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Resumo publicado na XII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2012 – UFRPE: Recife, 26 a 30 de novembro
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XII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2012 – UFRPE: Recife, 26 a 30 de novembro.
PRODUTIVIDADE DAS FRAÇÕES FORRAGEIRAS DE Atriplex
nummularia CULTIVADA EM SOLO SALINO SÓDICO
Cinthya de Souza Marinho1, Marina Stéfanne Lopes da Silva
2, Goédhi Antas Marques Cordeiro
2, Monaliza Alves
dos Santos3, Maria Betânia Galvão dos Santos Freire
4
Introdução
A salinidade do solo é um dos principais entraves à agricultura, especialmente em áreas irrigadas sob clima árido e
semiárido, porque limita o rendimento das culturas e restringe o uso da terra. Essas restrições são mais graves em áreas
onde a distribuição de alimentos é problemática devido à infraestrutura deficiente (Yokoi et al., 2002). O semiárido do
Brasil está inserido na região Nordeste, onde extensas áreas são degradadas pelo manejo inadequado das atividades
agrícolas associadas à irrigação (Gheyi, 2000; Silva et al., 2008) e ao pastejo (Mattos, 2009). Nessa região, a produção
de alimentos para os animais tem se tornado um grande desafio; devido aos limites impostos pelo estresse hídrico e
salino sobre a qualidade das forragens.
Práticas de manejo que viabilizem a atividade agrícola nessas zonas marginais são fundamentais e o cultivo da
Atriplex nummularia Lindl. torna-se relevante nesse contexto, uma vez que pode atuar na recuperação de solos afetados
por sais, por extrair grandes quantidades destes (Souza, 2010) e, ao mesmo tempo, ser uma alternativa à nutrição
animal. A atriplex possui bom potencial forrageiro, pela sua alta produtividade de matéria seca, elevada relação folha-
caule e teores consideráveis de proteína bruta, entre outros fatores (Barroso et al., 2006). Assim, no presente estudo,
objetivou-se avaliar o potencial forrageiro da Atriplex nummularia, quando manejada em dois espaçamentos em solo
salino sódico.
Material e métodos
O experimento foi conduzido em campo no período fevereiro de 2010 a agosto de 2011; implantado no lote 4-D do
Perímetro Irrigado Cachoeira II, em Serra Talhada, PE. O solo da área experimental foi classificado como
CAMBISSOLO FLÚVICO conforme o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006), encontrando-
se em elevado grau de salinização e sodificação, cuja caracterização encontra-se nas tabelas 1 e 2. Foram estabelecidos
dois tratamentos de fitorremediação: (1) solo cultivado com plantas de atriplex no espaçamento 1x1 m e (2) plantas de
atriplex no espaçamento 2x2 m, dispostos em delineamento experimental em blocos ao acaso com quatro repetições.
Em cada bloco foram montadas parcelas experimentais de 36 m2, com parcela útil de 4 m
2.
As plantas foram cultivadas sob regime de poda a cada seis meses e este trabalho apresenta os resultados da terceira
poda, aos dezoito meses do transplantio das mudas. Na poda foi coletada a biomassa obtida a 50 cm de comprimento
dos ramos das plantas, sendo esta fracionada em folhas e ramos, e pesada para a obtenção da biomassa fresca.
Posteriormente, a matéria vegetal coletada foi seca em estufa com circulação forçada de ar a 65oC até peso constante,
para obtenção da massa seca. A partir do resultado de biomassa seca por planta e sabendo-se o número de plantas por
hectare, foi estimado o rendimento das plantas por área. Adicionalmente, após secas, as amostras de planta foram
moídas e submetidas à digestão sulfúrica a quente para determinação do teor de nitrogênio total pelo método semi-
micro-Kjeldahl (Malavolta et al., 1997), sendo calculada a percentagem de proteína bruta pelo fator 6,25, que converte
o nitrogênio total em proteína (Galvani & Gaertner, 2006). Os dados foram analisados por meio de análise de variância
e teste de Tukey (p<0,05), utilizando o software SAEG 9.1 (UFV, 2007).
Resultados e Discussão
A produção de matéria fresca e seca das plantas de atriplex foi diferente estatisticamente (p<0,05) entre os
tratamentos, sendo observada maior produção de biomassa nas plantas sob cultivo no espaçamento 2x2 m (Tabela 3),
possivelmente, porque as plantas no maior espaçamento tiveram menor competição por nutrientes, água e luz, uma vez
que as do espaçamento 1 x 1 m ficavam muito próximas e se tocavam na área, o que não ocorria com as espaçadas em 2
x 2 m. No entanto, quanto à estimativa de produção por hectare a situação se inverteu e as plantas sob o espaçamento
1x1m tiveram maior produtividade estimada por hectare, provavelmente devido à maior quantidade de plantas por área
no menor espaçamento.
