2.2- Representação do balanço de materiais e componentes de um forno de carvão
genérico (Nota: PM- partículas) [Fonte: o Autor baseado em Gmünder et al. 2014]. .................... 3
Figura 2.3- Esquema e fotografado forno tipo fosso [Fonte: adaptado pelo autor de FAO 1987]. 5
Figura 2.4- Esquemas e fotografias do forno de terra em monte [Fonte: adaptado pelo Autor de
Emrich 1985; Karch et al.1982]. ........................................................................................................... 6
Figura 2.5- Esquemas de um forno Casamance de 100m3 [Fonte: adaptado pelo autor de FAO
1987]. ..................................................................................................................................................... 7
Figura 2.6- Forno Casamance de 200m3 [Fonte: Stassen 2015]. ....................................................... 8
Figura 2.7-Esquema e fotografia do forno IBEK [Fonte: Esquema do Autor sobre fotografia de
TATEDO/TFCG 2015; Fotografia TATEDO/TFCG 2015]. ...................................................................... 9
Figura 2.8-Esquema e fotografia mostrando a estrutura complexa, pesada e dispendiosa de um
Forno Missouri. A fotografia, tirada no Gana, mostra claramente não só a prevalência de
cimento armado e ferro como também uma racha resultante de uma operação deficiente
[Fonte: Emrich 1985]. ......................................................................................................................... 10
Figura 2.9- Esquemas e fotografias de um forno FML mostrando (A) as dimensões de um forno
típico e (B) a forma de arrumação da lenha. Fornos mais pequenos podem ter diferentes
aberturas e dispensam a dupla parede tão alargada. A fotografia do forno acabado e a ser
selado (B) refere-se a um forno com cerca de 80m3 de volume bruto [Fonte: O Autor baseado
em esquemas de FAO 1987; fotografias de Emrich 1985]............................................................... 11
Figura 2.10-Perfis e fotografia de um forno FEQ tipo colmeia típico. Com excepção do ponto de
ignição, o número e posição das entradas e saídas de ar e meramente exemplificativo [Fonte: o
Autor baseado em esquemas de FAO 1987 e Assis et al. 1998; fotografia de FAO 1987]. ........... 13
Figura 2.11-Esquema e fotografia de um forno TPI padrão para 7m3 de lenha [Fonte: o Autor
baseado em Stassen 2015 e Emrich 1985; fotografia de FAO 1987]. ............................................. 14
Figura 2.12-Representação do forno FFT do Tonga e sua operação [Fonte: o Autor baseado em
Emrich 1985]. ...................................................................................................................................... 15
Figura 2.13-Representação do forno de tambor adaptado com as principais dimensões e arranjo
de peças [Fonte: o Autor baseado em KRFI 2006]. .......................................................................... 16
Figura 2.14-A retorta Adams [Fonte: www.biocoal.org/]................................................................ 17
Figura 2.15- Uma fornalha Herreshoff montada pela Hankin Environmental Systems [Fonte:
Hakin 2015]. ........................................................................................................................................ 23
iv
Figura 2.16- Uma unidade industrial com duas retortas Lambiote na Letónia [Fonte:
www.baltcarbon.lv]. ........................................................................................................................... 24
Figura 3.1-Sistema de produção de carvão vegetal como definido pelo grupo 2 no WDP1
realizado em Maputo. ........................................................................................................................ 30
Figura 3.2-Sistema de produção de carvão vegetal como definido no WDP4 realizado no Xai-Xai.
.............................................................................................................................................................. 31
Figura 3.3-Sequência de construção de um forno IBEK [Fonte: adaptado pelo autor de
TATEDO/TFCG 2015]. .......................................................................................................................... 33
Figura 3.4-Distribuição de DAP das árvores usadas nos fornos [Fonte: Medições de campo]. .... 34
Figura 3.5- Balanços e fluxos de massa para (A) média dos dois fornos locais e(B)media dos dois
fornos IBEK[Fonte: Medições de campo]. ......................................................................................... 36
Figura 3.6- Redução de massa das amostras recolhidas por desidratação em (A) Mavumbuque;
e (B) Djodjo [Fonte: Medições de campo]. ....................................................................................... 37
v
ACRÓNIMOS ASTM Sociedade Americana de Teste de Materiais (American Society for Testing Materials
em Inglês)
DAP Diâmetro médio de peito
DIPREM Direcção Provincial De Recursos Naturais
DPA Direcção Provincial de Agricultura
FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura Materiais (Food and Agriculture Organization em Inglês)
FM Forno Missouri
FML Forno Meia-Laranja
FRQ Forno Rabo-Quente
FTF Forno de Terra tipo Fosso
FTM Forno De Terra Melhorado
FTP Forno de Terra tipo Pilha
FUNAE Fundo Nacional de Energia
HCNM Hidrocarbonetos Não Metanados
IBEK Forno De Terra Básico Melhorado (Improved Basic Earth Mound Kiln em Inglês)
IIAM Instituto de Investigação Agrária de Moçambique
IIED Instituto Internacional para o Ambiente e Desenvolvimento (International Institute for Environment and Development em Inglês)
MASA Ministério De Agricultura E Segurança Alimentar (Antes MINAG, Ministério da Agricultura)
SDAE Serviços Distritais de Actividades Económicas
TATEDO Organização para a Desenvolvimento de Energia Tradicional da Tanzânia (Tanzania Traditional Energy Development Organization em Inglês)
TPI Instituto de Produtos Tropicais (Tropical Products Institute em Inglês)
UEM Universidade Eduardo Mondlane
WDP Workshop de Design Participativo
1. INTRODUÇÃO
Depois de a primeira parte deste relatório ter explorado os aspectos socio-ecológicos da
produção de carvão nas províncias de Maputo e Gaza no sul de Moçambique, esta segunda e
última parte abordará a tecnologia de produção de carvão.
O carvão é, provavelmente, o primeiro material sintético criado pela espécie Humana (Antal &
Grønli 2003), e o forno de terra a forma mais antiga de produção de carvão (Emrich 1985: 1-3).
Apesar de ter sido substituído por outros fornos mais sofisticados a partir da revolução
industrial, o forno de terra foi usado de forma massiva para fins siderúrgicos durante a idade
média e pré-industrial (Knapp et al. 2015; Ludemann 2010a, b; Raad et al. 2015) e continua a
ser o forno preferido em quase todos os Países em Desenvolvimento (Stassen 2015: 427, 434).
Em Moçambique as primeiras referências da produção de carvão em fornos de terra datam dos
finais do séc. XIX (Penvenne 1995: 195-198), e ainda hoje são usados de forma exclusiva em
todo o pais de acordo com técnicas locais e mesmo individuais. No entanto há que referir nos
finais dos anos 70, como parte dos programas FO a Universidade Eduardo Mondlane (UEM)
estudou e instalou fornos de metal para a produção industrial de carvão (Entr. Manso 2015) e,
mais recentemente, instalou também fornos de tijolo de origem brasileira para fins de pesquisa
(Entr. Júnior 2015). Do mesmo modo há mais de 3 anos que tem sido dada formação a
carvoeiros no forno Casamance pelo Ministério da Agricultura (MASA) e pelas ONGs KULIMA e
ADEL no sul e centro de Moçambique (Entr. Natalie 2015).
O sucesso extremamente limitado destas iniciativas, a utilização exclusiva dos fornos de terra
em Moçambique e o cariz complexo da tecnologia e ciência produção de carvão (e.g. Antal &
Grønli 2003) levou este projecto a optar por uma metodologia diferente de disseminação de
tecnologia de fornos melhorados. Em vez de optar pela usual formação financiada de um tipo
de forno pré-selecionado por ser considerado mais eficiente tecnicamente, este projecto optou
por uma metodologia participativa (§2) de especificação (§4), construção (§5) e teste
comparativo (§6) de fornos. Na base desta metodologia estão: as soluções tecnológicas teóricas
e prácticas disponíveis (§2); e a experiencia de carvoeiros, técnicos governamentais,
investigadores e decisores políticos. Especificamente, este relatório descreve os processos: de
selecção do forno IBEK (de inspiração Tanzaniana) usando a ferramenta de design participativo
2MB; de implementação do forno IBEK nas comunidades de Mavumbuque e Djodjo (distrito de
Mabalane, província de Gaza); e dos resultados quantitativos de biomassa usada, propriedades
da matéria-prima usada e de eficiência comparativa entre um IBEK e um forno de terra simples"
de iguais dimensões e tipo de madeira. O objectivo final é demonstrar os benefícios
comparativos do forno IBEK em comunidades rurais e a possibilidade de disseminação dessa
nova tecnologia por parte dos carvoeiros.
2
2. TEORIA E TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO Esta secção faz uma breve resenha da teoria (§2.1) e tecnologia (§2.2-3.3) da produção de
carvão com especial foco nas tecnologias actualmente em uso em países em desenvolvimento.
2.1. TEORIA DO PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO
O carvão é o resíduo sólido que resulta da carbonização ou pirólise lenta de biomassa seca em
condições controladas e ausência total ou parcial oxigénio (ar) em espaços fechados a
temperaturas superiores a 300oC (Emrich 1985: 13; FAO 1987). Reduzindo ou impedindo a
entrada de ar no forno evita-se a combustão total e promove-se a decomposição química da
biomassa em carvão, fig. 2.2. Embora qualquer tipo de biomassa seca possa ser usado (e.g.
resíduos de madeira ou agrícolas), neste trabalho considera-se apenas a madeira de árvores. Do
mesmo modo, apesar da produção de carvão incluir várias operações unitárias, fig. 2.1, nesta
secção o foco é apenas a carbonização, i.e., o que se passa dentro do forno em operação.
Figura 2.1- As operações unitárias envolvidas na produção de carvão. Dentro de cada operação unitária há diferentes actividades, e.g., a operação de um forno de terra inclui: construção; controlo e abertura do forno [Fonte: o Autor].
O processo de carbonização dentro de um forno de carvão descontínuo e sem calor externo
pode ser dividido em quatro fazes (Emrich 1985: 5; FAO 1987; Gmünder et al. 2014):
1. Desidratação, 100-180oC. A água liberta-se da madeira como vapor (fumo branco);
2. Formação de gases, 170-280oC- Liberta-se a água ligada quimicamente e os gases de
combustão, monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2) e vapores de pirólise
que dão origem ao licor negro (óleo de pirólise) após condensação ("fumo escuro");
3. Reacção exotérmica, 270/280oC-500/700oC- A madeira decompõem-se (destila)
provocando o aumento acentuado e repentino de temperatura para os 500/700oC com
produção de um fumo amarelado contendo metanol, etanol, ácido acético, CO, CO2,
hidrogénio, nitrogénio, metano e alcatrão. Os gases que condensam desta fase formam o
licor de pirólise ("vinagre de carvão" ou licor negro). O fim desta etapa é marcado pela
produção de um fumo azulado e quebra de temperatura de 500/700oC para 400/300oC;
4. Arrefecimento- Realizada na ausência total de ar para evitar a auto-ignição do carvão
incandescente que arrefece 400/300oC até atingir a temperatura ambiente.
3
A partir destas quatro fazes e dos requisitos práticos da produção de carvão é possível
estabelecer um balanço de materiais e componentes como ilustrado na fig. 2.2.
Figura 2.2- Representação do balanço de materiais e componentes de um forno de carvão genérico (Nota: PM- partículas) [Fonte: o Autor baseado em Gmünder et al. 2014].
O tipo, quantidade e proporções relativas de cada um das entradas (madeira, materiais de
construção e espaço, tempo e trabalho investidos) e saídas (emissões, entulho e produtos
secundários) indicadas na fig. 2.2 dependem do tempo e qualidade de combustão bem como
do tipo e dimensão do forno de carvão usado. O tipo e dimensão do forno de carvão usado
definem a eficiência do forno, i.e., a razão entre a lenha usada no forno e o carvão produzido
(§3.2.3). Relativamente às emissões, há muito poucos estudos, mas estima-se que por cada kg
de carvão produzido se emitem 450-550g de CO2, 450-650g CO, 700g de CH4, e 10-700g de
hidrocarbonetos não metanados, HCNM (Domac & Trossero 2008) além de N2O, NOX, SO2 e
partículas. Note-se que CO2, CH4, alguns HCNM e potencialmente N2O são gases de efeito de
estufa, que NOX, SO2 estão associados a chuvas ácidas e que as partículas estão associadas a
doenças respiratórias (Parte 1, §3.3). Os finos são pequenos pedaços de carvão sem valor
comercial abandonados por isso no local do forno. Além do licor de pirólise que tem utilidade
como fungicida de madeira e para pintar estacas, alguma madeira não carboniza
completamente, sendo usada na cozinha ou noutro forno. Os finos, as cinzas e a madeira não
carbonizada são cumulativamente designados de "quebras". Embora dados indiquem que os
finos facilitam a reabilitação dos solos (e.g. Beesley et al. 2011) é ainda desconhecido o impacto
real da produção de carvão nos solos locais. É ainda de referir que o terreno afectado inclui as
picadas cridas pela entrada frequente de camiões de grande porte na floresta. Finalmente, a
qualidade do carvão pode ser definida em termos de: densidade; dureza; humidade;
percentagem de voláteis, de carbono fixo, de cinzas, de enxofre e sulfuretos; calor específico;
tempo de ignição (ASTM 2007;CEN 2005; Emrich 1985: 13-15). O carvão de qualidade deve ter
mais de 75% de carbono fixo (Emrich 1985: 21). O licor de pirólise é avaliado em termos de:
viscosidade; acidez; valor calorífico; ponto flash; temperatura de chama; corrosão; ponto de
solidificação; teor de cinzas, ácidos gordos e álcoois (Emrich 1985: 16-17).
FORNO DE
CARVÃO
Biomassa [kg]
Madeira de árvores
Materiais [kg]Areia, Metal, Barro, Chaminé...
Terreno Ocupado [m2]Terreno Afectado [m2]
Emissões Atmosféricas [kg]
CO, CO2, CH4, NOX, SO2, PM...
Emissões no Solo [kg]Finos, Cinza, Líquidos...
Entulho [Kg]Tijolo gasto, Chaminé...
Carvão [kg]
Tempo de trabalho [h]Esforço de trabalho [w]
Produtos Secundários [Kg]Licor de pirolise, cinzas...
4
2.2. TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CARVÃO
Existem várias formas de classificar as tecnologias de produção de carvão. Em termos de escala
e estratégias produtivas há fornos familiares (ou "tradicionais") e fornos industriais. Em termos
de operação há fornos de produção contínua, descontínua, com ou sem fornecimento externo
de calor e fixos ou móveis. Os fornos podem também ser classificados de acordo com o
material de construção (e.g. terra, barro, metal). Convém referir que todas estas classificações
não são estanques ou mutuamente exclusivas. No entanto, a classificação mais abrangente e
usada divide os fornos de acordo com a escala de produção, familiar ou industrial, tab. 2.1:
Tabela 2.1- Características genéricas da produção familiar/tradicional e industrial de carvão [Fonte: baseado em Emrich 1985: 19, 107].
