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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação Mestrado em Educação PROJETO VEREDAS, DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA: OUVINDO PROFESSORAS CURSISTAS E SEU TUTOR Jussara Maria de Pinho Magalhães Belo Horizonte 2005

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Pró-reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação

Mestrado em Educação

PROJETO VEREDAS, DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA: OUVINDO PROFESSORAS CURSISTAS E SEU

TUTOR

Jussara Maria de Pinho Magalhães

Belo Horizonte 2005

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Jussara Maria de Pinho Magalhães

PROJETO VEREDAS, DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA: OUVINDO PROFESSORAS CURSISTAS E SEU

TUTOR

Estudo sobre a formação de professores em nível superior

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Área de concentração: Sociologia e História da Profissão

Docente e da Educação Escolar

Linha de Pesquisa: Profissão docente: constituição e memória

Orientadora: Profª. Dra. Magali de Castro

Belo Horizonte 2005

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FICHA CATALOGRÁFICA

Magalhães, Jussara Maria de Pinho M188p Projeto Veredas, desenvolvimento profissional e exercício da docência: ouvindo professoras cursistas e seu tutor / Jussara Maria de Pinho Magalhães. Belo Horizonte, 2005. 150f. Orientadora: Magali de Castro Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Educação. Bibliografia

1. Professores - Formação. 2. Educação superior. 3. Educação continuada. 4. Orientação educacional. 5. Minas Gerais. Secretaria de Estado da Educação. Projeto Veredas. 6. Política educacional. I. Castro, Magali de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Educação. III. Título.

CDU: 371.13

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Mestrado em Educação Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Jussara Maria de Pinho Magalhães Projeto Veredas, Desenvolvimento profissional e exercício da docência: ouvindo professoras cursistas e seu tutor Belo Horizonte, 2005

Banca Examinadora

_______________________________________ Magali de Castro (orientadora) PUC Minas

________________________________________ Leila de Alvarenga Mafra . PUC Minas

________________________________________ Edil Vasconcellos de Paiva . UERJ

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DEDICATÓRIA

Esse trabalho é dedicado Á minha irmã, Ziane, com quem aprendi desde cedo

o significado da amizade, da cumplicidade, e também da saudade.

À minha avó, Abrelina, por ter deixado um rastro de luz na minha vida.

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AGRADECIMENTOS

À Profª. Dra. Magali de Castro, pela orientação segura e competente, contribuindo para a explicitação das

contradições e o redirecionamento da pesquisa. A você, minha admiração como forma

de reconhecimento.

Ao Profº Cury, por me abrir a primeira porta e ao Profº Simão Pedro, pela convivência

amiga na SEE-MG.

À Profª Ana Casasanta, a quem sou particulamente grata pela acolhida nos momentos difíceis e

pela leitura cuidadosa de alguns capítulos.

À Profª Leila Mafra, pela apreciação do projeto, pelo apoio e aprendizado.

À Valéria e Ulisses, pelo suporte, dedicação

e colaboração durante esse curso.

À Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, especialmente às professoras: Eliana Novaes,

Raquel Elizabeth de Souza Santos e Grace Oliveira

À Direção, professores e aos meus alunos da

Universidade do Estado de Minas Gerais, pelo apoio.

Aos colegas da turma de 2003, pelas marcas

que deixaram de um tempo vivido intensamente.

À Rose, por ter se tornado uma grande amiga

e por compartilhar comigo das alegrias e dificuldades desse percurso.

Às professoras cursistas que, generosamente

abriram as portas de seus corações e de suas vidas para a realização

desta pesquisa.

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Ao Profº. Tutor José Raimundo, que nem

sequer suspeita da inestimável dívida intelectual que tenho com ele.

À Claúdia Bulhões minha amiga, pela

dedicação e partilha das diversas fases dessa trajetória.

À minha família, que soube conduzir,

com maestria, os vazios que abri para me dedicar à pesquisa.

Ao Aluísio, por compartilhar dos meus sonhos,

por caminhar lado a lado comigo nesse trabalho e, muitas vezes, à frente,

me puxando.

Aos meus pais, pelo exemplo de vida e pelo afeto e apoio incondicional nos caminhos

que venho percorrendo.

Às minhas filhas queridas, Carol e Ice, por acreditarem em mim e à Anna Clara, por ter chegado e colorido

esse percurso com sua alegria e seu cheirinho doce.

Às minhas irmãs, ao meu irmão e ao Xande,

companheiros de estrada, nas alegrias e tristezas da vida.

À Deus, pela graça da vida, e por proporcionar

o encontro com pessoas tão iluminadas.

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... procure amar as próprias perguntas como quartos fechados ou livros escritos

num idioma muito estrangeiro. Não busque, por enquanto, respostas

que não podem ser dadas, porque não as poderia viver.

Pois trata-se precisamente de viver tudo. Viva, por enquanto, as perguntas.

Talvez depois, aos poucos sem que o perceba, num dia longínquo,

consiga viver as respostas.

Rainer M Rilke, in: Cartas a um jovem poeta.

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Resumo:

A formação de professores tem sido grande desafio para a elaboração das políticas

educacionais no pais. No bojo das iniciativas voltadas para a formação continuada de

professores, foi concebido, pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, o

Projeto Veredas – Formação Superior de Professores, com a finalidade de oferecer

habilitação superior aos professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Com o

objetivo de analisar o Projeto Veredas como uma oportunidade de desenvolvimento

profissional, na percepção das professoras cursistas e de seu tutor, foi realizada

pesquisa em uma turma coordenada pela Universidade Federal de Minas Gerais –

UFMG. Partindo da análise documental sobre o Projeto Veredas, nos debruçamos

sobre a caracterização da turma selecionada, realizada a partir da análise de fichas de

identificação e questionários do Projeto Veredas. A partir daí, foram selecionadas

quatro professoras que, juntamente com o professor tutor, se submeteram a entrevistas

semi-estruturadas. Os dados foram analisados à luz dos estudos sobre a profissão

docente, o desenvolvimento profissional dos professores, a política de formação de

professores nos anos 90 e a educação a distância, tendo como aportes teóricos:

Garcia, Nóvoa, Esteve, Huberman, Costa e Alarcão. A pesquisa permitiu constatar que,

na percepção dos atores, o Projeto Veredas contribuiu para o desenvolvimento

profissional das professoras cursistas, na medida em que foram relatadas mudanças

significativas em suas práticas docentes e em suas posturas profissionais. Quanto à

percepção sobre a profissão docente verificada a partir da participação no Projeto, a

pesquisa demonstrou que permanece, ainda, no imaginário das professoras

entrevistadas, a imagem da profissão docente perpassada pelos ideais de missão,

vocação e amor às crianças.

Palavras–Chave: Formação de Professores, Educação Superior, Profissão Docente,

Política Educacional

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Abstract Veredas Project, professional development and teaching exercise: hearing teachers-students and her tutor Teachers' formation has been a great challenge for educational politics. Between the initiatives gone back to the teachers' continuous formation, it was conceive, for the Secretariat of State of Education of Minas Gerais, the Veredas Project - Superior Formation of Teachers, with the purpose of offering superior qualification to the teachers of elementary school. With the objective of analyzing the Veredas Project, as an opportunity of professional development, in the perception of the teachers-students and of her tutor, this research was accomplished in a group coordinated by the Federal University of Minas Gerais - UFMG. Leaving of the documental analysis on the Veredas Project, we did the characterization of the selected group, accomplished starting from the analysis of Veredas Project’s identification registers and questionnaires. Since then, we did semi-structured interviews with four teachers selected and with the teacher tutor. The data were analyzed to the light of the studies on the educational profession, the teachers' professional development, the politics of teachers' formation the nineties and the distance education, tends as theoretical contributions: Garcia, Nóvoa, Esteve, Huberman, Costa and Alarcão. The research allowed to verify that, in the actors' perception, the Veredas Project contributed to the professional development of the teachers-students, in the measure in that they were told significant changes in their educational practices and in their professional postures. Concerning the perception on the educational profession verified after the participation in the Project, the research demonstrated that it stays, still, in the imaginary of the interviewed teachers, the image of the profession educational like a mission ideals, vocation and love to the children. key-Words: Teachers Formation, Superior Education, Educational Profession, Education Politics

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 01

CAPÍTULO 1 – APORTES METODOLÓGICOS ....................................................................... 08

1.1 – Abordagem metodológica ................................................................................................. 08

1.2 - Coleta e análise de dados ................................................................................................ 09

1.3 – A turma selecionada ......................................................................................................... 10

1.4 – Os atores da pesquisa ...................................................................................................... 14

CAPÍTULO 2 - DEBATES ATUAIS E NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE A PROFISSIONALIZAÇÃO NO MAGISTÉRIO .............................................................................17

2.1 - Profissionalismo e Profissionalidade....................................................................................17

2.2– O desenvolvimento profissional como uma alternativa para a profissionalização do

magistério .................................................................................................................................. 36

2.3 – O trabalho docente: desafios e incertezas ........................................................................ 48

CAPITULO 3 – A PROFISSÃO DOCENTE E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO ATUAL ...................................................................................................................59

3.1- Da Escola Normal às políticas educacionais dos anos 90 ..................................................59

3.2 – A política de educação a distância: abrindo um diálogo ....................................................66

3.3 – O Projeto Veredas: formação do professor em nível superior ...........................................79

CAPÍTULO 4 - REFLEXÕES SOBRE A PROFISSÃO DOCENTE: O QUE A PESQUISA APONTA .................................................................................................................................... 91 4.1 – Da opção pelo magistério à entrada no Veredas: o caminho percorrido pelas

professoras.................................................................................................................................. 92

4.2 - Projeto Veredas, desenvolvimento profissional e exercício da docência: percepção das

professoras cursistas e de seu tutor .........................................................................................108

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4.3- Desafios, dificuldades, alternativas e perspectivas para o Projeto Veredas: o que dizem as

professoras cursistas e seu tutor.............................................................................................. 115

NOTAS CONCLUSIVAS ...........................................................................................................119

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................................123

ANEXOS ................................................................................................................................... 130

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Professoras cursistas por faixa etária ...................................................................... 11

Tabela 2 – Professoras cursistas por experiência de trabalho na escola .................................. 11

Tabela 3 – Professoras cursistas por grau de instrução familiar ............................................... 12

Tabela 4 – Professoras cursistas por renda familiar .................................................................. 13

ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Professoras selecionadas ....................................................................................... 15

Quadro 2 – Modelo baseado em cursos .................................................................................... 44

Quadro 3 – Rendimento médio por regiões geográficas: 2001.................................................. 55 Quadro 4 – Estrutura das atividades do curso de formação superior ........................................ 82

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1-INTRODUÇÃO:

O desejo de pesquisar sobre o tema formação de professores e o interesse pela

compreensão do lugar que historicamente vem sendo assumido pelo professor,

resultam de nossa trajetória enquanto docente de sociologia no curso de Pedagogia da

FAE-UEMG e também enquanto técnica da Secretaria de Estado de Educação de

Minas Gerais, onde temos acompanhado as políticas estaduais de formação de

professores e seus desdobramentos.

A questão da formação de professores tem sido um grande desafio para a

elaboração das políticas educacionais e também destaque nas discussões acadêmicas

sobre a educação no país. Os educadores, de forma geral, reconhecem que as atuais

transformações políticas, econômicas, sociais e culturais da sociedade implicam em

uma avaliação do papel da escola e dos professores.

No atual contexto de globalização e do capitalismo neoliberal, a função social da

escola e do professor passa por transformações, resultando em mudanças nas

expectativas e necessidades em relação à educação formal. Entretanto, permanece a

idéia da escola como instituição necessária, não mais como “mola das transformações

sociais”, mas ainda com papel insubstituível no que se refere ao enfrentamento das

exigências postas pela sociedade moderna àqueles que nela ingressam.

Deriva daí a relevância que o tema da formação de professores vem assumindo,

já que são esses os profissionais diretamente envolvidos nos processos educativos.

No atual contexto, a formação de professores supõe a análise da situação

desses profissionais numa perspectiva de mudanças sociais aceleradas, no sentido de

oferecer a eles possibilidades de reflexão sobre seu próprio trabalho e sobre o

significado de sua prática educativa, colaborando para a redefinição de seu papel, a

reconstrução de sua identidade e para o real entendimento de sua importância no

quadro das políticas educacionais.

A questão da formação de professores vem sendo amplamente discutida por

todos os atores envolvidos com a educação: associações científicas e de classe1,

1 Entre as associações, destacam-se a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE, aAssociação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED, a Associação Nacional de Política e Administração daEducação – ANPAE, o Forum Nacional de Diretores – FORUNDIR e o Forum em Defesa da Formação de Professores

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Instituições de Ensino Superior e profissionais de educação de modo geral vêm

investindo em estudos e debates sobre a profissão docente e sobre a formação de

professores, sendo inúmeros os trabalhos sobre esse tema apresentados nos

encontros das Associações Científicas.

A análise das dissertações e teses defendidas nos programas de pós-graduação

em educação no Brasil, no período de 1990 a 1996, aponta que o número de trabalhos

sobre o tema formação de professores não acompanhou o crescimento da produção da

pós-graduação que, no período, quase dobrou. Em 1990 foram produzidas 460 teses e

dissertações na área educacional e em 1996, foram 834.

Do total desses trabalhos, somente 5% a 7% trata do tema formação de

professores. Das 4.493 teses defendidas na área educacional de 1990 a 1996, 284 se

referem à “formação de professores”, tema que guarda, ainda, aspectos silenciados e

que merecem destaque, como exemplo a questão da identidade e profissionalização

docente, abordada por menos de 10% das teses defendidas sobre o tema.

Nas relações que se desenrolam nas instituições educacionais, os professores

ocupam uma posição de centralidade no que se refere às questões emergentes no

cotidiano escolar. Também a eles é demandada sólida cultura geral, competência em

metodologias, capacidade de aprender a aprender, domínio das novas tecnologias da

comunicação, reforçando sua evidência no cenário educativo. Conforme afirma Nóvoa,

A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos outécnicas), mas sim através de um trabalho de reflexibilidade crítica sobre aspolíticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal.( NÓVOA1992,p.25)

Nesse sentido, Nóvoa (1997) alerta para a necessidade de uma nova concepção

dos programas de formação de professores, que devem contemplar seu

desenvolvimento pessoal e profissional, ao longo dos diferentes ciclos de sua vida. A

incorporação dessa nova dimensão nos cursos de formação continuada de professores,

segundo o autor, é essencial para seu êxito.

Dentro do tema “formação de professores”, nos interessa analisar, mais

especificamente, a oportunidade de formação e desenvolvimento profissional dada a

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professores em exercício, que já cursaram o magistério em nível médio e possuem

considerável experiência docente.

Nesse sentido, optamos por trabalhar com o projeto Veredas, que foi

desenvolvido em Minas Gerais no período de 2002 a 2005.

Concebido pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, o Projeto

Veredas surgiu para oportunizar habilitação superior aos professores dos anos iniciais

do ensino fundamental, que não possuíam a formação nesse nível. Utilizando a

metodologia de educação a distância, visa atender professores em exercício.

O Projeto Veredas foi considerado como um projeto de formação inicial, em

função da determinação legal de formação superior de todos os professores de

educação básica (art 62/LDB-Lei 9394/96). Entretanto, embora o artigo 62 da LDB

indique a formação superior como horizonte para aqueles que desejam exercer a

docência na educação básica, a formação em cursos normais de nível médio não

acabou e continua sendo permitida como formação mínima:

A formação de docentes para atuar na Educação Básica far-se-á em nívelsuperior, em cursos de licenciatura, de graduação plena, em Universidades eInstitutos Superiores de Educação, admitida como formação mínima para oexercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries doensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (Art62, LDB 9394/96)

Tendo em vista esse artigo e o fato de que o Projeto Veredas vem sendo

adotado como uma oportunidade de formação em nível superior para professores que

já estão em exercício no magistério há vários anos, além de já terem concluído o curso

normal de nível médio, neste trabalho, consideramos esse projeto como um curso de

formação continuada de professores e não como um curso de formação inicial,

conforme consta em seus documentos.

Nossa experiência como funcionária da SEE-MG e como professora de Ensino

Superior vem suscitando algumas questões sobre a formação e o desenvolvimento

profissional de professores:

• Que mudanças podem ser identificadas nas políticas de formação, e na

profissionalização do magistério no contexto atual ?

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• Como tais mudanças foram implementadas para promover o desenvolvimento

profissional do professores da escola básica?

• Como o Projeto Veredas contribuiu para a formação e o desenvolvimento

profissional de professores da escola básica?

• Quem são as professoras cursistas do Projeto Veredas e que motivos as

levaram ao magistério e à busca da formação continuada?

• Como o Projeto Veredas influenciou na vida profissional das professoras e

em sua percepção sobre a profissão docente?

• Quais os principais desafios, dificuldades, alternativas e perspectivas

detectadas no projeto?

A pesquisa teve como objetivo geral “analisar e compreender a percepção que

as professoras têm de sua profissão, a partir da participação no Projeto Veredas”. E

como objetivos específicos:

1. Identificar a analisar as determinações legais da formação de professores

para os anos iniciais da escolarização nos anos 90

2. Caracterizar o Projeto Veredas como uma alternativa de formação de

professores em nível superior, com utilização da educação a distância.

3. Caracterizar professoras cursistas do Projeto Veredas de uma turma da

UFMG.

4. Identificar os motivos que levaram as professoras ao magistério e

especificamente à busca pelo Projeto Veredas.

5. Analisar a percepção das professoras e de seu tutor sobre o Projeto Veredas,

enquanto oportunidade de desenvolvimento Profissional.

6. Analisar a influência da participação no Projeto Veredas, na percepção das

professoras sobre a profissão docente.

7. Analisar a percepção das professoras e de seu tutor sobre os desafios,

dificuldades, alternativas e perspectivas para o Projeto Veredas.

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O estudo foi realizado junto a professoras cursistas e ao tutor da turma 26 (vinte

e seis), na Faculdade de Educação da UFMG. Foram analisados documentos relativos

à formação de professores para a escola básica na década de noventa, à educação a

distância e ao Projeto Veredas além de documentos específicos produzidos pelas

professoras cursistas, tais como questionários e memoriais. Partindo dessa análise de

documentos, foram entrevistadas quatro professoras cursistas e seu tutor. Os dados

foram analisados à luz de aportes teóricos sobre profissão docente e desenvolvimento

profissional de professores, tendo como referencias básicas as obras de Huberman

(1992), Nóvoa (1992,1995,1997 e 1999), Costa (1995), Hypólito (1997), Alarcão (1998),

Esteve (1999), Almeida (1998), Garcia (1999) Contreras (2002) e Candau (1997 e

2003).

Este trabalho, que contém os resultados da pesquisa, foi estruturado em oito

capítulos:

O capítulo 1 apresenta uma análise sobre a profissão docente. onde enfatizamos

o debate acerca do profissionalismo e profissionalidade docente, além da reflexão

sobre a perspectiva de uma nova profissionalização do professor. Para isso, foi dividido

em cinco momentos: no primeiro, apresentamos considerações sobre profissionalismo e

profissionalidade docente; no segundo, esboçamos uma análise da docência enquanto

profissão; no terceiro, procuramos analisar a questão da proletarização do magistério,

no quarto, enfatizamos a feminização do magistério e no quinto, enfocamos a discussão

acerca de uma nova perspectiva para a profissionalização do professor.

O capítulo 2 focaliza o desenvolvimento profissional dos professores, analisado à

luz dos estudos de Garcia, Nóvoa, Alarcão e Candau..

O capítulo 3 trata da profissão docente no atual contexto de mudanças

econômicas e sociais aceleradas, onde novas situações são colocadas ao professor.

O capítulo 4 apresenta a discussão acerca da formação de professores no Brasil

a partir dos anos 90, enfatizando a formação de professores da escola básica em nível

superior.

O capítulo 5 enfoca a educação a distância e foi dividido em seis momentos:

História da educação a distância no Brasil; Paradigmas econômicos envolvidos na

discussão do tema; Definições de educação a distância; Perfil do estudante de

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educação a distância; O trabalho de tutoria nessa modalidade de educação e, A

abordagem da educação a distância na LDB e no Plano Nacional de Educação.

O capítulo 6 trata da análise do Projeto Veredas enquanto uma alternativa de

formação de professores em nível superior, destacando a sua organização na UFMG.

O capítulo 7 foi dividido em quatro momentos: no primeiro, descrevemos os

aportes metodológicos da pesquisa; no segundo, especificamos a forma como foi

realizada a coleta e análise dos dados; no terceiro, contextualizamos a turma

selecionada para a pesquisa e, no quarto, destacamos os atores envolvidos na

pesquisa.

No capítulo 8, apresentamos uma análise dos dados apontados pela pesquisa

que, para melhor compreensão, foi organizada em três momentos. No primeiro,

destacamos o caminho percorrido pelas professoras desde a opção pelo magistério até

a entrada no Projeto Veredas; no segundo, analisamos a percepção das professoras

cursistas e do tutor sobre o Projeto Veredas e o desenvolvimento profissional dos

professores e, no terceiro momento, os desafios, dificuldades, alternativas e

perspectivas apontadas pelas professoras e seu tutor, acerca do Projeto Veredas.

No capítulo conclusivo, apresentamos uma reflexão sobre a percepção das

professoras cursistas e de seu tutor acerca do Projeto Veredas como uma forma de

desenvolvimento profissional, buscando responder à questão central proposta nesse

estudo.

Para a realização deste trabalho, muitas vezes, em razão de nossas vivências

como professora, nos identificamos com as histórias de vida, os percursos, as alegrias

e as dificuldades presentes no cotidiano das professoras entrevistadas. Nesses

momentos, recordamos do livro “O Povo Brasileiro”, do professor Darci Ribeiro, no qual

também relata seu envolvimento com o tema:

Portanto, não se iluda comigo, leitor. Além de antropólogo, sou homem de fé ede partido. Faço política e faço ciência movido por razões éticas e por umprofundo patriotismo. Não procure, aqui, análises isentas. Este é um livro quequer ser participante, que aspira influir sobre as pessoas, que aspira ajudar oBrasil a encontrar-se a si mesmo.(Ribeiro, 1997, p.17)

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Com esta pesquisa, esperamos ter conseguido demonstrar a importância de

colocar em foco as discussões sobre a formação de professores, apresentando

contribuições, às discussões sobre as oportunidades de formação e desenvolvimento

profissional ofertadas aos professores em exercício, na modalidade de educação a

distância.

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CAPÍTULO 1 - APORTES METODOLÓGICOS

1.1 – Abordagem metodológica

Para a realização desse estudo, optamos por fazer, em um primeiro momento,

uma análise dos aspectos que envolvem a profissionalização do magistério, os

desafios e incertezas que cercam a profissão, bem como situá-la no contexto das

políticas educacionais dos anos 90. A partir desse estudo, foi feita uma pesquisa

empírica, realizada em dois momentos. No primeiro momento foi feita uma abordagem

quantitativa, para caracterização da turma investigada e, em um segundo momento,

uma investigação qualitativa que, segundo Bogdan (1994), apresenta cinco

características que se manifestam de forma mais ou menos eloqüentes nos estudos: a)

o privilégio do ambiente natural como fonte de dados e a relação entre o investigador e

o objeto investigado; b) a utilização de dados recolhidos de forma descritiva,

respeitando sua riqueza e fidedignidade; c) o interesse maior voltado para o processo

de investigação do que para os seus resultados; d) análise indutiva dos dados, e) o

interesse pela forma como diferentes pessoas darão sentido às suas vidas.

A idéia de interação entre os sujeitos envolvidos na pesquisa, do dialogo

estabelecido entre o investigador e as pessoas envolvidas na investigação, a estreita

interação entre a ação, a palavra e o contexto em que estão inseridos são

características da abordagem qualitativa, que justificam nossa escolha.

As características expressas por Bogdan (1994) e a especificidade de nossa

proposta de investigação se correlacionaram a partir da necessidade eminente de maior

contato com o campo investigado e o reconhecimento dos percursos de formação das

professoras, reconhecendo a importância dos aspectos subjetivos fornecidos por elas.

Recorremos à análise documental como primeiro passo de nossa investigação,

em que buscamos compreender a intencionalidade e a proposta do Projeto Veredas.

Dessa forma, foi feito um levantamento dos documentos importantes que tratam do

Projeto.

Segundo Bogdan, “são as realidades múltiplas e não uma realidade única que

interessam ao investigador qualitativo”. (Bogdan, 1994, p.49)

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Minayo(1994), chama a atenção para alguns aspectos da abordagem

qualitativa, considerados essenciais:

A pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se preocupa nasciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificada. Ouseja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações,dos processos e dos fenômenos que não podem ser realizados àoperacionalização de variáveis.(Minayo, 1994, p.22)

Após análise da documentação sobre o projeto Veredas, visando caracterizá-lo

no contexto da política de formação de professores dos anos 90, foi realizada a

pesquisa de campo, em duas fases:

• Na primeira fase, foram analisadas as fichas de identificação e os

questionários preenchidos na matrícula das professoras cursistas da turma

selecionada, para identificar as características pessoais e profissionais de

todos os seus quinze alunos e, a partir das informações obtidas, foram

selecionadas quatro professoras cursistas, que foram entrevistadas.

• Na segunda fase, foram analisados os memoriais das quatro cursistas

selecionadas, que foram posteriormente entrevistadas, juntamente com o

tutor da turma.

1.2- Coleta e análise de dados

Na fase inicial, foi feita uma análise quantitativa dos dados constantes nas

fichas e questionários dos 15 alunos da turma, sendo utilizado tratamento percentual

para caracterizar os sujeitos da pesquisa, em relação a seus dados pessoais,

profissionais e outros que constam nesses documentos.

Em um segundo momento, foram realizadas entrevistas abertas com as quatro

professoras cursistas selecionadas a partir da análise dos dados dos questionários. As

entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas à luz dos aportes teóricos, dos

dados contextuais sobre o Projeto Veredas e das informações obtidas na análise dos

memoriais.

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1.3- A turma selecionada

A seleção de uma turma de BH para a realização da pesquisa foi uma tarefa

complexa. Em primeiro lugar, porque todas as IES envolvidas no Projeto foram

consideradas por nós como importantes e de tradição na área de educação da cidade e

do Estado. Em segundo lugar, porque não tínhamos maior conhecimento sobre o

trabalho realizado por elas, na parceria com o projeto.

Assim, em um primeiro momento, partimos para uma análise da documentação

do projeto e começamos a estabelecer contatos informais com diferentes instituições e

com diferentes coordenadores e tutores. Nesse contato, tivemos a oportunidade de

conhecer melhor o trabalho do professor José Raimundo Lisboa da Costa, da FAE,

UFMG. Esse professor desenvolveu um trabalho diferenciado com as quinze

professoras cursistas de sua turma, buscando conhecer a realidade do trabalho dessas

professoras, seu cotidiano, suas práticas e algumas reflexões acerca da opção pelo

magistério. Esses dados estão presentes no questionário elaborado pelo tutor

denominado: “Reconhecendo a realidade escolar”, inserido nos anexos.

As informações ali contidas permitiram uma melhor compreensão do trabalho

dessas professoras e de suas vivências, possibilitando melhor condução das

entrevistas.

A decisão de trabalhar com a turma desse professor foi reforçada nos contatos

posteriores, onde ele revelou grande disponibilidade para colaborar com a pesquisa,

conversando, concedendo entrevistas, propiciando acesso aos materiais utilizados no

Projeto, bem como os questionários respondidos pelas professoras cursistas e seus

memoriais. A boa vontade e presteza para a disponibilização desses materiais foram

fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa, bem como as conversas, as

impressões e a entrevista concedida pelo professor tutor.

A partir daí, foram analisados os questionários aplicados no início do Projeto

Veredas pelo professor José Raimundo junto à turma pesquisada, em que se pretendeu

traçar o perfil das professoras cursistas e conhecer a realidade escolar em que atuam.

Esses questionários fazem parte dos anexos neste trabalho.

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Através deles, tornou-se possível conhecer a turma investigada, que é

composta de 15 professoras das redes municipal e estadual de Minas Gerais, todas do

sexo feminino.

Tabela 1:Projeto VeredasTurma 26 – FAE/UFMGProfessoras cursistas por faixa etária.Belo Horizonte-MG-2002

Faixa Etária F %De 20 a 30 anos 1 6,6De 31 a 40 anos 7 46,7De 41 a 50 anos 7 46,7Total 15 100Fonte: Questionário preenchido pelas professoras na entrada do curso

Os dados dessa tabela evidenciam que as professoras da turma concentram-se

na faixa etária de 31 a 50 anos. 93,4% estão na faixa etária de 20 a 30 anos, só foi

identificada uma professora, de 27 anos. Esses dados refletem que o Projeto vem

atendendo a professoras menos jovens, com experiência de vida considerável.

Tabela 2:Projeto VeredasTurma 26 – FAE/UFMGProfessoras cursistas por experiência de trabalho na escolaBelo Horizonte-MG-2002

Tempo de Experiência F %Até 10 anos 2 13,310 a 15 anos 4 26,615 a 20 anos 8 53,321 a 25 anos 1 6,8Total 15 100Fonte: Questionário preenchido pelas professoras na entrada do curso

Os dados da tabela 2 evidenciam que a maioria das professoras da turma

investigada (53,3%) tem entre 16 e 20 anos de trabalho em escolas. O menor índice

percentual encontra-se no intervalo de freqüência que vai dos 21 a 25 anos de

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experiência. Também no intervalo que representa a fase inicial da carreira, ou seja, até

dez anos de experiência, só foram encontradas duas professoras.

Os dados revelam que, na turma selecionada, as professoras têm grande

tempo de experiência, encontrando-se na etapa intermediária da carreira. Analisando o

ciclo de vida profissional das professoras, Huberman (1992) define essa fase como o

momento de “diversificação” ou da busca de novos desafios. Para ele, após os

professores vivenciarem a estabilidade, se apropriam de um sentimento de confiança

que lhes permite buscar novos compromissos e novos desafios. Foi exatamente nesse

momento de suas carreiras que, coincidentemente, as professoras se lançaram no

Projeto Veredas. A segurança frente à rotina dos trabalhos, característica dessa fase,

foi relatada pelas quatro professoras entrevistadas e considerada como um ponto

facilitador para que pudessem enfrentar o desafio representado pelo curso de

graduação.

Tabela 3:Projeto VeredasTurma 26 – FAE/UFMGProfessoras cursistas por Grau de instrução familiarBelo Horizonte-MG-2002

Grau de Instrução Pai Mãe Marido Total %Ensino Fundamental - 1ª a 4 série Incompleto 6 6 - 12 80Ensino Fundamental - 1ª a 4 série Completo 8 6 1 15 100Ensino Fundamental - 5ª a 8 série Incompleto 0 6 6 40Ensino Fundamental - 5ª a 8 série Completo 0 1 2 3 20Ensino Médio - Incompleto 0 1 1 7Ensino Médio - Completo 1 1 1 3 20Superior em Curso 0 1 1 7Não Informou 3 20Total 15 15 15 15 100Fonte: Questionário preenchido pelas professoras na entrada do curso

A tabela 3 evidencia o baixo grau de escolarização dos familiares das

professoras cursistas, onde percebemos que entre os pais das professoras, seis não

concluíram o ensino fundamental de 1ª à 4ª e, somente um concluiu o ensino médio.

Em relação às mães, a realidade é muito semelhante, sendo que também seis têm o

ensino fundamental de 1ª a 4ª série incompleto e sete fizeram até a 4ª série. No que diz

respeito aos maridos das professoras cursistas, a maior parte deles não concluiu o

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ensino fundamental até a 8ª série, sendo que somente um está cursando o nível

superior.

Tabela 4:Projeto VeredasTurma 26 – FAE/UFMGProfessoras cursistas por Renda FamiliarBelo Horizonte-MG-2002

Renda Familiar - Número de Salários MínimosIdade 3 a 5 5 a 10 10 a 15 Total

20-30 0 1 0 131-40 4 1 0 541-50 2 4 2 8Não Informou 1Total 6 6 2 15Fonte: Questionário preenchido pelas professoras na entrada do curso

A renda familiar das professoras investigadas está dividida entre os intervalos

de 3 a 5 salários mínimos (40%) e 5 a 10 salários mínimos (40%). Somente duas

professoras informaram possuir renda familiar entre 10 e 15 salários mínimos. Esses

dados refletem as informações da tabela anterior sobre o nível de escolaridade dos

familiares, revelando que as professoras são provenientes de famílias de baixa renda.

Analisando os dados levantados pelas tabelas 1 a 4, podemos caracterizar a

turma investigada, composta de 15 mulheres em sua maioria entre 31 a 50 anos e

possuindo de 10 a 20 anos de trabalho. Vêm de famílias com baixo grau de instrução,

sendo que a maioria dos pais nem sequer concluiu o ensino fundamental. Possuem

renda familiar em média entre 3 a 10 salários mínimos.

A baixa escolaridade dos familiares das professoras, juntamente com a baixa

renda familiar, apontadas nas tabelas 3 e 4, reforçam o que as pesquisas atuais já vêm

demostrando acerca da profissão de professor, que tem se mostrado cada vez menos

atraente, recebendo nos cursos de magistério pessoas advindas de diversos setores de

baixa renda, que almejam melhores condições de vida, principalmente se comparadas

à de seus familiares. No entanto, a precariedade das condições de trabalho, salário e

baixo reconhecimento social das professoras dificulta a tão almejada mobilidade social.

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Por essa razão, vários autores definem a profissão docente como em processo de

proletarização.

O Projeto Veredas, em sua proposta de atender a professores que não

conseguiram fazer o curso superior no início da carreira, se deparou com uma clientela

de professores que, em sua maioria, enfrenta os desafios da conjuntura atual,

permeada pelo baixo salário, baixo status social e perda de controle sobre o trabalho.

1.4- Os atores da pesquisa

Como a disponibilidade para participar da pesquisa é fundamental, uma vez

que as professoras pesquisadas foram entrevistadas e disponibilizaram seus memoriais

e questionários para análise, esse foi o primeiro critério adotado. Das quinze

professoras cursistas, apenas seis se disponibilizaram a participar da pesquisa.

