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1 Projeto livro vai... História vem: A leitura literária na formação de novos leitores Fernanda Vivacqua de Souza Galvão Boarin (Graduanda de Letras/UFJF) Profª Drª Suzana Lima Vargas (Faculdade de Educação/UFJF) Resumo: Discutimos as ações de incentivo a leitura literária promovidas pelo projeto Livro vai... História vem, criado em 2008, no Laboratório de Alfabetização (Laboalfa/UFJF). O Laboalfa é uma ação de extensão que atende alunos da rede pública, de 09 a 14 anos, com o objetivo de promover a aprendizagem da leitura e da escrita a partir do estudo de variados gêneros textuais. O projeto Livro vai ... História vem visa despertar o gosto pela leitura literária; favorecer o acesso a vários gêneros literários; auxiliar os alunos na construção de critérios de escolha das leituras que mais lhes agradem; formar leitores competentes. Os objetivos foram definidos face ao diagnóstico de que os alunos revelavam pouca familiaridade com textos literários, mostravam-se alheios às atividades propostas no Laboalfa, não tinham materiais de leitura em casa e o acesso à leitura literária na escola era esporádico. Os resultados obtidos revelam que o sistema de empréstimo de livros assegurou a leitura de 32 títulos de literatura infantil, em média, ao longo de um ano letivo, por cada criança. Até o presente momento, o projeto já atendeu 98 crianças, para quais foram proporcionadas tanto as experiências de leitura literária quanto as de produção textual: 36 textos de apreciação literária, com críticas e sugestões acerca dos livros lidos e 58 livros com pequenos contos elaborados pelos alunos. 1. Apresentação O presente trabalho consiste no relato de experiência do Projeto Livro vai ... História vem, que existe desde 2009 e, até o presente momento, atendeu 98 crianças. O Projeto situa-se no interior da ação de extensão Laboratório de Alfabetização (Laboalfa/FACED/UFJF), que atende alunos de 09 aos 14 anos de escolas públicas de Juiz de Fora, Minas Gerais. Esses alunos, em sua maioria, têm histórico de fracasso escolar em Língua Portuguesa e, através dessa ação extensionista, busca-se promover a aprendizagem da leitura e escrita, através do contato com variados gêneros textuais. A sala de aula, preparada para esses atendimentos, fica localizada na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, na qual os atendimentos são realizados em grupos de 08 crianças por turma. Elas têm aulas semanais com professoras bolsistas, alunas dos cursos de Pedagogia e de Letras. No início das atividades do Projeto de Extensão, as professoras bolsistas notaram um constante desinteresse dos alunos pelos livros de literatura. Ao buscarem compreender os motivos, foi constatado que o contato com títulos dessa natureza era limitado. Em casa, na maioria das vezes, não existiam exemplares e, na escola, o contato era restrito devido a dois motivos principais: a permanência da biblioteca fechada ou a pouca promoção de situações de leitura literária por parte da professora. Assim, surgiu a necessidade de um trabalho com a leitura literária, sistematizado no Projeto Livro vai... História vem.

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Projeto livro vai... História vem:

A leitura literária na formação de novos leitores

Fernanda Vivacqua de Souza Galvão Boarin (Graduanda de Letras/UFJF)

Profª Drª Suzana Lima Vargas (Faculdade de Educação/UFJF)

Resumo: Discutimos as ações de incentivo a leitura literária promovidas pelo projeto Livro vai... História

vem, criado em 2008, no Laboratório de Alfabetização (Laboalfa/UFJF). O Laboalfa é uma ação de

extensão que atende alunos da rede pública, de 09 a 14 anos, com o objetivo de promover a aprendizagem

da leitura e da escrita a partir do estudo de variados gêneros textuais. O projeto Livro vai ... História vem

visa despertar o gosto pela leitura literária; favorecer o acesso a vários gêneros literários; auxiliar os

alunos na construção de critérios de escolha das leituras que mais lhes agradem; formar leitores

competentes. Os objetivos foram definidos face ao diagnóstico de que os alunos revelavam pouca

