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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA PROPRIEDADES MECÂNICAS DO CONCRETO ELABORADO COM AGREGADO MIÚDO RECICLADO Kaio de Souza Lima Orientador: Prof. Dr. Kurt Strecker São João del-Rei, 2016

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ENGENHARIA MECÂNICA

PROPRIEDADES MECÂNICAS DO CONCRETO ELABORADO COM

AGREGADO MIÚDO RECICLADO

Kaio de Souza Lima

Orientador: Prof. Dr. Kurt Strecker

São João del-Rei, 2016

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Kaio de Souza Lima

PROPRIEDADES MECÂNICAS DO CONCRETO ELABORADO COM

AGREGADO MIÚDO RECICLADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João del-Rei como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Área de concentração: Materiais e Processos de Fabricação Orientador: Prof. Dr. Kurt Strecker

São João del-Rei, 2016

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Ficha catalográfica elaborada pela Divisão de Biblioteca (DIBIB) e Núcleo de Tecnologia da Informação (NTINF) da UFSJ,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

L732pLima, Kaio de Souza Lima. Propriedades mecânicas do concreto elaborado comagregado miúdo reciclado : Materiais e processos defabricação / Kaio de Souza Lima Lima ; orientadorKurt Strecker Strecker. -- São João del-Rei, 2016. 102 p.

Dissertação (Mestrado - Mestrado em EngenhariaMecânica) -- Universidade Federal de São João delRei, 2016.

1. agregado reciclado. 2. concreto. 3. resíduosconstrutivos. I. Strecker, Kurt Strecker, orient.II. Título.

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Dedico este trabalho à minha esposa Fernanda e à minha filha Lavinea,

especialmente porque são pessoas que também imaginam a construção de um

mundo melhor e mais justo. Por meio de boas ideias e pequenas atitudes, podemos

fazer as coisas melhorarem. Acredito que o respeito ao próximo e a convivência

harmônica com a natureza sejam as premissas básicas para que os seres humanos

de futuras gerações possam ter possibilidades de continuar a viver no planeta Terra.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que participaram direta ou indiretamente para a

realização desta pequena jornada científica.

A todos aqueles que acolheram as ideias, aqueles que contribuíram para a

realização dos experimentos, aqueles que se dispuseram voluntariamente a

cooperar, aqueles que apontaram os rumos a serem seguidos e aqueles que, de

alguma forma, emprestaram seu apoio e incentivo à realização deste trabalho.

Entre eles, estão a família, os amigos de caminhada, os mestres professores,

os autores consultados, os colegas de laboratório e os estimados parceiros da

construção civil. São muitos nomes, desnecessário enumerar, pois essas pessoas

certamente sabem da sua importância e da valiosa contribuição que emprestaram a

esta empreitada.

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RESUMO

O setor da construção civil apresenta altos índices de desperdício de materiais, destacando-se negativamente entre os setores produtivos de nossa sociedade. Uma prática comum em alguns países consiste em triturar, mediante processos mecânicos, os restos de obras de construção, reformas e demolições, de modo a reaplicar o material nos processos construtivos. O produto final do processo de reciclagem desse resíduo tem o nome de agregado reciclado, podendo ser obtido em diversas granulometrias. Sabendo-se que o concreto é composto pela mistura de cimento, areia, brita e água, o presente trabalho analisou concretos produzidos com agregado miúdo reciclado (AMR), que foi usado para a substituição do agregado miúdo natural (areia). Foram analisados três traços ou misturas de concreto comumente utilizados na construção civil, a saber: traço 1:2:4, traço 1:2:3 e traço 1:11/2:3 em volume, mantendo-se constante o fator água/cimento específico de cada traço. Foram analisadas propriedades físicas e mecânicas dos concretos produzidos. Foram ensaiados corpos de prova de concreto adotando-se uma mistura de referência e outras três misturas com teores de substituição de 40, 60 e 100% da areia natural por AMR. O AMR utilizado na pesquisa foi obtido por meio da trituração de material residual coletado em obras. Foram moídos restos de tijolos (cerâmica vermelha), argamassa proveniente de reboque demolido e restos de blocos de concreto. O material moído foi posteriormente misturado em partes de volume iguais em uma betoneira, para a sua homogeneização e confecção dos corpos de prova, curados durante 60 dias. Observou-se, nesta pesquisa, que a trabalhabilidade dos concretos foi muito prejudicada pela substituição da areia pelo AMR. A absorção de água e a porosidade dos concretos reciclados aumentaram. A densidade aparente dos concretos diminuiu à medida que a areia foi substituída pelo material reciclado. Os valores para o módulo de elasticidade dos concretos com adição de AMR são menores quando comparados aos valores obtidos para os concretos de referência. A resistência à compressão dos concretos reciclados pode manter-se estável ou até melhorar com a substituição da areia pelo agregado reciclado fino. Conclui-se que os reciclados da construção civil podem se tornar materiais alternativos para a utilização nos processos construtivos, bastando que sejam observadas e, quando necessário, ajustadas as propriedades dos concretos produzidos com os agregados reciclados de modo a atender às especificações técnicas.

Palavras-chave: agregado reciclado, concreto reciclado, construção sustentável, resíduos de construção.

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ABSTRACT

The construction sector has high levels of waste materials, highlighting negatively among the productive sectors of our society. A common practice in some countries is to grind, through mechanical processes, the remains of construction, renovations and demolition, to reapply into the constructive processes. The material in the final product of the recycling process of this waste calls recycled aggregate that can be obtained in various grain sizes. Knowing that the concrete is composed by mixing cement, sand, gravel and water, this study analyzed concrete made with fine recycled aggregate, that was used for replacement of natural aggregate (sand). There were analyzed three dashes of concrete mixtures commonly used in buildings, namely: trace 1: 2: 4; trace 1: 2: 3 and trace 1: 11/2: 3 by volume, maintaining the water-cement factor of each specific analyzed dash. Physical and mechanical properties of the concrete produced were analyzed. Specimens were produced from concrete adopting a mixing and three reference blends with levels of substitution as 40, 60 and 100% of natural sand by fine recycled aggregate. The fine recycled aggregate used in this research was obtained from the waste material collected, through manual grinding works. It was crushed remains of bricks, mortar and concrete blocks. The crushed materials were then blended in equal parts by volume in a mixer for the homogenization and preparation of test specimens, cured for 60 days. In this research was concluded that the workability of the concrete was badly damaged by substitution of sand by fine recycled aggregate. The properties of water absorption and porosity of the recycled concrete increases. The concrete density decreased as the sand was replaced by recycled material. The values for modulus of elasticity of concrete with addition of AMR are smaller when compared to the values obtained for conventional concrete. The recycled concrete compressive strength may be stable or even improve with the replacement of sand by fine recycled aggregate .This research revealed that recycled materials can be used as alternative materials in construction processes, just to compliance and, when necessary, set the specific properties of recycled concretes to meet the technical specifications.

Key-words: recycled aggregate, recycled concrete, sustainable construction, construction waste.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 Cidade de Dresden na Alemanha no final da Segunda Grande Guerra 18

Figura 2.2 Distribuição da composição média de resíduos de construção coletadas

em São Carlos 32

Figura 2.3 Funcionamento de um britador de impacto 34

Figura 2.4 Britador (a) de mandíbula de pequeno porte e (b) detalhe de seu

mecanismo 35

Figura 2.5 Funcionamento do moinho de martelos 35

Figura 2.6 Funcionamento do britador cônico 36

Figura 2.7 Moinho argamassadeira 37

Figura 2.8 Circuito das Usinas de Belo Horizonte 38

Figura 2.9 Detalhes da Usina BR-040: (a) escalpe/britador martelo e ao fundo

britador cônico (secundário); (b) produto na forma de bica corrida e ao fundo, na

última pilha, aparece a brita reciclada 38

Figura 2.10 Circuitos típicos da indústria recicladora emergente em países como

Brasil e China para produção de bica corrida e rachão 39

Figura 2.11 Faixas granulométricas recomendadas para areia pela NBR 7211/09 42

Figura 2.12 Representação esquemática do comportamento tensão/

deformação do concreto sob compressão simples 49

Figura 2.13 Diagrama tensão/deformação para agregado, pasta de cimento e

concreto 50

Figura 3.1 Caçamba de coleta de resíduos da construção civil 56

Figura 3.2 Detalhe do resíduo (a) no momento da trituração manual e (b) depois de

moído armazenado separadamente em recipientes de plástico 58

Figura 3.3 Detalhe da mistura das frações de AMR na betoneira 59

Figura 3.4 Curva de caracterização granulométrica do agregado miúdo reciclado

(AMR) utilizado na pesquisa 61

Figura 3.5 Detalhes (a) da preparação do concreto e (b) do momento da moldagem

dos corpos de prova 62

Figura 3.6 Aspectos dos corpos de prova de concreto 63

Figura 3.7 Corpos de prova: (a) local da cura e (b) aspecto dos corpos de concreto

curados 65

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Figura 3.8 Esquema do teste de fluidez do concreto (Slump) ou ensaio do cone de

Abrams 66

Figura 3.9 Ensaio do abatimento do tronco de cone de Abrams 67

Figura 3.10 Equipamento usado para planificação e polimento de superfícies 68

Figura 3.11 (a) Aparelho PUNDIT e (b) corpo de prova ensaiado 69

Figura 3.12 (a) Prensa de compressão EMIC modelo PC100C e (b) aspecto dos

corpos de prova após o ensaio de resistência a compressão 71

Figura 3.13 Detalhe do ensaio de absorção e porosidade (a) corpos de prova

submersos e (b) recipiente do ensaio lacrado e conectado a bomba de vácuo (b) 73

Figura 4.1 Valores obtidos nos ensaios de abatimento do tronco de cone de Abrams

para os concretos nas condições estudadas na pesquisa 75

Figura 4.2 Momento do lançamento e do adensamento mecânico do concreto em

canteiros de obras 76

Figura 4.3 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados para a

determinação da densidade aparente dos concretos nas condições estudadas na

pesquisa 79

Figura 4.4 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados para a

determinação da porosidade dos concretos nas condições estudadas na pesquisa79

Figura 4.5 Detalhe de peças estruturais de concreto com falhas de concretagem

(*brocas*) 86

Figura 4.6 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados para a

determinação da absorção de água dos concretos nas condições estudadas na

pesquisa 88

Figura 4.7 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados para a

obtenção do módulo de elasticidade para os concretos nas condições estudadas na

pesquisa 91

Figura 4.8 Valores médios e desvio-padrão encontrados nos ensaios realizados para

a obtenção da resistência à compressão simples dos concretos nas condições

estudadas na pesquisa 94

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Forma de disposição do RCD 20

Tabela 2.2 Propriedades dos agregados naturais e reciclados 27

Tabela 2.3 Composição do RCD no Brasil 27

Tabela 2.4 Dados sobre a geração de resíduos de construção em algumas cidades

brasileiras 29

Tabela 2.5 Percentuais de perdas na construção em algumas cidades brasileiras e

países estrangeiros 31

Tabela 2.6 Composição do resíduo da construção civil em Florianópolis 33

Tabela 2.7 Propriedades do concreto influenciadas pelas características do

agregado 41

Tabela 2.8 Valores encontrados em laboratório após o peneiramento da amostra do

agregado reciclado (AMR). Análise granulométrica 60

Tabela 2.9 Composição dos traços de concreto da pesquisa 64

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LISTA DE SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AGR – Agregado Graúdo Reciclado

AMR – Agregado Miúdo Reciclado

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

Ed – Módulo de elasticidade dinâmico

PUNDIT – Portable Ultrasonic Non-destructive Digital Indicating Tester

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

RCD – Resíduos de Construção e Demolição

RILEM – Simpósio Internacional sobre Demolição e Reuso de Concreto e Alvenaria

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17

2.1 Trabalhabilidade 42

2.2 Resistência à compressão 43

2.3 Módulo de elasticidade 47

2.4 Absorção de água e porosidade 52

3 MATERIAIS E MÉTODOS 54

3.1 Agregado miúdo reciclado 53

3.2 Fabricação e cura do concreto 61

3.3 Ensaio do tronco de cone 65

3.4 Ensaio para o cálculo do módulo de elasticidade dinâmico 67

3.5 Ensaio de resistência à compressão 70

3.6 Porosidade e absorção de água 71

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 74

4.1 Trabalhabilidade 74

4.2 Densidade aparente 78

4.3 Porosidade e absorção de água 81

4.4 Módulo de elasticidade dinâmico 89

4.5 Resistência à compressão 92

5 CONCLUSÕES 96

REFERÊNCIAS 98

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e o desenvolvimento de nossa sociedade

tecnológica ocasionam uma exploração cada vez maior dos recursos naturais

disponíveis em nosso planeta, causando enorme preocupação com a questão da

possibilidade do esgotamento deles em um futuro próximo. O consumo de recursos

naturais e de energia cresce de forma proporcional ao desenvolvimento humano.

Será preciso, com maior frequência, adotar posturas e métodos de produção

sustentáveis, de forma a minimizar os impactos ambientais causados pelo crescente

desenvolvimento socioeconômico e pela manutenção do seu status. O descrédito

institucional, que pode ser fruto da adoção de posturas não sustentáveis, tem sido

importante fator de promoção de mudanças comportamentais no que diz respeito

aos processos produtivos.

O setor da construção civil apresenta altos índices de desperdício de materiais

destacando-se negativamente entre os setores produtivos de nossa sociedade. Uma

boa medida para minimizar os efeitos dos desperdícios na construção civil é a

reciclagem de resíduos provenientes das construções. Para reciclar o chamado

entulho de obra, faz-se necessário, primeiramente, realizar uma triagem do material,

separando-se as frações inorgânicas e não metálicas, e excluindo-se madeira,

plástico e metal do montante inicial do resíduo gerado. O restante do material obtido

após a triagem inicial do entulho poderá ser reciclado e reaproveitado novamente

nos processos da construção civil, por meio, por exemplo, da britagem do resíduo ou

de sua transformação em partes menores, dando origem ao que passa a ser

chamado de agregado reciclado e que pode ser incorporado à produção de

determinados tipos de concreto. Observa-se que 90% dos resíduos provenientes da

construção civil podem ser reciclados, reutilizados ou transformados em agregados

com boas características de desempenho para certos tipos de aplicação.

Pela minha experiência prática atuando como engenheiro civil desde 1994,

tenho observado, desde essa data mais especificamente, que o desperdício de

materiais no setor da construção civil juntamente com o acúmulo dos restos de

demolições feitos em obras civis produzem volumes expressivos de materiais a

serem descartados. Não somente obras de reformas em antigas construções

produzem grandes volumes de entulho a serem descartados. Obras novas, em seu

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processo construtivo, também produzem muito resíduo devido ao acúmulo de restos

de materiais fragmentados e também desperdiçados nos procedimentos

construtivos.

Outro fato que vale ser salientado tem a ver com a obtenção, junto à natureza,

de materiais com qualidade satisfatória para o uso na construção civil. Um bom

exemplo disso é a areia usada na construção civil em São João del-Rei e

adjacências. A areia para a confecção de concretos e argamassas utilizada nas

obras da cidade é, em grande parte, obtida por dragagem no rio das Mortes. O rio

em questão recebe grande parte do esgoto doméstico não tratado da cidade, fator

que provoca a contaminação das areias que compõem o seu leito. Sendo assim,

tem-se retirado do rio, ao longo dos anos, uma areia contaminada e com alta carga

orgânica para ser usada em nossas construções. O material orgânico contido na

areia pode prejudicar muito a vida útil e a eficiência dos produtos produzidos com ela

(concretos e argamassas).

