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LEONARDO FERREIRA MARTINS INTERNET E LEITURA Os impactos da internet nos hábitos de leitura Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Comunicação e Marketing em Mídias Digitais da Universidade Estácio de Sá como requisito parcial à aprovação na Disciplina Metodologia da Pesquisa. Orientadora: Prof.ª Ieda Carvalho Sande

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LEONARDO FERREIRA MARTINS

INTERNET E LEITURAOs impactos da internet nos hbitos de leitura

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Comunicao e Marketing em Mdias Digitais da Universidade Estcio de S como requisito parcial aprovao na Disciplina Metodologia da Pesquisa.

Orientadora: Prof. Ieda Carvalho Sande

Rio de Janeiro2014

1. TTULO: Internet e leitura: os impactos da internet nos hbitos de leitura

2. TEMA: Internet e hbitos de leitura

3. DELIMITAO DO TEMA

A pesquisa pretende analisar os impactos da internet ou meios digitais no hbito da leitura, por meio de bibliografia que discuta o papel dessa tecnologia na mudana ou no de comportamento dos leitores. Pretende-se analisar as possveis alteraes mentais que a internet, com seu imediatismo e abundncia de informaes instantneas, propiciou, para tentar saber se a leitura solitria, calma e demorada pode estar em vias de extino.

4. PROBLEMA

O trabalho tentar responder ao seguinte problema: a internet est alterando nossa capacidade de concentrao ou mudando a forma como lemos livros?

5. HIPTESE

O uso da internet, por suas caractersticas intrnsecas, promove uma srie de mudanas na forma de pensar e no funcionamento do crebro. Essas alteraes, por sua vez, impactam nos hbitos de leitura e fazem surgir um novo tipo de leitor e uma nova configurao do livro.

6. OBJETIVOS6.1 GERALA presente pesquisa visa analisar como a internet est contribuindo para mudar a experincia da leitura. 6.2 ESPECFICOSa) Traar uma histria da leitura, situando seus perodos histricos.b) Investigar em que medida as inovaes tecnolgicas dos meios de comunicao, em especial a internet, moldam o comportamento.c) Debater o futuro do livro e da leitura no sculo XXI. 7. JUSTIFICATIVA

A escolha desse tema deve-se, primeiramente, a uma curiosidade particular. Por observar as mudanas que a internet tem provocado na minha maneira de pensar e no meu hbito de leitura, decidi empreender essa anlise para tentar chegar aos porqus. Consequentemente, pretendi ampliar o escopo da pesquisa e buscar identificar esse processo como um sintoma geral no nosso tempo cada vez mais conectado.

