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Programação e Resumos

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Programação e Resumos

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Rede BRasileiRa de HistóRia PúBlica

Grupo de trabalho (2012-2014)

Adriane Vidal Costa – Universidade Federal de Minas GeraisAna Maria Mauad – Universidade Federal FluminenseBenito Bisso Schmidt – Universidade Federal do Rio Grande do SulJosé Newton Coelho Menezes – Universidade Federal de Minas GeraisJuniele Rabêlo de Almeida – Universidade Federal FluminenseMiriam Hermeto – Universidade Federal de Minas GeraisRicardo Santhiago - Universidade Federal Fluminense

Website: www.historiapublica.com.brE-mail: [email protected]

2º simPósio inteRnacional de HistóRia PúBlica: PeRsPectivas da HistóRia PúBlica no BRasil

Realização

Rede Brasileira de História Pública Laboratório de História Oral e ImagemUniversidade Federal Fluminense

aPoio

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal FluminensePró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Proppi/UFF)Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas GeraisFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)

PaRceiRos

Núcleo de Estudos Contemporâneos - UFFNúcleo de Pesquisas em História Cultural - UFFCentro de Estudos em Música e Mídia (MusiMid) National Council on Public HistoryFederação Internacional de História PúblicaAssociação Brasileira de História Oral - Regional SudesteEditora Letra e VozBlog Historiografia na RedeRede social Café HistóriaCentro de Memória da Unicamp (CMU)Grupo de Estudo e Pesquisa em História Oral e Memória (GEPHOM)Núcleo de História Oral da UFMG (NHO-UFMG)

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Sumário

Apresentação, 5

Programação geral, 9

Conferência, 13

Mesas redondas, 17

Oficinas, 23

Lançamentos, 29

Grupos de trabalho, 33

Painéis de experiências em história pública, 125

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cooRdenação geRal

Ana Maria Mauad – Universidade Federal FluminenseClarissa Costa Mainardi Miguel de Castro – Universidade Federal FluminenseJuniele Rabêlo de Almeida – Universidade Federal FluminenseRicardo Santhiago – Universidade Federal Fluminense

comissão oRganizadoRa

Adriane Vidal Costa – Universidade Federal de Minas GeraisAna Maria Mauad – Universidade Federal FluminenseAnita Lucchesi – Universidade Federal do Rio de JaneiroBenito Bisso Schmidt – Universidade Federal do Rio Grande do SulBruno Leal – Universidade Federal do Rio de JaneiroClarissa Costa Mainardi Miguel de Castro – Universidade Federal FluminenseFernando Luiz Cássio – Universidade Federal do ABCHebe Mattos – Universidade Federal FluminenseHeloísa de Araújo Duarte Valente – Universidade PaulistaJosé Newton Coelho Meneses – Universidade Federal de Minas GeraisJuniele Rabelo de Almeida – Universidade Federal FluminenseLarissa Vianna – Universidade Federal FluminenseLucia Grinberg – Universidade Federal do Estado do Rio de JaneiroMartha Abreu – Universidade Federal FluminenseMiriam Hermeto – Universidade Federal de Minas GeraisPaulo Knauss– Universidade Federal FluminenseRenata Schittino – Universidade Federal FluminenseRodrigo de Almeida Ferreira – Universidade Federal de Minas GeraisRicardo Santhiago - Universidade Federal FluminenseSamantha Viz Quadrat – Universidade Federal FluminenseSilvana Louzada – Universidade Federal FluminenseSonia Wanderley – Universidade do Estado do Rio de JaneiroValéria Barbosa de Magalhães – Universidade de São Paulo

comissão científica

Angela de Castro Gomes– Universidade Federal FluminenseAndrea Casa Nova Maia – Universidade Federal do Rio de JaneiroCarlos Fico – Universidade Federal do Rio de JaneiroDaphne Patai – University of Massachusetts, AmherstDilton Cândido Santos Maynard – Universidade Federal de SergipeJurandir Malerba – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do SulLucilia de Almeida Neves – Universidade de BrasíliaMárcia Ramos de Oliveira – Universidade do Estado de Santa CatarinaMarcos Silva – Universidade de São PauloMarieta de Moraes Ferreira – Universidade Federal do Rio de JaneiroMarta Gouveia de Oliveira Rovai – Universidade Federal de AlfenasMichael Frisch – The State University of New York, BuffaloRodrigo Patto Sá Motta – Universidade Federal de Minas GeraisSerge Noiret – European University InstituteSonia Meneses – Universidade Regional do Cariri

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Apresentação

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Perspectivas da História Pública no Brasil

Prezados participantes,

Temos imensa satisfação em recebê-los na Universidade Federal Fluminense para a realização do 2º Simpósio Internacional de História Pública, que em três dias de intensa atividade – organizada em torno de mesas redondas, oficinas, grupos de trabalho, painéis de experiências em história pública, lançamentos de livros, conferência internacional – visa dinamizar o crescente debate sobre história pública em nosso país.

Organizado pela Rede Brasileira de História Pública e, em âmbito local, pelo Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI), o evento busca consolidar uma sistemática de realizações bienais de simpósios de história pública no Brasil, após a bem sucedida realização do primeiro Simpósio Internacional de História Pública: A história e seus públicos, que no ano de 2012 reuniu cerca de 600 participantes na Universidade de São Paulo. Nesta nova ocasião, busca-se facilitar a agregação de pesquisadores em grupos de trabalho que desejavelmente venham a se consolidar para nossos próximos simpósios e no interior da Rede Brasileira de História Pública. Além disso, deseja-se ainda discutir os rumos de nossa rede após seus dois primeiros anos de atividade.

O tema aglutinador desta edição do evento – Perspectivas da História Pública no Brasil – abre-se para um elenco de tópicos instigante e variado, propiciando o cruzamento de fronteiras entre diversas áreas de conhecimento e atuação, acadêmicas e não acadêmicas. Espera-se que este intercâmbio intelectual, empreendido entre pesquisadores e profissionais de várias áreas, contribua decisivamente para o avanço da área e para a continuidade mesma das atividades da Rede Brasileira de História Pública.

Sejam bem vindos!

Ana Maria MauadClarissa C. M. M. de CastroJuniele Rabêlo de AlmeidaRicardo Santhiago

Rede Brasileira de História PúblicaLaboratório de História Oral e ImagemUniversidade Federal Fluminense

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Programação geral

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Perspectivas da História Pública no Brasil

Quadro de programação

 Quarta-feira, 10 de setembro

Quinta-feira, 11 de setembro

Sexta-feira, 12 de setembro

   9h30-10h

Sessão oficial de abertura

Local: Auditório

   10h-12hConferência de abertura Local: Auditório

Mesa redonda História pública e as mídiasLocal: Auditório

Mesa redonda História pública, comunidades e culturas popularesLocal: Auditório

   12h-13h

Sessões de comunicação Experiências em História públicaLocal: Auditório

Sessões de comunicação Experiências em História públicaLocal: Auditório

Assembleia Os próximos passos da Rede Brasileira de História PúblicaLocal: Auditório

   13h-14h Intervalo para almoço Intervalo para almoço Intervalo para almoço

14h-17h45 Grupos de trabalho Grupos de trabalho Grupos de trabalho

   18h-20h

Mesa redonda Lugares e narrativas da história públicaLocal: Auditório

Mesa redonda História, tempo presente e plataformas digitaisLocal: Auditório

Mesa redonda A história e o público no BrasilLocal: Auditório

   20h-22h

OficinasLocal: Salas de aula

 

OficinasLocal: Salas de aula

*

Confraternização e sessão de autógrafos (lançamentos de livros e outras obras)

Local: A ser divulgado

 Sessão de encerramento

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2º Simpósio Internacional de História Pública

CredenciamentoQuarta-feira, 10 de setembro, das 9h30 às 18h

Quinta-feira, 11 de setembro, das 9h30 às 12h

Sexta-feira, 11 de setembro, das 9h30 às 12h

Sessão oficial de aberturaQuarta-feira, 10 de setembro, das 9h30 às 10h

Sessão oficial de abertura com representantes das instituições:

• Rede Brasileira de História Pública;

• Laboratório de História Oral e Imagem;

• Associação Brasileira de História Oral;

• Federação Internacional de História Pública;

• Universidade Federal Fluminense (Programa de Pós-Graduação em História - UFF; Coordenação de Graduação em História - UFF; Instituto de Ciências Humanas e Filosofia - UFF; Reitoria - UFF; Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação - UFF).

ConfraternizaçãoQuinta-feira, 11 de setembro, das 20h às 22h

Assembleia: Os próximos passos da Rede Brasileira de História PúblicaSexta-feira, 12 de setembro, das 12h às 13h

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Conferência

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Perspectivas da História Pública no Brasil

Conferência de aberturaQuarta-feira, 10 de setembro, das 10h às 12h

História oral e história pública:Um parentesco radical

com Linda Shopes

Em sua conferência de abertura para o 2º Simpósio Internacional de História Pública, Linda Shopes tratará das origens distintas da história oral e da história pública: a primeira, como uma prática arquivística; a segunda, como um espaço de trabalho.

Shopes abordará a gradual convergência de ambas sob a rubrica da “história social”, à medida que os historiadores orais começaram a sair dos arquivos e ir para a esfera pública e que os historiadores públicos passaram a definir a si próprios mais em função da prática do que pelo vínculo empregatício, e passaram a adotar a história oral como parte de suas ferramentas. A palestrante, ainda, tratará das oportunidades atuais para aprofundar a relação entre história oral e história pública, particularmente com a ampla adoção das mídias digitais.

A conferência levará em conta tanto os contextos sociais e intelectuais destas diferenças, convergências e oportunidades, e oferecerá exemplos de seus argumentos a partir do trabalho executado por Linda Shopes nos Estados Unidos, bem como de outros trabalhos de história oral e história pública realizados pelo mundo.

Linda Shopes é historiadora e editora freelance, professora do Oral History Institute da Columbia University e do Mestrado em Cultural Sustainability do Goucher College. É coorganizadora dos livros The Baltimore Book: New Views of Local History e Oral History and Public Memories e autora de inúmeros artigos e ensaios sobre história oral, história pública e história comunitária. É editora da série de livros de história oral da editora Palgrave, com dezenas de títulos em catálogo. Ministra regularmente cursos sobre história oral, desde a elaboração de projetos de pesquisa até a interpretação do material, e mais recentemente tem se dedicado a oferecer workshops sobre a preparação de entrevistas de história oral para publicação.

Comentadora: Ana Maria Mauad

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Mesas redondas

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Perspectivas da História Pública no Brasil

Lugares e narrativas da história públicaDia 10 de setembro, quarta-feira, das 18h às 20h

• David King Dunaway - University of New Mexico, Albuquerque

• Miriam Hermeto - Universidade Federal de Minas Gerais

• Paulo Garcez - Museu Paulista

• Paulo Knauss - Universidade Federal Fluminense

Debatedora: Ana Maria Mauad – Universidade Federal Fluminense

História pública e as mídiasDia 11 de setembro, quinta-feira, das 10h às 12h

• Carlos Fico - Universidade Federal do Rio de Janeiro

• Jurandir Malerba - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

• Marialva Barbosa - Universidade Federal do Rio de Janeiro

• Regina Helena Alves da Silva - Universidade Federal de Minas Gerais

Debatedora: Juniele Rabêlo de Almeida - Universidade Federal Fluminense

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2º Simpósio Internacional de História Pública

História, tempo presente e plataformas digitaisDia 11 de setembro, quinta-feira, das 18h às 20h

• Anita Lucchesi - Blog Historiografia em Rede

• Francisco Carlos Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro

• Massimo di Felice - Escola de Comunicações e Artes da USP

• Serge Noiret - European University Institute

Debatedora: Márcia Ramos de Oliveira – Universidade do Estado de Santa Catarina

História pública, comunidades e culturas popularesDia 12 de setembro, sexta-feira, das 10h às 12h

• Hebe Mattos - Universidade Federal Fluminense

• Lia Calabre – Fundação Casa de Rui Barbosa

• Paulo Fontes - Fundação Getúlio Vargas

• Martha Abreu - Universidade Federal Fluminense

Debatedora: Marta Gouveia de Oliveira Rovai - Universidade Federal de Alfenas

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Perspectivas da História Pública no Brasil

A história e o público no BrasilDia 12 de setembro, sexta-feira, das 18h às 20h

• Benito Bisso Schmidt - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

• Marieta de Moraes Ferreira - Universidade Federal do Rio de Janeiro

• Renata Schittino - Universidade Federal Fluminense

• Ricardo Santhiago - Universidade Federal Fluminense

Debatedora: Adriane Vidal Costa - Universidade Federal de Minas Gerais

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Oficinas

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Perspectivas da História Pública no Brasil

História oral e história públicacom David King Dunaway

10 e 11 de setembro, das 20h às 22h

Quais são as melhores estratégias para se criar versões impressas e audiovisuais de história oral a partir de entrevistas? As possibilidades e os desafios éticos desse processo serão assunto da oficina com David King Dunaway, professor da University of New Mexico, com vasta experiência em história oral e produção de documentários.

A oficina será composta por duas partes. Na primeira, o professor David King Dunaway irá abordar tópicos centrais na pesquisa de história oral, apresentar exemplos eficazes de produções a partir de entrevistas de história oral, e discutir questões como: Como escolher o melhor meio para difundir história oral; como organizar e planejar essa produção; de que forma o produto final é moldado pelas fontes, pelo editor e pelo público-alvo; e quais são os dilemas éticos atinentes a esse processo. Na segunda parte, os participantes serão estimulados a compartilhar os projetos de história oral que pretendem publicar em livro ou difundir por meio de rádio, vídeo ou podcast, para discussão e elaboração de um plano de difusão. A oficina será ministrada em inglês e, em partes, em espanhol.

História digitalcom Anita Lucchesi e Bruno Leal

10 e 11 de setembro, das 20h às 22h

As chamadas “novas tecnologias da informação e da comunicação” (NTICs) vêm promovendo desde o início da década de 1990 um profundo reordenamento das relações sociais, da produção industrial, da concepção dos signos socioculturais, da política e, de uma maneira mais geral, de nossa maneira de experimentar e explicar a realidade, nossa relação com o tempo. Como essas “novas mídias”, em especial as mídias digitais, estão transformando a forma de se conceber a história e a historiografia? Como o ofício do historiador tem sido afetado por todas essas mudanças, principalmente aquelas ocasionadas pelo computador e pela Internet? Estas são algumas questões que serão exploradas na oficina “História Pública e Plataformas Digitais”, ministrada por Anita Lucchesi (Historiografia na Rede) e Bruno Leal (PPGHIS/UFRJ/Café História), no II Simpósio Internacional de História Pública.

A oficina será dividida em dois dias. No primeiro dia, Leal e Lucchesi, falarão sobre a relação dos historiadores com os computadores e a tecnologia de uma forma mais ampla, indo desde a chamada “história quantitativa”, nos anos 1960, até o surgimento da “história digital”. Após uma introdução ao debate da história/historiografia digital, a rede social Café História, projeto desenvolvido por Leal, será apresentada como caso de estudo no campo da história pública e digital. Já no segundo dia de oficina, os ministrantes vão explorar as evidências e possibilidades na história digital (escrita, divulgação, análise documental, ferramentas, formas narrativas etc.), além de um exercício original voltado para a produção de vídeos online.

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2º Simpósio Internacional de História Pública

Internet e mídia alternativacom Mídia NINJA

10 e 11 de setembro, das 20h às 22h

A conexão entre Internet e o fazer jornalístico mexeu com formas já consolidadas de registrar e de transmitir informações. Esses novos arranjos fortaleceram os cidadãos multimídia e sofisticaram a precisão em que o acompanhamento da História acontece: é possível capturar a História, construir narrativas e compartilhá-las com o resto do mundo em tempo real. A oficina propõe uma reflexão sobre as novas ferramentas e a difusão, registro e produção de conteúdo a partir da internet.

História e videogamecom Christiano Britto Monteiro dos Santos, Arthur Protasio Jorge de Oliveira, Everardo Paiva de Andrade, Marcelo Kosawa de Siqueira, Marco de Almeida Fornaciari

10 e 11 de setembro, das 20h às 22h

Os videogames apresentam-se, no campo da História Pública, como uma mídia capaz de levantar questões importantes. Por um lado, sua popularidade crescente entre diversos setores da sociedade desperta o interesse de historiadores (e cientistas sociais, comunicólogos, educadores…), dispostos a compreender essa mídia e utiliza-la a seu favor; por outro, suas formas particulares de retratar eventos e contextos históricos nem sempre agradam a esses profissionais. Como resolver esse impasse? Deve, ou pode, o historiador submeter o videogame ao seu domínio? Seria o caso, então, de capitular frente ao poder de persuasão dos jogos? Ou é possível um diálogo menos dicotômico?

A oficina pretende abordar o tema dos videogames e sua relação com a História, especificamente no tocante à sua apropriação e representação de temas históricos, no contexto da História Pública. Nesse sentido, um ponto central será o debate acerca do papel do historiador nesse processo, e quais podem ser as bases de sua relação com o universo dos games. Para isso, propomos um debate amplo, que passa por (i) uma cronologia introdutória da indústria dos videogames, contextualizada em diversos momentos históricos; (ii) uma discussão sobre o que é essa mídia, procurando identificar as diferentes formas sob as quais ela surge na sociedade e as vantagens e limites das definições atribuídas a ela; (iii) considerações sobre a apropriação de temas históricos por parte dos jogos e, finalmente, (iv) uma reflexão sobre a validade e eficiência de diversas posturas possíveis para o historiador frente ao videogame. Todo esse trabalho será baseado em um constante diálogo com o público, procurando construir conjuntamente novos conhecimentos sobre esse universo ainda novo para muitos profissionais da academia.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

História e fotografia mobilecom André Galhardo e Beto Pestana

10 e 11 de setembro, das 20h às 22h

Já se disse que o analfabeto do futuro não será quem não sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar. (Walter Benjamin, na “Pequena história da fotografia”).

O surgimento da fotografia, no século XIX, mudou a história e também a maneira de pensar e produzir História. O ato de fotografar é, automaticamente, o ato de documentar. Ao dirigirmos nosso olhar e ativá-lo com uma câmera, selecionamos o que merece virar um registro oficial de nossas vidas, de nosso passado e agora também de nosso presente. Hoje, conectados através de redes sociais como Facebook, Instagram, G+, Twitter, Pinterest e outras, produzimos, selecionamos e até planejamos o que merece ser compartilhado. Nos comunicamos cada vez mais através destas imagens em nossas redes, em dispositivos mobile que agora são nossas câmeras. permanentemente em nossos bolsos, carregadas, prontas para captar e compartilhar nossa história. A fotografia deixou de registrar o passado para ser uma transmissão 24 horas “ao vivo”. Somos todos fotógrafos. E historiadores.

Vivemos em cidades, organismos em permanente mudança. O projeto @Rio365 foi desenvolvido com o objetivo de captar as ultra-rápidas transformações do Rio de Janeiro dos últimos anos pelo olhar das pessoas que registram o dia a dia na cidade usando a rede Instagram. Um “jogo fotográfico” realizado por 365 dias, com 365 imagens selecionadas divididas em 52 temas (1 por semana). Esta experiência resultou no 1º documentário fotográfico de uma cidade produzido através deste processo, totalmente colaborativo. Foram mais de 100 mil imagens compartilhadas por mais de 6 mil participantes, resultando em um fotolivro lançado em novembro de 2013. Atualmente o projeto está em sua 2ª edição e não para de crescer.

No primeiro dia desta oficina iremos apresentar detalhes da concepção e execução do @Rio365 e do @Rio450, projeto que co-memora no Instagram os 450 anos do Rio de Janeiro, produzido pelo próprio @Rio365, com apoio do Comitê Rio450/Prefeitura do Rio de Janeiro. Nessa primeira reunião, proporemos aos participantes um exercício prático para ser apresentado e discutido no segundo dia: um documentário fotográfico do próprio evento, o 2º Simpósio Internacional de História Pública.

História e cinemacom Carlos Eduardo P. de Pinto e Julia Rigeiro

10 e 11 de setembro, das 20h às 22h

Que pontos de contato existem entre um(a) cineasta e um(a) historiador(a)? Que papéis estes profissionais podem cumprir na produção de filmes que reflitam sobre o passado? Historiadores seriam capazes de fazer “bom cinema”? Cineastas estariam aptos a fazer “boa

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2º Simpósio Internacional de História Pública

história”? Seria o cinema apenas um mero divulgador da historiografia ou um meio legítimo de criação de sentidos sobre o passado?

O objetivo da oficina é tentar responder a estas e outras questões, problematizando o cinema como uma das dimensões públicas da história. No primeiro encontro, os participantes serão convidados a refletir sobre as diversas possibilidades de intercessão entre cinema e história; no segundo, entrarão em contato com a produção teórica dos coordenadores, voltada a pensar o Cinema Novo brasileiro e o Nuevo Cine Latinoamericano. Nos dois momentos, o conhecimento será construído a partir de exemplos práticos – por meio da análise de trechos de filmes sobre o passado, levando em conta detalhes de sua elaboração.

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Lançamentos

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Lançamentos, conversas com autores e sessões de autógrafosQuinta-feira, 11 de setembro, das 20h às 22h

A greve no masculino e no feminino [Osasco, 1968]Marta Gouveia de Oliveira RovaiSão Paulo: Letra e Voz, 2014

A música como negócio: Políticas públicas e direitos de autorHeloísa de Araújo Duarte Valente e outros (org.)São Paulo: Letra e Voz, 2014

A programação de rádios públicas brasileirasValci Regina Mousquer ZuculotoFlorianópolis: Insular, 2012

No ar - A história da notícia de rádio no BrasilValci Regina Mousquer ZuculotoFlorianópolis: Insular, 2012

O Enegrecimento da Padroeira do BrasilLourival dos SantosSalvador: Editora Pontocom, 2013

Prata da Casa: Fotógrafos e fotografia no Rio de JaneiroSilvana LouzadaNiterói: EDUFF, 2014

Revista Rosa dos Ventos - Dossiê História do Turismovol 6, nº 2, abril-junho de 2014Susana Gastal e Valéria Lima Guimarães (orgs.)Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul (RS), 2014

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Grupos de trabalho

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2º Simpósio Internacional de História Pública

GT 01 – História Pública: Questões teóricas e metodológicas, autoria e éticaData: dia 11, quinta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

José Antônio Vasconcelos (USP)Jurandir Malerba (PUC-RS)Leandro Malavota (IBGE)Ricardo Santhiago (UFF)

PseudoHistóRia, consPiRacionismo e Política: o caso do negacionismo do Holocausto

Ricardo Figueiredo de Castro -Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)[email protected]

A história e a memória de uma sociedade não são debatidas apenas pelos historiadores. Apesar de frequentemente os historiadores serem questionados sobre a relevância e a utilidade do trabalho historiográfico a história e a memória são a base de diferentes questões colocadas pelos cidadãos e instituições, especialmente nos assuntos e problemas relacionados ao poder, posto que a política está intimamente ligada, embasada em questões históricas. Entretanto, nem sempre esta demanda é suprida pelo acesso à historiografia produzida pelos historiadores com formação na disciplina. Frequentemente o que acontece é a produção de textos elaborados por pessoas de diferentes formações universitárias, como por exemplo, jornalistas, que oferecem produtos culturais que se adequam mais facilmente às exigências do mercado editorial e midiático. Com o avanço do processo de midiatização da sociedade no último quarto do século XX o papel ideológico exercido por estes produtos culturais (livros, sites, revistas, programas de TV etc.) tem se aprofundado e se consolidado como uma importante forma de produção cultural, competindo com a produção historiográfica disseminada sob a forma de “divulgação científica”. No entanto, interessa-nos aqui um tipo particular desse tipo de produto “historiográfico”, aquele que é caracterizado pelos membros do movimento cético estadunidense como pseudo-histórico, isto é, textos que, entre outras características consideram-se portadores de uma missão em prol da defesa de alguma plataforma política ou religiosa manipulando a escolha de referências bibliográficas e fontes primárias para a confirmação da tese que se quer confirmar. Além disso, tem um importante papel no universo ideológico da extrema-direita contemporânea. Existem atualmente diferentes exemplos de pseudo-história, tais como a Nova Cronologia, Afrocentrismo, a Teoria do Antigo Astronauta. Cada uma dessas correntes pseudo-historiográficas tem atualmente um vasto público consumidor de seus produtos culturais: revistas, livros, documentários, sites na WEB

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Perspectivas da História Pública no Brasil

etc. Uma das principais correntes pseudohistoriograficas é a do Negacionismo do Holocausto (Revisionismo do Holocausto) que há décadas produz uma série de textos que se dedicam a provar que o Holocausto não existiu e que, na verdade, seria uma das provas de que existiria uma conspiração judaica internacional para dominar o mundo.

HistóRia social das PRoPRiedades e seus Reflexos no diReito autoRal

Joana Campinho Rabello Corte Real Delgado – Universidade Federal do Rio de [email protected]

Essa pesquisa tem por objetivo analisar historicamente as formas de realização dos direitos de propriedade, a partir de suas transformações socioeconômicas e jurídicas, e apontar seus reflexos sobre a compreensão das relações jurídicas de direitos autorais, incorporando o debate e as reflexões sobre os comuns (“commons”). Inicia-se o trabalho com a exposição dos problemas derivados de uma análise excessivamente unilateral da história social da propriedade, enfatizando a repercussão dessa retórica nas construções jurídicas acerca dos direitos de propriedade. Logo após incursiona-se pela discussão, exaltada pela história e pela economia, das vantagens da propriedade privada e propriedade comum para a eficiência, equidade e sustentabilidade dos padrões de uso dos recursos. Enfatiza-se a apreciação do conhecimento como comum (common), ressaltando a natureza complexa desse recurso compreendido tanto como uma mercadoria quanto como uma força constitutiva da sociedade. A parte final da investigação apresenta, a partir dos pressupostos da historicidade, funcionalidade e relatividade das normas e institutos jurídicos, de que forma a releitura desses direitos contribui para uma revisão de alguns valores normativos fundamentais dos direitos autorais. A conclusão aponta para o descompasso do direito autoral brasileiro com os desenvolvimentos sociotecnológicos e jurídicos recentes e a necessidade de reafirmar os valores constitucionais que o orientam.

autoRia, PRoPRiedade e disseminação de infoRmações: cuidados e limites Relativos à PRodução HistoRiogRáfica voltada a amPlas audiências

Leandro Miranda Malavota e Luigi Bonafé – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatí[email protected]

A cada dia cresce o interesse de instituições públicas e privadas pelo desenvolvimento de atividades de memória empresarial. A percepção da utilidade e importância de produtos de história/memória como instrumentos voltados a ações de branding, endomarketing e gestão do conhecimento abre espaços para a atuação de um conjunto de profissionais especializados no interior das organizações, incluindo os historiadores. Diante de algumas das possibilidades que se abrem em tal seara de trabalho - como a elaboração de produtos editoriais e audiovisuais, promoção de exposições, construção de acervos de história oral, organização e divulgação de documentos históricos, entre outros -, uma série de desafios de novo tipo se levantam, os quais, por vezes, mostram-

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se particularmente árduos. Destacamos dentre eles o enfrentamento de questões concernentes aos direitos de propriedade intelectual e de imagem. Se na produção historiográfica de natureza acadêmica, com a qual a maioria dos historiadores se mostra mais familiarizada, aspectos legais envolvendo autoria e propriedade dificilmente se apresentam como elementos essenciais a serem observados (exceto, obviamente, aquilo que diz respeito ao plágio), na produção voltada a grandes audiências eles se tornam mais visíveis e recorrentes. Partindo-se, portanto, de uma reflexão mais ampla sobre o ofício do historiador em instituições não acadêmicas, o presente trabalho tem como objetivo expor e discutir alguns dos cuidados a serem observados quanto ao uso e divulgação de produtos e conteúdos legalmente “protegidos”, tomando-se o trabalho desenvolvido no âmbito da Equipe de Memória Institucional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Memória IBGE) como um caso a ser estudado.

a PRoPRiedade intelectual e seu aPaRente conflito com o inteResse coletivo.

Aline Pita Bulhões de Souza – Universidade Federal do Rio de [email protected]

Considerando que a propriedade intelectual consiste na materialização da proteção à criação humana, através da implementação de direitos de apropriação do homem sobre as criações, obras ou produções do intelecto humano, o presente estudo, pretenderá apresentar a evolução histórica da Propriedade Intelectual, que, basicamente, obteve maior expressão a partir da Primeira Revolução Industrial, onde houve a transição da estrutura rural para uma atividade eminentemente industrial, acelerando assim o desenvolvimento tecnológico, justificando a busca pelo domínio sobre o resultado do processo tecnológico, e o atual panorama da sistemática de proteção da propriedade intelectual e sua relação de aparente tensão entre os interesses particulares (produtores) e o interesse público (sociedade). A fins de exemplificar e pontuar o aparente conflito de interesses entre privado e commun, se dá, será trazida a necessidade do Estado em prover e custear meios para um efetivo acesso e formação cultural (haja vista o desenvolvimento não mais ser visto tão somente na perspectiva econômica, mas também com o fomento de valores que promovam a dignidade da pessoa humana). Ocorre que, o acesso livre (um dos meios necessários para a difusão cultural) conflita aparentemente com o direito privado (Direito Autoral – Domínio) do autor de obter retorno financeiro a fim de estimulá-lo a novas produções, produções estas necessárias também ao acesso. Assim, não se esquecendo da motivação de sua criação, menos de sua evolução histórica se faz necessário discutir a função social da propriedade, haja vista as inúmeras “limitações” quando a enfocamos numa perspectiva eminentemente privada. A propriedade é uma relação e não um instituto estático, uma vez que envolvem diversos atores e interesses (Relações Econômicas x Utilidade Pública): é uma relação entre proprietários e os outros. Assim a questão proposta para discussão está para além de definir o que é ou não patente de ser apropriado, mas suscitar soluções que dirimam o suposto conflito de interesses entre propriedade e commun.

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HistóRia PúBlica e sociologia PúBlica: diálogos e inteRfaces em um camPo inteRdisciPlinaR

Fernando Perlatto – Universidade do Estado de Minas [email protected]

Nos últimos anos, diversos trabalhos têm sido publicados em diferentes países procurando refletir teórica e metodologicamente sobre a categoria “história pública”. Trata-se, em grande medida, de pensar quer sobre a maneira de se fazer com que o conhecimento histórico seja difundido para audiências mais amplas, quer sobre as possibilidades de uma construção mais coletiva do conhecimento histórico em diálogo com públicos extra-acadêmicos, a exemplo dos movimentos sociais. Paralelamente às formulações em torno da “história pública”, tem-se testemunhado, ao longo dos últimos anos, uma produção crescente, sobretudo nos Estados Unidos, em torno da chamada “sociologia pública”, sobretudo a partir dos escritos de Michael Burawoy. Desenvolvendo suas ideias em torno de questionamentos “sociologia para que?” e “sociologia para quem?”, Burawoy propôs quatro tipos de prática sociológica – a saber, “sociologia profissional”, “sociologia crítica”, “sociologia pública tradicional” e “sociologia pública orgânica” –, que tiveram enorme impacto no campo sociológico mundial, impulsionando uma série de publicações e uma agenda ampla de pesquisa em torno das possíveis vinculações dos sociólogos com a esfera pública e com públicos externos às universidades. O presente trabalho procura discutir possíveis diálogos e interfaces entre o debate relacionado à “história pública” e aquele vinculado à “sociologia pública”, procurando tanto compreender linhas de aproximações e divergências entre esses dois campos de reflexão, quanto os dilemas e desafios enfrentados por aqueles profissionais que pretendam tornar públicos os conhecimentos acadêmicos produzidos e estabelecer relações mais orgânicas com audiências externas aos muros das universidades. Procuraremos, à guisa de conclusão, sustentar a necessidade de se formular, a partir do diálogo entre “história pública” e “sociologia pública”, uma abordagem que abra caminhos para se pensar de forma mais ampla e sistemática a relação das universidades com a agenda pública e com públicos extra-acadêmicos em uma perspectiva interdisciplinar.

HistóRia PúBlica e cultuRa HistóRica: tRaBalHando com a noção de “PúBlico”

Flavia Renata Machado Paiani – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do [email protected]

Se remontarmos ao conceito de História Pública, esboçado pelo historiador estadunidense Robert Kelley em 1978, podemos interpretá-lo a partir de um viés institucional: “o emprego de historiadores e do método histórico fora da academia”. É certo, porém, que o conceito expandiu-se e modificou-se ao longo das décadas, de acordo com o país que o empregasse. A história pública assumiria, assim, formas diversas – desde museus e arquivos até plataformas digitais –, tendo como objetivo

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atingir um público mais amplo. De modo análogo, o conceito de Cultura Histórica, propagado pelo historiador alemão Jörn Rüsen, sintetizaria “a universidade, o museu, a escola, a administração, os meios e outras instituições culturais como conjunto de lugares de memória coletiva”. A cultura histórica estaria voltada, portanto, ao “papel da memória histórica no espaço público”. É justamente esta noção de “público” que se pretende analisar nesta comunicação, pois a partir dela desenrolam-se os pontos de intersecção entre História Pública e Cultura Histórica, seja o “público” pensado enquanto “audiência”, seja o “público” pensado em oposição ao “privado”.

cada um no seu quadRado, PaRte ii, ou algumas oBseRvações soBRe ética e HistóRia PúBlica

Ricardo Santhiago – [email protected]

Nesta apresentação, farei alguns apontamentos a respeito da “ética da história pública”, colocando em questão a existência de uma especificidade para os debates éticos nesse campo. Dividirei a apresentação em três partes: a revisão de argumentos anteriores acerca de ética em história oral; os dilemas enfrentados em uma pesquisa atual, que desloca memórias de sua condição anônima para sua condição revelada e desejavelmente pública; a avaliação da produção intelectual estrangeira, no campo da história pública, sobre ética.

a disPoniBilização de fonte PaRa os estudos inquisitóRias

Eloy Barbosa de Abreu – Universidade Federal de [email protected]

Qual relação se pode estabelecer entre as fontes inquisitoriais, o campo antropológico, a justiça e a micro-história? Para responder a esta indagação faz-se necessário primeiramente um esclarecimento sobre o que definimos como fonte inquisitorial. As práticas do Tribunal do Santo Ofício na América portuguesa produziram milhares de processos e denúncias que se constituem em um riquíssimo corpus documental para os pesquisadores interessados em historiar a atuação da Inquisição no Brasil colonial. Recentemente, a disponibilização de fontes do arquivo da Torre do Tombo no campo virtual vem ampliando a produção historiográfica sobre o tema da atuação do Tribunal da Santa Inquisição na América portuguesa. As visitações as localidades pelo poder eclesiástico e secular foi uma prática que se perpetuou desde a época medieval e se estendeu para as áreas coloniais. Destas inquirições se forjavam as denúncias que, persuadiam, por intermédio do interrogatório, os indivíduos à delação. É, sobretudo, a possibilidade de historiar percepções da realidade dos conflitos sociais, políticos e religiosos na América portuguesa a partir dos depoimentos, confissões e denúncias aos agentes da inquisição, que nos interessa refletir aqui, podendo a partir da análise

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Perspectivas da História Pública no Brasil

dessas referidas fontes construir trajetórias de indivíduos que caíram nas malhas da inquisição.

o segundo “gimBa”: adaPtação como ReescRituRa

Tatiana de Almeida Nunes da Costa – Pontifícia Universidade Cató[email protected]

O presente trabalho objetiva uma reflexão a respeito das tensões da autoria na produção literária contemporânea, direcionando o olhar, mais especificamente, para o espaço ocupado por uma escrita ficcional que se estende ancorada na experiência do sujeito autoral. Para tanto, tomamos como referência a adaptação textual de “Gimba, presidente dos valentes”, realizada no ano de 2010 pelo escritor Paulo Lins em parceria com o diretor teatral Carlos Henrique Botkay. Elaborada originalmente no ano de 1958, pelo autor e ator Gianfrancesco Guarnieri, a obra partilhava do sentimento de necessidade de nacionalização do teatro brasileiro, procurando levar aos palcos o universo da favela, da malandragem, do samba, como sinônimo de brasilidade. Passados 50 anos da montagem original, o espaço da favela agora é relido com um toque a mais, a saber, a perspectiva de um ex-residente, assim, reaquecendo a querela dos limites entre o documental e o ficcional.

staR tRek into daRkness e a HistoRiogRafia aPós 11 de setemBRo

José Antonio Vasconcelos – USP

O Filme Star Trek Into Darkness, de 2013, em diversos momentos faz alusão aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ao Pentágono e a Nova York, e à subsequente perseguição a Osama Bin Laden como parte da “Guerra ao Terror”. O personagem Khan, que na série original era um ditador do final do século XX encontrado pela Enterprise em estado de hibernação numa nave à deriva, é reapresentado no longa metragem como um terrorista com relações secretas e ambíguas com altas esferas da Frota Estelar. O filme tem como pano de fundo o conjunto de convicções morais e políticas que faziam parte do discurso da nação estadunidense antes de 2001 e que tiveram de ser repensadas a partir de acontecimentos até então inusitados. Minha comunicação visa estabelecer um paralelo entre o apelo do capitão Kirk, ao final do filme, para que voltassem a ser aquilo que já foram outrora, a e questão da identidade nacional na historiografia estadunidense após 11 de setembro. Em outras palavras, trata-se de entender como a história influencia e é influenciada pelo forte abalo emocional sofrido pelo público em geral, e pela progressiva construção de uma nova autoimagem da nação.

