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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS PPGEM RODRIGO ESPERANÇA DA CUNHA PIMENTEL DE MEIRA ESTUDO DO ESCOAMENTO DE FLUIDOS DE LEI DE POTÊNCIA E BINGHAM EM CANAL PARCIALMENTE POROSO UTILIZANDO O MÉTODO LATTICE BOLTZMANN DISSERTAÇÃO Orientador: Prof. Dr. Silvio Luiz de Mello Junqueira Co-Orientador: Prof. Cezar O. R. Negrão, PhD CURITIBA OUTUBRO 2016

Projeto de Dissertação - UTFPR · 5.6 Adaptação do modelo HL para o escoamento de fluidos de lei de potência e ... Figura 1.3 – Esboço do perfil de velocidades do escoamento

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS CURITIBA

DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE

MATERIAIS – PPGEM

RODRIGO ESPERANÇA DA CUNHA PIMENTEL DE MEIRA

ESTUDO DO ESCOAMENTO DE FLUIDOS DE LEI DE

POTÊNCIA E BINGHAM EM CANAL

PARCIALMENTE POROSO UTILIZANDO O

MÉTODO LATTICE BOLTZMANN

DISSERTAÇÃO

Orientador: Prof. Dr. Silvio Luiz de Mello Junqueira

Co-Orientador: Prof. Cezar O. R. Negrão, PhD

CURITIBA

OUTUBRO – 2016

RODRIGO ESPERANÇA DA CUNHA PIMENTEL DE MEIRA

ESTUDO DO ESCOAMENTO DE FLUIDOS DE LEI DE

POTÊNCIA E BINGHAM EM CANAL

PARCIALMENTE POROSO UTILIZANDO O

MÉTODO LATTICE BOLTZMANN

DISSERTAÇÃO

Orientador: Prof. Dr. Silvio Luiz de Mello Junqueira

Co-Orientador: Prof. Cezar O. R. Negrão, PhD

CURITIBA

OUTUBRO – 2016

RESUMO

Neste trabalho, propõe-se o estudo numérico do escoamento de fluidos de lei de potência e

Bingham junto à interface entre uma região livre e outra porosa (interface fluido-porosa)

utilizando o método lattice Boltzmann. Para tanto, considera-se o escoamento entre placas

planas e paralelas entre as quais se faz presente um meio poroso abordado de forma heterogênea

(resolução espacial da ordem de grandeza dos poros) e representado através de obstáculos

sólidos quadrados uniformemente distribuídos na parte inferior do canal. As análises realizadas

mostram o efeito dos diversos parâmetros adimensionais do problema sobre o fator de atrito na

região livre do canal. De um modo geral, constata-se que a discrepância entre os fatores de

atrito na região livre do canal e para o escoamento entre placas planas e paralelas cresce com o

aumento da porosidade e do número de Bingham e com as reduções do número de obstáculos

que compõem o meio poroso, número de Reynolds e índice de lei de potência. Ademais, propõe-

se a adaptação do modelo analítico de interface fluido- porosa para escoamento de fluido

newtoniano proposto por Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) ao escoamento de fluido de lei de

potência, verificando-se a possibilidade de incorporar o comportamento não newtoniano do

fluido ao parâmetro empírico do modelo.

Palavras-chave: interface fluido-porosa, fluido de lei de potência, fluido de Bingham,

meio poroso heterogêneo, método lattice Boltzmann.

ABSTRACT

The goal of this work is to numerically investigate the flow of power law and Bingham fluids

next to the interface between a free and a porous region (fluid-porous interface) using the lattice

Boltzmann method. For this, the flow in a channel partially filled by a porous material is

studied. The porous region is located in the bottom half of the channel and is analyzed

considering a pore level approach in which the porous medium is represented by a set of solid

square obstacles. Results show the influence of various non-dimensional parameters on the

friction fator of the flow occuring in free region of the channel. In general, decreasing the power

law index, Reynolds number (inertial parameter) or number of obstacles composing the porous

domain causes the reduction of the friction factor in comparison to the case where the fluid-

porous interface is replaced by an impermeable wall. The same behavior occurs when

increasing the Bingham number (non-dimensional yield stress) or porosity. Moreover, the

application of the fluid-porous interface model developed by Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b)

for Newtonian flows is used to describe the flow of power law fluids by variyng the stress jump

coefficient with the power law index.

Palavras-chave: fluid-porous interface, power law fluid, Bingham fluid, heterogeneous

porous medium, Lattice Boltzmann method.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 18

1.1 Motivação ............................................................................................... 18

1.2 Caracterização do problema ...................................................................... 21

1.3 Abordagem do problema ........................................................................... 22

1.4 Objetivos ................................................................................................. 24

1.5 Organização do trabalho ........................................................................... 24

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 26

2.1 Escoamento junto à interface fluido-porosa: fluido newtoniano ..................... 26

2.2 Escoamento junto à interface fluido-porosa: fluidos não newtonianos ............ 32

2.3 Síntese do capítulo ................................................................................... 34

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 36

3.1 Fluidos newtonianos e não newtonianos ..................................................... 36

3.2 Meios porosos .......................................................................................... 42

3.3 Fator de atrito e número de Reynolds ......................................................... 47

3.4 Síntese do capítulo ................................................................................... 50

4 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................ 52

4.1 Geometria e condições de contorno e inicial ................................................ 52

4.2 Hipóteses simplificadoras e equações de balanço ......................................... 53

4.3 Parâmetros adimensionais do problema ...................................................... 54

4.4 Síntese do capítulo ................................................................................... 56

5 MÉTODO LATTICE BOLTZMANN .............................................................. 57

5.1 Histórico ................................................................................................. 57

5.2 Conceitos básicos sobre teoria cinética dos gases ......................................... 58

5.3 Modelo de He e Luo (1997)....................................................................... 61

5.4 Estruturas de retículo ................................................................................ 64

5.5 Equivalência entre o modelo HL e as Equações de Navier-Stokes – Expansão de

Chapman-Enskog ................................................................................................ 65

5.6 Adaptação do modelo HL para o escoamento de fluidos de lei de potência e

Bingham ............................................................................................................ 70

5.7 Condições de contorno .............................................................................. 71

5.8 Metodologia para o teste de sensibilidade à discretização espacial (Δx) e temporal

(Δt) 75

5.9 Estrutura do código computacional ............................................................ 77

5.10 Síntese do capítulo .............................................................................. 78

6 PROBLEMAS DE VERIFICAÇÃO ................................................................ 79

6.1 Escoamento entre placas planas e paralelas ................................................. 79

6.2 Escoamento em canal poroso ..................................................................... 82

6.3 Síntese do capítulo ................................................................................... 86

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 87

7.1 Parâmetros de análise do problema ............................................................ 87

7.2 Influência da interface fluido-porosa sobre o escoamento na região livre ........ 89

7.3 Análise paramétrica .................................................................................. 92

7.4 Estudo da adaptação dos modelos analíticos BJ, NN e OTW ao escoamento de

fluido de lei de potência ..................................................................................... 106

7.5 Síntese do capítulo ................................................................................. 112

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 114

8.1 Sugestões para trabalhos futuros .............................................................. 115

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 116

APÊNDICE A – PARÂMETROS ADIMENSIONAIS DO ESCOAMENTO EM

CANAL PARCIALMENTE POROSO ............................................................... 125

A.1 Fluido de lei de potência ......................................................................... 125

A.2 Fluido de Bingham ................................................................................. 127

APÊNDICE B – RESULTADOS INTERMEDIÁRIOS DO MÉTODO LATTICE

BOLTZMANN ................................................................................................. 130

B.1 Função de equilíbrio do modelo de He e Luo (1997) – Equação 5.11 ........... 130

B.2 Momentos de ordem zero e um das funções distribuição de velocidade do modelo

de He e Luo (1997) – Equações 5.13 e 5.14 ......................................................... 134

B.3 Momentos de ordem zero e um das parcelas de não equilíbrio das funções

distribuição de velocidade – Equações 5.26 e 5.27 ................................................ 137

B.4 Obtenção da equação da conservação da quantidade de movimento linear –

expansão de Chapman-Enskog ........................................................................... 138

APÊNDICE C – TESTES DAS CONDIÇÕES DE CONTORNO DO LBM ............ 144

C.1. Comparação entre as formulações padrão e intermediária da condição de bounce-

back 144

C.2. Avaliação da condição de contorno periódica de Liao e Jen (2008) ............. 146

APÊNDICE D – RESULTADOS DOS TESTES DE SENSIBILIDADE À Δx E Δt PARA

OS PROBLEMAS DE VERIFICAÇÃO E O ESCOAMENTO EM CANAL

PARCIALMENTE POROSO ............................................................................. 148

D.1 Escoamento entre placas planas e paralelas ............................................... 148

D.2 Escoamento em canal poroso ................................................................... 149

D.3 Escoamento em canal parcialmente poroso – fluido de lei de potência ......... 150

D.4 Escoamento em canal parcialmente poroso – fluido de Bingham ................. 150

APÊNDICE E – EXPRESSÕES PARA A RELAÇÃO Cf,p/Cf,i SEGUNDO OS

MODELOS BJ, NN e OTW ............................................................................... 151

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Exemplos de meios porosos. (a) rocha carbonática, (b) osso humano, (c)

espuma metálica e (d) asfalto permeável. ........................................................... 18

Figura 1.2 – Exemplos de escoamentos de fluidos de lei de potência ou Bingham

ocorrendo junto à interface fluido-porosa. (a) fluido de perfuração escoando no

espaço anular entre a coluna de perfuração e o reservatório, (b) escoamento de

sangue em vasos sanguíneos e (c) filtração tangencial de fluido com partículas

em suspenção. ........................................................................................................ 20

Figura 1.3 – Esboço do perfil de velocidades do escoamento em canal parcialmente

poroso. .................................................................................................................... 21

Figura 1.4 – Representação das escalas de análise de um fluido. ............................. 23

Figura 3.1 – Viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para uma

solução diluída de poliacrilamida em xarope de glicose. .................................. 37

Figura 3.2 – Comportamento típiuco do gtráfico τ × para fluidos newtonianos,

pseudoplásticos, dilatantes e viscoplásticos. ....................................................... 39

Figura 3.3 – Comparação entre os modelos de Bingham e Papanastasiou em termos

da variação da viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para

diferentes valores de np. ....................................................................................... 42

Figura 3.4 – Abordagens homogênea e heterogênea do meio poroso. ..................... 44

Figura 3.5 – Escalas de análise micro, meso e macroscópica da interface-fluido

porosa. .................................................................................................................... 46

Figura 4.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento em canal

parcialmente poroso. ............................................................................................ 52

Figura 5.1 – Representação do volume de controle hexadimensional dxαdcα. ........ 59

Figura 5.2 – Processos de deslocamento e colisão. ..................................................... 62

Figura 5.3 – Estrutura de retículo D2Q9. ................................................................... 65

Figura 5.4 – Funções distribuição fi indeterminadas após a etapa de deslocamento

na fronteira S. ....................................................................................................... 72

Figura 5.5 – Funções distribuição fi indeterminadas (setas tracejadas) após a etapa

de deslocamento nas fronteiras N, S, L, O. ........................................................ 73

Figura 5.6 – Formulações da condição de bounce-back (a) padrão e (b)

intermediária. ........................................................................................................ 74

Figura 5.7 – Fluxograma do código computacional. ................................................. 78

Figura 6.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de

potência entre placas planas e paralelas. ............................................................ 79

Figura 6.2 – Escoamento entre placas planas e paralelas. Perfis de velocidade para

(a) fluido de lei de potência para Relp = 100 e diferentes valores de n e (b) fluido

de Bingham para ReBi = 100 e diferentes valores de Bi. .................................... 81

Figura 6.3 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de

potência em meio poroso utilizando a abordagem heterogênea. ...................... 83

Figura 6.4 – Gráfico ṁ × (–Δp/L) para o escoamento de fluido de lei de potência em

canal poroso: NO = 2, ϕ = 0,75 e n = 0,25; 1,00 e 4,00. ...................................... 84

Figura 6.5 – Gráfico ṁ × –Δp/L para o escoamento de fluido de Bingham em canal

poroso: NO = 2, ϕ = 0,75 e τ0 = 0,00; 0,10; 1,00 e 10,00 Pa. .............................. 85

Figura 7.1 – (a) Campos e (b) perfis de velocidade dos escoamentos entre placas

planas e paralelas e em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75,

NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00....................................................................... 89

Figura 7.2 –Campo vetorial de velocidade na região da interface fluido-porosa à

montante do obstáculo (à esquerda) e detalhe na região lateral do obstáculo (à

direita) para o escoamento em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ =

0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.............................................................. 90

Figura 7.3 – Variação de (a) u1 e (b) u2 junto à interface fluido-porosa na direção x1

para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00. ......................... 91

Figura 7.4 – Comparação entre os escoamentos entre placas planas e paralelas (à

esquerda) e em canal parcialmente poroso (à direita) para Relp = 1,00, ϕ = 0,75,

NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00: campos de (a) tensão e (b) pressão. ......... 92

Figura 7.5 – Cf,p/Cf,i em função do número de Reynolds para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp

/Dh,rl = 1,00: (a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham. .................. 93

Figura 7.6 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-

porosa (à direita) para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de

Relp: (a) n = 0,25, (b) 1,00 e (c) 4,00. .................................................................... 95

Figura 7.7 – Campo vetorial de velocidade na região da interface fluido-porosa à

montante do obstáculo para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e Relp = 100 (à

esquerda) e Relp = 103 (à direita): (a) n = 0,25 e (b) 4,00. ................................. 96

Figura 7.8 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-

porosa (à direita) para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de

Bi: (a) ReBi = 100 e (b) ReBi = 103. ........................................................................ 97

Figura 7.9 – Cf,p/Cf,i em função da porosidade para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl =

1,00: (a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham. .............................. 98

Figura 7.10 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface

fluido-porosa (à direita) para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes

valores de ϕ: (a) n = 0,25, (b) 1,00 e (c) 4,00. ...................................................... 99

Figura 7.11 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface

fluido-porosa (à direita) para ReBi = 100, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e

diferentes valores de Bi. ..................................................................................... 100

Figura 7.12 – Variação de u1 (a) e u2 (b) junto à interface fluido-porosa (x2 = 1,5625

× 10-3) na direção x1 para Relp = 100, ϕ = 0,75, Dh,rp /Dh,rl = 1,00, n = 0,25 e

diferentes valores de NO. ................................................................................... 102

Figura 7.13 – Cf,p/Cf,i em função do número de obstáculos para Relp = 100, ϕ = 0,75,

Dh,rp /Dh,rl = 1,00: (a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham. ........ 103

Figura 7.14 – Cf,p/Cf,i em função de Dh,rp/Dh,rl para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2: (a)

fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham............................................. 104

Figura 7.15 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface

fluido-porosa (à direita) para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2 e diferentes valores

de Dh,rp /Dh,rl : (a) n = 0,25 e (b) Bi = 0,40. ......................................................... 106

Figura 7.16 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através dos modelos BJ (α = 27,00), NN (μef

/μ = ϕ-1) e OTW (β = -5.85) e do LBM para o escoamento em canal parcialmente

poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00, n =1,00. ..................... 108

Figura 7.17 – Perfis de velocidade (à esquerda) com detalhe na região da interface

fluido-porosa (à direita) para o escoamento em canal parcialmente poroso para

Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00, n =1,00 e diferentes valores de Dh,rl.

.............................................................................................................................. 109

Figura 7.18 – Resultados para Cf,p/Cf,i em função de σ obtidos através do LBM para

Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00 e diferentes valores n. ...................... 110

Figura 7.19 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através do modelo OTW para diferentes

valores de β. ......................................................................................................... 111

Figura 7.20 – Comparação entre os resultados apresentados na Figura 7.18 e o

modelo OTW considerando os valores de β apresentados na Tabela 7.8. ..... 112

Figura C.1 – Análise das condições de contorno de bounce-back. Comparação entre

os perfis de velocidade analítico e obtidos com bounce-back (a) padrão e (b)

intermediário. À esquerda: perfis de velocidade ao longo de toda a seção

transversal do canal. À direita: detalhe da região próxima a parede inferior.

.............................................................................................................................. 145

Figura C.2 – Canal parcialmente poroso com diferentes comprimentos. (a) L = 0,25

e (b) L = 0,50. ....................................................................................................... 146

Figura C.3 – Perfis de velocidade do escoamento em canal parcialmente poroso em

diferentes posições do canal. .............................................................................. 147

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 – Valores de wi, cs e cα,i para o modelo D2Q9. ......................................... 65

Tabela 7.1 – Faixas de valores das variáveis independentes..................................... 87

Tabela 7.2 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes de números de Reynolds e índices de

lei de potência. ....................................................................................................... 94

Tabela 7.3 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes de números de Reynolds e números

de Bingham. ........................................................................................................... 94

Tabela 7.4 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes porosidades e índices de lei de

potência. ............................................................................................................... 101

Tabela 7.5 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes porosidades e números de Bingham.

.............................................................................................................................. 101

Tabela 7.6 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes números de obstáculos e índices de

lei de potência. ..................................................................................................... 103

Tabela 7.7 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes números de obstáculos e números de

Bingham. .............................................................................................................. 103

Tabela 7.8 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes relações de diâmetros hidráulicos e

índices de lei de potência. ................................................................................... 104

Tabela 7.9 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes relações de diâmetros hidráulicos e

números de Bingham. ......................................................................................... 105

Tabela 7.10 – Valores de β e R2 para cada valor de n. ............................................ 111

Tabela D.1 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de lei de

potência entre placas planas e paralelas para n = 0,25. .................................. 149

Tabela D.2 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de

Bingham entre placas planas e paralelas para Bi = 0,40. ................................ 149

Tabela D.3 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de lei de

potência em canal poroso para n = 0,25 e (–Δp/L) = 48 Pa/m. ........................ 150

Tabela D.4 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de

Bingham em canal poroso para τ0 = 10 Pa e (–Δp/L) = 48 Pa/m. ................... 150

LISTA DE SIGLAS

BGK Aproximação para o operador colisão

BJ Modelo de Beavers e Joseph (1967)

CA Cellular Automata

DaQb Estruturas de lattice

FHP Modelo de Frisch et al. (1986)

HL Modelo de He e Luo (1997)

LBM Método lattice Boltzmann

LGCA Lattice-Gas Cellular Automata

NN Modelo de Neale e Nader (1974)

OTW Modelo de Ochoa-Tapia e Whitaker (1995)

LISTA DE SÍMBOLOS

Símbolos Romanos

A Número de dimensões da estrutura de lattice [-]

A Área da seção transversal [m2]

At Área total (meio poroso bidimensional) [m2]

Af Área de fluido (meio poroso bidimensional) [m2]

B Número de orientações/velocidades de deslocamento da

estrutura de lattice [-]

Bi Número de Bingham [-]

Vetor velocidade das partículas [m/s]

C Velocidade fundamental das partículas [m/s]

Cf Fator de atrito [-]

cF Fator de forma (termo de Forchheimer) [-]

cs Velocidade do som [m/s]

Ca Coeficiente angular da reta [-]

C1, C2

Constantes [-]

D Distância entre os obstáculos [m]

D Lado dos obstáculos [m]

Dh Diâmetro hidráulico [m]

E Energia [J]

Eg Erro global [-]

EΔx

Erro associado à discretização espacial [-]

EMa

Erro associado à compressibilidade [-]

EΔt

Erro associado à discretização temporal [-]

Ep Erro percentual [-]

F Função distribuição de velocidade [-]

fM Função distribuição de Maxwell [-]

f eq Função de equilíbrio local [-]

f neq Parcela de não equilíbrio da função distribuição de

velocidade [-]

Vetor força externa [N]

gα Vetor aceleração da gravidade [m/s2]

I Orientação de deslocamento das partículas [-]

kB Constante de Boltzmann [m2kg/s2K]

K Permeabilidade [m2]

Kn Número de Knudsen (llcm/lref) [-]

llcm Livre caminho médio das partículas [m]

lref Comprimento de referência [m]

L Comprimento do canal [m]

M Massa das partículas [kg]

ṁ Vazão mássica [kg/m3]

Ma Número de Mach [-]

N Índice de lei de potência [-]

nvp Número de variáveis do problema (Teorema Pi de

Buckingham) [-]

ndp Número de dimensões primárias (Teorema Pi de

Buckingham) [-]

np Parâmetro de regularização do modelo de Papanastasiou

(1987) [s]

N Número de partículas [-]

N, S, L, O Fronteiras do retículo [-]

P Pressão [Pa]

P Perímetro [m]

Δp Diferença de pressão [Pa]

Re Número de Reynolds [-]

R2 Coeficiente de determinação (método dos mínimos

quadrados) [-]

NO Número de obstáculos [-]

Q Operador colisão [-]

S Expressão a ser minimizada (método dos mínimos

quadrados)

T Tempo [s]

Δt Passo de tempo [s]

T Temperatura [K]

uα Vetor velocidade do escoamento [m/s]

uD Velocidade de Darcy [m/s]

uint Velocidade do escoamento na interface fluido-porosa [m/s]

Ū Velocidade média do escoamento [m/s]

um Velocidade do núcleo não cisalhado (Fluido de Bingham) [m/s]

uref Velocidade de referência do escoamento [m/s]

V Volume [m3]

Vp Volume total de poros [m3]

Vpi Volume de poros interconectados [m3]

Vt Volume total do meio poroso [m3]

W Fator de ponderação [-]

Vetor posição [m]

xN Comprimento do núcleo não cisalhado (Fluido de Bingham) [m]

Δx Distância horizontal/verital entre nós vizinhos [m]

Símbolos Gregos

α Coeficiente de deslizamento (modelo BJ) [-]

β Coeficiente de salto de tensão (modelo OTW) [-]

Taxa de cisalhamenento/Magnitude do tensor taxa de

cisalhamento [s-1]

Tensor taxa de cisalhamento [s-1]

ξ

Parâmetro de escala da expansão de Chapman-Enskog [-]

η Viscosidade aparente [Pa∙s]

ηc Índice de consistência [Pa∙sn]

ηp Viscosidade plástica [Pa∙s]

μ Viscosidade dinâmica [Pa∙s]

μef Viscosidade dinâmica efetiva [Pa∙s]

ρ Massa específica do fluido [kg/m3]

ρ0 Massa específica inicial [kg/m3]

δρ Flutuação da massa específica [kg/m3]

σ Parâmetro adimensional (Dh,rl/√K) [-]

ς Seção transversal diferencial de choque [m2]

τ Tensão/Magnitude do tensor tensão [Pa]

ταβ Tensor tensão [Pa]

τ0 Tensão limite de escoamento [Pa]

Τ Fator de relaxação [s]

Tlb Fator de relaxação adimensional (T/Δt) [-]

ϕ Porosidade [-]

ϕef Porosidade efetiva [-]

φ Variável qualquer do problema [-]

Φ Acréscimo percentual de vazão na região livre [-]

ψk Momento de ordem k da função distribuição [-]

dΩ Elemento de ângulo sólido [rad]

Π Parâmetro adimensional [-]

Subscritos

1,2 Direções principal e perpendicular ao escoamento

i Direção i

α, β, γ, δ, χ Índices da notação indicial

n Fluido newtoniano

lp Fluido de lei de potência

Bi Fluido de Bingham

lbm Método lattice Boltzmann

ma Modelos analíticos

ref Referência

rl Região livre

rp Região porosa

mod Modificado

i Canal parcialmente poroso impermeável

p Canal parcialmente poroso permeável

c Crítico

18

1 INTRODUÇÃO

1.1 MOTIVAÇÃO

Meios porosos estão presentes em diversas situações cotidianas e aplicações

tecnológicas, podendo-se citar como exemplos: areia, madeira, asfalto, rochas, pães,

tecidos do corpo humano, esponjas, isolantes térmicos, espumas metálicas, entre outros

(NIELD e BEJAN, 2006; SAHIMI, 2010). A Figura 1.1 apresenta alguns exemplos de

meios porosos naturais, como rochas carbonáticas da camada pré-sal (Figura 1.1a) e ossos

humanos (Figura 1.1b), e artificiais, como asfalto permeável (Figura 1.1c) e espuma

metálica (Figura 1.1d), cujas aplicações são encontradas na construção civil e indústrias

automotiva, aeroespacial, biomédica, entre outras (BANHART, 2001).

Equation Chapter (Next) Section 1

(a) (b)

(c)

(d)

Figura 1.1 – Exemplos de meios porosos. (a) rocha carbonática, (b) osso humano, (c) espuma

metálica e (d) asfalto permeável.

Fonte: (a) GLOBO, (b) BRITANNICA, (c) WIKIPÉDIA e (d) MOREINSPIRATION.

19

Em certas circunstâncias, observa-se o escoamento de fluidos ocorrendo junto a

materiais porosos como os citados no parágrafo anterior. Prasad (1991) destaca a

interação entre isolantes térmicos fibrosos ou granulares e a vizinhança ao redor, a

convecção da água junto às rochas em sistemas geotérmicos, o contato das águas de

oceanos com o leito marinho, o processo de solidificação dendrítica de alguns tipos de

ligas metálicas, assim como a lubrificação das articulações sinoviais (e.g., ombros e

joelhos) e de rolamentos porosos. Outros exemplos nos quais se aplica a modelagem do

escoamento junto à interface entre uma região livre e outra porosa (interface fluido-

porosa) são: processos de secagem de alimentos e cimento (MOSTHAF et al., 2014),

filtragem industrial (HANSPAL et al., 2006), coletores solares (AL-NIMR e ALKAN,

1997), trocadores de calor (MOROSUK, 2005), perfuração de poços de petróleo e gás

(MARTINS, 2004; MARTINS-COSTA et al., 2013), escoamento de filmes líquidos sobre

superfícies rugosas (SADIQ e USHA, 2010), moldagem por transferência de resina

(YANG et al., 2008), propagação de incêndios em florestas (SÉRO-GUILLAUME e

MARGERIT, 2002) e fluxo de sangue em vasos sanguíneos e de outros fluidos biológicos

em órgãos do corpo humano (RAO e MISHRA, 2004).

Devido à quantidade de aplicações, o estudo de fenômenos de transporte junto à

interface fluido-porosa tem sido realizado de forma extensiva, sendo considerados

diversos níveis de complexidade do problema, desde o escoamento de fluido newtoniano,

laminar e isotérmico (BEAVERS e JOSEPH, 1967; OCHOA-TAPIA e WHITAKER,

1995b) até, por exemplo, escoamentos turbulentos (SILVA e DE LEMOS, 2003),

conveção forçada (KUZNETSOV, 1999) ou natural (GOBIN e GOYEAU, 2008) e

transferência de massa (GOBIN et al., 2005). Segundo Chandesris e Jamet (2006), o

principal desafio consiste na modelagem adequada da zona de transição entre as regiões

livre e porosa de modo a descrever corretamente os fluxos de massa, quantidade de

movimento e energia na região interfacial.

Particularmente, o escopo deste trabalho se restringe aos casos em que o fluido

escoando junto à interface fluido-porosa apresenta comportamento não newtoniano, mais

especificamente, segundo os modelos de lei de potência ou Bingham. As considerações

físicas e matemáticas destes modelos são apresentadas em detalhes no Capítulo 3, mas

vale ressaltar que dos exemplos citados anteriormente, os fluidos de perfuração utlizados

pela indústria petrolífera, o sangue e os fluidos com partículas sólidas em suspensão são

modelados como fluidos de lei de potência ou Bingham (CHHABRA e RICHARDSON,

2008). A Figura 1.2 ilustra situações em que estes fluidos escoam em contato com uma

20

superfície permeável, caracterizando-se, assim, o escoamento junto a interface fluido-

porosa.

