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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL SÉRGIO LUIZ CARNEIRO ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES REPRESENTATIVAS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS NA REGIÃO DE LONDRINA - ESTADO DO PARANÁ Londrina 2005

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL

SÉRGIO LUIZ CARNEIRO ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES REPRESENTATIVAS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS NA REGIÃO DE LONDRINA -

ESTADO DO PARANÁ

Londrina 2005

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SÉRGIO LUIZ CARNEIRO ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES REPRESENTATIVAS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS NA REGIÃO DE LONDRINA -

ESTADO DO PARANÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração – Mestrado, convênio entre as Universidades Estaduais de Londrina e Maringá, como requisito à obtenção do título de Mestre. Orientadora: Profª Drª Eliza Emilia Rezende Bernardo Rocha

Londrina 2005

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SÉRGIO LUIZ CARNEIRO ESTUDO PROSPECTIVO DA IMPLANTAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES RURAIS FAMILIARES REPRESENTATIVAS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS NA REGIÃO DE LONDRINA - ESTADO DO PARANÁ

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Orientadora: Profª Drª Eliza Emilia Rezende Bernardo Rocha

Universidade Estadual de Maringá

_________________________________________________ Profª Drª Elisa Yoshie Ichikawa

Universidade Estadual de Maringá

_________________________________________________ Prof . Dr Osvaldo Hidalgo da Silva Universidade Estadual de Maringá

Londrina, ___de______________ de 2005.

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AGRADECIMENTOS

À Profª Drª Eliza Emilia Rezende Bernardo Rocha meu sincero agradecimento pelo

apoio constante ao orientar este trabalho.

Às quatro famílias pesquisadas, pela invariável cordialidade e paciência com as

freqüentes visitas, e pela oportunidade que me foi dada de adentrar seu universo.

Aos prezados mestres e colaboradores da UEL e da UEM, em especial ao Prof. Dr

Paulo da Costa Lopes, à Profª Drª Elisa Yoshie Ichikawa, Francisco Carlos Navarro

e Bruhmer César Farone Canonice, sou imensamente grato.

Aos extensionistas da EMATER-PR, Juvaldir Olimpio, Augusto Edson Evangelista,

Iolder Antonio Colombo, Antônio Carlos Ulbrich, Alcides Bodnar, Romeu de Souza,

Rubens Lopes da Silva, Edson Luiz Vendrame, Mauro Jair Alves, Vanderlei José de

Campos, Paulo Roberto Mrtvi, Wilson Lopes da Silva, Cristina Célia Krawulski,

Erickson Melluns Kemmer, Joaquim Carlos Thomas e Cassimiro Milléo Neto.

Aos colegas do Projeto Redes de Referências, João José Passini, Antônio Celso

Córdoba de Souza, Rafael Figueiredo, Dimas Soares Júnior, Rafael Fuentes Llanillo,

Adenir de Carvalho, Manuel Pessoa de Lira, e em particular ao Marcio Miranda e ao

Diniz Dias Doliveira pela sugestão do tema desta dissertação.

Aos pesquisadores e colaboradores do IAPAR, Dr Moacir Doretto, Dr Antônio Carlos

Laurenti, Dr Tiago Pellini, Paula Daniela Munhoz, Cassia Lie Koga, Gilberto

Geremias Gonçalves e, em especial ao Dr Alex Carneiro Leal, agradeço pelas

inestimáveis colaborações.

Aos colegas de estudo, em especial à Anaís Naomi Kasuya Saldanha e Thaís

Accioly Baccaro, agradeço pelo convívio e pela amizade.

À minha família e aos meus amigos, em especial à Luciana, que de uma forma direta

ou indireta colaboraram e compreenderem a minha ausência.

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CARNEIRO, Sérgio Luiz. Estudo prospectivo da implantação da reserva legal em propriedades rurais familiares representativas de sistemas de produção de grãos na região de Londrina - Estado do Paraná. 2005. 215 p. Dissertação

(Mestrado em Administração)– Universidade Estadual de Londrina e Universidade

Estadual de Maringá, Londrina, 2005.

RESUMO

A reserva legal é matéria disciplinada pelo Código Florestal brasileiro – Lei 4.771/65, com as alterações que lhes foram feitas. No Estado do Paraná essa reserva equivale a 20% da área total da propriedade rural, que deve ser conservada ou recuperada com vegetação nativa, e pode ser usada para fins econômicos sob um sistema de manejo sustentável. Os proprietários rurais precisam averbar a reserva legal na matrícula do imóvel e deverão implantá-la impreterivelmente até o ano de 2018. Esta obrigatoriedade tem causado muita controvérsia entre ambientalistas e produtores rurais. Por meio de um estudo de casos múltiplos, este trabalho teve como objetivo prospectar os possíveis impactos socioeconômicos advindos da implantação da reserva legal em quatro propriedades rurais familiares representativas de sistemas de produção de grãos na região de Londrina, PR. Desta forma, foram descritos as dinâmicas internas e os indicadores econômicos dessas propriedades, acompanhadas por um período de cinco anos, cujos resultados serviram de base para estimar os fluxos de caixa sem a implantação ou com três opções distintas de implantação da reserva legal. Em complemento, buscou-se captar o significado dessa obrigatoriedade do ponto de vistas dos seus respectivos proprietários. Pode-se assim estimar os possíveis impactos econômico-financeiros que a reserva legal deverá causar na rentabilidade global dos sistemas de produção estudados e compreender o conteúdo, o contexto e o processo dessa imposição, na visão dos referidos proprietários rurais. Palavras-chave: Reserva legal. Função social da propriedade. Agricultura familiar.

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CARNEIRO, Sérgio Luiz. A prospective study of the implementation of the legal forest reserve in the householding farms representative of grains production systems in the region of Londrina, Paraná State, Brazil. 2005. 215 p. MSc dissertation (Management) – Londrina State University and Maringá State University, Londrina, 2005.

ABSTRACT

The legal forest reserve is a matter ruled by the Brazilian Forest Code – law 4771/65, and changes that have been done to it. In the Paraná state this reserve is equivalent 20% of the total area of the rural property, which must be conserved or restored with native vegetation, and can be used for economic ends a sustainable management system. The landowners need to allocate the legal reserve in the public registration of the property and have to implement it until the year 2018. This obligation has caused o lot of controversy between environmentalists and rural producers. Through a multiple cases study, this work had the aim to prospect the possible socio-economic impacts, following the implementation of the legal reserve in four householding farms, representatives of grains production systems in the region of Londrina, PR, Brazil. This way, have been described the internal dynamics and the economic indicators of these properties, monitored by a five-year period, which results served as a the basis to estimate cash flows, without implementation or with three different options of implementation of the legal reserve. In addition, it was looked for to capture the meaning of this obligation from the standpoint of the respective landowners. Thus, it is possible to estimate the possible economic and financial impacts that the legal reserve must cause in the overall profitability of the production systems studied and to understand the content, the context and the process of this enforcement in the vision of the referred landowners

Key-words: Legal forest reserve. Social function of the property. Householding farms

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Indicadores de Crescimento da Agropecuária do Estado do

Paraná – 1940 – 1980..................................................................... ..26

Tabela 2 - Evolução do Desflorestamento das Matas Nativas no Estado

do Paraná 1500-1990...................................................................... ..28

Tabela 3 - Uso da Terra no Estado do Paraná –1994 ..................................... ..28

Tabela 4 - Unidades de Preservação Ambiental da Região de Londrina......... ..34

Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural ..... 110

Tabela 6 - Critérios para Definir o Número de Equivalente-Homem ............... 112

Tabela 7 - Estrutura Fundiária da Região de Londrina – 1995 - 1996 ............. 116

Tabela 8 - Número de Produtores Rurais Existentes na Região de Londrina

e suas Respectivas Categorias Sociais – 2002 ............................. 117

Tabela 9 - Ocupação do Solo na Região de Londrina – 2002 ........................ 117

Tabela 10 - Demonstração da Construção do Fluxo de Caixa........................... 120

Tabela 11 - A Categoria Social dos Produtores Acompanhados –

Anos Agrícolas 98/99 e 02/03......................................................... 131

Tabela 12 - Tipologia dos Sistemas de Produção Agropecuários –

Anos Agrícolas 89/99 e 02/02......................................................... 131

Tabela 13 - Disponibilidade Total de Terra e as Condições de Posse –

1998 e 2003.................................................................................... 132

Tabela 14 - Ocupação do Solo das Propriedades Acompanhadas 98/99-02/03 133

Tabela 15 - Área dos Tipos de Sistemas de Semeadura - 98/99 e 02/03.......... 133

Tabela 16 - Produtividade Média das Principais Culturas nas

Propriedades Pesquisadas (Redes) e na Região de Londrina –

Safras 98/99 a 02/03....................................................................... 135

Tabela 17 - Composição e o Uso da Mão-de-Obra familiar – 1998/2003 .......... 136

Tabela 18 - Valores Monetários do Capital Total – 89/99 – 02/03 ..................... 137

Tabela 19 - Disponibilidade de Máquinas e Equipamentos – 1998 e 2003....... 137

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Tabela 20 - Disponibilidade e Metragem das Benfeitorias Produtivas

– 1998 e 2003................................................................................ 138

Tabela 21 - Criações e Culturas Perenes – 1998 e 2003 .................................. 139

Tabela 22 - Valores Médios dos Principais Indicadores Econômicos,

por Propriedade Pesquisada .......................................................... 140

Tabela 23 - Índice de Diversificação –ID , Superfície Agrícola Útil – SAU ,

e os Indicadores Econômicos ......................................................... 141

Tabela 24 - Estimativa dos Valores da TIR, nas Opção Projetadas

para a Reposição da Reserva Legal, Sem e Com o Valor da Terra 143

Tabela 25 - Estimativa da Redução nos Valores da TIR, nas Opções

Projetadas, Sem e Com o Valor da Terra ....................................... 144

Tabela 26 - Estimativa do VPL, nas Opções Projetadas, Sem e Com

o Valor da Terra .............................................................................. 145

Tabela 27 - Estimativa da Redução nos Valores do VPL, nas Opções

Projetadas, Sem e Com o Valor da Terra ....................................... 146

Tabela 28 - Caracterização dos Produtores Rurais Pesquisados ...................... 148

Tabela 29 - Ano e Condições de Recebimento da Propriedade ........................ 149

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LISTA DE SIGLAS

BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento

BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CNDRS - Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

CTE - Contratos Territoriais de Exploração

EMATER-PR - Empresa Paranaense da Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

IAP - Instituto Ambiental do Paraná

IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPEF - Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT - Ministério de Ciência e Tecnologia

MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário

OCDE - Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico

OMC - Organização Mundial do Comércio

PAC - Política Agrícola Comum da União Européia

PPA - Plano Plurianual

PRONAF - Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar

PROPFLORA - Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas

REDES - Redes de Referências para a Agricultura Familiar

SAF - Secretaria da Agricultura Familiar

SEAB - Secretária da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

SEMA - Secretaria Estadual do Meio Ambiente

SIMA - Sindicato da Indústria Moveleira de Arapongas

STJ - Supremo Tribunal de Justiça

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ...................................................................... 21 1.1 OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO NO ESTADO DO PARANÁ............................................... 21 1.2 O DESFLORESTAMENTO NO ESTADO DO PARANÁ .................................................... 27 CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................... 35 2.1 AS ABORDAGENS SOBRE OS PARADIGMAS AMBIENTAIS ........................................... 35 2.2 RESERVA LEGAL: A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E O CÓDIGO FLORESTAL....... 49 2.2.1 Função Social da Propriedade ...................................................................... 49 2.2.2 Código Florestal e Reserva Legal ................................................................. 57 2.2.3 Manejo Florestal Sustentável ....................................................................... 67 2.3 AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE............................................................................ 75 2.3.1 A Agricultura Familiar..................................................................................... 80 2.3.1.1 A pluriatividade da agricultura familiar .......................................................... 85 2.3.1.2 A multifuncionalidade agrícola...................................................................... 88 2.3.2 Políticas Federais de Apoio à Agricultura e ao Meio Ambiente..................... 94 2.3.3 O Estado do Paraná:Políticas de Apoio à Agricultura e

ao Meio Ambiente.......................................................................................... 99 CAPÍTULO 3 METODOLOGIA....................................................................................................... 106 3.1 DESIGN E PERSPECTIVA DA PESQUISA.................................................................... 107 3.2 ESCOLHA DAS PROPRIEDADES RURAIS PESQUISADAS ............................................. 115 3.3 COLETA DE DADOS ............................................................................................... 119 3.3.1 Os Dados Secundários.................................................................................... 119 3.3.2 Os Dados Primários......................................................................................... 119 3.3.2.1 Estimativa dos impactos econômico-financeiros da reserva legal ............... 119 3.3.2.2 Como reagem os produtores rurais pesquisados......................................... 127 CAPÍTULO 4 RESULTADOS ......................................................................................................... 129 4.1 DESCRIÇÃO DA DINÂMICA INTERNA DAS PROPRIEDADES RURAIS PESQUISADAS ........ 130 4.2 ESTIMATIVA DOS IMPACTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA RESERVA LEGAL ............. 142 4.3 RESERVA LEGAL: O PONTO DE VISTA DOS PRODUTORES RURAIS PESQUISADOS....... 148 4.3.1 O Conteúdo.................................................................................................... 150 4.3.2 O Contexto..................................................................................................... 153 4.3.3 O Processo .................................................................................................... 158 CONCLUSÕES......................................................................................................... 162 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 169

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GLOSSÁRIO ............................................................................................................ 180 APÊNDICES ............................................................................................................. 183 APÊNDICE A - Fluxo de Caixa e Cálculo da TIR e do VPL – Sem a

reserva legal................................................................................ 184 APÊNDICE B - Estimativa do Custo de Implantação da Reserva Legal –

Opção 1....................................................................................... 188 APÊNDICE C - Fluxo de Caixa e Cálculo da TIR e do VPL – Opção 1................ 189 APÊNDICE D - Estimativa do Custo de Implantação da Reserva Legal –

Opção 2....................................................................................... 193 APÊNDICE E - Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 2 –

Sem o Valor da Terra .................................................................. 195 APÊNDICE F - Construção do Fluxo de Caixa – Opção 3 – Sem o Valor

da Terra....................................................................................... 299 APÊNDICE G - Orçamento da Averbação da Reserva Legal na Matrícula do

Imóvel.......................................................................................... 203 ANEXOS................................................................................................................... 204 ANEXO A - Artigo 16º do Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15/09/1965) ........... 205 ANEXO B - Artigo 7º do Decreto 387/99 (03/03/1999)......................................... 207 ANEXO C - Objetivos Setoriais do Plano Plurianual 2004-2007 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.................. 208

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INTRODUÇÃO

Os caminhos a serem percorridos neste estudo passarão por duas

vertentes metodológicas que se complementam. A primeira se propõe realizar uma

análise quantitativa para estimar principalmente os impactos financeiros da

reposição da reserva legal em propriedades rurais familiares, representantes de

sistemas de produção de grãos. A segunda utilizará técnicas qualitativas para

identificar os impactos socioeconômicos esperados da implantação da reserva legal,

do ponto de vista dos produtores rurais familiares. O que se pretende é analisar

casos concretos de propriedades rurais, com passivos ambientais provocados pelo

não cumprimento da reposição da reserva legal, as condições financeiras dos

referidos casos, a pré-disposição dos produtores rurais no atendimento às

exigências legais e contribuir com informações que possam apontar possíveis

respostas para a redução desses passivos.

A tarefa de promover a integração harmoniosa do crescimento

econômico com o meio ambiente é das mais complexas. Nas palavras de Braga

(2004),

[...] se por um lado, a pobreza e a falta de oportunidades reafirmam a necessidade de se promover uma verdadeira corrida contra a estagnação, por outro lado, essa corrida não pode servir de pretexto para se fazer tabula rasa de todo o arcabouço legal construído na perspectiva de legitimar a variável ambiental, pressuposto de uma vida saudável, tanto para as presentes quanto para as futuras gerações.

São evidentes as relações entre o crescimento econômico, a

destruição das áreas florestais e a pobreza. Antunes (2005, p. 542) assevera que

[...] o próprio Banco Mundial reconhece o negativo papel, que desempenhou em matéria de desenvolvimento florestal, pois grande

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parte de seus financiamentos, voltados para a utilização econômica das florestas, serviu de agente indutor da destruição e degradação florestal e ambiental.

Com relação à pobreza, esta não é conseqüência direta da

disponibilidade ou da escassez de recursos naturais, visto que as populações

pobres estão localizadas tanto em regiões áridas, quanto em regiões cujos biomas

são dominados por exuberantes ecossistemas florestais. Segundo Carvalho (2001),

a pobreza se perpetua porque os recursos naturais não são transformados em

riqueza econômica, que possibilitem gerar empregos com salários dignos.

Nesse sentido, o tema deste trabalho, a reserva legal, é

emblemático. Está inserido no dispositivo legal que disciplina a função social da

propriedade e que busca, em tese, conciliar interesses aparentemente conflitantes. É

um convite à reflexão sobre as contradições e desafios que envolvem o crescimento

econômico, concomitantemente com a conservação do meio ambiente, a

tranqüilidade social e a ordem pública.

A agricultura continua sendo a atividade humana que mais

intimamente relaciona a sociedade com a natureza. A humanidade ainda está muito

longe de encontrar uma fonte de alimentação necessária à vida, que dispense o

consumo das plantas e dos animais. De acordo com Pereira (2001, p. 131), “o

abastecimento alimentar é a condição básica para que um país se mantenha

estabilizado ou entre em franca convulsão social”.

Responsável por cerca de 25 % da produção agrícola nacional,

numa área que equivale a somente 2,4% da área total do Brasil, o Paraná é

considerado um dos estados com menor cobertura florestal do país. O Estado sofreu

intenso processo de desmatamento, mesmo com os diversos mecanismos de

proteção ambiental, criados para controlar esse fenômeno. Relata-se que,

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originalmente, o Paraná tinha 84,72% de sua superfície cobertos com florestas,

porém com o processo de desflorestamento, ocorrido até 1992, este percentual foi

reduzido para cerca de 5% (BACHA, 2002, p. 157).

Esse fenômeno contribuiu no comprometimento da qualidade

ambiental, caracterizado principalmente pela erosão dos solos agrícolas e pela

poluição de mananciais. Estudos realizados no Instituto Agronômico do Paraná -

Iapar, constataram perdas anuais de solo entre 2 e 58 toneladas por hectare, com

uma média de 13,4 toneladas por hectare, correspondendo a perdas anuais de um a

dois centímetros de solo fértil para lavoura (DERPSH et al., 1991, p.39).

A fauna do Paraná está em perigo. Segundo Mikich e Bérnils (2004),

há 56 espécies de mamíferos, 167 de aves, 13 de répteis, 25 de anfíbios, 50 de

peixes, 18 de abelhas e 17 de borboletas presentes na lista de animais ameaçados

de extinção no Estado. As principais ameaças à fauna silvestre são: a destruição dos

ambientes naturais, a caça predatória, o tráfico de animais, o atropelamento nas

rodovias, o envenenamento e as doenças.

De acordo com as atuais políticas de proteção ambiental no Brasil,

todo proprietário de imóvel rural, para ter direito pleno do uso da terra, está

condicionado ao cumprimento da função social da propriedade estabelecida pela

Constituição Federal de 1988. O não cumprimento da função social torna a

propriedade suscetível a penas específicas e até à desapropriação por interesse

social, para fins de reforma agrária, excetuando os casos de pequenas e médias

propriedades, quando único imóvel e as propriedades consideradas produtivas,

conforme os parâmetros da lei.

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Segundo consta na Constituição Federal (BRASIL, 2003, p.120), o

proprietário rural, para cumprir a função social da propriedade, necessita realizar

simultaneamente o

[...] aproveitamento racional e adequado; a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; a observância das disposições que regulam as relações de trabalho; a exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Paraná –

Faep (2004), em decorrência das exigências referentes à função social da

propriedade, os proprietários ou posseiros de imóveis rurais precisam cumprir as

seguintes legislações: ambiental, agrária, tributária, trabalhista e previdenciária. A

Faep destaca as exigências relacionadas à legislação ambiental, que são: averbar a

área da reserva legal na matrícula do imóvel; manter ou recompor a área de

preservação permanente que for cabível ao imóvel; entregar o Ato Declaratório

Ambiental (ADA) ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis - Ibama; solicitar à Superintendência de Desenvolvimento de Recursos

Hídricos e Saneamento Ambiental - Sudersha a outorga de uso da água, quando se

faz qualquer tipo de deriva desse recurso dos mananciais para os mais diversos fins.

No que se refere à averbação da área de reserva legal na matrícula

do imóvel, e, conseqüentemente, a obrigação de manter ou recompor a cobertura

vegetal com espécies arbóreas nativas na referida área, o assunto tem causando

controvérsia. Os principais questionamentos são: a ineficiência ambiental, resultante

da fragmentação demasiada de áreas florestais; as espécies a serem utilizadas na

recomposição dessas reservas; as dúvidas quanto ao uso econômico da área; a

localização dessas áreas nas propriedades; o suposto direito de indenização aos

proprietários rurais; as alterações substanciais no conceito de reserva legal e a

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quem cabe o ônus de novas exigências legais; o limite do direito de uso da

propriedade e os percentuais de área do imóvel destinada à reserva legal.

Esse cenário tem levado vários segmentos da sociedade a

acompanhar e manifestar opiniões acerca das propostas de modificações do Código

Florestal, entre eles, as organizações não-governamentais ambientalistas e as

entidades representativas dos agricultores. Os ambientalistas consideram que, além

das manobras de grupos conservadores para neutralizar ou minimizar as exigências

legais que interferem na rentabilidade das propriedades agrícolas, há pouca ação

efetiva no atendimento à legislação de proteção ambiental. Por outro lado, as

entidades representantes dos agricultores, embora reconheçam a necessidade de

se preservar o ambiente, questionam o impacto econômico-financeiro e social que a

imposição da reserva legal deverá causar ao setor agropecuário e à sociedade.

Na busca de um caminho intermediário, surgem propostas para

conciliar a implantação da reserva legal com atividades econômicas

reconhecidamente sustentáveis, em especial, para as pequenas e as médias

propriedades rurais, de forma que possam atender aos reclames dos ambientalistas

e dos agricultores, e, evidentemente, aos interesses maiores de toda a sociedade.

No entanto, verifica-se que existem poucos estudos sobre os

impactos advindos dessa obrigatoriedade legal para os produtores rurais. Tem-se a

percepção que o tema está sendo mais debatido no campo do direito jurídico, do

que nas áreas técnicas agronômicas e administrativas.

Bacha (2004), analisando os efeitos possíveis da reposição da

reserva legal sobre a produção agropecuária, assevera que nenhuma avaliação

sobre essas possíveis mudanças foi feita até agora. Ele complementa, que essas

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avaliações poderiam ser feitas em três níveis: nos estabelecimentos rurais de uma

certa região; nas microbacias hidrográficas; e nas bacias hidrográficas.

Nesse contexto, optou-se na presente pesquisa pelo estudo de

casos de propriedades rurais familiares, utilizando-se o enfoque sistêmico e

multidisciplinar, pois na própria definição legal da função social da propriedade

observa-se a exigência de se cumprir, simultaneamente, atribuições que são de

ordens econômica, ambiental e social. Os ajustes para atender um requisito, não

devem inviabilizar o atendimento aos demais requisitos, sob pena de não se cumprir

o que está definido no referido dispositivo legal da Constituição de 1988. Portanto, o

proprietário ou posseiro do imóvel rural, para cumprir o que determina a função

social da propriedade, tem que fazê-la no todo, ajustando adequadamente cada

componente desse sistema.

Os problemas ambientais causados pela busca irracional de

vantagens econômicas na agricultura são conhecidos. No entanto, é preciso frisar

que esses problemas apenas perpassam pelo uso e pela ocupação das

propriedades rurais, pois quase sempre seus proprietários ficam subordinados ao

modelo agrícola dominante, estabelecido pelo capitalismo, que favorece outros

setores da economia. Espera-se da agricultura a produção de alimentos baratos e

em abundância, aliada à preservação do meio ambiente e ao cuidado com a

paisagem rural. Com tamanha missão, questiona-se se os preços recebidos pelos

agricultores são realmente suficientes para cobrir todos os custos relativos ao

atendimento da função social da propriedade.

Por outro lado, é incontestável que a recomposição da reserva legal

vai contribuir com a melhoria ambiental a favor de todos os cidadãos. Os produtores

rurais devem assumir os custos desse benefício coletivo. Entretanto, se os

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agricultores não concordarem com essa imposição legal, cria-se um obstáculo de

ordem operacional da lei em vigor. Segundo Dipp (2000, p. 23), “não basta que as

leis tenham vigência - é preciso que tenham eficácia”. Compreender o que significa a

reserva legal, do ponto de vista do produtor rural, é fundamental para o propósito

desta pesquisa.

Dessa forma, neste trabalho, pretende-se abstrair quais seriam os

principais impactos socioeconômicos advindos da implantação da reserva legal em

quatro propriedades rurais, representativas de sistemas de produção de grãos (soja,

milho e trigo) na região de Londrina, estado do Paraná, que por força da lei

precisarão recompor a área de reserva legal.

Para tanto, formulou-se a seguinte pergunta de pesquisa:

“Quais seriam os principais impactos socioeconômicos advindos da

implantação da reserva legal em quatro propriedades rurais familiares,

representativas de sistemas de produção de grãos na região de Londrina, PR ?”.

Com base na pergunta de pesquisa apresentada, o objetivo geral do

presente trabalho é:

“Prospectar os possíveis impactos socioeconômicos advindos da

implantação da reserva legal em quatro propriedades rurais familiares,

representativas de sistemas de produção de grãos na região de Londrina, PR”.

Para o cumprimento do objetivo geral enunciado será preciso

perseguir os seguintes objetivos específicos:

a) descrever a dinâmica interna e os principais indicadores técnicos

e econômicos de quatro propriedades rurais familiares,

representativas do sistema de produção de grãos (soja, milho e

trigo), na região de Londrina, PR;

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b) estimar os impactos econômico-financeiros da reserva legal nas

quatro propriedades pesquisadas;

c) identificar e compreender como reagem esses agricultores frente

à imposição da reserva legal.

A escolha da reserva legal, como objeto de estudo, justifica-se pela

relevância do tema na atualidade brasileira, pois está intimamente ligado aos graves

problemas ambientais, em especial na área agrícola, que colocam em

questionamento a função social da propriedade e o modelo agrícola dominante.

Pouco se sabe sobre os impactos advindos da obrigatoriedade de

recomposição da reserva legal. Também são pouco conhecidos a atitude e o

comportamento do produtor rural em relação a esse passivo ambiental, imposto pela

legislação brasileira. O tema está sendo debatido, em grande parte, na área do

direito jurídico. São escassas as contribuições nos estudos acadêmicos da

agronomia e da administração.

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CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Pretende-se, neste capítulo, resgatar a história da ocupação do

território e o desmatamento de florestas nativas no Paraná, com ênfase na região

norte do Estado.

1.1 OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO NO ESTADO DO PARANÁ

Para se analisar a ocupação do território e a questão sócio-

ambiental no Paraná se faz necessário, antes e de forma breve, situar a gênese da

ocupação do território brasileiro, a qual emerge com a colonização européia.

Segundo Paulino (2003, p. 55), “esse foi o momento em que as tradicionais formas

de gestão do território, com toda a sua pluralidade, sofreram violento assalto, foram

sistematicamente banidas em favor de um controle exógeno e centralizado”. A

referida autora complementa afirmando que “esse período coincidiu com a expansão

mercantilista, ensaiando as profundas transformações oriundas do modo capitalista

de produção”.

A concessão de terras era privilégio exclusivo de homens brancos,

em especial os fidalgos prediletos da Coroa Portuguesa, via cartas de sesmaria.

Segundo Paulino (2003, p. 57),

[...] nasce assim a versão promíscua entre a esfera pública e o poder privado, que emana da terra pela qual as políticas invariavelmente velarão pela manutenção da concentração, ainda que, à revelia, se construa um modelo alternativo de exploração agrícola, baseado no trabalho familiar e nas alternativas, voltadas para o auto-consumo, com produção de excedentes para o mercado.

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Ao longo dessa história, a posse da terra foi transformada em

mercadoria, cujos preços foram artificialmente elevados, pois se buscava não

apenas ordenar a apropriação fundiária a partir de uma orientação

“concentracionista”, mas também a subjugação da força de trabalho em favor de

uma classe numericamente inexpressiva, porém politicamente hegemônica

(PAULINO, 2003).

Paulino (2003) relata que, ao contrário do Brasil, a opção nos

Estados Unidos da América foi por uma partilha fundiária utilizando mecanismo

eficaz de democratização, por meio da inclusão de ponderáveis parcelas da

sociedade ao direito de propriedade, o que gerou ampla distribuição de riqueza, um

dos pilares do seu crescimento econômico posterior.

Em resumo, a ocupação do território brasileiro se consolidou com a

acumulação capitalista, que privilegia a extração da mais-valia social, via

monopolização da propriedade e conseqüente potencialização da renda da terra.

Paulino (2003) assevera que na ocupação de terra no Paraná se

repete o padrão nacional em que, na sua primeira fase, os indígenas foram

massacrados e expulsos, empurrados pela frente de expansão, cujo papel

preponderante foi assegurar que não houvesse elementos humanos capazes de se

tornarem obstáculos para a expansão capitalista.

As primeiras movimentações de colonizadores no Paraná tiveram

início no século XVI, quando diversas expedições estrangeiras percorreram a região

a procura de madeira de lei. No século XVII, portugueses e paulistas começaram a

ocupar a região, a partir da descoberta de ouro e a procura de índios para o trabalho

escravo. A mineração, no entanto, foi relegada a segundo plano pelos

colonizadores, que se dirigiram em maior número às terras de Minas Gerais. Até o

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século XVIII existiam apenas duas vilas na região: Curitiba e Paranaguá (IBGE,

2004).

O Paraná, após a sua transformação em província, no século XIX,

desmembrado da província de São Paulo, passou longo tempo dominado por

enormes latifúndios, cujas situações de irregularidades, além de causar prejuízos na

arrecadação de tributos, passou a incomodar o poder público. Tais situações

motivaram esforços no sentido de colonizar o Estado. No entanto, com a justificativa

de cofres vazios, o poder público delegou esse papel a empresas de colonização e

de construção de estradas, bem como a particulares, por meio da concessão do

patrimônio público. Porém, esse processo foi lento e condicionado ao fator

primordial, que movia os colonizadores: a vantagem econômica nas transações com

terras. Esse fato implicou no povoamento tardio do Estado, na constituição de

latifúndios e pendências jurídicas, dada à própria conivência dos órgãos que

deveriam regulamentar e fiscalizar as ações dessas empresas privadas (PAULINO,

2003).

Com relação aos fatos que contribuíram para o desmatamento do

Estado, a construção da estrada de ferro Centro-Sul do Brasil e as ligações com o

litoral, viabilizaram a exportação da madeira paranaense. As primeiras serrarias

foram instaladas no final do século XIX e início do século XX. No final da primeira

década do século XX, havia mais de 100 serrarias instaladas. De característica

nômade, uma vez esgotada a floresta as mesmas se transferiam para outro lugar.

Acentuaram, assim, as penetrações para o oeste e sudeste do Estado, regiões que

possuíam vastas florestas de pinheiro nativo, imbuia, cedro, canela, dentre outras

(PARANÁ, 1991).

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As terras do norte do Paraná, por estarem inseridas na rota do

cultivo de café, pela fertilidade dos seus solos e a proximidade com os canais de

escoamento do produto, foram antecipadamente transformadas em alvo de cobiça. A

região foi palco de muitos conflitos e litígios fundiários. Foi nesse contexto

[...] que passou a atuar a Parana Plantations Company, empresa inglesa atraída pela determinação do governo federal em abrir aos ingleses o patrimônio fundiário, em troca da instalação e operação de serviços públicos, via concessão. (PAULINO, 2003, p 67).

Em 1925, a referida empresa cria a subsidiária nacional, a

Companhia de Terras Norte do Paraná, que adquire diretamente do Estado uma

gleba de 1.089.000 hectares, que somados com áreas adquiridas de particulares,

resultou num patrimônio de 1.321.499 hectares, equivalentes a 6,7% do território

paranaense (PAULINO, 2003).

Durante o período em que a empresa permanecera sob controle

estrangeiro obteve várias vantagens do poder público, tais como: 12 anos de prazo

para o pagamento de 46% da dívida contraída ao Estado; isenção de imposto

territorial; não aplicação em suas áreas da Lei Federal de 1931, que proibia o plantio

de café em virtude do excesso de oferta no mercado internacional; não cumprimento

do decreto de nacionalização da ferrovia em que era acionária majoritária. Em

conseqüência, relata-se que a venda de apenas 23% da área, ocorrida na primeira

década após sua implantação, foi suficiente para cobrir todos os custos com a

aquisição das terras, demarcação dos lotes e implantação da infra-estrutura básica

(TOMAZI, 1989).

Segundo Paulino (2003), a referida Companhia concebeu em seu

empreendimento uma tese capitalista já consagrada, na qual haveria que se ampliar

o número de proprietários a fim de garantir dinamismo econômico e,

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conseqüentemente, maiores lucros. Dessa forma, predominavam na primeira fase de

comercialização, lotes de 20 a 30 hectares, que atendiam a demanda do momento.

Os critérios utilizados no planejamento das ocupações com a criação de núcleos

urbanos regionais, centros abastecedores intermediários e lotes delimitados nos

espigões pelas estradas e nos vales pelos rios, asseguraram a reprodução dos

ocupantes, dado o acesso à água, às vias de circulação e aos núcleos urbanos.

Esse modelo de ocupação implicou na constituição de uma economia dinâmica,

tendo como eixo a agricultura baseada no trabalho familiar.

Com relação à questão ambiental, a partir da década de 40, a

ocupação do território paranaense com explorações agropecuárias assumiu uma

grande velocidade. Esse período foi marcado pelo incentivo governamental para o

desmatamento e pelo surgimento de muitas empresas madeireiras, em função da

alta disponibilidade de matéria-prima para atender as demandas da construção civil

e das indústrias (EMPRESA PARANAENSE DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E

EXTENSÃO RURAL, 2000).

Em 1950, aparecem novas áreas de desmatamentos no interior do

Estado. Uma foi na região de Cascavel, com os gaúchos e catarinenses que vieram

em busca de terras férteis. A outra foi na região de Campo Mourão, com os paulistas

e os sulistas. O estado estava reduzido a 40% de florestas remanescentes

(SOARES, 2004).

A população, como causa e efeito do dinamismo econômico do

Estado, evoluiu rapidamente a uma taxa de crescimento superior à nacional,

chegando a alcançar entre 1950 e 1960 a taxa de 7,3% ao ano. Na década de 70,

houve redução desse indicador de crescimento e estabilizou-se na década seguinte

(PARANÁ, 1991).

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Paulino (2003, p. 73) relata que nos anos 70

[...] a indústria já movimentava as engrenagens do país, destacando sua influência no setor agrícola, cujo funcionamento passou a ser dimensionado a partir das projeções e necessidades de acumulação da primeira. Com isso as políticas públicas privilegiaram, sem exceção, culturas e atividades que representavam mercado de consumo ao setor industrial.

Em 1975, observava-se uma incomensurável transferência do

dinheiro público à indústria, por meio da vinculação das políticas de crédito rural à

aquisição de insumos e máquinas agrícolas.

A Tabela 1 retrata os indicadores de crescimento da agropecuária do

estado do Paraná, entre 1940 a 1980, que comprovam o panorama descrito.

TABELA 1 – INDICADORES DE CRESCIMENTO DA AGROPECUÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ – 1940 –1980

ANO ITEM 1940 1950 1960 1970 1980

Estabelecimentos (nº) Área total (ha) Área média (ha) Área de lavoura (ha) Permanente Temporária Pessoal ocupado (nº) Tratores (nº) Efetivos da pecuária (nº) Bovinos Suínos

64.397 6.252.480

97 764.370 199.030 565.340 260.711

65

469.053 1.477.428

89.461 8.032.743

90 1.358.222 488.650 859.572 507.607

280

765.621 2.040.411

296.146 11.384.934

38 3.440.971 1.657.104 1.783.867 1.284.698

5.181

1.665.698 3.630.659

554.488 14.625.530

26 4.718.606 1.306.223 3.412.383 1.981.471

18.619

4.692.677 6.215.147

454.103 16.380.332

36 6.085.021 952.320

5.132.701 1.807.826

81.727

7.893.313 5.649.093

Fonte: Martin (2002, p. 240) – Censo Agropecuário de 1980.

Nota-se uma expansão acelerada da agricultura e do pessoal

ocupado entre 1950 e 1970. Esse crescimento se deu com uma enorme redução da

área média dos estabelecimentos agrícolas, predominando a pequena propriedade

rural. Verificou-se um acentuado crescimento da área de lavoura temporária, uma

relativa estabilização do pessoal ocupado a partir de 1970 e um acelerado

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crescimento do número de tratores agrícolas a partir desse período, indicando uma

intensificação da mecanização da agricultura estadual (MARTIN, 2002).

Os investimentos maciços no setor de infra-estrutura, além dos

projetos agroindústrias, foram decisivos para o rápido crescimento das áreas

destinadas às culturas temporárias mecanizáveis, pautadas na produção de grãos,

ou seja, soja, milho e trigo. Dentre os agricultores que não tiveram acesso aos

recursos para a mudança do padrão tecnológico da agricultura, muitos migraram

para outros estados brasileiros ou simplesmente aumentaram as estatísticas dos

excluídos. Outro tanto de agricultores conseguiram resistir ao processo, recorrendo a

cultura do café para manter-se na terra, pois, além de não implicar em investimento

na mecanização, a referida cultura ocupava a mão-de-obra familiar (PAULINO,

2003).

Assim, a ocupação do território no norte do Paraná foi determinada

ora por políticas públicas e pactos ocorridos em escalas internacionais, ora por

circunstâncias e particularidades locais.

1.2 O DESFLORESTAMENTO NO ESTADO DO PARANÁ

O processo de desflorestamento no Paraná foi mais intenso a partir

do século passado, no período de colonização, conforme descrito no item anterior. A

evolução desse processo, a partir da área primitiva de florestas nativas, está

retratada na Tabela 2, na página seguinte.

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TABELA 2 – EVOLUÇÃO DO DESFLORESTAMENTO DAS MATAS NATIVAS NO ESTADO DO PARANÁ – 1500 - 1990

ANO ÁREA DE MATAS NATIVAS (ha) SUPERFÍCIE DO ESTADO (%) 1500 1912 1930 1950 1960 1970 1980 1990

16.782.400 16.515.000 12.902.400

7.983.400 5.563.600 3.803.377 3.407.000 1.503.098

84 83 65 40 28 19 17

7 Fonte: Bacha (2002, p.158).

Com a estabilização da área ocupada por explorações

agropecuárias e com quase toda a fronteira agrícola esgotada, o Estado

apresentava em 1980 apenas 17 % de cobertura florestal, concentradas em áreas

onde um trator não penetrava devido à inclinação do terreno ou áreas sujeitas ao

alagamento. Mas com o tempo a tecnologia permitiu também explorar essas terras

(SOARES, 2004).

Em 1994, o Instituto Ambiental do Paraná – IAP elaborou carta

temática de uso da terra no Paraná, utilizando-se imagens Landsat-51 em escala

1:250.000, chegando aos resultados apresentados na Tabela 3.

TABELA 3 – USO DA TERRA NO ESTADO DO PARANÁ –1994 CLASSE DE USO DO SOLO ÁREA (ha) PERCENTUAL (%)

Mangue Restinga Floresta Vegetação secundária Reflorestamento Pastagem Agricultura Outros

22.995 51.070

1.712.814 5.069.238

620.489 4.548.655 7.368.209

538.900

0,12 0,26 8,59

25,43 3,11

22,82 36,97

2,00

Total 19.932.370 100 Fonte: IAP (1994)

1 O programa Land Remote Sensing Satellite - Landasat da National Aeronautics and Space

Administration - Nasa foi iniciada em 1972. O INPE recebe de forma contínua imagens do LANDSAT sobre todo o território nacional desde 1974, e dispõe um acervo de dados históricos sobre o país. Fonte: INPE (2005). Disponível em: <http://www.obt.inpe.br/satelites.htm>.

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Segundo Sanquetta (2004), os estudos atuais indicam que a

cobertura florestal natural do Paraná é de 18%, sendo cerca de 10% com florestas

bem conservadas. Esses levantamentos foram realizados por órgãos ambientais do

Estado, consultores e especialistas contratados e a participação da Universidade

Federal do Paraná, por intermédio da Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná.

Dois mapas florestais foram produzidos utilizando imagens recentes. A Figura 1

apresenta a cobertura florestal natural e a Figura 2 retrata a cobertura com

reflorestamentos.

Figura 1 - COBERTURA FLORESTAL NATURAL DO ESTADO DO PARANÁ – 2003 Fonte: Sanquetta (2004)

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FIGURA 2 - REFLORESTAMENTOS DO ESTADO DO PARANÁ – 2003 Fonte: Sanquetta (2004)

Sanquetta (2004) explica que

[...] no caso das florestas naturais, vê-se claramente uma ampla dispersão dos remanescentes florestais, mas pode-se observar certas concentrações em algumas regiões do Estado, notadamente na porção leste (Serra do Mar e Litoral), no Parque Nacional do Iguaçu (extremo oeste) e no Centro-Sul. A primeira congrega basicamente elementos Floresta Atlântica, a segunda o maior remanescente da Floresta Estacional Semidecidual, enquanto a terceira envolve os sobejos da Floresta de Araucária. Já no caso dos reflorestamentos, percebe-se uma dispersão bem menor que no caso das florestas naturais, com grande concentração na porção Centro-Nordeste do Estado.