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2º Simpósio Internacional de História Pública

GT 02 – História Pública, biografia e literaturaData: dia 10, quarta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Adriane Vidal (UFMG)Alexandre Moraes (UFF)Benito Bisso Schmidt (UFRGS)Maria Elena Bernardes (CMU-Unicamp)Mateus Fávaro (UFOP)

a tRajetóRia de uma vida: analisando as constRuções de “temPo” nas BiogRafias de d. PedRo ii (1999-2013)

Mauro Henrique Miranda de Alcântara – Instituto Federal de Rondô[email protected]

Um dos personagens mais emblemático do Brasil Império, e mais conhecido pelo público, chama-se D. Pedro II. Emblemático pois ele é a referência de um “tempo histórico”, ou melhor, a construção de sua imagem sempre está refletida na estrutura sócio-política do seu reinado, no caso, o segundo da monarquia brasileira. Como escreve Le Goff (1999, p. 23-24), o sujeito histórico “constrói-se a si próprio e constrói sua época, tanto quanto é construído por ela”. Esse vínculo entre o personagem e o seu período histórico está tão estritamente ligado, que parece se tonar uma relação de simbiose, onde um não pode viver sem o outro. O monarca tornou-se a “chave principal para compreender a política imperial no Segundo Reinado” (ALCÂNTARA, 2013, p. 14). Entretanto, podemos nos perguntar se D. Pedro II fora fruto do seu tempo histórico ou fora construído assim? Diante deste cenário, o objetivo deste trabalho é verificar nas biografias produzidas sobre esse personagem, pela antropóloga Lilia Moritz Schwarcz (As Barbas do Imperador, 1999), e pelos historiadores José Murilo de Carvalho (D. Pedro II, 2007) e Roderick J. Barman (O Monarca-Cidadão, 2013), as (diferentes) concepções de tempo que são apresentadas nestas narrativas, na trajetória do Imperador. Para isso nos apropriaremos dos estudos do francês François Hartog, para verificarmos em qual(is) regime(s) de historicidade(s) se encontrava D. Pedro II. Acreditamos que o monarca possa ser encontrado no que Hannah Arendt descreve como “brechas do tempo” (HARTOG, 2013), ou seja, ele estava na fase de transição de dois regimes de historicidade. No entanto, a modelagem realizada pelas biografias sobre o personagem, levaram a construção e naturalização de um destes regimes, e sem problematizar a relação entre o sujeito histórico e o seu tempo.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

Política e HistóRia em oswald sPengleR: o fenômeno Político-intelectual do “PRussianismo e socialismo” na alemanHa (1919)

Augusto Patrini Menna Barreto Gomes – [email protected]

Esta comunicação pretende analisar o livro “Prussianismo e Socialismo” (1919-1920) de Oswald Spengler, sob a perspectiva da História Intelectual, uma das obras de maior impacto político e editorial na Alemanha em meados de 1920. Segundo seu autor, este texto foi uma tentativa de explicação de “A Decadência do Ocidente”, e é uma obra importante pois evidencia, em certa medida, a forma que a historiografia teria se os historiadores profissionais seguissem a concepção histórica e a metodologia spenglerianas. Prussianismo e Socialismo foi escrito entre a publicação dos dois tomos de “A Decadência do Ocidente” (1918-1922), e talvez, sob o impacto de dois acontecimentos que sacudiram a Alemanha, a derrota de 1918, e o fracasso da Revolução de 1918. Trata-se de um livro de história mas também de um manifesto político, ampliação das ideias políticas contidas no livro anterior, violentamente antiparlamentar, e antiliberal. Uma crítica mordaz da República de Weimar que colocara no poder o pequeno-burguês que o autor desprezava. “Prussianismo e Socialismo”, livro de fácil leitura, atingiu um público mais amplo do que o difícil, extenso e complexo livro anterior.

viúvos, oRfãs e solteiRonas: o meRcado de matRimônios noRdestino na PRimeiRa metade do século xx contado Pela vida de lauRa

Josefa Nunes Pinheiro – Universidade Estadual do Vale do Acaraú – Uva – Ceará[email protected]

Trata-se de um estudo biográfico que procura compreender a configuração sociofamiliar do nordeste do Brasil na primeira metade do século XX. A pesquisa é uma tentativa de reconstrução biográfica da história de Laura, uma cearense órfã que se casa aos quinze anos com Januário, um viúvo que já tinha quinze filhos, passados 10 anos eles já migraram para São Paulo e ela se suicida antes dos 30 anos de idade deixando mais nove filhos de Januário. A pesquisa procura reconstruir sua história inserindo-a no seu tempo e espaço histórico, buscando identificar na sua história vestígios das transformações nas estruturas econômicas nordestinas, como o apogeu da cultura do algodão que se traduziu, dentre outras formas num surto de desenvolvimento industrial; de mudanças na estrutura política com a consolidação da república e as novas formas de organização do poder local, e todos os seus desdobramentos jurídicos que impactaram diretamente na configuração sociofamiliar; e das mudanças e permanências culturais e científicas que atuaram na criação e negociação da identidade histórica da família. A pesquisa foi organizada em três momentos: no primeiro o levantamento demográfico da região, feito nos registros de cartórios, nos livros de batizados, casamentos e mortes da igreja e nos registros de Censo, que permitem conhecer a configuração das famílias em seus aspectos quantitativos. Nesse momento deu-se ênfase aos impactos da mortalidade materna e infantil no desenho familiar e ao surgimento das famílias reconstituídas; no segundo foram investigados aspectos mais subjetivos da configuração sociofamiliar como a cultura material, por meio de inventários e testamentos; e por fim investigou-se pistas que permitiram reconstituir os costumes, as tradições, os valores, as normas e a mentalidade da

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2º Simpósio Internacional de História Pública

família no início do Século XX por meio da análise de jornais de circulação local. A temática de estudo “família”, costurada por meio da pesquisa biográfica, possibilitou uma abordagem transdisciplinar à medida que se constrói na interface entre as discussões de história local, história social, história cultural, história de gênero, demografia histórica, história das mulheres, história da família e história pública. Informo que se trata de uma pesquisa em andamento que apresenta resultados preliminares, uma vez que o objetivo maior é a construção da biografia de um dos 32 filhos de Januário, filho de Laura, que ainda está em andamento.

entRe a cRítica, o PúBlico e o autoR: constRução de sentido e cRítica social em BRave new woRld de aldous Huxley

Rafael da Cunha Duarte Francisco – Universidade Federal do Rio de [email protected]

Esse trabalho tem como principal objetivo discutir a recepção do romance Brave New World, escrito por Aldous Huxley em 1932, especialmente na Europa e nos Estados Unidos entre os anos 1930 e nos aproximando da contemporaneidade. Normalmente compreendido pelo público em geral como sátira à sociedade da década de 1930, o romance de Huxley constitui-se para esse mesmo público como um símbolo da resistência e da crítica tanto aos usos desmedidos da ciência quanto à irracionalidade do sistema capitalista. Essa interpretação foi e é, até os dias de hoje, fortemente reiterada tanto pela crítica especializada, especialmente por acadêmicos norte-americanos, quanto por grandes parcelas do público leitor em geral. No entanto, a convergência entre público e crítica na consolidação desse sentido parece muito frágil se observarmos alguns dos ensaios de Aldous Huxley durante o período que precede à escrita de Brave New World. Entre os anos de 1920 e 1930, muitas das práticas que aparecem em seu romance – o controle de natalidade, a eugenia e o governo aristocrático, apenas citando algumas entre as muitas abordadas por ambos – são largamente defendidas como meios desejáveis para a construção de uma sociedade ideal. Seus ensaios revelam para o leitor um intelectual com opiniões muito diferentes daquele que tanto público quanto crítica, em uma operação mútua, construíram e ainda hoje constroem. Desse pequeno descompasso entre o escritor tal como ele se apresenta em seus ensaios e dessa memória que a crítica canonizou, surgem muitas das perguntas que orientam esse trabalho: como crítica e público simplesmente ignoram essa verve cientificista e aristocrática em detrimento do seu oposto, ou seja, da idealização de um intelectual que busca derrubar a sociedade na qual está inserido? Para além disso, nos perguntamos também qual é o papel do próprio Aldous Huxley na construção dessa auto-representação idílica frente ao seu público. A questão central aqui é tentar perceber quais mecanismos foram mobilizados pelo público, pela crítica e pelo próprio autor para a construção do que hoje compreendemos como o(s) sentido(s) de Brave New World.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

a aPRoPRiação do jeca loBatiano Pelos “novos BandeiRantes”

George Leonardo Seabra Coelho – Universidade Federal do [email protected]

É recorrente, em muitas investigações históricas, o interesse pela aproximação entre a literatura verdeamarela e o projeto doutrinário do Estado Novo. Em muitas destas pesquisas, a obra de Cassiano Ricardo é representativa de um dos caminhos possíveis. O poeta surge como um dos principais ideólogos estadonovistas, de forma que a sua obra poética e ensaística são apresentadas dentro de uma continuidade discursiva. Tal continuidade se iniciaria com o poema Martim Cererê publicado no final dos anos vinte, tendo o ensaio Marcha para Oeste publicado em 1940 como resultado político dos enunciados propostos em seu poema. De acordo com essas perspectivas, a apropriação e ressignificação do “mito bandeirante” realizada por Cassiano Ricardo em sua produção literária e política vieram a justificar simbolicamente o Estado Novo. Com o intuito de aprofundar os estudos sobre a trajetória literária e política deste intelectual, algumas questões nos chamaram a atenção. Uma delas pode se referir à adesão tardia de Cassiano Ricardo ao modernismo, a qual deixou marcas no poema Martim Cererê. Frente às várias edições do poema, observamos que o poeta modificou o texto inicial, ou seja, do poema inicial do final da década de 1920 ao poema do início da década de 1940, encontramos um texto em contínua reconstrução. Neste sentido, alguns enunciados encontrados no poema final seriam avançadíssimos para sua primeira escrita, assim como, os enunciados do poema inicial não supririam as necessidades políticas do contexto de suas últimas publicações. Esta comunicação tem o intuito de discutir a concepção pedagógica de Educação Rural dos “novos bandeirantes”. Os “novos bandeirantes” foram um grupo de intelectuais paulistas que se organizaram nos anos de 1935-1937 com o intuito de combater o comunismo, o fascismo e a liberal democracia no Brasil. Tendo a frente do movimento Cassiano Ricardo e Menotti Del Picchia – escritores que compunham a corrente do modernismo intitulada de verdeamarela – os quais arregimentaram uma diversidade de intelectuais preocupados com os rumos políticos da Nação. Um dos pontos principais que eles se detinham era com a educação, onde a qual deveria formar, tanto o trabalhador ordeiro, quanto elite intelectual. No que concerne ao trabalhador rural, os “novos bandeirantes” realizaram a apropriação do Jeca Lobatiano com o intuito de introduzi-lo nos debates educacionais. Iremos apresentar como esses intelectuais paulistas se apropriaram do personagem de Monteiro Lobato para inserir uma modalidade específica de ensino e instrução para as populações rurais.

BiogRafia de tiBúRcio feRReiRa de sousa: soBRe as comemoRações do seu centenáRio de nascimento

Karla Cristine Rodrigues – Universidade Federal do Ceará[email protected]

Com título de “Tibúrcio, O Grande Soldado e Pensador”, Eusébio de Sousa organizou uma biografia sobre Tibúrcio Ferreira de Sousa, publicada pela primeira vez em 1937, no centenário de nascimento. A biografia foi lançada em meio às comemorações públicas realizadas na Praça General Tibúrcio, esta que, além de receber nome em homenagem tem ao centro uma estátua do general erigida em 1888, dois anos após sua morte. Ele teve lugar nessa,

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2º Simpósio Internacional de História Pública

que era a principal praça da cidade localizada em frente ao Palácio do governo; no Museu Histórico com “objetos biográficos” e encomenda de uma tela que o representava em tamanho natural; permeou também as Revistas do Instituto do Ceará. General Tibúrcio foi, portanto, eleito e promovido como herói do Ceará, sobretudo, herói republicano cearense. Eusébio teve papel fundamental como intelectual na escrita da História do Ceará, tendo sido o primeiro diretor do Museu Histórico do Ceará e do Arquivo Público, além de membro do Instituto Histórico do Ceará; sua perspectiva de História era centrada nos heróis e homens ilustres, contada por meio de grandes fatos e vidas exemplares, como para ele, era o caso de Tibúrcio. Biografar é organizar o tempo de uma vida, conferir determinada ordem e construir um sentido. Por isso é necessário, sobretudo, pensar o autor da biografia, temos então o “sujeito da enunciação” e no “sujeito do enunciado”. Afinal, quem biografa realiza uma ação e essa escrita é interessada. Ainda que na narrativa o autor não exponha de forma clara que ali se trata de um empreendimento biográfico, a intenção de quem biografa é de publicizar uma vida. Torna-se necessário debater sobre os interesses de quem aciona as necessidades de lembrar determinado passado e de torná-lo público. Comemorações, inaugurações de monumentos, escritas de biografias são maneiras pelas quais se busca tornar pública a História. A História Oficial, produzida nos espaços do estado também apresenta essa característica de se pretender pública, inclusive para se validar. Nosso interesse é pensar sobre as formas pelas quais se buscou tornar público esse chamado herói, no caso desse texto e comunicação oral de pesquisa, através da escrita dessa biografia. Entendendo-a como “lugar de memória” que surge diante de uma demanda do presente, em sua relação com futuro e passado. Portanto, as discussões sobre “História Pública” contribuem para a reflexão mais atenta sobre a relação entre A História e O Público.

a RePResentação do “conflito de canudos” na liteRatuRa e no joRnalismo

Ester Sanches Ribeiro – [email protected]

O Conflito que ocorreu em Canudos, no final do século XIX, foi reconhecido mais que um advento local e passou a figurar como um dos mais notáveis movimentos sociais no Brasil. A repressão a esse movimento, como se sabe, foi violenta e esmagadora dos sertanejos insurgentes; também se sabe que o exército penou quatro expedições para conseguir seu intento: destruir o arraial e a sua população. Sabemos que a atuação do exército foi incompetente, a partir de estratégias ineficientes, desconhecimento do sertão e dos sertanejos, escolha errada dos uniformes, entre outras falhas. Enfim, sabemos que os militares agiram criminosamente ao torturar os sertanejos, obriga-los a dar vivas à república, degolar homens, velhos, mulheres e crianças e, por fim, atear fogo no arraial com pessoas ainda nele. Diante disso, a população brasileira se indignou e até se revoltou com os crimes contra pessoas inocentes e até certo ponto indefesas. Esse conhecimento e contato que tivemos com essas peripécias da campanha contra Canudos se deveu inicialmente à atuação do jornalismo e depois da literatura. Propomos, portanto, um confronto de análise desses dois meios de comunicação e arte tão importantes para a construção da história e cultura tanto do Brasil como do mundo. Esses dois suportes podem ser considerados como meios testemunhais de acontecimentos importantes para se construir a memória e a cultura da nossa sociedade. No entanto, devemos desconfiar dos meios de comunicação, pois diferente do que se propõe não são completamente imparciais e objetivos. Então, objetivamos analisar Literatura e Jornalismo

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Perspectivas da História Pública no Brasil

e suas ideologias e problematizar esses dois meios quanto à objetividade da construção da realidade do povo e da guerra de Canudos. Analisamos Os sertões de Euclides da Cunha como o representante da Literatura e as reportagens dele enviadas ao jornal O Estado de S. Paulo como representação da atuação do Jornalismo. Sabemos que as contribuições desses dois suportes analisados vão além desses dois exemplos de análise, por isso apresentaremos, também, porém bem sucintamente uma impressão de diversos estudiosos de Canudos acerca da atuação dos principais jornais do Rio de Janeiro, a cidade mais influente da época. Também apresentamos outros livros literários sobre Canudos publicados na época do conflito. Nossa intenção é apresentar um conflito que deve resistir na nossa memória, pois representa a cultura e sofrimentos do povo brasileiro.

HistóRia PúBlica e liteRatuRa: Reflexões soBRe a audiência

Alexandre Santos de Moraes – [email protected]

O trabalho visa levantar algumas questões e problemas a respeito da noção de audiência. O ponto de vista adotado põe em perspectiva alguns postulados em torno da importância que o público adquiriu para a compreensão da Literatura Grega Arcaica e visa, a partir deste ponto, refletir sobre a posição que os historiadores assumem em relação às potenciais audiências no âmbito da História Pública.

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2º Simpósio Internacional de História Pública

GT 03 – História Pública e História OralData: dia 12, sexta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Andrea Casa Nova Maia (UFRJ)Juniele Rabêlo de Almeida (UFF)Mariana Cavalcanti (CPDOC-FGV)

os caminHos do sol: atRavessaR veRedas no seRtão escuRece a vista (migRação seRtão-cidade de soBRal 1960-1980)

Maria Antonia Veiga Adrião – Universidade Federal do Ceará[email protected]

Os Caminhos do Sol: atravessar veredas no sertão escurece a vista (migração sertão-cidade de Sobral 1960-1980) é um estudo sobre a migração de agricultores despossuídos e pequenos proprietários, que viviam onde eles denominam Sertão (área rural de Sobral e de Municípios circunvizinhos e mesmo de pequenos centros urbanos adjacentes, situados na zona norte do Estado do Ceará), da lavoura de subsistência e do emprego em atividades agrárias diversas, que emigraram para essa urbe entre 1960 e 1980. Acreditamos que alguns projetos levados no período à Sobral atraíram alguns agricultores considerando inclusive, a efetivação de seu parque industrial com os incentivos fiscais da SUDENE. Ainda que isto não apareça diretamente nas entrevistas que realizei, surge nas críticas apresentadas no semanário Correio da Semana criado em 1918 e dirigido pela Diocese de Sobral, que permaneceu atuando e realizando críticas (algumas favoráveis e ufanistas) às proposições governamentais. Contudo, é relevante que esse acontecimento não foi exclusivo de Sobral nem linear do campo à cidade, apesar das políticas que favoreciam essa urbe e corroborariam com esse movimento. As cidades que enviaram população a Sobral também receberam em média, na mesma proporção segundo o IBGE, assim como Sobral igualmente “exportou população”. O diferencial pelo que constatamos está na permanência dos emigrados, porque os lavradores chegaram nesse período e embora alguns tenham sucumbindo à ideia de retornar ou de tentar outras plagas dentro e fora do Estado, houve uma fixação maior de pessoas em Sobral, quando sua população continuou crescendo consideravelmente ao contrário de outras cidades, algumas até estagnaram ou perderam população. Referimo-nos a Meruoca, Massapê, Alcântaras, Santana do Acaraú, Santa Quitéria, Camocim, Reriutaba, Senador Sá, Marco, Itapipoca entre outras, onde nasceram os entrevistados. Informações que igualmente encontrei em arquivos escolares e sindicais. Deste modo, além dos relatórios censitários do IBGE, de artigos do jornal citado, das entrevistas, estamos nos apropriando de arquivos sindicais e escolares, quando encontramos indícios de uma emigração para Sobral com fins de estudar ou colocar os filhos para estudar, quando é perceptível uma consciência de que sem estudos não era possível empregos melhores (fábricas com carteira assinada). Esse estudo contribui para conhecer quando e como a escola passou a fazer parte das reivindicações da população trabalhadora do campo e para observar mudanças comportamentais em relação a trabalho, educação, família, cidade.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

aceRvos PúBlicos de HistóRia oRal: noRdestinos na zona leste de são Paulo

Valéria Barbosa de Magalhães – EACH/[email protected]

Esta comunicação tem por objetivo apresentar alguns resultados do projeto “Lembranças de antigos moradores da Zona Leste de São Paulo: migrantes nordestinos e história de bairros”, financiado pela Fapesp, entre 2010 e 2012. Buscou-se, entre outras coisas, desvendar, por meio de narrativas de vida, as teias de relações que envolvem a convivência entre moradores de origem nordestina e moradores de origem não nordestina, na Zona Leste da cidade de São Paulo. Outro objetivo foi montar um acervo de entrevistas públicas com as entrevistas de moradores antigos da região. As transcrições estão disponíveis no website do Grupo de Estudos em História Oral e Memória, da USP. Na pesquisa, foram analisados diversos aspectos da vida nordestina na Zona Leste. Dentre eles, a relação dos nordestinos com os não-nordestinos na região; as redes de ajuda entre os migrantes; as lembranças da paisagem dos bairros e do seu modo de vida no passado; e o preconceito. Nesta apresentação, porém, pretende-se refletir sobre os usos possíveis do acervo público de histórias constituído no projeto.

aRquivos de HistóRia oRal na foRmação inicial de PRofessoRes de ciências

Fernando Luiz Cássio - Universidade Federal do [email protected]

Entrevistas de história oral vêm sendo, há muito, utilizadas como ferramentas para o trabalho com relatos de experiências profissionais em processos de formação docente - seja pelo seu uso e análise a partir de repositórios digitais, seja pela produção de entrevistas de história oral. No entanto, a maior parte dos trabalhos sobre este tema permanece circunscrita ao papel das entrevistas com professores nos processos de formação inicial docente. Mas isso não é tudo quando se trata de professores de ciências, cuja formação inicial carece de um contínuo diálogo entre conhecimentos didático-pedagógicos e científicos, a tal ponto que o conhecimento profissional dos professores de ciências já não pode ser considerado nem de um tipo nem de outro. Neste trabalho propõe-se uma discussão sobre os limites e as potencialidades do uso de arquivos de história oral de cientistas na formação inicial de professores de ciências: em que medida estas entrevistas poderiam catalisar uma vivência científica (do laboratório) que, não raro, passa ao largo dos cursos de licenciatura? Pretende-se ainda apresentar alguns arquivos de história oral brasileiros e estrangeiros que contêm relatos orais de cientistas a fim de avaliar o seu potencial de utilização nos programas de formação inicial de professores de ciências.

santa cRuz dos milagRes e suas naRRativas devocionais

Edilene Gonçalves do Nascimento Dias – Universidade Federal do [email protected]

O presente trabalho apresenta as vivências com o sagrado por meio das narrativas dos

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devotos de Santa Cruz dos Milagres, no estado do Piauí, buscando compreender as formas pelas quais esses homens e mulheres constroem sua relação e falas do sagrado, que são narrativas de devotos de Santa Cruz que residem na cidade de Araguaína – To. Ouvimos também o reitor do Santuário. Para tanto, entrevistamos devotos da santa que nomeia a cidade. Em nossa viagem ao município, em julho de 2012, nossos narradores foram seu Domingos Alves dos Santos, dona Maria Mendes Pessoa, dona Maria de Jesus da Conceição, seu Raimundo Pinheiro da Silva, dona Joana Pereira Gentil, moradores e devotos. Em janeiro de 2013, entrevistamos seu José Alves Frazão, dona Raimunda Alves Frazão, seu Antônio Alves da Silva, seu Francisco Frazão da Cruz, devotos da santa que moram na cidade de Araguaína, To. Em março do mesmo ano entrevistamos o reitor do santuário, o padre Francimilson Gonçalves de Holanda. O roteiro que nos guiou para compreender os sentidos do espaço sagrado daquele município nos possibilitou analisar a relação de pertencimento e legitimidade daquela população com sua santa de devoção. As perguntas guia foram: Qual seu nome? Idade? Local de nascimento? Como o (a) senhor (a) conheceu Santa Cruz dos Milagres? O que lhe levou a morar na cidade? Conhece alguma história (versão) sobre Santa Cruz dos Milagres? A história do beato, o (a) senhor (a) conhece? O (A) senhor (a) é devoto (a) de Santa Cruz dos Milagres? Frequenta a igreja de Santa Cruz dos Milagres? Qual frequência? O (a) senhor (a) tem /conhece alguém que seja afilhado de Santa Cruz dos Milagres? Aos moradores de Araguaína acrescentamos outra pergunta, o que a cidade possui de especial aos devotos que não moram na cidade, como vocês? Pelo exposto foi possível delinear estratégias que nos permitiram observar os caminhos dos devotos de Santa Cruz. Suas narrativas envolvem lembranças de seus antepassados. A maioria das respostas que ouvimos, estavam sempre acompanhadas de “minha avó, ou meu avô, contava para mim quando era criança” , ou “meu pai, minha mãe, contavam a história da Santa Cruz”. E quando perguntamos com quem eles aprenderam, eles também nos respondem que ouviram dos “os mais velhos”, ou no “tempo dos mais velhos”. No entanto, foi necessário buscarmos responder algumas indagações. Como esses devotos conheceram Santa Cruz dos Milagres? Como percebem seu espaço territorial? Quais relações esses devotos praticam com a santa de devoção? Por meio de suas memórias

buscamos compreender a relação que esses praticam com Santa Cruz dos Milagres.

a cidade de sento-sé e a constRução da BaRRagem do soBRadinHo: memóRia, Resistência e teRRitoRialidade no noRdeste BRasileiRo (1970-1990)

Ana Catarina Lins de Albuquerque Sento-Sé Martinelli Braga – [email protected]

O objeto de estudo, que vem sendo analisado neste artigo, fundamenta-se na análise dos desdobramentos e efeitos no tecido social da região atingida pela Barragem do Sobradinho, Baixo Médio São Francisco, Nordeste brasileiro. A partir deste objeto vem sendo identificado os conflitos sociais e interesses existentes, no que se referem as tensões nas relações sociais provocadas pela relocação da população atingida pela barragem e a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco, responsável pela obra. A pesquisa tem como foco, para a compreensão de sua problemática, os efeitos desta barragem em uma dos cinco principais cidades atingidas: A cidade de Sento-Sé. Isto por meio de fontes orais, documentais e iconográficas. A fim de trazer não só a perspectiva dos conflitos sociais e das relações com o território por meio da análise historiográfica e sociológica, como também da perspectiva da história oral,

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Perspectivas da História Pública no Brasil

perpassando pelas construções da memória, dos traumas, das identidades e dos saberes na cidade, desses sujeitos impactados pelo processo de implementação do Projeto Sobradinho.

memóRias festivas: o dezesseis de julHo em BoRda da mata-mg

Cleyton Antônio da Costa – PUC/[email protected]

A presente pesquisa tem como objetivo entender e problematizar os diferentes significados e sentidos dos festejos de 16 de julho na cidade de Borda da Mata, Sul de Minas Gerais, com o intuito de buscar as diferentes memórias e experiências vivenciadas por diferentes atores sociais que participam dos festejos. Metodologicamente trabalhamos com a realização de entrevistas orais, histórias de vidas obtidas com alguns sujeitos sociais que participam das festividades, por meio da prática da História Oral. Em Borda da Mata, as festividades do dia 16 de julho integram diversos significados, pelo fato de um dia ocorrerem duas festas, uma a Nossa Senhora do Carmo e a outra pelo Aniversário de Emancipação Politica Administrativo do Município de Borda da Mata, pois há aqueles que só frequentam o âmbito religioso, os que transitam no festejo social e, também, os que movimentam entre esses dois mundos, ao mesmo tempo contraditórios. Um é marcado pelo sagrado, envolto por orações, ladainhas e gestos engessados. E o outro, por momentos de lazer, improviso, sociabilidade e distração. Os festejos retratam múltiplas experiências sociais, que integra vários elementos, como o lazer, a religiosidade, a ruptura do cotidiano, e constitui um campo repleto de valores e sentimentos, em que se notam várias disputas sociais. Em que espaços, gestos são marcados e reafirmados. Com isto, são notórios os vários olhares e significados para os festejos de 16

de julho na cidade de Borda da Mata.

o negRo como colonizadoR do sul do mato gRosso: HistóRia oRal de quilomBolas de mato gRosso do sul e a (Re)invenção da tRadição afRicana no ceRRado BRasileiRo

Lourival dos Santos – [email protected]

A pesquisa investiga as transformações na identidade de populações negras rurais quilombolas no estado do Mato Grosso do Sul, por meio de história oral de vida de lideranças dessas comunidades. Damos ênfase às transformações das práticas religiosas, originalmente ligadas ao catolicismo rústico e, agora, fortemente influenciadas pela adesão de grupos nas comunidades, ou mesmo de quase toda a comunidade a igrejas evangélicas de várias denominações. Em Mato Grosso do Sul, a questão da identidade quilombola opõe o Instituto Histórico e Geográfico do estado e a Fundação Palmares. O primeiro emitiu um parecer, em 2008, afirmando não reconhecer a presença de qualquer núcleo remanescente quilombola no estado. A segunda certificou 22 comunidades como sendo de remanescentes quilombolas até 2013. As primeiras entrevistas com membros de seis comunidades foram feitas no âmbito de projetos de pesquisa e de extensão com equipes das quais fiz parte e que foram coordenadas pelo antropólogo Antonio Hilário Urquiza, meu colega na Universidade Federal do Mato Grosso

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do Sul (UFMS). Seis comunidades foram visitadas: Chácara Buriti e Tia Eva/São Benedito, em Campo Grande; Furnas do Dionísio, em Jaraguari; Dezidério Felipe Oliveira (Picadinha), em Dourados; São Miguel em Maracajú; e Furnas de Boa Sorte, em Corguinho. Foram escolhidas por estarem em estado avançado no processo de titulação das terras comandado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e, portanto, terem passado por uma série de investidas de políticas públicas nas várias instâncias administrativas: municipal, estadual e federal. Depois de transcriadas e autorizadas pelos colaboradores, as entrevistas são lidas em voz alta em encontros preparados com a comunidade que, a partir daí iniciam uma roda de conversa, onde outros eventos são evocados e outras pessoas manifestam desejo de serem entrevistadas. Trata-se de produção de História Pública em diálogo com as comunidades e o conhecimento acadêmico com o potencial de reescrevermos a história dos negros na região, deslocando-os da posição de subordinados para a de protagonistas no processo de ocupação do oeste do Brasil com implicações políticas na definição de políticas públicas de atendimento a essas comunidades, em conflito com outros interesses políticos e econômicos.

a HistóRia na PRaça: imPRessões de tRanseuntes soBRe a HistóRia do BRasil

Kênia Sousa Rios – Universidade Federal do Ceará[email protected]

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa que busca ampliar o entendimento sobre a percepção das “pessoas comuns” , em espaços públicos, acerca da História. O grupo que realizou o trabalho foi composto de alunos da disciplina de Introdução aos Estudos Históricos e posteriormente, alunos da disciplina de Oficina de Ensino de História do Ceará da Universidade Federal do Ceará. Munidos de câmera e microfone, os alunos distribuíram-se em três grandes praças do Centro de Fortaleza afim de perguntar aos transeuntes questões que demonstravam diferentes impressões e leituras sobre a História do Ceará, do Brasil e do Mundo. Propositadamente, elaboramos questões que situavam a história numa condição maniqueísta com perguntas do tipo: quem foi, na sua opinião, o maior herói da História? e o maior vilão? o maior acontecimento da História (Ceará, Brasil, Mundo)?. O intuito foi tentar partir de formas públicas de apresentação e reflexão da História bastante difundidas nos meios de comunicação, ou mesmo nas formas orais de captura da História. O maior, o menor, o pior, o melhor indicam de modo frequente, as maneiras mais vulgares de dizer a História. Partindo dessas imagens polarizadas, os entrevistados desdobravam-se em conexões variadas e inusitadas. Noutra oportunidade, fizemos o mesmo exercício na porta de uma escola de ensino médio, com alunos que se preparavam para o Enen e, curiosamente, as respostas não se diferenciaram de modo significativo. Como produto final, os alunos elaboraram um vídeo que tem sido usado em outras ocasiões na graduação do curso de Historia. A escolha desse GT justifica-se pela reflexão que elaboramos sobre a forma oral que os entrevistados apresentaram para comunicar as ideias sugeridas.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

memóRias PúBlicas: HistóRia e naRRativa de oPeRáRios da saRmento

Stéffano Muniz Figueiredo Costa – [email protected]

A investigação das narrativas de operários da Companhia Fiação e Tecidos Sarmento torna inteligível suas vivências e a forma com a qual experimentaram o cotidiano de prosperidade e crise da fábrica. Apesar da singeleza do apitar da sirena da fábrica, pode-se dizer que sua existência regeu a vida e a rotina da cidade de São João Nepomuceno, Minas Gerais. A sirena marcava o tempo do trabalho, o tempo do lazer, o tempo do operário. Cidade conhecida pela força no ramo têxtil, São João Nepomuceno desenvolveu-se em torno de sua fábrica mais importante. É sabido que o Brasil das décadas de 50 e 60 passava por uma forte efervescência política na qual pululavam greves e movimentos operários gigantescos nos grandes centros. Por sua vez, o golpe de 1964 intimidou a execução de manifestações subversivas à ordem (im)posta pelo regime militar. Mas, neste ínterim, os operários da CFTS agiam de forma aparentemente passiva quando se deparavam com alguma situação limite no ambiente de trabalho ou relacionada à Companhia. Tal fato sugere a necessidade de melhor compreensão do cotidiano operário uma vez que este padrão de atitude discrepa, de uma maneira geral, de reflexões sobre a história do movimento operário no Brasil. Neste sentido, lançar-se-á mão, para elaboração da apresentação, de fontes orais, cotejadas com registros em atas do sindicato têxtil das décadas de 1950 e 1960, bem como jornais que cubram o período proposto para análise compreendido entre 1956 e 1969. A investigação seguirá princípios metodológicos qualitativos, privilegiando a relação dialógica entre compreensão histórica e as perspectivas dos sujeitos envolvidos. Focar-se-á num estudo com os sujeitos, e não apenas sobre ou para os sujeitos. Tal exercício é capaz de demonstrar a relevância da consideração e utilização de registros orais enquanto fontes históricas. A análise das narrativas dos operários revela o potencial de “lugares de memória” desse tipo de fonte. Esse tipo de abordagem é vital para se evitar generalizações e melhor compreender as relações sociais no mundo do trabalho. O trato com fontes orais confere uma especificidade à reflexão que instiga sua consideração ao se estudar o mundo do trabalho por pesquisadores e leigos, fato que facilita a difusão e divulgação do conhecimento histórico.

