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RECUPERAÇÃO DE MATA NATIVA EM ÁREA ALTERADA NA TRILHA DO PICO DO BAEPI, PARQUE ESTADUAL DE ILHABELA, SÃO PAULO, BRASIL EQUIPE TÉCNICA E EXECUTORA: Janine Bergmann Mateus Paciência Barradas Roseli Buzanelli Torres Emerson Rogério Salviani Marise de Castro Francisco Luiz Salviani Ricardo Anderáos Odair Mário Salviani Luis Cruz Villares Nilton Janjon “Sementes do Futuro” INSTITUIÇÃO FILIADORA: Organização Não-Governamental Ilhabela.org PALAVRAS-CHAVE: Parque Estadual de Ilhabela. Mata Atlântica. Regeneração. Área degradada LOCAL DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO: Parque Estadual de Ilhabela. RESUMO DOS OBJETIVOS: Condução da regeneração de 25 hectares de área alterada em área do Parque Estadual de Ilhabela (trilha do pico do Baepi), e incremento com mudas de espécies arbóreas nativas. RESUMO DA JUSTIFICATIVA: O Parque Estadual de Ilhabela está situado em um ecossistema insular, que por suas características apresenta grande fragilidade ambiental. O trecho pretendido para implantação do projeto sofre queimadas constantemente, fato que ao longo do tempo reduziu sua diversidade drasticamente, e atualmente está dominado por gramíneas competidoras. Além de ser uma área freqüentada por turistas e locais, constitui uma ameaça à floresta adjacente, uma vez que a cada queimada a tendência é de que haja aumento da área deflorestada pelo fogo. ATIVIDADES: Avaliação dos processos de regeneração natural e do potencial de auto- recuperação; condução da regeneração por meio de técnicas de nucleação; análise do solo; construção de aceiro para isolamento do fator de degradação; marcação de matrizes florestais e coleta de sementes; produção e plantio de mudas de espécies nativas; ações de educação ambiental voltadas à comunidade local e flutuante, e monitoramento constante da recuperação da floresta.

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RECUPERAÇÃO DE MATA NATIVA EM ÁREA ALTERADA NA TRILHA DO PICO DO BAEPI, PARQUE ESTADUAL DE ILHABELA, SÃO PAULO, BRASIL

EQUIPE TÉCNICA E EXECUTORA: Janine Bergmann Mateus Paciência Barradas Roseli Buzanelli Torres Emerson Rogério Salviani Marise de Castro Francisco Luiz Salviani Ricardo Anderáos Odair Mário Salviani Luis Cruz Villares Nilton Janjon “Sementes do Futuro” INSTITUIÇÃO FILIADORA: Organização Não-Governamental Ilhabela.org PALAVRAS-CHAVE: Parque Estadual de Ilhabela. Mata Atlântica. Regeneração. Área degradada LOCAL DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO: Parque Estadual de Ilhabela. RESUMO DOS OBJETIVOS: Condução da regeneração de 25 hectares de área alterada em área do Parque Estadual de Ilhabela (trilha do pico do Baepi), e incremento com mudas de espécies arbóreas nativas. RESUMO DA JUSTIFICATIVA: O Parque Estadual de Ilhabela está situado em um ecossistema insular, que por suas características apresenta grande fragilidade ambiental. O trecho pretendido para implantação do projeto sofre queimadas constantemente, fato que ao longo do tempo reduziu sua diversidade drasticamente, e atualmente está dominado por gramíneas competidoras. Além de ser uma área freqüentada por turistas e locais, constitui uma ameaça à floresta adjacente, uma vez que a cada queimada a tendência é de que haja aumento da área deflorestada pelo fogo. ATIVIDADES: Avaliação dos processos de regeneração natural e do potencial de auto-recuperação; condução da regeneração por meio de técnicas de nucleação; análise do solo; construção de aceiro para isolamento do fator de degradação; marcação de matrizes florestais e coleta de sementes; produção e plantio de mudas de espécies nativas; ações de educação ambiental voltadas à comunidade local e flutuante, e monitoramento constante da recuperação da floresta.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 - Características de espécies florestais nativas do Brasil, que compõem os estádios a serem considerados em modelos de recuperação vegetal, baseados na sucessão secundária ...............................................................................................

Figura 1 - Reconstituição da cobertura vegetal do Estado de São Paulo ...............

Figura 2 - O arquipélago de São Sebastião ............................................................

Figura 3 - Mapa do Parque Estadual de Ilhabela ....................................................

Figura 4 - Vista do Pico do Baepi ............................................................................

Figura 5 - Vista parcial da ocupação residencial abaixo da cota 200 m .................

Figura 6 - Vista parcial da descida do sapezal e da ocupação residencial abaixo da cota 200 m ..............................................................................................

Figura 7 - Vista da área coberta pelo sapezal ......................................................... Figura 8 - Vista parcial da subida do Pico do Baepi .................................................

Figura 9 - Aceiro em área de pastagem .................................................................

Figura 10 - Aceiro em borda de floresta ...................................................................

Figura 11 - Ilha de vegetação - abril de 2003 ............................................................. Figura 12 - Mesma ilha da foto anterior - outubro de 2003 ......................................

Figura 13 - Indivíduos emergindo em meio às gramíneas .....................

Figura 14 - Modelo 2, proposto por Barbosa & Serra Filho ......................................

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SUMÁRIO RESUMO .................................................................................................................. 1. INTRODUÇÃO 1.1 A MATA ATLÂNTICA ..................................................................................... 1.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA .................................................................... 1.3 FATORES DE INFLUÊNCIA EM UM ECOSSISTEMA ................................. 1.4 MÉTODOS DE REVEGETAÇÃO .................................................................. 1.5 CHUVA DE SEMENTES, BANCO DE SEMENTES E SERAPILHEIRA ....... 2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 3. OBJETIVO ........................................................................................................... 4. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................

a) Curso de marcação de matrizes e coleta de sementes .................................. b) Construção de viveiro ...................................................................................... c) Barreira contra fogo............................................................................. d) Condução da regeneração............................................................................... e) Plantio de espécies nativas ........................................................................... f) Orientação para plantio .................................................................................. g) Monitoramento............................................................................................... h) Ações de Educação Ambiental......................................................................... i) Avaliação do desenvolvimento do trabalho ....................................................

5. RESULTADOS ESPERADOS ............................................................................. 6. CRONOGRAMA FÍSICO E ESTIMATIVA DE CUSTOS ...................................... REFERÊNCIAS .................................................................................................... ANEXOS A - Resolução SMA n. 21, de 21 de novembro de 2001 ...................................... B - Resolução SMA n. 47, de 26 de novembro de 2003 ....................................... C - Listagem Parcial das Espécies Arbóreas do Parque Estadual de Ilhabela ....

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RESUMO A Mata Atlântica é uma floresta extremamente rica em diversidade de espécies, apresentando alto nível de endemismo. Desde a época do descobrimento do Brasil, essa floresta vem sendo devastada pelo homem, e a mata gradualmente foi substituída por culturas extrativistas, pastos e áreas urbanas. Atualmente, em todo o País restam apenas 8% de sua cobertura vegetal original e, para proteger e conservar esses espaços, o Governo criou mecanismos legais que são as Unidades de Conservação - UC’s, que constituem patrimônio comum e contam com regimes diferenciados de proteção e uso. O Arquipélago de São Sebastião, composto por 12 ilhas, 2 ilhotas e 2 lajes, constitui o Parque Estadual de Ilhabela, com área aproximada de 27.025 hectares. O município de Ilhabela, localizado a oeste do canal de São Sebastião, apresenta alguns trechos voltados para a face urbana da ilha que freqüentemente sofrem perturbações antrópicas por meio de queimadas, apresentando grande fragilidade ambiental. Na trilha do pico do Baepi, há um trecho de 25 hectares dominado por gramíneas competidoras; no entanto, observações em campo demonstram que, se manejado corretamente, possui alto potencial de regeneração natural, necessitando para tal controle das competidoras, adensamento e coroamento das mudas e envolvimento da comunidade local em ações de educação ambiental. A longo prazo espera-se que a mata se restabeleça, recupere o equilíbrio, a diversidade e a sustentabilidade.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 A MATA ATLÂNTICA

A Mata Atlântica é um complexo ecossistema que originalmente cobria toda a costa brasileira, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, ocupando 15% do território nacional (mais de um milhão de quilômetros quadrados), avançando em média 200 quilômetros em direção ao interior, atingindo faixas de até 500 quilômetros quadrados no sul do País (DEAN 1996; SMA 1999; AIDAR 2000; SOS Mata Atlântica 2003a). A mata exuberante, que desenvolveu-se principalmente sobre a cadeia montanhosa que se estende por todo o litoral brasileiro (NEIMAN 1989), atualmente é considerada a segunda floresta mais ameaçada do planeta, tendo sua cobertura vegetal reduzida a apenas 8% do total (AIDAR 2000; BDT 2003).

Desde a época do descobrimento, essa floresta vem sendo intensamente devastada, sofrendo os mais diversos impactos, entre eles: crescimento desordenado das cidades (especialmente das quatro maiores capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte); poluição do ar, água e solo; realização de queimadas para plantio de espécies agrícolas e para abertura de pastagens, e substituição da mata nativa para plantio de espécies arbóreas exóticas visando a exploração da madeira (SOS Mata Atlântica 2003b). A destruição teve início no século XVI, mas intensificou-se com a abertura dos portos brasileiros em 1808, quando inúmeros exploradores europeus, entre eles naturalistas, botânicos, médicos, sacerdotes e engenheiros, desembarcaram no Brasil e passaram a desbravar a natureza com os mais variados objetivos. Relatos de meados do século XIX descrevem o Brasil como um país repleto de montanhas ricas em metais preciosos, rios transbordantes de diamantes, terras férteis para a agricultura e visões promissoras para instalação do comércio europeu. Os viajantes coletavam exemplares da fauna, da flora e de minerais e enviavam para a Europa, deslumbrados com a riqueza e heterogeneidade das matas brasileiras. No entanto, nem todos ficavam maravilhados com a exuberância da natureza. Muitos se sentiam intimidados pela pouca luminosidade e falta de horizonte do interior das florestas. Encontravam dificuldade para caminhar dentro da mata, incomodavam-se com os insetos, com o calor excessivo, com os parasitas transmissores de febres gravíssimas e temiam os índios. Na opinião desses desbravadores, a floresta constituía um “caos inexplicável”, era totalmente inóspita e urgia derrubar a mata e iniciar o cultivo, pois a falta mais grave da floresta era a ausência de agricultura. Outros defendiam as queimadas para que as áreas de mata fornecessem fartas pastagens (DUARTE 2002).

