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Projeto Coral-Sol: Controle do coral exótico invasor Tubastraea para recuperação ambiental, geração de renda e desenvolvimento social Apostila Geral

Projeto Coral-Sol - Apostila Geral

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Noções básicas de biologia de coral e apresentação do Projeto Coral-Sol e suas principais propostas.

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Projeto Coral-Sol: Controle do coral exótico invasor Tubastraea para recuperação ambiental, geração de renda e desenvolvimento social

Apostila Geral

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O Projeto Coral-Sol

Coordenador Geral: Joel C. Creed

Coordenador Comunitário: Alexandre Guilherme de Oliveira e Silva

Coordenadora Estudantil: Fabiana Barbosa dos Santos

Instituição Proponente:

Patrocínio:

Instituições Parceiras:

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Comitê de Defesa da Ilha Grande – CODIG

Parque Estadual de Ilha Grande – PEIG

Associação Curupira de Guias e Condutores de Visitantes da Ilha Grande

Estação Ecológica de Tamoios

Instituto Terra e Mar

Universidade Solidária – UniSol

Centro de Biologia Marinha Universidade de São Paulo – CEBIMar USP

Banco Real

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro –

FAPERJ

Contato:

Projeto Coral-Sol, Instituto Biodiversidade Marinha

Av. Ayrton Senna 250, sala 203

22793-000 Rio de Janeiro - RJ

Tel. (21) 2433-7311; (21) 2480-2158

Site: http://www.biodiversidademarinha.org.br/

E-mail: [email protected]

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Apostilha Geral

Autores: Cíntia Berriel de Lima e Joel C. Creed

28 páginas, 16 ilustrações, 1 tabela, 3 anexos

Rio de Janeiro, maio 2010

Índice

Introdução................................................................................................ 2 1 - O que são os corais?......................................................................... 3 2 - O Invasor coral-sol............................................................................ 8 3 - O Projeto Coral-Sol............................................................................. 10 4 - Manejo do coral-sol............................................................................ 12

4.1 - Planejamento da coleta............................................................ 12 4.2 – Localização.............................................................................. 12 4.3 – Coleta...................................................................................... 13 4.4 - Limpeza dos corais.................................................................. 14 4.5 - Medidas de produção.............................................................. 20

5 - Selo Verde e controle de estoque..................................................... 23 6 – Bibliografia......................................................................................... 23 7 – Glossário............................................................................................ 24 Anexo 1.................................................................................................... 26 Anexo 2.................................................................................................... 27 Anexo 3.................................................................................................... 28

Créditos

Agradecemos Alline F. de Paula e Fabiana Barbosa dos Santos por comentários e melhorias

no texto

Fotografias páginas 8, 14, 15, 17, 18, 19, 21, 22 Joel C. Creed

Fotografia página 16 Alexandre Guilherme de Oliveira e Silva

Esquemas páginas 4, 6, 7, 13 Cíntia Berriel de Lima

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Introdução

Espécies exóticas invasoras estão entre as maiores ameaças à

biodiversidade no mundo. O coral-sol (Tubastraea) foi introduzido no

Brasil através de plataformas de petróleo. Desde 1980 o coral

invadiu 900 km de costões rochosos, principalmente na Ilha Grande,

RJ, uma região de extrema importância para o turismo e a

conservação da biodiversidade. Em 2000, o Laboratório de Ecologia

Marinha Bêntica, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,

iniciou um programa de estudos sobre este coral visando identificar

o grau de ameaça que representa à fauna e flora nativas. Pesquisas

caracterizaram o coral-sol como altamente nocivo à biota local.

O Projeto Coral-Sol propõe controlar o coral-sol, visando erradicá-lo

em 20 anos, agregando valor a sua extração e contribuindo para a

sustentabilidade de comunidades litorâneas.

Quarenta (40) famílias das comunidades litorâneas da Ilha Grande

serão capacitadas para catar e preparar os corais para sua utilização

como artesanato. Assim, gerando renda alternativa, combatendo a

expansão dos corais exóticos, e substituindo o comércio ilegal de

corais nativos.