A escolha das quatro professoras entrevistadas foi estabelecida de acordo com

os seguintes critérios: escola de origem, sendo selecionadas duas professoras da rede

estadual e duas da rede municipal de ensino; e o segundo critério foi o tempo de

exercício, sendo escolhidas as quatro que têm maior tempo.

Dessa forma, foram selecionadas as quatro professoras relacionadas no quadro

a seguir:

Quadro 1Professoras Selecionadas

Professora Escola Tempo de ExperiênciaAlessandra EM Vicente Guimarães 11 anosAna Maria EE Prof Batista Santiago / EM Vicente Guimarães 16 anosMariana EE Prof Batist Santiago 16 anosVanessa EE Prof Batista Santiago 20 anos

Passaremos agora a apresentá-las :

Vanessa nasceu em Senhora do Porto, interior de Minas Gerais, em uma

fazenda, onde passou sua infância junto com 14 irmãos. Relata sua infância como um

período de muitas alegrias e dificuldades. Vanessa iniciou no Veredas aos 44 anos,

possui três filhos, se divorciou e hoje mora junto com um companheiro. Retrata as

primeiras experiências na escola como prazerosas, em que tinha muita vontade se

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aprender. Sempre foi boa aluna e, em alguns momentos de sua vida escolar,

apresentou baixo rendimento, em função de sérios problemas de visão, que acabaram

por gerar algumas repetências. Critíca o excesso de castigos da época. Concluiu o

curso normal de nível médio há 24 anos e há 20 anos exerce a profissão de professora,

tendo interrompido a carreira por quatro anos, após o casamento.

Ana Maria nasceu em Belo Horizonte e viveu uma infância simples, com

brinquedos confeccionados pelos pais, mas também descrita como uma infância ótima,

apesar das muitas dificuldades financeiras, junto com mais 3 irmãos. Iniciou no Projeto

Veredas aos 39 anos, é casada e tem dois filhos. Trabalha em 2 turnos, numa escola

estadual e outra municipal. Retrata as primeiras lembranças da escola como uma

época de bons e maus momentos, bons e maus professores e também critica a

repressão daquele período. Ana Maria concluiu o normal de nível médio há 20 anos e

exerce a profissão há 16 anos.

Alessandra não sabe ao certo em que lugar nasceu, nem o dia e ano: “Dizem que nasci

em Curvelo”. Até os três anos, morou com várias famílias, vivendo uma série de

rejeições, até ser adotada pela família com quem viveu definitivamente. Levada ao

pediatra, ficou definida sua idade e ano de nascimento. A data de nascimento passou a

ser o dia em que chegou na casa dessa família. Viveu sua infância com saúde frágil,

mas cercada de cuidado e carinho, com 5 irmãos muito mais velhos do que ela. Refere-

se às primeiras lembranças da escola como um período muito bom, mas de muita

repressão e castigo. Iniciou no Veredas aos 49 anos e trabalha em dois turnos. Formou

há 20 anos e exerce a profissão há 11 anos. É casada e tem sete filhos e duas

netinhas.

Mariana nasceu em Belo Horizonte em uma família numerosa de 11 irmãos e

viveu uma infância de vida simples e criação rigorosa. Iniciou no Projeto Veredas aos

40 anos, é solteira. Descreve suas primeiras lembranças na escola como pouco

prazerosas e diz carregar seqüelas de momentos traumáticos vividos na escola.

Mariana formou há 17 anos no curso normal de nível médio e atua na profissão há 16

anos.

O Tutor, José Raimundo Lisbôa da Costa, tem 59 anos, possui graduação e

especialização em História e Mestrado e Doutorado em Educação. É professor há 33

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anos e trabalha atualmente na Faculdade de Educação da UFMG, lecionando a

disciplina Prática de Ensino de História, no curso de Licenciatura.

Para descrição dos atores da pesquisa, foi analisado o memorial, os

questionários e a entrevista, numa tentativa de compreendê-las a partir de suas

histórias de vida e de suas vivências na escola.

Alguns pontos foram coincidentes nos documentos analisados: as quatro

professoras vieram de famílias de baixa renda, que lutaram para conseguir sustentar os

filhos. Apesar das dificuldades relatadas por todas, falam da infância feliz, cercadas de

afeto. Estudaram em escolas públicas e relatam, juntamente com a alegria de ir para a

escola, momentos de repressão, castigo e opressão. Relatam experiências com

professoras carinhosas, afetivas e dedicadas, que marcaram suas vidas escolares.

Falam também de professoras enérgicas, amargas, que ensinaram “ como não ser um

bom professor”.

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CAPÍTULO 2- DEBATES ATUAIS E NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE APROFISSINALIZAÇÃO NO MAGISTÉRIO

2.1-Profissionalismo e Profissionalidade

Os estudos atuais sobre a profissão docente apontam para a idéia de que a

profissionalidade está associada aos saberes, competências e atitudes do professor na

especificidade do exercício do seu trabalho, enquanto a idéia do profissionalismo está

ancorada na busca de reconhecimento social e status enquanto categoria profissional.

O movimento de profissionalização do ofício de professor foi desenvolvido a

partir do reconhecimento da existência de um longo e exaustivo processo inverso, ou

seja, a desprofissionalização, resultante de vários fatores, dentre eles: as mudanças no

contexto social que provocaram o deslocamento do lugar social da escola como local

de instrução por excelência, a falta de reconhecimento social do trabalho docente, além

dos modelos de cursos de formação baseados na racionalidade técnica, que

descaracterizaram os saberes dos professores.

A reivindicação de profissionalismo por parte dos professores passa pelas

mudanças nas condições de trabalho, remuneração, atualização e formação

permanente, em conformidade com a função social que cumprem, além da exigência de

respeito, dignidade e ingerência de estranhos.Ramalho (2003) define a profissionalização como sendo:

o processo no qual uma ocupação organizada, normalmente, mas nemsempre, em virtude de uma demanda de competências especiais eesotéricas , e da qualidade do trabalho, dos benefícios para a sociedade,obtém o exclusivo direito a executar um tipo particular de trabalho,controlar a formação e o acesso, e controlar o direito para determinar eavaliar as formas de como realizar o trabalho.( Ramalho, 2003 , p.39 ) .

Segundo Costa (1995), a teoria das profissões de Parsons é a que

provavelmente vem oferecendo maior sustentabilidade à análise sobre o trabalho

docente, respaldando as discussões a respeito de sua condição de profissionais ou

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semiprofissionais. Essa teoria distingue aspectos que diferenciam as profissões de

outras ocupações que não detêm a valorização social típica de uma profissão.

De acordo com esse modelo, Costa afirma que as profissões

constituem-se em atividades necessárias para fazer frente a funçõesespecialmente valorizadas; requerem dedicação exclusiva e aquisiçãoprévia de competência técnica especifica; essa competência técnica sefundamenta em um corpo de conhecimentos científicos altamentegeneralizados e sistematizados teórica e empiricamente; o âmbitoformativo reúne um conjunto de pautas e diretrizes de socializaçãoprofissional que geram um código deontológico próprio. (Costa,1995,p.88)

Dessa forma, a profissão docente foi caracterizada como uma atividade em

processo de profissionalização, uma vez que não se enquadrava nos requisitos da

caracterização típica das profissões.

Contreras (2002) destaca alguns traços assinalados por Enguita, considerados

imprescindíveis para a caracterização e concepção das profissões:

- Competência/ou qualificação num campo de conhecimento.- Vocação / ou sentido de serviço a seus semelhantes.- Licença / ou exclusividade em seu campo de trabalho.- Independência / ou autonomia, tanto frente ás organizações como

frente aos clientes.- Auto-regulação (ou regulação e controle exercido pela própria

categoria profissional. (Enguita (1991), apud Contreras (2002),p.56).

Para Contreras (2002), quando se tenta enquadrar os professores nessas

características, a conclusão mais habitual a que se pode chegar é denominá-los como

semiprofissionais,

já que se considera que lhes falta autonomia com relação ao Estadoque fixa sua prática, carentes de um conhecimento próprio estabilizado esem uma organização exclusiva que regule o acesso e o códigoprofissional” ( Contreras, 2002, p.57)

Dessa forma, o autor também critica a teoria dos traços para a compreensão da

profissão docente, afirmando que a seleção a priori dos elementos constituintes de uma

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profissão é simplista como ponto de partida e determinista, uma vez que desconsidera

as dinâmicas complexas que constituem historicamente uma profissão.

A compreensão do trabalho dos professores passa pelas condições

sociopolíticas que dão credibilidade à instituição escolar, pela forma como se

constituíram historicamente suas condições de trabalho e pelas imagens públicas

referentes a eles. Assim, falar em profissionalidade dos docentes, na visão de

Contreras, implica reconhecer que há traços comuns que são determinantes de

qualquer profissão, mas que há também espeficidades que demarcam o território do

trabalho do professor.

Esse modelo de análise foi sendo substituído pelos questionamentos acerca do

papel social e político presentes na profissão docente. Assim, novas questões foram

dimensionadas e trazidas para discussão, com base em novo eixo de análise, não mais

fincado no dever ser, mas sim na natureza de classe das profissões, inseridas no

modelo capitalista de produção e no domínio da estrutura social. No entanto, ainda hoje

permanece a discussão em torno da condição de profissionais ou semiprofissionais da

categoria docente.

Costa (1995), entretanto, considera essa discussão como próxima do senso

comum e ressalta a necessidade de analisar outras dimensões nela presentes.

Baseando-se na análise de Johnson2, ela afirma a importância de analisar a dimensão

de poder,

na medida em que o profissionalismo torna-se um tipo peculiar decontrole ocupacional e não a expressão da natureza de ocupaçõesparticulares. Profissão não é uma ocupação mas um meio de controlaruma ocupação. Profissionalização é um processo historicamenteespecífico desenvolvido por algumas ocupações em um determinadotempo e não um processo que certas ocupações devem sempre realizardevido a suas qualidades essenciais; é uma forma de controle político dotrabalho, conquistado por um grupo social, em dado momento histórico.(Costa, 1995, p.89)

Nessa direção, Contreras chama a atenção para a necessidade de analisar o

profissionalismo enquanto ideologia, verificando como se dão as relações entre o

grupo ocupacional e seus empregadores diante de tal reivindicação. Com efeito, por

2 JOHNSON, T.J. Professions and Power. [s.1]: Macmillan, 1972.

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parte dos primeiros, o discurso da profissionalização é empregado como forma de obter

melhores condições de trabalho, enquanto que por parte dos empregadores é um

recurso ideológico para neutralizar conflitos, reorientar expectativas ou estabelecer

hierarquia de salários. Essa apropriação por parte dos empregadores pode resultar

numa estratégia discutível enquanto conquista para os professores. Também, se

enquanto ideologia o profissionalismo se associa à capacidade de delimitar um corpo

de conhecimentos como exclusivo de uma profissão, essa relação é arriscada, uma vez

que pode ser utilizada para introdução de um modelo de racionalização do ensino,

homogeneizando a prática dos docentes e comprometendo ainda mais a autonomia

dos professores. (Contreras, 2002)

O autor chama a atenção para a idéia de alguns teóricos3, no sentido de evitar

o uso do termo “profissionalismo” em função de estar inserido nele “uma descrição

ideologicamente presunçosa do status e dos privilégios sociais e trabalhistas aos quais

se aspira.” No lugar desse termo, “optou-se pelo termo profissionalidade, como modo

de resgatar o que de positivo tem a idéia de profissional no contexto das funções

inerentes ao trabalho da docência.”

A profissionalidade, nessa perspectiva, refere-se à prática profissional dos

professores em suas especificidades e defendê-la significa buscar o reconhecimento

profissional e status social, as condições necessárias para o desenvolvimento do seu

trabalho com autonomia, além da formação condizente com essa necessidade,

implicando, assim, na defesa da própria educação.

Contreras ressalta que o ensino não se resume às práticas de sala de aula tão

somente, sendo um jogo de “práticas aninhadas”, onde fatores históricos, culturais e

sociais assumem lugar junto ao indivíduo.

Dentro dessa análise, ele elege três dimensões da profissionalidade,

consideradas de grande importância e que tomamos como essenciais:

• A obrigação moral - que significa compromisso que extrapola as relações

contratuais e que envolve o desenvolvimento e formação de pessoas.

3 Hoyle (1980: 44) Gimeno (1990:2)

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• O compromisso com a comunidade – a partir do reconhecimento de

que exerce uma prática profissional que é compartilhada e que, por isso mesmo, deve

reconhecer legítimo o direito da comunidade intervir na educação.

• A competência profissional – como necessária para o desempenho

coerente com as duas outras dimensões e que transcende o domínio das habilidades

puramente técnicas. Essa competência resulta de um conhecimento que, em parte, vem

das reelaborações dos docentes e de suas experiências partilhadas e, em parte, é fruto

das diferentes tradições e posições pedagógicas.

As reivindicações dos professores acerca da profissionalização, bem como as

discussões sobre o tema, passam por aspectos que envolvem suas condições

concretas de trabalho e, principalmente, pelo reconhecimento da especificidade do

campo educativo.

Em relação à profissionalização do professor, Costa, recorrendo a Burbules e

Densmore4, comenta os três equívocos básicos das propostas que tentam estabelecer

a docência como uma profissão, apontados por esses autores:

Primeiro: dizem, ignoram o processo pelo qual algumas ocupações setransformaram em profissões, o que não poderia ocorrer no caso doensino. Em segundo lugar, supõem que uma ocupação pode se apropriarde alguns e não de outros aspectos da profissionalização, o que se opõefrontalmente às evidências históricas e sociológicas. E, em terceiro lugar,centrar na profissionalização dos professores a solução das gravesquestões da educação só serve para camuflar alguns problemasfundamentais da escola. (Costa, 1995, p.124)

Dessa forma, Burbules e Densmore levantam uma questão relevante para a

compreensão da profissionalização do professor: destacam que a busca da

profissionalização não traz como conseqüência imediata a satisfação de anseios há

tempos perseguidos pelos professores, como melhoria salarial, elevação do status

profissional, maior participação nas decisões envolvendo seu trabalho ou melhores

oportunidades de formação intelectual. Essas melhorias são resultado das lutas

políticas que um grupo ocupacional vem conquistar a partir de processos de

reivindicações, em contextos históricos diversos e específicos. Dessa forma, os

4 BURBULES, Nicholas,; DENSMORE, Kathleen. Los limites de la profesionalización de la docência. Educacíon y Sociedad, Madrid,n.11, 1992a.

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atributos que irão indicar melhorias nas condições de trabalho e reconhecimento

público são conseqüência deste processo e não causas advindas de uma nomenclatura

que demarca diferenciações entre um grupo ou outro de trabalhadores.

A docência enquanto profissão

Historicamente, a profissão docente foi se constituindo associada aos ideais de

vocação, sacerdócio, domesticidade, missão, abnegação, amorosidade, resignação,

conformismo e estreita vinculação com o trabalho feminino. No atual contexto, os

professores enfrentam o desafio de se deslocarem de seus papéis convencionais e

assumirem novos papéis, agora em novos tempos.

Na verdade, a grande mudança nesses papeis foi impulsionada a partir do

processo de industrialização e do desenvolvimento da sociedade capitalista urbana,

quando a população trabalhadora passou a necessitar de escolarização, o que

acarretou num grande aumento do número de escolas e, consequentemente, de seus

profissionais, sob forte tutela do Estado.

Analisando esse aspecto, Hypólito (1997) chama a atenção para o impacto

dessa passagem na carreira dos professores, de trabalhadores a serviço da igreja para

trabalhadores do Estado, assalariados e com profissão regulamentada.

Nesse momento, a construção da identidade profissional dos professores foi se

distanciando do ideal de missão e sacerdócio, afastando também do controle da

comunidade sobre os modelos de comportamento moral e inclusive sobre os conteúdos

ministrados.

Assim, como funcionário do Estado e no bojo de um cenário histórico onde se

afirmava a publicização do ensino e sua expansão, o professor foi se assumindo

enquanto trabalhador assalariado.

Permanece, ainda hoje, o ideal da profissão docente situando-se entre o

funcionário e o profissional livre, num local intermediário onde parece que a cada

professor compete optar individualmente pelo lado da balança que melhor lhe convier

(Costa 1995). Sob tutela do Estado, o professor vive, de um lado, a regulamentação da

profissão e, de outro lado, vê-se submetido ao controle ideológico sobre sua ação. O

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Estado passa a ser o agente controlador inclusive da formação dos profissionais para a

educação básica, seguindo os moldes de educação que almeja.

Nóvoa (1992) faz o seguinte comentário sobre a construção da identidade

profissional do professor, nesse momento de transição:

Ao longo do século XIX consolida-se uma imagem do professor, que cruza asreferências ao magistério docente, ao apostolado e ao sacerdócio, com ahumildade e a obediência devidas aos funcionários públicos, tudo isso envoltonuma auréola algo místico de valorização das qualidades de relação e decompreensão da pessoa humana. Simultaneamente a profissão docenteimpregna-se de uma espécie de entre-dois que tem estigmatizado a históriacontemporânea dos professores: não devem saber de mais, nem de menos,não se devem misturar com o povo, nem com a burguesia; não devem serpobres, nem ricos; não são (bem) funcionários públicos, nem profissionaisliberais etc. (Nóvoa 1992 p.18)

Essa discussão do lugar social do professor, situado numa espécie de “entre-

dois”, para a qual Nóvoa chama a atenção, é também colocada na análise da relação

professor/aluno.

Esteve(1999), afirma a existência de um equilíbrio instável, em que

exige-se do professor que seja um companheiro e amigo dos alunos ou, pelomenos, que se ofereça a eles como um apoio, uma ajuda para seudesenvolvimento pessoal, mas, ao mesmo tempo, exige-se que ele faça umaseleção ao final do curso, no qual, abandonando seu papel de ajuda, deveadotar um papel de julgamento que é contraditório ao anterior. Exige-se doprofessor que se ocupe do desenvolvimento individual de cada aluno,permitindo o nascimento e a evolução de sua própria autonomia, mas, aomesmo tempo, pede-se que ele produza uma integração social, na qual cadaindivíduo se acomoda às regras do grupo. (...) Muitas vezes o professor viveuma profunda ruptura com a sociedade ou com a instituição educacional emque trabalha, enquanto, pessoalmente, pode discordar da forma com quefunciona ou dos valores que promove; mas, ao mesmo tempo, o professoraparece aos olhos dos alunos como um representante da sociedade e dainstituição.(Esteve, 1999, pp 31-32)

Essas questões são apresentadas como dificultadoras para o processo de

profissionalização do professor.

Em seu processo histórico, a profissão docente vem sendo discutida sob vários

ângulos, entre os quais salientaremos as discussões sobre a proletarização e a

feminização do magistério.

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A Proletarização do Magistério

A idéia central da tese da proletarização refere-se às diversas perdas que os

professores, enquanto categoria, vêm sofrendo. Paulatinamente os professores vêm

perdendo as qualidades que os credenciavam enquanto profissionais, suas condições

de trabalho e seu status social. Essa idéia está baseada na análise marxista das

condições de trabalho no modo de produção capitalista.

Discussões atuais vêm acontecendo no sentido de buscar compreender a

situação dos professores inseridos na classe trabalhadora e os desdobramentos

advindos dessa categorização.

Hypólito (1997) reforça essa teoria da proletarização do trabalho docente,

afirmando que “o professor é um trabalhador assalariado, que passa por um processo

de desqualificação, no qual se identifica perda do controle sobre o processo de trabalho

e perda de prestígio social”.

A análise da profissão docente enquanto trabalho assalariado tem seu

fundamento no enfoque marxista sobre o trabalho no sistema capitalista e foi explorada

por vários autores, entre eles Braverman, Ozga e Lawn; apontados por Costa (1995)

como referências na abordagem desse tema. Costa destaca a análise marxista da

questão da classe dos professores, feita por Ozga e Lawn que, segundo ela:

desenvolvem uma discussão com vários autores, tentando reunirargumentos: a)que sustentem sua posição de que o trabalho na escola éum processo de trabalho capitalista e os docentes, portanto, sãotrabalhadores assalariados, e b)contra a postulação daqueles que situamos professores numa nova classe média profissional (Carcherdi) ou numaversão reformulada da petite bourgeoisie (Poulantzas). Realizam suaanálise tomando como referência os determinantes econômicos e osdeterminante políticos e ideológicos. (Costa, 1995, p.98)

A autora chama a atenção para a situação do professor enquanto trabalhador

assalariado e, tendo como referência a teoria marxista trabalhada na obra de Ozga e

Lawn (1981)5, cita a análise de Marx, em “O Capital”, em que

5 OZGA, Jennifer; LAWN, Martin. Teachers, Professionalism & Class: a study of organized teachers.London: The Falmer Press,1981.

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apresenta os docentes convertidos em exemplo de trabalhador produtivo,pois além de trabalhar com a cabeça de seus alunos, eles trabalhamcomo cavalos para enriquecer o proprietário da escola. Trabalhar numafábrica de ensinar, diz Marx, em vez de numa fábrica de lingüiça, nãoaltera a relação. (Costa, 1995, p.100)

Os autores que, segundo Costa, defendem a idéia da proletarização do trabalho

do ensino como consequência das transformações ocorridas nos processos de trabalho

no modelo capitalista deste século, partem do pressuposto de que trabalho docente, ao

longo do tempo, foi se identificando com as subcondições do trabalho assalariado dos

trabalhadores da fábrica. Esse modelo de análise é oposto à idéia de

profissionalização, uma vez que profissionalizar é representativo de elevação de status

e busca de valorização social.

Na concepção Marxista, o professor é expropriado do saber que seria próprio

do seu ofício e submetido a treinamentos para requalificação, que lhes conferem

aptidões para a execução de tarefas, o que provoca sua alienação, tal como essa é

definida por Marx. Essas requalificações normalmente são organizadas na forma de kits

de reciclagem compostos de fita de vídeo e manuais, em que o conhecimento teórico

se encontra embalado para rápido consumo, cabendo ao professor assimilar e repassar

as informações recebidas. Esse processo faz com que os professores se encontrem

cada vez mais subjugados àqueles que produzem o conhecimento especializado que é

transformado em técnicas de ensino, cabendo a eles o cumprimento de prescrições

determinadas. Esse modelo de racionalização, ao qual se vê submetido, irá acarretar

uma consequente desmotivação e ausência de reflexão.

A identificação entre o trabalho do operariado e o trabalho dos professores,

referência para a tese da proletarização, não é, contudo, uma concepção que se tornou

aceita sem sérias resistências.

Silva6, citada por Costa (1995), critica essa abordagem e, a partir da questão:

“o trabalho docente é um processo de trabalho capitalista?”, apresenta duas

argumentações. A primeira se faz no sentido de redimensionar a escola não mais

como um local típico de trabalho capitalista, mas sim como instância onde é reforçada a

6 SILVA, Maria Aparecida. Professor: Caminhos e descaminhos da profissionalização.AMAE Educando, nº204, jub.1999.

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dinâmica do capitalismo, na qual a escola é subserviente e está ideologicamente

comprometida. Uma segunda argumentação baseia-se na crítica às categorias de

aproximação entre o trabalho do operário e o trabalho do professor.

Essa autora ressalta a necessidade de verificar as características fundantes e

essenciais no trabalho docente, enfatizando a ausência de produção de valores

materiais no interior da escola. Para ela, é necessário e mais importante verificar as

diferenças presentes no interior das duas formas de atuação do que as semelhanças

entre a escola e a empresa capitalista.

Ozga e Lawn, citados por Costa (1995), também reconhecem falhas na tese da

proletarização dos professores, quando, segundo a autora, analisam que:

O quadro teórico da proletarização não tem sido competente paramostrar, por exemplo, como mudanças no controle e na organização dotrabalho docente afetam o ensino, o que exatamente está no coração doensino e se há alguma concepção central e integrada da tarefa deensinar que faz o ensino resistir às mudanças no processo de trabalho.(Costa, 1995, p.120)

Contreras (2000), enquanto estudioso do trabalho do professor, chama atenção

para os estudos de Derber (1982), que aponta a existência de duas formas de

proletarização diferenciadas, para o caso dos trabalhos que envolvem um componente

intelectual.

a técnica, segundo a qual se produz uma perda de controle sobre asformas de realização do trabalho, sobre as decisões técnicas acerca domesmo; e a ideológica, relacionada com a perda de controle sobre os finse os propósitos sociais aos quais o trabalho se dirige.... enquanto ambasas formas de proletarização se deram no caso dos trabalhadoresindustriais, não foi assim no caso dos profissionais. O que estes últimosperderam foram seus valores ou o sentido de suas pretensões, mas nãosuas habilidades técnicas, que foram conservadas, podendo assimlegitimar uma diferença de prestígio e reconhecimento (Contreras, 2000,p.42)

Recorrendo a Derber, Contreras afirma que, normalmente, os processos de

proletarização ideológica levam a repostas acomodativas, que envolvem a

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dessensibilização ideológica, que supõe não reconhecer a importânciada perda de controle sofrida em relação ao conjunto de valores e ao fimsocial de seu trabalho. Ou a reformulação dos fins e objetivos morais, demaneira que acabem sendo compatíveis com aqueles pretendidos pelaorganização para a qual se trabalha. (Contreras, 2000,p.42)

Nesse sentido, compreender o processo de proletarização dos professores

significa analisar as perdas de competências técnicas, relações de exploração e

produção de mais valia associada à dupla ou tripla jornada de trabalho. Contudo,

segundo Contreras, além do controle técnico ao qual os professores se encontram

submetidos, também ocorre a desorientação ideológica, aspecto mais importante a ser

considerado, além da perda do sentido ético implícito no seu trabalho.

Burbules e Densmore7, citados por Costa (1995), referem-se às recentes

pesquisas que vêm apontando que

O professorado provém, geralmente, das classes média e média baixa,tem metas ou objetivos de trabalhos modestos, nem sempre pretendemfazer carreira no ensino e muitos docentes permanecem pouco tempo naprofissão. Muito isolados em seu trabalho os professores vêemautonomia como individualismo (Faço o que quero quando fecho a portada minha sala de aula), e tendem a atribuir a si os fracassos, nãobuscando os colegas e outros grupos como aliados no questionamentoda escola. (Costa, 1995, p.126)

Para Costa, profissionalizar implicaria um certo nível de elitização, que atrairia

para a docência, “homens brancos, bem educados, de classe média e média alta: são

essas as pessoas que profissionalizam as outras profissões”.

A análise da questão da profissionalização do magistério passa, ainda, pela

feminização, que vem marcando os estudos sobre a profissão docente na escola

básica.

7 BURBULES, Nicholas,; DENSMORE, Kathleen. Los limites de la profesionalización de la docência. Educacíon y Sociedad, Madrid,n.11, 1992a

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A Feminização do Magistério

O processo de feminização do magistério aconteceu no Brasil semelhante ao

que ocorreu em toda sociedade ocidental, a partir do final do século XIX, momento em

que houve uma significativa expansão da escola pública.

Muito ligado ao avanço do capitalismo e às conseqüentes transformações

decorrentes do processo de industrialização, o fenômeno sociológico da feminização do

magistério trouxe claras consequências para o sistema educacional e para a mulher

que, a partir dessa conquista, assegurava o seu lugar no mundo do trabalho.

A definitiva implantação de um modelo de industrialização crescente abriu

novas frentes no mercado de trabalho, ocupado principalmente pelos homens, exigindo

cada vez mais um maior número de mão de obra. Esse movimento, segundo a

interpretação de estudiosos do processo de feminização, deslocou um grande

contingente de homens que exerciam o magistério para a ocupação desses postos de

trabalho, muitos deles vetados às mulheres e possivelmente melhor remunerados.

Costa (1995), concordando com essa afirmativa, analisa esse fenômeno, à luz

dos estudos de Apple e afirma:

as mulheres ocuparam o espaço do magistério à medida em que oshomens dele se afastavam. A abertura de novos campos e melhoresoportunidades de trabalho para os homens – o que no Brasil pode seratribuído ao processo de urbanização e início da industrialização, atrai oshomens para outras atividades. (Costa, 1995,p.162)

Dessa forma, a ‘”função materna”, considerada naturalmente feminina, vinculou-

se ao trabalho docente, associando a natureza desse trabalho à submissão,

amorosidade, paciência, sensibilidade, enfim, o trabalho da docência é identificado com

a extensão do trabalho do lar.

Almeida (1998), também citando os estudos de Apple sobre a ocorrência desse

fenômeno nos Estados Unidos e Inglaterra, afirma que o afastamento dos homens se

deu também em função de que exigências para lecionar foram se tornando cada vez

maiores, também aumentando o período letivo e o controle sobre a prática do

professor. Dessa forma, a profissão docente foi se distanciando da concepção de uma

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ocupação casual, que propiciava a conciliação com o exercício de outras profissões,

para se tornar uma ocupação que exigia maior dedicação.

Somando a esses aspectos, a autora chama a atenção para o momento

histórico da expansão das escolas e a rejeição à coeducação, implicando na

necessidade da presença de professoras nas classes femininas.

Assim, as autoridades do ensino passaram a voltar o olhar para as mulheres,

que foram consideradas aptas para o exercício dessa atividade profissional, passando a

receber o aval do poder público e, associado a esse, o aval da sociedade que

legitimava e reconhecia a função de educadora da mulher, uma vez que, já exercendo a

função de educadora de seus filhos, estenderia esse trabalho aos filhos da nação.

Almeida afirma que houve também um movimento das mulheres em relação à

profissão, uma vez que, apesar do rigor dos costumes da época que impunham um

ideal de docilidade e submissão associado à imagem da mulher, elas posicionaram-se

com firmeza a respeito de questões básicas para seu sexo como educação,

conhecimento, maior liberdade pessoal, oportunidade de exercerem uma profissão e

isso ficou evidente no discurso reivindicatório das pioneiras dos anos iniciais.

A ideologia feminista que desenvolveu-se na esteira dessas primeirasreivindicações, centrada num grupo de mulheres de melhor extratosocial, tinha desse grupo uma imagem própria que, embora preocupadacom o destino da sociedade, concentrava em si o poder de renovaçãodessa mesma sociedade que oprimia e subordina seu sexo em todas ascamadas sociais. Sua principal força motivadora estava na crença de umsuposto poder que poderiam conseguir através da .instrução. ( Almeida ,1998, p.114)

O exercício do magistério, naquela época, beneficiava as mulheres,

especialmente pela própria estrutura organizacional da profissão, com jornada de

trabalho de menor tempo - geralmente quatro horas diárias, por envolver o trato com

crianças, o que reforçava a idéia de sua função materna e cunhava a impressão de

extensão do trabalho do espaço doméstico. Assim, as mulheres se embrenhavam na

profissão, associando as funções de mãe e professora, o que viabilizava um

cruzamento entre o público e o privado, dentro das condições sociais apresentadas na

época.

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Nesse sentido, por um lado, o exercício do magistério primário representou um

marco inicial para a inserção feminina no mercado de trabalho e, por outro lado, deixou

cravados na profissão os atributos de docilidade, amorosidade, dedicação, abnegação,

maternidade, renúncia e doação, aspectos esses tão impregnados à figura da mulher

na sociedade.

Segundo Almeida,

as demais profissões que fugissem aos padrões ditos femininosofereciam tenaz resistência à sua entrada, sob os mais variadosargumentos, desde o prejuízo à sua saúde e a dos futuros filhos, àdesagregação da família e as consequências para a sociedade e para apátria ( Almeida, 1998, p.120)

As mulheres que ocupavam outras frentes de trabalho como, por exemplo, o

trabalho fabril, eram socialmente desvalorizadas, tendo sua imagem social construída

de forma desabonadora, com salários menores que os dos homens e vistas como

desintegradoras do lar. Eram mulheres vindas de uma parcela desfavorecida da

sociedade, que procuravam trabalho por necessidade de garantia da sua sobrevivência

e de suas famílias, diferentes das mulheres que procuravam o magistério. Essas

vinham da classe burguesa e reivindicavam instrução e inserção no mundo do trabalho,

sendo ancoradas pelos discursos positivista e higienista, que apregoavam o ideal de

mulher culta, educada, civilizada, capaz de educar bem seus filhos e os filhos da nação.

A mulher precisava ser bem educada para proteger a infância contra as doenças

resultantes da falta de cuidados e, além disso, ser o esteio da família, discurso

fortemente defendido pela igreja. (Almeida, 1998)

Dessa forma, uma boa professora deveria ser uma boa mãe, ter boa conduta,

boa moral, princípios religiosos, além de ser virtuosa.

Esses aspectos relacionados à profissão docente ainda pairam no imaginário

social como constituintes das qualidades necessárias ao exercício da profissão e

condicionantes para o reconhecimento de um bom professor.

Esse caráter "doméstico" associado à profissão, segundo Almeida, foi danoso,

uma vez que não se tornou necessário remunerar adequadamente a alguém que

somente continuava, no espaço público, o que era sua rotina na esfera privada.

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Um outro aspecto que a autora chama atenção refere-se à crença de que o

salário das professoras era bom e ficou ruim, afirmando que nunca houve boa

remuneração para o trabalho docente.

Outro exemplo de associação mal formulada refere-se à relação entre a

inserção feminina na carreira docente e a desvalorização profissional. Segundo a

autora, é impossível a sustentação de tal hipótese, tendo em vista o fato de que,

historicamente, nunca houve valorização e boa remuneração para essa categoria

profissional.

Uma outra forma de ver esta questão pode ser articulada a partir da

interpretação de Burbules e Densmore, citados por Costa (1995), que afirmam a

correlação existente entre a força de trabalho docente substancialmente feminizada e

as perdas de vantagens em relação a status profissional, salário e reconhecimento

social, remetendo à seguinte questão: “ por que feminização implica afastamento do

status profissional?” A resposta a essa questão, segundo eles, está na expectativa da

sociedade em relação às mulheres, no sentido de que elas devem se ocupar do

trabalho fora do ambiente doméstico, mas paralelamente às tarefas do lar. Essa

exigência irá encaminhá-las na direção da busca de horários flexíveis que atendam às

condições de associarem dois universos de trabalho diferenciados. Assim,

profissionalizar-se implicaria em um novo tipo de envolvimento mais comprometido

com o “mundo de fora do lar” o que, segundo os autores, para muitas professoras é

inaceitável.

