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Promoo:
Apoiadores
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
Editores
Diagramao
COMISSO ORGANIZADORA:
Alexandre Harn mestrando PPGEddu UPF
Ctia Sauer mestranda PPGEddu UPF
Eduardo Albuquerque mestrando PPGEddu UPF
Dra. Eliara Zavieruka Levinski diretora da Faed UPF
Dra. Elisa Mainardi professora Faed UPF
MS. Evandro Consalter doutorando PPGEddu UPF
Dra. Luciane Spanhol Bordignon- Coordenadora do CRE UPF
Dra. Rosimar Serena Siqueira Esquinsani professora PPGEddu UPF
Dr. Telmo Marcon Professor PPGEddu UPF
COMIT CIENTFICO
Dra. Adriana Loss UFFS/Erechim
Dr. Almir Paulo dos Santos UFFS/Erechim
Dra. Calinca Jordana Pergher IFFarroupilha
Dra. Clarice Monteiro Scott IFRS
Dra. Gionara Tauchem FURG
Dra. Graziela Zambo Abdian Unesp/Marlia-SP
Dr. Ivo Dickmann Unochapec/Chapec
Dr. Jeferson Saccol Ferreira Faculdade Santa Rita/Chapec
Dra. Maria Cristina Frana IFRS
Dra. Maria Lcia Marocco Maraschin UFFS/Chapec
Dra. Olinda Evangelista Unoesc/ Joaaba
Dra. Rosa Millitz Martins Udesc/Florianpolis
Dra. Simone de Ftima Flach UEPG/PR
Dra. Terciane ngela Luchese UCS
Dr. Valdecir Soligo Unioeste/Cascavel
OBJETIVOS:
a) Geral
Analisar criticamente os desafios enfrentados pelas polticas educacionais, de modo
especial a tenso entre o pblico e o privado, luz das pesquisas produzidas no campo
da educao e em reas afins, dialogando com experincias educativas em construo.
b) Especficos
Aprofundar os embates entre o pblico e o privado no mbito da educao e suas
implicaes e interferncias nas polticas educacionais;
Problematizar os pressupostos de uma educao republicana, confrontando-os com as
tendncias de mercantilizao da educao crescentes no contexto atual;
Socializar pesquisas e reflexes que vem sendo desenvolvidas por educadores em
distintos espaos sobre as tendncias nas polticas educacionais nos distintos espaos
locais, nacional e global;
Criar espaos para que experincias criativas que vem sendo desenvolvidas em distintos
espaos educativos, particularmente nas redes pblicas, permitem ressignificar prticas
e as funes prprias da educao, visualizando perspectivas e possibilidades
emancipatrias.
SUMRIO
APRESENTAO ................................................................................................................... 15
A ATUAO DO BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO NA REDE
MUNICIPAL DE ENSINO DE EDUCAO INFANTIL DE FLORIANPOLIS E SUAS
IMPLICAES NA QUALIDADE DA EDUCAO INFANTIL ....................................... 18
ngela Maria Scalabrin Coutinho
Marlise Oestreich
A ATUAO DO TERCEIRO SETOR NA GESTO DA EDUCAO EM PONTA
GROSSA - PR .......................................................................................................................... 23
Simone de Ftima Flach Aldimara Catarina Brito Delabona Boutin
A ATUAO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARAN NO
MONITORAMENTO DA META 1 DO PLANO NACIONAL DE EDUCAO ............ 29
Ktia Cristina Sommer Schmidt Lusiane Ferreira Gonalves
A EDUCAO SUPERIOR NA ENCRUZILHADA: ATENDER AOS INTERESSES DO
MERCADO OU FORMAR PARA A CIDADANIA DEMOCRTICA? .............................. 34
Diego Bechi Maria Dinora Baccin Castelli
A EDUCAO SUPERIOR NO PLANO NACIONAL DE EDUCAO (2001-2010 E
2014-2024): DESDOBRAMENTOS E PERSPECTIVAS ...................................................... 40
Talita Zanferari Thales Fellipe Guill
A ESCOLA SOB PRESSO DE MANDAMENTOS NEOLIBERAIS ................................. 45
Marcos Antonio Martinelli Madaloz Janimara Rocha
A EXTENSO COMO MOBILIZADORA DO ENCONTRO DA UNIVERSIDADE
COM A EDUCAO BSICA: UMA EXPERINCIA EM DESENVOLVIMENTO ........ 51
Viviane Ftima Lima do Prado Everaldo Silveira da Silva
A FLEXIBILIZAO DO TEMPO E ESPAO NAS SOCIEDADES COMPLEXAS E
SUAS IMPLICAES PARA O ENSINO SUPERIOR ......................................................... 56
Rogrio Augusto Bilibio Marcio G. Trevisol
A FORMAO NA EDUCAO SUPERIOR E O ACESSO AO TRABALHO ................ 61
Maria Lourdes Gisi Andrey Alves Kochake
A FRAGILIDADE DAS HUMANIDADES NO ENSINO SUPERIOR SOB A
INFLUNCIA DO NEOLIBERALISMO NO CONTEXTO DAS UNIVERSIDADES
COMUNITRIAS ................................................................................................................... 66
Rosana Cristina Kohls Rosenei Cella Flvia Peruzzo
A IDEOLOGIA DA ESCOLA SEM PARTIDO E SUAS CONSEQUNCIAS NA
ATUAO DOCENTE ........................................................................................................... 71
Eduardo Albuquerque Telmo Marcon
A IMPLANTAO DO PROGRAMA NOVO ENSINO MDIO NA REDE PBLICA
ESTADUAL DE ENSINO DE MINAS GERAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS ............. 76
Suzana dos Santos Gomes Heyde Ferreira Gomes
A INSTITUIO PBLICA NO-ESTATAL E O BEM PBLICO: COMPROMISSO
SOCIAL E DEMOCRTICO .................................................................................................. 81
Raquel Paula Fortunato
A INTENSIFICAO DO TRABALHO DA GESTO ESCOLAR COMO ENTRAVE
PARA A FORMAO CONTINUADA DOCENTE ............................................................. 86
