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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL –
PDE - GEOGRAFIA 2010/2011
FACULDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - UENP
DINÂMICA DE ESPAÇOS URBANOS: UMA ABORDAGEM SOBRE CORNÉLIO PROCÓPIO - PR
AUTORA: ANA LÚCIA DE SOUZA1
ORIENTADORA: COARACY ELEUTÉRIO DA LUZ2
RESUMO
O presente artigo efetuou uma análise dos processos geográficos e históricos no município de Cornélio Procópio – PR, com ênfase na urbanização do município. Envolveu 30 alunos da 6ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Zulmira Marchesi da Silva, utilizou-se de diferentes recursos metodológicos como, mapas, textos didáticos, TV pendrive, DVD, sala de informática. A pesquisa de campo e visitas objetivou educar a percepção dos alunos na observação das paisagens para contextualizar o mundo fora da escola. Nestes estudos os alunos tiveram contato com a paisagem no entorno da escola-bairro onde moram, observando as paisagens físicas e construídas: infra-estrutura. Casas de madeira e alvenaria, arborização, praça, ferrovia. Os alunos se mostraram muitos envolvidos com o projeto, o que demonstra a importância de se trabalhar a realidade concreta no ensino da Geografia.
PALAVRAS CHAVE: Geografia. Paisagem. Espaços Urbanos. Ensino.
1 Graduada em Geografia pela Universidade do Oeste Paulista (UNOEST); Pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. (UENP)
2 Docente do Departamento de Geografia – Universidade Estadual do Norte do Paraná; Doutoranda em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá.
INTRODUÇÃO
O presente artigo se originou através do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), que propõe a realização de um Projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola a ser aplicado aos alunos. Teve como preocupação o estudo
da ocupação humana na cidade de Cornélio Procópio, no Norte do Paraná, a partir
de textos, mapas, gráficos, entrevistas e visitas, desvelando as paisagens
geográficas construídas e reconstruídas de nosso município.
O estudo sobre a urbanização brasileira, com destaque para a dinâmica dos
espaços urbanos e em seguida a abordagem sobre esse fenômeno em Cornélio
Procópio, busca levar os alunos das 6ª séries do Ensino Fundamental, durante as
aulas de Geografia no Colégio Estadual Zulmira Marchesi da Silva, a uma leitura
mais crítica do espaço em que vivem podendo compará-lo a outros espaços.
A problematização do tema leva em consideração que, a população não
reflete sobre o processo das transformações ocorridas no espaço geográfico em que
vivem. Este estudo possibilitará aos educandos condições para se criar uma nova
leitura do espaço urbano local por intermédio do raciocínio geográfico.
Exercício este que geralmente não ocorre nas aulas de Geografia,
acarretando desinteresse por estas durante o processo de ensino e aprendizagem.
O que ocorre normalmente é que não se observa o espaço geográfico, e quando
isso ocorre, é realizado de modo superficial, não se atentando para o processo
histórico de produção e reprodução desse espaço até que este atingisse os
aspectos presentes na realidade atual.
Em busca de compreender estas transformações espaciais, esta pesquisa
partiu do seguinte questionamento: Quais são os fatores concorrentes para a
dinâmica dos espaços urbanos e especificamente como tal fenômeno ocorre em
Cornélio Procópio?
1. URBANIZAÇÃO E DINÂMICA DE ESPAÇOS URBANOS
1.1 PRIMEIRAS FORMAS DE URBANIZAÇÃO
Os primeiros centros urbanos se podem chamar assim, ou simplesmente
cidades, surgiram na região do Oriente Próximo, entre os rios Tigre e Eufrates, na
Mesopotâmia (atual Iraque) aproximadamente em 3.500 a. C., logo após surgiram às
cidades do Vale do rio Nilo, no Egito, do rio Indo, na Índia, na região mediterrânea e
Europa e, finalmente, as cidades da China e do Novo Mundo (SPÓSITO, 1997, p.
14-15).