familiaridade com textos literários, mostravam-se alheios às atividades propostas no Laboalfa, não tinham

materiais de leitura em casa e o acesso à leitura literária na escola era esporádico. Os resultados obtidos

revelam que o sistema de empréstimo de livros assegurou a leitura de 32 títulos de literatura infantil, em

média, ao longo de um ano letivo, por cada criança. Até o presente momento, o projeto já atendeu 98

crianças, para quais foram proporcionadas tanto as experiências de leitura literária quanto as de produção

textual: 36 textos de apreciação literária, com críticas e sugestões acerca dos livros lidos e 58 livros com

pequenos contos elaborados pelos alunos.

1. Apresentação

O presente trabalho consiste no relato de experiência do Projeto Livro vai ...

História vem, que existe desde 2009 e, até o presente momento, atendeu 98 crianças. O

Projeto situa-se no interior da ação de extensão Laboratório de Alfabetização

(Laboalfa/FACED/UFJF), que atende alunos de 09 aos 14 anos de escolas públicas de

Juiz de Fora, Minas Gerais. Esses alunos, em sua maioria, têm histórico de fracasso

escolar em Língua Portuguesa e, através dessa ação extensionista, busca-se promover a

aprendizagem da leitura e escrita, através do contato com variados gêneros textuais.

A sala de aula, preparada para esses atendimentos, fica localizada na Faculdade

de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, na qual os atendimentos são

realizados em grupos de 08 crianças por turma. Elas têm aulas semanais com

professoras bolsistas, alunas dos cursos de Pedagogia e de Letras.

No início das atividades do Projeto de Extensão, as professoras bolsistas

notaram um constante desinteresse dos alunos pelos livros de literatura. Ao buscarem

compreender os motivos, foi constatado que o contato com títulos dessa natureza era

limitado. Em casa, na maioria das vezes, não existiam exemplares e, na escola, o

contato era restrito devido a dois motivos principais: a permanência da biblioteca

fechada ou a pouca promoção de situações de leitura literária por parte da professora.

Assim, surgiu a necessidade de um trabalho com a leitura literária, sistematizado no

Projeto Livro vai... História vem.

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Quanto à escassez de materiais de leitura em contexto familiar, Moreira (2002)

discute as concepções de crianças alfabetizandas acerca das funções e conteúdos dos

portadores de texto:

As construções construídas por crianças de ambas as classes a respeito

do uso da escrita, mediante a sua interpretação do uso dos portadores

de textos, resultam na interação com familiares, com membros de sua

comunidade imediata. Se para a família os objetos têm uso funcional,

a escrita será valorizada e essa valorização irá interferir no

relacionamento da criança com estes objetos, permitindo-lhes

assimilar conhecimentos referentes à suas identidades, funções e

conteúdos. Mas se na família ocorre o inverso, a criança poderá

aprender, na escola, a habilidade técnica de desenhar letras e construir

palavras, ou de codificar mecanicamente letras em sons, trilhando

assim, lenta e penosamente, o caminho da valorização da escrita.

(MOREIRA:2002:50)

Paulino (2004), em sua pesquisa sobre leitura com alunos do Ensino Médio,

também revela que a maioria dos sujeitos participantes afirmava que não gostava de ler,

ou gostava pouco – o que corrobora nosso quadro: alunos com contato esporádico e não

sistêmico com a literatura e que, portanto, assumem falas como "não gosto de ler", "não

entendo" ou "não quero". A autora aponta outra realidade que também pudemos

constatar: os alunos que se diziam leitores, liam livros de auto-ajuda, religiosos e menos

de 10% realmente tinham contato com a leitura literária. Logo, concluímos que era

indispensável que nosso público tivesse contato com os livros e participasse de

situações que propiciassem a prática de leitura literária, de forma sistêmica e

perpassada, no caso do Projeto Livro vai ... História vem, pela figura da professora

bolsista.