HistóRia PúBlica, HistóRia oRal e movimento social

Juniele Rabêlo de Almeida - [email protected]

Pretende-se, na interface “história oral e movimento social”, problematizar a construção e publicização de projetos em história pública. Considera-se o desejo de diálogo com os movimentos sociais, utilizando a metodologia da história oral, para construção coletiva de pesquisas e acervos. As necessidades e os interesses de um movimento social podem inspirar projetos em história pública. A organização e a análise das narrativas políticas, construídas em entrevistas de história oral, indicam a coprodução do saber em um exercício dialógico: envolvendo os membros dessa coletividade, pesquisadores acadêmicos e não acadêmicos.

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2º Simpósio Internacional de História Pública

GT 04 - História pública e cinemaData: dia 11, quinta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Eduardo Morettin (USP)Rodrigo Almeida (UFMG)Tunico Amancio (UFF)

“tHis, madam, is veRsailles”: maRia antonieta e a tensão entRe cinema e HistóRia

Leo dos Reis Rodrigues – [email protected]

Comecemos com uma preocupação de historiador: de que forma o passado se faz presente? Aqui, gostaríamos de pensar o cinema como um dos locais privilegiados onde a História se mostra. Sejamos mais específicos: de que forma a Revolução Francesa pulsa hoje? O cinema sem dúvida é local de aparições frequentes da Revolução Francesa e faz com que ela continue a habitar, de alguma forma, nossa memória. No cinema o passado se atualiza, se reconstrói, é distorcido, é rememorado… Ë através do cinema que um assunto muito conhecido, mas que circula, primordialmente, nos meios acadêmicos, chega ao público. Muitos nunca leram ou lerão – salvo nos deficitários livros didáticos – uma linha sequer sobre a Revolução Francesa. Portanto, é a partir do cinema que absorvemos e construímos imagens deste processo tão complexo. Aqui percorreremos uma via de mão dupla. Pensar a Revolução Francesa a partir do cinema, mas também o cinema a partir de um filme sobre a Revolução. Uma primeira questão que talvez se imponha é a seguinte: o que vemos nos filmes históricos é História? Isto é, podemos confiar? Podemos dar, esquemática e inicialmente, duas respostas opostas a tal questão: Primeira: não podemos confiar. Não se pode assistir a Gladiador e pensar que se está aprendendo História, seria ingenuidade. Hollywood não se importa com a “veracidade” histórica de suas narrativas, mesmo as que se intitulam históricas. Sabemos que Hollywood está apenas interessada em transformar o passado em mercadoria. Essa visão de desconfiança em relação ao cinema seria a hegemônica no meio acadêmico? Segunda resposta: Robert Rosenstone (A História nos filmes, os filmes na História) propõe uma outra interpretação, a de que os filmes históricos também produzem História (e isto certamente é mais do que dizer que eles são importantes documentos históricos). Portanto, poderíamos elevá-los ao mesmo status da historiografia, pois há filmes em que efetivamente houve, por parte de diretor, uma reflexão sobre a História e seus múltiplos significados. Só que o resultado disso vai se concretizar em imagens e sons; e não teríamos motivos para termos preconceito quanto a isso.A partir desta tensão, este trabalho gostaria de refletir sobre a Revolução Francesa e, junto a ela, pensar em algumas questões sobre o cinema, o veículo que leva a Revolução para as massas. Para tanto, a obra escolhida foi Maria Antonieta, de Sofia Copolla. A escolha é justificável dada a afinidade da obra com as questões ora enunciadas. Sofia Copolla parece, desde o começo do filme, fazer-nos pensar na questão da validade do filme histórico (por

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Perspectivas da História Pública no Brasil

enquanto, aceitemos tal denominação sem maiores preocupações críticas). O que vemos encaixa-se na categoria de um filme histórico, mas é uma obra que rejeita tal posição e vai além, ironizando a discussão sobre o assunto (a aparição de um tênis All Star em meio aos sapatos de Maria Antonieta seria um bom exemplo). Enfim: (1) Que imagem da Revolução Francesa o público tece a partir do cinema? (2) E que podemos dizer do cinema a partir de um filme sobre a Revolução?

lucia muRat: uma cinematogRafia de militância e Resistência

Cleonice Elias da Silva – PUC/[email protected]

Apresento como proposta de comunicação uma reflexão centrada em alguns dos aspectos que marcam a trajetória da cineasta Lucia Murat, perseguida durante o regime militar, e de sua produção cinematográfica. Essa tem como principal característica a constituição de uma memória e de um discurso histórico a respeito de alguns elementos atuantes nesse período da nossa história. Seus filmes priorizam perspectivas que ressaltam a militância da Esquerda e a resistência. As obras da cineasta até o momento são: O Pequeno Exército Louco (1984), Que Bom Te Ver Viva (1989), Oswaldianas (1992), Doces Poderes (1997), Brava Gente Brasileira (2000), Quase Dois Irmãos (2004), Olhar Estrangeiro (2006), Maré, Nossa História de Amor (2007), Uma Longa Viagem (2011) e A Memória Que Me Contam (2013). Viso reservar maior atenção para os filmes da cineasta sobre a Ditadura brasileira. O principal eixo orientador para o desenvolvimento de tal reflexão são as relações entre cinema, história e memória.

quatRocentos anos num filme: PindoRama (aRnaldo jaBoR, 1971) e a Relação dos cinemanovistas com a HistóRia

Carlos Eduardo Pinto de Pinto – PUC/[email protected]

Após 1968, e ao longo de toda a década de 1970, os cineastas vinculados ao Cinema Novo usaram temas da história do Brasil como argumento em uma série de filmes históricos inovadores, na acepção de Robert Rosenstone. Recorrendo a elementos narrativos de vanguarda, e recusando o referencial dos épicos hollywoodianos, tais filmes se mostravam críticos em relação à história representada e ao contexto vivenciado no período, marcado pelo auge da repressão perpetrada pelos governos ditatoriais. Muitas vezes encaradas como obras que fizeram uso pragmático do passado para se referir alegoricamente ao presente, tais produções também podem ser entendidas como agenciadoras de sentidos históricos. Em sua realização, importava o diálogo com pesquisas historiográficas e, sobretudo, as reflexões a respeito dos mecanismos de funcionamento da história. Tal desejo de repensar o passado, mais do que dado contingencial presente na fatura de filmes históricos, pode ser encarado como traço da formação identitária do grupo. Pindorama (Arnaldo Jabor, 1971) será, nesta comunicação, tomado como estudo de caso. Através da análise de seus elementos diegéticos e narrativos, se buscará compreender os caminhos seguidos pelo diretor e pela equipe na criação de um filme histórico engajado politicamente. Embora enfocasse apenas os momentos iniciais

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2º Simpósio Internacional de História Pública

da colonização, a película foi divulgada como uma abordagem de quatrocentos anos de História do Brasil, através de um contraponto indisfarçado entre os séculos XVI e XX. A recepção da crítica a esta proposta e as elucubrações de Jabor, expostas em diversas entrevistas, são os outros materiais que permitem se aproximar da cultura histórica apreendida e/ou criada pelos cinemanovistas. Atenção especial será dada a uma conversa entre Jabor, Walter Lima Jr. e Alex Viany, em torno de dez anos após a realização da obra, em que se discute o papel dos filmes históricos no cinema brasileiro no pós-1968. Através da mobilização dos dados referenciados – diegese, narrativa, críticas, entrevistas e debates – o trabalho pretende pensar o papel do Cinema Novo na construção de uma História Pública no Brasil.

gustavo daHl e a emBRafilme: teóRico e gestoR

Cayo Candido Rosa – [email protected]

A comunicação oral aqui apresentada propõe uma breve análise sobre o discurso de Gustavo Dahl como teórico do cinema brasileiro nos anos 1960 e sua prática, na segunda metade da década de 1970, como gestor da Embrafilme, estatal responsável pela difusão e também pela produção de filmes nacionais e que, através de seus gestores, alinhou-se à Política Nacional de Cultura (PNC 1975) do regime militar (1964-1985). Mapeando as tensões vividas entre cineastas, exibidores e Estado, e levando em consideração o contexto sociopolítico em que Dahl se inseria, a fala tenta identificar seu grau de autonomia no regime e os motivos que o levaram a ser um dos representantes do Cinema Novo no Estado através da análise objetiva de sua obra publicada na imprensa durante o período recortado e da leitura da bibliografia que abarca o tema da aliança entre cinema e Estado durante a ditadura.

cinematógRafo de tinta e PaPel: anotações soBRe consumo cinematógRafico na Belle éPoque caRioca

Pedro Vinicius Asterito Lapera – Fundação Biblioteca [email protected]

A década de 1890 pode ser considerada uma época de transições políticas, econômicas e sociais que teriam impacto nos rumos da sociedade brasileira das décadas seguintes. Vários golpes militares, rebeliões, as reformas urbanas, o início de uma imigração européia em massa e as conseqüências do abandono do regime escravista alteraram a economia e a vida urbana na virada dos séculos XIX e XX. Ao contemplar este panorama, reconhecemos que a experiência da modernidade foi potencializada com a invenção do cinematógrafo, que se expandiu pelos grandes centros urbanos e deu origem a novas experiências econômicas, estéticas e sociais. Seguimos a pista deixada por Jean-Claude Bernardet (1995) de que a pesquisa historiográfica sobre cinema no Brasil pautou-se na coleta e na interpretação de fontes que validassem a produção cinematográfica e que, no entanto, relegaram a distribuição e a exibição a um status secundário. O objetivo desta comunicação é apresentar a primeira fase de um levantamento que vem sendo realizado desde 2009 nos periódicos depositados na Biblioteca Nacional, na tentativa de recolher dados que possam ser percebidos como indícios

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Perspectivas da História Pública no Brasil

do consumo cinematográfico no Rio de Janeiro entre 1896 e 1916. Nesta primeira parte do levantamento, foram selecionados 93 periódicos de pequena e média tiragem, além de uma coleta de dados em um jornal de grande circulação (no caso, o Jornal do Brasil) ao longo de três anos (1908 a 1910). Estas fontes remetiam à esfera do consumo, o que foi tornado ainda mais evidente com a metodologia adotada na realização deste levantamento: o paradigma indiciário, tal como pensado por Ginzburg (2007). Pelo fato de havermos considerado como indício da atividade cinematográfica no Rio de Janeiro presente nos periódicos desde as descrições das fitas exibidas nos cinematógrafos até as charges cujo referencial era a experiência cinematográfica, dentre outros, deparamo-nos com um conjunto heterogêneo de fontes. Mesmo assim, acreditamos ser possível reuni-las em uma apresentação a partir da chave interpretativa do consumo. Centralizando no consumo a necessidade de comunicação e a disputa na produção de sentido, Mary Douglas e Baron Isherwood apostam no projeto de “restaurar a unidade devolvendo o consumo ao processo social” (2004, p. 39) e afirmam que ele “usa os bens para tornar firme e visível um conjunto particular de julgamentos nos processos fluidos de classificar pessoas e eventos. Evidenciam a dimensão temporal deste processo, ao reconhecerem que “o problema da vida social é fixar os significados de modo que fiquem estáveis por algum tempo” (2004, p. 112). Além disso, retomam Geertz para sublinhar o caráter partilhado do consumo como demarcador de fronteiras sociais. E, a tudo isso, complementam com a resposta do consumidor: “o objetivo mais geral do consumidor só pode ser construir um universo inteligível com os bens que escolhe” (2004, p. 112-113). Apropriando-nos desta discussão, poderíamos pensar o consumo como a produção de sentido feita individual e/ou coletivamente da experiência moderna e o cinematógrafo como um dos meios que transformaram as dinâmicas na produção e na circulação dos gostos e dos repertórios.

Rivalidades inteRnas e conflitos exteRnos: a unificação do discuRso fRanquista atRavés do no-do

Rafael Fermino Beverari – [email protected]

Os enormes conflitos ali colocados durante a Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939) situam-se não apenas nos campos do econômico, do político, mas também do ideológico: em meio a tantas batalhas, há aquela que envolve uma disputa simbólica, na qual rivalizam diferentes representações da realidade.Os nacionalistas produziram 93 filmes, o que é pouco se comparado aos 360 filmes republicanos. Evidentemente esses números mudam com a chegada de Franco ao poder, em 1939. Herdeiro de uma Espanha cindida e destruída, e não apenas nos aspectos físicos e materiais, o novo governo logo se deu conta da necessidade de conquistar ideologicamente os espanhóis, para a obtenção não apenas da pacificação do país no pós-guerra, mas, sobretudo, para se apresentar como o governo de “todos” os espanhóis. Uma das armas para a conquista de tal resultado foi o cinema, seguindo exemplo de outros países que, à mesma época, haviam percebido o seu potencial como propagador de ideologias. No entanto, mais do que a produção de ficções e de não ficções, o que nos chama a atenção é o surgimento, em fins de 1942, mais de três anos após o término da guerra civil, do No-Do – os Noticiários y Documentales, produzidos pelo governo franquista e exibido em todo o território de influência

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espanhola, com difusão obrigatória nos cinemas a partir de janeiro de 1943. Tais noticiários destacam-se não apenas por serem uma peça de propaganda pró-Franco, mas em virtude da estrutura profissional de sua equipe, da regularidade com que era exibido, do seu formato e da obrigatoriedade de sua exibição.Para compreender o modo como estão articulados o conteúdo e a forma promovidos por estes noticiários, o presente trabalho enveredará pelo tortuoso caminho que se desenha entre os diversos discursos que vão se consolidando na sociedade ao longo de sua história, escovando-a a contrapelo, de modo a permitir que se revelem as inquietações e dissonâncias onde normalmente aparecem apenas as versões oficiais e aparentes. Pois é ao questionar a noção de progresso pautado numa concepção linear dos acontecimentos que esta pesquisa pretende investigar como esse enorme aparato de disseminação das ideias fascistas no pós-guerra civil espanhola contribuiu enquanto construção ideológica e imagética de enorme força em um contexto contraditório e de intenso conflito. Visando elucidar como foi construída a relação entre Espanha e Alemanha nos Noticiarios y Documentales durante a 2ª Guerra Mundial, pretende-se compreender, por meio da análise dessas reportagens, como foi negociada, semanalmente, a construção da ideia de uma Espanha que, internamente, estava unida durante o conflito mundial, ao passo que, do ponto de vista externo, tomou decisões peculiares aos lados em disputa. Deste modo, pretende-se explorar a tensão existente entre evidência e representação presente no discurso fílmico do No-Do, dando particular atenção ao modo como nele estão articulados os elementos expressivos do audiovisual.

tRaumas PuBlicizados, taBus inteRRogados: cultuRa HistóRica, cinema e memóRia na Polônia Pós-gueRRa (1954-1963)

Vinícius Medeiros – UFF

O fenômeno geracional conhecido como Escola Polonesa de cinema consolidou-se na segunda metade dos anos 1950 com o propósito de representar os problemas nacionais recentes, marcados pela experiência catastrófica da guerra e a posterior ocupação soviética. Este trabalho investiga como essa geração de cineastas – entre eles Andrzej Wajda, Andrzej Munk e Wanda Jakubowska – enfrentou os tabus construídos pelo regime comunista no âmbito cinematográfico, valendo-se do próprio financiamento governamental para promover o debate público acerca dos temas silenciados. Busca-se então uma compreensão da dimensão dialógica promovida entre os realizadores e o restante da sociedade, questionando a memória comunista dominante e reinterpretando os temas do tempo presente.

o cinema cHega à zona leoPoldina: notas soBRe um seminal ciRcuito exiBidoR suBuRBano.

Talitha Gomes Ferraz – ESPM-Rio / Universidade Estácio de Sá / [email protected]

Os atuais relatos e levantamentos históricos sobre ações do mercado exibidor no subúrbio carioca da Zona da Leopoldina durante as primeiras décadas do século XX são notoriamente parcos. No entanto, dados coletados durante uma pesquisa realizada entre 2010 e 2014

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mostram que à medida que o lazer cinematográfico se constituía largamente em partes centrais do Rio de Janeiro, como Centro e Tijuca, também nos arredores e em frente às estações de trem leopoldinenses, até aproximadamente o final da década de 1930, começou a existir um profícuo circuito de salas de cinema de rua, que seguiam geralmente o perfil cine-teatro. Equipamentos de exibição foram surgindo na região com programas variados que incluíam, muitas vezes, reprises de filmes e mostração de séries semana a semana. Segundo indicam alguns registros e depoimentos de interlocutores que participaram da pesquisa supracitada, o foco dessas casas exibidoras era justamente o público familiar dos bairros leopoldinenses, que, no passado, se caracterizavam como locais de moradia proletária; Ramos, Olaria e Brás de Pina estão entre eles. Este trabalho, portanto, tem o objetivo de examinar a fase seminal dos cinemas da Leopoldina e as atividades de exibição que fizeram parte dos lazeres dos moradores desta região no início do século passado, assim como da própria formação urbana local. Tendo em vista que a primeira apresentação de imagem em movimento de todo o subúrbio do Rio de Janeiro aconteceu justamente na Zona da Leopoldina, o artigo busca levantar aspectos ligados à história do circuito exibidor que lá se estruturou, o qual passou por crises e soerguimentos, quando o cinema ainda se moldava como um vetor legitimamente urbano. A investigação não despreza a análise dos papéis que figuras como Paschoal Segreto e Domingos Vassalo Caruso, empreendedores da exibição carioca/suburbana, tiveram nessa área da cidade ao longo dos primeiros 30 anos do século XX.

HistóRia PúBlica e cinema: PeRsPectivas

Rodrigo de Almeida Ferreira – UFMG / Centro Universitário [email protected]

Temas históricos integram roteiros de filmes desde o desenvolvimento da linguagem cinematográfica. O uso da história pelo cinema, contudo, apresenta pontos controversos como já assinalados por autores como Ferro (1992), Lagny (1997) e Rosenstone (2010). Em parte, as arestas estão em torno de contradições das representações fílmicas em relação ao saber histórico acadêmico, ou pela liberdade nas adaptações e invenções para a narrativa, naquilo que se configura como a dicotomia entre objetividade da história x subjetividade (Napolitano, 2005). Diante do papel ocupado pelo cinema na conformação cultural de nossa sociedade, é pertinente pensar as relações entre a história representada nas telonas e a produção historiográfica como um movimento de circularidade do conhecimento histórico. As reflexões ora apresentadas se propõem a analisar o filme com temática histórica como história pública, destacando-se dois pilares dessa prática. Primeiro, o aspecto divulgador do conhecimento histórico que os filmes com essa temática terminam por realizar. Nesse sentido, dado o seu alcance, esse tipo de filme pode assumir um relevante papel educacional, tanto em ambiente escolar quanto não-escolar. O segundo pilar diz respeito à natureza transdisciplinar que caracteriza a produção em história pública, uma vez que, para se realizar um filme histórico, é comum articular uma série de registros narrativos, para além do saber acadêmico, a fim de estabelecer a versão cinematográfica daquela temática. Para tanto, deve-se ressaltar as diferenças entre os campos narrativos sobre a história, ou seja, não se pode exigir dos diretores e roteiristas de cinema – o que se pode estender a produções de outras áreas que se voltam à história, como a literária, a dramaturgia, a musical e etc – o mesmo procedimento acadêmico-científico inerente ao trabalho dos historiadores. Do contrário, não se ultrapassa a dicotomia entre a pretensa objetividade da história x subjetividade que tanto polemizou o diálogo entre

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os historiadores e o cinema. Assim, considera-se que o essencial é que a narrativa histórica seja problematizada, pois, desse modo, favorece a significação do conhecimento histórico, sendo que a circularidade de conhecimentos necessários à representação cinematográfica da história configura uma produção com autoridade compartilhada (Frisch, 1990). Acredita-se, portanto, no diálogo entre o cinema e a história pública tanto na vertente de ampliação dos públicos para o saber histórico, quanto da produção e significação do conhecimento histórico – acadêmico ou não.

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GT 05 – História Pública e DocumentárioData: dia 10, quarta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Ana Carolina de Moura Maciel (UFF)Mathias Assunção (UFF)Monica Kornis (FGV)

o documentáRio e a veRdade HistóRica: questões PaRa deBate

Mônica Almeida Kornis – CPDOC/[email protected]

A idéia deste trabalho é tratar sobre algumas questões referentes à linguagem do documentário do ponto de vista de suas estratégias de construção de uma “verdade” para o grande público, com atenção especial para os documentários brasileiros sobre o regime militar.

imagens de aRquivo em audiovisuais

Julio Wainer – PUC/[email protected]

As imagens de arquivo (fotos, filmes, vídeos, etc) aparecem e são localizados em volume crescente. No campo da produção fílmica, identificamos dois caminhos que podem assumir: ora são agregadas em narrativas documentais, ora aguardam por indexação e por alguém que lhes dê sentido narrativo. Dos primeiros, muitos transformam-se em documentos públicos e entram para a história do cinema brasileiro. Os filmes Os anos JK (1980) e Jango (1984), ambos de Silvio Tendler e o recente O Dia que virou 21 Anos (2013), de Camilo Tavares, são exemplos dessa tendência. Algumas imagens se tornaram verdadeiros cânones e são usadas repetidamente, como as tropas a cavalo que perseguem manifestantes, ou estes alinhados contra uma parede iluminados por holofote da polícia. A maior parte das imagens de arquivo, no entanto, aguarda indexação. São incontáveis fotos em papel, alguns arquivos em película (16 mm, super 8) e em vídeo (VHS, outros) que aguardam sentido histórico ou simplesmente narrativo. É o que propõe Marcelo Masagão com Nós que aqui estamos por vós esperamos (1999) ou Zelig (Woody Allen, 1983) ao associar imagens antigas a histórias possíveis. Cada um dos caminhos implica em problemas. Sobre montagem de documentários, Eduardo Escorel (2010), montador e blogueiro, fala em quatro formas do diretor/montador encarar o arquivo: arbitrária, ingênua, que recusa as imagens, que questiona as imagens. Os arquivos que aguardam indexação envelhecem e correm o risco de perder conexão com os fatos históricos a que dizem respeito. Mas ganham, dependendo da liberdade que se tem no seu trato, em capacidade de se fabular sobre elas, de se criar histórias verossímeis ainda

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que não verdadeiras. De qualquer jeito, é uma incógnita o que acontecerá com as imagens de arquivo recentes, que raramente viram papel ou outro suporte duradouro, permanecendo em HD e celulares até que sejam deletadas. A comunicação no simpósio de história pública irá discorrer sobre os caminhos das imagens de arquivo para uso em audiovisuais. Abordará também, da parte do espectador, a exigência de leitura de diferentes camadas da história em filmes e eventos audiovisuais recentes, como a reedição em 2014 do filme Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984).

no caminHo das imagens: os filmes de família dentRo

Thais Continentino Blank – [email protected]

O gesto de apropriação de imagens preexistentes não é novo na história da arte. As práticas mais diversas de citação, deslocamento, montagem e colagem são exercidas pelo menos desde as vanguardas artísticas do início do século XX. No entanto, na última década, notamos um grande aumento no volume de produções audiovisuais que possuem como recurso central a retomada de imagens produzidas para outros fins. Imagens de câmera de segurança, filmes amadores e familiares, industriais e publicitários, antigos programas de TV, materiais de diferentes procedências e formatos se encontram em uma produção heterogênea que atravessa o campo da arte e do entretenimento audiovisual. Diante dessa gigantesca onda do arquivo, que inunda as salas de cinema, os museus e os programas de televisão, alguns pesquisadores afirmam a necessidade de recuperarmos a origem das imagens. Este é o caso da historiadora francesa Sylvie Lindeperg, que nos últimos dez anos vem trabalhando no sentido de reconquistar a historicidade do momento da tomada e de revelar as condições de realização das imagens da Segunda Guerra Mundial retomadas dentro das mais diversas produções audiovisuais. Esta comunicação se inspira no método de pesquisa de Lindeperg e propõe traçar um caminho que parte da obra acabada em direção ao arquivo, um esforço de enxergar as transformações ocorridas no interior das imagens ao longo das migrações no tempo e no espaço. Nossa pesquisa se debruça sobre o documentário Babás (2010), de Consuelo Lins. O curta-metragem costura elementos autobiográficos, filmes familiares, entrevistas e documentos vindos de diferentes arquivos para elaborar uma reflexão sobre o papel das babás no cotidiano das famílias brasileiras. Neste trabalho propomos refazer o percurso traçado pelos filmes domésticos pertencentes às famílias Mattos e Sampaio. Estes filmes foram realizados nas primeiras décadas do século XX, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e retomados por Consuelo Lins mais de setenta anos depois. Produzidas por famílias diferentes, as tomadas usadas na obra compartilham uma trajetória semelhante: nasceram no universo privado e foram deslocadas para o espaço público, onde perderam ou ganharam novas camadas de sentido pelas mãos da cineasta. A reconstituição da longa trajetória percorrida pelos filmes familaires não visa desvalorizar o papel do artista em nome de uma “verdadeira origem” das imagens, muito pelo contrário, esta jornada tem como princípio de base a noção de que “as imagens de arquivo não devem ser entendidas como prova factual da história, mas como documentos em constante devir” (LINDEPER, 2005; 151), e que os múltiplos usos e olhares portados sobre elas são sintomas de uma época.

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santo nomBRe (memoRia, PatRimonio e identidad de un PueBlo.)

Guillermo Cabrera Vidal – Benemerita Universidad Autónoma de [email protected]

El presente trabajo comprende un nuevo modo de trabajo para los historiadores, a lo menos en México, “la Historia Publica”, misma que se ha encargado de transmitir un sentido de cuestión a la disciplina, colocar los contextos en un campo más amplio y como es que en realidad los historiadores la practican, deduciendo que para entender las formas en que funciona la Historia Publica, debemos entender que es una disciplina académica y cual es el origen prístino de la misma para su desarrollo con la sociedad. Es por medio de la Historia Publica que abordo mi trabajo; aunque la historia publica abarca muchos campos por los cuales se pueden lograr la difusión y divulgación de la historia, es por medio del documental por el cual trabajare; sabemos de antemano que en un documental no se pueden abordar en su totalidad conceptos fundamentales por los cuales se desarrolla el proyecto, como lo son: la memoria, la identidad y el patrimonio, a lo que este documental ira acompañado de un trabajo escrito (investigación), no olvidemos que uno de los fines básicos del historiador es la escritura. Los medios masivos juegan desde siglo XX un papel de vital importancia, con el control de masas o juzgando figuras, ideologías, etc., más sin embargo el documental también puede estar permeado por ciertos tipos de control; es donde la función del historiador en los medios masivos es servir de guía, y aplico este adjetivo porque cualquiera puede acceder a la información y adquirir el papel de semidiós con cualquier aparato de comunicación, el problemas es que solo se esta creando una des-identidad de los individuos, producto de la globalización, con fines de control de masas, el historiador y su función social es necesariamente indispensable y es él, quien debe tener una responsabilidad al adjudicar un significado del pasado en base a reflexiones y ejemplificaciones descritas en forma contextualizada del propio pasado histórico de los individuos y que la sociedad debe juzgar bajo sus realidades actuales y experiencias vivenciales, restableciendo así su propio pasado. Es del historiador el compromiso social y ético con el que establece una correlación en sociedad a donde finalmente pertenece. Es en el proyecto donde se vera reflejado el fin de estos argumentos, la zona ejidal es Santo Nombre, y la zona arqueológica es Teteles, ubicada en Tlacotepec de B. J., Puebla, es de reciente descubrimiento, la cual esta sometida bajo problemáticas como: memoria, identidad y patrimonio, así como problemas jurisdiccionales de propiedad de la nación.

a naRRativa inteRPRetativa soBRe os documentáRios do concuRso HistóRia de BaiRRos de são Paulo

Viviane Pedroso Domingues Cardoso – [email protected]

Este trabalho é parte dos resultados da pesquisa de mestrado “Uma cidade, várias narrativas” sobre o Concurso História de Bairros de São Paulo, que foi promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. O Concurso, que nas primeiras décadas teve como produto monografias, desde 2005 vem se apresentando no formato de documentários com cerca de 24 minutos cada. Esses documentários foram desenvolvidos inicialmente em co-parceria com a Secretaria Municipal de Educação e distribuídos nas escolas públicas municipais. Também foram veiculados

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na televisão e em festivais alternativos de cinema. Buscamos identificar as narrativas históricas que se fazem presentes nesses documentários, bem como os interesses em investir parte substancial dos recursos da Ecine (Agencia de Cinema do município) em documentários de história.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

GT 06 – História Pública e EducaçãoData: dia 11, quinta-feira, e dia 12, sexta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Everardo Andrade (UFF)Fernando Penna (UFF)Thaís Nivea Fonseca (UFMG)

o ensino de HistóRia no estado do Rio de janeiRo

Gracilda Alves – [email protected]

Estou coordenando um grupo de professores de História responsáveis pelo processo de Formação Continuada. Este projeto iniciou-se com a produção do Currículo Mínimo de História que foi feito a partir de encontros presenciais e virtuais com os professores regentes. Este foi baseado em competências e habilidades que teve como preocupação central a preocupação de tornar a escola em um lugar de produção de conhecimento histórico. Neste momento estamos na segunda fase deste projeto. Nesta fase a equipe é responsável pela produção de material didático e roteiros de ação para cada um dos bimestres de acordo com o Currículo Mínimo aplicado pelo Estado. Nesta etapa estamos produzindo também material didático para o professor e para o aluno da NovaEja.

as meninas do caRmela dutRa: um RetRato da foRmação de PRofessoRes na Rede PúBlica estadual do Rio de janeiRo

Guilherme José Motta Faria – [email protected]

Muito se tem debatido sobre a decadência da educação brasileira. O estado do Rio de Janeiro, no quadro geral do país, apresenta níveis alarmantes de ineficiência. O sucateamento da escola pública estadual é um fenômeno que foi sendo delineado na virada dos anos 1970/80 e tem sido aprofundado nas últimas décadas. E como está o Curso Normal, onde são formados os futuros profissionais da educação, responsáveis pela “formação” intelectual das crianças, nos seus primeiros anos de escolaridade? O que pensam as alunas e alunos dos cursos de formação de professores na rede estadual de educação? Ao pensar nestas questões mudei a rota de navegação em minhas aulas de história no Instituto de Educação Carmela Dutra, no bairro de Madureira, procurando trabalhar a noção de que o processo histórico está sendo construído por diversos agentes, que geralmente são fadados a invisibilidade. A partir de produção de textos “Eu também sou História”, onde os alunos foram convidados a contar sua trajetória de vida, relatando também as histórias de seus pais e avós, “13 de maio: o que temos a comemorar?, onde debateram a condição dos negros no Brasil, emprego, racismo e

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preconceito e “Um raio X da Escola”, onde opinaram sobre a escola em si, a educação pública e o desejo de se tornar professores é possível começar a iluminar as condições e perspectivas da formação de professores na rede estadual de educação. A pesquisa, em andamento, desde maio de 2013, já possui um acervo de 600 textos/documentos, entrevistas com professores, diretores e ex-alunos da escola que permitem emergir um retrato de uma história pública em processo.

a Política PúBlica e o financiamento escolaR das cRianças caRentes em um gRuPo escolaR de uBá/mg (1932-1941)

Roberta Geraldo Pereira – [email protected]

Este trabalho discute no âmbito da história do poder público brasileiro, uma etapa do financiamento escolar das crianças carentes, a partir da criação das Caixas Escolares no estado de Minas Gerais, no período de 1932 a 1941. Após fazer um breve histórico sobre a regulamentação e os objetivos da Caixa Escolar no Império e na Primeira República, foi tecida considerações a respeito da criação e desenvolvimento desta entidade beneficente no estado mineiro e o papel social exercido por ela. Como objeto de estudo, analisou-se o funcionamento da Caixa Escolar Raul Soares (CERS), pertencente ao Grupo Escolar Cel. Camillo Soares (GECCS) do município de Ubá/MG. Para realização destes objetivos foi feita: revisão de literatura a respeito do funcionamento das Caixas em Minas Gerais; análise das atas de reunião do GECCS dos anos de 1937 a 1941, do Estatuto Interno de Reorganização da CERS do ano de 1937, e do livro “Dados dos Alunos” de 1936 a 1937, todos encontrados no arquivo morto da Escola Estadual Cel. Camilo Soares (antigo GECCS); e pesquisa no jornal da cidade de Ubá, “O Lábaro”, entre os anos de 1930 e 1940. Como resultado do estudo, concluiu-se que esta política pública representou uma omissão do governo para com o financiamento escolar das crianças carentes, que transferiu para a sociedade a responsabilidade de custear tais despesas.

no PRocesso de aglutinação das escolas RuRais em divinóPolis, o confRonto entRe o PodeR PúBlico e a PoPulação local: o que nos dizem os Relatos de lídeRes comunitáRios, PRofessoRas e ex-alunos

José Heleno Ferreira – Fundação Educacional de Divinópolis / Universidade do Estado de Minas [email protected]

Este estudo analisa o processo de aglutinação das escolas rurais no município de Divinópolis, tomando como marco regulatório a criação, em 1997, da Escola Municipal Professora Veneza Guimarães de Oliveira, que aglutinou algumas das escolas rurais em torno do distrito de Santo Antônio dos Campos, em Divinópolis/MG. Para isso, além da pesquisa documental nos arquivos da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) e Secretaria Municipal de Cultura (SEMC), buscou-se, através da metodologia da história oral, ouvir os sujeitos envolvidos com o intuito

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de compreender e analisar a forma como os mesmos o perceberam em 1997 e como o percebem atualmente. Trata-se de um trabalho de pesquisa em interface com a extensão, realizado através do projeto “Habilidades artesanais e atividades culturais como contraponto para a aglutinação das escolas rurais”, desenvolvido entre os anos 2009 e 2011, no Centro de Memória da FUNEDI – unidade associada à Universidade do Estado de Minas Gerais, com o apoio da FAPEMIG. A interface com a extensão se fez através da oferta de oficinas de teatro, dança e artesanato (bordado e pintura) em quatro comunidades rurais que tiveram suas unidades escolares fechadas a partir do processo de aglutinação. As oficinas foram definidas conforme opção da comunidade rural, após reuniões dos membros da equipe de trabalho envolvida no projeto de pesquisa com o Conselho Comunitário local. Privilegia-se, neste relato, os resultados da pesquisa documental e, mais especificamente, a análise dos depoimentos de lideranças comunitárias e professoras, através dos quais é possível perceber o conflito entre o poder público e os sujeitos das comunidades rurais, bem como o desafio de implementação de políticas públicas num processo em que as vozes dos sujeitos diretamente envolvidos sejam ouvidas, bem como a necessidade de costurar com habilidade a transição para o novo.

a foRmação de PRofessoRes em diálogo com difeRentes PúBlicos: HistóRia local e PatRimônio cultuRal no sul da ilHa de santa cataRina

Mônica Martins da Silva, Andréa Ferreira Delgado – [email protected]

Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns fundamentos teórico-metodológicos do projeto “Formação de Professores e Educação Patrimonial – Experiências na Educação Escolar no Sul da Ilha de Santa Catarina”, desenvolvido na área de História, por meio do “Programa Institucional de Iniciação à Docência” (PIBID) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em conjunto com as Escolas de Educação Básica “Dilma Lúcia dos Santos” e “Batista Pereira”, ambas da rede municipal de Florianópolis, durante três semestres. Do conjunto das etapas desenvolvidas, destacam-se a realização de trabalhos de Campo nos locais onde estão inseridas as escolas, de modo a promover a aproximação e a sensibilização dos estudantes bolsistas, professores supervisores e professores coordenadores acerca das características das comunidades envolvidas, problematizando a relação entre o presente e o passado. Essas atividades também foram exercícios empíricos de observação, coleta de dados e análise de determinados aspectos do campo do patrimônio propostos como temas para as pesquisas realizadas pelos bolsistas de iniciação à docência e supervisores. Em outra etapa do trabalho ocorreu a investigação histórica realizada acerca de temas associados ao patrimônio cultural, promovendo a relação entre prática pedagógica e prática de pesquisa na formação do professor de História e a interação com as comunidades da Armação e do Ribeirão da Ilha. Os bolsistas praticaram o ofício do historiador de forma relacionada com a reflexão sobre história escolar: realizaram pesquisa bibliográfica, coletaram documentos em diferentes instituições e entrevistaram moradore(a)s dos bairros da Armação e do Ribeirão da Ilha. Em função da amplitude da pesquisa desenvolvida e dos limites desse trabalho, daremos destaque para a discussão de dois temas pesquisados pelos bolsistas que atuaram na localidade do Ribeirão da Ilha. O primeiro deles é Pesca e Maricultura: Saber Fazer, Cultura Material e Turismo no Ribeirão da Ilha, temática que se caracteriza pela discussão da pesca