(a)

(b)

(c)

Figura 1.2 – Exemplos de escoamentos de fluidos de lei de potência ou Bingham ocorrendo junto à

interface fluido-porosa. (a) fluido de perfuração escoando no espaço anular entre a coluna de

perfuração e o reservatório, (b) escoamento de sangue em vasos sanguíneos e (c) filtração tangencial

de fluido com partículas em suspenção.

Fonte: (a) LEARNTODRILL, (b) WISEGEEK e (c) LIQTECH

A Figura 1.2a mostra o fluido de perfuração carregando os cascalhos gerados

durante o processo de perfuração através do espaço anular entre a coluna de perfuração e

as paredes do poço (rochas permeáveis). A Figura 1.2b ilustra a passagem de sangue no

reservatório (região porosa)

fluido de perfuração (região fluida)

endotélio (região porosa)

sangue (região fluida)

suspensão

(região fluida)

membrana

(região porosa)

filtrado

filtrado

21

interior de vasos capilares, cujas paredes são permeáveis de modo a permitir a passagem

de nutrientes e substâncias químicas. Por fim, a Figura 1.2c retrata o processo de filtragem

tangencial no qual um fluido com partículas em suspensão escoa sobre uma membrana

permeável que permite a separação das partículas de maior granulometria do filtrado

composto por fluido e partículas menores.

1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

Neste trabalho, a análise do escoamento junto à interface fluido-porosa é realizada

através do estudo do escoamento em canal parcialmente poroso, o qual é formado por

duas placas planas e paralelas entre as quais se faz presente um material poroso

acomodado sobre a placa inferior. No interior do canal são identificadas duas regiões:

uma porosa, determinada pelo próprio material poroso, e outra livre, compreendida entre

a região porosa e a placa superior do canal, como ilustra a Figura 1.3.

Figura 1.3 – Esboço do perfil de velocidades do escoamento em canal parcialmente poroso.

Tal geometria remete aos experimentos realizados por Beavers e Joseph (1967),

cujo trabalho representou o primeiro esforço no sentido de modelar o escoamento junto à

interface fluido-porosa. A principal questão a ser investigada é a influência do meio

poroso sobre o escoamento na região livre, a qual se traduz no modo como o perfil de

velocidades se comporta na zona de transição entre as regiões porosa e livre. Conforme

ilustrado na Figura 1.3, a zona de transição é caracterizada pela passagem de um perfil de

velocidade aproximadamente uniforme, uD, no interior da região porosa (suficientemente

longe da zona de transição e da placa inferior) para um perfil aproximadamente parabólico

2 2,x u

1 1,x u

Região fluida

Região porosa

Zona de transição

Acréscimo de

vazão mássica

Du

Interface fluido-porosa

2 rfx h

1x L

2 rpx h

1 0x

2 0x

22

na região livre. É importante notar que a presença do meio poroso induz uma vazão

mássica através da região livre superior àquela esperada no caso em que o meio poroso é

substituído por uma parede impermeável, já que a velocidade do escoamento na interface

fluido-porosa é maior do que zero (Figura 1.3).

1.3 ABORDAGEM DO PROBLEMA

Como será visto na revisão bibliográfica apresentada no Capítulo 2, o problema

do escoamento junto à interface fluido-porosa é abordado na literatura segundo as

metodologias experimental e teórica, a qual, por sua vez, pode ser analítica ou numérica.

A complexidade matemática associada à modelagem do escoamento na zona de transição

torna a obtenção de soluções puramente analíticas extremamente difícil. Os modelos

analíticos encontrados na literatura dependem, por exemplo, de parâmetros empíricos

relativos ao meio poroso ou são simplificados a tal ponto que a generalidade dos

resultados é comprometida. Nesse sentido, muitos estudos lançam mão de técnicas

numéricas para solução das equações que modelam o problema, se utilizando, por

exemplo, de integração numérica, do método das diferenças finitas, da simulação

numérica direta e do método lattice Boltzmann. Ainda levando em conta a complexidade

imposta pelo meio poroso na modelagem do problema, a abordagem experimental se

mostra a melhor alternativa para a reprodução e investigação de problemas reais,

fornecendo também subsídios para a análise dos modelos analíticos e numéricos.

Neste trabalho, opta-se pela solução do problema através do método lattice

Boltzmann (LBM), um método numérico baseado na teoria cinética dos gases para a

representação de fenômenos físicos em fluidos (CHEN e DOOLEN, 1998). O LBM é

apresentado detalhadamente no Capítulo 5 e será brevemente contextualizado a seguir.

De um modo geral, a análise do escoamento de fluidos pode ser realizada em três

escalas espaciais: micro, meso e macroscópica, ilustradas na Figura 1.4. Na escala

microscópica é possível distinguir cada átomo ou molécula que compõe o fluido, o qual

pode ser considerado um sistema de partículas individuais em constante movimentação

interagindo entre si por meio de colisões. O fluido é caracterizado pelas trajetórias das

partículas, as quais são descritas pelas mecânicas clássica ou hamiltoniana. No extremo

oposto se encontra a escala macroscópica, na qual o livre caminho médio das partículas

(i.e., distância média percorrida entre duas colisões sucessivas) é muito menor do que o

comprimento característico do escoamento e o fluido é considerado um meio contínuo.

23

Através da análise dos fluxos de massa, quantidade de movimento e energia em um

volume de controle infinitesimal, obtém-se as respectivas equações de conservação que

descrevem o escoamento. Finalmente, a escala mesoscópica se encontra numa posição

intermediária, não sendo possível distinguir cada partícula individualmente nem

considerar o fluido como um meio contínuo. Neste caso, o fluido é caracterizado de forma

estatística através de funções distribuição de velocidade, f (xα,cα,t), que correspondem ao

número provável de partículas dentro de determinadas faixas de posição e velocidade num

dado instante de tempo. xα e cα representam, respectivamente, posições do espaço físico

e de velocidades e t um instante de tempo. Através das funções distribuição, determina-

se as propriedades macroscópicas do fluido, como massa específica, velocidade e energia

interna (GUO e SHU, 2013).

Figura 1.4 – Representação das escalas de análise de um fluido.

Fundamentado na escala mesoscópica, o LBM se mostra uma alternativa a

métodos numéricos como a dinâmica molecular (escala microscópica) e o método dos

volumes finitos (escala macroscópica). Algumas das vantagens do LBM são a linearidade

do termo convectivo, a fácil adaptação do algoritmo à computação paralela e a

simplicidade de implementação de condições de contorno. Além disso, não é necessário

resolver a equação de Laplace a cada passo de tempo para que a equação da continuidade

seja satisfeita. Outra característica importante consiste no cálculo da pressão através de

uma equação de estado independente da velocidade do escoamento, não sendo necessária

a introdução de um acoplamento entre pressão e velocidade, que em geral causa

dificuldades numéricas. Por fim, o número reduzido de velocidades e direções de

deslocamento dos conjuntos de partículas torna desnecessária a solução da equação de

Meio contínuo Representação estatística Sistema de partículas

individuais

,2F

,3F

,1F,5

F

,4F

, ,f x c t

ref lcml l lcml

24

Boltzmann para todo o espectro de velocidades, o que confere maior eficiência ao método

(CHEN e DOOLEN, 1998; MOHAMAD, 2011).

Sukop e Thorne Jr (2007) destacam o aumento do número de trabalhos científicos

envolvendo o LBM nas últimas décadas com aplicações em diversas áreas da ciência e

da engenharia. Guo e Shu (2013) apresentam modelos do LBM, com potenciais

aplicações na área de engenharia térmica, desenvolvidos para a solução de escoamentos

turbulentos, multifásicos, compressíveis, com transferência de calor, em escala

microscópica e em meios porosos. Também são encontrados na literatura modelos para o

escoamento de fluidos não newtonianos (PHILLIPS e ROBERTS, 2011), combustão

(YAMAMOTO et al., 2002) e mudança de fase (MILLER, 2001).

1.4 OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é avaliar o fator de atrito do escoamento de fluidos de

lei de potência e Bingham num canal formado por uma parede sólida e um meio poroso

utilizando o método lattice Boltzmann. Para tanto, estuda-se o escoamento em canal

parcialmente poroso no qual o meio poroso é representado através de obstáculos sólidos

e quadrados distribuídos uniformemente na parte inferior do canal.

Especificamente, são realizadas análises paramétricas do problema, nas quais são

estudadas as influências de parâmetros adimensionais relacionados à região porosa (i.e.,

porosidade, número de obstáculos e altura adimensional), à inercia do escoamento (i.e.,

número de Reynolds) e aos modelos de fluido (i.e., índice de lei de potência e número de

Bingham) sobre a relação entre os fatores de atrito do escoamento entre placas planas e

paralelas e na região livre do canal. Ademais, estuda-se a adaptação de modelos analíticos

que descrevem a interface fluido-porosa no caso do escoamento de fluidos newtonianos

para o escoamento de fluidos de lei de potência.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A sequência deste documento é dividida em sete capítulos. No Capítulo 2 é

realizada a revisão bibliográfica, na qual são descritos os principais estudos relacionados

ao escoamento de fluidos newtonianos e não newtonianos junto à interface fluido-porosa.

Ao final do capítulo são evidenciados os principais diferenciais e contribuições do

presente trabalho.

25

No Capítulo 3 é apresentada a fundamentação teórica necessária para o

desenvolvimento deste trabalho, sendo apresentados conceitos básicos sobre fluidos

newtonianos e não newtonianos, meios porosos, bem como a definição de fator de atrito.

Em seguida, no Capítulo 4, realiza-se a formulação do problema, sendo

apresentadas a geometria, as condições de contorno e inicial, as hipóteses simplificadoras

e as equações de balanço que descrevem o problema. Além disso, os parâmetros

adimensionais que caracterizam o escoamento em canal parcialmente poroso são

identificados.

O método lattice Boltzmann é apresentado no Capítulo 5, destacando-se aspectos

introdutórios do método, o modelo de He e Luo (1997), a estrutura de retículo D2Q9 e o

acoplamento dos modelos de lei de potência e Bingham. Ademais, são apresentadas as

condições de contorno utilizadas na modelagem do escoamento em canal parcialmente

poroso, a metodologia utilizada para o desenvolvimento dos testes de sensibilidade à

malha, bem como uma noção geral da estrutura do código de programação.

No Capítulo 6 são apresentados os estudos de dois problemas de verificação

utilizados para avaliar a implementação numérica do LBM e a sua capacidade na solução

do escoamento de fluido de lei de potência e Bingham em diferentes geometrias.

Particularmente, são abordados os escoamentos entre placas planas e paralelas e em canal

poroso.

As análises do escoamento em canal parcialmente poroso são apresentadas no

Capítulo 7, no qual são discutidas as influências do meio poroso sobre o escoamento na

região livre do canal, bem como o comportamento do fator de atrito em função da variação

de cada parâmetro adimensional do problema. Além do mais, neste capítulo é estudada a

adaptação de modelos analíticos que descrevem a interface fluido-porosa para o

escoamento de fluidos newtonianos para o fluidos de lei de potência.

Finalmente, no Capítulo 8 é apresentada a conclusão do trabalho, no qual são

considerados os principais resultados obtidos e algumas sugestões para trabalhos futuros.

26

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são revisados trabalhos da literatura que investigam o escoamento

junto à interface fluido-porosa. Na seção 2.1 são apresentados estudos relativos ao

escoamento de fluido newtoniano, enquanto a seção 2.2 trata do escoamento de fluidos

não newtonianos, com destaque aos modelos de lei de potência e Bingham. No final do

capítulo são apontados os principais diferenciais e contribuições do presente trabalho.

2.1 ESCOAMENTO JUNTO À INTERFACE FLUIDO-POROSA: FLUIDO

NEWTONIANO

O primeiro trabalho a tratar do escoamento junto à interface fluido-porosa é

atribuído a Beavers e Joseph (1967), que investigaram o problema de forma analítica e

experimental. Para tanto, Beavers e Joseph (1967) analisaram o escoamento de Poiseuille

(i.e., escoamento promovido por um gradiente de pressão) em uma geometria similar à

da Figura 1.3, i.e., escoamento entre duas placas planas e paralelas entre as quais se faz

presente um material poroso, de tal forma que duas regiões são estabelecidas: uma livre

(superior) e outra porosa (inferior). Experimentalmente, constatou-se que a vazão mássica

na região livre era superior àquela esperada no caso em que o material poroso é

impermeável (escoamento entre placas planas e paralelas), de modo que os autores

inferiram a existência de uma velocidade de deslizamento, uint, sobre a superfície do

material poroso.

O modelo analítico proposto por Beavers e Joseph (1967), que neste trabalho é

denotado por BJ, considerou o escoamento de Stokes unidimensional e plenamente

desenvolvido na região livre e a lei de Darcy na região porosa. Para modelar a interface

fluido-porosa foi proposta a seguinte condição de contorno:

Equation Chapter (Next) Section 1

2

1int

2 0

D

x

duu u

dx K

2.1

sendo u1 o componente da velocidade na direção do escoamento, x2 o componente da

posição na direção perpendicular ao escoamento, x2 = 0+ a posição da interface pelo lado

27

da região livre, K a permeabilidade do meio poroso, uD a velocidade média do escoamento

na região porosa (velocidade de Darcy) e α um parâmetro empírico associado ao meio

poroso (coeficiente de deslizamento). A Equação 2.1 pode ser vista como uma

aproximação do gradiente de velocidade na zona de transição entre as regiões livre e

porosa, o qual é proporcional, através do parâmetro α, à variação da velocidade de uD (no

interior da região porosa) a uint (na interface fluido-porosa) ao longo de um comprimento

característico da região porosa representado por K1/2.

Para validar o modelo BJ, Beavers e Joseph (1967) analisaram a relação entre a

variação do parâmetro σ = 0,5Dh,rl/K1/2 e o acréscimo percentual de vazão mássica na

região livre, Φ, o qual é dado por:

rl pp

pp

m m

m

2.2

sendo ṁrl a vazão mássica através da região livre na presença do material poroso e ṁimp

quando o mesmo é impermeável.

Considerando as características do experimento conduzido, no qual o escoamento

é promovido por um gradiente de pressão igualmente aplicado nas regiões livre e porosa,

a expressão analítica de Φ para o modelo BJ, ΦBJ, é dada por:

BJ

3 2

1

2.3

sendo σ um parâmetro adimensional relacionando o diâmetro hidráulico da região livre,

Dh,rl, e a permeabilidade do meio poroso:

,

2

h rlD

K 2.4

Os resultados experimentais apresentados por Beavers e Joseph (1967), obtidos

para dois tipos de fluido (água e óleo) e cinco amostras de meio poroso (foametal e

28

aloxite), mostraram que Φ cresce assintoticamente com a redução de σ, podendo alcançar

valores superiores a 1,2. De um modo geral, o modelo BJ apresentou resultados

qualitativamente coerentes com os resultados experimentais. Para uma faixa de σ

variando aproximadamente entre 2 e 90, o parâmetro α, que se mostrou independente do

fluido, variou entre 0,1 e 4,0 em função da amostra de meio poroso utilizada.

Em um estudo posterior, Sahraoui e Kaviany (1992) analisaram o escoamento

junto à interface fluido-porosa através de simulação numérica direta, representando o

meio poroso através de um conjunto de cilindros sólidos. Os resultados obtidos

mostraram que o parâmetro α depende da porosidade, efeitos inerciais, altura da região

livre, posição da interface fluido-porosa, direção do escoamento e acabamento superficial

do meio poroso.

Beavers et al. (1970) avaliaram o fator de atrito, Cf, do escoamento na região livre

do canal, confrontando resultados obtidos experimentalmente e através do modelo BJ. Os

autores identificaram que o produto Cf Re é constante para uma determinada configuração

geométrica de canal e meio poroso (σ e α fixos), sendo Re o número de Reynolds baseado

na velocidade média do escoamento e na altura da região livre. Especificamente, pode-se

mostrar que o produto Cf Re é inversamente proporcional a (1 + Φ). Desta forma, constata-

se que Cf Re diminui na presença da interface fluido-porosa, sendo este efeito tanto maior

quanto maior o acréscimo percentual de vazão mássica na região livre, ou seja, quanto

menor a altura da região livre ou maiores forem a permeabilidade do meio poroso e o

parâmetro α.

Neale e Nader (1974) propuseram a inclusão do termo de Brinkman, associado ao

arrasto viscoso do fluido com a matriz sólida do meio poroso, na modelagem do

escoamento através do meio poroso. Desta forma, é possível capturar a penetração dos

efeitos viscosos na zona de transição entre as regiões livre e porosa. No modelo

apresentado por Neale e Nader (1974), neste trabalho denotado por NN, a interface fluido-

porosa é representada pela continuidade da velocidade e da tensão de cisalhamento, a qual

é calculada utilizando a viscosidade efetiva associada ao termo de Brinkman, μef, pelo

lado do meio poroso:

2 2

1 10 0x xu u

2.5

29

2 2

1 1

2 20 0

ef

x x

du du

dx dx

2.6

sendo x2 = 0- a posição da interface pelo lado do domínio poroso.

O acréscimo percentual de vazão mássica na região livre previsto pelo modelo NN

resulta num caso particular do modelo BJ, com α = (μef /μ)1/2. Suportados pelos resultados

experimentais apresentados por Beavers e Joseph (1967), Neale e Nader (1974)

consideram o modelo NN válido, apontando para a necessidade de maiores informações

a respeito da relação entre μ e μef.

Além do termo de Brinkman, Vafai e Kim (1990) consideram a introdução do

termo de Forchheimer na modelagem do escoamento na região porosa, de modo que os

efeitos associados ao arrasto de forma da matriz sólida do meio poroso são contabilizados.

A interface fluido-porosa é representada pelas Equações 2.5 e 2.6, considerando μef = μ.

Das análises apresentadas por Vafai e Kim (1990), pode-se constatar que a distribuição

de vazão mássica entre as regiões livre e porosa depende do número de Darcy

(permeabilidade adimensional) e do parâmetro resultante do produto entre o número de

Reynolds (baseado na altura da região livre e na velocidade de Darcy) e o parâmetro

adimensional relacionado ao termo de Forchheimer. A vazão mássica através da região

livre cresce com a redução do número de Darcy ou com o aumento do parâmetro inercial,

pois em ambos os casos a resistência do meio poroso ao escoamento cresce, de tal forma

que o fluido escoa preferencialmente pela região livre.

Através da aplicação do método da média volumétrica, Ochoa-Tapia e Whitaker

(1995a, 1995b) obtiveram as equações de Stokes e Darcy-Brinkman para a modelagem

do escoamento, respectivamente, nas regiões livre e porosa do canal. Como resultado da

média volumétrica, a interface fluido-porosa é caracterizada pela continuidade da

velocidade, Equação 2.5, e pela descontinuidade da tensão de cisalhamento, a qual é

representada por:

2 2

1 1int

2 20 0

ef

x x

du duu

dx dx K

2.7

30

sendo β um parâmetro empírico associado ao meio poroso (coeficiente de salto de tensão)

e μef = μ/ϕ, com ϕ representando a porosidade do meio poroso. Para o caso particular em

que β = 0, o modelo OTW de Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) se reduz ao modelo NN

(ver Equações 2.6 e 2.7).

O acréscimo percentual de vazão mássica na região livre previsto pelo modelo de

Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b), ΦOTW, é dado por:

OTW

3 2

1

2.8

Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) mostram que o modelo OTW representa os

resultados experimentais apresentados Beavers e Joseph (1967) de maneira mais

satisfatória que os modelos BJ e NN (com μef = μ/ϕ), com o parâmetro β variando entre

-1,00 e 1,47 dependendo do meio poroso analisado. Na tentativa de aperfeiçoar o modelo

OTW, eliminando a idealização da interface fluido-porosa e, por consequência, o

parâmetro empírico β, Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) propuseram um modelo de

porosidade variável, resolvido numericamente, para o qual se deve supor que a porosidade

varia espacialmente dentro da zona de transição entre as regiões livre e porosa. No

entanto, os resultados obtidos não foram satisfatórios.

Como destacaram Goyeau et al. (2003), a consideração de uma interface

separando as regiões livre e porosa representa a idealização da zona de transição indicada

na Figura 1.3, na qual ocorre uma rápida variação das propriedades do meio poroso (e.g.,

porosidade, permeabilidade, viscosidade efetiva). Dentro desta perspectiva, os

parâmetros empíricos α e β pertencentes, respectivamente, aos modelos BJ e OTW,

podem ser vistos como representações das informações ignoradas através da

simplificação realizada pela consideração da interface fluido-porosa.

Na literatura são encontrados outros modelos para a representação da interface

fluido-porosa, os quais buscam aprimorar a descrição do escoamento na zona de transição

(GOYEAU et al., 2003; CHANDESRIS e JAMET, 2006; CHANDESRIS e JAMET,

2007; VALDÉS-PARADA et al., 2007; JAMET e CHANDESRIS, 2009; VALDÈS-

PARADA et al., 2013). No entanto, o maior número de parâmetros empíricos envolvidos

31

e/ou a complexidade matemática associada ao conhecimento da geometria do meio

poroso na zona de transição tornam a aplicação prática destes modelos menos atrativa.

Algumas análises encontradas na literatura dispensam a modelagem matemática

da interface fluido-porosa, sendo que o efeito da zona de transição entre as regiões livre

e porosa é dado pela variação das propriedades do meio poroso na região interfacial.

Nestas abordagens, o escoamento é representado por um único conjunto de equações tanto

na região livre quanto na porosa, de modo que não se faz necessária a utilização de

condições de contorno representando a interface fluido-porosa (utilizadas para acoplar

diferentes conjuntos de equações). De especial interesse para este trabalho é a

representação do meio poroso através de obstáculos sólidos, como nos trabalhos de James

e Davis (2001), Nabovati e Sousa (2008), Nabovati e Amon (2013) e Meira et al. (2014),

além do já citado estudo de Sahraoui e Kaviany (1992).

James e Davis (2001) analisaram os escoamentos de Couette (i.e., placa superior

do canal se movendo com velocidade constante) e Poiseuille em um canal parcialmente

poroso bidimensional utilizando um método de singularidade. O meio poroso foi

representado através de diferentes arranjos de obstáculos sólidos circulares. No caso do

escoamento de Poiseuille, observou-se que a diferença entre a velocidades na interface

fluido-porosa no interior do meio poroso é influenciada pela porosidade e pela altura da

região livre. Considerando os casos analisados, os autores concluem que para ϕ < 0,99 a

velocidade de deslizamento pode ser aproximada pela velocidade do escoamento no

interior do meio poroso, já que a diferença entre ambas tem magnitude inferior a 10% da

velocidade máxima do escoamento na região livre. Além do mais, os autores verificaram

que, em comparação aos resultados numéricos, o modelo NN superestima a velocidade

do escoamento na interface fluido-porosa.

Utilizando o LBM, Nabovati e Sousa (2008) simularam o escoamento de fluido

newtoniano em canal parcialmente poroso bidimensional, representando o meio poroso

através de obstáculos sólidos e quadrados distribuídos de forma aleatória na parte inferior

do canal. Os resultados apresentados mostraram que a velocidade do escoamento na

interface fluido-porosa aumenta com a porosidade. Os autores apresentam a curva Φ × σ,

mantendo a altura da região livre constante e variando a permeabilidade do meio poroso

através da porosidade, verificando que o modelo numérico é qualitativamente coerente

com o modelo BJ, com o parâmetro α aumentando linearmente com a porosidade.

Nabovati e Amon (2013) estudaram, através de um modelo tridimensional do

LBM, o escoamento em canal parcialmente poroso, no qual o meio poroso é representado

32

por um emaranhado de fibras. Analisando o efeito da porosidade sobre o escoamento, os

autores verificaram que à medida que a porosidade diminui, menores são a velocidade do

escoamento na interface fluido-porosa, a espessura da zona de transição entre as regiões

livre e porosa, bem como o acréscimo percentual de vazão mássica na região livre. A

comparação dos resultados numéricos com os modelos os modelos BJ e OTW mostrou a

existência de uma relação linear entre a porosidade e os parâmetros α e β.

Também utilizando o LBM, Meira et al. (2014) analisaram o escoamento de fluido

newtoniano em canal parcialmente poroso, de modo similar a Nabovati e Sousa (2008),

considerando um arranjo uniforme dos obstáculos. As análises foram realizadas para

diferentes valores de porosidade, número de obstáculos e alturas da região livre,

resultando numa variação de σ entre 2,3 e 111,5. As análises apresentadas mostraram que

o modelo OTW representou melhor o modelo numérico investigado em relação ao

modelo BJ. Considerando os casos analisados, o parâmetro β, ajustado através do método

dos mínimos quadrados, variou entre –4,72 e –7,80, com R2 apresentando valores

superiores a 0,98. Nesse sentido, foi proposta uma correlação para o parâmetro β em

função da porosidade e da quantidade de obstáculos compondo o meio poroso.

2.2 ESCOAMENTO JUNTO À INTERFACE FLUIDO-POROSA: FLUIDOS NÃO

NEWTONIANOS

Os estudos envolvendo o escoamento de fluido não newtoniano junto à interface

fluido-porosa encontrados na literatura se estendem a diversos modelos de fluido, como:

i) fluido de lei de potência (CHEN et al., 2009; RAO E MISHRA 2004;

KAMISLI, 2006; PASCAL, 2006; ATTIA, 2008; ERVIN et al., 2009;

SAQID e USHA, 2010; MAHMOUD, 2011; MARTINS-COSTA et al.,

2013; SILVA et al., 2016),

ii) fluido de Bingham (ATTIA e SAYED-AHMED, 2004; TSANGARIS et

al., 2007; CHEN e ZHU, 2008; CHEMLOUL, 2013; AVINASHI et al.,

2013),

iii) fluido de Herschel-Bulkley (CLOÈTE, 2013),

iv) fluido de Maxwell (EL-SHEHAWY et al., 2006),

v) fluido de Walters modelo B (LAKSHMI et al., 2013) e

vi) fluido de segunda ordem (ARIEL, 2002).

33

A seguir são destacados os trabalhos cujas análises e resultados são mais

relevantes para o problema do escoamento em canal parcialmente poroso investigado no

presente trabalho.

Chen et al. (2009) utilizaram o LBM para simular o escoamento de um fluido de

lei de potência em um canal bidimensional parcialmente preenchido por um meio poroso

homogêneo. A resistência do meio poroso ao escoamento do fluido é modelada através

de uma condição de bounce-back parcial, determinada pela fração volumétrica da fase

sólida no meio poroso (1 – ϕ) e que dispensa a definição de uma condição de contorno

para a interface fluido-porosa. Os autores verificaram que, para um gradiente de pressão

constante, a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa, bem como a penetração

dos efeitos viscosos no meio poroso, é tanto maior quanto maior o índice de lei de

potência, n, e menor o o valor de (1 – ϕ).

Através da teoria de misturas, Martins-Costa et al. (2013) modelaram o

escoamento de fluido de lei de potência em canal parcialmente poroso, sendo a interface

fluido-porosa representada por condições de compatibilidade para a velocidade e sua

derivada, as quais levam em conta a porosidade e um parâmetro escalar associado à

estrutura do meio poroso. O conjunto de equações foi resolvido através do método Runge-

Kutta de quarta ordem e os resultados apresentados corroboram os obtidos por Chen et

al. (2009), ou seja, a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa aumenta com

n.

Silva et al. (2016) propuseram um modelo matemático para a representação da

interface fluido porosa para o escoamento de fluido de lei de potência baseado no modelo

OTW, sendo que a Equação 2.7 é modificada para:

2 2

1 1int int

2 20 0

rp

rf

x x

du duu

dx dx K

2.9

sendo ηrl, ηrp e ηint, respectivamente, as viscosidades aparentes do fluido nas regiões livre,

porosa, e na interface. Para mais detalhes consultar as definições apresentadas por Silva

et al. (2016). Os autores analisaram o escoamento entre placas planas e paralelas sobre as

quais se faz presente um meio poroso de tal forma que a região livre se encontra na região

central do canal. Considerando a variação do índice de lei de potência para uma vazão

mássica total através do canal constante, observou-se que à medida que n cresce a vazão

34

mássica total no canal se redistribui de tal forma que a vazão na região porosa aumenta e

na região livre diminui. Os resultados apresentados não indicam qualquer relação entre n

e a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa.

