Projeto Parque Est Rio Vermelho Subsidio Plano Manejo

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  • Florianpolis, Novembro de 2010

    Projetos PDA Mata AtlnticaMinistrio do Meio AmbienteGrupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano da UFSC

  • Projeto Parque Estadual do Rio VermelhoSubsdios ao Plano de Manejo

    Francisco Antnio Carneiro Ferreira(Organizador)

    Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano da UFSC

    Instituto Lagoa Viva

    Projetos PDA Mata Atlntica

    Ministerio do Meio Ambiente

  • Editora Insular Ltda.

    Rodovida Joo Paulo, 226 CEP 88030 300 Florianpolis/SC

    Fone/Fax: 48-3232-9591 - 48-3334-2729

    [email protected] - www.insular.com.br

    Editora InsularProjeto Parque Estadual do Rio Vermelho:

    Subisdios ao plano de manejo

    Francisco Antnio Carneiro FerreiraOrganizador

    Maurcio Loureiro PaivaProjeto Grfico

    Z PaivaFoto da capa

    Ferreira, Francisco Antnio Carneiro Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho: Subisdios ao plano de manejo. Francisco Antonio Carneiro Ferreira (Org). Florianpolis: Insular, 2010.

    196 p. : il.

    ISBN 978-85-7474-534-3

    1.Planejamento Ambiental. 2.Unidade de Conservao. 3.Plano de Manejo. 4. Desenho Ambiental. I. Titulo

    CDD 333-7

    F383p

  • Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano (Gipedu) - Entidade parceira que coordena a execuo do projeto (www.gipedu.ufsc ou www.gipdeu.ufsc.br/site)

    Francisco Antonio Carneiro Ferreira - Coordenador do Projeto PERV/PDA-MMA (Prof. MSc. do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC)

    Joo de Deus Medeiros (Prof. Dr. do Departamento de Botnica da UFSC)

    Luiz Srgio Philippi (Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Sanitria e Ambiental da UFSC)

    Nelson Popini Vaz (Prof. Dr. do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC)

    Instituto Lagoa Viva - Entidade proponente e executora

    Jeffrey Hoff (Jornalista MSc. e presidente do Instituto Lagoa Viva)

    Bolsistas

    Biloga Barbara Toncic Neves

    Biloga MSc. Denize Alves Machado

    Bilogo MSc. Ivo Rohling Ghizoni Junior

    Designer Juliana Couto Silva Shiraiwa

    Designer Mauricio Paiva

    Engenheira Sanitarista Clenice Pereira y Castro

    Engenheira Sanitarista Sylvia Zilli DAlascio

    Gegrafa Graziele Testa

    Jornalista Rodrigo Brning Schmitt

    Oceanlogo MSc. Csar Pedro Lopes de Oliveira

    Estagirios(as)

    Acadmicos(as) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC

    Daniel Corssatto

    Lluvia Deluz Perdomo Moreira

    Mariana Flavio Fernandes

    Patrcia Grings

    Acadmica do Curso de Cincias Biolgicas

    Paula Alves Conde

    Acadmicos (as) do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitria da UFSC

    Aline Matulja

    Cristhiani Giane da Silva

    Elis Gomes de Souza

    Stevens Spagnollo

    Profissionais

    Glauco Gil Pern (Webdesigner)

    Inti Salazar e Misha Nilsen Salazar (Grupo de teatro de bonecos Vira Fantasia)

    Jos Paiva (Fotgrafo)

    Rodrigo Primavera (Arteso)

    Demais participantes a quem agradecemos pela colaborao

    Fotgrafo Tarcisio Matos, Arquiteto Antonio Reyes Melognio, Arquiteta Mara Mesquita Maciorowski, Arquiteta Raquel F. da Veiga, Biloga MSc. Thais de B. Guimares, Acadmicos Fernando H. de Souza, Lucas S. Dias e Raul Schramm Filho.

    EQUIPE DO PROJETO

  • EnTIDADEs PARCEIRAs

    Fundao do Meio Ambiente do Estado de santa Catarina (Fatma)Biloga MSc. Ana Cimardi (Chefe do Parque Estadual do Rio Vermelho), Biloga MSc. Lenir Alda

    Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap) da Prefeitura Municipal de FlorianpolisGloria Clarice Martins (Jornalista e monitora comunitria da Comcap-PMF)

    secretaria Municipal de Educao (sME) da Prefeitura Municipal de FlorianpolisMaeli Fae (Assessora pedaggica, MSc. do Depto. de Educao Fundamental da SME da PMF)

    Associao de Moradores do Rio Vermelho (Amorv) Roberto Bastos e Halem Guerra Silva Nery (Presidentes da Amorv)

  • APOIO

    Ministrio do Meio Ambiente (MMA)

    PDA Mata Atlntica - Subprograma Projetos Demonstrativos

    Ministrio Pblico Federal

    Ministrio Pblico Estadual

    no mbito da UFsC

    Professor Alvaro Toubes Prata (Reitor)

    Professor Carlos Alberto Justo da Silva (Vice- Reitor)

    Professora Yara Maria Rauh Muller (Pr-Reitora de Ensino de Graduao)

    Professor Edison da Rosa (Diretor do CTC)

    Professor Jlio Szeremeta (Diretor do CTC)

    Departamento de Arquitetura e Urbanismo

    Departamento de Botnica

    Departamento de Engenharia Sanitaria e Ambiental

    Setor de Transporte

    Funcionarios da Direo do Centro Tecnolgico

    no mbito da Prefeitura Municipal de Florianpolis

    Secretaria de Educao

    Professor Rodolfo Pinto da Luz (Secretrio)

    Instituto de Planejamento Urbano

    Companhia Melhoramentos da Capital - Comcap

    Diretoras(es) das Escolas Bsicas Municipais do entorno do Parque Estadual do Rio Vermelho

    Demais entidades

    Agrupamento Areo da Policia Militar de Santa Catarina

    Conselho Consultivo do Parque Estadual do Rio Vermelho

    Empresa Imagem Geossistemas e Comrcio Ltda

    Restaurante Ponto de Vista e Hotel Praiatur

    Grfica COAN Ltda - Rosi Neves e demais funcionrios

    A todos que acolheram a equipe e apoiaram a realizao do projeto.

    AGRADECIMEnTOs

  • Sumrio

    I. Lista de Siglas e Abreviaturas

    II. Lista de Mapas, Grficos e Tabelas

    1. Introduo

    2. O Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho A hIsTRIA DO PARQUE

    A CATEGORIA PARQUE EsTADUAL E sUAs IMPLICAEs

    A METODOLOGIA DO PARQUE

    Os REsULTADOs ALCAnADOs

    3. Diagnstico da regio A DInMICA DE DEsEnVOLVIMEnTO DA REGIO DE EnTORnO DO PARQUE

    O DIsTRITO DA BARRA DA LAGOA

    A COsTA DA LAGOA

    O DIsTRITO DE sO JOO DO RIO VERMELhO

    O DIsTRITO DOs InGLEsEs DO RIO VERMELhO

    4. Caracterizao da Unidade de Conservao Parque Estadual do Rio Vermelho 4.1. O AMBIEnTE nATURAL

    AsPECTOs ABITICOs

    Clima

    Geologia

    Geomorfologia

    solos

    hidrografia

    Mananciais

    Oceanografia

    AsPECTOs BITICOs

    A flora do parque

    A fauna do parque

    Avifauna (Aves)

    Rpteis (herpetofauna)

    Mamferos (Mastofauna)

    19

    23

    37

    69

    24

    31

    32

    35

    15

    16

    38

    38

    46

    51

    59

    71

    71

    71

    71

    71

    74

    74

    74

    76

    76

    84

    84

    89

    92

    70

  • 4.2. O AMBIEnTE DE UsO hUMAnO DO PARQUE

    As InFRAEsTRUTURAs

    5. Proposta de zoneamento do parque A DEFInIO DAs ZOnAs

    RECOMEnDAEs DE PLAnEJAMEnTO UnIDADE

    6. Proposta de Zona de Amortecimento do parque sInTEsE DO DIAGnsTICO DA REGIO DE EnTORnO DO PARQUE

    A ZOnA DE AMORTECIMEnTO

    sUGEsTEs DAs COMUnIDADEs PARA A ZOnA DE AMORTECIMEnTO

    JUsTIFICATIVAs PARA InCLUsO DE REAs DO EnTORnO nA ZOnA DE AMORTECIMEnTO

    7. Recomendaes de planejamento regio de entorno

    8. Proposta de aumento da unidade CRITRIOs PARA InCLUsO DE REAs nA PROPOsTA DE AUMEnTO DA UnIDADE

    JUsTIFICATIVAs PARA InCLUsO DE REAs nA PROPOsTA DE AUMEnTO DA UnIDADE

    9. O trabalho Comunitrio e Institucional

    10. Concluso

    11. Glossrio

    12. Referncias Bibliogrficas

    13. Anexos

    103

    127

    143

    153

    161

    171

    175

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    9393

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    135

    154

    154

  • 15I. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AAh - rea Adjacente aos Elementos HdricosACM - Associao Catarinense de MedicinaACsPBMsC - Associao de Cabos e Soldados Policiais e Bombeiros Militares de Santa CatarinaAE - rea de EntornoAL - rea de AmpliaoAMORV - Associao de Moradores do Rio VermelhoAPC - rea de Preservao CulturalAPP - rea de Preservao PermanenteARPA - Programa reas Protegidas da AmazniaAT - rea TombadaBPMA - Batalho da Polcia Militar AmbientalCAsAn - Companhia Catarinense de guas e SaneamentoCCA - Centro de Cincias AgrriasCCB - Camping Clube do BrasilCCB - Centro de Cincias BiolgicasCELEsC - Centrais Eltricas de Santa CatarinaCETAs - Centro de Triagem de Animais SilvestresChUFsC - Coleo Herpetolgica da Universidade Federal de Santa CatarinaCIDAsC - Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrcola de Santa CatarinaCOMCAP - Companhia Melhoramentos da CapitalCOnAMA - Conselho Nacional do Meio AmbienteCOOPERCOsTA - Cooperativa de Trabalho dos Barqueiros da Costa da LagoaCTG - Centro de Tradies GachasCTV - Centro Temtico de VisitaoEBM - Escola Bsica MunicipalECV - Departamento de Engenharia CivilEIA-RIMA - Estudo de Impacto Ambiental-Relatrio de Impacto AmbientalEJA - Ensino de Jovens e AdultosEPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina S.AEsEC - Estao EcolgicaETE - Estao de Tratamento de EsgotoFATMA - Fundao do Meio Ambiente do Estado de Santa CatarinaFEEC - Federao de Entidades Ecologistas CatarinensesFLORAM - Fundao do Meio Ambiente de FlorianpolisFURG - Fundao Universitria do Rio GrandeGEF - Global Environment Facility (Fundo para o Meio Ambiente Global)GIPEDEU - Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho UrbanoGPs - Global Positioning System (Sistema Global

    de Posicionamento)IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovveisIPTU - Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial UrbanaIPUF - Instituto de Planejamento Urbano de FlorianpolisIRAsC - Instituto de Reforma Agrria de Santa CatarinaKfW - Kreditanstalt fr WiederaufbauLAI - Licena Ambiental de InstalaoLAO - Licena Ambiental de OperaoLAP - Licena Ambiental PrviaLAPMAR - Laboratrio de Piscicultura MarinhaLCM - Laboratrio de Camares MarinhosLIMA - Laboratrio Integrado de Meio AmbienteLMM - Laboratrio de Moluscos MarinhosMMA - Ministrio do Meio AmbienteMPF - Ministrio Pblico FederalnDI-PDPF - Ncleo Distrital de Ingleses do Plano Diretor Participativo de FlorianpolisnMP - Nmero Mais ProvvelOAB - Ordem dos Advogados do BrasilOnG Organizao No-GovernamentalPDA - Projetos DemonstrativosPERV - Parque Estadual do Rio VermelhoPGC - Plano de Gerenciamento CosteiroPGE - Procuradoria Geral do EstadoPMF - Prefeitura Municipal de FlorianpolisPPG-7 - Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do BrasilPsB - Plano de Saneamento BsicoRPPn - Reserva Particular do Patrimnio NaturalsAD - South American DatumsAsFI - Sistema Aqufero Sedimentar Fretico InglesessEPhAn - Servio do Patrimnio Histrico, Artstico e Natural do MunicpiosEUC - Sistema Estadual de Unidades de Conservao da NaturezasIG - Sistema de Informao Geogrfi casME - Secretaria Municipal de EducaosnUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao da NaturezasUs - Sistema nico de SadeUC - Unidade de ConservaoUFsC - Universidade Federal de Santa CatarinaUnEsCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a CulturaUTM - Universal Transverse Mercator (Sistema Universal Transverso de Mercator)WWF - World Wildlife FundZA - Zona de Amortecimento