PRODUÇÃO FAMILIAR PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Tecnologia Milenar Tecnologia desenvolvida nos últimos 200 anos
Nenhum ou pouco investimento financeiro Requer grandes custos de investimento
Uso de estruturas relativamente simples e matérias de construção disponíveis localmente (e.g. barro, areia, chapa)
Uso de estruturas relativamente complicadas e materiais de construção elaborados e não disponíveis localmente (e.g. betão, maquinaria pesada)
Pouco ou nenhum custo de manutenção Operação permanente com altos custos de manutenção
Mão-de-obra não é uma grande preocupação Uso intensivo de tecnologia que reduz a mão-de-obra que tem de ter formação e treino com as máquinas
Usa-se essencialmente troncos de madeira (mas também cascas de coco, e outro material lenhoso)
Usa um conjunto bastante alargado de formas de biomassa (e.g. lixo municipal; resíduos agrícolas)
Não é comum recuperar produtos secundários Recuperação intensiva de produtos secundários com aplicação comercial
É um negócio de família ou de associações de carvoeiros, realizado com base em conhecimento e experiencia tácita e ad-hoc
É um negócio estruturado que requer sempre estudos de viabilidade, design profissional da unidade fabril e boa organização logística
Em relação à tab. 2.1 há três comentários relevantes a fazer. Primeiro a tab. 2.1 expressa duas
lógicas diferentes de produção, e não uma forma de separar a qualidade de produção com base
no grau de sofisticação tecnológica, já que a produção familiar, apesar de simples, é bastante
robusta e efectiva. Segundo, alguns dos fornos ditos familiares, quando usados de forma
massiva e/ou integrada em lógicas industriais podem ser considerados como industriais. Por
exemplo, a escala industrial de produção de carvão em Moçambique é assegurada pelo sector
familiar ou por pequenos empresários. Finalmente, devido à realidade de Moçambique este
trabalho deu maior ênfase aos fornos "familiares" (§2.2.1-4), no entanto é importante referir
que longe da imagem de trabalho de pobre, sujo e ilegal, o carvão é produzido de forma
lucrativa e formal à escala industrial em sofisticadas instalações como qualquer outro produto
do sector energético (§2.4).
5
2.2.1. FORNOS DE TERRA
A forma mais simples, mais usada e mais antiga (§1) de produção de carvão consiste em usar
um forno de terra, i.e., uma câmara de combustão com paredes de terra que mantêm o calor
de combustão dentro enquanto isolam da entrada de ar (oxigénio). Desta forma para sustentar
a carbonização basta a queima uma parte da madeira. Desde que haja espaço os fornos de
terra podem ser construídos dentro das florestas, o que reduz os custos e esforço físico de
transporte. São fornos muito versáteis, construídos em muitos formatos de 1-100m3 ou mais de
capacidade. Para facilitar a transferência de calor e garantir um fluxo constante de ar e a
uniformidade da queima (e logo a qualidade do carvão) a arrumação dos troncos deve ser
muito compacta (Vahram 1987). Estes fornos têm contudo alguns problemas. Durante a fase
exotérmica (§2.1) quando o volume do forno se pode reduzir em mais de 50%, a cobertura de
terra pode abrir buracos por onde entra ar, provocando a combustão completa da madeira,
produzindo cinzas em vez de carvão. Estes fornos não toleram muito bem chuva intensa e o
carvão obtido vem sempre misturado com terra/areia o que reduz a qualidade do carvão e
aumenta o trabalho de separação Deste modo a experiencia pessoal e familiar é fulcral na
construção, manutenção e controlo das entradas de ar (a afinação) dos fornos de terra. Existem
três tipos genéricos de fornos de terra: o forno tipo fosso (FTF); o forno de terra em pilha (FTP);
e os fornos de terra melhorados (FTM).
O FTF, fig. 2.3, como o nome indica, consiste em cavar um fosso no interior do qual se arrumam
os troncos que são posteriormente acesos e cobertos com terra. No extremo oposto ao do
ponto de ignição abrem-se buracos para forçar a circulação dos gases quentes.
Figura 2.3- Esquema e fotografado forno tipo fosso [Fonte: adaptado pelo autor de FAO 1987].
6
O FTP, fig. 2.4, consiste em empilhar os troncos em diferentes configurações geométricas sobre
um solo limpo e plano para depois cobrir esse monte de madeira com folhas, areia e/ou terra
deixando algumas aberturas para ventilação. Existem diferentes formas de empilhar os troncos,
mas em todos tenta-se obter o arranjo mais compacto possível, usando pequenos troncos,
pedaços de madeira ou ramos para preencher os espaços entre os troncos maiores. De igual
modo, o topo da pilha é coberto com pequenos ramos, troncos, folhas ou e/ou capim para
produzir uma superfície o mais uniforme e estanque possível para manter a terra. A espessura
da cobertura depende da estrutura a pilha de madeira e do tipo de terra mas pode chegar aos
30-40cm. A circulação interna é cuidadosamente monitorizada durante todo o processo de
queima usando um pau para sondar o interior do forno, ou a temperatura da superfície do
forno para abrir ou fechar as aberturas para ventilação acelerando ou retardando a combustão
para se obter uma carbonização constate ao longo do forno e logo um carvão uniforme.
Figura 2.4- Esquemas e fotografias do forno de terra em monte [Fonte: adaptado pelo Autor de Emrich 1985; Karch et al.1982].
Além da familiaridade, existem outras razões para a escolha entre com o FTF e o FTP. Em
terrenos rochosos, duros, pouco fundos ou com água junto à superfície o FTP é preferível. Com
o FTP é também mais simples e fácil identificar e preencher os espaços livres entre os troncos
do que resultam pilhas mais compactas. Desta forma, nos FTP a circulação interna de gases
quentes, i.e., transferência de calor, costuma ser melhor e mais uniforme de que resulta: maior
7
eficiência (menos cinza e madeira não carbonizada, i.e. falhas); carvão mais uniforme em
matéria volátil (tempos semelhantes de queima no forno); e menos reabsorção de ácidos de
pirólise quando chove (ácidos conferem odor desagradável ao carvão quando queimado). FTF
até 1m3tem melhor circulação de gases, mas produzem pequenas quantidades e são menos
eficientes em mão-de-obra, o que não se adequa a fins comerciais do carvão.
Para aumentar a eficiência e reduzir alguns dos problemas dos fornos de terra várias alterações
foram implementadas, das quais se destacam (FAO 1987): o uso chapas de metal a cobrir a
madeira e assim melhorar o isolamento e reduzir a mistura de areia com o carvão; o uso de
chaminés para ventilação e recuperação de gases condensáveis. Dois dos mais conhecidos e
usados em África destes fornos de terra melhorados (FTM) são: o Casamance; e o IBEK (Forno
De Terra Básico Melhorado em Inglês). Estes dois FTMs parecem ter sido inspirados pelos
desenvolvimentos e investigação levada a cabo na Suécia nos anos 50, quando industria
siderúrgica dependia do carvão e 80% do carvão era produzido em FTMs (§6.6 em FAO 1987).
Em termos básicos o forno Casamance é um FTP semi-esférico com chaminé inicialmente
desenvolvido no Senegal. A madeira é arrumada em três camadas (fig. 2.5): a primeira disposta
na base de forma circular em torno de um centro de forma a constituir câmaras de condução
de gases radiais (vide fig. 2.3 e 3.4); a segunda é montada de forma vertical sobre a primeira
com os troncos mais grossos perto do centro e os mais finos na zona mais externa; e a terceira
composta de troncos mais pequenos dispostos de forma horizontal sobre a segunda camada. A
madeira é depois coberta com folhas e/ou ramos e terra. Junto ao solo são deixadas aberturas
de ventilação e uma saída para a chaminé, fig. 2.5. A chaminé pode ser feita de tambores metal
vazios soldados entre si (fig.3.5) ou de tubos de ferro-velho.
Figura 2.5- Esquemas de
um forno Casamance de
100m3
[Fonte: adaptado
pelo autor de FAO
1987].
Estima-se que os gases expelidos durante a fase exotérmica (§2.1) de um forno de 100m3 (100
esteres) possam ser parcialmente recuperados na forma de 21-25ton de ácidos de pirólise
condensados (vinagre de madeira, licor negro ou licor pirolenhoso) e 2ton de alcatrão de
madeira com valor comercial (condensados na fig. 2.5) (Emrich 1985: 37; FAO 1987).
8
O forno Casamance funciona com
corrente invertida (reversed draught),
i.e., o ar entra pelas aberturas de
ventilação na base do forno (fig.3.5)
aquece, mas em vez de se escapar pelo
topo desce e sai pela base para a
chaminé. Por este motivo, nenhuma
abertura de ventilação deve ser feita
perto da saída para a chaminé.
Terminada a fase exotérmica, marcada
pela saída de fumo azulado e redução
do volume do forno deve-se retirar a
chaminé e selar o forno para deixar
arrefecer o carvão. Na sua fase final o arrefecimento deve ser feito com areia sobre o carvão.
Devido á circulação mais controlada e uniforme de ar, o Casamance faz carbonização mais
rapidamente e a temperaturas mais elevadas do que resulta um tempo menor de produção e
carvão com menos matéria volátil e consequentemente maior conteúdo calorífico comparado
com os FTF e FTP (Emrich 1985: 37; Stassen 2015).
Apesar de menos conhecidos e documentados os fornos IBEK têm sido desenvolvidos,
implementados e melhorados pela TATEDO (Organização para a desenvolvimento de energia
tradicional em Inglês) nos últimos 10 anos na Tanzânia. A meta do IBEK é reduzir os custos e
dificuldades de montagem do forno associados ao Casamance, ao mesmo tempo que mantêm a
eficiência, tempos de operação curtos e circulação uniforme de gases do forno Casamance
(Gmünder et al. 2014). Deste modo o IBEK começa por ser um FTP rectangular, fig. 2.4, (logo
mais simples que o arranjo em camadas circulares do Casamance, fig. 2.5), no qual se
substituem as aberturas de ventilação por uma chaminé feita de chapa de zinco e se adiciona
uma "manga" feita de troncos finos (menos de 10cm de diâmetro) na diagonal, designados de
"estiradores", a rodear a pilha de lenha (napperon para a TATEDO), fig. 2.7. Tal como o
Casamance o IBEK requer troncos cortados à medida e, pelo menos, 2 semanas de secagem
prévia em local seco e abrigado da chuva.
Em termos operacionais o IBEK, tal como qualquer FTP, requer vigilância para evitar o
aparecimento de aberturas nas paredes e após fase exotérmica e o arrefecimento do carvão
faz-se com areia (mais detalhes em §3.2.2). O IBEK é usado na Tanzânia como parte de um
projecto de sustentabilidade que está a ter boa aceitação junto dos carvoeiros que usam IBEKs
que chegam a atingir os 35m3 de capacidade (Entr. Charles 2015).
Figura 2.6- Forno Casamance de 200m
3 [Fonte: Stassen 2015].
9
Figura 2.7-Esquema e fotografia do forno IBEK [Fonte: Esquema do Autor sobre fotografia de TATEDO/TFCG 2015;
Fotografia TATEDO/TFCG 2015].
Note-se que na prática os fornos de terra (FTF, FTP, FTM) revelam ser extremamente eficazes e
adequados à realidade de Países em Desenvolvimento, pois dentro das limitações contextuais
produzem carvão de qualidade com o mínimo de investimento e ferramentas. O uso de
tecnologia pesada cara e sofisticada em zonas remotas de Moçambique iria requerer uma
capacidade de gestão impressionante para manter stocks de peças sobresselentes, combustível
e operadores, o que tem custos muito elevados.
2.2.2. FORNOS DE TIJOLO
Conhecidos há séculos, em 1985 havia cerca de 250000 em operação (Emrich 1985: 56). A partir
dos anos 60 os fornos de tijolo substituíram os fornos de terra na siderurgia, por serem
alternativas de relativo baixo custo, terem poucos requisitos de pessoal e por serem capazes de
eficiências elevadas e de produzir carvão de grande qualidade (FAO 1987). No entanto para ser
competitivo os fornos de tijolo devem (Assis et al. 1998; FAO 1987; Stassen 2015):
1. Ter garantida a oferta fácil, a longo prazo e de forma contínua de madeira de qualidade;
2. Ser construídos longe de zonas protegidas ou de inundação, de fácil acesso a camiões, a
mais de 50m de zonas de habitação, com pouco vento (ou de vento a soprar das
habitações), perto de uma fonte de água e em terreno duro e levemente inclinado;
3. Ser simples de construir de preferência por profissionais/artesãos locais;
4. Suportar bem condições meteorológicas adversas, o stress térmico dos ciclos contínuos
de aquecimento e arrefecimento e o stress mecânico dos ciclos de carga e descarga; e
5. Garantir o isolamento térmico e o controlo simples e efectivo da entrada de ar.
Existem muitos tipos de fornos de tijolo que se podem classificar de acordo com a geometria e
10
a fonte de calor usada para iniciar e manter a combustão, tab. 2.2:
Tabela 2.2- Tipos de fornos de tijolo para a produção de carvão mais comuns (INTERNA- Energia de Carbonização obtida por queima de parte da madeira alimentada ao forno; EXTERNA- Carbonização feita com gases quentes alimentados ao forno) [Fonte: Emrich 1985: 57; FAO 1987].
FONTE DE CALOR PARA A CARBONIZAÇÃO
INTERNA EXTERNA
GEOMETRIA RECTÂNGULAR
FORMATO DE HANGAR
Forno de Blocos
Forno Missouri Fornalha Ottelinska
CIRCULAR
SEMI-ESFÉRICO
Forno Meia Laranja
Forno Rabo-Quente Fornalha Schwartz
Dos equipamentos apresentados na tab. 2.2, apenas os fornos Missouri (FM), Meia-Laranja
(FML) e Rabo-Quente (FRQ) foram efectivamente usados em Países em Desenvolvimento
(Emrich 1985; FAO 1987). No entanto o FM criado nos EUA, fig. 2.8, requer de cimento armado
e portas e chaminés de ferro, o que são matérias muito caros, difíceis de obter e transportar
para zonas rurais em África, e particularmente em Moçambique. Além disso o FM apresenta
rendimentos equivalentes aos FML e FRQ, mas é mais complicado de arrefecer.