Considerando o escoamento de fluido de Bingham, Avinashi et al. (2013)

estudaram analiticamente o escoamento em um tubo cônico de paredes porosas,

utilizando o modelo BJ para representar a interface fluido-porosa. Os autores verificaram

que a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa é tanto maior quanto maior

for a tensão limite de escoamento do fluido.

Analisando o escoamento de fluido de Herschel-Bulkey (i.e., fluido de lei de

potência com tensão limite de escoamento) em canal parcialmente poroso, Cloète (2013)

estendeu o modelo proposto por Neale e Nader (1974). Diferentemente do observado por

Chen et al. (2009) e Martins-Costa et al. (2013), os resultados obtidos por Cloète (2013)

mostram que à medida que o índice de lei de potência diminui, maior é a velocidade do

escoamento na interface fluido-porosa. A diferença entre o comportamento observado por

Cloète (2013) com relação aos trabalhos de Chen et al. (2009) e Martins-Costa et al.

(2013) pode ser creditada à combinação dos valores de gradiente de pressão, índice de

consistência e altura da região livre escolhidos por cada autor. Considerando a análise da

influência da tensão limite de escoamento, Cloète (2013) observou que quanto maior a

tensão menor é a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa.

2.3 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram apresentados alguns dos principais trabalhos encontrados na

literatura cujas análises englobam o escoamento de fluidos newtonianos e não

newtonianos junto à interface fluido-porosa. De um modo geral, as análises estão

relacionadas à modelagem matemática e investigação da influência da região interfacial

sobre o escoamento nas regiões livre e porosa. Tal influência é verificada em termos do

acréscimo percentual de vazão mássica na região livre, fator de atrito, velocidade do

escoamento na interface fluido-porosa e distribuição da vazão mássica total entre as

regiões livre e porosa. Os principais parâmetros que afetam o escoamento estão

relacionados ao meio poroso, à altura da região livre, à inércia do escoamento e ao

comportamento não newtoniano do fluido.

Considerando a proposta deste trabalho em analisar o escoamento de fluidos de

lei de potência e Bingham, pode-se destacar alguns diferenciais em relação a trabalhos

35

anteriores tanto em relação à modelagem do meio poroso quanto às análises realizadas.

No presente trabalho o meio poroso é representado através de um conjunto de obstáculos

sólidos e quadrados, enquanto nos demais estudos (CHEN et al., 2009; MARTINS-

COSTA et al., 2013; CLOÈTE, 2013; AVINASHI et al., 2013; SILVA et al., 2016) o

domínio poroso é representado por equações dependentes de coeficientes que

representam a resistência do meio poroso ao escoamento. Em decorrência da abordagem

escolhida para a representação do meio poroso, a definição de uma condição de contorno

para a interface fluido-porosa é dispensável para o presente trabalho, assim como no caso

de Chen et al. (2009), e diferentemente de Martins-Costa et al. (2013), Cloète (2013) e

Avinashi et al. (2013) e Silva et al. (2016). Nesse sentido, os resultados obtidos no

presente trabalho contribuem para corroborar resultados já disponíveis na literatura, mas

obtidos através de uma abordagem diferente.

Com relação às análises realizadas, na literatura não há estudos que investiguem

os parâmetros adimensionais que descrevem o problema aqui investigado nem a

influência destes parâmetros sobre o fator de atrito na região livre do canal. Outra

contribuição do presente trabalho é o estudo da adaptação dos modelos propostos por

Beavers e Joseph (1967), Neale e Nader (1974) e Ochoa-Tapia e Whitaker (1995b) ao

escoamento de fluidos de lei de potência considerando a abordagem heterogênea do meio

poroso.

36

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são destacadas algumas definições e conceitos básicos sobre

mecânica dos fluidos e meios porosos, como a distinção entre fluidos newtonianos e não

newtonianos, apresentação dos modelos de lei de potência e Bingham, definição do

conceito de fator de atrito, além do estabelecimento das escalas de análise e apresentação

das equações utilizadas para modelar o escoamento em meios porosos e junto à interface

fluido-porosa.

3.1 FLUIDOS NEWTONIANOS E NÃO NEWTONIANOS

Segundo Chhabra e Richardson (2008) os fluidos podem ser classificados como

newtonianos ou não newtonianos em função do comportamento exibido quando

submetidos a uma tensão de cisalhamento pura. Um fluido newtoniano incompressível

segue a lei de viscosidade de Newton, que considera uma relação linear entre tensão e

taxa de deformação:

Equation Chapter (Next) Section 1

3.1

sendo μ a viscosidade dinâmica, dependente apenas do fluido, da pressão e da

temperatura. ταβ e são, respectivamente, os tensores tensão e taxa de deformação,

com expresso por:

uu

x x

3.2

Para escoamentos puramente cisalhantes, fluidos newtonianos apresentam tensões

normais nulas, ou seja, ταβ = 0 para α = β.

Os fluidos que se comportam diferentemente de um fluido newtoniano são ditos

não newtonianos e, de acordo com a classificação (arbitrária e didática) proposta por

Chhabra e Richardson (2008), são divididos em três grupos:

37

i) fluidos independentes do tempo: a taxa de cisalhamento num dado ponto

e instante de tempo depende exclusivamente da tensão de cisalhamento;

ii) fluidos dependentes do tempo: a relação entre tensão e taxa de

cisalhamento depende do histórico de cisalhamento do fluido (fluidos

tixotrópicos e reopéticos);

iii) fluidos viscoelásticos: comportamento simultâneo de um fluido puramente

viscoso e um sólido elástico (CHHABRA e RICHARDSON, 2008).

Segundo Chhabra e Richardson (2008), apesar de em grande parte dos casos ser

possível encontrar um comportamento dominante, a maioria dos fluidos exibem, em

maior ou menor grau, caraterísticas pertencentes aos três grupos descritos.

Particularmente, os fluidos independentes do tempo podem ser identificados como

puramente viscosos (pseudoplásticos ou dilatantes) ou viscoplásticos (IRGENS, 2014).

Fluidos pseudoplásticos são aqueles cuja viscosidade diminui com o aumento da taxa de

cisalhamento, podendo-se citar como exemplos iogurte, ketchup, maionese, sangue,

creme dental, protetor solar, fluidos de perfuração utilizados na indústria petrolífera, além

de polímeros fundidos, como polipropileno e poliestireno (CHHABRA e

RICHARDSON, 2008). Em geral, fluidos pseudoplásticos apresentam patamares de

viscosidade constante para baixas e altas taxas de cisalhamento. A Figura 3.1 exemplifica

tal comportamento para uma solução diluída de poliacrilamida em xarope de glicose, a

qual apresenta uma tendência de viscosidade constante para baixas e altas taxas de

cisalhamento.

Figura 3.1 – Viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para uma solução diluída de

poliacrilamida em xarope de glicose.

Fonte: Adaptado de Barnes (2000).

-1, s

Modelo de lei de

potência

101

10-1

10-2 100 102 104

100 , Pa s

38

Por outro lado, fluidos dilatantes se comportam de maneira oposta, ou seja, a

viscosidade aumenta com a taxa de cisalhamento, como é o caso de suspensões

concentradas de caulim, dióxido de titânio e soluções de amido de milho em água

(CHHABRA e RICHARDSON, 2008).

Fluidos viscoplásticos são aqueles que apresentam tensão limite de escoamento,

τ0, de modo que quando submetidos a uma tensão, τ, inferior a τ0, o fluido se comporta

como um material sólido. Na revisão feita por Barnes (1999) a existência de uma tensão

limite de escoamento é questionada, sendo creditada à limitação temporal e imprecisão

dos equipamentos utilizados em experimentos reológicos. Apesar disso, Barnes (1999) e

Chhabra e Richardson (2008) defendem a utilidade, do ponto de vista prático, de se

considerar a existência da tensão limite de escoamento. Alguns exemplos de fluidos

viscoplásticos e suas respectivas tensões limite de escoamento citados por Barnes (2000)

são ketchup e fluido de perfuração (~ 15 Pa), mostarda (~ 60 Pa), maionese (~ 90 Pa) e

pasta de tomate (~125 Pa), além de cremes dentais, concreto fresco e sangue.

A relação entre tensão e taxa de deformação para fluidos independentes do tempo

é análoga à de fluidos newtonianos, sendo expressa em termos da viscosidade aparente,

:

3.3

com representando a magnitude de , a qual é calculada por:

1

2

3.4

Assim como os fluidos newtonianos, fluidos independentes do tempo apresentam

tensões normais nulas quando sujeitos exclusivamente ao cisalhamento.

A Figura 3.2 ilustra o comportamento da tensão em função da taxa de deformação

de fluidos newtonianos, pesudoplásticos, dilatantes e viscoplásticos. Para fluidos

newtonianos, a relação entre tensão e taxa é linear, conforme a Equação 3.1. No caso de

fluidos pseudoplásticos, como a viscosidade do fluido cai com a taxa de deformação,

39

observa-se que a tensão de cisalhamento cresce a uma taxa menor à medida que a taxa de

deformação aumenta. Fluidos dilatantes apresentam comportamento inverso, já que a

viscosidade do fluido aumenta com a taxa de deformação. Para fluidos viscoplásticos a

curva τ × cruza o eixo τ em τ = τ0, representando o comportamento de um material

sólido ( = 0), para τ < τ0, e de um fluido ( > 0), quando τ > τ0. No caso da Figura 3.2,

o exemplo de fluido viscoplástico mostrado se comporta como um fluido newtoniano

quando escoa, apresentando uma relação linear entre tensão e taxa de deformação.

Figura 3.2 – Comportamento típiuco do gtráfico τ × para fluidos newtonianos, pseudoplásticos,

dilatantes e viscoplásticos.

Na literatura são encontrados diversos modelos matemáticos para a representação

de fluidos puramente viscosos (e.g., lei de potência, Carreau, Cross, Ellis) e viscoplásticos

(e.g., Bingham, Herschel-Bulkley, Casson), os quais apresentam diferentes expressões

para . Neste trabalho são considerados os modelos de lei de potência e Bingham, os

quais são apresentados em mais detalhes a seguir.

3.1.1 Fluido de lei de potência

Segundo Bird et al. (1987) e Chhabra e Richardson (2008) o fluido de lei de

potência é amplamente utilizado na representação de fluidos pseudoplásticos, em

aplicações industriais e de engenharia, devido à sua simplicidade e por representar o

comportamento de diferentes tipos de fluidos, como gêneros alimentícios, produtos

cosméticos e polímeros fundidos. O modelo de lei de potência se restringe à faixa de taxas

de cisalhamento para a qual a curva log × log é uma reta, como ilustra a Figura

Fluido

newtoniano

Fluido pseudoplástico

Fluido dilatante

Fluido

viscoplástico

0

40

3.1, de modo que os autores destacam que a sua utilização deve ser realizada com cautela,

já que fica restrita à faixa de taxas de cisalhamento para a qual o ajuste do modelo é

válido.

A relação entre tensão e taxa de deformação para um fluido de lei de potência é

dada por (BIRD et al., 1987):

1n

c

3.5

sendo ηc e n, respectivamente, os índices de consistência e de lei de potência.

Comparando as Equações 3.3 e 3.5, conclui-se que a viscosidade aparente do

fluido de lei de potência é dada por:

1n

c

3.6

Para n < 1, a viscosidade aparente do fluido diminui com o aumento da taxa de

deformação, representando fluidos pseudoplásticos. Por outro lado, para n > 1, a

viscosidade aparente aumenta com a taxa de deformação, correspondendo a fluidos

dilatantes. Para n = 1, a viscosidade do fluido é constante e numericamente igual a ηc, de

modo que o modelo de fluido newtoniano é recuperado.

Chhabra e Richardson (2008) apresentam valores típicos para o índice de lei de

potência considerando fluidos como manteiga de amendoim (n = 0,07), carne moída de

frango (n = 0,10), poliestireno e ketchup (n = 0,25), creme dental e filtro solar (n = 0,28),

polipropileno (n = 0,40), chocolate e extrato de tomate (n = 0,50), maionese (n = 0,60),

nylon (n = 0,65) e esmalte de unha (n = 0,86).

3.1.2 Fluido de Bingham

O fluido de Bingham representa fluidos viscoplásticos que ao escoar apresentam

uma relação linear entre tensão e taxa de deformação, como mostrado na Figura 3.2.

Matematicamente, o modelo de Bingham é representado por (BIRD et al., 1987):

41

00

0

para

0 para

p

3.7

sendo τ0 e ηp, respectivamente, a tensão limite de escoamento e a viscosidade plástica do

fluido, e τ a magnitude da tensão aplicada. A condição de não escoamento do fluido para

tensões menores do que τ0 é representada pela taxa de cisalhamento nula. Comparando as

Equações 3.3 e 3.7, obtém-se a viscosidade aparente do fluido de Bingham:

00

0

para

para

P

3.8

A implementação numérica do modelo de Bingham é problemática na medida em

que a Equação 3.7 apresenta uma singularidade para = 0, valor para o qual ταβ → ∞.

De modo a contornar este problema, diversos modelos de regularização são propostos na

literatura (MITSOULIS, 2007), sendo que neste trabalho, utiliza-se o proposto por

Papanastasiou (1987), no qual ταβ é calculado por:

0 1 pn

P e

3.9

sendo np o chamado parâmetro de regularização. A viscosidade aparente do modelo de

Papanastasiou (1987) é dada por:

0 1 pn

P e

3.10

42

Para que o modelo de Papanastasiou (1987) reproduza o fluido de Bingham de

modo adequado, deve-se ajustar o parâmetro np, que, por sua vez, depende da ordem de

grandeza dos valores de observados no escoamento. A Figura 3.3 ilustra a influência

de np sobre o comportamento da curva × obtida através da Equação 3.10 em

comparação à Equação 3.8, mostrando que à medida que np cresce, melhor é o ajuste entre

as curvas na região de menores valores de .

Figura 3.3 – Comparação entre os modelos de Bingham e Papanastasiou em termos da variação da

viscosidade aparente em função da taxa de cisalhamento para diferentes valores de np.

A vantagem do modelo de Papanastasiou (1987) consiste em conseguir

representar o comportamento do fluido de Bingham através de uma única equação válida

para todo o domínio, sem a necessidade de se verificar em quais regiões do domínio a

tensão excede τ0 para a aplicação da Equação 3.8.

3.2 MEIOS POROSOS

Nield e Bejan (2006) definem um meio poroso como uma matriz sólida, rígida ou

pouco deformável, com vazios (poros) interconectados em seu interior por onde pode

ocorrer o escoamento de um ou mais fluidos. Além de poros interconectados, que são

aqueles unidos a mais de um poro, também podem existir poros cegos (i.e., unidos a

apenas outro poro) e isolados (i.e., sem conexão a nenhum outro poro). A medida da

fração volumétrica de poros em um meio poroso é dada pela porosidade, ϕ, a qual é

expressa matematicamente por:

(

)

10-6

10-4

10-2

100

102

104

106

100

101

102

103

104

105

Bingham

Papanastasiou - np

= 100

Papanastasiou - np

= 102

Papanastasiou - np

= 104

Papanastasiou - np

= 106

.

.

43

p

t

V

V 3.11

sendo Vp o volume total de poros e Vt o volume total do meio poroso.

Considerando somente os poros interconectados, já que são os únicos que

contribuem efetivamente para o escoamento, define-se a porosidade efetiva do meio, ϕef,

como:

pi

ef

t

V

V 3.12

sendo Vpi o volume de poros interconectados. Neste trabalho, os poros são considerados

sempre interconectados de modo que ϕ = ϕef.

O arranjo, conexão, morfologia, textura, volume, diâmetro hidráulico e área

superficial dos poros, entre outros fatores, conferem ao meio poroso uma determinada

resistência ao escoamento dos fluidos (CIVAN, 2011). Tal resistência é medida através

da permeabilidade, K, cuja definição é dada pela lei de Darcy (NIELD e BEJAN, 2006):

1

D

K dpu

dx 3.13

sendo dp/dx1 é o gradiente de pressão na direção do escoamento.

3.2.1 Escalas de análise e modelagem do escoamento em meios porosos

Segundo Nield e Bejan (2006), uma questão fundamental no estudo do

escoamento em meios porosos é a resolução espacial com a qual o problema é analisado.

Para uma escala da ordem de grandeza dos poros, na qual a interface entre as fases sólida

(i.e., matriz sólida) e fluida é identificável, define-se a abordagem heterogênea do meio

poroso. Em oposição, quando a escala adotada abrange uma grande quantidade de poros,

a ponto de não ser possível distinguir as fases sólida e fluida, tem-se a abordagem

homogênea. A Figura 3.4 ilustra as abordagens heterogênea e homogênea.

44

Figura 3.4 – Abordagens homogênea e heterogênea do meio poroso.

Na abordagem heterogênea, o escoamento no interior dos poros é modelado

através das equações da conservação da massa e da quantidade de movimento linear

obtidas através dos respectivos balanços num volume de controle infinitesimal

estacionário localizado apenas na fase fluida (WHITE, 1999):

0ut x

3.14

u u pu

t x x x

3.15

sendo ρ a massa específica do fluido e uα a velocidade do escoamento. Para os propósitos

deste trabalho não foram consideradas eventuais forças de corpo atuando sobre o fluido.

As Equações 3.14 e 3.15 são resolvidas em conjunto com a equação constitutiva do fluido,

a exemplo da Equação 3.1, para fluidos newtonianos incompressíveis, e Equações 3.5 e

3.7, respectivamente, para fluidos de lei de potência e Bingham. As Equações 3.14 e 3.15

são escritas utilizando notação indicial (SPIEGEL, 1959) e considerando a convenção de

soma, na qual a repetição de um índice num determinado termo denota o somatório sobre

o índice (e.g., uαuα = u1u1 + u2u2 + u3u3).

Fase sólida

Fase fluida

Abordagem

heterogênea

Abordagem

homogênea

Interface

45

Através da abordagem heterogênea, torna-se possível conceber modelos mais

representativos do problema em análise, utilizando a geometria real (ou a mais próximo

possível) do meio poroso. No caso dos fluidos de lei de potência e Bingham tal abordagem

pode ser de fundamental importância, já que a viscosidade do fluido varia com a taxa de

deformação, a qual, por sua vez, depende fortemente da geometria do meio poroso.

Dullien (1991) ressalta a importância da consideração da geometria do meio poroso no

entendimento da física envolvida em fenômenos de transporte em meios porosos.

Entretanto, a alta irregularidade geométrica do meio poroso pode tornar inviável a

obtenção de um modelo fiel da estrutura porosa, fazendo-se necessária a realização de

simplificações, como é o caso dos modelos de leito de esferas ou fibras, obstáculos

sólidos, tubos capilares e rede de poros (DULLIEN, 1992).

Considerando a abordagem homogênea, a modelagem mais simples do

escoamento em meios porosos é dada pela Equação 3.13, a qual foi determinada

experimentalmente por Henri Darcy (DARCY, 1856). Conforme exposto anteriormente,

a abordagem homogênea e, por consequência, a Equação 3.13, ignora os detalhes

geométricos do meio poroso, cujas influências são incorporadas na definição da

permeabilidade.

A aplicação da Equação 3.13 possui diversas restrições inerentes aos

experimentos realizados, sendo válida somente para escoamentos incompressíveis e

isotérmicos de fluidos newtonianos com baixa velocidade em meios porosos uniformes

(i.e., porosidade e permeabilidade constantes), isotrópicos (i.e., propriedades

independentes da direção) e com baixa permeabilidade (LAGE, 1998). Para superar tais

limitações, extensões da lei de Darcy são propostas na literatura, levando em conta, por

exemplo, os arrastos viscoso (termo de Brinkman) e de forma (termo de Forchheimer),

associados ao contato entre o fluido e a matriz sólida do meio poroso (NIELD e BEJAN,

2006; LAGE, 1998). A equação de Darcy-Brinkman-Forchheimer, considerando o

escoamento unidirecional (na direção x1), é expressa por:

2

11 1 12

1 2

termo de Darcy termo deForchheimertermo deBrinkman

Fef

d u cdpu u u

dx K dx K

3.16

sendo cF uma constante adimensional associada ao arrasto de forma (fator de forma).

46

Para o escoamento de fluido de lei de potência, são encontradas na literatura

adaptações e/ou modificações da Equação 3.16 para as quais a permeabilidade e os termos

de Darcy e Brinkmann são modificados de modo a considerar o comportamento não

newtoniano do fluido (SHENOY, 1993; NAKAYAMA E SHENOY, 1993; HADIM,

2006, SILVA et al., 2016). No caso do fluido de Bingham, são propostas equações

baseadas em modelos de tubos capilares e no escoamento ao redor de esferas (VRADIS

et al., 1993), bem como em resultados experimentais (CHEVALIER et al., 2013) e

numéricos (TALON e BAUER, 2013), levando em conta, entre outros fatores, aspectos

geométricos do meio poroso, propriedades do fluido e o gradiente de pressão crítico,

(–Δp/L)c, abaixo do qual o fluido não é capaz de escoar através do meio poroso.

3.2.2 Escalas de análise e modelagem do escoamento junto à interface fluido-porosa

Considerando o escoamento junto à interface fluido-porosa, Chandesris e Jamet

(2006) definem as escalas micro, meso e macroscópica para a análise do problema, as

quais são ilustradas na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Escalas de análise micro, meso e macroscópica da interface-fluido porosa.

Fonte: Adaptado de Chandesris e Jamet (2009).

Em um nível de resolução microscópico as fases sólida e fluida do meio poroso

são distinguíveis (abordagem heterogênea) e apenas um conjunto de equações é

necessário para modelar o escoamento tanto na região livre quanto na porosa. Por outro

lado, nas escalas meso e macroscópica o meio poroso é abordado de forma homogênea e

os escoamentos nas regiões livre e porosa são descritos por conjuntos de equações

diferentes. No caso mesoscópico, considera-se uma zona de transição não uniforme na

2 2,x u

1 1,x u

Região fluida

Região porosa

2 rfx h

2 0x

microscópica mesoscópica macroscópica

Interface

fluido-porosa

homogênea

Escala da interface fluido-porosa:

Abordagem do meio poroso:

2 rpx h

heterogênea

Fase fluida

Fase sólida

Zona de

transição não-

uniforme

47

qual as propriedades do meio poroso (e.g., porosidade e permeabilidade) variam de forma

contínua do domínio poroso para o domínio fluido. Na escala macroscópica as

propriedades são descontínuas na interface fluido-porosa, a qual é definida através de uma

ou mais condições de contorno (e.g., Equação 2.1, Equações 2.5 e 2.6 ou 2.7), que

acoplam os conjuntos de equações que modelam o escoamento em cada região.

As equações que modelam escoamentos nos quais se faz presente uma interface

fluido-porosa são determinadas em função da escala de análise adotada. A escala

microscópica fica restrita à utilização das equações de conservação da massa, Equação

3.14, quantidade de movimento linear, Equação 3.15, e constitutiva do fluido, sendo a

influência do meio poroso sobre o escoamento dada pela interação entre o fluido e a

superfície da fase sólida do meio poroso. Já nas abordagens meso e macroscópicas se

utiliza a Equação 3.16, sendo o termo de Brinkmann responsável pela captura de efeitos

de camada limite na zona de transição entre as regiões livre e porosa. O termo de

Forchheimer, cuja influência é mais significativa para escoamentos com maior inércia,

contabiliza o arrasto de forma proporcionado pela matriz sólida. Mais detalhes sobre os

termos de Brinkman e Forchheimer podem ser encontrados nas discussões realizadas por

Nield e Bejan (2006) e Nield (2000).

3.3 FATOR DE ATRITO E NÚMERO DE REYNOLDS

As análises realizadas neste trabalho são baseadas no efeito da presença do meio

poroso e dos diversos parâmetros associados ao escoamento em canal parcialmente

poroso sobre o fator de atrito na região livre do canal. O fator de atrito pode ser visto

como uma medida da perda de energia do escoamento causada pelo atrito entre o fluido

e as superfícies sólidas do canal, de modo que quanto maior o fator de atrito do

escoamento maior é a resistência experimenatada pelo fluido. Levando em conta a

definição apresentada por Bird et al. (2002), o fator de atrito, Cf, é calculado por:

2

4

1

2

h

f

Dp

LC

u

3.17

48

sendo ū a velocidade média do escoamento na região livre e Dh = 4A/P o diâmetro

hidráulico do canal, com A e P representando, respectivamente, a área e o perímetro da

seção transversal. No caso de um canal formado por duas placas planas e paralelas Dh é

igual ao dobro da distância entre as placas, enquanto para um tubo circular Dh é o próprio

diâmetro.

Para o caso de um fluido newtoniano, considerando a expressão para a pressão em

função da velocidade média, dada pela Equação 3.18, o fator de atrito pode ser escrito

conforme a Equação 3.19:

n

2

48

h

up

L D

3.18

,

24

Ref n

n

C 3.19

sendo Ren o número de Reynolds para o escoamento de fluido newtoniano entre placas

planas e paralelas, dado por:

Re n hn

u D

3.20

Para Thompson e Soares (2016) as definições de números de Reynolds para

fluidos de lei de potência e Bingham devem ser recuperar a Equação, de tal forma que o

produto Cf Re seja constante (e igual a 24 de acordo com as definições utilizadas neste

trabalho). Nesse sentido, de forma análoga ao caso do fluido newtoniano, escreve-se o

fator de atrito para o escoamento de fluido de lei de potência substiuindo a expressão para

o gradiente de pressão em função da velocidade média, dada pela Equação 3.21 (BIRD et

al., 2002), obtendo-se a Equação 3.22:

11

,mod4 8 4 48

nn

h h hlp

c c

D D Dp pu

L n L

3.21

49

, 2

,mod

24f lp n n

lp h

c

Cu D

3.22

sendo ηc,mod o índice de consistência modificado:

,mod

1 48

12

n

c cn

3.23

O conjunto de parâmetros no denominador da Equação 3.22 é identificado como

o número de Reynolds para o escoamento de fluido de lei de potência entre placas planas

e paralelas, Relp:

2

,mod

Re

n n

lp h

lp

c

u D

3.24

Para o fluido de Bingham o mesmo procedimento é realizado. Primeiramente,

substitui-se a expressão para o gradiente de pressão em função da velocidade média para

o escoamento entre placas planas e paralelas, dado pela Equação 3.25 (BIRD et al., 2002),

obtendo-se a Equação 3.26:

2 3

48

1 3 4

p Bi

h

up

L D Bi Bi

3.25

,

,mod

24f Bi

Bi h

p

Cu D

3.26

50

sendo ηp,mod e Bi, respectivamente, a viscosidade plástica modificada e o número de

Bingham, dados por:

,mod 31 3 4

p

pBi Bi

3.27

02

h

Bip L D

3.28

A Equação 3.28 representa o balanço das forças de pressão e cisalhamento

realizado nas paredes do canal, de modo que para Bi ≥ 0,50 o gradiente de pressão

aplicado não é suficiente para vencer a tensão limite de escoamento do fluido, e o material

se comporta como um sólido. Já para 0,00 ≤ Bi < 0,50 o gradiente de pressão aplicado é

capaz de promover o cisalhamento do fluido. Quando Bi = 0,00 (i.e., τ0 = 0) o modelo de

fluido newtoniano é recuperado.