A exploração predatória e o risco de extinção de inúmeras espécies vegetais e animais levou o poder público, a partir de 1950, a adotar medidas legais para proteger o que restava das áreas de floresta nativa. Essas leis procuram regulamentar o uso e ocupação do solo, a utilização dos recursos naturais, a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento sustentável e a preservação integral da biota. Foram criadas as Unidades de Conservação - UCs, que são áreas de importância ecológica, científica ou paisagística; constituem patrimônio comum e são classificadas em Parques, Estações Ecológicas - EE, Áreas de Proteção Ambiental - APAs, Áreas de Relevante Interesse Ecológico - ARIEs, Reservas Biológicas, Áreas sob Proteção Especial - ASPEs, Terras Indígenas - TIs, Área

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Naturais Tombadas e Reservas da Biosfera - REBIOs, e contam com regimes diferenciados de proteção e uso (SMA 1996).

O Decreto n.º 750 de 10 de fevereiro de 1993, em seu artigo 3º, define a floresta atlântica como sendo “as formações florestais e ecossistemas inseridos no domínio Mata Atlântica, com as respectivas delimitações estabelecidas pelo Mapa de Vegetação do Brasil IBGE 1988: Floresta Ombrófila Densa Atlântica, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, Manguezais, Restingas, Campos de Altitude, Brejos interioranos e encraves florestais no Nordeste”. Desse modo, fica claro que a Mata Atlântica não deve ser considerada uma floresta homogênea. É uma das florestas mais ricas em biodiversidade, apresentando índice de endemismo de 54% de espécies arbóreas, 38% não arbóreas e 77% de epífitas (AIDAR 2000). A vegetação é extremamente densa, apresentado abundância de serapilheira. As árvores são perenifólias com dossel contínuo e o interior da mata é úmido e escuro, favorecendo plantas higrófilas e epifíticas (FERRI 1980).

DEAN (1996) descreve o ambiente da floresta como cinzento, escuro; dossel a 35 metros de altura ou mais; troncos lisos e retos; folhas escuras e rijas. Ressalta ainda que devido a grande diversidade vegetal que, segundo BARBOSA (2003) é superior a 20.000 espécies de plantas, das quais 6.000 são endêmicas, é muito difícil identificar as plantas se não houver floração presente. A floresta apresenta estratos (camadas) distintos: árvores emergentes que se destacam acima do dossel (30 a 45 m); espécies arbóreas variando entre 10 a 30 metros de altura; espécies arbustivas com altura entre 5 a 10 metros; o estrato de espécies herbáceas, e as lianas e epífitas. Dentre a fauna associada, há primatas como o mono-carvoeiro e o macaco-prego; roedores como o rato-da-taquara; aves como o tucano, o gavião real e a jacutinga, além de diversas espécies de anfíbios, répteis e insetos (SMA 1996). A fauna é fundamental na dinâmica da sucessão florestal uma vez que é constituída de potenciais polinizadores e dispersores de sementes (zoocoria). Outros fatores de dispersão são o transporte de sementes pelo vento (anemocoria) e pela água (hidrocoria). No entanto, estudos apontam que, em florestas tropicais, a forma mais comum de dispersão é por meio da fauna, pois os animais enterram, regurgitam ou defecam as sementes, disponibilizando-as no solo para que originem novos indivíduos (ROIZMAN 1993; MACEDO 1993).

O Estado de São Paulo apresentava um índice de 81,8% da sua área total coberta por florestas, mas atualmente a Mata Atlântica foi reduzida a 13,9% da cobertura original, o que eqüivale a 3,46 milhões de hectares. A devastação da Mata Atlântica no Estado ocorreu, principalmente, em razão da agricultura, da expansão do café a partir de 1801, e da abertura de ferrovias que escoariam a produção. Entre os séculos XVI a XVIII predominava a agricultura de subsistência, com o cultivo de itens como o milho, o feijão e a mandioca, principalmente no Vale do Paraíba e algumas cidades do interior do Estado (Campinas, Itu, Sorocaba, Piracicaba e Mogi Mirim). Em 1850, a cultura de café atinge o auge na cidade de Bananal e, posteriormente, em Taubaté e Jacareí. No entanto, a monocultura causou a exaustão do solo e transformou a região montanhosa em um mar de “morros pelados”. Em fins do século XIX foram abertas novas frentes de colonização no interior, ocorrendo intensificação da atividade agrícola, que continuou se expandindo durante todo o século XX, utilizando-se, entretanto, de recursos tecnológicos, diminuindo assim os custos com mão-de-obra (SMA 1998; SMA1999). Esses

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eventos, aliados ao desenvolvimento industrial e urbano, reduziram a floresta às atuais dimensões (ZORZETTO et al. 2003).

Figura 1 - Reconstituição da cobertura vegetal do Estado de São Paulo (Fonte: Biota SP)

1.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

Ilhabela, ou Ilha de São Sebastião, foi fundada em 1532; possui mais de 20.000 habitantes e localiza-se no Litoral Norte do Estado de São Paulo, a 220 quilômetros da Capital. Suas coordenadas geográficas são: Lat 23º45’S e Long 45º02’W. A população flutuante chega a ser quatro vezes maior do que a local nos meses de temporada. A especulação imobiliária, o turismo e a pesca são as principais fontes de economia do município (SMA 2003; Ilhabela.org 2003).

O Parque Estadual de Ilhabela - PEI, é administrado pelo Instituto Florestal de São Paulo e foi criado em 1977 por meio do Decreto Estadual n. 9.414. É formado por 12 ilhas, 2 ilhotas e 2 lajes, que juntas constituem o Arquipélago de São Sebastião. O PEI ocupa 83% da área total (aproximadamente 27.025 hectares) e, na porção voltada para o continente, inicia-se na cota de 200 metros; mas há locais na ilha em que os limites do Parque encontram-se a apenas 30 metros da zona de maré (SMA 1989; SMA 1996; SMA 2003).

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Figura 2 - O arquipélago de São Sebastião (SMA 1989)

Geomorfologicamente, Ilhabela é formada por intrusão alcalina resultante de processos vulcânicos que originaram maciços irregulares e picos de até 1.375 metros de altitude. Com a subida do nível do mar, o arquipélago se isolou do conjunto da Serra do Mar (SMA 1989; FURLAN 2001). Trata-se de solo de alteração de granitóides porfiroblásticos foliados de granulometria média do embasamento, composto por Quartzo-SIO2 (30%), Biotita - K(Mg,Fe)8(AlSi3O10)(OH)2 (20%), Plagioclásio - (Na,Ca)AlSi3O8 (40%) e provavelmente Olivina - (Mg,Fe)2SiO4 ou Piroxênio(augita) - (Ca,Na) (Mg,Fe2,Fe3,Al) (Si,Al)2O6(10%), e há também alguns diques de Diabásio porfiroblásticos com fenocristais de plagioclásio (Giovanni B. Basei, informação verbal).

Figura 3 - Mapa Parque Estadual de Ilhabela (SMA 2003)

A vegetação do PEI é basicamente composta de Floresta Ombrófila Densa, além de uma pequena porção de restinga e mangue (SMA 1996). Caracteriza-se por ser mata úmida de encosta, condicionada ao regime climático tropical, com média de temperatura anual em torno de 25ºC e alto índice pluviométrico distribuído ao longo

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do ano. O período de seca corresponde a apenas 2 meses. Pesquisadores apontam para a existência de aproximadamente 300.000 árvores que compõem uma mata heterogênea, cujos estratos variam com a altitude. Devido a influência dos ventos oceânicos, a estrutura florestal da mata insular é um pouco diferente da mata continental, embora o aspecto seja semelhante. Na face voltada ao canal de São Sebastião a mata é mais baixa, xeromórfica e semidecidual, pois este lado da Ilha é mais seco do que a face voltada ao oceano (FURLAN 2001).

O Pico do Baepi configura entre os mais altos de Ilhabela, com 1.025 m de altitude (SMA 2003), e a vegetação que cobre suas encostas é a Floresta Ombrófila Densa. A trilha que leva ao pico possui extensão de 3,7Km, começa a 200m de altitude, na linha que marca o início do Parque Estadual. A maior parte da caminhada é feita sob a sombra da floresta, e no topo do rochedo observa-se o Canal de São Sebastião e de Ilhabela, em 360º. A trilha longa, íngreme e difícil, é muito procurada por ecoturistas; são cerca de 3h de subida, mais 2h para descer, e é obrigatório o acompanhamento de um guia cadastrado durante todo o percurso (Ilhabela.org 2003).

Figura 4 - Vista do Pico do Baepi (Foto: Luiz Villares)

O início da trilha está voltado para a área urbana e, abaixo da cota 200 m, há regular ocupação residencial bem como demarcação de lotes e algumas culturas agrícolas. Além disso, 25 hectares de área do parque estão dominados por um sapezal (Imperata sp.) e, freqüentemente, pessoas da comunidade ateiam fogo em suas roças para preparar a terra para um novo plantio. No entanto, como não há barreiras contra o fogo nos limites do Parque, muitas vezes essas queimadas atingem todo o sapezal, alcançando as bordas da floresta (informação verbal dos moradores).

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Figura 5 - Vista parcial da ocupação residencial abaixo da cota 200 m (Foto: Roseli Torres)

Figura 6 - Vista parcial da descida do sapezal e da ocupação residencial abaixo da cota 200 m - lado esquerdo (Foto: Luiz Villares)

1.3 FATORES DE INFLUÊNCIA EM UM ECOSSISTEMA

Segundo RESENDE et al. (2002), o triângulo básico para o desenvolvimento das plantas constitui-se de luz, água e nutrientes. Afirmam que outros fatores, como relevo, solo e geologia, são apenas coadjuvantes do processo, mas devem ser considerados na avaliação global do ecossistema. O relevo e o tipo de solo, por exemplo, podem influenciar na disponibilidade de água e nutrientes para as plantas. Áreas com intenso declive e pouca cobertura vegetal perdem facilmente a água e os nutrientes por meio da lixiviação. O tipo de vegetação que recobre o solo pode ser

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um indicativo de seu estado nutricional, por exemplo, áreas cobertas com sapé, indicam solos pobres em nutrientes.

