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1/94 Projecto Educativo dos Caminheiros/Companheiros Manual para dirigentes Setembro de 2008

Projecto Educativo Dos Caminheiros e Companheiros

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Projecto Educativo dos Caminheiros/Companheiros Manual para dirigentesSetembro de 20081/94NOTA PRÉVIAAo longo do presente Manual, sempre que se ler Caminheiro, deve ler-se também companheiro. O mesmo pressuposto deve servir para as restantes nomenclaturas específicas do Escutismo Marítimo, como Companha, para Equipa, Arrais, para Chefe de Equipa, Comunidade, para Clã, ou Campanha, para Caminhada, entre outras.2/94Parte 1 — A Acção PedagógicaA – Os destinatários da acção pedagógica

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Projecto Educativo dos

Caminheiros/Companheiros

Manual para dirigentes

Setembro de 2008

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NOTA PRÉVIA

Ao longo do presente Manual, sempre que se ler Caminheiro, deve ler-se também companheiro. O mesmo pressuposto deve servir para as restantes nomenclaturas específicas do Escutismo Marítimo, como Companha, para Equipa, Arrais, para Chefe de Equipa, Comunidade, para Clã, ou Campanha, para Caminhada, entre outras.

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Parte 1 — A Acção Pedagógica A – Os destinatários da acção pedagógica

Psicologia do jovem - áreas de desenvolvimento pessoal

Para implementar o Projecto Educativo de maneira progressiva e adequada a cada secção, é importante o Animador

conhecer as características específicas de cada grupo etário.

Ainda que o desenvolvimento se processe de forma global e gradual, com ritmo diferente de jovem para jovem, a

caracterização das várias dimensões da personalidade, constituem uma forma de o compreender.

São elas: desenvolvimento físico, desenvolvimento intelectual, desenvolvimento do carácter, desenvolvimento

afectivo, desenvolvimento espiritual e desenvolvimento social.

É importante que as actividades dos caminheiros contemplem todas estas dimensões.

O jovem dos 18 aos 22 anos

A partir dos 18 anos, aproximadamente, os factores sociais, económicos e personalidade são os que influenciam mais

directamente no desenvolvimento do jovem. Assim, os seus interesses, perspectivas, ideias, valores, dependem

bastante dos seus grupos de referência, se vivem em cidades ou meios rurais

Nesta faixa etária, temos estudantes do Ensino Superior e jovens que estão a entrar no mercado de trabalho. Os

segundos são, geralmente, mais maduros na sua maneira e pensar e agir, enquanto que os primeiros são mais

individualistas e de espírito aberto.

No entanto, apesar das diferenças, muitas coisas os unem. E este é sempre um período de crescimento, escolhas,

angústias, ansiedades, alegrias, compromissos...

A vida adulta é um período longo de desenvolvimento, passando o adulto por experiências múltiplas, complexas e

variadas.

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As 6 áreas de desenvolvimento

Desenvolvimento Físico

A nível físico os jovens atingem a sua maturação por volta dos 18 anos. São sexualmente maduros e, nesta fase, o interesse sexual aumenta. Associado à esta maturação sexual e ao aumento da liberdade, vem risco de doenças sexualmente transmissíveisSão, também, preocupantes riscos relativos ao sedentarismo, uma vez que começam a andar mais de carro e transportes públicos e muitas vezes, nesta idade, por começarem a trabalhar ou irem estudar para longe da terra natal, deixam de praticar desporto. Surgem também problemas relacionados com a à má alimentação e aos vícios como o tabaco e a cafeína, uma vez que muitos deles saem de casa e por estarem sozinhos começam a ter horários desregulados, acompanhados de “saltos” de refeições, “noitadas” para estudar

Desenvolvimento Intelectual

Por volta dos 18 anos, os jovens começam a desenvolver um tipo de pensamento adequado à complexidade da vida

adulta.

O jovem compreende e aceita que o conhecimento e os valores são relativos às pessoas e aos contextos. Isto é, o que

é certo para uns, pode ser apenas provável para outros e, altamente incerto para muitos.

A aceitação da contradição caracteriza o pensamento do jovem adulto, ou seja, perante pontos de vista diferentes, o

jovem consegue integrá-los e organizá-los, percebendo de que a contradição nem sempre poder ser resolvida pela

eliminação de um dos pontos de vista em confronto e ainda que a contradição e o conflito longe de serem fontes de

confusão e marasmo, são um potencial constante de clarificação e crescimento.

As várias experiências de vida vão sendo integradas, proporcionado ao jovem o conhecimento necessário para a

resolução dos problemas que vão surgindo, mesmo quando se depara pela primeira vez com tal situação.

Curioso e ainda sem muitas responsabilidades a nível financeiro e familiar, o jovem procura saber sobre temas que lhe

interessam, ter experiências diferentes, valorizando o seu crescimento pessoal.

Desenvolvimento do Carácter

Quando chega a esta faixa etária, o jovem tem, praticamente o seu carácter formado. No entanto, esta nunca é uma

construção fechada, podendo o jovem e o adulto, desenvolver algumas nuances do seu carácter.

Nesta altura, a formação do carácter está, quase, exclusivamente, entregue ao próprio. Já com uma quadro de

valores, o jovem escolhe, conscientemente, as ideias a que quer aderir e põe em prática os valores que professa.

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Desenvolvimento Afectivo

O jovem adulto está, progressivamente, a afastar-se dos pais. A saída de casa (para estudar ou definitiva) pode ser

um choque, pois para além do conforto (físico e psicológico) que a casa dos pais oferece, os contactos familiares

tendem a ser menos frequentes, o que, quando o jovem está menos bem, a enfrentar problemas, pode causar

sofrimento, por não sentir o suporte imediato da família.

No entanto, esta é também uma fase de conflito familiar. Porque ao mesmo tempo que o jovem gosta do conforto

familiar, sente-se, também, asfixiado por ele, tentando e exigindo a sua, cada vez maior, autonomia.

Os amigos e os pares assumem especial importância, quer para os momentos descontraídos, de festa e convívio,

quer para os momentos de crise.

Por estar numa etapa mais madura da sua afectividade, surgem relacionamentos amorosos mais sérios.

Desenvolvimento Espiritual

Se esta é uma idade de muitas dúvidas, é também a idade de muitos esclarecimentos. Passando a fase de maior

rebeldia (durante a adolescência), o jovem adulto é capaz de pensar e discernir sobre o Espiritual. Procura conforto no

seu Deus e há, muitas vezes, uma reaproximação à religião.

Capaz de compreender melhor a história e os princípios da religião que professa, o jovem vive mais intensa e

conscientemente a relação com Deus. Com maior complexidade intelectual, busca respostas para além do que é

visível.

É uma altura de estreitamento da relação com Deus.

As vivências espirituais proporcionadas nesta altura, assumem especial importância para que o jovem possa

desenvolver a Sua espiritualidade.

Desenvolvimento Social

A vida social do jovem atinge o seu ponto mais agitado. Gosta de sair de casa, passear e fazer amigos.

È uma etapa da vida onde os jovens se envolvem em muitas causas sociais, agregam-se a associações, missões e tornam-se mais activistas das causas, principalmente os universitários, pelo próprio meio em que estão inseridos.

No entanto, por descrédito ou desmotivação, pode ocorrer o reverso da medalha e o jovem cair no marasmo, não se interessando pelos seus direitos ou deveres enquanto cidadão.

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B – O projecto educativo que oferecemos

1. Proposta Educativa do CNE

O Escutismo é um movimento de educação não-formal, que contribui para a educação dos jovens através de um sistema de valores, tal como se expressa no documento “A Missão do Escutismo”, Durban 1999:

A partir desta declaração de Missão, as associações escutistas devem elaborar a sua Proposta Educativa, na qual expressam a sua intenção educativa, ou seja, aquilo que podem oferecer aos jovens de uma determinada comunidade e por um determinado tempo.

Com a proposta educativa, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) procura responder às necessidades educativas das crianças e dos jovens, através dos Princípios e do Método escutistas. Ao mesmo tempo, a proposta pretende ser referência para a acção continuada dos animadores adultos e também, um compromisso educativo perante a sociedade.

Sendo um documento aberto e dinâmico, a Proposta Educativa concretiza-se nas actividades características do movimento, que proporcionam a criação e/ou o desenvolvimento de determinadas competências e características nas crianças, nos adolescentes e nos jovens.

A intenção educativa do CNE, adequada ao tempo e à sociedade, está expressa na Proposta Educativa “Educamos. Para quê?”.

EDUCAMOS. PARA QUÊ?

Uma Proposta Educativa do Corpo Nacional de Escutas

O CNE ajuda jovens a crescer… …a procurar a sua própria Felicidade e a contribuir decisivamente para a dos outros. …a descobrir e viver segundo os Valores de um verdadeiro Homem Novo. O CNE procura, através do Método Escutista, ajudar cada jovem a educar-se…

• ...para se tornar consciente do Ser;

- uma pessoa responsável, autónoma e perseverante; justa, leal e honesta

“A missão do Escutismo consiste em contribuir para a educação dos jovens, partindo de um sistema de valores enunciados na Lei e na Promessa escutistas, ajudando a construir um mundo melhor, em que as pessoas se sintam plenamente realizadas como indivíduos e desempenhem um papel construtivo na

sociedade.

Isto é alcançado � envolvendo os jovens, ao longo dos seus anos de formação, num processo de educação não-formal; � utilizando um método original, segundo o qual cada indivíduo é o principal agente do seu próprio

desenvolvimento, para se tornar uma pessoa autónoma, solidária, responsável e comprometida; � ajudando os jovens na definição de um sistema de valores baseado em princípios espirituais, sociais

e pessoais expressos na Lei e na Promessa.”

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- uma pessoa criativa e ousada face aos desafios e que cultiva o espírito crítico de modo a distinguir o essencial - uma pessoa alegre, sensível e compreensiva, consciente de si própria, das suas limitações e potencialidades - uma pessoa solidária e fraterna, que promove o respeito e a tolerância na sua relação com os outros - uma pessoa que assume integralmente o seu compromisso cristão como opção de vida - uma pessoa que respeita o seu corpo como manifestação de vida e com ele se relaciona de forma equilibrada

• ...para se tornar detentor de Saber;

- uma pessoa que reconhece as suas imperfeições e as procura superar de uma forma constante - uma pessoa que busca sempre mais e usa esses conhecimentos para fundamentar as suas decisões, expressando adequadamente as suas ideias

- uma pessoa que valoriza as sua emoções e afectos, vivendo-os em equilíbrio - uma pessoa atenta ao Mundo, no qual identifica o seu papel, valorizando o trabalho em equipa - uma pessoa que procura aprofundar sempre o seu esclarecimento na Fé - uma pessoa que conhece as capacidades e limites do seu corpo, reconhecendo as ameaças ao mesmo

• ...para se tornar preparado para Agir;

- uma pessoa que, comprometendo-se, age de acordo com as suas opções, respeitando os outros e o mundo - uma pessoa empreendedora, activa no desenvolvimento de iniciativas e que cuida da sua própria formação - uma pessoa que cultiva amizades e que vive o amor de uma forma plena, dando disso testemunho em família - uma pessoa que assume o seu papel na comunidade, exercendo a cidadania de uma forma participativa e generosa

- uma pessoa que evangeliza pelo testemunho e pela partilha, no respeito pelas convicções dos outros, contribuindo assim para a construção da paz

- uma pessoa que, reconhecendo o seu corpo como meio para transformar o Mundo, cuida dele em harmonia com o ambiente

O CNE ajuda jovens a crescer... ...para que com o Ser, Saber e Agir se tornem homens e mulheres responsáveis e membros activos de comunidades, na construção de um mundo melhor.

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A Proposta Educativa do CNE “Educamos. Para quê?” foi aprovada no Conselho Nacional Plenário de Maio de 2003.

Este documento é um género de Bilhete de Identidade. ou cartão de visita que pode ser usado:

� Quando se recebe um novo elemento e os Pais querem perceber um pouco melhor o que é o Escutismo e o que o distingue, por exemplo, de um qualquer clube desportivo;

� Nas reuniões de Pais; � Quando se fazem exposições ou folhetos sobre o Escutismo; � Numa reunião com a Autarquia; � Num pedido de apoio financeiro;

Ou ainda em:

� Num momento de formação da Equipa de Animação; � Num jogo sobre valores; � Num jogo sobre as qualidades individuais; � ...

2- Áreas de Desenvolvimento e Trilhos Educativos

O Escutismo considera o desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade das crianças e dos jovens.

As áreas de desenvolvimento são instrumento para a aplicação prática da Proposta Educativa. Na sequência do processo internacional de Renovação de Acção Pedagógica, observadas as intenções do fundador para o Movimento Escutista e englobando todas as dimensões da personalidade humana, foram estabelecidas seis áreas de desenvolvimento pessoal.

São elas:

� Desenvolvimento afectivo a orientação dos afectos e a valorização pessoal

� Desenvolvimento social o encontro e a partilha com os outros � Desenvolvimento intelectual o estímulo à exploração e criatividade � Desenvolvimento físico o conhecer e desenvolver o corpo � Desenvolvimento do carácter as atitudes e o ser mais � Desenvolvimento espiritual o sentido de Deus

Em cada uma das áreas de desenvolvimento pessoal estão identificadas prioridades educacionais – três trilhos educativos – que tomam em conta as necessidades e aspirações das crianças, dos adolescentes e dos jovens em particular – os objectivos educativos. Entende-se por trilho educativo os caminhos de crescimento a trabalhar em cada área, dos quais se definem os objectivos de crescimento a atingir no final do tempo vivido na secção.

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Na IV secção, não se utilizam os Trilhos Educativos. Os caminheiros são convidados a escolher directamente os objectivos que pretendem alcançar em determinado momento. Assim, aumenta-se a liberdade de escolha do jovem e permite-se uma maior sintonia destas escolhas com o seu PPV. Devido à sua maturidade, acredita-se que o caminheiro é capaz de escolher, em consciência, o seu percurso, sem necessitar da estruturação que os trilhos oferecem.

Áreas Trilhos Os objectivos relacionam-se com:

Área de Desenvolvimento Intelectual

Área de Desenvolvimento

Físico

Área de Desenvolvimento do Carácter

Área de Desenvolvimento Espiritual

Área de Desenvolvimento

Social

Área de Desenvolvimento

Afectivo

Relacionamento e sensibilidade

Equilíbrio emocional

Auto-estima

Exercer activamen-te a cidadania

Cooperação e Solidariedade

Interacção

Procura do conhecimento

Resolução de problemas

Expressão/Comuni-cação

Desempenho

Bem-estar físico

Auto-conhecimento

Autonomia

Responsabilidade

Coerência

Descoberta

Vivência

Serviço

auto-expressão; intereducação; valorização da família; opção de vida; sentido do belo e do estético

saber lidar com as emoções (controlar/ exprimir); manter um estado interior de liberdade; maturidade

conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se

direitos e deveres; tolerância social; intervenção social

serviço; espírito de equipa; interajuda

assertividade; assumir o seu papel nos grupos de pertença

desejo de saber; procura e selecção de informação; iniciativa; auto-formação

capacidade de análise e síntese; utilização de novas técnicas e métodos; selecção de estratégias de resolução; análise crítica da solução encontrada; capacidade de adaptação a novas situações

apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso adequado

rentabilizar e desenvolver as suas capacidades; destreza física; conhecer os seus limites; habilidade manual

manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição; evitar comportamentos de risco

conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu processo de maturação

tornar-se independente; capacidade de optar; construir o seu quadro de referências

ser consequente; perseverança e empenho; levar a bom termo um projecto assumido

viver de acordo com o seu sistema de valores; defender as suas ideias

disponibilidade interior; interiorização progressiva; busca do transcendente no específico cristão

dar testemunho pelos actos do dia-a-dia; viver em comunidade; estar aberto ao diálogo inter-religioso

integração e participação activa na Igreja; participar na construção de um mundo novo; evangelização

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C – Como implementar?

— As sete Maravilhas do Método O Movimento Escutista tem uma missão definida que passa por educar, promovendo o desenvolvimento das crianças, dos adolescentes e dos jovens através de actividades recreativas e de serviço, de modo harmonioso com a sua própria personalidade e com a comunidade em que vive.

A sua finalidade é “contribuir para o desenvolvimento dos jovens ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e espirituais, quer como pessoas, quer como cidadãos responsáveis e quer, ainda, como membros das comunidades locais, nacionais e internacionais.”

In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo I

De que forma consegue o Movimento Escutista atingir a sua finalidade? Consegue fazê-lo através do sistema criado por B.-P., entretanto apurado e aprofundado durante quase um século, a que vulgarmente se dá o nome de Método Escutista. Este método, a nossa forma de educar, é único e genial e tem dado provas disso mesmo ao longo dos seus cem anos de existência. Sem ele, não se pode verdadeiramente fazer Escutismo

O Método Escutista é um sistema de auto-educação progressiva, baseado em: • Uma Promessa e uma Lei. • Uma educação pela acção. • Uma vida em pequenos grupos (por exemplo a patrulha), envolvendo, com o auxílio e o conselho de adultos, a descoberta e a aceitação progressiva de responsabilidades pelos jovens e uma preparação para a autonomia com vista ao desenvolvimento do carácter, à aquisição de competências, à confiança em si, ao serviço dos outros e à capacidade quer de cooperar, quer de dirigir. • Programas de actividades variados, progressivos e estimulantes, baseados nos interesses dos participantes, incluindo jogos, técnicas úteis, e a realização de serviços à comunidade; estas actividades desenrolar-se-ão, principalmente, ao ar livre, em contacto com a natureza.

In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo III

Vemos assim que o Método Escutista, a partir da forma natural como os jovens se relacionam, permite explorar diferentes opções educativas, realçando o que eles aprendem uns com os outros e potenciando verdadeiras experiências educativas, tais como:

- Alargar horizontes: o campo de acção e de experimentação do jovem vai aumentado à medida que cresce; - Transportar o jovem da imaginação à realidade: os heróis e heroínas não existem só em lendas, mas são indivíduos de carne e osso, o mundo fictício das histórias desafia a exploração do mundo real;

- Proporcionar o crescimento em pequenos grupos: a relação com os pares e o assumir de responsabilidades são componentes essenciais de um ensaio para a vida futura em sociedade;

- Contribuir para a interiorização de regras sociais (através do jogo e dos valores universais), ajudando a desenvolver um código de conduta próprio ao qual voluntariamente se adere;

- Incentivar a ser cada vez mais e melhor, desafiando limites e estabelecendo novas metas a alcançar; - Arriscar num ambiente privilegiado onde as conquistas e os erros possuem igual valor pedagógico: a correcta aplicação do método proporciona a criação de um espaço seguro onde os jovens aprendem, erram e voltam a aprender numa dinâmica de crescimento;

- Construir uma relação de confiança com alguém que ajuda, prepara, apoia, encoraja, aconselha e educa. .

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Identificadas as bases do Método Escutista e traçado o caminho para lá chegar, faltará apenas caminhar… E o caminho possui sete características essenciais de que não podemos abdicar e que consideramos maravilhosas, por constituírem a base do Método Escutista. São as “Sete Maravilhas do Método Escutista”:

Nos caminheiros, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser aplicada de modo distinto das outras secções, de acordo com as características próprias da cada faixa etária e tendo em conta o grau de autonomia, de maturidade e de responsabilidade de cada jovem..

Bibliografia para aprofundar:

- Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista - Estatutos e Regulamentos do CNE - “As características essenciais do Escutismo” – Documento de referência para apoio à elaboração do PEP – Plano Estratégico Participativo do CNE e da RAP – Renovação da Acção Pedagógica.

Sistema de progressão pessoal

Aprender fazendo

Mística e

Simbologia

Vida na

Natureza

Relação jovem/adulto

Sistema de

Patrulhas

Lei e

Promessa

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1 – Sistema de patrulhas

O sistema de patrulhas, tal como B.-P. o idealizou, assenta na divisão de rapazes e raparigas em pequenos grupos –Equipa (no caso dos caminheiros) –, dentro dos quais estabelecem relações e são chamados a assumir diversas tarefas para a promoção do bem-comum. Um dos elementos assume a direcção e cada um dos restantes é chamado a desempenhar funções específicas, que permitem a cada um contribuir para o bem geral. Esta divisão de tarefas incentiva, assim, a co-responsabilidade e permite a aprendizagem da democracia e da solidariedade. Ao mesmo tempo, possibilita também a compreensão do papel do líder e da importância de uma boa e equilibrada liderança para o desenvolvimento do grupo.

Vivência e valor pedagógico

É o Sistema de Patrulhas que faz das Unidades e, por conseguinte, de todo o Escutismo, um verdadeiro esforço de cooperação. Faz dele um método de educação natural e não formal, onde cada jovem, com as suas particularidades e curiosidades muito pessoais, cresce com os outros e entre eles. Os seus pares passam a ser por si reconhecidos pela vivência conjunta e pela prática da Lei do Escuta.

É fomentada a ideia de que o valor individual de cada Escuteiro deverá estar sempre ao serviço da Equipa e, consequentemente, da Unidade, sendo que cada um trabalha segundo as suas forças e recebe segundo as suas necessidades.

Assim sendo, a Equipa, não é mais do que uma sociedade, um grupo de rapazes e raparigas, unidos por ideais e objectivos comuns e regidos pela mesma lei – a Lei do Escuta. Na Equipa, os jovens poderão e deverão viver juntos experiências inesquecíveis e realizar actividades de serviço. A Equipa é uma “micro-sociedade”, onde cada escuteiro desempenha um papel. Ao assumir a responsabilidade de determinadas tarefas no seio da Equipa, o Caminheiro torna-se responsável por si mesmo e... cresce!

Na vida de cada um destes pequenos grupos, no seu funcionamento regular, são promovidos valores como o da liderança responsável, da democracia, da co-responsabilidade, da solidariedade, do trabalho em equipa, através da divisão de tarefas.

O Sistema de Patrulhas proporciona ainda a perda da perspectiva egocêntrica, e permite aos jovens a criação de hábitos de divisão de tarefas e bens. Este sistema une os jovens num ideal comum, repleto de camaradagem, cumplicidade e amizade.

O Sistema de Patrulhas é o principal motor do Escutismo, permitindo a cada Escuteiro encontrar o seu lugar entre os outros

Baden-Powell Hoje – pistas para um educador no Escutismo

Bibliografia para aprofundar:

- O Sistema de Patrulhas, de Roland Philipps - Escutismo para Rapazes, de Baden-Powell - Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, dos Scouts de France

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Organização

Quadro-síntese:

I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção

Designação do elemento e sua idade

Lobito (a)

- Crianças dos 6 aos 10 anos

Explorador (a)

- Crianças e adolescentes dos 10 aos 14 anos

Pioneiro (a)

- Adolescentes e jovens dos 14 aos 18 anos

Caminheiro (a)

- Jovens dos 18 aos 22 anos

Designação do pequeno grupo e suas característic

as

Bando

- 4 a 8 lobitos - Aconselha-se mistos - Identificado por uma de cinco cores: Branco, cinzento, preto, castanho e ruivo - Liderados por um Guia de Bando

Patrulha

- 4 a 8 exploradores - Aconselha-se mistos - Identificada por nome de animais - Liderados por um Guia de Patrulha

Equipa

- 4 a 8 pioneiros - Aconselha-se mistos - Identificada por nome de animal, ou de Santo da igreja, ou um benemérito da Humanidade ou herói nacional. - Liderados por um Guia de Equipa

Equipa

- 5 a 10 caminheiros - Aconselha-se mistos - Identificada por nome de Santo da igreja, ou um benemérito da Humanidade ou herói nacional. - Liderados por um Chefe de Equipa

Designação da Unidade

Alcateia (2 a 5 bandos)

Grupo explorador (2 a 5 patrulhas)

Grupo pioneiro (2 a 5 equipas)

Clã

(Entre 10 e 32 caminheiros)

Designação do local de reunião

Covil

Cabana

Abrigo

Base

Designação do Projecto

Caçada

Aventura

Empreendimento

Caminhada

Continua…

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Constituição

a) Nome

As Equipas, são um pequeno grupo de elementos que partilha ideais, tradições e responsabilidades, criando-se uma identidade própria. Daí que todas as Equipas tenham um patrono – nome de uma individualidade, escolhida pela Equipa – que as identifica e que as distingue dentro do Clã.

