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PROJETO MÃOS AMIGAS: UMA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA DO
ENSINO DE LIBRAS EM SALA DE AULA
Graciele da silva Neiva Cabanhe
Oldemar Cabanhe
Resumo:
Este trabalho versa sobre a experiência de pibidianos, em uma turma de 6º ano com
aluno surdo e ouvintes da Escola Municipal Imaculada Conceição no município de
Campo Grande - MS. Tem por objetivo inicial colocar em prática os conhecimentos na
língua de sinais e na confecção de materiais voltados ao ensino de libras,
consequentemente contribuir para que a língua de sinais alcance maior espaço dentro da
escola pública e fazer com que o direito linguístico do aluno surdo seja minimamente
respeitado. As aulas acontecem uma vez por semana por meio de slides, manipulação de
material didático adaptado para o ensino da libras e aulas práticas de interação em libras
com a aluna surda.
Palavras-chave: PIBID. Ensino de L2. Libras. Escola pública.
1- Introdução
Quando se reflete sobre o conceito de língua e, em se tratando de Libras, faz-se
necessário discorrer sobre alguns aspectos fundamentais. Primeiro, qual o status de uma
Língua visual e espacial em um país predominantemente ouvinte que se utiliza de uma
Língua oral e auditiva como meio de comunicação? Na própria nomenclatura “Libras” a
palavra língua aparece. Mas qual é a diferença entre língua e linguagem? No senso
comum há confusões entre a distinção dos dois termos, daí nasce à ideia de que a Libras
é sinônimo de mímica com as mãos ou pantomima.
Sobre a noção de língua recorreu-se aos originais de Saussure (1975, p. 17), no
seu Curso de Linguística Geral, em que ele se faz a pergunta: mas o que é a língua? O
autor explica que “a língua não se confunde com a linguagem, é somente uma parte
Seminário de Avaliação do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência UFGD/UEMS/PIBID
determinada, essencial dela”. Ainda, “a língua é, ao mesmo tempo, um produto social da
faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo
social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 1975, p.
17).
O mestre genebrino sustenta que:
A língua é um sistema de signos que exprime ideias, é comparável por isso à
escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, as formas de
polidez, aos sinais militares etc, etc. ela é apenas o principal desses sistemas (SAUSSURE (1975, p. 24).
Dessa forma pode-se entender que a língua está “dentro” da linguagem ou a
linguagem está “dentro” da língua? Se as duas são criações sociais, a língua é a única a
poder expressar a linguagem. Nesse sentido, é possível comunica-se conforme os surdos
se expressam, por meio de recursos visuais.
No entanto, historicamente explora-se o aparelho fonador como a forma por
excelência de comunicação quando as diferentes formas de comunicação constituem
diferentes formas de linguagem, podendo verter em distintas possibilidades de
concepções de língua(s).
A partir das considerações apresentadas pode-se afirmar que a comunicação dos
seres humanos na sociedade ocorre por meio da linguagem sendo a língua, falada ou
sinalizada, fundamental nesse processo. Seu uso está atrelado ao universo de
significações atribuído nos processos dialógicos. Ou seja: “[...] é pela linguagem que o
ser humano é colocado no mundo e aprende a se comunicar, a pensar e a se organizar
interiormente” (MOURA, 2011, p. 13).
Sabemos que os indivíduos surdos possuem um canal de percepção diferente dos
outros alunos, que os fazem, portanto, singulares e com necessidades especiais
concernentes ao fazer pedagógico e também na aquisição da linguagem. O indivíduo
surdo capta informações por processos semióticos, principalmente por meios visuais, o
que nos leva a criar estratégias para que a aluna enfrente os desafios da aprendizagem
com mais facilidade, levando em conta que estamos envolvidos em uma cultura ouvinte,
em que todos os modelos existentes são preparados para atender necessidades de alunos
ouvintes.
Sabemos que a libras é reconhecida pela lei federal nº 10.436 de 2002, cujo
artigo primeiro reza que essa língua é reconhecida como meio legal de comunicação e
expressão, assim como outros recursos de expressão a ela associados. Essa mesma lei
define que essa forma de comunicação possui um sistema linguístico de natureza visual-
espacial, com estrutura gramatical própria que constitui um sistema linguístico de
transmissão de ideias e fatos.
Na educação, a escola ocupa um lócus muito importante sendo um dos caminhos
para a integração que ocorre também em outros lugares, como espaços de lazer, as
associações e todos os outros modos de organização social nos quais estão inseridas
pessoas surdas. A integração, realizada nas devidas condições e com os recursos
necessários ao atendimento às diferenças dos alunos com algum tipo de diferença
significativa pode contribuir para seu melhor desenvolvimento e para uma socialização
mais completa com maior rendimento na aprendizagem.
2 - Relatos da experiência vivenciada com o “Projeto Mãos Amiga” em parceria
com o PIBID.
