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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO ERWIC FLORES CAPARÓ PRESERVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO CASO DE CUSCO-PERU (1950-1990) Salvador 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ERWIC FLORES CAPARÓ

PRESERVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

NO CASO DE CUSCO-PERU (1950-1990)

Salvador 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ERWIC FLORES CAPARÓ

PRESERVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

NO CASO DE CUSCO-PERU (1950-1990)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como pré-requisito para obtenção do grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração: Conservação e Restauro. Orientador: Prof. Dr. Paulo Ormindo David de Azevedo.

Salvador 2013

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Faculdade de Arquitetura da UFBA - Biblioteca

C236 Caparó, Erwic Flores. Preservação, desenvolvimento e políticas públicas no caso de Cusco-Perú (1950-1990) / Erwic Flores Caparó. 2013. 280 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Paulo Ormindo David de Azevedo.

Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de

Arquitetura, 2013.

1. Planejamento urbano - Política pública - Patrimônio - Cusco (Peru). 2. Arquitetura - Conservação e restauração - Cusco (Peru). I. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura. II. Azevedo, Paulo Ormindo David de. III. Título.

CDU: 72.025(853.19)

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ERWIC FLORES CAPARÓ

PRESERVAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO CASO DE

CUSCO-PERU (1950-1990)

Banca Examinadora

Paulo Ormindo David de Azevedo - Orientador

Doutor em Arquitetura e Urbanismo – Università di Roma

Professor Colaborador

PPGAU/UFBA

Miriam Nohemy Medina Velasco

Doutora em Estruturas Ambientais Urbanas – Universidade de São Paulo

UNEB

Maria Herminia Olivera Hernandez

Doutor – Universidade Federal da Bahia

Professor Permanente

PPG EBA/UFBA

Luiz Antônio F. de Cardoso

Doutor – Universidade Federal da Bahia

Professor Permanente

PPGAU/UFBA

Ana Carolina Bierrenbach

Doutora, Universidad Politécnica de Cataluña

Professor Colaborador

PPGAU/UFBA

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A meu avô José Domingo Flores Loayza (In

Memoriam) e aos meus amados pais: Maruja

Caparó de Flores e Cirilo Flores Abal.

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vii

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Universidade Federal da Bahia (PPG/AU-UFBA), por ter me permitido que desse

continuidade aos meus estudos neste conceituado centro de estudos.

De forma particular a, meu orientador e arquiteto, prof. Dr. Paulo Ormindo David de

Azevedo, pela preocupação não só no âmbito acadêmico, mas também no pessoal, por

compartilhar comigo tanto conhecimento e permitir que fosse orientado não só nesta, mas em

muitas outras pesquisas ao longo dos últimos tempos. Sem dúvida, representou um grande

suporte e apoio com seus conselhos e indicações. Muito agradecido mesmo, por tudo.

Agradeço ao governo do Brasil pela concessão da bolsa de Doutorado através da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Obrigado aos membros da banca composta pelos professores doutores: Arquiteta

Maria Herminia Olivera Hernandez, Arquiteta-Urbanista Miriam Nohemy Medina Velasco,

Arquiteta Ana Carolina Bierrenbach e Arquiteto Luiz Antônio Fernandes Cardoso por terem

aceitado o convite para participarem da minha banca. Inclusive pelos conselhos e sugestões

após a banca final.

Agradeço em Cusco-Peru aos arquitetos: Roberto Samanez Argumedo pela

disposição, conversas e informações valiosíssimas para esta pesquisa; Júlio Peña Flores

pelas indicações e sugestões fornecidas; Flor de Maria Iturri Chávez pelas informações e

contatos encaminhados; Manuel Ollanta Aparicio Flores pelas informações fornecidas e

contatos indicados e à seu Pai, pesquisador em história Jesús Aparicio; Ivar Del Castillo

Gibaja pelo desinteresse e fornecimento de informações de primeira mão; aos colegas,

Decano e demais Professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade Nacional San

Antonio Abad del Cusco pelas entrevistas cedidas, reflexões, incentivo e apoio brindados.

Agradecer de forma muito especial ao antropólogo Percy Paz Flores pelas reflexões “in situ”,

percepções sobre a cidade de Cusco, pelas informações cedidas, tempo dedicado, seu

grande desprendimento em passar suas experiências e conhecimento e, fundamentalmente,

pela grande sede para acrescentar informações primárias, sugestões e valiosíssimos dados

para este trabalho (In Memoriam); Hernán Aráoz Becerra pelas opiniões vertidas. Ao chefe e

pessoal bibliotecário da Biblioteca Municipal de Cusco; ao chefe e bibliotecárias da Biblioteca

do Governo Regional de Cusco; aos trabalhadores do Instituto Nacional de Cultura Região

Cusco (Ministério da Cultura do Peru), arquivos e biblioteca; aos restauradores de bens

móveis Francisco Vargas e Maria Elena Ortiz de Zevallos pelos depoimentos e informações

cedidas junto aos colegas que laboramos no Convênio Peru-Espanha durante os programas

de restauração de monumentos de Cusco; ao sub Diretor de Supervisão, Obras e

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bibliotecários do arquivo do Plano COPESCO; ao chefe do Arquivo Regional de Cusco; ao

chefe e bibliotecários da Biblioteca de Arqueologia e História da Universidade Nacional San

Antonio Abad del Cusco.

Em Lima-Peru: Ao diretor do Museu da Cultura Peruana pela especial atenção; aos

trabalhadores da Biblioteca da Prefeitura de Lima; ao chefe da Biblioteca da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo e Artes da Universidad Nacional de Ingeniería; ao pessoal da

biblioteca do Museo de la Nación e da biblioteca da sede central do Ministério da Cultura.

Em Salvador-Brasil aos professores arquitetos: Heliodório Sampaio Lima, pelas

sugestões para abordar diferentes temas sobre urbanismo; Nivaldo Vieira Andrade pelos

conselhos diversos sobre o caso das políticas públicas do Estado da Bahia; ao Coordenador

Arivaldo Amorim e Estagiários do LCAD da Faculdade de Arquitetura da UFBA; a Elisângela

Conceição Dantas Leão, de forma especial, como colega do PPGAU-UFBA deu todo apoio

requerido, pelas conversas, reflexões, revisão do texto, pela dedicação e paciência durante o

processo de finalização da tese. Obrigado pelo apoio, suporte recebidos aos ex-funcionários

do PPG-FAUFBA, Silvandira e Telmo. Ao pessoal funcionário da FAU: Maria (PPG), Edson,

Luiz Mário, Jaime, Marcos, Adelmário; na Biblioteca a: Nilson, Daiane, Adelson, Jose George

e Eleonora por serem sempre solícitos a ajudar com as informações. Por último, à ex-

professora da UNEB Olga Belov, revisora do português pela dedicação e, ajuda muito

particular, na conclusão final do texto. Para no esquecer a outros, a todas minhas amizades

soteropolitanas que, de uma ou outra forma, sempre estiveram me apoiando em todo

momento.

Em Karlsruhe-Alemanha: de forma especial ao professor Thomas Vögtle por ter

viabilizado o doutorado sanduiche, na tecnologia do Photomodeler no Instituto de

Fotogrametria e Sensoriamento Remoto (IPF) da Universidade de Karlsruhe, ao diretor Stefan

Hinz, ao engenheiro Konrad Ringle, ao grande colaborador e amigo Florian Schmidt, a toda a

família do instituto que me acolheram, aos pesquisadores e às amizades logradas nesse país.

Em Roma-Itália; ao pessoal administrativo e chefe da Biblioteca do ICCROM.

Muito obrigado à família Borges, minha família brasileira, pelo carinho, preocupação,

constância, atenção e acolhimento no seu lar, sempre estiveram, de perto, me ajudando

durante toda minha permanecia em Salvador da Bahia a Glaúcia, Jandira, Carla e Leonardo.

Agradecimento especial à minha família. Aos meus pais e meus queridos irmãos

(Andrea, Ciro, Catherine Sara (In Memoriam), Luz Marina, Carina Melzova, Gustavo Adolfo e

José Domingo) que, mesmo à distância, foram importantes com seu apoio moral e incentivo

para a conclusão desta pesquisa.

Agradeço a Deus por estar sempre presente me acompanhando.

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ix

Caparó, Erwic Flores. Preservação, Desenvolvimento e Políticas Públicas

no caso de Cusco-Peru (1950- 1990). 280 f. Tese (Doutorado em Conservação e

Restauro) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, Salvador-

Brasil, 2013.

RESUMO

A cidade de Cusco, capital da antiga civilização Inca, está localizada no meio da

Cordilheira Central dos Andes peruanos. Ela foi apropriada pelos conquistadores

espanhóis no século XVI, sobre a qual implantou a cidade colonial, que durante

décadas permaneceram intactas as estruturas construídas bem como o dia-a-dia da

sua população. Próximo à primeira metade do século XX começaram, timidamente,

algumas transformações modernistas na cidade. Em 1929, a cidade de Cusco foi

reconhecida como “Monumento Histórico Nacional”, em diante, toda obra e

intervenção seriam dirigidas sob os cuidados do “Patronato Nacional de Arqueologia

do Peru”. Em 1950, como consequência do intenso terremoto que abalou as

estruturas físicas da cidade, o Estado iniciou intervenções no centro histórico bem

como variadas obras urbanas e outras no ãmbito da região Cusco, os que trouxeram

efeitos do tipo cultural, social, político e econômico. Nesse sentido de este trabalho

apresenta uma leitura dos próximos 40 anos (1950-1990) em que cidade e região

Cusco foram analisadas a partir da perspectiva patrimonial e de desenvolvimento. Um

período que abrange diversas políticas públicas, com governos militares e civis,

grande participação de organizações internacionais, e por último, durante a década

dos anos 80, Peru sofreu a maior crise sócio-econômica da sua história. Nesse

sentido, busca-se encontrar subsídios para entender as mudanças e alterações que

vem sofrendo o patrimônio cultural da cidade de Cusco no meio de políticas de

desenvolvimento e de preservação baseadas no turismo cultural. Finalmente,

entende-se que as medidas, planos e políticas públicas, implementadas pelos

diferentes governos responderam a seu tiempo, onde aplicaram-se importantes bases

para, no futuro, dar un tratamento mais cuidadoso ao patrimônio e todas as suas

relações com o povo.

Palavras-chave: Preservação. Desenvolvimento. Politicas Públicas. Cusco-Perú.

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Caparó, Erwic Flores. Preservation, Development and Public Policy in the case of Cusco-Peru (1950 - 1990). 280 f. Thesis (PhD in Conservation and Restoration) - Faculty of Architecture, Federal University of Bahia, Salvador-Brazil 2013.

ABSTRACT

The city of Cusco, capital of the ancient Inca civilization, is located in the middle of the

Central Cordillera of the Peruvian Andes. It was appropriated by the Spanish

conquerors in the sixteenth century and implanted colonial city on it, which for decades

remained intact structures built well as the day to day of its population. Near the first

half of the twentieth century began, timidly, some modernist transformations in the city.

In 1929, the city of Cusco was recognized as a “National Historic Monument”,

henceforth, all works and interventions, would be directed under the care of the

“National Patronage of Archaeology of Peru”. In 1950, as a consequence of powerful

earthquake that shook the physical structures of the city, the State initiated

interventions in the historic center as well as various other urban works in the area of

the Cusco region, which brought effects on the cultural, social, political and economic.

In this sense, this work presents a reading of the next forty years (1950-1990) where

Cusco city and region have been analyzed from the perspective of heritage and

development. A period under different public politics, with military and civilian

governments, the large participation of international organizations and which during the

decade of the 80s, Peru suffered the biggest socio-economic crisis on its history. In

that sense, it seeks to find subsidies to understand the changes that is affecting the

cultural heritage of the city of Cusco amid development political and preservation

based on cultural tourism. Finally, it is understood that the measures, plans and public

politics implemented by different governments responded to that time, where

important bases were applied for, in the future, take a more careful treatment to the

heritage and all their relations with people.

Key-words: Preservation. Development. Public Politics. Cusco-Peru.

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Caparó, Erwic Flores. Preservación, Desenvolvimiento y Políticas Públicas en el caso de Cusco-Perú (1950 - 1990). 280 f. Tesis (Doctorado en Conservación y Restauración) - Facultad de Arquitectura de la Universidad Federal de Bahía, Salvador, BRASIL. 2013.

RESUMEN

La ciudad de Cusco, capital de la antigua Civilización Inca, se encuentra localizada en

medio de la Cordillera Central de los Andes peruanos. Fue apropiada por los

conquistadores españoles en el siglo XVI e implantó la ciudad colonial sobre ella, que

durante décadas permanecieron sus estructuras edificadas intactas bien como el día a

día de su población. Próximo a la primera mitad del siglo XX empezaron, tímidamente,

algunas transformaciones modernistas en la ciudad. En 1929, la ciudad del Cusco fue

reconocida como “Monumento Histórico Nacional”, en adelante, todas las obras e

intervenciones serian dirigidas bajo los cuidados del “Patronato Nacional de

Arqueología del Perú”. En 1950, como consecuencia del intenso terremoto que

sacudió las estructuras físicas de la ciudad, el Estado inició intervenciones en el centro

histórico bien como variadas obras urbanas y otras en el ámbito de la región Cusco,

los que trajeron efectos de tipo cultural, social, político y económico. En este sentido,

este trabajo presenta una lectura de los próximos cuarenta años (1950-1990) en que

la ciudad y Región Cusco han sido analizadas desde una perspectiva patrimonial y de

desenvolvimiento. Un periodo bajo diversas políticas públicas, con gobiernos militares

y civiles, gran participación de organismos internacionales, y por último, durante la

década de los años 80, Perú sufrió la mayor crisis socio-económica de su historia. En

ese sentido, se busca encontrar subsidios para comprender los cambios y

alteraciones que viene sufriendo el patrimonio cultural de la ciudad del Cusco en

medio de políticas de desenvolvimiento y de preservación basada en el turismo

cultural. Finalmente, se comprende que las medidas, planes y políticas públicas,

implementadas por los diferentes gobiernos respondieron a su tiempo, donde se

aplicaron importantes bases para, en el futuro, dar un tratamiento más cuidadoso al

patrimonio y todas sus relaciones con el pueblo.

Palabras clave: Preservación. Desarrollo. Políticas Públicas. Cusco-Perú.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Peru na América Latina 22

FIGURA 2 Posição da Região de Cusco no Peru 22

FIGURA 3 Região Cusco e âmbito de ação 22

FIGURA 4 O Império INCA na sua máxima expansão 23

FIGURA 5 Atualmente superposição da Igreja Santo Domingo sobre Palácio Inca 24

FIGURA 6 A forma da cidade Inca em 1535 24

FIGURA 7 A cidade e os arredores. Campos de cultivo 25

FIGURA 8 O famoso panorama de Monroy de 1650 26

FIGURA 9 O núcleo da cidade de Cusco e os arredores no Século XIX 28

FIGURA 10 Mapa do Peru e suas faixas regionais: costa, serra e floresta 37

FIG. 11-12 Carruagem de transporte de passageiros Apê

FIGURA 13 Cotidiano de inicios do século XX na Plaza Maior de Cusco 40

FIGURA 14 Inicio do rio Huatanay perto da Praça Maior da cidade 40

FIG. 15-16 Bonde em Cusco Apê

FIGURA 17 Destaque das áreas agrícolas do vale de Huatanay 45

FIGURA 18 Panorama da área urbana de Cusco em 1946 46

FIGURA 19 Evolução urbana da cidade de Cusco durante o século XX 47

FIGURA 20 Detalhe do ambiente e das casas na avenida Pardo 51

FIGURA 21 As primeiras casas na avenida Pardo do tipo chalé 51

FIG. 22-25 Cusco antigo Apê FIGURA 26 Fachada Sul da Plazoleta Nazarenas 60

FIGURA 27 Local do Paraninfo Universitário 61

FIG. 28-37 Destruição do Terremoto Apê

FIGURA 38 Rua Carmen Alto bairro de San Blas 62

FIGURA 39 Ladeira Santa Ana outro bairro tradicional da cidade 62

FIGURA 40 Desde o interior da Igreja de Santo Domingo 63

FIGURA 41 Altar Maior Igreja de San Sebastián 63

FIGURA 42 Única torre da igreja Santo Domingo 64

FIGURA 43 Fachada lateral da Igreja de Santo Domingo 64

FIGURA 44 Parte desabada da Ponte de Belén 65

FIGURA 45 Fachada do Templo de Belén em obras. Visita da Missão Kubler 65

FIGURA 46 Detalhe da torre da epístola, Templo de Belén 65

FIGURA 47 Fachada do Templo de San Sebastian. Destruído totalmente 66

FIGURA 48 Torre do Templo de San Cristóbal colapsou parcialmente 66

FIGURA 49 Torre da Epístola da Igreje de San Pedro 67

FIGURA 50 Casa del Almirante-Museu Inca 67

FIGURA 51 Primeiro Claustro (primeiro andar) da Basílica Menor de La Merced 68

FIGURA 52 Basílica Menor de La Merced. Detalhe do eixo das colunas 68

FIGURA 53 Fuste da coluna esquerda da portada Principal 68

FIG. 54-56 Medidas Antiepidêmicas Apê

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xiii

FIGURA 57 Tendas improvisadas nos Jardins da Praça Maior da cidade 62

FIGURA 58 Avenida del Ejército ocupada por desabrigados. Setor Chunchullmayo

62

FIG. 59-68 Desabrigados Ocupando áreas Abertas da cidade Apê

FIG. 69-74 Levantamento dos Escombros Apê

FIGURA 75 (Momento 1): Preparação: corda atada à coluna 77

FIGURA 76 (Momento 2): O desabamento dos portais 77

FIGURA 77 Muros incas à esquerda permaneceram intactos 79

FIGURA 78 Muro inca em detalhe 80

FIG. 79-92 Processo de Reconstrução de Monumentos Apê

FIG. 93-96 Conversão de Antigas Edificações em Investimentos Hoteleiros Apê

FIG. 97-98 Restauração de Monumentos Apê

FIGURA 99 Átrio do Templo de Santo Domingo 114

FIG. 100 Átrio lateral do Templo de San Sebastián 114

FIG. 101 Plano de Zoneamento Provisório de Cusco 126

FIG. 102 Idealização do Centro Cívico Administrativo do “Plan Piloto de Cusco” 129

FIG. 103 Semelhança de edifícios do “Plan Piloto de Cusco” 129

FIG. 104 Prancha No 7 do Plano Piloto. 130

FIG. 105 O Plano Piloto em todo o vale 131

FIG.106-112 Construção da “Central Hidroeléctrica de Machupicchu” 125

LISTA DE QUADRO E TABELAS QUADRO 1 Evolução da população da cidade de Cusco Apê

TABELA 1 Evolução dos tipos de câmbio entre 1933 e 1990

Apê TABELA 2 Registro histórico dos sismos ocorridos na região Cusco Apê TABELA 3 Remissões repartidas na cidade de Cusco

Apê

TABELA 4 Lista de mandatários do peru no século XX Apê TABELA 5 Departamento de empréstimos da CRyF - 1958

130

TABELA 6 Empréstimos outorgados na cidade de Cusco 130

TABELA 7 Lista dos monumentos históricos ao finalizar o ano de 1957 130

TABELA 8 Trabalhos realizados em obras artísticas 1957 130

TABELA 9 Capacidade de produção de amônio 140

TABELA 10 Subestações em Cusco 142

TABELA 11 Redes secundárias de distribuição 142

TABELA 12 Produção gerada de energia na região Cusco em 1965 143

TABELA 13 Contrato de credito de fertilizantes em 1965 153

TABELA 14 Movimento de fertilizantes em 1965 154

TABELA 15 Comercialização de fertilizantes no país entre 1970 e 1977

155

TABELA 16 Comercialização de fertilizantes no país entre 1980 e 1987

156

TABELA 17 Lista de obras contempladas 1975-1977 Apê

TABELA 18 Lista de obras reestruturadas 1977-1979 Apê

TABELA 19 Liquidação orçamental da CRyF em 1966 190

TABELA 20 Obras realizadas nas regioes de Cusco e Puno Apê

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1ª GM Primeira Guerra Mundial

2ª GM Segunda Guerra Mundial

AID Agencia Internacional de Desenvolvimento

ASER Auxilio Social de Emergencia Regional

BANCOOP Banco Cooperativo

BANMAT Banco de Materiais

BCHP Banco Central Hipotecario del Perú

BID Banco Internacional de Desenvolvimento

BIP Banco Industrial del Perú

BIRF Banco Interamericano de Reconstrucción y Fomento

BM Banco Mundial

BVP Banco de la Vivienda del Perú

CCEAPCM Comisión Central de Emergencia para el Amparo del Patrimonio Cultural y Monumental del Cusco

CEPAL Comisión Económica para América Latina

CH Centro Histórico

CHM Central Hidroeléctrica de Machupicchu

CIAM Congreso Internacional de Arquitectura Moderna

CICV Comité Internacional de la Cruz Vermelha

CNCMH Consejo Nacional de Conservación de Monumentos Históricos

CNU Consejo Nacional de Urbanismo

CNV Corporación Nacional de Vivienda

CVH Central Hidroeléctrica do Vilcanota

CONAFER Compañía Nacional de Fertilizantes

CORDE Corporación de Desarrollo do Cusco

COTUR Corporación do Turismo

CP Comisión de Planeamiento

CREAS Crédito Agrícola Supervisado

CRyF Corporación de Reconstrucción y Fomento

CSRFIC Comité de Supervigilancia de Reconstrucción y Fomento Industrial del Cusco

DL Decreto Ley

DNE Dirección Nacional de Estadísticas

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xv

EEUU Estados Unidos

ENACE Empresa Nacional de Edificaciones

ENCI Empresa Nacional Comercializadora de Insumos

ENTUR Empresa Nacional de Turismo

EPINCA Empresa Pública Industrial Cachimayo

FERTI SA Fertilizantes Sintéticos S.A

FFC Fábrica de Fertilizantes de Cachimayo

FNDES Fondo Nacional de Desarrollo Económico y Social

FNSBS Fondo Nacional de Salud y Bienestar Social

FONAVI Fondo Nacional de Vivienda

FONSAL Fondo de Salvamiento del Patrimonio Cultural de Quito Ecuador

ICCROM International centre for the study of the preservation and restoration of cultural property

INADUR Instituto Nacional de Desenvolvimento Urbano

INC Instituto Nacional de Cultura

INDUS SA Indústrias Químicas Básicas S.A.

IDS Inc International Development Services Inc

ININVI Instituto Nacional de Investigación y Normalización de la Vivienda

INP Instituto Nacional de Planejamento

INV Instituto Nacional de la Vivienda

IPL Instituto de Planeamiento de Lima

IRAC Instituto de Reforma Agraria y Colonización

IRPA Instituto de Reforma y Promoción Agraria

IPC International Petroleum Company

IUL Instituto de Urbanismo de Lima

IUP Instituto de Urbanismo do Peru

JOP Junta de Obras Públicas

JRDA Junta de Rehabilitación y Desarrollo de Arequipa

JRFIC Junta de Reconstrução e Fomento Industrial de Cusco

LOM Ley Orgánica de Municipalidades

MEFC Ministerio de Economia Finanças y Comercio

MRE Ministerio de Relaciones Exteriores

MFOP Ministerio de Fomento y Obras Públicas

MPC Municipalidad Provincial del Cusco

MSPAS Ministerio de Salud Pública y Bienestar social

MVC Ministerio de Vivienda y Construcción

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MVP Ministerio de Vivienda del Perú

ONU Organización de las Naciones Unidas

OEA Organización de Estados Americanos

OEO Oficina de Evaluación y Operaciones del BID

ONPU Oficina Nacional de Planeamento Urbano

OTPRC Oficina Técnico Permanente de Reconstrucción de Cusco

PCL Peruvian Corporation Limited

PDU Plano Director Urbano

PLAN MET Plano de Desenvolvimento de Lima Metropolitana

PNA Patronato Nacional de Arqueología

PNUD Programa de las Naciones Unidas para el Desenvolvimento

PPJJ Pueblos Jóvenes

PP SA Panedile Peruana SA

RM Resolución Ministerial

RS Resolución Suprema

SAN Servicio Aerofotográfico Nacional

SCISP Servicio Cooperativo Interamericano de Salud Pública

SENCICO Servicio Nacional de Capacitación para la Industria da construcción

SIDECI Sistema de Defensa Civil

UEE Unidade Especial Ejecutora

UNESCO Organización de las Naciones Unidas para la Educação, Ciencia e Cultura

UNSAAC Universidad Nacional San Antonio Abad del Cusco

UPIS Unidades Populares de Interesse Social

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xvii

SUMÁRIO

1 Introdução

18

2 Os Precedentes

36

2.1 Contextualização histórica, econômica e geográfica de Cusco

37

2.2 Ações precedentes e o papel do Estado

49

2.2.1 Planejamento Regional

49

2.2.2 Novos Loteamentos

53

2.2.3 Projetos de Habitação e financiamento

54

2.2.4 Os Impostos Especiais

55

3 O terremoto e as medidas emergenciais

50

3.1 Cusco em 21 de MAIO de 1950

59

3.2 As medidas emergenciais do governo Militar e Civil de Manuel A. Odría

69

3.2.1 A Comoção

69

3.2.2 Solidariedade Nacional

75

3.2.3 Socorro Internacional

83

4 Primeira Fase: Reconstrução e Preservação Urbana (1950-1957)

86

4.1 Reconstrução da cidade (Lei 11551)

87

4.2 Cooperação Internacional

89

4.2.1 Aportes dos Especialistas ou Conselheiros Técnicos da ONU

89

4.2.2 Mobilização Internacional, Cooperação Bilateral e Missões OEA/UNESCO

93

4.3 Conformação da Junta de Reconstrução e Fomento Industrial de Cusco (JRFIC)

103

4.4 Restauração de Monumentos, Reconstrução de Casas e Reestruturação Urbana

108

4.5 Plano Piloto (Luis Miró Quesada Garland)

126

4.6 Relatório da missão Kubler

136

4.7 Construção da Central Hidroelétrica de Machupicchu

140

5 Segunda Fase: O Desenvolvimento Regional (1957-1968)

146

5.1 O governo de Manuel Prado Ugarteche

147

5.1.1 Papel da Corporação de Reconstrução y Fomento (CRyF)

148

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5.1.2 Construção da Fábrica de Fertilizantes de Cachimayo (FFC)

160

5.1.3 Modernização da Central Hidroelétrica de Machupicchu (CHM)

162

5.2 O Primeiro governo de Fernando Belaúnde Terry

168

5.2.1 A Infraestrutura Viária: Construção de Novas Estradas e Melhoras

168

5.2.2 Problemas com a Central Hidroelétrica de Machupicchu

172

5.2.3 Problemas com a Fábrica de Fertilizantes Cachimayo

175

6 Terceira Fase: A Reforma Política e Cultural (1968-1975)

182

6.1 Retomada da Preservação: o governo militar de Juan Velasco Alvarado

183

6.2 A Reforma Agrária peruana

184

6.3 O Sistema Nacional de Apoio à Mobilização Social (SINAMOS)

190

6.4 Papel do Instituto Nacional de Cultura (INC)

196

6.5 Papel do Projeto Especial “Plan COPESCO”

206

6.5.1 Primeira etapa

209

6.5.2 Segunda Etapa

214

6.6 Extinção de Impostos e Fechamento da Corporação e Reconstrução e Fomento

218

6.7 Papel do Projeto PER 71/539

221

7 Quarta Fase: A Crise (1975 e 1990)

226

7.1 O golpe militar de Francisco Morales Bermúdez Cerruti

227

7.2 O Segundo governo de Fernando Belaúnde Terry

231

7.3 O governo de Alan García Pérez

237

7.3.1 O sismo de Cusco em 1986

241

7.3.2 A hiperinflação econômica do Peru

244

7.3.3 As ações terroristas no Peru

248

8 CONCLUSÃO

253

Referências

263

Apêndices (Citações Idioma Nativo, Figuras, Quadro e tabelas)

288

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1 INTRODUÇÃO

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2 OS PRECEDENTES

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3 O TERREMOTO E AS

MEDIDAS EMERGENCIAIS

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4 Primeira Fase:

RECONSTRUÇÃO E PRESERVAÇÃO

URBANA (1950-1957)

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5 Segunda Fase:

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

(1957- 1968)

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6 Terceira Fase:

A REFORMA POLÍTICA E

CULTURAL (1968-1975)

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7 Quarta Fase :

A CRISE

(1975- 1990)

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8 CONCLUSÃO

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES:

Citações em Idioma Nativo,

Figuras,

Quadro e Tabelas

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21

O presente estudo tem por objeto de investigação a Região e a Cidade de Cusco,

entre os anos 1950 e 1990, e sua relação com os temas da preservação1 e do

desenvolvimento2. Ao longo desses 40 anos, a cidade passou por um processo de

reconstrução3, no meio de mudanças culturais, políticas, sociais, econômicas e que foi além da

própria região, em diversos aspectos.

O recorte temporal esteve marcado por dois grandes episódios na cidade de Cusco. O

primeiro foi determinado por causa do terremoto que sacudiu a cidade em 1950. A partir de

então, a intervenção do Estado peruano4 entra de maneira decisiva com a ajuda de

especialistas, entidades internacionais, com planos e projetos de desenvolvimento que foram

além da própria cidade, isto é, abrangendo a 'Região de Cusco'.

Ao longo das décadas seguintes, os governos que se sucederam, entre governos civis

e militares, não necessariamente acompanharam a ideologia que iniciou todo esse processo de

reconstrução da cidade. No entanto, esses diferentes governos de turno realizaram vários

planos, medidas e diversas ações, que responderam a mudanças (gestões de governo) próprias

a cada época, apesar de prioridades diferentes.

Durante os anos 80, Cusco foi sacudido por um sismo (1986) de muita intensidade.

Como se isso não bastasse, o país inteiro entrou em um processo de grandes crises: a crise

social (pelo terrorismo) e a econômica (pela hiperinflação), como consequência das políticas

aplicadas pelo do governo de García. A crise peruana chegou ao ápice durante os últimos anos

daquela década que foi seguida por uma época de pacificação do país em início dos anos

1990, data que pôs fim ao recorte temporal que estuda esta cidade.

O processo de reconstrução da cidade de Cusco deu-se antes da 'Convenção sobre

Proteção do Patrimônio Mundial' de 1972. Isto é, o Estado peruano havia iniciado diversas

ações para levar a cabo o desenvolvimento com preservação (caso único no mundo) que se

consolidaria, ao longo dos anos, em uma particular forma de atenção ao Patrimônio.

1O conceito de “Preservação” deve ser entendido como toda e qualquer ação movida pelo Estado peruano que vise conservar a memória de um edifício ou de uma área urbana para evitar a sua perda de identificação. Basicamente, o conceito alude ao conjunto de procedimentos e medidas adotadas que asseguram a integridade dos edifícios, protegendo-os dos agentes de deterioração e da ação do tempo. A Unesco, a partir de 1972, consciente da necessidade de preservar os monumentos (conjuntos urbanos ou um simples objeto cultural) optou por prevenir, dando uma série de incentivos e legislações para evitar a sucessiva degradação dos mesmos.

2O conceito de "Desenvolvimento" está ligado com o crescimento do país em geral, neste caso, a Região de Cusco. Esse desenvolvimento, deve resultar do crescimento econômico, acompanhado de melhoria na qualidade de vida. Ou seja, deve também incluir “as alterações da composição do produto e a alocação de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e moradia)” (VASCONCELLOS e GARCIA, 1998, p. 205).

3 Falar de "Reconstruir" é apenas o ato de repor, de recolocar os elementos físicos na sua anterior posição, no edifício. O ato da reconstrução está associado a outras intervenções, como a de recuperar ou de restaurar peças soltas que fazem parte do edifício. Urbanisticamente, a reconstrução de Cusco esteve associada a outros tantos conceitos, desde o reabilitar ou recuperar esta área urbana até aumentar as capacidades físicas e vivenciais do espaço ou do edificio.

4 Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa o "Estado" ‘é o país soberano com estrutura e politicamente organizado. O conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público e outros) que controlam e administram uma nação (a máquina política do Estado). È uma forma de governo, regime político (estado Totalitário)’. O governo é a instância máxima de administração executiva, que lidera o Estado. Daí optou-se por chamar nesta tese o ‘E. Peruano’, ‘governo central’ ou ‘governo de turno’, seja este civil ou militar.

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A compreensão das ações dos governos de turno não foi fácil. A ajuda de diferentes

atores (os órgãos patrimoniais, a assistência técnica internacional e as agências financiadoras)

teve especial importância no meio de circunstâncias, de contextos políticos sociais e

econômicos diversos. Todas essas operações concentraram escolhas, promoveram a

elaboração de regras e desencadearam ações.

Sabe-se que a preservação do Patrimônio é uma prática em constante transformação,

estendendo-se continuamente a novos objetos com o que, em muitos casos, as normas

resultam imutáveis ou pouco complementadas. Na década dos anos 50, a falta de normas

específicas para a preservação no Peru tem trazido comentários dos mais variados por parte da

crítica especializada. Esses comentários, sempre presentes ao longo dos anos, foram levados a

extremos de forma positiva, ou ao contrário. Mas eles parecem não ter levado em

consideração todas essas considerações.

A primeira ação do governo de turno, de origem militar, após o terremoto, deu uma

especial e particular atenção à cidade de Cusco. Procurou os meios para possibilitar,

incialmente, a reconstrução da cidade. A área de ação do Estado peruano foi, inicialmente,

dirigida para o Centro Histórico mas, com a ajuda internacional, esse desenvolvimento foi

estendido até a Região. Dessa forma, o governo Central iniciou as grandes transformações,

não apenas para o Centro Histórico e a cidade, mas para o âmbito de toda a “Região Cusco”.

O território peruano (Figura 1) se divide em 26 Regiões geográficas. A Região Cusco

está delimitada pelas regiões de Madre de Dios e Puno a leste; com Junín e Ucayali ao Norte;

com Ayacucho e Apurímac ao oeste e, com Arequipa ao Sul. (Figura 2). A cidade de Cusco é

capital do Distrito, da Província e da “Região Cusco”, localizada a 3416 m de altitude, na

Cordilheira Central dos Andes. Ela forma parte das 13 Províncias da Região Cusco (Figura 3).

FIGURA 1 – Peru na América Latina FIGURA 2 – Posição da Região Cusco no Peru FIGURA 3 – Região Cusco e âmbito de ação

Fonte: WIKIPEDIA. THE FREE ENCYCLOPEDIA (2013).

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23

Historicamente, a cidade de Cusco também foi capital da Civilização Inca, durante

seu império, nos séculos XV e XVI. Sobre ela implantou-se a cidade espanhola e nela

coabitam, em parte, a estrutura republicana e a contemporânea. Dessa forma, a cidade

apresenta fragmentos de camadas urbanas, sobrepostas, marcando forte presença colonial.

A região centralandina da América do Sul é uma das áreas culturais mais ricas do

mundo, com remanescentes da grande civilização Inca. Sendo Cusco considerada como a mais

antiga cidade habitada das Américas que se desenvolveu desde meados do século XIII.

Os Incas tiveram sua economia baseada na agricultura em regiões montanhosas,

devido ao método de plantio escalonado ou de terraços (andenes), alcançando um domínio da

arte hidráulica e manejo de água de irrigação para a agricultura. Desenvolveram um trabalho

inigualável na arquitetura em pedra de grande e de pequeno porte, assim como no tratamento

medicinal, com conhecimentos muito avançados para a época.

A civilização incaica congregou-se em centros urbanos, com fartas redes de

comunicação, (caminhos construídos com pedras). Foi notável no seu planejamento territorial

e funcional, no que se refere à arquitetura pública. Na contabilidade, os incas inventaram o

sistema de cordas e nós, denominado “quipu”, o que tornou a sua utilização, altamente

eficiente. A civilização Inca destacou-se, ainda, no refinamento dos trabalhos em metal, ofício

que se originou a partir de trabalhos em tecidos, com desenhos originais e ícones da própria

cultura. Criou-se, também, uma cerâmica extraordinária, entre outras. (BAUER, 2008, p. 26).

Na América do Sul, os Incas

expandiram-se desde o sul da

Colômbia até o Norte do Chile,

incluindo o Noroeste da Argentina,

grande parte da Bolívia (ou Alto Peru)

e grande parte do território do Equador.

Dessa forma, Cusco imperial,

como sede do governo do Reino dos

Incas, tornou-se a maior cidade nos

Andes. Com a ocupação dos espanhóis

em 15335, é fundada a nova cidade de

Cusco, um ano mais tarde (Figura 4).

FIGURA 4 – O Império Inca em sua máxima expansão

Fonte: POVOAMERINDIO.BLOGSPOT.COM (2013)

5Em 15 de novembro de 1533, Francisco Pizarro fundou a cidade de Cusco. Desde a chegada dos conquistadores espanhóis ao território peruano, sua meta era tomar a capital do império dos Incas.

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Segundo Garcilaso ([1609] 1973, livro 7, cap. VIII), as águas do rio Tullumayo

constituíam limite entre a cidade e os arrabaldes do nordeste. Esse autor6 descreve a cidade

Inca e os bairros que a contornavam. Já Calvo (1980, p.17) sugere a constituição do traçado

urbano, a partir do agrupamento de construções no centro do tecido, o que remontava à cidade

nuclear.

Segundo Guamán ([1615] 1936, n/p),

confirmou-se, através de alguns desenhos, que

a cidade colonial estava assentada sobre bases

incas, isto é, a cidade espanhola não modificou

em essência o traçado Inca (Figura 5). Assim, a

cidade se consolidou durante o Vice-reinado e

o perpetuou, passando pelo período republicano

até vir a ser modernizada, no século XX. A

cidade modelada pelos Incas, segundo os

autores, Gasparini e Margolies, (1971, p. 8) e

Bauer, (2008, p.26), mostrava edificações de significativa uniformidade, com casas de um só

pavimento e cobertura de palha, destacando apenas templos e palácios na sua superfície. A

forma de um animal, puma agazapado7, contornava as duas partes da cidade e os arredores da

mesma (Figura 6).

FIGURA 6 – A forma da cidade Inca de 1535 por BAUER. As estruturas dos muros de pedra são destacadas em linhas pretas. Nela se podem ver as diferentes edificações (palácios) de toda a cidade. Segue numeração de cada uma delas. A zona em cor cinza é a cidade alta (HANAN QOSQO), a mais escura é a parte baixa da cidade (HURIN QOSQO)

Fonte: BAUER (2008).

6Garcilaso de la Vega, descendente de pai espanhol e mãe nativa inca. Forneceu informações sobre os bairros em torno da cidade nobiliária.

7 A posição que o animal (o puma, o zorro, entre outros) adota ao encolher o corpo contra a terra.

FIGURA 5 – Atualmente se mostra a superposição da Igreja e Convento de Santo Domingo sobre o grande palácio Inca do ‘Qoricancha’.

Fonte: FLORES (2012).

16 18

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25

Com da implantação da cidade pelos espanhóis, os arredores de Cusco apresentavam

um panorama confuso e desordenado. No entanto, a parte central se estruturava em função do

sistema de terraços agrícolas escalonados, sempre intensamente cultivados, o que a tornava

uma área organizada. Enquanto isso, a periferia estava apenas composta por pequenas

ocupações e uma grande área, dedicada à agricultura.

Durante a época incaica, Cusco era cabeça de uma grande área metropolitana que

ocupava vários quilômetros do vale do “Huatanay”, sem uma estrutura urbana contínua, mas

representada por três componentes básicos: o centro nobiliário, os arrabaldes contíguos ao

centro e os bairros satélites (AZEVEDO, 2008, p.57). Essa estrutura, inclusive com ruas e

bairros antigos, ainda conservam seus nomes, definidos e identificados claramente quanto à

organização social e a produção agrícola inca (CHAVEZ, 1970, p.3). (Figura 7)

FIGURA 7 – A cidade e os arredores. Campos de Cultivo Inca no vale do Huatanay. Percebe-se o uso do solo no século XVI, onde predominam os campos de cultivo, e os arredores da cidade antiga (é o contorno e a figura do animal).

Fonte: CALVO (1980)

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Nessa cidade, a primeira intervenção sofrida dá-se por volta de 1535, logo após um

incêndio, provocado pelos nativos, que destruiu as coberturas de palha das edificações. A

reconstrução obedeceu a normas espanholas, dando lugar ao aparecimento de coberturas de

telha de barro, cozida, sobre estruturas de madeira para permitir melhor captação das águas

pluviais.

Por volta de 1559, por ordenança8, este sistema passou a ser obrigatório. Devido a

essa modificação de material, afirmam Villegas e Estrada (1990, p. 26), a imagem

morfológica da cidade e quanto à cor havia sido alterada.

Outra iniciativa de reconstrução da cidade de Cusco, datada do século XVII, foi

quando sucedeu, em 1650, um grande terremoto que destruiu as estruturas das edificações,

evidenciando, de forma significativa, a superposição de duas culturas: a Colonial e a Inca

(ROWE,1944, p.6). Esse instante, vivido pela população, foi capturado no Panorama de

Monroy,9 no qual o tecido urbano já estava constituído marcadamente com as quadras, as ruas

e a volumetria, à moda espanhola. Os arredores já mostravam um tratamento similar nas

edificações. (Figura 8).

FIGURA 8 – O famoso Panorama de Monroy de 1650, com a cidade de Cusco, depois do terremoto. A visão dos estragos mostra as casas desabando, outras com menores danos e diferentes efeitos simultâneos na população.

Fonte: FLORES (2012).

8 “Ordenança” é uma disposição ou mandato. O termo é usado para nomear o tipo de norma jurídica que forma parte do regulamento e que está sujeita a uma lei. A ordenança é emitida pela autoridade que tem o poder para aplicá-la.

9 Pintura que atualmente pode ser percebida em detalhe na “Catedral Basílica de Cusco.”

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Como consequência deste evento de grandes proporções, iniciou-se um longo

processo de reconstrução da cidade. Esse processo foi lento, reafirmando uma morfologia

urbana, com novas mudanças no campo urbano e arquitetônico. Assim, a expansão da cidade

se deu em diferentes direções, com a construção de diversas edificações públicas, como a

Casa da Moeda, finalizada em 1699, entre outras.

O processo referido também teve como origem as epidemias de peste e de rubéola,

que assolaram a população, por volta de 1694, perdurando por quatro anos, refletindo também

em seu crescimento econômico e interferindo nas dinâmicas populacionais e reduzindo o

número de habitantes da cidade.

Dessa forma, Cusco chega ao Século XVIII sem mudanças morfológicas efetivas

(HARDOY e DOS SANTOS, 1992, p. 381). Durante este período, edifícios e ruas iam

surgindo paulatinamente. Algumas perdas deram-se entre a primeira e quarta décadas deste

século, causadas por chuvas torrenciais4 que provocaram o transbordamento do rio Saphi e

acarretaram danos econômicos na Calle del Medio. Foram particularmente, três lojas que

desabaram, arrastando consigo também grandes pedras. (ESQUIVEL et al, 1980, p. 137).

Ao chegar ao século XIX, a cidade havia se expandido pelas periferias como

manifesta, categoricamente, Blanco (1974, p.177) ao se referir que ela havia chegado ao “arco

localizado a uma légua da cidade, ao pé da estrada que vai para a localidade de Anta e da

ferrovia de Santa Ana [...].” Assim estava indicado um dos seus limites, sem especificar as

construções, inferindo-se que havia um crescimento gradativo, sem grandes modificações

urbanas.

Cosio (1918, p.57) afirma que, ao iniciar a década de 1840, Cusco sofreu uma grande

crise econômica: a perda do mercado do Alto Peru. Cusco, segundo Azevedo (1982, p. 60)

“[…] perde bruscamente a metade de sua população10

dando início a um período de

estancamento e decadência, que duraria 70 anos”.

Esse último autor comparou os planos da cidade de diferentes épocas e afirmou que a

forma urbana não se modificou. “[...] desde o de Hohagen (1861) até o de Zárate (1920)

constata-se que não houve, praticamente, nenhuma modificação na forma urbana, senão,

pequenas mudanças internas, especialmente no fechamento de travessas” AZEVEDO (1982,

p. 61) (Figura 9)

10 Ver Quadro Único ‘Evolução Populacional de Cusco’ em Apêndice.

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FIGURA 9 – O núcleo da cidade de Cusco e seus arredores, no Século XIX. O Esquema de Squier, de 1863, mostra a cidade antiga e a consolidação da Cidade Moderna. Até essa data, a cidade havia-se expandido em direção Sudoeste, formando seus novos bairros.

Fonte: SQUIER (1863).

Essas mudanças, ao longo dos séculos, não foram radicais, mantendo-se a mesma

estrutura urbana, desde a ocupação espanhola. Assim, pode-se afirmar que: por conta das

circunstâncias epidêmicas; da falta de vias de comunicação; do difícil acesso devido à sua

localização e pelo descaso por parte dos governos da época, Cusco permaneceu inalterada.

A falta de desenvolvimento manteve a cidade, de certa forma, abandonada, estagnada

e adormecida em termos urbanísticos. Essa atmosfera foi sentida e descrita por Monvel (apud

HIROYASU; FLORES, 1992, p. 37)

Essa peste tem conseguido conservar intatos seus monumentos, suas tradições sua atmosfera de velha cidade colonial e preguiçosa [...] Praças, pátios, telhados e fachadas, nada tem se modificado. Vagando ao longo das ruas estreitas e profundas, alguém pode se imaginar trezentos anos atrás, impressão que nada tem de desagradável [...] católica no alto, incaica na base, a cidade não tem sido transformada senão até meio-corpo. (tradução nossa)

Grandes transformações urbanas já aconteciam, desde o início do século XIX na

Europa, mas a cidade de Cusco passou a primeira metade do século XX, praticamente, sem

grandes obras, apenas algumas pouco percebíveis. Por razões higiênicas e de saúde para a

população, o Estado peruano se viu obrigada a canalizar o rio Saphi, por volta de 1940.

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Nessa mesma época, Lima como capital da república peruana, recebia grandes

grupos de imigrantes que se estabeleciam em seus arredores. Cusco, a princípio, não sentia

esse efeito, mas com o transcorrer dos anos e, de forma significativa, na segunda metade do

século XX, a cidade foi ocupada pelos imigrantes.

Com todos esses preâmbulos, chega o devastador terremoto de 1950, de grande

intensidade, sacudindo e desestabilizando as estruturas de todas as edificações. Houve grandes

perdas materiais, econômicas e, principalmente, humanas. Esse incidente das forças da

natureza forçou o Estado peruano a assumir a grande reconstrução da cidade de Cusco.

Essa reconstrução, iniciada pelo governo então eleito, com o transcorrer do tempo, se

modificaria e se transformaria em função dos mandatários civis e militares, que se sucederam.

A questão da preservação teve uma particular receptividade e atenção por parte das

autoridades, sendo que os entes executores da reconstrução foram à frente com as obras,

apesar da falta da mão-de-obra especializada. No desenvolvimento desse processo houve

variadas experiências, que não obedeceram a uma única estratégia ou política planejada.

A estratégia de desenvolvimento regional, as condições socioeconômicas e culturais

pelas quais atravessava o país, a dialética migratória e imigratória da população, o

crescimento demográfico, a expansão e o desenvolvimento urbano, a ampliação da fronteira

agrícola, o fomento da indústria regional, o aumento da infraestrutura viária, o grande

incremento anual do fluxo turístico, tudo isto representavam fatores que influenciaram direta

ou indiretamente esse desenvolvimento. Esse fenômeno foi percebido como um processo que

vinha acontecendo silenciosamente.

As transformações ocorridas na cidade, a partir da segunda metade do século XX,

revelaram a abertura para a modernidade. Destaca-se o aparecimento de uma forte presença

da migração camponesa, ocupando os primeiros cortiços, estabelecidos em casarões,

parcialmente desabitados pelos seus proprietários. Villegas e Estrada (1990, p. 91) afirmaram

que a maioria destes cortiços se localizava ao redor do “Mercado de San Pedro” e dos bairros

de “Belén” e “Santa Ana”.

Essas transformações, em particular, a preservação da cidade antiga, no primeiro

momento, não foram conduzidas por especialistas. Dessa forma, a técnica utilizada na época,

os materiais e as obras de reconstrução forneceram vários tipos de intervenção que ao longo

dos anos se tornariam cada vez mais diferentes. Cusco tem hoje um consistente acervo de

dados, ligados às intervenções urbanas e à preservação de monumentos.

As diferentes posturas de políticos (militares e civis), os quais, ao executarem

programas e políticas públicas, deixaram um aprendizado para os futuros mandatários. Todas

essas políticas estavam sustentadas por leis que ajudaram no desenvolvimento da região.

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Apesar disso, em muitos casos, surgiria uma dialética entre as diversas formas de preservação,

tanto pela forma conceitual como pela prática que se realizou.

Como consequência dessa questão, a relação da preservação do patrimônio e das

dinâmicas sociais de Cusco, ora se equilibrou parcialmente ora não, aguçando-se em alguns

períodos ou satisfazendo, de forma incompleta, às expectativas da população. As décadas dos

anos 50 e 60 (até 1968) tiveram uma ênfase de desenvolvimento prioritário, onde a

preservação atendeu à população de uma forma diferente que na década dos anos 70. A

década dos anos 80 viu-se num contexto com circunstâncias envolvidas distintas, tal como o

Turismo Cultural que lhe deu outro viés.

Foram fatos incisivos, começando com o terremoto de 1950 e passando por todo esse

processo de preservação e desenvolvimento, incluindo a desestabilização econômica e o

ataque armado terrorista que só começaram a perder força, a partir de 1990. Pretende-se

evidenciar que esse processo de preservação e desenvolvimento da cidade de Cusco, com a

ajuda do Estado peruano, estendeu-se por mais de quatro décadas.

Nesse sentido, buscou-se uma contribuição no campo da preservação, usando o

conhecimento adquirido para ser aplicado aos futuros trabalhos de intervenção pois os

trabalhos executados na época receberam apoio financeiro para sua execução, assim como

uma assistência técnica. Na prática, esses trabalhos no patrimônio foram executados sob

tensão, confronto e opiniões das mais distintas sendo que algumas dessas intervenções, nem

sequer foram registradas.

O estado da arte do objeto tratado acusa uma ausência de estudos que envolve

“preservação” e “desenvolvimento”. Essas questões são consideradas superficialmente por

alguns autores, ora enfatizando um aspecto, ora outro, os quais citamos a seguir: Aguilar,

1965; COPESCO, 1971 e 1974; Mesa, 1975; Benévolo, 1976; Lombardi, 1977; Correa e

Samanez, 1977; Gasparini, 1977; Azevedo, 1977 e 1979; Tamayo, 1978; Agurto et al, 1978;

UNESCO, 1979; Samanez, 1981; Hardoy e Santos, 1983; Villegas e Estrada, 1990.

A produção dos autores é, em parte, conhecida por se referir a aspectos históricos

incluindo variados temas de planejamento e relatórios. Também foram realizados diversos

estudos, aproveitando a estada dos especialistas, na cidade de Cusco, mas apenas dirigidos

particularmente ao Centro Histórico. È por isso que, a produção escrita da grande maioria dos

autores citados aparece com grande intensidade, na década dos anos 70.

Nesse sentido, este trabalho pretende abordar um período de quatro décadas dando

boas razões para uma análise mais detalhada deste tema. Aí nasce a sua originalidade para

demonstrar que a preservação e o desenvolvimento da 'Cidade' e da 'Região' Cusco, não foram

tratados conjuntamente como um processo em evolução, ao longo de todos esses anos.

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A vontade de abranger e articular o Centro Histórico, a Cidade, a Região e o País,

dentro de uma temporalidade longa, também da gestão (dos governos), das suas múltiplas

ações e atores, representa outra particularidade neste estudo.

Frente a esse foco pretendido, houve inconvenientes quanto à obtenção de dados pela

a falta de informações primárias. Pois muitos documentos vinham se perdendo pouco a pouco

devido ao abandono, enquanto outros desapareceram de forma definitiva por várias razões,

seja por desastres da natureza, seja pelo descaso dos gestores públicos em salvaguardá-los.

O desenvolvimento e a preservação na cidade de Cusco não teria sido possível sem a

ajuda internacional. Essa ajuda teve um papel importante para a evolução desses processos, ao

implementar uma estrutura de formação e habilitação de quadros profissionais na área da

preservação. Portanto, o Estado peruano não só direcionou as políticas a serem aplicadas,

como também procurou receber grandes créditos internacionais para sua efetivação que

cresceram com o desenvolvimento do ‘turismo cultural’.

As políticas, consideradas prioritárias pelos governantes de turno tiveram, dos

governos, grande apoio o que permitiu criar sistemas de controle, aperfeiçoando tanto as

instituições públicas quanto as suas normas. Isso possibilitou o avanço, tanto no

desenvolvimento, quanto na preservação e reconstrução da cidade que tiveram ligar em todos

os aspectos. Quanto a isso, houve formas de receptividade, observação e reações variadas por

parte não só dos habitantes, como da crítica local, nacional e internacional.

Com os antecedentes expostos, se enfoca grandemente o papel que representou cada

governo de turno em relação ao patrimônio, bem como a sua política para realizar

desenvolvimento na cidade e na região. A população teve grande participação como ator

ativo, outras apenas como um observador envolvido nesse processo, no meio de variados

contextos econômicos, políticos e sociais.

Dessa forma se perseguem os objetivos seguintes, os que se pretende responder com

a realização desta pesquisa:

Objetivo Principal

Investigar a atuação dos diferentes governos de turno, dos demais atores e dos fatores

circunstanciais das políticas de desenvolvimento e de preservação cultural na Cidade

e Região de Cusco (Peru) entre os anos 1950 e 1990.

Objetivos Específicos:

Levantar e relacionar as práticas de desenvolvimento da Região de Cusco e sua

repercussão no patrimônio histórico.

Descrever e analisar o modelo de preservação e as intervenções procedidas no

âmbito em estudo.

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Seguidamente, para a primeira aproximação aos objetos a serem examinados,

formula-se a hipótese de trabalho que problematiza e, por sua vez, norteia a pesquisa. O

discurso da Preservação e Desenvolvimento que durante 40 anos se tornou de uma "especial"

ou "diferenciada" atenção por parte das administrações dos diferentes governos de turno.

Com o transcorrer dos anos, outras regiões foram envolvidas nos programas da

Preservação e Desenvolvimento, um processo nunca antes ocorrido no país. O patrimônio, em

todo esse tempo, teve intervenções por parte de especialistas e o Estado peruano, quanto à sua

preservação, o que apresentou diferenças marcantes em relação a casos similares a Cusco.

Surge desta percepção, então, a seguinte hipótese: as políticas de desenvolvimento

ou de preservação, baseadas no turismo cultural, seriam responsáveis pelas alterações sofridas

no patrimônio arquitetônico, histórico e cultural da cidade de Cusco.

A relação entre preservação e desenvolvimento na Região de Cusco deu-se de

maneira extraordinária. Desde que foi iniciada a reconstrução, o plano inicial estaria

direcionado apenas para atender a cidade e seus monumentos, mas acabou alcançando outros

horizontes. Essa primeira postura do governo de turno criou estruturas para proporcionar e

fomentar diversas atividades que, por sua vez, fomentassem expectativas de crescimento

econômico.

Esta fórmula visava assegurar melhores condições de vida aos habitantes e

garantindo o compromisso patrimonial na área histórica, isto é, colocar todas as opções para

permitir ao morador local permanecer no seu lugar de residência. Com o transcorrer dos anos,

a permanência do morador, ao se ver influenciado por outras circunstâncias, principalmente

por seduções econômicas, poderia ser explicada de outra forma.

O trabalho na área patrimonial foi além do limite da cidade antiga de Cusco.

Também, começou-se a realizar estudos na área da arqueologia e dos bens móveis no âmbito

da região, o que constituiu um grande esforço como políticas do Estado peruano.

É necessário destacar que a preservação e o desenvolvimento, por momentos,

tornaram-se circunstâncias de conflito entre si. Mas a forma de como tinham sido abordados

pelas diversas administrações de governo, esses temas precisavam responder a propósitos

adequados às políticas públicas.

Os olhares e os enfoques dos mandatários diferiam com relação às mesmas

preocupações, problemas e prioridades que apresentava a Região. Era comum, para a crítica

local, a existência de incongruências, baseadas apenas em pressupostos sem se aprofundar no

tema, como acontecia quando os jornais locais publicavam as suas manchetes.

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Metodologicamente, para alcançar os objetivos nesta pesquisa, foram desenhadas

diferentes estratégias, tanto para examinar os objetos de estudo, quanto para buscar os

objetivos, indicados a seguir:

a) Recorrer a um levantamento bibliográfico das informações que se referem ao período

delimitado quanto à preservação e desenvolvimento. Partimos com a existência de lacunas

de informações sobre a cidade de Cusco, em vista do mau estado e abandono dos arquivos.

Nesse sentido, com discursos anuais dos mandatários e normas legais (Leis, Decretos-Lei,

Decretos Supremos, Resoluções Supremas e Ministeriais) se reconstruíram as políticas

públicas, aplicadas nos diferentes períodos. Um aspecto importante é que muitas das

informações, que possibilitaram o desenvolvimento na região, vieram de organizações

internacionais. Para tal, foi necessário encontrar os arquivos originais da UNESCO

(Relatórios das diferentes missões), o que permitiu reconstruir as políticas adotadas pelos

governos de turno baseados nas recomendações dos especialistas. Outro aspecto, que

contribuiu para esse objetivo, foi a procura dos arquivos dos antigos ministérios que, na

época, realizaram as diferentes obras, tais como o 'Ministerio de Fomento y Obras

Públicas' e o 'Ministério de Salud Pública y Bienestar Social'. Algumas outras bibliotecas

de Lima contavam com diversas informações, graças ao centralismo que a capital sempre

gerou. Outra fonte importante foi encontrar alguns atores (participantes) e ex-trabalhadores

das instituições da época que foram pessoalmente entrevistadas.

b) Efetuar uma análise, procurando montar um sistema de relações entre Preservação,

Desenvolvimento e seu impacto, levando em conta o Centro Histórico, a Cidade e a

Região, dentro do âmbito das políticas públicas, aplicadas pelos diferentes governos.

c) Complementarmente, serão analisadas outras variáveis que caracterizam aspectos políticos,

sociais e econômicos onde todos os investimentos realizados ocasionaram repercussões no

panorama local, nacional e internacional. Aqui se enfatiza a gestão patrimonial e os

diferentes atores, onde o Estado peruano aparece como foco principal.

d) Analisar a maneira como o Estado peruano atendeu a população, nas diferentes fases

delimitadas neste estudo.

e) Relacionar os processos de migrações, favelização e ocupação desordenada com a estrutura

física da cidade, sob a ótica da preservação.

Deixa-se claro que a abordagem seguida é cronológica e que pretende seguir o

processo dentro de suas continuidades e rupturas ocasionadas pelos diversos governos de

turno, no transcurso do período delimitado.

Assim, o conteúdo da tese está estruturado em oito partes.

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A seção (1) trata da introdução necessária para explicar o desenvolvimento de todo o

trabalho, o conhecimento da origem do tema, sua fundamentação, os objetos de estudo, os

objetivos do trabalho, a hipótese que tem norteado e se pretende demonstrar. Esse trabalho foi

apoiado em uma metodologia própria, finalmente, descrevendo sua estrutura e conteúdo.

Na seção (2), se contextualiza o tema a partir de alguns pontos de vista, (político,

social, econômico e cultural) para compreender o momento em que se encontrava o Peru, em

particular a Região de Cusco, e como era a cidade até o ano de 1950. Essas diferentes ações,

por parte do governo, eram produto das suas políticas públicas, aplicadas para todo o país.

Elas se implantavam de forma tímida em algumas cidades ou demoravam de ser

aplicadas em outras. Em todo caso, eram modelos que o Estado peruano havia iniciado antes

do grande evento telúrico, o terremoto.

Na seção (3) explica-se a ação própria do ‘terremoto’ (1950), os impactos na cidade e

principalmente nos monumentos do Centro Histórico. Sob esse situação recente, houve uma

ação emergencial, por parte do Estado peruano, para atender à população nas necessidades

mais urgentes, bem como para realizar as primeiras tarefas de levantamento de escombros e

de limpeza.

No entanto, de modo laboratorial, a direção do Estado peruano e seus assessores

começavam a preparar as futuras medidas para realizar a reconstrução da cidade. A

solidariedade nacional e o apoio internacional se fizeram presentes através de diversas formas,

uma vez que, a direção política do Estado peruano, ciente do problema que enfrentava e, ainda

mais em uma cidade como Cusco, toma determinações que foram aplicadas, de forma

imediata, com a ajuda de especialistas em várias áreas.

A seção (4) trata exatamente disso, da aplicação das determinações acima citadas,

quando se inicia o processo de ‘Reconstrução e Preservação Urbana’, propriamente dito. A

este processo se denominou de "Primeira Fase". Nela se introduz o desenvolvimento da

região, como passo inicial desse processo. Esse período se inicia a partir da criação da Lei no

11.551 denominada: " Ley de la Reconstrucción"

Nesta fase, foram aprovadas leis que deram suporte jurídico às particularidades e

características das intervenções, confluindo todas as questões relativas à cidade e aos seus

monumentos. A reconstrução ultrapassou os limites de Cusco e de seu Centro Histórico,

propagando-se a outra região, a de Puno e, mais tarde, inclusive, enfatizando sua ação voltada

para o Turismo Cultural. Este período concluiu com a dissolução da "Junta de Reconstrucción

y Fomento Industrial de Cusco" JRFIC em 1957.

A capital da Região de Cusco forma parte de todo um esquema, planejado para

buscar seu desenvolvimento e criar sua independência econômica. Isso é tratado na seção (5)

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chamada de Segunda Fase: o ‘Desenvolvimento Regional’, para o qual se criou a

"Corporación de Reconstrucción y Fomento" CRyF (1957).

Este desenvolvimento abrange a região completa, onde a ação do Estado peruano se

caracterizou pela realização de grandes obras. Também enfrentou dificuldades com o

transcorrer dos anos e devido às gestões distintas dos governos de turno. Porém, deu

prosseguimento aos objetivos iniciais, inclusive com aperfeiçoamento do programa e, em

alguns casos, com a incorporação de outros.

Este período também se caracterizou por apresentar problemas, tanto com a "Central

Hidroeléctrica de Machupicchu", quanto com a "Fábrica de Fertilizantes Cachimayo".

Período que se conclui com a deposição do governo, legitimamente instalado, de Belaunde

Terry, em 1968.

Na seção (6), apresenta-se a aplicação do programa que, por volta de 1968, tomaria

outro rumo, determinando a Terceira Fase, denominada de ‘Reforma Política e Cultural’.

Um militar de tendência socialista chega ao poder, dando um "Golpe de Estado" e

possuindo, por trás, características particulares por ser uma junta militar. Essa situação

começava também a imperar em toda América Latina, mas de modo distinto ao que se passou

no Peru. Neste período, é que se implantaram as reformas no campo da preservação com

matizes incomuns.

Foi fundada uma sede em Cusco, com a grande ajuda internacional, para formar

especialistas, que passaram a ministrar diferentes matérias teóricas e usar o vasto patrimônio

para realizar as aulas práticas "in situ". A criação dos organismos públicos daria uma real

dimensão à cultura, bem como um novo plano de desenvolvimento para a cidade e a região,

caracterizando esta fase e consolidando-a, definitivamente.

Após todas essas grandes reformas estruturais, esta fase chega ao término, quando o

militar Velasco foi deposto do seu cargo para ser ocupado por outro militar, em 1975.

Mas na Quarta Fase, descrita na seção (7) e intitulada de ‘Crise’, seria preocupante o

papel do Estado peruano. Quando o militar Morales havia chegado ao poder do Estado

peruano, foi dado o início a esta fase, mas com sutis diferenças, praticamente, dando uma

continuidade ao mandato do seu antecessor.

Pouco a pouco começaram a se manifestar os sintomas da crise por se tratar de um

período de complicações econômicas e de revolução armada que abalou o desenvolvimento e

a paz do país. As novas determinações, tomadas pelo governo de turno durante 1980 a 1990,

desviaram o foco principal dos governos anteriores.

Essas determinações provocaram instabilidade econômica e social que repercutiram

negativamente em umas áreas mais do que em outras, pois se havia desatado uma grande

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crise. Contudo, a área patrimonial enfrentou um esquema diferente, pois veio a ocorrer um

grande sismo, por volta de 1986, sacudindo e destruindo novamente a cidade de Cusco.

Na última seção (8), intitulada ‘Conclusão’, será apresentado o resultado das

diferentes reflexões quanto à relação entre desenvolvimento e preservação. Essas reflexões

pretendem dar resposta à hipótese formulada, bem como entender as diferentes posturas dos

governos de turno, a aplicação das suas políticas, suas formas de ação no campo patrimonial,

os agentes envolvidos e as relações em diferentes momentos e contextos.

Finalmente, como epílogo do trabalho seguem as referências bibliográficas e os

apêndices (citações em idioma nativo, figuras e tabelas), como elementos de análise

complementar.

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2.1 Contextualização histórica, econômica e geográfica da Cidade e Região de Cusco

A cidade de Cusco foi durante a colônia principal centro de intercâmbio entre Lima e

Potosí1 por ser passo obrigatório da prata. Já no período republicano há momentos que

descrevem uma hegemonia econômica e que passou a ser diferente durante o século XX.

Tamayo (1992, p. 525-572. t. II) afirma:

Desde 1825 até 1850 a economia cusquenha entra em um período de crise e recessão quase total, quando começa a perder o mercado do Alto Peru, pela competência do contrabando desde o Rio da Plata e Buenos Aires. A crise da agricultura no relacionado à produção de coca e milho do Valle Sagrado se deve principalmente ao processo de guerra da independência que quebra, para sempre, a fluidez do velho caminho andino do Qosqo (Cusco) a Potosí. (tradução nossa).

As condicionantes topográficas dos Andes e a falta de vias de comunicação tornavam

difícil o fluxo e refluxo entre os diferentes pisos ecológicos do país (serra com o litoral e serra

com a floresta amazônica). Essa era a maior dificuldade que atravessavam as 3 grandes

regiões do país. (Figura 10).

O Estado peruano, com tentativas de ligar esses pisos através de vias de

comunicação, converte a segunda metade do século XIX no período áureo da construção de

ferrovias no país, alcançando seus objetivos parcialmente.

FIGURA 10 - Mapa do Peru com denominação das faixas: costa, serra e floresta

Na virada do século, cidades

situadas na faixa denominada de serra, na

Cordilheira dos Andes, como Juliaca e

outras menores, como Sicuani, já contavam

com um fluxo de trens de forma frequente. A

cidade de Cusco esperava silenciosamente a

chegada do trem. Basadre (1970) advertia

que as ferrovias em sua maioria não

chegaram a ser concluídas nos prazos

estipulados e suscitaram sérios problemas de

financiamento, administração ou de sua

conclusão. O atraso comercial evidenciou-se

e tudo parecia consolidar a idéia de afastar

Cusco do desenvolvimento e deixar a cidade

parada no tempo e no espaço.

Fonte: WWW.SATRAPA1.COM (2013)

1 Cusco em 1822 se integra no circuito da lã, mas depende do pólo econômico Sul andino (Arequipa), importadores da Grã Bretanha e

pelo controle da colheita e exportação da lã e fibras animais. Sobre o tema Jacobsen (1989, p.416,) afirma: “De algum modo, todo o que aconteceu no século XIX, fui que Arequipa e Liverpool, trocaram a Cusco e Potosí, como os principais destinatários dos produtos ganaderos do norte do Altiplano” (tradução nossa)

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A partir de 1895, quando se abre uma nova economia para a Região de Cusco, ocorre

então, o ingresso na Primeira modernização2, desligando-se do capital estrangeiro, de Lima, e

da burguesia arequipenha, gestando um modelo de desenvolvimento que envolveu a economia

regional em quatro vetores de expansão:

(1) a expansão da indústria do álcool sobre a base da produção de cana de açúcar de

Limatambo e Kosnipata, a empresa cervejeira que impulsou a produção da cevada;

(2) a criação da indústria têxtil mediana mecanizada;

(3) o impulso da produção da seringueira do Bajo Urubamba e de Madre de Dios, o

ouro de Marcapata, as espécies subtropicais, o chá, frutas (tangerina, mamão, pacay

colombianos) e a introdução do café; e

(4) a conclusão das vias de acesso e escoamento da produção (ferrovias, rodovias) e

obras de saneamento urbano por parte do Estado.

O mandatário Piérola (1895-1899) (Tabela 4 ‘Lista de Mandatários’ em Apêndice)

sob o lema “ordem e liberdade” cuidou de não realizar reformas radicais como seu antecessor,

advogou uma política ‘protecionista’, favorecendo o desenvolvimento das indústrias nacionais

(agrícola e mineira)3, aumentou fortemente as exportações

4, reorganizou o Estado peruano e

prioritariamente combateu a corrupção.

Em curto tempo resolveu o problema monetário5 deu estabilidade econômica e

promoveu paz civil. Para Thorp e Bertram (1985, parte II, item 3) a última década do século

XIX após a Guerra do Pacífico, o Peru teve efetivo crescimento e diversificação econômica,

devido à expansão das exportações6.

As cidades encravadas na Cordilheira dos Andes peruana não tinham os privilégios

econômicos das cidades da costa, devido ao auge dos produtos de exportação. Cusco tinha sua

estrutura econômica baseada em grande parte na agricultura de subsistência, sem opções

comerciais, por conta das dificuldades de acesso para o escoamento dos seus produtos.

Ao se fundar o primeiro jornal da cidade “El Comercio”,7 afirma Tamayo (1992,

p.883), “foi uma forma de introduzir para a cidade a primeira inovação tecnológica da

modernidade. Não obstante a instalação realizada do telégrafo na última década do século”,

criou-se o “Centro Científico do Cuzco” (corrente de intelectualidade cultural e social)8 e,

2 Tamayo periodiza a Modernização de Cusco em dois períodos (a Primeira entre 1895 até 1945) e (a Segunda entre 1945 e 1975). 3 A indústria açucareira tecnificou-se nos grandes centros agroindustriais do norte. Desenvolveu-se na Amazônia a exploração da

borracha, se descobriu jazidas mineiras (Cerro de Pasco) e se explorou o petróleo da floresta. Fundaram-se (1896) a “Sociedade Nacional Mineira” e a “Sociedade Nacional de Indústrias”. Surgiram Bancos (do Peru, de Londres, o Internacional e o Popular) formaram Companhias de Seguros (a Internacional e a do Rimac).

4 Destacaram 8 produtos (açúcar, algodão, lã, alpaca, café, prata, cobre, borracha e “guano de ilha”) de 1880 até 1919. 5 Quando o “Sol de prata” caia a nível internacional, por lei (29 dez.1897) ordenou criar com peso e cotização que a libra esterlina inglesa

a “Libra Peruana de Ouro” (equivalia 10 vezes o sol de prata) emitiu-se também notas circulando de 1898 até 1930 usado para pagamento do comércio internacional.

6 A “Companhia Administradora do Guano de Ilha” alcançou a mais alta produção da historia 237 mil toneladas do fertilizante natural. 7 Jornal “EL Comercio” de Cusco fundado em 7 de junho de 1896, era de edição bissemanal virou jornal logo após a fundação do jornal

“El Sol” fundado em: 10 de agosto de 1901(versão: Luis Nieto Miranda) e 11 de agosto de 1901 (versão: Blas Valerio Aguilar). 8 Grupo da elite social denominada “República Aristocrática” governará o país de 1899 até 1919 com paz e crescimento econômico.

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implantou-se o serviço de diligências à mula entre Cusco e Sicuani9. Até então, só existiam

como meio de transporte cavalos e carruagens. A modernidade se insinuava, timidamente.

A cidade de Cusco adentra à primeira metade do século XX, nesse panorama de

atraso, aliado aos latentes problemas sociais como o indígena, agrário e obreiro, que

permeavam a região. A cidade-Capital parecia ter ficado estagnada, mantendo em grande

parte sua estrutura urbana colonial com ruas estreitas, com calçamento de pedras irregulares,

ainda transitadas por carruagens e cavaleiros.

Tamayo (1978, p, 338) afirma: “O Cusco pacífico e tranquilo do primeiro século

republicano, que todos reputam definitivamente adormecido, entra no século novo com um

prestígio viril e temível” (tradução nossa).

As inexistentes obras nesses primeiros anos na cidade permitem ver Cusco em suas

particularidades do passado, a exemplo das suas pracinhas, onde os chafarizes eram lugares

acolhedores para o diálogo entre os patrões, povoadores e servidores e, também, local onde

tiravam água para lavar roupas (VALCÁRCEL, 1981, p. 19).

Outros agravantes evidenciavam a necessidade de grandes intervenções, tais como: o

sistema antigo de transporte, que era insuficiente e ineficaz; o sistema viário com ferrovias

inconclusas e rodovias inexistentes.

Valcárcel (1981, p.14) afirma: “Nesta forma chegou a Cusco, em 1904, o Presidente

José Pardo.”10

(tradução nossa). Fuentes (1905, p.13) confirma “Quanto melhor seria a

construção de uma ferrovia, ou pelo menos de um bonde eléctrico!”11

(tradução nossa)

(Figuras 11 e 12 em Apêndice).