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por meio do saber fazer dos pescadores e da cultural material que constitui essa atividade, assim como da maricultura, identificando alguns sujeitos envolvidos com esses ofícios na localidade, as características desse trabalho e os sentidos atribuídos por eles no decorrer de um processo histórico demarcado entre os anos de 1950 e os dias atuais. O segundo tema é: Festas, Tradições e Patrimônio Cultural: A Festa do Divino Espírito Santo no Ribeirão da Ilha que permitiu investigar essa festividade como uma prática social dos moradores constituída de diversos aspectos simbólicos elaborados a partir de uma tradição popular católica e composta de diferentes elementos materiais e imateriais que constituem formas particulares de culto ao Divino Espírito Santo na localidade. A partir da pesquisa realizada, no exercício do ofício de historiadores e de professores, os bolsistas de iniciação à docência produziram um conjunto de materiais didáticos para compor a Caixa de História intitulada “Educação Patrimonial e História Local” que foi resultado do trabalho desenvolvido no decorrer do processo e que será disponibilizada para as escolas do Sul da Ilha de Santa Catarina para ser apropriada e utilizada pelos professores conforme os seus interesses e necessidades.

os manuais de didática da HistóRia destinados a PRofessoRes no BRasil e a constituição de um HaBitus docente da HistóRia

Osvaldo Rodrigues Junior – UFPR/ Faculdades Integradas de Itararé[email protected]

Apresenta resultados de investigação que analisa o conteúdo de manuais de Didática da História produzidos no Brasil, entendendo que, pela sua natureza, esses manuais contribuem para estabelecer relações entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento histórico escolarizado. Parte da compreensão de que os livros didáticos são artefatos culturais que publicizam a História no Brasil, porque apresentam conteúdos da História a serem ensinados, e que os manuais de Didática da História se diferenciam deles porque sua função é orientar os professores para ensinar a disciplina, sugerindo diferentes formas de aprendizado da História. A análise foi realizada em 7 (sete) manuais produzidos entre os anos de 2003 e 2012, com os seguintes resultados: 1) os manuais constituem-se como pontes entre o saber acadêmico construído e o saber escolar; 2) os manuais apresentam diferentes concepções de Didática da História; 3) os manuais contribuem para a construção de um habitus docente específico da História.

a encenação PúBlica da HistóRia no sesquicentenáRio da indePendência: amaR a PátRia, idealizaR o PRogResso e consumiR no BRasil gRande

Francisco Egberto de Melo – [email protected]

Em 07 de setembro de 1972, capitais e sedes de municípios brasileiros se mobilizaram para comemorar o Sesquicentenário da Independência. Desfiles estudantis e militares ocuparam as ruas das cidades para celebrar o dia do “grito do Ipiranga”. Após meses de ensaios, estudantes com roupas bem engomadas nas vésperas por mães dedicadas marcharam em formação disciplinadamente vigiadas por professores e instrutores, acompanhados de bandas de música

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que tocavam dobrados e marchinhas. Os desfiles cívicos faziam parte de ampla campanha feita nos meios de comunicação, nos discursos presidenciais e nas escolas, iniciada no ano anterior com o retorno dos restos mortais de D. Pedro I ao Brasil. Apelando-se para as práticas cívicas com recorrência à memória nacional elaborada a partir da “comunidade imaginada”, referenciava-se um constructo continuo e sequenciado de heróis, datas e fatos. Os cortejos procuravam contar uma história fundamentada na unidade nacional iniciada com os as alegorias do “descobrimento do Brasil”, passavam por Tiradentes e findavam com as reverências aos feitos e obras do Regime Militar. A análise de jornais, legislação e documentação escolar ajudam a compreender como o governo Médici mobilizou diversos equipamentos com o objetivo de (re) elaborar a memória nacional nos currículos, práticas escolares e rituais cívicos das comemorações do Sesquicentenário da Independência, nos espaços de educação formal e não-formais, com vistas á unidade nacional. Foram mobilizados diversos instrumentos de elaboração e divulgação de uma cultura cívica atrelada a uma história com vistas à unidade/identidade nacional que extrapolava o ambiente escolar para fortalecer o Estado fundamentado nos princípios da Segurança Nacional e do Desenvolvimentismo. Destaca-se a divulgação de uma história pública respaldada na memória nacional expressa em linguagens, valores e ideias nas ruas, praças e avenidas, ensinava-se e encenava-se a História nos espaços públicos com festas e apelos cívicos em estratégias pensadas para monumentalizar um passado que não fora vivido pelas gerações do presente, mas que eram experienciadas em desfiles, horas cívicas, hinos, músicas, imagens e sons. Elaborava-se a memória de um Estado Nacional para obter a lealdade dos brasileiros com o regime militar, ao mesmo tempo em que a transmitiam-se valores culturais e morais como amálgama do sentimento pátrio.

da “aceleRação” ao “mundiaR”: exPeRiências, PanoRamas e PeRsPectivas do ensino de HistóRia no PaRá à luz de Políticas PúBlicas no ensino fundamental e médio no último decênio

Anderson Rodrigo Tavares Silva – Secretaria de Estado de Educação do Pará – [email protected]

A imagem recente que vem se construindo acerca da História pública no Brasil encontra-se ainda excessivamente carregada de valor midiático. Faz-se mister reconhecer que uma análise aprofundada sobre o panorama do processo de divulgação e aceitação da História não pode relegar ao segundo plano a função precípua da maioria dos discentes que saem anualmente dos cursos de graduação em História de todo o Brasil: lecionar. O ensino da História ainda é uma das formas mais arraigadas de sua divulgação. Não obstante toda conjuntura de surgimento de novas tecnologias que permitam ao cidadão comum poder obter as mais variadas formas de acesso à informação, é ainda no cotidiano das escolas que se fortalece a imagem que as pessoas constroem sobre essa disciplina. Sem pretender diminuir a importância de outras formas de acesso e divulgação da História como os museus, sites e as recentes mídias sociais, imputa-se uma necessidade constante de reflexão sobre o ensino da disciplina História. Nessa perspectiva, procurou-se, construir um embate entre a história pública e a educação a partir de experiências no ensino de História dentro do contexto de funcionamento do projeto conhecido como “Aceleração da Aprendizagem”. Este projeto educacional funcionou em Belém e região metropolitana entre os anos de 2004 a 2013 e foi implementado no nível fundamental (6º ao 9º ano) para tentar solucionar o problema da defasagem idade-série crescente em vários

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cenários educacionais do Brasil e particularmente da Amazônia. Contudo, o ano de 2013 marca o final abrupto do projeto e deixa uma lacuna no que concerne a políticas públicas na área de educação no estado do Pará. Recentemente, o governo do estado sinalizou a implementação de um novo projeto intitulado “Mundiar”, previsto para ter início a partir do mês de agosto próximo, o qual teria um enfoque semelhante ao já idealizado pelo antigo projeto: diminuir a defasagem idade-série no estado do Pará a partir de uma parceria público-privada entre governo do Estado e a Fundação Roberto Marinho. Contudo, apresentando uma mudança radical ao propor a transformação da figura do professor de História em tutor multidisciplinar. Diante dessa conjuntura, pretende-se traçar um panorama sobre o ensino de História no Pará no último decênio a partir de uma análise sobre estas duas perspectivas de políticas públicas em educação.

naRRativas museais: diálogos Possíveis entRe a HistóRia PúBlica, acadêmica e ensinada

Jezulino Lúcio Mendes Braga – [email protected]

Quais diálogos possíveis entre a história pública e a produção historiografica na produção das narrativas museais? Quais possibilidades de uso pedagogico do museu para o ensino de história? Que diálogos são possíveis entre a história ensinada e a história publicizada nos museus? Consideramos que o museu é essencialmente narrativo e que no caso dos Museus de História para além da museografia e museologia há diálogos com a história acadêmica na ordenação dos objetos e imagens e produção das legendas. Entretanto não existe um compromisso com a história acadêmica no sentido de reprodução do que é debatido, pesquisado e produzido pelos historiadores. Então, como classificar a história narrada nos museus? Esse debate é urgente a partir do momento em que se torna frequente o uso pedagógico do museu para ensinar história. Ainda que a aprendizagem histórica não seja exclusividade da escola, a história em sua forma escolar não é praticada em outros espaços nos quais seus conteúdos sejam publicizados. É claro que a todo o momento há negociações entre a história como disciplina escolar e a história pública, mesmo porque a escola dialoga com outras instituições na sociedade. Há também aproximações entre a história ensinada e o saber referente, sem que a primeira seja uma simplificação da segunda. Esse texto pretende explicitar os diálogos possíveis entre história acadêmica e história pública no uso pedagógico do Museu de Artes e Ofícios em Belo Horizonte-MG. Partimos de uma pesquisa feita com docentes frequente ao museu e que realizam projetos nas escolas para o ensino e aprendizagem de história.

sentidos, linguagem e ideologia da educação de jovens e adultos (eja)

Marilda de Castro Laraia – Universidade do Vale do Sapucaí[email protected]

A presente pesquisa tem como objetivo refletir acerca do livro didático “É bom aprender” editado no ano de 2009, que vem atender as exigências da Resolução nº 51 de 16 de setembro de 2009, que propõe a organização de material didático de uso exclusivo da Educação de

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Jovens e Adultos. Atendo-se as produções de sentidos engendradas por este livro didático e, também, realizando entrevistas, fazendo uso da metodologia da História Oral com alguns alunos do Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos (CMEJA) da cidade de Pouso Alegre, localizada no sul do Estado de Minas Gerais, buscando entender as formas discursivas que emergem do processo de ensino-aprendizagem e seu significado para os educandos da EJA. O desenvolvimento de políticas de formação de pessoas jovens e adultas, consoantes a esse novo paradigma de educação continuada, é tema polêmico, mas permite que se identifiquem algumas indicações mais ou menos consensuais. A primeira delas relaciona-se ao reconhecimento do direito dos indivíduos traçarem com autonomia suas próprias biografias formativas. A segunda recomenda-se modificar as práticas de planejamento das agências formadoras, levando-as a realizar um “giro” da oferta para a demanda, ou seja, deixar de conceber a oferta educativa a partir de padrões únicos (quase sempre referidos aos parâmetros da educação escolar de crianças e adolescentes), passando a concebê-la a partir da diversidade de demandas concretas dos diferentes segmentos sociais. A terceira implica reconhecer que não apenas a escola, mas muitas outras instituições e espaços sociais têm potencial formativo – o trabalho e as empresas, os meios de comunicação, as organizações comunitárias, os equipamentos públicos de saúde, cultura, esportes e lazer etc. –, aproveitando ao máximo esse potencial e reconhecendo a legitimidade do conhecimento adquirido por meios extraescolares.

mídias, ensino de HistóRia e divulgação do conHecimento HistóRico

Thais Nívia de Lima e Fonseca – [email protected]

Neste trabalho procura-se discutir alguns aspectos da relação entre a produção do conhecimento histórico, seu ensino como disciplina escolar e as diferentes formas de sua divulgação fora da escola, por meio de diferentes mídias, colocando em foco instrumentos de divulgação científica como revistas impressas e eletrônicas, sites e blogs, voltados para o público não especialista, sem finalidades didáticas explícitas, mas que vem sendo, cada vez mais, utilizadas por professores de História em diversos níveis de ensino. Como elemento norteador da análise, utiliza-se a noção de história pública que considera as múltiplas possibilidades de instrumentos e de espaços para a produção e a divulgação do conhecimento histórico, fora do universo acadêmico.

o PúBlico na escola: desafios da exPeRiência de exPansão da sala de aula em Blog e Rede social

Vitória Azevedo da Fonseca – Secretaria da Educação do Estado de São [email protected]

Nesta apresentação, relato a experiência de articular o conteúdo curricular do ensino de História da Rede Pública do Estado de São Paulo entre o espaço da sala de aula e o espaço público/virtual através do Blog “Aprender História na Escola”, criado em 2012, e analiso os desafios e problemáticas em torno da publicização das práticas cotidianas da sala de aula,

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2º Simpósio Internacional de História Pública

bem como os desdobramentos pedagógicos e envolvimento de pais e alunos na experiência. Através do Blog “Aprender História na Escola” os alunos, pais, e o público em geral, podem acompanhar os conteúdos e atividades trabalhadas na escola. Na produção do material destinado ao espaço público, vários são os desafios. Em primeiro lugar, a escolha da linguagem a ser usada, tendo em vista o público infanto-juvenil do Ensino Fundamental II; a necessidade de atualização constante e a constante preocupação em criar novos textos a cada nova experiência. No entanto, há uma dinâmica estimulante entre as reflexões geradas a partir dos questionamentos dos alunos e transformadas em postagens e as postagens que originam novas abordagens para a sala de aula. Assim, a dinâmica entre o espaço público e a sala de aula tem sido estimulante para o aprendizado de alunos e professor.

a diveRsidade das HistóRias PúBlicas PaRa além da meRa divulgação e em sua PRetensão de veRdade

Fernando de Araujo Penna – [email protected]

O presente trabalho tem por objetivo problematizar a natureza da história pública e a sua unidade pensada como resultado de processos contínuos de publicação. É necessário questionar a ideia de que a própria história acadêmica tornar-se-á pública em uma versão adaptada através da escola, dos museus, dos livros de romance histórico, dos documentários, etc. Estas histórias públicas não se limitam a divulgar algo produzido em outro lugar, mas são, elas mesmas, criações originais que possuem diferentes finalidades. Frente a esta constatação, defendo ser necessário diferenciar, dentre as histórias públicas, aquelas que têm um compromisso com a verdade histórica. Nos casos em que este compromisso é mantido, a historiografia acadêmica constitui-se em um interlocutor necessário para a manutenção desta pretensão de verdade.

a Revista o tico-tico e a foRmação de uma consciência HistóRica entRe a infância da PRimeiRa RePúBlica

Roberta Ferreira Gonçalves – Secretaria de Educação do Estado do Rio de [email protected]

A revista O Tico-Tico foi um dos primeiros periódicos ilustrados voltados para a infância brasileira. Criado em 1905, foi considerado por pais, mestres e intelectuais como um dos principais apoios informais à instrução e à formação moral das crianças até a década de 1950. Concebido como um instrumento moderno de divertimento infantil, a revista foi idealizada como uma estratégia de ação educativa capaz de apoiar a crença muito defendida pela intelectualidade da Primeira República da superação dos males nacionais através da educação. Com conteúdo variado que ia de histórias em quadrinhos até jogos de montar, a revista buscou criar uma identidade relacionada a moral burguesa e aos valores nacionais. Dentro de uma perspectiva cívico-pedagógica, a revista também se notabilizou pela construção de narrativas históricas, que ao lado do apoio à língua pátria, eram considerados como elementos formadores da consciência patriótica do jovem brasileiro. O conhecimento histórico era ali

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Perspectivas da História Pública no Brasil

representado como uma forma de criar uma identificação dos pequenos leitores com a nação e com o seu passado histórico, simbolizado por uma herança colonial e escravista que deveria ser superada. A presente comunicação pretende analisar a criação de um discurso histórico pela revista O Tico-Tico durante a primeira década de sua existência. Orientada pela noção de consciência e cultura histórica, pretende-se perceber como as diferentes temporalidades marcam a produção de um discurso voltado para a formação do que se imaginava ser o futuro cidadão em um contexto marcado por profundas mudanças políticas, sociais e culturais.

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2º Simpósio Internacional de História Pública

GT 07 – História Pública e Culturas PopularesData: dia 10, quarta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Álvaro Pereira do Nascimento (UFFRJ)Daniela Yabeta (UFF)Hebe Mattos (UFF)Martha Abreu (UFF)

o enRedo de escola de samBa e a HistóRia PúBlica: discuRso, autoRia, coletividade e memóRia

Eduardo Pires Nunes da Silva – Colégio Pedro [email protected]

Durante grande parte do século passado e início deste, as Escolas de Samba através de seus enredos, foram plataformas públicas e por vezes populares para História em seu sentido amplo. Os enredos, em geral sem aporte do conhecimento acadêmico, ganharam usos políticos significativos, em especial na cena social carioca. Se por um lado biografias foram exaltadas, “grandes acontecimentos” relembrados outros enredos também já apresentaram críticas sociais e problematizaram o passado. Essa comunicação busca refletir sobre os significados e a capacidade histórica do enredo de Escola de Samba através de quatro pontos nodais. O primeiro ponto, que permeia todos os outros, é que o enredo é uma prática discursiva que tem uma ordem, tal qual a episteme Michel Foucault. O segundo ponto concerne sobre a autoria do enredo que na maioria das vezes é dilacerada por múltiplos interesses, desde o patrono da agremiação, passado pelo carnavalesco e até os interesses comerciais de eventuais patrocínios. A coletividade na realização dos enredos é o terceiro ponto. Este ponto está diretamente ligado à História Pública pelo caráter preponderantemente coletivo da mesma. Portanto, tanto a confecção do enredo é matizada por um coletivo de autores, como o público deste enredo é diversificado e amplo. O último ponto que cerca os significados e a capacidade histórica dos enredos é a memória. Ancoro a análise desse ponto na noção de “lugares de memória” de Pierre Nora em que o indivíduo contemporâneo tem a necessidade de se apegar a esses lugares, gerando pertencimento. A narratividade de desfile de Escola de Samba trama um pertencimento – por vezes afetivo – dos desfilantes com o enredo cantado na passarela. Assim, para além da festividade, o desfile de Escola de Samba é um espaço de construção de conhecimento histórico de alternativa popular e pública.

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exPeRiência de HistóRia PúBlica na festa de congada e moçamBique em minas geRais

Lívia Nascimento Monteiro – [email protected]

O objetivo dessa comunicação é apresentar partes da tese de doutorado, em andamento, sobre as festas de Congada e Moçambique de Piedade do Rio Grande – Minas Gerais, também conhecidas como Festa do Rosário. Proponho, mais especificamente, compartilhar uma experiência de produção de história pública, empreendida na festa ocorrida em 2014, que envolveu os membros dos ternos de congada e moçambique, uma pequena equipe de filmagem e que tem como produto final, um projeto de narrativa historiográfica, a partir das fontes orais e visuais produzidas nesse contexto. Ao difundir o conhecimento histórico para além do espaço escolar, a história pública amplia as abordagens e os novos modos de fazer história, além de propor uma nova relação entre os historiadores, os públicos diversos a quem se dirigem e os atores sociais envolvidos na narrativa histórica. Em conjunto com a história oral, diversas narrativas congadeiras e moçambiqueiras foram contadas e filmadas no decorrer dos três dias de festa, fazendo emergir a memória da escravidão e da abolição no tempo presente. Em se tratando de uma manifestação cultural negra, como é reconhecida a festa do Rosário, a história pública torna-se instrumento importante para a divulgação desse patrimônio imaterial, o que exige, por parte do pesquisador, uma gestão ética das narrativas e memórias envolvidas. Pretendo narrar, também, como os sujeitos sociais congadeiros e moçambiqueiros lidam com a história contada na linguagem audiovisual.

univeRsos cRuzados e tRocas cultuRais na PRodução do caRnaval das escolas de samBa do Rio de janeiRo: dos antigos BaRRacões à cidade do samBa

Luiz Anselmo Bezerra – [email protected]

Pensando a respeito dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, podemos dizer que o filólogo e historiador russo Mikhail Bakhtin tinha mesmo razão ao afirmar que o carnaval se situa entre a arte e a vida. Essa ideia surgiu do seu esforço para compreender as fontes de criação da obra cômica de François Rabelais, e será tomada como pressuposto do presente trabalho porque a literatura especializada no tema das escolas de samba mostra que, desde os primeiros concursos oficiais, nos desfiles carnavalescos tudo o que constitui a vida propriamente social se mistura configurando um fenômeno social total. Seguindo a definição do conceito de Marcel Mauss, diríamos que no carnaval das escolas se exprimem de uma só vez instituições religiosas, jurídicas, políticas, familiares e econômicas. Em vista de tamanha complexidade, nosso propósito é focar no processo de produção do desfile considerando dois contextos distintos para daí debatermos o caráter coletivo das atividades de trabalho e as trocas culturais realizadas em virtude da presença de agentes de diversos universos sociais entrecruzados na escola de samba por força da lógica simbólica que preside o referido processo. Essas questões serão desenvolvidas através de uma retrospectiva dos carnavais de João Trinta na Escola de Samba Beija-Flor, porque nesse caso disponho de entrevistas

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feitas mediante a metodologia da história oral com antigos membros da equipe de trabalho do carnavalesco e, além disso, um acervo fotográfico que documenta o trabalho no barracão da escola de samba entre 1988 e 1992. Uma pequena seleção dessas fotografias deverá se exibida com intuito de discutirmos não só a relevância da documentação produzida pelo então aderecista e fotógrafo Valtemir Valle sobre o barracão da escola de samba, mas também o uso da fotografia no âmbito de um trabalho cuja metodologia se fundamenta na história oral. Por fim, serão levantados alguns pontos de comparação do processo de montagem das alegorias nos antigos barracões com o que vem acontecendo mais recentemente na Cidade do Samba, equipamento público instalado na região portuária. Para tanto, serão analisados relatos de profissionais do carnaval que acompanham toda essa trajetória, e ainda faremos um debate bibliográfico envolvendo a multiplicidade disciplinar de estudos até então realizados a respeito do atual momento do carnaval, pois desse modo pretendemos demonstrar que a produção dos desfiles carnavalescos ainda guarda costumes nas práticas de trabalho que resistem a uma série de inovações no processo de montagem das alegorias.

toalHa da saudade: luiz gama, BatatinHa e deRaldo lima – HistóRia PúBlica na casa de BatatinHa

Bruno Rodrigues de Lima – Escola Superior da Defensoria Pública do Estado da Bahia – [email protected]

A Casa de Batatinha, homenagem ao lendário sambista, ainda hoje reúne rodas de samba e de conversa a respeito da tradição musical e poética da Bahia. Funcionando desde 1982, com o nome de Toalha da Saudade, nome do primeiro disco do compositor, o espaço recebe atualmente a exposição de reabertura da Galeria 13 – a mais antiga galeria de arte do centro histórico de Salvador. Esse encontro de “casas culturais”, que acontece desde junho de 2014, não sem razão, traz em sua atuação conjunta o referencial político e estético das memórias de três grandes personalidades da história do povo baiano, a saber, o compositor Batatinha, o artista plástico e ativista cultural Deraldo Lima e o jurista abolicionista Luiz Gama. A homenagem que se presta nessa ação contínua, com a exposição de reabertura da Galeria 13 e semanais rodas de samba e de conversa, reconhece nos três poetas valiosos intérpretes do imaginário brasileiro. O reconhecimento de suas obras e do percurso formativo que tiveram contrastam com as leituras mais repercutidas da história da cidade e do Brasil; conhecer estas obras, em alguma medida, sugere um outro entendimento do que se convencionou narrar o que é a história local. A programação cultural que vem acontecendo na Casa de Batatinha, referência da tradição popular do samba, dialoga com aspectos do que se entende por história pública, isto é, a história feita por seu público, contada a partir do local em que pulsa e forma imagens e que vem a reconstruir sua própria memória histórica. Na presente comunicação, pretende-se apresentar essa experiência, em andamento, de recuperar a identidade histórica da cultura popular da Bahia, através do legado dos poetas citados e suas narrativas a respeito da cidade, da cidadania, da arte, da cultura e da dimensão ética do ser humano.

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cultuRama

Alcides Santos de Magalhães;Luiz Marcio Santos Farias e Rosiléia Santana da Silva – Grupo de Pesquisa do Laboratório de Integração e Articulação entre Pesquisas em Educação Matemática e [email protected]

Culturama, projeto em forma de oficina que compõe umas das diversas ofertas do Centro Juvenil de Ciência e Cultura localizado em Salvador – Bahia, Unidade Escolar Estadual, que visa traçar um intenso diálogo entre a educação informal e formal, buscando oferecer aos educandos, que livremente se matriculam, uma experiência educacional através do uso de múltiplas linguagens, do fazer ciência em diálogo com a cultura tendo em vista o uso das tecnologias. A Oficina Culturama tem como objetivo diluir essa relação entre o sujeito e o objeto da Cultura, pois ao possibilitar que o educando vivencie fenômenos culturais diversos, os identifiquem; os signifiquem e quem sabe até o ressignifiquem faz surgir uma possibilidade dialógica e dialética que remete a compreensão de si mesmo enquanto sujeito histórico crítico. A realização da vivencia e a prática do registro, com recursos tecnológicos utilizados para este fim, como máquinas filmadoras e ou fotográficas, potencializam a produção autoral de conhecimento pelo educando em consonância com grandes temas despertos e relacionados, sem abandonar o suporte teórico propedêutico que a referende ou a contrapunha. Com um tempo total de 30h, dividida em 12 tempos de aula, se encontra em execução na UE vigente, onde em cada aula se produz um produto especifico, seja de ordem textual, áudio visual ou visual, ou de maneira conjunta buscando compor coletivamente elementos itinerantes para um blog ou site de mesmo nome da oficina. Desta forma, busca se a Cultura em perder de vista a sua historicidade. E é através dos eventos culturais que ocorrem em cada canto da histórica cidade do Salvador, que os educandos, envolvidos no processo, se percebam enquanto seres possíveis, mudando consequentemente as suas relações consigo mesmo e com seu entorno. Esse projeto é realizado no Centro Juvenil de Ciência e Cultura-Salvador sendo objeto de estudo do Grupo de Pesquisa parceria UEFS-UFBA coordenado pelo professor Dr. Luis Marcio Santos Farias.

Higienização e RePRessão aos xangôs: as tRamas negRas de Resistência na catimBolândia do Recife (1920-40).

Bruno Maia Halley – [email protected]

O trabalho aborda a apropriação espacial realizada pelos grupos sociais negros nas circunvizinhanças do rio Beberibe, numa área do nexo urbano Recife-Olinda, outrora denominada pejorativamente por Catimbolândia, pelos diários de notícias de 1920/30, em razão da forte presença de xangôs então ali existentes. Com efeito, analisar-se-á a formação deste território, sobretudo na porção drenada pelo rio Água Fria (afluente do rio Beberibe), cujas margens concentravam a maior parcela de terreiros, que em face à perseguição antes vivenciada, articulavam mecanismos de resistência. Subjacente à este contexto, vivenciava-se no Recife um processo de modernização e “higienização”, que engendrara o deslocamento dos mocambos e terreiros do centro para os arredores da planície, especialmente para área

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2º Simpósio Internacional de História Pública

drenada pelo rio Beberibe. A partir deste instante observa-se uma forte perseguição aos adeptos do Xangô, tanto das religiões mediúnicas e da Igreja Católica, como do Estado e de seus aparelhos e instituições repressoras, que fiscalizava e fechava os terreiros através da polícia e do Serviço de Higiene Mental de Pernambuco, cujos médicos-psiquiatras e intelectuais regulamentavam o funcionamento ou não das casas de culto. Através destes contatos, estes indivíduos estabeleceram uma relação próxima com os negros, ao ponto de organizarem conjuntamente o 1° Congresso Afro-Brasileiro, no Recife, em 1934. Havia, assim, uma espécie de mediação cultural nestas relações, que no bojo da Catimbolândia podem ser entendidas como tramas negras de resistência, sobretudo quando observadas a partir das imposições do Estado Novo (1937-45), que desejava realizar uma remodelação urbanística no Recife, afora uma “disciplinarização” dos seus habitantes diante do novo. À luz deste quadro, destaca-se o controle e repressão sobre os negros, tidos como indivíduos de cultura inferior, que, em rebatimento, buscaram criar estratégias territoriais na tentativa de garantir seus mocambos, trabalho e lazer, afora a manutenção de suas práticas. Através destas táticas – disfarces em agremiações carnavalescas, enfrentamento direto, controle de acesso etc. -, o “povo de santo” acabou por dotar de significados os espaços, participando efetivamente da transformação dos arrabaldes em bairros ao longo do rio Beberibe. É, pois, na esteira desta geografia histórica que se analisa a apropriação espacial dos negros no nexo urbano Recife-Olinda.

notas soBRe a PaRticiPação no PRojeto “aPoio ao foRtalecimento Político e PRotagonismo das comunidades quilomBolas do Rio de janeiRo” – o caso da Região dos lagos (2013)

Daniela Paiva Yabeta de Moraes – [email protected]

A comunicação tem como objetivo apresentar a experiência na participação do projeto “Apoio ao fortalecimento político e protagonismo das comunidades quilombolas do Rio de Janeiro” realizado durante o ano de 2013. O projeto foi desenvolvido por Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, em parceria com a Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Estado do Rio de Janeiro (Acquilerj) e apoiado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Seus objetivos foram: 1) Apoiar ações de fortalecimento institucional das comunidades quilombolas, com ênfase na dimensão organizativa e controle social; 2) Promover o protagonismo dos quilombolas nos processos decisórios, fortalecendo sua identidade étnico racial, cultural e política. Para atuação direta junto as comunidades, o projeto dividiu o Rio de Janeiro em quatro regiões: 1) Região Sul; 2) Região Norte; 3) Região dos Lagos; 4) Região Serrana, atingindo um total de aproximadamente 30 comunidades. Cada uma dessas regiões contou com uma capacitadora (oficineira) para monitoramento e realização das oficinas: 1) elaboração de projetos; 2) políticas públicas; 3) legislação e direitos quilombolas. Minha atuação foi junto as comunidades remanescentes de quilombo da Região dos Lagos: 1) Sobara; 2) Caveira; 3) Botafogo; 4) Preto Forro; 5) Maria Romana; 6) Maria Joaquina; 7) Baía Formosa; 8) Rasa. O projeto também contou com a realização de dois encontros quilombolas estaduais, o primeiro realizado em maio e o segundo em dezembro de 2013, ambos na cidade de Araruama. Além das oficinas e dos encontros, como produto final foi produzida uma Cartilha de Direitos e um Atlas com informações (textos, vídeos e fotografias) das comunidades que participaram do projeto, também disponíveis na versão impressa e online.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

GT 08 – História Pública e as ArtesData: dia 12, sexta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Heloísa Valente (Unip)Márcia Ramos de Oliveira (Udesc)Miriam Hermeto (UFMG)

a música PoPulaR BRasileiRa: a RePResentação cultuRal e Política do País (1968 – 1975)

Renata Fernandes Macedo dos Santos e Joziane Almeida Teixeira – Centro Universitário [email protected]

O presente estudo sobre a Música Popular Brasileira buscou identificar possíveis relações entre as representações culturais e as questões políticas do país no período de 1968 a 1975. Com os objetivos de identificar as músicas censuradas do Regime Militar como instrumento metodológico e a compreensão do momento histórico para a educação. Buscamos também, reconhecer aspectos constitutivos da identidade da juventude do mesmo período. Para elaboração dessa pesquisa, elencamos como metodologia a pesquisa bibliográfica, o levantamento de dados e a análise das músicas censuradas. A partir do presente estudo, foi possível concluir a relevância da música como documento da resistência do Regime Militar. E por meio dela, tende-se uma ferramenta de entendimento de um período histórico.

“o sole mio!” memóRia e nomadismo na música da “teRRa da gaRoa” (a canção ítalo-BRasileiRa)

Heloísa de Araújo Duarte Valente – [email protected]

Esta comunicação pretende relatar os resultados obtidos no projeto de homônimo. Investigou-se a presença da música, trazida e cultivada pela comunidade ítalo-descendente: suas repercussões na paisagem sonora da capital paulista. Partindo do conceito de “canção das mídias” (Valente, 2003) como elemento ativo e de forte presença na cultura (sobretudo no processo de “nomadismo”), é possível afirmar que a canção expressa, informa, corrobora traços da cultura à qual faz referência e se vincula. Tendo partido, nesta primeira etapa, de depoimentos pessoais, um além de um repertório discográfico, analisaram-se aspectos tais como: 1) as relações entre audiência e memória, a partir do repertório executado nos programas radiofônicos; 2) o impacto da permanência de artistas divulgadores da canção de origem italiana e o surgimento de vertentes ítalo-brasileiras, nas mídias locais; 3) as canções

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2º Simpósio Internacional de História Pública

tradicionais, de origem italiana, como elemento constituinte das histórias de vida e do cotidiano do italiano imigrante no Brasil, sobretudo na cidade de São Paulo; 4) o repertório da música italiana incorporado à paisagem sonora paulistana, paulista e em outras regiões, por intermédio do rádio e, posteriormente, da televisão. Dentre os resultados, pretende-se: editar um livro, criar um de banco de dados e um documentário.

naRRativas sonoRas e audiovisuais do laBoRatóRio de imagem e som / udesc : Relato da exPeRiência na elaBoRação e divulgação da PRodução HistóRica

Márcia Ramos de Oliveira – [email protected]

O Laboratório de Imagem e Som (LIS) completa 10 anos de atividades em 2015. O LIS é um laboratório diretamente vinculado ao Departamento de História da UDESC, apoiando iniciativas, projetos e práticas ligadas a esta área, a nível de graduação e pós-graduação. Revelou-se, inicialmente, como base as atividades da disciplina de Prática Curricular em Imagem e Som, disciplina de formação dos alunos da Graduação, vinculada à licenciatura e bacharelado, atingindo também ações extensionistas. O resultado da produção docente, discente e de pesquisadores inseridos na proposta do LIS constituiu-se como um acervo do Laboratório, alvo de registro e divulgação em diferentes formatos, especialmente digitais, a partir da elaboração do site. Tal produção tornou-se simultaneamente evidência e registro das práticas historiográficas realizadas neste variado conjunto de ações. A aproximação deste ano comemorativo teve como contrapartida a elaboração de duas propostas práticas e reflexivas quanto a observar, identificar e, especialmente, organizar e estruturar de forma objetiva a divulgação da produção ali realizada. Neste sentido, foram propostos dois projetos em 2014: a) Projeto de Extensão “Conhecendo o acervo do LIS” e, b) Projeto de Pesquisa “A Experiência dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som diante da História Pública : Estudos de Caso e Reflexões (2014/2015)”. Esta comunicação aborda parcialmente os resultados iniciais destes Projetos, especialmente quanto a relacionar parte das produções mediatizadas que resultaram em narrativas sonoras e audiovisuais.

PRojeto Batuclagem: aRte-educação, meio amBiente e contação de HistóRias.