O patrono de equipa dever ser um santo da Igreja, benemérito da Humanidade ou herói nacional, com o qual a Equipa se identifique, que saiba a sua vida e siga como exemplo

Quadro-síntese:

… Continuação

Especificidades do Escutismo Marítimo

I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção

Designação do elemento e sua idade

Lobito (a)

- Crianças dos 6 aos 10 anos

Moço (a)

- Crianças e adolescentes dos 10 aos 14 anos

Marinheiro (a)

- Adolescentes e jovens dos 14 aos 18 anos

Companheiro (a)

- Jovens dos 18 aos 22 anos

Designação do pequeno grupo e suas características

Bando

- 4 a 8 lobitos - Aconselha-se mistos - Identificado por uma de cinco cores: Branco, cinzento, preto, castanho e ruivo - Liderados por um Guia de Bando

Tripulações

- 4 a 8 moços - Aconselha-se mistos - Identificada por nome de animais - Liderados por um Timoneiro

Equipagens

- 4 a 8 marinheiros - Aconselha-se mistos - Identificada por nome de animal, ou de Santo da igreja, ou um benemérito da Humanidade ou herói nacional. - Liderados por um Mestre

Companhas

- 5 a 10 companheiros - Aconselha-se mistos - Identificada por nome de Santo da igreja, ou um benemérito da Humanidade ou herói nacional. - Liderados por um Arrais

Designação da Unidade

Alcateia (2 a 5 bandos)

Flotilha

(2 a 5 tripulações)

Frota

(2 a 5 equipagens)

Comunidade (Entre 10 e 32 companheiros)

Designação do local de reunião

Covil Cabana Abrigo Base

Designação do Projecto

Caçada

Expedição

Cruzeiro

Campanha

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Exemplo: - Santo da Igreja: Santa Zita - Benemérito da Humanidade: Jean Henri Dunant - Herói nacional: Aristides de Sousa Mendes

b) Número de elementos

Muito embora não se possa definir o número ideal de elementos de uma equipa, a experiência recomenda que esse número esteja compreendido entre 5 a 8 elementos. Isto por uma questão de funcionamento – haverá tarefas para o sucesso do trabalho da equipa que terão de ser feitas –, mas, também, por uma questão de convenção – para melhor funcionamento e harmonização colectiva.

Acontece, no entanto, que, se no Clã, por determinada razão, só existem 9 elementos, terá de arranjar-se uma solução enquanto não cresce o conjunto. Assim, aceita-se que em casos excepcionais haja uma divisão e uma equipa possa ser constituída por 4 elementos. Note-se, no entanto, que essa deve ser encarada como uma solução de contingência, a prazo, e não a melhor solução do ponto de vista pedagógico.

c) – A construção das Equipas O género Consideram-se mistas as Equipas constituídas por elementos de géneros diferentes. Há vantagens na constituição mista da Equipa. Senão vejamos: Se o Clã é misto, e se dessa heterogeneidade resulta uma aprendizagem, será natural que os elementos também se queiram juntar da mesma forma as Equipas;

Todavia, caberá à Equipa de Animação analisar costumes, culturas, temores, e assim, ao avaliar a sua realidade decidir sobre qual o melhor método a adoptar.

Ainda que o caminho passe pela implementação de Equipas mistas, há que salvaguardar e acautelar que, em acampamento, a tenda seja vista como um espaço de intimidade em que a privacidade dos géneros deverá ser conservada. E que numa equipa nunca deve estar, de um determinado género, um elemento sozinho.

A idade

Consideram-se verticais as Equipas constituídas por elementos de diferentes idades. Denominam-se por Equipas horizontais as que incluem todos os elementos com a mesma idade.

Sugestão:

- Para a escolha de nomes de santos da Igreja, beneméritos da Humanidade ou heróis nacionais, há listas de sugestões no sítio oficial do CNE.

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O aconselhamento pedagógico vai para a preferência pelo modelo vertical. De facto, uma Equipa que integra jovens de diversas idades é encarada como o mais positivo. É certo que esta heterogeneidade poderá criar obstáculos no seio da Equipa, pela diferença de interesses ou estágios de maturidade em que cada um deles se pode encontrar, mas, por outro lado, poderá trazer também enormes benefícios, dos quais destacamos o acompanhamento dos mais novos por parte dos mais velhos e a partilha do conhecimento. De facto, compete aos mais velhos, olhados como exemplo a seguir, ensinar e orientar os mais novos e dar testemunho dos costumes que vão sendo construídos no seio da Equipa. Assim se estimula a solidariedade e se mantêm as tradições, que vão permitir a conservação da memória colectiva e a formação de espírito de corpo ao longo da vida.

Menos vulgar, e a ser utilizada apenas em casos de necessidade, é a implementação do modelo horizontal que, por sua vez, integra jovens da mesma idade e que estão todos na mesma fase de desenvolvimento. Isto vai facilitar a integração dos elementos na Equipa (uma vez que partilham interesses), mas tem grandes desvantagens. Por um lado, quando se dá a passagem simultânea de todos os elementos para a secção seguinte extingue-se a equipa e não houve lugar à aprendizagem colectiva e à transmissão de tradições da Equipa. Por outro lado, nos jogos e competições sadias, e porque não há equilíbrio de idades, as Equipas com elementos mais velhos têm mais probabilidades de terem melhor desempenho que as Equipas mais novas, perdendo-se os valores da solidariedade e da fraternidade. Por fim, a estratégia do ‘irmão mais velho’, que orienta e ensina, é impossível de implementar, dado que não há diferenças etárias.

Os jovens criam empatias e laços de amizade com relativa facilidade, o que pode facilitar em muito a integração de novos elementos, sejam eles noviços ou aspirantes. Em ambos os casos, deverá dar-se “espaço” ao Clã e aos novos elementos a integrar para que possam, de forma espontânea e informal, criar essas relações de amizade e assim, se integrarem naturalmente. Pese embora esta “aproximação” natural, a distribuição de novos elementos pelas equipas deverá ser, sempre, da responsabilidade da Equipa de Animação, ouvido o Conselho de Chefes de Equipa.

d) – O espírito de equipa

São várias as imagens que podem utilizar-se para ilustrar a valia pedagógica e o que se entende por espírito de Equipa, ou aquilo que vulgarmente se chama de espírito de corpo – a rede de identidades, de cumplicidades, de hábitos e tradições que dão coerência e são factor de unificação dos elementos de um determinado grupo.

O espírito de equipa quer dizer que cada um dos membros da Equipa sente que é parte essencial de um todo completo e uno – um corpo que a cada membro cumpre executar o seu papel individual com o fim de se atingir a perfeição e plenitude do conjunto.

Roland Philipps, in O Sistema de Patrulhas, página 25

Sugestão:

- Porque não transformar a formação das Equipas num jogo? - Observas a constituição do Clã e numa folha escreves, como se fossem regras, obrigatoriedades que é preciso cumprir para fazer a equipa. Podes pôr critérios de idade e de género… mas também de interesses, estéticos, de características físicas, etc. Até pode ter sido a Equipa de Animação a fazer as equipas, mas eles podem sempre pensar que foram eles que, naquele jogo, o fizeram. – No caso de necessidade de reestruturação do Clã ou da entrada de muitos noviços e/ou aspirantes - Feira de Equipas – As Equipas tentam “vender-se” aos novos elementos. Cada Equipa deve apregoar-se, de modo a convencer os “clientes” a fazerem parte dela. - No caso da entrada no Clã de poucos noviços e/ou Aspirantes.

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Pode dizer-se que uma Equipa se assemelha a um corpo humano: cada órgão e cada membro tem a sua função e todos funcionam para o mesmo objectivo, mas, se um deles adoece, todo o corpo sofre com isso e deixa de funcionar perfeitamente. São Paulo, na Carta aos Romanos (Rm 12, 3-8) utiliza exactamente essa mesma imagem.

O mesmo se passa com uma Equipa que não tenha espírito de corpo: se os seus elementos não fazem ou sentem que não fazem parte de coisa nenhuma vão desmotivar-se e a Equipa vai deixar de funcionar.

Para que esse espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a dois tipos de acções:

• Utilizar e incentivar todas as características do trabalho em equipa que a Equipa promove: a divisão de tarefas, a democracia interna para decisão de interesses comuns, a co-responsabilização, o debate, etc. Toda a responsabilidade individual, se for devidamente assumida, une e fortalece.

• Recorrer, mostrar ou dar a descobrir aos Caminheiros as ferramentas pedagógicas (objectos, símbolos e tradições) em que o Escutismo é riquíssimo e que foram idealizadas com vista à distinção e promoção da identidade das Equipas. Algumas são sugeridas por B.-P. nas várias publicações e intervenções que fez e outras foram nascendo com o tempo

Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Equipa

- Patrono

Patrono é o nome da individualidade que cada Equipa escolhe para servir de seu nome, a identificação primária e mais básica. Dessa escolha resulta o uso do nome mas devem ser assumidas, também, as suas vivências, as qualidades e virtudes que lhe estão comummente atribuídas. Os caminheiros devem ser capazes de reconhecer os méritos e os factores de notabilidade da vida da personalidade escolhida.

- Divisa ou Lema Frase escolhida de acordo com o nome da Equipa e que deverá fazer referência às características mais evidentes do Patrono. Esta frase deve exprimir e ser encarada como o objectivo que a Equipa pretende alcançar. Canto da Equipa Sempre que possível, deve existir na Base um local exclusivamente reservado à Equipa e a que só ela e a chefia podem aceder. Este canto é da responsabilidade da Equipa e pode estar organizado e decorado como ela entender. Deve, no entanto, exigir-se asseio e ordem. O canto pode incluir, entre outras coisas, espaço para os materiais da Equipa (cordas, ferramentas, material escolar, etc.), quadros variados (de informações, de nós, de presenças, com colecções), local para arrumar as varas, decoração relacionada com os Patronos, etc.

Bibliografia para aprofundar:

- O Sistema de Patrulhas, de Roland Philipps - Escutismo para Rapazes, de Baden-Powell - Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, dos Scouts de France - Regulamento Geral do CNE - Mística e Simbologia no CNE

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Cargos e funções dos seus membros

O Sistema de Patrulhas, tal com B.-P. o pensou, aposta amplamente na atribuição de cargos individuais. Assim se entrega a cada Caminheiro a execução de uma tarefa pessoal dentro da Equipa. Responsabilizado, desta forma, perante os outros no que concerne à sua actuação, ele sente-se indispensável à Equipa e conquista um lugar de importância junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança da sua Equipa (ao acudir a um ferido, é ao socorrista que cabe a tarefa de chefiar a patrulha, etc.) e deve revelar espírito de iniciativa e criatividade na resolução dos problemas.

Esta divisão de tarefas permite que os jovens aprendam progressivamente a desempenhar diversos papéis de forma responsável e se preparem para a vida.

Será esse um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Patrulhas: que cada Escuteiro cresça consciente do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por base a alegria, o respeito pelos outros, a partilha e a fraternidade. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização pessoal que servirão de pilares para a vida.

O desempenho de um cargo no seio da Equipa ou de uma função na Caminhada constitui uma oportunidade de ouro para progredir. Isto porque o exercício de cargos e funções privilegia o crescimento em várias áreas.

O Cargo

Dentro da Patrulha, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este constitui uma forma de motivar a participação do escuteiro e de desenvolver o seu sentido de responsabilidade individual e de utilidade para o bem-estar dos outros.

Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos:

Chefe de Equipa,

Chefe de Equipa Adjunto,

Secretário,

Tesoureiro,

Guarda de material.

O fim principal do sistema de patrulhas é atribuir verdadeira responsabilidade a tantos rapazes quantos for possível. O sistema mostra a cada rapaz a sua responsabilidade pessoal no bem da patrulha e leva cada patrulha a reconhecer que tem responsabilidade bem definida no progresso de todo o Grupo.”

Rasto do Fundador - pág139

CARGO

Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de forma fixa e estável ao longo de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, animador, etc.).

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Poderão ainda ser desempenhados os cargos complementares de

Animador,

Socorrista,

Intendente

Informático.

Nos caminheiros, o único cargo que implica o uso da insígnia correspondente é o de Chefe de Equipa

Os cargos de Tesoureiro e Secretário de clã também são desempenhados por caminheiros.

De notar que o exercício de um cargo privilegia sempre o crescimento numa determinada área de desenvolvimento, podendo ainda potenciar o aperfeiçoamento de outra áreas. Nesta medida, o cargo é uma ferramenta específica que a equipa de animação poderá utilizar para desenvolver cada elemento em determinada direcção.

Na atribuição de cargos aos elementos de cada patrulha, dever-se-á ter em conta:

a) Os cargos devem ser exercidos de forma rotativa, para que os Caminheiros ampliem os seus conhecimentos e competências nas diversas áreas de desenvolvimento;

b) Não é desejável que o escuteiro desempenhe mais do que um cargo na sua Equipa, na medida em que isto implica uma acumulação excessiva de responsabilidades. É sobretudo importante evitar que o Chefe de Equipa acumule outro cargo dentro da Equipa, já que deve estar concentrado na coordenação dos seus elementos. A única excepção a esta regra é o cargo de hefe de Equipa Adjunto, que permite a acumulação com outro cargo.

c) Cada escuteiro deve desenvolver ao máximo as suas capacidades no desempenho de um cargo único, devendo, para isso, procurar saber mais sobre as responsabilidades que lhe são inerentes ao longo do período de tempo em que o detém.

Cargos básicos

1. Chefe de Equipa

“O grupo ou bando é a unidade natural entre os rapazes, quer para a brincadeira, quer para o mal, e o rapaz de carácter mais decidido entre eles é geralmente escolhido para chefe.”

Baden-Powell, in O sistema de patrulhas, p. 7 (introdução)

Sugestão:

A equipa de animação deverá considerar a oportunidade em organizar ateliers para cada um destes cargos, recorrendo, por exemplo, aos jovens que desempenharam esses mesmos cargos no ano anterior, a outros dirigentes, pais, etc. As actividades da secção devem também contemplar a possibilidade de explorar as diversas tarefas inerentes a cada cargo (podem até ser criadas actividades específicas para aprofundar cada um).

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Um dia perguntaram a Baden-Powell que cargo escolheria, no Escutismo, se não fosse Chefe Mundial. Ele respondeu: “Se me permitissem escolher, escolheria o de Guia de Patrulha”.

Pistas para o Guia de Patrulha (J. Marques da Silva, Edições Flor de Lis, 1970)

O cargo de Chefe de Equipa é bastante importante, pela capacidade de liderança que implica. De facto, num Clã onde é correctamente implementado o sistema de patrulhas, o Dirigente tem nos Chefes de Equipa grandes aliados na condução do grupo: ele actua como intermediário entre a equipa de animação e os restantes escuteiros e é a ele que compete (e nunca ao Dirigente) a liderança da equipa.

Ao Chefe de Equipa compete:

- Dirigir e animar a sua equipa,

- Distribuir tarefas e cargos.

- Representar a Equipa nos Conselhos de Chefes de Equipa.

- Nomear o Chefe de Equipa Adjunto, depois de ouvida toda a Equipa.

Este ‘poder’ que o cargo de Chefe de Equipa tem, atrai muitos elementos da Equipa, que aspiram a vir a exercer tarefas contínuas de liderança, assim como a responsabilidade inerente afasta também bastantes.

No entanto, e pelas consequências negativas que uma má escolha acarreta, há que ter especial atenção à sua eleição, que deve ser secreta. De facto, um mau Chefe de Equipa, incapaz de liderar, de assumir a Lei ou de assumir responsabilidades, dá origem a equipas fracas, desmotivadas, desorganizadas ou que não conhecem o espírito de Equipa.

Apesar deste cuidado, não deve ser o dirigente a impor a sua escolha à Equipa, embora deva ter em atenção, por exemplo, a necessidade de ter elementos de ambos os sexos na chefia das Equipas. Na medida do possível, devem ser os elementos a escolher o seu Chefe de Equipa , embora, para isso, possam contar com indicações do chefe sobre o perfil que ele deve possuir. Este perfil não deve impedir o líder natural da patrulha de ascender ao cargo.

Sugestão:

Quando necessita de dar uma ordem ou informação, o dirigente deve sempre comunicá-la aos Chefes de Equipa para que estes a façam chegar às suas Equipas. Nunca deve falar para o grande grupo como se tivessem todos o mesmo papel: se o fizer, que valor dá aos chefes de equipa?

Estudo de caso:

Uma Equipa escolheu como Chefe de Equipa o seu líder natural que, por acaso, não tem um comportamento exemplar. Compete à Equipa de Animação, nestes casos, encontrar estratégias para que esse Chefe de Equipa sinta a importância do cargo e melhore a sua conduta até se tornar um exemplo a seguir. Muitos escuteiros com condutas pouco adequadas têm apenas falta de auto-estima e, como não querem perder o cargo (através do qual adquirem uma importância que nunca tiveram), respondem muito bem ao reforço positivo e à exigência dos Dirigentes.

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As qualidades de chefia são em parte naturais e em parte adquiridas. As qualidades naturais são importantes, pois que, por muito excelente que um rapaz seja, não pode ter a esperança de vir a ser Guia deveras eficiente, se não possuir uma parcela daquela qualidade especial – daquele magnetismo pessoal…

Roland Philips, O sistema de patrulhas, p. 13

Para evitar más lideranças, o Dirigente deve promover momentos de formação para os seus Chefes de Equipa. Estes momentos podem passar por encontros de Chefes de Equipas ou podem surgir nos Conselhos de Chefes de Equipa. Apesar disto, pode haver necessidade de destituir o Chefe de Equipa – ou pela equipa ou pela equipa de animação. Este acto deve ser bem ponderado, mas não deve ser evitado caso se conclua que, de facto, é o melhor para a equipa e para o elemento.

O Caminheiro Guia Para além do Chefe de Equipa, o Clã ainda pode ter um Caminheiro Guia, que deve ser eleito, por voto secreto individual, em Conselho de Clã. O seu mandato termina no final do ano escutista no decorrer do qual foi eleito, mas pode ser interrompido por decisão do próprio ou por determinação do Conselho de Chefes de Equipa. Apesar de a sua existência não ser obrigatória, para o Chefe de Unidade, o Caminheiro Guia é uma grande mais valia, uma vez que ele é o elo de ligação entre as Equipas e a Equipa de Animação, exercendo funções de liderança e aconselhamento. Para além disto, representa todo o Clã e coopera com todos os Chefes de equipa na interpretação das dificuldades e valências de cada um dos elementos. Por esta razão, deve ser um exemplo a seguir para os outros, tanto na sua postura, como no seu Progresso Pessoal. Para além disto, deve revelar capacidades de liderança e organização. Ao Caminheiro Guia compete:

• Presidir ao Conselho de Chefes de Equipa. • Auxiliar a Equipa de Animação em todas as actividades do Clã. • Incentivar, apoiar e monitorizar a evolução dos elementos no Sistema de Progresso. • Transmitir à Equipa de Animação a sua perspectiva do que se passa nas Equipas. • Identificar problemas de liderança nas Eqipas, partilhando-os com o Chefe de Clã. • Aconselhar os Chefes de Clã, nomeadamente em questões que digam respeito à liderança das Equipas.

É essencial que o Caminheiro Guia:

• Respeite os Chefes de Equipa, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos. • Procure um equilíbrio constante entre a disponibilidade necessária para o exercício do seu cargo e todas as obrigações para com a família, escola e igreja.

• Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar-se a si próprio.

2. Chefe de Equipa Adjunto

O Chefe de Equipa é acompanhado, na sua função de liderança, pelo seu Adjunto, um elemento da equipa que também o substitui, em caso de ausência. Esta função reveste-se de especial importância, na medida em que a gestão da equipa nem sempre é fácil.

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Para que entre o Chefe de Equipa e o seu adjunto haja um espírito forte de união e cooperação, é essencial que ambos se conheçam bem. Por essa razão, o Chefe de Equipa Adjunto não deve resultar de uma imposição do Dirigente ou de uma eleição da equipa: deve ser uma escolha pessoal do Chefe de Equipa, que tende naturalmente para seleccionar um amigo ou um elemento com quem tem maior afinidade. Assim se promove a complementaridade e interajuda.

“A tarefa de dirigir uma Patrulha é tão importante que não se poderá esperar que um rapaz a desempenhe só por si. (…) O Sub-Guia é um rapaz escolhido pelo Guia para seu ajudante. É essencial que o Guia e o Sub-Guia trabalhem em íntima colaboração. O Chefe que escolhe os Sub-Guias comete um erro.”

Roland Philips, O sistema de patrulhas, p. 14

Compete ao Chefe de Equipa Adjunto auxiliar o Chefe de Equipa em todas as suas tarefas, acompanhando-o de forma próxima não apenas para o apoiar, mas também para ir desenvolvendo as suas capacidades de chefia. Como este cargo é subsidiário, o elemento que o desempenha pode acumulá-lo com outras funções dentro da equipa.

3. Secretário

É o especialista da Equipa na área da comunicação, escrita, oral e audiovisual. Terá como principais atribuições:

- Redigir e expedir as convocatórias da Equipa;

- Arquivar os documentos da Equipa;

- Tratar de toda a correspondência da Equipa (cartas, faxes, mails).

- Fazer as actas das reuniões

4. Tesoureiro

É o especialista da Equipa na área da intervenção económica. Terá como principais atribuições:

- Escriturar o livro de quotas (ou folha de cálculo, se assim preferir) e demais receitas da Equipa e recolha das mesmas;

- Orçamentar as actividades da Equipa, bem como o respectivo controlo orçamental;

- Planificar as campanhas de angariação de fundos da Equipa.

5. Guarda-material

É o perito da Equipa na conservação do seu material e equipamento. Terá como principais atribuições:

- Inventariar e catalogar o equipamento e material da Equipa;

- Cuidar do equipamento e material da Equipa;

- Controlar as saídas de equipamento e material da Equipa, bem como o seu estado de conservação;

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- Fazer o levantamnto do equipamento e material necessário à Equipa;

- Requisitar o equipamento e material para as actividades de Equipa.

Cargos complementares

1. Animador É o guardião das tradições da Equipa. Tem como principais atribuições: - Coordenar as cerimónias e rituais da Equipa; - Preparar os novos elementos da Equipa para estas cerimónias e rituais; - Transmitir o historial da Equipa; - Coordenar a encenação das actividades da Equipa; - Planificar e coordenar o protocolo da Equipa .

2. Socorrista

É o técnico de saúde da Equipa. Terá como principais atribuições:

- Equipar e cuidar da farmácia da Equipa;

- Tratar as pequenas feridas dos elementos da Equipa, quando em actividade;

- Zelar pela higiene e segurança física da Equipa nas actividades.

3. Intendente

É o especialista da Equipa na área gastronómica. Terá como principais atribuições:

- Elaborar a lista dos produtos alimentares necessários para a alimentação da Equipa, bem como a sua aquisição e/ou requisição ao Clã;

- Cuidar e enriquecer o ficheiro gastronómico da quipa (ementas, receitas e riqueza nutritiva destas).

4. Informático É o especialista da Equipa no relacionamento com pessoas e entidades exteriores. Terá como principais atribuições:

- Estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades exteriores; - Reunir informação relativa a locais de realização de actividades (informação histórica, cultural);

- Manter informações sobre a Equipa na Internet; (ex:Site da Equipa, Blog, Hi5, Mailing List, Etc.)

- Gerir todos os Ficheiros Informáticos usados na Equipa (ex: Documentos, Imagens, Cartazes, Fotografias)

- Gestão da mailling list; - Fazer as apresentações multimédia que a Equipa necessite;

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Em resumo, os cargos caracterizam-se por:

Desempenho de um cargo

Ao longo do ano

Duração do cargo 6 meses a 1 ano

Distribuição dos cargos Pelo Chefe de Equipa eleito

Recomenda-se 1 cargo por jovem

Cargos básicos Chefe de Equipa, Chefe de Equipa Adjunto, Secretário, Tesoureiro, Guarda de material

Cargos complementares Animador, Cocorrista, Intendente, Informático

A Função

Durante uma Caminhada específica, poderão surgir, caso a caso, necessidades de organização ou de realização de tarefas que impliquem o exercício de funções.

Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras: Secretário, Repórter, Financeiro, Guarda do material, Animador, Cozinheiro, Ambientalista, Socorrista, Intendente, Informático, Encarregado das construções, Treinador, etc.

Também elas, à semelhança dos cargos, estão intimamente ligadas a determinadas áreas de desenvolvimento, podendo ser usadas como ferramentas de auxílio à progressão de cada elemento.

