PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO 1.o CICLO DO ENSINO BÁSICO EM ENSINO EXPERIMENTAL DAS CIÊNCIAS: QUAL O IMPACTO DE UM ANO DE FORMAÇÃO?

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    PROGRAMA DE FORMAO DE PROFESSORES DO 1. CICLO DOENSINO BSICO EM ENSINO EXPERIMENTAL DAS CINCIAS:

    QUAL O IMPACTO DE UM ANO DE FORMAO?

    TRAINING OF TEACHERS OF THE FIRST CICLE OF PRIMARYSCHOOL IN EXPERIMENTAL SCIENCE: WHAT IS THE IMPACT OF

    ONE YAER OF TRAINING?

    Dulce Pinto1

    Pedro Rocha dos Reis2

    RESUMO:O Programa de Formao em Ensino Experimental das Cincias pretendeu contribuir paraa melhoria da educao cientfica de base experimental no 1. Ciclo do Ensino Bsico em Portugal(alunos entre 6 e 10 anos) atravs do desenvolvimento do conhecimento cientfico e didctico dosprofessores. A investigao descrita neste artigo de ndole qualitativa e baseada em estudos de caso estuda as potencialidades e limitaes da estratgia de formao proposta por esse programa.Discute-se a situao particular de duas formandas que, tendo participado no 1. ano do Programa, nopuderam frequentar o 2. ano de formao. Pretende-se, assim, estudar o impacto de apenas um ano deformao no conhecimento profissional e nas prticas de sala de aula dessas formandas. Verificam-se,em ambos os casos, impactos positivos ao nvel do conhecimento cientfico das professoras e doreposicionamento das suas concepes sobre a importncia do ensino experimental. Contudo,detectou-se um conhecimento didctico limitado, especialmente no que respeita avaliao dasactividades experimentais e sua implementao com grupos heterogneos. Os dados obtidos revelam

    a pertinncia do envolvimento das professoras num segundo ano de formao.

    PALAVRAS-CHAVE: Educao em cincia; ensino experimental; formao de professores; 1. Ciclodo Ensino Bsico.

    ABSTRACT: The Teacher Training Program on Experimental Science Teaching intended tocontribute to the improvement of experimental activities in primary science education through thedevelopment of teachers' scientific and pedagogical knowledge. This qualitative research based oncase studies aimed to study the potentialities and limitations of this teacher-training program. Wediscuss the particular situation of two trainees who were involved in only one year of the program. Theaim was to study the impact of just one year of training on the professional knowledge and classroompractices of these trainees. In both cases, there are positive impacts on teachers' scientific knowledgeand conceptions regarding the importance of experimental science teaching. However, it was detecteda limited pedagogical knowledge development, namely in what concerns the assessment ofexperimental science activities and its implementation with heterogeneous groups. The results showthe relevance of the involvement of teachers in a second year of training.

    KEYWORDS: Science education; practical activities; teacher education; primary school.

    1 Escola Secundria Anselmo de Andrade. E-mail: [email protected]

    2 Instituto de Educao da Universidade de Lisboa. E-mail: [email protected]

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    O PROGRAMA DE FORMAO E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

    Actualmente, o desenvolvimento profissional descrito como um processo

    complexo (baseado numa dialctica entre aco e reflexo) atravs do qual o professor,

    individualmente ou com outras pessoas (por exemplo, colegas e investigadores), reformula as

    suas orientaes pessoais relativamente s finalidades do ensino e desenvolve, de forma

    crtica, o conhecimento indispensvel ao exerccio de uma prtica de qualidade no contexto da

    escola (DAY, 1999). Trata-se de um processo interno de crescimento e desenvolvimento

    gradual, fundamentado no pensamento e na aco dos professores, com uma dimenso

    emocional considervel, uma vez que decorre apenas quando compensa afectivamente,

    traduzindo-se em satisfao pessoal e profissional. Este processo tem sido objecto de vrias

    investigaes que procuram identificar e estudar um conjunto de conhecimentos prprios da

    profisso docente: o conhecimento pedaggico de contedo (SHULMAN, 1986; 1987) ou

    conhecimento didctico (PONTE; OLIVEIRA, 2002; MARCELO, 2009). Segundo

    Magnusson, Krajcik e Borko (1999), identificam-se cinco vertentes no conhecimento

    pedaggico de contedo necessrio para o ensino das cincias:

    a) As orientaes relativamente ao ensino e aprendizagem das cincias;b) O conhecimento acerca do currculo de cincias;c) O conhecimento relativo forma como os alunos aprendem tpicos especficos de

    cincias;

    d) O conhecimento sobre a avaliao em cincia;e) O conhecimento acerca das estratgias adequadas ao ensino das cincias em geral e

    de cada tpico em particular.

