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1 PROJETO FOLHAS AUTOR: Lucimar Aparecida Casarin ORIENTADORA: Cristiane Malinoski Pianaro Angelo NRE: Guarapuava ESCOLA: Colégio Estadual Professor Júlio Moreira – Ens. Fund. e Médio DISCIPLINA: Língua Portuguesa ( ) Ensino Fund. ( X ) Ensino Médio DISCIPLINA DA RELAÇÃO INTERDISCIPLINAR 1: Arte DISCIPLINADA RELAÇÃO INTERDISCIPLINAR 2 : História CONTEÚDO ESTRUTURANTE: O discurso como prática social CONTEÚDO ESPECÍFICO: Leitura e produção escrita de gêneros afins: fofoca, biografia, autobiografia e diário TÍTULO: Da fofoca ao Blog: AFIANDO A LÍNGUA Para alguns pesquisadores, a fofoca funciona nas sociedades humanas da mesma forma como o coçar nas sociedades primatas. Seria algo inerente ao ser humano o desejo de saber e comentar sobre a vida alheia. Você certamente já sentiu o impulso de fazer alguma fofoca ou já foi vítima de algum comentário deste tipo. MAS SERÁ QUE EXISTE ALGUMA FORMA DE FALAR SOBRE A VIDA DE ALGUÉM SEM ESTAR SIMPLESMENTE FAZENDO FOFOCA? VAMOS CONVERSAR UM POUQUINHO SOBRE ISSO. Nós vivemos em sociedade. Isso implica estar em contato com outras pessoas. Nesse contato, a linguagem é o principal instrumento de interação social, ou seja, é através dela que é possível conhecer-se e conhecer ao outro. Muitos estudos e novas teorias têm contribuído para que se compreenda melhor a importância e a função da linguagem na vida em sociedade. Destacaremos aqui o trabalho do filósofo russo Mikhail Bakhtin, sobre o qual falaremos um pouco mais nas próximas páginas. Fonte: foto – Péricles M. Kramer

Projeto Folhas v2 · Estética da Criação Verbal; introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4.ed. São Paulo:

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PROJETO FOLHAS

AUTOR: Lucimar Aparecida Casarin

ORIENTADORA: Cristiane Malinoski Pianaro Angelo

NRE: Guarapuava

ESCOLA: Colégio Estadual Professor Júlio Moreira – Ens. Fund. e Médio

DISCIPLINA: Língua Portuguesa ( ) Ensino Fund. ( X ) Ensino Médio

DISCIPLINA DA RELAÇÃO INTERDISCIPLINAR 1: Arte

DISCIPLINADA RELAÇÃO INTERDISCIPLINAR 2 : História

CONTEÚDO ESTRUTURANTE: O discurso como prática social

CONTEÚDO ESPECÍFICO: Leitura e produção escrita de gêneros afins: fofoca, biografia, autobiografia e diário

TÍTULO: Da fofoca ao Blog: AFIANDO A LÍNGUA

Para alguns pesquisadores,

a fofoca funciona nas sociedades humanas da mesma forma como o coçar nas sociedades primatas. Seria algo inerente ao ser humano o desejo de saber e comentar sobre a vida alheia.

Você certamente já sentiu o impulso de fazer alguma fofoca ou já foi vítima de algum comentário deste tipo.

MAS SERÁ QUE EXISTE ALGUMA FORMA DE FALAR SOBRE A

VIDA DE ALGUÉM SEM ESTAR SIMPLESMENTE FAZENDO FOFOCA?

VAMOS CONVERSAR UM POUQUINHO SOBRE ISSO.

Nós vivemos em sociedade. Isso implica estar em contato com outras pessoas. Nesse contato, a linguagem é o principal instrumento de interação social, ou seja, é através dela que é possível conhecer-se e conhecer ao outro.

Muitos estudos e novas teorias têm contribuído para que se compreenda melhor a importância e a função da linguagem na vida em sociedade. Destacaremos aqui o trabalho do filósofo russo Mikhail Bakhtin, sobre o qual falaremos um pouco mais nas próximas páginas.

Fonte: foto – Péricles M. Kramer

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Bakhtin (2003) vê a linguagem como uma criação coletiva, parte de um diálogo cumulativo entre o “eu” e o outro. É através da linguagem que as pessoas se tornam conscientes e começam a agir sobre o mundo, com e contra os outros. Toda sua obra gira em torno desse eixo (do eu e do outro) e da concepção de que a vida é vivida nas fronteiras entre as particularidades de nossa experiência individual e a auto-experiência dos outros.

Segundo Bakhtin, todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem, e as muitas formas de manifestações da linguagem em situações sociais concretas efetuam-se em forma de enunciados (orais e escritos, simples e complexos), aos quais ele deu o nome de “Gêneros do Discurso”.

Os Gêneros do Discurso seriam os tipos relativamente estáveis de enunciados, caracterizados pelo modo como se compõem, pela sua estrutura, pelo conteúdo e pelo estilo, e marcados pela função social que desempenham, pelos seus propósitos de comunicação. Ou seja, os gêneros de discurso vão desde uma simples conversa no cotidiano familiar, uma carta, bilhete,..., às formas de exposição científica (teses, dissertações,...) e todas as formas literárias.

Há, portanto, gêneros mais formais e outros mais maleáveis. Bakthin dividiu-os em tipos primários (simples) e secundários (complexos), de acordo com a natureza e os elementos presentes no enunciado.

O gênero primário é entendido como aquele constituído num contexto de uma comunicação verbal espontânea, como o diálogo, a carta, o diário. Já o gênero secundário apresenta-se num contexto de comunicação mais complexo. Ele aparece principalmente na escrita artística literária, científica, sociopolítica (como o romance, o artigo científico, a peça de teatro, etc.).

Há uma grande diversidade de gêneros, e isso gera certa dificuldade de se uniformizar suas características. Bakhtin lembra, no entanto, que a língua é o elemento unificador entre todos os gêneros.

Para ele, a linguagem não é um sistema acabado, pronto, mas um processo contínuo de vir a ser. Assim, nossa experiência discursiva se forma e se desenvolve em uma interação constante com a fala do outro, que por sua vez está repleta de ecos do discurso de outros com os quais se relaciona. A isso, ele deu o nome de “dialogismo”, relação necessária entre um enunciado e outros enunciados.