Quadro ilustrativo de funções

Função Área principal

Outras áreas

Breve descrição

Secretário Intelectual Carácter Social

Tem gosto pela escrita, e normalmente é um elemento organizado. Coordena painel de actividade, registar os acontecimentos e preparar o relatório

Repórter Intelectual Carácter Social

Documentar actividade (fotos e texto) Coordenar jornal de parede ou de papel. Pode ainda fazer a ligação às novas tecnologias e preparar uma apresentação com vídeo ou fotografias

Relações públicas Intelectual Carácter Social

Coordenar contactos com exterior da Equipa(outrasEquipas, secções, grupos, agrupamentos, entidades, etc)

FUNÇÃO

Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada elemento. Assim, por exemplo, numa Caminhada que contemple um acampamento, poderá haver necessidade de existirem um ou mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, financeiro, socorristas, etc. É possível que cada elemento desempenhe mais do que uma função (o Guarda de material pode ser também o Encarregado das construções, o Animador pode ser também Treinador, etc.).

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Financeiro Intelectual Carácter Social

Orçamentar actividade Planear Campanhas de Financiamento Controlo de contas e de pagamentos Prestar contas ao Tesoureiro da Equipa

Guarda de material

Intelectual Carácter Físico

Deve ser um elemento com especial interesse pelo equipamento. Prepara lista de material daEquipa, faz constante o controlo do inventário, tentando com isso identificar falhas, e resolver pequenos problemas no equipamento que tenta resolver com o Guarda Material da Equipa. Em Campo será o responsável pelo estaleiro de material e por alertar todos os elementos para os cuidados a ter com a utilização do equipamento e para a segurança dos elementos.

Animador Espiritual Carácter Social Afectivo

Sente-se à vontade para animar a Equipa ou o Grupo, e memoriza facilmente letra, musicas ou danças, assim como gritos de animação. Será responsável por animar tanto os momentos dinâmicos como os de reflexão e oração.

Saltimbanco Afectivo Carácter Social

Coordenar apresentações no fogo de conselho Responsável por vestes e outros elementos cénicos. Tem especial interesse por representações e procura pesquisar formas de apresentação, tentando encontrar sempre novas formas de adaptar à aventura do momento.

Socorrista Físico Carácter Social Intelectual

Responsável pela Mala de Primeiros Socorros daEquipa, tenta saber tudo o que tem de estar nessa mala, onde está, se está guardado em condições de higiene, e dentro do prazo de validade. Tem de saber para que serve cada uma das coisinhas do inventário, e o modo de aplicação. Sempre que não souber, mostra interesse em se informar e formar.

Ambientalista Social Carácter Análise das condições ambientais do local de actividade Tratamento de lixos Racionalização de recursos Condições sanitárias e de higiene

Intendente Intelectual Carácter Físico

Programação de compras Locais de compra e preços Distribuição dos ingredientes pelos elementos da Equipa

Encarregado das construções

Intelectual Carácter Físico

É uma pessoa com um interesse especial por projectos de construções de campo. Faz pesquisas sobre construções e tenta arranjar um projecto bem desenhado e calculado ao pormenor. Analisa as condições físicas do local, coordena as construções, faz listas de materiais necessários para o Tesoureiro orçamentar e para o Intendente programar compra

Informático Intelectual Carácter Coordenação do site/blog Armazenagem de recursos electrónicos (relatórios, cartas, fotos)

Cozinheiro Físico Carácter Intelectual

Será um elemento que gosta de cozinhar, e nessa actividade vai estar na cozinha a fazer aquilo que mais gosta junto com o cozinheiro da Equipa. Antes de ir para campo, colabora com ele a construção da ementa para a Actividade.

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Treinador Físico Carácter Intelectual

Conhecer jogos da actividade Coordenar preparação física, intelectual e emocional da Equipa. Pode orientar a ginástica matinal.

Explorador Intelectual Carácter Físico

Coordenar meios de transporte para o local Analisar condições do local da actividade em coordenação com ambientalista e encarregado de construções. Preparar a Equipa para meios de orientação necessários em coordenação com navegador.

O desempenho destas funções pode ser feito pelo detentor do cargo (Tesoureiro – Financeiro; Secretário – Repórter; etc), mas isto não é obrigatório (o Tesoureiro da Equipa pode, numa actividade, ter a função de Cozinheiro, por exemplo). No entanto, o facto de o desempenho de uma determinada função (Financeiro, por exemplo) ser exercido por um caminheiro diferente do Tesoureiro (cargo), não diminui as responsabilidades deste último nem o substitui. O Tesoureiro continua a ser responsável pela cobrança de quotas ou pelo controlo da actividade financeira da Equipa, por exemplo. É ele que tem que reunir com os Financeiros, a fim de analisar com eles os orçamentos por estes feitos, avaliar as necessidades de fundos e, no final da Caminhada, receber e conferir as contas dos Financeiros.

A periodicidade do exercício da função deverá ser avaliada actividade a actividade, promovendo-se assim a rotação de funções e valorizando as experiências que cada um pode ter ao longo do ano ou da sua vivência na secção.

Os critérios a ter em conta relativamente à rotatividade deverão englobar:

- as necessidades particulares de cada actividade face às funções (se não houver necessidade de cozinheiros, quem tinha esta função terá de ter outra, por exemplo);

- a disponibilidade/vontade dos jovens em aprender ou aplicar aptidões específicas associadas a uma determinada função. Assim sendo, ao distribuir as funções, o Conselho de Chefes de Equipa deverá ter em conta as apetências e gostos de cada elemento.

Nesta dinâmica, não se prevê que o exercício de uma função seja acompanhado pelo uso da insígnia correspondente.

No caso dos caminheiros, o exercício das funções pode ainda incluir a de coordenador ou moderador, que é responsável pela liderança do projecto. Esta função é tipicamente conferida ao caminheiro ou caminheira que mais se terá destacado e trabalhado na preparação do projecto. Mais uma vez, não se confunde com o cargo de chefe de equipa. Esta é uma excelente oportunidade de poder experimentar uma função directa de liderança sem ser necessariamente chefe de equipa.

O coordenador / moderador assumem a liderança nas reuniões de trabalho para o projecto específico. A coordenação da equipa no seu dia-a-dia continua a ser feita pelo chefe de equipa.

Sugestão:

Para que cada um saiba exactamente o que fazer e quando fazer, é importante os Chefes de Equipa (ou o coordenador) peçam ao caminheiro que tem a função de secretário para elaborar Uma “Fita do Tempo”. Esse documento deve ser distribuído por todos e explicita quem faz o quê, até quando e que material, informações e recursos são necessários. Esta ferramenta permite aumentar a eficácia da Equipa (cada um tem noção exacta da sua responsabilidade) e ajuda a reforçar o espírito de corpo, já que todos se sentem a contribuir para o bem do grupo.

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Em resumo, as funções caracterizam-se por:

Exercício de uma função Ao longo de uma actividade

Duração da função Variável de acordo com a duração da actividade

Distribuição das funções Pelo conselho de Chefes de Equipa

1 jovem pode desempenhar 1 ou mais funções

Funções (lista apenas ilustrativa)

Secretário, Repórter, Financeiro, Guarda do material, Animador, Saltimbanco, Cozinheiro, Ambientalista, Socorrista, intendente, Informático, Encarregado das construções, Treinador, etc.

Equipas de animação e tarefas

“Os princípios do Escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação, depende do Chefe e do modo como ele os aplica.”

In Auxiliar do Chefe Escuta

A dimensão da Equipas de Animação dependerá do efectivo Clã. Idealmente, e muito embora por vezes seja difícil de satisfazer, as Equipas de Animação deverão ser constituídas por um Chefe de Unidade, um Chefe de Unidade Adjunto, Instrutores e eventualmente CIL’s e candidatos a Dirigente.

Atendendo a que a realidade evidencia a existência de Clãs mistos, será fundamental e altamente recomendável que a Equipa de Animação também o seja, sob pena de se criar algum desconforto dos elementos perante determinado tipo de situação que possa ocorrer. Certamente haverá situações e necessidades específicas dos elementos que os farão buscar apoio no Dirigente do mesmo sexo, pelo que é importante que esta premissa seja salvaguardada.

Assim, as competências da Equipa de Animação passarão por:

- Ajudar o Conselho de Chefes de Equipa na selecção dos objectivos do plano; - Contribuir para o enriquecimento do plano anual do Cla; - Ajudar na elaboração dos ante-projectos da Caminhada; - Ajudar a enriquecer a programação das actividades da Caminhada; - Dar o mote organizativo da vida do Clã; - Analisar cada Caminheiro de forma a poder ajudá-los a superar as suas dificuldades; - Responsabilizar-se, em última instância, pela vivência do Clã bem como pelo progresso individual dos Caminheiros que por ela são analisados; - Inventariar e aplicar soluções de optimização das equipas e do Clã; - Executar as tarefas de gestão do Clã, da sua responsabilidade.

É importante que na execução das suas tarefas, o Dirigente não substitua os seus elementos, especialmente os Chefes de Equipa. Muito embora por vezes a “tentação” seja grande, há que dar espaço para que os elementos desenvolvam em pleno as suas funções. O Dirigente deve orientar e esclarecer os elementos relativamente às tarefas que têm para desempenhar. Substituir toldará a capacidade de desenvolvimento do Caminheiro, podendo-

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lhe erroneamente dar a entender de que “não é capaz, por isso o chefe faz”.

A qualidade do Escutismo praticado, a inovação nas actividades, a cativação e motivação que é necessária empreender no Clã (as “injecções de entusiasmo”), dependem da boa afinidade/interacção e da capacidade de trabalho patente na Equipa de Animação. Por isso, para que os objectivos traçados sejam alcançados e para que se tenha um Clã motivado, é importante que a Equipa de Animação reúna com frequência. É importante que não vigore o improviso, e que este seja apenas um recurso a uma situação inesperada e não seja, de forma alguma a regra.

Ainda que sendo transversal ao Agrupamento, o Assistente deverá integrar a Equipa de Animação, sendo um precioso auxílio uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa.

Reuniões e Conselhos A vivência escutista é feita entre os irmãos escuteiros. Em actividades ao ar livre, o espaço preferencial, mas, também, na sede, na intimidade da Equipa ou entre o Clã. O espaço de reunião é, então, um momento importante do crescimento escutista e deve ser valorizado e vivido com entusiasmo.

a) Reunião de Equipa Uma reunião de Equipa deve ser muito própria e muito íntima, devendo estar directamente relacionada com a Equipae só a ela dizer respeito. Por outras palavras, deverão existir tantos tipos de reuniões de Equipa quantas Equipas existirem, desde que cada uma delas contenha alguns elementos que são fundamentais, e que distinguem uma reunião de Equipade outra reunião qualquer.

A reunião de Equipa tem diversos objectivos:

- Pensar no imaginário da Equipa a propor no Conselho de Chefes de Equipa; - Elaborar o ante-projecto da Caçada; - Resolver os problemas financeiros e administrativos da Equipa; - Tratar de assuntos de interesse geral da Equipa; - Avaliar a evolução técnico-espiritual da Equipa; - Elaborar o Livro de Ouro; - Indicar os cargos a criar naEquipa, bem como os respectivos titulares.

O esquema seguinte, não é uma “receita” para todas as reuniões mas pode servir de orientação e de “guia”:

MOMENTO ACTIVIDADE TEMPO

1º Oração e/ou cântico 2 a 5 minutos

2º Período de informações (do C.de Chefes de Equipa e não só...) 2 a 5 minutos

3º Período de Administração (contas, leitura de actas...) 2 a 5 minutos

4º Formação/Instrução (técnicas, ateliers, progresso, etc...) 15 a 20 minutos

5º Jogo (de Equipa e/ou inter-Equipas - Animador, etc…) 30 a 45 minutos

6º Avaliação (da reunião, de actividades do progresso, e outro assuntos para serem levados ao Conselho de Chefes de Equipa. Resumo da

reunião - Acta) 2 a 5 minutos

7º Encerramento (oração e/ou cântico) 2 a 5 minutos

TEMPO TOTAL 55 a 90 minutos

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Valores pedagógicos da Reunião de Equipa

- Sentido de participação em comum; - Sentido de organização; - Sentido de auto-gestão; - Responsabilidade; - Visão crítica e avaliação; - Diálogo e cooperação.

A reunião de Equipa, enquanto momento íntimo de partilha, organização e criação, deve ser exclusivo da mesma. Por isso, os dirigentes apenas deverão participar se e só se tal for solicitado.

b) Conselho de Chefes de Equipa

“ O Conselho de Guias é tão velho como o Escutismo e é fundamento essencial para um Escutismo eficiente no Grupo. Sem o Conselho de Guias a procurar desempenhar as suas funções eficazmente, o sistema de Patrulhas está condenado (...) ao fracasso...”

John Truman, p……….

Este conselho é o órgão permanente que, sob a coordenação do Chefe de Clã, orienta a vida do Clã. Aqui, mais que nunca, o Chefe de Equipa marca a sua posição de responsável da Equipa, ou não fosse o Conselho de Chefes de Equipa o elemento mais importante do Sistema de Patrulhas.

Nas Reuniões e Conselhos o Chefe de Equipa deve procurar apresentar-se como o delegado da Equipa: por um lado, para fazer valer os interesses, projectos e realizações da Equipa; por outro para receber indicações e advertências a respeito da mesma.

Como responsável pelo Equipa, o Guia deve pôr a Equipa de Animação ao corrente dos progressos e dificuldades de cada um dos seus elementos. Como conselheiro, o Chefe de Equipa deve também participar com as suas sugestões, ideias e aprovações na orientação definida para o Clã.

É importante que o Chefe de Equipa se aperceba da amplitude de acções e de responsabilidades que têm enquanto membro dos Conselhos.

Sugestão:

Ver regulamento do CNE

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Constituição

O Conselho de Chefes de Equipa é composto pelos Chefes de Equipa e pelo Chefe de Unidade. Poderão participar, também, os Chefes de Equipa Adjuntos e todos os elementos da Equipa de Animação. No entanto, a constituição do Conselho de Chefes de Equipa deverá ter em atenção a própria constituição do Clã e o número de Equipas existente. Se o Clã for extenso, com cinco Equipas, por exemplo, poderá tornar-se demasiada a participação conjunta de Chefes de Equipa e Chefes de Equipa Adjuntos e de toda a Equipa de Animação. Paralelamente, esta situação acarreta uma outra: se Chefes de Equipa e Chefes de Equipa adjuntos estão presentes no Conselho e se este se realiza no horário normal de actividades do Clã, quem orienta a Equipa? E quem orienta o restante Clã se a totalidade da Equipa de Animação estiver no Conselho?

Deverá por isso haver algum bom senso na dinamização deste Conselho, sob pena de conduzir o Clã ao “abandono”. Esta situação pode ser facilmente resolvida se o Conselho se efectuar fora do horário de actividades do Clã

Se se realizar antes das actividades permite preparação, depois permite avaliação.

Pode porém colocar-se à consideração do próprio Conselho de Chefes de Equipa, quem nele terá assento, se somente Chefe de Clã e Chefes de Equipa, se toda a Equipa de Animação com os Chefes de Equipa e Chefes de Equipa Adjuntos.

Gere os trabalhos da reunião o Caminheiro Guia. Não havendo este cargo a tarefa caberá a quem o conselho definir.

Sugestão: E porque não “converter” o Conselho de Chefes de Equipa num jantar em casa do Chefe de Clã? Este momento de maior “intimidade” trará inúmeros benefícios: a informalidade, a aproximação entre Dirigente e Chefes de Equipa, a partilha de vivências, se “segredos”, de preocupações, a cumplicidade e a confiança.

Tarefas - Tratar dos assuntos gerais do Clã; - Elaborar Plano Anual; - Estimular o lançamento e período de preparação dos ante-projectos; - Acompanhar as ideias para as actividades com as Equipas; - Distribuir as missões da Equipa; - Estabelecer a ligação entre o plano anual do Clã e os planos dasEquipas; - Escolher os ateliês necessários para realizar o projecto e nomear os responsáveis; - Analisar o progresso de cada elemento e o progresso dasEquipas; - Decidir sobre a gestão do Clã sob o ponto de vista administrativo e financeiro; - Apreciar assuntos disciplinares, distinções e prémios.

Sugestão:

Ver regulamento do CNE

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Após a aprovação de cada Cminhada, e havendo responsáveis das oficinas (ateliers) com quem é necessário reunir para que a Caminhada se possa concretizar, estes podem ser chamados ao Conselho de Chefes de Equipa para ajudar a:

- Seleccionar os meios que são necessários para a execução da parte técnica do projecto;

- Fixar a "clientela" de cada atelier;

- Inventariar as potencialidades de cada atelier, deixando margem à criatividade;

- Integrar as competências potenciais a tirar durante o projecto;

- Inventariar e prever os meios materiais e financeiros para a realização do projecto.

- Seleccionar os meios;

- Comprovar a possibilidade de resolução dos problemas;

Periodicidade

A periodicidade deverá ser estipulada pelo próprio Conselho. Todavia, sugere-se uma regularidade semanal. Diária em campo.

Valores pedagógicos do Conselho de Chefes de Equipa

- Sentido de organização;

- Sentido de chefia e responsabilidade;

- Diálogo e cooperação;

- Liberdade e autonomia.

À semelhança da Reunião de Patrulha, junto se apresenta uma sugestão de alinhamento:

5 minutos Oração inicial e/ou cântico

10 minutos Os 10 minutos de tolerância ao Conselho

de Chefes de Equipa

5 minutos Leitura da Acta do último Conselho

20 minutos Reflexão das Equipas sobre a vivência de

cada uma.

15 minutos Espaço destinado à formação.

5 minutos Espaço para os avisos

15 minutos Espaço para discussão de projectos das

Equipas.

12 minutos Espaço para reflexão sobre áreas

temáticas.

3 minutos Oração final/ cântico.

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O Chefe de Clã pode propor ao Conselho de Chefes de Equipa a realização de um Regulamento de Funcionamento (Regimento) do Conselho. Este deverá ser simples mas deve espelhar as competências e funções de cada membro (por exemplo, quem redige as actas). Além da vantagem organizativa e de implementar normas de funcionamento, contribuirá também para aumentar o “grau de importância” do Conselho e de quem nele tem assento.

Nele deve constar a periodicidade, o horário, em q suporte são registadas as actas, o q acontece em caso de votações com empates e/ou falta de membros, etc.

Papel do Dirigente

Mais uma vez, o Dirigente deverá estar ciente das suas atribuições e competências no seio do Conselho de Chefes de Equipa. Muito embora lhe compita a coordenação, não deverá substituir-se ao Caminheiro Guia e aos Chefes de Equipa.

c) Conselho de Clã

Este Conselho é fundamentalmente deliberativo. E pode ser convocado pelo Chefe de Clã, ou a requerimento de uma Equipa.

Constituição

- Todo o Clã (Caminheiros com voto deliberativo; Noviços e Aspirantes com voto consultivo)

- Equipa de Animação.

Tarefas

- Velar pelo bom nome do Clã;

- Apresentação e escolha da Caminhada (um voto por cada Caminheiro);

- Dar sugestões sobre os ateliers necessários;

- Elaboração e revisão da Carta de Clã (Projecto Comunitário de Vida);

- Analisar o êxito dos Projectos;

- Preparar a Festa da Caminhada;

- Apresentar propostas para o Conselho de Agrupamento;

- Admissão à Promessa dos novos Caminheiros;

- Aprovar se é dada a Partida de um Caminheiro;

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Paralelamente é também neste Conselho que o Clã reconhece o progresso de cada Caminheiro realizado ao longo da Caminhada, as distinções e os prémios. São discutidas aqui, perante a Equipa de Animação, as opiniões de todos os Caminheiros

Periodicidade

- Quando se escolhe a Caminhada;

- Avaliação final da Caminhada;

- Sempre que seja necessário;

- Recomenda-se, pelo menos, uma vez por trimestre;

Valores pedagógicos do Conselho de Clã

- Sentido de integração na vida comunitária;

- Sentido de auto-gestão;

- Sentido de participação;

- Respeito pelas ideias e opiniões alheias (saber ganhar e saber perder).

- Visão crítica e avaliação;

Papel do Dirigente

Quando o Conselho reúne, o Dirigente deverá ter um papel de coordenação, sem ingerência demasiada, no sentido de deixar fluir as propostas e ambições dos membros do Conselho relativamente ao que pretendem. Para além disto, desempenha ainda um papel organizativo, na medida em que fará a gestão das diferentes propostas elaboradas pelas Equipas; aquando da votação, deverá contabilizar os resultados. Este papel de Cooedenação poderá também, ficar a cargo do Caminheiro Guia, assumindo o Dirigente um papel de mero observador, intervindo apenas quando achar estritamente necessário.

Se o Conselho reúne para avaliação do progresso dos Caminheiros, o Dirigente deverá coordenar as intervenções, ouvir as opiniões dos Chefes de Equipa e restantes elementos, ajudar a delinear projectos que visem cumprir os objectivos traçados pelos elementos relativamente ao seu progresso individual.

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Sede

O "território" da Equipa, por excelência, é o campo, a Natureza. Todavia, como nem sempre é possível estar em comunhão com ela, o Clã tem a sua Base, que é então o local onde se reúne. A Base deverá ser intima, exclusiva, é o seu “território”, é um espaço onde se “respiram” as tradições e o espírito do Clã.

Na Base, (idealmente) deve haver lugar para os cantos das Equipas, espaço (estante, armário, baú) exclusivo para a Equipa de Animação, oratório, espaço comum para reuniões de Conselhos de Clã, de Chefes de Equipa e de Equipa de Animação. Para além disto, convém que tenha espaço para o Painel da Caminhada , Painel de Percurso (onde é registado o progresso de cada elemento) e diversos quadros, por exemplo para afixar ordens de serviço, avisos, escalas de serviço para tarefas comuns, fita do tempo das Caminhadas. Pode haver também lugar para quadros decorativos (sistema de progresso, fardamento, Baden-Powell, lei e princípios, sinais de pista, etc.).

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2 – Mística e simbologia A criação do Escutismo resulta de uma aturada reflexão de Baden-Powell, a partir da sua experiência como condutor de homens e da meditação sobre a educação dos jovens. Tudo começou no momento em que assumiu como missão dar um sentido à vida de tantos rapazes que mergulhavam numa existência desequilibrada de vícios e delitos. O Movimento Escutista possui assim, na sua génese, uma intenção educativa e a sua finalidade é clara:

«o fim é o carácter – carácter com um propósito. E esse propósito é que a próxima geração seja dotada de bom senso num mundo insensato, e que desenvolva a mais elevada concretização do Serviço, que é o serviço activo do Amor e do Dever para com Deus e o próximo». BP-RF 80

Assim se sintetiza o Espírito Escutista, que surge como ideal de vida a transmitir às gerações mais novas. Para o conseguir, Baden-Powell cria um movimento baseado no Jogo, onde abundam histórias, ambientes, pessoas/heróis, símbolos. Numa palavra: cria um Imaginário.

Entende-se por Imaginário:

Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma linguagem próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e símbolos. Induz a um sentimento de pertença em relação ao grupo e permite a transmissão de determinados valores.

Este Imaginário não tem apenas uma intenção lúdica. Busca também educar. E, esta intenção educativa faz despontar a Mística, que constitui a expressão do ideal espiritual a transmitir, sendo como que a alma do jogo, aquilo que lhe dá sentido. Para Baden-Powell, a transmissão de valores religiosos é essencial e constitui o âmago do Movimento: este existe para ajudar cada rapaz a aproximar-se de Deus e a esforçar-se por cumprir a Sua vontade.

«NO MOVIMENTO não há qualquer “lado religioso”, nem a religião “entra” em lado algum. Ela já lá está. É o factor FUNDAMENTAL E SUBJACENTE AO ESCUTISMO.»

BP-RF 153

Neste sentido, e porque o CNE, enquanto membro activo da Igreja, procura educar catolicamente, os valores da Igreja constituem a substância da Mística que se procura desenvolver em cada secção.

Em sentido estrito, entende-se por Mística:

Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma das secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.

Para que toda esta vivência seja completa, recorre-se a símbolos que ajudam a transmitir e reforçar o ideal presente no Imaginário e na Mística.

Por símbolos, entendemos:

Elementos / objectos representativos de realidades, características ou atitudes que materializam o ideal proposto na mística de cada secção.

No Projecto Educativo do CNE, todas as secções têm o seu símbolo, podendo este ser único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.

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O Projecto Educativo do CNE integra ainda a escolha de patronos.

Entende-se por Patrono:

Santo ou Beato da Igreja que no decurso da sua vida encarnou na plenitude os valores que se pretendem transmitir através da Mística e do Imaginário de uma determinada secção, sendo por isso escolhido como protector e exemplo de vivência para os jovens dessa mesma secção.