Outro ponto, que ainda necessita de uma releitura, refere-se à idéia de que a

ocupação pelas mulheres desse mercado de trabalho foi resultado de uma concessão

em função da necessidade de suprir a expansão de vagas. Segundo Almeida (1998),

longe de significar uma concessão, a inserção profissional das mulheres no magistério

se deu através de um movimento em busca dessa profissão e, como consequência, a

ocupação gradativa e persistente desse espaço profissional como resultado de

reivindicações. Esses fatores se associam à atenção do poder público, que passou a

reconhecer que as mulheres preenchiam as condições necessárias para o exercício da

profissão de magistério, em um momento em que as escolas se expandiam.

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Considerada sagrada, a profissão estabelecia um vínculo com o sacerdócio, a

vocação, a entrega e a resignação. Vinculada ao trabalho feminino, relacionava-se com

a domesticidade, a maternidade.

Hypólito(1997), analisando o magistério como profissão feminina, ressalta que

houve uma associação direta entre vocação/maternidade/funções domésticas,

refletindo a idéia de que “naturalmente” a mulher estaria mais apta a cuidar de crianças.

Bruschini e Amado8, citados por esse autor, desenvolveram estudos sobre a

feminização do magistério, analisando a posição da mulher no universo do trabalho

onde os homens, além das funções adicionais do seu emprego, possuíam diversas

atribuições por assumirem a liderança das famílias:

A mulher professora, não possuindo essas obrigações, poderia recebersalário menor, pois de caráter complementar, secundário, nas despesasdo lar. Ao mesmo tempo, os baixos salários oferecidos reforçam aassociação do trabalho de professora com a extensão de atividadesdomésticas e habilidades femininas, a ponto de encarar como desonrosoe até humilhante, para o homem, o exercício dessa profissão. (Hypólito,1997, p.63)

A maciça presença feminina no exercício da docência é algo que pode ser

verificado, não só no Brasil, como também em outros países ocidentais. Mas esse fato

por si mesmo não é considerado como condição que propiciou a feminização do

magistério, que tem raízes históricas mais profundas, relacionadas aos meios

socioculturais dos universos onde ocorreu.

Costa (1995), ao analisar a relação entre trabalho docente e gênero, apresenta

uma questão que consideramos relevante para reflexão acerca dessa temática:

Comecemos introduzindo uma simples questão: por que o fato de umgrande número de mulheres, neste século, dirigir-se para a medicina ou odireito, não feminizou essas profissões? E por que esse mesmofenômeno demográfico afetou tão profundamente a docência? (Costa,1995, p.160)

8 BRUSHINI, Cristina e AMADO, Tina. “Estudos sobre a mulher e educação: Algumas questões sobre o magistério”. Cadernos dePesquisa n.º 64. São Paulo, fev. 1988, p.4-13.

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Analisando essa questão, a autora ressalta o aspecto quantitativo, ou seja, em

nenhuma outra profissão esse fenômeno ocorreu de forma tão intensa, na medida em

que o magistério foi o campo profissional que se abriu às mulheres de forma mais

significativa, com o aval da sociedade patriarcal. A esse aspecto, soma-se a estreita

vinculação estabelecida entre cuidar de seus próprios filhos e cuidar dos filhos da

nação.

No Brasil, segundo pesquisa recente9, as mulheres representam 83% do

contingente de professores na educação básica. Esse percentual se concentra com

maior frequência na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.

Em busca de uma perspectiva para a profissionalização do professor

As discussões atuais acerca da formação de professores apontam que ela não

ocorre de forma linear, sequencial e mecânica iniciando com o curso de formação

inicial, indo para o exercício da profissão, para em seguida envolver situações de

formação continuada. Essa visão, que é sustentada por uma concepção cumulativa do

processo formativo, envolvendo a adição de etapas estanques e sequenciais, nega a

idéia de que a formação é algo inerente a todo o ciclo de vida profissional, podendo

acontecer das formas mais variadas e em situações diversas.

Nesse sentido, a emergência do conceito de trajetória profissional permitiu a

superação dessa visão estática, presente nas análises das relações entre a formação e

o mundo do trabalho. Assim, a formação passa a ser analisada incorporando a idéia de

percurso profissional, pois engloba o sentido de evolução e continuidade, de

experiências vividas e compartilhadas, marcadas por fases ou ciclos.

Nesse processo, os professores influenciam e são influenciados pelo contexto

em que se encontram (político, social, escolar, familiar), sendo que essas experiências

são reconhecidas como facilitadoras ou dificultadoras da construção desses sujeitos

enquanto profissionais.

O processo de formação continuada dos professores passa também pelo

comprometimento individual com o exercício da profissão , além da compreensão de

9 Pesquisa realizada pela CNTE – Confederação Nacional do Trabalhadores em Educação - 2002

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que o espaço escolar é um lugar de formação, sendo importante o reconhecimento do

potencial formativo presente nas situações de trabalho.

Dessa forma, o desenvolvimento profissional não se dá em separado de uma

proposta de desenvolvimento pessoal e institucional, o que hoje é considerado grande

desafio para a elaboração das propostas dos cursos de formação.

Um outro ponto importante, presente nessa nova concepção de formação de

professores, refere-se à necessidade de tomar como fonte de conhecimento o

pensamento do professor e a sua prática.

Assim, a formação continuada deve ir além da concepção de prolongamento

da formação inicial, devendo inclusive ultrapassar o atendimento às necessidades

pontuais resultantes das mudanças das políticas públicas ou dos projetos institucionais.

Candau( 2002) identifica como “clássica” a perspectiva presente na maioria dos

projetos de formação continuada, baseados principalmente na reciclagem dos

professores e caracterizados pela dicotomia entre teoria e prática. A partir dessa

perspectiva, ocorreram novas tentativas de compreender os processos formativos,

buscando deslocar a visão do professor como sujeito desprovido de saberes e

deslocando também a universidade do lugar de formação por excelência.

A autora ressalta ainda a necessidade de atentar para aspectos silenciados na

temática da formação continuada de professores como a dimensão cultural da prática

pedagógica, que é ampla e relevante, pois envolve questões relativas à diversidade

cultural, étnica e as questões de gênero.

Em sua análise, podemos perceber a necessidade de definir as perspectivas

que vão caracterizar o desenvolvimento profissional, bem como a necessidade de

buscar novas respostas para velhas questões acerca da formação de professores.

No Brasil é possível observar, a partir da década de 90, a emergência de novos

discursos acerca da profissionalização do ensino, envolvendo outras perspectivas e

dando nova direção à crise de identidade profissional dos professores.

Essa nova visão irá conclamar o professor a ocupar o lugar de centralidade que

lhe é devido nos processos educativos, constando a sua relevância para o sucesso da

implantação das políticas públicas. Nenhuma reforma do ensino acontece sem que o

professor abrace a causa. Nesse sentido, a grande questão que é colocada diz respeito

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à formação desse profissional, um modelo de formação que conduza à autonomia do

professor e que vise seu desenvolvimento profissional. É sobre esse aspecto que os

estudiosos da área educacional vêm se empenhando, especialmente nos últimos 20

anos.

O que está em jogo na construção desse novo paradigma é um novo modelo de

formação, onde se encontra presente uma nova concepção do profissional do ensino,

desta vez não mais como um receptor de informações produzidas por especialistas das

áreas científicas e reprodutor de tais saberes, onde o processo formativo se vê reduzido

ao mero treinamento de habilidades técnicas, descontextualizado, fragmentado e

distante da realidade vivida pelo professor em seu ambiente escolar.

Essas novas referências de formação, segundo Ramalho (2003), "convergem

para o fazer profissional competente do professor e são ferramentas para seu

desenvolvimento profissional".

Na busca de compreensão de um novo profissionalismo, os estudos realizados

têm dado um grande destaque para a necessidade de formação adequada, mas têm

enfatizado também o fazer do professor, sua prática cotidiana e como esta se constrói

em sua trajetória profissional.

Essas reflexões, em seu conjunto, convergem para uma proposta de

desenvolvimento profissional do professor, onde a construção de sua prática

profissional ultrapassa em inúmeros aspectos a sua formação inicial e incorpora suas

experiências pessoais, profissionais, a reflexão sobre a prática, além da formação

continuada, em busca de um novo modelo de profissionalismo docente.

A construção de um novo referencial para a compreensão do trabalho do

professor como profissional é um projeto que busca a incorporação de vários

elementos, por isso mesmo, complexa e ainda em andamento.

Pela sua complexidade e relevância, o tema do desenvolvimento profissional

será analisado mais detalhadamente no tópico seguinte.

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2.2 – O desenvolvimento profissional como uma alternativa para aprofissionalização do magistério.

“Excesso de discursos e pobreza de práticas”: com essa expressão, Nóvoa

(1999) define o diagnóstico da formação de professores e do seu desenvolvimento

profissional na década de noventa. A intenção é demonstrar o quanto avançaram as

discussões e produções sobre esse tema em detrimento dos avanços ou inovações

referentes às práticas.

Alarcão (1998) também aponta a necessidade de se enfatizar a formação

continuada, na tentativa de superação do abismo existente entre a teoria e a prática.

Essa formação é considerada por ela como o processo dinâmico em que, durante a

trajetória, o profissional vai adequando o conhecimento adquirido na formação inicial às

exigências de sua prática profissional.

A escola, segundo Alarcão, deve ser um lugar onde os professores sejam

autênticos profissionais do desenvolvimento humano, um centro de formação para

todos (alunos e professores) que partilham de um projeto comum de formação. Essa

idéia é defendida por outros teóricos e pode ser considerada consensual. Nóvoa (1997)

defende uma “perspectiva ecológica”, onde as mudanças necessárias à melhoria da

educação devem se dar de forma articulada entre os profissionais da educação e os

contextos em que esses profissionais atuam, afirmando que

As escolas não podem mudar sem o empenho dos professores; e esses nãopodem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham. Odesenvolvimento profissional dos professores tem de estar articulado com asescolas e os seus projetos. A formação de professores deve ser concebidacomo uma das componentes da mudança, em conexão estreita com outrossetores e áreas de intervenção, e não como uma espécie de condição prévia damudança.(Nóvoa,1997,p.28)

Nessa mesma linha de reflexão, Candau (1997), aponta três eixos de

investigação que norteiam as atuais reflexões e pesquisas sobre a formação de

professores e que, atualmente, vêm conquistando maior consenso. Em primeiro lugar,

destaca a importância de deslocar o locus da formação continuada de professores da

universidade para a própria escola, sendo esse o lugar privilegiado para a sua

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concretização. Acrescenta um segundo ponto, que refere-se ao reconhecimento e

valorização dos saberes docentes, que devem ser tomados como referência

fundamental nos processos de formação continuada. Finalmente, afirma a necessidade

de observar as diferentes etapas da carreira dos professores, dizendo que

não se pode tratar do mesmo modo o professor em fase inicial do exercícioprofissional, aquele que já conquistou um ampla experiência pedagógica eaquele que já está situado em relação à aposentadoria. Há que se resguardaras diferenças existentes entre as expectativas, necessidades e desafiospresentes em cada fase. (Candau, 1997, p.56 )

O estudo da carreira docente foi feito por Huberman (1992 ), que identificou a

existência de algumas etapas no ciclo de vida profissional dos professores. A primeira

etapa, a entrada na carreira, refere-se ao tempo da exploração, onde o professor irá

tatear os contornos de sua atividade, começando a experimentar, por um lado, a

sensação de pertencimento a um corpo profissional e, por outro lado, o confronto entre

os ideais alimentados no curso de sua formação e a realidade concreta que o cerca.

A fase seguinte, definida como fase de estabilização, é analisada como um

período de tomada de responsabilidades e de identificação com a escolha profissional.

Estabilizar significa , segundo Huberman, “acentuar o seu grau de liberdade, as suas

prerrogativas, o seu modo próprio de funcionamento.”(Huberman,1992,p.40). Nessa

fase, os professores atuam com maior sensação de liberdade e confiança, proveniente

da sensação de conforto pelo domínio da situação.

A terceira fase corresponde ao período de diversificação ou da busca de novos

desafios. Assim, uma vez experienciada a estabilidade, o que se segue é o sentimento

de confiança, da busca de novos compromissos e desafios, para não se envolver na

rotina dos trabalhos.

A quarta etapa descrita pelo autor é o momento em que os professores irão

confrontar as intenções presentes em seus projetos iniciais com a rotina da profissão e

os rumos a que submeteram suas vidas.

A fase seguinte é considerada como o momento de serenidade e

distanciamento afetivo, “ trata-se menos de uma fase distinta da progressão na carreira

do que de um “ estado de alma “ que se encontra nos estudos empíricos efectuados

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com os professores de 45 – 55 anos “(Huberman,1992, p 43-44). Corresponde à fase

de aceitação, de menores preocupações, em que os professores se atiram menos em

busca de novos modelos e experiências, se encontrando menos vulneráveis a opiniões

e julgamentos sobre o seu trabalho.

A fase de conservadorismo e lamentações corresponde ao momento de

descrédito, quer seja nos alunos ou no próprio sistema.

Finalmente, a fase de desinvestimento que significa “um recuo face às

ambições e aos ideais presentes à partida.” Huberman considera que as fases não se

desenvolvem em todos os professores de uma forma lógica e sequencial, sendo que

alguns professores encerram a carreira passando apenas por algumas delas enquanto

outros, na metade do percurso, já vivenciaram a maioria das etapas.

A esse respeito, Nóvoa (1999 ) chama a atenção para a necessidade de uma

nova concepção dos programas de formação, que contemplem o desenvolvimento

pessoal e profissional dos professores, ao longo dos diferentes ciclos de sua vida. Para

ele, incorporar essa dimensão nos cursos de formação continuada é essencial para o

seu êxito.

A formulação de propostas de formação continuada deve reconhecer as

diferenças presentes em cada etapa do ciclo profissional dos professores. Esse

reconhecimento representa o desafio do rompimento com modelos padronizados

Nesse sentido, Alarcão(1998) afirma que a formação continuada deve objetivar

o desenvolvimento profissional dos professores e estabelecer uma estreita ligação com

a prática educativa. Considera que esse vínculo torna-se mais próximo de

concretização na medida em que o professor toma para si a defesa da especificidade

de seu saber e domínio sobre sua prática, influenciando na definição e planejamento

dos cursos de formação.

Alarcão afirma ainda que, quando a formação continuada se dá de forma

planejada, séria e sistemática, tende a contribuir para a revalorização dos professores

enquanto categoria e para o estabelecimento dos contornos que irão definir uma nova

profissionalidade. Assim, a conjugação entre a experiência do professor adquirida na

prática e a reflexão sobre essa experiência, juntamente com as discussões acerca dos

conhecimentos científicos sistematizados, poderão trazer um alargamento de visões

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sobre o trabalho docente, contribuindo para o desenvolvimento profissional do professor

e para a tão almejada mudança na educação.

O tema do desenvolvimento profissional dos professores assume contornos

mais expressivos na medida em que emergem críticas ao modelo de racionalidade

técnica de formação dos professores, no qual se evidenciam a reprodução e execução

de tarefas e a orientação através de pacotes instrucionais. Esse modelo é criticado por

desconsiderar os múltiplos contextos e necessidades que são específicas de cada

unidade escolar. Também ignoram os professores como produtores de saberes que irão

emergir da relação ensino aprendizagem, provenientes do contato com os alunos e com

os demais professores dentro de uma realidade concreta e única.

Entender o desenvolvimento profissional dos professores implica verificar o

amplo processo que envolve a construção da profissão docente e suas inúmeras

etapas, em que interagem os projetos individuais e coletivos dos professores.

Analisando o conceito de desenvolvimento profissional de professores, Garcia

(1999) afirma a sua pertinência e estabelece um vínculo com a idéia de

profissionalidade. A abrangência desse termo pressupõe o crescimento em equipe,

postura de pesquisa permanente e curiosidade aguçada, para que o desenvolvimento

ocorra envolvendo a instituição escolar.

Dessa forma, a concepção de desenvolvimento profissional supera a visão

individualista de formação e desencadeia um processo de mudança que envolve

concomitantemente as relações profissionais e o crescimento da instituição escolar

numa relação de estreito vínculo. Nesse sentido, o autor afirma que

assumir com seriedade a relação intrínseca existente entre o desenvolvimentoda escola e o desenvolvimento profissional dos professores leva a entender aescola (no sentido mais amplo do termo) como unidade básica para mudar emelhorar o ensino: se assume este princípio, pode-se, então, começar acompreender a importância que têm alguns aspectos e dimensões que atéagora têm sido da competência exclusiva dos especialistas em organizaçãoescolar.( Garcia, 1999, p.141)

Esse vínculo requer uma gestão aberta à participação de todos os atores

envolvidos com a escola e incentivo a uma cultura de colaboração e participação.

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Falar em desenvolvimento profissional implica, por conseguinte, no

estabelecimento de laços de co-participação e responsabilidade no trato com a

instituição, com a categoria profissional e com os alunos. Significa uma mudança de

postura, onde ocorre o deslocamento da posição de isolamento no espaço restrito da

sala de aula, para abertura ao convívio, tendo em vista um projeto comum de

crescimento pessoal e profissional.

Segundo Garcia (1999), a compreensão do desenvolvimento profissional

implica na distinção entre termos que durante muito tempo foram considerados como

equivalentes na capacitação de professores: formação em serviço ou formação

continuada, reciclagem e desenvolvimento profissional. As definições de formação

continuada ou educação em serviço são, segundo o autor, bastante amplas e

englobam qualquer atividade que busque o aperfeiçoamento dos professores , exercida

de forma individual ou em grupo, e que aconteça após a formação inicial.

Distinção mais clara aparecerá no conceito de reciclagem, que é visto com

referência a momentos de capacitação de caráter mais pontual e com a intenção de

atualização, para que seja suprimida a necessidade de aprimoramento em uma lacuna

de sua formação.

Candau (1997) considera que reciclar significa refazer o ciclo, retornar e

atualizar a formação já recebida. A autora acrescenta ainda que os cursos de

reciclagem normalmente são oferecidos por universidades, em convênios com

Secretarias de Educação e chama a atenção para a necessidade de redefinição dos

espaços onde acontecem e para a constante descaracterização dos saberes dos

professores:

Trata-se, portanto, de uma perspectiva onde se enfatiza a presença nosespaços considerados tradicionalmente como o locus de produção doconhecimento, onde circulam as informações mais recentes, as novastendências e buscas nas diferentes áreas do conhecimento. (Candau, 1997p.53)

Acrescenta ainda que,

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Nos cursos de reciclagem oferecidos pela universidade os professores muitasvezes são tratados como se não tivessem um saber; têm que partir do zero,como se não tivessem ao longo de sua profissão construído um saber,principalmente um saber da experiência, que tem de entrar em confronto einterlocução com os saberes academicamente produzidos.( Candau, 1997,p.60)

Assim, a escolha do termo desenvolvimento profissional dos professores é,

segundo Garcia, a forma mais indicada para a compreensão do professor como um

profissional do ensino, pois envolve um processo continuo e ininterrupto de formação,

que extrapola a justaposição entre formação inicial associada e aperfeiçoamento dos

professores. Dessa forma, implica numa abordagem que aponta para a compreensão

de que a formação não se dá de maneira solitária e isolada. Todo o sistema no qual o

professor está inserido deve participar, ou seja, a escola e os demais profissionais nela

envolvidos, dentro de uma perspectiva mais global.

Ao construir sua definição de desenvolvimento profissional, Garcia utiliza

definições de outros autores, procurando destacar as dimensões comuns ali

presentes. Apresentamos aqui três definições que, a nosso ver, contém os principais

aspectos que caracterizam o desenvolvimento profissional que concebemos:

O desenvolvimento de professores está para além de uma etapa informativa,implica a adaptação às mudanças com propósito de modificar as actividadesinstrucionais, a mudança de atitude do professor e melhorar o rendimento dosalunos. O desenvolvimento dos professores preocupa-se com asnecessidades pessoais, profissionais e organizacionais (Heidamn, 1990: 4apud Garcia, 1999 p.138) ( grifos nossos )

A actividade de formação de professores, que responde a uma preocupaçãoconsciente institucional, e que procura melhorar a capacidade dosprofessores em papéis específicos, em particular em relação ao ensino.(O’Sullivan, 1990: 4 apud Garcia 1999, p.138) (grifos nossos )

O desenvolvimento profissional foi definido com maior amplitude ao incluirqualquer actividade ou processo que procure melhorar competência,atitudes, compreensão ou ação em papéis actuais ou futuros (Fullan, 1990: 3apud Garcia 1999 p.138) ( grifos nossos )

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Esses conceitos apresentam as dimensões destacadas por Howey10 (1985)

citado por Garcia (1999), quando aborda a amplitude do desenvolvimento profissional

que envolve: desenvolvimento pedagógico, conhecimento e compreensão de si mesmo,

desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento teórico, desenvolvimento profissional e

desenvolvimento da carreira. A partir da análise desses conceitos, Garcia define o

desenvolvimento profissional como

o conjunto de processos e estratégias que facilitam a reflexão dos professoressobre a sua própria prática, que contribui para que os professores geremconhecimento prático, estratégico e sejam capazes de aprender com suaexperiência (Garcia, 1999, p.144)

Nessa perspectiva, o desenvolvimento profissional do professor possui caráter

de continuidade e evolução constante, estando relacionado com o desenvolvimento da

escola e com a inovação curricular. Assim, a formação inicial dos professores desloca-

se da posição de sustentação da formação profissional, sem no entanto perder a sua

importância. Ao contrário, ela é essencial como primeira etapa de formação, mas é

acompanhada pelos processos de formação continuada que almejam a melhoria

constante do desempenho profissional e do desenvolvimento de competências.

Garcia (1999) apresenta diferentes modelos de desenvolvimento profissional

dos professores, salientando que, basicamente, ele se divide em dois tipos de

atividades:

em primeiro lugar, aqueles cujo objetivo consiste em que os professoresadquiram conhecimentos ou competências a partir da sua implicação nasatividades planejadas e desenvolvidas por especialistas e, em segundo lugar,as outras, cujo objetivo excede o domínio de conhecimentos e competênciaspelos professores e afirma a necessidade de uma verdadeira implicaçãodocente no planejamento e desenvolvimento do processo de formação. (Garcia,1999, p.146)

10 Howey, K. (1985) Six Mager Functions of Staff Development: Ap Expanded Imperative, journal of teacher educacation , vol.36, nº1, pp 58-64

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O autor ressalta a necessidade de aprofundamento na caracterização dos

diferentes modelos de desenvolvimento profissional e, para isso, baseia-se na revisão

de Sparks e Loucks-Horsley11 (1999), que apresentam a seguinte subdivisão:

1. Desenvolvimento profissional autônomo

2. Desenvolvimento profissional baseado na observação e supervisão

3. Desenvolvimento profissional através do desenvolvimento curricular e

organizacional

4. Desenvolvimento profissional através do treino

5. Desenvolvimento profissional através da investigação.

O modelo de desenvolvimento profissional autônomo é considerado o mais

simples deles e representa a busca daqueles conhecimentos ou competências que os

professores julgam necessários à sua prática e que decidem aprender por si mesmos.

Esse modelo busca gerar iniciativas que incentivem os professores a romper o

isolamento, entrar em contato com experiências inovadoras de outros professores e

escolas e se implicarem na busca de aperfeiçoamento. Realiza-se através de

seminários permanentes que acontecem em grupos, em busca de auto-

aperfeiçoamento e reflexão sobre a prática docente.

O segundo modelo, baseado na observação e supervisão, enfatiza a reflexão

sobre a ação e a supervisão clínica como estratégia reflexiva. Esse modelo está

centrado na observação entre colegas, no apoio profissional mútuo e trabalho

colaborativo entre os professores e na análise das necessidades dos próprios

professores.

O terceiro modelo, desenvolvimento profissional através de desenvolvimento

curricular e organizacional, “inclui aquelas atividades em que os professores

desenvolvem ou adaptam um currículo, desenham um programa ou se implicam em

processos de melhoria da escola”.(Garcia,1999,p.166)

O quarto modelo trata do desenvolvimento profissional através de treino ou de

cursos de formação, estratégia utilizada no Projeto Veredas. Por essa razão, daremos

11 SPARKS, D. LOUCKS – HORSLEY.S (1990) Models of Staf Development in W.R Houton (ed) Handbook of Research on Teache

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maior ênfase a esse modelo. Segundo Garcia, não existe forma mais tradicional e

reconhecida de formar professores do que através de cursos. Por essa mesma razão,

os cursos se tornaram sinônimos de formação de professores, e possuem

características muito bem definidas:

Em primeiro lugar, a presença de um professor, que é considerado um perito noâmbito do conhecimento disciplinar, psicodidático ou organizaconal, o qualdetermina o conteúdo assim como o plano de atividades do curso.Normalmente, as sessões desenvolvem-se com uma grande clareza deobjetivos ou de resultado de aprendizagem, que incluem normalmente,aquisição de conhecimentos e competências Apresenta como objetivo otreinamento “para domínio de competências já estabelecidas, ensinada porespecialistas, geralmente desenvolvidas em grupos numerosos de professorese geralmente para escola. (Garcia, 1999, p.178)

Garcia, recorrendo à análise de Beel12 (1999), apresenta quadro explicativo, em

que são mostradas as vantagens, inconvenientes e pressupostos desse modelo de

formação:

Quadro 2MODELO BASEADO EM CURSOS

Vantagens Inconvenientes Pressupostos• Pode aumentar os

conhecimentos.• Pode melhorar as

competências.• Os professores podem

escolher dentre o quelhes é oferecido.

• Proporciona umaoportunidade para aprática profissional.

• Podem ser a tempointeiro.

• Podem permitirposteriores qualificações.

• Podem ser demasiadoteóricos

• As opções sãodeterminadas pelosorganizadores.

• Podem não refletir asnecessidades da escola.

• Pode não ter aplicaçõespráticas na classe.

• Ignora o saber fazer doprofessor

• Pode ter um custoelevado e exigir umcompromisso a longoprazo.

• Um professor podeinfluenciar a escolaglobal ou um grupo.

• O professor podetransferir a teoria para aprática.

• Pode ser abordada umaampla variedade denecessidades no mesmocurso.

Fonte: Vantagens, inconvenientes e pressupostos dos cursos de formação ( Bell, 1991)

Education Vol 8, nº 1,p.p 31-4612 BELL, L.Gay.C. (ed) Menaging Professional Deeloptment of Teachers. Milton Keynes. Open University.

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O último modelo, denominado desenvolvimento profissional através da

investigação, baseia-se na busca de solução de problemas concretos e identificados de

forma comum, onde o professor, enquanto sujeito investigativo, juntamente com alunos

e outros grupos (pais, associações de bairro), procuram investigar sobre as causas e

soluções possíveis para a resolução de problemas.

Esse modelo enfatiza a formação de um professor autoconsciente,

comprometido com os problemas da escola e o sentido de sua profissão, em detrimento

da aquisição de conhecimentos acerca da educação.

Garcia chama atenção para alguns aspectos que devem estar presentes no

desenvolvimento da formação continuada de professores, como a liderança instrucional

entre os docentes seguida de uma cultura de colaboração, conjugada à existência de

uma gestão democrática e participativa, em busca de associação entre

desenvolvimento profissional e desenvolvimento organizacional. Também aponta a

necessidade de autonomia dos professores para a tomada de decisão, cuja margem irá

determinar o desenvolvimento profissional possível, na medida em que impulsiona os

docentes para trabalharem em conjunto, aprendendo uns com os outros e adquirindo

novos conhecimentos. Isso significa uma visão do currículo enquanto espaço formativo

na medida em que o professor atua na sua (re)construção, adequando-o ao seu

contexto de sala de aula e ao contexto da escola. No que diz respeito ao currículo

enquanto espaço formativo, Fullan13, citado por Garcia (1999), apresenta a forma como

o professor reflete essas mudanças e, consequentemente, se aperfeiçoa:

Quando um professor se implica numa mudança curricular, utilizainevitavelmente novos materiais, muda de algum modo a sua prática de ensino(ou seja, novas actividades, competências, condutas, estilos pedagógicos, etc)e modifica as suas crenças ou concepções ( a sua filosofia, mapa conceptual,teoria pedagógica). (Fullan, apud Garcia, 1999 p.143)

Para Garcia, além do currículo, o desenvolvimento profissional dos professores

está afeto também ao desenvolvimento do ensino, ou seja, o surgimento de novas

perspectivas de ensino impulsionaram a ampliação do foco de estudo e, logicamente, o

13 À página 143 de Garcia, consta obra de Fullan ;1986, p.75. Entretanto, nas referências bibliográficas de Garcia, não constanenhuma obra de Fullan com essa data. Há duas obras que poderiam constar essa fala: Fullan(1991): The new reaning ofEducational change. Chicago: Teacher college press e Fullan(1993): The change forces. London: Falmer Press.

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desenvolvimento profissional dos professores. Nesse sentido, o autor salienta a

preocupação com a análise das dimensões ocultas do ensino, dos professores e dos

alunos e aponta também a mudança na concepção do ensino como atividade prática e

deliberativa, mas que incorpora também um componente ético.

Em suas reflexões sobre o desenvolvimento profissional dos professores,

Garcia aponta, ainda, a necessidade de se levar em conta as teorias que dão

sustentação à sua formação, especialmente as teorias sobre a aprendizagem do adulto

e sobre as etapas do desenvolvimento cognitivo dos docentes. Para ele, esses estudos

contribuem para a análise da diversidade na aprendizagem e nos processos de

formação dos professores, buscando resignificar e reconstruir sentidos para a prática

docente.

Assim, é necessário compreender que a atividade profissional dos professores

os remete cotidianamente a situações formais de aprendizagem. Eles estão em

constante movimento de aprendizagem e os cursos de formação deveriam se ater aos

modos como esse processo ocorre e em que condições podem melhor se desenvolver.

Os professores, a partir de suas experiências práticas cotidianas, geram conhecimentos

voltados para suas necessidades profissionais.

Nesse sentido, podemos perceber que o desenvolvimento profissional dos

professores obedece a uma lógica própria, que é diferente das formas convencionais de

formação continuada, se ancorando em atividades que envolvem não só cursos de

capacitação, como também em experiências compartilhadas, projetos, reflexões sobre a

prática, etc. As potencialidades dos professores, que são resultado de suas vivências

pessoais e profissionais, além de serem valorizadas, estabelecem estreito vínculo com

a teoria, estando interligadas.

As considerações aqui apontadas indicam claramente que o desenvolvimento

profissional dos professores se dá a partir do envolvimento da escola e dos seus

profissionais, levando em conta a reorganização curricular e as características da

aprendizagem dos adultos. Essa concepção denuncia a fragilidade dos cursos de

formação de professores baseados em modelos uniformes, que desconsideram os

múltiplos contextos e as diversas visões individuais. Os professores com suas visões de

mundo, suas experiências cotidianas, seus saberes, valores e crenças, necessitam

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estar envolvidos de forma mais direta na elaboração de programas de formação, para

que, reconhecidos como profissionais, sua formação se dê no sentido do

desenvolvimento profissional.

Nóvoa mais uma vez nos auxilia nessa reflexão, afirmando:

Toda a formação encerra um projeto de acção. E de trans-formação. E não háprojecto sem opções. As minhas passam pela valorização das pessoas e dosgrupos que têm lutado pela inovação no interior das escolas e do sistemaeducativo. Outras passarão pela tentativa de impor novos dispositivos decontrolo e de enquadramento. Os desafios da formação de professores ( e daprofissão docente ) jogam-se nesse confronto. ( Nóvoa, 1997, p.31 )

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2.3 – O trabalho docente: desafios e incertezas

Vivemos em um tempo de profundas transformações, apontado unanimemente

como um período de crise, em que são colocadas em xeque certezas solidamente

construídas durante longos anos e fincadas em fortes pilares. Nesse contexto de

incertezas e desconstruções, a vida social se encontra em constante movimento,

deslocando as coisas, as pessoas e as instituições dos lugares tradicionalmente

ocupados. Essa situação é ainda mais grave no caso do Brasil, pelas grandes

diferenças de níveis sociais, reforçadas através de anos de história de colonização e

construção de uma sociedade tradicionalmente oligárquica e fortemente hierarquizada.

A tão propagada globalização e o novo papel assumido pelas grandes agências

financeiras no mundo econômico, a desestatização, a desnacionalização e a

tecnologização do mundo, que revolucionou o acesso à informação, são alguns dos

aspectos que impactaram a educação, levando a escola e os seus profissionais a

reavaliarem seus papéis.

É nesse horizonte de mudanças econômicas e sociais aceleradas, de desafios,

de ausência de certezas e crise de valores, que se busca melhor compreender e

redesenhar a profissão docente. Novas situações são colocadas ao professor e a cada

dia novas exigências são postas.

Esteve (1999) define bem esse momento, quando afirma:

A acelerada mudança no contexto social em que exercemos o ensinoapresenta, a cada dia, novas exigências. Nosso sistema educacional,rapidamente massificado nas últimas décadas, ainda não dispõe de umacapacidade de reação para atender às novas demandas sociais. Quandoconsegue atender a uma exigência reivindicada imperativamente pelasociedade, o faz com tanta lentidão que, então, as demandas sociais já sãooutras. Portanto, os professores se encontram ante o desconcerto e asdificuldades de demandas mutantes e a contínua crítica social, por não chegara atender essas novas exigências. ( Esteve, 1999, p. 13.)