Maiara Fernanda Fusinato Alexandre Jos Hahn
A LUTA DE CLASSES NAS POLTICAS PBLICAS DA EDUCAO DO CAMPO:
ESTADO E PODER ................................................................................................................. 91
Algacir Jos Rigon
A META DA GESTO DEMOCRTICA: COMPARANDO O PLANO MUNICIPAL
DE EDUCAO DA CIDADE DE CURITIBA COM O PLANO NACIONAL DE
EDUCAO ............................................................................................................................ 96
ngelo Ricardo de Souza Karina Falavinha Mariana Peleje Viana
A PERCEPO DO PROCESSO DE MONITORAMENTO E AVALIAO DOS
PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAO DO ESTADO DA BAHIA: UM OLHAR
DOS AVALIADORES EDUCACIONAIS ............................................................................ 101
Luzinete Barbosa Lyrio Graciene Guimares Rocha Moacir Borges Freitas
A PESQUISA NOS CURSOS DE DOUTORADO BRASILEIROS SOBRE FORMAO
E VALORIZAO DOCENTE NAS LINHAS DE POLTICA EDUCACIONAL NO
TRINIO 2010-2012 .............................................................................................................. 105
Altair Alberto Fvero Carina Tonieto
A REFORMA DO ENSINO MDIO (LEI N 13.415/2017) E A PROVVEL
ACENTUAO DA CRISE DA EDUCAO BRASILEIRA ........................................... 111
Daiane Rodrigues Costa Jnior Bufon Centenaro
A RELEVNCIA DA GESTO DEMOCRTICA ESCOLAR .......................................... 117
Francisca Eleodora Santos Severino Kacianna P. J. Barbosa e Amorim
A RESPONSABILIZAO DOS GESTORES EM EDUCAO PELA QUALIDADE
EDUCACIONAL ................................................................................................................... 122
Carmem Lcia Albrecht da Silveira Robledo Leonildo Zuffo
ACESSO, PERMANNCIA E VULNERABILIDADE ESCOLAR: ANLISE DOS
ESTUDANTES VINCULADOS AO PROGRAMA BOLSA FAMLIA ............................. 127
Ana Lorena Bruel Gabriela Schneider
ANLISE DOS INDICADORES ENCONTRADOS REFERENTES AS
PUBLICAES CIENTFICAS DO GRUPO DE TRABALHO 11 DA ANPED ............... 133
Thales Fellipe Guill Talita Zanferari
AS CONFERNCIAS MUNICIPAIS DE EDUCAO DA REDE MUNICIPAL DE
ENSINO DE CONCRDIA NA GESTO DEMOCRTICA DO ENSINO PBLICO .... 138
Liane Vizzotto Slvia Fernanda Souza Dalla Costa Solange Aparecida Zotti
AS DESIGUALDADES PERANTE O DIREITO CRECHE E A VISIBILIDADE DE
BEBS E CRIANAS BEM PEQUENAS ENQUANTO ATORES SOCIAIS ................... 144
Patricia Sesiuk Angela Scalabrin Coutinho
AS POLTICAS DE FORMAO E VALORIZAO DOS PROFISSIONAIS DA
EDUCAO SOB A PERSPECTIVA DA POLICY CYCLE APPROACH ......................... 149
Bruna de Souza Souza Laudirege Fernandes Lima
ASPECTOS TERICO-EPISTEMOLGICOS DA PESQUISA EM POLTICA
EDUCACIONAL NO BRASIL: LEVANTAMENTO DE PUBLICAES ....................... 154
Jefferson Mainardes Silvana Stremel
AVALIAO DA EDUCAO SUPERIOR E CURSOS DE FORMAO DE
PROFESSORES: DILOGO ENTRE POLITICAS COMPLEMENTARES ....................... 160
Msa. Mnica Souza Trevisan Msa. Liliane Silveira Bonorino Ms. Antnio Carlos Minussi Rigues
AVALIAO NA EDUCAO BSICA E NO ENSINO SUPERIOR: UM DEBATE
PARA ALM DO MERCADO CAPITALISTA ................................................................... 167
Michele L. Blind de Morais Silmara Terezinha Freitas
AVALIAO NACIONAL DA ALFABETIZAO E A RESIGNIFICAO DE
QUALIDADE DA EDUCAO BSICA: DESAFIOS PARA OS MUNICIPIOS DO RIO
GRANDE DO SUL ................................................................................................................ 172
Viviane Martins Vital Ferraz
BREVE ESTUDO ACERCA DE PESQUISAS ACADMICAS SOBRE A
FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES INICIANTES NA CARREIRA
DE MAGISTRIO SUPERIOR ............................................................................................. 177
Lidiane Limana Puiati Pagliarin
CARREIRA E REMUNERAO DOCENTES NA REDE ESTADUAL DO RIO
GRANDE DO SUL E NA REDE MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE .............................. 183
Laura Dexheimer Trein Nal Farenzena
CENRIO DAS PESQUISAS SOBRE ENADE E SINAES JUNTO AO BANCO DE
TESES E DISSERTAES DA CAPES NO PERODO DE 2010 A 2016 ......................... 189
Andra Vergara Borges
CONSTRUO DO ESTADO DA ARTE: EM PAUTA A EVASO E A BAIXA
PROCURA DOS CURSOS DE LICENCIATURA NOS INSTITUTOS FEDERAIS .......... 198
Greice Lopes Maia Marilene Gabriel Dalla Corte
CONSTRUO, IMPLEMENTAO E AVALIAO DO PME DE MANOEL
VIANA - RS: UM TRABALHO EM PARCERIA ................................................................ 204
Calinca Jordnia Pergher Joze Medianeira dos S. Andradade Toniolo Monique da Silva
CONVENIAMENTO DE INSTITUIES SEM FINS LUCRATIVOS EM PORTO
ALEGRE E SEUS IMPACTOS PARA A FORMAO DOCENTE NA
EDUCAO INFANTIL ...................................................................................................... 209
Simone Souza Prunier Simone Valdete dos Santos
DESAFIOS DA GESTO ESCOLAR: PODER LOCAL E REGULAO NACIONAL
NA FORMAO DOS PROFESSORES .............................................................................. 214
