23
UNIVERDIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA DEPARTAMENTO: LETRAS SUBÁREA: LITERATURA E HERMENÊUTICA II PROJETO: LITERATURA E CULTURA NO PERÍODO MILITAR BRASILEIRO

Projeto de Pesquisa

Embed Size (px)

DESCRIPTION

v

Citation preview

Page 1: Projeto de Pesquisa

UNIVERDIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

DEPARTAMENTO: LETRAS

SUBÁREA: LITERATURA E HERMENÊUTICA II

PROJETO:

LITERATURA E CULTURA NO PERÍODO MILITAR BRASILEIRO

Proponente: José Helber Tavares de Araújo

Page 2: Projeto de Pesquisa

1. IDENTIFICAÇÃO DA PROPOSTA:

Título do projeto: LITERATURA E CULTURA NO PERÍODO MILITAR BRASILEIRO

Área de conhecimento: Letras e Linguística

Subárea: Literatura Brasileira

IES Executora: Universidade Estadual da Paraíba / UEPB

Proponente: José Helber Tavares de Araújo

CPF: 035.164.164-59

2. QUALIFICAÇÃO DO PRINCIPAL PROBLEMA A SER ABORDADO:

A despeito das múltiplas relações que se pode estabelecer entre “história”,

“cultura” e “literatura”, podemos hoje averiguar que a noção de “literatura”

construída ao longo do período do regime militar brasileiro assomou, no domínio

teórico-filosófico, algumas concepções político-sociais como categorias privilegiadas de

análise das obras literárias, justamente no momento em que o próprio conceito

revelava-se amplamente produtivo no campo mais alargado das ciências humanísticas.

É fato que, em seus primórdios, as investigações sobre o significado estético da

representação de um problema social, profundamente marcadas por um historicismo

somático, tendiam a enquadrar o fenômeno sob perspectivas estreitas que o

apreendiam à simples instrumento de luta ideológica, seja de direita ou de esquerda.

Estas posições ingênuas de identificação das obras literárias com ideologias

previamente marcadas quando confrontadas com uma formatação dos saberes mais

apuradas implica em significados mais complexos que ainda hoje são desafiadores,

porquanto forma de conhecimento, cifrado, expressão de uma racionalidade poética

transbordante em significações, fenômeno multifacetado, transdisciplinar, no plano de

conteúdo como no plano linguístico.

Não há dúvidas que a partir do início deste século, o tema da cultura na ditadura

militar brasileira passa gradualmente a alcançar estatuto cada vez mais respeitável em

diversos campos – artístico, filosófico, histórico, antropológico, psicanalítico, que, sob

perspectivas distintas, contribuíram para consubstanciar um cabedal notável de

formulações que hoje posicionam as artes produzidas no período como ponto fulcral

Page 3: Projeto de Pesquisa

na seara dos saberes sobre a história brasileira de 1964-1985, convergindo de forma

significativa para os estudos literários, atualmente libertos das amarras que por

décadas fizeram a literatura girar em torno de pautas extraliterárias. Os apelos se

apresentam aos estudiosos do literário no sentido de fazer avançar pesquisas capazes

de iluminar a literatura enquanto lócus privilegiado de conhecimento humanístico

posicionam a representação e expressão geradas do contexto ditatorial no centro das

mais atuais tendências e debates, justamente em conseqüência de seu potencial

instigador de reflexões teóricas e crítico-interpretativas, sobretudo quando se

considera que as relações entre história e literatura não são apenas temáticas, mas

também formais, estruturantes e favorecedoras de diálogos entre texto e contexto,

historicidade e universalidade, imanência e transcendência, abrindo as mais variadas

vertentes de investigação entre arte, cultura e sociedade.

Por todo o exposto, elegemos a produção cultural e literária produzida no período

ditatorial brasileiro como marco teórico central ao desenvolvimento desta pesquisa

integrada. Sob a perspectiva transdisciplinar e multicultural que adotamos, a idéia é

adentrar o território dos estudos sobre quais temáticas foram possíveis se

desenvolverem e quais estilos precisaram ser adotados em suas relações com o

literário a partir de abordagens favorecedoras de reflexões sobre o aproveitamento de

formalizações contextuais como instâncias produtivas de crítica social.