O Projeto representa, no Brasil, a primeira iniciativa auto-sustentável

de erradicação de organismos exóticos marinhos.

Na presente apostilha estão detalhadas as informações necessárias

para a participação no projeto.

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1 - O que são os corais?

Os corais são invertebrados marinhos do filo Cnidaria, cujo corpo

consiste de um pólipo (Fig. 1) - uma estrutura oca e cilíndrica que

adere a uma superfície pela extremidade inferior, e na extremidade

livre situa-se a boca, em volta da qual existem tentáculos, cuja

função é capturar alimento. Apresentam nematocistos, que são

células com função de captura de presas e na defesa - são

conhecidas como células urticantes. Os corais capturam presas do

plâncton com os tentáculos passando o alimento para a boca e

cavidade gastrovascular.

Os corais podem ser coloniais (mais de um pólipo) ou solitários. O

esqueleto, quando presente, é constituído por carbonato de cálcio

(CaCO3) nos “corais verdadeiros” e em outros por um esqueleto

córneo, depositado por eles. A diversidade e a beleza dos

esqueletos dos corais resultam da forma de crescimento da colônia

e o arranjo de seus pólipos.

Corais são organismos que não se locomovem, sésseis. Ocorrem

fixos em substratos consolidados, como os costões rochosos e

recifes. Muitos competem por espaço com outras espécies, uma vez

que espaço é um recurso limitante para os organismos bentônicos.

Há diversos tipos de corais. A classe Anthozoa, que é o maior táxon

dos cnidários, apresenta uma grande variedade de corais divididos

principalmente em dois grupos. A subclasse Hexacorallia, inclui os

corais pétreos ou verdadeiros, que produzem um exoesqueleto de

carbonato de cálcio. A maior parte é formadora de recifes, os

chamados hermatípicos. A maioria das espécies é colonial, com

pólipos pequenos e defendem-se com nematocistos e retraindo-se

em seus pólipos. Neste grupo encontra-se o coral-sol. A subclasse

Octocorallia, que abrange os corais moles ou corais falsos, tende a

ser mais tolerante aos extremos ambientais que os corais pétreos.

Colonizam áreas onde os corais escleractíneos não ocorrem ou não

são abundantes. A maioria não constrói recifes, são ahermatípicos.

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A maior parte tem zooxantelas e muitos dependem dessas algas

para prover parte de sua nutrição e utiliza-se de defesas químicas

para envenenar ou desencorajar seus predadores.

Figura 1: Esquema da anatomia do pólipo.

Já na classe Medusozoa, os cnidários apresentam uma fase de

medusa em seu ciclo de vida. São corais construtores de recifes que

não pertencem à classe dos antozoários. Os corais-de-fogo (no

Brasil, por exemplo, o gênero Millepora) pertencem à subclasse

Hydrozoa, ou seja, são parentes mais próximos das águas-vivas,

apresenta uma fase de medusa no seu ciclo de vida, mas como os

demais corais construtores de recifes, crescem em colônias de

pólipos que, algumas vezes, apresentam esqueleto de calcário.

Os corais podem apresentar uma associação direta com zooxantelas

- algas unicelulares fotossintéticas/dinoflagelados que vivem nos

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tecidos dos corais em suas células gastrodérmicas (da camada de

revestimento interno). Esta relação recebe o nome de simbiose

(associação direta, frequentemente obrigatória, parasíticas ou

mutualísticas entre duas espécies diferentes). Os corais que

apresentam zooxantelas são chamados zooxantelados; aqueles

que não as possuem, azooxantelados. As zooxantelas usam o

corpo do coral como um habitat protetor, para exposição à luz, e

como uma fonte de nutrientes, especialmente o fosfato (PO4), nitrato

(NH3) e dióxido de carbono (CO2), subprodutos do metabolismo dos

corais. Em troca, o coral recebe derivados da fotossíntese algal,

como parte de seu nitrogênio (N), carbono (C) e parte de suas

necessidades energéticas (até 50%), bem como oxigênio (O2). O

mutualismo (simbiose com efeitos positivos para as duas espécies)

também aumenta a taxa de crescimento do coral por causa da

suplementação nutricional de produtos da fotossíntese e remoção de

dióxido de carbono (CO2) pelas algas.