    I. Lista de Siglas e Abreviaturas

  • 16 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    MAPAs

    Mapa do Parque Estadual do Rio Vermelho e sua vizinhana

    Mapa da Bacia Hidrogrfi ca da Lagoa da Conceio e Bacia Hidrogrfi ca dos Rios Capivari e Ingleses

    Mapa de Uso e Ocupao do Solo - Cobertura Vegetal

    Zoneamento do Parque Estadual do Rio Vermelho

    Zona de Amortecimento

    Mapa do mosaico das reas protegidas das bacias da Lagoa da Conceio e dos rios Capivari e Ingleses

    Aumento da Unidade de Conservao

    GRFICOs

    Atividades econmicas do Distrito da Barra da Lagoa

    Percepo da populao do distrito da Barra da Lagoa sobre o parque e as atividades do entorno

    Percepo da populao do distrito da Costa da Lagoa sobre o parque e as atividades do entorno

    Atividades econmicas do Distrito de So Joo do Rio Vermelho

    Percepo da populao do distrito de Rio Vermelho sobre o parque e as atividades do entorno I

    Percepo da populao do distrito de Rio Vermelho sobre o parque e as atividades do entorno II

    Atividade econmica do Distrito dos Ingleses

    Percepo da populao do distrito dos Ingleses sobre o parque e as atividades do entorno I

    Percepo da populao do distrito dos Ingleses sobre o parque e as atividades do entorno II

    Representatividade das diferentes fi tofi sionomias do PERV

    Percepo da populao entrevistada sobre o parque e atividades do entorno

    TABELAs

    Tabela 1 - Crescimento do nmero de unidades de conservao no Brasil

    Tabela 2 - Populao fl utuante + residente: sede e regio de entorno (2010-2050)

    Tabela 3 - Populao de So Joo do Rio Vermelho (1980-2030)

    Tabela 4 - Populao do Distrito dos Ingleses (1980-2030)

    Tabela 5 - Composio das espcies de aves por habitat amostrados no parque

    Tabela 6 - Componentes do sistema de sinalizao

    Tabela 7 - Populao da sede e regio de entorno do parque (1980-2030)

    Tabela 8 - Populao fl utuante + residente: sede e regio de entorno (2010-2050)

    Tabela 9 - Principais famlias e espcies vegetais da restinga herbcea do parque

    Tabela 10 - Principais famlias e espcies vegetais da restinga arbrea do parque

    Tabela 11 - Principais famlias e espcies vegetais da restinga arbustiva do parque

    Tabela 12 - Espcies de rpteis de provvel ocorrncia no parque

    Tabela 13 - Lista das espcies de mamferos no parque

    Tabela 14 - Percentual da populao dos distritos da regio de entorno do parque por grupos de idade (estimativa para 2010)

    II. Lista de mapas, grficos e tabelas

    72 - 73

    75

    81

    110

    133

    146

    155

    43

    45

    49

    54

    55

    56

    62

    64

    66

    80

    130

    21

    41

    53

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    128

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    187

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    193

    195

  • 17II. LISTA DE MAPAS, GRFICOS E TABELAS

  • Foto: Tarcisio Mattos, 2007

  • 1Introduo

    O Parque Estadual do Rio Vermelho fundamental para a preservao de reas localizadas na costa leste da Ilha de Santa Catarina que contm um dos biomas mais

    ameaados do planeta, a Mata Atlntica, mas, para que cumpra efetivamente o seu objetivo, ele necessita de um plano de manejo, cuja implantao tem sido a principal difi culdade enfrentada pela gesto de unidades de conservao no Brasil.

    Dentro dessa perspectiva, uma iniciativa entre pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e grupos comunitrios, chamada Projeto Parque Estadual do

    Rio Vermelho PDA/MMA, busca elaborar o diagnstico e a proposta de zoneamento para a unidade, incluindo sua Zona de Amortecimento. As atividades de planejamento contaram com a participao direta dos moradores do entorno do parque para subsidiar a formulao do plano de manejo.

  • 20 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    1. Introduo

    A Mata Atlntica um dos biomas mais ricos em biodiversidade no mundo e apresenta uma das maiores reas de fl oresta tropical, ocupando o segundo lugar em extenso nas Amricas, logo aps a Floresta Amaznica. Entretanto, ela considerada o segundo bioma mais ameaado de extino, tendo atualmente s 5% de sua extenso original e 70% da populao brasileira inseridos em seu domnio.

    Com o objetivo de assegurar o bem-estar das populaes humanas e da preservao dos recursos naturais existentes no territrio brasileiro, as polticas governamentais para proteo do Bioma Mata Atlntica vm se ampliando nos ltimos anos. Dentre os mecanismos de controle e proteo do bioma, encontramos a Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, que cria o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC).

    A recente reavaliao do Parque Estadual do Rio Vermelho exemplifi ca a aplicao de tais polticas ambientais. No contexto da crescente demanda por planos de manejo, o Projeto Parque Estadual do Rio Verme-lho/PDA-MMA constitui um esforo de pesquisa para subsidiar as atividades de planejamento da referida unidade. Numa perspectiva global, o projeto se insere no mbito da principal estratgia de proteo da natureza: a criao e a implantao de unidades de conservao.

    A 14 Conferncia das Partes das Naes Unidas sobre Mudana do Clima revelou a pequena disposio dos pases desenvolvidos em reduzir as emisses de gases do efeito estufa. J a posio brasileira representou um avano em relao s anteriores, pois o governo federal assumiu o compromisso por metas de reduo do des-matamento da Amaznia. No entanto, no foram estabelecidas metas de reduo do desmatamento em outros biomas, como o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlntica.

    A Mata Atlntica um dos biomas mais ameaados do planeta e, por isso, as aes para sua preservao, recu-perao e restaurao devem ser prioridades nas polticas de conservao da biodiversidade do governo federal.

    Num balano da experincia de planejamento e gesto de unidades de conservao, a implantao dos planos de manejo tem sido a principal difi culdade enfrentada. Conforme Pdua (2008), a anlise mais detalhada revela que nos ltimos anos o Brasil vem preferindo categorias de unidades de conservao de uso sustentvel, ao invs das unidades de conservao de proteo integral. Em 1992, por exemplo, o pas possua apenas 11 reservas extrativistas e em 2008 passou a ter 56. H dois anos tambm, o Brasil possua mais fl orestas nacionais (65) do que parques nacionais (63), sendo, porm, a extenso dos parques signifi cativamente maior do que a das fl orestas. Entretanto, se somarmos as principais unidades de conservao de proteo integral (parques nacionais, reservas biolgicas e estaes ecolgicas), teremos 35 milhes de hectares versus os 41,45 milhes de hectares das principais unidades de conservao de uso sustentvel (reservas extrativistas, APAs e fl orestas nacionais).

    No contexto das discusses para a criao de um Fundo Global Pblico Voluntrio visando reduo de emisses por desmatamento, degradao e a promoo da conservao, vrias iniciativas j ocorrem no Brasil, como o caso de investimentos feitos por Noruega e Alemanha para apoiar o pas no combate ao desmatamento.

  • 211. INTRODUO

    O Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7) o maior programa de coope-rao multilateral relacionado a uma temtica ambiental de importncia global. Em seu desenho original, foi defi nido como objetivo geral do programa piloto maximizar os benefcios ambientais das fl orestas tropicais, de forma consistente com as metas de desenvolvimento do Brasil, por meio da implantao de uma metodologia de desenvolvimento sustentvel que contribuir com a reduo contnua do ndice de desmatamento.

    O Ministrio do Meio Ambiente negociou cerca de US$ 100 milhes para a implantao da segunda fase do Programa reas Protegidas da Amaznia (ARPA). O programa visa ampliar as reas protegidas cobertas pelo programa, passando de 50 para 60 milhes de hectares. Ele tambm incrementa ainda mais a criao de outros 20 milhes de hectares em unidades de conservao, sendo metade de proteo integral. A primeira fase do ARPA custou US$ 81,5 milhes, provenientes das seguintes fontes de fi nanciamento: Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF), Banco Mundial, KfW (ligado ao governo alemo), e WWF.

    Em Santa Catarina, as iniciativas voltadas criao de novas unidades de conservao encontram um ambiente de extrema adversidade institucional. O atual governo estadual encaminhou um projeto de lei que criou o Cdigo Estadual do Meio Ambiente, contrariando leis federais e demonstrando fl agrante inconstitucionalidade. Na prtica, o cdigo tambm revogou o Sistema Estadual de Unidades de Conservao (SEUC), o que implica em graves riscos para a proteo do Bioma Mata Atlntica, que teve sua proteo regulada atravs da Lei Federal n 11.428/2006.

    Na perspectiva de proteo da Mata Atlntica, o Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho PDA/MMA constitui uma iniciativa entre pesquisadores da UFSC e grupos comunitrios que busca elaborar o diagnstico e a proposta de zoneamento para a unidade, incluindo sua Zona de Amortecimento. O projeto foi concebido atravs da parceria entre o Instituto Lagoa Viva, o Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano (Gipedu), da UFSC, e a Associao de Moradores do Rio Vermelho (Amorv).

    As atividades de planejamento contaram com a participao direta dos moradores da Barra da Lagoa, Costa da Lagoa, So Joo do Rio Vermelho e Santinho-Ingleses. Todo esse esforo foi realizado para subsidiar a formu-lao do plano de manejo da unidade de conservao.

    O Parque Estadual do Rio Vermelho est localizado na costa leste da Ilha de Santa Catarina, no municpio de Florianpolis, regio Sul do Brasil. constitudo por uma rea de 1.530 hectares, predominantemente plana e arenosa, exceto pela insero de uma pequena parcela que abrange parte da encosta do extremo norte da Lagoa da Conceio. A vegetao original de restinga, abrigando formaes herbceas, arbustivas e arbreas. Parte considervel dessa vegetao original foi substituda, devido introduo de diversas espcies exticas fl orestais, destacadamente dos gneros Pinus e Eucalyptus.