Obviamente não poderíamos partir de domínios outros que não os da nossa

própria competência e experiência acadêmica. Daí termos esboçado em conjunto

quatro linhas mestras de pesquisa, todas atentas às relações contempladas no título

deste projeto: Literatura e Cultura no período militar brasileiro. As ramificações da

pesquisa aqui propostas são as seguintes:

A produção romanesca e a representação da violência na literatura de 1964

O fluxo criativo e polissêmico da poesia dos anos 70

A tropicália e a reinvenção de um Brasil plural

O cinema brasileiro pós-64: do cinema novo à retomada do tema da

ditadura.

Espera-se, com as vertentes propostas, ampliar e aprofundar conhecimentos sobre

esse campo investigativo, seja a partir de novas articulações teórico-filosóficas e

crítico-interpretativas na própria esfera dos estudos literários, seja através de diálogos

Page 4: Projeto de Pesquisa

travados em áreas de interface – artísticas, culturais, políticas, étnicas, religiosas, todas

elas relevantes ao enriquecimento dos estudos sobre a literatura, sem que se perca de

vista o enquadramento dos fenômenos estudados sob a óptica das relações entre arte

e sociedade, mais especificamente, entre literatura e crítica social.

3. OBJETIVOS E METAS A SEREM ALCANÇADAS:

3.1. Objetivo Geral:

O Projeto LITERATURA E CULTURA NO PERÍODO MILITAR BRASILEIRO objetiva,

primordialmente, o desenvolvimento de uma pesquisa integrada que visa

operacionalizar ações sistemáticas e colaborativas para ampliação e aprofundamento

de conhecimentos teórico-críticos sobre a produção artística pós-64 e suas relações

com o universo literário.

3.2. Objetivos Específicos:

3.2.1. Produzir conhecimento sobre as relações entre História e Literatura a partir da

articulação dos referenciais teóricos e metodológicos propostos em consonância com

os focos investigativos que caracterizam o projeto;

3.2.2. Divulgar e legitimar resultados das pesquisas em fóruns de eventos nacionais e

internacionais das áreas envolvidas, assim como em periódicos especializados;

3.2.3. Realizar, no último ano da pesquisa, um evento na instituição executora

contemplando, em forma de GTs, a apresentação dos resultados desenvolvidos em

cada tema abordado, assim contribuindo para sedimentar e difundir esses

conhecimentos, estimulando ainda a integração docente e discente entre os

participantes das diversas instituições envolvidas e ampliando a esfera de alcance dos

resultados alcançados.

3.2.4. Disseminar o conhecimento produzido, através da publicação de livros, sendo

um para cada linha discutida, em acordo com a política editorial da instituição, e uma

publicação resultante do evento que encerra o projeto;

3.2.5. Incrementar o intercâmbio entre os pesquisadores participantes, amplificando

as potencialidades de articulação de pesquisas e desenvolvimentos de estudos

conjuntos sobre objetos contemplados nas áreas da presente proposta;

Page 5: Projeto de Pesquisa

3.2.2. Complementar a formação de alunos graduandos, mestrandos e doutorandos

envolvidos no desenvolvimento do projeto, no âmbito conjugado da pesquisa, do

ensino ou da extensão.

4. METODOLOGIA A SER EMPREGADA:

É certo que muito se tem pesquisado em termos de Literatura e ditadura militar

nas últimas décadas, mas muito ainda há por fazer, seja em eixos específicos, e

elegemos justamente eixos potencialmente aptos a gerar estudos originais e muito

produtivos, seja no tocante a trocas inter-, multi- e transdisciplinares, justamente em

decorrência de especificidades resultantes de experiências acadêmicas ainda

fortemente demarcadas por limites disciplinares, em universidades que permanecem

segmentadas por lambris departamentais.