Tanto os corais zooxantelados como os azooxantelados predam

animais (com os tentáculos) e, dependendo do tamanho dos pólipos,

a presa pode variar de plâncton até peixes. Os corais ocorrem em

todos os oceanos e em todas as profundidades, embora nos trópicos

os corais zooxantelados, que necessariamente tem que crescer em

águas rasas e bem iluminadas são os principais formadores de

recifes de coral.

Corais são, então, animais com alta capacidade de adaptação. Por

viverem em ambientes diversos, existem corais de vários tamanhos

e que apresentam diferentes maneiras de se alimentar. Não é

surpresa, então, que eles apresentem mais de uma maneira de se

reproduzir.

A primeira maneira é a reprodução clonal, ou assexuada, que é

difundida, se não universal entre os cnidários (Fig. 2). As formas de

reprodução clonal incluem a fissão, que é uma divisão ordenada do

corpo ao longo do eixo transversal (incomum) ou longitudinal

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(comum) e o brotamento, que é a diferenciação de um indivíduo-filho

antes de separar-se do corpo parental.

A segunda maneira é a reprodução sexuada, em que os adultos de

cnidários geralmente são gonocóricos (Fig. 3). Certos táxons, como

os corais pétreos, têm muitas espécies hermafroditas. A fertilização

é externa, na água, e depois de ocorrida, o desenvolvimento

posterior resulta em uma larva planctônica chamada plânula. Depois

de uma breve existência natatória, a plânula se assenta no fundo,

adere-se a um substrato consolidado e se metamorfoseia em um

jovem. Suas vidas larvais são tipicamente curtas e a dispersão é

limitada.

A

B C

Figura 2: esquemas de reprodução assexuada: (A) fissão longitudinal, (B) brotamento intratentacular e (C) brotamento extratentacular (Barnes, 2005).

Inserida no ciclo de vida entre o pólipo e a plânula, a medusa não só

provê uma fase capaz de dispersão mais ampla, como também se

apropria do papel de reprodução sexuada que pertencia ao pólipo.

Isso alivia o pólipo de um custo energético relacionado à reprodução

sexual, principalmente para a produção do ovo, porque a medusa

pode se alimentar e crescer. A energia reprodutiva de um pólipo

pode ser, então, canalizada para a reprodução clonal ou crescimento

modular, ambos os eventos que habilitam uma colonização rápida

de superfícies por adesão (Fig. 2).

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Figura 3: esquema da reprodução sexuada (Barnes, 2005), mostrando pólipos adultos liberando gametas no meio, a fecundação gera uma plânula (larva planctônica), que se fixa em um substrato e sofre metamorfose, tornando-se um pólipo jovem.

Assim, um ciclo de vida com uma medusa sexuada planctônica e um

pólipo assexuado bentônico dividem as demandas energéticas da

reprodução sexuada e assexuada em estágios de ciclo de vida que

ocupam nichos ecológicos diferentes. Na ausência de uma medusa,

a vasta maioria dos antozoários adultos pode confrontar-se

diretamente com este desafio energético, pela sua suplementação

nutricional normal, com produtos da fotossíntese das zooxantelas.

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2 - O Invasor Coral-Sol

O nome vulgar coral-sol refere-se às espécies Tubastraea coccinea

Lesson, 1829 (Fig. 4a) e Tubastraea tagusensis Wells 1982 (Fig.

4b), duas espécies de corais azooxantelados da ordem Scleractinia,

família Dendrophylliidae, que produzem um exoesqueleto de

carbonato de cálcio. Estes corais são espécies exóticas invasoras na

costa brasileira.

Figura 4: (a) Tubastraea coccinea, (b) Tubastraea tagusensis.

Espécies exóticas invasoras são aquelas que ocorrem fora de seu

hábitat natural e que foram introduzidas, intencionalmente ou não,

por atividades humanas em um novo ambiente. No habitat invadido,

aumentam sua abundância de tal maneira que ameaçam

ecossistemas, habitats ou espécies, estando entre as maiores

ameaças à biodiversidade no mundo.