Cusco com seus bairros, igrejas, casas, ruas típicas e praças, deixava os riachos

fazerem seu percurso “passavam pelo centro da cidade”, o que mais tarde se tornou um

problema de saúde publica, devido a carência de obras de infraestrutura e saneamento básico

para a cidade (AGUILAR, 1965, p.30).

Para viajantes estrangeiros e moradores locais, o mau cheiro advindo dos rios

poluídos tornava a percepção da cidade desagradável, devido à falta de um sistema de

canalização apropriado e às péssimas condições higiênicas nas suas ruas estreitas com bueiros

que discorriam nelas. Tamayo (1992, p. 334) afirma: “A cidade suja e fétida do século XIX,

com o Mercado de provimentos em plena Praça Maior, com seus toldos, ´vendedoras´, burros

e cavalos[…]” (Figura 13).

9 Diligência durou uma década no serviço tirada a três parelhas de mulas. A “Ferrovia do Sul” estava construída apenas até Sicuani. 10 Implantou-se o sistema de diligências entre Cusco e Sicuani (1898) (seis mulas puxavam as carruagens, acima a bagagem e apenas

levavam 12 passageiros,) porque desde 1893 deixaram paradas as obras da construção da ferrovia e que devia chegar a Cusco. 11 No contrato de 15 de out. de 1896 a largura da via devia ser 5 m. alguns trechos eram apenas 3 metros dificultando o passo entre duas

carruagens de sentido contrario. Aumentada a incomodidade porque as curvaturas em muitos setores não tinham o radio requerido.

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FIGURA 13 - Cotidiano na Plaza Maior de Cusco, o Mercado e os vendedores inícios do século XX

Fonte: FOTOGRAFO VIDAL GONZALES (1906)

Surge a possibilidade da “Canalização do Huatanay”12

com orçamento e estudos para

um primeiro trecho. Sobre esse particular, Azevedo (2009, p. 93) afirma que “uma lei em 2 de

novembro de 1902 havia estabelecido que 75% do imposto local sobre a cerveja devia aplicar-

se às obras de canalização deste Rio” (tradução nossa). O caso do abastecimento de água para

cidade13

e novamente o tema da canalização ficariam antes de findar a primeira década do

século XX em outro relatório de intenções. (Figura 14).

FIGURA 14 - Início do rio Huatanay sem a canalização é o maior receptor de águas servidas da cidade

Fonte: ALMANAQUE BELLINI (1904).

12 “Se autorizou ao prefeito da Região para contratar os serviços de um profissional” (O eng. Roberto Göhring apresentou estudos com

planos em concordância às normas de 1892, propôs diminuir inclinação do rio, (a través de muros) e o tramo total era 1,182 m). 13 O relatório alcançado ao prefeito em 6 de marco de 1909, detalha os pormenores sobre o possível aproveitamento da região hidráulica

de Chacán, localizado ao Norte da cidade, a 2 km. do setor denominado “El Rodadero”.

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Para Tamayo (1978, p.104), a cidade do Cusco de inícios do século XX “é uma

cidade meio morta, com suas ruas vazias, bairros abandonados”. (tradução nossa). Os espaços

urbanos evidenciam a superposição de arquiteturas, essa estrutura física era a que mais

identificava a cidade porque não mudava essencialmente as bases incas e a superposição

colonial. Kuon (1992) reforça que era, praticamente, a continuidade do que foi na colônia.

Sua estrutura urbana era assim efetivamente, mas não sua estrutura social.

Alguns aspectos urbanos da cidade de Cusco descreve Valcárcel (1981, p.23):

No entanto não houve muitas mudanças quanto á edificação. Não se construíam casas-habitação senão que se continuavam utilizando as antigas com ligeiras reparações. Os edifícios de maior importância estavam ocupados por antigas famílias aristocráticas que continuaram até princípios deste século como se vivessem na época colonial (tradução nossa).

Conclui afirmando como era o modus vivendi da população quando a cidade girava

em torno da praça, ponto de encontro de conhecidas famílias cusquenhas ou de visitantes:

Para minha infância, que se desenvolvia entre suas pedras, não havia inimizade senão mestiçagem. A princípios do século XX todas essas casas, residências e pousadas conservavam uma prestância [sic] e senhorio [sic] impressionantes. Moravam com suas lembranças e tradições que o cusquenho de então relatava [sic] correntemente nas reuniões familiares. (tradução nossa).

É Pacheco (1909, p. 3) quem faz a mais detalhada descrição urbana no jornal local

“Bosquejo da cidade do Cusco”14

e seus limites (os “Bairros dos Arrabaldes”, “Bairros do

Centro”), informando até a desaparição de um bairro, o antigo ‘Kayan Cachi’.

Segundo Valcárcel (1981, p.16) a cidade do Cusco nos primeiros anos não contava

com os serviços públicos básicos (água, esgoto e luz). Mas por volta de 1905, se instala a

central telefônica.

Quando o trem chega a Cusco15

se estabelece frequência de chegadas e saídas, dando

origem às vias do bonde, puxados por mulas, com circuitos ligando o centro da cidade com o

terminal da ferrovia16

. Pode-se afirmar que Cusco iniciava um lento processo de saída do

isolamento. (Figuras 15 e 16 em Apêndice).

Entre o início do século e antes da Primeira Guerra Mundial (1ªGM), quando aparece

a exploração da borracha beneficiaram-se os produtores das vantagens do mercado mundial

por causa da demanda pelo nascimento da indústria automobilística. Guillén afirma (1989,

p.31) “Assim, entre 1900 e 1912 os preços por tonelada vendida para o exterior se

14 O tratado são séries (do 1 ao 101), publicadas cada dois dias. Iniciou em 27 de jun. e terminou em 19 de ago. de 1909. O caso dos

bairros está na seção III até VII. In: Bosquejo de la ciudad del Cusco o ligeros apuntes para su historia por Fernando Pacheco. El Comercio de Cusco. Em 8 de julho de 1909. p. 2.

15 Construção iniciada em 1872 desde Juliaca, paralisada desde 1875 até 1890 por problemas econômicos. Uma viajem Cusco-Lima antigamente tomava até um mês, (o percurso era feito a cavalo até a costa (o Porto de Islay) e, num segundo tramo de navio.

16 Antonio Velasco foi quem criou o sistema de tranvias estabelecendo dois pontos finais: a Praça Regocijo e a Estação da ferrovia Huanchac. A construção era para prestar serviço só à chegada e saída de trens passando pelas ruas San Bernardo e San Andrés.

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multiplicaram por mais de 50 vezes […] isto, como é lógico, alentou o crescimento de novas

áreas de exploração”.17

(tradução nossa).

O considerado “boom da borracha” que demandava grande quantidade de mão-de-

obra da região (na Província de La Convención) reduzia os índices de desemprego.18

Estudos

demostraram que “o aumento da produção da borracha tem permitido também aumento da

produção agrícola, que se encontrava estancada por falta de demanda”. (ROBLEDO, 1907

apud GUILLEN, 1989, p. 33).

Por volta de 1910, a escassez de alimentos no país foi notória. Mas, a maioria das

cidades, ao longo da costa, estava mais voltada para as exportações, e a produção de

alimentos era abastecida pela serra. A produção da Região de Cusco era apenas para atender

as suas demandas locais. Lima,19

até a segunda década do século XX, também se abastecia

dos arredores da capital. Importava-se o arroz e o trigo, apesar da sua produção no país.

Para Giesecke, a Região de Cusco apresentava-se como um dos centros industriais

promissores da serra: ele visava à possibilidade de estabelecer indústrias por sua situação

geográfica, pela facilidade de reunir matérias primas.

O exemplo da pele animal, que se exportava, podia-se iniciar uma fábrica de calçado,

os objetos de palha, telhas e tijolos, a recente implantação da fábrica de mosaicos, trigo, milho

dentre outros. “Se se considera Cusco como centro povoado da região dos Andes, pode-se

predizer, com alguma segurança, que reterá por muito tempo seu predomínio industrial uma

vez que se estabeleçam as ditas empresas.” GIESECKE20

(1915, p. 18-23) (tradução nossa)

Desde a chegada do trem a Cusco até 1914 não houve alteração da forma de vida na

cidade. Ampliaram-se as possibilidades comerciais quando entrou em funcionamento a

Central Hidroelétrica de Ccorimarca. Esta central passou a abastecer de energia para as

fábricas têxtis21

.

A cidade teve melhora dos serviços de água, esgoto e iluminação elétrica.22

Ainda

nesse contexto, pode-se afirmar que a cidade encontrava-se durante muitas horas do dia

solitária, aparentemente sem moradores e onde se respirava uma atmosfera de paz e

tranquilidade.

17 O crescimento da exploração da borracha habilitou novas áreas. Em 1908 o Estado dá em concessão terras da Região; The Inambari

Rubber States Limited (13,184 hectares), INCA Rubber Company (255,000 hectares) e a Inca Mining Company (83,500 hectares). 18 A superprodução do material no mundo em 1911 iniciou a ‘queda de preços’ resultando poucas vendas exportáveis, redução da

produção consequência diminui a demanda alimentar. Há “queda dos preços de produtos alimentícios” e resulta crise na agricultura. 19 Lima como o maior centro urbano pôs em evidência seu predomínio, processo mostrado ao longo da sua história, deixando as

economias regionais em situação de auge durante as exportações e em declínio durante a queda das exportações. 20 A industrialização de Cusco devia iniciar implantando uma hidroelétrica para o funcionamento das fábricas; a mão-de-obra para ser

capacitada, posteriormente se ofereceu grande número de opções de trabalho; sugeriu que a prefeitura Provincial estimulou eliminando impostos, arbítrios e habilitando áreas para um centro industrial e que permitam aos futuros empresários ter condições.

21 Fábrica “Huáscar” implantada em 1915 e “La Estrella” em 1928 foram os grandes industriais da cidade de Cusco por muitas décadas. 22 O consórcio de empresários peruanos estabeleceram a 1ª Central Hidroelétrica, denominada Companhia Elétrica Comercial iniciou

atividades em 1914.

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Durante a 1ªGM houve um desabastecimento na cidade de Cusco levando ás

autoridades à proibição da saída de produtos. Controlou-se a carga da ferrovia, mas fracassou

a medida dada a existência de trechos e caminhos diversos. Mörner (1980, p. 22) afirma:

O desabastecimento alimentício, a subida de preços e a escassez de dinheiro suscitaram manifestações populares na cidade do Cusco: a primeira em 13 de janeiro de 1918, que terminou com saldo de três mortos e seis feridos, e a segunda, em 30 de maio de 1919. (tradução nossa).

Depois da 1ªGM, a normalização do comércio mundial recuperava lentamente seu

ritmo. A queda de preços e exportações provocou séria crise para os produtores de lã.23

Burga

e Reátegui afirmam (1981, p. XXX) “as consequências mais severas foram enfrentadas pelos

camponeses das regiões de lã, aqueles que tinham que vender a fibra para logo comprar os

produtos que necessitavam para sua subsistência.”

A cidade de Cusco, em começos da terceira década, passaria por uma grande crise de

saúde coletiva quando eclodiram em paralelo (17 set. 1921) doenças que alcançaram grande

número da população. Aguilar (1965, p. 117) assinala:

Na cidade do Cusco, tem se apresentado uma alarmante epidemia de gripe, febre e varíola, por consequência do péssimo estado sanitário daquela cidade registrando-se una mortalidade diária média de 20 pessoas, por término médio, chegando ao extremo de ter sido fechado temporariamente colégios e escolas. (tradução nossa).

Entre 1923 e 1930, para um grande pensador do seu tempo, Mariátegui, como

testemunho e ator dos acontecimentos, escreveu alguns aspectos substantivos da realidade

peruana sob uma perspectiva de crítica socialista em um período de quase absoluto colapso

das forças produtoras como consequência da crise pós-bélica.

A derrota não só significou para a economia nacional a perda de suas principais fontes: o Salitre e o Guano. Significou, além disso; a paralização das forças produtoras nascentes, a depressão geral da produção e do comercio, a depreciação da moeda nacional, a ruina do crédito exterior. Dessangrada, mutilada, a nação sofria uma terrível anemia. (MARIATEGUI, 1976, p. 24). (tradução nossa)

A agricultura, motor da economia da sociedade peruana, era desatendida e

diferenciada nas três regiões por parte do Estado, trazendo atraso econômico e social,

principalmente à maioria dos camponeses. A cidade de Cusco, por ser o acesso e ponto

estratégico de enlace e comércio,24

atenuou a crise. A sua posição geográfica, no meio dos

Andes, localização desde a época em que era a capital do Império Incaico, facilitava a sua

economia por meio do intercâmbio de produtos.

No primeiro quarto do século, aproximadamente 80% da população nacional era

representada pelos camponeses: os agricultores. Entretanto, o auge dos produtores de lã, na

23 É a lã de ovelha e da Alpaca. Transações das Regiões de Cusco, Puno e Arequipa se produziam em Sicuani centro de grande

importância comercial de lã, produtos agrícolas e manufaturados com os Distritos próximos e, Províncias (Canas, Chumbivilcas e Espinar) até alcançar um auge em 1922. Devido a isso a elite promoveu a ‘regionalização de Sicuani’, nucleando Províncias de Canas e Chumbivilcas); parte de Distritos de Acomayo; Ayaviri da Região de Puno; e (Carabaya e Caylloma) da Região de Arequipa. O nome da Nova Região seria ‘Vilcanota’ ou ‘Tupac Amaru’.

24 Durante a Colônia por Cusco transitavam produtos manufaturados Espanhóis (açúcar, aguardente e coca) e o mineral prata da Bolívia.

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Província de Canchis (Sicuani a sua capital), levou a um crescimento acelerado

incrementando a infraestrutura urbana e seus serviços. A maioria dos produtos agrícolas e de

gado, consumidos no país, era procedente dos vales e planícies da serra. Por volta de 1925,

houve uma queda dos preços do açúcar e do algodão, o que não aconteceu com o petróleo e

seus derivados (MARIÁTEGUI, 1976, p.28).

A agricultura da região cusquenha entra em fase depressiva em 1927, tanto no

mercado mundial de lãs, quanto na produção regional de produtos agropecuários de

exportação (milho, coca, café, cacau, trigo, cevada, frutas, álcool, dentre outros). Em

particular, a produção de milho foi a mais afetada, porque o Governo boliviano aplicou tarifas

aduaneiras altas, por causa da superprodução argentina que introduziu grandes quantidades no

território boliviano. O diário ‘El Sol’ (7 maio 1927), denominou ‘proibitivas’ essas tarifas.

Consequentemente, o aumento das tarifas do frete de cargas provocou a queda de

preços. O trigo, e derivados, junto a outros produtos não conseguiram ser exportados, e

causaram saturação no mercado local.

No fim do governo Leguía (1919-1930), a realidade socioeconômica do país era um

caos. A produção da Região de Cusco servia apenas para seu consumo. Gutierrez (1986, Cap.

VIII) afirma:

Em grande parte, a economia da Cidade e da Região continuava sendo ‘como no século passado’: artesanal e primitiva. Os elementos básicos de alimentação popular, fundamentalmente milho, batata e carne, produzidos, como hoje, pelos camponeses dos contornos e as províncias próximas, eram suficientes para alimentar a uma população que não chegava aos trinta mil habitantes. O custo de vida era muito barato. (tradução nossa).

A catástrofe da crise capitalista de 1929 evidencia ainda mais a crise econômica do

país. A elevação de preços e quedas na exportação restringem orçamentos públicos, não se

realizam construções urbanas e o camponês se tornava, cada vez mais, desprovido no

atendimento de suas necessidades básicas. Gutiérrez (1986, Cap. VIII) diz:

Foram paralisadas as obras públicas, foi notória a escassez das subsitências e o declínio comercial local cada vez mais pela baixa demanda para os poucos produtos exportáveis: lã de ovelha e alpaca, couro de gado, coca, café, cacau e outros produtos tropicais que poderiam adicionar pepitas de ouro da lavra de Marcapata"25 (tradução nossa)

Cusco da terceira década com todos esses fatos continua como uma cidade parada.

Esta praga, que conseguiu preservar intactos os seus monumentos, as suas tradições, a sua atmosfera antiga cidade colonial e ociosa. Isto é, o século não tocou. Praças, pátios telhados, fachadas, nada mudou. Percorrendo a estreita e profunda, com lama abundante, acreditava-se trezentos anos atrás, essa impressão não tem nada desagradável [...] Praças e varandas de ferro forjado, de tudo, à primeira vista, é marcada por passos castelhanos [...] Católica no alto, Inca na base (MONVEL 1961 apud HIROYASU-FLORES, 1992, p. 37). (tradução nossa)

Para Guillén (1986, p.145) “A partir de 1933 a recuperação da agricultura de Cusco

[Região] foi um processo lento, dado por uma evolução do mercado mundial de lã. [...] Entre

25 Marcapata é Distrito da Província de Quispicanchis (Região de Cusco). É a zona onde se pratica artesanalmente a extração do metal

aurífero; criam animais Alpaca, “cuy”, e ovinos; e cultiva-se o milho, batata, cevada, trigo, ‘ocas’, ‘habas’ e ‘tarwi’.

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1933 a 1938 os preços da lã tiveram um crescimento sustentável.” (grifo e tradução nossa). A

preocupação dos mandatários Prado e Bustamante consistiu em proteger o consumo interno,

regular a escassez de alimentos, reduzindo ou eliminando os impostos sobre as importações.

Os preços dos principais produtos agrários da Região de Cusco melhoraram; o

movimento de carga da ferrovia Cusco-Santa Ana aumentou seus volumes (destacam-se o

cacau, a lenha, os minerais e o café). Cresceu a produção de aguardente; a coca aumentou as

exportações peruanas26

; o apogeu da febre do ouro nos Distritos de Marcapata e Camantí27

e

a construção das rodovias28

estimularam a comercialização dos produtos.

Para Guillén29

(1986) houve o reconhecimento de que os latifundiários não se

prepararam para pensar como empresários, por isso, o gerenciamento não se estendeu para

novos sistemas de produção não avançando da condição de fazendeiros desconhecidos.

Para a agricultura eram utilizadas as áreas, ao Sudeste da cidade de Cusco, do “Vale

do Huatanay”. Limites agrícolas iriam diminuindo, pouco a pouco, sendo incorporadas às

necessidades urbanas. Sendo que essas áreas seriam consolidadas com o crescimento urbano e

a expansão da cidade. (Figuras 17 e 18)

FIGURA 17 – Destaque das áreas agrícolas do vale de Huatanay. Ocupavam o setor Sudeste da cidade. O encontro das principais vias ainda não concentram edificações

Fonte: REVISTA LIFE FOTÓGRAFO FRANK SCHERSCHEL (1946).

26 Firmou-se um Convênio Comercial com a Bolívia. (26 de abril de 1937.) Em 1936 esteve em Cusco uma delegação abrindo mercados. 27 Provincia de Quispicanchis, em Cusco, encontraram na época ricas jazidas de ouro, prata, antimônio, mercúrio e cobre. Ugarteche

(Pres.) visitou os achados. 28 Os trechos Cusco-Arequipa, Cusco-Paruro, Urcos-Marcapata e Paucartambo-Madre de Dios. 29 A “crise dos 30” é momento propício para mudanças radicais nos sistemas de exploração da terra, isto é, tecnologia da época,

maquinaria agraria, sistematização da produção. Resultado: resistência natural do hábito de gerações do trato com a terra.

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FIGURA 18 – Panorama da área urbana da cidade em 1946 sem grandes mudanças no seu perímetro, bem como as vias definidas, mantêm o traço da cidade colonial.

Fonte: REVISTA LIFE FOTÓGRAFO FRANK SCHERSCHEL (1946).

Ao ser celebrado o IV centenário da fundação espanhola da cidade, o Estado peruano

decidiu iniciar obras para dar continuidade às intervenções inacabadas. É o caso do Hospital

de Cusco na ‘Plaza Belén’. Em 1937, dão-se iniciativas efetivas para canalizar o rio da

cidade, bem como a dotação de água e criação de imposto30

para a coca e a cerveja na Região

de Cusco (Lei no 8.561). A canalização devia culminar nas proximidades da “Estación del

Ferrocarril”.

Aguilar (1965, p.124, t. III,) afirma sobre o rio Huatanay: "constituia um foco de

miasmas e infecções, o Governo Supremo, autoriza o investimento de s/.245,330.9431

. A

pedra fundamental foi colocada em 1 de setembro de 1940". Já, para o caso da distribuição de

água potável o mesmo autor afirma;

A água potável a cada ano mostrava escaseamento observando baixo fluxo de água, então, a Prefeitura fez gestões para aumentar o caudal de Cjorccor (Sector de Incachaca), apresentando o caso de Unttuma. (AGUILAR 1965, p. 222, t.III) (tradução nossa)

Essas obras se ressaltaram, sobretudo na gestão do Prefeito da cidade de Cusco,

David Chaparro P., havendo a modificação de algumas vias: Na av. Almudena, abriu-se a rua

Keswa para conectar-se com a av. Apurímac e a rua Hospital o que melhorou o trânsito.

30 Para melhoramento da água potável da cidade, (declara-se de utilidade pública todas as vertentes de água de condição particular

requeridas para aumentar o caudal de água para o serviço na população) e para a canalização dos rios que atravessam a cidade especialmente o rio Huatanay.

31 O Câmbio de moeda para 1965 (Tabela 1 em Apêndice) dá a cifra de US $ 9,147.31 dólares americanos.

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Conecta-se a rua Hospital com a rua Umanchata até a rua Arcopata (com uma seção de 15

m).

Nesse sentido, as modificações dariam saída para a Região de Abancay (enlace da

rodovia Cusco-Abancay-Lima). No setor de Soctachuco estavam em obras. Consolida-se,

assim, um sistema de acesso veicular para a cidade, estabelecendo comunicação para o

transporte terrestre regional.

A cidade de Cusco, a sua forma de vida e a estrutura urbana, praticamente até a

quarta década, continuou sem alterações. Bauer (2008, p. 219) afirma: "Esses aspectos de

Cusco permaneceram visíveis até a década de 1930, quando os rios foram cobertos para criar

modernas ruas. O Cusco antigo permanecia como ao início do século”.

Ao findar a quarta década, Valcárcel (1981, p.26) confirma: "A imagem de Cusco, de

tradições e casarões da arquitetura colonial, que se mostravam tão plenamente, a princípios de

século, era perceptível até mesmo para os anos de 1940." (Figura 19)

FIGURA 19 – Evolução Urbana da cidade de Cusco durante o século XX

Fonte: DESCONHECIDO (1997)

Em Aguilar, Bauer, Chaparro, Valcárcel coincidiram as análises sobre a canalização

do ‘Río Huatanay’, pois a cidade passou a apresentar um panorama de condições higiênicas.

E, com a abertura de algumas vias periféricas, “Cusco foi perdendo essa imagem de povoado

que teve até os primeiros anos deste século” (VALCÁRCEL, 1981, p. 16).

A cidade de Cusco não era privilegiada, na atenção, desde os governos de turno,

graças a esse fato, manteve sua estrutura urbana num processo de estagnação. Pode-se afirmar

que o estancamento e o atraso cultural contribuíram indiretamente na preservação de seu

traçado, seus monumentos e sua identidade.

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Os altos e baixos na produção agrícola nacional e inclusive industrial, até depois da

Segunda Guerra Mundial (2ªGM), reduziram a prosperidade. A política do governo32

pretendeu um abastecimento de produtos alimentícios, a partir do mercado interno, com

pressões e restrições fiscais. Em geral, parou a produção33

agropecuária. Apenas resistiam os

açucareiros junto com a produção de pesca34

(do óleo e farinha de peixe, conservas a mais

rápida indústria em expansão nos anos 40).

Mas a tendência de produção do algodão e do açúcar modificou esse processo: "Cem

mil trabalhadores dos campos de algodão, inclindo as indústrias auxiliares (sementes e óleo) e

seus interesses comerciais [...] Quase a metade da população costeira, praticamente, vivia do

algodão" (THORP e BERTRAM, 1985 p. 260).

A agricultura da Região de Cusco também enfrentou dificuldades com a crise

econômica mundial, só o caso das exportações de café, cacau e coca tentaram sobressair-se,

mas debilitou-se o comércio de lã. Esse era o cenário nacional.

Por volta de 1948, passa a existir uma agenda continental de desenvolvimento e

criam-se agências internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a

Comissão Econômica, para América Latina (CEPAL), patrocinada pela Organização das

Nações Unidas (ONU).

Por trás de tudo estavam os interesses estadunidenses, para a exploração primária e

industrial da região Latino-americana. A primeira demostrava se tornar um foro político para

o diálogo multilateral, integração e a tomada de decisões de âmbito americano; a segunda era

responsável por promover o desenvolvimento econômico e social da região sul americana.

Acreditava-se que os países eram exemplos promissores, onde a CEPAL objetivava

estratégias para impulsionar, em cada país, a “industrialização por substituição de

importações”. (TELLO, 2006, p. 70).

Em princípio, o Estado peruano era o agente implícito encarregado de promover,

induzir e implementar o desenvolvimento no país. A estratégia da substituição de Importações

consistia em outorgar um papel preponderante do Estado peruano nos mercados em expansão,

isto é, orientar o crescimento das indústrias, em direção ao desenvolvimento do mercado

interno.

Pensou-se que esse modelo abriria frentes de trabalho a grandes massas da

população, fato que na prática não aconteceu, pois a modernização

32 O Estado peruano em 1942 decretou medidas para comprar os produtos alimentícios, tomou conta da comercialização do arroz,

reduziu as áreas dedicadas á produção de algodão dentre outras medidas. 33 Destaca-se no fim dos anos 20, houve crescimento nas taxas industriais; aumentou 10 % entre 1938 e 1942 e se estancou entre 1943 e

1947. O aumento da produção substituiu bens de consumo (têxteis, calçados, sabonete e outros), as taxas estiveram por baixo da média dos outros países.

34 Em 1934 estabeleceu-se a primeira fábrica rentável, pretendeu-se o consumo local. Mas a Guerra Mundial até 1942 solicitou peixe em conserva e de óleo de fígado de peixe, rico em vitaminas A e D. Desde 1929, o desenvolvimento industrial da pesca foi uma das primeiras propostas bem sucedidas.

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(mecanização/automatização) substituiu a mão-de-obra por máquinas, aumentando a

rentabilidade das empresas.

Dadas às circunstâncias pelas quais atravessava o Peru, na agricultura e na economia,

não era um momento favorável para essa modernização, por um lado e, por outro, o

militarismo, que desejava entrar em uma fase constitucional por meio de eleições, logrando

seu objetivo em 1950. Dessa forma, adiaram a implementação do Modelo, que mais tarde, ao

ser aplicado, se tornou alvo de críticas e embaraços.

2.2 Ações precedentes e o papel do Estado

É necessário salientar que os subitens, a serem desenvolvidos a seguir, foram

utilizados como ponto de partida para a realização das intervenções necessárias após o

terremoto. Ações como o Planejamento Regional, os Novos Loteamentos, os Projetos de

Habitação e financiamento, bem como os Impostos Especiais, todos eles, durante os governos

anteriores a 1950, foram utilizados como precedentes para as próximas decisões do Estado.

Cada um dos tópicos, na medida das circunstâncias e dos governos foi abordado com

diferentes ênfases, perspectivas e objetivos particulares, no âmbito da reconstrução e ou

desenvolvimento da cidade e sua região.

2.2.1 Planejamento Regional

A primeira intenção do Estado peruano para tratar o tema do planejamento ocorre em

1934, atribuído a Harth-Terré35

pelo “Informe Preliminar”, o “Estudo para o Plano

Regulador” apresentado ao governo. Motivo para receber o encargo de formular as bases para

um Plano sistemático de Orientação Reguladora de Cusco36

. (EL ARQUITECTO...,1934

p.15) Iniciativas como essa forneceram apenas uma aproximação do que seria um

planejamento urbano no país. A “CRyF” (1963, p.7) indica:

Apresentado o relatório preliminar para o trabalho de projeto, importante documento indicando o trabalho a ser realizado imediatamente e no futuro. O relatório destaca o valor histórico e arqueológico da cidade e da importância de defender os valiosos tesouros envolvidos, sem prejudicar o desenvolvimento urbano. (tradução nossa)

35 Este arquiteto-engenheiro exercia o cargo de engenheiro-consultor da “Comissão do IV Centenário da Fundação de Cusco” de 1934,

permanecendo quase um ano na cidade para a formulação dos documentos e que entrega paulatinamente em duas partes. 36 Em 1924, elaborou-se um plano da cidade, mas com outros fins. O “Plano inédito” e cópia do original achado nos arquivos da Biblioteca

Central da Unsaac tem razoável credibilidade devido aos estudos sobre a Região de Cusco que realizou o engenheiro Roberto Gőhring, a importância do plano radica em mostrar os perímetros da cidade bem como as ruas existentes.

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Em 1940, o Planejamento tomaria corpo ao ser criado a "Seção de Estudos Urbanos"

subordinada à Direção Geral de Obras Públicas do Ministério de Fomento e Obras Públicas

(MFOP) para trabalho “especializado” e também com a finalidade de centralizar ações

técnicas que se desenvolviam em algumas cidades e onde se reconheçam os planos

municipais, realizados, como os “Primeiros estudos Urbanísticos do País”.

A especialidade de Urbanismo nasce em 1944, com o Instituto de Urbanismo de

Lima (IUL), logo depois, em 1946 o Escritório Nacional de Planejamento Urbano (ONPU)

assim como o Conselho Nacional de Urbanismo (CNU) (Lei 10723), cujo objetivo era de

estudar e formular a expansão urbana das cidades e povoados da República peruana

(documentos denominados de “planos reguladores”).

Para tal, se instalaram escritórios da ONPU em Arequipa, Cusco, Huancayo, Piura e

Trujillo começando a elaborar os Planos Cadastrais da cidade de Lima e Cusco. Para a época,

as casas coloniais da cidade de Cusco mantinham a sua estrutura e algumas casas começavam

a formar a av. Pardo. López (1934, p 39) afirma:

Estavam bem construídas, são de estilo mourisco, com pátios cercados por galerias abertas, apoiadas por elegantes colunas. Nas fachadas se vêem varandas gradeadas e paredes brancas, coroadas e cobertas [...] de seus telhados, dando à cidade uma característica [...] O Cusco moderno está totalmente povoado entre os rios Tullumayo e Chunchullmayo enquanto, do outro lado, está o belo bairro de Belém [...] ao longo da avenida que leva à formação da Estação Ferroviária do Sul. Ao sudeste do povoado, há uma série de belos chalés do tipo moderno37 (tradução nossa).

Um relato indireto, sobre a delimitação perimetral da cidade, foi ao se falar dos

bairros da época. Este relato indicava que entre o encontro dos dois rios de Cusco (o

Tullumayo e Huatanay) se encontrava o extremo inferior da cidade cujos terrenos adjacentes

estavam vazios e haviam algumas construções modestas.

Gőhring,38

ao tratar sobre os afluentes do Chunchullmayu e Huancaro da cidade de

Cusco também confirma as áreas vazias de Bancopata, setor Sul. (Figuras 20 e 21) (Figuras

22, 22, 23 e 25 em Apêndice).

Em 1947, a Lei no 10.854 “Manda levantar os Planos Oficiais das cidades capitais e

de Distritos da República”, a cargo do MFOP, propondo uma série de indicações para poder

realizar planos urbanos em diante.

A lei indicava a forma das características, o conteúdo de cada plano oficial e como

deveriam começar os trabalhos no território nacional, para seu levantamento. A proposta do

Estado peruano foi habilitar, para cada região, um plano oficial.

37 A especial estruturação e as poucas obras construídas em Cusco motivou (a alunos e dois catedráticos da escola de engenharia da

universidade chilena visitando distintos lugares peruanos) publicar um artigo nos anais do Instituto de Engenheiros do Chile em 1934. 38 O autor aborda aspectos geográficos e de hidrografia desde a Costa até a Floresta. Inicia descrevendo o porto marítimo de Mollendo,

via trem até Cusco, passando por Puno. Ao tratar os afluentes do rio Huatanay fala das suas nascentes na própria cidade (Choquechaca, Chunchullmayu e Huancaro).

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FIGURA 20 – Avenida Pardo do lado esquerdo, descendo. Detalhe de duas casas chalés com retiros laterais e a rua com seu calçamento irregular

Fonte: CHAMBI (Antes de 1950) FIGURA 21 - As primeiras casas na avenida Pardo vista tomada do Norte ao Sul (apesar da foto ser de 1950) ainda se observam no fundo as últimas construções da cidade

Fonte: FOTÓGRAFO ANTONIO MENDOZA NEYRA (1950).

Formaram-se 10 brigadas de trabalho especializadas para toda a nação, das quais

quatro atuariam na costa, quatro na serra e dois, na montanha, ou seja, um trabalho paralelo

que se iniciaria desde as fronteiras nacionais, avançando até o centro do país e vice-versa.

Todos deviam iniciar o trabalho ao mesmo tempo para poder contar com os planos oficiais em

todas as regiões, o quanto antes. Houve um aliciamento,39

por parte do governo, com

promessa de prêmio, para a brigada com maior rendimento.

39 O premio, estipulado Artigo 7o da lei, anunciava uma prima não menor a 5 % do total de gastos em pessoal de cada região.

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Na realidade, o Governo Central procurava detalhe pormenorizado das propriedades

(Estatais, municipais, sociedades de beneficência entre outras) e pretendia registrar áreas de

expansão suburbana no mínimo de 50% da área urbana em previsão do seu crescimento

futuro.

O Estado peruano esperava um trabalho sério e solicitava a “caderneta de campo”

dos registros das operações topográficas, (perfis das ruas com a fonte de provisão de água,

orientação, distância, especificações de altura, caudal-estiagem) e a possibilidade de ser

aproveitável para gerar energia elétrica. Indicações gerais sobre vias e comunicação, produção

entre outros. Finalmente, a lei ordenou deixar cópias para a própria prefeitura, a Direção

Nacional de Estatísticas (DNE), a Corporação Nacional de Vivenda (CNV) e o ONPU.

O curioso de tudo é que o ONPU, órgão do Estado, não participa diretamente na

Elaboração do levantamento dos “Planos Oficiais”. Passados uns meses; se confirmou a

inexistência de um planejamento. Apenas grande parte dos planos havia avançado em

algumas regiões. Em outras, houve um avanço baixo em termos percentuais, como o caso de

Cusco. Pode-se afirmar que foi um fracasso geral, o caso dos planos oficiais, em todo o país.

Um ano depois, estabelece-se no país o “Programa de Urbanismo” e, para o caso de

Cusco, Harth-Terré (em segundo momento) é encarregado de realizar a “Execução do Plano

Regulador de Cusco” a pedido do MFOP, quando exercia o cargo de Chefe do Departamento

de Estudos Urbanos. Na proposta realizada, o arquiteto advertia a importância do valor

arqueológico da cidade de Cusco, pela sua história, premente de conservação, e da imposição

requerida pelo desenvolvimento urbano (CRyF,1964, p. 7).

A ideia plasmada por Harth-Terré, em 1934, não sofreu variações quando retomadas

em 1948, porque apesar do tempo transcorrido, para o autor, não tinham variado as

necessidades fundamentais da cidade, nem outras que viriam no futuro.

A população nesse período havia aumentado aproximadamente um 50 %, então as

necessidades não poderiam ser as mesmas, por isso a proposta não passaria do papel,

atribuindo-se sua ineficácia à predominância da influência da descontextualizada prospectiva,

importada do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM).40

(ALMANDOZ,

2007, p. 74 apud ALMANDOZ 2004b, p. 244). (Quadro Único ‘Evolução populacional de

Cusco’ em Apêndice)

Nesse particular, Gutierrez, em depoimento, afirma “era difícil entender a

possibilidade de formular um futuro a partir da sua própria historia; sempre pesava mais o

modelo externo do que ‘se deveria ser’ antes de entender ‘o que se era’.” (tradução nossa)

40 CIAM, fundado em 1928 e dissolvido em 1959, foi considerado como o armazém de idéias do movimento moderno (ou estilo

internacional) em arquitetura. Em 1933 no IV Congresso se fez a “Carta de Atenas” fortemente influenciada pela idéia de uma “cidade funcional” (Habitar, Circular, Trabalhar e Recrear) exposta por Cornelis van Esteren em 1928, adotando o conceito funcional da arquitetura moderna se viu uma ferramenta económica e política que se poderia usar para a melhora do mundo. Os urbanistas europeus a adotaram para reconstruir Europa o que provocou posteriormente dúvidas sobre alguns conceitos nos membros do CIAM.

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2.2.2 Novos Loteamentos (1943)

Lima, por ser capital da República do Peru, sofre um grande processo migratório do

campo à cidade antes da conclusão da primeira metade do século e, pelo contrário, as cidades

do interior passavam por um processo de esvaziamento lento. Dois terços, ou seja, 66% do

crescimento urbano das décadas dos anos 40 e 50 explicam-se pelas migrações internas.

Processo que duraria até os anos 70.

O bloco de migrantes para a grande cidade acabava ocupando áreas para moradia de

firma desordenada, dando lugar ao surgimento de loteamentos “novos”. Esta era a forma mais

rápida de ter acesso a um lote, que futuramente se converteria em moradia formal,

característica singular das capitais dos estados situadas nos países latinos, a exemplo das

favelas que sobem o morro, no Brasil.

Ante a crescente migração para Lima foi a repressão, a primeira reação do governo

peruano, em resposta a esse fenômeno social iniciado por volta de 1943. Por Lei no 9.807, o

Governo outorgou um tempo fixo para construir a infraestrutura básica como requisito para

acessar ao título de propriedade dos lotes “ocupados”. Entretanto, a população continuou

invadindo e aparece a primeira camada significativa de invasões, organizada politicamente,

em vésperas das eleições presidenciais de 1945.

Em 1946, a crescente pressão da população levou o governo a assumir uma postura

de repressão às invasões, propondo diversos projetos de lei que pretendiam proibir os

migrantes a se deslocarem para Lima com o intuito de ocupar áreas de invasão. Não houve

sucesso na tentativa do Governo de controlar esse fenômeno migratório, com práticas

proibitivas, assumindo então uma atitude de tolerância, enquanto as invasões podiam ser

manejáveis.

O Estado peruano começou, como afirma (Morris, 2004, p. 46,): “a tratá-las

fundamentalmente como um problema de insuficiência de serviços públicos que punha em

risco a saúde da população”. (tradução nossa). Devido ao fracasso do Estado na proibição da

ocupação de áreas, praticamente de grandes extensões de areia, por parte dos novos

moradores (invasores), este permitiu “ocupar” diferentes áreas estendendo-se rapidamente,

uma vez que não existia proibição total. Essa foi a alternativa aberta para os novos migrantes.

No contexto local, não havia um processo de ocupação dos arredores da cidade de

Cusco, mas a população continuava crescendo. Foi em 1947 que se autoriza, desde o Governo

Central, Lei no 10.820, a venda de lotes na parte Sul da cidade. A Prefeitura colocou à “venda

lotes de sua propriedade e expropriação de todos os terrenos do lado esquerdo da Avenida El

Sol, compreendidos entre a Rua ‘Puente del Rosário’ e a estação de ‘Ferrovias do Sul’”.

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Por um lado, o Estado peruano estava reservando futuros locais para algumas

instituições de importância da cidade, como na área da educação e cultura, ‘Casa-do-Mestre’ e

‘Centro das Artes Cênicas Nativas’; no esporte, a liga de basquetebol. Por outro lado, a

superfície restante seria colocada à venda, para propósitos de habitação ou de uso particular.

Foi o primeiro caso de venda de lotes oficial, na cidade de Cusco.

Basicamente o governo local, com essas ações, consolidaria a área urbana no limite

Sul da cidade, pois estava definida até a estação ferroviária. O último trecho da avenida ‘El

Sol’, antes mencionada, já formava parte da área urbana, sendo apenas uma superfície sem

edificações.

Neste aspecto destaca-se que os loteamentos deviam ser vendidos em leilão público,

caso particular de venda no país. O produto da venda seria em beneficio de obras para a

cidade a exemplo de renovação do serviço de limpeza pública e construção de crematório de

lixo.

2.2.3 Projetos de Habitação e financiamento

Ao final dos anos 40, a revista41

“O Arquiteto Peruano” divulgava o conceito de

cidade moderna, que dá a ideia de novos projetos habitacionais para moradia social. Os

esforços para levar a cabo um programa de habitação tiveram lugar durante o governo de José

Luis Bustamante y Rivero (1945-1948), quando foi criada a CNV (Lei 10359).

Essa entidade aparece como derivado do grupo de profissionais do ‘Instituto de

Urbanismo do Peru’ (IUP), que comprometia o Estado peruano como ator direto, para

solucionar o problema da habitação.

Neste momento, surgem os primeiros projetos de edifícios de habitação compostos

por blocos densos, que contrastam com uma ampla área verde, rodovias e calçadas com

autonomia de serviços e infraestrutura.

O projeto que mais se destacou, nesse âmbito, na historia do Peru foi a “Unidade de

Vizinhança Número Três”. Conjunto para o qual Ritz (2012, depoimento) afirma: “foi, pelo

menos, o primeiro marco Latino-americano”.

O Estado, segundo Aparício et al. (198- p.327) visava “melhorar as condições da

habitação em todo o país, atendendo seus aspectos higiênicos, técnicos, económicos e

sociais”.42

Enfocou-se a construção e reconstrução da habitação, bem como o

desenvolvimento das obras de urbanização e saneamento. Antes de 1950, nem a cidade de

41 Seu fundador Arquiteto Fernando Belaúnde Terry divulgava as Unidades de Vizinhança de arquitetura contemporânea inspiradas em

doutrinas inglesas e dos EEUU. 42 A ‘Corporación Nacional de Vivienda’ com recursos captados por empréstitos, emissão de bônus e aquisição de imóveis, tinha um role

importante nos créditos para habitação.

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Cusco, nem o interior da região, haviam recebido proposta de projeto para levar a cabo as

edificações habitacionais em massa.

O objetivo de construir conjuntos familiares (Unidades de Vizinhança) visava

favorecer os trabalhadores de baixo poder aquisitivo, fato que modificou a intenção do

governo: a população de baixa renda não se qualificou para ter acesso a essas moradias que

foram tomadas, por sua vez, pela classe média.

2.2.4 Os Impostos Especiais

Ao final do século XIX, Piérola43

, como presidente, realizou a grande reforma

tributária e aplicou o novo sistema de arrecadação.44

Isto significava fundamentalmente

inserir capital nos cofres públicos, de uma parte e, de outra, se particularizava o objetivo da

criação do imposto à cerveja ou à coca, com fins de realizar obras na cidade.

Na esfera do mandatário e do governo se estabeleceu uma forma legal de obtenção

de fundos, com base na promulgação de leis que umas se corrigiam e outras se aperfeiçoavam

com fins específicos, abrangendo um tempo previsto ou indeterminado.

A exemplo da Lei no

7.699 de 1933, que cria o “imposto antituberculoso” aos

produtos de higiene, foi modificada por três vezes pelas leis nos

7.853, 8.492 e 9.507. Já outra

lei, a de 1949, o DL no 11.000, criou o imposto geral às bebidas, assinalando que os álcoois e

bebidas alcoólicas, tanto nacionais como estrangeiras, eram obrigados a pagar um ‘Imposto

único’ aos cofres públicos, daí em diante.

Com esse objetivo em 1949, se constitui a “Comisión de Obras Públicas de Cusco”

(DL 11029), para fomentar as obras na cidade e administrar os fundos de investimentos.

Houve também a criação de impostos pela venda de cada arroba de coca produzida na Região

de Cusco. Essas obras anunciavam ventos de mudanças, mas não foram organizadas por uma

equipe multidisciplinar, nem técnica, consequentemente, não pertencia a um plano urbano. As

obras eram resposta à necessidade do momento.

Dessa forma, algumas “Obras Urbanas” eram executavam durante os primeiros

meses de 1950. A cidade vinha sendo pavimentada nas calçadas das ruas45

mais transitadas do

43 Reformulou e derrogou outras: 1895 (4 de dez.) (imposto ao movimento de vultos); 1895 (27 de dez.) (sobre a importação dos fósforos),

1896 (11 de jan.) (estabelecendo o estanco do sal), 1896 (25 de jan.) (sobre timbres fiscais, e toda classe de tabacos e cigarros), 1897 (11 de set.) (necessidades económicas fiscais), 1898 (25 de out.) (reduz direitos de importação do arroz, manteiga e petróleo cru), 1898 (31 de dez.) (aumenta tarifa das bebidas alcoólicas), 1899 (14 de jan.) (estabelece direitos aos tabacos e cigarros), 1899 (28 de out.) (modificando o aranzel da indústria de chapéus de lã).

44 Reformou-se a arrecadação de impostos em 1895. A Arrecadadora focava-se ao álcool, tabacos, timbres fiscais e estanco do opio. 45 Ruas: Teatro, Granada até Marquéz, Matará até Centenario, Marquéz, Santa Teresa, Praça Cabildo, Heladeros, San Bernardo, San

Andrés e Av. Pardo.

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Centro Histórico e por causa da temporada de chuvas, também se faziam obras de

acondicionamento para água e esgoto. (LA PAVIMENTACIÓN..., 1950, p. 2) 46

O MFOP realizava obras pontuais para alguns dos monumentos. As intervenções

eram produto de danos menores causados pelos movimentos sísmicos de anos passados, mas

eram lentas, mesmo sendo, uma zona sísmica.

Nesse sentido, as críticas locais se reduziam a isto: “Faz anos que se vem realizando

obras de restauração dos nossos templos monumentais, pela ação do MFOP e, é parte pela

Corporação Nacional de Turismo que tem contribuído na reparação de alguns daqueles”. (LA

RESTAURACIÓN..., 1950, p.2).

Com recursos arrecadados pela congregação realizavam pequenas obras, como no

campanário e telhados do Templo de Belén; abóbadas e pisos do Templo de San Pedro; o

telhado no Templo de San Cristóbal (obras murais, retábulos, altares e marcos ainda muito

por fazer); outras requeriam sérias obras na cobertura, no Templo de San Sebastián, colunas e,

sobretudo, no altar-mor e em perigo de desabar; a Capela do Seminário de San Bernardo.

Em geral, o Governo Central ou local protegiam os edifícios importantes, enquanto

as construções menores (casas particulares ou modestas) eram deixadas de lado. Muitos casos

não seriam atendidos ao longo dos anos ou devido à falta de fundos. O caso da torre da Igreja

de La Merced é um exemplo disso.

A torre do templo de La Merced desta capital sofreu muito na sua estabilidade [...] faz cinco anos antes do terremoto de 1950, as autoridades respectivas ordenaram que fosse desarmada até sua primeira cornija para que, a seguir, se realizassem os trabalhos de reparação que requeriam. (ASUNTOS..., 1950 p.2) (tradução nossa).

Pode-se afirmar que, ao longo da década dos anos 40, a preservação dos monumentos

da cidade de Cusco não era tema de interesse dos governantes ou, pelo menos, não uma

prioridade. Algumas formas de cuidar das edificações eram por iniciativa própria da paróquia,

junto aos frades encarregados ou de instituições (MFOP e COTUR). Em alguns casos sua

participação era pontual. A ausência de recursos era a restrição em todos os casos.

O jornal local indicava que, por causa do movimento telúrico de 1949, no templo de

La Merced, a sua torre se encontrava mutilada e paralisada por falta de fundos e, mais ainda,

sem ter uma data de conclusão. A inexistência de um plano de manutenção periódico tornava

mais complicada a falta de atenção aos monumentos. (Tabela 2 ‘Registro Histórico de Sismos

ocorridos na Região Cusco’ em Apêndice).

Ressalta que o papel do Estado peruano desde a esfera nacional (que centraliza todo

tipo de decisões e as arcas fiscais) não permite que o governo local tenha autonomia

econômica ou administrativa. Essa cadeia de funções tem demostrado que não era a fórmula

mais apropriada para o desenvolvimento da cidade, em consequência o atraso cultural

46 A pavimentação das ruas reiniciaram em 9 mar 1950. Colocaram paralelepípedos pétreos preparados na mesma jazida de Rumicolca.

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econômico e social se justificava plenamente para a cidade, mais ainda para as localidades

afastadas da capital.

Tudo isso se traduzia em mínimas ações e obras para a as cidades capitais de região

em todo o país, resultando em mais difíceis oportunidades para os distritos com baixo número

de habitantes. Para este caso, a falta de vias de comunicação por terra era o maior desafio dos

povoados em comparação com os da costa.

A cidade como Cusco mesmo sendo capital e com grande bagagem histórica

arqueológica, arquitetônica e de grande representatividade nacional não bastava para ter

atenção do Governo Central. Todas as capitais regionais eram desatendidas pelo Estado

peruano, tais como: Apurímac, Ayacucho, Huancavelica por citar alguns da serra peruana, ou

da floresta que também passavam idênticas, ou pior, desatenção por parte do governo.

A variável econômica era o principal agente que originava direta, ou indiretamente, a

ausência do Estado. Sob esses precedentes citados e nas condições econômicas, políticas e

sociais em que o país se encontrava, a cidade de Cusco seria surpreendida e golpeada

fortemente quando iniciava a segunda metade do século XX.

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3.1. Cusco em 21 de MAIO de 1950.

Anterior ao abalo sísmico de 1950, entre 1940 e 1949 a população de Cusco tinha

sentido oito tremores. A região de Cusco, segundo o histórico sísmico, demonstra ser uma

zona com frequente acomodação entre as placas tectônicas (CUENCA, 1991, ANEXO 2).

(Tabela 2 em Apêndice). Nesse contexto, quando Cusco já havia iniciado os primeiros meses

da segunda metade secular e a cidade gozava da quietude e tranquilidade de um dia domingo,

acontece o grande terremoto, (grau sete na escala de Mercalli). Eram 13:39h e demorou seis

segundos1 (KUBLER, 1950, p.5).

O terremoto mexeu e remexeu tudo, conseguiu abrir fissuras nas vias (nas avenidas

El Sol e Pardo), nos bairros e na maioria das edificações. As ruas foram severamente

afetadas, desabaram principalmente porque as suas estruturas estavam construídas com adobe,

50% das edificações foram totalmente destruídas, tornando-se inabitáveis. (SE RAJARON…,

1950. p. 1). Os monumentos e edifícios mais importantes foram afetados fortemente, em

diferentes escalas.

Minutos depois, homens e mulheres viam atônitos os escombros, a população ficou

assombrada, as pessoas desconsoladas choravam e as crianças não entendiam o que acontecia.

O medo ainda habitava a mente da população e, ao se constatar a perda de vidas humanas, se

fazia mais desesperador. Os pertences foram resgatados, em parte para uns, famílias inteiras

haviam perdido tudo e as habitações estavam praticamente reduzidas a nada, não era fácil

imaginar onde passariam ou como resolveriam as suas necessidades básicas.

Mas deviam ser tomadas decisões sobre o que restava. Grande parte da população

abandonou as suas moradias para irem às praças, parques e lugares abertos. Outros já

imaginavam a migração para outras regiões (EM MASA...,1950, p.12). A cidade estava sem

comunicação telegráfica nem luz elétrica e a situação se complicava para as diferentes

famílias. As forças militares começaram a resguardar a cidade para evitar pânico da

população e garantir que estranhos incitassem os saques.

As informações da destruição da cidade variaram muito, a depender da fonte, que as

noticiava. Para a primeira noite (às 22h do dia 21), La Crónica, (22 maio 1950) afirmava que

havia 33 casas desaprumadas e 36 mortos. É evidente que os números aumentariam

posteriormente. El Comércio, (24 maio 1950) indicava que eram 59 mortos (56 no Distrito de

Cusco e três em San Sebastián); Aguilar assinala 86 vítimas, ou mais, e 100 feridos, Kubler

aproxima a 100 e 200, respectivamente.

1 Outro jornal asseverava que havia durado 12 segundos. (La Crónica, Lima 22/2/50. p. 1)

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Todas as casas sem exceção sofreram fortes danos, não há nenhuma que tenha sido salva, interiores coloniais foram ao chão, bem como as casas recentemente construídas na avenida Pardo [...] será necessário que estas sejam demolidas pelo pessoal da tropa e operários, pois oferecem sério perigo. 10% apresentam rachaduras leves e 90% de casas ameaçam desabar (DRAMATICO...,1950, p.1).

Diversos danos materiais, nas propriedades particulares, apareceram como

denominador comum, produto das: fissuras, rachaduras, casos onde as paredes derrubaram de

forma parcial e outras totalmente. Alguns casos de assentamento do solo apresentaram

particulares danos.

Na maioria dos casos, onde os telhados desabaram ou sofreram danos, foi por

consequência da desestabilização dos seus próprios muros sustentantes. Isto é, danos maiores

ou menores (Figuras 26 e 27) (Figuras 28 a 37 ‘Destruição do Terremoto’ em Apêndice).

FIGURA 26 – Fachada Sul da Plazoleta Nazarenas. O assentamento do solo desestabilizou os alicerces, em consequência, a parede cedeu provocando a desestruturação total da propriedade particular. Este caso de destruição não foi o único na cidade, houve outras propriedades que sofreram o mesmo processo de falha do solo

Fonte: JOSÉ C. HUAYHUACA, (1991)

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A referência do terremoto, realizada pela Missão Kubler por encargo da

‘Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura’(UNESCO), a mais

detalhada para fins oficiais com cifras estatísticas, após uma avaliação, concluiu:

Foram destruídas 3.000 casas, e das restantes só 1.200 estavam em condições de ser habitadas. Com o que 30.000 ou 40.000 moradores ficaram sem albergue. Entre elas, 15.000 se têm instalado ulteriormente em refúgios provisórios, levantados em diversos pontos da cidade, enquanto 20.000 abandonaram a cidade de Cusco no transcurso de 1950. (KUBLER, 1953, p.5) (tradução nossa)

Algumas iniciativas e medidas de proteção dos seus imóveis são dadas pela própria

população ao colocarem escoras de madeira, a modo de escoras para evitar a queda das

paredes. O que começou a aparecer nas diferentes ruas. O acesso veicular foi restrito apenas

para pedestres em sinal de, preservar tanto a integridade física dos habitantes quanto da

propriedade.

Esses cuidados se generalizaram na cidade porque outorgaram garantias mínimo

necessárias a fim de evitar o desabamento total ou parcial da edificação. A cidade ainda

sofria, em dias posteriores, tremores o que não deixava de preocupar. (Figuras 38 e 39).

FIGURA 27 – Local do Paraninfo Universitário. As estruturas das edificações sofreram colapso em grande parte de forma que foi necessária a ajuda de maquinária pesada para o levantamento de escombros

Fonte: REVISTA LIFE (1950)

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FIGURA 38 – Rua Carmen Alto/San Blas. Parede típica de adobe, desmoronada, por falta de medidas de segurança.

Fonte: REVISTA LIFE (1950).

FIGURA 39 - Ladeira de Santa Ana situada no outro bairro tradicional da cidade do mesmo nome. Escoras de madeira foram colocadas para evitar a queda das paredes das casas

Fonte: UNIVERSIDADE PENSYLVANIA-EUA (1950).

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No caso dos monumentos tais ações paliativas não seriam as mais indicadas pois

exigia-se todo um cuidado particular, pela grandeza e magnitude das suas construções. A

avaliação realizada pela missão da UNESCO foi exaustiva e alcançou uma lista de prioridades

que obedecia à urgência dos trabalhos de reconstrução ou de reparação2.

O exemplo mais significativo para a reconstrução foi o Convento de Santo Domingo

por apresentar múltiplos danos que estavam, em grande parte, na abside do muro testeiro3, na

torre da igreja e, as abóbadas localizadas no coro alto e no transepto da igreja. Ambas haviam

desabado em grande parte porque, no primeiro caso, a torre caiu sobre ela. No segundo caso,

porque a estrutura não resistiu ao movimento sísmico.

No interior do convento e da igreja outros detalhes em madeira, como altares e

marcos de grandes pinturas, peças líticas diversas e imagens esculpidas, sofreram também

diversos danos como consequência da queda de outras estruturas. No caso dos líticos que

desabaram de maiores alturas se desintegraram, parcial ou completamente, ao contato com o

chão. O processo não foi simples para iniciar a reconstrução, na maioria dos casos, foram

necessários o desarme das estruturas anteriores senão todas (Figuras 40, 41, 42, 43 e 44).

FIGURA 40 – A vista do interior da Igreja de Santo Domingo. Setor do Transepto com a abóbada desabada em grande parte e fissuramentos em todos os muros. Vários elementos arquitetônicos estão em estado ruinoso.

FIGURA 41 – O altar-mor da Igreja de San Sebástián. Os primeiros auxílios de escoramento evitaram o desabamento definitivo, mas muitas peças de madeira talhada, da ornamentação, já estavam quebradas

Fonte: REVISTA LIFE (1950) Fonte: NISHIYAMA (1950)

2 A missão da UNESCO tinha classificado os edifícios religiosos, para todo os efeitos de intervenção, em 5 grupos sob 3 critérios: a importância artística do monumento, a importância dos danos e a necessidade do edifício para a comunidade.

3 Na arquitetura religiosa do barroco espanhol denomina-se assim ao muro que se localiza detrás do altar-mor

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FIGURA 42 – A torre única da igreja Santo Domingo. Apenas ficou a face Norte. O restante caiu sobre a abóbada do coro alto destruindo, inclusive, o coro baixo

Fonte: REVISTA LIFE (1950)

FIGURA 43 – Estado da fachada lateral da Igreja de Santo Domingo. A destruição foi muito variada no muro e acima da portada bem como no transepto

Fonte: REVISTA LIFE (1950)

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FIGURA 44 – O caso da ponte de Belén que desabou sobre o rio Chunchullmayo com suas antigas estruturas líticas. A técnica construtiva do “cal y canto”4 resitiu parcialmente

Fonte : NISHIYAMA (1950)

O templo de Belén teve um assentamento no solo e, como consequência, sofreu um

fissuramento vertical que afetou praticamente a totalidade da torre da epístola. (Figuras 45 e

46). Outras igrejas, como a de San Sebastián e San Cristóbal mostravam também diferentes

tipos de danos. Se particularizando também nas torres.

A primeira, a do lado do evangélio, estava totalmente destruída. A segunda mostrava

parciais danos na abóbada da sua única torre. (Figuras 47 e 48).

FIGURA 45 – Fachada do Templo de Belén em obras. Quando visitou a ‘Missão Kubler’ haviam sido recuperadas peças do chão e empilhadas na base do átrio da igreja. No corpo da torre do evangelho, uma fissura vertical, que atravessa o corpo, um problema na hora da reconstrução

FIGURA 46 – Detalhe da torre da epístola do Templo de Belén desabada. Os efeitos do terremoto revelaram a grau de destruição e perigo para desarmar as peças líticas

Fonte: REPORTE GEORGE KUBLER. UNESCO. (1951) Fonte: REVISTA LIFE (1950)

4 “Cal y Canto”: técnica construtiva, muito comum da época colonial, denominada ao tipo de “aparelho” disposto ou forma na qual pedras e tijolos são assentados numa parede, muro, arco ou cúpula.

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FIGURA 48 – A única torre do Templo de San Cristóbal colapsou parcialmente. Desde a base do corpo do campanário até a abóbada desabou.

Fonte: UNIVERSIDADE DE PENSYLVANIA EUA. (1950))

FIGURA 47 – A fachada do Templo de San Sebastián destruída totalmente. A Torre do Evangelho também foi sacudida desde a base dos pilares

Fonte: ARQUIVO JRFIC (1950)

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Outras igrejas como a Compañía de Jesús, San Pedro, a Basílica Catedral e a

Recoleta sofreram danos menores, com prejuízos em menor escala que os demais templos. No

Claustro contíguo ao ‘Paraninfo Universitario’ que forma parte do complexo da Igreja de

Compañía de Jesus, desabou todo o setor Norte. As edificações civis sofreram diferentes

formas de destruição, principalmente nos muros (Figuras 49 e 50).

FIGURA 49 – Torre da epístola da Igreja de san Pedro. Pelo fissuramento provocado, praticamente está em duas partes, desde a abóbada até a base do campanário

FIGURA 50 – Casa del Almirante a ponto de desabar. Com sérios problemas no ajimez5 provocados pelas fissuras no encontro dos muros da fachada e portada principal do edifício

Fonte: FOTÓGRAFO DESCONHECIDO (1950) Fonte: FOTÓGRAFO DESCONHECIDO (1950)

O conjunto da Basílica Menor e Convento de La Merced sofreram os maiores

problemas nos muros da asa sul do segundo claustro. A abóbada das escadarias do lado Oeste

e o telhado, no encontro das asas, desabaram. As colunas emparelhadas do primeiro claustro,

no primeiro andar, se desestabilizaram devido ao processo de compressão exercido pelo

terremoto, principalmente, nos fustes.

Outro similar processo sofreu o fuste do lado do evangelho da fachada principal. A

edificação da asa sul do segundo claustro, nos seus dois pavimentos desabaram totalmente por

5 Elemento arquitetônico da arquitetura colonial consistente em uma janela em esquina dividido por uma coluna no meio.

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estar construída em adobe. Só ficaram em pé as filas de arcos sustentados por pilares, lavrados

em pedra, das quatro arcadas do segundo claustro (Figuras 51, 52 e 53).

FIGURA 51 – Primeiro Claustro (primeiro andar) da Basílica Menor de La Merced. Ao fundo se percebe o telhado que desabou, e no piso podem ser vistos fustes de outras colunas que sofreram o mesmo processo de compressão provocado pelo efeito do sismo

FIGURA 52 – Basílica Menor de La Merced. Detalhe do eixo das colunas. As colunas que conformam apoios dos arcos saíram do seu eixo vertical

Fonte: KUBLER (1951) Fonte: REVISTA LIFE (1950)

FIGURA 53 – Fuste da coluna esquerda da portada na fachada principal da Basílica Menor de La Merced. O processo de compressão exercido quebrou a peça lítica parcialmente

Fonte: NISHIYAMA (1950).

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3.2. As medidas emergenciais do governo de Manuel A. Odría

3.2.1 A Comoção

As notícias do acontecido chegaram a esferas internacionais as quais alertaram mais,

por se tratar da “capital arqueológica de Sul América”. A solidariedade6 através de mensagens

dos chefes de Estado não tardou e a preocupação por Cusco chegaria de várias latitudes.

Para citar alguns, o Presidente dos EEUU Harry Truman, destacou seu pesar “pela

destruição da cidade histórica de Cusco”; o presidente chileno por sua vez engrandecia

“histórica cidade Cusco”; a imprensa argentina reafirmava “Cusco foi sede de uma das

civilizações mais avançadas do período pré-colombiano”. (UNA TRAGEDIA...,1950, p.4).

Na verdade, para a imprensa de muitos países, o sismo foi um instrumento que abriu

os olhos do mundo para o orgulho da América (esse Cusco oculto por décadas). O Herald

Tribune de Nova Iorque (apud VIBRANTE...,1950, p.4) publicava a reportagem: “É um

defeito de nossa educação o fato de que muitíssimos de nós não conhecemos a grandeza da

civilização que forjou aquela imponente metrópole [...]”.

Entre 22 e 28 de maio de 1950, é declarada a “batalha da solidariedade” que convoca

em nível mundial todo um movimento da Cruz Vermelha da América e do Mundo para

assistir a cidade de Cusco, como Paz-Soldán (1951, p.60) afirma:

Alinhou-se uma verdadeira frente de socorros com as expressões de simpatia e a oferta de concursos das sociedades que trabalham sob o signo caritativo de Genebra7 [...] o ‘Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Liga das Sociedades da Cruz Vermelha. (tradução nossa)

O governo da época encontrava-se sem conhecimento da real situação apenas no

dilema de “O que fazer? Como fazer? E por Onde começar?” A preocupação do Estado era

controlar a situação e sua grande tarefa era atender aos desabrigados, às necessidades de

suprimentos e à falta de policiamento.

As casas estavam abertas e muitos dormiam ao relento. Era necessário evitar os

saques por parte de ladrões em medida de precaução, para manter a ordem na cidade

(DECRETOSE…, 1950. p. 2). Passadas 48 horas se decretou o “toque de recolher”

6 Desde Madri, República Dominicana, Nicarágua, Paraguay, Honduras, Colômbia, Equador e Bolívia entre os primeiros. 7 A “Convenção de Genebra” em 1864 envolve a “Cruz Vermelha” sendo seu lema: ‘Servir e Ajudar’. O compromisso é ir

onde precisam de ajuda. A “Cruz Vermelha Peruana” surgiu desde abril de 1879.

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inicialmente no horário noturno e posteriormente durante as 24 horas8, com o objetivo de frear

a onda de infortúnios às propriedades e aos monumentos (EL TOQUE..., 1950, p.3).

Para controlar a situação o Presidente Odría viaja ao lugar da tragédia para avaliar a

verdadeira catástrofe9. Entretanto, cidadãos e o governo local iniciaram um processo de

autoajuda coletiva e socorro aos feridos, visto que os centros de atenção à saúde não

conseguiam atender a todo um contingente de pessoas que chegavam, buscando assistência

médica.

Daí que se instalaram barracas provisórias no campo do Estádio da Universidade de

Cusco (UNSAAC) e, logicamente, se levantariam diferentes avaliações preliminares, mas

poucos com exaustivo detalhe, segundo Valcárcel (1972, p. 376):

O governo de então nomeou de imediato uma comissão […] fui eleito seu presidente e a completaram com alguns arquitetos como: Enrique Seoane Ross, Luis Miró Quesada Garland y Julio Haaker Fort. Nossa tarefa se concentrou na avaliação dos danos sofridos pelos numerosos edifícios antigos.

O Estado ciente de que não poderia esperar para tomar ações imediatas por meio do

MFOP, o Ministério da Agricultura destina imediatamente para os desabrigados, por via

aérea, toneladas de suprimentos alimentícios (MEDIDAS...., 1950, p.1)10

.

Do próprio interior da região, também continuariam chegando diversos produtos

alimentícios, Zurite, Huarocondo, Sicuani encabeçavam a lista (BAJO LA...,1950, p.1).

Chegou uma equipe de técnicos profissionais (expertos em obras sanitárias,

urbanísticas, instalações elétricas, apreciações geológicas) com uma grande lista de diversos

materiais de construção11, para o restabelecimento do serviço de água e iluminação elétrico,

tudo isso com o objetivo de determinar as condições de habitabilidade, para realizarem

disposições e futuros projetos na cidade. (MEDIDAS...,1950. p. 1)

Como programa de prevenção foi usado o inseticida DDT para erradicar os piolhos

do couro cabeludo em moradores de escassos recursos. Fato que chamou a atenção da

imprensa, dos cidadãos e da crítica em geral. (Figuras 54, 55 e 56 ‘Medidas Antiepidêmicas’

em Apêndice).

8 PRIMEIRO MOMENTO: por antecipação a Comandância Militar da Região decreta o “toque de recolher” entre as 9 da noite e as 5 da madrugada. SEGUNDO MOMENTO: no jornal local o Coronel Comandante de Armas da Praça Carlos Herrera Lynch pedia à população para tomar as medidas do caso indicando que o novo horário vigente (de 24 horas) iniciava nessa data da publicação.

9 Sua viagem para Cusco realizou-se em 23/05/1950. 10 No dia 22 de maio foram habilitados 5 aviões para levar a carga, no dia 23 saiu outro avião com carga consistindo de

outros produtos alimentícios. 11As Direções de Caminhos das diferentes regiões enviaram recursos: Lima enviou 5 caminhões de acessórios para 500

homens mais um trator; Arequipa enviou 5 caminhões com ferramentas (pás, picaretas, alavancas); Tacna enviou 2 caminhões e acessórios para 100 homens e Puno enviou 3 caminhões com acessórios para 150 trabalhadores.

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Não se considerou a possibilidade de criar um ambiente especial para o isolamento

das pessoas afetadas pela praga. O governo do Estado, frente a toda essa situação e suas

necessidades, organiza provisoriamente grupos de ajuda através de normas legais, como

suporte para garantir seu cumprimento e que chegasse, de forma efetiva, a ajuda necessária

para a cidade de Cusco.

A primeira ação do Estado foi a criação da “Junta de Auxílio Pró-desabrigados de

Cusco” (RS 132-1950) cuja missão era juntar as doações e organizar um cadastro específico

para uma melhor distribuição em benefício dos desabrigados.

O Ministro da Saúde Pública deveria formar o “Comitê Central de Ajuda aos

Desabrigados” e subcomitês para executar melhor os trabalhos na cidade. Para tal, se

organizou sete postos provisórios de assistência, como centros de atenção médica, com dois

médicos em cada posto.

As autoridades obrigaram as farmácias a funcionarem em turnos de 24 horas para

prestarem serviços à comunidade. Proibiu-se a saída de produtos de primeira necessidade da

região e se estabeleceram dez zonas para possibilitar a organização de o abastecimento

alimentar. Instalou-se um restaurante popular com capacidade de atender a 1500

pessoas/refeição12

(EL PERUANO...,1950, p.1).

As inúmeras casas destruídas nas periferias da cidade, assim como no centro antigo,

exigiam grandes esforços para remover os escombros. Devido ao grande volume de entulhos

que se acumulavam nas ruas, tarefa que se mostrava lenta.

As urgências de alojamento para albergar os desabrigados eram as mais urgentes.

15.000 habitantes precisavam de teto13

, como Azevedo (2009, p.125) afirma: “os quais se

instalaram em tendas e toldos em quadras esportivas, ruas e praças” (Figuras 57 e 58) (Figuras

59 a 66 ‘Desabrigados ocupando áreas abertas da cidade’ em Apêndice).

12 O restaurante popular completamente equipado (com cozinha, serviço de sala de jantar, cozinheiros e garçons com 1700 almoços e 1500 jantares por dia) se instalou no Estádio Universitário.

13 Diferentes lugares da cidade foram ocupados e ergueram-se variadas tendas provisórias. Entre elas foram, em primeira instância foram a Praça Maior e as praças Regocijo, a San Francisco. Continuaram nos arredores da cidade, as quadras esportivas dos bairros, a avenida Chunchullmayo ainda não consolidada na época, a av. Pardo e todas as áreas de cultivo imediatas ao perímetro da cidade. Hoje são constituídos os bairros de Zaguán del Cielo, Tahuantinsuyo, os Distritos de Huanchaq e Santiago. Depois se consolidariam os arredores das igrejas de Belén, Santiago, Almudena e Santa Ana.

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FIGURA 57 – Tendas improvisadas nos Jardins da Plaza Mayor da cidade. Todo tipo de materiais foram utilizados para dar aparência de dormitórios. A calçada facilitou a circulação. Gerou-se assim, um problema maior, devido à falta de sanitários e improvisando, a população, suas funções básicas.

Fonte: FOTÓGRAFO EULOGIO NISHIYAMA. (1950)

FIGURA 58 - Avenida del Ejército (ou setor de Chunchullmayo) ocupada por outros desabrigados. Outro tipo de tendas levantadas mais organizadas. Em primeiro plano estão sendo levantados os sanitários coletivos em previsão de contar com os mínimos serviços de higiene.

Fonte: FOTÓGRAFO ANTONIO MENDOZA NEYRA (1950)

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Evidentemente, as necessidades de moradia eram as mais preocupantes, mas o

Estado percebeu que as diferentes áreas da cidade apresentavam um denominador comum que

era a falta de serviços básicos. A ideia de levantar moradias, improvisadas com esses

desabrigados, começava a tomar força.

O Estado determinou a construção de vivendas provisórias para atender às

necessidades de abrigo com condições mínimas de habitabilidade. O Estádio da Universidade

de Cusco (UNSAAC) foi o centro de acolhimento para as famílias despossuídas dos seus

pertences (Figuras 67 e 68 ‘Desabrigados ocupando áreas abertas da cidade’ em Apêndice).

Ao finalizar o mês de agosto, dentro da Câmara de Senadores, aprovou-se um crédito

de 2 milhões de soles, para as obras mais urgentes de reconstrução. “Para a conclusão [sic] de

barracas, instalação de serviços higiênicos e construção de defesas com cimento, nos grupos

de barracas, atualmente construídas” (SENADORES..., 1950, p.2) (tradução nossa).

A segunda ação do Estado foi garantir à propriedade privada através do DL no11.366,

que autorizou o Banco Central Hipotecário del Perú (BCHP) para concessão de empréstimos,

exclusivamente destinado à reparação de imóveis danificados pelo terremoto. Era financiado

pelo BCHP até 75% do custo formado pelo valor do terreno, da construção aproveitável ou da

inversão por repará-la.

A terceira ação foi um crédito extraordinário de três milhões de soles, que autorizava

ao Ministério da Fazenda e Comércio abrir uma conta para acudir aos desabrigados,

reparações de imediata urgência, restabelecimento dos serviços públicos e reabilitação da vida

urbana da cidade de Cusco, em concordância às necessidades dos: Ministerio de Fomento y

Obras Públicas (MFOP), Ministerio de Agricultura (MA) e do Ministerio de Salud Pública y

Asistencia Social (MSPAS).