Sanquetta (2004) ressalta que a Figura 1

[...] aponta três classes distintas de florestas naturais, a saber: as em estágio inicial, médio e avançado de regeneração. Explicar com precisão essas classes não é algo fácil, mas essencial para que haja um entendimento correto e inequívoco da realidade da cobertura florestal do Paraná nos dias de hoje.

Essas três classes tipológicas tiveram sua gênese na Resolução

02/94 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, que tem sido empregada

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como documento normativo para as definições tipológicas florestais para fins de

licenciamento ambiental na chamada Mata Atlântica. Para Sanquetta (2004), todas

as três classes de florestas podem e devem ser consideradas literalmente como

tipologias florestais, e não como outras designações que venham a ocultar seu real

significado, pois abrigam essencialmente espécies arbóreas, as quais são assim

definidas:

a) floresta em estágio inicial de regeneração: é uma formação

originada após cortes na floresta, cuja composição consiste

eminentemente de espécies heliófitas2 pioneiras colonizadoras.

Trata-se de uma formação florestal jovem, também chamada

vulgarmente de capoeira ou capoeira baixa. Ocorrência em 6,4%

da superfície do Estado;

b) floresta em estágio médio de regeneração: é uma formação que

se constitui numa transição entre as florestas em estágio inicial e

em estágio avançado, que possui uma mistura de floras de

ambos os estágios, em franco processo de substituição uma pela

outra. São vulgarmente chamadas de capoeirão ou capoeira alta.

Ocorrência em 7,9% da superfície do Estado;

c) floresta em estágio avançado de regeneração: é uma formação

original em estágio avançado de sucessão ecológica, advinda de

processo natural de regeneração, composta por espécies clímax

e sucessionais longevas. São vulgarmente chamadas de mata ou

florestas. Ocorrência em 2,9% da cobertura do Estado.

2 Designação das plantas que exigem luz intensa para viver. Nas florestas, são heliófitas as plantas

que conseguem atingir o nível superior das copas ou que se desenvolvem neste andar. Também são heliófitas a maioria das espécies arbustivas que se encontram nos matagais.

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Sanquetta (2004) afirma que atualmente as florestas paranaenses

somam uma área de 3,4 milhões de hectares, o que equivale a 17% da área total do

Estado. O autor argumenta, que esse percentual eleva-se para quase 18% ao se

descontar as áreas com vegetação natural não arbórea, que sempre existiram na

geografia paranaense.

No Paraná, pode-se considerar três grandes regiões fitoecológicas

(PARANÁ, 1991): floresta ombrófila densa; floresta ombrófila mista; e floresta

estacional semidecidual (ver definições apresentadas no glossário).

Na região de estudo predomina a formação de floresta estacionária

semidecidual. Essa floresta se diferenciava pela sua exuberância em função da

fertilidade dos solos derivados de basalto sobre os quais se desenvolvia, além da

grande diversidade de espécies vegetais (PARANÁ, 1991).

As principais espécies florestais nativas da formação semidecidual

são as seguintes: amendoim-bravo (Pterogyne nitens); angico-branco

(Anadenanthera colubrina); canafístula (Peltophorum dubium); cedro (Cedrela

fissilis); guaritá (Astronium graveolens); louro-pardo (Cordia trichotoma); pau-d´alho

(Gallesia integrifolia); pau-marfim (Balfourodendrum riedelianum); peroba-rosa

(Aspidosperma polyneuron); sobrasil (Colubrina glandulosa); figueira branca (Fícus

insipida); dentre outras.

Estudos realizados por Santos (1996) mostravam que a área coberta

com florestas nativas na região de Londrina, em 1988, era de 40 mil hectares, o que

equivalia a 3,9% da área total da região. A madeira consumida em indústrias era

proveniente de duas origens: florestas naturais, que contribuíam com 35% do total

consumido e os reflorestamentos com espécies exóticas, que contribuíam com 65%.

As espécies florestais nativas mais utilizadas eram: a peroba-rosa (Aspidosperma

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polyneuron); o cedro (Cedrela fissilis); a imbuia (Ocotea porosa); e a cerejeira

(Amburana cearensis). As espécies exóticas mais utilizadas, por ordem decrescente,

eram: o eucalipto (Eucalypitus sp.); a grevilha (Grevillea robusta); o cinamomo (Melia

azedarach); e o pinus (Pinus sp.). Naquela época, 76% do total de madeira

consumida pelas indústrias vinha da própria região, 23% de outras regiões e 1% de

origem não declarada.

Santos (1996) constatou que a redução de atividade das serrarias foi

muito significativo no norte do estado do Paraná, em razão da destruição de

florestas naturais para a conversão das áreas em lavouras temporárias. Segundo o

referido autor, para o desenvolvimento da atividade florestal na região, seja para fins

conservacionistas, seja para a produção de madeira, seriam necessárias

intervenções, por intermédio de políticas florestais para se criar um Plano Florestal

Regional, entre as quais:

a) aplicação mais rigorosa da lei florestal existente;

b) instituir uma lei florestal específica para o Paraná, em

complemento ao Código Florestal Federal;

c) dispor de um fundo de financiamento capaz de fomentar as

ações de conservação, apoiando a recomposição de florestas

naturais;

d) direcionar o ensino para a formação em silvicultura, a pesquisa

para o melhoramento dos métodos agro-florestais, iniciar

pesquisas em manejo de florestas naturais e melhorar a

extensão rural.

Considerando-se as sugestões acima apresentadas, o Paraná

regulamentou, por meio do Decreto Estadual nº 387/99 e da Portaria nº

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207/2002/IAP/GP, os instrumentos legais para gerir os programas estaduais

direcionados à preservação e conservação das florestas. Também é notável uma

ação mais intensa do Instituto Ambiental do Paraná na fiscalização e aplicação da lei

florestal em vigor. Embora ainda pouco efetiva, verifica-se ações concretas dos

órgãos de ensino, de pesquisa e de extensão na formulação de propostas voltadas

ao desenvolvimento florestal, principalmente com a finalidade de recompor as áreas

de preservação permanente e de reserva legal.

Agrega-se ao quadro descrito sobre a área de preservação florestal

na região de Londrina, a existência de três unidades de preservação ambiental

administradas pelo governo do Paraná. Essas unidades ocupam 807 hectares,

representando cerca de 2% da superfície total com floresta nativa. A Tabela 4

apresenta o nome dessas unidades, suas localizações e suas áreas.

TABELA 4 – UNIDADES DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA REGIÃO DE LONDRINA

NOME MUNICÍPIO ÁREA (ha)

Parque Florestal de Ibiporã Parque Estadual “Mata do Godoy” Parque Florestal de Ibicatu

Ibiporã Londrina

Centenário do Sul

74 676

57 Fonte: Santos (1996, p. 71)

Assim, buscou-se evidenciar as transformações ocorridas ao longo

da história da ocupação do território paranaense, em particular na paisagem rural do

norte do Paraná, que foi se transformando em áreas agricultáveis, mais

homogêneas, onde são raros os espaços ainda cobertos pela vegetação nativa.

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CAPÍTULO 2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste Capítulo, pretende-se apresentar e discutir as abordagens dos

conceitos de meio ambiente e dos principais paradigmas ambientalistas na

perspectiva das teorias organizacionais, as quais servirão de referência teórica nas

análises dos demais temas relacionados com o objeto de estudo. A seguir, discute-

se os principais tópicos que sustentam a imposição da reserva legal, ou seja, a

função social da propriedade e o Código Florestal. Complementa-se a presente

revisão com a discussão sobre os paradigmas agrícolas e a agricultura familiar no

contexto do modelo agrícola dominante.

2.1 AS ABORDAGENS SOBRE OS PARADIGMAS AMBIENTAIS

O conflito entre o homem e a natureza iniciou desde o momento em

que o ser humano necessitou retirar do ambiente os recursos indispensáveis à sua

sobrevivência, ou seja, em decorrência da sua atuação para adequar o meio

ambiente às suas necessidades.

Oliveira e Guimarães (2004, p. 14), afirmam que:

[...] o processo de degradação ambiental se confunde com a origem do próprio ser humano. A busca da satisfação das múltiplas necessidades (ilimitadas) aliada a uma disputa pelos bens da natureza (limitados) explica a aguda crise ambiental de nossos dias.

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Portanto, o que acontece nos dias atuais é fruto de um longo período

de intervenção do homem sobre a natureza, o que significa que não se deve imputar

ao homem moderno toda culpa pelo atual quadro de degradação ambiental.

No Brasil, a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispôs sob a

Política Nacional do Meio Ambiente, definiu o termo meio ambiente como “o conjunto

de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. É uma definição ampla, pois

abrange tudo o que tem vida e a permite, porém o homem não é citado

explicitamente (ALVARENGA, 1997, p. 110).

De acordo com Quintas (2001, p. 137), “não existe meio ambiente

sem o trabalho dos seres humanos”. Dessa forma, “meio natural e meio social são

faces de uma mesma moeda, ou seja, são indissociáveis”. O referido autor completa,

afirmando que:

[...] o ser humano é parte integrante da natureza, e ao mesmo tempo ser social, detentor de conhecimento e valores socialmente produzidos ao longo do processo histórico, tem ele o poder de atuar permanentemente sobre sua base natural de sustentação (material e espiritual), alterando suas propriedades, e sobre o meio social provocando modificações em sua dinâmica.

Oliveira e Guimarães (2004), também afirmam que não é possível

conceituar o meio ambiente fora de uma visão de cunho antropocêntrico, pois a

proteção jurídica daquele bem depende da ação humana. Todavia, os autores

acrescentam que é preciso superar a visão antropocêntrica clássica, em que o

homem é visto como o senhor absoluto da Terra, com direito de usufruir todos os

recursos naturais e avançar para a construção de uma visão antropocêntrica

alargada, em que se tutela o meio ambiente pelo seu valor intrínseco e não apenas

pela utilidade que os recursos naturais podem ter para o homem. A diferença mais

significativa nessa nova visão é que o homem passa a figurar como o guardião da

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biosfera e não mais como seu dono. Portanto, deve-se superar todas aquelas visões

simplesmente econômicas que viam no homem o dono dos recursos naturais.

Bourlegat (2003) alerta que a simplificação dicotômica sociedade-

natureza, no tratamento do conceito de ambiente, fazia parte da lógica científica

predominante, com uma visão reducionista nas relações estabelecidas entre o

homem e a sociedade, dificultando a compreensão sob o enfoque sistêmico que

favorece a reflexão da realidade no seu todo.

Na discussão da vertente ambiental no meio das organizações

empresariais, em especial as que discutiam as normas internacionais para

gerenciamento ambiental – ISO 14001, Reis (1996 apud ANDRADE, 2001, p.153),

definiu meio ambiente explicitando claramente o homem, como segue: “meio

ambiente significa os arredores no qual uma organização opera, incluindo o ar,

água, terra, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações”.

Se na história humana o comportamento predatório não é novo, não

se pode dizer o mesmo da extensão dos problemas ambientais decorrentes do

surgimento de grandes cidades, das imensas áreas agrícolas com predominância da

monocultura, das guerras com uso de armas nucleares, dentre outros fenômenos.

Nas palavras de Milaré (1995, p.15), “o homem assustou-se em Hiroshima e

Nagasaki com o seu próprio poder e sentiu-se como aprendiz de feiticeiro que não

sabe controlar as conseqüências de sua própria magia”.

Esses problemas ambientais mais extensos foram desencadeados

após a revolução industrial, ocorrida a partir da metade do século XVIII, que

culminou com o final da Idade Moderna, também denominada de Idade da

Revolução Científica. A maior marca da Idade Moderna foi o resgate de uma

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autonomia científica, que estava oprimida pelo obscurantismo da Idade Média

(ANDRADE, 2001).

A revolução industrial ocasionou uma grande mudança no processo

de produção, além disso, promoveu o surgimento de grandes cidades, a maioria

delas criada sem um planejamento adequado. Também provocou o desequilíbrio na

relação entre a população rural e urbana, com o conseqüente adensamento

populacional próximos às indústrias. Mais adiante se apresenta a forte influência do

setor industrial na formulação de um modelo agrícola extremamente agressivo ao

meio ambiente e apoiado por políticas públicas.

Vários paradigmas que surgiram nesse período histórico

influenciaram a relação homem-natureza, destacando-se o Paradigma Cartesiano-

Newtoniano, cujos pioneiros foram René Descartes e Isaac Newton, que era

fundamentado, entre outras coisas, numa relação sociedade-natureza subordinativa,

que requer da natureza a produção de acordo com as demandas da sociedade. Da

mesma forma, o Paradigma Empirista, criado por Francis Bacon, evidenciou a noção

de que a finalidade suprema da ciência é a de propiciar poder sobre a natureza, a

qual deveria ser “acossada em seus descaminhos [...] obrigada a servir [...]

escravizada [...] reduzida à obediência [...]” (BAUER, 1999, p. 23).

Martins (2004) relata que a devastação ambiental em escala

planetária foi embalada por duas ideologias: a do progresso, derivada do

racionalismo iluminista; e a do desenvolvimento econômico, concebida no chamado

Primeiro Mundo. Ambas arrimadas na concepção mecanicista da ciência. Milaré

(1995, p. 15) ressalta que “a mentalidade dominante era inteiramente favorável a

tudo isso, enaltecendo o progresso industrial e econômico e pondo nele toda a sua

fé e esperança”.

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Segundo Leff (2002), a problemática ambiental surgiu como uma

crise de civilização questionando a racionalidade econômica e tecnológica

dominante. Esta crise tem sido explicada a partir de uma diversidade de

perspectivas ideológicas. Por um lado, é percebida diante das explicações

neomalthusianas como resultado do crescimento da população e os limitados

recursos do planeta. Por outro, é interpretada como efeito da acumulação de capital

e da maximização da taxa de lucro, que induzem a padrões tecnológicos de uso e

ritmos de exploração da natureza, bem como a forma de consumo, que vêm

esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade dos solos e

afetando as condições de regeneração dos ecossistemas naturais.

A corrente de pensamento que resultou na certeza de que a ciência

e a tecnologia seriam capazes de resolver os problemas da humanidade, ainda está

presente no paradigma filosófico-científico dominante. Segundo Egri e Pinfield

(1999), três estruturas da filosofia ambiental e conceitos relacionados representam

as escolas de pensamento quanto ao relacionamento homem-natureza:

a) o paradigma social dominante, que não é uma perspectiva

“ambientalista”, mas representa a visão tradicional de mundo da

sociedade industrializada – o status quo contra o qual são

comparadas outras perspectivas ambientalistas;

b) a perspectiva do ambientalismo radical, que representa a visão

de mundo daqueles que defendem a mudança transformacional;

c) a perspectiva do ambientalismo renovado, que representa

aqueles que ocupam a área intermediária na filosofia e na prática

ambiental.

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O paradigma social dominante representa uma aderência aos

princípios e objetivos econômicos neoclássicos (crescimento econômico e lucro),

com os fatores naturais tratados como recursos exploráveis infinitamente. Os

problemas ambientais, se observáveis, podem ser resolvidos por meio do progresso

científico e tecnológico.

Egri e Pinfield (1999) identificaram que os pressupostos e técnicas

econômicas neoclássicas estão mal equipados para refletir, de forma precisa, os

custos e os benefícios qualitativos, bens públicos e recursos, limites para as

substituições, custos de depleção de recursos, custos e benefícios projetados em

longo prazo, sistemas complexos e assim por diante. Um exemplo clássico para

ilustrar as inadequações da economia neoclássica, é o paradoxo de que a limpeza

de desastres ambientais é contabilizada no PIB de um país como crescimento,

enquanto que a preservação e a conservação ambiental de recursos ambientais são

consideradas como custos.

A perspectiva do ambientalismo radical promove uma visão da

biosfera e da sociedade humana baseada nos princípios ecológicos do holismo, do

equilíbrio da natureza, da diversidade, dos limites finitos e das mudanças dinâmicas.

Do ponto de vista do ambientalismo radical, a ciência precisa ser direcionada para

desenvolver tecnologias que reduzam a interferência humana com o mundo não-

humano (reduzir a depleção e a poluição dos recursos naturais). Afirmam que os

limites e o delicado equilíbrio da biosfera requerem a preservação e a conservação

dos recursos naturais, por meio das éticas anticonsumistas e antimaterialistas.

Esse paradigma recebe críticas principalmente por desassociar as

questões ecológicas dos problemas sociais. Além disso, os ecologistas que

defendem a existência de apenas “um caminho”, ou seja, “o seu caminho” de

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reconstrução do relacionamento homem-natureza podem estar mais parecidos com

os seus oponentes – os do paradigma social dominante - do que eles poderiam

supor. A natureza radical utópica e abstrata dos objetivos sociais e biológicos tem

limitado o grau em que essa filosofia exerce influência nas questões do dia-a-dia da

sociedade moderna. Não obstante, o ambientalismo radical serve de guarda-chuva

filosófico para diversos grupos de interesse, cujos próprios objetivos coincidem,

embora somente de forma parcial, com outros ambientalistas radicais. Eles ainda

não produziram um movimento social coerente, nem um conjunto de reformas

sociais proposto com a probabilidade de ser aceito ou adotado pelos membros da

organização na corrente principal da sociedade (EGRI; PINFIELD, 1999).

A perspectiva do ambientalismo renovado representa uma

modificação de valores antropocêntricos, a fim de incluir valores biocêntricos. A

Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD, presidida

por Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid, apresentou um documento chamado

Nosso futuro comum, conhecido por relatório Brundtland, no qual definiu o termo

desenvolvimento sustentável sendo aquele capaz de “satisfazer as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de alcançarem as

suas próprias necessidades”. O referido relatório, que constituiu uma agenda global

para mudança, resultou de um apelo urgente da Assembléia Geral das Nações

Unidas para: propor estratégias ambientais de longo prazo para obter um

desenvolvimento sustentável; recomendar maneiras para que a preocupação com o

meio ambiente se traduza em maior cooperação entre os países em

desenvolvimento e entre países em estágios diferentes de desenvolvimento

econômico e social; considerar meios e maneiras pelos quais a comunidade

internacional possa lidar mais eficientemente com as preocupações de cunho

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ambiental; ajudar a definir noções comuns relativas a questões ambientais de longa

prazo e os esforços necessários para tratar com êxito os problemas de proteção e

da melhoria do meio ambiente (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO, 1988).

Para o Conselho da Organização das Nações Unidas para

Agricultura e Alimentação – FAO, desenvolvimento sustentável

[...] é o manejo e conservação da base dos recursos naturais e a orientação de alteração tecnológica e institucional, de tal maneira que se assegura a contínua satisfação das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Este desenvolvimento viável (nos setores agrícolas, florestal e pesqueiro) conserva a terra, a água e os recursos genéticos vegetais e animais, não degrada o meio ambiente e é tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável (ALVARENGA, 1997, p. 124).

Nessa perspectiva, a tecnologia é o veículo para o progresso

científico e econômico, bem como o meio para detectar e gerenciar os riscos

ambientais que ameaçam a sobrevivência humana e seu bem-estar. Tentam

incorporar uma abordagem sistêmica e as leis de conservação da energia e de

entropia da termodinâmica, no contexto dos cálculos da sustentabilidade ambiental.

Em sua defesa, a agenda de mudança incremental do

ambientalismo renovado é mais abrangente se comparada com a posição do

ambientalismo radical, com melhor receptividade do governo, da indústria e do

público em geral, tanto nas negociações como nas implementações de ações

ambientalmente instruídas. Contudo, existe o risco fundamental de que uma pode

estar preocupada somente com a solução de sintomas superficiais, em vez de

enfocar a raiz das causas da degradação ambiental. Pode ser ilusório acreditar no

gerenciamento da crise ambiental e na sua solução por meio do engenho humano

(EGRI; PINFIELD, 1999).

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Os países participantes da Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente – ECO-92, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1992, aprovou um

documento denominado Agenda 21, que estabelece um pacto pela mudança do

padrão de desenvolvimento global para o próximo século. Segundo Bezerra e

Munhoz (2000, p. 35), a Agenda 21 representou um avanço ao propor atingir

melhoria, por meio da operacionalização do conceito de desenvolvimento

sustentável, na forma de uma pauta comum aos diferentes países do planeta.

Embora haja um reconhecimento em todas as suas dimensões dos problemas

inerentes à contínua busca de crescimento econômico, a Agenda 21 não propõe a

interrupção desse crescimento, mas de “eleger um caminho que garanta o

desenvolvimento integrado e participativo e que considere a base de recursos

naturais e seus ciclos de produção e regeneração”.

No Brasil, em junho de 1994, foi criada a Comissão Interministerial

para o Desenvolvimento Sustentável – CIDES, com a finalidade de assessorar o

Presidente da República na tomada de decisões sobre estratégias e políticas

nacionais, necessárias ao desenvolvimento sustentável, de acordo com a Agenda

21. As bases para desencadear o processo de construção da Agenda 21 Brasileira

surgiram em fevereiro de 1997 com a criação da Comissão de Políticas de

Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional – CPDS, no âmbito da Casa

Civil da Presidência da República. A comissão é constituída por representantes do

governo e por integrantes da sociedade civil, do setor produtivo, das organizações

não-governamentais e do setor acadêmico. A Agenda 21 Brasileira busca

apresentar referências de propostas de políticas para a sustentabilidade dos

recursos naturais, partindo do pressuposto segundo o qual a participação dos

diferentes atores sociais, públicos e privados, promoverá o uso e a conservação dos

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recursos naturais para esta e para as futuras gerações (BEZERRA; MUNHOZ,

2000).

A partir de 2003, a Agenda 21 Brasileira entrou na fase de

implementação assistida pela CPDS e foi elevada à condição de programa do Plano

Plurianual – PPA 2004-2007, pelo atual governo. Informações no site do Ministério

do Meio Ambiente (2005) afirmam que, como programa, ela adquire mais força

política e institucional, passando a ser instrumento fundamental para a construção

do Brasil sustentável, estando coadunada com as diretrizes da política ambiental do

governo. O PPA 2004-2007 é apresentado no item 2.3.2 deste capítulo.

A principal crítica que recebe a perspectiva do ambientalismo

renovado, é que propõe somente ajustes incrementais secundários nos sistemas

econômicos e tecnológicos, em vez de mudanças transformacionais na sociedade

humana.

O relatório Brundtland foi bem aceito pela comunidade internacional,

pois não apresenta críticas à sociedade industrial e demanda crescimento, tanto em

países industrializados como em subdesenvolvidos, inclusive ligando a superação da

pobreza nestes últimos ao crescimento contínuo dos primeiros (MARTINS, 2004).

A imprecisão do termo desenvolvimento sustentável, permite ampla

variedade de interpretações e ações. Questiona-se se é possível o desenvolvimento

sustentável, devido as contradições fundamentais entre os princípios e objetivos da

sustentabilidade ambiental e aqueles do desenvolvimento econômico.

Tentando reconciliar o crescimento econômico com a manutenção

do ambiente, o desenvolvimento sustentável também foca a justiça social e o

desenvolvimento humano dentro de uma perspectiva de igualdade social e de

distribuição e utilização de recursos. Apesar dos objetivos amplos, o que está sendo

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sustentado não parece estar em questão, porque o desafio é desenvolver uma

economia global sustentável: uma economia que o planeta seja capaz de sustentar

indefinidamente. Deste modo, o desafio é encontrar novas tecnologias e expandir o

papel do mercado para alocar recursos ambientais, com a hipótese que investir no

ambiente natural é o único modo para protegê-lo, a menos que degradá-lo torne-se

mais rentável (BANERJEE,1999).

O desenvolvimento sustentável busca reconciliar interesses opostos

e objetiva, simultaneamente, maximizar a economia e os benefícios ambientais. Isto

é uma contradição, porque sustentabilidade e desenvolvimento são baseados em

hipóteses diferentes e freqüentemente incompatíveis. Exatamente como isto será

atingido e que prejuízos e benefícios resultarão deste processo, é um problema a ser

considerado e discutido em todas as partes do mundo (BANERJEE, 1999).

O paradigma do desenvolvimento sustentável não desafia as noções

existentes de progresso e racionalidade econômica, mas continua privilegiando o

consumismo industrial. Também amplia os modelos correntes de crescimento

econômico, acrescentando conceitos como prevenção de poluição, reciclagem e

gestão ambiental. A lógica do capital e dos mercados nunca é posta em questão e a

despeito de suas boas intenções o desenvolvimento sustentável objetiva criar e

impor uma lógica globalizada similar (BANERJEE, 1999).

Outro jargão que complementa o desenvolvimento sustentável é a

biodiversidade. Métodos “produtivistas” de agricultura, desenvolvidos e impostos por

governos e corporações aclamados como a Revolução Verde, têm estado sob

ataque por mais de vinte anos. O aumento da produção por hectare foi alcançado a

custos ambientais significativos, incluindo o uso de substâncias químicas e entradas

de energia não-renovável. A prática da monocultura, envolvendo a transformação de

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tradições seculares de prática de cultivo de rotação para o auto-sustento em

agricultura de cultivo visando o dinheiro, teve conseqüências ecológicas, biológicas

e econômicas para agricultores no terceiro mundo. Métodos modernos de agricultura

podem ter criado colheitas abundantes, mas também substituíram a diversidade

biológica por uniformidade, fazendo as colheitas mais vulneráveis aos ataques de

pestes e conduzindo a uma maior dependência de pesticidas químicos (BANERJEE,

1999).

Leff (2002) afirma que a construção de uma racionalidade produtiva

alternativa não só depende da transformação das condições econômicas,

tecnológicas e políticas que determinam as formas dominantes de produção, mas

estão sujeitas também a certas ideologias teóricas e delimitadas por paradigmas

científico que dificultam as possibilidades de reorientar as práticas produtivas para

um desenvolvimento sustentável. O referido autor afirma que colocar em prática

princípios e estratégias de ecodesenvolvimento provou ser mais complexo e difícil,

que internalizar a dimensão ambiental dentro dos paradigmas econômicos, dos

instrumentos do planejamento e das estruturas institucionais que sustentam a

racionalidade produtiva prevalecente.

Segundo Leff (2002, p. 68), para poder implementar políticas

ambientais eficazes é necessário reconhecer os efeitos dos processos econômicos

atuais sobre os ecossistemas. Ele complementa afirmando que

[...] é preciso avaliar as condições ideológicas, políticas, institucionais e tecnológicas que determinam a conservação e regeneração dos recursos de uma região, os modos de ocupação do território, as formas de apropriação e usufruto dos recursos naturais e de divisão de suas riquezas, bem como o grau e as maneiras de participação comunitária na gestão social de suas atividades produtivas.

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O fato é que a degradação ambiental torna-se relevante somente

quando o desempenho de uma organização e o bem-estar dos seus participantes

são afetados, ou seja, quando a sobrevivência organizacional futura ou sua

lucratividade é ameaçada pelas restrições impostas pela legislação ou pela

escassez de recursos naturais. “Vivemos no mundo organizacional onde as

organizações são os meios pelos quais os interesse são realizados” (EGRI;

PINFIELD, 1999, p. 387).

Com relação ao paradigma científico dominante, Leff (2002, p. 194)

alerta que a solução da crise ambiental não poderá surgir apenas por uma gestão

racional da natureza e dos riscos de uma mudança global. A crise ambiental

estimula interrogar

[...] o conhecimento do mundo, a questionar o projeto epistemológico que tem buscado a unidade, a uniformidade e a homogeneidade; o projeto que anuncia um futuro comum, negando limite, o tempo, a história; a diferença, a diversidade [...] A crise ambiental corporifica um questionamento da natureza e do ser no mundo [...] A idéia monoteísta, a invenção de um Deus único e invisível, da imutabilidade do tempo na reencarnação e na transcendência – a resposta religiosa do ser humano diante da marca do limite na cultura e à finitude da existência -, foi transferida para o campo do conhecimento como um lógos regente. Isto condicionou o surgimento de um projeto de unificação por meio da idéia absoluta de uma razão ordenadora e dominante. Esta última passou da dissociação do ser e do ente, que inaugurou a reflexão ontológica e epistemológica do pensamento metafísico e filosófico, para a dissociação entre objeto e sujeito que fundou o projeto científico da modernidade: ali pode-se forjar uma ciência econômica num ideal mecanicista, nas leis cegas do mercado que têm condicionado a economização do mundo e do predomínio da razão instrumental sobre as leis da natureza e sobre os sentidos da cultura, desembocando na crise ambiental [...].O mercado se apresenta como um novo deus, capaz de salvar a humanidade da escravidão da necessidade e da pobreza. A mão invisível que governa o mundo se faz visível, representável e mensurável, construindo, codificando e coisificando o mundo segundo suas regras e seus valores. Este deus-mercado (bezerro de ouro) infinito e eterno, abstrato e real, onipotente e humano, erige-se acima das leis da natureza e do sentido da existência.

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Para Egri e Pinfield (1999, p. 391) existe a evidência crescente de

que mudanças no ambiente físico virão trazer mudanças sociais e nas organizações.

Tais mudanças são inevitáveis. Apoiar o status quo na teoria e na ação

organizacional não é um caminho seguro, e sim um caminho destrutivo para a

biosfera e a espécie humana. “A direção e a natureza da mudança são os focos do

desafio ambientalista para a ciência da organização”.

Considerando que a crise ambiental é um resultado do

desconhecimento da lei (entropia) que tem desencadeado no imaginário

economicista uma “mania de crescimento” e de uma produção sem limites, a solução

da crise ambiental não poderia basear-se no refinamento do projeto científico e

epistemológico, que tem fundado o desastre ecológico, a alienação do homem e o

desconhecimento do mundo. A complexidade ambiental abre uma nova

compreensão do mundo “e implica saber que a incerteza, o caos e o risco são, ao

mesmo tempo, efeito da aplicação do conhecimento, que pretendia anulá-los e

condição intrínseca do ser e do saber” (LEFF, 2002, p.195).

Com essas reflexões teóricas tentou-se evidenciar algumas visões

controvertidas, de conceitos “bem intencionados” na busca de uma sociedade

sustentável, de um futuro comum que possa assegurar o progresso humano por

meio do desenvolvimento econômico sem arruinar os recursos naturais, mas que na

prática não estão produzindo ações efetivas nesse rumo. Acredita-se que, a partir

desse ponto, têm-se elementos que servirão de referências para se analisar a

reserva legal, inserida na função social da propriedade e no Código Florestal.

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2.2 RESERVA LEGAL: A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E O CÓDIGO FLORESTAL

Neste item procurou-se discorrer sobre os fundamentos da função

social da propriedade, com a finalidade de entender as implicações desta doutrina

no uso econômico do estabelecimento rural, visto como uma riqueza que se destina

à produção de bens e que satisfaçam as necessidades sociais. Considerou-se neste

trabalho que a função social da propriedade é o ponto fundamental para se discutir a

importância do enfoque sistêmico e multidisciplinar nas análises sobre o objeto de

estudo. Na seqüência, apresenta-se um breve relato da evolução do Código

Florestal com os principais dispositivos que disciplinam a exigência da reserva legal.

2.2.1 Função Social da Propriedade

Desde a Antiguidade os filósofos gregos, com destaque para

Aristóteles, afirmavam que os bens possuem uma imanência social. Segundo

Colares (2001), o pensamento de São Tomás de Aquino “influenciou a construção

dos regramentos jurídicos, cuja defesa da posse dos bens materiais está colocada

ao exercício da garantia da mantença, sem desprezar o aspecto social imanente aos

bens oriundos da ação da natureza”. A presença eclesial na discussão sobre o uso

da terra prosseguiu, além de São Tomas de Aquino, com as Encíclicas Rerum

Novarum (Leão XII – 1891), Quadragésimo Anno (Pio XII – 1931) e Mater et

Magistra (João XXIII – 1962). O Concilio Vaticano II e mais tarde a Teoria da

Libertação deram forte impulso à discussão acerca do uso da terra e do tributo social

que sobre ela repousa.

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A tese de que a propriedade privada da terra “não pode assumir uma

forma absoluta, visto que a ação do homem sobre ela importava inclusive aos que

não a possuíam” ficou fortalecida na Revolução Francesa (COLARES, 2001). Foi na

Declaração dos Direitos do Homem, que surgiu o princípio da desapropriação por

utilidade pública, inserida na Constituição Francesa de 1791 e no Código de

Napoleão (CHAGAS, 2000).

Segundo Mezzomo e Coelho (2003), a função social da propriedade

é um princípio, cuja gênese está intimamente relacionada à concepção de um

Estado Democrático Social de Direito, que busca a fusão de dois elementos, quais

sejam: o modelo capitalista e a consecução do bem estar social geral.

Grande parte das Constituições reserva capítulos voltados aos

direitos sociais. A Constituição turca, de 1960, determina que a distribuição de terras

não poderá ter, por conseqüência, a diminuição de riqueza florestal ou diminuição de

qualquer outra riqueza da terra. A Constituição mexicana, desde 1917, dispõe que a

nação terá o direito de impor à propriedade privada as modalidades que dite o

interesse público, tanto o de regular o aproveitamento dos elementos naturais

susceptíveis de apropriação para fazer uma distribuição eqüitativa da riqueza pública

e para cuidado de sua conservação (ALVARENGA, 1997).

Campos Junior (2004) relata que o denominado direito de

propriedade habita os textos constitucionais brasileiros, desde a Constituição do

Império, porém garantindo esse direito em toda a sua plenitude. A Constituição de

1934, ao disciplinar a propriedade, vedou a sua utilização contra o interesse social

ou coletivo. Porém, no Texto Constitucional de 1937, a propriedade ficava

novamente livre das amarras da função social. Por meio da Constituição de 1946, no

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artigo 1473, o direito de propriedade passou a ser condicionado ao bem-estar social.

As Constituições de 1967 e de 1969 declararam explicitamente a função social da

propriedade. A Carta Política de 1988 foi mais detalhista com relação à função

social.

Segundo Benjamim (2004), qualquer análise moderna da proteção

ambiental no Brasil, sempre há de começar pela Constituição Federal de 1988, que

pela primeira vez em sede constitucional cuidou da matéria. Inicia-se pelo Direito de

Propriedade, estabelecido na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003), que

impõe, como restrição, o respeito à sua função social. No artigo 186 da CF/88, que

tem profunda identidade com o artigo 2º § 1º do Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64),

encontram-se quatro requisitos determinantes da função social. Literalmente:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Com relação ao dispositivo apresentado cabe salientar, que consta

no Estatuto da Terra, que é dever do Poder Público (BRASIL, 2002b):

a) promover e criar as condições de acesso do trabalhador rural à

propriedade da terra economicamente útil, de preferência nas

regiões onde habita ou quando as circunstâncias regionais o

aconselhem, em zonas previamente ajustadas na forma do

disposto na regulamentação desta Lei; 3 Artigo 147: “O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social. A lei poderá, com

observância do dispositivo no artigo 141, inciso 16, promover a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos”.

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52

b) zelar para que a propriedade da terra desempenhe sua função

social, estimulando planos para a sua racional utilização,

promovendo a justa remuneração e o acesso do trabalhador aos

benefícios do aumento da produtividade e ao bem-estar coletivo.

O Estatuto da Terra, no artigo 65, estabelece que o imóvel rural não

pode ser fracionado em unidades fundiárias de dimensões inferiores ao módulo

rural4, uma vez que a propriedade da terra está condicionada à função social. O

módulo apresenta, em tese, a dimensão mínima da propriedade familiar

indispensável para garantir a atividade produtiva do imóvel. Contudo,

[...] a eficiência produtiva de uma família rural guarda relação direta com uma série de fatores, desde os de ordem educacional até os dependentes do Poder Público, sendo lícito concordar quanto às dificuldades bem maiores com que se defrontam os que estão ligados às atividades rurais (ALVARENGA, 1997, p.66).

Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Paraná – Faep

(2004), o não cumprimento da função social, torna a propriedade suscetível a multas

específicas e até mesmo à desapropriação por interesse social, para fins de reforma

agrária, excetuando-se os casos de pequenas e médias propriedades, quando único

imóvel e as propriedades consideradas produtivas, conforme os parâmetros da lei.

As multas são aplicadas pelo não cumprimento das legislações ambientais,

trabalhistas e previdenciárias. As desapropriações podem ocorrer no caso de não se

obter os parâmetros de produtividade previsto em lei, ou seja, não alcançar o Grau

de Utilização da Terra - GUT e o Grau de Eficiência da Exploração – GEE (ver

Glossário). Assim, o procedimento mínimo do agricultor é ter a reserva legal

averbada na matrícula do imóvel, manter ou recuperar as áreas de preservação

4 É uma unidade de medida, expressa em hectares, que busca exprimir a interdependência entre a

dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do seu aproveitamento econômico.

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permanente, atentar para que a produtividade da propriedade atinja os parâmetros

previstos em lei e atender à legislação trabalhista.

Marques (2004, p. 57) ressalta que a grande questão é como

comprovar o cumprimento de todos os requisitos da função social da propriedade. O

Incra e o Ibama cuidam da avaliação pertinente à ótica econômica e ecológica. A

dificuldade maior fica para os requisitos que configuram a visão social. As principais

questões são: quem deve investigar a observância das relações do trabalho ? E o

“bem-estar” dos proprietários e dos trabalhadores rurais, como se comprova ? Para

o referido autor a não fiscalização do cumprimento dos tais requisitos, deixa

vulnerável a grande maioria dos estabelecimentos rurais. Por outro lado, ele

assevera que

[...] não se pode esperar das autoridades governamentais atitudes mais agressivas, na medida em que a política agrícola desenvolvida, na atual conjuntura, registra distorções marcantes, que têm inviabilizado ao empresário rural uma performance mais satisfatória.

Para Colares (2001), a análise da função social da propriedade não

pode passar ao largo de duas questões: o que se coloca como meio de produção é

a terra, sendo a propriedade um atributo conferido a esta; o desenvolvimento

humano e o respeito ao meio ambiente, devem sempre ser considerados

privilegiadamente em relação ao direito de propriedade.

Colares (2001) assevera que a função social da propriedade é um

instrumento capitalista, que entre outras coisas, preserva o direito de propriedade.

Ressalta que a função social “é resultado do processo de civilização da humanidade

com o intuito de considerar a terra como um bem básico e coletivo, embora

particularmente apropriado segundo o sistema econômico de cada cultura”.

Campos Junior (2004) afirma que não se pode deixar de reconhecer

que as raízes da propriedade se fincam antes à conjuntura social que a legitima, e

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que cada vez mais imposições de ordem social, política e econômica, estabelecem

limites de conteúdo e de exercício do direito de propriedade.

Para a análise da função social da propriedade é preciso considerar

suas características sistêmicas e multidisciplinares. Nota-se na literatura a

fragmentação desse dispositivo legal, esquecendo-se rotineiramente a condição de

simultaneidade exigida, que preza pela totalização das partes. Busca-se,

simultaneamente, na função social da propriedade, resultados satisfatórios nos

indicadores econômicos, de preservação ambiental, de relações de trabalho e de

bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Em outras palavras, busca-se

conciliar as partes conflitantes do todo, pois no atual modelo agrícola dominante a

produtividade da agricultura tem aumentado às custas da utilização de agroquímicos

e da mecanização, reconhecidamente agressivos ao meio ambiente. No entanto,

pouco se discute acerca dos fatores externos, que subordinam os agricultores a

produzirem de acordo com o “pacote tecnológico”, ofertado há mais de 20 anos pelo

capitalismo, cujas conseqüências desastrosas para o desenvolvimento rural já são

bastante conhecidas.

Na prática, nota-se que essa fragmentação também se faz presente

na propriedade rural, onde estão (ou deveriam estar) separadas as áreas de

preservação permanente, de reserva legal e de exploração agrícola. A área de

preservação do imóvel deve ser administrada pela própria natureza, com o mínimo

possível de intervenção do homem. A área de reserva legal é um misto de

preservação com conservação, onde se admite um certo nível de exploração

comercial e de intervenção do homem. Na área de exploração agrícola, exige-se

uma intervenção do homem para o seu aproveitamento racional e adequado, pois

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precisa obter, no mínimo, os parâmetros pré-estabelecidos de produtividade com

explorações que favoreçam o bem-estar do proprietário e dos trabalhadores.

Contudo, a administração do imóvel rural, mesmo que

precariamente, é sistêmica. O proprietário cuida das partes do imóvel de forma

isolada, mas tem que dar conta do todo. Recai sobre ele a responsabilidade e o

ônus de atender a função social da terra. Para ser bem sucedido ele precisa dominar

ou ter acesso aos conhecimentos e aos recursos que vão permitir que cada parte da

sua propriedade seja bem utilizada, conforme a sua aptidão técnica e legal. Essa é

uma tarefa complexa e agravada por fatores conjunturais, tais como: a dívida social

no campo, a falta de uma política pública mais consistente de apoio à agricultura

familiar, o modelo agrícola capitalista que se apropria do lucro advindo do trabalho

no campo, dentre outros.

O enfoque sistêmico não é comum, tanto na formação quanto na

prática dos profissionais que atuam na atividade agrícola, o que pode explicar a

escassez de estudos acadêmicos e profissionais que relacionam, num só corpo, os

requisitos da função social da propriedade. Assim, pouco se sabe da real exigüidade

e viabilidade do dispositivo no seu conjunto. Além do mais, muito do que se exige na

legislação, pouco se vê aplicado nos casos concretos, tal como foi constatado por

Colares (2001) ao afirmar que

[...] não é preciso ser um grande hermeneuta para saber que há situações em que o cumprimento da função social da propriedade já se faz de todo impossível – trabalho escravo...agressão irremediável ao meio ambiente...Os prejuízos sócio-ambientais não podem ser maquiados com reparações cosméticas, posto que as chagas psico-sociais e a agressão ambiental não podem ser simplesmente corrigidas, pois suas marcas são por vezes perenes ou, no mínimo duradouras.

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Os sistemas de produção agropecuários são diversos. Para tipificá-

los, usualmente se combinam as seguintes variáveis: localização territorial do

imóvel, categoria social dos agricultores, explorações econômicas predominantes e

o modelo agrícola desenvolvido (CARVALHO et al., 2001). Assim, é possível

descrever os tipos de sistemas de produção agropecuários, com as características

que vão lhes conferir diferentes graus de aproximação ao atendimento dos

requisitos, exigidos na função social da propriedade. Alguns deles poderão se

mostrar completamente inviáveis, outros necessitarão de ajustes para se tornarem

viáveis e apenas uma parte apresentará condições plena de atendimento às

exigências do dispositivo legal.