Esses corais foram introduzidos no Brasil no final da década de 80,

através de plataformas de petróleo/gás em operação na Bacia de

Campos, RJ, e invadiram costões rochosos ao longo de 900 km do

litoral do Estado do rio de Janeiro (Fig. 5).

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-45 -44 -43 -42

-23.5

-23

-22.5

Introdução primária das duas espécies

Introdução primaria T. coccinea

Introduções secundárias

Rio de JaneiroArraial

do Cabo

Arquipélagodas Cagarras

Ilha JorgeGrego

Parati

Baía daIlha Grande

Figura 5: Mapa da distribuição do coral-sol no Brasil

O estabelecimento destas espécies exóticas reduz a produtividade

primária da região por impedir a ocorrência de organismos

fotossintetizantes ao ocupar o espaço. Ainda reduzem a

disponibilidade de espaço para outros organismos e a quantidade de

plâncton disponível para as espécies nativas por serem

suspensívoros, alimentando-se principalmente de plâncton. Além

disso, esses corais modificam os ciclos biogeoquímicos locais, como

os do carbono e do cálcio, devido à composição do seu esqueleto.

Como a fauna coralinea brasileira é única e caracterizada pela

presença de espécies endêmicas, de crescimento lento, a introdução

do coral-sol é preocupante. Esses invasores reduzem a diversidade

biológica, podendo extinguir espécies ecologicamente importantes

e/ou endêmicas do Brasil.

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3 - O Projeto Coral-Sol

O Projeto Coral-Sol vem realizando desde 2000

um programa de estudos sobre o coral-sol

(espécies Tubastraea coccinea e Tubastraea

tagusensis), identificando o grau de ameaça que

representa à fauna e flora nativas. Estas

pesquisas caracterizaram o coral-sol como

altamente nocivo à biota local e ameaça toda a

costa brasileira devido ao seu potencial de

expansão. Assim, foi proposta a extração do coral dos ecossistemas

invadidos com auxílio das comunidades locais. O projeto representa

a primeira iniciativa auto-sustentável de erradicação de organismos

exóticos marinhos no Brasil, visando preservar os organismos

marinhos nativos do efeito nocivo destes corais.

A Baía da Ilha Grande, Angra dos Reis, está localizada no sul do

estado do Rio de Janeiro, e consiste em dois corpos de água

separados por uma constrição formada entre o continente e a ilha,

Ilha Grande (Signorini 1980). A Ilha Grande, sede do Projeto Coral-

Sol, é uma ilha com aproximadamente 190 km², que apresenta sua

costa com uma face exposta ao sul e uma face protegida ao norte. A

Ilha Grande se situa entre as baías de Sepetiba e da Ilha Grande,

esta última contém 365 ilhas. Na região chove 2500 mm por ano, a

salinidade é 35-36, e a temperatura das águas tropicais varia de 21

a 32°C durante o ano (de Paula & Creed 2004).

Essa região representa a área da costa brasileira onde a invasão é

mais abrangente, tanto em número de locais, quanto em número de

colônias. A atual distribuição das espécies de Tubastraea na área

estudada ocorre, sobretudo, em áreas insulares próximas ao

Terminal Marítimo da Baía de Ilha Grande, Petrobrás (TEBIG) (Fig.

6). As distribuições destas espécies são, em grande parte,

coincidentes; o que sugere que ambas tiveram a mesma rota de

invasão e/ou apresentam nichos ecológicos muito próximos.

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Figura 6 Distribuição das duas espécies de Tubastraea na Baía da Ilha Grande em 2004

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4 - Manejo do Coral-Sol

O manejo dos corais invasores é feito através de coleta manual

realizada por mergulhadores saindo da orla ou utilizando

embarcação como plataforma para as atividades. Em primeiro lugar,

os mergulhadores devem sempre levar em consideração a sua

segurança pessoal!

4.1 - Planejamento da coleta

Recomenda-se fazer um planejamento prévio das atividades de

excursão ao campo para coleta dos corais. Tal planejamento deve

levar em consideração as condições das marés e meteorológicas.

