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Sandro Ruduit Garcia I
PROFISSIONAIS CRIATIVOS EM CINCIAS E ARTESNA CIDADE DE PORTO ALEGRE1
A expanso mundial de uma nova economia baseada no conhecimento e na
criatividade instiga o questionamento sobre as relaes entre criatividade e
mercado (Comisso Europeia, 2010; UNCTAD, 2008, 2010; Unesco, 2013). As an-
tigas e influentes formulaes sobre as indstrias culturais denunciaram, com
base na observao de sociedades industriais de massa, a impossibilidade
da criao autntica sob as condies alienantes do mercado e da tecnologia
(Adorno & Horkheimer, 1985). O processo de acumulao capitalista mercanti-
lizaria a cincia e a arte, corrompendo seus propsitos crticos. Em contraste,
os conceitos derivados das formulaes sobre indstrias criativas (economia
criativa, classe criativa, cidade criativa) destacam a recente centralidade ad-
quirida pela criatividade no processo econmico, em razo de mudanas na
tecnologia, no direito e na sociedade (Caves, 2003; Florida, 2011; Howkins, 2013;
Landry, 2011). Neste caso, as instituies e regras da economia atual propicia-
riam mais liberdades e recursos para a expresso de talentos e habilidades de
agentes individuais. Em alternativa, a proposta deste artigo tentar oferecer
uma compreenso sobre a complexidade do processo de criao de artefatos e
de sua transformao em bens e servios com valor mercantil, indagando: Que
tipos de interesses e de interaes sociais sustentam as atividades de criao
de profissionais das cincias e das artes?O estudo utiliza-se da abordagem da sociologia econmica, especial-
mente a perspectiva compreensiva e multidimensional de Max Weber (2003;
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I Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Depar tamento de
Sociologia, Brasil
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2004; 2006). Esse approachpode oportunizar um novo ngulo de observao
dessa realidade, ainda pouco investigada pela sociologia como fenmeno eco-nmico. Estudos recentes em sociologia econmica tm apontado para os ga-
nhos cientficos em se buscar uma abordagem mais processual e relacional das
atividades de criao que se traduzem em inovaes nos mercados. Segundo
Swedberg (2006), os estudos sobre indstrias criativas poderiam encontrar na
sociologia clssica elementos para pensar a integrao entre economia, arte
e empreendedorismo, identificando os contornos de um empreendedorismo
cultural. Outros (Htter et al., 2010) chamam a ateno para o fato de que a
criao da novidade, em geral, e da inovao, em particular, dependeria da
combinao entre cognio, condies tcnicas e constelaes culturais, sendo
mais adequadamente concebida como processo sociomaterial e pela cogniodistribuda. O processo criativo requereria, na contribuio de Ramella (2013),
a confluncia de diversos fatores, como a inteligncia e motivao individual,
a dinmica empresarial e setorial, os recursos e ativos territoriais, e o enrai-
zamento social.
Neste artigo, argumento, em resumo, que as atividades de criao dos
agentes dependem de uma complexa combinao entre diferentes interesses
e interaes sociais, exprimindo-se sempre de forma contextual. Os profis-
sionais criativos em cincias e artes tendem a se interessar no apenas pela
busca de bem-estar material, mas tambm pelo reconhecimento pessoal e pelosentido tico do que fazem, criando artefatos com valor econmico e com a
atribuio de significado social, aspirando conciliao entre crescimento na
carreira e qualidade de vida, e construindo trajetrias e redes de interaes
diversificadas que lhes permitem acessar recursos relevantes. Neste sentido,
a criatividade no seria uma substncia contida em mentes isoladas no labo-
ratrio ou no ateli, nem o resultado estrito da racionalidade econmica. Esse
tipo de atividade amparar-se-ia nas possibilidades de uma nova materialidade
tecnolgica e na legitimao de ideais, como a sustentabilidade e a qualidade
de vida, demarcando lgicas de ao distintas do mundo industrial.
O pressuposto da anlise que a ao socioeconmica seria, predo-
minantemente, movida por interesses materiais e ideais, orientando-se para
a gerao de utilidades (bens e servios) e para o comportamento de outros
agentes. O costume e as emoes podem, secundariamente, constituir motivos
para a ao socioeconmica. Nesse sentido, os fenmenos econmicos seriam,
complexa e probabilisticamente,condicionados: a) por variadas combinaes
(e pesos) entre interesses materiais (racionalidade formal/ instrumental) e
interesses ideais (racionalidade substantiva/de valor); b) por costumes (mo-
do tradicional) e emoes (modo afetivo); e c) por sentidos atribudos pelos
agentes nas interaes (passadas, presentes e como expectativas futuras) comoutros agentes (Weber, 2004). Esse pressuposto desenvolvido de forma inte-
grada com formulaes mais recentes em sociologia econmica em especial,
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o enfoque relacional da chamada nova sociologia econmica no que se refere
s dimenses: a) das combinaes entre interesses diversos dos agentes eco-nmicos; e b) das atividades econmicas e arranjos de interao dos agentes.
A discusso conduzida com base na experincia de profissionais das
cincias e das artes na cidade de Porto Alegre. A cidade tem sido destacada
como polo de criatividade, detendo duas importantes universidades do pa-
s, e hospedando diferentes incubadoras e parques criativos e tecnolgicos.
Agentes empresariais, educacionais e governamentais tm se esforado para
transformar a cidade em referncia em tecnologias da informao e comuni-
cao (TICs). Ao mesmo tempo, pode-se constatar importantes iniciativas de
criao de conhecimentos e inovao requeridos para a explorao pelo pas
dos recursos energticos relacionados ao pr-sal. Ademais, a cidade reconhe-cida como um dos polos culturais do Mercosul, e uma das sedes da Copa do
Mundo de Futebol de 2014 no Brasil, ensejando movimentaes nas indstrias
de comunicao, design, arquitetura, entretenimento e gastronomia. Tudo isso
indica a existncia de curiosas dinmicas econmicas em torno de pequenos
empreendimentos e universidades, consultorias e agncias culturais, consti-
tuio e crescimento de empresas de tecnologia, envolvendo profissionais j
consolidados e ingressantes nas suas carreiras em cincias e artes.