Luiz Henrique Portela Faria – [email protected]

Autores: Ana Maria Dietrich; Luiz Henrique Portela Faria. Pretende-se analisar a experiência realizada pelo Projeto Batuclagem (PROEX/ UFABC-2011/2013), cujo objetivo foi promover a sensibilização e o ensino da educação ambiental por meio da arte-educação, dentro da linha de pesquisa de Ensino das Ciências – analisando as práticas de ensino aplicadas e avaliando a recepção dessas práticas educativas entre os estudantes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que parte de temáticas da Educação Ambiental e usa como principais referenciais teóricos: Hebert Read (2013), Ana Mãe Barbosa (2003), Vygotsky e Paulo Freire. No caso

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Perspectivas da História Pública no Brasil

do projeto em questão, as práticas utilizadas são propostas metodológicas de educação não formal, principalmente, a contação de histórias infantis bastante conhecidas que foram adaptadas para educação ambiental e foram contadas em oficinas para cerca de 5000 alunos de escolas públicas em Santo André, São Bernardo e Mauá, de 7 a 13 anos durante os anos de 2012-13.

engajamento e divulgação da aRte: “os aRtistas Plásticos do PcB” e o tRiBuna PoPulaR (1945-1947)

Karina Pinheiro Fernandes – [email protected]

Este artigo pretende apresentar como o jornal Tribuna Popular, que circulou no Rio de Janeiro entre 1945 e 1947, foi um meio de divulgação das artes plásticas. Neste período o Partido Comunista do Brasil (PCB) passava por um breve e importante momento de legalidade, no qual se reestruturou, angariou fundos, apoio e grande número de filiados. Este periódico foi de grande importância para difusão de informações sobre o partido e suas atividades, mas também para afirmação de suas ideias e posicionamentos em relação à política, à cultura e à sociedade. Seus artigos e reportagens eram variados e cobriam a política internacional e nacional, artes plásticas, literatura, esportes, atividades culturais bem como questões relativas ao cotidiano de muitos de seus leitores. Isto tornava o Tribuna Popular o veículo de comunicação com maior apelo ao grande público do PCB no momento, apresentando conteúdo atrativo ao mesmo tempo que divulgava suas atividades e posicionamentos. Não a toa era o periódico de maior tiragem do PCB, e chegou a ser o segundo entre todos os que circulavam no Rio de Janeiro à época. A filiação de artistas plásticos era de grande importância para o partido, visto que dava maior legitimidade e visibilidade para suas atividades. Esta relação transparece nas páginas do jornal, em que eram publicadas matérias sobre artistas de renome nacional, bem como eram divulgadas exposições. Os “artistas plásticos do PCB”, como eram referidos nas páginas do jornal, eram noticiados de modo recorrente. Este artigo pretende discorrer sobre a divulgação ao grande público das atividades destes artistas plásticos para o partido bem como suas novas obras e exposições pelo Brasil e pelo mundo.

neBlina soBRe tRilHos – a linguagem audiovisual como feRRamenta PúBlica de difusão da HistóRia da ciência e da técnica na vila de PaRanaPiacaBa (aBc Paulista)

Soraia Oliveira Costa e Ana Maria Dietrich – [email protected]

Esta comunicação é parte da composição da pesquisa em desenvolvimento para a dissertação em nível de Mestrado: Ciência, Técnica e Ferrovia: Cotidiano e Oralidades na Vila de Paranapiacaba. O distrito Vila de Paranapiacabaca localizado no Alto da Serra paulista, é uma vila construída em fins do século XIX para moradia dos trabalhadores da ferrovia. A partir da presença da ferrovia em solo paulista constata-se a aplicação do ferro em grande escala e novas possibilidades para o desenvolvimento produtivo, principalmente, na construção civil.

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Sua história envolve, portanto, um importante acervo histórico público de técnicas inglesas empregadas esta época no Brasil, com a construção de pontes, túneis, viadutos, máquinas fixas a vapor, material rodante, barragens e caminhos com estruturas de ferro, notórias obras de artes ilustradas no nosso acervo iconográfico, tanto nas fonts bibliográficas (do passado) como em fontes primárias do presente, nos trazem elementos estéticos da urbanidade. Para discutir tais aspectos e sua relação com a história pública e as artes, será abordada também a produção audiovisual lançada em 2012, “Transformação sensível, neblina sobre trilhos”, que contou com mais de oitenta exibições acompanhada com os produtores para divulgar o patrimônio cultural existente na vila ferroviária.

HistóRia e telenovela na nova RePúBlica (1985-1995)

Gabriela Silva Galvão – [email protected]

A primeira emissora de televisão a operar no Brasil foi a TV Tupi, pertencente aos Diários Associados, inaugurada em São Paulo em 1950. Desde o início as telenovelas estavam presentes na programação, entretanto, elas se tornaram um fenômeno de massas a partir do final da década de 1960. Parte da sociedade acredita que as telenovelas são produtos alienantes, de baixa qualidade e formadoras de opiniões equivocadas, acusações que podem ser bastante simplistas ao fazermos um estudo aprofundado desses programas televisivos. A teledramaturgia, em muitos momentos, pode ser entendida como um retrato do contexto histórico-social no qual está inserida, muitas vezes fazendo importantes debates entre personagens e suscitando discussões a serem feitas pelo público. O presente trabalho analisa quatro obras exibidas pela Rede Globo de Televisão entre 1988 e 1995: Vale Tudo (Gilberto Braga, 1988-1989), Que Rei sou eu? (Cassiano Gabus Mendes, 1989), O Salvador da pátria (Lauro César Muniz, 1989), Deus nos acuda (Sílvio de Abreu, 1992-1993) e Pátria Minha (Gilberto Braga, 1994-1995). Embora tenha chegado ao poder por vias indiretas, José Sarney foi o primeiro civil a ser Presidente da República após mais de vinte anos de domínio de governos militares e autoritários e sua posse representou, durante um breve período, a esperança de uma nova ordem política e social no país. A frustração, no entanto, se tornou clara a partir do fracasso do Plano Cruzado, arranjo econômico que prometia acabar com a inflação. As eleições presidenciais em 1989, que não ocorriam havia quase trinta anos, trouxeram mais uma vez expectativas de mudanças. O Presidente Fernando Collor, entretanto, se viu envolvido em graves denúncias de corrupção que levaram ao seu impeachment no fim de 1992. As telenovelas acima listadas retratam em suas tramas as tensões políticas e econômicas ocorridas no período, mostrando parte da realidade nacional e debatendo temas como a corrupção, o abuso de poder e o descontentamento da sociedade com a política e a economia do país. Dessa maneira, mostraremos como a telenovela pode ser uma fonte histórica capaz de discutir a realidade do momento que expressa, mostrando os debates presentes na sociedade e seus desdobramentos, uma vez que o período abordado poderá mostrar como se desenvolveram.

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de “oPeRáRio do veRBo” a mediadoR cultuRal: viRiato coRRêa e a divulgação da HistóRia do BRasil atRavés dos Palcos.

Vanessa Matheus Cavalcante – CPDOC/[email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar a atuação de intelectuais conhecidos como mediadores culturais, ou seja, aqueles que têm como principal preocupação a divulgação da história brasileira para um grande público. Para tanto, utilizarei como objeto de estudo o escritor maranhense Viriato Corrêa (1884 – 1967), visto como um intelectual que tem na disseminação do conhecimento histórico uma de suas principais missões. Dentre sua vasta e multifacetada obra, entende-se que o autor encontra no teatro um importante vetor cultural para atingir seus objetivos intelectuais. Dessa forma, a análise de algumas de suas peças teatrais – escritas entre as décadas de 1910 e 1940 – será de grande valia para apreender como o autor tornava pública sua noção de história cívico-patriótica, em um contexto considerado estratégico no que concerne à construção de uma identidade nacional republicana.

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GT 09 – História Pública e FotografiaData: dia 12, sexta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Ana Maria Mauad (UFF)Claudia Ferreira (Fotógrafa)Helouise Costa (MAC/USP)Silvana Louzada (UFF)

fotogRafia, lugaRes de memóRia e HistóRia PúBlica

Maria Teresa Villela Bandeira de Mello – Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro / [email protected]

O objetivo desta comunicação é desenvolver uma reflexão sobre a fotografia no âmbito dos arquivos públicos problematizando as diversas variáveis envolvidas nessa questão: a produção do registro fotográfico, seu ingresso num lugar de memória, os processos que a levam a se constituir enquanto fonte documental e seu potencial na difusão do conhecimento histórico dentro da perspectiva da história pública. Desde o seu surgimento e disseminação, a fotografia é investida de um forte valor documental baseado no seu dispositivo técnico, no âmbito de um regime documental da sociedade industrial. No que diz respeito ao surgimento das fotografias no universo dos arquivos, é possível observar sua utilização como registro das atividades de instituições desde a década de 1840 como é o caso dos arquivos de fugitivos criminais das polícias que surgem inicialmente na Bélgica, na Suíça e no estado norte-americano da Califórnia. Na medida em que a partir da segunda metade do século XIX a prática de produção e acumulação de registros fotográficos em escala institucional vai se desenvolvendo, observamos também, paulatinamente, o surgimento de um atributo que irá mudar o próprio estatuto da fotografia: trata-se da construção de seu valor de evidência e prova. Esse atributo está associado à emergência de novas instituições e práticas de observação e acumulação de registros, estas últimas exercidas pelos estados nacionais das sociedades industrializadas do período, como também por uma rede de instituições disciplinares em desenvolvimento que as adotam como práticas administrativas – como a polícia, as prisões, os asilos, os hospitais e as escolas. Além disso, ao longo desse processo, a fotografia tornou-se também objeto de colecionamento por parte de indivíduos, famílias e instituições. Nosso universo de análise incidirá sobre as coleções e arquivos fotográficos que integram o acervo do Arquivo Público do Estado do Rio Janeiro. Provenientes de diversos órgãos do executivo estadual e de coleções e arquivos privados, esses acervos possuem características diferenciadas quanto à sua natureza bem como às suas formas de produção e acumulação. Pretende-se, neste trabalho, delinear um quadro que permita o estabelecimento dessas especificidades e contribua para a utilização da fotografia na produção do texto histórico.

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PaRques, PRaças e jaRdins: a natuReza RecRiada da caPital PaRaense (1890-1910)

Rosa Claudia Cerqueira Pereira – [email protected]

Esta comunicação visa desenvolver uma abordagem que focaliza os modos de pensar historicamente a natureza urbanizada através da produção das imagens dos espaços públicos de Belém, conectadas à construção da urbe daqueles tempos, mediante uma multiplicidade de experiências, cotidianamente construídas. Na segunda metade do século XIX e início do XX, a cidade de Belém vivenciou a fase de esplendor e decadência da economia do látex. Os álbuns com fotografias encomendados pelos gestores públicos permitem identificar as diversas representações de cidade associadas ao poder público, à estética, à organização do espaço, ao trabalho, ao consumo e ao desenvolvimento, que podem ser compreendidos como a expressão de negação dos valores estéticos constituídos no período colonial. É possível entender a preocupação dos administradores em construir uma imagem moderna do Brasil Republicano, através do texto escrito e visual na tentativa de “desconstruir” a imagem depreciativa consolidada no velho continente. Portanto, a pesquisa sobre as imagens fotográficas de Belém durante o final do século XIX e início do XX, procura identificar e entender os “modos de ver” a cidade com a possibilidade de também compreender os “modos de fazer ver” e seus caminhos. A contribuição deste estudo se ancora no uso da fotografia como principal documento de análise, entendendo que a fotografia representa um testemunho que “fala” do passado.

a aRte da fotogRafia em miniatuRa

Marli Marcondes – [email protected]

O estudo das fotografias-miniaturas, também conhecidas como fotominiaturas ou fotoaquarelas, busca discutir sobre a origem desse gênero no Brasil durante o século XIX e trazer à tona suas técnicas e procedimentos, bem como analisar sua produção, comercialização e circulação no âmbito da sociedade oitocentista. Apesar de o termo fazer alusão a uma fotografia de pequena dimensão, a fotominiatura, que nem sempre era pequena pois chegava a medir até 20 cm, está associada cultural e esteticamente às miniaturas pintadas do século XVIII e início do XIX. Tecnicamente se buscou ajustar a fotografia a determinados suportes, principalmente o vidro, criando imitações de técnicas já consagradas na arte pictórica, como a miniatura pintada a óleo, guache ou aquarela sobre marfim. Desde o surgimento do daguerreótipo, sobretudo após a invenção da câmera de Alexander Walcott (1804-1844) em 1840 que produzia daguerreótipos de até 2 cm, surgiram os pequenos formatos fotográficos e uma variedade de processos colorizados ou pintados montados de tal forma que se parecessem às miniaturas. Assim, em meados da década de 1850 surgiu a marfinotipia, um termo genérico usado para designar as fotografias que eram tornadas transparentes, colorizadas e fixadas sobre vidro. Na mesma década e empregando o vidro como suporte, foi patenteado o processo denominado opalotipia, que também imitava as miniaturas em marfim. Entre os inúmeros formatos criados para exibir as falsas miniaturas pintadas está aquele

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que mais se aproximou das pinturas, o cristoleum, um procedimento de inigualável beleza. A técnica surgiu em 1880 e avançou até 1910. Além de exercerem a função de imitação das miniaturas em marfim, as fotominiaturas também eram criadas para compor as joias de afeto, ou seja, aquelas que serviam para estabelecer laços de amizade, condolências, contratos de casamento, etc. Encimadas por coroas, laureadas por diamantes, pérolas e pedras preciosas, a fotografia ocupava o lugar central nesses relicários. Essa diversidade de processos, técnicas e formatos também foi produzida no Brasil, mas apenas um número reduzido pode ser encontrado nos acervos dos museus e arquivos. Também corroboram essa presença no cenário brasileiro os anúncios dos estabelecimentos fotográficos publicados nos principais jornais dos grandes centros urbanos durante a segunda metade do século XIX.

memóRia e naRRativa visual nos álBuns de fotogRafias oitocentistas das famílias feRReiRa lage e cavalcanti

Rosane Carmanini Ferraz – UFJF e Fundação Museu Mariano Procó[email protected]

O presente trabalho tem como objetivo analisar a coleção de álbuns de fotografias oitocentistas das Famílias Ferreira Lage e Cavalcanti. O estudo é parte de uma pesquisa de doutorado que tem como tema o processo de formação da coleção de fotografias oitocentistas do Museu Mariano Procópio – Juiz de Fora (MG) e sua trajetória, de acervo particular a acervo público. Trata-se de uma coleção de 25 álbuns, totalizando cerca de 1.000 fotografias. A grande maioria dos álbuns pertenceu ao colecionador Alfredo Ferreira Lage, fundador do Museu Mariano Procópio e à sua prima, Amélia Machado Cavalcanti, Viscondessa de Cavalcanti. Buscamos caracterizar a coleção, identificando as narrativas visuais contidas nestes álbuns, os principais temas, formatos, técnicas e fotógrafos. O álbum fotográfico se configurou como um instrumento privilegiado para o aumento do consumo de fotografias além de ter se tornado um indutor do hábito de colecionar retratos que tomou conta do século XIX. Considerado um dos grandes livros dos oitocentos, nos álbuns, as famílias colecionavam, além dos retratos de seus membros, retratos de amigos, da família imperial brasileira, de personalidades nacionais e estrangeiras, inclusive artistas, escritores, filósofos, líderes políticos, etc. Além dos retratos, estão presentes as paisagens, vistas urbanas e uma diversidade de imagens de caráter documental. A fotografia se configurou como uma forma de auto representação da elite e veículo privilegiado de representação da sociedade. A prática do colecionismo de fotografias contribuiu para a consolidação das redes de sociabilidade construídas entre as famílias da elite no Brasil monárquico. Vale ressaltar ainda que estes registros iconográficos são suportes de memória e importantes fontes de estudos relacionados às mais diferentes áreas do conhecimento. Marcada pela diversidade, a fotografia é fruto de um determinado contexto social que a produziu, ou seja, está intrinsecamente relacionada aos valores, costumes e gosto da sociedade desta época.

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esPelHos negRos – uma BReve análise das fotogRafias do joRnal “quilomBo: vida, PRoBlemas e asPiRações do negRo” (1948-1950)

Daiana de Souza Andrade – [email protected]

A imprensa é um dos meios por excelência de publicizar as fotografias, contribuindo junto a outras mídias, instituições e atores sociais, na formação de um espaço público constituído também por imagens. O jornal “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro” era voltado para um público que pouco se via registrado fotograficamente em jornais na década de 1940 e tinha como um dos objetivos mostrar a importância dos negros para a história e a cultura do país. Para isso as imagens técnicas contribuíram bastante, ganhando logo destaque no periódico, elas podem ser vistas como espelhos, suportes nos quais os leitores podiam se mirar e ver reflexos daquilo que eles – também – podiam ser. Os negros fotografados do jornal eram atores e atrizes do Teatro Experimental do Negro e internacionais, jornalistas, bailarinas, cientistas sociais, vencedoras de concursos de beleza, representantes das artes, da intelectualidade e do belo, dando a ver uma representatividade longe dos estereótipos a que os negros eram muitas vezes ligados. O objetivo dessa comunicação é realizar uma breve análise das fotografias que este jornal da imprensa negra tornou públicas.

o PatRimônio HistóRico em fotogRafia: BaHia e suas RePResentações na década de 1940

Lígia Conceição Santana – [email protected]

Esta pesquisa pretende discutir a participação dos fotógrafos e utilização da fotografia como testemunho/documento nos processos de tombamento instituídos na Bahia pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) após a aprovação do Decreto-lei 25/37. Neste período observamos uma memória visual sobre o patrimônio sendo paulatinamente construída e isso justificou a contratação de inúmeros fotógrafos que circularam pelas principais cidades do país para construir o que devia ser lembrado. A cena política esteve favorável para o desdobramento desta metodologia de trabalho e para a atuação dos fotógrafos e técnicos que colaboraram decisivamente com a disseminação de uma idéia/sentido de patrimônio a ser preservado. Neste trabalho discutimos a atuação do SPHAN nas primeiras décadas de trabalho na Bahia.

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GT 10 – História Pública e ComunidadesData: dia 11, quinta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:Andréa Telo (Museu do Ingá)Marta Gouveia de Oliveira Rovai (UNIFAL)Suzana Ribeiro (Unitau)

HistóRia oRal e HistóRia PúBlica: os caminHos PaRa a Posse da teRRa na favela vila oPeRáRia

Denize Ramos Ferreira – [email protected]

A constituição da favela como um problema ganhou força no momento em que a nossa república se estruturava no final do século XIX, início do século XX. Embora ainda constituíssem locais pouco numerosos, já se apresentavam como um espaço geográfico que despertava preocupação como a Vila Operária, que ocupando um morro não habitado, preocupava políticos e o legítimo proprietário por ter moradores que desde o começo buscavam fortalecer a sua identidade social e econômica. A terra foi elemento agregador para esses moradores. O Estado negociou em segredo a compra deste morro a partir de 2008.Os moradores não tinham conhecimento deste fato. Quando tornamos esta história pública, o Estado foi obrigado a reconhecer, por interferência do Poder Judiciário, que os moradores da Favela Vila Operária têm direito à posse da terra. A História Oral e a a sua publicização tornaram reais o sonho de 1958.

o PRocesso de imPlementação do feRiado 20 de novemBRo no aBc Paulista

Leon Santos Padial – [email protected]

Este trabalho tem o objetivo de analisar a implementação do feriado municipal de 20 de novembro, denominado Dia Nacional da Consciência Negra em homenagem ao Herói Nacional Zumbi dos Palmares. A simbologia histórica do Quilombo dos Palmares traz a problemática da subalternidade imposta às populações negras em África e na diáspora atlântica. O trabalho discute através das contribuições das Ciências Humanas, a integração social da população negra brasileira. Os movimentos sociais negros são discutidos à luz das teorias dos chamados “novos” movimentos sociais. Uma pesquisa documental analisa as legislações que implementaram o feriado 20 de Novembro no ABC Paulista. Posteriormente, uma pesquisa empírica com ativistas anti-racistas da região retrata o contexto político e a movimentação dos atores sociais favoráveis e contrários ao feriado.

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identidade guaRani: teRRa e teRRitóRio das comunidades indígenas de douRados – ms

Marina Evaristo Wenceslau e Djanires Lageano Neto de Jesus – [email protected]

As comunidades indígenas do município de Dourados, Guarani, Terena e Kaiowá, localizadas no estado de Mato Grosso do Sul – MS, Brasil, são núcleos de dinâmicas culturais e históricas, representada pela narrativa de luta por meio de sua identidade e alteridade, tendo como base o território. A terra para o indígena é a essência da vida, tanto no passado como projeção para o futuro. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar a cultura destes indígenas, através de uma análise crítica sobre sua representatividade etnocultural demonstrado na vida e nas movimentações representativas em função da terra e o território. O método descritivo e a oralidade possibilitam o aporte metodológico bem como os procedimentos baseados em análise das condições de vida, nas interferências diretas e indiretas, por meio da experiência indígena em seu próprio território e na sociedade envolvente. Os resultados obtidos revelam, em parte neste artigo, resultados, interferências e consequências que demonstram as expectativas da comunidade tanto nas relações dentro e fora da aldeia. O território, então, faz parte não somente do sistema de identificação dos Guarani, mas sobretudo é o próprio sustentáculo, do lugar onde se realiza esta sociedade, onde a vida se complementa com os anseios, o de vir, os mitos e os ritos. É importante destacar que desde o período colonial, o indígena perde sua terra paulatinamente e enfrenta mudanças internas para um povo que é acostumado a viver livremente, caçando, pescando e plantando para subsistência. A terra ainda tem um sentido sagrado, cultural, de rito, de mito e é vida. Assim, a necessidade de preservar a terra para seus filhos, netos, bisnetos e assim sucessivamente, assim como para seus mortos. Eles não reconhecem as fronteiras. As fronteiras não se limitam apenas com as propriedades circunvizinhas, mas com o país vizinho, Paraguai. Desta forma fica acentuado o sentido de vida, e as visitas para seus parentes, a luta pela sobrevivência e outros elementos. Atualmente, as terras indígenas, delimitadas e demarcadas, estabelecendo limites a esses povos em qualquer fração ou região de espaço sem ao menos tomar conhecimento do aumento populacional. Na realidade para declararmos como Terra Indígena, tal como está na Constituição, e a compreensão antropológica dos fundamentos da ocupação e territorialidade indígena terão que considerar seu modo de vida, seus usos e costumes, preservando a identidade e sua alteridade.

o PesquisadoR como mediadoR entRe univeRsidade e comunidade de PescadoRes: canáRias (ma) e aRRaial do caBo (Rj)

Marta Gouveia de Oliveira Rovai – Universidade Federal de Alfenas – [email protected]

A apresentação oral visa mostrar o trabalho realizado com o o processo de conhecimento, inventário e valorização da cultura material e imaterial de pescadores, nas comunidades de Canárias, no Maranhão, e em Arraial do Cabo, no estado do Rio de Janeiro. A criação de oficinas, o levantamento de saberes e fazeres, além do debate sobre os problemas enfrentados pelos trabalhadores – como o turismo depredador, a falta de direitos básicos como saúde, além

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da ausência de práticas preservacionistas pelas novas gerações – tornam o pesquisador um mediador e também testemunha das experiências das populações tradicionais, contribuindo para o fortalecimento da identidade, o empoderamento e a luta coletiva em favor de políticas públicas, juntamente a outras instituições

a educação física na educação PoPulaR: PaRticiPação no PRocesso de constRução da identidade de cRianças no movimento dos tRaBalHadoRes sem teRRa

Alexandre José Arcanjo – [email protected]

Este trabalho tem por objetivo descrever a maneira como se desenvolve a Educação, principalmente a Educação Física, nos movimentos populares. Para isso busca compreender o processo histórico e social da Educação Popular e da Educação Física no contexto brasileiro. E também realiza uma reflexão de como foi o momento histórico pós-ditadura para a área da Educação Física e como se desenvolveu o conhecimento desta, numa visão humanista. Trata-se de um estudo da educação, do corpo e da cultura na constituição da identidade das crianças no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), apoiado em vários autores que refletiram sobre Educação Popular, Educação Física, Corpo, Cultura e Identidade. O trabalho se desenvolve primeiro de maneira teórica e em seguida parte para uma análise da práxis da Educação Física e da construção da identidade dentro do MTST. Neste sentido foi realizado pesquisa bibliográfica e trabalho de campo através de uma observação participante no “III Encontro dos Sem Terrinhas da Regional Grande São Paulo do MTST” com o setor de educação do Movimento. Por fim, foi filmado o encontro seguido de análise do vídeo e produção do texto. O tipo de pesquisa social desenvolvida apóia-se em dados sobre o mundo social, que são construídos e ao mesmo tempo resultam dos processos de comunicação, buscando não apenas elucidar os conceitos, mas, através da comunicação, dia após dia, demonstrar a construção e aplicação de uma proposta de educação emancipatória. E é neste contexto que a cultura corporal vai se materializando, através de práticas que vão se constituindo e ganhando significados e construindo valores e identidades que resgatam os elementos da classe trabalhadora para a classe trabalhadora. Neste cenário, o processo pedagógico para a materialização dos objetivos com as crianças, busca olhar o mundo a partir do ponto de vista da criança, revelando uma outra maneira de ver a realidade, em que cultura, história e saberes são valores de época, portanto a nossa vida pode inventar seus próprios valores e estes, que constitui as identidades individuais e coletivas, devem ser uma busca coletiva, como a própria realização deste trabalho, realizado sempre de maneira dialógica com os vários atores.

comunidade e identidade: Reflexões PaRa o tRaBalHo em HistóRia oRal

Suzana Lopes Salgado Ribeiro – [email protected]

Estudos sobre comunidade têm ganhado certa centralidade nos trabalhos acadêmicos. Na área das humanidades, a sociologia, a história, a antropologia e a psicologia social preocupam-se

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com a questão. Na configuração da pós-modernidade estudam a fragmentação e a dissolução das comunidades. Estudam também a perda do senso de pertencimento e de identidade, a anomia, provocada pelas intensas transformações ocorrentes no mundo contemporâneo.Importa lembrar que a própria produção histórica iniciou seus trabalhos com o estudo das comunidades e apenas mais tarde começou a se preocupar com a identidade. Para a história, os conceitos identidade e comunidade estão muito próximos e devem ser tratados conjuntamente. As reflexões sobre identidade se relacionam intimamente com comunidade na escrita da história, e desta forma extrapolam as fronteiras dos pioneiros estudos antropológicos e sociológicos. Importa, no entanto, marcar uma modificação. Os estudos de comunidades são marcas da história há muito, mas aqueles eram feitos de forma a manifestar o orgulho local. Aos poucos tais estudos foram promovendo um diálogo entre a micro e a macro análise e problematizando o conceito. Afastando da fixidez do modelo durkheimiano de sociedade e propondo comunidades construídas, imaginadas (Anderson) e até mesmo desconstruídas (Derrida) e reconstruídas. Assim, os estudos sobre comunidades desenvolvidos contemporaneamente, passam a refletir sobre os muitos aspectos da pluralidade e diversidade. Os estudos de comunidade ligados à questão da identidade tendem a refletir sobre o pertencimento. Lembrando que o processo de formação de uma comunidade é coletivo e contínuo, sempre negociado entre coletividade e indivíduo. Dessas negociações constantes entre seus membros surge um sentimento de pertencimento à comunidade. As identidades passam a ser consideradas cada vez mais como processos em permanente movimento, e a emergência das comunidades e das políticas de identidades como fenômenos de resistência, conservadora ou progressista. Nas discussões dos trabalhos hoje produzidos têm tornado-se importante objeto de estudo as contradições do pertencimento. Isto pois, sabe-se que para se pertencer a um grupo, e se manter nele, é exigido um padrão de comportamento. A identidade construída coletivamente faz imposições, as pessoas do grupo cobram um comportamento que é o de representante. No limite, uma identidade criada para superar a exclusão pode igualmente se tornar excludente e intolerante. Em alguns casos nota-se que comportamentos desviantes também são punidos, e a própria comunidade, estabelecendo limites, exclui pessoas do relacionamento naquele grupo e apresenta ao pesquisador, em sua vivência de campo – situações de conflito. Assim se colocam questões importantes para o fazer da história e em especial em história oral. Questões para os pesquisadores que se aventuram em sua vivência junto às comunidades estudadas e se identificam com suas lutas e experiências. As reflexões sobre trabalho de campo de outras áreas do conhecimento são válidas para o historiador. O “estar lá” modificando o “estar aqui” (Gertz). Estar em campo é criar uma situação de fronteira, e isso também é questão importante para as reflexões atuais.

aBoRto: assunto PúBlico ou exPeRiência PRivada? os limites da inteRfeRência da comunidade nos discuRsos de mulHeRes e Homens que vivenciam o aBoRto

Marcela Boni Evangelista – [email protected]

A presença do aborto enquanto assunto público se faz sentir cada vez com maior intensidade na atualidade. A proximidade das eleições aponta para a possibilidade da repetição do ocorrido no pleito de 2010, quando observamos os candidatos à presidência oscilando nas intenções

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de voto em função de, entre outros pontos, seu posicionamento acerca da descriminalização do aborto. Os diferentes grupos sociais, por sua vez, têm demonstrado suas opiniões das mais diversas formas, que vão das conversas informais às manifestações públicas em redes sociais e situações em que as comunidades se reúnem e discutem assuntos que se colocam pertinentes. Igrejas, associações, ONGs, coletivos e tantas outras formas de organização social tornam-se espaço para a elaboração de discursos que veem no aborto assunto que divaga entre o direito à vida do nascituro e à dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Os posicionamentos conflitantes e proferidos nas situações descritas, contudo, se defrontam com números alarmantes de abortos realizados anualmente no Brasil. Assim como contrastam com o perfil traçado das mulheres que recorrem a esta prática, muitas das quais se colocam contra o aborto. Verificamos, pois, que há uma grande distância entre o que se diz e o que se faz efetivamente, o que sugere a influência da opinião compartilhada publicamente nas comunidades em que se integram as mulheres e homens que vivenciam o aborto em suas trajetórias sobre o que estas mesmas pessoas podem dizer de si nestes espaços de convivência. Compreender a permanência do aborto em nossa sociedade demanda atenção para esta contradição entre discurso e prática. Afinal, como falar sobre uma experiência que se mostrou necessária ou mesmo a única opção no momento, mas que é vista pelos outros como um pecado, um erro ou mesmo um crime? A história oral se mostra como um conjunto de procedimentos adequado para adentrar esse espaço conflituoso, que mistura medos privados diante da opinião pública. Com instrumentos que permitem o anonimato e se ampara em posicionamento ético frente às subjetividades, torna possível a escuta dessas experiências que, em tanto momentos, acaba sendo situação de desabafo ou mesmo de compartilhamento de segredos. Mas também configura espaço para a difusão de histórias que se querem públicas, a fim de estimular o debate sobre o assunto. O presente artigo pretende abordar aspecto que conecta o tema do aborto em dois extremos: a experiência vivida e o discurso produzido publicamente, procurando atentar para as interferências das falas que vem da comunidade naquelas que são elaboradas pelos sujeitos das histórias. A análise em questão se baseia em entrevistas realizadas no âmbito da pesquisa de doutorado em andamento “O aborto em questão”, em que homens e mulheres de diferentes comunidades são convidados a falar sobre suas experiências e opiniões acerca do aborto.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

GT 11 – História Pública e Plataformas DigitaisData: dia 11, quinta-feira, e dia 12, sexta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Anita Lucchesi (Blog Historiografia na Rede)Bruno Leal (UFRJ)Ricardo Medeiros Pimenta (IBICT)

a Base de dados maPa/sian do aRquivo nacional: alguns aPontamentos soBRe um tRaBalHo de Pesquisa e divulgação HistóRica

Angélica Ricci Camargo – Arquivo Nacional/ [email protected]

Esta comunicação propõe-se a apresentar o trabalho de divulgação histórica desenvolvido nos últimos anos a partir da Base de Dados Memória da Administração Pública Brasileira – Mapa, que integra o Sistema de Informações do Arquivo Nacional – SIAN. A Base de Dados Mapa, experiência pioneira na utilização do computador como suporte para a pesquisa, foi criada na década de 1980 como parte de um programa maior destinado a atender as demandas de identificação e organização da documentação recolhida ao Arquivo Nacional. Disponível via web desde 2007 e constantemente atualizada, constitui-se uma importante ferramenta de disseminação de informações sobre a história da administração e das políticas públicas no Brasil. Tendo como principal fonte a legislação, a consulta na Base Mapa possibilita recuperar a trajetória histórica de centenas de instituições existentes do período colonial até a atualidade, fornecendo dados como data de criação, estrutura, competência, alteração de nome, subordinação hierárquica e ministerial, natureza jurídica, data de extinção e a linha de órgãos antecessores e sucessores. Além disso, permite acompanhar o desenvolvimento de determinada função como objeto de interesse do Estado ao longo do tempo ou a reconstituição do quadro político-administrativo de um período histórico específico, oferecendo um retrato detalhado da dinâmica da administração pública brasileira.

