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PROJETO BAIRRO-VERDE: A INTEGRAÇÃO PARQUE-
COMUNIDADE NO BAIRRO SANTA TEREZA, VITÓRIA-ES
Janaína do Carmo Barcelos Martini Licenciada em Geografia pela UFES e Graduanda de Bacharel em Geografia pela
UFES. E-mail: [email protected]
Aline Mattos de Souza Graduanda em Geografia pela UFES. E-mail: [email protected]
Ladiane Lopes de Vasconcelos Graduanda em Geografia pela UFES. E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Enquanto os líderes mundiais procuram alternativas para a crise ambiental do planeta e
esbarram em negociações intermináveis e acordos frustrados, arquitetos e geógrafos
apresentam uma solução prática e em pequena escala para amenizar os prejuízos
causados à natureza pelo crescimento dos grandes centros urbanos: as construções
sustentáveis. Essas construções empregam as técnicas da bioarquitetura e são, antes de
tudo, intervenções conscientes e planejadas, que buscam satisfazer as necessidades
humanas e se ajustar às condições naturais locais, utilizando de forma sustentável os
recursos para que não se esgotem. Olhar para as cidades e enxergar espaços verdes é
benéfico para as pessoas. Hoje, qualquer parede que tenha sol ou até mesmo de interior
pode se transformar numa parede verde.
Dentre as diversas consequências do processo de urbanização este estudo dá
importância à permanência dos referenciais da paisagem, estimando a possibilidade de
compatibilizar futuras formas de ocupação urbana à manutenção da visibilidade e
acessibilidade aos referenciais da paisagem, além de aprimorar a qualidade visual
destes.
OBJETIVOS
Fortalecer a integração sócio-ambiental do Parque Estadual da Fonte Grande e os
moradores da região do Bairro Santa Tereza que está nos limites do parque; integrar o
parque e a cidade de Vitória de forma que o espaço se torne uma opção de lazer comum
e diário; propor uma reestruturação no sentido de torná-lo um bairro ecológico e
sustentável onde se encontra uma comunidade com problemas de infra-estrutura; gerar a
oportunidade dos moradores terem uma fonte de renda sustentável e que divulgue a
importância do parque.
METODOLOGIA
A iniciativa para o projeto partiu do cumprimento da disciplina Geografia e
Planejamento. Em primeiro momento, foi feito um estudo prévio do contexto do Maciço
Central de Vitória, por meio do levantamento de documentos, mapas e imagens de
satélite. Foi organizada a primeira ida a campo no dia 23/03/2013, para que fosse feito
um melhor encaminhamento do tema. Diante dos problemas apresentados na aula de
campo no Parque Estadual da Fonte Grande, a questão central foi a de: Como o Parque
pode integrar a cidade?
Considerada a ocupação das encostas da APA do Maciço Central de Vitória. Foi feita
uma nova ida a campo no dia 13/04/2013, e a partir de novos levantamentos, entrevistas
com os moradores e registros fotográficos, sugerimos como mote do estudo o Projeto
Bairro-verde que, entre outras medidas, pretende reconstruir as casas que se julgam
necessárias diante dos problemas apresentados a seguir, e potencializar o espaço do
bairro Santa Tereza, que dá acesso ao parque, propondo uma nova entrada para o parque
e integrando essa comunidade ao espaço. Uma solução prática e em pequena escala para
amenizar os prejuízos causados à natureza pelo crescimento desigual dos grandes
centros urbanos.
ORDENAÇÃO DO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES:
REESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO
Como elemento integrante da caracterização e diagnóstico da área de interesse deste
estudo, a metodologia promovida pela arquiteta Raquel Tardin (2008) foi apropriada e
adaptada para o recorte espacial pretendido, e consiste em uma proposta de avaliação de
atributos como sendo uma forma de classificar parâmetros do terreno, de forma a
determinar uma primeira aproximação dos espaços livres mais adequados para constituir
o sistema que se pretende vertebrar (TARDIN, 2008).
A avaliação dos atributos neste estudo está relacionada em: atributos do suporte
biofísico, atributos perceptivos e atributos de acessibilidade.