O objetivo central do artigo , portanto, compreender e analisar con-
dicionantes das atividades de criao de profissionais em cincias e artes nacidade de Porto Alegre, considerando-se, como dimenses de anlise, as dife-
rentes combinaes de interesses que os movem e os arranjos e interaes
estabelecidas pelos mesmos nesse processo (alm das prprias atividades de
criao). O processo de amostragem orientou-se pela representatividade te-
rica dos dados empricos, com a inteno de alargar a amplitude de interesses
e de arranjos de interaes dos agentes. Foram acessados profissionais em ci-
ncias e artes na cidade que se implicaram na gerao de artefatos singulares
transacionados em mercados de produtos. A partir de investigao exploratria
na Internet, contataram-se casos de interesse, privilegiando-se aqueles que
atuassem em universidades centro de criatividade e trocas de conhecimentos
entre profissionais de excelncia e, ao mesmo tempo, prestassem servios
para empresas, assim como em diferentes tipos de pequenos empreendimen-
tos, observando-se significativos e variados segmentos de atuao e momentos
na carreira.2
O corpus de pesquisa alcanou certa diversidade, envolvendo dados so-
bre a experincia de doze profissionais criativos em diferentes momentos da
carreira: seis atuantes em universidades (no caso, a Universidade Federal do
Rio Grande do Sul UFRGS), sendo trs seniores e trs juniores; e seis atuantes
em atelis, agncias, estdios, editora e start up, sendo tambm trs seniorese trs juniores. Consideram-se seniores os profissionais cuja formao e ex-
perincia se acham consolidadas; juniores so os profissionais que aspiram
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complementao na sua formao e experincia na rea de atuao. Os entre-
vistados pertencem a distintas profisses: quatro pesquisadores em geologia,trs designers, um arteso, um msico, um profissional da publicidade, um
profissional da literatura e um arquiteto. A pesquisa de campo foi realizada
entre abril e novembro de 2013, mediante entrevistas individuais semiestru-
turadas em profundidade que se pautaram pelas dimenses de anlise acima
indicadas. As entrevistas ocorreram nos locais de atuao dos profissionais,
sendo gravadas, transcritas e codificadas para anlise.
Seguem-se exposio de aspectos relevantes da literatura especializada;
caracterizao dos profissionais e produtos criativos investigados; e anlise,
em diferentes sees, dos interesses dos profissionais (cientistas e artistas),
e dos arranjos e interaes em que os entrevistados se acham envolvidos noprocesso de criao.
CONTRIBUIES TERICAS
O fenmeno econmico em discusso neste estudo se traduz nas atividades
de criao de produtos (bens e servios) pelos profissionais de setores liga-
dos economia baseada no conhecimento e na criatividade, tentando melhor
conhecer aspectos de alguns dos seus condicionantes. Esse debate ganhou
mpeto em torno do que se tem chamado de economia criativa. Sem entrar emdetalhes sobre a construo, origens e crticas ao conceito, 3vale mencionar,
sucintamente, algumas das principais contribuies ao mesmo, sublinhando
a sua ntima relao com a nova economia e suas diferenas em relao ao
mundo industrial de massa (Flew & Cunningham, 2010; Pine & Gilmore, 1998).
A economia criativa consistiria, para Howkins (2013), em transaes mer-
cantis de produtos considerados criativos, em razo de sua novidade ou origina-
lidade. A fonte de riqueza seria a criao de ideias e contedos simblicos trans-
formados em produtos no mercado, destacando que a criatividade floresceria,
igualmente, nas cincias e nas artes. Tais produtos (bens e servios) tenderiam
a ser protegidos por direitos de propriedade intelectual (patentes, marcas, dese-
nhos e, em especial, direitos autorais).4Florida (2011) identifica a constituio de
uma classe criativa, no contexto da economia e sociedade atuais. Essa tenderia
a priorizar a criatividade, a individualidade e o mrito, demarcando um ethos
distinto do mundo industrial. O profissional criativo seria aquele propenso a se
envolver na concepo de produtos criativos, sendo, hoje, o principal fator de
atrao de empresas de alta tecnologia e, com isso, de promoo do crescimento
econmico de uma regio.5O estudo em tela refere-se estritamente ao ncleo
da economia criativa (atividades de concepo de artefatos).
Os processos de criao seriam expressos em diferentes fases como adescoberta/construo de um problema, a anlise da situao e identificao
de alternativas e o desenvolvimento de soluo original traduzindo-se em
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termos de unicidade (ideia sem precedentes) ou de novidade (ideia com novo
carter pela combinao de ideias j existentes) (Amabile, 1998; Ramella, 2013).Essas atividades podem resultar em artefatos que proporcionam realizao
pessoal (conceber e dar forma a um objeto), ou gerar, alm disso, produtos
associados a um mercado e a um aparato legal (inovao). A criatividade por si
s no teria valor econmico, dependendo de diretrizes sobre leis e contratos,
de convenes e normas sobre razoabilidade dos negcios e de existncia de
mercados (Howkins, 2013). Em qualquer caso, as atividades no processo de
criao dependeriam da combinao de habilidades dos agentes (estilos cog-
nitivos, conhecimentos, motivao) e condies ambientais (tecnologias, nor-
mas e convenes, reconhecimento) (Amabile, 1998). Mais do que isso, pode-se
conjecturar sobre a criatividade como um processo sociomaterial e distribudo,envolvendo um conjunto de relaes heterogneas que, no caso de bens e ser-
vios, perpassam o mercado (Callon, 1986; Htter et al., 2010).
Como antes mencionado, entende-se que o curso da ao socioecon-
mica seria movido por interesses plurais, correspondendo a um contexto de
significados (Weber, 2004). Os agentes sociais no realizariam atos gratuitos
ou desinteressados, sustentando-se sempre por uma complexa lgica das pr-
ticas sociais: interesse estar em, participar, admitir, portanto, que o jogo
merece ser jogado e que os alvos engendrados no e pelo fato de jogar mere-
cem ser perseguidos (Bourdieu, 1996: 139). Os interesses seriam as foras quemovem a conduta dos agentes sociais, justificando-se a relevncia sociolgica
em tentar compreend-los e situ-los em contextos de ao (Swedberg, 2005),
pois os interesses so sempre socialmente construdos e podem apenas se
concretizar tipicamente por meio de relaes sociais (Swedberg, 2004: 26).
Quanto aos profissionais criativos, especialistas tm discutido o pe-
so que estes agentes atribuem s oportunidades econmicas e ao estilo de
vida, na escolha de um lugar para viver e trabalhar, constatando, em maior
ou menor medida, a relevncia de atributos no econmicos nas suas esco-
lhas sobre a conduo das carreiras (Eikhof & Haunschild, 2006; Florida, 2011;
Golgher, 2011; Tremblay & Darchen, 2011). Bendassolli e Borges-Andrade (2011)
abordam, com base numa amostra de profissionais das artes e da cultura, os
significados do trabalho para esse tipo de profissional no Estado de So Paulo.
Constatam que esses indivduos atribuem grande importncia ao trabalho em
suas vidas, sugerindo forte comprometimento afetivo dos mesmos com suas
carreiras. Isso se refletiria, sob certo aspecto, nos fatores associados a um tra-
balho que tenha significado para esses indivduos, pela ordem, a possibilidade
de aprender e se desenvolver pelo trabalho, sua utilidade social, a oportuni-
dade de identificao e de expresso por meio do trabalho, autonomia, boas
relaes interpessoais e respeito s questes ticas. Ademais, pesquisas recen-tes (Novy & Colomb, 2013) apontam envolvimentos polticos de profissionais
criativos em aes coletivas, constatando, no contexto das cidades de Berlim
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e Hamburgo, crescente participao de membros da classe criativa (no caso,
produtores culturais e trabalhadores artisticamente criativos) em movimentossociais urbanos, tornando-se foras sociopolticas capazes de influir no curso
de polticas de desenvolvimento no mbito local. Portanto, tais estudos aju-
dam a pensar sobre os interesses desses profissionais, extrapolando a estrita
racionalidade econmica.