Segundo ele, “A palavra é uma espécie de ponte entre mim e os outros.” (BAKHTIN,1992, p.119).

A Linguagem é, portanto, instrumento através do qual o hom.em se reconhece humano, interage e troca experiências, compreende a realidade em que está inserido e percebe o seu papel como participante da sociedade (PARANÁ, 2006, p.20).

Fontes pesquisadas:

BAKHTIN, M.. Estética da Criação Verbal; introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2007.

OLIVEIRA, Rosa Meire Carvalho de. Diários públicos,mundos privados: Diário íntimo como gênero discursivo e suas transformações na contemporaneidade bocc.ubi.pt/pag/oliveira-rosa-meire-diarios-publicos-mundos-privados.html - 438k Acesso em 06 de dezembro de 2007.

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MAS O QUE ISSO TEM A VER COM A FOFOCA?

Bem, segundo o dicionário Houaiss (2001), interagir significa ter comunicação, diálogo (com outrem) em dada situação (familiar, profissional etc.); comunicar-se, relacionar-se. Ora, nesta busca de interação, de diálogo, muitas vezes usamos a fofoca, um gênero do discurso, para estabelecer contato com o outro.

VAMOS FALAR UM POUCO SOBRE ESSE GÊNERO.

Primeiramente, converse com um colega e escrevam uma definição para FOFOCA.

Compare o que você escreveu com o que apresentamos abaixo.

Segundo Wilson (2007), nem todos os pesquisadores que estudam a fofoca usam a mesma definição. A maior parte começa com uma idéia básica: a fofoca é uma conversa entre duas pessoas cujo tema é uma terceira pessoa que não está presente. Alguns pesquisadores acrescentam outras condições, como:

. é uma conversa que acontece reservadamente, na qual as pessoas transmitem informações sobre as quais não têm certeza como se fossem fatos;

. as pessoas que estão fofocando e a pessoa que é o alvo da fofoca se conhecem na vida real. Segundo essa definição, a fofoca sobre celebridades não é bem uma fofoca, a não ser que o contador e o ouvinte sejam amigos da celebridade em questão;

. algo na linguagem corporal ou no tom de voz do contador sugere um julgamento moral sobre as informações que estão sendo passadas, e, de certa forma, os fofoqueiros se comparam à pessoa que é alvo da fofoca, considerando-se superiores a ela.

Numa definição básica, podemos dizer que fofoca é quando duas pessoas falam sobre uma terceira que está ausente e a conversa inclui murmúrios, julgamento ou tom de segredo.

Fonte: Como funciona a fofoca, por Tracy V. Wilson - traduzido por HowStuffWorks Brasil,l http://pessoas.hsw.uol.com.br/boato.htm

VAMOS CONVERSAR AGORA SOBRE COMO A FOFOCA REGE AS RELAÇÕES SOCIAIS. JUNTE-SE A UM GRUPO DE AMIGOS E, EM EQUIPE, RESPONDAM ÀS SEGUINTES QUESTÕES:

1. Em que situações sociais a fofoca está presente?

2. Elaborem uma lista com os diferentes papéis que a fofoca pode desempenhar nas interações sociais, refletindo sobre a seguinte questão: que tipo de relação ela pode estabelecer entre as pessoas?

2. É comum as pessoas começarem a contar uma fofoca com as expressões "ouvi dizer", “soube que” ou "me disseram". Que considerações podemos fazer a respeito disso? O que essas expressões denotam?

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3. Seria possível iniciar uma fofoca com a expressão “Era uma vez...”? O que esta introdução sugeriria?

4. Lembrando Bakhtin, a comunicação lingüística vai além do verbal. É através da entonação que o indivíduo falante estabelece contato com o ouvinte. Ou seja, a entonação ou a linguagem corporal usada pelo emissor podem sugerir um julgamento moral sobre as informações que estão sendo passadas. A frase "Marta tem um gatinho", por exemplo, parece ser neutra. Mas se Marta mora em um condomínio que não permite animais e o tom de voz da pessoa que está falando é de quem está escandalizada, a frase passa a ser fofoca.

Pensando nisso, encontrem outro exemplo que comprove o uso da linguagem corporal e da entonação na caracterização de uma fofoca.

5. Ainda segundo Bakhtin, a palavra é o fenômeno ideológico por excelência, ou seja, é através dela que expressamos nossa concepção de mundo, nossas idéias. Mas, muitas vezes, usamos algumas palavras como se fossem sinônimas, sem distinguir as diferenças entre elas. Pesquise e discuta a diferença entre FOFOCA, BOATO e INTRIGA.

AINDA A RESPEITO DO GÊNERO FOFOCA ....

Bakhtin afirma que na vida social do enunciado, cada palavra é dirigida a um interlocutor específico numa situação específica, e está sujeita a pronúncias, entonações e alusões distintas. Divulgar uma “bomba” pode ser algo tentador, mas é preciso ter cuidado com o tipo de comentários que fazemos, as entonações e alusões com as quais utilizamos determinadas palavras, pois estas podem ofender a honra de uma pessoa.

Antes de continuarmos, divida com a turma qual é o seu conceito de HONRA.

Pois bem, você sabia que, relacionados à fofoca, existem três crimes contra a honra previstos no Código Penal e passíveis de processo e pena?

VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE O ASSUNTO.

1º) “O crime de Calúnia consiste em imputar, atribuir, apontar alguém como autor de um fato criminoso. FATO é um acontecimento da vida, e didaticamente pode-se imaginá-lo como uma história, com começo, meio e fim. Dessa forma, não configura calúnia dizer que Pedro é ladrão de bancos, mas sim injúria. Caracteriza a calúnia falar que Pedro roubou o banco situado em determinado local, na semana passada”. ( BONFIM, 2007, p. 93,94 )

Como você viu, caluniar alguém é crime. Mas para que haja uma calúnia, é preciso que no enunciado estejam presentes aquilo que estudamos como ELEMENTOS da NARRATIVA, ou seja, alguns itens essenciais que caracterizam um fato.

a) Identifique na situação apresentada no último parágrafo do trecho acima os seguintes elementos:

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1. PERSONAGEM_______________________

2. ESPAÇO_____________________________

3. TEMPO _____________________________

4. AÇÃO ______________________________

2º) “Difamar é atribuir a alguém um fato que possa danificar sua reputação. (...) Dizer que Marcos é um “sem-vergonha” não constitui difamação, já que se trata de uma qualidade negativa e não de um fato. O crime existe se o agente disser que “Marcos, quase toda semana, é o responsável pelas brigas na empresa em que trabalha.” ( BONFIM, 2007, p. 98 )

a) Como o fato utilizado como exemplo no trecho acima pode afetar a reputação de Marcos?

