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PROJETANDO A elaboração de projetos culturais como trabalho de incubação Valdir Grandini – Jornalista, pesquisador e consultor para gestões e projetos culturais

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PROJETANDO A elaboração de projetos culturais como trabalho de incubação

Valdir Grandini – Jornalista, pesquisador e

consultor para gestões e projetos culturais

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PROJETANDO DICAS PARA A ELABORAÇÃO DE PROJETOS CULTURAIS

1. INTRODUÇÃO:

UM TRABALHO DE INCUBAÇÃO

Na Divina Comédia de Dante, num dos círculos do Inferno as almas dos perdulários e dos avarentos são

constantemente arremessadas umas contra as outras, como violentas ondas, em punição “por mal dar e

por mal ter”. Em 2001, iniciando uma gestão na Secretaria de Cultura em Londrina, essa imagem me foi

reveladora para tomar rumos. Nós pensávamos como construir uma gestão onde os projetos fossem a

forma de levar a cultura para a cidade como um todo. O caminho seria canalizar bem o que todos

tínhamos a oferecer, nós do poder público e os artistas e produtores culturais.

Montamos, então, na Secretaria de Cutura a Incubadora de Projetos, que começou com uma mesa

pequena e bons ouvidos. Em todas as conversas, esse serviço procurou orientar uma estruturação de

projetos que melhor distribuísse o processo cultural. Nos anos seguintes, a atividade ganhou dimensão e

tornou-se uma vedete da gestão, porque tratou com respeito o difícil processo do planejamento e

redação de um projeto. A incubação de projetos é outridade: um diálogo com os produtores culturais,

que não admite a intrusão arrogante e destruidora das expectativas dos criadores culturais por parte de

quem faz a orientação. Assim como ouvimos as dificuldades e desejos dos proponentes, eles ouviram

nossas considerações e diretrizes.

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Considero a incubação um serviço informativo, um processo articulatório e um trabalho formativo:

- É informativo, tornando de conhecimento público os editais abertos à apresentação de projetos

culturais; seus objetivos, funcionamento, prazos, prioridades de seleção, documentos de habilitação dos

proponentes, etc;

- É formativo na medida em que ensina técnicas de planejamento e elaboração de projetos, além da

leitura do processo cultural que se pretende gerar com os editais e do entendimento dos potenciais

sociais da cultura e das linguagens artísticas;

- É um processo articulatório, por colocar em diálogo as prioridades da gestão cultural pública com os

desejos de criação e circulação dos artistas, produtores culturais e comunidades.

Hoje, no Brasil, os editais de fomento a projetos firmam-se como a forma mais aberta e transparente de

garantir o acesso dos produtores aos recursos e da população à diversidade cultural, já que selecionam

por meio de critérios públicos. No entanto, permanece a atualidade da questão: como garantir a

participação dos produtores culturais, em sentido amplo, apresentando projetos nos editais? Um passo

fundamental é capacitar o planejamento e a elaboração de projetos.

2. A HORA E VEZ DOS PROJETOS CULTURAIS

Se uma tendência pode ser atualmente apontada no âmbito das políticas culturais, sejam oriundas do

poder público ou de empresas privadas, é a opção pelo fomento a projetos culturais mediante editais.

Dessa forma, sua apresentação é regulamentada e aberta aos interessados, e a seleção realizada com

regras e critérios conhecidos.

A palavra “Edital” é de origem latina, composta por EX, que remete a “para fora” e DICERE, “dizer”: é

algo que se anuncia para o conhecimento geral. O uso de editais para seleção de projetos culturais -

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abrindo a perspectiva de apresentação de projetos pela sociedade – marca um reconhecimento,

crescente, de que a sociedade é a protagonista do processo cultural. No que diz respeito as iniciativas

governamentais, indica que cresce o entendimento de que cultura é de interesse público e deve ser

gerida em parceria com os produtores. No que diz respeito a iniciativas empresariais, aponta que o

processo cultural agrega a elas respeitabilidade institucional, e que isso deve ser tradado com atenção

específica.

Um edital cultural é um anúncio tornando público um processo de seleção de projetos. V isa dar o

mesmo direito e as mesmas obrigações para o acesso aos recursos destinados, desde que os

interessados preencham os requisitos para apresentar projetos. Ao receber projetos, visa selecionar as

propostas mais adequadas aos objetivos a que se destina.

Normalmente o edital delimita os tipos de projeto a que o fomento é proposto, estabelece o cronograma

do processo de seleção, informa o recurso geral destinado e o teto de valor para os projetos. Também

orienta para as formas de apresentação do projeto, para os critérios e documentos que habilitam os

proponentes a concorrer. Especifica as prioridades e os critérios que serão seguidos na seleção e deixa

claras as obrigações dos proponentes que tenham projetos aprovados. Enfim, o edital delimita

publicamente as “regras do jogo”.