Como antes indicado, o estudo concebe o curso da ao socioeconmica
no apenas como sendo movido por combinaes de interesses materiais e
ideais, mas tambm orientado, de forma relacional, para o comportamento de
outros agentes, tornando-se crucial a compreenso do sentido das interaes
do agente com o contexto social. Afirma Ramella: A anlise da atividade, ao
contrrio, necessita de uma perspectiva integrada, capaz de perceber a inven-o como o resultado de um processo complexo de construo social (Ramella,
2013: 79, traduo minha). Caberia explorar o papel de processos de sociali-
zao (relaes passadas) e suas implicaes na construo de disposies e
interesses nos indivduos, podendo favorecer ou dificultar o desempenho em
atividades de criao (Lahire, 2006). Isso leva a indagar sobre a relevncia de
trajetrias educacionais e profissionais como condicionantes de atividades de
criao de artefatos/utilidades.
Sabe-se que os profissionais criativos teriam melhor desempenho no
contexto de ampla disponibilidade de tecnologias da informao, de diversi-dade cognitiva e de conhecimentos, e de organizaes flexveis que lhes possi-
bilitem liberdade e autonomia para o trabalho de inveno/inovao (relaes
presentes) (Powell & Snellman, 2004). Empresas com procedimentos rgidos
e burocratizados, com excessiva especializao de tarefas e com comandos
autoritrios, representariam condies desfavorveis criatividade, ao passo
que empresas mais flexveis, com reconhecimento e estmulo s novas ideias
e diferentes tipos sociais, e com liberdade e autonomia de ao, tenderiam a
gerar condies mais propcias ao processo de criao (Alencar, 1998; Florida,
2011). As pequenas empresas tenderiam a reunir essas condies favorveis
mais facilmente do que as grandes organizaes (Almeida, 2012; Howkins,
2013; Reis, 2008).
Ademais, o processo de criao apoiar-se-ia em redes de colaborao
diversas, que extrapolam o empreendimento em que se d forma ao produto,
falando-se em novos modelos de negcios para sustentar o processo de criao
e comercializao desse tipo de produtos (Almeida, 2012). Esses modelos de
negcios em setores da economia criativa estariam envolvendo no apenas
esquemas de financiamento amparados em capital de risco, mas tambm no-
vas estratgias de distribuio de resultados financeiros em face da gesto e
distribuio de direitos de propriedade intelectual (Barrier, 2011; Cunningham,2008). Outros analistas (Comunian, 2012; Glaeser, 2011) chamam a ateno
para o papel desempenhado por redes de interao e sociabilidade urbana na
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construo e expresso de diferentes e novos estilos de vida e de culturas de
vanguarda. A literatura aponta maiores chances nas cidades para interaoarte-cincia-negcios, para oferta de lazer e cultura e para disponibilidade
de infraestrutura de comunicao e tecnolgica, estimulando a formulao
e combinao de ideias e produtos (Eikhof & Haunschild, 2006; Markusen &
Gadwa, 2010).
Essas consideraes brevemente referidas acima consistem em balizas e
conjecturas para a anlise dos dados empricos sobre os interesses e interaes
sociais dos profissionais criativos em Porto Alegre feita a seguir.
PROFISSIONAIS E PRODUTOS CRIATIVOS
O perfil dos profissionais entrevistados envolve atuao em setores dinmi-
cos da nova economia baseada no conhecimento e na criatividade, na cidade
de Porto Alegre (arquitetura, publicidade/designde msica, mercado editorial,
designgrfico e digital, designde moda, pesquisa e desenvolvimento, e arte-
sanato). Esses profissionais tm alto grau de escolaridade comparativamen-
te ao conjunto da economia e do mercado de trabalho: foram entrevistados
trs doutores (Geocincias, Paleoclimatologia e Informtica na Educao
dois realizaram estgio de ps-doutorado), dois doutorandos (Engenharia da
Produo e Geocincias), dois mestrandos (Msica e Geocincias), dois gradu-ados (Arquitetura e Jornalismo) e trs profissionais com graduao incompleta
(um em Nutrio e dois em Publicidade e Propaganda). Trata-se de quatro
entrevistados do sexo feminino e de oito do sexo masculino, sendo seis em
fase de ascenso/consolidao na carreira (jnior) e seis j consolidados e
com ampla experincia profissional nas suas reas de atuao (snior). Como
supramencionado, os entrevistados so vinculados a universidades (seis pro-
fissionais) e a atelis, estdios, agncias e start ups (seis profissionais), na con-
dio de servidores pblicos (quatro profissionais), empreendedores (quatro
profissionais), autnomos (trs profissionais) e assalariados (um profissional).
Todos trabalham na cidade de Porto Alegre, residindo predominantemente
nesta capital (apenas um entrevistado tem residncia na cidade vizinha de
Canoas, na Regio Metropolitana de Porto Alegre). Quase todos os profissionais
entrevistados detm algum tipo de direito de propriedade intelectual sobre
artefatos produzidos (direitos autorais, patentes, marcas e desenho industrial):
excepcionalmente, o arteso no detm registro de propriedade intelectual. As
caractersticas e o perfil dos entrevistados so esquematizados no Quadro 1.
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Entrevistados Setor Vnculo Organizao
Estgio da
Carreira
Propriedade
Intelectual
Entrevistado 1
(Masculino; Doutorando) Arquitetura
Funcionrio
Pblico Universidade Jnior
Direitos autorais,
projetos de edificaes
e artigos
Entrevistado 2
(Masculino; Graduao)
incompleta) Publicidade Empreendedor
Agncia de
publicidade Snior
Direitos autorais, peas
publicitrias
Entrevistado 3
(Masculino; Graduao)
Editorial/
Literatura Empreendedor Editora Snior Livros
Entrevistado 4
(Masculino; Graduao) Grfico Empreendedor Estdio Snior Logomarca
Entrevistado 5
(Feminino; Doutoranda) P&D Autnoma
Universidade/
empresa Jnior
Direitos autorais
artigos
Entrevistado 6
(Feminino; Mestranda) P&D Autnoma
Universidade/
empresa Jnior
Direitos autorais
artigos
Entrevistado 7
(Feminino; Doutorado) Moda
Funcionria
Pblica
Universidade/
Ateli Snior
Direitos autorais,
colees e artigos
Entrevistado 8
(Masculino; Graduao
incompleta) Artesanato Autnomo Ateli Jnior NA
Entrevistado 9
(Masculino; Mestrando) Publicidade
Empregado
Assalariado
Agncia
publicidade Jnior
Direitos peas
publicitrias
Entrevistado 10
(Masculino; Graduaoincompleta) Grfico Empreendedor Jnior Sinalizao urbana
Entrevistado 11
(Feminino; Doutorado) P&D
Funcionria
Pblica
Universidade/
empresa Snior Artigos
Entrevistado 12
(Masculino; Doutorado) P&D
Funcionrio
Pblico Universidade Snior Artigos
Fonte: Pesquisa de campo, Porto Alegre, abril-novembro de 2013.