A falta de uma cultura relativa à reciclagem de materiais na construção civil, as

facilidades encontradas para a deposição do chamado “entulho de obra” em terrenos

baldios ou aterros e a falta de políticas públicas de incentivo à reciclagem de

materiais, a meu ver, são os principais entraves à adoção de uma atitude efetiva e

positiva em relação à reciclagem de materiais provenientes dos setores produtivos

em todos os campos das engenharias no País.

A reciclagem pode ser vista, sem dúvida, como a melhor opção para reduzir o

impacto que o meio ambiente pode sofrer com o consumo de matéria-prima e com a

geração de resíduos nos processos produtivos. Nos últimos anos, a reciclagem de

resíduos tem sido incentivada em todo o mundo, seja por questões políticas,

econômicas ou ecológicas. A reciclagem de resíduos da construção irá minimizar

também os problemas com o gerenciamento dos resíduos sólidos dos municípios.

Haverá crescimento da vida útil dos aterros, diminuição dos pontos de descarte

clandestinos e redução dos custos de gerenciamento de resíduos. Por extensão,

ocorrerá aumento do bem-estar social e ambiental (LEITE, 2001).

Concretos e argamassas são materiais de uso clássico e muito difundidos em

todo o planeta. São materiais produzidos em larga escala. Os materiais básicos para

a confecção de concretos e argamassas são: cimento, areia, brita e água. A areia e

a brita, que são chamados de agregados miúdo e graúdo, respectivamente, são

materiais que podem ser eventualmente substituídos na fabricação do concreto para

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algumas aplicações construtivas. Para tanto, faz-se necessário conduzir pesquisas

para a caracterização de materiais que possam ser potenciais substitutos para os

agregados naturais. Uma boa opção de substituição dos agregados naturais pode

ser os chamados agregados reciclados, obtidos mediante a britagem dos resíduos

de construções e demolições, conforme menção anterior.

Muitos estudos já foram realizados em nível nacional e internacional no que diz

respeito à reutilização do resíduo de construção e demolição para a produção de

novos concretos (HANSEN, 1992; QUEBAUD, 1996; LIMA, 1999; PINTO, 1986;

LEITE, 2001; entre outros). Já existem organizações internacionais que possuem

normas para a utilização do resíduo de construção. Países como a Alemanha

(precursora no uso de resíduos), Japão, Holanda, Estados Unidos, França, Bélgica e

Inglaterra já fazem uso do resíduo de construção e demolição e têm muitos estudos

sobre a utilização desse material e sobre o seu comportamento. Holanda,

Dinamarca e Bélgica já reciclavam mais de 80% do resíduo de construção no final

do século passado (DORSTHORST; HENDRIKS, 2000).No Brasil, o uso do resíduo

reciclado ainda é muito pequeno ou insignificante.

Segundo LEITE (2001), é interessante observar que já foram realizados

estudos que concluíram que a substituição de até 30% dos agregados graúdos

naturais (comumente chamados de brita) por agregados reciclados de resíduos

específicos não altera de forma significativa as propriedades dos concretos

produzidos. Isso torna o uso do agregado reciclado e o reaproveitamento de

materiais uma iniciativa atraente.

É interessante também observar que o uso econômico para agregados

reciclados deverá incluir, segundo PERA (1996) e SAGOE-CRENTSIL e BROWN

(1998), a substituição da areia natural pelos agregados finos reciclados (objeto de

estudo do presente trabalho), pois esse material representa um total de 45 a 50% do

volume final de material reciclado obtido nos processos de moagem dos resíduos.

Acredita-se que seja possível obter boas vantagens financeiras reciclando-se o

material proveniente dos resíduos dos processos construtivos de maneira geral. Em

resumo, os benefícios obtidos com essa iniciativa seriam:

- a limitação da perda de matéria-prima;

- a proteção das fontes de obtenção de recursos naturais cada vez mais

escassos em certos locais;

- a redução do custo de gerenciamento do resíduo;

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- a eliminação da necessidade de grandes áreas urbanas destinadas à

deposição dos resíduos;

- a diminuição dos gastos com transporte; e

- a contribuição efetiva para promover a cultura da sustentabilidade.

Esta pesquisa tem por objetivo geral verificar a viabilidade da utilização do

material proveniente da reciclagem do resíduo da construção civil (agregado miúdo

reciclado), beneficiado mediante processos de moagem (conhecidos como agregado

reciclado), para a aplicação na produção de alguns tipos de concreto, por meio da

determinação e observação de algumas propriedades dos novos concretos

compostos pela substituição progressiva dos agregados naturais pelos agregados

reciclados finos.

Neste trabalho, serão analisadas especificamente:

- uma propriedade do concreto no estado fresco: a trabalhabilidade; e

- as propriedades do concreto no seu estado endurecido: resistência à

compressão axial, porosidade, densidade aparente e volumétrica, absorção de água

e módulo de elasticidade dinâmico dos concretos produzidos.

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CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Em um estudo realizado por SCHULZ e HENDRICKS (1992), foram

encontrados registros da utilização de alvenaria britada para a produção de concreto

na época do império romano. Naquela época, era também utilizada uma mistura de

argilas, cinzas vulcânicas, cacos cerâmicos e pasta aglomerante de cal, que servia

como uma camada básica nos processos de pavimentação (BRITO FILHO, 1999).

Os fenícios, 700 anos antes dessa era, misturavam cal e ladrilhos moídos como

material de construção com propriedades aglomerantes (LEITE, 2001).

A primeira utilização significativa de resíduos de construção e demolição, na

historia recente, data da época do fim da Segunda Grande Guerra. Naquele período,

várias cidades europeias, principalmente cidades alemãs, se encontravam

parcialmente destruídas. A necessidade de matéria-prima para a reconstrução dos

centros urbanos aliada à falta de locais para deposição do material resultante das

demolições durante o conflito motivaram o reaproveitamento do mesmo.

A Figura 2.1 retrata uma cidade alemã em escombros, onde ocorreu,

posteriormente, a reutilização do material resultante da destruição das construções

durante a guerra.

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Figura 2.1 Cidade de Dresden na Alemanha no final da Segunda Grande Guerra

Fonte: www.ibtimes.co.uk

No final da Segunda Grande Guerra, a quantidade de entulho nas cidades

alemãs girava em torno de 400 a 600 milhões de metros cúbicos. As estações de

reciclagem produziram cerca de 11,5 milhões de metros cúbicos de agregado

reciclado de alvenaria e 175.000 unidades habitacionais foram construídas

(SCHULZ; HENDRICKS, 1992). As cidades inglesas também fizeram uso do entulho

deixado pela guerra mundial. Com base nesses fatos, LEVY e HELENE (2000)

afirmam que 1946 marca o início do desenvolvimento da reutilização do resíduo de

construção e demolição nos processos construtivos, ampliando, assim, os horizontes

da engenharia civil.

Em 1977, no Japão, foram propostas as primeiras normas para utilização de

agregado reciclado no concreto. Depois de 1992, as normas ASTM C32-82 e C125-

79 incluíram o agregado graúdo reciclado de concreto nas especificações de

agregados utilizáveis para a produção de concretos. A partir da década de 1980,

normas também entraram em vigor nos Países Baixos, Dinamarca, Rússia e

Alemanha, entre outros (HANSEN citado por LEITE, 2001).

Segundo ZORDAN (1997), na década de 1980, HANSEN e NARUD (1983)

iniciaram a pesquisa sobre a resistência do concreto feito a partir de agregados

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reciclados. No final da mesma década, YODA et al. (1988) apresentaram trabalhos

sobre o assunto no segundo RILEM – Simpósio Internacional sobre Demolição e

Reuso de Concreto e Alvenaria, em Tóquio, no Japão.

No Brasil, o primeiro estudo sistemático para a utilização de resíduos de

construção e demolição foi concluído em 1986 pelo arquiteto Tarcisio de Paula

Pinto. Sua pesquisa consistiu em estudar o uso do material reciclado para a

produção de argamassas (PINTO, 1986).

A reciclagem de resíduos da construção civil teve início efetivo em nosso País

a partir de 1991 em Belo Horizonte. Hoje, já existem algumas estações de

tratamento e reciclagem desse material espalhadas pelo País. No Brasil, não há

ainda um grande mercado para os reciclados. Uma das causas disso é a ausência

de uma política ambiental que inclua mecanismos para o desenvolvimento desse

mercado como, por exemplo, o uso do poder de compra do estado e a implantação

de sistemas de certificação dos produtos e processos, entre outros.

De acordo com PICCHI (1993), citado por ZORDAN (1997), no mundo todo, a

construção civil absorveu mais tardiamente os conceitos e metodologias da

qualidade, que surgiram, via de regra, em indústrias seriadas, tais como mecânica e

eletrônica, que possuem décadas de evolução nesses setores. A meu ver, a

evolução da cultura dos procedimentos de reciclagem na indústria da construção

civil também ocorrerá de forma lenta e gradual.

Segundo LIMA (2013), a gestão dos resíduos de construção e demolição

(RCD) é realizada por meio de procedimentos e atividades obedecendo à logística

da gestão dos resíduos sólidos no âmbito municipal e, em grande parte, vinculada

aos resíduos domiciliares. A coleta e o transporte são obrigações dos grandes

geradores; no caso dos pequenos geradores, a competência é da empresa

municipal ou terceirizada. A destinação do local de descarte é da gestão desse

sistema e, na maioria das vezes, de responsabilidade das prefeituras locais. Pode-

se afirmar que houve evolução no Brasil relativa a essa questão. Houve

universalização da coleta de resíduos sólidos na última década no nosso País.

Comparando-se dados do censo de 2000 com os dados provenientes da pesquisa

de saneamento básico do ano de 2008, constatou-se, nesse ano, que existe um

número expressivo de municípios (72%) com serviços de manejo de RCD: cerca de

4.000 municípios num total de 5.564 pesquisados. No entanto, somente 390

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possuíam algum tipo de processamento dos resíduos de construção e demolição,

cerca de 10% do total.

Ainda segundo LIMA (2013), no tocante à disposição de RCD, os dados

mostram que cerca de 1.330 municípios, ou seja, 33% do total, depositam RCD em

vazadouro ou lixões em conjunto com os demais tipos de resíduos; um total de 442

municípios dispõe, de forma controlada, em aterro convencional embora juntamente

com os demais resíduos; 176 dispõem em pátios ou galpão específico para resíduos

especiais; 448 dispõem com controle em aterros específicos para resíduos

especiais; e 795 apresentam utilização definitiva e controle dos resíduos como

material de aterro após triagem. Somando o número de municípios pesquisados que

estão pelo menos dispondo separadamente o RCD, encontram-se 1.419, número

expressivo, totalizando uma massa de resíduo com um volume considerável a ser

processado. Quanto ao descarte clandestino, não há dados concretos sobre esse

fenômeno que ocorre em todos os municípios do nosso País. Mas, certamente, o

volume de resíduos descartado dessa forma tem valor alto. Os dados são da

Pesquisa Nacional do Saneamento Básico do ano de 2008 do IBGE e são

mostrados na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 Forma de disposição do RCD

Segundo LIMA (2000), o agregado reciclado para a produção de concretos

deve ser pré-umedecido antes de ser colocado em contato com o cimento por, no

mínimo, dois minutos. O controle de qualidade do concreto deve ser realizado

levando-se em conta o consumo de cimento, enquanto o controle de produção do

concreto deve ser feito por meio da medida do abatimento do cone de Abrams. De

acordo com o autor, o abatimento das misturas de concreto reciclado deve ser

semelhante à do concreto convencional, sendo utilizada a menor relação

Page 22: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA … · Figura 2.11 Faixas granulométricas recomendadas para areia pela NBR 7211/09 42 Figura 2.12 Representação esquemática do comportamento

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água/cimento possível. Na presente pesquisa, o fator água/cimento dos traços de

concreto adotados como referenciais será mantido constante. Haverá variação

apenas na substituição do teor de areia natural por agregado reciclado fino nos

traços das composições escolhidas para a confecção dos concretos.

LEVY (1997) define o resíduo de construção como sendo o material

proveniente de atividades da construção civil devido à realização de construções,

reformas e reparos de edificações residenciais e comerciais entre outras estruturas.

Define, também, resíduo de demolição como sendo todo material proveniente da

destruição de construções e estruturas.

O agregado reciclado pode ser definido como um material granular, resultante

de um processo industrial envolvendo o processamento de materiais inorgânicos

prévia e exclusivamente utilizados na construção e aplicados novamente na

construção civil.

A NBR9935/2011 adota a seguinte terminologia:

- agregado: material granular, geralmente inerte, com dimensões e

propriedades adequadas para a preparação de argamassa e concreto;

- agregado natural: material pétreo que pode ser utilizado tal como é

encontrado na natureza, podendo ser submetido à lavagem, classificação e

britagem;

- agregado artificial: material resultante de procedimentos industriais para uso

como agregado em concretos e argamassas;

- agregado reciclado: material obtido de rejeitos, subprodutos industriais,

mineração ou construção civil;

- areia: agregado miúdo originado mediante processos naturais ou artificiais de

desintegração de rochas ou provenientes de outros processos industriais. É

chamada de areia natural se for resultante da ação de agentes da natureza, de areia

artificial quando for proveniente de processos industriais e de areia de britagem

quando for originária do processo mecânico de cominuição de rochas.

A NBR NM 248 diz o seguinte em relação à granulometria:

- agregado miúdo: agregado, cujos grãos passam pela peneira com abertura

de malha 4,75 mm e ficam retidos na peneira com abertura de malha 0,15 mm;

- agregado graúdo: agregados, cujos grãos passam pela peneira com

abertura de malha de 75 mm e ficam retidos na peneira com abertura de 4,75 mm.

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- pó de pedra: material resultante da britagem de rocha que passa na peneira

de malha 6,3 mm;

- materiais pulverulentos: partículas com dimensão inferior a 0,075 mm,

inclusive os materiais solúveis em água presentes nos agregados.

A brita é outro material comumente utilizado na construção civil para a

confecção de concretos. Ela é obtida por meio da exploração de maciços rochosos e

caracteriza-se como um material que, depois de passar por desmonte por

explosivos, britagem e classificação, pode ser usado in natura ou misturado a outros

insumos (BUEST NETO, 2006). Segundo o Departamento Nacional de Pesquisa

Mineral no ano de 2000, citado por BUESTNETO (2006), o uso da brita é distribuído

no Brasil com 50% do volume produzido destinado à produção de concreto de

cimento Portland, 30% para concretos betuminosos, 13% para artefatos de cimento

pré-moldados e 7% destinados a outros usos.

O agregado reciclado, de acordo com a sua granulometria, pode ser dividido

basicamente em:

- agregado miúdo reciclado (AMR): composição granulométrica similar à da

areia natural (que é um material clássico utilizado para a produção de concretos e

argamassas na construção civil), possuindo potencial para a substituição dela.

- agregado graúdo reciclado (AGR): pode possuir granulometria variada,

devendo respeitar os mesmos parâmetros usados para a classificação dos grãos da

brita, material normalmente usado na produção de concretos. Pode ser um material

substituto para a brita natural de origem granítica, calcária ou basáltica.

LIMA (1999) aponta algumas características interessantes dos agregados

reciclados, bem como os seus respectivos efeitos na elaboração de concretos, entre

as quais se incluem:

- menor densidade, que induz à necessidade de correções no traço do concreto

para manter as proporções dos materiais;

- alta absorção de água, que leva à necessidade de sua compensação e que

pode gerar expansão no umedecimento e retração na secagem.

- menores resistências mecânicas, com reduções que variam entre 10 e 35%;

- aumento na retração dos concretos reciclados, com reduções que variam de

30 a 65%;

- aumento da fluência dos concretos;

- diminuição do módulo de deformação dos concretos reciclados.