Os atributos do suporte biofísico: o bairro Santa Tereza apresenta uma cobertura
vegetal relativamente preservada e pouco alterada, em se tratando da porção leste do
bairro. Tal fato está diretamente ligado à encosta do maciço que compreende a zona de
amortecimento do Parque Estadual da Fonte Grande (APA do Maciço Central),
juntamente com as APP’s. Na região de baixada (oeste) a urbanização está densamente
consolidada, apresentando apenas remanescentes da mata atlântica, de função
paisagística urbana. O maior risco de inundação está então condicionado à
impermeabilização do solo na porção da baixada do bairro, enquanto na encosta do
maciço a impermeabilização por meio das escadarias e passarelas de concreto,
juntamente com a redução da cobertura vegetal, pode aumentar a energia das
enxurradas, acarretando erosão do solo e riscos de escorregamento.
Os atributos perceptivos: está relacionado aos elementos da paisagem que afetam
diretamente a percepção, possuindo assim um alto grau de subjetividade e sujeita a
distintas considerações sobre seu valor (TARDIN, 2008). Como elementos cênicos e
áreas de emergência visual perceptíveis estão o morro do Moxuara e a Baía de Vitória,
vistas pela parte alta do bairro, na medida em que a paisagem é descortinada durante o
caminho em direção ao Parque, e a própria elevação do maciço central com seu
conjunto rocha-vegetação, quando vistas pela parte baixa, apresentando diversidade de
cores e servindo também como referência de orientação. Como fundos cênicos se pode
notar, da parte alta do bairro, a região serrana do Estado e a cidade de Cariacica, além
da baía de vitória. E como marco histórico, ascende-se na paisagem o Santuário de
Santo Antônio, no bairro vizinho homônimo.
Encosta do Maciço Central, vista pela Rua Saudário Fantoni. Data: 13/04/13. Fonte:
Autores do projeto.
Baía de Vitória, morro do Moxuara, região serrana do Estado e Santuário de Santo Antônio, vistas pela passarela na parte alta do bairro. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do
projeto.
A acessibilidade: o conjunto dos acessos pelo bairro, na parte baixa, consiste em sua
maioria de ruas secundárias, pavimentadas com asfalto para passagem de veículos em
velocidade média de 40 km/h. Na parte alta, os acessos são feitos por escadarias e
passarelas de concreto, com corrimões somente em um lado. À medida que se aproxima
dos limites do Parque da Fonte Grande, os acessos se resumem a trilhas em meio à
vegetação.
No bairro a falta de adequação das construções habitacionais à topografia local trazem
riscos à população com possíveis desabamentos de encostas. Na ida a campo, foi
possível perceber que o risco geológico em áreas urbanas não depende apenas das
características intrínsecas dos materiais envolvidos nos processos geodinâmicos, da
morfologia das encostas ou do regime pluviométrico da estação chuvosa. Está
diretamente relacionado à forma de ocupação, tanto em encostas como em baixadas, e à
conscientização da população envolvida.
Estrutura e presença de lixo na escadaria do bairro. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do projeto.
Viela de concreto. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do
projeto.
A proximidade de moradias à base ou crista de encostas, ao leito dos córregos; a
deposição inadequada de lixo e de águas servidas; a execução de cortes indevidos no
terreno ou o plantio de bananeiras são exemplos de ações antrópicas que podem
deflagrar ou potencializar eventos relacionados a escorregamentos ou maximizar os
danos relacionados a um acidente.
Como ocorre em muitos morros Brasil afora, a ausência ou ineficiência de rede de
drenagem e de esgoto no Bairro de Santa Tereza é considerado fator de risco para os
processos de erosão. Também por isso, o projeto de reurbanização envolve obras de
saneamento e drenagem, a partir da instalação dos sistemas de ecoesgoto e de calçadas e
escadas permeáveis, além de paisagismo e recuperação ambiental.
Para um olhar mais aprofundado sobre a realidade do local, foram realizadas entrevistas
com 19 moradores, onde estes expuseram suas visões acerca dos problemas do local,
possibilitando a triagem das possíveis medidas de solução a serem tomadas:
Perguntas: Sim Não
Você acha que seu bairro precisa de melhorias? 19 0
Você já visitou o Parque Estadual da Fonte Grande? 12 7
Casa de madeira com estrutura precária, assentada sobre o solo exposto. Data: 13/04/13. Fonte: Autores
do projeto.
Lixo acumulado na encosta do Maciço. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do projeto.
Você considera o parque um local de lazer do seu bairro? 12 7
Você acha importante a preservação do Parque da Fonte Grande? 16 3
Você gostaria que fosse criada uma entrada do parque pelo seu bairro? 19 0
Você acha interessante criar cursos de artesanato para a comunidade que divulguem
a importância do parque?
