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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA SEMINÁRIO DE PESQUISAS LINGUÍSTICAS EM ANDAMENTO Primeira Parte – Evento Satélite 09 A 15 DE AGOSTO DE 2018 Segunda Parte 24 A 27 DE SETEMBRO DE 2018 CADERNO DE RESUMOS https://sepla-2018.webnode.com/

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA · Diagramação / Arte do Caderno de Resumos Rafaela do Nascimento Melo Aquino ... CEP 21941-917 . S471a Seminário de Pesquisas Linguísticas

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

SEMINÁRIO DE PESQUISAS

LINGUÍSTICAS EM ANDAMENTO

Primeira Parte – Evento Satélite

09 A 15 DE AGOSTO DE 2018

Segunda Parte

24 A 27 DE SETEMBRO DE 2018

CADERNO DE RESUMOS

https://sepla-2018.webnode.com/

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COMISSÃO ORGANIZADORA DO SEMINÁRIO DE PESQUISAS

LINGUÍSTICAS EM ANDAMENTO – SEPLA/POSLING

Comissão organizadora

Adriana Leitão Martins

Aleria Lage

Alessandro Boechat de Medeiros

Andrew Ira Nevins

Aniela Improta França

Realização

Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ

Diagramação / Arte do Caderno de Resumos

Rafaela do Nascimento Melo Aquino

Rafael Berg Esteves Trianon

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Programa de Pós-graduação em Linguística - Sala F-321

Faculdade de Letras

Avenida Horácio de Macedo, 2151

Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ

CEP 21941-917

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S471a Seminário de Pesquisas Linguísticas em Andamento (12. : 2018: Rio de

Janeiro, RJ)

Caderno de Resumos do III Seminário de Pesquisas Linguísticas

em Andamento [recurso eletrônico] / org. PPGL ; coord. Adriana Leitão

Martins, Aleria Lage, Alessandro Boechat de Medeiros, Andrew Ira

Nevins, Aniela Improta França. Dados Eletrônicos. – RIO DE JANEIRO

: UFRJ, 2018.

Modo de acesso: World Wide Web

<www.linguisticario.letras.ufrj.br>

ISSN: 2358-6826 (on-line)

1. Linguística. 2. Pesquisas científicas. 3. Teses e dissertações. I.

Universidade Federal do Rio de Janeiro. II. Martins, Adriana Leitão. III.

Lage, Aleria. IV Medeiros, Alessandro Boechat de. V Nevins, Andrew

Ira. VI França, Aniela Improta. VII Título.

CDD-22. ed. 410

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SUMÁRIO

CRONOGRAMA DO EVENTO

9

MODELOS FUNCIONAIS BASEADOS NO USO 17

UM ESTUDO DIACRÔNICO SOBRE AS CONSTRUÇÕES COM O VERBO LEVAR, NA

PERSPECTIVA DOS MODELOS BASEADOS NO USO 18

Allan Costa Stein

A EVOLUÇÃO DA REDE DE CONSTRUÇÕES CAUSAIS NO PORTUGUÊS 20

Bruno Araújo de Oliveira

O USO DO PRESENTE PARA NOTICIAR FATOS PASSADOS EM MANCHETES

JORNALÍSTICAS 25

Caroline Soares da Silva

DA OCULTAÇÃO DOS FATOS AO DESLINDE DO CRIME: UMA ANÁLISE DA

DISCURSIVIDADE DO VERBAL E DO NÃO VERBAL NA ELUCIDAÇÃO DO CASO

ISABELLA NARDONI 28

Christine Mello Minister

A COMPLEMENTAÇÃO SENTENCIAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: INVESTIGANDO

UMA REDE TAXONÔMICA DE CONSTRUÇÕES 30

Dayanne de Oliveira Silva

DISCURSO DO CONTATO COM INDÍGENAS ISOLADOS PÁNO 33

Flávia Leonel Falchi

UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA NA DESCRIÇÃO DAS CONSTRUÇÕES

QUANTITATIVAS DA LÍNGUA RUSSA 35

Gabrielle de Figueira do Nascimento

DA CATEGORIZAÇÃO RADIAL AO ARMAZENAMENTO CONSTRUCIONAL: O QUE NOS

ENSINAM OS VERBOS DE SEPARAÇÃO DO PORTUGUÊS? 37

Jéssica Cassemiro Muniz dos Santos

ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO [VERBO ADJETIVO ADVERBIAL] EM VARIAÇÃO COM A

CONSTRUÇÃO [VERBO XMENTE] DE PAREAMENTO QUALITATIVO NO PB 39

Júlia Langer de Campos

ORDENAÇÃO E INFORMATIVIDADE DO SINTAGMA NOMINAL COMPLEXO NO

GÊNERO NOTÍCIA POLÍTICA 41

Lorena Cardoso dos Santos

(DES)ORDEM DA IMAGEM E SENTIDOS DO OLHAR: GESTOS DE LEITURA DE

FOTOGRAFIA DIGITAL DA G MAGAZINE POR RASTREAMENTO OCULAR 43

Lucas Nascimento

DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO

AUTISTA – SÍNDROME DE ASPERGER 46

Marcela Branco da Silva

NA TRAMA DOS SENTIDOS: O EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO SOB A ÓTIMA DA

ANÁLISE DO DISCURSO 49

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Márcio Lázaro Almeida da Silva

UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA 52

Mariana Ximenes Bastos

A TRAJETÓRIA DAS CONSTRUÇÕES CONCLUSIVAS COM PORTANTO, PORISSO, LOGO

E ENTÃO 54

Mayra França Floret

A FORMAÇÃO DAS MICROCONSTRUÇÕES ASSIM QUE, JÁ QUE E UMA VEZ QUE: UMA

ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL 56

Monique Petin Kale dos Santos

A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE REPENTE: UMA ABORDAGEM

CONSTRUCIONAL NO USO 58

Nastassia Santos Neves Coutinho

CONSTRUCIONALIZAÇÃO EM UM MONTE DE SN: UMA ABORDAGEM CENTRADA NO

USO 60

Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux

PLURILINGUISMO E POLÍTICA DE LÍNGUAS EM TERRITÓRIO FLUMINENSE 62

Rodrigo Pereira da Silva Rosa

CONSTRUCIONALIZAÇÃO DOS CONECTORES AINDA QUE E MESMO QUE NO

PORTUGUÊS: UMA VISÃO CONSTRUCIONAL DE MUDANÇA 64

Thiago dos Santos Silva

DISCURSO E IMAGEM EM ESCOLAS DE SAMBA: GESTOS DO VISÍVEL, INVISÍVEL,

SONORIDADE E DO SILÊNCIO NO CARNAVAL 66 Tiago José Freitas Batista

VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA 69

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E AQUISIÇÃO DE ORAÇÕES RELATIVAS POR CRIANÇAS

FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO 70

Ana Cristina Baptista de Abreu

SEGMENTAÇÃO NO INÍCIO DA ESCRITA 72

Andreia Cardozo Quadrio

AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NA FALA CARAVELENSE 74

Daillane dos Santos Avelar

VARIEDADE DE PORTUGUÊS FALADA POR PROFESSORES TIKUNA: UMA ANÁLISE DE

FENÔMENOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS EMORFOSSINTÁTICOS 76

Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio

ESTUDO DIACRÔNICO DE PHRASAL VERBS COM A PARTÍCULA OUT NAS

CONSTRUÇÕES [VOUTSN] E [V SNOUT] 78 Manuela Correa de Oliveira

GRAMÁTICA NA TEORIA GERATIVA 80

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ESTRUTURA INFORMACIONAL, PLURALIDADE, DEFINITUDE E VALOR DE VERDADE 80

Alan de Sousa Motta

APRENDIZAGEM FONOLÓGICA DE L3 E SUAS IMPLICAÇÕES NO SISTEMA

FONOLÓGICO DA L2 83

Brenda da Silva Barreto

SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS INDEFINIDOS E NOMES NUS:UM ESTUDO DE ESCOPO

86

Ohanna Teixeira Barchi Severo

FOCALIZAÇÃO IN SITU NO PORTUGUÊS DO BRASIL: INTERFACE SINTAXE-

FONOLOGIA 89

Rafael Berg Esteves Trianon

REANÁLISE EM NOMES DEVERBAIS DO PORTUGUÊS:UM ESTUDO NA INTERFACE

SINTAXE-SEMÂNTICA 91

Rafaela do Nascimento Melo Aquino

A AQUISIÇÃO DA MORFOLOGIA DE IMPERFECTIVO CONTÍNUO POR APRENDIZES DE

FRANCÊS (L2) FALANTES NATIVOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL 94 Sabrina Gomes da Silva

LINGUAGEM, MENTE E CÉREBRO 96

O EFEITO DA LACUNA PREENCHIDA E A INFLUÊNCIA DISCURSIVA EM

INTERROGATIVAS QU 97

Amanda Rocha

PROCESSAMENTO SINTÁTICO EM CEGOS: UMA REFLEXÃO SOBRE O PESO DE

DIFERENTES MÓDULOS COGNITIVOS 99

Emily Silvano da Silva

LENDO FACES E PALAVRAS: UMA ABORDAGEMPSICOLINGUÍSTICA 101

Isadora Rodrigues de Andrade

A REPRESENTAÇÃO DO ASPECTO PERFECT: UM ESTUDO A PARTIR DA DEMÊNCIA DO

TIPO ALZHEIMER 104

Jean Carlos da Silva Gomes

A TEORIA DA MENTE DIGITAL: INTERAÇÃO ENTRE BEBÊS E MÁQUINA 107

Kate Barbara de Mendonça Leal

O PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL EM POSIÇÃO DE SUJEITO E

EM POSIÇÃO DE OBJETO: RESULTADOS PRELIMINARES DE UM ESTUDO

COMPARATIVO ENTRE PB E PE 109

Katharine de Freitas Pereira Neto Aragão da Hora

O PROCESSAMENTO DAS CONSTRUÇÕES DE TÓPICO ESTILO-CHINÊS NO PORTUGUÊS

DO BRASIL 112

Lorrane da Silva Neves Medeiros Ventura

REALISMO NOMINAL LÓGICO VISUAL E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA 115

Mariana Fernandes Fonseca

SINTAGMAS PREPOSICIONAIS COORDENADOS E ENCAIXADOS NO PERÍODO DE

AQUISIÇÃO 117

Mayara de Sá Pinto

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AQUISIÇÃO DE PERFECT NO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA DESCRIÇÃO PRELIMINAR

121

Nayana Pires da Silva Rodrigues

A AQUISIÇÃO DA ORDEM ORACIONAL DO PORTUGUÊS BRASILEIROCOMO L2 POR

HISPANOFALANTES ADULTOS 124

Rogério Santos Júnior

RELAÇÕES INFERENCIAIS E O PAPEL DOS CONECTIVOS: UM ESTUDO DO

PROCESSAMENTO DA LEITURA 129

Sabrina Lopes dos Santos

A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS NÃO ALFABETIZADAS ACERCA DO COMPRIMENTO DA

PALAVRA ARTICULADA: UM ESTUDO EXPERIMENTAL 132

Sammy Cardozo Dias

ESTUDO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS 134

A EVIDENCIALIDADE EM WA'IKHANA (TUKANO ORIENTAL): UMA PROPOSTA

FUNCIONAL-TIPOLÓGICA 135

Bruna Cezario Soares

BASES PARA A DESCRIÇÃO DAS LÍNGUAS CINTA LARGA E ZORÓ (FAMÍLIA TUPI-

MONDÉ) 138

Cristóvão Teixeira Abrantes

TIPO SEMÂNTICO IDADE E CLASSES LEXICAIS NO WA’IKHANA E NO GUATÓ 140

Kristina Balykova

SWITCH REFERENCE EM MAXAKALI 142 Silvia Siqueira Pereira

SESSÃO DE POSTÊRES 146

CONTRIBUIÇÕES SOCIOLINGUÍSTICAS PARA O ESTUDO DOS GÊNEROS TEXTUAIS-

DISCURSIVOS EM AMBIENTE DIGITAL: UM OLHAR SOBRE O OBJETO DIRETO 147

Andrei Ferreira de Carvalhaes Pinheiro

RASTREAMENTO OCULAR DE ORAÇÕES TEMPORARIAMENTE AMBÍGUAS:

REFLEXÕES SOBRE OS EFEITOS GARDEN-PATH E GOOD-ENOUGH NA LEITURA DE

ALUNOS DE CURSO FUNDAMENTAL E SUPERIOR 150

Emily Silvano da Silva

A ICONICIDADE COMO UM RECURSO COGNITIVO PROVISÓRIO NA AQUISIÇÃO DA

LEITURA 151

Isadora Rodrigues de Andrade

CONHECIMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM IDOSOS FALANTES NATIVOS DO

PORTUGUÊS BRASILEIRO 154

Jean Carlos da Silva Gomes

A IDENTIFICAÇÃO DOS PREFIXOS ES- E EN- EM VERBOS DENOMINAIS

PARASSINTÉTICOS 157

Luis Felipe dos Santos Nascimento

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FUNÇÕES EXECUTIVAS E TESTE DE ROLE-PLAYING EM EXPERIMENTOS COM

CRIANÇAS 158

Mayara de Sá Pinto, Sarayane Miranda, Emily Silvano, Isadora Andrade, Sammy Cardoso,

Kate Mendonça, Clara Bueno, Ana Machado, Julia Lopes, Aleria Lage, Aniela França

A COMBINAÇÃO DA PERÍFRASE PROGRESSIVA “ÊTRE EN TRAIN DE” + INFINITIVO

COM OS DIFERENTES TIPOS DE VERBO NO FRANCÊS 161

Sabrina Gomes da Silva

O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA NA CRIANÇA: UM ESTUDO DOS ASPECTOS

NEUROCOGNITIVOS 163

Sammy Cardozo Dias

RETOMADAS NOMINAIS, PRONOMINAIS E ZERO NOS LDS DE HISTÓRIA 165 Talita Moreira de Oliveira

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

CRONOGRAMA DO EVENTO

PRIMEIRA PARTE – EVENTO SATÉLITE

DE 09 A 15 DE AGOSTO DE 2018

Linhas de pesquisa contempladas do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ:

Variação e Mudança Linguística e Modelos Funcionais Baseados no Uso

QUINTA 09/08

09h30 – 10h30 – CONFERÊNCIA 1 –MARCOS BAGNO (UnB)

II D-LING e I Jornada de Estudos Galegos

Título: Do galego ao brasileiro, passando pelo português

10h30 – 11h00 - Intervalo – coffee break

11h00 – 13h00 – MESA REDONDA – II D-LING e I Jornada de Estudos Galegos

Título: Estudos galegos

Participantes: JUSSARA ABRAÇADO (UFF/CNPq)

LEONARDO MARCOTULIO (Dep. Vernáculas UFRJ)

ANDRÉ FELIPE CUNHA (Recém-Doutor em Linguística UFRJ)

QUÉZIA LOPES (Doutoranda de Linguística UFRJ)

13h00 – 14h30 – Almoço

14h30 – 15h30 – CONFERÊNCIA 2 – XOÁN LAGARES (UFF) -II D-LING e I Jornada de

Estudos Galegos

Título: O galego hoje. Que língua é essa?

15h30 - 16h45 –XXIII SEPLA – SESSÃO 1

15h30 - 15h55 – Nastassia Santos Neves Coutinho - Orientadora: Maria Maura Cezario

Debatedor: Marcos Bagno (UnB)

15h55 - 16h20 – Nuciene Amphilóphio Fumaux (CAPES) - Orientadora: Karen Alonso

Co-orientadora: Maria Maura Cezario

Debatedora: Jussara Abraçado (UFF/CNPq)

16h20 - 16h45 – Thiago dos Santos Silva (CAPES) - Orientadora: Maria Maura Cezario

Debatedor: Marcos Bagno (UnB)

16h45 – 17h00 - Intervalo – coffee break

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

17h00 - LANÇAMENTO DE LIVROS: XXIII SEPLA, II D-LING e I Jornada de Estudos Galegos

Debatedora: Marília Costa (UFRJ)

SEGUNDA 13/08

09h30 – 12h30 – MINICURSO 1 – RONALD BELINE (USP/CNPq) – II D-LING

Título: O estudo da percepção sociolinguística

12h30 – 14h00 – Almoço

14h00– 17h00 – MINICURSO 2 – DANTE LUCCHESI (UFF/CNPq) – II D-LING

Título: Contato entre línguas e mudança linguística: o caso brasileiro

TERÇA 14/08

09h30 – 12h30 – MINICURSO 1 – RONALD BELINE (USP/CNPq) – II D-LING

Título: O estudo da percepção sociolinguística

12h30 – 14h00 – Almoço

14h00– 15h15 –XXIII SEPLA – SESSÃO 2

14h00 – 14h25 – Ana Cristina Abreu– Orientadora: Christina Gomes

Debatedor: Ronald Beline (USP/CNPq)

14h25 - 14h50 – Bruno Araújo deOliveira(CAPES)- Orientadora: Conceição Paiva

Debatedor: Ronald Beline (USP/CNPq)

14h50 - 15h15 – Mayra França Floret- Orientadora Maria Maura Cezario

Debatedor: Ronald Beline (USP/CNPq)

QUARTA 15/08

14h00 – 17h00 – MINICURSO 2 –DANTE LUCCHESI (UFF/CNPq) – II D-LING

Título: Contato entre línguas e mudança linguística: o caso brasileiro

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

SEGUNDA PARTE

DE 24 A 27 DE SETEMBRO DE 2018

SEGUNDA 24/9

08h00 - 10h30 –XXIII SEPLA – SESSÃO 1

Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso

08h00 - 08h25 – Gabrielle de Figueira do Nascimento (CAPES) – Orientadora: Karen Alonso

Co-orientador: Diego Oliveira

Debatedora: Maria Lúcia Leitão (UFRJ)

08h25 - 08h50 – Jéssica Cassemiro Muniz dos Santos (CAPES) – Orientador: Diogo Pinheiro

Debatedora: Sandra Bernardo (UERJ)

08h50 - 09h15 – Caroline Soares da Silva (CNPq) – Orientadora: Lilian Ferrari

Debatedora: Julia Scamparini (UERJ)

09h15 - 09h40 –Marcela Branco da Silva (CNPq) – Orientadora: Christina Gomes

Debatedora: Monica Rocha (UFRJ)

09h40 - 10h05 – Allan Costa Stein (CNPq) – Orientadora: Conceição Paiva

Debatedor: Ivo do Rosário (UFF)

10h05 -10h30 – Manuela Correa de Oliveira (CAPES) – Orientadora: Conceição Paiva

Debatedor: Ivo do Rosário (UFF)

10h30 – 11h00 – Intervalo – coffee break

11h00 - 12h15 – PALESTRA DE ABERTURA – EVANILDO BECHARA (UERJ/UFF/ABL) – II

D-LING

Título: A introdução da Filologia e da Linguística no currículo universitário da UFRJ

Formação Geral em Linguística

12h15 – 14h15 (ou 12h15 – 12h45) – ALMOÇO

12h45 - 15h15 – MINICURSO – ISABELLA PEDERNEIRA (UFRJ/UNICAMP) – II D-LING

Título: Morfossintaxe na Gramática Gerativa: passando a conhecer a Morfologia Distribuída

Linha de Pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa

14h15 – 15h15 – PALESTRA 2 – TIAGO TORRENT (UFJF) – II D-LING

Título: Do Terminator ao Glitch: expectativas versus realidade nas aplicações da inteligência

artificial ao processamento das línguas naturais

Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

15h15 - 16h15 – PALESTRA 3 – DANTE LUCCHESI (UFF/CNPq) – II D-LING

Título: A polarização sociolinguística e o contexto político atual

Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Linguística

16h15 - 17h15 – LANÇAMENTO DE LIVROS e coffee break

TERÇA 25/09

08h00 - 9h15 – XXIII SEPLA – SESSÃO 2

Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso

08h00 - 08h25 – Dayanne de Oliveira Silva (CNPq) – Orientador: Diogo Pinheiro

Debatedor: Diego Oliveira (UFRJ)

08h25 - 08h50 – Júlia Langer de Campos (CNPq) – Orientadora: Maura Cezario

Co-orientadora: Priscilla Mouta

Debatedora: Marcia Machado (UFRJ)

08h50 - 09h15 – Monique Petin Kale dos Santos (CAPES) – Orientadora: Maura Cezario

Debatedora: Vanda Menezes (UFF)

09h15 – 09h40 - Intervalo – coffee break

09h40 - 11h45 –XXIII SEPLA – SESSÃO 3

Linha de Pesquisa: Teoria na Gramática Gerativa

09h40 - 10h05 – Brenda da Silva Barreto – Orientador: Gean Damulakis

Co-orientador: Andrew Nevins

Debatedora: Leticia Rebollo (UFRJ)

10h05 - 10h30 – Ohanna Teixeira Barchi Severo (CNPq) – Orientadora: Suzi Lima

Debatedora: Ana Regina Calindro (UFRJ)

10h30 - 10h55 – Alan de Sousa Motta (CAPES) – Orientador: Alessandro Boechat

Debatedora: Ana Paula Quadros (UFRJ)

10h55 - 11h20 – Rafael Berg Esteves Trianon (FAPERJ) – Orientador: Alessandro Boechat

Debatedora: Silvia Cavalcante (UFRJ)

11h20 - 11h45 – Rafaela do Nascimento Melo Aquino (CAPES) – Orientadora: Miriam Lemle

Debatedora:Ana Paula Quadros (UFRJ)

11h45 - 12h45 – PALESTRA 4 – RENATA MOUSINHO (UFRJ) – II D-LING

Título: Dislexia

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

12h45 - 15h15 – MINICURSO – ISABELLA PEDERNEIRA (UFRJ/UNICAMP) – II D-LING

Título: Morfossintaxe na Gramática Gerativa: passando a conhecer a Morfologia Distribuída

Linha de Pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa

12h45 - 14h40 – ALMOÇO

14h40 - 15h30 –XXIII SEPLA – SESSÃO 4

Linha de Pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas

14h40 – 15h05 – Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio – Orientadora: Marília Facó

Debatedora: Jaqueline Peixoto (UFRJ)

15h05 - 15h30 – Cristovão Teixeira Abrantes (CNPq) – Orientadora: Marília Facó

Debatedor:Quesler Camargos (UNIR)

15h30 – 16h30 – PALESTRA 5 – MARCIA NASCIMENTO (UFRJ) – II D-LING

Título: Estudando as paisagens linguísticas: os casos Kaingang e Māori

Linha de Pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas

16h30 – 17h00 - Intervalo – coffee break

17h00 - 18h15 –XXIII SEPLA – SESSÃO 5

Linha de Pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas

17h00 - 17h25 – Bruna Cezario Soares (CNPq) – Orientadora: Kristine Stenzel

Debatedora: Luciana Sanchez-Mendes (UFF)

17h25 - 17h50 – Kristina Balykova (CAPES) – Orientadora: Kristine Stenzel

Debatedora: Luciana Sanchez-Mendes (UFF)

17h50 - 18h15 – Silvia Siqueira Pereira (CNPq) – Orientador: Andrew Nevins

Debatedora: Marcia Nascimento (UFRJ)

QUARTA 26/09

08h00 - 10h30 –XXIII SEPLA – SESSÃO 6

Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso

08h00 - 08h25 – Christine Mello Ministher (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente

Debatedora: Cynthia Patusco (UFRJ)

08h25 - 08h50 – Lucas Nascimento (FAPERJ) – Orientadora: Tania Clemente

Debatedora: Antonio Andrade (UFRJ)

08h50 - 09h15 – Flávia Leonel Falchi (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente

Debatedor: Antonio Andrade (UFRJ)

09h15 - 09h40 – Márcio Lázaro Almeida da Silva (FAPERJ) – Orientadora: Tania Clemente

Debatedor: Xoán Lagares (UFF)

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14

Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

09h40 -10h05 – Rodrigo Pereira da Silva Rosa (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente

Debatedor: Angela Baalbaki (UERJ)

10h05 -10h30 –Tiago José Freitas Batista (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente

Debatedor: Bruno Deusdará (UERJ)

10h30 - 11h30 – SESSÃO DE PÔSTERES (Alunos de Graduação e Pós-Graduação) e coffee break

11h30 – 12h30 – PALESTRA 6 – WELTON PEREIRA E SILVA (UFRJ) – II D-LING

Título: Linguística Forense: Como os linguistas podem contribuir em uma demanda judicial

Formação Geral em Linguística

12h30 – 14h00 – ALMOÇO

14h00 - 15h40 –XXIII SEPLA- SESSÃO7

Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso

14h00 - 14h25 – Andreia Cardozo Quadrio (CAPES) – Orientadora: Cecilia Mollica

Debatedor: Ricardo Cavaliere (UFF)

14h25 - 14h50 – Daillane dos Santos Avelar (CAPES) – Orientadora: Cecilia Mollica

Debatedora:Monica Savedra (UFF)

14h50 - 15h15 – Lorena Cardoso dos Santos (CAPES) – Orientadora: Vera Paredes

Debatedora:Leonor Werneck (UFRJ)

15h15 - 15h40 – Mariana Ximenes Bastos (CNPq) – Orientadora: Vera Paredes

Debatedora:Violeta Rodrigues (UFRJ)

15h40 – 16h15 - Intervalo – coffee break

16h15 – 17h15 – PALESTRA 7 – MARCELO MELO (UFRJ) – II D-LING

Título: Fonologia na Escola

Formação Geral em Linguística

17h15 – 18h15 – PALESTRA 8 – ANDRÉ CUNHA (UFRJ) – II D-LING

Título: O galego na história do português de Portugal e na história do brasileiro

Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Linguística

QUINTA 27/09

08h00 - 10h05 –XXIII SEPLA - SESSÃO 8

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

08h00 - 08h25 – Mariana Fernandes Fonseca (CAPES) – Orientador: Marcus Maia

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

Debatedora: Michele Calil (UFRJ)

08h25 - 08h50 – Sabrina Lopes dos Santos (CNPq) – Orientador: Marcus Maia

Debatedora: Cristiane Oliveira (UFRJ)

08h50 - 09h15 – Katharine de Freitas P. Neto da Hora (CNPq) – Orientador: Marcus Maia

Debatedora: Daniela Garcia (UFRJ)

09h15 - 09h40 – Kate Barbara de Mendonça Leal (CAPES) – Orientadora: Aniela Improta França

Debatedora: Juliana Gomes (UFRJ)

09h40 - 10h05 – Sammy Dias – Orientadora: Aniela Improta França

Debatedora: Juliana Gomes (UFRJ)

10h05 – 10h30 – Intervalo – coffee break

10h30 - 11h45 –XXIII SEPLA- SESSÃO 9

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

10h30 - 10h55 – Emily Silvano da Silva (CAPES) – Orientadora: Aniela Improta França

Debatedora: Marije Soto (UERJ)

10h55 - 11h20 –Amanda Rocha Araujo de Moura (FAPERJ) – Orientador: Marcus Maia

Debatedora: Marije Soto (UERJ)

11h20 - 11h45 – Lorrane da Silva Neves Medeiros (CNPq) – Orientador: Marcus Maia

Debatedor: Humberto Soares (UFRJ)

11h45 – 12h45 – PALESTRA 9 – THIAGO MOTTA SAMPAIO (UNICAMP) – II D-LING

Título: A relatividade do tempo ontogenético na evolução primata e no advento da linguagem

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

12h45 – 14h00 – ALMOÇO

14h00 - 15h15 –XXIII SEPLA – SESSÃO 10

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

14h00 - 14h25 – Isadora Rodrigues de Andrade (CNPq) – Orientadora: Aniela Improta França

Debatedor: Thiago Motta Sampaio (UNICAMP)

14h25 - 14h50 – Mayara de Sá Pinto (CAPES) – Orientadora: Aleria Lage

Co-orientadora: Aniela Improta França

Debatedor: Thiago Motta Sampaio (UNICAMP)

14h50 - 15h15 – Rogério dos Santos Jr. (CAPES) – Orientadora: Marcia Damaso

Debatedor: Roberto de Freitas Jr. (UFRJ)

15h15 – 16h15 – PALESTRA 10 – FERNANDA RODRIGUES (UFRJ) – II D-LING

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

Título: Linguística e distúrbios da linguagem

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

16h15 – 16h45 – Intervalo – coffee break

16h45 - 18h00 – XXIII SEPLA – SESSÃO

Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro

16h45 - 17h10 – Sabrina Gomes da Silva (CAPES) – Orientadora: Adriana Leitão

Debatedora: Fernanda Rodrigues (UFRJ)

17h10 - 17h35 – Jean Carlos Gomes (CNPq) – Orientadora: Adriana Leitão

Debatedora: Mercedes Sebold (UFRJ)

17h35 - 18h00 – Nayana Pires da Silva Rodrigues (CAPES) – Orientadora: Adriana Leitão

Debatedora: Adriana Lessa (UFRRJ)

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

MODELOS FUNCIONAIS BASEADOS NO

USO

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UM ESTUDO DIACRÔNICO SOBRE AS CONSTRUÇÕES COM O VERBO LEVAR, NA

PERSPECTIVA DOS MODELOS BASEADOS NO USO

Autor: Allan Costa Stein

Orientadora: Maria da Conceição de Paiva

O objeto de estudo desta tese, que está em seu terceiro ano de desenvolvimento, são as diferentes

construções com o verbo levar no português. Partindo de uma abordagem baseada no uso e, mais

especificamente, da Gramática de Construções Cognitiva (cf. Goldberg, 1995, 2006; Croft, 2001), o

nosso objetivo central é identificar as propriedades sintático-semânticas das construções com o verbo

levar, de modo a organizá-las numa rede construcional em que se inter-relacionam via links de herança

diferenciados. No caso das construções substantivas (cf. [levar em conta], [levar a sério]etc.),

pretendemos também identificar quais foram os possíveis contextos em que surgiram (cf. Traugott &

Trousdale, 2013), bem como os mecanismos cognitivos que se mostraram atuantes no processo (cf.

Bybee, 2003, 2010, 2015, dentre outros). Este trabalho está sendo realizado a partir da análise de um

corpus com aproximadamente 10 milhões de palavras, constituído de textos representativos dos

diferentes períodos da língua portuguesa, conforme a periodização proposta em Mattos e Silva (2007):

período arcaico (XIII-XVI 1.ª metade), período clássico (2.ª metade XVI-XVIII) e período

contemporâneo (XIX-XXI).

Até o momento, identificamos a atuação do verbo levar nas seguintes construções esquemáticas:

construção de movimento causado (cf. Pedro levou a sacola para a cozinha), construção passiva (cf.

Os idosos são levados para o andar de cima), construção com verbo-suporte (cf. levar um fora),

construção de tempo despendido (cf. levar 1 dia (para terminar o trabalho)) e construção causativa (cf.

João levou o pai à loucura). Além disso, identificamos também as seguintes construções substantivas:

[levar em conta], [levar em consideração], [levar a sério], [não levar a nada], [levar a vida], [levar a

melhor], [levar vantagem] e [não levar a lugar nenhum]. Estas construções inteiramente especificadas

apresentam diferentes graus de analisabilidade e, por esse motivo, só podem apresentar material

interveniente em circunstâncias muito particulares, que envolvem, por exemplo, constituintes com

pouca massa fônica (até 6 sílabas) (cf. Aqueles alunos realmente levavam o estudo a sério!).

Com base nas análises empreendidas até o momento, podemos estabelecer, por exemplo, as

seguintes generalizações: (1) o esquema causativo, que também licencia levar na posição V, está

vinculado à Construção de movimento causado via link de herança metafórica, em que elementos

associados ao domínio do movimento no espaço são cooptados para representar relações de causalidade;

(2) as microconstruções [não levar a nada] e [não levar a lugar nenhum] possivelmente foram instâncias

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específicas da construção causativa, mas, devido à frequência de uso, se tornaram independentes desse

esquema, com o qual se relacionam via links de instância; (3) de igual modo, as microconstruções [levar

a vida] e [levar a melhor] poderiam ter sido sancionadas, em um período anterior da língua, pelo

esquema de verbo-suporte.

Referências

BYBEE, J.Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In: JOSEPH, B., JANDA,

R. (Org.).A handbook of historical linguistics. Malden, MA: Blackweel Publishing, 2003.

_____. From usage to grammar: The mind's response to repetition. In: Language, Washington, DC:

Linguistic Society of America, v. 82, n. 4, p. 711-733, 2006.

_____. Language change. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

_____. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

CROFT, W. Radical construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford:

Oxford University Press, 2001.

GOLDBERG, A. E. Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument Structure.

Chicago: University of Chicago Press, 1995.

_____. Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford: Oxford University

Press, 2006.

MATOS E SILVA, R. V. Novas contribuições para a história da língua portuguesa: ainda os limites do

português arcaico. Diadorim, Rio de Janeiro, v. 2, p. 99-113, 2007.

TRAUGOTT, E. C.; TROUSDALE, G. Constructionalization and constructional changes. Oxford:

OUP. 2013

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A EVOLUÇÃO DA REDE DE CONSTRUÇÕES CAUSAIS NO PORTUGUÊS

Autor: Bruno Araújo de Oliveira (CAPES)

Orientadora: Maria da Conceição de Paiva

Ao longo de sua história, a língua portuguesa tem sido contemplada com uma vasta diversidade de

formas que servem à função de estabelecer conexão causal entre segmentos do discurso, tais como

porque, pois, pois que, porquanto, ca, como, já que, visto que, uma vez que, por causaque entre outros.

A literatura linguística sobre conectivos causais é bastante ampla, apresentando trabalhos sob as mais

diferentes perspectivas teóricas. Todavia, ainda são escassos estudos que forneçam um tratamento

construcionista para essas construções. A maioria dos trabalhos realizados até o momento focalizou uma

ou outra construção, restringindo-se ao exame de seus usos em um determinado período do português,

enfatizando ora aspectos sintáticos ora aspectos semântico-pragmáticos e discursivo-funcionais. Em

vista disso, a presente pesquisa tem por objetivo investigar as trajetórias das diversas construções

conectivas causais na história do português através de um estudo de mudança em tempo real de longa

duração (LABOV, 1994; PAIVA & DUARTE, 2003) que se particulariza não apenas por proporcionar

um olhar mais panorâmico sobre esse conjunto de construções causais na língua portuguesa, mas,

sobretudo, por promover uma análise diacrônica à luz da atual abordagem construcionista baseada no

uso (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001; BYBEE, 2006, 2010, 2013; DIESSEL, 2015, 2017).

A Gramática de Construções Baseada no Uso constitui uma das vertentes contemporâneas da

chamada Gramática de Construções que vem se desenvolvendo no âmbito da linguística cognitivo-

funcional. Dentre seus pressupostos centrais, destaca-se a concepção de língua como uma complexa e

dinâmica rede de construções gramaticais interconectadas por diferentes tipos de links. Nessa

perspectiva, construção é definida como um pareamento convencionalizado entre forma e significado

(GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001). Ressalta-se também a atenção atribuída aos eventos de uso

real da língua (KEMMER & BARLOW, 2000) e aos processos cognitivos de domínio geral (BYBEE,

2010), concebidos como os responsáveis pela arquitetura e contínua transformação da rede linguística.

A abordagem da mudança linguística em perspectiva construcionista foi inicialmente

sistematizada por Traugott & Trousdale (2013). Desde então, postulam-se basicamente dois tipos de

mudança: a construcionalização e a mudança construcional. Aquela consiste na emergência de uma nova

construção, consequência de mudanças no polo da forma e no polo do significado de uma construção já

existente; esta, por sua vez, consiste em mudanças ou no polo da forma ou no polo do significado de

uma dada construção, não resultando na criação de uma nova construção, mas apenas atualizando o

estatuto da construção já estabelecida na rede. Os estudos de mudança realizados sob a ótica

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construcionista têm lançado nova luz sobre os vários fenômenos de mudança linguística, em especial, a

gramaticalização e a lexicalização (TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013, 2014; TRAUGOTT, 2014;

HILPERT, 2013, 2014; BYBEE, 2015; BARðDAL et al., 2015).

O objetivo central desta pesquisa é depreender as mudanças observadas na evolução diacrônica

da rede das construções causais ao longo da história do português (do século XIII ao século XXI) à luz

do modelo teórico da Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT,

2001; BYBEE, 2006, 2010, 2013; DIESSEL, 2015, 2017). Mais especificamente, focalizamos as

trajetórias diacrônicas das construções causais especificadas por conectivo causal, ou seja, conectivo

que introduz o segmento causal (não o segmento efeito) da construção, por exemplo, porque, pois, pois

que, porquanto, ca, como, já que, dado que, visto que, uma vez que, por causa que, entre outros.

Portanto, o objeto de estudo desta pesquisa é o conjunto das construções conectivas causais da língua

portuguesa.

Desse objetivo mais geral, decorrem os seguintes objetivos mais específicos:

- investigar as propriedades de uso de cada microconstrução causal em cada período da história do

português, evidenciando suas convergências e divergências;

- depreender a configuração da rede de construções causais em cada período da história do português;

- descrever a trajetória de cada microconstrução conectiva causal atestada no corpus.

Duas hipóteses mais gerais norteiam esta pesquisa, ambas pautadas na visão de língua como rede

de construções. A primeira delas está baseada no princípio da não sinonímia, tal como formulado por

Goldberg (1995, p. 67), segundo o qual construções sintaticamente distintas devem ser semântica ou

pragmaticamente distintas. Com base nesse princípio, assumimos como hipótese que construções

causais sintaticamente distintas se diferenciam pelo tipo de relação causal que estabelecem no uso da

língua. A segunda hipótese está associada ao princípio da motivação maximizada, também proposto por

Goldberg (1995, p. 67). De acordo com este princípio, construções sintaticamente relacionadas possuem

alguma relação do ponto de vista semântico e/ou pragmático. A partir deste princípio, assumimos que

construções causais formalmente relacionadas compartilham algumas propriedades

semânticas/funcionais. Prevemos, por exemplo, que as construções causais que tipicamente se

manifestam por estruturas paratáticas tendem a estabelecer relação causal no domínio referencial,

enquanto que as construções causais que se concretizam por estruturas hipotáticas tendem a estabelecer

relação causal no domínio epistêmico.