3º) Já a Injúria, “caracteriza-se pela ofensa à honra subjetiva da pessoa humana, o que se conhece como xingamento. (...) Na injúria não há a atribuição de um fato, mas sim de uma qualidade negativa.” ( BONFIM, 2007, p. 99)

a) Marcos poderia processar por injúria a pessoa que o chamou de “sem-vergonha”? Justifique sua resposta.

b) Quando falamos em qualidades (negativas ou positivas) lembramos dos ADJETIVOS. Liste 5 adjetivos que você consideraria como uma injúria se fossem atribuídos a você.

VAMOS VER SE VOCÊ ENTENDEU?

Procure identificar nas situações apresentadas abaixo a que tipo de crime

elas se referem. Em seguida, leiam as respostas dadas, argumentando para defender seu ponto de vista.

a) Carlos diz aos colegas de trabalho que Maria é uma vadia. ( __________)

b) Pedro espalha aos colegas que Maria sai com o patrão. (_____________)

c) Joaquim afirma que o patrão sonegou impostos. (________________)

d) Helena diz aos amigos que Marcos é desleixado e negligente.( ________)

e) Raul fala que Joana, secretária da empresa, é uma loira burra. (_______)

f) Sônia disse que Pedro furtou alguns trocados do caixa. (__________)

Se você conseguiu identificar os crimes implícitos nos enunciados acima, PARABÉNS!

Bakhtin lembra que nossa consciência é conformada pela linguagem, é uma parte da existência e uma de suas forças, por isso possui eficácia e desempenha um papel importante na arena da vida. Use com consciência o poder que a fala lhe confere. Não se esqueça da força da palavra, nem que é através dela que você age sobre o mundo.

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BEM, FALAMOS MUITO SOBRE AS IDÉIAS DE BAKHTIN ATÉ AGORA. VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE SUA VIDA.

Mikhail Bakhtin é considerado um dos maiores pensadores do século XX. Seus estudos englobam lingüística e crítica literária. No entanto, por razões pessoais e históricas, sua obra permaneceu na obscuridade durante quase toda a sua vida. Aparentemente não tinha o menor interesse por fama e prestígio, tanto que alguns de seus livros foram publicados sob o nome de outros colegas, como Voloshinov e Medvedev. Algumas de suas obras desapareceram quando os nazistas queimaram a editora que planejava publicar um manuscrito seu, e outras foram censurados ou sofreram atraso na publicação quando jornais que haviam aceitado seus manuscritos foram fechados.

Bakhtin nasceu em Oriol, pequena cidade ao sul de Moscou, no dia 16 de novembro de 1895. Com 9 anos, mudou-se com a família para Vilna, capital da Lituânia, onde poloneses e lituanos conviviam com numerosa população de judeus que falava o iídiche. Um lugar onde as linguagens culturais, de classe e profissionais, conviviam em perpétua troca e conflito.

Aos 15, foi para Odessa, outra comunidade heteroglota de forte influência judaica. Talvez daí a base para a criação de suas teorias a respeito da linguagem e dialogismo, a presença em suas obras de temas associados à comunicação através da diferença.

Estudou na Universidade de Odessa e passou dois anos em Nevel, trabalhando como professor.

Em 1920, mudou-se para Vitebsk, animado centro cultural, onde formou o “Círculo Filosófico de Bakhtin”, espaço para leitura e debates. Lá, casou-se, em 1921, com Elena Alexandrovna Orkolovic, e contraiu uma enfermidade óssea que o atormentaria toda a vida e que causou a amputação de uma de suas pernas em 1938.

Foi preso em janeiro de 1929 sob diversas acusações, inclusive de fazer parte de um grupo religioso ilegal (a irmandade de São Serafim) e fazer exposições que “corrompiam os jovens”. Como sentença: seis anos de exílio na cidade de Kustanai, no Casaquistão, para onde partiu em 1930.

Durante a maior parte de sua existência, Bakhtin foi marginalizado em relação aos centros de poder cultural e político. Porém, na década de 50, começou-se a dar importância ao seu trabalho. A partir de então, tornou-se uma figura admirada, encontrando interlocutores no mundo inteiro e alcançando o prestígio internacional de hoje.

Fonte pesquisada: STAM, Robert. Bakhtin – Da teoria Literária à cultura de massa. Tradução Heloísa Jahn. São Paulo: Ática, 1992

PARA FAZER EM GRUPO:

1. No texto acima, contamos alguns fatos sobre a vida de Bakhtin. Isso pode ser considerado FOFOCA? Justifique sua resposta.

2. Você saberia dizer a que gênero pertence esse texto?

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Se você conseguiu responder a questão anterior, MUITO BEM. Se não, pesquise o significado do radical grego BIO e liste algumas palavras em que ele se encontra.

O QUE ISSO TEM A VER COM O QUE ESTAMOS ESTUDANDO?

Pois bem, entre os

gêneros do discurso, encontramos a BIOGRAFIA. Etimologicamente, Biografia é a escrita sobre a vida de alguém. É o gênero literário em que o autor fala sobre a vida e aspectos da obra de determinada pessoa, abordando-os muitas vezes não apenas de forma historiográfica, mas também de um ponto de vista crítico.

A biografia trata, na maioria das vezes, de pessoas públicas que, através de suas

atividades, deixaram uma importante contribuição para a sociedade.

O século XX marca o surgimento de uma modalidade do gênero que era até então pouco conhecida ou utilizada: a biografia romanceada, na qual o autor recria, através da ficção, o material documental e de pesquisa coletado sobre a vida dos biografados.

As biografias, atualmente, têm ocupado lugar de destaque, tanto da parte dos leitores quanto das editoras e da própria crítica. Isso talvez devido ao fato de que a biografia encontra-se na fronteira entre a literatura e o jornalismo, e pelo estilo narrativo envolvente atraia todo tipo de leitor. E ainda, o reconhecimento por parte da crítica deve-se ao rigor com que são feitas as pesquisas documentais, pois as biografias de qualidade constroem verdadeiros painéis socioculturais, políticos e econômicos das épocas abordadas, convertendo-se em fonte de disseminação de conhecimentos.