Figura 2.8-Esquema e fotografia mostrando a estrutura complexa, pesada e dispendiosa de um Forno Missouri. A fotografia, tirada no Gana, mostra claramente não só a prevalência de cimento armado e ferro como também uma racha resultante de uma operação deficiente [Fonte: Emrich 1985].
Por seu lado os fornos Meia-Laranja e Rabo-Quente são fornos simples de construir (só usam
barro), simples de operar, robustos (5-8 anos de vida), foram já amplamente investigados,
11
usados, padronizados e optimizados além de terem sido já montados com sucesso em climas
tropicais e sub-tropicais (como é o caso de Moçambique) e, sendo modulares, podem ser
usados para pequena produção ou grande produção em baterias (FAO 1987). Por esta razão
este trabalho ira descrever em mais detalhe estes dois fornos.
Com origem na Argentina, o FML padronizado consiste numa semi-esfera com diâmetro entre
5-7.5m com capacidade para 21.5-73.5m3 de lenha (cerca de 2/3 do volume bruto do forno)
construído com 5500-15000 tijolos unidos com argamassa feita de areia, barro e finos de carvão
(Emrich 1985; FAO 1987). A qualidade dos tijolos é importante. Os tijolos normalmente com
0.24mx0.12mx0.06m devem ser feitos queimados a lenha (perto do local de produção por
motivos económicos), ser porosos, ter uma boa resistência a choques térmicos e serem bons
isolantes. A mistura dos tijolos leva cerca de 65% de barro e o resto em areia ou serradura (FAO
1987). Devem-se evitar tijolos de máquina, por serem muito densos, mais caros e menos
resistentes a choques térmicos (FAO 1987). Na fig. 2.9 mostram-se as dimensões e aspecto
exterior de um FML.
Figura 2.9- Esquemas e fotografias de um forno FML mostrando (A) as dimensões de um forno típico e (B) a forma de arrumação da lenha. Fornos mais pequenos podem ter diferentes aberturas e dispensam a dupla parede tão alargada. A fotografia do forno acabado e a ser selado (B) refere-se a um forno com cerca de 80m3 de volume bruto [Fonte: O Autor baseado em esquemas de FAO 1987; fotografias de Emrich 1985].
O FML assenta num círculo de três filas duplas de tijolo (30cm de largura) enterradas no solo
com a zona das portas um pouco mais larga (45cm) para melhor suporte. O forno tem duas
12
portas, uma para fazer o carregamento da lenha e outra para descarregar o carvão. Embora o
corpo do forno seja feito com uma só parede de tijolos, em torno das portas, tal como mostra a
fig. 2.9, deve ser feita uma parede dupla. As portas devem ter entre 1.6-1.7m de altura e ser
diametralmente opostas e perpendiculares à direcção dos ventos dominantes. Ambas as portas
devem ser sempre completamente seladas durante o processo de carbonização. A selagem é
feita com uma parede de cerca de 100 tijolos (sem argamassa para serem reutilizados até se
partirem) coberta com matope (FAO 1987). No topo do forno deve haver uma abertura de 0.20-
0.25m chamada de "olho" que serve para realizar a ignição, deixar sair os gases de combustão e
entrar luz durante o processo de carga (Emrich 1985). Ao nível do solo deve haver entre 10-12
entradas de ar (0.06-0.12m de lado) equidistantes entre si. A carga de lenha seca e sem casca
com um diâmetro entre 5-50cm e um comprimento entre 1-1.3m deve ser feita por dois
homens e demora em média menos de 6 horas (Emrich 1985). A lenha deve ser arrumada sobre
longarinas com 8-10cm de diâmetro para evitar o contacto directo com o solo e permitir a
circulação do ar pelas entradas de ar que devem permanecer totalmente desimpedidas (Emrich
1985; FAO 1987). Sobre as longarinas colocam-se duas camadas: a primeira na vertical com os
troncos de maior diâmetro no centro onde se atinge a maior temperatura de carbonização; e a
segunda na horizontal, fig. 2.9B. Perto do topo deve ser colocada lenha muito seca e ramos
para facilitar a ignição. Tal como o Casamance, terminada a fase exotérmica, marcada pela
saída de fumo azulado, tapam-se as entradas de ar e o olho com argamassa e deixa-se o forno
arrefecer. O arrefecimento é facilitado deitado sobre o forno uma mistura de matope diluída
em água três vezes por dia o que também ajuda a tapar possíveis fissuras (FAO 1987). Uma vez
arrefecido, abre-se a porta de descarga e retira-se o carvão com uma forquilha para arrefecer
mais uns dias no exterior. Deve haver um barril de 200l de água perto do forno para o caso de o
carvão pegar fogo por contacto com o ar na abertura do forno. Os finos podem ser retirados
mais tarde quando o forno estiver completamente frio e a lenha não carbonizada deve ser
separada para voltar a ser usada num novo ciclo.
O FRQ é de origem brasileira e é usado há décadas na indústria de ferro-gusa, aço e ligas de
ferro (e.g. Oliveira et al. 2014). Existem várias configurações deste forno, algumas muito
semelhantes ao FML, mas neste relatório considera-se FRQ o modelo tipo colmeia por ser
considerado um FRQ melhorado e também por ser o único existente em Moçambique. Este
FRQ é uma estrutura cilíndrica (1.5-2.4m de altura, 3.5-5m de diâmetro) de topo abobado
equipado com uma chaminé, uma porta e vários orifícios que funcionam como entradas e/ou
saídas de ar e ponto de ignição triangular (0.1m de lado) no topo, fig. 2.10. Alguns modelos são
reforçados com uma cinta de metal entre o corpo cilíndrico e a abobada (Emrich 1985).
13
Figura 2.10-Perfis e fotografia de um forno FEQ tipo colmeia típico. Com excepção do ponto de ignição, o número e posição das entradas e saídas de ar e meramente exemplificativo [Fonte: o Autor baseado em esquemas de FAO 1987 e Assis et al. 1998; fotografia de FAO 1987].
O FRQ assenta num círculo de 3-5 filas enterradas no solo de tijolo encostado lado a lado.
Aconselham-se tijolo de 11cmx24cmx6cm e camadas finas de argamassa (Assis et al. 1998) feita
de 90% de barro e 10% de finos de carvão peneirado (FAO 1987), ou areia (AD 2006). Os FRQ
são rebocados com barro e lama de barro para tapar fissuras (Assis et al. 1998; FAO 1987). A
porta é diametralmente oposta à chaminé e tem entre 0.8-1m de largura e 1.3-1.8m de altura.
A chaminé rectangular é construída com a parede e tem entre 18cmx34cm e 120cmx100cm de
medidas internas (Assis et al. 1998; FAO 1987). Um FRQ de 5m de diâmetro tem 45.3m3 de
volume efectivo, leva 8500 tijolos e pode ter entre 8-18 ou mais aberturas de ventilação entre
tatus (perto do solo) e baianas (perto do topo). Por observação da cor e caudal do fumo nas
baianas é possível regular a entrada de ar pelos tatus e assim controlar o processo. A operação
e selagem de portas são iguais à do FML, embora em fornos mais pequenos se possa montar a
lenha só na horizontal numa só camada (Assis et al. 1998). A versão do BRQ apresentada aqui é
a mais básica, económica e aplicável em Moçambique, no entanto existem BRQ para serem
feitos em declives, em baterias (muito vulgar), com mecanismos de segurança ou com
aproveitamento de produtos valiosos por condensação dos gases da chaminé (Emrich 1985).
14
2.2.3. FORNOS DE METAL
Existem dois tipos de fornos de carvão feitos em metal potencialmente utilizáveis pelo sector
familiar: o forno do Tropical Products Institute (TPI, Instituto de Produtos Tropicais em
Português) por vezes também designado de Mark V; e fornos feitos com tambores.
O TPI, agora extinto, foi uma unidade científica do então Overseas Development Administration
(agora Department for International Development) a cooperação internacional do Governo
Britânico. Tirando vantagem de um imenso trabalho desenvolvido neste tipo de fornos no
Reino Unido desde os anos 30, o TPI desenvolveu um forno em ferro portátil, fig. 2.11, que foi
utilizado em vários países em desenvolvimento (FAO 1987).
Figura 2.11-Esquema e fotografia de um forno TPI padrão para 7m3 de lenha [Fonte: o Autor baseado em Stassen 2015 e Emrich 1985; fotografia de FAO 1987].
Além do modelo padronizado da fig. 2.11, existem outros que variam em detalhes (e.g.
encaixes das secções, formas das chaminés, encaixe das chaminés no corpo do forno, inclusão
de válvulas nas saídas/entradas). A tampa de pressão (2 na fig. 2.11) foi uma alteração
relacionada com os Países em Desenvolvimento, uma vez que ajuda a controlar a pressão
gerada pela libertação de vapor na fase inicial da carbonização que pode ser complicada de
gerir e causar danos sérios. Além disso, no caso de material mais fragmentado, como cascas de
coco, para manter um fluxo de gás suficiente, é conveniente realizar a ignição pelo topo, ou
seja, pela tampa de pressão (FAO 1987). Uma das grandes vantagens apontadas ao forno TPI é
o de ser desmontável e transportável, podendo mesmo, para distâncias curtas e terrenos
planos ser levar a rolar sobre si mesmo. De facto o forno pode ser desmontado numa base
reforçadas com as entradas/saídas de ar/gases, uma secção anelar simples, uma cobertura
cónica, e quatro chaminés. Dentro do forno TPI a madeira é arrumada em duas camadas. Na
primeira, troncos com menos de 60cm de comprimento e 20cm de diâmetro devem ser
arrumados de forma radial sem tapar a ventilação (7 na fig. 2.11). A segunda camada pode ser
colocada horizontal ou verticalmente ocupando o maior volume possível (FAO 1987; KRFI
2006). Só se monta o segundo anel depois de ter preenchido o primeiro anel e o mesmo para a
15
tampa com a segunda secção. Após garantir que todas as tampas de pressão estão abertas,
pode-se fazer a ignição nas entradas/saídas de ar/gases (7 na fig. 2.11). As temperaturas muito
altas que podem ocorrer nos pontos de ignição são controladas com areia e terra (Emrich
1985). Tal como em todos os fornos apresentados até agora, o decorrer do processo de
carbonização é acompanhado por observação da cor do fumo e a descarga feita após o
arrefecimento completo do forno (que se inicia por fechar todas as entradas de ar).
Os fornos feitos com tambores (FFT) são, como o nome indica, feitos modificando ou
adaptando tambores de 200l, ou outros recipientes de metal, em câmaras de combustão.
Existem vários modelos, todos caracterizados por terem tempos de carbonização muito curtos,
requererem pouca monitorização e serem relativamente portáveis. A título de exemplo são
apresentados 2 modelos: O forno do Tonga; e o tambor adaptado.
O forno do Tonga é um forno de pequena escala, barato e utilizado para fazer carvão a partir de
cascas de coco e pequenos troncos (Emrich 1985). O forno é de construção muito simples,
consiste num tambor em que se faz uma abertura na vertical, fig. 2.12. No interior do forno faz-
se uma pequena fogueira com poucos troncos mantendo a abertura virada para o vento. A
técnica depois consiste em ir virado a abertura no tambor na direcção ascendente colocando
mais lenha com o cuidado de não apagar o lume. Até encher completamente o tambor. Quando
não for possível meter mais lenha, vira-se a abertura na direcção do solo e cobre-se o tambor
por completo com areia, lama ou barro e deixa-se arrefecer por 6-8h (Emrich 1985). Para evitar
demasiado contacto com a humidade do solo pode-se usar uma rede a cobrir a abertura. Findo
o tempo de arrefecimento destapa-se o tambor e retira-se o carvão.
Figura 2.12-Representação do forno FFT do Tonga e sua operação [Fonte: o Autor baseado em Emrich 1985].
O Tambor Adaptado tenta fazer de um tambor, uma retorta. Para tal uma chaminé é soldada ao
fundo do tambor, no interior do tambor é colocado um estrado de metal, e à outra tampa é
soldado uma fornalha e adaptada uma cinta metálica que se aperta com um parafuso de ajuste,
fig. 2.13. A cinta metálica serve para manter a tampa firmemente apertada contra o tambor
evitando tanto quanto possível a entrada de ar. O estrado de metal serva para impedir que a
lenha toque o fundo do tambor e para facilitar a circulação de ar no interior do tambor. A lenha
a introduzir no Tambor Adaptado deve ter entre 6-10cm de diâmetro, 80cm de comprimento,
16
estar bem seca e ser arrumada para ocupar o maior volume possível dentro do tambor (KRFI
2006). Uma vez arrumada a lenha fecha-se o tambor com a tampa acoplada à fornalha, aperta-
se a cinta metálica com o parafuso e pega-se fogo a pequenos pedaços de madeira na fornalha.
Assim que a madeira dentro do forno pega fogo e fumo branco começa a sair da chaminé,
fecha-se a caia de ignição e cobre-se o forno com areia e/ou terra (KRFI 2006). Quando o fumo
ficar azulado, retira-se a chaminé, tapa-se o suporte da chaminé com relva e terra, destapa-se o
forno e deixa-se arrefecer por 12-24h.
Figura 2.13-Representação do forno de tambor adaptado com as principais dimensões e arranjo de peças [Fonte: o Autor baseado em KRFI 2006].
Estes exemplos mão são únicos, mas ilustrativos de opções usadas em países em desenvolvimento no sector familiar (mais exemplos em Emrich 1985: 42-56). Além disso existem algumas experiencias em fornos semelhantes efectuadas na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo nos finais dos anos 70, que incluíam, por exemplo, um forno de metal com rodas e fornos de metal para a produção industrial de carvão no âmbito de programas de energia de biomassa FO (financiados pela Escandinávia). Actualmente há empresas no Quénia (e.g. Cookswell) que comercializam opções de tamanho familiar de produção de carvão.
2.2.4. FORNOS TIPO RETORTA
Há mais de 100 anos já o engenheiro Sueco Nordenschoeld e o técnico alemão Reichenbach
desenharam retortas comerciais e a nível industrial e semi-industrial são conhecidas as retortas
Carbo gas, Wagon, Reichert, Bosnic e SIFIC ou o forno Carborion (Emrich 1985). Com a
excepção do tambor adaptado as retortas são uma solução tecnológica diferente: em vez de
usarem o calor da combustão de parte da lenha, as retortas são aquecidas do exterior na
ausência total de oxigénio. O combustível é dado pelos próprios gases de combustão reciclados
à câmara. Nesse sentido Improved Charcoal Production System (o sistema de produção
melhorado de carvão em Português) ou a retorta Adams constitui uma opção interessante para
a produção familiar de carvão.