No que diz respeito à relação de causalidade, adoto aqui a proposta de Sweetser (1990), para

quem as relações causais podem se instanciar em três diferentes domínios conceptuais: o domínio de

conteúdo, o domínio epistêmico e o domínio dos atos de fala.

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Os excertos em (1), (2) e (3) ilustram ocorrências de construções conectivas causais em cada um desses

domínios:

DOMÍNIO DO CONTEÚDO (domínio referencial): relação causal entre estados de coisas, entre fatos do

“mundo real”. Exemplo:

(1) [...] Joham d'Avella mamteve sua temção & rrepousou ho dia sobre as alldeas com tres homẽs

que lhe fezerom companhia. E quamdo foy depois de meyo dia, vyram vir tres mouros com

tres asnos carregados de pão & quiserã-hos salltear, mas porque hera amtre as alldeas

temerom-se de cair em perigo [...]

(Crónica do Conde D. Pedro de Meneses, livro I, capítulo 38, CIPM)

Em (1), o estado de coisas expresso no segmento causal ‘porque hera amtre as alldeas’ é

apresentado como causa real (causa estrita) para o estado de coisas expresso no segmento ‘temerom-se

de cair em perigo’.

DOMÍNIO EPISTÊMICO: uma conclusão é inferida a partir de uma dada evidência; assim, a relação

causal é tomada como possível. Exemplo:

(2) Se alguu ome disser ca perdeu cousas que tija en encomẽda, pero queyra iurar que se perderõ,

déo o seu a seu dono, se outras cousas das suas non perdeu cũ ellas, ca nõ é razõ de seer sẽ

culpa, poys que as cousas que ten en encomẽda gardou peyor ca as suas.

(Foro Real, livro III, capítulo 16, fólio 12r, CIPM)

Em (2), o segmento causal ‘poys que as cousas que ten en encomẽda gardou peyor ca as suas’

consiste numa explicação para a conclusão expressa no segmento efeito ‘nõ é razõ de seer sẽ culpa’.

DOMÍNIO DOS ATOS DE FALA (domínio conversacional/interacional): um ato de fala com valor

explicativo é apresentado para justificar um ato de fala diretivo. Exemplo:

(3) [...] E neesta maneira Senhor dou aquy a vosa alteza [comta] // do que neesta vosa terra vy E

se a alguum pouco alomguey .elame perdoe. ca o desejo que tijnha de vos tudo dizer mo fez

asy poer pelo meudo .

(Carta de Pero Vaz de Caminha, fólios 13v-14r, CIPM)

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Em (3), o ato de fala ‘ca o desejo que tijnha de vos tudo dizer mo fez asy poer pelo meudo’

constitui uma justificativa para o ato de fala diretivo expresso no segmento ‘me perdoe’. Portanto, o

falante apresentou um ato de fala explicativo para justificar o ato de pedir perdão.

A fim de alcançarmos os objetivos propostos nesta pesquisa, constituímos um corpus diacrônico,

com textos representativos de cada século da história do português, selecionados a partir de bases de

corpora diacrônicos online que disponibilizam edições filológicas apropriadas para estudo linguístico.

Para fins de discussão dos resultados, consideramos ainda a seguinte periodização: português arcaico

(do século XIII ao século XXI), português clássico (da segunda metade do século XVI até o final do

século XVIII) e português moderno (do século XIX ao século XXI).

Para verificar a validade das hipóteses supracitadas, os dados são examinados segundo um

conjunto de variáveis sintáticas, semântico-pragmáticas e discursivo-funcionais, a saber:

VARIÁVEIS SINTÁTICAS

- o tipo de conectivo que introduz o segmento causal da construção;

- a ordenação linear dos segmentos causa e efeito da construção;

- a correferencialidade dos sujeitos das orações;

VARIÁVEIS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS E DISCURSIVO-FUNCIONAIS

- o tipo de relação causal estabelecida;

- os tipos de processos verbais envolvidos na construção;

- propriedades modo-temporais das orações;

- a configuração informacional da construção causal;

- a sequencialidade temporal entre os estados de coisas relacionados por causa e feito;

No momento, a análise dos dados do português arcaico já foi concluída. Os resultados

preliminares serão apresentados no Exame de Qualificação. Prossigo, então, com a análise dos dados

dos demais períodos e com a leitura de textos relacionados à temática desta pesquisa.

Referências

BARðDAL, J.; SMIRNOVA, E.; SOMMERER, L.; GILDEA, S.Diachronic Construction Grammar.

Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2015.

BYBEE, J. From usage to grammar: the mind’s response to repetition. In: Language, vol. 82 (4), pp.

711-733, 2006.

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

______.Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

______. Usage-based theory and exemplar representations of constructions. In: Thomas Hoffmann &

Graeme Trousdale (Eds.), The Oxford Handbook of Construction Grammar. Oxford: Oxford

University Press, 2013, p. 49-69.

______. Language change. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological Perspective. Oxford:

Oxford University Press, 2001.

DIESSEL, H. Usage-based construction grammar. In Ewa Dabrowska & Dagmar Divjak

(Eds.), Handbook of Cognitive Linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015, p. 295-321.

______. Usage-based linguistics. In: ARONOFF, M. (ed.), Oxford ResearchEncyclopedia

of Linguistics. New York: Oxford University Press, 2017.

GOLDBERG, A. E. Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument Structure.

Chicago: University of Chicago Press, 1995.

______. Constructions at work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford University

Press, 2006.

HILPERT, M. Construction changes in English. Developments in allomorphy, word formation, and

syntax. Cambridge: Cambridge University Press, 2013

______. Construction Grammar and its Application to English. Edinburgh: Edinburgh University

Press, 2014.

KEMMER, S.; BARLOW, M. Introduction: A Usage-Based Conception of Language. In: Suzanne

Kemmer & Michael Barlow (Eds.), Usage-Based Models of Language. Stanford: CSLI Publications,

Center for the Study of Language and Information, 2000, p. vii–xxvii.

LABOV, W. Principles of linguistic change. Volume I: Internal factors. Oxford: Blackwell, 1994.

PAIVA, M. C.; DUARTE, M. E. L. (orgs.), Mudança linguística em tempo real. Rio de Janeiro:

Contracapa, 2003.

SWEETSER, E.From Etymology to Pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic

structure.Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

TRAUGOTT, E. C. Towards a constructional framework for research on language change. In: HANCIL,

S.; KÖNIG, E. (eds.), Grammaticalization – theory and data (Studies in Language Companion; Series

162), pp. 87-105. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2014.

TRAUGOTT, E. C.; TROUSDALE, G. Constructionalization and constructional changes. Oxford:

Oxford University Press, 2013.

________. Contentful constructionalization. In: Journal of Historical Linguistics, vol. 4 (2), pp. 256-

283, 2014.

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O USO DO PRESENTE PARA NOTICIAR FATOS PASSADOS EM MANCHETES

JORNALÍSTICAS

Autora: Caroline Soares da Silva (CNPq)

Orientadora: Lilian Ferrari

Este estudo examina escolhas temporais em manchetes e subtítulos de jornais online em português (O

Globo, Jornal do Brasil, Estadão e Folha de São Paulo), sob a perspectiva teórica da Gramática

Cognitiva (LANGACKER, 1987, 1991, 2008). A investigação do gênero jornalístico provém de uma

vasta tradição de estudos, com raízes na retórica, na literatura e na filosofia (BAKTHIN, [1979]2003),

e de desenvolvimentos subsequentes no âmbito da Linguística. No que se refere ao Português Brasileiro,

destacam-se as propostas da Linguística Textual, fortemente associadas à contribuição de Marcuschi

(2000, 2008), e da Linguística Funcional, com trabalhos sobre a caracterização funcional dos gêneros

textuais (DECAT, 2008) e, mais especificamente, sobre manchetes jornalísticas (SOARES, 2013). Na

esteira desses estudos, e aprofundando seu escopo de atuação, o presente trabalho investiga as estruturas

cognitivas associadas às manchetes e subtítulos jornalísticos. A hipótese que orienta a pesquisa é a de

que a escolha do Tempo Presente sinaliza uma proximidade epistêmica ao evento. Nos termos de

Langacker, o Presente em inglês especifica que um processo epistêmico associado ao evento é

concomitante ao momento da fala. Nosso estudo permite ampliar essa proposta, apontando a

possibilidade de um processo cognitivo de natureza pragmática. A análise tem objetivo duplo: (i)

investigar os mecanismos cognitivos associados ao uso do Presente do Indicativo para referência a

eventos passados; (ii) contrastar esse uso com outro mais canônico em que tempos de passado indicam,

de fato, eventos passados. Com relação ao primeiro objetivo, a investigação parte do modelo proposto

por Langacker para tratar de usos epistêmicos do presente simples em inglês (LANGACKER, 2001,

2009), expandindo-o para acomodar atos de fala. Argumenta-se que o uso do presente para indicar

eventos passados em manchetes e subtítulos sinaliza a ocorrência de um ato de fala de noticiar em

concomitância com o evento de fala. Com relação ao segundo objetivo, os resultados indicam que o uso

do Presente do Indicativo predomina tanto em manchetes quanto em subtítulos, embora a combinação

mais frequente seja MANCHETE (Presente) - SUBTÍTULO (Passado). Essa distribuição sugere a

existência de uma divisão de tarefas entre manchetes e subtítulos, de forma que as primeiras realizam o

ato de fala de noticiar, enquanto os subtítulos especificam as circunstâncias do evento reportado. A

coleta de dados evidenciou outros três grupos principais de combinações temporais: MANCHETE

(Presente) - SUBTÍTULO (Presente) / MANCHETE (Passado) - SUBTÍTULO (Passado) e

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

MANCHETE (Passado) - SUBTÍTULO (Presente). Na presente pesquisa, pretendemos demonstrar que

essas escolhas temporais nas manchetes e subtítulos de jornais online refletem processos cognitivos

associados a aspectos pragmáticos e estratégias de focalização que visam atrair a atenção do leitor para

a notícia. A proposta a ser desenvolvida é a de que os conceitos da Gramática Cognitiva, aplicados ao

estudo do tempo verbal, podem explicar aspectos relevantes da relação entre linguagem e cognição no

contexto do jornalismo online, uma vez que as práticas discursivas constituem um ambiente de

negociação intersubjetiva, do qual fazem parte os processamentos de conceptualização e de interação,

fatores importantes para uma análise aprofundada do sentido investigado.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. Trad. P. Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, [1979]

2003.

DECAT, M. B. N. A relevância da investigação dos processos linguísticos, numa abordagem

funcionalista, para os estudos sobre os gêneros textuais. In Estudos descritivos do português –

história, uso, variação. Antonio, J.D. (org), São Carlos: Editora Claraluz, 2008, p. 169-191.

ESTADÃO. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/>. Acesso em: março-abril de 2015.

FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: <www.folha.uol.com.br/>. Acesso em: março-abril de 2015.

JORNAL DO BRASIL. Disponível em: <www.jb.com.br>. Acesso em: março-abril de 2015.

LANGACKER, R. Foundations of cognitive grammar. vol. I: Theoretical prerequisites. Standford

CA: Stanford University Press, 1987.

______. Foundations of cognitive grammar. vol. II: Descriptive applications. Standford CA:

Stanford University Press, 1991.

______. The English Present Tense. English Language and Linguistics 5.2: 251-272. Cambridge

University Press, 2001.

______. The English present: Temporal coincidence vs. epistemic immediacy. In: Investigations in

cognitive grammar. (Cognitive linguistics research; 42). Mouton de Gruyter Berlin, New York, 2009.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. A. Da fala para a escrita: atividade de retextualização. São Paulo:

Cortez, 2000.

______. Produção textual, análise dos gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/>. Acesso em: março-abril de 2015.

SOARES, Caroline. O tempo presente em manchetes online: o uso do presente do indicativo para

referência ao passado recente. Dissertação (Mestrado em Letras). Instituto de Letras. Universidade

Federal Fluminense, Niterói: 2013.

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DA OCULTAÇÃO DOS FATOS AO DESLINDE DO CRIME: UMA ANÁLISE DA

DISCURSIVIDADE DO VERBAL E DO NÃO VERBAL NA ELUCIDAÇÃO DO CASO

ISABELLA NARDONI

Autora: Christine Mello Ministher (CAPES)

Orientadora: Tania Clemente de Souza

O Direito, como ciência humana, especificamente o Direito Penal, atua buscando indícios de

autoria e materialidade de delitos. Essa atuação se dá através de investigação sistemática, que dentre

diversos métodos investigativos, inclui depoimentos dos acusados, depoimentos de familiares, oitivas

de testemunhas, dentre outros. Sendo assim, essa é uma fase decisiva, para que uma simples investigação

policial se torne uma ação penal que, dependendo do tipo de crime, como no caso em tela, vá ao Tribunal

do Júri. Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar os discursos dos acusados, como também o

discurso jurídico no processo-crime da vítima Isabela Nardoni, crime bárbaro ocorrido em 2008, tendo

como acusados o pai e a madrasta da menina supramencionada.O arcabouço teórico-metodológicodesta

pesquisa encontra embasamento na Análise do Discurso (escola francesa), doravante AD, através da

discursividade do verbal e do não verbal, destacando-se aqui alguns de seus principais propagadores:

Pêcheux, Foucault, Ducrot, Orlandi, Souza, dentre outros.Os sujeitos da linguagem são seres sociais,

envolvidos no meio social em que vivem, disso decorre a contradição que os compõe. Nos dizeres de

Orlandi (1987, p. 150): “Como a apropriação da linguagem é social, os sujeitos da linguagem não são

abstratos e ideais, mas estão mergulhados no social que os envolve, de onde deriva a contradição que os

define”. Pode-se depreender da citação acima, que uma análise acurada da discursividade do verbal e

do não verbal é capaz de desvelar os fatos que os sujeitos da linguagem tentam ocultar, mormente

quando autores de um crime, visto que os sujeitos da linguagem são contraditórios.Um locutor é capaz

de prever qual será a reação do seu interlocutor, quando se posiciona no lugar deste, dessa forma o

locutor é capaz de organizar sua argumentação de modo que o seu interlocutor vai acabar revelando o

que aquele deseja saber. A esta capacidade do locutor, denomina-se antecipação(Orlandi: 2009, p. 39).

Todas as etapas de uma ação judicial penal, desde a inquirição preliminar de um suspeito, até a sua

condenação ou absolvição, são atravessadas por análises da discursividade do verbal e do não verbal. É

esta análise, que quando bem realizada, poderá deslindar um “crime perfeito”, aquele que não deixa

rastros de fácil detecção de autoria do real culpado. Para esta pesquisa, utiliza-se comocorpus:entrevistas

dadas pelo casal de acusados, pelos parentes dos acusados, como também pelos demais parentes da

vítima; por coletivas emitidas pelos operadores do Direito envolvidos no caso; por peças processuais de

caráter não confidencial; por laudos de médicos legistas; por matérias divulgadas pelos veículos de

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imprensa televisiva, radiofônica, digital e impressa. Como estetrabalhoainda está em fase de curso de

disciplinas essenciais, além de amplas leituras de fundamentação teórica e levantamento preliminar de

dados, não se tem ainda resultados contundentes para serem apresentados, todavia com o

desenvolvimento desta pesquisa, pretende-se responder às seguintes perguntas: a) Como a AD pode

demonstrar indícios de quem são os suspeitos de determinado caso criminal concreto? b) Mesmo em

caso de negativa de autoria, é possível comprovar que estes que negam ter cometido determinado crime

são os reais autores? c) De que modo a AD pode contribuir para desenlear um crime, mesmo quando da

não confissão, mesmo ante a tese de negativa de autoria? Em suma, objetiva-se demonstrar como a AD,

com todos os seus procedimentos e métodos de análise, atuará para a elucidação de casos de difícil

solução, mormente quando os métodos e provas estritamente usados em Direito não dão conta de

solucionar a demanda.

Referências

DUCROT. O. O dizer e o dito. São Paulo: Pontes, 1987.

FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Cadernos da PUC, n. 6, pp.1-102,

1974.

_______. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

_______. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 36 ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1987.

________. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 8ed. Campinas: Pontes, 2009.

PÊCHEUX, M.Analyse authomatique du discours.Paris: Dunod, 1969.

_______. O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. por Eni P. Orlandi. Campinas: Pontes, 1990.

________.Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Unicamp, 1995.

________. Quando a falha fala: materialidade, sujeito, sentido. In: Discurso em análise: sujeito,

sentido, ideologia. Campinas: Pontes, 2012.

SOUZA, T. C. C.A análise do não verbal e os usos da imagem nos meios de comunicação. In: Rua, v.

7. n. 1, Campinas, 2001.

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A COMPLEMENTAÇÃO SENTENCIAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO:INVESTIGANDO

UMA REDE TAXONÔMICA DE CONSTRUÇÕES

Autora: Dayanne de Oliveira Silva (CNPq)

Orientador: Diogo Pinheiro

A Construção de Complementação Sentencial (CCS) do português brasileiro, cuja forma é

SUJEITO + VERBO + SINTAGMA ORACIONAL INTRODUZIDO PELO “QUE”

COMPLEMENTIZADOR, é amplamente utilizada para reportar discursos, percepções e avaliações,

como se pode observar nos exemplos (1) e (2) abaixo.

(1) Ele percebeu que a aula estava interessante.

(2) Ele comentou que a aula estava interessante.

(3) ?? Ele elogiou que a aula estava interessante.

No entanto, certas formulações com complemento sentencial, ainda que pareçam sintática e

semanticamente plausíveis, não são possíveis, como se verifica em (3). A partir dessa observação, busca-

se, sob a luz da Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 2006; 2013; BYBEE, 2010;

DIESSEL, 2015), caracterizar o conhecimento do falante do PB sobre a CCS, de modo a explicar como

ele é capaz de evitar sentenças como (3), assim como tantas outras com verbos como “detalhar” e

“criticar”, que constituiriam supergeneralizações da construção.

Para investigar a natureza do saber linguístico inconsciente que leva o falante a evitar tais

sentenças, foi realizado um experimento de produção induzida, no qual os participantes assistiram a uma

sequência de vídeos curtos e, ao final de cada um, responderam a uma pergunta interpretativa. A variável

dependente foi o índice de respostas com emprego da CCS, em oposição a outras molduras sintáticas;

as variáveis independentes foram a frequência do verbo na CCS (nula versus não-nula) e a classe

semântica do verbo (anúncio versus crítica).

O experimento demonstrou que os falantes recorrem ao seu conhecimento de natureza gramatical

(especificamente semântico) para evitar supergeneralizações da CCS, isto é, utilizam verbos

pertencentes a determinadas classes semânticas, evitando verbos de outras classes. No entanto, os

falantes se baseiam também em informações de natureza estatística do tipo enraizamento

(“entrenchment”), evitando utilizar na CCS os verbos que não experienciam empregados nela.

Diante desse resultado, busca-se ampliar a descrição da rede construcional da CCS, de modo a

incluir verbos de outras classes semânticas para além da utilizada no experimento. Utilizam-se, para este

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fim, os corpora anotados NILC/São Carlos(32.461.815 palavras) e Corpus Brasileiro(989.012.584

palavras) que estão disponíveis por meio do Projeto AC/DC na Linguateca

(http://www.linguateca.pt/ACDC). Os resultados da busca passarão por uma análise qualitativa: após o

levantamento de todos os verbos encontrados nas instâncias da CCS, eles serão agrupados em classes

semânticas. Para essa categorização, dada a ausência de uma proposta suficientemente abrangente

voltada especificamente para o português, tomaremos como ponto de partida a tipologia clássica de

verbos do inglês desenvolvida por Levin(1993). Considerando-se que tipicamente, em Gramática de

Construções, classes semânticas servem para definir construções de nível intermediário em uma rede

taxonômica de construções (HOFFMANN, 2017; PEREK, 2015), essa classificação permitirá mapear a

organização da rede construcional da CCS.

A partir dos dados obtidos na análise dos corpora, será realizado um novo experimento de

produção induzida, desta vez incluindo um número maior de classes semânticas. Com isso, pretende-se

confirmar os achados anteriores e, sobretudo, verificar a atuação de um segundo tipo de conhecimento

de natureza estatística – o bloqueio (statistical preemption), que não foi comprovado (não alcançou

significância estatística (p = 0.15)) no primeiro experimento.

A descrição da CCS objetiva, não apenas fornecer dados para o experimento, mas também

contribuir para o conhecimento de uma parcela até aqui pouco conhecida da rede construcional do

português brasileiro – a CCS é uma construção regular e complexa, e a maior parte dos trabalhos

construcionistas sobre o PB tem dado preferência a construções idiomáticas (isto é, sintática ou

semanticamente irregulares) e simples (abstraídas a partir de sentenças formadas por uma única

cláusula).

Referências:

BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: University Press, 2010.

DIESSEL, H. Usage-based Construction Grammar. In: DABROWSKA, E.; DIVJAK, D.

TheHandbook of Cognitive Linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015.

GOLDBERG, A. E. Constructions at work: the nature of generalization in language. Cambridge:

University Press, 2006.

______. Constructionist approaches. In: HOFFMAN, T.; TROUSDALE, G. (Eds). The Oxford

Handbook of Construction Grammar. Oxford. New York: Oxford University Press, 2013.

HOFFMANN, T. From constructions to construction grammars. In: DANCYGIER, B. (Ed.) The

Cambridge Handbook of Construction Grammar. Cambridge: CUP, 2017

LEVIN, B. English verb classes and alternations: A preliminary investigation. Chicago: University

Press, 1993.

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PEREK, F. Argument structure in Usage-Based Construction Grammar. Amsterdam: John

Benjamins, 2015.

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DISCURSO DO CONTATO COM INDÍGENAS ISOLADOS PÁNO

Autora: Flávia Leonel Falchi (CAPES)

Orientadora: Tania Conceição Clemente de Souza

A pesquisa de doutorado objetiva apresentar uma análise sobre o discurso acerca dos contatos

realizados entre a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e os grupos indígenas isolados Páno. A família

etnolinguística Páno é formada por grupos originariamente falantes de línguas indígenas que se

localizam no Brasil, no Peru e na Bolívia. Desde a criação da FUNAI, em 1967, quatro grupos Páno

isolados foram contatados no Brasil: Matsés, Matis, Korubo e Isolados do Xinane.

Segundo Piccoli (1993), a história de contato entre os grupos Páno e não índios se inicia, na

segunda metade do século XIX, com a exploração do látex na região amazônica para a produção de

borracha. Ao longo desses anos, alguns grupos indígenas não mantiveram contato com os não índios. O

último contato já realizado com um grupo Páno em isolamento foi feito em 2014.

O corpus do estudo é constituído por entrevistas feitas com membros da FUNAI ou dos grupos

indígenas que participaram do contato com os Matsés, Matis, Korubo e Isolados do Xinane. Para o

estudo, segue-se a Análise de Discurso de Linha Francesa. Ao tratar acerca da noção de corpo em

situação de contato, recorre-se também à Pragmática, no que diz respeito às relações entre corpo,

identidade e performatividade levantadas por Pinto (2002, 2007), que se baseou em Derrida (1990) e

Butler (1997, 1998, 1999), nas interpretações de Austin (1976) feitas por estes dois autores.

“Uma visão performativa da linguagem deve integrar a complexidade das condições do sujeito

que fala” (PINTO, 2002, p. 77). No ato de fala, conforme Pinto (2002), o agir diz respeito ao agir do

corpo, havendo relação entre linguagem e corpo. “O efeito do ato de fala é operado ao mesmo tempo

pelo que é dito, pelo quem diz e pelo como é dito – como o corpo diz, como o enunciado diz”(PINTO,

2002, p. 85). As estilizações do corpo compõem a marcação social, sendo que o corpo marca a identidade

dos falantes. Para Pinto (2002, p. 96), “do ponto de vista dos atos de fala, identidades são performativas,

ou seja, são efeitos de atos que impulsionam marcações em quadros de comportamentos (fala, escrita,

vestimentas, alimentação, cultos, elos parentais, filiações, etc.)”. Com base nisso, para o estudo de

doutorado, propõe-se uma análise discursiva do corpo como não verbal.

Na análise das entrevistas, observa-se um discurso sobre a forma de contato que remete à memória

dos contatos realizados pelos irmãos Villas Bôas e por Rondon, bem como à memória da “chegada” dos

europeus à América, com Colombo e Cabral. Levando-se isso em conta, trabalha-se com a noção de

discurso fundador (ORLANDI, 1993). O discurso que justifica o contato atual compartilha também de

justificativa semelhante à adotada no discurso da época da exploração do látex nos seringais.

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Ademais, o efeito de sentido causado pelo machado e outros objetos dados aos isolados como

“presentes” no início do contato ocasionou um efeito positivo reforçado pela cultura Páno no que se

refere à repulsa cultural existente com pessoas que sejam sovinas (ver ARISI, 2011).

Referências

ARISI, B. M.Matis e Korubo: contato e índios isolados, relações entre povos no Vale do Javari,

Amazônia. 2007. 149 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Centro de Filosofia e Ciências

Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. Disponível em:

<http://tede.ufsc.br/teses/PASO0186.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2011.

ORLANDI, E. P. (Org.). Discurso fundador (a formação do país e a construção da identidade nacional).

Campinas, SP: Pontes, 1993.

PICCOLI, J. C. Sociedades tribais e a expansão da economia da borracha na área Juruá-Purus.349

f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais)-Faculdade de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, São Paulo, 1993.

PINTO, J. P. Estilizações de gênero em discurso sobre linguagem. 219 f. Tese (Doutorado em

Linguística)-Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP,

2002.

______. Conexões teóricas entre performatividade, corpo e identidades. D.E.L.T.A.: documentação de

estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 23, n. 1, p. 1-26, 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/delta/v23n1/a01v23n1.pdf>. Acesso em: 11 out. 2017.

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UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA NA DESCRIÇÃO DAS CONSTRUÇÕES

QUANTITATIVAS DA LÍNGUA RUSSA

Autora: Gabrielle de Figueira do Nascimento (CAPES)

Orientadora: Karen Alonso

Co-orientador: Diego Oliveira

Esta pesquisa consiste em apresentar uma proposta de descrição e análise de quatro construções

quantitativas da língua russa, são estas: Mórie SNgen (‘‘Um mar de’’), Gorá SNgen (‘‘Uma montanha

de’’), Káplia SNgen (‘‘Uma gota de’’), e Górst SNgen (‘‘Um punhado de’’). Dentro da proposta, temos

como objetivo realizar uma análise comparativa do uso dessas construções em termos de suas

propriedades formais e semântico-pragmáticas, bem como o modo pelo qual elas se distribuem na rede

linguística, considerando a associação delas com o padrão mais geral SN SNgen. Os parâmetros

considerados para a seleção das quatro mesoconstruções têm como medidas (i) a quantidade expressa,

isto é, grande - mórie (‘‘mar’’) e gorá (‘‘montanha’’) - e pequena quantidade – káplia (‘‘gota’’) e górst

(‘‘punhado’’); e (ii) a presença do traço +líquido na semântica do quantificador, sendo mórie (‘‘mar’’)

e káplia (‘‘gota’’) +líquido e gorá (‘‘montanha’’) e gorst (‘‘punhado’’) – líquido. A hipótese geral do

trabalho parte da premissa de que, embora essas construções compartilhem alguns contextos, em outros

elas apresentam preferências colocacionais, isto é, tais construções permitem determinados itens no

preenchimento do slot aberto do segundo SN, enquanto outras podem bloquear as mesmas opções de

preenchimento. Por exemplo, na análise preliminar de dados, os quantificadores mórie e gorá possuem

contextos com o elemento ‘‘ouro’’ (zóloto, em russo): gorá zólota (‘‘uma montanha de ouro’’) e mórie

zóloto (‘‘um mar de ouro’’). No entanto, o quantificador káplia não permite contextos com ‘‘ouro’’:

*káplia zólota, significando ‘‘um pouco de ouro’’. Ademais, o quantificador káplia (‘‘gota’’) permite

uma partícula de negação ni (‘‘nem’’) o antecedendo: ni káplia liubvi (‘‘nem uma gota de amor’’). O

mesmo contexto não é compartilhado por gorá (‘‘montanha’’) e mórie (‘‘mar’’), por exemplo. A

abordagem adotada pela pesquisa segue os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no

Uso (BYBEE, 2016, 2013; BARLOW & KEMMER, 2000), a qual estabelece que a gramática é moldada

pelo falante através do discurso e por processos cognitivos de domínio geral, isto é, não são restritos à

linguagem. Alinhada à Linguística Funcional Centrado no Uso, o modelo da Gramática de Construções

Baseada no uso (CROFT, 2001; GOLDBERG, 1995, 2006; HILPERT, 2014; DIESSEL, 2015) fornece

princípios norteadores para a pesquisa. Segundo o modelo, o conhecimento linguístico é composto por

um inventário de construções, descritas como a combinação de uma forma e função, em formato de rede

construcional. No trabalho, assumimos que a construção mais abstrata SN SNgen é uma construção da

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língua russa e se relaciona com as quatro mesoconstruções em foco, compartilhando propriedades

formais e semânticopragmáticas. Metodologicamente, pretendemos coletar dados da modalidade oral e

escrita provenientes do Corpus Nacional da Língua Russa (http://www.ruscorpora.ru/). No primeiro

momento, criaremos um subcorpus e delimitaremos as ocorrências de cada mesoconstrução em cerca

de 12 (doze) milhões de palavras. Depois, realizaremos a busca pelo quantificador, restringindo o caso

gramatical do segundo SN – genitivo. Após a coleta de dados, distribuiremos os exemplares de cada

mesoconstrução em termos de tipos semânticos de forma a observar parâmetros como

composicionalidade (o grau de coerência semântica entre os quantificadores e os itens que instanciam o

slot SNgen) e produtividade (a variedade de tipos recrutados para o slot SNgen por cada

mesoconstrução), verificando traços como +contável e +concreto. A distribuição dos exemplares com

suas preferências e restrições e os processos semântico-cognitivos de cada mesoconstrução nos ajudarão

a observar as propriedades idiossincráticas delas na rede linguística.

Referências:

BARLOW, M.; KEMMER, S. (Org.). Usage based models of language. Stanford, California: CSLI

Publications, 2000.

BYBEE, J. Língua, Uso e Cognição. Tradução Maria Angélica Furtado da Cunha; revisão técnica

Sebastião Carlos Leite Gonçalves. — São Paulo: Cortez, 2016.

CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford:

Oxford University Press, 2001.

DIESSEL, H. Usage-based Construction Grammar. In: DABROWSKA, E.; DIVJAK, D.

TheHandbook of Cognitive Linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015.

GOLDBERG, A. E. A construction grammar approach to argument structure. Chicago/London:

The University of Chicago Press, 1995.

________. Constructions at work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford

University Press, 2006.

HILPERT, M. Construction Grammar and its application to English. Edinburgh: University Press,

2014.

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DA CATEGORIZAÇÃO RADIAL AO ARMAZENAMENTO CONSTRUCIONAL: O QUE

NOS ENSINAM OS VERBOS DE SEPARAÇÃO DO PORTUGUÊS?

Autora: Jéssica Cassemiro Muniz dos Santos (CAPES)

Orientador: Diogo Pinheiro

Partindo da observação de que a tradição cognitivista carece de evidências empíricas em favor

da alardeada rejeição às categorias clássicas (isto é, baseadas em propriedades necessárias e suficientes),

este trabalho parte da seguinte pergunta: é possível demonstrar empiricamente que as categorias

linguísticas de fato apresentam estrutura radial?

Para responder a essa indagação, desenvolvemos um experimento no qual os participantes

deveriam fornecer descrição oral para eventos de separação encenados em vídeos curtos. O objetivo era

avaliar se a semântica dos verbos “cortar”, “quebrar” e “rasgar” poderia ser descrita em termos de

propriedades necessárias e suficientes.

Com base nos resultados alcançados pelo Projeto Cut&Break, desenvolvido pelo Instituto Max

Planck (MAJID et alii, 2008), selecionamos propriedades semânticas que poderiam, em tese, estabelecer

uma distinção entre esses três verbos: tipo de objeto (rígido/maleável); instrumento cortante

(presença/ausência); e modo de separação (precisa/ imprecisa). A análise das respostas se concentrou

em avaliar se algum subgrupo desses atributos se qualificaria como um conjunto de propriedades

necessárias e suficientes para definir ao menos uma das categorias verbais selecionadas.

Os resultados sugerem que, embora categorias lexicais com estrutura clássica não sejam

inexistentes, a rejeição cognitivista à categorização aristotélica está fundamentalmente correta. De

maneira geral, não foi possível identificar um elenco de propriedades necessárias e suficientes para

nenhum dos três verbos. Por exemplo, em um vídeo no qual o ator quebrava uma cenoura com as mãos,

parte dos sujeitos optou por descrever a cena empregando o verbo “cortar”. Ao mesmo tempo em que

isso sugere, de forma contra intuitiva, que as propriedades instrumento cortante e separação precisa não

são necessárias para o emprego de “cortar”, escolhas inesperadas como estas levantam uma segunda

questão: o que leva o falante a optar por um determinado verbo (como “cortar”) quando está disponível

outro verbo (como “quebrar”) cuja semântica se compatibiliza perfeitamente à da situação a ser descrita?

Tomando como base a Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 2006),

hipotetizamos que opções como estas decorrem da estrutura hierárquica e redundante da rede

construcional. Em particular, assumimos que construções “verb-specific”, do tipo CORTAR NP e

QUEBRAR NP, co-existem com construções ainda mais concretas, armazenadas redundantemente,

como CORTAR CENOURA e QUEBRAR COPO. Esse tipo de arquitetura construcional poderia

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motivar os usos inesperados identificados no primeiro experimento, oferecendo explicação para os

efeitos de prototipicidade.

Para verificar essa hipótese, desenvolvemos outro experimento, cuja tarefa também era a

descrição oral de cenas representando eventos de separação. Duas variáveis independentes foram

levadas em conta: o tipo de evento (com/sem instrumento cortante) e o tipo de referente (referentes

designados por nomes que tipicamente co-ocorrem com “cortar” e referentes designados por nomes que

tipicamente co-ocorrem com “quebrar”).

Os resultados sugeriram que ambas as variáveis interferem na escolha do verbo. Em relação ao

tipo de situação, houve diferença significativa (p < 0.0001) na distribuição dos verbos “quebrar” e

“cortar” nas condições com instrumento cortante e sem instrumento cortante, revelando que o frame

semântico evocado por cada verbo desempenha papel crucial. Em relação ao referente, a diferença de

distribuição dos verbos “cortar” e “quebrar” nas condições referentes designado por nomes que co-

ocorrem com “cortar” e referentes designados por nomes que co-ocorrem com “quebrar” também se

mostrou significativa (p < 0.0001), demonstrando que os falantes podem optar por usos mais concretos

mesmo quando essa opção viola a semântica do verbo.

Os resultados desse experimento são um forte argumento em favor da hipótese de que o

armazenamento das construções gramaticais é redundante: se o falante não armazenasse sequências

específicas de verbos e complementos, não seria possível explicar por que eles estariam dispostos,

quando diante de situações não-usuais, a desconsiderar as propriedades semânticas dos verbos

empregados.

Referências

GOLDBERG, A. E. Constructions at work. Oxford: University Press, 2006.

MAJID, A.; BOSTER, J. S.; BOWERMAN, M.. The cross-linguistic categorization of everyday events:

A study of cutting and breaking.Cognition, 109(2), 235-250, 2008.

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ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO [VERBO ADJETIVO ADVERBIAL] EM VARIAÇÃO COM A

CONSTRUÇÃO [VERBO XMENTE] DE PAREAMENTO QUALITATIVO NO PB

Autora: Júlia Langer de Campos (CNPq)

Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario

Co-orientadora:Priscilla Mouta Marques

O presente trabalho busca descrever um padrão construcional qualitativo do português em que

um adjetivo modifica o escopo do verbo, assumindo, assim, função adverbial (Ex.: Maria fala rápido).

Para tal fim, pautamo-nos no arcabouço teórico-metodológico da Linguística Funcional Centrada no

Uso (Barlow e Kemmer, 2000; Bybee, 2010; Traugott e Trousdale, 2013), segundo o qual a língua é

conceptualizada como uma rede simbólica de construções, apresentando níveis hierárquicos

relacionados aos diferentes graus de esquematicidade – dos mais abstratos (esquemas) aos mais

concretos (construtos). Assim sendo, a construção com adjetivo adverbial – [Verbo Adjetivo

Adverbial]Qualit ou [V AA]Qualit – é um pareamento de forma e função instanciado por um esquema maior

[V Adverbial]Qualit. Esta instância mais abstrata abarca não só a construção [V AA], mas outras que

também modificam qualitativamente o verbo, dentre elas a construção com advérbios em -mente,

representada por [V X-mente]Qualit.

Posto isso, este trabalho objetiva ainda estabelecer uma comparação entre esses dois padrões

construcionais de modificação qualitativa: [Verbo Adjetivo Adverbializado] e [Verbo X-mente], em que

a construção com o advérbio canônico apresenta a mesma base lexical do adjetivo em função adverbial

- O cabelo cresce naturale O cabelo cresce naturalmente-, a fim de observar quais fatores estruturais

e/ou discursivo-pragmáticos estão relacionados a essas construções no português do Brasil (PB) atual.