PaRticiPação PúBlica e colaBoRação na constRução do “atlas digital da améRica lusa”

Tiago Luís Gil – Universidade de Brasí[email protected]

O Atlas é uma proposta colaborativa, que congrega pesquisadores de diversas instituições. A ferramenta base foi desenvolvida pelo Laboratório de História Social (LHS) da Universidade de Brasília, usando tecnologia do Ministério do Meio Ambiente, o software I3GEO. O LHS/UnB também produziu mapas base com informações de unidades urbanas e populacionais do

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período entre 1500 e 1800, além de outros bancos de dados de informações geográficas. Sendo uma ferramenta colaborativa, no espírito da chamada web 2.0 no qual há enfase no trabalho de equipe e troca livre de informações, o ATLAS DIGITAL DA AMÉRICA LUSA é um espaço de interação. Nele podem ser publicados dados espacializados de diversas pesquisas ou mesmo informações que possam passar pelo processo de geoprocessamento a cargo do LHS/UnB. A ideia é que diversos pesquisadores possam enviar informações de seus estudos e, ao mesmo tempo, usufruir deste grande banco de dados coletivo revisado, organizado e certificado, assim como da cartografia produzida.

weBsite “santa afRo cataRina”: Pesquisa HistóRica, aceRvo digital e ações de educação PatRimonial

Andréa Ferreira Delgado – [email protected]

O Programa de Extensão “Santa Afro Catarina” associa a pesquisa histórica com um conjunto de ações em educação patrimonial com o objetivo de delinear, registrar e divulgar os marcos da história e da memória dos africanos e afrodescendentes presentes no espaço urbano da Ilha de Santa Catarina. Embora na última década uma significativa produção historiográfica permita vislumbrar a presença desses homens e mulheres numa gama variável de atividades e de espaços sociais desde o período colonial, esses sujeitos históricos estão ainda em grande parte ausentes da história local trabalhada nas escolas e daquela divulgada nos guias turísticos. Para articular um conjunto de projetos que procuram ressignificar o espaço urbano e propor novas abordagens para o ensino da História Local e o turismo cultural, produzimos o website “Santa Afro Catarina”, composto das seções: “Acervo” – acervo digital de documentos selecionados em arquivos e bibliotecas, organizados segundo sua tipologia em “Manuscritos”, “Impressos”, “Imagens”, “Objetos”, “Mapas”, “Entrevistas” e “Vídeos”; “Temas” – narrativas temáticas acerca das experiências de africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina (“Viver de Quitandas”, “Devoção ao Rosário e Festas de Africanos na Ilha”; “A Desterro de Cruz e Sousa”; “Armação baleeira da Lagoinha e engenhos do Ribeirão da Ilha”; “Porto antes do Miramar”; “A Lagoa também é dos pretos”; “Reformas urbanas no pós-Abolição”, “Armação da Piedade e engenhos em São Miguel”) compostas a partir da pesquisa histórica e do referencial teórico da micro-história; “Roteiros Históricos” – construídos a partir das narrativas temáticas, configuram diferentes itinerários para percorrer lugares do centro de Florianópolis e dos bairros do interior da Ilha; “Na Escola” – composto por um conjunto de atividades que agenciam os documentos do “Acervo” e promovem a leitura dos “Temas” e também por relatos de experiências de Educação Patrimonial. Na produção do website, nossa preocupação foi estimular diferentes percursos de leitura e de pesquisa, configurando apropriações diversas do conteúdo disponível. Por exemplo, as narrativas da seção “Temas” apresentam links para acesso aos documentos e aos pequenos textos acerca de algumas pessoas, lugares e eventos citados. Para estimular o uso do website no ensino de História, o professor encontra atividades que exploram os documentos correlacionados aos “Temas”ou ainda ao navegar pelo “Acervo” e se deparar com várias atividades para cada tipo de documento. Os Roteiros Históricos também podem ser agenciados a partir de diferentes estratégias, visto que tanto possibilitam a apropriação para ações de educação patrimonial – como vem ocorrendo por meio da oferta de Roteiros conduzidos por bolsistas para escolas da Educação Básica, moradores e turistas -,

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quanto podem proporcionar o planejamento de Roteiros auto-guiados por meio da utilização dos folders dos Roteiros Históricos – que apresentam um mapa histórico da cidade, onde são sinalizados os pontos do percurso, acompanhados de um breve descrição – e também pelo recurso disponível no site de marcar cada Roteiro Histórico na plataforma do Google Maps para localizar no mapa atual de Florianópolis os itinerários do Roteiro, possibilitando que, ao clicar cada um dos pontos, o internauta tenha acesso a mesma descrição presente no folder.

a ciRculação PúBlica da naRRativa e das RePResentações HistóRicas da séRie de jogos eletRônicos: assassin’s cReed (2007-2012)

Robson Scarassati Bello – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo pensar a série de jogos eletrônicos Assassin’s Creed como objeto de pesquisa para a história pública em seu caráter transmídia. Nos diferentes produtos desta série de jogos, tempos históricos distintos – tais como as Cruzadas, a Renascença, a Revolução Americana e o Caribe do século XVIII – são representados dentro de uma linguagem própria em sua narrativa, jogabilidade e espaços reconstituídos a serem navegados. Estas representações devem ser pensadas em um circuito industrial de produção e circulação que se expande para outros produtos pensados a comporem uma narrativa que ultrapassa as fronteiras desta plataforma digital: livros, animações, histórias em quadrinhos, dentre outros, muitos já traduzidos para o Brasil. Do outro lado, há uma recepção social intrínseca destes produtos e conteúdos históricos que os reitera e fortalece em uma produção simbólica e material de mercadorias materializada em camisetas e outros objetos “não oficiais” ou em imagens veiculadas via internet. Este fluxo de imagens e discursos também é apropriado por outros setores que não os consomem diretamente mas fazem seus próprios entendimentos e associações que muitas vezes entram em conflito com todo este campo. O que propomos pensar é o modo pelo qual algumas dessas compreensões sociais se expressam e interpõem no entendimento da série e de seus conteúdos.

o Passado em waRc: um estudo de caso soBRe as Páginas da weB 1.0

Camila Guimarães Dantas – Universidade Federal do Estado do Rio de [email protected]

Como entender a relação de um formato de arquivamento, que corresponde a escolha da página (URL), com as interpretações sobre a história da web? Não se trata de tentar responder a esta pergunta a partir do filtro do determinismo tecnológico, mas sim de apostar na possibilidade de colocar em primeiro plano um objeto técnico para poder a partir dele analisar as relações sociais com agentes e instituições. Esta comunicação reflete sobre as práticas contemporâneas de preservação digital tomando como objeto de estudo o formato WARC ( WebARchive ). Criado pelo Internet Archive e consolidado com a regulamentação, em 2009, do ISO TC46/SC4/WG12, o formato WARC se estabeleceu como o padrão utilizado pelas instituições arquivísticas. A partir de uma perspectiva de História Cultural (Chartier,1998) que busca entender a materialidade dos objetos culturais iremos enveredar numa sondagem sobre

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as implicações que tal formato pode gerar nas práticas de pesquisa com objetos nascidos digitais. Para entender nosso objeto o enfoque interdisciplinar será importante e a nossa proposta implica em um diálogo com os estudos de software (Fuller, 2003;Manovich,2008) e os estudos da memória social (Ernest,2013;Smelik,2012). Um caso a ser cotejado é a emergência de um método de pesquisa histórica onde a página (website) ocupa um lugar central (Brügger,2005).A proposta é, portanto, tratar das relações entre a materialidade dos acervos, majoritariamente constituídos de arquivos WARC, e as abordagens analíticas daí advindas.

o sítio do PRogRama memóRia da administRação PúBlica BRasileiRa – maPa: acesso, PRodução e divulgação do conHecimento em HistóRia

Dilma Fátima Avellar Cabral da Costa – Arquivo [email protected]

Esta comunicação tem por objetivo apresentar a experiência de construção de um site para divulgação de um trabalho sobre história da administração púbica brasileira, desenvolvido no Arquivo Nacional por um programa de pesquisa criado na década de 1980. O resultado das pesquisas do programa Memória da Administração Pública Brasileira – Mapa, até então apresentado sob o formato de um banco de dados disponível via web, desde 2011 vem sendo disseminado numa página própria, em diferentes meios de divulgação como livros, publicações virtuais e o Dicionário da Administração Pública Brasileira On-Line. O trabalho desenvolvido no programa de pesquisa MAPA se insere no debate atual que tem colocado em questão o papel das novas tecnologias no fazer histórico, o espaço assumido pelas chamadas formas não-científicas na produção e divulgação do conhecimento em História, bem como o seu processo de processo de produção. O alcance do trabalho produzido pelo Mapa nos permitirá também discutir a visibilidade adquirida por espaços de produção não acadêmica de história, como arquivos, centros de memória, museus e revistas de divulgação e, finalmente, a atuação do historiador nestes espaços.

um Passado jogável? simulação digital, jogos eletRônicos e HistóRia PúBlica.

Helyom Viana Telles – [email protected]

O presente trabalho foi originado a partir das reflexões suscitadas por uma pesquisa de pós-doutorado que investiga como os jogos eletrônicos podem contribuir para a produção e o compartilhamento de representações, de imagens e de um imaginário sobre o passado, atuando como suporte para a memória coletiva. A produção e o consumo dos jogos eletrônicos têm apresentado aumento notável nas últimas duas décadas. Ora, um dos desafios da história pública é, precisamente, a difusão do conhecimento histórico para amplas audiências. Enquanto a exploração de novos suportes midiáticos e o recurso à digitalização de documentos e arquivos, têm se consagrado como importantes estratégias para tornar o conhecimento histórico público, os historiadores tem explorado pouco o potencial aberto pela

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simulação digital e pelos jogos eletrônicos para o conhecimento e a difusão da história. Nesta comunicação, pretendemos demonstrar como o impacto da crítica pós-moderna esmaeceu as fronteiras entre história e ficção, conferindo novo estatuto às meta-narrativas históricas. A seguir, exploraremos as diferenças entre simulações e jogos eletrônicos e analisaremos as relações entre os últimos e os processos de construção da consciência histórica. Posteriormente, discutiremos algumas das possibilidades abertas pela simulação digital e pelos jogos eletrônicos para o campo da história pública e apontaremos alguns dos Impactos da simulação digital sobre a consciência histórica e sobre a produção do próprio conhecimento histórico.

HistóRia PúBlica e PlatafoRmas digitais: a temática indígena em análise na weB

Marcella Albaine Farias da Costa e Maria Perpétua Baptista Domingues – [email protected] e [email protected]

O presente trabalho tem por objetivo pensar, pelo viés da discussão relativa à perspectiva da história pública, a potência da web em trazer para o grande público discussões caras à historiografia indígena e à antropologia. Como recorte desse debate destacamos dois sites: Povos Indígenas no Brasil e Povos Indígenas no Brasil Mirim. Ambos integram o portal do Instituto Socioambiental (ISA), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), sem fins lucrativos, envolvida na defesa de bens e direitos sociais, relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. O primeiro (pib.socioambiental.org), conta com informações qualificadas a partir da contribuição de antropólogos, pesquisadores, indigenistas, índios, jornalistas, entre outros, dando assim, visibilidade aos indígenas e seus projetos. O Povos Indígenas no Brasil Mirim (pibmirim.socioambiental.org), é voltado ao público infanto-juvenil e tem por objetivo despertar o interesse e o respeito das crianças às culturas indígenas existentes no Brasil, principalmente a partir do material que disponibiliza às pesquisas escolares. Nessas plataformas digitais estão inseridas discussões acadêmicas recentes em consonância com a historiografia indígena atual. Fazem, portanto, emergir os próprios indígenas como protagonistas de sua história e demandas de direito, desestabilizando versões hegemônicas e buscando deslocar, do lugar da subalternidade, a história das populações indígenas no âmbito da história do Brasil. Por outro lado, também é recorrente na web relatos das pessoas comuns, aqui entendidos como relatos autobiográficos, nos quais, sem filtro científico ou jornalístico, expressam publicamente suas subjetividades, evidenciando preconceitos e visões estereotipadas e congeladas a respeito desses povos. Tais visões cristalizadas, que desconsideram as relações sociais de contato e os processos de mudanças culturais vivenciadas pelos grupos indígenas, são duramente combatidas pelo ensino de história.

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o uso das novas tecnologias em sala de aula: Reflexões PReliminaRes soBRe a PlatafoRma educoPédia

Teresa Vitória Fernandes Alves e Wilmar Vianna – Prefeitura da Cidade do Rio de [email protected] e [email protected]

A presente comunicação objetiva fazer uma breve apresentação da Educopédia, plataforma que abriga aulas digitais interativas, abrangendo os conteúdos curriculares da educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental, contando com recursos educativos, como vídeos, animações, imagens, músicas, podcasts e jogos, criada pela prefeitura municipal da cidade do Rio de Janeiro, em 2010. Nessa parte da exposição, iremos nos centrar em problematizar a utilização das novas tecnologias em sala de aula, explorando as concepções e ideias que orientaram a construção da Educopédia. Em um segundo momento, a reflexão estará centrada nas potencialidades e desafios encontrados na implementação e utilização dessa ferramenta pedagógica no cotidiano de sala de aula, destacando os possíveis ganhos para o processo de aprendizagem dos alunos, com o uso de uma mídia com a qual eles possuem mais familiaridade, mas também ressaltando as dificuldades de incorporação da Educopédia, por problemas que vão da falta de capacitação dos profissionais de educação para uma plena utilização desse recurso pedagógico às deficiências estruturais das unidades escolares, que sofrem, por exemplo, com a falta de equipamentos e de um eficiente sistema de acesso a internet. O presente trabalho pretende abordar o olhar não só do aluno como também dos docentes, destacando os pontos críticos e favoráveis a partir de um bloco de entrevistas feitas com os discentes e docentes.

HistóRia em via de mão duPla: coleta online de naRRativas individuais como feRRamenta de memóRia emPResaRial

Luigi Bonafé De Felice e Leandro Malavota – [email protected]

Além de democratizar o acesso a documentos e informações históricas para amplas audiências, as plataformas digitais constituem instrumentos privilegiados para tornar a escrita da história uma via de mão dupla. Por meio de mecanismos disseminados a partir da “Web 2.0”, é possível ultrapassar os usos da internet que objetivam meramente a transmissão de fontes e textos de historiadores para o público. Ao consumo passivo de textos via web podem somar-se processos ativos e interativos que tornem o público leigo e/ou amador protagonista de um intercâmbio dinâmico. Mais que isso, sítios eletrônicos podem e têm sido mobilizados por historiadores públicos para coletar narrativas pessoais, fontes iconográficas e diversos outros tipos de documentos históricos. Caso não sejam objeto de busca por profissionais da História, tais registros do passado recente podem se perder, especialmente quanto tratam-se de registros digitais da vida contemporânea, que precisam ser preservados antes que sejam “deletados”. Esse trabalho apresenta e analisa o processo de elaboração do projeto “Conte sua História” do Memória IBGE. Na fronteira entre História Pública, História Digital e Memória Empresarial, são apresentadas algumas experiências emblemáticas de empresas brasileiras com esse tipo de uso das ferramentas da Web 2.0 para ilustrar as possibilidades, limites e finalidades da construção de narrativas a partir dessa via de mão dupla entre historiadores e

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Perspectivas da História Pública no Brasil

seus públicos. Diversos exemplos de sítios eletrônicos brasileiros voltados à coleta de narrativas individuais e documentos históricos iconográficos e audiovisuais online foram pesquisados e comparados com experiências internacionais discutidas no capítulo “Collecting History Online” da obra Digital History, de Daniel Cohen e Roy Rosenzweig, disponibilizada gratuitamente na web pelo “Roy Rosenzweig Center for History and New Media” (CHNM), da George Mason University (Virginia, EUA). As conclusões dessa pesquisa subsidiaram a elaboração de uma proposta de plataforma para a web voltada à coleta e futura disseminação de narrativas individuais e registros históricos (textuais, iconográficos e audiovisuais) produzidos por servidores de uma instituição pública federal a respeito de sua memória das relações que construíram com o trabalho na empresa. O processo de construção dessa proposta serve não apenas à reflexão sobre questões típicas do campo da História Digital como também ao debate sobre questões comumente analisadas no âmbito do debate sobre Históra Pública, com destaque para as características do trabalho historiográfico em território de “fronteira”, que necessariamente envolve profissionais de outras disciplinas

os centRos de documentação no mundo viRtual

Marcia Teixeira Cavalcanti – [email protected]

A proposta deste trabalho é fazer uma análise do website do Arquivo Edgard Leuenroth/AEL, que foi o primeiro centro de documentação brasileiro de História Social a surgir, no ano de 1974, durante o período do governo civil militar. Ainda hoje o AEL se constitui em um local de referência para a pesquisa acadêmica no campo das Ciências Humanas, como também para a população em geral, especialmente a partir da criação de seu website. As mudanças que ocorreram na sociedade em consequência da ampliação do acesso dos indivíduos à internet atingem, obviamente, os processos de transferência da informação, além de todas as instituições que trabalham com a guarda, processamento e compartilhamento de documentos. Além da facilidade proporcionada aos usuários, a popularização da internet também se transformou em um meio para aumentar a visibilidade destas instituições e dos serviços que elas oferecem. O objetivo do trabalho é verificar a forma como o AEL organiza a informação disponibilizada online e gerencia o processo de transferência desta informação na internet, além de analisar as formas disponibilizadas por este centro para se relacionar com seus usuários.

constRução do esPaço PúBlico em temPos de Redes sociais

Sérgio Antônio Câmara – [email protected]

A atual relação entre a tecnologia de comunicação em rede e a construção da esfera pública no mundo contemporâneo conduz a uma revisão histórica dos valores fundacionais da democracia no mundo contemporâneo. Nesse sentido, pergunta-se pelos conceitos de cidadania, democracia e opinião pública no contexto de um mundo virtual supostamente sem fronteiras. Seria talvez excessivo atribuir as mudanças que observamos na relação dos próprios ativistas com os movimentos sociais exclusivamente ao desenvolvimento tecnológico

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2º Simpósio Internacional de História Pública

no campo da comunicação. No entanto, é preciso questionar quais são as condições históricas e políticas que possibilitaram à internet constituir-se como espaço público de debate e a que tipo de contexto esse novo espaço nos conduzirá. Tal pesquisa surgiu a partir de um curso ministrado para alunos de graduação do Sistema de Informação (UNILASALLE-RJ), no qual, à luz fundamentos históricos do debate político contemporâneo, elaborou-se uma reflexão crítica acerca do papel das redes sociais no debate político.

a HistóRia online: analisando sites de HistóRia

Janete Flor de Maio Fonseca – [email protected]

A História Online: análise de sites de consulta sobre a História do Brasil.Profa. Dra. Janete Flor de Maio Fonseca. DEETE (Departamento de Educação e Tecnologias) – UFOP. [email protected]. O Projeto de Pesquisa “A História Online” procura identificar, caracterizar e analisar sites que se propõem a servir de consulta sobre a História do Brasil para estudantes da educação básica. Pretendemos inventariá-los através de suas principais características, temas, abordagens, informações, recursos utilizados, assim como analisaremos quais as concepções de História e o seu diálogo com Historiografia contemporânea. A avaliação inicial dos sites de apoio escolar está sendo realizada a partir da metodologia de avaliação de sítios (sic.) da Web dialogando com autores como Nielsen 1990, Olsina (1999), Boyle (1997), Carvalho (2001) e outros. Baseando-se nessa metodologia, trabalharemos com a análise dos sites a partir dos critérios de Navegação, Apresentação Gráfica e Conteúdo. No que diz respeito à Navegação é preciso saber, por exemplo, se estes espaços são facilmente acessados, se todas as páginas dão informações e facilitam o retorno do usuário, se existe informação on-line, se há um mapa do site, instruções e informações gerais sobre a identificação da comunidade, se os links e documentos são facilmente acessados, com que freqüência há a atualização da página, a existência ou não de um cadastro de visitantes e informações sobre a autoria dos textos, fotos, vídeos, etc. Quanto a apresentação gráfica é importante levantarmos informações sobre a legibilidade da página. Se é uma página leve, sem poluição de frames, imagens, propagandas, etc. A visibilidade das letras, o acesso aos textos, a utilização de caracteres animados, as fontes, cores, disposição dos conteúdos.. Já sobre o Conteúdo numa primeira parte se dará uma avaliação mais técnica especificando se há informações mínimas sobre os autores, sua formação, interlocutores, parceiros, etc. A existência ou não de uma diversidade de conteúdos, amplamente desenvolvidos ou apenas fragmentados, além da atualização regular dos conteúdos. Mas é necessário também verificar a estrutura dos textos como a distribuição de parágrafos, a linguagem formal ou informal utilizada, assim como a existência de publicações, indicações de leituras, diálogos com outras páginas. Verificaremos posteriormente se os sites de Ensino de História do Brasil objetivam a construção de um conhecimento histórico crítico em diálogo com as pesquisas mais recentes no campo historiográfico, e com o uso de novas metodologias do ensino da História. Avaliaremos assim, se eles realizam a tarefa de mediar o diálogo entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento escolar, e qual sua contribuição efetiva para o Ensino da História do Brasil. Paralelamente refletirmos sobre o uso da internet para a difusão, o ensino e a aprendizagem da História, investigando se tratar de um caminho para a renovação de práticas e metodologias, ou se há um uso conservador desta como ferramenta. Discussão importante de ser realizada conjuntamente com os professores de História.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

GT 12 – História Pública e PatrimônioData: dia 11, quinta-feira, e dia 12, sexta-feira, 14h às 17h30

Coordenadores:

Paulo Knauss (UFF)Marcelo Nogueira de Siqueira (Arquivo Nacional)Paulo Garcez (Museu Paulista)

HistóRia, Pesquisa e difusão cultuRal em aRquivos: exPeRiências no aRquivo nacional

Renata William Santos do Vale – Arquivo [email protected]

As atividades de pesquisa documental e produção historiográfica em arquivos são mais antigas do que o novo campo, ora em desenvolvimento, da história pública. No caso do Arquivo Nacional, desde a reforma empreendida pelo diretor Joaquim Pires Portela em 1873, quando foram criados o cargo de “cronista” e a seção Histórica. Ao primeiro cabia a tarefa de escrever a história do Brasil independente a partir dos documentos do Arquivo, especialmente os da nova seção, na qual deveriam estar localizados os documentos-monumento da jovem nação e todos os considerados “históricos”, passíveis de contribuir para tão difícil empresa. Atualmente, a área de pesquisa do Arquivo Nacional dedica-se à produção de conteúdos, e conhecimento, a partir do rico acervo da instituição, na forma de livros, artigos, seminários, exposições, presenciais ou virtuais, e sítios eletrônicos. O desenvolvimento de materiais é sempre orientado para o objetivo de atingir um número maior de interessados em História, além daqueles que o fazem por força do ofício, como estudantes e professores do ensino fundamental e médio, e os produtos têm a função de apoiar ensino, pesquisa e estudo.

ensino de HistóRia, PRáticas de memóRia e inteRPRetação do PatRimônio em diamantina

Elizabeth Aparecida Duque Seabra – [email protected]

A comunicação tem por objetivo apresentar resultados de uma pesquisa em desenvolvimento na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri- UFVJM em Diamantina, Minas Gerais, que toma como pressuposto teórico-metodológico diversas dimensões de memória e patrimônio. O trabalho busca observar e confrontar as práticas de visita, engendradas por escolas e docentes em diversos níveis de escolaridade, e as ações educativas de interpretação do patrimônio desenvolvidas pelas próprias instituições de memória da cidade, como o Museu do Diamante, a Casa Chica da Silva e a Casa de JK. No trabalho a ser apresentado, memória

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2º Simpósio Internacional de História Pública

e patrimônio são considerados, simultaneamente, o tema, o método, e as fontes para a investigação das práticas sociais. O trabalho procura situar questionamentos históricos em relação às instâncias de produção da memória e do patrimônio como a cidade, as escolas e os próprios sujeitos sociais. Os resultados parciais das análises apontam que ou usos do patrimônio desencadeiam recortes e escalas muito diversificadas em relação à visualização da História na cidade, na construção de personagens como Chica da Silva e Juscelino Kubitschek e de temas como a escravidão. A memória e o patrimônio se apresentam como práticas no sentido de experiência, rememoração, recordação, seleção, esquecimento e ação de atualização de conceitos, expressão de identidades. Sua apropriação favorece a construção de valores, tais como o pertencimento a uma comunidade de sentido, ou tradição e, permite o uso simbólico de objetos e registros patrimoniais para uma economia voltada ao turismo e ao comércio.

a HistóRia (em PRaça) PúBlica: a constRução de monumentos cívicos no PeRíodo RePuBlicano (1891-1937)

José Ricardo Oriá Fernandes – Centro Cultural Câmara dos [email protected]

A partir da segunda metade do séc. XIX, assistiu-se em todo o mundo ocidental, ao processo de construção de estátuas e monumentos históricos em praças públicas, no sentido de fortalecer o estado nacional que emergia nesse período (Alois Riegl, O culto moderno dos monumentos: sua essência e sua gênese). Num esforço de promover a “pedagogia da nação”, construíram-se vários monumentos históricos que evocavam personagens e fatos marcantes do passado, dignos de registro à posteridade. No Brasil, em especial, seguindo a tradição francesa da “estatuomania” (Maurice Agulhon, La Histoire Vagabonde), foram edificados inúmeros monumentos a partir do ano de 1862, com a inauguração da estátua equestre do imperador d. Pedro I, na Praça Tiradentes. A este se seguiram outros, cujo lócus privilegiado foi a cidade do Rio de Janeiro, então capital do país (Paulo Knauss, A Cidade Vaidosa). Tal processo se intensifica com a implantação da república e a ideia de se construir um “Panteão da Pátria” para o culto cívico a determinados personagens- os heróis e filhos ilustres da nação, geralmente ligados aos segmentos dominantes da sociedade. Ao lado dos museus nacionais, dos arquivos e das bibliotecas e, até mesmo, da instituição da história como disciplina no currículo escolar, consideramos que essa prática de construção de monumentos aos heróis foi um instrumento usado para se criar entre os cidadãos um sentimento de pertencimento ao estado nacional e desenvolvimento de uma consciência cívico-patriótica que começava na escola, mas que deveria se estender a outros espaços públicos da cidade. Esta comunicação tem como objetivo analisar a construção de uma dada memória nacional, alicerçada na edificação de monumentos históricos. Em outras palavras, pretendemos responder ao seguinte questionamento: o que dizem sobre a história do Brasil os monumentos erigidos em praça pública?

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Perspectivas da História Pública no Brasil

amazónia e identidade HistóRica

Cláudia Helena Nunes Henriques – Universidade do Algarve, [email protected]

A Amazónia constituiu ao longo de séculos um lugar de memória e de ficção. Narrativas de várias expedições contribuíram para o conhecimento do importante património material e imaterial desse território, cujo genius loci ou espirito do lugar detém uma identidade tão forte que ele próprio se delimita num processo transformador de grande parte dos expedicionários ou visitantes bem como, muitas vezes, daqueles que tiveram contato com essas narrativas. Neste contexto, a presente comunicação visa aferir de que modo as narrativas de expedições na Amazónia por parte de naturalistas dos séculos XVII e XVIII contribuíram para a construção da identidade deste lugar e seu património, bem como para a delimitação da Viagem Filosófica e para o maior conhecimento científico. Paralelamente, a comunicação pretende, através da análise de atuais (re)criações do percurso de expedições de naturalistas patentes em documentários e entrevistas, refletir sobre esta nova forma de tornar presente o passado, (re)interpretando-o, (re)vivendo-o e (re)construindo-o, possibilitando que viagens históricas ‘atinjam’ um público mais amplo, por diferentes meios de comunicação: jornal, TV, dentre outros, potencializando a Amazónia como “lugar” ou confluência de “lugares” de memória e de património(s) mas também “lugares” de um património que não pertence ao passado mas se torna próximo. Simultaneamente, estas viagens na história (re)criadas no presente têm também vindo a configurar-se com a ascensão de outra forma de viagem – a turística. O facto conduz à possibilidade de um cruzamento entre o turismo e o património – turismo patrimonial/criativo, onde a valorização de experiências de indivíduos assenta no património material e imaterial dos lugares.

um olHaR soBRe o que é visto, seus sentidos e oRganizações no museu do cáRceRe / ecomuseu ilHa gRande da ueRj

Gelsom Rozentino de Almeida – Universidade do Estado do Rio de [email protected]

O MuCa possui atualmente 5 galerias ocupadas com mostras que objetivam uma integração efetiva entre os diferentes saberes da universidade e da comunidade, a saber: 100 anos de presídios – apresenta um panorama dos cem anos (1894-1994) de história das instituições carcerárias na Ilha que se dividide em três tempos: o primeiro trata da Colônia Correcional de Dois Rios que, durante as primeiras décadas republicanas, confinou uma população indesejável sobre o pretexto de regenerá-la; o segundo aborda o funcionamento das colônias agrícolas criadas durante o Estado Novo (1937-1945) e o terceiro se refere à criação e à destruição do Instituto Penal Candido Mendes, penitenciária de segurança máxima. Sistema penitenciário do Rio de Janeiro: ontem e hoje – busca contribuir para uma visão sobre a construção e o funcionamento de várias unidades penais e hospitalares que integram a estrutura do sistema penitenciário brasileiro ao longo da história. Nela são apresentados registros fotográficos que retratam passagens da história e do cotidiano das prisões. Contribuindo para a compreensão desse universo complexo e perpassado por sentimentos contraditórios dos internos, dos funcionários e da sociedade, a exposição se divide em eixos temáticos: Trabalho, Família, Sociabilidade, Vida

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na prisão e Infraestrutura do sistema; Comida e Cárcere- instalada no prédio onde funcionava a padaria do presídio – a mostra apresenta, em três módulos: Aquisição, Preparo e Consumo, a rotina alimentar na penitenciária da Vila Dois Rios até sua desativação; Arte e ciência das formas e padrões da natureza: exposição fotográfica que tras para dentro dos muros do antigo presídio, um pouco da exuberancia da flora e da fauna de um dos mais ricos ecossistemas das Américas, a Mata Atlântica circundante; Ecomuseu Recicla: resultado de um projeto de aproveitamento de residuos sólidos, em desenvolvimento com a comunidade de Dois Rios, a exposição apresenta trabalhos em lata, madeira, pet, principalmente flores, peixes e borboletas, móveis e bonecas de retalhos de tecido, confeccionados por artesãos locais.

as casas de cal e BaRRo: PatRimônio e memóRia no seRtão noRdestino

Jackelina Meira Kern – Universidade Estadual de Feira de [email protected]

Este trabalho faz uma análise das fachadas das casas das cidades de Juazeiro/BA e Petrolina/PE como um lugar de memória. Os detalhes arquitetônicos e a afrescos das fachadas vistas ao caminhar nas ruas estreitas do sertão remetem às lembranças de várias outras cidades que nasceram nas margens do rio São Francisco, local de referência da pesquisa de dissertação. Nesse sentido, a preservação de uma casa mantém viva a sua história com o sentimento de sermos lembrados por aquela obra, de vivermos conforme aquele lugar nos espelha e de compreender que a preservação do patrimônio, assim como a memória, ultrapassa o sentido individual, pois a nossa memória individual se beneficia da dos outros, sendo objeto de reconstrução sobre uma base comum. A partir do registro fotográfico e dos relatos orais com os proprietários das casas pesquisadas, verificou-se aspectos de uma memória subterrânea presente nos testemunhos dos entrevistados, sendo assim necessário um aprofundamento do tema e da história de cada família. Utilizando de um percurso metodológico baseado na metodologia da hermenêutica da profundidade de Thompson (1995), os relatos de história de vida nos permitiram reconstituir trajetos sobre o patrimônio arquitetônico relacionado com elementos de identidade, o valor estético atribuído à casa, o valor histórico dos afrescos, as formas de viver, as relações sociais e culturais que marcaram a vida em comunidade dos proprietários. As fotografias serviram de artefatos para recorrer às memórias que surgem com as narrativas de histórias de vida, inseridas nos contextos sociais, em tradições históricas e que são parte da história, tanto na sua racionalidade quanto na sua ideologia. Com este artigo, pretende-se demonstrar a importância da fotografia associado aos relatos orais como registro do patrimônio arquitetônico e como fonte para a história pública.

a inteRação do natuRal com o cultuRal: como a tRajetóRia do acesso à água PRoduziu um PatRimônio aRquitetônico na cidade do Rio de janeiRo.

Gilmar Machado de Almeida – [email protected]

As águas são, há muito tempo, marca indelével na identidade do povo carioca. Ao longo da história da cidade do Rio de Janeiro foram construídos equipamentos, como por exemplo,

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aquedutos, reservatórios, chafarizes e bicas que conduziram à água dos mananciais das montanhas próximas até o cotidiano dos moradores. A memória do acesso e do uso da água na ex-capital federal foi produzia através da interação entre o “patrimônio” natural e o “patrimônio” arquitetônico. Sendo assim, nesta comunicação temos como objetivo analisar os aspectos culturais e simbólicos da relação entre o homem e a natureza que se desenvolveram historicamente com a criação do Sistema de Abastecimento de Água da cidade do Rio de Janeiro. Nosso trabalho estrutura-se metodologicamente nas análises apresentadas no “Inventário de Tombamento dos Reservatórios Existente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, feito em 2006, pelo INEPAC- Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, com o apoio da Secretária de Estado de Cultura e da CEDAE- Companhia Estadual de Águas e Esgoto. Um extenso documento que consiste no levantamento do estado de conservação dos equipamentos construídos para o abastecimento de água entre 1774 a 1930. Através dos dados apresentado no inventário pretendemos avaliar as seguintes questões: a recuperação da memória do acesso à água na cidade do Rio de Janeiro; avaliar a interação entre os patrimônios natural e cultural proporcionado pela transformação do acesso à água ao longo do tempo; promover o debate sobre a reutilização dos antigos espaços de abastecimento de água como espaços de visitação pública e de atividade pedagógicas que envolvam a valorização do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural da cidade.

o toRReão da meRcado municiPal: lugaR de memóRia ou de esquecimento?

Vitor Leandro de Souza – [email protected]

Este trabalho objetiva refletir sobre as (in)ações de preservação e consolidação dos “lugares de memória” de trabalhadores, tomando como exemplo a demolição do Mercado Municipal do Rio de Janeiro (1907-1958) e a preservação do torreão, conhecido como Restaurante Albamar. Duas dimensões serão destacadas: o apagamento da memória dos trabalhadores do Mercado Municipal (suas práticas e vivências), e a resignificação do torreão remanescente como um tipo de “não-lugar de memória”.

“dize-me como classificas e te diRei quem és”: as Relações entRe a PRocedência e o aRquivamento de documentos doados ao aRquivo PúBlico do estado do ceaRá em 1932.

Ana Carla Sabino Fernandes – [email protected]

Numa sociedade assinalada pela produção sistemática e crescente de documentos, refletir sobre o papel contemporâneo dos arquivos é também lançar questões acerca da relação que estabelecemos com os rastros do passado e avaliar o grau de institucionalização, patrimonialização e usos dos acervos arquivísticos pelo público. As análises dos procedimentos de descrição arquivística de conjuntos documentais, normatizados pela arquivologia (considerando as teorias de classificação e de catalogação) e apropriados pela história revelam, portanto, as condições de uso e os elementos de identificação social do

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documento de arquivo como instrumento de prova, informação, artefato, de valor histórico e patrimonial. Caso do estudo e pesquisa que realizei sobre as relações entre a procedência e o arquivamento de documentos doados ao Arquivo Público do Estado do Ceará em 1932, segundo o livro de registro denominado “Registro de livros, documentos, impressos, papéis impressos, litografados ou manuscritos destinados ao Arquivo Público Estadual de acordo com o art. 14 da lei n° 643 de 29 de junho de 1932”. Nesse livro constam o tipo de documento ou outro objeto doado, nome do ofertante, a data da oferta e as observações inerentes à descrição do material, escrita por um funcionário do arquivo sob a rubrica de Eusébio de Sousa (diretor do arquivo), elaborada com base na história particular do doador-colecionador que, de forma dialógica confundia-se com o documento rememorado para a construção de um saber histórico sobre/para o Estado do Ceará e com o documento categorizado para a escrita da história a partir do ou determinada pelos sabores e dessabores do arquivamento dessas anotações e dos materiais. Papéis que serão/são nossas fontes históricas e também base para a elaboração dos instrumentos de pesquisa do acervo, disponibilizados atualmente pelo Arquivo. Desse modo, é pertinente não só o retorno do documento para além da crítica interna e externa feita pelos historiadores, mas um olhar apurado/voltado para a ciência documentária, incluindo as formas exclusas, sediciosas, clandestinas e afetivas do colecionismo documentário praticado por homens, mulheres e por instituições como o próprio arquivo.

HistóRia PúBlica e aRquivologia: Reflexões soBRe aceRvos, PatRimônio e memóRia

Marcelo Nogueira de Siqueira – Arquivo Nacional / Universidade Federal do Estado do Rio de [email protected]

A noção de interdisciplinaridade vem permeando estudos contemporâneos tanto em História como em Arquivologia, entretanto são poucas as reflexões envolvendo as duas áreas, sobretudo aquelas elaboradas por historiadores, em parte, devido ao desconhecimento sobre as funções, práticas, metodologias, objetos e objetivos da Arquivologia. A história pública, sendo compreendida como uma possibilidade de divulgação do conhecimento histórico, através da multiplicidade de disciplinas e da integração de recursos metodológicos e operacionais, trás consigo uma real possibilidade de diálogo e interação com a disciplina arquivística, no sentido que esta se atém ao fazer e ao pensar os arquivos, aqui compreendidos tanto como conjuntos de documentos, independentes da natureza do suporte ou de sua linguagem, produzidos e acumulados organicamente por um determinado produtor ou como a instituição custodiadora destes conjuntos, que tem por objetivo, através dos procedimentos arquivísticos, preservá-los, organizá-los e promover o acesso aos seus documentos e informações. Este presente trabalho objetiva apresentar algumas reflexões de como a história pública e a Arquivologia podem interagir em relação ao acesso, pesquisa e difusão do patrimônio arquivístico.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

PoR uma HistóRia PúBlica dos seguRos e das oRganizações secuRitáRias

Fábio Ferreira – [email protected]

Na atualidade, diversas organizações securitárias são empresas de projeção global, possuem quantidades de clientes que superam os de populações de nações e movimentam, ao redor do globo, quantias financeiras substanciais, muitas das vezes maiores do que o PIB de países da África, da América, da Ásia e da própria Europa. Além disto, grandes empreendimentos estatais ou privados, atividades comerciais e industriais e até mesmo aspectos ligados ao cotidiano do cidadão comum estão sob a proteção de alguma organização do setor securitário. Em ano de Copa do Mundo, pode-se pensar do seguro dos grandes estádios que foram construídos/reformados no Brasil ao carro ou celular, objetos de consumo da nova classe C brasileira. Verifica-se, portanto, que o ato de segurar-se, as seguradoras, a atuação destas em diversos países e esferas sociais e os montantes financeiros que o ramo dos seguros movimenta faz com que este segmento da economia esteja intrinsecamente ligado à sociedade contemporânea. Apesar destes fatos, o estudo histórico do setor securitário não despertou interesse acadêmico. No Brasil, no âmbito da universidade, poucas são as pesquisas históricas sobre o assunto, a despertar algum grau de interesse em historiadores econômicos, economistas, administradores e atuários. Semelhantemente, a história dos seguros e das organizações securitárias não têm provocado o interesse de grande parte da população brasileira, que, por sua vez, utiliza-se dos seguros para a proteção de seus bens. Assim, o trabalho irá analisar as possibilidades de ampliar o público consumidor da história dos seguros (e de suas diversas modalidades), bem como da trajetória das empresas que atuam no ramo securitário.