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A difusão do uso de agregados reciclados na construção civil está em muito

prejudicada pela inadequação das normas existentes ou pela falta de normas

específicas ao uso desse material (QUEBAUD; BUYLE-BODIN, 1999).

De acordo com JOHN (2001), os resíduos de construção e demolição provêm

de uma grande variedade de produtos e podem ser classificados em:

a) solos;

b) materiais cerâmicos: rochas naturais, concretos, argamassas à base de cimento

areia e cal, resíduos de cerâmica vermelha (telhas e tijolos), cerâmica branca

(azulejos), cimento/amianto (atualmente em desuso), gesso e vidro;

c) materiais metálicos, como aço para concreto armado, latão e aço galvanizado.

d) materiais orgânicos, tais como madeira (natural e industrializada), materiais

betuminosos, tintas e adesivos, papel de embalagem e restos de vegetais, entre

outros.

No ano de 2002, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) editou a

Resolução nº 307 estabelecendo diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão

dos resíduos da construção civil, de modo a incentivar e regulamentar as ações de

reciclagem no Brasil. A Resolução define que os resíduos, após triagem, devem ser

agrupados da seguinte forma:

a) Resíduos CLASSE A: deverão ser reciclados ou reutilizados na forma de

agregados ou encaminhados a aterros de resíduos classe A, de reservação de

resíduos para usos futuros (restos de construções, demolições, reformas em

pavimentos, resíduos de terraplanagem, restos de reformas e demolição de peças

pré-moldadas de concreto);

b) Resíduos CLASSE B: deverão ser reciclados e reutilizados, sendo encaminhados

a áreas de armazenamento temporário (plásticos, papel, metal, papelão, vidro,

madeira e gesso);

c) Resíduos CLASSE C: devem ser armazenados, destinados e transportados de

acordo com as normas técnicas vigentes. São resíduos para os quais não foram

desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis;

d) Resíduos CLASSE D: vale a mesma especificação feita para os resíduos classe

C. São resíduos perigosos, tais como tintas, solventes, óleos e outros materiais que

podem ser contaminantes.

A Resolução do CONAMA em questão menciona também o seguinte:

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- Há necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos

impactos ambientais gerados pela atividade da construção civil.

- A disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados contribui

para a degradação da qualidade ambiental.

- Os resíduos da construção civil representam um significativo percentual do

resíduo sólido produzido nas áreas urbanas.

- Os geradores de entulho devem ser responsáveis pelos resíduos das

atividades de construção, reformas, e reparos de estradas, escavação de solos e

remoção da vegetação.

- Existe viabilidade técnica e econômica em se tratando da produção e do uso

de material proveniente da reciclagem de resíduos da construção civil.

- A gestão integrada dos resíduos da construção civil deve proporcionar

benefícios de ordens social, econômica e ambiental.

A mesma Resolução ainda traz as seguintes definições:

- Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reparos,

reformas e demolições na construção civil e também aqueles provenientes da

preparação e escavação de terrenos.

- Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas,

responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos

nessa Resolução.

- Transportadores: são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas do

transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação final.

- Agregado reciclado: material granular proveniente do beneficiamento de

resíduos de construção que apresentem características técnicas para a sua

aplicação em obras de edificação e de infraestrutura em aterros sanitários, entre

outras aplicações.

- Gerenciamento de resíduos: é o sistema de gestão que visa a reduzir,

reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, prática,

procedimentos e recursos para desenvolver as ações necessárias para cumprir o

plano de ação previsto.

- Reutilização: é o processo de reaplicação de um resíduo sem a

transformação deste.

- Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo após ter sido

submetido à transformação.

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- Gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a

busca de soluções para os resíduos sólidos sob a premissa do desenvolvimento

sustentável.

- Beneficiamento: é o ato de submeter resíduos a operações e processos que

tenham por objetivo dotá-los de condições, as quais permitam que sejam utilizados

como matéria-prima ou produto.

- Aterro de resíduos CLASSE A: área tecnicamente adequada onde serão

empregadas técnicas de destinação de resíduos da construção civil classe A no solo

(reserva de material para uso futuro).

- Área de transbordo e triagem: área destinada ao recebimento de resíduos

da construção civil e resíduos volumosos para triagem e armazenamento

temporário, eventual transformação e posterior remoção para a sua destinação

adequada.

No Brasil, a Lei 12.305/2010, que tem por objetivo definir a política nacional de

resíduos sólidos, estabelece uma diferenciação entre resíduo e rejeito num claro

estímulo ao reaproveitamento e reciclagem dos materiais, admitindo a disposição

final apenas dos rejeitos. Inclui, entre os instrumentos da política, as coletas

seletivas, os sistemas de logística reversa e o incentivo à criação e ao

desenvolvimento de cooperativas. Entre os aspectos relevantes da Política Nacional

de Resíduos Sólidos (PNRS), a logística reversa é o instrumento de

desenvolvimento econômico e social caracterizado pelo conjunto de ações,

procedimentos e meios para coletar e devolver os resíduos sólidos ao setor

empresarial, para o reaproveitamento em seu ciclo de vida ou em outros ciclos

produtivos. A Lei federal estabelece princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes

para a gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos. A Lei também esclarece que a

responsabilidade compartilhada faz os fabricantes, importadores, distribuidores,

comerciantes, consumidores e titulares de serviços públicos de limpeza urbana e de

manejo de resíduos sólidos responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos. É

importante o reconhecimento do resíduo de construção e demolição como bem

econômico e que possui um valor social. A PNRS harmoniza-se com diversas outras

leis, compondo o arcabouço legal que influirá na postura da totalidade dos agentes

envolvidos no ciclo de vida dos materiais presentes nas diversas atividades

econômicas.

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Em 2004, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a

primeira edição da NBR 15116, que faz menção ao uso dos agregados reciclados de

resíduo sólido da construção civil para a utilização em pavimentação e preparo de

concretos sem função estrutural, de forma a tornar viáveis destinos mais nobres

para os resíduos. Essa norma estabelece os limites a serem respeitados e

estabelece diretrizes para o uso do resíduo reciclado. Ela abrange o campo dos

resíduos sólidos da construção civil, resíduos volumosos e resíduos inertes,

incluindo-se as diretrizes para projeto, implantação e operação de áreas de triagem,

áreas de reciclagem e aterros, bem como o estabelecimento de requisitos para os

agregados reciclados que podem ser gerados e a sua aplicação em obras de

engenharia. A Norma em questão define agregado reciclado como sendo o material

granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção ou demolição de

obras civis, que apresenta características técnicas favoráveis para a sua reutilização

em obras de edificação e infraestrutura.

Fica estabelecido também por essa Norma que, no concreto sem função

estrutural, admite-se que, se o agregado reciclado for proveniente de resíduo

reciclado classe A e atender às especificações normativas, poderá substituir parcial

ou totalmente os agregados convencionais.

De acordo com METHA e MONTEIRO (1994), o principal obstáculo no uso do

entulho de construção como agregado para o concreto é o custo de britagem,

graduação, controle do pó e separação dos constituintes indesejáveis. Ou seja, ao

se analisarem os agregados reciclados, é importante que sejam consideradas as

particularidades dos resíduos usados na sua produção. Os agregados também

apresentam grandes variações em suas propriedades dependendo da composição

do resíduo processado, equipamentos usados, teor de impurezas e composição

granulométrica entre outros.

A Tabela 2.2 apresenta valores para algumas propriedades dos agregados,

levando em conta as dimensões e origens deles.

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Tabela 2.2 Propriedades dos agregados naturais e reciclados

Nota: H, M e L significam que os concretos britados (em britador de

mandíbulas) eram de alta, média e baixa resistência, respectivamente.

A Tabela 2.3 mostra exemplos da composição do resíduo de construção e

demolição em algumas cidades do Brasil, levando em consideração os componentes

concreto, argamassa, rochas e cerâmica.

Tabela 2.3 Composição do RCD no Brasil

Fonte: LIMA (2013).

Segundo LEITE (2001), foi proposta uma interessante classificação para as

classes de resíduos de construção e demolição, feita por LIMA(1999), que propõe

dividir o resíduo em seis classes:

a) Resíduo de concreto sem impurezas: proveniente de concreto estrutural simples

ou armado – CLASSE 1.

b) Resíduo de alvenaria sem impureza: proveniente de argamassas, alvenaria e

concreto – CLASSE 2.

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c) Resíduo de alvenaria sem materiais cerâmicos e sem impurezas: material

composto de argamassa, concreto e alvenaria com baixo teor de cerâmicos –

CLASSE 3.

d) Resíduo de alvenaria com terra e vegetação – CLASSE 4.

e) Resíduo composto por terra e vegetação – CLASSE 5.

f) Resíduo composto por material asfáltico – CLASSE 6.

LEITE (2001) comenta que as classes de resíduos apresentam sempre teores

de impurezas e que isso se deve à cultura, ainda incipiente, da reciclagem de

resíduos dentro da própria indústria da construção civil. Acredita-se que, à medida

que a prática da reciclagem se fortalecer dentro do setor construtivo, talvez se possa

partir para uma classificação mais restritiva.

PINTO (1996 citado por LEITE, 2001), afirma que os resíduos de construção e

demolição correspondem a dois terços em massa do total de resíduos coletados em

cidades de médio e grande portes no Brasil. Nessas cidades, o valor da geração de

resíduos de construção oscilava, na época da pesquisa, entre 0,4 e 0,7

toneladas/habitante/ano (LIMA; SILVA, 1998). E, de acordo com estudos apontados

por PINTO (2000), cada metro quadrado construído gera 150 quilos de resíduo.

A Tabela 2.4 mostra informações sobre a geração de resíduos no setor da

construção civil, coletadas entre os anos de 1996 e 2000 em algumas cidades

brasileiras. É importante notar os altos percentuais de entulho contidos no total da

massa do resíduo sólido urbano gerado.

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Tabela 2.4 Dados sobre a geração de resíduos de construção em algumas

cidades brasileiras

Fonte: LEITE (2001).

Quanto à composição do resíduo de construção e demolição, é interessante

ressaltar que esse parâmetro pode variar em função de vários fatores, entre os quais

figuram:

- o tipo de estrutura utilizada e os materiais definidos pelo memorial descritivo

ou projeto arquitetônico do ambiente a ser construído.

- As técnicas construtivas a serem adotadas, que podem variar de época para

época e de local para local; ou seja, a cultura construtiva própria de uma

determinada região.

- A existência de uma variedade de recursos naturais que podem ser

empregados nos processos construtivos, variando para cada localidade específica.

- Em caso de demolição ou reforma, outro fator relevante seriam os materiais

residuais obtidos no processo que, certamente, foram utilizados condicionados às

técnicas empregadas e à matéria-prima disponível na época de construção do

imóvel.

Como consequência da diversidade de fatores que influenciam na composição

do resíduo construtivo, torna-se impossível obter um valor médio para cada produto

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componente do volume total de entulho obtido nas construções e demolições. Em

nosso País, os principais componentes do resíduo que podem apresentar

características favoráveis para a sua reutilização, justificando, assim, o seu processo

de reciclagem, são:

- Restos de concreto e argamassa: material resultante do processo de

estruturação, vedação e revestimento das construções. São representados por

restos de concreto que sobram durante as concretagens e sobras de argamassa

endurecida usada para assentamento de tijolos na alvenaria e para revestimento

(reboque ou emboço).

- Restos de cerâmica vermelha: resíduo proveniente de tijolos e telhas feitos

de material cerâmico, mais especificamente a cerâmica vermelha. Encontra-se esse

material em sobras devido a cortes e ajustes de alvenaria e telhados.

- Restos de blocos de concreto: resíduo proveniente dos blocos utilizados

principalmente em alvenaria estrutural, sendo comuns em obras onde existem muros

divisórios, muros de arrimo, piscinas ou mesmo paredes estruturais.

- Restos de ladrilhos e porcelanato: são restos de material empregados

como produto de revestimento para acabamento final das construções, tais como:

pisos cerâmicos, azulejos, pastilhas e ladrilhos hidráulicos. A necessidade de cortes

e ajustes no processo de assentamento do material produz boa parcela de resíduo

cerâmico.

É interessante notar que inconsistências no projeto arquitetônico de uma

edificação, bem como a insatisfação de um proprietário com o seu layout construtivo

pode levar a reformas em uma construção mesmo que esta ainda não esteja

concluída. Serviços executados por mão de obra pouco qualificada também podem

ter que ser refeitos. Tais situações contribuem bastante para a geração do chamado

entulho de obra.

A Tabela 2.5 traz, com alguns exemplos, os valores das porcentagens dos

diversos materiais que se perdem durante o processo construtivo. Os autores

apontam as perdas em obras brasileiras e estrangeiras.

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Tabela 2.5 Percentuais de perdas na construção em algumas cidades

brasileiras e países estrangeiros

Fonte: LEITE (2001).

A Figura 2.2 ilustra, de forma didática, o exemplo estudado na coleta de

resíduo de construção na cidade de São Carlos. Nesta Figura, são mostrados os

diversos materiais componentes dos resíduos, bem como as suas respectivas

porcentagens.

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Figura 2.2 Distribuição da composição média de resíduos de construção

coletadas em São Carlos

Fonte: PINTO (1986).

A Tabela 2.6 traz os percentuais em volume e massa dos diversos materiais

componentes de amostras de resíduos de construção coletadas e analisadas na

cidade de Florianópolis.

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Tabela 2.6 Composição do resíduo da construção civil em Florianópolis

Segundo pesquisa feita por CARNEIRO et al. (2000), foi determinada a

composição do resíduo de construção e demolição da cidade de Salvador, na Bahia,

por ocasião da realização do seu trabalho. Os valores encontrados determinaram

que o concreto e a argamassa constituíram o maior volume do entulho avaliado

(53%), e junto com o material cerâmico e rochas, somaram 72% do total da

amostragem. No Brasil, segundo LEITE (2001), o volume de demolições ainda é

pequeno. Sendo assim, encontra-se predominantemente resíduo de construção, o

que mostra uma clara relação da composição do resíduo com as perdas de

materiais na construção civil.

Para processar o resíduo de construção e demolição, os equipamentos de

reciclagem são compostos de silo de recepção tipo calha vibratória, triturador,

transportadores de correia, extrator de metais ferrosos e conjunto peneirador, entre

outros (BRITO FILHO, 1999).

Conforme LEITE (2001), os tipos de britadores a serem utilizados nos

processos de moagem dos resíduos merecem atenção, pois esses equipamentos

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são determinantes da maior parte das propriedades dos agregados obtidos. Ainda

merece destaque o desempenho do britador do ponto de vista econômico. Os

principais tipos são:

a) Britador de impacto: possui câmara de impacto, na qual o material é britado por

meio de golpeamento feito por martelos maciços fixados por um rotor e pelo choque

do material contra placas fixas (FIGURA 2.3) (LIMA, 1999).

Figura 2.3 Funcionamento de um britador de impacto

Fonte: TENORIO (2007).

b) Britador de mandíbula: fratura o material por esmagamento das partículas. O

equipamento possui uma câmara de britagem onde o material é triturado por

mandíbulas. São utilizados como britadores primários, pois não reduzem muito o

tamanho das partículas processadas e geram grande quantidade de agregado

graúdo reciclado (FIGURA 2.4) (LEVY,1997).

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Figura 2.4 Britador de mandíbula (a) de pequeno porte e (b) detalhe de seu

mecanismo

Fonte: TENORIO (2007).

c) Moinhos de martelo: conhecidos como moinhos rotativos ou britadores de

cilindros. São pouco utilizados, pois só produzem material fino (FIGURA 2.5,

LEVY,1997).

