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Projeto Relatório técnico que contenha experiências internacionais e marco metodológico para o desenvolvimento de Planos de Saúde regionais e mapa de saúde e as recomendações para o desenvolvimento das diretrizes para a elaboração dos instrumentos no marco do decreto 7508 Produto REGIONALIZAÇÃO CHC – Consultoria e Gestão Novembro 2011

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Projeto Relatório técnico que contenha experiências internacionais e marco metodológico para o desenvolvimento de Planos de Saúde regionais e mapa de saúde e as recomendações para o desenvolvimento das diretrizes para a elaboração dos instrumentos no marco do decreto 7508

Produto REGIONALIZAÇÃO

CHC – Consultoria e Gestão Novembro 2011

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Índice 1

1. Introdução ................................................................... 3  

2. Objetivos ..................................................................... 3  

3. Metodologia ................................................................ 3  

4. A experiência de organização territorial sanitária de Catalunha ........................................................................ 4  

5. Recomendações de enfoque metodológico da planificação territorial para o Brasil ............................. 5  

5.1.Marco conceitual ...................................................................... 8  5.2. Definição de funções da região de saúde ............................ 8  5.3. Recomendação sobre Critérios para a definição territorial das regiões de saúde ..................................................................... 9  

6. Recomendações gerais para o desenvolvimento operativo ....................................................................... 10  

6.1. Processo de revisão da delimitação territorial das regiões de saúde ........................................................................................ 10  6.2. Desenvolvimento de capacidades de gestão a nível regional: liderança, equipes profissionais, instrumentos e espaços de colaboração interinstitucional ............................... 10  

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1. Introdução O desenvolvimento da Lei 8.080/90 e o Decreto 7.508 assinalam o âmbito regional como um espaço onde se implicarão de forma relevante os instrumentos de inovação sobre a organização do sistema de saúde no Brasil, como são o planejamento integrado, o Contrato de Ação Pública (COAP) e a configuração de redes assistenciais que favoreçam a coordenação dos serviços e uma atenção mais integral às pessoas. O presente trabalho pretende aportar elementos de referência e recomendações para o aprofundamento na regionalização sanitária. O conteúdo que se inclui a seguir parte da análise das propostas metodológicas sobre regionalização no Brasil, sobre a base de documentos e guias facilitados pelo Ministério e da interação com as equipes, entre os meses de setembro a novembro de 2011. Por outra parte, as recomendações metodológicas e operativas são fruto da própria experiência dos consultores no sistema de saúde de Catalunha e a reflexão sobre os aspectos críticos identificados.

2. Objetivos Os objetivos do presente relatório, para dar cumprimento aos componentes correspondentes do contrato adjudicado são os seguintes:

a) Revisar conceitos sobre regionalização e da experiência em Catalunha como referência de utilidade para o processo de planejamento e desenvolvimento de instrumentos de macro gestão a nível regional.

b) Definir funções que a região deve desenvolver (planejamento, contratação, organização da rede, interação com a cidadania).

c) Formular recomendações para a configuração das regiões de saúde no Brasil, desde a perspectiva metodológica e operativa.

3. Metodologia

A metodologia seguida para o primeiro objetivo deste relatório foi a análise documentária e descrição qualitativa da experiência de organização territorial sanitária de Catalunha. O segundo e terceiro objetivos foram abordados através da análise documentária das diretrizes propostas pelo Ministério e pontos críticos identificados nas reuniões e conferências de trabalho com a equipe de planejamento do Brasil.

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4. A experiência de organização territorial sanitária de Catalunha

A experiência de organização territorial sanitária de Catalunha decorre em paralelo ao desenvolvimento do planejamento sanitário, com uma trajetória de 30 anos de definição e revisão dos âmbitos territoriais, em função da evolução da própria sociedade e do desenvolvimento e inovação nos serviços de saúde. O território e o sistema de saúde sempre têm sido conceitos altamente vinculados em Catalunha, o primeiro antecedente é de princípios do século passado quando a Mancomunidad de Catalunha (organismo precursor à autonomia) encomendou o desenho do sistema sanitário sob o nome de regionalização hospitalaria. Durante os anos 30 o planejamento sanitário regional viveu um grande impulso e mostra disso é o cartaz propagandístico durante a Guerra Civil editado pelo governo catalão cujo conteúdo era a regionalização sanitária, reflexo do apreço popular sobre uma das principais conquistas sociais da época. O modelo sanitário catalão atual forjou-se a princípios dos anos 80, no momento de recuperação da democracia na Espanha e do desenvolvimento da autonomia que confluiu na criação do Parlamento de Catalunha e do Governo autônomo (Generalitat de Catalunha). Já no Mapa Sanitário de Catalunha de 1980, um dos conteúdos principais era a organização do território em 12 Áreas Sanitárias. Desde esse momento até a atualidade a organização territorial sanitária foi-se desenvolvendo e adaptando à realidade mutante. Atualmente a organização territorial sanitária conta com os seguintes níveis:

• Área Básica de Saúde. É o nível mais elementar de referência para a atenção primária, com a população atribuída a uma Equipe de Atenção Primária, com um tamanho médio de uns 20.000 habitantes.

• Setor Sanitário. Nível intermediário que abarca a maioria de serviços de proximidade (hospitais básicos, centros de saúde mental e sócio-sanitários).

• Região Sanitária. Agregação de setores sanitários que permitem dar cobertura praticamente à totalidade de serviços, exceto aos terciários que se organizam em referência ao conjunto do país.

A experiência acumulada permite extrair uma série de elementos de referência sobre o enfoque, a utilidade e os critérios de configuração das áreas territoriais desde o ponto de vista sanitário. O primeiro elemento a destacar é a evolução de um conceito inicial muito orientado para a gestão dos recursos para outro mais determinado pelas funcionalidades que devem ser dadas no espaço territorial. No primeiro caso os critérios dominantes são em relação ao volume e

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complexidade das decisões a tomar (enfoque de gestão desconcentração) e no segundo os critérios têm mais a ver com a população a servir. Quanto à utilidade da organização territorial sanitária –regionalização- em Catalunha podemos destacar os seguintes elementos:

• Base para o planejamento (população de referência, fluxos populacionais assistenciais). • Permite a organização dos serviços dirigidos à população de referência e as relações

entre os diferentes dispositivos. • Facilita o contato com a população e a prestação de contas. • Sustenta os espaços de participação.

5. Recomendações de enfoque metodológico da planificação territorial para o Brasil

Para a elaboração das presentes recomendações teve-se em conta, por um lado, os elementos de referência fruto da experiência no sistema de saúde de Catalunha e, por outro, a identificação dos elementos chave de definição e orientação estabelecidas no Brasil com base no recente desenvolvimento normativo e no trabalho de geração de indicações de processo por parte das equipes do próprio Ministério de Saúde do Brasil, com os quais têm sido possível interatuar. Neste sentido, antes de entrar nas recomendações propriamente ditas é conveniente apresentar resumidamente os aspectos principais do processo de regionalização já definidos e que constituem o marco de referência fundamental para guiar as iniciativas neste campo. A região é um dos elementos de mudança mais destacados no processo atual de transformação do SUS. De acordo com o Decreto nº 7.508, a Região de Saúde considera-se o espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infra-estrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde. O Decreto 7.508 também estabelece:

• As Regiões de Saúde serão instituídas pelo Estado, em articulação com os Municípios, respeitadas as diretrizes gerais pactuadas na Comissão Intergestores Tripartite (CIT).

• Poderão ser instituídas Regiões de Saúde interestaduais, compostas por Municípios

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limítrofes, por ato conjunto dos respectivos Estados em articulação com os Municípios.

• A instituição de Regiões de Saúde situadas em áreas de fronteira com outros países deverá respeitar as normas que regem as relações internacionais.

• Para ser instituída, a Região de Saúde deve conter, no mínimo, ações e serviços de:

atenção primária; urgência e emergência; atenção psicossocial; atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e vigilância em saúde.

• A instituição das Regiões de Saúde observará o cronograma pactuado nas Comissões

Intergestores.

• As Regiões de Saúde serão referência para as transferências de recursos entre os entes federativos.

• As Redes de Atenção à Saúde estarão compreendidas no âmbito de uma Região de

Saúde, ou de várias delas, em consonância com diretrizes pactuadas nas Comissões Intergestores.

• Os entes federativos definirão os seguintes elementos em relação às Regiões de Saúde:

o seus limites geográficos; o população usuária das ações e serviços; o rol de ações e serviços que serão ofertados; e o respectivas responsabilidades, critérios de acessibilidade e escala para

conformação dos serviços.

• As Comissões Intergestores pactuarão a organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados em redes de atenção à saúde, sendo: o a CIT, no âmbito da União, vinculada ao Ministério de Saúde para efeitos

administrativos e operacionais; o a CIB, no âmbito do Estado, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde para efeitos

administrativos e operacionais; e o a Comissão Intergestores Regional -CIR, no âmbito regional, vinculada à Secretaria

Estadual de Saúde para efeitos administrativos e operacionais, devendo observar as diretrizes da CIB.

• As Comissões Intergestores pactuarão:

o aspectos operacionais, financeiros e administrativos da gestão compartilhada do SUS, de acordo com a definição da política de saúde dos entes federativos, consubstanciada nos seus planos de saúde, aprovados pelos respectivos conselhos de saúde;

o diretrizes gerais sobre Regiões de Saúde, integração de limites geográficos,

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referência e contra-referência e demais aspectos vinculados à integração das ações e serviços de saúde entre os entes federativos;

o diretrizes de âmbito nacional, estadual, regional e interestadual, a respeito da organização das redes de atenção à saúde, principalmente no tocante à gestão institucional e à integração das ações e serviços dos entes federativos;

o responsabilidades dos entes federativos na Rede de Atenção à Saúde, de acordo com o seu porte demográfico e seu desenvolvimento econômico-financeiro, estabelecendo as responsabilidades individuais e as solidárias; e

o referências das regiões intra-estaduais e interestaduais de atenção à saúde para o atendimento da integralidade da assistência.

• Serão de competência exclusiva da CIT a pactuação:

o das diretrizes gerais para a composição da RENASES; o dos critérios para o planejamento integrado das ações e serviços de saúde da

Região de Saúde, em razão do compartilhamento da gestão; e o das diretrizes nacionais, do financiamento e das questões operacionais das Regiões

de Saúde situadas em fronteiras com outros países, respeitadas, em todos os casos, as normas que regem as relações internacionais.

No Quadro 1 resumem-se as diretrizes para a organização das regiões, emanadas do trabalho de desenho do processo realizado pelas equipes do Ministério de Saúde. Quadro 1. Diretrizes para a organização das Regiões de Saúde no SUS: 1. Instituir um processo de avaliação do funcionamento das atuais regiões de saúde. 2. Instituir a Região de Saúde como o espaço geográfico contínuo constituído por municípios

limítrofes, delimitados a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infra-estrutura de transportes compartilhados, de modo a imprimir uma unicidade ao território regional.

3. Constituir a Comissão Intergestores Regional (CIR) na Região de Saúde. 4. Observar as políticas de saúde, na organização e execução das ações e serviços de saúde

de atenção básica, vigilância em saúde, atenção psicossocial, urgência-emergência, atenção ambulatorial especializada e hospitalar, além de outros que venham a ser pactuados, que garantam o acesso resolutivo e em tempo oportuno.

5. Pactuar os fluxos assistenciais e reconhecer as necessidades econômicas, sociais e de saúde da população na região.

6. Reconhecer que a Região de Saúde, no que se refere à sua composição político-administrativa, é uma Região Intra-estadual, quando os municípios que a compõem são todos de um mesmo estado, ou Região Interestadual, quando os municípios que a compõem são de estados diferentes.

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5.1. Marco conceitual Território, população, saúde e serviços sanitários O território é importante no planejamento e gestão sanitária enquanto é no substrato dinâmico onde de produzem as relações entre a população, os serviços e os profissionais. Assim mesmo, é onde se expressam os determinantes sociais, econômicos e ambientais que afetam à população. Também a saúde mostra uma distribuição espacial, em correspondência com os determinantes de saúde e a ação dos serviços na atenção às pessoas e a população. Finalmente, as necessárias relações entre profissionais, entre centros e entre níveis assistenciais apóiam-se sobre um território compartilhado pela população de referência comum. Esta evidência empírica é a que explica a importância que tradicionalmente tem tido o território na organização sanitária. Regionalização administrativa contra áreas funcionais A regionalização administrativa, entendida como descentralização e desconcentração dos espaços políticos, geralmente obedece a fatores históricos e de equilíbrio de poder interinstitucional. A organização territorial sanitária precisa basear-se em critérios populacionais, de acessibilidade e de funcionamento dos serviços. Portanto, sua configuração baseia-se em uma concepção de áreas funcionais, definidas no sentido que a maioria de processos se resolva internamente. Esta concepção com frequência choca com a divisão territorial administrativa, mas o enfoque de áreas funcionais é o que tem potencial organizativo desde o ponto do serviço à população. Redes e articulação de serviços Finalmente, há que fazer referência à coordenação de serviços de forma que se garanta a continuidade assistencial e que os processos de atenção se desenvolvam nos âmbitos que possam aportar maior valor acrescentado em cada momento. Para a articulação de serviços e a conformação de redes assistenciais é necessário dispor de um território e população de referência. A regionalização, importante para a avaliação da equidade, ainda é mais importante como condicionante da articulação de serviços, da atenção integral das pessoas e da abordagem populacional desde a perspectiva da saúde pública. 5.2. Definição de funções da região de saúde Antes de entrar na discussão de critérios para a definição territorial das regiões de saúde é necessário identificar as funções que deverão ser desenvolvidas em nível de região de saúde. Estas funções estão influenciadas pelo meio político-administrativo e, com frequência,

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condicionadas pelas tensões internas das organizações e podem ser mutantes ao longo do tempo. As funções que na maioria das vezes se beneficiam de um esquema de regionalização, com determinados processos de direção e seguimento descentralizados, são as relacionadas com:

• Planificação • Definição de planos de atuação • Comunicação com a população • Avaliação.

5.3. Recomendação sobre Critérios para a definição territorial das regiões de saúde Com base na experiência, a identificação de funções e a orientação estratégica da regionalização no Brasil, propõem-se os seguintes critérios para a definição territorial das regiões de saúde: Volume de população, que permita uma alta resolução da maioria de processos assistenciais. Uma cifra aproximada poderia ser por volta de 500.000 habitantes. Dispersão e acessibilidade. A acessibilidade geográfica, na medida em que melhoram as vias de comunicação e avançam as tecnologias da informação, está deixando de ter valor como variável chave no planejamento. De todas as formas a extensão geográfica e a dispersão em determinadas zonas podem ser traduzidas em condicionantes do acesso e, portanto, pode seguir sendo um critério relevante na definição das regiões sanitárias. Características homogêneas que desenhem similitudes significativas e de probabilidade do estado de saúde da população que deva ser objeto de monitoramento. Outro critério a ter em conta, desde a concepção de área funcional, é a capital ou capitalidade que possam existir mais ou menos reconhecidas, em um território, bem como os fluxos entre centros observados. Finalmente, a relevância deste caso especial de municípios com um grande volume de população, excessivamente grandes como para ser factível, a colaboração e alianças entre centros. Neste caso, a região deveria subdividir-se em áreas funcionais que mantivessem relação entre si e com o conjunto da região.

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6. Recomendações gerais para o desenvolvimento operativo

6.1. Processo de revisão da delimitação territorial das regiões de saúde O redesenho das regiões de saúde, com funções chaves de transformação do sistema de saúde do Brasil que se sustentam no âmbito regional de acordo com o Decreto 7.508, conduze a conveniência de revisar a delimitação territorial das regiões para que se possam desenvolver as novas funções e facilitar a gestão da mudança organizativa (planejamento, financiamento e contratação fundamentalmente). No capitulo anterior tem-se proposto uma serie de critérios a ter em conta na definição territorial das regiões de saúde. Neste apartado se detalham as recomendações do processo operativo de revisão que consiste nas fases seguintes: 1. Descreves as funções que devem levar-se a cabo a nível regional (para poder explicar estas

de forma homogênea aos diferentes atores e territórios que estarão implicados). 2. Analisar o conjunto do território com base aos critérios citados no ponto 5.3 uma vez

acordados nas comissões que estabelece o Decreto 7.508. 3. Elaborar uma primeira proposta de revisão das delimitações. 4. Estudar as possíveis particularidades a nível local que possam identificar-se e que requeram

uma aproximação micro. 5. Consulta e informação publica da proposta de revisão da delimitação. 6. Valoração das apartações obtidas e formulação das proposta definitiva a submeter a

aprovação das comissões.