1. Alguns aportes teóricos

Ao iniciarmos o trabalho do Projeto Livro vai ... História vem, no Laboratório de

Alfabetização, sentimos a necessidade de algumas definições teóricas, a fim de

delimitar e aprofundar nossa atuação. A questão inicial era como conceituaríamos a

Literatura Infantil, visto que nossos novos leitores iriam entrar em contato com "essa"

literatura. Sabíamos que, historicamente, o termo "literatura infantil" tinha sido tratado

como um gênero inferior, composto de leitores pouco profícuos e competentes. Porém,

como nos mostra Nelly Novaes Coelho (2010), essa concepção começa a mudar, no

século XX, ao passo que também muda a concepção de infância. Assim, a literatura

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para esse estágio da vida, além de todos os benefícios em geral - fomento da

imaginação, contato com situações da psiquê humano e do extraordinário, entre outros -

também estaria ligada a formação das mentes de seus leitores; o que determina

diretamente a constituição dos adultos que serão.

Coelho, ainda, nos chama atenção para duas ramificações da Literatura Infantil:

o seu lado artístico e o pedagógico:

Se analisarmos as grandes obras que através do tempo se puseram

como "literatura infantil", veremos que pertencem simultaneamente a

essas duas áreas distintas (embora limítrofes, as mais das vezes,

interdependentes): a da arte e a da pedagogia. Sob esse aspecto,

podemos dizer que, como objeto que provoca emoções, dá prazer ou

diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de mundo de seu

leitor, a literatura infantil é arte. Sob outro aspecto, como instrumento

manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na área da

pedagogia. (p. 46)

Como a autora acima afirma, essas duas ramificações não se excluem ou

competem, pois são limítrofes, mas têm suas próprias características e funcionalidade. A

esse respeito, retomamos Cademartori (2012) quando afirma que

a literatura não tem – e não pode ter – compromisso com a

transmissão de antídotos a males sociais variados, seja sexismo,

racismo, desigualdade social, poluição ambiental e outros. Tampouco

lhe cabe a difusão de noções de saúde, higiene, ecologia, história. Ou

o texto é pragmático ou é literário. Ou é doutrinário ou é estético.

Uma coisa e também outra não consegue ser. (p.48)

No caso do Projeto Livro vai ... História vem, o lado artístico, estético sobressai,

já que as ações inscritas no cenário do projeto não têm como principal objetivo a

atividade pedagógica. Portanto, o ato da leitura se torna uma oportunidade de fruição e,

como consequência, provoca emoções distintas e altera a forma do leitor se ver e ver o

entorno.

Contudo, é importante deixar claro que os livros, pertencentes ao acervo

literário, são usados muitas vezes como ponto de partida para situações didáticas

centradas na escrita e reescrita. Essas situações não são parte do projeto e, por isso, têm

outra função, mas sabemos que, ao serem executadas, acabam inserindo a faceta

pedagógica na literatura.

Outra preocupação que nasceu junto ao Projeto Livro vai ... História vem foi a

construção do acervo literário. Como mostram os estudos de Paiva (2008), há uma

onipresença de temática no universo da literatura infantil: os contos de fadas e as

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ambientações em fazendas, com bichos e outros elementos do imaginário. Esses temas,

que dominam o número de títulos, são seguidos por temáticas transversais (ecologia,

inclusão social, entre outros) e, como último e em número ínfimo, temas delicados que

toquem nas questões humanas (miséria, morte, doença). Para a autora, esse índice

demonstra que:

A escola opta pela literatura de entretenimento que melhor se adapta a

função de coadjuvante pedagógico, censura os temas que considera

delicados, polêmicos, perigosos, ousados; promove uma assepsia

temática em seu diálogo com a literatura; coíbe as discussões dos

enigmas da existência humana e da complexidade das relações sociais

que poderiam ser problematizadas por meio da ficção. Deste modo, se

presta um desserviço à criança, porque simplifica seus conflitos e

subestima sua capacidade de lidar com a realidade e com a literatura a

ela destinada porque impulsiona o mercado editorial na direção

contrária aos seus anseios de legitimidade no campo da literatura;

contribui para aumentar a distância que a separa da literatura enquanto

processo estético, que tem como característica fundamental o

investimento na perplexidade do ser humano frente à vida. (p. 45)

Assim, sentimos a necessidade de optar pela literatura de entretenimento, mas

também a que supere essa função e abarque a complexidade das relações humanas.