São patronos: Nossa Senhora, Mãe dos Escutas, S. Jorge (patrono mundial do Movimento Escutista), Beato Nuno de Santa Maria (patrono do CNE) e também S. Francisco de Assis (patrono dos Lobitos), São Tiago Maior (patrono dos Exploradores/Moços), São Pedro (patrono dos Pioneiros/Marinheiros) e S. Paulo (patrono dos Caminheiros/Companheiros).

Para além dos patronos, cada secção pode ainda recorrer a modelos de vida e grandes figuras históricas cuja vida, ou alguns aspectos desta, pode servir de exemplo. São, por isso, referências a ter igualmente em conta.

Entende-se por Modelo de Vida:

Figura da Igreja Católica que, à semelhança do Patrono, também encarna os valores e ideais da Mística e do Imaginário da secção e que exprime a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver.

Entende-se por Grande Figura:

Personalidades que na sua vida realizaram grandes feitos, associados ao Imaginário da secção, que marcaram a História da Humanidade.

Mística do Programa Educativo do CNE A Mística do Programa Educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque – e complementam-se (nenhuma vale por si mesma), na medida em que estão interligadas e adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada escuteiro:

- O louvor ao Criador: o Lobito louva Deus-Criador, descobrindo-O no que o rodeia;

- A descoberta da Terra Prometida: o Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida;

- A Igreja em construção: o Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo;

- A vida no Homem Novo: o Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.

No percurso sugerido, procura-se que o Escuteiro compreenda que a sua vida tem duas dimensões essenciais, uma sobrenatural e uma natural, e que ambas se relacionam intimamente: Cristo, Senhor da Vida, não se reduz à vivência espiritual e mística do Homem; Ele está presente na vida do dia-a-dia e ao longo de toda a existência humana. É, por isso, presença constante na vida de um Escuteiro.

Nesta perspectiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no Senhor o seu centro e fonte de irradiação de sentido.

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Mística das Secções:

Mística dos Caminheiros e Companheiros: «A vida no Homem Novo».

A construção da Igreja de Cristo, sinal da maturidade da fé, projecta o Homem para o mundo. O cristão, chamado a ser «sal da terra», «luz do mundo» e «fermento na massa» assume o seu lugar activo na construção dos «novos céus e da nova terra». O Reino de Deus, cuja lei está sintetizada nas bem-aventuranças, é a vida em Cristo, o Homem Novo: essa é a meta a alcançar pelo Caminheiro.

Neste sentido, o Caminheiro é chamado a assumir integralmente o ideal do “Homem Novo”. Sabe que a “novidade” não consiste na adesão permanente às “últimas modas” mas sim na descoberta, aprofundamento e assunção dos valores genuínos que estão ligados à própria natureza do Homem e que, por isso mesmo, o farão ser mais feliz. Não busca uma felicidade ligada a coisas efémeras (dinheiro, fama, prazer, vicio,...) mas a verdadeira Felicidade. Aquela que tem como referência a “novidade radical das Bem-Aventuranças”.

Num tempo como o que se vive, de extraordinários avanços em todos os campos e em que o progresso parece não ter limite, é cada vez mais necessário mergulhar no interior de si mesmo para encontrar algo verdadeiramente inovador: a vontade de amar, o gosto de fazer, a necessidade de partilhar, o desejo de viver, o prazer de Servir, a satisfação de sentir, a emoção do criar. Neste sentido, a proposta que é feita aos Caminheiros não é meramente “romântica”. É uma proposta concreta destinada a ser vivida por eles todos os dias: na sua escola, no seu trabalho, com os seus amigos, com a sua família, etc.. Dentro do seu mundo estarão assim a ser artesãos de um mundo novo. De forma a potenciar a descoberta da verdadeira felicidade, o Caminheiro é convidado a ter como exemplo S. Paulo. Assim como S. Pedro foi escolhido para anunciar a Boa Nova aos judeus, S. Paulo foi escolhido para o anúncio aos gentios. Por isso, S. Paulo é ícone da universalidade da Igreja: a salvação que Cristo anuncia, e inaugura, tem como destinatários os homens e mulheres de todos os tempos, lugares e culturas.

Com S. Paulo, o Caminheiro aprende a dialogar com todas as pessoas, no respeito pela diferença e pelo ritmo de cada um, mas na afirmação de um só caminho para a salvação: Cristo Jesus. Sem medo de o afirmar, o Caminheiro assume o seu lugar activo na sociedade, procurando dar o seu contributo para que o Homem se realize plenamente, de acordo com o projecto de Deus. A vida «em Cristo», o Homem Novo, é a meta para a qual caminha, até que possa dizer um dia, com S. Paulo, «já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim» (Gal 2,20).

Os Caminheiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras bíblicas e santos que serão também para eles modelos de vida: S. João de Deus, Beata Teresa de Calcutá, S. Teresa Benedita da Cruz, João Paulo II, Stº Inácio de Loyola. A estas figuras da Igreja, juntam-se ainda grandes personalidades da História, como

O louvor ao Criador (1.ª secção)

A descoberta da Terra Prometida (2.ª secção)

A Igreja em construção (3.ª secção)

A vida no Homem Novo (4.ª secção)

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Aristides Sousa Mendes, Ghandi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Aung San Suu Kyi, Wangari Maathai, etc.

Simbologia De forma a reforçar a Mística da Secção, o itinerário do Caminheiro vive-se em torno de quatro dimensões (as quatro etapas de progresso) que adquirem um valor simbólico: Caminho, Comunidade, Serviço e Partida. É um itinerário de progressão pessoal, de tomada de consciência das possibilidades de evolução, de pensamento, que se lhes oferece na vida em Clã e na vida de cada dia. No final deste itinerário, o Caminheiro está a franquear as portas da vida adulta, livre e responsável, prestes a tomar a vida nas suas mãos.

Este itinerário tem assim quatro vertentes: é individual, mas tem também uma dimensão comunitária; está virado para o serviço aos outros e para o desafio do desconhecido. Essas quatro vertentes estão presentes nas quatro dimensões/etapas em que o Caminheiro vai crescendo:

- O percurso individual: o Caminho.

Nos Caminheiros, o jovem é desafiado a escolher um itinerário de descoberta e de acção que o leve a tornar-se construtor de um Mundo Novo. O Caminho significa então, a abertura, a largueza de vistas, o apelo do horizonte, a capacidade de aceitar a mudança, de viver na própria mudança; é também um espaço de vida despojada, de rejeição do supérfluo, de atenção ao essencial: graças a isto, este Caminho dos Caminheiros é, tal como o dos Peregrinos, testemunho de vida cristã. Finalmente, o Caminho é um lugar de perseverança, de experiência de uma lenta e paciente construção de si mesmo, de aprendizagem da capacidade de se comprometer para além do imediato.

Ser Caminheiro é ser mais (superar-se a si mesmo)… É ser Peregrino: no Caminho de Emaús, Cristo Ressuscitado revelou-se aos seus discípulos, caminhando com eles lado a lado…

- O percurso em grupo: a Comunidade.

Durante o Caminho, o jovem é interpelado a avançar lado a lado com o outro. O Caminho ajuda-o a desenvolver a sua capacidade de acolher o outro, de o ajudar a avançar, e de se deixar ajudar, de partilhar com ele as alegrias e tristezas da jornada.

A Equipa é o espaço privilegiado para esta interpelação acontecer: é na equipa que se vive o início da comunhão que se potencia na vivência em Clã.

É o apelo das bem-aventuranças que dá sentido a este caminho conjunto, que se torna assim experiência de comunidade, de partilha, de amor de construção da paz. Contudo, segundo este apelo, essa comunidade não pode viver virada sobre si mesma.

Ser Caminheiro é ser com (participar na Caminhada com os outros)… É ser Discípulo: no Caminho de Emaús, Cristo foi reconhecido pela fracção do pão…

- Um percurso com sentido: o Serviço.

Viver o Serviço é um compromisso de cada instante que o Caminheiro expressa ao longo do seu itinerário - o Serviço é algo de natural. Prestar Serviço não é forçosamente um acto físico, ou um dom material: pode ser um suporte moral, um intercâmbio, ou outras coisas ainda.

Esta vivência do Serviço deve ser experimentada individualmente, em Equipa e em Clã – acções de longo termo que denotem uma vontade de compromisso e não apenas “mini-serviços” rápidos, sem continuidade.

O Serviço é gratuito, mas quem presta Serviço enriquece. O Serviço é uma dinâmica de descoberta, vivida numa relação de amor fraterno, de “receber, dando-se em troca”: a verdadeira descoberta só é possível no Serviço. Servir é tornar-se apto para a missão.

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Ser Caminheiro é ser para (tornar-se apto para a Missão)… É ser Testemunho: no Caminho de Emaús, Cristo serviu os seus discípulos ao explicar-lhes as Escrituras…

- Um percurso para a vida: a Partida.

O Caminheiro tem de realizar um avanço progressivo para a Partida. Esta exprime simbolicamente que o acto de caminhar é mais importante do que o facto de chegar. É por isso que, no final do seu tempo de Caminheiro, quando sai do Clã, o jovem não “chega” ao fim do seu caminho, mas “parte”. Porque o fim de uma etapa significa sempre o início de outra. A Partida é o momento de o Caminheiro se lançar no caminho da vida.

A “Partida” também é um “Envio”. Pois só pode haver Partida se houver quem envie.

Ser Caminheiro é amar… É ser Enviado: no caminho de Emaús, Cristo, “partiu”... e eles reconheceram-n’O vivo e ressuscitado.

Estas quatro dimensões que o Caminheiro vive na sua passagem pelo Clã, com vista a preparar-se para a sua vida adulta, são coloridas por um certo número de sinais com uma elevada carga simbólica: Vara bifurcada, Mochila, Pão, Evangelho, Tenda e Fogo.

A Vara bifurcada, é antes de tudo apoio no caminho e companheira do caminho do Caminheiro. Ao ser bifurcada torna-se símbolo da necessidade de o Caminheiro constantemente fazer ou renovar as suas opções, expressão das encruzilhadas do caminho, das decisões que terá de tomar, da rota que entende seguir, sinal de que se compromete a aderir continuamente ao projecto das Bem-Aventuranças.

A Mochila, convida o jovem a pôr-se a caminho, a arriscar, a decidir se quer empreender ou não esta viagem que o pode levar longe. É neste caminhar de mochila às costas que o Caminheiro descobre o que é útil e o que é supérfluo, o que o faz penar e o que o impele para a frente, a diferença entre o essencial e o acessório. Como na mochila só se deve levar o essencial para a jornada, simbolicamente do seu conteúdo fazem parte o Pão, o Evangelho e a Tenda. A mochila torna-se assim o seu suporte neste Caminho – simbolizando o seu desprendimento e a sua determinação de ir sempre mais além.

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O Pão, é alimento do corpo, dado em partilha e em comunhão. Fruto do trabalho árduo do homem.

O Evangelho, pão do espírito anúncio da Boa Nova de Cristo – a nova Aliança.

A Tenda, transportada na mochila, é sinal da mobilidade do Caminheiro e da sua prontidão para se pôr em marcha, da sua capacidade de se fazer ao largo. Ao ser montada demonstra a necessidade de paragem temporária, de descanso. A tenda também é sinal de acolhimento aos outros - da presença de Deus no meio do seu povo.

O Fogo. Sinal da descida do Espírito Santo, é o fogo que ilumina e aquece o Caminheiro durante a sua caminhada.

Cerimoniais

A mística e o imaginário de cada secção, embora presentes em todas as actividades, encontram expressão concreta nos diversos cerimoniais escutistas.

Exemplos de cerimoniais escutistas:

Abertura e bênção do Fogo de Conselho, Vigília de Oração, Promessa, Investidura de Chefes de Equipa, Investidura de cargos, Totemização, entrega de insígnias, Partida, etc. Todos possuem em comum o facto de utilizarem os símbolos da secção e linguagem tipicamente escutista.

Estes cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem um cunho pedagógico que deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto aconteça, os cerimoniais devem:

- estar envolvidos por um ambiente escutista, tanto a nível dos conteúdos (Leis, exemplo de B.-P., patronos, etc.), como a nível da elaboração (cânticos, imagens escutistas, etc.), o que implica desenvolver um ambiente místico (com recurso a sons, imagens, etc.) que contribua para uma maior receptividade da mensagem. Será indicado, sempre que possível, utilizar o espaço da Natureza para as realizar (é preciso não esquecer que a Natureza é o espaço privilegiado para todas as actividades escutistas).

- revestir-se de dignidade e de respeito pelos valores escutistas: a título de exemplo, são de evitar cerimoniais de passagem de secção que se convertam em verdadeiros atentados à Lei do Escuta, por implicarem faltas de higiene, perigos para a saúde ou perda de dignidade dos elementos.

- possuir uma carga formativa, utilizando símbolos, linguagem e duração adequada à secção a que se dirigem.

- implicar uma participação activa dos caminheiros (não ficam apenas a ouvir), de forma a que se sintam integrados na Unidade. Envolver directamente o Clã, recorrendo ao auxílio dos elementos e a alusões sobre as suas características,

Bibliografia para aprofundar:

- Bíblia - Mistica e Simbologia do CNE

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induz a que todos se sintam envolvidos e motivados. Este envolvimento deve implicar alguma flexibilidade, para que todos se sintam à vontade para participar.

- ser preparados correctamente e com antecedência (a nível de materiais, duração, ensaios), integrando-se de forma adequada na vivência das secções e na idade dos participantes.

- ir variando de tempos a tempos: se os cerimoniais nunca mudam, o que, de início, pode parecer que reforça a coesão do Clã (por se tratar e uma tradição) pode acabar por se tornar antiquado e desmotivante. Convém, por isso, efectuar, de vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos usados e dos valores explorados, para que se possa modificar o que está desactualizado, desadequado ou incoerente.

Nem sempre os cerimoniais tradicionais das Equipas (como a permissão para aceder ao Livro de Ouro) possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o Dirigente auxilie os seus elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve procurar-se que haja referências ao Patrono da Equipa e aos valores místicos da Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as fórmulas e as acções desenvolvidas, no sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e validade.

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3 – Lei e promessa

a) um quadro referência de valores

A Igreja e a sociedade possuem um quadro de referência de valores que nos ajudam a viver em comunidade. Na Igreja, esses valores têm por base os Mandamentos da Lei de Deus. Cada sociedade, por seu lado, incute valores relacionados com a moral e o respeito por si mesmo, pelo outro e pela propriedade.

Também o Escutismo possui um quadro de valores que procura incutir a todos os seus elementos, de forma a ajudá-los a progredir no sentido do Bem. Neste sentido, é portador de uma forte dimensão espiritual.

Esses valores estão resumidos nos Princípios, na Lei do Escuta e na Promessa e através deles o Escuteiro é chamado a comprometer-se livremente com ideais que lhe permitem ajudar a construir um mundo mais justo e mais solidário.

b) Os três Princípios

Os Princípios do Escuta definem as três dimensões de vida com que o Escuteiro se compromete: Deus, a Pátria e a Família. Cada um deles estabelece um ideal a alcançar, criando metas específicas que visam desenvolver a responsabilidade de cada um a nível espiritual, social e pessoal.

1º Princípio: O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida.

O primeiro Princípio do Escuta elege como ideal o compromisso com Deus, fonte de felicidade. Esta dimensão espiritual está presente no Movimento escutista desde o primeiro momento. De facto, o Escutismo, tal como BP o idealizou, integra a Fé em todas as suas dimensões: o seu quadro de valores remete-nos, no seu todo, para propósitos morais que espelham os valores cristãos, razão pela qual é impossível separar as dimensões escutista e cristã.

«O MOVIMENTO é TODO baseado na religião, isto é, na compreensão e no SERVIÇO de DEUS. No estudo da Natureza, respeito dos deveres de Cristão e na prática de boas acções.»

BP-RF 153/6

O verdadeiro Escuteiro assume sem reservas a sua Fé: comprometido com Cristo, em quem confia como Salvador do mundo, assume e honra esse compromisso sem hesitação. Toda a sua vida, assim, ilustra a certeza no amor de Deus: é a Ele que se entrega, é Ele que testemunha em todos os momentos, é Ele que o guia toda a vida. E poe Ele se entrega aos outros, ajudando-os, numa atitude permannte de serviço.

2º Princípio: O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão.

Neste mundo em constante mutação, os conflitos entre os povos são frequentes e as dificuldades económicas e os desafios sociais são cada vez maiores. Ao mesmo tempo, o egoísmo individual e a indiferença perante o sofrimento têm tendência a aumentar.

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« ”A Pátria acima de mim”, deve ser a tua divisa». BP - ER 36 «Lealdade com a Pátria, orientada para as opiniões dos cidadãos. O altruísmo e Serviço cívico hão-de necessariamente incluir a disponibilidade para servir a Pátria: É esse o dever de todo o cidadão.»

BP-RF 135/6

Perante isto, a consciência cívica é um valor a defender e torna-se cada vez mais urgente educar na cidadania, de modo a que cada indivíduo tome consciência das suas responsabilidades para consigo, com o outro e com a Natureza.

Neste sentido, sentir-se filho de Portugal não é assumir nenhum tipo de nacionalismo. Pensar na pátria é pensar no nosso próximo, é assumir a responsabilidade para a construção de um país justo, economicamente equilibrado e onde a igualdade não é uma utopia.

O bom cidadão, assim, é aquele que contribui para o bem do país, servindo-o de todas as formas possíveis. Isto implica usar com moderação os seus recursos naturais, cumprir os deveres cívicos, contribuir para o desenvolvimento da sociedade e fomentar a solidariedade.

Com a entrada na vida adulta acrescem as responsabilidades perante a sociedade, mas também acrescem as possibilidades de fazer algo para a melhorar. Incutir nos caminheiros uma cidadania activa, por exemplo, motivando ao voto ou discutindo problemas e realidades sociais, é realizar um dos principais objectivos do escutismo: a formação de cidadãos felizes, saudáveis e úteis.

3º Princípio: O dever do Escuta começa em casa.

A família continua a ser a célula fundamental da sociedade: é nela que o indivíduo forma a sua personalidade e apreende valores, descobrindo a importância da dignidade, da confiança, do diálogo, da cooperação, do bom uso da liberdade, da obediência. No entanto, para que esta aprendizagem seja profícua é necessário que exista disponibilidade para estar com os outros e partilhar sentimentos e acções.

Na tua casa está o teu «Semelhante», o teu mais «Próximo». ………. «Por isto, o Céu não é qualquer coisa vaga, algures lá em cima nos ares. Fica aqui mesmo na Terra, no teu próprio Lar.»

BP-CT 143

Ao escuteiro é pedido que pratique boas-acções, que auxilie os outros. E o bom Escuteiro compreende que essa responsabilidade começa na sua família. De facto, o Escuteiro tem que estar, em primeiro lugar, disponível para a sua família: pais, filhos, irmãos,…

É nesta disponibilidade, que muitas vezes implica espírito de sacrifício, perdão, paciência, generosidade, que aprendemos o verdadeiro valor do amor.

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O Escuta orgulha-se da sua fé - HONRA e por ela orienta toda a sua vida - CONFIANÇA - SERVIÇO O Escuta é filho de Portugal - CIDADANIA e bom cidadão. - CUMPRIMENTO DO DEVER - SOLIDARIEDADE - DISPONIBILIDADE O dever do Escuta começa em casa - AMOR - DEVER

c) Os dez artigos da Lei

Tendo como pano de fundo, para o crescimento de cada Escuteiro, Deus, a Pátria e a Família, o Movimento escutista propõe a cada elemento um conjunto alargado de valores que, interligados, permitem desenvolver o sentido da responsabilidade, aprender a fazer opções e criar hábitos de convivência e respeito para consigo mesmo e com o outro.

Esses valores estão explicitamente definidos nos artigos da Lei do Escuta:

1º A honra do Escuta inspira confiança.

Para um escuteiro, ter honra é actuar com honestidade em tudo o que diz e faz. Isto não implica apenas não mentir: é também não omitir nem actuar com subterfúgios ou às escondidas.

«A verdade, só a verdade para o Caminheiro». -------------------- «A palavra dum Caminheiro vale pela sua assinatura.» ----------------- «Podem confiar em ti o Escutismo, os teus amigos e camaradas de trabalho, os teus patrões ou empregados, que sabem que farás quanto puderes em seu benefício mesmo que não sejam o que tu querias que fossem.» ---------------

Na prática, significa que o Escuteiro assume que a sua liberdade o leva a agir de forma a nunca ser contrário à verdade, demonstrando a sua coerência de vida:

- aquilo em que acredito é aquilo que ponho em prática (tanto em público como em privado); - o que eu penso e digo é o que eu faço; - o que eu digo é a verdade; - o que eu me comprometo a fazer faço-o com seriedade.

Se actuar desta forma – demonstrando que possui uma só palavra, cumpre as suas promessas, fala com franqueza, é coerente –, o Escuteiro é alguém digno de confiança, ou seja, é alguém em quem podemos acreditar e com quem é possível contar. 2º O Escuta é leal. Ser leal éser honesto. É ser fiel às suas convicções, à sua família, a Deus, aos seus amigos, à sociedade, sabendo agir de acordo com a sua consciência. Um Escuteiro leal respeita as regras do jogo da vida, actuando com coerência e respeito por si mesmo e pelos outros. Não faz batota, não engana, não atraiçoa, não desampara ninguém.

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Joga com lealdade e exige jogo leal aos outros. BP – ER 249

O caminheiro deve saber defender aquilo em que se acredita, por muito tentador que seja ficar calado e quieto. Saber valorizar as pessoas e as relações, ser-lhes dedicado. Deve reconhecer na relação com o outro um dos pilares do seu crescimento enquanto pessoa.

A lealdade para consigo e para com os outros é, no Movimento escutista, um valor forte, na medida em que o que se pretende é desenvolver em cada rapaz e rapariga a coerência de atitudes e o respeito para com o outro. 3º O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção.

Ser útil é ter a capacidade para ajudar os outros em todas as circunstâncias em que o auxílio pode contribuir para suprir algumas necessidades. Quem assim procura agir, habitua-se a não orientar a vida exclusivamente para os seus próprios interesses, aprendendo a viver em verdadeira comunidade.

«Como Caminheiro, o teu objectivo supremo é SERVIR. (…) Estarás pronto a sacrificar tempo, comodidades ou, sendo preciso, a própria vida, pelos outros». BP – CT 194 «…que as nossas acções e pensamentos sejam orientados pelo amor. (…) Refiro-me à manifestação dum espírito amável. (...) É a boa vontade. E a boa vontade é a vontade de Deus.» BP – CT 18

Assim se nega o egocentrismo e se descobre o valor do altruísmo, cujo grau máximo implica dar a vida por alguém. Para um Escuteiro, o altruísmo aprende-se através da Boa Acção diária, cuja prática é tão importante incutir em cada jovem. É ela que exercita na arte de fazer o bem; é ela que, pela repetição, acaba por criar em cada um o hábito de estar atento para o bem-estar dos outros e a disponibilidade para os auxiliar. E há-de ser realizada de forma discreta e sem esperar recompensa. A humildade de fazer o bem sem esperar elogios é essencial: só ela permite que seja o Amor a guiar as nossas acções. E Amor é o que Deus espera de nós. A B.A. diária que se espera de um caminheiro em nada se deve parecer com o que é pedido a um explorador. A B.A. assume nos caminheiros uma dimensão bem maior e mais comprometida: a dimensão do Serviço. Deve surgir quase como uma necessidade. Estar ao dispor do outro e do mundo para fazer algo de bom em cada momento. 4º O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas.

Num mundo como o de hoje, onde o egoísmo e a exclusão são quase banais, a amizade é um valor precioso, pelo que este artigo da Lei do Escuta manifesta cada vez mais relevância.

Ser amigo dos amigos implica ser capaz de se colocar no lugar deles, actuando com respeito e solidariedade perante as suas necessidades e diferenças e aprendendo a perdoar. No entanto, este artigo vai mais longe, ao declarar que devemos ser amigos de todos. Com isto, pretende-se não que demonstremos uma amizade profunda por quem não conhecemos, mas que consigamos ter a disponibilidade interior para aceitar como possível amigo aquele que ainda nos é desconhecido, pondo de lado reservas sem sentido rela-cionadas com raça, credo, sexo, cultura, classe social, nacionalidade, etc.