Os ajustes dos sistemas de produção agropecuários precisam ser

analisados individualmente ou por tipos de sistemas de produção similares. De

qualquer forma, além de se verificar a dinâmica interna de cada sistema de

produção, é preciso entender claramente quais são as relações que esses sistemas

têm com o ambiente externo. Em outras palavras, acredita-se que não basta

somente exigir competência dos agricultores para o atendimento ao dispositivo legal,

pois os sistemas de produção agropecuários, que eles desenvolvem, estão

fortemente subordinados ao modelo agrícola dominante, que, na maioria dos casos,

lhes ditam como produzir, que preço pagar pelos insumos, o que produzir e quanto

vão receber pelo produto colhido. O resultado desse processo é, em boa parte dos

sistemas de produção agrícolas, a falta de recursos para os agricultores

promoverem as melhorias necessárias nas propriedades. Tais observações não

isentam as condutas irresponsáveis de agricultores que ultrapassam os limites de

racionalidade necessária para a preservação ambiental e a justiça social. Também

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não se devem isentar as organizações que financiam ou dão qualquer tipo de

suporte para a promoção desses abusos.

Verifica-se, na função social da propriedade, uma definição

semelhante à da multifuncionalidade agrícola adotada na União Européia, a qual

será tratada mais adiante. Embora haja semelhanças, a abordagem da

multifuncionalidade agrícola é diferente. Entre as diferenças, está o fato da

sociedade européia reconhecer a atividade agrícola em si como fator primordial para

a manutenção da ordem social e compartilhar com os agricultores o ônus pela

proteção do patrimônio natural existente na propriedade privada, ao contrário do que

se vê na legislação brasileira, que prega a gratuidade por parte do Poder Público,

recaindo somente ao proprietário do imóvel rural essa obrigação. Nessa

circunstância, a sociedade brasileira poderá se beneficiar de algo pela qual ela não

pagou para ter, caracterizando, segundo Moraes (2002), um enriquecimento ilícito.

Todavia, Marques (2004, p. 58) observa que é inconcebível ver todo

o aparato legal, inclusive em sede de Constituição Federal, sem produzir resultados.

Em suas próprias palavras, “a continuar assim, terminará sendo letra morta o acervo

normativo consagrador da doutrina da função social da propriedade, construída ao

longo da história”.

2.2.2 Código Florestal e Reserva Legal

Neste item, pretende-se apresentar e discutir os instrumentos legais

que disciplinam a imposição da reserva legal e suas implicações para os

proprietários de imóveis rurais.

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Segundo Antunes (2005), ao longo de toda a história do Brasil, têm

sido criadas muitas leis voltadas para a disciplina das atividades madeireiras e

florestais, que vão desde o Período Colonial até os dias atuais. Para exemplificar,

destaca-se o Regimento do Pau-Brasil, no século XVII, pelo qual ficava proibido o

corte do pau-brasil sem expressa autorização das autoridades públicas. Também

merece destaque, a Carta Régia de Lei de 15 de outubro 1827, que incumbia aos

juízes de paz das províncias a fiscalização das matas e zelar pela interdição do corte

das madeiras de construção em geral, da qual se originou o termo “madeira de lei”.

A iniciativa de criação de um Código Florestal surgiu quando o

presidente Epitácio Pessoa formou uma subcomissão para elaborar o anteprojeto do

futuro Código Florestal, por volta de 1920. Porém, foi em 1934 que o projeto foi

transformado no Decreto nº 23.793, conhecido por Código Florestal de 34 (BRASIL,

1934).

Uma das inovações mais ousadas do referido Código foi a que reza

o artigo 23 – “Nenhum proprietário de terras cobertas de matas poderá abater mais

de três quartas partes da vegetação existente, salvo o disposto nos artigos 24 e 51”

(BRASIL, 1934, p. 527). Essa limitação poderia ser interpretada de caráter único de

preservação ambiental, se não constasse, no artigo 51, a permissão

[...] aos proprietários de florestas heterogêneas, que desejarem transformá-las em florestas homogêneas, para maior facilidade de sua exploração industrial, executar trabalhos de derrubada ao mesmo tempo de toda a vegetação que não houver de subsistir, sem a restrição do artigo 23, contanto que, antes do inicio dos trabalhos, assinem, perante a autoridade florestal, termo de obrigação de replantio e trato cultural por prazo determinado, com as garantias necessárias (BRASIL, 1934).

Nota-se claramente, que a reserva de três quartas partes da

vegetação, mencionada no Código Florestal de 34, não tinha finalidade de

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preservação ambiental, pois pouco ou quase nada limitava o proprietário rural de

efetuar o uso econômico da área para fins de exploração florestal.

Apesar do esforço legislativo realizado com a publicação do Código

Florestal de 34, Antunes (2005, p. 557) relata que “ele era um instrumento débil e

incapaz de enfrentar as gravíssimas questões suscitadas pela atividade madeireira e

a necessidade de proteção legal das florestas”.

A revisão do Código Florestal de 34 resultou no Código Florestal de

1965, estabelecido através da Lei Nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, promulgada

no período da Ditadura Militar. A referida lei baseou-se na Constituição de 1946, cujo

artigo 5º, inciso XV, alínea 1, versava que competia à União Federal legislar sobre

as florestas, não excluindo a competência dos Estados quanto à edição de

legislação estadual supletiva ou complementar.

Em vigência e com várias alterações desde a sua edição original, o

Código Florestal de 1965 começa por ressaltar, em seu Artigo 1º, que

as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem (MORAES, 2002, p. 15).

Para Benjamin (2004), duas conclusões podem ser retiradas do

dispositivo em questão. A primeira é que o Código, embora denominado "florestal",

tem um campo de aplicação muito mais amplo do que sua denominação indica, visto

que se aplica às florestas e também às "demais formas de vegetação", ou seja, não

só os complexos arbóreos, mas igualmente qualquer forma de vegetação nativa. A

segunda, afirma serem as florestas e demais formas de vegetação bens de interesse

comum a todos os habitantes do país, o que representa a intenção do legislador em

conciliar as necessidades de intervenção com o resguardo do domínio privado. Ou

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seja, o proprietário, mesmo nos limites estritos de seu imóvel, não tem total e

absoluta disposição da flora, só podendo utilizá-la na forma e com os limites

estabelecidos pelo legislador. Sem serem proprietários todos os habitantes do País

têm um interesse legítimo no destino das florestas nacionais, privadas ou públicas.

O termo “reserva legal” passou a integrar o Código Florestal de

1965, por meio da redação dada pela Lei nº 7.803, de 15 de junho de 1989, porém a

sua definição foi alterada pela Medida Provisória nº 1.956-50, de 26 de maio de

2000, conforme apresentada a seguir (MORAES, 2002, p. 100):

Reserva legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativa.

Para Moraes (2002) a reserva legal não possui função vinculada ao

imóvel especificamente, sendo limitação mais preocupada com a melhoria regional

da biodiversidade, do que propriamente do ecossistema interno da propriedade,

como ocorre com as áreas de preservação permanente. O autor argumenta que a

reserva legal é tratada como um adicional à área de preservação permanente, com

finalidade paralela uma da outra.

Para complementar a compreensão do significado da reserva legal,

recomenda-se a leitura do artigo 16 do Código Florestal, no Anexo A, com redação

dada pela Medida Provisória nº 2.166/01-67, com prazo de validade estendido pelo

art. 2ª da Emenda Constitucional nº 32/2001.

Moraes (2002, p. 97) afirma que

[...] o Poder Público pode retirar ou restringir direitos dominiais, ou sujeitar o uso da propriedade ao interesse público. Nesse intuito o Poder Público pode agir de duas maneiras: pela limitação administrativa ou pela desapropriação.

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A limitação é definida como toda imposição geral, gratuita, unilateral

e de ordem pública, que condiciona o exercício de direitos ou de atividades

particulares às exigências da função social. É implementada de forma imperativa,

obrigando o administrado a fazer ou não fazer, mas sem retirar a utilização

econômica do bem. Se isso ocorrer, necessária será a reposição patrimonial, ou

seja, a indenização dos prejuízos acarretados ao proprietário (MORAES, 2002).

Com relação à gratuidade da constituição da reserva legal, Machado

(2004) considera que não cabe indenização ao proprietário por parte do Poder

Público, pois se aplica concretamente o princípio constitucional da função social da

propriedade.

Antunes (2005) também considera que a reserva legal é uma

obrigação que recai diretamente sobre o proprietário do imóvel, independente de sua

pessoa ou da forma pela qual tenha sido adquirida a propriedade. Trata-se de um

ônus real que recai sobre o imóvel e que obriga o proprietário e todos aqueles que

venham a adquirir tal condição.

Campos Júnior (2004, p. 211) afirma que “é dever do Estado e dos

cidadãos perseguirem os objetivos de proteção ambiental, como única alternativa de

sobrevivência do planeta e da própria espécie humana”. Nesse sentido, as áreas de

preservação permanente e as reservas florestais legais estão especialmente

definidas no Código Florestal. Porém, ele considera que não pode o proprietário

acionar o Poder Público para pleitear indenização pelo fato de ter o uso de sua

propriedade limitado pela exigência de manutenção das áreas de preservação

permanente e da reserva legal. O referido autor justifica que tal vedação decorre não

apenas do fato de terem sido ambas instituídas por lei de 1965 (Código Florestal), o

que sinaliza a prescrição de eventuais ações de indenização, mas também porque

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tais áreas não inviabilizam o exercício do direito de propriedade do restante do

imóvel.

No entanto, outros autores defendem a tese de que a reserva legal é

uma restrição à utilização da terra, que causa maior impacto ao produtor rural,

justificando-se análises mais apuradas para conhecimento dos seus contornos

atuais.

Para Pereira (2004), não se discute que todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações, no que

as reservas legais desempenham um importante papel. Discute-se, todavia, se os

benefícios proporcionados a toda sociedade pelas reservas legais devem ser

suportados somente pelos proprietários de imóveis rurais. O referido autor advoga

que o Superior Tribunal de Justiça, em diversas oportunidades, afastou a obrigação

do proprietário rural em recompor a floresta legal inexistente em seu imóvel rural,

porque foi desmatado antes da vigência da legislação que exige sua instituição.

Porém, ele complementa afirmando que a Justiça mudou radicalmente seu

entendimento, passando a prestigiar as disposições favoráveis ao meio ambiente em

detrimento das disposições que protegem a propriedade. Assim, por versar sobre

temas constitucionais (direito adquirido, direito da propriedade e meio ambiente) a

discussão deverá ser, definitivamente, decidida somente pelo Supremo Tribunal

Federal.

Silva (2004), em defesa da não gratuidade da constituição da

reserva legal ao Poder Público, afirma que

[...] surgiu no ordenamento jurídico brasileiro, a partir de 26 de maio de 2.0005, uma exigência substancialmente nova sob o mesmo nome de Reserva Legal. A norma vigente está a exigir, sob tal título, uma

5 Medida Provisória nº 1.956-50, de 26 de maio de 2000, que altera os arts. 1º, 4º, 14 º, 16º e 44º, e

acresce dispositivos à Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o Código Florestal.

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proteção ecológica mais ampla do que a simples reserva florestal até então requerida pela legislação modificada [...].Em face do direito patrimonial já aperfeiçoado e integrado na titularidade dos atuais proprietários antes da citada data, resta, agora, apurar e definir como e por quem serão reparados os ônus dessas novas restrições. Restrições que, sem dúvida, são de inegável interesse público, porque da conveniência de toda sociedade [...] que o Poder Público não há que alcançá-lo gratuitamente, sob pena de grave injustiça e ilegalidade [...] o atual proprietário de imóvel rural não pode e não deve arcar sozinho com os custos e ônus desta nova exigência adicional que lhe diminui o patrimônio e o potencial de renda que faz parte de sua própria subsistência. Como a terra é a fonte de sobrevivência pessoal e familiar do produtor rural, mutatis mutandi, seria ferir o princípio da irredutibilidade do salário. Seria confiscar-lhe um pedaço do patrimônio pessoal legitimamente seu, para pagar não uma conta sua, mas uma obrigação de responsabilidade de toda sociedade brasileira.

Moraes (2002, p. 99) argumenta que a reserva legal “é

desnecessária, até gravosa” para a propriedade enquanto atividade econômica.

Porém, para o meio ambiente passa a ter importância. Assim, “se o benefício é

coletivo e indiviso, mas o prejuízo é singular do proprietário, deve o Estado

equacionar o fator”. Ele conclui que “o proprietário perdeu o dominus por intervenção

alheia”, não se podendo, portanto, qualificar a reserva legal como simples limitação

administrativa, pois reduz o valor e o ganho econômico da propriedade com a

vedação de corte raso.

Outro ponto importante que Moraes (2002, p.105) salienta é a

exigência acerca da localização da reserva legal, que deve ser aprovada pelo órgão

ambiental estadual competente. O autor argumenta que

[...] se é ato prévio e formal, cuja condução é do Poder Público, ninguém será obrigado a averbar a reserva legal antes de determinação expressa da autoridade florestal, a qual deve ser antecipada de procedimento administrativo no sentido de delimitar a área, com despacho de mérito fundamentado a razão da escolha de certa área em detrimento das demais.

Moraes (2002) conclui que não existe reserva legal, nem sua

exigência, enquanto o Poder Público não notificar o proprietário ou possuidor de

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imóvel rural. Complementa que o proprietário pode, mas não é obrigado a iniciar

espontaneamente o procedimento de delimitação, medição e averbação, pois pode

estar contrário aos critérios estabelecidos pelo Poder Público. Cabe ressaltar que ou

tem-se implantada e averbada a reserva legal ou é melhor utilizar a área, uma vez

que a mesma será considerada no cálculo de produtividade do imóvel.

Segundo Moraes (2002, p.111), outro ponto central de divergência

entre as facções do Supremo Tribunal de Justiça – STJ, diz respeito à prescrição

vintenária, pois o Código Florestal é de 1965 e o direito de ação indenizatória

prescreveu em 1985. No entanto, o autor advoga que “sequer iniciou o prazo de

prescrição quanto ao pedido de indenização pela servidão nas áreas de reserva

legal, cujo início será marcada pela averbação na matrícula do imóvel”.

Bezerra e Munhoz (2000) asseveram que, como regra geral, o

proprietário desmata impunemente toda superfície florestal de sua propriedade. Isso

ocorreu com a Mata Atlântica brasileira, onde a reserva legal de 20% de cada

propriedade não existe mais e o proprietário continua obtendo facilidades junto aos

governos, em uma demonstração de plena impunidade e omissão da autoridade

pública ao longo dos anos.

Bacha (2004) certifica que o cumprimento da reserva legal no Brasil

é muito pequeno, sendo que, em 1998, cerca de 7% dos imóveis rurais a detinham e

entre os que a possuíam o montante estava abaixo do fixado em lei. Ele afirma que

a avaliação do cumprimento da reserva legal no Brasil é prejudicada pelo fato das

estatísticas cadastrais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –

Incra, serem falhas e se referirem a 1998. Assim, para que o trabalho de fiscalização

e exigência do cumprimento da reserva legal seja feito é necessário ter um novo

cadastro de imóveis do Incra.

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Dubois (2004) afirma que as principais causas da inaplicabilidade

efetiva dos dispositivos legais, que disciplinam a imposição da área de preservação

permanente – APP e da reserva legal – RL são:

a) a combinação de dois fatores: as dimensões continentais do

Brasil e a insuficiência dos recursos orçamentários, destinados

aos serviços oficiais de pesquisa, extensão florestal /

agroflorestal e tarefas de acompanhamento e fiscalização por

parte das instituições governamentais;

b) muitos dispositivos legais que incidem, simultaneamente, sobre a

conservação da natureza e usos produtivos da terra, foram

elaborados e sancionados sem adequado conhecimento da

realidade social do meio rural, surgindo, dessa forma, fatores que

favorecem a inaplicabilidade efetiva desses dispositivos;

c) a pobreza ou a falta de recursos financeiros para fins de

investimento na propriedade rural;

d) exigir o que, na prática, é atualmente impossível (ilustra-se com o

exemplo da Resolução SMA 47-03, publicada no Diário Oficial do

Estado de São Paulo, no dia 27 de novembro de 2003, que

dentre outras exigências ao produtor rural, estipula um mínimo de

80 espécies arbóreas regionais nativas para serem utilizadas na

restauração de APP e RL).

Com relação aos impactos econômicos, Bacha (2004) constatou,

com base em um estudo da bacia do Rio Piracicaba, que a reposição da reserva

legal, nos limites fixados em lei, não implicam necessariamente em grandes

prejuízos à produção agropecuária, pois há muita terra ociosa dentro dos imóveis

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rurais, classificadas como inaproveitáveis ou sob a forma de pastagens. Porém, o

autor alerta que são poucos os estudos que avaliam os impactos econômicos

causados pela imposição da reserva legal. Contudo, o uso de área sob a forma de

pastagens, da forma como foi mencionado pelo referido autor, não deve ser

considerado como improdutiva ou ociosa, salvo se não alcançar os índices de

produtividades estabelecidos pelo Incra.

Volta-se a reafirmar que, segundo o conceito em lei da função social

da propriedade, o imóvel rural precisa atender, simultaneamente, os requisitos de

ordens econômica, social e ambiental. Portanto, as áreas de reserva legal e de

preservação permanente, que exercem um importante papel no requisito ambiental,

não devem inviabilizar o atendimento aos demais fatores exigidos na função social

da propriedade. Para essa análise não bastam os argumentos, algumas vezes

manifestados por legisladores e ambientalistas, que tais áreas não inviabilizam o

exercício de exploração do restante do imóvel rural. Também não é o caso de se

acatar a tese defendida por grupos mais conservadores, de que a reserva legal e a

área de preservação permanente inviabilizam o uso econômico da propriedade. É

preciso conhecer, utilizando-se métodos e instrumentos confiáveis, se o proprietário

do imóvel, ao exercer a exploração de sua propriedade, vai conseguir atender,

simultaneamente, o que se exige no referido dispositivo legal.

Portanto, advoga-se neste trabalho que sejam adotadas análises

mais apuradas, com enfoque sistêmico e multidisciplinar, por grupos de sistemas de

produção agrícolas similares para se obter os indicadores econômicos, ambientais e

sociais, que possam apontar os ajustes, internos ou externos, necessários para o

atendimento de forma equilibrada da função social da propriedade. Tais estudos

podem gerar informações que vão resgatar a serenidade necessária para amenizar

Page 66: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

67

as discussões entre grupos que defendem interesses particulares, que não sabem

ou não querem avaliar com mais certeza as conseqüências daquilo que estão

defendendo. É óbvio que o meio ambiente precisa ser protegido. É óbvio também

que o agricultor precisa ter condições de trabalho e de renda. A tarefa de conciliar

esses interesses é complexa. Assim, o que se pretende, nesta pesquisa, é também

contribuir com propostas metodológicas para gerar conhecimentos que permitam

intervenções mais precisas e justas, no sentido de se buscar soluções criativas e

inteligentes, que possibilitem o cumprimento da função social da propriedade.

Outro ponto importante, com relação à reserva legal, diz respeito aos

critérios de uso dessa área para fins econômicos, cuja permissão está diretamente

relacionada com o conceito de manejo florestal sustentável, o qual será apresentado

no item a seguir.

2.2.3 Manejo Florestal Sustentável

Como foi visto anteriormente, a reserva legal é uma área particular

protegida por lei, localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, onde se

proíbe a supressão total da vegetação, mas se permite o desenvolvimento de

atividade econômica, principalmente por meio do manejo florestal sustentável. Dessa

forma, é indispensável a inclusão deste item na fundamentação teórica desta

pesquisa.

Embora o Brasil seja um país com grande vocação florestal, no

Paraná, principalmente na região norte, as atividades florestais, independentes do

tipo de manejo, não são comuns em pequenas propriedades familiares. Tais

atividades são consideradas pelos produtores pouco lucrativas, motivo pelo qual não

Page 67: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

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são identificadas propriedades tipicamente florestais. Normalmente, as áreas

ocupadas com florestas nessas circunstâncias não são aptas para a mecanização,

estão protegidas por lei ou trata-se de uma opção do agricultor de produzir madeira

para consumo próprio em sua propriedade. Estudo realizado por Fontes et al. (2003)

apresentou um quadro semelhante, confirmando a falta de interesse por atividades

florestais em pequenas propriedades familiares.

O termo “sustentável”, correntemente usado em diversos setores,

está presente também no setor florestal, agregando um significado mais abrangente

e complexo ao clássico conceito de manejo florestal, que enfatiza a produção de

produtos, serviços e benefícios na quantidade e na qualidade requeridas. A

expressão atual “Manejo Florestal Sustentável”, incorpora a idéia da produção de

bens e serviços de forma perpétua numa mesma unidade de área, com benefícios

sociais e econômicos, além do compromisso de uma relação harmoniosa com o

meio ambiente.

Todavia, Ahrens (1997) alerta que a popularização do termo “Manejo

Florestal Sustentável” resultou na criação de importantes diferenças quanto ao seu

real significado, seus potenciais e suas limitações. Ele constata a necessidade de se

fazer um exame dos fundamentos conceituais, que caracterizam o pensamento

contemporâneo nesta área de conhecimento. No exame proposto, o autor resgata

uma seqüência de conceitos - rendimento sustentado, regulação da produção, usos

múltiplos, desenvolvimento sustentável, diversidade biológica - que foram agregando

novos significados e que contribuíram para originar o conceito atual de manejo

florestal sustentável. Descreve-se, a seguir, o significado de cada um desses

conceitos.

Page 68: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

69

O termo “rendimento sustentável” tem sido, tradicionalmente,

considerado na silvicultura desde o início do século XVIII, na Europa. O princípio da

sustentabilidade estabelecia o propósito de possibilitar um balanço aproximado entre

crescimento ou incremento da floresta e o volume explorado de madeira, dentro de

um tempo razoável.

A “regulação da produção” diz respeito ao conjunto de

procedimentos que permitem determinar as dimensões, a quantidade, a localização

e o volume de madeira a ser cortada e removida de uma floresta de forma

sustentada.

O princípio de “usos múltiplos” significa a administração de uma

determinada área com cobertura florestal, com diferentes propósitos, tais como: a

proteção de mananciais e cursos d’água, recreação, beleza cênica, manutenção de

habitat para a fauna silvestre, produção de madeira, dentre outros usos. Ahrens

(1997) adverte que se torna praticamente impossível produzir uma multiplicidade de

benefícios em áreas muito pequenas, ou seja, esse princípio é mais apropriado para

grandes extensões de terra.

Os termos “desenvolvimento sustentável e biodiversidade” já foram

apresentados no item 1.1 deste capítulo. Com relação ao primeiro termo, ressalta-se

que a definição da Comissão Bruntland6 é a que tem maior reflexo no conceito de

“Manejo Florestal Sustentável”. Com relação ao segundo termo, implica na

consideração da variabilidade de todas as espécies, quer estas sejam desejáveis ou

não, o que confere um equívoco ao contexto do manejo florestal sustentável, pois

existe uma evidente preferência para as espécies que apresentam valor comercial.

6 Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, nosso futuro comum, 1988.

Page 69: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

70

Diversas definições de manejo florestal sustentável são encontradas

na literatura. Em comum, essas definições são compostas de termos que

expressam, num primeiro plano, a exploração florestal controlada com a finalidade

de gerar uma qualidade e quantidade de produtos suficientes no longo prazo, e, num

segundo plano, cuja ênfase pode variar entre diferentes autores, a manutenção ou

aumento da fauna silvestre e a proteção do meio ambiente para as gerações futuras.

Segundo relatório do Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais –

IPEF e do Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT (BRASIL, 2002a, p. 55), foi a

partir de 1992 que houve uma evolução do conceito antigo de “rendimento

sustentável” para o de “manejo sustentável”, o qual, além da dimensão econômica,

deve necessariamente estar também atrelado a pelo menos três outras dimensões:

ecológica, social e cultural. Todavia, alerta-se no referido documento que o único

aspecto concreto dessa nova abordagem é a sua base dimensional, “pois o manejo

sustentável será sempre um conceito, uma meta, um alvo, que é dinâmico em sua

essência e que reflete o conhecimento atual da natureza”.

Atualmente, a sustentabilidade da produção florestal é considerada

como resultado do manejo que procura ser economicamente viável, ambientalmente

adequado e socialmente justo.

Outra consideração necessária, diz respeito à definição do que se

entende por floresta, um termo que parece ser muito genérico, ou seja, não distingue

as florestas primitivas e as florestas artificiais.Qual é o significado do termo floresta?

Felipe (2003), observa que na disciplina jurídica das florestas no

Brasil, o termo “floresta” não está definido, deixando ao intérprete da lei essa árdua

tarefa. Para o referido autor, após ter examinado os dicionários e a literatura

especializada,

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71

[...] não resta a menor dúvida que a definição de floresta, se não for suplementada por legislação estadual, nos termos da competência concorrente, deve ser atualmente interpretada como qualquer tipo de floresta, natural ou exótica, com uma ou mais espécies e que quaisquer que sejam elas, cumprem a função sócio-ambiental, que se encaixa perfeitamente no texto constitucional e legal em vigor, qual seja: a proteção ambiental.

Todavia, o conceito de manejo florestal sustentável deverá ser, no

Brasil, um portal para disciplinar a exploração econômica de florestas, primitivas ou

não, principalmente as que se encontram em áreas de reserva legal. Resta saber se

na atual situação em que o desflorestamento é muito freqüente, tal conceito, além de

embasar as normas vigentes, servirá de referência e de estímulo para os

agricultores atenderem a legislação em vigor, recuperando as áreas destinadas à

reserva legal que foram desmatadas e utilizando-as de forma sustentável.

Para o IPEF e o MCT (BRASIL, 2002a, p. 56), a dimensão ambiental

do manejo florestal tem que ser vista como parte integrante do processo, pois ao

longo de sua evolução paradigmática atingiu a maturidade no sentido de pôr fim às

certezas e aos dogmas. Dessa forma, a natureza não é regida por determinismos

que não deixam nenhum lugar para a novidade. Encontrar o caminho para a

sustentabilidade é o papel relevante e atual da pesquisa para nortear o manejo

florestal sustentável. Ressaltam que “há necessidade do estabelecimento de critérios

e indicadores ambientais do manejo sustentável, cuja identificação, seleção e

validação de campo constituem-se em prioridades atuais”.

Um outro aspecto fundamental diz respeito à escala. O manejo

sustentável, além de sua característica multidimensional (econômica, ecológica,

social e cultural), tem também que ser considerado em diferentes escalas: a unidade

de manejo florestal, o horto ou fazenda florestal, a microbacia, a região, o país, a

biosfera. Assim, principalmente no que diz respeito aos critérios e indicadores

Page 71: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

72

ambientais, torna-se essencial considerar a existência de indicadores nessas

diferentes escalas.

Nas florestas nativas, além de toda a complexidade de sua

composição, com um grande número de espécies, com as mais diferentes

características silviculturais, ecológicas e tecnológicas, são poucas as informações

de como as plantas crescem, seja em áreas intactas, seja em áreas exploradas ou

ainda em áreas sujeitas a regime de manejo. Um dos importantes pontos a serem

abordados para estas florestas é a definição do ciclo de corte e também o

conhecimento de como o número de árvores, por classe de diâmetro, evolui ao longo

do tempo. Naturalmente que muitos outros pontos são extremamente relevantes

para que as florestas naturais possam ser utilizadas em bases sustentadas como,

por exemplo: suscetibilidade das espécies florestais à exploração; a racionalidade

econômica do manejo sustentado; uma maior eficiência no processo de

beneficiamento e aproveitamento da madeira, a racionalização das técnicas de

exploração e transporte, dentre outras.

Ehlers (1999) descreve três tópicos sobre a prática do manejo

florestal no Brasil. O primeiro diz respeito à política e legislação ambiental/florestal,

com destaque para a Constituição Federal de 1988 e para a Convenção

Internacional sobre Biodiversidade Biológica, à qual o Brasil é signatário, cujos

desdobramentos deverão ser verificados na legislação pertinente, tornando-a cada

vez mais coercitiva. O segundo refere-se ao manejo de florestas nativas tropicais,

cujo domínio de conhecimento ainda é incipiente. E o terceiro é o manejo de

florestas plantadas, no qual se verifica o alcance de resultados animadores.

As limitações do manejo de florestas tropicais no Brasil são

indicadas na literatura como sendo de ordem econômica, social e institucional e não

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de ordem técnica, embora se saiba que existem casos em que as falhas técnicas

foram as principais causas do fracasso. As controvérsias ao sucesso do manejo

florestal no país podem ser resumidas em (BEZERRA ; MUNHOZ, 2000, p. 74):

1. Controvérsias de ordem econômica:

a) as florestas são subvalorizadas;

b) a pressão de mercado geralmente leva o manejador a abandonar

suas práticas sustentáveis de manejo;

c) o estabelecimento de taxas de exploração muito baixas, que não

levam em conta os custos de reposição, as perdas e os serviços

ambientais das florestas;

d) as madeiras produzidas em florestas bem-manejadas não podem

competir com aquelas oriundas de exploração não-sustentadas,

estas muito mais baratas de produzir;

e) as limitações de mercado de espécies menos conhecidas fazem

com que nenhum cuidado seja tomado na exploração, de modo a

minimizar os danos às árvores dessas espécies; e

f) a baixa atratividade (rentabilidade) do manejo.

2. Controvérsias de ordem institucional:

a) a política nacional de uso da terra está destinado à conversão de

áreas de produção agropecuária;

b) os investimentos e os créditos públicos beneficiam atividades

concorrentes;

c) as estruturas da administração pública consideram, muitas

vezes, as florestas um empecilho ao desenvolvimento regional; e

Page 73: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

74

d) o governo brasileiro não dispõe de eficácia na concessão de

áreas públicas para a produção de madeira.

3. Controvérsias de ordem social:

a) práticas corretas de manejo requerem pessoal técnico e

trabalhadores bem-treinados;

b) representatividade inadequada ou falta de participação das

populações locais no estabelecimento de políticas florestais;

c) a pressão demográfica é outro fator limitante à sustentabilidade

da atividade florestal.

Apesar das controvérsias apresentadas, é consenso entre muitos

profissionais da área florestal, que o manejo sustentado de florestas tropicais é

possível, desde que haja planejamento adequado e controle rígido do plano de

manejo, além de créditos e eficácia institucionais.

Todavia, o Código Florestal favorece a ocorrências de pequenos

fragmentos florestais, pois impõe ao proprietário de imóvel rural a obrigação de

manter ou de repor a reserva legal. Nas condições do Paraná, principalmente na

região norte do Estado, onde a maioria dos estabelecimentos rurais possui áreas

inferiores a 50 hectares, essas fragmentações são constituídas de áreas inferiores a

10 hectares. Em tais circunstancias, torna-se um desafio refletir a respeito de um

manejo sustentável adequado com a finalidade ambiental desejável, pois esses

sistemas tendem à entropia.

Higuchi et al. (2003) afirmam que as reservas legais (fragmentos

florestais) podem ser manejadas para a produção de madeira, dependendo, porém,

do tamanho e da idade do fragmento. Segundo os autores, em fragmentos

pequenos, a tendência é mudar a composição florística de forma natural, com

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75

predominância de espécies oportunistas e pioneiras, consideradas de baixo valor

comercial pelas indústrias madeireiras.

2.3 AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

No Brasil, o uso predominante do recurso solo destina-se à

agricultura, seja para a produção de alimentos, de fibras ou de madeiras.

Freqüentemente são feitas afirmativas sobre sua vocação agrícola, classificando o

país como celeiro do mundo, baseadas quase que exclusivamente no fator solo,

visto a enorme extensão territorial brasileira. Esse potencial precisa ser referenciado

a algumas condicionantes relativas às naturezas do solo e do clima. Segundo o

IBGE (1993), apenas 4,2% são solos de boas características para a agricultura, ou

seja, solos profundos, bem drenados, predominantemente de textura média ou

argilosa, com fertilidade natural variando de alta a média. Esse percentual

representa cerca de 35 milhões de hectares. Do restante da área, 35,3% são

desaconselháveis para qualquer tipo de atividade agrícola e mais da metade do

território brasileiro sofre algum tipo de restrição mais séria, exigindo altíssimos

investimentos para sua utilização racional. O recurso solo tem sido também

intensamente usado para fins não-agrícolas, incluindo-se a mineração, as obras de

infra-estrutura, os assentamentos urbanos e industriais, as áreas de recreação e de

manutenção da biodiversidade. Com relação ao clima, a maior parte do país é de

clima tropical, em que os fenômenos naturais, somados com a deficiência de

práticas de manejo e conservação do solo e da água, provocam reações

indesejáveis, tais como a aceleração dos processos erosivos e a elevada incidência

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76

de ervas daninhas, de pragas e doenças de plantas e animais (BEZERRA;

MUNHOZ, 2000).

O modelo de agricultura mecanizada predominante no país se

expandiu em áreas mais planas, com facilidades creditícias para contratações de

serviços de destoca em áreas desmatadas, aquisições de máquinas e de insumos

modernos, tais como: sementes, corretivos de solos, fertilizantes e agroquímicos.

Por outro lado, verificou-se que o aporte de crédito foi extremamente seletivo. A

título de exemplo, apenas 21,5% do montante total de recursos financeiros

destinados ao Paraná, foram usufruídos por pequenos produtores rurais

(CARVALHO, 2001).

Esse modelo agrícola teve origem nos séculos XVIII e XIX a partir de

uma série de descobertas científicas e de avanços tecnológicos, como os

fertilizantes químicos, o melhoramento genético das plantas e os motores a

combustão interna. Iniciou-se um novo padrão de desenvolvimento para a

agricultura, num sistema mais intensivo de produção, baseado no emprego de

insumos industriais. Esse processo, que transformou profundamente a agricultura

culminou, na década de 70, com a chamada Revolução Verde (EHLERS, 1999).

Segundo Bourlegat (2003), o modelo de desenvolvimento rural, que

emergiu nos anos 70 e 80, do século XX, teve como suporte ideológico a razão

instrumental nas interações da sociedade com os elementos do ambiente de

tendência homogeneizante. Baseava-se na crença de um crescimento mediado pela

técnica como meio de se melhorar o desempenho geral do sistema. Desse modo, o

processo de desenvolvimento foi visto como simples agregação de ciência,

tecnologia e capital, quantificado pelo aumento da produção agrícola e da ampliação

do mercado exportador. A mediação da técnica significava uma racionalidade de

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77

aumento de lucros, com base na redução dos custos de produção, de modo a se

fazer frente aos preços médios de mercado.

Na mentalidade coletiva predominava a idéia de que o uso dos

recursos naturais poderia ser inteligível à razão, sendo possível controlá-la por meio

do domínio da tecnologia, avançando e ultrapassando seus limites. Essa forma de

representação coletiva de desenvolvimento não levava em conta para sua

constituição a biodiversidade e a sócio-diversidade, manifestadas nos diversos

ambientes particulares (BOURLEGAT, 2003).

A monocultura, com o uso maciço de produtos químicos, mudou os

sistemas de produção agrícolas tradicionais, resultando em efeitos nocivos.

Recentemente, o físico e filósofo Fritjof Capra relatou que “a mecanização das

lavouras e o uso intensivo de energia favoreceram os grandes produtores e as

empresas agrícolas, expulsando da terra as famílias que tradicionalmente exerciam

a atividade”. Ele afirmou que “no mundo inteiro um número enorme de pessoas,

vítimas da Revolução Verde, saiu das áreas rurais e foi engrossar as massas de

desempregados nas cidades” (SCHMIDT, 2004, p. 24).

Nesse contexto, Bourlegat (2003, p. 12) afirma que o modelo de

desenvolvimento rural não emergiu como evolução ou auto-renovação de modelos

existentes, mas que se superpôs aos padrões anteriores, “aos quais teve que se

combinar, por iniciativa e decisão de elementos externos e de uma instância

territorial mais ampla, a da União”. O novo modelo se sobrepôs ao anterior, cujas

práticas agrícolas tradicionais eram menos agressivas do ponto de vista ecológico.

O raciocínio equivocado, proposto pela Revolução Verde, baseou-se

no pressuposto de que a fome no mundo é causada por uma escassez global de

alimentos. Os executivos das grandes agroquímicas continuam falseando realidades

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políticas e sociais bem conhecidas ao afirmarem que a fome continuará, a menos

que as descobertas da biotecnologia sejam postas em práticas. No entanto, a fome

no mundo não é uma mera questão técnica, mas política (SCHMIDT, 2004).

As transformações que a agricultura tem experimentado nos últimos

vinte anos foram estudadas por um grupo de pesquisadores que se inspiraram na

teoria da regulação. Derivada do marxismo, a escola regulacionista pretende explicar

a capacidade do sistema capitalista de superar suas contradições, manifestadas em

crises mais ou menos longas, evitando cair nas “profecias catastróficas” que

caracterizam parte das análises econômicas marxistas. Na França, as crises

socioeconômicas das últimas décadas, que têm como maiores conseqüências os

aumentos do índice de desemprego e da degradação ambiental, têm mudado o

referencial de desenvolvimento agrícola, definido como prioritário pelas principais

Organizações Profissionais Agrícolas (OPA). Segundo Cazella e Mattei (2002, p.12),

[...] os estabelecimentos agrícolas profissionais com duas unidades de trabalho homem anual, sem nenhuma renda de atividades externas, adotando técnicas agrícolas intensivas e que se integram perfeitamente aos mercados, não são a norma. A diversidade não somente subsiste, mas se reproduz. O movimento de modernização não se traduziu pela generalização de um modelo único; ao contrário, as explorações agrícolas familiares demonstraram sua capacidade de responder às dificuldades da competitividade por vias diferentes.

Assim, o declínio da hegemonia de um modelo agrícola dominante

não afeta de forma drástica a agricultura, uma vez que o setor demonstra uma

grande capacidade de absorver outras formas de organização produtiva que se

distanciam do modelo. De fato, há diferentes formas de se fazer agricultura no

mundo todo, cada qual baseada num determinado paradigma que considera um

conjunto de valores e uma série de condicionantes ambientais, econômicas e

culturais. Todavia, atualmente busca-se difundir os modelos que melhor respondem

aos conceitos de agricultura sustentável.

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Bolfe; Siqueira e Bolfe (2004, p. 5) argumentam que se multiplicaram

as definições sobre a agricultura sustentável, porém todas incorporam os itens

abaixo:

Manutenção em longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola; o mínimo de impactos adversos ao ambiente; retornos adequados aos produtores; otimização da produção das culturas, com o mínimo de insumos químicos; satisfação das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais.

Segundo Bezerra e Munhoz (2000), o desenvolvimento científico e

tecnológico para uso do solo agrícola e não-agrícola, no Brasil, é substancial em

termos quantitativos e qualitativos. Contudo, parece consenso que o maior gargalo

se situa na viabilidade do uso das tecnologias e na exeqüibilidade da implementação

de ações de melhoria tecnológica do setor produtivo agroindustrial.

Diante dos pesados desafios de se conciliar produção agrícola com

preservação ambiental, a agricultura orgânica tem sido a alternativa mais

conseqüente. Passam de sete milhões de hectares de áreas atualmente cultivadas

com produtos orgânicos em vários países, com um potencial mercado consumidor

avaliado em cerca de US$ 22 bilhões (SCHMIDT, 2004).

Bolfe; Siqueira e Bolfe (2004) enfatizam que a questão sócio-cultural

é importantíssima, pois muitas propriedades rurais no Brasil têm menos de 100

hectares de área e grande parte dessas propriedades é ocupada pela agricultura

familiar, cujos sistemas de produção estão menos afetados pelo atual modelo de

produção. Em geral, estes agricultores têm dificuldade de acesso a terra, ao crédito

rural, às máquinas e equipamentos. Além disso, com a dimensão territorial do Brasil,

é preciso levar em consideração as peculiaridades regionais.

Diante dessa realidade, iniciou-se na metade da década de 90, do

século XX, um processo de descentralização das políticas públicas no Brasil, para

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fortalecer as iniciativas locais, nas quais se estabeleceriam novas formas de

integração e troca entre os diferentes setores de atividades. Nesse contexto, a

agricultura familiar tornou-se o foco das atenções, tema que será tratado na

seqüência deste trabalho.

2.3.1 A Agricultura Familiar

Verificou-se no item anterior, que o desenvolvimento rural foi

conduzido por políticas públicas influenciadas pela Revolução Verde, resultando na

adoção predominante de um modelo agrícola altamente consumidor de

agroquímicos e de fontes de energia não renováveis, além do aumento da ocupação

agrícola em áreas de desmatamento de florestas primitivas.

Todavia, não existiu um único padrão de regulação para a

agricultura, por organizações superiores, mas sim por um processo de troca e de

negociações influenciados por fatores culturais e de poder. Notou-se a necessidade

de uma reavaliação das políticas públicas voltadas para a agricultura, que

incorporassem os novos conceitos inclusos nos paradigmas, que buscam conciliar a

produção agrícola e o compromisso efetivo com o desenvolvimento social e a

recuperação ou restauração ambiental, promovendo uma sociedade sustentável.

Em países capitalistas desenvolvidos, a base social de

desenvolvimento agrícola é formada por unidades produtivas onde a gestão, o

trabalho e as regras de sucessão patrimonial são predominantemente familiares.

Geralmente, a agricultura familiar é definida a partir de três características centrais: a

gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por

indivíduos que mantêm entre si laços de sangue ou de casamento; a maior parte do

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81

trabalho é igualmente realizada pelos membros da família; a propriedade dos meios

de produção (nem sempre a terra) pertence à família e é em seu âmbito que se

realiza sua transmissão, em caso de falecimento dos responsáveis pela unidade

produtiva.