6.2. Desenvolvimento de capacidades de gestão a nível regional: liderança, equipes profissionais, instrumentos e espaços de colaboração interinstitucional Atualmente, a estrutura e capacidade efetiva das regiões de saúde é muito variada, com estados com tradição consolidada de trabalho no âmbito regional e outros com um desenvolvimento mais débil. Por outra parte as estruturas atuais são mais administrativas que gestoras. No processo de mudança iniciado, o âmbito regional joga um papel chave. Pelo tanto será muito importante gerar liderança a nível regional de forma que ajude a confluência de interesses entre instituições, com uma orientação clara dirigida a construção da rede de serviços de

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atenção as pessoas (cidadãos como proprietários do sistema) que aporta benefícios agregados de cara a população e repercute no funcionamento mais eficiente de cada uma das partes (municípios e organizações) Este processo de construção de identidade e liderança regional não é uma tarefa fácil e, sem duvida haverá resistências pelos próprios interesses e pressões que atualmente tem os atores e instituições que devem colaborar. Para poder visualiza o beneficio comum, a ganancia de eficiência e qualidade como resultado da colaboração, seria recomendável desenvolver intensivamente este processo em regiões selecionadas que rapidamente geram experiência de êxito e demonstração. Em quanto as equipes técnico-profissionais que devem estabelecer-se nas regiões, seria conveniente avaliar as capacidades dos atualmente existentes em quanto as novas funções encomendadas ao nível regional, que são mais de analises, gesta e de facilitação de relações entre atores, organizações e instituições. Ao mesmo tempo seria recomendável ensaiar nas regiões mais avançadas, com experiências de liderança demonstrativa como se indica no ponto anterior, formas de capacitação das equipes para poder assumir com êxito as novas funções. A estruturação concreta das equipes de cada região deveria ter um certo margem de adaptação as características da região (volume de população, dispersão geográfica, diversidade de provedores). O importante é clarificar as novas funções e identificar as necessidades de capacitação. Para o desenvolvimento das funções das regiões de saúde um instrumento importantíssimo é a informação agregada a nível regional, que permita identificar os aspetos críticos no território e fazer o seguimento dos progressos, imprescindível para a gestão da mudança. Por outra parte, ademais das ferramentas de quadro de mando para a gestão com as que haverá que contar, é fundamentalmente uma estratégia de rendição de contas de cara a população e os municípios para gerar consciência da melhora dos resultados e mitigas as resistências a mudança e superar as barreiras ao progresso. Finalmente, é estrategicamente importante vincular os espaços de colaboração interinstitucional as comissões que já estabelece o Decreto 7.508, para no diversificar a energia que requer a construção de espaços colaborativos e ter o amparo normativo necessário.

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Governança regioal no SUS CHC – Consultoria e Gestão Abril de 2014

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Índice

BREVE APRESENTAÇÃO 4

1. JUSTIFICATIVA DO PROJETO 6

2. OBJETIVOS DA INVESTIGAÇÃO 7

3. MARCO CONCEITUAL DA INVESTIGAÇÃO 8

3.1. Sobre o conceito de governança, características gerais 8

3.2. Níveis de qualidade e o caminho rumo a governança “inteligente” 10

3.3. A governança inteligente como processo dinâmico 10

3.4. Requisitos e Princípios genéricos, como base para o governo inteligente 12

3.5. A boa governança e a convivência de modelos 16

3.6. O contrato como peça articuladora desde uma perspectiva de governança 17

4. METODOLOGIA BÁSICA PARA O DESENVOLVIMENTO DA

INVESTIGAÇÃO 20

5. CALENDARIO GERAL DE DESENVOLVIMENTO DA

INVESTIGAÇÃO 22

6. OBSERVAÇÕES QUANTO AO DESENVOLVIMENTO DA

INVESTIGAÇÃO 23

7. DESCOBERTAS GERAIS DA INVESTIGAÇÃO 24

8. OBSERVAÇÕES GERAIS DERIVADAS DA INVESTIGAÇÃO 25

9. DIAGNÓSTICO DO PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO NO SUS

DESDE UMA ÓTICA DE GOVERNANÇA 27

10. ALGUMAS RECOMENDAÇÕES E LINHAS DE MELHORIA 37

10.1. Recomendações gerais de melhoria 37

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10.2. Compilação executiva de linhas de melhoria 38

10.3. Linhas de melhoria por âmbito de trabalho 39

10.3.1. O enfoque regional desde o município e o Estado 39

10.3.2. Políticas de profissionalização 40

10.3.3. De gestão econômica e financeira do sistema 41

10.3.4. Ferramentas – o desenvolvimento do COAP 42

10.3.5. Ferramentas: Planejamento e necessidades de saúde 42

10.3.6. Modelo de atenção, gestão e regulação 43

10.3.7. Conselhos de Saúde e participação cidadã 44

11. CENÁRIOS DE FUTURO 45

12. ALGUMAS CONCLUSÕES RELATIVAS AOS RESULTADOS DA

INVESTIGAÇÃO 47

ANEXO 1. GUIA PARA A ENTREVISTA A ATORES IMPLICADOS NA

INVESTIGAÇÃO 49

ANEXO 2. LISTADO DE MEMBROS QUE FORAM ENTREVISTADOS NA

INVESTIGAÇÃO 51

ANEXO 3. GUIA TEMÁTICO PARA O DESENVOLVIMENTO DE GRUPOS

FOCAIS 52

ANEXO 4. GRUPOS FOCAIS DESENVOLVIDOS 54

ANEXO 5. COMPARATIVO DE OBSERVAÇÕES DE DIAGNÓSTICO E

RECOMENDAÇÕES EMANADAS DOS GRUPOS FOCAIS 55

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Breve apresentação

Nas seguintes páginas deste documento, apresentam-se aqueles resultados mais relevantes, em

termos de diagnóstico e de linhas de reforma, obtidos depois da investigação correspondente ao

módulo de governo no projeto XXX. Neste sentido, este documento pretende ser uma síntese

dos aspectos considerados de relevância no período de investigação bem como aqueles de

maior impacto para o futuro do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. Portanto, ignoraram-se

parte dos materiais de trabalho empregados em algumas partes da investigação e cuja

contribuição, neste documento final, não foi valorizada como significativa ou cujo conteúdo possa

ser englobado ou assumido nas epígrafes que aqui se apresentam.

Cabe sublinhar que os conteúdos compreendidos no presente documento, e como está

detalhado no item da metodologia da investigação, foi fruto de um esforço conjunto entre o

Ministério de Saúde do Brasil e o Consorci de Salut i Social de Catalunya (CSC) que, através dos

recursos disponíveis, adaptaram e reajustaram os mecanismos de trabalho em função das

possíveis alterações que se sucederam durante a etapa que compreendeu a investigação para

que a consecução dos objetivos propostos resultasse factível e útil para as metas do projeto no

que se circunscreve a citada investigação e, em consequência, para os do Ministério de Saúde.

Assim mesmo, a pretensão geral deste documento é a de contribuir com conhecimento sobre a

realidade do SUS, desde uma ótica de governo e no marco do processo de regionalização que o

país experimenta, e como ferramenta através da qual impulsionar um processo de reflexão com

o intuito de propor, desenhar e, se for o caso, implementar vias de reforma para aqueles

problemas que, neste momento, afetam o SUS e podem comprometer seus resultados num

futuro a médio / longo prazo. Assim, as considerações que estão contidas nesta páginas não têm

outra intenção que a de pôr de manifesto a visão agregada proveniente dos atores participantes

na investigação e que se pode contemplar como suporte veiculador a partir do qual propor as

mencionadas linhas de reforma / solução anteriormente mencionadas. Isso não supõe que todas

as opiniões e perspectivas particulares de ditos atores tenham sido plasmadas neste documento

senão que se traçou um discurso através dos pontos nos que foi possível detectar um consenso

mais sólido sobre aquelas questões que, e tal e como se detalhará no marco conceitual da

investigação, foram englobadas sob a etiqueta de “governança”. Isso não supõe descartar a

detecção de pontos nos que se considerou apropriado realçar as discrepâncias em alguns dos

pontos / âmbitos temáticos por parte dos atores que tiveram parte na investigação.

Em resumo e desde a visão do CHC, este documento visualiza-se como mais uma etapa de um

processo dinâmico que, como objetivo principal, tem a pretensão de respaldar o Ministério da

Saúde do Brasil em suas funções de ente reitor do sistema de saúde e, portanto, o avanço

quanto à resolução de problemas e distorções ante os que se encontra no exercício diário de

suas funções e no marco de um processo de desdobramento caracterizado, entre outros

aspectos, pela aposta pela regionalização da saúde no país.

Sob esta visão nas seguintes páginas apresenta-se:

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Em primeiro lugar, um compendio daqueles fatores e dinâmicas considerados

fundamentais para justificar o desenvolvimento e a utilidade de uma investigação de

pretensões como a sugerida.

Em segundo lugar, detalham-se aqueles objetivos principais e específicos que esta

investigação almeja e que, de maneira agregada e como se antecipou, podem se

agregar enunciando que a pretensão era a de dispor de conhecimento proveniente, por

parte de atores relevantes do SUS, de fraquezas e recomendações de melhoria quanto

ao processo de regionalização do sistema e desde um prisma de governança.

Em terceiro lugar e como peça orientadora da investigação e de sua metodologia, se

detalham os parâmetros sob os que se pode visualizar o conceito de governo e seus

envolvimentos no terreno da saúde, enfatizando as relações / vínculos entre atores do

sistema como premissa fundamental e a importância dos mecanismos (normas, regras,

procedimentos…) para a implementação dos mesmos.

Em quarto lugar, detalha-se a metodologia básica empregada para o desenvolvimento

da investigação e que, essencialmente, se baseou numa proposta de caráter qualitativo

através da posta em marcha de grupos focais, com representantes de atores do

sistema, e na realização de entrevistas semi-estruturadas a atores / representantes de

atores do sistema.

Em quinto lugar, detalha-se o calendário aproximado sobre o que foi levado a cabo na

investigação, indicando a duração de suas principais etapas; junto a isso e em sexto

lugar, se antecipam um conjunto de observações gerais originadas da aplicação da

metodologia indicada e que servem de referência para a leitura das descobertas,

observações gerais e observações de diagnóstico que são apresentadas nos itens 7, 8

e 9 deste documento.

O nono e décimo itens, apresentam as principais observações de diagnóstico e as linhas

de melhora / recomendações derivadas do desenvolvimento da investigação e

estruturadas em blocos temáticos.

Finalmente e por um lado, em décimo primeiro lugar, o documento conclui-se com uma

breve resenha sobre possíveis cenários de futuro que correlacionam os efeitos do

diagnóstico formulado com a possível aplicação das recomendações indicadas; por

outro e em décimo segundo lugar, se incluem uma série de conclusões a modo de

fechamento da investigação e para completar a compreensão dos conteúdos situados

nos itens nas seções precedentes.

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1. Justificativa do projeto

De acordo ao que foi sublinhado anteriormente e à margem do que supõe o estrito cumprimento

dos objetivos do componente, pode-se apontar alguns fatores que apoiam o desenvolvimento de

uma investigação como a aqui proposta; entre eles:

O fato de que o Sistema Único de Saúde cumpriu 25 anos desde sua criação e posta em

marcha; à margem dos avanços e logros conseguidos, parece um momento plausível

para valorar a intensidade de ditos avanços, bem como as distorções e dificuldades que

impedem ou impediram que estes sejam maiores e mais profundos. Neste sentido, pode

considerar-se como um momento apropriado para valorizar a maturidade de alguns dos

aspectos chave do sistema, desde uma perspectiva de governo e determinar se é

necessário alterar parte destes aspectos e quais são as possibilidades para torná-lo

possível.

Neste sentido, pode-se fazer referência a um sólido consenso (com base na opinião de

especialistas e nas contribuições da literatura especializada…) em relação à maturidade

de alguns aspectos chave do SUS e entre os que se incluem os relativos a sua

governança. Neste sentido, com certeza o SUS seguirá colhendo progressos, mas o

impacto dos mesmos será limitado em novos aportes e dependendo unicamente da

inércia dos elementos atuais.

Portanto, é necessário extrair conhecimento destas fortalezas para combater as fraquezas

atuais e, para isso, é necessário um esforço conjunto entre todos os atores implicados no

processo.

Junto ao indicado, a conjuntura atual pode ser interpretada como o início de una nova

etapa no SUS que requer reflexão. Entre outros aspectos porque:

- O surgimento do Decreto 7508 em 2011 supõe assimilar e desenvolver novas pautas

e instrumentos no SUS que, direta ou indiretamente, incidem em aspectos vinculados

com a governança.

- Entre estes aspectos: fórmulas de estabelecimento de metas e assunção de

responsabilidades, mecanismos de relação entre atores ou a institucionalização de

instâncias para a tomada de decisões

- Em parte, aspectos que já existiam e que se formalizam com dito Decreto. Uma

reflexão que pode ser aplicada ao processo de regionalização pela qual o SUS

atravessa neste momento: um processo que, apesar de que se intensifica na

atualidade, tem seu arraigo nas origens do sistema e que, desde o governo bem

como desde outras óticas vinculadas, supõe avaliar os desafios aos quais se

enfrenta e as possíveis estratégias de futuro para superá-los.

De maneira geral e de acordo ao indicado nos pontos anteriores, pode resultar valioso

para o Ministério de Saúde, como ente reitor do sistema, dispor de maior conhecimento,

de novos enfoques ou de propostas alternativas aos disponíveis atualmente para

conduzir o processo de maneira eficiente e para garantir o cumprimento dos objetivos do

sistema.

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2. Objetivos da investigação

Entre os objetivos que a investigação planejava, destacam-se:

Objetivo 1: Estabelecer um diagnóstico sobre o processo de regionalização no Sistema

Único de Saúde desde a perspectiva da governança

- Objetivo 1.1: Detectar fraquezas que devem ser corrigidas no processo e fortalezas

para serem consolidadas (em termos de mecanismos, ferramentas, vínculos entre

atores, entre outros aspéctos).

- Objetivo 1.2: Obter o conhecimento de atores estratégicos do sistema sobre as

fraquezas e fortalezas mencionadas

Objetivo 2: A partir dos resultados obtidos na tarefa de análise / diagnóstico, estabelecer

recomendações / linhas de melhoria a partir das quais contribuir para solucionar as

dificuldades detectadas e potenciar as fortalezas com as quais o processo conta. Deste

modo:

- Objetivo 2.1: Sugerir ações / dinâmicas consideradas adequadas aos tomadores de

decisões do sistema

- Objetivo 2.2: Contribuir na construção de cenários de futuro nos quais possa ser

contemplada a incidência das dinâmicas propostas bem como sua omissão.

- Objetivo 2.3: Fomentar a reflexão a respeito destas dinâmicas e cenários com os

atores relevantes do setor.

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3. Marco conceitual da investigação

Levar a cabo um projeto / componente de investigação centrado no processo de governo supôs

estabelecer uma reflexão e consenso sobre o conceito de governo e seus elementos essenciais

para poder aplicar à investigação. A continuação, se desdobram os principais aspéctos

referentes a esta tarefa que se realizou com o Ministério da Saúde através da conceitualização

proposta pelo CHC. Ao respeito, cabe apontar que:

3.1. Sobre o conceito de governança, características gerais

O CSC considera que a etiqueta “governança” designa um processo que:

Adquiriu uma notável relevância durante os últimos anos; especialmente pelo fato de que

o termo transcendeu, basicamente, do âmbito acadêmico ao âmbito político e público.

Dito de outra maneira, passou de ser um termo de uso dimensionado, a um vocábulo de

uso generalizado.