Contudo, apesar das primeiras cidades terem surgidas há mais de 5.500
anos, o processo de urbanização moderno teve início no século XVIII, em
consequência da Revolução Industrial, primeiramente na Europa e, a partir deste
fato, nas demais regiões onde o desenvolvimento industrial desenvolveu-se. Nos
países mais pobres, a urbanização é um fato bem recente. E atualmente, mais da
metade da população mundial vive em cidades, com forte tendência a aumentar
cada vez mais (PILLETI & PILLETI, 1994, p. 14).
O termo urbanização será usado no sentido de aumento da população que
vive em cidades em ralação à população total. Logo esse sentido pressupõe a
diminuição relativa da população rural.
A urbanização no Brasil é relativamente recente. A transferência do meio rural
para o urbano se dá através de um conjunto de mudanças estruturais na economia e
na sociedade brasileira, a partir do governo Vargas, na década de 1930, não é só o
território que acelera o seu processo de urbanização, mas é a própria sociedade
brasileira que se torna cada vez mais urbana. Mas, vale destacar que somente em
1970, há pouco mais de 40 anos, que os dados censitários revelaram, no Brasil,
uma população urbana superior à rural (BRITO, 2005).
Os centros urbanos surgem desde o período colonial, levando em conta a
restrita dimensão demográfica. Na República Velha (1889/1930), um fato novo
começa a modificar a paisagem urbana brasileira devido à expansão da economia
cafeeira e de industrialização, interagindo as relações comerciais entre as diferentes
regiões brasileiras e seu processo migratório para os centros maiores onde mais se
expandia a economia, ou seja, as capitais das províncias e principalmente São
Paulo e Rio de Janeiro. (BRITO, 2005).
Conclui-se que a população urbana brasileira estava dividida entre diferentes
organizações regionais de cidades, historicamente afirmam-se nas áreas litorâneas
e concentram-se na região Sudeste, pólo industrial em decorrência da economia
agrícola. Somente a partir do fim do século XIX é que estas cidades pólo regionais
começam a se articular, nacionalmente, dentro de um processo de integração
comercial.
Em 1920, o Brasil contabilizava uma população de 27.500.000 e contava com 74 cidades maiores do que 20 mil habitantes, nas quais residiam 4.552.069, ou seja, 17,0% do total da população. Mas, a população urbana se mantinha bastante concentrada, 58,3% destas cidades estavam na região Sudeste, em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. (VILELA e SUZIGAN, 1973, p. 23).
De acordo com Santos (1996), a partir de 1940 com os registros censitários
inicia-se o processo de contagem de população distinguindo as populações urbanas
e rurais. A população existente nas cidades era de 10.891.000 pessoas (26,35%) de
um total de 41.326.315 habitantes. Acredita-se que os dados anteriores a 1940 não
possuíam uma metodologia confiável do número de pessoas que habitavam as
cidades em relação ao total. Em seu livro “Urbanização Brasileira”, o Geógrafo
Milton Santos destaca:
Entre 1940 e 1980, dá-se verdadeira inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira. Há meio século atrás (1940), a taxa de urbanização era de 26,35%, em 1980 alcança 68,86%. Nesses quarenta anos, triplica a população do Brasil, ao passo que a população urbana se multiplica por sete vezes e meia (SANTOS, 1996, p. 29).
A partir de 1940, até o fim do século XX, esse percentual aumenta
sistematicamente, observando-se tendência crescente de urbanização, mas é
somente em 1970 que se registrou, para o país como um todo, uma população
urbana superior à rural (56,80%). O crescimento urbano, a partir desta década,
continuou a distanciar-se da população da rural, como se percebe no QUADRO 01.
QUADRO 01 - POPULAÇÃO TOTAL E URBANA NO BRASIL
Ano do censo População total
População Urbana
Índice de Urbanização
Índice de Crescimento Populacional
Índice de Crescimento Urbano
1900 17.438.434 0 - - -
1920 27.500.000 4.552.000 16,55% 43,08% -
1940 41.326.000 10.891.000 26,35% 33,46% 37,19%
1950 51.944.000 18.783.000 36,16% 25,70% 72,46%
1960 70.191.000 31.956.000 45,52% 35,13% 70,13%
1970 93.139.000 52.905.000 56,80% 32,69% 65,55%
1980 119.090.000 82.013.000 68,86% 27,87% 55,02%
1991 150.400.000 110.990.990 73,80% 26,28% 35,33%
2000 169.799.170 145.800.000 85,87% 12,90% 31,36%
2006 186.119.238 165.832.920 89,10% 9,61% 13,74%FONTE: Cadernos Ministério das Cidades/Des. Urbano, nov-2004; OLIVEN, 1980; IBGE, 1940-2000 /
maio-2006.