Em geral, a agricultura familiar desenvolve sistemas complexos de

produção, podendo combinar várias explorações agropecuárias e ocupações rurais

não-agrícolas. Evolui seguindo trajetórias diferentes. Às vezes desenvolvendo

atividades conservadoras na busca de uma renda mais estável, centrados em

mudanças incrementais (aumento de produtividade e redução nos custos de

produção). Outras vezes investindo e correndo mais riscos para tentar o aumento de

capital, com mudanças estruturais (investimentos em novas atividades, aquisição ou

arrendamento de terra, dentre outras).

Marques e Noronha (1998) relatam que o agricultor familiar, para fins

de acesso ao crédito rural, é caracterizado como sendo aquele produtor que tenha

ao menos 80% de sua renda proveniente de atividade agrícola, que explore uma

área igual ou inferior a quatro módulos fiscais7, que utilize fundamentalmente mão-

de-obra familiar e resida na propriedade rural ou em aglomerado urbano próximo.

Também se inclui como agricultor familiar todo aquele que cultive terra na condição

de proprietário, parceiro, posseiro ou arrendatário, juntamente com seus familiares.

O critério de exigir, para fins de acesso ao crédito rural, que a maior

parte da renda se origine da atividade agrícola, como acontece com o Programa

Nacional de Apoio a Agricultura Familiar - Pronaf, foi criticado por Del Grossi e Silva

(2000), pois ignora que uma parte cada vez mais importante da renda dos seus

7 Módulo fiscal: unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando

os seguintes fatores: tipo de exploração predominante no município; renda obtida com a exploração predominante; outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada; e conceito de propriedade familiar.

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82

beneficiários potenciais provém de atividades não-agrícolas e de transferências

previdenciárias do poder público. Tais críticas foram fundamentais para que

ocorresse uma revisão nos critérios de enquadramento de beneficiários do Pronaf.

Mais adiante se abordará, nesta revisão, as noções de pluriatividade e de

multifuncionalidade agrícola, que trata da importância das rendas não-agrícolas na

agricultura familiar.

Uma das características da expressão “agricultura familiar” é a sua

amplitude e flexibilidade, excluindo apenas as formas de organizações produtivas

ancoradas no emprego de grandes contingentes de trabalhadores assalariados que

caracterizam o oposto, a agricultura patronal (VEIGA, 1998).

Com base no Censo Agropecuário de 1995-1996, constatou-se a

existência de 4,86 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, que ocupavam uma

área de 353,6 milhões de hectares. Desses estabelecimentos, 4,14 milhões eram

familiares e ocupavam uma área de 107,8 milhões de hectares e geravam 38% do

valor bruto da produção vegetal (IBGE, 1998).

Com relação à renda, pelos dados do Censo Agropecuário de 1995-

1996, constatou-se um valor monetário anual de R$ 2.711,00 por estabelecimento

agropecuário familiar, resultando numa média de R$ 104,00 por hectare, incluindo

todas as regiões do Brasil. Os estabelecimentos patronais apresentaram uma renda

total de R$ 19.085,00, com apenas R$ 44,00 por hectare. Esses resultados

mostraram que a agricultura familiar obteve maior renda por unidade de área,

comparada com a agricultura patronal. A área média dos estabelecimentos rurais

familiares, no Brasil, foi de 26 hectares contra os 433 hectares de área média dos

estabelecimentos patronais. Na região Sul, a renda total e a área média dos

estabelecimentos familiares foram de R$ 5.152,00 e de 21 hectares,

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83

respectivamente. Nos estabelecimentos patronais a renda total e a área média foram

de R$ 28.158,00 e de 283 hectares (IBGE, 1998).

Com relação à ocupação da força de trabalho, contatou-se que a

agricultura patronal ocupava 6,4 pessoas por estabelecimento e a agricultura familiar

3,3 pessoas. A intensidade de ocupação por unidade de área foi de uma ocupação

para 67,5 hectares na agricultura patronal, contra uma ocupação para 7,8 hectares

na agricultura familiar. A intensidade de ocupação apresentou grande variação entre

as regiões do Brasil (IBGE, 1998).

Com relação ao valor bruto da produção agropecuária, a agricultura

familiar foi responsável por 38% da produção nacional, apesar de dispor de apenas

30% da área e 25% do crédito rural concedido ao conjunto das atividades

agropecuárias (IBGE, 1998).

Segundo Guanziroli et al. (2001), na área animal, os agricultores

familiares brasileiros produzem 24% da carne bovina, 52% do leite, 58% de carne

suína e 40% das aves e dos ovos produzidos. Na área vegetal, produzem 33% do

algodão, 31% do arroz, 72% da cebola, 67% do feijão, 97% do fumo, 84% da

mandioca, 49% do milho, 39% da soja, 46% do trigo, 58% da banana, 27% da

laranja, 47% da uva, 25% do café e 10% da cana-de-açúcar.

Veiga (1998) advoga que a agricultura familiar é tão mais

sustentável (estabilidade, resiliência e eqüidade), que é impossível imaginar que a

sociedade brasileira não venha a se dar conta do preço que está pagando por

acreditar no mito da maior eficiência da agricultura patronal.

Doretto et al. (2001) utilizaram o índice de dominância da força-de-

trabalho (IDFT) para a separação dos estabelecimentos familiares no conjunto de

estabelecimentos totais da agricultura paranaense, como segue: IDFT = FTF / FTT,

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84

onde, FTF significa força de trabalho familiar do responsável e membros da família e

FTT representa a força de trabalho total que é dada pela soma da FTF e o total de

equivalente-homem relativo à força de trabalho contratado. Quando IDFT assumisse

valor maior ou igual a 0,5 (meio) o estabelecimento era considerado como familiar.

Em complemento, quando o valor do IDFT fosse inferior a 0,5 (meio) o

estabelecimento era agrupado no conjunto dos não-familiares, com a designação de

empregador. Eles constataram que, do total de estabelecimentos agropecuários do

Paraná, 90% eram familiares e 10% não-familiares. Os estabelecimentos familiares

continuaram mantendo sua predominância na agricultura paranaense, pois se

apropriaram de 56% da área, de 83% do pessoal ocupado e de 58% do valor bruto

da produção vendida.

No entanto, Carneiro (2000) ressalta que falar em agricultura

familiar, na atual conjuntura, requer incorporar a complexidade das relações sociais

que definem e redefinem a família. Nessa perspectiva, torna-se necessário redefinir

também o universo de observação, privilegiando-se a família como unidade social e

não apenas como unidade de produção, como normalmente tem sido considerada

quando o assunto é a agricultura familiar.

Na agricultura familiar as decisões ocorrem entre os membros da

família e vão além da produção agropecuária. Precisam manter e recriar uma

dinâmica de processos que garanta a coesão do grupo familiar, além da busca do

atendimento às ilimitadas necessidades desse grupo. Portanto, as decisões que

refletem no sistema de produção agropecuário se entrelaçam com os objetivos de

fórum íntimo familiar.

Portanto, na perspectiva teórica de renda em propriedades rurais

familiares, deve-se considerar não apenas as atividades tipicamente agrícolas, mas

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85

também as ocupações rurais não-agrícolas e as novas oportunidades promissoras

de se remunerar os agricultores pela proteção do patrimônio natural. Dessa forma,

as abordagens sobre as noções de pluriatividade e da multifuncionalidade agrícola,

em especial da agricultura familiar, precisam ser incluídas nessa análise, bem como

as possíveis implicações se incorporadas às políticas públicas intencionadas em

promover uma sociedade sustentável.

2.3.1.1 A pluriatividade da agricultura familiar

Inicia-se pelas noções de pluriatividade, cujo debate é permeado por

questões diretamente relacionadas às novas funções assumidas no meio rural, às

redefinições do trabalho agrícola e aos redimensionamentos do papel social dos

agricultores familiares.

Del Grossi e Silva (2000) constataram que as atividades

agropecuárias ocupam cada vez menos tempo de trabalho das famílias rurais e

respondem por parte cada vez menor da renda dessas famílias. Esse processo é

decorrente da tendência de aumento das lavouras mecanizadas, que reduzem a

demanda de mão-de-obra e da tendência de queda dos preços das commodites

agrícolas no mercado internacional. Tais constatações sugerem uma crescente

importância das atividades e renda não-agrícolas entre as famílias rurais, ou seja, as

famílias rurais estão se transformando de famílias exclusivamente agrícolas em

pluriativas.

Cazella e Mattei (2002) destacam cinco elementos básicos na

discussão sobre pluriatividade: a multiplicidade de processos; a unidade de análise

relevante e o enfoque sobre as atividades não-agrícolas; a transitoriedade ou não do

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fenômeno; a pluriatividade enquanto estratégia de sobrevivência das unidades

familiares de produção; e os fatores promotores da pluriatividade.

O primeiro elemento, a multiplicidade de processos, poderia ser

considerado como uma adaptação do setor agrário às grandes transformações

macroeconômicas em que as famílias agrícolas, visando à estabilidade de renda,

aumentam suas atividades e conseqüentemente suas jornadas de trabalho. Essas

decisões internas aos sistemas de produção agropecuários são baseadas no

conjunto de forças externas que definem diferentes contextos. Por esse motivo, “as

formas de pluriatividade precisam estar amparadas no processo de reestruturação

do sistema capitalista e nas mudanças econômicas sociais em curso, as quais

caracterizam a pluriatividade como um fenômeno intersetorial” (CAZELLA; MATTEI,

2002, p. 3).

Com relação ao segundo elemento, a unidade de análise relevante e

o enfoque sobre as atividades não-agrícolas, destaca-se que a família, e não mais o

responsável pela atividade, passou a ser a base das análises, além disso, o novo

enfoque passou a dar atenção às atividades que ocorriam fora das propriedades.

Assim, “a pluriatividade descreve uma unidade produtiva multidimensional em que se

desenvolvem atividades agrícolas e não-agricolas, tanto dentro como fora dos

estabelecimentos e pelas quais são recebidos diferentes tipos de remuneração”

(CAZELLA; MATTEI, 2002, p. 5).

O terceiro elemento, a transitoriedade ou não desse fenômeno,

decorre da discussão acerca da transição econômica que estaria levando os

agricultores a proletarização ou se o fenômeno teria caráter mais estável e

permanente. Os estudos, principalmente na Europa, chamam a atenção para a

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87

perenidade do fenômeno. Com isso, a noção de pluriatividade foi ampliada e passou

a ser vista como uma forma alternativa de trabalho para as populações rurais.

Quanto ao quarto elemento, a pluriatividade enquanto uma

estratégia de sobrevivência das unidades familiares de produção, a maior parte dos

estudos realizados ressalta que a decisão de ter ou não mais atividades em um

sistema de produção agropecuário está relacionada a três variáveis fundamentais:

aos condicionantes familiares; às características das explorações; e às condições do

entorno socioeconômico. Em resumo, Cazella e Mattei (2002, p. 8) concebem “a

pluriatividade não apenas como uma estratégia de sobrevivência ou de acumulação

de capital, mas como resultado das inter-relações entre dinâmicas das famílias, das

explorações e do contexto socioeconômico”.

Os fatores promotores da pluriatividade, o quinto elemento da

análise, podem ser de natureza econômica, social, pessoal, contextual e de lazer.

Para cada ponto citado, as decisões de incorporar ou não novas atividades agrícolas

ou não-agrícolas, dependem de desejos, valores, condições favoráveis e

desfavoráveis de cada unidade de produção familiar.

Para Silva (2001), a grande diferença entre o que causa a

pluratividade das famílias rurais no Brasil e nos países desenvolvidos é que aqui ela

não resulta de um crescimento da produtividade do trabalho agropecuário, ao

contrário, trata-se, em grande parte, de uma estratégia de sobrevivência de famílias

agrícolas mais pobres, que vêm tendo perdas substanciais de sua renda, em função

da queda dos preços das principais commodites. O referido autor ressalta que o

preço pago por essas commodites baliza a remuneração das não-commodites via os

salários pagos no setor agrícola.

Del Grossi e Silva (2000, p. 53) enfatizam que

Page 87: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

88

[...] o mundo rural brasileiro precisa ser visto pelos formuladores de políticas públicas, também como uma oportunidade de gerar novas formas de ocupação e de renda não-agrícolas para segmentos da população, que aí vivem e que, em geral, não tem qualificação necessária para se inserirem nos setores mais dinâmicos da economia.

Eles salientam a importância que assumem as transferências de

renda, na forma de aposentadoria e pensões para os agricultores familiares e a

necessidade de uma política pública previdenciária ativa. Além disso, alertam que o

Pronaf acaba beneficiando famílias agrícolas com maiores áreas, pois exige que a

maior parte da renda se origine de atividades agrícolas. Os autores resumem suas

constatações afirmando que é necessário urbanizar o mundo rural, criando

condições para que se possa alcançar a cidadania no meio rural, sem a necessidade

de migrar para as cidades, estendendo ao morador da zona rural o acesso aos bens

e serviços que espera encontrar nos centros urbanos.

2.3.1.2 A multifuncionalidade agrícola

A multifuncionalidade agrícola parte da consideração do meio rural

como um espaço geográfico dotado de funções que vão mais além da mera

produção agrícola. Rodríguez Rodríguez e Galdeano Gómes (2001) relatam que

esta nova consideração do espaço rural tem seu respaldo institucional pelos

ministros de agricultura dos países membros da conferencia ministerial de Paris, em

março de 1998. Outras instituições, as Nações Unidas8, a Organização Mundial do

Comercio (OMC) e a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) têm debatido e investigado acerca do conceito. Esta corrente de opiniões 8A ONU tem reconhecido o termo em seu Programa para o Meio Ambiente e a Organização para a

Agricultura e a Alimentação.

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89

tem se consolidado com a constituição do grupo “Amigos da multifuncionalidade”, de

caráter informal, do qual participam a União Européia, o Japão, a Noruega e a Suíça.

Cazella e Mattei (2002, p.11) definem, genericamente, a

multifuncionalidade como “o conjunto das contribuições da agricultura a um

desenvolvimento econômico e social considerado na sua unidade”, sendo associada

à segurança alimentar, manutenção do território, proteção do meio ambiente,

salvaguarda do capital cultural, garantia de um tecido econômico e social rural pela

diversificação das atividades.

Para Malagon Zaldua (2001), o conceito de multifuncionalidade

permite integrar dentro de uma política destinada a impulsionar o desenvolvimento

sustentável do meio rural em três grandes funções:

a) uma função econômica: o espaço rural como provedor de

alimentos, onde o setor primário mantém um papel estratégico,

mas que também seria receptor de outras atividades vinculadas

com o lazer, o turismo e a produção harmoniosa com o meio;

b) uma função ecológica: os espaços rurais são atualmente os

espaços naturais melhor conservados na maioria dos países

desenvolvidos. Sua preservação constitui um imenso patrimônio

não só para seus habitantes, mas para o conjunto da sociedade

e das gerações futuras;

c) uma função sócio-cultural: o meio rural é também portador de um

importante patrimônio sócio-cultural, que deve ser conservado e

que pode conter uma importante fonte de riqueza para seus

habitantes.

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90

Rodríguez Rodríguez e Galdeano Gómes (2001), acrescentam ainda

as seguintes funções do espaço rural:

a) função de coesão: favorecendo a integração dos cidadãos,

promovendo a equidade horizontal, lutando deste modo contra a

exclusão;

b) função residencial: esta função é fundamental para a atração da

população neo-rural e para manter a existente.

O meio rural não consiste mais somente no espaço físico em que se

realiza a produção agropecuária, mas adquire funções sociais que obrigam sua

partilha entre uma quantidade muito diversificada de atores.

Cazella e Mattei (2002) defendem a hipótese que a noção de

multifuncionalidade agrícola representa o reconhecimento institucional da

importância socioeconômica e política das unidades de produção agrícola, que não

se enquadram nos sistemas de produção regidos pelo modelo produtivista.

Os autores refutam a explicação que associa a incorporação dessa

noção às políticas públicas da União Européia, como mais uma medida de

protecionismo da agricultura.

Para Abramovay (2002) existe uma ambigüidade básica na

expressão multifuncionalidade. Por um lado, ela pode vir a representar uma forma de

encobrir interesses protecionistas. Mas ela exprime também a crise de um certo

modo de crescimento e, sobretudo, da representação social da agricultura. O autor

salienta que, em ambos os casos, a multifuncionalidade só entrou nas negociações

internacionais por suas conseqüências sobre os subsídios à agricultura.

Acerca dos subsídios à agricultura, para compensar os baixos

preços das commodites agrícolas recebidos pelos agricultores e a cobertura de

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91

recursos financeiros para se atender a função social da propriedade, Abramovay

(2002, p. 4) explica que

[...] o aspecto essencial das ajudas diretas reside no descasamento (delinking, em inglês, découplage, em francês) entre produção e renda. A produção deve pautar-se exclusivamente pelos sinais emitidos no mercado e embora a queda da renda do agricultor, que deriva da adoção desta nova política, possa ser compensada, os pagamentos diretos devem visar, cada vez mais, a cobertura das externalidades positivas que, por definição, o mercado é incapaz de contemplar.

Abramovay (2002) destaca que quase 90% das unidades

agropecuárias francesas recebem ajuda diretas, das quais 75% em virtude de sua

produção de cereais e oleaginosas. As unidades produtivas voltadas à exploração

de grãos dependem inteiramente desse mecanismo de transferência de renda

pública para o seu funcionamento. Complementa o autor, citando Colson e Chatelier

(1996), que, em média, nada menos de dois terços da renda líquida dos

estabelecimentos agropecuários franceses provêm das ajudas diretas.

Cazella e Mattei (2002) constataram que as formas marginais de

agricultura de resistência ou alternativas, dos anos 80 do século XX, foram os

primeiros indícios de uma transformação do setor e que foi necessária uma década

para que essas formas marginais fossem integradas pelas políticas públicas.

Relatam que se a reforma da PAC, de 1992, teve seu lado de manutenção do status

quo da agricultura produtivista, ela adotou também valores ambientais e de justiça

territorial. Eles afirmam que a agricultura produtivista desenvolvida no pós-guerra “se

encontra sob observação” e a construção social da qualidade é um novo vetor da

concorrência no setor.

Portanto, os subsídios agrícolas resultantes do reforma da PAC de

1992, não estavam isentos de críticas. Na concepção dos membros dos grupos

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franceses de Seillac e de Bruges os agricultores deveriam justificar socialmente os

subsídios agrícolas recebidos. A adoção de medidas de proteção do meio ambiente

e das paisagens, da mesma forma que a oferta de alimentos de qualidade são o

mínimo que eles devem oferecer aos contribuintes. Estes últimos têm um certo

número de aspirações em relação à agricultura bem mais amplas que a garantia da

segurança alimentar. Eles estão cada vez menos interessados pela agricultura

produtivista e desejam uma agricultura de ordenamento e de regulação do território.

Em resumo, a idéia de uma política contratual entre os agricultores, os cidadãos e o

Estado está presente nas reflexões elaboradas pelos membros destes grupos

(CAZELLA; MATTEI, 2002).

Dois dispositivos institucionais recentes reforçam a idéia de que o

modelo de desenvolvimento agrícola, até então dominante na União Européia,

encontra-se num processo de reestruturação. O primeiro, refere-se à reforma da

PAC de março de 1999, a chamada “Agenda 2000”, que adotou duas medidas para

corrigir a atual distorção entre os subsídios agrícolas e os impactos negativos sobre

o meio ambiente: os princípios da “eco-condicionalidade” e de um limite máximo de

subsídios por unidade de produção agrícola foram instituídos. Estabeleceu-se um

teto bastante elevado, em torno de US$ 38 mil de ajuda direta por unidade produtiva.

O segundo dispositivo, corresponde aos chamados Contratos Territoriais de

Exploração (Contrats Territoriaux d’Exploitation - CTE), implantados em 1999 pelo

governo socialista francês e pelos quais os subsídios deixam de ser simplesmente

uma compensação pela renda perdida em virtude da redução nos preços e passam

a condicionar-se ao preenchimento de funções sociais e ambientais contratualmente

regulamentadas (ABRAMOVAY, 2002; CAZELLA; MATTEI, 2002).

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93

Nota-se que os CTE constituem-se num dispositivo que estabelece

um pacto entre agricultores e a sociedade onde se buscam, além da produtividade

agrícola, os cuidados com a paisagem, com a biodiversidade, com os recursos

naturais e com a criação de emprego na área rural.

Cazella e Mattei (2002) explicam que o caráter territorial dos CTE

prevê que cada estabelecimento rural tenha um projeto em coerência com as

especificidades e as orientações técnicas da microrregião geográfica onde se

localiza. A multifuncionalidade da agricultura e a pluriatividade do agricultor devem

ser consideradas na elaboração do projeto. O Ministério estabelece atividades que

podem ser subsidiadas, tais como: a integração numa rede de qualidade, a

montagem de uma unidade de transformação, a venda direta, o agroturismo, a

manutenção ou a criação de empregos, o controle da erosão, o tratamento das

águas utilizadas nas unidades de produção e de transformação, a valorização das

áreas com pastagens e a manutenção da biodiversidade.

Cazella e Mattei (2002) relatam que recentemente formaram-se

redes de pesquisadores, no Brasil, com a intenção de implementar programas de

pesquisa, cooperação e de intercâmbio, tendo como temas aglutinadores às noções

de pluriatividade e multifuncionalidade da agricultura. Neste sentido, a experiência

européia e francesa pode subsidiar a discussão, que começa a ocupar a agenda de

pesquisadores brasileiros. Os estudos no Brasil acerca da pluriatividade agrícola

ganharam maior relevância na década de noventa, se tornando, portanto, inevitável

uma interação com as análises sobre o caráter multifuncional da agricultura.

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94

2.3.2 Políticas Federais de Apoio à Agricultura e ao Meio Ambiente

A sociedade brasileira vivencia graves problemas relacionados com

a alta concentração da renda e da riqueza e a insuficiente criação de postos de

trabalho em quantidade e qualidade, agravados pela debilidade dos mecanismos de

promoção de renda das famílias trabalhadoras, gerando uma economia de baixos

salários, pobreza e exclusão social. Segundo consta no Plano Plurianual – PPA, do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA (SILVÉRIO, 2003, p. 8),

[...] as principais causas desses problemas residem nos desequilíbrios macroeconômicos, na vulnerabilidade externa, na insuficiente expansão exportadora, no crédito caro e de curto prazo, no baixo estímulo ao investimento produtivo, no baixo estímulo ao consumo, na estagnação prolongada, no reduzido crescimento da produtividade e em tecnologias pouco absorvedoras de mão-de-obra.

Reverter esse quadro requer a definição e implementação de

programas prioritários na área social, de investimento em infra-estrutura, de aumento

de produtividade, de fortalecimento da cidadania e de consolidação da democracia,

que se traduzem em um conjunto de ações integradas e capazes de promover as

mudanças que o país almeja.

Se efetivamente cabe ao Estado regular o uso da propriedade para

que ela cumpra com a sua função social, Pereira (2001, p. 124), ao analisar a função

social do crédito agrário, assevera que “com maior razão a sua intervenção há de

ser igualmente eficaz quando se tratar de disciplinar o uso do capital para o mesmo

desiderato”.

O Governo Federal tem atuado em duas frentes: uma coordenada

pelo MAPA, cujo foco principal é a produção agrícola empresarial e a participação

nos mercados internacionais; e outra coordenada pelo Ministério do

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Desenvolvimento Agrário - MDA, cujo foco é a agricultura familiar e a questão

agrária.

Ao longo da década de 90 o Governo Federal implementou políticas

liberalizantes com a abertura comercial, a formação do Mercosul, a restrição da

intervenção nos mercados, a diminuição dos estoques reguladores e a redução do

volume de crédito ao setor. Por outro lado, o Governo Federal criou o Programa de

Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf, valorizando e beneficiando parte

dos agricultores responsáveis pela maior parte dos alimentos básicos produzidos no

País e da mão-de-obra ocupada (PARANÁ, 2003).

Os volumes de recursos disponibilizados nos últimos anos agrícolas,

na década de 90, apesar de representarem contínuos incrementos a cada ano, são

muito inferiores aos montantes disponibilizados nas décadas de 70 e 80, quando

chegou a alcançar mais de 50 bilhões de reais (valor expresso em moeda atual,

corrigido pelo IGP). No entanto, a produção agrícola vem apresentando um

crescimento marcante. O país produzia em torno de 30 milhões de toneladas de

grãos em 1970, passando para 50 milhões de toneladas em 1980 e atingindo quase

60 milhões de toneladas em 1990. Para 2003, o Governo Federal estimava uma

colheita superior a 115 milhões de toneladas de grãos. Mesmo assim, o Brasil vem

importando produtos como pescado, trigo, arroz e até mesmo feijão para suprir o

consumo doméstico.

Falta ainda ao Brasil a elaboração de uma política agrícola de médio

ou longo prazo, que não se resuma no anúncio do volume de recursos e das taxas

de juros a serem aplicadas em uma safra específica, mas que sirva para o

planejamento das atividades de produção, de comercialização e de abastecimento

alimentar, principalmente em harmonia com os demais parceiros do Mercosul.

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96

Nesse sentido, o MAPA participa de 31 programas, sendo 24 sob

sua gestão, englobando 192 ações e 7 programas sob a gestão de outros

ministérios (SILVÉRIO, 2003).

O PPA 2004 – 2007 do MAPA visa alcançar “três mega-objetivos,

que correspondem a cinco dimensões da estratégia de desenvolvimento adotada”

(SILVÉRIO, 2003, p. 8):

a) dimensão social: inclusão social e redução das desigualdades

sociais;

b) dimensão econômica, ambiental e regional: crescimento com

geração de emprego e renda, ambientalmente sustentável e

redutor das desigualdades regionais;

c) dimensão democrática: promoção e expansão da cidadania e

fortalecimento da democracia.

Com base nos mega-objetivos do PPA 2004-2007, o MAPA orientou

seus esforços com visão do agronegócio, estabelecendo 10 objetivos setoriais, os

quais encontram-se descritos no Anexo C.

Os objetivos setoriais se desdobram em programas, que resultam

em bens e serviços ofertados diretamente à sociedade. Muitos desses programas

são direcionados para a promover uma agricultura sustentável, entre eles menciona-

se: o manejo e conservação de solos na agricultura; a pesquisa e desenvolvimento

para a competitividade e sustentabilidade do agronegócio brasileiro; o pró-ambiente;

dentre outros.

Com relação aos agricultores familiares, os antecedentes históricos

mostravam a necessidade de uma política federal que lhes propiciassem condições

de desenvolvimento. Segundo constatações do Conselho Nacional de

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97

Desenvolvimento Rural Sustentável – CNDRS (2002), a partir de 1995, com a nova

dinâmica adquirida pela política de reforma agrária e o surgimento do Pronaf, houve

clara mudança de patamar. Porém, as implementações dessas duas políticas

padeciam da falta de integração, da definição de áreas prioritárias, de vínculo entre

o fundiário e o agrícola e de articulação entre o agrícola e os outros setores da

economia rural. A necessidade de operacionalizar as ações que pudessem corrigir

essas deficiências, resultou na criação do Ministério de Desenvolvimento Agrário –

MDA, que reuniu em sua estrutura, a política de reforma agrária e o Pronaf, que

antes fazia parte das atribuições do MAPA. Nessa ocasião, surgiu o CNDRS,

composto por representantes de nove ministérios, nove entidades da sociedade civil

e mais algumas instituições ambivalentes. Para execução do Pronaf criou-se a

Secretária da Agricultura Familiar - SAF.

Segundo informações da Secretaria da Agricultura Familiar do

Ministério do Desenvolvimento Agrário - SAF/MDA (BRASIL, 2005), cabe a ela

[...] a missão de consolidar o conjunto da agricultura familiar de modo a promover o desenvolvimento local sustentável por meio da valorização humana e da negociação política com representantes da sociedade, respeitando os desejos e anseios das organizações sociais e praticando os princípios da descentralização, da democracia, da transparência e da parceria, com responsabilidade. São princípios orientadores da SAF: atuar de forma participativa, descentralizada e articulada com os Estados, Municípios e a sociedade civil organizada.

O crédito rural é fundamental para a agricultura, em especial a

familiar. As taxas de juros praticados no Pronaf, que variam entre 1,15% a 7,25% ao

ano, são mais acessíveis do que as praticadas nos financiamentos agrícolas

convencionais, de no mínimo 8,75% ao ano. Entretanto, existem critérios de

enquadramento para se beneficiar do Pronaf. Entre esses critérios, destaca-se o

limite máximo de 60 mil reais de renda bruta anual. Nota-se que esse critério exclui

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os produtores que foram selecionados para integrar o presente estudo, pois todos

eles possuem rendas superiores ao valor estipulado pelo Pronaf. Portanto, eles têm

que recorrer às linhas de crédito convencional, com taxas de juros anuais de 8,75%.

Entre as linhas de apoio do governo federal para a agricultura e o

meio ambiente, destaca-se o Programa de Plantio Comercial e Recuperação de

Florestas – PROPFLORA, que está diretamente relacionado com o tema deste

trabalho. Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –

BNDES (2005), o Programa apóia: a implantação e manutenção de florestas

destinadas ao uso industrial; a recomposição e manutenção de áreas de

preservação e reserva florestal legal; e a implantação e manutenção de espécies

florestais para produção de madeira, destinada à queima no processo de secagem

de produtos agrícolas. Podem ser beneficiárias do referido programa as empresas

de qualquer porte, as associações e as cooperativas de produtores rurais e as

pessoas físicas. Financiam-se investimentos fixos, semifixos e custeio associado ao

projeto de investimento, limitado a 35% do valor do investimento, relativo aos gastos

de manutenção no segundo, terceiro e quarto anos. Observa-se, que o crédito

destinado à recomposição e manutenção de áreas de preservação e reserva legal,

pode ser concedido quando necessário para o desenvolvimento de atividades

agropecuárias na respectiva propriedade. A taxa de juros é de 8,75% ao ano,

incluído a remuneração da instituição financeira credenciada de 3% ao ano. O prazo

total de pagamento do financiamento é de até 144 meses, incluída a carência até a

data do primeiro corte, acrescida de 6 meses e limitada a 96 meses, nos projetos de

implantação e manutenção de florestas destinadas ao uso industrial. Nos outros

projetos apoiados no Programa a carência é de 12 meses. Exige-se, além de outros

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99

critérios, a regularidade ambiental da propriedade onde será implementado o projeto

através do atendimento ao Código Florestal.

Para finalizar este item, ressalta-se que o crédito rural é um dos

tradicionais mecanismos de apoio à agricultura, porém cerca de 70% do capital de

giro necessário ao custeio da produção vegetal e animal, vêm de recursos próprios

dos produtores e dos demais agentes do agronegócio (BRASIL, 2003). Também

merece destaque o fato do agricultor brasileiro, ainda não contar com um seguro

agrícola eficaz, considerado, em todo mundo, um dos mais importantes instrumentos

de política agrícola, por permitir ao produtor proteger-se contra perdas decorrentes

principalmente de fenômenos climáticos adversos. Em que pese o esforço do

governo federal, que nos últimos anos ampliou os recursos financeiros para o crédito

rural e elegeu o seguro agrícola como uma das suas prioridades, o agricultor

brasileiro, na maioria dos casos, encontra muita dificuldade para obter o capital de

giro do custeio agrícola e, acima de tudo, tem que contar com a sorte para ser bem

sucedido no árduo trabalho de lavrar a terra.

2.3.3 O Estado do Paraná: Políticas de Apoio à Agricultura e ao Meio Ambiente

No Paraná, como nos demais estados brasileiros, existem duas

secretarias para implementar as políticas ambientais e agrícolas, ou seja, a

Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento – SEAB e a Secretaria do

Meio Ambiente - SEMA. Isso não implica dizer que as demais secretarias do Estado

não estão comprometidas com as diretrizes do governo para a agricultura e o meio

ambiente.

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100

Segundo informações da SEMA (PARANÁ, 2005),

[...] um grande desafio a que se propõe o Governo do Paraná é o de implantar a política ambiental dentro de todo o governo, nas diversas secretarias, entendendo que esta questão, ou tem a transversalidade que se faz necessária, ou não é política ambiental. Condenar a política ambiental a uma só secretaria seria apostar no fracasso dela.

As diretrizes da política ambiental são: o desenvolvimento

econômico e equilíbrio ambiental voltado à promoção social; a transversalidade; a

política ambiental nas ações de todo o governo; a participação social, o

envolvimento e o compromisso da sociedade para com as políticas e ações locais,

visando a sustentabilidade do ambiente global; o fortalecimento dos órgãos

ambientais governamentais; a educação ambiental, ações junto à escola,

comunidade e setor produtivo para criar uma nova consciência e atitude para com os

problemas locais. O programa de Meio Ambiente do Governo do Paraná tem o

objetivo de conservar a biodiversidade, por intermédio de instrumentos de controle

da qualidade ambiental, mediante a gestão, conservação e recuperação dos

recursos naturais, água, ar, solo, flora e fauna e desenvolver instrumento de

organização e gerenciamento dos limites de uso e ocupação do território

paranaense (PARANÁ, 2005).

Com relação à fiscalização do cumprimento da legislação florestal, o

Paraná, por meio do Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva

Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente - Sisleg, estará gerando um

banco de dados georreferenciado das propriedades rurais, indicando o uso do solo e

a situação das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal. Assim, ele

permitirá monitorar a situação ambiental das propriedades rurais, estimular o

cumprimento da lei e orientar políticas estaduais diversas: ambiental, de produção

florestal, turística, fiscal, agrária, dentre outras. O Sisleg foi institucionalizado por

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101

meio do Decreto Estadual nº 387/99, estabelecendo um sistema estadual de

implantação de Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, previstas no

Código Florestal. No atual governo estadual, as normas do Sisleg estão sendo

discutidas internamente e com a comunidade científica, no sentido de aprimorar

ganhos ambientais, ganhos sociais e aspectos gerenciais (PARANÁ, 2005).

Com relação à agricultura, o Paraná vem obtendo safras recordes

em suas lavouras, na produção pecuária e na balança comercial. Por outro lado, o

aprofundamento da desigualdade regional, demonstrado através dos baixos Índices

de Desenvolvimento Humano (IDH) e do mapeamento da pobreza rural, vêm

ocorrendo principalmente em função da concentração de renda, do emprego, do

crescimento econômico, associado à falta de motivação empreendedora e não

apresenta qualquer tendência aparente de reversão (PARANÁ, 2003).

A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento – SEAB é

responsável pela execução das políticas públicas voltadas ao setor agropecuário,

pesqueiro e de abastecimento. Desenvolve pesquisas e avaliações da produção e

do mercado agropecuário e atua na fiscalização da produção agrícola e vegetal,

garantindo a qualidade sanitária dos produtos e a sustentabilidade ambiental do

processo de produção. Coordena e executa programas de melhoria da qualidade de

vida das populações rurais e do manejo adequado dos recursos naturais. Conta em

sua estrutura com 20 núcleos regionais e 120 unidades veterinárias. Além disso, tem

cinco empresas vinculadas - Emater, Iapar, Codapar, Claspar e Ceasa - e por meio

destas, presta assistência técnica e extensão rural; desenvolve pesquisas

agropecuárias; atua no fomento da produção agropecuária; na classificação de

produtos e executa as políticas de abastecimento.

Page 101: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

102

O governo estadual tem por dever inserir mecanismos de políticas

públicas e enfrentar o desafio de concatenar os instrumentos atuais existentes às

necessidades de políticas regionais de desenvolvimento econômico sustentável,

visando principalmente à agricultura familiar. Assim, a SEAB tem buscado a

implementação de um conjunto de medidas destinadas aos setores da agricultura,

pecuária, aqüicultura, pesca e florestas, cujos objetivos são de promover o

desenvolvimento sustentado em zonas rurais, de incentivar a modernização e a

diversificação dos diferentes setores agropecuários. Os apoios financeiros a

conceder podem assumir, cumulativamente ou não, a forma de: equalização de

juros; subvenção financeira a fundo perdido; preços mínimos para produtos

estratégicos; estoque regulador para produtos estratégicos; fundo de aval para

agricultura familiar; estímulo às exportações de produtos agropecuários; cadastro

rural multifinalitário; regularização fundiária; e ações de desenvolvimento econômico

e planejamento estratégico regional sustentável, com foco na agricultura familiar

(PARANÁ, 2003).

Destaca-se neste estudo, o Programa Paraná 12 Meses,

desenvolvido pelo Governo do Estado do Paraná, a partir 1998, coordenado pela

SEAB e executado por suas empresas vinculadas, em especial a Emater e o Iapar.

O referido programa, visa promover o desenvolvimento econômico e social da

população rural e o manejo e conservação dos recursos naturais, atuando em todo

território estadual, com apoio financeiro do Banco Internacional para a Reconstrução

e o Desenvolvimento - BIRD e do Tesouro Estadual. O objetivo geral deste projeto é

amenizar a situação de pobreza rural no Estado, numa ação sustentável, apoiada na

modernização tecnológica, na geração de novos empregos, na proteção ao meio

ambiente e na melhoria das condições de habitação e saneamento básico das

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103

famílias rurais e pescadores artesanais. Como objetivos específicos, o programa

busca (PARANÁ, 1999, p. 8):

a) reduzir os índices de pobreza do público beneficiário, direta e

indiretamente, através de ações em habitação, saneamento

básico, saúde, educação, geração de renda e emprego,

organização comunitária e cidadania;

b) implantar Vilas Rurais, visando a melhoria das condições de vida

dos trabalhadores rurais volantes;

c) contribuir para viabilizar a recuperação dos solos, via manejo e

uso dos recursos naturais de forma sustentada, com base em

alternativas tecnológicas que aumentem a produção, a

produtividade e a renda do produtor rural de acordo com a

condição sócio-técnico-ambiental;

d) aumentar mecanismos de aumento de ingressos de renda na

unidade ou atividade produtiva e aqueles que propiciem maior

capacidade de competição, frente à abertura de mercado e a

redução da participação do Estado no processo econômico.

Com o objetivo de desenvolver e difundir sistemas de produção

melhorados para a agricultura familiar paranaense, a Emater-PR e o Iapar vêm

desenvolvendo, desde 1998, o Projeto Redes de Referências para a Agricultura

Familiar 9, integrante do Programa “Paraná 12 Meses” em seu componente Manejo e

Conservação dos Recursos Naturais – Fase 2 (Modernização). O Projeto Redes de

Referências para a Agricultura Familiar, doravante denominado de Redes, utiliza

uma metodologia de pesquisa adaptativa e de difusão de tecnologia apoiadas em

9 Apresentação extraída do Manual Operacional e de Revistas do Projeto Redes de Referências para

Agricultura Familiar, elaborados e publicados pela SEAB, Iapar e Emater-PR.

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104

redes de propriedades (grupo de 20 propriedades representativas dos sistemas de

produção encontrados em uma dada região agrícola) analisadas e acompanhadas

com o enfoque sistêmico. Após intervenções que promovam suas melhorias, essas

propriedades servem de referências técnicas e econômicas para os demais

estabelecimentos agropecuários, com sistemas produtivos similares. O grande

diferencial do Projeto Redes é que os ensaios são realizados nas propriedades, com

a participação dos agricultores e não mais em estações experimentais. Os sistemas

de produção são analisados, no seu conjunto (produção animal, produção vegetal e

nos recursos naturais, financeiros e humanos), avaliando sua viabilidade a partir dos

resultados técnicos e econômicos gerados. Assim é possível entender como

funcionam e evoluem os sistemas de produção, no curto e médio prazo, fazendo

ajustes necessários, buscando identificar sistemas produtivos inovadores, que

possam se tornar fonte de referências técnicas e econômicas. Não se trata somente

de buscar o aumento da produção e do rendimento dos produtos cultivados, mas

principalmente, o sistema de produção que melhor se adapta às condições

ecológicas e sócio-econômicas. Nesse caso, é fundamental analisar e entender de

que maneira é feita a utilização dos recursos naturais dos meios técnicos e da mão-

de-obra disponível. E isto impõe, necessariamente, o conhecimento das condições

locais de produção e uma mudança de postura de pesquisadores e extensionistas.

Como objetivo geral, o Projeto Redes busca propor e difundir

sistemas de produção equilibrados nas suas atividades e fatores de produção, para

aumentar sua rentabilidade, viabilidade, estabilidade e adaptabilidade pelos

agricultores do mesmo tipo socioeconômico.

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105

Os objetivos específicos do Projeto Redes são:

a) ofertar novas tecnologias e/ou atividades ampliando as

possibilidades de modernização;

b) servir como pólo de demonstração de tecnologias e sistemas de

produção para potencializar o processo de difusão;

c) disponibilizar informações e propor métodos para orientar os

agricultores na gestão da empresa agrícola;

d) possibilitar a identificação de demanda de novas linhas de

pesquisa.

As Redes surgiram em um convênio firmado com o Institut de

l’Elevage francês, que há 25 anos utiliza essa metodologia em toda a França. Parte

dos dados explorados neste estudo foram produzidos no Projeto Redes, cuja

descrição metodológica se faz presente no próximo capítulo deste trabalho.

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106

CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

As características básicas de uma pesquisa são de fundamental

importância para a definição da estratégia de investigação a ser adotada. Esta é

uma pesquisa que investiga um fenômeno contemporâneo, a reserva legal, dentro

de seu contexto da vida real, ou seja, as propriedades rurais que precisam se

adequar a essa exigência legal. É uma pesquisa que enfrenta uma situação de

múltiplas variáveis de interesse, várias fontes de evidências e se beneficia do

desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise

de dados. Assim, as características acima apresentadas, são próprias para o estudo

de caso (YIN, 2001).

Segundo Chizzotti (1998, p. 102), o estudo de caso é

uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de pesquisa que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente, objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação transformadora.

Goldenberg (2003, p.33) relata que o estudo de caso foi adaptado da

tradição médica, tornando-se uma das principais modalidades de pesquisa

qualitativa em ciências sociais. Para a autora, o estudo de caso é uma “análise

holística, [...] reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de

diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma

situação e descrever a complexidade de um caso concreto”.