Como dito por Coelho, o mercado editorial e os números mostram que exemplares com

essa última função são raros, mas buscamos, em diversas editoras, as mais diferentes

formas de literatura infantil, para darmos condições do aprofundamento estético e da

formação de leitores que saibam escolher suas leituras de forma autônoma e consciente.

E foi a partir dessas reflexões que nos apoiamos sobre o conceito de Letramento

Literário, que conduz o trabalho do Projeto Livro vai... História vem. Isso porque sabe-

se que, na contemporaneidade, falamos de letramentos, com suas múltiplas e diversas

funções; assim, o letramento literário "diz respeito a práticas de leitura sem finalidades

pragmáticas, envolvendo gêneros como poemas, contos, crônicas ou romances e

realizadas por escolhas mais personalizadas." (PAULINO, 2004, p.68) Ou seja, está em

consonância com as autoras citadas acima e nosso trabalho, construir uma prática de

leitura que proporcione o contato com a literatura enquanto experiência estética,

pessoal, subjetiva e intransferível.

Assim, distinguimos literatura infantil de mero livro para criança, nos

preocupando em oferecer experiências literárias que despertem nos alunos uma feliz

surpresa, como aquela suscitada na obra Sei por ouvir dizer, de Bartolomeu Campos de

Queirós (2007), no seguinte trecho:

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Declarava ser de um país que não tinha dia, não tinha noite, nem

fronteiras, onde se falavam três línguas: uma só feita de vogais, outra

apenas de consoantes e uma terceira feita de silêncios. A bandeira de

sua pátria foi costurada com três retalhos coloridos: um pedaço cor-

de-nada, outro cor-de-vazio e o terceiro com metros estampados de

silêncios.

Por meio de uma linguagem própria, a literatura cria um mundo peculiar e reage

à realidade que está fora do texto, desviando-se dela e revisando seus postulados. Desse

modo, o livro de literatura para criança não serve como propaganda, doutrina ou

ideologia. Ele é espaço para liberdade, para o encontro com diferentes vozes, para a

desconstrução das crenças inquestionáveis, daquilo que o leitor supunha sentir e pensar.

2. Objetivos e princípios norteadores

Diante desse cenário, foram traçados os objetivos do Projeto Livro vai ... história

vem: (i) despertar o gosto pela leitura literária, através da apresentação e do livre acesso

a livros e diversos gêneros literários; (ii) auxiliar os alunos na construção de critérios de

escolha de leituras que mais lhes agradem; (iii) formar leitores competentes.

A partir dos objetivos, foram definidos os cinco princípios norteadores e as

diversas ações desenvolvidas ao longo dos quatro anos de trabalho, revelando-nos

resultados consistentes. Os princípios norteadores foram postos desde o início das ações

e alguns outros foram incorporados aos poucos, pois, as crianças também nos

mostraram suas necessidades de leitores em formação. Reencontramos esses princípios,

de forma sistematizada, em ALENCAR (2004).

a) Ler sempre para o aluno

Esse pressuposto revela que, para a formação de leitores profícuos, é necessária

a leitura constante. Mais que uma leitura toda especial, porém pontual, é o contato

sistemático com outro leitor que vai despertar o interesse pela leitura. E o professor é o

principal mediador desse processo, pois compartilha interesses, proporciona para as

crianças o acesso ao mundo da literatura e da poesia, desenvolve gostos quanto a

autores e gêneros e desenvolve a afetividade com os livros e suas histórias.

b) Respeitar as escolhas literárias do aluno

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Nessa afirmativa, revelamos que, ao formarmos um leitor, não buscamos

alguém que repita as escolhas literárias do seu mediador. Ao contrário, alguém

apaixonado pela leitura, que possa, a sua medida, fazer escolhas conscientes e

autônomas sobre os livros que irá ler. Para tanto, o aluno tem o direito de elogiar ou

criticar os livros que são lidos em sala, ou que ele leva para casa, através de um sistema

de empréstimos; e é compromisso da professora não só assegurar, como também

promover esse direito. Para esse trabalho, concordamos com o pressuposto apontado por