1.2 CONTRIBUIÇÃO DAS MIGRAÇÕES INTERNAS PARA O CRESCIMENTO
DAS CIDADES
As migrações internas foram a principal força de deslocamento das
populações do meio rural para o urbano, motivados pelo intenso crescimento da
economia urbano–industrial, iniciado com o governo de Juscelino Kubistchek, até o
final dos anos setenta. Esse crescimento do ponto de vista espacial e social
direcionou as migrações para regiões pontuais. Muito concentrado no Rio de Janeiro
e, fundamentalmente em São Paulo, o desenvolvimento da economia ampliou os
desequilíbrios regionais, inclusive entre a cidade e o campo, que não conseguia
gerar o número de empregos que atendesse ao crescimento da sua força de
trabalho. As migrações internas redistribuíam a população do campo para as
cidades, principalmente, para as regiões metropolitanas do Sudeste. Apesar do
grande crescimento da economia até o final da década de setenta, as migrações
internas, fruto dos desequilíbrios econômicos e sociais, nas suas regiões de origem,
acabavam por reproduzi-los nas regiões de destino, como afirma Santos.
A grande cidade se torna o lugar de todos os capitais e de todos os trabalhos, isto é, o teatro de numerosas atividades marginais do ponto de vista tecnológico, organizacional, financeiro, previdenciário e fiscal. (SANTOS, 1996, p. 10).
A partir das décadas de 1960 até 1980 decorrentes do fluxo migratório
interno, vamos ter uma concentração populacional nas periferias das grandes
cidades, com população acima de cem mil habitantes, diminuindo a importância das
pequenas cidades com até vinte mil habitantes (OLIVEIRA, 2011).
A partir da década de setenta do século XX, ocorre grande mudança
estrutural na organização populacional do Brasil, a industrialização das cidades
pólos juntamente com o aumento populacional, fortaleceu o fluxo migratório para os
grandes centros urbanos.
Pode-se verificar que os últimos 30 anos marcaram uma alteração substancial nos padrões de crescimento populacional no Brasil. Nas décadas precedentes, os investimentos industriais, a urbanização e as altas taxas de natalidade fizeram gerar excedentes populacionais que alimentaram fortes movimentos migratórios em direção às grandes metrópoles e áreas de fronteiras de recursos. Mudanças econômicas e demográficas trouxeram um esgotamento de antigos padrões que acompanhavam a dinâmica populacional até então. Em conseqüência, os movimentos da população no espaço ganharam outras tendências, fruto também das novas territorialidades derivadas da expansão do Brasil urbano-industrial. (BRAGA, 2006, p. 4)
A partir de 1960, ocorrerá no Brasil um constante aumento populacional,
intensificando no último quartel do século XX, o país ocupa hoje a quinta posição
dos países mais populosos do planeta, atrás apenas da China, Índia, Estados
Unidos e Indonésia. De acordo com dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE,
2010), a população brasileira atingiu a marca de 190.732.694 habitantes.
Atualmente, o crescimento populacional brasileiro e consequentemente
urbano não se deve ao fator imigração, mas sim, o crescimento vegetativo, se
contava com cinqüenta e um milhões em 1950, vamos chegar em 2010 com cento e
noventa milhões de habitantes. Desta forma podemos afirmar que nos últimos
sessenta anos tivemos uma explosão demográfica em nosso território.
Acompanhando a tendência mundial, o crescimento demográfico brasileiro
vem diminuindo nos últimos anos, mas isso, não quer dizer que a redução será
rápida levando em conta que a expectativa de vida vem aumentando, decorrentes
de novas tecnologias médicas, o que temos hoje é o envelhecimento da população
(PROJETO ARARIBÁ, 2007, p. 40).