8. REVISO DA LEITURA

8.1 A EVOLUO HISTRICA DA LEITURA

Como acontece com outras prticas culturais, muitas vezes damos por consolidada a experincia da leitura, imaginando que ela surgiu e se manteve inalterada atravs dos sculos. Mas a histria no bem assim. A histria da leitura e dos livros comporta uma srie de adaptaes que refletem a prpria evoluo dos meios de comunicao.Em A gerao superficial, Nicholas Carr conta que, desde que o homem comeou a escrever, qualquer coisa que estivesse mo poderia ser usada: paredes lisas das rochas, lascas de madeira, cascas de cortia, pedaos de cermica. Esses materiais estavam por toda a parte, mas eram pequenos e tinham formato irregular. Foi mais tarde que os sumrios passaram a usar um meio prprio para a escrita. Suas tabuletas, feitas de argila, eram preparadas especialmente para esse fim. Documentos, registros, ofcios eram redigidos nesse meio, e aqueles mais extensos eram gravados em sequncias de tabuletas, numeradas, o que podemos considerar como a antecipao do livro moderno.Passando pelas tabuletas, pelo pergaminho e o papiro, at chegar no cdice e no livro impresso, a evoluo dos modos de escrita e leitura de certa forma acompanha as necessidades da civilizao. Mas tambm acaba por moldar a forma como a prtica da leitura percebida. Passando da tradio oral dos tempos antigos leitura silenciosa dos nossos tempos, o ato de ler modifica-se de forma substancial. Como observa Roger Chartier:...nesse estilo antigo, a leitura reverncia e respeito pelo livro porque ele raro, porque est carregado de sacralidade mesmo quando profano, porque ensina o essencial. Essa leitura intensa produz a eficcia do livro, cujo texto torna-se uma referncia familiar, cujas frmulas do forma s maneiras de pensar e contar. Uma relao atenta e deferente liga o leitor quilo que l, incorporando em seu ser mais ntimo a letra do que leu (CHARTIER, 2009).O abandono da tradio oral de leitura , a um s tempo, causa e efeito das mudanas do meio de comunicao chamado livro. Se no passado os livros eram escritos por monges copistas sem separao entre as palavras influncia direta do modo de ler antigo, oral , com o tempo eles passam a comportar formas expressivas que se adaptavam a um novo tipo de leitura. A prtica da leitura se expande e cada vez mais gente passa a desejar ler privadamente. A leitura torna-se menos um ato de performance e teatralidade e mais um meio de instruo, aprimoramento pessoal ou, at, diverso. Sobre essa nova maneira de ler, Chartier comenta:Ela leitura de numerosos textos, lidos em uma relao de intimidade, silenciosa e individualmente. , tambm, leitura laicizada, porque as ocasies de ler se emancipam das celebraes religiosas, eclesisticas ou familiares e porque se espalha um contato desenvolto com o impresso, que passa de um texto a outro e que no tem mais respeito para com os objetos impressos, amassados, abandonados e jogados. Mais superficial, esse novo estilo de leitura traduz um menor investimento no livro e, sem dvida, uma menor eficcia dos textos, antigamente mestres da vida (CHARTIER, 2009).O ato de ler, ento, ganha a forma que conhecemos at hoje, essencialmente solitria. A comunicao se d entre as palavras impressas e o leitor, de forma direta. Como diz Alberto Manguel, em contraposio tradio oral de antigamente, Um livro que pode ser lido em particular e sobre o qual se pode refletir enquanto os olhos revelam o sentido das palavras no est mais sujeito s orientaes ou esclarecimentos, censura ou condenao imediatas de um ouvinte. A leitura silenciosa permite a comunicao sem testemunhas entre o livro e o leitor e o singular "refrescamento da mente", na feliz expresso de Agostinho (MANGUEL, 2004).Ler um livro ainda vivenciar um processo artificial de pensamento, forar-se a ignorar tudo ao redor para se concentrar no objeto da leitura. Esse processo exige ateno e treinamento. O crebro humano, durante os ltimos sculos, foi treinado para essa tarefa. O mundo atual fruto do homem tipogrfico de que fala Marshall McLuhan.Mas ser que esse condicionamento do crebro forma de ler dos tempos est em vias de se perder, com o advento da internet?