Segundo Triviños (1987), o estudo de caso não foi uma classe de

pesquisa típica do modelo positivista, tão inclinado à quantificação das informações.

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107

O autor explica que a pesquisa quantitativa caracteriza-se fundamentalmente pelo

emprego, de modo geral, de uma estatística simples, elementar. Por isso, com o

desenvolvimento da investigação qualitativa, o estudo de caso, que estava numa

situação de transição entre ambos os tipos de investigação, constituiu-se numa

expressão importante dessa tendência.

Descreve-se a seguir o design e a perspectiva desta pesquisa.

3.1 DESIGN E PERSPECTIVA DA PESQUISA

Este trabalho constitui um estudo de casos múltiplos, cuja finalidade

é prospectar os possíveis impactos socioeconômicos que deverão ser provocados

pela obrigatoriedade da reserva legal em quatro propriedades rurais familiares

produtoras de grãos, na região de Londrina, PR.

A escolha de quatro propriedades foi criteriosa. Eram unidades

produtivas monitoradas pelo pesquisador há mais de cinco anos e que

representavam sistemas de produção agrícolas predominantes na referida região,

onde o estudo foi realizado. Os detalhes sobre os critérios de escolha estão

descritos no próximo item deste capítulo.

Segundo Yin (2001, p. 68), cada caso deve servir a um propósito

específico dentro do escopo global da investigação, seguindo a lógica da replicação

(e não de amostragem). A lógica da replicação “é análoga àquela utilizada em

experimentos múltiplos”. Cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de forma

a prever resultados semelhantes (uma replicação literal) ou produzir resultados

contrastantes apenas por razões previsíveis (uma replicação teórica).

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108

O fato dos casos escolhidos nesta dissertação pertencerem a um

mesmo tipo de sistema de produção, denominado “Empresário Familiar – Grãos”,

poder-se-ia esperar resultados semelhantes. Entretanto, a dinâmica interna de cada

caso é diferente. Os investimentos, os níveis de produtividade, as formas de

comercialização, as mudanças estruturais, dentre outras variáveis, não são

padronizadas e vão se alterando ao longo do tempo conforme as necessidades e os

desejos dos produtores e de suas famílias, além dos fatores externos (econômicos,

por exemplo) e os incontroláveis (climáticos). Dessa forma, nos estudos de casos

concretos que envolvem sistemas de produção agrícolas com dados coletados num

período de cinco anos (ou mais), tal como o da presente pesquisa, torna-se difícil

prever se os resultados serão semelhantes ou contrastantes.

Esta é uma pesquisa exploratória que buscou ampliar as

informações sobre os possíveis impactos socioeconômicos decorrentes da

imposição da reserva legal e os ajustes necessários para atender essa exigência

jurídica. Segundo Bastos (1999, p. 66),

a investigação exploratória, que pode ser basicamente ilustrada através do estudo de caso, uma vez em curso, colabora bastante na delimitação, no aprimoramento do assunto de pesquisa, seja trabalhando a definição dos objetivos, seja formulando e reformulando a questão de estudo, seja trazendo novos dados que podem ampliar nossa percepção sobre o assunto em pauta.

Esta pesquisa caracteriza-se por ser um estudo de casos múltiplos

que utiliza métodos quantitativos e qualitativos. Segundo Richardson (1999), uma

pesquisa social deve estar orientada à qualidade de vida da grande maioria da

população. Na medida do possível, é necessário integrar pontos de vistas, métodos

e técnicas para enfrentar esse desafio. O aporte do método qualitativo ao

quantitativo foi uma opção do pesquisador visando humanizar as conclusões do

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109

trabalho, buscando compreender como reagem os agricultores pesquisados frente

aos possíveis impactos socioeconômicos advindos da imposição da reserva legal em

suas propriedades rurais.

É uma pesquisa participativa. O pesquisador é um dos atores do

contexto a ser pesquisado, pois desde 1998 está acompanhando a dinâmica interna

das propriedades agrícolas selecionadas para este estudo, por intermédio do Projeto

Redes, conforme mencionado no final do capítulo anterior. Para melhor

compreensão dos aspectos metodológicos utilizados no referido projeto, descreve-se

a seguir o procedimento para a instalação de uma rede de propriedades de

referência, com base no estudo apresentado por Passini (1997).

A providência inicial é realizar um estudo prévio na região onde será

instalada a rede, realizada em duas etapas distintas: a caracterização regional e a

tipificação dos sistemas de produção predominantes. A primeira etapa visa

selecionar as propriedades a serem acompanhadas dentro de uma região geográfica

com características semelhantes, possibilitando comparações. Na segunda etapa

selecionam-se os sistemas de produção agropecuários predominantes que serão

monitorados. Para a tipificação dos sistemas de produção agrícolas consideram-se

duas variáveis: a categoria social dos agricultores e as atividades agrícolas que

contribuem com mais de 30% (o valor é arbitrário) da renda bruta global da

propriedade rural. Usam-se as variáveis classificatórias apresentadas na Tabela 5

para definir as categorias sociais, adotadas no Projeto Paraná 12 Meses, do governo

do Paraná.

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110

TABELA 5 – CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DA CATEGORIA SOCIAL DO PRODUTOR RURAL

CAPITAL

CATEGORÍA SOCIAL

ÁREA

(ha) Benfeitorias

produtivas (R$)

Equipamentos

agrícolas (R$)

USO DE

MÃO-DE-OBRA

FAMILIAR (%)

Produtor Simples de Mercadoria 1 (PSM1) < 15 < 12.150,00 < 9.720,00 > 80

Produtor Simples de Mercadoria 2 (PSM2) < 30 < 29.160,00 < 29.160,00 > 50

Produtor Simples de Mercadoria 3 (PSM3) < 50 < 97.200,00 < 87.480,00 > 50

Empresário Familiar (EF) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 > 50

Empresário Rural (ER) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 < 50

Fonte: SEAB / Projeto Paraná 12 Meses (1999).

De posse do estudo prévio, um comitê técnico regional analisa o

peso socioeconômico e as evoluções possíveis dos sistemas de produções. A partir

dessas reflexões são definidos os eixos de trabalho das Redes, principalmente quais

os sistemas serão estudados. A seleção das propriedades é realizada no âmbito das

regiões administrativas da Secretaria do Estado de Agricultura e do Abastecimento -

Seab. Com a participação dos extensionistas municipais da Emater-PR, escolhem-

se de quatro a seis propriedades representativas, por sistema de produção. Os

fatores condicionantes observados na escolha dos agricultores são: assumir o

compromisso de fazer os registros de entrada e saída de recursos durante, pelo

menos, cinco anos; estar motivado para colaborar (voluntário); ter disposição para

receber produtores e técnicos em sua propriedade; participar de reuniões de

avaliação dos resultados e possuir um bom relacionamento na comunidade onde

mora.

Após a definição das propriedades, um diagnóstico inicial é feito pelo

executor regional da Emater-PR, nas primeiras visitas à propriedade. Busca-se

conhecer os principais objetivos e metas do agricultor e de sua família, identificar e

hierarquizar os principais problemas e prognosticar as possíveis soluções. Além

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111

disso, é a oportunidade de verificar se o produtor selecionado responde bem aos

objetivos do projeto.

Os registros das informações são feitos pelo agricultor em

formulários próprios fornecidos pelas Redes, por atividade e por safra. O executor

regional acompanha esses registros, visitando o produtor com a freqüência de seis a

oito visitas por ano. Os formulários são recolhidos no final de cada safra e

processados na Emater-PR e no Iapar. Utilizou-se o software de administração rural

denominado “Sistema de Acompanhamento de Propriedades –versão 2 – SAP v.2”,

produzido pela Organização das Cooperativas do Paraná - Ocepar.

Ocorrem intervenções para melhoria dos sistemas de produção, por

meio de ações planejadas pelas Redes, que buscam discutir com o agricultor e sua

família os ajustes possíveis para o curto e o médio prazo, com o objetivo de

aumentar a eficiência econômica da propriedade, de reduzir os riscos, de melhorar

as condições de trabalho e de adequar o uso dos recursos naturais.

Os indicadores econômicos utilizados no projeto Redes são

apresentados a seguir (CARVALHO et al., 2001):

a) Superfície Agrícola Útil (SAU): compreende as terras trabalhadas

ou exploradas pelo produtor independente da condição de posse

(própria, arrendada, parceria, etc). É calculada subtraindo-se da

área total as áreas: de preservação permanente e reserva legal;

inaproveitáveis; da sede da propriedade; com estradas e

carreadores;

b) Equivalente-homem – (Eq. H): é a unidade de medida padrão

utilizada para avaliar a disponibilidade e calcular a remuneração

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112

do fator mão-de-obra. Corresponde ao trabalho de um adulto em

tempo integral durante um ano, totalizando 300 dias/ano.

Considerando-se as diferenças de gênero, idade e

disponibilidade de tempo dedicado às atividades agrícolas,

utiliza-se a Tabela 6, abaixo, para uniformização e comparação

entre sistemas diferentes;

TABELA 6 – CRITÉRIOS PARA DEFINIR O NÚMERO DE EQUIVALENTE-HOMEM

Fonte: Carvalho et al. (2001, p. 26)

ESTUDANTE NÃO ESTUDANTE

IDADE Homem Mulher Homem Mulher

7 a 13 0,25 0,25 0,50 0,50

14 a 17 0,33 0,33 0,66 0,66

18 a 24 0,50 0,50 1,00 1,00

25 a 59 1,00 1,00

60 ou mais 0,50

c) Capital Total (KT): expressa a disponibilidade total de capital do

produtor e totaliza os valores atuais dos seguintes itens:

instalações; benfeitorias; culturas permanentes; animais de

trabalho, reprodutores, matrizes, rebanho para engorda e /ou

venda; máquinas e equipamentos;

d) Custo Variável Total (CVT): é o custo que varia quando se altera

o nível da produção no período de tempo considerado. Abrange

os valores dos seguintes itens principais: insumos gastos na

produção vegetal e animal; mão-de-obra temporária; aluguéis de

máquinas e implementos; transporte interno e externo;

assistência técnica; juros do capital de giro; serviços

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113

mecanizados para a produção; contribuição ao INSS; dentre

outros;

e) Custo Fixo Total (CFT): é aquele que existe independente da

existência e do nível da produção. Engloba principalmente os

valores: das depreciações; dos empregados fixos; dos seguros;

do ITR; juros do capital fixo; entre outros. Para o cálculo das

depreciações foi utilizado o método linear (depreciação = valor

novo – valor residual / vida útil). Para o cálculo da estimativa das

despesas com a conservação e reparos (CR) das máquinas e

equipamento foi utilizada a seguinte fórmula: CR = valor novo x %

CR (tabela) / vida útil. Para a CR das benfeitorias, a formula: CR

= valor novo x 0,02;

f) Despesa Operacional Total (DOT): corresponde à totalidade dos

custos variáveis e fixos, excetuando-se o valor monetário da

mão-de-obra familiar;

g) Renda Bruta da Produção (RBP): é a renda gerada na

propriedade pelas atividades de produção vegetal e animal.

Engloba os seguintes valores: das vendas; do auto-

abastecimento; das cessões internas; dos produtos usados como

pagamento; e das diferenças no estoque;

h) Outras Rendas (OR): correspondem a outras entradas

monetárias para o agricultor, tais como: aposentadoria, salários e

rendimentos de atividades não-agrícolas e o valor monetário da

mão-de-obra vendida;

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114

i) Renda Bruta Total (RBT): é o resultado da soma da RBP e de

OR;

j) Margem Bruta Total (MBT): corresponde à diferença entre a RBT

e o CVT;

k) Renda Líquida Global (RLG): é o resultado da diferença entre a

RBT e a DOT;

l) Remuneração da Mão-de-obra Familiar (MOF): para o cálculo do

valor monetário da mão-de-obra familiar, estimou-se seu custo de

oportunidade em um salário mínimo por equivalente-homem. Os

valores médios dos salários mínimos, considerando o 13º salário,

nas safras 98/99, 99/00, 00/01, 01/02 e 02/03 foram,

respectivamente: R$ 141,00; R$ 150,00; R$ 168,00; R$ 198,00 e

R$ 223,00;

m) Lucro: corresponde à diferença entre a RLG e a MOF. Indica se

os fatores de produção utilizados no processo produtivo foram

remunerados;

n) Índice Geral de Preço – Disponibilidade Interna (IGP-DI): para

atualização de ativos optou-se pelo uso do IGP-DI: julho/1999 =

1,74; julho/2000 = 1,52; julho/2001 = 1,37; julho/2002 = 1,24;

julho/2003 = 1,00 (Conjuntura Econômica, 2003).

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115

3.2 ESCOLHA DAS PROPRIEDADES RURAIS PESQUISADAS

Afirmou-se anteriormente que a escolha de quatro propriedades

rurais foi criteriosa. Poderia-se trabalhar com mais propriedades, porém haveria o

risco de aumentar a complexidade do trabalho a ponto de se perder a oportunidade

de aprofundar a investigação dos casos, pois, segundo Yin (2001), essa é uma das

razões para se realizar um estudo de caso.

Partiu-se de algumas regras básicas para definição das

propriedades rurais pesquisadas, tais como: ser propriedade integrada ao projeto

Redes e monitorada por, no mínimo, cinco anos pelo pesquisador, com os dados

técnicos e econômicos globais de seu sistema de produção devidamente coletados

e analisados; as atividades agrícolas devem responder por, no mínimo, 80% da

renda bruta do produtor; necessita recompor, mesmo que parcialmente, a reserva

legal; disposição do produtor rural em participar da pesquisa.

Uma das limitações encontrada neste trabalho está relacionada à

escolha das propriedades, pois não foi possível determinar com precisão a sua

representatividade, devido à variabilidade dos sistemas de produção agrícolas

existentes no universo de propriedades rurais. A dificuldade encontrada em

determinar essa representatividade deve-se ao fato de ser necessário, para se

definir um sistema de produção agrícola, analisar simultaneamente as seguintes

variáveis classificatórias: a categoria social do produtor e as principais explorações

agrícolas. Não se encontrou um levantamento ou censo dos sistemas de produção

agrícolas que consideravam simultaneamente essas variáveis. No entanto, por meio

da caracterização regional foi possível ter uma noção da importância e da

representatividade das propriedades selecionadas neste estudo. Dessa forma,

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116

descreve-se a seguir a caracterização da região de Londrina, PR, onde estão

localizadas as propriedades selecionadas.

De forma sucinta, o número de estabelecimento rural e os grupos de

áreas estão retratados na Tabela 7.

TABELA 7 – ESTRUTURA FUNDIÁRIA DA REGIÃO DE LONDRINA – 1995 -1996 REGIÃO DE LONDRINA - PR

Estabelecimentos Área GRUPOS DE ÁREA

(ha) nº % ha % < 20 5.052 52 45.827 7

20 a 50 2.365 24 76.133 12 50 a 200 1.713 18 170.112 27

> 200 614 6 333.156 54 Total 9.768 100 625.199 100

Fonte: Carvalho et al. (2001, p. 13)

Nota-se que 76% dos estabelecimentos apresentavam áreas

inferiores a 50 hectares, ocupando 19% da área da região de Londrina-PR. É

exatamente nesse segmento de produtores onde se concentra o público alvo do

Projeto Redes. As propriedades selecionadas nesta pesquisa possuem mais de 30

hectares, por esse motivo não são consideradas pequenas propriedades pelo critério

estabelecido no Código Florestal. Em decorrência, elas ficam excluídas de alguns

benefícios específicos para as pequenas propriedades, relacionados à implantação

da reserva legal, por exemplo, a permissão do cultivo de espécies exóticas para fins

econômico em consórcio com espécies nativas.

A categoria social dos produtores rurais é a informação

complementar que serve de referência para se avaliar a representatividade dos

produtores acompanhados. Assim, apresenta-se na Tabela 8 a distribuição da

categoria social dos produtores rurais da região de Londrina, PR, conforme os

critérios de enquadramento já demonstrados (ver Tabela 5).

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TABELA 8 – NÚMERO DE PRODUTORES RURAIS EXISTENTES NA REGIÃO DE LONDRINA E SUAS RESPECTIVAS CATEGORIAS SOCIAIS – 2002

CATEGORIA SOCIAL NÚMEROS ABSOLUTOS % PSM1 PSM2 PSM3 EF ER

3.095 2.811 2.644 1.574 1.657

26 25 22 13 14

Total 26 100 Fonte: EMATER-PR / Regional de Londrina (2002)

Nota-se que os produtores pertencentes à categoria social EF, na

qual estão enquadrados os produtores selecionados nesta pesquisa, representam

13% do total de produtores existentes na região de Londrina, PR. Espera-se que os

produtores rurais EF tenham menos dificuldade para suportar os impactos

financeiros advindos da imposição da reserva legal do que os pertencentes às

categorias sociais PSM1, PSM2 e PSM3.

Outra informação fundamental para situar os casos pesquisados na

caracterização da região de Londrina, PR é a ocupação do solo. A Tabela 9 retrata

como se deu essa ocupação no ano 2000.

TABELA 9 – OCUPAÇÃO DO SOLO DA REGIÃO DE LONDRINA-PR – 2002 OCUPAÇÃO DO SOLO ÁREA (ha) % Lavouras anuais Lavouras perenes Pastagens Reflorestamento Matas naturais Outras áreas

303.905 52.050

250.486 14.106 28.120 84.277

41 7

34 2 4

12 Total 732.944 100

Fonte: EMATER-PR / Regional de Londrina (2002).

Percebe-se a predominância de lavouras anuais na região de

Londrina, PR. Destaca-se também a área ocupada com florestas, equivalente a 6%

da área rural, somando-se as áreas de reflorestamento (2%) e de matas nativas

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(4%). Esses valores ilustram como a cobertura florestal da região é baixa em relação

à do Estado.

A região de Londrina, PR detém uma excelente infra-estrutura para a

produção de grãos, comandada há muitos anos pela produção de soja, com área de

plantio de 181 mil hectares e produção de 545 mil toneladas (2000/2001). O milho é

o principal coadjuvante no conjunto de produção de grãos, sendo plantado em duas

épocas, a safra normal com 49 mil hectares e produção de 291 mil toneladas

(2000/2001) e a safrinha com 47 mil hectares e produção de 85 mil toneladas (baixa

produção devido à ocorrência de geada). O trigo tem sido a segunda opção para o

plantio no inverno, ocupando uma área de 32 mil hectares e produção de 49 mil

toneladas (também comprometida pela geada). Em condições normais de clima, a

produção do milho safrinha é de aproximadamente 280 mil toneladas /ano e do trigo

de 115 mil toneladas /ano (CARVALHO et al., 2001, p.18).

O tipo climático Cfa (Köppen apud Carvalho et al., 2001) é

hegemônico na região de Londrina, PR. O clima Cfa é definido como sub-tropical

úmido com verão quente. O mês mais frio tem a temperatura média inferior a 18ºC,

com possibilidade de geadas, precipitação regular (apesar de em alguns anos existir

um período seco no inverno) e com o mês mais quente apresentando média superior

a 22ºC. Nas propriedades pesquisadas a altitude varia de 350 a 600 metros acima

do nível do mar, a precipitação varia de 1200 a 1600 milímetros anuais e

evapotranspiração entre 1200 a 1400 milímetros anuais (CARVALHO et al., 2001,

p.19).

Os solos predominantes são os Latossolos vermelhos eutroférricos,

os Nitossolos vermelhos eutroférricos e suas associações (CARVALHO et al., 2001,

p.19).

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3.3 COLETA DOS DADOS

Os dados coletados na presente pesquisa foram de dois tipos:

secundários, que são os dados encontrados em manuais, relatórios e outros

documentos já publicados; e primários, que são os dados coletados em primeira-

mão pelo pesquisador.

3.3.1 Os Dados Secundários

Além dos dados que constitui a revisão de literatura desta pesquisa,

os dados econômico-financeiros das propriedades rurais selecionadas foram

extraídos do estudo realizado por Carneiro et al. (2004), entre os anos agrícolas

1998/1999 a 2002/2003, seguindo os procedimentos metodológicos do projeto

Redes, anteriormente apresentados no item 3.1 deste trabalho.

3.3.2 Os Dados Primários

3.3.2.1 Estimativa dos impactos econômico-financeiros da reserva legal

Com o objetivo de abstrair os possíveis impactos econômico-

financeiros que poderiam ser provocados pela implantação da reserva legal nas

propriedades rurais acompanhadas, adotou-se nesta pesquisa os métodos

apresentados por Lapponi (2000) para a construção e avaliação de fluxo de caixa

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em projetos de investimento, entre os quais, o Valor Presente Líquido - VPL e a

Taxa Interna de Retorno - TIR.

Segundo Lapponi (2000), o método do VPL mostra a contribuição de

um projeto de investimento na variação do valor da empresa. Compara todas as

entradas e saídas de dinheiro na data inicial do projeto, descontando os retornos

futuros do fluxo de caixa com a taxa de juro estipulada. O método do VPL permite

avaliar a diferença dos valores presentes líquidos calculados a partir dos fluxos de

caixas das propriedades pesquisadas, com e sem a implantação da reserva legal.

Quando maior o valor encontrado melhor será o resultado para o agricultor. A

vantagem desse método é que ele pode ser aplicado em projetos de investimento

com qualquer tipo de fluxo de caixa, conforme demonstrado na Tabela 10.

TABELA 10 – DEMONSTRAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DO FLUXO DE CAIXA ANOS CAPITAIS – FLUXO DE CAIXA

0 - I 1 FC 1 2 FC 2 3 FC 3 -- t FC t -- n FC n

Fonte: Lapponi (2000)

No fluxo de caixa da Tabela 10 definiu-se (LAPPONI, 2000, p. 90):

a) I é o capital investido na data zero, registrado com sinal negativo

por ser considerado um desembolso;

b) FCt representa o retorno na data t do fluxo de caixa. É o resultado

das receitas menos custos. No último capital do fluxo de caixa

FC n estará incluído o Valor Residual do Investimento;

c) n é o prazo de análise do projeto (será de 15 anos neste estudo);

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d) k é a taxa mínima requerida no investimento, ou custo de capital

do projeto de investimento (estipulada em 6 % ao ano).

O modelo matemático do VPL com taxa requerida constante é o

seguinte (LAPPONI, 2000., p. 91):

Agrupando a soma dos retornos tem-se:

Como fator limitante, o método não permite comparar projetos a

partir do investimento realizado, pois fornece como resultado da avaliação do

investimento uma medida absoluta em vez de uma medida relativa. Portanto, para

complementar a avaliação das simulações a serem analisadas, nesta pesquisa, se

adotará também o método da TIR.

Matsushita (1999, p. 2) explica que

[...] a Taxa Interna de Retorno (TIR), por definição, é a taxa que torna o valor presente líquido (VPL) de um fluxo de caixa igual a zero. Representa o coeficiente de atratividade de uma aplicação ou investimento. A TIR não deve ser interpretada como a taxa de retorno sobre o investimento inicial, mas sim sobre o saldo do capital empatado no projeto. A TIR depende fundamentalmente da montagem dos fluxos de caixa sendo extremamente sensível a qualquer mudança neste fluxo. Os financiamentos alteram significativamente a TIR, portanto não devem ser incluídos nos fluxos de caixa. O resultado da TIR não significa que o montante gasto no investimento inicial do projeto irá render juros equivalentes a TIR, mas que o conjunto do fluxo de entradas e saídas do projeto apresenta este rendimento.

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122

O procedimento de cálculo da TIR é realizado com o modelo

matemático do VPL, procurando a taxa de juro que zera o VPL, conforme

apresentado a seguir (LAPPONI, 2000, p. 159):

Agrupando a soma dos retornos pode-se escrever:

Lapponi (2000) explica que a maior vantagem do método da TIR é

dar como resultado uma medida relativa, uma taxa efetiva de juro. Para o autor, isso

faz com que o valor da TIR seja fácil de ser comunicado e bem compreendido por

muitos. Porém, ele argumenta que aceitar o resultado da TIR subentende a

aceitação de um grupo de premissas que podem tornar-se fortes desvantagens do

método da TIR. Os maiores cuidados devem ser tomados quando o fluxo de caixa

apresenta mais de uma mudança de sinal, pois poderá existir mais de uma TIR.

Em geral, as regras básicas de decisão são as seguintes

(MATSUSHITA, 1999, p. 2):

a) se a TIR obtida for maior que as taxas de juros praticada no

mercado o investidor maximiza o seu lucro no investimento;

b) quanto maior for a TIR mais desejável é o investimento;

c) rejeitam-se os projetos que possuem rentabilidade inferior à taxa

de juros de mercado.

Optou-se neste estudo em estimar os impactos econômico-

financeiros por meio da simulação de três opções de implantação da reserva legal,

comparando os resultados projetados da TIR e do VPL, em relação aos resultados

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sem a reposição florestal (Apêndice A). Os fluxos de caixas foram construídos

levando em conta o período de 15 anos (2003 a 2018). Este é o prazo máximo para

os produtores regularizarem as áreas de reserva legal, conforme está estabelecido

na regulamentação do governo do Paraná, por meio do Artigo 7º do Decreto 387/99,

publicado em 03/03/1999 (ver Anexo B). Os produtores podem implantar a reserva

legal de forma parcelada, até completar a área total exigida, sem ultrapassar a data

limite. Considerou-se que esse seria um período crítico para os produtores, pois vão

precisar decidir de que maneira pretendem repor a reserva legal, buscando escolher

a opção que deverá causar um menor impacto econômico-financeiro em seus

sistemas de produção agrícolas.

A primeira opção, denominada de Opção 1, simula a implantação da

reserva legal de forma parcelada, cujo início seria em 2003, utilizando

exclusivamente espécies nativas, sem considerar nenhum rendimento econômico

até 2018. Apresenta-se, no Apêndice B, a estimativa do custo de sua implantação e

no Apêndice C a demonstração de como se construiu o fluxo de caixa utilizado para

calcular a TIR e o VPL. Como a implantação da reserva legal seria parcelada, a

Opção 1 exigiria pouco capital inicial e a redução da renda dos produtores

proveniente das atividades agrícolas seria gradativa ao longo do prazo de 15 anos

(2018), fixado na legislação florestal. Como desvantagem, depois de implantada a

reserva, haveria de se esperar um longo tempo para se obter receitas por meio do

manejo sustentável da floresta, após as árvores atingirem uma certa idade,

normalmente acima dos 25 anos, cuja produção anual de madeira nesse regime

ainda é pouco conhecida. Essa seria a opção que mais se aproxima daquilo que se

deseja da reserva legal em seus aspectos ambientais.

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A Opção 2 simula a implantação total da reserva legal em 2003,

utilizando-se 20% de espécies nativas e 80% de eucalipto, com a previsão de

receitas advindas do desbaste seletivo de eucalipto no 7º ano, para a produção de

lenha, e do corte final no 15º ano com o objetivo de se obter madeira para serrado.

Suprimiu-se nessa análise a realização de um terceiro corte de eucalipto no 21º ano,

pois a partir de 2018 não se permitiria a exploração de madeira com espécies

exóticas na reserva legal em propriedades com mais de 30 hectares. Essa proposta

busca conciliar o aspecto de produção de madeira e a obtenção de renda durante o

período de formação da reserva legal, com a intenção de reverter a falta de interesse

dos produtores rurais em recompor a reserva legal. A base conceitual dessa opção

foi extraída do curso básico sobre implantação de reserva legal (informação

verbal)10, promovido pela EMATER-PR, com a participação da EMBRAPA-Floresta e

do IAP. As informações técnicas e econômicas complementares foram obtidas com

base em Rodigheri e Pinto (2003) e consultas ao Sindicato da Indústria Moveleira de

Arapongas – SIMA (informação verbal)11. Apresenta-se, no Apêndice D, o orçamento

para a implantação dessa proposta. No Apêndice E, encontra-se o demonstrativo da

construção do fluxo de caixa utilizado no cálculo do VPL e da TIR .

A opção 3 simula a aquisição de uma nova área para ceder a

reserva legal, seguindo os critérios estabelecidos no Paraná, por meio do Decreto nº

3320, de 12 de julho de 2004, ou seja, a propriedade que vai ceder a reserva legal

deve pertencer ao mesmo bioma, à mesma bacia hidrográfica e deve estar inserida

no mesmo agrupamento de municípios da propriedade que vai receber a reserva.

Considerou-se que nessa circunstância seria desejável adquirir área não

10 CARPANEZZI, Antônio A. EMBRAPA-Floresta. Informações fornecidas para os extensionistas da

Emater-Paraná, em Campo Mourão (2005). 11 KEMMER, Erickson Melluns. Informações extraídas de relatórios de acompanhamento florestal,

recebidos por e-mail do Sindicato da Indústria Moveleira de Arapongas - SIMA (2005).

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mecanizável, cujo preço de mercado em regiões de terra roxa, segundo dados da

SEAB/DERAL (2003), estaria valendo aproximadamente R$ 3,50 mil por hectare

(valores levantados em junho/2003). Nessa simulação, estimou-se a aquisição da

quantia exata de área para atender os 20% da superfície total do imóvel. Também

se considerou que a área adquirida estaria coberta com mato, sem nenhum gasto

extra além das despesas cartorárias com transferência e a averbação da reserva

legal nas matrículas dos imóveis. Apresenta-se, no Apêndice F, a demonstração da

construção do fluxo de caixa para os cálculos do VPL e da TIR. Essa opção teria a

vantagem de não provocar a redução da renda dos produtores devido à diminuição

da área de plantio e nem alteraria o sistema de produção agrícola. No entanto,

exigiria a disponibilidade de capital inicial para adquirir uma nova área que satisfaça

as exigências legais.

Em todas as opções propostas incluiu-se o orçamento da averbação

da área de reserva legal na escritura do imóvel (ver Apêndice G).

Na construção do fluxo de caixa, para cada opção avaliada, foram

considerados: os rendimentos médios constatados durantes os cinco anos de

acompanhamento das propriedades rurais estudadas; o valor de R$ 8.972,54 para

um hectare de terra roxa mecanizada (SEAB / DERAL, 2003); e valor residual de

30% para os maquinários e as benfeitorias produtivas no período terminal da análise

(2018). No cálculo que incluiu o valor da terra considerou-se um valor residual de

100%, também no período terminal, portanto sem prever valorização ou

desvalorização desse bem.

O que se pretendeu não foi fazer nenhuma conjectura sobre

possíveis mudanças futuras no comportamento da produtividade das culturas, do

valor da terra, dentre outras. O que se quis foi fazer uma abstração sobre os

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impactos econômico-financeiros da reposição da reserva legal, tendo como base à

situação observada nos casos pesquisados.

Não se pretendeu nesta pesquisa prescrever a melhor alternativa

para a recomposição da reserva legal, pois na vida real não existe uma única melhor

alternativa para todos os casos. Cada produtor vai ter que analisar um conjunto de

variáveis e de objetivos a serem alcançados para decidir a melhor estratégia a ser

adotada. Inclusive, a combinação de várias opções poderá se constituir numa

alternativa mais adequada, podendo ser adaptada de acordo com os recursos

disponíveis e as necessidades de cada produtor rural. Dessa forma, a síntese da

avaliação dos impactos econômico-financeiro da implantação da reserva legal foi

apresentada com base na média dos resultados obtidos em cada opção analisada.

Em tese, há outras formas de se fazer a recomposição da reserva

legal, incluindo aquelas com finalidade de se explorar atividades não-madeireiras.

No entanto, optou-se pelas alternativas mais conhecidas pelos produtores e com

maior disponibilidade de informações técnicas e econômicas que permitam um

mínimo de segurança em alcançar os resultados projetados. Também poderia se

avaliar outros fatores além do econômico-financeiro direto, por exemplo, a valoração

ambiental e suas implicações no custo de produção das explorações agrícolas.

Todavia, esse seria um outro objeto de estudo com inúmeras possibilidades para

novas pesquisas. A título de exemplo, poderia se avaliar a influência da reserva legal

na população de uma determinada espécie de inseto que ataca a cultura da soja.

Será que aumentaria, diminuiria ou não teria influência? As matas poderiam ser úteis

para a reprodução de inimigos naturais, mas também poderiam servir de abrigo para

as pragas que precisam ser controladas. Ou então, analisar a influência da reserva

legal na disseminação de sementes de ervas invasoras nas áreas exploradas. Enfim,

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há um enorme campo para pesquisas acadêmicas e profissionais que poderão ser

realizadas em decorrência da obrigatoriedade da reserva legal.

Com a construção e análise dos fluxos de caixas sem e com a

reposição da reserva legal, por meio dos métodos descritos, foi possível concluir a

pesquisa quantitativa definida neste trabalho. Porém, diante do interesse do

pesquisador no aporte do método qualitativo ao quantitativo, investigou-se o que

representa a reposição da reserva legal, do ponto de vista dos produtores

pesquisados.

3.3.2.2 Como reagem os produtores rurais pesquisados

O que se pode extrair da famosa canção com os versos de Chico

Buarque e Milton Nascimento, que se transcreve tendo em vista o trabalho do

agricultor?

[...] Afagar a terra / conhecer os desejos da terra / cio da terra, a propicia estação / e fecundar o chão.

Os autores da letra acima apresentada ilustram um suposto

sentimento de amor que o agricultor tem pela terra, pela qual ele desenvolve uma

relação de afago e de conhecimento dos seus desejos, a ponto de, num propício

momento, fecundá-la para gerar seus frutos.

O que se deseja é chamar a atenção acerca da racionalidade

econômica que se mistura com o sentimento dos agricultores em relação à natureza.

Será que essa dualidade torna-os menos insensíveis para as questões ambientais e

mais abertos para a adoção de soluções que conciliem as necessidades de produzir

e de preservar? A obrigatoriedade da reposição da reserva legal põe à prova as

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seguintes questões: o que significa, por que fazer, como fazer e o que se espera da

reposição da reserva legal, do ponto de vista dos agricultores pesquisados.

Segundo Richardson (1999, p. 207),

[...] a melhor situação para participar na mente de outro ser humano é a interação face a face, pois tem o caráter, inquestionável, de proximidade entre as pessoas, que proporciona as melhores possibilidades de penetrar na mente, vida e definição dos indivíduos.

Portanto, esse tipo de interação entre pessoas foi de fundamental

importância para se obter um dos objetivos específicos proposto nesta pesquisa.

Assim, utilizou-se a técnica da entrevista para permitir o desenvolvimento de uma

estreita relação entre o pesquisador e os produtores, a fim de se obter as

informações sobre o significado da reserva legal para os entrevistados.

Para tanto, foram efetuadas entrevistas semi-estruturadas, com o

seguinte roteiro:

a) Quando o sítio foi adquirido existia mata nativa?

b) O senhor saberia explicar o que é a reserva legal?

c) Acha importante fazer a reposição florestal em sua propriedade?

d) Quais as maiores dificuldades para se fazer a reposição da

reserva legal?

e) Sabe porque estão obrigando os agricultores fazer a reposição da

reserva legal?

f) O que o senhor pretende fazer para repor a reserva legal?

g) A reserva legal vai mudar a situação do agricultor? De que

maneira?

h) Quem vai ganhar com a reposição da reserva legal?

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A entrevista semi-estruturada, em vez de responder as perguntas

por meio de diversas alternativas pré-formuladas, visou obter do entrevistado quais

aspectos ele considerava mais relevantes sobre o objeto de estudo. A conversação

foi guiada, por meio do roteiro acima apresentado, para obtenção das informações

que foram utilizadas na análise qualitativa. Na entrevista semi-estruturada se

procurou saber “o que, como e por que algo ocorre”, em lugar de determinar a

freqüência de certas ocorrências (RICHARDSON, 1999, p. 208).

Depois de explicar o que se pretendia e de receber o consentimento

dos produtores, as entrevistas foram realizadas em suas respectivas residências e

as falas foram gravadas. A partir daí, os depoimentos foram transcritos de forma fiel.

As quatro entrevistas foram realizadas nos dias 19 e 20 de janeiro

de 2005, evitando a ocorrência de acontecimentos que poderiam influenciar nas

respostas dos entrevistados entre o período das entrevistas.

Não foram apresentadas aos entrevistados as informações

coletadas nas fontes anteriormente mencionadas. Também não foi analisado se a

compreensão dos entrevistados estava correta ou não, como numa triangulação de

dados. Na perspectiva desta pesquisa qualitativa, o importante foi identificar o

significado da reserva legal do ponto de vista dos entrevistados. As análises dos

dados seguiram o modelo proposto por Pettigrew (1987) citado e aplicado por

Ichikawa (2001). Assim, se buscou nas falas dos sujeitos as questões de conteúdo

(“o que”), de contexto (“por que”) e de processos (“como”), que tornaram possível

interpretar “o que é, quais as razões, como se dará e o que se espera da

implantação da reserva legal, do ponto de vista dos agricultores pesquisados”.

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130

CAPÍTULO 4 RESULTADOS

Neste capítulo, apresentam-se inicialmente as descrições da

dinâmica interna das quatro propriedades pesquisadas. Na seqüência, são

apresentadas as estimativas dos impactos econômico-financeiros da implantação da

reserva legal. Finaliza-se com a apresentação dos depoimentos dos produtores

acerca da imposição da reserva legal em suas propriedades rurais.

4.1 DESCRIÇÃO DA DINÂMICA INTERNA DAS PROPRIEDADES RURAIS PESQUISADAS

Descreve-se a seguir os resultados dos cinco anos de intervenção e

de acompanhamento das quatro propriedades rurais, representativas do sistema de

produção denominado “Empresário Familiar – Grãos”, com base no estudo

apresentado por Carneiro et al. (2004), realizado na região de Londrina, estado do

Paraná, durante os anos agrícolas 1998/1999 a 2002/2003.

As variáveis determinantes da categoria social dos produtores

acompanhados neste estudo estão retratadas na Tabela 11.

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131

TABELA 11 – A CATEGORIA SOCIAL DOS PRODUTORES ACOMPANHADOS – ANOS AGRÍCOLAS 98/99 e 02/03

ÁREA TOTAL

MÃO-DE-OBRA FAMILIAR

CAPITAL (R$) PRODUTOR / ANO

AGRÍCOLA (ha) Eq.H (1) Uso (%)

Benfeitorias produtivas

Máquinas e equipamentos

CATEGORIA SOCIAL

98/99 35,00 2,0 52 60.900,00 88.521,00 EF 1 02/03 35,00 1,0 41 52.500,00 104.550,00 ER 98/99 41,14 3,0 85 50.746,06 131.749,32 EF 2 02/03 41,14 2,0 83 54.266,15 122.860,79 EF 98/99 45,98 4,0 92 44.718,00 138.263,20 EF 3 02/03 45,98 2,0 84 55.246,20 112.612,38 EF 98/99 60,50 2,0 55 37.410,00 64.902,00 EF 4

02/03 60,50 2,0 92 30.302,10 54.868,50 EF Fonte: Carneiro et al. (2004) (1) Equivalente-homem

O produtor 1 mudou de categoria social no período analisado,

passando de Empresário Familiar - EF para Empresário Rural - ER, pois o filho do

referido produtor que trabalhava na propriedade deixou essa ocupação para assumir

um emprego na cidade. Assim, o uso da mão-de-obra familiar ficou inferior a 50% da

demanda total, configurando numa atividade empresarial não familiar.

A tipologia dos sistemas de produção agropecuários está

apresentada na Tabela 12, com base na categoria social dos produtores definida

anteriormente e na contribuição das principais atividades agrícolas na renda bruta da

produção.

TABELA 12 – TIPOLOGIA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIOS – ANOS AGRÍCOLAS 98/99 e 02/03 CONTRIBUIÇÃO NA RENDA BRUTA DA PRODUÇÃO

(%) PRODUTOR /

ANO AGRÍCOLA Soja Milho Trigo Frango Café Frutas

TIPOS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO

98/99 34 - 23 19 23 1 EF – Grãos 1 02/03 44 - 24 12 12 8 ER – Grãos 98/99 52 - 29 19 - - EF – Grãos 2 02/03 47 - 23 15 5 10 EF – Grãos 98/99 51 43 - - - 6 EF – Grãos 3 02/03 64 36 - - - - EF – Grãos 98/99 47 47 - - 3 3 EF – Grãos 4

02/03 52 24 24 - - - EF – Grãos Fonte: Carneiro et al. (2004)

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132

A produção de grãos (soja, milho e trigo) contribuiu com 57% a

100% da renda bruta da produção, constituindo-se, portanto, na principal atividade

econômica dessas propriedades. A soja contribuiu, em média, com cerca de 50% da

renda bruta total. A Tabela 13 apresenta a disponibilidade de terra e as condições de

posse de cada produtor acompanhado, nos períodos inicial e final deste estudo.

TABELA 13 – DISPONIBILIDADE TOTAL DE TERRA E AS CONDIÇÕES DE POSSE – 1998 e 2003

DISPONIBILIDADE TOTAL DE TERRA (ha) 1 2 3 4

CONDIÇÃO DE POSSE

1998 2003 1998 2003 1998 2003 1998 2003 Própria 35,00 35,00 41,14 41,14 31,46 31,46 60,50 60,50

Arrendada 0,00 0,00 0,00 0,00 14,52 14,52 0,00 0,00 Total 35,00 35,00 41,14 41,14 45,98 45,98 60,50 60,50 SAU 33,80 33,80 37,51 37,51 44,08 44,08 54,70 54,70

Fonte: Carneiro et al. (2004)

Não se observou variação na disponibilidade de área no período

descrito. O arrendamento de terra ocorreu apenas na propriedade 3, numa área de

14,52 hectares. Nota-se que as propriedades selecionadas neste estudo, por

possuírem áreas superiores a 30 hectares, não seriam beneficiadas com alguns

privilégios que constam no artigo 16º do Código Florestal (Anexo A), específicos

para pequenas propriedades, tais como: permitir, na área da reserva legal, o plantio

de árvores frutíferas, ornamentais e industriais, composto por espécies exóticas

cultivadas em sistema intercalar com espécies nativas; e isenção de taxas para

averbação da reserva legal.