Antes de julho, os recursos se tornaram insuficientes e, através do DL no11.367, o

Governo Central do Estado habilitou um “crédito extraordinário” exclusivo para o

reestabelecimento dos serviços públicos com o DL no11.425. Mas as necessidades

continuavam e os montantes estipulados não alcançariam o requerido. Mais tarde, o Governo

Central ampliou o crédito aberto e promulgou o DL no

11.478 adicionando meio milhão de

soles a mais, para evitar a propagação de epidemias.

Nesse processo emergencial, assumiu também dedicação e especial cuidado para

com os Monumentos Históricos (com as Obras de Arte e os edifícios de propriedade do

Estado). Como aspecto ressaltante, advertia-se que a restituição dos monumentos deveria

obedecer a um estudo prévio de um plano integral e a necessária aprovação para executar a

sua reconstrução total. Por essa decisão das autoridades, abriu-se uma conta exclusiva no

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valor de dez milhões de soles (DL no

11.392), importância considerada como montante anual,

e uma similar quantidade, para os anos vindouros.

Devido às circunstâncias do momento emergencial e ás necessidades da população é

que o Estado decidiu realizar a demolição de edifícios em ruína, translado de escombros, a

construção de vivendas provisórias e demais obras de caráter urgente, enfatizando que

deveriam ser executadas antes da próxima estação das chuvas. Dessa forma, cria-se a Lei no

11.489 e destinam-se dois milhões de soles em conta aberta do DL no11.392, para lograr os

objetivos.

Basicamente, a ajuda em defesa do patrimônio se reduzia a realização de tarefas

emergenciais isto é, colocação de escoras de madeira, “pies derechos”14

e cimbres para a

estabilização de estruturas, muros, tetos, abóbadas e arcos a fim de evitar queda total de

elementos tais como as peças de pedra das torres e das partes mais altas dos monumentos.

14 Elementos, em geral, de madeira colocados provisoriamente, que evitam o colapso de variadas estruturas em iminente perigo, tais como: muros, arcos, abóbadas entre outros.

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3.2.2 Solidariedade Nacional

A atenção e a ajuda dos próprios peruanos deflagraram toda uma cadeia de aportes

que chegaram de várias formas. Do tipo material (com alimentos, medicamentos e

ferramentas para a remoção de escombros); de assistência técnica (desde a médica até com

pessoal técnico em demolições, visando atender aos casos mais urgentes para atender a

população) e, em grande parte, do tipo econômico15

. Todas elas provenientes de entidades

públicas, outras particulares, inclusive de pessoas físicas anônimas (CONTINUA..., 1950,

p.3).

Por um lado, algumas coletas em prol dos desabrigados do sismo se realizaram em

Lima (RM s/n 1950) organizado pela “Associação de Estudantes e Profissionais

Cusquenhos”, pelo “Centro Social de Cusco” e pelo “Arcebispado de Lima” que, durante um

dia de celebrações, reuniria todas as doações nas missas, nas igrejas e capelas de toda Lima,

Callao e Balneários, para os sobreviventes do terremoto.16

(SE HARAN...,1950,p.5).

Por outro lado, a “Junta de Auxilio Pro damnificados de Cusco” convocou o

Comércio e os Bancos e Indústria para organizar uma “coleta nacional” (EM MASA...,1950,

p.12). Em favor da população escolar, o Estado autorizou ao Ministério da Educação realizar

a coleta de “Fundos para a Reconstrução de Locais Escolares do Cusco”. Muitas instalações

estavam sem condições e o “Fundo de Educação Nacional” anual era insuficiente, para

atender as demandas. (DS 810-50)

Houve grande sensibilidade dos políticos, o que resultou em propostas efetivas para a

reconstrução de novas edificações educacionais. Nesse sentido, três Deputados não

representantes da Região de Cusco, “solicitaram à Presidência da República, que fossem

descontados 200 soles de seus emolumentos [sic] a fim de incrementar os fundos destinados à

reconstrução do Cusco”.

Mas o grande propósito dos políticos seria a quantidade de verba proposto por ano

durante uma década o que, infelizmente, não resultou positivo para os interesses de Cusco.

(LA RECONSTRUCCION..., 1950b, p. 3)17

15 A Relação de doações de pessoas e instituições (nomes e quantidades) foi publicada e recebida pela “Junta de Auxilios Pro Danificados de Cusco”

16 O Bispo Auxiliar de Lima e o Arcebispado de Lima pedem para se realizar a coleta durante as missas a serem celebradas em 28/05/1950 e serem depositadas na secretaria arcebispal para seu envio à cidade de Cusco.

17 Os deputados solicitaram que, durante 6 anos, fossem descontados de todos os legisladores pelo menos 5 % de seus honorários pelo tempo que durasse o mandato e que fosse consignado do Orçamento Geral da República uma quantia anual, mínima, de 50 milhões de soles durante dez anos.

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Por outro lado, em separado outro Deputado18

pela Región de Ancash, solicitou um

beneficio extra para que todos os empregados públicos de Cusco recebessem “dois salários

como subsídio extraordinário e único” em compensação pela perda de suas casas, móveis,

roupas e todo tipo de pertences. O pedido apresentado na Câmara foi aceito por unanimidade.

(PRO VÍCTIMAS..., 1950, p.4)

Em contrapartida, surgiu uma iniciativa contrária aos interesses patrimoniais da

cidade, quando formularam um “anteprojeto de lei”.19

Nela, se incitava que os proprietários

fossem construir nas áreas livres das propriedades. Literalmente, o artigo primeiro indicava:

“Concede-se o prazo de dois anos aos proprietários de áreas não edificadas, que estejam

localizadas na zona urbana do Cusco”.

A particularidade desse documento era que não se considerava a insolvência

econômica do proprietário. Promovia-se a expropriação forçada, um atentado contra a

propriedade “desapropriação” e por não ter um critério detalhado para a forma de como se

realizaria a reconstrução nas áreas livres. Felizmente, graças a essa iniciativa que não

prosperou, a cidade de Cusco, não sofreu transformações impróprias (SOBRE EL...,1950,

p.3).

No decorrer das primeiras atividades de limpeza e levantamento dos escombros da

cidade começavam a aparecer desencontros e ações pouco apropriadas. A ajuda de

equipamento pesado, tratores, pás mecânicas (uma, cedida pela Peruvian Corporation

Limited), caminhões de entulho e quantidade de operários para as labores, foram os

instrumentos que estiveram ajudando a destruir o patrimônio, de pouco em pouco e,

silenciosamente. (Figuras 69 a 74 ‘Levantamento dos Escombros’ em Apêndice)

Eram notórias as ações que se desenvolviam em cada setor, mas tinha que se

propiciar um vínculo de comunicação entre a população e as autoridades, para realizar toda

atividade que envolvesse as atitudes pós-terremoto.

A iniciativa adotada pelo “Sub-comitê de Propaganda”20

do ‘Comitê de

Desabrigados pelo Terremoto de Cusco’ foi exemplar. O sub-comitê organizou um ciclo de

conferências (em diferentes datas) a fim de buscar um consenso para a reconstrução da

18 O Deputado Edmundo Artola del Pozo (que morou muitos anos em Cusco) conseguiu a aprovação dos dois salários únicos em 10 de agosto de 1950.

19 O anteprojeto de lei foi formulado pelos advogados conhecidos da cidade, para a mais rápida reconstrução do Cusco. 20 Conformaram-se diferentes grupos a fim de realizar tarefas específicas e trabalhar organizadamente. Um deles era o

“Sub-comitê de Propaganda”

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cidade. O tema em questão foi: “Cusco e a necessidade de intensificar a campanha em favor

da reconstrução da cidade”.21

(LA CRÓNICA, 1950, p. 5).

A Sociedade de Engenheiros de Cusco também decidiu solicitar apoio ao Governo

Central, assim como ao MFOP, para o “envio dos técnicos profissionais que se encarregassem

de levantar o plano cadastral, base do plano regulador e ao mesmo tempo da reconstrução dos

monumentos históricos” (LA RECONSTRUCCIÓN...,1950c, p. 2).

No entanto, sabia-se que a responsabilidade dessas atividades pertencia ao Governo.

Contudo, a ajuda em defesa do Patrimônio se reduzia a tarefas do tipo emergencial.

A remoção dos escombros e o processo de demolição, desde o primeiro momento,

receberam ajuda do governo, mas a forma como se procedeu deixou muito a desejar. O acervo

fotográfico da família Nishiyama22

dá a ideia exata de como foi o processo de remoção dos

escombros com a destruição de vários edifícios, com comprometimento patrimonial de

pequeno ou de grande porte.

A lei que autorizava a limpeza e remoção de escombros baseava-se na ideia de

demolir estruturas que ofereciam perigo iminente para a população ou representavam um

obstáculo para o fluxo e refluxo de pessoas e veículos.

Mas, na prática, os procedimentos realizados eram resposta a uma fome de mudança

radical sob a ordem de técnicos que mandavam operadores de máquinas puxarem correntes e

cordas para acelerar as demolições (Figuras 75 e 76).

De fato, o que se percebe é uma pretensão de “tabula rasa", como forma de viabilizar

a “modernização” posterior. Dessa forma, a agressão ao patrimônio edificado promovido

pelos engenheiros e operários, por conta da ausência do devido conhecimento da história e

dos valores culturais que compreendem a identidade do lugar.

Para esses trabalhadores, o importante era concluir rapidamente o encargo, desde as

altas autoridades nacionais e locais, destruindo estruturas antigas, vestígios originais de uma

cultura milenar. (MOREIRA, 2004 p. 25).

21 Para o dia 5 de junho estava anunciada a conferência do Diretor do Museu Histórico Nacional e Presidente da Comissão de reconstrução do Cusco, Luis E. Valcárcel, bem como para o dia 7 de junho a do cidadão Atílio Sivirichi. Ambos foram grandes defensores dos monumentos históricos da cidade.

22Acessou-se a parte do arquivo fotográfico deixando perplexa a imaginação, por momentos muito fortes a forma como se realizou a remoção dos escombros. Muitas imagens ainda inéditas para os olhos dos entendidos e da comunidade em geral. Destaca-se a gentileza que foi brindada do arquivo fotográfico da família Nishiyama (em maio de 2010) pelo filho, também fotógrafo (Carlos), por intermédio das grandes relações pessoais com o Antropólogo Percy Paz Flores.

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FIGURA 75 - (Momento 1): Corda entre a coluna e o equipamento pesado. Nos precisos momentos em que a pá mecânica começa a puxar a corda atada à primeira coluna dos portais em pé (lado esquerdo). A vista e paciência dos moradores atônitos. Demolição do quê?

Fonte: FOTÓGRAFO EULOGIO NISHIYAMA (1950)

FIGURA 76 - (Momento 2): O desabamento dos portais. Todo o primeiro andar e portais à visa e paciência de moradores locais. Essa era a forma de realizar a demolição. A lei do mínimo esforço

Fonte: FOTÓGRAFO EULOGIO NISHIYAMA (1950)

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Os vídeos dos arquivos da Universidade de Pensylvania”23

confirmaram o método

aplicado para demolir as edificações. Em outros setores da cidade, casas menos importantes

em perigo de desabar, foram rapidamente para o chão com o uso da técnica: ‘maquinaria

pesada e cordas’.

O processo de demolição ordenado pelos engenheiros aos subalternos foi radical,

mas mesmo assim, requereu-se de mão-de-obra não qualificada para atender a demanda das

demolições.

Essa forma de ação da engenharia revelou dois fatos:

Um, que muitas estruturas incaicas foram reveladas como base das edificações

coloniais e que haviam permanecido intactas apesar das catástrofes sofridas no tempo.

Dois, tudo isso demostra que, a imposição dos conquistadores por levantar a sua

cidade não conseguiu destruir o material pétreo da cidade Inca, apenas conseguiu ocultá-la

devido a sua solidez (Figuras 77 e 78).

FIGURA 77 – Muros incas à esquerda permaneceram intactos. O sismo destruiu a casa colonial e os portais de toda a parte frontal da propriedade.

Fonte: FOTÓGRAFO ANTONO MENDOZA NEYRA (1950)

23 Os vídeos dos arquivos da Universidade de Pensilvânia foram encontrados de forma casual. Foi um amador da história de Cusco que se interessou por mostrar ao mundo e os espalhou pela internet. Hoje podem ser acessados facilmente.

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FIGURA 78 - Muro inca em detalhe. Apesar das reconstruções iniciadas, as estruturas incas formavam a base para novas edificações.

Fonte: FOTÓGRAFO EULOGIO NISHIYAMA (1950)

O processo de remoção de escombros começou sob o pretexto da reconstrução da

cidade. Houve evidente agressividade ao demolir estruturas antigas, usando máquinas para

abrir estradas, método que destruiu mais a cidade do que o próprio terremoto. Foi a segunda

destruição do Cusco antigo, agora provocada pelo homem.

A extrema ausência de especialistas para supervisionar as obras de demolição têm

permitido ações como esta: “a portada incaica com verga monolítica e ombreiras laterais tem

sido seriamente afetada pela demolição”. (SE PRECISA...,1950, p.3)

A reação dos ilustrados, pessoas de renome e profissionais da área, como

arqueólogos, historiadores, antropólogos, arquitetos e a população em geral não tardaria em

mostrar seus sentimentos de revolta e de protesto, enquanto as obras de demolição

avançavam. Sabia-se que afetavam diretamente as evidências da cultura inca de maneira

irreversível. Esse grupo constituiu uma espécie de “Comitê de Vigilância” dos cidadãos a fim

de evitar similares trabalhos de demolição no centro da cidade.

Efetivamente, ao se alargar ruas antigas da cidade, como a de Santa Catalina

Angosta, descobriu-se um muro incaico que, durante o processo de demolição das estruturas

afetadas pelo terremoto, se pretendia demolir para ampliar a rua. Diante da situação, o muro

foi cercado por representantes daquele “comitê”, formando uma “corrente humana” ao redor

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dele para evitar o desaparecimento do muro de factura fina (técnica muito caprichada no

acabamento com a pedra) que pertenceu ao Hatun Cancha24

. Em sinal da evidência hoje

(2013) pode ser vista tanto o alargamento da rua assim como o destaque do vestígio incaico

(BAUER, 2008, p. 219). (Figuras 87 e 88; ‘Processo de Reconstrução de Monumentos’ em

Apêndice).

Um aspecto pertinente neste ponto é o conceito em referência às construções do

passado. A noção de “Monumento Histórico” e “Patrimônio Nacional”25

se tornaram

oficializados nas Américas nos anos de 1930. Termos que evidentemente não se usavam na

época (conhecidos talvez apenas por alguns), mas já estavam consagrados na Europa desde o

início do século XIX. (SANT’ANNA, 2004, p.19)

O conceito de “Cidade Monumento” protegida pelo Estado, é construído na América

Latina antes que na Europa. Assim alguns países já haviam reconhecido e declarado seus

monumentos, tacitamente; em 1918 (Panamá)26

, 1928 (México)27

, 1929 (Peru)28

, 1931

(Brasil)29

(AZEVEDO, 2001, p.297). O entendimento dos conceitos relativos ao patrimônio

em uma linguagem compreendida pela população era muito prematuro. Somente a partir dos

anos 70, por exemplo, no Peru, os termos “preservação”, “restauração” e “patrimônio”

cultural vieram a se consolidar.

No século XVI, a invasão espanhola violentou a cidade de Cusco, ao realizar grandes

saqueios de ouro e prata, destruindo os templos e palácios da cidade inca. O argumento dos

conquistadores foi que a existência de materiais (madeira e pedras) dos prédios velhos e

abandonados deviam ser retirados para levantar a cidade espanhola (BARRENENCHEA apud

AZEVEDO, 2009, p.129).

Se a agressão humana destruiu a cidade uma vez, no século XX as forças da natureza

se encarregaram, mais uma vez, do ato. Desta vez, a força do terremoto e as demolições

posteriores fizeram ressurgir detalhes da civilização inca, ainda desconhecidos.

Para a construção da cidade espanhola em si os próprios espanhóis destruíram os

monumentos incaicos para em seus lugares erguerem com os antigos silhares, os novos

24 Segundo o mapa da cidade de Cusco Inca mostrado pelo autor Bauer, efetivamente, existem muros de importância e coincidentes com o exposto no relato. O muro citado está registrado no mapa.

25 Na Revolução Francesa os objetos antigos ganharam um papel político importante para o Estado devido à necessidade de se salvar da destruição, do saque e do vandalismo, os imóveis e obras de arte pertencentes à nobreza e ao clero.

26 Panamá é declarado Monumento Nacional em 1918. 27 México, Taxco é protegida por legislação estatal (provincial) em 1928, Pátzcuaro e Cidade de México em 1934. A

legislação federal mexicana de patrimônio foi aprovada entre 1968 e 1970 28 No Peru, Cusco foi vinculado ao Patronato Nacional de Arqueologia em 1929 e o Conselho Nacional de Conservação e

Restauração de Monumentos Históricos foi criado em 1939. 29 No Brasil, Ouro Preto declarado Monumento Nacional em 1931, a legislação federal e o Serviço de Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional criado em 1937.

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edifícios da era colonial. A Basílica Catedral de Cusco foi construída com esse material

(pedras de Saqsaywuaman) apesar de sua magnificência e significado para os antigos

peruanos.

Não só isso pelo acordo de 1552 (do ‘cabildo eclesiástico’)30

os espanhóis mandaram

baixar para esses mesmos fins as mais finas peças lavradas dos castelos (do torreão de

Muyuqmarca)31

, deixando apenas seus alicerces (HARTH-TERRÉ, 1975, p.53). (Figuras 79 a

87 ‘Processo de Reconstrução de Monumentos’ em Apêndice)

A versão dos incas contado por Garcilaso nos seus escritos da época (1535), mostrou

claramente que houve um apego dos antigos peruanos aos seus edifícios. Eles incendiaram a

cidade em rebelião aos espanhóis que estavam destruindo seus palácios (Casas reais, o

Qasana e o Amarucancha entre outros)32

. A palha dos tetos ajudou a grande queima das

edificações (GARCILASO, t III, p.33).

No século XVII, ao ser criado a ‘Comissão de Extirpação da Idolatria’, destruíram as

huacas33

e ídolos onde desapareceram grandes testemunhos arqueológicos, além de derrubar

monumentos para construir outras edificações, como a reconstrução da capela do Hospital dos

Naturais – atualmente, Igreja de San Pedro de Cusco. “Se desfizeram de todos os terraços que

embelezavam a colina Picchu” (ESQUIVEL Y NAVIA, apud AZEVEDO, 2009, p. 129).

No século XIX (1840), o antigo convento dos ‘Agustinos’ de Cusco sofreu um

bombardeio ordenado pelo Mariscal Gamarra desaparecendo praticamente a sua igreja.

(Figuras 95 e 96).

No século XX (1912), as casas do monastério de Santa Clara (para ser ocupada pelo

Mercado de Abastos) e, em 1940, o quarteirão que ocupava “El Cuadro” para tornar-se o

Hotel de Turistas de Cusco. Entre outros que, com escusas diversas, conseguiram destruir

parte do patrimônio em diferentes épocas (Figuras 93 e 94 ‘Processo de Reconstrução de

Monumentos’ em Apêndice). Essa prática construtiva foi, até a década dos anos 70, comum

em muitas casas inclusive modestas. Hoje apresentam desde seus alicerces, portadas, colunas

e todo tipo de ornamentos com esse material lítico, a chamada ‘pedra de Saqsaywaman’.

Antes ou depois do terremoto a mão do homem ajudou à destruição com, ou sem, argumentos

ignorando, na maioria dos casos, o valor patrimonial dos monumentos.

30 Comunidade de eclesiásticos ou grupo de pessoas composto por um prefeito e vários vereadores que eram responsáveis por gerenciar e governar um município.

31 Muyuqmarca em Quechua significa “lugar redondo”. Sobre o templo inca de Saqsaywaman, na parte alta, existiam três torreões. Um deles de base circular, outro quadrado e um último retangular.

32 Vocábulos em “Quechua”. Língua única dominada pelos incas durante seu império. 33O termo quechua ‘huaca’ ou wak'a, designava a todas as sacralidades do Império Inca: ídolos, templos, túmulos, múmias,

lugares sagrados, animais, estrelas do ayllu ou clãs. Acreditavam descender de seus antepassados, incluindo divindades principais como o sol e a lua.

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3.2.3 Socorro Internacional

Ante a situação suscitada em Cusco viria o socorro indireto e o ‘Banco

Interamericano de Reconstrucción y Fomento’ (BIRF), se adiantou para realizar estudos com

o fim de propiciar empréstimos sob a modalidade de projetos (EL 6 DE JULIO...,1950, p.5).

Nessa data se anunciava a chegada de uma missão especial integrada por técnicos

especialistas em desenvolvimento econômico e financeiro. Outros organismos já realizavam,

em paralelo, estudos de diversos aspectos, considerando toda a região de Cusco.

O BIRF solicitou ao governo informação oficial sobre temas econômicos (rendas

nacionais, orçamento, sistema bancário e financeiro, balança de pagamentos e outros). Com

esse fim, o Governo estabeleceu uma comissão mista entre os ministérios.

O país devia cumprir requisitos indispensáveis para ter empréstimos e para cada

projeto (descrição, custo aproximado, programa de construção, fontes e volume aproximado

de matéria prima, método de financiamento, produção, a justificativa da necessidade do

projeto, utilidades, fontes de trabalho, mercados para o produto e uso de moeda estrangeira).

O socorro direto se daria com o grande número de doações da comunidade

internacional, trazida de forma variada em volumes e quantidades diversas. A lista dos envios

oficialmente recebidos pelos representantes do governo em Lima ou diretamente pela Junta

em Prol dos Desabrigados de Cusco foi de conhecimento geral ao ser anunciados em jornais

locais desde a capital do país (CONTINUA...,1950, p.5).

O ‘Fundo das Nações Unidas para a Infância’ (UNICEF) com seus primeiros

veículos enviados para realizar um trabalho preventivo para evitar a epidemia de tifo na

população da cidade. Por coincidência, também seria utilizado de imediato junto ao inseticida

DDT (TAMAYO, 1981, p. 166). A ajuda médica do ‘Serviço Cooperativo Interamericano de

Saúde Pública’ (SCISP) assumiu o controle sanitário médico da população com um

especialista em sanitarismo34

do ‘Escritório Sanitário Panamericano’ (ESP).

A ‘União Internacional de Socorro às Crianças’ (UISC), a ‘União Internacional de

Proteção à Infância’ (UIPI) e o ‘Comitê Internacional da Cruz Vermelha’ (CICV)35

remeteram um carregamento aéreo a Cusco, contendo diferentes objetos de auxílio aos

desabrigados. A CICV havia convocado36

a “Batalha da Solidariedade”, a nível mundial, a

34 Acompanhado de diversas drogas medicinais, o Dr. Richard Gresiy, prestou fortes serviços sanitários 35 Esse comitê e a ‘Liga das Sociedades da Cruz Vermelha’, associadas à ‘União de Mulheres Americanas’ e à ‘Ordem de

San Juan de Jerusalém’ entraram em contato com, a ‘Cruz Vermelha Peruana’ e esta, por sua vez, com o Comitê da Cruz Vermelha de Cusco.

36 A “Batalha da Solidariedade” se realizou entre o 22 a 28 de maio de 1950 e somaram-se a ela mediatamente: Austrália, Argentina, África do Sul, Bolívia, Bélgica, Canadá, Costa Rica, Cuba, Colômbia, Chile, Equador, El Salvador, EEUU,

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todas as ‘Sociedades da Cruz Vermelha’, para dar assistência imediata às vitimas do

terremoto.

Com toda a carga em mãos, instalam-se na cidade de Cusco, realizando diretamente,

as inscrições para as doações e criaram-se “Comitês Locais” para uma melhor distribuição

(Tabela 3 em Apêndices).

Segundo Paz-Soldán (1951, p.60) “Se alinhou uma verdadeira frente de socorros com

as expressões de simpatia e oferta de contribuições das seguintes sociedades que trabalhavam

sob o signo caritativo de Genebra”.

Por via férrea, a “Fundação de Ajuda Social Maria Eva Duarte de Perón”37

entregaria

diferentes tipos de objetos, como auxílio para as vítimas38

. Cabe destacar que, a missão

devido às necessidades de moradia provisória, estava acompanhada por um grupo de

carpinteiros para ajudar no processo de construção de barracas (CONTINUA...,1950, p.5).

No entanto, um oferecimento incompleto chamou a atenção da imprensa local.

Foram as 500 casas (módulos desarmáveis) para acomodar a muitas famílias que o governo

dos EEUU ofereceu a preço reduzido de $ US 1,500/unidade (custo real $US 7,000).

Após aceito pelo governo peruano, os módulos que deveriam ser trazidos do Panamá,

onde estavam estocado, não apareceram na cidade nem houve mais noticias posteriores desta

oferta. (AMÈRICA..., 1950, p.1)

Numa petição enviada desde o Vaticano, o anúncio apostólico de sua Santidade,

enviou uma comunicação escrita e paternal, expressando o “sentimento de dor” e fazendo um

aporte pequeno pecuniário, ao enfatizar “a reconstrução das igrejas, mais seriamente afetadas

pelo sismo”39

, dando uma quantidade mais “simbólica” do que significativa (EL

PATERNAL..., 1950, p.3).

O objetivo de iniciar as obras de recuperação do patrimônio da cidade não era tão

fácil, devido ao grande número de monumentos religiosos e civis que sofreram danos

consideráveis. Frente à tamanha responsabilidade com relação à reconstrução de uma cidade

Guatemala, Grã Bretanha, Honduras, México, Nicarágua, Nova Zelândia, Portugal, Paraguai, Panamá, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

37 Inicialmente, chamada de "Fundación María Eva Duarte de Perón" mas que em 1950 tornou-se a "Fundación Eva Perón". Instituição criada por Eva Duarte, primeira-dama da Argentina, durante o primeiro governo de seu marido, Juan Domingo Perón. Teve atividades desde 1948 até acontecer o golpe de Estado em 1955 na Argentina.

38 Agregados da Embaixada Argentina que receberiam toda a carga do trem para formalizar a sua entrega em Cusco. 39 A nota explica que a Nunciatura papal não dispunha de fundos suficientes, mas que o Santo Padre, em paternal solicitude

pelos que sofrem, deu instruções para serem remitidos os 2.000 dólares.

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como Cusco, foi o próprio governo de Odría40

quem solicitou ajuda internacional, dessa vez, à

UNESCO:

As opiniões estavam muito divididas, no Peru, acerca do planejamento das obras de reconstrução da cidade e a restauração, e não parecia fácil chegar a um acordo, então o governo do Peru recorreu à UNESCO pedindo o assessoramento de uma missão técnica (KUBLER, 1953, p.3). (tradução nossa)

Destaca-se a iniciativa do Estado Peruano como fato “único no mundo”, porque foi a

primeira vez que um governo tinha solicitado a um organismo como a UNESCO apoio para

reconstruir uma cidade histórica. (JRFIC, 1952, p.3). Este organismo aceitou o desafio,

convocou especialistas de diferentes países, enviando profissionais para realizar um

diagnóstico exaustivo e propor ações e recomendações, requeridas em seguida.

Surge a Missão UNESCO, liderada pelo Professor George Kubler, que estava

destinada a aconselhar e prestar assistência técnica, a qual diante das dificuldades com a

reconstrução devia assegurar a conservação ou a restauração dos seus monumentos e dos seus

lugares de valor histórico ou arqueológico.

Evidentemente, a missão envolve toda a cidade e seus problemas. Após seus estudos

se produz um relatório completo onde analisa, destaca e conclui a versão técnica mais

detalhada, realizada para Cusco, e se publica em 1953.

No entanto, na cidade as opiniões estavam divididas pela assistência que recebiam os

desabrigados. Como indica Blanco41

(2007, p.1) “No terremoto de 1950 em Cusco, colaborei

como voluntário. No sistema de ajuda minha tarefa era cadastrar os vitimados [...] a

população reagia dizendo: nos têm inscrito dez vezes e não nos chega nada”.

Segundo Tamayo (1981, p. 170) houve também para Blanco, uma injusta

discriminação no repasse de tendas e cobertores. De uma forma ou de outra, a assistência

internacional se sensibilizou, marcando presença de maneira solidária.

40 Presidente do Peru por 8 anos quase consecutivos durante a Junta Militar do Governo do Peru. O primeiro período do 29/10/1948 até 01/06/1950 e o segundo como Presidente Constitucional da República do Peru (do 28/07/1950 até 28/07/1956). (Tabela 4 ‘Presidentes do Peru século XX’ em Apêndice)

41 Blanco, como político e líder de camponeses, inicialmente de filiação trotskista, aparece no cenário político midiático após um levante camponês, em 1962. (Ver seu livro “Terra ou morte nas lutas camponesas no Peru” p.159).

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4.1. Reconstrução da cidade (Lei no 11.551)

Após o presidente Odría ter visitado Cusco na condição de militar e ter prestado

juramento como presidente constitucional, no mesmo ano1 a obra traçada na etapa militar

continuou. A conjuntura econômica mundial favoreceu seu governo, devido à guerra da

Coréia o que provocou aumento dos preços nas exportações.

Os produtos tais como: algodão, açúcar, metal e lã destacaram-se motivando rendas

fiscais para facilitar a realização de obras públicas em todo o país.

O Estado peruano levou sete meses atuando com medidas emergenciais para Cusco

na intenção de voltar a um mínimo de “normalidade”, ou pelo menos, reduzir cada vez os

problemas após o terremoto.

Paralelamente, a população realizava ações, onde o Estado peruano não alcançava. A

iniciativa solidária de pessoas, grupos de vizinhos, profissionais ou técnicos levavam ajuda à

população mais necessitada.

Neste ano, tímidas obras eram executadas na cidade, principalmente, por

particulares. A população se questionava sobre quando iriam a iniciar aqueles trabalhos, que

responderiam a um programa de ação por parte do Estado peruano. Entretanto, não existiam

nem respostas, nem prazos, muito menos eram conhecidos os “Planos do Governo”. O

burburinho e as incertezas passaram a incomodar a população, contribuindo para essa situação

o elevado aumento de preços dos materiais. (EL PROBLEMA..., 1950, p.3).

Por conta de toda essa “preocupação” dos cidadãos, que crescia dia a dia, ela tornou-

se mentalidade (voz comum). A imprensa local não demorou em publicar o pensamento da

população. No entanto, como se não bastasse essa preocupação, a economia dos habitantes2,

havia sido atingida. A capacidade de compra não foi mais a mesma, havia diminuído:

Os preços que atualmente alcançam os materiais de construção são fantásticos, o cimento que em Lima se consegue a seis soles, aqui [em Cusco] se vende nas casas importadoras até 26 soles cada saco, com uma ganancia astronômica. (PARA LA MÁS..., 1950, p.2) (o itálico e o grifo é nosso) (tradução nossa)

A temporada de chuvas se havia iniciado lentamente, e uma advertência local

anunciava o que poderia acontecer: “As chuvas lançarão centenas de infortunadas pessoas às

ruas, às barracas e destas a choças improvisadas [...]” (LA GUERRA..,1950, p.3). À luz

dessas circunstâncias, a população reclamava maior atenção por parte das autoridades.

1 Em 23 de maio viajou a Cusco e tomou conhecimento do terremoto, dias antes de sua renuncia ao cargo de Presidente da Junta Militar

de Governo para ser candidato civil a eleições presidenciais. Em 28 de julho se converte em presidente constitucional. 2 O jornal local solicitava o barateamento dos materiais de construção. A população peticionava que o Estado peruano instale vários

locais na cidade para a venda dos materiais a preço de custo normal para atender à demanda (cimento, ferro, pranchas de calamina, tijolos entre os mais procurados)

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No parlamento era discutido como atender o problema da reconstrução de Cusco e o

que se pretendia. Houve controvérsias e pontos de vista diversos, até que no último dia do

ano, produto da persistência e coalisão dos representantes eleitos pela região3, se promulgou

uma “lei especial” (a no11.551).

Essa lei declarou de “interesse público e de necessidade nacional a reconstrução do

Cusco na sua integridade”. A reconstrução seria a atenção em todos os aspectos por ser o eixo

e cabeça da região e pela sua importância no contexto nacional. Essa lei havia criado o

imposto sobre o fumo para ser possível a reconstrução.

A lei criada não seria uma novidade, no seu estilo de criação, porque desde 1933, o

governo peruano vinha promulgando leis para a realização de obras, através de ‘Juntas de

Obras Públicas’ de algumas regiões do país4, criando seus respectivos impostos, o que serviu

de modelo para Cusco.

O grande aporte desta lei, e a diferença (com relação a leis anteriormente criadas no

país) é que a reconstrução envolvia a Região de Cusco na sua integridade, procurando

fomentar o desenvolvimento industrial, agrário e urbano. Dessa maneira, a lei acima citada foi

a primeira medida, tomada pelo governo, para dar início à fase de reconstrução da cidade.

A crítica não demoraria de se manifestar, e Tamayo (1981, p.177) indica: “pela

primeira vez promulgava-se uma ‘lei especial’ em benefício exclusivo de uma região, desde a

vigência puramente formal dos Conselhos Regionais que nunca foram financiados nem

funcionaram desde a Constituição de 1933” (tradução nossa). Essa foi a experiência até então,

para outras regiões da república, isto é: ‘Lei, letra morta’.

A grande importância da lei é que o aumento do imposto do fumo em 20% (cigarros,

charutos e tabaco de cachimbo; nacionais ou importados) se destinava, exclusivamente, para a

grande reconstrução da cidade e industrialização da região. Segundo Azevedo (2009, p.144),

“se lançavam sementes de autonomia regional ainda que limitada e efêmera”. A lei seria

modificada e reestruturada pelo Estado peruano anos mais tarde.

A denominada lei “Reconstrução de Cusco” estabeleceu todo um programa para

construir unidades de vizinhança (20%); fomentar a indústria da região (Central Hidroelétrica,

Fábrica de fertilizantes e de Cimento, entre outros) com (30%) e, o restante (50%) para

outorgar empréstimos hipotecários, para os imóveis da cidade de Cusco.

Finalmente, o Governo oferece uma série de facilidades para sua execução tais como:

estabelecer uma filial do BCHP na cidade, para atender os empréstimos solicitados;

3 A união dos representantes parlamentares de Cusco teve grande mérito. 4 Estavam constituídas as: “Juntas de Obra Públicas” JOP de Piura (1933-DL7796); JOP de Trujillo (1933-DL 7823); JOP de Lambayeque

(1950-DL 11541); JOP do Callao (1949 DL11008); JOP de Lambayeque (1950-DL 11541) e a JOP de Huancavelica (1950-DL 11542).

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estabeleceu juros bancários a percentagens bem menores que os juros dos bancos comerciais

(3.0% anual e 0.5% por comissão), estabelecendo prazos longos, para o pagamento dos

empréstimos.

De igual forma modificou o Código de Procedimentos Civis quanto à posse de bens

imóveis e títulos supletórios dessas propriedades, entre outros menores que ajudam e facilitam

o acesso a eles por parte da população. Os amplos poderes dados ao BCHP permitiram que

uma equipe de professionais levasse a efeito a norma com toda classe de facilidades5 para que

a população reconstruísse Cusco.

Devido às particularidades da lei, pode-se afirmar que a política aplicada não era

apenas um simples instrumento para a reconstrução, procurava objetivos mais vastos, isto é, a

consolidação de uma base econômica para o desenvolvimento e industrialização da região.

A população cusquenha, em geral, esperava que o agir do Estado fosse rápido e

somente para a cidade de Cusco, mas a espera teve sua recompensa porque esses atributos

mostraram ser adequados para toda a nação peruana por ser a primeira no gênero.

Os autores concordaram que o Estado peruano havia idealizado todo esse processo,

visando o futuro e não apenas dependência como foi até o início da segunda metade do século

XX. Por detrás, desse processo estava a criação de uma base econômica para o

desenvolvimento da região. (AZEVEDO, 2009, p.145). O papel do Estado peruano havia

dado um grande passo nesse sentido.

4.2. Cooperação Internacional

4.2.1 Aportes dos Especialistas ou Conselheiros Técnicos da ONU

Após a destruição de Cusco, a ONU foi um dos organismos internacionais à qual se

solicitaria, formalmente, a cooperação por parte do Governo Central, em vista da grande

necessidade na qual se encontrava Cusco. A convocação da ONU a diferentes personalidades

que começariam a chegar imediatamente e também ao longo dos anos. Na medida em que os

requerimentos iriam aparecendo, esses eram solicitados cada vez mais pelos governos de

turno.

5 Ao estabelecer uma filial do BCHP em Cusco o Estado peruano prevê artigos ante possíveis circunstâncias para a solicitação dos

empréstimos considerando os aspectos: legais, financeiros, de projeto, de obra inclusive dispondo de profissionais para ajudar aos interessados nas obrigações que deviam cumprir por lei. O departamento de engenheiros, arquitetos e construtores levaria uma das tarefas.

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As opiniões técnicas e recomendações de cada um dos especialistas (técnicos), em

conjunto, seriam o grande aporte que a ONU prestou ao país. Esse aporte foi de suma

importância, pois, despertou no Governo, a necessidade de politicas públicas mais

abrangentes, não apenas para a cidade de Cusco, mas para o desenvolvimento de toda a

região. (como será tratado daqui em diante).

Em 1951, Cusco recebe como convidado, o Diretor Adjunto de Assuntos

Econômicos da ONU, para inspecionar a cidade. Após tomar conhecimento dos estragos

produzidos pelo terremoto, ele sinaliza grande interesse não apenas para o programa de

reconstrução, de que a cidade precisava, mas também para seu desenvolvimento econômico.

Essa visita foi tão oportuna, porque Cusco não foi visto somente como um problema

isolado, de levantar uma nova cidade, mas toda a região. Este foi o ponto de partida para

solicitar técnicos, com o intuito de estabelecer as indústrias básicas e as empresas

agroindustriais. (VALCÁRCEL, 1981, p. 397)

Entre 1951 e 1952 realizaram-se visitas técnicas, especializadas em diferentes áreas

(social, econômica, da engenharia, administração, hidráulica, da agricultura, da geologia, da

fotografia e do jornalismo, entre outros) a fim de obter dados estatísticos sobre Cusco e sua

Região. Segundo Valcárcel (1981, p. 398) afirma:

No entanto nós os peruanos discutíamos, sem resolver, como nos organizaríamos para reconstruir Cusco. Chegaram comissões estrangeiras [...] A ONU, graças à intervenção de Enrique Losada, grande amigo do Cusco, enviou em três oportunidades os seus comissionados. (tradução nossa)

Os relatórios especializados dos técnicos da ONU deram às autoridades informações

valiosas, contendo estudos e sugestões para serem levados em conta, os quais, após análises

pelos técnicos peruanos, norteariam as decisões futuras em função das possibilidades que

oferecia a Região de Cusco.

Os estudos apontavam a várias opções as quais, pouco a pouco, já compunham os

objetivos e requisitos do processo de reconstrução da cidade. Podem-se indicar os temas

recomendados oficialmente pela ONU:

- Para o desenvolvimento da industrialização de Cusco, o Cimento, representa um

motor básico. No relatório do Eng. Samuel Mc Anally6, o mesmo indicava existência de

jazidas de minérios em diferentes lugares da região e outras mais próximas a Cusco

(principalmente, o carbonato de cálcio comumente conhecido como: ‘caliça’). O cimento já

tinha sido objeto de forte demanda em Cusco, quando da reconstrução de imóveis

particulares. (JRFIC, 1954, p. 4).

6 Mc Anally de reputação na busca de jazidas, ao explorar a Região de Cusco em vários meses de sondagens e análises preliminares,

encontrou caliça no cerro de San Felipe na Província de Sicuani com as condições para estabelecer uma Planta de Cimento e satisfazer a demanda desse material.

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O preço de venda do cimento na costa era bem menor do que aquele que se vendia na

serra. A partir deste relatório surgiu a ideia de montar uma fábrica de cimento na região, para

satisfazer a demanda. Quando se iniciaram trâmites sobre os terrenos daquelas jazidas, nos

arredores da cidade, o monopólio das fábricas de cimento de Lima já havia tomado a

dianteira, embora essa ideia sempre tivesse sido anunciada na agenda do Estado peruano.

(VALCÁRCEL, 1981, p. 398).

- Energia hidroelétrica; segundo o relatório de André Pfaff e Raoul Chastagnol7, o rio

Vilcanota apresentava lugares com potencial para gerar energia. O relatório acompanhou um

anteprojeto que contemplava a implantação da Central Hidroelétrica com quatro alternativas:

duas a cada lado das margens do rio e, uma quinta variante para distribuir a energia,

inicialmente em dois saltos, mas logo após algumas discussões, optou-se por apenas um deles.

Esse anteprojeto serviu de base para que a Central Hidroelétrica de Machupicchu fosse

licitada posteriormente. (JRFIC,1954, p.4)

- Desenvolvimento industrial, econômico e social; o relatório do economista Rafael

Picó8 conteve variadas informações preliminares, em 1952, que contemplavam as

possibilidades nesses aspectos. Devido a esse trabalho valioso se considerou pertinente (fev.

1955) ampliar o estudo realizado em ligação à influência econômica da Central Hidroelétrica.

O objetivo era obter maior respaldo no momento de se solicitar financiamento

econômico internacional. Em declarações próprias para a época, Picó afirmou: “Cusco é um

microcosmos. Tudo é completo ali. Há de tudo e suas possibilidades são muitas. Se, como

dizem, a interpretação etimológica de Cusco é “umbigo”, está bem denominado e confirmado

pelo conjunto admirável dessas possibilidades”. (POR LA RECONSTRUCCIÓN)...,1952,

p.?).

Por conta do seu informe, Picó passou a ser assessor em “Assuntos Econômicos de

Cusco”. Segundo Valcárcel: “O Peru não deve esperar o resultado dos estudos sobre

industrialização e desenvolvimento econômico em grande escala, para dar início a algum

programa de ação imediata, mas trabalhar paralelamente junto aos especialistas”

(REPORTAJES....1952, p. 1-4).

7 Pfaff e Chastagnol como técnicos hidroelétricos enviados pela ONU para estudar o aproveitamento da energia do Rio Vilcanota

estiveram assessorados e acompanhados pelos professionais peruanos Fritz Vallenas e Daniel Escobar. 8 Rafael Picó filósofo e geógrafo Presidente da Junta de Planejamento do seu país, (Puerto Rico); era experto do Departamento de

Assistência Técnica das Nações Unidas. Esteve várias vezes no Peru conhecendo muito de perto a realidade peruana. Foi designado pela ONU Consultor da JRFIC

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- Economia agropecuária e assistência aos agricultores; o relatório de Alejandro

Quesada,9 economista e agropecuarista peruano, forneceu muitas informações à JRFIC após

terem sido realizado estudos assim como o trabalho de recenseamento para os Distritos de

Chinchero10

e Yanaoca11

, como atividade prévia à implantação do “Crédito Agrícola

Supervisionado” (CREAS).

Segundo a JRFIC (1954, p. 4): “pelas minúcias e detalhe com que têm sido

confeccionados, constituem, por assim dizer, uma fotografia das condições nas quais se inicia

o programa ‘Crédito Agrícola Supervisionado”. Este programa seria o primeiro, e talvez o

último caso, onde o Estado peruano ofereceu assistência técnica e financeira efetivas, aos

camponeses.

Em 1954, a ONU fez uma contribuição de $US 50,000 dólares cuja finalidade era a

implantação do CREAS, em definitivo, na Região de Cusco. Deste total um montante de $US

30,000 dólares correspondia a um pagamento pelo contrato celebrado com a ‘International

Development Services (IDS)’, (cujo presidente era Robert W. Hudgens), por ter prestado

serviços, para fazer funcionar o crédito agrícola supervisionado.

A parte restante, que correspondia a, $US 20.000 dólares, seria enviado em

equipamento agrícola pela própria ONU para dar início aos créditos agrícolas.

Por volta de 1955, dadas as relações de Hudgens com a ONU, pois existia a

promessa de serem enviados em implementos agrícolas e maquinaria12

pela ONU, um valor

que superaria $US 100.000 dólares se Hudgens continuasse prestando serviços à IDS, com o

que haveria um pagamento prévio de $US 21.500 dólares a esta instituição. O Governo de

então não concretizou a ideia, por razões obvias. (JRFIC, 1956, p. 6)

-Administração; os técnicos internacionais realizaram também uma apreciação da

JRFIC com o objetivo de ajudar a levar a parte administrativa da instituição no programa de

intervenção na cidade, de melhor forma.

Antecipando-se a esse fato, conjuntamente com o relatório de Jean Desparmet,

alcançou-se uma documentação, á Junta, com conteúdos administrativos que viessem a

contribuir para futuros trabalhos na área administrativa.13

(JRFIC, 1954, p. 5). Dada sua

aparente complexidade, o sistema não chegou a ser implantado. Requeria-se do conhecimento

e familiaridade mais do que o sistema usado da época.

9 O eng. Quesada também economista-agropecuário da JRFIC deixou valiosa informação. Foram reconhecidos seus estudos e

publicados seus reportes. 10 Chinchero, Capital do mesmo nome do Distrito, pertence à Província de Urubamba e Região de Cusco. 11 Yanaoca, Capital da Província de Canas e Região de Cusco. 12 As conversações inclusive chegaram até estabelecer o material de precedência checoslovaca por parte da ONU. 13Desparmet experto em administração já estava laborando antes de dar serviços à JRFIC e desta recebeu toda forma de apoio para seu

reporte.

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- Fertilizantes; o relatório de Otto Stern consistiu de dois tipos de estudos sobre a

Região de Cusco, um ‘econômico’ e outro ‘técnico’, ambos sobre fertilizantes. O trabalho

realizado, que foi considerado como um anteprojeto em 1954, recomendava ser conveniente

de se fabricar ureia, pelo seu elevado conteúdo em nitrogênio (46%).

Por ter sido localizada uma jazida nas proximidades da cidade de Cusco, estimou-se

ser necessária uma Fábrica de Fertilizantes, produtora de 60.000 toneladas de ureia que, para

seu funcionamento, requeria em torno de 17.000 Kw de energia elétrica. (JRFIC, 1954, p. 6).

Por este motivo a construção da Central Hidroelétrica de Machupicchu foi considerada de

grande importância.

Baseado neste grupo de indicações, sugestões e recomendações dos especialistas

internacionais, o Estado peruano tomou a grande decisão de propulsionar o desenvolvimento

para a Região de Cusco e não apenas a reconstrução da cidade. Os próprios assessores do

governo influenciaram, grandemente, esta decisão e foi o momento oportuno para se iniciar

tamanha tarefa.

4.2.2 Mobilização Internacional, Cooperação Bilateral e Missões OEA/UNESCO

Para Valcárcel, a ‘Organização de Estados Americanos’ (OEA) foi a primeira

entidade que enviou um especialista a Cusco, para se informar dos seus problemas. O

relatório do licenciado Alfonso Cortina noticiou que a OEA enviaria especialistas em

planejamento urbano e construção de moradia (VALCÁRCEL, 1981, p.397).

A ‘Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura’ (UNESCO)

- considerando que o Patrimônio Cultural da humanidade é problema do interesse mundial -

agenda para 1951 uma missão técnica para atender a solicitação do governo peruano. Entre

junho e agosto a Missão Kubler14 visitou a cidade e elaborou um relatório detalhado sobre os

danos ocasionados pelo terremoto.

Em 1955, a “Fundação Rockefeller” por intermédio da ‘International Development

Services Inc’ (IDS Inc) conseguiu uma doação de US$ 7,000 em maquinaria, destinada a

estabelecer uma oficina-atelier de carpintaria e mecânica na zona de Chinchero. Esta

localidade, por coincidência, seria o primeiro distrito onde se implantaria o programa CREAS.

14 A missão oficial integraram: (como chefe) Prof. George Kubler (Departamento de Historia e arte da Universidade de Yale), Luis Mc.

Gregor Ceballos arquiteto-restaurador de México e Oscar Ladrón de Guevara arquiteto de Cusco-Peru em representação do MFOP. Documento publicado em 1953 (Paris), editou-se três idiomas (Inglês, Francês e Castelhano) da série revistas Museus e Monumentos da ONU para educação Ciência e Cultura.

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Em 1956, especialistas da Universidade de Amsterdam realizavam estudos

geológicos na Cordilheira do Vilcanota com a ajuda do ‘Serviço Aerofotográfico Nacional’

(SAN). Solicitou-se aos geólogos (T. de Booy e C.G. Egeler) uma cópia da carta geológica da

localidade de Tinta, Província de Sicuani.

Essa solicitação foi atendida para se ter conhecimento técnico sobre as jazidas, com a

finalidade de se fabricar cimento. O objetivo do governo era ter todos os argumentos técnicos

para implantar uma fábrica de cimento na região. Com o transcorrer dos anos, a necessidade

desse material de construção se tornava cada vez maior.

Diferentes entidades internacionais como a UNESCO, os governos estrangeiros e o

próprio peruano, a partir de 1959, começaram a viabilizar bolsas de estudo a diferentes

profissionais com o objetivo de aperfeiçoar seus conhecimentos em variadas disciplinas.

Dessa forma, o chefe do Departamento de Fomento Industrial é convidado pelas

empresas “Oerlikon Engeneering Company” e “Escher Wyss” (Itália e Suíça) a fim de

inspecionar as fábricas de turbinas, para a Central Hidroelétrica.

Um arquiteto do Departamento da Habitação Urbanismo e Obras Públicas, que

esteve em Roma com bolsa do Governo Italiano, desta vez, ampliou estudos pela UNESCO

para realizar análises sobre Unidades de Vizinhança em Turim, Milão, Veneza e Sicília.

O Governo da França, também deu uma bolsa de estudos, por seis meses, a outro

profissional, a um engenheiro eletricista do Departamento de Fomento Industrial. Finalmente,

o Chefe do Departamento de Reconstrução, o arquiteto Oscar Ladrón de Guevara que, em

1953, havia sido recomendado pela Missão Kubler para aprofundar os conhecimentos de

restauração (na Itália ou Espanha), foi efetivado em 1959, também com uma bolsa de estudos

da UNESCO para viajar aos Estados Unidos, México, Guatemala e Equador. (CRyF, 1959, p.

14)

A CRyF, nas suas relações abertas para dentro e fora do país, recebeu em inúmeras

oportunidades, a visita de diversas personalidades, desta vez foi para ser avaliada em

diferentes aspectos. A UNESCO em 1960 envia a Cusco uma missão para estudar o Processo

de Reconstrução dos Monumentos Arqueológicos.

Essa missão avaliou o trabalho realizado na área, resultando positivas as ações

tomadas e a forma como se desenvolviam. A partir de esta visita, tanto da parte do Estado

Peruano quanto dos organismos internacionais, os processos de verificação ou análise do que

se realizava na região seriam de forma frequente ou quando requeridos. Ao longo do mesmo

ano também, foram atraídos membros de outras organizações internacionais.

Representantes da missão da OEA no Peru, isto é; um funcionário da “Organização

Internacional do Trabalho” (OIT), assim como a missão japonesa de pesquisa hidráulica na

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região, estiveram interessados nas fábricas a serem construídas em Cusco (de fertilizantes e de

cimento).

A missão francesa chegou para estudar o financiamento das obras de eletrificação

urbana e rural da região. Outra missão da Itália, a ‘Italconsulto’ consultora veio a Cusco para

estudar a possibilidade de ocupar a Amazônia e, finalmente, catedráticos da Universidade de

Yale dos Estados Unidos vieram como especialistas na área da arquitetura (CRyF, 1960, p.

23).

A ‘Agência Internacional de Desenvolvimento’ (AID) em 1964, dentro do programa

da Aliança para o Progresso, por meio do Instituto de Pesquisas Stanford enviou um

especialista para prestar ajuda técnica e capacitar pessoal nacional em eletricidade que daria

suporte técnico às plantas da ‘Central Hidroelétrica de Machupicchu’.

A partir dessa inciativa é que a ‘Corporação de Reconstrução e Fomento’ (CRyF)

estabeleceu um programa de aperfeiçoamento para pós-graduados de Cusco com bolsas de

estudos a custos baixos em previsão de, no futuro, não incorrer em custos altos ou solicitar

assessorias de especialistas internacionais.

O caso dos Fertilizantes trouxe essa experiência que foi realizada na Alemanha.

Inicialmente, operariam os especialistas estrangeiros e logo deixariam a operação da planta

em mãos dos técnicos nacionais (CRyF, 1964, p. 7). Momento em que a CRyF com suas

atividades entraria num programa quinquenal de trabalho (DS 88-F) em concordância com os

novos planos de governo.

O presidente de turno (Belaunde) deu amplo apoio à corporação, e a todos os

organismos públicos que ajudaram aos grandes projetos com decretos e resoluções em favor

da prosperidade e recuperação socioeconômica da região. (CRyF, 1964, p. 8).

Por um lado, no contexto internacional, a introdução do conceito ‘turismo com base

no patrimônio’ começa a tomar força a partir da Conferência da ONU15 ao ser tratado o tema

sobre “Comércio e Desenvolvimento”.

Os países em vias de desenvolvimento deviam tomar “medidas pertinentes para

fomentar o aumento de rendas provenientes do turismo” e onde os recursos do Estado peruano

fossem insuficientes. Recomendava-se que os países desenvolvidos prestassem a devida

assistência técnica e financeira para o fomento do turismo e estimulassem os investimentos

públicos e particulares.

15 As recomendações das ONU (35ª Sessão, Genebra,15 jun. 1964) mostravam convencimento de que os países constituiriam um fator

importante para o desenvolvimento econômico e comércio internacional a partir do turismo. Idéia da Conferência da ONU Turismo e as Viagens Internacionais de 1963.

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Por outro, neste mesmo ano (1964), o Governo Peruano propõe a proteção do

Patrimônio Cultural como ‘Bem Comum da Humanidade’ e a valorização desse patrimônio,

dentro de um plano de desenvolvimento econômico na 13ª Conferência Geral da UNESCO16.

Em 196517

, a Câmara de Deputados do Peru recomendava realizar o concurso técnico

e financeiro para Restaurar o Sítio Pré-colombiano de Machupicchu. Pela iniciativa dos

deputados, em 1966, a UNESCO convocou um especialista para realizar o estudo.

Finalmente, o estudo culminou na publicação do “Plano de Valoração de

Monumentos e de Lugares de Interesse Histórico em relação com o Desenvolvimento

Turístico.” (ICCROM...,1966/1).

O autor da publicação, mencionada anteriormente, preferiu o anonimato.18 Ele fez

uma análise sobre vários temas: a geografia e a economia do Peru; o turismo em escala

regional e nacional, e por último, o patrimônio monumental peruano e seu potencial turístico.

O mesmo autor indicou deveriam ser valorizados na costa, o patrimônio das cidades

de Trujillo (Chan-Chan) e Ancash (Callejón de Huaylas), enquanto na Serra incluiu o eixo

Puno-Cusco-Machupicchu-Quillabamba. Para este último, anexou: objetivos específicos,

programação por etapas, estimação de gastos e um esboço da sua rentabilidade.

No mesmo ano, a UNESCO encomendou o estudo do tema a “Proteção e exploração

de monumentos históricos”, onde se pretendeu introduzir para o turismo, o eixo

compreendido pelas localidades: “Coribeni-Quillabamba-Cusco-Puno-Desaguadero”. No

estudo se detalham os meios de acesso19

, o transporte aéreo e terrestre, as acomodações de

hospedagem; o planejamento do povoado (arborização, atividades culturais, lembranças e

folclore) e a restauração dos monumentos do patrimônio nacional (ICCROM...,1966/2).

O importante desse estudo é que a cidade de Cusco foi considerada amplamente para

um programa de restauração em etapas, que alcançou quase 100% dos imóveis, entre palácios,

casas, templos, conjuntos arqueológicos como Saqsayhuamán, Q´penqo, Pucapucara,

Tambomachay, Maras, Moray, Ttiobamba, Chinchero, o Vale do Vilcanota (desde Pisac até

Ollantaytambo), o complexo de Machupicchu, incluindo trabalhos de obras de arte.

16 A Resolução nO 3,332 ponto “g” (Paris, nov. 1964) autoriza-se estudar em que medida a conservação do Patrimônio Monumental de um

país contribui ao desenvolvimento do turismo, com a visão de ajudar aos Estados Membros que empreendam atividades nesse terreno.

17 O governo formula o “Plano de Desenvolvimento Econômico e Social do Peru” (1967-1970). Melhorar as regiões turísticas (quanto a estradas, serviços sanitários, salubridade, telecomunicações, indústrias artesanais e outros). Construir, ampliar e colocar serviços turísticos (hotéis, restaurantes, paradores) formar pessoal para atender necessidades do turismo (escolas de guias e infraestrutura hoteleira). Promover o turismo internacionalmente.

18 O autor teria sido Ali Vrioni, como indica Engel no seu reporte ao tratar o eixo Coribeni-Quillabamba-Cusco-Puno-Desaguadero. 19 O plano de desenvolvimento turístico compreende obras nas proximidades do eixo: vias de comunicação, aeroportos em Juliaca,

Desaguadero, Puno, La Convención e heliportos, infraestrutura hoteleira, a expropriação de imóveis, a intervenção e restauração de monumentos dos povoados, obras urbanas, reorganização dos serviços de piscicultura, criação do conservatório de música, subvencionar a festas tradicionalistas, reflorestamento de áreas urbanas e ribeiras de rios ou lagos, criação de parques nacionais e recreativos, museus arqueológicos, iluminação de vias e mobiliário urbano.”.

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Em 1966, o BID recebe pedido do governo peruano para financiar a pavimentação

integral da cidade de Cusco. Havia vários projetos aprovados e o andamento das obras ia

desde Cusco até o Distrito de San Sebastián.

Continuou o processo de capacitação, desta vez, na República da Colômbia, para um

curso superior de ‘Moradia’ a um membro do departamento de urbanismo, habitação e obras

públicas. Ao finalizar o ano, se anunciavam as fortes medidas de austeridade e cortes

orçamentais. (CRyF, 1966, p. 21)

Em abril de 1967, outro especialista da UNESCO foi encarregado de estudar “O

Desenvolvimento dos Sítios Históricos e Monumentos do Peru. Uma síntese das perspectivas

econômicas” que analisa: o crescimento do comércio de viagens na América do Sul, as

perspectivas para o Peru, a situação do turista no momento, o modo como a economia do país

é afetada, o desejo de expansão do comércio de viagens, as propostas de investimentos em

hotelaria, transporte e promoção, a capacidade de lucro dos investimentos, e as rendas

arrecadadas com o turismo.

Para o especialista, o Peru era praticamente desconhecido como um destino de

viagem, mas que poderia surgir como um “boom” desde que os clientes encontrassem o

devido conforto e serviços que todos os viajantes esperam. (ICCROM...,1967/2)

A UNESCO, em 1968, encarregou uma missão de curta duração20 para os “Estudos

Urbanísticos de Cusco e Machupicchu”. As recomendações estavam orientadas a dar

continuidade aos estudos com consultores em planejamento e política e que deviam ser

aplicados como parte de uma política, a partir do governo Central. (ICCROM...,1968/2)

Invocava-se a reunião dos assessores especializados em Fomento ao Turismo e em

Restauração de Monumentos, assim como, consultores para analises dos problemas de

organização, administração, obras importantes, serviços de transporte, dentre outros.

O que se ressaltou dessa recomendação21

foi de estabelecer um código simples de

normas de edificação e planejamento que abordassem: a construção de edifícios (incluindo a

conservação de monumentos); o Planejamento urbano (zoneamento, permissão de construção,

volume edificável, abertura de ruas novas); o ordenamento do tráfego (direções proibidas e

ruas só para pedestres); parqueamento e saúde pública.

20 A Missão demorou uma semana (28 out. a 4 nov.1968). E, o consultor permaneceu exclusivamente 2 dias em Cusco e 1 em

Machupicchu. 21 Complementa aspectos turísticos da cidade e indica culminar circuitos Cusco-Pisac-Calca-Urubamba-Anta-Cusco e o asfaltado da

estrada Cusco-Pisac-Ollantaytambo. Sugere construir-se estradas para Machupicchu e Santa Teresa desde Ollantaytambo no lado esquerdo do rio Urubamba. De forma geral, Machupicchu deve melhorar como destino e estabelecer a oferta de serviços, o acesso viário principalmente.

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Mais tarde, a UNESCO convocou outra missão para estudar “O mercado turístico

europeu para viagens à América do Sul e em particular ao Peru: Estúdio de mercado”

(ICCROM...,1971/2). O Estudo devia contemplar um trabalho quantitativo e qualitativo com

as possibilidades voltadas para a América do Sul e vice versa.

Analisaram-se os objetivos sob as informações existentes (das diferentes instituições

internacionais, nacionais e locais), e outra que tenha sido levantado diretamente no local

(observação direta, pesquisas, entrevistas e questionários). Também a demanda turística

européia com suas possibilidades futuras, meios de transporte, tendências e alojamentos.

Finalmente, o estudo concluiu, ressaltando, que Peru possui condições básicas

necessárias para aumentar consideravelmente o turismo procedente da Europa, se cumprir três

condições: um estudo de mercado primário, atuar com os mercados europeus em comum e

melhorar continuamente as condições de oferta e as técnicas de exploração.

Em 1972, o recente ‘Instituto Nacional de Cultura’ (INC) do Peru iniciava suas

atividades à frente do patrimônio e viu a necessidade de contar com pessoal idôneo para levar

à frente seu trabalho. Dessa forma, foi solicitada à UNESCO ajuda para formar quadros na

área da conservação e restauração. Esta organização absorveu esta ideia, levando mais a sério

a iniciativa e estabeleceu, em Cusco, um grande Centro de Formação Regional e de vários

cursos na especialidade. Este tema será tratado amplamente na Seção 6.

Com efeito, em fins de 1975, a ‘Missão Cusco’ realizou um relatório sobre ‘O Curso

de Conservação, organizado na cidade de Cusco’. Este estudo teve a tarefa de analisar a forma

como se desenvolveram os cursos teóricos e práticos, observando conteúdos dos cursos de

formação para restauradores para que, baseado nas recomendações pudessem ser melhoradas

as próximas edições (ICCROM...,1975/1).

Para atender a questões, inteiramente de planejamento, a UNESCO, em 1977,

encomendou outra missão e a denominou de “Cusco e seu Território, Problemas de

Planejamento”. (ICCROM...,1977/2). Desta vez, se analisa a experiência realizada no ‘III

Curso Regional de Restauração e Monumentos, Arquitetura e Urbanismo’ dentro do marco do

Projeto Regional de Preservação do Patrimônio Cultural Andino RLA/76/002 da UNESCO.

O curso desmembrou o conteúdo da disciplina de urbanismo, baseado nos “Critérios

e Métodos de Intervenção nos Centros Históricos”. O critério de análise partiu, examinando-

se o tema central do Centro Histórico, com as diversas posturas de intervenção durante as

últimas três décadas, assim como a descrição e análise dos métodos usados na Itália para a

elaboração de um plano relativo ao Centro Histórico.

O caso particular dos aspectos urbanos da cidade de Cusco, dado sua importância

patrimonial, foi levado à reflexão, num primeiro momento, pelo arquiteto italiano Leonardo

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Benévolo em 1976. Posteriormente, baseando-se nas informações do estudo anterior houve

continuidade das reflexões, desta vez, por parte de um grupo binacional de especialistas-

arquitetos: os peruanos José Correa, Roberto Samanez e o brasileiro Paulo O. de Azevedo.

Finalmente, emergiram todas as dificuldades destacando-se aspectos como: o

planejamento do território, o plano do Cusco, os problemas com os Métodos de Intervenção

no Centro Histórico.

Ao se analisar o papel do Plano Copesco e do turismo, destacou-se grandemente o

papel que vinha cumprindo este plano de desenvolvimento em relação ao turismo. Para

ICCROM (1977/2, p. 7) este plano: “desde 1969, é concebido como o instrumento mais ativo

e importante de programação econômica e urbana de uma vasta área territorial que vai do

Cusco a Puno”.22

Em 1977, outro relatório da UNESCO dava a conhecer as formas de atuação

profissional no campo da salvaguarda de certos monumentos de Cusco por parte dos

arquitetos, mas não a totalidade deles.

O documento informava que aquele especialista que estava à frente das tarefas de

restauração, oferecia resistência em querer adotar, dentro dos conceitos da época, as técnicas

mais modernas e sua aplicação eficaz a fim de resolver os problemas do restauro. Pode-se

afirmar que, efetivamente, era um grupo dos arquitetos, totalmente conservadores nos seus

princípios.

Como consequência desse fato, a elaboração do adobe também motivou outra crítica,

por parte de arquitetos conservadores-visitantes, pela forma repetitiva e tradicional da sua

manufatura, inclusive desde a época colonial. Segundo Azevedo (2009, p.139) “Ensaios

realizados em todo o mundo, e comprovados pela Universidade Nacional de Engenharia de

Lima, demostram que agregando 2% de asfalto ou 5% de cimento ao adobe, pode-se duplicar

sua resistência à compressão”. Neste caso, evidentemente não se podia negar aquilo que era

uma técnica apropriada para melhorar este material tradicional. No entanto fez falta a

divulgação e promoção da técnica para mostrar um adobe de melhores características.

A particular atenção, prestada ao estudo do adobe e a pedra dos edifícios incas e

coloniais da cidade, e das províncias, resultou na formulação de 72 recomendações e

particularização de casos. Graças a esta circunstância, sugeriu-se que o Centro Regional de

Cusco, procurasse financiamento para participar, junto com a UNESCO, no Programa

Regional do ICCROM e organizar um Workshop sobre a Preservação de Pintura em Adobe.

22 O plano propunha como objetivo o crescimento turístico da área Cusco-Puno, através da realização de uma infraestrutura viária, um

padrão de instalações de hospedagem e de restauração de monumentos para permitir um benefício econômico para seus habitantes.

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Como consequência de um novo sismo, em 5 de abril de 1986, o Prefeito Provincial

de Cusco e a Direção Geral do INC solicitaram à UNESCO uma missão para a ‘Avaliação da

situação em que se encontra o Patrimônio Monumental da cidade de Cusco’.

Os especialistas Rodrigo Ferreira Andrade (Brasileiro), Oscar Ladrón de Guevara

Avilés e Roberto Samanez Argumedo (Peruanos) foram convocados para realizar o relatório

dentro do Projeto Regional de Patrimônio Cultural e Desenvolvimento PNUD-UNESCO23.

UNESCO (ICCROM...,1986).

A Missão caracterizou os problemas sob o âmbito de três aspectos e com níveis

diferentes de dificuldades: O primeiro aspecto trata dos grandes edifícios que apresentavam

‘problemas técnicos e conceituais’ de restauração que, aparentemente, durante a fase de

projeto ou de obra não foram levados em consideração apropriadamente. Já em outros casos

requeriam cuidadosas análises estruturais. A aplicação da tecnologia do adobe trouxe

resultados positivos nos locais onde foi aplicada.

A segunda refere-se aos ‘aspectos institucionais’, pois houve por parte das

instituições públicas abandono na proteção e cuidado com as propriedades dos habitantes

locais e sua permanência no lugar. Esse fato tem estimulado o abandono e/ou a venda das

propriedades antigas, por não contar com um programa específico para a reabilitação de

vivendas na zona monumental.

O terceiro é o ‘aspecto econômico’ referente a diferenças existentes, entre as

instituições públicas, quanto aos valores estimativos para elaborar orçamentos em restauração

dos monumentos. De fato, não existia um quadro que valores único ou padronizado para as

estimativas e para todas as instituições.

Dito de outra forma, cada uma tinha seus próprios quadros de valores. Por causa

dessa diferença, os valores orçamentários, para um mesmo edifício, variavam entre 2,5 e 21,0

vezes seu custo. Isto complicava a situação do Governo Central ao destinar fundos para estas

intervenções, porque sempre eram dados valores distorcidos ou insuficientes24

, para planejar

um programa de restauração significativo para a cidade.

Para o governo diferentes aspectos estavam sendo analisados em particular, tudo para

entender na sua dimensão, à Região de Cusco. Desde a geografia do lugar, os aspectos

econômicos, sociais e culturais ajudaram a quantificar e entender o problema, para elaborar as

recomendações, que seriam seguidas pelo governo peruano. As indicações dos especialistas

foram aceitas e levaram-se a efeito, desenvolvimento em escala regional.

23 A missão trabalhou dez dias (14 ao 24 de julho). Houve diferentes reuniões com representantes das diversas instituições públicas. 24 O Instituto Nacional de Cultura estimou 94’350,000 de nuevos intis para 42 monumentos, o Plano COPESCO estimou 34’500,000 para

apenas 23.

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Posteriormente, os programas adotados, pelo governo e a ajuda dos organismos

internacionais, por meio dos seus assessores, deram continuidade à atenção á cidade de

Cusco. Esse fato proporcionou maior comprometimento ao andamento dos processos

iniciados pelo governo de turno e suas políticas, ou pelas condições em que se apresentavam.

A reconstrução da cidade resultou em variadas modificações urbanas, isto é, de acordo com as

circunstâncias e necessidades do momento.

A forte ênfase sobre o Turismo Cultural salientava a nova perspectiva dos

organismos internacionais. Não só Cusco era visto como um destino de potencial, mas

também outros países, a partir da década de 1970.

Com o passar dos anos algumas missões incluíram aspectos econômicos exclusivos,

com o que o governo central solicitou empréstimos para empreender projetos na cidade. O

BID, na sua política de velar pelo seu patrimônio, enviou especialistas para possibilitar o

crédito, (caso específico da CHM). Até então, o Estado peruano (por meio da CRyF) tinha

assumido todo tipo de projeto e seus orçamentos.

A questão econômica e as áreas de interesse patrimonial caracterizaram uma

simbiose que só seria entendida, praticamente, duas décadas depois do sismo de 1950, quando

os organismos internacionais financeiros compreenderam que a Cultura era ingrediente

fundamental no desenvolvimento da cidade.

O BID e o Banco Mundial (BM) incluíram, dentro de sua filosofia e das políticas de

desenvolvimento, investimentos destinados à conservação do patrimônio cultural dos povos.

(CRESPO, 2002, p.169).

Nas últimas décadas do século XX, as agências multilaterais25

de cooperação para

países em desenvolvimento, promovidas pela ONU, tiveram seu foco de atenção na questão

do setor urbano, as quais enfatizaram projetos específicos. O papel da ONU, ao influenciar

políticos e planejadores, ou com intervenção direta obedecia a seu objetivo de difundir e

implementar padrões urbanos internacionais.

É necessário destacar que o PNUD deu assistência técnica na capacitação de

profissionais com a ideia do fortalecimento institucional, cujo objetivo era investir mais em

recursos humanos, para uma melhor gestão do desenvolvimento urbano. Assim podiam-se

gerar melhorias mais sólidas e duradouras.

25 As agências da ONU para o desenvolvimento urbano: Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (Habitat); Banco

Mundial, Programa das Nações Unidas pra o Desenvolvimento (PNUD); Fundo das Nações Unidas para Criança (Unicef) e Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Algumas agências governamentais não viram, nas políticas de desenvolvimento

institucional, um investimento positivo (WERNA, 1996, p.14). Estar-se-ia falando da falta de

identificação institucional e migração dos quadros capacitados.

O caso de Cusco foi um exemplo que viu, nessa proposta, um investimento sem

retorno, porque ao serem formados quadros técnicos para a preservação nem todos os

profissionais seguiram a especialidade. Isto é, não continuaram seu exercício dentro da área

devido às mudanças políticas a cada 5 anos, resultando na demissão dos cargos à frente da

conservação do patrimônio.

Outra razão da perda de técnicos dos postos de trabalho foi a remuneração pouco

atraente dentro das instituições públicas. (PAZ Depoimento, 2011)

Para Werna, a questão da assistência técnica tem retornos esperados, mas apenas

após longo prazo. Um dos fatores que tem levado a esse desinteresse é que não se traz

benefícios imediatos para os políticos e funcionários públicos.

Lembrando que, para os políticos é importante ter ganhos a curto prazo, para mostrar

resultados à população e também para promover suas campanhas políticas durante as

reeleições.

Casos extremos acontecem quando o desvio de fundos para fins pessoais se torna um

hábito de pessoas sem escrúpulos. Nesses casos, o não compromisso cívico leva qualquer

sistema a uma crise: “a verdadeira causa da privação e pobreza em países em

desenvolvimento não é a falta de recursos, mas [sic] sim à falta de compromisso político”

(CHEEMA, 1992 apud WERNA, 1996, p.14)

O PNUD enfatizaria seu programa de desenvolvimento a partir de 1990 decidindo

atuar e se concentrar em 6 temas críticos de componente social.26

A nova visão deste

Organismo das Nações Unidas para o Desenvolvimento impulsionaria, além da Gestão

urbana, inciativas urbanas como o Programa de cidades sustentáveis, projeto de cidades

saudáveis, iniciativas para estruturas ambientais urbanas, serviços urbanos, entre outros.

Casos que escapam ao foco principal desta tese.

4.3. Conformação da Junta de Reconstrução e Fomento Industrial de Cusco (JRFC)

26 Alívio da pobreza e participação comunitária; o papel da mulher no desenvolvimento; recursos naturais e o ambiente; cooperação

técnica entre países em desenvolvimento; gestão do desenvolvimento e transferência e adaptação de tecnologia.