8.2 IMPACTOS DA INTERNET NO CREBRO DO LEITOR

Como qualquer inveno tecnolgica, a internet provoca profundas alteraes na sociedade. Quando se tornam de uso popular, as tecnologias fazem surgir novos modos de pensar e estendem populao geral modos de pensamento antes restritos a um pequeno grupo de elite. Mas, via de regra, raramente a tica de uma tecnologia inovadora reconhecida por seus inventores. Estes esto preocupados com a soluo de problemas. Veem a criao de uma ferramenta tecnolgica como algo prtico e se debruam, portanto, em seus benefcios.Para Carr (2011), no entanto, a tica intelectual de uma inveno que tem o efeito mais profundo sobre ns. Como diz, a tica intelectual a mensagem que um meio ou outro instrumento transmite s mentes e cultura de seus usurios. Segundo Carr (2011), h muito tempo que historiadores e filsofos travam um debate sobre o papel da tecnologia na formao da civilizao. De um lado, esto os que defendem que o progresso tecnolgico, visto como uma fora independente, fora do controle humano, o fator primordial a influenciar o curso da histria. o que podemos chamar de determinismo tecnolgico. De outro, h os que minimizam o poder da tecnologia, pois acreditam que as ferramentas so objetos neutros, a servio das aspiraes e desejos de quem as utiliza. Esses, conhecidos como instrumentalistas, argumentam que os instrumentos so os meios que usamos para alcanar nossos fins. Ou seja, no tm fim em si mesmos.O conflito entre os deterministas e os instrumentalistas nunca ser resolvido. Ele envolve, no fim das contas, duas vises radicalmente diferentes da natureza e do destino da humanidade. O debate tanto a respeito da f como da razo. Mas h uma coisa sobre a qual deterministas e instrumentalistas concordam: os avanos tecnolgicos frequentemente assinalam momentos cruciais da histria. [...] Em grande medida, a civilizao assumiu a sua forma presente como resultado das tecnologias que as pessoas vieram a usar. (CARR, 2011)De que forma, ento, podemos situar as mudanas que a internet provocou no comportamento das pessoas e relacion-los ao ato de ler um livro? Primeiro vejamos que mudanas seriam essas.Em um dia, a grande maioria das pessoas com acesso internet passa ao menos algumas horas por dia conectadas. Durante esse tempo, somos levados a repetir a mesma ao incessantemente, geralmente em alta velocidade, em respostas a estmulos transmitidos por uma tela ou alto-falante. A internet abarca quase todos os nossos sentidos (o visual, o auditivo, o do tato), e de forma simultnea. Quando avistamos um hiperlink, clicamos e, nesse processo, podemos at ouvir algum sinal sonoro. A internet tambm um sistema de recompensas, como diz Carr (2011), que fornece respostas, ou reforos positivos em termos psicolgicos: quando clicamos em um link, obtemos algo novo para olhar e avaliar. Em ltima anlise, a interatividade da internet nos d ferramentas poderosas para buscar informaes, nos expressarmos e nos ligarmos uns aos outros.Com isso, ela exige nossa ateno de uma forma muito mais profunda do que fazem outras mdias, como a televiso ou o rdio. Sem a nossa interveno (o click), uma engrenagem parada, apenas em potncia, espera do start do usurio. A partir do primeiro click, no entanto, abre-se um universo aparentemente infinito. Mas essa exigncia de ateno que Carr define como paradoxal:Nosso uso da internet envolve muitos paradoxos, mas aquele que promete ter a maior influncia no longo prazo sobre como pensamos que ela prende a nossa ateno apenas para quebr-la. Focamos intensivamente na prpria mdia, na tela piscante, mas somos distrados pela rpida oferta de estmulos e mensagens competindo entre si. Quando e onde quer que estejamos conectados, a net nos presenteia com uma apresentao incrivelmente sedutora. (CARR, 2011)O diagnstico de Carr quanto aos efeitos da internet no modo de pensar um tanto quanto negativo. Para ele, desateno constante que a net encoraja diferente daquela distrao natural, e at proposital, de nossa mente, que procura evadir-se de um objeto temporariamente, para refrescar o pensamento quando precisamos fazer escolhas conscientes: A cacofonia de estmulos da net d um curto-circuito tanto no pensamento consciente como no inconsciente, impedindo que nossa mente pense criativamente. Assim, diz ele, nosso crebro transforma-se em simples unidades de processamento de sinais, conduzindo a informao para dentro da conscincia e depois para fora.A mente linear, calma, focada, sem distraes, est sendo expulsa por um novo tipo de mente que quer e precisa tomar e aquinhoar informao em surtos curtos, desconexos, frequentemente superpostos quanto mais rapidamente, melhor. (CARR, 2011)Se esses argumentos que em resumo pretendem diagnosticar uma mudana na forma de pensar nos dias atuais, ou melhor, o surgimento mesmo de uma nova configurao cerebral, formada por outras conexes e sinapses, diferentes daquelas exigidas ao homem tipogrfico so vlidos para explicar a diminuio gradativa dos hbitos de leitura por todo o mundo, como sobreviver o livro no futuro? 8.3 A LEITURA NO SCULO XXI E O NOVO LIVRO