Frente a essa realidade, é de se esperar que o professor transforme sua ação

pedagógica e assuma um novo papel, ressignificando sua prática. Assim o professor é

convidado a se deslocar do lugar de acomodação, de certezas quanto aos conteúdos,

aos métodos e técnicas de trabalho e deparar-se com um quadro de incertezas

diversas. Paradoxalmente, a mesma sociedade que reivindica essas mudanças não

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oferece as condições para efetivá-las. Associada a essa grande demanda e

paralelamente a ela, observa-se uma somatória de fatores que vieram agravar a

realidade concreta do trabalho do professor: salas superlotadas, baixos salários, dupla

e até tripla jornada de trabalho, além de lidar diariamente com o grave problema social

da violência.

Castro (2003), ao analisar o tratamento a que são submetidos os professores

pelas autoridades governamentais no Brasil, aponta que:

• Não há apoio ao trabalho do professor;• Não há interesse pela sua qualificação plena;• Há consenso de que a docência pode ser sempre uma ocupação mal

remunerada;• Há acusações de corporativismo;• Cobra-se dedicação sacerdotal• O professor não tem acesso aos signos de autoridade;• Critica-se sua aparência distante do figurino prezado pela elite;• Não se reconhece o caráter profissional da ocupação.(Castro, 2003, p.41)

Esse descompasso entre a expectativa que recai sobre os professores e a

realidade concreta de sua atuação acaba por gerar uma situação de descrença e

desmotivação para o exercício da profissão.

Discute-se hoje, inclusive, qual o grau de legitimidade social que os governos e

a sociedade, por vezes, conferem à profissão de professor. A ele é imputada a

responsabilidade pelo sucesso ou fracasso escolar e os desdobramentos desses

resultados nas estatísticas educacionais do país.

No entanto, alguns fatores não são mencionados nas estatísticas: a baixíssima

remuneração dos professores, as precárias condições em que desenvolvem seu

trabalho, além das relações de trabalho extremamente autoritárias.

Passos (2004), analisando as condições de trabalho do professor, questiona:

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expropriados das condições materiais e simbólicas pelas relações econômico-políticas vigentes, frustrados pessoal e coletivamente, por não determinarem eterem acesso ao produto do seu trabalho, descaracterizados pelos interessesreificadores do capital, que chance sobra aos educadores para seapresentarem como referência e testemunho do dito? Somos parceirosmentirosos e incorrigíveis da ilusão? A escola é inimiga dos homens, mas,sobretudo, inimiga dos pobres, quando excelente vendedora dos sonhos: trazconsigo a promessa ancestral do paraíso perdido e o acesso à terra prometida(Passos, 2004, p.52)

Esteve (1995) utiliza-se da expressão “mal estar docente“, como conceito da

literatura pedagógica que se propõe a expressar o conjunto de reações dos professores

como categoria profissional inadaptada devido às mudanças sociais.

O mal estar docente ou Burnout refere-se ao bloco de circunstâncias diversas e

de diferentes nuances que irá atingir o cerne da prática cotidiana do professor,

acarretando o estresse profissional, que expressa o “ciclo degenerativo da eficácia

docente.”

Segundo Esteve (1999), o termo Burnout aparece pela primeira vez na literatura

pedagógica no ano de 1979, quando da publicação de artigo14 de uma professora que

abandonou a profissão docente para tornar-se corretora da Bolsa, apresentando, além

da causa do seu fracasso, a seguinte explicação para o abandono da profissão:

O professor queimado é um fenômeno demasiado familiar para qualquer adultoque trabalhe na escola pública atual. Os sintomas incluem um alto índice deabsenteísmo, falta de compromisso, um desejo anormal de férias, baixa autoestima, uma incapacidade de levar a escola a sério- os problemas do professorseparam-no cada vez mais de seus alunos. (Bardo, 1979, p.252 apud Esteve1999, p.57)

Nesse sentido, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas, buscando melhor

compreender o cotidiano do trabalho docente, numa tentativa de ultrapassar a visão do

professor como técnico que deve conduzir seu trabalho com eficiência e eficácia.

Os trabalhos produzidos apresentam contribuições e pistas que demonstram a

pluridimensionalidade de tarefas que se encontram na responsabilidade do professor,

bem como a imprevisibilidade presente em sua atuação. A somatória desses fatores,

associada ao contexto de incertezas produzido pelos avanços da modernidade,

14 Bardo, P. The Pain of Teacher Burnout: A Case History. Phi Deta Kappan, v. 61, n.4, p.252-254, 1979.

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colocam os professores “no olho do furacão” e desencantados com a profissão. Barroso

(2004) define esse sentimento dos professores como:

um desencanto feito de ilusões perdidas quanto à missão educativa da escola(após os sucessivos fracassos reformistas), quanto à educabilidade dascrianças e dos jovens, quanto ao próprio sentido de sua ação. E essedesencanto é tanto maior quanto a profissão do professor se complexificou, nãosó do ponto de vista funcional, mas também relacional e afetivo.(Barroso, 2004,p.51)

Nessa perspectiva de investigação, ao problematizar a situação de mal-estar

docente, Esteve (1999), enumera alguns indicadores das mudanças sociais que

certamente influenciam na (re)construção da identidade profissional do professor e em

sua prática cotidiana, provocando esse problema.

Primeiramente ele destaca o aumento das responsabilidades assumidas pelo

professor e o elevado número de exigências tais como: que seja um bom conhecedor

da sua disciplina, um facilitador da aprendizagem, organizador de trabalhos em grupo,

que cuide da educação afetiva e sexual de seus alunos, que zele pelo equilíbrio

emocional dos mesmos, além de dar atenção integral aos alunos com necessidades

especiais incluídos na turma.

O autor adverte para o descompasso existente entre as exigências em relação

ao professor e a realidade dos cursos de formação de professores que permanecem

seguindo moldes já ultrapassados.

O segundo fator refere-se ao recuo de outros agentes de socialização,

principalmente a família, que transferem para a escola a responsabilidade pela

transmissão de valores. A modernidade imprimiu uma nova forma de organização no

mundo do trabalho, envolvendo a família em jornadas cada vez maiores, especialmente

com a participação da mulher. Nesse sentido, transferiu-se para a escola a

responsabilidade pela formação de valores. Contraditoriamente, a escola veio se

organizando nos últimos tempos a partir de modelos baseados na racionalidade

técnica, em que a tônica é a formação para o mercado de trabalho, reduzindo ou até

mesmo extinguindo do currículo as disciplinas relacionadas às humanidades. O

resultado desse processo é observável nas queixas dos professores acerca da má

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educação dos alunos e das famílias, pelo não cumprimento desse novo papel pela

escola.

Esse modelo de racionalidade é também criticado em relação ao seu reflexo no

trabalho do professor. Passos assim o define:

O capital via meios didáticos, livros, audiovisuais, PCNs, programas interativos,reduziu o professor a um simples apêndíce de controle de processos que opõem entre parênteses como intelectual, pesquisador, gestor e como educador.E é assim que é tratado salarial e organizativamente. Só há espaço para umeducador: o capital.(Passos, 2004, p.53)

O terceiro fator tratado por Esteve refere-se à ruptura do consenso social sobre

educação, no sentido de que os objetivos das instituições escolares bem como os

valores que deve propagar, encontram-se difusos em um cenário de constante

movimento, que é multicultural, com níveis de socialização variados, obrigando o

professor a respeitar, compreender e absorver em sua prática cotidiana os mais

diferentes grupos sociais.

Outro fator colocado pelo autor diz respeito ao aumento das contradições no

exercício da docência, uma vez que

O professor é frequentemente confrontado com a necessidade de protagonizarpapéis contraditórios que o obrigam a manter um equilíbrio instável, em várioscampos. Assim, encontramo-nos perante a exigência social de que o professordesempenhe um papel de amigo e de companheiro; o que é incompatível comas funções seletivas e avaliadoras que também lhe pertencem. (Esteve, 1995,p.103)

Diante das grandes modificações nesse cenário, o professor, muitas vezes

repete sua prática ultrapassada, sem se dar conta de que seus alunos compartilham

desse novo mundo e manifestam seu descontentamento, apontando o quanto é pouco

atrativo para eles a escola e as aulas.

A introdução das novas tecnologias e a divulgação das informações numa

escala mundial, trazem à sala de aula um novo perfil de cidadão do mundo globalizado,

cujas expectativas não conseguem ser respondidas pelo professor, munido somente

dos conhecimentos adquiridos no curso de formação inicial.

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Essa situação, analisada por Villa (1998), atinge o professor em uma das mais

importantes funções nas quais ele se apoiava, ou seja, na sua identificação como

homem do conhecimento. Deslocado de suas funções tradicionais, os professores

encontram-se com a inevitável modificação freqüente em sua prática, seja do queensinam, seja de como ensinam.

Villa (1998) afirma que:

a área afetada pelos problemas do trabalho docente não é só a do trabalho. É afigura do professor que está sofrendo um enfraquecimento, uma diluição, sãoseus contornos difusos, os que explicam no fundo, o mal estar indefinido doqual falam os informes. Três tendências podem ser identificadas aqui: adescaracterização da ciência e da cultura, a introdução das novas tecnologias eo enfraquecimento dos papeis sociais tradicionais. Cada uma delas vem a sercomo um ácido que dilui os contornos clássicos da figura do professor, suaidentidade e sua autoridade. (Villa, 1988, p.30)

Assim, o autor argumenta que a adoção de medidas profissionalizantes, tão

discutidas atualmente, como por exemplo, o endurecimento da seleção dos aspirantes

a professor ou a criação das associações profissionais com finalidade de garantir a

qualidade dos cursos de formação e a qualidade do trabalho docente, não implica

necessariamente na elevação do prestígio social dos professores e nem resolveriam o

problema do mal estar.

Somando-se a esses aspectos, Esteve salienta ainda que, dentro da realidade

atual, pela primeira vez na história a sociedade espera que o professor prepare o aluno

para um tempo ainda inexistente e incerto, o futuro.

O autor chama a atenção para as mudanças de expectativas em relação ao

sistema educativo e a desmotivação dos alunos, especialmente pelo fato de que a

escolarização não representa mais condição para aquisição de status, concorrendo

atualmente com conhecimentos adquiridos fora da escola e também com as relações

sociais da família.

Um outro ponto de impacto no trabalho do professor diz respeito à modificação

do apoio da sociedade ao sistema educacional, uma vez que

Todos parecem dispostos a considerar o professor como o principalresponsável pelas múltiplas deficiências e pela degradação geral de um sistemade ensino fortemente transformado pela mudança social, Ora, mais do queresponsáveis, os docentes são as primeiras vítimas. (Esteve,1995, p.104)

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Como conseqüência desse processo, podemos constatar a desvalorização

social do professor que, muitas vezes, é visto como um pobre coitado que não foi

capaz de buscar uma profissão mais bem remunerada.

Também como aspecto gerador de insegurança, Esteve aponta a constante e

rápida mudança nos conteúdos curriculares e, somando-se a esse, a escassez de

recursos materiais e as deficientes condições de trabalho.

Nessa mesma direção, Vieira (2003), analisando dados relativos a recente

pesquisa sobre a situação dos educadores no Brasil15, chama a atenção para a

situação pessoal e profissional dos professores que, distantes de um padrão

considerado digno de sobrevivência, precisam apelar para outras fontes de recurso

financeiro:

Professores e funcionários de escola vendem pão, roupa, bijouterias, perfumese sabe-se lá o que mais. A própria escola serve como local de venda e osrecreios, os intervalos, permitem um tempinho para comercialização. (Vieira,2003, p.17)

Com média salarial entre R$ 500 e R$ 700, os professores brasileiros em 2002

estavam entre os mais mal remunerados do mundo,

mesmo quando comparados com países cuja economia é bem menor que anossa, segundo pesquisa realizada em 1998 pela Organização das NaçõesUnidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco ) em conjunto com aOrganização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. ( OCDE)(Vieira, 2003 p. 16)

Segundo dados do INEP/MEC a média salarial dos professores de ensino

fundamental que atuam de 1ª a 4ª série no Brasil é de R$461,67 (quatrocentos e

sessenta e um reais e sessenta e sete centavos), variando conforme as regiões

geográficas:

15 Pesquisa intitulada Retrato da Escola Três realizada pela CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação emque foram entrevistadas 4.656 pessoas de todos os níveis e redes de ensino do pais, realizada em dez Estados brasileiros no anode 2002.

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Quadro 3

Rendimento médio por regiões geográficas: 2001Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste461,67 443,17 293,18 599,19 552,72 567,38

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)2001. Nota-valor em R$ de setembro de 2001

Siniscalco (2003), trabalhando as estatísticas internacionais sobre os

professores, apresenta resultados de pesquisas do ano de 2001 da Organização para

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD), em que verificamos a posição

do Brasil em 36º lugar no ranking de 38 países avaliados acerca do salário do professor

da escola básica.

Associado aos baixos salários, acrescenta-se o aumento da jornada de

trabalho, que chega muitas vezes a 60 horas semanais. Nessas condições, o salário é

revertido em necessidades básicas, impossibilitando investimentos em lazer ou

contratação de serviços domésticos, agravando assim o quadro de desgaste físico e da

chamada “sindrome do Burnout”.

No Brasil, pesquisa da Universidade de Brasília-UNB, realizada em 1998

aponta que 26% dos professores entrevistados apresentam alto índice de exaustão

emocional. Segundo a autora, “ para quem ganha tão pouco, não há prioridades, há

contingências” e assim, os professores tensionados pelo trabalho, acumulam afazeres

domésticos e pouco se apropriam de atividades de lazer, o que representa um

agravante à já bastante crítica situação.

Segundo Vieira (2003),

Os dados reforçam a tese de que, mais do que uma difícil situação conjuntural,os trabalhadores em educação vivem um processo de expropriação deidentidade como componente e reflexo da redução do próprio papel daeducação neste período histórico. (Vieira, 2003 p.08)

Um penúltimo aspecto apontado por Esteve refere-se às mudanças das

relações professor-aluno, em que o professor desloca-se da posição de possuidor de

todos os direitos para uma relação mais conflituosa, em que o aluno se permite praticar

atos de violência física, agressões verbais, ameaças, provocando sentimentos de medo

e insegurança. Nesse aspecto, a pesquisa com os professores brasileiros aponta que o

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ambiente escolar vem sendo palco de atitudes de agressividade física e verbal,

principalmente associada à questão das drogas:

Na pesquisa Retrato de Escola Dois16 ,foram investigadas situações associadasao consumo ou tráfico de drogas e os resultados foram alarmantes.Praticamente não há escolas livres desse problema, nem mesmo na zona rural.(Vieira, 2003, p.44)

Alguns dados da pesquisa Retrato da Escola 2, efetuada entre os anos 2000 e

2001 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), apontam

como a escola vem sendo alvo da violência:

• 31% dos professores, funcionários e alunos das escolas brasileiras já sofreram esse

tipo de violência;

• 20% das escolas registraram o consumo de drogas nas suas dependências;

• 45% das escolas municipais e 52% das estaduais convivem com o consumo de

drogas no seu entorno. As escolas particulares apontaram que não há uso de drogas

nas suas dependências;

• 40% das escolas públicas apontam queixas referentes à agressão física e 60% em

relação à agressão verbal envolvendo professores, alunos e funcionários;

• 21,3% das escolas municipais sofreram agressões do tipo: pichações, depredação

de muros, paredes, janelas e equipamentos;

• 29% das estaduais e 17% das particulares registraram essa mesma queixa.

O último aspecto relacionado por Esteve diz respeito à fragmentação do

trabalho do professor, principalmente em razão do elevado número de funções a

desempenhar e da complexidade das mesmas. Essas tarefas incluem a preparação de

aulas, elaboração de materiais, avaliação dos alunos, orientações, reuniões e

planejamentos coletivos, vigilância de recreios, serviços de cantina além de outros,

impossibilitando o trabalho pedagógico .

Para concluir, afirma que os fatores mencionados podem ser sintetizados em uma idéia

geral, que corresponde à situação atual da profissão docente:

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A mudança acelerada do contexto social influi fortemente no papel adesempenhar pelo professor no processo de ensino, embora muitosprofessores não tenham sabido adaptar-se a estas mudanças, nem asautoridades educativas tenham traçado estratégias de adaptação, sobretudo anível de programa de formação de professores. (Esteve, 1997, p.100)

Dessa forma, as reflexões evidenciam a necessidade de reformulação dos

cursos de formação, que devem ser um espaço para o diálogo com as questões do

difícil cotidiano dos professores, ampliando as percepções dos mesmos enquanto

sujeitos sociais inseridos no seu tempo.

Segundo Vieira (2003), a pesquisa sobre Burnout revelou que os conflitos dos

educadores se ampliam na medida em que não conseguem estabelecer uma relação

positiva, de cumplicidade afetiva e intelectual com seus alunos. Ela aponta ainda para a

quantidade de informação recebida pelos alunos fora da escola através da TV, a

internet etc. Esses alunos vão para a escola repletos de informação, das mais variadas.

Quanto aos educadores, a pesquisa mostrou que uma das poucas coisas que têm

possibilidade de fazer é assistir televisão e, mesmo assim, aproveitando o tempo para a

realização de outras tarefas domésticas. A pesquisa ainda revela que 48,3% dos

trabalhadores em educação não possuem computador, o que representa um número

bastante elevado.

Frente ao quadro de indefinição quanto às possíveis funções do professor e

mesmo à substituição do seu trabalho, Cortesão (2002) apresenta uma reflexão sobre a

profissão docente nos dias atuais, verificando, inclusive, a possibilidade de sua

extinção. Analisando a possível “morte do professor” prevista por Lyotard17, afirma que

este autor a considera inevitável em conseqüência de um confronto desigualentre o professor e todos os meios, que atualmente, se podem propor ao alunocom o objetivo de que ele domine a informação prevista nos currículos comosendo o que é necessário adquirir. (Cortesão, 2002, p.18)

16 Pesquisa acerca da realidade escolar brasileira, realizada pela CNTE e divulgada em 200217 LYOTARD,J-F(1989). A Condição pós-moderna. Lisboa, Gradiva.

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Essas condições, com o passar do tempo, tornariam a atividade do professor

bastante dispensável, diante as demais fontes de informação, cada vez mais

interessantes. Segundo a autora, entretanto, nunca faltarão espaço e oportunidades

aos professores atentos às necessidades de transformação.

As difíceis condições em que se exerce a docência atualmente apontam para a

necessidade da articulação de soluções que venham minimizar a desesperança e

vislumbrar estratégias para responder às necessidades dos professores.

Certamente, um dos principais aspectos a ser revisto diz respeito ao trato com

as questões educacionais e ao lugar em que a educação é colocada no quadro das

políticas sociais no país.

A solução passa pela melhor e mais adequada qualificação do professor,

melhores salários compatíveis com a importância da profissão, além de investimentos

em equipamentos e infra-estrutura. Se investir em educação é algo caro, estamos

experimentando o quanto custa não investir.

Castro (2003) salienta que o sistema educacional brasileiro carece não só de

investimentos, como também de uma nova visão em que se reconheça a importância

da educação e de seus profissionais, uma vez que:

• A educação sempre foi encarada neste país como problema menor;• O sistema educacional hoje ainda é tratado como despesa pelas classes

dirigentes;• Políticas educacionais permanecem atreladas às relações de poder;• A escola pública tem problemas de infra-estrutura, custeio e pessoal e se

depara com indisciplina dos alunos de qualquer idade. (Castro, 2003, p.45)

As possíveis soluções nos remetem à busca de respostas acerca dos valores

que acreditamos para os sujeitos que formamos e para a sociedade que queremos para

esses sujeitos. As respostas que daremos a essas questões é que definirão outras

como: que conteúdos devemos trabalhar e qual a melhor forma de fazê-lo. Essas

reflexões devem certamente ocupar seu lugar nos debates atuais, a fim de que os

professores, juntamente com outros segmentos da sociedade, encontrem respostas ao

desafio da construção de uma sociedade mais justa, redefinindo assim o papel da

escola e de seus profissionais.

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CAPITULO 3 – A PROFISSÃO DOCENTE E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NOCONTEXTO ATUAL

3.1- Da Escola Normal às políticas educacionais dos anos 90

A luta pela melhoria da qualidade da educação no Brasil traz em seu bojo a

questão da formação dos professores que, a partir do final das últimas décadas, passa

a ser enfatizada como uma das mais relevantes questões da educação, especialmente

a partir da Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em Jontien, no ano

de 1990.

Essas questões assumem também posição determinante nos documentos

legais que norteiam as políticas para a formação de professores nas últimas décadas:

Constituição Federal de 1988, Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDBEN), Lei 9.424 (Lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do

Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF), Lei 1.072/01 (Plano

Nacional de Educação) e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de

Professores da Educação Básica fixadas pelo Parecer CNE/CP 09/2001 e pela

Resolução CNE/CP 01/2002.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206, determina os princípios que

orientam o ensino, articulando o exercício profissional do professor às suas condições

de trabalho, piso salarial, plano de carreira, além do ingresso na carreira através de

concurso público. Nesse sentido, a partir das determinações dessa Lei maior, fica

respaldada a necessidade da valorização do profissional da educação.

Também a LDBEN 9394/96, em seu artigo 67, irá retomar a questão da

admissão dos professores através dos concursos públicos de provas e títulos.

Essa Lei, em seu título VI, trata dos “profissionais da educação”, introduzindo o

debate sobre a questão do locus de formação de professores, o nível de formação para

admissão desses profissionais na educação básica, além das modalidades previstas

para essa formação.

Em seu artigo 61, respalda, entre outras coisas, a possibilidade da formação em

serviço, modalidade na qual se inscreve o Projeto Veredas, objeto de nossa

investigação:

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Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aosobjetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características decada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação emserviço;II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições deensino e outras atividades.

Entretanto, alguns estudiosos chamam a atenção para os riscos de uma

formação minimalista e barata, em que a teoria dá lugar ao caráter instrumental da

formação, mediante a dissociação entre ensino e pesquisa.

Torres (2001), analisando esse contexto, afirma:

A formação instrumental da aprendizagem, orientada pelo mínimo em vez depelo essencial, estende-se à oferta educativa para os docentes (...). Como partedo pacote de reforma educativa financiado com empréstimos internacionaisgeneralizou-se nos países em desenvolvimento um esquema que privilegia osprogramas dirigidos aos docentes em serviço, reduz o tempo e os níveis deexigência da formação/capacitação docente e, em geral, encara aaprendizagem docente mais em termos de treinamento (manejo de umrepertório de métodos e técnicas, uso de manuais e textos, instrumentalizaçãodas orientações da reforma educativa em curso, etc.) do que de formaçãoampla, integral e permanente (TORRES, 2001, p.42-43).

A formação em serviço representa uma necessidade premente frente ao quadro

atual de formação em que os professores se encontram . O censo de 2002 nos mostra

que, das 2.444.562 funções docentes no Brasil, 99.715 ainda eram exercidas por

professores leigos. Entretanto, é necessária a análise da qualidade dos cursos de

formação de professores e em que condições ocorre a mudança nesse quadro.

A Formação do Professor da Escola Básica em Nível Superior

A normatização acerca da criação de novas instâncias de formação de

professores para atuar na educação básica - o Instituto Superior de Educação e o

Curso Normal Superior - vem suscitando grande polêmica, envolvendo as diversas

associações docentes e grupos de estudiosos da formação de professores na

atualidade.

De acordo com o artigo 62 da LDB:

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a formação de docentes para atuar na Educação Básica far-se-á em nívelsuperior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em Universidades eInstitutos Superiores de Educação, admitida como formação mínima para oexercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries doensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.

A regulamentação dos Institutos Superiores de Educação, criados

exclusivamente para a formação de professores da educação básica, ocorreu em 1999,

através do Parecer CNE/CP nº 115 de 10 de agosto de 1999 e da Resolução 1/99, de

30/09/99, que assim caracterizam essas instituições:

os Institutos Superiores de Educação deverão ser Centros formadores,disseminadores, sistematizadores e produtores do conhecimento referente aoprocesso de ensino e de aprendizagem e à educação escolar como um todo,destinados a promover a formação geral do futuro professor de educaçãobásica. Terão como objetivo favorecer o conhecimento e o domínio dosconteúdos específicos ensinados nas diversas etapas da educação básica edas metodologias e tecnologias a eles associados, bem como odesenvolvimento das habilidades para a condução dos demais aspectosimplicados no trabalho coletivo da escola.

Nesse contexto, foi alterado o estatuto dos cursos normais de nível médio no

Brasil que, até então configurados como os formadores por excelência dos professores

para atuar na Escola Básica, passaram a ser apenas “admitidos” como formação

mínima.

Como conseqüência desse processo, gradativamente os cursos normais de

nível médio, apesar de terem sua existência atestada pelo CNE e de contarem com

Diretrizes Curriculares Nacionais aprovadas, foram se deslocando do seu papel de

formadores, perdendo seu reconhecimento social e sua importância, passando a ser

alvo de baixíssima procura.

A busca pelo curso superior em detrimento dos cursos normais de nível médio

foi impulsionada, também, pela determinação expressa no art 87, § 4º, das Disposições

Transitórias da LDB. Nesse artigo, é instituída a década da Educação, ao fim da qual

“somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por

treinamento em serviço.

Segundo Castro(2003):Contrariando o texto da Lei que, em seu art. 62, admite “como formação mínimapara o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras

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séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidadenormal”, uma disposição transitória iniciou a derrocada das escolas normais dopaís e a corrida dos cursos de Pedagogia em direção à formação deprofessores para os níveis e séries iniciais do ensino. (Castro;2003,134)

Assim, em virtude de uma interpretação equivocada do artigo 87 da LDB, os

professores que não tinham formação superior passaram a buscar os cursos superiores

como uma forma de garantirem seu lugar no mercado de trabalho.

Nesse contexto da busca desenfreada pela formação de professores da escola

básica em nível superior, várias instâncias se sobrepuseram: ao lado dos cursos de

Pedagogia, que vinham oferecendo essa formação desde os anos oitenta, verificou-se

uma disseminação em todo o pais, de Cursos Normais Superiores e de cursos de

formação de professores no regime semi-presencial, entre os quais se situa o Projeto

Veredas, alvo de análise dessa pesquisa.

A criação dos Institutos Superiores de Educação, considerados como instância

preferencial para formação de professores e a disseminação dos Cursos Normais

Superiores acirraram os debates em torno da competência do curso de Pedagogia para

formar os professores para os anos iniciais da escolarização formal.

No âmbito desses debates, tiveram presença marcante atuando

significativamente: Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação

(ANFOPE), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

(ANPED), Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE),

Fórum de Diretores das Faculdades/Centros de Educação das Universidades Públicas

do Pais (FORUNDIR), Centro de Estudos de Educação e Sociedade (CEDES) e o

Fórum Nacional em Defesa da Formação do Professor.

Apesar das divergências teóricas entre essas associações e os mentores

intelectuais das normatizações acerca da formação de professores, um ponto de

convergência refere-se à desejabilidade da formação desse profissional em nível

superior, ressaltando entretanto o direito dos professores formados em cursos normais

de nível médio de permanecerem no exercício da profissão.

Nessa direção, o Plano Nacional de Educação, aprovado através da Lei 10.172,

de 09/01/2001, embora reconheça a formação de nível médio, enquanto titulação

mínima, afirma a preferência para a formação superior.

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Enquanto as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia encaminhadas

ao CNE em 06/05/1999 ficaram paralizadas no Conselho, foram promulgadas as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores para a Educação

Básica em nível Superior, aprovadas pelo CNE em 08/05/2001 e homologadas pelo

Ministro da Educação em fevereiro de 2002. O conteúdo dessas diretrizes é amplo,

abrangendo as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas nos futuros

professores, além da carga horária, avaliação dos cursos e dos professores, incluindo

também a organização institucional e pedagógica das instituições formadoras.

Freitas (2002), analisando o processo de normatização que culminou nas

Diretrizes, afirma:

apesar de toda a pressão das entidades e dos fóruns da área para que oprocesso de produção das diretrizes se desenvolvesse de forma ampla,articulada e democrática, as regulamentações anteriores no campo daformação – Resolução nº 02/97, Parecer nº 115/99, Decreto nº 3 276/99 –acabaram determinando o conteúdo e a forma da proposta, restritos ao MEC eao CNE. O documento final, ao mesmo tempo em que incorpora reivindicaçõesde ação das instituições, acaba por limitar as possibilidades de ação dasinstituições ao reduzir, por pressão do setor privado, a carga horária prevista nodocumento original de 3.200 horas para 2.800 horas, a serem cumpridas nomínimo de três anos (Freitas, 2002, p.152)

A autora chama a atenção para a noção de competência que está presente no

texto das Diretrizes, apontando para a lógica da competitividade ali existente, uma vez

que enfatiza as técnicas, os instrumentos do ensino e a individualização.

Nesse contexto, em julho de 2002, foi instituída pelo presidente do Conselho

Nacional de Educação, comissão responsável por estabelecer as bases de um Sistema

Nacional de Formação de Professores para a Educação Básica, tendo como meta a

consolidação dos documentos legais existentes referentes à política de formação.

Dessa forma, esses documentos foram consolidados num projeto de Resolução,

divulgado em setembro de 2003, que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível Superior e sobre os

Institutos Superiores de Educação.

Ainda nessa direção, em fevereiro de 2003, mediante consulta de uma

Instituição de nível superior de Poços de Caldas acerca do nível de formação de

professores das séries iniciais do ensino fundamental, o Conselho Nacional de

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Educação emitiu Parecer CNE/CEB nº 01 de 19 de fevereiro de 2003, apontando, com

base nos artigos 64 e 87 da LDB, a formação de professores em nível superior como

desejável. Nesse mesmo documento, fica garantido o direito dos professores

portadores de diploma do curso normal de nível médio, trabalharem como professores

da educação infantil e das series iniciais, até o final de suas vidas.

Através dessa decisão, ficou abolida enquanto condição de permanência no

sistema de ensino, a formação em nível superior, passando a ser destacada a

responsabilização individual dos docentes pela própria formação e pela busca do

aprimoramento pessoal.

Freitas (2002), analisando essa decisão normativa, comenta:

Antes pertencentes a uma categoria profissional, possuidores de umaqualificação pela qual lhes eram atribuídos determinadas tarefas e funções nodesempenho do trabalho, ao qual era atribuído um valor pelosalário/remuneração, os trabalhadores e agora os professores se defrontamcom uma nova realidade: a de disputar individualmente pela formação ecompetir com seus pares pelos espaços e tempos dos direitos anterioresgarantidos pelo conteúdo da formação profissional. (Freitas, 2002, p.155-156)

Ainda um outro fator que passou a interferir na formação de professores para a

escola básica, refere-se ao Sistema Nacional de Formação Continuada e Certificação

de Professores, que apresentou como objetivo a melhoria da qualidade do ensino, de

forma acelerada. Assim, em 09 de junho de 2003, foi instituído o Exame Nacional de

Certificação, pelo Ministro da Educação. A participação dos professores nesse exame

ficou assim explícitada na Portaria 1.403/2003:

§ 2º A participação no exame dos concluíntes dos cursos de licenciaturaoferecidos pelas instituições de ensino superior é obrigatória, conforme dispostona Lei nº 9131§3º A participação no exame, dos profissionais em exercício e dos concluíntesdos cursos normais de nível médio é voluntária.§4º É facultada a participação no exame e qualificação de qualquer pessoalicenciada para o exercício de função docente, bem como aos diplomados porcursos normais de nível médio.

As matrizes de referência foram aprovadas no dia 12/05/2003, sendo

substituído o termo “certificação” por “formação continuada”. Essas matrizes se

constituem num conjunto de habilidades/capacidades/competências, organizadas

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através de 50 itens subdivididos em matrizes gerais e específicas. Elas se propõem a

expressar o conjunto de habilidades e competências que as crianças devem aprender e

os professores devem ensinar, dentro de uma organização sistemática já prevista nos

Parâmetros Curriculares Nacionais, Diretrizes Curriculares e Diretrizes para a Formação

de Professores para a Educação Básica.

De acordo com Freitas (2002), elas não se constituirão como elementos

componentes da política de formação de professores e sim enquanto instrumento,

através do qual serão embasadas as questões das provas do exame de qualificação.

De acordo com Freitas (2002), a concepção instrumental e técnico-profissional presente

nas matrizes de referência acabam

restringindo o processo educativo ao processo de ensino aprendizagem, àinstrução, limitando as enormes possibilidades de formação de nossa infância ede nossa juventude para seu desenvolvimento pleno e a produção de uma novavida (Freitas, 2002, p.4)

Essa medida é parte do programa “ Toda Criança Aprendendo”, lançado em 04

de julho de 2003 pela Secretaria de Educação Infantil e Fundamental (SEIF) do MEC,

que instituiu também a Bolsa Federal de Incentivo á Formação Continuada, com

duração de cinco anos, período após o qual os professores deverão passar por novo

processo de certificação. O resultado desse exame deveria ser utilizado para seleção e

classificação nos processos seletivos, para ingresso na carreira e para concessão de

benefícios aos professores.

Nesse processo polêmico de idas e vindas, a coexistência das diversas

instâncias persiste. Em 17 de março de 2005, o CNE manifestou-se acerca da

Diretrizes Curriculares de Pedagogia, através da divulgação de um Projeto de

Resolução, que veio na contra-mão do trabalho que estava sendo desenvolvido pelas

Associações Científicas já citadas e pela Comunidade Universitária.

A proposta do Conselho Nacional de Educação foi denunciada por essas

entidades como técnica e simplista, desconsiderando inclusive a Proposta de Diretrizes

enviada por uma comissão de Especialistas ao Conselho Nacional de Educação em

maio de 1999. Também é criticada a redução do curso de Pedagogia à licenciatura,

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visando a formação de professores para a educação infantil e escola básica, subtraindo

do mesmo a competência de formar profissionais da educação.

A solução encontrada pelo CNE para a superposição dos dois cursos

incumbidos da formação dos professores das séries iniciais do ensino fundamental, foi

taxada de simplista, inclusive por sugerir a transformação dos cursos normais

superiores em curso de Pedagogia.

Considerada arbitrária, a proposta apresentada pelo CNE, vem sendo debatida

e denunciada pelas entidades educacionais, no sentido de demonstrar que o campo de

atuação do Pedagogo não se restringe à docência, apesar de estar fincado nela, mas

estende-se à organização e gestão dos sistemas educacionais, bem como à produção

do conhecimento científico e à difusão do mesmo.