A retorta Adams, fig. 2.14, é composta por uma fornalha, pela retorta, uma chaminé e por um
sistema de controlo de fluxos. Na fornalha começa-se por queimar madeira de baixa qualidade
ou resíduos para fornecer o calor necessário à desidratação da lenha no interior da retorta, o
que se verifica pela saída de vapor (fumo branco) pela chaminé. Assim que deixa de haver fumo
branco e começa o processo de carbonização com a libertação de gases (§2.1) o sistema de
20cm
17
controlo redirecciona esses gases de volta à fornalha
onde são queimados para continuar o processo de
carbonização. Uma vez que os gases são reciclados e
queimados, i.e., reutilizados, este é, provavelmente, o
forno mais limpo no mercado, reduzindo as emissões
(excepto as do CO2) em cerca de 90-99% (Halouani &
Farhat 2003). Também é dos mais caros, mais complexos
de construir e dos que envolve mais materiais difíceis de
encontrar no Moçambique rural.
2.3. COMPARAÇÃO TÉCNICA ENTRE TIPOS DE FORNOS
Não existem fornos universalmente perfeitos ou ideais. A performance dos fornos depende das
condições operacionais, da experiencia dos operadores, dos objectivos pretendidos e dos seus
contextos socio-ecológicos (e.g. leis, clima, matérias-primas, tecnologias). Assim, a meta aqui
não é encontrar o melhor forno, mas sim apresentar a informação técnica e operacional sobre
os vários fornos tendo por referência a realidade Moçambicana. Os fornos serão analisados em
termos de eficiência, tempo de operação e custo para definir sobre as vantagens/desvantagens
de cada um em Moçambique.
2.3.1. EFICIÊNCIA EM FORNOS DE CARVÃO
A eficiência energética (ou rendimento) do processo de carbonização define a rácio entre a
quantidade de carvão produzido e a quantidade de madeira (ou outra biomassa) alimentada ao
forno (§3.2.3). Consequentemente a eficiência é um dos factores mais mencionados em
estudos (académicos e profissionais) e é decisivo na escolha de um forno uma vez que dele
depende o lucro do negócio, os efeitos ecológicos (abate de árvores e emissões por kg de
carvão) e o custo-benefício em termos de esforço físico. No entanto a comparação de eficiência
entre diferentes tipos de fornos nessas referências não é linear e deve ser feita com cuidado
uma vez que os resultados dependem substancialmente de vários factores, nomeadamente:
Espécies usadas- Toda a madeira pode produzir carvão, mas o uso de espécies mais densas e
com menor teor de cinzas resulta em melhores eficiências e produz um carvão com as
mesmas propriedades, o que tem benefícios em termos calóricos (Gmünder et al. 2014).
Teor de humidade na madeira. A madeira verde não só é mais pesada, como vai requerer
mais energia para que lhe seja retirada a água, do que resulta que, a diferença de pesos
entre madeira e carvão é maior (e logo o rácio do rendimento menor) e que a energia que
devia ser gasta em carbonização é gasta em desidratação.
Figura 2.14-A retorta Adams [Fonte:
www.biocoal.org/].
18
Dimensões da lenha- O uso da lenha com diâmetro maior que 35cm dificulta a difusão do
calor, a circulação dos vapores e favorece à formação dos condensáveis nas superfícies frias
da lenha contribuindo, assim para a redução do rendimento (Joaquim & Brouwer 2009).
Habilidade e experiencia do carvoeiro na selecção de local, na montagem e operação do
forno. A inclinação e humidade do terreno podem afectar a estrutura e humidade da
madeira contribuindo para a redução da eficiência. Fornos mais compactos, com menos
espaço livre entre os troncos têm melhor circulação de calor e logo, mais eficiência. Fornos
mais vigiados e geridos resultam em carbonização mais uniforme e eficiente, pois reduz-se a
percentagem de madeira que não ardeu ("quebras"), abre-se o forno na altura certa e
procede-se a um arrefecimento adequado, evitando perdas por combustão total do carvão.
As condições meteorológicas também afectam o rendimento do forno porque determinam a
rapidez e qualidade de secagem da madeira e a normal decorrer do processo no forno.
De qualquer modo, de modo a identificar tendências entre tecnologia e eficiência, a tab. 2.3
apresenta alguns valores desse parâmetro recolhidos da literatura.
Tabela 2.3- Valores de eficiência da literatura(TODOS- todos os testes disponíveis) [Fonte: Gmünder et al. 2014; Joaquim 2001, 2002; Joaquim & Brouwer 2009; Kammen&Lew2005; KRFI 2006; Morgan-Brown & Samweli 2016; Schenkel et al.1998].
TECNOLOGIA EFICIÊNCIA [% em Massa] REFERÊNCIAS
TIPO MODELO MÉDIA MÁXIMA MÍNIMA MODA TESTES1 PAÍSES
TERRA Moçambique 13.8% 16.0% 10.0% N/A 4 1
TODOS 22.6% 37.0% 10.0% 28.0% 60 13
TERRA
MELHORADOS
IBEK 17.9% 26.0% 10.0% 19.6% 8 1
Casamance 27.1% 30.5% 17.0% 30.0% 9 5
Outros 22.4% 42.0% 8.4% N/A 20 7
Moçambique 13.6% 18.2% 8.4% N/A 11 1
TODOS 22.0% 35.8% 8.4% 30.0% 40 9
TIJOLO Rabo Quente 30.2% 34.1% 25.0% 33.0% 6 3
Meia-Laranja 26.9% 32.0% 13.3% 28.0% 11 5
Outros 22.8% 30.0% 12.5% 30.0% 6 5
TODOS 26.7% 34.1% 12.5% 28.0% 23 11
METAL TPI (Mark V) 23.1% 35.0% 10.0% 25.0% 12 52
Tambores 27.0% 34.0% 20.0% N/A 14 3
Outros 25.9% 37.0% 11.8% N/A 4 2
TODOS 24.7% 37.0% 10.0% 25.0% 26 102
RETORTA Adams3 35% 40% 30% N/A 2 2
NOTAS: 1- Número mínimo, terão sido feitos mais, mas algumas referências apresentam apenas intervalos de eficiência, caso em que se assumiu que pelo menos dois testes foram feitos; 2- Uma das referências refere um intervalo de eficiência para 7 países sem indicar quais, para evitar repetições de países, assumiu-se que pelo menos 1 país seria diferente; 3- Informação do fabricante (www.biocoal.org/3.html).
19
As disparidades de valores na tab. 2.3 são evidentes (mesmo para a retorta Adams cujos os
valores provêm da mesma e única referência) e reforçam a ideia de que a comparação entre
diferentes tipos de fornos requer que se mantenham constantes os factores de que depende a
eficiência. No entanto, apesar das disparidades, quatro observações são possíveis:
1. Por tipo de forno, a eficiência média segue de forma ascendente dos fornos de terra,
fornos de terra melhorados, fornos metálicos, fornos de tijolo e retorta Adams;
2. Em termos de modelos os fornos a eficiência média dos fornos de terra (terra todos) está a
meio da tabela e não em último, como seria de esperar, o que parece indicar que as
melhorias funcionam, mas nem todas, nem sempre e nem em todo o lugar;
3. Em Moçambique, as diferenças de eficiência entre fornos terra melhorados ou não é
mínima, o que pode indicar que outros factores além da tecnologia (e.g. humidade,
experiencia dos carvoeiros) são mais importantes na eficiência dos fornos;
4. Quando analisados no seu conjunto, as modas são muito semelhantes o que poderá
fortalecer a sugestão apontada no ponto 3 anterior.
2.3.2. TEMPO DE OPERAÇÃO
Por tempo de operação contabiliza-se o tempo para: montar o forno; dar-se a carbonização; e
efectuar-se o arrefecimento. Tanto o abate de árvore quanto a ensacagem não são
considerados porque existe muito menos informação sobre os mesmos e porque se consideram
iguais para todos os diferentes fornos. Para comparação fez-se o cálculo com base nas horas
despendidas por um operador por volume de lenha introduzida, tab. 2.4.
Tabela 2.4- Tempo médio despendido por operador e por m3 de lenha alimentado ao forno [Fonte: FAO 1987; KRFI
2006; Schenkel et al. 1998].
TECNOLOGIA TEMPO REQUERIDO [h/Operador/m3 de Forno]
TIPO MODELO MONTAR QUEIMAR ARREFECER CICLO
TERRA Poço 17.2 16.0 32.0 65.2
Pilha 12.0 16.0 2.4 30.4
TERRA
MELHORADOS
IBEK 12.0 8.3 2.4 22.7
Casamance 13.0 10.0 2.4 25.4
TIJOLO Rabo Quente 0.2 2.5 2.3 5.1
Meia-Laranja 0.2 3.2 2.8 6.2
METAL TPI (Mark V) 0.4 1.9 3.8 6.1
Tambores 0.4 1.0 1.0 2.4
RETORTA Adams1 N/A N/A N/A 10
NOTAS: 1-Informação do fabricante (www.biocoal.org/3.html).
Apesar das grandes disparidades a tab. 2.4 confirma vários estudos que indicam que os fornos
20
de terra são os mais lentos (bastante mais que as suas versões melhoradas), seguidos da
retorta Adams, dos fornos de tijolo e dos fornos ferro (os mais rápidos).
2.3.3. CUSTOS DO FORNO
Nos custos do forno são contabilizados os custos de capital usado na construção do forno e os
custos operacionais necessários para trabalhar e manter o forno. Os custos operatórios incluem
a carga salarial e são, por isso mesmo, bastante variáveis de pais para pais e dentro de cada
país de região para região. Uma vez mais a informação é bastante escassa, fragmentadas e
circunstancial. Da informação mais completa e actualizada foi possível construir a tab. 2.5 que
não apresenta dados para os fornos de terra porque estes não apresentam custos, nem para os
fornos melhorados de terra por estes terem custos mínimos, nomeadamente: uma chapa de
zinco (custo 4-5€) que pode ser usada em pelo menos 6 ciclos de produção no IBEK; e 4
tambores de 200l de metal para o Casamance, cujo preço e disponibilidade varia de acordo com
a região. De notar que alguns carvoeiros na Tanzânia estão a usar chaminés de cortiça nos IBEKs
ao invés de metal, e que algum design do Casamance (especialmente para fornos de pequeno
volume) usam chaminés semelhantes à do IBEK.
Tabela 2.5- Estimativas de custos dos fornos de tijolo, metal e retortas [Fonte: Colombo et al. 2006; Emrich 1985; FAO 1987].
TECNOLOGIA CUSTOS DE CAPITAL
TIPO MODELO [€] [€/ton/ano]
TIJOLO Rabo Quente 350-400 1.21
Meia-Laranja 400-500 5-6
METAL TPI (Mark V) 890-1344 8.90-13.44
Tambores N/A N/A
RETORTA Adams2 400-500 15.42
NOTA: 1-Inclui carga salarial; 2-Informação do fabricante (www.biocoal.org/3.html); 3-Assumindo uma produção de 500kg por semana durante 52 semanas.
A tab. 2.5 dá uma indicação da proporcionalidade dos custos, um factor importante na decisão
de investimento, particularmente para carvoeiros com poucas capacidades financeiras ou com
reduzida ou nenhuma capacidade de acesso a financiamento. Por outro lado os custos de
capital e operativos expressos em termos relativos permitem planear o investimento a uma
escala temporal mais alargada. A retorta Adams é a mais cara, pois apesar de ter um custo de
investimento relativamente competitivo, tem uma produção relativamente baixa, o que
aumenta o preço por unidade de tempo e produção. Verifica-se também que para a mesma
produção os fornos de ferro são mais caros que os de tijolo, e que de dentro dos de tijolo os
rabo-quente são mais baratos.
21
2.3.4. VANTAGENS E DESVANTAGENS RELATIVAS: FOCO EM MOÇAMBIQUE
Tal como foi dito no início desta secção, não existem fornos ideais, no entanto, existem
tendências e pontos relativamente fortes e fracos no contexto Moçambicano. Esta secção
explora de forma esquemática e resumida esses pontos na tab. 2.6.
Tabela 2.6- Vantagens e desvantagens das várias tecnologias de fornos no contexto Moçambicano [Fonte: o Autor baseado em §2.2].
TECNOLOGIA VANTAGENS DESVANTAGENS
Forno de Terra Representa a opção familiar de fazer carvão aperfeiçoada ao longo de gerações. Usa materiais locais e tem um custo de investimento e de operação gratuito em termos monetários o que se ajusta às condições de pobreza dos carvoeiros. É muito flexível nas capacidades, localização e nos tipos e tamanhos de madeira que aceita o que dá ao carvoeiro/agricultor espaço para adaptar as suas estratégias de sobrevivência e/ou económicas às realidades locais e do momento. Fazer o forno na floresta reduz também o esforço físico envolvido. Face aos investimentos tem uma eficiência relativamente aceitável e produz carvão de boa qualidade com uma operação simples.
Depende extremamente da capacidade do carvoeiro e está sujeito a falhas e problemas operacionais de que resultam quebras, ineficiências e perigos para os operadores. Está também muito dependente das condições atmosféricas. Se chove extingue-se, se faz muito calor, dificulta o arrefecimento. Ocupa muito espaço o que promove a degradação florestal. Este aspecto piora quando camiões entram na floresta para retirar carvão de qualidade variável e com areia (dificuldade de separação). Exige muito trabalho físico e atenção permanente.
Forno de Terra Melhorado
Apresentam as mesmas vantagens dos fornos de terra, mas com operação facilitada e rendimentos melhores.
Exigem mais tempo e dedicação no corte e montagem (entrave técnico à adopção) e investimentos em equipamento extra, e.g., chapas de zinco e bidões de 200L, (barreira económica) nem sempre disponíveis no meio rural (barreira logística).
Forno de Ferro São fornos rápidos, de operação simples, móveis (em diferentes graus), modulares e com uma eficiência alta. Operam em qualquer tempo ou clima produzem um carvão uniforme de boa qualidade.
Requer um grande investimento e não pode ser feito ou reparado localmente. Tem um tempo de vida reduzido, e requer troncos cortados à medida. O volume é fixo e limitado (pouco flexível).
Forno de Tijolo Bom rácio custo/eficiência. Feito com materiais locais, produz um bom carvão, uniforme e limpo independente da meteorologia. Tem um tempo de vida grande
Requer um grande investimento e construtor especializado. Tem um volume fixo e limitado e não é móvel, o que implica esforços e logísticos novos e redobrados.
Retorta Tem o melhor rendimento e é a única que efectivamente não provoca emissões. Opera com qualquer tipo de biomassa com bons resultados se prejuízo dos tempos de operação.
É extremamente cara, de difícil controlo e manutenção. Produz muito pequenas quantidades em cada ciclo, não é móvel e tem uma limitada experiencia em ambientes de África.