    Para se ajustarem s constantes mudanas sociais e avanos tecnolgicos e

    cientficos, os professores de cincias tm que desenvolver, de forma continuada, novos

    conhecimentos, capacidades e comportamentos, numa atitude assumida de perito adaptativo(BRANSFORD; DARLING-HAMMOND; LEPAGE, 2005). Para que isso acontea, os

    professores tm que encontrar formas efectivas de promoo de conhecimento e de

    desenvolvimento pessoal durante o seu percurso profissional, que considerem o conhecimento

    prprio de cada professor e que no passam necessariamente pela frequncia de cursos de

    formao, por conhecimento externo ou resultante de investigao (PONTE, 1994; LOUCKS-

    HORSLEY et al., 1998). Para Shulman (1992) o desenvolvimento profissional dos

    professores d-se envolvendo os professores na partilha e na discusso sobre as prticas de

    ensino e respectivos fundamentos tericos ou na reflexo sobre a sua prpria prtica ou as dos

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    seus colegas.

    Vrios autores (ALARCO; TAVARES, 1987; ANDERSON;

    MITCHENER, 1994) consideram que as experincias de desenvolvimento profissional

    eficazes devem: (a) basear-se nos conhecimentos e nas capacidades dos professores no incio

    dos processos de mudana; (b) fomentar a construo de conhecimento pelo prprio

    professor, contribuindo, por exemplo, para o desenvolvimento do conhecimento de contedo

    e do conhecimento didctico dos professores; (c) utilizar ou modelar as estratgias que os

    professores iro utilizar com os seus alunos; (d) apoiar os professores a assumirem papis de

    liderana; (e) proporcionar ligaes entre as vrias partes do sistema educativo; e (f) avaliar-

    se e aperfeioar-se constantemente, de modo a influenciar a eficcia dos professores e da

    aprendizagem dos alunos, a liderana e a comunidade escolar.

    O Programa de Formao de Professores em Ensino Experimental das

    Cincias (MARTINS et al., 2006) foi implementado em Portugal, entre 2006 e 2010, com o

    objectivo de contribuir para o desenvolvimento de diferentes vertentes do conhecimento

    profissional dos professores do 1. Ciclo do Ensino Bsico. Este programa nacional surgiu em

    resposta a objectivos governamentais, associando a importncia da Educao em Cincias

    neste nvel de ensino necessidade actual de um conhecimento cientfico-tecnolgico que

    permita aos cidados participarem de forma activa, fundamentada e responsvel emprocessos decisrios de mbito democrtico. Foi pensado como um instrumento de

    desenvolvimento social, pessoal e profissional do professor, privilegiando tambm a

    integrao do conhecimento terico com o prtico, a promoo da inovao no ensino num

    quadro de formao sobre e para novas prticas de sala de aula (MARTINS et al., 2006, p.

    6). Este programa seguiu o modelo de formao reflexivo, propondo-se confrontar os

    professores com as suas concepes sobre cincia e educao em cincia e lev-los a

    reconhecer que o trabalho investigativo uma estratgia que promove a aprendizagemcientfica dos alunos, ao mesmo tempo que contribui para a formao de juzos crticos e que,

    por isso, dever ser adoptado como estratgia privilegiada no ensino das cincias. Associa

    vrias estratgias de desenvolvimento pessoal e profissional de professores, visando a criao

    de situaes promotoras de construo de conhecimento de contedo e de conhecimento

    pedaggico de contedo, que ajudem o professor a transpor o que aprendeu para a sua prtica

    e que estejam focadas na sua prtica, como a imerso em actividades de aprendizagem, a

    interaco com especialistas e colegas e o apoio personalizado e prolongado a cada professor

    por um formador (LOUCKS-HORSLEYet al., 1998; REIS, 2004). Este apoio pretende: (a)

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    facilitar a superao das dificuldades e dos obstculos que surgem durante a actividade

    profissional dos professores; (b) contribuir para a promoo de uma atitude reflexiva acerca

    da sua actuao; e (c) ajudar os professores a enfrentarem os novos desafios com maior

    confiana (ROTH; TOBIN, 2002).