Figura 2.5 Funcionamento do moinho de martelos

Fonte: TENORIO (2007).

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d) Cones de britagem: funcionam como um britador secundário, pois utilizam

material processado anteriormente. Possuem câmara de britagem onde o

material é esmagado contra as paredes de um cone (FIGURA 2.6, LEVY,

1997).

Figura 2.6 Funcionamento do britador cônico

Fonte: TENORIO (2007).

e) Moinho-argamassadeira: faz a fragmentação por meio de compressão

(esmagamento) aplicada por rodas metálicas pesadas que passam sobre o material.

No mesmo compartimento onde se faz a moagem (caçamba), faz-se a preparação

de argamassas. Também conhecido como moinho de rolos ou de galgas, é usado

somente para a reciclagem na própria obra (moagem de materiais menos resistentes

como restos de alvenaria e argamassas) (FIGURA 2.7).

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Figura 2.7 Moinho argamassadeira

Fonte: TENORIO (2007).

A seguir, para exemplificar, tem-se o tipo de fluxograma de processamento

reciclatório adotado nas usinas de reciclagem de Belo Horizonte, esquematizado na

Figura 2.8.

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Figura 2.8 Circuito das Usinas de Belo Horizonte

Fonte: LIMA (2013).

Figura 2.9 Detalhes da Usina BR-040: (a) escalpe/britador martelo e ao fundo

britador cônico (secundário); (b) produto na forma de bica corrida e ao fundo,

na última pilha, aparece a brita reciclada

Fonte: LIMA (2013).

Page 40: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA … · Figura 2.11 Faixas granulométricas recomendadas para areia pela NBR 7211/09 42 Figura 2.12 Representação esquemática do comportamento

39

Para definir de forma simples o processo de reciclagem dos resíduos da

construção civil, coletados em um centro urbano, pode-se usar o esquema da Figura

2.10.

Figura 2.10 Circuitos típicos da indústria recicladora emergente em países

como Brasil e China para produção de bica corrida e rachão

Fonte: LIMA (2013).

De acordo com KHATIB (2005 citado por PEDROZO, (2008), substituindo-se

no concreto a areia natural por agregado fino reciclado de tijolo, não há redução

substancial na resistência do concreto a longo prazo, mesmo em elevados níveis de

substituição do elemento natural pelo reciclado. Para isso, levou-se em conta um

fator água/cimento de 0,5 e a não utilização de aditivos plastificantes. Com

substituição de até 50% de areia natural, a resistência é similar àquela de referência,

visto que, com 100% de substituição, ocorre redução de menos de 10% da

resistência inicial do composto de referência.

Segundo PEDROZO (2008), houve o caso do estudo do uso do tijolo cerâmico

triturado para se tornar agregado miúdo reciclado para a produção de blocos de

concreto para pavimentação. Concluiu-se que o tijolo cerâmico fino diminuiu a

densidade e a resistência à compressão e aumentou a taxa de absorção de água

dos blocos de pavimentação.

Page 41: PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA … · Figura 2.11 Faixas granulométricas recomendadas para areia pela NBR 7211/09 42 Figura 2.12 Representação esquemática do comportamento

40

As principais diferenças dos chamados agregados reciclados em relação aos

agregados naturais são, conforme KHATIB (2005):

- a maior absorção de água dos seus grãos;

- a heterogeneidade na sua composição; e

- a menor resistência mecânica dos seus grãos.

De acordo com as determinações da RILEM (1994), o uso da parcela reciclada

inferior a 4 mm não é recomendada para a confecção de concretos. Ela estipula um

limite de 3% para uso do material passante na peneira de abertura 0,075 mm (mesh

200). Mesmo com algumas restrições impostas ao uso do agregado reciclado fino,

alguns autores afirmam que a parcela fina reciclada pode contribuir para a melhoria

de propriedades dos concretos confeccionados com ela. O teor de material cerâmico

contido nos reciclados finos e o seu grau de pozolanicidade contribuem para a

melhoria de algumas propriedades mecânicas, tais como a resistência à compressão

dos concretos reciclados (ZORDAN, 1997; XAVIER, 2001; LEVY,1997).

Na perspectiva de PEDROZO (2008), em sua pesquisa, a resistência à

compressão dos concretos estudados não foi piorada pela adição de agregados

miúdos reciclados em substituição aos agregados naturais. O bom desempenho,

segundo o autor, se deve basicamente à redução da relação água/cimento efetiva e

à melhoria da matriz cimentícia na mistura, o que acarretou aumento da resistência

à compressão dos concretos. A avaliação do material fino reciclado provou que esse

material possui propriedades pozolânicas importantes, principalmente devido ao fato

da existência de material argiloso presente na composição do resíduo reciclado. Tal

material pode ter contribuído para o bom desempenho do concreto reciclado nos

testes de resistência, que apresentou valores, senão iguais, superiores de

resistência em relação aos concretos de referência feitos com agregado natural. Nos

ensaios do módulo de deformação dos concretos reciclados, observou-se pequena

redução dos valores desse parâmetro condicionada ao aumento da substituição dos

agregados naturais finos pelos reciclados. Essa redução foi menor em idades

avançadas, quando a atividade pozolânica se faz mais presente. Para substituição

de 25% no teor de agregado da mistura estudada, os valores encontrados não

diferiram muito dos valores obtidos no respectivo concreto de referência.

Na Tabela 2.7, são relacionadas algumas propriedades dos agregados que irão

influenciar características importantes dos concretos. A qualidade do concreto está

diretamente ligada à qualidade dos agregados utilizados.

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41

Tabela 2.7 Propriedades do concreto influenciadas pelas características do

agregado

Fonte: BUEST NETO (2006).

Torna-se importante, no caso da presente pesquisa, observar que as

características granulométricas do material fino reciclado (AMR) utilizado devem se

adequar aos valores limites estipulados pela especificação técnica que define os

intervalos para a classificação das areias. Nesse caso, usou-se a NBR 7211/2004

(ABNT, 2004) como referência. Observa-se também que, para o uso em grande

escala, o peneiramento e a adequação granulométrica do agregado reciclado para a

confecção de concretos podem dificultar e encarecer os processos produtivos.

A Figura 2.11 faz referência aos valores limites estipulados para a

granulometria das areias segundo a Norma NBR 7211/2009 da ABNT.

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Figura 2.11 Faixas granulométricas recomendadas para areia pela NBR

7211/2009.

Fonte: BUEST NETO (2006).

2.1 Trabalhabilidade

Há unanimidade em afirmar que concretos com agregados reciclados

apresentam maior índice de consistência do que as misturas executadas com

agregados naturais de mesmo traço (LEITE, 2001). Tal afirmação pode ser

justificada tendo em vista a maior porosidade apresentada pelo material reciclado,

fator que acaba aumentando a absorção de água para os concretos reciclados e, por

consequência, diminuindo a quantidade de água livre nas misturas (LEVY, 1997;

HENDRIKS; PIETERSEN, 1998). BAZUCO (1999) comenta que a forma mais

angular das partículas de agregado reciclado contribui para a diminuição da

trabalhabilidade dos concretos produzidos com esse material. Outra observação

importante é que, quando o concreto for produzido com a utilização de agregados

miúdos reciclados, há redução ainda maior da trabalhabilidade do concreto. Quando

somente o agregado graúdo reciclado é utilizado, existe apenas uma pequena

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diferença na trabalhabilidade do concreto produzido com o agregado reciclado em

relação ao mesmo concreto produzido de forma convencional (HANSEN, 1992).

Segundo RASHWAN (1997 citado por LEITE ,2001), a trabalhabilidade de

concretos reciclados não depende principalmente da quantidade de água existente

na mistura, como é o caso do concreto feito com o agregado tradicional, mas sim da

forma e da textura do agregado reciclado utilizado. Essas duas características

proporcionam maior travamento das misturas de concreto, dificultando a mobilidade

das partículas que necessitarão de maior quantidade de pasta cimentícia para

quebrar essa barreira.

QUEBAUD e BUYLE-BODIN (1999) afirmam que a alta taxa de absorção de

água dos agregados reciclados é fator preponderante para a heterogeneidade dos

valores de índice de abatimento (slump-test) obtidos para os concretos reciclados. O

autor, citado por LEITE (2001), afirma que a pré-umidificação dos agregados

reciclados antes da mistura para a produção do concreto se apresenta como boa

alternativa para a solução desse problema. Além disso, pode-se usar aditivos

plastificantes embora o uso de tais produtos vá incidir diretamente sobre o custo final

do concreto assim produzido. Esse fato poderá anular as vantagens econômicas

oferecidas pelo uso dos agregados reciclados.

HANSEN e NARUD (1983) concluíram que os concretos produzidos com

agregados reciclados necessitam de 5% a mais de água livre na mistura para atingir

os mesmos índices de consistência dos concretos convencionais. Observaram que

existe maior coesão entre as partículas dos agregados reciclados, que deriva do

atrito produzido pelo contato destas, pois possuem forma mais angular e mais

áspera em relação à forma dos agregados naturais. Concluíram que a perda de

abatimento mais rápida observada nos concretos reciclados se deve, em parte, pela

contínua absorção de água promovida pelo agregado reciclado mesmo depois da

mistura terminada.

2.2 Resistência à compressão

Nos materiais sólidos, existe uma relação fundamental inversa entre

porosidade e resistência mecânica. No concreto, material trifásico, a porosidade de

cada fase exerce influência significativa sobre a resistência final do material. Como

os agregados naturais são normalmente densos e resistentes e o maior grau de

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porosidade fica na matriz de argamassa e na zona de transição pasta/agregado,

tem-se que a resistência do concreto é mais influenciada pelas características

dessas duas últimas fases. Deve-se considerar também que a zona de transição

contém microfissuras que também condicionam os valores de resistência. Embora a

relação água/cimento de um concreto seja o fator condicionante para a porosidade

da matriz de argamassa e da zona de transição, existem outros fatores que também

condicionam essa propriedade, tais como grau de adensamento, condições de cura

e características físicas do agregado. Segundo GONÇAVES (2001), é a relação

água/cimento que, independentemente de outros fatores, mais influencia essa

propriedade nas duas fases. Ele ainda cita que o agregado não condiciona a

resistência do concreto, fora os casos de concretos de alta resistência, pois, à

exceção dos agregados leves, a partícula do agregado é várias vezes mais

resistente que a matriz de argamassa e a zona de transição. É certo que algumas

propriedades da fase agregado podem influenciar o comportamento de outras fases,

tais como granulometria, tamanho e forma, mas normalmente não é o fator principal

condicionante para o valor final da resistência do concreto.

A resistência à compressão pode ser considerada, juntamente com o módulo

de elasticidade, como a propriedade mecânica mais importante a ser considerada

para a execução de cálculos nos projetos estruturais, tendo em vista que, em se

tratando de concreto armado, o concreto absorverá em seu volume o maior

montante dos esforços de compressão existentes nas estruturas projetadas. Todos

os materiais componentes do concreto afetam a sua resistência e, portanto, o seu

desempenho final. A resistência dos agregados deverá ser levada em consideração

na análise dos fatores que influenciam na resistência final dos concretos,

principalmente tendo em mente que os agregados constituem até 80% de toda

mistura. Nas diversas pesquisas realizadas, observa-se que existe uma conclusão

bastante comum: quanto maiores os teores de agregados reciclados presentes nas

misturas dos concretos estudados, menores serão as respectivas resistências à

compressão dos mesmos.

Segundo WAINWRIGHT (1993), concretos elaborados com agregado graúdo

reciclado e agregado miúdo reciclado juntamente apresentaram redução nas taxas

de resistência da ordem de até 20% quando comparados às mesmas misturas

utilizando apenas agregado graúdo reciclado e agregado miúdo natural.

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TAVAKOLI e SOROUSHIAN (1996 citados por LEITE, 2001) afirmam que,

quando a resistência do concreto de origem do agregado reciclado é maior que a do

novo concreto de referência, o desempenho mecânico do concreto reciclado é

melhor. O pesquisador concluiu ainda que aumento na perda por abrasão Los

Angeles e na taxa de absorção dos agregados reciclados pode levar a uma redução

nas resistências do concreto reciclado. Contrariando essas conclusões, KIKUCHI,

MIURA e DOSHO (1998) afirmam que, de forma geral, é possível produzir concretos

reciclados que tenham maior resistência que o concreto que deu origem aos

agregados reciclados. Os diferentes resultados apontados nessas pesquisas podem

ser provenientes da falta de padronização para a execução das misturas dos

concretos e resultantes também da heterogeneidade da composição do resíduo

reciclado.

Outro detalhe que vale a pena salientar é que os agregados reciclados

apresentam grande porosidade e altas taxas de absorção de água, características

que podem propiciar boa aderência do agregado à matriz do concreto e ganho de

resistência entre as primeiras idades e os 28 dias (MACHADO; AGNESINI, 1999).

Os autores sugerem que pode haver um efeito de cura interna do concreto, sendo

essa uma propriedade inerente aos agregados leves que possuem altas taxas de

absorção de água. A água de amassamento de uma mistura de concreto pode ser

absorvida rapidamente pelo agregado miúdo reciclado, mas pode ser liberada mais

tardiamente auxiliando no processo de cura interna das misturas.

Segundo os estudos comparativos realizados por SALEM e BURDETTE

(1998), em concretos com agregado graúdo reciclado e miúdo natural e concretos

com ambas frações naturais, foi observado que a resistência à compressão dos

concretos feitos com agregado graúdo reciclado era maior que a do concreto

convencional. Os autores da pesquisa associaram o melhor desempenho do

concreto reciclado à forma mais angular e à textura mais áspera do material

reciclado, que proporciona melhor aderência e maior travamento entre a pasta de

cimento e o agregado quando comparado ao agregado natural. Outra causa

apontada para o melhor comportamento do concreto reciclado foi a maior absorção

de água apresentada pelo agregado reciclado, que pode propiciar a diminuição do

fator água/cimento do concreto, ocasionando aumento da sua resistência mecânica.

Alguns autores afirmam que é possível obter concretos reciclados com

resistências superiores à de concretos convencionais de referência e atribuem esse

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comportamento à alta taxa de absorção dos agregados reciclados, quando esta não

foi compensada para a produção de concretos. Novamente, eles mencionam que

existe a possibilidade de cura úmida interna por parte do agregado reciclado durante

o endurecimento da pasta cimentícia, fenômeno que ocorre principalmente quando

se trata com agregados leves de alta porosidade e alto poder de absorção.

DESSY, BADALUCCO e BIGNAMI (1998, citados por LEITE, 2001) produziram

concreto com uma mistura que substituía 100% dos agregados naturais pelos

reciclados, uma mistura que substituía apenas o agregado graúdo natural por

reciclado e uma mistura de referência sem substituição com relações água/cimento

diversas. Concluíram que existe redução de cerca de 23% da resistência à

compressão para o concreto com 100% de agregado reciclado e de 13% para o

concreto que substituiu apenas o agregado graúdo natural.

RAVINDRARAJAH, LOO e TAM (1987) concluíram em seu trabalho que

concretos feitos com agregados reciclados apresentaram redução de até 10% nos

resultados obtidos para resistência à compressão e observaram que o uso do

agregado reciclado miúdo combinado ao agregado graúdo reciclado foi mais

prejudicial à resistência do concreto do que o uso de agregado graúdo reciclado e

miúdo natural.

As pozolanas são, por definição, substâncias constituídas de sílica e alumina,

que, em presença de água, se combinam com o hidróxido de cálcio e com os

diferentes componentes do cimento formando compostos estáveis à água e com

propriedades aglomerantes. As pozolanas estão classificadas em:

. Naturais: rochas vulcânicas submetidas à meteorização.