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GT 13 – História Pública, Jornalismo e RádioData: dia 10, quarta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Graziela Mello Vianna (UFMG)Joëlle Rouchou (Fundação Casa de Rui Barbosa)Lia Calabre (Casa de Rui Barbosa)Luiz Otávio Correa (PUC-MG)Sonia Vanderlei (UERJ)Sonia Meneses (URCA/CE)

joRnalismo e HistóRia PúBlica: ciência, Pesquisa e divulgação

Alice Mitika Koshiyama – [email protected]

O jornalismo surge hoje como um meio de construção de uma história pública. Nesse processo temos a participação de diversos personagens. Seja como pesquisadores científicos da história com o uso das teorias e métodos que caracterizam esse campo de trabalho. Seja no jornalismo científico que traduz as pesquisas para o conhecimento de outros especialistas, nas publicações interdisciplinares. E a ação de jornalistas que escrevem textos e livros a partir da leitura de obras elaboradas a partir de uma bibliografia eclética, envolvendo desde documentos primários até teses originais do campo acadêmico. O jornalismo atual que se constitue pela convergência dos mídia oferece a possibilidade de uso de meios impressos, digitais, audiovisuais e de mídias interativas. A história se legitima como um campo de exercício intelectual com várias possilidades fora da academia. Paradoxalmente, torna-se cada vez mais necessário desenvolver o trabalho da pesquisa e do ensino da história em todos os níveis para formar um cidadão capaz de atuar em um estado democrático de direito. O conhecimento de como se faz e se veicula história deixou de ser um problema apenas de especialistas, pois é imprescindível esclarecer, para toda a população do país, as relações entre cultura, memória e história. Um signo positivo desta época são os sites de busca na internet, a ação de pesquisadores renomados que se dispuseram e se si dispõem a conversar com o público sobre os seus trabalhos, e que escrevem ou traduzem para uma linguagem acessível suas descobertas. Lembramos do trabalho de Jacques Le Goff, Robert Darton, Carlo Guinsburg e Fábio Koifmann conversando sobre temas que pesquisaram. E verificamos quanto é necessária a história pública, quando analisamos a publicização das memórias e história da ditadura de 1964, seja em pesquisas acadêmicas, seja em reportagens e artigos, nas memórias, nos textos de ficção. E é bastante salutar observar que pesquisadores e professores comparecem em diferentes meios de comunicação para apresentar em textos acessíveis os resultados de seus estudos acadêmicos. Também notamos jornalistas que se apoderam dos métodos e técnicas de trabalho da história para escrever seus textos, seja em reportagens (Chico Otávio), seja em obras sobre personagens ou temas da história recente (Mário Magalhães, Leonêncio Nessa).

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Perspectivas da História Pública no Brasil

a PRodução de documentos HistóRicos atRavés de sons

Luiz Otávio Correa – Faculdades [email protected]

Esta pesquisa levanta a possibilidade da produção de documentos históricos através de uma escrita sonora, alargando os espaços de recepção tradicionais da História. De maneira experimental, propõe-se a construção de arquivos sonoros que se traduzam no alargamento dos estudos sobre os mais variados temas, através da edição de sons, músicas, depoimentos e pesquisas disponibilizadas em vários suportes na internet, em arquivos públicos e de rádios. Neste trabalho, especificamente, tratou-se como objeto de pesquisa o próprio rádio. Este tema tem sido relativamente bem explorado e a pesquisa está avançada, seja a feita por comunicólogos interessados na evolução deste meio de comunicação, seja a feita por historiadores, interessados na produção da identidade nacional, através deste meio de comunicação. Nosso desafio é criar um produto sonoro que possa ser veiculado em vários canais midiáticos, dialogando com esta vasta produção e abrindo espaço para o conhecimento sobre esta nova forma de se fazer História. Desta maneira, procurou recolher alguns fragmentos de programas de rádio, como os disponibilizados pela Rádio Nacional e por outras que, amarrados com depoimentos de vários agentes, contribuíram para a produção de uma memória do rádio e do significado da cultura brasileira. Por outro lado, recolheu-se também a fala de pesquisadores que trabalharam com a História do Rádio, principalmente aqueles que deram um enfoque mais histórico-cultural ao tema. A pesquisa do formato do produto ainda está na sua fase embrionária e os arquivos estarão disponibilizados em redes sociais.

as “maRcHas de junHo” e as manifestações “foRa colloR”: o PaPel da imPRensa na constRução de sentidos HistóRicos no temPo PResente.

Sônia Maria de Meneses Silva – [email protected]

Esta pesquisa realiza um estudo comparativo sobre as coberturas das manifestações populares nos anos de 1992, ano do Impeachment de Fernando Collor de Melo e as mobilizações de junho de 2013. O objetivo principal é compreender as formulações de sentidos elaboradas pelos meios de comunicação, especialmente, a imprensa e as leituras sobre os acontecimentos históricos nesses veículos. Aqui serão abordadas as coberturas de dois importantes representantes da grande mídia brasileira: o jornal Folha de São Paulo e a revista Veja. Procura-se destacar as várias faces da produção do acontecimento na cena pública, as referências ao passado, os jogos de memória e esquecimento na construção histórico/midiática, tomada aqui como uma complexa operação. Assim, 1992 e 2013 são anos singulares para essa reflexão, sobretudo, porque reúnem um conjunto de situações que os inserem como marcos para memória histórica do país. São significativos porque conduzem ao debate sobre temas que, por sua vez, afetaram e, continuam afetando, nossos horizontes de expectativas e estimularam rupturas significativas em nosso “espaço de experiência”. Essas ocorrências impulsionaram novas demandas de sentido na medida em que instauraram uma quebra na trama dos “nossos hábitos, de nossas rotinas diárias”. Desta maneira, as manifestações desencadeadas naqueles anos, assim como, suas narrativa cotidianas nos colocam diante das

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dimensões públicas da história no tempo presente marcada especialmente pelo imediatismo das elaborações, a diversidade de sujeitos como narradores da história e a atuação dos meios de comunicação como formuladores de acontecimentos e artefatos históricos.

industRialização, desenvolvimento e PetRóleo: o deBate soBRe a cRiação da PetRoBRás e as alteRnativas PaRa o desenvolvimento na imPRensa “liBeRal” caRioca no segundo goveRno vaRgas

Luis Carlos dos Passos Martins – PUC/[email protected]

Esta comunicação procura avaliar como os principais jornais cariocas considerados pela historiografia como “liberais” se posicionaram frente ao processo de criação da Petrobrás (1951-1953) durante o Segundo Governo Vargas. Tal tema é pertinente porque, afora a enorme controversa que se deu em torno da questão do petróleo, tal processo esteve diretamente ligado à controvérsia sobre o principal caminho para o desenvolvimento brasileiro no período, a saber: qual seria o papel relativo do Estado e do capital privado estrangeiro no mesmo. Essa controvérsia opôs grupos considerados “liberais” ou “entreguistas” aos grupos chamados de “nacionalistas” e/ou nacional-desenvolvimentistas e a historiografia especializada tradicionalmente posiciona a grande imprensa carioca ao lado dos “liberais”, ou seja, defendendo um programa do petróleo e um projeto de desenvolvimento baseados fundamentalmente no aporte do capital privado “alienígena”, contrariando a alternativa “nacionalista” e/ou nacional-desenvolvimentista proposta por Vargas. O objetivo desse trabalho será demonstrar que, ao contrário dessa visão estabelecida, a maior parte dessa imprensa tida como “liberal” (O Globo, Jornal do Brasil, O Jornal, Correio da Manhã) não apenas deu apoio à proposta inicial da Petrobrás – que estava longe de ser nacionalista – como também recebeu positivamente a maioria dos programas do governo voltados para a industrialização acelerada e o desenvolvimento econômico nacional. Em outras palavras, ao invés de estar preso aos cânones da ortodoxia que defendia o recuo dos investimentos estatais e a diminuição do protecionismo e da intervenção do Estado na economia, boa parte desses jornais advogou a favor de investimentos públicos no setor de energia, do controle do fluxo de capital estrangeiro e do aceleramento da industrialização, mesmo que com base no aumento de tarifas alfandegárias e no subsídio à indústria nacional. O estudo do caso do petróleo, por toda a sua relevância, oferece uma pertinente oportunidade para estudar tais temas, a posição doutrinárias dos jornais frente à questão do desenvolvimento e diante do próprio governo Vargas.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

o Rádio PúBlico no BRasil em Busca de um modelo Pela PRogRamação: tRansfoRmações HistóRicas contemPoRâneas das Rádios nacional e mec do Rio de janeiRo

Valci Regina Mousquer Zuculoto – UFSC/[email protected]

Este artigo propõe apresentar os mais recentes resultados e reflexões de pesquisas sobre a constituição histórica do Rádio Público brasileiro, recortadas no grupo das educativas, estatais, culturais e universitárias. Emissoras que até a década de 90 integravam o sistema educativo. Especificamente, pretende evidenciar a história contemporânea de emissoras estatais/públicas vinculadas à EBC – Empresa Brasil de Comunicação, em especial das rádios Nacional e MEC do Rio Janeiro, com foco nas programações. Desde que passaram a se autoproclamar públicas e a criação da EBC, vêm operando em busca de um modelo público de rádio. Com quase 80 anos de história, esse segmento da radiofonia brasileira não comercial já soma perto de mil estações. Em pesquisa de doutorado, concluída em 2010, recuperamos a trajetória histórica das suas programações, do marco inicial do sistema educativo, com a Rádio MEC do Rio de Janeiro, até o começo dos anos 2000, fase da fundação da Arpub – Associação de Rádios Públicas do Brasil e da EBC, esta com expressa disposição de constituir o sistema público. Observamos que o modelo brasileiro de rádio público, ainda em construção, além de emaranhado com o estatal, vem moldando-se via programação. Em seguimento a este estudo de resgate, focamos nossos estudos mais recentes nas rádios detectadas referenciais e vinculadas à EBC e/ou também à Arpub. Investigamos como buscam, nas fases atuais, consolidar programações de modo a cumprirem seu autodeclarado papel de emissoras públicas. Dentro desta investigação maior, recortada em emissoras referenciais, uma das pesquisas em andamento é sobre O jornalismo da Rádio Nacional do Rio de Janeiro – a história da fase pós Era de Ouro até a atualidade, em realização como pós doutoramento na ECO UFRJ. A Nacional, embora estatal desde 1940, paradoxalmente foi a rádio padrão do modelo comercial brasileiro, o que se tornou hegemônico na nossa radiofonia. Pós Era de Ouro, da mesma forma que todo o rádio, entra em declínio e amarga um longo ocaso. A partir dos anos 2000, assume sua natureza estatal pública inserida na EBC e junto com a MEC, passa por transformações determinantes. Na atualidade, além de trocas de programações, as duas emissoras lideram, em conjunto, experiências inéditas de redes públicas, como nas eleições de 2010 e Copa do Mundo deste ano. Mais recentemente, ambas tiveram que desocupar suas sedes históricas. Passaram a funcionar juntas num mesmo endereço, na EBC RJ, com suas redações e produções inclusive dividindo um único espaço.

Paisagens sonoRas de Belo HoRizonte: um PeRcuRso HistóRico Pelas tRansfoRmações da Paisagem uRBana no século xx

Graziela Valadares Gomes de Mello Vianna – [email protected]

O trabalho que propomos apresenta resultados da nossa pesquisa que observa a paisagem sonora urbana de Belo Horizonte em transformação, a partir do relato de ouvintes-cronistas-flanêurs (descrita em textos literários ao longo do sec.XX) e de depoimentos

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dos seus habitantes. Apresentamos ainda produções sonoras que realizamos (radionovelas, radiodocumentários e percursos sonoros), veiculadas na Rádio UFMG Educativa, que fazem uso de tais depoimentos e de sons que constituem a paisagem sonora da cidade. Sons esses presentes nos textos e na memória afetiva daqueles que a habitam.

josé veRíssimo e a figuRa do intelectual PúBlico – emBates das letRas e da Política nas Páginas do coRReio da manHã

Andréa Cristiana Santos e Rachel Bertol – [email protected]

José Veríssimo (1857-1916) comandou pela imprensa a crítica literária do Brasil nos anos 1910, foi o maior intérprete de Machado de Assis em sua época e principal mestre e interlocutor de Euclides da Cunha e Lima Barreto, autores com reconhecida produção estética e social. Foi professor, militou pela educação pública e por propostas libertárias de ensino básico e superior. O artigo mostra como Veríssimo se constitui como intelectual público a partir de sua colaboração no Correio da Manhã, do qual foi o primeiro crítico – a partir da sua 18ª edição, em 1901, até início de 1903 –, e qual o seu legado pioneiro, que se fará presente na obra de outros profissionais. Nos anos 1940, Álvaro Lins destacou-se como um dos principais críticos literários no país, também pelas páginas do Correio da Manhã, e seu principal modelo no Brasil foi o de Veríssimo, considerado o mais literário dos críticos de seu tempo. Veríssimo colaborava para diversos outros periódicos, especialmente para o Jornal do Commercio, além do Correio, mas o objetivo deste artigo é mostrar como o autor se posiciona publicamente no veículo que, desde sua primeira semana, firmou-se como ferrenho opositor ao governo Campos Salles, pondo em xeque a forma como a imprensa lidava com os poderes estabelecidos. O artigo procura demonstrar as principais ideias difundidas por Veríssimo, numa época em que a crítica literária ainda não se constituía meramente como atividade especializada e delimitada à produção dita literária. As suas ideias opunham-se às do sociologismo puro da crítica de Silvio Romero, detrator de Machado de Assis e do próprio Veríssimo, o qual reuniu em torno de si o grupo de intelectuais fundadores da Academia Brasileira de Letras. O trabalho também mostrará a contribuição do autor para discutir os diversos problemas relacionados à educação e aos índices de leitura no país. Desse modo, destaca-se a importância de utilizar o jornal como fonte para difundir conhecimento histórico e a relevância desses estudos para fortalecer o campo da pesquisa em história pública.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

GT 14 – História Pública: Turismo e Produção culturalData: dia 10, quarta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

João Domingues (UFF)José Miguel Arias Neto (UEL)Valéria Lima Guimarães (UFF)

o Rio como sala de aula: tuRismo e ensino de HistóRia na malHa caRioca

Monique Sochaczewski Goldfeld – CPDOC/[email protected]

O intuito desta comunicação é compartilhar experiência precedente e projeto atual que lidam com o espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro como uma grande sala de aula, ou museu a céu aberto, para apresentar a alunos, turistas e moradores da mesma, seu passado global, com conexões outras para além da Europa. O estudo de caso a ser tratado com atenção é do “Rio Oriental”, que propõe percursos pela cidade a fim de apresentar e refletir sobre seu passado de ligação com a região conhecida atualmente como Oriente Médio.

as ações cultuRais do dePaRtamento de cultuRa na cidade de são Paulo atRavés dos PaRque infantis

Lucas Garcia Nunes – [email protected]

A proposta a ser apresentada é uma análise do projeto do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, coordenado por Mário de Andrade, a partir de 1935. O projeto do DeCult é considerado de grande importância para as políticas culturais brasileiras e para a produção cultural em nosso país. Trataremos do Departamento ressaltando em especial o projeto-piloto dos Parques Infantis administrado pela Divisão de Educação e Recreio na Seção de Parques Infantis. Este foi um dos primeiros projetos inseridos em novas possibilidades selecionadas pela equipe multidisciplinar que geria os diversos projetos, entre os principais: Bibliotecas Itinerantes, Discoteca Municipal, Rádio Escola, Orquestra Municipal, Biblioteca Infantil, Curso de Etnografia, Congresso Nacional da Língua Cantada, além é claro dos Parques Infantis. Importante aqui destacar a figura de Mário de Andrade, articulando e mediando as ações planejadas sistematicamente a frente do Departamento, com uma riquíssima bagagem em diversas áreas de atuação, foi uma personalidade de valor, por trazer novas concepções da cultura nacional em um momento que São Paulo, com esses equipamentos, indicava uma mudança. Modernizar São Paulo não só na estrutura física, mas também na formação

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cultural das pessoas que ali se estabeleceram. Claramente percebemos dentro das atividades promovidas nos Parques Infantis as práticas relacionadas ao folclore, à história oral, e o imaginário das crianças que frequentavam o espaço de diferentes descendências e idade, entre 3 e 12 anos, filhas de trabalhadores e operários das regiões periféricas da metrópole. Eram incentivadas através de desenhos (com estrutura adequada à produção), escultura, teatro, dança, práticas esportivas ao ar livre, além das práticas culturais a programação estimulava também a educação alimentar e higiene básica, auxiliadas pelas educadoras e instrutoras que compunham a equipe multidisciplinar dos Parques Infantis, ao lado de médicos, dentistas, nutricionistas e educadores. O projeto inovador, foi bem recebido e ao longo de um ano obteve ótimos resultados apontados pelas pesquisas realizadas nos primeiros Parques da capital paulista e publicados na Revista do Arquivo Municipal. A partir desses dados os pesquisadores e gestores poderiam traçar um perfil das crianças que participavam das atividades, pois além dessas referências foi proposto um cadastro com informações referentes ao estado físico da criança. Com uma programação rica e acompanhando os dados estatísticos os gestores articulavam as novas possibilidades de uma São Paulo moderna não só na estrutura, mas também no intelecto.

Polifonia de vozes: o multicultuRal Planning como método de avaliação de Políticas cultuRais PRoduzidas no esPaço uRBano

João Luiz Pereira Domingues – [email protected]

O artigo se dedica à reflexão em torno da relação entre as políticas culturais, a esfera pública e seus desdobramentos territoriais, tendo como acento a discussão metodológica. O que o artigo propõe ressaltar é a possibilidade de que certos grupos e indivíduos sejam invisibilizados ou não tematizados pela aparência consensual das políticas culturais. Desta feita, tenta-se aqui traduzir um modelo metodológico de planejamento urbano para fins de diminuição do risco de atrofia de expressões culturais na cidade. Ao tematizar o universo cultural na teoria do planejamento, o Multicultural Planning rejeita a adoção dos modelos de racionalidade instrumental em favor de um modelo de reconhecimento de experiências que ressaltam diferentes leituras sobre a construção da realidade e das diversas possibilidades de organização de práticas coletivas de administração e planejamento urbano e cultural.

saBeRes e PRáticas tuRísticas e suas múltiPlas inteRfaces com a HistóRia PúBlica

Valeria Lima Guimarães – [email protected]

O turismo é um fenômeno social de grande expressividade em nosso tempo e suas conexões com a história pública se dão de várias maneiras. Nesta apresentação pretende-se fomentar algumas reflexões sobre as diferentes formas de interação entre o turismo e a história pública, destacando-se algumas das práticas e saberes que promovem as aproximações entre as duas áreas. Dentre as questões a serem levantadas, citam-se, entre outras: 1. A história

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como uma disciplina escolar de fundamental importância para a formação global dos cidadãos e o despertar de seu interesse para o turismo, seja na condição de turista e/ou de anfitrião; 2. A construção de um saber interdisciplinar, valorizando a articulação entre teorias e métodos provenientes do saber histórico e do saber turístico no fomento de pesquisas, do ensino e da extensão envolvendo a história do turismo e a história no turismo; 3. A história como um recurso essencial para a atividade turística, nas suas mais diversas aplicações, como na formatação de atrativos turísticos, na consolidação de um segmento turístico comercial com um forte diferencial competitivo para muitos destinos (o turismo histórico ou turismo histórico-cultural), no uso da mão de obra especializada em história no turismo e no empreendedorismo de historiadores nos novos negócios do setor turístico; 4. O turismo como recurso didático para o profissional de ensino de história e a história como recurso didático para o profissional de turismo; 5. As representações e apropriações do passado histórico pelo turismo. Espera-se com tais reflexões destacar o potencial da relação história pública e turismo, valorizando a necessidade de um diálogo cada vez mais estreito entre os profissionais que transitam pelas duas áreas.

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GT 15 – História Pública das Ciências e da SaúdeData: dia 10, quarta-feira, e dia 11, quinta-feira,14h às 17h30

Coordenadores:

Kaori Kodama (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)Luisa Massarani (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)Paulo Elian dos Santos (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)

visitando HosPitais: a HistóRia vivenciada Pelos alunos de aRquitetuRa da saúde no BRasil

Renato da Gama Rosa Costa – Casa de Oswaldo Cruz/[email protected]

Este trabalho se propõe a apresentar as experiências com os alunos da disciplina Arquitetura da Saúde no Brasil, componente do Curso de Especialização em Gestão e Preservação do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde, oferecido pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Essa disciplina, por mim ministrada, discute as transformações pelas quais passou a arquitetura na sua relação com a saúde, do século XVIII a meados do século XX, abordando temas referentes a Hospitais e tipologia arquitetônica (claustro, higienista, pavilhonar e monobloco) e Instituições de saúde e os tipos de doenças: sanatórios para tuberculosos, leprosarias, manicômios para doentes mentais, hospitais de isolamento, hospitais gerais etc. Ao longo do curso são apresentados diferentes exemplos de arquitetura para a saúde desenvolvida no Brasil nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre e Salvador, fruto do trabalho coordenado pela Rede Brasil de Patrimônio Cultural da Saúde. Embora o curso privilegie a especificidade brasileira, busca-se um diálogo constante com a produção historiográfica internacional sobre o tema, sobretudo Portugal e França. Nas duas aulas finais são realizadas visitas a hospitais, procurando perceber in loco os ensinamentos discutidos em aula. Em certa medida, o espaço hospitalar procurou responder às mudanças de paradigmas sanitários e médicos pelos quais passaram o mundo ocidental. Aos poucos, os espaços, ao mesmo tempo que se transformavam de ambientes de acolhimento em ambientes de tratamento, foram ganhando autonomia, inclusive formal. Subordinados à busca por amplos espaços, externos e internos, e procurando contribuir no combate a uma cada vez maior individualização das doenças, os espaços de saúde procuraram multiplicar e aperfeiçoar seus ambientes de cura. E é isso que se pretende perceber nas vistas com os alunos e assim, contribuir para um maior conhecimento acerca desses espaços, sobretudo hospitais, que muitas das vezes passam desapercebidos por nós. Os objetos a se visitar são escolhidos de acordo com os interesses dos alunos e seus projetos de monografia e também procurando valorizar uma tipologia e/ou uma determinada região da cidade do Rio de Janeiro, como por exemplo, o bairro de Jacarepaguá e seus hospitais de isolamento para doentes mentais (Colônia Juliano Moreira), tuberculosos (Santa Maria e Curicica) e acometidos por hanseníase (Curupaity). Nas visitas,

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que muitas das vezes contam com especialistas que estudam tais objetos, são analisados, além dos aspectos históricos e arquitetônicos, o estado atual das instalações, procurando perceber as alterações sofridas pelas instituições ao longo de sua história e a preocupação com a valorização e a preservação patrimonial. A disciplina vem atraindo uma gama de alunos de diferentes formações, como historiadores, arquitetos, conservadores e da área das artes.

Pesquisa em saúde em joRnais PaRaenses: um estudo ao longo de 130 anos

Vanessa Brasil de Carvalho – [email protected]

Neste trabalho, apresentamos a cobertura de temas científicos relacionados à área da saúde nos três jornais diários de maior tempo de circulação no Estado do Pará: A Província do Pará (1876-2002), Folha do Norte (1896-1974) e O Liberal (1946-atual). Nossa pesquisa tem uma perspectiva longitudinal, de maneira que analisamos as edições diárias desses periódicos nos meses de janeiro e julho a cada 10 anos. Ao todo, consideramos 130 anos, que se estendem desde 1876 até 2006. Desse universo, encontramos 168 textos que tratavam de ciências da saúde, que foram analisados com metodologias quantitativas. Nossos resultados mostram que os jornais paraenses enfatizaram os assuntos sobre as doenças e seus tratamentos, contrariando o conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde, que é mais amplo e é relacionado ao bem estar do ser humano. O câncer e a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – sigla em inglês) foram as duas enfermidades mais frequentes nos jornais, mesmo que o vírus HIV, causador da Aids, tenha sido identificado somente na década de 1980. Por outro lado, as doenças endêmicas da região amazônica também tiveram uma participação importante e nossa amostra, a exemplo da febre amarela e da malária. Houve uma forte contextualização das informações apresentadas pelos periódicos, destacando os antecedentes científicos e explicando termos científicos. Encontramos ainda um destaque para os benefícios da ciência, em detrimento dos riscos e malefícios, e poucas menções às incertezas e controvérsias científicas. Por fim, ressaltamos que a pesquisa nacional teve um espaço importante na cobertura sobre ciências da saúde, apesar de observamos uma predominância das pesquisas norte-americanas em nossa amostra. Dentre as instituições mais citadas como fontes, ressaltamos a Universidade de São Paulo, a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro em nível nacional. Mais regionalmente, destacamos a presenças dos estudos do Instituto Evandro Chagas e da Universidade Federal do Pará.

o “esPíRito associativo” e a institucionalização da “sciencia” no BRasil oitocentista: estado e associações em deBate (1860-1882)

Sérgio Augusto Vicente – Fundação Museu Mariano Procó[email protected]

Na segunda metade do oitocentos, a sociedade brasileira conheceu uma grande expansão do movimento associativo. Associações de diversos gêneros se estabeleceram no país, intensificando discussões relativas à regulamentação dessa prática. Em decorrência disso, entre os anos 1860 e 1882, vigoraram na legislação do Estado Imperial as disposições da

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lei 1083 e do decreto 2711, que exigiam de qualquer tipo de associação a prévia solicitação de autorização para funcionar. Essa documentação, composta de requerimento e de ata de reunião dos sócios, era avaliada pelos conselheiros de Estado, que, após minuciosa análise dos objetivos, recursos e estrutura organizacional, emitiam parecer favorável ou desfavorável ao funcionamento da associação, bem como sugestões de mudanças nas disposições estatutárias. O expressivo volume de processos de registro encontrado no fundo Conselho de Estado do Arquivo Nacional (RJ) vem originando pesquisas especialmente preocupadas com a relação Estado – Associações, campo de discussão em que este artigo se insere. Nessa pesquisa, debruço-me especificamente sobre as chamadas associações científicas, refletindo sobre a “utilidade pública” dessas associações. Além da distinta missão de “civilizar” uma nação por meio da difusão das letras e da ciência, as entidades especializadas nas áreas de medicina, farmácia e engenharia trazem à tona elementos importantes para discutir as vicissitudes do processo de institucionalização dessas áreas no país, à luz da relação com a esfera estatal. Nesse sentido, dedicar-se-á especial atenção às divergências suscitadas entre sócios e conselheiros de Estado no que tange à legitimidade dos interesses profissionais e do uso da “liberdade” na publicização do conhecimento e nas estratégias de organização social.

aRquivos HistóRicos diante de novos PúBlicos: estudo exPloRatóRio

Aline Lopes de Lacerda; Regina Celie Simões Marques; Jefferson Almeida Silva – Casa de Oswaldo Cruz/[email protected]

No mesmo contexto em que as ações de preservação do patrimônio cultural e a produção de conhecimentos históricos se dirigem cada vez mais a uma audiência ampla e diversificada, preconizando sua apropriação pelo conjunto da sociedade, os arquivos têm cumprido novas funções ampliando suas missões e atividades, o que repercute na natureza e no alcance de seus produtos e serviços. Essa ampliação é resultado não apenas das possibilidades de disseminação que as atuais tecnologias de informação oferecem, mas também, e sobretudo, de reflexões provindas do próprio campo acerca do papel dos arquivos na sociedade contemporânea. Hoje, pesquisadores e profissionais da área empenham-se em revisões dos princípios e práticas arquivísticas, de modo a atender às demandas que eles próprios e seus usuários impõem. Em tal cenário, o presente trabalho realiza uma análise das possíveis atualizações de uma antiga parceria, aquela que se dá entre história e arquivologia, tendo como foco o acervo arquivístico sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz (COC), cuja missão e estrutura conformam um lócus privilegiado tanto para a difusão do conhecimento histórico relativo às ciências biomédicas e à saúde pública, quanto para a divulgação científica dessas áreas pelo viés da história. Destacam-se, nessa análise, as necessárias articulações entre a história e a arquivologia em abordagens conceituais sobre valor histórico, memória e patrimônio em arquivos; reflexões sobre processos de patrimonialização de acervos arquivísticos; estudos voltados para a representação desses acervos em instrumentos e ferramentas de pesquisa e divulgação; e desenvolvimento de produtos e serviços, bem como de estratégias e programas de educação patrimonial voltados para públicos ampliados, com recurso ao acervo arquivístico do Departamento de Arquivo e Documentação da COC.

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os caminHos e os descaminHos de uma instituição de HistóRia e de memóRia da saúde PúBlica do estado de são Paulo

Raisa Sampaio Moura de Oliveira – Museu de Saúde Pública Emílio Ribas – Instituto [email protected]

Esta comunicação visa apresentar o andamento da pesquisa desenvolvida sobre a história institucional do Museu de Saúde Pública Emílio Ribas, vinculado desde 2010 ao Instituto Butantan, instituição de pesquisa biomédica do Estado de São Paulo. O Museu foi criado por decreto estadual no ano de 1965, tendo como objetivo principal cultuar a memória do médico Emílio Ribas (1862-1925), cuja atuação no final do século XIX e início do século XX foi expressiva no enfrentamento das diferentes epidemias que assolavam o país e o Estado de São Paulo. Instalado em 1979 no edifício, construído em 1893 para o funcionamento do antigo Desinfectório Central, um dos primeiros equipamentos estruturantes das ações de saúde pública no Estado, tombando pelo CONDEPHAAT em 1995, o Museu sobreviveu até os dias de hoje passando por diferentes concepções e projetos, e envolveu diversos pesquisadores ligados à área da saúde e à pesquisa histórica com o objetivo de preservar a memória da saúde pública de São Paulo, por meio de documentos e objetos recolhidos no decorrer da sua existência. Esta pesquisa procura, portanto, identificar as diferentes iniciativas voltadas ao Museu, objetivando compreender as perspectivas e valores mobilizados na constituição e visibilidade do patrimônio da ciência e da saúde do Estado de São Paulo. Busca entender, também, como aconteceram as articulações com as políticas públicas de proteção e com a produção de uma historiografia da ciência e da saúde.

a escola de saúde PúBlica de minas geRais e a foRmação de Pessoal PaRa a saúde PúBlica (1947 -1960)

Isadora Caroline de Araujo Morais – [email protected]

Na década de 1940 ,a saúde da população brasileira, apesar do avanço nas políticas de saúde pública, não havia alcançado os níveis desejados, constituindo-se como elemento de entrave ao desenvolvimento do país. As políticas de assistência e especialmente de prevenção às doenças, exigiram forte investimento na capacitação e formação de profissionais, áreas não desenvolvidas pelo Governo de Minas Gerais até 1933, quando inaugurou a Escola de Enfermagem Carlos Chagas (EECC), voltada para a formação de enfermeiras de saúde pública. A criação da EECC é um indicativo da nascente preocupação do Estado; entretanto a aposta na formação de enfermeiras de saúde pública, mostrou-se insuficiente para responder a demanda de formação de profissionais para os serviços de saúde pública. Em 1946, o Governo do Estado de Minas Gerais , pressionado tanto por agências internacionais (Fundação Rockefeller), como por demandas nacionais , cria a Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG), ligada ao Departamento Estadual de Saúde, com o objetivo de formar e capacitar Recursos Humanos para o quadro de serviços estaduais de saúde. Entre a data de sua criação e o ano de 1960, período analisado, a ESP-MG ofereceu cursos para responder as demandas desses serviços, tais como: cursos de Especialização em Saúde Pública para

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2º Simpósio Internacional de História Pública

médicos, e capacitação de profissionais de nível médio como Guardas Sanitários, Escreventes, Visitadoras Sanitárias, entre outros. Ao longo da década de 1950, a ESP sofre com a falta de incentivos a seus cursos, e, para reforçar a sua importância, modifica o perfil de seus cursos e expande o público-alvo, oferecendo o curso de especialização em saúde pública, para outros profissionais além do médico, como para os médicos – veterinários e dentistas. A analise será delimitada entre 1946 e 1960 por entendermos que se trata de um período de inflexão na oferta de cursos, pois marca a última oferta do curso de especialização, exclusivamente para médicos. No mesmo período, muitos cursos que eram ofertados todos os anos, algumas vezes duas vezes ao ano, são cancelados, como os cursos de Guarda Sanitário e Visitadora Sanitária e outros passam a ser ofertados, como o de Coordenadora Sanitária e Higiene Industrial. Com isso, a ESP torna-se responsável tanto por capacitar profissionais para a área de saúde pública como também para ocuparem cargos na administração estadual.

consideRações soBRe os usos da HistóRia nos PRocessos de tRaBalHo das equiPes de atenção PRimáRia em saúde no teRRitóRio de manguinHos (Rio de janeiRo, 2004/2013)

André Luiz da SIlva Lima e Tania Maria Dias Fernandes – Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz)[email protected] e [email protected]

O Sistema Único de Saúde, criado pela Constituição de 1988 e regulamentado pela Lei Federal 8080/90 tem por características a institucionalização do acesso universal à saúde, compreendida enquanto direito do cidadão, com a prestação de serviços regionalizada e hierarquizada. A hierarquização operacional pressupõe o acesso aos serviços a partir da Atenção Primária, que no Brasil labora sobre o termo ‘Atenção Básica’. Este nível do serviço público em saúde caracteriza-se pela atuação organizada com circunscrição territorial pelas Equipes de Saúde da Família. Essa delimitação espacial de atuação dos profissionais envolvidos na Atenção Primária é um elemento relevante, pois pertence à sua práxis, voltada para a promoção da saúde, o trato com as histórias das pessoas e dos lugares aonde atuam, incorporando as memórias coletivas e trabalhando-as numa reconfiguração constante, que resulta numa narrativa histórica não pautada pela história-disciplina com seus métodos e pressupostos. Em Manguinhos, território deste estudo, a Fundação Oswaldo Cruz tem conduzido a produção de narrativas históricas sobre esta localidade, que interagem, no âmbito da atuação dos profissionais de saúde na Atenção Primária, dialeticamente com as histórias não oficiais reproduzidas pelos atores locais. Caberá, neste congresso, tecer considerações acerca destes estudos sobre o território de Manguinhos, focando alguns de seus usos, especificamente no âmbito da Estratégia da Saúde da Família.