Assim como no caso do fluido de lei de potência, o denominador da Equação 3.26

é definido como o número de Reynolds para o escoamento de fluido de Bingham entre

placas planas e paralelas, ReBi:

,mod

Re Bi hBi

p

u D

3.29

3.4 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Este capítulo foi dedicado a apresentação de conceitos e definições sobre fluidos

newtonianos e não newtonianos, bem como sobre meios porosos, fator de atrito e número

de Reynolds. No caso dos fluidos não newtonianos, destaca-se a apresentação dos

modelos de lei de potência e Bingham, além do modelo de regularização proposto por

Papanastasiou (1987) para a representação do fluido de Bingham. Com relação aos meios

porosos, apresentou-se as definições de porosidade e permeabilidade, bem como as

escalas de análise e equações que modelam o escoamento em meios porosos e junto à

51

interface fluido-porosa. Finalmente, definiu-se o conceito de fator de atrito e número de

Reynolds, sendo obtidas expressões de Re para o escoamento de fluidos newtonianos, de

lei de potência e Bingham, de tal forma que o produto Cf Re seja uma constante,

independentemente do fluido.

52

4 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Neste capítulo são apresentadas a geometria, as condições de contorno e inicial,

bem como as hipóteses simplificadoras e as equações de balanço que modelam o

escoamento. Ademais, os parâmetros adimensionais que representam o problema são

identificados e seus significados discutidos.

4.1 GEOMETRIA E CONDIÇÕES DE CONTORNO E INICIAL

A Figura 4.1 apresenta a geometria e as condições de contorno do escoamento em

canal parcialmente poroso, no qual a região porosa é representada por um conjunto de

obstáculos sólidos e quadrados (abordagem heterogênea).

Figura 4.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento em canal parcialmente poroso.

O problema é tratado de forma bidimensional em um sistema de coordenadas

cartesiano (x1, x2), sendo x1 e x2, respectivamente, as direções principal e perpendicular

ao escoamento. A interface fluido-porosa, localizada em x2 = 0, se estende ao longo de

todo o comprimento L do canal e define a separação entre as regiões livre (0 < x2 < Dh,rl/2)

e porosa (–Dh,rp/2 < x2 < 0). O meio poroso é caracterizado pela sua porosidade ϕ e pelo

número de obstáculos NO que o compõe, sendo NO definido como o número de

obstáculos na direção x2 considerando Dh,rp = 1,00. Considerando o exemplo da Figura

4.1, tem-se NO = 2. Os obstáculos são quadrados de lado D, igualmente espaçados por

uma distância d e dispostos de tal forma que os lados superiores, adjacentes à região livre,

refp p p refp p

1x L1 2 0u u

d

d

1 2 0u u

D

D

1 0x

1 2 0u u

20x

2 2,x u

1 1,x u

Interface fluido-porosa

2 ,2

h rpx D

2 , 2h rfx D

53

estejam na posição x2 = 0. As dimensões D e d são calculadas em termos de Dh,rp, ϕ, e

NO, conforme as expressões abaixo:

Equation Chapter (Next) Section 1

,1

2

h rpDD

NO 4.1

,1 1

2

h rpDd

NO

4.2

Vale ressaltar que para o canal bidimensional mostrado na Figura 4.1, ϕ é

calculado através da razão entre Af e At, sendo Af e At, respectivamente, as áreas (volume

por unidade de largura do canal) de fluido e total da região porosa.

De modo a reproduzir os experimentos realizados por Beavers e Joseph (1967),

nos quais o escoamento é completamente desenvolvido e promovido por um gradiente de

pressão igualmente aplicado nas regiões livre e porosa, considera-se condições de pressão

prescrita tanto na entrada (x1 = 0) quanto na saída (x1 = L) do canal, respectivamente,

pref – Δp e pref. As paredes do canal (x2 = –Dh,rp /2 e x2 = Dh,rl /2), assim como as superfícies

dos obstáculos, são representadas pela condição de não deslizamento (u1 = u2 = 0).

Como será visto no Capítulo 5, o modelo do LBM adotado neste trabalho é

intrinsecamente transitório, de modo que se torna necessário estabelecer a condição

inicial do problema. Nesse sentido, considera-se o fluido inicialmente em repouso, i.e.,

u1 = u2 = 0 e a pressão uniforme, p = pref, em todo o domínio fluido.

4.2 HIPÓTESES SIMPLIFICADORAS E EQUAÇÕES DE BALANÇO

Para a solução do problema apresentado são consideradas as seguintes hipóteses

simplificadoras:

i) escoamento incompressível (ρ constante),

ii) ação da força gravitacional desprezível (gα = 0) e

iii) problema bidimensional em coordenadas cartesianas (x1, x2),

de modo que as equações da conservação da massa e da quantidade de movimento,

Equações 3.14 e 3.15, se reduzem, respectivamente, a:

54

1 2

1 2

0u u

x x

4.3

1 1 1 11 211 2

1 2 1 1 2

2 2 2 12 221 2

1 2 2 1 2

u u u pu u

t x x x x x

u u u pu u

t x x x x x

4.4

As Equações 4.3 e 4.4 possuem como incógnitas u1, u2, p, τ11, τ12, τ21, τ22, sendo

necessário mais quatro equações para a solução do escoamento. Para tanto, são utilizadas

as equações constitutivas dos fluidos, por exemplo, Equação 3.5, no caso do fluido de lei

de potência, e Equação 3.9, para o fluido de Bingham, considerando o modelo de

regularização de Papanastasiou (1987).

4.3 PARÂMETROS ADIMENSIONAIS DO PROBLEMA

Os parâmetros adimensionais que descrevem o problema são identificados através

do teorema Pi de Buckingham (WHITE, 1999), cujos passos podem ser resumidos em:

i) listar e contabilizar o número de variáveis do problema (nvp),

ii) definir um conjunto de ndp dimensões primárias (e.g., kg, m, s) cujas

combinações possibilitem a obtenção das dimensões de todas as variáveis

listadas em i),

iii) selecionar um subconjunto das variáveis identificadas em i) com

dimensões não repetidas possuindo nvp elementos (o conjunto de variáveis

definido nesta etapa é chamado de variáveis repetitivas) e

iv) utilizar o conjunto de variáveis repetitivas para a construção de uma

equação adimensional para cada uma das demais variáveis identificadas

em i), obtendo um total de (ndp – nvp) parâmetros adimensionais.

Considerando separadamente os escoamentos de fluido de lei de potência e

Bingham, são definidos os seguintes conjuntos de variáveis para cada modelo de fluido:

55

i) fluido de lei de potência: ρ, ηc,mod, n, ūlp, Dh,rl, Dh,rp, ϕ, NO

ii) fluido de Bingham: ρ, ηp,mod, τ0, ūBi, Dh,rl, Dh,rp, ϕ, NO

sendo ūlp e ūBi dados, respectivamente, pelas Equações 3.21 e 3.25. A escolha de ūlp e ūBi

como valores de referência para a velocidade se deu pelo fato de que, através da condição

de contorno de pressão utilizada neste trabalho não é possível saber, a priori, qual será a

velocidade média do escoamento na região livre do canal parcialmente poroso.

Considerando como conjunto de dimensões primárias as unidades de

comprimento, velocidade e tensão, respectivamente, metro (m), metro por segundo (m/s)

e Pascal (Pa.sn ou Pa.s) e definindo Dh, ūlp e ηc,mod e Dh, ūBi e ηp,mod, como conjuntos de

variáveis repetitivas, respectivamente, para o fluido de lei de potência e Bingham, obtém-

se os seguintes parâmetros adimensionais:

2

,

1,

,mod

Re

n n

lp h rl

lp lp

c

u D

4.5

,

1,

,mod

ReBi h rl

Bi Bi

p

u D

4.6

2,lp n 4.7

0

2,

,mod

,

24Bi

p Bi

h rl

Biu

D

4.8

3 4.9

4 NO 4.10

56

,

5

,

h rp

h rl

D

D 4.11

Os parâmetros Π1,lp e Π1,Bi são os números de Reynolds, respectivamente, para os

escoamentos de fluido de lei de potência e Bingham, já apresentados na Seção 3.3. De

um modo geral, o número de Reynolds é utilizado para avaliar a transição entre os regimes

de escoamento laminar e turbulento, que, para o escoamento de um fluido newtoniano

entre placas planas e paralelas, ocorre por volta de 2000 (WHITE, 1999). Π2,lp e Π2,Bi

estão associados ao comportamento não newtoniano dos fluidos de lei de potência e

Bingham, correspondendo, respectivamente, ao índice de lei de potência e a tensão limite

de escoamento adimensional, a qual pode ser escrita em termos do número de Bingham.

Os parâmetros Π3, Π4 e Π5 estão associados ao meio poroso, sendo Π3 a porosidade, Π4 o

número de obstáculos que o compõe e Π5 a altura adimensional da região porosa. Π3, Π4

e Π5 são comuns a ambos os escoamento de fluido de lei de potência e Bingham. A

obtenção de cada um dos parâmetros Π, dados pelas Equações 4.11 – 4.8, pode ser

encontrada no Apêndice A.

4.4 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Este capítulo foi dedicado à apresentação de diversos aspectos associados à

modelagem do escoamento em canal parcialmente poroso, como a geometria, as

condições de contorno e inicial, as hipóteses simplificadoras e as equações de balanço

que descrevem o escoamento do fluido. Ao final do capítulo foram apresentados os

conjunto de parâmetros adimensionais que descrevem o escoamento de fluido de lei de

potência e Bingham, os quais foram identificados através do teorema Pi de Buckingham.

57

5 MÉTODO LATTICE BOLTZMANN

Neste capítulo o método lattice Boltzmann é apresentado. Inicialmente é realizada

uma breve introdução, na qual são apresentados o histórico do método, bem como alguns

conceitos e equações da teoria cinética dos gases. Em seguida, são abordados o modelo

de He e Luo (1997), neste trabalho denotado por HL, a estrutura de retículo D2Q9 e a

equivalência entre o modelo HL e as equações de Navier-Stokes para o escoamento de

fluidos incompressíveis, bem como a adaptação necessária para a incorporação do

comportamento não newtoniano dos fluidos de lei de potência e Bingham. Também são

abordadas as formulações numéricas das condições de contorno utilizadas para simular o

problema formulado no Capítulo 4, a metodologia utilizada para a realização dos testes

de sensibilidade à malha computacional e, por fim, uma noção geral das etapas que

constituem a sequência de cálculos das simulações numéricas.

5.1 HISTÓRICO

Segundo Wolf-Gladrow (2000), o LBM foi desenvolvido a partir do método

Lattice-Gas Cellular Automata (LGCA), o qual teve origem nos modelos matemáticos

Cellular Automata (CA). Modelos CA são idealizações matemáticas de sistemas físicos

e consistem em conjuntos discretos de células que admitem conjuntos finitos de valores

relacionados a determinadas propriedades físicas. A evolução temporal de um CA se dá

pela mudança de estado de cada célula em função de regras determinísticas que levam em

conta o seu estado instantâneo, assim como o das células vizinhas (WOLFRAM, 1983).

Com base no conceito de CA, Frisch et al. (1986) propuseram o primeiro modelo

LGCA a reproduzir com sucesso as equações de Navier-Stokes para um fluido

incompressível, conhecido como modelo FHP. A idéia foi representar o movimento de

um fluido de um ponto de vista microscópico, considerando o deslocamento e a colisão

das partículas que o compõem.

O desenvolvimento do LBM se deu a partir do aperfeiçoamento do método

LGCA, o qual apresenta diversas limitações e deficiências como ruídos estatísticos

associados ao caráter discreto das partículas, conservação de propriedades sem

significado físico, violação da invariância de Galileu, termo de advecção não isotrópico

e pressão dependente explicitamente da velocidade (WOLF-GLADROW, 2000).

58

Algumas modificações notáveis que culminaram nos modelos atuais do LBM foram a

introdução de funções distribuição para a representação das partículas (MCNAMARA e

ZANNETTI, 1988), como a distribuição de Maxwell utilizada por Qian1 (1990 apud

QIAN et al., 1992) e a representação das colisões através da aproximação BGK proposta

por Bhatnagar et al. (1954) e introduzida no LBM por Qian et al. (1992).

5.2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE TEORIA CINÉTICA DOS GASES

Apesar de historicamente ter evoluído a partir do LGCA, o LBM pode ser visto

como uma solução da equação de transporte de Boltzmann (GUO e SHU, 2013). Este

ponto de vista será adotado para a apresentação do LBM neste capítulo, de modo que se

torna importante a apresentação de alguns conceitos e equações da teoria cinética dos

gases, notadamente, a noção de função distribuição de velocidade, a equação de transporte

de Boltzmann, a distribuição de Maxwell e os momentos da função distribuição de

velocidade.

5.2.1 Função distribuição de velocidade e a equação de transporte de Boltzmann

Considerando um gás monoatômico representado por um sistema de N partículas

de massa m contidas num volume V, o estado do gás pode ser caracterizado pela função

distribuição de velocidade f (xα,cα,t), tal que f (xα,cα,t)dxαdcα representa o número de

partículas que, no instante de tempo t, se encontram no volume de controle

hexadimensional dxαdcα, i.e., nas posições do espaço compreendidas entre xα e xα + dxα

com velocidade entre cα e cα + dcα. O volume de controle dxαdcα é ilustrado na Figura 5.1.

Como f é uma função de xα, cα e t, a sua derivada total é expressa por:

Equation Chapter (Next) Section 1

f f f

df dt dx dct x c

5.1

1 QIAN, Yue Hong. Gaz sur réseaux et théorie cinétique sur réseaux appliquée à

l'équation de Navier-Stokes. 1990. Tese de Doutorado.

59

Figura 5.1 – Representação do volume de controle hexadimensional dxαdcα.

Definindo cα = dxα/dt e Fα/m = dcα/dt, com Fα representando uma força externa

agindo sobre as partículas, e dividindo a Equação 5.1 por dt, tem-se:

Fdf f f f

cdt t x m c

5.2

Segundo Kremer (2005), o termo df/dt representa a variação total do número de

partículas em dxαdcα causada pelas colisões que ocorrem entre as partículas e a sua

avaliação é realizada de acordo com as seguintes hipóteses:

i) há somente colisões binárias entre as partículas (gás rarefeito),

ii) as velocidades das partículas que colidem não guardam qualquer relação

antes da colisão (hipótese conhecida como caos molecular),

iii) a ação das forças externas é desprezível em relação às forças agindo entre

as partículas durante a colisão e

iv) f é constante num raio da ordem do comprimento característico das

partículas, porém variável ao longo de uma distância da ordem da distância

média entre as partículas (livre caminho médio).

Considerando estas hipóteses e a colisão entre partículas com velocidade entre cαꞌ

e cαꞌ + dcαꞌ e cαꞌꞌ, i.e, f ꞌ= f (xα,cαꞌ,t), e cαꞌꞌ + dcαꞌꞌ, i.e, e f ꞌꞌ= f (xα,cαꞌꞌ,t), pode-se mostrar que

df /dt é dado por (KREMER, 2005):

df

f f f f c c d dcdt

5.3

c

c dc

x x dx

, ,f x c t dx dc

60

com o sobrescrito ~ indicando os valores pós-colisionais, ς a seção transversal diferencial

de choque e dΩ o elemento de ângulo sólido associado ao espalhamento das partículas.

5.2.2 Distribuição de Maxwell

Quando o gás atinge o estado de equilíbrio, a variação líquida do número de

partículas em dxαdcα é nula, ou seja, o número de partículas que entra no intervalo entre

xα e xα + dxα possuindo velocidade entre cα e cα + dcα é igual ao número de partículas que

deixa o intervalo entre xα e xα + dxα e/ou tem sua velocidade alterada para fora do intervalo

entre cα e cα + dcα. Neste caso, pode-se mostrar que a distribuição das velocidades das

partículas obedece à distribuição de Maxwell, fM (KREMER, 2005):

23

2

2B

mc u c u

k T

M

B

mf e

m k T

5.4

sendo kB a constante de Boltzmann, T a temperatura do gás.

5.2.3 Momentos da função distribuição de velocidade

As propriedades macroscópicas do gás, como a massa específica, quantidade de

movimento linear e energia são obtidas através das funções distribuição de velocidade.

Para tanto, define-se os momentos da função distribuição (KREMER, 2005):

k-vezes

, ,k m c c f x c t dc 5.5

sendo ψk o momento de ordem k da função distribuição.

Considerando a Equação 5.5, a massa específica, a quantidade de movimento

linear e a densidade de energia do gás são dadas, respectivamente, pelos momentos de

ordem zero, um e dois:

0 , ,mf x c t dc 5.6

61

1 , ,u mc f x c t dc 5.7

2

1 1, ,

2 2e m c c f x c t dc 5.8

5.3 MODELO DE HE E LUO (1997)

Com base nos conceitos da teoria cinética dos gases, o LBM considera o fluido

como um sistema de partículas, representadas por f (xα,cα,t), as quais realizam seguidos

processos de deslocamento e colisões. A evolução temporal do estado do sistema ocorre

em intervalos de tempo Δt, sendo que os deslocamentos e as colisões entre conjuntos de

partículas se dão num domínio espacial discretizado como um retículo de nós (lattice). A

cada passo de tempo, as partículas colidem umas com as outras nos nós do retículo e se

deslocam para os nós vizinhos segundo um conjunto finito e pré-definido de orientações

e velocidades, respectivamente, i e cα,i, determinados de acordo com estrutura de retículo

adotada, como será visto na Seção 5.4.

A Figura 5.2 ilustra um ciclo dos processos de colisão e deslocamento ocorrendo

num retículo bidimensional com nove orientações de deslocamento (incluindo o

deslocamento nulo). Considerando a análise das partículas que se deslocam para o nó E

(o deslocamento demais partículas não foi mostrado para manter a clareza da figura), ao

longo do intervalo de tempo Δt, observa-se o deslocamento das partículas dos nós

vizinhos (A, B, C, D, F, G, H e I). Após o deslocamento, as partículas se chocam umas

com as outras e as colisões causam a redistribuição do número total de partículas em E

entre as possíveis orientações de deslocamento. No próximo intervalo de tempo Δt ocorre

uma nova etapa de deslocamento, na qual as partículas em E se deslocam para os nós

vizinhos, havendo um novo processo de colisão e assim por diante.

62

Figura 5.2 – Processos de deslocamento e colisão.

Considerando cada orientação de deslocamento das partículas, i, os processos de

deslocamento e colisão ocorrem segundo a forma discretizada da equação de transporte

de Boltzmann (Equação 5.2), considerando Fα = 0 e o esquema upwind (PATANKAR,

1980) para a discretização do termo ∂f /∂t + cα∂f /∂xα:

, , ,i i i if x x t t f x t Q t 5.9

sendo Qi o operador colisão, que representa a parcela de df /dt associada à orientação i. A

Equação 5.9 expressa que, para cada orientação i, o número de partículas que chega ao

nó xα + Δxα,i corresponde ao número de partículas originalmente em xα acrescido de QiΔt,

que representa uma parcela do número total de partículas originalmente em xα que, após

o processo de colisão, se desloca para xα + Δxα,i.

Neste trabalho, utiliza-se o modelo do LBM proposto por He e Luo (1997), no

qual o operador colisão Qi é simplificado através da aproximação BGK (BHATNAGAR

et al., 1954), conforme proposto por Qian et al. (1992):

1f3f

2f

4f 8f

5f 6f

7f

Colisão

Deslocamento Deslocamento

tt

Retículo

D

A

E

G

F

H

B C

I

D

A

E

G

F

H

B C

I

D

A

E

G

F

H

B C

I

0f:if

2x

1xL

N

O

S

63

1

, ,eq

i i iQ f x t f x t

5.10

sendo Τ o fator ou tempo de relaxação de fi até o valor de equilíbrio local fi eq. A ideia

central da aproximação BGK é que as colisões tendem a levar o fluido a um estado de

equilíbrio, de modo que não é necessário conhecer os detalhes das colisões ou resolver o

complexo termo integral dado pela Equação 5.3 (BHATNAGAR et al., 1954). No modelo

HL, fi eq é calculado com base na distribuição de Maxwell (Equação 5.4), sendo expresso

por:

, ,,

0 2 4 22 2

i iieq

i i

s s s

c u c uc u u uf w

c c c

5.11

com ρ = ρ0 + δρ, sendo δρ a flutuação de ρ em relação à massa específica inicial do fluido,

ρ0. cα,i e wi são, respectivamente, a velocidade de deslocamento das partículas e o fator de

ponderação associados à orientação i e cs a velocidade do som no fluido, cujos valores

são definidos em função da estrutura de retículo, o que será abordado na Seção 5.4.

A dedução da Equação 5.11 é apresentada na Seção B.1 do Apêndice B e

considera escoamentos com baixa velocidade, de tal forma o modelo HL se restringe a

escoamentos com baixo número de Mach, Ma ≪ 1, o qual é definido como:

ref

s

uMa

c 5.12

sendo uref a velocidade de referência do escoamento.

Considerando as conservações da massa e da quantidade de movimento linear

durante as colisões, assim como a definição da função de equilíbrio dada pela Equação

5.11, é possível mostrar, conforme as deduções apresentadas na Seção B.2 do Apêndice

B, que as variáveis macroscópicas do escoamento, ρ e uα, são dadas, respectivamente,

por:

64

, ,i

i

x t f x t 5.13

,

0

1, ,i i

i

u x t c f x t

5.14

As Equações 5.13 e 5.14 correspondem, respectivamente, aos momentos de ordem

zero e um da função distribuição, respectivamente, Equações 5.6 e 5.7, considerando as

partículas com massa unitária.

5.4 ESTRUTURAS DE RETÍCULO

Seguindo a notação DaQb proposta por Qian et al. (1992), com a correspondendo

ao número de dimensões espaciais e b ao número de orientações/velocidades de

deslocamento das partículas, as estruturas de retículo mais comuns, segundo Guo e Shu

(2013), são: D1Q3, D1Q5, D2Q7, D2Q9, D3Q15 e D3Q19. Para a simulação de

escoamentos bi e tridimensionais são destacados, respectivamente, os modelos D2Q9 e

D3Q15, os quais apresentam o menor número de orientações/velocidades de

deslocamento que garante a reprodução das equações de conservação da massa e

quantidade de movimento linear (MOHAMAD, 2011; VIGGEN, 2009).

As estruturas de retículo são caracterizadas pelas orientações e velocidades de

deslocamento das partículas, bem como pelo fator de ponderação e a velocidade do som

(respectivamente i, cα,i, wi e cs). Tomando como exemplo o modelo D2Q9, utilizado neste

trabalho, os nós do retículo são distribuídos conforme uma malha cartesiana

bidimensional, sendo que a distância horizontal (segundo o eixo x1) e vertical (segundo o

eixo x2) entre dois nós vizinhos é igual a Δx (retículo regular). As nove velocidades de

deslocamento cα,i do modelo D2Q9 são calculadas por:

,

0,0 para 0

cos 1 2 , 1 2 para 1, 2,3, 4

cos 2 9 4 ,cos 2 9 4 2 para 5,6,7,8

i

i

c i sen i c i

i i c i

5.15

65

com c = Δx/Δt. Desta forma, para i = 0, a velocidade de deslocamento das partículas é

nula; para i = 1, 2, 3, 4, as partículas se movimentam com velocidade c nas direções x1 e

x2; e para i = 5, 6, 7, 8, o deslocamento ocorre nas direções diagonais com velocidade

21/2c, conforme mostrado na Figura 5.3. Os valores de wi, cs e cα,i para o modelo D2Q9

são apresentados na Tabela 5.1.

Figura 5.3 – Estrutura de retículo D2Q9.

Tabela 5.1 – Valores de wi, cs e cα,i para o modelo D2Q9.

i wi cs cα,i

0 4/9

3c

(0,0)

1, 2, 3, 4 1/9 (c,0), (0,c), (-c,0), (0,-c)

5, 6, 7, 8 1/36 (c,c), (-c,c), (-c,-c), (c,-c)

5.5 EQUIVALÊNCIA ENTRE O MODELO HL E AS EQUAÇÕES DE NAVIER-

STOKES – EXPANSÃO DE CHAPMAN-ENSKOG

Através da expansão de Chapman-Enskog (CHAPMAN e COWLING, 1970),

pode-se mostrar que, sob certas restrições, o modelo HL corresponde às equações de

Navier-Stokes para um fluido incompressível. A dedução mostrada a seguir é baseada

nos desenvolvimentos apresentados por Wolf-Gladrow (2000), Viggen (2009) e Guo e

Shu (2013).

O primeiro passo para mostrar a equivalência proposta consiste na introdução das

expansões de fi, ∂/∂xα e ∂/∂t em termos do parâmetro ξ:

0 1 20 1 2 3

i i i if f f f O 5.16

2x

1x

1f3f

2f

4f 8f

5f 6f

7f

0f:

if

x

x

66

2

1O

x x

5.17

2 3

1 2O

t t t

5.18

com fi (1) e fi

(2) representando o desvio de fi com relação ao equilíbrio fi (0) = fi

eq. Os

sobrescritos (1) e (2) nas variáveis xα e t identificam diferentes escalas de grandeza

associadas às potências de ξ. Segundo Wolf-Gladrow (2000) ξ representa o número de

Knudsen, Kn, dado por:

lcm

ref

lKn

l 5.19

sendo llcm e lref, respectivamente, o livre caminho médio das partículas e o comprimento

de referência do escoamento.

Considerando a Equação 5.9 e a expansão em série de Taylor de

fi (xα + cα,iΔt, t + Δt) até os termos de segunda ordem em Δt e Δxα,i, dada pela Equação

5.20 (SPIEGEL, 1968), tem-se a Equação 5.21:

, ,

2

, , ,

, , , ,

12 ,

2

i i i i i i

i i i i

f x c t t t f x t x f x t t f x tx t

x x x t t f x tx x x t t t

5.20

, ,

11

2

eq

i i i i i

tf f c c f

t x t x

5.21

com Δxα,i = cα,iΔt.

Substituindo as Equações 5.16, 5.17 e 5.18 na Equação 5.21, e identificando os

termos proporcionais a ξ 0, ξ 1 e ξ 2, obtém-se, respectivamente, as seguintes igualdades:

67

00 0eq

i if f 5.22

1 01 1

,1 1

1i i if c f

t x

5.23

22

0 1 02

, ,2 1 1 1 1

1

2

i

i i i i i

f

tf c f c f

t t x t x

5.24

Utilizando a Equação 5.23, a Equação 5.24 pode ser convenientemente reescrita

como:

2 0 12 2

,2 1 1

11

2i i i i

tf f c f

t t x

5.25

Como será mostrado a seguir, a equação da conservação da massa é obtida através

da análise dos momentos de ordem zero (Equação 5.13) das Equações 5.23 e 5.25,

enquanto os momentos de ordem um (Equação 5.14) dão origem à equação da

conservação da quantidade de movimento linear. Para tanto, deve-se assumir que os

momentos de ordem zero e um de fi(1) e fi

(2) são nulos, conforme as deduções

desenvolvidas na Seção B.3 do Apêndice B, ou seja:

1 21 2 0i i

i i

f f 5.26

1 21 2

, , 0i i i i

i i

c f c f 5.27

68

Considerando as Equações 5.22, 5.26 e as definições de massa específica e

quantidade de movimento linear, expressas, respectivamente, pelas Equações 5.13

e 5.14, o cálculo do momento de ordem zero da Equação 5.23 é dado por:

1 01 1

,1 1

11 1 1

,1 1

1 1

01 1

1

01 1

1

1

0

0

i i i

i i

eq eq

i i i i

i i i

f c ft x

f f c ft x

ut x

u

t x

5.28

De forma análoga, calcula-se o momento de ordem zero da Equação 5.25,

resultando em:

2

20

t

5.29

Somando as Equações 5.28 e 5.29, e considerando as expansões dadas pelas

Equações 5.16 a 5.18, obtém-se:

1 2

01 1 2

1 2 1

01 2 1

0

0

0

10

u

t x t

ut t x

u

t x

5.30

Segundo He e Luo (1997), o termo 01 t , presente na Equação 5.30, é

da ordem de Ma2, de modo que a Equação 5.30 pode ser reescrita como:

69

2 0u

O Max

5.31

Sob a hipótese de Ma ≪ 1, o termo O(Ma2) pode ser desprezado e desta forma,

diz-se que, no limite da incompressibilidade, a Equação 5.31 representa a equação da

conservação da massa, Equação 3.14, para fluidos incompressíveis.

