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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO ESTADO DA BAHIA PROCESSO MS N. 0000327-71.2015.8.05.9000 IMPETRANTE: ALDAIR BORGES DE BARROS SANTOS LITISCONSORTE: AMIL SEGURO DE SAÚDE IMPETRADO: JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO MODELO CÍVEL DA FEDERAÇÃO RELATOR: JUIZ EDSON PEREIRA FILHO EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA DECISÃO QUE CONCEDEU LIMINAR BUSCADA NA INICIAL DO FEITO PRINCIPAL PARA QUE O PROCEDIMENTO MÉDICO CIRÚRGICO FOSSE REALIZADO POR MÉDICO CREDENCIADO AO PLANO, FRUSTRANDO, NO ENTENDER DA IMPETRANTE, O SEU DIREITO DE REALIZAR DITO TRATAMENTO COM MÉDICO NÃO CREDENCIADO E QUE LHE ACOMPANHA NA BUSCA DA CURA DE CÂNCER DE PELE. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA INVOCADOS NA EXORDIAL, E QUE DESCARACTERIZA A ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA. RELATÓRIO ALDAIR BORGES DOS SANTOS impetrou mandado de segurança contra decisão que concedeu liminar buscada na inicial do feito principal para que o pro- cedimento médico cirúrgico fosse realizado por médico credenciado ao plano, frus- trando, no entender da impetrante, o seu direito de realizar dito tratamento com médico não credenciado e que lhe acompanha na busca da cura de câncer de pele Liminar concedida nestes autos mandamentais. Informações da autoridade impetrada devidamente solicitadas. Citado, a litisconsorte, manifestara-se nos autos pela não concessão do 'mandamus'. O MP pronunciou-se pela denegação da segurança, como se verá abaixo. VOTO Inicialmente, afasto a preliminar contida na contestação mandamental, já que os direitos fundamentais à vida e à saúde gozam de proteção constitucional, cujo texto magno reserva especial abrigo à dignidade da pessoa humana, condutor interpretativo de toda e qualquer legislação vigente em nosso País e que se sobrepõem, no caso, à interpretação taxativa sobre a aplicação do que foi decidido no RE 576847. Mérito. Analisando a documentação acostada pelo impetrante e cotejando os informes ali consignados com os considerandos judiciais da autoridade impetrada

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Page 1: projudi ms 0000327-71.2015.8.05.9000

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO ESTADO DA BAHIA

PROCESSO MS N. 0000327-71.2015.8.05.9000IMPETRANTE: ALDAIR BORGES DE BARROS SANTOSLITISCONSORTE: AMIL SEGURO DE SAÚDEIMPETRADO: JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO MODELO CÍVEL DA FEDERAÇÃORELATOR: JUIZ EDSON PEREIRA FILHO

EMENTA

MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA DECISÃO QUE CONCEDEU LIMINAR BUSCADA NA INICIAL DO FEITO PRINCIPAL PARA QUE O PROCEDIMENTO MÉDICO CIRÚRGICO FOSSE REALIZADO POR MÉDICO CREDENCIADO AO PLANO, FRUSTRANDO, NO ENTENDER DA IMPETRANTE, O SEU DIREITO DE REALIZAR DITO TRATAMENTO COM MÉDICO NÃO CREDENCIADO E QUE LHE ACOMPANHA NA BUSCA DA CURA DE CÂNCER DE PELE. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA INVOCADOS NA EXORDIAL, E QUE DESCARACTERIZA A ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA.

RELATÓRIOALDAIR BORGES DOS SANTOS impetrou mandado de segurança contra

decisão que concedeu liminar buscada na inicial do feito principal para que o pro-cedimento médico cirúrgico fosse realizado por médico credenciado ao plano, frus-trando, no entender da impetrante, o seu direito de realizar dito tratamento com médico não credenciado e que lhe acompanha na busca da cura de câncer de pele

Liminar concedida nestes autos mandamentais.Informações da autoridade impetrada devidamente solicitadas.Citado, a litisconsorte, manifestara-se nos autos pela não concessão do

'mandamus'.O MP pronunciou-se pela denegação da segurança, como se verá abaixo.

VOTOInicialmente, afasto a preliminar contida na contestação mandamental, já

que os direitos fundamentais à vida e à saúde gozam de proteção constitucional, cujo texto magno reserva especial abrigo à dignidade da pessoa humana, condutor interpretativo de toda e qualquer legislação vigente em nosso País e que se sobrepõem, no caso, à interpretação taxativa sobre a aplicação do que foi decidido no RE 576847.

Mérito.Analisando a documentação acostada pelo impetrante e cotejando os

informes ali consignados com os considerandos judiciais da autoridade impetrada

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(e a decisão guerreada) e o teor contestatório da litisconsorte, entendo que, à luz da legislação constitucional e infraconstitucional (ressalte-se, aí, o CDC) não há como acolher o pleito mandamental, como bem chamou a atenção a DD. Representante do Ministério Público.

Atente-se para o fato de que o presente mandamus deverá se ater, pura e exclusivamente, sobre se existe ou não a incidência dos requisitos do “fumus boni iuris” e do “periculum in mora” para o caso de ser garantido ou não o direito buscado no pleito acautelatório exposto na exordial, pois, não cabe ao mandado de segurança em análise, adentrar em questões de mérito que só poderão ser analisados na seara do processo principal 0048743-38.2014.8.05.0001.

Em que pese na fase preambular deste mandado de segurança ter este juízo pontuado pela concessão da liminar buscada – isto em seara de análise perfunctória, registre-se – não vejo desenhadas as condições jurídicas e emergenciais e de urgência que a impetrante quis fazer crer presentes na sua inicial. Ela própria, no corpo da ação mandamental diz que está esperando pela cirurgia há mais de um ano...