    A implantao do parque ocorreu em 24 de maio de 2007, quando o governo de Santa Catarina assinou o decreto n 308, possibilitando a preservao de um importante espao natural. O decreto atendeu a uma antiga reivindicao do movimento ambientalista de Florianpolis, que, por inmeras vezes, manifestou-se pela ad-equao da rea ao SEUC, o que assegura a proteo legal dos ecossistemas do parque e abre a possibilidade de planejamento e uso da rea para realizao de atividades de lazer, educao, pesquisa e conservao.

    A assinatura do decreto determinou a imediata subordinao do parque Fundao do Meio Ambiente (Fatma) desde 1994 ele era subordinado Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrcola de Santa Catarina (Cidasc). Alm disso, a criao do Conselho Consultivo da Unidade de Conservao garantir o envolvimento da sociedade civil na elaborao de um plano de manejo.

    O Ministrio do Meio Ambiente fi nanciou o projeto por meio do Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil, atravs do Subprograma Projetos Demonstrativos Tipo A PDA Mata Atlntica, que foi criado para fortalecer polticas ambientais que induzem consolidao e utilizao dos recursos naturais do Bioma Mata Atlntica e melhoram a qualidade de vida das populaes locais.

    Tabela 1: Tabela do crescimento do nmero de unidades de conservao no Brasil.

    Ano

    1989

    2008

    N o de Unidades

    140

    299

    Fonte: Pdua, 2008.

    N o de Hectares

    30 milhes

    77 milhes

    % do Territrio brasileiro

    3,83

    8,2

  • Foto: Z Paiva, 2008

  • O Parque Estadual do Rio Vermelho surgiu inicialmente como estao fl orestal em 1962, a partir de um decreto do governo de Santa Catarina, que utilizou a rea para

    o plantio experimental de espcies de Pinus, e se transformou em parque fl orestal em 1974. Descaracterizado pela retirada de espcies vegetais nativas e em situao de abandono, ele passou a receber mais atenes da sociedade na dcada de 90, mas s foi regularizado como parque estadual e adequado ao Sistema Estadual de Unidade de Con-servao da Natureza em 2007.

    Em agosto daquele ano, o Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho iniciou suas atividades para subsidiar o plano de manejo da unidade de conservao, sob a coordenao do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano (Gipedu), ligado Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sub-metida s comunidades do entorno, a proposta elaborada pela equipe do projeto fornece orientaes sobre utilizao de princpios e prticas de conservao da natureza que devero assegurar a sustentabilidade social e ambiental do parque e regio.

    O Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho

    2

  • 24 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    2. O Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho

    A hIsTRIA DO PARQUE

    A histria do Parque Estadual do Rio Vermelho teve incio com a edio do Decreto Estadual n 2.006, de 21 de setembro de 1962, que criou a Estao Florestal do Rio Vermelho. Os acontecimentos que infl uram na sua consolidao podem ser resumidos em trs etapas:

    A 1 etapa caracterizou-se pela constituio do parque a partir da ao do governo estadual. A rea abri-gou inicialmente a Estao Florestal do Rio Vermelho, criada durante a gesto do governador Celso Ramos com o objetivo de experimentar a aclimatao de diversas espcies de Pinus e identifi car o desenvolvimento de espcimes adaptveis regio. O governo estabeleceu o plantio experimental de 25 espcies de Pinus para verifi car a viabilidade da produo fl orestal em reas improdutivas.

    Esta iniciativa, na dcada de 1960, ocorreu em resposta lei de incentivos fi scais que criou facilidades para o plantio de espcies do gnero Pinus, suscitando um grande estmulo ao setor fl orestal brasileiro. O pro-cesso de introduo do Pinus no parque, que perdurou at meados da dcada de 70, teve como consequn-cia ambiental a descaracterizao de grande parte da restinga.

    Figura 1: Preparao de mudas para o plantio de Pinus e outras espcies exticas. Foto: Henrique Berenhauser, 1965.

  • 252. O PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    O plantio ocorreu a partir de 11 de fevereiro de 1963, quando foi fi rmado o convnio entre o governo de SC (decreto n 163/63), a Secretaria da Agricultura (decreto n 130/63, publicado no Dirio Ofi cial do Estado de 11 de maro de 1963) e a Associao Rural Regional de Florianpolis para a implantao da estao fl orestal e a introduo de espcies exticas adaptveis regio1. Houve colaborao do Instituto da Reforma Agrria (Irasc) e da penitenciria estadual, a qual teve a incumbncia de oferecer os detentos necessrios execuo das atividades de preparao do terreno, construo de canais de drenagem em reas alagadas, plantio de mudas, entre outras atividades. Mediante delegao de competncia, o Dr. Henrique Berenhauser, presidente da Associao Rural Regional de Florianpolis, foi defi nido como executor do convnio e supervisor da Estao Florestal do Rio Vermelho.

    Posteriormente, durante a gesto do governador Colombo Machado Salles, foi criado o Parque Florestal do Rio Vermelho atravs do decreto n. 994, de 19 de agosto de 1974, publicado no Dirio Ofi cial do Estado n 10.056, de 21 de agosto de 1974. No artigo 2 do referido decreto, so elencados os objetivos principais do parque. Foram mantidos aqueles j associados estao fl orestal e inseridas a restaurao da fl ora e da fauna locais para fi ns de estudo, a proteo e a conservao. O artigo 4 do decreto estabeleceu uma mudana na administrao do parque, passando-a para a Secretaria da Agricultura e cessando assim os efeitos do convnio com a Associao Rural Regional de Florianpolis.

    1. Para o plantio foram abertos manualmente cerca de 40 quilmetros de valas de drenagem para rebaixar o lenol fretico das reas alagveis do parque. Foram plantados 700 hectares em 12 anos, com mais de 20 espcies de conferas e outras, fornecidos pelos servios fl orestais da Flrida (Pinus elliottii, Pinus taeda), Espanha (Pinus canariensis), Bahamas (Pinus bahamensis), frica do Sul (Canavalia maritima), Portugal (Pinheiro maritimo), Formosa (Conferas nativas), Filipinas (Pinus insularis), Austrlia (Pinus hondu-rensis, Eucalipitus, Accia trinervis) e at do exrcito norte-americano estacionado na ilha japonesa de Okinawa, que colaborou com a coleta de sementes nativas. No parque, o trabalho remunerado contou com a participao de moradores da regio e de presidirios (Berenhauser, 1990).

    Figuras 2 e 3: Alterao de rea de duna para o plantio de exticas. Fonte: Henrique Berenhauser, 1971.

    Figuras 4 e 5: Roada, queimada, plantio e introduo de vegetao seca para proteo das mudas de Pinus na antiga estao fl orestal. Fotos: Henrique Berenhauser, 1967.

  • 26 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    Entre 1976 e 1983, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) de Santa Catarina enfrentou as investidas contra o patrimnio do parque. Com a interveno da PGE, comprovou-se a inexistncia de posses e transcries imobilirias das terras do objeto dos processos. As terras reivindicadas eram devolutas, situadas sobre dunas e terrenos alagadios, ou continham erros na localizao pretendida pelos autores (RUFINO, 1983).

    Em funo destas investidas e do estado de abandono em que se encontrava o parque, no fi nal da dcada de 70 passaram a ocorrer manifestaes em favor da transferncia de sua administrao para a Fundao do Meio Ambiente (Fatma), criada neste perodo, durante a administrao do governador Antnio Carlos Konder Reis. A Secretaria de Agricultura, entretanto, no abriu mo da gesto da rea.

    Em 27 de junho de 1983, a Secretaria da Agricultura transfere Companhia Integrada de Desenvolvimen-to Agrcola de Santa Catarina (Cidasc)2 a administrao do parque, mediante contrato de administrao de bens e prestao de servios tcnicos, assinado pelo secretrio da pasta, Vilson Pedro Kleinbing, e pelo diretor-presidente da Cidasc, Olices Osmar Santini.

    2. Tratava-se de uma empresa voltada ao incremento dos setores agropecurio, fl orestal e pesqueiro. Fundada em 27 de novembro de 1979 como empresa de economia mista, foi transformada em empresa pblica em 06 de setembro de 2005.

    Figuras 8 e 9: Implantao de canais de drenagem para secagem das reas midas da estao fl orestal. Fotos: Henrique Berenhauser, 1971.

    Figuras 6 e 7: Solenidade de criao do Parque Florestal do Rio Vermelho e vista geral do acesso ao parque. Fotos: Henrique Berenhauser, 1974.

  • 272. O PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    O referido contrato previu que a Cidasc, alm de classifi car, preservar e perpetuar todos os espcimes fl orestais existentes na rea do parque, poder constituir receita prpria proveniente da comercializao de plantas, mudas, sementes, espcies fl orestais desbastadas e de servios tcnicos prestados ao estado de Santa Catarina. Dentre as atividades de explorao comercial, destacou-se a realizao de resinagem em 150 mil Pinus durante a administrao do governador Esperidio Amin Helou Filho (BERENHAUSER, 1990). O contrato de administrao foi reeditado em 28 de junho de 1988 entre a Secretaria da Agricultura e a Cidasc.

    Em 14 de setembro de 1994, o governo estadual editou o decreto n 4.815, que foi publicado uma semana depois no Dirio Ofi cial do Estado n 15.024. Este decreto acrescentou alguns novos artigos ao Decreto Estadual n 994/74, viabilizando a construo do edifcio-sede da Polcia Ambiental na rea do Parque Florestal do Rio Vermelho. Em 29 de setembro daquele ano, o governo estadual transferiu a responsabili-dade da administrao do parque Cidasc.

    A 2 etapa de consolidao da unidade de conservao pode ser identifi cada pelo reconhecimento do po-tencial natural dela. A regio reconhecida como um rico habitat natural para inmeras espcies da fauna e da fl ora do litoral catarinense, que alvo da expanso urbana desordenada observada na costa leste da Ilha de Santa Catarina. Por esta e outras razes, em meados da dcada de 90, comearam a se avolumar os debates e as iniciativas ambientalistas em torno de inmeras pretenses de usos do parque.

    Nesse contexto, em 1993 insere-se na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) o Grupo Interdisci-plinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano (Gipedu), realizando pesquisas voltadas identifi cao de procedimentos efi cazes para promover a qualidade de vida e preservar os recursos naturais do Parque Florestal do Rio Vermelho (Processo n 004701/93-25).

    Durante o 50 Congresso Nacional de Botnica, realizado em julho de 1999, em Blumenau (SC), o Gipedu apresentou o trabalho intitulado A vegetao do Parque Florestal do Rio Vermelho, onde apontou a necessidade de se implementar aes voltadas recuperao da cobertura vegetal original e regularizao e adequao da rea da unidade de conservao.

    A 3 etapa identifi ca-se pela consolidao do parque a partir da atuao da sociedade civil organizada, em cujo mbito repercutiram algumas aes governamentais. Em 1998, o governador Paulo Afonso Evange-lista Vieira, atravs do decreto n 3.423, de 04 de dezembro de 1998, autorizou o desmembramento de 38 hectares da rea do Parque Florestal do Rio Vermelho.

    Trs semanas aps a edio deste decreto, o governador criou o Parque Ecolgico Cultural da Barra da Lagoa, atravs do decreto n 3.630, de 23 de dezembro de 1998. Este parque ecolgico foi criado nas terras desmembradas do Parque Florestal do Rio Vermelho, prevendo-se uma operacionalizao atravs de parceria com a iniciativa privada de forma a se tornar autosufi ciente (inciso 1, item III do artigo 2).

    Figuras 10: Vista do acesso a Lagoa da Conceio. Foto: Henrique Berenhauser, 1977.

  • 28 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    Cumpre frisar que o decreto foi editado no apagar das luzes do mandato de Paulo Afonso.