O procedimento para a obtenção da equação da conservação da quantidade de

movimento linear é análogo ao da conservação da massa. As etapas são apresentadas na

Seção B.4 do Apêndice B, resultando em:

0

2 2 3

02

s s

u uu

t x

uutc c O Ma

x x x x

5.32

Considerando novamente que Ma ≪ 1 e, portanto, desprezando o termo O(Ma3)

da Equação 5.32, a comparação termo a termo entre as Equações 5.32 e a combinação das

Equações 3.15 e 3.1 mostra que a Equação 5.32 representa a equação da conservação da

quantidade de movimento linear para um fluido newtoniano incompressível sem a ação

de forças de corpo. Para tanto, a pressão, p, e a viscosidade dinâmica do fluido, μ, são

definidas, respectivamente, por:

2

sp c 5.33

2

02

s

tc

5.34

Tendo em vista as análises realizadas nesta seção, demonstra-se que o modelo HL

representa as equações da conservação da massa e quantidade de movimento linear para

um fluido newtoniano incompressível, desde que a hipótese de fluido incompressível (Ma

≪ 1) seja válida e as Equações 5.33 e 5.34 sejam consideradas.

70

5.6 ADAPTAÇÃO DO MODELO HL PARA O ESCOAMENTO DE FLUIDOS DE

LEI DE POTÊNCIA E BINGHAM

Para que o modelo HL se estenda também ao escoamento de fluidos de lei de

potência e Bingham, a Equação 5.34 deve ser generalizada, de tal forma que μ é

substituído por . Deste modo, T passa a variar localmente com a da taxa de

deformação:

2

0 2s

t

c

5.35

No caso do fluido de lei de potência, a expressão para T é obtida combinando as

Equações 3.5 e 5.35 (RAKOTOMALALA, 1996):

1

2

0 2

n

c

s

t

c

5.36

Já para o caso do fluido de Bingham, Tang et al. (2010) utilizam o modelo de

regularização de Papanastasiou (1987). Assim, substituindo a Equação 3.10 na Equação

5.35, e isolando T, obtém-se:

0

2

0

11

2

pn

p

s

te

c

5.37

5.6.1 Taxa de deformação em termos das funções distribuição

O cálculo das Equações 5.36 e 5.37 depende do cálculo de , que, por sua vez, é

determinado em função de , conforme a Equação 3.4. No LBM, o cálculo de é

realizado em termos da parte de não equilíbrio das funções distribuição, fi neq = fi – fi

eq,

como será mostrado a seguir. Analisando a Equação A.87, obtida durante a dedução da

71

equação da conservação da quantidade de movimento linear na Seção B.4 do Apêndice

B, é possível concluir que pode ser calculado por:

11

, ,2

0

1i i i

is

uuc c f

x x c

5.38

Utilizando as Equações 5.16 e 5.22 e negligenciando o termo ξ 2f (2), (ξ 2 ≪ ξ), a

Equação 5.38 pode ser reescrita como:

, ,2

0

1 neq

i i i

is

c c fc

5.39

Desta forma, através da Equação 5.39, é possível calcular em termos de fi e

fi eq.

5.7 CONDIÇÕES DE CONTORNO

As condições de contorno no LBM têm o papel de definir os valores das funções

fi que, após a etapa de deslocamento, se tornam indeterminadas nas fronteiras do domínio.

A Figura 5.4 ilustra o processo de deslocamento em um nó vizinho a fronteira S, de modo

a evidenciar a indeterminação de algumas funções nas fronteiras do retículo. Analisando

a Figura 5.4, é possível perceber que, após a etapa de deslocamento, os nós sobre a

fronteira S não recebem as funções f2, f5 e f6, visto que não existem nós abaixo de S. Desta

forma, f2, f5 e f6 ficam indeterminadas ao longo de toda a extensão de S. Nas demais

fronteiras o raciocínio é análogo e a Figura 5.5 resume as funções fi indeterminadas (setas

tracejadas), após a etapa de deslocamento, em todas as fronteiras do domínio.

72

Figura 5.4 – Funções distribuição fi indeterminadas após a etapa de deslocamento na fronteira S.

As expressões para o cálculo das funções indeterminadas nas fronteiras são

definidas de tal forma que, quando as Equações 5.13 ou 5.14 são aplicadas, os valores de

velocidade ou pressão prescritos, conforme o problema em análise, sejam garantidos.

Neste trabalho são utilizadas as condições de contorno de bounce-back (utilizada para

representar paredes estáticas) e pressão prescrita para escoamentos periódicos, as quais

são apresentadas a seguir.

S

1f3f

2f

4f 8f

5f 6f

7f

Retículo

0f:ifL

N

O

S

A

H

B C

D

A

E

G

F

B C

S

Deslocamento

tColisão

2x

1x

FD E

IIG H

73

Figura 5.5 – Funções distribuição fi indeterminadas (setas tracejadas) após a etapa de deslocamento

nas fronteiras N, S, L, O.

5.7.1 Bounce-back

Bounce-back é a condição de contorno que representa o não deslizamento do

fluido sobre uma superfície sólida e estática. Do ponto de vista do LBM, a condição de

bounce-back consiste na inversão do sentido do movimento das partículas que colidem

contra uma superfície. Considerando a fronteira S da Figura 5.4, a condição de bounce-

back estabelece que as funções f2, f5, f6 devem assumir, respectivamente, os valores de f4,

f8, f7. Ou seja, as partículas representadas pelas funções f4, f8, f7, que colidiram contra a

parede, retornam para o interior do domínio de solução por meio das funções f2, f5, f6.

Assim, com f2 = f4, f5 = f8 e f6 = f7 e levando em conta que na fronteira S f1 = f3, é possível

verificar, através da Equação 5.14, que u1 = u2 = 0.

Na literatura são encontrados diferentes variações da condição de bounce-back

(GUO e SHU, 2013), destacando-se aqui as formulações denominadas por Guo e Shu

(2013) como padrão e intermediária. A formulação padrão considera a fronteira sólida

exatamente sobre os nós da malha, como mostra a Figura 5.6a, enquanto na formulação

intermediária, ilustrada na Figura 5.6b, há um deslocamento de Δx/2. Segundo Succi

(2001), as formulações padrão e intermediária possuem, respectivamente, precisão de

primeira e segunda ordem. Com base nesta afirmação e nos resultados apresentados na

Seção C.1 do Apêndice C, a formulação intermediária é utilizada neste trabalho.

1f

3f

2f

4f

8f

5f 6f

7f

Retículo

0f:if

2x

1x

N O S L

L

N

O

S

74

(a) (b)

Figura 5.6 – Formulações da condição de bounce-back (a) padrão e (b) intermediária.

5.7.2 Condição de contorno para escoamentos periódicos

Considerando a periodicidade geométrica (na direção x1) do canal parcialmente

poroso apresentado na Figura 4.1, buscou-se a utilização de uma condição de contorno

periódica para a modelagem numérica do problema, de modo a reduzir o custo

computacional das simulações. Na literatura são encontradas quatro condições de

contorno do LBM para escoamentos periódicos (ZHANG e KWOK, 2006; SUKOP e

THORNE JR., 2007; KIM e PITSCH, 2007; LIAO e JEN, 2008), todas dependentes da

diferença ou gradiente de pressão entre a entrada e a saída do canal, sendo que a utilizada

neste trabalho é a proposta por Liao e Jen (2008).

No modelo proposto por Liao e Jen (2008), a periodicidade do escoamento é

levada em conta fazendo com que as funções distribuição fi que deixam o domínio de

solução através das fronteiras perpendiculares à direção do escoamento retornem pela

fronteira oposta. Tomando mais uma vez a Figura 5.4 como referência e considerando,

por exemplo, o escoamento periódico na direção x1, as funções f1, f5 e f8 da fronteira L

retornam ao domínio pela fronteira O, ao passo que f3, f6 e f7 que deixam o domínio pela

fronteira O retornam pela fronteira L. A queda de pressão ao longo do canal é incorporada

através da modificação de fi por um fator de correção wiΔp/cs2:

,O ,L 2

,L ,O 2

para 1,5,8

para 3,6,7

i i i

s

i i i

s

pf f w i

c

pf f w i

c

5.40

Fronteira

sólida

Bounce-back padrão

xFronteira

sólida

Bounce-back intermediário

2x

2x

75

com os subscritos O e L indicando as fronteiras em que se localizam as funções fi.

Na Seção C.2 do Apêndice C é apresentado o estudo realizado para a verificação

da periodicidade imposta pelo modelo de Liao e Jen (2008), no qual o escoamento em

canal parcialmente poroso é avaliado para diferentes comprimentos de canal.

5.8 METODOLOGIA PARA O TESTE DE SENSIBILIDADE À DISCRETIZAÇÃO

ESPACIAL (Δx) E TEMPORAL (Δt)

De acordo com o desenvolvimento realizado na Seção 5.5, pode-se constatar três

fontes de erro presentes nas simulações do LBM. A expansão em série de Taylor até

segunda ordem em Δx e Δt do termo fi (xα + cα,iΔt, t + Δt), realizada na Equação 5.20,

introduz erros de discretização espacial, EΔx, e temporal, EΔt, proporcionais,

respectivamente, a Δx2 e Δt2. Além disso, a equação da conservação da massa e da

quantidade de movimento obtidas ao final da expansão de Chapman-Enskog,

respectivamente, Equações 5.31 e 5.32, apresentam termos de compressibilidade

proporcionais, respectivamente, a Ma2 e Ma3. Nesse sentido, para Ma < 1, o erro da

simulação devido aos termos de compressibilidade, EMa, é proporcional a Ma2

(Ma2 > Ma3). Assim, pode-se estabelecer que o erro numérico global da simulação, Eg, é

dado por:

g x t MaE E E E 5.41

Retomando a Equação 5.12 e substituindo as definições de cs (cs = c/√3) e c

(c = Δx/Δt), obtém-se a relação entre Ma, Δx e Δt:

3ref

tMa u

x

5.42

Sabendo que EMa Ma2, tem-se que EMa Δt2/Δx2, de modo que:

76

tMa

x

EE

E

5.43

A Equação 5.43 mostra que a redução de Eg não depende apenas da redução

individual de EΔt e EΔx, mas também da relação entre ambas. Se a redução de EΔx for

maior do que a de EΔt, EMa aumenta, de modo que a redução de Eg não é garantida.

Neste trabalho, a estratégia adotada para a redução de Eg é realizada da seguinte

forma. Inicialmente, estipula-se um valor fixo de Δx, para o qual Δt é reduzido

progressivamente até que o parâmetro de análise do escoamento (e.g., velocidade, vazão

mássica, fator de atrito) se torne invariável dentro de uma determinada tolerância. Neste

caso, EMa e EΔt, que são diretamente proporcionais a Δt2, são reduzidos a tal ponto que se

pode afirmar que Eg se deve somente a EΔx, ou seja, Eg ≈ EΔx. Em seguida, faz-se o refino

de Δx, de tal forma que a redução de Δx é acompanhada pela diminuição de Δt numa

proporção quadrática (e.g., se Δx diminui duas vezes, o valor de Δt é reduzido por quatro

vezes). Nesse sentido, garante-se que o erro associado à discretização espacial se mantém

dominante ao longo do teste de sensibilidade a Δx (i.e., EΔx > EΔt, EMa) e que a sequência

de soluções numéricas para valores de Δx progressivamente menores convirjam para uma

solução independente, dentro de uma determinada tolerância, tanto de Δx quanto de Δt.

Contudo, a escolha dos valores de Δx e Δt é limitada pela estabilidade do LBM, a

qual, de acordo com Succi (2001), passa a ser afetada à medida que o valor de Tlb

(Tlb = T/Δt) tende a 0,5. A relação entre Tlb, Δx e Δt é obtida através da substituição das

definições de cs (= c/√3) e c (= Δx/Δt) na Equação 5.44:

2

0

3 1

2lb

t

x

5.44

De acordo com a Equação 5.44, à medida que Δt é reduzido, mantendo-se Δx

constante, Tlb tende a 0,5, se aproximando do limite de estabilidade. Considerando a

variação de Tlb com . a instabilidade numérica pode se agravar ainda mais no caso dos

fluidos de lei de potência e Bingham, já que a existência de regiões com baixa viscosidade

também implicam na redução de Tlb.

77

5.9 ESTRUTURA DO CÓDIGO COMPUTACIONAL

Neste trabalho, o LBM é implementado numericamente através de um código

computacional próprio programado em Fortran, cuja estrutura é representada através do

fluxograma mostrado na Figura 5.7. Primeiramente, parâmetros numéricos do problema

como Δx, Δt e Tlb, bem como as condições iniciais do problema, são estabelecidos e as

funções distribuição fi são incializadas em todo o domínio computacional com os seus

valores de equilíbrio, fieq, calculados de acordo a Equação 5.11. Em seguida, o programa

executa uma sequência de cálculos recorrentes em que são realizadas as etapas de:

i) colisão: calcula-se o lado direito da Equação 5.9;

ii) deslocamento e bounce-back: cada nó do retículo recebe as funções fi

propagadas dos nós vizinhos (Equação 5.9) e a condição de bounce-back

é aplicada sobre as paredes do canal e superfícies dos obstáculos;

iii) condições de contorno: aplicação da condição de contorno de pressão

prescrita apresentada na Seção 5.7, de acordo com a formulação do

problema realizada na Seção 4.1;

iv) cálculo das variáveis macroscópicas: ρ e uα são calculados em todo o

domínio, respectivamente, através das Equações 5.13 e 5.14;

v) convergência da simulação: de acordo com o critério de convergência

estabelecido, verifica-se se a simulação convergiu. Em caso positivo a

simulação é finalizada. Caso contrário, retorna-se à etapa de colisão;

vi) pós-processamento: obtenção dos resultados (e.g., campos de velocidades

e pressão, cálculo do fator de atrito, etc).

78

Figura 5.7 – Fluxograma do código computacional.

5.10 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram abordados diversos aspectos do LBM, tais como a origem

do método e conceitos fundamentais da teoria cinética dos gases, passando pelo modelo

proposto He e Luo (1997), estrutura de retículo D2Q9, condições de contorno,

metodologia para o teste de sensibilidade à Δx e Δt e a estrutura do código computacional.

Destaca-se a apresentação da equivalência entre o modelo HL e as equações de Navier-

Stokes para fluidos incompressíveis, bem como a incorporação do comportamento não

newtoniano dos fluidos de lei de potência e Bingham por meio da variação local do fator

de relaxação com a taxa de cisalhamento.

Adaptação do problema físico e condições iniciais

Etapa de colisão e bounce-back

Etapa de deslocamento

Aplicação das demais condições de contorno

Cálculo das variáveis macroscópicas e

Convergência da

simulação?

Início

Fim da simulação

Não

Sim

Obtenção dos resultados

u

79

6 PROBLEMAS DE VERIFICAÇÃO

Neste capítulo são apresentados os resultados de dois problemas de verificação,

nomeadamente os escoamentos entre placas planas e paralelas e num canal poroso,

escolhidos por representar casos limite do escoamento em canal parcialmente poroso

passíveis de comparação com resultados encontrados na literatura. O objetivo destas

análises é confirmar a aplicação do LBM à simulação do escoamento dos fluidos de lei

de potência e Bingham, bem como avaliar a correta implementação computacional do

método.

6.1 ESCOAMENTO ENTRE PLACAS PLANAS E PARALELAS

O escoamento entre placas planas e paralelas é um caso particular do escoamento

em canal parcialmente poroso para o qual o meio poroso é impermeável. A geometria e

as condições de contorno do problema estudado são mostradas na Figura 6.1.

Figura 6.1 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de potência entre

placas planas e paralelas.

O escoamento ocorre em um canal de diâmetro hidráulico Dh e comprimento L,

sendo promovido por uma diferença de pressão Δp aplicada entre a entrada e a saída do

canal de modo que a velocidade média do escoamento seja ū. O fluido possui massa

específica ρ e, no caso do fluido de lei de potência, índice de consistência modificado

ηc,mod, e, no caso do fluido de Bingham, viscosidade plástica modificada ηp,mod. Sobre as

paredes do canal (x2 = –Dh/4 e x2 = Dh/4) é considerada a condição de não deslizamento,

ou seja, u1 = u2 = 0. Considerando a hipótese de escoamento unidirecional (u2 = 0) nas

2x h

refp p p refp p

1x L1 2 0u u 2

x h

1 0x

1 2 0u u

2 2,x u

1 1,x u

80

Equações 4.3 e 4.4, os perfis de velocidade analíticos para os fluidos de lei de potência e

Bingham, são dados, respectivamente, por (BIRD et al., 2002):

Equation Chapter (Next) Section 1

1 1 1

2

1 2 2

1 1 1

2

1 2 2

41 para 0

4 4 1 4

41 para 0

4 4 1 4

n n

h h h

c h

n n

h h h

c h

D D Dxp nu x x

L n D

D D Dxp nu x x

L n D

6.1

22

02 2

1 2 2

22

1 2 2

22

02 2

1 2

4 41 1 para

32 4 4

2 1 para32

4 41 1

32 4

h h h

N

p h p h

h

N N N

p

h h

p h p h

D D Dx xpu x x x

L D D

Dpu x u Bi x x x

L

D Dx xpu x

L D D

2para

4

h

N

Dx x

6.2

sendo uN a velocidade do núcleo não cisalhado formado na região central do canal,

–xN ≤ x2 ≤ xN, com xN numericamente igual a Bi.

As simulações numéricas foram realizadas para valores unitários de Dh, L, ρ,

ηc,mod, ηp,mod, ūlp e ūBi (obtidos através de gradientes de pressão convenientemente

ajustados, respectivamente, conforme as Equações 3.21 e 3.25), de tal forma que,

independentemente do valor de n ou Bi, tem-se Relp = ReBi = 100. Para o escoamento do

fluido de lei de potência considerou-se os casos com n = 0,25; 1,00 e 4,00, enquanto para

o fluido de Bingham foram simulados casos para Bi = 0,00; 0,10; 0,20 e 0,40. Conforme

os resultados dos testes de sensibilidade a Δx e Δt, apresentados na Seção D.1 do

Apêndice D, os resultados mostrados a seguir foram obtidos para retículos com 160 nós

na direção x2 e relações Δx/Δt (iguais a 65536 para o fluido de lei de potência e 32768

para o fluido de Bingham) para as quais a influência do número de Mach pode ser

considerada desprezível. Também são apresentados na Seção D.1 os testes realizados para

o ajuste do parâmetro de regularização do modelo de Papanastasiou (1987) com base nos

quais as simulações foram realizadas para np = 100.

81

As Figura 6.2a e b apresentam, respectivamente, a comparação entre os perfis de

velocidade numéricos e analíticos para os fluidos de lei de potência e Bingham.

Considerando o fluido de lei de potência (Figura 6.2a), observa-se que a velocidade do

escoamento diminui na região central do canal com a redução de n, ao passo que nas

proximidades das paredes ocorre o inverso, ou seja, quanto menor o valor de n maior é a

velocidade. Este comportamento se justifica pela variação da viscosidade aparente com a

taxa de cisalhamento e ao índice de lei de potência, conforme a Equação 3.6. Levando em

conta que a velocidade média do escoamento se mantém constante com a variação de n e

supondo a redução progressiva de n, a viscosidade aparente do fluido diminui cada vez

mais em regiões com altas taxas de cisalhamento (próximo às paredes) e a velocidade do

escoamento, por consequência, aumenta. Por outro lado, em regiões com baixas taxas de

cisalhamento (região central) a viscosidade aparente aumenta, de tal forma que a

velocidade do escoamento diminui.

(a) (b)

Figura 6.2 – Escoamento entre placas planas e paralelas. Perfis de velocidade para (a) fluido de lei

de potência para Relp = 100 e diferentes valores de n e (b) fluido de Bingham para ReBi = 100 e

diferentes valores de Bi.

Para o caso do fluido de Bingham (Figura 6.2b), nota-se que quanto maior o valor

de Bi, maior é a espessura e menor é a velocidade da região não cisalhada. Considerando

a definição de Bi (Equação 3.28), nota-se que o aumento de Bi reflete o crescimento da

tensão limite de escoamento do fluido em relação ao gradiente de pressão que promove o

escoamento. Nesse sentido, maior deve ser a região do canal em que a tensão

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.20

-0.10

0.00

0.10

0.20

n = 0,25 - Eq. 6.1

n = 0,25 - LBM

n = 1,00 - Eq. 6.1

n = 1,00 - LBM

n = 4,00 - Eq. 6.1

n = 4,00 - LBM

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.20

-0.10

0.00

0.10

0.20

Bi = 0,00 - Eq. 6.2

Bi = 0,00 - LBM

Bi = 0,10 - Eq. 6.2

Bi = 0,10 - LBM

Bi = 0,20 - Eq. 6.2

Bi = 0,20 - LBM

Bi = 0,40 - Eq. 6.2

Bi = 0,40 - LBM

82

proporcionada pelo gradiente de pressão não excede a tensão limite de escoamento.

Considerando que a velocidade média do escoamento é mantida constante com a variação

de Bi, a velocidade do fluido nas proximidades da parede aumenta com Bi, de modo a

compensar a redução da velocidade observada na região central.

Como pode ser observado na Figura 6.2, a concordância entre os resultados

numéricos e analíticos para ambos os fluidos é satisfatória. O erro percentual máximo,

Ep, entre as soluções analítica e numérica é inferior a 1,25%, no caso do fluido de lei de

potência, e 1,70%, para o fluido de Bingham, sendo Ep calculado por:

1 lbmp

ref

E

6.3

com φ representando alguma variável do problema, que neste caso é u1. Os subscritos lbm

e ref indicam, respectivamente, resultados obtidos através do LBM e de referência, que

neste caso são dados pelas Equações 6.1, no caso do fluido de lei de potência, e 6.2, para

o fluido de Bingham.

6.2 ESCOAMENTO EM CANAL POROSO

O segundo problema de verificação estudado consiste no escoamento em canal

poroso, um caso particular do escoamento em canal parcialmente poroso no qual o

diâmetro hidráulico da região livre é igual a zero, ou seja, Dh,rl = 0,00. No caso dos fluidos

de lei de potência, o objetivo é confirmar a relação de proporcionalidade entre a vazão

mássica e o gradiente de pressão aplicado, a qual, segundo Fadili et al. (2002), é expressa

por:

1

npm

L

6.4

Como consequência da relação dada pela Equação 6.4, a curva ṁ × –Δp/L, quando

plotada em escala logarítmica, deve ser representada por uma reta de coeficiente angular

(ca) igual a 1/n.

83

Com relação ao escoamento de fluido de Bingham, observa-se a existência de um

gradiente de pressão crítico, (–Δp/L)c, abaixo do qual o fluido não escoa através do meio

poroso. Utilizando o LBM e uma abordagem homogênea do meio poroso, Talon e Bauer

(2013) identificaram três comportamentos distintos para a relação ṁ × (–Δp/L), descritos

a seguir. Para gradientes de pressão suficientemente superiores a (–Δp/L)c, a relação entre

ṁ e (–Δp/L) é linear, como no caso de um fluido newtoniano (ver Equação 3.13). Nesse

regime, o fluido escoa por todos os canais formados pela interconexão dos poros. À

medida que o gradiente de pressão é reduzido, nota-se uma região em que vazão mássica

é reduzida abruptamente com o gradiente de pressão, comportamento associado à queda

da quantidade de canais através dos quais o fluido consegue escoar. Quando o gradiente

de pressão aplicado é suficientemente próximo a (–Δp/L)c, a relação entre ṁ e (–Δp/L)

volta a ser linear, com a existência de apenas um canal de escoamento, cuja geometria se

mostra mais propícia para que o gradiente de pressão supere a tensão limite de

escoamento do fluido.

A geometria e as condições de contorno do escoamento em canal poroso,

mostradas na Figura 6.3, são idênticas às do escoamento em canal parcialmente poroso,

apresentadas na Seção 4.1, com Dh,rl = 0,00.

Figura 6.3 – Geometria e condições de contorno do escoamento de fluido de lei de potência em meio

poroso utilizando a abordagem heterogênea.

O conjunto de simulações numéricas foi realizado considerando o canal com

diâmetro hidráulico, Dh,rp, unitário e configuração de meio poroso com ϕ = 0,75 e

NO = 2. No caso do fluido de lei de potência n variou entre 0,25 e 4,00, mantendo-se

ηc,mod e ρ iguais a um. Para cada valor de n, considerou-se três valores de gradiente de

pressão (48, 96 e 192 Pa/m). Para o fluido de Bingham, a tensão limite de escoamento

variou entre 0 e 10 Pa, mantendo-se ηp e ρ unitários. Para cada valor de τ0, assumiu-se um

valor inicial e arbitrário de gradiente de pressão suficientemente alto, o qual foi

refp p p refp p

1x L1 2 0u u

d

d

1 2 0u u

D

D

1 0x

1 2 0u u

2 0x

2 2,x u

1 1,x u

2 , 2h rpx D

84

gradativamente reduzido até valores próximos de (–Δp/L)c, quando fica evidenciado o

desvio do comportamento newtoniano através do comportamento assintótico de ṁ com a

redução de (–Δp/L).

Os resultados apresentados a seguir foram obtidos através de retículos com 160

nós na direção x2 e relações Δx/Δt (dependentes do gradiente de pressão) para as quais a

influência do número de Mach do escoamento possa ser desprezada. Considerando o

escoamento de fluido de Bingham, utilizou-se np = 100. Os testes de sensibilidade a Δx e

Δt, bem como para o ajuste de np, são apresentados na Seção D.2 do Apêndice D.

Na Figura 6.4 são apresentados, em escala logarítmica, os resultados de ṁ em

função de (–Δp/L) obtidos numericamente para o escoamento de fluido de lei de potência

para n = 0,25; 1,00 e 4,00 (símbolos), bem como retas com coeficientes angulares iguais

a 1/n (linhas sólidas).

Figura 6.4 – Gráfico ṁ × (–Δp/L) para o escoamento de fluido de lei de potência em canal poroso:

NO = 2, ϕ = 0,75 e n = 0,25; 1,00 e 4,00.

Os resultados apresentados na Figura 6.4 corroboram a relação dada pela Equação

6.4 para a faixa de valores de n analisada, sendo que para todos os casos a diferença

percentual entre as inclinações das curvas dadas por log ṁ × log (–Δp/L) e das retas com

coeficientes angulares iguais a 1/n é no máximo 0,13%.

Considerando o escoamento de fluido de Bingham, a Figura 6.5 mostra os gráficos

ṁ × (–Δp/L), também em escala logarítmica, para τ0 = 0,00; 0,10; 1,00 e 10,00 Pa. A

Figura 6.5 mostra que no caso newtoniano (τ0 = 0,00 Pa) a vazão mássica através do meio

poroso varia linearmente com o gradiente de pressão, ao passo que para τ0 > 0,00 Pa são

-p/L

m

50 100 150

10-3

10-2

LBM - n = 0,25

LBM - n = 1,00

LBM - n = 4,00

retas c/ c.a. = 1/n

.