Janaina Melques Fernandes Francisca Eleodora S. Severino Francisca Eleodora S. Severino
DILEMAS DA INCLUSO SOCIAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA:
CONTRADIES E IMPACTOS NAS POLTICAS EDUCACIONAIS ........................... 219
Ivana Aparecida Weissbach Moreira
DIMENSES RACIONAIS, POLTICAS E SIMBLICAS QUE AFETAM A GESTO
EDUCACIONAL SUPERIOR PBLICA E PRIVADA ....................................................... 225
Haroldo Andriguetto Junior Maria Lourdes Gisi
DISTONIAS ENTRE A PROPOSIO E A CONSTITUIO DO CURRCULO
ESCOLAR EM DIREITOS HUMANOS............................................................................... 230
Elisa Mainardi Eldon Henrique Mhl
EDUCAO E O SEU PROFISSIONAL: COMPETNCIAS E HABILIDADES
NECESSRIAS ..................................................................................................................... 235
Ivanete Maria Weber
EDUCAO INCLUSIVA NAS INSTITUIES DE ENSINO SUPERIOR:
UM DIREITO EM VIGOR? ............................................................................................... 239
Fernanda Soares Ferreira Viviane Ftima Lima do Prado
EDUCAO LIBERTADORA: UM RELATO DE EXPERINCIA DOCENTE NO
ENSINO SUPERIOR NA AMAZNIA SOBRE AS POLTICAS EDUCACIONAIS,
AS PRTICAS PEDAGGICAS E A DIVERSIDADE ...................................................... 244
Viviane Martins Vital Rosane Carneiro Sarturi
EDUCAO PARA SUSTENTABILIDADE ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS:
EXPERINCIA ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE ..................................................... 249
Sandra Lilian Silveira Grohe
ELEIO DE DIRETORES E VICE-DIRETORES NO MUNICPIO DE SO
SEBASTIO DO PASS- BAHIA: REFLEXES SOBRE O CAMINHO
PERCORRIDO ....................................................................................................................... 254
Anita dos Reis de Almeida Leandro Gileno Milito Nascimento Nadja Maria Amado de Jesus
ELEIO PARA DIREO ESCOLAR EM CURITIBA A PARTIR DE MAX
WEBER .................................................................................................................................. 259
Renata Riva Finatti
ENSINO MDIO EM DISPUTA: UMA REFORMA QUE SE DISTANCIA DO
DEBATE ACADMICO ....................................................................................................... 264
Maria Beatriz Luce Mateus Saraiva Angela Chagas
ESCOLA PBLICA E O SUCESSO/INSUCESSO DE ESTUDANTES, NA
PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL .................................................................................................................. 269
Ivanete Maria Weber Tania Mara Zancanaro Pieczkowski
ESPAOS E MECANISMOS DE PARTICIPAO EM SISTEMAS MUNICIPAIS DE
ENSINO DA MESORREGIO CATARINENSE VALE DO ITAJA ................................ 273
Aline Bettiolo dos Santos Elton Luiz Nardi
ESTUDO SOBRE RELAES ENTRE GESTO ESCOLAR E AVALIAO EM
LARGA ESCALA .................................................................................................................. 278
Simone Salete Sawicki Lidiane Limana Puiati Pagliarin
ESTUDOS SOBRE A IMPLEMENTAO DE POLTICAS ............................................. 283
Sandra Simone Hpner Pierozan Marcia Farinella Soares de Campos Flavia Obino Correa Werle
EVASO DISCENTE EM CURSOS DE GRADUAO DO CAMPUS ITAQUI DA
UNIPAMPA: UM ESTUDO DE CASO ................................................................................ 288
Felipe Batista Ethur Rosane Carneiro Sarturi
EXPERINCIAS E DESAFIOS DA PROPOSTA DO MAIS EDUCAO NA
PERSPECTIVA DA EDUCAO INTEGRAL EM JORNADA AMPLIADA NAS
ESCOLAS MUNICIPAIS DE ERECHIM/RS ....................................................................... 293
Greicimra Samuel Nascimento Zick
FORMAO DOCENTE NA EDUCAO INFANTIL DE CURITIBA: MUDANA
DE RUMO .............................................................................................................................. 298
Daniela Sanches Salsamendi
FORMAO PARA A CIDADANIA NUM CONTEXTO MARCADO PELA
RACIONALIDADE CONCORRENCIAL: CONTRIBUIES PARA PENSAR AS
POLTICAS EDUCACIONAIS NUMA PERSPECTIVA DEMOCRTICA ...................... 303
Neri Jos Mezadri
GESTO DEMOCRTICA E FORMAS DE PROVIMENTO DA GESTO ESCOLAR
NO MUNICPIO DE PINHAIS-PR ....................................................................................... 309
Tatiana Figueroa Martin Gaya
GESTO ESCOLAR DEMOCRTICA E ELEIO DE DIRETORES: AS VOZES
QUE OPERAM NA GESTO DA ESCOLA ....................................................................... 315
Waldirene sawozuk Bellardo Juliana Kussem
GESTO MUNICIPAL DA EDUCAO EM BIDOS/PAR: REFLEXOS E
DESDOBRAMENTOS DA CRISE POLTICA NACIONAL .............................................. 321
Lucas de Vasconcelos Soares Maria Antonia Vidal Ferreira
GESTO UNIVERSITRIA: A FORMAO CONTINUADA COMO
ALTERNATIVA PARA A CONSTRUO DO DOCENTE GESTOR. ............................ 326
Natlia de Almeida Ghidini Ctia Ruas Teixeira Sauer Helena Rita Schimitz
INFNCIAS, POLTICAS E DIREITOS: DISPUTAS AFIRMATIVAS ENTRE
GARANTIAS E CUMPRIMENTO ....................................................................................... 330