22
2.4. FORNOS PARA A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE CARVÃO
Como forma de complementar a análise feita aos fornos ditos “tradicionais” descrita nas
secções anteriores, ilustram-se aqui de forma muito breve outras opções conhecidas para a
produção em grande escala de carvão. Mais do que uma análise detalhada (que não será feita)
das opções existentes, o objectivo aqui é desmistificar a imagem que ainda prevalece da
produção de carvão como uma actividade de pobres, suja e retrógrada.
Tal como com os fornos de produção familiar, os fornos Industriais começaram por usar a
carbonização de parte da madeira para gerar o calor necessário à carbonização do resto,
resultando dai as mesmas vantagens de facilidade de transferência de calor e os mesmos
problemas de controlo e emissões. As emissões podem ser drasticamente reduzidas se os gases
condensáveis forem queimados em fornalhas com combustíveis fosseis. Mas este processo é
mesmo muito dispendioso. Deste modo foram desenvolvidos outros processos com melhor
controlo do fornecimento de calor: as retortas. Nas retortas (fig. 2.13, §2.2.4) o calor é
fornecido à câmara de carbonização por radiação/condução através das paredes ou
recirculando os gases quentes. Esta foi a tecnologia escolhida para levar a cabo a “destilação da
madeira” e produzir, entre outros, ácido acético, acetona, metanol, ácido butanoico e, como
produto secundário, o carvão (Stassen 2015). Deste modo a carbonização da madeira
estabeleceu nos finais do séc. XIX e inícios do séc. XX os primórdios da indústria petroquímica
actual. Actualmente a produção industrial mantém-se para alimentar a produção de ferro ou
para produzir carvão activado, de que resultaram processos mais eficientes, automatizados e
menos poluentes. Convém referir que cada sistema aqui apresentados têm um historial de
sucesso económico, mas são o resultado de condições especificas que podem não se replicáveis
noutras circunstâncias (Stassen 2015).
O Carbonizador de Retorta Dupla (Carbo Twin-Retort Carbonizer) converte madeira e briquetes
de serradura e resíduos agrícolas em carvão com uma eficiência garantida acima dos 30% e
pode produzir 900-1000 t de carvão por ano a partir de 3000t de madeira num ciclo de
produção que dura 8-12h com qualidade uniforme. Este forno está equipado com duas retortas
que se vão alternando no fornecimento de calor inicial de carbonização uma à outra. O sistema
tem uma fornalha onde queima todos os compostos orgânicos (CH4, CO e HCNMs) em CO2 e
água, resultando dai emissões muito baixas de gases e partículas. Estes gases quentes também
podem ser usados para secar a madeira. O sistema é modular e requer menos pessoal que
outros sistemas de igual produção do que resulta maior flexibilidade. Estes fornos são usados
na China, Estónia, França, Holanda, Singapura, África do Sul e Senegal (para mais detalhes vide
Reumerman & Frederiks 2002; Siemens 2008; Stassen 2015: 448-451).
23
A fornalha Herreshoff, fig. 2.15, é uma tecnologia com provas dadas na produção contínua de
carvão a partir de serradura, cortiça, e resíduos agrícolas secos (e.g. palha). O material é feito
descer por sucessivas câmaras de carbonização com agitação mecânica e entrada de ar e gazes
quentes controlada. Com uma capacidade de alimentação de 4-10t/hora e um rendimento de
25% em peso, a fornalha Herreshoff pode produzir 1-2.5t/h de pó de carvão e cerca de 8000-
20000t de pó de carvão por ano (Stassen 2015). Embora consiga produzir carvão de alta
qualidade de resíduos esta fornalha requer uma unidade de briquetagem para o pó de carvão e
requer a disponibilidade contínua de matéria-prima a distâncias economicamente viáveis. Este
equipamento está a ser usado no sul dos EUA (para mais detalhes vide Backer 1985; Emrich
1985: 229; Hankin 2015; Stassen 2015: 451-453).
Figura 2.15- Uma fornalha Herreshoff montada pela Hankin
Environmental Systems [Fonte: Hakin 2015].
24
A retorta Lambiote, fig. 2.16, é uma tecnologia de produção contínua de carvão a partir de
lenha com dimensões entre 25-35cm de comprimento e 8-15cm de diâmetro e com humidades
inferires a 25%, preferencialmente entre 10-15% em peso (Stassen 2015: 454). Existem dois
modelos básicos, o francês SIFIC que recupera os gases de processo por condensação e o CISR
que não faz essa recuperação. O controlo e operação das unidades Lambiote SIFIC/CISR é
totalmente automatizado e altamente sofisticado. Os troncos são alimentados no topo e
movimentam-se lentamente para a base por acção da gravidade ao mesmo tempo que a
carbonização se dá por contacto com os gases de pirólise que fluem no sentido inverso. O
arrefecimento é feito também por gás num sistema autónomo. Uma unidade típica com 3m de
diâmetro e 18m apresenta um rendimento superior a 35% e produz cerca de 2500t/ano
embora seja capaz de produzir 2000-8000t/ano de carvão de alta qualidade e 250kW-1MW de
electricidade por queima dos gases de carbonização (Stassen 2015: 456). As desvantagens
deste sistema incluem: a grande sensibilidade à humidade que pode requerer a alimentação de
combustível adicional; susceptível de corrosão por ácido acético. Esta tecnologia foi usada em
vários países europeus até 2002 e neste momento opera na Letónia, mas já foi proposta para
ser usada em zonas remotas de África (de Miranda et al. 2013) (para mais detalhes deste
tecnologia vide Emrich 1985: 123-129; Stassen 2015: 454-457).
Figura 2.16- Uma unidade industrial com duas retortas Lambiote na Letónia [Fonte:
www.baltcarbon.lv].
Existem outros sistemas menos usados que poderão ser consultados, e.g., em Emrich 1985.
25
3. IMPLEMENTAÇÃO EXPERIMENTAL DE UM FORNO IBEK EM MABALANE Este trabalho surge ao abrigo de um projecto financiado pelo Governo Belga que pretende
explorar a possibilidade de implementação de projectos de carvão sustentável possíveis de
serem abrangidos por mecanismos de financiamento climático. Deste modo o objectivo
lançado foi o de definir: (1) o forno de carvão mais adequado à produção sustentável de carvão
e à realidade Moçambicana; e (2) fazer um levantamento de dados adequado para
consubstanciar essa e outras decisões tecnológicas a tomar no âmbito do projecto e objectivo
de obter financiamento climático.
Deste modo nesta secção será explicado, justificado e ilustrado: a abordagem metodológica
que suporta esta investigação exploratória (§3.1) e o trabalho prático e resultados (§3.2)
obtidos na escolha participada da tecnologia (§3.2.1) e na implementação do forno escolhido e
no levantamento de dados associado (§3.2.2).
3.1. ABORDAGEM METODOLÓGICA
A abordagem metodológica foi dividida em duas fases. Numa primeira fase implementou-se um
processo de decisão/design participado da tecnologia a implementar, usando a ferramenta de
design de sistemas de bioenergia 2MB (Martins 2014) e em workshops de design participado.
Escolhida a tecnologia, definiu-se a fase do trabalho de campo para obter de forma inovadora
dados relevantes sobre a performance da tecnologia proposta face à tecnologia existente
evitando os problemas descritos em §2.3.1.
3.1.1. DECISÃO PARTICIPADA DE TECNOLOGIA
Partindo do princípio de que quem vive o problema percebe melhor a solução, mas também
reconhecendo que o conhecimento não é estanque e que o "povo sabe o que quer, mas
também quer o que não sabe" (músicas de Gilberto Gil), este trabalho utilizou uma abordagem
metodológica de design participativo inovadora. Por um lado, ao invés de apresentar uma
solução e defender a mesma com base em ideias pré-concebidas de sustentabilidade (um
caminho comum), foi dado a diversos actores relevantes no sistema energético do carvão no
sul de Moçambique a oportunidade de combinarem a sua visão ideal do que seria a tecnologia
adequada com as soluções tecnológicas actualmente disponíveis. Com este objectivo e
perspectiva foram definidos em workshops de design participativo (§3.2.1). A estrutura dos
Workshops foi sempre a mesma e foi definida, com base na descrição de objectivos definidos
atrás, em quatro momentos, com 6 momentos e 6 objectivos complementares (vide Anexo A
para apresentação usada nos Workshops de Design Participados):
26
Momento 1. Definir os participantes e as equipas do workshop. O objectivo era ter presente
nos workshops visões abrangentes e diversificadas da temática do carvão numa tentativa de
suscitar o debate e a troca de ideias.
Momento 2. Apresentar de forma simplificada o que é, em termos técnicos um forno de
carvão frisando os aspectos em que se poderia tirar benefícios do financiamento climático,
nomeadamente na reutilização de resíduos, redução de consumos e redução de emissões. O
objectivo era centrar a discussão na tecnologia sem perder de vista o objectivo principal de
identificar oportunidades de financiamento climático.
Momento 3. Questionar os participantes sobre o que achavam ser, com base na sua
experiência um forno de carvão ideal. O objectivo era identificar o posicionamento dos
participantes identificando as suas preocupações e ao mesmo tempo criar uma visão da
tecnologia a definir em termos de especificações de design pessoais.
Momento 4. Apresentar, de forma breve e focada nas vantagens e desvantagens das várias
tecnologias existentes para a produção de carvão de pequena escala (§2.3.4). O objectivo
era introduzir os aspectos técnicos e tecnológicos da realidade da produção de carvão e
simultaneamente estimular a ligação entre a visão ideal definida no momento 3 com o que
se podia efectivamente fazer (momento 5).
Momento 5. Propor um exercício de design participado em equipa que foi formulado como:
"Que forno construído e operado por carvoeiros, melhor garante a sustentabilidade
e o financiamento climático da produção e carvão em Mabalane?".
Este exercício foi realizado com ajuda da 2MB (Martins 2014) uma ferramenta já usada com
sucesso em exercidos semelhantes. Cada equipa preencheria a 2MB expondo as suas ideias
e perspectivas sobre o desafio de design. Neste sentido, a "MB preenchida seria a descrição
explícita da ideia do grupo sobre a solução de design a seguir.
Momento 6. Lançar o debate (quando possível com votação de preferências) entre as várias
equipas de forma a encontrar pontos de encontro, clivagens, integrações e/ou
complementaridades possíveis que pudessem suportar o processo de refinamento e
criatividade. Este momento foi estendido para além do workshop com perguntas feitas pelo
Autor (e facilitador de todos os workshops) com base em lacunas encontradas nas 2MB
recebidas.
Os resultados foram depois processados e utilizados para definir a tecnologia que mais se
adequava ao desafio de acordo com os participantes.
27
3.1.2. RECOLHA DE DADOS E ANÁLISE COMPARATIVA DE TECNOLOGIAS
Um dos problemas identificados na análise comparativa de tecnologias de produção de carvão
é a dificuldade de encontrar um campo de comparabilidade estável e comum (§2.3). Esta
situação é particularmente crítica para a eficiência, porque é um parâmetro fundamental de
design e decisão. No entanto, como também dito em §2.3.1, a eficiência é dependente de
muitos factores calculados de forma distinta, i.e., incomensuráveis entre si. Entre esses factores
conta-se a humidade, o tipo de árvore, o clima e a experiencia dos carvoeiros. Por outro lado,
dada a definição de eficiência, grande parte dos estudos deixa de lado toda a madeira não
usada, e os finos do forno não aproveitados, deixando assim por contabilizar a biomassa
retirada à floresta e o potencial de reaproveitamento de finos. Finalmente na gíria dos
carvoeiros, o rendimento é dado em carvão produzido por litros de gasolina usada nas
motosserras e até agora não há forma de traduzir essa informação em desbaste na floresta. De
forma a colmatar estas lacunas presente abordagem metodológica delineou um plano de
recolha de dados que inclui:
1. Construir um forno como o que os carvoeiros usam actualmente e numa área
imediatamente adjacente e semelhante construir o forno seleccionado pela abordagem
metodológica definida em §3.1.2. Ambas as áreas devem ser escolhidas pelos carvoeiros.
2. Medir os diâmetros de altura de peito (DAP) e cortar apenas os legais;
3. Medir e reduzir a diferenciação de todos os factores relacionados com a eficiência:
3.1. Retirar um disco de 5cm de cada árvore e pesar imediatamente para aferir o teor de
humidade (estas pesagens efectuam-se até se estabilizarem nas semanas seguintes);
3.2. Medir o peso dos ramos com folhas e troncos não usados na produção do carvão para
aferir a biomassa total não utilizada no forno;
3.3. Medir todos os troncos usados na montagem de ambos os fornos para definir o
quociente do rácio da eficiência, garantindo que no final os 2 fornos tem o mesmo peso
composto de forma aleatória por secções de troncos das mesmas árvores;
3.4. Distribuir pelos dois fornos os carvoeiros de forma a manter um bom balanço de
experiencia (idealmente as equipas formam-se de forma espontânea).
3.5. Medir as dimensões do forno para calcular a densidade do forno;
3.6. Pesar a quantidade de carvão obtida para definir o numerador do rácio da eficiência;
3.7. Medir as perdas (finos e madeira não carbonizada) por forno;
4. Medir os tempos de montagem do forno e de carbonização.
5. Medir a quantidade de gasolina usada;
6. Dar a mesma explicação sobre a forma de construir o forno seleccionado pela abordagem
metodológica definida em §3.1.2 em ambas as localizações de implementação.
28
Convém ainda realçar dois aspectos relevantes na abordagem metodológica realizada nesta
fase de construção dos fornos e recolha de dados. Em todo o momento os carvoeiros devem
ser considerados e tratados como parte integrante do processo de investigação. Deve ser bem
vincado o papel experimental deste trabalho, e da importância que os carvoeiros têm no seu
desfecho. A construção dos fornos lado a lado cumpre com este objectivo de dois modos
complementares. Em primeiro lugar, o facto de os carvoeiros construírem um forno "seu" ao
lado do "novo forno" indica que ambas as tecnologias são reconhecidas como iguais e como tal,
que o seu conhecimento é valorizado. Em segundo lugar ambos os fornos são construídos pelos
carvoeiros, passando a ser ambos "seus". Desta forma, a equipa que constrói o "novo forno"
pode usar a sua experiencia e integra-la no processo de construção. A ideia é criar uma
competição saudável associada ao processo construção do forno que possa facilitar o
envolvimento do carvoeiro no processo através da imagem que tem de si como carvoeiro.
3.2. IMPLEMENTAÇÃO PRÁTICA E RESULTADOS
Seguindo a divisão de trabalho definida na abordagem metodológica (§3.1) a implementação
práctica do trabalho foi feita em duas fazes consecutivas: escolha participada do forno a
implementar; construção do forno e recolha de dados e cálculos.