85

identificados dois comportamentos distintos. Para gradientes de pressão suficientemente

altos, observa-se um comportamento linear da curva ṁ × (–Δp/L), enquanto para

gradientes de pressão mais baixos, tem-se um regime não linear, no qual a queda da vazão

mássica é mais acentuada. Quanto maior o valor de τ0, maior é o gradiente de pressão para

o qual ocorre a transição entre os regimes linear e não linear, já que o gradiente de pressão

necessário para superar a tensão limite de escoamento e promover o início do escoamento

do fluido deve ser maior.

Figura 6.5 – Gráfico ṁ × –Δp/L para o escoamento de fluido de Bingham em canal poroso: NO = 2,

ϕ = 0,75 e τ0 = 0,00; 0,10; 1,00 e 10,00 Pa.

As linhas tracejadas presentes na Figura 6.5, associadas a cada valor de τ0, indicam

os valores teóricos de (–Δp/L)c determinados através da análise dos gradientes de pressão

para os quais o fluido se comportaria como um material sólido ao escoar nos pequenos

canais formados no espaço entre os obstáculos. Os valores dos gradientes de pressão

críticos, calculados através da Equação 3.28 considerando Bi = 0,50, são: 1,54; 15,36 e

153,60 Pa, respectivamente, para τ0 = 0,10; 1,00 e 10,00 Pa. É possível notar que os

comportamentos assintóticos das curvas ṁ × (–Δp/L) com a redução de (–Δp/L) se

mostram coerentes com os limites estabelecidos pelas linhas tracejadas.

Infelizmente, a instabilidade numérica das simulações com gradientes de pressão

mais próximos dos valores indicados pelas linhas tracejadas não permitiu a ampliação da

faixa de (–Δp/L) analisada, motivo pelo qual não foi possível determinar a eventual

existência do terceiro regime de escoamento (regime linear para gradientes de pressão

suficientemente próximos ao valor crítico) apontado por Talon e Bauer (2013). Vale

-p/L

m

100

101

102

103

104

10510

-4

10-3

10-2

10-1

100

101 LBM -

0= 0,00 Pa

LBM - 0

= 0,10 Pa

LBM - 0

= 1,00 Pa

LBM - 0

= 10,00 Pa

.

86

ressaltar que a geometria regular do meio poroso analisado no presente trabalho pode não

propiciar a existência de um único caminho preferencial ao qual Talon e Bauer (2013)

associam o terceiro regime de escoamento.

6.3 SÍNTESE DO CAPÍTULO

As análises apresentadas neste capítulo demonstram a capacidade do LBM em

resolver o escoamento de fluidos de lei de potência e Bingham em diferentes níveis de

complexidade geométrica (canal livre e poroso). Os resultados numéricos apresentaram

boa concordância com soluções encontradas na literatura tanto no caso do escoamento

em canal livre, para o qual as soluções numéricas estão em concordância com as soluções

analíticas, quanto para o escoamento em canal poroso, no qual o comportamento da vazão

mássica com a variação do gradiente de pressão se mostrou qualitativamente coerente

com as previsões encontradas na literatura.

87

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados para o escoamento de

fluido de lei de potência e Bingham em canal parcialmente poroso. Primeiramente são

definidos os parâmetros considerados na análise do problema, bem como suas faixas de

variação. Em seguida, são realizadas as análises da influência do meio poroso sobre o

escoamento na região livre e o efeito da variação de cada parâmétro do problema

considerando os fluidos de lei de potência e Bingham. Por fim, apresenta-se o estudo da

adaptação dos modelos analíticos BJ, NN e OTW ao escoamento de fluidos de lei de

potência.

7.1 PARÂMETROS DE ANÁLISE DO PROBLEMA

Conforme exposto anteriormente, o escoamento em canal parcialmente poroso é

analisado em termos do fator de atrito na região livre. Para tanto, avalia-se o efeito dos

diversos parâmetros adimensionais apresentados na Seção 4.3 sobre a razão Cf,p /Cf,i,

sendo Cf,p e Cf,i, respectivamente, os fatores de atrito do escoamento na região livre do

canal parcialmente poroso e entre placas planas e paralelas. Nesse sentido, a razão

Cf,p /Cf,i pode ser entendida como uma medida da discrepância entre a interface fluido-

porosa e uma parede sólida.

A Tabela 7.1 apresenta as faixas de variação de cada um dos parâmetros

adimensionais analisados, ou seja, número de Reynolds (Relp, ReBi), porosidade (ϕ),

número de obstáculos (NO), relação entre os diâmetros hidráulicos (Dh,rp/Dh,rl), índice de

lei de potência (n) e número de Bingham (Bi).

Tabela 7.1 – Faixas de valores das variáveis independentes.

Parâmetros Valores analisados

Porosidade (ϕ) 0,51; 0,75; 0,96

Número de obstáculos (NO) 1, 2, 4

Relação entre diâmetros hidráulicos (Dh,rp/Dh,rl) 0,50; 1,00; 2,00

Número de Reynolds (Relp e ReBi) 100, 101, 102, 103

Índice de lei de potência (n) 0,25 – 4,00

Número de Bingham (Bi) 0,00 – 0,40

88

Os valores de ϕ e NO foram definidos de modo que a configuração de meio poroso

menos permeável (i.e., menor porosidade e maior número de obstáculos) proporcionasse

uma relação Cf,p/Cf,i inferior a 0,99 no caso do escoamento de fluido newtoniano,

chegando-se a ϕ = 0,51, 0,75 e 0,96 e NO = 1, 2 e 4. A faixa de valores para a relação

entre os diâmetros hidráulicos, Dh,rl/Dh,rp, varia entre 0,50 e 2,00, de tal forma que o caso

com menor diâmetro hidráulico (Dh,rl/Dh,rp = 0,50) é capaz de acomodar ao menos um

obstáculo quando NO = 2. Com relação aos modelos de fluido de potência e Bingham,

tentou-se abranger a mais extensa faixa de valores de n e Bi possível, considerando os

exemplos de fluidos apresentados no Capítulo 3, bem como a estabilidade numérica, o

tempo computacional e a precisão das simulações. Nesse sentido o valor de n ficou

limitado entre 0,25 e 4,00 (valor escolhido arbitrariamente para manter a simetria com

relação ao caso newtoniano), enquanto a faixa de Bi variou entre 0,00 (caso newtoniano)

e 0,40. Vale ressaltar que para valores maiores ou iguais a 0,50 o gradiente de pressão

não é capaz de promover o cisalhamento do fluido no caso do escoamento entre placas

planas e paralelas. Finalmente, a faixa de número de Reynolds, variando entre 100 e 103,

foi determinada de modo que fosse possível observar a influência da inércia do

escoamento dentro do regime laminar.

Considerando as faixas de variação de cada um dos parâmetros adimensionais

citados acima, define-se o caso de referência (destacado em negrito na Tabela 7.1) para o

estudo paramétrico do problema: ϕ = 0,75; NO = 2; Dh,rp/Dh,rl = 1,00 e Relp ou ReBi = 100,

com base no qual cada parâmetro indicado na Tabela 7.1 é variado individualmente. As

exceções são o índice de lei de potência e o número de Bingham, que são avalaidos para

toda a faixa de valores apresentada na Tabela 7.1 em todas as análises (a menos que seja

dito o contrário).

Os resultados apresentados a seguir consideram uma malha espacial com 320 nós

na direção x2 e relações Δx/Δt (dependentes do número de Reynolds e do índice de lei de

potência) para as quais a influência do número de Mach do escoamento é desprezível.

Para o escoamento de fluido de Bingham adotou-se np = 100. Os testes de sensibilidade a

Δx e Δt, assim como para o ajuste de np, são mostrados na Seção D.3 do Apêndice D.

89

7.2 INFLUÊNCIA DA INTERFACE FLUIDO-POROSA SOBRE O ESCOAMENTO

NA REGIÃO LIVRE

Esta seção é dedicada à análise, em termos qualitativos, da influência que o meio

poroso exerce sobre o escoamento na região livre, ou seja, sem levar em conta a variação

dos parâmetros apresentados na Tabela 7.1. Para tanto, o escoamento de fluido

newtoniano em canal parcialmente poroso é estudado considerando o caso de referência

estabelecido na Seção 7.1 em comparação ao escoamento entre placas planas e paralelas.

A Figura 7.1 apresenta os campos e perfis de velocidade para os escoamentos entre

placas planas e paralelas e em canal parcialmente poroso. O perfil de velocidade é obtido

a partir da média aritmética dos perfis de velocidade tomados ao longo de toda a extensão

do canal.

(a) (b)

Figura 7.1 – (a) Campos e (b) perfis de velocidade dos escoamentos entre placas planas e paralelas e

em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.

A análise da Figura 7.1 mostra que a velocidade do escoamento na interface

fluido-porosa é maior do que zero, proporcionando maiores velocidades na região livre

do canal parcialmente poroso, sendo este acréscimo mais acentuado entre a interface

fluido-porosa e a linha de centro da região livre. Ademais, é possível notar que, na região

da interface fluido-porosa, o gradiente de velocidade na direção x2 não é linear como no

caso do escoamento entre placas planas e paralelas.

U

1.60

1.40

1.20

1.00

0.80

0.60

0.40

0.20

0.00

u

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Canal parcialmente poroso

Placas planas e paralelas

0.00 0.10

-0.05

0.00

0.05

90

Para ilustrar melhor o comportamento do escoamento na região da interface

fluido-porosa, a Figura 7.2 apresenta o campo vetorial de velocidade com foco no

obstáculo adjacente à interface fluido-porosa. Através da análise da Figura 7.2 é possível

verificar a formação de uma zona de recirculação na lateral do obstáculo, bem como

constatar que o escoamento na região da interface-fluido porosa não é retilíneo, como

consequência da passagem do fluido ao redor do obstáculo.

Figura 7.2 –Campo vetorial de velocidade na região da interface fluido-porosa à montante do

obstáculo (à esquerda) e detalhe na região lateral do obstáculo (à direita) para o escoamento em

canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.

Complementando estas análises, o comportamento do escoamento junto à

interface fluido-porosa também pode ser caracterizado sob o ponto de vista da variação

da velocidade ao longo da direção x1. Nesse sentido, a Figura 7.3 apresenta a variação dos

componentes u1 e u2 da velocidade ao longo da direção x1 para x2 = 1,56 × 10-3. Devido à

utilização da formulação intermediária da condição de bounce-back não é possível fazer

a análise para x2 = 0,00.

x1

x 2

0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09-0.03

-0.02

-0.01

0.00

0.01

0.02

0.03

u1

= 0.10 m/s

x1

x 2

0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12

-0.12

-0.10

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

u1

= 0.10 m/s

91

(a) (b)

Figura 7.3 – Variação de (a) u1 e (b) u2 junto à interface fluido-porosa na direção x1 para Relp =

1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00.

Analisando a Figura 7.3a é possível observar que na região à montante do

obstáculo u1 diminui progressivamente, atingindo seu valor mínimo na região central do

canal, onde o efeito da condição de não deslizamento imposta pela superfície do obstáculo

é mais pronunciado. Na região à jusante do obstáculo, à medida que o fluido se distancia

do obstáculo, u1 aumenta até atingir o valor observado na entrada do canal devido à

periodicidade do escoamento. Considerando o componente u2, a Figura 7.3b mostra que

nas proximidades do obstáculo, u2 apresenta variações abruptas, como consequência da

mudança de direção do fluido ao contornar os vértices do obstáculo. Já na região central

do canal u2 é aproximadamente zero, de tal forma que o escoamento do fluido ocorre

paralelamente à superfície do obstáculo.

Também é possível observar a influência do meio poroso sobre os campos de

tensão e pressão, os quais são apresentados na Figura 7.4.

x1

u1

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

x1

u2

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

92

(a) (b)

Figura 7.4 – Comparação entre os escoamentos entre placas planas e paralelas (à esquerda) e em

canal parcialmente poroso (à direita) para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e n =1,00:

campos de (a) tensão e (b) pressão.

A Figura 7.4a mostra que, ao contrário do observado no escoamento entre placas

planas e paralelas, nas proximidades da interface fluido-porosa a tensão varia na direção

x1. Na região do obstáculo, na qual o fluido escoa em contato com uma superfície sólida,

observa-se níveis de tensão mais altos, enquanto nas regiões à montante e à jusante os

níveis de tensão são mais baixos. A Figura 7.4b mostra que o gradiente de pressão na

região da interface fluido-porosa não varia linearmente na direção x1, diferentemente do

caso do escoamento entre placas planas e paralelas. Conforme mostrado na Figura 7.3a,

observa-se que o fluido escoando junto à interface fluido-porosa desacelera na região à

montante do obstáculo, refletindo no aumento da pressão observada nesta região. Por

outro lado, na região à jusante do obstáculo, na qual a velocidade do escoamento junto à

interface fluido-porosa aumenta, observa-se níveis de pressão mais baixos.

7.3 ANÁLISE PARAMÉTRICA

Nesta seção é realizado o estudo paramétrico do problema, no qual se

considera-se as influências do número de Reynolds (Relp e ReBi), da porosidade (ϕ), do

número de obstáculos (NO) e da relação entre diâmetros hidráulicos (Dh,rp/Dh,rl) para

diferentes valores de índice de lei de potência (n) e número de Bingham (Bi).

T

14.0

13.0

12.0

11.0

10.0

9.0

8.0

7.0

6.0

5.0

4.0

3.0

2.0

1.0

0.0

P

14.00

12.00

10.00

8.00

6.00

4.00

2.00

0.00

-2.00

p - pref

93

7.3.1 Número de Reynolds (Relp e ReBi)

A Figura 7.5 mostra a variação de Cf,p/Cf,i em função de Relp (a) e ReBi (b) para as

faixas de n e Bi apresentadas na Tabela 7.1, exceto Bi = 0,40, que não foi analisado devido

ao alto custo computacional envolvido.

(a) (b)

Figura 7.5 – Cf,p/Cf,i em função do número de Reynolds para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00: (a)

fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham.

É possível notar que Cf,p/Cf,i se mantém aproximadamente constante para baixos

valores de Relp e ReBi (100 < Relp, ReBi < 102) , o que sugere que as forças de resistência

do meio poroso associadas à inercia do escoamento são desprezíveis. Já para valores de

Relp e ReBi acima de 102, observa-se o aumento de Cf,p/Cf,i. A Tabela 7.2 e a Tabela 7.3

apresentam os valores de Cf,p/Cf,i para cada caso apresentado na Figura 7.5,

respectivamente, para os fluidos de lei de potência e Bingham, mostrando que tanto a

variação do número de Reynolds, quanto de n ou Bi tem pouca influência sobre a razão

Cf,p/Cf,i para a configuração de meio poroso estudada (ϕ = 0,75 e NO = 2). Para o

escoamento de fluido de lei de potência a variação de Cf,p/Cf,i com Relp é no máximo

1,76% (para n = 0,25), enquanto para o fluido de Bingham, a variação de Cf,p/Cf,i com

ReBi não ultrapassa 1,83% (para Bi = 0,20).

Relp

Cf,

p/C

f,i

100

101

102

1030.80

0.85

0.90

0.95

1.00

n = 0,25

n = 0,50

n = 1,00

n = 2,00

n = 4,00

ReBi

Cf,

p/C

f,i

100

101

102

1030.80

0.85

0.90

0.95

1.00

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

94

Tabela 7.2 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes de números de Reynolds e índices de lei de potência.

Relp

n 100 101 102 103 Δ% (Relp)

0,25 9,29E-01 9,29E-01 9,31E-01 9,46E-01 1,76%

0,50 9,40E-01 9,40E-01 9,42E-01 9,54E-01 1,51%

1,00 9,48E-01 9,48E-01 9,50E-01 9,60E-01 1,27%

2,00 9,56E-01 9,56E-01 9,58E-01 9,68E-01 1,21%

4,00 9,65E-01 9,65E-01 9,67E-01 9,77E-01 1,21%

Δ% (n) 3,73% 3,73% 3,74% 3,19%

Tabela 7.3 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes de números de Reynolds e números de Bingham.

ReBi

Bi 100 101 102 103 Δ% (ReBi)

0,00 9,48E-01 9,48E-01 9,50E-01 9,60E-01 1,27%

0,10 9,48E-01 9,48E-01 9,51E-01 9,63E-01 1,54%

0,20 9,44E-01 9,44E-01 9,47E-01 9,62E-01 1,83%

Δ% (Bi) 0,43% 0,44% 0,38% 0,31%

O comportamento das curvas apresentadas na Figura 7.5 pode ser melhor

compreendido através da análise dos perfis e dos campos vetoriais de velocidade do

escoamento. Analisando primeiramente o escoamento de fluido de lei de potência, a

Figura 7.6 apresenta os perfis de velocidade para Relp = 100, 101, 102 e 103 para n = 0,25

(a); 1,00 (b) e 4,00 (c). É possível notar que, independentemente do valor de n, a

velocidade do escoamento na interface fluido-porosa se mantém praticamente constante

para 100 < Relp < 102, diminuindo para Relp = 103. A influência do índice de lei de potência

é mais evidente para Relp = 103, quando a velocidade na interface fluido-porosa diminui

de aproximadamente 5,6×10-2 (n = 0,25) para 4,0×10-2 (n = 4,00). Conforme a definição

de fator de atrito dada pela Equação 3.17, Cf diminui com o aumento de ū, que por sua

vez está diretamente relacionado à velocidade do escoamento na interface fluido-porosa.

Nesse sentido, os perfis de velocidade apresentados na Figura 7.6 corroboram o

comportamento das curvas Cf,p/Cf,i × Relp mostradas na Figura 7.5a.

95

(a)

(b)

(c)

Figura 7.6 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-porosa (à

direita) para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de Relp: (a) n = 0,25, (b) 1,00 e

(c) 4,00.

u1

x 2

-0.05 0.00 0.05 0.10 0.15

-0.05

0.00

0.05 Relp

= 100

Relp

= 101

Relp

= 102

Relp

= 103

n = 0,25

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Relp

= 100

Relp

= 101

Relp

= 102

Relp

= 103

n = 0,25

u1

x 2

-0.05 0.00 0.05 0.10 0.15

-0.05

0.00

0.05 Relp

= 100

Relp

= 101

Relp

= 102

Relp

= 103

n = 1,00

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Relp

= 100

Relp

= 101

Relp

= 102

Relp

= 103

n = 1,00

u1

x 2

-0.05 0.00 0.05 0.10 0.15

-0.05

0.00

0.05 Relp

= 100

Relp

= 101

Relp

= 102

Relp

= 103

n = 4,00

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Relp

= 100

Relp

= 101

Relp

= 102

Relp

= 103

n = 4,00

96

Complementado as análises, a Figura 7.7 apresenta comparações entre

escoamentos com Relp =100 e 103 para n = 0,25 (a) e 4,00 (b), apresentando os campos

vetoriais de velocidade na região à montante do obstáculo junto à interface fluido-porosa.

É possível notar que o aumento de n ou Relp faz com que uma maior quantidade de fluido

seja levada para a zona de recirculação formada na lateral do obstáculo, de tal forma que

a vazão na região livre do canal diminui, provocando o aumento de Cf,p/Cf,i.

(a)

(b)

Figura 7.7 – Campo vetorial de velocidade na região da interface fluido-porosa à montante do

obstáculo para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e Relp = 100 (à esquerda) e Relp = 103 (à direita):

(a) n = 0,25 e (b) 4,00.

Considerando o escoamento de fluido de Bingham, a Figura 7.8 apresenta os perfis

de velocidade para Bi = 0,00; 0,10 e 0,2, respectivamente, para ReBi = 100 (a) e 103 (b).

Verifica-se que, dentro da faixa de Bi analisada, a velocidade na interface fluido-porosa

x1

x 2

0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09-0.03

-0.02

-0.01

0.00

0.01

0.02

0.03

u1

= 0.10 m/s

n = 0,25

x1

x 2

0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09-0.03

-0.02

-0.01

0.00

0.01

0.02

0.03

u1

= 0.10 m/s

n = 0,25

x1

x 2

0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09-0.03

-0.02

-0.01

0.00

0.01

0.02

0.03

u1

= 0.10 m/s

n = 4,00

x1

x 2

0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09-0.03

-0.02

-0.01

0.00

0.01

0.02

0.03

u1

= 0.10 m/s

n = 4,00

97

é pouco influenciada pela variação de Bi, confirmando o comportamento das curvas

Cf,p/Cf,i × ReBi mostradas na Figura 7.5b. Além do mais, nota-se que a variação da

velocidade na interface fluido-porosa não apresenta relação direta com o numéro de

Bingham.

(a)

(b)

Figura 7.8 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-porosa (à

direita) para ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de Bi: (a) ReBi = 100 e (b) ReBi =

103.

7.3.2 Porosidade (ϕ)

A influência da porosidade sobre Cf,p/Cf,i é mostrada na Figura 7.9,

respectivamente, para os escoamentos de fluido de lei de potência (a) e Bingham (b), com

0,25 < n < 4,00 e 0,00 < Bi < 0,40.

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

ReBi

= 100

u1

x 2

0.04 0.06 0.08

-0.01

0.00

0.01

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

ReBi

= 100

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

ReBi

= 103

u1

x 2

0.04 0.06 0.08

-0.01

0.00

0.01

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

ReBi

= 103

98

(a) (b)

Figura 7.9 – Cf,p/Cf,i em função da porosidade para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00: (a) fluido de

lei de potência e (b) fluido de Bingham.

Analisando a Figura 7.9, verifica-se que, independentemente do fluido e dos

valores de n ou Bi, o valor da razão Cf,p/Cf,i diminui com aumento de ϕ e tende

assintoticamente para um quando ϕ é reduzido. Tal comportamento é reflexo da

permeabilidade da interface fluido porosa. Quanto menor o valor de ϕ, maior é a

superfície sólida da interface, de modo que Cf,p tende a Cf,i. Por outro lado, à medida que

ϕ aumenta, menor é a resistência que a interface fluido-porosa impõe ao fluido e a razão

Cf,p/Cf,i diminui.

A análise dos perfis de velocidade permite compreender melhor o comportamento

das curvas Cf,p/Cf,i × ϕ apresentadas na Figura 7.9. Considerando o escoamento de fluido

de lei de potência, a Figura 7.10 apresenta os perfis de velocidade para ϕ = 0,51; 0,75 e

0,96 para n = 0,25 (a); 1,00 (b) e 4,00 (c). Observa-se que a velocidade na interface fluido-

porosa cresce à medida que ϕ aumenta, independentemente do valor de n, corroborando

a redução de Cf,p/Cf,i com o aumento de ϕ, conforme os resultados apresentados na Figura

7.9a.

Cf,

p/C

f,i

0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.000.80

0.85

0.90

0.95

1.00

n = 0,25

n = 0,50

n = 1,00

n = 2,00

n = 4,00

Cf,

p/C

f,i

0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.000.80

0.85

0.90

0.95

1.00

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

Bi = 0,40

99

(a)

(b)

(c)

Figura 7.10 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-porosa (à

direita) para Relp = 100, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de ϕ: (a) n = 0,25, (b) 1,00 e (c)

4,00.

u1

x 2

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

-0.05

0.00

0.05 = 0,51

= 0,75

= 0,96

n = 0,25

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

= 0,51

= 0,75

= 0,96

n = 0,25

u1

x 2

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

-0.05

0.00

0.05 = 0,51

= 0,75

= 0,96

n = 1,00

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

= 0,51

= 0,75

= 0,96

n = 1,00

u1

x 2

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

-0.05

0.00

0.05 = 0,51

= 0,75

= 0,96

n = 4,00

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

= 0,51

= 0,75

= 0,96

n = 4,00

100

Retomando a análise da Figura 7.9a, verifica-se que a variação de n causa

primordialmente o deslocamento vertical da curva Cf,p/Cf,i × ϕ, de tal forma que, para um

determinado valor de porosidade fixo, quanto menor o valor de n, menor é a razão Cf,p/Cf,i.

O efeito da variação de n é mais pronunciado para maiores valores de ϕ, o que pode ser

constatado a partir dos perfis de velocidade mostrados na Figura 7.10. A variação da

velocidade do escoamento na interface fluido-porosa com o índice de lei de potência é

mais acentuada para ϕ = 0,96, passando de aproximadamente 1,90×10-2 m/s (n = 0,25)

para 1,42×10-2 m/s (n = 4,00).

No caso do escoamento de fluido de Bingham, nota-se que a influência de Bi sobre

as curvas Cf,p/Cf,i × ϕ é menos pronunciada para 0,00 < Bi < 0,20, ao passo que para Bi =

0,40 Cf,p/Cf,i apresenta uma redução mais significativa. A Figura 7.11 apresenta os perfis

de velocidade para Bi = 0,00; 0,10; 0,20 e 0,40, para o caso em que ϕ = 0,75, verificando-

se que, para Bi variando entre 0,00 e 0,20, as velocidades na interface fluido-porosa são

bastante próximas, enquanto para Bi = 0,40 observa-se que a velocidade aumenta. Tais

resultados confirmam o comportamento das curvas Cf,p/Cf,i × ϕ mostradas na Figura 7.9b.

Figura 7.11 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-porosa (à

direita) para ReBi = 100, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp /Dh,rl = 1,00 e diferentes valores de Bi.

A Tabela 7.4 e a Tabela 7.5 resumem os resultados apresentados na Figura 7.9,

respectivamente, para os fluidos de lei de potência e Bingham, quantificando as

influências de ϕ, n e Bi sobre Cf,p/Cf,i. Verifica-se que, para o fluido de lei de potência,

Cf,p/Cf,i pode apresentar uma variação percentual de até 16,99% em função da porosidade

(para n = 0,25) e 10,82% em função de n (para ϕ = 0,96). Já para o fluido de Bingham, a

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

Bi = 0,40

= 0,75

u1

x 2

0.06 0.08

-0.01

0.00

0.01Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

Bi = 0,40

= 0,75

101

variação percentual de Cf,p/Cf,i com Bi é de até 5,07% (para ϕ = 0,96) e com ϕ de até

16,91% (para Bi = 0,40).

Tabela 7.4 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes porosidades e índices de lei de potência.

ϕ

n 0,51 0,75 0,96 Δ% (ϕ)

0,25 9,76E-01 9,29E-01 8,08E-01 16,99%

0,50 9,77E-01 9,40E-01 8,25E-01 15,55%

1,00 9,80E-01 9,48E-01 9,85E-01 13,17%

2,00 9,83E-01 9,56E-01 9,81E-01 10,38%

4,00 9,87E-01 9,65E-01 9,06E-01 8,16%

Δ% (n) 1,34% 3,73% 10,82%

Tabela 7.5 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes porosidades e números de Bingham.

ϕ

Bi 0,51 0,75 0,96 Δ% (ϕ)

0,00 9,80E-01 9,48E-01 8,51E-01 13,17%

0,10 9,80E-01 9,48E-01 8,50E-01 13,32%

0,20 9,78E-01 9,44E-01 8,50E-01 13,11%

0,40 9,72E-01 9,27E-01 8,08E-01 16,91%

Δ% (Bi) 0,83% 2,23% 5,07%

Considerando o escoamento através da região porosa, é possível verificar, através

da Figura 7.10, que a variação da porosidade afeta a vazão através do meio poroso. A

redução de ϕ limita o espaço para o escoamento do fluido, diminuindo a permeabilidade

do meio poroso e, por consequência, a vazão através da região porosa.

Considerando a variação de n e Bi, os resultados para o escoamento em canal

parcialmente poroso estão em acordo com o observado para o escoamento em canal

poroso (Seção 6.2). A redução do índice de lei de potência e o aumento do número de

Bingham (refletindo o aumento da tensão limite de escoamento) causam a redução da

vazão através da região porosa, como pode ser verificado através do perfis de velocidade

apresentados na Figura 7.10, para o fluido de lei de potência, e Figura 7.11, para o fluido

de Bingham.