Quadro 1
Caractersticas dos profissionais entrevistados
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Os profissionais entrevistados criam, com apoio em TIC, diferentes tipos
de produtos cuja novidade ou singularidade tende, nas convenes e diretrizesatuais sobre a transformao da criatividade em produto, a se traduzir em
direitos de propriedade intelectual (Howkins, 2013). Cabe apresentar, breve-
mente, tais produtos. Entre os seniores em universidades, os profissionais da
geologia desenvolvem, em seus respectivos laboratrios/parcerias/projetos,
modelos sobre as condies das rochas que geraram e das que armazenam
petrleo na camada do pr-sal da costa brasileira, resultando na produo de
conhecimentos e de tecnologias mais adequados ao acesso e ao processamen-
to da commodity(entrevistados 11 e 12). O profissional do designde moda cria,
entre a universidade e o ateli, peas e colees de vesturio voltadas para a
singularidade do artefato, predominando a concepo e confeco de peasnicas que no se replicam (entrevistado 7).
O profissional da publicidade desenvolve o som de campanhas/peas
de propaganda para televiso e rdio, requerendo a formulao do conceito
do produto com base em linguagens de comunicao ora de mbito nacional,
ora de mbito regional (em menor medida, o profissional tambm desenvolve
produtos para o mercado internacional: Espanha e Mercosul) (entrevistado 2).
O profissional da literatura escreve, predominantemente, romances, crnicas e
narrativas histricas. Ademais, trabalha na editorao/publicao/divulgao/
circulao de obras de terceiros (entrevistado 3). O profissional do designgrficoe digital concebe artefatos de comunicao visual tais como logomarcas, emba-
lagens, folhetos, encartes e sinalizao/comunicao de lojas (entrevistado 4).
Os entrevistados juniores (em universidades e em empresas) envol-
vem-se, igualmente, com artefatos que expressam novidade ou singularidade.
Os profissionais da geologia tm realizado estudos e investigaes sobre ma-
peamento ssmico e sobre condies do paleoclima, relacionados s rochas que
armazenam petrleo na camada do pr-sal, permitindo acesso mais preciso ao
recurso natural (entrevistados 5 e 6). O profissional da rea de arquitetura tem
trabalhado na criao de softwarespara modelagem grfica de edificaes e na
concepo de modelos e softwaresaplicados circulao e mobilidade urbana
(entrevistado 1). O profissional do artesanato desenvolveu, no ateli familiar,
uma tcnica de tratamento e recomposio de papel que se combina com a
prospeco de formas, imagens e fotografias pelas tecnologias da informao,
produzindo artefatos de uso e decorao domstica e comercial (por exemplo,
porta-copos) (entrevistado 8). O profissional da msica compe, arranja e grava
melodias para peas publicitrias em rdio e televiso (entrevistado 9). O pro-
fissional do designgrfico cria marcas e sistemas de sinalizao urbana, como
a indicao de roteiros tursticos e de transporte pblico (entrevistado 10).
Cabe referir um achado de pesquisa no que tange percepo dos en-trevistados sobre direitos de propriedade intelectual. Estes so considerados
relevantes entre profissionais da publicidade e literatura (entrevistados 2, 3 e
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9). Porm, parte dos profissionais entrevistados parece atribuir relativamente
pouca importncia aos mesmos (em especial, no design: entrevistados 1, 4, 8e 10), percebendo-os, inclusive, em alguns casos, como uma dificuldade no
processo de circulao de conhecimentos e produtos (em especial, pesquisa-
dores: entrevistados 11 e 12). Para um dos profissionais, seria um equvoco,
hoje, focar a estratgia empresarial na obteno de patentes em razo de que
a propriedade intelectual deixou de ser um grande vetor da economia nos
setores de rpida inovao (como no caso do design). Justifica sua concluso
pela percepo de que o que vale hoje velocidade e abrangncia, ganhar
adeso do usurio e ser rpido (entrevistado 10). Cumpre notar as diferen-
as percebidas por alguns profissionais sobre o comportamento de empresas
nacionais e estrangeiras usurias dos conhecimentos em relao aos direitosautorais: comum que empresas parceiras nacionais avoquem direitos e im-
peam a divulgao e caracterizao de resultados de pesquisa, ao passo que
uma empresa parceira estrangeira no reivindica direitos sobre a produo
intelectual, estimulando a publicao de resultados pelos pesquisadores (en-
trevistados 11 e 12).
Assim, parte dos entrevistados parece, paradoxalmente, cumprir os re-
quisitos legais sobre direitos de propriedade intelectual, em cada caso, mais
como uma imposio da legislao do que como estratgia para integrar-se ou
para auferir lucro nos mercados. Caberia pensar se tais achados exprimiriama dificuldade dos agentes em manejar os condicionantes legais e burocrticos
da propriedade intelectual no pas (Reis, 2012), ou expressariam uma tendncia
global entre certos setores econmicos e grupos sociais a eles relacionados
de conceber o conhecimento e seus artefatos como bem pblico global que se
difunde pela lgica de compartilhamento proposta na Internet (Kaul, Grunberg
& Stern, 2012).
Portanto, os profissionais das cincias e das artes selecionados para
a pesquisa tm envolvimento com atividades baseadas em conhecimento e
criatividade na cidade de Porto Alegre, concebendo novos artefatos (bens e
servios) e detendo, via de regra, algum tipo de direito de propriedade inte-
lectual. De maneira geral, as atividades de criao dos artefatos, sucintamente
caracterizados acima, requer uma complexa amarrao entre investigao e
concepo, interao com materiais e suas surpresas, e manuseio de TIC e suas
possibilidades. Segundo os depoimentos colhidos nas entrevistas, o projeto e a
concepo dos artefatos dependem de um ativo trabalho de pesquisa sobre re-
cursos/insumos envolvidos e sobre necessidades/expectativas do usurio que
se traduz seja em prticas de laboratrio (entrevistados 1, 5, 6, 7, 11 e 12), seja
em estudos sobre linguagens/orientaes culturais e tradies comunitrias
(entrevistados 2, 3, 8 e 9), seja, ainda, em diagnstico de demandas e tendn-cias de mercado (entrevistados 4 e 10). Cabe, pois, saber sobre as dimenses
de anlise propostas na investigao.
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INTERESSES PROFISSIONAIS
Os interesses que movem os profissionais das cincias e das artes entrevista-
dos podem ser expressos pelo exame dos significados atribudos aos artefatos
que resultam das atividades de criao, das avaliaes que so feitas sobre o
mercado e sua insero na atividade econmica e sobre o local de moradia, e
do grau de satisfao com trabalho e carreira.