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103

Antes da criação da JRFIC, existiam as ‘Juntas de obras Públicas’ (JOP) na maioria

das regiões do país. Em alguns casos, as juntas recebiam recursos do governo Central para

obras exclusivas em função da maior ou menor atividade, principalmente, por causa das

importações e exportações realizadas na região.

Em geral, algumas juntas eram criadas por tempo determinado, outras de forma

indefinida, mas mesmo assim, se estabelecia um prazo mínimo de anos não menor que 30 a

50 anos.

A ideia de se criar uma instituição para realizar as tarefas da reconstrução da cidade,

e fomentar a indústria na região, surgiu em julho de 195027

, logo após o governo peruano

solicitar à ONU a ajuda necessária, a fim de garantir assistência técnica internacional. Esse

organismo enviou uma missão de estudo para se informar dos problemas existentes tanto na

cidade, como no âmbito regional esperando-se dos técnicos um parecer sobre possibilidades

de desenvolvimento econômico.

Essa missão esteve em Cusco entre fevereiro e julho de 1951, liderada por Robert

W. Hudgens28

, acompanhada da engenheira Lilian Peterson e do cidadão Enrique S. de

Losada. (TAMAYO, 1981, p.178)

No relatório29

propunha-se a criação de um órgão com autonomia para fomentar e

realizar a reconstrução da cidade e nele sugeria-se: construir alojamentos para os desabrigados

e vivendas de interesse social; exercer domínio sobre a Amazônia e dar assistência técnico-

financeira para a agricultura e indústria. A proposta da missão parecia estar inspirada no

Tennessee Valley Authority (TVA)30

(TAMAYO, 1981, p.178)

Para Hudgens, Cusco representava uma fonte de grandes riquezas em potencial,

deixando bem claro que se as oportunidades da região estiveram relegadas por muitos fatores,

principalmente pela falta de vias de comunicação (existia o monopólio da ferrovia). Hudgens

(1951, p. ?) afirma:

[...] a Região de Cusco tem características da área montanhosa dos Andes, seus habitantes rurais carecem de poder aquisitivo. Suas pequenas indústrias continuam lutando pela sua subsistência devido à falta de demanda. Os habitantes do Cusco dizem que moram em outro

27 A preocupação por Cusco levaria a diversas reuniões, entre elas a que teve lugar em Lima, após o episodio telúrico. A inciativa do

funcionário boliviano da ONU Enrique S. de Losada, que contatou Luis E. Valcárcel e Francisco Tamayo produziu a idéia de oficializar a petição através do governo à ONU. Segundo Valcárcel se confirma que Enrique S. de Losada esperto da ONU foi de grande ajuda para Cusco ao enviar técnicos em três oportunidades.

28 Hudgens W. Robert era então o Diretor da Associação Internacional Americana para o Desenvolvimento Econômico e Social. 29 Azevedo afirma que o relatório apresentado foi em julho (ver: Azevedo, 2009. p.144.); segundo Tamayo foi em 25 de julho (ver:

Tamayo, 1981. p. 178.) e segundo Salcedo e Oliveira indicam em 24 de agosto. (Ver: Salcedo e Oliveira. 1996 p. 306-314). 30 A Tennessee Valley Authority é uma corporação dos EEUU criada em 1933 para gerar energia elétrica numa região que abarca sete

estados. Sob este modelo foi criado em Afeganistão a Helmand and Arghanbad Valley Authority em 1952 para gerir um desenvolvimento econômico nas regiões dos vales Helmand e Arghanbad para irrigar terras introduzir a agricultura visando a futura economia do país.

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mundo porque, na sua maioria, são índios e o Cusco está muito longe de Lima (tradução nossa)

Graças à recomendação de criar um órgão com autonomia, surgiu a ‘Junta de

Reconstrução e Fomento Industrial do Cusco’. (JRFIC, 1954, p.2). O curioso dessa Junta ao

se instalar, em 26 de março de 1952, é que faz sua sede na capital do país (Lima) enquanto

sua equipe técnica e administrativa fica em Cusco. A primeira Junta agrupava oito pessoas31

e

iniciou suas atividades em junho de 1953. Também se cria o “Comité de Supervigilancia de

Reconstrución y Fomento Industrial del Cusco” (CSVRFIC). A presença do arq. Ladrón de

Guevara daria atenção especial às obras.

Desde seu início, a JRFIC enfocou as recomendações dos expertos das ONU tomadas

com muita seriedade. Mas, apesar das condições favoráveis dadas para empreender a

reconstrução da cidade, ainda assim se cometeram graves erros, a exemplo da desatenção de

moradia popular (VALCÁRCEL, 1981, p. 398). Pode-se afirmar que a não construção da

fábrica de cimento para a Região de Cusco foi o maior erro entre todos, até 1990 a fábrica de

cimento continuava como ideia.

Por volta de 1953 as verbas da Lei da Reconstrução32

não eram dadas como se

esperava, o Estado peruano havia designado uma quantidade mínima graças ao desequilíbrio

orçamental do governo e à diminuição das rendas fiscais.

A JRFIC chegou, em dezembro de 1953, a paralisar a última das obras33

, que

continuaria no ano de 1954 (JRFIC, 1954, p.8). Atrasou-se a execução das obras as que se

realizaram em períodos posteriores.

Depois das primeiras tentativas do Estado peruano para valorizar os monumentos, os

trabalhos de limpeza, desmontagem e recuperação de peças líticas dos já avançados cuidados

iniciados no período emergencial, foi que iniciaram-se as operações de muita

responsabilidade. Como competência da JRFIC, a conservação dos Monumentos tomaria

grande ênfase.

Outras obras civis estavam em andamento paralelamente: o estádio Garcilaso, o

Palacio de Justicia, o Centro de Asistencia Preventiva “Bernardo O’higgins” e a

pavimentação da avenida de La Cultura. Da mesma forma, iniciava-se o desenvolvimento da

pequena indústria e de obras menores tal como no cemitério de La Almudena.

31 Presidente, o Ministro de Fomento de Obras Públicas; um vice-presidente executivo, Representante do Supremo Governo; três vocais:

um Delegado do Conselho Nacional de Urbanismo, um Delegado da Prefeitura Municipal de Cusco, um Delegado da Sociedade de Engenheiros; um Gerente e um Chefe para o Escritório Técnico do Cusco.

32 Havia-se designado um montante de 10 milhões de soles anuais para a Reconstrução dos Monumentos Históricos (Lei no11.392). A JRFIC em 1953 havia recebido apenas s/ 233,333.00 soles.

33 As obras em andamento eram La Compañía de Jesús, (a de maior número de trabalhadores),Templo e Convento de La Merced, Belén de los Reyes, Igreja e convento de San Francisco, Igreja de la Recoleta, Templos de San Sebastian, San Pedro e Santo Domingo, Seminário e Templo de San Antonio, o Paraninfo universitário, os monastérios de Santa Catalina, Santa Clara, os Palácios Arcebispal e Almirante e restauração pictórica.

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105

Em dezembro de 1954, a Direção da JRIFC recebeu, em Lima, a visita da Comissão

Parlamentar de Cusco com o objetivo de modificar a constituição do diretório da JRFIC. Isto

é, que o cargo Vice-Presidente, que tinha ao Representante do Governo Central, devia ocupar

o lugar do Presidente da JRFIC em vista da necessidade de melhorar a comunicação entre o

Estado peruano e a Junta.

A comissão, durante sua estada na cidade, não parou até conseguir o D.S. no2 (de 22

jan.1955), viabilizando dessa forma, em diante, o trabalho da JRFIC. Assim como também se

modificou a constituição do CSVRFIC34

. E principalmente a atitude positiva dos

parlamentares em insistir na ideia de colocar como Gerente um técnico, engenheiro, uma

decisão muito pertinente para os objetivos da instituição.

Parte da modificação da JRFIC também consistiu em criar Departamentos para cada

um dos escritórios de Cusco, outorgando-lhes responsabilidades específicas e a cargo de

técnicos capacitados. A Chefia Geral na sede, com coordenadores para cada tipo de trabalho

estabelecendo-se os departamentos de Crédito Agrícola Supervisionado, Serviços Elétricos,

Contabilidade e Administração (JRFIC, 1956, p.11).

Em 1955, se promulga a Lei no 12.350, que derroga a n

o 11.392 e modifica em parte

a no11.551, na qual se redistribui em percentagens dos fundos estabelecidos inicialmente e as

rendas a que tem direito a JRFIC. Outorga 30% para fomentar a indústria na região; 50% ao

BCHP, para os empréstimos; 10% para a restauração de Monumentos Históricos, obras de

arte e edifícios de propriedade do Estado peruano; 5% para a construção do estádio Garcilaso;

4% para a Restauração e conservação arqueológica de Machupicchu (incluindo um hotel e

melhoramento viário) e o 1% para a Conservação e Restauração de Monumentos Históricos

na Região de Cusco. Desta forma, torna-se importante a colaboração com o Patronato

Arqueológico da Região. (JRFIC, 1956, p.3).

No mesmo ano, o Governo Central novamente havia limitado os fundos da renda

destinada segundo a lei no 11.551 para a JRFIC. O governo central havia entregado apenas 21

milhões dos 28 milhões arrecadados que correspondiam para a Junta. Segundo a JRFIC

(1956, p.5) esperava-se receber a totalidade em 1956.

Havia necessidade de maiores fundos, para levar a cabo tamanha tarefa. Devido a

esses particulares, a Junta sugeriu que se invertessem as percentagens que eram destinadas

para o BCHP (50%) e o programa de fomento industrial (30%). Foi uma ideia que, mais tarde,

no entanto não prosperou (JRFIC, 1956, p 41).

34 O Ouvidor do Governo Central, o Prefeito Provincial de Cusco e o Arcebispo da Arquidiocese de Cusco.

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Curiosamente às obras da JRFIC continuaram e a elas foram adicionadas outras. O

Departamento de Restauração dos Monumentos havia incorporado a igreja de Andahuaylillas

da Região de Cusco e também adicionou outras da Região de Puno a o Templo de San Juan

de Juli e outras que já estavam nos planos, por citar: a Catedral de Puno, os Templos de

Lampa, San Pedro e Santa Cruz de Juli.

Em geral, no entanto, os trabalhos da JRFIC estavam adaptando-se às normas gerais

do Plano Piloto de Cusco. Paralelamente, a Junta estava desenvolvendo o Plano Regulador

(determinando eixos de ruas, alinhamento das construções) (JRFIC, 1956, p.13).

Já estava para ser inaugurado o Centro de medicina Preventiva “Bernardo

O’higgins”, para ser entregue ao Ministério da Saúde. Instalar-se-ia o serviço de água potável

no bairro de Tahuantinsuyo35

, apesar de não ser aprovado como urbanização. Os casos dos

bairros de Rosaspata, Chachacomayoc, Huayruropata e Santa Ana seguiram esse processo.

A Junta celebrou um contrato36

com o ‘Serviço Aerofotográfico Nacional’ (SAN)

para realizar um levantamento aerofotográfico na região de Norte ao Sul, no eixo que

compreende Quillabamba até Sicuani, passando pelo rio Vilcanota, numa largura de 15 km de

cada lado. (Escala 1:20.000). E, complementa o levantamento da cidade de Cusco com o

detalhe de haver curvas de nível a cada 2 metros de (Escala: 1:2.000) para trabalhos de

gabinete futuros. (JRFIC, 1956, p.57)

Após entregar sua última memória, a JRFIC entraria em “Estado de Reorganização”

dando-se por terminados os trabalhos do pessoal do diretório da JRFIC, nomeando-se o novo

Representante do Supremo Governo ante a Junta de Reconstrução mais um Gerente, ambos

integrantes da Comissão, encarregada de apresentar o relatório da reorganização. (JRFIC,

1957, p.4)

A entidade estatal, acima citada, nesse sentido, já dava um sinal do que mais tarde se

confirmaria: a falta de recursos. Dessa forma, o plano se executava parcialmente com algumas

casas substituídas dentro do perímetro histórico. Os créditos hipotecários eram mais

convenientes para levantar uma casa nova do que intervir em propriedades onde o adobe era o

material básico.

A política de orientar os proprietários a tomar atitudes irreversíveis para eliminar o

adobe era evidente, o BCHP se fazia, em parte, responsável pela perda de evidências antigas.

O pensamento de modernização se convertia em apetite voraz e se reconstruíram mais do que

se restauraram as casas e os edifícios de adobe.

35 Todos os beneficiários pagariam em 36 mensalidades os gastos que demandem a obra. (valorizado na época em três milhões de

soles). 36 O contrato nO 8485 de 30 maio 1956, considerava três pagamentos (na assinatura do contrato, no termino da tomada de fotos e na

entrega dos produtos.

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Ao finalizar o ano de 1956, o governo promulgou a lei no 12.676 (Art 27º), para

serem criadas, em todas as regiões do país, as ‘Juntas Regionais de Obras Públicas’ (JROP).

Só um caso excepcional é dado, em 1951, com a criação da lei no 11.629

37, no qual se

implementaram obras em Quillabamba, Província de La Convención, Região de Cusco,

coincidentemente se realizariam obras para a cidade e também estradas38

que ligavam, em

parte o trecho Cusco-Quillabamba.

4.4. Restauração de Monumentos, Reconstrução de Casas e Reestruturação Urbana

O terremoto de Cusco acelerou o processo de restauração, reconstrução e

restruturação da cidade que já era necessária para a época. Talvez, a cidade de Cusco teria

ficado, em abandono, por parte do governo, outras décadas, se não houvesse acontecido o

sismo. A necessidade de solucionar os problemas de moradia, da higiene urbana, (escombros

das edificações e esgotos destruídos, propensos a propagar doenças), da falta de água e

eletricidade, restabelecendo a vida urbana normal, e finalmente, atender aos monumentos

destruídos, se complicava ao longo dos dias e não foi fácil solucioná-los.

Houve ações por parte do governo Central e local que, a princípio, foram

emergenciais, mas determinaram o início para a tomada de grandes decisões com base em

recomendações internacionais e com ajuda de diversos organismos.

Cusco, apesar de ter ingressado numa segunda fase da modernização39, o processo

avançava lentamente. Os “monumentos”40, que tinham proteção por parte do Estado peruano

(o Patronato Nacional de Arqueologia)41 e, em Cusco, o “Patronato Regional” autorizava, ou

não, as solicitações de todo tipo de obras (restauração, intervenção parcial ou total,

modificação, habilitação e outros derivados dessas) quer da arqueologia, quer da arquitetura

na área histórica da cidade (Figuras 97 e 98).

FIGURA 96 e 97 - O projeto (Corte e Elevação Principal) aceito com as indicações do Patronato de Regional de Arqueologia. A

37 A lei promulgada em 9 de outubro de 1951 coloca um imposto para a folha de coca, chá, cacau, amendoim e café. 38 As estradas eram Umasbamba-Ollantaytambo; Chaullay- Vilcabamba; Vale de Occobamba; 39 O historiador Tamayo estabelece a Primeira Modernização da cidade de Cusco entre 1895 e 1945, a Segunda entre 1945 e 1975. 40 Monumentos são (segundo a Lei 6634) os bens referidos em nome de templos, palácios, fortalezas, edifícios, ruínas, pedras e artefatos

de madeira, prata, cobre, ouro, argila, pedras e outros materiais. Todo objeto extraído de terras de propriedade privada. 41 O Patronato Nacional de Arqueologia (PNA) que vela o patrimônio do Peru. Detalha as formas de atuação, sua conservação e

reparação. Seu defensor tenaz, o renomado arqueólogo Julio C. Tello cria o Patronato Arqueológico Regional de Cusco.

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autorização para o edifício da Sociedade Pro Cultura de Cusco Clorinda Matto de Turner (Portal de Panes- Praça Maior

Fonte: Arquivo família Samanez Argumedo (2012)

O Patronato de Arqueologia, que também realizava funções de controle e inspeção,

bem como visitas de supervisão (INSPECIONARAM..., 1950, p.2), ainda continuava nas suas

funções por volta de 1963. Este era o único organismo regulador de todo tipo de projeto,

dentro do ‘Centro Histórico’ (CH).

Depois da visita do mandatário Odría42

à cidade, ele afirmou taxativamente:

“Reconstruiremos Cusco” (EL COMERCIO...,1950). Segundo Hardoy et al, (1983, p. 49)

afirmam que o governo: “iniciaria as primeiras medidas de planejamento urbano e de

reestruturação da cidade, onde deviam ser reparados os danos, causados aos monumentos

coloniais e sobre um conjunto significativo de propriedades”. A destruição atingiu 70% de

forma parcial em alguns casos, de forma total, às edificações.

Em primeira instância se conformam as Comissões (RS 972) do “Conselho Nacional

de Conservação de Monumentos Históricos” (CNCMH) e para Cusco a “Comissão Oficial”

respectiva. (NOMBRÓ..., 1950, p.1). Imediatamente, a comissão após visitas e caminhadas

em toda a cidade, aprovaria um “Plano Integral de Restauração” que seria submetido ao

Governo Central para sua aplicação. (APROBOSE..., 1950, p.1)

No entanto, o escritório técnico permanente da reconstrução do Cusco dependente do

MFOP, apenas realizava ações pontuais e já se realizava um cadastro da cidade toda pelo

ONPU. De fato seria a primeira iniciativa, por parte da comissão, ao considerar quatro ações

envolvendo aspectos urbanos e de reestruturação.

Os trabalhos consistiriam em:

a) obras diversas imediatas de defesa e conservação dos monumentos afetados

(compreende escoras, coberturas sequenciais, desarme de elementos que ameaçavam desabar, 42 O Presidente da Junta Militar, Manuel A. Odría, chegou a Cusco em 23 de maio e retornou a Lima em 26 de maio.

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seleção dos elementos caídos recuperáveis (anastilose), aquisição ou construção de locais

provisórios, que sirvam como depósitos seguros e adequados para guardar neles retábulos,

esculturas, pinturas, joias e demais objetos de valor).

b) Cadastro da cidade; (estimava-se um prazo não menor de seis meses, desde que

houvesse pessoal técnico especializado e em número suficiente).

c) Remodelação da cidade; (embasada no cadastro, um Plano Piloto precederia ao

Plano Regulador definitivo).

d) Projetos completos de reconstrução de cada monumento (também baseado no

cadastro com história da obra arquitetônica, fotografias antes e depois do sismo,

levantamentos tridimensionais e exatos, a escala adequadas, e um detalhe dos elementos a

serem reconstruídos, metragem, lista de elementos recuperáveis e orçamentos).

Em base a esta proposta, uma semana depois, a CNCMH firmou acordos nas esferas

do governo central. (IMPORTANTES...,1950, p.1). A iniciativa ficaria no papel porque

viriam outras ideias e recomendações internacionais.

Após o terremoto, o Prefeito convocou a população local a uma sessão aberta43 para

tratar dos procedimentos para a Reconstrução da cidade. Assistiram mais de 80 pessoas e as

ideias esboçadas do público foram debatidas, resultando em algumas coincidências e

conclusões interessantes. A população assistente coincidiu que se “considerassem os aspectos

fundamentais44

da reconstrução da cidade” (AGUILAR, 1965, t.III, p. 216)45.

As opiniões, das mais diversas, deixaram claro que: um; a Junta Restauradora tinha

como missão dirigir a restauração dos monumentos e, dois; que a Prefeitura e o MFOP

deviam atender a reconstrução da infraestrutura urbanística, ambos em concordância com o

Plano Piloto Regulador. (SOBRE LA...,1950, p.1). Nesse sentido, cumprindo seu papel, a

Junta Restauradora já tinha visitado diferentes monumentos arquitetônicos46. (COMISION...,

1950, p.1).

O desejo dos cidadãos, na verdade, era ver mais obras em execução, para sentir que

Cusco estava sendo reconstruída, porque a pesar do tempo transcorrido parecia que a cidade

de ficaria do mesmo modo após o terremoto. Tal como o jornal local El Sol, (1950, 21 jul, p.

43 A reunião havia acontecido em 20 de junho de 1950. 44 Tais como a reconstrução de monumentos, a construção de nova moradia, reparações das edificações e o reestabelecimento dos serviços básicos. 45 Os Concorrentes à reunião dos chefes das instituições públicas: cidadãos, obreiros, engenheiros, membros do clero, dentre outros.

Destacaram ilustrados como: o Doutor Gabriel Cósio (Presidente do Patronato de Arqueologia), Roberto F. Garmendia, Rafael Calderón Penailillo e Oscar Guevara Avilés. Todos expondo seus pontos de vista onde se ressaltaram os aspectos histórico e sociais como problema capital da reconstrução.

46 Os imóveis religiosos, visitados, foram o Beaterio del Carmen, a Igreja de San Blas, os Monastérios de Santa Teresa, Santa Clara e Santa Catalina.

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2) afirma: “Os problemas da reedificação, não tem sido mais que planeamento e se encontram

ainda no terreno da discussão. É hora de passar dos planos aos fatos, da teoria à prática”.

A cidade era vista com grande variedade de obras em andamento, e se configurava

como uma grande confusão para um olhar simples: o governo por um lado, grupos de

voluntários por outro, e entidades internacionais sob a forma de levantamento de escombros,

obras emergenciais, assistência à população e obras particulares.

Era difícil controlar o processo da reconstrução, pois o Governo Central, sediado em

Lima, resolveu centralizar toda atividade:

A comissão nomeada por DS em 30 de maio centralizará todas as labores tendentes à reconstrução e restauração dos monumentos históricos e artísticos da cidade do Cusco, proibindo-se toda ação em relação aos mesmos que não recebam autorização concreta e direta da dita entidade. (CENTRALIZASE...,1950, p.5) e (DS de 16 jun. 1950) (tradução nossa)

Era evidente a inexperiência por parte do governo central, para atender e resolver as

reclamações dos intelectuais e da comunidade em geral. As ideias eram fartas, mas não havia

uma definição clara sobre como abordar a questão da reconstrução. No meio de comentários,

aconteciam sugestões, confusões, e tantos problemas em conjunto que se tornou necessária a

procura por ajuda internacional. Como Kubler (1953, p. 3) afirma:

Muitos problemas, relacionados com a reconstrução da cidade, e a restauração e conservação de seus monumentos exigiam uma solução urgente. As opiniões no Peru estavam muito divididas quanto ao planejamento para a reconstrução e restauração. Não parecia fácil achar um acordo, de modo que o governo do Peru pediu à UNESCO o assessoramento de uma missão técnica. (tradução nossa)

Para esse especialista da UNESCO, houve alternativas e propostas de diferentes

grupos, dentre eles estavam os intelectuais, políticos e habitantes de Cusco. Kubler enfatizou

que era pouco apropriado incorporar novos prédios à área histórica. Por coincidência, já se

esboçava o Plano Piloto para a cidade, MUTAL (2001, p. 120).

Os critérios de restauração e conservação (reconstrução de monumentos)

permaneceram ao longo dos anos. Porém pode-se afirmar que estes critérios vigoraram até o

momento quando trabalhou para a CRyF (1966) o arquiteto Ladrón de Guevara.47

Em 1964 se assinou a ‘Carta de Veneza’ e em 1967 se redigiram as ‘Normas de

Quito’. No primeiro caso, (a Carta de Veneza) adaptou um conceito mais amplo de

restauração, ou seja, de considerar o monumento no seu entorno imediato. Já no segundo, (as

Normas de quito) insistia no conceito do realce ou valorização (do francês, mise en valeur)

dos monumentos, como uma forma de atrair turistas, e assim, justificar a necessidade de

financiar a restauração para que estes monumentos fossem convertidos em fontes de renda.

47 Este profissional, defensor do patrimônio local, foi o único arquiteto cusquenho da época, que trabalhou à frente dos monumentos.

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111

Conforme as atuações, em materia de conservação e restauração durante a segunda

metade do século XX, Mutal fez a seguinte cronologia denomonando as décadas dos anos 50

e 60 de ‘monumentalista’, as dos anos 70 e parte dos 80 de ‘consolidação do entorno urbano’

e, finalmente, os dos 80 de ‘recessâo econômica’ (MUTAL, 2001, p. 119).

No caso de Cusco, em parte, segue-se esta periodização, devido ao processo de

reconstrução, executado no Centro Histórico, antes da Carta de Veneza. Os critérios e

conceitos sobre conservação só seriam introduzidos e discutidos anos mais tarde. Neste caso,

a preocupação de levar adiante a salvaguarda da cidade antiga era de grande interesse tanto

para as autoridades nacionais, quanto locais.

Em decorrência dos fatos, o governo da Espanha, tornou público, através dos jornais

da época, seu oferecimento para atender os monumentos da cidade de forma especial:

Contribuirá de maneira especial à obra de reconstrução da metrópole incaica [...] a ajuda da Espanha para a reconstrução dos monumentos históricos do Cusco se fará efetiva e imediatamente [...] também se fez acordo expresso em relação à extraordinária cooperação peninsular para o trabalho de restaurar monumentos. (NOTA DE..., 1950, p.2) (tradução nossa).

A cidade antiga de Cusco permanecia vigente apesar da superposição colonial (os

traços ortogonais das ruas -ou damero- ao redor de uma praça central) transformaram à força a

estrutura urbana inca. As edificações mais importantes da cidade, características de uma

conquista do século XVI, hoje representam monumentos seus. Observa-se que o jornal

anunciou, ‘ajuda’, e finalmente, chegou a contribuição.

O governo espanhol48

assume a realização a restauração da ‘Basílica Catedral de

Cusco’ com o arquiteto espanhol, Andrés León Boyer. Basicamente, este arquiteto fez obras

de reforço das estruturas, substituindo alguns elementos, pintando ambientes e embelezando

detalhes entre os anos 1951 a 1953. (TAMAYO 1981, p. 183).

Paralelamente, houve outra missão espanhola, que realizou estudos arqueológicos e

restaurações na localidade de Chinchero (AZEVEDO, 2009, p. 135). Deduz-se que, pela curta

duração das missões, não houve mais notícias nem realizaram o esperado. O silêncio dos

espanhóis e o transcorrer dos dias acabaram distraindo a população e caindo no

esquecimento49

.

Em Cusco a JRFIC que havia iniciado um processo de atenção aos monumentos de

forma silenciosa e, ao longo dos anos, foi adicionando outras edificações na sua lista de obras.

48 Por iniciativa do embaixador da Espanha no Peru, o arquiteto Boyer chegou a Cusco em junho de 1951. Inaugurou as obras acabadas

em 27 abr. 1953. 49 Espanha ajudou, após o terremoto de 1986 que assolou Cusco, somando esforços com a 'Comissão Central de Emergência para o

Amparo do Patrimônio Cultural e Monumental’ (CCEAPCM), e também aportando dinheiro e pessoal especializado por meio da AECI. Anos mais tarde, a Espanha instaura o projeto de formação ‘Escolas-Oficina’.

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Isso pode ser comprovado nas memórias anuais, editadas em cada fim de ano. Posteriormente

a Junta ao ser modificada passaria a ter competência de ‘Corporação’, mas a tônica não

modificaria durante as décadas dos anos 50 e 60.

O papel do arquiteto Oscar Ladrón de Guevara50

foi destacado durante sua

permanência, porque foi ele quem introduziu as técnicas de intervenção (em conservação e

restauração), aplicando procedimentos com recursos e técnicas que a época podia oferecer.

Este profissional soube levar à frente seu trabalho com grande sensibilidade.

A introdução do cimento e o concreto armado não foram massivos, mas ajudaram na

consolidação estrutural dos tambores, cúpulas, arcos e abóbadas, advertindo que o processo da

restauração estava sendo dificultado, devido à falta de habilidade de obreiros no uso de

métodos modernos, porque em geral a prática construtiva ainda era colonial.

A prova das suas ações realizadas é que os monumentos conseguiram resistir aos

embates do terremoto de 1986 na cidade de Cusco. Hoje (2013), estes monumentos

continuam respondendo de forma positiva aos abalos sísmicos sucedidos da maneira esperada.

Os materiais predominantes como: pedra, adobe, telha, tijolo e madeira, e suas

técnicas construtivas prevaleciam na sua forma tradicional. Outro problema era que as vias de

transporte do material construtivo estavam em más condições e a única opção era a ferrovia.

O processo de restauração, realizado em Cusco, avançava passo a passo e deixava os

monumentos, com o passar dos anos, concluídos. As Igrejas de San Francisco, La Compañía,

Belén, San Sebastián (tinham sido acabados, apenas em uma parte os frontispícios) e na Igreja

e Convento de La Merced (haviam sido acabadas obras só no primeiro claustro).

Segundo Tamayo (1981, p. 183) afirma: “entre 1951 e 1956 se realizaram os maiores

trabalhos de reconstrução dos monumentos coloniais. Kubler considerou então (1956) que era

o maior trabalho que se tinha realizado na América” Por essa afirmação, pode-se dizer que a

técnica e os sistemas construtivos, aplicados, eram motivo de orgulhoso para a comunidade.

Nesse sentido, as obras realizadas, na condição emergencial, além do isolamento de

Cusco nos Andes e a falta de experiência profissional no campo restaurativo, tornaram os

resultados tecnicamente admiráveis,

Para Tamayo (1981, p. 181) a audácia, a forma de ter sido abordada toda dificuldade,

o esforço e o empenho prestados, pelos trabalhadores, para os monumentos foram

surpreendentes. Durante o período das obras: a consolidação de elementos curvos51

que

50 O arquiteto Ladrón de Guevara desempenhou cargos de 1950 até 1957 como “Chefe do Escritório Técnico”; de 1958 até 1963 como

“Chefe do Departamento de Reconstrução” e de 1964 até 1966 como “Chefe do Departamento de Reconstrução e Monumentos Históricos”.

51 A igreja da Companhia de Jesus e a Igreja de São Pedro apresentavam diversas rachaduras em diferentes partes da igreja. além das torres desabadas das igrejas de Belén, San Sebastian.

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ameaçavam desabar, em particular, nos Arcos torais)52

; sem equipamento apropriado para

trabalhar a grandes alturas e com a ‘prática da anastilose’ (desmontando, recuperando e

armando peças líticas no chão) se restauraram torres e igrejas (Figuras. 99 e 100).

FIGURA 99 – Átrio da Igreja de Santo Domingo: pleno processo de anastilose praticado na única torre da Igreja após resgate de muitas peças líticas entre os escombros. Umas voltaram para sua posição, algumas foram reutilizadas, outras elaboraram-se totalmente, pelos canteiros locais

Fonte: ARQUIVO JRFIC (1950)

FIGURA 100 – Átrio lateral da Igreja de San Sebastián. Processo similar adotado como na Igreja de Santo Domingo. A reconstrução dos corpos da torre segue o mesmo procedimento. A torre continua sendo montando ao pé da obra.

52 Destaca o historiador Tamayo a habilidade e experiência do trabalhador em obra, Julio Peña Ramos. Assim ele escreveu: “Contra todo

conselho técnico se atreveu a “Calçar” o arco toral da Igreja da Companhia e teve êxito, embora o arco estava, por efeito do sismo, a ponto de desabar.”

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Fonte: REVISTA LIFE (1950)

É de se notar que a restauração em Cusco, no sentido moderno do termo,

considerando as dificuldades apresentadas, começou depois do terremoto de 1950

(AZEVEDO, 2009, p. 133). Quanto à legislação dos Monumentos no Peru, o autor Azevedo

considera três momentos que marcaram a salvaguarda dos mesmos: 1929, com a criação do

‘Patronato Nacional de Arqueologia’ (Lei no 6.634); 1939, com a criação do ‘Conselho

Nacional de Conservação e Restauração’ (Lei no 8.853) e 1972, com a criação do ‘Instituto

Nacional da Cultura’ (Lei no 18.799).

Por outro lado, foi já em 1961 que se promulgou o ‘Regulamento de Conservação e

Restauração de Monumentos’ e, em 1970, o ‘Regulamento Nacional de Construções’, onde se

dedicou um capítulo exclusivo ao patrimônio arquitetônico. Dentro desse contexto, entre 1950

e até antes de 1972, é que a JRFIC e a CRyF deram grande aporte ao patrimônio com as obras

realizadas até então (AZEVEDO, 2009, p. 133).

As técnicas construtivas em voga e os artesãos da pedra (canteiros), da madeira

(entalhadores e gravadores), da pintura e da escultura, começaram a ocupar espaço laboral e

dar campo de trabalho aos moradores da Região. Ao longo dos anos, destacaram essas

técnicas e desde então se estabeleceram famílias dedicadas a essa arte como no caso da pedra

no Distrito de San Jerónimo, que até hoje mantém a tradição, de geração em geração,

resultando ser artífices experientes na restauração bem como para obra nova.

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Como Tamayo (1981, p. 180) afirma: “Ressuscitou do fundo do povo a mão mestre,

que sem escola, nem técnica ortodoxa ou importada, lavrou a pedra para fazê-la coluna, arco

ou estátua. Renasceu a arte do entalhe e da pintura”.

Para este autor esse lento processo que altera a economia e a fisionomia urbana do

Cusco era, sem dúvida, o desenvolvimento da ‘reconstrução e mudança social o que seria

denominado por ele mesmo “a segunda reconstrução do Cusco”. (TAMAYO 1981, p.175).

Para outro autor, no entanto, tudo isso era uma ‘ironia’ porque um terremoto, que

destrói e assola não tem que ser considerado como fator de progresso. GARMENDIA (1978,

p. 102). Coincidentemente Vidal (1958, p. 236) contemplando o mesmo aspecto adicionou:

“depois do terremoto de 1950 parece que ocorreu um enorme despertar que levou a um

intenso afã de progresso”.

Contudo, considerando que houve acertos e desacertos, no processo de restauração

em Cusco, estes não poderiam ser individualizados e sim dividi-los entre todos. Desde os

mais simples artesãos até os especialistas internacionais o governo peruano foi motor

fundamental.

Os resultados, visíveis através do tempo (seis décadas depois) se mostram como o

melhor juiz de todas as ações realizadas. As críticas não faltaram, em especial quando se

tratam dos aspectos conceituais do restaurar. O maior problema se deu no Templo de Santo

Domingo ao se destruir elementos coloniais no intuito de deixar visíveis, aos olhos da

população, os vestígios incas53

. Como Azevedo (2009, p.135) afirma:

Nem tudo foi perfeito [...] se reconstruíram muitos elementos que puderam ter sido restaurados [...] A presença de estruturas sobrepostas de diferentes culturas trouxe à superfície um problema de fundo: a ausência de critérios sólidos de restauração. (tradução nossa).

Em Cusco, uma obra, em particular, destacada pela forma abordada e pelos critérios

de restauração, aplicados, marcou presença na história da intervenção no Peru. Como

exemplo: a “Restauração da Casa Garcilaso”. O restaurador peruano, de formação italiana, e

assinante da Carta de Veneza (arq. V. Pimentel G.) introduz os critérios de restauração da

escola italiana desenvolvida a partir das teorias de Camilo Boito, em 1965. Não houve

continuidade da influência e experiência aplicada na cidade, a qual, talvez poderia ter dado

maiores subsídios e contribuições à experiência do restauro de Cusco.

53 Houve uma corrente peruana (o movimento indigenista) que defendia a idéia de valorizar a cultura inca. Isto é, demolir o convento e

Igreja dominicana para destacar o extraordinário conjunto arqueológico e histórico do Qoricancha. A idéia não prosperou a pesar de existir uma declaração que peticionava a demolição firmada por congressistas e peruanistas no ”I Congresso Internacional de Peruanistas” realizado em Lima em 1951. Dois senadores (Uriel García e Rafael Aguilar) solicitaram ao Congresso a expropriação e demolição da igreja e do convento. Ficando em segundo plano o real interesse do monumento que era sua restauração.

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A ideia foi positiva para sua aplicação a diferentes monumentos, que estaria a cargo

das instituições públicas de então, mas se dissipou pela falta de boa vontade do governo e,

principalmente, pela burocracia e seus vícios generalizados no país AZEVEDO (2009, p.136).

No campo da arquitetura civil, desde o início de atividades da JRFIC até 1956, a

“Casa do Almirante” recebeu trabalhos de consolidação para evitar o desabamento. Sua

intervenção só veio a acontecer em 1975, por solicitação exclusiva do seu novo proprietário: a

Universidade Federal de Cusco (UNSAAC).

O projeto arquitetônico54

e posterior execução anunciado por convocatória em

concurso público nacional foi atribuído como vencedor a um arquiteto local. Esta

característica demostrou dois aspectos importantes para a restauração em Cusco: a existência

de um quadro local para desenvolver projetos dessa envergadura e a confirmação de que os

Cursos de formação na especialidade foram positivos pela formação recebida e a experiência

acumulada ao longo dos anos.

Para a arquitetura civil particular, o Estado peruano colocou a disposição um fundo

especial para ser atendido. O BCHP daria empréstimos para a reconstrução total, ou parcial, e

reparações aos proprietários dos imóveis. Mas devido aos requisitos exigidos aos solicitantes,

num primeiro momento, praticamente estavam impedidos de conseguir os empréstimos.

Contrariamente, a lei estabelecia que os funcionários do BCHP devessem dar todas

as facilidades ao caso, a fim de ser favorecida uma maior quantidade populacional. “É

necessário verificar a sua organização com o assessoramento técnico pertinente, pois por

carecer deste requisito, dos 38 expedientes realizados em Cusco, 37 estão encalhados

atualmente, em Lima. Apenas um foi aprovado”. (LA RECONSTRUCCION...,1950d, p.1).

O caso se tornaria complicado para os requerentes aos créditos, circunstâncias que

não seriam diferentes, ao findar de 1951. O que se percebe é um processo lento de construção

na cidade. Dessa forma o Estado peruano promulga a lei no 11.670, que autoriza ao BCHP

empréstimos para ‘imóveis em construção’. Crédito pelo valor de até o 50% do custo total da

edificação, passo importante em favor dos proprietários.

Para atender as necessidades, paralelamente, o governo decide levar a cabo um

processo de construção de ‘nova moradia’ através de um organismo público. Promulga a Lei

no 11.672, que cria o ‘Fundo Nacional da Saúde e Bem-estar Social’ (FNSBS), seu objetivo:

construir habitações para “empregados e obreiros.” O Programa, estabelecido, apontava

alcançar grande número da população que haviam perdido suas casas. Momento em que o

54 O projeto vencedor do arquiteto cusquenho Ernesto Paz Carbajal consistia no seu conjunto de: uma parte era a `obra de restauração`,

enquanto a outra, `obra nova` era dentro da mesma propriedade onde a integração, no seu contexto, foi o pilar da proposta com tecnologia contemporânea.

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governo pela segunda vez, exonera pagamento de impostos aos prédios urbanos com a Lei no

11.970, por mais dois anos.

A reconstrução da cidade foi, mais tarde, capitalizada por outros países: Guatemala

(Antigua), Cidade de México e Equador (Quito), que também sofreram terremotos, ao pôr em

marcha, de maneira imediata, projetos em prol da salvaguarda da cidade. Foi assim que

Cusco, dentro de suas restrições, constituiu o modelo para outras realidades. (MUTAL, 2001,

p. 124)

Era 1953, e as casas afetadas pelo sismo ainda permaneciam, praticamente, da

mesma forma. O governo central na intenção de solucionar a moradia, para os setores de

menores recursos (que demorariam em ser entregues) estimulava, mais e mais, os

empréstimos para avançar o processo. Mas, devido a posturas adotadas pelo BCHP,

basicamente, se reduzia a realizar reconstruções integrais das propriedades que tinham mais

facilidade de satisfazer as condições dos empréstimos, levando em consideração a RS no 132-

195.

Essa resolução promovia o recuo frontal da fachada para o alargamento da rua e para

conservar o estilo colonial. Azevedo (2009, p.145) afirma: “Apesar das boas intenções, nada

podia ser mais desastroso para a cidade que o urbanismo de reconstrução [...] e quatorze anos

antes de ser firmada a carta de Veneza” (tradução nossa).

Quando o FNDE (Lei no

12.676)55

começa a executar o Plano Regional de

Investimentos de Cusco, a CRyF receberia fundos anuais para executar obra em toda a

Região. Esse fundo iniciaria um trabalho mais intenso nas províncias da Região, apoiando

todo tipo de obras, também na própria cidade de Cusco.

Os montantes, apesar de não serem significativos, inicialmente, por volta de 1965,

também serviriam em parte para a expropriação de imóveis na rua Belén e para seu

alargamento completo (CRyF, 1965, p.46). Nesse momento a própria CRyF realizava outras

expropriações na cidade56

.

O processo de reconstrução das casas da cidade foi lenta sem se modificar nos anos

seguintes. Em 1957, o Estado peruano substitui a “JRFIC” pela “CRyF”, ao aprovar a Lei no

12.800. Neste momento, se cria o ‘Departamento de Créditos’, substituindo ao BCHP nas

suas funções. Através dessa lei, declara-se de interesse público e de necessidade nacional a

recuperação social e econômica da Região de Cusco, ampliando-se a Lei no 11.551 (artigo 1º).

55 O objeto do organismo é a constituição e investimento sistematicamente os recursos necessários para o estudo e execução de obras

públicas de caráter público e de interesse social em cada região do Peru. 56 As esquinas da rua Mantas-Plaza Mayor e Triunfo-Herrajes eram objeto de expropriação pela CryF.

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Com indicação expressa da lei, reforça-se a concessão do crédito hipotecário para: a

reconstrução, as reedificações, os reparos, o saneamento e as novas construções dos prédios

urbanos. Há continuidade dos sistemas de empréstimos para a reconstrução da cidade,

facilitando mais ainda essa grande tarefa.

Um aspecto que ressalta é que para obter crédito, em favor dos proprietários que têm

adquirido um imóvel depois da promulgação da Lei no11.551, se reduz o tempo de ocupação a

cinco anos, de residente de forma continua em Cusco, (antes era 10 anos) a partir da data da

solicitação.

A partir da Lei no 12.800, os empréstimos cobrem até 90% do orçamento, no caso de

reconstrução de edifícios destinados à habitação, ou que possuam um valor arqueológico,

histórico ou artístico com o objetivo de manter seu estilo arquitetônico original. A lei permite

também, com trâmites simples, regularizar títulos de propriedade ou de sucessão, a fim de

atender a imóveis que devem ser reconstruídos com empréstimos hipotecários, e colocando

restrições quando não cumpra esse objetivo.

Despertou-se maior interesse para atender às áreas da arqueologia, arte, arquitetura e

urbanismo e, paralelamente, o fomento de novos setores e atividades, como o turismo, e nas

zonas rurais, incentivando assegurar o desenvolvimento econômico e social da Região.

Um aporte, como norma, é o interesse tácito do governo para a reconstrução, ao se

perceber a importância do imóvel com seu valor arquitetônico, artístico e histórico e que está

em perigo de colapsar ou se destruir mais do que já fez o sismo.

Para deter a lentidão ou decisão do cidadão para realizar a reconstrução, o governo

central determinou o que está estabelecido dentro da Lei no 12.800 (com título III próprio

denominado “Regras Gerais para a Reconstrução do Cusco”), onde se obriga aos donos dos

prédios urbanos, localizados em zonas de reconstrução ou de edificações declaradas pelo

“Plano Regulador”, iniciar “a reparação, ou saneamento de seus respectivos prédios, ou ambas

coisas, no prazo de três anos a partir da vigência do Plano Regulador” (Art. 17º).

Segundo as normas, as obras definitivamente deverão ser executadas por conta do

mesmo proprietário.

A postura do governo central era evidente em possibilitar, com maiores facilidades, a

reconstrução da cidade. Segundo a CRyF (1958, p.19), para o outorgamento dos empréstimos,

tem-se estabelecido uma “tabela de prioridades”. Mas o empréstimo se dava em igualdade de

condições, para todos os proprietários solicitantes da cidade. A prioridade distinguia apenas o

lugar, isto é, prevalecia a preferência no caso dos imóveis que estavam dentro da zona

histórica da cidade.

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Analisando o orçamento dos empréstimos, realizados em 1958, pode-se perceber que

a nova instituição creditícia favoreceu maior número de solicitantes aos créditos. A CRyF,

com seu departamento de créditos hipotecários realizou operações de empréstimos por uma

quantidade maior que o estimado para esse ano. A solução foi simples: existia saldo do ano de

1957 e, com ele, passou a se cobrir a diferença de 1958. (Tabela 5 em Apêndice).

Até o ano de 1958, as obras haviam se restringido apenas a solucionar os problemas

de desmembramentos, independência de imóveis e algumas remodelações de praças, como a

Praça Regocijo e estudos para outras (Belén e San Francisco). No ano seguinte, a CRyF

prestou ajuda a projetos existentes (Belempampa, Huayruropata, Mariscal Gamarra e

expropria a fazenda rústica denominada ‘Ttio’ (CRyF,1959, p.16).

Segundo a CRyF (1960, p.20), era de necessidade pública levar a cabo obras de

moradia, de colonização (de 300,000 hectares) e de fomento agrícola (irrigação pra 30,000

hectares). Neste momento, é despendida especial atenção aos planos de habitação de Ttio e

Rosaspata. Nos próximos dois anos não modificariam as ações, apenas continuariam as obras

do FNDE,57

encarregadas para a CRyF, como a pavimentação de algumas ruas da cidade.

(CRyF, 1962, p.39).

Durante 1963, não houve grandes obras, basicamente houve determinações de

localizações para o parque recreativo, áreas esportivas, do mercado atacadista e do terminal

terrestre e do ferroviário, acompanhado de um plano viário urbano destinado para diferentes

setores da cidade (CRyF, 1963, p.45). Foi neste ano que o povo elegeu como Presidente do

Estado peruano a um arquiteto e a partir de então novos horizontes despontariam para a

reconstrução da cidade.

Entretanto, as limitações orçamentais, no governo do arquiteto Belaunde

repercutiram sobre a CRyF e não se realizaram obras como se esperava durante os anos de

1964 e 1965. Houve pretensões de obras que não saiam do papel já outras propostas não

seriam mais possíveis nos próximos anos.

Os empréstimos58

para reconstrução de casas, com suas variadas formas durante os

50eue 60s foram quase constantes. Na década dos anos 60, as variações de investimento, ano

a ano, não mostraram grandes diferenças. Já na década anterior, os investimentos se

mostraram bastante reduzidos. A primeira diminuição de atividades acontece quando se inicia

57 Esta instituição realizava obras viárias, saneamento, serviços elétricos, irrigação, mercado e outras obras em todas as províncias da

região. 58 O BCHP durou desde o início da reconstrução da cidade: 22 de maio de 1951 até julho de 1957; a CRyF continuaria a partir de agosto de 1957, até sua extinção

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o programa (1951), e a segunda, quando entra em reorganização a JRFIC (1957) (Tabela 6 em

Apêndice).

Ao ser sistematizado o trabalho, dos empréstimos, seriam estes dai por diante mais

simplificados. A CRyF já não adiava solicitações como realizava o BCHP, e as negações de

empréstimos eram quase nulas, só não se davam, quando a petição não ajudava a solucionar o

problema da moradia.

Nos últimos anos da década dos 1960, o governo de turno começava a realizar

recortes nos orçamentos outorgados, para a reconstrução das casas. Tornou-se mais evidente a

situação, quando por razões de ordem maior de austeridade, o Exercício Orçamental da Nação

correspondente ao ano de 1967 se prorrogou até março de 1968.

Segundo o gerente da CRyF (1968, p.8) :

As múltiplas e diversificadas necessidades […] tivemos que sujeitá-las a estritos planos de prioridade, posto que, após das obras de grande interesse, como a Central Hidroeléctrica de Machupicchu e a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados Cachimayo, haviam comprometido nossos recursos […] (itálico e tradução nossa).

Essa afirmação anunciava, em grande parte, a crise que eclodia no país através das

severas medidas de austeridade que tinha iniciado o governo militar e que, a própria CRyF,

teria iniciado no interior da corporação, inclusive com o corte de pessoal. (CRyF 1968, p.8)

Com o tempo, muitas propriedades do Centro Histórico permaneceriam no mesmo

estado, isto é, poucas mudanças sofreram depois do terremoto. Houve alguns reparos

provisórios, realizados pelos proprietários ou habitantes e, de quando em quando, alguns

reparos durante a temporada de chuvas.

Na essência, não houve obras significativas. É nessas condições, que chegaram até

nossos dias muitas casas: aos olhos e por paciência das autoridades. Resultado: foram

ocupados, pelos desabrigados e pelos migrantes, prédios do Centro Histórico e muitas áreas

fora dela, mas a vida da área histórica e da cidade continuou.

A superlotação (tugurización) das casas era crítica, ao aumentar o número de

integrantes numa área pequena. A falta de serviços básicos em alguns casos, ventilação e

conforto para morar decentemente complicava a convivência de todos os moradores,

sacrificava-se a qualidade de vida das famílias. Tornando um problema social na área

histórica e nos arredores dela.

Todavia, a permanência desses moradores manteve o vínculo de vida com o

quarteirão e o bairro, fato essencial para manter vivo o centro histórico de Cusco. Essa

permanência não ocorreu em outras cidades como Lima (Peru), Santo Domingo (Republica

Dominicana), Salvador da Bahia (Brasil), entre outras. Visto que, foram desalojados seus

habitantes, repercutindo em aspectos sociais, culturais e econômicos.

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“San Blas”, dentro do Centro Histórico de Cusco, é o único bairro que demonstra a

presença de muitos estrangeiros, que têm ocupado as casas para outros fins, devido às

pressões comercias e turísticas. Hoje San Blas não representa mais a essência daquele bairro

que foi tradicional na cidade. Os moradores nativos foram expulsos e passaram a ocupar

outros espaços da cidade. Houve um processo de transladação de um tipo de população (dos

moradores locais) pela chegada de outros (neste caso, maioritariamente, estrangeiros)59

.

PACIONE, 1990 apud (GONZALES, 2012, p. 48).

Com o passar do tempo, a vida no lugar não ficou mais autêntica. Hoje esse fato é

latente e outros bairros correm o mesmo risco. Esse processo de recuperação que foi adotado

por países europeus com base na ‘Gentrificação’ e do ‘Turismo Cultural’, não se aplica

definitivamente a países Latino-americanos. (AZEVEDO, 2009b, p.109).

A moradia é um tema-chave na reabilitação dos centros históricos, pelas múltiplas

funções que promove, pelos vínculos afetivos casa-bairro, pela economia fixa que gera e que

garante a vida todo dia, dispensando sistemas custosos de segurança e animação como a

espetacularização aplicada ao Centro Histórico de Salvador: o Pelourinho. A eliminação de

alguma delas significa, não apenas a descaracterização funcional da cidade, mas também o

arquitetônico-patrimonial.

Circunstâncias extremas refletem esse caso: o “Plano ESSO” de Santo Domingo dos

anos 60 e o Pelourinho dos anos 90. Como indica Azevedo (2001, p.309) a questão de fundo

era outra “Perto de 80 a 90% dos donos dos imóveis do Centro Histórico os abandonaram e

não tinham interesse ou capacidade para recuperá-los, mas não se desprendiam deles devido

ao seu valor potencial”.

As agências de financiamento de moradia, como o Departamento de Créditos da

CRyF, apesar de ter aliviado a burocracia em parte, indicavam que a população de baixa renda

não tinha capacidade de pagamento, devido ao fato de que muitos solicitantes não tinham um

emprego fixo. Este caso lastimável deixou a muitos solicitantes fora das possibilidades de

obterem moradia própria.

Frente a este problema, o Estado peruano desenvolvia programas de moradia fora da

área central da cidade, justamente para atender a esse grupo de habitantes com possiblidades e

baixa renda favorecendo aos “empregados e obreiros”. Para esse efeito, realizou-se um censo

59 Michael Pacione vincula o conceito de “transladação” ao processo que acontecia nas áreas centrais das cidades inglesas de

transladação de residentes de classe baixa pela chegada da gentry (da classe alta). Este fenômeno foi denominado pela socióloga Ruth Glass de ‘gentrification’ por volta de 1964 em seu livro “London: Aspects of Change”.

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específico das habitações modestas, com a ideia de se construir “casas baratas e higiênicas”,

que era a real intenção do governo central iniciando os financiamentos a partir de 1954.

O diário da capital afirmava: “em breve vai-se começar a construir uma “Unidade de

Vizinhança” em Chiclayo, despertando o entusiasmo das classes trabalhadoras dessa

importante cidade do norte” (LA CONSTRUCCIÓN, 1954. p.1).

Segundo a JRFIC (1956, p. 193), na sua prestação de contas, as “Casas de Obreiros”

no bairro de Santiago formavam parte das obras concluídas. Era evidente que essas casas,

também, já estavam sendo ocupadas pelos novos cidadãos, em fins de 1956. Logo, outras

casas na “Pampa de Belén” e “27 de Octubre” também foram entregues.

Em 1958, havia-se terminado de construir um total de 366 casas na urbanização,

inicialmente denominada “27 de Octubre” que, posteriormente, trocaria a sua denominação

para “Zaguán del Cielo”. A partir desse ano, iniciariam outras entregas de casas e de

conjuntos, para os diversos grupos sociais.

Segundo a CRyF: “A migração, produzida pela necessidade de obreiros para a

reconstrução e um crescente e rápido desenvolvimento das atividades econômicas da região,

agravou o déficit de moradia” (CRyF, 1961, p.3).

Com esta migração, o governo central foi em busca de soluções de moradia entre a

CRyF, FNSBS e a CNV, com a construção, entregas (adjudicações) e Unidades de

Vizinhança ou agrupamentos de moradia. A necessidade da formação de agrupamentos e

associações de famílias interessadas em adquirir terrenos para construir sua edificação, foi em

aumento com o passar do tempo.

Da mesma forma, apresenta-se o problema das “barriadas” ou bairros marginais,

onde se fixou o setor menos favorecido da população. Foi realizado o reconhecimento das

urbanizações clandestinas que foram incorporadas à cidade, de forma oficial, admitindo-se um

prévio estudo de remodelação e elaboração de um projeto integral, como o caso da

Associação Pro-Moradia de Rosapata e Cruzpata.

Nessa preocupação, a CRyF faz uma projeção interessante para 1991 do problema da

moradia para a cidade de Cusco, determinando que haveriam 29.160 famílias, necessitando

de uma superfície de 1800 hectares. Nessa necessidade aparecem alguns dados importantes,

contemplando os conceitos de projeção e sua particularidade de pensar mais no futuro

próximo, do que resolver apenas a reconstrução da cidade.

Foram apresentados dados relevantes, quanto ao número de unidades de moradia

necessárias, isto é: cobrir o aumento da população (16.500 unidades); cobrir o déficit da época

(1.670 unidades); substituir as vivendas demolidas (7.484 unidades) e substituir as

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convertidas inabitáveis (4.606 unidades). Resultou em 30.260 casas para construir, numa

média de 1.008 unidades anuais.

Esse era o propósito do Estado peruano, mas o que sucedia de fato era a construção

em pequena escala, sendo executadas em média 168 casas por ano: 70 com o crédito

hipotecário e 98 por financiamento privado. A partir dessas análises da CRyF alertava-se que

o déficit devia ser enfocado mediante planos de moradia de interesse social, planos de

reabilitação urbana, e estimular a iniciativa privada. (CRyF, 1961, p.5).

A CryF , com critérios de projeção da população, a superfície com que contava e em

concordância ao plano regulador, efetuou um planejamento contemplando a urbanização de

tipologia popular. Previa expropriação da fazenda Ttio, projetaram-se 1.149 lotes para a

“Urbanização Ttio Sul” e 711 para a “Urbanização Ttio Norte”.

Mas a demanda de postulantes era maior, pois havia 2.588 agrupados em 18

associações pro-moradia, nesse sentido, houve um processo exaustivo de seleção para os

1.860 lotes disponíveis, antes da sua adjudicação (CRyF, 1961, p.6).

No caso das associações em prol da moradia de Rosaspata e Cruzpata, formadas por

famílias que deixaram as barracas provisórias do estádio universitário. A participação da

CRyF foi total para a aquisição e expropriação de terrenos para as 187 famílias, constituídas

por artesãos e obreiros. Foi habilitado igual número de lotes no projeto, elaborado pela CRyF

onde também foi entregue um pacote de dez casas padronizadas, para sua construção (CRyF,

1961, p.8).

Na época, outras urbanizações também já estavam em processo de formação como as

Urbanizações: “Centro Social Quispicanchis (124 lotes)”, “Del magistério Técnico (252)”,

“Barrio Professional” (24), “Mercados Unidos” (600), “Manuel Prado”(215), “Ucchullo”

(200).

O caso particular das urbanizações “Chachacomayoc””Huayrurropata” e

“Tahuantinsuyo” se adicionam, por terem sido reconhecidas pela CRyF, na previa

reformulação ao grupo anterior, das agrupações de vivendas antes consideradas de

clandestinas. Outras urbanizações, de caráter particular, haviam se formado como as de “San

Francisco”, “Constancia”, “Cuatro Torres”, “Bellavista” e “Marcavalle” para citar

algumas. (CRyF, 1961, p.8).

O projeto de moradia não abrangeu apenas a cidade de Cusco, mas estendeu-se

também para as províncias, onde formulou loteamentos em Sicuani, na denominada

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urbanização “Manuel Prado” (376 lotes), em Quillabamba com a urbanização de tipologia

popular, na zona Sul da localidade e outra no bairro de “Santa Ana” (464).

Com essas obras, a CRyF vinha realizando seu principal objetivo, isto é, de melhoria

da qualidade de vida da população, projetando, antecipando e abrindo horizontes no seu

programa de desenvolvimento regional. (CRyF, 1961, p.11).

Por volta de 1965, se inicia a grande reestruturação urbana da cidade, com a lei no

15.581, que dispõe sobre a pavimentação total das ruas e praças de Cusco, tarefa de muitos

anos a cargo da CRyF. Um ano antes, a “Carta de Veneza” introduziu o conceito ambiental de

patrimônio, segundo o qual, considerando o monumento como algo inseparável do seu meio.

De fato, a ‘Carta’ não foi aplicada na restauração da cidade de Cusco, pois constituía um

processo resultante de longa espera, como em muitas cidades do país.

A proposta contemplava, não somente a restauração dos edifícios mais importantes,

mas também o agenciamento de praças e ruas, bem como a recuperação dos imóveis do

conjunto. As intervenções realizadas também se estenderam ao interior dos quarteirões, para a

criação de áreas livres, jardins e implantação de serviços higiênicos. Os quarteirões antigos

possuíam áreas de uso comum, semelhante às existentes nas quadras residenciais modernistas

(FUNDAÇÃO..., 1970, p.22).

A direção da CRyF, em 1966, com seu objetivo de se adiantar aos fatos, dispõe da

possibilidade de reatualizar o Plano Piloto, para levar a cabo a proposta indicada, e continuar

a sua aplicação. Ao mesmo tempo, já contava com o “Plano de Desenvolvimento Industrial da

Região” para o decênio 1966-197660

(CRYF, 1966b, p.52 ). Com este projeto, a CRyF daria

um grande salto no desenvolvimento da região e, principalmente, à cidade de Cusco, com a

participação do setor público, privado e externo.

A proposta realizada promocionaria à indústria incentivos tributários e proteção,

onde se destacava o parque industrial da cidade, com terreno disposto para sua implantação e

com os polígonos industriais em provinciais, por toda a região. Os estudos tinham o aval do

“Instituto de Pesquisas Stanford”, que elaborou um estudo para identificar as possiblidades

industriais em Cusco, com orçamento incluído (o montante foi de s/.454.799.000 milhões de

soles)61

.

Finalmente a CRyF incorporava o CREAS para a indústria, baseada na agricultura,

produtos nitrogenados e para a eletrificação (CRyF, tomo I). O projeto ficaria na gaveta nos

próximos anos, por falta de recursos econômicos.

60 O departamento de fomento industrial tinha preparado o Plano de desenvolvimento em dois tomos havendo sido apresentado pelo

Diretório em outubro de 1966. A proposta alcançava toda uma série de estudos e oportunidades (em volume á parte) onde destacava o parque Industrial de Cusco.

61 Desse valor para os dois maiores investimentos requeriam-se s/.169.312.000 e 90.041.000 milhões de soles respectivamente.

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125

No entanto, na cidade, foi concluída a canalização do rio Huatanay em 1968 (desde a

rua Tigre até a Estação do trem). Nesse momento, a CRyF já entrava em sua fase crítica,

devido ao novo governo de turno que mudaria as formas de ação do governo, como será

tratado na Seção seguinte.

4.5. Plano Regulador e o Plano Piloto (Luis Miró Quesada Garland)

Em 1950, o ONPU realiza o “Traçado Geral”, um plano da cidade e estado atual62

,

que se tratava de uma cópia do plano, levantado pelo engenheiro Grutter do MFOP, uma

‘radiografia’ de como se apresentava a cidade, em cada um dos seus extremos geográficos.

Neste plano, não se estabelece um zoneamento ou proposta alguma, apenas executa um

levantamento cadastral atualizado do que representavam os limites da cidade, com fins de

estabelecer a próxima alternativa da reconstrução.

Por volta do terceiro trimestre do ano, a ONPU-JRFIC daria início a esse processo.

No jornal local se anunciava o trabalho onde solicitavam todas as facilidades e acessíveis aos

técnicos, para realizar o levantamento cadastral63

. (LEVANTAMIENTO..., 1950, p.1). Por

volta de 1951, o plano cadastral ainda não havia sido concluído, retomaram as obras em 12

junho, como anunciado no jornal local (RS-ONPU-1951). (Figura 101)

Figura 101 - Plano de Zoneamento Provisório de Cusco destacando as zonas pré-delimitadas pelo plano diretor. (Desde set. 1951 até 15 fev. 1952), 5 meses antes de sua conclusão e entrega oficial às autoridades em essência não modificaria ao ser apresentado o Plano Piloto. a cidade é zoneada em 3 partes: Zona “A” “B” e “C” Se pode considerar a preliminar etapa do Plano Piloto que serviria de base para outorgar licenças de construção pela Prefeitura. O Governo aprovou em 3 set.1951 o “Plano de Zoneamento Provisional” em acordo com o CNU e o MFOP.

62 O “Traçado Geral da cidade de Cusco” datado de junho de 1950, escala de 1:2.000, está seriado com o código 2-0806-350 da ONPU. 63 Em 1950 chega a Cusco o eng. Miguel Angel Cussianovich para levantar o Plano Cadastral que serviria de base para o Plano Piloto.

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Fonte: ONPU (1951) código 7-0806-202.

O CNU64

quando apresenta, em 1951, à Direção do MFOP a Memória Explicativa do

“Planejamento Geral do Plano Piloto da cidade de Cusco” e o “Plano de Zoneamento

Provisório” (PERU RS 282-51) se mostrava como a primeira aproximação do que seria o

“Plano Piloto Final”. O que não estava considerado deveria estar sujeito ao novo

‘Regulamento Nacional de Construções’(RNC).

Em 195265

, foi apresentado, por Miró Quesada Garland66

, o “Plano Piloto da cidade

de Cusco”, enfocando os principais problemas da cidade (PARA LEVANTAMIENTO…,

1950. p. 2). O plano faz uma analogia urbana ao fato de que toda cidade responde a um

processo, que deve respeitar seu passado e prever seu futuro. Sobre a realidade trabalhada, o

arquiteto-autor afirma:

O caso de Cusco está constituído pela dualidade de uma cidade histórica ‘com valor de monumento’ e uma cidade vivente ‘com valor humano-social’. É a realidade urbana de um Cusco como concretização de um passado valioso e de um Cusco como artefato inoperante da vida comunal de hoje (ONPU,1950, p.1)(tradução nossa)

64 Com Ofício no 11 de 7 de setembro de 1951, o Vice-Presidente do C.N.U. enviou ao Diretor de Fomento e Obras Públicas: a) a

Memória Explicativa com a planta do planejamento geral do Plano Piloto e b) Planta e descrição do Zoneamento Provisional. 65 O “Escritório Nacional de Planejamento e Urbanismo” encargou ao arquiteto Luis Miró Quesada Garland o “Plano Piloto da cidade de

Cusco”, entregue em fevereiro de 1952. A ONPU o repassa para o “Consejo Nacional de Urbanismo” e este o aprova em 7 abr. 1952. Logo, o Governo Central também o aprova por RS em 7 maio 1952 (art 2º) para sua aplicação. Ver parte considerativa da RS de 7 maio1952 “Aprova-se o Plano Piloto de Cusco”.

66 O arquiteto Luis Miró Quesada Garland se declarava seguidor de Le Corbusier no seu livro: “Espaço no tempo: a arquitetura moderna como fenômeno cultural”, publicado em 1945. Com a “Agrupação Espaço” as suas idéias tiveram seguidores (arquitetos, artistas e estudantes).

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Sob esse postulado, o autor zoneia a cidade, fazendo uma diferenciação entre a

cidade antiga e a cidade que cresce, propondo realizar um quádruplo tratamento para toda a

Cusco. As Zonas propostas são: (A) Histórica-Arqueológica Notável; (B) as Urbanas

Modificáveis; (C) Urbana Remodelável Totalmente e (D) as Urbanas Futuras (Projetáveis).

O Plano Piloto da cidade de Cusco refletia as pretensões urbanas modernizadoras.

Havia-se aplicado, para a nova zona da cidade, os princípios do urbanismo moderno. Em

efeito, na memória do Centro Cívico Administrativo do Plano Piloto, o autor confirma sua

postura:

Repetimos: ‘É o momento de tomar decisões. Ou continuar dormitando ou erguer-se para seguir adiante. Podemos nos limitar a remendar, ou podemos nos limitar a renovar’. É o momento, de não se colocar dificuldades, mas de unir forças para realizar oportunidades. A utilidade pública deve primar sobre os interesses particulares. (ONPU-R.M. no 376, p.2)

A proposta estava realizada sob os lineamentos do urbanismo do CIAM, pois se

respeitava a ‘zona A’ e seus principais monumentos; indicava a abertura de grandes avenidas,

praças e o alargamento de ruas. A tônica baseava-se no desenvolvimento urbano, isto é, se a

existência de monumentos históricos e quarteirões não prejudicasse o desenvolvimento da

cidade, legitimando sua preservação, caso contrário, a funcionalidade prevalecia.

Assim, os CIAM procuravam um zoneamento muito rígido, que marginaliza as

funções, excluindo a vivenda do centro urbano, mudando a característica multifuncional dos

centros históricos. (AZEVEDO, 2001, p. 298).

A ONPU no Peru vinha realizando, desde 1949, planos reguladores para várias

cidades peruanas, sendo eles 14, inclusive em parceria com o Instituto de Urbanismo de Lima,

até 1953. Para tal, seguiu-se uma metodologia a partir de uma visão regional e por influência

da teoria corbusiana. Era evidente que a carga de transformações modernistas estava

dominando o pensamento dos planejadores, dentro ou fora das esferas públicas peruanas.

Nesse contexto, a proposta do plano piloto passaria, em parte, pelo processo da

‘tábula rasa’ e todo o trabalho partia do princípio de respeito à recomendação (a delimitação

da zona A) da missão UNESCO que, desde então, se encontrava em Cusco.

Kubler e seus colaboradores tomam conhecimento da proposta, e aceitam as outras

zonas para o plano piloto. Esse foi o maior argumento para Miró Quesada, porque havia

conseguido a opinião de especialistas com um olhar neutro para o plano piloto. Neste caso, a

oportunidade foi positiva, para a Comissão do Plano Piloto e a missão UNESCO, porque

trabalharam em estreita relação para superação de grande número de problemas. (KUBLER,

apud AZEVEDO, 2009, p. 142).

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A proposta teve as suas particularidades para cada uma das zonas: na “Histórica-

Arqueológica Notável” devia ser conservada por seu caráter autêntico, como evidência do

passado, como a área mais importante e vestígio da cidade, da história e cultura de Cusco. Nas

zonas “Modificáveis” e “Futuras” seriam áreas destinadas, para habitação, com as unidades de

vizinhança e todas as características67

correspondentes.

A zona “totalmente remodelável” estava delimitada pelas vias av. El Sol, av. El

Ejército e a prolongação da rua Hospital (passando por Santa Clara, San Francisco, Marquéz,

San Bernardo e Almagro) (seu próprio autor denomina o triângulo) e agrupava os quarteirões

números 17, 41, 42 e 43, onde se edificaria todo o Centro Cívico administrativo da cidade.

Esses edifícios públicos eram compostos dos seguintes: Palácio da Justiça,

Prefeitura, Edifício Administrativo do Estado, Central de Correios e telégrafos, Caixa de

depósitos e Consignações, Teatro principal, Club Cusco, Praça Cívica, parques, vias e vagas

de estacionamento (Figuras 102 e 103). Em toda essa área do centro cívico os quarteirões

seriam desapropriados, na sua totalidade, para cumprir seu propósito.

FIGURA 102 - A idealização do Centro Cívico Administrativo do Plano Piloto de Cusco e a concentração de funções (a esquerda se aprecia o Teatro Principal e à direita a Praça Cívica)

Fonte: REVISTA FANAL Año VII. No 33. (1952)

FIGURA 103 - Semelhança de edifícios novos no meio de vias pedestres e estacionamentos

67 Miro Quesada: delimitou as Unidades de Vizinhança em Unidades de Bairro cercadas por um sistema arterial; classificou e regularizou

as vias; criou um centro de bairro com áreas verdes necessárias; fez zoneamento do uso do solo e de densidade e, finalmente, regularizou alguns lotes existentes.

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Fonte: REVISTA FANAL Año VII. No 33. (1952)

A proposta indicava a necessidade de estampar, em Cusco, uma característica nova68

ao se conseguir a aquisição dos terrenos requeridos. Isso se devia ao fato de que as

construções não eram dignas de serem chamadas de vivendas, eram de baixa qualidade e,

devido ao fato de que grande percentagem das edificações estavam semidestruídas ou

requeriam importantes reparações. A remodelação para o autor Miró Quesada:

Não destrói valores, engendra-os, criando um núcleo urbano eficiente, moderno e econômico [...] Uma possibilidade e um benefício para a cidade e para os proprietários dessa zona que receberiam propriedades mais valiosas em vez das que hoje possuem. (ONPU-RM 376, p.5)

Para a obtenção do sucesso do plano, propôs-se um sistema de circulação que criava

uma via periférica, vias radiais e uma via alternativa, para evitar o congestionamento do

tráfego, no centro da cidade. A primeira via, através da qual estavam conectadas vias radiais,

que cruzavam a cidade ou chegavam ao centro, levava até todos os extremos dos pontos

cardinais. As vias segmentadas chegavam a todo canto, particularizando as conexões de bairro

e a vizinhança, distintas das áreas e circuitos de pedestres. A via alternativa propunha ligar a

via que vem de Puno, para se enlaçar com a via que vai para Abancay (ou Lima).

A via alternativa ou By-pass foi criado para que veículos pesados não cruzassem a

cidade e nem trafegassem por estreitas ruas. A canalização do rio Chunchullmayo constituiu a

68 A mesma se sustentava na proximidade ao atual centro de atividades comerciais e ao centro de concentração da população, com o

objetivo de lograr uma continuidade, e evitar a desvalorização do mesmo. Dois setores são diferenciados: o novo e o histórico, possibilitando edificar prédios altos sem violentar a escala da existência histórica. Os espaços sem, ou com, escassos elementos de valor histórico-arquitetônico deviam permitir liberdade de planejamento. Também se propôs uma via alternativa a fim de evitar o tráfego intenso no centro da cidade para a dinâmica da futura cidade.

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base da via alternativa, (do trânsito interprovincial), paralela à ferrovia (Estação Central para

Juliaca e Santa Ana). Em 1971, o rio foi canalizado (para ser em diante a avenida Ejército),

mas foi, na primeira década deste século, que foi interconectado ao eixo Puno-Abancay.

Para Azevedo (2009, p.143) a via alternativa foi a melhor ideia que trouxe consigo o

Plano Piloto. (Figuras 104 e 105).

FIGURA 104 - Prancha No 7 do Plano Piloto. A proposta viária do centro da cidade segundo Luis Miró Quesada Garland em 1952

Fonte: REVISTA FANAL Ano VII. No 33 (1952)

FIGURA 105 - O Plano Piloto em todo o vale. Vias de comunicação com outras regiões ao Leste e ao Oeste da cidade. As células unidades de bairro futuras. Para evitar o crescimento continuo amorfo e indeterminado.

Fonte: REVISTA FANAL Ano VII. No 33 (1952)

A teoria de Le Corbusier, com seu racionalismo particular, se mostrava mais

evidente no plano piloto, ao delimitar o sistema de vias para a cidade. Os planejadores

urbanos, ao tratar de seguir seus princípios modernistas, encontraram grande dificuldade, para

expressar os conceitos.

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Cusco encravado no vale do Huatanay, não facilitava sua expansão para todos os

lados, por existir apenas um eixo de expansão (ao Sudeste), um fato que não acontecia com as

grandes cidades europeias, onde foi aplicada esta teoria nas grandes planícies, sem restrições

de área para as funções da cidade. Após a 2ªGM, nesse contexto é que foi possível aplicar ‘a

tábula rasa’, ao incorporar o conceito criação e destruição. Moreira (2004, p. 15) assinala:

O conceito de tabula rasa, que envolve o desejo de destruição ou de abandono e de abertura de espaço para ‘novas criações’, assim como o desejo de preservação manifesta o desejo de conservar algo, especialmente na perspectiva de seu desaparecimento.