Daniele Vanessa Klosinski
INFRAESTRUTURA DAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL EM
CURITIBA: (DES)IGUALDADE DE OFERTA? ................................................................. 335
Gabriela Scneider Desiree Mathias
MISSO E DESTINO DAS UNIVERSIDADES: A INTERNACIONALIZAO DO
ENSINO SUPERIOR NA SOCIEDADE DA INFORMAO ............................................ 341
Marcio G. Trevisol Maria de Lourdes Pinto de Almeida
MOVIMENTOS CONSERVADORES NO CENRIO EDUCACIONAL BRASILEIRO:
REPERCUSES NA EDUCAO BSICA ....................................................................... 346
Iana Gomes de Lima
NOVO MAIS EDUCAO: UM ESPECTRO DE DISPUTAS POLTICAS ..................... 351
Rosa Maria Bortolotti de Camargo Mnica souza Trevisan Rosane Carneiro Sarturi
NUCLEAO DE ESCOLAS RURAIS: REPERCUSSES EM COMUNIDADES DO
OESTE CATARINENSE ....................................................................................................... 357
Ktia Lucena Alves de Oliveira
O CONFLITO DA UNIVERSIDADE PERANTE A NECESSIDADE DE ADEQUADO
TRABALHO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSO ...................................................... 361
Renan Anderson de Oliveira
O CONSELHO ESTADUAL DE SANTA CATARINA E AS RECOMENDAES
DA OCDE .............................................................................................................................. 366
Fernanda Denise Siems
O DILOGO NO PROCESSO DE FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES . 371
Eliara Zavieruka Levinski Ana Carolina Cabral Leite Caroline Simon
O LUGAR DA EQUIDADE E DA DESIGUALDADE EDUCACIONAL NOS
DOCUMENTOS DO IDEB ................................................................................................... 376
Janane Souza Gazzola Edite Maria Sudbrack
ORDENAMENTO JURDICO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL: IMPASSES
PARA A DEMOCRATIZAO DA EDUCAO PBLICA ........................................... 382
Daniela de Oliveira Pires
PAPEL POTENCIALIZADOR DOS JOGOS NA FORMAO HUMANSTICA A
PARTIR DA PERSPECTIVA DE MARTHA NUSSBAUM E GEORGE H. MEAD ......... 387
Aline Franciele Morigi
O PRINCIPIO DA PARTICIPAO DA GESTO DEMOCRTICA NOS SISTEMAS
MUNICIPAIS DE SANTA CATARINA: QUAL PARTICIPAO? ................................. 392
Durlei Maria Bernardon Rebelatto
O SENTIDO DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA GESTO DEMOCRTICA DO
SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO DE SOLEDADE/RS ............................................... 398
dria Brum de Azambuja Eliara Zavieruka Levinski
O SUJEITO EMPRESARIAL E O NEOLIBERALISMO PEDAGGICO: AMEAAS
DEMOCRACIA EDUCACIONAL ................................................................................... 403
Evandro Consaltr
PARCERIAS PBLICAS PRIVADAS NA EDUCAO ESCOLAR: O CASO DO
PROGRAMA AABB COMUNIDADE DA FENABB NO ESTADO DO RS ..................... 408
Douglas Gadelha S Aline Medeiros Susana Schneid Scherer
PARTICIPAO E CONTROLE SOCIAL NO FINANCIAMENTO DA EDUCAO ... 414
Tagiane Graciel Fiorentin Tres Rafael Pavan
PERCURSOS DA EXPANSO DA EDUCAO SUPERIOR NO BRASIL .................... 419
Viviane Kanitz Gentil
PERMANNCIAS E RUPTURAS DO TRABALHO INFANTIL NO CULTIVO DO
TABACO: DESAFIOS PARA OS GESTORES DA EDUCAO ..................................... 423
Tnia Parolin da Cruz Simone de Ftima Flach
PERSPECTIVAS PARA O FINANCIAMENTO NOS PLANOS MUNICIPAIS DE
EDUCAO .......................................................................................................................... 429
Viviane Kanitz Gentil
PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAO: CONTRADIES EM FORMA DE LEI NO
PROVIMENTO DE DIRETORES DE ESCOLAS PBLICAS ........................................... 435
Munir Lauer Rosimar Siqueira Esquinsani Carmem Albrecht da Silveira
PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAO E A ARTICULAO AO PNE: O CASO
CATARINENSE .................................................................................................................... 440
Marcia Farinella Soares de Campos Liane Vizzotto Sandra Simone Hopner Pierozan
POLTICA DE ENFRENTAMENTO AO INSUCESSO ESCOLAR: DIAGNOSE DA
EVASO E RETENO PARA A CONSTRUO DO PLANO INSTITUCIONAL
ESTRATGICO DE PERMANNCIA E XITO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO
FEDERAL DO PAR ............................................................................................................ 446
Samai Serique dos Santos Silveira Silvana Neumann Martins Adriana Oliveira dos Santos Siqueira
POLTICA EDUCACIONAL COMO CAMPO ACADMICO NO BRASIL:
EMERGNCIA E EXPANSO A PARTIR DAS PUBLICAES .................................... 451
Silvana Stremel Jefferson Mainardes
POLTICAS DE AVALIAO EDUCACIONAL E A CULTURA DA
PERFORMATIVIDADE NA PRTICA DOCENTE ........................................................... 457
Silmara Terezinha Freitas
POLTICAS DE FORMAO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR ............................... 462
Simone de Lima Leandro Jos Piovesan Silvia Regina Canan