7.3.3 Número de obstáculos (NO)

No caso da variação de NO, o comportamento de Cf,p/Cf,i é inverso em relação à

porosidade, ou seja, quanto maior o valor de NO menor é a razão Cf,p/Cf,i. Para um valor

de porosidade fixo, o aumento do número de obstáculos causa a redução do espaçamento

entre os mesmos, de tal forma que o fluido escoando ao redor de um obstáculo está sujeito

102

à influência do obstáculo seguinte de forma mais pronunciada. Nesse sentido, a

resistência experimentada pelo fluido é maior. Tal afirmação é corroborada pela Figura

7.12, que mostra as variações de u1 e u2 junto à interface fluido-porosa (x2 = 1,56 × 10-3)

ao longo da direção x1 para NO = 1, 2 e 4 e n = 0,25.

(a) (b)

Figura 7.12 – Variação de u1 (a) e u2 (b) junto à interface fluido-porosa (x2 = 1,5625 × 10-3) na

direção x1 para Relp = 100, ϕ = 0,75, Dh,rp /Dh,rl = 1,00, n = 0,25 e diferentes valores de NO.

O aumento do número de obstáculos reduz os valores máximos de u1 e u2 ao longo

de x1, podendo-se inferir que no limite em que o número de obstáculos é suficientemente

grande u1 e u2 tendem a zero, como no caso do escoamento entre placas planas e paralelas.

Assim, quanto maior o número de obstáculos mais a interface fluido-porosa se aproxima

de uma parede sólida.

A Figura 7.13 apresenta as curvas Cf,p/Cf,i × NO, respectivamente, para o

escoamento dos fluidos de lei de potência (a) e Bingham (b) considerando as faixas de n

e Bi apresentadas na Tabela 7.1, confirmando a redução de Cf,p/Cf,i com o aumento de

NO. De forma análoga ao caso da redução da porosidade, Cf,p/Cf,i apresenta um

comportamento assintótico com o aumento de NO, com Cf,p/Cf,i tendendo a um. Mais uma

vez é possível notar que para a faixa de Bi variando entre 0,00 e 0,20 o efeito da variação

de Bi sobre Cf,p/Cf,i é pouco significativo.

x1

u1

0.00 0.25 0.50

-0.10

0.00

0.10

0.20

0.30

NO = 4

NO = 2

NO = 1

x1

u2

0.00 0.25 0.50

-0.10

0.00

0.10

0.20

0.30 NO = 4

NO = 2

NO = 1

103

(a) (b)

Figura 7.13 – Cf,p/Cf,i em função do número de obstáculos para Relp = 100, ϕ = 0,75, Dh,rp /Dh,rl = 1,00:

(a) fluido de lei de potência e (b) fluido de Bingham.

Os resultados apresentados na Figura 7.13 são mostrados na Tabela 7.6 e na

Tabela 7.7, sendo possível ver que a variação de NO pode causar uma variação percentual

em Cf,p/Cf,i de até 10,37% para o caso do fluido de lei de potência (para n = 0,25) e em

torno de 7,77% para o fluido de Bingham (Bi = 0,20). Observa-se que o aumento do

número de obstáculos reduz a influência de n ou Bi sobre Cf,p/Cf,i, como consequência da

aproximação da interface fluido-porosa de uma parede sólida.

Tabela 7.6 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes números de obstáculos e índices de lei de potência.

NO

n 1 2 4 Δ% (NO)

0,25 8,66E-01 9,29E-01 9,67E-01 10,37%

0,50 8,85E-01 9,40E-01 9,70E-01 8,82%

1,00 8,99E-01 9,48E-01 9,74E-01 7,72%

2,00 9,12E-01 9,56E-01 9,78E-01 6,74%

4,00 9,25E-01 9,65E-01 9,83E-01 5,84%

Δ% (n) 6,38% 3,73% 1,65%

Tabela 7.7 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes números de obstáculos e números de Bingham.

ϕ

Bi 1 2 4 Δ% (NO)

0,00 8,99E-01 9,48E-01 9,74E-01 7,72%

0,10 9,00E-01 9,48E-01 9,74E-01 7,67%

0,20 8,97E-01 9,44E-01 9,72E-01 7,77%

0,40 8,70E-01 9,27E-01 9,65E-01 3,95%

Δ% (Bi) 3,32% 2,23% 0,94%

NO

Cf,

p/C

f,i

1 2 3 40.80

0.85

0.90

0.95

1.00

n = 0,25

n = 0,50

n = 1,00

n = 2,00

n = 4,00

NO

Cf,

p/C

f,i

1 2 3 40.80

0.85

0.90

0.95

1.00

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

Bi = 0,40

104

7.3.4 Relação entre diâmetros hidráulicos (Dh,rp/Dh,rl)

A Figura 7.14 apresenta as curvas Cf,p/Cf,i × Dh,rp/Dh,rl para o escoamento de fluido

de lei de potênca (a) e Bingham (b), respectivamente, para 0,25 < n < 4,00 e

0,00 < Bi < 0,40, mostrando que Cf,p/Cf,i se mantém constante com a variação de Dh,rp/Dh,rl.

(a) (b)

Figura 7.14 – Cf,p/Cf,i em função de Dh,rp/Dh,rl para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2: (a) fluido de lei de

potência e (b) fluido de Bingham.

A Tabela 7.8 e a Tabela 7.9 mostram os valores de Cf,p/Cf,i apresentados na Figura

7.14, respectivamente, para os escoamentos de fluido de lei de potência e Bingham.

Tabela 7.8 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes relações de diâmetros hidráulicos e índices de lei de

potência.

Dh,rp/Dh,rl

n 0,50 1,00 2,00 Δ% (Dh,rp/Dh,rl)

0,25 9,29E-01 9,29E-01 9,29E-01 0,01%

0,50 9,40E-01 9,40E-01 9,40E-01 0,00%

1,00 9,48E-01 9,48E-01 9,48E-01 0,00%

2,00 9,56E-01 9,56E-01 9,56E-01 0,00%

4,00 9,65E-01 9,65E-01 9,65E-01 0,00%

Δ% (n) 3,72% 3,73% 3,71%

Dh,rp

/Dh,rf

Cf,

p/C

f,i

0.50 1.00 1.50 2.000.80

0.85

0.90

0.95

1.00

n = 0,25

n = 0,50

n = 1,00

n = 2,00

n = 4,00

Dh,rp

/Dh,rf

Cf,

p/C

f,i

0.5 1.0 1.5 2.00.80

0.85

0.90

0.95

1.00

Bi = 0,00

Bi = 0,10

Bi = 0,20

Bi = 0,40

105

Tabela 7.9 – Valores de Cf,p/Cf,i para diferentes relações de diâmetros hidráulicos e números de

Bingham.

Dh,rp/Dh,rl

Bi 0,50 1,00 2,00 Δ% (Dh,rp/Dh,rl)

0,00 9,48E-01 9,48E-01 9,48E-01 0,00%

0,10 9,48E-01 9,48E-01 9,48E-01 0,00%

0,20 9,44E-01 9,44E-01 9,44E-01 0,00%

0,40 9,27E-01 9,27E-01 9,27E-01 0,00%

Δ% (Bi) 2,27% 2,27% 2,27%

Levando em conta que o número de Reynolds se mantém constante e que a

variação da relação Dh,rp/Dh,rl não tem qualquer influência sobre a configuração do meio

poroso (ϕ e NO) é natural que a variação de Dh,rp/Dh,rl não tenha influência sobre Cf,p/Cf,i,

ao menos para a faixa de Dh,rp/Dh,rl estudada. Para valores suficientemente baixos de Dh,rp,

a parede inferior do canal pode passar a exercer influência sobre o fluido que escoa junto

à interface fluido-porosa.

A Figura 7.15 apresenta os perfis de velocidade do escoamento para

Dh,rp/Dh,rl = 0,50: 1,00 e 2,00 para n = 0,25 (a) e Bi = 0,40 (b), evidenciando que a variação

de Dh,rp/Dh,rl não tem influência sobre o escoamento na região livre do canal.

106

(a)

(b)

Figura 7.15 – Perfis de velocidade (à esquerda) e detalhe na região da interface fluido-porosa (à

direita) para Relp = 100, ϕ = 0,75, NO = 2 e diferentes valores de Dh,rp /Dh,rl : (a) n = 0,25 e (b) Bi =

0,40.

7.4 ESTUDO DA ADAPTAÇÃO DOS MODELOS ANALÍTICOS BJ, NN E OTW

AO ESCOAMENTO DE FLUIDO DE LEI DE POTÊNCIA

As análises apresentadas na Seção 7.2 mostram que, para o escoamento de fluido

de lei de potência, o comportamento das curvas que descrevem a variação de Cf,p/Cf,i com

qualquer um dos parâmetros adimensionais do problema é similar independentemente do

valor do índice de lei de potência. Nesse sentido, considerando a existência de expressões

analíticas que modelam o escoamento de fluidos newtonianos (n = 1,00) junto à interface

fluido-porosa, a exemplo dos modelos BJ, NN e OTW, esta seção investiga, num primeiro

momento, qual destes modelos melhor representa a interface fluido-porosa considerada

u1

x 2

0.00 0.50 1.00-1.00

-0.50

0.00

0.50

Dh,rp

/Dh,rl

= 2,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 1,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 0,50

n = 0,25

u1

x 2

0.00 0.10 0.20 0.30

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15D

h,rp/D

h,rl= 2,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 1,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 0,50

n = 0,25

u1

x 2

0.00 0.50 1.00-1.00

-0.50

0.00

0.50

Dh,rp

/Dh,rl

= 2,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 1,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 0,50

Bi = 0,40

u1

x 2

0.00 0.10 0.20 0.30

-0.15

-0.10

-0.05

0.00

0.05

0.10

0.15D

h,rp/D

h,rl= 2,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 1,00

Dh,rp

/Dh,rl

= 0,50

Bi = 0,40

107

no presente trabalho (abordagem heterogênea do meio poroso através de obstáculos

quadrados distribuidos de forma uniforme). Em seguida, o modelo tido como mais

adequado é analisado de modo a incorporar o comportamento não newtoniano do fluido

de lei de potência. A mesma análise não é realizada para o caso do fluido de Bingham

devido à falta de uniformidade nos resultados em termos da variação de Bi.

Dentro do contexto do presente trabalho, que avalia a influência da interface

fluido-porosa sobre o fator de atrito na região livre do canal, os modelos BJ, NN e OTW

apresentam, respectivamente, as seguintes expressões para Cf,p/Cf,i, conformes as

deduções apresentadas no Apêndice E:

Equation Chapter (Next) Section 1

2

,

,i BJ

3 21

1

f p

f

C

C

7.1

2

,

,i NN

3 21

1

eff p

f ef

C

C

7.2

2

,

,i OTW

3 21

1

f p

f

C

C

7.3

Retomando algumas definições dadas no Capítulo 2, α é o coeficiente de

deslizamento do modelo BJ e β é o coeficiente de salto de tensão do modelo OTW, ambos

parâmetros empíricos associados ao meio poroso. μef é a viscosidade efetiva do fluido

escoando no interior dos poros e σ um parâmetro adimensional que relaciona o diâmetro

hidráulico da região livre e a permeabilidade do meio poroso (σ = 0,5Dh,rl/K1/2).

Nesta seção o escoamento em canal parcialmente poroso é analisado conforme os

experimentos realizados por Beavers e Joseph (1967), de modo que, para um dado meio

poroso, os valores de Cf,p/Cf,i são avaliados em termos do parâmetro σ, cuja variação é

dada em função de Dh,rl. As análises apresentadas a seguir foram realizadas considerando

a seguinte configuração de canal parcialmente poroso: ϕ = 0,75, NO = 2, Relp = 100 e

108

Dh,rp = 1,00 com Dh,rl assumindo os seguintes valores: 0,75; 1,00 e 1,25. A permeabilidade

K do meio poroso foi estimada através da lei de Darcy (Equação 3.13) considerando o

caso newtoniano.

7.4.1 Análise dos modelos BJ, NN e OTW para o escoamento de fluido newtoniano

A Figura 7.16 apresenta os resultados para o escoamento de fluido newtoniano

obtidos através do LBM para a variação de Cf,p/Cf,i em função de σ, bem como as curvas

Cf,p/Cf,i × σ previstas pelos modelos BJ, NN e OTW (respectivamente, Equações 7.1, 7.2

e 7.3) considerando α = 27,00, μef /μ = ϕ-1, conforme sugerido por Ochoa-Tapia e Whitaker

(1995b) e β = –5,85. O ajuste dos parâmetros α e β foi obtido através do método dos

mínimos quadrados, sendo considerada a minimização da expressão S:

2

, , ,

1 , , ,

1l

f p f i ma k

k f p f i lbm k

C CS

C C

7.4

com l representando o número de casos simulados, ma os modelos analíticos (BJ, NN ou

OTW).

Figura 7.16 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através dos modelos BJ (α = 27,00), NN (μef /μ = ϕ-1) e

OTW (β = -5.85) e do LBM para o escoamento em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ =

0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00, n =1,00.

Cf,

p/C

f,i

14 16 18 20 220.60

0.70

0.80

0.90

1.00

LBM

BJ - = 27,00

NN - ef

/ = 1/

OTW - = -5,85

109

As curvas apresentadas na Figura 7.16 mostram que o modelo OTW é o que

melhor representa os resultados numéricos, seguido do modelo BJ e, por fim, do modelo

NN. Os coeficientes de determinação, R2, dos ajustes dos modelos OTW, BJ e NN são,

respectivamente, iguais a 0,99, 0,50 e –358,47, ficando evidente que o modelo NN,

utilizado em conjunto com a relação μef /μ = ϕ-1, não se aplica à modelagem do problema

tratado neste trabalho. Considerando a melhor representação dos resultados numéricos

através do modelo OTW, a adaptação dos modelos analíticos ao escoamento de fluido de

lei de potência se restringiu a este modelo.

Ainda analisando a Figura 7.16 é possível notar que a razão Cf,p/Cf,i aumenta com

o parâmetro σ. Para ilustrar tal comportamento, a Figura 7.17 apresenta os perfis de

velocidade para os casos apresentados na Figura 7.16.

Figura 7.17 – Perfis de velocidade (à esquerda) com detalhe na região da interface fluido-porosa (à

direita) para o escoamento em canal parcialmente poroso para Relp = 1,00, ϕ = 0,75, NO = 2, Dh,rp =

1,00, n =1,00 e diferentes valores de Dh,rl.

Através dos perfis de velocidade mostrados na Figura 7.17 é possível perceber que

a velocidade do escoamento na interface fluido-porosa diminui com o aumento de σ, de

tal forma que Cf,p/Cf,i aumenta. No limite em que a região livre é suficientemente alta, a

velocidade do escoamento na interface fluido-porosa se torna insignificante em relação à

velocidade média do escoamento na região livre, de modo que a interface fluido-porosa

pode ser aproximada por uma parede sólida.

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

0.60

= 13,45 (Dh,rl

= 0,75)

= 17,94 (Dh,rl

= 1,00)

= 22,42 (Dh,rl

= 1,25)

u1

x 2

0.00 0.05 0.10 0.15

-0.05

0.00

0.05 = 13,45 (Dh,rl

= 0,75)

= 17,94 (Dh,rl

= 1,00)

= 22,42 (Dh,rl

= 1,25)

110

7.4.2 Adaptação do modelo OTW para o escoamento de fluido de lei de potência

A Figura 7.18 apresenta os resultados para Cf,p/Cf,i em função de σ obtidos através

do LBM para n = 0,25; 0,50; 1,00; 2,00 e 4,00.

Figura 7.18 – Resultados para Cf,p/Cf,i em função de σ obtidos através do LBM para Relp = 100, ϕ =

0,75, NO = 2, Dh,rp = 1,00 e diferentes valores n.

Através da Figura 7.18, verifica-se que, de maneira geral, a variação do índice de

lei de potência causa o deslocamento vertical das curvas Cf,p/Cf,i × σ. Tal comportamento

também é observado para a variação do parâmetro β do modelo OTW, como mostra a

Figura 7.19, na qual são apresentadas as curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através da Equação

7.3 para β variando entre –5,00 e –11,00.

Cf,

p/C

f,i

14 16 18 20 220.80

0.85

0.90

0.95

1.00

LBM - n = 0,25

LBM - n = 0,50

LBM - n = 1,00

LBM - n = 2,00

LBM - n = 4,00

Cf,

p/C

f,i

14 16 18 20 220.80

0.85

0.90

0.95

1.00

OTW - = -5,00

OTW - = -7,00

OTW - = -9,00

OTW - = -11,00

111

Figura 7.19 – Curvas Cf,p/Cf,i × σ obtidas através do modelo OTW para diferentes valores de β.

Considerando a similaridade dos efeitos de n e β sobre a curva Cf,p/Cf,i × σ, a

adaptação do modelo OTW ao escoamento de fluido de lei de potência apresentada a

seguir é baseada na obtenção de uma correlação para β em função de n. Retomando a

discussão realizada por Goyeau et al. (2003), o parâmetro β pode ser visto como uma

representação da variação estrutural do meio poroso na zona de transição entre as regiões

livre e porosa. Assim, a proposta de uma correlação entre β e n considera que a variação

do índice de lei de potência altera a interação entre o fluido e a interface fluido-porosa

de forma anàloga à modificação da estrutura do meio poroso na zona de transição

(variação de β).

A Tabela 7.10 apresenta os valores de β (e R2) encontrados por meio do método

dos mínimos quadrados, conforme a Equação 7.4, para o ajuste da Equação 7.3 aos

resultados apresentados na Figura 7.18.

Tabela 7.10 – Valores de β e R2 para cada valor de n.

n β R2

0,25 –3,96 0,97

0,50 –4,86 0,98

1,00 –5,85 0,99

2,00 –7,21 0,99

4,00 –9,37 1,00

Através dos dados apresentados na Tabela 7.10, verifica-se que, dentro da faixa

de n analisada, β diminui com o aumento de n e a qualidade do ajuste do modelo OTW

aos resultados é satisfatória, com valores de R2 maiores ou iguais a 0,97. A Figura 7.20

reapresenta os resultados mostrados na Figura 7.18 incluindo o ajuste do modelo OTW

considerando os valores de β apresentados na Tabela 7.10.

112

Figura 7.20 – Comparação entre os resultados apresentados na Figura 7.18 e o modelo OTW

considerando os valores de β apresentados na Tabela 7.8.

Utilizando o programa computacional LAB Fit (SILVA et al., 2004), baseado no

método dos mínimos quadrados, obteve-se uma correlação para os valores de β em função

de n apresentados na Tabela 7.10, a qual é dada por:

1

1 2 lnC C n

7.5

com C1 = 1,74 × 10-1 e C2 = 4,87× 10-2, sendo que C1 e C2 devem ser dependentes de ϕ e

NO, variando em função da configuração do meio poroso. Quando a correlação dada pela

Equação 7.5 é aplicada ao modelo OTW (Equação 7.3), os valores para a razão Cf,p/Cf,i

apresentam erro percentual inferior a 0,44% em relação aos valores apresentados na

Figura 7.18.

7.5 SÍNTESE DO CAPÍTULO

Neste capítulo foram apresentados os resultados do estudo do escoamento em

canal parcialmente poroso, destacando-se a análise da influência do meio poroso sobre o

escoamento na região livre do canal e os efeitos dos diversos parâmetros do problema

sobre a razão Cf,p/Cf,i. De um modo geral, Cf,p/Cf,i diminui com o aumento da porosidade,

redução do número de obstáculos que compõem o meio poroso, diminuição do número

de Reynolds e aumento do índice de lei de potência. A variação da altura da região porosa

não apresentou influência sobre Cf,p/Cf,i. Para o escoamento de fluido de Bingham, o efeito

Cf,

p/C

f,i

14 16 18 20 220.70

0.75

0.80

0.85

0.90

0.95

1.00

LBM - n = 0,25

LBM - n = 0,50

LBM - n = 1,00

LBM - n = 2,00

LBM - n = 4,00

OTW - = -3,96

OTW - = -4,86

OTW - = -5,85

OTW - = -7,21

OTW - = -9,37

113

da variação de Bi se mostrou pouco significartivo para 0,00 < Bi < 0,20, enquanto para

Bi = 0,40, observa-se a redução de Cf,p/Cf,i. Por fim, foi estudada a adaptação do modelo

OTW ao escoamento de fluido de lei de potência, obtendo-se uma correlação para o

parâmetro β em função do índice de lei de potência.

114

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, analisou-se, através do método lattice Boltzmann, o escoamento

de fluidos de lei de potência e Bingham junto à interface entre uma região livre e outra

porosa. Especificamente, estudou-se o escoamento entre placas planas e paralelas entre

as quais se faz presente um material poroso, abordado de forma heterogênea e

representado por obstáculos sólidos e quadrados uniformemente distribuídos na metade

inferior do canal.

A análise paramétrica do problema mostrou como a relação entre Cf,p e Cf,i varia

em termos dos parâmetros adimensionais do problema, associados aos modelos de fluido

de lei de potência e Bingham (i.e., índice de lei de potência, n, e número de Bingham, Bi),

ao meio poroso (i.e., porosidade, ϕ, e número de obstáculos, NO), a aspectos geométricos

do canal (i.e., relação entre os diâmetros hidráulicos das regiões porosa e livre, Dh,rp/Dh,rl)

e à inércia do escoamento (i.e., número de Reynolds, Relp e ReBi). Considerando os casos

analisados, verifica-se que a variação de n e Bi modificam a interação do fluido com a

interface fluido-porosa, de tal forma que Cf,p/Cf,i diminui com a redução de n e com o

aumento de Bi, sendo que para a faixa de 0,00 a 0,20 a influência de Bi se mostrou biaxa.

Em relação à configuração do meio poroso, observa-se que a razão Cf,p/Cf,i diminui com

o aumento de ϕ e a redução de NO, como consequência da menor resistência imposta pela

interface fluido-porosa. O crescimento de Relp ou ReBi favorece o escoamento do fluido

para a zona de recirculação formada entre os obstáculos, causando o aumento de Cf,p/Cf,i

devido à redução da vazão na região livre do canal. Por fim, a variação de Dh,rp/Dh,rl (para

Dh,rl constante) não apresentou qualquer influência sobre Cf,p/Cf,i, uma vez que a

configuração do meio poroso e o número de Reynolds são mantidos constantes. Também

foi proposta a adaptação do modelo OTW (OCHOA-TAPIA e WHITAKER, 1995b) para

o escoamento de fluido de lei de potência considerando a variação do parâmetro β em

função de n conforme a correlação dada pela Equação 7.5.

Equation Chapter (Next) Section 1

115

8.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A continuidade deste estudo pode ser realizada em diversas frentes, relacionadas

ao método de solução, à abordagem do meio poroso e à possíveis desdobramentos do

problema.

Dentro do campo numérico, o problema pode ser investigado por meio de outras

abordagens, como o método dos volumes finitos, de modo a corroborar os resultados

obtidos neste trabalho. Com relação ao LBM, podem ser consideradas a implementação

de retículos não regulares (i.e., Δx1 ≠ Δx2) e a introdução do comportamento não

newtoniano do fluido através da função de equilíbrio. Desta forma, espera-se uma maior

eficiência computacional, devido à redução de malha em regiões com menores gradientes

de velocidade e à manutenção do fator de relaxação (Tlb) dentro dos níveis de estabilidade

numérica, já que a dependência do fator de relaxação com relação à taxa de deformação

seria desfeita. Além disso, a investigação experimental do problema se mostra

indispensável para validar os resultados obtidos no presente trabalho.

Com respeito ao meio poroso, pode-se analisar o problema considerando

diferentes formas geométricas e disposições dos obstáculos, bem como tratar o meio

poroso através da abordagem homogênea.

Buscando retratar de forma mais fiel alguns dos exemplos citados na introdução

deste trabalho, pode-se considerar a utilização de modelos de fluido mais complexos,

introduzindo efeitos de tixotropia e elasticidade, escoamentos bifásicos (líquido-sólido,

líquido-líquido, líquido-vapor), escoamento turbulento e convecção forçada, levando em

conta a troca de calor entre o fluido, o meio poroso e as paredes do canal.

116

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125

APÊNDICE A – PARÂMETROS ADIMENSIONAIS DO

ESCOAMENTO EM CANAL PARCIALMENTE POROSO

Neste capítulo são apresentados os cálculos para a obtenção dos parâmetros

adimensionais do escoamento em canal parcialmente poroso apresentados na Seção 4.3.

A.1 FLUIDO DE LEI DE POTÊNCIA

Conforme o teorema Pi de Buckingham, descrito na Seção 4.3, após o

estabelecimento das variáveis relevantes do problema e a definição do conjunto de

variáveis repetitivas, deve-se estabelecer uma equação adimensional para cada uma das

demais variáveis. Tais equações são dadas pelo produto das variáveis repetitivas, cada

qual elevada a uma certa potência a ser determinada, e da variável, por assim dizer, não

repetitiva. Desta forma, o parâmetro Π1,lp é dado por:

Equation Chapter (Next) Section 1

1, , ,mod

a b c

lp h rl lp cD u A.1

Considerando as dimensões de cada um dos parâmetros da Equação A.1, tem-se:

21 3

3 2

b ca b n cc a b c

n

kg m kgm kg m s

m s ms

A.2

Para que Π1,lp seja um parâmetro adimensional os expoentes das dimensões kg, m

e s da Equação A.2 devem ser nulos, de tal forma que se obtém o seguinte sistema de

equações:

1 0

3 0

2 0

c

a b c

b n c

A.3

126

Resolvendo o sistema de equações dado na Equação A.3, obtém-se a = n,

b = 2 – n e c = –1, de modo que a forma final de Π1,lp é dada por:

2

,

1,

,mod

n n

lp h rl

lp

c

u D

A.4

Para os demais parâmetros Π, o procedimento é análogo. O parâmetro Π2,lp é

expresso por:

2, , ,mod

a b c

lp h rl lp cnD u A.5

Como o índice de lei de potência é adimensional por definição, conclui-se que a,

b e c devem ser nulos, de tal forma que:

2,lp n A.6

De forma análoga, como ϕ e NO também são parâmetros adimensionais por

definição, os parâmetros Π3 e Π4 são dados por:

3 A.7

4 NO A.8

Para obter a forma adimensional de Dh,rp escreve-se, no caso do fluido de lei de

potência:

5 , , ,mod

a b c

h rp h rl lp cD D u A.9

127

O conjunto de equações envolvento os expoentes a, b e c que tornam Π5

adimensional é dado por:

1

2 0

0

a b c

b n c

c

A.10

Resolvendo o sistema de equações Equações A.10, obtém-se a = 1, b = 0 e c = 0,

de modo que a forma final de Π5 é dada por:

,

5

,

h rp

h rl

D

D A.11

A.2 FLUIDO DE BINGHAM

Considerando o fluido de Bingham o procedimento para a obtenção dos

parâmetros adimensionais se mantém o mesmo. O parâmetro Π1,Bi é dado por:

1, , ,mod

a b c

Bi h rl lp pD u A.12

Considerando as dimensões de cada um dos parâmetros da Equação A.12, tem-se:

1 3

3

b ca c a b c b ckg m kg

m kg m sm s ms

A.13

Para que Π1,Bi seja um parâmetro adimensional, os expoentes das dimensões kg,

m e s devem ser nulos, de tal forma que se obtém o seguinte sistema de equações:

128

1 0

3 0

0

c

a b c

b c

A.14

Resolvendo o sistema de equações dado pela Equação A.14, obtém-se a = 1,

b = 1 e c = –1, de modo que a forma final de Π4,Bi é dada por:

,

1,

,mod

h rlBi

Bi

p

Du

A.15

O parâmetro Π2,Bi é definido como:

2, 0 , ,mod

a b c

Bi h rl Bi pD u A.16

Considerando as dimensões de cada um dos parâmetros da Equação A.16, tem-se:

1 1 2

2

b ca c a b c b ckg m kg

m kg m sms s ms

A.17

Para que Π2,Bi seja um parâmetro adimensional, os expoentes das dimensões kg,

m e s devem ser nulos, de tal forma que se obtém o seguinte sistema de equações:

1 0

1 0

2 0

c

a b c

b c

A.18

Resolvendo o sistema de equações dado pela Equação A.18, obtém-se a = 1,

b = –1 e c = –1, de modo que a forma final de Π2,Bi é dada por:

129

,

2, 0

,mod

h rl

Bi

p Bi

D

u

A.19

Isolando ūBi na Equação 3.25 e substituindo na Equação A.19 e Π2,Bi pode ser

escrito como:

,

2, 0

,mod

,

0 2

, 3

,mod

24

1 3 448

h rl

Bi

p Bi

h rl

h rl

p

p

D

u

DBi

DpBi Bi

L

A.20

130

APÊNDICE B – RESULTADOS INTERMEDIÁRIOS DO

MÉTODO LATTICE BOLTZMANN

Neste capítulo são apresentadas as deduções de algumas das equações

apresentadas na formulação do LBM no Capítulo 5.