Que apesar de ter sido generalizado recentemente, não pode ser considerado como um

conceito “novo”. De fato e conquanto restringido a certos âmbitos, as últimas décadas do

século XX contemplaram uma efervescência quanto à investigação dos envolvimentos do

governo e, em consequência, um significativo aumento no uso do termo.

Não obstante um crescente esforço ao respeito, carece de uma única acepção; os

diversos trabalhos e investigações, ao respeito, mais que contribuir para uma definição

única do governo tem provocado uma proliferação de visões e definições em função do

campo de ação e especialidade daqueles que o abordaram.

Não obstante e desde a perspectiva do CSC, é possível extrair elementos comuns destas

diversas visões e formular o que pode ser entendido como “governo” de um modo

genericamente acordado.

Deste modo, o CSC considera que, ao fazer-se menção à governança, está-se fazendo

referência a um processo baseado:

Na detecção (“mapeamento”) do conjunto de atores estratégicos que compõem uma

determinada malha sistémica / organizativa.

- Ao fazer referência a atores estratégicos, não se faz menção a todos os atores desta

malha senão àqueles que devido a certos fatores (faculdades / capacidades,

recursos…) podem desempenhar um papel crucial em dita malha.

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A análise do conjunto de regras do jogo” (normas, procedimentos, protocolos…) que

vinculam aos atores estratégicos e que, portanto, modulam e pautam sua conduta bem

como determinam sua interação.

- Estas regras podem ser formais (institucionalizadas) ou informais (não

institucionalizadas).

- Nas organizações / sistemas a incidência das regras informais pode ser igual ou

maior que as formais; no entanto, sua detecção resulta muito complexa.

- Em princípio e dadas as limitações mencionadas, no mínimo é necessário concentrar

nas regras / pautas formais que definem o SUS e seu desdobramento e, na medida

do possível constatar a possível incidência das informais quanto a avanços e

obstáculos do processo de regionalização.

Como consequência dos anteriores, pode ser compreendido o modo sob o qual se produz

a dinâmica de tomada de decisões nos sistemas / organizações, em geral e no SUS e

suas redes, em particular.

Figura 1. Esquema conceitual de governança: atores, regras de jogo e resultados

Fonte: Elaboração própria

Ator 1

Ator 2 Ator 3

Sistema

Sistema

Ator N

Regras do

jogo

Regras do

jogo

Regras do

jogo

Regras do

jogo

ResultadosResultados

sistemasistemaResultadosResultados

sistemasistema

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Como mostra o gráfico anterior, a inter-relação de um conjunto de atores, através de umas

pautas / regras de jogo, define o processo de tomada de decisões e, portanto, determina o

conjunto de resultados em dito sistema / organização.

3.2. Níveis de qualidade e o caminho rumo a governança “inteligente”

Desde um prisma tanto teórico como prático, uma das questões que, com respeito ao processo

de governança, pode resultar mais relevante é a adequação da composição de atores e regras

de uma determinada malha organizativa. De acordo ao anterior e na medida em que a

composição de regras e atores determina os resultados de uma determinada malha organizativa,

pode se fazer referência a:

Uma situação de governança de qualidade:

- Caracterizada por uma composição de atores e regras de jogo que facilitam a

consecução dos objetivos que, a priori, se propõe a organização / sistema, etc.

Entre outros aspectos, isso vai supor que os atores estratégicos sejam os mais

adequados para a tomada de decisões e que o conjunto de regras e

mecanismos que os vinculam se encontrem bem delimitados, sejam coerentes

entre si, eliminem a geração de incentivos perversos, entre outros aspectos.

Uma situação de governança de escassa qualidade na que:

- A composição de regras e atores, em lugar de facilitar a consecução dos objetivos

propostos, a entorpece.

Com frequência e em linhas gerais, ambas situações delimitam um leque / espectro de situações

que compreendem aquelas situações mais habituais; ou seja, em realidade, resulta pouco

frequente poder fazer referência a um cenário ótimo, em um extremo, ou ao mais prejudicial, por

outro extremo. Na maioria das situações podem acabar detectando-se pontos frágeis e fortalezas

relevantes; no entanto, o fato de que não proliferem casos que possam ser qualificados de

“ideais” não significa que não possam ser empregados para estabelecer os objetivos que

deveriam ser conseguidos. De uma maneira mais pragmática e durante os últimos anos, tem

começado a proliferar o uso da etiqueta “governança inteligente” para fazer menção a que os

esforços devem ser canalizados para obter a melhor composição possível de atores e regras, em

um momento determinado e em função dos objetivos que se proponham.

3.3. A governança inteligente como processo dinâmico

Neste sentido, do mesmo modo que os objetivos ou as malhas sistêmicas / organizativas, a

governança não é imutável. Ao contrário; na medida em que se considerou o governo como

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processo, este pode ser visualizado como uma sequência de etapas nas que, em função dos

resultados obtidos e dos objetivos que se persigam, pode implicar variações quanto à estrutura

de atores e regras.

Figura 2. A governança como processo dinâmico

Fonte: Elaboração própria

Como mostra a representação gráfica anterior:

Depois da avaliação a obtenção e a avaliação de resultados pode ser estabelecido um

balanço dos lucros colhidos por uma determinada configuração de atores e regras do

jogo; assim mesmo, ficam delimitados aqueles âmbitos nos quais é preciso seguir

avançando e, portanto, constituem aspirações de uma determinada estrutura organizativa.

Estes desafios são o quadro através do qual pode ser estabelecida uma reestruturação de

atores e um novo modelo de interação dos mesmos; ao respeito, as possibilidades são

variadas e com diferentes graus de complexidade:

- Entre aquelas aparentemente menos complexas, figuram:

A possibilidade de alterar a composição de atores sem variar as regras do jogo.

A possibilidade de modificar as regras do jogo sem variar a presença dos atores.

- Entre as aparentemente mais complexas cabe sublinhar aquelas situações que

suscitam:

Uma mudança tanto no que se refere ao número e tipologia de atores como ao

padrão de mecanismos, procedimentos e regras que marcam sua relação.

Ator 1

Ator 2 Ator 3

Sistema

(t=0)

Sistema

(t=0)

Ator N

Regras do

jogo

Regras do

jogo

Regras do

jogo

Regras do

jogo

Ator 1’

Ator 2’ Ator 3’

Sistema

(t=1)

Sistema

(t=1)

Ator N’

Regras do

Jogo’

Regras do

Jogo’

Regras do

Jogo’

Regras do

Jogo’

Balance

resultados

Introdução

medidas

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Cabe considerar que a consecução de novos esquemas / estruturas de governo pode estar

sujeitas à influência de distorções diversas. Entre elas, uma das mais relevantes arraiga no fato

de que os mesmos atores que configuram o sistema / organização são os que acabam tomando

as decisões principais que o afetam; neste sentido, isso pode ocasionar que, ante o desenho de

novas regras de jogo ou a inclusão / exclusão, de atores possa influir, mais que a consecução

dos objetivos gerais e coletivos, o alcance de objetivos individuais / particulares. Ante esta

possibilidade, a configuração de novos esquemas / estruturas de governo deveria reduzir /

eliminar este tipo de cenários.

3.4. Requisitos e Princípios genéricos, como base para o governo inteligente

Como se mencionou anteriormente, o trânsito para a governança inteligente supõe estabelecer

arranjos”, em termos de atores e regras que variarão em função dos objetivos e das

circunstâncias. Isso não supõe fazer referência a um processo de mudança contínuo nem obviar

o fato de que podem ser propostas certas diretrizes que deveriam ser situadas na base de

qualquer modelização que aspire à consecução de um governo de qualidade.

Entre elas, pode-se fazer referência a:

Requisitos para a obtenção de uma governança de qualidade:

- A cooperação entre atores. Alcançar níveis de bom governo em uma determinada

malha organizativa exige a cooperação, coordenação e corresponsabilização entre

os atores que o integram, de maneira que as relações internas se baseiem em

negociações entre iguais, baseadas na confiança e não em agendas ocultas. Deve-

se considerar que a natureza diversa dos atores de um sistema não pode nem deve

obstaculizar as decisões conjuntas que devam ser tomadas; ao invés, a diversidade

deve supor a demonstração de que cada um deles pode contribuir com recursos e

competências valiosas para o resto, de maneira que a atuação conjunta melhore o

desempenho de cada um dos atores individualmente.

Neste sentido, é necessário que se fomente a capacidade de aprendizagem

mútua nos diferentes atores, de maneira que visualizem os benefícios que

derivam da participação em uma determinada malha organizativa e aceitem os

princípios da cooperação e o benefício coletivo acima da competição e o

benefício individual (sem que eles deixem de existir).

Para tornar possível este nível de cooperação e compromisso, é necessário

estabelecer um quadro de confiança entre os atores que, de maneira

generalista, se baseará nos vínculos jurídicos de relação (contratos, convênios

ou acordos) e na transparência que podem contribuir com instrumentos como

sistemas de informação compartilhados.

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Uma maneira mais intangível de reforçar a confiança é criar espaços de

interação entre os atores que, habitualmente, retroalimentam as atitudes

positivas e a interdependência através do conhecimento mútuo e do intercâmbio

de conhecimentos e experiências. Outra das vias para gerar confiança entre os

atores é a utilização de alguma das múltiplas técnicas de negociação, mediação

e de construção de consensos existentes.

- Visão conjunta e valores compartidos: o êxito do governo de uma determinada

estrutura organizativa depende, em grande parte, de que se consiga criar uma

identidade de grupo entre os atores estratégicos, o que significa que compartilham a

visão e os valores desta estrutura. É fundamental compartilhar a ideia de para onde

deve avançar dita estrutura com uma visão conjunta do projeto, e que exista um

compromisso institucional de todas as organizações com os valores definidos.

Compartilhar valores supõe que os atores os utilizem como referência em suas ações

e como guia de conduta. Isso, em princípio, contribui com facilidades para a

consecução de objetivos comuns, o que em seu conjunto facilita a qualidade do

governo.

Neste sentido, cabe sublinhar a importância de conjuntar os valores particulares

de cada ator com os valores próprios da organização.

Dita conjunção pode-se fomentar mediante a reflexão conjunta para modificar

atitudes e melhorar o conhecimento e a relação entre os diferentes atores1.

- Liderança efetiva: Uma liderança clara é uma característica indispensável para a

consecução de um bom governo em qualquer organização / sistema já que são os

líderes os que legitimam a rede. Esta liderança interna é um elemento fundamental

para atingir níveis de bom governo já que atuar sob critérios de cooperação e

compartilhar valores requer uma verdadeira maturidade institucional por parte de

todos os atores e, muito provavelmente, se produzirão situações de crises e conflitos

que deverão ser gerenciados de maneira adequada. Os líderes proporcionam:

Rumo, impulso ou direção à organização, podem conseguir o envolvimento e o

compromisso de atores.

Mantêm um sistema fluído de comunicações interno e externo, elemento

essencial para o efetivo funcionamento da organização já que, como parte de

suas funções, deve persuadir a sua equipe, a seus competidores e ao resto de

atores relevantes que participem em dita organização.

Podem atuar como “agentes simplificadores”, já que reduzem a complexidade

graças a sua capacidade de tratar temas, problemas e conflitos de tal forma que

sejam assimiláveis pelo resto de atores.

1 Exemplos destes mecanismos são a socialização em atividades comuns, a criação de espaços participativos de

trabalho ou o desenvolvimento de comitês de avaliação entre duplas.

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Constituem referentes simbólicos para os membros integrantes da organização,

graças a sua virtude para “personalizar” identidades coletivas, e podem

gerenciar o conflito ou o esmaecimento de responsabilidades entre eles.

- Avaliação continuada do desempenho da malha organizativa. Uma malha

organizativa / sistêmica deve poder ser avaliada e auto avaliar-se para determinar,

até que ponto, os resultados obtidos em suas atuações se acercam aos esperados.

Poder desenvolver a avaliação do desempenho dependerá da disponibilidade de

instrumentos para valorizar a qualidade das decisões tomadas por cada um dos

atores da malha, por um lado, e dos resultados da malha, em seu conjunto, por outro.

Os resultados que se derivem dos processos de avaliação permitirão não só dispor

de conhecimento sobre os resultados conjuntos, como também dispor de insumos

através dos quais reformular as relações entre as partes e a criar sinergias entre

elas. Deste modo, se oferecerão orientações sobre resultados obtidos em base a

umas metas previstas e que estes sejam a base para o desenho de diretrizes e

novas metas a atingir em uma etapa futura. Para que este processo de avaliação

seja efetivo e, ao mesmo tempo, possa ser valorizado o desempenho dos atores e da

rede, é necessário que:

Os objetivos possam ser medidos. Neste sentido, planejamento e avaliação são

dois processos vinculados.

As ações que derivam do planejamento devem-se concretar com objetivos

avaliáveis e os resultados que se obtenham deles servirão para orientar as

correções necessárias para atingir as metas propostas.

Ter em conta que o objetivo último da avaliação é: a) saber se os objetivos

propostos foram alcançados; b) determinar aqueles aspectos que apresentam

disfunções e que, portanto, devem ser modificados; c) identificar aqueles

aspectos / tendências que provocam efeitos positivos e que, portanto devem ser

mantidos e se potenciar (prover mudanças também que conduzam a esta

consolidação).

Dispor de ferramentas que facilitem a obtenção da informação. Entre estas,

pode ser mencionado o desenho e implementação de um sistema de informação

integrado que: a) vincule todos os membros da rede da malha e seja realmente

usado por eles; b) supere a coexistência de subsistemas de informação entre

programas, projetos, direções (se houver). Entre as finalidades deste sistema

deveriam figurar as de recolher, sistematizar e processar informação para dispor

de conhecimento sobre se: a) o que se “produz” está de acordo à capacidade da

que se dispõe; b) o que se “produz” se corresponde às necessidades às que

deve responder.

Contemplar a informação derivada de indicadores referentes a processos e

resultados bem como do cumprimento das obrigações e pactos dos atores que

constituem a malha; neste sentido, poderia falar de uma “avaliação de

desempenho organizacional”. Isto é, determinar se o desempenho da malha

organizativa está sujeito a problemas organizacionais - falta de racionalidade no

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comportamento de atores, escassa transparência e prestação de contas, entre

outros - que limitam a consecução de níveis de governo de qualidade e,

portanto, condicionam seus resultados.

- A difusão do conhecimento, como meio para a superação de desafios. A chave de

funcionamento do governo é saber organizar um espaço de interação baseado em

normas procedimentais e em atitudes dos atores que retroalimentem a confiança na

interdependência através do intercâmbio de conhecimento. Ao respeito:

O volume de conhecimento intercambiado dependerá dos resultados obtidos da

interação de vários elemento citados anteriormente.

Entre eles, as normas que regulam as condutas e comportamentos entre atores

ou a disponibilidade de sistemas de recopilação e processamento de

informação.

Em relação aos princípios e desde um ponto de vista normativo, a consecução de um

bom governo em uma malha organizativa / sistêmica, deve integrar um conjunto de

princípios que permitam garantir a consecução dos objetivos propostos. Na medida em

que o governo supõe a tomada de decisões em contextos complexos e mutáveis com

uma pluralidade de atores que representam interesses diferentes, os princípios de bom

governo têm que poder garantir que: a) participem todos os atores que devem participar e

assumindo o papel que lhe corresponda; b) os atores tenham as condições necessárias e

suficientes para poder tomar as decisões que lhes correspondam; c) possam tomar

decisões. Neste sentido, os princípios que, desde a perspectiva deste módulo, se

consideram fundamentais, e de plena aplicação para todos os atores que intervenham em

um modelo que aspira à consecução de um governo de qualidade, são os seguintes:

- Participação: os atores que ostentem interesses, recursos ou visões deverão poder

incorporar ao processo de tomada de decisões da rede de acordo com as normas e

pautas que, em cada momento, se estabeleçam2.

- Transparência: fomentar a transparência permite incrementar a legitimidade da

tomada de decisões na malha e permite que o princípio de prestação de contas,

quanto aos atores que tomam parte, se materialize.

- Prestação de contas: implica na possibilidade de supervisionar a atuação dos

atores da rede para evitar abusos e ineficiências.

A interação de uma pluralidade de atores dificulta a prestação de contas.