Para isso, coletamos ocorrências das duas referidas construções no Corpus do Português aba web. Os

fatores analisados tanto para a especificação dos contextos que propiciam a ocorrência quanto para a

descrição destes dois padrões no PB foram: frequência type e token do verbo e do adjetivo; tipo de verbo

e de adjetivo; estrutura argumental; foco informacional; tipo de foco compartilhado; ambiguidade

(semântica ou sintática); possibilidade e frequência de ocorrência do verbo em uma de suas formas

nominais; presença ou ausência de elemento interveniente e o grau de composicionalidade entre os

elementos construcionais. A hipótese geral é a de que há contextos em que essas duas construções

qualitativas variam mais livremente em termos de suas formas e significados, porém, em outros

contextos, há uma aparente especialização de cada um dos padrões analisados, conferindo-lhes

restrições colocacionais.

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Até o presente momento, no que diz respeito à frequência token, observamos que a construção

[V AA]Qualit é mais frequente quando o papel semântico é o qualitativo. Além disso, a construção com

adjetivo tende a ser mais esquemática e produtiva no PB em comparação à construção com advérbio

canônico de mesma base, dada a maior aceitabilidade de itens verbais ocupando o slot V. O verbo na

construção com adjetivo tende a ser intransitivo, diferentemente da construção [V Xmente], em que o

verbo tende a ser transitivo, apresentando argumentos internos. Quanto ao foco informacional, a

construção [V AA]Qualit apresenta majoritariamente foco exclusivo, ao passo que a construção [V

Xmente]Qualit tende ao foco compartilhado. A construção [V AA], em geral, evidencia menor grau de

composicionalidade entre as unidades componentes, com tendências à formação de chunks, ao passo

que a construção com advérbio em -mente tende a ser mais composicional quando a semântica é a

qualitativa.

Referências

BARLOW, Michael e KEMMER, Suzanne (eds.). Usage based models of language. Stanfornd,

California: CSLI Publications, 2000.

BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

TRAUGOTT, E.C.; TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes. Oxford:

Oxford University Press, 2013.

Site Acessado: Corpus do Português: http://www.corpusdoportugues.org. Último acesso em:

23/07/2018.

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ORDENAÇÃO E INFORMATIVIDADE DO SINTAGMA NOMINAL COMPLEXO NO

GÊNERO NOTÍCIA POLÍTICA

Autora: Lorena Cardoso dos Santos (CAPES)

Orientadora: Vera Lúcia Paredes da Silva

Este trabalho tem o objetivo de demonstrar um recorte dos estudos que vêm sendo desenvolvidos

em minha tese de doutoramento. O objetivo geral da tese é investigar a correlação que existe entre o

uso de Sintagmas Nominais Complexos (doravante SNC) e o gênero notícia política. Trata-se de uma

análise comparativa entre os suportes impresso e digital. Para tal, utilizamos exemplares do site G1 e do

jornal O Globo. O estudo utiliza o SNC como um dos parâmetros para a caracterização dos gêneros e

dos tipos textuais (cf. SANTOS, 2015), examinando sua constituição e funções. Considera-se complexo

o SN que possui dois ou mais itens lexicais. É importante ressaltar que não só o uso de modificadores,

sintagmas preposicionais e orações adjetivas encaixadas podem ser considerados fatores de

complexidade no SN, mas também aspectos discursivo-funcionais, como o estatuto informacional (cf.

PRINCE 1981, 1992). Esse aspecto, aliás, está em correlação com a posição que o SN ocupa na sentença,

pois segundo WASOW (1997), estruturas pesadas tendem a vir à direita do verbo, numa posição de peso

crescente, corroborando o “princípio do ponto de partida leve”, de CHAFE (1987). A motivação para

uma análise que priorize a comparação de usos do mesmo gênero em dois suportes distintos se deu a

partir de uma constatação: a web passou a comportar um vasto número de gêneros digitais relativamente

estáveis, como chats, blogs, twitter, Podcasts, entrevistas, e-mails, etc. E é interessante perceber que

muitos destes gêneros possuem sua contraparte no meio impresso (físico), como é o caso das notícias,

no entanto, a circulação da informação e consequentemente a atualização desta se dá de modo muito

mais imediato no meio digital. Desse modo, a escolha das estruturas nominais que serão efetivamente

usadas no texto possui uma dinâmica diferente. Os SNC são estruturas próprias da escrita mais

planejada (cf. CHAFE,1987), com uma tendência a possuírem nominalizações, uma vez que a

complexidade de arranjos que envolvem a projeção argumental de forma mais compactada se faz mais

presente na escrita mais planejada. No entanto, o tempo de planejamento, no caso de uma atualização

de notícia na web, por exemplo, é menor do que o de uma notícia impressa. É importante, portanto,

refletir sobre como os suportes contribuem para a apresentação dos gêneros e se os suportes podem

interferir na formação dos gêneros textuais. Desse modo, à luz do Funcionalismo norte-americano e das

Análises de Gêneros (cf. BAKHTIN, 2003 e 2014, MARCUSCHI, 2008 e PAREDES SILVA, 2010 e

2012), pretendemos confirmar a hipótese de que existiria uma correlação entre o uso de SNC e as

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sequências textuais - mais ou menos narrativas, possuindo inclusive alguns graus de argumentatividade

- no gênero notícia política.

Referências

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso In: Estética da criação verbal. São Paulo, Martins Fontes,

2003.

____________. Marxismo e a filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico

da linguagem- 16. Ed. - São Paulo: Hucitec, 2014.

CHAFE, W. Cognitive Constrains on Information Flow. In: TOMLIN, R. Coherence and grounding

in discourse, p. 21-51. Amsterdam: John Benjamins,1987.

MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

______. A questão do suporte dos gêneros textuais. Disponível em http://bbs.metalink.com.br

PAREDES SILVA, V. Gêneros e tipos de texto: aproximações e distinções. Diacrítica 24/1, Revista

do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho. Braga, 2010 p. 471-489 .

______. An approach to analyzing written genres through Complex Noun Phrases. Palestra apresentada

no Congresso Genre 2012 Rethinking Genre 20 Years Later. Universidade de Carleton, Ottawa,

Canada, 26 - 29 de Junho de 2012.

PRINCE, E. Towards a taxonomy of given/new information. In: COLE, P. (ed) Radical Pragmatic.

N.York: Academic Press, 1981

______.The ZPG Letter: Subjects, Definiteness and Information Status. In:MANN, W. &

THOMPSON,S. (eds) Discourse Description; Diverse Linguistic Analysis of a fund-raising

text.John Benjamins, Amsterdam/Philadelphia,1992. p.295-325

SANTOS, Lorena Cardoso dos. Da forma para a função: a correlação entre Sintagmas Nominais

Complexos e Editoriais. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística,

Universidade do Rio de Janeiro, 2015.

WASOW, T. Remarks on grammatical weight. In: Language Variation and Change, 9, p. 81-105,

1997.

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(DES)ORDEM DA IMAGEM E SENTIDOS DO OLHAR: GESTOS DE LEITURA DE

FOTOGRAFIA DIGITAL DA G MAGAZINE POR RASTREAMENTO OCULAR

Autor: Lucas Nascimento (FAPERJ)

Orientadora: Tania Clemente de Souza

A pesquisa proposta trata a relação teórica da Análise do Discurso de linha francesa com a

Linguística Experimental por meio de um experimento inédito sobre “Leitura de imagem por

rastreamento ocular (eyetracking)”. Com isso, destacamos a leitura de multimodalidade sincrética como

objeto de estudo, especificamente a polissemia como fenômeno semântico de percepção visual em

situação de leitura de fotografia digital de revista publicitária brasileira, no caso a G Magazine, cujos

movimentos oculares realizados construíram percursos de leitura, com efeitos de (des)ordem da imagem

e sentidos do olhar. Esses sentidos do olhar serão analisados como gestos de leitura.

O que veremos são dados de pesquisa da média de um experimento resultante da participação

de 24 jovens universitários, de uma instituição pública de ensino superior, e resultados individuais (gaze

plot, heat map e pairwise comparisons) de participante, de 20 anos, estudante do 3º período de Letras,

no ano letivo de 2017. A colaboração dos participantes foi para a tarefa de visualizar uma imagem e

responder uma pergunta, na tela de um computador, enquanto o rastreador ocular registrava seus tempos

e padrões de fixação.

Com o objetivo geral de contribuir para a compreensão do processo semântico polissemia

envolvido na visualização de imagens, os objetivos específicos são: (a) distinguir a leitura das áreas de

interesse em termos de suas propriedades conceptuais específicas, (b) investigar a distinção de leitura

entre áreas simples (“cueca”, “rosto”, “pernas”, etc.) e áreas particulares (“cueca do modelo direito”,

“cueca do modelo esquerdo”, “rosto da drag queen”, etc.), (c) analisar a leitura dos movimentos oculares

de um participante, por meio dos resultados de gaze plot e heat map (TFD: total fixation duration –

duração total de fixação em cada área de interesse) do experimento de rastreamento ocular, e, por fim,

(d) identificar valores de ‘p’ confiáveis do grupo homens heterossexuais por meio de pairwise

comparisons.

A justificativa de escolha de tais dados de grupo específico se baseia pela media de resposta

“sim”, em relação à pergunta “Há nudez na imagem?” (que se encontrava no último slide do

experimento), se apresentar diferente das respostas “não” dos demais cinco grupos participantes

(homens homossexuais, homens bissexuais, mulheres homossexuais, mulheres bissexuais, mulheres

heterossexuais) e pelo heat map e valor de ‘p’ desse grupo homens heterossexuais indicar pairwise

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comparisons, em relação às áreas de interesse: cueca do modelo direito, rosto-peruca-busto da drag

queen, rosto do Dicesar, sandália da drag queen, rosto do modelo direito.

A proposta de análise compartilha conhecimentos teóricos ao adotar para análise as dimensões

das várias facetas do construal (construção do significado) e a relação semântico-discursiva em

percepção visual de leitura de fotografia digital de capa publicitária, em edição de maio de 2010 de uma

revista de erotismo.

Com algumas tradições científicas, compartilharemos discussões teóricas prováveis hoje no

campo discursivo. Escolhemos para embasamento científico compartilhamentos como interfaces

mencionadas por Michel Pêcheux (em seu texto de 1984, publicação póstuma), ainda carentes de

desenvolvimentos teórico-metodológicos (NASCIMENTO, 2015). O desafio é trabalhar

investigativamente com duas teorias (ou mais) em modo de interfaces, por meio de diálogos,

revisitações, duelos, até mesmo com pontos de recusas, a fim de obter resultados para a leitura e a

interpretação da materialidade sincrética de textos modais.

Esclarecemos que esses “compartilhamentos” mencionados pelo autor são pensados em relação

aos funcionamentos sintáticos no “real da língua” (Pêcheux, 1983), que não estão estritamente limitados

na frase, mas que estão em relação aos fenômenos interfrásticos (e por essa via às marcas linguísticas

da enunciação e do registro dito pragmático), entendidos como pertencentes ao intradiscurso (conceito

que compreendeuma linguística das sequências discursivas) e ao interdiscurso (conceito que

compreende uma semântica das sequências discursivas, ou uma intersecção de atravessamentos dessas

sequências discursivas).

No mesmo texto que me referi sobre a escolha do termo “compartilhamento”, Michel Pêcheux

(1984) pontua o comprometimento e a contradição sobre os compartilhamentos: (1) o comprometimento

com posições de trabalho frente à discursividade: caso da História (por exemplo: história social das

mentalidades ou a arqueologia foucauldiana), da Sociologia (por exemplo: o simbólico nas relações

sociais), da Filosofia (por exemplo: a filosofia da linguagem); (2) a contradição em abordagem sob o

estatuto do sujeito no discurso, caso da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Intelectiva, de encontro a

Psicanálise (Lacaniana, por exemplo).

Com o procedimento investigativo de interfacear (1) e (2), é desenvolvido inauguralmente o

compartilhamento teórico proposto, por meio de uma pesquisa experimental inédita sobre “Leitura de

imagem” por rastreamento ocular.

Palavras-chave: Imagem cosmética; Fotografia digital publicitária;Leitura de imagem; Rastreamento

ocular; Sentidos do olhar.

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

Referências

NASCIMENTO, Lucas.Especificidade de uma disciplina de interpretação (a análise do discurso no

Brasil): alguns apontamentos. RevistaFilologia e Linguística Portuguesa, USP, v. 17, 2015, pp. 569-

596.

PÊCHEUX, Michel.[1983]. “Discourse: structure or event?”– Actes du Colloque Marxism and

Interpretation of Culture: Limits, Frontiers, Boundaries. L’Université Urbana-Champaign, 8-12 juillet

1983. In: PÊCHEUX, Michel. L’inquietude du Discours. Textes choisis et présentés par Denise

Maldidier. Paris: Éditions desCendres, 1990, pp. 303-323.

PÊCHEUX, Michel.O Discurso: estrutura ou acontecimento. Tradução de Eni Puccinelli Orlandi. 3. ed.

Campinas: Pontes, 2002.

PÊCHEUX,

Michel.[1984].“Especificidadedeumadisciplinadeinterpretação(AAnálisedoDiscursonaFrança)”.In:PÊ

CHEUX,Michel.AnálisedeDiscursoMichelPêcheux.TextosselecionadosporEniPuccinelliOrlandi.2.ed

.Campinas,SP:PontesEditores,2011. pp.227-230.

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DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO

ESPECTRO AUTISTA – SÍNDROME DE ASPERGER

Autora: Marcela Branco da Silva (CNPq)

Orientadora: Christina Abreu Gomes

Co-orientadora:Simone Aparecida Lopes-Herrera

A Síndrome de Asperger, inicialmente descrita pelo pediatra austríaco Hans Asperger em 1944,

encontra-se atualmente dentro dos chamados Transtornos do Espectro Autista (TEA), segundo o Manual

de Diagnóstico e Transtornos Mentais (DSM-V). É um transtorno do desenvolvimento que apresenta

alterações na interação social e na comunicação, sendo em maior ou menor grau. De acordo com

Padovani & Junior, 2010, trata-se de um transtorno comportamental, com alteração na relação social e

emocional e comportamentos e interesses diferentes, estando o desenvolvimento da linguagem sem

alteração e havendo prejuízo na compreensão verbal. Para Howlin (2003), não haveria um consenso se

o surgimento da linguagem verbal se daria com desenvolvimento normal ou se teria um leve atraso,

apresentando, ainda, segundo Pastorello (1996), desenvolvimento adequado dos elementos fonológicos

e sintáticos, ou seja, bom desenvolvimento dos aspectos formais da língua. Por outro lado, a

compreensão estaria alterada devido ao fato de essas crianças entenderem o conteúdo literal do que lhes

é dito, não realizando inferências e nem compreendendo metáforas.

A literatura sobre essa população clínica (Cleland, 2010), no entanto, tem mostrado que os

aspectos que envolvem articulação de sons linguísticos e habilidades fonológicas são afetados em grau

menor em comparação à alteração de habilidades comunicativas. Há evidência de que, nos dois aspectos,

produção de sons e conhecimento fonológico, as manifestações linguísticas se assemelham à de crianças

com diagnóstico de Atraso Simples.

O presente trabalho visa analisar qual nível ou tipo de conhecimento fonológico está afetado em

crianças diagnosticadas com Síndrome de Asperger, comparando-as com seus pares de desenvolvimento

típico e seus pares englobados em grupos clínicos (Distúrbio Fonológico, Distúrbio Específico de

Linguagem e Atraso de Linguagem), estudados nos trabalhos de Esteves (2013) e Silva (2014), com

crianças falantes do português brasileiro, assim como também os resultados serão comparados aos

achados na literatura em estudos sobre aquisição fonológica de crianças com desenvolvimento atípico

(Beckman, Munson & Edwards, 2007; Munson et al, 2010). O trabalho também tem como objetivo

contribuir para a discussão teórica em torno da representação e organização do conhecimento fonológico

no âmbito dos Modelos baseados no Uso.

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Para atingir o objetivo proposto de situar de que maneira o conhecimento fonológico se

desenvolve em crianças com Síndrome de Asperger, serão adotados os pressupostos da Fonologia de

acordo com os Modelos baseados no Uso ou Modelos Multirrepresentacionais (Silva e Gomes, 2007).

Os Modelos Baseados no Uso, ou aindaFonologia Baseada no Uso, consideram que o conhecimento

linguístico ou a gramática emerge da relação entre aspectos cognitivos inatos e o uso e procuram explicar

como as representações linguísticas são gerenciadas pelo uso. Para Beckman et al (2004) e Bybee

(2001,2010), a generalização sobre a experiência de aquisição e utilização de palavras possibilita o

surgimento do conhecimento fonológico. O conhecimento da estrutura fonológica, segundo Storkel

(2002) eMunson et al (2005), está correlacionado à estrutura e crescimento do próprio léxico. Para

Pierrehumbert (2002, p. 1), “a fonologia lida com o conhecimento implícito da estrutura da linguagem,

do som que é usado para transmitir um significado”.

A obtenção dos dados será realizada a partir da gravação da produção espontânea de cada criança

com Síndrome de Asperger e do grupo controle, composto por crianças de mesma idade cronológica e

desenvolvimento típico, e pelo teste ABFW (parte de nomeação). Além disso, será aplicado um teste de

repetição de pseudopalavras para observar o conhecimento fonológico das crianças envolvidas. O

tamanho do léxico receptivo também será avaliado, a partir do Teste Peabody de Dunn & Dunn, bem

como o vocabulário expressivo, utilizando o ABFW.

Referências

BECKMAN, M. E., MUNSON, B., & EDWARDS, J. The influence of vocabulary growth on

developmental changes in types of phonological knowledge. In press in J. Cole & J. Hualde (Eds.),

Laboratory Phonology 9 (p. 241-264). New York: Mouton de Gruyter, 2007.

CLELAND, J; GIBBON, F; PEPPÉ, S. J. E.; O’HARE, A.; RUTHERFORD, M. Phonetic and

phonological errors in children with high functioning autism and Asperger syndrome. International

Journal of Speech-Language Pathology, 12. p. 69–76, 2010.

ESTEVES, C. O Conhecimento Fonológico de Crianças com Dislexia, Desvio Fonológico e

Distúrbio Específico de Linguagem: Uma Análise Multirrepresentacional da Linguagem;Tese

(Doutorado) - UFRJ, 2013.

HOWLING, P. Outcome in High-functioning Adults with and without early language delays:

implications for the differentiation between autism and Asperger’s syndrome. Journal of Autism and

Developmental Disorders, 33 (1), p. 3-13, 2003.

MUNSON, B., BAYLIS, A.L., KRAUSE, M.O., & YIM, D. Representation and Access in Phonological

Impairment. In C. Fougeron, B. Kühnert, M. D'Imperio, & N. Vallée (Eds.), Laboratory Phonology

10. (p. 381-404). Berlin: Mouton de Gruyter, 2010.

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MUNSON, B., KURTZ, B.A., & WINDSOR, J. The Influence of Vocabulary Size, Phonotactic

Probability, and Wordlikeness on Nonword Repetitions of Children with and without Language

Impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 48, 1033-1047, 2005.

PADOVANI, C. R.; JUNIOR, F. B. A. Habilidades sociais na Síndrome de Asperger.

Boletim Acadêmico Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil. Volume 78, nº 01/10, p. 155-167.

PASTORELLO, L. M. Síndrome de Asperger. In: FERNANDES, F. D. M.; PASTORELLO, L. M.

SCHEUER, C. I. Fonoaudiologia nos Distúrbios Psiquiátricos da Infância. São Paulo, Ed. Lovise,

1996, p. 45-59.

PIERREHUMBERT, J. B. Word-Specific Phonetics. Laboratory Phonology VII, Mouton de Gruyter,

Berlin, pp. 101-139, 2002.

SILVA, T. C.; GOMES, C. A. Representações múltiplas e organização do componente linguístico.

Fórum Linguístico, v. 4. 2007, p.147-177.

SILVA, M. B. Aquisição Fonológica em Crianças Falantes Tardios: um estudo de caso.

Dissertação(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Letras, 2014.

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NA TRAMA DOS SENTIDOS: O EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO SOB A ÓTIMA DA

ANÁLISE DO DISCURSO

Autor: Márcio Lázaro Almeida da Silva (FAPERJ)

Orientadora: Tania Conceição Clemente de Souza

Evidências científicas da Análise do Discurso – disciplina de entremeio que, no seio da

Linguística, assume o discurso como objeto de estudo, compreendendo-o como o efeito de sentidos

entre interlocutores1 – nos permitem reconhecer o texto de um edital de concurso público, na condição

de materialidade discursiva, como uma arena em que se realizam inúmeras contradições. A AD,de

orientação francesa, à qual nos filiamos em nossas investigações, postula que todo texto apresenta

direções de sentido determinadas. Por meio das ferramentas que a língua oferece, o enunciador possui

as aberturas de que necessita para fazer manejos e manobras intencionadas na produção de sentidos

para/com seus interlocutores. Direcionar sentidos é fato próprio da língua e necessidade (in)consciente

do sujeito.

Como corolário desse processo, temos inevitavelmente a contradição entre as partes envolvidas

na interlocução; ela constitui concomitantemente elemento teórico e objeto de análise indispensável à

AD, uma vez que os sujeitos falantes podem estar em consonância ou em confronto sobre o sentido dado

às palavras. A contradição nos permite observar as relações de antagonismo ou aliança entre diferentes

formações discursivas2.

Ademais, o edital de concurso público, tomado sob o prisma da AD, é uma materialidade que

traz a articulação entre o simbólico e o político, o que nos permite colocá-lo numa posição privilegiada

de investigação. Frise-se que se trata de um texto prescritivo de regras que governam o concurso

público, uma das maiores conquistas políticas dos trabalhadores no Brasil. O concurso concentra uma

típica relação inscrita no modelo econômico do capitalismo: a relação entre

instituição/Administração/Estado e homem/administrado/sujeito; em outras palavras, uma relação entre

os que detêm os meios de produção e os que pretendem vender sua força de trabalho.

Assumimos o edital como nossa matéria empírica para investigar estratégias discursivas na

formulação dos enunciados que circulam em sua composição. Acreditamos que uma intervenção nesse

domínio, com os fundamentos da ciência da linguagem humana, possa trazer contribuições tanto para a

Administração (que necessita recrutar recursos humanos e, para isso, deve realizar um trâmite legítimo

que não fira os anseios e os direitos do cidadão) quanto para os administrados (os quais depositam sua

1 Confira Conein et al. (2016). 2 Para maiores detalhes ver Courtine (1982).

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fé em um processo que, por regra, deve ser imaculado, desprovido de vícios, isento de manobras aptas

a eivar todo processo administrativo referente a dado concurso).

Tomamos de empréstimo as noções de efeito metafórico, interdiscurso, paráfrase discursiva,

polissemia e repetição3. Para pôr em evidência estratégias produtoras de efeitos de sentidos usadas pelo

enunciador na textualização do edital, fazemos recortes de enunciados formulados em editais que não

sofreram qualquer forma de controle administrativo ou judicial e outros que foram impugnados,

suspensos, revogados ou anulados. Esses recortes constituem Sequências Discursivas Autônomas

(SDA), que são postas como unidades máximas de comparação. Tais unidades são relacionadas em uma

matriz, ficando por último a SDA que fora alvo de controle.

Com esses procedimentos temos a intenção de observar como os sentidos se constituem na tensão

entre a paráfrase, que produz diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado, e a polissemia, que

joga com o equívoco da língua, isto é, com fato de todo enunciado ser suscetível de tornar-se outro,

deslocando-se discursivamente para romper com os processos de significação já instituídos.

No estágio atual em que se encontra, nossa pesquisa aponta a paráfrase como o processo base na

produção discursiva em editais, uma vez que suas regras visam à estabilidade jurídica. Por outro lado,

quando o enunciador se vale da polissemia, rompendo, no seio da matriz, com os enunciados já

realizados, estáveis discursivamente, os editais tendem ao controle administrativo ou judicial em razão

da instabilidade jurídica que esses enunciados suscitam.

Referências

CONEIN, Bernard et al. Materialidades Discursivas. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016.

COURTINE, Jean-Jacques. Définition d’orientations théoriques et construction de procédures en

analyse du discourse. Philosophiques, vol. 9, n° 2, 1982, p. 239-264. Disponível em:

http://id.erudit.org/iderudit/203194ar. Acesso: 12 abril 2015.

LÉON, Jacqueline; PÊCHEUX, Michel. Análise sintática e paráfrase discursiva. IN: ORLANDI, E.

Análise de Discurso: Michel Pêcheux (Textos selecionados por Eni P. Orlandi). 3 ed. Campinas, SP:

Pontes Editores, 1982 (2012).

ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo:

Brasiliense, 1983.

_________. Discurso e texto: formulação e circulação de sentidos. 4 ed. Campinas, SP: Pontes Editores,

2012.

3 Tomamos esses empréstimos conforme as orientações teóricas e metodológicas de Pêcheux (1975 [2009], 1984 [2012]),

Léon e Pêcheux (1982 [2012]), Orlandi (1983, 2012, 2013) e Courtine (1982).

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_________. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 11ª edição. Campinas, SP: Pontes

Editores, 2013.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni P. Orlandi et

al. 4 ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1975 (2009).

_________. Metáfora e interdiscurso. IN: ORLANDI, E. Análise de Discurso: Michel Pêcheux (Textos

selecionados por Eni P. Orlandi). 3 ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 1984 (2012).

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UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Autora: Mariana Ximenes Bastos (CNPq)

Orientadora: Vera Lúcia Paredes da Silva

Este trabalho tem por finalidade apresentar as discussões já encaminhadas bem como as

hipóteses levantadas pela minha pesquisa de Doutorado em estágio definalização. Em minha tese, meu

objetivo principal é fornecer uma comparação entre diferentes artigos de divulgação científica (DC) a

fim de ampliar o quadro investigativo sobre essa temática.

De acordo com Bakhtin ([1979] 2003), os gêneros textuais podem ser concebidos como ações

representativas de situações discursivas recorrentes e, por isso, são identificáveis por seus usuários.

Swales (1990) acrescenta que o reconhecimento de um gênero se dá pelo fato de os membros de

determinada comunidade discursiva partilharem entre si saberes e relações culturais que permitem a

identificação de certas regularidades de um gênero. Nesse sentido, entende-se que no artigo de

divulgação científica a voz da ciência revela-se ao grande público com uma nova roupagem.Assim, cabe

à DC difundir e colocar ao alcance de toda uma massa populacional assuntos que são do seu interesse,

de maneira que esta sinta-se parte da sociedade e tome conhecimento daquilo que é produzido para ela.

Não se trata, no entanto, de uma simplificação do discurso científico, seu papel vai além de “traduzir”

para o público a linguagem científica. Com efeito, como afirma Zamboni (1997, p.86) “o discurso da

DC é o resultado de uma atividade discursiva que se desenvolveu em condições de produção

inteiramente outras”.

Dessa forma, na tentativa de fazer com que o público, leigo no assunto, se interesse pela temática,

é preciso que sejam utilizadas estratégias que atuem em duas vias. De um lado, tais recursos devem

atrair sua atenção, considerando se tratar de um assunto sobre o qual ele tem pouco (ou nenhum) domínio

e, nesse ponto, é possível propor que tais estratégias funcionem de forma argumentativa, na tentativa de

convencer o público sobre a validade e a importância do tema. Isso pode ser observado, por exemplo,

por meio das escolhas lexicogramaticais, que funcionam como elementos avaliativos (cf. Martin &

White, 2005 e Vian Jr., 2009) nesse gênero.

Ao mesmo tempo, são necessárias também estratégias que facilitem o entendimento da audiência sobre

o assunto, visto que a influência do discurso científico poderia comprometer a compreensão.

Verifica-se, no entanto, que, a depender da autoria e do público-alvo de cada publicação, obtém-

se um quadro bastante heterogêneo no diz que respeito à análise dos artigos. Com efeito, revistas como

Superinteressante e Galileu, cujos temas são variados, voltam-se para um público “mais geral”, o que

se reflete numa linguagem que busca conquistar e aproximar-se da audiência. Ao mesmo tempo, os

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artigos são escritos por jornalistas, profissionais familiarizados com as estratégias próprias do mercado

publicitário e também leigos no tema, situando publicações desse tipo como próximas às do domínio

jornalístico.

Já revistas que tratam de áreas específicas como Psique e Filosofia (Grupo Escala) destinam-se

a um público com interesse prévio no assunto abordado e, por conta disso, fazem uso de estratégias

distintas e, por vezes, mais complexas. Soma-se a isso o fato de serem assinadas por especialistas da

área, que dominam não só os termos próprios daciência, mas também a própria escrita científica. O fato

de atuarem fora de seu ambiente original e se colocarem no papel de divulgadores pode se refletir no

alto número de termos e estruturas formais, que, por sua vez, podem dificultar a compreensão da

audiência leiga e, assim, caracterizar tais publicações como próximas do domínio acadêmico/científico.

Dada a evidente heterogeneidade em relação aos artigos de DC, tratamos de artigos desses dois

grupos de publicações que abordam o mesmo tema e, assim, analisamos a influência desses aspectos –

autoria e público-alvo – a partir das estratégias linguístico-discursivas de cada um.

Referências

BAKHTIN, M.Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,

[1979] 2003.p.261-306.

MARTIN, J.R.; WHITE, P.R.R. The language of evaluation: appraisal in English. New York: Palgrave

Macmillan, 2005.

SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and researching settings. Cambridge: Cambridge

University Press, 1990.

VIAN JR., O. O sistema de avaliatividade e os recursos para gradação em Língua Portuguesa: questões

terminológicas e de instanciação. DELTA, volume 25, no. 1, 2009, p. 99-129.

ZAMBONI, L. M. S. Heterogeneidade e subjetividade no discurso de divulgaçãocientífica.Tese

(Doutorado em Linguística) - Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 1997.

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A TRAJETÓRIA DAS CONSTRUÇÕES CONCLUSIVAS COMPORTANTO, PORISSO,

LOGO E ENTÃO

Autora: Mayra França Floret

Orientadora: Maria da Conceição de Paiva

Em nossa pesquisa, buscamos analisar a trajetória das construções conclusivas conectadas

porportanto, por isso, logo e então, desde o século XIII até o século XXI. As orações denominadas

conclusivas estabelecem uma ligação com orações que expressam fatos ou constatações que autorizam

conclusões. Alguns desses conectores são atestados na língua desde o período arcaico (século XIII a

XVI), como por issoeportanto (cf. Barreto, 1999). O objetivo dessa pesquisa é verificar o surgimento e

a expansão das construções com esses quatro conectores no português ao longo do tempo, bem como a

forma como elas interagem na rede mais ampla de conectores que operam no domínio da causalidade.

Para isso, propomos um estudo diacrônico com base em textos dos três períodos do português (arcaico,

clássico e moderno/contemporâneo) (cf. Mattos e Silva, 2004; Castro, 2013).

Admitimos que essas construções se inserem em uma rede mais ampla na qual coexistem com

outras construções. De acordo com Goldberg (1995), essa rede é organizada com base em alguns

princípios, sendo um deles o da não sinonímia. Dessa forma, se há diferença sintática entre duas

construções, há também alguma diferença no nível semântico ou pragmático. Por isso, uma hipótese

dessa pesquisa é a de que, apesar de as construções comportanto, por isso, logo e então serem todas

utilizadas na expressão de uma conclusão, há especificidades funcionais que as diferenciam e que

motivam o uso de uma ou outra construção em diferentes contextos. Segundo Marques (2014), a relação

de conclusão envolve implicações de diferentes tipos, indicando consequência, conclusão ou resumo.

Sendo assim, um dos objetivos desse estudo que será desenvolvido durante o doutorado é o de verificar

se, ao longo do tempo, essas construções teriam se especializado na expressão de um desses três tipos

de conclusão.

Na perspectiva dos Modelos baseados no Uso, a frequência tem um papel central (cf. Kemmer e

Barlow, 2000; Bybee, 2003, 2010). Um outro objetivo desse estudo é o de verificar de que maneira o

surgimento de novas construções conclusivas ao longo do tempo afetou a frequência de construções

existentes anteriormente na rede.

De forma resumida, durante o desenvolvimento da pesquisa de doutorado, buscaremos responder

às seguintes perguntas: (i) como é a trajetória dessas construções ao longo do tempo? Quais já apareciam

desde o século XIII e quais foram aparecendo posteriormente? Quais eram as construções mais

utilizadas em períodos mais remotos e quais são as mais utilizadas hoje?; (ii) quais os sentidos

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carregados por essas construções? Até que ponto esses sentidos se alteram ao longo do tempo?; (iii)

como foi a mudança sofrida por essas construções ao longo do tempo?; (iv) há alguma outra construção

conclusiva que mereça atenção especial além das quatro focalizadas? Se sim, por quais razões?

A fim de responder essas questões e atingir os objetivos esperados, analisaremos uma amostra

com dois textos para cada século considerado. Os dados com essas construções serão coletados e

analisados, e depois serão analisados estatisticamente, o que nos permitirá compreender de forma mais

clara como se dá a trajetória de desenvolvimento e expansão dessas construções na Língua portuguesa.

Referências

BARRETO, T. Gramaticalização das construções na história do português. Tese (Doutorado em

Letras), Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1999.

BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In.: JOSEPH, B.

andJANDA, R.D. (Eds.) The Handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwell Publishing

Ltd.,2003.

________. Language, use and cognition. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2010.

CASTRO, I. Formação da Língua Portuguesa. In: RAPOSO, E. et alii. Gramática do

Português.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, p. 7 – 13.

GOLDBERG, A. A construction grammar approach to argument structure. Chicago: University

ofChicago Press, 1995.

KEMMER, S.; BARLOW, M. Introduction: A Usage-based Conception of Language. In:BARLOW,

M.; KEMMER, S. (Eds.) Usage based models of language. Rice University, 2000.

MARQUES, N. B. N. A relação conclusiva na Língua portuguesa: funções resumo, conclusão e

consequência. Tese de doutorado em Estudos Linguísticos, Instituto de Biociências, Letras e Ciências

Exatas, UNESP, 2014.

MATTOS E SILVA, R. V. Novos indicadores para os limites do português arcaico. Revista da

ABRALIN 3 (1 e 2), 2004, p. 259-268.

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A FORMAÇÃO DAS MICROCONSTRUÇÕES ASSIM QUE, JÁ QUE E UMA VEZ QUE:

UMA ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL

Autora: Monique Petin Kale dos Santos (CAPES)

Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario

Este trabalho tem o objetivo de investigar a formação histórica das microconstruções uma vez

que, assim queejá que na língua portuguesa entre os séculos XIII e XIX, tendo como base a

macroconstrução abstrata [Xque]CONECT, a partir dos pressupostos teóricos da Linguística Funcional

Centrada no Uso. Em outras palavras, a pesquisa tem o propósito de explicitar a mudança que ocorreu

no uso das construções uma vez/ já/ assim e do elemento que, que deixaram de ser um advérbio temporal

+ complementizador quee se transformaram em uma microconstrução conectiva. Nessa perspectiva,

apresenta-se a representação rede construcional a fim de explicitar a formação das microconstruções

conectivas.

Com base no aporte teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso, observa-se o fenômeno

da mudança linguística, considerando fatores como a frequência de uso das construções linguísticas,

habilidades cognitivas, chunking e analogia, que esclareçam os aspectos sintático-semânticos do sistema

da língua. Para tanto, o modelo teórico é o da Construcionalização e Mudanças Construcionais

(TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013; TRAUGOTT, 2010, 2015). Essa abordagem engloba os

principais pressupostos do Modelo da Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995; CROFT, 2001),

a fim de explicitar a mudança da rede linguística, vista como uma rede nós (pareamentos de forma e

função) que são conectados de maneira hierárquica.

A fim de fundamentar nossa proposta, estabelece-se a análise qualitativa e quantitativa dos dados

entre as sincronias XIII e XIX em corpora de língua escrita formal, cujos gêneros discursivos são

compostos, em sua maioria, por cartas jesuíticas e por cantigas religiosas. Além disso, trabalhamos com

textos de natureza narrativa. Em nossa pesquisa, investigamos como esquema abstrato formado pela

macroconstrução [Xque]CONECT (HUDSON, 2007; TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013) auxilia para a

formação das microconstruções uma vez que, assim queejá que, criando novos nós na rede construcional,

observaram-se as três principais propriedades em uma análise composicional, a saber: esquematicidade,

produtividade e composicionalidade. Constatou-se, assim, que a produtividade aumenta devido à maior

frequência de tipos de elementos que sejam elencados para preencher o slot (X) da construção. Por sua

vez, a esquematicidade se refere ao número de elementos que preenchem o slot (X), pois quanto maior

a quantidade desses elementos, mais esquemática (abstrata) será a construção. Por fim, a

composicionalidade relaciona-se com o fato de que a soma das partes da construção não leva ao seu

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significado. Dessa forma, ao se construcionalizar, as microconstruções conectivas estudadas perdem o

sentido de suas partes e se tornam menos transparentes.

Palavras-chave: microconstruções conectivas, chunking, uma vez que, assim que e já que.

Referências

CROFT, William. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological

perspective.Oxford: Oxford University Press, 2001.

GOLDBERG, Adele. E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure.

Chicago: The University of Chicago Press, 1995.

HUDSON, Richard. Language Networks: The new Word Grammar.Oxford: The Oxford University

Press, 2007.