Jolibert (1994) de que ler é questionar algo escrito como tal, a partir de uma expectativa

real, necessidade-prazer, numa verdadeira situação da vida. (p.15)

c) Compartilhar suas leituras pessoais com os alunos

O mediador deve se mostrar como leitor. Assim, acreditamos que os alunos dão

maior credibilidade a leitura literária ao verem que sua professora também é uma

leitora, envolvida em livros também de diferentes gêneros. Ainda, dependendo do

conteúdo do livro – por sabermos que a literatura adulta pode trazer temáticas nem

sempre apropriadas ao público infantil – é legítimo que a professora leia trechos para as

crianças; não para que elas entendam o conteúdo, mas para motivação e percepção do

ato da leitura como uma atividade que extrapola o ambiente escolar e, assim, ela possa

travar com eles uma relação de leitor para leitor.

d) Oportunizar a descoberta e o acesso às obras de novos escritores

Esse pressuposto não trabalha diretamente com o aluno, mas seu objetivo o

alcança inteiramente. Buscamos trabalhar com os autores estrangeiros e nacionais (Ana

Maria Machado, Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Silvia Orthof, Jose Paulo Paes,

Ziraldo), mas não apenas esses. Assim, preocupamo-nos em apresentar escritores e

ilustradores contemporâneos, dando visibilidade acerca dos lançamentos literários

infanto-juvenis. Além disso, sempre que possível, proporcionamos às crianças

participarem da escolha dos novos títulos que serão adquiridos e incluídos ao nosso

acervo, por meio de leitura de resenhas dos catálogos de lançamentos das editoras ou

dicas de livros na internet ou revistas infantis.

e) Acervo ao alcance do leitor

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É de grande importância a proximidade entre o leitor e os livros. Por isso, as

estantes de livros precisam estar ao alcance do leitor, despertando-lhes o interesse e

facilitando as escolhas de gêneros literários e suportes variados.

3. Ações realizadas

A seguir, relataremos as ações desenvolvidas no Projeto “Livro vai... História

vem”.

4.1 Estantes de livros literários

Como dito nos Princípios Norteadores, é importante que o acervo esteja ao

alcance do leitor. Com influência do método montessoriano, os livros de literatura

infantil e juvenil ficam dispostos em estantes baixas, com as capas visíveis - para que,

através delas, o aluno fique motivado a lê-los - e são separados por temática (livros de

contos de fadas, fábulas, livros estrangeiros, de uma mesma coleção ou autor, revistas

em quadrinhos.) Além disso, nas estantes há o Baú da Poesia, Caixa do Sítio do Picapau

Amarelo e a Cesta de Histórias em Quadrinhos, todas decoradas, convidativas e repletas

de bons exemplares.

As estantes estão sempre limpas e organizadas para ajudar as crianças a

compreenderem o compromisso com a conservação do acervo. Ao lado das estantes

ficam os cestos com pequenos tapetes para que elas possam se sentar no chão, ficarem

mais à vontade para ler sozinhas ou compartilharem a leitura de um livro com a

professora ou um amigo. (Figura 1)

4.2 Sistema de empréstimos

O Sistema de Empréstimos é a ação que garante aos alunos a leitura literária

fora do espaço do Laboratório de Alfabetização. As professoras escolhem, de dois em

dois meses, livros que constituem um Lote de Literatura. Esse lote fica disposto nas