Estamos num perodo de transio, em que a cultura do homem tipogrfico ameaa dar lugar do homem conectado. Esse processo visvel: o leitor solitrio, que percorre as pginas de um livro silenciosamente, cada vez menos comum. Em contrapartida, o homem do sculo XXI constantemente visto com um smartphone ou um tablet em suas mos.Robert Darnton observa, em A questo dos livros, que a fonte de conhecimento mais utilizada pelo jovem no mais a biblioteca:Estudantes modernos ou ps-modernos fazem a maior parte de suas pesquisas nos computadores de seus quartos. Para eles o conhecimento est on-line, no em bibliotecas. Sabem que as bibliotecas nunca podero conter tudo entre suas paredes, porque a informao infinita e se estende por todos os cantos da internet, e para encontr-la preciso usar um mecanismo de busca, no um catlogo de fichas. (DARNTON, 2010)Parece ento haver uma inclinao maior das novas geraes na direo da internet e em seus mecanismos de funcionamento. Por isso, estando a cultura e o pensamento, em alguma medida, moldados pelos processos prprios da rede, natural que a leitura e o livro tambm o sejam.Os e-readers (os leitores digitais), que, diga-se de passagem, at hoje no so sucesso absoluto de vendas, trazem consigo a ideia prpria da rede relacionada importncia ou desejo de se ter todo o conhecimento encapsulado num dispositivo. Como observa Carr (2011), no entanto, eles refletiro cada vez de maneira mais intensa a mudana comportamental advinda com a internet.Muitos acreditam que apenas uma questo de tempo at que funes das redes sociais sejam incorporadas aos leitores digitais, o que transformaria a leitura em algo compartilhvel instantaneamente, como um esporte de equipe. Esse cenrio particular pode se concretizar ou no, mas parece inevitvel que a tendncia da web de transformar todas as mdias em mdias sociais ter um efeito de grande alcance nos estilos de leitura e escrita e, portanto, na prpria linguagem. Quando a forma do livro se modificou para acomodar a leitura silenciosa, um dos mais importantes resultados foi o desenvolvimento da escrita privada. [...] Agora que o contexto da leitura de novo est se alterando, da pgina privada para a tela comunal, os autores mais uma vez se adaptaro. Cada vez mais, eles adequam o seu trabalho para um meio que o ensasta Caleb Crain descreve como de grupalidade, onde as pessoas leem principalmente por uma questo de um sentimento de pertencimento em vez de por iluminao ou diverso pessoal. (CARR, 2011)Da tradio oral, passando pela leitura silenciosa, as mudanas que as tecnologias trouxeram atividade da leitura foram significativas. Resta saber (ou confirmar) qual ser o papel da internet nesse processo.9. METODOLOGIA

Para responder aos objetivos propostos ser realizada uma pesquisa bibliogrfica. Sero analisados e confrontados livros e dissertaes que abordem os temas: histria da leitura, histria do livro, influncia da tecnologia na cultura e no pensamento e mudanas comportamentais provocadas pela internet.

10. CRONOGRAMA

Junho/14Julho/14Agosto/14Setembro/14Outubro/14

Levantamento bibliogrficoX

Fichamento de textos selecionadosXX

Redao do TCCX

Entrega do TCCX

11. REFERNCIAS

CARR, Nicholas. A gerao superficial: o que a internet est fazendo com os nossos crebros. Rio de Janeiro: Agir, 2011.CHARTIER, Roger. Prticas da leitura. 4. ed. So Paulo: Estao Liberdade, 2009.DARNTON, Robert.A questo dos livros.So Paulo: Companhia das Letras, 2010.MANGUEL, Alberto. Uma histria da leitura. So Paulo: Companhia das Letras, 2004.