Como afirma Valcárcel, talvez o postulado da Comissão do Plano Piloto estava

consolidado na opinião de uma minoria da população. Eram estes os jovens, que após o

grande terremoto, no desconcerto e confusão “poderiam se resumir na expressão: ‘Não

queremos mais coisas velhas’ para deixar de lado a construção da cidade antiga, dando espaço

a um novo Cusco, com construções modernas” (Valcárcel, 1981, p. 378). Acredita-se que não.

Segundo Azevedo (2009, p. 145): “Naquela época, não existia na América do Sul

uma consciência do valor do conjunto urbano.” Ao aparecer essa consciência, esta não chegou

a ser interiorizada pela comissão que propôs o Plano Piloto.

A ideia de modernizar a cidade era seu propósito, resultando em uma difícil mudança

dessa mentalidade transformadora, na época. Para os urbanistas peruanos, o terremoto teria

sido a oportunidade de levar a cabo a proposta do plano piloto.

A própria lei apoiava essa possibilidade quando declarou de interesse público, a

reconstrução da cidade de Cusco. A Lei no11.551 (1950, art. 24º) diz “declara-se de

necessidade e utilidade públicas a expropriação dos prédios rústicos e urbanos indispensáveis

para a remodelação da cidade de Cusco, o que deveria ser corrigido segundo seu plano

regulador.”

Esta lei parece ter sido guia dos engenheiros do Serviço de Caminhos do MFOP69

que realizavam a tarefa de levantamento de escombros, limpeza e “demolições

(des)necessárias”. Eram eles os agentes, que materializavam essa mentalidade arrasadora

(TAMAYO, 1981, p.168)

Era compreensível a influência dos engenheiros do MFOP, porque, recentemente, o

Plano Piloto de Lima70

estava para ser aplicado na cidade. Todavia, se realizavam obras

viárias, consideradas como o problema principal, fato que tornava-se necessário à implantação

69 São dois engenheiros que se destacaram pela modernização da cidade, Carlos Guevara Velasco e Carlos Jimenez, sendo este último

chefe do ‘Servicio de Caminos’ del “Ministerio de Fomento e Obras Públicas”. 70 Para o Plano Piloto de Lima, concluído por Dorich, em 1949, foram seus consultores urbanistas: Paul Lester Wiener, José Luis Sert e Ernesto Rogers.

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de uma rede de circulação veicular, com criação de novas vias e alargamento das existentes.

Esses especialistas trabalhadores estavam deixando suas marcas em Cusco.

Se existia, de um lado, a mentalidade pela construção moderna no centro da cidade

de Cusco, também existia uma força oposta, confirmando a grande preocupação, que crescia

em voz de protesto, em prol do patrimônio histórico: a ‘mentalidade da resistência ou da

permanência’.

Os diferentes meios de comunicação, em reiteradas vezes, tornavam evidente esse

desejo da população. Segundo Ruibal (1951, p. 6,):

Não é possível converter o Centro Histórico do velho Cusco em miscelânea de construções modernas, porque teriam que estar rodeadas de estilos distintos, perdendo assim o conjunto de sua própria fisionomia em parte e permanecendo como uma obra incompleta e mesclada. (tradução nossa)

Para o caso do Plano Piloto de Lima, que também tinha uma influência da teoria

corbusiana, pela presença dos assessores da ONPU (Sert e Wiener), curiosamente, a proposta

do Centro Histórico e Centro Cívico não foi aceita, porque implicava em uma mudança

radical em alguns dos regulamentos de construção vigentes, na época. Por essa razão,

solicitava-se que os estudos para o centro cívico continuassem buscando alternativas à

solução proposta, pois somente foi aceito o sistema viário. (DÓRICH, 1996, p. 86).

Com esta postura do Conselho Nacional de Urbanismo demostra-se que a realidade

específica de cada cidade devia ser trabalhada, em particular, e como hoje se costuma fazer

com uma ajuda profissional multidisciplinar. Em ambos os casos, Lima e Cusco, mereciam

um estudo mais específico. Porém, deveriam manter suas características dentro da área antiga,

proibindo construções modernas. (VELARDE, 1949b).

Talvez se justifique a ideia dos arquitetos modernistas dos anos 30 que, segundo

Sampaio (2001, p.11): “Se o IV CIAM (da cidade funcional) não produziu um discurso

profundo e consistente sobre a cidade, também não chega [...] a ser algo tão tenebroso ou

inconsequente, a ponto de sugerir o tal urbanismo ‘tábula rasa’ (Le Corbusiano) que lhe

sucede”.

Essa falta no discurso se refletiu tanto na proposta para a área central da cidade,

quanto no para o Centro Cívico limenho. Daí que a proposta dos assessores foi também criar

uma regulamentação específica porque não havia uma ideia definida.

As obras de demolição eram conduzidas pelo grande afã cego da modernização. Mas,

nem todos os arquitetos eram adeptos do “urbanismo demolidor”, como sinônimo de

civilização, também havia que aprender muitas lições com a tradição, o antigo, a nossa

herança. (SAMPAIO, 2001, p. 52)

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133

Para Tamayo (1981, p.168): “O grande pecado dos modernizadores foi a falta de

consciência da importância da cidade como conjunto único, monumental.” Ante esses fatos

pode-se afirmar que, antes do terremoto, não existia um ‘Plano Regulador Urbano’, e as

tarefas de realizar obras urbanas, ou de restaurações na cidade, foram ações isoladas.

Não existia integração nas políticas urbanas e de desenvolvimento, o que levou a se

manter um contexto urbano sem grandes transformações. Já com o ‘Plano Piloto’ (depois do

terremoto) o contexto foi diferente, porque respondia a uma política urbana com visão de

futuro, por força da lei, sendo executadas, em parte, radicais transformações urbanas.

Caso tivesse sido executado o Plano Piloto, em sua totalidade, Cusco teria sido,

completamente, descontextualizado no seu ambiente. A proposta do ‘Plan Piloto’ pretendia

eliminar, principalmente, casas da tipologia cusquenha, quarteirões inteiros e a ambiência do

convento de La Merced. Isto é, todo um contexto que representa, praticamente, o coração da

cidade.

O caso de Lima tampouco, chegou a concretizar-se segundo as normas modernas,

porque os dois casos dependiam da capacidade econômica do país e das possibilidades

financeiras dos diversos organismos.

A ideia da capacidade econômica, supracitada entra em contraste com os idealizadores

Sert e Wiener71

, onde a condição econômica não era nem um problema, nem uma barreira a se

levar em conta, durante suas propostas. Certo ou errado às propostas, não se discute: o que

importa, de fato, é salientar que a presença de recursos possibilitou mais destroços, o que

poderia vir até a acabar com a pré-existência do lugar.

Com as obras parciais, realizadas em Cusco, tais como o alargamento de ruas,

dividindo quarteirões ou tirando os arcos de acesso à cidade, como em outros tempos,72

era

mais notado o desconforto, para o habitante do lugar havendo, mais ainda, a perda irreparável

de alguns elementos arquitetônicos, representativos da cidade, ou seja, os vestígios da cultura

anterior, a Inca.

O caso era mais complicado, quando se permitiam grandes reformas nas áreas centrais

ou históricas. Segundo Sampaio (2001, p.63): “mas o conteúdo debatido em 1933, se lido com

um mínimo de atenção, jamais recomendava o Plano Voisin sobre Paris, nem muitas das

intervenções desastrosas sobre os centros históricos em varias cidades ocidentais”. Era

71 A presença na capital peruana dos urbanistas José Luis Sert e Paul Lester Wiener, que se encontravam elaborando a proposta para a

nova cidade de Chimbote, ajudou a realizar a proposta de Dorich, encarregado de elaborar o ‘Plan Piloto de Lima’. 72 O arco de Colla Calle nunca voltou a sua posição, e desapareceu. Outros arcos modificaram em anos posteriores como o de Santa Ana

e San Andrés.

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evidente que o (IV CIAM) pensamento urbanístico demolidor do século XIX havia atuado

sob a visão higienista, e se dava o direito de arrasar, sem compaixão.

Na mesma década, dos anos 50, outras cidades do Peru: Huaraz (1952), Ayacucho

(1953) e Cajamarca (1955), haviam solicitado seus planos pilotos cujo autor foi Belaunde

Terry. Ele propôs os três planos pilotos e estes foram estruturados seguindo basicamente os

princípios da Carta de Atenas. Da mesma forma, a carta estava sendo aplicada pela ONPU,

que vinha também realizando planos pilotos para muitas outras cidades73

do país.

No caso do ‘Plan Piloto de Ayacucho’, o próprio Belaunde apesar de recomendar a

aplicação da Carta, sabia que não era possível seu cumprimento, para aquela cidade por causa

da pouca capacidade econômica dos seus habitantes e do governo peruano. Dessa maneira,

relativizava-se a universalidade da ‘Carta de Atenas’ para as cidades peruanas. (ONPU, 1955,

p. 11).

Para Belaunde os CIAMs não haviam realizado estudos sobre a moradia que fosse

acessível a todos, observação que havia sido indicada na “Carta do Lar”74

proposta em 1949,

pelo mesmo arquiteto, Belaunde. (BELAUNDE, 1949, s/p.).

A cidade de Ayacucho possuía vários imóveis de grande valor arquitetônico e tinha

todas as condições para virar uma ‘cidade museu’. Para essa proposta Belaunde idealizou até

edifícios de altura com fins de moradia. (BELAUNDE, 1953, p. 5).

Ele propunha que a cidade fosse reconstruída, de modo que as edificações deveriam

passar por um processo de restauração, sugerindo que fosse criada, como em Cusco, uma

sucursal do BCHP, para que se realizassem as devidas intervenções.

Acredita-se que, se os proprietários de Cusco houvessem sido sensibilizados por essa

ideia, também teria sido possível salvar muitos imóveis lá. Contudo, Cusco já teve uma

primeira intenção de reabilitar e dinamizar o Centro Histórico da cidade, com instrumentos de

planificação urbana e territorial.

Os princípios gerais da ‘Carta de Atenas’ (1955, p.38) assinalavam que “É da maior

urgência que cada cidade possua seu plano de urbanismo, em articulação com o respectivo

plano regional, e com o do país, como um todo.” Neste aspecto as três propostas de Belaunde,

particularmente, careciam de um plano regional de desenvolvimento. Cusco tinha toda a

articulação com a região, gerada a partir do terremoto, fator que não obteve continuidade com

governos sucessores.

73 Estes foram: Tacna 1949; Huaraz 1952; Ica e Ayacucho 1953; Sullana 1954; Puno 1956; Arequipa, Huaral e Barranca 1957;

Huancayo, Chillca e Tumbes 1958; Catacaos e Moquegua 1959, para citar alguns durante essa década. 74 Ou “Carta del Hogar” era uma crítica à Carta de Atenas na versão de José Luis Sert de 1942 e que seria apresentada no VII CIAM, em

Bérgamo (Itália). Esta carta critica a função de Moradia em específico. Não toca a versão Corbusiana de 1943. O conteúdo da ‘Carta do lar’ era fruto da reflexão sobre as necessidades mínimas do homem. Base para um sistema econômico que permitisse ao Estado construir mais moradia se outorgando as condições mínimas para o homem. Tinha como finalidade critérios realistas para a realidade peruana em duas escalas: o Bairro e a Casa (urbana e rural).

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135

Na proposta de do plano ‘Piloto de Ayacucho’, Belaunde, também adicionou a

necessidade de uma área industrial e da construção de uma Central Hidroelétrica. Este foi

mais um caso, onde o modelo de Cusco passou a ser seguido em anos posteriores, como

referência para o desenvolvimento de outras regiões.

A proposta sob os princípios da carta de Atenas, também no contexto Latino-

americano, não foram uma exceção. Foram desenvolvidos e executados dentro deste esquema

demolidor ou da “mentalidade pseudo modernizadora”, trabalhos em 1943 por Odriozola,

para Quito (Equador); entre 1943 e 1947 por Mário Leal Ferreira, para Salvador (Brasil); e

curiosamente a dupla Sert-Wiener que também atuou no Peru, em 1945 já havia realizado a

proposta para a cidade de La Habana (Cuba).

A rígida segregação funcional e a exclusão da moradia no centro histórico, com

substituição sistemática do tecido urbano, eram as características culminantes das já

conhecidas ações modernas.

A falta de recursos ajudou a serem preservadas, em parte, as cidades históricas. Mas

quando houve recursos como em Maracaibo (Venezuela), Santa Cruz de la Sierra (Bolívia)

ou Rio de Janeiro (Brasil), as largas avenidas atropelaram os CH sem piedade. (AZEVEDO,

1992, p. 30) Outras cidades como Caracas (Venezuela), São Paulo e Recife (Brasil) e

Córdoba de Tucumán (Argentina) apresentam alguns monumentos isolados como prova da

ação demolidora do modernismo.

No âmbito Latino-americano algumas cidades também haviam tentado ser

dinamizadas por José Luis Sert em Guadalajara (México) e por outro autor em Medellín

(Colômbia), com as características corbusianas, onde o que não se podia recuperar era

demolido e onde se deixavam apenas monumentos importantes e mudanças de higiene urbana.

4.6. Relatório da missão Kubler

A visita de Kubler a Cusco resultou na ‘primeira missão técnica no mundo’ por parte

da UNESCO, no domínio da “Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios de

Interesse Histórico”. Produto do reporte de Kubler, a UNESCO em publicação oficial

divulgou, para conhecimento mundial, os problemas e suas possíveis soluções, para a

conservação e restauro, onde Cusco foi o grande protagonista. Esta cidade chamava a atenção

mundial e se preparava para resolver seus problemas.

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Em concordância com seu postulado “a UNESCO estimava que a conservação do

patrimônio cultural da humanidade fosse um problema que interessava ao mundo inteiro e

que, requer conhecimentos e a cooperação de todos os povos”. (KUBLER, 1953, p.3)

A missão Kubler deu uma ênfase especial à restauração dos monumentos, visto que,

o conteúdo do relatório esteve focado em quatro aspectos:

(1) Tratou o “problema da reconstrução da cidade”;

(2) a “análise da situação da cidade” particularizou: a arquitetura religiosa (nos

principais trabalhos de restauração, outras parciais, transformações e reparações, edifícios que

devem desmontar-se ou substituir-se e edifícios intactos); as casas da época colonial (em

casas inteiras, fachadas e portais), as ruas, e como parte do contexto da cidade, os espaços

livres e a circulação;

(3) o “resumo e conclusão” e; completando a informação e

(4) o “anexo” acompanhado de ilustrações e gráficos.

Durante a visita da missão a Cusco, ao longo de três meses, recebeu a ajuda total das

entidades públicas e particulares. Foi então, possível entender o grande problema que

representava a reconstrução da cidade, por se tratar de uma sobreposição de épocas.

Existiam propostas que pretendiam reconstruir a capital Inca, restaurar a cidade

Colonial ou construir uma cidade moderna. Era evidente que a missão tomaria uma postura

em relação às propostas, acima citadas. Kubler (1953, p. 4) afirma:

Existem três cidades em Cusco: uma é Inca, a segunda é colonial e a terceira moderna. A cidade Inca está ao nível do solo, abaixo da cidade colonial e consiste de algumas paredes de arquitectura muito bem trabalhadas, sólidas, pesadas e impossíveis de se mover. A cidade colonial cobre [a cidade Inca] com seus edifícios religiosos, e prédios, em torno de pátios. Algumas dessas obras não podem ser reconstruídas, mas são muitas que requerem uma restauração que irá retornar à sua forma original. O Cusco moderno, finalmente, deve manter toda a diversidade de estruturas como grande capital regional. (tradução nossa)

Sob esse conceito, a missão entendeu que primeiro era necessária e delimitar a área

histórica e arqueológica objeto de conservação e restauração, sendo respeitada pelo Plano

Piloto, como a notável zona Histórico-Arqueológica. Sobre este aspecto particular, se deve

destacar dois pontos, que estão correlacionados diretamente com a delimitação.

A primeira é que: a missão discordava com a RS-132-1951, ao estabelecer que as

construções deveriam considerar retiros laterais e frontais e não considerar a essência

tradicional da “casa cusquenha”. (REGLAMENTO...,1951 apud KUBLER, 1953, p. 6)

A imposição de tal medida contradizia as características da cidade, ou seja, as casas

tinham toda sua fachada voltada para a rua e as áreas livres estavam no fundo do terreno.

Parece que a regulamentação, para toda obra de construção na cidade de Cusco,

adotou o modelo norte-americano das casas suburbanas (chalets), implantando-as na cidade,

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em contradição à sua tradição típica. Hoje se pode constatar edificações que destacam e

obedeceram a essa resolução (na Av. Pardo e algumas na parte baixa da avenida El Sol).

(Kubler, 1953, p.6)

A segunda é sobre: o caso da delimitação, proposta pela missão, que não incluía

todas as evidências, espalhadas na cidade, como muros incas, monumentos, espaços públicos,

conjuntos da arquitetura doméstica, algumas ruas no bairro de San Blás, no centro da cidade e

suas transversais (como Belén, Ayacucho, Nueva alta Nueva Baja) de grande importância

histórica e cultural. Porém, a missão reconhecia que todas elas estariam protegidas pelo

Patronato Regional de Arqueologia. Finalmente deixaram de formar parte da delimitação

proposta pela missão.

Um segundo desacerto da missão foi ao ser recomendado o alargamento de ruas da

cidade, compreendidas na ‘zona histórica e arqueológica notável’ como Carmen Bajo,

Chihuampata, Zetas, Abracitos, Collacalle, a Plazoleta Santa Teresa, eixo que segue as ruas

Mantas, Marquéz e Santa Clara inclusive com a transferência do Arco75

para a rua Meloc.

Esta indicação serviu para que as forças da engenharia, na sua tarefa de demolição,

levassem a efeito os alargamentos de ruas completas (Belén, Ayacucho, Cruz Verde, Santa

Catalina Ancha, Santa Catalina Angosta, Choquechaca e Almagro) ou de outras de forma

incompletas (Calle Nueva, Matará, Q’era, Mesón de la Estella, San Andrés, Nueva Alta) que

fazem parte, hoje, das entradas e saídas de algumas ruas de Cusco. Sinal da mentalidade

destruidora do Plano Piloto.

Depois da tragédia de Cusco, para Kubler, as estatísticas foram as seguintes: houve

3.000 casas destruídas, 1.200 apenas para serem habitadas, ficaram entre 30.000 a 40.000 sem

albergue, 15.000 estavam instalados em barracas provisórias, levantadas, em diferentes pontos

e 20.000 habitantes haviam abandonado a cidade. Azevedo (2009, p.125) indica que esse

número é um tanto exagerado, devido à relativamente reduzida quantidade de cidadãos na

época (52,309 habs). Os danos foram calculados em 33.30 milhões de dólares, incluindo bens

e meios de produção.

A criação do imposto ao tabaco se constituiria num montante para sua reconstrução:

enfocado na construção de casas baratas, no fomento industrial para fabricar material barato

para as edificações e realizar empréstimos a juros baixos que permitiam trabalhos de

reconstrução, ou novas construções.

75 É um dos poucos símbolos remanescentes da Confederação Peru-Boliviana. Ele foi construído pelo Marechal Andrés de Santa Cruz,

em 1835, para celebrar a união do Peru e da Bolívia. De acordo com o arquiteto José García Bryce, seu desenho é muito bonito e, sem dúvida o mais belo arco republicano Peru: a forma é diretamente inspirada pelos arcos romanos de três luzes emolduradas por colunas em ambos os lados sobre pedestais, mas transformado consideravelmente o modelo.

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Da mesma forma, as igrejas e monumentos históricos tiveram atenção exclusiva, por

contar com um crédito de 10 milhões por ano (até 1956) para a reconstrução e continuação de

suas obras. Relacionando estas duas últimas medidas com as ações realizadas pela JRFIC,

pode-se afirmar que os objetivos não foram cumpridos na sua totalidade, devido à falta de

rendas nos cofres fiscais nos anos seguintes.

O grande trabalho da missão, quando faz a análise da situação em Cusco, se enfoca

com especial ênfase o caso da arquitetura religiosa. Realiza recomendações especiais nos

imóveis, quanto a sua conservação e restauração, bem como a proposta de reformular a

circulação veicular. Este foi o argumento que deu validade ao alargamento das ruas. Como se

mencionou anteriormente, praticamente, foi essa segunda destruição que a cidade sofreu sem

terremoto, levada a cabo pelos engenheiros e operários.

Essa não foi a única obra de destruição, levada a cabo pelas ações humanas. Houve

diferentes argumentos que foram usados para destruir a cidade, como o quarteirão inteiro que

ocupava a ‘Casa da Moeda de Cusco’ hoje atual Hotel de Turistas76

em pleno coração do CH,

no começo da década dos anos 40. (Figuras 14a e14b em Apêndice).

Para a construção do Mercado Central77

de igual forma, destruindo o muro e casas no

interior do Convento de Santa Clara em 1912. Também no século XIX não foi exceção, o

quarteirão incaico (denominado Aqllahuasi), foi cortado em duas partes (1861), e de forma

mais agressiva ainda, foi o bombardeio militar (do Mariscal Gamarra), ao convento dos

‘agustinos’ em 1840, hoje convertida em hotel (AZEVEDO, 2009, p.129). (Figuras 15a e 15b

em Apêndice)

A pretensão de separar o Cusco ‘velho’ do ‘moderno’ não era a solução mais

apropriada. Os vestígios do passado deviam misturar-se com a vida moderna, onde a Praça

Maior não se tornasse um museu, mas sim o centro da vida administrativa e comercial da

cidade.

A recomendação postura da missão era a favor de se respeitar o caráter histórico da

cidade, para tudo isso seria necessário melhorar os aspectos administrativos e possibilitar uma

grande capacitação profissional. Dessa forma, a missão propôs com a devida urgência, um

programa geral de formação profissional para trabalhadores da construção. Inclusive chegou a

reformular desde as práticas da elaboração do adobe até a construção com esse material.

Kubler considerava que era necessário proteger os monumentos coloniais e os

vestígios incas ou anteriores (arqueológicos) para os quais devia ser criado um “Conselho de

Delimitação de Zonas” com capacidade de tomar resoluções.

76 O Hotel foi inaugurado em 23 de junho de 1944. 77 A Prefeitura Provincial de Cusco pela Lei no1.209 (em 9 dez. 1909), ordena a construção do Mercado Central de Cusco.

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Da mesma forma, criticou o ‘Reglamento Nacional de Construcciones’ em não

considerar a trama particular de edificação que ostentava Cusco, isto é, ‘edificação ao redor

de pátio.’ Não alertar que havia grande falta de severidade normativamente para o uso do

material predominante, o ‘adobe’. Para isto, recomendou um programa de formação

profissional para sua elaboração e práticas de construção com o material.

Da mesma forma, as pranchas onduladas de zinco não podiam ser aceitas nos

telhados por serem esteticamente impróprios com as telhas de barro cozido. Também, a

normativa devia garantir todas as construções antissísmicas. Esses aspectos foram os

argumentos que sustentaram uma revisão completa da regulamentação vigente. Finalmente,

impulsionava a silvicultura para se obter madeira suficiente em qualidade e quantidade

requerida para o futuro.

Essas recomendações foram não só de grande contribuição na época, mas a medida

que avançava o tempo, elas se tornavam vigentes. Pode-se dizer que o técnico da UNESCO já

estava vislumbrando o que se estaria evitando nas décadas seguintes.

Hoje, na primeira década do século XXI, pode-se afirmar que o autor não se

equivocou e, ao mesmo tempo, lhe deu a razão. “A ação, desenvolvida por Kubler para a

conservação dos monumentos, foi muito importante para o trabalho realizado pela CRyF”.

(SAMANEZ, 2012, tema 10470)

Afinal, o trabalho realizado pelo chefe da missão e pela sua equipe foi a maior

contribuição que uma instituição, como a UNESCO, deixaria para a cidade de Cusco, e que

logo serviria de modelo para outras realidades não apenas para o campo da conservação e

restauração, mas pela grande ajuda e assistência contínua para promover o desenvolvimento

de uma região deprimida social, política e economicamente e abandonada por muitas décadas.

4.7. Construção da Central Hidroelétrica de Machupicchu

Quando a iluminação das praças da cidade mostrava luzes diferentes e havia maior

solicitação do serviço elétrico, a JRFIC, sustentada na “Lei de Fomento Industrial”, levou a

cabo um programa provisório, para atender à demanda com duas centrais elétricas78

.

78 A sincronização era impostergável, tendo sido levado a cabo o trabalho com um técnico da fábrica ‘Sulzer’ pela “Custer &Thommen S.A.”.

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A “Central de Ccorimarca”, denominada “Companhia Elétrica Cusco S.A.” era

movida a base de energia hidráulica, com 350kw, enquanto outra a “Central de Dolorespata”

de 1000kw. era movida a diesel, na própria cidade de Cusco (JRFIC, 1956, p. 30).

Quando a JRFIC havia avançado na busca de uma grande solução para o aumento da

demanda de energia elétrica, surgiram “estudos preliminares”, realizados por técnicos da

ONU para a denominada ‘Central Hidroelétrica do Vilcanota’ (CHV) a fim de serem

convocados os “estudos definitivos”, através de um concurso internacional.

Deste processo resultou, a ‘Panedile Peruana SA’ (PP SA), filial da Edison de Milão

(Itália) vencedora (adjudicada) para realizar o trabalho executivo. Eram quatro alternativas

existentes, para sua definição às margens do rio Vilcanota e para aumentar a potência até

40,000 kw (JRFIC, 1954, p. 31).

Como ação previa, solicitou-se79

à PP SA que realizasse uma apreciação das

possibilidades entre os quilômetros 104 e 124 do rio Vilcanota. Devido aos estudos

preliminares, já realizados pela ONU confirmaram a existência de uma alternativa importante

para a região, havia aparecido timidamente a possibilidade da hidroelétrica de Machupicchu:

A construção imediata de uma Central Hidroelétrica em Machupicchu comportaria um custo pouco inferior ao da planta de Primavera; mas em troca, prejudicaria desde agora a construção de uma planta de maior importância que poderia realizar-se no futuro, pois as obras a serem construídas na atualidade resultariam insuficientes. (JRFIC. 1954, p. 32.).

Com esta primeira avaliação, a JRFIC já se haviam confirmado as possibilidades que

o lugar oferecia e, seguiu adiante. Imediatamente, a PP SA inicia os estudos hidráulicos de

Machupicchu, bem como topográficos e geológicos do rio Vilcanota na zona de

Machupicchu, entre os km 104 e 124, a fim de confirmar ou retificar a opinião da PP SA.

No mesmo ano, a “lei da Indústria Elétrica” (no12.378)

80 regulamenta e impulsiona o

crescimento da eletrificação em todo âmbito da república, que compreende a geração,

transformação, transmissão, distribuição e compra-venda da energia. (DIRECCIÓN...,1976, p.

2.1.1.1)

Dois estudos estavam terminados: a alternativa de “Primavera” em 1955, e de

Machupicchu, em fev. de 1956. Realizada a comparação de possibilidades, Machupicchu

alcançaria os 120,000 kw, sem estudo definitivos; e Primavera teria um teto de 40,000 kw,

com estudos totalmente concluídos.

79 Se indicou realizar essa tarefa pela iniciativa do Vice-presidente executivo e dos engs. Vallenas e Escobar, com aval do MFOP e do

Presidente da JRFIC 80 Esta lei assinala normas para o exercício da indústria elétrica, no país. Em 1962 a Lei no13.979 cria os ‘Serviços Elétricos Nacionais’,

para a exploração de numerosas centrais elétricas, dependentes do Estado peruano e abastecer as populações. Em 1972 o DL no 19.521 cria a Empresa Pública Eletricidade do Peru -ELECTROPERU- e institui, como sua entidade reitora e reguladora, o Ministério de Energia e Minas do Peru.

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A JRFIC decidiu que, por ser Machupicchu uma solução para o futuro, os estudos

deviam ser terminados, nascendo assim a ideia da “Central Hidroeléctrica de Machupicchu”

(CHM). Em 15 de março de 1957, o Diretório da CRyF, em acordo unânime do Diretório

dispõe a sua Construção81

devido às possibilidades oferecidas pela CHM.

A tal decisão foi uma postura progressista por parte da corporação para um futuro

remoto. Tal resolução se justificava porque a outra alternativa só podia gerar não mais de

40,000 Kw de potência e Machupicchu passaria a triplicar essa capacidade. Dessa forma, pela

Lei no13.026, se aprovam a licitação, financiamento e execução da central com recursos

próprios da CRyF e do FNDE. (CRyF 1958, p. 8).

A cidade de Cusco, nessa época estava provida de energia elétrica de Machupicchu

com conexão direta ainda sem medidores de energia. Isto resultou, em 1956, em um déficit

para a empresa, pelas tarifas baixas82

. Mas não era isso somente: algumas deficiências entre as

duas centrais da cidade aconteciam de forma frequente, mas foram resolvidas rapidamente,

(CRyF 1960, p. 60).

Devido a esse fato, a comissão do MFOP com técnicos franceses, que realizavam

estudos sobre a eletricidade da Região,83

estes sugeriram para Cusco uma “Planta de

emergência Diesel de 1.500Kw, adjacente ao Grupo Diesel de 1.000Kw. para se instalar na

Central Termoeléctrica de Dolorespata”. (CRyF, 1957, p, 11).

A possibilidade da CHM havia crescido, enormemente. Quando representantes

Senadores e Deputados por Cusco, sem exceção, declararam: “o emprego da maior parte dos

fundos da CRyF em outras obras ou finalidades, antes da eletrificação, isto representaria o

maior e indescritível erro econômico”. (DECLARAÇÃO..., 1957).

Dessa maneira, a Região de Cusco havia dado o maior passo para o desenvolvimento

na sua história, ao se decidir a execução da obra, transmitindo nas entrelinhas, o grande golpe

contra o centralismo.

As novas decisões, tomadas pela CRyF provocariam algumas dificuldades com a

Panedile porque já havia sido assinado o contrato para ser construído a primeira etapa de

81 Por Resolução Ministerial no 623 (de 31 maio 1957) autoriza-se à CRyF a construção da CHM, a qual deverá levar-se a cabo de acordo

às disposições da Lei no12.378 com seu regulamento e o Plano de Eletrificação Nacional. A Resolução Ministerial no 640 da mesma data, declara-se “reservadas” as aguas do rio Vilcanota ou Urubamba e seus afluentes, entre os quilômetros 104 e 124 da ferrovia Cusco–Santa Ana para a construção da CHM.

82 O déficit (do Escritório de Serviços Elétricos de Cusco) para 1956, foi de s/. 972,996.30 soles, cujo custo era s/. 0.50 soles por kw/h consumida

83 Entre 1950 e 1956, haviam sido realizados 15 estudos de diferentes Províncias de Cusco, as quais totalizavam 90 projetos para eletrificação rural.

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10.000 Kw (a segunda de 10.000 e a última de 20.000 Kw). Porem, as conversações84

com a

empresa foram solucionadas, e chegaram a um acordo entre as partes. A ideia era avançar

com a eletricidade, ao seu tempo, por parte da CRyF, que havia surgido em 1957

(CRyF...,1962b, p. 14).

Finalmente, foi readequado o projeto para realizar trabalhos a fim de produzir

20.000Kw85

na primeira etapa, enquanto na segunda passariam a produzir os restantes

20.000Kw. Naquela época, se realizaram gestões,86

a nível do governo Central, para solicitar

um empréstimo ao Banco Mundial de cinco milhões de dólares, o que foi aceito.

(CRyF...,1962b, p. 16).

Na cidade de Cusco, desde então, começava a se tornar evidente o déficit de energia.

Decidiu-se, então, pela aquisição de um “grupo térmico” de 2.000 Kw, para solucionar o

problema emergencial, (CRyF...,1962b, p. 18).

Em vista desse problema, o diretório da CRyF se projeta para um futuro de quinze

anos, onde a demanda seria de 40.000Kw e afirma: “deixando assim estabelecido, desde hoje,

o caminho do progresso de nossa terra, com os estudos prontos para a ampliação futura”.87

(CRyF...,1962b, p. 17).

Quando se dá a conformidade88

do projeto executivo da CHM à PP SA, com RS-74-

57, aprova-se o projeto de construção e instalação da CHM, a lista de firmas interessadas

internacionais é extensa. Confeccionaram-se as ‘bases para licitar as obras’ em janeiro de

1958 e, a partir de fevereiro, continuam estudos em hidrologia do rio Vilcanota.

Diversos levantamentos relacionados com o projeto e, principalmente, com as

possíveis alternativas para as galerias de derivação foram destinadas a alcançar uma potência

de 120.000 kw.

Em março, se realizam as curvas de caudais da ‘Estação de Aforo’ de Chillca. Logo

em abril, são aprovadas as bases para a licitação das obras da CHM (RM-144-58), com

capacidade final de 120.000 kw. Em maio, se inicia o traçado da linha de alta tensão, entre

Machupicchu até a Central de Dolorespata de Cusco89

, (CRyF...,1958, p. 47).

A CRyF estuda alternativas quanto à maquinaria e equipamento eletromecânico para

aquisição das firmas suíças a “Escher Wiss” e “Oerlikon,” indicadas pela PP SA. Em

84 A CRyF comunica à Panedile Peruana em 25 de abril de 1957 que a primeira etapa tinha sido modificada e que devia adequar aos

projetos. 85 Em 22 maio 1957. A carta da Panedile Peruana SA indicava que não havia dificuldade em mudar de 10,000 a 20,000 Kw a obra da

primeira etapa. 86 O gerente da CRyF, com o Ministério da Fazenda em 20 de maio de 1957, Iniciaram os trâmites. 87 O presidente da CRyF contemplou a conveniência de considerar o projeto de máxima demanda para a CHM, em 17 de junho de 1957. 88 A conformidade deu-se em 28 de outubro de 1957 e, o custo da obra alcançava os 137 Milhões de soles. 89 O traçado compreende desde o km 122 da ferrovia Cusco-Santa Ana até a Central termoelétrica de Dolorespata em Cusco. Ver ata de

10 maio 1958.

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outubro, se promulga a Lei no13.026

90, que aprova a licitação e financiamento

91 da CHM e se

firma o contrato entre a PP-SA e CRyF92

, para a construção da CHM num prazo de 42 meses.

As obras iniciaram efetivamente em 10 de novembro de 1958. (CRyF...,1958, p. 49).

Instituiu-se, em fevereiro de 1959, devido aos requerimentos, o ‘Grupo de Inspeção

das Obras da CHM,’ também para todos os trabalhos da instituição. Na época se realizaram

obras na Central Diesel Elétrica, e na mesma época na CHM se instalou uma planta de ar

comprimido de 1.500 pés cúbicos, os ateliês de mecânica, carpintaria, eletricidade, ferraria,

guindaste Derrick e a planta da trituração para pedra (brita).

Também se realizavam obras provisórias, como tal o desvio do rio Vilcanota para

construir a presa do represamento de água que compreende o túnel de desvio e duas

ensecadeiras93

, uma aguas acima e outra aguas embaixo do eixo da presa. Finalmente, a

galeria de derivação, obras da tomada94

, separador de areia e obras de restituição no Km. 122.

(CRyF...,1959, p. 26).

Entre outras coisas, o projeto precisava, para facilitar o normal andamento de obras

complementares para a CHM. Era o caso do acesso do material requerido para a construção e

equipamento a ser instalado. Tomadas as devidas providências do caso, por volta de 1960, já

se perceberam as obras nas ensecadeiras. (Figuras 106 a 112 ‘Construção da Central

Hidroelétrica de Machupicchu’ em Apêndice)

Em 1961, apesar das condições impostas pelos problemas econômicos, ocorridos

com o Estado peruano, pois este se encontrava em dívida de 12 milhões de soles com a PP

AS. As obras da CHM não pararam por parte da construtora.

No ano seguinte, continuavam os trabalhos95

e para acelerar as obras e conclui-las

segundo o contrato, a empresa estendeu os horários de obra de 8 horas diárias para 24 horas,

estabelecendo quatro turnos de 6 horas cada. Do contrário haveria atraso e o cronograma não

seria cumprido. (CRyF...,1962b, p. 97).

90 Em previsão das circunstâncias a Lei previu os custos e autorizava um valor de até 140 milhões de soles. O custo aprovado do projeto

de construção e instalação alcançava a cifra de 137 milhões de soles, finalmente o contrato com a firma PP SA foi por s/. 110’622,396.68 milhões de soles.

91 Em 5 de agosto de 1957, a CRyF recebe uma carta do Presidente da International Development Services, adjuntando memorandum de Robert Hudgens relacionado ao procedimento para a obtenção do empréstimo sobre o financiamento da CHM do Banco Mundial de Reconstrução e Desenvolvimento. Por sua parte a CRyF, havia realizado também gestões em 25 set.1957 para que o FNDE atribuísse 30% do orçamento com o mesmo propósito.

92 Em 31 de outubro de 1958 firmou-se o contrato e cerimonia especial com assistência de todas as autoridades da cidade 93 Espécie de tapume estanque provisório, usado para manter em seco construção abaixo do nível da água, depois de que esta é

esgotada de seu interior. 94 Pequena represa em curso de água. 95 Os trabalhos de represamento e tomada, no túnel de derivação, no tanque de carga e embocadura da tubulação forçada, as válvulas e

câmeras de guincho, a tubulação forçada com plano inclinado, a central em caverna, o poço de acesso, o edifício de montagem, o edifício com painéis de controle, o pátio de transformação, o registro dos caudais95 e as amostras de concreto do laboratório.

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Em 1962 (13 abr.) por RS no 29, foi aprovado que a mesma empresa realizasse a

montagem da segunda unidade de 20.000 Kw. Conforme a RS no 30, também foi aprovado o

contrato de financiamento de 68 milhões de soles. Segundo a Lei no

13.737 se autorizava à

CRyF, para realizar novas Operações de Crédito, destinadas à execução da Primeira Etapa da

CHM e da Linha de Transmissão a Cusco.

Continuam as obras do represamento do rio Vilcanota para a CHM, durante 1963

(CRyF, 1968, p.68) e, em junho de 1964, se iniciam os trabalhos de montagem da segunda

unidade de 20.000kw na CHM, sendo concluída, em dezembro do mesmo ano. Logo após

efetuar as provas de funcionamento, houve resultados satisfatórios, conclusão dos trabalhos e

agendamento de data para se iniciar as operações em janeiro de 1965.

A CHM contava com 40.000kw de potência instalada e em condições de atender,

tanto as necessidades da cidade de Cusco, quanto as da Fábrica de Fertilizantes de

Cachimayo. No mesmo mês de dezembro de 1964, foi realizada a conexão da subestação

principal da fábrica à linha de derivação que ia de Machupicchu a Cusco. (EGEMSA96

,2011)

O anúncio sobre a inauguração da CHM aconteceu durante o discurso do governo de

Belaunde (DISCURSO...,1964, p.12), afirmando que: “O primeiro grupo de 20.000Kw da

Central Hidroelétrica de Machu-Picchu [sic] encontra-se atualmente em processo de

montagem. O segundo [...] para outros 20.000Kw.; [...] entrará em operação a partir de janeiro

próximo”.

O curioso da mensagem só ressalta o fim da construção, não particularizando o

atraso. Segundo as escrituras celebradas entre a PP SA e a CRyF, a finalização das obras da

CHM estava programada para abril de 1961. Nessa época já havia um atraso de três anos e

oito meses. Afinal, estava terminada e concluída a primeira fase do projeto executado pela

CRyF.

Contudo, pode-se afirmar que a CHM foi uma das primeiras empresas de

investimento elétrico público, onde Estado peruano participou mais decididamente. Antecede-

lhe, em antiguidade, apenas a C.H. do “Cañón del Pato” com uma capacidade, instalada, de

50 Mw, construída em 1958 e ampliada, em 1966, até 100 Mw.

O grande acerto do Estado peruano foi levar à frente a conclusão dos 40 Mw da

CHM o que daria, dai em diante, energia para o desenvolvimento não só da Região de Cusco,

96 Dentro do “site” da empresa se anunciam informações relativas à capacidade instalada ao longo de sua história tais como a Central

Hidroelétrica de Machupicchu onde se afirma que para 1964 já estavam prontos dois grupos instalados de 20,000kw. A “EGEMSA” (Empresa de Generación Eléctrica Machupicchu S.A), com seu primeiro Diretório, iniciou suas funções a partir de 25 de abril de 1994. Por decisão designada pela junta de acionistas ainda com o nome de “ElectroPeru S.A.” em 13 de agosto de 1993 / A ‘Egemsa’ se constituiu sobre a base de ativos e passivos de ElectroPerú e Electro Sur Este S.A. em acordo com o estabelecido no Artigo 10º do Decreto legislativo no 674. A ‘Egemsa’, na atualidade, vem realizando todo tipo de obras e melhoras exclusivamente para manter-se em operabilidade e brindar um serviço ininterrupto da energia elétrica.

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mas até os lugares mais escondidos nos Andes do Sul peruano, oferecendo opções para outras

regiões. Industrializar ficou sendo o grande propósito.

A ampla visão de futuro pelo governo e as ações realizadas pela CRyF não tiveram

limites para realizar esta obra fundamental como a CHM. Dai por diante, a construção da

mesma seria o motor de desenvolvimento, inicialmente, para a região.

Posteriormente esta energia seria procurada por outras regiões com projetos de

grande consumo de eletricidade tais como as grandes extratoras de minérios. Cusco e sua

região haviam entrado numa ‘Nova era Industrial e técnica’.

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Trata-se de informar e comentar as iniciativas e projetos governamentais

desenvolvidos nos períodos presidenciais de Manuel Prado Ugarteche e Fernando Belaúnde

Terry relacionados com a preservação e desenvolvimento da Região de Cusco. Numa fase

seguinte, com o governo militar de Juan Velasco Alvarado se consolidou toda ação iniciada

por esses dois primeiros. (Tabela 4 em Apêndice ‘Lista de mandatários’).

5.1. O governo de Manuel Prado Ugarteche

O Presidente Manuel Prado Ugarteche (1957-1962) apenas deu continuidade às obras

programadas pelo seu antecessor, Odría. Todavia, esse período ficou conhecido como a

"convivência"1 (MANUEL, 2012. p.1), ou “resurgimento”

2 (UCEDA, 1957, p.6), pois

enfrentou uma grave crise econômica e social.

E experimentando uma política econômica liberal, eliminou os subsídios aos

combustíveis e alimentos, seguidos por greves e distúrbios. Além de restringir a saída de

capitais e investidores, iniciou a nacionalização da produção de petróleo no país.

Dias antes de concluir seu mandato, foi deposto através de golpe militar, por Ricardo

Pérez Godoy (18/07/1962-3/03/1963), também deposto por Nicolás Lindley López (03/03-

28/07/1963), ambos tiveram curtos períodos como Presidentes da Junta Militar.

Diante dessas circunstâncias, o papel de Prado como presidente, teve um trabalho

cujo projeto de governo foi uma dos mais importantes para as grandes transformações pelas

quais a cidade de Cusco iria passar.

Nesse sentido, foi de grande importância a reformulação do órgão público criado, no

que diz respeito, à condução do processo de reconstrução de Cusco.

1 Esse período foi assim chamado porque, antes de assumir o 2º governo, Prado prometeu aos seus opositores políticos do “APRA”

derrogar a Lei de Segurança Interior que compreendia anistia a todos os presos políticos e exilados. Dai o nome ‘convivência’. 2 Segundo Uceda, considerava-se que, antes da criação da CRyF, a JRFIC, não teria conseguido promover a região de Cusco.

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5.1.1 Papel da Corporação de Reconstrução e Fomento (CRyF)

Em agosto de 1956, quando se deram por terminadas as atividades da Junta de

Reconstrução e Fomento Industrial de Cusco (JRFIC), o Estado peruano havia nomeado uma

Comissão3 para reorganizar, totalmente, a instituição. O “Informativo do Período de

Reorganização” deu a conhecer logros e desacertos da junta, para reformular o novo sistema

que retomaria para a reconstrução de Cusco, (JRFIC, 1957, p.5).

Dessa forma, a Lei no

12.800 que cria a CRyF, substituindo a JRFIC, tem o objetivo

de continuar a Reconstrução da Cidade e ampliar a estabelecida Lei no11.551. Conferindo-lhe

personalidade jurídica, de direito público interno, e estabelecendo mudanças e atribuições à

CRyF, para administrar o Crédito Hipotecário e Regras Gerais para a Reconstrução do Cusco.

Dessa forma, o Estado peruano descredencia o Banco Hipotecário do Peru (BCHP) e

passa para a CRyF assumir, mediante seu Departamento de Créditos, a concessão de

financiamentos hipotecários para: as reedificações, as reparações, o saneamento eu novas

construções de prédios urbanos na cidade de Cusco.

As atribuições do Conselho Nacional de Urbanismo (CNU) e do Escritório Nacional

de Planejamento e Urbanismo (ONPU) eram utilizadas como vias de assessoramento à CRyF,

para solucionar os problemas urbanos da Região de Cusco.

Reconstruir e Restaurar todos os Monumentos Arqueológicos, Históricos e Artísticos

é outra particularidade nova, sem deixar de lado as obras públicas, iniciadas pela JRFIC. A

instituição criada – CRyF – daria continuidade aos trabalhos em execução, corrigindo e

melhorando as atividades, para alcançar seus objetivos.

Fomentar a indústria seria um dos seus objetivos primordiais, fato que impulsionou o

plano de eletrificação, dando início à instalação de várias centrais elétricas para Cusco. Outros

objetivos estavam baseados em: solucionar problemas relativos ao abastecimento do cimento;

construir a fábrica de fertilizantes nitrogenados e, de forma mais particular, impulsionar o

fomento rural mediante a promoção do Crédito Agrícola Supervisionado (CREAS).

Esse processo consistia em recuperar terras incultas e estudar as especificidades da

flora regional para atender o desenvolvimento das Comunidades Indígenas. O CREAS4 é a

primeira iniciativa peruana de levar assistência financeira e técnica aos camponeses.

(TAMAYO, 1981, p.188) 3 A comissão encarregada do “Informe de Reorganização” se reduziu a duas pessoas. A memória geral, com conta documentada e

balanço de liquidação, fechados entre 11/08/1956 e 28/02/1957, foi entregue para aprovação após o relatório apresentado pelos auditores (Buza e Cia) os quais certificavam os balanços do inventário expedido por cada área ante a Junta de Liquidação.

4 O idealizador do CREAS foi o costarriquense Alejandro Quesada, funcionário da ONU que começou, no Distrito de Chinchero, o primeiro esforço prático por resgatar o camponês do seu atraso em que se encontrava.

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A CRyF realizaria os programas para a Região de Cusco com fundos e rendas

próprias. Esses fundos eram assim distribuídos; a partir de três fontes: Uma das rendas era

representada por 20% do preço do tabaco, a outra era proveniente das amortizações e juros

concedidos pelo BCHP, e o restante vinha das doações que o Estado peruano outorgava para

fins especiais. Seu capital se somaria aos fundos que viriam, posteriormente, e pelos

investimentos que realizasse.

O controle de suas atividades econômicas foi acompanhado pela Superintendência de

Bancos, administrada por uma Diretória5, fiscalizada por um Conselho de Controle e

Vigilância (CCV)6 e por uma Gerência, seu órgão executor.

As instituições antes citadas estavam todas estabelecidas na cidade de Cusco,

diferente do que acontecia durante a vigência da instituição anterior (a JRFIC) administrada

em Lima e sendo as ordens executadas em Cusco.

Além disso, o poder que lhe foi conferido teve ampla autonomia para estabelecer os

gastos anuais.7 Desse modo, as medidas não atrapalhariam o avanço dos trabalhos

programados, nem haveria atrasos com a burocracia provocada pelos organismos públicos.

A regulamentação da lei prevê medidas para a conservação do patrimônio

arqueológico, histórico e artístico de Cusco, o objetivo era para se aprovar novas urbanizações

e reconhecer as existentes para que ficasse pronta e efetiva a reconstrução bem como realizar

o saneamento dos imóveis, tanto de propriedade pública, quanto particular. E para facilitar a

regularização dos títulos de propriedade dos prédios, o Poder Executivo ordenou modificar, se

necessário, o Regulamento das Inscrições.

É evidente que a nova política hipotecária aplicada pelo governo modificou-se em

favor da população, dentro de uma lógica mais acessível de empréstimos. O Crédito

Hipotecário reconhecia proprietários ou ocupantes de imóveis, de até cinco anos de residência

ininterrupta (antes eram 10 anos).

Para o caso dos empréstimos, cobria até 90% do orçamento, caso se tratasse da

reconstrução de edifícios destinados à habitação popular exclusivamente, ou de imóveis que

pelo seu valor arqueológico, histórico ou artístico deveriam manter-se inalterados.

5O presidente do Diretório exerce a representação legal da CRyF. Seu Diretório de cinco membros (dois designados pelo Presidente da

República para Presidente e Vice-presidente e três eleitos para períodos de três anos: um engenheiro da Prefeitura Provincial, um especialista em Assuntos Comerciais, Econômicos e Financeiros da Câmara de Comércio e um engenheiro agrônomo pela Sociedade Agropecuária Departamental, todos de Cusco).

6O “Conselho de Controle e Vigilância” estará formado pelo Fiscal Administrativo da Corte Superior do Cusco (Presidente), sete membros designadas cada uma das seguintes instituições: Universidade Federal, Sociedade de Beneficência Pública, Grêmio de Advogados, Sociedade de Engenheiros, Associação de Comércio e Indústrias, Sociedade Mútua de Empregados e Federação de Trabalhadores.

7A proposta do orçamento do ano seguinte devia ser preparada pelo seu Diretório antes de cada 30 de setembro e deveria ser aprovado pelo Ministério de Fomento até 31 de dezembro. Se não houvesse pronunciamento por parte do ministério entraria a proposta do orçamento automaticamente em vigência, 15 dias depois.

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Como pode ser notado, o interesse do Estado peruano está voltado para a preservação

e para a moradia, inclusive viabilizando casos comuns de transferências de empréstimos

anteriores. O último empréstimo estaria sujeito a um novo tipo de juros, estabelecidos pela

CRyF, exceto quando se tratava de heranças ou vendas judiciais em leilão.

O Crédito Hipotecário também passaria a ser gerido por todas as leis e disposições

orgânicas do BCHP. Outras disposições de menor escala são indicadas, no regulamento, caso

aconteça.

Através da CRyF, apoiou-se o processo de reconstrução da cidade, ao estabelecer

regras gerais para a Reconstrução do Cusco. Esse processo obrigava aos proprietários a

reparar ou sanear seus respectivos prédios no prazo de três anos, desde que estivessem

localizados nas zonas de reconstrução, segundo o Plano Regulador.

A corporação advertia que se o prazo estivesse vencido, as obras seriam executadas

às custas do próprio possuidor do bem. Para o caso dos omissos, estes estariam obrigados a

pagar o custo da obra com um adicional de 25%.

A atuação da CRyF no primeiro ano8 compreendia Monumentos Históricos, não

apenas da Cidade ou da Região, mas também, os da Região de Puno. (Tabela 5 em Apêndice).

Em Arqueologia, continuavam obras de defesa das ruínas de Machupicchu, iniciadas por volta

de 1955, em parceria com o Patronato de Arqueologia de Cusco9. Na época todo o trabalho de

restauração do setor do bairro popular da cidadela de Machupicchu já estava em andamento.

Na cidade de Cusco executaram obras de defesa e outras de pequeno porte, em

instituições religiosas. A restauração de monumentos coloniais precisava de estudos prévios,

como na Casa do Almirante, no antigo Convento dos Jesuítas, no Palácio de São Bernardo,

entre outros.

Em paralelo se realizou a Catalogação de Obras Pictóricas e organizaram-se os

arquivos do Patrimônio Artístico, antes de confeccionar fichas e fotos para tombar as obras

pictóricas das igrejas importantes e de outras modestas. Foi então, inaugurada pela corporação

uma lista de monumentos religiosos. (CRYF, 1957, p.10)

A equipe do ‘Plano Piloto’ da cidade continuava fazendo consultas ao Ministério de

Fomento para sua aprovação e, em parte, para ver o caso do processo das desapropriações,

além de ter que estudar melhor a circulação das vias de acesso, a partir dos arredores da

cidade.

8 A CryF estabeleceu a data do seu Primeiro Balanço Geral da CRyF para 31 de dezembro de 1957 e derrogou os artigos das leis

no11.551 (Artigos 4º, 12º e 13º) e no 12.350 (Artigos 1º e 3º). 9Lideravam os trabalhos arqueológicos L. A. Pardo e M. Chávez. Em 1956, o geólogo Kalafatovich fez estudos para ver as características

do solo. Para o caso do projeto do Hotel Ruinas (próximo ao próprio Machupicchu), já haviam sido realizados trabalhos topográficos.

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Encontra-se em estudo o prolongamento da rua Ayacucho, abertura da rua Puputi e a regularização da rua Mantas. Daí que se conclui que todos os trabalhos realizados pela CRyF eram adaptados a todo momento, ao Plano Piloto. (CRYF, 1957, p.68). (grifo e tradução nossa).

O urbanismo demolidor continuava presente com suas obras e, paralelamente,

ampliava seus horizontes na cidade. Na época, foram também levantados os planos dos

terrenos da zona de Quencoro, hoje Distrito de San Jerónimo,10

cuja proprietária era a

Prefeitura de Cusco.

As redes de eletricidade avançavam para bairros como Chachacomayoc, tanto para os

domicílios quanto para a iluminação das ruas (CRYF, 1957, p.69). Outras obras também eram

realizadas, tais como as do Estádio Garcilaso (tribunas do setor oriental, camarins e outras

dependências); as do edifício do Palácio da Justiça; a pavimentação da Av. EL Sol e Av. da

Cultura, bem como os estudos para o dispensário Bernardo O’Higgins.

O Departamento do CREAS havia distribuído, em diferentes zonas, (Chinchero,

Yanaoca, Cusco, Sicuani e Urcos) sementes, fertilizantes, inseticidas e fungicidas dando

assistência aos trabalhos com tratores e equipamento agrícola. Em virtude da sua ação, o

CREAS alcançou um êxito e reconhecimento popular na época, graças à constância e à

eficácia dos métodos empregados, e pela cooperação prestada pelo banco.

A maior dificuldade do desenvolvimento do projeto era a reduzida área de terras de

cultivo que tinham os proprietários. Estes também sofriam com o período de seca que se

repetia a cada ano. Isso implicava em menores investimentos por parte dos camponeses, de

um lado e, de outro, significava cuidados extras, requeridos pela agricultura.

Quando o ‘Modelo de Desenvolvimento da CRyF’ estava sendo aplicado em Cusco e

sua Região, por volta de 1958, outra cidade peruana, Arequipa, também sofreu um

terremoto.11

No Centro Histórico da cidade de Arequipa, se constatou que todas as casas

antigas sofreram danos maiores em comparação com às modernas. Muitas das circunstancias

emergenciais, após o abalo telúrico do Centro Histórico arequipenho, se manifestaram, como

em Cusco.

Imediatamente, a prefeitura local enviou uma comissão à capital Lima, a fim de

encontrar uma solução para os problemas, levando consigo uma proposta de um projeto de lei

para a Reabilitação Social e Econômica de Arequipa (GARCIA, 1959).

A surpresa deu-se pelo fato de que os deputados de Arequipa já haviam apresentado

um projeto, semelhante à experiência da reconstrução de Cusco, tendo demorado apenas dois

10 Por petição do Ouvidor da Cidade foram levantados, detalhamentos curvas perfis e quadro de cotas da zona de Quencoro. 11 Foi em 15 de janeiro que a cidade de Arequipa ficou destruída pelo terremoto com intensidade de 7,3 na Escala de Mercalli. A Região

Moquegua foi afetada em muito menor intensidade.

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meses para ser aprovado. Caso mais rápido que a lei aprovada para Cusco, que demorou um

ano e oito meses.

Disto resulta a Lei no

12.972, quando aparece a primeira réplica do modelo de Cusco

no âmbito nacional, com a da “Junta de Reabilitação e Desenvolvimento de Arequipa”

(JRDA). O Estado peruano havia dado autonomia econômica e administrativa à outra Região

do Peru, desta foi Arequipa. A duração desta autonomia não poderia exceder a 20 anos. A

CRyF de Cusco teve tempo indefinido e não menor de 30 anos.

Para o prefeito de Arequipa, o objetivo da lei era gerar novas fontes de trabalho. Para

isto ajudou muito, o empréstimo conseguido do Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID), sendo o primeiro que se fez no Peru, e em toda América, para atender as necessidades

de água potável. (ARCE, 2012).

A particularidade era que a lei fornecia instrumentos precisos para promover a

reconstrução: com reparação de edifícios públicos, promoção de atividades agrícolas,

industriais, mineiras e comerciais na região, bem como, desenvolver programas de moradia e

autonomia para solicitar crédito nacional e internacional. Tudo isso foi basicamente uma

reprodução do modelo aplicado em Cusco, com ligeiras modificações e adições específicas

para a Região.

Havia-se criado o imposto de 1% às importações. Desse total seria distribuída uma

porção equivalente a 10% para a Região Moquegua,12

e 90% para a Região de Arequipa. As

percentagens foram concedidas assim devido a que o terremoto havia afetado grandemente na

Región de Arequipa e na Región de Moquegua superficialmente. Do total desses 90%, 40%

iriam para a JRDA; 30% para o BCHP; 5% para o Banco de Fomento Agropecuário; 5% para

o Banco Industrial e os 20% restantes, para a Prefeitura de Arequipa.

A Lei no

12.972, entre outras considerações, isentou o pagamento do imposto predial

(art. 30o), fixou os juros para os empréstimos, considerou aplicáveis as Leis de n

o11.551 e

no12.800 criadas para Cusco, e finalmente, para o período de emergência da região criou uma

“Comissão de Ajuda”.

Em relação a Cusco, a grande diferença da lei de reconstrução para Arequipa é que

ela foi modelada pelos próprios arequipenhos, dando-lhe diversas ênfases e perspectivas para

a região, baseadas na experiência da JRFIC e da CRyF. Já no caso de Cusco, por ser pioneira

nos fatos, a situação foi diferente: o Estado peruano tomou a iniciativa completamente para

sua formulação, sem a participação da população local.

12 A Região Moquegua, vizinha, também foi afetada pelo terremoto, por isso que entrou na repartição das percentagens.

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A réplica do modelo de desenvolvimento econômico-social adotado em Cusco era

desejada por outras regiões do país. Segundo Paliza (2005, p.33) essas regiões exigiam a

constituição de corporações regionais.

Com efeito, a partir de 1961, se institucionalizavam as Corporações de Fomento e

Desenvolvimento Econômico em várias regiões do país, todas com autonomia administrativa

e econômica. Três delas13

, durante o governo de Juan Velasco Alvarado e, mais precisamente,

sete14

regiões, durante o primeiro governo de Fernando Belaunde Terry.

Por causa dos episódios telúricos, o Estado peruano ajudou com dotações

econômicas baixas, quando o caso era de pouca magnitude, quando as Regiões de Lima e de

Ancash receberam, apenas, um e cinco milhões de soles respectivamente, para realizar

reparações nas zonas afetadas de Cajatambo e Chancay. O fato referido aconteceu por volta

de 196315

.

Em 197016

, houve o terremoto na cidade de Huaraz, Región de Ancash. Esse foi o

pior dos terremotos acontecidos na história do Peru, ocorrendo uma violenta avalanche, que

enterrou as localidades próximas de Yungay e Ranrahirca, por completo, provocada pelo

desprendimento de neve e gelo do pico oriental no nevado Huascarán,17

45 segundos depois

do tremor principal.

Outras localidades afetadas como Recuay, Aija, Casma, Harmey, Carhuaz e

Chimbote tiveram seus edifícios, entre o 80 e 90 %, destruídos. Estimaram-se 80.000 mortes,

20.000 desaparecidos (contabilizaram 143.331 feridos), apareceram 20.000 crianças órfãs e

foram afetados três milhões de habitantes, conforme diferentes fontes de informações.

O caso peruano não foi o único na América Latina, segundo Azevedo (2001, p.301)

onde ”terremotos têm apagado do mapa cidades inteiras, como a Antiga (na Guatemala) em

1773, Riobamba (1797) e Otavalo (1868), no Equador”.

Em consequência do grau de destruição e do que poderia ter sido evitado, o Estado

peruano criou o Sistema de Defesa Civil (SIDECI), em 1972, com o objetivo de preparar o

país para enfrentar eventos desse tipo. A existência de um organismo o Auxílio Social de

Emergência Regional (ASER), na realidade, estava limitada, principalmente, pela falta de

recursos.

13 Em 1961, durante o governo militar foram: a Corporación de Saneamiento de Arequipa (Lei no 3.499); a Corporación de Tacna (Lei no

13.502) e a Corporación de Puno (Lei no 13.778). 14 Durante o governo constitucional foram as Corporações em 1963: Moquegua (Lei no 14.676); 1966: Madre de Dios (Lei no 13.402);

Ayacucho (Lei no 16.076); Junín (Lei no 16.176); Lambayeque (Lei no 16.205) e Pasco (Lei no 16.350) e 1967: Arequipa (Lei no 17.052). 15 O terremoto acontecido em 24 de setembro de 1963, não foi considerado. O mais forte, registrado em Lima, aconteceu em 1746. 16 O terremoto e aluvião ocorreu em 31 de maio de 1970 às 15:23 horas, com uma magnitude de 7,8 graus, na Escala de Mercalli. 17 O ‘Nevado Huascarán’ é uma montanha da Cordilheira Branca, parte dos Andes peruanos com 6.768 m. É o mais alto do Peru.

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O ASER estava constituído desde 1961, para atender emergências regionais e dar

auxílio à população. O Equador também criou um Fundo de Emergências Nacionais

(FONEN), especificamente para atender desastres que ocasionam a destruição de obras

públicas de caráter nacional e local. E o Panamá elaborou o Fundo de Poupança de Panamá

(FAP), para atender emergências.

Por volta de 1974, Lima novamente sofre terremoto e tsunami na “Provincia

Constitucional del Callao”,18

onde edifícios públicos, igrejas e monumentos foram afetados,

mas não se requereu uma lei especial que atendesse as necessidades ou de maiores ações por

parte do Estado peruano, somente considerou pertinente promulgar a Lei no20.754, a qual

proibia toda ação de desalojamento dos moradores para evitar o caos social.

Fora do contexto nacional, as experiências de outros países latino-americanos que

enfrentaram a ação dos terremotos não só têm provocado mortes, perdas materiais, mas

também reações de recuperação por parte do Estado peruano ou da população, com os

intentos mais importantes de preservação dos Centros Históricos (CH).

O caso da cidade de México, em 1985, permitiu que uma rede de organizações

vizinhas assumisse o papel protagonista, no controle da situação de emergência dos primeiros

dias, bem como no processo de reabilitação do seu CH com ênfase na moradia. (AZEVEDO,

2001, p.302).

Meses depois, se instalou o “Comité Técnico de Concertación Democrática”, que

não era outra coisa senão dar nome aos agentes19

, que vinham atuando desde o evento na

cidade. O caso mexicano levou o governo local e as agências internacionais a expropriarem

3.569 imóveis, para outorgar moradia a 90.000 famílias.

A participação da população foi plena na elaboração dos projetos novos, no contexto

antigo. O que trouxe como consequência a discussão das formas e fachadas, conhecida como

‘fachadismo’, utilizando apenas as fachadas para a reconstrução e, internamente eram novos

blocos de apartamentos.

Uma falsa porta que levava à antiga parte histórica da cidade, tornando-se um

desatino alarmante, dentro desse grandioso programa, estabelecido com a comunidade. Porém

na segunda etapa desse projeto, em sinal da experiência da primeira etapa procurou-se a

realização de projetos com critérios, verdadeiramente, de restauração e refuncionalização de

edificações para 12.670 famílias. (AZEVEDO, 2001, p.302). 18 O Callao forma parte do litoral da Região de Lima. É um grande porto e faz parte da grande metrópole de Lima. Conturbada foi cenário

de acontecimentos históricos e foi-lhe concedido o título de “Provincia Constitucional del Callao,” mas com representação regional foi denominada: ‘Región Callao’.

19 1-Associações e cooperativas conhecidas como movimentos urbanos populares; 2- Instituições financeiras do governo para melhoria e construção de moradia; 3-Assessores profissionais ligados a movimentos sociais e 4-Universidades e seu papel para as discussões.

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155

O caso é mais discutível quando, por falta de orientação e critérios, as autoridades

nacionais cometeram abusos, reconstruindo cenograficamente pirâmides, portais e recintos em

sítios arqueológicos de Cholula (México), Tiahuanaco (Bolívia) e Coro (Venezuela) nas suas

igrejas e palácios (AZEVEDO, 1992, p. 29).

Para o mesmo autor, era evidente a ausência teórica de um método de intervenção em

cidades e monumentos históricos. A restauração se fazia nos canteiros, com o bom sentido e

com o bom critério. “Não havia centros para formação de mão-de-obra especializada, nem

foros para discussão, menos ainda o intercâmbio de experiências” (AZEVEDO, 1990 apud

AZEVEDO, 1992, p. 29).

Outro caso, responsável por gerar um programa de reabilitação do centro histórico, é

o da República do Equador, em consequência do terremoto de 1987, que atingiu sua capital,

Quito. Segundo Azevedo (2001, p.303), a capacidade da Prefeitura em mobilizar o Governo

Central e as agências de cooperação internacional permitiu socorrer rapidamente aos mais

importantes monumentos e obras de arte, danificados.

Os catastróficos efeitos do terremoto obrigaram ao poder municipal conceber uma

nova ideologia de intervenção, sustentada em critérios de preservação ativa e

desenvolvimento, inseridos na política de planejamento urbanístico metropolitano.

Dessa forma, o Congresso Nacional Equatoriano aprovou a Lei no82, que criou o

“Fundo de Salvamento do Patrimônio Cultural” (FONSAL), primeiro organismo a se

responsabilizar pela reabilitação do patrimônio que compreende a restauração monumental, de

moradia, reequipamento urbano, infraestrutura e espaços públicos realizados na última década

do século XX, distribuídos em 350 projetos. (CAMPESINO, 2001, p.1)

Posteriormente, o FONSAL realizou prévio diagnóstico e relatórios, sobre o CH de

Quito e fundamentou a formulação do “Plano Mestre de Reabilitação Integral das Áreas

Históricas” (PMRAH) em 1989, que se tornou referência para outros planos da América

Latina. Desde 1994, o FONSAL desenvolveu o Programa de Reabilitação Integral do Centro

Histórico de Quito.

Este programa realizou obras em 154 quarteirões, onde habitavam 79.000 pessoas,

representando um 4% do total da população. O projeto teve um custo de 51 milhões de

dólares que foram enfocadas ações em quatro grandes blocos: a adequação urbana; a melhoria

ambiental; a sustentabilidade social e o fortalecimento institucional.

Para a gestão dos projetos do PMRAH, também foi criada em 1994, a “Empresa

Mista de Desenvolvimento do Centro Histórico de Quito” (ECH) a qual tornou-se, junto ao já

formado FONSAL, seu braço executor. Essa experiência pioneira de intervenção integral no

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CH de Quito foi normativa, planificadora e gestora, destacada como “Programa de

Sustentabilidade Social” na América Latina, assistida pela UNESCO (CAMPESINO, 2001,

p.1).

O FONSAL teve várias quantias recebidas originadas de impostos, tais como: das

rendas de investimentos e multas; dos convênios com o governo; das transferências do setor

público do Distrito Metropolitano de Quito e, por último, das doações internas e externas

provenientes da: Junta de Andaluzia, Governo da Bélgica, Agência Espanhola de Cooperação

Internacional para o Desenvolvimento (AECID) e UNESCO.

Essa semelhança das ações realizadas no CH de Quito, no Equador, é um processo

de Desenvolvimento da Cidade com Preservação, que adquiriu uma singular importância ao

ser articulado com os serviços urbanos. Para Bárcena e Simioni (2003, p. 32) é indispensável

a existência de uma adequada rede de infraestrutura e serviços coletivos.

A sua qualidade e cobertura tornou-se requisito indispensável, para se localizarem

novos investimentos nacionais e internacionais, o que permitiu o desenvolvimento econômico

da área. A ausência ou ineficiente funcionamento dos sistemas de dotação da água e esgoto,

eletricidade ou transporte resultam em pouca atratividade para novos investimentos.

Arizaga reconhece o alto potencial que hoje tem a reabilitação de espaços centrais,

mas ao mesmo tempo alerta, que este fato não deveria conduzir ou subestimar as dificuldades

do processo. Destacam-se três componentes da estratégia de gestão bem sucedida para as

áreas centrais.

O Primeiro foi o fortalecimento da base econômica, incluindo a população residente;

o segundo, a integração social, que protege e acolhem as diferenças culturais, presentes no

centro, potencializando os costumes tradicionais, bem como as novas dinâmicas culturais. E,

o terceiro é a preservação do patrimônio histórico e cultural, como forma de reforçar a

identidade dos habitantes e resgatar os valores culturais presentes no entorno urbano.

A idéia era de não converter o patrimônio constituído em objeto de consumo cultural

que gere rendas, onde se têm excluído as práticas cotidianas dos habitantes (caso Pelourinho,

Salvador-Bahia no Brasil) para o qual Arizaga (2003, p. 210) assevera:

Destinou-se às áreas patrimoniais certas “mono atividades” (turismo cultural e ecológico), nas quais a busca “da valorização” chega a casos extremos como os de importar símbolos de consumo internacional para as fachadas, ou trocar o uso do solo e do espaço público, sem considerar os impactos que podem gerar na comunidade. (tradução nossa)

A falta de políticas e ações bem definidas para a preservação e conservação do

patrimônio cultural das cidades, onde a participação dos governos e comunidades é de

responsabilidade conjunta, se transformou, com o tempo, em um grande problema de

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valorização, devido ao fato de não reconhecer o patrimônio cultural como parte integrante do

habitat dos CH, deixando de lado seu papel como parte das políticas de desenvolvimento

local.

Compreender as potencialidades que geram sua conservação é tarefa difícil,

principalmente pela falta de conhecimento, ausência de infraestrutura, má qualidade de vida e

a carência de recursos econômicos, que se traduzem em uma carga de impedimento para o

desenvolvimento. (ARIZAGA, 2003, p. 210).

Por conta dos acidentes naturais, em diferentes regiões do continente, os organismos

regionais, a partir do final da década de 1960, começaram a criar normas com relação à

preservação do patrimônio cultural.

Era 1967, quando em Quito - Equador, foi celebrada a reunião sobre “Conservação e

Utilização de Monumentos e Sítios Históricos” onde destacados especialistas americanos, na

área da Preservação de Monumentos e Turismo, definiram as Normas de QUITO.

Este importante documento para a América Latina, além de recolher enunciados da

Carta de Veneza, incorporou a decisão política dos mandatários, que (na Reunião de Punta

del Este-Uruguai) manifestaram o comum propósito de dar novo impulso ao desenvolvimento

do continente.

Um dos postulados era a necessária conservação e utilização do patrimônio

monumental, onde se aceitava implicitamente, que esses bens do patrimônio cultural

representa um valor e são susceptíveis de originar-se em instrumentos de progresso.

(CRESPO, 2002, p.168).

Sob esse conceito-guia, a conservação do patrimônio monumental traz novos

critérios que se referem ao valor econômico, representando o patrimônio cultural por si

mesmo, ou como gerador do turismo e ingrediente fundamental para o desenvolvimento

econômico e social das comunidades.

Este documento também relaciona a conservação do patrimônio com o planejamento

regional e urbano, conciliando as exigências do progresso urbano com a salvaguarda dos

valores ambientais (GALO 1982 apud APRENDIENDO, 2005 p. 7).

Nas Normas de Quito, prevaleceram critérios pragmáticos, que vinculam a

conservação do patrimônio, especialmente, com o desenvolvimento turístico e suas

consequências econômicas. Essa era a tendência na época em que os organismos financeiros

internacionais ainda não concebiam a cultura como elemento fundamental de crescimento.

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Foi necessário que passassem vários anos para que o BID e o Banco Mundial (BM)

incluíssem, em sua filosofia, e nas políticas de desenvolvimento, investimentos destinados à

conservação do patrimônio cultural dos povos. (CRESPO, 2002, p.169).

As Normas de Quito, com o turismo cultural, inspiraram as ações de requalificação

do Centro Histórico de Salvador (Pelourinho), que têm variado em função das políticas dos

governos de turno e da disponibilidade de recursos. (AZEVEDO, 2009b, p.95).

Essas políticas aplicadas em Salvador, de certa forma, se desvirtuaram por

obedecerem a falsas expectativas econômicas, fundamentadas, sobretudo no crescimento do

turismo, isto é, permutando as funções tradicionais e desarticulando seus espaços internos ou

públicos, para receber essa corrente vivificante do turismo.

São outros exemplos vivos dessas políticas aplicadas, junto ao caso do Pelourinho de

Salvador/BA (Brasil), Cartagena (Colômbia) e no CH Antigo da Guatemala. Quito, por

facilitar a circulação veicular, mediante o sistema de trólebus (ônibus elétricos), passando

pelo Centro Histórico e, por implantar sinaleiras, interrompeu a sua continuidade espacial que

caracterizava a cidade.