No que se refere ao significado do produto das atividades de criao,
os entrevistados tendem a revelar uma dupla preocupao em relao ao pro-
cesso de prospeco, concepo e consecuo dos artefatos, combinando-se a
avaliao sobre a viabilidade e retorno financeiro do bem ou servio, e a identi-
ficao de acrscimos de conhecimentos e experincias relevantes na sua car-reira e de significado social dos artefatos (como sustentabilidade ambiental,
qualidade de vida, novos conhecimentos e tecnologias, crtica e sensibilizao
pblica sobre temas considerados importantes na agenda da comunidade ou
do pas). Isso se aproxima das constataes propostas em estudos recentes
(Bendassolli & Borges-Andrade, 2011; Florida, 2011; Golgher, 2011).
Entre os profissionais seniores, isso se expressa de diferentes formas.
Os cientistas que atuam na universidade destacam no apenas o prazer da
descoberta e da identificao do dado novo, mas tambm a importncia da
integrao dos conhecimentos que esto produzindo e dos recursos humanosque esto formando ao desenvolvimento da cadeia do petrleo e gs no pas
(entrevistados 11 e 12). O profissional snior do designde moda que tambm
atua na universidade busca imprimir conceitos e valores crticos ao consumis-
mo nas suas atividades de criao (preo justo, sustentabilidade e contracul-
tura de consumo). O entrevistado refere, por exemplo, o desenvolvimento de
uma parceria entre seu ateli e o banco do vesturio (da cidade de Caxias do
Sul, no interior do estado). O banco do vesturio consiste em uma parceria en-
tre indstria txtil e artesos daquela cidade, fornecendo resduos de tecidos
ao ateli de Porto Alegre que retribui com a prestao de servios de consul-
toria e de treinamento de artesos envolvidos. Esses so, sob outra forma, os
casos do publicitrio e do designer grfico e digital, que buscam, nos projetos
de produo de campanhas e desenvolvimento de logomarcas, escapar s con-
venes estticas do setor, propiciando no apenas inovaes na empresa que
lhes permitem acessar novos clientes e mercados, mas tambm o regozijo pro-
fissional e pessoal pela criao de produtos que consideram como relevantes
(entrevistados 2 e 4). Ademais, o profissional da literatura e edio recusa-se
a trabalhar em publicaes destitudas de sentido, no contexto da sua carreira
e valores, embora pudessem representar retorno financeiro. O editor/escritor
deixa, por exemplo, de publicar textos considerados como do gnero autoajuda,assim como escreve seus textos com base na seleo de histrias percebidas
como identificadas com a preservao da memria e da cultura locais e como
de relevncia ao debate pblico (entrevistado 3).
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Entre os profissionais juniores, pode-se identificar, a exemplo dos senio-
res, diversos interesses que movem suas atividades de criao. Os profissionaisjuniores da pesquisa em geologia destacam o prazer em pesquisar e em produ-
zir novo conhecimento (entrevistados 5 e 6). igualmente significativa, sobre
isso, a experincia do profissional da arquitetura e professor que direcionou
seus projetos e atividades para a criao e aplicao de softwaresde mode-
lagem grfica para edificaes, acreditando que a rea de arquitetura perdeu
sua identidade e pouco contribui na formulao de solues para demandas
da sociedade avaliadas como importantes pelo entrevistado (entrevistado 1).
O profissional jnior do designgrfico identifica uma nova rea de atuao no
setor a partir da formulao de uma concepo sobre o uso do espao pblico
urbano em que reflete, criticamente, sobre a poluio visual das cidades nopas. Isso implicou a criao de novos produtos em designe sinalizao urbana,
que encontrou resistncias no empreendimento anterior ao qual o profissional
se manteve associado, partindo disso a motivao para o estabelecimento da
start upatual (entrevistado 10). O profissional da msica que atua em agncia
de publicidade refere sua orientao em integrar ao produto uma dimenso
artstica, empenhando-se na criao dos artefatos pela aplicao de elementos
eruditos da msica contempornea (sua rea de formao, pesquisa e interesse
atuais) (entrevistado 9). O profissional do artesanato foca suas atividades de
criao em produtos inditos cujo significado encontrado na observao davida urbana cotidiana (o profissional vale-se tambm da fotografia), empre-
gando a tcnica de tratamento do papel e o uso de TICs. O entrevistado avalia
criticamente o artesanato que se repete, seja pela produo em escala, seja
pela simples reproduo da tradio (entrevistado 8).
Quanto s avaliaes sobre mercado, vnculos com a vida econmica e
local de moradia, os profissionais entrevistados tendem a perceber o merca-
do mais como um meio para veicular sua produo do que como empecilho
expresso ou distoro de suas ideias em cincias e artes. Entendem, no
mais das vezes, como vivel a compatibilizao entre satisfao profissional
e competio no mercado, embora expressem reiteradamente presso das de-
mandas do trabalho sobre a vida pessoal e familiar. Os entrevistados tendem
a dar certa prioridade para sua qualidade de vida em face das demandas do
trabalho, empenhando-se com a delimitao do tempo de trabalho e com o cul-
tivo das relaes familiares (por exemplo, almoar com a famlia, acompanhar
os filhos) e de atividades de lazer e entretenimento (como literatura, filmes,
exposies, esportes, culinria, viagens, amigos). Desse modo, as indicaes
acima parecem compatveis com a hiptese sugerida pela literatura de que
profissionais criativos empenham-se em conjugar progresso e perspectivas na
carreira com qualidade e estilo de vida, embora a concepo sobre o que sejaisto possa variar entre contextos culturais (Eikhof & Haunschild, 2006; Florida,
2011; Golgher, 2011; Tremblay & Darchen, 2011).
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Os profissionais entrevistados mostram-se interessados em viver em
Porto Alegre, embora alguns juniores tenham assinalado a possibilidade de vi-ver em cidades economicamente mais dinmicas do pas Rio de Janeiro e So
Paulo (entrevistados 1 e 6). Identificam limitaes na dimenso dos mercados
em Porto Alegre, mas acreditam que seu estilo de vida seja incompatvel com
cidades do interior do estado, justificando sua permanncia pela qualidade
de vida encontrada na cidade e pela manuteno de afetos. As tecnologias
de informao e comunicao favorecem as trocas distncia, tornando-se
desnecessria a mudana de cidade para realizar seus projetos profissionais.
Alguns entrevistados mostram-se crticos em relao ao que consideram certo
conservadorismo na cultura empresarial e no mercado de Porto Alegre e do in-
terior do estado, que criaria, em certos casos, obstculos a produtos inovadoresque so bem aceitos em outros mercados (entrevistados 1, 2, 4 e 10).