POLTICAS DE FORMAO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAO BSICA:
INOVAES OU PREOCUPAES? ................................................................................ 467
Luciane Spanhol Bordignon Egeslaine de Nez
POLTICAS EDUCACIONAIS E DESIGUALDADES SOCIOECONMICAS NO
BRASIL .................................................................................................................................. 473
Telmo Marcon
POLTICAS EDUCACIONAIS PARA A FORMAO DE PROFESSORES
NO BRASIL ........................................................................................................................... 478
Flaiane Rodrigues Costa Munir Jos Lauer
POLTICAS PRIVATIVISTAS NA EDUCAO BSICA GACHA ............................. 483
Renata Ceclia Estormovski
POLTICAS PBLICAS DE AVALIAO: A REDAO DO ENEM E A
PRODUO TEXTUAL NA ESCOLA PBLICA ............................................................. 489
Glcia Juliana Leandro Lemos Suzana dos Santos Gomes
POLTICAS PBLICAS DE INCLUSO: UMA ABORDAGEM ACERCA DOS
PROCESSOS INCLUSIVOS NAS ESCOLAS REGULARES ............................................. 494
Dbora dos Santos Bert Julio Cesar Godoy Bertolin
POLTICAS PBLICAS PARA A EDUCAO INFANTIL NO BRASIL, ARGENTINA E
URUGUAI: UM ESTUDO COMPARATIVO ...................................................................... 500
Adrea Cristiane Maraschin Bruscato
PRECARIZAO DAS CONDIES DE TRABALHO DOCENTE: O CASO DOS
PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DO PARAN..................................................... 506
Denize Cristina Kaminski Ferreira
PROFESSOR E PROFESSOR DE EDUCAO INFANTIL EM CURITIBA: DUAS
CARREIRAS A MESMA PROFISSO. ............................................................................... 512
Claudia Alessandra Gregrio
PROFISSIONALIZAO DOCENTE: ENTRE CONQUISTAS E DESAFIOS ................ 517
Camila de Ftima Soares dos Santos Edite Mara Sudbrack
PROGRAMAS DE FORMAO DE TRABALHADORES DO CAMPO:
REFLEXES SOBRE O PRONERA E O PROCAMPO ...................................................... 522
Naira Estela Roesler Mohr
PROJETO CONECTADOS NAS ESCOLAS PBLICAS PARANAENSES:
ANLISE DA POLITICA EDUCACIONAL EM AO .................................................... 528
Mary ngela Teixeira Brandalise
PROVIMENTO DO DIRETOR DE ESCOLA POR INDICAO: O PESO DA
GESTO MUNICIPAL NA GESTO DOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAO
INFANTIL DE CURITIBA ................................................................................................... 533
Danieli DAguiar Cruzetta
QUESTIONRIO COMO FERRAMENTA DE PESQUISA COMPARTILHADA: UMA
EXPERINCIA DE COLETA DE DADOS CONJUNTA SOBRE GESTO NA
EDUCAO INFANTIL ...................................................................................................... 538
Jolma de Souza Arbigaus Danieli DAguiar Cruzetta
REFLEXES INICIAIS SOBRE A POLTICA DE ASSISTNCIA ESTUDANTIL
NOS INSTITUTOS FEDERAIS ............................................................................................ 543
Andriara Ponte Casarotto Soares Fernanda Martini de Andrade Calinca Jordnia Pergher
REFLEXES SOBRE AS TEMTICAS DOS TRABALHOS DE CONCLUSO DO
CURSO DE ESPECIALIZAO EM COORDENAO PEDAGGICA ........................ 548
Maria Goreti Farias Machado
RELATO DA CONSTRUO E IMPLEMENTAO DE UMA POLTICA PBLICA
DE EDUCAO ESCOLAR PARA IDOSOS NO MUNICPIO DE CONCRDIA SC NO
CONTEXTO DA HISTRIA DE EJA NO BRASIL ............................................................ 554
Flvia Peruzzo Ricardo Cocco Rosana Cristina Kohls
REPERCUSSES DA ACCOUNTABILITY NA PRODUO ACADMICO -
CIENTIFICA BRASILEIRA ................................................................................................ 559
Marilda Pasqual Schneider Michele Luciane Blind de Morais
SABERES NECESSRIOS GESTO DA SALA DE AULA ......................................... 564
Alexandre Jos Hahn Maiara Fernanda Fusinatto
SOBRE OS GRUPOS DE PESQUISA EM EDUCAO SUPERIOR DAS
UNIVERSIDADES PBLICAS DA REGIO CENTRO-OESTE DO BRASIL ................ 569
Fernando Rodrigo Dall Igna
UMA RELEITURA DO DIREITO EDUCAO BSICA A PARTIR DAS
IMPLICAES DAS POLTICAS DO GOVERNO SARTORI (2015-2018) ..................... 574
Marlize Dressler Liliana Soares Ferreira
UNIVERSIDADE COMUNITRIA E A TENSO PBLICO-PRIVADO:
COLEGIALIDADE E PARTICIPAO ESTUDANTIL NAS INSTNCIAS
DE GESTO .......................................................................................................................... 580
Brenda Natallie Girardi de Almeida Cristina Fioreze
UNIVERSIDADES COMUNITRIAS, POLTICAS DE GESTO AMBIENTAL E
AMBIENTALIZAO: EDUCAO PARA ALM DA SALA DE AULA..................... 586
Gabriela Andrighe Colombo Silvia Regina Canan
15
APRESENTAO
Anualmente, a Anpae promove eventos, intercalando um em nvel nacional com outros
regionais. Em 2018, ocorrero eventos regionais. No sistema de rodzio entre os trs estados do
sul, coube ao Rio Grande do Sul sediar o V Seminrio, que ocorrer de 11 a 13 de abril de 2018
na Universidade de Passo Fundo, tendo como tema Polticas educacionais como campo de
disputas: tenses entre o pblico e o privado.
