41
Desejo um inevitável Autora bestseller do New York Times e do USA Today No amor e na paixão, alguém tem de ceder. Prémio Romance Histórico do Ano

Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Desejoum

inevitável

É uma autora norte-americana, bestseller

do New York Times e do USA Today, que conta

com mais de 60 romances publicados.

Quando se licenciou em Psicologia pela

Universidade do Texas, Lorraine não fazia ideia

de que tinha acabado de ganhar uma base

valiosíssima que lhe permitiria criar

e descrever personagens consideradas

quase «reais».

Por essa razão, os seus livros já foram

nomeados e contemplados com inúmeros

prémios, entre os quais o Prémio RITA para

Melhor Romance Histórico e, por duas vezes,

o prémio All About Romance (AAR) para

a mesma categoria.

Um Desejo Inevitável foi galardoado com

o Romantic Times Reviewers' Choice Award

na categoria de «Romance Histórico do Ano».

«— O senhor é um canalha malvado. — Que é exatamente a razão pela qual

a intrigo. Os cavalheiros elegantes que pairam

à sua volta entediam-na. Nunca pensariam

em tocar-lhe com mãos sem luvas.

Susteve a respiração quando a mão quente

e áspera dele lhe tocou no lado esquerdo da

cara. Uma mão grande, os dedos

passando-lhe pelo cabelo, a palma da mão

contra o maxilar dela, o polegar

acariciando-lhe a face.

— Está farta de cavalheiros que se atropelam

para lhe satisfazerem os caprichos —

continuou.

— Não estou farta.

Ela detestava soar tão ofegante, como se

tivesse andado a subir uma interminável

colina. No peito, tinha uma sensação apertada

e dolorosa.

— É mimada porque toda a gente lhe dá

o que quer. Nunca teve de se esforçar para

conseguir nada. Nem sequer a atenção

ou o afeto de um cavalheiro.

— Você não sabe nada sobre mim. — A voz

saiu-lhe frágil e assustada. No fundo do

coração, sabia que Darling nunca lhe faria mal

fisicamente, nem faria nada para prejudicar

a sua reputação. Mas temia que ele

conseguisse ver por dentro da sua alma

desfeita. Cada qual com seu igual, cada ovelha

com sua parelha.

— Sei mais do que pensa, Lady Ophelia.

Compreendo mais do que possa imaginar.

Vai casar com um lorde como deve ser, mas

algo me diz que primeiro gostaria de dançar

a valsa com o diabo.

— Está muito enganado.

— Prove-o.»

Autora Vencedora do Prémio RITA— Melhor Romance Histórico —

«Contadora de histórias por excelência, Lorraine Heath reúne

neste livro o poder emocional e o romance intenso. Poucos autores

são tão bem-sucedidos a captar a mente e o coração das leitoras.»

RT Book Reviews

Nascido nas ruas e educado pela aristocracia, Drake Darling não consegue fugir do seu passado. Sobretudo porque Lady Ophelia Lyttleton

o relembra constantemente as suas origens humildes.Para ela, Darling nunca será um verdadeiro nobre.

Até ao dia em que este a salva de se afogar das águas do Tamisa e descobre que ela sofre de uma inexplicável perda de memória. Aproveitando essa

oportunidade, ele decide castigar Ophelia, convencendo-a de que ela é sua empregada doméstica. Contudo, enquanto brinca a este malicioso jogo,

Darling fica inevitavelmente rendido ao charme de Lady Ophelia.

Ophelia parece corresponder aos seus sentimentos, mas está inquieta. Sente que algo na história dele não bate certo. E quando recupera finalmente

a memória, fica devastada e aterrorizada com a traição de Darling.

Agora, ele terá de provar que merece a confiança dela para reconquistar o seu coração.

Poderá a paixão ser mais forte que o preconceito?

Autora bestseller do New York Times e do USA Today

No amor e na paixão, alguém tem de ceder.

Prémio Romance Histórico do Ano

<22,5 mm>

Ficção Romântica

I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 8 8 4 9 - 7 8 - 6

9 789898 849786

um

desejo

inev

itável

Page 2: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

9

Prólogo

Do diário de Drake Darling

Nasci com o nome de Peter Sykes, filho de um assassino e de uma mulher assassinada, uma herança que sempre me perseguiu. Não sei quantas vidas terá o meu pai ceifado, mas sei que matou a minha mãe porque ela queria dar-me uma vida melhor. Sem que ninguém o soubesse, assisti ao enforca-mento dele. Eu tinha 8 anos na altura. Apesar de ter levado alguns encon-trões quando caminhei por entre a multidão, consegui abrir caminho até à frente. O meu pai chorava. Borrou-se nas calças, suplicando por mise-ricórdia. Palavras que eu tinha ouvido da boca da minha mãe, palavras que de pouco lhe valeram.

Também de nada valeram ao meu pai, porque ataram uma corda à volta do pescoço e a seguir abriram o alçapão. Tudo o que vi e ouvi depois disso enterrei na zona mais obscura e recôndita da minha mente, mas a verdade é que, por mais que tentasse, nunca consegui enterrar o sangue manchado dele que me corre nas veias. Nem a raiva que me fervilhava à flor da pele — o legado que me deixou, um legado que sempre temi estar destinado a assumir, mais tarde ou mais cedo. Porque estava sempre lá, pairando, ansiando por se manifestar.

A minha mãe tinha-me confiado aos cuidados de uma Miss Frannie Darling, que acabou por casar com Sterling Mabry, o Duque de Greystone. Levaram-me para casa deles e criaram-me como se fosse filho legítimo. Como Miss Darling já não precisava do sobrenome dela, assumi-o, numa tentativa de me livrar dos pecados do meu pai.

Um desejo inevitavel vale.indd 9 13/10/16 15:43

Page 3: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

10

Uma noite, o Duque apontou para a constelação Draco e nas estrelas vi o dragão feroz, intocável. Fiquei conhecido como Drake, uma vez mais na tentativa de me afastar do meu passado e do destino que me foi dado pelo meu pai. Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação.

Mas, por mais longe que eu viajasse, não conseguia escapar às minhas origens sórdidas. Nunca poderia ser mais do que aquilo para o que tinha nascido.

Um desejo inevitavel vale.indd 10 13/10/16 15:43

Page 4: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

11

Capítulo 1

Londres 1874

Por vezes, Lady Ophelia Lyttleton dava por si bastante chocada com as pessoas do seu género. Esta noite, infelizmente, estava a ser uma dessas ocasiões. As jovens — e no caso, as damas

mais velhas também — humilhavam-se ao disputarem a atenção de um dos mais notáveis cavalheiros presentes no baile daquela noite.

Drake Darling não frequentava muitas vezes os eventos sociais da elite, mas o supervisor do clube de cavalheiros não conseguiu evitar esta obrigação quando o objetivo da mesma era celebrar o casamento de Lady Grace Mabry com o Duque de Lovingdon. Afinal, Darling havia sido criado no seio da família de Grace, mesmo não estando relacionado com eles de forma alguma, nem sendo um primo dis-tante ou um sobrinho há muito perdido. Nem era da aristocracia e o seu sangue não era, certamente, azul.

Contudo, as senhoras que davam risadinhas dissimuladas à sua volta e acenavam os seus cartões de dança em frente do nariz dele pareciam ter esquecido esse seu lado. Ele não iria elevar-lhes a posi-ção na Sociedade. Não iria passar um título ao seu filho primogénito. Não iria ter lugar na Casa dos Lordes.

A única coisa que garantidamente conseguiria era derreter as senhoras em volta dele. Era o seu sorriso. A maneira sublime como os seus lábios se abriam levemente para revelar dentes brancos regu-lares, e depois um canto da sua boca lasciva subia um pouco mais para formar uma minúscula covinha na face direita que se iluminava com uma promessa de malícia.

Um desejo inevitavel vale.indd 11 13/10/16 15:43

Page 5: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

12

Eram os seus olhos. A maneira como, negros como breu, brilha-vam sabedores, como se conseguisse não só decifrar o desejo mais íntimo de uma senhora, mas também satisfazer-lho de uma maneira que excederia, de longe, as suas expetativas.

Era o seu cabelo, tão negro que parecia quase azul quando visto à luz das lamparinas a gás. A maneira rebelde como o deixava mais comprido do que o que ditava a moda, a maneira sugestiva como roçava o colarinho do seu casaco azul, convidando os dedos a desliza-rem por entre as mechas encaracoladas.

Era a largura dos seus ombros e do seu peito que sugeria con-solo oferecido a qualquer mulher que aí encostasse o rosto, a sua altura que o tornava meia-cabeça mais alto do que a maior parte dos homens presentes no salão. Era o seu riso, a facilidade com que o oferecia a uma senhora após outra. Era a inclinação cortês da cabeça, a sua incrível solicitude, a maneira sedutora com que a baixava para ouvir melhor e como se inclinava para a frente para sussurrar a um ouvido delicado.

Ele fazia com que se apaixonassem por ele. Tão simples e des-preocupadamente. Sem pensar nas consequências.

Ela odiava-o por isso. Elas seguiam-no para os jardins onde ele as beijava até perderem os sentidos. Ela tinha-o apanhado uma vez a fazer exatamente isso a uma jovem criada na propriedade do duque. Por trás dos estábulos, a rapariga tinha trepado por ele acima ten-tando capturar tudo o que a boca dele tinha para oferecer. Embora tivesse apenas 8 anos, Ophelia ficou chocada com o espetáculo, sabendo que estava errado e que era pecaminoso. Ela achava que não tinha sido avistada, mas ao fugir ouviu o seu riso baixo, o que a fez correr o mais que pôde. Ela conhecia o seu tipo, sabia que não tinha consideração pela reputação de uma mulher.

Até ao momento, naquela noite, já tinha dançado com uma dúzia de senhoras. Não que ela estivesse a contar.

Ela já tinha tido a sua quota de atenção por parte de condes, viscon-des, marqueses e duques. De homens que tinham títulos de cortesia, mas que um dia teriam muito mais, e daqueles que já tinham ascen-dido à sua devida posição. Não precisava de implorar atenção como as miúdas tontas que rodeavam Darling sempre que saía da pista de dança ou voltava de ir buscar um refresco para qualquer menina que

Um desejo inevitavel vale.indd 12 13/10/16 15:43

Page 6: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

13

lhe deitava olhares ternos prestes a desmaiar. Desempenhava bem o papel de galã, sem dúvida, era mestre nisso. Fazia-as esquecer a todas o que ele era, de onde vinha. Um homem de origens rudes.

— Têm um comportamento tão ridículo, na forma como bajulam o Darling — murmurou ela.