. Artificiais: argilas de qualquer tipo submetidas a altas temperaturas para

desidratação, porém a temperaturas abaixo do início da fusão.

. Subprodutos industriais: cinzas volantes, cinzas de casca de arroz e sílica

ativa, entre outros.

Levando-se em conta a possibilidade de reatividade pozolânica dos materiais

cerâmicos, acredita-se que agregados reciclados com altos teores desse material na

sua composição possam contribuir para a melhoria da resistência à compressão de

concretos ou argamassas recicladas, principalmente em idades mais avançadas

(LIMA, 1999). LEVY (1997) afirma que as argilas calcinadas em temperaturas não

muito elevadas e os tijolos e blocos cerâmicos de segunda linha representam os

materiais cerâmicos com maior índice de pozolanicidade.

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Diante dos variados resultados encontrados nas pesquisas, às vezes

contraditórios, torna-se claro que é necessário adotar parâmetros confiáveis e bem

estabelecidos para a execução de procedimentos na área de pesquisa com o

material reciclado. Fatores diversificados, como a composição do resíduo de

construção civil, a granulometria usada para as pesquisas, a idade e o tipo de cura

do concreto reciclado e a utilização variável do fator água/cimento nas misturas,

contribuem muito para a obtenção de resultados experimentais bastante

diversificados.

2.3 Módulo de elasticidade

O módulo de elasticidade de um concreto está ligado diretamente à sua

porosidade, em menor escala ao diâmetro máximo do agregado, forma, textura,

granulometria e composição mineralógica. METHA e MONTEIRO (1994) afirmam

que o fator que controla a capacidade de restrição da deformação da matriz

cimentícia de um concreto é a rigidez do agregado, que é determinada pela sua

porosidade. Segundo LEITE (2001), a matriz e o agregado do concreto reciclado são

muito mais porosos se comparados aos constituintes dos concretos convencionais.

Então, ocorre que a diminuição da massa específica dos concretos reciclados

também ocasiona a redução dos seus valores para o módulo de deformação.

Menores módulos de elasticidade implicam que os concretos reciclados se tornem

mais deformáveis que os concretos convencionais. Na pesquisa feita por

GONÇALVES (2001), ele conclui que o aumento do teor de substituição dos

materiais naturais pelos reciclados causa diminuição do valor do módulo de

elasticidade dos concretos reciclados. Ambas as frações do agregado reciclado,

tanto a graúda quanto a miúda, influenciam na diminuição dos valores do módulo.

Ele concluiu também que a fração miúda reciclada possui grande influência sobre a

diminuição dos valores dos módulos de deformação, chegando a ser maior do que a

influência da fração graúda. Ele termina afirmando que a ordem de grandeza dos

resultados apontados em sua pesquisa são semelhantes aos resultados de sua

pesquisa bibliográfica.

O módulo de elasticidade de um concreto é um dos parâmetros importantes

utilizados para o dimensionamento nos cálculos estruturais, pois relaciona a tensão

aplicada ao corpo de um objeto à deformação instantânea obtida. É também

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conhecido como módulo de Young e constitui um parâmetro mecânico que

proporciona a medida de rigidez de um material e está associado às suas

propriedades mecânicas, como tensão de escoamento, tensão de ruptura e

temperatura de propagação de trincas entre outros. É uma propriedade do material

que depende de sua composição química, microestrutura e defeitos (poros e

trincas). O módulo de elasticidade pode ser considerado como a relação entre a

tensão aplicada sobre um concreto e a sua capacidade de suportar as deformações,

o que retrata a sua rigidez. Quanto maior for o valor do módulo de elasticidade,

menor será a deformação do concreto submetido a esforços e, portanto, melhor será

a sua capacidade de suportar cargas sem apresentar deformações permanentes. A

avaliação desse parâmetro permite obter informações em relação ao comportamento

de uma estrutura de concreto armado no momento de sua desforma, impactos de

manutenção e desempenho geral. É interessante observar que um concreto que

apresenta alta resistência à compressão nem sempre será pouco deformável. O

módulo de elasticidade do concreto é influenciado tanto pelo módulo de elasticidade

do agregado como pelo teor em volume de agregado no concreto.

Considerando-se a natureza de material composto do concreto, pode-se notar,

observando-se a Figura 2.13, que tanto o agregado quanto a pasta de cimento,

quando submetidos, separadamente, à ação de esforços axiais, apresentam curvas

tensão/deformação sensivelmente lineares apesar de terem surgido menções à não

linearidade dessas relações no caso de pastas de cimento submetidas a tensões

elevadas. Para o concreto, em particular, a falta de linearidade começa com

pequenos valores de tensões. Por isso, atualmente, prefere-se falar em “módulo de

deformação”, e não em módulo de elasticidade do concreto. Mas a principal

explicação para a não linearidade acentuada da curva tensão/deformação do

concreto está nas interfaces entre o agregado e a pasta de cimento, nas quais se

desenvolvem microfissuras de aderência mesmo sob a ação de esforços

moderados. A microestrutura da zona de interface é diferente da microestrutura do

restante da pasta de cimento devido ao “efeito de parede”, que impede uma melhor

disposição das partículas de cimento junto às superfícies do agregado tanto graúdo

quanto miúdo. Isso significa que há menos cimento ali e, portanto, mais vazios junto

a essas superfícies. Em consequência, a pasta tem uma porosidade muito mais alta

na região da interface do que no restante do seu volume e, portanto, menor

resistência. Os valores do módulo de elasticidade do concreto podem ser

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melhorados, reduzindo o efeito de parede nas interfaces. O uso de pozolanas e de

fumo de sílica reduz esse efeito devido ao tamanho menor de suas partículas,

permitindo uma acomodação maior junto às superfícies do agregado. A diminuição

desse efeito negativo não só aumenta a resistência do concreto, devido ao efeito da

melhor aderência pasta/agregado, mas também melhora o módulo de deformação,

pois, como a pasta tem a sua fissuração retardada, o módulo de elasticidade do

agregado terá maior participação no comportamento elástico do concreto sob ação

de solicitações (VASCONCELOS; GIAMMUSSO, 2009).

A Figura 2.12 apresenta, de forma simplificada, a evolução da fissuração nas

regiões de interface pasta de cimento/agregado à medida que se aumentam as

cargas aplicadas ao concreto.

Figura 2.12 Representação esquemática do comportamento tensão/

deformação do concreto sob compressão simples

Fonte: VASCONCELOS e GIAMMUSSO (2009).

Observando-se a Figura 2.13, mostrada a seguir, conclui-se que o agregado é

a fase do concreto que possui a maior capacidade para restringir as deformações

provocadas pelos carregamentos aplicados aos corpos de concreto.

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Figura 2.13 Diagrama tensão/deformação para agregado, pasta de cimento e

concreto

Fonte: VASCONCELOS e GIAMMUSSO (2009).

Estudos citados por HANSEN (1992) apontam a diminuição do módulo de

deformação do concreto reciclado em relação ao concreto convencional, com

valores de redução que oscilam entre 15 e 40%. Segundo alguns trabalhos

apontados pelo autor (citado por LEITE, 2001), a diferença se faz maior quando,

além do agregado graúdo, o agregado miúdo reciclado é utilizado.

HANSEN (1992) ainda cita RAVINDRARAJAH et al. (1987), que concluíram em

sua pesquisa que os concretos produzidos com substituição total dos agregados

graúdos naturais pelos reciclados e usando agregado miúdo natural apresentam

valores para o módulo de deformação sempre menores que os valores obtidos para

os concretos convencionais. A diferença entre o módulo de deformação de

concretos reciclados e concretos convencionais aumenta à medida que cresce o

valor da resistência à compressão. Afirmam ainda que o valor do módulo de

deformação dos concretos reciclados que utilizam agregado miúdo reciclado

também é inferior quando comparado ao dos concretos convencionais.

METHA e MONTEIRO (1994) afirmam que o módulo de deformação do

concreto está ligado à fração volumétrica, à massa específica, ao módulo de

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deformação do agregado e da matriz de cimento, além da influência da zona de

transição pasta/agregado. Eles citam que o módulo de deformação está ligado

diretamente à sua porosidade, em menor escala ao diâmetro máximo do agregado,

forma, textura, granulometria e composição mineralógica. Afirmam que o fator que

controla a capacidade de restrição da deformação da matriz é a rigidez do agregado,

rigidez que é determinada pela sua porosidade. Para agregados de baixa

porosidade, os valores de módulo de deformação variam de 69 a 138 Gpa e, para

agregados menos densos, esses valores oscilam entre 21 e 48 Gpa. Os agregados

leves apresentam valores de módulo de deformação entre 7 e 21 Gpa, enquanto a

matriz cimentícia traz valores entre 7 e 28 Gpa. Esses valores são consequência

direta dos fatores: porosidade das pastas, fator água/cimento da mistura, grau de

hidratação do cimento, conteúdo de ar da mistura e da presença de minerais

aditivos. Na interface pasta/agregado, pode haver influência do conjunto de vazios,

da microfissuração existente na região e da cristalização de hidróxido de cálcio,

ajudando a definir as relações de tensão x deformação.

Segundo LEITE (2001), que cita Metha e Monteiro (1994), os módulos de

deformação para concretos reciclados se encontram próximos dos valores de

módulo apresentados pela matriz da pasta de cimento, visto que a composição dos

resíduos de construção e demolição se dá basicamente a partir de materiais de base

cimentícia, tais como concretos, argamassas de revestimento e assentamento de

alvenaria e também componentes cerâmicos porosos. Sendo assim, como a

porosidade do agregado é que controla a restrição da deformação da matriz, no

caso do agregado reciclado, o concreto reciclado produzido será mais deformável. A

matriz e o agregado de concreto reciclado são muito mais porosos se comparados

aos constituintes dos concretos convencionais. A diminuição da massa específica

dos concretos reciclados também ocasiona a redução dos valores do módulo de

deformação. A zona de transição do concreto reciclado pode ser influenciada por

uma melhoria na aderência das superfícies de contato embora esse fator isolado

não deva ser muito relevante na questão do aumento dos valores de módulos de

deformação para os concretos reciclados.

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2.4 Absorção de água e porosidade

A composição granulométrica dos agregados graúdos ou finos varia conforme

o tipo de resíduo processado, os equipamentos utilizados no processo de moagem e

a dimensão dos resíduos antes de serem processados. Segundo LIMA (1999), a

melhor maneira de usar o resíduo reciclado para a confecção de novos concretos e

argamassas é adequá-lo através do peneiramento, buscando obter curvas

granulométricas similares às da areia e da brita natural. Interessante que esse

procedimento segregatório pode levar ao aumento dos custos de reciclagem, à

dificuldades técnicas e ao desperdício de parcelas do material reciclado.

No estudo de MIRANDA e SELMO (2006), citados por PEDROZO (2008),

chegou-se à conclusão de que os agregados reciclados provenientes de blocos de

concreto apresentaram composição granulométrica mais contínua em relação aos

agregados de alvenaria, sendo considerados bons componentes para a produção de

argamassas.

A análise da questão da absorção de água por parte dos agregados reciclados

torna-se importante, pois esse fator poderá influir diretamente na relação

água/cimento dos concretos produzidos, ocasionando a redução desse valor. A

absorção de água dos reciclados deve ser levada em conta, pois pode comprometer

a trabalhabilidade do concreto reciclado produzido, tornando-o muito seco. Os

valores de absorção para os agregados reciclados dependem da composição do

resíduo reciclado e também da forma de obtenção deste. Normalmente, o agregado

reciclado apresenta maiores taxas de absorção em relação ao agregado natural.

TAM et al. (2006) citam que a absorção de água encontra-se entre 3 e 10% para o

agregado reciclado e menos de 1 até 5% para os agregados naturais. Esses valores

de absorção podem variar, obviamente, de acordo com o tipo de agregado utilizado

e com o tempo de ensaio de absorção para os agregados.

PEDROZO (2008) cita KHATIB (2005) dizendo que, em seu estudo com

concretos feitos com agregado fino reciclado, o valor da absorção foi de 6,2% para

agregados cerâmicos e 14,8% para os agregados provenientes de concretos. Para

os agregados naturais, o valor da absorção foi 0,8%.

POON e CHAN (2006) verificaram uma diminuição gradual da massa

específica do concreto em função do teor de substituição dos agregados naturais

pelos reciclados. Essa diminuição ocorre tanto para a utilização do agregado

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reciclado miúdo quanto para o reciclado graúdo. No estudo realizado por BRITO,

PEREIRA e CORREIA (2005) com agregados graúdos reciclados, a massa

específica dos concretos variou de 2349 kg/m3 para a mistura de referência a 2123

kg/m3 para a mistura feita com 100% de substituição do agregado natural. KATZ

(2003) afirma que a densidade da maioria dos concretos frescos feitos com

agregados naturais encontra-se na escala de 2400 kg/m3, enquanto que concretos

feitos com agregados reciclados apresentaram-se na faixa aproximada de 2150

kg/m3.

Segundo TENORIO (2007), na sua pesquisa, os concretos reciclados

apresentam, em geral, maior absorção de água e maior índice de vazios quando

comparados aos concretos de referência convencionais. Isso demonstra que os

agregados reciclados influíram de maneira negativa na porosidade dos concretos

reciclados. Também, foi notada uma tendência geral de diminuição da absorção de

água e do índice de vazios ao se mudar do agregado miúdo reciclado para a areia e

também ao usar agregados graúdos menos porosos. Por outro lado, tanto para os

concretos reciclados como para os concretos de referência, as duas propriedades

pareceram não ser sensíveis à alteração na relação água/cimento usada nas

misturas. Os concretos de composição semelhante apresentaram valores para

absorção e índice de vazios bem parecidos para as três relações água/cimento

apontadas na pesquisa 0,40, 0,50 e 0,67, respectivamente.

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54

CAPÍTULO 3

MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo, são descritos os procedimentos utilizados na sequência da

pesquisa feita com agregados reciclados, bem como os materiais utilizados.

Foram estudados traços de concreto clássicos usados na construção civil. O

concreto composto inicialmente pela mistura de água, cimento, agregado graúdo

natural (brita) e agregado miúdo natural (areia) teve o seu teor de agregado miúdo

natural substituído gradativamente por agregado miúdo reciclado (proveniente de

resíduos de construção e demolição).

A sigla AMR foi usada para agregado miúdo reciclado.

O estudo, para cada traço de concreto adotado na pesquisa (discriminados na

Tabela 8), foi feito com as seguintes condições:

- Condição 1: concreto de referência no seu traço original.

- Condição 2: concreto com substituição de 40% da sua massa de areia por

AMR.

- Condição 3: concreto com substituição de 60% da sua massa de areia por

AMR.

- Condição 4: concreto com substituição de 100% da sua massa de areia

por AMR.

Os traços de concreto adotados para a pesquisa foram tomados de uma tabela

de uso prático nos canteiros da construção civil e possuem, inclusive, a indicação da

sua provável resistência característica à compressão (fck). Os traços de concreto

sempre fazem referência ao volume ou à massa de cada componente utilizado na

sua composição na seguinte ordem: cimento, agregado miúdo (comumente a areia

ou o pó de brita) e agregado graúdo (normalmente a brita). Cada traço apresenta

também o seu próprio fator água/cimento, que define a quantidade de água para a

mistura dos materiais e a obtenção dos concretos. Os traços escolhidos para a

pesquisa são de concretos próprios para uso estrutural e são os seguintes:

- Traço 1- 1:2:4 em volume ou 1:2,17:3,52 em massa, possuindo fator

água/cimento igual a 0,68 (litros de água por quilo de cimento utilizado), resistência

à compressão provável aos 28 dias de idade em torno de 210 kgf/cm2 e consumo de

cimento de 297 kg por metro cúbico de concreto produzido. É um traço muito usado

na construção civil, pois possui consumo mais baixo de cimento, tornando-se uma

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opção econômica para a mistura de concretos. Pode ser usado para a fabricação de

pisos, muros de arrimo e elementos estruturais, tais como vigas, pilares e lajes de

concreto armado em obras de menor porte. A adoção do concreto com resistência

mínima de 20 MPa visa a uma durabilidade maior das estruturas.