A Tabela 14 retrata a ocupação do solo nos anos agrícola 98/99 e

02/03, por propriedade analisada.

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133

TABELA 14 – OCUPAÇÃO DO SOLO DAS PROPRIEDADES ACOMPANHADAS – 98/99 e 02/03

ÁREA OCUPADA (ha) 1 2 3 4

TIPO DE

OCUPAÇÃO 98/99 02/03 98/99 02/03 98/99 02/03 98/99 02/03 Culturas anuais 31,46 29,04 32,67 25,98 43,78 43,78 50,23 54,24

Culturas perenes 2,34 4,76 1,21 7,90 1,60 1,60 4,00 Pasto 3,63 3,63

Reserva legal 0,60 0,60 2,66 2,66 Sede 1,12 1,12 1,21 1,21 0,60 0,60 1,00 1,00

Inaproveitáveis 0,08 0,08 1,82 1,82 0,60 0,60 2,60 2,60 Fonte: Carneiro et al. (2004)

Ocorreram pequenas variações na ocupação do solo, considerando

a somatória das áreas das propriedades acompanhadas. Houve uma redução em

3% da área ocupada com culturas anuais em 98/99, que corresponde a 3,92

hectares. As culturas permanentes aumentaram em 55%, o que corresponde a um

acréscimo 5,11 hectares da área ocupada com culturas permanentes. Observou-se

que apenas as propriedades 2 e 4 possuíam áreas de reserva legal, porém

incompletas. As áreas de preservação permanente - APP estão incluídas no item

“Inaproveitáveis”.

Com relação ao sistema de semeadura, verificou-se um incremento

da área cultivada com a semeadura direta em detrimento da semeadura

convencional, como pode ser constatado na Tabela 15 abaixo.

TABELA 15 – ÁREA DOS TIPOS DE SISTEMAS DE SEMEADURA – 99/99 - 02/03 ÁREA DOS TIPOS DE SISTEMA DE SEMEADURA (ha)

PROPRIEDADE 98/99 02/03 Convencional Direta Convencional Direta 1 31,46 29,04 2 32,67 25,98 3 29,18 14,59 43,78 4 49,50 26,62 26,62

Valor relativo 70 30 18 82 Fonte: Carneiro et al. (2004)

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134

Essa alteração no sistema de semeadura refletiu na redução dos

custos com mecanização, porém elevou os gastos com herbicidas, principalmente

na cultura da soja. O maior impacto na adoção do plantio direto se deu com relação

às condições de trabalho, aumentando o tempo disponível do produtor para outras

ações.

A quantidade dos principais insumos agrícolas utilizados nesses

sistemas de produção de grãos, por hectare/ano, foram em torno de: 120 litros de

óleo diesel; 6 litros de herbicida; 3 litros de inseticida; 2 litros de fungicida; e 480

quilos de adubo químico.

A produção agrícola foi bastante influenciada pelo clima no período

analisado. As principais conseqüências advindas de fatores climáticos desfavoráveis

foram: redução de 18% na produtividade da soja devida a ocorrência de estiagem na

safra 99/00; queda de 64 % na produtividade do milho safrinha e diminuição de 75%

na produtividade do trigo devido à ocorrência de geadas no inverno de 2000; perdas

de 54% e de 94% na produtividade do café, em 2000 e em 2001, respectivamente,

também em função das referidas geadas. Em decorrência, ocorreram reduções de

33%, 31% e 46% na renda bruta da produção, na margem bruta total e na renda

líquida global respectivamente, no ano agrícola 99/00.

A comparação entre a produtividade média das principais atividades

agrícolas das quatro propriedades acompanhadas (Redes) e a média da região de

Londrina-PR está demonstrada na Tabela 16, na página seguinte.

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TABELA 16 – PRODUTIVIDADE MÉDIA DAS PRINCIPAIS CULTURAS NAS PROPRIEDADES PESQUISADAS (REDES) E NA REGIÃO DE LONDRINA – SAFRAS 98/99 a 02/03

Fonte: Carneiro et al. (2004); SEAB-LONDRINA / DERAL

PRODUTIVIDADE MÉDIA (kg/ha) Soja Milho Milho safrinha Trigo Café (coco)

ANO

AGRÍCOLA Redes Região Redes Região Redes Região Redes Região Redes Região 98/99 3.215 2.752 3.702 4.538 3.932 3.047 2.230 2.526 3.653 1.642 99/00 2.634 2.027 3.903 3.230 1.424 1.777 548 1.521 1.687 1.652 00/01 3.360 2.988 2.552 5.860 3.730 3.408 2.746 2.579 233 364 01/02 3.391 2.832 5.882 4.483 2.717 1.289 1.784 6.235 867 02/03 3.171 2.900 5.660 5.561 4.342 3.231 2.640 5.022 874 Média 3.154 2.700 3.385 5.034 3.825 3.058 2.008 2.210 3.365 1.080

Valor Relativo 117 100 67 100 125 100 91 100 311 100

A produtividade média das quatro propriedades acompanhadas foi

maior nas culturas da soja, do milho safrinha e do café e foi menor nas culturas do

milho safra e do trigo. O milho safra não apresentou bons resultados nas quatro

propriedades, motivo pelo qual os produtores optaram em não realizar o cultivo

dessa cultura nos anos agrícolas 01/02 e 02/03.

A Tabela 17 apresenta os resultados do levantamento da

composição e do uso da mão-de-obra familiar, por propriedade, comparando os

dados dos anos 1998 e 2003, com as informações: do número de pessoas que

residem com a família; que se ocupam com atividades agrícolas; que se ocupam

exclusivamente com atividade não agrícola; que somente estudam ou que são

crianças e não trabalham; que são contratados pela família como empregado fixo.

Demonstra, ainda, os números de Dias/Homem/Ano (D/H/Ano) disponíveis na mão-

de-obra familiar para a atividade agrícola e da mão-de-obra total contratada (fixa e a

temporária).

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TABELA 17 – COMPOSIÇÃO E O USO DA MÃO-DE-OBRA FAMILIAR - 1998 / 2003

Fonte: Carneiro et al. (2004)

COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA E USO DE MÃO-DE-OBRA 1 2 3 4

DESCRIÇÃO

1998 2003 1998 2003 1998 2003 1998 2003 Reside c/ família (n) 4 4 5 4 6 5 5 5 Ocupação agrícola (n) 2 1 3 2 4 2 2 2 Ocupação não agrícola (n) 1 2 0 1 1 3 1 1 Crianças/Estudantes 1 1 2 2 1 1 2 2 Empregado fixo (n) 1 1 0 0 0 0 1 0 MO familiar (D/H/ano) 600 450 750 600 900 600 600 600 MO contratada (D/H/ano) 559 629 125 402 72 112 492 50

Nota-se que ocorreu uma redução no número de pessoas com

ocupação agrícola em três propriedades. Essa redução decorreu da opção dos

jovens em trocar a atividade rural por uma ocupação na cidade. Um dos principais

objetivos dos produtores rurais foi proporcionar aos seus filhos condições de estudar

e obter formação escolar. Dessa forma, esses jovens puderam escolher entre

trabalhar na atividade agrícola ou em outras atividades.

Verificou-se o aumento na demanda de mão-de-obra total apenas

nas propriedades 1 e 2, pois estavam investindo na diversificação das atividades

agrícolas. Não foi constatada a venda da mão-de-obra familiar por meio da

prestação de serviços para terceiros.

Para a determinação do capital total disponível foram considerados

os seguintes bens: máquinas e equipamentos, benfeitorias produtivas, criações e

culturas permanentes. Além dos valores monetários do capital disponível, também

foram levantadas as quantidades dos principais bens existentes em cada

propriedade analisadas. O valor monetário da terra nua só foi considerado mais

adiante, neste estudo, para os cálculos da taxa interna de retorno (TIR) e do valor

presente líquido (VPL). As Tabelas 18; 19; 20; e 21 apresentam os valores

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monetários do capital imobilizado subdividos em categorias, por propriedade,

referentes aos anos agrícolas 98/99 e 02/03.

TABELA 18 – VALORES MONETÁRIOS DO CAPITAL TOTAL – 98/99 - 02/03 VALORES MONETÁRIOS DO CAPITAL TOTAL (R$)

PROPRIEDADE 98/99 02/03 1 149.421,00 157.050,00 2 182.495,38 177.126,94 3 182.981,20 167.858,58 4 102.312,00 85.170,60

Média 154.302,40 146.801,53 Valor relativo 100 95

Fonte: Carneiro et al. (2004)

Verificou-se uma queda média de 5% no valor monetário do capital

total disponível. A depreciação dos bens foi responsável por essa redução. A

aquisição de dois novos implementos para o plantio direto determinou a elevação do

valor do capital disponível na propriedade 1.

TABELA 19 – DISPONIBILIDADE DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS – 1998 / 2003

Fonte: Carneiro et al. (2004)

DISPONIBILIDADE DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS (Unidade) 1 2 3 4

DESCRIÇÃO

1998 2003 1998 2003 1998 2003 1998 2003 Trator < 70 CV 1 1 0 0 1 1 0 0 Trator > 70 CV 1 1 2 2 1 1 2 2 Colheitadeira 1 1 1 1 0 0 0 0 Caminhão 0 0 1 1 1 1 0 0 Semeadeira - Plantio direto 0 2 2 2 1 1 2 2 Pulverizador 1 2 1 2 2 2 1 1 Semeadeira - Convencional 1 1 2 2 2 2 1 1 Implementos diversos 5 5 6 6 8 8 7 7

Em 1998, a média de idade das máquinas e dos equipamentos era

de 16 anos, porém estavam bem conservados. Observou-se que o cuidado no uso e

na manutenção dessas máquinas e equipamentos, que talvez seja uma

característica da agricultura familiar, tem propiciado o aumento da vida útil desses

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bens imobilizados. Em virtude do parco recurso financeiro, na maioria dos casos, os

maquinários foram substituídos por outros usados, em melhores condições de uso.

Ocorreu, na propriedade 1, a aquisição de uma semeadeira de plantio direto nova,

por meio de financiamento bancário com taxa de juros abaixo do valor de mercado,

ou seja, 8,75% ao ano.

TABELA 20 – DISPONIBILIDADE E METRAGEM DAS BENFEITORIAS PRODUTIVAS – 1998 / 2003

Fonte: Carneiro et al. (2004)

METRAGEM DAS BENFEITORIAS PRODUTIVAS (m2) 1 2 3 4

DESCRIÇÃO

1998 2003 1998 2003 1998 2003 1998 2003 Casa de empregado 50 50 50 50 Galpão 200 200 130 130 Garagem (máquinas) 150 150 126 326 Tulha 80 80 Barracão 200 200 Aviário 1200 1200 1000 1000 Terreiro para café 60 60 Tanques - piscicultura 0 300 Pocilga 20 20 42 60 Poço profundo (unidade) 1 1 1 1 1

Observou-se a ocorrência de pequenos novos investimentos em

benfeitorias produtivas, tais como a construção de tanques para piscicultura na

propriedade 2 e a ampliação da pocilga na propriedade 3. Em ambos os casos, os

investimentos foram realizados para melhorar a disponibilidade de alimento

consumido pela família e eventuais vendas da produção excedente. Na média, a

idade das benfeitorias produtivas, em 1998, era de 15 anos.

Os números de animais e as áreas de culturas permanentes, nos

anos agrícolas 98/99 e 02/03, por produtor, estão apresentados na Tabela 21.

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TABELA 21 – CRIAÇÕES E CULTURAS PERENES – 1998 e 2003

Fonte: Carneiro et al. (2004).

CRIAÇÕES (número de cabeças) 1 2 3 4

DESCRIÇÃO

1998 2003 1998 2003 1998 2003 1998 2003 Bovinos 6 6 Suínos 8 10 14 68 Ovinos 10 15

CULTURAS PERENES (hectares) Café 4,82 2,42 1,21 1,21 2,00 1,00 2,00 0,00 Pêra 0,60 0,60

Banana 0,00 3,00 Limão 3,00 0,00

Laranja 0,00 6,40

Verificou-se que os agricultores investiram, em média, cerca de R$ 4

mil por ano com recursos próprios em novas atividades agrícolas. Em 1998 e 1999

estes investimentos estavam direcionados principalmente na implantação de

lavouras de café adensado em todas as propriedades acompanhadas. Grande parte

desses investimentos foi perdida com as geadas de 2000. Outros investimentos

realizados com recursos próprios foram: a implantação de 3,0 hectares de banana

nanica na propriedade 1; e de 6,4 hectares de pomar de laranja na propriedade 2.

A Tabela 22 retrata os valores monetários médios, em R$/ano, por

propriedade pesquisada, dos indicadores econômicos discriminados a seguir: renda

bruta da produção (RBP); outras rendas (OR); renda bruta total (RBT); custo variável

total (CVT); custo fixo total (CFT); despesa operacional total (DOT); margem bruta

total (MBT); renda líquida global (RLG); custo de oportunidade da mão-de-obra

familiar (MOF) e lucro.

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140

TABELA 22 – VALORES MÉDIOS DOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS, POR PROPRIEDADE PESQUISADA

INDICADORES ECONÔMICOS (R$/ano) P(1)

RBP OR RBT CVT CFT DOT MBT RLG MOF LUCRO

1 109.082,89 8.448,98 117.531,88 55.816,80 30.223,41 86.040,21 61.715,07 31.491,66 2.630,40 28.861,26 2 99.421,00 - 99.421,00 47.212,13 18.531,86 65.743,99 52.208,87 33.677,01 4.742,40 28.934,61 3 115.017,18 - 115.017,18 48.749,60 16.020,76 64.770,36 66.267,58 50.246,82 5.260,80 44.986,02 4 154.592,15 5.493,00 157.887,95 73.127,15 25.306,67 98.433,82 84.760,80 59.454,13 4.224,00 55.230,13

Média 119.528,31 6.970,99 122.464,50 56.226,42 22.520,68 78.747,10 63.301,89 40.781,21 4.214,40 36.566,81

s(2) 24.243,45 2.090,19 24.937,37 11.873,82 6.461,51 16.382,78 13.692,65 15.178,70 1.137,67 14.448,33 Fonte: Carneiro et al. (2004) (1) Propriedade (2) Desvio padrão

A mão-de-obra familiar, na média das propriedades pesquisadas, foi

de 2,3 equivalentes-homem. Os produtores rurais não são assalariados, portanto

eles não possuem renda fixa mensal. No entanto, para efeito de comparação com os

trabalhadores assalariados, foi possível estimar a renda mensal média das famílias

acompanhadas. A remuneração média da mão-de-obra familiar, com base na renda

líquida global, foi de aproximadamente R$ 40 mil, menos o valor médio dos

investimentos de R$ 4 mil com recursos próprios, ou seja, cerca de R$ 36 mil por

ano. Isto equivale a uma renda média mensal familiar em torno de R$ 3 mil. A renda

mensal média, por pessoa que trabalhou na atividade agrícola, foi R$ 1,3 mil.

Considerando que o valor do salário mínimo médio no ano agrícola 02/03 foi de R$

223,00, a remuneração média mensal foi de 5,98 salários mínimos por equivalente-

homem e de 13,75 salários mínimos para a família.

As propriedades analisadas não apresentaram estabilidade de

receitas e de despesas, pois além das variações climáticas e dos preços pagos e

recebidos, os produtores estavam alterando as atividades agrícolas em busca da

melhoria do sistema de produção. Na propriedade 4, depois do produtor tentar a

diversificação com os cultivos de limão e de café adensado, ele passou a acreditar

na especialização em grãos como estratégia para obter uma vida mais tranqüila, ou

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141

seja, o importante para ele não era só ganhar mais dinheiro, mas também as boas

condições de trabalho. Nas propriedades 1 e 2, os produtores investiram na

diversificação (cultivos de banana, de laranja, de café adensado, além da criação de

frango de corte) e ainda não alcançaram a estabilidade de renda desses sistemas de

produção, pois cada investimento leva um tempo para atingir sua maturidade. O

problema é que, às vezes, não amadurece, sendo interrompido antes de

proporcionar os resultados esperados. Foi o caso dos investimentos realizados com

recursos próprios para a implantação de áreas com café adensado, em 1998 e 1999,

frustrados pelas severas geadas ocorridas em junho e julho de 2000. A Tabela 23

apresenta o índice de diversificação – ID de cada propriedade e os resultados

econômicos médios, por unidade de superfície agrícola útil - SAU.

TABELA 23 – ÍNDICE DE DIVERSIFICAÇÃO - ID, SUPERFÍCIE AGRÍCOLA ÚTIL – SAU E OS INDICADORES ECONÔMICOS

PROPRIEDADE ID SAU INDICADORES ECONÔMICOS (R$/ha/ano) (ha) RBP/SAU CVT/SAU DOT/SAU MBT/SAU RLG/SAU LUCRO/SAU

1 3,91 33,88 3.219,68 1.647,49 2.539,56 1.821,58 929,51 851,87 2 3,27 37,51 2.650,52 1.258,65 1.752,71 1.391,87 897,81 771,38 3 2,25 44,08 2.609,28 1.105,93 1.469,38 1.503,35 1.139,90 1.020,55 4 2,23 54,70 2.826,18 1.336,88 1.799,52 1.549,56 1.086,91 1.009,69

Média 2,92 42,54 2.826,42 1.337,24 1.890,29 1.566,59 1.013,53 913,37 s(1) 0,82 9,14 278,54 227,98 456,76 182,43 118,05 122,08

CV (2) 28 21 10 17 24 11 8 13 Fonte: Carneiro et al. (2004)

(1) Desvio-padrão (2) Coeficiente de variação (%)

As propriedades com menores índices de diversificação obtiveram

lucros superiores, pois os produtores que investiram em novas explorações agrícolas

não estavam com suas rendas estabilizadas, ou seja, os investimentos na

diversificação levam um certo tempo para amadurecer e proporcionar o retorno

financeiro esperado. Além disso, o bom resultado apresentado pela atividade soja,

nas safras 01/02 e 02/03, que contribuiu em média com mais de 50% da margem

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142

bruta total dos sistemas de produção pesquisados, beneficiou as propriedades com

menores índices de diversificação. Verificou-se que os produtores rurais estavam

revendo a estratégia de diversificação do sistema de produção, com uma tendência

de reduzir um pouco as atividades, equilibrar a renda global da propriedade e a

demanda de mão-de-obra. Contudo, o desvio padrão e o coeficiente de variação

indicam que não ocorreram grandes dispersões nos indicadores econômicos, em

relação à média.

A partir da descrição realizada acerca da dinâmica interna das

quatro propriedades rurais pesquisadas, prossegue-se no próximo item com o

estudo da estimativa dos impactos econômico-financeiros da reserva legal.

4.2 ESTIMATIVA DOS IMPACTOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA RESERVA LEGAL

Apresentou-se no item anterior o desempenho econômico-financeiro

e a dinâmica interna das quatro propriedades rurais pesquisadas, cujas informações

serviram de base para estimar os impactos que a implantação da reserva legal

deverá provocar nesses sistemas de produção agrícolas.

Apresenta-se na Tabela 24, na página seguinte, a estimativa dos

valores da TIR sem e com a implantação da reserva legal, nas três opções

propostas.

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TABELA 24 – ESTIMATIVA DOS VALORES DA TIR, NAS OPÇÕES PROJETADAS PARA REPOSIÇÃO DA RESERVA LEGAL, SEM E COM O VALOR DA TERRA

TIR (%)

OPÇÕES

VALOR DA TERRA 1 2 3 4

0 – Sem a implantação da reserva legal Sem 10,96 14,85 26,23 60,95 Com 3,09 5,70 9,12 7,92

Sem 6,96 11,93 24,20 56,35 1 – Parcelas anuais com espécies nativas Com 1,75 4,29 8,09 6,85

Sem 6,71 10,68 22,83 40,72 2 – 80% eucalipto + 20% nativas Com 2,37 4,75 8,49 6,84

Sem 8,57 12,14 22,74 43,11 3 – Aquisição de nova área Com 2,60 4,97 8,45 7,28

Fonte: Dados desta Pesquisa

Ao se analisar os resultados sem a implantação da reserva legal,

percebe-se que os valores da TIR foram discrepantes quando não se considerou o

valor da terra, com uma amplitude de até 50% entre as propriedades 1 e 4. Um dos

principais fatores que contribuiu na diferença verificada nos valores da TIR de cada

propriedade foi o valor monetário do capital imobilizado com máquinas,

equipamentos e benfeitorias por unidade de área explorada. Quanto maior essa

relação, menor a TIR obtida. Além disso, a propriedade 1, que obteve TIR de

10,96%, também foi afetada pelo custo da contratação de um empregado fixo.

Nota-se que quando se considerou o valor da terra, essas diferenças

ficaram menores. A propriedade 3, que obteve TIR de 9,12%, era a única com terras

arrendadas, como conseqüencia, tinha menos capital investido por unidade de área

explorada.

Os valores estimados da TIR nas três simulações indicaram que

haveria impactos negativos na rentabilidade dos sistemas de produção, porém com

variações de acordo com cada proposta.

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Apresenta-se na Tabela 25 as reduções estimadas nos valores da

TIR, em cada opção analisada.

TABELA 25 – ESTIMATIVA DA REDUÇÃO NOS VALORES DA TIR, NAS OPÇÕES PROJETADAS, SEM E COM O VALOR DA TERRA

TIR (%) OPÇÔES

VALOR DA TERRA 1 2 3 4

Sem 4,00 2,92 2,03 4,60 1 – Parcelas anuais com espécies nativas Com 1,34 1,42 1,03 1,07

Sem 4,25 4,17 4,01 20,24 2 – 80% eucalipto + 20% nativas Com 0,72 0,95 0,63 1,09

Sem 2,40 2,71 3,48 17,84 3 – Aquisição de nova área Com 0,49 0,73 0,66 0,64

Sem 3,55 3,27 3,17 14,23 Média Com 0,85 1,03 0,77 0,93

Fonte: Dados desta Pesquisa

Percebe-se que as reduções nos valores da TIR nas propriedades 1,

2 e 3 seriam semelhantes, com média um pouco superior a 3%, sem considerar o

valor da terra. A redução da TIR seria maior na propriedade 4, principalmente nas

opções 2 e 3, em função do aumento relativo do capital inicial no fluxo de caixa. Com

a inclusão do valor da terra nas simulações verifica-se que as reduções seriam

semelhantes nas propriedades, com média em torno de 0,9 %.

A opção 3 seria a que menos provocaria redução na TIR, nas

propriedades 1 e 2, visto que o capital imobilizado por unidade de área explorada é

alto nessas duas propriedades, ou seja, o fator Superfície de Área Útil é

relativamente o mais limitante.

A opção 1 seria a mais indicada para as propriedades 3 e 4, pois o

aumento do capital investido aconteceria de forma gradual, causando menos

impacto nos resultados da TIR.

Essas ponderações seriam verdadeiras se a decisão fosse baseada

na rentabilidade relativa do capital investido, ou seja, na TIR. Para verificar qual seria

a melhor decisão baseada na menor perda absoluta de renda, é preciso recorrer aos

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resultados estimados do VPL. Apresenta-se na Tabela 26 os VPL das propriedades

acompanhadas sem e com a implantação da reserva legal.

TABELA 26 – ESTIMATIVA DO VPL, NAS OPÇÕES PROJETADAS, SEM E COM O VALOR DA TERRA

VPL – 6% (R$)

OPÇÔES

VALOR DA

TERRA 1 2 3 4 0 – Sem a implantação da reserva legal Sem 61.006,72 126.243,87 290.224,20 430.223,29

Com -121.994,72 -10.698,51 125.732,05 113.892,23 Sem 10.428,39 77.289,18 246.730,79 365.507,29 1 – Parcelas anuais com espécies nativas

Com -172.573,05 -59.653,53 82.238,64 49.176,23 Sem 11.672,99 85.702,17 278.947,14 370.880,67 2 – 80% eucalipto + 20% nativas

Com -170.144,45 -51.240,54 109.977,00 54.549,61 Sem 35.384,11 98.183,79 267.072,37 395.350,08 3 – Aquisição de nova área

Com -147.617,33 -38.758,92 102.580,21 79.019,02 Fonte: Dados desta Pesquisa

Nota-se que o valor da terra teve forte influência nos resultados do

VPL. Sem considerá-lo, todas as propriedades analisadas obtiveram VPL positivos,

indicando a viabilidade econômica dos seus sistemas de produção agrícolas. Ao

considerá-lo, as propriedades 1 e 2 apresentaram VPL negativa. A propriedade 1

apresentou menor VPL em função dos motivos já vistos: elevado valor do custo fixo,

ocasionado pelas depreciações dos aviários, dos maquinários, dos equipamentos e

das lavouras permanentes; é o único estabelecimento entre os quatro analisados

que possuía um empregado fixo.

A Tabela 27 apresenta as reduções do VPL para cada opção

analisada, indicando quais seriam os impactos financeiros advindos da implantação

da reserva legal na renda dos produtores pesquisados.

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TABELA 27 – ESTIMATIVA DA REDUÇÃO NOS VALORES DO VPL, NAS OPÇÕES PROJETADAS, SEM E COM O VALOR DA TERRA

VPL – 6% (R$) OPÇÔES

VALOR DA

TERRA 1 2 3 4 Sem 50.578,33 48.954,69 43.493,41 64.716,00 1 – Parcelas anuais com espécies nativas

Com 50.578,33 48.954,69 43.493,41 64.716,00 Sem 49.333,73 40.541,70 15.755,05 59.342,62 2 – 80% eucalipto + 20% nativas

Com 49.333,73 40.541,70 15.755,05 59.342,62 Sem 25.622,61 28.060,08 23.151,84 34.873,21 3 – Aquisição de nova área

Com 25.622,61 28.060,42 23.151,84 34.873,21 Sem 41.844,89 39.185,49 27.466,77 52.977,28 Média

Com 41.844,89 39.185,49 27.466,77 52.977,28 Fonte: Dados desta Pesquisa

Observa-se que os valores absolutos encontrados, sem e com a

inclusão do valor da terra, seriam iguais. Nota-se que as menores reduções nos

resultados estimados do VPL ocorreriam predominantemente na opção 3, com

exceção da propriedade 3, cuja menor redução seria com a opção 2.

A opção 1, considerada a mais próxima do que se deseja da reserva

legal do ponto de vista ambiental, apresentaria o maior impacto negativo na renda

dos produtores rurais, perdendo em média cerca de R$ 52 mil. Porém, teria a

vantagem de exigir pouco capital para a sua implantação.

Com relação à opção 2, as reduções médias seriam de

aproximadamente R$ 41 mil. A principal desvantagem dessa alternativa seria a

interrupção abrupta da renda proveniente das atividades agrícolas na área de

implantação da reserva legal. Poderia-se amenizar esse problema com o plantio de

milho e feijão nas entre-linhas das espécies florestais durante os dois primeiros anos

de implantação, ocupando 60% da área da reserva legal. Todavia, a rentabilidade

global dos sistemas de produção aumentaria apenas de 0,2 a 0,4 pontos percentuais

com a inclusão dessas atividades, cuja condução provavelmente seria por meio de

parceria, uma vez que as colheitas teriam que ser realizadas de forma manual. Outra

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desvantagem dessa opção seria o desembolso dos investimentos iniciais para a

formação do reflorestamento no primeiro ano de implantação da reserva legal.

Contudo, essa opção deverá atrair os produtores que precisam produzir madeira

para o consumo na propriedade.

Constatou-se que a menor redução média no resultado do VPL seria

em torno de R$ 28 mil, com a opção 3. Acredita-se que essa seria uma alternativa

bastante atrativa para os produtores rurais, pois não implicaria em promover

mudanças estruturais no sistema de produção agropecuários que acarretariam

redução de renda. O inconveniente dessa proposta seria a necessidade de dispor de

recursos financeiros para adquirir uma nova área rural. Contudo, essa opção só

seria viável para a aquisição de áreas não mecanizáveis e sem as restrições

impostas pela legislação ambiental em vigor, ou com valor de mercado compatível

com o uso que se pretende dar.

A pesquisa quantitativa aqui apresentada permitiu a avaliação, com

enfoque sistêmico, dos impactos econômico-financeiro para se cumprir a reposição

da reserva legal. Notou-se que, mesmo com o desempenho econômico mais

favorável, como é o caso das propriedades 3 e 4, pouca coisa existe de preservação

florestal nessas propriedades. Em que pese às restrições econômicas dos

agricultores, verificadas neste estudo, acredita-se que, mesmo em melhores

condições, deve haver outras razões para o não cumprimento dessa exigência legal,

principalmente, a razão de se seguir à lógica do modelo capitalista, ou seja,

acumular capital. Seria ingenuidade acreditar que apenas a melhoria nas condições

financeiras fosse suficiente para garantir a mudança de comportamento dos

agricultores, com relação à recomposição da reserva legal.

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Todavia, o principal motivo do não cumprimento dessa imposição,

nos casos analisados, não seria apenas a intenção de acumular capital, mas de se

evitar a redução da renda que se emprega no atendimento das necessidades

básicas da família, tais como: plano de saúde; educação; transporte; boa

alimentação; vestuários; e lazer.

Nesse contexto, optou-se por complementar esta pesquisa com o

aporte do método qualitativo, no qual se buscou compreender a reserva legal do

ponto de vista dos produtores rurais. Dessa forma, apresenta-se, a seguir, o que

pensam os produtores rurais acerca dessa imposição.

4.3 RESERVA LEGAL: O PONTO DE VISTA DOS PRODUTORES RURAIS PESQUISADOS

Os produtores rurais pesquisados dependiam quase que

exclusivamente da renda agrícola para o sustento de suas famílias. Seus pais eram

agricultores que deixaram o interior do estado de São Paulo, em busca de novas

áreas agrícolas e de um futuro melhor no Paraná. Apresenta-se na Tabela 28 uma

breve caracterização desses produtores, com as seguintes informações: idade, sexo,

estado civil, grau de escolaridade e o município onde residiam.

TABELA 28 – CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS PESQUISADOS PRODUTORES IDADE

(ano) SEXO ESTADO

CIVIL ESCOLARIDADE MUNICÍPIO (PR)

1 66 Masculino Casado 1º grau Cambé 2 45 Feminino Casada 2º grau Prado Ferreira 3 58 Masculino Casado 1º grau Primeiro de Maio 4 47 Masculino Casado 1º grau Sertanópolis

Fonte: Dados desta Pesquisa

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Todos os entrevistados pararam definitivamente de estudar. A

administração da propriedade 2 era totalmente compartilhada entre o produtor e a

sua esposa. Devido à disponibilidade momentânea de tempo do casal, foi ela que

concedeu a entrevista. Todos os entrevistados afirmaram que receberam a

propriedade rural sem quase nada de mata nativa, conforme apresentado na

Tabela 29.

TABELA 29 – ANO E CONDIÇÕES DE RECEBIMENTO DA PROPRIEDADE PRODUTORES ANO QUE

RECEBEU A PROPRIEDADE

FORMA DE AQUISIÇÃO

EXISTIA MATA NATIVA NA

PROPRIEDADE?

AVERBOU A ÁREA DA RESERVA LEGAL?

1 1992 Herança de família Não Sim 2 1980 Herança de família Não Não 3 1969 Herança de família Não Não 4 1984 Herança de família Sim Não

Fonte: Dados desta Pesquisa

O questionamento sobre a existência de mata nativa referiu-se ao

momento em que os pesquisados assumiram o comando de suas propriedades,

ficando judicialmente responsáveis pelos atos cometidos em seus respectivos

domínios. O Produtor 4 explicou que a mata nativa existente na propriedade é de

pequena proporção, ocupando 4,4% da área total do imóvel, e que a mesma está

preservada. Apenas o produtor 1 efetuou a averbação da reserva legal, pois foi uma

exigência para se obter a escritura do imóvel no momento da divisão da propriedade

herdada entre os irmãos.

A apresentação do ponto de vista dos produtores rurais

entrevistados, com relação à imposição da reserva legal, foram subdivididas em três

grupos: conteúdo (o que); contexto (por que); e processo (como). Todavia, essas

subdivisões formam, em seu conjunto, o significado da reserva legal para os

produtores pesquisados.

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4.3.1 O Conteúdo

Neste subitem, buscou-se captar principalmente o que os

entrevistados entendiam por reserva legal e o que representava para eles essa

imposição presente no Código Florestal. Nas transcrições idênticas das falas dos

produtores pesquisados encontraram-se as seguintes explicações:

“Reserva legal, ela já tem o nome de reserva legal, naturalmente é uma coisa legal. Não sei se vocês chegaram ver a escritura que saiu direto da Companhia Melhoramento, já tava escrito na escritura 20%. E a escritura tinha uma faixa assim, verde-amarela transversal. A reserva legal é pra justificar que uma coisa é legal, por lei, naturalmente ela vem em beneficio do meio ambiente, é lógico, da flora, da fauna, de todas essas coisas aí. Mas todo mundo passou por cima. E não só os culpados disso são os proprietários. Pessoas que seriam incumbidas de manter a lei, e que ninguém se incomodou, derrubava a torto e direito, nunca ninguém falou: - não, isso aqui é reserva legal” (P 1).

“No meu entender reserva legal, eu imagino que seria não ter desfeito aquela que existia. Isso é que eu acho que é legal no meu entender a palavra legal. Porque você não iria mexer realmente na natureza, né? Porque mesmo aquela que já tem alguma coisa, que era daquele tempo, foi mexido. Foi tirado todas as perobas, foi tirado todos os palmitos, então mexeu, mas está lá enfim. Alguns vizinhos que têm. Agora, eu penso que seria isso, uma ajuda para natureza. Uma ajuda pra natureza, só [...] dizer que a gente é contra, não, a gente não é contra. A gente fica realmente apavorada com isso. A gente fica apavorada, sim. É um assunto que, os anos passam e a gente fica preocupada, sim. Eu penso que se essa lei, de repente, se ela for realmente obrigatória e não tiver nem um apoio para pequenos agricultores, nós que já somos poucos e carentes de muita coisa, a gente é mais uma raça que vai se extinguir. Como na libertação dos escravos, libertaram os escravos e quem ganhou com isso? Eles ficaram por ai, até hoje não conseguiram reaver nada, ou pouca coisa. E se essa lei for obrigatória, obrigatória mesmo, eu acho que vai ser uma coisa muito brava, vai ser esquisito. Principalmente numa terra como essa aqui, terra totalmente agricultável, né? Quando você vê essa argila, essa terra roxa, você fala assim: - Deus fez isso daqui para a gente plantar, né? Pra matar a fome do mundo aqui” (P 2).

“O que eu entendo por aquilo ali, pra mim é assim, né? ... Falaram ali, que fora aqueles 30 metros, não sei se é 15 ou 30, então, estão

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falando mais 70 metros, que era para completar os 100 metros12, né? Aquilo ali eu não concordo, porque quem é que indenizou nóis pra isso? Ninguém, né? Depois, fora disso aí, tão querendo mais 20%, né? Mas isso aí eu também acho errado, porque quando a gente comprou já não tinha mais nada, né? [...] quando foi fechado essa barragem aqui, o senhor vê como que é o erro, na beira d’água tinha umas árvores, tinha umas matas. Entraram com uma esteira, limpou tudo, jogaram tudo dentro d’água. Agora, por que plantar de novo se já tinha? Eu acho que ai tem um erro. Por que derrubou e agora tem que plantar, se já tava plantado? Já tinha bastante, era só aumentar mais, né?” (P 3).

“A reserva legal, segundo o que a gente ouve dizer por aí, é uma quantidade de mato correspondente a 20% da área” (P 4).

Diante das apreensões demonstradas pelos entrevistados e de

respostas que indiretamente denotaram a restrição administrativa da reserva legal

para fins econômicos, buscou-se verificar o ponto de vista dos pesquisados sobre a

possibilidade de se aproveitar essa área para tal finalidade. As respostas foram as

seguintes:

“É um processo demorado, né? Hoje, qual é o tipo de árvore que você planta e vai ter um retorno econômico a menos de 10 ou 15 anos? Agora, parece que não era permitido plantar eucalipto, essas coisas assim. Já tão pensando essa possibilidade. O eucalipto com 10, 12 anos já dá corte. Depois a brota forma mais rápido ainda” (P 1).

“Não sei se isso valeria a pena. Porque o eucalipto não é daqui, é uma coisa colocada, eu não sei. Essa aí (área com eucalipto) nós já temos, né? Nós já temos um alqueire, um alqueire e pouco de eucalipto. Fica aí uma tantada de anos e você não faz nada com ele. Porque se for derrubar também tem que alguém autorizar, então taí, tái né? Nem pra gente queimar no aviário a gente não pode. Tem que ir lá pedir autorização para cortar uma árvore que você mesmo plantou para fins de sustento, senão não pode. Nós estamos comprando. Você vai lá pra liberar 3 ou 4 árvores? A gente consome 3, 4 árvores em seis meses, dependendo da altura dela, essa (quantia) aí dá. A gente queimaria ai umas 12, talvez 10 árvores por ano no aviário. A gente tá pagando trinta reais o metro cúbico” (P 2).

12 Essa é a largura mínima da mata ciliar (área de preservação permanente) exigida na Resolução nº

302, de 20 de março de 2002 do CONAMA. A propriedade está localizada a margem da Represa Capivara, no Município de Primeiro de Maio.

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“Ai eu acho meio difícil eu responder. Porque quem vive de outra coisa, não interessa esse tipo de coisa, né? Pra quem planta soja, milho, não interessa plantá árvore num pedacinho de terra. Ou você planta bastante para vender ou não planta nada, né? A gente não sabe fazer outra coisa. A gente acostumou com aquilo, daí fica difícil” (P 3).

“É, ai precisa ver ainda. Porque, por exemplo, dependendo do que vai ser plantado às vezes tem um comércio bom, né? Você consegue com quatro anos cortar, que é caso do eucalipto, né? Que lenha tá um problema sério já, né? Agora, se vai plantar outro tipo de árvore, às vezes demora 30, 40, 50 anos para formar, então é complicado. Acho que só reflorestamento com eucalipto também não vão querer deixar fazê, né? Porque tem que ser a coisa bem variada, né?” (P 4).

As respostas acima apresentadas demonstram que os produtores

pesquisados tinham uma noção imprecisa sobre o uso econômico da reserva legal.

Essas incertezas refletem as indefinições existentes no ambiente externo aos

estabelecimentos rurais. Embora a legislação que trata desse tema deixe claro que a

reserva legal pode ser aproveitada para fins econômicos, mediante o plano de

manejo sustentável da floresta, observou-se a postura inibidora do órgão estadual

de fiscalização ambiental e um certo desinteresse dos produtores rurais

entrevistados em regularizar essas pequenas áreas florestais para a exploração

econômica. O depoimento do Produtor 2, que afirmava comprar lenha a trinta reais o

metro cúbico para utilização no aquecimento do aviário, mesmo possuindo na

propriedade uma área cultivada com eucalipto, ilustrou essa observação. Cabe

esclarecer que a legislação não permite o cultivo de eucalipto, por ser uma planta

exótica, na área de reserva legal em propriedades com mais de trinta hectares. No

entanto, como foi explicado anteriormente, o Instituto Ambiental do Paraná está

estudando a possibilidade de liberar o cultivo de eucalipto em qualquer categoria de

propriedade rural para a formação da reserva legal, como uma espécie pioneira

intercalada com espécies nativas. Nesse caso, o eucalipto deverá ser retirado da

área até 2018.

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4.3.2 O Contexto

Descrevem-se, neste subitem, as manifestações relacionadas com o

“por que” de se fazer, ou não, a reposição da reserva legal. Buscou-se captar o

ponto de vista dos entrevistados principalmente com relação as seguintes questões:

qual a importância e a necessidade de se fazer a reposição da reserva legal?; por

que a obrigação de se repor a reserva legal?; quem vai ganhar e quem vai perder

com a reposição da reserva legal? Com relação aos aspectos ambientais os

depoimentos expressaram o seguinte:

[...] “nós temos um exemplo aqui no Paraná, eu cheguei até presenciar isso. O Paraná era uma floresta de café, que é uma planta de porte grande. A natureza parece que ela funcionava de uma maneira diferente. Quando era época de chuva, dificilmente dava um veranico meio grande. Depois que a erradicação do café funcionou mesmo, foi violenta, a gente percebeu uma alteração no sistema. Quando chove, chove demais. Aí então o desequilíbrio da natureza também foi meio violento [...] ó o que aconteceu há pouco agora lá na Ásia, lá. Quem é que sabe que aquilo num foi mesmo aquele deslocamento de terra? A natureza tá agredida, né? E a resposta dela é violenta, a resposta dela é isso, ó! Agora, deve não, tem gente com muito mais capacidade do que eu pra dizer porque e qual a necessidade mesmo da reserva legal. Em todo sentido. Até na fauna, porque tem gente aí hoje que nem conhece um bicho do mato. Não tem mato, como é que vai ter bicho? Então, esses animal são predador, eles têm a função deles também, não é? A gente vê esses noticiários, esses documentários da África. Lá começa do maior, um come o outro, ainda até o menor sobra também pra sobreviver. Um alimenta o outro e no fim das contas tá todo mundo vivo lá. Então, acredito que tenha necessidade. [...]Estragando o meio ambiente não tá só a agricultura ou só a exploração da terra. O que é poluente que é jogado no espaço ai por essas grandes indústrias, essas petroquímicas, não sei se agora, hoje eles já estão com sistema de filtragem aí. Mas ó o Estados Unidos! O Estados Unidos, que é o maior poluente do mundo, não quis nem entrar naquele acordo. Então, eu acho que ai tem que vê tudo que está ocasionando esse mal e todo mundo entrá nessa. Se for por causa das mata, talvez nem vai resolver o problema” (P 1).