Neste sentido, cada ator será responsável e, por isso, deverá prestar contas

ante públicos diferentes através dos mecanismos que se implementem ao

respeito.

2 Na medida em que um conjunto de atores diferentes compartilham a responsabilidade de definir políticas e

regular e prover serviços em uma rede, também se incorporam à tomada de decisões de maneiras muito diferentes.

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- Eficácia: o dever atuar de forma eficaz tem, como consequência e desde a

perspectiva deste módulo, também a necessidade de atuar de forma eficiente.

- Coerência: segundo o qual os objetivos de uma determinada malha organizativa, e

sobre as que se veiculam os atores, devem ser consistentes e estar coordenados

para não produzir efeitos opostos aos que se perseguem.

3.5. A boa governança e a convivência de modelos

Habitualmente, as organizações vão evoluindo em seu modelo de governança (governança

inteligente), dependendo dos processos - sociais, institucionais e políticos - do meio e, em sua

evolução, atravessam diversas etapas caracterizadas pela progressão de um modelo a outro de

governo. Não existe consenso sobre qual modelo é o mais adequado para conseguir níveis de

bom governo em uma malha organizativa determinada. Desde estas páginas, considera-se,

como opção mais adequada para fomentar o bom governo de uma organização, uma

combinação equilibrada das bases essenciais dos modelos mais frequentes no que o governo se

refere; isto é, um “modelo misto” sustentado nas virtudes de cada um. Concretamente seriam:

O modelo burocrático: que propugna que o processo de tomada de decisões, o controle

interno e a interação dos atores que compõem a organização deve ser guiado pelas

regras de jogo baseadas na racionalidade e o respeito para as normas e procedimentos.

Deste modo:

- Obtém-se uma verdadeira capacidade para não se desviar excessivamente de um

conjunto de resultados previstos e desejados.

O modelo gerencialista: propugna a eficácia e a eficiência na tomada de decisões,

baseando-se na flexibilidade e no critério profissional. Dito modelo caracteriza-se,

ademais, por estabelecer a avaliação do desempenho com base em resultados, por ser

flexível e adaptável frente a diferentes meios. Deste modo obtém-se:

- Maior capacidade para ajustar-se a cenários mutáveis e complexos,

- Maior capacidade quanto à descentralização das decisões e o controle interno que

requer mecanismos de prestação de contas eficazes e transparentes.

O modelo estratégico: que propugna a tomada de decisões baseada nas necessidades

e expectativas dos atores estratégicos, analisando as ameaças e oportunidades externas

para determinar os objetivos a conseguir. Dito modelo caracteriza-se, ademais, por uma

definição prévia de critérios de decisão para a avaliação e o controle interno, o que lhe

proporciona:

- Uma grande capacidade para adaptar-se a meios complexos e basear a tomada de

decisões na análise estratégica que requer o uso de instrumentos de seguimento

estratégico adequados.

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Figura 3. O modelo misto, os requisitos e princípios para uma boa governança

Fonte: Elaboração própria

Conquanto as formulações deste item só supõem uma proposta de modelo teórico, podem

orientar a formulação de recomendações e sugestões para a superação de obstáculos

detectados e fomentar um equilíbrio entre a visão estratégica do sistema, a consecução de seus

objetivos e as pautas formuladas (normas, regulamentos…) para a vinculação dos atores que

devem se responsabilizar pela consecução de ditos objetivos.

3.6. O contrato como peça articuladora desde uma perspectiva de governança

O contrato, além de um instrumento jurídico, supõe um impulso para uma nova visão no terreno

da gestão e cuja essência arraiga na mudança de relações entre os atores do sistema. Neste

sentido, os propósitos gerais de um contrato são: coordenar as atividades das partes; distribuir

os frutos da cooperação e garantir que se cumpram os compromissos. Para atingir estes

propósitos, as partes estão obrigadas a adotar regras de comportamento combinadas de mútuo

acordo.

Cooperação

Visão conjunta

& Valores

compartidos

Liderança

efetiva

Avaliação

desempenho

Difusão do

conhecimento

RE

QU

ISIT

OS

Participação

Transparência

Prestação de

contas

Eficácia

Coerência

PR

INC

IPIO

S

Gerencial

Estratégico

Burocrático

MO

DE

LO

MIS

TO

BOA GOVERNANÇA

BOA GOVERNANÇA

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Desde os sistemas de atenção em saúde, em geral, e desde o SUS, em particular, vários

motivos sustentam o uso dos contratos: estimulam a descentralização da gestão, dando mais

responsabilidades aos gerentes locais; permitem um melhor controle sobre o desempenho

quantitativo e qualitativo dos prestadores de serviços de saúde; dão maior relevância ao

planejamento estratégico ao exigir um maior empenho para atingir os produtos / serviços

contratados; incentivam a criação e utilização dos sistemas de informação para a gestão;

fortalecem a transparência e o controle social quanto ao desempenho das instituições, entre

outros aspectos.

Os contratos, no marco da atenção em saúde, devem contemplar-se como um ciclo de

contratação que parte das necessidades de saúde que se expressam nos planos estratégicos; os

planos definem os serviços objeto do contrato e devem expressar-se em quantidades e com

níveis de qualidade. Depois dos compromissos estabelecidos entre os atores participantes, o

contrato deve ser monitorado e avaliado por um sistema de informação que emita relatórios de

gestão de acordo com as necessidades dos diferentes atores. O ciclo fecha-se e reinicia-se, ao

mesmo tempo, no momento em que a avaliação dos serviços prestados “realimenta” os planos

estratégicos de saúde e, por derivação, os próprios contratos.

A avaliação do contrato deve implicar um julgamento sobre: o conjunto de serviços prestados; o

emprego e o acesso dos usuários aos serviços contratados; a coordenação e a integração da

atenção em saúde prestada; a eficiência e a situação financeira dos prestadores de serviços; a

qualidade da atenção em saúde que tem sido prestada. Os contratos devem obedecer um ciclo

que se origina no plano estratégico que conduz a um contrato que deve ser monitorado e

avaliado.

Assim, os contratos devem conter um conjunto de cláusulas essenciais que façam referência à

definição dos produtos, à eleição da organização dos recursos, à coordenação em tempo e

espaço, ao sistema de garantias, ao sistema de monitoramento e avaliação, ao sistema de

pagamento e ao sistema de incentivos.

As partes devem definir os objetivos de sua aliança e os produtos que, a partir dela, se esperam:

os serviços que serão prestados a uma população determinada. Esta definição deve ser

realizada da forma mais precisa possível e através de indicadores quantitativos e qualitativos

bem como suas formas de medida e qualificação. Assim mesmo, a explicitação destes “produtos”

deve englobar indicadores de produção, de produtividade, de qualidade dos serviços e de

satisfação da população. As partes devem especificar que recursos serão empregados, por cada

uma delas, para atingir os objetivos do contrato e para definir como esses recursos serão

gerenciados.

Não basta definir os produtos e os meios de produção, também é preciso indicar em que lugar e

em que momento os produtos serão disponibilizados. Quanto ao estabelecimento de uma

situação de confiança, o sistema de garantias do contrato protege cada uma das partes do

possível comportamento oportunista da outra e deve ser entendido como uma forma de

dissuasão entre elas.

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Os produtos definidos e transformados em indicadores quantitativos e qualitativos devem ser

revisados com uma periodicidade determinada por controladores externos e internos e devem

estar sujeitos às normas jurídicas estabelecidas de comum acordo.

As formas de pagamento devem estar claramente definidas no contrato e podem ser realizadas

de diferentes maneiras. É fundamental que o sistema de pagamento esteja alinhado com os

objetivos planteados; ao respeito, o sistema de incentivos deve garantir o equilíbrio entre as

contribuições e as retribuições através de recompensas e penalizações, coerentes e claras, para

as duas partes.

Para que as relações contratuais funcionem adequadamente, são necessárias algumas

condições: a existência de uma cultura orientada aos resultados nas instituições; a clareza dos

objetivos do sistema de atenção em saúde e sua inserção no conteúdo do contrato; a existência

de sistemas de informação focados na gestão que permitam monitorar e avaliar os produtos

acordados no contrato; a disponibilidade de recursos humanos capacitados para gerenciar

contratos nas instituições implicadas; a autonomia de gestão dos prestadores de serviços deve

ser compatível com o alcance dos produtos contratados; a capacidade dos prestadores de

assumir riscos.

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4. Metodologia básica para o desenvolvimento da investigação

Junto à delimitação do conceito de governança e frente a poder operativizar a investigação, foi

pensada uma metodologia de trabalho, fundamentalmente qualitativa, que se pode detalhar do

seguinte modo:

Por um lado, uma metodologia geral, fundamentada:

- Na revisão da literatura vinculada ao desenvolvimento do sistema único de saúde

- No entendimento da produção acadêmica vinculada aos processos de governança,

fortalecimento institucional e governança

- Na análise de informação estatística (bases de dados, séries históricas...) e empírica

relativa ao desdobramento e resultados do Sistema Único de Saúde

- Revisão e análise vinculadas à construção e desdobramento do sistema único de

saúde do marco legal e normativo

- Sessões de trabalho entre os integrantes da equipe da empresa consultora e os

representantes dos departamentos / áreas participantes do sistema de saúde

vinculadas ao projeto

- Sessões internas de trabalho com a equipe da empresa consultora

Por outro, uma metodologia específica desenhada para o cumprimento dos objetivos da

investigação (condicionada aos recursos disponíveis), baseada:

- No desenho e aplicação de um guia temático (anexo 1) para a realização de

entrevistas a atores estratégicos e perfis chave dentro do Sistema Único de Saúde

(ver anexo 2):

Este roteiro foi estruturado com base num conjunto de âmbitos temáticos

considerados relevantes e em relação à governança regional, em particular, e do

SUS, em geral.

Foi o resultado de um esforço compartido e acordado entre a equipe de

consultoria do CHC e os representantes do Ministério de Saúde implicados na

investigação.

O objetivo de dispor deste roteiro foi canalizar o conhecimento e as opiniões dos

entrevistados rumo a um conjunto de pontos de reflexão comum.

Deste modo, se pretendeu dotar a execução da metodologia de uma maior

agilidade e obter uma maior eficiência quanto aos recursos disponíveis.

Dispor deste roteiro não supõe excluir pontos quanto ao diagnóstico e a

proposição de linhas de melhoria senão estabelecer uma priorização quanto à

importância histórica e conjuntural no desdobramento e consolidação do SUS.

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Mesmo assim, o guia serviu de base para unir visões diferentes (em função do

âmbito de responsabilidade no sistema) quanto à questão de governança

regional.

Propôs-se que a duração das entrevistas se situasse por volta dos 90 minutos

para poder obter uma informação suficiente e de qualidade para a consecução

dos objetivos da investigação. No entanto e devido a fatores diversos (constrição

nas agendas dos entrevistados, fundamentalmente) a duração das entrevistas

foi variando o que supôs, entre outros, uma abordagem mais profunda de temas

em detrimento de outros (sem que isso suponha expressar que sejam de menor

importância).

- Desenho e aplicação de um roteiro temático (Anexo 3) em grupos focais constituídos

por representantes de entidades / setores / âmbitos estratégicos no Sistema Único de

Saúde (Anexo 4). Ao respeito:

Foram levados a cabo três grupos focais: o primeiro deles composto por

Diretores do Ministério da Saúde; o segundo por assessores do CONASEMS;

finalmente, o terceiro, formado por membros do CONASS. Cabe assinalar que

não pôde ser desenvolvido um quarto grupo focal composto por membros do

Conselho Nacional de Saúde.

Estes grupos focais foram conduzidos pela equipe da empresa consultora com o

apoio do pessoal do Ministério da Saúde e de investigadores colaboradores

Apesar das variações (sujeitas à disponibilidade horária dos participantes), os

focus groups tiveram uma participação similar por grupos e uma duração

semelhante (situada entre 120 e 150 minutos).

- Processamento da informação obtida através da aplicação das técnicas

mencionadas entre os integrantes da equipe da empresa consultora, os

colaboradores que participaram nas mesmas e os representantes das áreas/

departamentos do sistema de saúde vinculadas ao projeto.

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5. Calendario geral de desenvolvimento da investigação

O desenho, implementação, processamento e apresentação de resultados da investigação

compreende um período de uma duração aproximada de doze meses (um ano) estruturados do

seguinte modo:

Março – Agosto ‘13: preparação preliminar do componente; foram levadas a cabo as

seguintes atividades:

- Enfoque metodológico

- Formulação estratégica

- Reflexão sobre ferramentas de implementação

Setembro – Outubro ‘13: consenso conceitual e ferramentas de trabalho; foram levadas a

cabo as seguintes tarefas:

- Desenvolvimento e aceitação do marco conceitual do componente

- Formulação definitiva de ferramentas de implementação (guia e focus groups)

- Sensibilização sobre o projeto a atores relevantes do setor

Outubro – Novembro ‘13: implementação das seguintes tarefas:

- Aplicação do guia de entrevista

- Realização de focus groups

Dezembro ‘13: Análise e processamento de dados com:

- Análise resultados derivados de entrevistas e focus groups

- Formulação de conclusões e possíveis recomendações de atuação

Janeiro ‘14 – Março ’14: apresentação e discussão de resultados. Junto aos

representantes do Ministério de Saúde, levaram-se a cabo as seguintes atividades:

- Apresentação e discussão dos resultados obtidos na investigação

- Revisão e formulação de ajustes aos resultados apresentados.

- Proposta de possíveis futuras linhas de trabalho para o aproveitamento dos

resultados obtidos na investigação.

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6. Observações quanto ao desenvolvimento da investigação

Em relação aos resultados que se apresentarão nas seguintes páginas, cabe indicar que:

Os conteúdos não constituem uma compilação de todas as reflexões surgidas na

aplicação da entrevista e a realização de focus groups.

Recolhem os pontos de consenso mais relevantes e diretrizes de reforma mais

significativas

Estas pretendem ser contribuições que conduzam ao debate e possam apoiar à futura

posta em marcha de iniciativas que levem a avanços em matéria de governança, em

particular, e do SUS em geral.

Os conteúdos deste documento não refletem necessariamente a visão ou a opinião da

empresa consultora.

O papel da empresa consultora é o de fomentar o debate, acompanhar na discussão e

dar contribuições posteriores quando for apropriado.

Em essência, pretende-se que os atores / cargos / representantes do SUS e

conhecedores de sua realidade, e através da interação / debate / discussão, possam

diagnosticar dificuldades e possíveis âmbitos e linhas de atuação.

Mesmo assim, neste documento, situam-se grandes linhas de atuação que, em todo caso,

deveriam ser operativizadas de um modo mais detalhado.

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7. Descobertas gerais da investigação

À margem dos conteúdos detalhados que serão apresentados nas seguintes páginas, o

desenvolvimento da investigação permitiu obter um conjunto de observações que poderiam se

classificar do seguinte modo:

Quanto aos problemas:

- em geral, os entrevistados possuem um conhecimento seguro (diagnóstico) dos

problemas do sistema único de saúde sob a perspectiva da governança

- existe um alinhamento significativo, ou seja, opiniões similares quanto à detecção de

problemas e distorções.

Quanto às linhas de melhoria e recomendações de atuação:

- os atores / agentes entrevistados apresentaram sugestões e possíveis iniciativas;

- entretanto, a convergência de opiniões não é tão acentuada.

Dessa forma, é salutar desenvolver a capacidade propositiva e o alinhamento das linhas de

ação, apesar das complexidades inerentes a este processo.

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8. Observações gerais derivadas da investigação

O processamento da informação obtida a partir de entrevistas e grupos focais, permite obter uma

série de observações gerais; fundamentalmente, são as seguintes:

As particularidades geográficas e sociodemográficas do Brasil (elevada cifra de

municípios heterogéneos, com baixa população e escassa densidade…) tem motivado

para que o processo de regionalização se converta em uma estratégia para:

- melhorar o acesso e a qualidade dos serviços à cidadania.

- melhorar o processo de gestão do sistema (ferramenta de gestão)

Efetivamente, menos de 7% dos municípios do país tem capacidade de resolução por si

mesmos:

- Este desequilíbrio é, em parte, resultado da mencionada heterogeneidade

sociodemográfica do país: convivem cidades com mais de 10 milhões de habitantes

com municípios de menos de 5.000.