A idéia é produzir conhecimentos sobre a literatura brasileira entre os anos que

separam o golpe militar de 1964 dos anos de redemocratização, em 1985, partindo de

perspectivas distintas, fazendo, entretanto, circular as reflexões desenvolvidas em

cada núcleo (romance, poesia, música, cinema), tornando-as produtivas no âmbito

mesmo da proposta enquanto um todo articulado. Assim, por exemplo, pesquisas

realizadas que se dispõe a estudar o romance podem e devem reverberar nos estudos

de cinema que tenham por temas questões de ordem político social. Da mesma forma,

as investigações sobre poesia podem e devem contribuir para as pesquisas sobre as

canções que ficaram em evidência no cenário cultural da época, enfim, é enorme a

gama de possibilidades de fazer atravessar esses conhecimentos por entre as áreas

previstas nesta proposta e nossa idéia é estimular cada vez mais esta interface, de

maneira que sejam eles os motores dessa engrenagem dinâmica, que fará fluir de uma

para outra linha o conhecimento em rede que iremos adotar como metodologia

dialógica.

Vale ressaltar, com relação à metodologia adotada, que nossa proposta tem como

base a formação e experiência em estudos voltados para o estudo de violência e

literatura, sobretudo no que diz respeito ao período destacado. Isso não significa

absolutamente desfrutar de certezas e convicções, mas lhes permite partir de

premissas solidamente fundamentadas, formulando hipóteses também

Page 6: Projeto de Pesquisa

cuidadosamente elaboradas. Além dessa familiaridade com o tema, concorre para a

produtividade da proposta o fato de que cada eixo de discussão exige conhecimentos

distintos de atuação e experiência, no que diz respeito à lida com o caráter estético de

cada gênero – lírico, narrativo e dramático, embora todos trabalhem na interface entre

tradição e modernidade e todos utilizem em grande medida um acervo bibliográfico

comum, não por acaso compartilhando referenciais teórico-críticos que muito

favorecem a proposição de uma pesquisa integrada, sobretudo uma proposta

investigativa que intenta reler o fenômeno artístico em suas relações com a literatura

e a crítica social.

Em termos mais específicos, cada linha adotará as seguintes condutas

metodológicas:

4.1.A produção romanesca e a representação da violência na literatura de 1964

Os problemas de significação social ou estética que advém da ordem da

realidade objetiva, naquela conjuntura institucional brasileira de exceção, apareceram

reelaborados em diversos romances, através de proximidades e distanciamentos dos

modos de vida que tal regime imprimiu às pessoas, sendo o contexto da ditatura

incorporado como algo de importância substancial na formação do conjunto de

tendências literárias da época. No caso deste momento da história do Brasil, a relação

entre literatura e seu contexto é bastante notória, pois em termos concretos, houve

uma intensificação deste entrelaçamento dos eventos históricos com a questão

estética devido às consequências de um processo de interferência efetiva do Estado no

plano do sistema de produção cultural. Neste sentido, as contradições de um Estado

totalitário que sistematicamente violentou seus cidadãos e desmantelou os meios de

realização artística foram se incorporando às próprias obras da época, feitas como

denúncias possíveis em resposta às adversidades à liberdade artística. Ironicamente,

para poder defender a autonomia da obra de arte no período de censura no Brasil, o

romance sentiu a necessidade de engajamento, pois ele se encontrava diante de uma

realidade político-social que aparece como repressora direta da realização dos bens

imateriais e simbólicos. Tal negação da liberdade acaba sendo incorporada como

conteúdo da obra, ora através da mimetização das ações violentas ao objeto do qual o

Page 7: Projeto de Pesquisa

sistema buscava eliminar, ora através de um experimentalismo formal que expresse de

modo clivado as angústias do não-dizer.