Apesar dos avanços e retrocessos e da grande polêmica que envolve a

formação de professores para a escola básica no Brasil, as linhas gerais que têm

orientado tanto o debate quanto a normatização dessa formação, vêm confirmando o

lugar central que tem a figura do professor nos processos educativos, na medida em

que as mudanças passam pelas mãos desse profissional e delas dependem.

Contudo, ao avaliarmos a normatização acerca da formação de professores,

observamos que está ancorada no aligeiramento, na redução da carga horária, no

descomprometimento com a pesquisa, privilegiando processos avaliativos quanto ao

desempenho dos profissionais, vinculados ao saber fazer e ao como fazer, com clara

ênfase na prática.

Esse modelo historicamente construído, representa o desafio posto aos

professores, no sentido de retomar as discussões sobre os fins da educação em nossa

sociedade e o novo papel desse profissional.

3.2 – A política de educação a distância: abrindo um diálogo

As aceleradas mudanças provocadas pelas inovações tecnológicas e pela

globalização tem colocado desafios ao nosso tempo que almejam a expansão do

acesso ao conhecimento em escalas nunca antes vistas. Esse movimento vem

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transformando o conhecimento em um dos principais eixos em torno do qual irão se

articular as relações da sociedade.

A meta da melhoria da qualidade do ensino colocada pelas políticas públicas no

Brasil, vem conduzindo a uma estratégia necessária e urgente: a busca da qualificação

e requalificação dos professores. Não se trata mais de formar um profissional para o

repasse de conhecimentos prontos, acabados e sistematizados, destinados a um

contexto relativamente estável. Novos ventos sopraram agora com a força da

emergência e do tempo escasso, exigindo uma capacitação renovada.

Por isso, torna-se premente a busca de metodologias diferenciadas no trato

com o conhecimento e a necessidade de recursos midiáticos os mais variados,

aumentando a importância do suporte tecnológico para que se tenha acesso à

informação. Nesse sentido, os cursos de formação do magistério e também as

licenciaturas são colocados na mira de uma estratégia mais abrangente: a educação a

distância.

A estratégia de educação a distância baseia-se no pressuposto de que é

possível produzir bons cursos, com material adequado e com um rápido alcance a

milhares de pessoas. Ela é especialmente importante em um país de dimensões

continentais como o Brasil.

Nessa nova concepção, Pedagogia e Tecnologia se associam de forma

interligada e interdependente e os recursos técnicos deixam de ser considerados como

recursos instrumentais, para assumirem um papel socializador, antes não reconhecido.

Belloni (2002) afirma que, para o melhor entendimento da fundamentação

presente na educação a distância, é necessário remetermos ao conceito mais amplo

que se refere ao uso das novas tecnologias e da comunicação na educação,

pois vivemos num mundo saturado de máquinas, muitas delas fascinantes,especialmente aquelas que trabalham com as estruturas simbólicas dasociedade, produzindo mercadorias imateriais (privilégio até pouco temporeservado às igrejas e a alguns artistas), que podem ser teletransportados sobuma forma genérica chamada “informação” (...)Esses novos “textos” que surgem, vêm carregados de representações e,segundo a autora, deve ter o norte, para onde a educação a distância deve sedeslocar. Dessa forma ela será vista como parte de um processo de inovação

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educacional mais ampla, que é a integração das novas tecnologias deinformação e comunicação nos processos educacionais. (Belloni, 2002, p.123)

A autora acrescenta ainda que:

Essa integração, como eixo pedagógico central, pode ser uma estratégia degrande valia, desde que se considere estas técnicas como meios e não comofinalidades educacionais, e que elas sejam utilizadas em suas duas dimensõesindissociáveis: ao mesmo tempo como ferramenta pedagógica extremamenterica e proveitosa para a melhoria e a expansão do ensino e como objeto deestudo complexo e multifacetado, exigindo abordagens criativas, críticas einterdisciplinares, e podendo ser um “tema transversal” de grande potencialaglutinador e mobilizador. (Belloni, 2002, p.123 e 124)

Revisitando a história da educação a distância

A modalidade da educação a distância não existe de longa data e, segundo

Litwin (2001), surge de forma institucionalizada no final do século XIX, momento em

que na Europa e nos Estados Unidos várias instituições particulares passaram a

oferecer cursos direcionados ao ensino de ofícios pouco valorizados.

Dessa forma, se encontram fincadas em sua origem a oferta de cursos para

aprendizagem de ofícios, além do “fato de ter se transformado em uma segunda

oportunidade de estudo para pessoas que fracassaram em uma instância juvenil”

(Litwin, 2001, p.15). A autora considera provável que sejam essas razões que tenham

fixado uma apreciação negativa em muitas das propostas de ensino nessa modalidade.

Nesse sentido, o uso da tecnologia na educação a distância pode ser

compreendido a partir de três fases distintas: a primeira fase é a que se inicia no final

do século XIX, com ênfase no ensino por correspondência. Ocorreu mediante um lento

e limitado processo, envolvendo um grande distanciamento na relação professor-aluno.

A segunda fase corresponde ao surgimento dos multimeios, ou seja, do uso de material

impresso juntamente aos meios de comunicação audiovisuais (antena ou cassete) e,

em alguma medida, o uso de computadores. A terceira fase se inicia nos anos 90 com o

desenvolvimento das novas tecnologias da informação e comunicação, gerando

mudanças na relação ensino-aprendizagem, em que a tônica se desloca para os

programas interativos informatizados.

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Após as primeiras experiências, muitas décadas foram necessárias para que a

educação a distância viesse a competir com as ofertas de educação presencial, com a

credibilidade e aceitação desejáveis. A partir dos cursos por correspondência para a

capacitação em ofícios, é instituído em 1892, pela Universidade de Chicago, um curso,

também por correspondência, que passa a incorporar os estudos da modalidade na

universidade. No início do século XX são oferecidos cursos para a escola primária e,

em 1930, 39 universidades norte- americanas passam a oferecer cursos a distância.

Litwin (2001) considera que muitos preconceitos relativos à educação a

distância na realidade só foram superados na década de 60, a partir da criação de

universidades a distância, que passaram a concorrer com as universidades na

modalidade presencial.

Exemplo desse momento de afirmação da educação a distância é a criação da

Universidade Aberta da Inglaterra, a Open University, que conjugando televisão,

material impresso e cursos interativos, ofereceu cursos de graduação de qualidade,

sendo que seus egressos competiam em igualdade de condições no mercado de

trabalho. Por essa razão, essa universidade se tornou referência na educação a

distância.

Seguindo essa linha, outros exemplos surgiram na Europa, especialmente na

Alemanha e Espanha, oferecendo cursos de graduação e pós-graduação.

Mais tarde, já nos idos da década de 60, surgem na América Latina (Venezuela

e Costa Rica) universidades abertas segundo o modelo da instituição inglesa,

objetivando “dar passagem a grupos excluídos da universidade”. (Mansur, 2001, p.41)

Analisando o processo histórico no qual a educação a distância veio se

firmando, Mansur (2001) afirma que a sua criação se associa à busca de respostas

para uma série de necessidades educacionais, entre elas a alfabetização da população

rural e a busca por um lugar no mundo do trabalho.

Na América Latina, a partir da década de 60, foram desenvolvidos projetos de

alfabetização para a população geograficamente dispersa e distante dos centros

urbanos.

No Brasil, a modalidade de educação a distância está associada à chegada do

rádio no país, que se tornou extremamente utilizado no início da década de 60.

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Encontramos exemplos dessa proposta no Projeto Movimento de Educação de Base

(MEB ) de 1958, voltado para alfabetização de adultos via rádio e, mais tarde, o Projeto

Minerva – criado em 1º de setembro de 1970, que surge do serviço de radiofusão do

Ministério da Educação e Cultura, que se utilizava de vários outros recursos como a TV

e a correspondência.

Foi então, a partir de meados dos anos 70, que começaram a surgir os cursos

que se utilizavam dos recursos da televisão, através da qual a mensagem expressa no

material impresso é reforçada pela imagem da TV. Foram criados nesses moldes

estruturas fortemente organizadas, onde o estudante tinha acesso aos chamados

“pacotes de instrução” e onde se encontravam, passo-a-passo, os meios a seguir para

se concluir com êxito o curso. Para Mansur (2001), foi exatamente em razão da distância geográfica que se

definiu a educação a distância que, desde sua criação, apresenta como característica

fundamental o princípio da democratização da educação em seus vários níveis. A

década de 80, segundo a autora, é referência para a consolidação da educação a

distância na América Latina. Assim,

Na Colômbia, durante o Governo de Belisário Betancur, é criada a Umisur; noBrasil, depois de se acumular durante a década anterior diferentes legislaçõesvisando facilitar a implantação da modalidade, é criada a 18Universidade deBrasília. (Mansur, 2001, p.42)

Mansur (2001) afirma que, com o decorrer do tempo e principalmente a partir

das várias experiências dessa modalidade em vários pontos do mundo, foram se

instaurando discussões que contribuíram para a legitimação da educação a distância,

que passou a concorrer com a educação presencial em grau de igualdade de condições

para a oferta de curso de qualidade.

18 A autora ressalva que a criação da Universidade de Brasília se deu na década de 60 e que na década de 80, é criado o curso deeducação a distância da Universidade

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Os paradigmas econômicos envolvidos na educação a distância

Belloni (2003), afirma que, nas últimas décadas, os estudos sobre a educação a

distância estão fundamentados em modelos teóricos, que podem ser sintetizados nos

paradigmas do fordismo de produção industrial e do pós-fordismo.

A associação ao fordismo é explicitada, por apresentar as seguintescaracterísticas principais: racionalização, divisão acentuada do trabalho, altocontrole dos processos de trabalho, produção de massa de “pacoteseducacionais”, concentração e centralização da produção, burocratização.(Belloni, 1999, p.18)

Referência nessa discussão são os trabalhos de Otto Peters19 que, segundo

Belloni, apresenta uma análise da educação a distância caracterizando-a:

a partir de comparações e analogias com a produção industrial de bens eserviços que identificam nos processos de EAD os principais elementos dosprocessos de produção industrial agrupados no que se convencionou chamar“modelo fordista”: racionalização, divisão de trabalho, mecanização, linha demontagem, produção de massa, planejamento, formalização, estandardização,mudança funcional, objetivação, concentração e centralização.(Belloni, 2003,p.9)

Segundo a autora, os membros da Open University Inglesa; Eduiands, (1991),

Raggay,(1993); Farne,(1993); Rumble,(1995), são contrários ao posicionamento de

Peters.

Para Belloni, o modelo fordista está associado ao modelo industrial dominante

no século XX:até que as sucessivas crises e transformações do sistema capitalista foramdemostrando seu esgotamento. O avanço tecnológico aparece com elemento-chave que concretiza a crise do paradigma fordista e a necessidade dereestruturação dos processos de produção industrial e modo capitalista. Ofordismo, que propunha produção de massa para mercados de massa, sebaseava em três princípios: baixa inovação dos produtos, baixa variabilidadedos processos de produção e baixa responsabilidade do trabalho. (Belloni,2003, p.11)

19 Otto Petes foi reitor da universidade aberta de Hagen, na Alemanha, durante os anos 70 e desenvolveu análise dascaracterísticas da EAD a partir de comparação e analogias com a produção industrial de bens e serviços. A partir daí é gerada apolêmica de oposição entre os modelos fordistas e pos-fordistas.

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A autora afirma que a educação a distância, por sua vez, traz em suas bases

muitos dos princípios presentes no modelo de produção pós-fordista, sendo esse

modelo caracterizado:

pela ruptura das estruturas industriais hierarquizadas e burocratizadas. Oprocesso de descentralização e horizontalização da gestão está associado aum modelo de organização menos burocrática e mais empresarial e a umaênfase na autonomia, iniciativa e flexibilidade oposta à rotina legal e racional dofordismo. (Belloni, 2003 p19,20)

Belloni aponta a perspectiva de coexistência entre os modelos fordistas e pós-

fordistas, uma vez que na prática da maioria das instituições que oferecem a educação

a distância, práticas pré e pós-fordistas coexistem.

Através dos anos, as diferentes tecnologias que foram incorporadas ao ensino,

contribuíram para ressaltar as peculiaridades dessa modalidade nos diferentes

momentos, iniciando com os livros e as cartilhas, em seguida incorporando o rádio e a

TV, mais tarde o áudio e vídeo para, em seguida, dar lugar às redes de satélite e

correio eletrônico.

No entanto, Belloni (2003) nos alerta, afirmando que qualquer que seja a

tecnologia utilizada ou a definição que utilizemos (e existem muitas), um elemento

essencial deve estar presente nesta análise das relações entre tecnologia e educação:

a convicção de que o uso de uma tecnologia (no sentido de um artefato técnico), em

situação de ensino e aprendizagem, deve estar acompanhado de uma reflexão sobre a

tecnologia (no sentido de conhecimento embutido no artefato e em seu contexto de

produção e utilização).

Definindo a educação a distância

As questões até aqui levantadas revelam a complexidade e as diferenças

presentes no pensamento dos autores que se debruçam sobre o tema da educação a

distância.

Essas diferenças estão representadas nos conceitos de vários deles,

trabalhados por Belloni (2003:p. 25-27). O parâmetro comum observado em todas as

definições é sempre a referência da distância, compreendida em termos de espaço:

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O termo educação a distância cobre várias formas de estudo, em todos osníveis, que não estão sob a supervisão contínua e imediata de tutorespresentes com seus alunos em salas de aula ou nos mesmos lugares, mas quenão obstante beneficiam-se do planejamento, da orientação e do ensinooferecidos por uma organização tutorial (HOLMBERG, 1977).

Ensino a distância é o ensino que não implica a presença física do professorindicado para ministrá-Io no lugar onde é recebido, ou no qual o professor estápresente apenas em certas ocasiões ou para determinadas tarefas (Leifrancesa, 1971).

Educação a distância pode ser definida como a família de métodos instrucionaisnos quais os comportamentos de ensino são executados em separado doscomportamentos de aprendizagem, incluindo aqueles que numa situaçãopresencial (contígua) seriam desempenhados na presença do aprendente demodo que a comunicação entre o professor e o aprendente deve ser facilitadapor dispositivos impressos, eletrônicos, mecânicos e outros (MOORE, 1973).Educação a distância é uma relação de diálogo, estrutura e autonomia querequer meios técnicos para mediatizar esta comunicação. Educação à distânciaé um subconjunto de todos os programas educacionais caracterizados por:grande estrutura, baixo diálogo e grande distância transacional. Ela incluitambém a aprendizagem (MOORE,1990).

Educação a distância é uma espécie de educação baseada em procedimentosque permitem o estabelecimento de processos de ensino e aprendizagemmesmo onde não existe contato face a face entre professores e aprendentes -ela permite um alto grau de aprendizagem individualizada (CROPLEY e KAHL,1983).

Educação a distância é um modo não contíguo de transmissão entre professore conteúdos do ensino e aprendente e conteúdos da aprendizagem - possibilitamaior liberdade ao aprendente para satisfazer suas necessidades deaprendizagem, seja por modelos tradicionais, não tradicionais, ou pela misturade ambos (REBEL, 1983).

Educação a distância é um termo genérico que inclui o elenco de estratégias deensino e aprendizagem referidas como "educação por correspondência", ou"estudo por correspondência" em nível pós-escolar de educação, no ReinoUnido; como "estudo em casa", no nível pós-escolar, e "estudo independente",em nível superior, nos Estados Unidos; como "estudos externos", na Austrália; ecomo "ensino a distância" ou "ensino a uma distancia", pela Open University.Na França, é referido como "tele-ensino" ou ensino a distância; e como "estudoa distância e "ensino a distância", na Alemanha; "educação à distância", emespanhol, e "teleeducação", em português (PERRIAULT, 1996).

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Educação a distância se refere àquelas formas de aprendizagem organizada,baseadas na separação física entre os aprendentes e os que estão envolvidosna organização de sua aprendizagem. Esta separação pode aplicar-se a todo oprocesso de aprendizagem ou apenas a certos estágios ou elementos desteprocesso. Podem estar envolvidos estudos presenciais e privados, mas suafunção será suplementar ou reforçar a interação predominantemente a distância(MALCOM TIGHT, 1988).

Educação a distância é um método de transmitir conhecimento, competências eatitudes que é racionalizado pela aplicação de princípios organizacionais e dedivisão do trabalho" bem como pelo uso intensivo de meios técnicos,especialmente com o objetivo de reproduzir material de ensino de altaqualidade, o que torna possível instruir um maior número de estudantes, aomesmo tempo, onde quer que eles vivam. É uma forma industrializada deensino e aprendizagem (PETERS, 1973).

A definição de Peters , segundo Belloni, é a que provocou grande polêmica

pois, além de utilizar conceitos referentes à economia e sociologia industrial, esse autor

identificou a própria natureza da educação a distância ao modo mais industrializado de

se fazer educação. Para ele, a organização institucional e pedagógica presente nessa

modalidade de ensino se assemelha àqueles princípios característicos da produção

industrial.

Apesar das diferenças presentes nos vários conceitos apresentados pela

autora, o ponto relevante se refere à centralidade no estudante, visando o

aprimoramento de sua condição de autonomia, uma vez que esse é o fator básico do

seu processo de realização.

Para este trabalho, adotamos o conceito de Holmberg, por considera-lo mais

adequado ao estudo sobre o Projeto Veredas aqui realizado, uma vez que traz em seu

bojo a idéia da supervisão continua da figura do tutor, e salienta a possibilidade do

aproveitamento dos alunos da orientação e ensino organizados num curso a distância,

com a presença da tutoria.

O Estudante de Educação a distância

Belloni (2003), observa que a condição de autonomia, de auto-gestão e auto

direção tão esperada do estudante de EAD, é algo estabelecido no nível do ideal e que,

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de fato, não corresponde à realidade concreta daqueles que buscam essa modalidade

de ensino.

Estudos realizados a partir de diferentes experiências de EAD revelam que

muitos estudantes tendem a realizar um processo passivo de aprendizagem, onde os

pacotes instrucionais são “digeridos e regurgitados” nos momentos de avaliação. Essa

postura está associada aos modelos de cursos oferecidos com base nos esquemas

behavioristas que direcionam as práticas do estudante.

A partir de resultados de pesquisas realizadas na Austrália e analisadas por

Walker (1993), a autora destaca a imagem extraída dos estudantes de EAD daquele

país, que embora não deva ser generalizada, representa um retrato revelador tanto da

realidade cotidiana do estudante como do seu perfil.

Uma imagem dominante é a do silêncio, tranquilidade e solidão. Um temarecorrente é o tempo de estudo: tarde da noite, quando as crianças estãoacomodadas, o marido vendo televisão na sala (muitos estudantes sãomulheres), está escuro lá fora, pode haver um cão, um gato por perto, a cozinhaestá limpa e arrumada, os lanches para o dia seguinte estão prontos nageladeira, e a estudante arranja um espaço na ponta da mesa, desarrumando omínimo possível a mesa posta, para o café da manhã. Os livros estão abertos eo estudo começa. ( Walker, 1993, p.23 apud Belloni, 2003, p.40)

Essa imagem revelada pela pesquisa aponta o lugar ainda longe do ideal

ocupado pela educação a distância e o caráter aligeirado presente nos tempos de

estudo.

Concordando com a autora, podemos concluir que ainda está em caráter

embrionário o estudante típico ideal expresso nos textos que definem a EAD.

Nesse aspecto, o papel desempenhado pelo professor em EAD é de extrema

relevância e, por isso mesmo, as inovações nesse campo passam diretamente pelas

inovações na formação desses professores.

Assim, o professor deve ter um relativo domínio das novas tecnologias,

indispensáveis nos processos educativos em EAD, que são cada vez mais

mediatizados, selecionar textos sintéticos e produzir outros, elaborar estratégias para

sua utilização, conhecer as especificidades do trabalho com essa modalidade.

É nesse âmbito que surge a figura do tutor, aqui destacado em função do

projeto Veredas se utilizar do trabalho de tutoria com os alunos.

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O Trabalho de Tutoria

Muitas interrogações são colocadas quando pensamos no trabalho do tutor nos

programas de EAD: qual o significado e o alcance de seu trabalho, qual o seu papel,

quem é o tutor, como deve ser formado um tutor?

Por muito tempo prevaleceu a crença de que o tutor, diferente do professor, não

é aquele que ensina. Quem ensina na EAD são os materiais que chegam ao alcance

dos alunos, detalhados, sequenciados e cuja absorção será observada nas avaliações.

Nessa perspectiva em que ensinar é o mesmo que transmitir informação, ao tutor

competia verificar se os objetivos foram assumidos adequadamente e oferecer apoio no

sentido do controle e andamento do processo previsto no programa.

As pesquisas e o aprofundamento do debate acerca de como o conhecimento é

adquirido, abriu uma nova perspectiva quanto ao trabalho de tutoria. Nesse sentido, é

possível afirmar que “tanto o tutor como o docente são responsáveis pelo bom ensino, e

nesse aspecto não há distinções importantes no sentido didático”. (Maggio, 2001, p.98-

99)

Com o decorrer do tempo, a idéia de distância passa a não se ancorar mais no

distanciamento geográfico e desloca-se para a diferença presente na assistência

regular ofertada ao aluno. Nesse novo olhar que se desloca para a educação a

distância, a figura do tutor assume posição de centralidade, uma vez que ele é o

mediador entre o aluno e o conhecimento.

Maggio (2001), ao analisar a complexidade da tarefa de tutoria, aponta uma

relação de saberes necessários a um bom tutor, baseando-se em análise de

Shulman20:• Conhecimento do conteúdo;• Conhecimento pedagógico de tipo geral, com especial referência aos

princípios e às estratégias de manejo e organização da classe;• Conhecimento curricular;• Conhecimento pedagógico acerca do conteúdo, como um amálgama

especial de conteúdo e pedagogia, que é de exclusiva propriedade dosdocentes;

• Conhecimento sobre os contextos educacionais;• Conhecimento das finalidades, dos propósitos e dos valores educativos e

de suas raízes históricas e filosóficas. (Maggio, 2001,p.103) 20 O, Shulman, L. Knowledge and teching of the new reform. In: ORNESTEIN. A; BEHAR L. Contemporany issues in curriculum.Boston: Allxn and Baron, 1995

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O autor analisa que, em princípio, os requisitos de um bom trabalho de tutoria

não são diferentes dos de um bom trabalho docente, considerando errônea a idéia de

que o tutor precisa saber menos.

O tutor, conhecendo o conteúdo a ser trabalhado, pode interferir no processo de

conhecimento do aluno através do aprofundamento de questões, estabelecendo

relações conceituais entre os temas desenvolvidos, além da possibilidade de

enriquecimento da proposta, enfim, intervindo decisivamente no processo. O tutor,

tendo uma boa formação, pode melhorar, enriquecer, aprofundar e intervir numa

proposta.

Andrade (2001) destaca o caráter da aprendizagem autônoma, presente na

modalidade de EAD, contudo ressalta a importância do papel do tutor

como sujeito que concebe, planeja, orienta e controla o processo deaprendizagem, possibilita, efetivamente uma apreensão crítica dos conteúdos,bem com a sua reelaboração, por ser ele o sujeito que mantém um diálogo como aluno, sendo sua figura essencial para que o curso seja eficaz na suaproposição de formar alunos críticos, reflexivos e autônomos. (Andrade, 2001,p.9)

Dessa forma, o fazer pedagógico do professor tutor na educação a distância

deve conduzir à interação com os alunos, possibilitando o desenvolvimento de sua

autonomia e estímulo no trato com o conhecimento, além da reflexão e ressignificação

da sua prática.

Daí a centralidade do seu papel na modalidade de EAD, não no lugar da

funcionalidade, mediando entre o aluno e o recurso utilizado, mas no lugar da

docência.

A educação a distância na LDB e no Plano Nacional de Educação

As bases legais que regulamentam a educação a distância no Brasil foram

estabelecidas principalmente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

A educação a distância foi mencionada por nove vezes no texto da LDB, o que

torna evidente o reconhecimento de sua importância, além da vontade política de sua

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implementação. Transcrevemos, aqui, os artigos que dizem respeito, mais

especificamente, ao ensino a distância:

Art. 32,§ 4º. O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distânciautilizado como complementação da aprendizagem ou em situaçõesemergenciais.

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação deprogramas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino,e de educação continuada.

Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano a partir dapublicação desta Lei.

§ 3º. Cada Município e, supletivamente, o Estado e a União, deverá:I - matricular todos os educandos a partir dos sete anos de idade e,facultativamente, a partir dos seis anos, no ensino fundamental;II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultosinsuficientemente escolarizados;III - realizar programas de capacitação para todos os professores emexercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância;IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental do seuterritório ao sistema nacional de avaliação do rendimento escolar.

É importante ressaltar que o artigo 80 trata da responsabilidade do Poder

Público de incentivar essa modalidade de ensino no Brasil. Essa intenção, expressa

nos termos da Lei, teve visibilidade na criação pelo MEC, em 1994, da Secretaria de

Educação a Distância, quando pode-se afirmar que fica reconhecida a importância da

EAD no Brasil.

Também o atual Plano Nacional de Educação aponta metas com vistas à

implementação da EAD:

a) garantir a integração de ações dos Ministérios da Educação, daCultura, do Trabalho, da Ciência e Tecnologia e das Comunicaçõespara o desenvolvimento da Educação a Distância no País, pela ampliaçãoda infra-estrutura tecnológica e pela redução dos custos dos serviços decomunicação e informação, criando, em dois anos, um programa queassegure essa colaboração;

b) ampliar, gradualmente, a oferta de formação a distancia em nívelsuperior para todas as áreas, incentivando a participação dasuniversidades e das demais instituições de educação superiorcredenciadas;

c) incentivar, especialmente nas universidades, a formação de recursoshumanos para EaD;

d) apoiar financeira e institucionalmente a pesquisa na área de EaD;

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e) instalar, em dez anos, 2 mil núcleos de tecnologia educacional, os quaisdeverão atuar como centros de orientação para as escolas e para osórgãos administrativos dos sistemas de ensino no acesso aos programasinformatizados e aos vídeos educativos;

f) instalar, em cinco anos, 500 mil computadores em 30 mil escolas públicas deensino fundamental e médio, promovendo condições de acesso àInternet.

Através dessas regulamentações, fica evidente que os professores, num breve

espaço de tempo, poderão se ver obrigados a incorporar em suas práticas docentes

cotidianas, o uso das tecnologias digitais. No entanto, vale ressaltar que, dentre as

quinze professoras da turma investigada que responderam ao questionário de entrada

no Projeto Veredas, nenhuma delas informou possuir conhecimentos de internet ou

fazer uso do computador. Os instrumentos de mediação utilizados no Projeto Veredas,

foram principalmente os materiais impressos, correio e telefone, complementados por

vídeo e textos via internet.

3.3 – O Projeto Veredas: formação do professor em nível superior

Apresentar o Projeto Veredas, enquanto curso de formação superior de

professores não é tarefa simples, devido à sua dimensão e complexidade e à

diversidade dos materiais utilizados para sua implantação e implementação.

Reconhecendo a importância que cada aspecto do Projeto pode representar, optamos

por apresenta-lo com ênfase nos seguintes itens:

1. Histórico do Projeto Veredas;

2. Instituições envolvidas / Parcerias e Convênios;

3. A proposta pedagógica do Projeto Veredas;

4. Os materiais didáticos utilizados e a biblioteca;

5. O sistema de tutoria.

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Histórico do Projeto Veredas

O Projeto Veredas – Formação Superior de Professores, foi concebido pela

Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, com a finalidade de oferecer

habilitação superior aos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, que não

tinham a formação nesse nível. O curso recorreu à metodologia da educação a

distância e foi criado para atender professores em exercício.

O reconhecimento da necessidade de formação superior para professores de

educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, já vinha se colocando de

modo consensual, tendo em vista a busca da melhoria da qualidade do ensino, a partir

da melhor qualificação do professor. Essa necessidade foi enfatizada na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96 que, em seu art 62, aponta

como regra geral a formação de todos os professores em nível superior.

No caso específico do Governo de Minas Gerias, a opção pelo Curso de

Formação Superior – Veredas foi a solução encontrada, no sentido de buscar atender

ao grande número de professores que necessitavam dessa modalidade de formação e

qualificação em serviço.

A perspectiva de redução do número de professores sem formação superior,

ocupantes de cargos na rede pública de Minas Gerais, foi apontada como a força

motivadora para a implementação do Projeto. Ao mesmo tempo também foi apontada

pela SEE de MG, a necessidade da valorização dos profissionais da educação, visando

a melhoria do padrão de qualidade da escola pública.

De acordo com dados oficiais, havia em Minas Gerais no ano de 2000, 60 mil

professores em exercício na rede pública do Estado, sem habilitação em nível superior.

Desses, 18 mil estavam em escolas estaduais e 42 mil em escolas municipais.

Em função desses dados e considerando a dimensão territorial do Estado de

MG, a modalidade de educação a distância foi considerada a estratégia capaz de

produzir impacto nesse quadro.

O Projeto foi elaborado no marco do Programa Anchieta de Cooperação

Interuniversitária (PACI) e apresenta como quadro de referência os documentos

seguintes: Declaração Mundial sobre a Educação Superior no século XXI: Visão e Ação

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e Marco Referencial de ação prioritária para a mudança e o desenvolvimento do ensino

superior, produzidos na Conferência Mundial de Educação Superior, realizada em

Paris, no ano de 1998, pela UNESCO.

Teve início em fevereiro de 2002, com duração de três anos e meio. Recebeu

um total de 25 mil professores inscritos para o vestibular, sendo que, desse total,

14.321 encontram-se matriculados, sendo 6.970 da rede estadual e 7.351 da rede

municipal. Conta com a participação de 18 instituições de nível superior do Estado, que

disponibilizam seus professores para o trabalho de tutoria e tem como público alvo os

professores efetivos do quadro permanente de magistério da rede estadual e das redes

municipais do Estado, que apresentam as seguintes condições:

• Nível médio de escolaridade;

• Efetivo exercício nos quatro primeiros anos do ensino fundamental;

• Regência de turma;

• Disponibilidade para participar dos períodos presenciais (janeiro e julho);

• Falta de condição para aposentadoria no que diz respeito ao tempo de serviço.

Instituições envolvidas/Parcerias e Convênios

O Projeto Veredas caracteriza-se como formação inicial em serviço, de

graduação plena, sendo desenvolvido num trabalho de parceria com 18 instituições de

ensino superior, denominadas Agências Formadoras - AFOR e as prefeituras que

aderiram ao projeto.

As dezoito AFOR estão divididas por todo o Estado de Minas Gerais:

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Universidade Federal de Viçosa - UFV,

Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Universidade Federal de Juiz de Fora –

UFJF, Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, Universidade de Montes

Claros – UNIMONTES, Universidade de Patos de Minas – UNIPAM, Faculdade de

Filosofia e Letras de Diamantina - FAFIDIA, Fundação Educacional de Divinópolis -

FUNEDI, Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS, Fundação de Ensino Superior de

Passos - FAFIPA, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola - FAFILE,

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Universidade de Uberaba - UNIUBE, Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações

- UNINCOR, Fundação Mineira de Educação e Cultura - FUMEC, Fundação

Educacional Nordeste Mineiro - FENORD, Faculdade do Nordeste de Minas - FINOM e

Fundação Educacional de Machado - FAFIMA.

Essas instituições foram selecionadas através de processo licitatório para todo

o Estado de MG que, para a implementação do curso, foi subdividido em 21 pólos, afim

de que cada AFOR ficasse responsável, em média, por 600 alunos.

Com esse número de alunos, os formuladores do projeto acreditavam no

estabelecimento de uma relação pessoal dos professores cursistas com os tutores.

Cada tutor acompanhou em torno de 15 professores cursistas.

O curso foi estruturado em sete módulos, sendo que em cada módulo

ocorreram duas semanas presenciais nos meses de janeiro e julho, além de quatro

encontros com o tutor com duração de oito horas cada.

De acordo com o "Manual da Agência de Formação," documento da Secretaria

de Estado de Educação de Minas Gerais, foram estabelecidos os objetivos que seriam

da competência da instituição parceira:

A parceria com as instituições de ensino superior destina-se a:• implementar o curso;• diplomar os alunos que cumprirem todas os requisitos do curso;• participar do FÓRUM DAS AGÊNCIAS DE FORMAÇÃO;• contribuir com a melhoria da qualidade da escola pública (Manual da

Agência de Formação, SEE-MG,P.20 e 21)

Coube às Prefeituras:

• Assegurar aos cursistas da rede municipal as condições funcionais eambientais que permitam adequado desenvolvimento do curso;

• Colaborar na organização das reuniões mensais;• Zelar pela correção e veracidade das informações e dos documentos

fornecidos, principalmente para as etapas de inscrições e de matrículas dosprofessores cursistas de sua própria rede de ensino;

• Reembolsar a SEE-MG dos gastos com o Professor Cursista da redemunicipal que desistir ou for excluído do curso, ou que não honrar ocompromisso firmado (Manual da Agência de Formação SEE-MG, p.20 e21).

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A Proposta Pedagógica do Projeto Veredas

A proposta pedagógica do Projeto Veredas foi elaborada visando combinar a

formação em serviço com a modalidade de educação a distância. Nesse sentido,

apresenta como objetivos: a) formar em nível superior os professores efetivos dos anos

iniciais do ensino fundamental; b) valorizar o profissional da educação; c) apresentar

contribuição imediata para a melhoria da qualidade da escola pública.

A proposta pedagógica destaca três dimensões da prática pedagógica dos

professores, que irão caracterizar o professor como profissional, como pensador e

como cidadão responsável e participativo, assim definidas:

• Um profissional que conhece e avalia os conteúdos curriculares desse nívelde ensino e que domina um instrumental próprio de trabalho, inclusive amoderna tecnologia da informação e sabe lançar mão dela;

• Um pensador capaz de (re) significar sua prática e as representações sobreo campo de atuação, compreendendo a natureza da educação, produzindosaberes pedagógicos, contextualizando e avaliando criticamente sua própriaatuação.