3.2.1. WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPATIVO
Com o objectivo de envolver o maior número de actores relevantes no processo de escolha,
concepção e especificação (i.e. de design) do forno adequado à produção sustentada de carvão
na actual conjectura socio-ecológica moçambicana, realizaram-se workshops com (para a lista
completa de participantes vide Anexo B):
1. Representantes institucionais do governo central e do mundo académico (Maputo);
2. Representantes das associações de carvoeiros e do poder local (Mabalane e
Combomune); e
3. Representantes do governo provincial (Xai-Xai).
Convém referir que a 2MB é uma ferramenta suporte ao design participativo de sistemas de
bioenergia criada pelo Autor que se caracteriza pela modularidade e capacidade de promover o
diálogo (Martins 2014). Na 2MB um número mínimo e necessário de elementos de design estão
dispostos numa arranjo simples sobre uma folha de papel, o que permite aos seus utilizadores
navegar pelo sistema de bioenergia de forma rápida e simples, experimentando opções,
tomando decisões informadas e definido sistemas de bioenergia. Uma vez preenchido o 2MB
torna-se também uma especificação do que se pretende do sistema, e como tal uma descrição
conceptual desse mesmo sistema.
29
Workshop de design participativo 1 (WDP1). Este workshop reuniu em Maputo no dia 6 de
Julho de 2015 investigadores da UEM, responsáveis de organismos governamentais na área da
energia, das florestas e da agricultura, representantes de ONGs a operarem com fornos de
carvão e peritos nacionais e estrangeiros em combustíveis lenhosos (lista completa e afiliação
no Anexo D). Quando questionados sobre o forno ideal (momento 3 em §3.1.1.) verificou-se
que o foco da preocupação era o rendimento de uma perspectiva ecológica. Reconhecia-se a
importância dos combustíveis lenhosos como fonte de renda e possivelmente como uma
oportunidade de negócio, mas pretendia-se reduzir a pressão sobre a floresta, incrementando a
eficiência das tecnologias de produção. Neste sentido conhecidas as possibilidades tecnológicas
disponíveis, foram criadas de forma participativa 3 sistemas baseados em 3 tecnologias:
1. Um sistema baseados em fornos de tijolo feitos por oleiros locais que seriam activos
numa "empresa modelo" gerida como uma ONG que combinaria em si a
responsabilidade de gestão florestal e a produção e comercialização de carvão.
2. Um sistema baseado no Casamance como uma primeira etapa para futuras alterações
mais profundas na tecnologia de produção. O sistema seria profundamente apoiado
institucionalmente.
3. Um sistema flexível com forte envolvimento do sector privado e uma estratégia para a
criação de um sistema certificação para o sector em que dependendo da disponibilidade
de recursos se poderiam optar por fornos de metal móveis ou fixos de argila.
Após apresentação de cada um dos sistemas e discussão uma votação considerou ser o sistema
2 o que mais se adequava, em termos estratégicos, à actual realidade moçambicana, fig. 3.1.
Workshop de design participativo 2 e 3 (WDP2-3). Estes workshops foram realizados com
representantes de associações de carvoeiros, carvoeiros, fiscais florestais e representantes do
poder local (estado e tradicional) a 29 de Julho em Mabalane Sede e a 30 de Julho em
Combomune. Embora realizados em locais diferentes a viverem diferentes etapas na dinâmica
carvoeira do distrito de Mabalane, as preocupações e visões apresentadas foram bastante
semelhantes e serão por isso apresentadas em conjunto. Quando questionados sobre o que
seria um forno ideal, as respostas incidiram quase exclusivamente em três pontos: a
necessidade de aumentar a eficiência do processo de carbonização; a necessidade de ter ciclos
de produção mais curtos; e a necessidade de ter mais controlo sobre o processo para evitar
perda de fornos. No entanto, ao contrário dos participantes no WDP1, a preocupação
dominante (mas não exclusiva) era a do negócio. Uma vez que muitos dos presentes eram
iletrados, a aplicação directa da 2MB foi feita de forma diferente: por estímulo de discussão.
30
Figura 3.1-Sistema de produção de carvão vegetal como definido pelo grupo 2 no WDP1 realizado em Maputo.
O sistema de bioenergia desenhado no WDP2 e 3 baseia-se na utilização de formas mais
eficientes de produção de carvão que impliquem o mínimo risco possível e baixo custo para o
carvoeiro. Desta forma prevaleceu o forno de terra melhorado. Note-se que a primeira opção
dos grupos de trabalho foi a retorta Adam, dada a sua alta eficiência, no entanto alteraram a
opção para os fornos de tijolo quando souberam do custo e capacidade da retorta. Neste ponto
a preocupação era, como já foi dito, aumentar o rendimento. O facto de o forno ser fixo e haver
questões sobre a responsabilidade, custos e legitimidade sobre o mesmo levou o grupo de
trabalho a mudar, e desta vez de forma definitiva, para um sistema puramente comercial
assente no forno melhorado, o que ia (ainda que por motivos algo diferentes) na direcção do
resultado do WSP1. No entanto dada a má experiencia que alguns membros do WSP3 tinham
com o Casamance (divulgado por ONGs no sul de Moçambique ao abrigo de acordos e
financiamentos vários) foi pedido que se pensasse noutro forno. Estes workshops serviram
também par identificar junto dos presentes se estariam dispostos a participar de forma activa
no projecto, aprendendo e construindo o forno melhorado com o autor. As respostas foram
bastante positivas e no total 6 voluntários apresentaram-se para essa tarefa. Convém referir
que além de serem avessos a correr riscos os carvoeiros baseiam grande parte da sua
experiencia e decisões na capacidade de experimentar e ver como funciona. Estes WDPs foram
bastante ilustrativos da psicologia e estratégia de decisão do carvoeiro
31
Workshop de design participativo 4 (WDP4). De forma a cobrir o nível intermédio de decisão
política, realizou-se na sede da DPA no Xai-Xai no dia 20 de Agosto o quarto e último WDP com
membros da DPA, extensionistas, membros do Instituto do Caju e das florestas a nível
provincial. Este foi um WDP bastante activo como se demonstra na riqueza de detalhe e
informação oferecida pelo 2MB produzido neste WDP, fig. 3.2.
Figura 3.2-Sistema de produção de carvão vegetal como definido no WDP4 realizado no Xai-Xai.
Tal como nos outros WDP a preocupação principal voltou a ser a eficiência e de novo, como no
WPD1 relacionada com a necessidade de proteger a floresta. O design conceptual do sistema
de bioenergia que emerge da 2MB do workshop, fig. 3.2 cobre praticamente todas as
perspectivas presentes nas propostas que deram inicio a este estudo (vide parte 1),
nomeadamente: a necessidade de investir em fornos de tijolo num esquema em que o estado
seria regulador, passando para o sector privado a capacidade de gerir e criar dinâmicas de
negócio neste sector. Simultaneamente propõem-se a integração de briquetagem, a gestão
florestal, a formalização do carvoeiro, a aplicação efectiva de planos de maneio numa
estratégia de preservação do recurso e geração de renda. O que é relevante deste WDP4 é que
em algumas estruturas do aparelho de estado, parece haver bastante abertura para apreciar e
apoiar iniciativas de produção sustentável de carvão como as preconizadas por este projecto.
I Rede de Actores
Oleiros especializados no fabrico de tijolos apropriados
DEPREM- ajuda na definição de estratégias
DPCA- ajuda nas estratégias e formação de oleiros
I Comunicação e Relacionamento
Mais informação junto dos produtores e da rede de actores
Workshops para promover a troca de experiencias
Materiais Audiovisuais (vídeo) Demonstrações em feiras e criação de uma zona de teste para carvoeiros.
I Utilizadores do Forno e Suas
Práticas
Os potenciais utilizadores (grupo alvo) deste forno são: o carvoeiro empresário (em menos escala o carvoeiro familiar)
As grandes preocupações destes utilizadores incluem: o Eficiência (mais carvão com menor
tempo e dispêndio de recursos) o Lucro (renda) vs custo (investimento) o Operação com menor esforço possível o Produzir carvão de boa qualidade o Tempo- ciclos de produção menores o Acesso a bons serviços o Produção todo o ano
I Problemas e Motivações Para
Construir o Forno
Baixa eficiência- Muita biomassa gasta
Problemas ambientais decorrentes
Não gera tanta renda quanto se espera Índice elevado de degradação florestal
Dispendiosos em termos de tempo
Potencial de melhoria de qualidade
I Objectivos e Proposta de Forno
Aumentar a eficiência
Redução de emissões e desmatamento
formalizar o carvoeiro: Promover o associativismo e empreendedorismo
Melhorar a gestão florestal e concentrar geograficamente a produção
Promover a equidade de renda
I Legislação, Regulamentos + Capacidades
Legalizar e formalizar o carvoeiro
Capacitação de oleiros na produção de tijolo e de carvoeiros na construção e uso de fornos
Capacitação para o negócio, criação de cooperativas e associativismo Obrigatoriedade do uso de fornos de tijolo ou outros de elevando rendimento
Obrigatoriedade e capacitação para a realização e gestão de planos de maneio
Conduzir estudos e inventário de espécies Melhoria da fiscalização (taxas, embalagens, lei da floresta)
I Recurso de Biomassa e Terra
Lenha localmente acessível e de 4ª classe
Recurso deve ser reposto e obedecer a plano de maneio bem elaborado
Deverão ser poupadas as plantas jovens
Deverá haver reflorestamento com arvores nativas ou não
I Construção do Forno
Forno Fixo construído com tijolo de argila
Argila obtida localmente
Comparativamente com fornos actuais o forno proposto tem mais custos, maior eficiência, e pode produzir maiores quantidades todo o ano
I Auxiliares + Local do Forno
Em zona estrategicamente escolhida
Aproveitamento de finos através de briquetagem
Ensacado com embalagem especifica e logotipo da empresa/associação
Armazenagem de carvão no local do forno
I Fornecimento de Fornos
Difusão a cargo de associações já existentes, sociedades por cotas, ou cooperativa
Promover o associativismo
Realização de ensaios para mostrar as vantagens do forno
I Custos, Impactos, Riscos + Competição
Custos de plantação- viveiros etc; estabelecimento de maneio Custo de implantação: construção de fornos/transferência de tecnologias
Custo de investigação e estudos
Custo do armazém do carvão
Grandes riscos incluem: falta de investimento inicial; a dificuldade de convencer logo á primeira; grandes distancia da floresta ao forno
A grande concorrente poderia sero fabrico de tijolo para construção
I Ganhos, Benefícios, Oportunidade + Sinergias
Financiamentos por mecanismos financeiros nacionais ou internacionais ligados a aspectos sociais e/ou ambientais da construção e manutenção dos fornos e produção
Conservação dos recursos florestai
Grande entrave será o financiamento inicial, que poderá ser suprimido com a ajuda dos "7 milhões", ou pagamento de taxas e/ou cotas por associados
I Infoestruturas e Contextos
Politicas energéticas que dão forma ao ambiente socio-económico
A qualidade das vias de acesso. Boas vias facilitam o escoamento
32
Convém salientar que o processo de design participativo neste trabalho não constituiu um
processo de consulta de apoio à decisão, mas sim uma forma integrada de identificar por
dinâmicas participativas qual a tecnologia que mais se pode encaixar nas estratégias e
perspectivas dos vários intervenientes e, simultaneamente, resultar em fonte de evidência e
informação para os objectivos deste projecto. Os WDP funcionaram como fontes de
especificações de designam para a tecnologia a implementar. Neste sentido por análise dos
designs obtidos nos vários WDP, emergiu a ideia de introduzir uma tecnologia de produção de
carvão que fosse um forno de terra melhorado, que não o Casamance, que servisse de ponte
para uma experiencia futura com um forno fixo, tab. 3.1. Da análise das opções disponíveis,
optou-se pelo forno IBEK (fig. 2.7, §2.2.1).
Tabela 3.1- Resumo das várias perspectivas prevalentes nos WDP em relação com a tecnologia escolhida.
WORKSHOP PERSPECTIVA DE DESIGN DOMINANTE TECNOLOGIA
WDP1 O princípio da gradualidade, i.e., da mudança lenta mas consistente de tecnologia que não corte com as opções vigentes, mas que ainda assim motive a mudança tecnológica.
Forno de terra melhorado Casamance
WDP2 Foco de negócio de melhorar a eficiência para ter mais carvão, menos perdas e ciclos de produção mais curtos
Forno de terra melhorado que não o Casamance
WDP3 Foco de negócio de melhorar a eficiência para ter mais carvão, menos perdas e ciclos de produção mais curtos
Forno de terra melhorado que não o Casamance
WDP4 Integração de múltiplas iniciativas com o objectivo último facilitar a participação do sector privado no negócio do carvão formalizado, gestão florestal e outras alternativas tecnológicas (e.g. briquetagem).
Forno de tijolo
3.2.2. CONSTRUÇÃO DOS FORNOS IBEK EM DJODJO E MAVUMBUQUE
Como resultado do WDP2-3 um total de 6 carvoeiros (4 em Combomune e 2 em Mabalane
Sede) ofereceram-se como voluntários para a construir o IBEK nas suas zonas de corte. O
acordo incluía além da troca de conhecimento o fornecimento da gasolina para a motosserra e
a garantia de que todo o carvão produzido ficaria em posse do voluntário. O trabalho deveria
decorrer nas primeiras semanas de Setembro nas proximidades de Combomune e Mabalane
Sede. No entanto, chegado aos dias acordados, dos 4 carvoeiros em Combomune revelaram-se
indisponíveis. Deste modo a solução de recurso foi encontrada em Mavumbuque. Em Mabalane
Sede, o forno foi montado em Djodjo, onde estava sediada a zona de corte de um dos
voluntários, por mútuo acordo dos dois voluntários.
Parte do trabalho deste projecto consistia na troca de conhecimento, e ensinar e explicar a
dinâmica interna do IBEK era parte desse processo. Desse modo a explicação que se mostra de
seguida foi basicamente a mesma dada aos carvoeiros.
A construção do IBEK (TATEDO/TFCG 2015) requer uma pilha de madeira com duas camadas
33
horizontais sobre um terreno limpo e duro. Na primeira camada troncos são colocados
equidistantes para formar as câmaras de condução dos gases (fig. 3.3A). Estas câmaras devem
ser em número impar para permitir que a do meio seja usada como ponto de ignição numa
extremidade e ponto de evacuação para a chaminé na extremidade oposta (fig. 3.3A). Nas
extremidades deste primeiros troncos devem ser colocados troncos de suporte (fig. 3.3A).