Ao assumir alunos surdos, a escola Imaculada Conceição por meio de seus
gestores, mostrou-se sensível e coerente com o seu papel social e institucional
oportunizando que a experiência e a relação com o projeto do PIBID fizesse
interlocução direta com o aluno da escola púbica, oferecendo aulas de libras de forma
prazerosa entre surdos e ouvintes. A oportunidade que se apresentou com o “Projeto
Mãos Amigas” foi a minimizar a barreira comunicativa entre a aluna surda, Anny
Carolline Leite da Silva e os alunos ouvintes.
O projeto fez com que alunos ouvintes percebessem minimamente como se faz a
comunicação com a aluna surda na sala do sexto ano, no período vespertino, além de
oportunizar o aprimoramento da aquisição da língua brasileira de sinais (LIBRAS) para
a aluna surda. Além desses, podemos elencar os seguintes objetivos: concretizar o papel
integrador e inclusivo da escola permitindo que os alunos que mantêm contato direto
com o aluno surdo a entendam e se relacionem por meio de comunicação básica em
língua de sinais; minimizar a diferença entre a cultura surda e a cultura ouvinte,
fortalecer os laços da criança surda com as crianças ouvintes.
O objetivo do projeto Mãos amigas em parceria com o PIBID, era dar as nossas
contribuições, oferecendo a oportunidade da criança surda aprender a sua língua nativa
e às outras crianças aprenderem uma língua em que eles pudessem interagir entre si,
criança surda e ouvintes. Ainda estamos envolvidos nesse projeto, logo, ele não está
acabado.
Percebermos que o projeto fez com que a aluna surda se aproximasse mais da
sua própria forma de comunicação (Língua Materna) e, com isso, trouxesse
oportunidade de aprender conteúdos, levando-se em conta a presença do profissional
intérprete.
As aulas acontecem nas sextas-feiras das 14h às 15h em parceria com o
professor regente de Língua Portuguesa que investe uma hora semanalmente para a
realização das aulas em Língua de Sinais sob a responsabilidade da professora
intérprete. Este projeto deu tão certo que a parceria escola e PIBID já vêm sendo
desenvolvidos desde 2016 na instituição de ensino.
O envolvimento das crianças ouvintes e a ansiedade delas para que chegue os
dias de nossas aulas, faz com que todo nosso trabalho se justifique.
Nas oficinas do PIBID confeccionamos os materiais que servem para que nossas
aulas se tornem dinâmicas e prazerosas.
Nas aulas de ensino de libras os alunos recebem estratégias diversificadas
aprendizagem do vocabulário em libras, atividades impressas e práticas, aulas no
laboratório de informática, conversações em grupos, construção de diálogos,
apresentações. Em seguida, as aulas se tornam ainda mais lúdicas com a manipulação de
diferentes recursos visuais em que se propõe a imagem, seu referente em libras e sua
datilologia, isso cria possibilidade de uma série de diferentes materiais como jogos,
caça-palavras, dominó, UNO, etc...
Foram ensinados sinais básicos e complexos referentes à família, aos objetos de
casa, aos números, aos objetos escolares e outros sinais do cotidiano e pequenas
conversações em libras. Os alunos participam de apresentações de datas comemorativas
da escola, além de participarem das construções de painéis de datas comemorativas e
curiosidades acerca da libras.
Ao perceberem abordagens diferentes no ensino, valendo-se dos recursos
didáticos, os alunos estavam dispostos a aprender a libras, já que ficaram estimulados à
participação ativa, além de provocar estímulos causados por percepções visuais e táteis.
Vale ponderar que, ao ensinar a Libras para os alunos, foi levada em consideração a
importância de se aprender uma nova língua para a comunicação com a colega surda em
sala, como com os demais na sociedade.
O trabalho com alunos ouvintes é desafiador, porém motivador, principalmente
ao saber que estes alunos, muitas vezes, exclui o colega surdo no meio escolar, inclusive
dentro da própria sala de aula. O aspecto pedagógico de inclusão escolar ainda é
polêmico e precisa ser discutido nos diversos segmentos da sociedade e, principalmente,
na gestão da sala de aula. Deve ser uma preocupação do Projeto Politico Pedagógico de
uma escola comprometida com a real inclusão, com a construção de um currículo
voltado para a diversidade.
3- Agradecimentos
Fazemos nossas deferências ao programa PIBID/LIFE, nas pessoas de seu
Coordenador, professora Rosana Janes Constâncio e aos diretores da escola municipal
Plínio Barbosa Martins, que abriu as portas para que as nossas oficinas do PIBID
acontecessem; e as diretoras da escola municipal Imaculada Conceição, que
proporcionou para que pudéssemos colocar em prática o Projeto Mãos Amigas.
4- Referências
HONORA, Marcia. Livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais: desvendando a
comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.
BRASIL. Língua Brasileira de Sinais – Libras. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/lei10436.pdf. Acessado em 10 de
março de 2015.
MOURA, Maria Cecília de. Surdez e Linguagem. (IN) Língua brasileira de sinais –
Libras: uma introdução. GÓES, Alexandre Morand. et al.São Carlos: Coleção
UAB−UFSCar, 2011, p. 13 -28.
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. São Paulo:Cultrix, 1975, p.15-
25.