Fontes pesquisadas:Sofia Rosado http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/B/biografia.htm / Acesso, 26 de novembro de 2007.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Biografia / Acesso, 04 de dezembro de 2007.

COSTA, Willian. “Papiro que suporta memórias”, artigo, 23 de outubro de 2005. http://www.diariodaborborema.com.br/colunas/71985- 25k. Acesso, 2 de dezembro de 2007.

O texto que aborda alguns fatos da vida de Bakhtin tem, portanto, um caráter biográfico.

PARA DISCUTIR EM GRUPO: O autor de uma biografia pode ser processado por um dos crimes contra a

honra que estudamos acima?

Fonte: foto – Péricles M. Kramer

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LEIA O SEGUINTE TEXTO:

ROBERTO CARLOS AMEAÇA PROCESSAR AUTOR DE BIOGRAFIA NÃO-AUTORIZADA

ELLEN SOARES

Colaboração para a Folha Online, no Rio

O cantor Roberto Carlos informou nesta segunda-feira que estuda mover um processo judicial contra o historiador Paulo César de Araújo, que escreveu uma biografia não-autorizada sobre o "rei da jovem guarda", denominada "Roberto Carlos em Detalhes" (editora Planeta).

"Não li o livro todo. Mas, me desagrada muito porque ofende a mim e pessoas que me são caras. É muito estranho que alguém lance mão da minha história, meu patrimônio pessoal em seu benefício e para um fim comercial. Estou muito aborrecido, meus advogados estão estudando a questão: vamos agir dentro da lei", disse Roberto Carlos. (...)

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u68672.shtml

AINDA EM GRUPO, RESPONDA AS SEGUINTES QUESTÕES:

1. Pela leitura do texto, o que significa uma “biografia não-autorizada”?

2. Que argumentos o cantor Roberto Carlos apresenta para justificar seu desagrado à obra?

3. Apenas pela leitura do texto, é possível afirmar que Roberto Carlos poderia processar o autor do livro por um dos crimes contra a honra? Justifique sua resposta.

4. Observe o que diz o Artigo 5º, Inciso X, da Constituição Federal:

“ – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.”

Na sua opinião, biografias, revistas e programas voltados à divulgação da vida de pessoas famosas infringem esse direito garantido pela Constituição? Comente e discuta com o grupo sua resposta.

5. PRÁTICA DA ORALIDADE

Você sabe que em diversas profissões, como a de advogado, há a necessidade de muita leitura, capacidade de interpretação e, principalmente, de argumentação.

Para ajudar no desenvolvimento da sua capacidade de argumentar, realizaremos um Júri Simulado.

Como tema, a questão apresentada no texto lido anteriormente.

A turma será dividida em dois grupos, cabendo ao primeiro a tarefa de atuar como advogado de acusação do autor, e ao segundo, a tarefa de defendê-lo.

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Discutam junto com a equipe, façam um levantamento dos possíveis argumentos que poderiam ser usados para defender a posição do grupo e, em seguida, orientados pelo professor, organizem a apresentação do Júri.

VEJAM AGORA O TRECHO ABAIXO:

“Era possível que as recordações dos primeiros dias de vida, inclusive do momento do nascimento, ficassem gravadas na memória assim como um eco esculpido na pedra do passado?

Se não fosse assim, por que tanto medo?

Um trovão semelhante ao que o acordara fez retumbar os vidros da janela. A luz de um relâmpago desenhou um milhão de silhuetas no quarto. Cada forma imóvel transformou-se num fundo escuro e mutante, de tamanho impreciso. Sentado na cama, agitado pelo brusco despertar, John tentou tranqüilizar-se.

- É ridículo – disse em voz alta.

Os alemães estavam bombardeando Liverpool no momento de seu nascimento. Uma maldição. Um lamento. A morte de dezenas de seres no instante em que ele saía do ventre materno e seu primeiro choro atravessava o ar. Aquelas mesmas bombas podiam ter caído sobre o hospital, no prédio da maternidade.

Acendeu a Luz. (...)

O quarto estava cheio de objetos queridos que o encheram de paz, superando a agitação que sentira ao acordar. Sua guitarra, seu toca-discos, suas maravilhosas compras, e os livros, as flâmulas, lembranças e fotografias da equipe de futebol, a cadeira, a mesinha, os desenhos.

Os poemas, canções, ou como quer que se chamassem. (...)

Sufocou sua angústia e apagou a luz.”

Retiramos esse fragmento de uma biografia escrita por Jordi Sierra i Fabra, cujo título você encontrará nas referências. Relembrando nosso amigo Bakhtin, cada enunciado é pleno de ecos e reflete outros enunciados, com os quais se relaciona. Ao fazer a leitura de um texto (enunciado), acionamos vários outros conhecimentos arquivados na memória. Algumas pistas no texto nos indicam o personagem de quem se está contando a vida.

1. Você saberia dizer quem é o biografado? O que o levou a deduzir isso? Que palavras presentes no texto justificam sua resposta.

2. Pelos objetos pertencentes a ele, é possível identificar qual seria o principal interesse desse jovem?

3. De acordo com o trecho lido, de que forma a Segunda Guerra afetou a vida dele?

4. A linguagem usada nas biografias atuais difere da que era utilizada nas biografias mais antigas. A presença de um narrador onisciente também é uma característica dessas mudanças. Ele não apenas conta o que sabe efetivamente sobre a vida do biografado, mas faz inferências, romanceando alguns fatos. Destaque um parágrafo do texto acima em que isso pode ser percebido.

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Caso você não tenha conseguido identificar o personagem, uma pista: o texto fala sobre um dos integrantes de um dos maiores grupos de rock de todos os tempos. Já sabe quem é?

OBSERVEM AGORA ESTE OUTRO TEXTO

BIOGRAFIA Era um grande nome — ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia

adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.

Fonte: www.releituras.com/mquintana_cadernoh.asp -17k

1. Apesar do título, o texto acima pertence a que gênero?

2. Que figura de linguagem caracteriza o texto? Isso pode ser constatado em que expressão?

3. Como você imagina o personagem descrito por Mário Quintana?

4. Você conhece a biografia de algum alguém ( escritor, político, artista, jogador de futebol... ) que se encaixe no perfil descrito por Mário Quintana? Converse com seu grupo e tente listar alguns nomes, apresentando para a turma uma justificativa para a resposta dada.