    O Programa de Formao utilizou como recurso privilegiado um conjunto

    de guies didcticos elaborados para o efeito. Estes guies, para alm de informao terica,

    incluem sugestes de actividades susceptveis de se adequarem aos diferentes contexto de

    trabalho dos professores formandos. Foi, ainda, distribuda por cada escola dos professores

    formandos uma verba para aquisio de material de laboratrio.

    O Programa propunha dois mdulos anuais de formao independentes

    (podendo os formandos decidir participar apenas no primeiro ano), com sesses terico-

    prticas que variavam quanto ao contedo de formao, ao nmero de professores envolvidos

    e natureza das tarefas a executar por cada professor (MARTINS et al., 2006). Esta formao

    foi implementada por uma Coordenao Nacional da Universidade de Aveiro e por

    Coordenaes Regionais sedeadas numa Instituio de Ensino Superior de cada Distrito de

    Portugal Continental. Cada equipa regional era responsvel pela formao dos docentes que

    leccionavam no respectivo Distrito.

    As diferentes sesses (sesses plenrias, sesses de grupo e sesses em salade aula) articulavam vrias estratgias de desenvolvimento pessoal e profissional de

    professores (LOUCKS-HORSLEY et al., 1998; REIS, 2004), nomeadamente, a imerso em

    actividades de aprendizagem, a interaco com especialistas e colegas e o apoio personalizado

    e prolongado a cada professor por um formador. Este apoio pretendia: a) facilitar a superao

    das dificuldades e dos obstculos que surgem durante a actividade profissional dos

    professores; b) contribuir para a promoo de uma atitude reflexiva acerca da sua actuao; e

    c) ajudar os professores a enfrentarem os novos desafios com maior confiana (ROTH;TOBIN, 2002).

    Nas sesses plenrias, apresentavam-se e discutiam-se: a) os princpios

    organizadores, as finalidades e os objectivos do Programa de Formao; b) os conceitos

    associados s temticas das actividades experimentais. Recorreu-se a uma estratgia de

    seminrio com a participao activa de especialistas.

    Nas sesses de grupo, envolvendo entre 6 a 12 participantes, os professores

    eram submetidos ao tipo de abordagem que se pretendia que viessem a implementar com os

    seus alunos. Assim, diagnosticavam-se as concepes alternativas dos professores formandos

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    e realizavam-se actividades experimentais destinadas a promover a mudana dessas

    concepes. Desta forma, os professores tinham a oportunidade de vivenciar como alunos (e

    discutir) todo o processo que, posteriormente, utilizariam nas suas turmas. Nas sesses de

    grupo tambm se apoiava cada um dos professores no planeamento de actividades

    experimentais destinadas e adequadas s competncias e ao nvel etrio dos seus alunos.

    As sesses realizadas nas escolas, destinavam-se a apoiar (intervindo em

    situaes inesperadas e exemplificando abordagens ou clarificando conceitos) e observar os

    professores durante a implementao das actividades experimentais previamente planeadas

    nas sesses de grupo. No final de cada sesso procedia-se a uma reflexo conjunta entre o

    formador e o professor com o objectivo de se salientarem os sucessos alcanados e

    identificarem formas de melhorar as prticas realizadas.

    Quanto ao contedo de formao, o Programa privilegiou trs dimenses

    principais, a aprendizagem das cincias no quadro referencial do construtivismo, a natureza

    do trabalho prtico a desenvolver pelas crianas do 1. Ciclo do Ensino Bsico e a avaliao

    das aprendizagens (MARTINS et al., 2006, p. 6), realando a importncia da educao em

    Cincias nos primeiros anos de escolaridade numa perspectiva humanista que integra os

    saberes cientficos na cultura.