De pé, ao lado dela, Miss Minerva Dodger deu uma achega.— Quem as pode censurar? Ele é uma curiosidade. Penso que é

o primeiro baile a que vem desde que a Grace foi debutante. Ele atrevera-se a convidar Ophelia para dançar nessa noite, mas

ela tinha ignorado o seu convite. Alguém tinha de manter o nível e seguir padrões socialmente aceitáveis. O pai dela tinha-lhe inculcado isso à pancada. A sua linhagem remontava a Guilherme, o Conquis- tador. Ela nem tinha autorização para dançar com segundos filhos, quanto mais com filhos que tivessem vindo depois. Esperava que ela o deixasse, a ele, e aos seus antepassados, orgulhosos, que conti-nuasse a nobre tradição de casar bem. Se não obedecesse às suas res-trições, o seu impressionante dote seria perdido, e juntamente com ele, qualquer possibilidade de felicidade. Ela dependia do que obteria com a fortuna que ficaria na sua posse: a liberdade.

— É plebeu — recordou ela à amiga.Minerva arqueou uma sobrancelha.— Tal como eu.Ophelia suspirou rapidamente.— A tua mãe é nobre.— O meu pai é da rua.E um dos homens mais ricos da cristandade.— Lutou pelo sucesso que alcançou.— Não se poderia dizer o mesmo do Drake?— Poderá alguém verdadeiramente fugir ao seu passado?— Não pode ser das duas maneiras. Não podes, por um lado,

reconhecer que o meu pai fugiu ao passado dele e depois não teres a mesma consideração pelo Drake.

Podia. Fazia-o. O seu pai tinha sido um homem incrivelmente íntegro. E desde a sua morte, o irmão tinha-se afastado um pouco dos bons caminhos, passando demasiadas noites a jogar e a beber, mas ela sentia obrigação em honrar os ensinamentos do pai. Ela atraía o pecado, e se não permanecesse sempre vigilante, ele acabaria por

Um desejo inevitavel vale.indd 13 13/10/16 15:43

Page 7: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

14

vencer. Nunca tinha dito a ninguém essa feia verdade sobre si própria. O pai teria ficado terrivelmente desiludido, podia até nem sequer lhe dar dote nenhum, podia tê-la deixado a viver à sua própria custa.

— O meu pai não tem queixas da maneira como o Drake gere o Dodger’s Drawing Room — continuou Minerva, referindo-se ao in- fame clube de cavalheiros como se tivesse toda a atenção de Ophelia. — Tendo sido criado pelo Duque e Duquesa de Greystone e recebido a mesma devoção que dedicavam aos seus filhos, atrevo-me a dizer que podia ter evitado trabalhar de todo se assim o quisesse. Deve ser admirado por isso.

Ela não tinha sido sensata ao mencionar fosse o que fosse, já que Minerva não poderia compreender como Ophelia conseguia ver Drake Darling exatamente como ele era: abaixo deles todos e não merecendo o mínimo de consideração. Não era nenhum cavalheiro. Encorajava o pecado, tentando as senhoras com aquele sorriso malicioso.

— Ele consegue sempre suscitar o pior em ti — refletiu Minerva. — Nunca compreendi isso.

— Não sejas ridícula. Nem sequer penso nele.— No entanto, aqui estamos nós a discuti-lo.— Não, na realidade, eu estava a chamar a atenção para o com-

portamento impróprio das senhoras, como se reflete negativamente em todas nós.

— O meu pai já me disse inúmeras vezes que não somos o re- flexo do comportamento dos outros, apenas do nosso.

Mas quando esse comportamento nos toca a nós…Interrompeu o pensamento, empurrando-o para trás, para o bu-

raco de onde tinha vindo, não querendo dignificá-lo com a voz. Mas tinha de admitir que havia razão naquilo que Minerva dizia. Darling suscitava o pior dela. Sempre fora assim. O pecado atraía o pecado.

Ainda naquela manhã ela tinha sido alvo da inveja de todas as mulheres de Londres, pois Darling tinha-a acompanhado pela nave da Igreja de St. George depois da cerimónia que tinha unido Grace e Lovingdon. Ela tinha sido dama de honor de Grace enquanto Darling tinha sido o padrinho de Lovingdon. Mas durante a longa caminha- da desde o altar até à sacristia, ela nem sequer lhe tinha dirigido uma palavra, e ele mal deu sinal de reconhecer a sua presença. Ele não a tinha agraciado com o seu notável sorriso. Os olhos dele nem brilharam.

Um desejo inevitavel vale.indd 14 13/10/16 15:43

Page 8: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

15

Sabia que ele gostaria de estar com qualquer uma menos com ela, tal como ela gostava de estar com qualquer um menos com ele.

As senhoras dançavam com o diabo enquanto ele as conduzia alegremente para a tentação. Estava na hora de alguém pôr fim à fantochada, que alguém lhes lembrasse — e a ele também — do seu lugar na sociedade.

Naquele preciso momento, Drake Darling sonhava com qual-quer outro lugar que não aquele, mas sabia bem que na vida não se podia ter tudo. De vez em quando, nem se tinha o que se merecia.

Por isso, recorreu ao que tinha aprendido sobre a impostura du- rante a sua infância e fingiu estar encantado, exultante de alegria, por ser o centro das atenções. Preferia de longe as sombras aos cintilan- tes salões de baile. Sentia-se mais confortável quando não davam por ele, mas sentia-se lindamente na pele de camaleão. Sabia integrar-se mesmo quando tal sucedia dentro de uma sala com paredes espelha-das, candelabros a gás e os mais finos personagens que a aristocracia tinha para oferecer.

A única coisa que não fingia era a felicidade que sentia por Grace e Lovingdon. Considerava Grace uma irmã, embora o sangue de am- bos não pudesse ser mais diferente. Há muitos anos que era amigo íntimo de Lovingdon, ocasionalmente um confidente, mas era, sobre- tudo, um compincha no deboche. Até que Grace capturara o coração do duque.

Por isso, Drake não podia deixar de comparecer à celebração do seu casamento. Alguns minutos antes tinha vislumbrado o feliz casal a escapar-se do salão de baile. Geralmente, a noiva e o noivo não iam ao baile em sua honra, mas Grace era tudo menos convencional. Quisera dançar com o pai uma última vez. A visão do Duque de Greystone estava a deteriorar-se, embora só a família soubesse do seu problema de saúde. Outra razão pela qual Drake aqui estava: por reconhecimento da dívida que tinha com o homem e a mulher que lhe tinham dado um lar. Contavam com a sua presença e, por isso, não deixava transparecer qualquer indício — para as seis jovens senhoras que o rodeavam — de que preferia estar noutro sítio. Fazia sempre o que era preciso para garantir que o duque e a duquesa não se arre-pendiam de o ter acolhido.

Um desejo inevitavel vale.indd 15 13/10/16 15:43

Page 9: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

16

Eram tão jovens, as damas que lhe sorriam e lhe faziam olhinhos. Mesmo as que tinham mais de 25 anos eram demasiado inocentes para o seu gosto. Eram todas leves e frescas, como se não conheces-sem fardos, como se a vida mais não fosse que divertimento. Preferia mulheres mais condimentadas, saborosas, picantes e incisivas.

— Moço.Tinha chegado uma exceção à sua preferência pelas mulheres

mais incisivas. A soberba da voz fez-lhe ranger os dentes. Devia ter adivinhado que não ia escapar à vigilância dela toda a noite. Conti- nuava sem compreender a razão pela qual Lady Ophelia Lyttleton era uma das melhores amigas de Grace. Não percebia como é que a sua irmã do coração se dava com alguém tão arrogante quando a própria Grace era a pessoa mais doce e gentil que conhecia. Teimosa, com certeza, mas não tinha um pingo de maldade no corpo. Já de Lady Ophelia não se podia dizer a mesma coisa. A presença dela atrás dele era prova suficiente.

As senhoras que o tinham agraciado com a sua atenção pesta-nejaram repetidamente e ficaram em silêncio pela primeira vez em mais de duas horas. Porque elas estavam lá, porque ele se esforçava por dar a aparência de ser um cavalheiro, ia poupar a Lady Ophelia o embaraço de a ignorar. Embora suspeitasse que iria pagar pela sua generosidade. Pagava sempre. A dama era bastante competente a mandar farpas venenosas.

Lentamente, virou-se e arqueou uma sobrancelha para a mulher cuja cabeça nem sequer lhe chegava ao ombro. E, no entanto, apesar da sua altura diminuta, ela conseguia parecer olhá-lo de cima. Era o seu nariz comprido, impertinente e esguio que se arrebitava ligeira-mente na ponta. Tinha sido uma permanente irritação quando visi-tava Grace e se cruzava com ele. Mas como diabrete que era, tratava de o desdenhar apenas quando Grace não estava por perto para tes-temunhar as suas humilhações. Porque gostava demasiado de Grace para a magoar — e ela havia de ficar chocada por saber que ele e a amiga dela não se davam particularmente bem — tinha suportado os vexames de Lady Ophelia convencido de que ele fazia o que era correto enquanto ela se arrastava na porcaria.

Não fazia sentido para ele que uma tal beleza pudesse ser uma tamanha megera. Os seus olhos verdes de forma oval e exótica

Um desejo inevitavel vale.indd 16 13/10/16 15:43

Page 10: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

17

desafiavam-no de forma tão incisiva que ameaçavam penetrar-lhe a alma se ele não tivesse cuidado. Embora fosse 12 anos mais velho do que ela, à medida que se tornara mulher adulta, tinha adquirido a capacidade de o fazer sentir como um cão a viver no atoleiro dos esgotos uma vez mais. Não é que outros da aristocracia não o tivessem feito sentir-se, ocasionalmente, da mesma forma, mas irritava-o de sobremaneira quando era ela a responsável pela mossa no seu orgulho.

— Moço — repetiu ela com ainda mais arrogância —, traga-me champanhe, e despache-se.

Como se ele fosse criado, como se vivesse para a servir. Não que achasse que servir fosse algo de errado. A tarefa de quem servia era mais nobre e as suas realizações ultrapassavam de longe tudo o que ela poderia algum dia conseguir. Ela, que, sem dúvida, comia um cho- colate na cama enquanto lia um livro, sem pensar no esforço que havia sido necessário para colocar um e outro nas suas mãos.

Pensou dizer-lhe que fosse ela buscá-lo, mas sabia que ela veria isso como uma vitória. Sabia que ela tinha esperanças de o irritar, que queria provar que ele não era suficientemente cavalheiro para não insultar uma senhora. Ou talvez só quisesse garantir que ele sa- bia qual era o seu lugar. Como se ele algum dia o pudesse esquecer. Tomava banho todas as noites, esfregava violentamente o corpo, mas não conseguia arrancar da pele a sujidade das ruas. A sua família tinha-o acolhido, os amigos deles tinham-no aceitado, mas mesmo assim ele sabia o que era e de onde tinha vindo. Se contasse a verdade sobre tudo o que se escondia no seu passado a Lady Ophelia, ela iria, sem dúvida, empalidecer, e as suas madeixas de cabelo prateadas ha- viam de se encaracolar e murchar de horror.

Sentia no ar a ansiedade das senhoras que cirandavam ali em volta, talvez até a esperança de que ele a pusesse no lugar dela. Nunca entendera a malvadez que, por vezes, testemunhava entre as mulhe-res. Ele sabia que Grace havia sofrido com a inveja delas, porque o seu imenso dote fazia os homens atropelarem-se uns aos outros na tentativa de ganhar a sua atenção. Mas Lady O., apesar de não gostar nada dele, tinha permanecido fiel a Grace, tinha sido confidente da sua irmã e uma verdadeira amiga. Ela não merecia o desdém dele nem uma humilhação em frente das senhoras que podiam ter dese-jado que Grace tivesse menos atenção.