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estantes, para leitura em sala e para empréstimo. O empréstimo é realizado de forma

espontânea, ou seja, a professora estimula a prática, mas não a obriga. Há uma tabela de

controle, onde é anotado: nome do leitor, título do livro, data de empréstimo, data

prevista de devolução, data em que foi realmente devolvido e nome da professora

responsável pelo aluno. Essa tabela é colada em um quadro, fazendo com que os alunos

saibam quais títulos estão emprestados e quando eles estarão novamente na estante. Os

livros são levados para casa em sacolas de pano, para não serem danificados. Os

empréstimos têm duração de uma semana. O empréstimo de livros é fundamental para

multiplicar as oportunidades de leitura para cada uma das crianças, na verdade, um novo

espaço se abre: ler livros de sua escolha em casa, no seu próprio tempo, compartilhando

com os amigos e a família. (Figura 2)

4.3 Mural das Estrelinhas

O Mural das Estrelinhas é uma extensão do Sistema de Empréstimos. No

mesmo mural em que está colada a tabela com o controle dos empréstimos, há uma lista

com os nomes dos livros que constituem o Lote de Literatura. Se o aluno tiver gostado

do livro que levou para casa, ao trazê-lo de volta, pode colar uma estrelinha amarela ao

lado do título. Com o tempo, os alunos e as professoras podem usar o Mural como um

parâmetro para saber qual livro está sendo mais elogiado, através de um critério

quantitativo. (Figura 3)

4.4 Apreciação Literária

A Apreciação Literária é uma ação que busca criar um critério qualitativo para

a escolha dos livros, além de propiciar a produção textual desse gênero textual. A

Apreciação Literária, ao longo do Projeto, foi feita de duas maneiras. A primeira

através de fichas de Apreciação Literária, contendo: título do livro, nome do autor e

ilustrador, editora e data de empréstimo/devolução. Essas fichas eram penduradas em

um varal, ficando exposto para os demais leitores lerem, serem auxiliados na escolha do

próximo empréstimo e compartilharem suas impressões. Atualmente, as fichas de

Apreciação Literária foram substituídas por retângulos de papel cartão coloridos, onde

eles escrevem livremente a apreciação do livro lido. É uma oportunidade para dividirem

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um pouco daquilo que o encontro com o livro deixou em cada um, significando o texto

e a si mesmo a partir da leitura.

Vale ressaltar que essa apreciação não se prende somente ao elogio, como o

Mural das Estrelinhas, mas também a crítica, a discussão, a refutação que condiz com o

Princípio Norteador que fomenta o respeito à opinião dos alunos. Interessa-nos abrir

espaço para a partilha, mesmo que seja por meio de desabafos: “detestei esse livro” ou

“o livro é muito sem graça”. (Figura 4)

4.5 Momento da Leitura

O Momento da Leitura vai de encontro com o primeiro Princípio Norteador,

ressaltando a importância da leitura constante com os leitores em formação. O Momento

da Leitura são momentos destinados nos atendimentos pedagógicos para a leitura

literária. Ocorre em sala de aula, nos jardins do Campus da UFJF ou no anfiteatro. Essa

leitura é realizada por leitores convidados para compartilhar um conto ou poesias de sua

preferência; textos de um mesmo autor ou diferentes textos sobre um mesmo tema.

Também são feitas em voz alta ou silenciosamente, ora pela professora e ora pelos

alunos. Os livros são escolhidos a partir do Lote de Literatura ou podem ser trazidos

pelos convidados, pela professora ou pelas crianças caso queiram compartilhar uma

nova descoberta literária, mas sempre privilegiamos a leitura por fruição. (Figura 5)

4.6 Contos e outras histórias da gente

Em 2010, diante da leitura literária de diversos autores, surgiu a necessidade

dos alunos se verem como leitores. Assim, criou-se o livro de contos: Contos e outras

histórias da gente. No ano I (2010) e no ano II, °2 (2011) o formato do livro contava

com uma Apresentação, um Sumário e os textos de cada criança. (Figura 6)

4.7 Jornal Primeiras Palavras

O Jornal Primeiras Palavras, com circulação na Faculdade de Educação da

UFJF, escolas púbicas atendidas pelo Projeto de Extensão e respectivas comunidades,

foi criado para divulgar as atividades feitas pelo Laboratório de Alfabetização. Além de

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entrevistas, reportagens e fotos, os alunos puderam indicar alguns livros de literatura

infantil de sua preferência, na seção Dicas de Leitura. l

4.8 Roda de conversa com autores

Essa iniciativa consiste em aproximar os alunos de autores de literatura. Assim,

tiveram a oportunidade de ouvir um relato pessoal de um escritor e tirar suas dúvidas.