Procure coletar na maré baixa de luas cheias e novas, pois as marés

são mais baixas e os mergulhos, consequentemente, são mais

rasos. Desta forma os esforços da coleta (e o ar, caso o mergulho

seja autônomo) serão otimizados.

As marés podem ser consultadas através da Tábua de Marés do

Porto de Angra dos Reis, disponível na Internet no site da Diretoria

de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil:

www.dhn.mar.mil.br.

Verifique se as condições meteorológicas vão estar favoráveis ou

não (ressacas devido à chegada de frentes frias, e etc). Tais

informações estão disponíveis no site: www.climatempo.com.br.

4.2 - Localização

Ao chegar ao local de trabalho, o catador do coral deve anotar na

Planilha de Campo (Anexo 1) o nome do local, as coordenadas

geográficas registradas utilizando o aparelho de GPS

(Posicionamento Global por Satélite) e preencher outras informações

relevantes contidas na planilha.

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4.3 - Coleta

A coleta é feita através de apnéia (snorkel) ou mergulho autônomo

(Fig. 7).

Os mergulhadores devem estar devidamente equipados com

roupas e apetrechos pertinentes ao mergulho no mar e seguir

os mandamentos de praxe para o desenvolvimento de mergulho

que sempre tem intuito de resguardar a segurança do

mergulhador.

Figura 7: Método de retirada dos corais.

Para remover os corais, usa-se uma ponteira, ou talhadeira de

pedreiro, e uma marreta (Fig. 7). A ponteira deve ser posicionada na

base do coral, pois assim não perturba a biota local (Fig. 8). Bate-se,

então, com esforço moderado, a marreta na outra extremidade da

ponteira para desprender o coral do substrato.

Os corais maiores que um cm de diâmetro, geralmente, são

facilmente removidos, e devem ser coletados e extraídos, uma vez

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que são reprodutores em potencial. No caso de corais muito

pequenos (menores que um cm de diâmetro), estes devem ser

diretamente eliminados, sendo esmagados com a ponteira no local.

É recomendado que sejam utilizadas luvas de pedreiro para a

coleta dos corais, para não cortar as mãos.

Os corais retirados são reunidos em baldes ou sacos na água e

então transportados para a embarcação ou orla e, posteriormente,

ao local de limpeza.

Figura 8: Fotografias do coral-sol antes e depois de ser retirado. A foto mostra o espaço deixado pela base do coral removido, e que os organismos ao redor do espaço que era ocupado pelo coral não sofreram impacto devido à remoção. O círculo aponta um coral pequeno (apenas um pólipo fundador) que deve ser esmagado no local.

4.4 - Limpeza dos corais

Os corais coletados são levados imediatamente para o local de

limpeza, pois a secagem prolongada dos corais dificulta sua limpeza

posterior.

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O pouco material biológico que eventualmente venha junto, mas que

não é coral-sol, deve ser removido com auxílio de uma faca e de

uma escova (Fig. 9). Os corais são colocados em recipientes

(baldes, tanques e etc.) e submersos em água doce. Esta água mata

os corais e inicia um processo de apodrecimento dos tecidos

(“carne”) dos corais (Fig. 10).

Figura 9: Remoção da flora e fauna acompanhante

O tempo completo de maceração (remoção de tecidos) dos corais

pode ser de 1 a 3 meses e depende do tamanho do coral

(espécimes maiores levam mais tempo), da freqüência de troca de

água (trocas mais freqüentes reduzem o tempo) e das condições

ambientais (maior temperatura reduz o tempo, e etc.). Na Tabela I

são apresentados dados de uma coleta e a proporção de material

coletado limpo por tempo.

Trocas de água efetuadas semanalmente apresentam um bom

resultado, melhor ainda, seria um sistema de fluxo contínuo de água

pelo tanque, porque proporciona rápida maceração.

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Tabela I. Tempo necessário para a limpeza dos corais

Período Porcentagem de material coletado limpo

Número de corais

Tamanho médio do coral (mm)

1 mês 76 % 262 40,8 1-2 meses 13 % 45 71,2 2- 3 meses 11 % 37 101,5

(Total) (100 %) (344)

Os recipientes devem ser sempre bem tampados de modo a

evitar condições para a criação de mosquitos, mau cheiro ou

atração de moscas.