• Um cidadão comprometido com sua comunidade e com a sociedade, de cujadinâmica ele participa como sujeito com direitos e deveres comuns a todasas pessoas, mas com um olhar, uma ação típica do profissional daeducação.(Guia Geral- Projeto Veredas, SEE-MG,p16)

Essas dimensões destacadas na proposta referem-se ao domínio dos

conteúdos presentes nas disciplinas do ensino fundamental, a compreensão e

participação na elaboração de propostas de intervenção pedagógica, o vínculo com a

vida cotidiana dos professores e alunos, além da reflexão sobre a prática pedagógica.

Dessa forma, a competência advinda de cada uma das dimensões irá se desdobrar na

atuação desse profissional em sala de aula, na escola e na comunidade.

Conforme afirmamos na introdução deste trabalho, consideramos o Projeto

Veredas como um curso de formação continuada, na medida em que os professores

cursistas possuem uma longa e intensa experiência profissional, cuja formação inicial

foi adquirida no curso de formação de magistério de nível médio.

A prática pedagógica no Projeto Veredas é considerada como um pressuposto

da formação de professores e é definida como:

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Uma prática social específica, de caráter histórico e cultural. Assim, vai além daação docente, das atividades didáticas dentro da sala de aula, abrangendo osdiferentes aspectos do projeto pedagógico da escola e as relações desta com acomunidade e a sociedade. A prática pedagógica é ponto de partida para ateoria, mas se reformula a partir dela. (Projeto Pedagógico Projeto Veredas –SEE-MG, p.26)

O perfil de egresso do Veredas é traçado a partir de uma série de

“competências” que, segundo os formuladores da proposta, “expressam os resultados a

serem buscados pelos professores cursistas e orientam a definição das diretrizes

curriculares para a formação superior de professores”. (Proposta Pedagógica Projeto

Veredas, SEE-MG, pag.21). O conceito de competência constante nos documentos do

projeto baseia-se nos estudos de Perrenoud e é definido como:

A capacidade de atuar diante de uma situação complexa, mobilizandoconhecimentos, habilidades intelectuais e físicas, atitudes e disposiçõespessoais, de forma a identificar corretamente os elementos que estão em jogo edar-lhes um tratamento adequado (Proposta Pedagógica-Veredas-p.21)

O Currículo está estruturado em três grandes blocos: o núcleo de conteúdos

do ensino fundamental, o núcleo de conhecimentos pedagógicos e o núcleo de

integração.

O primeiro núcleo está fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Fundamental/CNE e engloba a área de Linguagem e Códigos,

Identidade Cultural e Sociedade e Matemática e Ciências da Natureza.

O núcleo de conhecimento pedagógico desdobra-se nas áreas de fundamentos

da educação e é composto pelos conteúdos das ciências da educação - Antropologia,

Sociologia, Economia, Política, Filosofia, Psicologia Social, Psicologia da Educação e

História da Educação, além da área denominada de Organização do Trabalho

Pedagógico, que tem como “ foco central a prática competente, aliada à reflexão sobre

ela, no sentido de se desenvolver uma atuação renovadora e transformadora.” ( Guia

Geral, Projeto Veredas, p.25)

A Proposta Curricular está dividida em três seções, que envolvem as atividades

de ensino aprendizagem, os componentes curriculares e os sete módulos do currículo.

As atividades de ensino-aprendizagem correspondem ao total de 3.200 horas,

atendendo às exigências da legislação brasileira relativa à formação de professores, em

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nível superior. Engloba os sete módulos previstos em sua proposta pedagógica, com 16

semanas de duração para cada módulo. O quadro a seguir demonstra as atividades

previstas, com detalhamento da carga horária de cada uma delas:

Quadro 4Estrutura das Atividades do Curso de Formação Superior

Horas por MóduloAtividades Horas semanais Total por módulo Horas totais no curso Observação

Atividades da Fase PresencialIntensiva

- 40 280 Uma semana no início do semestre

Atividades Individuais a Distância 10 160 1.120 16 semanas por módulo

Prática Pedagógica Orientada(Incluindo Estágio CurricularSupervisionado)

10 150 1.050 15 semanas por módulo

Atividades Coletivas - 24 168 3 vezes por módulo, durante 8horas

Atividades de Avaliação - 8 56 1 vez no final de cada módulo,durante 8 horas

Memorial 02:30 40 280 16 semanas por módulo

Monografia 2 32 246 16 semanas por módulo, mais 22horas no módulo 7

Total 24:30:00 454 3200 454x7= 31783.178 + 22=3.200

Fonte: Cf.CNE/CP nº28/2001

Entre essas atividades, destacamos o memorial para um maior detalhamento,

em virtude do mesmo ter sido utilizado nessa pesquisa como fonte de informações

sobre as cursistas, seus percursos de vida e suas percepções.

De acordo com o “Guia Geral do Projeto Veredas”, o memorial é um

depoimento escrito, através do qual é possível proporcionar ao professor cursista, “a

(re)significação de sua identidade profissional e a reflexão sobre sua prática

pedagógica em uma perspectiva interdisciplinar”: (Guia Geral, p.30)

Os memoriais foram elaborados com base em discussões acerca da

construção da identidade e os processos de vida dos professores. No entanto, houve

flexibilidade em relação à organização dos seus capítulos.

É ressaltada, também, a importância do exercício da produção de textos, da

reflexão e da organização das idéias, além de sua elaboração envolver o trabalho de

construção, que se efetivará aos poucos. Nesse sentido, a sua elaboração foi

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subdividida em etapas: infância, início do processo da escolarização e entrada no

Veredas, concluídas ao final de cada módulo.

Um outro item componente da proposta pedagógica é a avaliação, descrita

comoprocesso cumulativo, contínuo, abrangente, sistemático e flexível de obtenção ejulgamento de informações de natureza qualitativa e quantitativa sobre osprocessos de ensino e aprendizagem, permitindo: a) caracterizar odesempenho escolar de cada aluno, identificando aspectos que demandematenção especial, b) planejar formas de apoio específico ao alunos queapresentam dificuldade; c) verificar se os objetivos específicos propostos estãosendo alcançados; d) obter subsídios para a revisão dos materiais e dodesenvolvimento do curso.( Projeto Pedagógico, p.28)

Para o desenvolvimento do Projeto, foram elaborados 28 Guias de Estudo, que

se constituem de textos para o estudo individual dos professores cursistas. Dessa

forma, cada volume apresenta os textos destinados a um mês de estudo, composto de

07 (sete) capítulos, sendo que 05 (cinco) deles dizem respeito aos componentes

curriculares referentes ao módulo e os outros dois, ao eixo integrador e ao Seminário

de Ensino e Pesquisa.

O Projeto conta, ainda, com os vídeos, que têm duração de 25 a 30 minutos,

produzidos para estimular os professores cursistas no sentido de enriquecer os

debates, aprofundar conteúdos e ainda sugerir a criação de atividades

interdisciplinares, trabalhadas como eixo integradores.

Em relação à organização do curso, foi possível perceber, em vários momentos

das entrevistas realizadas com as professoras cursistas, o desejo de um tempo maior

para discussão dos textos e para a elaboração do grande número de informações

recebidas. Foi sugerido por elas, que houvessem mais momentos presenciais.

Também o professor tutor expressou a necessidade de maior tempo para o

acompanhamento individualizado dos alunos, para que de fato fosse orientada a prática

das professoras cursistas. Nesse momento, o professor tutor relatou, conforme

expresso no capítulo 8, que modificou as determinações de visitas às salas de aula das

professoras, em vista de uma nova alternativa de trabalho que, juntamente com os

alunos, foi considerada mais viável.

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Reconhecendo o mérito e a audácia de uma proposta da grandeza do Projeto

Veredas, não podemos deixar de perceber o caráter aligeirado com que o

conhecimento foi tratado.

Os recursos tecnológicos propostos para utilização são os meios audiovisuais e

a informática que, juntamente com os guias de estudo se propõem a garantir uma

educação de qualidade.

Contudo, é importante ressaltar a dificuldade apresentada pelas professoras em

utilizar o computador, sendo que a maioria delas não o possuem.

O Sistema de Tutoria

Os tutores são professores contratados pelas Instituições de Ensino Superior

que fazem parceria com o Projeto Veredas, as quais são denominadas Agências de

Formação – AFOR. Cada tutor está filiado a uma agência e tem, aproximadamente, 15

professores cursistas sob sua orientação.

Os tutores possuem graduação em Pedagogia ou cursos de Licenciatura. A

maioria possui cursos de especialização e muitos deles são Mestres e Doutores, como

é o caso do professor tutor, sujeito dessa pesquisa, que é Doutor em educação. A

experiência docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental ou na formação de

professores é exigência para a contratação do tutor, o qual deve preencher os

seguintes requisitos:

a) bom conhecimento da modalidade de educação a distânciab) bom conhecimento da instituição em que vai atuar;c) convicção de que o aluno precisa aprender a estudar por si mesmo e de quea função do tutor é auxiliá-lo a conseguir essa autonomia;d) capacidade de trabalhar conteúdos, atividades e provas pensados por outraspessoas. (Manual do Tutor, p.10).

Compete ao tutor orientar os alunos em relação aos Guias de Estudo, à

elaboração dos memoriais, das monografias e também, realizar visitas às escolas onde

os professores cursistas atuam, visando o acompanhamento das atividades

pedagógicas desenvolvidas. Além disso, o contato com o tutor ocorrerá no início de

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cada módulo nas atividades presencias, nas reuniões mensais, através de correio

eletrônico, além dos momentos de visitas à escola.

Como foi dito na introdução deste capítulo, descrever o Projeto Veredas não é

tarefa simples. Esperamos que, apesar da complexidade, tenhamos conseguido

oferecer uma descrição o mais fidedigna possível

O Veredas na UFMG

Entre as escolas envolvidas no Projeto Veredas, 256 estão sob a coordenação

da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. As quatro professoras cursistas

pesquisadas são alunas de uma das 40 turmas que estão sob a coordenação dessa

universidade. Os quarenta tutores responsáveis pelas turmas da UFMG são

professores da Faculdade de Educação - FAE, do Centro Pedagógico – CP e do

Colégio Técnico da UFMG - COLTEC.

Nessa universidade, foram disponibilizadas 1.200 vagas para o processo

seletivo, sendo que, desse total, apenas 600 foram preenchidas. Segundo a

coordenadora de tutoria do projeto, o baixo índice de aprovação no vestibular é

justificado pelo baixo nível econômico e cultural das alunas, que têm pouco acesso a

bens materiais e apresentam grande defasagem de escolaridade.

Das 600 professoras que ingressaram no curso, 07 faleceram e outras 33

desistiram durante o percurso. Restaram 560 cursistas, sendo 559 mulheres e 01

homem. Estão na faixa etária de 35 a 45 anos e atuam em escolas da região

metropolitana de Belo Horizonte.

Segundo informações da coordenadora de tutoria do projeto na UFMG, mais de

10% dessas professoras apresentam problemas de saúde, como depressão, câncer,

estresse, ocasionando um grande número de licenças médicas e de hospitalização.

Muitas delas cuidam de familiares, sendo responsáveis por eles e algumas trabalham

em escolas situadas em região de risco.

Um outro fator observado pela coordenação do projeto refere-se ao baixo poder

aquisitivo das professoras, sendo que muitas delas faltam aos momentos presenciais

por não terem dinheiro para locomoção de ônibus até a UFMG.

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Além dos momentos em que os tutores se deslocam para o local de trabalho

das cursistas, a coordenação de tutoria da UFMG também vem acompanhando as

repercussões do Projeto Veredas nas Instituições de Ensino envolvidas, numa busca de

articulação entre as necessidades das escolas e as possibilidades de cooperação da

Universidade, especialmente no que se refere à oferta de estágio, para o qual são

estabelecidas parcerias entre as instituições

Esse fato revela a importância da relação estabelecida entre a universidade e

as escolas envolvidas no Projeto, a qual extrapola as atividades específicas do Veredas

e traz benefícios às duas partes: às escolas de ensino fundamental, que têm a

oportunidade de contar com o apoio dos profissionais da universidade e à Faculdade de

Educação, que encontra maior facilidade para identificação de campos de estágio para

seus alunos.

Segundo a coordenadora, há problemas que são comuns às professoras

cursistas independente da rede de ensino à qual estão filiadas. Professoras da rede

estadual e municipal apresentam queixas relativas ao estresse presente no dia-a-dia do

trabalho e à falta de um suporte pedagógico de apoio.

A coordenadora de tutoria ressalta ainda que, em reuniões com diretores e

coordenadores pedagógicos das escolas, foram questionadas as repercussões que a

participação no Projeto tem no trabalho das professoras nas escolas. Foram

observadas mudanças na postura dessas professoras com seus alunos e uma melhor

compreensão do aluno. Além disso, as professoras estão se valorizando mais,

adquirindo maior auto-confiança, o que resulta em uma maior participação em reuniões,

onde as opiniões são expressadas com maior clareza e segurança.

Entretanto, alguns problemas foram revelados pela coordenação: um deles diz

respeito à dificuldade das professoras apresentarem um planejamento por escrito, de

alguma atividade desenvolvida. A essa solicitação é encaminhado um sonoro “pra

quê?”, onde ficou constatada a descaracterização do planejamento como atividade

necessária ao desenvolvimento do trabalho, ou mesmo a ausência de planejamento e a

constatação de que o professor não planeja mais.

Outro problema relaciona-se ao trato com os textos acadêmicos. Segundo a

coordenadora, essas professoras priorizavam em seus estudos os conteúdos que

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“caem na prova”, e foi difícil a formação de hábitos de leitura. Para ela, esse problema

está relacionado com o contexto de trabalho das professoras, que muitas vezes, têm

jornada dupla ou tripla e não tiveram liberação para estudar.

Em geral, as escolas não se articularam e poucas organizaram grupos de

estudo. Com isso, as etapas presenciais constituíram o único momento em que as

professoras se envolveram efetivamente com estudos de textos acadêmicos. Muitas

apresentaram grande dificuldade de escrita, de compreensão de textos acadêmicos e

articulação entre a teoria estudada e a realidade concreta de seu trabalho. Essa

dificuldade de articulação entre a teoria e a prática foi ressaltada no capítulo 2, quando

analisamos os diferentes modelos de desenvolvimento profissional. Garcia ressalta

que, nesse modelo de formação através de cursos, essa desarticulação é um fator

recorrente.

Outra dificuldade refere-se ao uso de computadores para realização dos

trabalhos, tarefa árdua que foi vencida ao poucos, uma vez que muito poucos cursistas

o possuíam ou tinham acesso a ele.

Esse dado nos remete à pesquisa realizada pela CNTE e divulgada no ano de

2002, citada na obra de Vieira (2003), que revela que 48,3% dos trabalhadores em

educação no Brasil não possuem computador. Esse fator reflete a situação pessoal e

profissional dos professores, tensionados pelo trabalho, pelo arroxo salarial e em

condições desfavoráveis para a aquisição de bens como computadores, além de

estarem desprovidos dos conhecimentos básicos para acessá-lo.

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CAPÍTULO 4 - REFLEXÕES SOBRE A PROFISSÃO DOCENTE: O QUE APESQUISA APONTA

Ah, se me lembro...E se não me lembrasse

Outra seria minh’almaBem diversa a minha face

Carlos Drumond de Andrade

Neste capítulo, procuramos compatibilizar os elementos presentes nas teorias

sobre profissão docente, com os discursos dos atores da pesquisa, expressos nos

memoriais e nas entrevistas. Consideramos que a investigação sobre o sujeito

professor e os sentidos que constrói em relação à ação docente, além dos processos

formativos imersos no seu cotidiano, nos permite imprimir uma nova visão acerca da

profissão docente, podendo inclusive incidir sobre as propostas de formação de

professores.

A partir de meados da década de 80, essa preocupação emerge na literatura

pedagógica, numa tentativa de compreender a vida e a carreira dos professores, seus

percursos pessoais e profissionais. Ao longo dos anos, essas questôes foram

ganhando relevância, até a constatação presente nos dias atuais, expressa por

diversos estudiosos, de que não é mais possível desconsiderar as situações que

afetam a vida dos professores.

A centralidade desse profissional é destacada por Nóvoa (1997):

O professor é a pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor. Urgepor isso (re)encontrar espaços de interacção entre as dimensões pessoais eprofissionais, permitindo aos professores apropriar-se de seus processos deformação e dar-lhes um sentido no quadro das suas histórias devida.(Nóvoa,1997, p.25)

Nesta pesquisa, procuramos dar voz às professoras para que, a partir das suas

experiências, fosse possível alcançar uma melhor compreensão da sua vida e do seu

trabalho, buscando perceber como elas significam essas experiências à luz da

participação num curso superior de formação de professores.

Entendendo a formação como uma das etapas do desenvolvimento profissional

e tendo como foco essa articulação entre a dimensão pessoal e profissional,

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pretendemos, neste capítulo, analisar e compreender a percepção que as professoras

têm de sua profissão, a partir da participação no Projeto Veredas.

Para sua análise, as informações obtidas nos memoriais e nas entrevistas

foram organizados nos seguintes eixos:

1. Da opção pelo magistério à entrada no Veredas: o caminho percorrido pelas

professoras, onde são analisados a escola, a trajetória escolar, o início da

carreira, o cotidiano da escola e a busca pela formação continuada no

Projeto Veredas.

2. Projeto Veredas, desenvolvimento profissional e exercício da docência na

percepção das professoras cursistas e seu tutor, que compreende: o Projeto

Veredas como uma forma de desenvolvimento profissional e a influência da

participação no Veredas na percepção sobre a profissão docente.

3. Desafios, dificuldades, alternativas e perspectivas para o Projeto Veredas,

na percepção das professoras cursistas e de seu tutor.

4.1- Da opção pelo magistério à entrada no Veredas: o caminho percorridopelas professoras

A Escolha da Profissão

O primeiro aspecto destacado nas entrevistas diz respeito à escolha da

profissão. Todas as professoras entrevistadas cursaram o magistério de nível médio e

apontam razões diferentes que as levaram à profissão docente, mas todas elas afirmam

que foi resultado de uma escolha: lembranças de familiares que eram professores e

que eram valorizados e respeitados na profissão, lembrança de professores que

marcaram suas trajetórias escolares Uma professora escolheu o magistério em

detrimento do curso de Contabilidade, pois em sua cidade só existiam esses dois

cursos de nível médio.

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Aos vinte e seis anos, voltei a estudar. Fiz a oitava série e, ao ingressar noprimeiro ano, tive que escolher uma profissão. Lembrando dos tempos decriança, como via o respeito e o valor que minha irmã tinha, decidir serprofessora (Alessandra)

Associado a esse aspecto, Alessandra refere-se também ao incentivo da

família, especialmente da avó e das irmãs, que diziam:

Professora é bom, você vai trabalhar um horário só, não precisa ficar muitotempo fora de casa, se casar e tiver menino não tem problema, né?

O aconselhamento recebido por Alessandra de sua avó e de suas irmãs reflete

muito do que ainda hoje permanece no imaginário social acerca da profissão docente.

Almeida (1998 ) afirma que o magistério primário representou um marco inicial para a

inserção feminina no mercado de trabalho e que, também, deixou cravados na

profissão os atributos relacionados pela família de Alessandra como argumentos para

convencê-la de que o magistério é uma profissão boa para a mulher e que, se casar e

tiver filho, não tem problema.

Ana Maria aponta que fez sua escolha entre outras opções possíveis, como

Contabilidade, Secretariado, Análise de Laboratório, mas a vocação era para o

magistério.

As quatro professoras entrevistadas relatam experiências de brincadeiras de

escolinha na infância, de ensinar o dever aos colegas, mas Vanessa relata essa

experiência como algo que foi determinante na sua escolha.

Eu sempre gostei de dar aula, eu dava aula particular. Só que eu nem recebia,eu ajudava meus colegas, Quando eles tinham alguma dúvida, então eles iamlá na minha casa, estudar. Sempre fui uma pessoa disponível. O meu tempolivre era para ajudar nas dificuldades dos meus amigos. Assim, nem titubiei naminha escolha- ser professora.

Para Mariana, a escolha da profissão foi definida segundo orientação

vocacional realizada na 8ª série, na escola onde estudava. Contudo, ressalta também a

experiência das brincadeiras de escolinha da infância:

Desde criança eu ensinava, eu tinha aquela coisa de ver a professora e imitá-la.Brincava de escolinha, eu tinha quadro, tinha giz. Eu já sabia dentro de mimque a sala de aula era o que eu queria.

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Refere-se também à sua irmã, que se formou professora antes dela e à beleza

da formatura, o reconhecimento social obtido, especialmente no âmbito da família,

como fatores que a impulsionaram a buscar a profissão de professora.

O que podemos constatar é que as professoras entrevistadas afirmam ter

buscado o magistério por opção e vocação, visando alcançar uma carreira profissional.

Todas procuraram nessa formação uma profissão e um trabalho. A identificação com a

profissão e a decisão pessoal dessa escolha podem ser vistas como fatores

responsáveis pelo senso de responsabilidade profissional demonstrado pelas

professoras, culminando com o grande desejo de qualificação e desenvolvimento

profissional, a partir da busca pelo Veredas. As quatro entrevistadas falaram do desejo

de estudar para ser uma melhor profissional, sendo que relatam experiências de

participação em outros cursos de qualificação, de estudarem sozinhas e de sempre

procurarem professores mais experientes para o aprendizado da profissão.

Nas narrativas, o que podemos perceber é a existência de um jogo de forças

que as conduziram para a entrada no magistério: a ausência do vislumbramento de

outras atividades profissionais, as restrições econômicas presentes nos relatos das

professoras, em que a busca de uma profissão significaria uma alternativa para

mudança de posição no espaço social, a influência familiar na conjugação de uma

profissão adequada à mulher, as brincadeiras de escolinha e o “jeito para ensinar” já

percebido desde a infância, além das lembranças de boas professoras, dedicadas,

competentes e hábeis.

Apesar do baixo custo que envolve a realização do curso de Magistério, muitas

vezes realizado em escolas públicas, o período de estudos foi relatado pelas

entrevistadas como uma fase de grandes sacrifícios e dificuldades para a aquisição de

livros, para o deslocamento, envolvendo, muitas vezes, a realização de trabalho extra

do pai ou da mãe, para que fosse possível a conclusão do curso.

Minha mãe começou a trabalhar para fora para ajudar a pagar meus estudos.(Ana Maria )

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Uma outra questão a ser destacada refere-se à forte influência de professores

que marcaram a trajetória escolar das entrevistadas e o desejo de se tornarem tão boas

profissionais como eles foram.

Ás vezes penso que Dona Élida não era deste mundo. Professora igual a elanão existia, ela me influenciou muito.( Alessandra )

É no interior desse quadro que está caracterizada a opção dessas professoras

pelo trabalho docente, marcada por fatos que, de certa forma, relativizam a autonomia

dos sujeitos entrevistados para o que seria uma verdadeira opção.

Em busca da formação para o Magistério: A trajetória escolar das professoras

Em relação às lembranças da passagem pelo curso de Magistério, as

professoras apontam que o tempo dessa formação foi sobretudo importante, em função

do aprendizado e também da confirmação da opção pela profissão, como afirma

Mariana: foi lá que eu tive certeza que eu queria ser uma educadora.

Alessandra se refere a essa etapa como um período árduo, uma vez que já

possuía dois filhos, estava grávida do terceiro e ainda com o marido desempregado.

Foi um sufoco, eu estudava mais era à noite, varava a madrugada para estudar,porque de dia não dava tempo. Eu estudei num colégio muito rigoroso, que é oTiradentes. Eu penei ali ,viu?

Esse depoimento de Alessandra retrata a imagem do estudante de EAD,

descrita por Walker (1993) e reproduzida na pag. 66 deste trabalho. Entretanto, no caso

de Alessandra, não se tratava de EAD, mas das dificuldades enfrentadas pelos alunos

das camadas populares para conciliarem o estudo com as atividades domésticas.

Alessandra relata, ainda, as dificuldades encontradas para a aquisição dos

livros, em função de problemas financeiros. Afirma que recorria à vizinha para o

empréstimo dos mesmos.

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Minha vizinha comprava e passava para mim, ela ficava até na véspera daprova com os livros, quando chegava na vèspera da prova ela me dava o livropara ler, mas eu lia todos, eu varava a noite e lia tudo

Apesar das dificuldades, ela também ressalta que o curso foi bom, mas alerta

para a distância entre a teoria e a prática, especialmente no início da carreira.

Eles (referindo-se aos professores do curso de magistério) pintavam oexercício do magistério como aquela coisa maravilhosa e quando a gentecomeça a trabalhar a coisa é praticamente o inverso. Nossa Senhora, eu peneiquando eu comecei a trabalhar.

As outras entrevistadas referem-se ao curso de magistério como um momento

muito rico e proveitoso, em que viram se concretizar o ideal de ingressar em uma

profissão. Nesse sentido, todas as professoras entrevistadas buscaram o mercado de

trabalho logo após a conclusão do curso de magistério. Os caminhos foram diversos e

distintos, mas o ideal era o mesmo: trabalhar, se afirmar na profissão.

O início da carreira

O início da carreira é descrito pelas professoras entrevistadas como muito

difícil, muitas foram para escolas de periferia, enfrentaram períodos de transição como

a maternidade, o casamento, ou ainda o desafio de começar o trabalho, tendo de

assumir turmas “difíceis”, em que os alunos são rejeitados pelos outros professores da

escola. Esse é um paradoxo presente no cotidiano de muitas escolas, em que as

turmas onde os alunos apresentam dificuldades de aprendizagem, ou até mesmo

alguma necessidade especial, são empurradas aos professores recém chegados na

escola, muitas vezes com pouca ou nenhuma experiência, complicando ainda mais o já

difícil início da carreira. Esse acompanhamento deveria ocorrer pelos professores mais

capacitados e mais experientes, para quem, ao contrário, são oferecidas como uma

premiação as turmas com alunos mais bem adaptados à escola, com pouca ou

nenhuma dificuldade de aprendizagem.

As quatro professoras entrevistadas referem-se ao início da carreira como um

período em que a preocupação central era enfrentar o desafio de dar conta dessa nova

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etapa. O choque com a realidade e a distância entre o sonho e a prática cotidiana foram

elementos destacados pelas entrevistadas.

Huberman (1992) ressalta a existência de um significativo número de estudos

empíricos, que caracterizam o principio da carreira como um período que envolve dois

estágios: o estágio da sobrevivência e o da descoberta

O aspecto da sobrevivência traduz o que se chama vulgarmente o choque doreal, a confrontação inicial com a complexidade da situação da profissão: otactear constante, a preocupação consigo próprio, (Estou-me a aguentar) adistância entre os ideais e as realidades quotidianas da sala de aula, afrequente ação do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, àrelação pedagógica e à transmissão de conhecimentos, a oscilação entrerelações demasiado íntimas e demasiado distantes, dificuldades com os alunosque criam problemas, com material didático inadequado, etc. Em contrapartida,o aspecto da descoberta traduz o entusiasmo inicial, a experimentação, aexaltação por estar, finalmente, em situação de responsabilidade (Ter a suasala de aula, os seus alunos, o seu programa) por se sentir colega numdeterminado corpo profissional.( Huberman, 1992, p.39 )

O relato da professora Vanessa traduz bem a análise do autor, quando refere-

se ao momento inicial de sua carreira como uma fase onde as emoções se misturavam

entre a ansiedade, a curiosidade, o desejo e o medo.

Formei-me. Enfim, com o diploma na mão, muita disposição e vontade deensinar, fui ser professora primária, em 1978. Fiquei com uma classe de quartasérie. Quanta insegurança! Que responsabilidade!

Ela começou a trabalhar em uma escola municipal de Guanhães, cidade do

interior de Minas Gerais em que residia e, em seguida, foi convocada para uma escola

estadual na zona rural de sua cidade, muito pequena, com somente duas salas de aula

multisseriadas e uma cantina. Ela trabalhava com a primeira e segunda séries. A escola

ficava a 60 km de sua casa e, muitas vezes, o meio de transporte era o caminhão de

leite, que percorria a região. Interrompeu o trabalho para se casar, quando foi morar na

roça, onde não haviam escolas por perto. Vendo o grande número de crianças sem

escolas, ela apresentou ao candidato a prefeito de sua cidade uma proposta de

construção de uma escola municipal naquelas imediações. Eleito o prefeito e aceita a

proposta, Vanessa, com quatro anos de conclusão do magistério e pouca experiência

profissional, mas com uma grande vontade de trabalhar, se lançou ao desafio de

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construir sua escola e, como ela mesma diz, o seu sonho. Assim, Vanessa foi viver o

desafio de transformar esse sonho em realidade, cavalgando durante dias seguidos,

visitando as famílias, dizendo da importância da educação para os seus filhos e

incentivando as crianças a estudar. Conseguiu 28 alunos em uma escola descrita por

ela como:

improvisada em um paiol desativado, onde havia dois bancos compridos,assentos com tijolos e tábuas, que faziam a vez das carteiras e uma janelavelha, que servia de quadro negro

Ela relata que o salário era tão pequeno que foi feita uma horta na própria

escola, onde o seu marido colhia e levava os produtos para vender na cidade para

complementação da renda familiar. Apesar de todas as dificuldades, Vanessa retrata

esse momento como uma experiência incrível e como uma das melhores fases de sua

carreira. A autonomia e a liberdade para a realização de seu trabalho parecem ser os

aspectos que trouxeram a satisfação descrita por ela, num quadro relatado como de

tantos desafios.

Mais tarde, transferiu-se, com pesar, para a cidade, mas a escola ainda

permaneceu por muito tempo, até que a prefeitura optou por transferir as crianças para

escolas do meio urbano.

Vanessa acrescenta que, no início da carreira , o livro didático era o fio condutor

do seu trabalho e que julgava importante seguir o programa à risca. Podemos perceber

que esses dois instrumentos serviram de suporte para essa professora até que

conseguisse alcançar experiência e segurança na realização do seu trabalho. No caso

específico dessa professora, o programa a ser vencido a desobrigava de tomar

decisões sobre o que deveria ser ensinado e o livro didático era visto como um guia

para suas aulas, face à insegurança do início da carreira. Revela, ainda, que foi

necessário um tempo para que pudesse construir o seu estilo pessoal e tomar as suas

próprias decisões acerca de sua prática profissional.

Mariana refere-se ao início da carreira como um momento confuso,

especialmente em função da ausência da estabilidade.

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O contrato não te dava segurança, você estava na sala de aula e no outro diachegava uma colega e tomava aquela sala de aula e você ia para outra, seutrabalho era interrompido, fracionado. Um dia você estava numa sala, noutro diaem outra, um dia numa escola, noutro dia em outra.

Mariana também relata as dificuldades de iniciante e as inseguranças dessa

fase de sobrevivência.

Eu comecei muito confusa, eu ia aprendendo com minhas colegas o que fazere o que não fazer. Elas já estavam noutra fase, umas já se aposentando.

Ao concluir o curso de magistério, Mariana procurou várias informações sobre

como ingressar na profissão.

De posse de um tal documento chamado CAT,21 do qual nunca procurou saber

o significado, afirma ter feito uma verdadeira romaria por várias escolas, até conseguir

a substituição de uma professora que se afastou por motivo de saúde.

Para quem queria o magistério a todo custo, segui um velho ditado: cavalo dadonão se olha os dentes. E não olhei mesmo! Deparei-me com uma casinha velhade tijolos à vista, uma leve tinta branca (que era cal, na verdade), o telhado emfrangalhos, quando chovia era preferível ficar do lado de fora. Pois foi ali,naquela escola, que iniciei meus primeiros anseios de educadora. Falava,gesticulava, como se possuísse o mundo.

Depois dessa primeira experiência, passou por várias escolas até se firmar em

uma que atendeu às suas expectativas, conciliando também a localização, em função

do custo para seu deslocamento.

Ana Maria iniciou sua carreira mediante contrato em uma escola estadual. Após

um ano nessa escola, uma diretora, amiga de sua mãe, que sabia de seu interesse em

trabalhar, convidou-a para um novo contrato, que seria por todo o ano. Três anos

depois, passou no concurso para professora do Estado e também da Prefeitura de BH.

O início do trabalho em uma escola municipal é relatado por Ana Maria como difícil,

uma vez que sua experiência era em escolas estaduais:

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Já tinha experiência, mas senti dificuldades no início. É muito diferente otratamento dado ao profissional na escola municipal; o relacionamento éestritamente profissional, muito trabalho em grupo, críticas construtivas,reuniões planejadas, estudos em grupo, repasse de novas abordagens etécnicas de ensino.

Alessandra começou a trabalhar após dez anos de formada e chama a atenção

para esse momento, afirmando que, além das dificuldades encontradas, ainda havia o

controle da supervisora e da diretora, vigiando seus passos e seus cadernos de plano

de aula. Transferiu-se para outra escola, em que relata ter sido

bem recebida e onde começou a nascer a esperança e alegria no coração,para o trabalho.

As quatro professoras entrevistadas fazem referência a pessoas que serviram

de âncora em momentos de dificuldades. Colegas professoras, um diretor que estendeu

a mão em um momento difícil, um antigo professor do magistério, um parente professor,

são pessoas fundamentais que, quando tudo parece perdido, ajudam a seguir o

caminho e a não desistir.

Duas professoras entrevistadas viveram no início da carreira momentos de

dificuldades, em função de presenciarem acidentes graves com seus alunos, na escola.

Relatam que, nesse momento, foi grande a vontade de desistir e que a desistência só

não se concretizou em virtude do apoio de outro profissional da escola, que

aconselhava, como relatou Vanessa:

A diretora foi conversar comigo e disse que são coisas que acontecem, quecom o tempo eu iria ver .

Essas presenças foram consideradas essenciais para a confirmação da escolha

e para a permanência na profissão.

21 CAT: Certificado de Avaliação de título. Documento de autorização para lecionar a título precário, emitido pela SEE-MG.