Contudo, ficou desarticulada essa área histórica com os terminais que haviam sido

impostos em diferentes setores importantes daquela urbe. Dessa forma, os núcleos poli

funcionais e de coesão da cidade, as funções políticas, administrativas, religiosas e, sobretudo,

as habitacionais, foram desaparecendo.

No caso da famosa “hotelitis” desatada em Cusco de hoje, vai perdendo os antigos

proprietários das “casas solarengas”20

para transformá-las em hotéis, pensões, albergues ou,

alguns ambientes, para atender a demanda dos serviços ligados ao turismo.

Nesse sentido, torna-se evidente a importância da auditoria, que deve ser realizada

com os bens do Patrimônio Mundial. Dessa forma se evitaria o livre arbítrio de

administrações autoritárias ou as determinações de corte econômico. Esse monitoramento

sistemático, já recomendado pela Convenção do Patrimônio Mundial (Art. 29), solicitava a

apresentação de relatórios periódicos, a fim de revisar a sua efetividade e frequência

(APRENDIENDO, 2005 p. 12).

Foi levado a cabo pela United Nations of Development Program (UNDP)/UNESCO

um trabalho exaustivo, onde se revelou um balanço dos ganhos e perdas nos processos de

salvaguarda do patrimônio. Mediante essa atitude da UNDP, procurava ter-se conhecimento e

controle sobre o patrimônio de forma indireta e, ao mesmo tempo, induzia-se os governos a 20 Solar é a casa de origem de uma família nobre. O nome também é utilizado de maneira mais ampla para uma residência antiga de

grande luxo e conforto. Um solar podia ser habitado por nobres, ou simplesmente, por uma família pertencente à elite tradicional e antiga de uma região ou cidade. Em alguns poucos casos, as famílias originais continuavam habitando seus antigos solares.

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dar maior atenção nesse aspecto. Este era, na época, o panorama da conservação dos sítios do

Patrimônio Mundial aplicado na América Latina. (UNDP/UNESCO, 1995).

O processo de trabalho da CRyF e suas afinações continuariam, ao longo dos anos,

com essa nova organização e estrutura. Destaca-se que esta corporação não se limitou, apenas,

à conservação dos monumentos, mas ultrapassou os limites da cidade e avançando em obras

de pequenos povoados da região.

Para a época, o governo havia conseguido uma consciência generalizada da sua

responsabilidade, compreendendo que os bens culturais seriam visitados pelas novas gerações

e não apenas aos grandes monumentos. Nesse contexto tinha todo o apoio do Estado peruano

para diferentes oportunidades de se melhorar a CRyF, no aspecto administrativo, executivo e

de cumprimento da lei e de seus objetivos.

Dessa forma, a política de governo, em 1963, dá à CRyF maiores atribuições ao

promulgar o Decreto-Lei n.14.547, que lhe autorizava para que realizasse operações de

Crédito de até 52,1 milhões de soles para a construir a 1ª Etapa da ‘Central Hidroelétrica de

Machupicchu’ (CHM) e da ‘Linha de Transmissão’ a Cusco (DISCURSO,1963).

O aumento de custos na mão-de-obra dos materiais, ampliação de obras e outros

gastos, impulsionaram esta lei, que autoriza uma amortização para um período de quatro anos

e com juros não maiores a 9.5% anuais, onde o Estado peruano facultava ao Poder Executivo

de dar as garantias através do Banco Industrial do Peru, sendo a CRyF a intermediária, em

favor do banco e do Estado peruano .

Em 1965, com a promulgação da Lei no

15.612, o Estado peruano confere novas

atribuições à CRyF: para cobrar compulsoriamente seus próprios créditos de qualquer

natureza, exceto empréstimos hipotecários para a reconstrução; e para definir o preço de

contas de outras instituições do setor público por delegação legal ou contratual; por

vencimento de prazo resultarão juros de 1% ao mês.

A CRyF passa a gozar de franquia postal e telegráfica; cobraria os arbítrios das

Prefeituras Provinciais do Cusco e das Distritais de Huanchac e Santiago. No transcorrer do

tempo, as mudanças dos governos e as políticas aplicadas conduziriam a diferentes

particularidades, como se indicará adiante.

Entretanto, verificou-se que a atuação da CRyF, ainda que alguns críticos opinem o

contrário, foi exemplar no sentido de ser a primeira experiência descentralizadora de

administração pública, pois, apesar das dificuldades, reconstruiu grande parte de Cusco

(Cidade e Região).

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O desenvolvimento da CRyF foi tão evidente, que até resolveu vários problemas da

falta de eletrificação e das obras de infraestrutura nas províncias. Essa corporação constituiu

um capital formado por bens, créditos e rendas, onde financiou uma série de obras que

ajudariam ao desenvolvimento da área atingida. Dessa forma, a CRyF cumpriu um papel

articulador para a cidade de Cusco e, também, ao dinamizar a estrutura econômica da região.

5.1.2 Construção da Fábrica de Fertilizantes de Cachimayo (FFC)

O programa de recuperação social e econômica da Região de Cusco por regulamento

da Lei no12.800, promovia fomento industrial. A construção da FFC constituiu a segunda

etapa da industrialização da região. Durante os primeiros meses de 1961, foram elaboradas as

bases de licitação a serem convocadas a nível internacional.

Para tal efeito, o chefe da seção de indústrias da CRyF viajou para a Alemanha a fim

de estudar as melhores possibilidades e alternativas do anteprojeto. Finalmente, promulgou-se

a Resolução Suprema (RS) para conceder a “aprovação” para o financiamento e a construção

da referida fábrica, a Uhde Ferrostaal Hochtief, (CRyF, 1961, p.43).

Em 1962, em acordo econômico com o contratante, se iniciam as obras civis21

onde a

CRyF indica os terrenos mineralizados, de argilas calcárias, da zona de Cachimayo-

Ccorimarca (1.000 hectares), com as denominações de Nitro-Cal no 1 a n

o 4, para serem

exploradas essas jazidas durante 5 anos, incluindo a instalação de um transformador de 50

KVA, durante o período de construção. (CRyF, 1962, p.35).

Para a fabricação do Nitrato de Amônio-Cal, seriam aproveitadas como matéria

prima o ar, a água e as argilas calcárias, existentes em grandes quantidades nos arredores. A

fábrica seria movida a energia elétrica, para os processos de refrigeração do rio Los Molinos.

As argilas calcárias, previamente trituradas seriam finamente moídas na planta e usadas, em

quantidades variadas, a depender da menor ou maior presença de nitrogênio.

O contrato assinado (RS-31/-1962) com o consórcio alemão – a Friederich Uhde G.

m. b. H. Dormund; a Ferrostaal A. G. Essen e a Hochtief A.G. Essen – tanto para obras civis

quanto para a montagem teriam uma durarão 33 meses. Segundo esse contrato o final estava

21 As obras consistiram em realizar: o desvio da ravina e do esgoto; as habitações de empregados e obreiros; o acampamento do

consórcio; a coleta de amostras de água do rio “Los Molinos” que seriam enviadas a Alemanha. As mesmas serviriam como base, para realizar o dimensionamento da planta de tratamento de água da fábrica de fertilizantes.

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previsto para 25/11/ 1964, com um período de experiência de 90 dias quando em 25/02/1965

ao findar este período da construção, a própria fábrica iniciaria suas funções.

O avanço de obras só alcançou 54 % (montagem da maquinaria e equipamento) ao

final de 1963 (CRyF, 1963, p.8).

Segundo cálculos realizados pela empresa alemã dos distintos tipos de fertilizantes

nitrogenados, que poderão ser obtidos regulando a maior ou menor adição do calcário

pulverizado em comparação a outros.

A diferença de regulação durante o período de fabricação do nitrato resultava ser

uma vantagem de rentabilidade, quando se tratava de grandes volumes. Isto é, com quase o

mesmo consumo de energia elétrica e menor percentagem requerida do nitrato de Amônio,

podia-se conseguir grandes diferenças nos volumes dos fertilizantes durante a sua produção

(Tabela 6).

Tabela 6 - CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DE AMÔNIO

Fonte: CRyF (1963, p.72).

Em 1964, de forma geral, as obras da construção alcançaram 99%. E até já haviam

sido realizadas as provas parciais nas maquinarias e equipamentos. A condução da fábrica, em

todas as suas fases, esteve a cargo de uma equipe peruana, contratada e treinada pelos

contratantes na Alemanha. Comentários positivos, por parte dos instrutores, houve para

aquela equipe por causa da assimilação e preparo dos funcionários, para assumirem os

comandos da fábrica.22

A FFC entrou em operação em 1964, com uma produção anual equivalente a 13.000

toneladas de Nitrato de Amônio de 26 % de concentração. Com o resultado de grandes

volumes, a agricultura anunciava que já podia ser atendida a demanda, principalmente, local.

A primeira ação da CRyF foi voltada, de forma imediata, para o projeto CREAS, onde se

buscou possibilidades de chegar a todos os lugares da região.

A FFC foi a primeira indústria, funcionando no sul do Peru, o que indicava a grande

oportunidade de atender a demanda das regiões vizinhas, e, consequentemente se vislumbrava

o lado positivo para a produção dos fertilizantes. (CRyF, 1964, p.7)

22 A equipe peruana treinada foi elogiada pelo rápido aprendizado e assimilação para levar à frente os diferentes procedimentos que

conduzem à fabricação dos fertilizantes.

Produção DIA Produção ANUAL

DENOMINAÇÃO CONSUMO de ENERGIA

190.0 tons 62,000 t NITRATO DE AMÔNIO-CAL DE 20.50 % 579.586 Kw /dia 149.8 tons 48,884 t NITRATO DE AMÔNIO-CAL DE 26.00 % 578.440 Kw /dia 118.0 tons 38,515 t NITRATO DE AMÔNIO-CAL DE 33.00 % 576.980 Kw /dia

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A partir de 1965, Cusco entra em uma etapa moderna no campo e na agricultura, e o

papel da FFC se havia cumprido, apoiando o desenvolvimento agrícola regional, estimulando

o cultivo nas superfícies não agrícolas ou não utilizadas para a agricultura. Dessa forma, se

expandia a fronteira agrícola, não apenas da Macrorregião Sul23

do país, mas de todo o

território.

A nova dinâmica da agricultura para os diferentes produtos abria uma perspectiva de

demanda para a exportação, que se configuravam o que se tornava como incentivadora

econômica para o país.

A demanda por fertilizantes aumentava na área agrícola nacional e no mercado

internacional. Na América Latina as mais importantes e crescentes necessidades da atividade

agrícola se apresentavam na Argentina e no Brasil. Diversos estudos, realizados, indicavam

que apesar de o Brasil, a Venezuela e a Argentina serem importantes produtores, constatou-se

que o Brasil24

, o México e a Argentina importavam grandes volumes. (PORLLES e

CÁRDENAS, 2009, p.63). Havia assim uma interessante possibilidade para a exportação dos

fertilizantes para esses países

O Estado peruano via novamente a possibilidade de explorar este campo com a

instalação de outras unidades de produção. O modelo Cusco deu início para a criação das

futuras fábricas no território nacional como a “Fertilizantes Sintéticos S.A. (FERTISA)” no

Callao-Lima; “Petróleos del Perú (PETROPERU)” em Talara, e “Indústrias Químicas

Básicas S.A. (INDUS SA)” em Lima.

Mais tarde, esse grupo de fábricas formaria o complexo de fertilizantes, onde cada

uma se especializaria na sua produção ao longo dos anos. O nitrato de amônio seria produzido

por Cusco e Callao, no entanto a ureia seria produzida em Talara.

5.1.3 Modernização da Companhia Hidroelétrica de Machupicchu (CHM)

A CRyF obteve em Lima o Contrato de Financiamento para a 2ª Etapa da CHM em

junho de 1962. No mês seguinte, a ampliação e a modernização da CHM estavam autorizadas,

23 A Macrorregião Sul está compreendida pelas Regiões de Cusco, Puno, Arequipa, Moquegua, Tacna, Apurimac e Madre de Dios. 24 Como exemplo do uso do produto muitos países eram produtores agrícolas e as necessidades cresciam ano a ano. Estima-se que o

Brasil registra uma demanda insatisfeita de 1.700 milhares de t/ano segundo a Chemical Engineering, em 1998. Em 2005, requeria-se implantar, no mínimo, 45 novas plantas de 1.750 milhares de t/ano para produzir uréia e nitrato de amônio agrícola. Com a expansão das minas, em muitos países, as fábricas eram solicitadas também a produzir nitrato de amônio técnico grau ANFO para uso exclusivo neste novo setor.

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mesmo com as obras da 1ª Etapa atrasadas. Transcorreram anos até a conclusão dos trabalhos

que ocorreu por volta de 1976. Neste ano, se contava com o projeto definitivo de ampliação

do sistema elétrico da Região de Cusco. Pretendia-se instalar novas turbinas para alcançar

uma potência instalada de 107,20 MW.

Em três de julho de 1962, quando o consultor André Brunel em seu informe (PEN

No 5-62), ao dar conta do avanço da CHM, revelou que:

[…] Os trabalhos complementários do túnel, no qual se haverá de revestir 450 metros, requererá tempo até fins de janeiro, podendo admitir-se um cálculo otimista da entrada em serviço entre fevereiro e março. A montagem da tubulação forçada, segundo se calcula deverá concluir-se em setembro e dos outros equipamentos em agosto. Espera-se que o acabamento das obras da central e da desembocadura do canal de descarga possa concluir-se no mesmo prazo até agosto-setembro. (CRyF, 1962b, p.103). (Tradução nossa)

Desse modo, a obra da CHM só poderia estar concluída até setembro de 1963. No

último trimestre do ano anterior reorganizam a instituição, com a mudança do presidente e do

vice-presidente, como consequência do golpe de Estado peruano quando grande número de

profissionais, empregados, obreiros deixou a instituição, devido à política rígida de

austeridade econômica que foi instalada.

Nesse mesmo ano, a CRyF fez uma denúncia, através da memória anual contra o

Eng. André Brunel, técnico da Société Française d’Etudes et de Réalisations d’Équipements

Électriques (SOFRELEC) pelo não cumprimento do contrato quanto a sua assessoria em

relação a CHM. Isto leva a pensar que o informe divulgado em 1962, teria sido mais uma

informação que não correspondia á realidade.

Supõe-se que, houve grande redução de gastos em todos os aspectos e departamentos

da CRyF, e o Estado peruano, ao mesmo tempo, pretendia que se arrecadasse maior

quantidade de poupança para possibilitar a execução de obras por falta de disponibilidade

econômica. A CRyF já havia-se antecipado. Segundo essa tendência, por anúncio do próprio

Diretório, procurou-se um terceiro financiamento para a CHM (CRyF, 1963, p.8).

A partir de 1964, Machupicchu se tornou a Base Central de Energia e subordinou a

cidade de Cusco (e os Distritos de Santiago, Huanchac, San Sebastian, San Jerónimo e

Chinchero), ficando as centrais de Dolorespata, Ccorimarca e Calca em funcionamento

eventual para atender à manutenção da base central.

A partir da chegada da energia a Cusco, realizaram-se conexões, desde subestações

(Tabelas 7 e 8 e, em Apêndice), até mesmo a rede principal de distribuição primária, de alta

tensão (para o Hospital Regional de Cusco) e também a rede secundária de distribuição assim

como conexões domiciliárias. Foram feitas 1.383 conexões a medidores e 2.070 reparações de

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serviço domiciliário. Por meio das instalações de subestações se via crescer a cidade, nos seus

arredores e também cresciam em diferentes localidades da região. (CRyF, 1964, p.31).

Segundo o Relatório Anual de 1965, a produção gerada pela Central Hidroelétrica de

Machupicchu alcançava os 90 milhões de Kw/h e se resumia a uma Base Central e três

centrais de reserva (Tabela 9). (CRyF, 1965, p.2). Parte do trabalho, durante o mês de janeiro,

foi o de realizar provas na equipe eletromecânica do grupo II. No grupo I ao ingressar água na

espiral da turbina, constatou-se que os anéis de blindagem inferior e superior estavam

erodidos, de forma considerável.

Tabela 9 - PRODUÇÃO GERADA DE ENERGIA NA REGIÃO DE CUSCO EM 1965

Fonte: MEMÓRIA CRyF (1965, p.62).

Em fevereiro, houve cinco interrupções no suprimento de energia das localidades

conectadas ao grupo I, algumas programadas e duas imprevistas, para se realizar inspeções

sobre o normal funcionamento do equipamento, manutenção periódica e limpeza. Em março

havia-se verificado o equipamento como a “Turbobomba Pelton” e a agulha da “turbineta”

das máquinas geradoras de eletricidade.

Para entrar novamente em serviço foi necessária a substituição de peças como a

‘válvula da agulha desareadora’ e a ‘válvula esférica’, entre outras, bem como algumas peças

desgastadas que logo de serem completadas as partes faltantes reinstalou-se no lugar em sete

de dezembro. As comportas da represa do mando manual foram ajustadas; e também foram

instalados anéis mecânicos, de aço, para a barragem e tomada (trata-se do represamento em

curso de água).

Peças como o regulador de velocidade e a bomba de água, de igual forma, foram

substituídas por outras, das características indicadas pelo fabricante e todas em conjunto

resolveram as irregularidades do funcionamento até antes da parada. Inclusive realizou-se a

desmontagem da turbina do grupo I, constatando-se vários desgastes em diferentes peças,25

ainda não detectadas durante o funcionamento.

Assim foram todas reparadas durante abril e agosto e postos em serviço a partir de

setembro/1965. (CRyF, 1965, p.63).

25 Os técnicos, encarregados da desmontagem, detectaram os desgastes nos anéis de carvão, a proteção do eixo, nas peças de

regulação de bronze, os anéis da blindagem e do labirinto, entre outras peças.

LOCAL PRODUÇÃO ENERGIA

CENTRAL DE MACHUPICCHU 89.368.897 Kw-h

Central Diesel de Dolorespata 709.650 Kw-h Central de Ccorimarca 41.760 Kw-h Compra de energia da Compañia Calca 837.180 Kw-h TOTAL 90.057.487 Kw-h

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165

O caso do grupo II foi similar, mas parou tanto em fevereiro quanto em setembro.

Continuou funcionando até o final do ano diminuindo a produção de energia durante o último

trimestre. Apesar das paradas dos grupos não deixaram de se realizar obras de eletrificação na

cidade de Cusco. A demanda local crescente de energia elétrica permitiu, por um lado, a

ampliação de redes de alta e baixa tensão e, por outro lado, fazer obras de manutenção para

apresentar bom serviço à coletividade por parte da companhia de eletricidade.

Nesse tempo, devido a essas necessidades, decidiu-se iniciar um programa de

atenção urbana e rural, ampliando os serviços elétricos. Instalou-se a sub-estação de

Dolorespata ampliando uma nova unidade de 2.300 kw, para logo instalar redes subterrâneas

na av. Centenario, urb. Magisterial e a eletrificação de Chimpahuaylla, entre outros. Quanto à

eletrificação rural, realizam-se obras para o Vale Sagrado dos Incas e, também, para outras

zonas, como a Pampa e Anta.

Em 1965, por operações financeiras realizadas pelos governos anteriores, o

orçamento inicial da construção da CHM foi aumentando, na medida em que avançava o

tempo. Isto é, encareciam os custos das obras devido aos constantes reajustes e a

desvalorização da moeda.

Por conta disso o governo precisou realizar novos empréstimos e ampliações

orçamentárias para cobrir as obrigações previstas nos contratos. Mas mesmo assim, por mais

de uma década a CHM permaneceu funcionando sem contratempos com seus programas de

manutenção, alcançando a produção estabelecida e expandindo suas fronteiras, também, para

outras regiões vizinhas.

A oferta de energia deu-se em toda sua capacidade, mas aumentavam as necessidades

e as demandas para o desenvolvimento social, mineiro e industrial das Regiões de Cusco,

Puno e Apurímac. Dessa forma, decidiu-se que a segunda etapa de ampliação da hidroelétrica

constituísse um sistema interconectado no sul do país, para o qual licitou-se e selecionou-se a

construtora que realizaria a obra desta etapa da central hidroelétrica, concluindo todo o

processo em 1980.

A construção da segunda etapa da CHM se iniciou em 1981 e culminou em 1985,

incorporando mais três grupos Pelton de 22.40 Mw, (com os 40Mw já instalados) totalizaram

107.20 Mw, para atender as necessidades de energia das três regiões. Dessa forma decidiu-se

que no âmbito da eletrificação provincial, distrital e rural estabelecer um programa de 72

mini-centrais, 200 grupos térmicos e 110 pequenos sistemas em todo o país.

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Paralelamente às atividades em 1982, reorganizou-se o setor elétrico do Peru, ao se

promulgar a Lei no

23.40626

onde se estabeleceu a regionalização do setor elétrico. A Região

de Cusco, daí em diante, passou a ser chamada “ElectroSurEste”. (DISCURSO...,1982, p.13).

Durante o ano de 1984, a CHM alcança a capacidade de 70 Mw. e passa a formar

parte dos mais importantes projetos de geração de energia do país. Depois disto a corporação

avança mais um degrau com o objetivo de formar parte dos sistemas integrados e

interconectados do sudeste do Peru.

Sob essa indicação estendeu-se o sistema elétrico até Juliaca, mediante a linha

Cusco-Combapata-Tintaya-Ayaviri-Azángaro-Juliaca, em uma distância de 390 km com um

circuito de 138 Kv. Por conta dessa extensão, foi analisada, por uma comissão Ad Hoc27

da

CRyF, a possibilidade de incorporar as Regiões de Moquegua e Tacna para formar uma

grande rede elétrica no sul do país. A ideia não se consolidou com o passar dos dias

(DISCURSO...,1984, p.19).

Por volta de 1986, chegou uma crise no setor elétrico nacional, isso tornou toda

gestão da prestação do serviço público elétrico insustentável. Devido à crise econômica do

país, reduziu-se a capacidade de investimento por parte do Estado peruano impossibilitando o

subsídio as tarefas domiciliares.

Na segunda metade de 1987, havia-se expandido o sistema elétrico na Região de

Cusco. A eletrificação da subestação de Combapata serviu para alimentar a 54 povoados da

sua jurisdição e, também haviam-se avançado os trabalhos da linha Macchu Picchu-

Quillabamba (DISCURSO...,1987, p.6).

Na época, foi de grande preocupação para os governantes, as ações terroristas28

que

vinham atentando contra as torres e linhas de transmissão da energia elétrica em todo o país.

Esse fato foi afetando a qualidade do serviço paulatinamente e tornando inconstante a fluidez

de energia nas cidades.

Mesmo assim, a construção das centrais hidroelétricas de outras regiões não parou e,

em dezembro/1988, inaugura-se a C.H. de Charcani de 135 MW para Arequipa, cuja energia

em grande parte atenderia aos requerimentos das minas de Cerro Verde, Toquepala e Tacna.

(DISCURSO...,1989, p. 16)

26 Nela se criaram 10 empresas regionais que cobririam o país denominadas: ElectroNorOeste, ElectroNorte, ElectroNorteMedio,

ElectroLima, ElectroCentro, ElectroSurMedio, Sociedad Eléctrica de Arequipa, ElectroSur, ElectroSurEste y ElectroOriente. A ElectroPerú atuaria nesse esquema como empresa ‘holding’, porém ficou a cargo das Centrais do Mantaro, Cânon del Pato, Carhuaquero, Cahua e das linhas de transmissão do Sistema Interconectado Centro Norte não incluídas nas empresas regionais.

27 O desenvolvimento de futuros projetos elétricos passaria a ser contemplado dentro do sistema de planejamento institucionalizado. 28 Por conta do terrorismo que tomou representatividade presencial danificando em diversas formas. O serviço público de eletricidade

enfrentava graves dificuldades financeiras e de gestão. Racionalizando o serviço com inevitáveis repercussões sociais, políticas e econômicas por um valor de US$40 milhões dos quais US$ 20 milhões perdeu-se em 508 torres de transmissão e US$ 20 milhões eram as perdas por energia não vendida.

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Observa-se que a Região de Cusco, durante os anos 60, 70 e 80, apresentava uma

estrutura industrial mais desenvolvida que as regiões do sul do Peru, e, a ampliação do setor

elétrico influenciou de maneira incisiva o desenvolvimento de outras regiões.

Conceito que foi assimilado pelo Estado peruano, realizando expansão das centrais

hidroelétricas em diferentes pontos estratégicos do país. Esse procedimento, ao longo dos

anos, trouxe crescimento econômico, melhorando a qualidade de vida da população, e criando

oportunidades diversas em todos os setores da produção.

As capitais e as pequenas localidades as mais afastadas dos principais centros

urbanos, foram beneficiadas com uma crescente presença da pequena indústria. Dessa forma,

o grande papel da CHM, mesmo com a lentidão, por estar ampliando sua capacidade e

atendendo as necessidades da população da região, motivou a construção de Centrais

Hidroelétricas em outras a regiões.

Isto estimulou o fomento industrial no país ao se perceber a experiência da CHM,

como importante gatilho para o seu desenvolvimento. Obviamente foi aperfeiçoada a proposta

cusquenha, sendo a mesma particularizada com o objetivo de evitar os desacertos

identificados durante a existência da CRyF.

A ampliação da CHM significou, também de forma prioritária, abastecer de energia

elétrica a mina “Tintaya”. Este projeto mineiro estava dedicado à extração da matéria prima,

que logo seria exportada, requeria de suficiente energia elétrica, motivo de sua demanda. Com

essa ideia o Estado peruano instalou uma planta processadora para permitir ser, também, o

fabricante e, não apenas, o vendedor de matéria prima.

Finalmente, se realizou todo trabalho necessário para levar eletricidade até a mina,

devido a que a venda de eletricidade à companhia mineira, significava um retorno importante

de divisas para os cofres fiscais. A ampliação demandou uma linha exclusiva desde

Machupicchu a Tintaya favorecendo a localidades próximas a ela, da energia. A possibilidade

de estabelecer, na região, infraestrutura industrial tornou-se mais acessível. A partir de então,

a eletricidade começou a chegar a localidades antes não atendidas.

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5.2. O Primeiro governo de Fernando Belaúnde Terry

Belaunde Terry foi arquiteto, estadista, político e presidente do Peru em dois

mandatos não consecutivos (1963-1968;1980-1985) a sua administração esteve orientada para

grandes obras públicas: construção de estradas (principalmente a “Marginal de la Selva”)29

,

aeroportos, conjuntos habitacionais, entre outros, e enfrentou uma crise política decorrente da

inflação.

O mandatário Belaunde enfrentou sérias dificuldades antes de culminar seu governo,

por causa da exploração do petróleo, que vinha realizando, uma companhia norte-americana, a

‘International Petroleum company’(IPC) no país. Na época, por existir apoio dos setores

oligárquicos peruanos e do governo norte-americano à IPC em contra dos interesses

nacionais, provocou disputas internas na Junta Militar peruana mostrando a falta de integração

política dos comandos militares. Segundo Cotler (2006, p. 287):

“Com as primeiras declarações dos chefes militares, expressando a intenção de expropriar a IPC, o governo norte-americano ameaçou aplicar a Emenda Hickenlooper, que obrigava o Executivo a cortar as compras de açúcar, caso houvesse expropriações que não fossem pagas rápida e efetivamente. Estava envolvida também a suspensão total da assistência norte-americana: os créditos do Banco Interamericano, recentemente criado, e do Banco Mundial, os empréstimos dos bancos privados e, em especial, a assistência militar.”

Após subscrever a “Ata de Talara”30

Belaunde que foi considerada de entreguista

pela oposição, propulsionou também a revolução institucional da força armada. Esta

circunstância justificaria a sua derrocada, encabeçada pelo general Juan Velasco Alvarado em

3/10/1968. Data em que iniciaria a militarização do Estado peruano. Isto é, fazer Estado

peruano e dos seus aparelhos burocráticos instrumentos dos “interesses” do Exército.

5.2.1 A Infraestrutura Viária: Construção de Novas Estradas e Melhoras

Dentro da política de desenvolvimento do governo estava prevista a construção de

estradas que unissem Cusco ao sistema ferroviário. Esta infraestrutura viária resultou sendo a

mais consolidada via de conexão com a costa sul do país. Viu-se a necessidade uma conexão

mais direta e prioritária com a costa oeste, através da estrada Nazca-Cusco por um lado, e por

outro, ao sudeste, a prolongação da via Cusco-Sicuani.

29 Em 1970, Fernando Belaunde Terry recebeu na ‘Bienal de Rimini’ a medalha de ouro pelo projeto da “Estrada Marginal da Floresta”. 30 O problema do petróleo originado pela empresa norte-americana ‘International Petroleum Company’ (IPC), devia-se a que, esta

empresa, vinha explorando ilegalmente as jazidas petrolíferas da “Brea y Pariñas”, ao norte do Peru. Após acordos entre o presidente peruano e representantes da IPC foi assinada a famosa ‘Ata de Talara’.

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Por volta de 1965, o mandatário Belaunde anunciou o estudo de um plano viário, por

parte do governo, para chegar até as localidades mais afastadas, em todo o território nacional.

Para a Região de Cusco, contemplou a estrada de ferro no trecho Huadquiña-Quillabamba,

considerado de extrema importância para seu desenvolvimento (DISCURSO..., 1965, p. 12).

O caso da rodovia Nazca-Cusco esteve desenhado para levar os produtos da serra até

o litoral central, sendo uma via alternativa de transporte a Lima, em menos horas que pelo

lado Sul. Já o caso do tramo Huadquiña-Quillabamba era outra via necessária da região para

sacar os produtos desde a floresta, isto é, desde a capital de Província, La Convención.

Durante 1966, se anuncia o “Plano Viário Nacional” que foi encarregado a um

consórcio internacional pelo Ministério de Fomento e Obras Públicas (MFOP). O plano

compreendia as principais autoestradas, que devem ser construídas até 1975, cujo percurso

programado e projetado, teve uma extensão de 11.424 km.

O programa de vias considerou trabalhos exclusivos, tais como: as estradas da costa

(a “Panamericana”); as vias de penetração longitudinal da serra; o plano de acesso às capitais

de províncias e finalmente a estrada ‘marginal da floresta’. Paralelamente, se realizam vias

locais, estradas vizinhas ou afluentes e de forma massiva, que são construídas com a ajuda do

plano de “Cooperação Popular”31

(DISCURSO...,1966, p.12).

O ‘eixo andino’ ou a ‘longitudinal da serra’ compreendem diversas pontes e

alargamentos das vias sendo que a via Cusco-Sicuani fez parte desse grande complexo viário

que pretende alcançar Desaguadero, motivo de solicitação de crédito junto ao BID. Como

diria Belaúnde no seu discurso presidencial para a “Região Madre de Deus”, ao terem sido

construídas as pontes Inambari e Loromayo: “é ruptura do isolamento provinciano”.

De igual forma, na zona Norte do Peru com o projeto da “Carretera Marginal da

Selva” 32

se poria fim ao isolamento da costa das províncias da região amazônica. Com a

colaboração financeira da Agency for International Development (AID) construiu-se, em

tempo recorde, um trecho marginal (Tarapoto-San Rafael-Bellavista); outros lanços incluíram

1.540km de explanações (terraplenagem compactada com sub base), 672km de terraplenagem

31O Estadista Belaúnde implantou o “Sistema Nacional de Cooperación Popular”, que significou um êxito pela forma de realizar obras em

toda localidade, e instaurar o sistema de trabalho comunitário, inspirando-se em antigas tradições pré-colombianas: a “MINCA”. Ela é uma forma de ajuda muito comum aplicada na sociedade Inca que teve por objetivo a realização de obras de bem comum.

32 A “Estrada Marginal da Floresta,” grande projeto de integração Sul-americana, idealizado por Belaunde. Responderam ao chamado de quatro países, diretamente envolvidos: a Colômbia, o Equador, a Bolívia e o Peru em 1963. A sua construção uniria a região, desde o terminal ferroviário de Santa Cruz, na Bolívia até a Região de Araúca, na fronteira entre Colômbia e Venezuela, após percorrer uma ampla extensão da Amazônia peruana. A estrada constava de 5.584 km de extensão total: 1.320 (Colômbia); 860 (Equador); 950 (Bolívia) e 2.454 (Peru). Posteriormente, a Venezuela se uniria ao Projeto. Com o passar dos anos, a “Estrada Marginal da Floresta” se converteria num dos principais projetos para a ‘Integração da Infraestrutura Regional Sulamericana’ (IIRSA) que procura-se conectar às regiões amazônicas as regiões planas da Venezuela e da Bolívia.

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compactada simples, 155km de asfaltado, 28 pontes de luzes de 1.218metros, 1.802km de

esgoto e obras complementares na Amazônia. (DISCURSO..., 1966, p. 13).

As estradas de penetração à serra, em 1967, estavam em plenos trabalhos como o

trecho Nazca-Puquio–Cusco-Desaguadero, bem como os sub-trechos iniciados em Cusco–

Puente Cunyac y Chalhuanca-AbancayJuliaca–Puno (DISCURSO..., 1967, p. 11).

Para alguns trechos, a ação do exército foi de muita ajuda ao realizar obras viárias

que têm levado todo um contingente de grupos de pessoas para diferentes regiões, como no

caso da Provincia de La Convención no anel viário Ollantaytambo–Umasbamba–

Quillabamba–Lares–Calca e Cusco abrindo nova frente em Chaguares, perto de Coribeni e

também perto do cume de Pampaconas e o Pongo de Mainique.

A direção de estradas continuou participando, com sucesso, na reabilitação dos

acessos à capital e, nos anos seguintes, os trabalhos continuaram com a mesma intenção de

avançar mais quilômetros e de concluir as metas propostas. (DISCURSO..., 1968, p. 16)

A política de desenvolvimento da milícia de 1973, quanto ao Plano Viário Nacional,

tomou uma “ação promocional”, com grande esforço do Exército nas obras de infraestrutura

viária nas zonas mais afastadas do país. A força aérea apoiava aos trabalhos de exploração dos

recursos petrolíferos na floresta, realizando comunicações em toda a zona amazônica, por sua

vez a marinha ajudava desenvolvendo a indústria dos navios (DISCURSO..., 1973, p. 9).

Durante o segundo período como Presidente da República, Belaunde (1980-1985)

assumiu a tarefa de interligar os destinos do país, anunciando que a rede viária era insuficiente

na sua extensão e inadequada pela falta de manutenção e que deveria ser melhorada.

Resultaram modificações na Estrada Panamericana durante a sua execução no trecho Lima-

Chilca que, para opinião do Militar Bermudez, devia se estender para ambas as direções (para

a Região de Chimbote no Norte e para a Região de Ica no Sul) (DISCURSO..., 1980, p. 8).

Continuou-se com as vias de penetração na parte Norte, incluindo o trecho Norte da

Marginal da Floresta. Nesse anúncio, indicou-se que se realizassem os estudos definitivos

para interconectar as vias peruanas com o Sistema Transamazônico Perimetral do Brasil e

deverá ser construída a estrada de Ilo a Desaguadero que se estenderá até La Paz.

O mandatário fez menção às obras viárias, deixadas inacabadas, que iriam ser

retomadas, e que em vista de ficarem 216 capitais distritais ainda desconectadas, pretendia-se

com a ajuda dos povos quebrarem esse isolamento (DISCURSO..., 1968, p. 13).

As estradas de interligação regional foram reabilitadas no trecho Cruce-Catacaos da

‘Panamericana’, a ‘Longitudinal da Serra’ na Pampa de Anta-Limatambo, por sua vez

realizou-se a reconstrução, retificação e pavimentação de vários trechos como o de Cusco-

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Sicuani e o Juli-Desaguadero, que levariam até a fronteira com a Bolívia. Isto é, a entrada até

as proximidades do setor arqueológico do ‘Tiahuanaco’.

Alguns países se interessaram com o desenvolvimento, pela marginal da Amazônia

que continuaria ao Norte do país. Por exemplo: a AID dos Estados Unidos esteve cooperando

no vale do Palcazu na região de San Martin, com grandes potencialidades para alimentar

Lima. Seriam levados por terra produtos agrícolas em apenas 8 horas, bem como uma ampla

gama de materiais de construção e de carpintaria.

A República Federal da Alemanha pretendeu entrar no eixo que compreende Villa

Rica-Oxapampa-Pozuzo. O Canadá que tinha dado condições excepcionais para a criação de

uma moderna indústria florestal nos bosques e o reflorestamento. Contudo, enfatizou a

promoção do desenvolvimento na Região de San Martin. Nesse sentido, para unir os três

pisos ecológicos (costa, serra e floresta) o que afirma Belaúnde:

Porque cheguei caminhando pelas abruptas ladeiras andinas, porque vi ao homem sacrificado como besta de carga, porque escutei no eco da história a romaria dos missioneiros caídos, quis que esta fosse a obra fundamental do governo que o povo me confiara […] (DISCURSO..., 1968, p. 14). (Tradução nossa)

Ressaltou-se à reabilitação e manutenção das vias (na estrada Central para chegar ao

porto fluvial de Pucallpa, trechos Sayán-Yanahuanca-Ambo e a via dos Libertadores). Para a

via de penetração da Serra, se reabilitaram os trechos Nazca-Cusco e o Arequipa-Puno. Com

a criação do Plano Copesco, e seus objetivos turísticos, estava a construção e melhoria do

sistema viário regional de Cusco e Puno.

Em paralelo avançou-se, consideravelmente a pavimentação de vários acessos do

circuito turístico, inaugurando a via Juli-Desaguadero e se propunha pavimentar o trecho

Juliaca-Sicuani para modernizar o eixo internacional Cusco-La Paz. No plano local,

complementaram-se as vias inconclusas de Cusco-Pisac-Ollantaytambo. (DISCURSO...,

1982, p. 2).

Em 1984, foram concluídos os trechos na Longitudinal da Serra em várias regiões

como Ancash, La Libertad, Cajamarca, Piura, Puno e Cusco. (DISCURSO..., 1984, p. 21).

Junto com essas vias complementou com: o melhoramento e pavimentação da

estrada de Urcos-Juliaca; retomaram-se os estudos do Aeroporto Internacional de Cusco;

valorizaram monumentos e se realizaram acondicionamentos urbanos para Machupicchu, San

Jerónimo, Andahuaylillas e Quillabamba e, finalmente, na cidade de Cusco, inaugurou-se o

Parque Zonal No1. (DISCURSO..., 1984, p. 17).

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A ligação entre os setores do turismo e da indústria peruana levou a cabo duas

particulares ações, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento do turismo interno, em nível

nacional e internacional. A primeira tem colocado em marcha o “Programa Peru a teu

Alcance”, em quatro regiões: Cusco, Iquitos, Cajamarca e Trujillo. A segunda, concluiu

obras para facilitar acesso aos hotéis de turistas de Moyobamba e Pomacochas.

Em 1985, se dá continuidade às obras do Plano COPESCO favorecendo às Regiões

de Puno e Cusco, apoiando fortemente o programa “Peru a teu Alcance” que resultaram em

um êxito, daí em diante ampliou-se sua aplicação para outras regiões. (DISCURSO..., 1985,

p. 16).

Ao finalizar a década dos 80s, continuam as obras no plano viário no setor da

Panamericana Norte (os trechos Olmos-Corral Quemado e Tarapoto-Moyabamba-Rioja) na

estrada Central (trecho Cupiche-Matucana com a ponte Collana concluída), a via de

penetração à Serra (o asfalto da via Nazca-Cuzco) e outros acessos como: Cajabamba-

Cutervo e a reabertura de via La Mejorada (entre as Regiões de Ayacucho e Junin).

(DISCURSO..., 1987, p. 6).

5.2.2 Os Problemas com a Central Hidroelétrica de Machupicchu.

Com pouco tempo de bom funcionamento, a CHM, de forma não esperada,

apresentou o primeiro problema e, em relação ao fato a CRyF (1965, p. 10) afirma: “Um fato,

imprevisível por parte da Corporação, como é o rápido e, por conseguinte, anormal desgaste

de algumas peças da turbina da central, tem criado graves problemas econômicos, técnicos,

administrativos e legais”. (Tradução nossa)

As referidas turbinas do tipo “Francis” da EscherWyss (fabricadas na Suíça) vinham

funcionando com total normalidade, até aparecerem maiores sinais de deterioro. O problema

derivou por se avariarem tão prontamente. Por conta desses defeitos, a CRyF definiu as

devidas providências, a fim de que a empresa que projetou, contribuiu e financiou a Central,

pudesse indenizar ao Estado peruano os danos e prejuízos derivados dos anormais e

prematuros desgastes das turbinas, que constituem um vício oculto da coisa adquirida.

Com isto, a CRyF determinou atividades técnicas, imediatas, para garantir o serviço

à população. Para o primeiro semestre, licitou a ampliação da reserva “Central Térmica de

Dolorespata” (na cidade de Cusco) e, para o segundo semestre, realizou a ampliação de um

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terceiro grupo da CHM que foi uma possibilidade prevista anteriormente em sinal da demanda

de energia futura.

Embora a capacidade instalada tenha sido construída para produzir 120.000 kw,

naquele tempo produzia apenas 40.000 kw de potência, o que exigia uma manutenção

intensiva dos dois grupos existentes, até a instalação do terceiro grupo.

Para solucionar o problema citado, a CRyF solicitou à Panedile Peruana (PP SA),

que tomasse as providências quanto ao caso, a fim de acabar rapidamente com as

dificuldades. Pois a PP SA havia construído a primeira etapa da CHM e a segunda tinha sido

projetada a ponto de iniciar a sua execução.

A PP SA declarou que houve desgastes naturais das turbinas e que eram

consequências do próprio funcionamento. Com isto, o Diretório da CRyF concordou em

colocar o caso para ser apreciado pelo Poder Judicial (CRyF, 1965, p. 11).

A hidroelétrica, em 1966, passou a exibir um sério problema quanto à sua operação,

de forma tal que o diretório da CRyF iniciou ações advocatícias, para realizar várias visitas de

inspeção junto a juízes e peritos nas instalações da CHM.

Para o Estado peruano o fabricante das peças, a PrettoEscherWyss, devia responder

sobre a qualidade do material, fabricação e detalhes ante os tribunais de justiça peruano. Em

vista dessa circunstância, a corporação consultou a expertos internacionais33

sobre o material

vendido ao Estado peruano, que precisava estar bem fundamentado para confrontar problema

surgido com a PP SA. (CRyF, 1966, p. 22).

O normal abastecimento de energia da CHM não poderia ser descuidado em

momento algum, providências técnicas foram tomadas para não prejudicar a população e se

adquiriu materiais de reposição, pré-moldados, para partes deterioradas para sua reparação, no

menor tempo possível.

Em vista da espera por soluções técnicas e judiciais que iriam demorar34

, o Diretório

considerou a necessidade da instalação de um Terceiro Grupo gerador de energia para suprir

eventuais dificuldades. Dessa forma, solicitaram-se a três empresas internacionais35

que

apresentassem as suas propostas, a fim de definir o sistema mais conveniente. Finalmente,

resultou definido o “sistema hidráulico do tipo Pelton” da Electro Watt da Suíça.

33 A Stanley Engineering dos EEUU realizou um relatório de alto nível técnico, para constatar as análises das peças avariadas. Os

profissionais dessa firma foram enviados à própria Suíça para informar-se sobre os detalhes da empresa de turbinas e realizar, nos Estado peruano s Unidos, as análises respectivas.

34 A própria Panedile Peruana S.A. que devia entregar o 2o Grupo de turbinas conforme contrato assinado e solicitado pelo Diretório não entregou as peças em vista de estar em juízo ante os tribunais de justiça por causa da peça averiada do Primeiro grupo.

35 As firmas participantes foram a Electro Watt de Suíça, a Columbus de Itália e a Stanley dos Estados Unidos.

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Antes de concluir o ano de 1967, os processos judiciais iniciados pela CRyF haviam

chegado ao final, após verificações do caso, deixando sem responsabilidade a PP SA,

Aceitou-se que aqueles desgastes, produzidos nas turbinas, eram produto dos sedimentos (o

limo) que arrasta a água e que provoca, rapidamente, o atrito nas peças: motivo pelo qual não

foi mais mencionado esse fato nas memórias da corporação.

A mudança de governo no país em 1968, Alvarado por Belaunde, trouxe incertezas

quanto às novas posturas, que deveria assumir o novo mandatário. E, durante o período 1965-

1972, a falta de fluidez de energia elétrica, na cidade de Cusco e nas diferentes localidades, se

fazia constante, provocando problemas e moléstias para os usuários em diferentes formas. As

críticas se multiplicavam e não faltavam as comparações, como esta: “Deus criou a luz e

Ponce de Leon as trevas”36

(FLORES, 2012, Depoimento).

Durante a década seguinte aparecem vários períodos de seca na região que reduziu a

geração de energia hidroelétrica a tal ponto de se realizarem fortes restrições de fornecimento,

para a população. Dessa forma, a ampliação da CHM surgia como a grande solução. Portanto,

desde 1976 o projeto definitivo de ampliação do sistema elétrico de Cusco, com a CHM para

o primeiro semestre de 1981, pretendia instalar outras turbinas para alcançar uma potência

instalada de 107.20 Mw e a linha de transmissão até Tintaya. (DISCURSO..., 1981, p. 12).

Os problemas de fluidez elétrica se complicaram mais durante a década dos anos 80,

devido a dois aspectos: o surgimento do movimento terrorista Sendero Luminoso e a

hiperinflação econômica do país. No primeiro caso, as ações do Sendero causaram muitas

perdas ao setor elétrico do país.

As torres das linhas de alta tensão, que eram distribuídas das centrais hidroelétricas

para todas as regiões e províncias, se tornaram alvo de destruição por esse grupo que durante

horários noturnos dinamitavam as bases das torres para que logo caíssem quebrando as linhas

e deixando muitas cidades e localidades na penumbra. Era a incerteza que se havia apoderado

nas mente da população.

No segundo caso, a hiperinflação levou a economia peruana a extremos inesperados

n, repercutindo nas classes de baixas rendas, de forma alarmante. Devido a essas

circunstâncias cresceu o medo da população nas cidades, quando o país havia sido atingido

pela grande crise. Como medida cautelar, houve a necessidade de privatizar as empresas

36 O Chefe do Departamento de Serviços Elétricos da CRyF, Luis A. Ponce de León em 1966-1967, foi encarregado do funcionamento

dos 2 grupos Sulzer quando se instalou a Central termoelétrica de Dolorespata. Como tal, ele era o responsável técnico a cargo da fluidez elétrica para a cidade ou quando a CHM deixava de produzir energia. A afirmação que se fez comum, durante esses anos, se tornou mais popular quando Luis Uzategui Arce assumiu a liderança do SINAMOS enquanto o governo militar imperava no país.

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175

públicas a fim de assegurar o abastecimento da eletricidade e com ela o investimento do

desenvolvimento futuro.

O objetivo foi estabelecer um sistema de qualidade de serviço, onde o Estado

peruano teria um rol regulador, normativo, fiscalizador e subsidiário. Dessa forma, se opta por

uma política de promoção do investimento privado criando um novo marco legal (Decreto

Legislativo 674, e Lei Marco 757), destinado a eliminar disposições que restrinjam a livre

iniciativa não estatal em 1991.

Finalmente, a CHM é que sofre uma catástrofe ocasionada pelo caudal do próprio rio

Vilcanota ao transbordar volumes de água, devido às fortes chuvas na região, destroçando

todas as instalações, levando-as nas correntes em 27/02/1998. Devido ao problema causado a

CHM deixou de operar por uns meses, mas já estava em processo de construção para 99.16

Mw com três grupos `Pelton` de 30 Mw cada um aproximadamente.

5.2.3 Problemas com a Fábrica de Fertilizantes Cachimayo

Em 1965, a fábrica enfrenta o problema da comercialização -venda da produção-

porque ainda não existiam compradores, devido, principalmente, à falta de propaganda e

marketing. Mas a FFC precisava continuar com a produção, dessa forma solicita-se

empréstimos à CRyF, com financiamento a curto prazo, para o normal funcionamento da

fábrica. Tal circunstância permitiu que, sendo a CRyF a gestora e proprietária da Fábrica,

decidiu administrar a FFC diretamente, para o qual já estava em trâmite um projeto de lei.

(CRyF, 1965, p. 12).

Nesse ano, a “Companhia Nacional de Fertilizantes” (CONAFER) não realizou a

campanha de promoção do produto. A CRyF assumiu a tarefa, através do seu departamento de

Fomento Rural, mas de forma reduzida, principalmente, devido à falta de orçamento para sua

difusão em todos os meios de comunicação. Mas apesar da propaganda realizada houve quase

uma centena de contratos em diferentes localidades da Região, como pode ser observado na

Tabela10 a seguir (CRyF, 1965, p. 57).

Tabela 10 - CONTRATO DE CRÉDITO DE FERTILIZANTES EM 1965

ESCRITÓRIO NO CONTRATOS MONTANTE de ENTREGAS

CUSCO 53 535.889,50 CHINCHERO-ANTA 15 53.773,40 SICUANI-ACOMAYO 12 36.151,00 URCOS 11 42.486,00 TOTAL 91 668.299,90

Fonte: MEMORIA CRyF (1965, p.57)

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Para Tamayo (1981, p. 189), os planejadores cusquenhos da CRyF subestimaram a

demanda local, pois os camponeses não compravam o fertilizante. Para o mesmo autor, a FFC

por muitos anos foi um fracasso evidente, porque a agricultura era atrasada e incipiente e o

fertilizante era novidade para o campo, daí o armazenamento nos depósitos.

Em 1966, a Fábrica de Fertilizantes de Cachimayo se constituiu em um problema de

gestão, devido à construtora manter seu direito de propriedade, e não o de administradora.

Mas ao se promulgar o Decreto Supremo (DS) No 84-F, em novembro de 1964, ficou apenas

da possibilidade37

da construtora manter sua obrigação nos compromissos financeiros e

acordos, contraídos no contrato com a Uhde Ferrostaal Hochtief.

Nesse contexto, a CRyF continuou construindo armazéns, financiando gastos de

operação, subministrando energia elétrica e abonando operações creditícias internacionais.

Por não ser a CRyF a própria administradora da fábrica, tem-se realizado gestões para a

derrocada do dispositivo, inclusive com a ajuda da representação parlamentar da Região de

Cusco. (CRYF, 1966, p.16)

Apesar das circunstâncias, acima descritas, a FFC não parou de fabricar os

fertilizantes, e o Diretório obteve de uma entidade internacional38

um financiamento de US $

50.000 dólares para criar um fundo de operações da fábrica e continuar com a produção dos

fertilizantes. No entanto, o produto estava se acumulando nos armazéns.

Por um lado, optou-se por dar uma saída com um vasto programa de propaganda em

meios locais para sua comercialização. Por outro lado, por decisão do Diretório aprovou-se

em reunião, que o produto deveria ser vendido a preço de promoção, para favorecer a

agricultura da região.39

A luta para que a CRyF se tornasse a administradora da FFC não

parou, e se realizaram gestões, em paralelo.

O problema da administração da FFC motivou um esforço, por parte das autoridades

que não pararam todos os tipos de ação. Procurou-se uma estratégia com a redação preliminar

do texto que depois resultou nos Decretos 22-H e 82-F. Tudo isso não teria sido possível sem

a participação ativa de representantes políticos40

da Região de Cusco. (CRYF, 1966, p.23)

Em 1967, se realiza uma grande campanha dos produtos fertilizantes com uma

variedade em diferentes volumes e colocados à disposição dos produtores. A forma que

chegou até os agricultores foi de várias formas: uma primeira por venda à vista; uma segunda

por empréstimos de fertilizantes solicitados dentro da Região, e uma terceira entregando

37Este decreto criou uma Administração e Supervisão sem considerar a CRyF. 38 A entidade internacional que aceitou o empréstimo era a “Exchange Place Corporation”. 39 A Tonelada de fertilizante produzido na FFC, custava em 1966, s/. 1,300.00 soles. 40 O senador (Ricardo Monteagudo) e o deputado (Rodolfo Zamalloa) em coordenação com o Diretório conseguiram os decretos citados.

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diretamente ao programa CREAS, o qual deu oportunidade de aplicá-los nos terrenos

preparados para o cultivo, (CRYF, 1968, p.20). O resumo das formas distribuídas pode ser

verificada na Tabela 11.

Tabela 11 - MOVIMENTO DE FERTILIZANTES em 1965

Fonte: MEMORIA CRyF (1965, p.57).

A administração da FFC era ainda um problema em 1967 quando se formou uma

comissão especial nomeada ela por RS 96-SG, para o estudo integral do funcionamento e

comercialização da fábrica, encaminhando ao Poder Executivo, o relatório respectivo com as

recomendações do caso, resultando o novo DS 12-F por ser inoperante o anterior DS 84-F.

Com todo esse resultado final, a CRyF assumiria, a partir de então, a administração

da fábrica, e procederia a sua reorganização, considerando as recomendações da comissão

especial. Para sua estabilização econômica, o Estado peruano continuaria pagando e

atendendo as obrigações das dívidas assumidas, anteriormente.

Em 1975, o Estado peruano criou o “Complexo Industrial de Bayóvar”41

, na costa

norte do país para o desenvolvimento de quatro grandes campos de atividade econômica:

petróleo, petroquímica, metalurgia e fertilizantes.

O complexo formaria parte de uma ampla rede de instalações industriais que

pretendia alcançar Paita e Talara42

. Bayóvar, por ser um porto de embarque dos fosfatos

extraídos da depressão natural do deserto de Sechura, é também uma mina, de rocha fosfórica

a céu aberto, utilizada principalmente na indústria de fertilizantes.

A jazida tem grande reserva para sua exploração (238 milhões de toneladas de

fosfatos). Desde abril de 1975 está em funcionamento na cidade de Talara uma planta para a

produção de fertilizantes (Planta de Uréia e Amônio de Talara) (DISCURSO...,1975, p. 7).

As instalações constituíram um polo de importância econômica para a Região de Piura e

arredores.

Aguirre (2010, p.156) afirma que durante a década dos anos 1970 começa a história do

colapso dos fertilizantes, a nível nacional. Quando existia a empresa estatal, denominada

41 Bayóvar é um Distrito da Prov. de Sechura na Região de Piura (Norte do Peru). Localiza-se a 100 km ao sul da cidade de Piura. É um

porto terminal do oleoduto principal que vai do Ucayali a Bayóvar. Nesse porto embarca-se toda a produção petrolífera da floresta. 42 Paita é Talara são duas capitais de Província da Região de Piura.

FERTILIZANTE VENDAS Á VISTA EMPRÉSTIMOS DADOS DADO AO CREAS

TIPO Volume Kgs ESCRITÓRIO NO Agricultores ESCRITÓRIO NO Agricultores ESCRITÓRIO NO Agricultores

Nitrato de Amônio-cal a 26 % e 2.033.000

CUSCO 2.264 CUSCO 29 CHINCHERO 88 Nitrato de Amônio a 33%= NITROGENADOS CHINCHERO 1.296 CHINCHERO 2 SICUANI 54

Superfosfato de Ca a 20% e 321.330 SICUANI 410 SICUANI 2 PARURO 84

Hiperfosfato de Ca a 32%= FOSFATADOS PARURO 7 URCOS 1 - -

Sulfato de potássio a 50%= POTÁSSICOS 111.371 URCOS 587 - - - -

TOTAL 4.566 - 34 - 226

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“Empresa Nacional Comercializadora de Insumos” (ENCI)43

que comercializava os

fertilizantes e segundo as suas fontes em 1977 informava que durante 1970-1977 houve uma

média anual baixa de produção de fertilizantes por parte das 4 fábricas do país. (Tabela 12).

Tabela 12 - COMERCIALIZAÇÃO DE FERTILIZANTES NO PAÍS ENTRE 1970 E 1977

Fonte: Adaptado de ENCI (1977).

Pode-se perceber que a comercialização por parte da FFC foi a menor de entre todas

as fábricas existentes no país. O que demonstra, evidentemente, ser ela uma empresa não

competitiva, conforme o esperado pela CRyF, resultando em um investimento não rentável

para a Região de Cusco, tendência que continuaria nos anos seguintes.

Por volta de 1984, pretendeu-se realizar investimento público, com o projeto que

compreende um “laboratório de metrologia” para controlar o sistema de medições em toda a

Região44

(DISCURSO...,1984, p. 16). Mais tarde o projeto não saiu da teoria porque não teve

a acolhida de uma proposta convincente para as autoridades locais e nacionais. Pode-se

afirmar que os laboratórios não estavam na prioridade de obras do governo nacional.

Em 1985 foram concedidos à FFC, mediante DS (434-85-EF) facilidades para

realizar o pagamento de direitos e tributos alfandegários ao tesouro público. Nesse ano citado,

fala-se da produção de explosivos da FFC de Cusco como alternativa futura

(DISCURSO...,1985, p. 18).

Ideia que seria retomada anos mais tarde, por particulares, quando o governo de

turno (Alberto Fujimori) decidiu colocar vender esta e outras fábricas em todo o território

peruano.

Na década de 1980, reafirma-se a tese de que a indústria dos fertilizantes entrava no

colapso como é mostrado pelo (CONCYTEC, 1987, Foro)45

(ver Tabela 13). Realizando uma

comparação da média anual, entre todas as fábricas, quase todas tem diminuído a sua

produção apenas PETROPERU (Região Talara) aumentou em 30,5% e INDUS (Região

Lima) para seus compostos também aumentou em 32.5%, ambos com referência à década

anterior, o que demonstra uma queda total da produção ao longo dos anos.

43 A ENCI (Empresa Nacional Comercializadora de Insumos -hoje extinta-) 44 O sistema de medições ao ser implantado pelo ITINTEC (“Instituto de Investigación Tecnológica Industrial y de Normas Técnicas”) teve

a ajuda internacional com a assistência direta do PNUD-ONUDI. 45 O CONCYTEC organiza o “Foro sobre Fertilizantes” onde faz pública a informação obtida.

LOCALIZAÇÃO NOME PRODUTO QUANTIDADE

LIMA Fertilizantes Sintéticos S.A. (FERTISA) Sulfato de Amônio Nitrato de Amônio

9153 ton 30 829 ton

CUSCO Empresa Pública Industrial Cachimayo (EP INCA) Nitrato de Amônio 21 847 ton

TALARA Petróleos del Perú (PETROPERU) Uréia 87 811 ton

LIMA Industrias Químicas Básicas S.A. (INDUS SA) Superfosfato Simple Compostos

10 237 ton 13 364 ton

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Tabela 13 - COMERCIALIZAÇÃO DE FERTILIZANTES NO PAÍS ENTRE 1980 E 1987

Fonte: Adaptado de CONCYTEC (1987).

Durante o discurso presidencial de 1989 anunciou-se que o Estado peruano

pretendia uma grande transformação com os fertilizantes no plano agrícola, através da

distribuição dos produtos e a concessão de créditos. No mesmo ano para Porlles e Càrdenas

(2009, p.62) o Peru contava apenas com três usinas de produção de fertilizantes (a FERTI SA

do Callao; a EPINCA do Cusco e PETROPERU de Talara).

Estas fábricas foram desativadas no início dos anos 1990 para sua privatização, com

isso o Estado peruano permitiu a importação de fertilizantes em grandes quantidades.46

As

opções de visualizar a empresa dos fertilizantes, sob a modalidade industrial, não era mais

rentável devido aos equipamentos já obsoletos para a época.

Mas as necessidades de fertilizantes do país aumentaram, nesse contexto, surgem

idéias e possibilidades que procuram alternativas e fontes para serem exploradas tal como o

“Gas de Camisea de la Región de Cusco”47

para a produção de novos fertilizantes sob uma

nova fonte de fabricação, o gás, existente em grandes quantidades.

Durante o governo de Alberto Fujimori (1990-2000) como efeito das grandes

privatizações no país, as empresas de fertilizantes do país entram em falência. Entre 1992-

1993, fecha em suas operações a planta de PETROPERU de Talara por ser antieconômica e

pela obsolescência da maquinaria para a produção dos fertilizantes.

A fábrica FERTI SA foi anunciada à venda, mas devido à falta de interessados, e

também por obsolescência esta não foi realizada. Ao longo da década dos anos 90, liquidaram

a ENCI para desaparecer definitivamente. Finalmente, a usina da FFC, em 1996, passou a ser

propriedade particular da Empresa Yura S.A. deixando de produzir Nitrato de Amônio

agrícola.

46 As instalações da fábrica foram modernizadas pelos novos proprietários e sua produção nos últimos anos aproximou-se a 400.000

toneladas de uréia, e 40.000 t. de nitrato de amônio. O resultante em tributos alcança a cifra de 100 milhões de dólares anuais, um montante significativa para investimentos estatais.

47 Diversos estudos e alternativas para resolver o problema dos fertilizantes, iniciariam como a possibilidade que oferece o gás e que abre novas fronteiras para o país, para desenvolver uma futura indústria petroquímica. A intenção é que numa primeira etapa se instalariam usinas produtoras de fertilizantes nitrogenados (uréia, nitrato de amônio agrícola e técnico), onde o gás natural é usado como matéria prima. Há possibilidades vantajosas para o mercado interno, mas também de demanda internacional.

LOCALIZAÇÃO NOME PRODUTO QUANTIDADE

LIMA Fertilizantes Sintéticos S.A. (FERTISA) Sulfato de Amônio Nitrato de amônio

2 740 ton 29 180 ton

CUSCO Empresa Pública Industrial Cachimayo (EP INCA) Nitrato de amônio 11 420 ton

TALARA Petróleos del Perú (PETROPERU) Uréia 114 590 ton

LIMA Industrias Químicas Básicas S.A. (INDUS SA) Superfosfato Simple Compostos

6 550 ton 17 710 ton

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A fábrica ao reiniciar suas operações em janeiro de 1997 começou a produzir em

grandes quantidades Nitrato de amônio “técnico” o grau ANFO, de uso em minaria como

explosivos conseguindo alcançar as 70.000 toneladas anuais. A partir daí, com a nova

administração, passou a produzir, nitratos e ANFO bem como os subprodutos: amoníaco,

oxigênio, água destilado e ácido nítrico, dentre outros.

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6.1. Retomada da Preservação: o governo militar de Juan Velasco Alvarado

O chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru, logo ao tomar posse

como Presidente do país, após o Golpe de Estado (3/10/1968)1, deu início a uma fase de

grandes mudanças, período ao qual se denominou de “transformações reformistas”.

O postulado de Velasco era encontrar uma "terceira via" entre o capitalismo e o

socialismo (com uma sociedade corporativista mais abrangente possível sob o capitalismo).

Mas, sem renunciar à propriedade privada ou a adoção de quaisquer métodos obrigatórios

identificados com o comunismo. Devido a esses ideais foi nomeado “Chefe do socialismo

militar latino-americano”. (EL GOBIERNO, 2013)

A estratégia econômica foi formada por uma concepção defendida, com frequência,

na América Latina, mas raras vezes colocada em prática: quebra da velha ordem oligárquica,

recomposição das bases da dominação; desenvolvimento do capitalismo, promoção da

mobilização social contra o modelo corporativo.

Sua administração também é conhecida como a primeira fase do governo militar

(1968-1975), que durou até sua deposição também por outra ação militar.

(PRESIDENTE...,2010, parte 1). Com essas inclinações, o socialista Velasco realizou,

durante a década dos 70s, radicais reformas do sistema social e econômico.

Teve medidas protecionistas e intervencionistas no país, expropriando complexos

agroindustriais do capital estrangeiro. Iniciou uma imposição do controle dos preços dos

produtos de consumo básico e do setor de serviços.

Implementou fortes restrições à liberdade da imprensa e decretou uma reforma

educativa, bem como uma reforma agrária com o objetivo de pôr fim à oligarquia latifundiária

das grandes propriedades. No fundo perseguia um firme propósito: organizar a população e

controlar as mobilizações sociais através do “Sistema Nacional de Apoyo a la Mobilización

Social” (SINAMOS). Instituição criada com esses fins.

A questão da preservação dos monumentos, a princípio, não foi o principal foco da

política do mandatário socialista, mas com o decorrer do tempo incluiu-se de uma forma

particular no seu desenho. Essas reformas para o desenvolvimento nacional e outras são

pontos de análises explicitados a seguir.

1 Este militar depôs o presidente Fernando Belaunde Terry, eleito democraticamente depos de ter assinado a “Ata de Talara” onde se resolvia a situação da “Brea y Pariñas” (zona de extração de petróleo) cuja empresa norteamericana explorava petróleo sem vantagem para a nação peruana, em termos econômicos.

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6.2. A Reforma Agrária Peruana

Pôr fim ao latifúndio e ‘gamonalismo’2 tradicionais no Peru gerou a necessidade de

uma grande Reforma Agrária (RA). Para o pensador Mariátegui, a comunidade indígena

poderia ser o ponto de partida para uma reorganização socialista da estrutura agrária.

Mariátegui pretendia desaparecer os grandes latifúndios e em seu lugar constituir uma

economia agrária denominada pela própria demagogia burguesa de democratização da

propriedade do solo.

Devido a esses postulados, a crítica acusou-o de ser propulsor de uma revolução

camponesa socialista, entre outras afirmações. Pode-se dizer que este pensador estava

adiantado a sua época. O sistema de tenência da terra não iria a mudar em décadas, portanto,

sua visão para ser solucionada se tornava vigente apesar do tempo.

Para o movimento da teoria mariateguista o socialismo tornava-se também um meio

de subsistência das comunidades e nas grandes empresas agrícolas. Isto é, elementos de uma

postura socialista na questão agrária.

Esse movimento enfatizava que a solução seria explorar a terra pelos pequenos

agricultores, através do yanaconazgo3 (pequena propriedade que para a qual se recomendava

deixar a gestão individual).

Segundo a posição ideológica de Mariátegui (2007, p. 41) afirmava:

Eu penso que a hora de ensaiar no Peru o método liberal, a fórmula individualista já passou. Deixando à parte as razões doutrinárias, considero fundamentalmente este fator incontestável e concreto que dá um caráter peculiar a nosso problema agrário: a sobrevivência da comunidade e de elementos de socialismo prático na agricultura e a vida indígena. (tradução nossa)

Essa idéia permaneceria nas esferas dos diferentes governos do Estado. É quando

por volta de 1962 e 1964, se estabeleceram as primeiras iniciativas, durante os governos de

Ricardo Perez Godoy e Francisco Belaunde Terry, de levar à frente uma Reforma Agrária.

2 De acordo com Flores, o termo "gamonal" é "um peruanismo, cunhado durante o último século XIX, buscando estabelecer uma comparação entre uma planta parasita e os latifundiários [...]mais além das paixões o termo designava a existência do poder local: a privatização de política,a fragmentação do domínio e seu exercício adaptados à escala de um povo ou de uma província[...]" (Flores,1988: p. 290). Para José Carlos Mariátegui, o “gamonal” invalidava inevitavelmente toda lei de proteção ao camponês. Contra a autoridade do proprietário de terras (latifúndio), sustentada pelo ambiente e hábito, a lei escrita era impotente. Tudo estava enfeudado às grandes propriedades. Ele escreveu em 1930: "A lei não pode prevalecer contra os patrões (gamonales).Um funcionário que se obstinasse em impô-la, seria abandonado e sacrificado pelo poder central, perto da qual estão sempre influências onipotentes do gamonalismo, que atuam diretamente ou através do parlamento, por uma ou outra via com a mesma eficácia" (Mariátegui, 2007, p.28).

3 O YANACONAZGO é uma variedade do sistema da servidão através do qual o feudalismo durou até nossa era capitalista nos povos politica e economicamente atrasados. O sistema peruano do Yanaconazgo é identificado, por exemplo, com o sistema russo de polovnischestvo em que os frutos da terra, em alguns casos, foram divididos por igual entre proprietário e camponeses e em outros, o último recebia apenas a terceira parte.

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185

Durante o mandato do primeiro presidente, foi promulgada a Lei no

14.238 onde

estabeleceu as ‘Bases da Reforma Agrária’ que antecipava todo um ‘Plano Nacional de

Promoção Agrária’ e criava o ‘Instituto da Reforma Agrária e Colonização’ (IRAC).

A mencionada Lei havia anunciado a modificação da estrutura da propriedade de

terra para acabar com as formas econômicas que atentavam contra a dignidade do nível de

vida do camponês.

Pretendia-se identificar entre outras unidades geográficas existentes áreas sociais e

econômicas. Justamente a Região de Cusco foi a mais ativa do país, tomando ciência da

necessidade de pôr fim ao latifúndio e gamonalismo.

Os vales de ‘La Convención’ e ‘Lares’ (1959-1963) foram cenários de uma poderosa

rebelião camponesa e foco de um movimento, que posteriormente abarcou toda a serra sul e

central do Peru. Kowalewski (1974, p. 143) diz:

Nesta mobilização agrária, a maior dos Andes desde o levantamento de Tupac Amaru4 e a mais poderosa do continente no último meio século, os latifúndios capitalistas foram objeto de expropriação e reconquista por centenas de milhares de arrendatários, comuneiros e trabalhadores agrícolas.(tradução nossa)

A expressão dessa necessidade gerou uma sindicalização camponesa com uma

tomada de terras, por apresentar um regime de propriedade, condições de trabalho e de

produção agrícola muito particular.

Dessa forma, os vales foram escolhidos para a implantação de um “plano piloto” de

RA cujo resultado foi a publicação do DL nº 14.444, para ser aplicada essa implantação

inicialmente na Região de Cusco (HISTORIA…, 2012).

Durante o mandato do segundo presidente, se promulgou a Lei da Reforma Agrária

(no

15.037) deu ao “Instituto de Reforma e Promoción Agrária”(IRPA) todos poderes para

cumprir os objetivos da lei. Este procedimento afetaria, principalmente, aos latifúndios

cultivados da serra e da costa, mas sem atingir os que tinham um rendimento eficiente como

os latifúndios agroindustriais das referidas áreas, não incluindo, portanto, as grandes

propriedades da costa norte do país.

Porém, o governo de Belaunde indenizou os proprietários afetados, sem confiscações

violentas, resultando em parcial aplicação da lei e não em sua totalidade derivando em

problemas não resolvidos. Mesmo assim, para Chirinos (1975, p. 48) Belaunde foi um dos

que estiveram mais claramente na linha de propugnar uma Reforma Agrária no país, apesar

dos erros evidentes.

4 Túpac Amaru II cujo nome verdadeiro é José Gabriel Condorcanqui Noguera (Tinta, 19 mar. 1738 - Cusco, 18 maio 1781) foi um líder indígena peruano. Ele conduziu a maior rebelião anticolonial da América do século XVIII - a chamada “Grande Rebelión”-, que teve lugar no Vice-reino do Rio da Prata e no Vice-reino do Peru, iniciada em 4 de novembro de 1780, com a captura e posterior execução do corregedor Antonio de Arriaga. Embora a revolta não tenha sido um sucesso, Túpac Amaru II acabou por se tornar uma figura mítica, inspirando inúmeros movimentos pela independência do Peru, bem como a luta pelos direitos dos povos indígenas.

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Sua aplicação se propunha organizar o crédito rural para todo o país (Art. 2o item j),

pois a CRyF já desenvolvia todo um sistema particular para o caso da Região Cusco, com o

fomento rural e o CREAS. A lei não contemplava nem a simbiose nem a total dissolução,

provocou um ponto de conflito desde o início.

No entanto, essa Lei pretendia realizar uma transformação do meio rural com todas

as condições para ampliar o mercado interno, comercializando seus produtos e procurando

expandir os mesmos aos mercados internacionais.

O importante dessa lei foi incorporar todas as zonas agrárias que careciam de vias de

comunicação e de serviços básicos, para aderirem ao desenvolvimento econômico do país. O

seu grande postulado procurava-se vincular a RA ao desenvolvimento industrial do Peru.

A lei de Belaunde levou a cabo o seu projeto por ter se comprometido a realizá-lo

depois de assinar a “Carta de Punta del Este”5. A Reforma Agrária projetada estava ao

alcance nacional peruano, mas foi timidamente aplicada pela falta de decisão política.

(EGUREN 2006, p. 11).

Lazarte (2008, p.4) afirma: “em 1969 começam a desativar-se pela implementação da

RA de Juan Velasco Alvarado. A CRyF […] entre outras, foram as que promoveram o

desenvolvimento6.” Esta autora, em princípio, antecipa a desativação da CRyF: acreditamos

que sua afirmação está em função dos constantes cortes orçamentais.

Mas esta corporação não foi desativada porque ainda continuava realizando obras no

âmbito regional. Pode-se afirmar que pela maneira como foi realizada a Reforma Agrária

ainda não havia alcançado o êxito esperado nos seus propósitos.

Em 1969, todos os projetos, decretos e leis anteriores, representavam tentativas

infrutíferas, que não conseguiram resolver o problema da propriedade das terras no Peru e

acalmar a pressão por parte do campesinato. É quando Velasco Alvarado viu, mais

claramente, a necessidade de um enfoque novo e de maneira aprofundada instalou sistemas

justos de propriedade e uso da terra, para contribuir com o desenvolvimento integral do país.

Este presidente ao promulgar a Lei no 17.716 teve como princípio normativo de que a

terra deve ser para quem a lavra e não para quem tem rendas derivadas desse trabalho. A terra

deve ser para o camponês, para proprietários de pequeno e médio porte, para o homem que

com suas mãos cria riqueza para todos.