3. PREPARAR PROJETOS PARA EDITAIS SIGNIFICA COMPARTILHAR OBJETIVOS

Ao produtor cultural, a possibilidade de realizar projetos através de editais deve ser imediatamente

acompanhada da compreensão de que o fomento cultural não é simplesmente distribuição de recursos

para o meio cultural, mas algo que caminha em direção ao interesse público. Há editais públicos para

ampliar a produção de cinema e vídeo, outros para discutir referências estéticas e produção cultural na

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internet; outros ligados a cultura na educação, ou na juventude; outros para práticas culturais inclusivas

etc. Do lado empresarial, há editais visando eventos de monta, como festivais; manutenção do trabalho

de grupos culturais; viabilização de projetos sócio-culturais etc. No caso de empresas que patrocinam

editais, geralmente primam por processos que lhes garantam uma visão agregadora de qualidade, como

atuantes na sociedade.

No poder público, fomentar projetos vem sendo chamado de “modelo de gestão compartilhada”, porque

assim os produtores de cultura realizam a política pública. O mundo empresarial costuma chamar os

projetos de “parceiros nas atividades de responsabilidade social”. Do lado dos produtores culturais, um

bom projeto, ao buscar fomento, deve equilibrar suas vontades artísticas e as expectativas que

motivaram o lançamento do Edital ao qual concorrem.

Para quem é artista, produtor cultural, arte-educador, gestor, ou trabalha com cultura no âmbito

comunitário, torna-se vital a capacitação na elaboração e gestão de projetos. Se tudo indica ser este um

caminho em direção ao futuro, é preciso traçar a caminhada por ele evitando equívocos. O primeiro e

principal engano é tratar o projeto cultural como álibi para conseguir recursos financeiros. Se isso

acontece, é elaborado sem empenho verdadeiro, como se já se fizesse suficientemente bem o que é

proposto e elaborar o projeto fosse apenas questão de “colocar as coisas no papel”.

Para efetivar-se, a ação cultural deve fazer pontes entre o público e o processo artístico e cultural, o que

exige estudos, planejamento e agentes culturais preparados. Portanto, mesmo em se tratando de algo

que já esteja em desenvolvimento, um projeto serve como desafio para superar limites, ampliar

horizontes, qualificar a ação cultural e atender aos objetivos também do patrocinador.

Outro equívoco comum é o proponente ter uma ideia promissora e considerá-la, em si mesma,

merecedora de aprovação em processos de seleção. Uma boa ideia não é um projeto! A ideia é a

semente que inspira o nascimento do projeto, mas se ele não corresponder a ela, não passará pelos

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filtros da seleção. Ao longo de 12 anos trabalhando com orientação à elaboração e com análise de

projetos, e convivendo com a frustração daqueles cujos projetos não são selecionados nos editais,

constatei o quanto é comum o proponente querer explicar depois o que estaria querendo dizer no

projeto, quando este “querer dizer” não estava lá. Num processo de análise, não é o proponente que

fala pelo projeto, mas o projeto que fala pelo proponente.

No acompanhamento a projetos aprovados, vi muitos deles não resistindo aos filtros da realidade,

porque a elaboração tinha parâmetros interessantes, mas diagnósticos e experiências frágeis levavam as

equipes a sofrerem na execução. Para evitar a generalidade nos objetivos, a dispersão de esforços sem

obtenção dos resultados esperados, a falta de conexão entre os desejos e a realidade contextual, e

contradições entre as metas e o tempo previsto para atingi-las, é importante projetos bem planejados,

com conhecimento, estratégias competentes, equipe preparada, parcerias e sistema de avaliação.

Um dos pensadores da cultura cujas referências mais admiro é o inglês Raymond Williams (31/08/1921

– 26/01/1988) que disse enfaticamente: “A cultura é de todos. Devemos começar por aí”. Com isso

reconhecendo que a cultura está em nosso modo de vida, e igualmente defendendo o direito comum da

cidadania ao patrimônio artisticamente diverso da humanidade. Ao enfatizar a cultura como

aprendizado e usufruto das artes, Williams reforça a importância dos “processos especiais de descoberta

e esforço criativo” que entendo sejam as dimensões maiores dos projetos culturais.

Chamo “trabalho de incubação” a orientação à elaboração de projetos. “Incubar” significa “projetar” e

“preparar o nascimento”. A incubação proporciona uma elaboração que é comunicação. Uma

comunicação quando não quer envisgar, nem vender. Como preconizou Williams, é um estado de ser

onde “uma transmissão é sempre uma oferenda” que quer recepção e resposta em processos criativos.