Um desejo inevitavel vale.indd 17 13/10/16 15:43

Page 11: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

18

Inclinou a cabeça ligeiramente.— Como desejar, Lady Ophelia. — Virou-se para as outras. — Só

demoro um momento, minhas senhoras, e depois poderemos con-tinuar a nossa discussão a respeito das fragrâncias mais sedutoras.

Não sabia bem porquê, tinham concebido um joguinho que con-sistia em adivinhar o nome da flor que dava o cheiro ao perfume de cada uma delas. O que exigia, da parte dele, que se inclinasse para elas várias vezes, arrancando-lhes por seu lado suaves suspiros.

Lady Ophelia tinha chegado numa nuvem de orquídeas provo-cadoras e trocistas, prometendo prazeres proibidos que, apesar dos seus esforços para os ignorar, o atraíam. Com tantas mulheres, por-que diabo é que ela o intrigava? Talvez por ser um desafio tão grande e ter erguido muros que só os mais lestos podiam escalar para ganhar o tesouro que estava por trás deles. Ele era perito a ler as pessoas, mas nunca tinha sido capaz de a ler.

Dando meia volta, dirigiu-se à mesa onde o champanhe e outros refrescos estavam a ser servidos. Sentia pungentemente o olhar dela fixo nas suas costas. Desconfiava que se olhasse por cima do ombro, a veria a cochichar com outras senhoras, a avisá-las. Mal sabia ela que lhe faria um favor se conseguisse garantir que o deixassem em paz. Tinha-se comprometido com mais três danças, e não ia desiludir as futuras parceiras dirigindo-se para o salão de jogos antes de cumprir as suas obrigações. Nem ia dar a satisfação a Lady Ophelia de lhe estragar a noite, mandando-o fazer recados. Um copo era tudo o que ia ter dele.

Não sabia porquê, dois anos antes, no baile de debutante de Grace, tinha convidado Lady Ophelia para dançar. Achara que ela se havia tornado uma criatura requintada, e tinha a vantagem de ser amiga de Grace. Embora muitas vezes tivesse olhado de cima para ele quando era ainda uma criança, supôs que ela já teria ultrapassado essas infan-tilidades. Oh, como estava errado. Com um olhar horrorizado, ela deu-lhe imediatamente uma recusa. Virou-lhe as costas sem sequer responder ao seu convite. Perceber que a rejeição fora testemunhada pelos outros também não ajudou o seu orgulho ferido.

Agarrando numa taça de champanhe da mesa, serpenteou pelo amontoado de gente, não ficando surpreendido por descobrir que ela se tinha ido embora. Pensou em beber a mistura borbulhante, mas

Um desejo inevitavel vale.indd 18 13/10/16 15:43

Page 12: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

19

o whisky puro era mais a seu gosto. E então ouviu o seu riso sedutor. Como diabo podia uma dama de gelo ter um riso tão gutural e sen-sual, uma canção de sereia que lhe ia direita ao baixo-ventre?

Irritado consigo próprio por ficar tão atraído pelo som, olhou por cima do ombro e viu-a a namoriscar escandalosamente com o Duque de Avendale e o Visconde de Langdon. Ambos de famílias respeita-das, poderosas e ricas. Não ficou surpreendido por ver outras duas senhoras no grupo. Os cavalheiros eram procurados, mas tal como ele tinha tendência para evitar ocasiões sociais, eles também. O casa-mento estava tão afastado nos seus futuros remotos que nem com um telescópio o conseguiria descortinar. Só estavam aqui porque eram amigos chegados de Grace e de Lovingdon. Mas agora que o feliz casal se tinha ido embora, desconfiou que Avendale e Langdon iriam para outro sítio para se divertirem.

Ao contrário de Lady O., eles iriam convidá-lo para se juntar a eles.O riso de Ophelia chegou-lhe aos ouvidos outra vez, mas, desta

vez, quando o som se desvaneceu, o olhar dela pousou nele como uma enorme pedra, mergulhando de seguida no champanhe, fazendo com que os seus lábios se abrissem em triunfo, pouco antes de fran-zir o nariz como se lhe cheirasse a algo desagradável. Com a cara a transformar-se outra vez em doçura enganadora, desviou novamente o olhar para Avendale, dispensando Drake.

Infelizmente para ela, ele já não era assim tão facilmente descar-tado.

Ophelia sentiu um súbito assomo de pânico. Darling dirigia-se com ar decidido na sua direção, com as suas grandes mãos — as mãos de um trabalhador — ananicando o copo que tinha nas mãos. A expressão indicava claramente que ele ia confrontá-la e temeu ter avaliado mal o seu humor esta noite e que lidar com ele pudesse ser mais difícil do que estava à espera. Mas iria lidar com ele. Não se deixaria intimidar, nem por ele, nem por qualquer outro homem, na realidade.

Ele era um plebeu, vindo de origens rudes. Podia trajar como um cavalheiro, mas ela não tinha dúvidas de que lá no fundo era um patife, com as maneiras de um patife e inclinação para comporta-mentos pecaminosos.

Um desejo inevitavel vale.indd 19 13/10/16 15:43

Page 13: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

20

Não percebia porque é que esse pensamento a fazia ficar descon-fortavelmente acalorada. Era a sala apinhada, os candelabros a gás, as várias camadas de combinações e o espartilho apertado. Não estava, com certeza, a imaginar aquelas mãos a explorarem-lhe o corpo. Ela não era da rua. Era uma senhora. E as senhoras não pensavam em tais coisas.

Mas, à medida que se aproximava, qualquer coisa nas profun-dezas negras dos olhos dele brilhou como se ele se apercebesse cla-ramente do trajeto dos pensamentos errantes dela e estivesse mais do que disposto a servir-lhe de companhia numa romagem à iniqui-dade. Ele não era bonito, pelo menos não de acordo com a definição clássica. As suas feições eram rudes, vincadas como se tivessem sido esculpidas por um deus zangado. O nariz era demasiado grande, a testa demasiado ampla. O maxilar demasiado quadrado. Via o começo de um sombreado, pelos que não tinham tido a decência de esperar até mais tarde para aparecerem. Porque estava ela a perder tempo a catalogar cada centímetro dele quando tinha tanta abundân-cia de lordes dispostos a dar-lhe a sua atenção?

Quando parou à frente dela, deu rédea livre ao olhar para a exa-minar vagarosamente. A respiração tornou-se-lhe difícil, e ela sentiu um medo terrível que ele lhe encontrasse alguma falta. Endireitou os ombros para trás: que importava a opinião que ele tivesse dela, quando esta não tinha qualquer valor?

— O seu champanhe.A voz rouca e profunda teceu algo de obscuro e sensual em volta

das palavras. Ela desconfiou que ele não era um amante silencioso e que sussurrava coisas marotas ao ouvido de uma mulher.

— Foi tão incrivelmente lento a ir buscá-lo que já não tenho von-tade de o beber.

— Com certeza não irá furtar-se ao prazer de permitir que essas bolhas lhe façam cócegas no palato.

Ele embrulhou a palavra prazer num significado profundo. Era tão absolutamente intolerável que tivesse a ousadia de se lhe dirigir com tal desrespeito quando outros estavam tão perto… Mas por mais que tentasse, não conseguia encontrar uma resposta espirituosa, já que ele a estudava como se a estivesse a imaginar a fazer-lhe cócegas no palato dele.

Um desejo inevitavel vale.indd 20 13/10/16 15:43

Page 14: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

21

— Com a sua demora, já deve ter perdido o gás — disse ela, antes de lhe virar as costas. — Avendale, acho que estava a dizer que…

Drake Darling teve o atrevimento de se meter entre ela e o duque. Os seus olhos estavam semicerrados, o maxilar firme.

— Lady Ophelia, insisto que aceite o champanhe.— Você, moço, não é ninguém para insistir em nada do que me

diz respeito.O dedo enluvado dele bateu de lado no copo, enquanto o seu olhar

perfurava o dela. Ophelia, por sua vez, quase conseguia ver a mente dele a fervilhar em retaliação. Ela não sabia por que razão procu-rava provocá-lo, mas qualquer coisa nele a destabilizava, sempre fora assim. Queria pô-lo no lugar, recordar-lhe — e a si própria — que estava abaixo dela. O pai tinha-lhe batido com o cinto no traseiro e nas pernas nuas quando uma vez a apanhou a falar com Darling. Tinha 12 anos nessa altura, mas não era uma lição que se esquecesse facilmente. Ela não podia estar na companhia de alguém que não fosse da nobreza.

— Então, que seja — murmurou ele, levantando o copo. Incli- nou a cabeça para trás e emborcou o líquido dourado numa única e longa golada. Ela só lhe conseguia ver um pouco dos músculos a trabalhar na garganta, porque um laço de gravata perfeito escon-dia o resto da vista. Mas o pescoço, tal como o resto dele, era pode- roso. Afastando o copo, lambeu os lábios com satisfação a brilhar-lhe nos olhos.

— Não está nada sem gás. Na verdade, bastante agradável, como o beijo de uma sedutora.

Ela foi trespassada por uma raiva quente, escaldante. Ele estava a ridicularizá-la. Não importava que tivesse sido ela a começar este pequeno jogo com o seu pedido inicial. Ele devia apressar-se a desa-parecer da sua frente ao aperceber-se de que ela já não estava interes-sada no champanhe. E não deixá-la a pensar se algum champanhe restaria nos seus lábios, para ela saborear.

— Moço…— Já lá vai muito tempo desde que eu era moço.Ela levantou o queixo.— Moço, talvez nos queira ir buscar champanhe a todos.— Quando o inferno congelar, minha senhora.

Um desejo inevitavel vale.indd 21 13/10/16 15:43

Page 15: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

22

Deu um passo na sua direção. Ela deu apressadamente um passo para trás. O brilho do triunfo iluminou os olhos dele. Bolas para ele. Ela não iria recuar mais.

Um criado passou, e sem tirar os olhos dos dela, Darling pôs a taça na bandeja de prata que o criado transportava. Depois, deu outro passo para a frente.

Ela lutou para se manter firme, mas conseguia agora respirar a sua fragrância intoxicante. Um intenso cheiro a terra, o aroma de ta- baco ou talvez de pecado. Ele aproximou-se mais…

Meio passo para trás.— Dance comigo — disse ele.— Como disse?— Ouviu-me.Ela levantou o queixo.— Não danço com plebeus.— De que tem medo?— Não temo nada.— Mentirosa.O olhar dela saltitou rapidamente da esquerda para a direita. Sem

que ela se tivesse apercebido disso, ele tinha conseguido manobrá-la até às sombras de um recanto mal iluminado e barrava-lhe agora o caminho. Aqueles com quem ela estava anteriormente não se viam agora em lado algum. Ela deveria ter sabido que Avendale e Langdon se iam pôr ao lado deste abusador e acompanhar as amigas dela para a pista de dança, para o jardim, ou para tomarem refrescos. Malditos! Mesmo assim, não seria intimidada por gente da espécie de Drake Darling.