19 0
Você acha que esses cursos de artesanato deveriam utilizar material reciclável? 19 0
Você possui horta em casa? 5 14
Já ouviu falar na utilização de garrafas pet para fazer hortas em casa? 16 3
Fonte: Autores do projeto. Data: 13/04/2013.
A partir das entrevistas feitas com os moradores do bairro Santa Tereza, foi possível
perceber que a comunidade tem consciência dos problemas estruturais do bairro,
conhecimento sobre a importância da preservação do parque e são bem favoráveis a
uma possível criação da entrada do Parque Estadual da Fonte Grande pelo bairro Santa
Tereza.
Como forma de ordenação dos espaços livres a partir dos itens detalhados supra, a
proposta de reestruturação do território, o projeto Bairro–verde como uma paisagem
continuada do Parque da Fonte Grande, partirá da premissa das relações funcionais, das
relações espaciais e as relações sinérgicas do sistema Parque–Paisagem–Bairro, e como
integrar estas variáveis de maneira equilibrada. Com isso, o resultado é um ambiente
Quais os tipos de melhorias que o seu bairro precisa?
Nenhuma;
7
1 vez; 2
2 vezes; 1
3 vezes; 3
5 vezes ou
mais; 6
Quantas vezes você já visitou o Parque da Fonte Grande?
Fonte: Autores do projeto. Data: 13/04/2013. Fonte: Autores do projeto. Data: 13/04/2013.
construído com menos impactos ambientais, menor consumo energético e hidráulico,
mais confortável e saudável para seus moradores e usuários. Onde o bairro se torna um
portal para o parque, sendo a continuidade da paisagem.
De forma a buscar a integração do Bairro de estudo e ao Parque da Fonte Grande, serão
apresentadas algumas intervenções pontuais necessárias para a implantação do Bairro-
verde, para que, tomadas em conjunto, sejam funcionais e tragam bem estar a sua
comunidade, bem como, a conscientização da importância do Parque, para que se possa
haver um convívio compatível entre os moradores e os recursos naturais ao seu entorno.
Segundo Tardin “As aproximações ecológicas valorizam os atributos biofísicos dos
espaços livres e adotam a conservação e a recuperação dos processos naturais, a partir
da ecologia urbana até a ecologia da paisagem, como diretrizes para a ordenação do
sistema de espaços livres e a estruturação do território” (ibid., p.25). Para aproximações
ecológicas dos atributos biofísicos utilizaremos os seguintes instrumentos de
intervenção da bioarquitetura:
Reestruturação das moradias: Julga-se necessária a reconstrução das moradias que
apresentam estrutura precária, como forma de mitigar riscos futuros às famílias
residentes.
Telhado verde: O sistema é simples e consiste no uso de uma camada de vegetação na
cobertura dos imóveis. A instalação de estrutura que propicie o crescimento de plantas
em um local que ficaria sem uso, como o telhado, resulta em maior conforto térmico e
acústico. Além disso, melhora o microclima da região, pois as plantas ajudam a
recompor área para a drenagem de água da chuva.
Jardim Vertical: Assim como o telhado verde, a instalação de estruturas que possam
receber plantas nas paredes aumenta o conforto térmico e acústico. É possível colocar
plantas do tipo trepadeiras.
Horta vertical: É possível cultivar temperos e plantas. A vantagem desse tipo de horta,
é que ela dispensa o uso de agrotóxicos e adubos químicos.
Calçada e escada permeável: permeabilizar é uma simples ação que tem o poder de
contribuir muito para a diminuição das enchentes.
Ecoesgoto: É um sistema de tratamento de esgoto que pode se conjugar ao telhado
verde. A reciclagem é feita através de um vermifiltro. Dejetos sólidos de sanitários e da
cozinha são canalizados para o vermifiltro, composto por minhocas, que vão digerir
todo o material.
Oficinas de Artesanatos com lixo recicláveis: Outra forma de gerar lucro para os
moradores da comunidade são as barracas de artesanato, que utilizando material
reciclado, podem divulgar a importância da Mata Atlântica e sua diversidade.
A partir desse conjunto de intervenções é possível reestruturar o bairro Santa Tereza em
um bairro-verde de acordo com o que é visualizado nos croquis abaixo. O croqui 01
mostra a Rua Saudário Fantoni (Foto 01) após a modificação. No croqui estão presentes
o jardim vertical, a calçada permeável e o portal de entrada do Parque Estadual da Fonte
Grande. O croqui 02 apresenta a modificação de uma viela do bairro Santa Tereza (foto
02), nele se observa os telhados verdes, o jardim vertical e a calçada permeável. Já o
último croqui (03) esboça a modificação feita na escadaria do bairro (foto 03), neste
croqui é possível visualizar a reposição da cobertura vegetal na lateral da escadaria e,
mais uma vez, a presença do jardim vertical, do telhado verde e da escada permeável.