Mas, com o decorrente crescimento da população urbana, essas áreas se
tornam grandes áreas de risco, com altos índices de miséria, desigualdades,
desemprego, violência e outros problemas, e este fato hoje não é singular apenas as
grandes metrópoles. São marcadas de um lado pela exclusão de muitos, e de outro,
pelas melhores condições de vida de poucos. A urbanização, então, acaba criando
grandes problemas, segundo Santos:
Por um lado, há a hipótese de que a urbanização é necessária para o processo do crescimento nacional pelas economias de aglomeração e escala que cria, pelas oportunidades de emprego e melhoramento de posição social que oferece e, finalmente, por seu clima favorável à elaboração de ideologias progressistas. Por outro lado, porém, acusa-se a urbanização de agravar desequilíbrios sócio-econômicos e disparidades regionais, de gerar subemprego, degradação da habitação e definição de serviços essenciais. As pessoas reagem como se a origem, tanto das boas coisas como das más, fosse a cidade e, por conseqüência, devesse esta elaborar suas respostas em seu próprio interior (SANTOS, 1982, p. 181).
As cidades não foram planejadas para receber um grande contingente de
pessoas que migraram do campo. Ela cresceu de forma desordenada, prejudicando
seriamente a qualidade de vida ao não disponibilizar a população emprego, saúde,
educação, habitação e lazer. Santos (1998) aponta que não é a cidade a
responsável por todas as carências, mas outros agentes, assim podem ser citados
como exemplo o poder público e os proprietários.
Para Santos “Quanto mais intensa é a divisão do trabalho numa área, tanto
mais cidades surgem e tanto mais diferentes são uma das outras” (SANTOS, 1998,
p. 52). Ou seja, quanto mais uma região produz, mas ela vai se desenvolver, pois
criará um maior número de necessidades.
O processo de urbanização trouxe consigo pontos positivos e negativos.
Estruturou-se para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes e integrá-los
com outros sistemas ocupacionais, mas com o inchaço dos grandes centros trouxe
grandes problemas, difíceis de serem solucionados, tais como a desigualdade
social.
A população de baixa renda foi obrigada a ocupar as regiões periféricas das
cidades, onde a compra de habitações ou aluguéis são mais em conta, ficando
distante do centro urbanos e desprovidos de infra-estruturas básicas, segregando-os
em regiões pouco desenvolvidas.
Desprovidos de infra-estruturas, essa população periférica não usufrui do
conforto que a cidade pode oferecer perdendo a perspectiva de futuro e de melhorar
de vida. Diante desta perspectiva alguns se revoltam entram no submundo do crime,
outros devido principalmente a baixa escolaridade entram no mercado de trabalho
com empregos mal remunerados, e buscam ser refugiarem no mundo das drogas,
principalmente o álcool.
2. FORMAÇAO DO ESPAÇO URBANO DE CORNÉLIO PROCÓPIO
Segundo Paula (2007), o surgimento dessa cidade deve-se ao fato da
construção exclusivamente da estrada de ferro. Os povoamentos nasceram das
paradas da construção da via férrea ou no ponto de parada de combustíveis e água,
em torno desses pontos começaram a surgir casas, negócios nascendo assim mais
de uma vila na região Norte do Paraná.
Neste tópico sobre a formação do espaço urbano de Cornélio Procópio, foi
apropriado da obra de Sanches (2003) e Brasil (1988), considerando a pouca
literatura a respeito do assunto ora abordado.
O coronel Cornélio Procópio de Araújo Carvalho (1857-1909), grande
fazendeiro paulista, na região de Ribeirão Preto, coronel da Guarda Nacional no
Segundo Império e início da República, ganhou para colonização, uma gleba de
cinco mil alqueires paulista na região Norte do Paraná, denominada Gleba
Laranjinha, compreendendo os atuais municípios de Santa Marina e Cornélio
Procópio. (BRASIL, 1988).