[...] “muitas vezes a gente senta aqui fora, ou mesmo lá em cima na roça , a gente gosta de ficar olhando. Essa imensidão aí era tudo mato, né? E agora tudo limpo, você imagina, de fato aconteceu um

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impacto muito forte, né? Aí você vê essas geleiras derretendo, né? Você vê esse sol tão quente, você fala: - seria tão bom se a gente conseguisse repor tudo como era antes e deixar uma pequena área pra mim plantar, como os índios, e sobreviver disso. Mas aí viver como? De que fórmula? [...] a gente tem uma consciência ambiental, a gente olha, a gente observa, vê que os tempos já não são iguais. Olha a chuva de hoje, isso aí é um exagero, tá certo que nós estamos no verão, e tal, mas tem um aquecimento até além, a gente sente, a gente sabe disso. [...] acho que não vem da falta de mato, eu acho que não. Esse aquecimento aí não vem só da agricultura, da falta do mato, é lógico, vem das indústrias, dos carros, né? O mundo todo jogando gazes aí, isso aí é que é o aquecimento. Agora, a terra coberta diminui o impacto, mas para resfriar, digamos assim, são necessárias outras medidas. Aí eu falo, no âmbito industrial, incluindo aí gazes não poluentes e os que estão saindo dos carros, ou coisas assim, né? [...] que nem o nosso caso, a gente cuida com o terraço, com curvas de nível, com rotação de cultura, plantio direto, que é tudo pra não degradar, nós fizemos a mata ciliar, a gente protege os mananciais, e tal. Agora, onde está produzindo, principalmente nós aqui, que a gente mora na propriedade, tem essa consciência com agrotóxico, com defensivos, enfim de uma forma geral. [...] tem abuso sim, a gente vê que tem muito abuso, principalmente agora nessa alta mentirosa da soja que aconteceu aí o ano passado, tiveram locais, lugares que foram degradado assim, só mesmo pra angariar dinheiro e por amadores, não tinha nada a ver com agricultores de fato, aqueles que trabalham ali na terra mesmo, que estão trazendo estas divisas, esta riqueza para o país. A gente vê assim, mecânicos, médicos, professores, sei lá, gente que já tem a sua atividade, vem fazer uma exploração de qualquer jeito, e até na beira do rio e derrubam matinhos, e matos e matas até grande, aqui vizinhos mesmo, só para aquela exploração momentânea” (P 2).

No depoimento acima foi mencionado o cuidado do produtor

adotando uma série de medidas para evitar a degradação ambiental, seguido de

uma denuncia de abusos por parte de pessoas oportunistas, que aproveitam uma

situação momentânea favorável para se obter lucros na atividade agrícola.

Observou-se, nesse depoimento, que a elevação demasiada dos preços dos

produtos agrícolas pode resultar em maiores impactos ao meio ambiente,

notadamente pela tentativa de se expandir a área cultivada, sem nenhum critério

técnico conservacionista. Por outro lado, os preços dos produtos agrícolas a um

nível que não remunera minimamente os produtores rurais, também podem acarretar

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155

a falta de investimentos em obras agronômicas necessárias para uma exploração

adequada dos recursos naturais.

Embora tenha ficado claro o reconhecimento desses produtores que

a atividade agrícola contribuiu para a degradação ambiental, notou-se nos

depoimentos dos entrevistados a visão de que a dimensão dos problemas

ambientais extrapola as influencias das atividades agrícolas. Nessas reflexões, os

entrevistados não acreditavam na reposição florestal como uma medida isolada para

a solução dos problemas mencionados, e sim uma medida paliativa para reduzir os

impactos ambientais. Dessa forma, nos depoimentos dos entrevistados foi possível

verificar o sentimento de injustiça por recair apenas aos agricultores os custos de

reposição da reserva florestal, visto que essa medida iria beneficiar a população de

forma geral. Nas palavras dos entrevistados:

[...] “não é por causa do ar lá, sei lá, eu pelo menos não entendo direito. Então, mas não é só eu que respiro o ar. E o outro da cidade lá, como é que fica? Só nóis que paga? Acho que também não tá certo, né? As indústrias não joga aquele monte de sujeira na água aí também?” (P 3)

[...] “não somos só nóis que polui o planeta, porque só nóis carregá o fardo sozinho?” (P 4).

Esse sentimento de injustiça veio acompanhado da sensação de

serem eles, os agricultores, considerados a parte mais fraca e que se sujeitariam,

sem muita pressão política, às exigências das autoridades ambientais, o que não

aconteceria, segundo eles, com as indústrias por possuírem mais poder de

negociação, conforme se constatou nesses depoimentos:

[...] “a indústria que tem os seus apoios e aí eles fazem os seus estudos de impacto ambiental e acabam dando um jeito enfiando uma indústria que polui muito num espaço que ninguém vai lá, meio assim por baixo do pano, e acabam por deixar” (P 2).

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[...] “eu acho que o governo aí, eu acho que ele pensa que os agricultores é a parte mais humilde, mais fácil dele pressionar e conseguir. Por exemplo, as industrias. Fala assim, ó: - eu (o governo) vou cobrar lá zero virgula não sei que lá de imposto sobre o faturamento (da indústria), eles (os industriais) vão arrepiar de cara” (P 4).

Na opinião dos entrevistados, não seriam os produtores rurais os

principais beneficiados com a reposição da reserva legal, mas toda a população.

Dessa forma, verificou-se a recorrência de citações que expressavam o sentimento

de injustiça, pois tal medida iria beneficiar a população urbana em detrimento dos

produtores rurais. Os seguintes depoimentos revelaram quem ganharia com a

reposição da reserva legal:

“Naturalmente, é a população, é a humanidade. Não diz que a floresta é o pulmão do mundo? Na minha maneira de pensar, a única coisa que vão trazê de benefício é uma vida mais saudável pra população. Volta o equilíbrio outra vez da natureza, se bem que voltá como era antes de acontecê tudo isso aqui, acho que vai ser difícil. Mas pelo menos, dá uma dipirona13 pra dá uma melhorada na situação” (P 1).

“Se realmente (a lei) pegasse, eu acho que a natureza ganharia, né? E nós mesmo, todos ganhariam realmente” (P 2).

“Alguém tá ganhando em cima disso aí, né? Alguém tá ganhando com isso aí. Eu não sou, eu tô perdendo. Deve ter muita gente ganhando em cima disso aí. Só pode, né?” (P 3).

“Quem vai ganhar talvez, vamos supor, é o pessoal que tá longe, que nem num vai se empenhar em nada, por exemplo, um dono de uma empresa grande, que ele tá ajudando a poluir o ar, ele vai ser beneficiado, mas do bolso dele não vai sair nada, da renda dele vai diminuir nada” (P 4).

13 A Dipirona é um medicamento receitado para pacientes em estados de dor, febre e espasmos

como analgésico, antipirético e antiespasmódico. Reações adversas: a Dipirona produz intoxicação sobre a série de células brancas do sangue, produzindo agranulocitose que, na maioria das vezes, é precedida de febre, mal-estar, faringite e ulcerações na boca. A contagem dos leucócitos cai para níveis muito baixos. Se cuidados médicos não forem dispensados a estes pacientes, eles marcharão inexoravelmente para a morte. Disponível em: <http://www.lafepe.pe.gov.br/medicamentos/medicamentos/Analgesicos/dipirona.php> Acesso em 23 maio 2005).

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Persistiu nos seguintes depoimentos dos entrevistados a convicção

absoluta de que a imposição da reserva legal, comprometendo 20% da área total da

propriedade, deixaria os pequenos agricultores em dificuldade de garantir renda para

a sobrevivência de suas famílias. Os entrevistados foram enfáticos em afirmar que:

“Para o agricultor o impacto maior vai ser na parte econômica, com certeza. Bom, a menos que em outras propriedades por aí, quem tem propriedade grande aí, pessoas que têm aí 100, 150 arqueire de terra, onde na área tem 20, 30 arqueire que não é agricultável, põe uma mata aí e acabô, né? Ou as veiz, já tem. Pra ele não vai ser nada. Se ele tem 100 arqueire com 20 de pedra, ele vai deixá mata naquele terreno que já não tava sendo explorado. Para ele não tem impacto nenhum. O impacto maior é para propriedade pequena, o pequeno agricultor vai sofrê. Por exemplo, cinco arqueire, 20% não dá um arqueire? E daí? Um arqueire de terra na receita dele vai fazer falta, né?” (P 1).

[...] “é o problema financeiro, você já tem pouca terra, você vai cobrir terra com, com... você não vai poder explorar mais isso, e aí vai, vai dá um impacto muito grande aí, e até inexistência. Eu penso que, no nosso caso, se nós fôssemos fazer a reserva legal dessa propriedade nossa, a gente não teria mais condições de sobreviver do jeito que a gente sobrevive hoje aqui. Com essa quantia de terra, não” (P 2).

[...] “o agricultor só perde. Bom, só perde nesse sentido, acima dos 30 metro (de mata ciliar). Pra quem tem pouca terra, não dá mesmo. É cada vez pior. [...] Meu cunhado tem 5 alqueire lá. Se for plantá 30 metro, mais 70 (de mata ciliar), mais 20% (de reserva legal), não vai sobrar nada pra ele. Não vai sobrar quase nada. O homem tá dez anos na cama, não fala, só come e dorme. Não fala, não anda, igual a uma planta aí, né? E como é que minha irmã vai consegui cuidá desse homem desse jeito? Não tem como, né? Comprá remédio, tratá, como é que faz? E ela vai sobreviver de que?” (P 3).

[...] “o que mais o pessoal se preocupa é que a terra já é pouca e ainda vai tirar mais 20% para plantar mato, vai diminuir mais a renda ainda. Benefício pode ser que traga, que futuramente pode melhorar o clima ou qualquer coisa assim. Mas o aspecto que o pessoal mais está, assim, olhando assustado é com a relação à renda que vai diminuir, esse é o fator principal” (P 4).

Notou-se, na visão dos entrevistados, que o problema da reserva

legal não é apenas ambiental, mas socioeconômico. Em outras palavras, eles

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interpretaram que a população de uma forma geral seria beneficiada com a medida,

porém os pequenos produtores não suportariam pagar essa conta com a mesma

renda que garante um mínimo de inserção social e de tranqüilidade para as suas

famílias.

4.3.3 O Processo

Buscou-se neste subitem compreender o que pensam os

entrevistados com relação ao processo de reposição da reserva legal, ou seja,

pretendeu-se captar principalmente as propostas que eles teriam em mente para se

adequarem a essa exigência. Nas palavras dos produtores:

“Uma das coisas que eu já venho pensando há tempo é vender aquilo antes que aconteça mesmo a obrigação de implantar essa reserva. Comprá uma área, nem que seja pior, mas maior, entendeu? Também acredito que vai dá na mesma. Hoje em dia não adianta tamanho e nem quantidade, e sim qualidade. Então, talvez a minha área lá com 36 hectare, mesmo se ela for ocupada com um pouco de reserva legal, as veiz ela vai produzir mais do que uma outra grande, que só vai dar dor de cabeça. A pessoa pensa um pouco, porque é coisa brava isso ai. Eu até tinha pensado em já transferí ela pros filhos. Como são três filhos, não sei qualé que seria o benefício ou prejuízo, mas daí eles teriam mais força, porque, sei lá, 36 hectare dividido pra três, eles vão ter mais força pra lutá, aí diminui mais ainda o tamanho, né? A quantidade de pessoas, então vão ter que sobreviver com aquela área. Mas não sei nem se isso é legal, se justifica” (P 1).

[...] “de imediato eu acho que nós não teríamos muita coisa para fazer, não. Talvez, o que se poderia pensar em fazer, como a gente já investigou por aí, não sei se isso faz parte da coisa, sei lá, a gente compraria noutro lugar, onde ainda tem mato, e averbaria junto à escritura, coisa assim. Mas, não sei se isso seria possível. Aqui continuaria igual” (P 2).

“É muito difícil, né? Porque, como diz o outro, a gente sozinho não resolve nada, né? Não adianta eu ficar falando isso, falando aquilo, porque não vai resolvê nada” (P 3).

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Percebeu-se claramente que os entrevistados não estavam seguros

e nem preparados para decidir sobre a melhor opção visando cumprir a exigência do

Código Florestal. Eles ficaram indecisos e preocupados frente aos questionamentos

sobre o que pretendem fazer para repor a reserva legal. Todavia, eles manifestaram

algumas expectativas que poderiam ser consideradas, até certo modo, como

facilitadoras, tais como:

[...] “eu não tô querendo dizer que o governo teria que beneficiar o proprietário pequeno, mas acho que ele teria que repensa isso, sei lá, se bem que a lei é para todos, né? Um município como o nosso aqui, ficaria meio sem reserva legal, porque tem muita área pequena” (P 1).

[...] “eu acho que a lei deveria ser personalizada, sei que há oposição a esse termo, teria que ver, fazer um levantamento propriedade por propriedade, agricultor por agricultor, e depois fazer a intervenção... Então, o que devia ter, de fato, é um estudo, uma lei que fizesse valer, mas uma coisa séria, uma coisa certa, de pessoas, não de alguém que fica longe e acha que é por aí e não tem nada a ver” (P 2).

[...] “e se a gente recebe, se é que por acaso a gente for indenizado, alguma coisa ali sobre os 70 metro lá, os 20%, e depois? Com esse pouquinho a gente faz o quê? A gente vai fica com um pedacinho aqui e compra em outro lugá, fica pra lá e pra cá? Não tem nem como. Acaba com a propriedade porque, por exemplo, no meu caso lá, é 13 (alqueires). Se sobrá lá uns 8 alqueires o quê que eu vou fazer com 8 alqueires? Morrer de fome, né? Com o que tenho já não tô vivendo, né? E depois, pra gente comprá, por exemplo, se recebe indenização disso aí, a gente comprá em outro lugar, vai, volta, vai, volta, não vira nada. Acaba em nada. No final de tudo é trabalho de bóia-fria (P 3).

[...] “porque eu acho, por exemplo, lá naquela terra lá, onde que foi inundado na Represa de Itaipu, os município recebe uma indenização lá por ter alagado aquelas terras, né? Então, se agora o agricultor vai plantar mato para beneficiar praticamente o planeta inteiro, então ele vai diminuir a renda dele para trazer um benefício para todo o mundo. Eu acho que em troca desse benefício tinha que gerar alguma renda para o agricultor. Não é justo, porque não é só o agricultor que vai ter que resolver essa situação, todo o mundo tinha que abraçar essa causa. Então, vamos supor, o empresário: - se eu tô ajudando a poluir com a minha empresa, quanto que eu vou ter que colaborar, zero virgula não sei lá de imposto? Então, faz um levantamento das propriedades que vai ter que plantar, e essas têm

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que ser indenizada com uma renda semestral ou anual, qualquer coisa assim [...] Tudo quanto é empresa por aí, por exemplo, tudo que é empresa grande, até os produtos que essas multinacionais fabrica, por exemplo, essas empresas que jogam por aí esse mundo de monóxido de carbono aí, que ajuda poluir, então o governo tinha que arrumar uma maneira de cobrar lá x% de imposto e repassar para quem vai plantar mata, ué!”(P 4).

Os quatros produtores entrevistados apresentaram expectativas

diferentes. O primeiro, embora acreditasse que é necessário um tratamento especial

para os pequenos agricultores, demonstrou-se descrente desta possibilidade. A

segunda pessoa entrevistada propôs uma revisão na lei, sugerindo que seja

contemplado um estudo mais detalhado e específico para cada estabelecimento

rural, elaborado supostamente por profissionais com atribuições adequadas e que

estejam próximos à realidade rural por trabalharem rotineiramente no campo. O

terceiro entrevistado tinha dúvida se o poder público iria indenizar os proprietários

rurais, com medida compensatória pela reposição florestal em áreas particulares,

porém, mesmo que isso ocorresse, ele se sentiu ameaçado por se ver forçado a

realizar profundas mudanças estruturais nas suas atuais atividades, que poderiam

resultar em fracassos. O quarto produtor entrevistado manifestou a expectativa de

que a sociedade venha a reconhecer a necessidade de contribuir com recursos

financeiros para auxiliar os produtores rurais a efetuarem a reposição da reserva

legal.

Todavia, notou-se que existiu um posicionamento bastante favorável

à reposição da mata ciliar, como foi dito pelos entrevistados:

“Uma das coisas que já tá sendo colocado em prática que pode resolver o problema é as mata ciliar. Essa sim. Não porque aconteceu da minha propriedade lá não ter beira de rio, mas se tivesse, eu acho que isso aí é indispensável. Até já tão demorando pra botá em prática isso” (P 1)

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“A margem do rio, a mata ciliar, aquilo ali tá certo de deixá, aquilo tem que ter, né? Eu também acho que aquilo ali não é errado não” (P 3).

Observou-se que a aceitação à implantação da mata ciliar ficaria

limitada aos 30 metros de faixa que ocupariam a propriedade, pois o produtor 3

manifestou-se contrário às exigências legais que obrigam a reposição em 100

metros de faixa de mata ciliar às margens da Represa Capivara, o que afetaria sua

propriedade.

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CONCLUSÕES

As análises empreendidas nesta pesquisa permitiram observar que:

1) o capital dos produtores rurais, constituído pelo valor monetário das benfeitorias, das máquinas e equipamentos, dos animais e das culturas permanentes apresentou, em média, redução de 5% no decorrer dos cinco anos de acompanhamento. A idade avançada dos maquinários, dos equipamentos e das benfeitorias, em torno de 20 anos de uso, é um indicador das dificuldades financeiras desses produtores para investir na renovação dos bens utilizados nos sistemas de produção, ficando, muitas vezes, à margem dos avanços tecnológicos;

2) a saída de quatro dos cinco jovens que estavam efetivamente trabalhando na atividade agrícola evidenciou o problema da sucessão na agricultura familiar;

3) a especialização dos sistemas de produção agrícolas foi uma estratégia utilizada em duas propriedades monitoradas para reduzir a demanda de mão-de-obra familiar. A eficiência econômica das duas propriedades mais diversificadas foi menor no período analisado;

4) após descontar o custo de oportunidade da mão-de-obra familiar, atribuindo o valor de um salário mínimo por equivalente-homem, o lucro médio foi de R$ 913,37 por hectare/ano, com coeficiente de variação de 13%. As remunerações médias mensais, com base na renda líquida global média das propriedades monitoradas, foram equivalentes a 5,98 e 13,75 salários mínimos por unidade de mão-de-obra e por núcleo familiar, respectivamente;

5) a renda média desses produtores possibilitou a manutenção de suas famílias com um padrão de qualidade de vida satisfatório, pois tiveram acesso aos serviços essenciais, aos meios de comunicação e transporte, poder de compra de utilidades domésticas (bens duráveis) e boa moradia. Os investimentos com recursos próprios voltados à melhoria dos sistemas de produção agrícolas foram de aproximadamente R$ 4 mil por ano (junho/2003);

6) de acordo com as projeções realizadas, sem considerar o valor da terra e mantidos os resultados médios observados nos cinco anos de acompanhamento, todas as propriedades analisadas apresentariam desempenho econômico satisfatório, pois

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conseguiriam obter TIR acima de 6% ao ano e VPL positivo. Quando se considerou o capital terra na elaboração e análise do fluxo de caixa, apenas as propriedades 3 e 4 apresentariam resultados econômicos satisfatórios;

7) as projeções que simularam a implantação da reserva legal, sem considerar o valor da terra, apontaram variações de 3,17% a 14,23% na redução da TIR. As quatro propriedades pesquisadas continuariam economicamente viáveis, pois ainda apresentariam TIR acima de 6% ao ano. Os sistemas pesquisados reduziriam, em média, R$ 40.368,00 o VPL do fluxo de caixa com a implantação da reserva legal, com coeficiente de variação de 25%, ou seja, uma grande dispersão dos valores em torno dessa média;

8) os entrevistados estavam informados acerca da obrigatoriedade da reserva legal e consideravam essa imposição uma ameaça em potencial para a permanência dos mesmos na atividade agrícola produtiva. Eles manifestaram resistência à hipótese de incluir a atividade florestal em seus sistemas de produção agrícolas, em função da pouca disponibilidade de área de cultivo, do longo tempo de retorno da atividade, da ação inibidora do órgão de fiscalização ambiental, da falta de alternativas econômicas viáveis e da preferência dos produtores rurais por fazer aquilo cujo domínio do resultado econômico oferece maior segurança. A obrigatoriedade da reserva legal significava para esses produtores uma restrição administrativa e não apenas uma simples limitação de uso da área;

9) os produtores entrevistados estavam sensibilizados com os problemas ambientais e reconheceram que a reserva legal poderá ser uma medida necessária para amenizar os impactos negativos causados pela humanidade ao meio ambiente, porém eles deduziram que essa medida é paliativa e que os danos causados por outros setores da sociedade estão provocando efeitos de dimensão planetária, tais como: o aquecimento da Terra, a poluição do ar e das águas. Com relação à área de preservação permanente, em especial a mata ciliar, notou-se um posicionamento favorável dos entrevistados ao cumprimento desta obrigação, contudo, o produtor 3 não estava concordando com uma faixa de mata ciliar acima de 30 metros de largura.

10) os entrevistados estavam inseguros quanto às alternativas que adotariam para a reposição da reserva legal em sua propriedades e aguardavam o desenrolar dos fatos, algumas alterações na lei ou medidas compensatórias que pudessem facilitar o seu cumprimento. Eles reivindicaram a participação direta de outros setores da sociedade, e explicitamente do setor

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industrial, para contribuir em ações voltadas à melhoria do meio ambiente, em particular a reposição florestal;

Os resultados apresentados sugerem que a implantação da reserva

legal, de acordo com as opções simuladas e os critérios adotados neste estudo,

resultaria na redução da renda líquida global dos sistemas de produção de grãos

pesquisados. Essa queda de renda, sem considerar o valor da terra, não seria

suficiente para inviabilizar economicamente as quatro propriedades rurais

analisadas, porém reduziria a receita utilizada para atender as necessidades básicas

familiares, tais como: plano de saúde; transporte; educação; comunicação;

vestuários; e de lazer. A redução mais severa seria constatada na propriedade 1,

cuja renda chegaria próxima de um salário mínimo mensal por equivalente-homem.

Com a obrigatoriedade do uso de espécies nativas em propriedades

rurais que possuem mais de 30 hectares de área total, sem oferecer alternativas

comprovadamente viáveis e acessíveis, retirou-se a base para que esses produtores

possam utilizar a área da reserva legal também para fins econômicos, sem provocar

redução da renda destinada à manutenção das despesas familiares e sem

comprometer ainda mais a renovação dos bens materiais produtivos, pelo menos na

perspectiva dos produtores entrevistados e na interpretação dos dados deste

estudo.

Os institutos de pesquisas nacionais ainda não oferecem resultados

provenientes de experimentos ou de outros trabalhos científicos, que assegurem aos

extensionistas e aos produtores rurais o que fazer e que resultado esperar acerca da

utilização da reserva legal para fins ecológico e econômico. Dessa forma, este

estudo aponta que são imprescindíveis esforços (e recursos) para o

desenvolvimento, difusão e acompanhamento de matrizes técnico-científicas com o

objetivo de viabilizar a recomposição da reserva legal, em consonância com as

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variáveis socioeconômicas dos diversos sistemas de produção agropecuários. A

título de contribuição, como referência, os sistemas de produção de grãos

analisados nesta pesquisa sinalizaram que os modelos agroflorestais, em regime de

manejo sustentável, necessitariam gerar receitas médias de aproximadamente R$ 3

mil de renda bruta por hectare/ano (junho/2003). Esse valor poderia ser suficiente

para substituir as culturas anuais, sem deixar de contribuir no pagamento dos custos

fixos da propriedade rural e das despesas familiares.

Nos casos pesquisados, as propriedades passaram por um processo

de intervenção com o objetivo de se realizar ajustes internos para promover, num

primeiro momento, a melhoria na renda e na qualidade de vida de seus ocupantes.

Os resultados econômico-financeiros verificados foram superiores à média dos

sistemas de produção agrícolas da agricultura familiar brasileira. Em que pese o bom

desempenho das propriedades rurais, verificadas nos cinco anos de

acompanhamento, elas não se apresentaram economicamente estáveis e continuam

com o passivo ambiental, em particular, pela ausência da reserva legal. Por

extensão, esses estabelecimentos rurais não estavam atendendo, de forma

simultânea, todos os requisitos exigidos no dispositivo que regulamenta a função

social da propriedade.

A recomposição da reserva legal, em direção ao cumprimento da

função social da propriedade, atribuindo os ônus desse investimento aos agricultores

que mal conseguem atender as necessidades básicas de suas famílias, no atual

quadro agrícola com claras evidências de desamparo principalmente dos pequenos

e dos médios produtores rurais, pode ser um caminho perigoso tanto para a

economia quanto para o meio ambiente. Se não bastassem todas as dificuldades e

incertezas que cercam as atividades agrícolas, a reserva legal apresenta-se como

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uma restrição administrativa imposta aos produtores rurais, sem oferecer-lhes uma

indenização justa. Inclusive pelo aspecto ético é preciso ponderar que não foram os

produtores rurais, isoladamente, os autores dos desmatamentos ocorridos ao longo

da história. Já se mencionou, neste estudo, que o próprio Banco Mundial admitiu

que promoveu a destruição ambiental, oferecendo recursos financeiros para

realização de derrubadas de matas nativas, cujas áreas foram utilizadas para a

produção agrícola.

Verificou-se na revisão de literatura que a ação coercitiva e

repressiva por parte do Estado, sem oferecer condições adequadas para o

desenvolvimento de uma agricultura com padrões aceitáveis de renda para o

produtor rural, e sem garantir um mínimo de dignidade aos trabalhadores rurais, não

tem conseguido promover a melhoria da qualidade ambiental.

São inegáveis os benefícios que a cobertura florestal oferece em

favor do meio ambiente e da qualidade de vida humana. Acrescenta-se que a

substituição de áreas agrícolas por áreas reflorestadas, por intermédio da

implantação da reserva legal, reduziria o consumo de agrotóxicos, de adubos

químicos e de combustíveis utilizados nos sistemas de produção agrícolas

analisados. Ou seja, haveria menos poluição ambiental.

Todavia, o problema da reserva legal não é apenas ambiental, mas

também socioeconômico. A metodologia utilizada nesta pesquisa ajudou a entender

que os preços recebidos pelos agricultores na venda de produtos agrícolas, na

maioria das pequenas propriedades rurais, raramente são suficientes para cobrir

todas as despesas necessárias à manutenção adequada do sistema produtivo, ao

atendimento da legislação ambiental em vigor e ainda proporcionar condições

mínimas de qualidade de vida aos seus ocupantes. E quando sobem os preços dos

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produtos agrícolas, entram em cena os oportunistas que, para aproveitar o

momento, derrubam matas e plantam até as margens dos rios. Para equacionar o

problema, o governo precisa saber intervir.

O presente estudo aponta a necessidade do aporte de políticas

públicas que aloquem recursos para a promoção da melhoria econômica, social e

ambiental dos sistemas de produção agropecuários, principalmente para a

agricultura familiar. Neste aspecto, destaca-se a necessidade de direcionar os

recursos financeiros, via crédito rural, voltados para essa finalidade. Para tanto, um

dos pré-requisitos seria o financiamento de planos mais abrangentes, que

contemplassem o sistema de produção, e não apenas por produto como acontece

atualmente. Outro item indispensável para a promoção desejada é o seguro agrícola

que, embora conste nas prioridades do governo, o agricultor continua sem dispor

dessa segurança.

A reivindicação dos produtores pesquisados, acerca da ajuda direta

de outros setores da sociedade para a recomposição florestal, parece justa e

necessita ser analisada com cuidado. A exemplo do que ocorre na Europa, a

multifuncionalidade da agricultura precisa urgentemente ser reconhecida no Brasil e

se reverter em ações concretas de apoio ao setor produtivo rural. Todavia, seria

preciso evitar as distorções que acabariam por beneficiar uma minoria bem

articulada politicamente em detrimento do pequeno e do médio agricultor.

A tipificação de sistemas de produção agrícolas para homogeneizar

um grupo a ser estudado no universo da agricultura familiar é apenas um artifício

metodológico. Cada caso real é único e contém uma história de vida com riquezas

de detalhes impossíveis de serem captados na sua totalidade. Com esse

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entendimento, recomenda-se cautela para generalizar as conclusões desta

pesquisa.

São essas as conclusões que se extrai desta dissertação, que teve

como objetivo estimar os possíveis impactos econômico-financeiros advindos da

reposição da área de reserva legal e compreender o ponto de vista dos respectivos

proprietários de quatro estabelecimentos rurais familiares, representantes de

sistemas de produção de grãos, na região de Londrina, PR.

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GLOSSÁRIO

Área de Preservação Permanente (APP)- é matéria disciplinada pelo Código Florestal brasileiro – Lei 4.771/65, com as alterações que lhe foram feitas. Está contido no seu Artigo 1º, do § 02º, inciso II, de onde se extrai: “área protegida nos termos dos art. 2º e 3º desta lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações”. A área deve ser mantida intacta ou recuperada (com vegetação nativa) em torno de lagos, rios e nascente, conhecida como mata ciliares e também os topos de morro e encostas com declive superior a 45º. A APP poderá ser somada a reserva legal, porém a cota de 20% de RL passa para 25% em propriedades com até 30 hectares e 50% acima de 30 hectares.

Ato Declaratório Ambiental – é uma declaração deita pelo produtor rural ao IBAMA pedindo reconhecimento das áreas declaradas como de preservação (em suas diferentes variações) e de reserva legal. Foi criado pela portaria 162/97 do IBAMA e está previsto nas Leis nº 9.393/96 e nº 10.165/00.

Averbação da Reserva Legal – é uma anotação feita na matrícula de registro do imóvel. Todo proprietário rural tem que averbar a reserva legal no Cartório de Registro de Imóvel onde está registrada a propriedade (Lei nº 4771/65). A reserva legal é perpétua e inalterável, salvo conveniência que poderá o órgão controlador competente em análise entender conveniente para a finalidade preservacionista a que se destina. Exigem-se os seguintes documentos: a planta e o memorial descritivo do imóvel, georreferenciados ao Sistema Geodésico Brasileiro; cópia da matricula atualizada do imóvel; cópia dos documentos de identidade e CPF do proprietário; cópia de quitação da Anotação de Responsabilidade Técnica – ART do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA do profissional habilitado; comprovante de pagamento da taxa de cadastro no Sistema Estadual de Manutenção, Recuperação e Proteção de Reserva Florestal Legal e Áreas de Preservação Permanente - SISLEG e taxa de vistoria do Instituto Ambiental da Paraná - IAP.

Bioma: grande comunidade estável e desenvolvida, adaptada às condições ecológicas de uma certa região, e geralmente caracterizada por um tipo principal de vegetação, como, por exemplo, a floresta temperada.

Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifólia): o conceito ecológico deste tipo de vegetação está condicionado pela dupla estacionalidade climática: uma tropical, com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas; e outra subtropical, sem período seco, mas com seca

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fisiológica provocada pelo intenso frio de inverno, com temperaturas médias inferiores a 15°C. A porcentagem das árvores caducifólias, no conjunto florestal e não das espécies que perdem as folhas individualmente, é de 20 e 50%.

Floresta Ombrófila Densa (Floresta Pluvial Tropical): a característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos que marcam muito bem a "região florística florestal". Assim, a característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está presa a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25º) e de alta precipitação, bem distribuídas durante o ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situação bioecológica praticamente sem período biologicamente seco. Além disso, dominam, nos ambientes destas florestas, latossolos distróficos e, excepcionalmente, eutróficos, originados de vários tipos de rochas.

Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária): esta floresta, também conhecida como mata-de-araucária ou pinheiral é um tipo de vegetação do planalto meridional, onde ocorria com maior freqüência. A composição florística desta vegetação, dominada por gêneros primitivos como Drymis, Araucaria e Podocarpus, sugere, pela altitude e latitude do planalto meridional, uma ocupação recente a partir de refúgios alto-montanos.

Grau de Eficiência da Exploração (GEE): parâmetro utilizado para aferir a eficiência da exploração da área efetivamente utilizada do imóvel. É obtido da seguinte forma: a) divide-se a quantidade colhida de cada produto vegetal pelo respectivo índice de rendimento estabelecido pelo INCRA; b) divide-se o número total de Unidades Animais – UA do rebanho pelo índice de lotação animal estabelecido pelo INCRA; c) o GEE é determinado pela divisão entre a soma dos resultados obtidos na forma dos itens anteriores e a área efetivamente utilizada, multiplicada por 100.

Grau de Utilização da Terra (GUT): parâmetro utilizado para aferir a utilização da terra. É obtido a partir da relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável (explorável) total do imóvel.

Módulo Fiscal - Unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando os seguintes fatores: tipo de exploração predominante no município; renda obtida com a exploração predominante; outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada; e conceito de propriedade familiar. É estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos Módulos Rurais dos imóveis rurais do município.

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Módulo Rural - o conceito de módulo rural é derivado do conceito de propriedade familiar, e, em sendo assim, é uma unidade de medida, expressa em hectares, que busca exprimir a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições do seu aproveitamento econômico. Definir o que seja Propriedade Familiar é fundamental para entender o significado de Módulo Rural. É calculado para cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de localização. Pequena Propriedade Rural ou Posse Rural Familiar – definida no Código Florestal (Lei nº 4771, de 15-9-1965) em seu art. 1º, § 2º, inc. I, onde se extrai: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do proprietário ou posseiro e de sua família, admitida a ajuda eventual de terceiro e cuja renda bruta seja proveniente, no mínimo, em oitenta por cento, de atividade agroflorestal ou extrativismo, cuja área não supere: cento e cinqüenta hectares se localizada nos Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso (...); cinqüenta hectares, se localizada no polígono das secas (...); trinta hectares, se localizada em qualquer outra região do País. O Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30-11-1964) apresenta uma definição diferente, mais realista e técnica do que a utilizada pelo Código Florestal, ou seja: o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhe absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros.

Propriedade Produtiva: aquela que explorada econômica e racionalmente atinge, simultaneamente, Grau de Utilização da Terra - GUT igual ou superior a 80% e Grau de Eficiência na Exploração - GEE igual ou superior a 100%.

Sistema de Produção de Grãos: o termo é utilizado no presente trabalho para definir uma unidade de produção agrícola, analisada com enfoque sistêmico, a qual foi tipificada utilizando os critérios do Projeto Redes de Referências para a Agricultura Familiar, que considera a categoria social do produtor rural e as explorações econômicas que contribuem com mais de 30% da renda bruta total da referida unidade. Nos casos pesquisados, o sistema de produção foi denominado de “Empresário Familiar – Grãos (soja, milho e trigo)”.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A Fluxo de Caixa e Cálculo da TIR e do VPL – Sem a reserva legal

Fluxo de Caixa (FC) - Sem a Reserva Legal - Sem o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA (FC) SEM A RESERVA LEGAL , SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 157.050,00 -157.050,00 Ano 2004 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2005 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2006 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2007 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2008 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2009 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2010 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2011 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2012 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2013 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28

Ano 2014 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2015 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2016 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2017 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2018 109.082,89 47.470,00 156.552,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 67.882,28 TIR 10,96% VPL (6%) 61.006,72 PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA - FC SEM A RESERVA LEGAL, SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 177.126,94 -177.126,94 Ano 2004 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2005 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2006 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2007 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2008 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2009 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2010 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2011 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2012 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2013 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2014 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2015 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2016 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2017 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 Ano 2018 99.421,00 53.564,70 152.985,70 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 82.499,31 TIR 14,85% VPL (6%) 126.243,87

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Fluxo de Caixa (FC) - Sem a Reserva Legal - Sem o Valor da Terra

PROPRIEDADE 3 - FLUXO DE CAIXA - FC SEM A RESERVA LEGAL, SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 167.859,00 -167.858,58 Ano 2004 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2005 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2006 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2007 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2008 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2009 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2010 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2011 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2012 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2013 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2014 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2015 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2016 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2017 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2018 115.017,00 50.715,30 165.732,30 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 95.701,90 TIR 26,23% VPL (6%) 290.224,20 PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA - FC SEM A RESERVA LEGAL, SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 85.170,60 -85.170,60 Ano 2004 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2005 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2006 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2007 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2008 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2009 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2010 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2011 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2012 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2013 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2014 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2015 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2016 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2017 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2018 154.592,15 26.126,10 180.718,25 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 78.070,03 TIR 60,95% VPL (6%) 430.223,29

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Fluxo de Caixa (FC) - Sem a Reserva Legal - Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA - FC SEM A RESERVA LEGAL, COM O VALOR DA TERRA Investimentos Receitas CUSTOS

Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC Ano 2003 471.088,90 -471.088,90 Ano 2004 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2005 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2006 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2007 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2008 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2009 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2010 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2011 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2012 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2013 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2014 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2015 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2016 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2017 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2018 109.082,89 361.508,90 470.591,79 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 381.921,18 TIR 3,09% VPL (6%) (121.994,72) PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA - FC SEM A RESERVA LEGAL, COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 412.126,94 -412.126,94 Ano 2004 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2005 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2006 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2007 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2008 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2009 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2010 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2011 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2012 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2013 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2014 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2015 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2016 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2017 99.421,03 99.421,03 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,64 Ano 2018 99.421,03 288.564,70 387.985,73 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 317.499,34 TIR 5,70% VPL (6%) (10.698,51)

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Fluxo de Caixa (FC) - Sem a Reserva Legal - Com o Valor da Terra PROPRIEDADE 3 – FLUXO DE CAIXA – FC SEM A RESERVA LEGAL, COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 450.134,69 -450.134,69 Ano 2004 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2005 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2006 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2007 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2008 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2009 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2010 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2011 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2012 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2013 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2014 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2015 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2016 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2017 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 Ano 2018 115.017,00 332.991,41 448.008,41 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 377.978,01 TIR 9,12% VPL (6%) 125.732,05 PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA - FC SEM A RESERVA LEGAL, COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 628.009,27 -628.009,27 Ano 2004 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2005 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2006 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2007 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2008 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2009 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2010 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2011 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2012 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2013 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2014 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2015 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2016 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2017 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 Ano 2018 154.592,15 568.964,77 723.556,92 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 620.908,70 TIR 7,92% VPL (6%) 113.892,23

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APÊNDICE B Estimativa do Custo de Implantação da Reserva Legal – Opção 1

Com base em: Rodigheri (2000); SEAB/DERAL (2003) Adaptação feita pelo autor desta pesquisa

Cultivo: 100% Nativa Padrão Pequena e Média Propriedade Rural Espaçamento 3 x 2 metros 2003 2004 Variáveis Unidade Valor (R$) Quant. R$ Quant. R$ Mecanização (1) Sulcagem Hora.trator 40,00 2 80,00 Gradeação Hora.trator 0,00 1 0,00 Herbicidas Hora.trator 20,00 2 40,00 Adubação Hora.trator 0,00 1 0,00 Irrigação Hora.trator 40,00 3 120,00 Transp. Interno Hora.trator 40,00 1 40,00 Sub-Total 280,00 0,00 Insumos (2) Formicidas kg 11,00 2,5 27,50 2 22,00 Mudas Unidade 0,1 1.830 183,00 Herbicidas kg/l 15,00 1,5 22,50 N-P-K kg 0,63 0 0 Sub-Total 233,00 22,00 Mão-deObra (3) C.Formigas Homem-dia 14,00 1 14,00 2 28,00 Adubação Homem-dia 14,00 1 14,00 Plantio/Replantio Homem-dia 14,00 5 70,00 Capina Manual Homem-dia 14,00 3 42,00 5 70,00 Roçada Manual Homem-dia 14,00 2 28,00 2 28,00

Indicadores de Produção e Renda Sub-Total 168,00 126,00 Custo Total (1+2+3) 681,00 148,00

Fluxo de caixa -681,00 -148,00

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APÊNDICE C Fluxo de Caixa e Cálculo da TIR e do VPL – Opção 1

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 1 – Sem o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, SEM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO RBP Resíduo Total CV-RL(1) CV CF MOF Total FC

2003 158.554,07 -158.554,07 2004 107.569,64 107.569,64 468,07 55.042,48 30.223,41 2.630,40 87.896,29 19.673,35 2005 106.056,39 106.056,39 468,07 54.268,16 30.223,41 2.630,40 87.121,97 18.934,41 2006 104.543,14 104.543,14 468,07 53.493,85 30.223,41 2.630,40 86.347,66 18.195,48 2007 103.029,88 103.029,88 468,07 52.719,53 30.223,41 2.630,40 85.573,34 17.456,55 2008 101.516,63 101.516,63 468,07 51.945,21 30.223,41 2.630,40 84.799,02 16.717,61 2009 100.003,38 100.003,38 468,07 51.170,89 30.223,41 2.630,40 84.024,70 15.978,68 2010 98.490,13 98.490,13 468,07 50.396,57 30.223,41 2.630,40 83.250,38 15.239,75 2011 96.976,88 96.976,88 468,07 49.622,26 30.223,41 2.630,40 82.476,07 14.500,81 2012 95.463,63 468,07 95.463,63 48.847,94 30.223,41 2.630,40 81.701,75 13.761,88 2013 93.950,38 93.950,38 468,07 13.022,95 48.073,62 30.223,41 2.630,40 80.927,43

2014 92.437,12 92.437,12 223,41468,07 47.299,30 30. 2.630,40 80.153,11 12.284,01 2015 90.923,87 90.923,87 468,07 46.524,98 30.223,41 2.630,40 79.378,79 11.545,08 2016 89.410,62 89.410,62 468,07 45.750,67 30.223,41 2.630,40 78.604,48 10.806,15 2017 87.897,37 87.897,37 468,07 44.976,35 30.223,41 2.630,40 77.830,16 10.067,21 2018 86.384,12 47.470,00 135.367,37 468,07 44.202,03 30.223,41 2.630,40 77.055,84 58.311,53 TIR 6,96%

VPL (6%) R$ 10.428,39 (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, SEM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO Total CV CF FC RBP Resíduo CV-RL(1) MOF Total