Um quadro panorâmico da produção literária da época nos auxiliará em

questões importantes para uma melhor caracterização do gênero através do

estabelecimento de um diálogo com os demais romances e perspectivas estético-

literárias daquele momento. A esse respeito, entendemos que é justamente a

combinação das circunstâncias históricas que modificaram a noção de sujeito na

sociedade e, consequentemente, como isso teve desdobramentos no plano formal da

arte narrativa, gerando um duplo movimento em que o contexto pode servir de

reflexão para o entendimento da obra sem cair em determinações positivistas ou de

mero espelhamento representacional. Por sua vez, na literatura brasileira, este

processo de fragmentação social vinculado à fragmentação estética impulsionado por

questões sociais da modernização ocorreu com maior frequência na das décadas de

60-70. Sabemos, evidentemente, que há os predecessores desta fragmentação no

cânone literário: os modernistas dos anos heroicos, alguns apontamentos nos

romances dos anos 30 ou as transformações narrativas radicais proporcionadas por

Clarice Lispector e Guimarães Rosa, de 45. Mas vale a pena salientar que nenhum

desses vincularam tão abertamente, em suas obras, uma inquietação com o discurso

do poder político, ideológico e econômico de seus contextos. Trata-se aqui, na

verdade, de insistir na pertinência de uma leitura dos romances dos anos 70 que

compreenda que os jogos de subjetividade narrativa, as formas de problematização

artística como substância da própria obra e a discussão a respeito da

racionalidade/irracionalidade são estetizadas em dissonância com as normatividades

da modernidade tardia e da estrutura ditatorial da época. Acreditamos que sem

estabelecer tal proximidade seria excluir possibilidades de enriquecer a leitura de uma

obra.

4.2. O fluxo criativo e polissêmico da poesia dos anos 70

Esta linha investigativa intenta contribuir para o avanço das reflexões teóricas

sobre o que ocorreu estética e contextualmente com a poesia nos anos de chumbo,

assim como para nos debruçarmos sobre uma fortuna crítica de obras com

Page 8: Projeto de Pesquisa

características poéticas mais contextualizadas e originais. Cientes do papel da

historicidade nas formulações distintas que cada época concedeu ao tratamento da

poesia, sobretudo em suas relações com as dimensões sociais das representações,

esboçamos os seguintes destaques a serem desenvolvidos em relação ao gênero lírico:

- A geração mimeógrafo e poesia marginal, com destaque para Ana Cristina

Cesar e Paulo Leminski;

- A experiência histórica das vozes sufocadas, com destaque para Ferreira

Gullar;

- A voz dos cânones, com destaque para autores que advinham de outras

gerações como Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros e Haroldo de Campos

Essas subdivisões nos permitem, a um só tempo, aprofundar focos

investigativos teórico-críticos, produzindo conhecimentos distintos sobre um

momento histórico específico, de forma a aproveitá-los em reflexões sobre as relações

entre tradição e modernidade. Cada variação do modo de se fazer poesia tem um

papel importante no avanço das noções capazes de alimentar e problematizar a

própria ideia de tradição.

Parte dessa bibliografia dependerá do corpus a ser delimitado ainda no

decorrer desta pesquisa, quando, munidos de um arsenal teórico sobre o gênero

poético e atentos a molduras históricas ainda amplas, deverá estreitar-se e

aprofundar-se a busca por conhecimentos contextuais a partir justamente da eleição

de obras literárias específicas a cada período, que daí em diante passam a ser o foco

investigativo central. A seleção do corpus específico a cada subprojeto dar-se-á em

consonância com as discussões que se pretende fazer não apenas em sala de aula, mas

como também na orientação de monitorias e na formação de grupos de estudo sobre

o tema.

Page 9: Projeto de Pesquisa

4.3. A tropicália e a reinvenção de um Brasil Plural

É sabido que no contexto da virada dos anos 60 para 70 a organização dos festivais

televisivos e o advento do tropicalismo abriram uma nova página na história cultural

brasileira, principalmente no que diz respeito ao que podemos supor uma

convergência de uma relação entre arte pop, erudita e popular. A juventude que

firmou o Tropicalismo, combativa contra setores autoritários do regime ditatorial,

passou uma mensagem de protesto pela irreverência, ironia, antropofagia. O

politicamente correto de um regime duro e totalitário era contraposta por um coletivo

que condensou música, literatura, literatura e artes plásticas em uma única proposta

crítica.