Os recipientes devem ser numerados de forma permanente e a

origem e data de coleta do material devem ser anotados em cada

recipiente, de modo que se saiba a origem de cada lote de corais.

Figura 10: Tanques de maceração onde os corais são deixados

para apodrecer

Os corais são retirados do tanque (ou recipiente) e lavados com

mangueiras adaptadas com jato fino de água, de forma que todo o

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tecido seja removido, ficando apenas o esqueleto (Figs. 11 e 12).

Caso o tecido não seja complemente removido, o coral deve ser

devolvido para mais um mês de imersão. Os espécimes grandes,

provavelmente, sofrerão duas ou três lavagens, uma a cada mês

(Tabela I).

O processo de lavagem é sujo e potencialmente nocivo à saúde

humana. É imprescindível o uso de protetor facial transparente,

luvas de borracha (preferencialmente até o cotovelo) e avental

plástico ou de borracha para evitar problemas de contaminação

ou lesões na pele, olhos, nariz ou boca.

Recomenda-se ainda o uso de roupas velhas, e que se tome um

banho logo após as atividades de limpeza de esqueleto.

Pode ser utilizado aparelho tipo ‘lava jato’ fraco caso haja

disponibilidade, pois isso economiza água (embora não economize

em eletricidade).

Figura 11: Lavagem dos corais com jatos de água, para retirar todo o tecido do coral, deixando apenas o esqueleto.

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Figura 12: Antes e depois da lavagem de um coral.

Para finalizar o processo de limpeza os esqueletos são, então,

submersos em recipientes com água sanitária concentrada

(hipoclorito de sódio – NaClO) para que fiquem brancos, ou mais

claros (Fig. 13).

Os esqueletos que apresentarem outra coloração natural, como por

exemplo lilás (veja Fig. 12b), podem ser apenas lavados, e caso se

deseje preservar sua coloração, estes não devem ser colocados em

água sanitária.

Os esqueletos devem ser retirados da água sanitária quando

estiverem bem claros ou brancos. O tempo de permanência na água

sanitária (de 30 min até uma hora, ou durante a noite) depende do

quanto limpo estão os corais (quanto mais limpo melhor) e de

quantas vezes a água sanitária foi utilizada anteriormente (leva mais

tempo cada vez que ela é reutilizada).

A água sanitária pode ser reutilizada de 5 a 7 vezes. Quando a água

sanitária começa a perder sua eficácia deve ser descartada ou

utilizada em eventual limpeza doméstica (ralos e etc.). Recomenda-

se utilizar quantidades estritamente necessárias de água sanitária

para a quantidade de coral a ser limpa, de modo a não subutilizar a

água sanitária pois esta tem custo. Por exemplo, completando um

balde de corais com água sanitária, esta mesma água sanitária será

suficiente para limpar mais 5-6 baldes de coral. Assim, se tem

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apenas 3 baldes de coral para limpar, utilize apenas meio balde de

água sanitária 6 vezes para que ela seja utilizada ao máximo, e para

que não haja desperdício.

Figura 13. Aspecto antes e depois do esqueleto ficar na água

sanitária.

Lave os corais duas ou três vezes com água limpa de modo a

remover a água sanitária.

Deixe os corais escoando o excesso de água antes de colocá-los em

local seco, de preferência ao ar livre e em pleno sol, para que fiquem

secos. A secagem em local fechado é mais demorada (até um mês)

e o sol ajuda ainda mais no clareamento dos corais.

A água sanitária é corrosiva, pode causar lesões de pele ou

olhos e pode estragar roupas ou até azulejos! Portanto, deve

ser sempre utilizado protetor facial transparente, luvas de

borracha (preferencialmente até o cotovelo) e avental plástico

ou de borracha, para evitar danos à saúde.

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4.5 - Medidas de produção

Cada lote de corais é quantificado para que possamos acompanhar

a produção de cada catador e ter noção do estoque de corais

disponibilizado. Isso é fundamental para podermos remunerar o

catador de forma justa, relativa à sua produção, e fazer o

acompanhamento de controle de extração do coral-sol.