- Traço 2-1:2:3 em volume ou 1:2,17:2,94 em massa, possuindo fator

água/cimento igual a 0,61 (litros de água por quilo de cimento utilizado), resistência

à compressão provável aos 28 dias de idade em torno de 254 kgf/cm2 e consumo de

cimento de 344 kg por metro cúbico de concreto produzido. Esse traço é

predominantemente usado em obras de médio e grande portes para a confecção de

concretos para serem usados em vigas, pilares e lajes de concreto armado. É

interessante salientar que os projetos da construção civil sempre trazem a

especificação da resistência à compressão dos concretos a serem utilizados nas

obras.

- Traço 3- 1:1 1/2: 3 em volume ou 1:1,63:2,94 em massa, possuindo fator

água/cimento igual a 0,49 (litros de água por quilo de cimento utilizado), resistência

à compressão provável aos 28 dias de idade em torno de 350 kgf/cm2 e consumo de

cimento de 387 kg por metro cúbico de concreto produzido. Traço de concreto usado

em obras de maior porte, em que os elementos estruturais (vigas e pilares) estão

sujeitos a maiores solicitações. Esse traço estabelece maior consumo de cimento

por quantidade de concreto produzida embora possa propiciar a redução das

dimensões de pilares e vigas estruturais, promovendo o aumento da velocidade das

obras e a diminuição do peso das estruturas, formas e armaduras.

Para a execução dos traços de concreto da pesquisa, foram utilizados os

seguintes materiais:

- Cimento Portland CPII E-32, comumente utilizado na construção civil.

- Brita de origem calcária retirada de pedreiras, com diâmetro mínimo

correspondendo a 12 mm e diâmetro máximo de 24 mm. Essa brita é comumente

designada como brita 1 e é muito utilizada na construção civil, pois o concreto

confeccionado com ela é largamente aplicado na produção de elementos estruturais.

- Areia obtida através da dragagem de leitos de rios, com granulometria

específica que a caracteriza como areia média.

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56

3.1 Agregado miúdo reciclado

O agregado miúdo reciclado obtido para a pesquisa originou-se do material

coletado em obras de construção e reformas residenciais, que foi, posteriormente,

acondicionado em sacos plásticos, sendo composto por:

- restos de blocos de concreto quebrados, inicialmente utilizados para construir

muros de fechamento em um lote;

- restos de tijolos maciços quebrados (cerâmica vermelha) obtidos a partir da

demolição de paredes em uma obra de reforma residencial;

- restos de argamassa de revestimento de paredes obtidos após a demolição

de reboque antigo em uma reforma residencial. Foram coletados separadamente os

restos de argamassa que se desprenderam da alvenaria de tijolos maciços na obra.

A Figura 3.1 mostra restos de tijolos, argamassa e concreto coletados,

provavelmente, em uma obra de demolição ou reforma.

Figura 3.1 Caçamba de coleta de resíduos da construção civil

Fonte: autoria própria.

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57

Após a coleta, o material obtido foi moído manualmente por meio da utilização

de uma pequena marreta de 1,5 kg. A moagem foi interrompida quando o material

adquiriu aspecto granulométrico semelhante ao da areia. O material obtido mediante

esse processo foi armazenado separadamente em baldes plásticos da seguinte

maneira:

- um balde plástico (18 litros) para os restos de blocos de concreto moídos;

- um balde plástico (18 litros) para os restos de tijolos cerâmicos maciços

moídos;

- um balde plástico (18 litros) para os restos de argamassa de alvenaria moída.

O material foi posteriormente submetido ao peneiramento utilizando-se a

peneira de Mesh 200 (abertura 0,075 mm), para que o material fino pulverulento

fosse retirado do corpo do material moído.

Na Figura 3.2, pode-se observar o resíduo de construção em dois momentos:

antes e depois de ser moído por uma marreta leve.

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(a)

(b)

Figura 3.2 Resíduo (a) no momento da trituração manual e (b) depois de moído

armazenado separadamente em recipientes de plástico

Fonte: autoria própria.

Os recipientes contendo os resíduos moídos foram levados para um canteiro

de obras, onde foram depositados dentro de uma betoneira de 400 litros (própria

para a execução de traços de concreto e argamassas). A betoneira foi previamente

lavada e seca de forma que sua superfície interna ficasse completamente limpa e

livre de umidade. Os resíduos foram, então, colocados no interior do balão da

betoneira, esvaziando-se cada balde plástico. A mistura foi feita de modo a obter-se

uma proporção final de 33,3% em volume de cada tipo de resíduo componente da

mistura após o processo de homogeneização (FIGURA 3.5). Após a colocação das

três frações, em volumes iguais, a betoneira foi acionada e girou continuamente por

dez minutos. Depois da conclusão desse procedimento, obteve-se um material

granular fino homogeneizado composto pelas frações de resíduos de blocos,

argamassa e tijolos cerâmicos.

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Figura 3.3 Detalhe da mistura das frações de AMR na betoneira

Fonte: autoria própria.

Foram determinadas em laboratório, seguindo as recomendaçoes da ABNT-

NBR NM 52:2009 (Determinaçao da massa específica de agregados miudos), as

massas específicas da areia e do agregado miúdo reciclado utilizados nesta

pesquisa, que apresentaram os valores de 2,54 g/cm³ para a areia natural e de 2,36

g/cm³ para a composiçao final, que foi caracterizada como agregado miúdo reciclado

neste estudo.

A Tabela 2.8 mostra os resultados em percentuais e em massa das frações

granulométricas do agregado reciclado resultante, utilizado na pesquisa. O material

enquadrou-se na curva de caracterização granulométrica recomendada para areias

(FIGURA 3.4).

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Tabela 2.8 Valores encontrados em laboratório após o peneiramento da

amostra do agregado reciclado (AMR). Análise granulométrica

ABERTURA

PENEIRAS MESH

PESO RETIDO

(g)

PERCENTUAL

RETIDO

(%)

PERCENTUAL

ACUMULADO

(%)

FUNDO 12,44 2,34 99,63

100 15,78 2,97 97,29

80 93,78 17,63 94,32

48 116,15 21,83 76,69

28 61,66 11,59 54,86

20 106,87 20,09 43,27

9 82,45 15,50 23,18

4 40,87 7,68 7,68

T = 530 g T = 99,68%

Perda = 0,37%

O peneiramento mecânico, realizado para possibilitar a construção da curva

granulométrica do AMR (FIGURA 3.4) usado na pesquisa, foi feito no laboratório

universitário utilizando-se um agitador de peneiras eletromagnético da marca Bertel.

O equipamento, nessa operação, foi ligado por 15 minutos e operou com uma

frequência de 3 Hz. A curva do material estudado, destacada em verde na Figura

3.4, situa-o nos limites estabelecidos pela NBR 7211/2004 da ABNTE para

agregados miúdos.

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Figura 3.4 Curva de caracterização granulométrica do agregado miúdo

reciclado (AMR) utilizado na pesquisa

3.2 Fabricação e cura do concreto

O procedimento seguinte na pesquisa foi a fabricação dos corpos de prova de

concreto para cada traço estudado, atendendo à respectiva condição a ser

considerada em cada caso. O concreto foi misturado utilizando-se uma colher de

pedreiro e um carrinho de mão, pois a betoneira não mistura bem quando são

usadas pequenas quantidades de material. Os corpos de prova foram moldados

conforme a norma NBR 5738 (ABNT, 2015) (Moldagem e cura de corpos de prova

cilíndricos de concreto), conforme mostra a Figura 3.5. Foram feitos sete corpos de

prova (utilizando-se formas cilíndricas de PVC) para cada condição adotada na

pesquisa, totalizando-se 84 corpos de prova, de acordo com o seguinte:

- Traço 1:2:4:

. 7 CPs com areia natural sem substituição de material.

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. 7 CPs com 40% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

. 7 CPs com 60% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

. 7 CPs com 100% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

- Traço 1:2:3:

. 7 CPs com areia natural sem substituição de material.

. 7 CPs com 40% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

. 7 CPs com 60% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

. 7 CPs com 100% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

- Traço 1:1 1/2:3:

. 7 CPs com areia natural sem substituição de material.

. 7 CPs com 40% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

. 7 CPs com 60% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

. 7 CPs com 100% de substituição (em massa) da areia natural por agregado

miúdo reciclado.

(a) (b)

Figura 3.5 Detalhes (a) da preparação do concreto e (b) do momento da

moldagem dos corpos de prova

Fonte: autoria própria.

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Vale lembrar que a quantidade de brita (em massa) foi mantida constante para

cada condição estudada nos traços escolhidos, variando-se apenas o teor de

agregado miúdo reciclado nas misturas em substituição à areia natural. O fator

água/cimento foi, também, uma variável mantida constante na execução de cada

traço, independentemente da condição estudada. Não houve incremento de água na

execução dos traços, procedimento normalmente utilizado para compensar as altas

taxas de absorção dos agregados reciclados na produção de concretos.

Primeiramente, foram depositados a areia e o agregado miúdo reciclado no

carrinho. No momento seguinte, foi colocada a quantidade de cimento

correspondente a cada traço. Em seguida, colocou-se a brita. E, por último,

adicionou-se a água à mistura, gradativamente à medida que o concreto se tornava

pastoso e homogêneo. Os corpos de prova cilíndricos foram moldados com diâmetro

da base igual a 100 mm e altura igual a 200 mm (FIGURA 3.6).

Figura 3.6 Aspecto dos corpos de prova de concreto

Fonte: autoria própria.

A Tabela 2.9 traz as informações detalhadas necessárias para a produção dos

concretos utilizados na pesquisa, tais como: as quantidades de cimento, areia, AMR,

brita e água usadas em cada situação estudada, e também fornece os volumes de

concreto produzidos.

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Tabela 2.9 Composição dos traços de concreto da pesquisa

Fonte: autoria própria.

A cura dos corpos de prova de concreto foi feita ao ar. Eles foram guardados

em local coberto e fechado com temperatura ambiente (22 a 30° C), mantidos por

um período de 60 dias até o momento de serem transportados para o laboratório,

onde foi iniciada a etapa dos experimentos.

A idade de cura normalmente utilizada para ensaios em corpos de concreto é

de 28 dias. Na pesquisa, foi usado um período de cura mais prolongado para o

concreto, de forma que as reações químicas que potencialmente pudessem ocorrer

tivessem o seu efeito também avaliado nos diversos testes.

A Figura 3.7 mostra o local de estocagem dos corpos de concreto e o seu

aspecto após a cura e desforma.

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(a)

(b)

Figura 3.7 Corpos de prova: (a) local da cura e (b) aspecto dos corpos de

concreto curados

Fonte: autoria própria.

3.3 Ensaio do tronco de cone

Esse ensaio é o primeiro a ser realizado nos concretos no momento de sua

fabricação (concreto fresco) e foi executado assim que a mistura dos concretos

finalizou, antes da moldagem dos corpos de prova. Esse é um ensaio comum em

canteiros de obra, ocorre sempre que há uma concretagem na construção e é

executado também quando o concreto é entregue na obra por empresas

concreteiras (FIGURA 3.9). O ensaio é feito retirando-se concreto do balão do

caminhão betoneira. Os valores encontrados no teste traduzem o comportamento do

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concreto relacionado à sua fluidez ou trabalhabilidade e definem a sua aplicabilidade

nas diferentes partes de uma estrutura, tais como vigas, lajes, pilares e fundações.

Logo após a mistura do concreto, nas condições especificadas pela pesquisa,

foi feito o ensaio de abatimento do tronco de cone pelo método do Cone de Abrams,

que consiste em preencher um cone metálico em três camadas com o concreto

produzido, utilizando-se uma colher própria para o experimento e fazendo-se o

adensamento do concreto no interior do cone por meio de golpes aplicados com um

bastão de ferro, conforme o método especificado pela NBR 12655 (ABNT, 2015).

Em seguida, o cone é suspenso; consequentemente, há um abatimento na massa

de concreto após ser desenformada (FIGURA 3.8). Mede-se, então, com uma trena,

o valor do abatimento alcançado. Tornou-se comum chamar o abatimento do tronco

de cone de slump do concreto. Para um concreto ser bombeável, ele deve

apresentar slump maior do que 70 mm. É recomendável que os valores de slump de

um concreto situem-se entre 80 e 100 mm (9 ± 1) para que o seu bombeamento seja

eficiente. Pode-se dizer que o abatimento do concreto nesse ensaio caracteriza a

sua trabalhabilidade.

Figura 3.8 Esquema do teste de fluidez do concreto (Slump) ou ensaio do cone

de Abrams

Fonte: autoria própria.

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Figura 3.9 Ensaio do abatimento do tronco de cone de Abrams

Fonte: autoria própria.

3.4 Ensaio para o cálculo do módulo de elasticidade dinâmico

Posteriormente, os corpos de prova, com a idade de 60 dias, foram submetidos

à regularização das suas superfícies circulares (superior e inferior) por meio do

desgaste da superfície do concreto feito pelo atrito contra um disco giratório de

superfície áspera. A máquina utilizada (FIGURA 3.10) promoveu o nivelamento das

superfícies dos corpos de prova, bem como garantiu que as superfícies circulares

destes se tornassem planas e paralelas, eliminando as irregularidades superficiais.

O processo descrito preparou os corpos de prova para os ensaios subsequentes.

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Figura 3.10 Equipamento usado para planificação e polimento de superfícies

Fonte: autoria própria.

Para a aferição do módulo de elasticidade dos concretos produzidos, utilizou-se

o seguinte procedimento: após 65 dias de cura, os corpos de prova foram analisados

através de um aparelho emissor de ultrassom. No teste, a onda ultrassônica

produzida pelo equipamento percorreu o corpo de prova longitudinalmente e o

tempo do percurso da onda foi registrado pelo aparelho denominado PUNDIT

(Portable Ultrasonic Non-destructive Digital IndicatingTester).

O tempo de percurso gasto pela onda em sua trajetória (representada pela

altura do corpo de prova) é fornecido pelo aparelho em microssegundos. Foram

feitas cinco leituras, variando-se a posição da amostra e, assim, anotando-se o

tempo de percurso da onda por cada corpo de prova analisado.

O módulo de elasticidade dinâmico (Ed) foi determinado utilizando-se a

equação a seguir, de acordo com a norma BS-1881 (BSI, 1990).

𝐸𝑑 = 𝛾 . 𝑉2 (1+𝑣)(1−2𝑣)

(1−𝑣) (1)

em que:

𝛾 = densidade volumétrica do concreto no estado endurecido (em kg/m³);

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𝑉 = velocidade com que a onda ultrassônica percorre o corpo de prova no

sentido longitudinal (em km/s);

𝑣 = coeficiente de Poisson que, segundo CALLISTER (2002), é a razão

negativa entre a deformação transversal e longitudinal quando um corpo de prova é

submetido a uma carga de compressão axial. Conforme CARNEIRO (1999), para

concretos, o coeficiente pode ser adotado com o valor de 0,20.