- Este fato, acaba gerando efeitos perversos: excesso de demanda e,

consequentemente, um emprego de recursos muito significativo para atender aos

cidadãos provenientes de outras localizações.

- Uma situação que se vê agravada pelo fato de que o padrão de integralidade que o

SUS propõe ainda não foi plenamente delimitado.

Mesmo assim, através da opinião dos participantes na investigação, pode-se inferir que: o

processo atual pode ser contemplado como uma nova etapa das que o sistema leva

experimentando:

- Dito de outro modo, como uma nova fase de um processo gradual de

descentralização que se inicia com a posta em marcha do sistema

- No entanto, se considera que, desde a aparição da Constituição Federal, se está

tratando de regionalizar a assistência

- Efetivamente, o SUS institucionaliza o processo de regionalização no âmbito da

saúde

- Apesar das dificuldades, pode ser visualizada como um avanço positivo no que se

refere ao estabelecimento de responsabilidades em matéria de saúde.

- Assim mesmo e apesar do papel que tem tido no desdobramento do sistema, a

regionalização pode servir para avançar ante um processo de municipalização

aparentemente esgotado e no qual a autonomia municipal evidência sérias

limitações.

- Um esgotamento que responde também ao fato de que a dinâmica de

municipalização não foi sujeita a um planejamento rigoroso.

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Junto a estas considerações, cabe acrescentar que:

Este processo de regionalização se está produzindo no contexto do desdobramento de

um processo de descentralização de várias velocidades e que, em geral, não se viu

acompanhado nem das capacidades nem dos recursos para assumir as

responsabilidades que implicava.

A institucionalização do processo bem como seus resultados varia em função do território

de análise; em geral, pode-se fazer referência a um processo que deve amadurecer.

Isso não exime considerar que a política de saúde, em termos gerais, tem avançado

substancialmente, bem mais que outras políticas, e que, atualmente, o SUS supõe a

maior política de saúde do mundo.

Neste sentido, apesar de que a regionalização tem tido um processo latente desde os

inícios do SUS - entendida como um processo de reclassificação do espaço - e que o

processo de descentralização é um dos mais ambiciosos da esfera internacional, convém

valorizar adequadamente avanços e dificuldades.

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9. Diagnóstico do processo de regionalização no SUS desde uma ótica de governança

A partir do desenvolvimento de entrevistas e grupos focais, obtiveram-se uma série de reflexões

comuns que se podem desdobrar nos seguintes âmbitos temáticos:

9.0. Compêndio executivo de descobertas do diagnóstico

À margem das observações gerais apontadas e a modo de compilação orientativa, a tarefa de

diagnóstico, entre outros aspectos, permitiu desvelar que:

1. A situação do SUS, tanto a nível de governança regional como de outros aspectos, deve ter

em conta as particularidades e especificidades internas.

2. Em boa parte, as fraquezas que, em termos de governança, prejudica o SUS devem ao fato

de que se desenharam e foram desdobrados processos com uma visão homogênea que

choca com as diferenças internas que caracterizam o país.

3. Esta dinâmica foi transladada ao processo de regionalização que, como consequência

destas disparidades, apresenta balanços diferentes em função do marco geográfico de

referência.

4. Mesmo assim, pode fazer-se referência, de modo geral, a que o processo se viu

obstaculizado, à margem da disponibilidade de maiores recursos e capacidades, pela

ausência de uma compreensiva / Visão homogênea do mesmo.

5. Em parte uma de suas bases norteadoras, o Decreto 7508, tem estado sujeita a diversas

interpretações que tem implicado estratégias contraditórias motivadas pelas leituras

diferentes que se produziram no mesmo, bem como pela ambiguidade com a qual se

incorporaram algumas de suas peças chave.

6. Uma dessas peças foi o Contrato Organizativo de Ação Pública (COAP), que tem tido um

desenvolvimento muito localizado no país.

7. À margem da distorções apontadas, o avanço do processo de regionalização e a

implantação do COAP, viu-se limitada por deficiências nos instrumentos e ferramentas

básicas que devem reger o sistema como é o caso do processo de planejamento e avaliação

de resultados.

8. Um problema que se acentua no nível municipal e que se perpetua devido a dinâmicas como

a proliferação de normas e pautas que regem o sistema, gerando elevados níveis de

ambiguidade bem como custos de transação que incidem sobre a eficiência do sistema.

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9. Assim mesmo, a institucionalidade o processo de regionalização é ainda incipiente e carece

de meios e respaldos necessários para poder exercer as funções que lhes são atribuídas.

10. De maneira transversal, o sistema não só padece da falta de disponibilidade de recursos

mas também dos problemas para gerenciá-los. Isto não somente se deve a uma questão de

capacidade senão também da complexidade de circuitos e fluxo de recursos.

11. Também transversalmente, a inércia de mudanças que provocam os ciclos políticos tem

motivado que os avanços conseguidos não tenham podido ser mais intensos. Neste sentido,

a mudança política tem provocado interrupções em políticas e iniciativas setoriais e inclusive

seu desaparecimento.

12. Em boa parte, a origem das distorções atuais encontra-se nas bases do sistema e em

aspectos como a indeterminação de papéis e funções entre atores, a complexidade que

entranham alguns processos bem como seu entendimento ou os incentivos perversos que,

neste contexto se acabam gerando.

9.1. A visão sobre a regionalização

Em geral, pode fazer-se referência a um processo que tem várias “leituras” e perspectivas de

entendimento. Neste sentido, o processamento da informação obtida permite apontar que:

Junto ao mencionado em geral, pode-se notar uma certa falta de entendimento sobre o

processo e seus envolvimentos:

- Por exemplo, o cronograma de implantação vinculado ao processo de regionalização

parece pouco claro e isso pode desembocar em maiores dificuldades e inequidades.

- Junto a ele, os participantes afirmam que o processo carece de uma necessária

visão intersetorial (saúde vinculada a outros âmbitos de influência)

- Mesmo assim, ditos participantes apontam que não há um entendimento homogêneo

do processo de regionalização desde os outros três níveis do sistema; opinam que

entender o que realmente é e como deve ser constituída uma região resulta

fundamental para a boa marcha do processo.

- Alguns participantes e de acordo ao já dito, apontam que pode ser considerado que o

Decreto 7508, em lugar de fomentar a correlação de forças e entendimento, está

gerando o contrário.

- Neste sentido, é necessário considerar que podem acabar gerando “regiões

artificiais” (por questões administrativas / regulamentos e não por motivos relativos a

à área da saúde) perante aquelas reais (com fluxos já historicamente estabelecidos

ou quotidianos...)

Tendo em conta estas considerações, uma parte dos participantes afirma que poderia ser

dito que ainda se requer um “modelo” de desenvolvimento regional; apesar de que o

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processo pode ser histórico, a institucionalização do mesmo pode ser considerada como

“recente” e confluem vários aspectos (entre eles, o da saúde) que devem conjugar-se.

Assim mesmo e de acordo com a opinião dos participantes, o processo vê-se

condicionado por duas vertentes: uma política / estratégica e outra organizativa que não

tem decorrido simultaneamente. Segundo eles, a primeira não tem contribuído

suficientemente a consolidar a segunda (em termos, por exemplo, de relações

interfederativas) e que se encontra na base do processo de reforma do Estado.

9.2. Gestão e política no SUS

As relações entre o âmbito político e o da gestão foram um dos âmbitos nos que se centrou parte

relevante das considerações formuladas pelos participantes na investigação. Ao respeito e a

partir destas opiniões, pode indicar-se que:

Do mesmo modo que sucede em outros âmbitos fora e dentro do sistema, as mudanças

políticas provocam:

- Uma elevada rotação de pessoal e descontinuidade no processo de assentamento

de políticas.

- Neste sentido, pode fazer-se referência à “ruptura de pactos” motivada pelas

mudanças políticas

- Dificuldades para “prestar contas” ante pessoas que já não se encontram no sistema.

- A importância do “político” tem incrementado muito no SUS durante os últimos anos

e manifestou-se nas dificuldades que o sistema teve em anteriores etapas (NOAs,

NOBs…)

- Assim mesmo, em alguns casos, o exercício de funções políticas tem estado

correlacionado com baixos níveis de conhecimento em gestão em saúde.

- A relação entre gestores de partidos diferentes acaba tendo repercussões nos níveis

de qualidade na atenção

Junto a estes aspectos, de acordo à opinião dos participantes na investigação, pode indicar-se

que:

Ademais, os ciclos políticos não coincidem com os técnicos. À margem das mudanças e a

rotação, as iniciativas formuladas requerem um tempo de amadurecimento que, ao

mesmo tempo e paradoxalmente, se vê entravado pela rotação causada pelos próprios

ritmos e mudanças políticas.

Em parte, este processo de amadurecimento vê-se dificultado pela hiperinflação

normativa e a carga burocrática e administrativa que permeia todos os níveis do sistema

e complica enormemente a posta em marcha de qualquer processo.

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Simultaneamente, a escassa tradição negociadora entre gestores de partidos diferentes

incide nos ciclos de ruptura e descontinuidade.

9.3. O desenvolvimento do COAP e o Decreto 7508

Quanto ao desenvolvimento do COAP e seus vínculos com o Decreto 7508, os participantes na

investigação sublinharam que:

Decreto 7508, que leva emparelhado o COAP:

- Formaliza e enfatiza o que já existia previamente no marco normativo; concede

“estabilidade” jurídica – normativa ao processo de regionalização.

- À margem deste aspecto, o próprio Decreto não tem capacidade operativa e,

segundo alguns participantes, o próprio Decreto tem algumas lacunas normativas

como, por exemplo, falta de precisão quanto ao padrão de integralidade e situa

âmbitos essenciais como optativos.

Quanto ao COAP, os participantes na investigação enfatizaram que:

O COAP é visualizado como uma evolução do Pacto de 2006, com metas e indicadores

mas que, em essência, não deixa de ser somente um pacto.

Propôs-se um modelo único para todos que, ao que parece, não satisfaz as

particularidades dos diversos territórios do país:

- Assinalaram que o COAP é uma iniciativa federal e que não emerge das “bases” do

sistema.

Ainda existem dúvidas sobre aspectos essenciais do mesmo:

- Desconhece-se, em alguns casos, a que atores corresponde cumprir com as metas

especificadas no contrato.

- Metas / indicadores, em alguns casos, fazem parte do processo de monitoramento

rotineiro de programas ou do planejamento estratégico do Ministério; podem não

estar correlacionados com a realidade territorial; alguns indicadores relevantes (para

gestão e consecução de metas) são somente opcionais e não obrigatórios.

- Junto ao indicado, detalharam que está sujeito a “interpretações”; neste sentido, não

tem “força” necessária para gerar obrigações.

Efetivamente e para uma parte dos participantes na investigação, o COAP deveria ter sido

o ponto final do processo estipulado no Decreto 7508, mas pode-se dizer que situou-se ao

princípio e isso tem obstaculizado todo o demais. Desta forma, apontam que:

- Ao respeito e como ponto de início, o COAP, por si só, não gera governança;

contribui a sua melhoria.

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- Portanto, o contrato, sem outras iniciativas vinculadas, só terá um efeito limitado e,

possivelmente, efêmero.

- Pelo momento, a ausência de um maior desenvolvimento do COAP se vê afetada

pelas debilidades históricas que se arrastam desde o inicio do sistema.

- Por sua parte, o próprio COAP tem debilidades próprias como o fato de que alguns

indicadores relevantes (para gestão e consecução de metas) são somente opcionais

e não obrigatórios

Assim mesmo, manifestaram que existe a percepção quanto à presença de incentivos

perversos ligados ao processo; dito de outro modo, que apontam que existe a percepção

que o COAP foi empregado para obter maiores recursos sem uma maior articulação entre

atores e níveis. No entanto, enfatizaram que não existe evidência de que isto tenha

ocorrido nos Estados nos quais o COAP foi desenvolvido.

De fato, os participantes manifestaram que só em dois Estados (Ceará e Mato Grosso) o

COAP foi desenvolvido; ao respeito, enfatizaram que:

- Estas experiências são dispares com processos e peculiaridades próprias

- Em outros Estados, o COAP ainda está em fase de discussão.

- Detectam-se dificuldades em municípios e Estados para conseguir uma maior

adesão ao processo (em parte também o desenho do modelo federal e da autonomia

e independência que promove).

Ao respeito, indicaram que parece complexo extrair maiores conclusões em relação ao

COAP a partir de duas experiências disponíveis que possam apontar mais fatores de êxito

das experiências que a vontade / iniciativa política e a relação do Estado com os

municípios do território.

- Neste sentido e junto à constatação anterior, se afirma que o “timing” político

influenciou e influenciará sobre o desenvolvimento e posta em marcha do contrato.

De todos os modos e para os participantes, também é necessário enfatizar que o COAP

pode ser um passo necessário quanto ao processo de regionalização mas não é a

solução a todos os problemas; ademais, o COAP vai precisar de operadores com

capacidade para gerenciar recursos, desenvolver ações e monitorá-las, entre outros

aspectos.

Pelo momento, e de acordo com as opiniões vertidas durante o processo de participação,

a evidência disponível não resulta suficientemente sólida para mostrar que o COAP seja

uma ferramenta que gere eficiências significativas nos lugares nos quais foi implantado

nem que possa gerar em outras localizações.

9.4. Planejamento e conhecimento: uso e processamento de informação

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Em relação aos instrumentos e ferramentas nas que se sustenta o sistema, a opinião dos

participantes conduz a um conjunto de considerações comuns; entre as mais relevantes, pode

indicar-se que:

Os instrumentos e ferramentas do SUS não podem ser um fim em si mesmos. Para eles,

em alguns casos, e no terreno prático é o que está sucedendo. Para eles:

- Esta situação contribui com um excesso de normas regras e pautas bem como a

excessiva carga administrativa do sistema.

- Assim mesmo, o sistema gera incentivos perversos que “premeiam” a disponibilidade

dos Planos em lugar da sua elaboração

Os planos de Saúde municipais, em diversos casos, apresentam sérias fraquezas quanto

ao reflexo da realidade que tem que compreender; isso provoca:

- Diagnóstico errado de necessidades e recursos necessários

- Fluxo de recursos econômicos destinados a satisfazer necessidades inexistentes e

falta de recursos para responder perante necessidades reais

- Um efeito “contágio” no que se refere a efeitos sobre o resto do sistema

(“planejamento ascendente”).

- Como resultado, poderia fazer-se referência a um planejamento que acaba sendo

“descendente” e inconexo e no qual os planos nacionais não estão vinculados com

os estaduais e estes, por sua vez, desconectados dos municipais.

O planejamento não pode desligar-se da disponibilidade e uso da informação:

- Em diversos territórios do sistema, não se dispõem de meios e capacidades para

recopilar informação.

- Quando se dispõem deles, em diversas ocasiões não se processa e quando se

processa, não se realiza em relação aos autênticos objetivos e necessidades de

saúde

- Assim mesmo, a situação se agrava pela multiplicidade de sistemas de informação e

a escassa interoperabilidade entre eles.

- Em resumo, a informação disponível não resulta confiável.

Em definitiva, foi perpetuado um círculo vicioso no qual:

- Falta recursos e meios necessários para planificar.

- No entanto, o desenho do sistema exige um processo de planejamento para

canalizar recursos e fomentar as relações entre atores.

- As necessidades mal planificadas recebem recursos que não são os necessários

nem para enfrentá-las nem para solucionar seus mecanismos de detecção

Por outra parte, de acordo com a opinião dos participantes, pode enfatizar que as

fraquezas municipais, a nível de ferramentas e instrumentos, bem como a indefinição do

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papel do Estado em muitas ocasiões, traduzem-se em fraquezas a nível regional em

outros aspectos:

- Por exemplo, carece-se de modalidades e instrumentos que determinem em que

âmbitos os recursos devem ser localizados, aplicá-los e gerenciá-los na esfera

regional

Os desequilíbrios em oferta e capacidades provocam incentivos perversos (âmbitos

territoriais com maior disponibilidade estão colapsados por demanda proveniente de

zonas periféricas):

- Isso questiona alguns dos princípios básicos do sistema (solidariedade e equidade...)

e perpetua problemas atuais; por exemplo, a ausência de planejamento ante a

possibilidade de que os recursos vizinhos assumam a responsabilidade de responder

à demanda.