Cada coral será identificado e terá seu tamanho e peso medidos.

Na identificação de espécie há três opções: T. tagusensis (T), T.

coccinea (C) ou Misto (M), caso a colônia do coral tenha as duas

espécies juntas (Fig. 14). Para misto, usamos um limite mínimo de

presença de, aproximadamente, 5% de uma das espécies como

critério, ou seja, caso o coral tenha mais que 95% de uma espécie,

consideramos que a colônia é da espécie dominante.

Os esqueletos devem ser medidos com um paquímetro em sua

maior distância em milímetros (Fig. 15), e pesados em uma balança

até 0,1 gramas de precisão (Fig. 16). Estes dados devem ser

anotados na Planilha de Controle (Anexo 2) com as respectivas

datas e locais da coleta, coordenadas e o nome de catador, de

forma que, durante todo o processo, os corais devem estar

separados de acordo com o local de coleta, catador e data para que

o monitoramento espacial e de produtividade possa ser feito.

DICA: Limpar os corais com água sanitária antes da hora, quando ainda há tecido, não vale a pena, pois você vai utilizar mais água sanitária para alcançar a limpeza desejada.

ATENCÃO! O Projeto terá que rejeitar corais que não estão devidamente limpos, pois o público não vai querê-los! Como fazemos medidas de peso dos corais, eles têm que estar bem secos. Corais ainda úmidos serão devolvidos para secagem.

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Durante todo o processo de coleta, limpeza e medição da

produção devem-se manter os lotes de corais separados de

acordo com o catador, local de coleta e data de coleta.

Figura 14: Identificação a) T. tagusensis, b) T. coccínea, c) & d) misto, e) T. tagusensis (pois tem menos que 5% T coccínea, indicada com seta).

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Figura 15: Medição do comprimento máximo dos corais - as

medidas com X não são de comprimento máximo.

Figura 16: Pesagem dos esqueletos utilizando balança digital

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Após a medição, os esqueletos são armazenados em local seco e

separados conforme seu tamanho, de modo que diferentes

tamanhos podem ser utilizados para diferentes artesanatos.

5 - Selo Verde e controle de estoque

Cada objeto que utilize um ou mais esqueletos de coral-sol

obrigatoriamente receberá um selo verde com letras e numeração

seqüencial. No ato do item receber o selo verde, deve ser anotado

na Planilha de Controle do Selo Verde e Estoque (Anexo 3), o

número do selo verde em seqüência, a descrição do item e quantos

corais o item utilizou.

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6 - Bibliografia

BARSA. 1997. Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda. Volume 4. 506 pp.

BRUSCA, R.C., BRUSCA, G.J. Invertebrados.

CASTRO, P., HUBER, M.E. Marine Biology. 4aEd.

CREED, J.C. 2007. Projeto Coral-Sol, controle do coral exótico invasor Tubastraea para recuperação ambiental, geração de renda e desenvolvimento social.

DE PAULA, A.F., CREED, J.C. 2004. Two species of the coral Tubastraea (Cnidaria, Scleractinia) in Brazil: a case of accidental introdution. Bull. Mar. Sci. 74:175-183

___ Biodiversidade Marinha da Baía de Ilha Grande. Biodiversidade 23. Ministério

do Meio Ambiente. 2008.

RUPPERT, E.E., FOX, R.S., BARNES, R.D. 2005. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. Sétima edição. Roca, São Paulo. 1145 pp.

SIGNORINI, S.R. 1980. A study of the circulation in Bay of Ilha Grande and Bay of Sepetiba part I, a survey of the circulation based on experimental field data. Bolm. Inst. Oceanogr. 29:41-55

7 - Glossário

AHERMATÍPICOS: corais que não são construtores de recifes.

ALGA: compreende vários grupos de seres vivos aquáticos e autotróficos, ou seja, que produzem a energia necessária ao seu metabolismo através da fotossíntese.