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«Como Caminheiro reconheces que os outros são como tu, filhos do mesmo Pai e menosprezas quaisquer diferenças de opinião, casta, crença ou nacionalidade que possa haver entre vós. Recalcas os preconceitos e descobres-lhes os méritos.» BP - CT 194

É este mesmo sentimento de disponibilidade interior que torna os escuteiros capazes de se sentirem irmãos de outros escuteiros. De facto, há que incutir em cada elemento a certeza de que, esteja onde estiver, terá sempre um irmão escuta com que pode contar; e de que ele próprio deverá ser sempre um irmão para quem dele precisar. A começar pela sua própriaEquipa, por vezes o sítio onde é mais difícil viver a fraternidade, por ela ter de ser permanente. O Caminheirismo é uma fraternidade… assim dizia o nosso fundador. Esta vivência começa na Equipa, no Clã e no Agrupamento e alarga os seus horizontes para a consciência de que se pertence ao maior movimento de jovens do mundo… 5º O Escuta é delicado e respeitador.

O respeito é o sentimento que nos leva a sentir consideração pelos outros, a ter em conta os seus direitos e a tolerar diferentes ideias e que nos inibe de qualquer vontade em lhes causar dano.

«És delicado até para com os adversários.» ----------

Esta consideração pela dignidade do outro traduz-se, na prática por atitudes de delicadeza, que mais não é do que a forma amável, sensível e afectuosa como tratamos os demais, evitando chocá-los, magoá-los ou melindrá-los. Neste contexto, mesmo a frontalidade é usada de forma equilibrada, sem recurso à grosseria. Assim sendo, o Escuta deve procurar não apenas ter atitudes exteriores de delicadeza para com os outros, mas também sentir consideração profunda pela sua dignidade, independentemente das diferenças que possam existir. Este sentimento, nem sempre fácil de inculcar, é de máxima importância: o respeito é a base a partir da qual conseguimos viver em paz com os outros. 6º O Escuta protege as plantas e os animais.

No tempo de BP, não existiam preocupações de maior com a protecção da Natureza. Contudo, como visionário que era, Baden-Powell apercebeu-se da necessidade de respeitar e proteger a obra da Criação. Segue os passos de S. Francisco de Assis e de S. Paulo e concebe este artigo da lei, através do qual todo o Escuta é impelido pela consciência a assumir como seu dever a defesa dos outros seres que, criaturas de Deus como o Homem, habitam o planeta.

«Hás-de reconhecer a solidariedade com os outros seres que Deus criou e, como tu, foram colocados no mundo para gozarem por algum tempo o prazer da existência. Maltratar um animal é, pois, contrariar o Criador.»

Isto não se faz apenas com grandes gestos: não pisar uma formiga, não arrancar uma flor são pequenas acções que não mudam o mundo, mas que nos permitem preservar a beleza que Deus criou para que outros usufruam dela. Abusar do que Deus pôs ao nosso dispor sem motivo válido, mas por malvadez ou capricho, não é digno de um escuteiro.

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O escuteiro aprecia e preserva a Natureza, servindo-se dela apenas quando tal é necessário para a sua subsistência. Assim se cultiva o sentido da responsabilidade perante as maravilhas de Deus, hoje tão exploradas e votadas ao desprezo.

O mundo criado por Deus é o pano de fundo do percurso de um caminheiro…. Enquanto caminheiro admira e protege o que o rodeia. Aprende a conhecer a Natureza e tudo o que nela existe, deixa-se maravilhar por um pôr do sol, aprende o valor da contemplação e da simplicidade. No clã, deve estar sempre presente esta dimensão do caminho. Um Clã que não caminha não cresce e esta vivência do caminho faz-se no terreno, na Natureza. 7º O Escuta é obediente.

Todos os grupos possuem regras que assumimos como necessárias para o bem-comum e que evitam a anarquia e o caos. É assim que surgem as leis, os regulamentos, as normas, os valores. A obediência enquadra-se no respeito por estas regras: de facto, surge quando um indivíduo se sente completamente livre, no seu íntimo, para acatar as ordens de outro que possui uma autoridade legítima e globalmente aceite pelo grupo em que se insere.

«Como Caminheiro adaptas-te à disciplina e colocas-te pronta e gostosamente ao serviço da autoridade constituída para o bem comum. A sociedade mais disciplinada é a mais feliz, mas é preciso que a disciplina venha de dentro e não seja simplesmente imposta de fora.» BP – CT 195

É nisto que a obediência se distingue da submissão: somos obedientes quando, em plena consciência, reconhecemos como legítima e necessária uma determinada autoridade, aceite por todos; somos submissos quando, numa relação de poder em que a lei é a do mais forte, acatamos ordens por medo ou vergonha. Educar para a obediência é também educar para a liderança. Pois, para se ser Chefe de Equipa é necessário ser um verdadeiro líder, exemplo de obediência; só assim consegue que os seus elementos lhe reconheçam autoridade e sejam obedientes.

Ao fazer a sua Promessa, assumida livremente, o Escuteiro prometeu obedecer à Lei do Escuta e cumpre-a com fidelidade.

Por outro lado, há também que ensinar a cada escuteiro que obedecer não é sinal de humilhação. É, sim, revelar capacidade para compreender que uma sociedade que funcione bem possui disciplina; é aprender o valor da humildade, que nos ensina a submeter a nossa própria vontade; é aprender que responsabilidade é assumir os compromissos e cumprir todas as tarefas que nos forem destinadas.

Por fim, há ainda duas ideias que devem ser inculcadas no Escuteiro:

- a autoridade ilegítima, que degenera muitas vezes em tirania, não atrai a obediência, mas a submissão, e é lícito que os cidadãos revelem espírito crítico e queiram defender a sua liberdade;

- a obediência não implica a supressão da consciência: nunca um indivíduo deve obedecer se a actuação que lhe é exigida for contrária ao que sente e defende. Na nossa consciência vive a voz de Deus e é ela, em última análise, que devemos seguir. Em último grau, isto pode implicar a própria vida: foi o que aconteceu com todos os mártires que morreram por se recusar a obedecer a ordens que os impeliam a renunciar à sua Fé.

O bom funcionamento do Conselho de Clã e do Conselho de Chefes de Equipa, assim como a aplicação do Sistema de Patrulhas nas Equipas do Clã (por poucas ou pequenas que sejam) ajudam na vivência desta lei.

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8º O Escuta tem sempre boa disposição de espírito. A alegria é, sem dúvida, uma das características que se deve apontar a todo o escuteiro. Aquela alegria pura de quem tem a consciência tranquila, de quem se sente bem consigo mesmo e com o mundo que o rodeia. Quem assim procede consegue dominar sentimentos como a raiva ou a tristeza, revelando capacidade e força interior para enfrentar os maiores desaires. Mais: vivendo assim, o escuteiro opta por viver a vida com optimismo, preferindo a esperança à preocupação e ao medo.

«Como Caminheiro todos esperam de ti que não percas a cabeça e que em caso de emergência te servirás dela com alegria coragem e optimismo. Se conseguires …Meu filho, serás um homem.» BP – CT 195

É isto que importa transmitir: por mais difícil que seja o caminho, por mais desespero que se possa sentir, um Escuteiro espera sempre, em Deus, por dias melhores e sorri. Um caminheiro que não consegue sorrir perante as adversidades, anda distraído no seu caminho, seguramente. Problemas todos têm, mas aprender a enfrentá-los com boa disposição marca toda a diferença. Nos meios onde se movimenta (casa, escola, emprego,...) o caminheiro deve sobressair pelo seu sorriso. As equipas de animação são as primeiras a dar o exemplo. Elementos sisudos, normalmente, espelham a incapacidade de sorrir dos seus dirigentes. Nos caminheiros a equipa de animação deve ter um espírito alegre na resolução dos problemas do clã, deve também conseguir fazer a distinção entre a alegria que permite resolver problemas e arranjar soluções criativas e os excessos que podem provocar mau estar e desinteresse pelo que é realmente importante. 9º O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio.

Este artigo da Lei envolve três ideias distintas que se revelam bastante importantes num mundo consumista como o nosso, onde os bens materiais são cada vez mais valorizados.

Em primeiro lugar, defende que todo o escuteiro deve ser sóbrio. Com isto, pretende-se chamar a atenção para o equilíbrio que cada um deve ter na sua vida. Um escuteiro sóbrio vive sem exageros, tanto a nível de pensamento como de acções. Assim, por um lado contenta-se com o que tem, não tendo inveja do que os outros conseguiram; por outro lado, procura ter uma vida equilibrada, sem os exageros que todos os vícios implicam e sem desperdiçar o seu tempo.

«Como Caminheiro olharás ao futuro e não desperdiçarás tempo nem dinheiro em prazeres de momento, mas aproveitarás antes as OCASIÕES para teu futuro êxito.» BP – CT 195

Este comedimento envolve também o controlo do dinheiro. Por isso, defende também que o escuteiro deve ser económico: não gasta o seu dinheiro em inutilidades, não esbanja tudo o que tem, não arranja dívidas atrás de dívidas, é capaz de amealhar para se sustentar quando for necessário. É preciso ajudar a perceber que, o que traz felicidade não é a fortuna, mas sim o bom uso do que se tem e a satisfação que advém do trabalho. Por fim, o equilíbrio envolve também o respeito pelos bens dos outros: quem é sóbrio e económico valoriza o que faz e o que tem e, consequentemente, procede de igual forma para com os outros. Assim, protege o que lhe emprestam como se fosse seu e restitui-o quando já não precisa; devolve o que encontra ao seu legítimo dono; não rouba; não vandaliza propriedade alheia Estes são valores com muito pouca saída na sociedade actual. A aparente facilidade em adquirir tudo o que se deseja é uma realidade difícil de combater. Os caminheiros já têm maior liberdade, maior autonomia económica e mais conhecimentos…. Devem, portanto, saber usar o que lhes é dado da melhor forma, com equilíbrio e respeitando o que

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os rodeia. A vida do Clã é o melhor exemplo da aplicabilidade desta lei. Orçamentar actividades para evitar gastos desnecessários, estimar o material para que dure mais tempo, encontrar códigos de conduta em actividade e na base, por exemplo. São pequenos gestos que podem fazer a diferença. 10º O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.

Muitos pensam que o último artigo da Lei se relaciona directamente com a castidade, resumindo os seus ensinamentos à pureza física e mental que o cristão deve procurar ter.

Na verdade, porém, este artigo é muito mais profundo: se tivéssemos de condensar a Lei do escuta em poucas palavras, o resumo adequado seria este artigo. De facto, se o Escuteiro for puro em pensamentos, palavras e acções cumpre todos os outros preceitos da Lei que escolheu.

«Espera-se que, na qualidade de Caminheiro, não só tenhas ideias puras, mas também desejos puros e saibas dominar as tendências e abusos sexuais; que dês aos outros exemplo de pureza e sinceridade em tudo quanto pensas, dizes e fazes.» BP – CT 195

Quando procura a pureza de pensamentos, o Escuta evita o egoísmo e a inveja e procura que todas as suas intenções e ideias sejam pautadas pela verdade, tolerância e honestidade. Já a pureza nas palavras não se resume a evitar uma linguagem obscena e que choca os demais; implica também a capacidade de não dizer nada que possa pôr em causa a imagem de alguém: mexericos, rumores, acusações sem fundamento, chacota, etc.

Por fim, a pureza das acções impele o escuteiro a evitar todos os comportamentos potencialmente prejudiciais. Isto implica a renúncia a tudo o que atenta contra a sua própria dignidade e a do outro. O escuteiro não se comporta de forma prejudicial. Humilhante ou ilícita, não compele os outros a tais comportamentos e protege todos os que não se podem defender.

Os caminheiros estão numa fase de descoberta do mundo adulto. Movem-se em muitos meios, têm várias solicitações, conhecem uma variedade enorme de pessoas. A entrada para universidade, o começar a trabalhar, a possibilidade e a autonomia de viajar com alguma facilidade para outros países, as amizades, os namoros, etc. É portanto, desafiante manter a coerência e o equilíbrio no modo de pensar, falar e agir, mediante esta diversidade de estímulos. Para o chefe de clã e restante equipa, é um desafio acompanhar e estimular este processo. Conhecer os caminheiros com quem se trabalha é o primeiro passo para descobrir os aspectos onde têm maior dificuldade em manter esta pureza. Encontrar estratégias para trabalhar estes valores é exigente, mas é um trabalho enriquecedor.

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A honra do Escuta inspira confiança - VERDADE, CONFIANÇA e COERÊNCIA

O Escuta é leal. - LEALDADE e FIDELIDADE

O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção. - ALTRUÍSMO, HUMILDADE e AMOR

O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas. - AMIZADE, DISPONIBILIDADE e PERDÃO

O Escuta é delicado e respeitador. - RESPEITO e DELICADEZA

O Escuta protege as plantas - RESPONSABILIDADE, CONTEMPLAÇÃO e os animais e PROTECÇÃO

O Escuta é obediente. - OBEDIÊNCIA, DISCIPLINA e HUMILDADE

O Escuta tem sempre - ALEGRIA e ESPERANÇA boa disposição de espírito.

O Escuta é sóbrio, económico - SOBRIEDADE, ECONOMIA e HONESTIDADE e respeitador do bem alheio.

O Escuta é puro nos pensamentos, - PUREZA, INTEGRIDADE e RENÚNCIA nas palavras e nas acções.

b) como viver a Lei na Secção

Na IV Secção, a aprendizagem assume um cariz mais reflexivo, na medida em que o jovem é capaz de reflectir sobre o seu comportamento e o dos outros, compreendendo o que está certo e o que está errado. No entanto, e porque esta é uma fase complexa, de muita novidade e competição , na medida em que se luta por uma entrada na universidade, um emprego, uma casa, um carro… os valores escutistas não são facilmente aceites ou adoptados. Perante isto, o Dirigente deve recorrer a vivências para explorar com os Caminheiros os valores subjacentes à Lei e Princípios. Tudo serve, assim, para relembrar a importância de ter Leis e Princípios seguros e firmes: jogos, actividades que obriguem à utilização de valores, reflexões, histórias reais de defesa de valores, etc.

Neste processo, o Dirigente deve ter a consciência clara de que está a trabalhar para que os valores defendidos pelo escutismo se fortaleçam no espírito de cada escuteiro. Para que isto aconteça, não nos podemos esquecer que o exemplo ocupa um lugar central na educação. Assim sendo, é essencial que o chefe assuma como seus os valores que quer transmitir e se esforce por os cumprir, procurando ser, realmente, um modelo a seguir. E isto não se pode fazer apenas quando os elementos estão presentes, dado que não sabemos quando poderão estar a ouvir-nos ou ver-nos.

De facto, não é coerente pedir-lhes respeito uns para com os outros, sinceridade, solidariedade para com um elemento mais difícil ou paciência para com os desobedientes quando os Dirigentes não se falam, mentem, rejeitam algum elemento de forma ostensiva ou se descontrolam quando lidam com o Clã. Educa mais quem apresenta um comportamento baseado no apoio mútuo, no reforço positivo, na coerência de atitudes, no encorajamento perante o erro e o desânimo, na defesa de comportamentos saudáveis.

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A promessa

Iniciada há já algum tempo a etapa do Caminho (adesão), a data da Investidura e da Promessa estará a aproximar-se. É importante, para não dizer fundamental, que os Caminheiros entendam o verdadeiro significado da Promessa, que está para lá do que é visível – a simples imposição do lenço.

A promessa como um quadro-referência de valores

Prometo, Pela minha honra e com a graça de Deus, Fazer todos os possíveis por:

O Movimento Escutista contribui para a educação dos jovens propondo-lhes um projecto de vida assente em valores espirituais, sociais e pessoais a que devem aderir de forma livre. A Promessa deve ser então um momento de decisão pessoal, em que o Escuteiro, sentindo-se preparado para viver os valores descobertos e propostos na Lei, assume o compromisso de “fazer todos os possíveis por” os viver e aprofundar ao longo do seu crescimento. E assume-o com a consciência de que se está a responsabilizar -“pela minha honra”- e de que Deus o acompanha no seu esforço -“e com a graça de Deus”-.

Isto não significa que os caminheiros não possam faltar ao prometido (“fazer todos os possíveis por” implica esforço pessoal, mas não garante sucesso). Só quem não conhece a natureza humana poderá exigir ou esperar que não haja falhas. É aqui que o Dirigente assume um papel basilar: sempre que necessário, competir-lhe-á relembrar aos seus elementos, com o máximo de clareza, a Promessa e o que ela significa, para os ajudar a compreender a seriedade do compromisso que vão assumir. E caso verifique que os aspirantes ou noviços não assumem, com responsabilidade, a preparação para esse compromisso (ou seja, logo à partida não fazem “todos os possíveis por”), não deve permitir facilitismos: o lenço não se dá a qualquer um e de qualquer maneira, é ganho por aquele que de facto compreende que está a assumir um compromisso e que trabalha para o poder fazer de forma consciente.

Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria.

Deus é presença constante na nossa vida aparecendo de forma natural e espontânea. Ele partilha os nossos projectos, sonhos, inquietações e alegrias. Seria possível assumirmos um compromisso tão importante se não exprimíssemos a nossa Fé e não convidássemos Deus a estar presente, a fazer parte dele e a connosco caminhar? O nosso compromisso é com Ele, por Ele e diante Dele. E ao assumirmos este compromisso, incluímos também nele o nosso próximo, a família, os amigos e todos os que connosco fazem parte da Igreja de Deus: é nosso dever, como membros da comunidade eclesial, ser testemunha de Deus e mostrá-Lo aos outros no nosso dia-a-dia.

Para além disto, a Promessa é também um compromisso de cidadania. Devemos cumprir os nossos deveres de

Prometo pela minha honra e com a graça de Deus, Fazer todos os possíveis por:

- Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria.

- Auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias

- Obedecer À Lei do Escuta

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cidadãos para com a nossa Pátria, servir a terra em que vivemos, assumindo o compromisso de salvaguardar a Natureza, de fomentar a justiça, a paz, a solidariedade e de proteger e perpetuar as tradições históricas e culturais (idioma, tradições, músicas tradicionais, etc.) que fazem parte da nossa identidade.

Auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias

O Escuta deve estar disponível para auxiliar o próximo, não importando as condições e as circunstâncias em que o faz. Devemos assim combater a indiferença e prestar atenção aos sinais de quem precisa de apoio e muitas vezes sofre em silêncio, por vergonha, medo ou para não gerar preocupações. E o nosso auxílio ao próximo não tem que passar por actos de elevado heroísmo: pequenos gestos podem causar imensa felicidade. Neste sentido, a Boa Acção é um convite a agir e a converter o nosso compromisso em acções concretas. E a insistência na sua prática diária permite que cada escuteiro, de forma espontânea e gratuita, adquira capacidade de estar sempre preparado, de forma voluntária e sincera, para servir o próximo.

«Pela promessa Escutista estamos pela nossa honra obrigados a fazer todos os dias, alguma coisa pelos outros: “A Boa Acção”; pouco importa que seja insignificante: um sorriso, uma palavra uma ajuda! O importante é fazer qualquer coisa.»

BP-RF 32

Obedecer à Lei do Escuta

Prometer obedecer à Lei do Escuta não significa saber os artigos da Lei de cor, pela ordem correcta, ou cumpri-la de forma obrigatória.

O compromisso vai mais além: ao aceitarmos a Lei do Escuta, estamos a assumir a responsabilidade de viver de acordo com os seus valores. Pretende-se assim que vivamos a Lei: ela faz parte das nossas convicções, por ela pautamos a nossa integridade. Por isso, ao aceitarmos viver a Lei do Escuta, fazêmo-lo de forma natural, sem fingimentos, com responsabilidade e durante a toda a nossa vida. Decerto todos já ouvimos dizer: Escuteiro uma vez, Escuteiro para sempre.

O Dirigente tem como tarefa manter acesa esta “chama”, ou seja, manter nos seus elementos o desejo de ser fiel ao seu compromisso, não permitindo que se esqueçam dele. Para isto, sempre que possível deve relembrar aos seus escuteiros a sua Promessa, levando-os a reflectir sobre aquilo a que se comprometeram e a analisar o seu desempenho, crescimento e conduta individual. Uma das alturas propícias a esta reflexão é o momento em que Noviços ou Aspirantes fazem a sua Promessa: ao incentivar os Caminheiros mais velhos a acompanhar os mais novos na sua preparação para este compromisso e ao convidá-los a renovar a sua Promessa, o Dirigente está também a ajudá-los a crescer.

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Prometo… Compromisso pessoal

pela minha honra… Responsabilização pessoal

com a graça de Deus… Afirmação da Fé

Cumprir os meus deveres Fé, Missão

para com Deus, a Igreja e a Pátria. Cidadania

Auxiliar os meus semelhantes… Solidariedade, Amor

Obedecer à Lei do Escuta Responsabilidade

A Cerimónia

Por ser um acto de tanta responsabilidade, este o da Promessa, o Caminheiro não deve ser empurrado para ele, mas sim incentivado a preparar-se o melhor possível para este compromisso e a fazê-lo quando, realmente, se sente capaz e digno.

Assim sendo, deve-lhe ser permitido fazer a sua Promessa assim que acaba a etapa do Caminho. Não é obrigatório os Caminheiros fazerem a promessa todos juntos, ou mesmo com todo o Agrupamento. Nem podem ser penalizados com um ano de espera, quando assumem, conscientemente, que ainda não estão preparados para a fazer.

Enquanto compromisso pessoal, a Promessa deve ser feita quando o Caminheiro se sente preparado para tal. São as datas que se devem adaptar à preparação e caminho que o jovem se propôs a fazer e não o contrário.

Oração do Escuta

Ser leal para com Deus significa nunca te esqueceres Dele e recordá-Lo em tudo o que fazes. Se nunca O esqueceres, nunca farás nada de mal. E se te lembrares Dele quando estiveres a fazer qualquer coisa errada, deixarás logo de a fazer. Deus tem sido bom para contigo, por isso cabe-te fazer alguma coisa em troca que Lhe agrade; é esse o teu dever para com Deus.

Baden-Powell

A Oração do Escuta foi criada a partir de um texto de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e foi adaptada ao escutismo católico pelo Padre Jacques Sevin, jesuíta francês, fundador da associação Scouts de France. É utilizada como a Oração do Escuteiro em várias associações escutistas de todo o mundo.

A Oração do Escuta sintetiza dois aspectos essenciais da vida cristã, o Amor a Deus e o Amor ao próximo. O Caminheiro deve ser, em cada dia, a personificação desta oração, vivendo as dimensões do Caminheirismo na sua plenitude. Se não se identificar com a Oração do Escuta, dificilmente se identificará com aquilo que lhe é proposto enquanto Caminheiro.

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Senhor Jesus, O escuteiro dirige-se directamente a Cristo, num diálogo fraterno e respeitoso, abrindo o coração para O escutar.

ensinai-me A prece que faz é um pedido de sabedoria. O escuteiro não pede uma acção directa de transformação fácil e automática, pede que lhe seja ensinado como proceder, ele próprio, a essa transformação.

a ser generoso E segue-se a identificação das características dessa transformação: GENEROSIDADE - A generosidade é o dom daquele que dá, para satisfação da necessidade do próximo em detrimento da sua, e não porque lhe sobra.

a servir-Vos como Vós o mereceis SERVIÇO A DEUS

a dar-me sem medida

SERVIÇO AOS OUTROS – A missão

a combater sem cuidar das feridas

PERSEVERANÇA – A perseverança é o dom daquele que não desanima na contrariedade e na dificuldade, conservando-se firme e continuando o seu projecto.

A gastar-me sem esperar outra recompensa,

CAPACIDADE DE ENTREGA – A capacidade de entrega é o dom daquele que serve o outro, humilde, dedicada e confiadamente, sem medo do que possa vir.

senão saber que faço a Vossa vontade santa.

E FÉ – Que nos impele a termos uma relação pessoal com Deus e assim crescer na confiança de que o nosso maior bem está no cumprimento da Sua vontade.

Ámen

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4 – Aprender fazendo

Valor pedagógico do aprender fazendo O Escutismo tem como objectivo ajudar os jovens a desenvolver as suas capacidades integralmente, para que se tornem membros activos e responsáveis na sua comunidade. Contribui, assim, para um mundo melhor.

Para tal, o jovem não pode apenas ouvir dizer ‘como é que se deve fazer’ ou ver os outros a actuar. Para aprender é necessário experimentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um processo dinâmico e activo.