VIVER É UMA ARTE...

A vida de cada um de nós está cheia de fatos marcantes. Para representar estes momentos, podemos utilizar várias formas de linguagem. Segundo Bakhtin (2003), a arte é um ato de comunicação. O discurso verbal não é o único suporte para expressar nossas emoções e sentimentos. Sendo assim, propomos uma pausa para que você registre um fato especial de sua vida.

Para isso, converse com seu professor de Artes e, em seguida, utilizando um texto não-verbal (desenho, pintura, escultura, recorte, dança,...) tente expressar, usando apenas cores, formas, imagens ou movimentos o registro de determinada situação ou momento vivido.

O texto produzido será apresentado à turma, possibilitando a participação dos colegas através de inferências a respeito do efeito sugerido em cada produção (as cores, formas e imagens utilizadas sugerem o quê? Foi um momento alegre, triste, assustador...?)

Em seguida, você fará oralmente o relato do que vivenciou, expondo o que procurou expressar em seu texto.

VAMOS TRABALHAR AGORA COM UM TRECHO DE OUTRO TEXTO DE

MÁRIO QUINTANA.

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O AUTO-RETRATO

No retrato que me faço

- traço a traço -

Às vezes me pinto nuvem,

Às vezes me pinto árvore...

Às vezes me pinto coisas

De que nem há mais lembrança...

Ou coisas que não existem

Mas que um dia existirão... (...) (Você pode encontrar este texto na íntegra, e outros

poemas de Quintana, na página http://www.paralerepensar.com.br/m_quintana.htm)

1. Você sabe o que significa o prefixo “Auto”? O que quer dizer o título “Auto-retrato”?

2. Na linguagem poética, uma nuvem e uma árvore seriam metáforas. Para você, quais as possíveis intenções do poeta ao dizer que às vezes “se pinta nuvem”, outras vezes se pinta “árvore”?

3. Qual a diferença entre uma biografia e uma autobiografia?

PRÁTICA DE ESCRITA

Sentimos o impulso natural de conhecer a vida do outro. Mas será que conhecemos a nós mesmos?

Que tal escrever o “seu” auto-retrato?

Utilizando o gênero poético, nosso velho conhecido, tente registrar no papel o modo como você se percebe.

Os textos, sem identificação do autor, serão expostos num mural da sala e, através da leitura destes, os colegas procurarão identificar a autoria dos mesmos.

Antes da versão definitiva, não esqueça de ler, reler, revisar e, se necessário, reescrever seu texto.

FALANDO EM ARTE ...

1. Muitos pintores famosos reproduziram suas imagens através de um auto-retrato. Entre eles, o pintor holandês Vicent Van Gogh, que retratou a si mesmo em mais de 30 obras. Pesquise a biografia do pintor e traga para a sala de aula reproduções de alguns dos auto-

Péricles M. Kramer. Auto-retrato, 1996, nanquim sobre papel, 40 x 30 cm, Paraná – Brasil.

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retratos que ele fez, e, em seguida, fazendo a leitura do quadro (um texto não-verbal), discuta com a turma que características da vida do autor você percebe expressas em sua obra.

2. Que tal desenhar ou pintar seu auto-retrato e, em seguida, fazer uma exposição para a turma? Da mesma forma que os textos escritos, você poderá expor o texto não-verbal (desenho ou pintura) sem autoria, deixando aos colegas a tarefa de identificá-lo.

AINDA SOBRE OS GÊNEROS E BAKHTIN ...

Como já dissemos, vivemos em comunidade, interagindo com os demais através da linguagem. Estar com o outro estimula a curiosidade e o desejo de saber coisas a seu respeito. Mas, além de saber sobre a vida do outro, muitas vezes sentimos também a necessidade de falar de nós mesmos, dividir com alguém aquilo que nos parece importante.

Isso nos remete a um outro gênero do discurso: a AUTOBIOGRAFIA. Temos uma autobiografia quando o autor faz um levantamento de sua própria existência, registrando fatos importantes ou marcantes de sua vida. O gênero da autobiografia inclui manifestações literárias semelhantes, como confissões e cartas, que revelam sentimentos íntimos.

A autobiografia tem atraído cada vez mais a atenção dos estudiosos em diversas áreas. Para a literatura, o gênero autobiográfico levanta instigantes questões sobre as negociações entre ficção e realidade, identidade narrador-autor e em torno do pacto que busca estabelecer com o leitor. Outro aspecto complexo da escrita autobiográfica é o do compromisso com a verdade.

Muitas pessoas proeminentes utilizam-se de um profissional (Ghostwriter) para desempenharem a tarefa de fazer o registro de suas experiências.

Fontes Pesquisadas:- http://pt.wikipedia.org/wiki/Biografia / Acesso 04 de dezembro de 2007.

- Sofia Rosado http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/B/biografia.htm / Acesso 26 de novembro de 2007.

- ÁVILA, Myriam. “Ascensão da autobiografia/declínio do sujeito”. Resenha.http://www.scielo.php/pid=S0100 -512x2006000200015&script+sci_arttext. Acesso 29 de novembro de 2007.

PESQUISE COM SEU PROFESSOR DE INGLÊS O SIGNIFICADO DE “ GHOSTWRITER ” E, EM SEGUIDA, ESCREVA UMA DEFINIÇÃO DO TERMO EM PORTUGUÊS.

PARA FAZER EM GRUPO

Leiam os trechos abaixo e respondam as questões propostas.

“Quando eu nasci, meu avô Geraldo Galdino falou: “ é branco, mas o nariz não nega a raça!” (...)

................

“Na escola, o professor Lázaro tinha falado: “pobreza no Brasil tem cor”, e isso de certa forma eu já sabia, era só dar uma esticada de olho ao redor, ou na memória da família. E disse mais: conforme a pele vai clareando, os mestiços vão tendo mais chances do que o preto de pele com mais tinta. E eu lembrei do dia anterior, a gente precisando de caderno, a mãe, Dona Preta, correndo pra comprar fiado na Loja da Cleide, e o Seu Nélio, marido dela, falando: “ a prazo eu não vendo.” (...)

..................