A germinação de uma semente depende de condições físicas e químicas. Após a dispersão, a semente pode ficar dormente por longos períodos e necessitar de fatores externos que quebrem sua dormência. Estes podem ser: choque térmico, a passagem da semente pelo sistema digestório de um animal, e oferta de água ou de luz (ROIZMAN 1993). A luz desempenha um fator fundamental no controle do crescimento das plantas e estas, por serem sedentárias, têm seu desenvolvimento diretamente relacionado à fonte de luz. Além da germinação e do crescimento, a luz controla a floração (KENDRICK & FRANKLAND 1981).

As plantas apresentam diferentes respostas de crescimento em relação à luz. Numa floresta, a quantidade de luz que chega ao solo depende da densidade e da continuidade do dossel e, embora a luz seja a única constante ambiental segura, muitas vezes a abertura entre a copa das árvores é mínima, mantendo o interior da floresta constantemente na penumbra, deixando ultrapassar a folhagem apenas alguns raios de sol. Uma floresta como a mata atlântica possui estratos bem definidos e as camadas inferiores incluem plantas adaptadas para viver permanentemente sob condições de baixa luminosidade, e as árvores emergentes e do estrato superior são aquelas que vivem em condições de intensa luminosidade. As sementes das espécies de luz necessitam da abertura de clareiras para que consigam iniciar a germinação. Quando essas espécies germinam à sombra, o crescimento da planta é muito lento, mas pode ser acelerado se a oferta de luz aumentar. Outras espécies desenvolvem-se melhor sob baixa luminosidade e geralmente germinam quando as espécies de sol são capazes de diminuir a incidência de luz sobre essas plantas. A atenuação da intensidade de luz também depende da posição das folhas em relação ao sol e da área foliar. Outro fator importante é a diferença de luminosidade para as plantas localizadas no meio da cobertura vegetal e as que encontram-se nas clareiras e bordas da mata (WHATLEY & WHATLEY 1982; LARCHER 2000).

Por dinâmica florestal entende-se o processo de regeneração e desenvolvimento natural das espécies por meio da formação de clareiras de diferentes tamanhos que possibilitam a ocupação de novos indivíduos. As clareiras formam-se em momentos diferentes, possibilitando um mosaico de estágios de sucessão, criando microclimas diversos que permitem o estabelecimento de espécies de diferentes grupos. No entanto, o principal fator de colonização dessas clareiras é a luminosidade (MACEDO 1993).

Quanto à oferta de luminosidade, DURIGAN & NOGUEIRA (1990) classificam as espécies em pioneiras e secundárias iniciais, que são aquelas que apresentam crescimento rápido em plena luz; secundárias tardias e clímax, que são as espécies que se desenvolvem melhor à sombra e apresentam crescimento lento. Seguindo esse critério, sugerem que o plantio de mudas em áreas a serem recuperadas se inicie pelas espécies pioneiras e secundárias iniciais, de forma que estas possam em curto espaço de tempo fornecer sombreamento para as espécies do segundo grupo. Essa mesma classificação foi adotada na recuperação da Serra do Mar, região de Cubatão, por técnicos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, que realizaram semeadura aérea em áreas degradadas de difícil acesso (encostas de morro com escorregamentos graves). Essa semeadura baseou-se na estratégia de regeneração natural denominada “chuva de sementes”, e iniciou-se com espécies pioneiras de ocorrência natural da região, com alto poder de

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germinação e rápido crescimento. A segunda etapa do plantio ocorreu dois anos após a primeira, utilizando-se espécies secundárias (SMA 1990).

A equipe técnica do Instituto de Botânica de São Paulo, em projeto desenvolvido em São Carlos, adotou a seguinte classificação: plantas heliófilas (que crescem sob luz intensa); umbrófilas (plantas que se desenvolvem em locais com pouca iluminação), e plantas LD (que se desenvolvem sob luz difusa) (BARBOSA & SERRA FILHO 1993).

MACEDO (1993) classifica as espécies em 3 grupos sucessionais: pioneiras, que germinam e se desenvolvem a pleno sol, são de crescimento rápido e produzem abundância de sementes pequenas, com dormência, e normalmente dispersas por animais (pássaros e morcegos, principalmente - BARBOSA 2003). Constituem o segundo grupo as espécies secundárias, também chamadas de oportunistas ou intermediárias, as sementes germinam à sombra mas necessitam de luz para desenvolverem-se. O terceiro grupo é composto pelas espécies climácicas, que germinam e se desenvolvem à sombra, são de crescimento lento e produzem sementes grandes, geralmente sem dormência.

Sob o ponto de vista silvicultural e econômico, os modelos de plantio que baseiam-se na utilização de espécies pioneiras seguidos das espécies de sombra têm-se mostrado adequados para fins de proteção ambiental. A separação em grupos ecológicos tem sido tema de discussão entre especialistas, pois muitas das espécies são difíceis de serem englobadas nas categorias sucessionais de colonização de clareiras (KAGEYAMA 1992).

RODRIGUES (1996) em trabalho desenvolvido no Mato Grosso, classifica as espécies em iniciais de sucessão (que são as pioneiras e secundárias iniciais) e finais de sucessão (secundárias tardias).

JOLY et al. (2000), além de considerarem o comportamento das espécies em relação à luminosidade, consideram a adaptação dessas plantas aos diferentes graus de saturação hídrica do solo. Para o trabalho de revegetação das margens do rio Jacaré-Pepira, em Brotas (SP), selecionaram espécies tolerantes ao alagamento e espécies com preferência por áreas mais secas, levando em conta, sobretudo, a riqueza e diversidade para recuperar a mata ciliar com espécies nativas.

AIDAR (2000) ressalta a importância da análise arquitetônica da floresta, onde as árvores formam o “esqueleto” dessa estrutura. Os processos de sucessão estão ligados a essa arquitetura por meio da formação de “eco-unidades florestais”, cuja padrão arquitetônico será fundamental na construção dos fragmentos florestais pioneiros, secundários e clímax. Dessa forma, espécies com posições sucessionais diferentes originam eco-unidades diferentes que comporão o mosaico sucessional da mata. Aidar distingue 3 grupos nos mecanismos de sucessão: espécie pioneira, especializada na ocupação de grandes clareiras e dependente de luz para germinação e crescimento; espécie secundária inicial, especializada na colonização de clareiras médias, com capacidade de germinação à sombra, porém exigente de luz para o crescimento até atingir o dossel; e espécie secundária tardia, especializada na ocupação de clareiras pequenas e do sub-bosque, podendo ali germinar e se desenvolver até alcançar o dossel.

STRINGUETTI (2001, p. 06) afirma que:

“Pesquisas recentes vêm testando diversos modelos que utilizam conceitos de sucessão secundária, além de combinações de diferentes espécies pioneiras em diferentes

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espaçamentos, associados com espécies não pioneiras, e/ou o conceito de espécies raras e comuns na consorciação de espécies e as interações planta/animal. Nessa combinação, grupos de espécies com exigências complementares, principalmente quanto à necessidade de luz, são associadas de tal forma que as espécies de estágios iniciais ou pioneiras sejam sombreadoras das espécies de estágios finais, secundárias e clímax, recobrindo rapidamente a área, tutorando o crescimento, debilitando as gramíneas e promovendo o intercâmbio de sementes”.

Complementa ressaltando que existem vários modelos sucessionais utilizados na recuperação de matas, e que a escolha deve levar em conta as inúmeras interações ambientais que são variáveis nas diferentes regiões.

A recomposição da vegetação em Área de Preservação Permanente, em Santa Gertrudes (SP) teve como critério a aptidão ecológica das espécies, divididas em três categorias: espécies pioneiras, que são as plantas de rápido crescimento e de sol; espécies de estrutura, que são as plantas com alto Índice de Valor de Importância (IVI), e as espécies de diversidade, que são as plantas mais raras, naturais do ecossistema regional (SMA 2002, não publicado).

Um trabalho interessante foi realizado no Estado do Espírito Santo, na Reserva Natural da Companhia Vale do Rio Doce, entre 1989 e 1997: em 35 parcelas monitoradas bianualmente, foi executado o corte de todos os cipós existentes. Esse tipo de corte é um tratamento silvicultural que possibilita à floresta secundária um rápido retorno às condições originais. No final de 8 anos, verificou-se o acréscimo de 5,92% do número de espécies e 1,78% do número de famílias, e observou-se que a taxa de crescimento superou a de mortalidade, havendo elevado aumento do número de indivíduos da população. O incremento foi de 23 novas espécies, das quais 1 pioneira, 8 secundárias iniciais, 8 secundárias tardias e 6 espécies clímax. Nesse período houve morte de alguns indivíduos atribuídas à dinâmica natural de sucessão em clareiras (SOUZA et al. 2002).

RODRIGUES et al. (2001) ressaltam que os níveis de radiação solar configuram os fatores mais importantes na dinâmica da floresta e na distribuição espacial das plantas, pois a insolação determina os processos físicos e biológicos do ecossistema. As variações topográficas influenciam na distribuição de luz, provocando diferenças no sombreamento, mesmo em distâncias pequenas. Essa distribuição diferente da insolação vai interferir na incidência de energia e no balanço hídrico, alterando fatores como temperatura, evapotranspiração e umidade do solo. Quanto à categoria sucessional, define que as espécies pioneiras são aquelas que ocorrem com mais freqüência em clareiras e bordas de fragmentos florestais, pois são mais dependentes de luz; as secundárias iniciais também ocorrem em clareiras e bordas, além do sub-bosque em áreas menos sombreadas e apresentam dependência intermediária de luz e, finalmente, as espécies secundárias tardias ou climácicas são as menos dependentes de luz e ocorrem mais freqüentemente no sub-bosque em áreas de sombra densa. Essa caracterização é baseada nos dados biológicos das espécies; nas características de seus microhabitats e na distribuição vertical e horizontal dentro da floresta; no entanto, diversas espécies são difíceis de serem enquadradas nessas categorias.