5 A Carta de “Punta del Este” comprometia aos Presidentes a impulsionar o Programa de ‘Reforma Agrária Integral’. A Carta deriva da reunião do Conselho Interamericano Econômico e Social (CIES) denominada “Conferência de Punta del Este” (Uruguai.5-17 ago. 1961)

6 A autora do artigo considera como constantes, a presença do Estado peruano e suas influências na Região de Cusco, durante o século XIX e início do XX (Primeira década), em comparação com outras formas de assistência agrária.

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187

Dessa forma, Velasco viria implantar uma política que seria denominada a justiça

social na agricultura o que era um instrumento transformador e fazia parte da política nacional

de desenvolvimento que estava em íntima relação com as ações planejadas pelo Estado.

A Reforma Agrária que é bem específica tinha como objetivo favorecer a

mobilização camponesa, considerando que seria implantado o sistema auto gestionário. Isto é,

não apenas garantir um salário para os trabalhadores, mas tomar decisões no gerenciamento

das empresas agrárias, bem como assumir responsabilidade de implementar políticas a serem

definidas.

Está RA também incluída a possibilidade de fomentar a organização cooperativa e

organizar os sistemas comunitários da exploração da terra, assim como o regime de trabalho

rural (seguros sociais).

A particularidade nesta questão muda todo conceito anterior porque promove, não

apenas, a agricultura rural, mas em povoados rurais implanta escolas, assistência técnica,

mecanismos de crédito, pesquisas agropecuárias, expansão do sistema nacional da saúde,

desenvolvimento industrial e mecanismos de comercialização, dentre outros.

O capítulo da assistência técnica e crediário praticados pela CRyF, iniciam uma nova

estrutura com a implantação da lei de Velasco passando tais atribuições para os ministérios da

Agricultura e da Pescaria, somando-se aos programas de pesquisa, extensão, fomento, crédito

e comercialização para Cusco.

Nesse sentido, o Estado peruano cria, através do Banco de Fomento Agropecuário,

um fundo para outorgar empréstimos denominados ‘Créditos de Reforma Agrária’, tendo sido

designado o Conselho do Fundo para administrá-lo.

O atendimento, que a CRyF realizava, era dirigido aos camponeses não organizados

como grupo, já que a Reforma Agrária promovia a organização de cooperativas e sociedades

de interesse social. Praticamente a RA deixava de lado os propósitos da Corporação e

superava em sua abordagem, diferenças significativas em favor do camponês.

Outro postulado positivo da lei foi a organização do “Seguro Agropecuário” que até

então não existia. Tratava-se de dar ajuda para o caso de fenômenos climáticos, falta de

chuvas e/ou frio em excesso, assim como outras calamidades cujo fim era garantir os

investimentos realizados pelos agricultores.

Num discurso de inauguração do VI Congresso Latino-americano de Indústrias em

1971, o Presidente Velasco indicava que havia começado uma revolução original que não era

“nem capitalista nem comunista” e que ficaria entre as duas. Parecia que queria legitimar

também a sua frase como ‘Nem decalque nem cópia’ ou “peruanizemos ao Peru” que

Mariátegui adotara (DISCURSO..., 1971).

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Por volta de 1972, a Lei da Reforma Agrária, já implantada no país, seria

potencializada com mais um instrumento específico para formar parte do conjunto de

disposições orientadas à execução e ao fortalecimento da Reforma Agrária. Foi o DL no

19.400 cujo objetivo pretendia organizar todo o setor agrário, em vários níveis ou graus, para

convertê-los em entes ativos de mobilização política, ligada ao processo da RA (ROBLES,

2002, p.104).

Para Eguren (2006, p. 11), a RA peruana foi uma das mais radicais na América do

Sul. Os encaminhamentos foram simultâneos ou se seguiram às experiências de revoluções, já

ocorridas na América Latina. A saber, os processos de reforma agrária de maior alcance

foram resultados de movimentos libertários, tais como os ocorridos no México (1910),

Bolívia (1952), Cuba (1959) e Nicarágua (1979) com saldos de violência, morte de

combatentes e civis, em especial crianças e adolescentes.

Também houve falta de apoio das nações poderosas como os Estados Unidos,

criando principalmente reflexos na economia de cada uma das nações citadas. Governos

eleitos pelo voto popular empreenderam também, em vários países, reformas com destaque.

Isto ocorreu no Chile nos períodos de Eduardo Frei (1964-1970) e Salvador Allende

(1970-1973); no Peru, com Velasco (1969- 1975) através de um poder de base militar; na

Argentina se implantaram tanto a agricultura familiar, quanto fazendas capitalistas de médio

porte, enquanto no Uruguai e Paraguai, foram realizados apenas programas de colonização.

As políticas de reformas agrárias latino-americanas têm sido, em geral, resultado de

mudanças produzidas, a partir do poder central, ainda que em alguns exemplos representem

respostas a pressões sociais exercidas desde baixo. Apenas algumas foram consequências

diretas de levantes de camponeses, como no caso do Peru (REFORMAS...,2013).

Observa-se que países latino-americanos, em geral idealizaram programas de RA e,

algumas iniciativas estavam registradas antes do aparecimento da ‘Carta de Punta del Este’

de 1961, como na Colômbia (1936), na Guatemala (1952) e na Venezuela (1960).

Outros países após a subscrição da Carta realizaram suas Reformas Agrárias: Costa

Rica (1961), Honduras e Panamá (1962), Equador (1964), República Dominicana (1972),

Nicarágua (1979) e, mais recentemente, o Brasil (1985) e Paraguai (2008). Obviamente nem

todos tiveram êxito ou grandes logros durante as suas reformas.

Em 1979, quando a FAO patrocinou a Conferência Mundial sobre Reforma Agrária e

Desenvolvimento Rural, a maior parte das experiências dos anos 60 haviam perdido seu

impulso inicial ou deixado de serem aplicadas. Em alguns casos voltou-se inclusive à situação

que imperava antes do processo de reforma, tal como a reforma peruana, cujos equívocos a

debilitaram, com a brusca interrupção sofrida.

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189

A Reforma Agrária foi uma das contribuições mais significativas do processo

reformista no Peru e não deixou de ser uma organização cívica, cultural e gremial da

população. (ALEGRETT, 2013).

A agricultura foi o setor que teve continuidade apesar das mudanças operadas no

país. Haviam-se criado durante a reforma: mais de mil empresas associativas e centrais de

cooperativas; quase uma dezena de empresas estatais vinculadas ao processo de

comercialização e duas grandes centrais camponesas fizeram sentir a sua presença. Antes

havia sido domínio completo da propriedade dos latifundiários ou capitalistas privados. Eis o

que constitui o desenvolvimento agrário da sociedade rural peruana. (MEJIA e MATOS,

1980, p. 351).

A RA, em outros países, criou organizações camponesas produtivas, com uma

estrutura administrativa comum, do tipo cooperativo, sob os princípios de participação

democrática e trabalho comunitário. O poder de negociação, a falta de infraestrutura e de

serviços conexos não consolidou a RA como em Cuba e Nicarágua.

A Colômbia formou empresas e grupos comunitários (propriedade associativa da

terra e exploração comum). No Chile coexistiram diferentes tipos de organizações produtivas,

cooperativas e também a ‘Sociedad de Cooperación Agrícola’ (SOCAS). No Ecuador, El

Salvador e Honduras também foram criadas cooperativas. No Panamá estabeleceram-se

assentamentos camponeses (propriedade estatal da terra) e Juntas Agrárias.

No Peru, formaram empresas associativas tais como “Cooperativas Agrárias de

Producción” (CAP), “Sociedades Agrícolas de Interés Social” (SAIS) e “Empresas Rurales

de Propriedad Social” (ERPS), impulsionadas pelo governo. No entanto, a baixa

produtividade e o rendimento incipiente do trabalho demonstraram não garantir a exploração

agrícola dentro de uma racionalidade capitalista.

Este fato promoveu a participação dos trabalhadores sócios na gestão das empresas

reunidos em sindicatos, ligas agrárias, criando-se a “Confederación Nacional Agrária”

(CNA), mas eliminou a “Sociedad Nacional Agrária” (SNA) que, na opinião do governo,

representava interesses da oligarquia latifundiária.

Durante o processo de liberação da agricultura, na década dos anos 80, se produziu a

divisão das empresas associativas segundo o modelo empresarial, quando se conduz o

Sistema de “Cooperativas Agrárias de Usuarios” (CAU). Nesse modelo, os agricultores

operaram diretamente suas áreas de cultivo.

Os bancos privados não beneficiavam os créditos por não ser hipotecável a terra. O

esquema duraria até 1991 onde a lei autorizava a compra, hipoteca e aluguel com

características totalmente diferentes. (LAS ORGANIZACIONES...,1994)

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Para Del Castillo (2004, p.116), as comunidades sempre vinculavam o desejo de

propriedade de terrenos agrícolas familiares à necessidade de desempenhar uma função na

comunidade. A falta de certeza ou garantia pelo bem (a terra) era motivo de insegurança, daí

que comunheiros, moradores do campo, na grande maioria desejavam tanto a titulação

individual como a preservação da comunidade. Portanto, a conciliação desses dois objetivos

não foi clara.

Pode-se afirmar que o Estado peruano, indiretamente, tentou preservar a grande

multiculturalidade, por meio da reforma agrária a qual foi determinada como política pública.

Ou seja, trouxe vinculação da sociedade ao seu passado, aos seus direitos que fomentaram a

consciência, a mentalidade e a garantia da participação das futuras gerações no

desenvolvimento da economia da sociedade.

Melhorar as condições de vida da população, vinculada ao campo foi um grande

começo da RA, tal como aconteceu com a sociedade Inca que criou sistemas de uso do solo

agrário, baseados em cânones e parâmetros, muito desenvolvidos, na época precolonial. Esse

é o vínculo identitário, que a institucionalização da RA tem conseguido, principalmente, no

seu período de auge.

A participação organizada da população, em particular a dos menores recursos, a

comunidade rural e organizações femininas, contribuíram para o planejamento das suas

próprias localidades e fomentaram o surgimento de lideranças.

Essas formas de organização mantiveram vínculos horizontais e verticais com o

governo, participando diretamente do processo. É claro que conceitos como a preservação do

ambiente rural, os recursos de água, as consequências causadas pela erosão e a conservação

do solo, seriam concebidos mais adiante.

6.3 O Sistema Nacional de Apoio à Mobilização Social (SINAMOS)

Entre os seus objetivos, o governo militar pretendia integrar as massas à sociedade

nacional, através da forma militarista de organização dos setores mais populares do Peru. Essa

atitude deveria ser nova e partir de cima, para articular uma instituição de diálogo direto entre

as partes, para isso criou-se o SINAMOS7, (DL n

o 18.896).

7 Para alguns esta seria uma versão militar de “SIN-AMOS” (Sem Amos ou Sem Patrões) que não estava distante da realidade, daí as estruturais reformas idealizadas e levadas a cabo por Velasco.

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191

Este seria um nexo para atender às grandes maiorias populares, na firme ideia de

absorver a todas as organizações sociais do país para cumprir os objetivos. De fato, o regime

velasquista teve funções de um partido político ao serviço da revolução nacionalista.

Para Gambetta (2004), antes de 1971 começava-se a falar da formação de um partido

político, ou de uma organização governamental, que se encarregasse de levar adiante seus

objetivos nos diversos campos da atividade nacional.

O SINAMOS se encarregaria de viabilizar uma democracia social de participação

plena. Trabalharia para criar uma instância democrática na qual o povo, livremente

organizado, exercitaria o poder nas dimensões econômicas, sociais, culturais e políticas.

Organizaria os setores mais desfavorecidos pelas estruturas tradicionais e assim exerceria sua

voz ante as instituições do governo, segundo os seus critérios.

Esse projeto (o SINAMOS) fazia parte do “Plano Inca”, idealizado por Velasco,

cujos objetivos e ações foram plasmados com sua revolução militar, tendo como fim supremo

instituir as reformas em marcha. Dentro desse conceito inauguraram-se filiais do SINAMOS,

em todas as regiões do país, como instrumento do Estado, a fim de fomentar um movimento

popular de participação e apoio ao processo político.

O projeto SINAMOS pretendeu, desde o início, construir um sistema em uma central

única que envolvesse desde organizações tanto de jovens dos bairros marginais, tais como:

laborais, rurais, culturais profissionais, econômicas e de interesse social. Seu objetivo foi

promover a criação e o desenvolvimento de instituições sociais autônomas e de participação.

Na época haviam sido criadas muitas corporações regionais. É quando, através do

DL no17.063, o Governo Central assume a administração da economia pública e de todas as

corporações existentes no território peruano.

Dessa forma, estabeleceram-se três centrais com nome próprio: a “Oficina Nacional

de Apoyo a la Movilización Social” (ONAMS), a “Oficina Regional de Apoyo a la

Movilización Social” (ORAMS) e a “Oficina Zonal de Apoyo a la Movilización Social”

(OZAMS).

A ONAM estaria direcionando toda mobilização do país e cada uma das

subordinadas, ORAMS e OZAMS, seriam responsáveis pela execução dos planos de

desenvolvimento formulados pelo Instituto Nacional de Planejamento (INP) e de se adequar

em cada região, à política do sistema.

Em todo o território Peruano criaram-se as ORAMS formando macrorregiões entre

regiões vizinhas. No caso das regiões de Cusco, Apurímac e Madre de Deus tiveram um só

escritório macrorregional, conhecida como “ORAMS VII”.

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Para toda esta macrorregião criaram-se 10 OZAMS necessárias com sua sede central

na cidade de Cusco. A determinação do número de OZAMS para todas as ORAMS variavam

em função de vários fatores como população, vias, comércio e localização.

Ainda para outros, o SINAMOS predicava uma doutrina que não praticava, isto é, os

líderes não eram eleitos por participação popular, senão designados pela cúpula militar. Essa

designação não dava autonomia plena aos chamados “líderes” o que provocou um conflito de

genuína participação popular. Isto de deve ao fato de que, na época do militarismo, a classe

militar (castrense) não aceitaria facilmente uma classe civil no comando.

Mesmo assim, o SINAMOS com esses líderes, de uma parte, pretendia incentivar a

participação democrática da população. De outra parte, por conta da sua gestão na

administração estatal incrementou o número de empregados públicos assim como executou

um conjunto de obras com caráter populista dentro de um postulado reivindicativo, que não se

contextualizava dentro do desenvolvimento regional.

A realização de outros projetos exclusivos, denominados de “históricos”, que foram

aplicados em províncias e distritos, tiveram um papel de provocar adesão de grandes

segmentos da população, ao regime. Com essas posturas, mudou completamente a visão

tecnicista da CRyF.

Como se não bastasse, o governo militar dispôs para que SINAMOS tomasse conta

da supervisão e fiscalização dos complexos agroindustriais açucareiros. O sistema implantado

começou a controlar o país, em todas as áreas. Em 1972 o SINAMOS assumiu a supervisão

das 13 centrais açucareiras expropriadas e cooperativadas. (CANABRAVA, 2003, p.184).

A reforma abrangeu também o campo da Educação, ao se decretar a reforma

educativa (1972). Tornou a língua “Quechua” como oficial. Essa língua foi falada pelos

antigos incas e, na época também, era falada por quase a metade da população peruana, Nesse

sentido, havia-se propulsionado uma educação bilíngue no país.

Essa decisão militar de, o Quechua ser idioma oficial, não foi para menos, teve

reconhecimento da UNESCO. Para os governantes militares, o intuito era conseguir respaldo

popular, a favor do regime, para poder organizar a sociedade em todos os níveis. Essa política

não se cumpriu em sua totalidade nos governos posteriores.

Também se implantaram as Escolas Superiores de Ensino Público (ESEP) em todo o

país. Para tal, em 1972, se celebrou um convênio entre o governo peruano, representado pelo

SINAMOS, e a ONU, através da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para levar à

frente o projeto. (SEGRE,1981, p. xii).

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193

Nos bastidores dessas reformas houve assessores que trabalharam para a Junta

Militar, como é o caso do brasileiro Darcy Ribeiro que como antropólogo recebeu uma

proposta da UNESCO para coordenar um projeto no Peru (CANABRAVA, 2003, p.194).

O certo é que foi convidado pelo Presidente Velasco Alvarado, por meio do Carlos

Delgado, para ajudá-lo a (re)pensar a revolução peruana. Mas antes de se exilar8 no Peru,

Darcy Ribeiro tinha trabalhado com o Presidente Salvador Allende, no Chile. Em seguida,

participou da criação do Centro de Estudos de Participação Popular para subsidiar a equipe do

SINAMOS (LIMA, 2011, p. 7).

Ao ser contratado pela OIT, através do PNUD, Darcy Ribeiro estabeleceu em Lima o

referido Centro (RIBEIRO, 1992, p.515). No planejamento das atividades do SINAMOS, seu

papel era de promover cursos de capacitação para todas as Comunidades de Trabalhadores na

indústria, minério, pescaria e cooperativas agrícolas.

No I Congresso Nacional de Comunidades Industriais (1973), a nova sociedade

imaginada por Velasco ia tomando sua forma. Ele queria uma sociedade de autogestão, sem

intermediação de partidos, ou ainda sem a participação do Estado. Mas, paralelamente,

apareciam protestos da população e começavam a serem frequentes, em todo o país.

Por causa desses manifestos, o local de SINAMOS em Cusco sofreu um grande

incêndio9 nas suas instalações o que significou para muitos críticos atos de rejeição ao

sistema. (TAMAYO, 1981, p.227).

No mesmo ano, na região da Costa Norte do Peru, também se desatou outro incêndio

na sede do SINAMOS em Chimbote, cujos implicados eram estudantes e obreiros, resultando

daí enfrentamentos das forças militares com a população (TOVAR, 1985, p.110)

A desapropriação de todos os meios de comunicação (julho/ 1974) foi levada a cabo

pelos militares para promover seus objetivos e censurar a oposição. Desta forma, restringiu-se

o exercício de liberdade de imprensa e expressão. A utilização dos meios massivos de

comunicação em benefício dos objetivos revolucionários era o ideal.

Para Gargurevich (2007, p.1) o governo de Velasco por não ter definido um modelo

de controle, optou pelo cooperativismo e algumas variantes, passando a sua administração aos

trabalhadores da mídia, jornalistas em particular.

Os repórteres e obreiros gráficos sem nenhuma experiência na gestão de grandes

empresas se fizeram editores e empresários, primeiramente, com os jornais “Expreso” e

“Extra” (1970), e depois com outros jornais de circulação nacional, entre1974 e 1980.

8 Outros refugiados foram aceitos no Peru. Nessa época era pequena a colônia de brasileiros asilados. Alguns foram convidados para exercer tarefas específicas e, posteriormente, foram também “convidados” a abandonar o Peru, quando Velasco já havia desapropriado os jornais de grande circulação e entregue aos trabalhadores organizados.

9 O incêndio de grandes proporções foi em 23 de novembro de 1973.

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Ante esse objetivo, o governo já havia realizado uma primeira clausura desses jornais

e evocado os primeiros fundamentos de uma política de comunicação (1968-1970)10

.

Logo iria a uma fase de ensaio do modelo cooperativista, como passo seguinte

(1970-1974) e, finalmente, a desapropriação e intento de implantar um modelo de propriedade

social para que a imprensa diária não alcançasse sua finalidade precípua (1974-1980).

(GARGUREVICH, 2007, p.2)

Deve-se lembrar de que foi apenas em 1974 que a UNESCO propôs uma definição

de trabalho para políticas de comunicação: "A política nacional de comunicação é um

conjunto coerente de princípios e normas, descritos para orientar o comportamento das

instituições de mídia de um país" (INFORME...,1974).

Esta definição foi o resultado de um longo debate e propostas, que surgiram no início

das discussões, quanto aos processos políticos, denunciando o uso comercial a vários meios

de comunicação, como prejudicial para o desenvolvimento e educação em particular.

(CIESPAL, 1981).

Por meio do SINAMOS, o governo queria controlar a vida política do país que tinha

por finalidade lograr a consciente e ativa participação da população nacional nas tarefas que

demandassem o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social.

Basicamente, a função do SINAMOS era a condução da informação dos meios de

comunicação, de um lado e, de outro, pretendia organizar as instituições sociais, sindicatos,

clubes das mães, mas, ao não ter o apoio dos sindicatos urbanos, se desativa o SINAMOS em

1979.

Quando os militares assumiram o poder, a população urbana marginal estava

experimentando um rápido crescimento. Lima, entre 1956 e 1970 aumentou de 120.000 a

760.000 habitantes, ou seja, a população urbana marginal havia crescido de 9 % a 26%.

Em 1968, criou-se a “Oficina Nacional de Desarrrollo de los Pueblos Jóvenes”

(ONDPJ) cujo objetivo era organizar e incrementar a sua participação no poder político.

Cusco e outras regiões abririam o ONDPJ devido às invasões que se formavam e cresciam

lentamente. “As ladeiras são invadidas e albergam novas formas de sub-habitação: os

“Pueblos Jóvenes”, despojados de serviços públicos, mas constituídos por casas

independentes” (AZEVEDO, 2009, p. 114).

Pelo “Censo Nacional de 1970”, existiam 610 bairros marginais urbanos (mais de 1,5

milhão de pessoas) dos quais 273 estavam concentrados em Lima. As ‘barriadas’ que daí por

diante seriam denominadas de “Pueblos Jóvenes”, a maioria delas, surgiram como invasões.

10 Por volta de 1970 o Estado peruano controlava os diários ‘El Peruano’, ‘Expreso’, ‘Extra’ e os adquiridos ‘La Crónica’ e ‘La Tercera’. Em radio difusão ‘Radio Nacional’ e suas filiais, em todo o país, e na televisão o ‘Canal 7’ e uma extensa cadeia de retransmissoras.

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195

A tarefa de o governo militar seria, portanto, de legitimá-los através da entrega de

títulos de propriedade. Um modo, também, de atraí-los para a revolução. Só em Lima deviam

ser entregues 130.000 títulos, mas até outubro de 1972 haviam outorgado apenas 13.452

títulos para novos proprietários e, tal modelo de titulação não seria diferente para a cidade de

Cusco.

A possibilidade de expressar suas demandas econômicas e sociais pelos ‘Pueblos

Jóvenes’ somente se fazia possível através de alguma organização imposta desde cima,

representada pelos ‘Comitês de Vizinhança’, unidade básica do SINAMOS que, para alguns

autores, atuou mais como um instrumento de controle do que de participação popular.

Sua preocupação estava centrada em evitar infiltrações comunistas, que colocassem

em juízo os objetivos do regime militar. A experiência do SINAMOS mostrou uma debilidade

comum em todas as reformas: a ausência de uma genuína participação popular.

(GOBIERNO…,2012).

No setor Educação, o SINAMOS logrou grande contribuição ao criar várias

instituições públicas, onde as atividades de conservação e proteção do patrimônio

arqueológico, histórico e cultural da nação começariam uma nova fase.

O primeiro projeto foi a criação do “Instituto Nacional de Cultura” do Peru (INC)

em 1971, como organismo público descentralizado (DL no 18.799), se iniciaria uma maior

atenção ao patrimônio.

No campo da Conservação e Restauro do Patrimônio havia-se dado um passo muito

importante, inclusive por conseguir a cooperação internacional, principalmente da UNESCO.

Nesse sentido, Cusco foi sede da Direção Regional e, desde esse momento recaiu sobre essa

filial a responsabilidade de realizar uma política patrimonial que envolveu o planejamento,

direção, coordenação e supervisão.

Essa nova filial (a Direção Regional de Cusco) promoveu e conduziu, de forma mais

exclusiva, a questão da preservação. Adiante se criaria uma “Unidad Especial Ejecutora” do

INC, como um ente gestor para desenvolver e executar programas de restauração com o apoio

da ONU (UEE-INC, 1980, p.3).

O segundo projeto foi a criação do “PLAN COPESCO” (1971), um plano de

desenvolvimento em função do turismo, orientado a melhorar o nível de vida dos habitantes

das zonas que apresentam um potencial turístico. A ideia da descentralização foi plasmada em

um plano de desenvolvimento de caráter nacional.

Este plano, desde sua criação implementou programas de Valorização de

Monumentos, Infraestrutura Viária e Acondicionamento Urbano, logrando o desenvolvimento

socioeconômico regional em função dos recursos naturais e culturais da área, para serem

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convertidos em produtos turísticos. Desta forma instalou-se uma infraestrutura turística, em

todo âmbito regional, vinculada a regiões vizinhas.

O terceiro projeto é a criação do denominado “PER 71/539” (1973) estabelecido pelo

governo do Peru e pela UNESCO, para exercer múltiplas tarefas em torno à conservação e

restauração dos monumentos nas áreas de Cusco e Puno. Os trabalhos de conservação e

pesquisas foram realizados todos por especialistas.

Os projetos exclusivos (como Machupicchu, entre outros) foram levados à execução

pelo organismo internacional da UNESCO que recebeu contribuições econômicas de diversas

fontes como: do PNUD, do BID bem como da OEA. (CONSEJO EXECUTIVO..., 1983, p.

49).

Como afirma Mutal (2001, p.122): “a partir da década dos anos 70 se assentaram

sólidas bases para o patrimônio ao terem sido incorporados os conceitos tais como o

“processo histórico” e de “desenvolvimento urbano” onde foram levados em consideração

novos pontos de vista e novas tecnologias que já haviam sido aplicadas na Europa”. (tradução

nossa)

6.4 Papel do Instituto Nacional de Cultura (INC)

A criação do INC, em 1971, implicou na dissolução da `Casa da Cultura do Peru`

(DL no18.799) onde existia apenas uma `Comissão Nacional de Cultura` para difundir todas

as expressões e manifestações, com capacidade muito reduzida, que carecia de infraestrutura

apropriada, recursos humanos e de capital para cumprir seu objetivo. (AZURIN, 1999, p.22).

Antes da década dos anos 70, era comum, em parte, não concluir atividades e metas

programadas, por falta de meios econômicos e deixando de se fazer os registros: de espécies

arqueológicas; de monumentos pré-colombianos e coloniais; de objetos históricos e artísticos

e de documentos manuscritos ou impressos. (TREINTA AÑOS, 2001, p.a-14).

Observa-se que com o INC, o Estado peruano fornece condições para poder

fortalecer a cultura, conservar os monumentos, respeitar as tradições orais, a música, pintura,

teatro, balé, entre outras manifestações. Essas deviam ser reconhecidas dentro de um contexto

do Peru com sua variadíssima e rica cultura. Assim, o INC se converteria em um ente

facilitador para manter essa cultura, sustentá-la e revalorizá-la.

Essa instituição cria uma série de instâncias técnicas, profissionais e administrativas

nas áreas da arqueologia, história, artesanato, antropologia, museus, pintura (patrimônio

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material) até o reconhecimento e incorporação da cultura viva (patrimônio imaterial), entre

outras, que são conduzidas por diferentes Direções especializadas11

.

A partir dessas instâncias técnicas já foi possível compor uma assessoria, receber

denúncias e formular-se veredictos com competência, por meio de ofícios e resoluções

diretoriais.

O INC foi preparado para entrar em funcionamento em 1972, daí por diante, foi

submetido a políticas culturais dos diferentes governos que se sucederiam. Este instituto, a

pesar de haver sido um dos pioneiros, quanto a ensaios de políticas culturais na América

Latina foi por iniciativa de um governo militar. (PAIVA, 2002 p.47).

Durante sua existência, o INC recebeu do poder público tanta atenção central como

desatenções por parte das administrações dos diferentes governos do Estado. Ao longo de três

governos sucessivos destacam os mandatários: Alvarado (1971-1980), a segunda gestão de

Belaunde (1980-1985) e o primeiro governo de García (1985-1990).

O INC criado durante um governo militar seguiu a política de levar a cabo as

reformas substanciais, na sociedade peruana. Esse governo esteve inspirou, na necessidade de

transformar as estruturas sociais econômicas e culturais do Estado. Esta instituição como as

dos outros setores tiveram a mesma hierarquia para conseguir seus propósitos. (Altamirano,

1990, p.32).

Como o próprio general Velasco confirmou seus propósitos de realizar grandes

transformações no país, deixando bem claro que não havia dúvida que seu governo

implantaria todas as medidas necessárias para alcançar seus objetivos. Daí a sua originalidade

como governante quando afirma: “ser autenticamente livre implica possuir uma identificável e

própria personalidade, isso não se logra sem autenticidade, sem aprofundar as raízes em nossa

própria realidade para forjar uma cultura nossa” (DISCURSO..., 1971).

Com base nessa mudança, o INC passou a formar parte desse processo decisivo. Para

Azurín (1999, p.51), examinar a estrutura orgânica e o nível de funções designadas ao INC, o

projeto, no fundamental, seria dirigido à constituição de uma nova entidade de cultura que

nunca chegou a concretizar-se. Essa circunstância era mais contundente, quando os

fenômenos políticos e sociais começariam a configurar, de forma diferente, o

desenvolvimento da própria cultura.

Em 1970, na Seção da Conferência Geral da UNESCO, delegados de vários países

em desenvolvimento solicitaram a preservação de seus direitos quanto à identidade cultural.

11Cada Direção era especializada e estava dirigida por um diretor quem se responsabilizava na área de: Patrimônio Arqueológico; Patrimônio Monumental Histórico; Produção, Desenvolvimento e Difusão Cultural; Formação Artística; Informação Cultural; Sistema Nacional de Museus e Elencos (Balé Nacional, Orquestra Sinfônica Nacional, Escola Nacional Superior de Arte Dramática).

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(UNESCO, 1980, p. 61). Essa reivindicação levou a criação de instituições locais de cultura,

com a ideia de mantê-la e engrandecê-la. Inclusive o Vaticano, através do Santo Padre (João

Paulo II), criou o Conselho Pontifício da Cultura. (MINISTERIO DE EDUCACION...,1977,

p.28).

A decisão de outorgar ao INC a tarefa de propor e executar a política cultural

representou um notável passo latino-americano. O conceito, desde 1964, começa ter amplo

uso mundial, logo após o II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos

Monumentos Históricos, reunidos em Veneza, e que resultou em uma novidade para a época.

Falando do patrimônio cultural, o emprego do termo “valorização” iniciava sua

difusão, a nível mundial, para indicar que não só basta a conservação ou restauração do nosso

patrimônio, senão que é, igualmente, indispensável pôr em evidência o que este termo

significa ou o que vale para o homem contemporâneo (ANSIÓN, 1986, p. 49).

A criação do INC, coerente com seus objetivos, precisava levar à frente todo trabalho

com uma equipe preparada e capacitada em todas as subespecialidades que envolvem a

conservação e o restauro. A UNESCO organizou uma estrutura para levar a cabo essa

necessidade, e em 1975 cria o ‘I Curso de Conservación y Restauración de Monumentos em

Cusco’ em vista de não existir nenhuma universidade local que oferecesse essa

especialização. Para a Unesco (1979, p. 5):

A região carecia, portanto, de especialistas no campo da conservação e restauro, tão necessários para custodiar o vasto patrimônio monumental e artístico. Foi, desde o começo, a prioridade dos governos formar esses quadros técnicos, especialistas em conservação e restauro de bens móveis e imóveis, que se requeriam com crescente urgência. (Tradução nossa)

De 1975 e 1978 já haviam formado 150 alunos incorporando-se como especialistas a

programas de conservação e restauro em distintos países. O INC foi o ente que viabilizou os

cursos internacionais porque colaborou, grandemente, junto aos projetos do COPESCO e do

PER 71/539.

Professores e consultores (75 até então) que chegaram desde diferentes latitudes da

própria América Latina, do Caribe e Europa, fizeram de Cusco um centro de referência de

êxito de formação, junto a estudantes e autoridades locais.

Os cursos iriam se aperfeiçoando ao longo dos anos, na sua estrutura, para atender às

necessidades do momento, tal como o ‘Curso de Técnicas de Escavação Arqueológica’ criado

devido à necessidade de arqueólogos. Isto resultou na organização de um Curso de Pós-

graduação em Arqueologia para toda a Área Andina12

.

12 Curso recomendado no colóquio “Críticas e Perspectivas da Arqueologia Andina” foi dado em Paracas (Peru) 2-7/04/1979.

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Houve também a criação do curso de ‘Restauração de Pintura’, onde participava a

UNESCO/PNUD que, a partir de 1976, seria retomado pelo INC, a OEA e o ‘Convenio

Andrés Bello’13

.

A UNESCO (1979, p.6) afirma que Cusco teve, desde o começo, o objetivo de

formar especialistas em restauro de conservação de monumentos e bens móveis. Na época, a

realidade da região e o conceito, global e integral, do que constituía o patrimônio cultural

favoreceria o estudo dos Centros e Sítios Históricos.

Desde 1977 estabeleceram-se atelieres para formação de bolsistas em matéria de

conservação de centros históricos, de renovação urbana e de valorização social dos

monumentos.

Os cursos de Cusco são considerados em um nível equivalente ao dos centros de Capacitação de Roma (Itália), de Churubusco (México) e de Jus (Nigéria), criados, originalmente pela UNESCO, e o Sistema das Nações Unidas (UNESCO, 1979, p.5).

Por volta de 1977, o governo militar decide levar adiante um processo de

transferência do poder ao setor civil, cujo passo seria preparar e aprovar uma carta

fundamental para o país: uma nova constituição14

.

Segundo Azurín (1998, p. 56), a constituição de 1979 é a primeira a se ocupar do

aspecto cultural, com algumas imprecisões conceituais e com a falta de rigor sistemático. Esta

constituição faz referência ao direito da cultura, como inerente a todas as pessoas.

Os artigos nela contidos se ocupam da cultura e das línguas nativas, folclore, arte

popular e artesanato, bem como das tradições das comunidades nativas, oportunidade para

tratar a questão indígena ou realidade pluricultural do país, mas sobre os que se preferiram

manter o silêncio. (CORNEJO, 1997, p.66). Pode-se afirmar que haviam sido assentadas as

bases de uma política cultural, formando a peça fundamental do aparelho cultural estatal.

Durante o governo militar, mais especificamente na década dos anos 70, difundiu-se

o primeiro esforço sistemático para levar a cabo uma política cultural sem precedentes. O

curioso é que a dita política, avançada para seu tempo, não mencionava entre seus fins

nenhum artigo, diretamente relacionado com a política exterior, o que teria provocado um

isolamento internacional.

13 O ‘Convênio Andrés Bello’, é uma organização de integração Educativa, Científica, Tecnológica e Cultural, com pessoa jurídica internacional e intergovernamental que foi criado em Bogotá, (31/01/1970). Inicialmente pertenciam poucos países. Mas depois aderiram: Argentina (2007), Bolívia e Brasil (1998) Chile, Colômbia e Cuba (1998), Equador e Espanha (1982), México (2004), Panamá (1980), Paraguai (1998), Peru, República Dominicana e Venezuela (2006).

14 Instala-se a Assembleia Constituinte em 28/07/1978 pelo Presidente civil Haya de la Torre. Ao ser aprovada em 12/07/1979, e entra em vigência em 28/07/1980 quando se iniciaria o 2º governo do arquiteto Belaunde Terry.

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Isto aconteceu mais por ser este um governo resultante de um golpe militar que não

sustentava a difusão dos nossos valores culturais (CORNEJO, 1997, p.52). Realmente, não

ocorreram mudanças das políticas em anos posteriores.

No caso do segundo governo de Belaunde, a política cultural se fez incipiente. Na

verdade, sofreu um retrocesso, porque se limitou a tomar medidas parciais e incoerentes que

alteraram o ritmo e a direção que, até o momento, havia sido conquistado junto ao

militarismo. Nesse tempo, o INC foi desmantelado e reduzido a uma quase total inoperância.

O plano de Belaunde havia estabelecido uma política cultural baseada em uma

participação ampla das maiorias populares. (CORNEJO, 1997, p. 67). Em 1982, a Lei Geral

de Educação (Art. 5º) deixa clara ao afirmar que cabe ao Estado peruano promover uma

política cultural muito mais ampla. Pois esta foi reduzida, apenas a três aspectos: a

conservação do patrimônio, o estimulo à criatividade e o fomento da cooperação internacional

(ANSIÓN, 1986, p. 68).

Para Azurín (1999, p. 58), todas as mudanças que sofreu o INC foram originárias de

uma série de dispositivos legais, por um DL e quatro DS. Este fato, aparentemente, faria

pensar em um extremado interesse da Lei, acima citada, pelo INC e seu funcionamento.

Porém, na prática, além de causar natural confusão pela farta edição de normas foi-se

reduzindo a significância do instituto no panorama nacional deixando de valorizar o

patrimônio cultural do país.

Ansión (1986, p. 77) é quem aponta para a falta de coordenação, provocada pelo

governo quanto à política cultural. De fato, o DL 135 (Lei Orgânica do Ministério da

Educação) institui a atribuição dessa coordenação ao Ministério citado antes, embora, em

outro artigo chegou a deliberar que era o ‘Consejo Nacional de Cultura’ que deveria formular

a política cultural. E este Conselho, por sua vez, outorga ao INC, o dever de executar a

Política pelo mesmo que seria: a conservação, restauração e defesa do patrimônio cultural.

Isto teria provocado um impasse. Devido a isto, o Conselho Nacional da Cultura

assume o lugar do Conselho Geral da Cultura e elabora ‘bases’ sem apoio do Ministério da

Educação, nem, do INC. Apesar de ter sido aprovado, em 1983, o texto causou reações de

total indiferença, inclusive por parte dos ministros sucessivos. (CORNEJO, 1997, p. 70).

No governo do Presidente Alan García (1985-1990), na sua primeira mensagem ao

país, ele disse: “um governo democrático é, em suma, aquele que democratiza a arte e a

cultura, recolhendo a criação artística dos povos e levando até eles as formas musicais,

pictóricas e políticas para que não sejam exercício de desigualdade nem privilégio de uma

elite” (DISCURSO..., 1985). (tradução nossa).

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Esse ponto de partida de García estaria marcado pela incoerência e improvisação das

ações culturais. É neste período, quando o INC cai em seu mais alarmante nível de decadência

e cria a burocratização. As falhas não poderiam ser ocultas apenas com a inauguração do

Museu Nacional. (AZURIN, 1999, p. 63).

Foi grande a possibilidade de se manifestar a cultura ao querer reafirmar a identidade

nacional. Mas, apesar de ter sido sentimental, o entusiasmo inicial foi se diluindo. Resultado:

jamais se formulou uma política cultural coerente. As tímidas iniciativas se apresentaram

como impulsos isolados, executando-se, apenas, a criação do “Consejo Nacional de Ciencia y

Tecnologia” (CONCYTEC).

Em 1986, como medida paliativa, o Estado peruano organizou a “Semana de

Integración Cultural Latinoamericana”15

que só significava para o país, um desperdício de

energias, dinheiro, tempo e recursos humanos. Isso causou grande redução do orçamento,

destinado à cultura. (CORNEJO, 1997, p. 74).

Em 1989, o INC foi submetido a uma nova reorganização (RJ 626-INC) argumentou-

se que havia deficiências na sua organização e em sua estrutura. Houve a necessidade de

introduzir modificações e realizar uma reestruturação. Sob o pretexto de uma pretendida

descentralização do INC, proliferaram institutos regionais e provinciais, havendo também

como a contratação de promotores culturais.

Nessa época, a influência político partidária do governo de García e converteu o INC

em uma das mais burocratizadas instituições do país, começando-se daí uma grande incerteza

sobre seu destino durante a próxima década.

Em apenas 19 anos, o INC passou por três reorganizações que contribuíram para

consolidar a instituição cultural. A filial do INC em Cusco passou por um número maior de

reorganizações. O seu vasto patrimônio, material e imaterial, gerou uma grande experiência

na condução do patrimônio cultural da região, experiência essa acumulada desde os anos 20 e

30, do século XX quando existia o Patronato Regional de Cultura.

Esse aspecto inverossímil destacou o aspecto da preservação, como nenhum outro. O

que na realidade se tornou positivo para a cidade foi o fato de se realizarem vários tipos de

intervenções em toda a região. Graças a essa experiência acumulada, muitos monumentos

podem hoje ser vistos apesar de as políticas públicas não terem sido dirigidas ao patrimônio

cultural, em diferentes governos.

15 O evento gerou a nova canção popular latino-americana, a literatura, as artes plásticas, o folclore e o cinema. Baseando-se nisso, o governo de Garcia pretendeu realizar as semanas de integração cultural e institucionalizá-la com a criação de um organismo: o “Consejo de Integración Cultural Latinoamericana” (CICLA) (RS 0216). Destacaram-se o “Primer Seminário Internacional de Historia Latino-americana” sobre o tema Integração Latino-americana e Nacionalismo, o “Encontro Latino-americano de Folklore” e o “III Curso Internacional para Promotores e Animadores Culturais” que tiveram como tema: A promoção da cultura e da sociedade Latino-americana. Este evento reuniu 150 promotores e animadores culturais do Peru e da América Latina.

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Outro fator que tem contribuído para essa crise institucional foi que o cargo de

diretor do INC, desde 1972 até depois de 1990, estava sendo designado pelo centralismo

como ‘cargo de confiança’ e ocupando pessoas do partido do governo, em vez de idôneas na

área, o que gerou mudanças, retrocessos e modificações na condução das políticas culturais.

O INC Regional de Cusco, como órgão descentralizado, com autonomia econômica

financeira e administrativa, ao longo dos anos, permitiu um crescimento burocrático por conta

dos recursos gerados e um crescimento institucional desordenado, com o que houve um

colapso dos sistemas administrativos.

Esse processo provou a inexistência de um modelo de planejamento estratégico-

institucional, dentro da sequência lógica de intervenção no patrimônio, com políticas de

geração cultural mas com uso deficiente dos recursos econômicos (REVILLA, 2010, p.3).

No INC Regional de Cusco, realizaram-se atividades de intervenção no patrimônio

cultural, cujo orçamento total se distribuía assim: na conservação e restauro 63,62%, na

pesquisa 12,87%; na difusão didática 7,67%; na proteção 5,31% e no apoio administrativo

para todos eles 10,53%.

Estudos recentes confirmaram a tônica das atividades desenvolvidas pelo INC que,

durante a década dos anos 80, iniciou esse processo consolidando-se nas seguintes duas

décadas. Devido a estas estatísticas pode-se deduzir que a instituição, com suas próprias

rendas, captadas, superaram seus problemas. Isto leva a pensar que tudo seria superado,

porém o nível de metas físicas não tem acompanhado um ritmo em condições ótimas o que

resultou em certo grau de ineficiência nos gastos.

Bermúdez, Vianney e Giralt (2004, p.19) afirmam que as atividades desenvolvidas,

tradicionalmente, na intervenção do patrimônio foram vistas desde perspectivas disciplinares

independentes e, usualmente, não interligadas. Daí o resultado ter sido parcial e incompleto.

Esse modelo devia seguir uma ordem lógica, porque a respeito do patrimônio se pesquisa, ele

é protegido, conservado e restaurado para, finalmente, ser difundido ou submetido a processos

didáticos.

Os trabalhos de Conservação e Restauro realizados pelo INC, durante as últimas

décadas do século XX, também se têm dedicado a labores de inventário, registro e cadastro,

manutenção, controle e vigilância de monumentos arqueológicos.

Também foram realizados trabalhos de emergência em monumentos,

acondicionamento e conservação, elaboração de expedientes técnicos para sua valorização,

restauração e valorização de bens imóveis e móveis, supervisão de obras de restauração e

liquidação de obras.

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Todo esse conjunto de atividades se realizou de forma contínua, mas que, por

questões burocráticas, e do aparelho estatal a execução orçamentária sempre acabava

resultando menor do que o programado.

O INC realizou pesquisas na área, mas de forma isolada. Por um lado, não seguiu um

processo de pesquisa antes da etapa de restauração e valorização de monumentos. Por outro

lado, houve pesquisas realizadas isoladamente, isto é, não tiveram finalidade determinada.

Esta instituição, por descuido e falta de decidia das autoridades, por não contar com

um arquivo acorde às exigências para cada material, deixou perder ou desaparecer valiosa

informação entre os vários tipos de documentos, tais como: projetos, relatórios, plantas baixas

e fotografias antigas e muitos outros sobre a memória da própria da instituição.

O acervo de tão importante instituição cultural foi muito descuidado. Muitas

informações das décadas dos anos 50, 60 e 70, não são encontradas facilmente, devido à falta

de uma sistematização e informatização para cada tipo de documento.

Ainda na atualidade os documentos mais antigos e recentes estão espalhados em

diferentes locais. Esta instituição, hoje (2013), ainda não possui um centro de informações

para todas as áreas culturais que merece. Uma falência administrativa que traz desde a sua

criação.

Quanto à difusão e didática, pode-se assinalar que os documentos,16

produzidos

desde os primeiros anos do INC correspondem a alguns relatórios anuais, expedientes

técnicos, relatórios finais de obra entre os principais.

Com o passar dos anos, poucas publicações se produziram para difusão. Durante a

década dos anos 80, a produção de variados temas nas áreas da arquitetura, história e

arqueologia entre outros, foi aumentando em número, na medida em que a arrecadação anual

da instituição também aumentava.

Para a difusão e a venda, a direção do INC em cumprimento a um dos seus objetivos

decidiu abrir uma livraria que hoje cumpre o papel de venda, não apenas para as últimas

produções escritas, mas também para áudios, vídeos, entre outros objetos.

Entre outras atividades que realizou o INC destaca-se a manutenção e conservação

de objetos para museu, bem como prestar serviço a um público nacional e internacional. Este

serviço recai no prestígio e renome ganho e pela grande experiência adquirida, ao longo dos

anos, das tantas obras realizadas de qualidade não apenas na Região de Cusco. Algumas filiais

16 O INC possui uma biblioteca principal e outra virtual localizada no Distrito de Machupicchu, que realiza uma dupla função: revisar documentos antes de publicar-se e dar assistência técnica para o funcionamento das Casas de Cultura de cada província da Região.

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da instituição foram abertas para dar atendimento a essa demanda em quatro distintos

lugares17

.

Quanto à proteção do maior patrimônio da cidade, o INC tem trabalhado sempre com

o Centro Histórico, através de processos de qualificação e avaliação, inspeções de expedientes

técnicos e acompanhamento de obras.

Este instituto implementou planos mestres para as localidades de Machupicchu,

Saqsayuamán, Ollantaytambo, Pisac, Raqchi, Tipón, Chinchero, bem como formulou o plano

mestre do Vale Sagrado dos Incas e do Vale Sul.

Trabalhos de verificação, notificação e paralização das construções, adequações e

restaurações de diferentes imóveis, desde casas simples até grandes propriedades civis e

religiosas, não tem sido tarefa simples para o INC.

Cusco, por ser principal destino turístico internacional e nacional, vem aumentando

ano a ano o fluxo de turistas, demandando serviços hoteleiros e de infraestrutura, o que tem

levado a grandes empresários a depredar o patrimônio cultural, inclusive em zonas

intangíveis18

.

O desejo de construir tem se tornado obsessão dos investimentos. Estes foram com

consentimento da Lei, sob influências, inclusive que iam desde as grandes esferas nacionais,

do governo central como do próprio INC nacional (INFORME..., 2006).

Durante as décadas 70 e 80, o INC Cusco soube levar à frente grandes relações com

diversas instituições internacionais voltadas para o campo da restauração. A capacitação de

profissionais passou a ser um pilar fundamental nos diversos ramos do restauro.

Assinou convênios com a UNESCO, com a Agência Espanhola de Cooperação

Internacional (AECI), com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

com a Organização de Estados Americanos (OEA) e, principalmente, com o Projeto Regional

de Patrimônio Cultural PNUD/UNESCO.

Este instituto participou da execução de projetos de restauração, em parceria com o

Plano COPESCO e com o projeto PER 71/539 para constituir a Unidade Especial Executora

do INC. Dessa forma, a UNESCO enviou a Cusco numerosas missões de especialistas

internacionais em conservação e restauração de monumentos e obras de arte, arqueólogos e

museólogos.

17 Essas atividades estão a cargo do: Museu Regional Histórico (Casa do Inca Garcilaso de la Vega), Museu de Santa Catalina em Cusco e fora da cidade, no Museu de Chinchero e no Museu de sítio de Machupicchu.

18 O caso mais conhecido é o Hotel Machupicchu e Soraypampa em zona intangível. Já no CH de Cusco estão convertidos para fins turísticos o seminário San Antonio (Hotel Monasterio), a Casa dos 4 Bustos (Hotel Marriott), o Convento de San Agustín (JW Marriott Hotel Cusco) que é o mais recente, entre outros que não param as obras com os mesmos objetivos.

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Esta organização mundial também doou equipamento especializado para o Atelier

Experimental de Restauração de Obras de Arte do Cusco (AZEVEDO, 2009, p. 137).

Foi o Projeto Regional de Patrimônio Cultural que, com os cursos de Restauração de

Monumentos e Obras de Arte, dirigidos a candidatos de países andinos os quais, de 1975 a

1981, capacitaram a arquitetos, historiadores, arqueólogos, antropólogos, engenheiros e tantos

outros profissionais das áreas relacionadas. Entre peruanos e estrangeiros, grande número de

trabalhadores, principalmente do INC, foram os beneficiados na formação da especialidade.

Nessa época, também despertou considerável interesse da UNESCO a formação de

especialistas no mundo. Citam-se como referências na América Latina, Churubusco no

México, e Cusco no Peru. Esferas análogas, não só da África na Nigéria, senão também da

Ásia formaram outros centros de capacitação similares. (UNESCO, 1979, p. 5)

Devido à crise política e a instabilidade no país, o aparecimento dos grupos

terroristas que provocaram pânico e medo na Região de Cusco, a cidade não oferecia

garantias, nem segurança para seus habitantes, muito menos para estrangeiros, motivando a

desativação dos cursos internacionais e sua descontinuidade daí por diante. Lamentável perda

para o país de um grande Centro Formador como foi Cusco.

O que deixaram esses cursos de formação foi ter conseguido uma cumplicidade da

capacitação teórica e a prática. Grande acerto para a mão-de-obra especializada que começou

a laborar em diversas obras e projetos. Passou-se uma década e todo esse contingente de

profissionais, preparados, já haviam adquirido experiência suficiente e foram colocados à

prova em 1986, quando um sismo de grande intensidade surpreendeu a cidade de Cusco.

Os monumentos pré-hispânicos, coloniais e republicanos de propriedade pública e

particular foram atendidos com profissionalismo. Todo proprietário que solicitou ajuda,

recebeu orientação e assessoria antes, durante e depois dos projetos que desejaram realizar

intervenções, em tempo recorde, para evitar erros procedimentais. O serviço de consultas e

assessoria, desde então, foi institucionalizado, até os dias de hoje, como gratuito.

A equipe do INC, com todos os recursos humanos, conseguiu atender a tamanha

tarefa com inspeções dentro da área monumental e nos arredores, a fim de verificar um

comprometimento patrimonial. Demonstrou-se, assim, a maturidade de como se agir dentro

do CH, inclusive para o caso dos projetos denominados de ‘obras menores19

assim como

edificações novas’ que não foram à exceção. Mesmo nessas condições, todos os projetos

estavam com soluções em concordância com as normas vigentes.

19 “Obras Menores” são chamadas assim a toda intervenção que implica em pequenas modificações que podem vir a ser: a abertura de vãos (portas e janelas), manutenção de telhados até a simples conservação e restauração de elementos ornamentais, pisos ou muros, mas sem comprometer as estruturas. Em alguns casos as obras menores consistem no melhoramento de redes sanitárias e elétricas, limpeza da carpintaria metálica e de madeira bem como a repintagem de fachadas, entre outras,

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Ainda no período militar, em 1975, seria outro ano também importante para o INC,

porque assinou-se um convênio com o plano COPESCO e que, seguidamente, iniciaria um

labor massivo de valorização de monumentos. Em função do trabalho e da dedicação

exclusiva requerida, foi criada a “Unidad Especial Ejecutora” (UEE) do INC para o

‘Subprojeto de Valorização de Monumentos’ do Plano COPESCO. (RM 4403-75-ED).

Para Revilla (2010, p.167), o INC de Cusco tem gerado uma vasta experiência na

condução do patrimônio cultural na região, a instituição cresceu significativamente ao longo

dos anos, baseada nos seus recursos arrecadados (fruto da cobrança para o acesso aos

monumentos arqueológicos).

Tudo isso tem gerado mão-de-obra qualificada de profissionais técnicos e operários,

dado a um trabalho especializado alcançado, principalmente, na restauração e valorização dos

bens móveis e imóveis.

Mas a instituição esteve acompanhada de limitações organizacionais e não respondia

a um elevado crescimento financeiro que vinha desequilibrando a organização. Isto tornou,

mais lentos os sistemas administrativos, por existir carência de infraestrutura e equipamento

para otimizar os serviços. O processo, não se modificou, em essência, durante a década de

1990.

6.5 Papel do Projeto Especial “Plan COPESCO”

A “Lei de Promoção para o Turismo”, dada em 1931,20

inicia as origens de

desenvolvimento ao turismo no Peru. Desde essa época, o Estado peruano cria órgãos

públicos e delega tarefas para organizar e promover o turismo em todo o âmbito da nação,

mas com resultados pouco esperados. Com o transcorrer dos anos, a ideia foi consolidando-se

como sendo de urgente necessidade, de utilidade pública e de interesse nacional.

Em 1964 ao ser criado a “Corporación de Turismo” (COTUR21

) teve categoria

jurídica de direito público, com autonomia, com relação funcional ao Ministério de Fomento e

com rendas do Estado. A COTUR esteve empenhada em levar à frente a política do Estado,

dando passos firmes e determinados para dar o grande salto ao instituir o ‘Plan Turístico

Cultural PERU UNESCO’ mais conhecido pelo “Plan COPESCO”.

20 Dada por Lei no 7.663 em 03 nov. 1932. Por RS de 2 mar. 1937 se nomeia o ‘Comité Organizador para el Desarrollo del Turismo en el

Perú. Em 1939 encarrega-se ao "Automóvil Touring Club del Perú" para organizar e executar da publicidade e promoção do turismo no país, por Lei no 9.031 (Gravame à importação de coches e pneumáticos, Art. 2do.). Em 1946 por Lei no 10.556 de 30 abril cria a "Corporación Nacional de Turismo" para desenvolver e promover o turismo (impostos do: 2% nas passagens que deixam o território nacional; 1% às passagens aéreas, marítimas e as ferrovias e 5% às notas fiscais emitidas pelos hotéis); com o DS de 27 out.1950, novamente o "Automóvil Touring club del Perú" continua com a tarefa.

21 COTUR, a ‘Corporación de Turismo del Perú’. É um Escritório de Corporação técnica criada por Lei 14947 em 6 mar. 1964.

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207

A ‘Corporación de Turismo’ do Peru, empenhada em conhecer “as possibilidades de

desenvolvimento do turismo peruano”, por volta de 1968, considerou pertinente a realização

de um estudo sobre o caso. Encarrega essa tarefa a Risch, consultor do Banco Interamericano

de Reconstrução e Fomento (BIRF).

Este consultor recomendou e identificou, após seus estudos, que a Região Sudeste e a

meseta do Peru, no eixo “Cusco-Puno”, deveriam ser introduzidas no turismo, levando em

consideração os atributos favoráveis e onde deve-se implantar qualidade de serviços

(UNESCO-COPESCO. 197-, p. 64).

Segundo a OEA (1976, p. 6), o eixo sugerido era “susceptível de ser desenvolvido,

utilizando-se os extraordinários recursos turísticos, arqueológicos, culturais, e naturais que

possui”. De fato, para o Estado peruano era de grande interesse estabelecer as bases de

integração física, econômica e social entre Cusco e Puno, com investimentos ligados ao

turismo. Entre outros aspectos esperados, devia-se permitir um processo de assentamento

populacional racional no eixo, provendo de serviços sociais (moradia, educação e saúde), com

ênfase nas zonas rurais.

Pretendia-se conseguir, mediante a exploração dos recursos abundantes da zona um

polo de desenvolvimento nacional, que aumente a produção, estabeleça setores prioritários e

centros dinâmicos econômicos. Tudo isso permitiria diminuir os índices de desemprego e

subemprego, urbanos. Nesse sentido, o Estado peruano, visando explorar o potencial turístico

solicitou formalmente, à UNESCO a realização de estudos e colaboração técnico-econômica.

Este organismo internacional aceitou a petição peruana e designou um especialista

(Alí Vrioni22

) para realizar os estudos do caso. A partir das informações de Vrioni, se

confirmou que o eixo “Machupicchu-Cusco-Puno” formaria parte de um “Plano Peruano de

Desenvolvimento Turístico”, que teria uma rentabilidade assegurada, e satisfatória, de

investimentos turísticos23

.

A UNESCO apresenta no Peru através de Engel24

, a confirmação do projeto turístico

que ratifica em grande parte a Vrioni, mas ampliando o eixo de inversão turística

compreendido entre as localidades de “Coribeni-Quillabamba-Cusco-Puno-Desaguadero”,

enfatizando o grande trabalho a ser realizado em restauração e conservação de monumentos.

Sob essa confirmação especializada, o Estado peruano enfatizou seu propósito de

estabelecer um projeto turístico para a zona de Cusco-Puno, ao criar (RS 993-66), a Comissão

22 Vrioni era Diretor de Operaões da UNESCO em 1966.

23 Ver também: Preservation of Monuments and Other Cultural Property in Connection with the Development of Tourism. ICOMOS: International Council on Monuments and Sites. General Assembly. 1969.

24 Este enviado pela UNESCO leva ao Peru o relatório final com as diretivas da segunda comissão encarregada por este organismo internacional. Ver também: Peru: Protection and explotation of historical Monuments. ICOMOS.

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Coordenadora do “Plan Cultural Turístico PERU-UNESCO” (PLAN COPESCO, 2004, p.3)

para levar adiante a concreção do projeto Turístico para as regiões de Cusco e Puno.

Daí por diante, o Projeto do Plano de desenvolvimento COPESCO envolveria

programas de equipamento Turístico, Transportes, Infraestrutura de Serviços (Energia Elétrica

e Esgoto Rural), Valorização de Monumentos e Assessoria Técnica.

A seguinte tarefa foi conseguir financiamento do BID. Para esse fim o Estado

peruano solicitou estudos ao PNUD para o desenvolvimento do Turismo. Em 1968, uma

missão composta pela UNESCO e o BIRF propuseram ao PNUD estudar o potencial turístico,

enfatizando a oferta e a procura e seu impacto na economia, os investimentos para o futuro,

bem como, a criação de um Programa Nacional de Turismo. (UNESCO-COPESCO, 197-,

p.6)

O interesse para desenvolver o Turismo levou a outros estudos, em paralelo25

. O fato

é que o governo militar, em 1969, aceitou as recomendações da missão anteriormente citada.

Dessa forma, o governo da época estabeleceu, dentro de suas políticas, um Plano de

Desenvolvimento (1971-1975), com a pertinência de incluir o turismo como uma função

social para um desenvolvimento regional.

O Relatório da missão abordou o turismo desde uma perspectiva mundial e na

América do Sul, para tratar o caso do Peru. Determinou seus mercados potenciais e,

finalmente, as suas zonas e atrativos turísticos26

no corredor Cusco Puno (UNESCO-

COPESCO, 197-, p.195).

O Estado, para tratar diretamente com as agências internacionais de financiamento,

criou a Comissão Especial (DS 01-69-IC/DS) para coordenar e vigiar atentamente o Plano

Turístico e Cultural PERU-UNESCO (PLAN COPESCO).

Nos anos seguintes terão lugar uma série de ações prévias para solicitar o

empréstimo com missões de orientação, análises de dados, documentação para o BID e

preparação dos termos e condições do projeto.

É 1973, e o governo de Velasco cria uma Secretaria Executiva Permanente do

Ministério da Indústria e Turismo, através do DL no 20.176, para executar os projetos de

infraestrutura turística estabelecidos no Plano Copesco (PLAN COPESCO, 2004, p.5).

25 Os estudos que seguiram o mesmo objetivo: Chechi &Cia. Las posibilidades de turismo en el Perù. Washington D.C.: 1965; Guzman, Teresa. Rutas al Cusco. Cusco: 1965; Copesco. Los mercados y la demanda para el desarrollo del turismo en el Peru. 1967; Arnold & Harriet Grenberg. South America on $5 a day. New York:Edition pub. Archur Fromner Inc. 1968/9. Copesco. Análisis y proyecciones en el Eje Cusco-Puno. Lima: 1971; Berger, Kunnac & Arconsult. Circuito turístico del Cusco. Estudio de factibilidad técnico-económico. Cusco: 1972. Copesco. Desarrollo regional en función del Turismo. Estudio económico financiero. Cusco: 1972. Copesco. El mercado turístico europeo para viajes a América del Sur y en particular al Perú. 1972.

26 Os atrativos turísticos foram agrupados em “Monumentais” (Arqueológicos e Histórico-Artísticos); “Folclóricos e Artesanais” (Festas Populares, Feiras e Mercados, Arte Popular e Cozinha Típica) e “Físicos-Recreacionais” (caça, pesca, andinismo e outros).

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209

Este plano inicia suas atividades, a partir de 1974, logo após de ser regulamentado

pelo DS 002-74 IT/DS e, consequentemente, define duas etapas de trabalho, em função dos

empréstimos internacionais conseguidos: o primeiro entre 1974-1982, e o segundo entre

1983-1990.

6.5.1 Primeira Etapa

O “Desenvolvimento Turístico em Cusco e Puno” seria iniciado a partir de um fundo

global de US$ 72,4 milhões de dólares, onde a contribuição do Estado peruano cobriria 59,5

% (US$ 43,1 milhões de dólares) e apenas 40,5 % seria coberto pelo BID equivalente a US$

29,3 milhões de dólares27

.

Através do DL no 20.651, o Estado Peruano autoriza conveniar contratos de

empréstimos com o BID. O banco, sabendo que o destino turístico tem muitas possibilidades

garantidas, no relatório anual de 1974, indicou como sendo positivo o empréstimo concedido

ao Peru, devido a que:

O Peru possui algumas das mais extraordinárias atrações turísticas do hemisfério ocidental, entre as que se conta a cidade incaica de Machupicchu, a pesar de contar apenas com 0,7 por cento do tráfego turístico mundial, e com só com 9,6 por cento do turismo de América Latina. (UEE-INC…,1980. p. 6.)

A UNESCO, contribuiu muito para que Peru promovesse o resgate do patrimônio

monumental e cultural através dos recursos turísticos cujas atividades do COPESCO

começariam só a partir de 1975.28

Financiaram-se, em parte, os projetos de equipamento

turístico, transportes e valorização dos monumentos. Para o caso específico do “Subprojeto de

Valorização de Monumentos” recebeu 7,5 % da totalidade, destinada ao Plano COPESCO.

A Direção Executiva do Plano COPESCO e a Direção Geral do INC subscreveram

um convênio29

de forma exclusiva para a execução do “Subprojeto de Valorização de

Monumentos” as quais receberiam também assistência técnica do PNUD e da UNESCO para

essas obras serem executadas por administração direta.

Dessa forma, o INC cria a “Unidade Especial Executora” que se encarregaria de

realizar os trabalhos do Subprojeto. Este contemplaria os aspectos operacionais, sujeitos a:

27 Em 13 de junho de 1974, foi aceito o empréstimo do BID particularizando-se (268/OC-PE por US$ 26,5 Milhões ao 8 % para 20 anos) com recursos ordinários de capital e (400/SF-PE por US $ 2,8 Milhões ao 2% para 25 anos) com o fundo de Operações Especiais.

28 O primeiro desembolso econômico do BID foi programado para o 13 de março de 1975. 29 O convênio foi assinado em 9 de setembro de 1974 onde se estabelecem condições, responsabilidades, níveis de coordenação

administrativa e técnica bem como normas e procedimentos pra a execução do Subprojeto.

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desembolsos; inspeção e supervisão financeiro-administrativa; relatórios e a responsabilidade

e supervisão do trabalho de campo.

O anexo do convênio acompanhava uma descrição técnica das obras contempladas.

Ao mesmo tempo houve uma descrição dos trabalhos, realizados, anteriores ao Plano

COPESCO e um cronograma de 27 obras para 36 meses (início em abril de 1975 e término

em dezembro de 1977). (Tabela 26 em Apêndice)

Apesar da existência de um cronograma de obras pré-estabelecidas para a execução,

aconteceram atrasos e paralizações devido a vários fatores: o clima da região, chuvas que

começam durante o mês de novembro e chegam até abril. O Tesouro Público não chegou a

conceder, ao Plano COPESCO, os recursos previstos, devido á situação econômica do país.

Os fundos estabelecidos, inicialmente, passariam a ser insuficientes, devendo ser

reestruturados pelo BID. Como consequência de tal proposta o COPESCO e o INC deveriam

estabelecer uma nova lista de metas de acordo com as possibilidades e a experiência do

momento.

Em junho de 1977, o BID aprovou uma lista reestruturada de monumentos para sua

intervenção, reduzindo-se, desta vez, a somente 20 obras (Tabela 27 em Apêndice) que

obedecia à visão de que alguns monumentos, considerados inicialmente no “grupo dos 27”,

tinham menor qualidade, do que outros, localizados perto das vias de tráfego, o que facilitaria

o acesso e a visita.

Em alguns casos, obras de infraestrutura, feitas por COPESCO, localizavam-se perto

das novas prioridades, sendo possível a sua valorização com menor investimento. E, em

outros casos, por apresentarem melhor estado de conservação do que o “grupo dos 20”.

De modo geral, a participação e o desprendimento do governo peruano foram

positivos ao colocar como contrapartida do Tesouro Público, um valor acima do conveniado,

alcançando um total de 68.80% da contribuição total para a primeira etapa. Em efeito, foram

comprometidos US$ 43,1 milhões que, finalmente, chegaram aos 64.635.000 milhões. No

entanto, o BID cobriu os 31,19 %, sem modificar o valor conveniado (US$ 2,8 milhões).

É solicitada, por volta de 1981, uma avaliação pelo governo peruano ao BID, soube-

se que o projeto, ao longo dos anos, teria muitas questões a serem reformuladas. Essa tarefa

foi levada a efeito pela “Oficina de Evaluación de Operaciones” do BID (OEO) abordando

todos os temas.

Estes temas foram agrupados assim: a Economia Regional; aspectos gerais e

impactos do projeto; a distribuição dos custos do projeto; o emprego durante a fase de

construção; os benefícios das estradas concluídas; finalmente, o turismo e o setor privado.

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211

Por um lado, o contexto em que se desenvolveu o COPESCO, dentro da economia

regional, ressaltou o predomínio da agricultura que representava 30%, e o setor turístico que

apenas chegava a um 1,5 % em 1975. E, por outro lado, dentro da economia nacional, o

governo Central, empenhado em realizar grandes projetos de investimento30

, principalmente,

ao longo da costa litorânea peruana, deixou com poucas possibilidades á região da serra.

Esta foi, consideravelmente, afetada no seu desenvolvimento pelas medidas de

austeridade assumidas pelo Estado. O COPESCO não realizou nenhum programa de

melhoramento ou revitalização da agricultura durante esse período inicial. (PLAN

COPESCO, 2004, p.6).

A “Oficina de Evaluación de Operaciones” afirmava que, durante o período do

Projeto, a economia sofreu o impacto de dois grandes traumas exógenos. As repercussões da

Reforma Agrária (1969) causaram deslocamentos importantes, em curto prazo, à produção

agrícola e a Crise Econômica Nacional (1976). Esta elevou uma inflação em cinco vezes a

mais, ao terminar o decênio.

Ao longo desse período, o projeto mostrou mudanças significativas no seu desenho e

direcionamento porque enfatizou a infraestrutura viária, mas não fez o mesmo com o

equipamento turístico31

. Por exemplo, os saldos não usados no orçamento do equipamentor

turístico, após uma reestruturação de todo o projeto, passaram ao Sub-projeto de

Transportes32

.

As demoras e mudanças, no projeto, em alguns casos deviam-se ao desenho

inadequado, além da falta de fundos de contrapartida, proveniente da crise que tornava mais

crítica a problemática. Dentro desse panorama, um impacto positivo ao terminar o decênio

consistiu em ter gerado empregos33

, vinculados à construção. Inicialmente foi objetivo

principal ex ante34

do Plano COPESCO (SIMONSEN e CYSNE, 1989, p. 167).

Nesse mesmo esquema, também o setor privado reagiu positivamente aos

investimentos realizados pelo Plano ao se desatar a “construção de hotéis” e de serviços afins

e conexos que se tornou uma mania na cidade de Cusco.

Ao final da primeira etapa do projeto, os custos de investimento entre as Regiões de

Puno e Cusco, foi o primeiro, que realizou maior percentagem de gastos (58%), enquanto o

segundo alcançou o restante do total 42%. Essa informação chamou a atenção por ser Cusco,

30 Para o Estado Peruano o Investimento Público, entre 1970 e 1975, foi de 2 %, alcançando o 41 % entre 1976 e 1980. 31 Causou impacto quando deixou-se de construir os dois maiores Hotéis da região (Machupicchu 400 camas e Cusco 600 ambos

previstos significativamente para gastar US $ 10,5 milhões). Esses orçamentos passaram a formar o grupo de excedentes financeiros. 32 A demora de três anos para a sua conclusão demonstrou, mesmo assim, altas taxas de rentabilidade econômica. 33 Segundo a OEO do BID tinha calculado “7.000 anos/homem” mais do dobro esperado durante as suas projeções. Aproximadamente,

50 % de todos os benefícios do setor privado, derivados das estradas favoreceram aos grupos de menores rendas. 34 Em economia, o termo “ex ante” indica o que os agentes econômicos desejam ou esperam fazer.

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o centro turístico mais importante da região. Sua explicação estava sustentada no adiamento

da construção dos hotéis de ‘Machupicchu’ e de ‘Cusco’. (PLAN COPESCO, 2004, p. 9).

O ano de 1976 representou os maiores gastos de investimento, devido ao fato de ser

o primeiro ano de operações. Em 1977, o custo do investimento foi o maior de todos os anos,

reduzindo-se em 1978/1979. Em consequência, em grande parte, foi crise financeira nacional

que restringiu os fundos pagos, em contrapartida.

É claro que houve uma demora, ao iniciar várias obras importantes. Mas devido à

flexibilidade do banco para as obras que se encontravam em andamento, o impacto foi

mínimo, devido à aplicação da política “pari passu”35

para os desembolsos.

O aspecto positivo, mais ressaltante, do tópico “Emprego” foi que a mão-de-obra não

qualificada teve acesso à Região de Cusco. Por um lado, do total das obras executadas em

Cusco requereu-se esta mão-de-obra em 56 % e Puno o restante. Por outro lado, houve

geração de empregos em cada região. Cusco alcançou 61 % e a Região de Puno 31%.

Globalmente para as duas regiões durante o período 1975 a 1982 houve o equivalente

a uma média de 1045 empregos/ano havendo superado largamente aos projetados durante a

etapa de formulação do projeto que foi de 500 empregos/ano. Sem considerar outros

empregos que se geraram adicionalmente durante os trabalhos de Acondicionamento Urbano

e Esgoto Rural.

No tópico ‘Estradas’: as rodovias já estavam terminadas quando se iniciaria a

avaliação do “Oficina de Evaluación de Operaciones”, demonstrando que a sua análise

obedecia ao uso do método “custo-benefício ex post”.36

O crescimento do tráfego e sua

manutenção no futuro, com as alternativas e hipóteses avaliadas, deram como resultados

quatro trechos viáveis.

Os circuitos: (1) Chucuito-Ilave, (2) Ilave-Juli (3) Puno-Desaguadero os três em

Puno e (4) Calca-Urubamba em Cusco. Este último era completar o lanço final que

compreendia o Vale Sagrado dos Incas (desde Cusco-Pisac-Calca-Urubamba-Ollantaytambo

e outro mais direto Cusco-Urubamba).

Os circuitos justificaram a sua construção durante o período, mas o lanço Urubamba-

Ollantaytambo resultava ser quase quatro vezes superior ao custo normal projetado, o que

35 “pari passu”, Conceito tomado do latim que se refere, no campo das finanças, a dois ou mais empréstimos, obrigações, ou séries de ações preferenciais que têm direitos iguais a serem pagos ou tendo mesmo nível de antiguidade. Compromisso adquirido pelo emitente de um empréstimo, consubstanciado em obrigações. Os credores futuros não darão garantias ou condições mais favoráveis, sem colher os benefícios para os adquiridores do empréstimo.

36 Em economia, em função da prática dos agentes econômicos e dos seus desejos ou planos o método de análise apresenta três alternativas: a “mínima”, “provável” e “máxima”. As avaliações, para cada alternativa mostram possibilidades dentro de margens que permitem ao avaliador apresentar os benefícios alcançados e afirmar, ou não, a sua legitimidade e custo-benefício.

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213

levou este lanço a ser construído na Fase II do Plano COPESCO, junto ao estabelecimento de

uma estação ferroviária para turistas na localidade de Ollantaytambo.

O aspecto turístico e o setor privado analisado pela OEO foram considerados de

pessimistas durante os cálculos da preparação do projeto, devido à postergação do

financiamento dos hotéis em Cusco e Machupicchu.