Neste sentido, propomos neste eixo da pesquisa evidenciar primeiramente o

debate intelectual em torno do tema Tropicalismo, revisitando conceitos e teóricos

que tentam esclarecer os principais pontos deste grupo que tanto prezou pela

hibridização cultural. Em seguida, iremos fazer a busca das principais obras para

construir uma constelação histórica das suas principais obras de Caetano Veloso

(Tropicália e Alegria, Alegria), Gilberto Gil (Aquele Abraço), Gal Costa (Gal), Mutantes

(Os mutantes e A divina Comédia ou Ando meio desligado), Jorge Ben Jor ( Cadê

Teresa?), Tom Zé (Tom Zé) e a obra conjunta Panis et Circense.

Se o romance pós-64 concentrou seus principais fatores artísticos em uma

representação denunciadora ou numa exposição da crise de identidade e social atráves

de uma linguagem desconstruída, o que leva a crer que tem suas bases no processo

político, o imaginário estético criado pelo Tropicalismo foi um momento de reflexão

crítica com maior ênfase sobre o cultural, os valores e costumes, o social. São estas

categorias de ressignificação cultural e caldo plasmático de referências que iremos

adotar como categoria de orientação de nossas análises sobre a música popular

brasileiro, com ênfase no Tropicalismo, em nossa pesquisa. Vale lembrar que este

trabalho com música e literatura abre caminhos profícuos para uma ponte com o

ensino de literatura nas escolas, havendo potencial suficiente para se realizar novos

percalços pelo letramento literário dos alunos de ensino fundamental e médio.

4.4. O cinema brasileiro pós-64: do Cinema Novo à retomada do tema da

ditadura.

Page 10: Projeto de Pesquisa

Na área cinematográfica, aquilo que ficou conhecido como Cinema Novo foi o

movimento político cultural realizado no momento de maior efervescência política do

regime. Foi ele quem melhor exprimiu as contradições de um nacionalismo-

desenvolvimentista brasileiro na segunda metade dos anos 60. Com uma influência

direta das vanguardas cinematográficas europeias e com um pioneirismo ousado nas

propostas estéticas, o Cinema Novo teve uma importância fundamental para o campo

artístico brasileiro, pois reorientou temáticas, estabeleceu novas linhas narrativas,

provocou, com desenvoltura, transpor os limites estabelecidos naquele momento de

crítica ao poder.

Diante destas considerações, o primeiro momento da pesquisa sobre este

recorte é o estabelecimento do corpus. Inicialmente faremos a recolha de um conjunto

de filmes a partir da filmografia disponível, que, para o caso Cinema Novo, inclui desde

seus primeiros filmes como Deus e o diabo na terra do sol (1963), de Glauber Rocha,

até Os Deuses e os Mortos (1970), de Ruy Guerra. Além disso, iremos enveredar em

alguns momentos por obras que ficaram conhecidas sob a alcunha do “cinema de

mercado”, feito sob a produção da estatal Embrafilmes, como forma de estudo

comparativo e de entendimento histórico da diluição do movimento encabeçado por

Glauber Rocha.

Paralelamente ao estabelecimento do corpus, teremos o estudo de uma

abordagem teórica as diretrizes do que foi o Cinema Novo em sua concepção teórica e

seus desdobramentos. Para tanto, usaremos os trabalhos da Jean-Claude Bernadet,

Ismael Xavier, Elio Gaspari e as próprias publicações do principal idealizador do

movimento, Glauber Rocha. Com o conceito assim estudado de “Cinema Novo”

passaremos às análises do corpus, que será entendido como uma produção com valor

estético, buscando explorar confluências entre a literatura e a arte cinematográfica da

época.