Por que da escolha dessa temtica? O campo das polticas educacionais vem se tornando
cada vez mais disputado por diferentes agentes com projetos e interesses distintos. A construo
de diretos entre os quais o da educao, resultante de duros embates nas ltimas quatro
dcadas e consagrados em diferentes legislaes como a Constituio de 1988, a LDB de 1996
e as regulamentaes educacionais posteriores atravs de pareceres e diretrizes est sendo
ameaada por um conjunto de decises polticas, econmicas e legais. Fazem parte desse
contexto a reforma do ensino mdio, a proposta de Escola sem partido, o congelamento de
investimentos por vinte anos, as sistemticas investidas contra o Plano Nacional de Educao
(2014-2024), a excluso de representaes do campo da educao no Frum Nacional de
educao, entre as quais a Anped e o Sintee. Esses so alguns dos sintomas em curso que
apontam para a desestruturao das polticas educacionais pblicas construdas nas ltimas
quatro dcadas e a implantao de novas propostas, fortemente influenciadas por interesses
empresariais. A educao brasileira vive uma forte tenso entre duas perspectivas distintas: uma
republicana e outra privatista-mercadolgica. Esses embates, no entanto, no so novos. Desde
a dcada de 1920, intensificam-se as crticas educao privada pelos pioneiros da escola nova
que, no Manifesto de 1932, clamam pelos princpios de uma educao pblica, gratuita e laica.
Ao contrrio desses princpios, crescem, no contexto atual, tendncias de mercantilizao,
ocorrendo o fortalecimento de grupos empresariais que defendem um Estado mnimo quando
se trata de polticas pblicas, como a educao, o crescimento de instituies educativas com
interesses exclusivamente mercantis e Institutos sem fins lucrativos que atuam em assessorias
a redes pblicas de educao, assumindo protagonismos no mbito de polticas educacionais,
mesmo no tendo trajetrias e experincias histricas na educao formal. Com base num
discurso gerencialista, defendem projetos e propostas educacionais sem os pressupostos
polticos e pedaggicos que so imprescindveis para uma educao emancipadora, humana e
cidad.
Nesse contexto, propostas pautadas em lgicas mercantis ganham a simpatia de gestores
pblicos e conquistam espaos cada vez mais significativos. Em contrapartida, instituies
16
educacionais com trajetrias consolidadas e organizaes que tradicionalmente ocuparam-se da
educao, entre as quais a Anpae, so marginalizadas de debates fundamentais e suas
contribuies, quando no desconsideradas, so secundarizadas. Tudo isso produz uma
sensao de impotncia entre educadores para fazer frente aos complexos processos
socioculturais, polticos e educacionais presentes na sociedade e vivenciados cotidianamente
nas escolas.
Diante disso, temos de nos perguntar a respeito dos impactos dessas mudanas na
educao bsica. A definio legal de educao bsica ainda se sustenta no contexto da reforma
do ensino mdio? Como fica a educao bsica a partir da Base Nacional Curricular Comum
que tratou em separado a educao infantil e Fundamental do ensino mdio? Como avanar
numa articulao orgnica entre a educao bsica, a educao superior e os programas de ps-
graduao lato e stricto sensu? Como o discurso gerencialista da educao est avanando sobre
a educao bsica? At que ponto professores e gestores conseguem diagnosticar o que est em
curso para se posicionarem propositivamente por meio de prticas que resistam
desqualificao da educao? Como enfrentar o pessimismo, o desnimo e as ameaas que
envolvem gestores, professores e alunos?
A Anpae, entre outras organizaes educacionais, tem de continuar contribuindo com
reflexes crticas sobre os mltiplos desafios que se fazem presente nas prticas educativas e,
ao mesmo tempo, precisa dar visibilidade s experincias que esto sendo produzidas em
instituies educativas e em redes de educao com muitas dificuldades, mas que acenam para
mudanas criativas. O V seminrio constitui-se num espao de socializao dessas experincias
que precisam ser refletidas e confrontadas com as pesquisas que vem sendo produzidas,
especialmente no mbito dos programas de ps-graduao stricto sensu em Educao.
Nesse contexto, o V Seminrio tem como objetivo geral discutir criticamente os desafios
enfrentados pelas polticas educacionais, de modo especial a tenso entre o pblico e o privado,
luz das pesquisas produzidas no campo da educao e em reas afins, dialogando com
experincias educativas em construo. Como objetivos especficos, prope-se a aprofundar os
embates entre o pblico e o privado no mbito da educao e suas implicaes e interferncias
nas polticas educacionais; problematizar os pressupostos de uma educao republicana,
confrontando-os com as tendncias de mercantilizao crescente na educao atual; socializar
pesquisas e reflexes que vm sendo desenvolvidas por educadores em distintos espaos sobre
as tendncias nas polticas educacionais em distintos espaos locais, nacionais e globais; e criar
espaos para que experincias criativas que vm sendo desenvolvidas em distintos espaos
17
educativos, particularmente em redes pblicas, permitam ressignificar prticas e as funes
prprias da educao, visualizando perspectivas e possibilidades emancipatrias.