— O senhor é desprezível.— E você é uma menina arrogante que precisa de aprender uma

lição.— Suponho que pensa que é homem para o fazer.Os seus olhos escureceram, o olhar desceu-lhe para os lábios dela

e ela deu por si a dar três passos rápidos para trás.— Não se atreva — murmurou ela, odiando o facto de o seu

tom soar como uma súplica, mais do que como uma exigência.— Anda a espicaçar o tigre há alguns anos. Não pode esperar que

ele fique sempre dócil.

Um desejo inevitavel vale.indd 22 13/10/16 15:43

Page 16: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

23

Tinha razão nisso. Não sabia porque o escolhia sempre a ele. Talvez porque pressentisse nele um lado obscuro que a atraía, um lado que era perigoso acolher.

— Está a dar espetáculo — realçou ela.— Estamos na sombra. Ninguém nos está a prestar atenção.Como um grande predador corpulento, ele avançou sobre ela.

Embora soubesse que era pouco sensato, ela recuou ainda mais para o recanto até tocar com as costas na parede. O coração batia-lhe irregularmente. Dentro das luvas, as palmas das mãos humedeciam.

— Se fizer alguma coisa imprópria, eu grito.Ele riu-se sombriamente.— E arriscar-se a ser apanhada com escumalha? Não me parece.— O senhor é um canalha malvado.— Que é exatamente a razão pela qual a intrigo. Os cavalheiros

elegantes que pairam à sua volta entediam-na. Nunca pensariam em tocar-lhe com mãos sem luvas.

Susteve a respiração quando a mão quente e áspera dele lhe tocou no lado esquerdo da cara. Uma mão grande, os dedos passando-lhe pelo cabelo, a palma da mão contra o maxilar dela, o polegar acari-ciando-lhe a face.

— Está farta de cavalheiros que se atropelam para lhe satisfaze-rem os caprichos — continuou.

— Não estou farta. Ela detestava soar tão ofegante, como se tivesse andado a subir

uma interminável colina acima. No peito tinha uma sensação aper-tada e dolorosa.

— É mimada porque toda a gente lhe dá o que quer. Nunca teve de se esforçar para conseguir nada. Nem sequer a atenção ou o afeto de um cavalheiro.

— Você não sabe nada sobre mim. — A voz saiu-lhe frágil e assustada. No fundo do coração, sabia que Darling nunca lhe faria mal fisicamente, nem faria nada para prejudicar a sua repu- tação. Grace nunca lhe perdoaria tal ato, e se tinha aprendido alguma coisa com os anos, era que ele queria desesperadamente agradar a Grace e à sua família. Mas temia que ele conseguisse vislumbrar a sua alma desfeita. Cada qual com seu igual, cada ovelha com a sua parelha.

Um desejo inevitavel vale.indd 23 13/10/16 15:43

Page 17: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

24

— Sei mais do que pensa, Lady Ophelia. Compreendo mais do que possa imaginar. Vai casar com um lorde como deve ser, mas algo me diz que primeiro gostaria de dançar a valsa com o diabo.

— Está muito enganado.— Prove-o.Antes que pudesse responder, ele cobriu-lhe os lábios com a sua

boca macia. Era mais delicada do que ela esperava, mais quente. O polegar roçava-lhe vagarosamente o canto da boca, como se fosse parte do beijo. Sentiu-lhe a língua a contornar-lhe a abertura entre os lábios, antes de percorrer a parte de fora. Uma vez, duas vezes, depois voltava ao centro, mas já não satisfeito apenas com a superfí-cie. Com uma insistência que a devia ter assustado, impeliu-a a abrir os lábios. A língua passou entre eles, deslizando sobre a dela, avelu-dada e sedosa. Convidando-a a explorar, a conhecer a intimidade da boca dele tal como ele descobria a dela.

Ela devia ter ficado repugnada, horrorizada. Mas estava extasiada, atraída por sensações que nunca tinha experimentado. Ele era tão talentoso a desencadear reações deliciosas — reações que começa-vam na ponta dos dedos dos pés e remoinhavam para cima, estreme-cendo todas as suas terminações nervosas e provocando-lhe um calor letárgico —, que tudo isto lhe enfraquecia os joelhos e a determina-ção para o repelir.

Ouviu um gemido profundo, sentiu uma vibração contra os dedos e deu conta de que lhe agarrava a lapela do casaco. Agarrar-se a Drake Darling era a única coisa que a impedia de se derreter numa poça de prazer a seus pés. Isto era apenas um beijo, uma ancestral dança de bocas, no entanto, estava a provar ser a sua perdição.

Ele afastou-se com um brilho de triunfo nos olhos. — Mais cinco minutos e tinha-a despida e de cos…Pás!A palma enluvada dela atingiu-o na face, surpreendendo-o a ele

e também a si própria. Não lhe permitiria que a fizesse sentir como se fosse uma prostituta.

— Você não só é repugnante, como também sobrevaloriza os seus talentos. Não gostei do seu toque nem do seu beijo. Nem um pouco.

— Os seus gemidos davam a entender coisa diferente.

Um desejo inevitavel vale.indd 24 13/10/16 15:43

Page 18: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

25

Levantou a mão para lhe dar outra bofetada, mas ele prendeu-lhe o pulso com os seus dedos compridos e grossos agarrando firme-mente os seus ossos finos. Podia parti-los tão facilmente. Ela respirava com dificuldade, enquanto ele não parecia ter qualquer dificuldade em encontrar ar.

— Uma bofetada já lhe chega, minha senhora. Eu teria parado as minhas atenções ao mínimo protesto seu. Não pode estar zangada agora só porque quis o que lhe estava a oferecer.

— Não quero absolutamente nada que tenha que ver consigo. Agora largue-me.

Os dedos largaram-na lentamente. Agarrando a mão já livre, fechou-a num punho junto ao seu corpo.

— Você não é melhor do que a lama que limpo dos meus sapatos.— Eu cá acho que a senhora protesta demasiado.— Espero que apodreça no inferno. — Deu um passo pelo lado

dele, sentindo grande alívio por ele não a tentar impedir, mas tam-bém ligeiramente desiludida. O que se passava com ela? Era estranho aperceber-se que, com ele, ela se tinha sentido… segura. Completa e absolutamente segura.

O que era absurdo. Ele não gostava dela. Ela não gostava dele. Ele estava simplesmente a tentar dar-lhe uma lição. Ela só podia esperar ter-lhe ensinado uma: ela não era senhora com quem se brincasse.

Um desejo inevitavel vale.indd 25 13/10/16 15:43

Page 19: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

26

Capítulo 2

— O que estavas a fazer a falar com o Drake Darling? — perguntou Somerdale enquanto a carruagem rolava pelas ruas silenciosas.

O baile iria sem dúvida continuar até de madrugada, mas Ophelia estava mais do que disposta a ir embora depois do que sucedera com Darling. Parecia que o pequeno encontro secreto, naquele recanto, tinha passado despercebido, graças a Deus. Tinha perdido todo o en- tusiasmo pela dança, e pedira ao irmão que a acompanhasse a casa. Ele tinha acedido ao seu pedido com agrado, sem dúvida porque estava igualmente ansioso por ir para o seu clube.

Olhando para ele, Ophelia não conseguia ler-lhe a expressão, mas a sua voz sugeria desaprovação.

— Tinha sede. Pedi-lhe que me fosse buscar qualquer coisa para beber.

— Ficarias mais bem servida se desses a tua atenção a um lorde. O pai pôs uma quantia escandalosa num fundo para que o teu dote atraísse os lordes mais influentes. Devias concentrar-te em alguém como o Avendale. Ele é um duque, por amor de Deus!

— Que não tenciona casar. Só estava presente esta noite por causa da sua amizade com o Lovingdon. E não precisas de te preocu-par. Não tenho qualquer interesse no Darling enquanto pretendente.

— É bom que não tenhas. Gosto bastante do sujeito, mas o Pai ia dar voltas na tumba. Ele confiou-me a tarefa de garantir que te casa-vas bem. Tenciono cumprir essa responsabilidade.

Um desejo inevitavel vale.indd 26 13/10/16 15:43

Page 20: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

27

— Não farias melhor se tratasses do teu dever de casar com uma herdeira?

Já tinham passado dois anos desde a morte do pai deles, e ela sabia que os cofres não estavam tão cheios como tinham estado em tempos.

Somerdale olhou pela janela.— Eu tinha esperança na Grace. Agora tenho de começar a pro-

curar outra vez. É uma tarefa aborrecida.O casamento de Somerdale com Grace teria sido um desastre.

Ele precisava de uma pessoa menos rebelde.— E não achas que eu considero a busca de um marido igual-

mente maçadora?— Pode ser maçadora, mas é uma condição do teu fundo. É pena

não poderes ter acesso a ele antes de te casares. Podíamos divertir--nos à grande com o dinheiro. — Voltou a virar a atenção para ela. — Mas o teu marido vai ficar com ele quando vocês se casarem, e depois acabou-se.

— Os fundos tornam-se meus se não tiver casado quando fizer 30 anos. — Que era o plano dela. Tal como Avendale, ela não tinha qualquer intenção de dar o nó. Ah, ela propalava-o aos sete ventos, até fez Grace e Minerva acreditarem que queria casar por amor, mas a verdade era que queria ficar solteira e não ter de responder perante um homem. Nenhum homem a amaria o suficiente para lhe perdoar o que em tempos tinha feito, e esse era um segredo que não podia esconder para sempre de um marido.

— Se quiseres vestidos de baile para a próxima época, é melhor casares durante esta — disse Somerdale, interrompendo-lhe os pen-samentos.

O coração deu um pequeno salto.— As coisas estão assim tão apertadas?Ele encolheu os ombros.— Os investimentos não resultaram como eu esperava. Pensei

em pedir um empréstimo ao teu fundo para me aguentar até a minha situação melhorar, mandei o meu advogado analisar os detalhes, mas os teus fundos estão fechados a sete chaves. Só o casamento com um plebeu ou a tua morte os poriam na minha mão.

Um estremecimento perpassou-a. Ficou desconcertada por saber que ele tinha andado a procurar uma maneira de aceder ao fundo

Um desejo inevitavel vale.indd 27 13/10/16 15:43

Page 21: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

28

que ela tinha. Aquele dinheiro era dela, o seu dote, a chave para o seu futuro, a sua liberdade. O pai queria que fosse dela. Somerdale teria simplesmente de encontrar maneira de se virar.

— Não vou com certeza casar com um plebeu. Duvido que case seja com quem for. E não tenciono morrer tão depressa.

— Se queres ter dinheiro para as tuas despesas antes dos 30 anos, vais ter de casar com um lorde, mesmo que esteja com os pés para a cova. Para ser franco, Ophelia, estou em apuros.

— Por isso é que estavas interessado na Grace, por ela ter um dote tão grande.