As primeiras casas existentes na região, geralmente construídas de pau a
pique e cobertas de sapé e de chão batido, barreadas ou não, eram ocupadas pelos
primeiros posseiros, com a vinda da estrada férrea esses ranchos vieram abaixo,
surgindo às primeiras casas de tabuas coberta de tabuinhas, a paisagem das
construções de madeira, está no fato da abundância deste produto e a dificuldade
para a obtenção de matérias de alvenaria, que eram importados da cidade de
Ourinhos no Estado de São Paulo. (BRASIL, 1988).
Cornélio Procópio, no inicio da década de 1940, era uma cidadezinha de
umas quinhentas casas, quase todas de madeira, já contavam com médicos,
farmácias, serrarias, máquina de beneficiar café, etc. As casas no pequeno
povoamento, não contavam com serviço de saneamento básico. (BRASIL, 1988).
Após sua morte estas terras foram herdadas pelo seu genro Francisco
Junqueira casado com Maria Balbina Procópio Junqueira (Anita), a esse casal se
deve o início da colonização microrregional.
No ano de 1928 a região de Cornélio Procópio era uma imensa floresta. O
primeiro núcleo habitacional realmente importante que surgiu nessa época foi a
Fazenda Santa Filomena, mais conhecida como Fazenda Matarazzo, propriedade
de Afonso Alves de Camargo (governador do Estado do Paraná naquela época),
Conde Matarazzo Júnior e Hércules Janini. (BRASIL, 1988).
Cornélio Procópio naquela época chamava-se “Quilômetro 125”. Tal
designação deveu-se à existência de uma estação ferroviária construída pela
Estrada de Ferro São Paulo-Paraná, no quilômetro 125 da via férrea, partindo da
cidade de Ourinhos, no Estado de São Paulo. (BRASIL, 1988).
A ferrovia São Paulo-Paraná, com marco inicial em Ourinhos no ano de
1923, chega até Cambará iniciativa da empresa colonizadora Barboza Ferraz, em
1924 tem sua continuidade pela empresa colonizadora inglesa Companhia de Terras
Norte do Paraná e estende-se até a cidade de Apucarana. (SANCHES, 2003).
A cidade nasceu à margem da via férrea. As primeiras construções foram: a
estação e as casas dos engenheiros e técnicos ingleses, galpões para os
trabalhadores, armazém e um hotel denominado Santa Maria. Com a chegada dos
trilhos até a estação 125, em 1930, Junqueira em homenagem ao sogro deu o nome
de Cornélio Procópio ao pequeno núcleo urbano que se iniciava. A abertura de ruas
começou a ser ocupadas sem obedecer qualquer planejamento, com construções
rústicas, fugindo a um padrão urbanístico. (BRASIL, 1988).
Em volta da estação, havia apenas ranchos. A partir de 1933, quando a
colonizadora Paiva & Moreira (Antonio Paiva e Francisco Moreira da Costa) comprou
as terras de Francisco Junqueira, foi feito o plano de loteamento do patrimônio; os
engenheiros abriram as ruas e foram surgindo pequenas casas nos lotes vendidos.
(SANCHES, 2003).
A Colonizadora Paiva & Moreira reordenaram a ocupação urbana e com o
aumento do fluxo de passageiros da ferrovia a cidade passou a crescer e a se
desenvolver. Os primeiros lotes urbanos foram vendidos em torno da Praça Brasil,
onde se deu a construção de uma capela, sendo que ali, no cruzamento da Rua
Quintino Bocaiúva e Avenida XV de Novembro, o marco inicial da cidade, onde
funcionava a prefeitura funcionava e o forum, em casas rústicas de tábuas.
(SANCHES, 2003).
Através do decreto nº 6212 de 19/01/1939 foi criado o município de Cornélio
Procópio, e em 11 de fevereiro do mesmo ano, o Diário Oficial publicava o Decreto
nº 6371 que designava a data de 15 de fevereiro de 1938 à instalação da Comarca.
(BRASIL, 1988).
A colonização na região de Cornélio Procópio está intimamente ligada à
expansão cafeeira paulista ocorrida desde meados do século XIX.