    Aprendizagem das cincias no quadro referencial do construtivismo

    O Programa de Formao atribua especial realce ao ensino das cincias

    numa perspectiva construtivista, destacando a importncia da identificao e da reconstruo

    das concepes alternativas (MARTINS et al., 2006). Quando as crianas chegam escola

    apresentam estruturas cognitivas extremamente elaboradas que, no entanto, podem integrar

    ideias que no esto de acordo com os conhecimentos cientficos actuais. Estas concepes

    alternativas costumam ser fortemente resistentes mudana pois parecem explicar muito doque as crianas observam (REIS, 2008, p.18). Torna-se, por isso, fundamental ter em conta

    as ideias e as explicaes sobre os fenmenos naturais que os alunos trazem para a escola e

    que, muitas vezes, no so capazes de explicitar (MARTINS; VEIGA, 1999, p. 11). Os

    professores devem, pois, identificar eventuais ideias alternativas e, posteriormente, conceber

    actividades que facilitem a sua modificao (REIS, 2008, p. 19). Tambm Lunetta (1991, p.

    82) refere que o aluno chega Cincia Escolar com conceitos que geralmente no coincidem

    com os conceitos das disciplinas convencionais, pois encontram-se influenciados pelos

    contextos social e cultural conceito de Cincia Popular , muito importantes na

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    aprendizagem. Logo, o ensino e os programas eficazes devem interceptar o mundo da Cincia

    Organizada e o da Cincia Popular possibilitando que cada aluno comprove as disparidades

    entre os seus conceitos e os ensinados na escola, (re)formulando-os, em funo dessa

    verificao.

    Natureza do trabalho prtico a desenvolver pelas crianas do 1. Ciclo do Ensino Bsico

    A educao em cincias implica, tambm, o desenvolvimento de

    capacidades e atitudes e no s a apropriao de conhecimentos (REIS, 2008), o que poder

    ser promovido pela utilizao do trabalho prtico investigativo, como preconiza o Programa

    de Formao. Para Reis (2008, p. 17), este tipo de estratgia promove muitas competncias

    cientficas [...] levando ao desenvolvimento do pensamento crtico, da autoaprendizagem e da

    capacidade de resolver problemas que tm forte aplicabilidade no s em situaes de

    natureza cientfica e tecnolgica mas tambm em muitos outros contextos do dia-a-dia.

    Tambm Lunetta (1991, p. 88) menciona as vantagens das actividades laboratoriais na

    aprendizagem de conceitos cientficos e no desenvolvimento da capacidade de resoluo de

    problemas, apresentando algumas instrues de planeamento, de motivao, de gesto, de

    estrutura e de ensino para estas actividades prticas, referindo que elas podem aumentar a

    probabilidade de ocorrer uma aprendizagem significativa.O programa de Formao atribua especial relevo planificao, ao

    desenvolvimento e avaliao ao trabalho prtico investigativo pelo prprio aluno,

    promovendo o seu envolvimento na definio de questes-problema, no planeamento e

    execuo dos procedimentos a seguir e, por fim, na discusso dos limites de validade das

    concluses alcanadas. Possibilitava, ainda, a orientao do trabalho investigativo segundo

    diferentes grau de abertura e exemplificava as abordagens proposta atravs dos Guies

    Didcticos.

    Avaliao das aprendizagens

    O Programa de Formao contemplava a avaliao formativa e sumativa das

    aprendizagens alcanadas pelos alunos, no mbito do Trabalho Experimental (MARTINS et

    al., 2006). Reconhecia a complexidade da avaliao de competncias prticas e processos

    cientficos, pelo que propunha uma diversidade de tcnicas de avaliao, algumas das quais

    exemplificadas nos Guies Didcticos. Salientava o papel da observao, considerada uma

    tcnica de avaliao importante, que os professores e os prprios alunos podem desenvolver.

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    METODOLOGIA

    A investigao descrita neste artigo constitui parte de um projecto mais

    alargado de ndole essencialmente qualitativa e baseado em estudos de caso centrado no

    estudo das potencialidades e limitaes da estratgia de formao proposta pelo Programa de

    Formao em Ensino Experimental das Cincias no desenvolvimento profissional de

    formandos que nele participaram. Neste artigo discute-se a situao particular de duas

    formandas Carla e Dora que, depois de terem frequentado o 1 ano do Programa, no

    puderam frequentar o segundo ano de formao. Apesar de desejarem continuar a sua

    formao, no puderam faz-lo atendendo insuficiente capacidade de resposta da instituio

    formadora face aos imensos pedidos de formao. Nestes dois casos, pretendeu-se estudar o

    impacto de um ano nico do Programa de Formao no seu conhecimento profissional e nas

    suas prticas de sala de aula.