B.1 FUNÇÃO DE EQUILÍBRIO DO MODELO DE HE E LUO (1997) – EQUAÇÃO

5.11

A dedução da expressão para a função de equilíbrio dada pela Equação 5.11 parte

da distribuição de Maxwell, fM, dada pela Equação A.21 na qual se considera a velocidade

do som para um gás ideal (BEJAN, 2006), cs2 = m/kBT. Desta forma, a Equação A.22 é

reescrita como:

Equation Section (Next)

2

32

2

2

1

2s

c u c u

c

M

s

f em c

B.1

Desenvolvendo o produto notável presente no termo exponencial da Equação B.1

e separando a parte dependente de uα, obtém-se:

2 2

3 1 12 22 2

2

1

2

a a a a a a

s s

c c c u u uc c

M

s

f e em c

B.2

Considerando a expansão em série de Taylor de uma função exponencial

ex = 1 + x/1! + x2/2! + .... (SPIEGEL, 1968), o segundo termo exponencial da Equação

B.2 é expandida até segunda ordem em 1/2cs2[2(cαuα) – (uαuα)]:

131

2

3 1222

2 2 4

1 1 11 2 2

2 2 8s

c cc

M

s s s

f e c u u u c u u um c c c

B.3

Como a expansão em série de Taylor foi realizada apenas até os termos de segunda

ordem, a Equação B.3 só é válida para baixos valores de 1/2cs2[2(cαuα) – (uαuα)], ou seja,

baixos valores de uα. Desta forma, os termos proporcionais a |uα|3 e |uα|4 e, portanto,

proporcionais a Ma3 e Ma4, são desprezados, obtendo-se:

2

3 122

2 2 4 2

1e 1

2 2 2s

c cc

M

s s s s

c u c uc u u uf

m c c c c

B.4

Com base na Equação B.4, define-se fieq como:

, ,,

2 4 21

2 2

i iieq

i i

s s s

c u c uc u u uf Kw

c c c

B.5

sendo K uma constante a ser determinada e wi o fator de ponderação associado à cada

orientação de deslocamento i, conforme a estrutura de retículo adotada.

Considerando as Equações B.5, B.18 e 5.13 obtém-se:

, ,,

2 4 21

2 2

i iieq

i i

i i s s s

c u c uc u u uf Kw

c c c

B.6

Distribuindo o somatório, chega-se à:

, , ,2 4 22 2i i i i i i i

i i i is s s

u uu u uK w K w c K w c c K w

c c c

B.7

132

Finalmente, o valor de K é obtido conforme a Equação B.9, considerando-se as

seguintes condições:

,

2

, ,

1

0

i

i

i i

i

i i i s

i

w

w c

w c c c

B.8

2 2

4 2 4 22 2 2 2s s

s s s s

u u u u u u u uK K c K K K c K K

c c c c

B.9

sendo δαβ o delta de Kronecker (SPIEGEL, 1959). As restrições impostas pela Equação

B.8 são condições de isotropia das estruturas de retículo (VIGGEN, 2009), necessárias

para que o LBM reproduza de forma satisfatória as equações da massa e da quantidade

de movimento linear para um fluido newtoniano. As estruturas de retículo DaQb

apresentadas na seção 5.4 atendem às restrições dadas pela Equação B.8.

Desta forma, a função de equilíbrio dada pela Equação B.5 é reescrita como:

, ,,

2 4 21

2 2

i iieq

i i

s s s

c u c uc u u uf w

c c c

B.10

Definindo ρ = ρ0 + δρ, conforme a sugestão de He e Luo (1997), a Equação B.10

é reescrita da seguinte forma:

, ,,

0 2 4 21

2 2

i iieq

i i

s s s

c u c uc u u uf w

c c c

B.11

Mantendo a coerência com a simplificação da Equação B.3, despreza-se os termos

proporcionais a δρuα/cs e δρ(uα/cs)2 que, de acordo com He e Luo (1997), são da ordem

de Ma3 e Ma4, resultando em:

133

, ,,

0 2 4 21

2 2

i iieq

i i i

s s s

c u c uc u u uf w w

c c c

B.12

Rearranjando a Equação B.12, obtém-se a forma final da função de equilíbrio

utilizada por He e Luo (1997):

, ,,

0 2 4 21

2 2

i iieq

i i

s s s

c u c uc u u uf w

c c c

B.13

134

B.2 MOMENTOS DE ORDEM ZERO E UM DAS FUNÇÕES DISTRIBUIÇÃO DE

VELOCIDADE DO MODELO DE HE E LUO (1997) – EQUAÇÕES 5.13 E

5.14

As conservações da massa e da quantidade de movimento linear das partículas são

expressas matematicamente, respectivamente, pelas Equações B.14 e B.15:

, , ,i i i

i i

f x c t t t f x t B.14

, , ,, ,i i i i i

i i

c f x c t t t c f x t B.15

A Equação B.14 expressa que o número total de partículas que deixam o nó xα

deve ser igual àquele que chega aos nós vizinhos xα + ci,αΔt, enquanto a Equação B.15

corresponde ao raciocínio análogo considerando a quantidade de movimento linear das

partículas.

Tendo em vista os momentos de ordem zero e um da Equação 5.9 (equação de

transporte de Boltzmann discretizada) e considerando as Equações B.14 e B.15, obtém-

se, respectivamente:

,

,

, ,

, , 0

0

i i i i

i i i

i i i i

i i i

i

i

f x c t t t f x t Q t

Q t f x t f x c t t t

Q

B.16

, , , ,

, , , ,

,

, ,

, , 0

0

i i i i i i i

i i i

i i i i i i i i

i i i

i i

i

c f x c t t t c f x t c Q t

c Q t c f x t c f x c t t t

c Q

B.17

135

Utilizando as Equações B.16 e B.17 em conjunto com os momentos de ordem zero

e um da Equação 5.10 (definição do operador colisão através da aproximação BGK),

obtém-se, respectivamente:

, ,eq

i i

i i

f x t f x t B.18

, ,, ,eq

i i i i

i i

c f x t c f x t B.19

Considerando a Equação B.18 e a definição da função de equilíbrio dada pela

Equação 5.11, tem-se:

, ,,

0 2 4 22 2

i ii

i i i

i i s s s

c u c uc u u uf w w

c c c

B.20

Manipulando algebricamente a Equação B.20, tem-se:

0 , 0 , , 02 4 22 2i i i i i i i i

i i i i is s s

u uu u uf w w c w c c w

c c c

B.21

Utilizando as condições de isotropia dadas pela Equação B.8, a Equação B.21 é

simplificada, resultando em:

2

0 04 22 2i s

i s s

u u u uf c

c c

B.22

Finalmente, a partir da Equação B.22, obtém-se:

136

0 02 22 2i

i s s

u u u uf

c c

B.23

A obtenção da Equação 5.14 é realizada através da substituição da Equação 5.11

na Equação B.19:

, ,,

, , , 0 2 4 22 2

i ii

i i i i i i

i i s s s

c u c uc u u uc f c w c w

c c c

B.24

Expandindo o lado direito da Equação B.24, obtém-se:

, , 0 , ,2

0 , , , 0 ,4 22 2

i i i i i i i

i i is

i i i i i i

i is s

uc f c w w c c

c

u u u uw c c c w c

c c

B.25

Considerando as condições de isotropia impostas pela Equação B.8, a Equação

B.24 é simplificada, chegando-se em:

, 0i i

i

c f u B.26

137

B.3 MOMENTOS DE ORDEM ZERO E UM DAS PARCELAS DE NÃO EQUILÍBRIO

DAS FUNÇÕES DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADE – EQUAÇÕES 5.26 E

5.27

Considerando as Equações B.18 e B.19 em conjunto com a expansão da função

distribuição expressa pela Equação 5.16 e a igualdade dada pela Equação 5.22, obtém-se,

respectivamente:

1 22

1 22 0

eq

i i i i

i i i i

i i

i i

f f f f

f f

B.27

1 22

, , , ,

1 22

, , 0

eq

i i i i i i i i

i i i i

i i i i

i i

c f c f c f c f

c f c f

B.28

Como os termos de ordem ξ e ξ2 são de ordens de grandeza diferentes, pode-se

supor cada parcela das Equações B.29 e B.30 é igual a zero, ou seja:

0kk

i

i

f B.31

, 0kk

i i

i

c f B.32

com k = 1 e 2.

Desta forma, conclui-se que os momentos de ordem zero e um de fi(1) e fi

(2) não

contribuem para o cálculo da massa específica e da quantidade de movimento linear.

138

B.4 OBTENÇÃO DA EQUAÇÃO DA CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE

MOVIMENTO LINEAR – EXPANSÃO DE CHAPMAN-ENSKOG

Para a obtenção da equação da conservação da quantidade de movimento linear

são considerados, inicialmente, os momentos de ordem um das Equações 5.23 e 5.25,

obtendo-se, respectivamente:

01

0 , ,1 10 i i i

i

uc c f

t x

B.33

12

0 , ,2 10 1

2i i i

i

u tc c f

t x

B.34

A próxima etapa consiste na obtenção das expressões para os termos

1 0

, ,i i i

i

x c c f

e

1 1

, ,i i i

i

x c c f

, cujos cálculos detalhados são

apresentados a seguir.

B.4.2 Termo 1 0

, ,i i i

i

x c c f

Considerando a Equação 5.22, pode-se escrever:

0

, , , ,1 1

eq

i i i i i i

i i

c c f c c fx x

B.35

Substituindo a Equação 5.11 na Equação B.35, obtém-se:

139

0

, ,1

, ,,

, , 0 2 4 21 2 2

i i i

i

i ii

i i i i

i s s s

c c fx

c u c uc u u uc c w w

c c cx

B.36

Manipulando algebricamente a Equação B.36, chega-se a::

0

, , , , 0 , , ,21 1

0 , , , , 0 , ,4 21 2 2

i i i i i i i i i i

i i is

i i i i i i i i

i is s

uc c f w c c w c c c

cx x

u u u uw c c c c w c c

c cx

B.37

Utilizando as restrições apresentadas pelas Equações B.8 e B.39 atendidas pelas

estruturas DaQb (VIGGEN, 2009) na Equação B.37, obtém-se a EquaçãoB.38:

, , ,

4

, , , ,

0i i i i

i

i i i i i s

i

w c c c

w c c c c c

B.39

0

, ,1

2 4 2

0 04 21 2 2

i i i

i

s s s

s s

c c fx

u u u uc c c

c cx

B.40

Manipulado algebricamente a Equação B.40, obtém-se:

0

, ,1

2

0 0 0 01 2 2 2 2

i i i

i

s

c c fx

u u u u u u u uc

x

B.41

Finalmente, simplificando a Equação B.41, chega-se a:

140

0 2

, , 01 1i i i s

i

c c f c u ux x

B.42

B.4.2 Termo 1 1

, ,i i i

i

x c c f

Considerando a Equação 5.23, tem-se:

1

, ,1

0 0

, , , , ,1 1 1

12

2

i i i

i

i i i i i i i

i i

tc c f

x

tc c f c c c f

x t x

B.43

Desta forma, é necessário analisar individualmente os termos

1 0

, ,i i i

i

t c c f

e

1 0

, , ,i i i i

i

x c c c f

.

B.4.2.1 Termo 1 0

, ,i i i

i

t c c f

Considerando a Equação B.42 pode-se escrever:

0 2

, , 01 1i i i s

i

c c f c u ut t

B.44

Manipulando algebricamente o lado direito da Equação B.44, obtém-se:

0 2

, , 0 01 1 1 1i i i s

i

u uc c f c u u

t t t t

B.45

141

As derivadas temporais da Equação B.45 podem ser substituídas, utilizando as

Equações 5.28 e B.33, resultando em:

0

, ,1

0 02

0 , , , ,1 1 1

i i i

i

s i i i i i i

i i

c c ft

uc u c c f u c c f

x x x

B.46

Substituindo a Equação B.42 na Equação B.46, tem-se:

0

, ,1

2 2 2

0 0 01 1 1

i i i

i

s s s

c c ft

uc u c u u u c u u

x x x

B.47

Manipulando algebricamente a Equação B.47, obtém-se:

0

, ,1

2 2 2

0 0 01 1 1 1 1

2 2 2

0 0 01 1 1 1 1

i i i

i

s s s

s s s

c c ft

u u u uuc u c u c u u

x x x x x

u u uu uc u c u c u u

x x x x x

B.48

Desprezando os termos da ordem de Ma3 ( 1 2

su x c , 1 2

su x c ,

1

0 u u u x e 1

0u u u x ), obtém-se a Equação B.49 (HE e LUO, 1997):

0 2 3

, , 01 1i i i s

i

uc c f c O Ma

t x

B.49

142

B.4.1.2 Termo 1 0

, , ,i i i i

i

x c c c f

Utilizando a Equação 5.22, pode-se escrever:

0

, , , , , ,1 1

eq

i i i i i i i i

i i

c c c f c c c fx x

B.50

Substituindo a Equação 5.11 na Equação B.50, obtém-se:

0

, , ,1

, ,,

, , , 0 2 4 21 2 2

i i i i

i

i ii

i i i i i

i s s s

c c c fx

c u c uc u u uc c c w w

c c cx

B.51

Manipulando a Equação B.51 algebricamente, chega-se a:

0

, , , , , , 0 , , , ,21 1

0 , , , , , 0 , , ,4 21 2 2

i i i i i i i i i i i i i

i i is

i i i i i i i i i i

i is s

uc c c f w c c c w c c c c

cx x

u u u uw c c c c c w c c c

c cx

B.52

Considerando as Equações B.53 e B.39 (restrições atendidas pelos modelos

DaQb), obtém-se a Equação B.54:

, , , , , 0i i i i i i

i

w c c c c c B.53

0 4

, , , 0 21 1i i i i s

i s

uc c c f c

cx x

B.54

143

Rearranjando e simplificando o lado direito da Equação B.54, obtém-se:

0 2

, , , 01 1 1 1i i i i s

i

u u uc c c f c

x x x x

B.55

Combinando as Equações B.43, B.49 e B.55, obtém-se:

1

, ,1

2 3

01 1 1

12

2

i i i

i

s

tc c f

x

u utc O Ma

x x x

B.56

Finalmente, aplicando as expansões dadas pelas Equações 5.16, 5.17 e 5.18 nas

Equações B.33 e B.34, considerando as Equações B.42 e B.56, obtém-se:

0 0

2 2 3

02

s s

uu u

t x

u utc c O Ma

x x x x

B.57

144

APÊNDICE C – TESTES DAS CONDIÇÕES DE

CONTORNO DO LBM

Neste apêndice são apresentados os testes das condições de contorno apresentadas

na Seção 5.7. As precisões das condições de bounce-back padrão e intermediário são

avaliadas através da análise do escoamento entre placas planas e paralelas e a

periodicidade imposta pela condição de contorno proposta Liao e Jen (2008) é verificada

por meio do estudo do escoamento em canal parcialmente poroso.

C.1. COMPARAÇÃO ENTRE AS FORMULAÇÕES PADRÃO E INTERMEDIÁRIA

DA CONDIÇÃO DE BOUNCE-BACK

As formulações das condições de contorno de bounce-back padrão e intermediária

são comparadas por meio da simulação do escoamento de fluido newtoniano em canal

livre, conforme o problema de verificação apresentado na Seção 6.1. Os resultados

apresentados nas Figura C.1a e b comparam os perfis de velocidade obtidos,

respectivamente, através das formulações padrão e intermediária com a solução analítica

dada pela Equação 6.1 para n = 1,00. À esquerda são apresentados os perfis de velocidade

ao longo de toda a seção transversal do canal, enquanto à direita são mostrados os detalhes

na região da parede inferior do canal. Analisando a Figura C.1a é possível notar que a

formulação padrão apresenta valores de velocidade inferiores aos previstos pela solução

analítica ao longo de toda a seção transversal do canal. Na região próxima à parede o erro

percentual em relação à solução analítica, calculado através da Equação 6.3, é da ordem

de 50% e se mostrou sistemático mesmo com a redução de Δx. Por outro lado, a

formulação intermediária apresenta boa concordância com a solução analítica, sendo que

o erro percentual máximo em relação à solução analítica é de 0,32%. A formulação

intermediária corrige a defasagem observada na região da parede no caso da formulação

padrão, como pode ser visto nos detalhes apresentados nas Figura C.1a e b. Considerando

os resultados mostrados nesta seção, opta-se por utilizar a formulação intermediária para

a representação da condição de não deslizamento sobre paredes estáticas.

145

(a)

(b)

Figura C.1 – Análise das condições de contorno de bounce-back. Comparação entre os

perfis de velocidade analítico e obtidos com bounce-back (a) padrão e (b) intermediário. À

esquerda: perfis de velocidade ao longo de toda a seção transversal do canal. À direita:

detalhe da região próxima a parede inferior.

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.20

0.00

0.20

LBM - formulação padrão

Eq. 6.1

u1

x 2

0.00 0.10 0.20 0.30-0.25

-0.20

-0.15

LBM - formulação padrão

Eq. 6.1

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.20

0.00

0.20

LBM - formulação intermediária

Eq. 6.1

u1

x 2

0.00 0.10 0.20 0.30-0.25

-0.20

-0.15

LBM - formulação intermediária

Eq. 6.1

146

C.2. AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE CONTORNO PERIÓDICA DE LIAO E JEN

(2008)

A avaliação da condição de contorno de Liao e Jen (2008) é realizada através da

anaálise do escoamento de fluido newtoniano em canal parcialmente poroso com ϕ = 0,75;

NO = 2; Dh,rp/Dh,rl = 1,00 e Relp = 100 composto por duas colunas de obstáculos, conforme

mostrado na Figura C.2, de tal forma que L = 0,50 m.

Figura C.2 – Canal parcialmente poroso com diferentes comprimentos. (a) L = 0,25 e (b) L = 0,50.

Considerando a periodicidade geométrica do canal na direção x1, o campo de

velocidades (e de qualquer outra variável do escoamento) deve obedecer à seguinte

condição:

Equation Section (Next)

1 2 1 2, ,u x x u x l x C.1

sendo κ um número inteiro e l o comprimento do trecho (periódico) que se repete ao longo

do domínio. No caso analisado, tem-se l = 0,25 m.

Nesse sentido, a verificação da periodicidade do escoamento é realizada por meio

da comparação dos perfis de velocidade tomados em x1 = 0,00, 0,25 e 0,50 m, os quais

devem ser idêndicos conforme indica a Equação C.1 para x1 = 0,00 e κ = 1 e 2. A Figura

C.3 mostra que os perfis de velocidade são coincidentes, confirmando a a periodicidade

imposta pela condição de contorno de Liao e Jen (2008).

1 0,00x

20x

2 2,x u

1 1,x u

2 , 2h rpx D

2 , 2h rfx D

1 0,50x L 1 0,00x

2 0x

2 2,x u

1 1,x u

2 , 2h rpx D

2 ,2

h rfx D

2 0, 25x 1 0,25x L

147

Figura C.3 – Perfis de velocidade do escoamento em canal parcialmente poroso em

diferentes posições do canal.

u1

x 2

0.00 0.50 1.00 1.50

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

x1

= 0,00

x1

= 0,50

x1

= 1,00

148

APÊNDICE D – RESULTADOS DOS TESTES DE

SENSIBILIDADE À Δx E Δt PARA OS PROBLEMAS DE

VERIFICAÇÃO E O ESCOAMENTO EM CANAL

PARCIALMENTE POROSO

Neste capítulo são apresentados os testes de sensibilidade realizados para o

escoamento entre placas planas e paralelas, canal poroso e parcialmente poroso, os quais

foram realizados conforme a discussão realizada na Seção 5.8. As tabelas apresentadas a

seguir, mostrando os resultados dos testes de sensibilidade a Δx e Δt, devem ser analisadas

da seguinte forma. A parte superior, entre o cabeçalho e a linha dupla, mostra o teste de

sensibilidade a Δt para um determinado valor de Δx (malha menos refinada). A linha

destacada em negrito mostra o resultado considerado independente de Δt. O critério

adotado neste trabalho corresponde a uma diferença percentual inferior a 0,5% entre os

resultados obtidos para dois valores consecutivos de Δt. Na parte inferior das tabelas,

abaixo da linha dupla, apresenta-se o teste de sensibilidade a Δx, o qual se inicia com o

resultado destacado na parte superior da tabela e é realizado para valores

progressivamente menores de Δx. Quando os resultados obtidos para dois valores

consecutivos de Δx apresentam uma diferença percentual inferior a 1%, considera-se que

Δx não tem mais influência sobre os resultados.

D.1 ESCOAMENTO ENTRE PLACAS PLANAS E PARALELAS

Para os escoamentos dos fluidos de lei de potência e Bingham entre placas planas

e paralelas, testes preliminares indicaram que os casos mais críticos, dentro das faixas

analisadas neste trabalho, correspondem, respectivamente, a n = 0,25 e Bi = 0,40. Nesse

sentido, os testes de sensibilidade a Δt e Δx, para n = 0,25 e Bi = 0,40 são apresentados,

respectivamente, pelas Tabelas D.1 e D.2.

149

Tabela D.1 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de lei de

potência entre placas planas e paralelas para n = 0,25.

Teste Δx (nº de nós na direção x2) Δt (Δx/Δt) τlb ε

Δt

1.53E-06 (8192) 5.00E-01 –1,40%

1.25E-02 (40) 7.63E-07 (16384) 5.00E-01 –0,41%

3.81E-07 (32768) 5.00E-01 -

Δx

1.25E-02 (40) 7.63E-07 (16384) 5.00E-01 –2,66%

6.25E-03 (80) 1.91E-07 (32768) 5.00E-01 –1,29%

3.13E-03 (160) 4.77E-08 (65536) 5.00E-01 –0,95%

1.56E-03 (320) 1.19E-08 (131072) 5.00E-01 -

Tabela D.2 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de

Bingham entre placas planas e paralelas para Bi = 0,40.

Teste Δx (nº de nós na direção x2) Δt (Δx/Δt) τlb ε

Δt

3.05E-06 (4096) 5.03E-01 –1,14%

1.25E-02 (40) 1.53E-06 (8192) 5.02E-01 –0,30%

7.63E-07 (16384) 5.01E-01 -

Δx

1.25E-02 (40) 1.53E-06 (8192) 5.02E-01 –3,55%

6.25E-03 (80) 3.81E-07 (16384) 5.02E-01 –1,58%

3.13E-03 (160) 9.54E-08 (32768) 5.02E-01 –0,64%

1.56E-03 (320) 2.38E-08 (65536) 5.02E-01 -

D.2 ESCOAMENTO EM CANAL POROSO

No caso do escoamento em canal poroso, observou-se que os casos mais críticos

em termos de sensibilidade a Δt e Δx ocorrem para menores gradientes de pressão e

menores valores de índice de lei de potência, no caso do fluido de lei de potência, e

maiores tensões limite de escoamento, no caso do fluido de Bingham. Nesse sentido, as

Tabelas D.3 e D.4 apresentam os resultados dos testes de sensibilidade a Δt e Δx,

respectivamente, para o escoamento de fluido de lei de potência com n = 0,25 e

(–Δp/L) = 48 Pa/m e para fluido de Bingham com τ0 = 10 Pa e (–Δp/L) = 48.

150

Tabela D.3 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de lei de

potência em canal poroso para n = 0,25 e (–Δp/L) = 48 Pa/m.

Teste Δx (nº de nós na direção x2) Δt (Δx/Δt) ṁrp ε

Δt

4.76E-08 (262144) 2.68E-04 –1,29%

1.25E-02 (40) 2.38E-08 (524288) 2.65E-04 –0,52%

1.19E-08 (1048576) 2.63E-04 -

Δx

1.25E-02 (40) 2.38E-08 (524288) 2.65E-04 8,60%

6.25E-03 (80) 5.96E-09 (1048576) 2.90E-04 2,96%

3.13E-03 (160) 1.49E-09 (2097152) 2.99E-04 0,93%

1.56E-03 (320) (4194304) 3,01E-04 -

Tabela D.4 – Teste de sensibilidade à Δx e Δt para o escoamento de fluido de

Bingham em canal poroso para τ0 = 10 Pa e (–Δp/L) = 48 Pa/m.

Teste Δx (nº de nós na direção x2) Δt (Δx/Δt) ṁrp Ε

Δt

4.76E-08 (262144) 9.39E-05 –1,94%

1.25E-02 (40) 2.38E-08 (524288) 9.21E-05 –0,40%

1.19E-08 (1048576) 9.17E-05 -

Δx

1.25E-02 (40) 2.38E-08 (524288) 9.21E-05 4,62%

6.25E-03 (80) 5.96E-09 (1048576) 9.65E-05 1,12%

3.13E-03 (160) 1.49E-09 (2097152) 9.76E-05 %

1.56E-03 (320) (4194304) -

D.3 ESCOAMENTO EM CANAL PARCIALMENTE POROSO – FLUIDO DE LEI DE

POTÊNCIA

D.4 ESCOAMENTO EM CANAL PARCIALMENTE POROSO – FLUIDO DE

BINGHAM

Equation Section (Next)

151

APÊNDICE E – EXPRESSÕES PARA A RELAÇÃO Cf,p/Cf,i

SEGUNDO OS MODELOS BJ, NN E OTW

Este capítulo mostra as deduções das Equações 7.1, 7.2 e 7.3, expressões analíticas

para a razão Cf,p/Cf,i de acordo com os modelos BJ, NN e OTW, respectivamente.

Considerando a definição de fator de atrito dada pela Equação 3.17, calcula-se

Cf,p/Cf,i:

Equation Section (Next)

,

,

4

1

2

4

1

2

h

pf p i

hf i p

i

Dp

L

uC u

DpC u

L

u

E.1

sendo ūi e ūp as velocidades médias do escoamento na região livre quando o meio poroso

é impermeável e permeável, respectivamente.

Manipulando a Equação E.1, é possível reescrever a razão Cf,p/Cf,i como:

2

,

,

1 1

11

f p i i

p if i p p

i

C u m

m mC u m

m

E.2

sendo ṁ = ρū(Dh /2) a vazão mássica através da região livre. A Equação E.2 mostra que

a razão Cf,p /Cf,i pode ser escrito em função do acréscimo percentual de vazão mássica na

região livre, Φ, o qual apresenta expressão analítica para os modelos BJ, NN e OTW,

conforme as Equações 2.3, 2.8 (para β = 0) e 2.8, respectivamente. Combinando a

Equação E.2 individualmente com as Equações 2.3, 2.8 (para β = 0) e 2.8, obtém-se

respectivamente:

152

2

,

,i BJ

3 21

1

f p

f

C

C

E.3

2

,

,i NN

3 21

1

eff p

f ef

C

C

E.4

2

,

,i OTW

3 21

1

f p

f

C

C

E.5