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“Então, tivemos alegrias e tristezas, mas aos dezesseis anos eu cheguei pra minha mãe e disse que queria morrer. E ela me olhou de modo seco. (...) E nesse dia, eu tinha dezesseis anos e ela me disse: “se a vida não tem e nem te dá um propósito, então inventa, escolhe uma coisa de que você gosta e briga por ela. Você gosta de livros por que então não vai ser professor? Mas daí eu disse: “cinema”, e ela respondeu: “ que que tem o cinema?” Ela ajeitou a fita métrica no pescoço, riscou o tecido de acordo com o molde que vinha fazendo e com firmeza passou a tesoura. “ De filho de preto que eu já tive notícia que fez cinema foi só minha prima, que quando mudou pra São Paulo foi figurante do filme Tico-tico no fubá.” E eu repeti: “cinema, vou fazer cinema.” E por causa disso eu fiquei vivo.”

Esses fragmentos foram retirados do livro “Leo, o pardo”, de Rinaldo Santos Teixeira, vencedor do I Concurso Literatura para todos, e pertence ao gênero autobiografia.

1. Com relação ao narrador, qual a característica principal desse texto?

2. De que forma as falas são marcadas nos trechos lidos? Elas poderiam ser registradas de outra maneira? Como? Que nome nós damos a esse tipo de discurso?

3. Pela leitura dos fragmentos, o que poderia ter levado o personagem a dizer que “queria morrer”? Para você, os problemas enfrentados por ele justificam a vontade de desistir de viver?

4. Observe:

“Hoje eu cheguei pra minha mãe e disse que queria morrer. (...) E por causa disso eu decidi: vou ficar vivo.”

a) Se reescrevêssemos o texto fazendo as alterações em destaque, o sentido da idéia expressa seria modificado? Justifique.

b) Podemos dizer que reescrevê-lo assim implicaria numa mudança de gênero discursivo? Que tipo de texto o uso dos verbos no presente nos recorda?

O diário, outro gênero usado para falar sobre a vida, apresenta características próprias que o diferenciam dos demais.

Podemos dizer que diário é um escrito em que se registram os acontecimentos de cada dia. Para a literatura, é uma obra em que o autor relata cronologicamente fatos ou acontecimentos do dia-a-dia, registrando opiniões e impressões.

Bakhtin considerada o diário como um gênero discursivo de tipo primário, por inserir-se num contexto de comunicação verbal espontânea. Ao contrário de outros gêneros, que conseguem realizar o que Bakhtin considera o "diálogo real", que se revela na alternância dos sujeitos-falantes, no diário há uma fusão entre locutor e destinatário, encontrado, muitas vezes, no próprio diarista.

Para muitos, o diário funcionaria como um alterego, uma espécie de “duplo”, eleito como um amigo imaginário, projetando-se nele o que não seríamos capazes de dizer em nome próprio.

Fonte: foto – Péricles M. Kramer

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Com relação ao tempo, o diário se diferencia pelo fato de ater-se ao momento presente, ao registro de fatos e eventos que ocorrem no dia-a-dia, não utilizando a forma narrativa sob retrospectiva, como fazem a memória, a biografia e a autobiografia.

Os diários não formam um todo artístico, mas estão sempre em processo. Cada enunciado é um fragmento, cabendo ao leitor a construção de significados.

Fonte Pesquisada: - OLIVEIRA, Rosa Meire Carvalho de. Diários públicos,mundos privados:Diário íntimo como gênero discursivo e suas transformações na contemporaneidade. bocc.ubi.pt/pag/oliveira-rosa-meire-diarios-publicos-mundos-privados.html - 438k /Acesso 06 de dezembro de 2007.

APRESENTAMOS A SEGUIR UM TRECHO RETIRADO DO LIVRO “DIÁRIO DE UMA JOVEM”, PUBLICADO EM 1972, TRADUZIDO POR YOLANDA STEIDEL DE TOLEDO, UMA DAS PRIMEIRAS EDIÇÕES DO LIVRO QUE FICOU MAIS CONHECIDO COMO “O DIÁRIO DE ANNE FRANK”.

Sábado, 20 de junho de 1942

“Há alguns dias não escrevo porque, antes de mais nada, quis pensar neste diário. Idéia esquisita, a de uma pessoa como eu arranjar um diário; não só por falta de hábito, é porque me parece que ninguém – nem eu mesma – se interessaria pelos desabafos de uma garota de treze anos. Apesar disso, que importa? Quero escrever; e, mais que isso, trazer à tona uma porção de coisas de todo jeito que estão enterradas no fundo de meu coração.

Existe um ditado, o “papel é mais paciente que o homem. (...) Sim, não há dúvida que o papel é mais paciente que o homem e, como não tenho mesmo a intenção de mostrar a ninguém este caderno de capa de papelão com o imponente nome de “Diário” – a não ser que encontre um amigo ou amiga dos verdadeiros – ninguém tem nada com isto. E assim chego ao âmago da questão, à razão por que inicio este diário: não possuo nenhum amigo assim verdadeiro.

Vou explicar isto com mais clareza, pois ninguém há de crer que uma menina de treze anos se sinta tão sozinha no mundo, nem é esse o caso. (...) Aparentemente nada me falta. Mas é sempre o mesmo, com todos os amigos: não vamos além de brincadeiras e gracejos. Não consigo tocar em assunto que não pertença à rotina. Não nos conseguimos aproximar uns dos outros, e esta é a raiz do problema. Talvez careça de confiança em mim mesma; seja como for, o fato é esse, aí está e nada posso contra ele.

Daí, este diário. A fim de, mentalmente realçar a figura por quem tanto esperei, não vou assentar aqui uma série de fatos nus e crus, como faz a maioria; quero que este diário seja minha amiga e vou chamar de Kitty essa minha amiga. (...)”

.....................

Nesse livro, Anne Frank, jovem judia, com 13 anos de idade, escondida com a família e outros judeus em Amsterdam durante a ocupação Nazista na Holanda, conta em seu diário a vida deste grupo de pessoas. O diário foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial, entre 12 de junho de 1942 a 1 de agosto de 1944. Em 4 de agosto de 1944, agentes da Gestapo invadem o anexo-secreto, lugar em que estavam escondidos, detêm todos os ocupantes e levam-nos para vários campos de concentração. Anne Frank faleceu no campo de concentração Bergen-Belsen, no fim de fevereiro de 1945, vítima de tifo.