    Aps gestes junto equipe do governo seguinte, em 17 de fevereiro de 1999 o governador Esperidio Amin editou o decreto n 050, que revogou o decreto n 3.630/98. O decreto do governo de Amin considerou que a alterao e a supresso dos espaos territoriais a serem especialmente protegidos somente so permitidas atravs de lei, conforme preceitua o artigo n 225 da Constituio Federal, e que o Decreto Estadual n 3.630/98 constitua ato imotivado.

    Considerando que houve idntica carncia de motivao e cons-titucionalidade no Decreto Estadual n 3.423/98, o vereador Andr Freyesleben Ferreira, atravs do requerimento n 021/99, devidamente aprovado pela Cmara Municipal de Florianpolis, solicitou formalmente ao governador estadual a revogao do referido decreto. Em 5 de maro de 1999, atravs do ofcio n

    304/99, o governo de Amin foi comunicado da deciso da Cmara e, em 27 de abril daquele ano, editou o decreto n 169 para revogar o decreto n 3.423/98.

    Em julho de 1999, aps discusses com o Ministrio Pblico Estadual, um documento foi encaminhado ao governo de SC solicitando a adequao administrativa do Parque Florestal do Rio Vermelho, que deveria ser subordinado Fundao do Meio Ambiente (Fatma). Vale ressaltar que naquele ano surgiu o grupo Amigos do Parque do Rio Vermelho, coordenado pelo Dr. Augusto Luiz Gonzaga, com objetivo de congregar esforos em prol de uma poltica de conservao da unidade.

    Em 1 de julho daquele ano, a procuradora da Repblica Dra. Analcia Hartmann encaminhou ao secretrio estadual do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Joo Macagnan, cpia do laudo fi r-mado pela assessora tcnica da Procuradoria, biloga Claudia R. dos Santos, relativo situao de aban-dono e negligncia na regio prxima ao Costo das Aranhas, parcela importante do Parque Florestal do Rio Vermelho.

    O Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Ecologia e Desenho Urbano (Gipedu), da UFSC, voltou a en-caminhar solicitao ao governo estadual em agosto de 2001, reforando as solicitaes anteriores e reivin-dicando a imediata exigncia do Estudo de Avaliao de Impacto Ambiental para o projeto de implantao da Estao de Tratamento de Esgoto da Companhia Catarinense de guas e Saneamento (Casan) previsto

    para a rea do Parque Florestal do Rio Vermelho.

    No obstante as reivindicaes de regularizao do Parque Flo-restal do Rio Vermelho, o governador Esperidio Amin encami-nhou o Projeto de Lei n 14/02 Assemblia Legislativa solici-tando autorizao para doar parte da rea da unidade Empresa de Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina S.A. (Epagri). O fato em si encerrou gravssimo desvio da funo pblica, pois o objeto de doao era constitudo por rea pblica legalmente protegida.

    Nos anos posteriores, foram realizados fruns comunitrios e audincias pblicas do Ministrio Pblico Estadual para enqua-drar o parque ao Sistema Estadual de Unidades de Conservao (SEUC). Em 2002, foram acionados o Comit de Gerencia-mento da Bacia da Lagoa da Conceio e o Comit da Reserva

    Figura 12: Vista da sede do Parque Florestal do Rio Vermelho. Foto: Henrique Berenhauser, 1977.

    Figura 13: Construo de estrada em duna. Foto: Henrique Berenhauser, 1974.

  • 292. O PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    da Biosfera da Mata Atlntica em Santa Catarina, alm de contatos seguidos com o governo e a Fatma para regularizar a unidade de conservao. Esta iniciativa foi reforada dois anos depois com a integrao do parque Reserva da Biosfera da Mata Atlntica de Santa Catarina.

    Em 2003, a portaria n 29 da Secretaria de Agricultura de SC criou uma equipe tcnica interinstitucional para promover a regularizao do Parque Florestal do Rio Vermelho. Em julho do ano seguinte, a Cidasc promoveu licitao para a venda de 45 mil rvores da espcie Pinus, extradas do parque, que totalizou R$ 3 milhes.

    Preocupado com a situao informal do parque, o Gipedu encaminhou ao Ministrio do Meio Ambiente (MMA), em novembro de 2005, o Projeto Parque do Rio Vermelho: Implantao de um processo partici-pativo para a reavaliao do Parque Florestal do Rio Vermelho visando sua adequao ao SNUC/SEUC. O projeto no foi aprovado pelo MMA em funo da ausncia de cartas de anuncias do rgo ambiental estadual (Fatma) e do rgo responsvel pela administrao da unidade (Cidasc).

    Essas cartas foram conseguidas em 2006 com o apoio do Ministrio Pblico Estadual, por meio do promotor Dr. Herculano de Abreu, e do Ministrio Pblico Federal, representado pela procuradora Dra. Analcia Hartmann. Esses documentos possibilitaram que o Gipedu encaminhasse novamente o projeto ao ministrio.

    Realizada em outubro daquele ano, a 4 Reunio Colegiada do PDA Mata Atlntica do MMA aprovou nove projetos no pas, entre os quais o Projeto Parque do Rio Vermelho, concebido atravs da parceria entre o Instituto Lagoa Viva, fi liada Fundao Lagoa, como entidade proponente e executora, o Gipedu, como entidade parceira e coordenadora da execuo do projeto, e a Associao de Moradores do Rio Ver-melho (Amorv), como entidade parceira. Tambm em 2006, mas em agosto, a Cidasc abriu licitao para a venda de 100 mil rvores da espcie Pinus, medida que foi sustada por uma ao do Ministrio Pblico Federal.

    Ao se fazer um balano das aes dos governos estaduais na administrao do parque, evidencia-se a sua fragilidade, decorrente das indefi nies e imprecises na gesto de um espao pblico especialmente prote-gido. A despeito da aprovao dos Sistemas Nacional e Estadual de Unidades de Conservao da Natureza, atravs das Leis n 9.985/00 e n 1.986/01, respectivamente, sabia-se que o ordenamento das unidades de conservao j vinha se estabelecendo h muito tempo, ao menos desde a aprovao da Poltica Nacional do Meio Ambiente, determinada pela Lei n 6.938/81.

    O governo catarinense deveria, portanto, prover condies adequadas e coerentes para garantir as funes

    Figuras 14 e 15: Vista do Morro dos Macacacos e abertura de estrada marginal a Lagoa. Fotos: Henrique Berenhauser, 1974.

  • 30 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    do parque. Numa anlise detida, observou-se que o estado no se omitiu. Ao contrrio, ele foi o principal agente, atravs de seus representantes, a cometer intervenes in-devidas, estabelecendo confl itos fl agrantes com a legislao vigente. Coube s entidades organizadas da sociedade civil cobrar das autoridades competentes, nas diversas esferas do poder pblico, que realizasse uma gesto minimamente coerente desse espao pblico, legalmente destinado preservao ambiental, e cessasse as arbitrrias interfern-cias e propostas indevidas de uso da rea.

    Da forma como vinha agindo no gerenciamento da rea do Parque Florestal do Rio Vermelho, o governo estadual prestou um duplo desservio coletividade, pois no tinha regularizado adequadamente a sua condio de unidade de conservao e, com as ingerncias cometidas, confundiu e deseducou a populao no trato com as reas naturais

    protegidas. Os rgos gestores (Cidasc e principalmente a Fatma) descumpriram a Lei n 9985/2000 (Cap. IV) e o Decreto Estadual n 4340/2002 (Art. 40) e extrapolaram o tempo-limite de dois anos para enquadrar o parque no Sistema Estadual de Unidades de Conservao.

    Apesar de todos os esforos de diversos rgos governamentais e da sociedade civil, o governo de Santa Catarina publicou o decreto n 4.273 em abril de 2006, que transferiu a rea de 14.570.702,59 m do parque empresa SC Parcerias, uma sociedade annima. Este ato desconsiderou o trabalho da equipe tc-nica interinstitucional criada pela portaria n 29, de 15/10/2003, da Secretaria da Agricultura de SC, para promover a regularizao da unidade.

    O governo, portanto, insistiu na pretenso de repassar terras pblicas legalmente protegidas iniciativa privada e de reincidir na fl agrante ilegalidade do ato administrativo utilizado para perpetrar tal feito, qual seja a edio de decreto. Tanto o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) quanto o Sistema Estadual de Unidades de Conservao (SEUC) so enfticos ao afi rmar: A desafetao ou reduo dos limites de uma unidade de conservao s pode ser feita mediante lei especfi ca. Mas o governo cata-rinense o mesmo que, atravs de uma ao direta de inconstitucionalidade, questiona o prprio SNUC no Supremo Tribunal Federal. No por acaso, Santa Catarina se destaca como um dos estados lderes no desmatamento do Bioma Mata Atlntica e props em 2008 a alterao do Cdigo Florestal (Lei Federal n 4.777/65), reduzindo suas restries ambientais atravs de lei estadual, o que caracteriza uma clara ao inconstitucional.

    O decreto n 4.273/2006, que transferia o Parque Florestal do Rio Vermelho SC Parcerias, foi revogado no fi m do ano de 2006 em funo da presso das entidades ambientalistas lideradas pela Federao de Entidades Ecologistas Catarinenses (Feec). Observa-se, entretanto, que aps a revogao desse decreto, o retorno da unidade de conservao administrao da Cidasc estabeleceu um encaminhamento que no focou o processo de reavaliao e enquadramento do parque ao SEUC.

    Com o propsito de acelerar o processo de regularizao da rea, o Dr. Zenildo Bodnar, juiz federal substituto da Vara Ambiental, Agrria, e Residual da Subseo Judiciria de Florianpolis, promoveu uma audincia pblica em 2 de maro de 2007, no mbito da ao civil pblica n 2004.72.00.01.33759, que foi apresentada pela procuradora da Repblica Dra. Analcia Hartmann em 2004.3 Nesta audincia, Bodnar concedeu ao estado de Santa Catarina um prazo de 10 dias para apresentar manifestao aos plei-

    3. A ao civil pblica foi motivada por denncia das entidades civis sem fi ns lucrativos Associao Aliana Nativa, Associao Verde Futuro e APRENDER Entidade Ecolgica. O pedido fi nal da ao requereu, entre outras medidas, a condenao do estado a elabo-rar o plano de manejo para o Parque Florestal do Rio Vermelho.

    Figura 16: Construes demolidas em rea prxima ao Morro das Aranhas. Foto: Gipedu, 1992.

  • 312. O PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    tos formulados pelo Ministrio Pblico Federal e especialmente em relao criao imediata do Parque Estadual do Rio Vermelho, inclusive com cronograma sobre as medidas a serem adotadas.

    Representando o governo, a Fundao do Meio Ambiente (Fatma) apresentou ao juiz federal, em 14 de maro de 2007, um cronograma de aes para formalizar o Ato de Reavaliao do Parque Florestal. Em 17 de maio daquele ano, a fundao realizou uma audincia pblica no Distrito de So Joo do Rio Vermelho para apresentar a proposta de adequao do parque ao SNUC-SEUC. Essa proposta incorporou os resulta-dos do trabalho da equipe tcnica interinstitucional da Secretaria da Agricultura, conforme a nota tcnica n 03, de 6 de outubro de 2004, que defi ne a categoria de parque estadual.