- Em conjunto, tudo isso não somente supõe a necessidade de reduzir estas

“perversidades” e planificar mais e melhor senão também de estabelecer uma

regulação do acesso a recursos para obter níveis de eficácia e eficiência quanto a

serviços; dita regulação é ainda um âmbito escassamente trabalhado e incipiente.

Por agora, o sistema não parece dispor de nenhum sistema realmente eficaz para

resolver dito problema.

9.5. Gestão econômico – financeira

No terreno da gestão económica e financeira, de maneira geral, a opinião dos participantes na

investigação, assinala a necessidade de dispor de um maior número de recursos ao mesmo

tempo em que requer um manejo mais eficiente dos mesmos. De um modo mais detalhado,

assinalaram que:

Pode-se fazer referência a una desconexão entre os mecanismos financeiros e as

políticas de saúde:

- Deste modo, concretaram que os recursos econômicos são necessários para passar

do SUS em papel / teórico ao SUS real

A presença de vários “blocos” vinculados ao financiamento gera elevados custos de

transação, confusão e desconcerto quanto ao seu manuseio e quanto aos fluxos dos

recursos.

Mesmo assim, a disponibilidade de recursos econômicos motiva que a relação entre os

três níveis do sistema gere desequilíbrios:

- Uma situação que não favorece os municípios, que acabam sendo dependentes dos

outros níveis

- O princípio de solidariedade e cooperação entre municípios e territórios circundantes

vê-se diminuída por questões como a econômica (os municípios com melhor dotação

de oferta de recursos podem ser vistos congestionados por excesso de demanda

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estrangeira e, com isso, prejudicar a disponibilidade de serviços e qualidade dos

mesmos ofertada a seus cidadãos).

- Nota-se que, enquanto municípios e estados assumiram gastos setoriais, o Ministério

da Saúde ficou isento desta dinâmica.

Como consequência de distorções como as assinaladas, a saúde acaba visualizando

como um bem a ser consumido e não como um direito que deve ser garantido.

Junto a estas observações, as opiniões dos entrevistados permitem acrescentar que:

O mesmo tratamento econômico para situações diferentes não soluciona os problemas

existentes (por exemplo, dispor das mesmas capitas para situações heterogêneas não

equilibra as diferenças regionais).

Ainda prevalece a lógica “vertical” quanto ao financiamento do SUS (com base na oferta e

na produção de serviços).

Todos estes problemas se intensificam em um contexto no qual, apesar dos avanços, se

expressa a necessidade de incrementar o nível de investimentos ante um crescimento

populacional acentuado (usuários do SUS); assim:

- Se afirma repetidamente que o SUS está subfinanciado.

- Quando existe este investimento, o modelo proposto não se considera plenamente

satisfatório nem para as diversas realidades do país nem para a heterogeneidade

das necessidades (por exemplo, no caso das UPAs; tem custos elevados, sua

distribuição não é ótima e se carece de pessoal necessário para seu correto

funcionamento).

Junto ao indicado, em diversos casos, põem-se de manifesto problemas de execução do

financiamento disponível devido a fatores como: ausência de conhecimento da realidade,

ferramentas de apoio às decisões frágeis, escasso envolvimento dos atores...

9.6. Conselhos de Saúde e mecanismos de participação cidadã

Em relação aos Conselhos de Saúde e aos mecanismos de participação cidadã, as observações

dos atores que tomaram parte na investigação apontou diversas dinâmicas negativas; entre as

mais reiteradas, se afirma:

A dinâmica dos Conselhos de Saúde está sujeita a várias distorções:

- Presença de interesses de grupo e corporativismo no funcionamento interno dos

Conselhos de Saúde. Deste modo, o espaço que corresponderia à cidadania está

ocupado por grupos de interesse; isso impede que a opinião e inquietudes da

cidadania se vejam corretamente refletidos.

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- Em várias ocasiões, os conselheiros tem desconhecimento dos assuntos tratados

(carecem de informação ao respeito, não foram capacitados adequadamente sobre

seus deveres e funções…)

Em geral, os meios dos que os Conselhos de Saúde dispõem são limitados:

- Em alguns casos, as infraestruturas não são as adequadas para o desenvolvimento

das funções que devem levar a cabo

- Carecem de recursos econômicos para compensar a tarefa não remunerada de

conselheiro (pagamento de deslocações, ausência do lugar de trabalho habitual…)

Estes fatores, entre outros e de acordo com os participantes, implica que os Conselhos

acabem sendo empregados para legitimar mais que para participar ou discutir propostas,

visões e diretrizes de gestores e profissionais.

Deste modo, os participantes apontaram que:

Poderia considerar que, atendendo ao mencionado, se foi produzindo uma progressiva

burocratização dos Conselhos de Saúde

Isso implica, em geral e de acordo com o indicado, que diversas instâncias do sistema

(CIBs, CIT...) não são permeáveis ao controle social

Por outra parte:

Desde a perspectiva regional, os atores participantes na investigação manifestaram que

não existe ainda um padrão estabelecido que permita incorporar os processos de

participação social apesar de que há propostas para o estabelecimento de Conselhos e

foros regionais destinados à incorporação da participação social.

Junto a estes aspectos, a dinâmica / estratégia de comunicação, sensibilização e

apropriação do SUS para os cidadãos parece estar sujeita a diversos problemas e não

pode ser qualificada de plenamente efetiva; como exemplos desta situação, foi

mencionado que:

- na população pode ser constatado um significativo desconhecimento quanto às

instâncias dos Conselhos de Saúde, suas atribuições e funcionamento, entre outros

aspectos.

- um dos eventos de maior repercussão e de encontro entre atores do sistema, as

Conferências de Saúde, decorrem por uma senda de custo elevado, organização

questionável e pouca eficácia quanto ao debate e a participação cidadã (as

resoluções se repetem e são geradas poucas novidades).

9.7. Institucionalização e regras de jogo:

As opiniões formuladas pelos entrevistados apontaram ao fato de que:

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Em geral, o SUS padece por ter uma estrutura arcaica e de “arranjos” frágeis há mais de

vinte anos.

Assim mesmo e no marco desta estrutura arcaica, produziu-se uma “robotização” /

“automação” dos processos (converteram-se em fins e não em meios)

No âmbito regional indicaram que:

Por exemplo e entre outros aspectos, em muitas regiões carece-se de CIRs e, quando

estas de detectam, faltam aspectos essenciais para seu funcionamento como: ausência

de câmeras técnicas ou baixa disponibilidade de pessoal tecnicamente qualificado. Assim

mesmo e como já foi indicado anteriormente, se mencionou o efeito gerado pela presença

de cargos com responsabilidade política mas com escassa experiência no entendimento

do âmbito da saúde.

Em geral e como resultado destes aspectos, as CIRs carecem da “autoridade” regional

necessária para levar adiante o processo e gerir os recursos do SUS a este nível.

De fato, uma parte relevante dos participantes na investigação apontou que uma

porcentagem elevada das pautas da CIR, responde a diretrizes provenientes da CIB e a

CIT e não a resultados derivados de processos como o planejamento regional

Em geral, provoca que as agendas destes espaços não se acabem centrando nos

problemas de saúde da região senão que se convertam em âmbitos nos que se

embaralham aspectos de caráter mais burocrático e “transladados” desde outros âmbitos.

Ligado ao anterior, acrescentaram que a capacidade das CIRs (bem como as das CIBs)

diminui na medida em que devem assumir responsabilidades que não lhes correspondem

e que lhes são transladadas desde outras instâncias

Este conjunto de observações e de acordo aos participantes, deve colocar-se no contexto de

relação entre os entes federados do sistema. Neste contexto:

Se requer seguir trabalhando para delimitar as responsabilidades da institucionalidade

municipal em um contexto no que, progressivamente, a região deve assumir

protagonismo.

Segue parecendo evidente a fragilidade do papel e atribuições do Estado no país apesar

do excesso normativo

Convivem três níveis federados dotados de autonomia mas cuja relação não é equilibrada

devido a diversos fatores (por exemplo, os econômicos)

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10. Algumas recomendações e linhas de melhoria

A partir de suas observações no item de diagnóstico, os entrevistados formularam um conjunto

de recomendações que se apresentam a continuação.

10.1. Recomendações gerais de melhoria

Em geral, os participantes na investigação coincidiram que:

As melhoras não podem depender, unicamente, de uma maior disponibilidade de recursos

(humanos, tecnológicos e financeiros). Assim:

- Indicaram que se deve perseguir a eficiência do sistema e, para isso, é preciso

melhoras na gestão, em todos os sentidos.

- Os recursos disponíveis permitem conseguir melhores resultados e os instrumentos

do sistema devem permitir (sob um melhor entendimento dos mesmos) melhoras em

termos de gestão.

Em geral, as estratégias de abordagem de problemas, não podem ser as mesmas para

todos os territórios devido às características próprias já mencionadas. De este modo:

- O Ministério de Saúde não pode seguir interpretando unicamente o país, em alguns

aspectos, como uma realidade homogênea.

- Portanto, são necessárias políticas específicas com enfoque regional

A abordagem da saúde deve ser intersetorial; pensar em saúde não significa reflexionar

de um modo isolado, e sim todo o contrário. Neste sentido, os participantes apontaram

que:

- É preciso implicar ao resto de setores que influem no da saúde e que, em grande

parte, desconhecem seus desafios, potencialidades e processos.

- Assim mesmo, a construção do processo deve ser sanitária (junto com a inter-relação

com os outros âmbitos) e não meramente administrativa

As linhas de melhoria, para poder ter o nível de êxito desejado, precisam da posta em

marcha de outras medidas vinculadas a outros âmbitos. Isto é, individualmente e de um

modo previsível, uma só medida terá um efeito muito limitado para solucionar problemas

que, em sua maioria, são multidimensionais.

Junto às anteriores considerações, acrescentaram que:

Entre outros aspectos, a hiperinflação administrativa do SUS e os custos de transação

que gera, encarecem e entorpecem a dinâmica de funcionamento do sistema; este

processo deve “deter-se” e “ajustar-se”.

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Em geral, o SUS requer refletir sobre si mesmo e seus fundamentos básicos: revisar as

bases conceituais do Sistema, potenciar o processo de reforma em saúde, repensar todos

os processos de trabalho no interior do Sistema modernizando tudo aquilo vinculado à

gestão

Pode ser necessário avaliar o marco sanitário legal através de ações como: avaliar

arranjo organizacional disposto na Constituição; que é anacrônico e parece dar sinais de

esgotamento; atualizar, reduzir e simplificar o marco normativo que rege o sistema,

sublinhando que é necessário deter a “fúria normativa”.

A saúde deve ser concebida como uma política de Estado e não como uma política de

governo; isso exige uma necessária mudança de mentalidade e visão por parte de todos

os atores envolvidos no processo. Esta mudança de mentalidade supõe que a abordagem

da saúde requer “mínimos” essenciais (em todos os sentidos) que não podem variar em

relação à conjuntura, prioridades ou circunstâncias momentâneas, entre outros aspectos:

isso supõe a assunção de responsabilidades, assunção de supervisão e controle, manter

uma atitude centrada na eficácia mas também na eficiência quanto a alcance de objetivos

e manejo de recursos.

10.2. Compilação executiva de linhas de melhoria

De um modo resumido – nas páginas seguintes, procede-se a um maior detalhe das mesmas –

as linhas de melhoria sugeridas pelos participantes na investigação podem expressar-se do

seguinte modo:

1. Será preciso intensificar a relação entre Estados e Municípios quanto ao processo de

regionalização: clarificando as funções tanto dos primeiros como dos segundos

2. A gestão do SUS deve profissionalizar-se; será necessário detectar vias e pautas que

permitam reduzir os efeitos nocivos que as mudanças e a alternância política tem sobre o

sistema.

3. O SUS vai requerer maiores recursos; no entanto, a disponibilidade de ditos recursos deve ir

acompanhada de uma maior eficiência e de fórmulas que permitam esclarecer e simplificar

os circuitos financeiros do sistema e gerar soluções flexíveis às particularidades territoriais.

4. A responsabilidade da gestão de recursos, em uma ótica regional, pode recair sobre

“arranjos organizativos” (consórcios, fundações) que permitam uma maior agilidade bem

como um vínculo de proximidade entre estados e municípios.

5. O COAP pode ser uma ferramenta valiosa para estruturar os compromissos, metas e

responsabilidades do sistema. O fato de que seu desenvolvimento, até a data, não tenha

sido mais intenso não supõe seu descarte senão que deve ser valorizado o incremento de

esforços para promover seu potencial.

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6. Será fundamental seguir melhorando os processos de planejamento. Para isso, se requer

melhoras na capacitação e na dotação de recursos. Por outro lado, é um aspecto que pode

ser visto muito potenciado através da profissionalização da gestão.

7. Governança, modelo de atenção e modelo de gestão não podem avançar

desvinculadamente, pelo contrário, a governança regional, e por fim a sistêmica, não atingirá

níveis de qualidade sem um modelo de atenção definido e fortalecido e sem uma gestão

sólida das redes de saúde no territorio.

8. Considerar novos arranjos normativos que respaldem o processo. Por exemplo, Lei de

Responsabilidade Sanitária que estipule responsabilidades e limites à margem de atuação

de gestores, a favor de uma boa gestão do sistema.

9. Tudo isso sem esquecer que é necessário “simplificar” normativamente o sistema. O

arcabouço jurídico do SUS o converte em um sistema complexo, confuso e ambíguo em

algumas ocasiões e que, ao mesmo tempo, deriva em incentivos perversos e elevados

custos de transação que travam sua eficiência.

10. O controle social e a participação cidadã, a todos os níveis, deve contar com os meios

necessários para o idôneo exercício de suas funções. Isso vai supor dotar dos recursos e

capacidades necessárias para isso.

11. Em boa parte, solucionar estes problemas vai requerer revisar as bases das fundações do

sistema (pacto federativo). A introdução de medidas sem a “revisão” das bases do sistema

pode ter um efeito limitado ou inclusive incrementar os problemas que o sistema já padece

(maior número de normas…). De fato, as relações entre os diferentes níveis do sistema é

uma questão que afeta não somente ao âmbito da saúde senão à maioria de âmbitos e

políticas públicas do país.

10.3. Linhas de melhoria por âmbito de trabalho

De acordo com as considerações e sugestões dos participantes na investigação e de maneira

detalhada em função das recomendações assinaladas na epígrafe anterior, as linhas de melhoria

poderiam ser sistematizadas da seguinte maneira:

10.3.1. O enfoque regional desde o município e o Estado

Segundo a opinião dos entrevistados:

O processo de regionalização deve prosseguir e intensificar-se já que, caso contrário, os

municípios chegariam / se manteriam em suas limitações atuais.

Isso não deve fazer esquecer que a saúde “ocorre / se operativiza” nos municípios e não

no Estado ou no nível federal.

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A disponibilidade de redes de saúde integradas vai requerer vários elementos –

planejamento municipal e regional fortalecidos, modelo de gestão...; entre eles: dispor de

uma atenção básica sólida e resolutiva, de responsabilidade municipal.

Isso vai requerer, ao mesmo tempo, resolver os problemas de acesso e manejo deste

acesso (regulação) que sejam capazes de atuar sobre as diversas realidades do país

(recursos, densidade populacional, etc.) e articular os diversos municípios.

Isso também vai exigir um esforço focado a obter uma maior precisão quanto ao papel do

Estado no processo de regionalização.

O papel do Estado não pode ser desvinculado do papel e das funções que devem ser

assumidas desde o município; entre as propostas:

- Que o Estado coordena, dirija e lidere o processo de regionalização, a conformação

de redes...