Oferece a vivência da arte.

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4. UMA METODOLOGIA DE PREPARAÇÃO: A ARQUITETÔNICA DOS MAPAS

A incubação que proponho começa com uma metodologia que chamo de “Arquitetônica de Localização e

Mediação”. Cheguei a esse conceito a partir de alguns autores, em especial o sociolinguísta russo Mikhail

Bakhtin. Para ele, todo ato de elocução – toda enunciação falada ou escrita – expressa um ponto de

vista, com angulações, entonações e valores, que são do enunciador, mas nunca como se ele fosse um

solitário no mundo e sim participante de uma cultura onde as referências se entrecruzam, se

influenciam, se chocam e se depuram.

Bakhtin define “Arquitetônica” como essa posição que ocupamos individualmente e essa atividade de

formar conexões com o mundo. Enfim, nossa forma de tomar posição é vista como sendo um diálogo.

A mediação que propomos na incubação de projetos significa a presença de um ambiente organizado de

pesquisa e planejamento. Proponho, inicialmente, a organização de dois MAPAS: o Mapa do Desejo e o

Mapa da Demanda. “Mapa” é tomado aqui de uma conceituação de Rubem Alves. O filósofo-educador

diz que “os mapas são criados para marcar os caminhos, trilhas por onde caminhar no espaço abstrato

do mundo. Servem para nos levar do lugar onde estamos para o lugar onde desejamos”.

O primeiro mapa que proponho a quem vai elaborar um projeto fazer é o Mapa do Desejo. Significa

organizar uma lista da vontade criadora: as ideias, os motivos, as referências estéticas, as concepções

artísticas, as experiências acumuladas.

Em seguida, proponho que se faça o mapa da demanda. Ele deve comportar aquilo que esperam de nós

os patrocinadores, a sociedade, a comunidade, as circunstâncias histórico-culturais etc.

As demandas podem ser explicitas, latentes ou decorrentes.

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a) As demandas explícitas são aquelas que aparecem claramente nos editais, se eles nos dizem, por

exemplo, que esperam oficinas artísticas para crianças de escolas do ensino fundamental, ou se querem

projetos para circulação cultural de espetáculos em espaços abertos, etc;

b) As demandas latentes podem não estar enunciadas, mas existem e podem ser notadas, quando, por

exemplo, sabemos que na cidade se reclama muito de não haver programação cultural especial para

idosos, de faltarem referências sobre a diversidade da música para os jovens, etc.

c) As demandas podem, ainda, ser decorrentes de nossas propostas para o projeto cultural, como

querer desenvolver uma oficina arte-educativa, por exemplo, e necessitar conhecer ou aprofundar o

conhecimento de pedagogias que se identificam com o desenvolvimento da criatividade.

De forma simples, principia-se a construção dos mapas elaborando uma lista dos desejos e da identidade

e outra dos diferentes tipos de demandas em torno da questão que o projeto pretende trabalhar. Feita a

lista, avalia-se se ela está boa, tentando identificar lacunas e supri-las. - O objetivo dessa fase é exercitar

um mapa orientador, que aponte passos a dar para as ideias virarem um projeto com objetivos e duração

definidas: o que exatamente fazer equilibrando os desejos e demandas; o que é possível fazer dentro do

tempo de um ano; que informações a obter; quais os contatos necessários, etc. Essa é a fase seguinte:

5. A PROJEÇÃO ESTRUTURANTE, OU PLANEJAMENTO DO PROJETO

Traçados os mapas do desejo e das demandas, é hora de aprofundar a construção do projeto. Um

Projeto Cultural visa o empreendimento de uma ação cultural planejada. É uma proposta de ação com

um plano de execução. “Visar” e “propor ação planejada” remetem a uma projeção para a execução, no

sentido de que essa execução tenha profundidade e obtenha sucesso.

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Autores diversos lembram que o ciclo de vida de um projeto comporta seu planejamento, elaboração,

implementação e desativação. Na atividade de incubação de projeto, que corresponde a seu

planejamento e elaboração, a implementação e a desativação, que correspondem a seu futuro

desenvolvimento, devem ser antevistos. Essa é a atividade de planejar e projetar.