TRAUGOTT, Elizabeth Closs; TROUSDALE,Graeme. Gradience, gradualness and

grammaticalization: how do they intersect?EmTRAUGOTT, Elizabeth Closs;TROUSDALE, Graeme

(eds.), Gradience, gradualness and grammaticalization. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins

Publishing Company, 2010.

______________. Construcionalization and Constructional Changes. Oxford: University Press,

2013.

TRAUGOTT, E. C. Toward a coherent account of grammatical constructionalization. In: BAR

DAL,Jóhanna; SMIRNOVA, Elena;SOMMERER,Lotte; GILDEA,Spike. (Org.). Diachronic

Construction Grammar.1 ed Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2015.

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A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE REPENTE: UMA ABORDAGEM

CONSTRUCIONAL NO USO

Autora: Nastassia Santos Neves Coutinho

Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario

Co-orientadora:Maria da Conceição Paiva

O presente trabalho tem como objetivos realizar o percurso histórico da construção “de repente”

e seus valores semântico-discursivos e observar os contextos críticos do fenômeno, a fim de identificar

as mudanças construcionais envolvidas nessa construção (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013),

procurando mostrar se houve construcionalização. O modelo de Traugott e Trousdale (2013) define a

língua como uma rede de construções dentro do sistema linguístico, conceituando construção como um

pareamento entre forma e função. Neste modelo, a abordagem do sistema linguístico é vista como um

conjunto de nós, que podem ser nós menores, como as próprias construções, que por sua vez são

agrupadas em nós maiores que formam a rede linguística.

A associação das construções da língua a uma rede de conexões se dá pelo fato de cada

construção pertencer a uma outra maior criando os enunciados produzidos pelos falantes, assim a língua

constitui uma rede de construções interconectadas. A hipótese é a de que a formação de “de repente”

seja um caso de construcionalização, pois deve haver padrões construcionais em que “de repente” se

insere e links de heranças com outras construções com valor temporal e de modalizador epistêmico.

Para verificar essa hipótese, analisaremos registros da amostra do Corpus do Português, disponível

online, que reúne textos da Língua Portuguesa com variedades do Brasil e de Portugal, do século XIII

ao XX. Para a análise estatística, utilizaremos o programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE

& SMITH, 2005). Numa análise preliminar verificamos os seguintes valores para a construção “de

repente”: tempo (ex: “e vendo de repente uma extraordinária claridade”); modo (ex: “Agora o Vittorio

apareceu de repente”); ambíguo (ex: “mas que, se de repente os matassem, como tinhão feito ao

Cubosama”) e modalizador epistêmico (ex: “De repente perderias o ser e tornarias ao nada d’onde

sahiste”).

Observaremos também os padrões sintáticos em que “de repente” ocorre na oração, como V +

de repente; de repente + oração e como esses padrões afetam o valor semântico que a construção assume

no enunciado. Nosso estudo diacrônico, ainda em fase inicial, busca identificar o contexto crítico de

ocorrência da construção, entre as funções de tempo e modalizador epistêmico, evidenciando a mudança

da construção, originalmente de tempo, para possibilidade e reconhecendo o valor de modalizador

epistêmico como o mais produtivo no português atual, sendo que um aspecto que ressalta das análises

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anteriores de Siqueira (2012) e Coutinho (2016) é o de que esse valor ocorre, principalmente, em

contextos em que “de repente” é empregado como elemento de reforço do valor de possibilidade, co-

ocorrendo com outros elementos modalizadores (ex: “De repente pode haver algum trecho que não seja

muito nítido”).

Palavras-chave: Modelos Funcionais Baseados no Uso. Construcionalização. De repente.

Referências

SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S.; SMITH, E.Goldvarb X: a variable rule application for

Macintosh and Windows. 2005. Disponível em: http://individual.utoronto.ca /tagliamonte

/goldvarb.html.

TRAUGOTT, E. C. TROUSDALE, G. Constructionalization and constructional changes. Oxford:

Oxford University Press, 2013.

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CONSTRUCIONALIZAÇÃO EM UM MONTE DE SN: UMA ABORDAGEM CENTRADA

NO USO

Autora: Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux (CAPES)

Orientadora: Karen Sampaio Braga Alonso

Este trabalho consiste em uma análise da formação da construção quantificadora um monte de

SN ao longo da história do português, a partir da ótica da Linguística Funcional Centrada no Uso, como

vemos no exemplo um monte de coisas. Levando em conta a hipótese de que a gramática se configura

como uma rede de construções, defende-se a tese, baseada na teoria de mudança linguística proposta

por Traugott & Trousdale (2013), de que haja uma microconstrução mais nova na história do português

– um monte de SN– dentro do esquema dos quantificadores. Essa microconstrução se formou a partir

de usos mais periféricos da construção [um [monte] de SN], com sentido qualitativo.

Nos primeiros séculos analisados, encontramos exemplos da construção um monte de SN de

cunho mais qualitativo como hû monte de africa, e, posteriormente exemplos com sentido multiplexo,

de cunho mais quantitativo, como um monte de empresas. Traugott & Trousdale (2013) denominam

como construcionalização a formação de um novo pareamento forma-sentido na rede linguística, ou

seja, a entrada de uma nova construção na gramática de uma dada língua, após haver mudanças

construcionais de forma e de função. Desse modo, postulamos, no presente estudo, que um monte de

SN, em seu sentido quantificador, é produto de mudanças linguísticas na forma e no sentido (mudanças

construcionais) da construção mais qualitativa original, a qual chamamos de especificadora. O objetivo

principal dessa pesquisa é descrever a formação da construção quantificadora um monte de SN no

português, e os objetivos específicos consistem na identificação das etapas do processo de mudança

linguística.

Este trabalho parte da perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (cf. BARLOW &

KEMMER, 2000; BOYLAND, 2013; BYBEE, 2010; DIESSEL, 2015) e, portanto, pauta-se na hipótese

da gramática como uma rede de pareamentos forma-sentido (como se pode ver em CROFT, 2001;

GOLDBERG, 1995 e 2006, entre outros). Além disso, o trabalho prevê o tratamento da mudança

linguística dentro da referida abordagem construcionista, tal como descrito em Traugott (2008);

Traugott & Trousdale (2013).

Coletamos e analisamos todos os dados com a construção um monte de SN nos corpora consultados,

a saber Corpus do Português, Crônica Geral de Espanha, Orto do Esposo, Nova Floresta e Monarchia

Lusitana, dentre outros. Utilizamos como parâmetros de análise o que vem sendo usado nos trabalhos

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que seguem a orientação do modelo de Traugott & Trousdale (2013), a saber: esquematicidade,

produtividade e composicionalidade.

Na análise de dados, percebemos que usos com a sequência um monte de seguida de um sintagma

nominal foram analogicamente relacionados e compreendidos como formando um padrão, tornando-se

o mais frequente a partir do século XVI. Identificamos, ainda, que a partir do século XIX, os dados

periféricos do padrão analisado [um + monte + de + SN] se tornam mais significativos. Acreditamos

que há relevância no aumento de dados de usos mais periféricos da construção, que proporcionaram, ao

longo desse período, uma ampliação dos tipos de SN que podem instanciar a construção.

Aparentemente, apenas no século XX ocorre o estabelecimento da construcionalização de uma

microconstrução quantificadora do tipo um monte de SN, com a maior parte dos dados referindo-se a

exemplos de itens não empilháveis e multiplicados por um monte de.

Referências:

BARLOW, M.; KEMMER, S. (Org.). Usage based models of language. Stanford, California: CSLI

Publications, 2000.

BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford:

Oxford University Press, 2001.

DIESSEL, H. Usage-based construction grammar. In Ewa Dabrowska and Dagmar Divjak (eds.),

Handbook of Cognitive Linguistics, 295-321. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015.

GOLDBERG, A. E. A construction grammar approach to argument structure.Chicago/London:

The University of Chicago Press, 1995.

_______. Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford: Oxford University

Press, 2006.

TRAUGOTT.E. C. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language:

Suggestions from the development of degree modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER G.;

VEENSTRA, T. (Eds.). Variation, Selection, Development--Probing the Evolutionary Model of

Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008. p. 219-250.

TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. G. Constructionalization and Constructional Change.

Oxford University Press: Oxford, 2013.

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PLURILINGUISMO E POLÍTICA DE LÍNGUAS EM TERRITÓRIO FLUMINENSE

Autor: Rodrigo Pereira da Silva Rosa (CAPES)

Orientadora: Tania Clemente de Souza

O presente trabalho tem por objetivo trazer à tona a constituição do universo de línguas que se

desenha atualmente no Estado do Rio de Janeiro, buscando entender esse desenho a partir de uma

política de línguas. O trajeto teórico que permeia as discussões está calcado na Análise de Discurso,

fundada por MichelPêcheux, disseminada por Eni Orlandi, Tania Clemente,dentre outros. Apesar de no

Brasil serem faladas mais de 250 variedades de línguas, considerando-se as línguas indígenas e as

línguas de imigração, juridicamente, através de decretos e leis, somente duas são as línguas oficiais do

país: o português e, bemrecentemente, a língua brasileira de sinais, LIBRAS (lei n. º 10.436, de 24 de

abril de 2002). A postura do Estado nacional com relação a uma política linguística tem sido a de impor,

historicamente, o monolinguismo. Desde o século XVIII, com o Diretório do Índio do Marquês de

Pombal (1757) até épocas mais recentes, este tem sido o perfil de uma política linguística praticada pelo

Estado brasileiro.

Em que medida se prevê uma política linguística?Em que medida o Estado ignora, ou não, todos

os entraves oriundos de uma imposição de uma língua única, quando não se tem como meta uma

integração – e não apenas um acolhimento – na e pelas línguas? Essas são questões da ordem do discurso

que discutiremos ao longo do curso e que serão apresentadas em nossa dissertação.

Além da presença maciça de refugiados, o Rio de Janeiro sempre foi um estado de acolhimento

de várias levas de imigrantes, quando se tem a instituição de várias colônias de estrangeiros (de diversas

descendências, tais como: alemãs, japoneses, árabes, italianos, franceses, coreanos, bolivianos, etc.). O

foco principal de nossadiscussão é verificar até que ponto o Estado empreende projetos de atendimento

com relação à comunicação linguística a esses que aqui chegam. Segundo dados divulgados na mídia,

o Rio de Janeiro coloca em prática uma posição pioneira, quando a Secretaria de Estado de Assistência

Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro lançou, em 2014, um plano inédito em todo o país que

permite formalizar políticas de atendimentos a refugiados. Outras instituições, como o CONARE –

Comitê Nacional para os Refugiados e ACNUR – Agência da ONU para Refugiados no Brasil, vêm

investindo numa política de acolhimento e, sobretudo, de conscientização dessa nova realidade mundial.

Em que medida nesses mecanismos se prevê uma política linguística, que não vise à estatização do

monolinguismo? Em que medida o Estado ignora, ou não, todos os entraves oriundos de uma imposição

de uma língua única, quando não se tem como meta uma integração – e não apenas um acolhimento –

na e pelas línguas? Essas são questões da ordem do discurso quebuscamos responder ao longo do

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projeto. E, ainda, em torno dessas questões (e de outras), vamos buscar empreender ações afirmativas

em torno de uma política de línguas, que se difere de uma política linguística.

Este trabalho tem o interesse de investigar as questões do plurilinguismo e das políticas de

línguas existentes em território fluminense. Território que desde a época do descobrimento recebe

grande fluxo de pessoas oriundas das mais diversas regiões do mundo (imigrantes e atualmente, os

refugiados) e até mesmo de pessoas que aqui já se encontravam (indígenas).A conscientização da

existência da diversidade linguística no território fluminense, bem como a organização das demandas

dos falantes na planificação linguística, cultural e política se faz necessária.

Referências

GADET, F. e PÊCHEUX, M. La Langue introuvable, Paris, Maspero, 1981, 248 p. (coll. “Théories”).

A língua inatingível: o discurso na história da linguística. Campinas: Pontes, 2004.

ORLANDI, Eni. (Org.). Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.

_______. Política linguística no Brasil. Campinas: Pontes, 2007.

PÊCHEUX, M. Analyse Automatique du Discours, Paris, Dunod, 1969.

_______. Les Verités de la Palice, Paris, Maspero, 1975. Semântica e discurso – Uma crítica à

afirmação do óbvio. Campinas: Editora da UNICAMP, 1988.

SOUZA, T. C. C. de. Língua nacional e materialidade discursiva: a influência do Tupi. In: Mello, H. et

al. Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

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CONSTRUCIONALIZAÇÃO DOS CONECTORES AINDA QUE E MESMO QUE NO

PORTUGUÊS: UMA VISÃO CONSTRUCIONAL DE MUDANÇA

Autor: Thiago dos Santos Silva (CAPES)

Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario

A pesquisa apresenta resultados preliminares de estudos relativos à formação das

microconstruções ainda queemesmo que, uma instanciação da construção mais abstrata [Xque]CONEC.

Busca, ainda, analisar a estruturação da rede construcional nos diferentes períodos da história do

português. Utilizamos como corpus textos históricos a partir do século XIV com o objetivo de identificar

os estágios pelos quais as construções passaram, visto que houve reorganizações da rede construcional,

ou seja, da gramática da língua. Dessa forma, novos nós (pareamentos forma-função) surgiram e

estabeleceram conexões sintáticas e semânticas com outros elementos já existentes. Por exemplo, a

construção ainda que passa a fazer parte do paradigma dos conectivos adverbiais concessivos. A

pesquisa está inserida numa abordagem construcionista de mudança linguística apresentada por Traugott

e Trousdale (2013), na qual a língua é vista como uma rede de construções, com nós e links organizados

de modo hierárquico, e o papel do linguista que pretende trabalhar com Linguística Histórica passa,

nesta visão, a ser voltado para o estudo das micro-mudanças que levam à mudança dos links e à criação

ou apagamento de nós. (cf. Santos Silva, Cezario, 2015). Utilizamos, em nossa análise, os pressupostos

teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, tal teoria tem a concepção de que a língua é uma

estrutura maleável e que o contexto real de uso juntamente com a cognição humana são fundamentais

para que ocorram as mudanças linguísticas. Em nossa análise preliminar, foi possível observar que a

microconstrução ainda que já estava presente no século XV, sendo uma das formas mais antigas para

expressar concessão na língua portuguesa. A análise permitiu ver também que mesmo que aparece nos

dados como uma construção concessiva por analogia às formas que podiam aparecer no slot X do

esquema [Xque]. Ou seja, não passou primeiro por um valor de construção temporal, como ainda.

Referências

MARTELOTTA, Mário Eduardo. Mudança Linguística: uma abordagem baseada no uso.São Paulo:

Cortez Editora, 2011.

SANTOS SILVA, T. & CEZARIO, M.M. A construção embora na fala e na escrita: uma abordagem

baseada no uso.Rio de Janeiro: UFRJ, (2015).

TRAUGOTT, E.C. &. TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional

Changes.Oxford: Oxford University Press.2013.

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DISCURSO E IMAGEM EM ESCOLAS DE SAMBA: GESTOS DO VISÍVEL, INVISÍVEL,

SONORIDADE E DO SILÊNCIO NO CARNAVAL

Aluno: Tiago José Freitas Batista (CAPES)

Orientadora: Tania Clemente de Souza

O Carnaval tem sido fruto de nossas investigações desde o mestrado, também tem sido abordado

em nossos artigos e demais trabalhos científicos, mas o que quer o Carnaval na Linguística? Filiado

à linha de modelos funcionais baseados no uso e à teoria da análise de discurso de linha francesa de viés

pecheutiana, a proposta dessa pesquisa é apresentar um olhar outro dentro da linguística, o de fora dos

domínios estruturais, que pensa a materialidade não como análise de conteúdo, mas a sua discursividade

e seu funcionamento nas relações de efeitos e sentidos. Constitui o objeto desta tese, o Carnaval das

Escolas de samba do Rio de Janeiro. Oobjetivo principal é analisar a materialidade linguística das

Escolas de Samba através do discurso, imagem e som de desfiles memoráveis de agremiações dos

carnavais da última década, especificamente em enredos de Milton Cunha, Alexandre Louzada, Paulo

Barros, Jack Vasconcelos e Leandro Vieira. Os objetivos específicos perpassam os nove quesitos de

julgamento detectando/analisando a) os gestos linguísticos do visível e invisível; b) os gestos artísticos

da sonoridade e C) e os efeitos e sentidos do silêncio nos desfiles. A intenção então é difundir estudos

acadêmicos sobre essa importante celebração brasileira com contribuições que podem se inscrever como

pioneiras ou talvez até como inéditas, que apresentam o Carnaval como materialidade discursiva em

âmbito do verbal, não-verbal e sonoro. Especificamente, esse estudo pretende mapear os nove quesitos

de julgamento dos desfiles das Escolas de samba e classificá-los em situações linguísticas,

principalmente pelo viés da análise de discurso, arquitetura do não-verbal e semiótica da canção.

Dialogando com estudos artísticos, apresentaremos situações de narratologia e sonoridade. Como

resultado, espera-se a comprovação de que o Carnaval, muito além de festa cultural de território popular,

mobiliza um saber científico através da ação de sujeitos que operam e significam em manifestações

artísticas transversais entre o texto, a imagem e o som. Para detectar essas postulações, serão utilizadas

teorias norteadoras que se apoiam nos seguintes eixos: eixo discursivo: Pêcheux e Orlandi (sujeito,

imaginário, condições de produção, formação discursiva, memória, esquecimento, silêncio, efeito

metafórico, relações de força, deslizamento, entre outros); eixo imagético: Souza (policromia, não-

verbal, memória alegórica); eixo narratológico: Bruner (narratologia do nível de canonicidade e

violação) e Todorov (maravilhoso, fantástico); eixo sonoro: Chion (contrato audiovisual, valor

agregado, tempo e imagem) e Tatit (semiótica da canção) e eixo artístico-carnavalesco: Bakhtin

(carnalização), Goes (carnaval), Cunha-Júnior (carnaval) e Batista (dromologia carnavalesca). Os gestos

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do visível serão estudados nos quesitos fantasia, alegoria e adereços e comissão de frente; os gestos do

invisível serão analisados nos quesitos enredo e samba-enredo; a sonoridade será estudada também em

samba-enredo, harmonia e bateria e o silêncio será analisado através dos quesitos evolução, bateria,

mestre sala e porta bandeira e comissão de frente. Pelo exposto, na linguística, o Carnaval quer mostrar

(significar) que não é palco apenas de espetáculo cultural brasileiro, mas também é fonte de estudos que

oferta materialidade de múltiplos cenários possibilitando inúmeras análises, como as que nos

propusemos a trabalhar.

Palavras-chaves: Análise de discurso; Arquitetura do não-verbal; Som; Carnaval; Escolas de Samba.

Referências

BATISTA, Tiago José Freitas. Narrativas poético-musicais-amazônidas na dromologia do carnaval

carioca e paulistano: indigenismo, folclorismo e africanidades religiosas. 2017. 213 f. Dissertação

(Mestrado Acadêmico em Letras) – Núcleo de Ciências Humanas, Universidade Federal de Rondônia,

2017.

BAKHTIN, M. M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 1ª. ed. Rio de Janeiro:

Forense Universitária, 1981.

BAKHTIN, M. M. A Cultura Popular na Idade Média no Renascimento. Trad. Yara F. Vieira. São

Paulo, Hucitec* Ed. UnB, 1987

BRUNER, Jarome. A construção narrativa da realidade. Critical Inquiry. Trad. Waldemar Ferreira

Netto, 1991.

CHION, Michel. Audiovision: Sound on Screen. New York: Columbia University, 1993. Tradução de:

L’Audio-Vision (Paris: Nathan, 1991).

CUNHA-JUNIOR, Milton. Rapsódia Brasileira de Joãosinho Trinta: Um grande Leitor do Brasil!

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio de

Janeiro: 2010.

GOES, Frederico. Samba-enredo da epopeia a crônica Rev. Textos Escolhidos de Cultura e Artes

Populares, v. 6, n.1, 2009

ORLANDI, Eni P. Discurso e Textualidade. Campinas. Editora Pontes, 2006.

ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio. Campinas. Editora da Unicamp, 2007.

PÊCHEUX, Michel. Análise Automática do Discurso (AAD-69) IN GADET, F. HAK, T. (Org.). Por

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Uma Análise Automática do Discurso: Uma Introdução à Obra de Michel Pêcheux. 3ª Ed.

Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997.

PÊCHEUX, Michel. Papel da Memória. IN: Papel da Memória. Pierre Achard et al. Tradução: José

Horta Nunes. 1ª edição. Campinas, SP: Pontes, 1999.

SOUZA, Tania Conceição Clemente. A análise do não verbal e os usos da imagem nos meios de

comunicação. Rua 7, Campinas: Pontes, 2001

SOUZA, Tania Conceição Clemente. Carnaval e memória: das imagens e dos discursos. Publicação

em Anais.Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística- Anpoll, 2002.

Disponível em:

http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ANPOLL_2002/arquivos/pdf/002_analise_discurso

/tania_clemente.pdf Acesso em: 14 dez. 2017.

TATIT, L. & LOPES, I. Elos de melodia e letra. Análise semiótica de seis canções. São Paulo: Ateliê

Editorial, 2008.

TATIT, L. Semiótica da canção: melodia e letra. São Paulo: Escuta, 1994.

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 1970.

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VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA

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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E AQUISIÇÃO DE ORAÇÕES RELATIVAS POR CRIANÇAS

FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Autora: Ana Cristina Baptista de Abreu

Orientadora: Christina Abreu Gomes

Este trabalho investiga a compreensão das orações relativas em 72 crianças falantes do Português

Brasileiro com idades entre 3,6 e 5,10 anos.A hipótesecentral é que a frequência de ocorrência das

variantes e similaridade estrutural com as demais sentenças da língua influenciem na aquisição (cf.

Diessel&Tomasello, 2005; Ambridge et al., 2015) já que Tarallo(1983) e Mollica (2003)afirmam que

as relativas nãoocupam o mesmo espaço na fala.Um experimento de seleção de imagens(Arnon,

2011),contendo 36 estímulos auditivos com relativas de sujeito e objeto direto(variantes básicas/padrão

e copiadoras), objeto indireto (variante padrão e cortadora) e 20 distratores, revelou o papel da

experiência, frequência de ocorrência e similaridade estrutural na compreensão das relativas.Foram

observadosmenos erros nas relativas de sujeito, nas crianças mais novas, seguido das de objeto direto e

indireto. Entre as crianças mais velhas, as relativas de objeto direto apresentaram mais erros. A alta

frequência de ocorrência da variante básica/padrão de sujeitoe a similaridade estrutural das cortadoras

de OI com a ordem SVO facilitaram a compreensão. Observou-se,neste grupo, altos índices de acerto

na compreensão da variante preposicionada (piedpiping), atribuído ao mapeamento entre as duas

variantes por sua similaridade semântica.

Referências

AMBRIDGE, B., KIDD, E., ROWLAND, C.; THEAKSTON, A. The ubiquity of frequency effects in

first language acquisition. Journal of Child Language,42(2), 239-273, 2015.

doi:10.1017/S030500091400049X

ARNON, I. Relative clause acquisition in Hebrew and the learning of constructions. In: Kidd, E. (ed)

The Acquisition of Relative Clauses: processing, typology and function. Amsterdam: John

Benjamins. p. 107-139, 2011.

DIESSEL, H.; TOMASELLO, M. A new look at the acquisition of relative clauses. Cognitive

Linguistics, v.81, n.4, p.882-906, 2005.

MOLLICA, M. C. Relativas em tempo real no português contemporâneo. Paiva, M. C e Duarte, M. E.

L. (Orgs) Mudança Linguística em Tempo Real. Rio de Janeiro, Contracapa, p. 129-138, 2003.

TARALLO, Fernando. Diagnosticando uma Gramática Brasileira: O português d’aquém e a d’além mar

ao final do século XIX. In. ROBERTS, I.; KATO, M.(Orgs.) Português Brasileiro: uma viagem

diacrônica. Homenagem a Fernando Tarallo. Campinas: Unicamp, p.69-100, 1993.

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TARALLO, F. Functional and Structural Properties in a Variable Syntax. IN: Sankoff, David,

ed. Diversity and diachrony. Vol. 53. John Benjamins Publishing,249-260, 1986.

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SEGMENTAÇÃO NO INÍCIO DA ESCRITA

Autora: Andreia Cardozo Quadrio (CAPES)

Orientadora: Cecília Mollica

A comunicação volta-se para registros de escrita com estruturas hipossegmentadas e

hipersegmentadasa exemplo de oque (o que), derrepente(de repente), porisso(por isso); em bora

(embora), também(também), de mais (demais). Tais ocorrências têm se revelado frequentes na grafia de

estudantes do Ensino Médio, tanto em situações formais de uso, quanto em contextos informais, como

textos produzidos em ambiente on-line. Na última etapa de ensino da Educação Básica,espera-se que os

problemas ortográficos referentes à segmentação de palavras já estejam sanados. Hipossegmentação

(doravante HIPO) e hipersgementação (doravante HIPER) são processos muito frequentes na fase de

aquisição da escrita, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Contudo há ocorrências que se mantêm

como resíduos na grafia de estudantes pertencentes ao segundo segmento do Ensino Fundamental, como

revela a pesquisa de dissertação de Quadrio (2016), assim como no Ensino Médio. Busca-se, portanto,

com base em teóricos, como Abaurre (1991), (1997) e Goulart (2014), precursoras nos estudos de

segmentação, bem como pesquisadores da área da fonologia, da morfologia, da sintaxe, da mudança e

variação linguística, como Bybee (1985), Mollica (2003), Goldberg (1995), entre outros, averiguar os

casos residuais de HIPO e HIPER sob a perspectiva fonológica, morfológica e sintática. Objetiva-se

entender os processos que permeiam a escrita através de sondagem de dados do Português do século

XVIII, ocasião em que a grafia não estava totalmente normatizada e os falantes (ainda relativamente

letrados) guiavam-se pelos contornos melódicos e pela análise que faziam das categorias na fala e

registravam na escrita, a exemplo de emque(em que), selembra(se lembra), derrepente(de repente);

também(também). Taiscasos de HIPO e HIPER foram extraídos de cartas pessoais, por se tratar de

escrita espontânea, em comparação aos dados apurados através da grafia de escolares em contextos

diversificados. Apuraram-se, ainda, dados sob perspectiva longitudinal em estudo de caso de um

indivíduo pertencente ao Ensino Fundamental I, desde a primeira série, quando se iniciam os primeiros

rabiscos, até o quinto ano escolar, quando o estudante já deve ter superada a fase de aquisição da escrita

e, portanto, supostamente, não realizar ou realizar em menor número ocorrências de HIPO e HIPER. O

paralelo estabelecido entre as cartas pessoais do século XVIII e a escrita atual visa confirmar ou infirmar

a hipótese de as leis que governam os casos residuais de HIPO e HIPER na ortografia antiga serem

indicadores de uma busca de critérios para normativização da ortografia, tal como nas crianças.

Palavras-Chave: Hipossegmentação, Hipersegmentação, Português do Século XVIII.

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

Referências:

ABAURRE, M. B. M. Problemas e perspectivas da alfabetização no Brasil. In: Anais do Encontro de

Alfabetizadores – EDUFJF, Juiz de Fora, 1991.

ABAURRE, M. B. M.; FIAD, Raquel Salek; SABINSON, M. L. M. Cenas de aquisição da

escrita.Campinas – SP: Mercado de Letras,1997.

BYBEE, J. Morphology: a study of the relation between meaning and form. Amsterdam/Philadelphia:

John Benjamins Publishing Company, 1985.

GOLDBERG, A. E. Constructions: A construction grammar approach to argument structure.Chicago:

Universityof Chicago Press, 1995.

GOULART, Cecília M. A. Perspectivas de alfabetização: Lições de pesquisa e da prática pedagógica.

Perspectives on literacy: Lessons from research and pedagogical practices. MS: Raído, 2014.

MOLLICA, Maria Cecília. Da Linguagem Coloquial à Escrita Padrão. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.

QUADRIO, Andreia C. A hipossegmentação no segundo segmento do ensino fundamental – alunos

típicos e atípicos.Dissertação (Mestrado) – Mestrado Profissional em Letras - PROFLETRAS.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016.

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AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NA FALA CARAVELENSE

Autora: Daillane dos Santos Avelar

Orientadora: Maria Cecília Mollica

Esta pesquisa investiga as vogais médias pretônicas na fala de caravelenses/Ba residentes na

Grande Vitória/ES. Pretendemos verificar a influência das variáveis linguísticas e extralinguísticas na

variação das vogais médias pretônicas. Para alcançarmos nossos objetivos, foram selecionados 8

informantes que nasceram em Caravelas e moram na Grande Vitória (Vitória, Serra, Cariacica, Vila

Velha). Os informantes foram distribuídos de acordo com as variáveis sociais: idade (17 a 30 e 31 a 50

anos), sexo (feminino e masculino) e indivíduo. As variáveis linguísticas analisadas foram: nasalidade,

vogal tônica, estrutura da palavra, ponto de articulação da consoante precedente e ponto de articulação

da consoante seguinte. Para o referencial teórico, utilizamos a Teoria da Variação e da Mudança

Linguística, de William Labov (2008 [1972]). Em relação às vogais médias pretônicas, contamos com

as pesquisas de Bisol (1981), Yacovenco (1993), Silva (1989). As vogais médias pretônicas /e/ e /o/ são

uma das marcas mais importantes para a divisão dialetal do Brasil (Nascentes, 1953). Na variedade

capixaba, elas podem ser pronunciadas de três formas: média fechada [o] e [e], média aberta [ɔ] e [ɛ] e

alta [u] e [i], predominando as médias fechadas. Em Salvador (Ba), a variante mais frequente é a média

aberta, havendo também a pronúncia das formas altas e médias fechadas. Hipotetizamos que

caravelenses residentes na Grande Vitória tendem a pronunciar com mais frequência as vogais médias

fechadas [e] e [o], apesar de haver pronúncia significativa das vogais médias abertas [ɛ] e [ɔ].Em contato

com o dialeto capixaba, os caravelenses mantêm a predominância das vogais médias fechadas. Diferente

do padrão encontrado por Silva (1989) em Salvador/Ba. Os resultados mostraram que os caravelenses

residentes na Grande Vitória favorecem a utilização das vogais médias fechadas, com 54%, seguida das

médias abertas 28%, e altas 18%. As variáveis linguísticas vogal tônica, estrutura da palavra e ponto de

articulação da consoante precedente e seguinte atuaram fortemente na pronúncia das vogais médias

pretônicas. Assim como na pesquisa de Yacovenco (1993), os fatores sociais não se mostraram tão

significativos. Yacovenco (1993), Silva (1989), Fontis (2008) concluíram que a vogal tônica é

fundamental para compreender a harmonização vocálica, a elevação ou abaixamento. Nesta pesquisa,

os resultados mostraram que a vogal tônica [o] favoreceu fortemente o alteamento de [e o]. As

alveolares, em posição precedente, atuaram no abaixamento e na manutenção das vogais médias

pretônicas. As palatais, em posição seguinte, favoreceram o abaixamento. Conclui-se que a pronúncia

das vogais pretônicas foi fortemente influenciada por fatores linguísticos.

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Palavras-chave: sociolinguística, variação linguística, vogais médias pretônicas

Referências

BISOL, Leda. Harmonização vocálica. Dissertação de Doutorado, Rio de Janeiro, 1981.

FONTIS, G. F. As vogais médias pretônicas na fala culta de Nova Venécia. Dissertação (Mestrado

em Linguística)-Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,

2004.

NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.

SILVA, M. B. As pretônicas no falar baiano: a variedade culta de Salvador. Tese de Doutorado em

Língua Portuguesa - Faculdade de Letras, UFRJ, 1989.

YACOVENCO, L. As vogais médias pretônicas no falar culto carioca. Dissertação (Mestrado em

Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,

UFRJ, 1993.

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VARIEDADE DE PORTUGUÊS FALADA POR PROFESSORES TIKUNA:UMA ANÁLISE

DE FENÔMENOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS EMORFOSSINTÁTICOS

Autora: Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio

Orientadora: Marília Facó Soares

Este texto apresenta resultados de uma pesquisa, por meio da qual objetiva-se registrar, analisar

e caracterizar a variedade do português de contato falada por professores da educação básica,

pertencentes à etnia Tikuna, que moram em determinadas comunidades do município de São Paulo de

Olivença, na mesorregião do alto rio Solimões, no Amazonas. Para alcançar o objetivo, foram analisados

dados de fala de vinte e dois professores Tikuna.Destes, dezoito são professores da educação básica que

estão em processo de formação universitária, cursando Pedagogia Intercultural Indígena na

Universidade do Estado do Amazonas, três são professores da educação básica que se tornaram

estudantes de pós-graduação e um é professor da educação básica da comunidade de Vendaval, graduado

pelo programa do Terceiro Grau Indígena da Organização Geral dos Professores Tikuna Bilíngues –

OGPTB. Na análise, partimos da seleção de fenômenos linguísticos que englobam aspectos fonético-

fonológico e morfossintáticos dessa variedade, investigando se esses falantes:a) replicam

condicionamentos conforme os falantes nativos do Português Brasileiro, b) se há transferência de L1

para L2 nesse processo de aquisição da segunda língua ec) se há, nessa variedade, traços relacionados a

universais de aquisição de L2. A análise tomou por base os pressupostos da Sociolinguística para

observar a aquisição de L2 em contexto de contato linguístico (Weinreich, 1953;

Thomason&Kaufmann, 1991, entre outros). Assim sendo, ao lado do método etnográfico, seguimos

procedimentos adotados em pesquisas sociolinguísticas, com especial atenção à representatividade da

amostra, à identificação e ao agrupamento de fatores sociais que caracterizam os participantes e se

relacionam a fenômenos linguísticos por eles manifestos. Os resultados apontam que o contato com

falantes nativos de PB tem culminado em uma variedade do português indígena Tikuna que apresenta:

1. traços relacionados a universais de aquisição de L2; 2. replicação dos condicionamentos de falantes

nativos do PB e 3. transferência da L1 nos níveis estudados. Cabe enfatizar que, com uma ocorrência

maior, encontram-se dados que evidenciam a presença de elementos particulares da língua Tikuna na

variedade de Português usada por esses professores. As pesquisas voltadas aos registros do falar do

Amazonas ainda se encontram em estado incipiente, e, em se tratando de variedades do português

indígena não se tem, até o momento, nenhum estudo. Tal fato justifica a investigação, o registro e a

análise de fenômenos linguísticos que ocorrem na região, em especial da variedade falada pelos povos

indígenas, que se encontram bastante representados no estado. O registro e a caracterização dessa

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variedade indígena têm a intenção de contribuir para a descrição do conjunto de variedades de português

indígena falado na região norte do Brasil.

Palavras-chave: Contato Linguístico; Sociolinguística; Aquisição de Segunda Língua; Português

indígena Tikuna.

Referências:

THOMASON, S. G.; KAUFMAN, T. Language Contact, Creolization and Genetic Linguistics.

Berkley/Los Angeles: University of California Press, 1991.

WEINREICH, U. Languages in contact:Finding and problems. New York, Linguistic Circle of New

York, 1953.

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ESTUDO DIACRÔNICO DE PHRASAL VERBS COM A PARTÍCULA OUT NAS

CONSTRUÇÕES [VOUTSN] E[V SNOUT]

Autora: Manuela Correa de Oliveira (CAPES)

Orientadora: Conceição Paiva

Phrasal verbs são construções do inglês que consistem na combinação de verbo + partícula e que,

na forma transitiva, selecionam argumento interno. A partícula pode estar adjacente ao V -leave out

words (omitir palavras), denominadas contínuas, ou adjacentes ao SN – leavewords out -, denominadas

descontínuas. Na tese em desenvolvimento, investigo as duas construções com a partícula out com base

no quadro teórico dos Modelos Baseados no Uso (MBU) e, mais especificamente, a partir do modelo da

Gramática de Construções (GC). A análise das construções parte de um estudo diacrônico cuja

finalidade é verificar a hipótese de que o posicionamento contínuo e descontínuo da partícula reflete

duas construções distintas (GRIES, 2003; OLSON, 2013) a depender das características dos itens que

as constituem, bem como do sentido proposto nas construções. Para tanto, analiso dados coletados em

textos representativos do século XVII ao século XX e dados de fala do século XX. Os dados de

documentos escritos do século XVII ao XIX foram coletados do Corpus Representativo de Registros

Históricos do Inglês (ARCHER - A Representative Corpus ofHistoricalEnglishRegisters). Os dados do

século XX são de fala e escrita, delimitados a construções encontradas em jornais e coletados do Corpus

Nacional do Inglês Britânico (BNC – British National Corpus).A fim de identificar a trajetória das

construções [V out SN] e [V SN out], considero, além da frequência tokencom que essas construções

ocorrem ao longo do tempo, a frequênciatype(BYBEE, 2010) de cada uma delas, por meio da análise

da classe sintático-semântica da forma verbal que preenche o slot V, as características morfossintáticas

e discursivas do objeto direto e as propriedades semânticas das instâncias coletadas. Os resultados

obtidos evidenciam, antes de mais nada, que tanto a frequência type quanto a frequência token das

construções contínuas são significativamente mais altas em todos os séculosconsiderados.Além disso,

foi possível identificar que determinados verbos ocorrem exclusivamente em uma ou outra construção,

enquanto outros podem ocorrer em ambas as construções. Os verbos find e take são os itens lexicais

mais freqüentes no que tange a PVTs com a partícula out, tanto em construções contínuas como em

descontínuas. No que concerne ao tipo morfossintático de complemento verbal, foi possível comprovar

a forte restrição dos pronomes clíticos, como os pronomes de 3ª pessoa it e them, que ocorrem apenas

nas construções descontínuas. No caso de complementos com núcleo nominal, foi verificadapara [V SN

out] a maior recorrência de SNsconstituídos apenas pelo núcleo ou acompanhados de artigos definidos,

indefinidos e determinantes demonstrativos.Os resultados coletados do século XX mostram que a

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construção descontínua é mais restritiva quanto ao tipo de complemento que preenche o slot do objeto

se comparada à construção contínua. Todavia, é destacável, por meio da investigação diacrônica, que as

instâncias analisadas evidenciam uma expansão sintática (HIMMELMAN, 2004): os dados indicam que

o número de possibilidades quepreenchem o slot do complemento aumenta com o tempo, indicando que

a construção descontínua está se tornando menos restrita ao longo dos séculos ao licenciar maior

variedade de SNs.