    Em 24 de maio de 2007, o governador em exerccio Leonel Pavan assinou o decreto n 308, que defi niu o Parque Florestal do Rio Vermelho como Parque Estadual do Rio Vermelho, promovendo sua adequao ao Sistema Estadual de Unidade de Conservao da Natureza e a criao de um conselho consultivo. Em agosto daquele ano, o Projeto Parque do Rio Vermelho-PDA-MMA iniciou suas atividades para subsidiar o plano de manejo da unidade.

    Posteriormente, com a aprovao do PDA-MMA, os objetivos do projeto foram alterados em decorrncia do enquadramento do parque ao SNUC-SEUC. O novo objetivo do projeto passou a ser a elaborao do diagnstico e da proposta de zoneamento da unidade.

    A CATEGORIA PARQUE EsTADUAL E sUAs IMPLICAEs

    Conforme o Decreto Estadual n 308/2007 (Art. 1), o Parque Florestal do Rio Vermelho foi reavaliado para a categoria Parque Estadual do Grupo de Proteo Integral. O que signifi cou essa determinao?

    O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) da Natureza, criado pela Lei n 9.985/2000, e o Sistema Estadual de Unidades de Conservao (SEUC) da Natureza, determinado pela Lei n 11.986/2001, defi nem unidade de conservao como o espao territorial e seus recursos naturais relevan-tes, legalmente institudos pelo poder pblico, com objetivo de conservao e limites defi nidos, sob o regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo.

    As unidades de conservao integrantes do SNUCSEUC foram divididas em dois grupos, com caracters-ticas especfi cas:

    1.Unidade de Proteo Integral, cujo objetivo preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceo dos casos previstos na lei;

    2.Unidades de Uso Sustentvel, cujo objetivo bsico compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos naturais.

    O Parque Estadual do Rio Vermelho, pertencente ao primeiro grupo (Proteo Integral), tem como objetivo bsico a preservao de ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica e beleza cnica. Visa conservar amostras de fl oresta ombrfi la densa (Floresta Atlntica), das Formaes Pioneiras (vegetao de restinga) e da fauna associada do domnio do Bioma Mata Atlntica. Ele tambm serve para manter o equilbrio do complexo hdrico da regio, propiciar aes ordenadas de recuperao de seus ecossistemas alterados e possibilitar a realizao de pesquisas cientfi cas e visitao pblica, com o desenvolvimento de atividades de educao e interpretao ambientais, de recreao em contato com a natureza e de turismo ecolgico (Art. 3 do Decreto Estadual n 308). Todas estas atividades devem ser objeto do futuro plano de manejo do parque, assim como aquelas motivadas pelo uso de equipamentos existentes nele.

    Por que o Parque Estadual do Rio Vermelho importante para a conservao da natureza e a sustentabili-dade da regio? A Mata Atlntica um dos biomas mais ameaados do planeta e por isso as aes para sua preservao, recuperao e restaurao so prioridades nas polticas de conservao da biodiversidade.

    O Parque Estadual do Rio Vermelho e sua regio de entorno (Zona de Amortecimento) est inserido neste

  • 32 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    bioma e abrange uma regio situada nas bacias hidrogrfi cas da Lagoa da Conceio e dos rios Capivari e Ingleses, ambas representativas dos recursos naturais, paisagsticos, histricos, tursticos e culturais do litoral catarinense, com destaque para o importante aqufero que se estende ao longo da poro norte do parque e est sob parte das duas bacias.

    A condio de rea legalmente protegida sob a forma de unidade de conservao viabilizou a incluso do parque na zona ncleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica, declarada pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (Unesco).

    A descaracterizao da restinga pela introduo de Pinus e Eucalyptus na regio do parque constitui a principal fonte de degradao dos ecossistemas costeiros da Ilha de Santa Catarina. Somando-se rea contaminada por Pinus e Eucalyptus, as reas adjacentes caracterizadas como restinga encontram-se em processo de regenerao, contendo fragmentos que abrigam diversas espcies de interesse conservao, uma delas, a Mimosa catharinensis (unha de gato), s ocorre na unidade. O parque conta ainda com uma poro limitada de fl oresta ombrfi la densa situada no Morro dos Macacos.

    A METODOLOGIA DO PROJETO

    Com a fi nalidade de subsidiar o Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Vermelho, o projeto preten-deu elaborar o diagnstico da unidade e de sua regio de entorno com o objetivo de propor o zoneamento dela, que inclui a sua Zona de Amortecimento. Foram oferecidas recomendaes mais especfi cas de plane-jamento s localidades vizinhas do parque, com destaque para as situaes que ameaam a sua integridade.

    O trabalho se preocupou em promover estudos com base no intercmbio de informaes entre campos

    Figura 17: Sede da Policia Ambiental, Parque Estadual do Rio Vermelho. Foto: Z Paiva, 2009.

  • 332. O PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    do conhecimento que abordam o planejamento e a gesto da natureza, especialmente na busca de uma atuao interdisciplinar desenvolvida atravs de trs etapas. Na primeira etapa, a equipe do projeto planejou o trabalho e elaborou o diag-nstico inicial do parque por meio de consultas a documentos e estudos acadmicos sobre ele e a regio de entorno.

    Na segunda etapa, completou-se esta anlise com visitas unidade de conservao para avaliar a fauna, a fl ora, e as condies antrpicas da regio. Aps organizar essas informaes, foram defi nidas as diretrizes de planejamento para a elaborao da proposta de zoneamento do parque e regio de en-torno, que inclui a sua Zona de Amortecimento. E, por fi m, na terceira etapa, houve a realizao de ofi cinas internas e externas, que possibilitou incorporar as contribuies oferecidas pelos atores envolvidos. A apresentao e publicao dos resultados alcanados pelo projeto encerram suas atividades.

    A atividade de planejamento promoveu estudo detalhado da regio para identifi car o potencial ambiental e cultural da unidade de conservao e do seu entorno. Quanto s iniciativas abrangentes, foram realizados contatos com instituies e representantes da sociedade civil organizada ligados a entidades comunitrias, organizaes de diferentes naturezas que, de alguma forma, ofereceram informaes para auxiliar na elabo-rao do diagnstico e da proposta de zoneamento.

    Alm das atividades relacionadas criao e ao fortalecimento do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Rio Vermelho, as aes deste projeto, voltadas elaborao da proposta de zoneamento, ocorreram me-diante parceria com a Fundao do Meio Ambiente (Fatma). Isso possibilitou incorporar este componente fi nal do projeto no processo de elaborao do futuro plano de manejo.

    Uma vez elaborada, a referida proposta foi submetida s comunidades do entorno do parque, conforme os procedimentos metodolgicos previstos no projeto e os critrios legais necessrios para o seu fomento nos limites das idias que o geraram. Alm da recuperao da rea de Pinus e da preservao dos remanescentes do Bioma Mata Atlntica (restinga e fl oresta ombrfi la densa), as orientaes produzidas pela atividade de planejamento podero produzir efeitos positivos para a sustentabilidade socioambiental da regio de infl uncia do parque, atravs da utilizao de princpios e prticas de conservao da natureza.

    A atividade de planejamento considerou a legislao ambiental vigente (SNUC-SEUC) e o roteiro me-todolgico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama). Por ser um processo de planejamento participativo, os pesquisadores visitaram as comunidades do entorno do parque e participaram de reunies com os moradores para conhecer preocupaes, trocar opinies e anotar sugestes sobre as propostas apresentadas pela equipe do projeto.

    O enfoque participativo de planejamento permitiu que as discusses ocorressem com especial interesse na construo de um dilogo franco e aberto com as populaes sediadas na regio de entorno da unidade. Foram realizadas 11 ofi cinas nas comunidades do entorno e elas ocorreram em escolas pblicas municipais com o apoio dos diretores, professores, orientadoras pedaggicas, alunos, pais e mes. Este procedimento, na opinio da equipe, contribuiu para ampliar a participao da populao-alvo do projeto, possibilitando inseri-lo no contexto do planejamento da cidade.

    Figura 18: Morros dos Macacos, Parque Estadual do Rio Vermelho. Foto: Z Paiva, 2009.

  • 34 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    A equipe tambm ofereceu informaes sobre o projeto, especialmente sobre a Zona de Amortecimento, aos participantes do Plano Diretor Participativo de Florianpolis em desenvolvimento na regio de entorno do parque. Esta iniciativa permitiu oferecer subsdios ao processo de elaborao do diagnstico, zoneamento ambiental e zoneamento urbano do plano diretor.

    Para analisar as condies sociais e espaciais relativas ao parque, buscou-se auxlio dos recursos de geopro-cessamento, com destaque para o Sistema de Informao Geogrfi ca (SIG) e o Sensoriamento Remoto, que faz uso de imagens de satlite de alta resoluo. Estes recursos foram utilizados na elaborao do mapeamento das atividades de planejamento do projeto para avaliar espacialmente as interaes entre o meio biofsico e as aes humanas e analisar os riscos resultantes da presso urbana (urbanizao) sobre a unidade de conservao. Os recursos utilizados para a interpretao e elaborao dos mapas do parque foram: imagens do satlite QuickBird, coletadas em 2004, em escala de 1:10.000, cedidas pela empresa Imagem Geossistemas e Comrcio Ltda.; um mosaico gerado a partir de ortofotos em escala de 1:5.000, cedidas pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianpolis (IPUF), cuja coleta ocorreu em 2007; a base cartogrfi ca em formato digital, na escala 1:10.000; GPS; mquina fotogrfi ca digital e uma licena do software ArcView 9.2.

    A vetorizao foi elaborada a partir da imagem QuickBird e do mosaico de fotografi as areas, nas quais foram delimitados, primeiramente, os diferentes tipos de vegetao, atravs da fotointerpretao e, quando necessrio, atravs da verifi cao em campo. A classifi cao foi elaborada com base nos padres e parme-tros estabelecidos pela Resoluo n 261/99 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 1999. Posteriormente, para a complementao do estudo, houve a identifi cao dos estgios sucessionais, atravs de sadas de campo e identifi cao das espcies, baseando-se tambm na Resoluo Conama n 261/99. Assim, com esses dados obtidos tanto pela fotointerpretao como pela verifi cao em campo, os pesquisadores produziram polgonos com classifi cao manual para garantir um maior nvel de detalha-mento.

    Para alcanar os objetivos acima previstos, o Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho utilizou os recursos fi nanceiros concedidos pelo PDA-Ministrio do Meio Ambiente, no valor de R$ 69.970,37, destinados ao pagamento de bolsistas, aquisio de equipamento e softwares e a contratao de servios de terceiros (im-presso de livro, boletins e banners). Em contrapartida, as entidades proponentes e parceiras ofereceram recursos humanos, com carga horria de trabalho estimada em R$ 74.880,00.

    Figura 19: Morros dos Macacos, Parque Estadual do Rio Vermelho. Foto: Z Paiva, 2009.

  • 352. O PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    O projeto estabeleceu como expectativa produzir um estudo tcnico que oferecesse os seguintes produtos:

    1. Construo do Sistema de Informao Geogrfi co sobre o parque e regio de entorno (Zona de Amor-tecimento) para alimentar o processo de atualizao de dados, mesmo aps a concluso do projeto;

    2. Elaborao de uma cartilha para subsidiar o trabalho pedaggico da rede de ensino da regio de entorno do parque;

    3. Elaborao de uma pgina na Internet com farta informao e meios para promover um processo intera-tivo de educao ambiental;

    4. Elaborao e edio de um documento fi nal, no formato de um livro, a ser distribudo gratuitamente ao pblico-alvo, contendo a proposta de zoneamento e recomendaes de planejamento unidade de conservao e regio de entorno.