Os Mapas já feitos ajudaram a localizar nossos desejos e as demandas existentes em seu entorno. Para

passar dessa localização a um planejamento, propriamente, sugerimos uma sequência de questões a

serem respondidas, que listamos aqui:

1- Identificar problemáticas centrais a serem tratadas

2- Definir os objetivos e metas da ação cultural no período de duração do projeto

3- Definir o universo a ser abrangido pelo projeto (o universo social; a abrangência geográfica; o universo

do público de que dependem seus resultados; o universo de pessoas que são afetas ao projeto; o

universo de colaboradores diretos e indiretos de que ele depende)

4- Projetar as fases de desenvolvimento; as principais atividades e as tarefas determinantes (o Caminho

Crítico do Projeto – CCP)

5- Projetar o cronograma do projeto, com suas fases, atividades e tarefas

6- Identificar as qualificações necessárias; as inicialmente disponíveis e as que precisam ser

providenciadas para o desenvolvimento das atividades

7- Definir as formas de suprir as qualificações ainda indisponíveis

8- Definir a equipe do projeto

9- Definir as parcerias necessárias ao projeto

10- Definir a Estrutura Analítica do Projeto – EAP (quem irá analisar o desenvolvimento do projeto, como

e quando)

11- Definir a comunicabilidade do projeto

12- Listar as necessidades infraestruturais e orçamentárias do projeto. Fechar os itens orçamentários de

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acordo com os valores disponibilizados. Relacionar as necessidades não supridas nos itens orçamentários

e as alternativas para supri-las

13- Definir a conclusão, desativação, avaliação final e prestação de contas do projeto

6. A REDAÇÃO DO PROJETO

Nessa fase são preparados os pontos para a futura redação, com base em três perguntas:

- O que se pretende fazer?

- Como fazer?

- Por que é importante o que se pretende fazer?

Geralmente essas são as perguntas que motivam a estrutura dos formulários para apresentação de

projetos. “- O que?”, correspondendo principalmente aos Objetivos e Metas; “- Como?” ao Plano ou

Estratégia de Desenvolvimento, a Ficha técnica e Currículos e ao Orçamento e “- Por que?”

correspondendo a Justificativa.

Respondidas as questões da sequência de planejamento do projeto, a redação corresponderá,

sobretudo, a organizar as informações e os argumentos de modo otimizar a clareza e a coerência da

proposta. Nessa hora, deve-se ter na cabeça o que um analista de projeto, que não conhece o

proponente de antemão - nem sua visão, nem sua prática cultural – precisa saber para convencer-se de

que se trata de uma boa proposta, que será bem executada.

Algumas orientações ajudam na redação do projeto. Elas respondem as três perguntas-chaves, visando

as estruturas mais comuns nos formulários para projetos:

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1º - “O que?” - Formulação dos “Objetivos e metas”:

Trabalhar com tópicos, tendo um tópico principal, que traduz o objetivo maior ou geral do

projeto e outros tópicos decorrentes, que se destacam por razões e importância particulares.

Por exemplo, se tenho por objetivo geral uma montagem e circulação teatral tendo como tema o

conflito entre a curiosidade científica e a intolerância religiosa, um dos objetivos específicos pode

ser realizar uma pesquisa com grupos focais de universitários, para a percepção do que se passa

nesse universo, em relação ao tema. Outro objetivo específico será um trabalho especial de

mobilização do público jovem, universitário, para assistir e debater à peça.

Os objetivos devem traduzir a ação cultural que se pretende realizar, contemplando seus

principais aspectos.

2º - Como? – Plano ou estratégia de desenvolvimento

Deve-se, neste caso, dar uma visão sequencial das ações concretas necessárias para que o projeto

aconteça, relatando o modo como se pretende realiza-las e o período em que ocorrerão;

Os objetivos são o guia da descrição dessas ações, ou seja, deve-se mostrar como cada objetivo

proposto será alcançado;

Os Planos de Desenvolvimento podem e devem também conter explicações sobre as

metodologias que serão adotadas, quando for o caso. No caso do nosso exemplo de grupo focal

para subsidiar a criação de uma peça teatral, é importante explicar o que é e como se pretende

organizar o grupo focal.

3º - Por que? - Justificativa

É onde defendemos a importância da proposta do projeto.

Para escrever a Justificativa, deve-se também trabalhar em tópicos, para os vários aspectos

importantes a serem ressaltados.

Deve-se evitar o proselitismo, usando linguagem direta e clara que destaque a importância.

Citação de autores devem ser usadas quando for para exemplificar ou testemunhar um

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raciocínio, sem esquecer que o autor não vai conferir importância ao projeto, a menos que o

projeto esteja fazendo muito bom uso de seu raciocínio;

Deve-se evitar a tautologia, ou seja, aqueles juízos sem explicação, que ficam pressupondo que

seu autor tem razão e que todo mundo sabe do que está falando;

Justificativas não precisam ser longas demais, nem devem ser muito curtas. A medida delas é

explicar a importância da proposta com objetividade.

Desejo boa sorte com seu projeto.

Valdir Grandini