— Bem, sim, com certeza.Ele disse-o como se ela fosse uma idiota por pensar que fosse

outra coisa.— Ela queria casar por amor.— Garanto-te que se uma mulher me restabelecer a saúde finan-

ceira a irei amar mesmo muito.— Não era esse tipo de amor que a Grace queria — disse ao irmão.

— Estou muito contente por ela não ter levado a tua corte a sério.— Bem, eu não estou absolutamente nada contente. O Lovingdon

não precisava da fortuna dela. Tem fortuna própria. Não é justo.Ela podia esclarecê-lo sobre coisas que não eram justas. Mas

tinha a certeza de que ele estava a exagerar no que dizia respeito ao estado das suas finanças.

— As coisas estão muito mal? — perguntou ela.— Deixa lá isso, mas não compres vestidos novos — disse,

cansado.— Não vejo porque devo ser prejudicada por tu teres gerido mal

as coisas. — A carruagem parou em frente da residência deles. — Além disso, tenho a certeza de que aparecerá alguma coisa.

Decerto existiria uma herdeira em qualquer sítio que levaria a corte dele a sério.

Somerdale riu-se baixinho.— É melhor acontecer rapidamente já que os credores não tarda-

rão a bater à porta. E tens razão, irmãzinha, não queremos que sejas prejudicada, pois não?

Antes que ela pudesse responder, o criado abriu a porta e deu-lhe a mão para ela descer. O irmão seguiu-a.

Um desejo inevitavel vale.indd 28 13/10/16 15:43

Page 22: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

29

— Não vais ao clube? — perguntou ela enquanto subiam as escadas.

— A nossa conversa deixou-me sem vontade de me divertir. Acho que vou beber até esquecer tudo.

Ele abriu a porta e entraram no átrio.— Isso não fará com que os teus problemas desapareçam — lem-

brou ela.— Mas fará com que me esqueça deles por algum tempo, pelo

menos. — Inclinando-se, beijou-a na face. — Dorme bem, Ophelia.Ele tinha dado dois passos quando ela o chamou.— Somerdale?Ele parou e olhou para trás por cima do ombro.Ela soltou um longo suspiro de vítima.— Não vou comprar vestidos novos, mas não vou ficar feliz com

isso.Ele sorriu levemente.— Não esperava que ficasses. E tenho a certeza de que tens razão.

Vai aparecer qualquer coisa. Só preciso de pensar um pouco.Ela ficou a observá-lo enquanto percorria o corredor. Por instan-

tes, considerou ir atrás dele, mas ela tinha os seus próprios proble-mas. O principal era como fazer Drake Darling pagar pelo beijo que lhe tinha roubado. Quando os seus caminhos voltassem a cruzar-se, ela iria humilhá-lo como deve ser. Afrontá-lo-ia publicamente. Iria contar a Grace o patife que ele era. Talvez a família dela o pusesse na rua, o canalha.

Subiu as escadas, e só quando chegou ao cimo é que deu conta de que tinha andado à procura de qualquer sabor que ainda restasse dele nos lábios dela. Como é que alguém tão pecaminoso podia ter um sabor tão delicioso? Teria beijado outras hoje à noite? Provavelmente. Detestou o pensamento, ele num canto escuro com outra mulher, passando-lhe os dedos pelo cabelo, reclamando a sua boca como se fosse morrer sem ela.

Entrando no quarto, decidiu que precisaria de um banho esta noite para se livrar do cheiro dele. Depois de puxar o cordão da campainha para chamar a criada, começou a andar de um lado para o outro. Não lhe apetecia tomar banho, mas tinha de ser feito, caso contrário leva-ria o cheiro dele para os seus sonhos. A última coisa que queria era

Um desejo inevitavel vale.indd 29 13/10/16 15:43

Page 23: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

30

que ele a visitasse durante o sono. Virando-se com o som de passos, ralhou com a criada.

— Porque demoraste? Ajuda-me a despir. Sinto que vem aí uma dor de cabeça. Vou querer leite quente antes de me retirar.

— Sim, senhora.Tinha passado quase uma hora e Ophelia estava com a roupa de

dormir enroscada no sofá, olhando para as chamas de uma pequena fogueira. Colleen estava a preparar o leite quente. Porque estava a demorar tanto tempo? O pessoal por estas bandas andava a passo de caracol. Teria de falar novamente com a governanta sobre o assunto. Francamente, desde a morte do pai que o pessoal tinha caído na de- gradação total. Somerdale precisava mesmo de ser um pouco mais enérgico, mais como Darling.

Ela tinha dúvidas de que os criados de Darling andassem a fazer ronha. Se é que tinha criados. Tinha dúvidas de que tivesse ou algum dia viesse a ter. Já não vivia com a família de Grace. Pelo que tinha percebido, ele vivia naquele antro de jogo que geria. Questionou-se se seria aí que recebia as senhoras. Abanou a cabeça. Não ia pensar nele a receber senhoras.

Onde estava o leite quente? Pôs-se de pé no momento em que Colleen entrou no quarto — de mãos vazias.

— Que diabo, Colleen? Não dá valor ao seu lugar aqui?— Peço desculpa, minha senhora, mas sua senhoria mandou-

-me para cima para começar a arrumar as suas coisas. Ele diz que a senhora se vai embora dentro de uma hora.

— São onze e meia. Não vou a lado nenhum.Colleen parecia terrivelmente embaraçada quando murmurou:— Ele parece ter outra opinião.— Bem, já vamos ver isso.Ophelia quase voou pelas escadas abaixo. O irmão devia estar

sem dúvida num estupor etílico. Viajar a esta hora da noite não fazia sentido nenhum. Mesmo que ele estivesse com algum problema com os credores que resultasse numa partida à pressa, podia esperar até uma hora decente. E porque haveria de a envolver a ela? Não era ela que estava em dificuldades.

Ao aproximar-se da biblioteca, um criado abriu a porta. Ela pas-sou por ele intempestivamente…

Um desejo inevitavel vale.indd 30 13/10/16 15:43

Page 24: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

31

E cambaleou até parar quando o medo a atravessou. A porta fechou-se furtiva e suavemente atrás dela, fechando-a lá dentro com o seu pior pesadelo.

Um desejo inevitavel vale.indd 31 13/10/16 15:43

Page 25: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

32

Capítulo 3

Com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, Drake passeava ao longo do caminho que bordejava o Tamisa. Quando era criança costumava vir para aqui procurar na lama pequenos

tesouros que lhe pudessem trazer uma moedinha: um botão de fan-tasia, um pedaço de seda, um sapato — que não servia de grande coisa sem o par — um relógio. O relógio de bolso tinha sido o seu achado mais precioso, mas tinha cometido o erro de o mostrar ao pai, que logo lho arrebatou da mão. Muitas vezes se interrogou como teria aquele objeto ido parar ao lodo junto do rio.

Ele não era a única criança com esperanças de que a lama revelasse alguma coisa de valor. Chamavam-lhe peneireiros da lama. Às vezes, ainda se sentia como se a lama lhe estivesse agarrada à pele, à roupa.

Talvez fosse por isso que Lady Ophelia Lyttleton o conseguia irri- tar tanto, porque, quando ela olhava para ele, ele sentia-se como se ela visse a criança suja que outrora tinha sido. A criança a quem obrigavam a passar fome para permanecer magro e mais facilmente passar pelas janelas das caves ou descer chaminés de forma a entrar numa residência fina. Entrava cuidadosamente a coberto do escuro e abria a porta ao pai — um brutamontes corpulento.

Às vezes, quando Drake se via ao espelho, via o pai. Não possuía a elegância polida da aristocracia. Por melhor que fosse o corte da sua roupa, por mais refinado que fosse o seu discurso e mais impecáveis que fossem as suas maneiras, nunca podia esquecer que tinha vindo da lama.

Um desejo inevitavel vale.indd 32 13/10/16 15:43

Page 26: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

33

Embora esta noite, ainda mais do que de costume, existisse o pe- rigo de a lama voltar a sugá-lo.

Mas que raio lhe tinha passado pela cabeça para beijar Lady O.? Ela irritava-o superlativamente, era certo. Talvez por saber que ela gos- tava tão pouco dele, pretendera dar-lhe uma boa razão para pensar nele como indigno dela. Tanto quanto sabia, nunca a tinha tratado mal. Não conseguia encontrar uma razão para ela o detestar que não fosse pelo seu berço. Ele supunha que isso bastasse nos círculos em que ela se movia.

Dentro daquele pequeno recanto, as sombras que os rodearam criaram efetivamente uma intimidade que eclipsava as diferenças. Ele e ela eram simplesmente um homem e uma mulher. E ela tinha um cheiro tão sedutor. Estivera rodeado de fragrâncias variadas du- rante toda a noite e, no entanto, o seu cheiro a orquídea atraía-o como nenhuma outra. Imaginava a sua pele quente de paixão, húmida de desejo fazendo o cheiro florescer, desabrochar. A pele tão sedosa sob os seus dedos ásperos. E aqueles olhos, aqueles malditos olhos ver-des que sugeriam segredos.

Apostava a sua alma em como ela era uma senhora de camadas complicadas, e por qualquer razão insondável, ele sentira-se tentado a explorá-las, para ver o que aconteceria quando inquietasse a sua fachada calma, quando derretesse o gelo.

O que aconteceu é que ela lhe deu uma bofetada. Merecidamente.Se ao menos pudesse esquecer o sabor dela, talvez conseguisse

ignorá-la no futuro. Infelizmente, esquecer os acontecimentos do seu passado nunca tinha sido o seu ponto forte.

Passando por cima da barreira baixa que servia de guia ao cami-nho, caminhou até junto da água. Os candeeiros de rua, distantes, pouco faziam para iluminar esta área. Remoinhavam farripas de nevoeiro. Coibiu-se de cair em velhos hábitos, de se agachar e meter os dedos no lodo frio e viscoso. Esta noite a sua alma sentia-se negra como o rio. Tudo por causa dela. Moço, traz-me champanhe.

Moço. Ele quis demonstrar-lhe que não era um moço, mas na sua abordagem para lho demonstrar, não se tinha revelado propriamente um cavalheiro. Orgulho estúpido, estúpido…

Um leve gemido chamou-lhe a atenção. Pôs-se imediatamente em alerta. Não era invulgar as pessoas dormirem fora de portas. Nem

Um desejo inevitavel vale.indd 33 13/10/16 15:43

Page 27: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

34

toda a gente tinha um telhado por cima da cabeça. Nem era invulgar que ladrões e desordeiros andassem por ali à espreita. Mas não cos-tumavam fazer barulho para não atrair atenções. Teria alguém sido atacado antes da sua chegada?

Escutando novo queixume, deu um passo cauteloso na direção de onde pensava que tinha vindo o gemido, mas o nevoeiro podia distorcer os sons, disfarçando a sua origem.

— Está aí alguém?Pôs-se à escuta com mais atenção. Água a marulhar na margem.

Um peixe a saltar na água. Pezinhos em passo apressado. Uma tosse intensa e convulsiva.

Dando mais dois passos na direção do último som, lamentou não ter trazido consigo uma lanterna, mas conhecia bem esta parte de Londres. Conseguia andar por ali de olhos vendados. Além disso, pre- feria confundir-se com a escuridão. Por muito que gostasse que fosse de outra maneira, não era pessoa de derramar luz sobre as coisas. Lady Ophelia tinha razão: a alma dele era a de um libertino.