( Se você quiser saber mais sobre Anne Frank, sugerimos o site www.starnews2001.com.br/anne-frank.html- 14k / Acesso 19 de fevereiro de 2008 )

VAMOS CONVERSAR SOBRE O TEXTO

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1. Pela leitura do trecho acima, o que, primeiramente, levou Anne a escrever um diário?

2. Podemos dizer que atualmente os motivos que levam as pessoas a escreverem sobre si mesmas e seu dia-a-dia são os mesmos que motivaram Anne?

3. A época em que viveu o autor e/ ou as opções feitas pelo tradutor podem ocasionar algumas dificuldades na compreensão de um texto.

a) Para você, a linguagem utilizada no texto condiz com a fala de uma garota de treze anos? Justifique.

b) Aponte alguns trechos que parecem destoar do modo de falar de uma adolescente.

c) Reescreva um dos parágrafos utilizando uma linguagem mais atual, ou seja, usando o modo de se expressar de uma adolescente de hoje. Compare as diferenças.

4. Releia o texto onde falamos sobre o gênero diário e encontre no texto de Anne Frank algumas características que o classifiquem neste gênero.

FALANDO EM HISTÓRIA ...

O Diário De Anne Frank foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial. Você deve ter notado pela leitura dos textos que esse momento histórico marcou não apenas a vida de Anne Frank, mas também a de Bakhtin e de John Lennon. Para saber mais sobre esse período, converse com seu professor de História. Sugerimos que faça uma pesquisa a respeito de Adolf Hitler e do que foi o Nazismo. Em seguida, faça com a turma um debate a respeito das idéias que motivaram Hitler e influenciam o surgimento de grupos como os “skinheads”.

Em sua pesquisa, você descobrirá que não foram apenas os judeus que foram vítimas da perseguição de Hitler. Relacione outros grupos caçados pelo regime nazista e debata com a turma quais deles ainda enfrentam discriminação e preconceito nos dias atuais.

Você pode também pesquisar a biografia de algum personagem histórico do seu interesse e dividir com a turma alguns fatos interessantes que descobrir.

AINDA SOBRE DIÁRIOS...

Você já ouviu falar em “BLOGS”?

Retomando Bakhtin, os gêneros discursivos são afetados pelas mudanças sociais.

Vivemos na era da tecnologia, e a forma encontrada pelos indivíduos para se comunicarem tem sido exercida pelos diários on-line, ou os chamados “BLOGS”.

Um Blog é um registro cronológico, atualizado com freqüência, onde são compartilhados fatos, imagens, idéias, opiniões ou qualquer outro tipo de conteúdo que

se queira disponibilizar. Existem vários tipos de Blogs, que são também conhecidos como “Diário Virtual”.

Fonte: foto – Péricles M. Kramer

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Este diário digital torna-se público, e assim o autor/narrador deste gênero, ao partilhar o conteúdo destes, constrói, através da interatividade, o que Bakhtin considera "o diálogo real”.

A nova tecnologia permite a utilização de inúmeros recursos multimídia e atrai cada vez mais o público, principalmente os adolescentes, que têm trocado o velho diário tradicional por uma página na Internet.

Fontes Pesquisadas: - OLIVEIRA, Rosa Meire Carvalho de. Diários públicos,mundos privados:Diário íntimo como gênero discursivo e suas transformações na contemporaneidade .bocc.ubi.pt/pag/oliveira-rosa-meire-diarios-publicos-mundos-privados.html - 438k - Acesso 06 de dezembro de 2007.

PARA RESPONDER EM GRUPO:

1. Escrever um Blog é fazer fofoca de si mesmo?

2. O que leva os adolescentes e jovens a registrarem numa página da internet seus sonhos, medos e desejos mais íntimos?

PRÁTICA DE ESCRITA

Fazer um Blog é relativamente fácil. Há vários sites na Internet que indicam, passo a passo, como agir.

Vamos criar um blog da turma? Nele vocês poderão deixar suas idéias, opiniões... e fazer um registro diário das atividades, do dia-a-dia do grupo.

Será que outros adolescentes, em colégios diversos, enfrentam as mesmas situações que vocês?

Há muita fofoca em todas as escolas?

Há personagens interessantes em sua comunidade sobre as quais você poderia fazer uma pesquisa e escrever a biografia?

Gostaria de ter um diário pessoal?

Enfim, há inúmeras possibilidades que você poderá explorar para fazer deste recurso um meio de interação e troca, um instrumento através do qual você pode dialogar com o mundo.

FINALIZANDO ...

Desejamos que você tenha conseguido não apenas responder a pergunta que lançamos no início, mas possa ter compreendido que o “eu” necessita da colaboração de outros para poder definir-se e ser autor de si mesmo, e que é através do diálogo, da interação com o outro que nos conhecemos e crescemos um pouquinho mais.

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SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada. 8.ed. São Paulo:

Ática, 1999.

LEITE, Márcia. Nunca viu, não? Editora Atual, Edição 1993.

RODRIGUES, Carla. Betinho - sertanejo, mineiro, brasileiro. Editora Planeta, São Paulo, 2007.

Filme: A LISTA DE SCHINDLER (Schindler List, EUA, 1993, 195 min) Direção: Steven Spielberg Elenco: Lian Neeson, Bem Kingsley, Ralph Fiennes, Caroline Goodal, Jonathan Sagalle, Embeth Davidtz.

Filme: O DIÁRIO DE ANNE FRANK (The Diary of Anne Frank, EUA, 1959, 180min) Direção: George Stevens Elenco: Millie Perkins, Diane Baker, Shelley Winters,Joseph Schildkraut, Gusti Huber…

Filme: EM BUSCA DA FELICIDADE (The Pursuit of Happyness, EUA, 2006, 117min) Realização:Gabriele Muccino Elenco: Will Smith; Jaden Smith; Thandie Newton; Dan Castellaneta; Brian Howe; Kurt Fuller; Takayo Fischer; Kevin West; George Cheung

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 1992.

__________. Estética da Criação Verbal; introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003

BONFIM, Edilson Mougenot. Direito penal, 2: parte especial. – 3. ed. atual. – São Paulo: Saraiva, 2007 – (Coleção curso&concurso/ coordenação Edilson M. Bonfim)

DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA – Ed. Objetiva, 2001. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua

Portuguesa para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2007. FABRA, Jordi Sierra i. O Jovem Lennon. Tradução de Cláudia Schilling. São Paulo: Editora

Nova Alexandria, 2005 FRANK, Anne. Diário de uma jovem. Coleção Descoberta do Homem. Tradução de Yolanda

Steidel de Toledo. Editora Livraria Itatiaia Editora Limitada. Belo Horizonte, 1972. STAM, Robert. Bakhtin – Da teoria Literária à cultura de massa. Tradução Heloísa Jahn.