Referências:

BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

GRIES, S.T. Multifactorial Analysis in Corpus Linguistics. A Study of Particle Placement.

London/New York: Continuum, 2003

HIMMELMANN, N. P.Lexicalization and grammaticalization: Opposite or orthogonal? In: Bisang,

Himmelmann&Wiemer (eds.), 2004.

OLSON, A. L. Constructions and Result: English Phrasal verbs as analysed in construction grammar.

104 f. Dissertação (Mestrado). Trinity Western University, 2013.

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ESTRUTURA INFORMACIONAL, PLURALIDADE, DEFINITUDE E VALOR DE

VERDADE

GRAMÁTICA NA TEORIA GERATIVA

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Autor: Alan de Sousa Motta (CAPES)

Orientador: Alessandro Boechat de Medeiros

Investigaremos a relação entre estrutura informacional e suas implicações nos valores de verdade

de sentenças, considerando sintagmas determinantes definidos no plural.

Strawson (1964) mostra que os julgamentos de valor de verdade para uma sentença podem variar

dependendo do estatuto informacional de uma expressão sem referência contida nela, podendo tal

sentença não ser nem verdadeira nem falsa, segundo o que ele chama de truth-gap theory. Uma sentença

em que o sujeito seja tópico, como(1), não terá valor de verdade, pois o tópico não possui referente; no

entanto, quando essa mesma expressão é parte do comentário, como é o caso de (2), é mais

plausivelmente julgada como falsa.

(1) O atual rei da França é careca.

(2) Minha exposição foi visitada pelo atual rei da França.

Quando levamos esse cenário a expressões com artigo definido pluralizado, algo paralelo parece

acontecer.

Suponhamos a seguinte situação (MEDEIROS et alii, manuscrito). Imaginemos uma família

composta por quatro meninos, pai e mãe. Depois da aula, os quatro meninos chegam com fome em casa

e buscam comer algo. Encontram uma pizza na geladeira. Um deles prefere comer uma maçã, enquanto

os outros três devoram a pizza. A mãe dos meninos vê os três comendo as últimas fatias de pizza,

enquanto o caçula come uma maçã. Pergunta ao caçula se ele comeu pizza também e ele diz que não. O

pai dos meninos chega do trabalho e procura a pizza na geladeira, mas não encontra. Pergunta: “Cadê a

pizza?” A mãe responde:

(3) Os meninos comeramela toda.

A resposta é adequada, apesar de nem todos os membros do conjunto dos meninos da casa terem

comido a pizza. E parece claro que o conjunto completo de meninos da casa é o conjunto saliente no

contexto.

Suponhamos, agora, que o pai chega em casa com sede, e abre a geladeira procurando água e

não vê a pizza que ele sabia estar lá antes. Pergunta então à mulher: “Os meninos andaram comendo

antes da janta?”E ela responde:

(4) Sim, os meninos comeram a pizza toda.

Aqui, a resposta é inadequada, pois a expressão parece exigir que a participação dos meninos

tenha sido máxima no evento de comer a pizza; mas a mãe sabe que essa participação não foi máxima.

Note-se que, neste contexto, DP plural “os meninos” é tópico.

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Ao que parece, em (3), por conta de se estar falando de uma pizza (tópico), há uma maior

tolerância com o fato de a participação dos meninos não ser máxima no evento de comê-la – o que é

importante é o que se diz sobre a pizza, não sobre os meninos. Por outro lado, em (4), os meninos são o

tópico da sentença e da conversa, e talvez a sentença seja de fato falsa no contexto (e a mãe está violando

a máxima da quantidade; GRICE, 1975). Segundo Gillon (2015), plurais definidosdeveriam codificar a

máxima participaçãoda soma denotada pelo plural no predicado. Mas é claro que, na sentença (3), essa

participação não é máxima, o que deveria tornar a sentença falsa, segundo a definição dada na literatura

(e a mãe estaria violando a máxima da qualidade). Contudo, o julgamento sobre (3) não nos parece ser

falso considerando o contexto. Isso nos faz pensar que, ou a definição do artigo definido plural inclui

ou não a participação máxima dos átomos do plural a depender do contexto, ou ela sempre inclui, mas

algum mecanismo pragmático faz com que toleremos a violação da máxima da quantidade em

determinados contextos, ou ela nunca inclui, mas a máxima da quantidade nos força a assumir que a

participação é máxima a depender do contexto.

Referências:

GILLON, C. Investigating D in languages with and without articles. Methodology in Semantic

Fieldwork, p. 175-205, 2015.

GRICE, H. P. Logic and conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. R. (Orgs.). Syntax and Semantics,

volume 3, Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58.

MEDEIROS, A. B.; MARTINS, A. L.; DAMULAKIS, G. N. Categorization via Movement: the Syntax

and Semantics of ambos. Manuscrito.

STRAWSON, P. F. Identifying reference and truth-values. Theoria, v. 30, n. 2, p. 96-118, 1964.

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APRENDIZAGEM FONOLÓGICA DE L3 E SUAS IMPLICAÇÕES NO

SISTEMAFONOLÓGICO DA L2

Autora: Brenda da Silva Barreto

Orientador: GeanDamulakis

Co-orientador: Andrew Nevins

Conforme proposto na teoria Gerativa de Noam Chomsky concernente à aquisição da linguagem

– processo que se inicia imediatamente após o nascimento – todos os seres humanos, cuja faculdade da

linguagem é inata, são capazes de adquirir uma língua naturalmente caso sejam expostos a dados

linguísticos. Tal fenômeno se dá graças à Gramática Universal (GU), primeiro estágio de aquisição da

linguagem humana. Isso significa que todos nós, quando crianças, temos acesso à GU de modo a ter

sucesso ao aprender a língua que nos rodeia. O dispositivo da Gramática Universal utiliza dados

linguísticos primários como base, tornando possível a aquisição de uma língua. (cf. Chomsky, 1965, 32)

Por outro lado, tal processo linguístico nem sempre se dá de maneira satisfatória quando estamos lidando

com a aquisição de uma língua estrangeira. É frequente que aprendizes de uma língua não materna,

mesmo aqueles mais dedicados, raramente alcancem um nível de proficiência semelhante ao de um

nativo falante dessa mesma língua. Muitos pesquisadores têm observado, inclusive, que os módulos

responsáveis pela aquisição fonológica parecem ser os mais afetados pela chegada da puberdade e

envelhecimento do aprendiz. Amaro &Rothman (2010, 276), por exemplo, afirmam que evidências

sugerem que os módulos da morfossintaxe e semântica não sofrem tanto os efeitos do período

sensível/crítico quanto à fonologia.

Dito isso, nossa proposta é a realização de um estudo a partir da observação do processo de

aprendizagem fonológica de uma terceira língua (L3) em estágio inicial e sua possível interação com

uma segunda língua (L2), cujo processo de aprendizagem se encontre em estágio avançado. Trataremos

do uso do termo “aprendizagem fonológica” – em detrimento de “aquisição fonológica” – e suas

possíveis implicações. Baseamo-nos, para tanto, do trabalho de Krashen (1981), que apresenta a

dicotomia “Aquisição de Língua” X “Aprendizagem de Língua” e as características que distinguem os

dois processos.

Ademais, levamos em conta a proposta de Amaro (2012, 42) segundo a qual, “embora a maior

parte das pesquisas foque em transferência progressiva de L1 e/ou L2 para a L3, também existe a

possibilidade de transferência regressiva da L3, ou seja, a influência translinguística na qual a L3 afeta

a L1 e/ou a L2” (tradução nossa). Tal afirmação abre caminhos de investigação sobre a possibilidade de

a) mútuas influências de L2 e L3, b) influência regressiva (L3 sobre a L2) e c) influência progressiva

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(L2 sobre a L3). Entretanto, acreditamos que deva haver algum fator definindo que direção tal fenômeno

vá acontecer ou não. Por isso, levaremos em conta em nosso projeto as relações tipológicas entre as

línguas como possível fator determinante de qual direção o fenômeno da transferência irá ocorrer. Além

disso, pretendemos considerar a psicotipologia, que seria a consciência que o aprendiz tem das relações

tipológicas entre as línguas (cf. Kellerman, 1995, 129). De acordo com Jarvis&Pavlenko (2008, 174), é

possível inclusive traçar algumas tendências baseando-se na percepção dos falantes com relação ao

sistema da língua estrangeira que eles estão aprendendo, pois “é mais provável que ocorra transferência

quando o usuário da L2 percebe a L1 e a L2 como línguas semelhantes, enquanto (...) estruturas

percebidas pelo usuário da L2 como marcadas (ou específicas de uma língua) são transferidas menos

provavelmente.” (tradução nossa)

Para tanto, propomos um estudo comparativo entre dois grupos: (a) falantes nativos de português

brasileiro – variante carioca – aprendizes de alemão como L3 que já tenham aprendido inglês como L2

e (b) falantes nativos de português brasileiro – variante carioca – aprendizes de espanhol como L3 que

já tenham aprendido inglês como L2. Recorreremos à Teoria da Otimalidade Estocástica (Boersma&

Hayes, 1999) para lidar com os dados coletados devido à grande probabilidade de variação –

característica da interlíngua.

Referências Bibliográficas:

AMARO, Jennifer Cabrelli. L3 phonology: an understudied domain. In: AMARO, Jennifer Cabrelli,

FLYNN, Suzanne & ROTHMAN, Jason. Third language acquisition in adulthood. Amsterdam and

Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2012. pp.33-60.

________; ROTHMAN, Jason. On L3 acquisition and phonological permeability: A new test case for

debates on the mental representation of non-native phonological systems. IRAL, International Review

of Applied Linguistics in Language Teaching48(2-3): p. 275-296, 2010.

BOERSMA, Paul.; HAYES, Bruce. Empirical Tests of the Gradual Learning Algorithm. ROA 348.

1999.

CHOMSKY, Noam. Knowledge of language. Its nature, origin, and use. First publishing, Series

Convergence (Praeger Publishers), 1986.

JARVIS, Scott; PAVLENKO, Aneta. Crosslinguistic influence in language and cognition. New York

and London: Routledge, 2008.

KELLERMAN, Eric. Cross-Linguistic Influence: Transfer to Nowhere? Annual Review of Applied

Linguistics15. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. 125-150.

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KRASHEN, Stephen. Second Language Acquisition and Second Language Learning. Oxford:

Pergamon Press, 1981.

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SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS INDEFINIDOS E NOMES NUS:UM ESTUDO DE

ESCOPO

Autora: Ohanna Teixeira Barchi Severo (CNPq)

Orientadora: Suzi Oliveira de Lima

A categoria de nomes singulares nus é tida na literatura como distinta da categoria de nomes indefinidos

em diversos aspectos. Por exemplo, enquanto os primeiros, de acordo com algumas análises, denotam

propriedades de indivíduos (ESPINAL, 2010; OGGIANI, 2011; entre outros), os últimos têm usos

referenciais (HEIM, 1982; KAMP, 1981; entre outros). Apesar disso, em alguns aspectos observa-se

semelhança entre indefinidos e nomes singulares nus.

Em estudos anteriores de produção e compreensão feitos no Português Brasileiro (SEVERO,

2018a, 2018b), verificou-se que singulares nus nessa língua, assim como indefinidos, podem ser

retomados de forma anafórica tanto por DPs plenos (1), quanto por pronomes (2). Nesse sentido,

aparentemente, ambas as categorias de nomes possuem o mesmo comportamento no âmbito discursivo.

(1) a. João comprou vaso em São Paulo. No mesmo dia, João quebrou o vaso.

b. Carlos procurou um boné pela casa. Após duas horas, Carlos encontrou o boné.

(2) a. João comprou vaso em São Paulo. No mesmo dia, João o quebrou.

b. Carlos procurou um boné pela casa. Após duas horas, Carlos o encontrou.

Neste estudo, objetiva-se discutir se a semelhança observada entre indefinidos e nomes nus no

que compete a retomada anafórica é observada também quando investiga-se relações de escopo. Estudos

anteriores sobre a distinção entre indefinidos e nomes singulares nus no Espanhol (MÜLLER E

OLIVEIRA, 2004; entre outros), sugerem que estes dois tipos de DPs não possuem o mesmo

comportamento no âmbito do escopo. Enquanto singulares nus são interpretados apenas sob o escopo

estreito da negação (3a), indefinidos são interpretados sob os escopos amplo e estreito da negação (4):

(3) João não viu mancha no chão.

a. João não viu mancha nenhuma no chão. (leitura de escopo estreito)

b. #Existe uma mancha no chão que João não viu. (leitura de escopo amplo)

(4) João não viu uma mancha no chão.

a. João não viu mancha nenhuma no chão. (leitura de escopo estreito)

b. Existe uma mancha no chão que João não viu. (leitura de escopo amplo)

(MÜLLER E OLIVEIRA, 2004; p.25 – ex.57, 58 e 60)

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Sendo assim, o método do estudo foi o de Julgamento de Felicidade. Participaram desse estudo

quarenta falantes nativos do Português Brasileiro. Eles tiveram a tarefa de selecionar dentre as opções

de resposta, qual a opção que eles consideravam a correta. Cada item foi composto de uma pequena

narrativa e uma sentença-alvo que resumia a narrativa (5). Como resposta, havia duas imagens que

representavam a sentença-alvo. O participante poderia escolher uma das imagens, as duas ou nenhuma

delas.

(5) Contexto:

João sempre usa a lixeira reciclável para descartar seu lixo.

Por isso, quando seu refrigerante acabou, João procurou a lixeira reciclável para descartar a

latinha. Mas João não encontrou a lixeira reciclável.

Sentença:João não encontrou (uma) lixeira na rua.

Respostas: Imagem A, Imagem B, ambas ou nenhuma.

Os resultados desse estudo nos mostram que singulares nus foram interpretados sob o escopo

estreito da negação 72,1% das vezes e indefinidos foram interpretados sob o mesmo escopo 51,3% das

vezes. Além disso, indefinidos foram interpretados sob o escopo amplo da negação 25,4% das vezes e

os singulares nus foram interpretados sob o mesmo escopo apenas 16,7% das vezes. Segundo a análise

estatística feita no programa ANOVA dos dados obtidos nesse estudo, não houve significância em

relação à variável tipo de nome (χ²=0,0456, p=0,8309 (p>0,05)). Esses resultados sugerem que

singulares nus e indefinidos, no Português Brasileiro, aparentemente, possuem o mesmo comportamento

no âmbito do escopo da negação, assim como observado em outros estudos no âmbito de retomada

anafórica (SEVERO, 2018a, 2018b).

Referências:

IMAGEM B IMAGEM A

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

ESPINAL, M. Bare nominals in Catalan and Spanish. Their structure and meaning. Lingua,v.120, n.4,

p. 984-1009, 2010.

HEIM, I. The semantics of definite and indefinite noun phrases. Tese (Doutorado) – University of

Massachusetts, Amherst, MA, 1982.

KAMP, H. A theory of truth and semantic representation. In: Groenendijk, J., Janssen, T., and Stokhof,

M., editors, Formal methods of the Study of Language, p.277-322. Wiley Online Library, 1981.

MÜLLER, A.; OLIVEIRA, F. Bare nominals and number in Brazilian and European

Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, v.3(1), 2004.

OGGIANI, C. M.On discourse referential properties of bare singulars in Spanish. Dissertação

(Mestrado) – Utrecht University, 2011.

SEVERO, O. T. B. Propriedades discursivas dos indefinidos e dos singulares nus no Português

Brasileiro: um estudo de produção. Revista LinguíStica Rio, 2018a. No prelo.

_____, O. T. B. Discourse properties of indefinites and bare singulars in Brazilian Portuguese: a

comprehension study. SULA 10, Toronto, 2018b. No prelo.

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FOCALIZAÇÃO IN SITU NO PORTUGUÊS DO BRASIL: INTERFACE SINTAXE-

FONOLOGIA

Autor: Rafael Berg Esteves Trianon (FAPERJ)

Orientador: Alessandro Boechat de Medeiros

A focalização é um tema que desperta interesse na comunidade linguística atualmente. Dentro

da corrente gerativa, o movimento que ficou conhecido como Cartografia Sintática (BELLETTI, 2004;

CINQUE, 1999; RIZZI, 1997, 2004)tem se dedicado a explicar as motivações para a existência de

construções sintáticas específicas para veicular informação focalizada (clivadas, por exemplo). Em

geral, a explicação parte da necessidade de satisfação de um critério chamado Focus Criterion(RIZZI,

1997)ou pela necessidade de valoração/checagem de um traço foco(ABOH, 2010). Independente do

mecanismo adotado, a consequência é a necessidade de um movimento A-barra, de modo que o

constituinte precisa se mover para uma projeção dedicada no CP para a veiculação do foco. Nessa

perspectiva, a entonação específica das sentenças cujo foco permanece in situ se deve também a esse

movimento, uma solução adotada por estudos recentes sobre a relação entre foco, prosódia e a

abordagem cartográfica(BOCCI, 2013).

No entanto, se a focalização in situ (ou seja, quando não há alteração no ordenamento dos

constituintes na sentença) também envolve movimento A-barra (ainda que esse movimento não seja

“visto”), é necessário assumir que todas as restrições que subjazem a tal tipo de movimento também

atuem na focalização in situ, como efeitos de ilha sintática. No entanto, isso não ocorre, como mostram

os dados abaixo:

(1) O João entregou a carta para o irmão DA MARIA (não do Jorge)

(2) *Foi DA MARIA que o João entregou a carta para o irmão t

Haja visto que (1) é gramatical, como é possível que haja o movimento do PP [da Maria], uma

ilha sintática (como mostra o dado em (2))? A única resposta possível é que o PP, na realidade, não se

moveu para a periferia da sentença, mas permaneceu mesmo in situ.

No entanto, apenas afirmar que não houve movimento não resolve o problema levantado pelas

propostas cartográficas: tendo em vista a validade empírica do modelo T da arquitetura da gramática,

como é possível explicar a existência de um fenômeno que possui efeitos tanto em LF como em PF sem

apelar para uma estrutura sintática específica? Esse trabalho busca uma proposta alternativa. Nossa

hipótese é a de que, no caso da focalização in situ, o traço de foco é valorado internamente ao DP,

através de uma operação de Agree entre o núcleo D (que possui um traço foco não-interpretável) e uma

projeção de foco fP interna ao DP (com traço foco interpretável). Em línguas de foco morfológico (como

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na língua chádica Gurúntum (HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009), esse núcleo é realizado

fonologicamente, enquanto em português não.O movimento para CP que ocorre nas clivadas (e outras

construções do tipo) ocorre quando a projeção fP não está presente na estrutura, o que obriga o DP a se

mover para especificador de FocP na periferia esquerda para que seu núcleo possa sondar um núcleo

com traço foco interpretável (o núcleo Focº).

O problema óbvio que se levanta nessa hipótese é o de que essa operação de Agree não respeita

a Condição de Ativação (CHOMSKY, 2001). No entanto, assumimos a proposta de Bošković(2007),

que advoga pela validade da Condição de Ativação apenas para operação de Move, propondo que essa

condição não é um princípio do sistema linguístico, mas apenas uma consequência de casos de

movimento cíclico e que não se aplica a Agree.

Referências

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Oxford University Press, 2004.

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REANÁLISE EM NOMES DEVERBAIS DO PORTUGUÊS:UM ESTUDO NA INTERFACE

SINTAXE-SEMÂNTICA

Autora: Rafaela do Nascimento Melo Aquino (CAPES)

Orientadora: Miriam Lemle

Co-orientadora: Isabella Lopes Pederneira

O presente estudo tem como objeto de pesquisa a análise das nominalizações na língua

portuguesa, com o intuito de observar as relações entre a sintaxe e a semântica. O arcabouço teórico

para este estudo são as abordagens da Morfologia Distribuída (EMBICK; NOYER, 2012; HALLE;

MARANTZ, 1992; HARLEY; NOYER, 1999; MARANTZ, 1997, 2013; MARANTZ; HALLE, 1993)

e do Modelo Exoesqueletal (BORER, 2003, 2005a, 2005b, 2013a, 2013b). A escolha por essa vertente

se dá pelo fato de ela assumir a sintaxe como único componente gerativo da gramática, sendo este

responsável pela formação de sentenças e palavras. As abordagens acima descritas se diferenciam em

alguns aspectos, mas os principais a serem observados são a presença de significado na raiz e o limite

sintático para a negociação de significado.

Como dito acima, os nomes deverbais são o foco deste estudo, por razão de esses nomes

apresentarem ambiguidade, podendo ter leitura de evento e/ou leitura resultativa como no caso do nome

declaração, nas sentenças: (i) a declaração dos fatos do crime pela vítima levou duas horas e (ii) A

declaração de bens deve ser entregue até o fim de maio. Em uma visão lexicalista da gramática,

GRIMSHAW (1990) propõe que os nomes com leitura eventiva, denominados ComplexEventNouns,

devem obrigatoriamente ter um argumento interno em sua estrutura, enquanto os nomes com leitura de

resultado, denominados Resultnouns, não pedem argumento interno. No entanto, na abordagem

construcionista da gramática, algumas abordagens tratam dessa 91ambiguidade de duas maneiras: ou (i)

pela presença/falta do vP ou (ii) adotando o princípio de containment, isto é a ideia de que a estrutura

sintático-semântica de uma palavra está contida na estrutura sintático-semântica das palavras derivadas

dela,e atribuindo a ambiguidade ao processo de coerção. Contudo, SLEEMAN e BRITO (2007),

COMRIE e THOMPSON (2007) apresentam outras leituras possíveis aos nomes derivados como, por

exemplo, a leitura locativa, de instrumento/objeto concreto, exemplificada no nome entrada nas

sentenças: (iii) a entrada do refeitório está fechada e (iv) comprei duas entradas para o show do U2.

Diante disso, a presente pesquisa tem dois objetivos: (i) aprofundar a compreensão a respeito do

comportamento sintático-semântico das nominalizações criadas a partir do sufixo–91ão no português

do Brasil e (ii) compreender o processamento desses nomes, em termos de acesso lexical. A análise

inicial dos dados segue pela hipótese de que há a presença do vP na estrutura sintática das

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nominalizações, independente da leitura que elas tenham. Essa análise está sendo motivada por dois

fatores. O primeiro é a presença da marca morfológica verbal nos nomes analisados como, por exemplo,

declarar- declaração, plantar – plantação, negociar – negociação. O segundo é a presença do

argumento do vP nas construções nominais como, por exemplo, declarar os fatos/os bens – declaração

dos fatos/ de bens. No entanto, no que diz respeito ao que licencia a polissemia desses nomes, a análise

ainda não apresenta uma proposta. A ideia inicial era pautar a análise conforme a proposta de HARLEY

(2009), na qual a autora propõe que o processo semântico-pragmático de coerção seja responsável por

transformar um nome complexo eventivo em um nome com leitura de resultado. Contudo, essa proposta

apresenta um problema para a língua portuguesa, visto que a diferença entre nomes massivos e contáveis

não é clara. Deste modo, os próximos passos desta pesquisa são aprofundar a análise dos nomes em

relação aos fatores que licenciam a polissemia e aplicar o experimento de acesso lexical.

Referências:

ALEXIADOU, A. Functional structure in nominals: Nominalizations and ergativity. Linguistics

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BORER, H. Structuring sense Volume II: The normal course of events. 1. ed. Nova Iorque: Oxford

Univeristy Press, 2005a.

BORER, H. Structuring Sense Volume I : In Name Only. 1. ed. Nova Iorque: Oxford Univeristy

Press, 2005b.

BORER, H. Structuring Sense Volume III: Taking Form. 1. ed. Nova Iorque: Oxford Univeristy

Press, 2013a.

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

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A AQUISIÇÃO DA MORFOLOGIA DE IMPERFECTIVO CONTÍNUO POR APRENDIZES

DE FRANCÊS (L2) FALANTES NATIVOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL

Autora: Sabrina Gomes da Silva (CAPES)

Orientadora: Adriana Leitão Martins

Aspecto se refere aos diferentes modos de se visualizar a composição temporal interna de uma

determinada situação (COMRIE, 1976) podendo ser: (i) semântico, veiculado através do significado

inerente ao verbo e/ou seus complementos ou adjuntos, ou (ii) gramatical, codificado por exemplo na

morfologia verbal. Com relação ao aspecto semântico, considera-se a classificação de Vendler (1967),

que estabeleceu quatro tipos de verbo: estados, atividades, processos culminados e culminações. O

aspecto gramatical pode ser perfectivo ou imperfectivo. Este pode ainda ser subdividido em habitual e

contínuo, sendo o último referente a uma situação em andamento.

No francês da França (FF), Navakova (2001) mostra que o aspecto imperfectivo contínuo no

presente é expresso mais frequentemente pelo presente simples, tido como uma morfologia não

progressiva. Gramáticas francesas, como aquela desenvolvida por Poisson-Quinton, Mimran e Mahéo-

Le Coadic (2002), reconhecem também que esse aspecto pode ser realizado pela expressão verbal

“êtreentrain de” + infinitivo, tida como a morfologia progressiva do francês.

No português do Brasil (PB), Martins (2006) mostra que o aspecto imperfectivo contínuo no

presente também pode ser expresso tanto por uma morfologia não progressiva, o presente simples,

quanto por uma morfologia progressiva, a perífrase “estar” + gerúndio, sendo esta mais frequente nessa

língua.

Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é investigar a representação sintática de aspecto,

mais especificamente, de imperfectivo contínuo. De maneira específica, pretende-se investigar a

transferência do português do Brasil/L1 (PB/L1) para o francês da França/L2 (FF/L2) do padrão de

realização morfológica do imperfectivo contínuo no presente, considerando os diferentes tipos de verbo.

Diante disso, a hipótese considerada é a de que há uma transferência do padrão de realização morfológica

do imperfectivo contínuo no presente do PB/L1 para o FF/L2.

Para tanto, em um primeiro momento, optou-se por fazer uma análise de dois corpora a fim de

verificar o padrão de realização morfológica do aspecto imperfectivo contínuo no presente descrito em

cada língua investigada. Para a análise do FF, foi utilizado o corpus linguístico CFPP2000 transcrito e

disponibilizado pela Universidade Paris Diderot – Paris 7, que apresenta dados de fala espontânea de

adultos parisienses de ambos os sexos, de 20 a 40 anos, com nível superior completo ou incompleto,

sendo analisadas 3 horas de fala. Para a análise do PB, foi utilizado um corpus linguístico coletado e

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transcrito pelo grupo de pesquisa Biologia da Linguagem no ano de 2016, que apresenta dados de fala

espontânea de adultos cariocas de ambos os sexos, de 18 a 40 anos, com nível superior completo ou

incompleto, sendo analisadas 3 horas de fala.

Com base na análise dos dados, constatou-se que: (i) no FF, das 1413 realizações do imperfectivo

contínuo no presente, 99,85% (1411 realizações) foram com a morfologia não progressiva e 0,15% (2

realizações), com a morfologia progressiva, ambas com verbos de atividade; e (ii) no PB, das 140

realizações de imperfectivo contínuo no presente, 97,85% (137 realizações) foram com a morfologia

progressiva e 2,15% (3 realizações), com a morfologia não progressiva, sendo uma com verbo de

atividade, uma com verbo de culminação e uma com verbo de estado.

Diante de tais resultados, percebe-se que há uma preferência dos falantes nativos do FF pela

morfologia não progressiva, diferentemente dos falantes nativos do PB, que preferem a morfologia

progressiva. Logo, o próximo passo desta pesquisa será a elaboração/aplicação de um teste para

investigação de uma possível transferência do padrão de realização morfológica do aspecto imperfectivo

contínuo no presente do PB/ L1 para o FF/L2. A expectativa é de que ocorra tal transferência, dada a

diferença entre a realização morfológica desse aspecto nas duas línguas.

Referências:

COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

MARTINS, A.L. Conhecimento linguístico de aspecto no português do Brasil.2006.228f.

Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro. 2006.

NAVAKOVA, Iva. Fonctionnementcomparé de l'aspect verbal em français et enbulgare. In: Revue des

études slaves, tome 73, fascicule 1, 2001. pp. 7-23

POISSON-QUINTON, S., MIMRAN., R., MAHEO-LE COADIC, M. Grammaire expliquée du

français, Clé International, 2002.

VENDLER, Z. ‘Verbs and times’. In: ______. (Ed.). Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell

University Press, 1967. p.97-121.

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LINGUAGEM, MENTE E CÉREBRO

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O EFEITO DA LACUNA PREENCHIDA E A INFLUÊNCIA DISCURSIVA EM

INTERROGATIVAS QU

Autora: Amanda Rocha (FAPERJ)

Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia

O Efeito da Lacuna Preenchida (ELP) foi primeiramente postulado por Stowe (1986) em um

estudo em que foram analisadas frases em inglês com a posição de objeto direto preenchida. Em

Português Brasileiro, Maia (2014a) testou frases como “[Que livro]i o professor escreveu a tese sem

ler vi antes?”. Foi observado um efeito surpresa do parser ao se deparar com o segmento [a tese]

preenchendo a lacuna após o verbo “escreveu”. Em um experimento utilizando a técnica de leitura

automonitorada (Maia, 2014a) que foi realizado, os resultados demonstraram que esse Efeito ocorre no

Português Brasileiroe, inclusive, não parece ser sensível a informações como a plausibilidade na medida

on-line. Diversos estudos foram realizados acerca do Efeito da Lacuna Preenchida, sendo somente sendo

bloqueado em contexto de ilhas sintáticas (Maia, Moura, Souza, 2016).

Em um primeiro estudo de leitura automonitorada, investigamos melhor a influência discursiva

durante a fase de processamento de frases em que ocorrem o ELP.Os participantes leram frases como

“O professor acabou de escrever uma tese. Que livroi/ o professor / escreveu/ a tese / sem

ler ti / durante / a pesquisa?”e observamos que o discurso exerce influência sob o ELP, mas não impede

a magnitude do efeito. Em Boxell (2012) é discutido a atuação do processador sintático diante de

elementos QU referenciais (Discourse-linked), como [Que livro], e não referenciais (non Discourse-

linked), como [O que]. O autor analisou que ambos os elementos são reativados em posições de CP

intermediário, ao contrário do que havia sido proposto por Pesetsky (1987). Além disso, Boxell (2012)

observou que um QU-referencial, em contextos de complexidade sintática muito elevadas, pode

funcionar como um elemento facilitador.

Neste segundo estudo pretende verificar a interação do discurso com o Efeito da Lacuna

Preenchida por meio da técnica de rastreamento ocular. Além disso, busca verificar a influência dos

traços discursivos no QU referencial em contexto de preenchimentode lacuna comparado com quando

o elemento QU não é referencial.A hipótese é de que haja influência do discurso durante o

processamento de frases. Além disso, em contextos de complexidade sintática, como o ELP, o elemento

QU referencial pode funcionar como um elemento facilitador. Observe o modelo de um conjunto de

frases experimentais:

Lacuna preenchida e QU referencial

PR – Que livroi o professor escreveu uma tese sem reler ti durante a pesquisa?

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Lacuna não preenchida e QU referencial

NPR – Que livroi o professor escreveu ti sem reler uma tese durante a pesquisa?

Lacuna preenchida e QU não referencial

PNR–O quei o professor escreveu uma tese sem reler ti durante a pesquisa?

Lacuna não preenchida e QU não referencial

NPNR – O quei o professor escreveu ti sem reler uma tese durante a pesquisa?

Sob uma análise comparativa, nossa previsão é de que, nas análises de PR x NPR na condição

PR os tempos médios de leitura serão significativamente maiores pois ocorrerá o ELP. Em análises entre

PNR x NPNR prevemos que as condições PNR levarão mais tempo pois ocorrerá o ELP e o fato de ser

um QU não referencial não impedirá isso. Em condições como PR x PNR, prevemos que as condições

com QU referencial (PR) levarão menos tempo para serem processadas pois este elemento será um

elemento facilitador em comparação com um QU não referencial. Na comparação das condições

NPRxNPNR, esperamos que NPNR levará mais tempo pois o elemento QU não carrega traços

discursivos facilitadores.

Referências:

BOXELL, O. Discourse-linking and long-distance syntactic dependency formation in real-time.

Proceedings of ConSOLE XIX, 151-175. 2012

MAIA, M. Efeito da lacuna preenchida e plausibilidade semântica no processamento de frases em

português brasileiro.Cadernos de Letras da UFF, 2014a, v. 49, p. 23-46

PESETSKY, D. Wh-in-Situ: Movement and Unselective Binding. In The Representation of

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MAIA, M.; MOURA, A; SOUZA, M. Ilhas sintáticas e plausibilidade semântica – um estudo de

rastreamento ocular de frases com lacunas preenchidas em português brasileiro.EditoraScripta, 2016.

STOWE, L. Parsing wh–constructions: evidence for on–line gap location.Languageand Cognitive

Processes 1. 1986, 227–46.3

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PROCESSAMENTO SINTÁTICO EM CEGOS: UMA REFLEXÃO SOBRE O PESO DE

DIFERENTES MÓDULOS COGNITIVOS

Autora: Emily Silvano da Silva (CAPES)

Orientadora: Aniela Improta França

Em Silvano (2018) a Teoria do Garden-Path (cf. Frazier,1979) foi testada através do rastreamento

ocular durante a leitura de um tipo de ambiguidade sintática temporária, comparada entre alunos do

ensino superior e de 8º ano fundamental (cf 1):(1) A aluna disse à professora QUE chegou tarde que

precisava sair mais cedo.

Nos resultadoson-line foram encontradas evidências do efeito garden-path(GP) em ambos os

grupos, ou seja, ambos os grupos ingressam no labirinto, sendo este efeito menor nos alunos do 8º ano,

contrariando o esperado pela literatura. Já nos resultados off-linedepois da pergunta de compreensão, os

adultos demonstraram ter entendido as frases após reanálise, enquanto os alunos de 8º ano pareceram

não saber o que leram. Os resultados desses alunos do 8º ano sugerem mesmo que eles desistiram da

frase, se desengajaram, antes de concluir a leitura plena, com interpretação.

Apesar de a simples detecção do desengajamento serparâmetro relevante para a construção de

soluções para a educação fundamental, é preciso aprofundar a análise. A ideia é discriminaros

componentes do desengajamento:problemas de decodificação grafema-fonema, de processamento ou de

memória?

Assim, escolhemos como próximos passos testaras mesmas sentenças com indivíduos

completamente cegos (ICC), que reconhecidamente desenvolvem memória de trabalho táctil mais

potente do que a de indivíduos com visão residual e muito superior a de videntes(Cohen et al 2010;

Alary, 2009; Amedi et al, 2003; Bliss et al 2004; D'Angiulli A, Waraich P 2002). A ideia é comparar o

processamento de estruturas ambíguas em ICCscursando ensino superior e outros entre o 4º e o 8ºano

do ensino fundamental,para isolar problemas de processamento linguístico daqueles de memória. Para

isso nos propomos desenvolveruma versão adaptada da técnica de EEG-ERPdurante a leitura em braile.

Esperamos que o teste possa lançar luz sobre a interação/intervenção de módulos de outras cognições,

como a memória, no processamento de frases, aprofundando, assim, os resultados apresentados em

Silvano (2018).

Referências

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

ALARY F, DUQUETTE M, GOLDSTEIN R, CHAPMAN CE, VOSS P, et al. Tactile acuity in the

blind: a closer look reveals no superiority over the sighted in pure tactile tasks. Neuropsychologia. 47:

2037–43,2009.

AMEDI A, RAZ N, PIANKA P, MALACH R, ZOHARY E.Early ‘visual’ cortex activation correlates

with superior verbal memory performance in the blind. Nature Neurosci 6: 758–766,2003.

BLISS I, KUJALA T, HAMALANINEN H.Comparison of blind and sighted participants' performance

in a letter recognition working memory task. Br Res Cognitive Br Res 18: 273–277,2004.

D'ANGIULLI A, WARAICH P.Enhanced tactile encoding and memory recognition in congenital

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FRAZIER L.On comprehending sentences: Syntactic parsing strategies.Tese (Doutorado) –

University of Connecticut (reproduzida por: Indiana University Linguistics Club),1979;

SILVANO, E. Rastreamento ocular de orações temporariamente ambíguas: reflexões sobre os

efeitos garden-path e good-enough na leitura de alunos de curso fundamental e superior. Dissertação

(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio

de Janeiro, 2008.

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LENDO FACES E PALAVRAS: UMA ABORDAGEMPSICOLINGUÍSTICA

Autora: Isadora Rodrigues de Andrade (CNPq)

Orientadora: Aniela Improta França

Como se sabe, as habilidades de leitura e escrita são socialmente facultativas e, normalmente,

ensinadas e aprendidas no contexto social. Contudo, ainda que o sistema visual humano ainda não tenha

tido tempo de se adaptar evolutivamente para assimilar linguagem escrita, estudos recentes no campo

da neurociência têm evidenciado a existência de uma circuitaria intimamente relacionada à cognição da

leitura (Dehaene, 2012).