A alta relação folha/ramos, onde as folhas são responsáveis pela maior parte do peso da planta, é uma das
características importantes para a indicação da atriplex como forrageira (Tabela 3). Essa relação proporciona benefício à
produção animal, visto que a maior produção de folhas em relação à de ramos resulta em maior valor nutritivo (Barroso
et al., 2006).
1Discente de Agronomia, bolsista PIBIC/CNPq, Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de
Medeiros, s/n Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. 3Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo; Departamento de Agronomia; Universidade Federal Rural de Pernambuco. 4Profa Associada do Departamento de Agronomia; Universidade Federal Rural de Pernambuco.
XII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2012 – UFRPE: Recife, 26 a 30 de novembro.
O teor de proteína bruta não foi diferente estatisticamente (p<0,05) entre os tratamentos adotados. E, como era de se
esperar, a proteína bruta ocorreu em maior concentração nas folhas do que nos ramos, em razão da maior concentração
de nitrogênio nas folhas e por serem estas os órgãos fotossinteticamente ativos das plantas. O valor médio de proteína
bruta encontrado nas folhas da A.nummularia (Tabela 4) comprova seu valor nutritivo. Barroso et al. (2006)
encontraram valor médio de 15,11% nas folhas da atriplex, e compararam o teor encontrado de proteína bruta ao de
espécies utilizadas com frequência na alimentação animal, como por exemplo, a leucena, a gliricídia, o guandu
forrageiro e a maniçoba, que apresentam normalmente entre 12 e 22% de proteína bruta. A FAO (1996) estabeleceu
valores entre 7 e 24,7% de proteína bruta na atriplex, podendo variar em função da estação do ano, tipo de tecido e
idade da planta. Mattos (2009), avaliando a utilização da atriplex em associação à palma forrageira na dieta de cordeiros
Santa Inês, observou impacto positivo da dieta adotada sobre o padrão de crescimento e utilização de nutrientes dos
animais, assim como redução no uso de alimentos concentrados e, por conseguinte, os custos de produção.
A viabilidade econômica da incorporação da A. nummularia na dieta de animais também foi observada no trabalho
de Furtado et al. (2011), quando uma taxa de até 10% da ração convencional foi substituída por feno de atriplex na dieta
de frangos caipiras. Barreto et al. (2012), ao estudar frangos Caipira Francês, substituindo, num intervalo de 46,4 a
50%, feno de mandioca por feno de atriplex, obtiveram melhores resultados referentes ao peso da carcaça e ao valor
econômico das dietas testadas.
Diante do exposto, é vislumbrada a potencialidade de uso da atriplex na alimentação animal, sendo isso atribuído ao
seu conteúdo de proteína bruta e a sua alta taxa produtiva, qualificando a espécie como uma alternativa promissora,
principalmente em regiões de escassez de alimento, como o semiárido nordestino. No entanto, estudos de nutrição
animal precisam ser conduzidos para comprovar esta capacidade da planta em fornecer nutrientes a diversas espécies de
animais normalmente utilizados no semiárido brasileiro.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsas de estudo e
recursos financeiros indispensáveis à realização desse projeto.
Referências
Barreto, V. N. S; Menezes, D. R.; Pereira, L. G. R.; Araújo, G. G. L. de A.; Silva, A. E. V. N.; Sousa, L. N.; Barbosa,
A. L.; Costa, J. M. da S.; Moreira, R. F. Atriplex nummularia como alternativa alimentar para frangos Caipira Francês.
Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, Salvador, v.13, n.1, p.214-223, 2012.
Barroso, D. D.; Araújo, G. G. L. de; Porto, E. R.; Porto, F. R. Produtividade e valor nutritivo das frações forrageiras da
erva-sal (Atriplex nummularia) irrigada com quatro diferentes volumes de efluentes da criação de tilápia em água
salobra. Agropecuária Técnica, v.27, n.1, p.43–48, 2006.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2. ed. Rio de
Janeiro, Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 2006. 306p.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Manual de Métodos de Análise de Solo. Rio de Janeiro,
1997. 212p.
FAO (Roma, Itália). Espécies Vegetales para las Zonas Aridas y Semiaridas de Chile y México. Roma: 1996. 146p.
(FAO: Zonas Áridas y Semiáridas, 10).
Furtado, D. A.; Carvalho Junior; S. B. de, Lima, I. da S. P., Costa, F. G. P.; Souza, J. G. Desempenho ecaracterísticas de
carcaça de aves caipiras alimentadas com feno de erva-sal (Atriplex nummularia Lindl.). Revista Caatinga, Mossoró, v.
24, n. 3, p. 182-189, 2011.
Galvani, F.; Gaertner, E. Adequação da metodologia Kjeldahl para determinação de nitrogênio total e proteína bruta.
EMBRAPA, 2006. (Circular técnica).