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O Cotidiano da Escola

A precariedade das condições de trabalho, os baixos salários, o baixo prestígio,

a solidão e a desvalorização são fatores enumerados pelas professoras entrevistadas

como dificultadores no exercício da profissão. Por essa razão, a profissão docente é

analisada por vários autores como uma profissão que foi se proletarizando com o

decorrer do tempo, principalmente em função de inúmeras perdas, dentre elas a perda

de controle sobre o seu trabalho e a perda de prestígio social.

A desvalorização do trabalho é relatada pelas professoras como um fator

desmotivador, em que não é reconhecido o esforço e o mérito pelo desenvolvimento de

um bom trabalho, nem na escola em que atuam, nem na família e muito menos pelo

governo. Alguns relatos evidenciam essa questão, como o caso da professora Mariana,

referindo-se à escola em que trabalha:

Em uma reunião, a diretora chegou com um caderno de poesia de um aluno deoutra escola, mostrando como exemplo de um bom trabalho de uma professorade lá. Aí minha colega falou: a Mariana fez um trabalho como esse aí. Masninguém valorizou, a orientadora viu, a direção viu e ninguém valorizou, naverdade ninguém quis ver.

Mariana também refere-se à desvalorização social da profissão, a partir de

exemplos vivenciados:

Hoje você chega numa loja e ouve assim: coitada, você é professora. Vocêconversa com um profissional de uma instituição financeira e aí vem: coitada,você é professora. O governo...coitada, você é professora. Nós não temosapoio dentro do próprio sistema, sinto saber que nós nunca seremosvalorizadas de forma adequada, tanto em termos financeiros quanto em termossociais, porque o Brasil é um país que não se interessa pela educação.

O relato dessa professora nos mostra a desvalorização social do professor,

visto socialmente como um pobre coitado, que não foi capaz de buscar uma profissão

mais bem remunerada.

Esse bloco de circunstâncias, diferentes e complexas, descrito pelas

professoras como dificultadores do seu trabalho, representa o que Esteve (1999)

analisa como “mal estar docente.” A multiplicidade de tarefas assumidas pelo professor

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nos dias atuais, os baixos salários e o baixo prestígio social, associados à longa

jornada de trabalho e ao enfrentamento dos desafios presentes no cotidiano escolar

sem a ajuda ou apoio dos especialistas, atingem o cerne da prática pedagógica do

professor, visto socialmente como um pobre coitado que não foi capaz de buscar uma

profissão mais bem remunerada, causando estresse e desencantamento.

Vanessa refere-se a esse tema, com o seguinte relato:

O trabalho é árduo e o que vimos de resultado é ali, no dia-a-dia o alunomelhorando, conseguindo ler. Mas eu sinto que, no geral, a gente não temnenhuma valorização, não somos respeitados, muitas vezes nem mesmo peloscolegas. Muitos pais da comunidade não têm respeito com o profissional domagistério. E, muitas vezes, a gente se perde nisso, no dia-a-dia ali com oaluno, aquela felicidade de ver o aluno vencendo as etapas, conseguindoaprender. Mas, em se tratando de uma profissão que dê condições de vida, demelhoria de salários, há essa dificuldade.

Vanessa fala também da desvalorização expressa pelos baixos salários pagos

aos professores, em que não sobra dinheiro para o lazer e muito menos para pagar

uma ajudante nas tarefas de casa ou mesmo para despesas com condução. Segundo

ela, era necessária a realização de outras atividades para complementar a renda.

O que eu fazia? Eu pegava os vales aqui na escola para ir à secretaria resolveros problemas da escola e ia de ônibus até o centro e de lá eu ia a pé prasecretaria. Sobravam os vales para o meu filho estudar. Eu vendia as coisastambém, eu vendia Natura, eu vendia produtos de beleza, eu vendia coisas daroça que vinham de Guanhães, pinga, queijo, linguiça... eu vendia tudo queaparecia.

Vieira (2003), analisando dados relativos à pesquisa da Confederação Nacional

dos Trabalhadores em Educação de 2002, sobre a situação dos educadores no Brasil,

alerta para o padrão de vida dos professores que, longe de uma condição digna de

sobrevivência, são obrigados a apelar para outras fontes de recurso financeiro:

Professores e funcionários de escola vendem pão, roupa, bijouterias, perfumese sabe-se lá o que mais. A própria escola serve como local de venda e osrecreios, os intervalos, permitem um tempinho para comercialização. ( Vieira,2003, p.17)

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Siniscalco (2003) também comenta sobre os baixos salários dos professores

brasileiros e, a partir de pesquisa realizada em 2001, pela Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD), aponta a posição do Brasil em

36º lugar, no ranking de 38 países avaliados acerca do salário do professor na

educação primária.

Ana Maria fala da desvalorização da profissão, pela sua família:

Eu sinto que é desvalorizada, meu marido me ajuda muito, meus meninostambém colaboram, mas não é muito considerado como uma outra profissão.Eu escuto muito: Ah, deixa isso aí para lá, vamos fazer outra coisa, não mexecom isso mais não. Não tem aquele cuidado de ver, é a profissão dela. E se agente não ficar firme, não tiver um controle e um propósito, você acabadeixando de lado, porque os afazeres da casa, os filhos, o marido, consomemuma parte muito grande do tempo da gente.

A questão da solidão é ressaltada, por todas elas, como um grande problema

enfrentado pelas professoras nas situações em que não ocorrem momentos de

discussão e socialização de experiências.

Vanessa fala da falta de apoio para a realização de seu trabalho:

A gente está trabalhando muito sozinha na escola. Você entra na sala de aula enão tem apoio de quem deveria, da supervisora, de uma orientadora para teacompanhar, para te ajudar com os alunos. Trabalhar sozinho talvez não seja omaior desafio da profissão, mas é um grande, sabe?

Mariana também relata, com muita insatisfação, o fato de não receber ajuda de

especialistas para a realização do seu trabalho e encara a solidão como o pior dos

problemas enfrentados na profissão.

Todas as colegas com quem eu lido no dia-a-dia reclamam. Elas podem nãoreclamar numa reunião. Mas o nosso trabalho é só, é do professor, o professore o professor. Ele, a sala de aula, o quadro, o giz e o material didático. O pior éa solidão.

Ana Maria também relata esse fato, acrescentando que a solidão não se dá

somente pela falta do especialista, mas também dos pais dos alunos.

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O maior desafio da profissão é trabalhar com o aluno só, sozinho, sem a ajudados pais, sem ajuda de ninguém da escola, sem ajuda do Governo. É ter quedar conta do aluno problemático, que tem problemas familiares, que temproblemas lá na casa dele e fazer com que ele chegue aqui e consiga ficaratento e participar e fazer as atividades. Com tanta coisa do lado de fora contra,mídia, televisão, com outras coisas mais interessantes lá fora, ele tem que ficare você tem que fazer ele ficar aqui.

Alessandra também faz comentários sobre esse fato:

As vezes o que complica um pouco a vida da gente são os próprios colegas,porque tem muitos que ao invés de ajudar, eles querem ver a caveira da gente

As professoras ressaltam o quanto seria mais interessante e proveitoso o

trabalho, se tivessem algum apoio nas horas em que ocorrem dúvidas e o quanto seria

importante ouvir que o caminho tomado está certo, ou o conselho para experimentar

uma outra saída para resolver um problema.

Uma outra questão levantada pelas entrevistadas refere-se à disciplina dos

alunos, que vem mudando ao longo do tempo. Esse fator é apontado como diretamente

relacionado ao recuo do papel da família na tarefa de educar seus filhos.

Para Alessandra, os alunos hoje são bem diferentes do que no momento em

que iniciou sua carreira.

Hoje em dia os meninos estão muito sem limites, a realidade é essa. Os paistrabalham o dia inteiro e então não tem quem eduque esses meninos. Eleschegam na escola e a gente tem que dar cultura para eles, transmitir oconhecimento e ainda tem que educar também, porque os pais não estão emcasa para fazer isso. Só que, chega na escola, não querem obedecer, porque agente não é mãe deles. Eles falam assim com a gente: você não é minha mãe.Cada dia que passa fica mais difícil trabalhar.

Ana Maria também se pronuncia a esse respeito:

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De uns tempos pra cá está ficando muito complicado a relação entre a escola eos pais, os professores e os pais, porque ele estão jogando muitasresponsabilidades que são deles, na escola e no professor.Quanto mais a gente tenta se aproximar deles para dividir as responsabilidades,mais eles estão colocando as responsabilidades nas nossas costas. Há umtempo atrás não, você chegava para uma mãe e falava: seu filho está dandomuito trabalho, está perturbando, não está prestando atenção, não está fazendoos deveres de casa, ai ela ficava com vergonha, ficava sem graça e falava:pode deixar que esse menino amanhã traz tudinho pra senhora, e a senhora medesculpe que eu não tinha visto, e resolvia. Às vezes a gente até sabia que eladeu uma surra, mas ela via e dava um jeito de resolver o problema do aluno naescola. Eles acham que a escola agora tem essa obrigação, porque a mídia, atelevisão, o governo fazem essa propaganda, de que a escola é pra todos, écomo se fosse uma seqüência de casa, uma linha que não tem um corte ali.

Vanessa deu o seguinte depoimento sobre essa questão:

Quando comecei a trabalhar , os pais eram mais comprometidos com o ensino,eles eram mais comprometidos com a educação dos filhos. Hoje eles deixam aeducação dos filhos pra gente aqui na escola. Não era assim antes, porqueantes era uma coisa mais rígida. Depois desse ECA, o Estatuto da Criança e doAdolescente, acabou. A gente não pode fazer nada mais. Não é o caso dechegar a bater no menino. Não é isso não. Porque agora só tem direitos, masdever mesmo não.

Esteve (1999) refere-se à somatória de fatores que, associada ao contexto de

incertezas produzido pelos avanços da modernidade, acabam por colocar o professor

no olho do furacão. Nesse sentido, ele enumera vários indicadores do mal estar

docente, dentre eles o recuo de outros agentes de socialização, principalmente a

família, que transfere para a escola a responsabilidade pela transmissão de valores.

Esse fator é resultado da necessidade do envolvimento da família em jornadas cada

vez maiores de trabalho, envolvendo especialmente a participação da mulher.

Mariana trata de forma diferente essa mesma questão:

Antes era mais fácil, porque massacrava-se o aluno. Os alunos nãoquestionavam. Por exemplo: se eu chegasse na sala e falasse que A era B, nãotinha questionamento. Hoje eu deixo aberto e eles falam assim: professora, estáerrado ai. Antigamente, se o aluno visse, eu, como professora, para não cair noridículo, tinha que camuflar isso. Ora, os alunos estão é sabendo dos direitosdeles, está bem aberto para os alunos que eles têm direitos e deveres.

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Em busca da formação continuada: a caminhada no Projeto Veredas

De modo geral, as professoras entrevistadas relatam a entrada no Projeto

Veredas como um momento de enorme satisfação em que viram realizar um antigo

sonho de cursar a faculdade. Talvez por essa razão, o dia do vestibular, a expectativa

do resultado e também a experiência do primeiro dia de aula é relatado

minuciosamente, com detalhes. Apesar do curso ter surgido visando atender uma

exigência da nova legislação, essas professoras buscaram a formação em nível

superior procurando a realização do sonho de cursar uma faculdade e aprender mais.

Todas elas disseram que, após o término do curso normal de nível médio, tinham o

desejo de continuar estudando, mas devido a dificuldades financeiras, tiveram que

abrir mão do sonho.

Alessandra é a única que havia começado a fazer um curso superior de Letras,

que teve de abandonar por não ter condições financeiras de concluí-lo. Por isso

mesmo, descreve o momento de entrada no Veredas como “ o que eu mais precisava

naquela hora. O Veredas caiu do céu.”

Alessandra relata com grande alegria a entrada no Veredas, tendo inclusive

feito uma poesia para esse momento, da qual selecionamos um dos versos:

Somos aves sem asasVoamos nas asas do saberTemos a imensidão por limiteE o Veredas como poder

Ana Maria assim descreve esse momento de entrada no curso:

Foi muita euforia, a gente sente aquela alegria: Nossa, eu estou fazendo cursosuperior, que bom, eu já tinha tentado duas vezes na Federal e não conseguipassar na 2ª etapa, eu tentei Psicologia. Então, fica um sonho né? Mas quandoeu tentei, eu tentei Psicologia, não tentei Pedagogia não. Ai surgiu essaoportunidade do Veredas, então ótimo, né?

Vanessa também fala desse momento como de grande alegria:

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Foi o seguinte, eu lia muito e o meu sonho era continuar a estudar. Fazeralguma coisa até para eu ter mais segurança. Mas como eu nunca tivecondições porque eu criei minha família praticamente sozinha, com três filhos.Então eu não tinha condições de pagar os estudos pra mim. Eu investi nosfilhos, eu estou passando e eles estão vindo...

Embora com trajetórias diferenciadas, todas as professoras demonstraram

satisfação em participar do Projeto Veredas. Pudemos perceber que essa escolha não

se deu em função da necessidade desse nível de formação para a permanência no

cargo. Elas escolheram a profissão e escolheram se aprimorar dentro da profissão,

sendo que, para isso, participaram de outros cursos de formação continuada,

recorreram a colegas professores mais experientes, buscaram leituras de autores que

pudessem contribuir para a sua prática. O projeto Veredas veio culminar o desejo e a

necessidade de formação em nível superior, presente naquele momento.

Uma questão que consideramos relevante para a confirmação do caráter de

seriedade e comprometimento dessas professoras para com o seu trabalho, a vontade

e necessidade de continuar a aprender sempre, refere-se à escolha do tema de suas

monografias. As quatro professoras entrevistadas selecionaram temas relativos à sua

prática cotidiana em que vivenciam o conflito de ter que lidar com situações para as

quais não se sentem preparadas ou em que o próprio Sistema em que atuam não

oferece o suficiente para o enfrentamento desses desafios. Assim, Mariana, por

trabalhar em escola de periferia e tendo presenciado discriminações desses alunos

dentro da própria escola, optou por trabalhar na monografia do curso, as relações

estabelecidas pela escola com os alunos de vila e periferia.

Vanessa presenciou, desde o início da carreira, experiências de bons

resultados com alunos com dificuldades de aprendizagem, a partir de diálogo com as

famílias, em busca de soluções. Defende que é impossível trabalhar sem o apoio da

família, uma vez que o aluno reflete na escola os problemas que vivencia em casa.

Para isso, faz visitas à casa dos alunos e, muitas vezes, atua como orientadora

educacional, apesar de haver esse profissional na escola. Por isso mesmo, escolheu

como tema de sua monografia a relação família e escola no desenvolvimento do

aluno.

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Ana Maria relata que um dos momentos mais difíceis e desafiadores do seu

trabalho foi quando recebeu, em sua sala de aula, uma criança com paralisia cerebral.

Foi muito difícil e inclusive foi o que me motivou a fazer minha monografia emcima desse assunto, para ter mais respaldo, para investigar melhor e saber atéque ponto os órgãos responsáveis fazem um trabalho de ajuda. Porque eu tivede correr sozinha atrás, eu e o grupo da escola. Eu fiquei querendo ver tambémcomo os outros profissionais trabalham, como eles dão conta de trabalhar comos outros vinte e cinco alunos e ainda com os com necessidades especiais. Aquem devo dar atenção, a quem não tem dificuldade aparente ou a quem temuma dificuldade especial?

Alessandra trabalha com alfabetização e diz ser apaixonada pelo que faz. Por

enfrentar muitos desafios nessa escolha e por querer aprofundar e conhecer melhor

sobre o tema, escolheu a alfabetização para trabalhar em sua monografia.

Podemos perceber, a partir dessas escolhas, que a profissão é encarada por

essas professoras como um trabalho que envolve um alto grau de envolvimento e

comprometimento.

4.2 Projeto Veredas, desenvolvimento profissional e exercício da docência:percepção das professoras cursistas e de seu tutor

O Projeto Veredas como uma forma de desenvolvimento profissional

A participação no Projeto desencadeou uma série de modificações tanto na

prática dessas professoras, quanto em suas posturas frente aos colegas e aos alunos,

oferecendo mais segurança e fazendo com que elas afirmem que estão parecendo

gente.

As falas das quatro professoras entrevistadas confirmam inclusive as

observações feitas pelo tutor e pela coordenação do projeto na UFMG, relatada no

capítulo 6, em que afirma que houve uma mudança de postura das professoras, que

passaram a participar mais nas reuniões das escolas, a opinar mais, refletindo o

aspecto destacado por todas na entrevista, sobre alcançarem uma maior segurança.

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Era o que estava faltando prá gente, porque nós ficamos bitolados em ensinarsó, entrar na sala de aula e ensinar para os meninos a escrever, a ler e tal. Eesse outro lado a gente não preocupava com ele. Então o Veredas veioresgatar esse lado tão importante. Está sendo uma coisa maravilhosa. Eumudei em casa, eu mudei na fala, eu mudei muito depois que a gente estáfazendo o Veredas. Eu estou começando a parecer gente.

As professoras falam das mudanças ocorridas após o contato com as

discussões do Projeto Veredas:

Eu mudei muito, muito, porque antes eu pensava que eu tinha só que ensinar.Eu não tinha aquela coisa de escutar o menino, de ver o lado do menino. Eutinha esse problema comigo. Hoje em dia, eu paro, escuto o menino, olho, vouanalisar o que ele fez, por que ele fez aquilo. Eu tenho tentado mudar o máximoque eu posso. E o curso tem me ajudado muito, agora a gente analisa o queensinar para o menino e o porque de estar fazendo isso. Então tem me ajudadomuito e vai continuar ajudando.

Segundo o professor tutor, é possível perceber as mudanças ocorridas, a partir

da observação dos próprios registros das professoras cursistas e de seus memoriais:

Quando elas registram nos Cadernos de Atividades, indicadores de comodesenvolvem suas atividades, com exemplos e justificativas, fundamentadas noProjeto de Formação Veredas (...) principalmente no capítulo IV, quando asprofessoras cursistas escrevem acerca da forma como elas percebem os seusprocessos de formação ao comparar ao avanços que incorporaram às suaspráticas na sala de aula.

Algumas professoras revelaram uma grande vontade e necessidade de

continuar estudando e frequentar um curso superior; como pode ser observado na fala

apresentada a seguir:

O Veredas, ele foi essencial na minha vida. Eu precisava freqüentar umafaculdade, mesmo que não fosse um curso regular, ele está sendo essencial. Éum resgate, eu faço das leituras do Veredas tudo aquilo o que eu queria emtermos de conhecimento e em termos de aperfeiçoamento do magistério. Eudeliro com os textos, com a formação que a gente esta tendo, mesmo que sejaà distância, porque não é tão a distância assim, a gente tem contato com afaculdade, com todo o aparato que uma faculdade tem. E eu levo isso a sério,porque para mim é como um curso regular, porque todos os dias eu chego aminha casa e tem os trabalhos do Veredas para fazer, tem o memorial, temmonografia e isso não impede que eu considere como um curso regular.

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Ressaltando novamente o aspecto da segurança, essa professora relata o

quanto foi importante ver confirmado, através dos estudos no Veredas, aquilo que antes

já exercia na sua prática cotidiana, sem que soubesse se esse seria um caminho certo.

Ele vem confirmando tudo aquilo que a gente vem trabalhando, muitas coisasque a gente pensa: eu faço assim e daí a gente lê e é isso mesmo. Em outrasvezes, falando: não, você pode avançar. como no módulo de Matemática, euaprendi muito, também com o de Português e o de Ciências, que a gente estátrabalhando agora. Muita coisa que a gente faz, mas não tinha uma teoria paraconfirmar, ai veio mostrar que é assim mesmo que faz. Fora a parte de PolíticaEducacional. Muitas coisas a gente passa despercebido, não vê, não interessa,fica bitolado ali só na alfabetização, e muita coisa da parte profissional, daprofissão, do ser professor, a gente acaba não tendo, não sabendo, então eugostei muito de Política Educacional. Eu tenho buscado fazer mais trabalho degrupo, ouvir mais o aluno, estar mais atenta ao que a criança fala e deixar elafalar e colocar as idéias que ela tem. Porque muitas vezes, antes, a gente tinhaaquela preocupação de manter a sala tranquila, todo mundo caladinho,sentadinho, todo mundo prestando atenção, então agora eu mudei essamaneira de pensar. Deixar eles falarem, colocarem as idéias deles, fazerem asatividades em grupo conversando e trocando idéias com os colegas, trocandoidéias. Muitas vezes, antes, a gente trabalhava com a idéia de dar tudo prontoe o menino copiava, fazia e fazia outro exemplo, outros modelos e fazia, fazia,quer dizer, aquela repetição. E isso caiu, uma mudança da prática. Eu estoutendo mais segurança, só da gente ter mais segurança, firmeza daquilo quevocê está fazendo, é uma coisa assim, muito significativa. Eu era muitopessimista em tudo, eu achava que não conseguia as coisas Me ajuda muito,tem muita forma de trabalhar com os meninos, que antes eu não trabalhavacom eles. Eu era bem tradicional, como eu te falei.

Nos relatos, podemos observar que foram mencionadas a necessidade do

conhecimento para a melhor realização do trabalho e para o desenvolvimento das

potencialidades do professor. Todas as professoras apontam a importância do acesso

ao conhecimento disponibilizado no Veredas, que contribuiu para uma mudança na

prática, para o aumento da auto-estima e para a realização de um antigo sonho de

estudar em uma faculdade e se tornar mais gente.

Podemos perceber que a participação no Projeto Veredas significou, para as

professoras entrevistadas, um momento em que fica evidenciado o crescimento

profissional, que resultou em mudança na prática pedagógica e na relação das

professoras com a sua auto imagem.

Assim, o Projeto Veredas constituiu um modelo de desenvolvimento profissional

através de cursos, tal como analisa Garcia (1999). Esse modelo de desenvolvimento

profissional parte do seguintes pressupostos teóricos:

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• baseia-se na aquisição de competências;

• está centrado em temas didáticos que incluem reflexão sobre a prática, biografias,

diários e casos;

• trabalha conteúdos que incluem conhecimentos e procedimentos, envolvendo temas

como diversidade, educação multicultural, coeducação;

• pode ser seguido de seminários de aprofundamento.

Essa forma não exclui as outras formas apontadas por Garcia, na medida em

que a freqüência a cursos de formação continuada amplia as perspectivas dos

professores e representa possibilidade de melhor aproveitar as oportunidades que a

escola oferece para seu desenvolvimento profissional.

Assim, a partir da participação no Veredas, mesmo aquele professor que atua

em escolas que não oferecem oportunidades de crescimento profissional, conforme

abordamos no capítulo 2, poderá estar mais motivado para buscar seu desenvolvimento

profissional de forma autônoma, conforme relatam as professoras entrevistadas, que

passaram a pesquisar mais e a recorrer mais às bibliotecas, em busca de novos

conhecimentos.

É claro que fica mais fácil quando há um desenvolvimento institucional, mas

esse aspecto não consta nos documentos que tratam da intencionalidade do Projeto

Veredas.

Para o professor tutor, a interferência do Projeto Veredas pode ser avaliada

através dos dois referenciais já citados, ou seja, os relatos dos memoriais e os registros

nos Cadernos de Atividades, além das atividades denominadas “Práticas Pedagógicas”.

Essas atividades, segundo o professor tutor,

buscam acompanhar os sentidos e os significados das ações docentes, viaPlano de Ensino, elaborados pelas cursistas e pelo acompanhamento docaderno de campo do aluno.

A percepção sobre a profissão docente: influência da participação no ProjetoVeredas

Questionado sobre a influência do Projeto Veredas na percepção sobre a

profissão docente, o professor tutor afirma que:

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O fato de a Prática Pedagógica, em sala de aula, desenvolvida pelas cursistasem suas escolas ser considerada o ponto de partida na reflexão crítica,problematizadora e propositiva, faz com que, constantemente, o movimento deação/reflexão/ação vá formando um hábito de se (re)pensar a prática de sala deaula das cursistas, o que alimenta a reflexão sobre a função social da açãodocente no espaço escolar. Nesse sentido, os conteúdos dos Guias de Estudo,desenvolvidos em cada módulo, servem como detonador de reflexões acercado ser professor hoje em dia.

Pelos relatos das professoras, pode-se perceber alguns reflexos da participação

no Veredas em sua percepção sobre a profissão. A visão que tinham da profissão foi se

transformando, na medida em que foram se apropriando dos conhecimentos que

envolvem a prática profissional. Alessandra fala dessa transformação:

Mudou sim, hoje em dia, por exemplo, eu penso que eu sou professora paraconstruir o saber dos meninos, como se a gente estivesse abrindo caminhospara eles, porque pelas nossas mãos passam pessoas importantíssimas e agente não se dá conta disso, até nós mesmos, professores, já passamos namão de professores, né? Quantos presidentes, médicos ai famosos, atécientistas, já passaram pelas nossas mãos, só que a gente não fica sabendo naépoca quem é.

Alessandra comenta, ainda, a sua percepção acerca da profissão:

Ser professor é ter o trabalho como uma missão de fé, coragem, investimentono aprendiz, lançando as primeiras bases que transformarão idéias em projetos.Ser professora é ser educadora, mãe, amiga, orientadora profissional,facilitadora do processo ensino-aprendizagem, propiciando ao aprendiz acapacidade de construir o próprio conhecimento.

Podemos perceber, pela fala da professora Alessandra, que ela reconhece o

valor da profissão e que essa visão foi reforçada a partir da participação no Veredas,

como ela mesma relata. No entanto, ainda permanece a visão do professor enquanto

missionário, direcionado por uma vocação e pelo amor à causa.

Ana Maria afirma que continua percebendo as dificuldades presentes na

profissão docente, mas reconhece que sua percepção acerca dela mudou, a partir da

participação no Veredas. Ela afirma que hoje faz distinção entre ser mãezona, como se

considerava antes e ser uma profissional, lidando com as possibilidades e os limites

presentes na profissão:

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Eu continuo achando difícil, muitas responsabilidades, muitas cobranças,tarefas que não são de minha responsabilidade. Mas o curso fez com que eupercebesse que eu tinha que ver essas responsabilidades e fazer bem feitoaquilo que eu der conta, não querer ser a mãezona, nem a tia, nem a babá enem responsável pelo menino como se fosse meu filho. Procurar separar mais oprofissional, resguardando um pouco. Porque eu acredito que é isso que fazcom que até muitos profissionais adoeçam . Porque o menino chega doente,aqui a gente tem que dar remédio, tem que chamar os pais para levar paracasa, olhar se foi embora mesmo, então, são muitas responsabilidades, sãomuitas tarefas que não são do professor, mas que, pelo apego, pelo carinho,pelo cuidado que a gente tem com a criança a gente acaba assumindo e, como curso, eu pude ver que não tenho que estar me responsabilizando tanto emdar conta dessa parte.

Vanessa afirma que a sua percepção sobre a profissão não mudou:

Não, não mudou. Hoje está muito difícil da gente trabalhar. Ser professor hojenão é igual como era antigamente, quando eu comecei, por exemplo. É muitodiferente, pela minha própria experiência... hoje eu estou mais cansada, porque tenho mais de 20 anos de serviço, estoumais cansada, até mesmo pelo tempo de serviço. Mas continuo achando bom,gosto de dar aula e faço por amor. Faço por amor, porque se eu fizessepensando em salário eu já tinha desistido há muito tempo.

Vanessa traz, em sua fala, o discurso do trabalho pelo amor à causa, mesmo

reconhecendo os baixos salários pagos ao professor. Podemos perceber que ainda

permanecem, no imaginário social acerca da profissão docente, muitas das concepções

que desenvolvemos no capítulo 1, as quais também são evidentes na percepção dos

próprios professores acerca da profissão.

Historicamente, a profissão docente se constituiu fincada nos ideais de missão

e sacerdócio, associada aos dons “naturais” da maternidade, como o amor às crianças

e o “jeito” para o trato com elas. Apesar das mudanças ocorridas na profissão e

passados vários anos, essas concepções estão ainda presentes na percepção das

professoras entrevistadas acerca da profissão docente.

Mesmo afirmando que não houve mudança em sua percepção, Vanessa aponta

a importância do curso superior na formação dos professores que lidam com o ensino

fundamental:

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É muito importante, porque quando você faz o magistério você sai com aquelabase prá trabalhar de 1ª à 4ª série, mas só que você não sai com esse olhar,essa visão mais ampla que o curso superior traz prá gente. Eu acho que todoprofessor deveria fazer um curso superior. Isso me ajudou demais e tem meajudado. Eu optei pela educação infantil e esse módulo agora, o 7º módulo, vaiser maravilhoso, vai ser todo sobre educação infantil. É o que eu gosto, até o 2ºano, eu gosto é de alfabetizar, é o meu forte.

Mariana relata que o curso possibilitou uma visão mais ampliada acerca da

profissão. Contudo, também ressalta a importância da profissão enquanto missão e

associada à vocação materna, como historicamente foi se constituindo:

Tudo o que eu queria realizar, eu realizo na minha vida profissional,independente das dificuldades, independente da falta de valorização eindependente do salário (...) Para mim, o melhor da profissão de professor é vero meu aluno sorrindo, saber que em um minuto do dia eu fiz a alegria deles,que eu não contribuí para as lágrimas (...) Se um aluno chega na escola comdor de barriga eu o encaminho para a cantina, para que possa se alimentar,talvez seu problema seja esse. Problema de surdez, estrabismo, é lógico quea gente detecta e temos que encaminhar para uma solução. Então é assim, oeducador de 1ª a 4ª série é tudo na vida da criança. Ele é o modelo, ele é quemvai direcionar a criança, ele é essencial.

Através desses discursos, fica evidenciada a concepção das professoras

cursistas acerca da profissão docente, enquanto missão, associada à maternidade,

vocação e sacerdócio, em que, muitas vezes, relatam experiências ricas e

extremamente inovadoras sem, contudo, reconhecer o valor das mesmas. Todas elas

afirmam que o único reconhecimento que esperam após o término do curso é do

aprendizado que tiveram. Quanto ao reconhecimento do valor do seu trabalho, uma das

professoras disse que ele vem com o sorriso no rosto das crianças, enquanto outra diz

ser a alegria de ver que deu certo . Percebemos uma descrença na valorização da

profissão docente por parte do próprio sistema em que atuam. Não esperam nenhum

tipo de reconhecimento após a conclusão do curso, que afirmam ter buscado por

vontade de crescer. Afirmam gostar da profissão e não se imaginam em outra atividade

que não seja a docência. Assim, ainda permanece resguardada a imagem do professor

missionário, orientado pela vocação.

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4.3- Desafios, dificuldades, alternativas e perspectivas para o Projeto Veredas: oque dizem as professoras cursistas e seu tutor.

Muitas foram as dificuldades e desafios enfrentados no decorrer dos três anos e

meio de convívio envolvendo o tutor e as professoras cursistas, especialmente em

função do escasso tempo para o estudo, uma vez que não há liberação e nem redução

de carga horária.

Nesse sentido, foram relatados pelo tutor, momentos de cumplicidade para a

tomada de decisões conjuntas com as professoras, muitas vezes contrárias ao

encaminhamento formal do Projeto:

Em muitas circunstâncias, situações problemáticas, discutíamos as questões eem diversas oportunidades, decidimos, autonomamente, em direção oposta aosencaminhamentos propostos pela coordenação geral do Veredas.

Essas decisões foram tomadas em função da inviabilidade e até mesmo da

consideração, de ambas as partes, de que alguma formalidade a cumprir seria

improdutiva em termos da construção de conhecimento e da reflexão desejada.

E acrescenta ainda:

Porém, para se alcançar esse nível de decisão política (o que e como fazer),sempre tivemos os cuidados e atenções para não adotar reducionismos,simplismos ou formas simplórias na resolução das situações. Ou seja, aconstrução do caminho autônomo, na maioria das vezes, dava mais trabalho doque cumprir orientações burocráticas.

Fica evidenciado, pelo relato do tutor, a dificuldade encontrada, a partir da

realidade concreta do seu trabalho e do cotidiano das professoras cursistas, em aplicar

em uma unidade singular e única, um modelo padronizado, elaborado para a utilização

em larga escala. Nesse sentido, a transgressão foi o caminho escolhido. Através do

exemplo a seguir, citado pelo tutor na entrevista, essa situação se torna mais clara:

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Um exemplo concreto se deu quando decidi, em cumplicidade com as cursistas,não ir para as quinze salas de aula delas, para avaliar o que estariaacontecendo ali. Na nossa justificativa, diziamos que seria algo artificial, ir paracada sala de aula para assistir, entre aspas, aulas que, por motivo de seremdesenhadas, entre aspas, também poderiam ser super preparadas para aquelasituação de o tutor estar ali, observando.

Nesse sentido, a partir da decisão conjuntamente assumida em função da

indisponibilidade de tempo e da certeza da “artificialidade” da situação e do baixo

rendimento que representaria, a opção encontrada foi a elaboração de planos de ensino

conjuntamente discutidos e construídos. Esses planos de ensino, elaborados em uma

ação conjunta, foram aplicados pelas professoras em suas salas de aula e

posteriormente avaliados nas análises críticas das práticas pedagógicas das

professoras cursistas, conforme relato do tutor.

A busca de alternativas também desencadeou em uma pesquisa acerca das

condições sócio-econômicas e culturais dos alunos das professoras cursistas, relatada

como uma experiência muito rica, onde foram elaborados questionários e depois

aplicados e analisados pelas próprias professoras. Também o tutor relata a riqueza

dessas experiências.

A professora Mariana fala desse momento como uma oportunidade de

conhecer os alunos, com os quais se encontrava todos os dias:

Através dessa pesquisa é que ficamos conhecendo a realidade de como e ondevivem nossos alunos e seus familiares, nos dando embasamento sobre asdiferenças individuais dos alunos que trabalhamos no nosso cotidiano, nosnorteando a adotar novas posturas, novas condutas a respeito deles.

Mariana também relata as várias perspectivas apontadas pelo aprendizado nas

disciplinas e o contato com os textos dos guias de estudo.