    Como metodologia de recolha de dados, foram efectuadas duas entrevistas

    semi-estruturadas a cada uma das professoras e observadas vrias aulas envolvendo

    actividades experimentais durante dois anos consecutivos, ou seja, aquele em que decorreu a

    formao e o ano seguinte. As transcries integrais das entrevistas foram submetidas a uma

    anlise de contedo de tipo categorial (BARDIN, 1977). Ambos os estudos de caso foramconstrudos a partir da triangulao das informaes obtidas atravs das entrevistas e da

    observao das aulas.

    OS CASOS DE CARLA E DORA

    Carla e Dora so professoras do 1. Ciclo h, respectivamente, dezanove e

    vinte e cinco anos. Ambas possuem a mesma habilitao acadmica a licenciatura efectuada

    em complemento de formao, sem qualquer especializao em Educao em Cincias. Atao ano lectivo de 2007-2008 nico ano de participao no Programa de Formao em

    Ensino Experimental das Cincias nunca haviam frequentado qualquer formao no mbito

    do ensino experimental das cincias.

    Carla professora h dezanove anos. Est colocada numa escola de quatro

    lugares, pelo quarto ano consecutivo, onde lecciona um grupo de quinze alunos (onze do 2.

    ano e quatro do 4. ano). Dora professora h vinte e cinco anos. Est colocada h dois anos

    numa escola de lugar nico onde responsvel por um grupo de nove alunos, distribudos

    equitativamente pelo 2., 3. e 4. ano de escolaridade. Estas duas professoras trabalham numa

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    zona rural do Distrito de Santarm.

    No ano seguinte participao no Programa de Formao (ano lectivo de

    2008-2009), continuaram a realizar actividades experimentais nas suas aulas, embora de

    forma menos frequente e rigorosa. Nesse ano lectivo, Carla realizou uma actividade e Dora

    duas. Estas actividades incidiram nos temas do programa de Estudo do Meio includos nos

    guies didcticos disponibilizados pela Coordenao Nacional do Programa de Formao.

    Carla refugiou-se num tema que considera dominar do ponto de vista cientfico, no tendo

    recorrido aos temas abordados nos guies do segundo ano de formao (o ano que ainda no

    frequentou). Reconhece que a frequncia de um segundo ano de formao seria essencial para

    aprofundar o seu conhecimento cientfico sobre os temas abordados. Dora, pelo contrrio,

    implementou actividades experimentais sobre temticas exploradas no segundo ano de

    formao do Programa, baseando-se nos respectivos guies consultados naInternet.

    As duas professoras trabalharam com grupos heterogneos, constitudos por

    crianas em anos de escolaridade diferentes e adoptaram estratgias distintas, de acordo com

    as suas prprias percepes relativamente s especificidades dos respectivos grupos de

    alunos.

    Carla realizou a actividade experimental para o grupo-turma e os alunos

    limitaram-se a observar e registar os resultados obtidos. Para isso, organizou a sala de aula emU, no centro do qual colocou algumas carteiras onde, conforme ela refere, executou os

    procedimentos experimentais. Apesar de reconhecer o trabalho em pequenos grupos como o

    mais adequado a este tipo de actividades, justificou a sua opo com a necessidade de

    trabalhar, em simultneo, com dois anos de escolaridade. Elaborou as actividades e as folhas

    de registo de acordo com as competncias dos alunos mais novos.

    Dora dinamizou as duas actividades experimentais em grande grupo, num

    crculo. Os alunos realizaram as actividades e ela orientou fortemente o trabalho dos alunosatravs de perguntas dirigidas, garantindo a explorao dos vrios passos do trabalho

    investigativo e a execuo correcta dos procedimentos previstos. A professora controlou todo

    o processo e no deu autonomia aos alunos para a realizao das actividades. Os guies das

    actividades foram adaptados por Dora pois, apesar de seguir o esquema proposto pela

    formao, considera as fichas originais pouco atractivas, preferindo acrescentar uma

    gracinha de maneira a que sejam mais apelativas. Planeou as actividades e adaptou os

    materiais de acordo com os nveis de competncias dos alunos mais velhos, o que justifica

    com o excesso de trabalho. Contudo, valoriza esta opo pelo facto destes alunos ajudarem

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    os mais novos. Na sua opinio, considera que a formao contribuiu imenso ao nvel dos

    registos das actividades experimentais pois, anteriormente, costumava fazer tudo oralmente.