No ano em que a Universidade de Passo Fundo, instituio comunitria e regional, est
completando cinco dcadas de existncia; a Faculdade de Educao, 61 anos; e o Programa de
Ps-Graduao em Educao, 21 anos de atividades, sentimo-nos profundamente agraciados
em acolher o V Seminrio Regional sul da Anpae. Desejamos a todos que o evento constitua-
se num espao privilegiado de socializao de pesquisas e experincias educativas e possa
trazer alento e energias para continuarmos lutando por uma educao capaz de formar seres
pensantes e democrticos.
18
A ATUAO DO BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO NA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE EDUCAO INFANTIL DE FLORIANPOLIS
E SUAS IMPLICAES NA QUALIDADE DA EDUCAO INFANTIL
ngela Maria Scalabrin Coutinho Universidade Federal do Paran
Marlise Oestreich Universidade Federal de Santa Catarina
Resumo: Em linhas gerais, apresentamos a atuao do Banco Interamericano de
Desenvolvimento na rede municipal de ensino de Educao Infantil de Florianpolis e suas
implicaes, por meio do Programa de expansin y mejoramiento de la educacin infantil y la
enseanza fundamental en el Municipio de Florianpolis, em especial na qualidade da
Educao Infantil. Os componentes do Programa, num total de quatro, organizam-se em torno
da expanso, da infraestrutura, da formao, da gesto e do monitoramento da qualidade da
educao. Destacaremos a expanso do setor privado na educao pblica, sendo mais uma
ao visando hegemonia e alinhada com uma agenda global, vindo assentada na lgica
gerencialista e implicando as polticas educacionais.
Palavras-chave: Banco Interamericano de Desenvolvimento. Educao Infantil. Qualidade na
Educao Infantil.
INTRODUO
Em 2009, na pesquisa sobre qualidade na Educao Infantil (EI),1 Florianpolis obteve
os melhores resultados, ocasionando que em 2012 o municpio firma um emprstimo junto ao
BID no valor de 58 milhes de dlares, por meio do Programa de expansin y mejoramiento
de la educacin infantil y la enseanza fundamental en el Municipio de Florianpolis, cujo
1 No Brasil foram realizadas duas pesquisas com abrangncia nacional sobre a qualidade na Educao Infantil,
uma em 2006 e outra em 2009.
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objetivo principal anunciado foi melhorar a qualidade da educao. Esse programa composto
de quatro componentes, tendo o primeiro relao com a cobertura e a melhoria da infraestrutura,
prevendo:
[...] (i) a construo de 23 unidades de educao infantil, a ampliao ou renovao
de 15, atingindo 100% de cobertura na pr-escola e pelo menos 60% das crianas de
0 a 3 anos, tudo em tempo integral, (ii) a construo de trs escolas de ensino
fundamental, a expanso ou renovao de 11 unidades, atingindo 32% de cobertura
em tempo integral, bem como a construo de dois centros de inovao da educao
bsica para atividades pedaggicas no contraturno, e (iii) a aquisio de bens e
materiais durveis para equipar as unidades educacionais. (BID, 2014, traduo
nossa).
Em relao ao segundo componente, esse se prope a
[...] apoiar (i) o processo de licitao para a seleo de novos professores, (ii) a
formao e qualificao de professores e cursos de formao de educao integral, de
contedo especfico e competncias pedaggicas necessrias para cada nvel, assim
como a implementao de um sistema de "treinamento" para professores, (iii) o
desenvolvimento de matrizes para o currculo do ensino bsico, a articulao e a
facilitao da transio de uma educao para o prximo nvel, (iv) o desenvolvimento
da matemtica, de ensino inovador, do portugus e da cincia, e da tecnologia da
informao na sala de aula para reforar o desempenho e a permanncia no sistema
escolar, e (v) a formao de materiais para todos os estabelecimentos na rede. (BID,
2014, traduo nossa).
O componente trs remete gesto, ao acompanhamento e avaliao:
[...] (i) a gesto da escola e da rede, tais como a seleo e a formao de gestores
escolares, redesenhando os processos e a implementao de um sistema de
gerenciamento de rede e escolas que atenda aos desafios da extenso da oferta de
tempo integral, (ii) a implementao de novos processos de seleo, colocao, apoio
e avaliao de professores, (iii) a melhoria da Prova Floripa em design,
processamento, utilizando os professores e os diretores e seus resultados, (iv) o
desenvolvimento e a implementao de um sistema de monitoramento da qualidade
da Educao Infantil, e (v) a realizao de pesquisas para identificar a demanda
reprimida, e o desenho e a implementao de avaliaes do processo e dos impactos
gerados pelo programa. (BID, 2014, traduo nossa).
E, por fim, o componente quatro trata da administrao do Programa: [...] (i) a criao
da unidade de gesto do projeto, (ii) a aquisio de bens para o seu funcionamento, e (iii) a
prestao de apoio gesto de servios e Auditoria externa (BID, 2014, traduo nossa).
Observamos que os componentes se propem a expandir o atendimento, a melhorar a
infraestrutura, a implementar possveis mudanas na seleo de novos professores, nas
atividades de formao e na qualificao, prevendo a implantao de um sistema de
treinamento. Verificamos um esforo concentrado no ensino da matemtica, do portugus e
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de cincias, bem como da tecnologia da informao, objetivando melhorar o desempenho dos
estudantes. H aspectos que dizem respeito gesto,2 fazendo meno seleo e formao
dos gestores das unidades educativas, a um sistema de gerenciamento da rede, com vistas
oferta da educao em tempo integral, ou seja, vislumbra aes legitimando um sistema de
gerenciamento. Atua na implantao de novos processos de seleo, colocao, apoio e
avaliao de professores, alm do desenvolvimento e da implementao de um sistema de
monitoramento da qualidade da Educao Infantil. E, por fim, consta o apoio para a gesto e a
auditoria externa visando garantia do Programa.