RODRIGUES & GANDOLFI (2003) afirmam que as principais preocupações que devem nortear a recuperação de uma área degradada são: avaliar o potencial de auto-recuperação da área, considerando as características do local e o histórico da degradação, e procurar manter uma elevada diversidade, respeitando as características florísticas da mata remanescente.

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KAGEYAMA (2003), avaliando a sucessão ecológica na recuperação de florestas heterogêneas, sugere que o plantio de espécies seja ordenado de tal forma que as espécies iniciais forneçam sombreamento às espécies finais da sucessão, e as secundárias iniciais forneçam sombreamento parcial às secundárias tardias. Um fator importante a ser considerado é a natureza do material genético a ser introduzido na área revegetada. A carga genética pode afetar a dinâmica de toda a comunidade vegetal, portanto, as espécies selecionadas devem ser provenientes da mata remanescente, pois sua estrutura genética pode ser hierárquica, refletindo as adaptações das plantas àquele ambiente, representando a evolução dos ancestrais. A introdução de carga genética de outras regiões pode levar à mortalidade dos indivíduos em curto espaço de tempo. Se não for possível realizar a coleta de sementes do ecossistema que está sendo recuperado, devido à alta taxa de degradação, as sementes devem ser coletadas em áreas com características semelhantes, considerando a composição florística, o clima, o relevo, o solo e a altitude.

REIS & KAGEYAMA (2003) destacam a importância das interações em processos de restauração de uma população florestal. Segundo os autores, essas interações podem ser: plantas-animais; plantas-plantas, e plantas-microorganismos. As interações entre plantas e animais se dão por meio da formação de cadeias alimentares que possibilitam uma rápida ciclagem de nutrientes na comunidade vegetal, bem como a polinização e dispersão de sementes. Espécies como Mimosa scabrella Benth. (bracatinga), Schilozobium parahyba (Vell.) S.F. Blake (guapuruvu) e Inga spp. são exemplos de interações planta-animal importantes: as formigas transportam cochonilhas para essa árvores; estas, por sua vez, sugam a seiva das plantas e excretam um líquido adocicado que atrai grande quantidade de insetos e pássaros. Outro exemplo é a interação entre formigas Azteca e embaúbas (Cecropia spp.). As formigas vivem dentro do caule oco da embaúba e, segundo os autores, as plantas que não apresentam formigas habitando em seu interior são mais sujeitas à folivoria. Outras espécies relevantes para essas interações são as plantas denominadas “bagueiras”, que atraem a fauna quando estão em frutificação, como por exemplo as figueiras (Ficus spp.), diversas Mirtáceas, e quase todas as palmeiras e bromélias. As bromélias, além de oferecer alimento, também constituem reservatórios de água e abrigo para pequenos anfíbios e para as larvas de muitos insetos, que por sua vez atraem pássaros; suas partes basais são também muito apreciadas por primatas, que se alimentam delas.

De acordo com REIS & KAGEYAMA (2003), para o início do trabalho de restauração é importante a utilização de espécies pioneiras capazes de, rapidamente, cobrir o solo e permitir a formação de serapilheira. Para essas interações (planta-planta) são recomendadas plantas de hábito rastejante com capacidade de multiplicação vegetativo através dos nós aéreos das raízes, como as do gênero Ipomea L. e Mikania Willd.. Além de exercerem uma função de proteção ao solo, essas plantas apresentam flores, frutos e sementes que atraem constantemente diversos animais.

As interações plantas-microorganismos ainda não são muito conhecidas, mas é comprovada a eficiência da interação entre algumas espécies de plantas e bactérias nitrificadoras nos processos de recuperação, graças à nitrogenação do solo que elas proporcionam. É o caso, por exemplo, de leguminosas como os ingás e a bracatinga. O grupo das micorrizas também vem sendo estudado e é considerado como básico para a subsistência das espécies arbóreas tropicais (REIS

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& KAGEYAMA 2003).

1.4 MÉTODOS DE REVEGETAÇÃO

A implantação de um projeto de revegetação deve ser fundamentada nos princípios da sucessão ecológica, e ser precedida do levantamento florístico da região a ser recuperada, bem como levantamento da densidade (número de indivíduos de uma espécie por unidade de área); freqüência (número de vezes que a espécie ocorreu num dado número de amostras); distribuição espacial das espécies, e devem ser consideradas as combinações entre as espécies e seus respectivos estágios de sucessão (KAGEYAMA et al. 1992; BARBOSA & SERRA FILHO 1993; SMA 2004).

DURIGAN & NOGUEIRA (1990) sugerem que o plantio seja heterogêneo, intercalando as espécies pioneiras e secundárias iniciais com as espécies secundárias tardias e clímax. O número de pioneiras e secundárias iniciais deve ser o dobro das espécies de crescimento lento (secundárias tardias e clímax), e as mudas devem ser dispostas no terreno de forma que as espécies de luz possam fornecer sombra para as espécies umbrófilas em curto espaço de tempo. O plantio sem alinhamento resulta em uma mata mais semelhante à original, e as mudas devem possuir espaçamento de cerca de 2,0 x 2,0m a 3,0 x 3,0m, dependendo da cerração de copa que se deseja. A adubação ou correção de pH deverão ser realizadas após análise do solo e avaliação de suas deficiências nutricionais.

A escolha das espécies pioneiras para colonização inicial de uma área degradada é um método que reproduz os fenômenos naturais da sucessão, pois estas crescem rapidamente; recobrem a área; protegem as espécies não pioneiras; promovem a ciclagem de nutrientes; debilitam as gramíneas competidoras, e atraem a fauna local que irá interagir nos processos de polinização e dispersão de sementes. Esses plantios devem ser intercalados com espécies dos estágios iniciais e finais, obedecendo ao nível do terreno (KAGEYAMA et al. 1992).

O projeto “Desenvolvimento e implantação de modelos alternativos de recomposição vegetal com espécies nativas na Fazenda São Carlos - Santa Cruz das Palmeiras - SP”, coordenado por técnicos do Instituto de Botânica de São Paulo (BARBOSA & SERRA FILHO 1993), sugere 10 modelos para plantio de espécies nativas de ocorrência regional predominante. Todos os modelos devem considerar a topografia; textura; permeabilidade e profundidade do solo, e nível de umidade.

O modelo 1 intercala espécies heliófilas e umbrófilas com espaçamento variando de 1,0 a 2,0 m; e as espécies umbrófilas devem ser plantadas depois das heliófilas. O modelo 2 intercala espécies secundárias iniciais com espaçamento de 2,5 m entre elas, com secundárias tardias ou clímax. As espécies secundárias tardias e as climácicas devem ser plantadas 1 ano após o plantio das secundárias iniciais, com espaçamento mínimo de 5m, de forma que configurem menor número do que as espécies iniciais. O modelo 3 intercala secundárias iniciais, secundárias tardias e clímax, obedecendo à proporção de 4:4:1, com espaçamento de 4,0m entre as mudas. O modelo 4 sugere plantio em linhas, intercalando espécies pioneiras (grandes clareiras); espécies secundárias iniciais (oportunistas, clareiras pequenas); secundárias tardias, e clímax. O espaçamento entre as pioneiras deve ser de 2,0 x 2,0m; 4,0 x 2,0m entre secundárias iniciais, e 4,0 x 4,0m entre secundárias tardias e

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climácicas. O modelo 5 propõe a alternância em linhas de espécies pioneiras e linhas de espécies não pioneiras, podendo o plantio ser simultâneo ou em épocas diferentes. O modelo 6 alterna pioneiras e não pioneiras na mesma linha, com alteração de ordem em relação à linha anterior. O modelo 7 divide as pioneiras no subgrupo de pioneiras de copa mais densa (PD) e pioneira de copa mais rala (PR); e classifica as não pioneiras em secundárias menos (S1) e mais (S2) exigentes de luz, e, finalmente, espécies clímax (CL). Dessa forma, o plantio em linhas terá a seguinte proporção: 12PD:12PR:4CL:6S1:6S2. As espécies serão intercaladas de modo que PD e PR circundem S1, S2 e CL, criando diferentes gradientes de luz. O modelo 8 propõe o plantio em linhas, no entanto, alternando as espécies arbóreas com vegetação secundária (capoeira). Este modelo deve ser aplicado quando se deseja enriquecer a vegetação secundária. O modelo 9 sugere o plantio de espécies clímax dois anos após o plantio das pioneiras. O espaçamento entre as pioneiras deve ser de 2,0m, e de 10,0m entre as clímax. Finalmente, o modelo 10 propõe o plantio simultâneo de mudas e sementes divididas em: semente de espécie pioneira (SP); muda de espécie pioneira (MP); semente de espécie não pioneira (SN), e muda de espécie não pioneira (MN). O plantio e a semeadura devem ser em linha, alternando na primeira linha SP e MN e, na segunda linha, MP e SN, sucessivamente (BARBOSA & SERRA FILHO 1993).

MACEDO (1993) propõe 3 modelos de revegetação. O modelo I alterna uma linha de pioneiras com uma linha de não pioneiras, sendo que o plantio pode ser simultâneo ou em épocas diferentes. O modelo II alterna, na mesma linha, pioneiras e não pioneiras e, na linha seguinte, altera-se a ordem em relação à linha anterior. O modelo III divide as espécies em pioneiras de copa mais e menos densa; em secundárias mais e menos exigentes de luz, e espécies clímax.

RODRIGUES (1996) propõe como modelo de revegetação o plantio de pioneiras e secundárias iniciais alternadas com linhas de espécies pioneiras e secundárias tardias. O espaçamento deve ser em torno de 2,5 a 3,0m, na proporção de 67% de espécies pioneiras, 22% de secundárias iniciais e 11% de secundárias tardias.

Para STRINGUETTI (2001) é essencial uma escolha cuidadosa das espécies que serão plantadas, mas deve-se sempre avaliar o potencial de regeneração natural da área, sendo muitas vezes suficiente apenas o isolamento e monitoramento da área para que se inicie o processo de recuperação.