Os documentos que fez acostar – apesar do seu delicado estado de saúde (câncer de pele) – além de não provarem categoricamente, o estado de urgência e emergencialidade, vão de encontro ao documento (com e-mail enviado à autoridade judicial do juizado de origem - documento esse que figura nos autos principais 0048743-38.2014.8.05.0001), fornecido pelo setor médico do Tribunal de Justiça (prestador do serviço de informação aos juízes;) e que dá guarida ao plano de saúde realizar o procedimento cirúrgico pelo seu médico credenciado (no caso, uma médica).

O Ministério Público também entende desta forma. Trago à colação o que disse a DD. Representante do MP nos autos:

(…) No caso em tela, a litisconsorte passiva apresentou médico apto à realização do procedimento cirúrgico pleiteado pela Impetrante junto à rede de hospitais credenciados à Amil Seguro de Saúde, a Drª. Tânia de Novais Magalhães (CRM/BA nº 7.566), especialista em Dermatologia. Foi colacionado ainda aos autos parecer do Plantão médico do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia confirmando que a especialidade da médica indicada atende à necessidade da Impetrante (evento nº 107). Diante disso, conclui-se que a decisão atacada no presente writ deve estar amparada em princípio que rege as relações no direito civil e consumerista: o princípio da boa-fé. Escolhido médico que não pertence ao quadro de credenciados da litisconsorte, tendo esta última apresentado médico qualificado à realização da cirurgia e tendo sido deferida liminar neste sentido, deve a Impetrante arcar com os custos do procedimento, caso deseje realizá-lo com médico não integrante da rede credenciada (…).”

A jurisprudência vem destacando que só em caso de emergencialidade ou urgência, o médico não credenciado está autorizado a realizar procedimentos no segurado. Veja-se:

"STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AgRg no AREsp 158320 SP 2012/0056208-9 (STJ) . Data de publicação: 15/09/2014. Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. DESPESAS. REEMBOLSO. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO. MÉDICO NÃO CREDENCIADO. REEXAME DE PROVAS E INTERPRETAÇÃO DE

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CLÁUSULAS CONTRATUAIS. SÚMULAS NºS 5 E 7/STJ. 1. A reforma do julgado, que concluiu ser ilegal a recusa do plano de saúde do reembolso do tratamento realizado por médico não credenciado em razão da emergência do procedimento, demandaria o reexame do contexto fático-probatório e a interpretação de cláusulas contratuais, procedimentos vedados na estreita via do recurso especial, a teor das Súmulas nºs 5 e 7/STJ. 2. Agravo regimental não provido.”

“TJDF APelaÇÃO Civel APC 20120710283810 DF 0027387-80.2012.8.07.0007 (TJ-DF) . Data de publicação: 04/11/2014. Ementa: Dano moral. Plano de saúde. Cirurgia. Médico não credenciado. Recusa. 1 Incumbe aos planos de saúde� custear tratamento por médico fora da rede credenciada nas situações de emergência ou urgência. 2 Não se tratando de atendimento de urgência ou� emergência, a recusa do plano de saúde em custear cirurgia a ser realizada por profissional particular, fundada em cláusula contratual que restringe a cobertura à rede credenciada, ato lícito, não causa dano moral. 3 - Apelação não provida.”.

Ora, se o plano de saúde está a oferecer a médica dermatologista que – segundo os especialistas médicos do Tribunal de Justiça (vide documento acostado principalmente no processo principal 0048743-38.2014.8.05.0001) – podem realizar o procedimento demandado, não vejo como caracterizar-se, aí, o “fumus boni iuris e o periculum in mora”, na forma como aduz a petição mandamental.

Isto posto, voto no sentido de que seja DENEGADA A SEGURANÇA.Oficie-se ao Juízo Impetrado, dando-lhe ciência da decisão presente. Intimações necessárias.Salvador, Sala das Sessões, 07 de julho de 2015.

Edson Pereira Filho - Juiz Relator

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COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAISTURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

QUINTA TURMA - CÍVEL E CRIMINAL

PROCESSO MS N. 0000327-71.2015.8.05.9000IMPETRANTE: ALDAIR BORGES DE BARROS SANTOSLITISCONSORTE: AMIL SEGURO DE SAÚDEIMPETRADO: JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO MODELO CÍVEL DA FEDERAÇÃORELATOR: JUIZ EDSON PEREIRA FILHO

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA DECISÃO QUE CONCEDEU LIMINAR BUSCADA NA INICIAL DO FEITO PRINCIPAL PARA QUE O PROCEDIMENTO MÉDICO CIRÚRGICO FOSSE REALIZADO POR MÉDICO CREDENCIADO AO PLANO, FRUSTRANDO, NO ENTENDER DA IMPETRANTE, O SEU DIREITO DE REALIZAR DITO TRATAMENTO COM MÉDICO NÃO CREDENCIADO E QUE LHE ACOMPANHA NA BUSCA DA CURA DE CÂNCER DE PELE. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA INVOCADOS NA EXORDIAL, E QUE DESCARACTERIZA A ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA.

ACÓRDÃORealizado julgamento do recurso do processo acima epigrafado, a

QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito EDSON PEREIRA FILHO, ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA e ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA decidiu, à unanimidade de votos, DENEGAR A SEGURANÇA. Sala das Sessões, 07 de Julho de 2015.

JUIZ EDSON PEREIRA FILHO – Presidente/Relator