    Os REsULTADOs ALCAnADOs

    O Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho concluiu o diagnstico e a proposta de zoneamento da unidade de conservao e do seu entorno, que inclui a sua Zona de Amortecimento. Apoiado pelo Ministrio do Meio Ambiente, atravs do subprograma Projetos Demonstrativos Mata Atlntica, este trabalho alcanou um conjunto de propostas que pretendem contribuir para subsidiar o futuro plano de manejo do parque.

    Os resultados do projeto esto organizados nesta publicao e incorporam as sugestes sobre conservao e uso da rea que foram oferecidas pelas comunidades vizinhas ao parque durante as vrias ofi cinas realizadas nas escolas municipais da regio. Para alcanar estes resultados, a equipe do projeto fez muitas visitas unidade para obter informaes sobre as suas condies naturais, as interferncias humanas e as condies das infraestruturas. O trabalho tambm envolveu o diagnstico da regio vizinha ao parque. preciso registrar que dezenas de contatos foram feitos com representantes de instituies governamentais, entidades comunitrias e cidados que ofereceram informaes que auxiliaram na pesquisa.

    As propostas aqui apresentadas refl etem a contribuio dos tcnicos da Fundao de Meio Ambiente (Fatma), dos representantes do Conselho Consultivo do Parque Estadual do Rio Vermelho e dos partici-pantes do Plano Diretor Participativo de Florianpolis. A equipe do projeto tambm recebeu a valiosa opinio dos representantes das escolas municipais da regio de entorno, especialmente sobre a necessidade de proteo da unidade de conservao.

    importante registrar que um dos frutos deste trabalho foi a parceria fi rmada entre a Companhia Melho-ramentos da Capital (Comcap), a Secretaria Municipal de Educao e a Universidade Federal de Santa Catarina (Gipedu), que visa estimular a coleta seletiva dos resduos slidos nas escolas municipais e nas comunidades da Costa da Lagoa e So Joo do Rio Vermelho.

    Durante o desenvolvimento do projeto compreendeu-se que a participao da comunidade decisiva para a preservao do parque. Neste sentido, o projeto desenvolvido pelo Gipedu, em parceria com o Instituto Lagoa Viva e a Associao de Moradores do Rio Vermelho (Amorv), pretendeu disponibilizar informaes adequadas e inteligveis populao local e s partes interessadas das esferas governamentais para que elas, de alguma forma, utilizem esse conhecimento para garantir a integridade do parque e de sua regio de entorno a partir da elaborao do plano de manejo. Neste sentido, o uso da geotecnologia possibilitou a disponibilizao rpida e organizada de informaes, sem comprometer a preciso do produto fi nal.

    A despeito da considervel descaracterizao dos ambientes naturais decorrente da introduo de espcies exticas, os resultados encontrados apontam que o espao do parque representa um importante stio para a conservao da biodiversidade associada s restingas litorneas, mostrando que aes integradas de manejo podero acelerar a melhoria da qualidade ambiental da rea, inclusive com a reabilitao de locais hoje alterados.

  • Foto: Z Paiva, 2009

  • Estimulado por atividades tursticas de carter sazonal, o crescimento urbano desordenado nas quatro localidades que fi cam ao redor do Parque Estadual do

    Rio Vermelho interfere agressivamente no ambiente. Estima-se uma populao de cerca de 62 mil pessoas para 2010 em uma regio que no conta com a presena necessria do poder pblico, em reas como educao, saneamento, sade, habitao e fi scalizao, apresenta um sistema virio defi ciente e praticamente no tem

    equipamentos de lazer e cultura.

    O diagnstico elaborado pela equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostra as dimenses ambientais, culturais, econmicas e polticas de cada uma das quatro localidades e revela os problemas especfi cos delas. O quadro atual aponta para a urgncia em se adotar uma srie de medidas que possibilitem a efetiva proteo das reas de preservao permanente, a manuteno do patrimnio histrico-cultural e a busca da sustentabilidade por meio de atividades integradas ao parque.

    Diagnsticoda Regio

    3

  • 38 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    3. Diagnstico da Regio

    A DInMICA DE DEsEnVOLVIMEnTO DA REGIO DE EnTORnO DO PARQUE

    Na regio de entorno do Parque Estadual do Rio Vermelho observa-se o processo de urbanizao desor-denada com tendncia expanso sobre as reas protegidas nas localidades da Barra da Lagoa, Costa da Lagoa, So Joo do Rio Vermelho, Santinho-Ingleses. A ausncia de informaes sobre como estabelecer e conciliar os controles social e governamental para proteo dos recursos ambientais o principal desafi o sustentabilidade da regio.

    A inexistncia de uma estratgia de planejamento que trate globalmente o desenvolvimento urbano da re-gio tem contribudo para que a expanso urbana promova interferncias agressivas sobre os recursos mais singulares da paisagem histrica e natural do territrio. Nos principais ncleos urbanos da regio de entor-no possvel verifi car as caractersticas principais deste processo.

    O DIsTRITO DA BARRA DA LAGOA

    O Distrito da Barra da Lagoa, localizado ao sul do Parque Estadual do Rio Vermelho, tem populao estimada de 7.360 habitantes para 2010 (IPUF, 2008). Muitas transformaes sociais e ambientais que infl uenciam a maior colnia de pescadores da Ilha de Santa Catarina vendo sendo motivadas por pequenos e grandes projetos tursticos que reproduzem os problemas de outras localidades da Ilha. Destacam-se os que so derivados do uso e da ocupao desordenada do solo, notadamente das margens do Canal da Barra e das reas de encosta dos morros.

    Dimenso ambiental

    A geomorfologia da Barra da Lagoa compreende terrenos de sedimentao marinha e morros cristalinos, cuja formao rochosa grantica possui vertentes instveis que variam de 45 e 70, o que restringe sua ocupao (HERMANN et al., 1991). Os terrenos de formao vulcnica, nos quais encontramos a fl oresta ombrfi la densa, apresentam afl oramento de rochas, com resqucios de vegetao xeroftica.

    O Canal da Barra da Lagoa tem 2 km de extenso e aproximadamente 35 m de largura e liga a Lagoa da Conceio ao mar. Sua condio fsica permitiu uma conexo efmera com o mar at 1982, quando foram executadas obras de manejo na embocadura, assegurando-lhe a ligao permanente. Antes desta data ocorria assoreamento peridico do canal, impedindo inclusive o acesso de embarcaes. O canal apresenta perfi l batimtrico relativamente simtrico, com profundidade mxima registrada de 6,50 m (SIERRA DE LEDO & SORIANO-SIERRA, 1999).

  • 393. DIAGNSTICO DA REGIO

    A vegetao original do morro prximo ao canal foi bastante alterada pelo desmatamento e introduo de vrias espcies exticas. Nas reas planas, a fl oresta quaternria foi sistematicamente degradada pela ativi-dade agrcola do sculo passado, que provocou seu total desaparecimento no territrio da bacia. Entretan-to, a vegetao de restinga, que inclui todas as formaes em reas de sedimentao marinha, encontra-se em restritos ncleos do distrito e exerce importante papel na fi xao do solo arenoso. No Canal da Barra tambm possvel encontrar um ncleo remanescente de vegetao de restinga.

    A mata ciliar foi muito comprometida ao longo do canal, por isso h locais em que o ambiente est alta-mente fragilizado, com eroso de suas margens e consequente assoreamento. A existncia de vrios trechos erodidos deve-se supresso da vegetao que reco-bria o solo arenoso. As espcies mais encontradas so: biguau da praia (Eugenia umbelli ora), pitangueira (Eugenia uni ora), aroeira (Schinus terebinthifolia), anona (Annona glabra), goiabeira (Psidium guajava), capororoca (Myrsine ferruginea e M. parvifolia), man-gue (Laguncularia racemosa), entre outras. A fauna terrestre da regio, por seu turno, foi muito afetada (OLMPIO, 1996).

    O ecossistema do canal constitui grande preocu-pao, pois representa em boa medida uma biota migratria sazonal (FUNDAO LAGOA, 1995). Para conhecer a composio da comunidade ictica na Lagoa da Conceio e rea adjacente, Ribeiro et al. (1999) obtiveram 14.737 exemplares de peixes distribudos em 37 famlias, com 74 espcies, em 8 pontos dentro do corpo lagunar a famlia Mu-gilidae foi mais abundante. O canal mostrou-se de grande importncia para a icitionfauna devido maior diversidade de espcies e pela abundncia de exemplares (RIBEIRO et al., 1999: 262).

    Figura 20: Vista geral da Barra da Lagoa. Foto: Z Paiva, 2009.

    Figura 21: Vista geral do Canal da Barra da Lagoa. Remanescente de mangue em processo de regenerao Foto: Z Paiva, 2009.

  • 40 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    Dimenso cultural e econmica

    Os vestgios encontrados nas rochas das encostas do Morro da Barra da Lagoa sugerem que a regio era habitada h cerca de 4.500 anos por povos afi adores, polidores e produtores de inscri-es rupestres (BASTOS, 1994)1. Durante o perodo colonial, com a chegada dos vicentistas e posteriormente dos aorianos, o povoado de Nossa Senhora da Conceio foi consolidado. Os aorianos dedicavam-se agricultura e pesca de subsistncia at a desestruturao da atividade agrcola, quando a pesca emergiu como principal atividade econmica. Notadamente agrcola, a populao do litoral da Ilha de Santa Catarina tinha a pequena pesca como atividade sazonal. A venda ou troca de pescado pos-sibilitava a aquisio das mercadorias que no eram produzidas pela agricultura ou pelo artesanato. No sculo XX, com a expan-so urbana e o turismo, a maior presso sobre a terra fez com que o lavrador se voltasse cada vez mais para a atividade pesquei-ra (CRDOVA, 1984).

    Esta mudana na Barra da Lagoa resultou no abandono das reas destinadas agricultura e pecuria, consideradas de uso comum da populao, e possibilitou a criao da Estao Florestal do Rio Vermelho (Decreto Estadual n 2.006, de 21 de setembro de 1962)2.

    As terras devolutas utilizadas em parte desde 1950 pelo Posto de Monta da Secretaria da Agricultura sem-pre estiveram no uso comum do povo, como logradouro para o pastoreio e a criao de animais perten-centes aos moradores das povoaes vizinhas (ESTADO DE SANTA CATARINA, 1984). Ao examinar as caractersticas fsicas da rea denominada Campo da Barra, Silva (1984) verifi cou que ela tinha topografi a caracterizada por terrenos levemente ondulados, constitudos por solo arenoso com presena de banhados. A avaliao das fotografi as de 1956 e 19573 indicou que as reas (objeto da ao n141/79) no apresenta-vam mais sinais de explorao agrcola, pois se tratavam de terrenos abandonados ou alagadios inadequa-dos s culturas agrcolas (SILVA,1984:3).

    A pesca artesanal, por sua vez, organizou-se na Barra da Lagoa como um processo de trabalho da esfera domstica (unidade familiar ou grupo de vizinhana), utilizando embarcaes e instrumentos rsticos. A atividade no estabelecia vnculo empregatcio entre o proprietrio e o pescador, sendo fortemente contro-lada por intermedirios (LINS, 1991; CORDOVA, 1994)4. As presses da pesca industrial e do turismo determinaram o empobrecimento do pescador artesanal sob a infl uncia dos seguintes fatores: tecnolgico, lgica de mercado, perda de identidade, gesto pesqueira, e comprometimento dos recursos naturais. Esta situao provocou a evaso da mo-de-obra da pesca artesanal.