- Com o apoio dos Estados, os municípios devem identificar oferta, necessidades e

estabelecer projeções quanto a saúde, entre outros aspectos…

Prova dos baixos níveis de articulação, entre uns e outros, é o nível de desenvolvimento

que o COAP tem tido

Esta articulação deve ser focada, definitivamente, sob um enfoque cooperativo e não

competitivo; tanto municípios como Estados devem abandonar sua “lógica particular” e

trabalhar conjuntamente para que as regiões sejam “reais” (outorguem equidade, acesso,

universalidade) e não só um constructo burocrático

Neste sentido, o Estado deve respaldar o labor municipal em uma situação na que, muitos

deles, estão nos limites de sua capacidade

10.3.2. Políticas de profissionalização

De acordo aos entrevistados:

Um dos mecanismos para dar estabilidade ao SUS é reduzir a elevada rotação através da

profissionalização da gestão:

- Uma profissionalização que não pode ir desassociada de um programa formativo

vinculado aos aspectos de gestão do SUS

- Assim mesmo, devem ser promovidas estratégias de sensibilização quanto à gestão

do SUS (cargos políticos...na medida em que, muitas vezes, não dispõem de

capacidade técnica para tomar decisões relevantes para o sistema)

- Em geral, deve-se procurar mecanismos que permitam “despolitizar” ao SUS e evitar

que possa ser convertido em um mecanismo de contenda eleitoral.

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- Desde o âmbito regional, uma opção pode ser dispor de uma instância,

instrumentada legalmente, para velar pela estabilidade que, no setor, possa ser visto

alterada pelas mudanças políticas.

10.3.3. De gestão econômica e financeira do sistema

Quanto à gestão econômica e financeira do sistema, os entrevistados apontam que:

Para que o SUS se converta em uma política de Estado, strictu sensu, se necessita um

conjunto de recursos estáveis que não estejam sujeitos a vaivéns conjunturais.

A garantia destes recursos não pode supor desvincular de uma gestão eficiente dos

recursos.

Desde uma ótica econômica, uma melhor gestão permite, junto ao possível incremento de

recursos, tirar partido do volume de “recurso ocioso”, que o SUS tem atualmente.

Os consórcios intermunicipais (e outras fórmulas – Fundações... – baseadas em arranjos

infraconstitucionais) podem ser convertidos, ao interior das regiões, em alternativas

sólidas para a gestão eficaz e eficiente do sistema e para avançar na provisão de

serviços:

- Como possibilidade, estas fórmulas poderiam ser incluídas no COAP como um

apartado vinculado à obtenção de financiamento e a assunção de responsabilidades

- Podem ser constituídos, ao mesmo tempo, como mecanismos através dos quais

canalizar recursos para as regiões e suas instituições (CIRs)

No terreno econômico, deve ser compatibilizada a compensação de recursos com a

autonomia (e a conseguinte responsabilidade) na despesa.

Em geral e ante as fraquezas do processo de financiamento burocrático, deve ser

avançado para a instauração de “novos formatos” e aproveitando as possibilidades e

ferramentas das quais o próprio SUS dispõe:

- A diversidade do país deve ter um reflexo na abordagem econômica e financeira do

SUS.

- A diferentes situações, devem gerar mecanismos que permitam passar da teoria à

práxis.

Tudo isso em um marco de simplificação dos “arranjos financeiros” (por exemplo,

passando de “blocos” de financiamento a um único “bloco” e com autonomia para seu

manuseio).

Desde a ótica financeira, bem como nas restantes abordadas nesta investigação, requer

políticas econômicas com um enfoque regional específico:

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- De acordo às fraquezas mencionadas, a pauta para solucionar os problemas de

localização e uso de recursos municipais, deve ser regional; neste aspecto, deve ser

intensificado o processo de discussão e operativização de ações.

Conquanto é verdadeiro que se padece de fraquezas quanto a capacidade financeira e de

gestão, o SUS dispõe de um modelo e pode ser que ainda seja cedo para estabelecer

valorações, tal e como se expressa desde alguns setores

10.3.4. Ferramentas – o desenvolvimento do COAP

Para isso, apesar do mencionado e de acordo com os participantes na investigação, o

COAP pode ser uma ferramenta de grande importância. Mais concretamente:

- O COAP vai precisar de ciclos políticos para “amadurecer” e consolidar-se; onde teve

lugar, o processo tem ocorrido com “uma velocidade” que não pode ser a mesma em

todos os lugares do país.

- A capacidade e vontade política vão ser essenciais para sua posta em marcha.

- Junto ao indicado, vai ser necessário analisar a experiência daqueles Estados que

tem posto em marcha os COAP e determinar pontos fortes e frágeis, extraindo lições

aprendidas que possam ser de utilidade para o resto do país.

- Devem gerar estratégias de “aproximação” destas experiências a outros Estados

(políticas de sensibilização...)

- O sistema precisa de racionalidade em seu funcionamento e o COAP é uma

ferramenta que pode contribuir para isso.

- No entanto e na medida em que o COAP arrasta parte das fraquezas históricas do

SUS, e que já se manifestaram em etapas anteriores de desdobramento do sistema

(NOAs...), para aumentar seu efeito requererá melhoras em outros âmbitos do

sistema.

- Deste modo, devem considerar as lições aprendidas em outras etapas de

desenvolvimento do sistema e nas que experimentaram dificuldades.

- Junto ao mencionado, o COAP não deve ser um modelo idêntico a implantar nos

diferentes territórios; deverá ser adaptado às realidades e necessidades locais para

ser efetivo.

10.3.5. Ferramentas: Planejamento e necessidades de saúde

De acordo com os atores participantes na investigação:

O processo de planejamento deve contar com uma perspectiva regional e uma visão de

rede e estar dotado dos recursos necessários para que esta seja rigorosa:

- À margem dos recursos necessários (tecnológico e econômicos), é necessário

investir na capacidade do recurso humano (profissionalizando a gestão em saúde ou

fomentando a geração de capacidades entre estamentos não profissionais).

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Deve estabelecer-se um circuito continuo e rigoroso de planejamento, execução e

avaliação:

- Isso implica fortalecer os vínculos e a conexão entre os relatórios de gestão e os

planos de saúde

Existem iniciativas destacadas de capacitação a gestores e pessoal técnico que devem

ser intensificados e podem servir de referência para âmbitos territoriais que ainda não as

implementaram.

Uma das alternativas, neste cenário, passa por construir uma “agenda regional” com os

prefeitos apropriados, frente ao planejamento de necessidades, em particular.

Em geral e para todo o país, estes aspectos incidem na necessidade de aprofundar no

debate sobre o modelo de desenvolvimento regional.

Assim mesmo, melhorar o entendimento das diretrizes que procedem do Ministério da

Saúde e que, em diversas ocasiões, resultam confusas e sem indicadores claros para a

implantação e o seguimento. Assim mesmo, o Ministério deve incidir em seu papel de

ente reitor, condutor e simplificador do processo de reforma.

10.3.6. Modelo de atenção, gestão e regulação

Os participantes enfatizaram, neste âmbito, que:

A governança do sistema não pode ser separada do processo de fortalecimento do

modelo de atenção nem do modelo de gestão:

- As dificuldades em ditos modelos ainda não se percebem como problemas que

afetam o funcionamento e a dinâmica de o sistema

- Deve ser estabelecida uma transição desde um modelo baseado na oferta a um

baseado na demanda / necessidades de saúde e que, frente às estratégias curativas

/ reativa, se base na implementação de estratégias preventivas

- A dimensão da região deve ir aparelhada à capacidade para construir e pôr em

marcha redes de atenção

O desenho e a posta em marcha de redes de atenção, em nenhum caso pode ser

desvinculado das melhoras em termos de regulação:

- Sem regulação de acesso, será extremamente complexo conseguir maiores níveis de

eficácia e eficiência quanto ao uso de recursos dos que dispõe o sistema.

- Para fomentar uma melhor regulação, se requer transparência, disseminação da

informação e integração de conhecimento disponível; para isso é necessário

aprofundar na melhoria da coletiva, processamento e disseminação da informação

vinculada à cada âmbito territorial.

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- Assim mesmo, isso suporá fortalecer os vínculos com a “rede privada” existente no

país.

Desde uma perspectiva que abarca também o âmbito econômico, uma “Lei de

Responsabilidade Sanitária” poderia implicar maior responsabilidade quanto ao manejo

eficiente de recursos e uma atenção de qualidade. Ao respeito:

- Esta Lei pode implicar efeitos que se visualizam como positivos para a consolidação

e desenvolvimento do sistema e a profissionalização da gestão como provocar a

inelegibilidade de cargos por conduta irresponsável.

- Propor sanções de caráter econômico por condutas como a mencionada – como

poderia ser a suspensão de recursos – pode ter um efeito adverso e penalizar ainda

mais aos âmbitos territoriais receptores das mesmas; há que valorizar bem seu

efeito.

- Visualiza-se como uma iniciativa primordial para o avanço do SUS mesmo que não

será suficiente para compensar / equilibrar todos os problemas associados ao COAP

10.3.7. Conselhos de Saúde e participação cidadã

Quanto os mecanismos e processos de controle social e participação cidadã, e tendo em conta

as observações formuladas no epígrafe anterior de diagnóstico, a opinião dos atores

participantes na investigação permite assinalar que:

Devem ser tomadas em consideração as propostas existentes quanto ao fomento da

participação cidadã e os conselhos de saúde em espaços / âmbitos de caráter regional

Simultaneamente, devem ser promovidas as condições para que os Conselhos de Saúde

possam levar a cabo as funções que lhes correspondem: dispor de sede, infraestrutura,

capacidade de funcionamento...

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11. Cenários de futuro

Em princípio, o material disposto nestas páginas foi visualizado como um suporte para promover

a reflexão conjunta entre atores do Sistema Único de Saúde (SUS) – alguns dos quais ou, ao

menos, uma representação dos mesmos tem participado diretamente nesta investigação – e

aqueles outros que se considere apropriado, numa etapa posterior, frente a desenhar, promover

e implementar possíveis medidas de mudança que propiciem a superação dos desafios atuais

aos que se enfrenta dito sistema aproveitando os avanços colhidos até o momento e as

fortalezas conseguidas durante os anos de desdobramento do sistema.

Como antecipo desta reflexão, alguns dos participantes tiveram a oportunidade e o desejo de

estabelecer uma prospectiva sobre possíveis cenários de futuro que poderiam suceder em caso

de aplicar ou eliminar a aplicação das mudanças e transformações que se mencionaram

anteriormente. Conquanto a reflexão sobre estes cenários foram limitadas devido às constrições

que tem condicionado o desenvolvimento da investigação, pode-se mencionar algumas

sugestões emanadas dos posicionamentos e visões dos participantes. Neste sentido:

um primeiro cenário no qual poderia se encontrar o SUS é o de manter o statu quo; dito

de outro modo, não estabelecer / aplicar mudanças que fossem além das dinâmicas e

iniciativas que, neste momento, já possam estar presentes. Este fato supõe assimilar as

consequências que implica manter certos riscos. Neste sentido e de acordo com os

participantes:

- Sem a revisão do pacto federativo, a situação do sistema seguirá sendo a mesma.

- A sobrevivência do pacto federativo, tal e como se conhece atualmente e sem os

ajustes apropriados, vai seguir gerando e intensificando os problemas.

- Neste cenário, ya que não se promoveriam mudanças; a dinâmica do sistema estaria

sujeita à tendência inercial atual.

- Isso implica continuar avançando com o processo de regionalização e seguir

procurando mecanismos para sua operativização.

Um segundo cenário estaria caracterizado pela promoção de mudanças no sistema que,

junto ao já destacado em apartados precedentes deste documento, estaria ampararado

no fato de que:

- O SUS, constitui-se em um momento determinado e com umas características

determinadas que, em alguns casos, não se adequa à realidade atual.

- Neste sentido, o SUS encontra-se em uma encruzilhada e precisa readequar-se para

reduzir o nível de incerteza quanto a seu presente e seu futuro.

Dentro deste segundo cenário e de acordo com o posicionamento dos participantes na

investigação, as reformas podem ser de: médio alcance, grande alcance ou simultaneando umas

com as outras. Ao respeito:

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- A reforma parcial arraiga em introduzir arranjos naqueles âmbitos nos que se

detectaram algumas deficiências / distorções que tem afetado o SUS e que podem

tratar de ser emendadas sem tentar alterar as bases do pacto federativo

- As reformas de grande alcance, implicariam na revisão e na alteração do pacto

federativo e, sob este marco, empreender uma série de reformas paralelas /

simultâneas / encadeadas nos âmbitos sobre os que se fez referência anteriormente:

Estas reformas, de grande alcance, acabariam desembocando em alterações

para todos os âmbitos geográficos do país na medida que supõem alterar as

bases do sistema

- Isso implica determinar para onde o SUS deve avançar, para tanto:

É fundamental esclarecer as funções e responsabilidades de atores e níveis do

sistema

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12. Algumas conclusões relativas aos resultados da investigação

A realização da investigação permite poder avançar uma série de conclusões / observações

finais que, desde a óptica da empresa consultora, pode resultar conveniente destacar para

completar todo o já apontado nas seções prévias deste documento; em essência, seriam as

seguintes:

Como foi indicado anteriormente, pode afirmar-se que existe um diagnóstico sólido e

comum da realidade do SUS que emana da opinião, visões e observações formuladas

por parte dos atores participantes na investigação. Isto é:

- Existe um acordo amplo quanto às principais fraquezas que o sistema padece e

aqueles desafios que deverá enfrentar num futuro em médio prazo.

- Assim mesmo, existe um posicionamento comum quanto ao fato de que estas

fraquezas, independentemente do âmbito no qual se localizem, acabam tendo umas

repercussões de carácter transversal em todo o sistema. Deste modo, reflexionar

sobre umas ou outras supõe, inevitavelmente, fazer referência às restantes.

- Deste modo e no momento de reflexionar sobre as potenciais e factíveis linhas de

melhoria / recomendações, exige dispor de uma perspectiva ampla para que as

reformas que sejam levadas a cabo não tenham, unicamente, um efeito de caráter

limitado.

No terreno das recomendações, a situação não é equivalente à plasmada para o

diagnóstico. Deste modo:

- Desde a ótica da empresa consultora, detecta-se uma verdadeira carência de

proposições de reforma que vão, em geral, além de recomendações de carácter

estratégico. Dito com outras palavras e novamente em termos gerais, os

participantes na investigação acabaram não sugerindo linhas de ação que

permitissem operativizar os enunciados estratégicos sobre os que concretizaria as

mudanças no sistema.

- Ao respeito, cabe acrescentar que, em parte, este fato pode dever a que alguns dos

participantes, não puderam dispor (por constrições em sua agenda ou por outras

mudanças não previstas) de um espaço de tempo suficiente para desenvolver e

especificar ditas linhas de acção.

- Simultaneamente, o emprego de uma determinada proposta metodológica amparada

na realização de entrevistas e grupos focais puderam interferir na formulação de

recomendações e sua precisão. Em geral e desde a empresa consultora, considera-

se que a realização de entrevistas em profundidade resultou mais produtiva nestes

termos que a atividade desenvolvida no marco dos grupos focais; como foi

assinalado e em parte, este fato pode dever ao fato de que a metodologia e dinâmica

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de umas e outras difere e gera potencialidades e dificuldades que não são

compartilhadas (Um exemplo destas constatações pode ser observada no Anexo 5

no qual se estabelece uma comparativa do diagnóstico e recomendações de atuação

emanadas dos grupos focais e elaborada pela empresa consultora com

representantes do Ministério de Saúde designados para este propósito).

À margem do indicado e apesar dos consensos assinalados para o âmbito de

diagnóstico, é necessário indicar algumas distorções que surgiram durante o

desenvolvimento da investigação e que puderam condicionar seus resultados e que

podem incidir sobre as atividades futuras que se desejem desenvolver a partir destes

conteúdos; entre elas:

- As diferentes visões / entendimentos que algum dos atores pode ter sobre um

mesmo conceito. Isto é, quanto a alguns dos aspectos fundamentais do sistema, o

entendimento não é similar e isso pode se tomar como uma variável que possa

explicar algumas das pautas de funcionamento do sistema.

- Junto a isso, é necessário assinalar a ambiguidade que entranham alguns dos

termos / conceitos do SUS e que, como resultado, acabam provocando, em muitas

ocasiões, um entendimento e abordagem diferente dos mesmos.