Gheyi, H.R. Problemas de salinidade na agricultura irrigada. In: Oliveira, T.; Assis, R.N.; Romero, R.E. & Silva, J.R.C.,
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Malavolta, E.; Vitti, G.; Oliveira, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba:
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Mattos, C. W.. Associação de palma forrageira (Opuntia fícus-indica Mill) e feno de erva-sal (Atriplex nummularia L.)
em dietas para cordeiros Santa Inês em confinamento. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2009. 101p.
Tese doutorado.
Ruiz, H. A. Incremento da exatidão da análise granulométrica do solo por meio da coleta da suspensão (silte + argila).
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Silva, C. M. M. de S; Vieira, R. F.; Oliveira, P. R. Salinidade, sodicidade e propriedades microbiológicas de Argissolo
cultivado com erva-sal e irrigado com rejeito salino. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.43, n.10, p.1389-1396. 2008.
XII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2012 – UFRPE: Recife, 26 a 30 de novembro.
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Thomas, G. W. Exchangeable cations. In: Page, A. L. (ed). Methods of soil analysis.Part-2 Chemical methods.
Madison: American Society of Agronomy. 1982, p.159-165.
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U.S. Department of Agriculture, 1954.160p. (Handbook 60).
Universidade Federal de Viçosa – UFV. SAEG 9.1: Sistema de Análises Estatística. Viçosa, MG: Fundação Arthur
Bernardes, 2007. (CD-ROM).
Yokoi, S.; Bressan, R. A.; Hasegawa, P. M. Salt stress tolerance of plants.JIRCAS Working Report, p. 25-33, 2002.
Tabela 1. Características físicas do solo (n = 48)
Densidade1 Composição granulométrica2
Solo Partículas Areia
Silte Argila total Grossa Fina Total
kg dm−3 _________________________________ g kg-1 ________________________________
1,54 2,74 60,3 410,8 472,9 373,6 153,5 1Densidade do solo pelo método do cilindro volumétrico e de partículas pelo método do balão volumétrico (Embrapa, 1997); 2Composição
granulométrica pelo método da pipeta modificado (Ruiz, 2005).
Tabela 2. Características químicas do solo (n = 48) Complexo de troca Extrato de saturação
Variável Média Variável Média
pH água (1:2.5) 9,06 CEes (dS m-1) 55,09 Ca2+ (cmolc kg-1) 2,15 pHes 8,94
Mg2+ (cmolc kg-1) 0,58 Ca2+ (mmolc L-1) 33,90
K+ (cmolc kg-1) 0,31 Mg2+ (mmolc L-1) 11,03
Na+ (cmolc kg-1) 4,79 K+ (mmolc L-1) 3,80
SB (cmolc kg-1) 7,83 Na+ (mmolc L-1) 1058,05
PST (%) 61,75 Cl- (mmolc L-1) 986,42
RAS (mmolc L-1) 223,63
CEes: condutividade elétrica do extrato de saturação (USSL Staff, 1954); SB: soma de bases; PST: percentagem de sódio trocável;
RAS: relação de adsorção de sódio. Métodos: pH água (Embrapa, 1997); cátions trocáveis (Thomas, 1982); cátions solúveis (USSL Staff, 1954).
Tabela 3. Produção de massa fresca e seca e estimativa de rendimento de folhas, ramos e total de plantas de Atriplex
nummularia Lindl (Mg ha-1) na terceira poda (18 meses do transplantio), cultivadas nos espaçamentos 1 x 1 e 2 x 2 m
Tratamento
Massa fresca Massa seca
Folhas Ramos Produção da
planta Folhas Ramos
Produção da
planta _____________________________________________Biomassa (kg planta-1) _____________________________________________
1 x 1 1,03 B 0,57 B 1,60 B 0,26 B 0,22 B 0,48 B
2 x 2 1,94 A 0,92 A 2,86 A 0,58 A 0,48 A 1,07 A
_____________________________________________ Rendimento (Mg ha-1) _____________________________________________
1 x 1 10,34 A 5,73 A 16,08 A 2,61 A 2,22 A 4,83 A
2 x 2 4,86 B 2,30 B 7,16 B 1,46 B 1,20 B 2,67 B
Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si em função dos tratamentos aplicados, pelo teste de Tukey ao nível de 5 % de
probabilidade.
Tabela 4. Valores médios dos teores de nitrogênio e proteína bruta no material da terceira poda (18 meses do
transplantio) de plantas de Atriplex nummularia Lindl, cultivadas nos espaçamentos 1 x 1 e 2 x 2 m
Tratamento
Teor de N Proteína bruta
____dag kg-1____ ____ % ____
Parte da planta Parte da planta
Folhas Ramos Folhas Ramos
1 x 1 2,45 A 1,27 A 15,31 A 7,94 A
2 x 2 2,31 A 1,29 A 14,44 A 8,06 A
Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si em função dos tratamentos aplicados, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.