Sob esta mesma condição metodológica, iremos realizar um estudo de filmes

documentários que representam uma luta para expor o que ocorria naquele momento

histórico brasileiro conhecido como “os anos de chumbo”. Filmes como Brazil, a

reporto n torture, Cabra marcado para morrer e Cidadão Boilessen figuram entre as

obra de maior destaque em relação a produção de um cinema de memória/protesto

Page 11: Projeto de Pesquisa

contra o autoritarismo de uma época. Na mesma direção, elencaremos filmes que

ficaram caracterizados historicamente como Cinema de Retomada, em que filmes

como O ano em que meus pais saíram de férias, Cabra cega, Batismo de Sangue e

Quase Irmãos fazem claras referencias contextuais ao tempo do regime de exceção.

Tanto o documentário como o Cinema de Retomada nos dá uma noção melhor dos

desdobramentos da representação histórica do regime. Em síntese, a fundamentação

metodológica para a análise do corpus se funda na crítica social, tendo a representação

das relações de poder e violência de estado como ponto de partida.

5. Topicalização das atividades acadêmicas a serem desenvolvidas nos próximos

três anos de pesquisa

Page 12: Projeto de Pesquisa

Primeiro ano

Ministrar aulas no Curso de Graduação em Letras/UEPB

Orientar alunos em projeto PIBIC sobre a música dos anos 70 e seu diálogo

com a literatura.

Coordenar Grupo de Pesquisa intitulado “A produção romanesca e a

representação da violência na literatura de 1964”

Apresentar trabalhos do Grupo em Congressos Regionais, Nacionais e

Internacionais.

Fazer orientações de monografias vinculadas à discussão sobre literatura

brasileira moderna.

Organizar e produzir livro sobre a temática do romance no contexto ditatorial

brasileiro.

Organizar Curso de extensão sobre o Cinema Novo, com exibição, debates e

palestrantes convidados para toda a comunidade.

Segundo Ano

Ministrar disciplina na Graduação em Letras.

Ministrar 3 (três) minicursos sobre O fluxo criativo e polissêmico da poesia dos

anos 70. Um para cada aspecto destacado anteriormente.

Dar continuidade ao Grupo de Pesquisa intitulado “A produção romanesca e a

representação da violência na literatura de 1964”

Submeter projeto PIBIC na área de Literatura com enfoque na linha: A

tropicália e a reinvenção de um Brasil plural

Orientar trabalhos de monitoria.

Realizar atividades de extensão envolvendo alunos da graduação do sobre os

documentários sobre a ditadura no país.

Participar de Eventos científicos pelo país.

Organizar e produzir livro sobre a poesia no período da ditadura militar

Page 13: Projeto de Pesquisa

Terceiro ano

Ministrar disciplina na Graduação em Letras.

Organizar palestras sobre Hilda Hilst, Ana Cristina Cesar e Haroldo de Campos.

Realizar atividades de extensão envolvendo alunos da graduação sobre os

filmes do Cinema de Retomada que abordam o problema da ditadura no Brasil.

Organizar livro sobre O Cinema Novo e a Tropicália.

Produzir artigos científicos para periódicos.

Realização de um GT finalizando os trabalhos da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGAMBEN, G. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2004.

Page 14: Projeto de Pesquisa

BARBIERI, T. Ficção Impura: prosa brasileira dos anos 70, 80 e 90. Rio de Janeiro:

EDUFRJ, 2003.

BERNADET, J.C. Brasil em tempo de cinema. Rio de Janeiro: Terra e Paz, 1978

CANDIDO, A. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 8.ed. São Paulo: T.A. Queiroz, 2000.

______. A nova narrativa. In: A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática,

1989.

CINTRÃO, S. H. (org.). A forma da festa – Tropicalismo: a explosão e seus estilhaços.

Brasília: UNB/Imprensa Oficial, 2000.

DALCASTAGNÈ, R. A Garganta das coisas: Movimentos de Avalovara, de Osman Lins.

Brasília, UnB, 2000.