A velocidade da onda ultrassônica foi obtida utilizando-se a equação:

𝑉 =𝐷

𝑡 (2)

em que:

D = altura do corpo de prova (em km);

t = tempo (em segundos) que a onda ultrassônica leva para percorrer a

distância D, obtido através do equipamento PUNDIT (FIGURA 3.11).

(a)

(b)

Figura 3.11 (a) Aparelho PUNDIT e (b) corpo de prova ensaiado

Fonte: autoria própria.

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70

3.5 Ensaio de resistência à compressão

Depois de realizado o teste não destrutivo para o cálculo do módulo de

elasticidade dinâmico, os corpos de prova (cinco por cada condição estudada), uma

vez que os outros dois seriam utilizados em outros testes foram submetidos ao

ensaio destrutivo de compressão simples na prensa de compressão EMIC modelo

PC100C. Foram ensaiadas 60 amostras no total. O ensaio foi realizado de acordo

com a NBR 5739 (ABNT, 2007) (FIGURA 3.12). O equipamento utilizado mostrava o

valor da carga máxima normal de compressão (F), obtido no momento da ruptura

dos corpos de prova. O cálculo da resistência à compressão dos concretos é dado

por:

𝑓𝑐 =4𝐹

𝜋𝐷2 (3)

em que:

fc = Resistência a compressão, em MPa

F = força máxima alcançada, em N

D = diâmetro do corpo de prova, em mm

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(a)

(b)

Figura 3.12 (a) Prensa de compressão EMIC modelo PC100C e (b) aspecto dos

corpos de prova após o ensaio de resistência a compressão

Fonte: autoria própria.

3.6 Porosidade e absorção de água

Inicialmente, foram reservados dois corpos de prova para cada condição de

mistura adotada na pesquisa. Eles foram utilizados na análise do concreto relativa à

porosidade e à absorção de água. Os corpos de prova que inicialmente possuíam

altura igual a 20 cm foram divididos transversalmente ao meio. Originaram-se,

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assim, quatro corpos de prova de concreto, por condição estudada, para serem

submetidos ao ensaio para a determinação da porosidade e absorção. Os corpos de

prova cilíndricos ensaiados apresentavam diâmetro da base e altura igual a 10 cm,

totalizando 48 amostras.

Os corpos de prova foram armazenados na sala de estoque do laboratório e

mantidos em temperatura ambiente durante o período de estocagem. As amostras

foram pesadas no estado seco, utilizando-se uma balança digital. Posteriormente,

foram depositadas em um recipiente que continha água na temperatura de 23º C,

devidamente lacrado, de modo que ficassem submersas. Os corpos de prova foram

mantidos submersos por um período de 48 horas. Foram ensaiados dois lotes de

corpos de concreto, cada um possuindo 24 amostras. Utilizou-se uma bomba de

vácuo para potencializar a saturação das amostras. A bomba de vácuo foi ligada ao

recipiente que continha os corpos de prova por um período de 30 minutos para cada

lote ensaiado. Terminado o período de submersão de 48 horas, os corpos de prova

foram pesados submersos com o auxílio de um suporte e, em seguida, procedeu-se

à pesagem destes no seu estado de saturação.

No final dos procedimentos, obtiveram-se os valores necessários para a

determinação da porosidade, absorção e densidade aparente dos concretos

estudados dados pelas expressões a seguir:

𝑃 =𝑀𝑠𝑎𝑡−𝑀𝑠

𝑀𝑠𝑎𝑡−𝑀𝑖𝑥100 (4)

𝐴 =𝑀𝑠𝑎𝑡−𝑀𝑠

𝑀𝑠𝑥100 (5)

𝐷𝑎𝑝 =𝑀𝑠

𝑀𝑠𝑎𝑡−𝑀𝑖𝑥𝐷á𝑔𝑢𝑎 (6)

em que:

P = porosidade

A = absorção

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Dap = densidade aparente

Dágua = densidade da água (1000 kg/m3).

Ms = massa do corpo de prova seco

Msat = massa do corpo de prova saturado por água.

Mi = massa do corpo de prova saturado imerso em água.

A Figura 3.13 mostra os corpos de prova submersos em água dentro do

recipiente usado no ensaio. O objetivo dessa etapa é conseguir a saturação dos

corpos de concreto.

(a)

(b)

Figura 3.13 Detalhe do ensaio de absorção e porosidade (a) corpos de prova

submersos e (b) recipiente do ensaio lacrado e conectado a bomba de vácuo

Fonte: autoria própria.

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74

CAPÍTULO 4

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Analisando-se os valores encontrados, nos diversos experimentos realizados,

foi possível avaliar as seguintes propriedades dos concretos fabricados para a

pesquisa: trabalhabilidade, densidade aparente, porosidade e absorção de água,

módulo de elasticidade e resistência a compressão.

4.1 Trabalhabilidade

A trabalhabilidade de um concreto é uma propriedade transitória deste e está

relacionada à facilidade de adensamento e moldagem de um concreto. A

consistência de uma mistura ou traço de concreto deve ser sempre levada em

consideração, pois os valores encontrados nos testes irão influenciar diretamente

nas questões de aplicabilidade do concreto em formas estruturais. A Figura 4.1

mostra os valores do Slump-test para os concretos estudados, tendo sido feita uma

única medida por condição de traço estudado. Pode-se observar os valores de

abatimento do tronco de cone de Abrams decaírem, levando-se em consideração,

inicialmente, os concretos de referência feitos unicamente com areia natural. À

medida que se substituiu a areia pelo agregado miúdo reciclado, teve-se uma

diminuição nas medidas de abatimento. Esse fenômeno ocorre, pois o agregado

miúdo reciclado apresenta altos índices de absorção de água. Como parte da água

de amassamento dos concretos é absorvida pelo agregado reciclado, passou-se a

contar com menos água livre na mistura de concreto, fator que produz o

enrijecimento da massa e que dificulta a aplicação dos concretos reciclados. Quanto

maior for o teor de substituição da areia de um concreto por agregado miúdo

reciclado, menores serão os valores obtidos para o abatimento deste no ensaio do

tronco de cone.

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Figura 4.1 Valores obtidos nos ensaios de abatimento do tronco de cone de

Abrams para os concretos nas condições estudadas na pesquisa

Fonte: autoria própria.

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76

Uma boa medida para melhorar a condição de trabalhabilidade de um concreto

reciclado seria mudar a condição de umidade do agregado reciclado antes da

mistura do concreto. A dosagem com agregado reciclado úmido diminuiria o efeito

da absorção dos agregados, tornando a consistência dos concretos mais fluida. É

importante ter uma boa fluidez no concreto nos momentos das concretagens

(FIGURA 4.2).

Figura 4.2 Momento do lançamento e do adensamento mecânico do concreto

em canteiros de obras.

Fonte: autoria própria.

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De acordo com as recomendações da RILEM (1994), para que uma mistura de

agregado reciclado consiga o mesmo abatimento obtido para um concreto

convencional, o índice de água livre da mistura deverá ser 5% maior em relação ao

índice do concreto de referência. CORREIA, BRITO e PEREIRA (2006) recomendam

a pré-umidificação dos agregados reciclados por um período de 30 minutos, a fim de

compensar os altos índices de absorção do material reciclado.

Torna-se importante notar que a adição de água para compensar os efeitos da

absorção dos agregados reciclados elevará o fator água/cimento dos concretos

produzidos. Sendo assim, pode-se obter menores valores de resistência à

compressão e módulo de elasticidade para os concretos reciclados assim

produzidos.

A adição de produtos plastificantes para os concretos reciclados, como

alternativa para aumentar a sua fluidez e trabalhabilidade, pode ser um fator

antieconômico no processo de produção destes.

Observou-se que os valores de abatimento nos concretos estudados tornaram-

se menor à medida que o fator água/cimento dos traços de concreto adotados

diminuía. Ocorre que, quanto menor for a quantidade de água de amassamento

indicada para a fabricação de um determinado traço de concreto, considerando-se a

alta absorção provocada pelos reciclados, menor também será a quantidade de

água disponível para a mistura dos traços. Tomando-se essa afirmação, pode-se

concluir que concretos com baixos fatores água/cimento serão os mais prejudicados

com relação à sua trabalhabilidade, tornando-se concretos muito rígidos no seu

estado fresco, principalmente aqueles com altos índices de agregados reciclados

incorporados. De acordo com os resultados da pesquisa, observa-se que apenas os

concretos de referência nos traços 1 e 2, e o concreto no traço 1, com 40% de AMR,

podem ser bombeáveis (Slump > 70 mm), sem a adição de substâncias

plastificantes. A adição de água nos concretos reciclados acima dos valores

estipulados pelo fator água/cimento de cada traço (como forma de compensar a

absorção dos reciclados) pode melhorar a trabalhabilidade, mas pode também

prejudicar propriedades importantes, tais como resistência à compressão e módulo

de elasticidade dos concretos.

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4.2 Densidade aparente

A densidade aparente de um concreto é uma propriedade física que é

influenciada pelo tipo de agregado usado na confecção dos concretos, pela

quantidade de água presente na mistura, bem como pela porosidade existente no

concreto no seu estado endurecido. O adensamento de um concreto, processo

executado no momento de uma concretagem (feito manualmente ou por meio de

equipamentos mecânicos), pode ter também grande influência na porosidade e,

consequentemente, influenciar os valores da densidade dos corpos de concreto

endurecidos.

O agregado miúdo reciclado é um agregado mais leve do que a areia, fator que

pode justificar a tendência dos concretos reciclados a apresentarem uma menor

densidade quando comparados aos concretos convencionais, conforme aponta a

Figura 4.3.

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Pvalor = 0.009; R² = 65,28%; P(AD) = 0, 279.

Pvalor = 0.005; R² = 69,60%; P(AD) = 0, 297.

Pvalor = 0;R² = 72,39%;P(AD) = 0,918.

Figura 4.3 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados

para a determinação da densidade aparente dos concretos nas condições

estudadas na pesquisa

Fonte: autoria própria.

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BAZUCO (1999) observou que o valor de massa específica dos agregados

reciclados são de 5 a 10% menores quando comparados aos valores apresentados

pelos agregados naturais. É importante salientar que os valores de massa específica

podem apresentar pequena variação de acordo com a origem e granulometria do

material reciclado.

Conforme HANSEN (1992), os valores de massa específica de agregados

reciclados originários de concreto oscilam entre 2,12 e 2,70 kg/dm³ de acordo com

os agregados originais utilizados. KHATIB (2005) cita, em seu trabalho, que os

valores de massa específica encontrados para os agregados miúdos contendo

cerâmica triturada foi de 2,05 kg/dm³ e para os agregados reciclados miúdos

originários da moagem de concretos foi de 2,34 kg/dm³. KATZ (2003) comenta que a

densidade da maioria dos concretos frescos feitos com agregados naturais encontra-

se na faixa de 2400 kg/m³, enquanto que o concreto feito com agregados reciclados

apresenta a sua densidade com valores próximos a 2150 kg/m³.

Torna-se significativo notar, segundo o que afirma LEITE (2001), que as

variações nos valores das massas específicas entre os agregados reciclados miúdos

e o agregado miúdo natural (areia) podem trazer consequências na dosagem dos

concretos. Existe a necessidade de realizar uma compensação da quantidade de

material reciclado a ser utilizada nas misturas de concreto quando traços em massa

convencionais são aplicados aos concretos reciclados. Sem essa metodologia, o

volume de material reciclado correspondente à massa de agregado natural seria

maior, resultando em uma distorção entre os volumes de concreto tradicional e

reciclado produzidos a partir de um mesmo traço unitário.

Cada traço estudado nesta pesquisa teve o seu fator água/cimento mantido

constante, variando-se apenas o teor de substituição da areia em cada condição

estudada. Os valores apresentados na Figura 4.3 correspondem à média dos

valores encontrados para o total de quatro corpos de prova ensaiados por condição.

A variável S indica o desvio-padrão da série.

Conforme se pode notar, o aumento do nível de substituição do material natural

pelo reciclado é acompanhado por uma diminuição da densidade dos concretos

reciclados. Pode-se afirmar, com base na análise estatística, que, para o traço 1 e o

traço 2, a densidade do concreto de referência (teor 0 de AMR) encontrada foi a

maior, enquanto que os concretos com 40%, 60% e 100% de substituição da areia

por AMR apresentaram valores médios menores (iguais) para densidade aparente.

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No traço 3, que possui o menor fator água/cimento e o maior consumo de cimento

por quantidade de concreto produzida, os valores médios da densidade encontrados

foram iguais para os concretos com 0,40% e 60% de teor de AMR; nesse caso,

houve redução nos valores de densidade somente quando o teor de substituição da

areia atingiu 100%. Pode-se concluir daí que os traços de concreto mais ricos

passam por uma menor redução de sua densidade com o aumento do teor de

substituição dos agregados naturais, enquanto que essa redução nos valores da

densidade para os concretos mais pobres se mostra mais acentuada já nos teores

mais baixos de substituição. Isso provavelmente ocorre porque as quantidades de

agregados, nos traços menos ricos em cimento, são maiores em relação à

quantidade de cimento usada. Nesta pesquisa, encontrou-se um valor médio de

redução da densidade dos concretos reciclados em relação aos convencionais de

aproximadamente 5%. É importante salientar que a redução do peso de materiais

como o concreto é interessante, pois pode propiciar, por exemplo, a redução das

dimensões de elementos estruturais na construção de fundações.

4.3 Porosidade e absorção de água

De acordo com a análise estatística (FIGURA 4.4) dos valores encontrados no

ensaio para a determinação da porosidade, observa-se que no traço 1 os concretos

com teores de 40% e 100% de substituição do material natural apresentaram as

maiores médias para porosidade, enquanto os níveis de substituição 0% e 60%

apresentaram menor porosidade. No traço 2, apesar da variação da quantidade de

AMR, os níveis de porosidade mantiveram-se constantes; ou seja, não se detectou

aumento da porosidade dos concretos à medida que se aumentou o uso do material

reciclado. No traço 3, o teor de substituição de 100% apresentou a maior média para

a porosidade, enquanto os outros teores (0,40% e 60%) apresentaram médias

menores estatisticamente iguais para a porosidade.

Pode-se observar, por meio da Figura 4.4, que a porosidade tende a aumentar

à medida que se aumenta o fator água/cimento e que se diminui o consumo de

cimento nos traços de concreto produzidos. Esses dois fatores condicionam a

porosidade da matriz de argamassa dos concretos. Normalmente, os concretos com

o teor de AMR igual a 100% tendem a apresentar maiores níveis de porosidade

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quando comparados a concretos convencionais. Para os traços 1 e 3, os

percentuais de porosidade registrados apresentaram aumentos de 21% e 27%,

respectivamente, em relação ao concreto de referência, tomando-se por base os

valores médios de porosidade encontrados na pesquisa.

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Pvalor = 0,015;R² = 60,49%;P(AD) = 0,908.

Pvalor = 0.182.

Pvalor = 0.048; R² = 46,22%; P(AD) = 0,918.

Figura 4.4 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados

para a determinação da porosidade dos concretos nas condições estudadas

na pesquisa

Fonte: autoria própria.

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Pode-se dizer que as propriedades do concreto denominadas porosidade e

absorção de água estão diretamente relacionadas. Sendo assim, quanto maior for a

porosidade de um concreto, maior também será a absorção de água promovida por

ele. Essa afirmação foi confirmada na presente pesquisa. A porosidade de um

concreto está diretamente ligada às características de sua matriz de argamassa, que

possui vazios capilares que podem ou não estar conectados. No caso dos concretos

reciclados, como a matriz de argamassa possui agregado reciclado, que apresenta

altas taxas de absorção de água, consequentemente, os valores de absorção para

os concretos reciclados tendem a ser maiores quando comparados aos concretos

tradicionais feitos com a areia natural. No caso de concretos reciclados fabricados

com o agregado graúdo reciclado em substituição à brita, pode-se considerar

também que serão detectados maiores índices de porosidade e absorção de água

por ocasião da análise desses concretos.