Nos escuteiros, quando o jovem vai acampar e tem de construir as infraestruturas do seu campo, está a passar para o campo do real o que o Dirigente lhe ensinou uma tarde na sede. Quando escolhe quais os projectos que gostaria de realizar e, motivado pelas suas escolhas, pela Equipa, pela saudável competição, se envolve na sua realização, ele está a aprender pela acção. Isto permite-lhe perceber a utilidade do que aprendeu (o que o motiva para aprender mais), desenvolver as suas capacidades e descobrir habilidades e gostos que, de outro modo, provavelmente não descobriria.

Papel do Dirigente:

“Ask the boy” dizia-nos B.-P. É dever do Dirigente ter noção das expectativas, sonhos, dificuldades, medos dos seus Caminheiros. Compete-lhe ser o orientador, o irmão mais velho, permitindo que o Caminheiro seja o principal motor da sua educação.

Educamos para a autonomia, por isso é necessário que eduquemos com autonomia. E isso é o aprender fazendo!

O Jogo

Crianças, jovens e adultos gostam de jogar. O Ser Humano é um ser lúdico, que espontaneamente se organiza para jogar a qualquer coisa, desde o mais simples ao mais elaborado e complexo jogo.

Para concretizar a sua intenção educativa, o escutismo apoia-se no jogo social espontâneo, ou seja, no dinamismo natural das crianças e jovens, neste gosto pelo jogo e na facilidade que eles têm de criar regras sociais e se organizarem para que o jogo funcione.

No escutismo, as dinâmicas de grupo são optimizadas na Patrulha (nos caso dos caminheiros, na Equipa), uma pequena sociedade, em que todos têm um papel importante, com direitos e deveres, onde só a vontade e trabalho de todos os pode fazer atingir os objectivos por eles delineados

O jogo estimula o desenvolvimento do jovem, quer pelas tarefas que executa, quer pelos ensinamentos que retira do

“A criança quer fazer coisas; então vamos encorajá-la a fazê-las, apontando-lhe o caminho certo e permitindo-lhe fazê-las como ela quer. Deixá-la errar; é através dos erros que ela constrói a sua experiência”.

Baden Powell

Experimentar

Autonomia

Fazer Curiosidade

Motivação

Desafio

Aprender

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ganhar e do perder, pela aprendizagem das relações sociais, pelas regras que tem que cumprir. Isto porque quando as crianças brincam ou os jovens cooperam, espontaneamente descobrem a necessidade de se organizar, de respeitar regras, de colaborar entre si, de interiorizar os valores do grupo.

Por meio do jogo, o escuteiro exercita as capacidades necessárias ao seu desenvolvimento integral; dentre elas: autodisciplina, vida em sociedade, afectividade, criatividade, valores morais, espírito de equipa.

O jogo é dos instrumentos mais importantes e poderosos que o educador tem ao seu dispor. Caracterizado pela espontaneidade, agrada a qualquer escuteiro, toca em várias áreas do desenvolvimento e permite conhecer cada indivíduo, assim como a sua interacção com o grupo.

Mais uma vez o papel do Dirigente e da Equipa de animação é fundamental. Cabe-lhes orientar para que o jogo seja mesmo motivador e motor de aprendizagem. Devem ajudar e orientar o jovens escuteiros, mas nunca resolver o problema por eles ou fazê-los sentir que o seu desempenho não é importante.

Nos jovens existe uma tendência natural e espontânea para que, rapazes e raparigas, se formem em pequenos grupos, sejam esses grupos formados para as mais diversas ocasiões, sendo uma delas o jogo.

É nesta base natural de convivência e crescimento que o Escutismo se baseia, pois o jogo responsabiliza a liberta os jovens, fazendo-os crescer. É por este facto que do jogo espontâneo advém um crescimento, uma aprendizagem, uma realização de algo em conjunto, onde o contributo de cada elemento é fundamental para a realização de um todo

A Caminhada – O Projecto do Clã Os Caminheiros, pela idade que têm, são mais ousados! São capazes de melhores acções e desempenhos, são mais autónomos para realizarem aquilo que idealizaram! São essencialmente ávidos de novos conhecimentos, de vivências diferentes, gostam de conhecer o Mundo, as pessoas, os lugares, as ideias… É assim que se definem como Homens, cidadãos do Mundo!

Como dizia o nosso sábio Fundador: “Os rapazes são capazes de encontrar Aventura num velho charco imundo”, ou, “A imaginação leva o rapaz através da pradaria e dos mares. No Escutismo ele sente-se parente do pele-vermelha, do pioneiro e do sertanejo.”

A ousadia é o catalisador de uma Caminhada. Se o projecto for cativante e assumido por todos com empenho, será de certeza um sucesso. Ousado, mas executável. Não pode estar desligado da realidade do Clã. Deve ser marcante por aquilo que o Clã consegue atingir em conjunto, que a título individual nunca seria possível. É responsabilidade das Equipas de Animação acompanhar os seus Caminheiros, para que se empenhem em Caminhadas ousadas mas equilibradas. Acompanhar todas as fases do projecto e vivê-lo com os Caminheiros, sempre na posição de irmão mais velho.

Jogo de Pista Raid Jogo de Cidade Jogo da Vara

Jogo Nocturno Peça para o Fogo de Conselho

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1. Pedagogia do Projecto

O Método Escutista é um enquadramento completo, composto por elementos que se interrelacionam e trabalham em conjunto como um sistema, para fornecer aos jovens um ambiente de aprendizagem rico e activo.

“Escutismo: um sistema educativo”, Wosm

O que é um Projecto?

É um conjunto determinado de acções interrelacionadas que se planeiam e implementam com vista a atingir um objectivo último num determinado prazo.

No Escutismo, é a principal “ferramenta” utilizada para organizar diferentes actividades visando um objectivo comum.

Um projecto escutista:

• …é um desafio colectivo; • …tem uma meta clara e um horizonte temporal; • …envolve 4 Fases principais; • …está baseado no uso do Método Escutista; • …incorpora uma variedade de oportunidades de aprendizagem; • …tem em conta interesses, talentos, capacidades e necessidades distintas; • …procura que todos e cada jovem da Equipa ou Clã esteja comprometido no atingir do objectivo através de

esforço pessoal.

2. Valor educativo do Método do Projecto • Desenvolve a capacidade de dialogar e trabalhar em cooperação com outros; • Contribui para garantir genuína participação dos jovens nas decisões que lhes dizem respeito e dá-lhes esse “treino”;

• Desenvolve a responsabilidade; • Desenvolve o sentido de “propósito” (efeito motivador); • Permite a descoberta de talentos ou a sua busca; • Permite treinar competências de diversa ordem; • Cria hábitos de funcionamento “em projecto” (úteis para a vida contemporânea);

3. As Fases da Caminhada

1ª Fase: Idealização e Escolha

• Motivação e orientação prévia (Conselho de Chefes de Equipa) – Importância, o que apresentar… • Concepção (Equipa) – Espaço de participação e criatividade • Apresentação (Equipa/Conselho de Clã) – Oportunidade de expressão • Escolha (Conselho de Clã) – Treino da democracia

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Ainda dentro da 1ª fase, o Conselho de Chefes de Equipa deverá proceder ao Enriquecimento da Caminhada:

• A valorização da actividade na sua globalidade: � Que aspectos devem ser reforçados na Caminhada? � Que outros objectivos se podem incluir? � Que aspectos operacionais merecem especial atenção?

• A valorização dos objectivos propostos: � Que objectivos concretos se querem atingir? � Que actividades se podem sugerir p ser adicionadas?

• A impregnação na actividade dos valores escutistas: � Que dimensões educativas se querem trabalhar com as acções? � Onde estão presentes os elementos do Método Escutista?

• A exploração na actividade até ao limite possível do progresso individual: � Que objectivos educativos podem ser trabalhados?

2ª Fase: Preparação

• Em Equipa/Conselho de Chefes de Equipa: � Actividades � Ateliers � Tarefas e Missões � Responsabilidades � Calendário � Recursos (Humanos, Financeiros, Materiais) � Contactos

• Elaboração do Painel da Caminhada;

3ª Fase: Realização

Viver o projecto! Agir, acampar, jogar, visitar, construir, cantar, representar! Vamos fazer tudo aquilo que preparámos! Actividades mal preparadas, geralmente são pobres e sem conteúdo e desmotivam os elementos.

4ª Fase: Avaliação

• É a fase de “extrair o sumo” ao que se viveu; • Feita pelo Clã e pelas Equipas; • Usar meios criativos e adequados (não é um exame); • Duas componentes essenciais:

Aspectos operacionais (como correu?)

Aspectos educativos (o que se adquiriu?)

• Reconhecer o progresso feito (ligação com a celebração): objectivos educativos, insígnias de especialidade… • Que orientações ficam para o futuro? (próxima Caminhada?)

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Em suma:

1ª Fase: ESCOLHA 2ª Fase: PREPARAÇÃO 3ª Fase: REALIZAÇÃO 4ª Fase: AVALIAÇÃO

Reunir as ideias individuais

Organizar, planificar e enriquecer a Caminhada

Viver o projecto ! Agir, acampar, jogar, visitar, construir, cantar, representar! Vamos fazer tudo aquilo que preparámos!

Celebrar e festejar o final da Caminhada

Celebração da Caminhada

Preparar um projecto de Equipa

- tema sugestivo e cativante;

- o que queremos fazer, como e porquê o queremos fazer e onde o queremos fazer;

Reunir o Conselho de Chefes de Equipa - definir e distribuir tarefas pelos elementos e

Equipas

Painel da Caminhada

Avaliar a Caminhada:

- Avaliação global, com proposta de alteração/ correcção do que correu menos bem

- Objectivos alcançados

- Níveis de participação

Deverão então reunir os Conselhos de Chefes de Equipa e de Clã.

Apresentação do projecto da Caminhada:

� original e criativa - cartazes, canções, peças de teatro, fotografias, mapas,

postais

Eleição do projecto em Clã

A Equipa de Animação acompanha o projecto e aconselha sempre que achar necessário

A Equipa de Animação:

- Vive a Caminhada!

- Estimula o Clã

- Soluciona “imprevistos” em conjunto com os caminheiros

A Equipa de Animação (em conjunto com os caminheiros):

- Lança pontos para debate

- Balanço da Caminhada e objectivos alcançados

- Análise de CCA

Actividades da IV Secção

Uma actividade é um conjunto de experiências que proporciona a cada jovem a oportunidade de adquirir conhecimentos, competências e atitudes que o/a levam a atingir um ou mais objectivos educativos estabelecidos.

RAP, WOSM

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No Movimento escutista, os jovens aprendem fazendo. A aprendizagem pela acção permite uma aprendizagem por descobertas, fazendo com que os conhecimentos, atitudes e habilidades se interiorizem de forma natural. Assim, de alguma maneira, os jovens autoeducam-se. As actividades, são o meio privilegiado para alcançar essa aprendizagem.

ACTIVIDADE EXPERIÊNCIA

Atendendo ao efeito que se pretende que as actividades tenham nos jovens é importante, senão mesmo fundamental, que as actividades sejam programadas, seleccionadas e desenvolvidas de forma adequada. O improviso pode ser nefasto para as experiências que os jovens possam vir a adquirir de uma actividade preparada “em cima do joelho”.

Por outro lado, é importante introduzir inovações, especialmente nas actividades que tendem a seguir um padrão na sua forma de realização. Introduzamos variações, questionemo-nos se não poderemos melhorar essas actividades ou introduzir novas componentes que as tornem mais atractivas, sob pena dessas mesmas actividades perderem o seu valor educativo e o seu interesse por parte dos nossos jovens escuteiros. Não podemos deixar assim que a rotina se instale e constitua uma “pedra na engrenagem”.

• É a acção que se desenvolve entre todos;

• É um instrumento que gera diferentes situações;

• É o que se passa e é apreendido por cada pessoa; • É o que se obtém da acção desenvolvida; • É o resultado que se produz no jovem ao enfrentar diferentes situações;

Exemplos de actividades de campo:

• Descida de rio em jangada; • Raid de Sobrevivência; • Hike; • Acampamentos; • Limpeza de matas/florestas/praias

Exemplos de actividades desportivas:

• Realizar jogos de diversas modalidades • Realizar torneios • Realizar jogos tradicionais; • Realizar trilhos pedestres

Exemplos de actividades de expressão:

• Espectáculo de dança (tipo anos 60/80); • Teatro; • Mimar/encenar parábolas; • Exposições; • Ateliers de expressão dramática; • Ateliers de pinturas faciais e caracterização; • Ateliers de construção de instrumentos musicais; • Jornal do Clã.

Exemplos de actividades sociais:

• Realizar uma festa de Natal; • Animar uma festa para doentes e/ou idosos; • Colaborar em angariações de instituições (tipo banco Alimentar); • Realizar urna campanha de angariação de brinquedos; • Organizar um pedypaper.

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5 – Contacto com a Natureza

“A floresta é, simultaneamente, um laboratório, um clube e um templo” — B.-P.

A utilização do contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os jovens é, de facto, uma característica do escutismo e um dos elementos fundamentais do método escutista. Pelo valor pedagógico que contém, como espaço, tabuleiro, do jogo escutista, como espaço de desenvolvimento de instintos e capacidades intrínsecas, como oportunidade de crescimento e de desenvolvimento da consciência crítica, como materialização, visível, da obra do Criador, interessa, por isso, dela retirar todo o aproveitamento. Para um escuteiro o contacto com a natureza é, por isso, condição imprescindível para um crescimento pessoal e colectivo Valor pedagógico

a) Um laboratório O contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens em relação à gestão dos recursos naturais que toda a comunidade tem ao seu dispor e ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte dessa mesma comunidade. Assim, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza, a criança, o adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e de censura — em relação aos seus pares, mas também aos mais velhos, que lhes dão uma espécie de autoridade moral essencial.

Porquê um laboratório? — Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadeiramente, as importantes; — Porque o jovem pode adquirir a consciência de que é passageiro, e não dono, o único proprietário do planeta; — Porque promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabilidade individual; — Porque permite a aquisição de conceitos como o da Ecologia e o do desenvolvimento sustentável; — Papel do Dirigente: Neste processo, compete ao dirigente incentivar os seus elementos a assumir comportamentos saudáveis e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de que o exemplo é o melhor meio de educação.

— Boas práticas: - Incentivo à separação de lixos - Reaproveitamento e reutilização de alguns objectos (reciclagem) - Compostagem - Iluminação com baterias recarregáveis por painel solar - Drenagem e filtragem das águas de lavagem - Monitorização das águas de algum curso de água - Contacto com centros de investigação e conservação da Natureza (ICN) - Investigar que forma de cozinhar causa mais impacto e consciencializar o Grupo

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b) Um clube O espaço natural é o palco preferencial para a realização de actividades escutistas. Lembrar-nos-íamos, imediatamente, do acampamento, mas convém salientar que todo o jogo escutista tem como território ideal o ar livre e a Natureza. É a partir da sua observação e da vivência, individual e colectiva que a criança, o adolescente e o jovem recolhem o conjunto das regras primárias e instintivas que presidem à natureza humana e às regras sociais elementares, por exemplo.

Porquê um clube? — Porque permite o confronto com um espaço menos confortável que leva os escuteiros a superar as suas dificuldades e incentiva o respeito pela natureza; — Porque possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas características, entraves e obstáculos; — Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suficiência, de conhecimento do seu próprio corpo e do ambiente que o rodeia;

— Papel do dirigente: Compete ao dirigente, a este nível, desenvolve, sempre que possível, actividades de relação com a Natureza que permitam o crescimento saudável e harmonioso dos escuteiros.

— Boas práticas: - Identificação de diferentes espécies de Avifauna (procurar panfletos de avifauna local e tentar a partir deles identificar as especiais que vão aparecendo durante uma pista ou raid) - Criação de Herbários - Recolha de Pegadas de Gesso e elaboração dos seus positivos - Identificação de espécies protegidas e não danificação da vegetação durante a montagem do campo - Limpeza de matos com o cuidado de não danificar - Jogos com o contacto com os elementos naturais, explicando a importância de cada um deles - Visionamento de documentários em vídeo sobre o animal Totem da Patrulha

Anotações: - Carta do índio Seattle - Papalagui - Princípios Escutistas vs. Educação Ambiental - Desenvolvimento Sustentável - Eco (casa) + logia

Bibliografia para aprofundar:

Escuteiro Global, de Frankie Opie Ajuda a salvar o Mundo 50 Actividades para Miúdos, Cecilia Fitzsimons Sendas Ecológicas, Edições Salesianas

Anotações: - À contrário sensu — O Deus das Moscas, William Golding Bibliografia para aprofundar: - As mil e uma actividades para Escuteiros

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c) Um templo A natureza é, para o jovem, também, um espaço de contemplação e de deslumbramento. É a arena mais limpa e clara de toda a obra da Criação. O jovem é convidado a descobrir nela as mais elementares intenções de sã convivência, mas também de livre arbítrio dado por Deus ao Homem. A criança, o adolescente e o jovem têm na Natureza o espaço de contemplação, de deslumbramento, a montra privilegiada para vivenciar Deus.

Porquê um templo? — Porque, nas palavras de B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”; — Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a activação de todos os sentidos e da própria natureza da pessoa; — Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela razão e pela lógica, a intervenção quase directa do Espírito Santo na pessoa.

— Papel do dirigente: Incentivar, sempre que possível, atitudes de contemplação e de reflexão sobre as maravilhas da Criação, auxiliando os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus.

— Boas práticas: - Oração de contemplação daquilo que o rodeia o Homem (vegetação, estrelas, rios, etc.), incentivando cada um a agradecer a beleza das flores, dos verdes, do perfume no ar, do sol (no fundo aquilo que torna especial o lugar de acolhimento, por mais singelo que seja). - Jogos e contemplação: ao amanhecer tentar perceber o que estarão a dizer os pássaros uns para os outros ao acordar; ao anoitecer tentar perceber o que desejariam os animais ali à volta.

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6 – Progresso pessoal

Valor pedagógico

A progressão pessoal tem por objectivo essencial ajudar cada jovem a envolver-se activamente e de forma consciente, no seu próprio desenvolvimento.

O Sistema de Progresso é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal e tem três características principais:

- é centrado no indivíduo; - considera as capacidades de cada um; - é baseado num conjunto de objectivos educativos.

Permite assim atingir os objectivos educativos da Secção – Objectivos Educativos Finais, no caso dos Caminheiros- (adquirir conhecimentos, competências e atitudes), sendo um factor de motivação para o jovem (ser e fazer melhor). Para além disso, guia-o no seu percurso de desenvolvimento, sendo uma oportunidade de aprofundamento de habilidades próprias, valorização pessoal ou até mesmo de descoberta vocacional. O Sistema de Progresso impulsiona o jovem a adquirir “rotinas” de análise e planeamento da sua vida.

O Sistema de Progresso é orientado por Objectivos Educativos Finais e apresenta as seguintes componentes, que representam as suas principais vantagens:

- o diagnóstico inicial é valorizado;

- há um reforço da consciência pessoal do caminheiro no que diz respeito ao seu progresso e à sua preparação para a Promessa (é ele que reconhece que está preparado para assumir um compromisso com o Clã)

- são definidas oportunidades educativas como programa-guia que permite atingir determinados objectivos a nível de crescimento;

- na relação educativa entre Caminheiro e Dirigente surge a possibilidade de negociação sobre o caminho a percorrer e as metas a atingir;

- o diagnóstico, a avaliação e o reconhecimento envolvem diversos intervenientes (os pares, os Dirigentes e outros organismos), o que enriquece o processo.

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A estrutura do Sistema de Progresso

A passagem do jovem pela secção é distribuída em 2 grandes fases: a integração e a vivência. Durante a integração, o Caminheiro faz a sua adesão. Durante a vivência, ele evolui nas etapas de progresso

Fase de Integração Fase da Vivência

Etapa Caminho (Adesão) Etapa Comunidade Etapa Serviço Etapa Partida

Diagnóstico inicial

Diagnóstico inicial quando o jovem chega ao Clã

Todas os jovens que entram para o Clã são diferentes em diversos aspectos: idade, contextos familiares, escolares e profissionais, níveis de desenvolvimento, aptidões e dificuldades. Desta forma, poderão estar em estádios de desenvolvimento diferentes e o Chefe de Clã deverá ter por missão promover – a partir de pontos de partida diferenciados – um desenvolvimento pessoal harmonioso — que idealmente os levará a atingir em pleno os Objectivos Educativos Finais.

No âmbito de um sistema de progresso orientado por objectivos torna-se pois imprescindível conhecer o jovem que chega ao Clã – a isto chamamos o diagnóstico inicial.

Esta fase será crucial para a posterior escolha dos objectivos, uma vez que esta escolha deve ter em consideração as necessidades de desenvolvimento do jovem adulto. O Aspirante/Noviço deverá ser incentivado a escolher objectivos onde o seu desenvolvimento seja mais necessário e a concretizá-los em acções práticas no seu PPV.

O diagnóstico inicial e formal deverá ser realizado, em conjunto, pelo Aspirante/Noviço, pelo Chefe de Clã e por um Caminheiro mais experiente, escolhido pelo Aspirante/Noviço. Poderá ser necessário recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito.

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Este diagnóstico mais formal irá servir para reconhecer – depois da sua fase de adesão - em que Etapa de Progresso o Caminheiro se encontra, ou seja, que Objectivos Educativos ele já detém e que equivalência será atribuída em termos de Etapa de Progresso:

A área de desenvolvimento Físico tem 6 objectivos.

A área de desenvolvimento Intelectual tem 7 objectivos.

A área de desenvolvimento Carácter tem 8 objectivos.

A área de desenvolvimento Afectivo tem 6 objectivos.

A área de desenvolvimento Espiritual tem 9 objectivos.

A área de desenvolvimento Social tem 6 objectivos.

Como o desenvolvimento de pretende equilibrado, mesmo que o elemento já tenha alcançado todos os objectivos de uma determinada área e desenvolvimento, não completa Etapa nenhuma, estas só estão completas quando ele atinge, pelo menos, 2 objectivos de cada área de desenvolvimento.

Na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o elemento já tenha alcançado algum objectivo este fica “fechado” e escolhe outros objectivos para a sua 1ª etapa (2 a 3 de cada área).

Assim, no reconhecimento do progresso pessoal:

- menos de 2 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançado – etapa 1 (Comunidade)

- entre 2 a 4 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançados – etapa 2 (Serviço)

- mais de 4 objectivos de cada área de desenvolvimento alcançados – etapa 3 (Partida)

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Exemplo de ferramentas de diagnóstico para a atribuição de objectivos

1- Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes da IVsessão – Pode também ser usada como diagnóstico. Ver anexo 3

Poderá ser preenchida (na totalidade ou parcialmente) pelo próprio, com a ajuda do Chefe de Equipa, do Chefe de Clã…. Poderá inclusive valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo de acontecimentos e atitudes que exemplifiquem. Se todos os intervenientes, ou a maioria, especialmente o próprio, considerar aquele objectivo adquirido, poderá ser validado. Sem receio de ter de voltar a ele no próximo ano, se se reconhecer essa necessidade.

2- A entrevista com o Chefe de Clã ou adjunto é um momento de reflexão, conhecimento e crescimento muito importante. Para o Dirigente é uma oportunidade privilegiada para conhecer melhor aquele caminheiro. Para o jovem é uma experiencia única de se conhecer melhor e ver reconhecido o seu valor. É uma oportunidade para validar objectivos, mas também para definir prioridades, dar corpo a projectos individuais (dentro e fora do escutismo) e formas de os implementar.

3- E, claro, o Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiencias de aprendizagem activa, constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer.

Esquema resumo

Exemplo 1:

A Carolina tem 5 objectivos da área de desenvolvimento Físico, 2 da área de desenvolvimento Intelectual e 3 da área de desenvolvimento Social, ainda tem de alcançar 2 objectivos (pelo menos) de cada uma das outras 3 áreas restantes, antes de fechar a etapa 1 - Comunidade.

Exemplo 2:

Caso tenha (pelo menos) 12 objectivos alcançados (2 em cada área de desenvolvimento) está na 2ª etapa e escolhe mais (pelo menos) 12 objectivos (2 de casa área de desenvolvimento) para a completar.

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Transição

entre sistemas de progresso

?

Diagnóstico com base no conhecimento adquirido e com

participação do caminheiro.

Ele é incentivado a incluir no seu PPV as acções concretas para

atingir os objectivos que escolhe, apoiando-se do seu chefe de clã,

e que apresenta ao clã.

PPV tem uma parte aberta e uma parte reservada.

SimNão; é aspirante ou noviço

Idade é superior a 18

anos?

Sim

Diagnóstico inicial formal do noviço/aspirante com apoio do chefe de clã e de um caminheiro

mais experiente por ele escolhido, com recurso a dinâmicas específicas.