De um lado, o aparecimento imprevisto de edificações construídas para o alojamento

e o crescimento acelerado dos locais de hospedagem particular, era suficiente para atender à

demanda turística prevista.

De outro lado, os antigos fazendeiros que usaram as indenizações, recebidas pelas

suas terras em forma de garantias para empréstimos de reabilitação de propriedades (inclui a

conversão dos edifícios existentes), contribuíram para o crescimento da atividade hoteleira em

pequena escala.

Na verdade, o turismo expandiu-se com uma taxa anual média próxima a 20% em

Cusco. Havia-se registrado uma renda de US $ 4 milhões em 1972 e que alcançou os US $

19.536.000 milhões em 1979,37

fato que levou a OEO a afirmar que o objetivo do projeto

tinha sido atingido.

Evidentemente, os ingressos em divisas ao país expandiram-se aceleradamente com

serviços vinculados ao turismo como agências de viagem, restaurantes, lojas de lembranças

dentre outros. Mas a sobrevivência do setor de alimentos não respondeu com o mesmo

dinamismo. A Reforma Agrária foi a responsável pelo estancamento do abastecimento

alimentício desorganizando também, em parte, as etapas estabelecidas da produção. As

deficiências no abastecimento local eram notórias, porque a produção não era dos arredores

da Região de Cusco, mas de Puno.

Conclusivamente, a OEO (2004) anunciou que eram necessários “novos

investimentos que permitissem, fundamentalmente, consolidar, complementar e fortalecer o já

realizado”. Certamente, durante a etapa de formulação do projeto inicial, muitas ações foram

indeferidas por limitações financeiras.

Paralelamente, o governo buscava a reinserção do País no Mercado Financeiro

Internacional, bem como a recuperação das portas abertas, como país elegível para reiniciar as

gestões que estavam paralisadas a fim de obter o crédito para a segunda etapa. Assim seriam

previstos recursos requeridos, para consolidar um modelo descentralista de crescimento e

desenvolvimento regional visando, a inclusão da população pobre, evitando, assim, a

marginalização econômica e sociocultural.

37 A conclusão da “Oficina de Evaluación de Operaciones” do BID (OEO), remarca o modo positivo da inversão privada quanto a infraestrutura hoteleira onde os dados quantificaram-se com preços constantes do ano de 1973.

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6.5.2 A Segunda Etapa

Para COPESCO, o território do Peru, por possuir recursos arqueológicos, culturais e

naturais para serem explorados como alternativa válida para o turismo e permitir a sua

conservação, como patrimônio cultural e natural. Esta instituição considerou pertinente a

realização de um “Plano de Desenvolvimento Turístico” que envolvesse os Departamentos de

Cusco, Apurímac, Madre de Deus e Puno.

Foi assim que, em 1976, o Plano COPESCO solicitou à OEA realizar um estudo para

identificar projetos específicos para a sua II Etapa38

. Nesse ideal, estava-se materializando um

ambicioso programa de desenvolvimento, baseado no atrativo do seu patrimônio. Tudo isto

podia gerar rendas atraentes por meio do turismo. (OEA, 1976, p. 21).

Em 1977, estava pronta a documentação para o planejamento turístico, cujo objetivo

era identificar projetos específicos de desenvolvimento para implementar uma estratégia

turística regional. Esta estratégia delimitou o processo em duas fases: o Diagnóstico e a

Formulação de um Plano de Desenvolvimento Turístico.39

A primeira fase inclui um marco de referência e diagnóstico regional, atualizando o

estudo de mercado, analisando o patrimônio turístico e delimitando as zonas e áreas turísticas.

A segunda, fixou objetivos, metas, estratégias, programas e projetos com estudos de pré-

factibilidade.

A construção da rodovia Urcos-Juliaca em 1980 deu início às obras da II Etapa, com

recurso integral do Tesouro Público, alcançando a cifra de e US$ 34.329.677 onde se

enfatizou a execução de projetos para os subprogramas de Transportes, Acondicionamento

Urbano e Valorização de Monumentos.

Ao finalizar o ano de 1993, quarenta obras estavam prontas, incluindo os estudos

definitivos do Aeroporto Internacional a ser construído para a Região Cusco (localizado em

Chinchero Província de Anta), que representava 10,4% do que foi investido até essa data. E,

dos três subprogramas enfocados, em específico, foi o de ‘Transportes’ que alcançou 79,9 %

do total de obras executadas na região. Enquanto isso, 13,4 % correspondia à ‘Valorização de

Monumentos’, e 6,6 % foram destinados para o ‘Acondicionamento Urbano’.

38 Este estudo compreendia parte dos serviços de consultoria, em cumprimento do contrato de Cooperação Técnica e Localização de Serviços Profissionais. Contrato de Empréstimo 400/SF-P-C, do 1/07/1976. A OEA desenvolvia desde 1971 um “Programa de Desenvolvimento Turístico” denominado Sistema CICATUR.

39 Para a obtenção dos resultados aplicou-se o “Enfoque do Desenvolvimento Turístico”. Esse enfoque consistiu na utilização do setor como fator de desenvolvimento em colaboração com outros setores, naquelas regiões cujo potencial turístico e a escassez de outros recursos apresentam o turismo como uma alternativa válida.

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215

No subprograma ‘Transporte’, para a rede viária de estradas que abarcava a

macrorregião40

, pretendia-se uma maior integração do campo à cidade, articular os centros

urbanos e os atrativos turísticos, facilitar o transporte de passageiros com conforto, melhorar o

serviço e a forma de comercialização dos produtos agropecuários bem como poupar tempo,

combustível e conservar o parque automotor.

O eixo viário de estradas Quillabamba-Cusco-Puno-Desaguadero, executado por

segmentos, favoreceu a Região de Cusco,41

em menor escala a Puno42

, e para Madre de Dios

apenas uma rodovia de 6 km43

, deixando de lado a Região de Apurímac neste subprograma.

O Acondicionamento Urbano foi um investimento, que complementou propostas dos

programas de Transportes e Valorização de Monumentos e também contribuiu ao

desenvolvimento sustentável do corredor turístico Quillabamba-Cusco-Puno-Desaguadero.

Estava previsto ao longo do eixo mencionado, uma série de estudos urbanísticos,

para cada um dos povoados, compreendendo planos de ordenamento urbano para seu

regulamento e crescimento dinâmico. Este acondicionamento urbano definiu os equipamentos

necessários comunais, de vias, de serviços básicos e projetos especiais.

Esses povoados com potencialidades produtivas e especialização, níveis de

articulação econômica e social, que possuem valor histórico e/ou urbanístico e que vinham

sofrendo um processo de deterioração ou alteração, seriam preparados para sua recuperação e

conservação.

Especificamente, este subprograma contempla estudos e obras para permitir um

crescimento orgânico, dentro de um ordenamento territorial e urbano com previsão de estudos

urbanísticos para cada povoado. Esse subprograma, portanto, compreenderia planos de

ordenamento, para regular e planejar o crescimento dinâmico dos povoados e, ao mesmo

tempo, definindo o equipamento necessário a ser usado para o mesmo.

Dos estudos urbanísticos foram identificados projetos multi-setoriais agrupados em

vários tipos: comunal44

, turístico45

, de infraestrutura básica46

e projetos especiais47

. Para

40 A macrorregião compreendia as regiões (antes denominados de Departamentos) de Cusco, Puno, Apurímac e Madre de Dios. 41 Na Região de Cusco se construíram 256 km de estradas no total. A maior foi de 96 km (Urcos-Sicuani) e a menor de 2 km entre

Machupicchu Pueblo e Puente Ruinas). Executaram-se melhoramento no acesso ao Puente Ruinas-Conjunto Arqueológico de Machupicchu. Foi realizada a manutenção e Conservação das vias: Pisaq-Huambutio Huacarpay; construída as vias de acesso a Tipón e também para o circuito Cuatro Lagunas.

42 Em Puno construiu-se o lanço Sicuani-La Raya (36 km) e as vias de acesso Puno-Juli-Desaguadero (148 km) e Sillustani (17 km). 43 Em Puerto Maldonado construiu-se o acesso entre o Aeroporto e a cidade capital. 44 Projetos que têm o objetivo de satisfazer o déficit de serviços de atenção à população quanto à saúde, educação, provimentos, admi-

nistração, espairecimento, postos de saúde, locais educativos, mercados de provimentos, serviços sanitários públicos e outros. 45 Projetos que satisfazem os serviços, requeridos por turistas e visitantes, para captar maiores fluxos e apresentar uma boa imagem do

lugar como são: os “paradores” (paradas com serviços diversos incluindo restaurantes e pernoite); sinalização turística dos c ircuitos; centros de informação; áreas de estacionamento e centros recreativos.

46 Projetos para assegurar a estância e permanência do visitante/habitante em condições mínimas de habitabilidade. Todo o necessário para o melhoramento e ampliação dos serviços: água, esgoto, eletrificação, pavimentação, tratamento de praças e ruas entre outros.

47 Habilitação urbana, acessos, tratamentos paisagísticos, florestamento.

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alcançar esses objetivos e metas, nesta etapa, eram, de fato, investimentos necessários para

reforçar, complementar e fortalecer-se com projetos que os consolidem, visando atrair

investimentos pela diversidade turística e de resultar novos atrativos.

Cabe mencionar que todos os projetos identificados seriam investimentos, que

deveriam ser assumidos pelo Estado peruano em concordância com a suas funções e com o

setor a que pertencem. Estas instituições estatais estão representadas pelas Prefeituras, pelos

programas FONCODES,48

PREDES49

, INADE50

, INFES51

, dentre os principais, com exceção

do Plano COPESCO.

A realização dos projetos, pelo Plano COPESCO, era de extrema importância para o

Estado peruano porque, só dessa maneira estava contribuindo ao desenvolvimento da

macrorregião, de forma equilibrada e integral: estimulando as atividades e participação do

setor privado, captando divisas, elevando o nível de emprego e, com isso, principalmente,

fixando a população nos seus lugares de origem, ao melhorar suas condições de vida.

O Sub-Programa de “Valorização de Monumentos” que tratava de toda a riqueza

patrimonial, histórica, artística e cultural da macrorregião, soube equilibrar os problemas da

conservação, restauração, valorização do patrimônio e a sua relação econômica no contexto

social.

Este subprograma, para o Plano COPESCO, consolidou a sua política de: “controlar

e orientar” os edifícios, baseada numa diretriz que orientou no sentido de evitar a

desvalorização ou desconhecimento do seu significado o que poderia levar à perda desses

monumentos.

A interação entre o patrimônio das áreas urbanas e rurais, existentes, e em processo

de crescimento, não deveria se perder. Para isso, o plano COPESCO propõe a execução de

trabalhos de restauração e consolidação de estruturas, reposições de elementos arquitetônicos,

restauração de retábulos, entre outros, com o objetivo de salvaguardar, resgatar e recuperar o

patrimônio monumental, pré-hispânico e colonial.

Em 1982, é solicitado crédito para a II Etapa do Plano COPESCO, dentro do

programa de empréstimos 1982-1986 do BID.52

Esse ano o banco achou pertinente uma

avaliação “in situ” enviando duas missões denominadas: missão de ‘Orientação’, e de missão

48 FONCODES: (FONdo de COoperación para el DEsarrollo Social) dedicada a realizar obras de infraestrutura social (viária, educativa, de saúde, agrícola) fomentando o desenvolvimento produtivo e as capacidades da população.

49 PREDES (PREvención de DESastres) este Centro dedicado a elaborar planos de prevenção e redução de riscos para as cidades. 50 INADE, (Instituto NAcional de DESenvolvimento) organismo do Ministério da Habitação, Construção e Saneamento, conduz e

supervisiona a execução de projeto especiais localizados em zonas estratégicas, fronteiriças e binacionais da costa, serra e floresta. 51 INFES, (Instituto Nacional de INfraestrutura Educativa e de Saúde.) dedicado em exclusivo às necessidades próprias de cada setor. 52 O “Projeto Plano Copesco II Etapa” seria considerado pelo BID para o crédito. Ver: Carta do BID OP2-PE-532/82 (8/07/1982). Por

intermédio do Ministério de Economia e Finanças solicita-se um empréstimo ao BID. Ofício No 164-83-EFC/13 (26/05/1983).

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217

de ‘Análise’ para se obter o crédito procurado. A mudança de governo53

assim como o não

cumprimento do pagamento da Dívida Externa do país, em 1985, indeferiram a solicitação do

empréstimo.

O isolamento que a banca internacional fez ao Peru não permitiu, do governo, de

tomar outras atitudes, (a partir de 1990) nem de recuperar a elegibilidade do país para se

inserir no Mercado Financeiro Internacional. Isto é, de reiniciar as ações para obter crédito

internacional.

Ao iniciar a década de 1990, o Projeto Especial Plano COPESCO, até então

dependente do Ministério de Indústria e Turismo, é transferido para os Governos Regionais

(Inca e Mariategui) (DLegislativo 570-90). No mesmo ano, por Resolução Executiva

Regional (170-90-P-GRI) se declara, em Reorganização, a Direção Executiva do Plano

COPESCO.

Em 1991, o Governo da Região Inca declara o PLANO COPESCO, como Projeto

Especial Regional dependente do Conselho Regional (Resolução Executiva Regional

28.91.P.GRI). Nessa resolução, destaca que a partir do orçamento que o Governo Central

outorga ao Governo Regional, cria-se o cânone de petróleo e gás de Cusco, representando

grandes rendas para a região e seu desenvolvimento.

Em dezembro de 1992, novamente, se formula uma solicitação preliminar de Crédito

ao BID para financiar a Segunda Etapa. No entanto ao longo desses anos, o “Plano

COPESCO” tinha sido reformulado e atualizado à luz dos avanços, logrados na execução de

vários projetos e no processo de modernização da estrutura do Estado.

É em 1993 que o PLANO COPESCO, como Organismo Executor da Região Inca, é

aprovado pelo Governo Regional para continuar obras de médio prazo (1993-1997)

(Resolução Executiva Presidencial 1772-9J-PE-CTAR-RI), com orçamento próprio e com

opinião favorável por parte do Ministério de Economia e Finanças. Hoje (2013) o ‘Plano

COPESCO’ continua exercendo suas atividades.

53 O quinquênio 1985-1990 regido pelo Presidente Alan García Perez, (primeira gestão de seu governo) caracterizou-se pela pior crise econômica na história do país, com uma insólita hiperinflação. Daí o recrudescimento do terrorismo, liderado por “Sendero Luminoso” (movimento terrorista), e por diversos atos de corrupção que envolviam gente do próprio regime, repercutindo, em um grande descontentamento social e em crise em todos os aspectos no Peru.

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6.6 Extinção de Impostos e Fechamento da Corporação de Reconstrução e Fomento (CRyF)

Tomando como base o espírito da Lei no 12.800, (que facultou uma capitalização de

até 750 milhões de soles, num prazo não menor de 30 anos), verificou-se que, durante os

últimos anos da década dos 1960, a lei estava sendo cumprida, em virtude das políticas

realmente aplicadas e, mesmo apesar, das mudanças de governo.

Quando se cria o Fundo Nacional de Desenvolvimento Econômico (FNDE), a lei

complementar à Lei Orgânica do Orçamento Geral da República, objetivou investir,

sistematicamente, os recursos, estudos e execução de obras públicas de caráter reprodutivo e

de interesse social, para cada região do País. O Art. 29 estabelecia que as rendas da JRFIC

fossem incorporadas ao FNDE, na medida em que sejam executadas as obras públicas

correspondentes.

O exemplo foi percebido pelos cidadãos, porque as rendas produzidas pelas

mensalidades de aluguel e vendas das casas para operários, não seriam mais usadas em novos

investimentos de habitação e, sim, deveriam passar para os Fundos Nacionais.

Em consequência, se produziriam reclamações inclusive partindo de diferentes

autoridades. Segundo a Rif (1965, p. 6):

Cabe esta importante aclaração, por quanto se producen constantes reclamações de diversas Províncias ante a CRyF, desconhecendo o mecanismo legal que rege a conformación das distribuições orçamentárias como o estabelecimento das referidas prioridades […] Em consequencia la CRyF, não pode aumentar nem disminuir, nem preferir nenhuma Partida nem orçamento das obras públicas de Provincias; sendo por tanto unicamente planejadora, administradora, executora e controladora. (Tradução nossa)

O trabalho da CRyF, apesar de trabalhar com equipe própria, sem ônus de gastos de

administração para os programas do FNDE e administrar fundos remitidos pelo Governo

Central, cabe este importante esclarecimento, porquanto se a CRyF era a única instituição,

que durante 1965, não mostrava burocracia, nem excessos de gastos dentro do seu orçamento

anual.

A Lei Anual do Orçamento Funcional da República, ao ser modificada em 1966 (L

no

15.850), estabeleceu modificações nos orçamentos a fim de realizar transferências para

diferentes setores afetando diretamente o orçamento da CRyF. A corporação foi obrigada a

realizar uma transferência de forma obrigada ao FNDE54

.

Essa transferência, evidentemente, ocasionou, cortes orçamentais nas diferentes

unidades e departamentos. Por conseguinte, a CRyF se colocava numa situação de repriorizar

54 A CRyF possuía um orçamento de US$ 5.148.667,18 e lhe foram concedidos apenas US$ 68.008,57 o restante foi transferido ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Econômico (FNDE).

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obras (DS 54-H-66). Desta vez o próprio Estado peruano estabeleceu apenas 10% do imposto

ao tabaco, na mensalidade de janeiro, quando lhe correspondia os 20%. E, portanto a CRyF

devia ‘se manter com seus próprios recursos’.

A situação se tornou difícil por demais, levando o Diretório a realizar gestões de

reconsideração do corte, mencionado ante o Ministério da Fazenda, inclusive com o apoio dos

Parlamentares de Cusco para sua recuperação. Desta vez possível o retorno econômico do que

lhe correspondia. Fato que não seria igual, nos anos seguintes, mas sinais de como o Estado

peruano tiraria dinheiro do orçamento da CRyF, mostravam-se evidentes.

Na memória anual de 1966, como anúncio do que viria acontecer futuramente ser o

próprio gerente da CRyF (1966, p.5) declara:

Preciso me situar no terreno da realidade, onde o denominador comum constitui o fator econômico que são os recursos disponíveis, fator agravado sempre e constantemente diminuído pelos cortes orçamentários e a política fazendária de austeridade, preconizada e, muitas vezes, imposta pelos Poderes do Estado. (Tradução nossa)

De fato, a CRyF seguindo as normas para executar o orçamento anual era obrigada a

todo momento a se sujeitar às leis administrativas, que, ao concluir o ano, só a conduziriam a

um déficit orçamentário (Tabela 28).

Tabela 28 - LIQUIDAÇÃO ORÇAMENTAL DA CRyF EM 1966

Fonte: MEMORIA CRyF (1966, p.14).

Em 1967, a Fábrica de Fertilizantes tinha uma dívida coma CRyF que pelo consumo

da energia elétrica ascendia a (US$ 939.064,57 dólares). No entanto, acabou sem pagá-la.

A corporação, a partir desse ano, começaria a tomar as providências o que a levou a

se ajustar aos recursos econômicos com que contava, além de ter que diminuir, drasticamente,

o contingente de pessoal por um lado.

E por outro lado, foi obrigada a realizar o congelamento da ascensão promocional

(dada por Lei no16.354) que prejudicou mais as funções da equipe, pelo lado administrativo e

técnico, desestimulando pouco a pouco o trabalho da CRyF. Esses seriam os primeiros

sintomas de que a Corporação entraria num colapso total.

Mas que, devido aos condutos administrativo-econômicos da instituição; aos

próprios recursos que tinha, ao próprio sistema de trabalho e à política de austeridade

implantada, é que lentamente se via o processo de fechamento da CRyF.

Ao finalizar o exercício do período 1967-68 da CRyF, a situação começa a ser mais

crítica, segundo transcorriam os meses, quando ainda estava no poder o civil Belaúnde Terry.

DETALHE MONTO DIFERENÇA

INGRESSOS ORÇAMENTO DE FINANCIAMENTO S/ 114.807.264,00 S/ 47.482.927,14 INGRESSO REAL S/ 67.324.336,86

EGRESSOS ORÇAMENTO DE GASTOS S/ 114.807.264,00 S/ 44.852.347,04 GASTO REAL S/ 69.954.916,96

DEFICIT ORÇAMENTAL 1966 S/ 2.630.580,10

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Situação que foi determinante para a dissolução da CRyF, ao chegar o golpe de Estado do

militar Velasco55

. Nesta ocasião, a CRyF (1967-1968, p. 8) afirma:

Apesar das múltiplas contingências imprevisíveis, os cortes orçamentários, a diminuição do pessoal e as severas medidas restritivas, foram possíveis entregar um notável volume de obras concluídas e pôr em andamento outras [...] mesmo com salários e postos congelados. (tradução nossa)

Em grande parte, a CHM e a FFC comprometeram os recursos da CRyF, provocando

a redução de obras, deixando de cumprir os objetivos e diminuindo metas programadas pela

corporação. A redução paulatina dos orçamentos anuais da CRyF, mesmo com leis próprias,

sob o pretexto de recursos destinados para outros fins, foram, em definitivo, as razões que

davam ao Estado peruano a possibilidade de conter a autonomia econômica de que gozava a

Corporação.

Como Azevedo (2009, p.134) afirma: “o dinamismo da CRyF deveu-se a sua

autonomia econômica e administrativa, e serviu de exemplo para a criação de outros órgãos,

autônomos, de desenvolvimento regional.” (tradução nossa)

Em qualquer um dos casos, o Estado peruano tomou os recursos da CRyF para

atender aos gastos de emergência, ou caixa, para atender aos imprevistos próprios do governo.

A situação se modifica quando toma a presidência o militar Velasco, devido às

transformações reformistas, para os diferentes setores.

Ao mesmo tempo, foi aos poucos, que o processo de fechamento da CRyF iniciava

uma desarticulação, e quando o Instituto Nacional de Planejamento caracterizava a Região de

Cusco como possuidora de sólidos fundamentos, que possibilitariam esta região a ser um

“polo de desenvolvimento autônomo”.

Para Tamayo (1981, p. 220), dois fatores de marginalização estrutural levaram à

determinação do fechamento da CRyF: uma dominação exercida pelos grupos de poder,

partindo dos centros hegemônicos de Lima e Arequipa (nas áreas: comercial, econômica e

financeira); e, por existir uma base produtiva, fundamentalmente, agrária.

A região cusquenha, subdesenvolvida e deprimida, dentro do marco do Estado peruano; soube sempre que grande parte de seus males se devem à perda do poder de decisão sobre seus problemas regionais e por se encontrar inerte frente ao desenvolvimento das zonas mais modernizadas: Lima e Arequipa. (Tradução nossa)

As obras realizadas pela CRyF, ao longo de mais de uma década de trabalho

ininterrupto, seriam de grande monta, como Azevedo (2009, p. 134) afirma: “Até 1971, a

55 Em 3 de outubro de 1968 se realiza o Golpe de Estado sendo derrocado o arquiteto e urbanista Fernando Belaúnde Terry e assumindo o poder o Chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru o General Juan Velasco Alvarado.

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CRyF concluiu as obras de mais de nove monumentos na cidade e interveio em monumentos

de onze diferentes lugares, perto de Cusco”.

O SINAMOS já havia incorporado, nas suas instalações próprias, a todo o ativo e

passivo da CRyF, e ia assimilando o sistema de trabalho da corporação, paralelamente aos

trabalhos e objetivos, procurados pela nova instituição. Por último, com a extinção das

Corporações Regionais (DL no18.896) foi para alguns autores, como Tamayo, um retrocesso

para a autonomia regional.

A esse respeito, Azevedo (2009, p. 133) particulariza a conclusão da CRyF, ao tratar

as operações de restauração na cidade de Cusco quando afirma: “As operações de restauração

se centraram, neste órgão, até 1972” e categoricamente, Tamayo (1981, p. 226) conclui: “Em

acatamento à lei, a CRyF foi extinta em abril de 1972, depois de 15 anos de existência”.

6.7 Papel do Projeto “PER 71/539”

O PER-71/539 foi um projeto, criado em Cusco, para o estudo dos monumentos

como programa especial de assistência técnica da UNESCO e do INC, em virtude de um

convênio entre o Governo do Peru e a UNESCO56

, mais conhecido como PER-39. Segundo

Samanez (1980, p. 5):

Mediante um convênio firmado entre o Instituto Nacional de Planificação em representação do Governo e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), atuando como organismo de execução a UNESCO e como entidade nacional de contraparte o Instituto Nacional de Cultura, se materializou o Projeto denominado PER71/539. (Tradução nossa)

O Projeto visava basicamente: formular os critérios que deveriam embasar a

restauração e valorização dos monumentos históricos, artísticos e sítios arqueológicos;

elaborar um inventário, catalogação e o levantamento do estado atual dos monumentos

precolombianos e coloniais existentes na área, em concordância com as prioridades

assinaladas pelo Plano COPESCO57

(assessorado pela UNESCO).

Na lista de ações visava também; executar projetos de restauração, consolidação e

valorização dos monumentos existentes na área escolhida, assinalando os orçamentos

respectivos e a tecnologia adequada para restaurar as diferentes edificações.

56 O projeto especial PERU-UNESCO foi constituído em razão de uma petição de assistência técnica, formulada pelo governo peruano à OEA para uma eventual cooperação internacional que permitisse conservar e restaurar os monumentos de Cusco e Machupicchu no desenvolvimento turístico da zona. A UNESCO realizou várias missões entre 1965 e 1968 que possibilitavam avaliar as ações para a valorização dos monumentos e sítios históricos, em função do desenvolvimento turístico.

57 A Comissão Especial COPESCO, criada pelo governo peruano em 1971, para realizar estudos sobre restauração e monumentos, turismo, infraestrutura viária e programas de assistência econômica para obter crédito de um organismo internacional como resultado dos relatórios e recomendações da UNESCO.

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O PER-39 apontou objetivos, a fim de aprimorar equipe local especializada na

conservação, restauro e valorização de monumentos, pré-hispânico e colonial, sítios

arqueológicos, igrejas e arquitetura civil, arte e outras obras de bens culturais móveis, para

executar o Plano de COPESCO.

Para tal efeito, o INC reuniu especialistas locais dessas disciplinas e a UNESCO

contratou especialistas em conservação de monumentos arqueológicos, coloniais,

conservadores e restauradores de pintura de cavalete, pintura mural, escultura policromada e

objetos de madeira e metal, bem como consultores em outras áreas, tais como: inventário e

catalogação, história da arte, análise de laboratório, fotogrametria, e outros.

O grupo de especialistas chegou a partir de 1973, encabeçado por um Assessor

Técnico Principal e três Especialistas em Restauração de Monumentos; Restauração de

Pintura e Química; Restauração de escultura e objetos de madeira. Mais tarde, vieram outros

dois especialistas em Arqueológia e Restauração de Objetos vários; adicionou-se outro grupo,

em Pintura Mural e especialistas na condição de associados.

Dentro dessa característica profissional, cita-se o professor José Rovira Fontelles58

contratado como especialista em conservação e restauro de pintura de cavalete, como também

um especialistas em conservação, escultura policromada e objetos de madeira, Pedro

Querejazu Leyton.59

Como parte desse programa, durante o processo de preparação e formação da equipe

local, restauraram obras de renome e de importância sob a supervisão e controle dos

especialistas para sua intervenção. Como Querejazu (2001, p.81) afirma:

O trabalho pensou-se tanto para revalorizar a peça como para a intención demostrativa e de capacitação dos restauradores então ativos no Proyecto PER-39; o mesmo aconteceu em duas fases, durante 1974 e 1977, com a colaboração de especialistas visitantes e dos restauradores do projeto. (Tradução nossa)

O governo peruano, ao conseguir financiamento do BID, esse montante serviria, em

exclusivo, para fomentar desenvolvimento turístico da zona Cusco-Puno, destinada a lograr o

turismo cultural mediante subprojetos. (CALVO, 1980, p.13).

O projeto, desde 1973, tem exercido múltiplas tarefas em torno da conservação e

restauração de monumentos na zona de Cusco-Puno. No biênio 1973-1975, foram preparados

planos, relatórios, especificações técnicas e orçamentos das 27 obras que foram originalmente

relacionadas pelo COPESCO para seu restauro.

58José Rovira Fontelles, artista representativo da época espanhol (de Alicante) foi contratado como experto em conservação e restauro de pintura de cavalete, recebeu o encargo de realizar o tratamento da “Madona del Pajarito” entre 1973 e 1975 e continuou até a sua conclusão em 1977, Pedro Querejazu Leyton . Ver também Revista Conserva No 5. Santiago: CNCR. DIBAM. 2001. p.81.

59Pedro Querejazu Leyton, Conservador -restaurador. Entre 1974 y 1978, Experto de UNESCO em conservação de obras de arte. Participou como professor de conservação e restauro de obras de arte em Cusco, Lima.

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223

O COPESCO tinha em projetos determinados edifícios coloniais e conjuntos

arqueológicos para realizar estudos e levantamentos. De início, com o apoio financeiro da

UNESCO, permitiu-se a realização de trabalhos de conservação e pesquisas. As tarefas de

exploração e excavação arqueológica foram o primeiro passo para uma restauração completa.

O sub-projeto “Valorização dos monumentos da zona CUSCO-PUNO”, por

determinação da UNESCO encarregou ao INC assessorar e supervisar de obras. Desde 1974,

permitiu-se aos técnicos locais, para serem realizados estudos, levantamentos e obras

preliminares em duas edificações da cidade (o Convento de Santo Domingo e o Colegio San

Bernardo). Ao mesmo tempo, foi-lhes dado um conhecimento da forma de trabalho e

metodologia que se esperava para os diferentes monumentos que passariam por uma

intervenção.

Sobre a estrutura do projeto PER-39, foi organizado e realizado pela UNESCO, o 1º

e o 2º Cursos Regionais Andinos de Conservação e Restauração de Monumentos e

bens culturais móveis. Especialistas convidados formaram o grupo constituído por Georges

Messens, Paul Philipot, Agnes Ballestrem, Giorgio Torraca, Jose Maria Cabrera Garrido,

Socorro Mantilla e outros de renome internacional.

A capacitação local, como parte do treinamento da mão-de-obra, era de grande

expectativa, porque o INC organizou cursos para a formação coletiva, inclusive a partir de um

nível mais elementar com o apoio de professores, equipamento e materiais.

Também se fomentou a saída de difernetes profissionais, principalmente, arquitetos

para Itália (11 bolsas de estudo para o ICCROM em Roma), de técnicos restauradores para a

Espanha, Bélgica e México (05 bolsas de estudo) e de arqueólogos aos EEUU e Espanha (02

bolsas de estudo, uma em cada país).

Também se realizaram cursos tais como o denominado “Regional Latinoamericano

de Patrimônio Cultural”60

(anual), ministrado pela UNESCO e o curso “ Restaraução de Bens

Móveis” ministrado pela OEA.

A partir de 197561

quando iniciadas as obras, Cusco possuía grande material ao quais

especialistas e consultores lograram aplicar os seus conhecimentos. Os trabalhos de

restauração dos monumentos “in situ” foram os objetos das práticas. Não só estrangeiros

foram os convocados para essa época, muitos profissionais peruanos62

deram consultoria,

durante todo o processo (desde o projeto até a avaliação) dos trabalhos de Conservação e

Restauração de Monumentos.

60 Até 1979 tinha sido produzido o 5to curso anual. 61 Houve adendo no projeto PER 71/539 para realizar outro tipo de obras de infraestrutura e assistência técnica para supervisioná-las. 62 A exemplo: entre 1973 e 1977 o etnólogo e arqueólogo peruano Luis Guillermo Lumbreras Salcedo deu consultoria durante o processo

de avaliação dos trabalhos realizados na conservação e restauração de monumentos em Cusco e Puno.

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Em vários monumentos da cidade, dos arredores de Cusco e da zona de Puno foram

iniciadas obras de restauração de bens móveis. Instalaram-se dois atelieres especializados de

restauração com equipamento e material fornecido pela UNESCO, de última geração e

tecnologia que poderia se oferecer na época, um em Cusco e outro em Juli-Puno.

O critério foi estabelecer duas zonas de atenção às obras de bens móveis onde têm

sofrido alterações nos quadros de importantes autores como Bitti, Vargas, Gamarra, Pardo

Lago, Riaño, Vilca, Quispe Tito, Marcos Zapata, entre outros anônimos (CALVO, 1980,

p.13).

Quanto a obras de escultura, valiosas imagens dos séculos XVI ao XVIII foram

consolidadas e restauradas em Cusco (obras de Bitti, Vargas, a monumental e processional

escultura de San Cristóbal, a Imaculada de Alvarez e grande número de imagens da igreja de

La Almudena) e em Puno (obras especificamente do autor Bitti). (Tabela 28 em Apêndice).

A cidade de Cusco foi sede da formação nacional e de diversas atividades

relacionadas aos arquitetos, técnicos restauradores e arqueólogos. Os especialistas europeus e

americanos, além de dar aulas, assessoraram também para ministrar os cursos de “Arquitetura

e Urbanismo”.

A permanente preocupação, tanto por ser parte do projeto, quanto por proteger o

tesouro artístico da zona, foi a “Catalogação de Monumentos e Obras de Arte”. Devido à

constante deterioração, por falta de manutenção e cuidados e também por causa da

depredação das obras de arte móveis (especialmente os quadros), que acontecia na época.

Uma operação de emergência para inventariar cada um dos Distritos da Região de

Cusco com a colaboração das autoridades locais, políticas e religiosas, foi oportuna e,

contribuiu na formação de “Comitês de Defesa do Patrimônio Artístico”, a partir de 1976.

Diante de todas as operações que se realizavam na conservação e no restauro era

necessária a opinião de especialistas. Para esse efeito foram convocados consultores da Itália

(o arquiteto e historiador Leonardo Benévolo e o especialista em Planejamento Urbano

Giorgio Lombardi); do Brasil (o arquiteto urbanista Paulo Ormindo de Azevedo); da Bolívia

(os arquitetos Jose De Mesa e Teresa Gisbert); do Peru (os arquitetos Victor Pimentel e

Carlos Williams) foram os que determinaram a necessidade, em grau de urgência, do

cadastramento da cidade de Cusco para os monumentos incas63

e coloniais. (CALVO, 1980,

p.17).

63 Houve um trabalho exaustivo com “fichas de catalogação” para mais de 700 unidades de muros incas registrados num sistema que foi modificado e complementado à versão boliviana que foi usada para o cadastro da cidade de La Paz (Bolívia) e que se tentou uniformizar na área andina. Um formato que contem um registro arqueológico e relevamento arquitetônico, localização, descrição, a escalas, com gráficos e registro fotográfico exaustivo.

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225

O pesquisador peruano Santiago Agurto Calvo que realizava trabalhos no Cusco

sobre urbanismo Inca foi convocado pelo projeto PER 39, para realizar esse cadastramento.

Ressaltando que antes dos estudos realizados pelo convocado havia muitas interpretações,

sem fundamentos científicos sobre o caso.

O trabalho desenvolvido, hoje, é a grande contribuição produzida pelo projeto PER

71/539, celebrada entre o Estado Peruano e a UNESCO. Seu objetivo foi elaborar um registro

classificado dos vestígios Inca, que se encontram na cidade de Cusco.64

O autor da pesquisa

afirma:

O Registro dos restos Inca da cidade do Cusco’ permitiu descobrir importantes elementos de juízo, com respeito ao urbanismo e à arquitetura Inca e, consequentemente, corrigir e afinar a hipótese de trabalho que vinha desenvolvendo a respeito do planejamento urbano da Cidade Imperial Inca. (AGURTO, 1980, p.23). (Tradução nossa)

Finalmente, após seis anos de extenso trabalho e de grandes experiências adquiridas

dá-se por concluído65

o trabalho do Projeto PER 71/539, por acordo tripartite (representado

pelo INP; o INC e o PNUD) em 6/12/1979. (UEE-INC, 1980, p. 5).

Este projeto PER 39, por ser um ‘Projeto Especial’ apoiado pelas Nações Unidas,

contou com orçamento preestabelecido e datas de duração fixas. Assim o projeto havia

cumprido seu ciclo com metas propostas desde início.

O caso dos cursos internacionais seguiu a mesma sorte, por contar com orçamento

para quatro anos e ser um ‘Projeto Especial’ de curta duração das Nações Unidas. Dentro

desse contexto, houve dois aspectos que marcaram um afastamento quanto à conservação e

restauração das NNUU com a cidade de Cusco.

Um deles foi a ideia de, na época não foi acolhida a oportunidade de dar

continuidade aos cursos de renome, perdendo Cusco, a sede de ser um centro formador,

exemplar. A outra foi que, houve resistência por parte das autoridades da Universidade local

para dar continuidade aos cursos internacionais. Esse objetivo não prosperou, principalmente,

pela falta de interesse por parte dos políticos locais e nacionais. (SAMANEZ, 2013).

64Cusco é fusão de culturas: época Pré-Inca (antes de 1200); época Inca (entre 1200 e 1533) e da época de Transição da Inca à Colônia (1533 a 1572). Nesta última assentou-se a cultura do Vice-reinado espanhol com fortes mostras da sua imposição.

65 NO documento subscrito do término do projeto recomendou-se que todos os bens aportados em equipamento, veículos motorizados, acessórios e materiais adquiridos para os propósitos do projeto sejam transferidos para servir de apoio à Unidade Executora Especial do INC-UEE a partir de 1980.

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253

A nação peruana, dentro dos seus limites, possui regiões geográficas bem

diferenciadas entre a costa, a serra e a floresta amazônica que, desde a colônia, despertaram

algumas rivalidades entre seus habitantes.

Desde então, o domínio exercido pela capital Lima, frente às outras regiões, deixou a

cidade de Cusco ser apenas um entreposto comercial de produtos, devido à sua localização

estratégica entre a Costa, a Amazônia e o Alto Peru (Bolívia).

As mercadorias que transitavam para chegar a seus destinos (como a prata extraída

das minas de Potosí e o mercúrio importado, vindo da Espanha, para a extração da prata),

necessariamente passavam por Cusco. Essa posição reafirmou-se mais tarde quando, por um

lado, o mercúrio da região Huancavelica passou a substituir o importado da Espanha. E, por

outro, quando vários produtos do Vale de La Convención (floresta da Região de Cusco)

passaram a ser levados para a costa.

Os interesses econômicos da capital e, em parte, de Arequipa influenciaram, por

muitas décadas, o Estado a não dar atenção tanto para a região de Cusco como para o resto

das regiões do país, no sentido de não realizar investimentos.

Graças a essa falta de ação dos governos vigentes no país, a cidade de Cusco

manteve sua estrutura urbana e social, ficando intactas inclusive as edificações relevantes e,

até mesmo, as modestas, o que contribuiu para conservar, praticamente, toda uma cultura

material, a convivência cotidiana, com seus usos e tradições.

Isto resultou em se constituir o maior legado de significação cultural para o país,

apesar de algumas tentativas tímidas de modernização, durante a segunda metade do século

XIX e na primeira do século XX.

Nesse contexto de edificações, tipicamente coloniais, a cidade de Cusco mostrava

uma segregação de classes sociais, o que se percebia através daqueles bairros que estavam

dentro do polígono que delimitavam os acessos à cidade. Estes são os arcos de: ‘Santa Ana’,

‘Santa Clara, ‘San Andrés’, ‘Arcopunco’, ‘Collacalle’, e outros situados fora dele.

Evidentemente, as últimas eram as áreas de amortecimento, situadas fora da cidade,

com suas diferentes paróquias (as seguintes igrejas:‘La Recoleta’, ‘San Blás’, ‘San Cristóbal’,

‘Santa Ana’, ‘Almudena’, ‘Santiago’ e ‘Belén’), que controlavam os aldeamentos de índios,

situados nos arredores da cidade.

Em consequência do terremoto de 1950, produziu-se a primeira mescla social dos

seus habitantes. Num sentimento de solidariedade para com as famílias de diferentes classes

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sociais, todas elas passaram a morar juntas. Isso gerou um processo de mudança social na

cidade de Cusco.

A população dos arredores não só passou a ocupar espaços públicos do Centro

Histórico e de alguns sectores da cidade, bem como os jardins e pátios de casas particulares.

Até mesmo as casas que sobreviveram foram invadidas pelos desabrigados, sendo que, a

partir desse momento, deu-se início a um processo de “corticização”.

O terremoto fez aflorar questões latentes na busca de soluções para reconstruir a

cidade. O Governo Central, ao observar a situação, fez por bem não atuar de maneira

precipitada, procurando conciliar as opiniões mais diversas, em relação a como fazer a

reconstrução da cidade. Levou-se em consideração tanto a conservação do patrimônio

histórico quanto o desejo de modernização. Mas isto não foi uma tarefa simples.

Dada a sua inexperiência, o Governo Central buscou assessoramento internacional.

Pela primeira vez, na história, um governo nacional solicitou ajuda da UNESCO: o que

revelou um forte compromisso com a cidade de Cusco. A UNESCO contribuiu com

recomendações para realizar uma grande intervenção por parte do Estado peruano, não apenas

na cidade de Cusco, como também para a sua Região.

Dessa forma, a reconstrução da cidade passou a ser exemplo de intervenção, frente a

catástrofes naturais: o que abriu precedentes de ação para outras regiões do país, bem como

para países com semelhantes dificuldades.

A grande determinação do Governo do Estado, por recomendação de especialistas,

foi ir além dos limites da cidade e definir medidas de intervenção que promovessem o

desenvolvimento em toda a região. A partir desse momento, foram concebidos planos, leis,

projetos e obras públicas, onde a preservação do patrimônio cultural obteve especial atenção

dos órgãos governamentais. Os objetivos traçados desde então foram alcançados,

parcialmente, por terem sido modificados por governos sucessivos. Mas, mesmo assim, esses

objetivos contribuíram grandemente para o crescimento econômico e cultural da região.

O terremoto foi o catalizador de ações que deram início a uma atenção diferenciada,

por parte do Governo, a uma região antes desalentada, social e economicamente, além do

abandono por parte dos governos anteriores. A especial atenção à cidade de Cusco esteve

sustentada pelo reconhecimento internacional e por ser sede de uma importante civilização (a

Cultura Inca) situada na Cordilheira Central dos Andes.

Também contribuiu para este processo a declaração, em 1929, de “monumento

nacional”, assim como o fato da cidade ser construída sobre sólidos alicerces Incas.

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255

As primeiras medidas adotadas pelo Estado estavam dentro de uma visão da

recuperação da cidade, voltadas para a população, e não em função do turismo, o que viria a

acontecer mais tarde. Foi a partir de um fundo específico, o imposto sobre o tabaco, criado

para a reconstrução da cidade, que o patrimônio de Cusco teve um tratamento especial.

Assim foi possível criar projetos de moradia, mediante créditos hipotecários,

fomentar a agricultura, base econômica da região, ao conceder ‘Crédito Agropecuário

Supervisado’ com assistência técnica aos camponeses, e eletrificação de áreas rurais, bem

como o fomento à indústria.

A atitude desenvolvimentista, empreendida durante as décadas dos anos 50, 60, e 70,

e o investimento realizado na Região de Cusco trouxe, ao mesmo tempo, consolidação dos

órgãos de preservação do patrimônio, formação de mão-de-obra e qualificação de recursos

humanos para uma autossustentabilidade da região. Em virtude das políticas adotadas, gerou-

se a expectativa e novas oportunidades de trabalho, o que provocou uma intensa migração do

campo para a cidade.

Um fato que perdura, até os dias de hoje, foi o surgimento da necessidade de mão-de-

obra especializada para a reconstrução da cidade. Renasceram artes esquecidas, como a do

trabalho em pedra, em madeira, restauração de pintura e escultura, surgindo, daí em diante,

grandes artífices com um domínio sem igual, no seio de um povo, que se uniu, para

reconstruir sua cidade.

A atenção que o Governo deu à população, em consequência do terremoto, iniciou-se

com políticas de reparação de casas e construção de novas unidades habitacionais,

promovendo a ocupação do setor sudeste da cidade. Esta ação permitiu, durante os primeiros

anos, a expansão da cidade e atração de trabalhadores informais, ou sem direito a participar

dos programas de moradia, o que aumentou o número de barracas assentadas nas periferias, e

em áreas não consolidadas urbanisticamente, como: ‘Tahuantinsuyo’, ‘Rosaspata’,

‘Cruzpata’, ‘Chachacomayoc’, ‘Huayruropata’ e ‘Santa Ana’. Mais tarde, foi o Município

que as incorporou à formalidade urbana.

O aumento gradual da população, na segunda metade do século XX, é reflexo das

políticas públicas aplicadas pelo governo do Estado durante os diferentes períodos. A

migração aumentou massivamente a população nos primeiros anos da recuperação da cidade

que quase triplicou entre 1950 e 1972 (52.309 x 121.464 hab.), elevando esse valor para 5,2

vezes, em 1993, com 270,324 hab. Comprovou-se, dessa forma, que a cidade de Cusco

tornou-se um local atrativo para se fixar residência.

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Durante o processo de atenção aos monumentos da cidade de Cusco, destaca-se a

forma como foi realizada a intervenção (reconstrução, propriamente dita). A JRFIC e a CRyF

tiveram um papel crucial graças aos cuidados, recursos e técnicas aplicadas na época, bem

como à grande sensibilidade do chefe-arquiteto -Oscar Ladrón de Guevara- que estava à

frente da reconstrução. Este trabalho deve ser visto e analisado no seu contexto para receber

as devidas críticas. Existia, na época, apenas a ‘Carta de Atenas’ com o único documento que

tratava da questão urbana e só, em parte, da questão patrimonial.

O Plano Piloto (ou “Plano Director”) de Cusco desenvolvido segundo os princípios

do CIAM não levava em consideração aspectos relacionados com as características históricas

da cidade. Não considerava seu traçado colonial, muito menos a existência de um traçado

Inca.

O objetivo era fazer uma cidade moderna com a presença de alguns monumentos

representativos. Mas, devido a variadas circunstâncias, principalmente econômicas, realizou-

se apenas uma parte da proposta.

No entanto, permaneceram fortes marcas do modernismo, como ruas alargadas no

Centro Histórico da cidade e com a proposta de uma autoestrada, realizada para o trânsito

interurbano entre Puno e Abancay: a avenida Chunchullmayo.

A “JRFIC” e a sua sucessora “CRyF”, durante sua gestão, levaram a cabo obras de

infraestrutura regional como a Central Hidroeléctrica de Machupicchu, Fábrica de

Fertilizantes de Cachimayo, Unidades de Vizinhança que serviram de modelo em todo o

território peruano para a criação, a partir da década dos anos 60, de ‘Corporaciones de

Fomento y Desarrollo Económico’, com autonomia administrativa e econômica. Esse fato deu

início a uma maior autonomia regional do país, realizada pelos seus próprios habitantes,

quebrando-se, em grande parte, o tradicional centralismo da capital Lima.

A ação do ‘Banco Central Hipotecário del Perú’ durante o período da reconstrução

foi desastrosa, pois se apresentou com arraigados preconceitos com relação às edificações

construídas em adobe. Exigiam que, para ter financiamento, as casas deveriam ser

reconstruídas preferentemente em concreto e tijolo. Isso fez com que muitas famílias

mandassem demolir representativas casas de adobe mesmo as não afetadas pelo sismo, apenas

para poderem aproveitar os juros baixos e as facilidades, oferecidas pelo banco. Muitas casas

de adobe, assim demolidas, foram reconstruídas em tijolo. Por causa dessa política negativa

do banco, a CRyF passou a outorgar empréstimos hipotecários, sem discriminação do

material.

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257

Os organismos mundiais, como a ONU e a UNESCO, na década dos 60, convencidos

da importância do desenvolvimento econômico e comércio internacional a partir do Turismo

Cultural, firmaram com o Peru o ‘Plan COPESCO’, com sua base em Cusco. A procura de

novos mercados para o turismo mundial foi seu objetivo, direcionado a zonas com potencial

natural e cultural, passíveis de serem convertidas em produtos turísticos.

O plano COPESCO que direcionou sua ação para um parque turístico, de 500 km de

extensão, situado entre as regiões de Cusco e Puno, fracassou como projeto por não prever

ligações com outras regiões e porque Cusco ficava isolado do país e do mundo, no meio dos

Andes. O objetivo desse plano era de realizar obras do tipo viário, aeroportuário, hoteleiro,

urbano, recreativo, de reflorestamento, de impulso às festas tradicionais e, principalmente, de

restauração de monumentos para impulsionar, decididamente, a atividade turística.

O isolamento, mencionado acima, foi o que levou ao fracasso o projeto de turismo

cultural. Mesmo assim, a criação do plano Copesco foi positiva por favorecer diretamente o

patrimônio. Apesar de ser um plano de desenvolvimento, cuja implementação não cumpriu

seus objetivos em sua totalidade, o plano deu lugar para que muitas obras fossem realizadas,

entre as quais, se destacaram: programas de restauração de monumentos, de conjuntos

arqueológicos e de obras de arte, dentro do parque turístico que liga as duas regiões.

O plano fracassou mais ainda pela forte oposição da capital, Lima, a projetos de

importância para a Região de Cusco, tais como um aeroporto internacional e a fábrica de

cimento. Pois, na verdade, esse desenvolvimento roubaria da capital a captação de maiores

divisas com a permanência de turistas em Lima.

A CRyF, durante o período que desenvolveu a região de Cusco, formou profissionais

em diferentes áreas. Mais tarde, consolidou-se a formação de especialistas, com a implantação

dos cursos de conservação e restauro, auspiciados pela OEA e a UNESCO/PNUD. Desta

forma, a procura destes cursos, não apenas por parte de cidadãos peruanos, mas por

profissionais vindos de outros países, foi grande.

Cusco consolidou-se como referência mundial, por ter sido um centro formador no

campo da conservação e restauro, reconhecido pela própria UNESCO. Aí, novos conceitos

sobre o patrimônio seriam discutidos, durante a década de setenta. A Cooperação

internacional ajudou de modo efetivo nesse processo.

O governo de Velasco Alvarado, considerado de ‘modelo social’, implantou

reformas setoriais, tais como a reforma agrária, a industrial, a financeira e a educativa. Seu

objetivo foi criar um Estado Nacional com desenvolvimento permanente e autossustentado,

economicamente forte, politicamente poderoso e internacionalmente respeitado. Esse

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processo experimental, crivado de erros e indefinições e sujeito a conflitos, polarizações

internas e a pressões externas, apesar das suas pretensões, não foi bem sucedido.

O grande projeto da reforma agrária fracassou porque os camponeses não aceitarem a

modernização da sua agricultura, e a burocracia não ajudou. Consequentemente, por causa do

seu insucesso, a região de Cusco não se modernizou, nem se industrializou.

Nela não se construiu a fábrica de cimento, a fábrica de fertilizantes foi um desacerto

e a criação do Parque Industrial foi outro fracasso. Porém, apesar disso, houve um certo

desenvolvimento econômico em Cusco que ofuscou o insucesso industrial.

As grandes reformas, os planos: “Inca” (Velasco) e “Túpac Amaru” (Bermúdez),

iniciadas durante o período de governo militar criaram, definitivamente, sólidas bases que

fortaleceram o campo patrimonial. Contribuíram nesse processo a criação de órgãos públicos,

programas de restauração específicos, a formação de especialistas e sua aplicação no campo

da prática.

O primeiro passo, nesse campo, foi a substituição da Casa da Cultura pelo ‘Instituto

Nacional de Cultura’. Este órgão facilitador da cultura assumiu manter, sustentar e valorizar o

patrimônio. Desde então, este instituto passou a ser o grande regente da cultura peruana, para

o qual nem a grande burocratização estatal dos anos 80 foi empecilho para sua consolidação.

O modelo cultural aplicado no Peru, considerado pioneiro, quanto aos ensaios de

políticas culturais na América Latina, embora de raízes militares, representou um notável

passo para o país. Dessa forma, esse modelo foi, também, adotado por outros países.

A cidade de Cusco sofreu um grande processo de inchamento populacional, a partir

da década dos 80, associado ao crescimento do Turismo Cultural. O trabalho informal e de

subemprego aumentaram, grandemente, e os migrantes rurais não só ocuparam as encostas do

vale nos arredores do centro tradicional de Cusco, como também áreas de risco e de valor

cultural (zonas arqueológicas aparentemente abandonadas).

A ocupação do vale fez-se com autoconstrução e assentamentos irregulares,

expandindo-se desde as nascentes do rio Huatanay até o Distrito de San Jerónimo. O

resultado desse processo evidenciou um dos maiores impactos no entorno da cidade porque

modificou a paisagem natural, característica da cidade de Cusco. O Município não conseguiu

evitar os impactos urbanos, não apenas relacionados ao uso do solo urbano, por falta de

acompanhamento e controle. Processo que evidencia a transformação de todo o centro

histórico em uma área puramente de turismo.

Durante a crise social e econômica peruana dos anos 80, a política cultural aplicada

enfatizou o campo educativo para fortalecer o INC, que adquiria maior representação

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259

nacional. O regime democrático deu poucas condições de trabalho e recursos econômicos ao

INC, mesmo assim esta instituição conseguiu reconhecimento mundial para a cidade de

Cusco, ao ser declarado Patrimônio Cultural da Humanidade.

O governo de García, por ter provocado o grande desastre econômico e incitado a

revolta social no país, não garantiu a continuidade e permanência dos organismos

internacionais, por não oferecer segurança e tranquilidade, no país, aos técnicos estrangeiros.

Isso trouxe consequências negativas, como o congelamento de variados projetos que eram

apoiados por instituições nacionais, desencadeando no país um insípido desenvolvimento

social e económico.

O campo patrimonial, graças a ações determinadas por governos anteriores,

continuou de forma silenciosa nos objetivos e cuidados traçados. O Plano COPESCO, apesar

das dificuldades mencionadas, mantem até hoje sua estrutura institucional, a qual se tornou

um exemplo de desenvolvimento na região de Cusco.

O governo local da cidade de Cusco, durante a gestão de Daniel Estrada Pérez, com

sua postura anticentralista e na procura de uma autonomia de gestão, estabeleceu mecanismos

legais para captação de recursos tanto do Estado (Leis no 23.892 e 24.230), quanto de fontes

não-estatais (“TAME”, “Edicto Municipal 002”, “Boleto Turístico”).

Os recursos serviram para a realização de variadas obras na cidade, e o patrimônio

passou a ter uma fonte exclusiva de receitas que retornavam em favor da mesma. Além disso,

o Governo Central também criou uma receita própria (Lei no

24.331), para financiar a área

patrimonial.

O investimento no turismo, impulsionado ano a ano, culminaria transformando o

setor de serviços como o mais importante da economia local. Devido à grande demanda por

espaços para atender ao turismo, os proprietários foram seduzidos a alugarem toda ou uma

parte da casa. Por outro lado, a valorização dos imóveis incentivou a venda dos mesmos. Em

ambos os casos, isso resultou na expulsão dos moradores de suas propriedades e passarem a

viver nos arredores da cidade.

Devido a esta valorização, herdeiros de propriedades no centro histórico de Cusco

têm entrado em litígio na justiça, a fim de subdividi-las com o intuito de vendê-las ou,

simplesmente, alugá-las parcialmente. Esse fato tem provocado a perda das características do

imóvel ao serem divididos os acessos, os pátios e as escadas, privando os organismos

municipais de agirem. Isto comprova a fragilidade da autoridade municipal em controlar o uso

do solo.

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Os casos acima citados mostram um problema sócio-urbano que vai além do

patrimônio edificado e avança silenciosamente, devido à demanda de espaços. Este fato

resulta, exclusivamente, da expansão da indústria turística mundial, mas que traz como

consequência a perda da identidade do lugar, dos moradores locais e de suas estruturas

edificadas. O perigo é converter-se uma rua ou um bairro em um espaço exclusivamente

comercial, atípico.

Neste estudo, procurou-se investigar se foi a política de desenvolvimento ou a

política de preservação, baseada no turismo cultural, a responsável pelas alterações sofridas

no patrimônio arquitetônico, histórico e cultural.

A partir da análise da relação entre preservação e desenvolvimento verificou-se que:

Por um lado, o desenvolvimento trouxe progresso e crescimento econômico, ao interior da

região, tais como: com infraestrutura viária, eletrificando as áreas rurais, execução de

programas habitacionais, além de serviços básicos, embora muito aquém do planejado. Por

outro lado, deflagrou a urbanização e explosão populacional da cidade de Cusco.

Contribuíram para essas limitações diversos fatores como o arcaísmo da agricultura,

os problemas com a fábrica de fertilizantes o adiamento da construção da fábrica de cimento e

o cancelamento do Aeroporto Internacional no Distrito de Anta, com a reação dos agricultores

daquela área. Sem falar da oposição que exercia a capital (Lima) e o lobby hoteleiro da perda

do fluxo turístico, antes de chegar à região de Cusco.

A política de preservação via turismo cultural, conseguiu realizar a restauração de

muitos monumentos, recuperar e valorizar edificações religiosas e civis, tanto na cidade de

Cusco, quanto nos povoados da região. Mas, por outro lado, transformou imóveis inteiros de

uso residencial em locais de hotelaria e serviços múltiplos, modificando sua distribuição

interna e promovendo o esvaziamento populacional do Centro Histórico.

Dessa forma, constatou-se que as políticas de preservação implantadas não previram

medidas de controle para que as atividades turísticas não acabassem ocupando completamente

o centro da cidade. Este processo foi menos intenso nos anos 80, devido à insegurança

motivada pelo terrorismo, mas a partir da década de 90 adquiriu grande intensidade.

Com a eliminação do terrorismo, o fluxo turístico retornou a seus níveis normais. Por

sua vez, o Governo Central iniciou forte promoção internacional, e implementou políticas

públicas para atrair o turismo, o que tornou a cidade de Cusco um dos maiores destinos

turísticos da América do Sul. A pacificação do campo e o processo de urbanização se

refletiram não apenas no centro histórico, mas em toda a cidade. A mão-de-obra não

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qualificada do campo incrementou o comércio informal, especialmente de vendedores

ambulantes.

As diferentes missões dos organismos internacionais envolvidos, ao longo de

décadas, tiveram um papel de relevância para o país, ao fornecer subsídios em todas as áreas e

uma formação de pessoal para a tomada de decisões que os governos adotaram a partir da

segunda metade do século XX. A determinação do Estado em buscar ajuda estrangeira foi

acertada, bem como tomar como base as recomendações e fundamentos dos experts o que

beneficiou a população de forma direta ou indireta.

A existência de lacunas de informações sobre temas vinculados ao patrimônio, como

da ‘Casa de la Cultura’, da ‘CRyF’ e do ‘SINAMOS’, foram compensadas por informações

primárias ou secundárias, existentes nos arquivos de antigos Ministérios e inclusive no âmbito

internacional, como a biblioteca e arquivo do ICCROM e fontes orais de alguns atores da

época.

As instituições, criadas em diferentes governos, tiveram em comum uma ideologia de

impulsionar o desenvolvimento e o crescimento socioeconômico da região de Cusco, assim

como a grande sensibilidade para com a questão patrimonial, que prevaleceu sobre as

dificuldades econômicas, políticas, administrativas e sociais.

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PERU. Lei no 23892, de 25 de julho de 1984. Autorizam duas Transferências de Partidas e três

Créditos Suplementários, em favor de vários Setores para 1984. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 02 ago. 2012

PERU. Lei no 24230, de 09 de julho de 1985. Autorizan Créditos Suplementários e Operações de

Transferências de Partidas Presupuestárias, em favor de vários Setores. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2011

PERU. Lei no 24331, de 08 de novembro de 1985. Destina 2% da renda que produz o imposto geral às

vendas dos cigarros e tabacos e outro 2% do imposto seletivo ao consumo sobre a produção e

comercialização dos mesmos para o desenvolimento, restauração, proteçao e conservaçao do

patrimônio cultural e monumental do Cusco. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Lei no 24650, de 19 de março de 1987. Cria a Lei de Bases da Regionalização. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Lei no

25742, de 21 de setembro de 1992. Transferem o Projeto de Acondicionamento

Territorial e de Moradia Rural PRATVIR ao PRONAMACH. Disponível em:

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PERU. Decreto legislativo no 135 de 12 de junho de 1981. Lei orgânica do Ministério da Educação.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2011

PERU. Decreto legislativo no 674. Lei de promoção do investimento particular nas empresas do

Mercado e a Lei marco 757 para o Crescimento do Investimento particular. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 dez. 2011

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Carlos Mariátegui e Inka). Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15

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Importações que se efetuem pela Alfândega do Callao, Destinado a Obras Públicas nessa Província

Constitucional; e, Cria a Junta de Obras Públicas do Callao. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no

11029, de 23 de junho de 1949. Cria um Imposto à Coca na Região de Cusco,

com destino à Execução de Obras Públicas em dita Cidade; e, Cria a “Comissão de Obras Públicas

do Cusco”. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11365, de 22 de junho de 1950. Modifica os artigos 11º, 13º e 18º da lei 9956

sobre empréstimos para construção de casas para empregados e obreiros. Derroga outros (19º e 20º) e

os títulos 1º e 5º da mesma lei. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em

24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11.366 de 22 de maio de 1950. Concessão de empréstimos para reparar imóveis.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11367, de 22 de maio de 1950. Auxílio à cidade do Cuzco pelo movimento

sísmico até normalizar a vida da população. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11378, de 26 de maio de 1950. Autoriza à Caixa de Depósitos e Consignações

para Abrir uma Conta denominada "fomento da Produção Agropecuária". Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11392, de 31 de maio de 1950. Reconstrução de Monumentos Históricos Obras

de Arte e edifícios do Estado. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em

24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11425, de 10 de julho de 1950. “Subsídio Municipal do Cusco” como crédito

extraordinário (300,000 soles) por imprevistos realizados pela Prefeitura Provincial para o

reestabelecimento dos serviços básicos. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm>

Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11478, de 18 de julho de 1950. Amplia o crédito aberto por DL 11.367.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 11489, de 31 de agosto de 1950. Abre uma conta de 2 milhões para obras de

caráter urgente da cidade. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24

jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 14238, de 16 de novembro e 1962. Que declara a as bases para a Reforma

Agrária. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 14444, de 28 de março de 1963. Que declara "zona inicial de aplicação da

reforma agraria à região do Cusco" Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm>

Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 14547, de 4 de julho de 1963. Autoriza à Corporação de Reconstrução e

Fomento CRyF para que celebre operações de crédito até por 52.1 milhões de soles Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

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PERU. Decreto-lei no 14638, de 31 de agosto de 1963. Cria o ASER Auxílio Social de Emergência

Regional. Jornal Oficial El Peruano, Lima 1 de setembro de 1972. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 15037, de 21 de maio de 1964. Cria a Lei da Nova Reforma Agrária. Disponível

em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 16-85-ED, de 22 de fevereiro de 1985. Se declaram intangíveis, inalienáveis e

imprescritíveis os bens móveis e imóveis das épocas pré-hispânicas, colonial e republicanas que

tenham sido declarados expressamente. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm>

Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 17063, de 29 de abril de 1949. Aprova o estatuto do governo revolucionário.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 18799, de 09 de março de 1971. Cria o Instituto Nacional de Cultura (INC).

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 18896, de 22 de junho de 1971. Cria o Sistema Nacional de Apoio à Mobiliza-

ção Social (SINAMOS) e se extinguem as corporações regionais do país. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 14 maio. 2010

PERU. Decreto-lei no 19338, de 28 de março de 1972. Cria o Sistema de Defensa Civil, “SIDECI”.

Jornal Oficial El Peruano, Lima 29 março de 1972. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2010

PERU. Decreto-lei no 19400, de 09 de maio de 1972. Norma que estabelece a estrutura e

funcionamento das Organizações Agrárias. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 20651, de 18 de junho de 1974. O Estado Peruano autoriza conveniar contratos

de empréstimos com o BID por US$ 29,3 milhões de dólares. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2013

PERU. Decreto-lei no 20754, de 04 de outubro de 1974. Proíbe toada ação e desalojo dos moradores

do CH. Jornal Oficial El Peruano, Lima 5 de outubro de 1974. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2011

PERU. Decreto-lei no 22624, de 30 de julho de 1979. Declara-se em reorganização o INC. Disponível

em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 12 mar. 2012

PERU. Decreto-lei no 24047, de 03 de janeiro de 1985. Ley General de Amparo al Patrimonio Cultural

de la Nación. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 jan. 2012

PERU. Decreto-lei no 24193, de 06 de junho de 1985. Substituem-se os artigos 4º e 5º da lei nº 24047

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2011

PERU. Decreto-supremo de 28 de junho de 1940. O BCHP concede empréstimos para reparação de

imóveis, danados ou destruídos pelo terremoto de 1940. Jornal Oficial El Peruano, Lima 01 de julho

de 1940. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2011

PERU. Decreto-supremo no 810 de 5 de junho de 1950. Manda-se receber os depósitos em todos os

bancos da república na conta denominada “Reconstrução dos Locais escolares do Cusco”. Disponível

em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 fev. 2011

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281

PERU. Decreto-supremo de 16 de junho de 1950. Centraliza o controle das obras que deverão

empreender-se no Cusco após o Terremoto. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 10 mar. 2011

PERU. Decreto-supremo no 2 de 22 janeiro de 1955. Modifica a organização estabelecida da

presidência da JRFIC. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 18 mar.

2011

PERU. Decreto-supremo de 10 de agosto de 1956. A JRFIC entra em estado de reorganização.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 19 mar. 2011

PERU. Decreto-supremo no 84-F de 6 de novembro de 1964. Cria Administração e Supervisão sem

considerar a CRyF. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 22 mar.

2011

PERU. Decreto-supremo no 88-F. de 5 de dezembro de 1964. Impõe sejam revistas as normas

executivas da CRyF para evitar interferências no plano quinquenal. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 25mar. 2011

PERU. Decreto-supremo no 54-H de 28 de fevereiro de 1966. A CRyF deve repriorizar obras.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 30 mar. 2011

PERU. Decreto-supremo no 12-F de 13 de fevereiro de 1968. Caso particular do Governo militar.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 02 abr. 2011

PERU. Decreto-supremo no 01-69-IC/DC de 25 de abril de 1969. Cria a Comisión para Coordinar y

Supervigilar el Plan Turístico y Cultural PERU-UNESCO-(COPESCO). Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 12 abr. 2011

PERU. Decreto-supremo no 002-74 IT/DS de 7 de fevereiro de 1974. Regulamenta-se o DL 20176.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 24 abr. 2011

PERU. Decreto-supremo de 17 de janeiro de 1958. Cria a ‘Comissão de Ajuda’ da região Arequipa.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 02 mai. 2011

PERU. Decreto-supremo no 30-82-ED de 01 outubro de 1982. Declara-se em reorganização o Instituto

Nacional de Cultura. Aprovam a organização e funções do INC. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 maio 2011

PERU. Decreto-legislativo no 261 de 24 de Junho de 1983. Lei de criação do Instituto Nacional de

Desenvolvimento e o Regulamento de Organização e Funções do INADE. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 02 jun. 2011

PERU. Decreto-supremo no 40-85-VC de 25 de novembro de 1985. Cria-se o Programa de

Acondicionamento Territorial e Vivenda Rural PRATVIR. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 10 jun. 2011

PERU. Decreto-supremo no 434-85-EF de 1985. Concede facilidades à Empresa Industrial Cachimayo

S.A. para o pagamento de direitos e tributos de alfândega ao tesouro público. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 04 jul. 2011

PERU. Resolução-suprema de 22 de maio de 1950. Nomea-se a “Junta de Auxílios Pro

Desabrigados”, tinha como missão receber administrar e distribuir os fundos destinados à reconstrução

do Cusco e ao auxílio dos desabrigados pelo terremoto. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 05 jul. 2011

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PERU. Resolução-suprema no

497 de 1950 Nomeia-se o novo prefeito de Cusco ao Professor da

Universidade de Cusco Doutor Sergio Quevedo Aragón. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 08 jul. 2011

PERU. Resolução-suprema no 972 de 16 junho de 1950 se conforma integrantes do Conselho Nacional

de Conservação de Monumentos Históricos. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 jul. 2011

PERU. Resolução-suprema no

132 de 20 de abril de 1951. Regulamento de Construção da Cidade de

Cusco. Que promove o retiro frontal e lateral da fachada e o alargamento da rua ao estilo colonial na

cidade de Cusco. (Publicada pela Escola Militar de Chorrillos: 1951. 46 p). Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 23 ago. 2011

PERU. Resolução-suprema no

19-ONPU de 23 de maio de 1951. Reinício de trabalhos para a

terminação do Levantamento cadastral em Cusco. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 25 ago. 2011

PERU. Resolução-suprema no 282 de 26 de setembro de 1951. Declara-se o zoneamento provisório da

cidade entre set. de 1951 e fev. de 1952. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm>

Acesso em 27 ago. 2011

PERU. Resolução-suprema 57-A.S. de 26 de junho de 1952. Estingue-se a “Junta de Auxílios pro

Desabrigados”. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 30 ago. 2011

PERU. Resolução-suprema de 7 de maio de 1952 artigo 2º “Aprova-se o Plano Piloto da cidade de

Cusco”. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 10 set. 2011

PERU. Resolução-ministerial no 623 de 8 de julho de 1955. Autoriza à CRyF à construção da CHM, as

que deveram levar-se a cabo de acordo às disposições da Lei 12378 seu regulamento e o Plano de

Eletrificação Nacional. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 set.

2011

PERU. Resolução-ministerial no 640 declara-se “reservadas” as aguas do rio Vilcanota ou Urubamba e

seus afluentes, entre os quilômetros 104 e 124 do FF.CC. Cusco–Santa Ana para a construção da

CHM. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 18 set. 2011

PERU. Resolução-suprema no 64 de 1957. Autoriza a convocar a licitação das obras para a construção

da hidroelétrica. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 20 set. 2011

PERU. Resolução-suprema no

74 de 31 de dezembro de 1957 “Aprova-se projeto de construção e

instalação da CHM”. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 22 set.

2011

PERU. Resolução-suprema no

29 de 13 abr. 1962. Autoriza montagem da segunda unidade de 20,000

kw na Central Hidroelétrica de Machupicchu. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 23 set. 2011

PERU. Resolução-suprema no

30 de 13 abr. 1962. Aprova contrato de financiamento para a conclusão

das obras de instalação da 1ª. Etapa da CHM e Linha de transmissão ao Cusco. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 25 set. 2011

PERU. Resolução-suprema no

993 de 20 de junho de 1966. Cria a Comisión Coordinadora del Plan

Cultural Turístico PERÚ-UNESCO (COPESCO). Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 30 set. 2011

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96–SG de 24 de novembro de 1967. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 02 out. 2011

PERU. Resolução-suprema no

216 de 13 de novembro de 1986. Cria o Conselho de Integração

Cultural Latino-americana CICLA. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm>

Acesso em 15 out. 2011

PERU. Resolução-ministerial s/no de 23 de maio de 1950. Autoriza Coleta em favor de Cusco.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 set. 2011

PERU. Resolução-ministerial no

376 da ONPU. Plano Piloto: Memoria do Planejamento Geral.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 15 set. 2011

PERU. Resolução-ministerial no

623 de 8 julho de 1955. Autoriza à CRyF à construção da CHM, as

que deveram levar-se a cabo de acordo às disposições da Lei 12378 seu regulamento e o Plano de

Eletrificação Nacional. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 25 set.

2011

PERU. Resolução-ministerial no

640 de 1955. Declara-se “reservadas” as aguas do rio Vilcanota ou

Urubamba e seus afluentes, entre os quilômetros 104 e 124 do FF.CC. Cusco–Santa Ana para a

construção da CHM. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 30 set.

2011

PERU. Resolução-ministerial no 23 de 31 de maio de 1957 autoriza à CRyF à construção da CHM,

com aproveitamento das aguas do rio Urubamba-Machupicchu, as que deveram levar-se a cabo de

acordo às disposições da Lei 12378 seu regulamento e o Plano de Eletrificação Nacional. Disponível

em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 10 out. 2011

PERU. Resolução-ministerial no

144 do 1 de abril de 1958 é aprovado o conjunto de bases para a

licitação. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 23 out. 2011

PERU. Resolução-ministerial no

4403-75-ED de 1975. Assina um Convênio com o COPESCO e se

cria a Unidade Especial Executora do INC para o Subprojeto de Valorização de Monumentos do Plano

COPESCO. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 25 out. 2011

PERU. Resolução-ministerial no 36-86-PCM. Declara em emergência a Região de Cusco e abre fundos

do tesouro público para obras de emergência em defesa da cidade e da população. Disponível em:

<http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 31 out. 2011

PERU. Resolução-jefatural no 626-INC. de 03 de fevereiro de 1989. Declara-se em reestruturação o

INC e nomeia comissão correspondente. Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm>

Acesso em 10 nov. 2011

PERU. Resolução-jefatural no 770-INC-J. de 11 de dezembro de 1989. Reorganização do

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PLANO COPESCO como Projeto Especial Regional dependente do Conselho Regional.

Disponível em: <http://peru.justia.com/federales/leyes/htm> Acesso em 23 nov. 2011

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PERU. Resolução Executiva Presidencial no1772-9J-PE-CTAR-RI de 18 de outubro de 1993 do

Governo Regional. Para o COPESCO continuar obras de mediano prazo (período 1993-1997).

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