O projeto de recomposição da vegetação da Área de Preservação Permanente (APP) do córrego da Fazenda Itaqui, em Santa Gertrudes (SP), utilizou como modelo o plantio em linhas na proporção de 50% de espécies pioneiras; 37,5% de espécies de estrutura e 12,5% de espécies de diversidade (SMA 2002, não publicado). O objetivo foi restaurar a estrutura e a dinâmica da vegetação original considerando a diversidade local, a representatividade das populações e o uso final da área. O espaçamento entre as mudas foi de 3,0 x 1,66m.

KAGEYAMA (2003) propõe como modelo de revegetação o uso de linhas alternadas de pioneiras e secundárias iniciais, e não pioneiras (secundárias tardias e climácicas), com cerca de 10-30 espécies pioneiras e 100-150 não pioneiras. O plantio pode ser em módulos, com uma base central dos grupos finais da sucessão rodeada por 4 ou mais plantas dos grupos iniciais. No entanto, para plantios em dezenas a centenas de hectares, o plantio em linhas intercalando espécies pioneiras e não pioneiras é o mais indicado.

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BARBOSA (2003) afirma que o modelo a ser escolhido deve considerar inúmeros fatores, tais como: disponibilidade de sementes do local (banco de sementes) e da região (fonte de sementes); produção de mudas em viveiros florestais; seleção das espécies; diversidade específica; velocidade de crescimento; estratégias de dispersão; influência da luminosidade; características do solo, entre outros. É importante distribuir espacialmente as espécies de acordo com a aptidão ecológica, isto é, as espécies pioneiras (ou heliófilas) devem propiciar sombreamento para as espécies dos demais estágios de sucessão (secundário e climácico), levando à formação de uma floresta heterogênea com alta diversidade, pois esta é uma das principais características das florestas tropicais.

O número de mudas a ser plantado deve ser em torno de 2.000 por hectare (MACEDO 1993; RODRIGUES 1996; BARBOSA 2003; KAGEYAMA 2003); e a melhor época para o plantio é a estação chuvosa (DURIGAN & NOGUEIRA 1990; JOLY et al. 2000; SMA 2002, não publicado). A proporção indicada para os plantios é de 40% a 50% de pioneiras, porém com pouca variedade de espécies; 25% a 30% de secundárias, empregando muitas espécies do grupo, e o restante de espécies climácicas (SMA 2004).

1.5 CHUVA DE SEMENTES, BANCO DE SEMENTE E SERAPILHEIRA

Outros elementos que devem ser avaliados quando se pretende implantar um projeto de recuperação são a presença de serapilheira, a chuva de sementes e a existência de banco de sementes.

A chuva de sementes é uma estratégia natural de dispersão de diversas espécies da Mata Atlântica. Como citado no item 1.1, esse princípio foi a base da recuperação da Serra do Mar pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo; os técnicos realizaram semeadura aérea de espécies nativas para recuperar as encostas da serra. Nesses locais, a capacidade de regeneração natural estava muito reduzida devido ao alto índice de degradação da região e aos altos teores de poluentes emitidos incessantemente. Assim, aliado à semeadura, foi necessário o rigoroso controle das indústrias no sentido de reduzir essas emissões (SMA 1990) .

O banco de sementes é um estoque existente no solo da floresta que, aliado à chuva de sementes, resguarda o potencial de regeneração da mata. A dormência permite que sementes viáveis ocupem o solo desde a superfície até camadas mais profundas, podendo haver quebra da dormência e germinação quando as condições forem favoráveis. As sementes que compõem o banco são provenientes da chuva de sementes. No entanto, não é interessante para a planta-mãe que as sementes caiam muito próximas de si, pois há aumento da competição e alta mortalidade dos indivíduos jovens, assim, as sementes são transportadas para locais mais distantes, sendo depositadas no solo. As “condições favoráveis” para a germinação das sementes do banco são basicamente respostas fisiológicas a estímulos ambientais, como luz, temperatura e umidade (ROIZMAN 1993).

As espécies pioneiras e secundárias iniciais produzem grande quantidade de sementes pequenas, com longa viabilidade no banco, e geralmente são dispersas por pássaros, morcegos e pelo vento. As secundárias tardias não apresentam comportamento padrão quanto ao tamanho e quantidade de sementes (varia conforme a espécie), possuem viabilidade média e são dispersas principalmente

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pelo vento. As espécies clímax produzem sementes grandes e em pouca quantidade, com tempo de latência curto e são dispersas principalmente por mamíferos e coletores (BARBOSA 2003). QUADRO 1 - Características de espécies florestais nativas do Brasil, que compõem os estádios a serem considerados em modelos de recuperação vegetal, baseados na sucessão secundária (BARBOSA 2003).

CARACTERÍSTICA Espécie pioneira

Espécie secundária inicial

Espécie secundária tardia

Espécie climácica

Ciclo de vida (anos) *

curto (1 a 3) podendo chegar a 5

curto (5 a 15) médio a longo (20 a 50)

longo (mais que 100)

Tamanho e quant. sementes e frutos

pequenas e em grande quantidade

pequenas, e em grande quant.

indefinida, depende da sp.

grandes e em pouca quantidade

Viabilidade das sementes

longa, latentes no solo

longa, latentes no solo

curta e média curta

Disseminação das sementes *

pássaros, morcegos, vento

pássaros, morcegos, vento

principalmente pelo vento

gravidade, mamíferos e coletores

Altura dos indivíduos (m) *

4 a 8 (alguns até 12)

10 a 20 20 a 30 (alguns até 50)

30 a 45 (alguns até 60)

Tempo para atingir a altura máxima

muito rápido (meses)

rápido (meses/anos)

variável com a espécies (>1 ano)

lento (mais de 10)

Densidade da madeira

muito leve leve intermediária, varia com a sp.

pesada e rígida

Espessura dos ramos (espécies dominantes)

muito finos, diâmetro <40 cm

finos, diâmetro 40-60 cm

espessos, diâmetro < 80 cm

muito espessos, diâmetro > 80 cm

Folhagem (espécies dominantes)

sempre verde sempre verde muitas são decíduas

sempre verde

Forma de regeneração

colonizam qualquer área sob luz

colonizam grandes clareiras

colonizam pequenas e médias clareiras

colonizam áreas sombreadas

Necessidade de luz muita luz (heliófilas) variável com a espécie

variável com a espécie

ombrófila quando jovens, necessitam luz quando adultas

* dados da literatura existente sobre florestas naturais ou de plantas isoladas complementados com resultados obtidos em áreas experimentais (nota do autor).

A composição do banco de sementes constitui um processo dinâmico, pois as saídas do banco via germinação são compensadas com a chegada de novas sementes via dispersão. A densidade do banco, no entanto, pode ser diminuída por predação, patógenos ou perda da viabilidade das sementes. As entradas e saídas de sementes do banco estão diretamente ligadas à densidade, composição das espécies e reserva genética. Uma área perturbada, por fatores antrópicos ou naturais, apresentará na regeneração uma vegetação proveniente dos propágulos e das sementes viáveis existentes no solo. Conhecendo a composição do banco de sementes é possível prever a composição florística no processo de sucessão. O banco é composto de espécies existentes na vegetação atual; espécies de etapas sucessionais anteriores, e espécies que vieram de outras áreas por meio da dispersão. A análise da flora não é suficiente para inferir a composição do banco. O banco apresenta sementes transitórias, que são aquelas de vida curta, não dormentes e de dispersão pequena durante o ano; sementes persistentes, que são aquelas de vida longa, dormência ligada a fatores ambientais e dispersas por períodos variáveis; sementes pseudo-persistentes, não dormentes e de vida curta, dispersas durante todo o ano; sementes de dormência sazonal, médio tempo de vida

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e dispersas por períodos variáveis; e sementes de germinação retardada, não associada à sazonalidade. As sementes que compõem o banco expressam o material genético acumulado ao longo do tempo e refletem as mudanças evolutivas adquiridas pelas espécies (ROIZMAN 1993).

O estabelecimento das populações, a manutenção da diversidade das espécies, o estabelecimento dos grupos ecológicos e a restauração da riqueza de espécies ao nível da mata original, são alguns processos que envolvem o banco de sementes. Aliado à chuva de sementes, o banco de sementes indica o potencial de regeneração de florestas perturbadas. As sementes presentes no banco são, via de regra, pequenas, nunca maiores do que 5mm. Esta é uma característica de adaptação das espécies à pressão de predação e uma maior facilidade de incorporação ao solo. As sementes maiores geralmente são visíveis na serapilheira. Estima-se que, em florestas tropicais maduras, o banco apresente uma média de 500 sementes/m2 e a profundidade varie entre 2,5 a 5,0 cm. As espécies que germinam após a abertura de clareiras ou perturbação antrópica da mata são as pioneiras, e estas propiciam em pouco tempo condições para a germinação de outras espécies. Além disso, contribuem na regeneração avançada, as plântulas e jovens oriundos de brotamento das plantas preexistentes (BAIDER et al. 1999).

O estudo do banco de sementes pode ser importante para predição da infestação com ervas daninhas, além de fornecer um histórico das condições ambientais e práticas culturais anteriores. A composição do banco de sementes é indicadora do sistema de manejo de solo. Em áreas dominadas por gramíneas, a utilização de leguminosas como adubo verde, produz redução significativa de plantas daninhas. A prática de adubação verde pode ser um importante aliado na recuperação de áreas, pois são capazes de inibir o banco de sementes das ervas daninhas (SEVERINO & CHRISTOFFOLETI 2001).

O banco de sementes não é uma estratégia de reconstituição natural apenas das florestas úmidas; vegetações submetidas a longos períodos de seca, como ocorre na caatinga, também utilizam-se dessa estratégia de sobrevivência a longo prazo, diante da irregularidade do regime pluviométrico. As plantas anuais da caatinga mantém suas sementes em dormência no solo durante toda a época de seca, e essas sementes são aptas a germinarem no início do período chuvoso, garantindo o restabelecimento da vegetação mesmo após longos períodos de escassez de água. A serapilheira da caatinga constitui uma importante reserva de sementes com alto índice de germinação no início da estação chuvosa (COSTA & ARAUJO 2003).