Quanto ao grau de satisfao e s expectativas futuras destes profis-
sionais, pode-se identificar, em geral, interesse em prosseguir na carreira, em
ambientes organizacionais em que se percebam reconhecidos, em permanecer
na cidade (em especial, seniores), e em privilegiar o que consideram como qua-
lidade de vida. Os profissionais entrevistados tendem a expressar satisfao
com a carreira e perspectivas positivas em relao s oportunidades nas suas
reas de atuao (juniores e seniores), declarando-se, em geral, satisfeitos
com a carreira. frequente entre entrevistados a percepo de expanso daschances de trabalho e carreira, destacando-se oportunidades criadas pela Copa
do Mundo, pelos Jogos Olmpicos e pela explorao de petrleo na camada do
pr-sal. Entendem, em geral, que os seus vnculos e organizaes atuais lhes
permitem desenvolver atividades significativas e prazerosas, embora o entre-
vistado 1 mostre-se crtico em relao ao ambiente encontrado na universidade.
Caberia mencionar um achado de pesquisa que se refere propenso
dos entrevistados em envolverem-se em aes coletivas e em questes perce-
bidas como importantes para a comunidade: criao de museu, fundaes para
a manuteno de museu e memorial, criao de sindicato, associaes pro-
fissionais e de classe, atuao em divises de Ministrios do Governo Federal,
qualificao e formao profissional, comisses de avaliao profissional, e
partidos polticos. Os profissionais entrevistados expressam, em maior ou me-
nor intensidade, interesse em atividades polticas, assumindo, em alguns casos,
posies de liderana que revelam insero no debate pblico e influncia na
vida da comunidade, aproximando-se de resultados sugeridos em outros estu-
dos (Novy & Colomb, 2013). Isso contraria a ideia de que profissionais criativos
no se perceberiam como agentes polticos (Florida, 2011).
Em suma, o que se tem, no conjunto dos dados, uma orientao pro-
fissional em criar bens e servios no apenas com valor econmico, mas tam-bm com a afirmao de significados sociais e de posies sociopolticas dos
profissionais. Isso os situa no jogo. Outro trao comum a diversidade de
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experincias nas trajetrias sociais, representando acmulos de conhecimen-
tos e de redes de interao socioprofissional que so mobilizadas nos agen-ciamentos envolvidos no processo de criao dos artefatos. Observa-se, entre
os entrevistados, empenho em conciliar crescimento na carreira, autonomia
intelectual e qualidade de vida.
ARRANJOS ENTRE INTERAES SOCIAIS
O curso de atividades de criao desenrola-se em meio a complexos arranjos entre
interaes sociais para o agenciamento de ideias, lugares e materiais (Callon, 1986;
Htter et al., 2010) por profissionais seniores e juniores no contexto de universi-
dades e de empreendimentos diversos (ateli, estdio, agncia, editora, start up).Essas interaes oferecem, em muitas situaes, novas possibilidades
de concepo original de bens e servios. oportuno notar que o projeto inicial
dos artefatos frequentemente alterado em face das exigncias e surpresas
oferecidas, por exemplo, pelos materiais empregados. Esse o caso do pro-
fissional do designde moda que refere o dilogo com os materiais, com os
resduos, identificando as diferentes reaes dos tecidos aos tratamentos
de superfcie, s tcnicas de colagem, lavagem e aplicao de tintas: cada
material age de uma maneira. Os profissionais indicam surpresa diante das
consequncias imprevistas da complexa combinao e do trabalho de experi-mentao com os insumos e recursos utilizados no processo de criao.
Uma implicao disso a percepo sobre a inadequao (e mesmo a
rejeio pelos profissionais) da prescrio no processo de criao, expressa,
por exemplo, na crtica, de alguns entrevistados, aos modelos de gesto ba-
seados em programas de qualidade e produtividade com vistas obteno de
certificao. Segundo entrevistados, esse tipo de estratgia tolhe a criao e
a inovao, na medida em que estas envolvem, sempre, erro e risco. Os entre-
vistados mostram-se, pois, ciosos de sua autonomia intelectual e profissional.
As TICs adquirem centralidade entre os profissionais estudados no
apenas porque possibilitam a integrao e mobilizao de capacidades distri-
budas no tempo e no espao (funes, empresas, profissionais, informaes e
conhecimentos), mas tambm porque geram novas possibilidades de ao, co-
mo novos tipos de produtos e mesmo nichos de mercado (Markusen & Gadwa,
2010; Powell & Snellman, 2004). recorrente o relato entre os profissionais
seniores de que as suas reas design, publicidade, edio e pesquisa foram
revolucionadas por essas tecnologias, reduzindo o custo de equipamentos e
instrumentos nas atividades de criao. Ademais, os profissionais entrevista-
dos tendem a desenvolver habilidades de gesto e de induo colaborao
entre capacidades envolvidas no processo de criao dos seus produtos.Podem-se identificar, ainda, aspectos relevantes quanto aos lugares,
materiais e agentes associados s atividades de criao dos cientistas e artis-
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tas estudados, destacando-se o grau de complexidade implicado nas mesmas.
As Tecnologias de Informao e Comunicao permitem no apenas integraragentes e recursos em ambientes cognitivos e organizacionais diversos, mas
tambm acelerar e vislumbrar novas possibilidades no processo de criao
de bens e servios (Almeida, 2012; Htter et al., 2010). Neste caso, o domnio
dessas ferramentas tecnolgicas tende a significar antecipao em relao
concorrncia no mercado e mesmo a prospeco de mercados inexplorados.
H clara utilizao no apenas de dispositivos de interao cognitiva e social
a distncia, mas tambm de trocas de ideias e conhecimentos em situaes
de copresena. No mais das vezes, entrevistados indicam que o trabalho em
equipe e multidisciplinar requer a interao presencial no local de trabalho,
em razo de que possibilita a discusso mais gil e abrangente de problemase o encaminhamento mais rpido de decises. O entrevistado 9, por exemplo,
refere-se importncia da linguagem corporal no trabalho musical, embora
tambm trabalhe com colaboradores a distncia; o entrevistado 1 refere a
importncia da copresena no trabalho interdisciplinar em face da necessi-
dade de ajustamento e comunicao entre diferentes linguagens e conceitos
envolvidos na criao dos artefatos. Outro trao marcante dessa complexidade
a diversidade e complementaridade de agentes envolvidos. So sobejamente
apontadas as necessidades de trocas entre conhecimentos especializados em
artes, negcios, tecnologia e cincias (entrevistados 2, 3, 4, 7, 8, 9 e 10) e entredisciplinas cientficas e tecnolgicas (entrevistados 1, 5, 6, 11 e 12).
O complexo agenciamento de capacidades (tecnolgicas, materiais e
cognitivas) parece, pois, levar os profissionais a circular por diferentes ambien-
tes organizacionais e sociais. Os depoimentos colhidos revelam uma complexa
identificao e integrao de recursos no processo de criao, requerendo do
profissional a aquisio e aplicao no apenas de conhecimentos que lhes
permitam conceber, ajustar e mesmo reformular projetos no curso de sua
execuo, mas tambm de habilidades de gesto e induo cooperao entre
mltiplos agentes neste percurso (Almeida, 2012; Amabile, 1998).