Noviços: pode haver uma conversa entre chefes de unidade para “passar testemunho”.

Adesão.

Algum objectivo dado como alcançado é fechado.

Escolha é baseada em objectivos (2 a 3 de cada área) e não necessariamente em trilhos.

Noviço/aspirante é incentivado a concretizar os objectivos que vão ser trabalhados com acções práticas (oportunidades), que insere

no seu PPV.

PPV tem uma parte aberta e uma parte reservada.

Não

Pelo menos 2 objectivos de

cada área?

SimNão

Etapa 1Pelo menos

4 objectivos de cada área?

Não

Etapa 2

Etapa 3.

Nesta última etapa, o caminheiro continua a sua

progressão e inicia ao desafio.

Sim

Diagnóstico com base no conhecimento adquirido e com participação do caminheiro.

Adesão.

Ele é incentivado a incluir no seu PPV as acções concretas para atingir os objectivos que escolhe, apoiando-se do seu chefe de

clã, e que apresenta ao clã.

PPV tem uma parte aberta e uma parte reservada.

Adesão informal ao Clã

A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista no Grupo Pioneiro. Neste último trimestre, o Pioneiro continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas do grupo pioneiro. Pretende-se que ele se vá familiarizando, de forma informal, com o Clã.

O objectivo é promover uma aproximação aos Caminheiros, que funcione como “quebra-gelo” e que ajude a colocar os Pioneiros que passam para a IV Secção mais à-vontade, promovendo uma integração mais fácil, a partir do momento da efectiva passagem e do início da adesão formal.

Pretende-se que os Chefes de Equipa convidem o Pioneiro a participar numa actividade, de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do Clã, conhecer as Equipas, os seus Chefes de Equipa, os Dirigentes e a Base. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando, sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.

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Adesão formal ao Clã

Quando chegam à IV Secção, os Noviços e Aspirantes recebem uma insígnia da Etapa Caminho (adesão) no seu início.

O objectivo da adesão é o de valorizar a tomada de consciência individual do Noviço/Aspirante sobre como funciona o Clã, como se vive o dia-a-dia das actividades típicas, qual é a mística e a simbologia e quais são os compromissos que se espera de um Caminheiro. É com base nessa tomada de consciência individual que cada Noviço/Aspirante toma, por si, a decisão de aderir ao Clã, ou seja, de fazer a sua promessa, ou não.

O Noviço/Aspirante deve, durante a Etapa Caminho, conhecer a organização do Clã e das Equipas, a sua mística e a sua simbologia. Deve conhecer o patrono, o seu percurso de vida e o exemplo que ele constitui para o Caminheiro.

Durante a Etapa Caminho, o Noviço/Aspirante deve participar no quotidiano da Equipa e do Clã. Deve ainda participar activamente numa Caminhada, com duração entre os 3 e os 4 meses. O objectivo é que conviva de perto com a aplicação do método a uma actividade típica da secção.

Em adição, é durante a Etapa caminho que o Noviço/Aspirante toma conhecimento das áreas de desenvolvimento (“percursos”- linguagem utilizada pelos caminheiros) e dos objectivos educativos (“objectivos”). Cada Caminheiro é incentivado, após ter seleccionado 2 a 3 objectivos educativos de cada área de desenvolvimento, a incluir acções concretas no seu PPV que concretizem esses objectivos. Os objectivos educativos serão assim trabalhados pelos próprios Caminheiros.

Pretende-se ainda que nesta fase de adesão, o Noviço/Aspirante contacte e reflicta sobre o compromisso que deverá assumir formalmente na sua investidura. Com base em dinâmicas propostas, deverá progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a sua decisão de aderir, ou não, ao clã.

A duração da Etapa Caminho deverá ser adaptada ao Noviço/Aspirante. Cada indivíduo necessitará de tempo diferenciado para tomar a sua decisão de aderir. Sugere-se que não ultrapasse os 9 meses.

A validação do andamento da adesão e da decisão de aderir dos Noviços/Aspirantes deve ser feita nos Conselhos de Chefes de Equipa e deve haver uma validação da reunião das condições particulares de adesão, nomeadamente no que toca à vivência na Equipa, no Clã e na actividade típica.

O Clã deve também validar a decisão de fazer a Promessa do Noviço/Aspirante, com base em proposta dos Chefes de Equipa no Conselho de Clã.

A Promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão. Por isso, deve ser individualizada e marcada durante os 2 meses seguinte da decisão de fazer a Promessa e respectiva validação. Os Noviços/Aspirantes podem assumir o seu compromisso em conjunto, agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e validação do Clã.

No caso dos Aspirantes, deve adicionar-se, no campo do conhecer, a organização do agrupamento, a vida e mensagem de Baden-Powell e o domínio prático de técnica escutista e pioneirismo.

Por exemplo, para o objectivo da área de desenvolvimento Físico: “Cultivar um estilo de vida saudável e equilibrado – alimentação, actividade física e repouso – adaptado a cada fase do seu desenvolvimento”, o Caminheiro que tenha escolhido este objectivo deverá ser incentivado a concretizá-lo com o que para ele isto significa, podendo, inclusivamente especificar acções concretas (por exemplo, começar a praticar andebol, tomar 5 refeições por dia incluindo alimentos de cada um dos diversos grupos da nova roda dos alimentos em pelo menos 2 dessas refeições e cultivar um estilo de vida que valorize um período de sono de pelo menos 7 horas diárias).

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O Compromisso

Durante a Fase de Integração cada Caminheiro irá viver esta nova experiência de forma muito pessoal – a adaptação a novas pessoas e a novas dinâmicas podem por isso resultar em ritmos muito diferentes, que devem ser respeitados.

Por outro lado será nesta fase também que o Caminheiro irá conhecer o que se espera dele quando aderir formalmente ao Clã. Com o apoio do Chefe de Clã e de um Caminheiro mais experiente, tendo em conta o diagnóstico inicial, o Caminheiro irá escolher o seu primeiro percurso de progresso.

Neste sentido e sempre com o objectivo de colocar o jovem no centro da acção pedagógica, deverá ser em primeiro lugar o jovem a reconhecer que quer pertencer ao Clã e que está apto a fazer a sua promessa – a assumir o seu compromisso perante o Clã.

Também em termos de Etapas de Progresso e com a clara intenção de reforçar esta vertente de compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada Etapa. Corresponde ao compromisso assumido pelo Caminheiro em procurar progredir nos conhecimentos, competências e atitudes que o levam a atingir os Objectivos Educativos Finais.

Etapas de progresso

No caso dos Caminheiros, os nomes propostos para as etapas de progresso são Caminho (adesão); Comunidade, Serviço e Partida.

Caminho - Adesão

É nesta fase que o Noviço/Aspirante inicia o seu caminho no Clã. Enceta essa grande aventura de querer tornar-se Caminheiro. Inicia o caminho rumo ao Homem-Novo

Comunidade – Etapa 1

Ao fazer a sua Promessa, assume o compromisso de pertencer a esta comunidade – os caminheiros – mas também de ser activo na comunidade a que pertence. É altura de partilhar experiências, e de se dedicar ao Clã que acaba de recebe-lo como irmão.

Serviço – Etapa 2

Ao longo do seu percurso, o caminheiro vai, cada vez mais, assumindo o Serviço como modo de vida. Nesta Etapa, o serviço ao outro e a vontade de ser melhor deve estar em alta.

Partida – Etapa 3

Esta é a Etapa em que o Caminheiro se assume como um exemplo para os outros. Está casa vez mais próxima a saída do Clã e as atenções do Caminheiro devem-se voltar, cada vez mais, para fora do Clã e tornar-se cada vez mais activo no mundo. Esta é a Etapa em que se deve preparar, mais intensivamente, para a Cerimónia da Partida. É, também, onde é convidado a fazer o seu Desafio.

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Note-se que as Etapas têm o mesmo nome das dimensões do Caminheirismo. Cada Etapa valoriza cada uma dessas dimensões, mas as outras não devem ser deixadas para trás, abandonadas ou esquecidas. O Caminheiro deve ter sempre presente todas as suas 4 dimensões

A proposta de progresso assenta em conhecimentos, competências e atitudes, com base das 3 vertentes do saber: o saber-saber, o saber fazer e o saber ser.

No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso vá de encontro aos objectivos definidos para cada uma das áreas de desenvolvimento.

Progredir significará assim atingir objectivos, ao invés de aumentar o nível de proficiência em conhecimentos, competências e atitudes que o jovem já dominava.

Exemplificando, nesta proposta, pretende-se que o jovem seja capaz de jogar um jogo em equipa. Se ele já pratica regularmente um desporto de equipa, o objectivo está cumprido. O progresso será então tentar desenvolver outras atitudes que levem a atingir outros objectivos.

Cada uma das 3 etapas será variável e compõem-se da seguinte forma:

- Existem 6 áreas de desenvolvimento: afectivo, carácter, espiritual, físico, intelectual e social.

- Cada área de desenvolvimento tem entre 6 a 9 objectivos

Cada Caminheiro constrói a sua Etapa de Progresso, seleccionando 2 a 3 Objectivos Educativos de cada uma das diferentes Áreas de Desenvolvimento.

Exemplo: O Tiago pode, após a sua adesão, seleccionar os seguintes objectivos: (afectivo) -Valorizar e demonstrar sensibilidade nas suas relações familiares e afectivas, de modo consequente com a opção de vida assumida. - Desenvolver capacidades de expressão e sensibilidades estéticas próprias. (carácter) - Ser capaz de formular e construir as suas próprias opções, assumindo-as com discernimento. - Mostrar-se responsável pelo seu desenvolvimento, colocando a si próprio objectivos de progressão pessoal. (espiritual) - Caminhar na conversão e adesão aos valores do Evangelho, vivendo as propostas da Igreja. - Conhecer e aceitar as diferentes manifestações espirituais. (físico) - Identificar e evitar, na vida quotidiana, os comportamentos de risco relacionados com os hábitos alimentares, da actividade física e/ou do consumo de substâncias. - Conhecer e aceitar o desenvolvimento e amadurecimento do seu corpo com naturalidade. (intelectual) - Ter definido o seu itinerário de formação e qualificação profissional preocupando-se em mantê-lo actualizado. - Lidar com novas situações e desafios fazendo uso dos conhecimentos e resultados de experiências anteriores. (social) - Conhecer a existência de diferentes papéis num grupo e desempenhar com competência o seu papel no mesmo. - Expressar-se de forma clara e empática. Para o Tiago, a combinação desses 12 objectivos educativos constituem a minha etapa Comunidade.

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Outro Caminheiro pode escolher alguns destes objectivos na sua selecção para efeito da sua etapa Serviço.

A liberdade de escolha compete inteiramente ao Caminheiro. No entanto, o Chefe de Clã e o Chefe de Equipa desempenham aqui um papel importante, a 2 níveis:

- No apoio do diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o Caminheiro já detém e que o ajudam a seleccionar os objectivos que irão constituir as suas Etapas;

- Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

Os conhecimentos, competências e atitudes são trabalhados no seio do Clã e da Equipa no desenrolar do dia-a-dia e das fases da vivência das caminhadas, como se exemplifica no Anexo 4.

O Progresso faz-se através de Oportunidades Educativas que o nosso método, com as suas 7 maravilhas, oferece. Sem necessidade de recorrer a provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem.

No nosso Sistema de Progresso faz sentido dizer-se que “o Caminheiro deu provas de” (porque isso foi observado em conhecimentos, competências e atitudes) em vez de “o Caminheiro prestou provas” (porque realizou uma determinada acção prevista num sistema de progresso com provas especificadas).

As Oportunidades Educativas

Tudo o que os Caminheiros fazem dentro e fora do movimento ajuda-os a alcançar os Objectivos Educativos da Finais, ou seja, a crescer nas 6 áreas de desenvolvimento pessoal.

E os Objectivos Educativos que apresentamos aos jovens nesta idade não são mais do que propostas atractivas que os desafiam a ser mais e melhor.

Desta forma as Oportunidades Educativas permitem que cada jovem viva experiências enriquecedoras, e são essas mesmas experiências que levam ao desenvolvimento pessoal.

Neste sentido a cada Objectivo Educativo foram associadas algumas oportunidades educativas – meras sugestões – que podem ser adaptadas e “negociadas” com os Caminheiros. Pretende-se assim criar condições para acolher novas propostas e sugestões de Oportunidades Educativas, potenciando desta forma a participação dos jovens no processo.

As Oportunidades Educativas contribuem para se alcançar os objectivos educativos de uma forma indirecta e progressiva. Isto significa que não existe uma relação directa entre a realização de uma oportunidade e o alcançar de um Objectivo Educativo. Mediante a avaliação do desenvolvimento do jovem – e não da realização ou não da Oportunidade Educativa – poderá ser necessário escolher novas Oportunidades Educativas e insistir na aquisição de novos conhecimentos, competências ou atitudes

No anexo 1 podem encontrar os quadros com a lista das oportunidades educativas propostas para cada objectivo educativo da IV Secção

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Os Caminheiros podem ainda adquirir conhecimentos, competências e atitudes na sua vivência escolar, catequética, nos clubes a que pertençam, equipas de outros organismos, etc. A ideia é o Chefe de Clã verificar esses conhecimentos, competências e atitudes, sem que o Caminheiro tenha que as repetir, necessariamente.

O PPV conterá uma parte aberta, em que o caminheiro expressa as suas escolhas. Essa parte é partilhada com a Equipa e com o Chefe de Clã. Será, também, com base nessa partilha que a carta de clã deve ser construída. O Chefe de Clã terá agora acesso às escolhas que o caminheiro fez para o poder apoiar e acompanhar no seu progresso.

O PPV conterá ainda uma parte fechada, partilhável ou não, em que o Caminheiro expressa objectivos mais pessoais e íntimos.

Especialidades

O desenvolvimento de aptidões associadas a especialidades durante a fase da vivência no Clã constitui igualmente uma Oportunidade Educativa para progredir. Tal como no desempenho dos cargos e das funções, o trabalho no desenvolvimento dessas aptidões e a sua aplicação na vida quotidiana das equipas privilegiam o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento, como pode ser ilustrado no quadro do Anexo 6.

Este trabalho nas especialidades pode e deve iniciar-se a partir do momento em que se iniciou a fase da vivência, isto é, logo após o jovem ter realizado o seu compromisso e ter seleccionado os (pelo menos) 12 Objectivos (pelo menos 2 de cada área de desenvolvimento) que compõem a sua etapa Comunidade.

Avaliação

A avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes adquiridas e validação de objectivos educativos concluídos deve ser feita de forma contínua, ao longo da vivência escutista do jovem. Ver Anexo 3

O reconhecimento que os objectivos foram alcançados e a consequente atribuição da conclusão das etapas de progresso deve ser feito na fase da celebração das Caminhadas.

Nos Caminheiros, é na vida da Equipa que se vão debatendo os conhecimentos, comportamentos e atitudes que cada Caminheiro vai adquirindo e que poderão ser indícios de que um determinado objectivo poderá estar concluído. Este processo deverá ser induzido pelo próprio e apoiado pelo Caminheiro mais experiente que foi escolhido pelo próprio. O Caminheiro, tendo concretizado os objectivos com acções concretas, na fase da escolha dos novos objectivos, tem ao seu dispor um excelente indicador sobre a sua própria progressão.

Se a equipa concorda que um Caminheiro concluiu um determinado objectivo, o Chefe de Equipa apresenta esse caso no Conselho de Chefes de Equipa seguinte, sendo o assunto debatido entre os Chefes de Equipa. No caso de Equipas isoladas (quando só há uma Equipa, por haver menos de 10 caminheiros),o assunto é debatido em Equipa e com o Chefe de Clã.

Se os Chefes de Equipa se colocam de acordo, interpelam o Chefe de Clã para obter a sua validação que, em caso afirmativo, significa que ao Caminheiro lhe foi atribuído o objectivo como concluído.

Caso os Chefes de Equipa não concordem com a conclusão do objectivo, ou estes concordando, o Chefe de Clã dá parecer desfavorável fundamentado, o Chefe de Equipa do Caminheiro em causa explica, na Equipa, a não aceitação da sua proposta, explicando ao Caminheiro o que ele deverá ainda adquirir, em termos de conhecimentos, competências e atitudes, para que possa concluir o objectivo.

Reforçando o papel e a importância dos “pares” e partindo da premissa de que o Clã é autogerido pelos membros

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que o compõem, também a componente do progresso deverá ser acompanhada e avaliada pelos seus elementos.

O Conselho de Chefes de Equipa será o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas com o progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de progresso.

Nota: A Promessa e a Partida são aprovadas pelo Conselho de Clã.

Novos “agentes” foram considerados na fase de avaliação do Progresso Pessoal. Partindo do pressuposto que tudo o que os Caminheiros fazem, dentro e fora dos escuteiros, contribui para o seu desenvolvimento e que existem Oportunidades Educativas a ser concretizadas em outros “ambientes educativos” tal como a escola, associações, instituições etc, em alguns casos a avaliação do seu Progresso Pessoal poderá ser feita também por outros intervenientes.

Num sistema orientado por Objectivos Educativos os mesmos não podem ser controlados como se fossem “provas” ou “exames”. Os Objectivos Educativos avaliam-se mediante a observação do progresso dos jovens durante um percurso prolongado de tempo.

Neste sentido foram identificados no quadro em Anexo 2 os conhecimentos, competências e atitudes que devem ser observados em cada um dos Objectivos Educativos dos Caminheiros. Quando estes forem observados no jovem e avaliados pelo próprio, pelos “pares” e pela equipa de animação o Conselho de Chefes de Equipa poderá reconhecer que o Caminheiro alcançou aquele Objectivo Educativo. De forma a ajudar a Equipa de Animação a conservar um registo de observação dos conhecimentos, competências e atitudes de cada um dos caminheiros foi criada uma ferramenta de suporte, que podem encontrar no Anexo 3.

O Desafio

No último ano, quando o Caminheiro estiver na Etapa Partida, deve ser incentivado a comprometer-se com uma causa pessoal, que envolva uma acção mais continuada no tempo (mínimo de 3 meses). Essa acção deve privilegiar um esforço de cooperação ou de voluntariado com uma instituição ou organização escolhida pelo Caminheiro.

A acção deve ser apresentada e partilhada no Clã, o Caminheiro deve ir dando testemunho da sua experiência. O Desafio poderá implicar uma menor participação do Caminheiro na vida do Clã e da sua Equipa.

Esse Desafio será uma excelente oportunidade para o Caminheiro concluir o seu Progresso e antecede a sua Partida do Clã. Essa acção deverá ser, preferencialmente, fora do Agrupamento, embora esteja em aberto que a mesma possa ocorrer no Agrupamento. No entanto, é mais enriquecedor o Desafio ser realizado noutro ambiente e não uma Comissão de Serviço numa Secção, o que pode tornar este Desafio redutor.

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A Partida

O final do seu percurso pessoal será assinalado pela Cerimónia da Partida. Momento para o qual o Caminheiro se deve preparar desde cedo, e que deve ser o grande objectivo para que caminha ao longo da sua passagem pelo Clã: poder Partir.

A Partida de um Caminheiro é auto-proposta quando o Caminheiro se sente preparado, e tem que ser aprovada em Conselho de Clã. Ao aprovar a Partida, o Clã está a assumir que envia o caminheiro para a sociedade e o mundo, porque reconhece nele valores, conhecimentos e aptidões dignas de um verdadeiro Caminheiro, activo na sociedade e capaz de contribuir para um mundo melhor e mais justo.

Quando o Caminheiro terminar a sua última etapa, ou seja, completa todos os Objectivos Educativos definidos para a IV Secção (Finais), estará pronto para fazer a sua Partida do Clã, reconhecendo-se assim que completou a totalidade do percurso educativo proposto aos Caminheiros.

Caso o Caminheiro se proponha a fazer a Partida, porque se considera pronto e digno e acredita que atingiu todos os Objectivos Educativos Finais, antes de ter completado, formalmente, o seu Progresso Pessoal, o Conselho de Clã deve reunir, como sempre, cada vez que alguém se propõe a Partir, para debater se o Caminheiro atingiu todos os Objectivos Educativos Finais (mesmo que ainda não se tivesse comprometido a alcançá-los). Assim, se o Conselho de Clã verificar que o Caminheiro realmente atingiu os Objectivos Educativos Finais e se o considerar apto para Partir, está-se, automaticamente, a validar o término da última Etapa e a conclusão do Progresso Pessoal.

Esta deve ser uma medida de excepção. O Caminheiro deve fazer o seu percurso “normal”, propondo-se a alcançar objectivos e alcançando-os, com compromisso. Assim sendo, quando o Progresso Pessoal é concluído desta forma excepcional, o Caminheiro não tem direito a usar a Anilha de Reconhecimento.

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7 – A Relação Educativa

A presença do Adulto constitui elemento essencial de qualquer comunidade pedagogia ou metodologia educativa, pois não há educação sem a presença do Adulto.

No Escutismo, o Adulto é o garante da educação integral dos jovens no Clã; a sua missão não é mais do que educar, e educar através da aplicação do Método criado por Baden-Powell para os valores por ele propostos. No caso particular do Corpo Nacional de Escutas, esta aplicação do Método e a vivência dos valores decorre à luz do Evangelho de Jesus Cristo, sendo o testemunho cristão do Adulto elemento fundamental.

A intervenção do Adulto no Escutismo é, porém, por princípio subsidiária; ou seja, a acção pedagógica – para além de voltada para o jovem – deve estar centrada no próprio jovem, chamado a ser, pela vivência do ‘Jogo Escutista’, protagonista do seu auto-desenvolvimento. O Adulto, na medida da idade e maturidade dos jovens, é chamado a recuar na intervenção, competindo-lhe, no entanto, sempre assegurar a existência de um ambiente seguro e propício a uma aprendizagem do tipo aprender-fazendo, bem como da conformidade da vida da Unidade com os ideais e valores com que o Escutismo se identifica e se propõe promover. Cabe, assim, ao Adulto, a humilde postura de João Baptista: “Ele é que deve crescer, e eu diminuir” (Jo, 3, 30).

“Os princípios do escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do chefe e do modo como ele os aplica.”

in Auxiliar do Chefe Escuta, p44

O Clã é composto por jovens em busca da maturidade plena que encontram no Chefe de Clã um irmão mais velho que os acompanha no seu percurso de desenvolvimento.

O facto de o Sistema de Progresso se basear numa escolha individualizada de percursos, irá implicar uma relação personalizada do Chefe de Clã com cada um dos Caminheiros, de modo a poder acompanhar devidamente o seu desenvolvimento pessoal.

Para se “funcionar educativamente, (…) é imprescindível que alguém (…) se resigne a ser adulto”

Fernando Savater in O Valor de Educar

Os Animadores responsáveis pela implementação do programa educativo asseguram que cada criança e jovem tem oportunidades para se desenvolver nas diversas áreas da sua personalidade (física, intelectual, social, espiritual, afectiva e carácter). Tal ocorre por via da organização de actividades adaptadas às necessidades, aspirações e capacidades dos jovens de cada idade, determinando objectivos educativos relevantes e estabelecendo relações de suporte entre os adultos e os jovens, assim como entre estes.

in RAP - User's Guide, p125

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O Adulto no Escutismo

Ser Adulto no Escutismo não pode resultar apenas de um – ainda que bem-intencionado – voluntarismo, nem ser encarado como algo apenas acessível a um pretenso escol de super-homens, ou super-mulheres, com critérios externos ao Movimento.

Ser Adulto no Escutismo deve resultar de um encontro entre uma intenção voluntária do próprio e o cumprimento de requisitos – o Perfil – estabelecidos pela associação, encontro que terá de se consubstanciar num compromisso subsequente a uma formação inicial, formação a que deverá ser dada continuidade ao longo do ciclo de vida na associação.

Perfil do Animador Adulto

Nestes termos, o Adulto que adere à Proposta Educativa do CNE deverá:

Em termos gerais...

Ausência Pedagógica

Se a presença do Adulto é fundamental no Escutismo, a ausência também o é. O Adulto tem de dar espaço aos jovens para que estes possam crescer e desenvolver a sua autonomia.

Ausência nos Caminheiros pode até – se assim for considerado adequado – ser a total ausência (mas não desconhecimento ou falta de informação) do Dirigente no Hike ou no acampamento de Equipa

Ausências que não são vazio, mas expressão de uma intencionalidade pedagógica.

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Face aos Jovens...