À margem destas dificuldades, que em boa parte são reflexos da complexidade inerente

ao SUS, desde a empresa consultora se valoriza o fato de que se puderam aglutinar

uma contribuição de conhecimento sobre a situação do próprio SUS mediante atores /

representantes de atores que são peça fundamental do mesmo e que, portanto,

possuem uma visão privilegiada do mesmo e podem supor uma contribuição adicional

ao que surja daquelas investigações que não disponham deste recurso.

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Anexo 1. Guia para a entrevista a atores implicados na investigação

A realização de entrevistas aos atores participantes na investigação propôs-se através de um

roteiro estruturado nos itens que figuram a seguir. Esta estrutura foi o resultado de: a) um esforço

conjunto e acordado entre a equipa de consultores do CHC e os representantes do Ministério de

Saúde participantes na investigação; b) os acordos resultantes entre eles quanto aos objetivos

da investigação e de acordo ao marco conceitual proposto em relação ao governo e adaptado às

particularidades, conjuntura e processos do SUS.

1. Como é entendido o processo de regionalização?

a. Quais são os objetivos

b. Percepção da situação atual

c. Potencialidades e fragilidades

2. Quais os principais mecanismos de institucionalização da regionalização?

a. Decreto 7508 e outras normas/o advento do Decreto permitiu uma rediscussão do

processo de regionalização?

b. Planejamento e seus instrumentos (COAP)

c. Mecanismos para tomada de decisão (Comissões intergestores)

d. Organização das redes de atenção

e. Consórcios

f. Regulação do acesso

g. Incentivos para regionalização

h. Potencialidades e fragilidades

3. Como se percebem as responsabilidades sanitárias de Municípios, Estados e União, num

contexto de gestão compartilhada.

a. Financiamento tripartite

b. Capacidades técnicas (vigilância em saúde, gestão do trabalho, sistema de informação,

planejamento regional integrado e programação pactuada de ações e serviços de

saúde)

4. Como se dão as relações dos diversos atores nas Comissões Intergestores?

a. A relação entre as instâncias intergestoras, CIR, CIB e CIT?

b. Capacidade de influência de uns atores sobre outros

c. Influência das relações dos gestores com os demais prestadores no território

d. Mecanismos de negociação que permitam amenizar possíveis desequilíbrios

e. Protagonismo da CIR

5. Qual a percepção em relação à incorporação de necessidades em saúde e de gestão ao

processo de planejamento?

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a. Mecanismos de participação social (Conferências de saúde, diálogo com movimentos

sociais)

b. Sistemas de informação (quantidade, compatibilidade)

c. Estabelecimento de metas X necessidades reais

d. Monitoramento e avaliação das metas

e. Relação da política de saúde com as demais políticas publicas

6. Como é vista a relação entre instâncias de pactuação entre gestores e as instâncias

institucionalizadas de controle social?

a. Potencialidades e fragilidades

b. Mecanismos de melhorias

7. Diante do cenário atual, quais as perspectivas futuras para o processo de governança?

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Anexo 2. Listado de membros que foram entrevistados na investigação

A seguir, detalham-se as entrevistas que foram realizadas na investigação bem como aquelas

que, apesar de estarem programadas, não puderam ser realizadas devido a distorções como

mudanças na agenda dos atores entrevistados ou outros imprevistos.

Quanto ao Ministério de Saúde:

- Márcia Amaral (SE) – 01/11/2013

- Sônia Brito (SVS) – 01/11/2013

- Helvécio Miranda (SAS) – 05/11/2013

- Odorico Monteiro (SGEP) – 05/11/2013

- Antônio Alves (SESAI) – 07/11/2013

- Mozart (SGTES) – não ocorreu

- Carlos Gadelha (SCTIE) – não ocorreu

Por parte do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS):

- Vanda Paiva (VP Norte) -30/10/2013

- Wilson Alecrim (Presidente) – 31/10/2013

- Renê XXX (representante VP Sul) – 31/10/2013

- Francisco Tavares (representante VP Sudeste) – 20/12/2013

- Mauri Rodrigues (VP CO) – não ocorreu

Por parte do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS):

- Antonio Carlos Nardi (Presidente) – 31/10/2013

- Charles Tocantins (Diretor Descentralização e Regionalização) – não ocorreu

- Wilames (Diretor de Relações Institucionais e Parlamentares) – não ocorreu

- Murilo Porto (Diretor de Municípios de Pequeno Porte) – não ocorreu

- Maria da Salete (VP nordeste) –não ocorreu

Por parte do Conselho Nacional de Saúde (CNS):

- Socorro (Presidente) – não ocorreu

- Márcio Florentin (Secretário Executivo) – 06/11/ 2013

- Oranir (CES RJ) - 06/11/ 2013

- Mario Castellani (Assessor técnico CNS) - 06/11/ 2013

- Geordeci (Conselheiro) - 06/11/ 2013

- Carlos Alberto (Conselheiro) - 06/11/ 2013

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Anexo 3. Guia temático para o desenvolvimento de grupos focais

De acordo aos blocos temáticos e o roteiro proposto para o desenvolvimento das entrevistas aos

atores participantes da investigação, foi desenvolvida uma pauta para a o desenvolvimento dos

grupos focais. Detalha-se a seguir:

BLOCO 1 – (tempo previsto 40 minutos)

Percepção sobre o processo de regionalização da saúde e seus mecanismos de

institucionalização com foco na governança

Refletir sobre a Regionalização da Saúde: Potencialidades e desafios

Refletir sobre o processo de Regionalização e seus mecanismos de institucionalização

com foco na governança. As contribuições do Decreto 7.508

Refletir acerca do processo de governança sobre as Redes de Atenção à Saúde e

responsabilidades dos entes federativos

BLOCO 2 – (tempo previsto 80 minutos)

Percepção sobre as relações dos diversos atores no desenvolvimento da governança no

SUS: as comissões intergestores, as instâncias de controle social e outros mecanismos

de participação social às comissões intergestores (30')

Refletir sobre a relação entre as instâncias intergestoras: CIR, CIB e CIT

Influência de uns atores sobre outros – percepção sobre relações de poder

Relação público X privado na gestão do SUS

Refletir sobre os pactos realizados e o cumprimento dos mesmos

Protagonismo da CIR na governança do SUS

Instâncias de controle social e outros mecanismos de participação social (50')

Refletir sobre o papel e atuação dos Conselhos de Saúde no processo de governança no

SUS

Refletir sobre o papel e atuação dos Conselhos de Saúde sobre o processo de

regionalização

Refletir sobre a participação dos Conselhos de Saúde na elaboração e pactuação do

Decreto 7.508

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Refletir sobre a influência das Conferências de Saúde na agenda pública da saúde e se o

formato atual de Conferência dá conta da participação social no processo de governa do

SUS

Refletir sobre a relação entre instâncias de pactuação intergestores e as instâncias de

controle social: Potencialidade e fragilidades

BLOCO 3 – (tempo previsto 30 minutos)

Percepção sobre o processo de governança e tomada de decisão no planejamento

integrado regional e a consequente pactuação de responsabilidades sanitárias, entre os

entes federados, de modo a dar conta dos desafios regionais.

Refletir sobre o processo de planejamento integrado e regional e a construção e

pactuação das responsabilidades sanitárias compartilhadas e financiamento

Refletir sobre o monitoramento e avaliação das metas planejadas e do cumprimento das

responsabilidades sanitárias compartilhadas e financiamento

BLOCO 4 – (tempo previsto 30 minutos)

Percepção sobre as perspectivas futuras

Refletir sobre as perspectivas futuras para o processo de governança no SUS, frente ao

cenário atual.

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Anexo 4. Grupos focais desenvolvidos

Com base na estrutura de desenvolvimento dos grupos focais planejados, foram desenvolvidos:

Grupo focal composto por Diretores do Ministério de Saúde (05/11/2013):

- Paulo Ernesto – DENASUS

- Alberto – Departamento Saúde Indígena

- Marcia Motta, Parreto, Érica – DECIT

- Miguel – DAF

- Ana Maria Fontenelle – Assessora SAS

- Carlos Eduardo – DEMAS

- Campagna – DAGVS

- Douglas Miranda – DEPREPS

- Maria do Carmo – Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência Dirceu - DAB

Grupo focal composto por assessores do CONASS (08/11/2013):

- Lori

- Eliana Dourado

- Viviane Rocha de Luis

- Henrique Mançan

- Cristina Amaral

- Rita Cantaneli

- Maria José Evangelista

- Lourdes

- Marta Barreto

Grupo focal composto por assessores do CONASEMS (08/11/2013):

- Nilo Bretãs

- Fernanda

- Helton

- Glenda

- Marcos Franco

- Denise

Grupo focal composto por membros do CNS: Não foi realizado grupo focal com os

conselheiros devido a impossibilidade de compatibilizar com a agenda do dia do CNS

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Anexo 5. Comparativo de observações de diagnóstico e recomendações emanadas dos grupos focais

REGISTRO DAS ENTREVISTAS

CONASEMS CONASS MINISTÉRIO DA SAÚDE

I. Regionalização

Falta clareza no papel do

Estado no processo de

regionalização.

Estado competindo na atenção

à saúde com municípios ao

invés de realizar o apoio

técnico e financeiro.

A agenda da regionalização

não está na pauta do Estado e

nem dos demais gestores do

SUS.

Crítica ao modelo de

regionalização da saúde

descolado dos demais

processos de regionalização.

A legislação dada para o

processo de regionalização

diverge da conformação real

impossibilitando a

resolutividade. +

O interesse dos gestores na

conformação das regiões não

dialoga com as necessidades

dos usuários.

Entendimento como um

instrumento de gestão.

A regionalização é um

processo em andamento

desde a Lei 8.080/1990, ou

seja, não é algo que se

inicia ou inova com o

Decreto 7.508/2011.

Há de se considerar que

alguns Estados avançaram

na questão da

regionalização da

assistência, e que existem

diferentes movimentos no

país.

A conformação das regiões

tem se dado em função das

questões administrativas e

não das de saúde.

A burocracia tem

determinado as ações da

CIR.

A “fúria” normativa do SUS

tem atrapalhado as funções

originais dos espaços de

negociação e decisão do

sistema.

A regionalização

ainda precisa avançar,

porém não está na

pauta da gestão.

Estrutura

administrativa e

jurídica regional como

condicionante para

que as regiões de fato

possa operar o

sistema.

Só é possível avançar

no processo de

regionalização

rediscutindo o modelo

de financiamento do

SUS “o decreto por si

só não resolve a

questão”.

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CONASEMS CONASS MINISTÉRIO DA SAÚDE

II. Gestão política do SUS

Fragilidade da gestão solidária;

dificultada pela escassez de

recurso

A fragilidade dos espaços de

negociação e decisão dos

gestores do SUS de

governança fragilizam a

capacidade de decisão das

regiões de saúde.

As comissões intergestores

regionais apresentam

fragilidade na capacidade

decisória. MOTIVOS: ausência

de grupos técnicos.

Baixa qualificação técnica e

déficit de pessoal nas

estruturas municipais e

estaduais, comprometem a

gestão do sistema (COSEMS

também?)

Recomendações:

Investir na formação das

lideranças regionais.

A execução dos programas

acaba se inviabilizando

pelos interesses e disputas

partidárias, que se dá entre

os entes municipais,

estaduais e nacional,

distanciando-se do SUS

enquanto política de Estado.

A assimetria e as relações

não solidárias entre as

esferas decorre do uso do

poder econômico.

O papel gestor da CIR só

poderia se concretizar se

esta pudesse fazer uma

gestão financeira

compartilhada.

Fragmentação dos sistemas

de informações em saúde

nacionais.

Fragilidade do papel do

Estado na gestão SUS e

tensionamento que se dá na

relação com os municípios e

a União.

Recomendações:

Revisar o pacto federativo

Enfrentar a fragmentação

das políticas no âmbito do

Ministério da Saúde.

Revisar o papel do Estado

no SUS.

O poder de decisão,

isto é, de governança

regional não se

concretiza na prática.

As questões

políticas/partidárias

interferem diretamente

nas relações

federativas, com

impactos negativos no

setor saúde.

Os munícipios com

maior capacidade de

saúde não tem

interesse e ou

incentivos para

materializar o

princípios de

solidariedade.

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CONASEMS CONASS MINISTÉRIO DA SAÚDE

III. Institucionalização e regras do jogo

As normativas do SUS não

consideram as especificidades

regionais. São feitas para

municípios ideais não

existentes. (++++)

Não tensionamento político

acerca dos espaços de poder e

econômicos. +++

Viés político partidário

dificultando o processo de

regionalização;

Os instrumentos/ ferramentas

que tem sido construídas até

então limitam a capacidade

das regiões de expressar as

suas necessidade de saúde

dado o centralismo

descendente das decisões

coletivas (comissões)

O poder econômico do nível

federal é o que tem

determinado o

desenvolvimento das

políticas e dos programas

nos municípios e nos

estados, deturpando o

estabelecimento de ações

baseadas nas necessidades

de saúde.

De alguma maneira, a

judicialização na saúde tem

sido estimulada pelo próprio

SUS pelo “excesso” de

produção normativa que

vem ocorrendo.

Recomendações:

Modernizar a administração

pública.

Revisar o marco normativo.

Deter a ‘fúria” normativa’

IV. Controle social e participação cidadã

As comissões intergestores

são hermética ao controle

social.

As conferências de saúde

municipais e estaduais estão

funcionando apenas como

etapas para a conferência

nacional, perdendo a

capacidade de orientar as

agendas locais/regionais.

Representação social invadida

por interesses corporativos e

grupos de interesse.

As deliberações das

conferências,

principalmente, da nacional

não são incorporadas à

agenda do SUS.

Os espaços do controle

social estão tomados pelos

interesses “corporativos”,

distanciando-se dos da

população.

Recomendações:

Instituir espaços

formais regionais para

o controle social.

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CONASEMS CONASS MINISTÉRIO DA SAÚDE

V. Desenvolvimento do decreto COAP

Não inova o processo de

regionalização;

Segurança jurídica;

Flexibilização do entendimento

de região de saúde dado pelo

Decreto por meio das

Resoluções Tripartite.

Desenvolvimento do COAP

Inova o processo de

planejamento com

responsabilização (REVER)

Recomendações:

Investir da capacidade do

contrato como uma ferramenta

que possibilita mudanças, tais

como definir com clarezas as

responsabilidades individuais.

Não inova o processo de

regionalização.

O Decreto mais atrapalhou

do que ajudou o processo

de regionalização, pois

promove interpretações

diferenciadas acerca do

tema.

A atual disputa que se dá

entre os entes na esfera

administrativa pode ser

levada para a esfera judicial

com a instituição do

contrato.

O contrato não faz

governança.

VI. Planejamento e conhecimento

Planejamento normativo e

descendente;

O processo de planejamento

não almeja transformação da

realidade;

O planejamento local prioriza a

execução de programas

previamente definidos.

Capacidade de planejamento

limitada de Estados e

Municípios ;

Planejamento regional ainda

incipiente por não está inserido

na agenda prioritária (técnico /

política)

Recomendações:

Investir em novas tecnologias,

uso da criatividade.

O planejamento ascendente

não se concretiza, pois o

que tem definido as

prioridades locais tem sido o

poder econômico do

governo federal.

Falta estabelecer

prioridades, não existe foco

em ações estruturantes.

O planejamento não está

voltado para suprir as

necessidades de saúde da

população mas

condicionado pela limitação

dos recursos financeiros.

Os Estados estão sem

acesso as informações

municipais repassadas aos

bancos de dados nacionais.

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CONASEMS CONASS MINISTÉRIO DA SAÚDE

VII. Gestão econômica do sistema

A formas de financiamento – a

exemplo do pagamento por

produção – não permite

resolver as necessidade de

saúde da população.

Gravidade do

subfinanciamento na saúde.

Centralidade do financiamento

definindo os programas e

ações de saúde em detrimento

dos problemas locais

apresentados.

Recomendações:

Rever o modelo de

financiamento tripartite da

saúde (ponto mais do que

crítico).

No âmbito regional ainda

não há instrumentos para

fazer uma boa gestão

econômica.

Existe flexibilidade no uso

dos recursos financeiros.

Ações carimbadas.

Recomendações:

Revisar o marco normativo.

Deter a ‘fúria” normativa’.