ANTHOZOA: classe do filo Cnidaria que inclui os corais e anêmonas do mar, sendo a maior classe dos Cnidaria. Os antozoários distinguem-se dos restantes cnidários por terem uma vida inteiramente séssil, sem estado livre de medusa. São formadores de recifes.

BENTÔNICO: bentos ou organismos bentônicos são aqueles animais que vivem associados ao substrato, como, por exemplo, os corais.

BROTAMENTO: processo de reprodução no qual um indivíduo forma outro indivíduo igual, a partir do seu corpo, só que de menor tamanho, um “broto”. Ao se separar do progenitor o novo indivíduo desenvolve-se.

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS: relações entre espécies e ambiente físico caracterizadas por uma constante permuta dos elementos e compostos essenciais à vida, em uma atividade cíclica, a qual compreende aspectos de etapas biológicas, físicas e químicas alternantes.

CNIDARIA: filo que inclui os animais aquáticos (conhecidos popularmente como celenterados ou cnidários) de que fazem parte as hidras de água doce, as medusas ou águas-vivas, que são normalmente oceânicas, e os corais e anêmonas-do-mar.

DENDROPHYLLIIDAE: família de corais, a qual inclui o gênero Tubastraea.

EFETORA (FUNÇÃO EFETORA): referente à movimentação do organismo.

FERTILIZAÇÃO: processo que ocorre quando um gameta masculino fecunda um gameta feminino.

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FILO: é um taxon usado na classificação científica dos seres vivos. Os filos são os agrupamentos mais elevados geralmente aceitos em cada um dos Reinos em que os seres vivos foram divididos tendo em conta os seus traços evolucionários e a sua estrutura e ancestralidade.

FOTOSSINTETIZANTES: organismos que fazem fotossíntese, que é um processo em que seres autotróficos (seres que produzem seu próprio alimento) e alguns outros organismos transformam energia luminosa em energia química processando o dióxido de carbono (CO2), água (H2O) e minerais em compostos orgânicos e produzindo oxigênio gasoso (O2).

GONOCÓRICOS: dióicos, quando cada indivíduo de uma dada espécie gera gametas de apenas um sexo, feminino ou masculino.

HERMAFRODITAS: quando cada indivíduo de uma dada espécie produz gametas de ambos os sexos – feminino e masculino.

HERMATÍPICOS: corais construtores de recifes, corais pétreos.

HEXACORALLIA: subclasse da classe Anthozoa que compreende os corais “pétreos”.

HYDROZOA: classe do filo Cnidária composta por meduzoários principalmente coloniais, nos quais o ciclo de vida pode incluir pólipos, medusas, ou ambos. O coral-de-fogo pertence a essa classe.

MEDUSA: fase adulta e natante do ciclo de vida de alguns cnidários.

MEDUSOZOA: grupo de cnidários que apresentam medusa em uma fase do ciclo de vida.

NEMATOCISTOS: um tipo de cnida, uma célula combinada sensorial e efetora que tem papel central na captura de presas e na defesa.

NICHO ECOLÓGICO: intervalos de condições que um organismo pode tolerar e os modos de vida que ele possui – isto é, seu papel no sistema ecológico.

OCTOCORALLIA: subclasse da classe Anthozoa, grupo dos corais “moles”.

PLÂNCTON: conjunto dos organismos que têm reduzido ou nenhum poder de locomoção e vivem livremente na coluna de água (pelágicos), sendo muitas vezes arrastados pelas correntes oceânicas. O plâncton encontra-se na base da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos, uma vez que serve de alimentação a organismos maiores.

SCLERACTINIA: ordem de cnidários que inclui os corais verdadeiros; são os corais pétreos ou escleractinios, principalmente antozoários coloniais que secretam um exoesqueleto de carbonato de cálcio.

SENSORIAL (FUNÇÃO SENSORIAL): referente ao sistema nervoso e aos órgãos sensoriais.

SÉSSIL: denominam-se organismos sésseis aqueles que não se deslocam voluntariamente do seu local de fixação.

URTICANTE: que produz uma reação alérgica intensa.

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Anexo 1

Planilha de Campo – coleta

Data de coleta Local Coordenados GPS Hora início Hora final

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Anexo 2

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Anexo 3