    Tanto Carla como Dora afirmam preocuparem-se com a identificao prvia

    das concepes alternativas dos seus alunos, reconhecendo a importncia da formao na

    aprendizagem deste aspecto. Contudo, relativamente a este aspecto, utilizaram metodologias

    muito diferentes:

    1. Carla preferiu pedir aos alunos que escrevessem, na ficha respectiva, umahiptese explicativa da questo/problema em estudo. No entanto, como passou imediatamente

    realizao das actividades prticas, sem conhecer ou discutir as hipteses formuladas pelos

    alunos, estes no tiveram possibilidade de as testar. As ideias prvias tambm no foram

    discutidas depois da realizao das actividades nem confrontadas com os resultados obtidos.

    Carla limitou-se a realizar algumas actividades ilustrativas para os seus alunos observarem,

    restringindo fortemente as potencialidades educativas das actividades prticas.

    2. Dora iniciou as duas actividades experimentais solicitando aos alunosque interpretassem, por escrito, uma situao real relacionada com o tema em estudo. As

    diferentes interpretaes foram depois apresentadas oralmente pelos alunos, permitindo que a

    professora detectasse concepes alternativas e preparasse as actividades experimentais

    adequadas sua superao. Durante as actividades, Dora promoveu a discusso das ideiasprvias dos alunos e a sua confrontao com os resultados finais.

    Ambas as professoras recorreram a materiais de uso corrente para a

    realizao das actividades experimentais, baseando-se nas sugestes dos guies didcticos.

    Apesar das professoras considerarem que implementaram actividades experimentais nas suas

    aulas, a natureza do trabalho prtico realizado foi bem distinta.

    Carla optou por uma investigao fechada (MARTINS et al., 2006).

    Definiu a questo/problema para estudo, indicou o mtodo a seguir, seleccionou os materiais erealizou a actividade, mesmo os procedimentos mais simples. Orientou os alunos no registo

    dos resultados atravs de perguntas fechadas e ditando as concluses.

    Na opinio desta professora, a formao frequentada despertou-a para a

    importncia do ensino experimental das cincias, tornando-a mais rigorosa na implementao

    das experincias de acordo com as etapas de investigao propostas pelos materiais de apoio

    fornecidos. Revela que gostaria de ter continuado a formao para consolidar o

    conhecimento adquirido e que no realiza mais actividades experimentais porque o programa

    de Estudo do Meio, para o 2. ano de escolaridade, no se adequa realizao de trabalho

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    experimental, apesar da obrigatoriedade de realizao deste tipo de actividade imposta pelo

    Ministrio da Educao.

    Dora tambm seguiu uma metodologia fechada de trabalho investigativo,

    tendo sido ela a planear todo o procedimento experimental de acordo com as ideias prvias

    detectadas. Os alunos realizaram a actividade (tal como a professora a concebeu) e a

    observao, o registo e a discusso dos resultados. A discusso baseou-se, fundamentalmente,

    no confronto das ideias prvias dos alunos com os resultados obtidos, tendo em vista a

    superao de concepes alternativas.

    Esta professora reconhece que o Programa de Formao influenciou

    decisivamente a sua prpria percepo relativamente ao ensino experimental, uma vez que

    actualmente lhe reconhece maior importncia face s actividades das outras reas

    disciplinares. Este facto motiva-a a aplicar a abordagem experimental em contedos distintos

    dos que o Programa de Formao abrange e afirma que no realiza mais actividades

    experimentais devido heterogeneidade do grupo de alunos.

    Salienta-se que nenhuma das professoras apoiou os seus alunos na

    organizao de uma carta de planificao conforme proposto pelo Programa de Formao

    (MARTINS et al., 2006). A planificao das actividades foi realizada, exclusivamente, pelas

    duas professoras.A avaliao realizada por Carla e Dora das actividades prticas centrou-se

    exclusivamente em contedos, ignorando outras dimenses como as capacidades e as atitudes.

    Esta avaliao foi feita de forma oral, sem qualquer registo escrito, alguns dias depois das

    actividades terem sido realizadas. As professoras reconhecem a inadequao deste

    procedimento mas utilizam-no por ser mais simples. Afirmam que fariam uma avaliao

    diferente se continuassem envolvidas no Programa de Formao pois, nesse caso, tambm

    teriam que avaliar o desempenho dos alunos relativamente a capacidades e atitudes. TantoCarla como Dora limitaram-se a avaliar os conhecimentos finais dos alunos e no atriburam

    avaliao qualquer dimenso formativa.