Com a finalidade de investigar como o cérebro humano se prepara para a leitura, o neurocientista

francês StanislasDehaene comparou o processamento de objetos, faces e letras, utilizando recursos de

neuroimagem. Ele constatou uma forte relação entre aspectos das cognições de reconhecimento facial e

de reconhecimento de objeto com uma nova cognição — o reconhecimento de grafemas, que se

estabelece como um processo de natureza cultural, adquirido por meio de instrução explícita durante a

alfabetização (Dehaene, 2012).

Por ocasião da alfabetização, parte dos neurônios responsáveis pelo processamento de faces e

parte daqueles responsáveis pelo reconhecimento de objetos são ajustadas (reciclagem neuronal) de

modo a acomodar os atributos da palavra escrita. Assim, na hipótese da reciclagem concebe-se que

componentes naturais do sistema nervoso humano podem funcionar como base para absorver outras

regularidades que não fazem parte do DNA do indivíduo por não representarem ainda uma pressão

evolutiva por tempo significativamente grande para mudar a espécie (Dehaene et al., 2010; Dehaene-

Lambertz&Dehaene, 1994).

A Área da Forma Visual da Palavra Escrita (Visual Word FormArea) é assim formada por

reciclagem neuronal na região occípito-temporal ventral, acomodada dentro do giro fusiforme do

hemisfério esquerdo do cérebro, entre as áreas de processamento de face e de objetos (Cohen et al.,

2000).

Aprender a ler, portanto, gera mudanças na organização anatômica cerebral (Dehaene et. al.

2010), impactando diretamente na formação de novas funções cognitivas. Atualmente, há estudos que

apontam que os efeitos da alfabetização impactam o sistema de fala, criando fortes vínculos funcionais

de alimentação e retroalimentação entre fonologia e ortografia.

Entretanto, esses efeitos não se limitam à língua, mas também atingem os processos visuais não-

linguísticos (Kolinsky&Verhaeghe, 2011). No local da VWFA, aprender a ler instaura uma competição

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

com a representação cortical de objetos visuais não-linguísticos (Dehaene et. al., 2010). Enquanto a

VWFA esquerda torna-se cada vez mais sensível às sequências de letras, enquanto os indivíduos

adquirem a leitura, ela se torna cada vez menos sensível aos rostos, cuja percepção torna-se mais

lateralizada para a direita, nos indivíduos alfabetizados.

Portanto, temos nessa frente de trabalho, a possibilidade de verificar, sob a perspectiva da

psicolinguística, se há correlatos comportamentais para os achados da neurociência. Para tanto,

realizaremos testes pseudolongitudinais de percepção fonêmica e reconhecimento facial, que serão

aplicados em três grupos de crianças em três momentos: antes, durante e depois da alfabetização.

Nesses testes, tentaremos identificar se a competição neural entre palavras escritas e rostos

provoca prejuízos à percepção facial, em virtude do desenvolvimento das habilidades de leitura. Além

disso, também pretendemos investigar a percepção categórica de fonemas antes e depois da

alfabetização, para verificar se a precisão dos limites das categorias fonológicas é reforçada pela

alfabetização, como é indiretamente sugerido pela literatura (Hoonhorst et al., 2011; Serniclaes et al.,

2006).

Palavras-chave:linguística, psicolinguística, leitura, neurociência

Referências

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area. Neuroimage.22:466–76, 2004.

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Science(New York, N.Y.), 330(6009), 1359–64, 2010.

DEHAENE-LAMBERTZ, G.; DEHAENE, S. Speed and cerebral correlates of syllable discrimination

in infants. Nature, 370(6487), 292–5, 1994.

DEHAENE, Stanislas. Reading in the brain: The Science and evolution of a human invention. New

York: Peguin Books, 2005.

_______. Os Neurônios da Leitura: Como a Ciência Explica a Nossa Capacidade de Ler (p. 372).

Penso, 2012.

HOONHORST, Ingrid et al. Categorical perception of voicing, colors and facial expressions: A

developmental study. Speech Communication. 53. 417-430, 2011.

KOLINSKY, Régine; VERHAEGHE, Arlette. How literacy affects vision: further data on the

processing of mirror images by illiterate adults. Revista LinguíStica. Volume 7, número 2, 2011.

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2006.

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A REPRESENTAÇÃO DO ASPECTO PERFECT: UM ESTUDO A PARTIR DA DEMÊNCIA

DO TIPO ALZHEIMER

Autor: Jean Carlos da Silva Gomes (CAPES)

Orientadora: Adriana Leitão Martins

Este trabalho está ancorado na teoria gerativa, corrente de estudos linguísticos que postula que a

linguagem é representada na mente humana de maneira dissociada das demais cognições. Assim, cada

indivíduo possui uma gramática mental. Nela, estão organizados conhecimentos linguísticos de

diferentes naturezas, sendo um deles o sintático. Investigamos neste trabalho o conhecimento sintático

de aspecto. Segundo Comrie (1976), aspecto refere-se às diferentes maneiras de se enxergar a

composição temporal interna de uma situação. Alguns aspectos podem ser gramaticalizados nas línguas,

como o perfect,que, segundo Pancheva (2003), se refere a um intervalo de tempo que relaciona o

momento do evento ao momento de referência, sendo o primeiro anterior ao segundo. Uma das propostas

de subcategorização para o perfecté a de McCawley (1981) que o classifica em dois tipos: universal e

existencial. Segundo Iatridou, Anagnostopoulou&Izvorski (2003), quando associados ao tempo

presente, o perfectuniversal descreve uma situação que se iniciou no passado e persiste até o presente,

enquanto que o existencial descreve uma situação que ocorreu e terminou no passado e que tem

relevância no presente. Em relação à representação mental desse aspecto, Alexiadou, Rathert& Von

Stechow (2003) propõem a existência de apenas uma projeção para o perfectna representação sintática.

Por outro lado, Nespoli& Martins (2018) propõem a existência de duas projeções para perfect, sendo

uma para o tipo universal e outra para o tipo existencial. Uma das formas de investigar o modo como o

conhecimento linguístico está representado na mente de um indivíduo é por meio de um estudo que

incida sobre dados de uma gramática desviante, ou seja, daquela que se difira da de um indivíduo adulto

saudável falante nativo de uma língua específica, como é a de um indivíduo portador da demência do

tipo Alzheimer (DTA). Pacientes acometidos pela DTA sofrem de múltiplos impedimentos cognitivos,

e, por isso, é possível que os problemas detectados na sua expressão linguística sejam decorrentes de

um comprometimento na gramática mental (GROBER & BANG, 1995; MARTINS, 2010) ou em algum

módulo não linguístico (ROCHON, WATERS & CAPLAN, 1994; GROSSMAN & WHITE-DEVINE,

1998). Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa é investigar a representação sintática do perfect.

Especificamente, pretende-se investigar, em pacientes diagnosticados como prováveis portadores da

DTA falantes nativos do português brasileiro (PB), a origem de um possível comprometimento do

aspecto perfect, se decorrente de um comprometimento na gramática mental ou em módulos não

linguísticos. Além disso, se for identificado tal comprometimento e ele for analisado como resultante de

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um impedimento na gramática mental, pretende-se investigar se esse comprometimento incide sobre a

expressão de perfectuniversal ou existencial, quando associados ao presente, uma vez que a perda

seletiva de um desses tipos pode indicar uma dissociação entre eles. Para tanto, será realizado um duplo

estudo de caso cuja metodologia consiste na aplicação de quatro testes e na análise de dados de fala

espontânea dos pacientes. Dois testes são de natureza neuropsicológica, sendo um deles o Mini Exame

do Estado Mental, cujo objetivo é avaliar o estado mental dos pacientes, e o outro, um teste de

ordenamento sequencial de eventos, cujo objetivo é investigar o conhecimento conceptual de tempo. Os

outros dois testes visam investigar especificamente o comprometimento linguístico de tempo e aspecto,

sendo um deles um teste de julgamento de gramaticalidade e o outro uma tarefa de preenchimento de

lacuna. Uma análise preliminar de dados de fala espontânea de um indivíduo acometido pela DTA

indicou um possível problema com a morfologia “ter” + particípio, forma verbal que veicula

exclusivamente o aspecto perfectuniversal no PB, o que pode indicar um possível comprometimento

com esse tipo de perfect.

Referências:

ALEXIADOU, Artemis; RATHERT, Monika; VON STECHOW, Arnim. Introduction: the modules of

perfect constructions. In: ALEXIADOU, Artemis; RATHERT, Monika; VON STECHOW, Arnim.

Perfect explorations. Berlin: Mounton de Gruyter, 2003.

COMRIE, Bernard. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems.

Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

GROBER, E.; BANG, S. Sentence comprehension in Alzheimer’s disease. Developmental

Neuropsychology, v.11, p. 95-107. 1995.

GROSSMAN, M.; WHITE-DEVINE, T. Sentence comprehension in Alzheimer’s

disease.BrainandLanguage, v. 62, p. 186-201, 1998.

MARTINS, A. L. A desintegração do tempo na demência do tipo Alzheimer. Tese (Doutorado) –

Programa de Pós-Graduação em Linguistíca. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de

Letras. 2010.

MCCAWLEY, J. Notes on the English Present Perfect. Australian Journal of Linguistics, v.1, n.1,

1981.

IATRIDOU, S.; ANAGNOSTOUPOLOU, E.; IZVORSKI, R. Observations about the form and

meaning of the perfect. In: ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. (Eds.) Perfect

explorations. Berlin: Mounton de Gruyter, 2003.

NESPOLI, J; MARTINS, A. A representação sintática do aspecto perfect: uma análise comparativa

entre o português e o italiano. Caderno de estudoslinguísticos, v. 60, n. 1, 2018.

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PANCHEVA, R. The aspectual makeup of Perfect participles and the interpretations of the Perfect. In:

ALEXIADOU, A; RATHERT, M. VON STECHOW, A. (Eds.). Perfect Explorations. Berlin:

Mounton de Gruyter, 2003. P. 277-308.

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A TEORIA DA MENTE DIGITAL: INTERAÇÃO ENTRE BEBÊS E MÁQUINA

Autora: Kate Barbara de Mendonça Leal (CAPES)

Orientadora: Aniela Improta França

O presente trabalho busca investigar, sob a perspectiva da Teoria da Mente (ToM),os efeitos da

interferência dos meios digitais no desenvolvimento das habilidades cognitivas e linguísticas de

crianças. É muito comum observamos o contato precoce e intensificado de crianças de diferentes faixas

etárias com os meios eletrônicos quer de forma assistida, quer de forma desassistida. Embora haja uma

profusão de artigos sobre o tema, esse ainda é um campo muito vasto e novo. Parece-nos que um ponto

ainda muito pouco estudado, mas de suma importância para esse estado da arte, é como a linguagem é

representada pela criança para que ela interaja com os aparelhos online. Esses aparelhos são intuitivos

para adultos, mas para serem intuitivos para os bebês, e parecem que são, os bebês têm que prever os

passos do processamento de máquina para que eles gerem expectativas de funcionamento na interação,

assim como na fala um interlocutor tem expectativa em relação ao que o outro vai dizer.

A presente pesquisa busca entender como os bebês representam as possibilidades de resposta das

mídias digitais com as quais interagem e como constroem as expectativas para que essa interação

aconteça. Como a criança processa as fases de processamento da máquina com a qual ela interage?

Como se resolvem os conteúdos dêiticos? Para tentar responder essas questões, o recorte que será aqui

proposto é a investigação que evoca o campo clássico da Teoria da Mente (ToM) adaptado para o espaço

digital. Esse tema clássico será aqui adaptado para estudar o “modus operandi” de um aparelho

eletrônico, uma série de “comportamentos” ou “respostas” que os bebês conseguem prever durante a

interação com uma dada plataforma eletrônica. Justificamos nossa escolha teórica pelo fato de a Teoria

da Mente se mostrar uma ferramenta teórica capaz de explicar a capacidade cognitiva infantil de

entender o comportamento do outro e modular suas ações.

Assim, o tema fundamental sobre a cognição infantil é a Teoria da Mente (ToM) do outro, a

habilidade de atribuir e representar em si próprio os estados mentais do outro - crenças, intenções,

desejos, conhecimento - e de compreender que esses estados podem ser distintos daqueles de self. O

controle da Teoria da Mente está na base das trocas comunicativas que estabelece, constituindo um

aspecto importante para o convívio social. No século XXI, umoutro inescapável é de natureza digital,

como as máquinas com as quais interagimos: celulares, tablets e etc.

Este trabalho se justifica, portanto, pelo aumento exponencial de crianças que fazem uso dos

recursos tecnológicos, com facilidade estarrecedora. Ressalta-se que não há ainda estudos mais

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detalhados acerca dessa cognição e sobre os efeitos positivos e/ou negativos para o desenvolvimento

cognitivo e linguístico dos bebês e crianças pré-escolares. Esse estudo quer se devotar a essa área.

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O PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL EM POSIÇÃO DE SUJEITO

E EM POSIÇÃO DE OBJETO: RESULTADOS PRELIMINARES DE UM ESTUDO

COMPARATIVO ENTRE PB E PE

Autora: Katharine de Freitas Pereira Neto Aragão da Hora (CAPES)

Orientador: Marcus Maia

Co-orientadora: Paula Luegi (Universidade de Lisboa)

O presente trabalho apresenta parte da pesquisa comparativa que está sendo desenvolvida a fim

de contribuir com os estudos sobre a categoria vazia tanto em posição de sujeito quanto em posição de

objeto em Português Brasileiro e em Português Europeu.

A fim de definir o nível de distanciamento entre o PB e o PE,muitos linguistas têm tomado como base

o modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky, 1981), com a finalidade de explicar como os Princípios

da GU fixam os parâmetros em cada variante. Estudos, como o de Barbosa, Duarte e Kato (2005), por

exemplo, apontam para o fato de que o PB e o PE se comportam de maneira distinta em relação ao

parâmetro do sujeito nulo. Em relação ao objeto nulo, Cyrino (1997) afirma que as duas variedades

apresentam muitas diferenças em relação à sua utilização.

Diferentes trabalhos têm demonstrado que a resolução de formas pronominais, nulas e plenas, em

línguas de sujeito nulo, se baseia na função sintática do antecedente: nulos retomam preferencialmente

o antecedente em posição de sujeito e plenos retomam o antecedente em posição de objeto (Costa, Faria

e Matos, 1998; Carminati, 2002). No entanto, esses estudos testam estruturas independentes ou

estruturas subordinadas (adverbiais ou causais) e geralmente com referentes em funções sintáticas

distintas: sujeito/objeto. No presente trabalho testamos estruturas em que o pronome, nulo ou pleno,

sujeito de uma oração completiva retoma um antecedente pertencente a um SN complexo.

(1) No final da noite, os estagiários do arquiteto informaram que discutiam irritadamente com

frequência.

(2) No final da noite, o estagiário dos arquitetos informou que discutiam irritadamente com

frequência.

(3) No final da noite, os estagiários do arquiteto informaram que eles discutiam irritadamente com

frequência.

(4) No final da noite, o estagiário dos arquitetos informou que eles discutiam irritadamente com

frequência.

Relacionado ao objeto nulo, encontramos estudos relacionados a esse fenômeno em PB e PE desde os

anos 70. Raposo (1986) foi um dos primeiros a descrever a ocorrência de objetos nulos no PE.Para o

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autor o objeto nulo é um vestígio deixado pelo movimento de uma categoria vazia para a posição de

complemento, onde se tornaria um operador nulo coindexado ao tópico (nulo) do discurso.

Cyrino (1997) defende que o emprego do objeto nulo depende da interação entre dois traços do

antecedente: animacidade e especificidade. Segundo a autora para ter um objeto nulo é necessário que

o antecedente seja [-animado]. A fim de avaliar esse fenômeno, aplicamos um teste com a finalidade de

observar como se dá o processamento do pronome nulo ou realizado em posição de objeto em estruturas

complexas do PE e do PB.

(5) A diretora aprovou o locutor para o leilão de beneficência, depois considerou-o excessivamente

caro para o evento.

(6) A diretora aprovou o cartaz para o leilão de beneficência, depois considerou-o excessivamente

caro para o evento.

(7) A diretora aprovou o locutor para o leilão de beneficência, depois considerou excessivamente

caro para o evento.

(8) A diretora aprovou o cartaz para o leilão de beneficência, depois considerou excessivamente

caro para o evento.

Relacionado ao sujeito nulo em PE, os resultados preliminares mostram uma maior percentagem de

respostas certas nas condições em que o nulo retoma o SN1 (90%), comparativamente com as condições

em que retoma o SN2 (65%) e com as condições de pleno, retoma de SN1 (78%) ou de SN2 (76%).

Relativo ao objeto nulo em PE, observamos que o pronome nulo é aceito e compreendido em PE.

Tal observação faz com que não o classifiquemos como uma língua de objeto pleno sempre. A não

realização é aceita e de acordo com os resultados off-line não dificultam em nada a interpretação das

sentenças.

Referências:

BARBOSA, P., DUARTE, E., & KATO, M. Null subjects in european and Brasilian Portuguese.

Journal of Portuguese Linguistics, 4:2, pp. 11-52, 2005.

CARMINATI, M. N. (2002). The processing of Italian subject pronouns. Doctoral Dissertation. UMass

Amherst.

CHOMSKY, N. (1981). Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris. _____. (1986). O

Conhecimento da língua. Caminho. Lisboa. CLAHSEN, H.,

CYRINO, S. O objeto nulo no português do Brasil: um estudo sintático-diacrônico. Editora da

UEL.1997

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

COSTA, M. A., I. H. FARIA E G. MATOS. Ambiguidade referencial na identificação do sujeito em

estruturas coordenadas. In Actas do XII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de

Linguística, 1997. 173-188, 1998.

RAPOSO, E. On the Null Object in European Portuguese, em O. Jaeggli& C.SilvaCorvalán (orgs.)

Studies in Romance Linguistics, Dordrecht, Foris, 1986.

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O PROCESSAMENTO DAS CONSTRUÇÕES DE TÓPICO ESTILO-CHINÊS NO

PORTUGUÊS DO BRASIL

Autora: Lorrane da Silva Neves Medeiros Ventura (CNPq)

Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia

A presente pesquisa investiga o processamento de topicalizações (1), em comparação com

tópicos estilo chinês (2) e frases sujeito-predicado (3), conforme abaixo:

(1) Teatro, eufizquando era criança.

(2) Teatro, eusempre choro de emoção.

(3) Teatro me deixamuito emocionada.

Podemos observar, acima, que o tópico gerado na frase (1) é fruto de movimento sintático, isto

é, está vinculado a uma categoria vazia no interior do comentário e exerce uma função na oração. Na

frase (2) temos uma configuração diferente, já que não há possibilidade de movimentação sintática. O

tópico teatro não poderia ter saído de uma posição sintática específica no comentário, ou seja, não

estabelece nenhuma relação argumental com o verbo. Em contraste com essas estruturas de tópico,

temos (3), que segue a configuração sujeito-predicado. A literatura vem chamando tipos como (2) de

tópico estilo chinês, pois sua estrutura é semelhante ao Chinês. Tal construção vem desafiando análises

na Linguística Teórica e Descritiva desde que trabalhos clássicos a identificaram na década de 1970 (cf.

Li & Thompson, 1976) e parece indicar a possibilidade já denominada de “estilo cognitivo” na literatura

relevante, em que ao invés de se estabelecer a relação gramatical entre um sujeito e um predicado,

estabelece-se uma relação do tipo tópico-comentário, em que um tema é lançado, realizando-se sobre

ele comentários, sem a necessidade de uma posição sintática de onde o tópico poderia haver se movido

para a periferia esquerda da oração.

A partir da classificação tipológica das línguas naturais feita por Li & Thompson (1976),

formaram-se opiniões distintas por parte dos estudiosos do PB. De um lado, desenvolvem-se estudos

que consideram o PB como uma língua orientada para a sentença (cf. DUARTE ,1996; KENEDY, 2002,

2014), cuja ordem predominante dos constituintes se dá por Sujeito - Predicado, como é caso do Inglês

e do Português europeu (PE). Em contrapartida, estudos defendem que o PB deva ser caracterizado

como uma língua orientada para o discurso (cf. NEGRÃO, 1990; GALVES, 2001; ORSINI, 2003;

KATO, 2006), como o Mandarim, cuja ordem predominante ocorre por tópico-comentário. Uma

caracterização mista da língua, isto é, considerando que tanto a ordem sujeito-predicado, quanto a ordem

tópico-comentário são predominantes no PB, também vem sendo considerada (cf. PONTES, 1987;

ORSINI e VASCO, 2007; BERLICK, DUARTE & OLIVEIRA, 2015).

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Neste sentido, com o objetivo de fornecer aportes do processamento psicolinguístico para o

debate, as estruturas de tópico no PB serão investigadas, com vistas a buscarmos evidências

experimentais que sustentem a hipótese de que o PB seria, de fato, uma língua mista. Para tal, um

experimento preliminar de rastreamento ocular está, no momento, sendo desenvolvido. O

experimento segue um design 3, onde se manipula o fator tipo de estrutura, como variável

independente (tópico-chinês (TC), topicalização (TP) e sujeito-predicado (SP)). As variáveis

dependentes serão os padrões de fixação ocular, os movimentos sacádicos, progressivos e regressivos,

os índices de julgamento e os tempos de decisão. O objetivo é verificar como os falantes brasileiros

interpretam as sentenças com tópico estilo-chinês, que são típicas de uma língua com proeminência de

tópico, em comparação com construções de topicalização e sujeito-predicado, que são típicas de uma

língua com proeminência de sujeito, observando sua aceitabilidade. A tarefa dos participantes é a leitura

de pequenas histórias que ilustram uma determinada situação, na tela do computador. Em seguida, leem

uma sentença, que pode ser apresentada na configuração tópicoestilo-chinês, topicalização ou sujeito-

predicado e serão solicitados a decidirem se a frase crítica poderia ser usada para descrever o contexto

apresentado.A aceitabilidade das construções de tópico estilo-chinês pelos falantes poderá ser uma

evidência inicial para uma classificação da língua, quanto ao seu status tipológico.

Referências:

BERLINCK, R; DUARTE, M. E. L; OLIVEIRA, M. Predicação. Em: M. A. KATO; NASCIMENTO,

M. (org) Gramática do Português Culto Falado no Brasil: a construção da sentença,Vol II. São Paulo:

Ed. Contexto, p. 81-149, 2015.

DUARTE, I. A topicalização no português europeu: uma análise comparativa. Em: DUARTE, I.

&LEIRIA,I. (eds.) Actas do Congresso Internacional sobre o Português. Lisboa: APL/Colibri, 1996.

GALVES, C. Ensaios sobre as gramáticas do português. Campinas: Editora da Unicamp, 2001.

KATO, M. Comparando o português da América com o português de Portugal e com outras

línguas.Museu da língua Portuguesa. Disponível em

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KENEDY, E. Aspectos estruturais da relativização em português:uma análise baseada no modelo

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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.

KENEDY, E. Revista da ABRALIN, v.13, n.2, p. 151-183, jun./dez. 2014.

KENEDY, E; MOTA, C. Orientações de anáforas nulas e pronominais para sujeitos e tópicos no PB.

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LI, C.; THOMPSON, S. Subject and topic: a new typology of language. In: LI, C-N (Ed.). Subject and

Topic. New York: Academic Press, p. 457-489. 1976

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NEGRÃO, E. V. O português brasileiro: uma língua voltada para o discurso. Tese (Livre docência).

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Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

PONTES, E. O tópico no Português do Brasil. Campinas: Ed. Pontes, 1987.

VASCO, S; ORSINI, M. Português do Brasil: língua de tópico e de sujeito. In: Diadorim – Revista de

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REALISMO NOMINAL LÓGICO VISUAL E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA

Autora: Mariana Fernandes Fonseca (CAPES/Doutorado)

Orientador: Marcus Maia

Seria o Realismo Nominal lógico – doravante RNL (Piaget, 1962) o primeiro obstáculo a ser

vencido para o desenvolvimento da consciência fonológica e consequentemente um impasse para o

desenvolvimento do aprendizado de leitura (Dehaene, 2013; Morais, 1994)? Ainda que suplantado pela

alfabetização, o RNL ainda permanece no reconhecimento de pseudopalavras? Ou a Consciência

Fonológica consegue dissolver por completo esse tipo de realidade psicológica? O presente trabalho tem

por objetivos verificar os efeitos do RNL dentro do aprendizado de leitura, indicar sua relação com a

consciência fonológica, ainda, verificar se os efeitos de RNL atingem adultos e crianças em fase de

alfabetização.

A consciência fonológica “abrange todos os tipos de consciência de sons que compõem o

sistema de certa língua” (Lamprecht& Costa, 2006: 16). Essa segmentação pode-se dar em níveis

hierárquicos diferentes, isto é, o contínuo da fala pode ser segmentado em sílabas, em ataque, rima,

fonemas, em traços fonéticos.

A hipótese do RNL foi postulada por Jean Piaget no seu livro A representação do mundo na

criança (Piaget,1962: 349-350). Assim, as crianças na fase do desenvolvimento do pensamento pré-

conceitual realizam a representação da união de "significantes" que permitem evocar os objetos ausentes

com um jogo de significação que os une aos elementos presentes. Essa conexão específica entre

"significantes" e "significados" constitui uma função nova, a ultrapassar a atividade sensório-motora e

que se pode chamar, de maneira muito geral, de “função simbólica”. Contudo, ao tentar representar

graficamente os significantes, a criança realiza o que se denomina RNL em que supõe que um objeto

grande possua uma representação gráfica condizente com o seu tamanho.

Nenhum dos estudos em psicolinguística eneurociência da linguagem supracitados se atentaram

para a relação entre tamanho do objeto e tamanho da palavra e qual a sua relação com o desenvolvimento

da consciência fonológica.

Este trabalho trata-se de um experimento psicolinguístico que será testado com 50

participantes: 14 adultos e 36 crianças. Os adultos serão divididos em três grupos: não alfabetizados,

alfabetizandos e alfabetizados. As crianças também serão divididas nesses três grupos, mas também

serão divididas em subgrupos conforme o grupamento escolar a que pertencem. Como material, haverá

64 itens ao total: 16 palavras grandes (polissílabas), 16 palavras pequenas (monossílabas e dissílabas até

quatro letras), 16 pseudopalavras grandes (polissílabas) e 16 pseudopalavras pequenas(monossílabas e

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dissílabas até quatro letras) distribuídas em 4 versões no quadrado latino. Ainda, haverá 32 desenhos

agrupados de 2 em 2 sempre um desenho representando um objeto pequeno (bem ao centro longe das

margens que envolvem o desenho) e um desenho representando um objeto grande (bem próximo às

margens que envolvem o desenho), não necessariamente nessa ordem, formando 16 quadros de dois

desenhos cada.

A tarefa consiste em uma escolha da figura que melhor representa a palavra apresentada. Surgirá

na tela do notebook um quadro com duas figuras: uma grande e uma pequena, conforme o exemplo de

material. Esse quadro permanecerá por 3 segundos. Em seguida, surgirá uma palavra abaixo e o

participante deverá apertar a tecla S caso acredite que a palavra que surgiu nomeie o desenho à esquerda

ou a tecla L caso acredite que a palavra que surgiu nomeie o desenho à direita. Por fim, o participante

deverá apertar a tecla espaço que também estará com adesivo verde para que outro quadro apareça.

Tanto adultos quanto crianças se encontram na fase do Realismo Lógico, mas passam por ela

quando desenvolvem a consciência fonológica e consequentemente a leitura. Mesmo os adultos

alfabetizados podem realizar o RNL, caso a decisão envolva pseudopalavras.

Referências:

DEHAENE, Stanislas. Reading in the brain.New York: Penguin Books.2013.

LAMPRECHT, Regina Ritter & Costa, Adriana Corrêa. Apresentação à edição brasileira. In: ADAMS,

Marilyn Jager; FOORMAN, Barbara R.; LUNDBERG, Ingvar & BEELER, Terri. 1998. Consciência

fonológica em crianças pequenas. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2006.

MORAIS, José. 1994. A arte de ler. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: Editora Unesp, 1996.

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SINTAGMAS PREPOSICIONAIS COORDENADOS E ENCAIXADOS NO PERÍODO DE

AQUISIÇÃO

Autora: Mayara de Sá Pinto (CAPES)

Orientadora: Aleria Lage

Co-orientadora:Aniela Improta França

Introdução

Assumindo os contrastes em Roeper (2011) acerca da diferença de complexidade computacional

entre recursividade direta (coordenação) e recursividade indireta (encaixes hierárquicos) propusemos

um teste que busca verificar com precisão o momento que os encaixes hierárquicos de preposição

começam a ser computados durante a aquisição de linguagem.

Apesar de haver indícios experimentais de que a coordenação apareça mais precocemente na

compreensão e na produção de linguagem (Pérez-Leroux et al., 2012), e que a recursividade indireta

incorra em maior complexidade (Roeper, Snyder, 2005; Roeper 2011, Franca et al., 2014), aspectos

como o número de camadas na recursividade direta e o número de encaixes na indireta não foram

exaustivamente testados com metodologia online em diferentes faixas etárias.

Assim, testamos o processamento das crianças de quatro e cinco anos usando até três sintagmas

simetricamente e assimetricamente encaixados, usamos uma medida online de resposta em duas faixas

etárias: crianças de quatro e cinco anos. Buscamos averiguar, através do rastreamento ocular, as fixações e

regressões que elas usam para decifrar as figuras num teste de pareamento de figura e estímulo auditivo.

Como hipótese assumimos que, para a recursividade direta o gargalo computacional se dá em razão

de recursos mnemônicos: quanto mais camadas mais difícil será a computação. Por outro lado, uma vez que

os encaixes estejam disponíveis na gramática do participante, quanto maior o número de encaixes, mais

facilitado será o processamento dessa estrutura. Ou seja, a maior profundidade dos encaixes de uma estrutura

não corresponde à maior dificuldade de processamento no desempenho linguístico, assim como alguns

estudos já vêm relatando (Maia et al., 2018; Rummer, Engelkamp E Konieczny; 2003; Stabler 2011).

Metodologia

Nosso teste possui seis condições experimentais conforme mostra a tabela a seguir.

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1. Coordenação de 2 itens Tem Zuki no peixe e no aquário

2. Coordenação de 3 itens Tem Zuki no peixe e na planta e no aquário

3 Encaixe de 2 itens Tem Zuki no peixe no aquário

4 Encaixe de 3 itens Tem Zuki na planta no peixe no aquário

5 Ambígua Tem Zuki na planta e no peixe no aquário

6 Ambígua com atrator alto Tem Zuki no peixe e na planta no aquário

Duas das condições acima misturam recursão direta e indireta e tornam-se ambíguas

(condições 5 e 6). Nelas temos um sintagma preposicional encaixado e uma coordenação.

Resultados

No gráfico abaixo, temos as médias do tempo total de fixação para cada condição de

recursividade: direta (D) e indireta (I). O que observamos até o momento é um tempo de fixação

maior para as condições de coordenação.

Essas condições parecem ser

progressivamente dificultadas: aquela com

três camadas de PPs tem tempo de fixação

significativamente maior que a condição com

duas camadas de PPs. O mesmo não acontece

nas condições com encaixes, para as quais

não parece haver diferença significativa entre

a quantidade de PPs.

Já para as condições com ambiguidade, ainda

não foi rodado um teste estatístico, mas os

gráficos relativos a elas encontram-se abaixo mostrando as médias de tempo total de fixação

por condição.

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Conclusão

Nossos achados corroboram um teste aplicado anteriormente, em que obtivemos dados

de tempo de reação das crianças: para a coordenação, a quantidade de itens pode influenciar no

custo do processamento por uma questão de sobrecarga na memória de trabalho, diferentemente

do que se pôde observar nas respostas relativas às condições com encaixe, sobre as quais

constatamos custo de processamentos semelhantes.

Sobre as demais condições, entendemos que o bias semântico-pragmático ajudou as

crianças na resolução da ambiguidade, dada a limitação da memória de trabalho delas

(Marshall, Nation, 2003). Por isso, em uma sentença como Tem Zuki no peixe e na planta no

aquário, acreditamos haver uma facilitação por uma interpretação do tipo late closure (alocação

local) no processo de escolha que se daria por influência da memória de trabalho devido à

recência. No entanto, apesar de hipotetizarmos que sem esse atrator semântico (exemplo da

condição 5) a interpretação seria por minimal attachment, nossos achados mostram que as

crianças parecem preferir um processamento no sentido de baixo para cima, ou seja, uma

preferência por late closure em condições neutras, sem bias de nenhum tipo.

Referências

FRANÇA, A. I., CARVALHO, A. S. L., LAGE, A. C.; PINTO, M. S. The acquisition of

coordination and recursion of PPs: how to fare the development of these computations?

ABRALIN, 3(2), 333-350, 2014.

MAIA, M., FRANÇA, A.I., GESUALDI, A., LAGE, A., GOMES, J., SOTO, M. &SILVA, C. The

processing of PP embedding and coordination in Karaja and in Portuguese. In: Recursion Across

Domains and Latitudes, eds. L. Amaral, M. Maia, A. Nevins & T. Roeper, Cambridge, UK:

Cambridge University Press, pp 334-356, 2018.

MARSHALL, C., &NATION, K. Individual differences in semantic and structural errors in

children’s memory for sentences. Educational and Child Psychology, 20, 7–18, 2003.

PÉREZ-LEROUX, A. T., CASTILLA-EARLES, A. P., BÉJAR, S., and MASSAM, D. Elmo’s

sister’s ball: the problem of acquiring nominal recursion. Language Acquisition, 19(4), 301-

311, 2012.

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Sciullo and R. Delmonte (Eds.), UG and external systems: language, brain and

computation. Amsterdam: John Benjamins, 155-169, 2005.

ROEPER, T. The acquisition of recursion: how formalism articulates the child’s path.

Biolinguistics, 5(1-2), 57-86, 2011.

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RUMMER, R.; ENGEELKAMP, J.; KONIECZNY, L. The subordination effect: evidence from

self-paced reading and recall. Europen Journal of Cognitive Psychology, v. 15, n. 3, p. 539-

566, 2003.

STABLER, E. Computational perspectives on minimalism. Revised version in C. Boeckx, ed,

Oxford Handbook of Linguistic Minimalism, pp. 617–642, 2011.

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AQUISIÇÃO DE PERFECT NO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA DESCRIÇÃO

PRELIMINAR

Autora: Nayana Pires da Silva Rodrigues (CAPES)

Orientadora: Adriana Leitão Martins

O perfect,apesar de ser classificado como aspecto por Comrie (1976), apresenta

características diferentes dos aspectos tradicionais (gramatical e semântico). Enquanto que estes

últimos são definidos como a constituição temporal interna de uma situação, o perfectnão é

capaz de dizer nada diretamente sobre a situação em si, mas sim sobre uma situação precedente

(COMRIE, 1976). O perfectrelaciona dois pontos no tempo: de um lado, o tempo no qual uma

situação precedente ocorre ou se inicia e de outro, o tempo do estado resultante dessa situação

precedente (COMRIE, 1976).

O perfectpode ser classificado de diversas formas, segundo diversos autores, e neste

trabalho utilizaremos a classificação de Iatridou, Anagnostopoulou e Izvorski (2003). As

autoras propõem uma classificação que divide o perfectem dois tipos: universal (PU) e

existencial (PE). O PU representa situações que se iniciaram no passado e que persistem até o

momento presente, enquanto o PE representa situações que ocorreram no passado e ainda

possuem repercussão no momento presente.

Esta pesquisa tem como objetivo investigar a aquisição de PU e PE associados ao tempo

presente no português do Brasil (PB). Espera-se, dessa forma, contribuir para o estudo da

representação do conhecimento linguístico de perfect.

A hipótese sugerida para esta pesquisa é de que a realização de PU associado ao tempo

presente se dá simultaneamente à realização de PE associado ao tempo presente na aquisição

do PB.

Para esta pesquisa, foi realizado um duplo estudo de caso de caráter qualitativo. Os

participantes escolhidos para este estudo foram irmãos gêmeos (um do sexo masculino –

denominado PP – e outro do sexo feminino – denominada AC) que, no início da pesquisa, se

encontravam na fase de uma palavra, pois desejávamos acompanhar todo o processo de

aquisição das morfologias verbais. A coleta de dados foi realizada através de gravações da fala

espontânea e semiespontânea das crianças, as quais foram realizadas a cada duas semanas com

duração média de uma hora.

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A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Ambos os pais das crianças

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, sob a

numeração 2.581.925/2018.

Foram realizadas para o estudo 27 gravações. Como resultados preliminares,

destacamos a produção apenas de PE na fala da participante do sexo feminino, AC, dentre as

gravações 15 e 21, realizadas no período em que a criança tinha de dois anos e sete meses

(gravação em que primeiramente foi observada uma realização de perfect) a dois anos e onze

meses.

Abaixo, podemos ver dois exemplos dessas manifestações produzidas por AC, nas quais

as formas verbais sublinhadas veiculam PE.

(1) Gravação 15 – AC 2;7. Contexto: AC procura um brinquedo específico em seu

armário.

NR: Não sabe onde está?

AC: Não sei. Não sei onde tá o outo. Não tôpoculando o outo também... Achei!