    A partir de 1985, o Departamento de Aquicultura do Centro de Cincias Agrrias da Universidade Federal de Santa Catarina implantou na Barra da Lagoa trs laboratrios para desenvolver a pesquisa orientada aplicao de inovaes tecnolgicas na explorao dos recursos do mar. Trata-se do Laboratrio de Piscicultura Marinha (LAPMAR), do Laboratrio de Camares Marinhos (LCM) e do Laboratrio de Moluscos Marinhos (LMM)5.

    1. As populaes pr-histricas que ocuparam a Ilha de Santa Catarina utilizaram formas diferenciadas de aproveitamento dos recur-sos naturais rochosos e, ao que tudo indica, esta utilizao est circunscrita s ofi cinas lticas, s inscries rupestres, arte expressa nos zolitos e industria ltica. As ofi cinas lticas da Barra da Lagoa e do Santinho foram feitas em diques de diabsio e tambm em granito excepcionalmente (BASTOS, 1994).2. Quando da criao do parque, as terras por este ocupada estavam h muito abandonadas (....) embora continuassem a considerar injusta a apropriao do Campo da Barra por parte do governo, os ex-usurios acabaram aceitando pacifi camente, pois, alm de no possurem documentos que confi rmasse a posse, aceitavam a afi rmao de que se tratava de terra do governo (CAMPOS, 1989:186). 3. Silva (1984) analisou os aerolevantamentos executados em 1938 pela Marinha do Brasil (escala 1:30.000) e em 1956/57 pelo Servio Aerofogramtrico Cruzeiro do Sul S/A (escala 1:50.000) .4. 62 embarcaes esto vinculadas a pesca profi ssional artesanal na Barra da Lagoa, sendo 243 o numero de pescadores que atuam na atividade (70% recebem seguro defezo) (SINDPESCA, 2010).5. O LCM foi considerado o centro de referncia nacional em pesquisa e produo de ps-larvas de camaro marinho, possibilitando a oferta de 400 milhes ps-larvas na safra 2002/2003 (NETO, 2004): no avano da carnicicultura (....) a UFSC estimulou a repro-duo e o cultivo do camaro rosa, espcie nativa de camaro. Com os resultados economicamente insatisfatrios, passou a estimular o cultivo do camaro branco do pacfi co (Litopenaeus vannamei). Atravs do Programa Estadual de Cultivo de Camares Marinhos, que tinha metas de implantar 2500 hectares de cultivos na regio (sul do estado), o cultivo deste tipo extico de camaro cresceu rapidamente; em 2004 a produo chegou a 1.300 hectares, distribudos em 90 fazendas e com uma produtividade de 3.800 kg/ha/ano. Os principais municpios produtores so Laguna, Jaguaruna e Imaru, que, juntos, representam 90% da produo do estado (IBAMA et al, 2007 apud MACEDO, 2008).

    Figura 22: A pesca na Barra da Lagoa. Foto: Tarcisio Mattos, 1996.

  • 413. DIAGNSTICO DA REGIO

    Este avano tecnolgico no infl uenciou diretamente a dinmica das atividades pesqueiras da principal colnia de pesca em atividade da Ilha de Santa Catarina. A alternativa ocupacional integrao do LCM comunidade da Barra da Lagoa tem ocorrido atravs da oferta de postos de trabalho ligados a administrao e manuteno da infraestrutura, sem, entretanto, estabelecer um projeto direcionado revitalizao da pesca tradicional, com exceo de uma tentativa em 2003. Direcionado ao cultivo do camaro com a participao de pescadores da Costa da Lagoa, o projeto, que obteve apoio fi nanceiro do governo canadense, no evoluiu.

    Atualmente, a transio socioeconmica pela qual a Barra da Lagoa passa tem induzido sua populao ao afastamento da atividade econmica tradicional e ao consequente engajamento na atividade turstica e no mercado de trabalho de Florianpolis. Os descendentes de aorianos, porm, no abandonaram o vnculo com as manifestaes tradicionais, entre as quais as festas de So Joo e do Divino, a farra do boi, a gastrono-mia, o artesanato, a construo de embarcaes e a tpica sociabilidade.

    A projeo da populao para 2010 por faixas etrias indica que a Barra da Lagoa ter cerca de 13,2% de sua populao na faixa entre 10 e 19 anos; 20,73% entre 20 e 29 anos; 18,11% entre 30 e 39 anos; 14,20% entre 40 e 49; 11,12% entre 50 e 59; 5,68% entre 60 e 69 anos (IPUF, 2008).

    O turismo na Barra da Lagoa uma atividade sazonal identifi cada pelos moradores como uma oportunidade para o aluguel de casas e a oferta de servios. Para os que no detm imvel de aluguel ou de servios (hospe-dagem, gastronomia, comercio, etc.), a chegada da temporada turstica representa o emprego em atividades de baixa remunerao, como garom, camareira, balconista, vigia, operrio da construo civil, etc. Estas atividades, entretanto, representam um ganho adicional renda advinda da pesca e de outras ocupaes.

    Figuras 23 e 24: Laboratrio da UFSC e pescadores da Barra da Lagoa. Fotos: Tarcisio Mattos, 2007 e 1995.

    Populao Fixa

    Pop. Flutuante + Pop. Residente

    Densidade Bruta hab/Km

    Densidade Bruta hab/Km Fpolis.

    Tabela 2: Populao fl utuante + residente: sede e regio de entorno (2010-2050)

    Fontes: IPUF, 2007; projeo com base no IBGE; censos de 1980, 1991 e 2000; Registro Civil, nmero de ligaes eltricas residen-ciais e Modelo Evadan.

    1990

    3.258

    ---

    1.019,20

    3.960,29

    2000

    5.513

    ---

    1.512,22

    4.503,52

    2010

    7.360

    16.591

    ---

    ---

    1970

    ---

    ---

    370,46

    2.299,37

    1980

    1.983

    ---

    578,21

    3.094,43

    2020

    8.803

    21.562

    ---

    ---

    2030

    9.979

    26.696

    ---

    ---

  • 42 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    Conforme se verifi ca na Figura 26, a hospe-dagem desponta como a principal atividade econmica do distrito (31%), seguido do comrcio (26%) e do servio (21%). O le-vantamento da atividade de hospedagem re-velou que a Barra da Lagoa possui mais de 70 pousadas em funcionamento. A Barra, ainda hoje, apresenta-se como um espao turstico em expanso, no qual a atividade pesqueira persiste articulada oferta de atividades de servios nem sempre adequadas em termos de qualifi cao.

    Em funo da distncia em relao ao centro urbano (12 km), esta localidade adquiriu o perfi l das reas de moradia permanente. Por este motivo, no mbito do mercado imobi-lirio, percebem-se indcios de mudana no padro de oferta urbana e turstica, direciona-

    do aos nveis de renda alta e mdia. o caso do loteamento Cidade da Barra e do projeto Porto da Barra, planejado para ser construdo s margens do canal. Este empreendimento inicialmente foi orado em cerca de US$ 50 milhes, com iniciativas como a construo de um loteamento para abrigar um nmero mximo de 300 embarcaes, servidas por canais artifi ciais, e com um total de 60 mil metros quadrados. O empreendimento tambm projetou a oferta de aproximadamente 600 vagas para o estacionamento de veculos do sistema rodovirio.

    A ao civil pblica impetrada pelo Ministrio Publico Federal (processo n 97.0000001-0) contra a em-presa Portobello e a Fundao do Meio Ambiente (Fatma)6 possibilitou que o Porto da Barra fosse questio-nado com base na anlise do Estudo de Impacto Ambiental e do respectivo Relatrio de Impacto Ambien-tal (EIA-RIMA) do empreendimento7.

    Com a implantao do projeto possvel prever, entre outros efeitos, o aumento do valor dos imveis da regio de entorno, mudana do perfi l do turista, oferta de postos de trabalho e maior presso sobre a biota aqutica do Canal da Barra e da Lagoa da Conceio devido ao aumento da circulao de embarcaes.

    6. A Fatma, em setembro de 1996, concedeu Portobello a Licena Ambiental Prvia (LAP), atestando a viabilidade do Porto da Barra. Com base no parecer tcnico de novembro de 1996 organizado pela Fundao Lagoa e assinado por vrios professores da Uni-versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Ministrio Pblico Federal - MPF encaminhou em dezembro daquele ano a ao civil pblica acompanhada de um pedido de liminar contra a Portobello e a Fatma para suspender a LAP. Em novembro de 1997, a Fatma analisou o projeto- executivo apresentado pelo empreendedor e concedeu a Licena Ambiental de Instalao (LAI), autorizando o in-cio das obras. No mesmo ms, o MPF renovou o pedido de liminar, com base em parecer da Fundao Lagoa de novembro de 1997, assinado por professores da UFSC, para suspender os efeitos da LAI. Em maro de 1998, a juza federal da 4 Vara de Florianpolis, Luiza Hickel Gamba, concedeu a liminar e impediu o incio das obras por considerar o empreendimento de remoto interesse social e de grande impacto ambiental. O Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renovveis (Ibama), provocado pelo MPF a se manifes-tar, declarou a validade das licenas da Fatma, o que motivou a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 4 Regio a cassar a liminar em agosto de 1998. Contradizendo por completo o posicionamento da juza Gamba, a relatora do processo, Marga Barth Tessler, afi rmou que o projeto tem razovel vantagem de preservar as tradies culturais do local, enfatizando a temtica aoriana e contribuindo para a indstria turstica, a menos poluidora afeita s vocaes da Ilha de Santa Catarina A magistrada observou que tambm haver gerao de empregos, alm de o projeto prever a contratao de equipe multidisciplinar e especialista estrangeira para a construo de embarcadouros. Esta deciso obrigou o MPF a reapresentar o pedido de suspenso das licenas, que foi negado pelo juiz por no apresentar um fato novo. A partir de 2001, houve produo e apresentao de provas periciais relacionadas aos aspectos tcnicos do empreendimento. As audincias com os envolvidos no permitiram acordo em funo da necessidade de aprofundamento do estudo sobre a hidrodinmica do canal. As difi culdades apresentadas pelo empreendedor para o fi nanciamento do estudo (perito especializado), bem como a adoo de medidas para reduzir os impactos no canal (a partir de uma nova confi gurao do traado e de aes de proteo das margens, entre outras), determinou at o presente momento a impossibilidade de um acordo judicial. Cabe salientar que, muitas vezes, a interpretao jurisdicional dos fatos no considera a complexidade dos efeitos que so acarretados pela instalao de empreendimentos deste porte (FERREIRA et al.,1996).7. No decorrer do processo de discusso, o compromisso da empresa com somente uma alternativa impediu que se avaliassem outras opes tecnolgicas, o que signifi caria discutir no apenas o projeto em si, mas o entendimento prvio sobre a utilizao dos recursos hdricos da Bacia Hidrogrfi ca da Lagoa da Conceio. Desta forma, permaneceram prejudicados os esforos para identifi car outras alternativas. Atualmente os impasses jurdicos em torno da implantao do empreendimento tm evidenciado o despreparo das instituies federais, estaduais e municipais afetadas pelo processo de qualifi cao das tomadas de deciso. H que se ressaltar a contribuio da UFSC e do MPF no sentido de questionar a qualidade e a validade dos estudos. A ao jurdica encaminhada pela Procuradoria da Repblica Dra. Analucia Hartmann demonstrou que o EIA-RIMA vem sendo utilizado como instrumento de legiti-mao do referido empreendimento e que os mecanismos de controle pblico, administrativo e profi ssional tm se revelado inefi cazes (FERREIRA et al., 1996).