Avistando um montículo que parecia deslocado do que estava à sua volta, apressou o passo. Ouviu-se um novo gemido fraco. Era uma pessoa, uma mulher, que tinha acabado de dar à costa, com as saias adejando por trás dela acompanhando a água da maré. Ajoelhou- -se ao seu lado na escuridão, e não distinguia mais que a cor clara do cabelo, embora fosse difícil de saber ao certo já que estava coberta de lama. Tocou-lhe no ombro. Estava gelado. Sacudiu-a levemente.

— Minha senhora?Nada. Nem um som, nenhum tipo de reação ou resposta.Olhando rapidamente à volta, não viu sinal de mais ninguém nas

proximidades. Colocando os dedos logo abaixo do maxilar, sentiu-lhe a pulsação fraca. Para que a mulher tivesse alguma hipótese de sobre-viver, teria de a aquecer o mais depressa possível.

Tirou prontamente o casaco e estendeu-o por cima dela, esperando que algum do calor do seu corpo se entranhasse no dela. Metendo os braços por baixo da mulher, teve dificuldades em erguê-la, pois a lama puxava-a para baixo, reclamando-a, mantendo-a sua cativa. Não o permitiria. Tinha recuperado muitas bugigangas das margens do Tamisa, mas nunca tinha salvado uma mulher. Não a deixaria morrer agora que a tinha recuperado.

Um desejo inevitavel vale.indd 34 13/10/16 15:43

Page 28: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

35

Estava completamente encharcada. Como teria ido parar ao rio? Era uma pergunta a ser respondida mais tarde, quando ela tivesse re- cuperado os sentidos e, por Deus, iria recuperá-los. Maldisse o facto de não ter vindo de carruagem, mas tinha-lhe apetecido dar um longo passeio. Felizmente, a sua residência não era muito distante, mas com a água e a lama ela parecia pesar toneladas. Pensou em perder alguns segundos a despi-la, mas como explicaria uma mulher nua se fosse mandado parar por um polícia? E onde estava o diabo da Polícia quando era precisa?

Restava-lhe esperar que o seu peito lhe providenciasse o calor de que ela tanto precisava. Ela murmurou qualquer coisa ininteligível.

— Está tudo bem, querida, estamos quase a chegar. Não tarda nada.Apressou o passo, alongou a passada, por uma vez que fosse grato

pelo seu tamanho e a sua massa corporal. Apesar do pesado fardo e da distância, teve a energia necessária para avançar rapidamente. Devido à hora tardia, não havia ninguém nas ruas. Estavam sozinhos: ele e ela. Ele não lhe ia falhar.

Concentrando-se na tarefa que tinha em mãos mais do que na grande distância que tinha de percorrer, começou a gizar um plano. Levá-la para a sua residência, aquecê-la, mandar chamar o Dr. William Graves. Uma mulher encontrada na casa de um homem ficaria com-prometida, mas Graves seria discreto. Era um velho amigo da famí-lia. Poderia confiar na sua discrição.

Vislumbrando a sua casa, Drake suspirou de alívio ao confirmar que ela ainda respirava, embora pequenos tremores tivessem come-çado a perpassar-lhe o corpo. Abriu o portão à pressa, avançou a passos largos pelo curto caminho e subiu o pequeno conjunto de degraus. Com alguma dificuldade, conseguiu tirar a chave e abrir a porta. Depois de a atravessar fechou-a com o pé e subiu as escadas para o andar de cima onde o esperavam quatro quartos. Felizmente, tinha deixado os candeeiros a gás acesos no mínimo antes de sair. Tendo comprado a residência há pouco tempo, ainda não tinha tido tempo de pôr as coisas como queria. Só um quarto tinha cama: o dele.

Entrou, dirigiu-se para a enorme cama, e suavemente, pousou-a.— Querida?Deu umas palmadinhas na sua cara enlameada, mas ela não rea-

giu. Estava fria, extremamente fria. Tão impessoalmente quanto pôde,

Um desejo inevitavel vale.indd 35 13/10/16 15:43

Page 29: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

36

tirou-lhe a roupa, surpreendido pela qualidade do tecido e pelo seu tra- balho refinado. Não era plebeia, nem vivia nas ruas. Talvez a amante de um lorde. Alguém que caiu em desgraça.

À medida que combinações, camisola interior e meias eram rele- gadas para o chão, reparou em algumas nódoas negras, mas parecia que nada estava partido. Olhando para ela, poderia até parecer que tinha apenas ido nadar.

Quando toda a roupa tinha sido tirada, ele cobriu-a com lençóis e cobertores. Foi para a lareira e pôs-se a preparar uma grande fogueira, na esperança de aquecer o quarto e a ela. Parecia estar a dar resultado para o quarto pois deu por si a transpirar. Tirou o casaco e o colete, atirando-os para o chão, antes de voltar para a cama. Parecia que ela não se tinha mexido.

Devia ir buscar Graves, mas estava relutante em deixá-la sozinha. Podia acordar um vizinho, pensou, mas os seus horários tardios tinham-no impedido até ao momento de conhecer qualquer um deles. Ainda tinha de contratar criados porque não passava aqui tempo su- ficiente para justificar a despesa. A maior parte do seu tempo era passado no Dodger’s Drawing Room. Tinha um conjunto de divisões lá, e chegavam-lhe bem quando o seu horário de trabalho se prolon-gava. Mas tinha comprado esta casa porque sentira a necessidade de possuir algo que implicasse permanência.

Foi ao lavatório, pegou no jarro e colocou-o junto do fogo, para a água começar a aquecer. Depois pegou num pano e na bacia e voltou para a cama. Cuidadosamente, sentou-se na ponta da cama, molhou o pano na água que já estava na bacia e espremeu-o. Puxando-lhe delicadamente o cabelo enriçado para o lado, começou a limpar--lhe a lama da cara. Uma cara oval, nem redonda nem quadrada, mas longa e elegante. Um queixo gracioso e delicado. Maçãs do rosto proeminentes e um nariz afilado que arrebitava ligeiramente na ponta.

A mão parou ao mesmo tempo que ficou a olhar para as feições que o seu trabalho revelara. Ele conhecia aquelas feições, conhecia aquela cara. Que diabo?

Tinha acabado de salvar Lady Ophelia Lyttleton.Suavemente, deu-lhe palmadinhas na face.— Lady Ophelia?

Um desejo inevitavel vale.indd 36 13/10/16 15:43

Page 30: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

37

— Não — murmurou ela. — Não quero que me toque. Não. Não me toque! — protestou, debatendo-se.

Rapidamente, ele deu um passo atrás.— Não, não lhe tocarei. As palavras dele devem ter chegado onde quer que ela estava, por-

que imediatamente se acalmou, com a respiração a ficar leve, a cara a relaxar e a deixar transparecer linhas suaves que disfarçavam a arrogância que desfigurava o que, de outro modo, seriam feições agradáveis. Até a dormir, ela parecia capaz de lhe reconhecer a voz, lembrando-se de que o toque dele a revoltava, que ela lhe era supe-rior, que ele era como algo que se raspava da sola do seu sapato.

A indignação que o percorreu quase o pôs a imaginar o prazer que teria se a voltasse a atirar ao Tamisa.

Desviando o olhar para o monte de roupa dela que estava no chão, apercebeu-se de que tinha de tentar tirar-lhes alguma da lama. Ela não conseguiria voltar a vestir as saias e combinações retesadas se não as lavasse. Ophelia iria, sem dúvida, fazer uma cena porque ele lhe tinha tocado na roupa interior. Raios! Como desejava ter já contra-tado uma criada para tratar de tarefas tão banais, para pôr a sua casa em ordem. Claro que, se houvesse uma criada, assim que Ophelia acordasse iria pôr-se a dar ordens à pobre rapariga — emitindo pedi-dos, encontrando defeitos na temperatura da água do banho ou na consistência da torrada ou do ovo. É tão fácil julgar quando nunca se esteve na pele de uma criada.

Voltou a atenção de novo para Ophelia. Estava quieta como a mor- te, calada como uma tumba. Devia ir buscar Grace, talvez ela conse-guisse determinar o que a querida amiga estava a fazer ao rebolar-se na lama, mas era a noite de núpcias de Grace e, por mais que ela gos-tasse de o ajudar, ele suspeitava que o marido ia passar o tempo sem a mulher na cama a congeminar formas inventivas de o fazer sofrer. Não, não importunaria um casal na sua noite de núpcias por causa de uma senhora mimada que, sem dúvida, apenas escorregou des-cuidadamente de uma barca de lazer para o Tamisa. Provavelmente embriagada, perdeu o equilíbrio, e lá foi ela.

Incomodaria Grace quando o dia raiasse. O problema é que os noivos partiriam para a lua de mel nas primeiras horas do dia. Iam para o continente por duas semanas, tanto quanto tinha percebido.

Um desejo inevitavel vale.indd 37 13/10/16 15:43

Page 31: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

38

Não, não era tão urgente que precisasse de perturbar os seus planos. Mas talvez devesse arriscar-se a chamar Graves.

Nunca lhe tinha causado transtorno viver ali sozinho, mas de repente, deu por si a desejar ter um exército inteiro ao seu dispor, ou pelo menos, de alguém que lhe pudesse levar um recado. Pensou em abaná-la, mas não queria incomodá-la outra vez. Talvez fosse melhor deixá-la dormir.

Subitamente, os olhos dela arregalaram-se, e ele ficou a olhar para a profundidade verde, esperando uma bofetada, um guincho, uma explosão horrorizada ao aperceber-se de que estava no quarto dele.

Em vez disso tudo, piscou os olhos, várias vezes, olhou à volta len- tamente antes de voltar a olhar para ele. Apesar da sua posição de bruços, conseguiu inclinar aquele seu narizinho impertinente.

— O que faço aqui?O seu tom condizia com ela: exigente, achando-se com direito a

tudo e mais alguma coisa, acostumada a que lhe dessem respostas.— Pesquei-a do rio — declarou ele, desejando tê-la deixado lá.

Teve dúvidas de que ela tivesse algum apreço pelo facto de ele a ter salvado, o que levantava a questão: porque diabo tinha ela precisado de ser salva? — Mas como é que foi lá parar?

Ela pressionou as pontas dos dedos da mão esquerda contra a têmpora e fechou os olhos com força.

— Não sei.— Como pode não saber?Abanando a cabeça levemente, abriu os olhos.— Dói-me a cabeça.— Ainda não tive oportunidade de a examinar.— É médico? — perguntou ela, enfaticamente.Olhou para ela com expressão desaprovadora. A tentativa de o

criticar era muito irritante numa altura como esta quando ele estava a tentar ajudá-la. Será que ela nunca iria conseguir pôr de lado as diferenças entre eles?

— Claro que não, mas sou capaz de sentir um alto se lá estiver. Deixe-me ver.

A altivez pareceu sumir-se.— Está bem.