Além de promover o interesse em conhecerem mais obras desse autor, os alunos

também foram incentivados – como em todo o projeto – a se verem como autores,

capazes de escreverem suas próprias histórias.(Figura 7)

4.9 Jornal Mural

O gênero Jornal Mural também é explorado no Laboalfa. Montado em

um mural de cortiça no corredor da Faculdade de Educação, cada Jornal Mural tem um

ou mais temas, com a finalidade de divulgar para a Faculdade o que está sendo realizado

no Laboratório. A relação entre o Jornal Mural e o Projeto Livro vai...História vem é a

divulgação, através dessa ação, de quais leituras estão sendo realizadas pelos alunos em

diferentes gêneros e autores, como Poesia, Histórias em quadrinhos, Narrativas de

Enigmas, Histórias de Lobo Mau, entre outros.

4. Conclusão

O Projeto Livro vai...História vem mostrou-se de fundamental relevância

para realizarmos um trabalho eficaz no Laboratório de Alfabetização. Apresentando a

leitura literária, cativando e formando novos e competentes leitores, podemos concluir

que esse tipo de iniciativa é cada vez mais relevante nas parcerias estabelecidas entre os

projetos de extensão universitária e as escolas da rede pública. Trabalhar com o ensino

da escrita se mostrou imensamente mais fácil para as professoras bolsistas e mais

prazeroso para os alunos a partir das ações definidas no projeto.

Podemos perceber diversos resultados obtidos pelo Projeto Livro vai... História

vem. O primeiro deles é o número de leituras realizadas anualmente pelos alunos

freqüentes no Laboratório de Alfabetização: uma média de 32 títulos lidos através do

sistema de empréstimos e de 30 livros lidos, com ou sem mediação da professora, no

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Momento da Leitura. Além disso, através do despertar para a leitura literária, soma-se

como resultado a confecção de 58 pequenos livros (Contos e outras histórias da gente) e

36 textos de apreciação literária, até o presente momento.

O resultado se mostra satisfatório, principalmente se lembrarmos o

quadro inicial dos alunos, no princípio do período letivo: crianças com pouco contato

com a leitura literária e, por isso, que demonstravam pequeno ou nenhum interesse.

Concluímos também que, mesmo completando quatro anos, o Projeto

está sempre em constante reelaboração. E essa característica deve-se a mudança dos

sujeitos, que, por complexos que sejam, estão sempre se revendo e reinventando. Tanto

os professores como os alunos apresentam suas necessidades, redefinindo seus espaços

como leitores e recriando suas próprias histórias.

Referências

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leitura com Monteiro Lobato. Dissertação de Mestrado, Centro de Humanidades,

Universidade Federal do Ceará, 2004.

CADEMARTORI, Ligia. O professor a e literatura: para pequenos, médios e grandes.

Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo:

Moderna, 2000

JOLIBERT, Josette. Formando Crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

MOREIRA, Nadja da Costa Ribeiro. Portadores de texto: concepções de crianças

quanto a atributos, funções e conteúdo. In: KATO, Mary Aizawa. A concepção da

escrita pela criança. Campinas/SP: Pontes, 2002.

PAIVA, Aparecida. A produção literária para crianças: onipresença e ausência das

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PAULINO, Graça. Deslocamento e configurações do letramento literário na escola.

Belo Horizonte: Scripta, 2004.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Sei por ouvir dizer. Porto Alegre: Erexim, 2007

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Anexo: imagens

Imagem 1

Estantes e baús com Lote de Literatura

Imagem 2

Tabela de Controle dos empréstimos

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Mural das Estrelinhas

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Fichas de Apreciação Literária

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Momento da Leitura

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Livro “Contos e outras histórias da gente”

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Roda de conversa com escritora