Essas atividades de criao sustentam-se em arranjos que podem ser
expressos pela combinao entre formas organizacionais e trajetrias educa-
cionais e profissionais dos agentes entrevistados. No que se refere organi-
zao das atividades, constatam-se caractersticas comuns nos ambientes de
criao dos artefatos. A despeito de se tratar de tipos dspares de organizaes
(grande universidade pblica e pequenos empreendimentos), h tendncias
comuns nesses ambientes que se associam ao processo de criao, conside-
rando-se a percepo dos profissionais entrevistados. Segundo os depoimentos
colhidos, as atividades de criao tendem a exigir a combinao de funes e
conhecimentos diversos que se desenvolve, especialmente, pelo trabalho emequipe. Isso oferece complementaridades e estmulos criao. Outra tendn-
cia se refere percepo de relativa autonomia e expresso no processo de
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criao, bem como de reconhecimento ao produto do trabalho (Almeida, 2012;
Howkins, 2013). De modo geral, os entrevistados buscam ambientes que lhesconferem possibilidade de expresso e tomada de deciso sobre o curso das
atividades de criao.
Cabe assinalar, adicionalmente, que os projetos de criao tendem a
envolver algum tipo de financiamento pblico (exceto entrevistados 2 e 4) e,
como se esperaria, atendimento a diferentes legislaes, requerendo ateno
s exigncias do controle e a aquisio de habilidades para operar na buro-
cracia estatal (Barrier, 2011).
Ao mesmo tempo, os profissionais entrevistados apontam diferentes
tipos de dificuldades e crticas em relao s organizaes em que se acham
envolvidos. Por exemplo, o profissional jnior da arquitetura que atua na uni-versidade ressente-se da falta de titulao (o entrevistado estava com dou-
torado em engenharia em curso no momento da entrevista) e das barreiras
departamentais para a realizao de atividades interdisciplinares que, a seu
juzo, so cruciais na produo de conhecimentos aplicados na sua rea de in-
teresse e atuao (entrevistado 1). Um dos profissionais da geologia identifica,
tambm na universidade, o paradoxo de que a geologia experimenta momento
de expanso de oportunidades de carreira e pesquisa, porm, isso tende a
se concentrar em reas relacionadas ao petrleo, em detrimentos de outras
possibilidades de expanso na especialidade (entrevistado 12). O profissionaldo designgrfico e digital chama a ateno para que o uso de horrio flexvel
outra tendncia identificada entre os entrevistados depende de relaes de
confiana entre os agentes envolvidos e de disciplina e capacidade de gesto
do tempo, requerendo conhecimento mtuo e aprendizado (entrevistado 4).
O profissional do designgrfico iniciou as atividades de sua start upem um
escritrio de trabalho colaborativo (co-working), em razo dos menores custos,
da disponibilidade de infraestrutura adequada e da possibilidade de intera-
o com agentes e profissionais diversos nesse tipo de ambiente. Entretanto,
o alto grau de flexibilidade e a excessiva circulao e demandas por trocas
profissionais tornaram, na sua avaliao, o ambiente dispersivo, reduzindo o
desempenho e a produtividade de suas atividades de criao (entrevistado 10).
Igualmente, o profissional do artesanato destaca a necessidade de disciplina
e compromisso com o trabalho que precisam ser adquiridos pelo iniciante
(entrevistado 8).
Esses registros parecem se aproximar das hipteses sobre uma cog-
nio distribuda e sobre o papel de coletividades de pesquisa, pois as ati-
vidades de criao parecem envolver a mediao e conciliao no somente
entre funes, conhecimentos, legislaes e exigncias diversas, mas tambm
entre tecnologias, linguagens, instrumentos e insumos que se influenciammutuamente (Almeida, 2012; Callon, 1986; Htter et al., 2010).
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Em relao s trajetrias educacionais e profissionais, os entrevistados
revelam algumas convergncias nos seus percursos, em especial, a formaoem universidades de reconhecida qualidade e a diversidade de experincias
profissionais, com passagem anterior em grandes organizaes no caso dos
seniores (Amabile, 1998; Alencar, 1998; Glaeser, 2011). Trata-se de experincias
profissionais em diferentes organizaes (assalariados em grandes e peque-
nas empresas, servio pblico, organizaes sem fins lucrativos, autnomos
e empreendedores as combinaes variam conforme o caso). Essa tendn-
cia verificada de experincias plurais suscita a hiptese sobre uma combina-
o entre disposies para acmulos de novas capacidades e habilidades, e a
constituio de redes sociais, que so mobilizados no processo de criao dos
artefatos (Comunian, 2012). Ao mesmo tempo, esse tipo de percurso relativizaformulaes sobre capital humano que reduzem a aquisio de competncias
trajetria escolar, chamando a ateno para a disposio desse tipo de profis-
sional por buscar uma experincia plural, que representa acmulos cognitivos
e de redes sociais, refletindo-se no processo de criao.
Cabe mencionar um achado de pesquisa que se refere ao fato de que
parte dos profissionais entrevistados tem origem social e familiar nas classes
mdias e, parte, nas classes populares, experimentando trajetria de ascen-
so social. O dado aproxima-se de formulaes mais recentes que concebem
o patrimnio de disposies adquiridas pelos indivduos como tendncias deconduta aplicadas ativamente a contextos de ao, relativizando-se dicotomias
e automatismos na reproduo dos interesses e gostos de classe (Lahire, 2006).
Como ilustrao, pode-se mencionar o caso do publicitrio cuja origem se si-
tua no interior do Estado do Rio Grande do Sul, em famlia de operrios sem
frequncia a curso superior (entrevistado 2). Diferentemente, o editor-escritor,
que natural de Porto Alegre, tem, na sua famlia, jornalista e poeta/cronista
premiados por suas obras (entrevistado 3). Em qualquer caso, parece haver
um trao comum nessas trajetrias: o apoio familiar que se pode transformar
em autoestima e perseverana no percurso profissional. Isso mereceria novos
estudos e aprofundamento da anlise.
Como apontam especialistas (Htter et al., 2010; Ramella, 2013;
Swedberg, 2006), o processo de criao de inventos ou de inovaes ocorre-
ria mediante esforos individuais que, no entanto, se realizam no contexto
de interaes dos agentes com condies tcnicas, com organizaes e com
sistemas sociais e territoriais. Numa palavra, interaes passadas, presentes
e como expectativas futuras tornam-se relevantes fontes de criatividade para
os agentes nesse tipo de processo.