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Perspectivas da História Pública no Brasil

divulgação em HistóRia das ciências e da saúde: a exPeRiência do ciência em cena (museu da vida/coc/fiocRuz)

Wanda Susana Hamilton – Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo [email protected]

O Ciência em Cena, espaço de visitação do Museu da Vida, desenvolve projetos que articulam arte e ciência, com o objetivo de incentivar a participação do público visitante nas atividades que apresenta. Composto por uma equipe multidisciplinar que envolve cientistas sociais, físicos, biólogos, matemáticos, atores e diretores teatrais, o setor privilegia o teatro para provocar o público a pensar, reagir, questionar e debater diversas temáticas científicas especialmente voltadas para o campo da história das ciências e da sáude. Entre os espetáculos apresentados, destacamos “Sangue Ruim”, texto escrito por Paul Sirett para a companhia britânica Theatrescience, que aborda, do ponto de vista histórico, as questões éticas que envolvem as pesquisas científicas com seres humanos. O título é uma referencia ao estudo de Tuskegee, abordado na peça, que envolveu 600 homens negros com o objetivo de estudar a evolução natural da sífilis, realizado no estado do Alabama (EUA), entre 1932 e 1972. Os avanços verificados no campo da ciência e da tecnologia que tiveram impacto no desenvolvimento de novas terapias para o tratamento de doenças, como o uso de células tronco, e no desenvolvimento e produção de novas vacinas e medicamentos trazem para o centro da agenda de debates científicos as questões éticas que atravessam as pesquisas, testes e estudos clínicos que não podem prescindir da participação de seres humanos. A diversidade de aspectos envolvidos nesta discussão engloba diferentes campos do conhecimento e reflete a complexidade dos dilemas que nascem desse cenário.A peça contextualiza essa discussão na África, no ano de 1997, onde uma pesquisadora inglesa desenvolve um estudo clínico para testar um medicamento que poderia reduzir a taxa vertical de transmissão do vírus HIV a índices menores do que aqueles alcançados pelo AZT, utilizado na época. Enquanto trabalha em sua sala, é procurada por um jovem estudante africano que trabalha na administração do hospital e se diz interessado em aprender inglês. No desenrolar da história, o jovem revela informações sobre seu interesse na relação e a peça ganha força no conflito que emerge do contraste entre as origens, a trajetória e as posições assumidas pelos dois personagens. A apresentação deste espetáculo teve como objetivo mais geral produzir conhecimento e incentivar o debate sobre os temas abordados na peça, entre eles: a história da bioética e as questões éticas de pesquisas envolvendo seres humanos; história da doença, características, transmissão, prevenção e tratamento da Aids; diferenças e desigualdades sociais e culturais; discriminação social e racial; e diversos aspectos relacionados ao trabalho teatral.

o conHecimento HistóRico nos museus de ciências

Josiane Roza de Oliveira – Museu de Saúde Pública Emílio Ribas – Instituto [email protected]

Uma das principais dificuldades para o desenvolvimento do conhecimento histórico nos museus de ciência parece advir justamente do conflito entre a forma como a comunidade científica se constitui e se apresenta e a relação estabelecida com seu passado. Isto porque, como apontam alguns autores, a ciência é um objeto especialmente avesso a ideia de

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historicidade, principalmente pela crença no seu processo evolutivo e linear de elaboração. Desta forma, pareceu significativo analisar museus de ciência que possuem preocupação com a dimensão histórica das áreas as quais se dedicam. E, nesse caminho, foi possível identificar diferentes concepções de história entremeadas e procurando direcionar a atuação das instituições. A pesquisa abordou a criação, em meados dos anos de 1980, de duas instituições preocupadas com a preservação, pesquisa e valorização do patrimônio científico brasileiro, a Casa de Oswaldo Cruz, focando a análise sobre suas ações museológicas e o MAST – Museu de Astronomia e Ciências Afins. Objetivos diferentes e divergentes estão unificados e mediados pelas instituições, nas quais identificamos pontos de tensão entre os interesses dos cientistas e os interesses dos historiadores e pesquisadores da história disciplinar. A presente comunicação, portanto, objetiva trazer contribuições ao debate sobre os museus envolvidos com temas de ciência e sua publicização, correlacionando suas práticas com as perspectivas desenvolvidas no âmbito da teoria da história e de uma historiografia da história das ciências no Brasil.

a ciência que eu faço e as conexões com o núcleo de HistóRia oRal da ciência no mast

Marta de Almeida; Vera Pinheiro – Museu de Astronomia e Ciências Afins [email protected]

Esta apresentação destacará o projeto A Ciência que eu faço e sua interface com a história pública. Destaca-se a dimensão crítica de produção de fontes audiovisuais que, num primeiro momento, ao longo de mais de 250 depoimentos, se voltou para a divulgação de algumas trajetórias pessoais de cientistas, no formato de filmes de curta duração, no intuito de motivar e despertar o interesse de jovens para as carreiras científicas. Ao mesmo tempo, dialoga com os pesquisadores de história da ciência, pela riqueza e diversidade do acervo formado, pela convergência com uma ação mais ampla do MAST para organizar um núcleo especializado com entrevistas já realizadas no âmbito de diversos projetos acadêmicos da instituição ao longo dos anos. Busca-se ainda incentivar novas ações que possam alimentar reflexões acadêmicas sobre a construção da memória e divulgar a ciência produzida no país, sobretudo vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

o livRo das mães de antônio feRnandes figueiRa – PoR que ReimPRimi-lo?

Gisele Sanglard – Casa de Oswaldo Cruz/[email protected]

Este trabalho tem por objetivo discutir a edição, fac-similar, de obras das ciências e da saúde como forma de ampliar a discussão sobre temas de interesse da área. Este livro, publicado pela primeira vez em 1910 e com reedições em 1919 (2ª ed.) e em 1926 (3ª ed.) é um dos poucos trabalhos de Fernandes Figueira voltados para o tema da assistência à infância e com caráter de vulgarização da ciência e muito pouco conhecido e de difícil localização. Essa edição singulariza-se pelos prefácios assinados por Afrânio Peixoto e por Luiz Morquilo, professor de clínica pediátrica da Universidade de Montevideo (Uruguai), considerado o maior especialista no

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Perspectivas da História Pública no Brasil

tema na América Latina. Morquilo ressalta a forma simples e sucinta através da qual Fernandes Figueira analisa 101 problemas práticos da vida da primeira infância. Antônio Fernandes Figueira (1863-1928), médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (FMRJ) em 1887, pertence à primeira geração de especialistas dedicados à saúde infantil no Brasil. Contudo, conhecer as propostas de Fernandes Figueira para a infância não é tarefa fácil. Ao contrário dos dois outros pediatras seus contemporâneos, Moncorvo Filho e Luiz Barbosa, deixou pouca coisa escrita sobre esse assunto. Sua vasta produção é composta primordialmente por trabalhos técnico-científicos. A frente da Inspetoria de Higiene Infantil, no bojo da reforma sanitária de 1919, Fernandes Figueira transformou suas ideias em uma das facetas do controle da esfera pública nas questões atinentes à infância. Outros pontos singularizam Fernandes Figueira de seus contemporâneos: sua ligação com Manguinhos, notadamente com Carlos Chagas; sua presença, desde 1903, na Academia Nacional de Medicina; sua presença como médico da seção infantil do Hospital Nacional de Alienados; e sua busca por uma definição das esferas pública (estado) e privada (filantropia) na assistência à infância. Fernandes Figueira dedica-se à cruzada contra a mortalidade infantil, com ênfase no aleitamento materno e seu público-alvo são primordialmente as operárias e as crianças de até um ano de idade como deixa claro em seus trabalhos.

a eRRadicação da Poliomielite e o suRgimento da síndRome Pós-Pólio

Dilene Raimundo do Nascimento – Fundação Oswaldo [email protected]

A Comissão Internacional para a Certificação da Erradicação da Poliomielite (CICEP) reunida em Washington, em agosto de 1994, declarou interrompida a transmissão do poliovirus selvagem nas Américas. Estava erradicada a poliomielite nas Américas e, portanto, no Brasil. Ao mesmo tempo em que o Brasil recebeu a certificação de erradicação da pólio, surgiu uma nova situação para os sobreviventes da pólio: pessoas entre 40 e 50 anos, que tiveram pólio na infância, começaram a apresentar fraqueza muscular, dores, fadiga e dificuldade de andar, sem ter o diagnóstico desses sintomas. Tratava-se da Síndrome Pós-Poliomielite. A primeira referência da Síndrome Pós-Pólio, no Brasil, surgiu em documento escrito pela médica fisiatra Linamara Rizzo Battistella, intitulado “Síndrome Pós-Pólio: reescrevendo a história da reabilitação”, apresentado à Academia Brasileira de Medicina de Reabilitação. No ano de 2003, foi criado um atendimento específico no Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Para esse serviço acorreram os sobreviventes da poliomielite que apresentavam os sintomas da Síndrome Pós-Poliomielite, doença desconhecida e invisível aos olhos da sociedade em geral, até então. Técnicos e doentes jogaram um papel importante para em 2008, a Síndrome Pós-Pólio fosse aceita pelo Comitê Internacional de Classificação de Doenças da Organização Mundial de Saúde, sendo designada pelo código G14, incluída na CID-10.Este trabalho pretende analisar o processo que levou a Síndrome Pós-Poliomielite de desconhecida e invisível à sua incorporação na Classificação Internacional de Doenças, bem como a representação da doença na narrativa daqueles por ela afetados. Desenvolvido no campo da História Social, situa-se no cruzamento entre a chamada história das doenças e a história das ciências, utilizando como fontes artigos médicos e narrativas de pessoas afetadas pela síndrome.

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HistóRia e cânceR: entRe o medo e a cuRiosidade

Paula Arantes Botelho Briglia Habib; Marcio Magalhães de Andrade – Casa de Oswaldo Cruz; Fundação Oswaldo [email protected]

Pulmão, seios, colo do útero. Escritas assim, de maneira aleatória, estas palavras não dizem muito. Basta uma simples combinação, no entanto, para que os vocábulos adquiram peso aterrorizante: câncer no pulmão, câncer nos seios, câncer no colo do útero. Como as pessoas lidaram, ao longo dos tempos, com o motivo do terror? O que foi feito, no decorrer de nossa história sanitária, para combatê-lo ou, em termos atuais, controlá-lo? Esta comunicação apresenta experiências provenientes do projeto “História do Câncer – atores, cenários e políticas públicas”, uma parceria entre a Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). E quem nos lê? Quem se interessa pelo tema? Para além do público acadêmico, especializado em História das Doenças e História da Saúde Pública, conseguimos alcançar profissionais da área de saúde e o público leigo, que nos acessa por meio de exposições temáticas, redes sociais e homepage. Nosso projeto tem dedicação especial à história das políticas públicas para o controle dos cânceres de colo de útero e de mama e o controle do tabagismo. Milhares são as mulheres e homens atingidos por estas formas da doença no Brasil! O levantamento e a organização de fontes textuais e iconográficas sobre a temática e a constituição de um acervo de depoimentos audiovisuais, composto por entrevistas com os principais personagens da história do controle do câncer no Brasil, são nossos principais legados, por um lado. Por outro, que extrapola a pesquisa restrita à Academia e à produção de conhecimento stricto sensu, fazemos uso de suportes e estratégias que dão acesso a informações e conhecimentos na área da saúde pública, de forma ampla e para um público composto por não-iniciados. Até o presente, nossa equipe produziu três exposições: Campanhas educativas de prevenção do câncer de colo de útero no Brasil; O controle do tabaco no Brasil: uma trajetória; A mulher e o câncer de mama no Brasil. Tais exposições foram montadas em diversos locais do Brasil, integraram congressos médicos e de saúde coletiva e auxiliaram na educação em saúde de centenas de pessoas que circularam, por exemplo, no Centro de Saúde Américo Velloso, na comunidade da Maré (RJ). Compreendendo a produção de conhecimento e a divulgação em saúde como processos dinâmicos, as experiências de montagem das exposições proporcionam à equipe do projeto a possibilidade de repensar formas de construção e divulgação do conhecimento histórico.

HistóRia PúBlica das ciências e da saúde: desafios contemPoRâneos

Paulo Roberto Elian dos Santos, Luisa Massarani e Kaori Kodama – Casa de Oswaldo [email protected]

Este grupo de trabalho pretende realizar um primeiro esforço de reunir profissionais que se dispõem a refletir sobre as práticas no campo da história das ciências e da saúde frente a públicos diversos. Nos anos recentes, a história das ciências tem ampliado seu campo de atuação por diferentes demandas sociais, ao mobilizar conceitos como patrimônio, identidade, memória e cultura, e fazer com que se ampliem e se modifiquem as noções de popularização e divulgação científica. Em paralelo às inflexões da memória no campo da história, observável

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em nossos tempos, há também a centralidade da ciência na vida coletiva das sociedades contemporâneas, que direcionam nosso olhar para questões relativas à produção da ciência e aos variados processos de sua construção/legitimação, bem como às implicações do fazer científico sobre o campo ético. Ambos os fenômenos – o relativo aos significados e usos da história na contemporaneidade e o papel da ciência no seio de uma sociedade cada vez mais complexa – implicam em repensarmos as atuais abordagens dos historiadores das ciências junto ao público, e que tem se manifestado por variadas formas comunicativas, tais como filmes, teatro, exposições, eventos, entre outros. Nesta apresentação do grupo, procuraremos expor e apresentar algumas dessas abordagens.

“finalmente encontRei um nome PaRa o que faço, PaRa o que queRo fazeR”

Moema de Rezende Vergara – Museu de Astronomia e Ciências [email protected]

Esta frase enunciada no primeiro curso de história pública no país expressa perfeitamente o meu sentimento ao receber o convite para participar deste simpósio. No trabalho sobre a história da divulgação da ciência no Brasil que desenvolvo há mais de uma década, o público é questão central e partilho com preocupação de que este não poderia ser visto como tabula rasa e também era agente da produção do conhecimento em pauta no espaço da divulgação. Além disto, como pesquisadora do MAST eu criei em 2007 um curso de extensão sobre a formação do território brasileiro que possui como motor principal a ideia que promover pontes entre a produção de ponta na pesquisa na área de história da ciência e os professores em sala de aula. Assim, acredito que este simpósio seja uma grande oportunidade para avançar nos estudos de história pública e história da ciência e produzir reflexões historiográficas de forma mais sistematizada e menos intuitiva.

cinematógRafo BRasileiRo em dResden - a Realizção de videos documentáRios HistóRicos e foRmação de aceRvo de imagem em movimento na casa de oswaldo cRuz

Stella Oswaldo Cruz Penido - Casa de Oswaldo Cruz / [email protected]

Apresentação, projeção e debate sobre o vídeo documentário CINEMATÓGRAFO BRASILEIRO EM DRESDEN - (DVCAM, 21min., 2011, Roteiro e Direção: Eduardo V. Thielen e Stella Oswaldo Cruz Penido. Pesquisa Alice Ferry de Moraes, Eduardo V. Thielen, Juçara Palmeira, Stella Oswaldo Cruz Penido): Com imagens de época e entrevistas com pesquisadores de história da saúde e do cinema, o documentário resgata dois filmes exibidos em 1911 no pavilhão brasileiro da Exposição Internacional de Higiene em Dresden, Alemanha. Tematizando o combate à febre amarela no Rio de Janeiro e a recém descoberta doença de Chagas em Lassance, Minas Gerais, são os primeiros filmes científicos brasileiros conhecidos, marcando o pioneirismo do Brasil e do Instituto Oswaldo Cruz na utilização de imagens em movimento na comunicação e informação em saúde. A identificação e recuperação destes filmes histórico, e a realização deste vídeo documentário foi fruto de pesquisas realizadas pelo Departamento de Arquivo e

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Documentação da Casa de Oswaldo Cruz ao longo de duas décadas. O centenário da exibição de filmes realizados pelo Instituto Oswaldo Cruz na Exposição Internacional de Dresden foi a inspiração para apresentarmos ao público em geral os mais antigos registros de filmes científicos realizados no Brasil que se tem conhecimento.

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Painéis de experiências em história pública

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Experiências em história pública, painel 110 de setembro, das 12h às 13h

Coordenação:

Adriane Vidal (UFMG)Fernando Penna (UFF)Laura Maciel (UFF)

os 80 anos do sindicato dos BancáRios do esPíRito santo: uma exPeRiência em HistóRia PúBlica

André Ricardo Valle Vasco Pereira e Júlia Ott [email protected] e [email protected]

Esta comunicação aborda uma experiência em História Pública que ainda está em andamento, mas se encontra em fase final. Trata-se da produção, por um grupo de pesquisa de cinco pessoas (um professor do Departamento de História da UFES e quatro estudantes de graduação da mesma instituição), de um livro sobre os 80 anos do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo, comemorados em 2014. O texto foi concebido, desde o início, com o objetivo de atingir um público amplo, não acadêmico, constituído pela base da entidade e pela Sociedade de uma maneira geral. Neste sentido, o projeto faz um contraponto com obra anterior, escrita para lembrar os 60 anos da mesma organização e lançado em 1994. Na época, também foi criado um grupo de professores e alunos da UFES, gerando uma obra que ficou a meio termo de uma produção acadêmica e popular. Pensando de outra forma e em diálogo constante com a entidade, o atual grupo de pesquisa fez um novo levantamento de fontes primárias escritas e iconográficas, incluiu entrevistas não só com dirigentes (como no caso anterior) como também com bancários comuns e avançou até o período atual. O grupo iniciou os trabalhos em agosto de 2014 e uma de suas dificuldades foi o tempo exíguo para a pesquisa, o tratamento de fontes (fichamentos e transcrições de entrevistas), além da redação de um texto para grande público. O livro foi elaborado fugindo ao padrão de capítulos longos. Ao invés disso, sua unidade fundamental é chamada de “item”. Cada um deles foi redigido com um limite girando em torno de 500 palavras e acompanhado de imagens e trechos de entrevistas. A ideia foi a de usar as imagens e trechos como uma forma de ampliar o texto e não apenas de ilustrá-lo. O objetivo é que o leitor não especializado possa compreender o conteúdo e, além disso, dividir com as pessoas que viveram os fatos tanto os seus sentimentos, quanto atitudes e percepções de época. Na comunicação, buscaremos demonstrar as dificuldades que o grupo enfrentou para atingir tal objetivo. Em primeiro lugar, o espaço de 500 palavras demonstrou ser curto para dar conta da riqueza de informações e dos problemas interpretativos. Em segundo lugar, não foi fácil encontrar imagens e trechos de entrevistas adequados para cada item e, em particular, que cumprissem a intenção de ampliar o conteúdo. É mais fácil ilustrar do que ampliar o texto. Em terceiro lugar, o prazo disponível para realizar todas as tarefas pesou sobre o grupo, tendo em vista o lapso de tempo muito extenso, o grande volume de fontes e o fato de que a entidade em questão realizou muitas atividades diferentes, não se resumindo

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à luta sindical padrão de greves e negociações com empresários. Por fim, vale notar que o grupo foi contratado pela entidade para a realização da tarefa, de forma que um dos aspectos a ser discutido na comunicação é justamente este tipo de relação. Não houve censura ou interferência, mas um diálogo, que se intensificou no fim da experiência.

memóRia e RePaRação: uma Reflexão soBRe naRRativas de moRtos e desaPaRecidos Políticos no filme testemunHo “15 filHos”

Ana Cristina Rodrigues [email protected]

No Brasil, no final da década de 1970 e início de 1980 intensificou-se a busca por mudanças. Em grande parte, a Lei da Anistia, de 1979, proporcionou uma espécie de esquecimento comandado sobre muitos acontecimentos graves ocorridos durante o regime militar, como a tortura, assassinatos, prisões arbitrárias, etc. Mesmo com esse processo de anistia irrestrita a torturados e torturadores, proliferaram-se denúncias e busca por informações por parte de grupos, familiares e amigos de pessoas que haviam sido mortas, presas, torturadas ou desaparecidas. Nessa busca por lembrar, narrar, e denunciar muitos filmes biográficos foram produzidos procurando (re) construir a trajetória desses personagens. Muitos deles foram elaborados a partir da iniciativa dos seus familiares, que resolveram narrar as suas histórias, um exemplo disso, é o filme testemunho “15 Filhos”, que foi produzido por filhos e filhas de presos e desaparecidos políticos no Brasil. O filme é dirigido por Maria Oliveira e Marta Nehring, ambas filhas de guerrilheiros que lutaram contra a ditadura militar no Brasil que além de dirigirem também, fizeram o papel de testemunhas trazendo os seus relatos sobre os pais. Através de depoimentos emocionados o filme mostra em 18 minutos e 39 segundos as lembranças sobre os acontecimentos vivenciados por aqueles jovens a partir da difícil relação com seus pais militantes. A narrativa em torno dos traumas nunca superados, a incerteza quanto ao nome verdadeiro dos pais, o período em que estiveram presos, a busca por um não esquecimento coloca em evidência a luta por restituição de direitos e reparação do passado. Diante desses elementos temos como proposta para esse trabalho investigar e entender na contemporaneidade a relação entre memória, esquecimento, ressentimento, reparação do passado e restituição de direitos. Todos esses elementos estão presentes nos discursos dessas testemunhas, que buscam instaurar uma luta contra a impunidade e o esquecimento. Percebemos assim, que à medida que essas histórias retornam, ou são mostradas e apresentadas através desse filme biográfico, as quais foram (re) construídas a partir do testemunho desses sujeitos que narram no presente um passado próximo, elaboram-se novas explicações e significações para o tempo presente. Este trabalho é parte do projeto de Iniciação Científica intitulado: “MEMÓRIA E REPARAÇÃO: Os usos do passado em filmes biográficos e narrativas de desaparecidos políticos no Brasil” financiado pelo CNPQ . O projeto é ligado ao Laboratório de Imagem, História e Memória-LABIHM da Universidade Regional do Cariri e que tem sob coordenação a professora Sônia Meneses Sônia Meneses Profa. Dra. do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri coordenadora do projeto “MEMÓRIA E REPARAÇÃO: Os usos do passado em filmes biográficos e narrativas de desaparecidos políticos no Brasil.

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memóRia, naRRativa e tRadição: as Reinvenções do Passado inscRitas no univeRso viRtual e os novos naRRadoRes do caRiRi

Pryscylla Cordeiro Rodrigues [email protected]

Este trabalho pretende investigar como as narrativas tradicionais consolidadas ao longo do século XX sobre a região do Cariri Cearense chegaram à contemporaneidade e são reapropriadas através de blogs disponíveis no universo virtual difundido ideias que atribuem ao Cariri Cearense o lugar da cultura e de manifestações religiosas singulares. Tais discursos são um híbrido entre passado e presente e formulam identidades tendo em vista uma gama de acontecimentos de importância política, cultural e religiosa que eclodiram durante o século XX. Dessa forma, esses novos narradores colocam em ação uma série de estratégias para resignificar o patrimônio histórico e cultural do lugar em que vivem, reinventando o espaço na medida em que atualizam discursos sem deixar de ser influenciados pelas antigas tradições. Falamos dessa maneira em repertórios culturais que circulam, se modificam e criam a novidade sem perder totalmente antigos elementos de construção. Enfatizaremos assim “processos sociais de produção, circulação e consumo da significação da vida social” como afirma Cancline (2007, 41) entendendo a própria memória como um dos produtos de transformação e reinvenção desse lugar.

a educação física na educação PoPulaR: PaRticiPação no PRocesso de constRução da identidade de cRianças no movimento dos tRaBalHadoRes sem teRRa

Alexandre José [email protected]

Este trabalho tem por objetivo descrever a maneira como se desenvolve a Educação, principalmente a Educação Física, nos movimentos populares. Para isso busca compreender o processo histórico e social da Educação Popular e da Educação Física no contexto brasileiro. E também realiza uma reflexão de como foi o momento histórico pós-ditadura para a área da Educação Física e como se desenvolveu o conhecimento desta, numa visão humanista. Trata-se de um estudo da educação, do corpo e da cultura na constituição da identidade das crianças no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), apoiado em vários autores que refletiram sobre Educação Popular, Educação Física, Corpo, Cultura e Identidade. O trabalho se desenvolve primeiro de maneira teórica e em seguida parte para uma análise da práxis da Educação Física e da construção da identidade dentro do MTST. Neste sentido foi realizado pesquisa bibliográfica e trabalho de campo através de uma observação participante no “III Encontro dos Sem Terrinhas da Regional Grande São Paulo do MTST” com o setor de educação do Movimento. Por fim, foi filmado o encontro seguido de análise do vídeo e produção do texto. O tipo de pesquisa social desenvolvida apóia-se em dados sobre o mundo social, que são construídos e ao mesmo tempo resultam dos processos de comunicação, buscando não apenas elucidar os conceitos, mas, através da comunicação, dia após dia, demonstrar a construção e aplicação de uma proposta de educação emancipatória. E é neste contexto que a cultura corporal vai se materializando, através de práticas que vão se constituindo e

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ganhando significados e construindo valores e identidades que resgatam os elementos da classe trabalhadora para a classe trabalhadora. Neste cenário, o processo pedagógico para a materialização dos objetivos com as crianças, busca olhar o mundo a partir do ponto de vista da criança, revelando uma outra maneira de ver a realidade, em que cultura, história e saberes são valores de época, portanto a nossa vida pode inventar seus próprios valores e estes, que constitui as identidades individuais e coletivas, devem ser uma busca coletiva, como a própria realização deste trabalho, realizado sempre de maneira dialógica com os vários atores.

os sentidos de HistóRia que ciRculam nos livRos da BiBlioteca PaRque estadual

Luisa da Fonseca Tavares e Jéssica de Oliveira [email protected] e [email protected]

As Bibliotecas Parque do Rio de Janeiro têm se constituído como centros de informação, cultura e lazer. Trazendo uma nova concepção de biblioteca pública, ela vai além de apenas um local de livros, estudos, pesquisa e leitura. O conceito “parque” agrega a ela outras características e serviços tornando-a mais dinâmica e atrativa: lugar de encontro e convivência com computadores, filmes, música, teatro, exposições e gastronomia. Realizam-se inclusive atividades de fomento a leitura e é então, lugar de educação informal. Como espaço público e provendo um acervo moderno e programação para todas as idades, interessa-nos investigar que História circula por esses ambientes, pensando o passado como fonte de saber e reflexão importante na compreensão dos processos políticos, sociais e culturais do nosso presente. Portanto, objetivamos analisar os sentidos de História que estão imbricados na Biblioteca Parque Estadual, matriz da rede composta por Manguinhos, Rocinha e Niterói, por meio do estudo dos livros e suas temáticas que compõem as prateleiras da referida disciplina, tendo esse local como produtor de conhecimento histórico e logo, um campo da História Pública. Esse trabalho parte das discussões que o grupo de pesquisa que fazemos parte – o GECCEH (Grupo de Estudos Currículo, Cultura e Ensino de História) – tem se debruçado nos últimos tempos e gira em torno da produção, classificação e distribuição do conhecimento em questão em diferentes contextos.

o temPo HistóRico em aulas da educação Básica: negociando a distância entRe Passado, PResente e futuRo em sala de aula

Hosana do Nascimento Ramô[email protected]

Nesta comunicação buscaremos realizar algumas análises sobre a concepção de tempo histórico com a qual lida o professor e seu modo de articular as dimensões temporais de passado, presente e futuro em aulas de história. Essa pesquisa foi realizada através da observação de duas turmas de um colégio particular na cidade de São Gonçalo. Durante o primeiro semestre do ano de 2014 a turma acompanhada foi a do sétimo ano, no segundo semestre iniciamos a observação das aulas do oitavo ano, muitas anotações foram feitas e as aulas foram gravadas em áudio. Seu acompanhamento faz parte do trabalho de campo da

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pesquisa “Negociando a distância entre passado, presente e futuro em sala de aula: a relação entre o tempo histórico e a aprendizagem significativa no ensino de história”, coordenada pelo prof. Dr. Fernando de Araujo Penna. Diante da experiência de vivenciar essas aulas, podemos notar a negociação do tempo histórico feita pelo professor através de vários argumentos com o intuito de garantir o pleno entendimento por parte dos alunos, tornando a História muito mais próxima para estes. Ao analisar o discurso do professor procuraremos evidenciar como ele constrói esses argumentos que estabelecem uma relação entre as dimensões temporais do passado, presente e futuro. Nosso objetivo é compreender as concepções de tempo histórico no ensino de história e como elas podem ajudar na dinâmica da aula garantindo uma aprendizagem significativa. Baseando-nos no tempo histórico segundo Reinhart Koselleck, o entendemos como a maneira pela qual o presente histórico articula as dimensões temporais de passado e futuro. O referencial teórico metodológico que orientará as análises será a retórica com ênfase em seu aspecto argumentativo de acordo com Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca. Dessa maneira procuraremos entender como é negociado pelo professor a relação entre passado, presente e futuro em sua dinâmica de sala de aula.

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Experiências em história pública, painel 211 de setembro, das 12h às 13h

Coordenação:

Manuel Rolph Cabeceiras (UFF)Miriam Hermeto (UFMG)Valéria Magalhães (USP)

as vozes e os silêncios das Ruas: uma discussão soBRe o PaPel dos meios de comunicação na constRução de naRRativas HistóRicas

Pedro Bogossian Porto e Mariana da Silva [email protected]; [email protected]

O presente trabalho tem como objeto de análise a execução da oficina “Comunicação tem história”, realizada no âmbito do Projeto Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da UFRJ, com alunos do Ensino Médio de uma escola da rede estadual do Rio de Janeiro, durante o segundo semestre de 2013. O objetivo central da oficina foi provocar a reflexão dos estudantes a respeito do papel assumido pelos meios de comunicação na sociedade. Sendo assim, a construção de um pensamento crítico acerca das diferentes interpretações dos meios de comunicação, bem como o seu uso por parte da população, imprensa e governos, permeou todo o processo de realização da oficina. Diante das profundas transformações na forma de se comunicar, sobretudo diante do processo de universalização da internet, estamos sujeitos a receber informações de diferentes fontes e perspectivas. Buscamos demonstrar, utilizando como exemplo as manifestações ocorridas no Brasil em junho de 2013, as diferentes abordagens acerca de um mesmo tema e construir, a partir desses casos concretos, uma reflexão a respeito da informação como objeto de disputa de poder político e social. Levar esse debate para a sala de aula proporcionou o questionamento dos discursos midiáticos, ao mesmo tempo em que demonstrou a sua força na produção de determinadas narrativas históricas. Dessa forma, acreditamos trazer para o campo da Educação a discussão acerca da produção da história pública, percebendo-a também como um campo de disputa.

desmontaR e RemontaR: HistoRicidade e memóRia da exPosição “texto e contexto – educação em saúde PúBlica” no museu de saúde PúBlica emilio RiBas

Leonardo Azevedo Rabello [email protected]

Na atividade de desmontar a exposição “Texto e contexto: educação em saúde pública” no

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Perspectivas da História Pública no Brasil

Museu de Saúde Pública Emílio Ribas, vinculado ao Instituto Butantan, estamos desenvolvendo a documentação da exposição e procurando compreender a estratégia expográfica e as concepções envolvidas na produção narrativa que aborda a temática central. Um trabalho aparentemente simples, mas que está trazendo uma séria de questionamentos, que vão desde a procedência dos documentos e objetos até às escolhas dos elementos textuais, iconográficos e artefactuais dispostos com o objetivo de abordar uma história da educação em saúde desenvolvida pelo Estado. O Museu passou por diferentes momentos desde a sua criação, atuando com muitas dificuldades, o que não o impediu de se manter como uma instituição de referência em história e memória da saúde pública do estado de São Paulo, principalmente, devido ao importante acervo sob sua guarda. No entanto, sua história é um pequeno quebra-cabeça, cujas peças procuramos juntar. As exposições são de difícil datação, mas é possível identificar que estão lá, com pequenas alterações, desde o final da década de 1990. Sendo assim, buscou-se identificar: para qual público a exposição foi produzida; em quais períodos recebeu visitantes; quais concepções de história e de memória estão presentes; quais sínteses foram produzidas a partir de um eixo temporal articulador; quais concepções de educação em saúde foram apresentadas; como aparecem elementos como doença, médicos, medicina no quadro apresentado pelo espaço expositivo. A pesquisa é significativa tanto no âmbito de uma história das instituições museológicas como da história da história e da memória da saúde pública do Estado de São Paulo.

a fotogRafia digital como fonte HistóRica no limiaR do século xxi

Valdir da Cruz [email protected]

A fotografia como fonte de pesquisa histórica no seu advento no século XIX foi alvo de criticismo pela historiografia até a sua consolidação no início do século XX. Com o advento da fotografia digital, este meio como fonte histórica está ameaçada pela falta de padronização de arquivos digitais, mídias eletrônicas de durações incertas, banalização de exposições fotográficas e o seu reduzido número de fotos impressas. A presente monografia reflete estas consequências em como faremos uma historiografia no futuro, ante as ameaças de obsolescências no resgate destas imagens.

exPeRiências em memóRia emPResaRial: o caso iBge

Raphael Pavão Rodrigues Coelho e Raíssa de Almeida [email protected]

A História Pública vem se consolidado nos últimos anos enquanto forma de linha de pesquisa. Dentre os variados tipos de utilização desta, o presente artigo se propõe a trabalhar com um dos campos mais comuns hoje em dia, porém nem sempre focalizado: a Memória Empresarial. Há, nos dias de hoje, uma demanda cada vez maior de empresas que investem em pesquisas históricas de diversas formas, utilizando-se da Memória Empresarial como opção. Os exemplos de empresas que utilizam o campo da Memória Empresarial para este fim são inúmeras: Organizações Globo; Banco Itaú, Coca-Cola e Votorantim são algumas que podemos citar.

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2º Simpósio Internacional de História Pública

O uso é, em sua maioria, promovido pelos centros de Memória Institucional das empresas em questão. O objetivo deste artigo é questionar: O que é a Memória Empresarial? Memória Empresarial configura uma oportunidade legitima de trabalho para o historiador? O que faz o historiador em um Centro de Memória? Qual é de fato seu ofício? Qual a importância para as empresas de possuírem um Centro de Memória? Quais são os ganhos que este fornece para o nome das empresas citadas anteriormente? Os principais pontos identificados no presente artigo pretendem ratificar a importância da Memória Empresarial na contemporaneidade e esclarecer, também, sua relação com o ofício do historiador. Como exemplo concreto para o desenvolvimento de nossa discussão, utilizaremos os trabalhos e produções feitas pela equipe de Memória Institucional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

a aRticulação entRe difeRentes saBeRes na constRução de alteRnativas cuRRiculaRes PaRa o ensino de HistóRia no ensino fundamental

Piscila Artte Rosa [email protected]

O presente trabalho objetiva apresentar as práticas e eventos educativos que estão ocorrendo numa escola pública da rede estadual, no município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, desde o ano de 2013. A experiência a ser narrada se refere ao movimento processual e coletivo de construção de alternativas curriculares para a disciplina História no Ensino Fundamental e conta com a participação de diferentes sujeitos que vem agregando saberes com o objetivo de favorecer o surgimento de práticas que constituam o espaço educativo escolar como gerador de cultura e (re)signifiquem a sua função. Articulam-se neste processo a participação da professora de História responsável pela desenvolvimento do trabalho, os licenciandos que cumprem o Estágio Curricular Supervisionado, os bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), o coordenador de área do Projeto Pibid, os estudantes que fazem parte das turmas contempladas e outros que se interessam pelas propostas, e demais sujeitos que podem participar das atividades realizadas. Busca-se, dessa maneira, a criação de formas de enfrentamento da realidade educacional brasileira, tida muitas vezes como inexorável, a partir do encontro das diferentes lógicas e perspectivas sobre a História, valorizando os o saber acadêmico e também saberes outros num movimento dialógico e de emancipação.

“c. e. PRado júnioR, quem é você?” – uma análise soBRe a cRiação do PRojeto memóRia

Luciana da Costa de Santana e Carolina Pelle [email protected]; [email protected]

O trabalho apresenta parte do Projeto Memória do Colégio Estadual Antônio Prado Júnior, elaborado no contexto do Programa de Iniciação à Docência da UFRJ. Esse Projeto tem por objetivo contribuir para o registro de uma memória da comunidade escolar visando não só o fortalecimento de seus laços identitários, bem como a construção de estratégias de ensino que possam promover uma articulação entre o conhecimento histórico escolar e as narrativas

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Perspectivas da História Pública no Brasil

sobre o passado que circulam na comunidade. Para esse fim estão previstos três caminhos metodológicos: o uso da metodologia de História Oral para recolhimento, compilação e análise dos relatos de memória individual e coletiva, o uso da metodologia de oficinas pedagógicas para trabalhar com os estudantes a importância da recuperação da história do colégio e o uso do conceito de História pública para dar continuidade ao recolhimento e tratamento de documentos e fotografias, encontradas no próprio colégio ou em arquivos da cidade e do estado. Desejamos, ao longo do projeto, compreender o ambiente escolar e as relações desenvolvidas por aqueles que o frequentam, no intuito de contribuir para a construção de uma cultura histórica no seio da comunidade escolar.

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Esta obra foi composta no tipo Fineness Pro e impressa pela Porciúncula para o Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI) no ano de 2014. Foram utilizados papel offset 75g/m2

para o miolo e papel Cartão 250g/m2 para a capa.