A vontade de aprender que esse Projeto nos despertou é tamanha, que nãoatemos nossas leituras somente nos guias, pois já vaculho a biblioteca da minhaescola atrás de livros, que, muitas vezes, são citados nos módulos: AntônioNóvoa, César Coll, Fernando Hernandez, e tantos outros de grande importância.

Mariana relata, ainda, a influência do acesso a esse conhecimento em sua

prática cotidiana, melhorando seus resultados:

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Muitas vezes nos pegamos apreensivos dentro da classe, quando descobrimosque nossas tentativas são em vão, como no caso do aprendizado de tabuadas.Só me senti tranquila quando, lendo os textos da matemática da autora NilzaEignheer B, compreendi que é possível levar a criança a reconstruir um fato damultiplicação através dos jogos e brincadeiras.

Referindo-se aos textos utilizados no Projeto, Alessandra fala da dificuldade de

estudar e compreender os textos. Esse fato nos parece estar associado a dois

aspectos: primeiro, o longo período sem contato com textos dessa natureza e a falta de

hábito de leitura, que só foi alcançado após um certo tempo. E, em segundo lugar, pela

rotina dessas professoras cursistas que, de certa forma, representam o perfil de aluno

típico da educação a distância descrito por Walker (1993), citado na pag.66 deste

trabalho.

As dificuldades típicas do estudante de EAD são relatadas por três das

professoras entrevistadas, como parte da realidade em que vivem. A quarta professora,

Mariana, por ser solteira, sem filhos e trabalhar em uma só escola, relata uma

experiência diferente, em que se debruça com mais tranquilidade sobre os estudos.

Ana Maria assim se refere a essas dificuldades:

No começo foi muito difícil, há um tempão fora da escola, ter que habituar denovo a ler, assentar, ler e entender os conteúdos diferentes, os assuntos muitopuxados. Também é difícil fazer aquela prova que mais parece um vestibular acada semestre.

E acrescenta, falando sobre a falta de tempo para os estudos e sobre as

dificuldades enfrentadas na etapa a distância, quando não há a presença do tutor:

O material é muito bom, o problema é que falta o tempo para assimilar bemesse material, é muito corrido. E ainda mais trabalhando em duas escolas,cuidando da família, acaba que passa muita coisa sem assimilar direito (...) Agente está tendo a teoria, tem os momentos presenciais, mas é só umapincelada. O dia-a-dia mesmo é sozinho, em casa, com o material que a gentevai aprendendo. E, muitas vezes, na hora de tirar a dúvida com o tutor, acabaque não dá tempo também, então...

Ana Maria sugeriu que deveria haver mais momentos presenciais para

discussões, para tirar dúvidas e rever os conteúdos. Sugeriu também que fossem

utilizados outros recursos com maior freqüência:

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Usando a tecnologia que tem aí, mais filmes, mais acesso à informática pragente poder melhorar. A informática está presente em poucos módulos, efalaram que iríamos ter. Tivemos também poucas fitas de vídeo e no manualfala que teriam muitas.

Essa professora fala do medo de não dar conta, diante de tantos obstáculos

encontrados e da vontade de desistir no início do curso.

Uma outra dificuldade relatada pelas professoras foi a escrita da monografia,

trabalho difícil de ser realizado, com poucas orientações frente ao tamanho do desafio.

Vanessa exemplifica esse momento:

O que está me atormentando é a monografia. Eu já tive aula umas três vezes,mas eu acho que ainda está um pouco solta essa parte. É um acúmulo decoisas, tenho que ler o material do Veredas, tenho que fazer prova, eu estoutrabalhando, vou fazer a formatura do meu prezinho e estou sobrecarregada deserviço aqui na escola. Quando chego em casa, não dou conta de ler e de fazera monografia. Se houvesse mais encontros, ia apertar, mas a gente fazia.

Podemos perceber, a partir dos relatos das professoras cursistas e do tutor,

grandes dificuldades encontradas, especialmente em função da escassez do tempo,

que parece comprometer a qualidade dos trabalhos. Também foi possível perceber, nos

momentos das entrevistas, a ansiedade das professoras para a realização da escrita do

trabalho monográfico, solicitando ajuda, referências de autores e textos para a leitura.

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Notas Conclusivas

Achar o rumozinho certo das coisas,Caminho do que houve e do que não houve.

João Guimarães Rosa

Neste trabalho, buscamos analisar o projeto Veredas enquanto uma

oportunidade de desenvolvimento profissional, a partir da percepção das professoras

cursistas e de seu tutor. Esse projeto não se inscreve em um modelo de

desenvolvimento profissional centrado na escola, em que a totalidade dos professores e

do corpo técnico da escola se envolvem em um projeto de crescimento mútuo. Ele se

pauta no desenvolvimento através de treino ou cursos de formação, segundo

classificação de Garcia trabalhada no capítulo 2.

A partir da pesquisa realizada, apresentamos as seguintes considerações finais:

Uma primeira evidência que podemos destacar refere-se à escolha da profissão.

Para todas as entrevistadas foi uma questão de opção e oportunidade. Foi uma opção

viável pela pouca oferta de cursos profissionalizantes na região em que residiam, ou

porque significava uma alternativa mais barata, ou porque oferecia mais oportunidades

de trabalho, ou ainda pela possibilidade de conciliação com a criação dos filhos e as

tarefas domésticas. Essa escolha nos mostra, por um lado, uma certa autonomia dos

sujeitos envolvidos mas, por outro lado, demonstra também a existência de outros

fatores, como a influência de familiares ou as condições econômicas que inviabilizavam

o propósito de outros vôos.

Para as quatro professoras entrevistadas, o sentido da profissão docente ainda

é perpassado pelos ideais de entrega e do amor às crianças, associados à

considerada típica atividade feminina: a maternidade.

Uma outra evidência diz respeito à busca dessas professoras pelo Projeto

Veredas, que não ocorreu somente em função da oportunidade oferecida pela

SEE/MG. Houve também um desejo e um sonho da realização de um curso superior

almejado pelas professoras há bastante tempo. A realização desse sonho só se tornou

possível com a criação do Projeto Veredas, uma vez que as quatro professoras

entrevistadas relataram situação de dificuldades econômicas para que pudessem

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buscar qualificação em instituições privadas, além da dificuldade de enfrentar um

processo seletivo na UFMG.

Foi possível constatar a importância dessa formação para as professoras

entrevistadas, como um investimento que as inscreve em uma nova fase de seu ciclo

profissional, sendo o Veredas um divisor de águas. A participação no curso agrega o

aspecto da segurança e auto-confiança, possibilitando: maior participação em reuniões

pedagógicas na escola (relato da coordenação de tutoria da UFMG), facilidade no trato

com as questões do cotidiano da sala de aula, a partir dos conhecimentos adquiridos e

das reflexões e discussões (relato do professor tutor), mudança na prática pedagógica

e o sentimento de “virar gente” (relato das professoras cursistas).

Em se tratando dessas mudanças, as professoras e o tutor enfatizam a

importância de aprender algo que seja significativo, como ter acesso ao conhecimento

que pode sanar as dificuldades do cotidiano da sala de aula, especialmente através do

contato com as disciplinas de metodologias. Relatam, também, mudanças quanto à

imagem que possuíam de seus alunos, a abertura para ouvi-los mais e construir o

conhecimento juntamente com eles.

As professoras fizeram referências à incompreensão de alguns colegas e

diretores diante da necessidade de se ausentarem em algum momento, em função do

curso. Esse depoimento também foi apresentado pelo professor tutor, somado ainda ao

fato de frequentarem o curso na UFMG, que provocou ciúmes entre os colegas da

escola.

Tais depoimentos nos permitem refletir sobre as contradições ainda presentes

no espaço escolar, e também existentes no bojo das propostas dos cursos de formação

de professores, ao desconsiderarem a riqueza de uma cultura de colaboração.

Consideramos necessário que a escola disponha de espaços significativos de troca de

experiências, criando condições para o crescimento conjunto, transformando a

experiência de seus profissionais em conhecimento. A importância do desenvolvimento

institucional é colocada por Nóvoa e Garcia neste trabalho, quando alertam para a

riqueza dessa experiência. Acreditamos ser necessário integrar os conhecimentos

trabalhados em um curso de formação, com a prática cotidiana da escola,

reconhecendo-a como espaço de referência da profissionalidade do professor e como

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unidade essencial de mudança e de formação conjunta. Nóvoa nos alerta para a

necessidade de renovação da cultura tanto profissional quanto organizacional da

escola, afirmando que “é sabido que hoje não basta mudar o profissional, é preciso

mudar também os contextos em que ele intervém.” ( Nóvoa.1995,p.28)

As mudanças relatadas pelas professoras estiveram centradas em suas

práticas individuais, vinculadas ao espaço e tempo da sala de aula, não oportunizando

trocas de experiências no ambiente escolar, em momentos onde seria propício

redesenhar e repensar a própria escola e a educação. Muitas vezes, o que podemos

observar na escola é um aglomerado de práticas desarticuladas, além de um projeto

pedagógico distante da real função social da escola e, muitas vezes, desconhecido

pelos professores. Nesse sentido, os professores que se dizem solitários em seu

trabalho cotidiano, adquirem uma série de conhecimentos relevantes para a sua

formação e sua prática, mas permanecem solitários, sem a oportunidade de

aprofundamento ou troca de experiências. Essa solidão, relatada pelas quatro

professoras entrevistadas, propicia o surgimento de descrença e desvalorização do

trabalho, implicando na formação de uma cultura do individualismo.

Observamos também, nos relatos das professoras, a descrença em uma

possível valorização após o curso. Elas manifestam grande descrença no governo e

afirmam que a educação e os seus profissionais não são prioridade no Brasil.

Manifestam também descrença nos movimentos sociais, no poder de força das greves,

nos sindicatos, e no poder de luta dessa categoria, uma vez que nos momentos de

greve, enquanto se reuniam nas praças públicas para reivindicar, os próprios colegas

que deveriam estar junto com elas, viajavam para a praia e se alienavam do processo.

Apesar das queixas apresentadas, da consciência da real situação em que se

encontram como profissionais, e de uma certa descrença frente à perspectiva de

mudanças, as professoras cursistas se dizem satisfeitas com a profissão. Essa

satisfação talvez ocorra em função da ascenção social obtida em relação às suas

famílias de origem, especialmente no que se refere ao aumento do nível de

escolaridade de seus familiares, já que a maioria de seus familiares possui apenas o

curso fundamental incompleto.

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Apesar das dificuldades enfrentadas para a participação no curso, as

professoras encontraram no Projeto Veredas a oportunidade de mudanças na vida

pessoal e profissional, especialmente em sua forma de interpretar e encarar as relações

com as pessoas e a própria profissão.

Em relação à percepção acerca da profissão docente, o Projeto Veredas

permitiu que as professoras ressignificassem o olhar sobre o seu trabalho, mudando

suas práticas e a percepção sobre os alunos, mas permaneceu a visão do amor às

crianças e da doação, como fortes prerrogativas.

Um outro aspecto que consideramos relevante no Projeto Veredas, foi a

elaboração do memorial, considerado pelos atores da pesquisa como um processo rico

e valioso para construção da identidade das professoras a partir da lembrança e

ressignificação dos seus vários ciclos de vida. Esse resgate significou a compreensão

de que os professores são contemporâneos do seu tempo, que têm história e que estão

inseridos em relações, processos e estruturas historico-sociais.

Neste trabalho optamos por resgatar e compreender o que as professoras

cursistas trazem em suas vivências para que se reconheçam como sujeitos sociais,

buscando compreender suas percepções, bem como a de seu tutor, acerca do Projeto

Veredas enquanto uma forma de desenvolvimento profissional. Captar essas vivências

e refletir sobre elas significa jogar luz sobre o aspecto da construção social desse

profissional, que se indaga frente ao espelho da sociedade, ao espelho do mercado, ao

espelho do aluno e de si mesmo, sobre quem são, como se reconhecem e são

reconhecidos e como se constituem enquanto categoria profissional. Significa, também,

reconhecer que este caminho se mostra às vezes firme e, outras vezes, impreciso, nos

lembrando o verso do poeta mexicano Antônio Machado: “ Caminhante, são seus

passos o caminho e nada mais. Caminhante, não há caminho; se faz caminho ao

caminhar.”

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Anexo 01UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROJETO VEREDAS: FORMAÇÃO SUPERIOR DE PROFESSORESTUTOR: José Raimundo

CONHECENDO A REALIDADE ESCOLAR

Professora,

Considerando sua experiência e a visão da escola em que trabalha, responda oquestionário abaixo, cujo objetivo é criar oportunidade para que você identifique eorganize dados e informações sobre a sua escola.

As questões deverão ser respondidas individualmente, de modo a fornecerexemplos concretos, por meio de sua descrição e análise.

Ao responder, é importante identificar, claramente, o item ao qual se refere a suaresposta.

Este questionário será ainda instrumento de socialização de suas percepçõesatravés das discussões que faremos na próxima oficina em abril.

Atenção: O questionário deverá ser entregue no dia 2 de abril – Terça-feira – deacordo com a forma de entrega definida pelo grupo.

1- Quem são seus alunos?

2- Como é sua escola?

1.1- Quantos são alunos por turno?1.2- Quantos são os alunos por série?1.3- Qual a faixa etária predominante?1.4- Quantos são os alunos (m) por série?1.5- Quantos são as alunas (f) por série?1.6- Faça uma descrição geral das condições sócio-econômicas e culturais

dos seus alunos.1.7- Que tipo de relacionamento você constrói no dia a dia com seus

alunos? Dê exemplos e justifique-os.

2.1- Faça uma descrição da estrutura física da sua escola:2.2- E a estrutura pedagógica?2.3- O que a escola tem feito em termos de orientações pedagógicas?

Há um projeto pedagógico? Há reuniões semanais?

2.4- Em caso de afirmativo que tipo de reunião é desenvolvida? Para que?Como acontece?

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3- Quem são os seus colegas professores?

4- Como são as relações escola, família-comunidade?

5- Agora sobre você: A professora cursista.

3.1- Quantos são os professores por turma?3.2- Quantos são os professores por série?3.3- Quantos são os professores?3.4- Quantas são as professoras?3.5- Qual o total de professores na sua escola?3.6- Agora faça uma descrição das condições sócio-econômicas e culturais

dos seus colegas professores.

4.1- Como a escola se organiza internamente? Quais as formas deorganização?

Há um projeto pedagógico? Há reuniões semanais?

4.2- Para você qual a importância da participação da família no dia-a-dia daescola?

4.3- Há participação da comunidade na escola?4.4- Há grêmio estudantil?

5.1- Por que professora?5.2- Há quanto tempo exerce a profissão?5.3- Onde você se formou?5.4- Há quanto tempo?5.5- Listar em ordem de importância as principais dificuldades que você está

encontrando em sala de aula.5.6- Diante dessas dificuldades, quais as formas que vocês tem utilizado para

superar as dificuldades?5.7- Você esta desenvolvendo algum tipo de projeto?5.8- Finalmente escreva uma frase que expresse como você se vê em sala de

aula.

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Anexo 02UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROJETO VEREDAS: FORMAÇÃO SUPERIOR DE PROFESSORESTUTOR: José Raimundo

Levantamento das condições materiais e técnicas dos docentes para implementação doCurso de Magistério Superior/Projeto Veredas

Professor Tutor:___________________________________________________Aluna: __________________________________________________________

Prezada colega

Temos o maior prazer em recebê-los como aluna neste curso e esperamos que essacaminhada que ora se inicia e bons frutos para a sua capacitação e para os alunos eoutros docentes com os quais você atua no seu dia-a-dia.

Para isso, consideramos importante coletar alguns dados que nos ajudem a organizar eimplementar estratégias pedagógicas e outras que facilitem o seu processo de ensinoaprendizagem e a nossa comunicação para uma interação mais efetiva e produtiva.

1- Escola(s) em que você trabalha.

2- Endereço completo, incluir CEP, telefone e fax da(s) escola(s)

3-Turno(s) em que você trabalha. (Especifique os horários de entrada e saída).

4-Outra(s) Escola(s) próxima(s) do(s) seu(s) locais de trabalho

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5- Endereço completo de onde você reside com CEP e telefone.

6- Há outra(s) colega(s) de trabalho sua(s) fazendo este curso? Se houver, informe onome completo dela(s).

7- Sobre a sua Escola, informe:

7.1- Ela possui computador? Quantos? Tem acesso a internet?

7.2- Você tem acesso a esse computador?

7.3- Freqüência com que você o utiliza: ( ) Sempre que precisa ( ) Quando ele está disponível ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Quando há pessoas que possam te auxiliar no uso dele.

7.4- Você poderia usá-lo para as atividades solicitadas ao longo deste curso? Justifiquesua resposta.

8- Sobre suas condições pessoais responda:

8.1- Você sabe operar um computador? De que forma? ( ) Muito bem ( ) Bem ( ) Regular ( ) Mal ( ) Não tenho a mínima noção de informática.

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Justifique a opção marcada por você.

8.2 Você sabe usar a internet para buscar as informações que você precisa? Justifiquesua resposta.

8.3- Que tipo de informação você costuma buscar na internet?

8.4- Você sabe enviar e receber mensagens usando a internet?

8.5- Você tem computador em casa? Ele tem acesso à internet?

8.6- Você tem um endereço eletrônico (e-mail) para envio e recepção de mensagens?Qual é ele?

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135

8.7- Qual a melhor forma de nos correspondermos com você para esclarecimentossobre os conteúdos ministrados e atividades solicitadas e outros itens? ( ) Correio ( ) Telefone ( ) Fax ( ) Correio eletrônico(e-mail)

8.8- Informe o melhor horário e telefone para se entrar em contato com você.

Obrigado e seja bem-vinda.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – FACULDADE DE EDUCAÇÃOPROJETO VEREDAS: FORMAÇÃO SUPERIOR DE PROFESSORES

TUTOR: José Raimundo

ABRINDO OS PRIMEIROS CONTATOSNome Completo:

Data de Nascimento: Naturalidade:

1-DADOS SOBRE A ESCOLA DE ORIGEMNome da Escola:Rua:Bairro Telefone:Linha de ônibus:Diretora:Vice Diretora:

2-DADOS SOBRE A SITUAÇÃO DE TRABALHOTurno de trabalho:Carga Horária semanal:Turmas sob sua responsabilidade:

3-MARQUE UM X OS RECURSOS MATERIAIS DISPONÍVEIS NA SUA ESCOLABiblioteca Computador Interne

Fax Retroprojetor TV/Vídeo

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136

Anexo 03UFMG/FAE/VEREDAS – Questionário do Perfil das Cursistas na UFMG

PARTE I – DADOS PESSOAIS

Nome: ______________________________________________ Grupo:_________

1- Qual é o seu estado civil? (Marque com um X)

1.Solteira 5.Divorciada

2.Casada 6.Viúva

3. Separada 7-Vive com o (a) companheiro (a)

4. Desquitada

1.2 Idade __________

1.3 – Pertencimento étnico. Qual é a sua cor?

1. Branca 2. Negra 3.Parda 4.Amarela 5.Índia

1.4. Você considera membro de alguma religião?

1. Sim 2. Não

1.4.1 Em caso de afirmativo qual a sua religião?

PARTE II – VIDA FAMILIAR

2.1- Quantas pessoas moram na mesma cada que você? (incluindo você e osempregos)

2.2- Renda familiar mensal

1. Acima de 1 até 2 salários mínimos 4- Acima de 5 até 10 salários mínimo

2. Acima de 2 até 3 salários mínimos 5- Acima de 10 até 15 salários mínimos

3. Acima de 3 até 5 salários mínimos 6- Acima de 15 salários mínimos

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137

AS QUESTÕES DE 2.4.1 A 2.4.2 REFEREM-SE APENAS A SEU PAI

2.4- Em relação a seu PAI, na época em que você nasceu responda:

2.4.1 – Grau de instrução: (Marque com um X a alternativa)

1. Analfabeto 7. Segundo grau incompleto

2. Nunca foi a escola 8. Segundo grau completo

3. Primário incompleto 9. Superior incompleto

4. Primário completo 10. Superior completo

5. 5ª a 8ª série incompleta 11. Pós-graduação

6. 5ª a 8ª série completa

2.4.2- Ocupação profissional que exerceu por mais tempo

AS QUESTÕES DE 2.5.1 A 2.5.2 REFEREM-SE APENAS A SEU MÃE

2.5- Em relação a sua MÃE, na época que você nasceu, responda:

2.5.1 – Grau de instrução: (Marque com um X a alternativa)

1. Analfabeto 7. Segundo grau incompleto

2. Nunca foi a escola 8. Segundo grau completo

3. Primário incompleto 9. Superior incompleto

4. Primário completo 10. Superior completo

5. 5ª a 8ª série incompleta 11. Pós-graduação

6. 5ª a 8ª série completa

2.5.2- Ocupação profissional que exerceu por mais tempo

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138

AS QUESTÕES DE 2.6.1 A 2.6.2 REFEREM-SE APENAS A SEU MÃE

2.6- Em relação ao seu COMPANHEIRO/COMPANHEIRA responda:

2.6.1- Grau de instrução: (Marque com um X a alternativa)

1. Analfabeto 9. Segundo grau incompleto

2. Nunca foi a escola 10. Segundo grau em curso

3. Primário incompleto 11. Segundo grau completo

4. Primário em curso 12. Superior incompleto

5. Primário completo 13. Superior em curso

6. 5ª a 8ª série incompleto 14. Superior completo

7. 5ª a 8ª série em curso 15. Pós-graduação

8. 5ª a 8ª série completo 16. Pós-graduação em curso

2.6.2- Ocupação profissional que exerceu por mais tempo

PARTE III – CAMPO SÓCIO- ECONÔMICO

3.1- A casa onde você mora é: (Marque com um X)

1. Alugada 2. Própria ou Financiada 3.Cedida

3.2- Qual é o n.º de cômodos da sua casa? ______________________

3.3- Marcar com um X os tipos de serviços públicos com que você conta na sua casa:

1. Água canalizada 4. Luz elétrica

2. Calçamento de rua 5- Rede de esgoto

3. Coleta de lixo 6. Rede telefônica

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3.4- Em relação à casa você mora, especifique a quantidade dos seguintes bens:

1. Carro 10. Antena parabólica

2. TV a cores 11. Bicicleta

3. Banheiros 12. CD Player

4. TV a cabo 13. Computador

5. Rádio 14. Forno de micro ondas

6. Vídeo-cassete 15. Moto

7. Máquina de lavar louça 16. Linhas telefônicas

8. Geladeira 17. TV preto e branco

9. Aspirador de pó 18. Máquina de lavar roupa

3.5- Na casa onde você mora tem empregada mensalista? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

3.5.1- Você conta com a ajuda de empregada diarista? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

PARTE IV – USO DE TECNOLOGIAS

4.1- Uso do computador:

4.1.1- Com que frequência você utiliza o microcomputador?

1.Diariamente

2. De 3 a 6 vezes por semana

3. 1 ou 2 vezes por semana

4. Esporadicamente

5. Nunca

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4.1.2- Onde você utiliza o microcomputador com mais freqüência:

1.Em casa

2. Na escola onde trabalha

3. Na instituição de ensino

4. Em bibliotecas

5. Em outros locais

4.1.3 – Como você aprendeu a operar o microcomputador?

1.Sozinho (a), por tentativas

2. Sozinho(a), com bibliografia especializada

3. Com orientação, na instrução de ensino

4. Com orientação, na escola onde trabalha

5. Em cursos especializados

4.1.4- Em quais da situação abaixo você utiliza mais o computador

1.Entreterimento

2. Trabalhos Escolares

3. Na preparação das aulas

4. Pesquisa

5. Comunicação via e-mail

4.1.5- De onde você têm predominantemente acessado a internet?

1.Da instituição de ensino

2. Da minha cada

3. Da escola onde trabalho

4. De outro lugar

5. Nunca tive oportunidade de acessar

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141

4.1.6- Cite que tipo e atividades você realiza no computado

1. Digitação de Textos 4. Tabelas e Gráficos

2. Internet (Navegação) 5. Enviar e receber e-mail

3. Slides e Transparências

4.2- Uso do vídeo cassete

4.2.1- Atividades que você utiliza com maior frequência no vídeo cassete:

1. Exibir filmes ou documentários 3. Reprodução de fitas de vídeo

2. Gravar programas de TV 4. Gravar programas educativos

4.2.2- Que outros recursos didáticos você utiliza em sala de aula:

1. TV Escola 3. Computador

2. Vídeo Educativos 4. Retroprojetor

PARTE V – INSERÇÃO SÓCIO-CULTURAL

5.1- Livros

5.1.1- Você têm o costume de ler livros? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

5.1.2- Dentre os livros que você leu, algum foi especialmente importante para suaformação como professora? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

5.1.3- Em caso afirmativo quais?

5.2- Jornais

5.2.1- Você tem o costume de ler jornais? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

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5.2.2- Em caso afirmativo, marque com um X a frequência:

1. Raramente 2. Lê diariamente 3.Lê Semanalmente

5.2.3- Qual jornal você lê com mais frequência?

5.3 – Revistas

5.3.1- Você tem o costume de ler revistas? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

5.3.2- Em caso afirmativo, com qual frequência?

1. Raramente 2. Lê diariamente 3.Lê Semanalmente

5.3.3- Cite as revistas que você lê com maior frequência:

5.4- Televisão

5.4.1- Você tem o costume de assistir à televisão? (Marque com um X)

1. Sim 2. Não

5.4.2- Em caso de afirmativo, com qual frequência?

1. Menos de 1 hora diária 4. Mais de 3 horas diárias

2. Entre 1 e 2 horas 5. Varia totalmente

3. Entre 2 e 3 horas

5.4.3- Cite 3 programas de televisão a que você assiste com mais regularidade:

5.5- Filmes

5.5.1- Você tem o costume de assistir filmes? Marque com um X)

1. Sim 2. Não

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143

5.5.2- Em caso afirmativo, com qual frequência? Marque com um X)

Código para frequência

1. Diariamente 4. Mensalmente2. Semanalmente 5. Raramente3. Quinzenalmente 6. Nunca

Frequência

TV

Vídeo

Cinema

PARTE VI – TRAJETÓRIA ESCOLAR

CONDIÇÕES PARA AS QUESTÕES 6.1 A 6.5

(USE OS NÚMEROS DO CÓDIGO PARA PREENCHER OS QUADROS)

TURNO REDE DE ENSINO

1. MANHÃ 1.PÚBLICA2.TARDE 2. PARTICULAR3. NOITE4. MANHA E TARDE5. TARDE E NOITE6. NOITE E MANHÃ

6.1- 1º Grau

Sobre o seu 1º Grau, responde:

Turno Rede Ano de conclusão1ª a 4ª série

5ª a 8ª série

6.2 2º Grau

Sobre o seu 2º Grau, responsa:

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144

Turno Rede Ano de conclusão

6.2.1- Marque com X o tipo de 2º grau que você fez:

1. Magistério em 1 ano 3. Curso de 2º grau científico

2. Magistério em 3 anos 4. Curso técnico

6.2.2- Indique as principais razões que levaram você fazer o curso Veredas.]

6.3- Dentre as opções abaixo, quais são os seus PLANOS (ligados à vida profissional)para os próximos anos?

1. Fazer curso superior ou pós-graduação

2. Fazer cursos de reciclagem e aprimoramento profissional

3. Trabalhar em outras atividades dentro da escola

4. Mudar de profissão

5. Deixar de trabalhar

6. Aposentar

7. Tirar licença (ou se afastar) para tratamento de saúde

8. Trabalhar em dois turnos para aumentar a renda

9. Tirar licença para resolver assuntos particulares

10. Deixar a escola atual e trabalhar em outra: marcar com X (particular / municipal/estadual)

11. Deixar o magistério e abrir o próprio negócio

12. Outros. Especificar: _________________________________________________

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145

Anexo 04ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PROFESSORAS

PARTE 1: LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA E DA VIDA ADULTA, ENFATIZANDO AS

RELAÇÕES COM A PROFISSÃO DOCENTE

1- lembranças da infância

- lembranças do pai, da mãe e dos avós (profissão, características principais,

recordações que marcaram, o que acha que herdou deles)

- número de irmãos e irmãs e sua posição (primogênita, caçula ou do meio)

- lembranças mais agradáveis e mais desagradáveis da vida familiar

- tipo de instituições que frequentava desde criança (igreja, associações, clubes, etc.)

2- lembranças da escola primária

- fatos marcantes na trajetória da escola primária

- lembranças mais agradáveis e desagradáveis da escola primária

- lembranças de professores e colegas da escola primária, especialmente da primeira

professora

3- relação com a profissão docente na trajetória familiar

- existência de professores na família

- experiências com a profissão docente na vida familiar

- como a profissão de professora era vista pelos familiares e por você ( fácil, difícil,

rendosa, complicada, importante, cômoda )

- fatos marcantes da trajetória familiar que se relacionem com a profissão docente

- algum fato ou aspecto da vida familiar que possa ter influenciado sua opção por

essa profissão

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146

4- relação com a profissão docente na trajetória escolar

- relação com a profissão docente enquanto estudante (como via a profissão de

professora desde a primeira série do ensino primário, se gostava ou não dela, se

achava fácil ou difícil, complicada ou simples )

- de quem mais gostou e de quem menos gostou e por que

- tipo de aulas de que mais gostava e que menos gostava e por que

- lembrança de algum fato ou pessoa que modificou sua relação com a profissão

docente durante sua trajetória escolar

PARTE 2: LEMBRANÇAS DA VIDA ADULTA E HÁBITOS CULTURAIS

- vida afetiva, casamento, filhos

- instituições e festas que frequenta, igrejas , associações, clubes

- impressões sobre a influência familiar na vida profissional

- exercício de militância político-partidária, sindical ou movimentos culturais

- hábitos de lazer

- outros aspectos da vida privada que gostaria de mencionar

- professor que marcou sua vida e por que

PARTE 3: O CURSO DE FORMAÇÃO E A PREPARAÇÃO PARA O MAGISTÉRIO

- razões que levaram a escolher o magistério e onde fez o curso

- lembranças do curso de magistério : como foi realizado, fatos marcantes, estágio,

atividades complementares oferecidas pela instituição formadora

- dificuldades, atividades e disciplinas que mais agradaram e que menos agradaram,

professores , colegas, aspectos positivos e negativos

- leituras que fazia durante a formação de magistério e que importância tinham na

época e atualmente

- como avalia o curso de magistério que você fez

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147

PARTE 4: O INGRESSO NA PROFISSÃO DOCENTE E A TRAJETÓRIA

PROFISSIONAL

- como e quando ingressou na profissão

- trajetória profissional: níveis, séries e disciplinas de atuação, outros cargos na área

de educação, tempo de trabalho, jornada, fatos marcantes, conflitos, dificuldades,

colegas de trabalho diretores, etc )

- reforma educacional ou algum acontecimento político marcante durante a trajetória

profissional

- relação com especialistas, diretores e com órgãos administrativos do sistema

- tipo de experiência de magistério que mais agradou ( nível, série, disciplina, tipo de

escola (pública ou privada) e por que .

- impressões sobre a carreira: melhores e piores momentos, sucessos e fracassos,

entusiasmos e desesperanças, crises e decepções

- interrupções na carreira

- lugar que o magistério, como profissão ocupou e ocupa na sua vida

- maior desafio enfrentado na sua vida profissional

- auto percepção como profissional: competência, valorização, realização, etc

- experiências dentro de sala de aula: lembranças da primeira aula, fatos que

definiram ou modificaram sua conduta como professor, dificuldades e alternativas

encontradas, preparação de aulas, domínio de classe, avaliação, disciplina,,

lembranças dos alunos, conflitos, gratificações, experiências que marcaram,

desafios, etc

- melhores e piores momentos que viveu como professora

- disciplinas do curso de magistério que mais ajudou na profissão

PARTE 5: A PARTICIPAÇÃO NO PROJETO VEREDAS

- como e por que chegou ao Veredas

- motivo da entrada no Veredas e opinião sobre o curso em relação às expectativas

iniciais

- relação entre as experiências no Veredas e do curso normal de nível médio.

diferenças que percebe e pontos positivos e negativos

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148

- diferenças que tem percebido na carreira desde o início do curso e no momento

atual

- mudanças que o curso vem trazendo para a atuação profissional

- mudanças na percepção sobre a profissão docente a partir da participação no curso

- disciplinas que tem sido mais significativas e contribuições que elas estão trazendo

- práticas novas proporcionadas pelo curso e como elas estão melhorando o dia a dia

na escola

- percepção sobre a utilidade dos conhecimentos que está adquirindo para a vida

profissional e pessoal

- expectativa em relação à valorização profissional após o curso

- percepção sobre o futuro da profissão docente

PARTE 6: PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO, ESCOLA E

PROFISSÃO DOCENTE

- o que pensa sobre a profissão de professor e como essa percepção foi mudando ao

longo da trajetória

- se começasse tudo novamente seria professor ou escolheria outra profissão

- importância da família e da educação familiar dentro da sala de aula

- opinião sobre a formação do professor de ensino fundamental em nível superior e

sugestão que daria para a formação profissional.

- opinião sobre salários, intensificação do trabalho, disciplina dos alunos,

PARTE 6: LEMBRANÇAS DA VIDA ADULTA E HÁBITOS CULTURAIS

- vida afetiva, casamento, filhos

- instituições e festas que frequenta, igrejas , associações, clubes

- impressões sobre a influência familiar na vida profissional

- exercício de militância político-partidária, sindical ou movimentos culturais

- hábitos de lazer

- outros aspectos da vida privada que gostaria de mencionar

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149

Anexo 05

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O PROFESSOR TUTOR

1. Fale sobre sua formação como professor e há quanto tempo exerce a profissão na

UFMG.

2. Na sua percepção, qual é a influência do Projeto Veredas no desenvolvimento

profissional das professoras?

3. Na sua opinião, o Projeto Veredas influencia a percepção das professoras cursistas

sobre a profissão docente? Como?

4. Fale sobre os desafios e dificuldades encontradas para o desenvolvimento do

Projeto Veredas e de como procurou enfrentá-los

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