Antes de colocar a segunda camada, o espaço entre os troncos da primeira camada deve ser
abundantemente preenchido com ramos secos (fig. 3.3B). A segunda camada é colocada
horizontal e perpendicularmente sobre a primeira (fig. 3.3C). Após armada a segunda camada
constrói-se a manga (napperon), colocando vários troncos pequenos na diagonal ao longo de
todo o perímetro do forno como ilustrado na fig. 3.3D. Finalmente instala-se a chaminé no
extremo oposto ao ponto de ignição (fig. 3.3E). A chaminé é feita enrolando uma chapa de
zinco (preferencialmente galvanizada) para fazer um tubo com 20cm de diâmetro e 2.5m de
comprimento. A 25cm da base da chaminé abre-se uma janela dirigida para base que deverá
servir para evacuar os gases de combustão. A chaminé deverá ser colocada de encontro aos
troncos entre os troncos do napperon com a janela virada para o forno (fig. 3.3E). Finalmente
cobre-se a madeira com folhas e terra/areia como em qualquer FTP, mas sem fazer nenhuma
abertura de ventilação (fig. 3.3F).
Figura 3.3-Sequência de construção de um forno IBEK [Fonte: adaptado pelo autor de TATEDO/TFCG 2015].
34
3.2.3. CÁLCULO DE EFICIÊNCIAS E CORRELAÇÕES
Com base nos dados recolhidos como definido em §3.1.2 foi possível calcular não só
parâmetros importantes, mas também estabelecer correlações relevantes:
A distribuição de diâmetros e o diâmetro médio das árvores cortadas;
A quantidade de biomassa não usada na construção do forno;
A humidade da madeira usada;
A eficiência de cada forno e a comparação efectiva de eficiência entre ambos os fornos;
Calcular a densidade dos fornos;
Relacionar entre si: a massa de carvão produzida; a massa de lenha usada; a massa de
biomassa não usada; a massa de finos produzida; e a quantidade de gasolina usada;
Comparar tempos de montagem e operação entre fornos.
Para a realização desta abordagem metodológica usaram-se duas balanças de suspensão
(capacidades máximas de 200kg e outra de 150kg ambas com precisão de 500g), uma balança
digital de precisão; balanças tipo báscula capacidade máxima de 200kg e uma precisão de 1kg
máquina fotográfica, fita métrica, arame, corda e sacos.
A. Distribuição de diâmetros e o diâmetro médio das árvores cortadas
Foram abatidas 79 árvores de Mopane, ou Chanatse (Colophospermum mopane), 70 nos 2
fornos em Djodjo e 9 nos 2 fornos em Mavumbuque. Em Mavumbuque as árvores eram mais
espaçadas e de muito maior porte (mais altas e com muito mais ramos grossos) com DAP entre
55-127.5cm (média de 80.3cm e mediana 71.0cm). Em Djodjo a vegetação era mais densa, mas
as árvores de muito menor porte com os DAP a variarem entre 24-119cm (média de 50.3cm e
mediana de 45.5cm). A distribuição dos DAP está na fig. 3.4.
Figura 3.4-Distribuição de DAP das árvores usadas nos fornos [Fonte: Medições de campo].
0
2
4
6
8
10
12
14
16
FREQ
UÊN
CIA
DAP [cm]
Djodjo Mavumbuque
35
Decorrente das diferentes morfologias, foi possível aos carvoeiros de Djodjo usar a motosserras
só para o abate e seccionamento do tronco, sendo o resto do desmanche da árvore feito com
catanas. Já em Mavumbuque, a motosserra foi usada também para ramos mais grossos. Além
disso, e uma vez que foi usada rigorosamente a mesma quantidade de gasolina e a massa de
lenha é diferente (cerca de 16%) é de admitir também que a destreza e eficiência dos
carvoeiros é também um dos factores a ter em conta na discrepância de árvores obtida.
B. Calculo das massas
Com o objectivo de determinar toda a biomassa retirada à floresta e não apenas a que alimenta
o forno, e ao mesmo tempo definir qual o potencial para aproveitamento de finos foram
realizadas várias pesagens em diferentes fases da produção do carvão:
Tabela 3.2- Medições de massa realizadas em Mavumbuque e Djodjo [Fonte: Trabalho de Campo].
MEDIÇÕES DE MASSA MAVUMBUQUE DJODJO
FORNO LOCAL IBEK FORNO LOCAL IBEK
Massa não usada (ramos e folhas) [kg] 1217 1389
Massa de madeira usada [kg] 3457 3148 3833 3860
Massa do carvão produzido [kg] 498 476 700 532
Massa de finos produzida [kg] N/A 89 N/A 93
Massa de madeira não ardida [kg] 54 126 339 268
Um dos aspectos inovadores deste trabalho foi a medição de toda a biomassa retirada da
floresta durante a produção de carvão, o que permitiu (pela primeira vez) quantificar a massa
de ramos e folhas (tab. 3.2) que não entrando no forno poderão ter outros usos. Da observação
no terreno verifica-se os ramos e folhas são abandonados no campo e, eventualmente usados
para fazer sebes vivas ou para construir os fornos (em Djodjo). Talvez possam ter, como os finos
(§2.1) funções revitalizadoras do solo como manter a humidade no solo ou restituir nutrientes,
mas tal não foi possível averiguar. Não foi possível diferencia a quantidade de ramos e folhas
por forno, por isso para os cálculos considerou-se que cada forno utilizou metade. Outra
inovação neste trabalho foi a medição dos finos. Os finos são pedaços de carvão que, pela sua
reduzida dimensão, não tem aplicação comercial e são por isso abandonados no lugar do forno.
Usando uma rede de galinheiro dobrada vezes foi possível peneirar as areias do forno e obter o
peso desse material. Por questões de tempo este trabalho foi efectuado apenas para o forno
IBEK. As medições ficaram terminadas com a pesagem das quebras (madeira não ardida).
Contabilizando a biomassa total como a massa de ramos e folhas mais a massa de lenha, e
subtraindo à massa de lenha a massa do carvão, dos finos (quando aplicável) e das quebras é
possível quantificar a massa de madeira perdida na forma de gases (vapor de água e emissões,
completando assim o balanço de massa ao processo de carbonização, fig. 3.5.
36
Figura 3.5- Balanços e fluxos de massa para (A) média dos dois fornos locais e(B)media dos dois fornos IBEK[Fonte:
Medições de campo].
É de notar que cerca de 15% de biomassa na forma de ramos e folhas e não é aproveitada na
produção de carvão, e que 65% da massa total é perdida em emissões ou (especialmente no
caso dos IBEK) na desidratação da madeira (§2.1). Estes números parecem indicar desperdício,
mas também oportunidade de melhoria dos processos (e.g. usar madeira seca), tecnologias
(e.g. usar outros fornos ou melhorar os existentes) ou integrar processos (e.g. reutilizar os finos
em briquetes, e os ramos finos em pellets).
B. Determinação da Humidade da madeira
Outro factor relevante para a determinação da eficiência (vide C abaixo) é a humidade presente
na madeira. Com a excepção do forno de Djodjo, todos os fornos foram feitos com madeira
fresca e verde. Para o cálculo da humidade, para cada árvore abatida foi cortado um disco de 3-
5cm de altura que foi imediatamente pesado e numerado. Deste modo, a humidade de uma
amostra define-se pelo rácio percentual entre duas pesagens consecutivas e o peso inicial dessa
amostra, fig. 3.6. As medição terminam quando entre duas pesagens consecutivas o peso não
se altera ou altera-se menos de 0.1%.
As 9 amostras recolhidas em Mavumbuque, fig. 3.5A, tinham diâmetros maiores (mais peso) e
uma humidade média de 17.9% (máximo de 38.9%, mínimo 12.3%) e por isso mesmo
demoraram mais tempo a estabilizar num peso final, i.e., requereram mais medições. Já as 70
amostras recolhidas em Djodjo, fig. 3.5B, apresentam valores inferiores de diâmetro (mais
leves) e humidade média de 13.1% (Máxima 20.4%, mínima de 2.9%). Adicionalmente
estabilizaram de peso muito mais rapidamente (menos pesagens).
37
Figura 3.6- Redução de massa das amostras recolhidas por desidratação em (A) Mavumbuque; e (B) Djodjo [Fonte:
Medições de campo].
C. Cálculo da eficiência dos fornos
A definição de eficiência já foi dada (§2.1, §2.3.1), mas só aqui será formalmente expressa com a expressão de um quociente entre a massa de carvão produzida e a massa de lenha usada na sua produção:
E=Eficiência (%)=
Massa de Carvão Produzida
Massa de Lenha Usada×100% Eq. 3.1
Em geral os valores de "massa de carvão produzida" referem-se apenas ao carvão que de facto
é ensacado. Da mesma forma massa de lenha usada refere-se usualmente à madeira que se
usou para efectuar o forno. De facto são estas as concepções usadas quando o termo foi
referido no texto anterior (em §2.1, §2.3.1 e.g.). No entanto, face às medições de massa
efectuadas (tab. 3.2, fig. 3.5), é possível conceber que a "massa de lenha"possa incluir toda a
biomassa retirada à floresta, ou que a "massa de carvão produzida" se possa referir a todo o
carvão produzido, incluído os finos. Por outro lado, uma vez que as quebras podem voltar a ser
usadas num próximo forno, não representam efectivamente uma perda, e podem não ser
contabilizadas como tal. Assim, apesar da sua simplicidade, o conceito da eficiência coloca
importantes questões técnicas e mesmo políticas sobre os limites do que é "lenha" e do que é
"carvão", ou seja, o que pode e não pode ser dado com perda e ganho. Foi a pensar nestas
"outras " eficiências que se definiram os seguintes termos:
500
1000
1500
2000
25
-Ago
26
-Ago
28
-Ago
29
-Ago
30
-Ago
31
-Ago
01
-Se
t
02
-Se
t
30
-Se
t
04
-Ou
t
17
-Ou
t
28
-Ou
t
MA
SSA
DA
S A
MO
STR
AS
[g]
MEDIÇÕES
(A)
0
500
1000
1500
MA
SSA
DA
S A
MO
STR
AS
[g]
MEDIÇÕES
(B)
38
E�=Eficiência Total (%) =
Massa de (Todo o Carvão Ensacado + Finos)
Massa de (Toda a Árvore Cortada-Quebras)×100% Eq. 3.2
E�=Eficiência Comercial (%) =
Massa de Carvão Ensacado
Massa de (Toda a Árvore Cortada-Quebras)×100% Eq. 3.3
Com base nestas novas definições foram realizados cálculos para cada um dos fornos
Tabela 3.3- Calculo das diferentes eficiências para cada um dos fornos [Fonte: Trabalho de Campo].
LOCALIDADE FORNO EFICIÊNCIA [%]
SIMPLES [EQ. 3.1] TOTAL ET[EQ. 3.2] COMERCIAL EC[EQ. 3.3]
Mavumbuque Local1 14.4% 12.3% 12.3%
IBEK 15.1% 15.7% 13.2%
Djodjo Local1 18.3% 16.7% 16.7%
IBEK 13.8% 14.6% 12.4%
NOTA: 1- Não há diferença entre ET e EC para estes fornos, porque não se mediu os finos.
Da tab. 3.3 fica patente que o forno local de Djodjo é o que apresenta maior eficiência simples
(eq. 3.1) ao passo que o IBEK é ligeiramente melhor que o local em Mavumbuque. A melhoria
de performance do IBEK na ET deve ser vista com algum cuidado, pois para os fornos locais não
foi possível medir os finos. Também deve ser referido que o forno de Djodjo gozou de um
período de secagem adicional de mais de duas semanas o que pode justificar a diferença de
valores. Se assumirmos que toda a madeira alimentada ao IBEK teria a mesma humidade e
secaria tal como as amostras para o mesmo período (cerca de 13%) obtemos valores de ET
iguais e valore de E e EC ligeiramente inferiores (2%). No entanto o que de facto se salienta da
tab. 3.3 é a variação substancial (2% em 18% e 14%) que se opera quando se considera toda a
árvore e não só a lenha alimentada. Geralmente o impacto do carvão na floresta é medido em
função da eficiência simples (eq. 3.1) e como tal ignora 15% de biomassa.
A concluir, referir que embora importantes, definir eficiência de forma meramente técnica
(com base na termodinâmica ou massas) pode ser profundamente redutor, porque não
expressa toda a complexidade e dinâmica associada à produção e consumo de carvão. Por
exemplo, pode-se dar o caso de formas menos eficientes tecnicamente, produzam um carvão
de melhor qualidade, ou com qualidades do interesse dos consumidores, ou que sejam mais
simples e menos exigentes do ponto de vista físico ou de tempo. Neste sentido seria
interessante desenvolver junto dos carvoeiros e consumidores outros modos de avaliar a
eficiência dos fornos que tivessem mais ligação com a vida de quem os faz.
39
D. Cálculo da densidade dos fornos
Os fornos foram também medidos nas suas para determinar a sua densidade. O cálculo do IBEK
foi bastante facilitado pelo seu formato paralelepipédico, situação que não se aplica aos fornos
locais tipo barco cujo volume foi calculado por aproximação a figura geométricas, tab. 3.4.
Tabela 3.4- Cálculo da densidade de cada um dos fornos [Fonte: Trabalho de Campo].
LOCALIDADE FORNO VOLUME [m3] MASSA [kg] DENSIDADE [kg/m3]
Mavumbuque Local1 7.6 3457 454.9
IBEK 5.6 3148 562.1
Djodjo Local1 7.1 3833 539.9
IBEK 7.8 3860 494.9
Os valores são muito semelhantes com o IBEC de Mavumbuque a diferenciar-se ligeiramente.
No entanto os dados parecem indicar que árvores de diâmetro mais pequeno produzem fornos
mais densos.
E. Cálculo conversões entre termos comuns
A informação sobre as quantidades de carvão, lenha e as dimensões dos fornos têm sido um
problema para os profissionais interessados em fazer análises comparativas ou simplesmente
quantitativas. Em geral os carvoeiros referem-se aos fornos não em termos de volume ou peso
de madeira, mas sim em termos de volume de gasolina gasto no depósito das motosserras ou
de árvores abatidas (que costumam vir em 3 dimensões: grandes, pequenas e médias). Com o
objectivo de contribuir para a tradução progressiva deste manancial de informação que
permanece algo "mudo" e para facilitar possíveis diálogos futuros este trabalho determinou a
relação entre o volume de gasolina e todas as outras medidas da tab. 3.2 e ainda as dimensões
das árvores, tab. 3.5. Isto foi possível porque se usaram nos quatro fornos, escrupulosamente 3
tanques de 750ml do mesmo modelo da mesma marca de motosserra, que aliás é muito
popular entre os carvoeiros de Mabalane.