(2) Gravação 21 – AC 2,10. Contexto: No meio da conversa entre AC e NR, AC começa

a procurar algo.

AC: ( ) aqui. É. Ah! Já sei!

A partir desses dados preliminares, temos evidência de que a hipótese desta pesquisa pode

ser refutada, visto que a realização de perfectexistencial associado ao tempo presente se deu

previamente à realização de perfectuniversal associado ao tempo presente nos dados analisados.

Com esta pesquisa, esperamos contribuir para os estudos gerativistas a respeito da

categoria funcional perfect, já que, através dela, obtivemos dados que possibilitam a verificação

de hipóteses acerca do modo como essa categoria está organizada em nossa faculdade da

linguagem. Ainda, visamos contribuir para o entendimento de como ocorre o processo

aquisitivo de um fenômeno linguístico específico.

Referências

COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

IATRIDOU, S.; ANAGNOSTOPOULOU, E.; IZVORSKI, R. Observations about the form and

meaning of the perfect. In: ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. Perfect

Explorations. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003. p. 153-205.

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A AQUISIÇÃO DA ORDEM ORACIONAL DO PORTUGUÊS BRASILEIROCOMO

L2 POR HISPANOFALANTES ADULTOS

Autor: Rogério Santos Júnior (CAPES)

Orientadora: Márcia Maria Damaso Vieira

Esta pesquisa se volta para a aquisição da ordenação de constituintes oracionais do

Português Brasileiro (PB) por hispanofalantes adultos, ampliando o tema de investigação de

Santos Jr. (2017), que se debruçou somente sobre a aquisição de interrogativas do tipo Qu-.

De acordo com um conjunto robusto de autores(RUAS, 2013, 2017; PINHEIRO-

CORREA, 2015, 2018; AYOUN, 2005; ORDÓNEZ, 1997; ZUBIZARRETA, 1999), uma

diferença básica separa o Português Brasileiro e o Espanhol no que tange à ordenação de

constituintes: em Espanhol, a inversão da ordem entre sujeito e verbo é não marcada na maioria

dos contextos, enquanto, no Português Brasileiro, para os mesmos contextos, esse tipo de

inversão constitui a opção marcada (em grande parte dos casos, é agramatical). Embora os

autores concordem que o Espanhol, em suas diversas variedades, aceite a inversão entre sujeito

e verbo, grande parte das referências consultadas diverge quanto a quais contextos a licenciam.

No estágio atual da pesquisa, são encaradas questões relativas à caracterização do Espanhol:

após uma extensa revisão bibliográfica, determinaram-se as propriedades associadas ao

Espanhol que são mais recorrentes na literatura, as quais, posteriormente, comporão parte dos

testes aplicados aos sujeitos; e, também em função de tais propriedades, tentou-se estabelecer

a variedade de Espanhol que será abordada. Os próximos parágrafos contêm um resumo dos

principais problemas levantados pela revisão bibliográfica e indicações de como as próximas

etapas da pesquisa poderão resolvê-los.

Pinheiro-Correa (2015, 2017) investiga sentenças téticas e categóricas em Português

Brasileiro e em Espanhol de uma perspectiva pragmática. Partindo dos trabalhos de Lambrecht

(1994, 2000), Sasse (1987, 2006) e Smit (2010), o autor assume uma diferença na marcação de

foco sentencial nessas línguas: em Português Brasileiro, sentenças téticas e categóricas são

sintaticamente indistinguíveis, de modo que são reconhecidas por suas propriedades prosódicas

(a ordenação de constituintes, para os dois tipos de sentenças, é SV); em Espanhol, ao contrário

do que acontece em Português Brasileiro, sentenças téticas e categóricas apresentam estruturas

sintáticas distintas (sentenças téticas se sujeitam à ordem VS, enquanto sentenças categóricas

ocorrem na ordem SV).Ao passo que os trabalhos de Pinheiro-Correa aventam motivações

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plausíveis para as diferenças sintáticas das sentenças téticas em Português Brasileiro e em

Espanhol, algumas de suas questões permanecem abertas: embora seja muito mais restrita em

Português Brasileiro do que o é em Espanhol, a ordem VS é atestada em Português, sobretudo

com categorias verbais específicas (verbos inacusativos, por exemplo); qual é a motivação para

isso, nos termos das propostas tomadas pelo autor? Visto que Pinheiro-Correia (2017) aborde

como se dá a tradução para o Espanhol de sentenças téticas e categóricas do Português

Brasileiro, considerando que a marcação prosódica do Português Brasileiro se reverta em

distinção sintática em Espanhol, como se daria, em termos teóricos, a tradução para o Espanhol

de sentenças produzidas na ordem VS em Português Brasileiro?Em segundo lugar, como está

explícito em Pinheiro-Correia (2017), as diferenças sintáticas entre sentenças téticas e

categóricas do Espanhol não valem em determinados contextos (orações subordinadas e

relativas); novamente, que motivação haveria para isso?

As informações do parágrafo anterior criam um quadro em que a ordenação de

constituintes em sentenças declarativas do Português Brasileiro e do Espanhol pode contrastar

em função do próprio estatuto informacional: nas duas línguas, sentenças cujo estatuto

informacional se conforme à partição tópico-comentário (isto é, conforme-se a uma estrutura

em que a uma informação dada no discurso é acrescentada uma nova informação) têm

ordenação SV; somente em Espanhol, construções de foco sentencial (isto é, sentenças que

introduzem elementos novos no discurso) têm ordenação VS. Autores cujos trabalhos se afinam

com a perspectiva formal, com os quais esta pesquisa se alinha, consideram que a ordenação de

constituintes em Espanhol está, sim, relacionada ao estatuto informacional das sentenças (Kato

e Martins (2016) utilizam, inclusive, os conceitos de sentenças téticas e categóricas), mas

depende, igualmente, de outros fatores.Baseados em Ayoun (2005),Ruas (2013, 2017) e Santos

Jr. (2017) incrementam a discussão sobre a ordenação de constituintes em sentenças do

Português Brasileiro e do Espanhol ao indicar que a inversão da ordem entre sujeito e verbo

pode estar em função tanto do tipo de verbo em torno do qual se constroem quanto da presença

de elementos do tipo Qu-. Os autores argumentam, de acordo com o critério Wh- de Rizzi

(1991), que as propriedades dos núcleos funcionais são valoradas de modo distinto em

Português Brasileiro e em Espanhol: em Espanhol, o critério Wh- seria satisfeito com o

movimento da partícula Qu- para [Spec, FocP], em função dos traços Q e Wh- fortes desse

núcleo, que são checados e apagados na sintaxe visível, e com o consequente movimento do

verbo de T0 para Foc0; em Português Brasileiro, o movimento do elemento Qu- para [Spec,

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FocP] é opcional, dependente do tipo de morfema que é selecionado do léxico, mas, sob

nenhuma hipótese, ensejará o movimento do verbo de T0 para Foc0. Com a postulação de um

segundo movimento do verbo em Espanhol, explica-se como se origina a ordem VS: ao ser

alçado para Foc0, o verbo ultrapassa a posição onde o caso nominativo é checado.

Alexiadou e Anagnostopoulou (1998) relacionam a ordenação entre sujeito e verbo ao

modo como as línguas respondem ao Princípio de Projeção Estendido. Para as autoras, as

línguas checariam o Princípio de Projeção Estendido de duas formas: (i) por movimento e por

concatenação de XP, como acontece nas línguas germânicas; e (ii) por movimento e por

concatenação de X0, como acontece nas línguas românicas. Basicamente, línguas do tipo (i)

dependem de que a posição de sujeito seja preenchida (se não o for por um elemento referencial,

que o seja por um elemento expletivo) e geram sentenças SVO. Línguas do tipo (ii) admitem

que a posição de sujeito não esteja preenchida e podem gerar sentenças nas ordens SV e VS.

Para gerar sentenças na ordem VS e, ao mesmo tempo, satisfazer ao Princípio de Projeção

Estendido, as línguas do tipo (ii) deslocariam o verbo, em função de sua morfologia de

concordância, cujo estatuto seria o de um elemento pronominal. Se assim for, a posição do

sujeito à esquerda do verbo passaria a ser uma posição A-barra, de maneira que a ordem VS

deixaria de envolver uma categoria pro expletiva.

Quando é aplicada ao Português Brasileiro e ao Espanhol, a proposta de Alexiadou e

Anagnostopoulou (1998) sintetiza grande parte das dificuldades enfrentadas por esta pesquisa

em relação à arquitetura sentencial dessas línguas. Em primeiro lugar, trata-se de uma proposta

explicitamente paramétrica, favorável à descrição de línguas cujo comportamento seja

categórico. Kato (2000) faz parte de uma leva de pesquisadores que defendem a classificação

do Português Brasileiro como uma língua do tipo pro-drop parcial: na prática, isso significa

que comporta tanto traços de línguas pro-drop quanto de línguas não pro-drop. Em segundo

lugar, de acordo com a proposta, o Espanhol seria uma língua do tipo (ii), em que a saturação

do Princípio de Projeção Estendido está a fim do deslocamento do verbo; a reboque disso,

estaria o fato de que o sujeito não é movido, obrigatoriamente, para [Spec, IP], condição que

possibilita ambas as ordenas atestadas nessa língua. Apesar dessa previsão, como foi apontado

acima, a ordenação entre sujeito e verbo no Espanhol não é estilística; ao contrário, fundamenta-

se em propriedades sintáticas e discursivas das sentenças.

Como forma de superar as divergências encontradas na literatura, a próxima etapa da

pesquisa envolverá a idealização e a aplicação de testes a respeito das propriedades das línguas

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estudadas, sobretudo do Espanhol. Entre as estruturas que devem ser testadas, estão (a) a

realização do sujeito em posição pré-verbal, considerada restrita por grande parte dos autores,

mas apontada como default das sentenças declarativas do Espanhol do México por Gutiérrez-

Bravo (2002) e aceita, também, por Zagona (2002); (b) a realização do sujeito em posição pós-

verbal como indicação de foco estreito, conforme afirma Ruas (2017); (c) a relação entre

ordenação sujeito e verbo e estatuto informacional (sentenças categóricas e sentenças téticas),

como destaca Pinheiro-Correa; e (d) a motivação para inversão entre sujeito e verbo em

interrogativas do tipo Qu-, a fim de verificar se, de fato, formam um sistema à parte, como

querem Ruas (2013) e Santos Jr. (2017) ou se, à semelhança do que se postula para as assertivas,

respondem a propriedades discursivas.

Referências:

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KATO, M. A. The partialpro-dropnatureandtherestricted VS order in BrazilianPortuguese. In:

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RELAÇÕES INFERENCIAIS E O PAPEL DOS CONECTIVOS: UM ESTUDO

DOPROCESSAMENTO DA LEITURA

Autora: Sabrina Lopes dos Santos (CNPq)

Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia

Investigamos relações de causa intraoracionais, buscando entender o papel dos

conectivos no processamento gramatical e na compreensão de sentenças. Esta pesquisa, na

Psicolinguística Experimental, explora possibilidades de translação para a Educação Básica

desenvolvendo atividades teórico-práticas com vistas à formação de leitores críticos.

Conectivos atuam como guia do parser e podem ser interpretados como o cornerstoneno

processo de compreensão. Em (1) e (4), temos duas orações independentes, porém, em (1), é

possível estabelecer uma relação de causa diretamente a partir do conteúdo semântico das

orações, o que não ocorre em (4). Como estão em coordenação, não ofereceriam custo ao

processador pela baixa complexidade estrutural, mas será que se incluíssemos conectivos

causais essa equidade se manteria?

Causa inferencial

1. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores realizam poucos treinos, eles

encaram derrotas com frequência.

2. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores realizam poucos treinos, já que

encaram derrotas com frequência.

3. ?Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores realizam poucos treinos porque

encaram derrotas com frequência.

Causa não inferencial

4. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores desapontam o povo, eles encaram

derrotas com frequência.

5. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores desapontam o povo já que encaram

derrotas com frequência.

6. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores desapontam o povo porque encaram

derrotas com frequência.

Em (2) e (3), temos, respectivamente, os conectivos já queeporque, mas veja que o uso

deles não é totalmente intercambiável. Enquanto, em (5) e (6), as relações de causa podem ser

guiadas tanto por já que quanto por porque, em (3), a utilização do porque provoca um

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estranhamento. Substituindo pelo conectivo já que, como em (2), a sentença passa a ter maior

naturalidade na leitura. Contudo, entendo que o comportamento do parser e a compreensão

sentencial dependem diretamente da habilidade leitora. Além disso, a composicionalidade dos

conectivos também tem seu papel na condução do processamento. Note que, enquanto porque

é uma conjunção formada pela combinação de uma preposição mais o complementizador, a

locução verbal já que é a combinação de um advérbio com complementizador, o que por si só

já as coloca em níveis de derivação distintos. Com isso, cabe recurso experimental para

investigar as diferenças de processamento que essas sentenças podem configurar.

Nesse momento, está em curso a realização de um experimento de rastreamento ocular para

verificar: i) se relações de causa inferencial, como de (1)-(3), geram maior custo de

processamento; ii) investigar o correlato entre a computação de processos inferenciais e

proficiência leitora; iii) avaliar se os conectivos per se ativam processos derivacionais distintos.

O teste se configura em design 3x2, gerando 6 condições experimentais com 24 sentenças por

condição:

O experimento será realizado com graduandos de Letras de 1º e 8º semestres,

separadamente. A previsão é que os padrões de leitura se diferenciem, principalmente, sobre as

relações inferenciais. Estas devem resultar em maiores tempos e números de fixação ocular nas

áreas críticas para ambos os grupos. Porém, espera-se que esses dados sejam mais elevados para

o grupo do 1º período, uma vez que processos inferenciais dependem de alta habilidade leitora

para serem processados. Os índices de resposta à pergunta interpretativa também devem revelar

a disparidade de proficiência com mais erros para o grupo do 1º semestre nas sentenças com

inferência. As condições, como (3), devem apresentar os maiores tempos e números de fixações,

para ambos os grupos, pois, nesse contexto, o conectivo porque não seria capaz de guiar o

processo de relação de causa inferencial, situação em que o conectivo já que se mostra o

operador mais apropriado, como em (2).

Referências

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A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS NÃO ALFABETIZADAS ACERCA DO

COMPRIMENTO DA PALAVRA ARTICULADA: UM ESTUDO EXPERIMENTAL

Autor: Sammy Cardozo Dias

Orientadora: Aniela Improta França

Para usar um sistema de escrita alfabético, as crianças devem aprender mapeamentos

complexos entre grafemas e fonemas. A dificuldade reside no fato de que há sempre um nível

de inconsistência nesse mapeamento e os sistemas de escrita podem demorar para serem

dominados até por crianças que já passaram do período de alfabetização (TREIMAN E

KESSLER, 2014; BYRNE, 1998). No entanto, mesmo no período pré-alfabético, as crianças já

começam a se interessar pela escrita e pela leitura e começam a entender a noção de símbolo e

que a palavra escrita se relaciona a um aspecto significante. Ou seja, antes mesmo de chegar à

classe de alfabetização as crianças procuram dar conta de padrões que ela já percebeu que

existem. Ativam, então, suas capacidades cerebrais à cata de padrões que possam oferecer a

elas o maior nível de compreensão e preparação para o mundo em torno delas. De fato, elas

percebem, organizam e absorvem padrões com grande facilidade. Alguns desses padrões são

essenciais para entender e sistematizar informações acerca do mundo e são, portanto, cooptados

pelos sistemas cognitivos principais. Outros são apostas de organizações dos fatos do mundo

que não dão retorno. Na medida em que inconsistências aparecem, essas sistematizações são

abandonadas, substituídas ou ajustadas pelas crianças e caem em desuso.

Nesta pesquisa investigamos uma dessas apostas infantis: o realismo nominal1. O

realismo nominal prevê uma relação de iconicidade, entre o tamanho da palavra escrita e o

tamanho da coisa que ela representa no mundo. Por esse raciocício, a fruta jaca, a maior do

Brasil, deveria ser escrita com muitos grafemas e o inseto formiga deveria ser escrito com

pouquíssimos grafemas, já que representa um bichinho tão pequenino. A questão teórica que

ganha relevo e torna-se objeto de investigação aqui é de que forma o tamanho de um objeto

pode influenciar a percepção das crianças em fase pré-alfabetização acerca da palavra

escrita?

A noção de iconicidade na linguagem, por sua vez, se opõe a um dos conceitos mais

fundamentais da Linguística moderna: a arbitrariedade saussuriana. Segundo Saussure (1857-

1 O termo “realismo nominal” foi introduzido pelo psicólogo construtivista Jean Piaget para designar um tipo de

associação entre o nome e o objeto feita pela criança durante o desenvolvimento infantil (PIAGET, 1967).

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

1913), o signo linguístico é arbitrário porque é sempre uma convenção acatada passivamente e

reconhecida pelos falantes de uma comunidade linguística. Por exemplo, a criança ainda bebê

entende o conceito bola e o seu significante [bola] sem intermediações icônicas, sem que haja

alguma relação natural entre a realidade fonética de um signo linguístico e o seu significado.No

entanto, muitos autores relatam um tipo de realismo gráfico que parece influenciar a escrita ou

simulação de escrita e mesmo uma simulação de leitura de crianças e que apresentariam

motivação icônica: palavras grandes para designar objetos grandes, palavras pequenas para

designar objetos pequenos (FERREIRO E TEBEROSKY, 1986).

No experimento em fase de testagem no momento, verifica-se a existência da

iconicidade entre a articulação da palavra e o tamanho do objeto no mundo real. Na tarefa, as

crianças pareiam um filme de uma boca articulando uma palavra para escolher entre uma

palavra escrita com poucos grafemas, 2 ou 3, e uma palavra com muitos grafemas, mais do que

6. Como grupo controle mostra-se a boca articulando o nome de objetos desconhecidos e

pediremos o mesmo tipo de pareamento com a palavra escrita. Espera-se que os resultados

indiquem que esse efeito da iconicidade se desfaça com o tempo e o princípio da arbitrariedade

seja estabelecido.

Referências:

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1986.

PEIRCE, Charles S. Semiótica. Trad. J. Teixeira Coelho. 2 ed., São Paulo: Perspectiva, 1990.

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TREIMAN, Rebecca; KESSLER, Brett. How children learn to write words. Oxford: Oxford

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ESTUDO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS

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A EVIDENCIALIDADE EM WA'IKHANA (TUKANO ORIENTAL): UMA

PROPOSTA FUNCIONAL-TIPOLÓGICA

Autora: Bruna Cezario Soares (CNPq)

Orientadora: Kristine Sue Stenzel

Essa pesquisa tem objetivo de descrever e analisar o sistema de evidenciais em

Wa'ikhana, também chamada de Piratapuyo, pertencente à família Tukano Oriental (TO), à luz

da perspectiva funcional-tipológica (CROFT, 2003). Evidencialidade é uma categoria

gramatical que indica a origem da informação num enunciado declarativo. Em algumas

línguas, essa categoria é obrigatória e gramaticalizada (AIKHENVALD, 2003).

Por diversos motivos socioeconômicos, como intensa imigração e forte presença do

Tukano (TO) como língua franca, Wa'ikhana é uma das línguas indígenas brasileiras que corre

risco de desaparecer, e para qual ainda há pouca descrição. Essa pesquisa visa a contribuir para

os estudos de Wa'ikhana e das línguas amazônicas, bem como constituir uma contribuição para

análises tipológico-comparativas sobre evidencialidade.

Este trabalho é desenvolvido sob à ótica da tipologia-funcional, uma abordagem da

tipologia que se alia aos princípios do Funcionalismo (CROFT, 2003: 2). Consideramos as

tendências funcionalistas mais recente denominada Linguística Funcional Baseada no Uso, ou

Linguística Cognitivo-Funcional (TOMASELLO, 2003), que une as tradições das pesquisas

do funcionalismo norte-americano da Costa Oeste, com representantes como TalmyGivón,

Sandra Thompson, Wallace Chage, Joan Bybee, Elizabeth Traugott, entre outros, e da

Linguística Cognitiva, com representantes, como George Lakoff, Ronald Langcker, Adele

Goldberg, William Croft etc. (CEZARIO & CUNHA, 2013: 14).

Segundo Aikhenvald (2004:3), línguas com evidencialidadegramaticalizada são

aquelas que apresentariam morfemas obrigatórios cujo significado semântico primário é de

fonte da informação. Esses morfemas evidencias fariam parte de um paradigma flexional e

formariam um sistema (op.cit., p.9). De acordo com a autora, a evidencialidade é uma categoria

gramatical que deve ser distinguida de modalidade epistêmica, que, por sua vez, expressaria o

grau de certeza do falante em relação ao que está dizendo (DE HAAN, 2005). No entanto, a

Aikhenvald (2018, p.48) também afirma que, em algumas línguas, os evidenciais podem ter

significados adicionais de natureza epistêmica, relacionados à possiblidade e à probabilidade.

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Os dados utilizados na pesquisa provêm do ACERVO LINGUÍSTICO-CULTURAL

DO POVO WA’IKHANA e conta com um banco de dados de itens lexicais e morfemas

gramaticais. Também foram utilizados dados coletados nas duas viagens de campo feitas por

mim, em 2018, para cidade de São Gabriel da Cachoeira no AM, financiadas pela

FUNAI/UNESCO e pela NSF1. Foram priorizadas narrativas orais que foram trabalhadas da

seguinte forma: primeiramente, uma análise interlinear das narrativas, a fim de identificar as

propriedades básicas das línguas. A partir daí, começamos a analisar os morfemas evidenciais,

nos níveis morfológico, semântico e pragmático.

Nesta apresentação iremos apresentar as categorias de evidenciais identificadas em contraste

com as primeiras análises feitas sobre evidenciais nessa língua (WALTZ, 2012; STENZEL &

GOMEZ-IMBERT, 2018). Mostraremos as análises de cada categoria de evidencial

destacando seus valores semântico-pragmáticos. Comentaremos sobre a relação dos

evidenciais com a modalidade epistêmica e os problemas que isso pode trazer para nossa

análise.

Referências

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1 A primeira viagem de campo foi parte do projeto Oficina de gramáticas pedagógicas de Kotiria e Wa’ikhana,

subprojeto do Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural dos Povos Indígenas Transfronteiriços e de

Recente Contato na Região Amazônica do Museu do Índio, financiado pela FUNAI em parceria com a UNESCO;

e a segunda viagem foi parte do projeto Estrutura Gramatical e Práticas Multilíngues Sob a Lente da Interação

Cotidiana, financiado pela National Science Foundation (NSF). As duasviagenstiveramduração de

aproximadamentetrêssemanas.

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BASES PARA A DESCRIÇÃO DAS LÍNGUAS CINTA LARGA E ZORÓ (FAMÍLIA

TUPI-MONDÉ)

Autor: Cristovão Teixeira Abrantes (CNPq/Doutorado)

Orientadora: Marília Facó Soares

Inserido na área de descrição de línguas naturais e apoiado em desenvolvimentos

teóricos mais recentes, o presente trabalho tem por objetivo apresentar as bases para uma

descrição teoricamente orientada que contribua para a análise das línguas dos povos Cinta larga

e Zoró, com vista à sua comparação futura.

O Cinta Larga e o Zoró são línguas ainda pouco descritas, cujas estruturas gramaticais

e características fonológicas podem apresentar fenômenos extremamente importantes para os

estudos linguísticos. Para alcançar o objetivo em tela, lançaremos mão de partes de entrevistas

semiestruturadas com os colaboradores do povo Cinta Larga e Zoró e da aplicação de

questionários linguísticos, utilizando como meios de registro a gravação, a transcrição e a

transcrição (áudio e vídeo).

A língua Zoró e Cinta Larga são classificadas como pertencentes à família linguística Tupi-

Mondé, faladas como primeira língua por uma população de, aproximadamente, 3.000 pessoas.

(ABRANTES, 2007). A família linguística Tupi-Mondé é considerada uma das famílias

linguísticas das mais coesas da América do Sul, apesar dos aproximadamente 2.500 anos

decorridos desde o início de seu desmembramento (RODRIGUES, 1964, 1985, 1994) e das

grandes distâncias que hoje separam as línguas meridionais das línguas setentrionais

(RODRIGUES, 2002), as quais refletem os longos e frequentes movimentos migratórios dos

falantes dessas línguas (RODRIGUES, 1985, 1994). Rodrigues (1964) sustenta a hipótese de

que o ponto de difusão do Proto-Tupi no Brasil tenha sido a região que hoje compreende ao

estado de Rondônia, noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas. Considere-se ainda que,

das dez famílias linguísticas Tupi reconhecidas no Brasil, seis estão no estado de Rondônia:

Mondé, Arikém, Tupi-Guarani, Puruborá, Ramarama e Tupari. Os Mondé distribuem-se,

atualmente, em uma área contínua formada por sete Terras Indígenas (T. I.): T.I. Roosevelt, T.I.

Serra Morena, T.I. Aripuanã, T.I. Parque Indígena Aripuanã, T.I. Zoró e T.I. Sete de Setembro;

sendo que a T.I. Igarapé Lourdes, habitada pelo Povo Gavião, está separada por uma estreita

faixa de terra constituídas por áreas de fazendas, o que impossibilitou a inserção da área na

constituição do Parque Nacional Aripuanã. Este é um dos maiores territórios indígenas do país,

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

que compreende uma área de 3,5 milhões de hectares, localizado ao noroeste do estado de Mato

Grosso e sudeste do estado de Rondônia (ABRANTES. 2007). Há ainda os Aruá, localizados

na T.I. Guaporé, encontram-se na região fronteiriça entre o estado de Rondônia e a Bolívia, os

quais pertencem à mesma família Mondé. Mesmo com as contribuições das pesquisas

linguísticas realizadas com os Cinta Larga e Zoró, não há elementos suficientes para afirmar se

se trata de uma mesma língua ou de línguas distintas. Mesmo que a natureza da pesquisa seja a

descrição e posterior comparação das línguas faladas pelos dois povos, nesta pesquisa, ambas

serão tratadas distintamente, respeitando as relações políticas estabelecidas, historicamente,

entre eles que, de certo modo, manifestam interesse quanto à distinção étnico-cultural.

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TIPO SEMÂNTICO IDADE E CLASSES LEXICAIS NO WA’IKHANA E NO GUATÓ

Autora: Kristina Balykova (CAPES)

Orientadora: Kristine Sue Stenzel

Em um estudo que virou clássico, Dixon (1982) utiliza a noção de tipo semântico para

caracterizar as classes lexicais nas línguas do mundo. Segundo o autor, os itens lexicais

pertencentes a um mesmo tipo semântico compartilham também um conjunto de propriedades

morfológicas e sintáticas. Enquanto os tipos semânticos são universais para todas as línguas, as

propriedades formais associadas a eles são particulares a cada língua. Dixon argumenta que há

tipos semânticos prototipicamente associados com uma determinada classe lexical. Assim, o

tipo ARTEFATOSé, via regra, associado com a classe nominal, enquanto o tipo MOVIMENTO, com

a classe verbal. Em relação à classe adjetival, o autor argumenta que ela sempre inclui, ao

menos, os itens lexicais dos tipos semânticos IDADE (ex.: novo, velho), DIMENSÃO (ex.: grande,

pequeno, comprido, curto), VALOR (ex.: bom, ruim) e COR (ex.: preto, branco, vermelho).

As línguas Wa’ikhana (Tukano Oriental) e Guató (isolada) compartilham o fato de que,

nelas, a maioria das noções adjetivais são expressas por verbos. Para o Guató, Palácio (1984:

56) propõe que tais verbos sejam chamados de descritivos. Por enquanto, não podemos dizer

se, nas duas línguas, há propriedades formais mais sutis que distinguem os itens lexicais dos

tipos DIMENSÃO, VALOR e CORdos verbos que denotam as demais noções adjetivais. Porém, em

ambas as línguas, itens lexicais do tipo semântico IDADE exibem um comportamento

morfossintático diferente do padrão geral para os verbos descritivos. Assim, no Wa’ikhana, as

palavras bʉhkʉ‘velho’ e wamʉ‘novo’ se assemelham morfossintaticamente aos nomes e não

aos verbos. Já, no Guató, a palavra tuigi ‘velho’ se comporta como um verbo, a não ser uma

importante diferença morfológica: tuiginão recebe o prefixo go-, quando nominalizado.

Portanto, se procurarmos estabelecer uma classe adjetival nessas duas línguas, as

palavras do tipo semântico IDADE citadas acima serão os primeiros candidatos para serem

incluídas nessa classe. Porém, outra hipótese em relação às palavras bʉhkʉ‘velho’ e

wamʉ‘novo’ do Wa’ikhana é que elas sejam nomes. Givón (2012 (1979): 407-8)nota que os

conceitos jovem, adulto, velhopodem ser lexicalizados como nomes por denotarem qualidades

de extrema estabilidade temporal, enquanto os adjetivos denotam qualidades de estabilidade

temporal intermediária.

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O objetivo da minha apresentação será mostraros argumentos, pelos quais a maior parte

das palavras que expressam noções adjetivais no Wa’ikhana e no Guató podem ser consideradas

verbos, eas diferenças morfossintáticas entre esses verbos e os itens lexicais do tipo semântico

IDADE. Além disso, mostrarei em que as palavras bʉhkʉ‘velho’ e wamʉ‘novo’ do Wa’ikhana se

assemelham aos nomes dessa língua. Os dados utilizados na presente pesquisa provêm dos meus

trabalhos de campo.

Referências:

DIXON, Robert M. W. Where have all the adjectives gone? In: Where Have All the Adjectives

Gone?and other essays in Semantics and Syntax. Berlim: Mouton.1982.

GIVÓN, Talmy. A compreensão da gramática. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha,

Mário Eduardo Martelotta, Filipe Albani. São Paulo: Cortez, Natal: EDUFRN.2012.

PALÁCIO, Adair Pimentel. Guató: a língua dos índios canoeiros do rio Paraguai.Tese

(Doutorado). – Instituto de Estudos da Linguagem – UNICAMP, Campinas. 1984.

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SWITCH REFERENCE EM MAXAKALI

Autora: Silvia Siqueira Pereira (CNPq)

Orientador: Andrew Nevins

Co-orientadora: Suzi Lima

Trabalhos anteriores (PEREIRA 1992; POPOVICH, 1957, 1967, 1976, 1986)

descreveram que a língua Maxakali(Macro-Jê, família Maxakali)apresenta um sistema de

Switch Reference canônico. Em Maxakalí, diferentes conjunções em estrutura coordenada são

usadas para sinalizar se o sujeito é o mesmo (tu, 1a)ou diferente(ha, 1b). O mesmo ocorre em

conjunções subordinadas1.

1a. Yoye Te Pãm mãhã tu kapex xo`op

José ERG Pão comer e.SS café beber

‘José comeu o pão e bebeu o café’

1b. Yoye Te pãm mãhã ha Xip te kapex xo`op

José ERG pão comer e.DS Silvia ERG café beber

‘José comeu o pão e Silvia bebeu o café’

Este projeto investiga o fenômeno de switch reference não canônico na língua Maxakali.

Segundo Mckenzie (2012), SR não canônico é exibido em orações coordenadas para sinalizar

o rastreamento da situação tópico (ST) entre as orações conectadas.

Em Maxakali, além dos morfemas tu e ha, existe também o morfema taque sinaliza a

mudança da situação tópico. Em (2a), a conjunção tu ‘e’ sinaliza que ã, primeira pessoa do

singular, é sujeito das duas orações conectadas. O morfema ta sinaliza a mudança da situação

tópico, mudança de lugar (cidade e casa).

2a. ã-te kapex xo`op kõmẽn tu

1SG-ERG café Beber cidadePOSP

tu-ta Putpuk mõg mĩmtut ha

e.SS-ST sentido atrás Ir casaPOSP

1ABREVIATURAS: CAUS ‘causativo’; DS ‘sujeito diferente’; ERG ‘ergativo’, FUT ‘futuro’; PL.EXCL

‘plural.exclusivo’; POSP ‘posposição’; SG ‘singular’; SS ‘mesmo sujeito’; ST ‘situação tópico’.

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Em (2b), a conjunção ha‘e’ sinaliza que as orações têm sujeitos diferentes. Na primeira

oração o sujeito é ũg, primeira pessoa do singular, e na segunda o sujeito é a, segunda pessoa

do singular. O morfema ta sinaliza a mudança da situação tópico, mudança de lugar (Santa

Helena e Rio de Janeiro).

2b. ũg-mõgax Xatãnẽn tu ha-ta a mõgax Hip Yanẽn tu

1SG-ir FUT Santa Helena POSP e.DS-ST 2SGirFUT Rio de Janeiro POSP

‘Eu vou para Santa Helena e você vai para o Rio de Janeiro’

Em (3a), as duas primeiras orações estão conectadas por coordenaçãoe apresentam

sujeitos diferentes. Na primeira oração, o sujeito é ũg, primeira pessoa do singular, e na segunda

o sujeito é mũg, primeira pessoa do plural. Porém, a conjunção tuk ‘e’ (mesmo sujeito) foi

escolhida pelos falantes da língua para conectar as orações. A conjunção ha ‘e’ (sujeitos

diferentes) não foi aceita, pelos falantes Maxakalí. Vale ressaltar que os sujeitos apresentam

correferência parcial, o sujeito da primeira oração está contido no sujeito da segunda oração

(sujeito inclusivo).

A segunda e terceira orações estão conectadas por subordinação. A conjuçãonũy ‘para’

indica que mũg, primeira pessoa do plural, é sujeito das orações.

3a. Ũg mõ-nãhã Yoye pet hã tuk1/*ha mũgmãm

1SG ir-CAUS José casa POSP e.SS 1PL.EXCL sentar.PL

nũy Hãmãgtux

para.SS Conversar

‘Eu entrei na casa de José e sentamos para conversar’

Em (3b), os sujeitos das orações conectadas são diferentes. Na primeira oração, o sujeito

é kakxop ‘menino’ e o sujeito da segunda é pata ‘pé’, porém a conjunção tu ‘e’ (mesmo sujeito)

foi escolhida pelos falantes da língua para conectar as orações. A conjunção ha ‘e’ (sujeitos

diferentes) não foi aceita pelos falantes Maxakalí.

3b. Kakxop Mõxupaha tu/*ha pata Xũĩy

menino Correr e.SS pé Doer

‘O menino correu e o pé dele doeu’

1 O morfema tuk (marcador SR de mesmo sujeito) é alomorfe do morfema tu (marcador SR de mesmo sujeito).

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Em síntese, o objetivo desta pesquisa é investigar a interpretação dos morfemas SR que

ocorrem em estruturas coordenadas e subordinadas na língua Maxakalí e, mais especificamente,

identificar se o morfema tapode ser interpretado como referência de situação.

Referências

CAMPOS, Carlo Sandro de Oliveira.Morfofonêmica e morfossintaxe do Maxakalí. 307 f.

Tese (Doutorado) - Curso de Linguística, Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas

Gerais, Belo Horizonte, 2009.

KRATZER, Angelika.Situations in Natural Language Semantics.[s.l.]: Stanford

Encyclopedia of Philosophy, 2007.

________________. An investigation of lumps of thought.Linguistics and Philosophy.[s.l.],

p. 607-653. out. 1989.

MCKENZIE, Andrew Robert.The role of contextual restriction in reference-tracking. 280

f. Tese (Doutorado) - Curso de Linguística, University of Massachusetts Amherst, Amherst,

Mass, 2012.

________________. Austinian Situation and Switch Reference: the role of context in reference-

traking. Submission to Journal of Semantics. [s.l.], p. 1-40. jan. 2015a.

_______________. A Survey of Switch-Reference in North America.The University of

Chicago Press Journals: International Journal of American Linguistics.[s.l.], p. 409-448.

jul. 2015b.

PEREIRA, Deuscreide Gonçalves.Alguns aspectos gramaticais da língua Maxakalí. 121 f.

Dissertação (Mestrado) - Curso de Linguística, Faculdade de Letras, Universidade Federal de

Minas Gerais, Belo Horizonte, 1992.

POPOVICH, Harold A.; POPOVICH, Frances B. Dicionário Maxakalí-Português; Glossário

Português-Maxakalí. Cuiabá, MT: Sociedade Internacional de Lingüística. 127 p. 2005.

POPOVICH, Harold A. Maxakali paragraph structure. Summer Institute of Linguistics

(SIL). 6 f. Arquivo do Setor Linguístico do Museu Nacional, RJ. 1957.

_______. Large grammatical units and space-time setting in Maxakalí. Atas do Simpósio sobre

a Biota Amazônica. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Pesquisas. v.2, p. 195-199. 1967.

_______. Conjunções em Maxakali. Summer InstituteofLinguistics (SIL). 20f. Arquivo do

Setor Linguístico do Museu Nacional, RJ. 1976. Cópia arquivada no CEDAE-IEL-UNICAMP

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_______. The Nominal Reference System ofMaxakalí. In: WIESEMANN, Ursula.Pronominal

Systems.Tubing: GuntherNarrVerlag, p. 351-358. 1986.

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SESSÃO DE POSTÊRES

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CONTRIBUIÇÕES SOCIOLINGUÍSTICAS PARA O ESTUDO DOS GÊNEROS

TEXTUAIS-DISCURSIVOS EM AMBIENTE DIGITAL: UM OLHAR SOBRE O

OBJETO DIRETO

Autor: Andrei Ferreira de Carvalhaes Pinheiro

Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia Paredes Silva

Linhade pesquisa: Variação e Mudança Linguística

A partir de 2005, vimos emergir a Web 2.0: um ambiente “com novíssimas

possibilidades de interação que permitem não apenas consumo, mas também – ou

principalmente – produção de textos, agora textos feitos de imagens, textos audiovisuais, textos

com links e textos com palavras e imagens” (GOMES, 2016). É evidente que a Linguística tem

se interessado por estudar os padrões de interações propiciados pela Web 2.0. Trabalhos dessas

áreas têm se voltado, por exemplo, ao reconhecimento de gêneros textuais-discursivos na/da

Web (MARCUSCHI, 2010), à definição de redes sociais (BUZATO, 2016) e à importância

delas para o ensino (GOMES, 2016).