    Figura 25: Vista de ocupao irregular nas margens do Canal da Barra da Lagoa. Foto: Z Paiva, 2010.

  • 433. DIAGNSTICO DA REGIO

    Dimenso poltica

    Conforme verifi camos anteriormente, as transformaes socioambientais na Barra da Lagoa tm sido motivadas por pequenos e grandes projetos tursticos que reproduzem os problemas de outras localidades da Ilha de Santa Catarina. Destacam-se os que so derivados da segregao espacial, do uso e da ocupao desordenada do solo, e da poluio dos rios, notadamente do Canal da Barra. Depreende-se das afi rmaes de Sierra de Ledo et al.(1993) que a ocupao das margens por construes clandestinas para fi ns residen-ciais e comerciais tem introduzido risco crescente biota aqutica pelo constante lanamento de rejeitos slidos e lquidos na gua. Alm disso, a presena de embarcaes motorizadas tem crescido de modo preocupante nos ltimos anos. A nfase atribuda ao canal deve-se sua condio fundamental para sustentao do ecossistema da Lagoa da Conceio, que tambm tem sido ameaado8.

    Esta situao vem se agravando, pois, a despeito do Plano Diretor dos Balnerios impor diretrizes limi-tadoras ao crescimento urbano desordenado, a ausncia de um planejamento efetivo a longo prazo e de uma fi scalizao efi caz fragiliza qualquer tentativa de obedincia s diretrizes urbanas existentes e acelera ainda mais a degradao do canal. o caso da faixa de proteo de 50 m s reas adjacentes aos elementos hdricos (AAH), onde se enquadra o Canal da Barra. Concorre para isto a inobservncia do artigo 142 ao prescrever que o licenciamento de construes deve ser recusado quando contrariar os objetivos e diretri-zes do plano e atender contra a paisagem natural e urbana, a conservao das perspectivas monumentais, o patrimnio cultural e a salubridade e segurana pblicas. Da mesma forma, o zoneamento, defi nido pelo plano diretor, tem sido insufi ciente para conciliar o uso dos espaos pblicos tradicionais com o desenvol-vimento da atividade urbano-tursticas (FERREIRA et al., 1999).

    Conforme o Ipuf (2008), as reas de preservao cultural (APCs), criadas no plano diretor, necessitam de regulamentao. Do conjunto destas reas, somente as APCs-1 (reas histricas) foram objeto de gesto pelo Servio do Patrimnio Histrico e Artstico do Municpio (Sephan). As categorias APCs-2 (reas de paisagem cultural) e APCs-3 (reas arqueolgicas) no foram objeto de gesto devido ao fato de o Ipuf no dispor de tcnicos especialistas em antropologia e arqueologia em sua equipe.

    Para o rgo de planejamento do municpio, a Barra da Lagoa reivindica a proteo da Fortaleza da Barra, dos seus stios e das ofi cinas lticas, alm de pedir maior ateno ao Projeto Arqueoastronmico, tambm reivindicado por moradores da Lagoa da Conceio (IPUF, 2008). Esta demanda se manifesta igualmente na Costa da Lagoa, conforme veremos mais adiante.

    8. O crescente aumento da demanda urbano-turstica tem gerado certas obrigaes ao municpio que no so cumpridas, particu-larmente em relao ao controle sobre o uso e a ocupao do solo e o atendimento da demanda por infraestrutura pblica. Exemplo expressivo desta limitao pode ser visto na elaborao e na aprovao do Plano de Urbanizao Especfi co da Barra da Lagoa (Lei n 3711/92), que alterou o zoneamento proposto pelo Plano Diretor dos Balnerios (Lei n 2193/85) e revelou uma abordagem casustica, pois reduziu as restries sobre o uso do solo quando ele se revela vedado enquanto no fosse promulgada a lei que institui o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (artigo 25, Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, da CE/89). Isto motivou que a seccional catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) elaborasse uma ao direta de inconstitucionalidade. Ocorre que, a exemplo de outras reas da Lagoa da Conceio, a ocupao do Canal da Barra est sendo feita de forma desordenada e contra-ria a legislao vigente (FERREIRA et al., 1999).

    Figuras 26 e 27: Gr cos gerais e detalhados das atividades econmicas do Distrito da Barra da Lagoa. Fonte: Gipedu, 2009.

  • 44 PROJETO PARQUE ESTADUAL DO RIO VERMELHO

    A inadequao do aparelho de Estado, com caractersticas setoriais e clientelisticas, tende a inviabilizar as condies necessrias reverso das tendncias negativas de urbanizao da rea de entorno do Parque Es-tadual do Rio Vermelho, delimitada pelo ncleo urbano da Barra da Lagoa. A proliferao de construes clandestinas a principal evidncia da desarticulao institucional. A falta de fi scalizao governamental e a inobservncia da legislao por parte dos moradores resultam em um alto grau de informalidade no uso e na ocupao do solo. Esta situao refl ete-se no sistema virio e de transporte, pois a mobilidade de pedes-tres, portadores de necessidades especiais, ciclistas e passageiros do transporte coletivo ocorre sem integra-o e em meio aos problemas de ocupao irregular dos espaos pblicos. A ausncia de equipamentos p-blicos adequados, como os de lazer e de turismo, tambm compromete a qualidade de vida da localidade.

    O atendimento mdico na Barra da Lagoa est integrado ao Sistema nico de Sade (SUS) e a transfern-cia para o mbito do municpio a defi niu como integrante da regio leste do sistema. Atravs de seu posto de sade, a unidade de atendimento mdico oferece um conjunto de programas e servios comunidade. Em funo da precariedade das instalaes, a Secretaria Municipal da Habitao e Saneamento Ambiental elaborou um novo projeto arquitetnico, que j tem terreno disponvel, mas no h previso para o come-o das obras. As novas instalaes, previstas para o fi nal de 2010, exigiro o aumento do efetivo de profi s-sionais de sade e equipamentos adicionais9.

    O servio de saneamento da localidade de responsabilidade da Companhia Catarinense de guas e Sa-neamento (Casan), cabendo ao municpio conceder a explorao do servio de abastecimento de gua e tratamento do esgoto. O sistema de esgotamento sanitrio da Barra foi inaugurado em 13 de setembro de 2006, com uma rede coletora de 19.548 metros de extenso (em PVC DN 150 400mm), cinco estaes elevatrias e cinco emissrios com extenso total de 3.586 metros.10

    O sistema de drenagem urbana apresenta problemas decorrentes da inadequada implantao e manuten-o. Apesar da existncia da rede coletora de esgoto, comum o morador ainda utilizar a drenagem urbana para a descarga do esgoto, sobretudo nas margens do Canal da Barra e nos demais cursos dgua.

    A equipe do Projeto Parque Estadual do Rio Vermelho coletou e analisou a gua do Canal da Barra. Os laudos laboratoriais apresentaram parmetros em desacordo com o estabelecido na Resoluo Conama n 357/2005. Foram analisados os seguintes parmetros: cloreto, coliformes totais e fecais, pH, amnia, entre outros. A anlise das amostras coletadas em trs pontos do canal revelou a presena de coliformes totais e fecais, o que evidencia o lanamento irregular de esgoto na gua. leos e graxas se fi zeram presentes no ponto de coleta prximo ponte (Centrinho da Barra), onde h restaurantes e fl uxo de embarcaes.

    9. Conforme o mdico Humberto, na vivencia clinica do posto de sade da Barra da Lagoa, h uma preocupao em consolidar a cultura de ateno primria. Semdo ele o mdico de famlia da comunidade, identifi ca alguns grupos de riscos, como hipertensos, diabticos, cardiopatas, portadores de transtornos mentais (depressivos), entre outros, todos considerados de alta e media prevalncia. Os dados obtidos dos agentes de saude, ainda consideram que no vero h a incidencia acentuada de parasitoses (bicho geogrfi co) e de dermatites por conta da contaminao das guas do mar e do Canal da Barra.10. Na mesma data foi inaugurada a estao de tratamento de esgoto localizada dentro dos limites do parque. Com capacidade para tratar 63 litros por segundo, a ETE composta basicamente por um reator anaerbio, seguido de tanque de aerao, decantador secundrio, canteiro de mineralizao e desinfeco. O efl uente lquido tratado aspergido em uma rea de aproximadamente 40 mil m2 localizada na unidade de conservao. Atualmente a ETE atende 1.357 unidades (residencial, comercial e industrial) de um total de 2.356 no est includa na rede a populao da Fortaleza (margem sul do canal), que mantm sistemas individuais inadequa-dos de tratamento do esgoto, e a populao estimada pelo projeto Porto da Barra. A estao foi projetada para atender um total de 20.035 habitantes, considerando a populao da alta temporada (9.842 habitantes) e a populao fi xa da baixa temporada (10.193 habitantes) (CASAN, 2009).

    Figuras 28 e 29: A equipe faz coleta de gua do Canal da Barra da Lagoa. Fotos: Gipedu, 2009.

  • 453. DIAGNSTICO DA REGIO

    O parmetro amnia apresentou-se elevado na rea por causa do manuseio frequente de pescados.11

    A gua que abastece a Barra da Lagoa vem da Lagoa do Peri, que faz parte do Sistema Costa Leste-Sul e o principal manancial superfi cial de gua potvel na Ilha. Com uma superfcie de 5km e um volume aproximado de 21,2 milhes de m, tambm a maior lagoa de gua doce do litoral catarinense. A ba-cia hidrogrfi ca da Lagoa do Peri localiza-se na parte sul da Ilha de Santa Catarina, na rea do Parque da Lagoa do Peri e tem uma rea de drenagem aproximada de 20,3 km2. A captao da gua feita atravs de uma barragem de elevao de nvel da lagoa e a vazo de abastecimento de 200 l/s. A capacidade do manancial, porm, est no seu limite e no possvel ampliar a demanda a partir dele. A estao de tratamento est localizada no Parque da Lagoa do Peri.12

    No mbito da sociedade civil, podemos depreender atravs das entrevistas que a ao das organizaes no-governamentais da localidade tem demonstrado uma capacidade de assimilao ainda incipiente dos riscos envolvidos no processo de expanso urbano-turstica da localidade. Os entrevistados revelaram, entretanto, preocupaes com a necessidade de revisar as expectativas de adensamento urbano da rea e manifestaram ainda preocupao com os problemas que afetam o parque, como a insegurana, a ausncia de saneamento e as difi culdades de uso da rea pela comunidade (ver fi gura 30). Eles tambm acentuaram a necessidade 11. As bactrias do grupo coliforme so indicadores de contaminao fecal. A concentrao dos coliformes funciona como indicador de existncia de microorganismos patognicos, que so responsveis pela transmisso de doenas tais como febre tifide, febre para-tifide, disenteria bacilar e clera. Os leos e as graxas so substncias orgnicas de origem mineral, vegetal ou animal geralmente so hidrocarbonetos, gorduras, steres, entre outros e raramente encontrados em guas naturais, vindo normalmente de despejos e resduos industriais, esgotos domsticos, efl uentes de restaurantes, ofi cinas mecnicas, postos de gasolina, estradas e vias pblicas. A pequena solubilidade dos leos e graxas um fator negativo no que se refere sua degradao em unidades de tratamento. A amnia uma substncia txica no persistente e no cumulativa e sua concentrao, que normalmente baixa, no causa nenhum dano fi siolgico a seres humanos e animais, mas grandes quantidades podem sufocar os peixes.12. A gua passa primeiramente pelo processo de coag