Tabela 3.5- Tabela de conversão entre diferentes unidades de uso comum [Fonte: Trabalho de Campo].
GASOLINA CARVÃO SACOS FINOS RAMOS MADEIRA FORNO
1 litro 980kg 13 unidades 160kg 1100kg 6355kg 12m3
Além disso 1 litro de gasolina permite o abate e desrama de 4 árvores de DAP 80cm ou 22-25
de DAP 40cm.
F. Tempos de operação
Apesar de não ter registado eficiências muito melhores (ou mesmo as melhores em Djodjo) o
IBEK implementados foi em ambas as localidades francamente mais rápido. O IBEK demora
40
umas horas mais a montar, pois requer madeira com dimensões específicas, e a montagem de
peças e zonas de forno específicas, além de que é novo face ao forno local. No entanto o
processo de carbonização é entre 2-3 dias mais rápido que os fornos locais em completa
igualdade de circunstâncias. Estes dados podem também ser entendido como uma forma de
eficiência (eficiência de tempo), o que significa que existe um ganho de eficiência na redução
dos ciclos de queima ao se introduzir o IBEK.
41
4. CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS Este relatório marca o culminar de vários meses de intenso trabalho intelectual, físico e
emocional em torno do carvão. Além do imenso trabalho social e de contacto, foi revista uma
considerável quantidade de literatura sobre o carvão, foram efectuados 4 workshops de design
participativo, construídos de raiz 4 fornos de carvão, efectuados intensos e extensivos
levantamentos de dados, dada formação em novas tecnologias de produção de carvão em duas
localidades distintas a mais de 2 carvoeiros, aplicadas abordagens inovadoras de partilha de
conhecimento, feitas descobertas relevantes e cobertas algumas lacunas no conhecimento
sobre a montagem de fornos de carvão. Como parte integrante de todas estas actividades,
estiveram mais de 150 pessoas, entre carvoeiros, representantes de associações de carvoeiros,
fiscais, líderes tradicionais, membros do governo local, agências locais (SDAE, DNTF) e regionais
(DPA), peritos nacionais e estrangeiros, académicos, profissionais, ONGs, funcionários de
ministérios (FUNAE, MASA, MINERE), alunos de mestrado da Universidade Eduardo Mondlane,
a Comunidade de Djodjo.
Começando discussão de resultados pelo objectivo primário do trabalho, entender a viabilidade
de introdução de uma nova tecnologia de produção de carvão no sul de Moçambique, é
importante discutir 4 resultados importantes:
1. Existe um grande desconhecimento sobre tecnologias alternativas de produção de carvão
entre os carvoeiros, mas também entre os funcionários governamentais. Este
desconhecimento não deve, nem pode, ser confundido com falta de interesse. Há na
verdade um grande interesse por novas tecnologias, sempre e quando possam representar
um benefício directo e facilmente identificável. Neste sentido a curiosidade é bastante
moderada com uma dose grande de "aversão ao risco".
2. Os fornos tiveram uma boa aceitação por parte dos carvoeiros, particularmente na
comunidade de Djodjo. O facto de se ter utilizado uma tecnologia que não diferia muito da
utilizada já pelos carvoeiros, mas que ao mesmo tempo incluía factores inovadores (a
manga e a chaminé) suscitou o interesse a e curiosidade dos carvoeiros. Além disso a
abordagem usada, que incluiu uma mistura de design participativo, co-investigação e co-
responsabilização deu aos carvoeiros um papel mais activo e, muito importante, igualitário
no processo de partilha de conhecimento.
3. Em termos de eficiência simples (eq. 3.1) a performance do IBEK não foi melhor que a dos
fornos locais. No entanto os valores de eficiência estão perfeitamente dentro dos valores
registados na Tanzânia (§2.3.1, tab. 2.3) de onde é originário e onde é já usado há uma
década. Além disso, como todas as tecnologias, o IBEK em Moçambique está na sua fase
42
inicial da curva de aprendizagem, ao passo que os fornos locais são já tecnologias maturas,
aperfeiçoadas após gerações de refinamentos e experiências. Finalmente o forno local de
Djodjo teve o benefício de ter estado a secar, o que reconhecidamente é uma vantagem
em termos de eficiência. Em qualquer dos casos o IBEK revelou ser mais rápido, o que pode
ser uma vantagem a explorar. Este resultado pode também indiciar duas situações
independentes e possivelmente complementares: ou a diferença de eficiência entre os
fornos de terra e os fornos de terra melhorados é tão pequena que justifica a opção por
fornos de tijolo; ou então que, mais do que a tecnologia, o que de facto faz a diferença é a
capacidade dos carvoeiros e/ou as condições operatórias, e nesse caso os esforços devem
ser orientados para implementar boas prácticas e a troca de conhecimento.
4. As respostas dadas pelos carvoeiros aos desafios de design nos WDP 2-3 (§3.2.1) indiciam
que a implementação de tecnologia mais eficiente pode não resultar em menor exploração
da floresta. As preocupações ecológicas dos carvoeiros foram mínimas e parecem assentar
todo o seu modelo de negócio no pressuposto de que os recursos são inesgotáveis. Embora
a resposta em Djodjo tenha sido algo diferente, falta uma alternativa ecológica de
exploração de carvão de base comunitária.
No contexto definido por estes 4 pontos, resta saber se vai ser cumprida a promessa por parte
de alguns carvoeiros de passarem a usar o IBEK. Tal como foi dito, a reacção no local foi
bastante positiva e mesmo entusiástica por vezes, mas como a experiência com a
implementação deste projecto deixou claro nem sempre estes entusiasmos são correspondidos
com igual intensidade na implementação, especialmente quando há "projectos" (leia-se,
possibilidades de fundos). Por outro lado qualquer problema ou promessa tecnológica não
cumprida danifica grandemente a confiança dos carvoeiros (e outros actores) na aceitação de
novas tecnologias. Durante os WDP 2-1 este sentimento foi bastante claro em relação ao
Casamance (tab. 3.1).
Relativamente aos resultados obtidos do levantamento de dados este trabalho acrescentou
informação e conhecimento substancial ao tema da produção de carvão. Tanto quanto o Autor
tem conhecimento, este é o primeiro trabalho que efectivamente faz a comparação "lado a
lado" entre duas tecnologias de produção de carvão. Além disso foi possível pela primeira vez
fazer uma medição completa de toda a biomassa envolvida na produção de carvão, tanto na
sua forma natural como na forma de combustível. Assim, ficou quantificado que os ramos e
folhas não usados das árvores abatidas representam 15% de toda a biomassa retirada à
floresta. Esta biomassa aparentemente não tem aplicação doméstica, e é deixada na floresta.
Se cumpre alguma função em manter a humidade no solo ou a restituir nutrientes, não foi
possível averiguar. Em Djodjo usam parte deste material para construir os fornos. Ficou
43
também definido que a produção de finos ronda os 2.5%. Esta informação é relevante para se
pensar em investir em briquetes de finos de carvão. Finalmente as quebras podem chegar a
8.8% o que é substancial, ainda que este material possa ser reintroduzido num outro forno e
como tal não seja uma perda. No entanto com estes dados foi possível calcular de forma
rigorosa diferentes perspectivas de eficiência. Considerando toda a biomassa (eq. 3.2 e 3.3) as
eficiências descem cerca de 2%, que representa o ignorar de 15% de ramos e folhas que não se
contabilizam normalmente no efeito da produção de carvão. Neste sentido implementar, o
quanto antes, tecnologia mais eficiente parece ser uma prioridade ainda mais evidente.
Finalmente, estas medições de biomassa com a medição do total de gasolina gasto com o
trabalho (2.25L) permitiram relacionar uma série de unidades até agora relacionados por via da
experiência e não de quantificação (tab. 3.5).
No que respeita à abordagem usada, como foi já referido, foi de facto uma mais-valia de
integração e investigação. Foi uma aposta na inovação bem conseguida. A ideia de que o
projecto é aberto a quem nele quiser participar, mas que, para participar tem de investir parte
do seu conhecimento, tempo e recursos, transformou os participantes em parceiros, mais do
que simples beneficiários.
44
5. RECOMENDAÇÕES Com base na análise crítica feita em §4, esta secção apresenta de forma muito breve algumas
recomendações de actividades que podem fazer usos deste trabalho e ampliá-lo. Deste modo
recomenda-se:
Manter a abordagem de design e investigação participativa iniciada neste projecto a outras
tecnologias de produção de carvão. Em particular deveria ser criado um centro de estudo e
demonstração de fornos de tijolo onde os carvoeiros pudessem aprender, partilhar
experiencias, experimentar e testar fornos de tijolo numa perspectiva de "aprender fazendo"
que parece ser muito mais adequada ao perfil psicológico dos carvoeiros. Deste modo dever-
se-ia realizar um estudo sobre a possibilidade de montar este centro com a participação
activa dos carvoeiros.
Investir na formação de carvoeiros para o design de modelos de negócio ecológicos. Se o
objectivo for trazer os carvoeiros para o campo do uso sustentável da floresta, o caminho
mais rápido é pelo seu bolso. Embora seja um argumento perigoso talvez fosse possível
lançar as bases para uma segunda geração de carvoeiros com consciência ecológica sem
necessidade do argumento económico. Fazer um teste piloto de design de modelos de
negócios ecológicos com um grupo seleccionado de carvoeiros seria uma opção.
O mesmo argumento do ponto anterior serve para as implícitas e algo escondidas relações
de poder que atravessam toda a cadeia de produção de carvão em zonas rurais. O carvão
está inserido numa realidade social onde a terra, o acesso aos recursos e a legitimidade para
os usar e a política governamental se diluem com as redes sociais dos grandes actores do
carvão. Neste sentido quem ganha o quê com o carvão não é muito óbvio e nesse sentido, a
implementação de um projecto numa região com estes matizes políticos deve ter trabalho
prévio para perceber se o projecto vai promover a continuidade destas lógicas de poder,
ou se poderá ser um catalisador par um pensamento mais crítico e interventivo.
Do ponto de vista técnico é muito importante realizar estudos de base sobre a possibilidade
de promover e implementar negócios com briquetes de carvão. Este trabalho demonstrou
que cerca de 2.5% da lenha alimentada ao forno resulta em finos que podem ser valorizados
como briquetes. Alem disso também se estima que no transporte outros 10-20% se percam
como finos (Stassen 2015). Actualmente já existem várias tecnologias adaptadas a diferentes
escalas de produção de briquetes a partir de finos do carvão ou mesmo de resíduos agrícolas
ou serradura (e.g. Stassen 2015: 457-459). Este estudo de base deveria incidir sobre o
aproveitamento dos briquetes entre os carvoeiros e também nas cidades, nos pontos de
revenda.
45
Este trabalho, para estar completo deveria ter sido acompanhado de um estudo
termodinâmico ao carvão e à madeira e um estudo de emissões aos fornos (e.g. Kammen &
Lew 2005). Há muito poucos estudos nesta matéria, particularmente realizados de forma
intensiva (Pennise et al. 2001), mas é fundamental poder estabelecer uma ligação entre a
tecnologia, o volume/massa e as emissões. Este trabalho não é fácil, é caro e requer tanta
técnica quanto arte. No entanto, desenhar e implementar esse estudo é tanto um desafio
quanto uma necessidade.
Finalmente é relevante estudar se há algum benefício ecológico nas folhas, ramos e finos
do carvão que são abandonados na floresta durante a produção de carvão. Caso não haja,
Uma das possibilidades de utilização energética desta biomassa seria a utilização desses
resíduos para fazer briquetes ou pellets. Note-se, no entanto, que do ponto de vista
ecológico, além do uso energético é possível identificar outras utilizações, e do ponto de
vista humano, é importante saber se este é um assunto relevante para os carvoeiros, e se
for, se estão interessados em pensar numa solução em que estejam activamente
envolvidos (novamente a abordagem participativa de design).
46
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ANEXOS
ANEXO A-SLIDESUSADOS NOS WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPADOS
ANEXO B-LISTA DE PARTICIPANTES NOS WORKSHOPS DE DESIGN
A
ANEXO A- SLIDES USADOS NOS WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPATIVOS
B
C
D
ANEXO B - PARTICIPANTES NOS WORKSHOPS DE DESIGN PARTICIPATIVOS
WORKSHOP 1 – MAPUTO
NOME DO PARTICIPANTE INSTITUIÇÂO
Darlindo Pechisso MINAG
Agnelo Fernandes UEM
Arnela Mausse IIED
Isaac Tsamba FUNAE
Flávio Saraiva KULIMA
Mário Falcão UEM
Luis Zibia UEM
Rui Mirira Consultor Nacional
Sidónia Muhorro
Hiwate Teshome FUNAE (Consultor Internacional)
Osvaldo Manso DNTF
Issufo Juma MIREME
António Saíde FUNAE
Rosalina Chavana IIAM
WORKSHOP 2 – MABALANE SEDE
NOME DO PARTICIPANTE INSTITUIÇÂO
Evaristo Fiscal Florestal
Ruben Chivambo Carvoeiro/Chefe da Localidade
Hermínia da Graça Fiscal SDAE
Anabela Chongo Fiscal SDAE
Alberto Matusse Líder Sangue
Alberto Chaúque Carvoeiro Djodjo / Líder
Silva Simango Carvoeiro Associado
Abrão Vilanculo Carvoeiro
Fernando Nhatugueja DPA Gaza
Ana Cossa Chefe do Posto
Paulo Valoi Carvoeiro Privado Familiar
Evaristo Fiscal Florestal
Ruben Chivambo Carvoeiro/Chefe da Localidade
Hermínia da Graça Fiscal SDAE
E
WORKSHOP 3 – COMBOMUNE
NOME DO PARTICIPANTE INSTITUIÇÂO
Lopes Sumbane Fiscal comunitário Gerez
Armando Mbiza Líder Hochane/ Carvoeiro
Sebastião Tchaúque Fiscal comunitário
Enoque Tchaúque Carvoeiro privado
Gabriel Mugabe Carvoeiro privado
Luis Bila Chefe comunitário Combumune
Isaias Massinge Líder comunitário/ Carvoeiro
Afonso Tchaúque Carvoeiro Associado
Bartolomeu Fiscal do SDAE
Bonifácio Vitorino Fiscal Florestal SDAE
Sebastião chaúque Fiscal Comunitário
Enoque Tchaúque Carvoeiro Privado
WORKSHOP 4 – XAI-XAI
NOME DO PARTICIPANTE INSTITUIÇÂO
Francisco Matuca
Jorge Irrigação
Rafael DIPREM
Mário Beca DPA de Gaza
Sérgio Instituto do Caju
Gracinda Extencionista
Alexandre Zimba DPA de Gaza
Duarte DPA de Gaza