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CONSIDERAES FINAIS
Como inicialmente posto, o estudo apoia-se no princpio sociolgico de que a
ao socioeconmica seria, predominantemente, movida por interesses ma-
teriais e ideais, orientando-se para a gerao de utilidades (bens e servios) e
para o comportamento de outros agentes (Weber, 2004 [1921]). Desse prisma,
aborda-se o significado das relaes entre criatividade e mercado em face da
ascenso de uma nova economia que se baseia na criatividade e no conheci-
mento, inquirindo sobre os tipos de interesses e de arranjos de interaes dos
agentes que sustentam as atividades de profissionais criativos.
Os profissionais criativos (em cincias e em artes) estudados na cida-
de escolhida envolvem-se em atividades de concepo de produtos originais,requerendo complexa amarrao entre investigao e concepo (prticas de
laboratrio, pesquisa de linguagens e identidades comunitrias, diagnsticos
de tendncias e nichos de mercado), manuseio de TIC e suas possibilidades, e
interao com ativos diversos. Tais profissionais se notabilizam no apenas
pelo alto grau de escolaridade, mas tambm pelo nvel de especializao nos
seus conhecimentos em cincias ou em artes. Isso se combina com disposies
adquiridas pela trajetria de apoio afetivo de suas famlias (seja nas classes
mdias, seja nas classes populares), pela formao em universidades de reco-
nhecida qualidade e pela diversidade de experincias profissionais (Lahire, 2006).Nas atividades de criao, os agentes tendem a conjugar a preocupao
sobre a viabilidade e retorno financeiro do artefato com a identificao de
experincias relevantes, em termos de acrscimos de conhecimentos ou de
significado social do produto; mostram-se, ainda, empenhados em conciliar
crescimento na carreira, autonomia intelectual e qualidade de vida, expres-
sando certa seletividade nas suas escolhas de trabalho e na defesa de posi-
es sociopolticas. O agenciamento desses ativos depende de autonomia, de
flexibilidade e de experincias plurais, envolvendo a mediao e conciliao
entre conhecimentos, tecnologias, insumos, funes, linguagens e legislaes
(Htter et al., 2010; Ramella, 2013; Swedberg, 2006).
Entre as dificuldades encontradas no processo de desenvolvimento des-
sa economia, merece destaque a relativa limitao do mercado para esses pro-
fissionais em Porto Alegre, que tentam superar com apoio nas comunicaes e
interaes a distncia, tendo em vista preservar a boa qualidade de vida e de
trabalho que consideram ter na cidade. Cabe ressaltar que os dados obtidos
referem-se ao ncleo da economia criativa, e sua interpretao requer parci-
mnia. Por exemplo, pouco se sabe sobre diferentes elos/setores da economia
criativa, no pas.
Portanto, as atividades econmicas criativas ocorreriam em meio a com-plexas e particulares combinaes de diferentes tipos de interesses e arran-
jos de interaes de agentes (Swedberg, 2005). Tais atividades se desenrolam
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no apenas em meio s novas condies tecnolgicas de comunicao e de
conhecimento, mas tambm no momento em que ideais em torno da susten-tabilidade e da qualidade de vida ganham fora. Os resultados alcanados
na pesquisa (que no aspiram generalizao) contribuem ao questionar no
apenas a concepo sobre o desinteresse do gnio do cientista no laboratrio
ou do artista no ateli, que se achariam corrompidos sob as condies de
mercado, mas tambm relativizam as formulaes que enfocam regras formais
capazes de estimular respostas e induzir comportamentos reflexos de talentos
individuais autointeressados.
Finalmente, cumpre notar que o fenmeno merece novas investigaes
desde diferentes abordagens e metodologias. As formulaes sobre indstrias
culturais contriburam ao apontar a instrumentalizao da cincia e da arte nomundo da produo em massa. No entanto, as recentes teses sobre indstrias
criativas avanam ao chamar a ateno para as rupturas tecnolgicas, econ-
micas e institucionais no mundo atual. O tema vem ganhando destaque no
debate pblico e acadmico internacional e a perspectiva multidimensional e
relacional da sociologia econmica mostra-se frutfera, ao permitir compre-
ender aspectos, mais contextuais, que escapam s formulaes anteriores. O
debate e a crtica cientfica podero contribuir para melhor conhecer e precisar
os contornos dessa economia e seu alcance num mundo em transformao.
Recebido em 10/05/2014 | Aprovado em 15/04/2015
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Sandro Ruduit Garcia Doutor em Sociologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor adjun-
to no Departamento de Sociologia e no Programa de Ps-Graduao
em Sociologia desta mesma Universidade. Atua, principalmente, na
rea de Sociologia Econmica, dedicando-se ao estudo das indstriascriativas, da inovao e das relaes entre agentes globais e locais.
autor, entre outras publicaes, de Pequena empresa inovadora e
desenvolvimento: indstria naval em Rio Grande (2014).
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NOTAS
1 O artigo baseia-se em resultados da pesquisa Nova econo-
mia do conhecimento: agentes criativos e arranjos scio-
organizacionais em Porto Alegre, realizada com financia-
mento CNPq Edital Universal. A pesquisa foi coordenada
pelo autor, contando com o pesquisador Lus Fernando
Santos Corra da Silva (UFFS), com os estudantes de ps-
graduao Alexandre P. Karpowicz e Rodrigo C. Dillio, e
com a bolsista IC-Fapergs Gabriela R. de Freitas.
2 Os profissionais selecionados para estudo pertencem a
setores significativos nas trocas internacionais, situando-se
entre os cinco principais em termos de exportaes mundi-
ais em indstrias criativas: para dados de 2008, os produtos
de designrepresentaram 40,87% das exportaes das inds-
trias criativas; em seguida, arquitetura, 14,38%; produtos
editoriais, 8,15%; produtos de artesanato, 5,46%; e servio de
pesquisa e desenvolvimento, 5,25% (UNCTAD, 2010).
3 O leitor encontra em Corazza (2013) uma boa resenha de
alguns dos principais estudos sobre o tema. Para uma
interessante apresentao e comparao de diferentes
classificaes de setores da economia criativa, ver Valiati
(2013). Para uma crtica ao uso da noo de economia cria-
tiva como categoria de anlise, ver Alves & Souza (2012).
4 A UNCTAD (2010) classifica as indstrias criativas em gru-
pos: a) Patrimnio (stios culturais e expresses culturais
tradicionais); b) Artes (visuais e performticas); c) Mdia
(publicaes e audiovisual); e d) Criaes funcionais (design,
servios criativos e novas mdias). As indstrias criativas
seriam definidas como os ciclos de criao, produo edistribuio de produtos e servios que utilizam a cria-
tividade e capital intelectual como insumos primrios
(UNCTAD, 2010: 8). Essa classificao tem sido amplamente
utilizada (inclusive no Brasil), permitindo a comparao de
estudos e resultados entre diferentes pases.
5 O autor identifica um centro hipercriativo no conjunto
de ocupaes da classe criativa, envolvendo profisses
ligadas computao e matemtica, arquitetura e en-
genharia, s cincias biolgicas, naturais e sociais, edu-cao, treinamento e biblioteconomia, e s artes, design,
entretenimento, esportes e mdia.
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