O café foi fator predominante na “humanização” e urbanização da região, fez
surgir cidades e desenvolver economicamente. Como esclarece Wachowicz (1987,
p. 199): “Esse encarte mostra um pouco da força que o café teve no início da
ocupação. Um motivo lógico é a fertilidade das terras, havia uma relação muito
significativa entre todos os fatores ambientais”.
A importância do café na região deve-se ao fato de muitos cafeicultores
paulistas, mineiros e cariocas buscarem expandir sua produção, levando em conta a
exaustão de suas terras em seus Estados de origem.
Cornélio Procópio está situado entre as coordenadas 23º01 e 23º13, de
latitude sul e 50º28, e 50º50, de longitude oeste, no Terceiro Planalto Paranaense,
apresenta relevo acidentado, caracterizado por possuir alongados espigões,
entremeados por depressões relativas correspondentes a vales de pequenos
ribeirões. A altitude está entre 600 e 700 metros.
O solo leterítico, terra roxa, de origem vulcânica, resultante de derrame
triássico, formou-se graças à decomposição do basalto, rico em óxido de ferro, pela
ação do intemperismo. Esse solo, fértil e poderoso, foi o primeiro fator determinante
da colonização regional.
Seu clima é tropical de altitude, com temperaturas médias anuais acima de
22º, sendo seu mês mais quente janeiro (máxima de 29º) e o mais frio julho, com
mínimas de 2º negativos e freqüentes geadas.
O município situa-se no divisor de águas dos rios Congonhas e Laranjinha
entre os estados de São Paulo e Paraná, limita-se com os municípios de Santa
Mariana, Leópolis, Nova Fátima, Uraí, Nova América da Colina e Santa Amélia.
3. A ABORDAGEM DO ESPAÇO URBANO DE CORNÉLIO PROCÓPIO NAS AULAS DE GEOGRAFIA.
Valorizar a noção que os alunos possuem a respeito do seu espaço pode ser
útil ao ensino de Geografia, objetivando que eles aprendam, manipulem e
compreendam os espaços geográficos a partir do próprio.
A partir do momento que os alunos através de trabalho de campo, possam
visualizar, perceber, questionar e contextualizar o mundo no entorno da escola, de
sua casa, isso possibilita-o refletir sobre um espaço maior.
Os estudos da Dinâmica dos Espaços Urbanos de Cornélio Procópio, aplicado
aos alunos da 6ª série, 7º ano do Ensino Fundamental, contou com a participação de
30 alunos, tanto nas aulas teóricas como nas práticas.
3.1 RESULTADOS
Em sala de aula, através do uso de texto e de desenhos de plantas de
cidades antigas, foi observado que nas primeiras formas de urbanização a água foi e
continua sendo um fator importante para a fixação dos núcleos urbanos propiciando
benefícios para a agropecuária e também para prover sua sobrevivência.
Nestes estudos foram observados também que a vida social acontecia em
torno da igreja, pois todas as figuras aparecem templos religiosos no centro das
cidades (QUADROS 02 e 03).
QUADRO 02 – Formação das primeiras vilas
“Por causa da agricultura e porque o rio gerava muitos alimentos. E as casas ficavam perto da igreja, porque era lá que as coisas aconteciam”.FONTE: Texto produzido pelo aluno Matheus, 6ª “A”
QUADRO 03 – Formação das primeiras vilas
“As primeiras vilas surgiram próximas aos rios, por causa de agricultura, para se alimentar com os peixes, e para beber e eles construíam perto da igreja por causa das festas religiosas”.FONTE: Texto produzido pelo aluno Danilo, 6ª “A”
Em seguida realizou-se um trabalho interdisciplinar com a área de Matemática
através da construção de gráficos de barras para uma melhor visualização do
crescimento populacional urbano em relação a população rural ao longo dos anos e
assim perceberam que a partir de 1970 o Brasil passa a ter um aumento
populacional urbano e um acentuado declínio da população rural.