HANSEN e NARUD (1983) concluíram em sua pesquisa que o tamanho das

partículas que compõem o material reciclado influi diretamente nos valores de

absorção de água do agregado. Sendo assim, os agregados reciclados miúdos,

compostos por partículas menores, apresentarão maiores valores para a absorção

de água.

Os valores para a absorção de água em um concreto endurecido são

influenciados pela porosidade de seus componentes; ou seja, pela quantidade de

água que os seus constituintes podem absorver e pela consistência do concreto no

estado fresco. O aumento de superfície específica originado pela substituição da

areia pelo material reciclado aumenta também as taxas de absorção dos concretos

reciclados.

Os concretos reciclados, na presente pesquisa, apresentaram consistência

muito rija no estado fresco. Naturalmente, como há menos água livre nas misturas

feitas utilizando-se reciclados (devido às altas taxas de absorção dos agregados

miúdos reciclados), há uma considerável perda de trabalhabilidade à medida que se

aumenta o teor de agregado miúdo reciclado nos traços. Um concreto de

consistência muito rija no seu estado fresco produzirá corpos endurecidos mais

porosos, uma vez que a água funciona também como lubrificante interno na pasta

de concreto nos momentos de concretagens e preenchimento de formas. Sendo

assim, o concreto que apresenta consistência muito rija no estado fresco terá menos

condições de produzir peças de concreto endurecido com baixa porosidade. Os

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85

vazios de uma peça de concreto podem ser representados pelos seus capilares, por

pequenas bolhas de ar aprisionadas no interior de sua matriz ou por grandes falhas

(“brocas”) produzidas nos momentos das concretagens. As brocas ocasionalmente

encontradas em peças estruturais de concreto são uma consequência do uso de

concretos pouco fluidos e também de falhas na operação de lançamento e

adensamento do concreto em suas formas (FIGURA 4.5).

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Figura 4.5 Detalhe de peças estruturais de concreto com falhas de

concretagem (*brocas*)

Fonte: autoria própria.

Segundo MEHTA e MONTEIRO (2008), a absorção de água, bem como as

percentagens de vazios de um concreto aumentam à medida que se aumenta o fator

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água/cimento nos traços de concreto. Essa conclusão também é confirmada pela

presente pesquisa.

Normalmente, nas pesquisas consultadas, é citado o aumento do valor da

absorção de água e da porosidade com a substituição do material natural pelo

agregado reciclado. GONÇALVES (2001) afirma que, para os concretos reciclados,

a influência dos agregados graúdos reciclados em relação à sua porosidade e

absorção de água é mais pronunciada, pois o graúdo reciclado possui uma

porosidade muito maior do que a do material natural (brita). Como o agregado

graúdo reciclado está envolvido por uma matriz de argamassa mais densa, no caso

de concretos de alta resistência (baixo fator água/cimento), a influência dos

reciclados graúdos será mais significativa quando se analisarem as propriedades já

citadas. No seu trabalho, realizado com quatro dosagens de concreto utilizando fator

água/cimento igual a 0,41, em que ele usa um concreto de referência e outras três

dosagens alternando o uso de reciclados, a conclusão obtida é de que os valores de

absorção de água e porosidade para os concretos reciclados são sempre maiores

do que os valores encontrados para o concreto natural (concreto de referência).

As características relacionadas à porosidade e absorção de água dos

concretos reciclados devem ser observadas tendo em vista a durabilidade das

estruturas que podem ser produzidas com esses materiais. Já existem algumas

normas com recomendações, por exemplo, para recobrimentos mínimos de

armaduras de concreto armado feito com reciclados, conforme o grau de

agressividade no meio ambiente. Será necessário incrementar as pesquisas com

agregados reciclados como forma de obter valores confiáveis para a sua utilização,

levando-se também em consideração a heterogeneidade de sua composição.

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Pvalor = 0.011; R² = 63,53%; P(AD) = 0, 839.

Pvalor = 0.231.

Pvalor = 0.019; R² = 57,51%; P(AD) = 0, 721.

Figura 4.6 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados

para a determinação da absorção de água dos concretos nas condições

estudadas na pesquisa

Fonte: autoria própria.

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Nesta pesquisa, após a análise estatística dos dados, observou-se o seguinte:

no traço 1, os concretos com teores de 40% e 100% de substituição do material

natural apresentaram as maiores médias para absorção de água, enquanto os níveis

de substituição 0% e 60% apresentaram menores valores para a absorção. No traço

2, apesar da variação da quantidade de AMR, as médias de absorção mantiveram-

se constantes; ou seja, não se detectou aumento da absorção de água dos

concretos à medida que se aumentou o uso do material reciclado. No traço 3, o teor

de substituição de 100% apresentou a maior média para a absorção, enquanto os

outros teores (0,40% e 60%) apresentaram médias menores estatisticamente iguais

para absorção de água. Torna-se fácil concluir que os valores encontrados para

absorção de água de um concreto crescem à medida que aumenta a sua porosidade

ou percentagem de vazios. Para os traços 1 e 3, os percentuais de absorção de

água registrados apresentaram um aumento de 24% e 34%, respectivamente, em

relação ao concreto de referência, tomando-se por base os valores médios de

absorção de água encontrados na pesquisa.

4.4 Módulo de elasticidade dinâmico

No presente estudo, após a análise estatística dos dados, conclui-se que em

todos os traços houve a redução dos valores encontrados para o módulo de

elasticidade dos concretos à medida que se aumenta o teor de substituição da areia

por AMR (FIGURA 4.7). No traço 1, há uma redução de 12,5% entre os valores

médios do módulo dinâmico encontrados para o concreto de referência e aqueles

encontrados para a situação de substituição de 40% e 60% da areia. No caso da

substituição total da areia, o decréscimo nos valores do módulo chega aos 25%. No

traço 2, registrou-se queda nos valores do módulo de deformação da ordem de 20%

para os teores de 40% e 100% de substituição (em massa), enquanto registrou-se

perda de 15% para o módulo do concreto produzido com teor de 60% de AMR. No

traço 3, houve estabilização dos valores do módulo de elasticidade entre o concreto

de referência e os concretos com 40% e 60% de teor de AMR, enquanto que a

condição de substituição total da areia provocou queda de 20% nos valores do

módulo encontrados para esse traço. Como a matriz de argamassa dos concretos é

a grande responsável por condicionar os seus valores de módulo de elasticidade,

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conclui-se que o uso do AMR torna essa fase do concreto mais deformável,

enquanto que os concretos feitos com areia apresentam maior rigidez. O traço 1,

aquele que apresenta menor consumo de cimento e maior fator água/cimento entre

os casos estudados, foi o mais prejudicado pela troca do agregado natural com

relação à análise do módulo de elasticidade. Observa-se que o aumento da

porosidade da matriz cimentícia detectado para o uso de AMR nos concretos

também mostra efeitos negativos relacionados ao módulo de elasticidade destes.

Os valores apresentados na Figura 4.7 representam a média e o desvio-padrão

obtidos com os dados provenientes de cinco corpos de prova construídos para cada

condição de traço analisada nesta pesquisa.

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Pvalor = 0; R² = 70,58%; P(AD) = 0, 355.

Pvalor = 0; R² = 84,30%; P(AD) = 0, 083.

Pvalor = 0; R² = 85,67%; P(AD) = 0, 520.

Figura 4.7 Valores médios e desvio-padrão obtidos nos ensaios realizados

para a obtenção do módulo de elasticidade para os concretos nas condições

estudadas na pesquisa

Fonte: autoria própria.

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4.5 Resistência à compressão

Na presente pesquisa, depois de realizado o processamento estatístico de

dados, pode-se observar que no traço 1 houve incremento nos valores médios de

resistência à compressão nas misturas com teores de 60% e 100% de AMR; nesse

caso, obteve-se aumento considerável de 26% nas médias de resistência. No traço

2, observa-se diminuição nos valores de resistência à medida que se substitui a

areia pelo AMR, representada por uma queda de 22% para o teor de 40% de AMR e

de 8,5% para os teores de 60% e 100% de AMR. No traço 3, detectou-se

estabilidade nos resultados encontrados para a resistência do concreto até o nível

de 60% de substituição da areia natural, enquanto que, para o concreto reciclado

com teor de 100% de AMR, a diminuição do valor médio de resistência à

compressão atingiu 34% em relação ao concreto de referência.

Conclui-se, observando os resultados, que o traço 1 foi beneficiado pela

substituição da areia por AMR, melhorando muito os seus valores de resistência.

Pode-se dizer que, para traços de concreto com pouco consumo de cimento e fator

água/cimento mais elevado, a troca de material natural por reciclado traz benefícios

para os concretos com relação à sua resistência à compressão. Com relação ao

traço 3, que adota um concreto mais rico em cimento e com baixo fator

água/cimento, a substituição da areia natural até o patamar de 60% não prejudicou

os valores de resistência, levando-se a crer que, mesmo para concretos mais ricos,

pode-se promover o uso dos reciclados até um certo nível, sem que ocorram

prejuízos à resistência destes. Certamente, nos casos estudados, ocorreram os

citados fenômenos de reação pozolânica (devido à grande fração de 33% em

volume de material cerâmico contido no AMR) e de cura interna úmida, processo

que tem como fundamento a liberação gradual e contínua da água absorvida pelo

AMR durante o amassamento dos concretos, promovendo uma melhor cura destes.

É interessante observar que, nas misturas com teor de 100% de AMR, por causa da

alta absorção de água promovida pelos reciclados, o adensamento das peças de

concreto ficou muito prejudicado. O concreto com maior rigidez no seu estado fresco

produziu corpos de prova mais porosos e brocados (termo que usualmente se refere

a falhas de concretagem).

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Os resultados mostrados na Figura 4.8 representam a média da resistência à

compressão encontrada após o ensaio feito com cinco corpos de prova fabricados

para cada condição de traço estudada.

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Pvalor = 0; R² = 70,49%; P(AD) = 0, 880.

Pvalor = 0; R² = 77,42%; P(AD) = 0, 284.

Pvalor = 0; R² = 74,94%; P(AD) = 0, 201.

Figura 4.8 Valores médios e desvio-padrão encontrados nos ensaios

realizados para a obtenção da resistência à compressão simples dos

concretos nas condições estudadas na pesquisa

Fonte: autoria própria.

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É possível obter concretos reciclados com resistências superiores à de

concretos convencionais de referência. Esse comportamento pode ser justificado

devido à alta taxa de absorção dos agregados reciclados quando esta não foi

compensada para a produção de concretos. Existe a possibilidade de cura úmida

interna por parte do agregado reciclado durante o endurecimento da pasta

cimentícia, fenômeno que ocorre principalmente quando se trata com agregados

leves de alta porosidade e alto poder de absorção de água. A maior taxa de

absorção de água apresentada pelo agregado reciclado pode propiciar a diminuição

do fator água/cimento do concreto (fator que condiciona a porosidade da matriz

cimentícia), ocasionando aumento da sua resistência mecânica. Outro efeito que

pode aumentar a resistência dos concretos reciclados é a atividade pozolânica. As

pozolanas são substâncias constituídas de sílica e alumina, que, em presença de

água, se combinam com o hidróxido de cálcio e outros componentes do cimento,

formando compostos com propriedades aglomerantes.

Segundo LIMA (1999), em face da possibilidade de reatividade pozolânica de

materiais cerâmicos, acredita-se que agregados reciclados com altos teores desse

material na sua composição possam contribuir para a melhoria da resistência à

compressão de concretos reciclados, principalmente em idades mais avançadas.

Em seu trabalho, TENORIO (2007) afirma que a resistência à compressão dos

concretos reciclados aumentou conforme se aumentou o consumo de cimento nos

traços. Como cada nível de consumo de cimento está associado a uma relação

água/cimento, conclui-se que, para os concretos reciclados, a resistência à

compressão é inversamente proporcional à relação água/cimento, assim como

acontece com os concretos convencionais. Dessa forma, a introdução dos

agregados reciclados no concreto não alterou a relação que a sua resistência tem

com a porosidade do material. O autor também frisa que o incremento do consumo

de cimento provoca a diminuição da porosidade dos concretos, fator que propicia o

aumento dos valores de resistência à compressão dos concretos.

RAVINDRARAJAH et al. (1987) afirmam que a fração do agregado reciclado

que mais influencia a perda de resistência do concreto reciclado é a graúda e que a

utilização de um nível de substituição total dos agregados naturais pelos reciclados

ocasiona um valor de aproximadamente 10% na redução da resistência à

compressão dos concretos reciclados.

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96

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES

Conclui-se, com base na pesquisa e estudo realizados para o

desenvolvimento do presente trabalho, que o material obtido por meio da reciclagem

dos resíduos de construção e demolição possui um bom potencial que pode justificar

o seu reaproveitamento. Observando as propriedades analisadas nos concretos

reciclados, tais como a trabalhabilidade, é fácil notar que os traços para concreto

reciclado baseados em tabelas para traços de concreto convencionais necessitam

de uma correção no seu fator água/cimento ou do pré-umedecimento dos reciclados

para minimizar os efeitos das altas taxas de absorção de água próprias do material

reciclado. Pode-se usar também aditivos plastificantes nos concretos reciclados

como uma forma de aumentar a sua fluidez no estado fresco (que foi muito

prejudicada pelo uso do agregado miúdo reciclado), facilitando, assim, os trabalhos

de concretagens. A densidade dos concretos reciclados é menor do que a

densidade dos concretos normais. Essa característica torna-se desejável na medida

em que se pode obter, por exemplo, estruturas de concreto armado ligeiramente

mais leves. A porosidade e a absorção de água é maior nos concretos reciclados,

levando-se em conta a comparação com os concretos convencionais. O aumento da

porosidade e absorção de água nos concretos reciclados é prejudicial para certas

aplicações, embora esse problema possa ser contornado adotando-se espessuras

de cobrimentos maiores quando o concreto tiver a função de superfície protetora de

armaduras. Em outros casos, a porosidade e a absorção de água aumentadas são

características desejáveis, por exemplo, nos concretos fabricados para o uso em

superfícies ou pisos drenantes. Com relação ao módulo de elasticidade, as perdas

detectadas (nesta pesquisa) nessa importante propriedade dos concretos reciclados

variaram de 13 a 25% em relação aos concretos de referência, fator que deve ser

levado em conta no momento da execução de projetos estruturais para concreto

armado fabricado com agregado miúdo reciclado. Quanto à questão da resistência à

compressão dos concretos, foi possível verificar que a adição de AMR às misturas

pode até melhorar os níveis de resistência destas em alguns casos (principalmente

quando os traços possuírem baixo consumo de cimento e fatores água/cimento mais

altos) ou ainda mantê-los estáveis até certos teores de utilização do material

reciclado.

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Sendo assim, conclui-se que os materiais reciclados transformados em

agregados podem ser utilizados para a confecção de concretos para diversas

finalidades, desde a produção de blocos de concreto para alvenaria e pisos

drenantes até a sua aplicação como concreto estrutural. É interessante salientar que

a qualidade do agregado reciclado, os processos que envolvem o seu

beneficiamento e a sua granulometria final irão influenciar diretamente as

propriedades mecânicas dos concretos originados a partir desses materiais. Além

disso, o reaproveitamento do material que o setor da construção civil descarta

promove a preservação das fontes de matérias-primas, diminui os custos com o

gerenciamento e disposição final de resíduos e incentiva as iniciativas em relação à

proteção ambiental.

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