Nesse cenário, pesquisadores como Marcuschi (2010) e Rajagopalan (2013) vêm

apontando que a complexidade da Web não nos permite caracterizar os textos produzidos em

ambiente digital a partir dos rótulos tradicionalmente entendidos como fala e escrita. Apesar

disso, Marcuschi (2010) e Herring (2001) entendem que os textos produzidos em ambiente

virtual são fundamentalmente baseados na escrita, ainda que significativamente distanciados

dos textos escritos prototípicos. No entanto, Marcuschi (2010, p. 22) adverte que um texto na

Web não corresponde necessariamente a uma “fala por escrito”.

Considerando, entretanto, fala e escrita, Baron (2013, p. 126) comenta sobre a

dificuldade em caracterizar os textos da Web e a atribui ao fato de que “poucas tentativas

empíricas vêm sendo feitas para contrastar os dados da [comunicação mediada por computador]

com corpora comparáveis falados ou escritos.”

Por décadas de estudo, a Sociolinguística Variacionistatem empreendido investigações

que se interessam por situar gêneros textuais-discursivos no contínuo fala-escrita. Pouco, no

entanto, tem sido dito sobre os textos na Web nessa perspectiva.

Paredes Silva (2017) recuperou análises de blogs, conversas de WhatsApp e

comentários em grupos de discussão no Facebook, que observaram, respectivamente, a variação

no sujeito de 1ª pessoa, no objeto direto de 3ª pessoa e nas estratégias de indeterminação do

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sujeito. A partir disso, concluiu que, de fato, os gêneros em ambiente digital apresentam um

caráter híbrido, pois determinados fenômenos podem se aproximar mais da escrita, enquanto

outros, mais da fala.

Dessa forma, apresentamos, aqui, resultados de pesquisas sobre a expressão variável do

objeto direto de 3ª pessoa em referência anafórica em quatro corpora distintos, três dos quais

foram analisados por nós ao longo da Iniciação Científica: (1) conversas privadas do chat do

Facebook entre jovens universitários; (2) conversas privadas de WhatsApp, também entre

jovens universitários; (3) entrevistas orais com jovens cariocas de baixa escolaridade, internos

em regime socioeducativo; e (4) redações de universitários (AVERBUG, 2000). Todas essas

investigações se pautam pela Teoria da Variação e Mudança Linguísticas (LABOV, 2008

[1972]).

Os resultados apontam para uma maior proximidade entre os dados de escrita digital e

os de entrevistas orais, ainda que os informantes se diferenciem quanto ao nível de escolaridade

e quanto à sua inserção social: em ambas as amostras, a anáfora zero é a variante mais frequente

(sempre mais de 50% dos dados).Já a escrita universitária na Web e a escrita universitária no

papel se diferenciam: enquanto naquela a variante mais encontrada é a anáfora zero (i.e., a não

materialização do referente), nesta privilegia-se o uso de clíticos (40%), ausentes ou pouco

encontrados nas duas outras amostras. De acordo com esses resultados, portanto, a escrita na

Web se aproxima mais da fala do que da escrita prototípica.

No entanto, como já apontado por Baron (2013), é necessário empreender novas

investigações que controlem mais adequadamente os corpora de produções textuais na Web e

fora dela a serem comparados, a fim de que se possa compreender melhor como se comportam

os textos produzidos em ambiente digital.

Referências

AVERBUG, Mayra Cristina Guimarães. Objeto direto anafórico e sujeito pronominal na

escrita de estudantes. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio

de Janeiro, 2000.

BARON, Naomi. Enunciados segmentados em MIs. Tradução de Tania G. Shepherd. In:

SHEPHERD, Tania G.; SALIÉS, Tânia G. (Org.). Linguística da internet. São Paulo:

Contexto, 2013, pp. 125-155.

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BUZATO, Marcelo El Khouri. Três concepções para o estudo de redes sociais. In: ARAÚJO,

Júlio; LEFFA, Vilson (Org.). Redes sociais e ensino de línguas: o que temos de aprender?.

São Paulo: Parábola Editorial, 2016, pp. 33-48.

GOMES, Luiz Fernando. Redes sociais e escola: o que temos de aprender? In: ARAÚJO, Júlio;

LEFFA, Vilson (Org.). Redes sociais e ensino de línguas:o que temos de aprender?.São Paulo:

Parábola Editorial, 2016, pp. 81-92.

HERRING, Susan C. Computer-mediated discourse. In: SCHIFFRIN, Deborah; TANNEN,

Deborah; HAMILTON, Heidi E. (Org.). The Handbook of Discourse Analysis.

Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001, pp. 612-634.

LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução: Marcos Bagno, Marta Scherre e

Carolina Cardoso. São Paulo, Parábola Editorial, 2008. Título original: Sociolinguistic

Patterns, 1972.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital.

In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antonio Carlos (Org.). Hipertexto e gêneros

digitais:novas formas de construção de sentido. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2010, pp. 15-80.

PAREDES SILVA, Vera Lúcia. Gêneros digitais: o hibridismo de fala e escrita. GRATO 6th

International Conference on Grammar and Text, Universidade Nova de Lisboa, mimeo.,

jun., 2017.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. Como o internetês desafia a Linguística. In: SHEPHERD, Tania

G.; SALIÉS, Tânia G. (Orgs.). Linguística da internet. São Paulo: Contexto, 2013, pp. 37-53.

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RASTREAMENTO OCULAR DE ORAÇÕES TEMPORARIAMENTE AMBÍGUAS:

REFLEXÕES SOBRE OS EFEITOS GARDEN-PATH E GOOD-ENOUGH NA

LEITURA DE ALUNOS DE CURSO FUNDAMENTAL E SUPERIOR

Autora: Emily Silvano da Silva

O presente estudo investigou através da técnica de rastreamento ocular o processamento on-

line e a compreensão de um tipo de ambiguidade sintática temporária em um grupo universitário

e um grupo do 8º ano do Ensino Fundamental, segundo a Teoria do Garden-Path. Os resultados

on-line de ambos os grupos mostraram que sentenças ambíguas demandam mais tempo de

leitura e compreensão do que as não-ambíguas em ambos os grupos. Os resultados off-line

mostraram que os participantes erram mais nas ambíguas, como esperado, do que nas não-

ambíguas. Os universitários obtiveram índices de acerto significativamente maiores do que de

erros em ambas as condições, o que atesta o engajamento na tarefa. Era esperado que, após a

reanálise on-line nas ambíguas, ambos os grupos atingiriam compreensão total da sentença

respondendo corretamente. Sobre os alunos do 8º ano, estes fixam menos nos segmentos

comparados com os alunos do Ensino Superior, aliado a isso o tempo de leitura na sentença SG

é consideravelmente menor do que em GP, parecendo que este grupo desiste da frase. Isto se

reflete nos resultados off-line que demonstraram que os participantes desse grupo erram mais

nas ambíguas do que nas não-ambíguas. Observou-se evidência do efeito good-enough, no

grupo do ensino fundamental, havendo compreensão parcial ou incompleta do input, mesmo

após a reanálise, que parece persistente na memória de trabalho, resultando em representações

incompatíveis com o valor de verdade. Concluindo, o efeito garden-path foi menor em

participantes mais novos do que nos mais velhos, resultados que são contrários aos esperados

pela literatura, mas que podem refletir o panorama da educação do país, em que parece haver

interesse reduzido dos alunos da educação básica em tarefas de pensar linguisticamente.

PALAVRAS-CHAVE: GARDEN-PATH; RASTREAMENTO OCULAR; GOOD-ENOUGH

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A ICONICIDADE COMO UM RECURSO COGNITIVO PROVISÓRIO NA

AQUISIÇÃO DA LEITURA

Autora: Isadora Rodrigues de Andrade

Ao longo do desenvolvimento infantil, as crianças criam hipóteses acerca do

funcionamento das mais diversas coisas do mundo, assim como buscam identificar padrões em

tudo que as cerca. Por exemplo, a criança, mesmo antes de dominar o sistema alfabético, já cria

suposições a respeito do sistema da escrita, que, posteriormente, podem ser confirmadas ou

completamente abandonadas.

Assim, segundo o relato de muitas pesquisas, algumas crianças supõem que exista uma

iconicidade, ou seja, uma relação de motivação entre o tamanho dos objetos e o nome escrito

que eles têm. Uma palavra como formiga espanta alguns alfabetizandos que supunham que,

dado o tamanho pequeno do inseto, ele seria grafado com menos letras. Esse assunto nos coloca

no centro de uma discussão fundamental para a Linguística, opondo arbitrariedade e

iconicidade.

A publicação da obra póstuma de Ferdinand Saussure ‘’ Curso de Linguística Geral’’

(1916) abriu caminhos para a discussão de diversos aspectos estruturais da língua. Uma das

noções propostas pelo linguista se refere à relação estabelecida entre o que ele chama de

significante e significado, que podem ser entendidos como a imagem acústica e o sentido da

palavra, respectivamente.

Segundo o pesquisador suíço, a relação que se estabelece entre essas duas entidades é

arbitrária, ou seja, não há um vínculo essencial, obrigatório e natural entre o som e o sentido

da palavra. O que existe é uma relação cultural, convencionada, arbitrária entre os integrantes

de uma dada comunidade.

Ainda pensando a correspondência entre o objeto e a palavra que o designa, Wolfgang

Köhler (1929) e, posteriormente, o neurocientista indiano Vilayanur S. Ramachandran (2001)

refletiram sobre essa relação em um estudo que ficou conhecido como o Efeito Bouba/Kiki. O

teste consistia na apresentação de objetos inventados de formas arredondadas e pontiagudas.

Ao participante cabia a tarefa de atribuir aos objetos os nomes de Bouba ou Kiki, conforme sua

vontade.

Os resultados desse estudo apontaram que cerca de 95% dos participantes atribuíram à

forma arredondada o nome Bouba e à forma pontiaguda, Kiki. Ramachandran partiu, então, dos

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

resultados obtidos para defender a ideia de que o processo de nomeação dos objetos não é

arbitrário, mas, sim, motivado por características do próprio objeto. Em outras palavras:

particularidades físicas da coisa se manifestariam, de alguma maneira, no som da palavra.

Haveria, portanto, a mistura de dois módulos cognitivos: a visão e a linguagem.

Jean Piaget (1962) também refletindo sobre a associação entre o nome e o objeto e sua

relação com o desenvolvimento do pensamento infantil, propôs a noção de Realismo Nominal. Esta

concepção diz respeito a dificuldade encontrada pela criança em desassociar o signo da coisa

significada.

Segundo Piaget, no realismo nominal lógico, um tipo de realismo nominal, o indivíduo,

em alguma fase do seu desenvolvimento cognitivo, tenderá a considerar a palavra que como

parte integrante do objeto ou coisa que ela representa. Assim, algumas crianças parecem atribuir

ao nome características da coisa, acreditando que mudando o nome do objeto, suas propriedades

também são modificadas.1

Portanto, com a finalidade de privilegiar os estudos sobre a psicogênese da aquisição da

leitura e da escrita, o presente trabalho fará uma avaliação da concepção piagetiana de Realismo

Nominal (1962), buscando estabelecer relação com um dos princípios que compõe a teoria

estruturalista proposta por Saussure (1916): a noção de arbitrariedade do signo linguístico.

Para tanto, realizamos um experimento com crianças não alfabetizadas, de quatro a seis

anos, utilizando a técnica de Word/Picture matching, de acordo com bases da Linguística

Experimental. A partir dos resultados obtidos, pretendemos também suscitar uma discussão

sobre a importância do método de alfabetização adequado para o processo de aquisição da

leitura e escrita.

PALAVRAS-CHAVES: LINGUÍSTICA, AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, LEITURA

Referências

DEHAENE, Stanislas. Os Neurônios da Leitura: Como a Ciência Explica a Nossa Capacidade

de Ler.Penso.p. 372,2012

PIAGET, J. A representação do mundo na criança. Rio de Janeiro, RJ: Record. 1962.

1Atualmente, já se sabe que a cognição de reconhecimento de objetos ocupa uma área distinta da área de tratamento

das palavras escritas no cérebro (ISHAI et al., 2000 e PUCE et al., 1996). Esta última, só se estabelece após o

processo de alfabetização (Dehaene, 2012). Dessa maneira, uma criança que ainda não sabe ler pode mesmo

“guardar” a forma escrita de uma palavra que ainda não decifra no tecido que é especializado para acolher objetos.

Nesse caso, a iconicidade pode se justificada.

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RAMACHANDRAN V.S.; Hubbard E.M. Synaesthesia – A Window Into Perception, Thought

and Language. Journal of Consciousness Studies, 8, No. 12, pp. 3–34.2001

SAUSSURE, F. de. Curso de Lingüística Geral. Tradução Antônio Chelini, José Paulo Paes,

Isidoro Blikstein. 25.ed. São Paulo: Cultrix. 1999

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CONHECIMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM IDOSOS FALANTES NATIVOS

DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Autor: Jean Carlos da Silva Gomes

Orientadora: Adriana Leitão Martins

LinhadePesquisa: Linguagem, mente e cérebro

Os estudos que versam sobre o processo do envelhecimento e seus efeitos na expressão

linguística têm ganhado destaque no âmbito da psicologia e da linguística (BRANDÃO &

PARENTE, 2001). Esses trabalhos indicam que, quando idosos, os indivíduos podem

desenvolver problemas linguísticos em diversos níveis, como o fonético, o semântico, o

pragmático, e apresentar uma diminuição na velocidade do processamento de sentenças. No

entanto, parece não haver um consenso quanto à origem desses problemas linguísticos, se

decorrentes de um comprometimento no módulo essencialmente linguístico (ARBUCKLE &

GOLD, 1993) ou em módulos não-linguísticos (WOODRUFF-PAK, 1997). No que concerne à

análise do desempenho da população idosa quanto a fenômenos sintáticos, poucos trabalhos

foram feitos. Entendemos que a investigação desse desempenho pode contribuir para a

elucidação de diversos questionamentos quanto à fala do idoso, principalmente quanto à origem

do déficit na sua expressão linguística, uma vez que um problema de ordem sintática

desassociado de um déficit conceptual pode indicar um comprometimento no módulo

essencialmente linguístico. Diante disso, neste trabalho, investigamos as categorias sintáticas

de tempo e aspecto. Tempo, segundo Comrie (1985), pode ser definido como uma categoria

linguística que possibilita que situemos os acontecimentos do mundo no tempo físico, enquanto

que aspecto, segundo Comrie (1976), pode ser definido como uma categoria linguística que

possibilita que façamos referência à composição temporal interna de uma situação. Neste

estudo, busca-se compreender se há uma preservação ou um comprometimento dessas

categorias na gramática mental de idosos falantes nativos do português brasileiro (PB). Logo,

as hipóteses adotadas para este estudo são as de que (i) o conhecimento linguístico de tempo

mantém-se preservado em idosos saudáveis falantes nativos do PB e (ii) o conhecimento

linguístico de aspecto mantém-se preservado em idosos saudáveis falantes nativos do PB. Para

tanto, foram aplicados três testes a dez idosos com idade entre setenta e oitenta anos falantes

nativos do PB com escolaridade entre ensino fundamental incompleto e ensino médio completo.

O primeiro teste foi a versão em português, feita por Caramelli & Nitrini (2000), do Mini-

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Exame do Estado Mental (MEEM), que tinha por objetivo avaliar o estado mental dos idosos,

garantindo que não apresentassem um quadro demencial não diagnosticado. O segundo teste

foi o de ordenamento sequencial de eventos, desenvolvido por Nespoli (2013), cujo objetivo

era avaliar o conhecimento conceptual de tempo dos indivíduos. O terceiro teste foi o teste

linguístico de preenchimento de lacuna, que visava avaliar o conhecimento linguístico de tempo

e aspecto dos participantes. No MEEM, três participantes obtiveram um resultado inferior à

nota de corte proposta por Caramelli & Nitrini (2000) e foram eliminados deste estudo. No

segundo teste, dos sete participantes mantidos na pesquisa, quatro deles ordenaram grande parte

das sequências corretamente, indicando uma preservação do conceito de tempo, enquanto três

deles ordenaram apenas uma pequena parte das sequências corretamente, indicando um

comprometimento conceptual de tempo. Uma vez que a presença de um comprometimento

conceptual impossibilitaria a detecção da origem do déficit na expressão linguística, que

poderia ser tanto no módulo linguístico quanto em módulos não-linguísticos, analisamos os

resultados do teste linguístico somente dos participantes que apresentaram bom desempenho

no teste de ordenamento sequencial de eventos. No teste linguístico, dos quatro indivíduos que

tiveram os resultados analisados, três deles apresentaram um déficit na expressão linguística,

uma vez que se equivocaram no preenchimento de lacunas que testavam algumas condições

específicas. Uma vez que alguns idosos não apresentaram um problema conceptual de ordem

temporal, porém evidenciaram um déficit na expressão linguística ora de tempo, ora de aspecto,

argumentamos que o problema encontrado na expressão linguística desses idosos seja

decorrente de um comprometimento no módulo linguístico. Assim, as duas hipóteses deste

estudo foram refutadas.

Palavra-chave: envelhecimento, linguagem, comprometimento linguístico, tempo, aspecto,

sintaxe.

Referências:

ARBUCKLE, T., GOLD, D. Aging, Inhibition, and Verbosity. Journal of Gerontology:

Psychological Sciences, Waltham: v. 48, n. 5, p.225-232, 1993.

BRANDÃO, L.; PARENTE, M. A. M. P. Os estudos de linguagem no idoso neste último

século. Estud. interdiscip. envelhec., Porto Alegre, v.3, p.37-53, 2001.

CARAMELLI, P.; NITRINI, R. Como avaliar de forma breve e objetiva o estado mental de um

paciente? Rev. Assoc. Med. Bras., v. 46, n. 4, p. 301-301. 2000.

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COMRIE, B. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems.

Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

__________. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

NESPOLI, J. B. Tempo e Aspecto na demência do tipo Alzheimer: um estudo longitudinal.

Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ: Faculdade de Letras. 2013.

WOODRUFF-PAK, D. The Neuropsychology of Aging. Understanding Aging. Malden:

Blackwell Publishers, 1997.

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A IDENTIFICAÇÃO DOS PREFIXOS ES- E EN- EM VERBOSDENOMINAIS

PARASSINTÉTICOS

Autor: Luís Felipe dos Santos Nascimento

De que maneira se dá o processo de decomposição morfológica de verbos denominais

parassintéticos? Este estudo experimental se dedica a achar evidências que possam servir de

ponto de partida para essa questão, debruçando-se especificamente sobre formas as formas

verbais prefixadas por es- e en-. Por meio de um experimento de leitura automonitoarada não

cumulativa de decomposição morfológica, foram analisadas três condições experimentais: (i)

verbos denominais parassintéticos – esganar e esfiapar; (ii) verbos com a forma fonológica dos

prefixos estudados e uma pseudobase nominal – entender e esbanjar; e (iii) verbos inventados

prefixados – empanelar e esbaciar.

Os resultados evidenciaram uma facilitação na passagem do nome base para o sufixo

verbalizador quando a forma verbal era prefixada pelos elementos morfológicos em questão.

Quando a relação era fonológica, a passagem da pseudobase para o sufixo verbalizador era

degradada. Esses resultados evidenciaram que o modelo de processamento morfológico se dá

de forma plena, ou seja, morfema a morfema.

Referências

FRANÇA, A. I. (2005) O léxico mental em ação: muitas tarefas em poucos milissegundos.

Lingüí∫tica: Revista do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v. 1,n. 2, p. 47-82.

HALE, K.; KEYSER, S. J. (1993). On Argument Structure and the LexicalExpression of

Syntactic Relations. Cambridge, MA: MIT Press.

NASCIMENTO, L. F. S. (2014). Uma abordagem psicolinguística dos prefixos es- e en-.

XXXVI Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural da

UFRJ. Outubro/2014.

TAFT, M. & FORSTER, K.I. (1975). “Lexical Storage and Retrieval of Prefixed Words.”

Journal of Verbal Learning & Verbal Behavior, 14(6), 638-647.

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FUNÇÕES EXECUTIVAS E TESTE DE ROLE-PLAYING EM EXPERIMENTOS

COM CRIANÇAS

Autores: Mayara de Sá Pinto, Sarayane Miranda, Emily Silvano, Isadora Andrade, Sammy

Cardoso, Kate Mendonça, Clara Bueno, Ana Machado, Julia Lopes, Aleria Lage, Aniela França

Durante as últimas décadas, avanços nas teorias do conhecimento da linguagem

passaram a exigir dados empíricos mais sofisticados, que possam fornecer informações

diretamente relevantes para desempatar embates teóricos sobre aspectos sutis da arquitetura e

processamento da linguagem. Nesse quadro, mais e mais se recorre a técnicas de tarefas on-

line, como o rastreamento ocular (MATSUOKA, 2010; ZUCKERMAN et al 2016).

A tendência dos testes on-line é exigir computações que envolvem Funções Executivas,

desempenhadas enquanto o participante está calado, dirigindo seu foco, ritmo, e planejamento

para a tarefa. As funções executivas são oriundas de circuitos cerebrais residentes no lobo

frontal com a função de autorregulação dos processos mentais, a ponto de nos permitir planejar,

concentrar a atenção, lembrar instruções e lidar com a execução de várias tarefas simultâneas

(SCHMITT; MILLER, 2010; CDCHU, 2014). Há três dimensões básicas das funções

executivas: (i) Memória de trabalho; (ii) Controle inibitório; (iii) Flexibilidade cognitiva

(BIERMAN et al 2008).

Por exemplo, a tarefa básica de um teste como o de pareamento sentença-figura requer

a capacidade de se executar de forma independente uma ação ou atividade com algumas partes:

(i) ouvir a sentença; (ii) colocar o resultado da interpretação semântica dessa interpretação na

memória de trabalho; (iii) examinar as figuras; (iv) decidir qual delas pode ser adequadamente

pareada ao conteúdo semântico guardado na memória. Todas essas computações se inscrevem

no âmbito das Funções Executivas.

Note-se que a criança não tem em sua psiquê a dimensão empática da ajuda à ciência

ou da ajuda ao pesquisador como pessoa. Com as crianças, a moeda de troca é a brincadeira e

a possibilidade de explorar o mundo. É claro que a boa relação entre o experimentador e a

criança, estabelecida na hora do teste, muitas vezes por si só consegue agregar motivação

suficiente para que possa chegar ao final do teste. Porém, frequentemente nos relatos da área,

transparece a dificuldade inerente encontrada pelos pesquisadores de coletar todo o material

planejado. Além das perdas (cerca de 40% da informação coletada), há também uma incidência

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de vieses experimentais dificilmente mensuráveis ou captáveis dentro do cenário de teste,

especialmente os on-line.

Um novo campo de estudos, intitulado de Ciência da Primeira Infância, explica com

clareza o porquê da dificuldade: funções executivas não estão todas funcionando na criança e

dependem de incentivo. É possível, por exemplo, ativá-las através do contexto de role-playing.

White et al (2016) estudaram o Efeito Batman, ou seja os benefícios do auto-

distanciamento através do role-playing para o aumento na perseverança de crianças de 4 e 6

anos (N = 180) no desempenho de uma tarefa repetitiva por 10 minutos. Os participantes foram

ainda divididos entre três grupos que eram instados a assumir diferentes perspectivas de

atuação: (i) desempenhavam a tarefa role-playing como se fossem o Batman; (ii) relatavam

a ação de uma terceira pessoa, como nos testes de triangulação de Crain & Thorton (1998) e

finalmente (iii) foram instados a desempenhar a tarefa na primeira pessoa. Como resultado,

observou-se que a personificação do Batman garantiu o menor índice de interrupção e a maior

atenção dedicada à tarefa conseguindo também igualar o desempenho das duas idades. O role-

playing foi identificado como a situação experimental de maior validade ecológica para as

crianças testadas.

Assim, levando critérios da validade ecológica do teste e das funções executivas dos

participantes, adotamos em trabalhos recentes a abordagem de teste-jogo para motivar a tarefa

de pareamento sentença-figura. Também adotamos a repetição de personagens do jogo para

facilitar a adesão e iniciação das funções executivas dos participantes. Com efeito, desde nossos

pré-testes conseguimos um aproveitamento quase total dos testes. Em versões aperfeiçoadas

dos experimentos realizados com crianças, nenhum teste foi perdido por falta de engajamento

da criança-participante.

Palavras-chave: Metodologia experimental, funções executivas, role-playing, ciência da

primeira infância

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REFERÊNCIAS

BIERMAN, K.; NIX, R.;GREENBERG, M.; DOMITROVICH, C. Executive functions and

school readiness intervention: Impact, moderation, and mediation in the Head Start REDI

program. Development and Psychopathology: 2008.

CDCHU (Center on the Developing Child at Harvard University). Enhancing and Practicing

Executive Function Skills with Children from Infancy to Adolescence. Harvard University,

2014. Retirado de www.developingchild.harvard.edu. Acessado em 10 de setembro de 2018.

MATSUOKA, K. Experimental Methods in Language Acquisition Research. In: Language

Learning & Language Teaching Ed. by Elma Blom and Sharon Unsworth, 27. Amsterdam:

John Benjamins, 2010.

SCHMITT, C.; MILLER, K. Using comprehension methods in language acquisition research.

In: Blom, Elma &Unsworth, Sharon (Eds.). Experimental methods in language acquisition

research (pp.35-56). Amsterdam: John BenjaminsPublishing, 2010

WHITE, R. E., PRAGER, E. O., SCHAEFER, C., KROSS, E., DUCKWORTH, A. L., &

CARLSON, S. M. "The “Batman Effect”: Improving perseverance in young children." Child

development 88, no. 5, p. 1563-1571, 2017.

ZUCKERMAN, S., PINTO, M., KOUTAMANIS, ELLY & VAN SPIJK, YOÏN. A New

Method for Testing Language Comprehension Reveals Better Performance on Passive and

Principle B Constructions. In Jennifer Scott & Deb Waughtal (Eds.), BUCLD 40: Proceedings

of the 40th annual Boston University Conference on Language Development. p 443-456, 2016.

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A COMBINAÇÃO DA PERÍFRASE PROGRESSIVA “ÊTRE EN TRAIN DE” +

INFINITIVO COM OS DIFERENTES TIPOS DE VERBO NO FRANCÊS

Autora: Sabrina Gomes da Silva (Mestrado)

Orientadora: Profª Drª Adriana Leitão Martins

Linha de pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa

Entende-se por aspecto os distintos modos de se visualizar a composição temporal

interna de umasituação (COMRIE, 1976). Essa noção pode ser veiculada, por exemplo, pela

semântica interna dos verbos e/ou pelos itens lexicais que podem alterar essa semântica

inicialmente inerente, que pode ser chamada de aspecto semântico. No que se refere ao aspecto

semântico, tendo em vista as propriedades inerentes ao sintagma verbal, considera-se a

classificação das classes verbais de Vendler (1967), queestabeleceu quatro tipos de verbo, a

saber: estados, atividades, processos culminados e culminações.

Segundo Desclés (1991), a perífrase “être en train de”+ infinitivo quando é associada

ao tempo presente ou ao pretérito imperfeito, parece conferir um caráter dinâmico aos eventos.

Sendo assim, ela deverá ser compatível com os verbos de atividade, processo culminado e

culminação. Na mesma direção, Do-Hurinville (2007) advoga que tal perífrase é usada para

indicar que uma ação está em seu curso de execução ou em movimentoe, por esse motivo,

possuiria o traço [+ dinâmico]. Tal autor sugere ainda que tal morfologia parece não ser

compatível com verbos de estado, pois tais verbos possuem o traço [- dinâmico], e nem com

verbos de culminação, pois tais verbos possuem o traço [- durativo].

Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral investigar os fatores linguísticos que

favorecem o uso da perífrase progressiva “être en train de”+ infinitivo no francês. Mais

especificamente, pretende-se investigar no francês de Paris os tipos de verbo quese combinam

com tal perífrase.As hipóteses consideradas em relação a essa língua são de que (i) a perífrase

progressiva “être en train de”+ infinitivo é incompatível com verbos de estado e (ii) a perífrase

progressiva “être en train de” + infinitivo é incompatível com verbos de culminação.

Como metodologia, adotou-se a análise do corpus linguístico CFPP2000 transcrito e

disponibilizado pela Universidade Paris Diderot – Paris 7, que apresenta dados de fala

espontânea de adultos parisienses, com nível superior completo ou incompleto. No total, foram

analisadas 18 horas de fala. Nesta análise foram consideradas todas as ocorrências da perífrase

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progressiva em todos os tempos verbais, independentemente do aspecto gramatical por ela

veiculado.

De acordo com a análise dos dados, observou-se que, em um total de 47 ocorrências da

perífrase “être en train de”+infinitivocom todos os tipos de verbo, houve 63,85% (que

corresponde a 30 ocorrências) de verbos de atividade, 27,65% (que corresponde a 13

ocorrências) de verbos de culminação, 4,25 % (que corresponde a 2 ocorrências) de verbos de

processo culminado e 4,25% (que corresponde a 2 ocorrências) de verbos de estado.Logo, as

hipóteses deste estudo foram refutadas.

Com base nos resultados, discutimos que: (i) o número considerável de ocorrências da

perífrase progressiva com verbos de atividade vai ao encontro do que já é proposto pela

literatura sobre a compatibilidade dessa perífrase com esse tipo de verbo (COMRIE, 1976;

SMITH, 1991, DO-HURINVILLE, 2007), (ii) o traço de estatividade parecenão favorecer o

uso da morfologia progressiva nos dados analisados e (iii) uma análise diferente dos verbos

poderia ter ocasionado a não refutação das hipóteses.

Palavras-Chave: aspecto, perífrase progressiva, francês

Referências:

COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.

DESCLÉS, J., 1991, « Archétypes cognitifs et types de procès », inC. Fuchs et al., 171-

195,1991

DO-HURINVILLE, D. Étude sémantique et syntaxique de être en train de. In:

L'InformationGrammaticale, N. 113,2007. pp. 32-39.

SMITH, C. The Parameter of Aspect. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1991.

VENDLER, Z. ‘Verbs and times’. In: ______. (Ed.). Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell

UniversityPress, 1967. p.97-121.

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O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA NA CRIANÇA: UM ESTUDO DOS

ASPECTOS NEUROCOGNITIVOS

Autor: Sammy Cardozo Dias

Orientadora: Profa. Aniela França

Linha de pesquisa: Linguagem, mente e cérebro

Como a linguagem desenvolve-se na criança? Os postulados chomskyanos oferecem-

nos uma perspectiva cognitiva para a Faculdade da Linguagem. Para Chomsky, a linguagem é

inescapável para a criança: “ela cresce na mente da criança como o sistema visual desenvolve

a capacidade para a visão binocular. É alguma coisa que acontece com a criança, não é algo que

ela faça” (CHOMSKY, 1993: 29). Diferentemente ocorre com o desenvolvimento da leitura.

Seu aprendizado necessita de empenho consciente da criança, quase sempre em um contexto

educacional, a partir de um processo formal de ensino. Haveria, no entanto, uma maneira de

conciliar essas duas aquisições. Ao identificar as regiões do cérebro envolvidas no

desenvolvimento da primeira língua e da leitura, Dehaene (2012) defende que certos

aprendizados ocorreriam através da reorientação dos sistemas cerebrais para o reconhecimento

de símbolos novos. Assim, haveria uma alteração da arquitetura neuronal inata, uma reciclagem

neuronal, a fim de que os circuitos cerebrais responsáveis pela identificação de faces passem a

reconhecer as letras. No âmbito desta pesquisa, objetiva-se, então, analisar os aspectos

neurocognitivos envolvidos no curso do desenvolvimento da leitura.

Para tal procederemos a uma abordagem experimental de cunho neuropsicolinguístico.

Os instrumentos de investigação serão compostos de experimentos com estímulos visuais,

divididos em duas categorias: linguísticas (letras e palavras) e não linguísticas (faces na posição

vertical e horizontal e objetos), no formato de fotografia de coloração cinza, perpassando um

total de 75 exemplares para cada categoria, apresentados num computador, ordenados

aleatoriamente e divididos em blocos. Os colaboradores serão adultos e crianças do Estado do

Rio de Janeiro. As crianças serão divididas em 3 agrupamentos de acordo com a faixa etária,

formados por ambos os sexos: crianças de 4 a 5 anos, 6 a 8 anos e 9 a 10 anos, oriundas de

escolas públicas. Os ERP’s evocados serão captados por eletrodos. Os parâmetros de onda

(latência e amplitude) serão investigados à luz de um pacote estatístico, a partir de análises

multivariadas de variância (MANOVA).

Referências

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CHOMSKY, Noam. A minimalist program for linguistic theory. Em:The view from Building

20: essays in linguistics in honor of Sylvain Bromberger, K. Hale and S. J. Keyser (eds), 1-52.

Cambridge, Mass.: The MIT Press, 1993.

DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler.

Trad. Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012.

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RETOMADAS NOMINAIS, PRONOMINAIS E ZERO NOS LDS DE HISTÓRIA

Autora: Talita Moreira de Oliveira

A continuidade do tópico discursivo tem como uma de suas bases a continuidade do

tópico/referente (cf. Givón,1983). Cavalcante et al. (2014) mencionam que, nos textos escritos,

em que a interação com o leitor não é feita durante a produção, a negociação ocorreria, por parte

do escritor, ao antecipar ou projetar seus leitores pretendidos. O escritor precisaria fazer ajustes

em seu texto de modo que fosse bem recebido pelos leitores, ou, como os autores dizem, “para

que seu texto seja considerado pertinente e coerente” (p.38). Tal objetivo determinará como

será feita a construção referencial, como os referentes serão representados e quais processos de

referenciação serão adotados na organização do fluxo de informação, levando-se em

consideração o leitor pretendido.

A fim de investigar as estratégias usadas pelos autores para assegurar a continuidade

referencial, foram analisados quinze LDs de História divididos em três níveis diferentes: cinco

LDs do 6º ano do EF, cinco LDs do 9º ano do EF e cinco LDs do 3º ano do EM. Em cada nível

foi escolhido um tema: Mesopotâmia nos LDs do 6º ano; Primeira Guerra Mundial, nos do 9º

ano e Segunda Guerra Mundial, nos do 3º ano do EM. Os temas escolhidos tinham em comum

o fato de abordarem conflitos envolvendo diversas nações. A análise se restringiu ao texto

principal dos capítulos selecionados, visando a discutir sua composição.

O presente estudo tem como objetivo investigar como ocorre a progressão referencial

em livros didáticos de História. Para isso, direcionamos a nossa atenção principalmente para o

uso de SNs, como expressão da referência.Como apontam os resultados encontrados a partir da

análise do corpus, constatou-se, nas três amostras, o predomínio de retomadas do referente

preenchidas por SN. Nos LDs do 9º ano do EF e do 3º ano do EM há um leve aumento nas

retomadas por recategorização, mas a repetição de itens lexicais se mostrou a estratégia

preferida pelos autores de todos os níveis. Muito raramente, os autores optam por pronomes ou

anáforas zero, apenas em circunstâncias em que a proximidade do elemento referido é tal que

não daria margem à ambiguidade. A alta incidência de SNs contribui para que o supertópico se

mantenha presente ao longo do texto através da repetição de itens lexicais que remetem a esse

tópico mais abrangente. Além disso, a associação entre diferentes tópicos sendo evidenciada e

reforçada através de SNs facilitaria a interpretação.

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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826

Quanto à complexidade de construção do SN, a composição da maioria dos SNs das três

amostras não se revelou muito complexa: SNs com poucos itens lexicais (2 a 3 itens), com

poucos encaixes (1 a 2 encaixes) e apenas um argumento projetado.

Apesar de o LD obedecer a norma padrão culta e ser um discurso planejado (OCHS 1979), os

textos dos LDs, no geral, não apresentam traços de gêneros mais formais ou acadêmicos. Os

tópicos costumam ser desenvolvidos em poucos parágrafos, com retomadas dos referentes

preenchidas – inclusive em contextos de alta continuidade tópica e sem a interferência de outros

personagens – frequentemente, favorecendo a repetição e predomínio de SNs de baixa

complexidade. Uma possível explicação para o baixo número de ocorrências de SNs complexos

seria o interesse em aproximar-se mais do público alvo do gênero que compõe a amostra,

leitores pouco familiarizados com textos mais complexos e, ao mesmo tempo, mais habituados

a uma leitura mais “rápida”, de textos digitais.

Referências:

CAVALCANTE, Mônica Magalhães; CUSTÓDIO FILHO, Valdinar e BRITO, Mariza

Angélica Paiva. Coerência, referenciação e ensino. São Paulo: Cortez, 2014

GIVÓN, T. Topic continuity in discourse: The functional domain of switch-reference. Em: John

Haiman & P. Munro (eds) Switch-reference and universal grammar.

Amsterdam/Philadelphia, John Benjamins, pp.51-82, 1983.

OCHS, E. Planned and unplanned discourse. Em:Syntax and semantics, vol. 12: Discourse

and syntax, ed. by T. Givon. New York: Academic Press, 1979.