Face ao Método escutista…

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Em termos de vida espiritual…

� Dar testemunho e bom exemplo de Fé e de vida espiritual;

� Ser um membro activo da comunidade, estando ao seu serviço;

� Dar testemunho de serviço desinteressado.

O Dirigente do CNE é um Adulto que assumiu um compromisso pessoal e voluntário de trabalhar na implementação e desenvolvimento da Proposta Educativa do CNE enquanto Educador. Ao assumir este compromisso, assume-se uma Missão de Serviço com as devidas implicações – em termos de responsabilidades e de deveres – daí resultantes.

Atribuições e Formas de Actuação

A Missão do Dirigente tem contornos e conteúdos definidos, e procedimentos próprios, os quais importa explicitar; assim, a Missão do Dirigente desdobra-se em atribuições [conteúdos] e concretiza-se segundo determinadas formas de actuação [métodos].

Constituem atribuições do Dirigente:

ARQUITECTAR

� Organizar o Clã garantindo a integração e funcionamento de todos os elementos do método;

� Adaptar a aplicação do método à realidade sócio-cultural local;

� Ajustar a organização ao enquadramento comunitário, designadamente paroquial;

� Dotar os Chefes de Equipa de competências e espaço para o exercício pleno da sua actividade, remetendo-se para um papel supervisor e subsidiário;

� Garantir a gestão de equilíbrios na organização e composição das Equipas, designadamente nos momentos de entrada e saída de elementos.

GUARDAR A MISSÃO

� Garantir o regular funcionamento dos elementos do método;

� Gerar e garantir condições de funcionamento da vida do Clã;

� Ser exemplo e modelo de vida.

“O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio ‘exemplo pessoal’ do Chefe Escuta.”

in Auxiliar do Chefe Escuta, p17

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ADMINISTRAR A VISÃO

� Lançar desafios de desenvolvimento do Clã;

� Fazer convergir horizontes e perspectivas pessoais e das Equipas;

� Promover a adesão e a perseverança em torno do caminho.

MOTIVAR

� Estimular a iniciativa e o desenvolvimento das capacidades pessoais de cada jovem;

� Promover, de forma autêntica e não manipulativa, o entusiasmo;

� Sugerir vias de exploração e de busca de soluções.

GERAR COMPROMISSOS

� Incentivar a autonomia na tomada de decisões;

� Promover consciência e consistência na tomada de decisões;

� Apelar ao sentido das opções e à coerência para com as mesmas;

� Manifestar reciprocidade nos compromissos.

EDUCAR

� Estimular a pró-actividade dos jovens;

� Ajudar a explorar criativa e realisticamente a tensão entre os sonhos e a realidade;

� Fomentar uma cultura de progressão e superação pessoal.

� Promover, simultaneamente, a integração na comunidade e a autonomia pessoal;

Educar é, assim, a atribuição nobre de um Dirigente; contudo não pode a mesma ser levada a bom porto isoladamente, sem o concurso das demais.

São formas de actuação de um Dirigente:

CONHECER OS JOVENS

� Conhecer as características gerais dos jovens da faixa etária da Secção onde presta serviço - Caminheiros;

� Conhecer cada jovem, a sua personalidade e a sua realidade.

ESTABELECER RELAÇÕES EMPÁTICAS

� Ser capaz de observar e escutar;

� Ser capaz de reagir serena e ponderadamente;

� Ser capaz de partilhar entusiasmos próprios da idade dos jovens;

� Ser capaz de jogar com os jovens;

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� Ser capaz de dar espaço e tempo ao ritmo pessoal de cada jovem.

QUERER APRENDER E CRESCER COMO PESSOA

� Ter uma atitude humilde;

� Ter abertura à aprendizagem e formação contínuas, seja por vias formais (cursos, seminários, …) ou informais (experiência, interacção, pesquisa pessoal, …);

� Ter abertura para aprender com os jovens.

SABER IMPLEMENTAR E AVALIAR ACTIVIDADES

� Saber analisar e organizar actividades;

� Saber incentivar e orientar os jovens na análise e organização de actividades;

� Saber avaliar e promover a avaliação pelos jovens das actividades.

AJUDAR OS OUTROS A CRECER

� Levar os jovens no estabelecimento de objectivos pessoais;

� Levar os jovens a perseverar face aos desafios e aos objectivos pessoais;

� Levar os jovens a conhecer e gerir as respectivas limitações;

� Levar os jovens a potenciar os respectivos talentos e capacidades;

� Levar os jovens a aprender a ultrapassar os erros e falhanços;

� Levar os jovens a partilhar consigo o seu desenvolvimento pessoal.

ESTAR ENVOLVIDO NA COMUNIDADE

� Viver bem consigo próprio e com os outros;

� Viver integrado em termos sociais (familiares, profissionais, …);

� Viver de forma activa e comprometida na sua comunidade.

TRABALHAR EM EQUIPA

� Aceitar e promover a partilha de tarefas;

� Aceitar partilhar capacidades e resultados;

� Aceitar e valorizar as diferenças dos outros;

� Aceitar e valorizar a decisão colegial;

� Aceitar compromissos que conduzam à convergência de pontos de vista.

TER TEMPO

� Para estar com os jovens;

� Para corresponder às exigências da função;

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� Para acompanhar semanalmente o Clã;

� Para comprometer-se por períodos plurianuais.

PERCEPCIONAR E CONTROLAR O RISCO

� Visando antecipar situações de risco;

� Visando estabelecer limiares de risco;

� Visando tomar cautelas prévias;

� Visando habilitar-se, ou providenciar quem se habilite, com os conhecimentos técnicos adequados;

� Visando minimizar as possibilidades de dano físico e/ou psíquico.

De uma forma resumida, estas atribuições e formas de actuação do Dirigente podem ser esquematizadas, como um “8”, em que o “educar” – o seu papel, a sua vocação e missão – se perspectiva quer do ponto de vista das suas atribuições – “o quê…” – como das suas formas de actuação – “como”.

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ADMINISTRAR A VISÃO

GERAR COMPROMISSOS

MOTIVAR

ARQUITECTAR

GUARDAR A MISSÃO

EDUCA

O QUÊ…

COMO…

CONHECER OS JOVENS

ESTABELECER EMPATIAS

QUERER APRENDER E CRESCER COMO PESSOA

SABER IMPLEMENTAR E AVALIAR ACTIVIDADES

AJUDAR OUTROS A CRESCER

ESTAR ENVOLVIDO NA COMUNIDADE

TRABALHAR EM EQUIPA

TER TEMPO

PERCEPCIONAR E CONTROLAR O RISCO

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Relação Adulto / Jovem

Aquilo que cada um é e como é, a maneira como age e lida com os assuntos, a postura perante a vida e a sociedade, são tudo elementos comportamentais seguramente observados e registados, com minúcia e perspicácia, pelos jovens Escuteiros.

A tendência normal é o comportamento do Dirigente influenciar, seja pela positiva seja pela negativa, o comportamento dos jovens, pelo que este deve ter ser presente que lhes serve de exemplo.

É fundamental que o Dirigente se adapte à Secção ao serviço da qual se encontra, devendo o seu comportamento ser modelado de acordo com a idade e maturidade dos elementos da Secção, dos jovens com quem interage.

A finalidade do Escutismo é que o jovem se desenvolva em autonomia, logo o papel do Dirigente não pode ser senão o da promoção dessa autonomia, sendo que esta relação entre a autonomia do jovem e o envolvimento, ou a intervenção, do Dirigente deve perspectivar-se de uma forma dinâmica, progressivamente decrescente e qualitativamente diferenciada, ao longo do percurso educativo do jovem através das Secções.

Dependendo da Secção, há maior ou menor necessidade de “espaço”, mais ou menos graus de liberdade, formas diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. Mas em todas as Secções é fundamental a permanência e a sensação de presença do Dirigente, que transmite segurança, que “está lá” sempre que for preciso e para o que for preciso, que está com eles e com eles caminha nos bons (incentivando) e nos maus (orientando) momentos.

“O Educador, porque é o herói dos seus rapazes, tem uma poderosa alavanca para o seu desenvolvimento, mas ao mesmo tempo pesa sobre ele uma grande responsabilidade. Os rapazes estão sempre prontos a apanhar as menores manifestações da sua maneira de ser, sejam elas virtudes ou defeitos. O seu estilo torna-se o deles; a afabilidade ou a irritação, a alegria sorridente ou o seu entusiasmo impaciente, o domínio da vontade sobre si próprio ou as suas esporádicas falhas à moral, não são simplesmente notadas, são copiadas pelos seus discípulos.”

O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio ‘exemplo pessoal’ do Chefe Escuta.”

Baden-Powell, «Le Guide», citado in Pela Educação à Liberdade, p.36

ENVOLVIMENTO DO ADULTO

AUTONOMIA DO JOVEM

LOBITOS EXPLORADORES PIONEIROS CAMINHEIROS

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Para que o Dirigente consiga atingir estes objectivos, é necessário que conheça os seus elementos, que crie com eles relações de proximidade e afinidade. Interessa ser amigo e não ser “o chefe”, o General, aquele que apenas ordena. Mas ser amigo não representa nem implica qualquer demissão da sua dimensão adulta e educativa. O Dirigente não é o “amigalhaço” do jovem, o amigo da sua idade, é o seu amigo adulto.

No Escutismo, o Dirigente tem de saber misturar-se com os jovens, sem nunca se deixar confundir com os mesmos, equilíbrio que é a chave de ouro da relação educativa escutista entre jovens e adultos.

Estilo de Animação

O estilo de animação de um Dirigente, isto é a forma como interage com os jovens, não pode ser abordado de uma forma meramente pessoal, mas tem de ser visto na perspectiva da missão que quis e quer, abraçar. O estilo indvidual de animação é um ponto de partida, não uma mera constatação, pois o Escutismo – e neste a relação educativa adulto / jovem – não se compadece com o exercício reiterado de qualquer estilo de animação, isto é há um estilo de animação próprio intrínseco à relação educativa adulto / jovem no Escutismo.

E esse estilo de animação é o democrático ou participativo, em que o Dirigente deixa aos jovens o máximo de espaço para imaginar, decidir, planear, concretizar, avaliar e celebrar, isto é, faculta aos jovens o espaço/ambiente necessário para que estes possam viver e jogar o jogo escutista.

Assim, deixar aos jovens o máximo de espaço significa, por um lado, que o Dirigente não pode ser autoritário, directivo ou super-protector, não deixando aos jovens espaço e liberdade para jogar. Uma estrutura rígida pré-determinada e uma atitude dirigista impossibilitam a existência de oportunidade para que os jovens exerçam a sua liberdade e desenvolvam a sua autonomia – o jogo escutista não é, assim, possível.

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Por outro lado, o máximo não significa todo o espaço, pois a imensidão de espaço e – consequente – falta de enquadramento e de referências que constitui uma atitude libertária do estilo laissez-faire, impede igualmente o jogo, pois não há jogo sem enquadramento, não há jogo sem regras. O desenvolvimento da autonomia responsável ocorre no encontro – e confronto – dos dinamismos do indivíduo com uma realidade; a inexistência desta sob uma forma estruturada impede tal desenvolvimento.

Ou seja, o Dirigente tem de garantir aos jovens um espaço de liberdade e iniciativa, mas um espaço onde existem um enquadramento e regras; só um espaço com todas estas características – que se consubstanciam nos elementos do método escutista atrás apresentadas – permite jogar o jogo escutista.

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Em conclusão, o papel do Dirigente na relação educativa escutista é o de garante da presença e regular funcionamento dos elementos constituintes do método escutista, o garante de enquadramento e ambiente para o jogo escutista.

Animação da Vida da Unidade

O papel do Dirigente é animar as actividades, enriquecê-las pedagogicamente, nunca esquecendo que da forma e da profundidade desse enriquecimento depende não só a satisfação dos jovens, mas também o seu desenvolvimento. Para isso, deve o Animador procurar alargar o mais possível os horizontes da actividade, pois quanto mais alargados forem os objectivos e maior for a adesão e motivação dos jovens, maiores oportunidades educativas lhes são proporcionadas.

Envolvimento nas Actividades

Antes de mais importa relembrar que as actividades escutistas são um meio e não um fim em si mesmo. O fim é o auto-desenvolvimento do jovem e a sua identificação com os valores próprios do Escutismo, fim esse que é alcançado pela vivência de actividades pedagogicamente consistentes e ricas. É precisamente no enriquecimento das actividades que se aplica a função motivadora do Dirigente.

Enriquecer actividades

Valorizar a actividade na sua globalidade, nunca alterando a sua ideia central; “limar arestas” (organização e planificação) para aumentar as garantias de êxito.

Valorizar os objectivos propostos, de modo a criar um leque alargado de opções e acções tendentes a minimizar “tempos mortos”. Esses objectivos deverão contemplar metas pedagógicas.

Impregnar a actividade com valores escutistas, com a Mística da Secção e com o imaginário do Projecto que se quer.

O desafio do sistema de progresso: criar oportunidades para que os elementos naturalmente progridam e efectuem as suas provas

� Despertar a imaginação; � “Soprar” ideias; � Sugerir iniciativas; � Espicaçar o entusiasmo; � Procurar a dose certa de atracção, aventura e emoção.

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Uma autonomia acompanhada é característica fundamental de um Clã, onde os Caminheiros – jovens adultos – interagem e vivem comunitariamente em Equipas.

O aperfeiçoamento de técnicas de planeamento, organização e avaliação, o aconselhamento experiente, o enriquecimento técnico das actividades, a orientação na prevenção de riscos e o estímulo à participação, à iniciativa e à transformação de sonhos em projectos deve constituir o cerne da intervenção do Dirigente nas caminhadas do Clã

“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa”

Ecl 3, 1a

Há que ter sempre presente que as actividades devem ser adequadas às idades, estando-lhes subjacente um percurso evolutivo em matéria de esforço e exigência, e até de apreensão, avaliação e gestão do risco que lhes está subjacente.

Assim, deve o Dirigente deve saber adequar a ‘fasquia’ da tipologia e da ousadia que se atribui às actividades, sob pena até de se distorcer e confundir – perante o jovem – a identidade pedagógica das secções.

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O Adulto Animador da Fé

No Corpo Nacional de Escutas, a Animação da Fé faz-se, em paralelo com o percurso catequético de cada criança e jovem, pela promoção de um ambiente de convivência e partilha, de momentos de descoberta e contemplação, de oportunidades de formação e de acção caritativa, de vivência eucarística e sacramental, de oração. Tudo isto, de uma forma escutista, integrada no processo educativo, num prisma de desenvolvimento pessoal e num ambiente de vivência comunitária.

A Animação da Fé assenta numa responsabilidade pessoal tripartida: por um lado, temos o Assistente, com um papel preponderante na orientação pastoral e na promoção da eclesialidade, a quem cumpre ser o guia, o garante, o ‘facilitador’; por outro, temos o jovem, aquele que, à justa medida da sua idade e maturidade, participa, procura, explora, e se compromete.

Entre estes, está o Dirigente, a quem cumpre ser aquele que quotidianamente propõe, que convida a caminhar conjuntamente, que testemunha.

Mas, para que tal aconteça com autenticidade e sentido, terá ele também de ser aquele que procura – ele próprio – crescer no caminho, que procura – ele próprio – crescer na fé, e isso não acontece sem formação, sem vivência eucarística e sacramental, sem acção caritativa, sem oração.

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Duas questões são aqui fundamentais:

- Por um lado, a Relação Pessoal...

� Conhecer cada jovem;

� Falar a cada jovem;

� Chegar ao coração de cada jovem.

- Por outro, o Testemunho Pessoal...

� Celebrar;

� Caminhar;

� Viver.

O testemunho autêntico de vida cristã é a mais pedagógica das ferramentas ao serviço do Dirigente do CNE enquanto Animador da Fé.

Garante de Segurança e Bem-Estar

No Clã, ao Dirigente cumpre garantir que em todas as iniciativas e actividades são cumpridas as normas de segurança legais ou em vigor na Associação, bem como excluídos comportamentos e opções que acarretam riscos irrazoáveis e/ou não devidamente acautelados.

Neste âmbito, cumpre realçar que, em termos de responsabilidade jurídica, os jovens se encontram confiados aos adultos que os acompanham, competindo a estes a permanente avaliação e gestão do risco inerente à prática de actividades. O grau de segurança de uma actividade, para além de eventuais preceitos legais, deve acautelar de forma adequada – isto é, sem negligência facilitista nem asfixiante excesso de zelo – os riscos a esta intrínsecos.

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Tal como em todos os aspectos da vivência escutista, o envolvimento dos jovens nestes aspectos é crucial no sentido da respectiva formação pessoal em termos de autonomia e responsabilidade, incluindo a avaliação e gestão do risco, devendo ocorrer – naturalmente – de acordo com a idade e maturidade dos jovens, sendo que é do Dirigente – independentemente de idades e maturidades – a palavra e responsabilidade últimas.

A segurança nas actividades não é um espartilho ou um impedimento, é – e assim deve ser encarada – uma excelente oportunidade educativa.

Concomitantemente com a segurança, cumpre igualmente ao Dirigente estar atento ao bem-estar físico, psicológico e anímico dos jovens que lhe estão confiados, tomando ou providenciando, sempre que se justifique, as necessárias medidas preventivas ou restabelecedoras. Um olhar observador e uma intervenção formativa devem sempre recair sobre aspectos como a higiene, a alimentação, o descanso ou a saúde, devendo o Dirigente proporcionar formas de reflexão, análise e prevenção que sejam, progressivamente, protagonizados pelos próprios jovens.

Uma quase autonomia na avaliação e na precaução do risco é o que se espera que caracterize os Caminheiros, pelo que o Dirigente deve ser aqui subsidiário, embora não possa estar alheio a estes assuntos. Deve recordar, habilitar, orientar, ou, se necessário, intervir.

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Relação jovem/ jovem

Na maior parte das vezes, a integração dos jovens na IV Secção faz-se sem sobressaltos. Mas as Equipas de Animação não devem confiar demasiado neste (pseudo) facilitismo da integração. Casos há, em que a passagem de secção provoca “choques” que acabam na maioria dos casos por se traduzir numa uma apatia, auto-marginalização e absentismo todos eles com consequências directas ao nível da progressão individual. Em última instância, poderão levar inclusivamente o abandono do Movimento.

Na integração dos elementos não devemos esquecer alguns aspectos:

• Idade física e idade psicológica;

• Estrato social - Sinais exteriores que possam criar mau estar, acanhamento, problemas de ordem económica, etc.;

• Centros de interesse

• A sua Equipa de origem e a Equipa para onde vai - os amigos, as ligações afectivas, etc.;

• Casos particulares – Deficiências físicas ou outras, traumas, etnia, etc.

Em casos em que se verifiquem algumas destas situações, é imprescindível o diálogo entre os Dirigentes das Secções intervenientes e, se necessário for, a análise em reunião de Direcção. Fundamental será a preparação prévia da integração dos jovens nas Secções

Coeducação

O CNE promove a Coeducação. Mas afinal o que é a Coeducação?

A coeducação é a educação que considera a heterogeneidade. Embora no início, quando se começou a falar de coeducação apenas se considerasse as diferenças de género, hoje em dia, a coeducação contempla outro tipo de heterogeneidade: idade, nível sócio-económico, condição física, cultura, etc. Assim, podemos considerar a coeducação como a educação em conjunto de indivíduos distintos.

Para que haja desenvolvimento e para que este seja equilibrado, o processo educativo deve visar a heterogeneidade e o contacto com a diferença, sendo que na diversidade se encontra não a desigualdade mas sim a verdadeira riqueza do mundo.

A prática da coeducação promove a integração, a inclusão e a não discriminação servindo de alicerce a uma nova sociedade baseada na interacção, cooperação e respeito mútuo.

A coeducação tem em atenção o Caminheiro em si e o modo deste se relacionar com os outros, porque promover a igualdade de oportunidades não é dar o mesmo a todos, indiferenciadamente, mas sim dar a cada um o que lhe faz falta.

Numa sociedade habituada a acentuar diferenças sem as tentar compreender, o Escutismo tem o papel importante de esclarecer essas diferenças e de, através delas, criar novas competências que enriquecem o caminheiro, individualmente, e, em consequência, contribuem para uma nova sociedade com valores globais e não globalizantes.

Todos os jovens têm necessidades individuais e é ao encontro delas que o Escutismo deve ir.

As unidades devem ser coeducativas desde os Escuteiros que a compõem até às Equipas de Animação. Devem estar preparadas para trabalhar a diversidade seja ela ao nível do género, da cultura, da forma física ou outra, proporcionando educação com vista à construção de uma sociedade mais multicultural e tolerante.

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Vantagens da Coeducação no Clã

Ao utilizarmos a Coeducação no Clã, estimulamos nos jovens o desenvolvimento e aperfeiçoamento da relação com o outro, permitindo que valores como a tolerância, cooperação e respeito mútuo sejam praticados de forma constante. Mais concretamente, a acção coeducativa permite que cada Caminheiro:

• aprofunde o conhecimento pessoal e dos outros, encarando as potencialidades dos que o rodeiam (incluindo as suas diferenças) como factor de riqueza;

• desenvolva atitudes de tolerância, confiança, compreensão e aceitação recíprocas, compreendendo que todos são seres únicos e iguais em dignidade, direitos e obrigações. Isto permite o crescimento pessoal e desenvolve o respeito mútuo;

• tome consciência da necessidade de todos partilharem responsabilidades em todos os domínios da vida;

• desenvolva um grau de autonomia que lhe permita assumir, para toda a sua vida, um papel activo de cooperação e partilha numa relação de amor;

• desenvolva atitudes familiares equilibradas, compreendendo o papel de respeito e aceitação que deve nortear o relacionamento afectivo;

• decida o seu futuro baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na pressão social; • desenvolva uma estrutura psicológica e moral suficientemente forte para suportar eventuais discriminações profissionais e sociais que possam surgir.

Estratégias de Coeducação no Clã

A IV Secção é constituída por jovens em busca da maturidade plena. Funcionando bem, torna-se uma comunidade de amigos que, em conjunto, procuram um conhecimento mais profundo de si mesmos, dos outros e da sociedade em que se inserem, que procuram servir.

No entanto, os jovens desta faixa etária não estão isentos de perigo, a nível da maturidade psicológica e sexual. Numa fase em que a resistência e a força, a concentração, a persistência, a iniciativa, a confiança, a assertividade estão em plena fase de desenvolvimento ou já caracterizam alguns jovens em maior ou menor grau, se as etapas escutistas anteriores foram vividas de forma positiva, os hábitos e as atitudes dos jovens são eminentemente positivos. A nível coeducativo, isto significa que aprenderam já a riqueza da cooperação e solidariedade entre todos e conseguem estabelecer as suas próprias escolhas, não se deixando influenciar de forma profunda por estereótipos. No entanto, nem sempre isto acontece, pelo que é necessário que os Dirigentes utilizem estratégias coeducativas como as seguintes:

• Estimular a realização de actividades com todos, que promovam o conhecimento pessoal e do outro e que estimulem a solidariedade, a cooperação e a partilha:

• Actividades variadas, que ponham plenamente à prova a capacidade física, de forma a todos poderem compreender que, independentemente do sexo e condição física, todos podem desenvolver variadas aptidões;

• Actividades evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de papeis:

• Actividades de descoberta do meio social envolvente onde a cooperação e corresponsabilização seja um factor preponderante;

• Partilhar todas as tarefas zelando para que os Caminheiros escolham as tarefas a assumir a partir das suas preferências pessoais e não baseados papéis sociais estereotipados;

• Incentivar a utilização de imaginários com figuras masculinas e femininas, de várias religiões e contextos sociais, de forma a que se valorize o papel na evolução da sociedade independente de raça, cor ou credo;

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• Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como o respeito, a amizade, a tolerância, a solidariedade;

• Desenvolver o PPV, estimulando a escolha de actividades segundo as preferências pessoais e não segundo estereótipos sociais com os quais não há identificação;

• Incitar à reflexão sobre as características do outro sexo, a nível social e familiar, e a riqueza que pode advir da complementaridade e do respeito mútuo;

• Incitar à reflexão sobre a discriminação sexual, racial, social que a sociedade ainda, debatendo os perigos e injustiças que assim são criados.

Bibliografia para aprofundar:

Nós também jogamos. Jogos com deficientes , Edições Salesianas

Coeducação – Manual do Dirigente 9, Lisboa, CNE, 1995.

Para uma Pedagogia da Coeducação, Lisboa, Ministério da Educação Nacional e Secretaria de Estado da Instrução e Cultura, 1973.

Auxiliar do Chefe Escuta, Baden-Powell, Lisboa, CNE, s/d.