A serapilheira é uma camada que recobre o solo, consiste de matéria orgânica proveniente das plantas presentes na cobertura vegetal, e é composta de folhas, ramos, caules, cascas, flores, frutos e sementes, depositados no solo (SOARES 1993). Seu acúmulo afeta a estrutura e a dinâmica da comunidade vegetal pois, além de proteger o solo reduzindo a evaporação e prevenindo a erosão, disponibiliza nutrientes para o solo por meio da ação dos decompositores. A profundidade da serapilheira pode variar e, quando acumulada, fornece sombra para a germinação de plântulas umbrófilas. Em área a ser recuperada é eficiente o uso de serapilheira retirada de mata adjacente. No entanto, essa extração deve ser controlada de modo a evitar a exposição do solo no interior da floresta e conseqüente redução na ciclagem de nutrientes. O papel da serapilheira deve ser analisado considerando-se os fatores climáticos, edáficos e biológicos da área. O acúmulo de serapilheira apresenta variação sazonal e sua quantidade é uma relação

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entre o material que se deposita no solo e a degradação por meio do consumo heterotrófico e pela decomposição. Dentre os consumidores e decompositores há integrantes da microflora (bactérias, actinomicetos e leveduras); da microfauna (Protozoa, nematóides, rotíferos, tardígrados, Acarina e Collembola de pequeno porte); da mesofauna (Collembola, minhoca e maioria das larvas de dípteros) e, finalmente, a macrofauna constituída de artrópodes grandes, moluscos e minhocas maiores. O banco de sementes presente no solo e a chuva de sementes são considerados os principais mecanismos de regeneração natural em florestas tropicais, e a serapilheira possibilita a introdução de diásporos (unidade de dispersão das plantas superiores constituída de embrião e estruturas acessórias) e de sementes, e provê habitats para diversas espécies. Estudos envolvendo 3 campos (sem serapilheira - campo 1, com pouca serapilheira - campo 2, e com muita serapilheira - campo 3) revelaram que o desenvolvimento da vegetação foi maior onde havia muita serapilheira; médio no campo com pouca serapilheira, e menor no campo sem serapilheira. Esses estudos demonstraram a contribuição e importância da existência/utilização da serapilheira em áreas degradadas. É interessante destacar que, após 2 anos de estudo, no campo 1 a espécie vegetal dominante era da família das gramíneas, e nos campos 2 e 3 as compostas lenhosas foram dominantes. A análise química do solo dos 3 campos revelou que o campo 3 apresentava as condições mais propícias ao restabelecimento da cobertura vegetal, e demonstra a relevância da serapilheira na formação e manutenção da fertilidade do solo. Associadas à serapilheira, as raízes superficiais desempenham o papel de absorver nutrientes e água e, junto à ação das micorrizas, contribuem para uma ciclagem mais eficiente dos elementos. O uso da serapilheira consorciado ao plantio de espécies nativas acelera a recuperação de áreas degradadas, favorecendo o incremento de biomassa (GISLER 1995).

O manejo correto da área degradada pode acelerar o processo sucessional da vegetação nativa. As alterações nas condições microclimáticas dos sub-bosque, o aumento da complexidade estrutural da vegetação e o desenvolvimento de sistemas radiculares, contribuem para a estabilização do solo, aumento da serapilheira, moderação do pH do solo e conseqüente melhora de sua fertilidade. Essas condições atraem a avifauna dos fragmentos florestais adjacentes, aumentando a oferta de sementes por meio da dispersão, bem como favorecem a supressão de gramíneas competidoras que dificultam a germinação de sementes e o estabelecimento de plântulas (ENGEL 2003).

REIS et al. (2003) defendem a nucleação como método eficiente e de baixo custo para a recuperação de áreas degradadas. O princípio da nucleação é criar habitats que permitam a ocupação do ambiente por uma gama de espécies associadas que, consequentemente, favorecerão o processo de sucessão. Todas as técnicas de nucleação estão direcionadas para aumentar a eficiência da chuva e do banco de sementes, bem como a restauração do solo. Essas técnicas são: transposição de solo, semeadura direta, poleiros artificiais, transposição de galharia, plantio de mudas em ilhas de alta diversidade, e transposição da chuva de sementes. A transposição de pequenas quantidades de solo de área não degradada para a área degradada representa grandes chances de recolonização desse solo com microrganismos, sementes e propágulos, reintroduzindo espécies da micro, meso e macro fauna/flora do solo, criando dessa forma “ilhas de fertilidade”. A restauração do solo é de grande importância para a sustentação da vegetação, pois seus componentes, em especial as algas, fixam carbono e nitrogênio através dos

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processos de fotossíntese e fixação do nitrogênio, possibilitando que fungos e bactérias se desenvolvam e liberem nutrientes minerais para o solo, tais como fósforo, cálcio e ferro. A técnica do transposição de serapilheira consiste na retirada de serapilheira mais 5,0 cm de solo de uma área em estágio avançado de sucessão, e disposição desse “novo banco de sementes” na área degradada, o que propicia condições para quebra da dormência de sementes das espécies pioneiras. A semeadura direta é uma intervenção do homem com vistas a intensificar a chuva de sementes, utilizando espécies de rápido crescimento para a cobertura do solo e interrupção dos processos erosivos. Sugere-se a semeadura de alta diversidade, adicionado às sementes água, fertilizantes e agentes cimentantes (que favorecem a aderência das sementes ao substrato). O sucesso da semeadura direta está relacionado à escolha cuidadosa das espécies, de forma a propiciar o desenvolvimento da vegetação e a atração de animais e microrganismos. Os poleiros artificiais são uma estratégia de atração da fauna dispersora de sementes, especialmente pássaros e morcegos frugívoros. Os poleiros podem ser feitos de varas de bambu, galhos de árvores com folhagem, cipós interligando árvores e até mesmo cabos aéreos que imitam postes da rede elétrica, e são extremamente atraentes para essa fauna, que os utilizam para repouso, proteção, alimentação ou residência. A área coberta com poleiros recebe sementes provenientes da regurgitação, defecação ou derrubada de frutos. Essa técnica é recomendada para grandes áreas e a tendência é que a recuperação ocorra por irradiação.

Ainda de acordo com REIS et al. (2003), a transposição de galharia é indicada para recuperação de áreas mineradas cuja degradação está associada à total ausência de nutrientes no solo. Qualquer matéria orgânica disponível, como resíduos de exploração florestal, poderá ser utilizada. A galharia transportada carrega sementes, raízes, caules com capacidade de rebrota, pequenos roedores, répteis e anfíbios, incorpora matéria orgânica ao solo e constitui potencial de rebrota e germinação, além de servir de abrigo para a fauna, criando microclimas adequados. A produção de ilhas é especialmente vantajosa em grandes áreas, de forma que se criem diversos fragmentos que serão irradiados com auxílio da chuva de sementes e dispersão por meio da fauna, promovendo intercâmbio entre as ilhas. Nessas ilhas são introduzidas ervas, arbustos, lianas e árvores capazes de proporcionar maior diversidade biológica e a proximidade entre elas formará “corredores ecológicos”. A transposição da chuva de sementes é uma forma de garantir a oferta de sementes diversificadas durante o ano todo. Para viabilização, deve-se instalar coletores dentro de floresta em diferentes estágios de sucessão e transpor essas sementes para a área degradada, realizando a semeadura direta (a lanço) ou indireta (cultivo em sementeiras).

2. JUSTIFICATIVA

Os Parques Estaduais constituem unidades de conservação normalmente extensas, protegidas pela legislação, como o Código Florestal Brasileiro, entre outras, e são definidas como áreas de interesse científico, pedagógico ou para fins recreativos, destinadas à proteção dos ecossistemas. As atividades permitidas pela legislação são a pesquisa científica, a educação ambiental, e o turismo controlado e ecologicamente correto. A finalidade do parque é resguardar os atributos da natureza, conciliando a proteção ambiental com essas atividades permitidas,

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buscando a proteção da biodiversidade (SMA 1989; FUNDAÇÃO FLORESTAL 2003).

BARBOSA (2003) sugere que as áreas prioritárias para recuperação devem ser as de preservação permanente (mata ciliar) e as áreas com declive acentuado e, posteriormente, áreas degradas pela ação antrópica. No entanto, devido à ocupação desordenada e ao avanço contínuo da mancha urbana sobre áreas protegidas, pesquisadores e Governo têm expressado preocupação maior com esses locais.

O Parque Estadual de Ilhabela, por ser um ecossistema insular, apresenta uma dinâmica ambiental frágil, devido ao isolamento geográfico decorrente da barreira oceânica. No entanto, por ser uma ilha relativamente grande e próxima do continente (o canal de São Sebastião possui 1,5 Km de largura) apresenta maior biodiversidade do que as ilhas menores ou localizadas em alto-mar (VISNADI & VITAL 2001).

Os maiores problemas que afetam o meio ambiente da Ilhabela são a urbanização acelerada e a atividade imobiliária decorrentes do turismo não planejado. O litoral norte do Estado concentra os loteamentos de maior valor aquisitivo, com supervalorização das terras e, somando-se a isso, há o status social de se adquirir terrenos em uma ilha (SMA 1989; VISNADI & VITAL 2001). Apesar da legislação costeira limitar a ocupação, freqüentemente ocorre a supressão da vegetação de áreas protegidas.

Conforme citado no item 1.2, a trilha do pico do Baepi está voltada para a face urbana da Ilha e, além de apresentar demarcação de lotes até o início da cota 200 m, ainda sofre com as queimadas periódicas provocadas por pessoas que possuem cultura agrícola em área limítrofe ao Parque.

Segundo o relato de um mateiro, morador próximo à entrada da trilha do Baepi, as últimas queimadas ocorreram em janeiro e maio de 2004.

O trecho escolhido para a implantação deste projeto possui 25 hectares de área dominada por gramíneas e, pela sua localização, empresta grande vulnerabilidade à floresta devido às agressões ambientais sofridas periodicamente, cujas conseqüências podem ser o aumento gradativo dessa área, esgotamento do solo pela ação do fogo e perda da diversidade local.