Todos os alunos trabalharam com gráficos, abaixo um exemplo (GRÁFICO
01):
GRÁFICO 01 – População Urbana e Rural – de 1940 a 2006
FONTE: Gráfico produzido pelo aluno Alisson, 6ª “A”
Com a leitura do texto “Contribuição das Migrações Internas para o
Crescimento das Cidades”, observou-se pontos positivos e negativos, uma vez que
as cidades não estavam preparadas para receberem grandes levas de migrantes,
apresentando grande fragilidade quanto a sua infra-estrutura.
Após a leitura do texto, os alunos passaram a olhar a cidade de outra forma,
observaram em seus relatos, que os problemas de desigualdades sociais existentes
no trajeto da sua casa para a escola, tais como a falta de infra-estrutura em relação
ao centro da cidade, pois nas localidades onde moram, mesmo apresentando alguns
serviços urbanos como água encanada e luz elétrica, apresentam deficiências
quanto a pavimentação das ruas, rede de esgoto e coleta de lixo (QUADROS 04 e
05).
QUADRO 04 – Infra-estrutura em relação ao centro da cidade
“Bom eu vejo que o lixeiro vem só três vezes por semana e pro centro o lixeiro vem todos os dias. E eu também vejo muitas pessoas que não tem um sapato e sem condições”.FONTE: Texto produzido pelo aluno Gisele, 6ª “A”
QUADRO 05 – Desigualdades sociais encontradas no percurso entre a casa e a
escola.
“Casas desiguais, carros desiguais, mendigos na rua, espaços asfaltados e outros não”.FONTE: Texto produzido pelo aluno Aline, 6ª “A”
Após análise da letra e música “Caboclo na cidade” de Chitãozinho & Xororó,
foram discutidos os pontos positivos e negativos da vida nas grandes cidades, os
alunos constataram que também hoje temos os mesmos problemas nas pequenas e
médias cidades como o caso de Cornélio Procópio (QUADRO 06).
QUADRO 06 – Análise da música “caboclo na cidade”
“Foram para a cidade porque na cidade teria mais oportunidade para os filhos, os aspectos negativos – desemprego, falta de oportunidade, fome e violência”.FONTE: Texto produzido pelo aluno Aline, 6ª “A”
Após assistirem o documentário cinematográfico sobre Cornélio Procópio, da
década de 1950, e a leitura do texto “Urbanização de Cornélio Procópio”, os alunos
mostraram bastante interesse, pois sentiram que o estudo fazia parte do seu espaço
de vida, visualizaram, perceberam e questionaram a respeito do tema, ao interpretar
o documentário cinematográfico, onde o foco principal trata-se dos pioneiros
colonizadores e o desenvolvimento da cidade. Este resgate a memória cultural
levou-os a algumas conclusões como sendo a ferrovia, a grande causa do
desenvolvimento da cidade, com construções de hotéis, madeireiras e algumas
vendas. Na descrição do filme existe a narração de um bairro proletário e de um
bairro nobre e em todas as comemorações citadas no mesmo o trabalhador nunca
fez parte.
Houve um momento do documentário em que apresenta os autores do hino à
nossa cidade, os alunos disseram que conheciam essas pessoas e que se possível,
gostariam de conversar com elas. A professora Raquel Graciano, sentiu-se muito
lisonjeada ao ser convidada a falar sobre o hino de Cornélio Procópio, aos alunos
(FIGURA 01). Estudaram então a letra e a música do hino, e os alunos
confeccionaram desenhos representando a cidade a partir da letra da música
(FIGURA 02).
FIGURA 01 - Professora Raquel Grassiano trabalhando com os alunos a
história do hino, letra e música de Cornélio Procópio.
FONTE: Acervo da autora, 2011.
FIGURA 02 - Desenho que retratou o último estrofe do hino à Cornélio
Procópio, ao desenhar a gralha azul e as pinhas, símbolos do Paraná.
FONTE: Aluno Matheus, 6ª “A”.
Em princípio os alunos trariam fotos antigas da cidade, porém isto não foi
possível, pois alegaram não possuir nenhum documento sobre a mesma, então
procurei fotos antigas e discutimos sobre a importância da fotografia como uma
função histórica na compreensão da realidade. Após a análise das fotos os alunos
realizaram uma pesquisa de campo na busca de dados sobre a urbanização de
Cornélio Procópio e o entorno da escola e de sua própria realidade.