2003 178.896,25 -178.896,25 2004 98.069,23 98.069,23 422,79 46.570,22 18.531,86 4.742,40 69.844,48 28.224,76 2005 96.717,47 96.717,47 422,79 45.928,30 18.531,86 4.742,40 69.202,56 27.514,91 2006 95.365,70 560,65 95.365,70 422,79 45.286,39 18.531,86 4.742,40 68. 26.805,06 2007 94.013,94 422,79 742,40 94.013,94 44.644,47 18.531,86 4. 67.918,73 26.095,20 2008 92.662,17 92.662,17 742,40422,79 44.002,56 18.531,86 4. 67.276,82 25.385,35 2009 91.310,41 91.310,41 422,79 43.360,65 18.531,86 4.742,40 66.634,91 24.675,50 2010 89.958,64 89.958,64 422,79 42.718,73 18.531,86 4.742,40 65.992,99 23.965,65 2011 88.606,88 88.606,88 422,79 42.076,82 18.531,86 4.742,40 65.351,08 23.255,80 2012 87.255,11 87.255,11 422,79 41.434,91 18.531,86 4.742,40 64.709,17 22.545,95 2013 531,8685.903,35 85.903,35 422,79 40.792,99 18. 4.742,40 64.067,25 21.836,10 2014 84.551,58 84.551,58 422,79 40.151,08 18.531,86 4.742,40 63.425,34 21.126,25 2015 83.199,82 83.199,82 422,79 39.509,16 18.531,86 4.742,40 62.783,42 20.416,39 2016 81.848,05 81.848,05 8.867,25422,79 3 18.531,86 4.742,40 62.141,51 19.706,54 2017 80.496,29 80.496,29 422,79 38.225,34 18.531,86 4.742,40 61.499,60 18.996,69 2018 79.144,52 53.564,70 134.060,99 423,00 37.583,42 18.531,86 4.742,40 60.857,68 73.203,31 TIR 11,93% VPL (6%) R$ 77.289,18 (1) Custo variável da reserva legal

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190

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 1 – Sem o Valor da Terra PROPRIEDADE 3- FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, SEM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO RBP Resíduo Total CV-RL(1) CV CF MOF Total FC

2003 169.336,60 -169.336,60 2004 113.921,10 113.921,10 348,18 48.285,11 16.020,00 5.260,80 69.565,91 44.355,19 2005 112.825,20 112.825,20 348,18 47.820,61 16.020,00 5.260,80 69.101,41 43.723,79 2006 111.729,30 111.729,30 348,18 47.356,12 16.020,00 5.260,80 68.636,92 43.092,38 2007 110.633,41 110.633,41 348,18 46.891,63 16.020,00 5.260,80 68.172,43 42.460,98 2008 109.537,51 109.537,51 348,18 46.427,14 260,80 67.707,94 16.020,00 5. 41.829,57 2009 108.441,61 41.198,16 108.441,61 348,18 45.962,64 16.020,00 5.260,80 67.243,44 2010 778,95 107.345,71 107.345,71 348,18 45.498,15 16.020,00 5.260,80 66. 40.566,76 2011 106.249,81 106.249,81 348,18 45.033,66 16.020,00 5.260,80 66.314,46 39.935,35 2012 105.153,91 105.153,91 348,18 44.569,17 16.020,00 5.260,80 65.849,97 39.303,94 2013 104.058,01 104.058,01 348,18 44.104,67 16.020,00 385,47 5.260,80 65. 38.672,54 2014 102.962,11 102.962,11 348,18 43.640,18 16.020,00 5.260,80 64.920,98 38.041,13 2015 101.866,22 101.866,22 348,18 43.175,69 16.020,00 5.260,80 64.456,49 37.409,73 2016 100.770,32 100.770,32 348,18 42.711,20 16.020,00 5.260,80 36.778,32 63.992,00 2017 99.674,42 99.674,42 348,18 42.246,70 16.020,00 5.260,80 63.527,50 36.146,91 2018 98.578,52 50.715,30 150.389,72 348,18 41.782,21 16.020,00 5.260,80 87.326,71 63.063,01 TIR 24,20% VPL (6%) R$ 246.730,79 (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, SEM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO RBP Resíduo Total CV-RL(1) CV CF MOF Total FC

2003 87.515,63 -87.515,63 2004 152.811,66 152.811,66 522,27 72.284,92 25.306,67 4.214,40 101.805,99 51.005,67 2005 151.031,16 151.031,16 522,27 71.442,69 25.306,67 4.214,40 100.963,76 50.067,41 2006 149.250,67 149.250,67 522,27 70.600,45 25.306,67 4.214,40 100.121,52 49.129,14 2007 147.470,17 147.470,17 522,27 69.758,22 25.306,67 4.214,40 99.279,29 48.190,88 2008 145.689,68 145.689,68 522,27 68.915,99 25.306,67 4.214,40 98.437,06 47.252,62 2009 143.909,18 143.909,18 522,27 68.073,76 25.306,67 4.214,40 97.594,83 46.314,36 2010 142.128,69 142.128,69 522,27 67.231,52 25.306,67 4.214,40 96.752,59 45.376,09 2011 140.348,19 140.348,19 522,27 66.389,29 25.306,67 4.214,40 95.910,36 44.437,83 2012 138.567,70 138.567,70 522,27 65.547,06 25.306,67 4.214,40 95.068,13 43.499,57 2013 136.787,20 136.787,20 522,27 64.704,83 25.306,67 4.214,40 94.225,90 42.561,31 2014 623,04 135.006,71 135.006,71 522,27 63.862,60 25.306,67 4.214,40 93.383,67 41. 2015 133.226,21 133.226,21 522,27 63.020,36 25.306,67 4.214,40 92.541,43 40.684,78 2016 131.445,72 131.445,72 522,27 62.178,13 25.306,67 4.214,40 91.699,20 39.746,52 2017 129.665,23 129.665,23 522,27 61.335,90 25.306,67 4.214,40 90.856,97 38.808,26 2018 127.884,73 26.126,10 155.791,33 522,27 60.493,67 25.306,67 4.214,40 90.014,74 65.776,59 TIR 56,35% VPL (6%) R$ 365.507,29 (1) Custo variável da reserva legal

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191

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 1 – Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, COM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO RBP Resíduo Total CF CV-RL(1) CV MOF Total FC

2003 472.592,97 (472.592,97) 2004 107.569,64 107.569,64 468,07 55.042,48 30.223,41 2.630,40 87.896,29 19.673,35 2005 106.056,39 106.056,39 468,07 54.268,16 630,40 30.223,41 2. 87.121,97 18.934,41 2006 104.543,14 104.543,14 347,66 468,07 53.493,85 30.223,41 2.630,40 86. 18.195,48 2007 573,34 103.029,88 103.029,88 468,07 52.719,53 30.223,41 2.630,40 85. 17.456,55 2008 101.516,63 101.516,63 468,07 51.945,21 30.223,41 2.630,40 84.799,02 16.717,61 2009 100.003,38 100.003,38 468,07 51.170,89 30.223,41 2.630,40 84.024,70 15.978,68 2010 98.490,13 98.490,13 468,07 50.396,57 30.223,41 2.630,40 83.250,38 15.239,75 2011 96.976,88 96.976,88 468,07 49.622,26 30.223,41 2.630,40 82.476,07 14.500,81 2012 95.463,63 95.463,63 468,07 48.847,94 30.223,41 2.630,40 81.701,75 13.761,88 2013 93.950,38 93.950,38 468,07 48.073,62 30.223,41 2.630,40 80.927,43 13.022,95

2014 92.437,12 92.437,12 468,07 47.299,30 30.223,41 2.630,40 80.153,11 12.284,01 2015 468,07 90.923,87 90.923,87 46.524,98 30.223,41 2.630,40 79.378,79 11.545,08 2016 89.410,62 89.410,62 468,07 45.750,67 30.223,41 2.630,40 78.604,48 10.806,15 2017 87.897,37 87.897,37 468,07 44.976,35 30.223,41 2.630,40 77.830,16 10.067,21 2018 86.384,12 361.508,90 449.406,27 468,07 44.202,03 30.223,41 2.630,40 77.055,84 372.350,43 TIR 1,75% VPL (6%) (R$ 172.573,05) (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, COM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO RBP Resíduo Total CV-RL(1) CV CF MOF Total FC

2003 413.896,25 (413.896,25) 2004 98.069,23 98.069,23 422,79 46.570,22 18.531,86 4.742,40 69.844,48 28.224,76 2005 96.717,47 96.717,47 422,79 45.928,30 18.531,86 4.742,40 69.202,56 27.514,91 2006 95.365,70 95.365,70 422,79 45.286,39 18.531,86 4.742,40 68.560,65 26.805,06 2007 94.013,94 94.013,94 422,79 44.644,47 18.531,86 4.742,40 67.918,73 26.095,20 2008 92.662,17 92.662,17 422,79 44.002,56 25.385,35 18.531,86 4.742,40 67.276,82 2009 91.310,41 91.310,41 422,79 43.360,65 18.531,86 4.742,40 66.634,91 24.675,50 2010 89.958,64 89.958,64 422,79 42.718,73 18.531,86 4.742,40 65.992,99 23.965,65 2011 88.606,88 88.606,88 422,79 42.076,82 18.531,86 4.742,40 65.351,08 23.255,80 2012 87.255,11 87.255,11 422,79 41.434,91 18.531,86 4.742,40 64.709,17 22.545,95 2013 85.903,35 85.903,35 422,79 40.792,99 18.531,86 4.742,40 64.067,25 21.836,10 2014 84.551,58 84.551,58 422,79 40.151,08 18.531,86 4.742,40 63.425,34 21.126,25 2015 83.199,82 83.199,82 422,79 39.509,16 18.531,86 4.742,40 62.783,42 20.416,39 2016 81.848,05 81.848,05 422,79 38.867,25 18.531,86 4.742,40 62.141,51 19.706,54 2017 80.496,29 80.496,29 422,79 38.225,34 18.531,86 4.742,40 61.499,60 18.996,69 2018 79.144,52 288.564,70 369.060,99 423,00 37.583,42 18.531,86 4.742,40 60.857,68 308.203,31 TIR 4,29% VPL (6%) (R$ 59.653,53)

(1) Custo variável da reserva legal

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192

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 1 – Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 3 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, COM O VALOR DA TERRA INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS

PERÍODO RBP Total CV-RL(1) CV Total Resíduo CF MOF FC 2003 451.612,71 (451.612,71) 2004 113.921,10 113.921,10 565,91 44.355,19 348,18 48.285,11 16.020,00 5.260,80 69. 2005 112.825,20 112.825,20 260,80 348,18 47.820,61 16.020,00 5. 69.101,41 43.723,79 2006 111.729,30 111.729,30 348,18 47.356,12 16.020,00 5.260,80 68.636,92 43.092,38 2007 110.633,41 110.633,41 348,18 46.891,63 16.020,00 5.260,80 68.172,43 42.460,98 2008 109.537,51 109.537,51 348,18 46.427,14 16.020,00 5.260,80 67.707,94 41.829,57 2009 108.441,61 108.441,61 348,18 45.962,64 16.020,00 5.260,80 67.243,44 41.198,16 2010 107.345,71 107.345,71 348,18 45.498,15 16.020,00 5.260,80 66.778,95 40.566,76 2011 106.249,81 314,46 106.249,81 348,18 45.033,66 16.020,00 5.260,80 66. 39.935,35 2012 105.153,91 105.153,91 348,18 44.569,17 16.020,00 5.260,80 65.849,97 39.303,94 2013 104.058,01 104.058,01 348,18 44.104,67 16.020,00 5.260,80 65.385,47 38.672,54 2014 102.962,11 102.962,11 348,18 43.640,18 260,80 16.020,00 5. 64.920,98 38.041,13 2015 101.866,22 101.866,22 348,18 43.175,69 16.020,00 456,49 5.260,80 64. 37.409,73 2016 100.770,32 100.770,32 348,18 42.711,20 16.020,00 5.260,80 63.992,00 36.778,32 2017 99.674,42 99.674,42 348,18 42.246,70 16.020,00 5.260,80 63.527,50 36.146,91 2018 98.578,52 332.991,41 432.665,83 348,18 41.782,21 16.020,00 5.260,80 63.063,01 369.602,82 TIR 8,09%

VPL (6%) R$ 82.238,64 (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 1, COM O VALOR DA TERRA

INVESTIMENTOS RECEITAS CUSTOS PERÍODO RBP Resíduo Total CV-RL(1) CV CF MOF Total FC

2003 630.354,30 (630.354,30) 2004 152.811,66 152.811,66 522,27 72.284,92 25.306,67 4.214,40 101.805,99 51.005,67 2005 151.031,16 151.031,16 522,27 71.442,69 25.306,67 4.214,40 100.963,76 50.067,41 2006 149.250,67 149.250,67 522,27 70.600,45 25.306,67 4.214,40 100.121,52 49.129,14 2007 147.470,17 147.470,17 522,27 69.758,22 25.306,67 4.214,40 99.279,29 48.190,88 2008 145.689,68 145.689,68 522,27 68.915,99 25.306,67 4.214,40 98.437,06 47.252,62 2009 143.909,18 143.909,18 522,27 68.073,76 25.306,67 4.214,40 97.594,83 46.314,36 2010 142.128,69 142.128,69 522,27 67.231,52 25.306,67 4.214,40 96.752,59 45.376,09 2011 140.348,19 140.348,19 522,27 66.389,29 25.306,67 4.214,40 95.910,36 44.437,83 2012 138.567,70 138.567,70 522,27 65.547,06 25.306,67 4.214,40 95.068,13 43.499,57 2013 136.787,20 136.787,20 522,27 64.704,83 25.306,67 4.214,40 94.225,90 42.561,31 2014 135.006,71 135.006,71 522,27 63.862,60 25.306,67 4.214,40 93.383,67 41.623,04 2015 133.226,21 133.226,21 522,27 63.020,36 25.306,67 4.214,40 92.541,43 40.684,78 2016 131.445,72 131.445,72 522,27 62.178,13 25.306,67 4.214,40 91.699,20 39.746,52 2017 129.665,23 129.665,23 522,27 61.335,90 25.306,67 4.214,40 90.856,97 38.808,26 2018 127.884,73 568.964,77 698.630,00 522,27 60.493,67 25.306,67 4.214,40 90.014,74 608.615,26 TIR 6,85% VPL (6%) R$ 49.176,23 (1) Custo variável da reserva legal

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193

APÊNDICE D Estimativa do Custo de Implantação da Reserva Legal – Opção 2

Cultivo: 80% Eucalipto + 20% Nativa Padrão Pequena e Média Propriedade Rural Produtividade Média: 45 metros cúbicos/hectare/ano

Continua

Espaçamento 4 x 2 metros 2003 2004 2005 Variáveis Unidade Valor (R$) Quant. R$ Quant. R$ Quant. R$ Mecanização (1) Aração Hora.trator 40,00 1 40,00 Gradeação Hora.trator 40,00 1 40,00 Herbicidas Hora.trator 40,00 2 80,00 Adubação Hora.trator 40,00 1 40,00 Irrigação Hora.trator 40,00 3 120,00 Transp. Interno Hora.trator 40,00 1 40,00 Sub-Total 360,00 0,00 0,00 Insumos (2) Formicidas kg 11,00 2,5 27,50 2 22 2 22 Mudas Unidade 0,1 1.375 137,5 Herbicidas kg/l 15,00 3 45,00 N-P-K kg 0,63 150 94,5 Sub-Total 304,50 22,00 22,00 Mão-deObra (3) C.Formigas Homem-dia 14,00 1 14,00 2 28,00 1 14 Adubação Homem-dia 14,00 1 14,00

Plantio/Replantio Homem-dia 14,00 4

56,00 Capina Manual Homem-dia 14,00 5 70,00 5 70,00 Roçada Manual Homem-dia 14,00 2 28,00 2 28,00 2,00 28 Desrama Homem-dia 14,00 1 14 Corte+Emp. Homem-dia 14,00

Indicadores de Produção e Renda Sub-Total 182,00 126,00 56,00 Período m³/ha R$/m³ Custo Total (1+2+3) 846,50 148,00 78,00

1º desbate (7ºano) 161,00 16,00 Prod.& Renda 0,00 0,00 0,00 2º desbaste(15º ano) 378,40 50,00 Fluxo de caixa -846,50 -148,00 -106,00 Com base em: Rodigheri e Pinto (2003); Carpanezzi, A. A. (2005, informação verbal); Kemmer, E. (2005, informação verbal); SEAB/DERAL (2003); Adaptado pelo autor desta pesquisa. Preço da madeira: cortada, a ser transportada até o local de consumo (valores de junho/2003)

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194

Estimativa do Custo de Implantação da Reserva Legal – Opção 2

Cultivo: 80% Eucalipto + 20% Nativa Padrão Pequena e Média Propriedade Rural Produtividade Média: 45 metros cúbicos/hectare/ano

Conclusão

2006 2007 2008 2009 2010 2011-2017 2018 Quant. R$ Quant. R$ Quant. R$ Quant. R$ Quant. R$ Quant. R$ Quant. R$

0,5 20 0,00 0,00 0,00 20,00 0,00 0,00 0,00 2 22,00 50 31,50 50 31,50 50 31,5 0,00 0,00 0,00 50 31,50 53,50 0,00 31,5 1 14,00 1 14,00 1 14 14,00 1 1 14,00

1 14 14 1 7 98,00 1 14,00 7 98 14,00 14,00 112,00 0,00 56,00 0,00 112,00 14,00 14,00 0,00 163,50 109,50 0,00 143,50 0,00 0,00 0,00 0,00 161,60 2585,60 0,00 378,40 18920,00 -28,00 -42,00 0,00 2422,10 -109,50 0,00 18776,50

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195

APÊNDICE E Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 2 – Sem o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas Custos FC Período RBP Resíduo R. Legal Total MOF Total CV CV-RL(1) CF

2003 164.159,50 -164.159,50

2004 86.545,10 86.545,10 44284,403 1.036,00 30.223,41 2.630,40 78.174,21 8.370,89

2005 86.545,10 86.545,10 44284,403 546,00 30.223,41 2.630,40 77.684,21 8.860,89

2006 9.308,89 86.545,10 86.545,10 44284,403 98,00 30.223,41 2.630,40 77.236,21

2007 86.545,10 86.545,10 44284,403 98,00 30.223,41 2.630,40 77.236,21 9.308,89

2008 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2009 86.545,10 18.099,20 78.282,71 104.644,30 44284,403 1.144,50 30.223,41 2.630,40 26.361,59

2010 86.545,10 86.545,10 44284,403 766,50 30.223,41 2.630,40 77.904,71 8.640,39

2011 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2012 86.545,10 44284,403 86.545,10 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2013 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2014 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 9.406,89 77.138,21

2015 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2016 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2017 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2018 86.545,10 47.470,00 132.440,00 266.455,10 44284,403 1.004,50 30.223,41 2.630,40 78.142,71 188.312,39

TIR : 6,71% VPL: R$ 11.672,99 (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo R. Legal Total CV CV-RL(1) CF MOF Total FC

2003 185.007,74 -185.007,74

2004 79.197,53 79.197,53 1.129,24 18.531,86 37.608,60 4.742,40 62.012,10 17.185,44

2005 79.197,53 79.197,53 37.608,60 595,14 18.531,86 4.742,40 61.478,00 17.719,54

2006 37.608,60 106,82 79.197,53 79.197,53 18.531,86 4.742,40 60.989,68 18.207,86

2007 79.197,53 79.197,53 37.608,60 106,82 18.531,86 4.742,40 60.989,68 18.207,86

2008 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 60.882,86 4.742,40 18.314,68

2009 79.197,53 19.728,13 98.925,66 37.608,60 1.247,51 18.531,86 4.742,40 62.130,36 36.795,30

2010 79.197,53 79.197,53 37.608,60 835,49 18.531,86 61.718,34 4.742,40 17.479,19

2011 79.197,53 79.197,53 37.608,60 18.531,86 0,00 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2012 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2013 79.197,53 37.608,60 79.197,53 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2014 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2015 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2016 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2017 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2018 79.197,53 53.564,70 144.359,60 277.121,83 37.608,60 1.094,91 18.531,86 4.742,40 61.977,76 215.144,07

TIR 10,68% VPL (6%) R$ 85.702,17 (1) Custo variável da reserva legal

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196

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 2 – Sem o Valor da Terra PROPRIEDADE 3 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo R. Legal Total CV CV-RL(1) CF MOF Total FC

2003 169.897,08 -169.897,08

2004 98.604,79 98.604,79 39.270,43 930,92 16.020,76 5.260,80 61.482,91 37.121,88

2005 98.604,79 98.604,79 39.270,43 490,62 16.020,76 5.260,80 61.042,61 37.562,18

2006 98.604,79 98.604,79 39.270,43 88,06 16.020,76 5.260,80 60.640,05 37.964,74

2007 98.604,79 98.604,79 39.270,43 88,06 16.020,76 5.260,80 60.640,05 37.964,74

2008 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2009 98.604,79 16.263,42 114.868,22 39.270,43 1.028,42 16.020,76 5.260,80 61.580,40 53.287,81

2010 98.604,79 98.604,79 39.270,43 688,76 16.020,76 5.260,80 61.240,74 37.364,05

2011 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2012 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2013 5.260,80 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 60.551,99 38.052,80

2014 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2015 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2016 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2017 60.551,99 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 38.052,80

2018 98.604,79 50.715,30 119.006,80 268.326,89 39.270,43 902,62 16.020,76 5.260,80 61.454,60 206.872,29

TIR 22,83%

R$ 278.947,14

VPL (6%) (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo R. Legal Total CV CV-RL(1) CF MOF Total FC

2003 95.077,56 -95.077,56

2004 127.912,99 127.912,99 60507,035 1.397,12 25.306,67 4.224,00 91.434,82 36.478,17

2005 127.912,99 127.912,99 60507,035 736,32 25.306,67 4.224,00 90.774,02 37.138,97

2006 127.912,99 127.912,99 60507,035 132,16 25.306,67 4.224,00 90.169,86 37.743,13

2007 127.912,99 127.912,99 60507,035 132,16 25.306,67 4.224,00 90.169,86 37.743,13

2008 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2009 127.912,99 24.408,06 152.321,06 60507,035 1.543,44 25.306,67 4.224,00 91.581,14 60.739,91

2010 127.912,99 127.912,99 60507,035 1.033,68 25.306,67 4.224,00 91.071,38 36.841,61

2011 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2012 127.912,99 60507,035 127.912,99 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2013 127.912,99 37.875,29 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70

2014 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2015 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2016 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2017 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2018 127.912,99 26.126,10 178.604,80 332.643,89 60507,035 1.354,64 25.306,67 4.224,00 91.392,34 241.251,55

TIR 40,72%

VPL (6%) R$ 370.880,67 (1) Custo variável da reserva legal

Page 196: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

197

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 2 – Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo R. Legal Total CV CV-RL(1) CF MOF Total FC

2003 477.014,40 -477.014,40

2004 86.545,10 86.545,10 44284,403 1.036,00 30.223,41 2.630,40 78.174,21 8.370,89

2005 86.545,10 86.545,10 44284,403 546,00 30.223,41 2.630,40 77.684,21 8.860,89

2006 86.545,10 86.545,10 44284,403 98,00 30.223,41 2.630,40 77.236,21 9.308,89

2007 86.545,10 86.545,10 44284,403 98,00 30.223,41 2.630,40 77.236,21 9.308,89

2008 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2009 86.545,10 18.099,20 104.644,30 44284,403 1.144,50 30.223,41 2.630,40 78.282,71 26.361,59

2010 86.545,10 86.545,10 44284,403 766,50 30.223,41 2.630,40 77.904,71 8.640,39

2011 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2012 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2013 86.545,10 30.223,41 2.630,40 77.138,21 86.545,10 44284,403 0,00 9.406,89

2014 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 2.630,40 77.138,21 9.406,89 30.223,41

2015 86.545,10 9.406,89 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21

2016 86.545,10 86.545,10 44284,403 0,00 30.223,41 2.630,40 77.138,21 9.406,89

2017 86.545,10 0,00 9.406,89 86.545,10 44284,403 30.223,41 2.630,40 77.138,21

2018 86.545,10 361.508,90 132.440,00 580.494,00 2.630,40 44284,403 1.004,50 30.223,41 78.142,71 502.351,29 TIR 2,37%

usto variável da reserva legal

Receitas

VPL (6%) (R$ 170.144,45) (1) C

Propriedade 2 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 COM O VALOR DA TERRA

Investimentos CUSTOS Período Resíduo Total CV-RL RBP R. Legal CV (1) CF MOF Total FC

2003 420.007,74 -420.007,74

2004 79.197,53 4.742,40 17.185,44 79.197,53 37.608,60 1.129,24 18.531,86 62.012,10

2005 79.197,53 79.197,53 37.608,60 595,14 18.531,86 4.742,40 17.719,54 61.478,00

2006 79.197,53 79.197,53 37.608,60 106,82 18.531,86 4.742,40 60.989,68 18.207,86

2007 79.197,53 79.197,53 37.608,60 106,82 18.531,86 4.742,40 60.989,68 18.207,86

2008 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2009 79.197,53 19.728,13 98.925,66 37.608,60 1.247,51 18.531,86 4.742,40 62.130,36 36.795,30

2010 79.197,53 79.197,53 37.608,60 835,49 18.531,86 4.742,40 61.718,34 17.479,19

2011 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2012 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2013 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2014 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2015 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2016 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2017 79.197,53 79.197,53 37.608,60 0,00 18.531,86 4.742,40 60.882,86 18.314,68

2018 79.197,53 288.564,70 144.359,60 512.121,83 37.608,60 1.094,91 18.531,86 4.742,40 61.977,76 450.144,07

TIR 4,75% VPL (6%) (R$ 51.240,54) (1) Custo variável da reserva legal

Page 197: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

198

Construção do Fluxo de Caixa – TIR e VPL da Opção 2 – Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 3 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo R. Legal Total CV CV-RL(1) CF MOF Total FC

2003 456.651,18 -456.651,18

2004 98.604,79 98.604,79 39.270,43 930,92 16.020,76 5.260,80 61.482,91 37.121,88

2005 98.604,79 98.604,79 39.270,43 490,62 16.020,76 5.260,80 61.042,61 37.562,18

2006 98.604,79 98.604,79 39.270,43 88,06 16.020,76 5.260,80 60.640,05 37.964,74

2007 98.604,79 98.604,79 39.270,43 88,06 16.020,76 5.260,80 60.640,05 37.964,74

2008 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2009 98.604,79 16.263,42 114.868,22 39.270,43 1.028,42 16.020,76 5.260,80 61.580,40 53.287,81

2010 98.604,79 98.604,79 39.270,43 688,76 16.020,76 5.260,80 61.240,74 37.364,05

2011 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2012 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2013 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2014 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2015 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2016 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2017 98.604,79 98.604,79 39.270,43 0,00 16.020,76 5.260,80 60.551,99 38.052,80

2018 98.604,79 332.991,41 119.006,80 550.603,00 39.270,43 902,62 16.020,76 5.260,80 61.454,60 489.148,40

TIR 8,49% VPL (6%) R$ 109.377,00 (1) Custo variável da reserva legal PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA - OPÇÃO 2 COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo R. Legal Total CV CV-RL(1) CF MOF Total FC

2003 637.916,23 -637.916,23

2004 127.912,99 127.912,99 60507,035 1.397,12 25.306,67 4.224,00 91.434,82 36.478,17

2005 127.912,99 127.912,99 60507,035 4.224,00 736,32 25.306,67 90.774,02 37.138,97

2006 127.912,99 127.912,99 60507,035 132,16 25.306,67 4.224,00 90.169,86 37.743,13

2007 127.912,99 127.912,99 60507,035 132,16 25.306,67 4.224,00 90.169,86 37.743,13

2008 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2009 127.912,99 24.408,06 152.321,06 60507,035 1.543,44 25.306,67 4.224,00 91.581,14 60.739,91

2010 127.912,99 127.912,99 60507,035 1.033,68 25.306,67 4.224,00 91.071,38 36.841,61

2011 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2012 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2013 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2014 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2015 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2016 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2017 127.912,99 127.912,99 60507,035 0,00 25.306,67 4.224,00 90.037,70 37.875,29

2018 127.912,99 568.964,77 178.604,80 875.482,56 60507,035 1.354,64 25.306,67 4.224,00 91.392,34 784.090,22

TIR 6,84% VPL (6%) R$ 54.549,61 (1) Custo variável da reserva legal

Page 198: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – … · Tabela 5 - Critérios para Definição da Categoria Social do Produtor Rural..... 110 Tabela 6 - Critérios para Definir

199

APÊNDICE F Construção do Fluxo de Caixa – Opção 3 – Sem o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

2003 182.672,61 -182.672,61 2004 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2005 2.630,40 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 88.670,61 20.412,28 2006 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2007 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2008 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2009 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2010 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2011 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2012 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2013 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28

2014 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2015 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2016 109.082,89 88.670,61 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 20.412,28 2017 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 2018 109.082,89 47.470,00 156.552,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 67.882,28 TIR 8,57% VPL (6%) R$ 35.384,11

PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, SEM O VALOR DA TERRA Investimentos Receitas CUSTOS

Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC 2003 205.187,02 -205.187,02 2004 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2005 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2006 99.421,00 47.212,13 70.486,39 28.934,61 99.421,00 18.531,86 4.742,40 2007 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2008 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2009 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2010 47.212,13 18.531,86 70.486,39 28.934,61 99.421,00 99.421,00 4.742,40 2011 99.421,00 99.421,00 18.531,86 4.742,40 47.212,13 70.486,39 28.934,61 2012 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2013 47.212,13 99.421,00 99.421,00 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2014 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2015 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2016 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2017 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2018 53.564,70 82.499,31 99.421,00 152.985,70 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 TIR 12,14% VPL (6%)

R$ 98.183,79

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200

Construção do Fluxo de Caixa – Opção 3 – Sem o Valor da Terra

PROPRIEDADE 3 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, SEM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CF Total CV MOF FC

2003 191.010,42 -191.010,42 2004 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2005 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2006 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2007 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2008 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2009 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2010 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2011 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2012 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2013 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2014 115.017,00 115.017,00 48.749,60 5.260,80 70.030,40 16.020,00 44.986,60 2015 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2016 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2017 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2018 115.017,00 50.715,30 165.732,30 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 95.701,90

Receitas

TIR 22,74% VPL (6%) R$ 267.072,37

PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, SEM O VALOR DA TERRA Investimentos CUSTOS

Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC 2003 120.043,81 -120.043,81 2004 154.592,15 154.592,15 25.306,67 73.127,15 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2005 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2006 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2007 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2008 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2009 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2010 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2011 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2012 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2013 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2014 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2015 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2016 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2017 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2018 154.592,15 26.126,10 180.718,25 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 78.070,03 TIR 43,11% VPL (6%) R$ 395.350,08

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201

Construção do Fluxo de Caixa – Opção 3 – Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 1 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, COM O VALOR DA TERRA

Investimentos Receitas CUSTOS Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC

Ano 2003 496.711,51 -496.711,51 Ano 2004 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2005 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 88.670,61 2.630,40 20.412,28 Ano 2006 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2007 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2008 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2009 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2010 109.082,89 109.082,89 30.223,41 88.670,61 55.816,80 2.630,40 20.412,28 Ano 2011 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2012 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2013 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28

Ano 2014 109.082,89 88.670,61 20.412,28 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 Ano 2015 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2016 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2017 109.082,89 109.082,89 55.816,80 30.223,41 2.630,40 88.670,61 20.412,28 Ano 2018 109.082,89 88.670,61 361.508,90 470.591,79 55.816,80 30.223,41 2.630,40 381.921,18 TIR 2,60% VPL (6%) (R$ 147.617,33)

PROPRIEDADE 2 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, COM O VALOR DA TERRA Investimentos Receitas CUSTOS

Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC 2003 440.187,02 -440.187,02 2004 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2005 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2006 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2007 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2008 99.421,00 99.421,00 47.212,13 4.742,40 28.934,61 18.531,86 70.486,39 2009 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2010 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2011 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2012 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2013 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2014 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2015 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2016 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61 2017 99.421,00 99.421,00 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 28.934,61

2018 99.421,00 288.564,7

0 387.985,70 47.212,13 18.531,86 4.742,40 70.486,39 317.499,31 TIR 4,97% VPL (6%) (R$ 38.758,92)

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202

Construção do Fluxo de Caixa – Opção 3 – Com o Valor da Terra

PROPRIEDADE 3 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, COM O VALOR DA TERRA Investimentos Receitas CUSTOS

Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC 2003 473.286,53 -473.286,53 2004 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2005 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2006 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2007 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2008 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2009 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2010 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2011 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2012 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2013 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2014 115.017,00 48.749,60 16.020,00 44.986,60 115.017,00 5.260,80 70.030,40 2015 115.017,00 115.017,00 48.749,60 70.030,40 16.020,00 5.260,80 44.986,60 2016 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2017 115.017,00 115.017,00 48.749,60 16.020,00 5.260,80 70.030,40 44.986,60 2018 332.991,41 448.008,41 16.020,00 115.017,00 48.749,60 5.260,80 70.030,40 377.978,01 TIR 8,45% VPL (6%) R$ 102.580,21

PROPRIEDADE 4 - FLUXO DE CAIXA (FC) OPÇÃO 3, COM O VALOR DA TERRA Investimentos Receitas CUSTOS

Período RBP Resíduo Total CV CF MOF Total FC 2003 662.882,48 -662.882,48 2004 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 102.648,22 4.214,40 51.943,93 2005 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2006 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2007 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 102.648,22 4.214,40 51.943,93 2008 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2009 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2010 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2011 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2012 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2013 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2014 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2015 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2016 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2017 154.592,15 154.592,15 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 51.943,93 2018 154.592,15 568.964,77 723.556,92 73.127,15 25.306,67 4.214,40 102.648,22 620.908,70 TIR 7,28% VPL (6%) R$ 79.019,02

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APÊNDICE G Orçamento da Averbação da Reserva Legal na Matrícula do Imóvel

Informações básicas para se estimar o custo de averbação da área de reserva legal, para cada propriedade pesquisada.

Especificação 1 2 3 4

Área própria total (ha) 35,00 41,14 31,46 60,50 Área Mínima Exigida de Reserva Legal (ha) 7,00 8,23 6,29 12,10 Área exigível a recuperar (ha) 7,00 7,63 6,29 9,44 Parcela mínima anual (ha/ano) 0,5 0,54 0,45 0,67 Distância do imóvel até a sede do IAP/Londrina (km) 35 75 90 55

Fonte: Dados desta pesquisa Ações e valores pagos pelos proprietários para averbar a área de reserva legal

Ações Critérios Valor (R$) Pagar a taxa de vistoria do IAP Valor tabelado, em UPF*, que varia de 0,5 a

5,0 em função da área e da distância da propriedade até a sede do IAP

22,92 a 229,25

Pagar a taxa de anuência do IAP Valor indexidado em 0,2 UPF 9,17 Pagar a taxa cadastral do Sisleg Valor indexado em UPF, variando de 1 UPF

para imóveis até 30 ha, de 2 UPF para imóveis de 30 a 100 ha e de 3 UPF para imóveis acima de 100 ha

45,85 a 137,55

Contratar serviços topográficos com ART**

900,00 a 1.100,00

Pagar a taxa de averbação no Cartório de Registro de Imóveis

66,00

Despesas gerais

Xerox, despesas gerais de viagens, telefonemas, etc.

45,00

Locomoção com veículo próprio Estima-se um deslocamento médio de 200 km, com o custo de R$ 0,50/km

100,00

Fonte: Dados primários da pesquisa e Instituto Ambiental do Paraná / Londrina • *UPF = Unidade Padrão Fiscal = R$ 45,85 • *ART= Anotações de Responsabilidade Técnica

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204

ANEXOS

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ANEXO A Artigo 16º do Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15/09/1965)

“Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativas, ressalvadas as situadas em áreas de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantida, a título de reserva legal, no mínimo: I – oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; II – trinta por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo; III – vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativas localizada nas demais regiões do País; e IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em quaisquer regiões do País. § 1º O percentual de reserva legal na propriedade situada em área de floresta e cerrado será definido considerando separadamente os índices contidos nos incisos I e II deste artigo.

§ 2º A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as hipóteses previstas no § 3º deste artigo, sem prejuízos das demais legislações específicas. § 3º Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de reserva legal em pequenas propriedades ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistemas intercalares ou em consórcio com espécies nativas. § 4º A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra instituição devidamente habilitada, devendo ser considerados, no processo de aprovação, a função social da propriedade, e os seguintes critérios e instrumentos, quando houver: I – o plano de bacia hidrográfica; II – o plano diretor municipal; III – o zoneamento ecológico-econômico; IV – outras categorias de zoneamento ambiental; e V – a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida.

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§ 5º O Poder executivo, se for indicado pelo Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE e pelo Zoneamento Agrícola, ouvidos o CONAMA, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento, poderá: I – reduzir, para fins de recomposição, a reserva legal, na Amazônia Legal, para até cinqüenta por cento da propriedade, excluídas, em qualquer caso, as Áreas de Preservação Permanente, os ecótonos, os sítios e ecossistemas especialmente protegidos, os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecológicos; e II – ampliar as áreas de reserva legal, em até cinqüenta por cento dos índices previstos neste Código, em todo o território nacional. § 6º Será admitido, pelo órgão ambiental competente, o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente em área de preservação permanente no cálculo de porcentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e reserva legal exceder a: I – oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; II – cinqüenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do País; e III – vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas alíneas “b” e “c” do inciso I do § 2º do art. 1º. § 7º O regime de uso da área de preservação não se altera na hipótese prevista no parágrafo anterior. § 8º A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com exceções previstas neste Código. § 9º A averbação da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar é gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando necessário. § 10º Na posse, a reserva legal é assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta, firmado pelo possuidor com o órgão ambiental estadual ou federal competente, com força de título executivo e contendo, no mínimo, a localização da reserva legal, as suas características ecológicas básicas e a proibição de supressão de sua vegetação, aplicando-se, no que couber, as mesmas disposições previstas neste Código para a propriedade rural. § 11º Poderá ser instituída reserva legal em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, respeitando o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a aprovação do órgão ambiental competente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos”.

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ANEXO B Artigo 7º do Decreto 387/99 (03/03/1999)

“Art. 7o - O prazo máximo para a recuperação das áreas de reserva florestal legal fixado por este Decreto é de 20 (vinte) anos, a ser cumprido pelo proprietário de forma escalonada, conforme tabela deste artigo: Ano Vencimento Exigível a recuperar 1o. ano - 31/12/1999 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 2o. ano - 31/12/2000 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 3o. ano - 31/12/2001 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 4o. ano - 31/12/2002 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 5o. ano - 31/12/2003 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 6o. ano - 31/12/2004 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 7o. ano -31/12/2005 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 8o. ano - 31/12/2006 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 9o. ano - 31/12/2007 - 1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 10o. ano -31/12/2008 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 11o. ano -31/12/2009 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 12o. ano -31/12/2010 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 13o. ano -31/12/2011 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 14o. ano -31/12/2012 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 15o. ano -31/12/2013 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 16o. ano -31/12/2014 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 17o. ano -31/12/2015 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 18o. ano -31/12/2016 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 19o. ano -31/12/2017 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal 20o. ano -31/12/2018 -1/20 (um vinte avos) da Reserva Florestal Legal Parágrafo único - O não cumprimento da recuperação da parcela correspondente anual, gera efeito cumulativo para os anos subseqüentes”.

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ANEXO C Objetivos Setoriais do Plano Plurianual 2004-2007 do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento

a) objetivo setorial 1: expandir a produção agropecuária para o

abastecimento do mercado interno, a geração de saldos

crescentes na balança comercial e o atendimento das novas

demandas e programas sociais, estimulando as cadeias

produtivas para a geração de renda, de emprego e de

desenvolvimento regional;

b) objetivo setorial 2: assegurar a regularidade do abastecimento

interno dos produtos agropecuários e a garantia de renda dos

produtores, pela implementação de políticas e mecanismos de

apoio à produção, comercialização, estocagem e consumo e pela

diminuição dos riscos da atividade agropecuária, por meio da

expansão do seguro rural, do zoneamento agrícola e da geração

e difusão de informações agroclimatológicas;

c) objetivo setorial 3: ampliar, diversificar e agregar valor às

exportações do agronegócio, mediante firme defesa dos

interesses nas negociações internacionais, estudos de mercado

e promoção comercial, e capacitação de agentes envolvidos no

comércio exterior;

d) objetivo setorial 4: garantir a segurança alimentar aos

consumidores, nos aspectos de inocuidade, qualidade e

identidade de produtos e subprodutos de origem animal e

vegetal, a qualidade dos insumos agropecuários e promover a

sanidade animal e vegetal por meio da avaliação de risco,

vigilância, controle e fiscalização fitozoossanitária;

e) objetivo setorial 5: desenvolver e promover a conservação dos

recursos naturais e a geração, adaptação, transferência e

distribuição de conhecimentos científicos e tecnológicos para os

agentes do agronegócio, viabilizando o aumento da produtividade

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209

e da qualidade e a redução dos custos de produção, em bases

ambientalmente sustentáveis;

f) objetivo setorial 6: propiciar o progresso técnico, econômico e

social da agricultura familiar, dos empreendimentos de pequeno

porte, dos assentamentos de reforma agrária e das comunidades

tradicionais, considerando as especificidades regionais, sociais e

ambientais;

g) objetivo setorial 7: contribuir para a melhoria da infra-estrutura e

equipamentos sociais fundamentais para o processo de

produção, armazenagem e comercialização agropecuária e das

condições de vida no campo;

h) objetivo setorial 8: fortalecer a organização e a eficiência do

sistema produtivo, através do associativismo rural e do

cooperativismo como instrumentos de desenvolvimento

econômico, objetivando a inclusão social e a integração dos

produtores ao mercado;

i) objetivo setorial 9: subsidiar a tomada de decisão dos agentes

das cadeias produtivas, através da capacitação profissional, da

previsão de safra e da geração e difusão de informações nos

diversos campos de interesse do agronegócio;

j) objetivo setorial 10: aumentar a eficiência na gestão dos recursos

e das políticas públicas, promovendo o fortalecimento

institucional, a transparência nas ações e a participação da

sociedade.