________. O espaço da dor: O regime de 64 no romance brasileiro. Brasília: UnB, 1996.

DELLASOPPA, E. Reflexões sobre a violência, autoridade e autoritarismo. São Paulo:

Revista Usp. n.9, 1991. p.79-96

DIAS, Lucy. Anos 70: enquanto corria a barca. São Paulo: Senac, 2003.

FAVARETTO, C. Tropicália: alegoria, alegria. São Paulo, Kairos, 1979.

FRIEDMAN, N. O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito crítico. Disponível em: http://www.usp.br/revistausp. Acesso em: 19mar. 2003.

FRANCO, R. Itinerário Político do Romance Pós-64: A Festa. São Paulo: Unesp, 1998.

GALVÃO, W.N. Musas sob Assédio. São Paulo: Folha de São Paulo. Caderno Mais, 17

de março de 2002

GASPARI, E; HOLLANDA, H; VENTURA, Z. Cultura em trânsito: da repressão à abertura.

Rio de Janeiro: Aeroplano editora, 2000.

GOMES, M.R. A ficção brasileira pós-64. Goiania: Editora da UCG, 2005.

GASPARI, E. A ditadura encurralada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Page 15: Projeto de Pesquisa

GONÇALVES, Marcos Augusto; HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Política e literatura: a

ficção da realidade brasileira. In: Anos 70: literatura. Rio de Janeiro: Europa, 1979. p. 7

– 81.

HOLLANDA, H.B. 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.

____________. Heloísa Buarque de. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e

desbunde: 1960/70. São Paulo: Brasiliense, 1980.

____________. Heloísa Buarque. Cultura e Participação nos anos 60. São Paulo:

Brasiliense, 1990.

HONNETH, A. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: ed. 34, 2003.

KOSELLECK, R. Futuro passado. Contribuições à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2006.

KUDIELKA, R. O paradigma da pintura moderna na poética de Beckett. Novos Estudos CEBRAP. Nº 56, março de 2000. P.63-75

MACIEL, L.C. Geração em transe. Memórias do tempo do Tropicalismo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996.

MACHADO, J. G. Os romances brasileiros nos anos 70: fragmentação social e estética.

Florianópolis: Editora da UFSC, 1981.

PELLEGRINI, T. Gavetas vazias: ficção e política nos anos 70. São Carlos: EDUFSCar,

1996.

SILVERMAN, M. Protesto e o novo romance brasileiro. São Carlos: EDUFSCar, 1995.

REIMÃO, R. Repressão e resistência: censura a livros na ditadura militar. São Paulo:

Edusp, 2011.

REIS, C; LOPES, A.C. Dicionário de Teoria da Narrativa. São Paulo: Ática, 1988.

RISÉRIO, A. Anos 70, Trajetórias. Iluminuras: São Paulo, 2005. SANTIAGO, Silviano. O

entre-lugar do discurso latino-americano. In: Uma Literatura nos Trópicos, São Paulo,

Perspectiva, 1978.

Page 16: Projeto de Pesquisa

____________. Poder e alegria: a literatura brasileira pós-64 – reflexões. In: Nas

malhas da letra. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

____________. As raízes e o labirinto da América Latina. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

____________. Vale quanto pesa – ensaios sobre questões políticoculturais. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1982.

ROCHA, G. Revolução do Cinema Novo. Rio de Janeiro, Alhambra/Embrafilmes, 1980.

SCHWARZ, Roberto. Cultura e Política, 1964-1969 In: O pai de Família e outros

estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. p. 61 – 92.

____________. Fim de século. In: Seqüências Brasileiras. São Paulo: Companhia das

Letras, 1999.

TELES, E; SAFATLE, V. (Orgs.) O que resta da ditadura. São Paulo: Boitempo, 2010.

VIEIRA, B. M. As ciladas do trauma: considerações sobre história e poesia nos anos 1970. In: TELES, E; SAFATLE, V. (Orgs.) O que resta da ditadura. São Paulo: Boitempo, 2010.

XAVIER, I. Sertão mar- Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Brasiliense, 1983.