Os alunos estabeleceram uma relação entre a realidade de setenta anos atrás
com a que temos hoje e verificaram que apesar das melhoras poderíamos ter
progredido mais.
Nos questionamentos sobre as fotos antigas, foram coletados os seguintes
dados dos alunos, através das seguintes perguntas (QUADRO 07):
a) Observando as fotos antigas, podemos observar quais mudanças na
paisagem geográfica?
b) Como fomos afetados pelas transformações ocorridas no espaço
geográfico?
c) Existe infra-estrutura no bairro onde mora? Quais?
QUADRO 07 – Comparativo entre as fotos antigas e atuais da cidade.
a) - “As mudanças nas construções, o esgoto era a céu aberto, a primeira estatua do Cristo era de gesso, ruas não pavimentadas e a maioria da população vivia no campo”.b) - “A cidade passou a atrair pessoas pela comodidade como água encanada, rede de esgoto, energia elétrica e etc”.c) - “Mais ou menos. Porque a lugar do meu bairro em que uma parte tem e a outra não tem”.FONTE: Texto produzido pelos alunos Larissa e Brandon, 6ª “A”
Foi realizado um estudo com mapas do Brasil, Paraná e Município e Planta
da cidade que proporcionaram uma melhor compreensão da realidade espacial do
município. Em seguida foi aplicado um questionário sobre a infraestrutura existente
no bairro onde mora, quais as condições sociais e econômicas da população,
problemas ambientais, saúde, moradia, relevo. A análise foi feita através de debate,
onde os alunos colocaram as condições de seus bairros em relação a esses
aspectos, e chegaram a conclusão de que o relevo de nossa cidade é bastante
acidentado, não possuindo condições para sua expansão. Esta é precária em áreas
verdes, existem áreas com habitações subnormais com construções de casas
precárias e que não possuem as mínimas condições para instalação de
infraestrutura. Ainda é preciso melhorar a educação da população quanto a coleta
seletiva de lixo e a participação junto aos órgãos públicos para cobrar as melhorias
necessárias.
Durante a implementação do projeto, foi possível fazer uma visita pelo
entorno da escola, a estátua do Cristo Redentor, Praça Brasil, antiga estação
ferroviária (FIGURA 03) e a primeira rodoviária. Constataram a importância das
edificações, meio ambiente, transporte, no percurso foram sendo observadas as
transformações provocadas pelo homem e as marcas dessa ocupação no espaço
geográfico. A análise da percepção geográfica pode contribuir para a compreensão
de que as paisagens são carregadas de significados.
FIGURA 03 - Alunos em visita à antiga Estação Ferroviária
FONTE: Acervo da autora.
Para concluir foi realizada a construção de painel com fotos antigas e atuais
dos locais visitados relevantes na colonização de nosso município.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo privilegiou alguns elementos da Geografia trabalhada na escola,
pois favorece uma maior integração entre o ambiente mais restrito do aluno e o
mundo do qual faz parte, fornecendo-lhe uma visão mais completa do complexo
social, o espaço construído pelo trabalho humano, ao longo do processo histórico.
Essa integração deve ser interpretada como a capacidade de refletir criticamente
sobre a sociedade em que vive e sobre o espaço que ocupa e, muitas vezes que
ajuda a construir.
Estudar e conhecer o seu espaço, inseridos em um contexto maior e o
resgate dos processos históricos na construção da paisagem geográfica, é de suma
importância para a compreensão de mundo de nossos alunos. Através deste projeto,
o que antes passava despercebido, agora adquire novos valores.
O estudo considerou a realidade dos alunos da escola para que fosse
possível o alcance da qualidade do estudo, serviu como um instrumento capaz de
permitir que o aluno se situe no mundo compreenda-o, e saiba como buscar as
demais informações que precisa, de forma a poder fazer uma análise geográfica.
As discussões e os conteúdos foram tratados a partir da vida e da realidade
em que vivem, adequados aos conteúdos históricos e usados de forma a levá-los a
ler e a entender o mundo, de forma a exercitar a cidadania e para formá-los
cidadãos.
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