Figura 7 - Vista da área coberta pelo sapezal (Foto cedida pelo NATA/SMA)

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3. OBJETIVO Promover a condução da auto-regeneração e incremento com mudas de

espécies nativas, em 25 hectares de área alterada na trilha do pico do Baepi, Parque Estadual de Ilhabela, São Paulo, Brasil.

4. MATERIAL E MÉTODOS

A área onde será implantado o projeto localiza-se no Município de Ilhabela, Estado de São Paulo, na trilha do pico do Baepi, e apresenta 25 hectares dominados por uma gramínea perene, o capim-sapé (Imperata sp.), de ocorrência comum em áreas degradadas e encontrado em todo o território nacional (CARVALHO et al. 1998). A cobertura arbustivo-herbácea é bastante densa, com presença de algumas espécies da família das asteraceae (Vernonia spp.) e, mais próximo da floresta, há uma maior variedade de espécies, com predominância das seguintes famílias: Melastomataceae (Tibouchina spp.), Ulmaceae (Trema micrantha (L.) Blume.), Caesalpinaceae (Schizolobium parahyba (Vell.) Blake), Myrsinaceae (Rapanea spp.), Cecropiaceae (Cecropia spp.), entre outras.

Figura 8 - Vista parcial da subida do Pico do Baepi (Foto: Roseli B. Torres)

A implantação do projeto envolverá diversas atividades. A seguir serão descritas as metodologias que serão utilizadas, visando a regeneração natural e o plantio de mudas:

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a) Curso de marcação de matrizes e coleta de sementes

O curso formador de escaladores de árvores e coletores de sementes possui carga horária de 56 horas e visa capacitar pessoal para marcação de matrizes, colheita e manejo de sementes de espécies florestais; abrange técnicas de escalada em árvores, trazidas do alpinismo para o cotidiano do coletor de sementes. Serão abordados os fatores de segurança, ancoragem, uma grande quantidade de nós, conhecimento do equipamento e conceitos básicos do arborismo. Une-se a isso a escolha das árvores matrizes e a coleta de sementes, onde o aluno toma conhecimento do equipamento de coleta e de como utilizá-lo da melhor maneira; técnicas de coleta, e beneficiamento de sementes. O curso abrange teoria e manuseio de equipamento, clínica sobre os nós e o planejamento da coleta ao longo do ano.

b) Construção de Viveiro

Para atender à demanda de plantio, será construído um viveiro, em propriedade particular, fora dos limites do Parque Estadual. As sementes coletadas pelos integrantes do grupo Sementes do Futuro serão utilizadas para a produção de mudas que posteriormente serão plantadas nas parcelas. Ressalta-se que a marcação das matrizes florestais, bem como a coleta de sementes, ocorrerá no interior do Parque Estadual de Ilhabela.

O viveiro prevê a produção de 30.000 mudas/ano, e o sistema de produção obedecerá ao ciclo de 120 dias: 60 dias as mudas ficarão dentro do viveiro, e 60 dias ficarão a céu aberto. Serão acondicionadas dentro de tubetes em bandejas de 54 células, com 100% de ocupação. A céu aberto as mudas serão espaçadas, pois estarão com maior porte, ocupando apenas 50% da capacidade de cada bandeja. A irrigação das mudas será manual.

c) Barreira contra fogo

A principal perturbação sofrida na área é a ocorrência de queimadas periódicas. O capim é um material altamente comburente, tornando-se suscetível à ignição principalmente nos períodos secos, podendo o incêndio ser iniciado por fósforo aceso ou a partir de queimada em área próxima.

Embora o fogo possa estimular a germinação de algumas espécies, geralmente sua ação elimina a maioria das sementes acumuladas no banco, bem como elimina os brotos, propágulos e plantas jovens (ROIZMAN 1993; MACEDO 1993; RODRIGUES 1996); além de eliminar pequenos animais importantes na dispersão de sementes, como roedores.

Aceiros são faixas de terra, ao longo das cercas ou divisas, cuja vegetação é removida da superfície do solo, visando prevenir a passagem do fogo e a ocorrência de incêndios indesejáveis. Podem ser feitos manual ou mecanicamente, dependendo do tamanho da área ou propriedade a ser protegida, e da disponibilidade de máquinas e/ou mão-de-obra (EMBRAPA 2000). Recomenda-se a construção de aceiros em áreas onde há práticas agrícolas, bem como àquelas próximas às áreas de circulação, como rodovias e assentamentos humanos. A massa vegetal resultante deve ser utilizada como cobertura morta no coroamento

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das mudas. Essa cobertura protege contra a perda de umidade do solo na região da coroa (SMA 2004).

Pelas características locais, a construção do aceiro ao longo do limite do Parque, é a técnica mais indicada. Será capinada uma faixa de 3,0 metros de largura, que deve ser mantida limpa para que ofereça proteção permanente.

Figura 9 - Aceiro em área de pastagem (Foto: GEOFISCAL Eng.)

Figura 10 - Aceiro em borda de floresta (Foto: EMBRAPA)

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d) Condução da regeneração

Para a recuperação de uma área alterada é fundamental a avaliação empírica e levantamento do histórico da degradação do local e das características do entorno. Em campo é importante observar se existem indivíduos com potencial de rebrota, presença de indivíduos jovens, existência de fragmentos florestais próximos, potencial de dispersão de sementes, e identificar os fatores de perturbação, sejam antrópicos ou naturais (Ricardo R. Rodrigues, informação verbal).

Nos trabalhos de campo verificou-se que a regeneração está ocorrendo, porém num ritmo extremamente lento pois, além de ocorrer competição com as gramíneas, após as queimadas há grande perda de indivíduos jovens. A perturbação repetida da área e a presença de competidores tornam a recuperação mais lenta e difícil, necessitando ser “induzida”. Em campo observou-se a presença de espécies arbustivas e arbóreas de pequeno porte nas áreas adjacentes à mata, com altura variando entre 1 e 3 metros; nota-se a presença de “ilhas de vegetação” em pontos aleatórios, a cerca de 50 - 100 metros da mata, fato que indica a chegada de sementes via dispersão ou via chuva de sementes.

Figura 11 - Ilha de vegetação - abril de 2003 (Foto: Luiz Villares)

Figura 12 - Mesma ilha da foto anterior - outubro de 2003 (Foto: Roseli Torres)

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A área mais próxima dos limites do Parque (na cota 200 m) apresenta dominância de gramíneas entremeadas com alguns indivíduos arbustivo-herbáceos. A observação em campo indica que o potencial de regeneração desse trecho é bem menor em relação à borda da mata, provavelmente por ser essa área mais freqüentemente atingida pelo fogo.

Figura 13 - Indivíduos emergindo em meio às gramíneas (Foto: Roseli B. Torres).

A estratégia a ser adotada será a de conduzir a regeneração, inicialmente, em 200 parcelas de 10m X 10m, com espaçamento de 20m entre as parcelas, partindo da borda da mata em direção à cota 200 m, para que haja possibilidade de polinização e dispersão de sementes; formação de serapilheira; oferta de chuva de sementes; atração de fauna dispersora/polinizadora, e formação do banco de sementes no trecho onde o solo encontra-se mais esgotado. Esse modelo é inspirado em KAGEYAMA (1992; 2003), REIS et al (2003), e informações verbais de Ricardo Rodrigues e Roseli Torres (2003), que destacam a importância da ligação entre fragmentos próximos.

Para condução da regeneração, em 100 destas parcelas será feito o coroamento das plântulas que emergirem a partir do banco e/ou chuva de sementes; posteriormente será feito o tutoramento dessas mudas. Não é indicado o arranquio das gramíneas de toda a área, pois o solo ficaria exposto, provocando problemas ainda maiores, como o deslize de terras na época chuvosa, além do risco de processos de lixiviação e processos erosivos.

Com o intuito de incrementar a oferta de sementes, serão adotadas as metodologias sugeridas por REIS et al (2003), conforme descrito no item 1.5: nucleação, poleiros artificiais e transposição de galharia e serrapilheira. As parcelas serão enriquecidas com serapilheira, galharia e solo retirados de diferentes pontos do interior da floresta (evitando-se retirada excessiva de um mesmo local, para não impactar ou empobrecer esse local). Os poleiros serão feitos utilizando-se material disponível no local, bem como cordas e fios.

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Nas outras 100 parcelas será realizado o plantio de espécies florestais nativas.

O solo será analisado quanto à fertilidade e ao pH para verificar necessidade de adubamento ou correção de acidez.

e) Plantio de espécies nativas

Os plantios serão realizados em covas de 30x30x50cm, distribuídas aleatoriamente ao longo da área (JOLY et al. 2000). O número de mudas a ser plantado deve ser em torno de 2.000 por hectare (MACEDO 1993; RODRIGUES 1996; BARBOSA 2003; KAGEYAMA 2003), deverão ter no mínimo 20 centímetros de altura (Resolução SMA 21 de 21/11/2001), e será utilizado o Modelo 2 sugerido por BARBOSA & SERRA FILHO (1993), citado no item 1.4 deste trabalho. A necessidade de adubação ou calagem do terreno será verificada após a análise de solo. O modelo a ser adotado alterna espécies pioneiras e secundárias iniciais, que são mais exigentes com respeito à luz, plantadas com espaçamento de 2,5 x 1,5 metros entre as mudas. Após um ano, serão plantadas as espécies secundárias tardias e as climácicas, com espaçamento de 5,0 metros. O plantio será realizado sem alinhamento, para que a mata resultante se assemelhe à floresta original (DURIGAN & NOGUEIRA 1990).

5 m

2,5 m

LEGENDA:

Pioneira e secundária inicial

Secundária tardia e clímax

Figura 14 - Modelo 2, proposto por BARBOSA & SERRA FILHO (1993)

1,5 m

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O intervalo entre o plantio das espécies de sol e das espécies de sombra, apesar de demandar maior mão-de-obra e tempo, permite que as espécies secundárias desenvolvam-se corretamente devido ao maior sombreamento proporcionado pelas pioneiras. O plantio simultâneo de pioneiras e espécies finais da sucessão resulta em deficiências de crescimento das secundárias, pois a luminosidade num plantio simultâneo é mais alta, muito embora as pioneiras cresçam primeiro, não se desenvolvem o suficiente para ofertar um sombreamento adequado (Ricardo L. Crispino, informação verbal).