Editora Ática. São Paulo. 1992 TEIXEIRA, Rinaldo Santos. Léo, o pardo. Coleção Literatura Para Todos – Vol. 6 . Brasília:

Ministério da Educação, 2006. VADE MECUM/ Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio

Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Cespedes. – 3ª edição atual e ampliada – São Paulo: Saraiva, 2007.

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SITES PESQUISADOS

ÁVILA, Myriam. “Ascensão da autobiografia/declínio do sujeito”. Resenha.http://www.scielo.php/pid=S0100 -512x2006000200015&script+sci_arttext

COSTA, Willian. “Papiro que suporta memórias”, artigo, 23 de outubro de 2005. http://www.diariodaborborema.com.br/colunas/71985- 25k.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u68672.shtml /Acesso 28 de outubro de 2007.

OLIVEIRA, Rosa Meire Carvalho de. Diários públicos,mundos privados:Diário íntimo como gênero discursivo e suas transformações na contemporaneidade. bocc.ubi.pt/pag/oliveira-rosa-meire-diarios-publicos-mundos-privados.html - 438k / Acesso 06 de dezembro de 2007.

www.releituras.com/mquintana_cadernoh.asp-17k /Acesso 06 de dezembro de 2007. ROSADO, Sofia http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/B/biografia.htm - Acesso 26 de

novembro de 2007. www.starnews2001.com.br/anne-frank.html- 14k / Acesso 19 de fevereiro de 2008 http://pt.wikipedia.org/wiki/Biografia - 66k /Acesso 04 de dezembro de 2007. WILSON, Tracy V. Como funciona a fofoca, traduzido por HowStuffWorks Brasil / Site

HowStuffWorks - Como funciona a fofoca /pessoas.hsw.uol.com.br/boato.htm - 33k - Em cache - Páginas Semelhantes. Acesso 05 de dezembro de 2007.

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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PARECER DO MATERIAL DIDÁTICO – PROFESSOR ORIENTADOR – 2008

1. IDENTIFICAÇÃO IES: Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Campus de Guarapuava Nome do Professor Orientador: Cristiane Malinoski Pianaro Angelo Nome do Professor PDE: Lucimar Aparecida Casarin Área/ Disciplina: Língua Portuguesa Título do material didático: Da fofoca ao blog: AFIANDO A LÍNGUA Caracterização do material didático: FOLHAS 2. PARECER DESCRITIVO:

O Folhas “Da fofoca ao blog: AFIANDO A LÍNGUA” além de se referir a um tema atual, constitui assunto de interesse do aluno. É um trabalho que assume com propriedade o caráter dialógico da linguagem, explorando os conceitos bakhtinianos de uma forma significativa e acessível para o aluno.

O problema inicial está bem formulado, desperta curiosidade e faz relação com o cotidiano do aluno.

As atividades são instigantes e provocativas. Estão bem distribuídas ao longo do texto, privilegiando o trabalho em grupo, a reflexão e a interação. Assim, contribuem para o desenvolvimento da linguagem, para a compreensão do conteúdo e para a resolução do problema proposto inicialmente.

A abordagem do conteúdo está pertinente à faixa etária dos alunos do Ensino Médio, possibilita a compreensão do problema inicial, não induzindo a preconceitos de qualquer origem.

No desenvolvimento do texto, há coerência nas idéias, havendo relação entre textos, atividades e referências.

3. PARECER CONCLUSIVO:

Diante das considerações apresentadas no item 2, aponto para a aprovação deste FOLHAS. Trata-se de um material bastante significativo para o desenvolvimento da competência crítica e expressiva dos alunos do Ensino Médio.

Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Campus de Guarapuava, 13 de fevereiro de 2008.

Cristiane Malinoski Pianaro Angelo

Professora Orientadora

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Guarapuava, 25 de junho de 2008 Parecer referente ao Projeto FOLHAS Da fofoca ao blog elaborado pela professora Lucimar Aparecida Casarin Professora colaboradora: Terezinha dos Santos Daiprai QUANTO AOS COMPONENTES DO TEXTO PROBLEMA A problematização do tema é apresentada de forma instigante, possibilitando aos estudantes uma reflexão relevante acerca das práticas discursivas, a partir da diversidade textual e dos caminhos da comunicação em tempos tecnológicos. CONTEÚDO ESTRUTURANTE O discurso como prática social é trabalhado de maneira consistente, à medida em que explora o gênero fofoca, o qual, sempre esteve presente na história de todos os povos, bem como, a exploração das várias formas que esse tema pode ser abordado, considerando o momento histórico atual em que as novas tecnologias invadem a vida das pessoas, chegando a interferir até mesmo nessa prática discursiva tão antiga, que é a fofoca. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO A linha teórica em que os conteúdos são abordados mostra o cuidado e a dedicação da professora na atualização de seus estudos, das leituras realizadas e da capacidade de relacionar a teoria com a prática pedagógica. ATIVIDADES As atividades são dinâmicas,concatenadas, num crescente aprofundamento da temática em estudo, de modo a envolver sempre as práticas de leitura, oralidade e escrita. IMAGENS As imagens aparecem como mais um recurso de interpretação na diversidade de gêneros textuais em que o estudo é apresentado.

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Faxinal do Céu, 09 de junho de 2008 Parecer referente ao Projeto FOLHAS “Da fofoca ao blog: AFIANDO A LÍNGUA,” elaborado pela professora Lucimar Aparecida Casarin Professora colaboradora: Hélia N. Ferreira Motta RG: 6.750.089-0 QUANTO ÀS ATIVIDADES RELACIONADAS À INTERDISCIPLINARIDADE COM HISTÓRIA Acreditamos que o diálogo com a disciplina de História poderia ser mais aprofundado. No entanto, embora sejam simples, as atividades propostas para trabalhar com os temas Segunda Guerra Mundial e Nazismo são provocativas e acessíveis à idade/série onde o projeto será desenvolvido, sendo perfeitamente viável a compreensão do conteúdo, aliada a intervenções coerentes e significativas.