Croqui 01: modificação da rua Saudário Fantoni e criação da entrada do Parque Estadual da Fonte Grande pelo bairro Santa Tereza. Data: 20/04/2013. Fonte: Autores do projeto.
Foto 01: Rua Saudário Fantoni. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do projeto.
Torna-se evidente a importância das intervenções coletivas nos referentes disciplinares e
objetivos tratados por Tardin no livro Espaços Livres, onde a autora argumenta: “As
aproximações sócio-culturais valorizam, sobretudo, a percepção da paisagem como uma
experiência sensorial complexa, embora prevaleça a percepção visual. Desta forma,
percebe-se o espaço livre na paisagem, e seu possível sistema, como lugar de construção de
imagens e práticas coletivas, abarcando suas dimensões estéticas, formais, sociais e
culturais para a leitura e/ ou intervenção no território” (op. cit. 2008, p. 25).
Por isso, a proposta de implementar os cursos de artesanato para a comunidade carente do
alto bairro Santa Tereza pretende desenvolver nos moradores a experiência de percepção
sensorial da paisagem e uma educação ambiental sustentável. Durante análise da área de
Foto 02: Viela no Bairro Santa Tereza. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do projeto.
Croqui 02: Modificação da viela no Bairro Santa Tereza. Data: 20/04/13. Fonte: Autores do
projeto.
Foto 03: Escada no bairro Santa Tereza. Data: 13/04/13. Fonte: Autores do projeto.
Croqui 03: Modificação da escada no bairro Santa Tereza. Data: 21/04/13. Fonte: Autores do projeto.
estudo verificou-se um grande acúmulo de lixo depositado nas encostas, o que gera
incêndios e riscos aos moradores em épocas de chuvas; destinar esse lixo para a reciclagem
e utilização do mesmo no artesanato minimiza os danos ao território e gera fonte de renda
para as famílias carentes. Além de divulgar a importância do parque através dos produtos
criados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preocupação do cuidado com o meio ambiente é cada vez maior frente aos grandes
problemas acarretados pelo adensamento urbano. Nesse sentido, a consciência da
importância e responsabilidade que cada cidadão tem na busca de um mundo mais
harmônico e no desenvolvimento do seu papel como indivíduo consciente e ativo, nos
levou a buscar formas simples e eficazes de educar para a preservação da natureza.
Buscamos nesses estudos um meio de promover a mistura dos meios, a exemplo da obra
que forneceu fundamentação teórica, criando uma relação entre as paisagens, que através
do trabalho coletivo gera a manutenção permanente do espaço livre Parque Estadual da
Fonte Grande. Pois conforme citado por Tardin (2008), “são entre esses espaços distintos
que podemos ter infinitas e dinâmicas formas de inter-relacionar a paisagem”.
O projeto conscientiza aos moradores de que a vida humana depende do ambiente. Que
cada um de nós precisa fazer a sua parte, enquanto cidadãos, e que pequenas ações podem
traduzir o respeito consigo, com o outro e com o planeta. O projeto apresentado foi apenas
o início de um movimento de se (re)pensar o espaço urbano, no momento em que possui
caráter de modelo para as regiões vizinhas e demais regiões, gerando na prática lições de
cidadania, ecologia, coletividade e desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAITZ, Ricardo. O estatuto da cidade após dez anos de sua publicação: algumas notas
críticas a partir dos seus resultados no urbano. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE
GEOGRAFIA URBANA, 11, Belo Horizonte, 2011, p 11.
MARICATO, Erminia. O Impasse da Política Urbana. O impasse da política urbana no
Brasil, São Paulo: Editora Vozes, 2011. cap. 1, p. 15-88.
PDM Participativo. Ministério das cidades, 2004. Digital.
TARDIN, Raquel. Espaços livres: sistema e projeto territorial. Rio de Janeiro: 7 Letras,
2008.
VILLAÇA, Flávio. Estatuto da cidade: para que serve? Carta Maior, Política, 19/10/2012,
3 p. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Estatuto-da-cidade-
para-que-serve-%0D%0A/4/26206> Acesso em: 15/03/2013.