Um desejo inevitavel vale.indd 38 13/10/16 15:43

Page 32: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

39

«Está bem?» Ela ia voluntariamente deixá-lo tocar-lhe? Presumiu que ela tinha percebido que não tinha alternativa. Cuidadosamente, passou os dedos pelos seus cabelos revoltos, massajando os dedos suavemente sobre o couro cabeludo. Tocou num alto. Ela gemeu.

— Desculpe — disse ele. — Tem mesmo um alto aí. Pequeno. — Tirou os dedos. — Não parece estar a sangrar.

— Isso é bom sinal, não é?— Não haver sangue é sempre bom. Já bati com a cabeça. Acho

que deve ficar bem depois de algum tempo.Ela olhou à sua volta outra vez, mas mais devagar, como se esti-

vesse a catalogar cada imperfeição: o papel desmaiado da parede que estava a começar a descascar e que ele ia substituir, a racha na cornija da lareira que ainda tinha de reparar, a ausência de tapetes, cortinas e quadros. Tudo o que ele planeava arranjar quando tivesse tempo. Os olhos dela semicerraram-se e ele preparou-se para o comentário cáustico relativamente a tudo o que faltava no quarto.

— Este quarto… há qualquer coisa que não está certa, não me parece que possa ser meu.

Fixando-a, tentou perceber o que as palavras dela queriam dizer. Porventura o alto que sentiu poderia ser mais perigoso do que presu-miu, pois ela parecia terrivelmente confusa.

— Claro que não é seu. É meu.Ela virou a cabeça na direção dele, olhando-o tão fixamente, com

a testa tão franzida que, se a cabeça não lhe estivesse já a doer, era certo que começaria a doer agora.

— Porque haveria de me trazer para aqui? Quem é o senhor?Que jogo estaria ela a fazer? — A menina sabe quem eu sou. Drake Darling.— Temo que esteja enganado. Não o conheço — sussurrou ela.— Isso não faz qualquer sentido. Já me conhece há muito tempo.Lentamente, ela abanou a cabeça e os olhos encheram-se-lhe de

lágrimas. Geralmente, ele não era pessoa para ficar desconcertada, mas uma mulher a chorar costumava desconcertá-lo. Nenhuma das mulheres mais importantes da vida dele — a duquesa de Greystone e a filha, Grace — tinha tendência para chorar. Eram mulheres for-tes e corajosas, por isso, quando se tratava de lidar com lágrimas, ele ficava atrapalhado. E ficava especialmente perdido quando tinha

Um desejo inevitavel vale.indd 39 13/10/16 15:43

Page 33: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

40

de oferecer conforto a Lady O. A última coisa que se tinha imagi-nado a fazer algum dia era a querer consolá-la, mas naquele preciso momento era a única coisa que lhe apetecia fazer; queria-o mais do que tudo no mundo porque não suportava lágrimas. Queria que ela se sentisse segura e protegida. Embora ela certamente o vituperasse, ele decidiu usar uma forma do nome dela que tinha ouvido a Grace usar de vez em quando. De certeza que ela havia de se sentir confor-tada com o termo familiar de afeto.

— Phee…— Phee? — Uma pergunta. — Phee. — Uma resposta. Uma dis-

tância na sua expressão como se estivesse a esforçar-se por agarrar qualquer coisa que estava fora do seu alcance. — Phee. É-me fami-liar. — Fez um gesto de assentimento com a cabeça e depois olhou-o nos olhos. — É o meu nome, não é?

Algo estava terrivelmente errado. Muito lentamente, ele saiu da beira da cama e foi para os pés, criando distância entre eles ao mesmo tempo que tentava decifrar o que é que se passava ali ao certo.

— De que se lembra?Com um vinco entre as sobrancelhas, abanou a cabeça de um

lado para o outro.— De nada.

Um desejo inevitavel vale.indd 40 13/10/16 15:43

Page 34: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

41

Capítulo 4

Drake estudou-a como se ela fosse uma curiosidade, uma enge- nhoca bizarra descoberta numa loja de raridades que ele queria pôr de lado e examinar.

Colocou uma grande mão em volta do poste da cama. De onde ela estava, ele parecia um gigante. Ele franziu a testa e os seus lábios formaram uma linha sombria.

— A menina está, com certeza, apenas desorientada por causa do mergulho no rio. Espere um momento. Pense. Não se pode ter esquecido de tudo.

Falou com tal autoridade que parecia que tinha poder para fazer sair as memórias dela do abismo profundo em que tinham caído. Tinha razão, claro. Ela iria conseguir lembrar-se de alguma coisa, de qualquer coisa, mas era como se ela estivesse a bater numa pa- rede de latão que pouco mais fazia do que ecoar num quarto vazio.

— Lembro-me de acordar.— Esta manhã?Ele parecia incrivelmente esperançoso, mas ela não conseguia

partilhar da sua esperança.— Não, agora mesmo, nesta cama.— E antes disso? Abanando a cabeça, ela pensou que devia ter medo deste homem.

Não o conhecia, no entanto, qualquer coisa nele lhe parecia familiar, e instintivamente sabia que estava segura com ele. Mas como pode- ria ela saber isso? Como podia saber que este não era o seu quarto se

Um desejo inevitavel vale.indd 41 13/10/16 15:43

Page 35: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

42

não se lembrava de como era o seu verdadeiro quarto? Como poderia saber o nome das coisas — cama, janela, cobertores, fogueira — e, no entanto, não saber o próprio nome? Mas sabia que devia ter nome. Phee tinha-lhe soado bem — mas ao mesmo tempo não soava bem. Estava confusa, aterrorizada e atordoada. Ele parecia estar a sentir as mesmas emoções — bem, exceto a de aterrorizado. Não tinha aspeto de ser um homem que tivesse medo de nada e isso pouco tinha que ver com o seu enorme tamanho. Tinha apenas o ar de um homem que compreendia quem era. Ela queria sentir o mesmo a respeito de si própria. Quem diabo era ela?

Ele disse que ela estava no rio. Porque haveria de estar no rio? Foi percorrida por um arrepio gelado e a cabeça começou a latejar impiedosamente. Não queria pensar no rio. Não queria pensar em nada senão no homem que estava ali aos pés da cama.

Tinha ombros tão largos que achou que ele podia carregar um fardo pesado sem qualquer problema. Pensou em como ele a teria trazido para aqui, aninhada naqueles braços fortes. De repente, aper-cebeu-se de que debaixo dos cobertores estava nua. Puxou-os para junto do peito.

— A minha roupa.— Tive de a tirar. Estava encharcada e cheia de lama.— Tomou liberdades.— Teria preferido ficar doente e morrer?Não, mas não verbalizou a resposta. Tinha a certeza de que a per-

gunta dele era retórica. Como conhecia ela essa palavra? Como sabia qualquer palavra? Como sabia que era errado ele tirar-lhe a roupa? Como o conhecia? Em que qualidade o conheceu? O que lhe era ele a ela? O que lhe era ela a ele? E porque não estava certa de querer obter respostas?

Passou os dedos pelo cabelo e deteve-se quando encontrou uma coisa pegajosa que a fez arrepiar-se.

— O que é isto?— Lama. Estava a tentar tirar-lha, mas você preferiu que eu não

lhe tocasse.A voz tinha um tom duro, como se ela o tivesse ofendido. Mas

ela não conseguia determinar os estados de espírito dele. Mal com-preendia os seus. Mas ficou extremamente consciente da lama no

Um desejo inevitavel vale.indd 42 13/10/16 15:43

Page 36: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

43

cabelo e pescoço. Estendendo os braços e examinando as mãos, viu claramente a sujidade.

— Um banho. Tenho de tomar banho. Mande-o preparar imedia-tamente. Água quente, um nadinha mais do que tépida.

Ele arqueou uma sobrancelha escura.— Um nadinha mais do que tépida.Pois, era assim que ela gostava dos seus banhos. Isso ela sabia.

Que mais saberia? — A minha roupa. Mande alguém tirar a lama e secá-la o mais

depressa possível. Como parece saber quem sou, presumo que me possa levar à minha residência. — Fulminou-o com o olhar. — O que está a fazer, aí parado? Trate das coisas sem demora!

O seu queixo escuro retesou-se e um músculo contraiu-se-lhe na face.

— Como desejar.O estômago dela estremeceu. Ele já lhe tinha dito aquelas pala-

vras antes. Escuras e perigosas, uma promessa que a fez desviar o olhar. Que relação tinham os dois? Seria ele um seu amante? Porque outro motivo pareceria tão à vontade por ela estar nua na cama dele? E porque se sentia ela tão bem com isso? Porque não estava a tremer e agitada?

Estava bem ciente dos seus passos a ecoar no quarto escassa-mente mobilado. Ouviu o restolhar de tecido quando ele apanhou a roupa dela do chão. O bater da porta ao sair.

Não, não era amante dela. Se fosse, ter-lhe-ia pegado na mão, acariciado a testa e tê-la-ia puxado para si, abraçando-a. Teria feito tudo o que pudesse para a confortar. Ela teria ficado grata pelo seu toque. Não teria presumido nada mais do que isso.

Esfregou a testa. Como podia ela saber aquilo tudo, mas não quem ela era?

Não fazia qualquer sentido. O que estava a fazer no rio? Saberia nadar? Sim, pensava que sim, mas as janelas revelavam a escuridão que estava do lado de fora. Porque estava sozinha na rua à noite? Teria estado sozinha? Haveria mais alguém?

A dor de cabeça acentuou-se como uma faca penetrando pouco a pouco. Neste momento não queria pensar nisso nem tentar com-preender o que se passara. Havia de lhe ocorrer quando fosse a altura

Um desejo inevitavel vale.indd 43 13/10/16 15:43

Page 37: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

44

certa. Tinha a certeza disso. Quando fosse levada novamente para casa, e estivesse integrada num ambiente conhecido, no seio da sua família…

Outra dor aguda quando pensou na família. Família, família. Quem eram? Andariam na rua à procura dela? Será que se importa-vam com ela? Claro que sim. Era amada… não era?

Tudo iria ter uma resposta em breve, quando ele a levasse para casa. Tudo se tornaria claro e faria sentido. Não teria este escuro vazio de nada na sua mente e deixaria de se sentir como se estivesse a atravessar um nevoeiro denso. E a sua cabeça deixaria de latejar abo-minavelmente.

Empurrando os cobertores para o lado, sentiu um tremor a per-correr-lhe o corpo quando viu as pernas cobertas de lama. Ele tinha-a metido suja na cama. Que tipo de homem era este para não se impor-tar com a limpeza básica?

E como poderia supostamente conhecê-lo se não se lembrava mi- nimamente dele?

Ele não lhe parecia alguém que se esquece facilmente. Nada nele parecia macio e suave. Suspeitava que ele era um homem duro. Tinha sido bastante ríspido com ela, pelo menos de início, até que perce-beu que ela estava com dificuldade em se lembrar. Depois tinha-se tornado um pouco mais compreensivo até ela pedir o banho. Não o compreendia, nem tinha a certeza de querer compreender.