Para embasar a escolha das espécies, serão utilizadas as listas contidas na Resolução SMA n.º 21 e SMA n.º 47, considerando sua ocorrência no Parque Estadual de Ilhabela, de acordo com os dados do estudo do Instituto Florestal do Estado de São Paulo denominado “Estrutura e composição da vegetação do Parque Estadual de Ilhabela (SP), com ênfase na floresta ombrófila densa submontana e montana”, iniciado em janeiro de 2000 e finalizado em meados de 2003 (dados não publicados). Este estudo objetivou conhecer a composição florística e a estrutura da vegetação, e foram coletados 20% de indivíduos arbóreos, para fins de identificação, em altitudes entre 200 e 1000 metros. O resultado preliminar revelou a existência de 45 famílias e 119 espécies arbóreas (Anexo C). A seleção dessas espécies priorizará os processos interativos planta-planta, planta-animal e planta-microorganismos , conforme REIS & KAGEYAMA (2003) descrito no item 1.3.

f) Orientação para o plantio

A Resolução SMA n.º 21, de 21 de novembro de 2001, que orienta o reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas; e a Resolução SMA n.º 47, de 26 de novembro de 2003, que complementa e amplia a Resolução SMA 21 (Anexos A e B), determinam:

utilizar o processo sucessional como estratégia básica;

considerar a possibilidade de auto-recuperação da área a partir de propágulos, banco de sementes e chuva de sementes;

utilizar mudas de espécies nativas procedentes da mesma região, e contemplar os dois grupos ecológicos (espécies pioneiras e não pioneiras);

utilizar no mínimo 80 espécies arbóreas de ocorrência regional;

utilizar espécies ameaçadas de extinção na proporção de 10% das mudas, com pelo menos 12 espécies distintas, em projetos de até 50 hectares;

realizar controle de formigas; 3 capinas e/ou coroamento anuais;

recuperar áreas com plantio de mudas e/ou condução da regeneração natural;

atentar para técnicas de conservação do solo e isolar a área dos fatores de degradação;

controle e manutenção da área por, no mínimo, 18 meses após o início do projeto, e

utilizar as espécies arbóreas listadas no anexo da Resolução.

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g) Monitoramento

Após o coroamento das mudas, haverá um monitoramento mensal da área, envolvendo:

1. manutenção do coroamento das plântulas;

2. tutoramento (instalação de estacas para sustentação das mudas);

3. controle dos formigueiros.

h) Ações de Educação Ambiental

A trilha do pico do Baepi é freqüentada tanto por turistas quanto pela população local e, para que as plântulas que forem emergindo nas parcelas não sofram impacto causado pelas pessoas que circulam pela trilha, é necessário que ações de educação ambiental envolvam os freqüentadores do Parque no cuidado com a área a ser recuperada.

A comunidade local será envolvida na execução do projeto de duas maneiras: por meio da participação direta do grupo de jovens Sementes do Futuro, que atuará na construção e manutenção do aceiro, coleta de sementes, produção de mudas, plantio, manejo das parcelas e monitoramento físico do projeto; e de maneira indireta, por meio de campanhas educativas e informativas; campanhas de plantio de mudas envolvendo professores e alunos do ensino fundamental, e distribuição de folders sobre o projeto nas escolas municipais. Os folders também serão distribuídos na entrada da trilha para os turistas.

Santos (2003) ressalta a importância da participação “ativa e efetiva” da comunidade para garantir o sucesso da recuperação florestal bem como para evitar ações de depredação a que esse tipo de projeto está sujeito.

i) Avaliação do desenvolvimento do trabalho

Após 01 ano da implantação do projeto, será necessário que se avalie os resultados iniciais para verificar se os objetivos propostos estão sendo atingidos e se a metodologia precisa ser revista; bem como a necessidade do incremento com mudas de espécies nativas nas parcelas onde será realizada a condução da regeneração natural. Serão feitas avaliações semestrais através do registro fotográfico, para documentação e posterior comparação.

Os aspectos a serem observados são: surgimento e desenvolvimento de mudas; cobertura do solo; capacidade de auto-regeneração da área; diversidade; densidade; presença e espessura da serapilheira; presença de avifauna; controle de formigas cortadeiras; controle de gramíneas; entre outros (SMA 2004).

O tempo e a velocidade de regeneração da floresta dependerão da intensidade da perturbação sofrida e, ao longo do processo, espera-se que ocorra o aumento da diversidade de espécies; aumento do percentual de espécies zoocóricas, e aumento das espécies vegetais de sombra. A tendência é a de que algumas espécies pioneiras de vida curta desapareçam, como é o caso das herbáceas; das espécies da família Asteraceae e algumas leguminosas, à medida que espécies de sombra comecem a se intensificar (pertencentes às famílias Myrtaceae e Lauraceae). Áreas que apresentam dominância de espécies de

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Imperata spp. indicam que foram submetidas a perturbação intensa e, neste caso, a regeneração tende a ocorrer mais lentamente. Isso se dá devido a eliminação das fontes de regeneração de espécies de sombra, bem como da degradação das condições físicas e químicas do solo, favorecendo a colonização por plantas herbáceas e arbustivas (TABARELLI & MANTOVANI, 1999).

REIS & KAGEYAMA (2003) destacam que a restauração necessita de intervenção antrópica nos primeiros anos, mas a tendência é de que, lenta e gradualmente, ocorra o incremento da biodiversidade. Destacam, ainda, que a velocidade da recuperação depende do grau de degradação; proximidade ou não de populações vegetais em estágios mais avançados; presença de fauna dispersora, e presença de plantas produtoras de recursos para a fauna durante o ano todo. Este último fator é importante para evitar a migração de animais para buscar alimento em outras áreas.

5. RESULTADOS ESPERADOS

A regeneração de uma área alterada constitui um processo lento e gradual, que envolve uma série de variáveis ambientais, e o trabalho implantado deve ser cuidadosamente monitorado ao longo do tempo. O plantio de florestas, especialmente com espécies nativas, é muito complexo e caracteriza-se pelo alto custo inicial e resultados mensuráveis apenas a longo prazo (SMA 2004).

Embora o tempo de regeneração da área, tanto de maneira natural como induzida, deva ser cronometrado em anos, espera-se que a partir de um ano seja possível avaliar os resultados preliminares. A longo prazo, espera-se que a floresta se restabeleça, recupere o equilíbrio, a diversidade e a sustentabilidade.

Para iniciar o processo de recuperação da área, foi montado um cronograma de 02 anos. No entanto, as variáveis ambientais são diversas e muitas vezes imprevisíveis, fato que poderá provocar alterações e/ou aumento do período de trabalho, bem como a alteração da metodologia empregada. Caso seja necessário, haverá retificação ou solicitação para prorrogação e/ou alteração do projeto.

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6. CRONOGRAMA FÍSICO E ESTIMATIVA DE CUSTOS CRONOGRAMA FÍSICO

ANO 1 ANO 2

ATIVIDADES 1º sem. 2º sem 1o sem. 2o sem.

Coleta e análise de solo X X

Barreira contra fogo (aceiro) X

Manutenção do aceiro X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Condução da regeneração X X X X X X X X X X X X

Controle de formiga X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Monitoramento (tratos culturais) X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Ações de educação ambiental X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Curso de coleta de sementes X

Construção do viveiro1 X X

Produção e manutenção das mudas1 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

Abertura de covas X X X X

Mistura de insumos X X X X

Plantio X X X X X

Monitoramento (tratos culturais) X X X X X X X X X X X X X X

Apresentação de relatório X X 1- Essas atividades serão realizadas fora da área do Parque Estadual.

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ESTIMATIVA DE CUSTOS ATIVIDADES

TIPO VALOR UNITÁRIO (R$)

VALOR TOTAL (R$)

QUANTIDADE DIÁRIAS OBSERVAÇÕES

Coleta de solo Mão-de-obra 5,00/h 120,00 03 homens 01 (24 h)

01 dia X 8 hs X 03 homens X 5,00

Análise do solo Amostra 28,00 280,00 10 amostras

Aceiro Mão-de-obra 5,00/h 960,00 06 homens 04 (32 h)

Traçar parcelas Mão-de-obra 5,00/h 6.000,00 15 homens 10 (80 h)

Ferramentas Enxada (capinar) 15,00 225,00 15 unidades

Luva 10,00 150,00 15 unidades

facão 12,00 24,00 02 unidades

Enxadão (cavar) 15,00 225,00 15 unidades

bota 20,00 300,00 15 unidades

cavadeira 35,00 525,00 15 unidades

Controle de formiga Mão-de-obra 5,00 3.600,00 15 homens 06 (48 h) 3 kg X 25 ha = 75 kg X R$9,00 Formicida 9,00/kg 675,00 3 kg/ha

Tratos culturais Mão-de-obra 5,00/h 24.000,00 15 homens 40 (320 h) 130 mudas/homens/dia/ha

Curso Turma 5 alunos 200,00 1.000,00 01 curso 56 h

Viveiro Estufa 20.000,00 20.000,00 01 unidade mão de obra inclusa no preço

Abertura de covas Mão-de-obra 5,00/h 15.000,00 15 homens 25 (200 h) 100 covas/dia/homem cálculo feito para 1500 mudas/ha

Plantio Mão-de-obra 5,00/h 19.200,00 15 homens 32 (256 h) 80 mudas/homem/dia 15 homens = 1200 mudas/dia 1 rolo/ha

estacas 0,25 cada 9.375,00 37.500 estacas

fitilho 11,00 rolo 275,00 25 rolos

Mistura de Insumos Mão-de-obra 5,00/h 6.000,00 15 homens 10 (80 h) 250 covas/dia/homem

Insumo calcário 0,11/kg 577,00 5.250 kg 140g/muda = 210 kg/ha X 25 ha

adubo orgânico 20,00 (m3) 3.750,00 187,5 m3 5 L/cova = 37.500 covas = 187,5

adubo químico 28,00 saco 50kg

3.164,00 5.625 kg (113 sacos)

150 g/cova 1.500 mudas X 150 g = 225 kg/ha X 25 ha

TOTAL 115.425,00