    A estrutura da Formao, com sesses tericas intercaladas com sesses

    prticas, a possibilidade de adquirir material para a implementao de actividades

    experimentais e de trocar experincias e a disponibilizao dos guies didcticos foram

    aspectos positivos da Formao reconhecidos pelas duas professoras. Na sua opinio, a

    formadora teve um papel importante no decurso da formao, criando condies de sucesso,

    apoiando, esclarecendo e colaborando com os professores, ou seja, assumindo as funes de

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    mentor (LOUCKS-HORSLEY et al., 1998; MARCELO, 1999; ROTH; TOBIN, 2002).

    CONSIDERAES FINAIS

    Os casos de Carla e Dora evidenciam alguns impactos resultantes da sua

    participao no 1. ano do Programa de Formao em Ensino Experimental das Cincias. Em

    ambos os casos, estes impactos so particularmente evidentes no reconhecimento da

    importncia educativa da realizao de actividades experimentais, no aprofundamento de

    algum conhecimento cientfico, na seleco dos temas e dos materiais de registo para as

    actividades prticas que propem, no recurso a material de uso corrente para a realizao

    dessas actividades e na tomada de conscincia da existncia de concepes alternativas nos

    alunos e da sua importncia no processo educativo. Contudo, o impacto do Programa no

    conhecimento didctico necessrio implementao de actividades experimentais foi distinto

    entre as professoras. Carla limitou-se a realizar uma actividade demonstrativa, sem se

    preocupar com as ideias prvias dos alunos e restringindo fortemente a participao destes nas

    actividades e, consequentemente, o desenvolvimento das suas competncias de raciocnio e de

    comunicao. Manteve-se presa a uma concepo de cincia como um conjunto de factos e

    termos que os alunos devem memorizar. Dora, pelo contrrio, envolveu os seus alunos na

    realizao das actividades (nomeadamente, na formulao de hipteses e na observao,discusso e registo dos resultados) e estimulou o confronto das ideias prvias dos alunos com

    os resultados obtidos. Revelou uma concepo de cincia ligeiramente diferente da sua colega

    atravs da explorao dos processos da cincia. No entanto, centrou a avaliao das

    actividades experimentais exclusivamente em aspectos substantivos da cincia: os termos, os

    fenmenos e os conceitos.

    Ambas as professoras evidenciam pouco conhecimento didctico

    relativamente dinamizao das actividades experimentais em pequeno grupo e com turmasconstitudas por alunos de diferentes anos de escolaridade. Trata-se de um indicador forte da

    necessidade dos formadores trabalharem mais e melhor na promoo de competncias de

    concepo e gesto de actividades experimentais destinadas a grupos heterogneos de alunos.

    Outro aspecto do conhecimento profissional pouco desenvolvido em ambas as professoras

    relaciona-se com a avaliao de capacidades e atitudes durante a realizao das actividades

    experimentais.

    Apesar das duas professoras revelarem impactos resultantes da participao

    num ano do Programa, os dados obtidos neste estudo revelam a pertinncia e a necessidade do

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    envolvimento num segundo ano de formao que reforce o desenvolvimento do seu

    conhecimento cientfico e didctico. As dificuldades reveladas pelas professoras dificilmente

    sero ultrapassadas sem um apoio mais prolongado e especializado.

    A discusso destes dois casos em contexto de formao contnua poder

    constituir um bom catalisador de reflexo e discusso sobre as concepes e dificuldades dos

    professores relativas integrao da componente experimental nas suas aulas.

    Simultaneamente, a anlise deste tipo de estudos poder ser particularmente til aos

    formadores envolvidos no Programa, permitindo-lhes reflectir sobre formas de melhorar a sua

    actuao e o consequente impacto no desenvolvimento pessoal e profissional dos professores.

    A discusso de casos permite que tanto os professores como os formadores repensem as suas

    concepes e, eventualmente, mudem as suas prticas educativas nos diferentes contextos de

    trabalho (PRESKILL; JACOBVITZ, 2001; REIS, 2004).

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    Recebido em dezembro de 2010Aprovado junho de 2011