Atravessou para o guarda-vestidos e abriu a porta. Estava quase vazio. Seria este homem um pedinte? Não, ele tinha uma residência e conhecia-a. Decerto ela não se daria com alguém de uma classe social inferior.

Parando, interrogou-se de onde teria vindo tal pensamento. Classe social inferior. Quem era ela? Uma princesa? Uma rainha? Talvez ele fosse um guarda. Tinha-a salvado do rio porque era o seu dever. Não importava quem ele era. O que importava era que ela fosse para casa o mais depressa possível e tentasse deslindar as coisas.

De um gancho, tirou um casaco grande e pesado. O casaco dele. Vestiu-o e sentiu calor de imediato, fazendo com que se sentisse pro-tegida. Aproximando-se do lume, sentiu-se bem com o calor que lhe brincava com os dedos dos pés. Ouvia atividade na divisão ao lado. Os criados, sem dúvida, a preparar o seu banho.

Um desejo inevitavel vale.indd 44 13/10/16 15:43

Page 38: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

45

Tentou agarrar-se à imagem de criados, mas não conseguia. Ela parecia saber algumas coisas, como se as compreendesse instin-tivamente. Porque não conseguiria lembrar-se de tudo da vida dela?

Os olhos começaram a encher-se de lágrimas e ela tentou reprimi--las, pestanejando. Não iria chorar. Não podia fazê-lo. Isso indicaria fraqueza e permitiria que outros se aproveitassem dela. Não chorava há anos, desde…

Oh, céus, a cabeça. Aquele latejar horrível outra vez. De repente, foi tomada pela exaustão. Mas não havia cadeiras estofadas, nem sofás para se enroscar. Junto à parede viu uma cadeira de madeira de costas altas, que arrastou para perto da lareira e onde se sentou com um baque pesado. Não era nada elegante deixar-se cair como um saco de farinha.

Não queria pensar, não queria questionar as coisas que sabia e as coisas que não sabia.

Focou-se antes no homem. Era bem bonito, de uma maneira áspera e rude — como a costa da Cornualha. Como é que ela conhe-cia a costa da Cornualha?

Reprimiu o medo que ameaçava tomar conta dela e consumi-la. Não devia mostrar medo — nunca. Também sabia disso.

Ser forte. Nunca mostrar fraqueza, dúvidas ou falta de confiança. Concentrando-se nas chamas que se contorciam, esforçou-

-se por se recompor. Havia um cheiro masculino a pairar no ar à volta dela. Já tinha estado perto dele, rodeada por ele. Provocava-lhe uma agitação estranha no estômago e um tropel no coração. Levantando o colarinho, encostou-lhe o nariz. Drake. O que é que ele lhe era para ela se sentir ao mesmo tempo receosa e, no entanto, confiar nele implicitamente?

Queria lembrar-se do papel dele na vida dela. Parecia a única coisa tangível neste momento. Porque estaria a demorar tanto tempo a voltar para junto dela? Havia mil perguntas a assaltar-lhe a mente. Ele podia responder a todas.

Soou uma pequena pancada na porta. Lentamente, ela levantou--se, puxou os ombros para trás e esticou o queixo. Recusava-se a dei-xar entrever de forma alguma que estava assustada e que este grande buraco em que a vida dela estava ameaçava engoli-la.

— Entre.

Um desejo inevitavel vale.indd 45 13/10/16 15:43

Page 39: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Lorraine Heath

46

A porta abriu-se, Drake entrou e o quarto ficou mais pequeno. Tão simplesmente quanto isto. Ele dominava-o com a sua presença. Não só pelo seu tamanho, mas pelo seu porte. Não era pessoa para brincadeiras. Ele era o dono deste quarto, desta residência, mas mais do que isso, era dono de si próprio.

Quão maravilhosa seria a sensação de não ter de responder perante ninguém?

Franziu o sobrolho. Perante quem respondia ela? Uma imagem atravessou-lhe fugidiamente a mente, mas não conseguiu agarrá-la o tempo suficiente para a examinar e identificar.

— Tenho uma divisão para banhos. — Apontou ele para a porta. — O banho está pronto.

— Os criados demoraram imenso tempo — disse ela dirigindo--se para a porta. — Tenho a certeza de que os apaparica.

Assaltada pelo cheiro, pela masculinidade dele, hesitou um ins-tante antes de entrar na divisão. Era prudente nunca dar a entender as nossas dúvidas com um passo em falso, ombros caídos ou desviando os olhos. Regras que lhe tinham sido marteladas na cabeça até se tornarem costumeiras e que exigiam não ser esquecidas, ao contrário de outros aspetos da sua vida.

Ficou surpreendida pelo tamanho da banheira que a esperava. Teria algum dia visto uma assim tão grande? Mas claro, tinha de ser para acomodar o corpo dele. Não queria imaginar as pernas compri-das dele abertas em toda a extensão do cobre nem os seus movimen-tos provocando ondas na água.

Não sabia porque ficara subitamente relutante em tomar banho. Parecia-lhe obsceno entrar numa banheira que pertencia a outra pes-soa. De certeza que teria a dela, mas não estava aqui, e não poderia atravessar Londres coberta de lama.

Levantou a cabeça. Deu meia volta e estacou. Ele estava encostado à ombreira da porta de braços cruzados por cima do seu peito largo, com a camisa desabotoada revelando um subtil tufo de pelos. Tinha enrolado as mangas para cima. Os braços eram bronzeados e tendinosos, os músculos esculpidos, as veias grossas. Ela reconheceu força ali. Potên- cia. Apeteceu-lhe passar as mãos por aqueles braços, fazê-los fechar-se à sua volta enquanto descansava a cabeça no peito dele. Conforto. Ele dar-lhe-ia imenso conforto. Mas seria completamente inapropriado.

Um desejo inevitavel vale.indd 46 13/10/16 15:43

Page 40: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Um dese jo inevitável

47

— Estamos em Londres? — perguntou ela.— Estamos.— É estranho; as coisas que sei e as que não sei.A testa dele franziu-se.— Continua a não se recordar de nada da sua vida?Ela abanou a cabeça lentamente.— Não, mas tenho a certeza de que tudo vai ficar claro quando eu

voltar ao seio da minha família.Outra dor fez ricochete pela cabeça dela. Estas dores estavam a

ficar bastante incomodativas. Fazendo os possíveis por a ignorar, mer- gulhou os dedos na água com cuidado.

— Está demasiado quente. Terei de esperar que arrefeça. Bastante inconveniente. Mande a rapariga que está a limpar a lama da minha roupa trazer as coisas para cima logo que estejam prontas. Entretanto, vá buscar uma rapariga para me ajudar a lavar a cabeça.

Olhando por cima do ombro, ela viu que ele não tinha mexido um músculo, senão o do queixo que parecia ter-se transformado em granito.

— Não fique aí como se tivesse o dia todo. Vá buscar a rapariga e depois mande preparar uma carruagem.

— A rapariga é você.— Como disse?Ele descruzou os braços, centímetro a centímetro, antes de avan-

çar lentamente para ela como um grande felino corpulento.— Se me permite a franqueza, Phee, a criada aqui é você.

Um desejo inevitavel vale.indd 47 13/10/16 15:43

Page 41: Prólogo - Topseller · Com a família do Duque viajei pelo mundo, vi criaturas e criações espantosas, experienciei maravilhas para além da imaginação. Mas, por mais longe que

Desejoum

inevitável

É uma autora norte-americana, bestseller

do New York Times e do USA Today, que conta

com mais de 60 romances publicados.

Quando se licenciou em Psicologia pela

Universidade do Texas, Lorraine não fazia ideia

de que tinha acabado de ganhar uma base

valiosíssima que lhe permitiria criar

e descrever personagens consideradas

quase «reais».

Por essa razão, os seus livros já foram

nomeados e contemplados com inúmeros

prémios, entre os quais o Prémio RITA para

Melhor Romance Histórico e, por duas vezes,

o prémio All About Romance (AAR) para

a mesma categoria.

Um Desejo Inevitável foi galardoado com

o Romantic Times Reviewers' Choice Award

na categoria de «Romance Histórico do Ano».

«— O senhor é um canalha malvado. — Que é exatamente a razão pela qual

a intrigo. Os cavalheiros elegantes que pairam

à sua volta entediam-na. Nunca pensariam

em tocar-lhe com mãos sem luvas.

Susteve a respiração quando a mão quente

e áspera dele lhe tocou no lado esquerdo da

cara. Uma mão grande, os dedos

passando-lhe pelo cabelo, a palma da mão

contra o maxilar dela, o polegar

acariciando-lhe a face.

— Está farta de cavalheiros que se atropelam

para lhe satisfazerem os caprichos —

continuou.

— Não estou farta.

Ela detestava soar tão ofegante, como se

tivesse andado a subir uma interminável

colina. No peito, tinha uma sensação apertada

e dolorosa.

— É mimada porque toda a gente lhe dá

o que quer. Nunca teve de se esforçar para

conseguir nada. Nem sequer a atenção

ou o afeto de um cavalheiro.

— Você não sabe nada sobre mim. — A voz

saiu-lhe frágil e assustada. No fundo do

coração, sabia que Darling nunca lhe faria mal

fisicamente, nem faria nada para prejudicar

a sua reputação. Mas temia que ele

conseguisse ver por dentro da sua alma

desfeita. Cada qual com seu igual, cada ovelha

com sua parelha.

— Sei mais do que pensa, Lady Ophelia.

Compreendo mais do que possa imaginar.

Vai casar com um lorde como deve ser, mas

algo me diz que primeiro gostaria de dançar

a valsa com o diabo.

— Está muito enganado.

— Prove-o.»

Autora Vencedora do Prémio RITA— Melhor Romance Histórico —

«Contadora de histórias por excelência, Lorraine Heath reúne

neste livro o poder emocional e o romance intenso. Poucos autores

são tão bem-sucedidos a captar a mente e o coração das leitoras.»

RT Book Reviews

Nascido nas ruas e educado pela aristocracia, Drake Darling não consegue fugir do seu passado. Sobretudo porque Lady Ophelia Lyttleton

o relembra constantemente as suas origens humildes. Para ela, Darling nunca será um verdadeiro nobre.

Até ao dia em que este a salva de se afogar das águas do Tamisa e descobre que ela sofre de uma inexplicável perda de memória. Aproveitando essa

oportunidade, ele decide castigar Ophelia, convencendo-a de que ela é sua empregada doméstica. Contudo, enquanto brinca a este malicioso jogo,

Darling fica inevitavelmente rendido ao charme de Lady Ophelia.

Ophelia parece corresponder aos seus sentimentos, mas está inquieta. Sente que algo na história dele não bate certo. E quando recupera finalmente

a memória, fica devastada e aterrorizada com a traição de Darling.

Agora, ele terá de provar que merece a confiança dela para reconquistar o seu coração.

Poderá a paixão ser mais forte que o preconceito?

Autora bestseller do New York Times e do USA Today

No amor e na paixão, alguém tem de ceder.

Prémio Romance Histórico do Ano

<22,5 mm>

Ficção Romântica

I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 8 8 4 9 - 7 8 - 6

9 789898 849786

um

desejo

inev

itável