METODOLOGIA
Como aporte terico, utilizamos o conceito de Agenda Globalmente Estruturada para a
Educao (AGEE), por tratar-se de [...] um conjunto de dispositivos poltico-econmicos para
a organizao da economia global, conduzido pela necessidade de manter o sistema capitalista
mais do que qualquer outro conjunto de valores (DALE, 2004, p. 436). Agregamos ainda o
conceito de hegemonia de Gramsci (2002, p. 48), que
[...] pressupe indubitavelmente que sejam levados em conta os interesses e as
tendncias dos grupos sobre os quais a hegemonia ser exercida, que se forme um
certo equilbrio de compromisso, isto , que o grupo dirigente faa sacrifcios de
ordem econmico-corporativa; mas tambm indubitvel que tais sacrifcios e tal
compromisso no podem envolver o essencial, dado que, se a hegemonia tico-
poltica, no pode deixar de ser tambm econmica; no pode deixar de ter seu
fundamento na funo decisiva que o grupo dirigente exerce no ncleo decisivo da
atividade econmica".
Para a anlise dos documentos, mobilizamos as proposies de Fairclough (2001, p. 22)
utilizando a Anlise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO), pois [] diferentes
discursos constituem entidades-chave de diferentes modos e posicionam as pessoas de diversas
maneiras como sujeitos sociais.
2 Em Florianpolis a eleio de diretores acontece desde 1986 no ensino fundamental e 1994 na Educao
Infantil. Em termos de gesto, a rede municipal tambm implementou em 1987 a eleio de Conselhos
Deliberativos.
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CONCLUSO
Uma de nossas questes de pesquisa : qual a concepo e quais instrumentos esto
sendo adotados como referncia para o monitoramento da qualidade na rede municipal de
ensino de Educao Infantil de Florianpolis, j que em 2015 realizou-se, por intermdio da
Fundao Carlos Chagas, a avaliao em larga escala,3 sendo aplicada em todas as unidades
educativas de EI da rede. O fato de o BID investir na cidade de melhor resultado, visto que foi
[] escolhida para receber os recursos financeiros, em detrimento das outras capitais com
maiores carncias de recursos e infraestrutura para os padres do BID (EVANGELISTA;
PEREIRA, 2016, p. 215), nos parece objetivar a manuteno da hegemonia, em especial atravs
do consenso. Como, de fato, se justifica esse investimento em Florianpolis considerando que
nas aes prioritrias do BID consta reducir la pobreza y la desigualdad social? Uma de
nossas hipteses a de que esse programa, celebrado com o BID e a Secretaria Municipal de
Educao (SME), implementa aes que contribuiro, dentre outras questes, para uma
concepo da qualidade atrelada ampliao do setor privado junto ao pblico, o investimento
na lgica gerencialista, bem como o avano do empresariado na educao, interferindo nas
polticas educacionais. Destacamos ainda que Florianpolis tornou-se a porta de entrada para o
investimento advindo do BID na Educao Infantil do pas, j que na sequncia foram
celebrados outros emprstimos junto ao Banco, como, por exemplo, pelas redes municipais de
ensino de Manaus4 e de Porto Alegre.5
O conjunto de autores (DALE, 2004; GRAMSCI, 1978, 2002) nos permite compreender
que h uma ntima relao do Programa alinhavada a uma agenda global, implementada pelas
polticas, e sendo regulada, pois [] justamente a criao de um bloco ideolgico que
permite classe dirigente manter o monoplio intelectual, atravs da atrao das demais
camadas de intelectuais (PORTELLI, 1977, p. 69). Dessa forma, promove-se a conservao
da hegemonia, impulsionando [...] a realizao de um aparato hegemnico, enquanto cria um
novo terreno ideolgico, determina uma reforma das conscincias e dos mtodos de
conhecimento, um fato de conhecimento, um fato filosfico (GRAMSCI, 1978, p. 52).
Em linhas gerais, com base no discurso da melhoria da qualidade, compreendemos esse
emprstimo como uma estratgia para o avano da privatizao da educao, pois consta
3 Foram utilizadas as escalas ITERS-R e ECERS-R. 4 Valor do emprstimo: 52 milhes de dlares. 5 Valor do emprstimo: 80,8 milhes de dlares.
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tambm nas prioridades do BID promover el desarrollo a travs del sector privado,
sacramentando o avano do empresariado nas polticas educacionais, ou seja, fomentando a
mercantilizao da educao.
REFERNCIAS
BID. Expansion and Improvement Program of Early Childhood Education and
Elementary Education. Brazil, 2014.
______. Acerca del BID. Disponvel em: . Acesso em: 28 set. 2017.
DALE, R. Demonstrando a existncia de uma cultura educacional mundial comum ou
localizando uma agenda globalmente estruturada para educao. Educao e Sociedade,
Campinas, SP, v. 25, n. 87, p. 423-460, maio/ago. 2004.
EVANGELISTA, O.; PEREIRA, E. (Org.). Ns da rede: a educao bsica municipal na
voz de seus professores. Florianpolis: NUP-CED-UFSC, 2016.
FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudana social. Traduo de Izabel Magalhes. Braslia: UnB,
2001.
GRAMSCI, A. Concepo dialtica da histria. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978.
______. Cadernos do crcere. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002. v. 3.
PORTELLI, H. Gramsci e o bloco histrico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
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A ATUAO DO TERCEIRO SETOR NA GESTO DA EDUCAO
EM PONTA GROSSA - PR
Simone de Ftima Flach UEPG
Aldimara Catarina Brito Delabona Boutin UEPG
Resumo: Baseando-se em pesquisa bibliogrfica a respeito da atuao do terceiro setor nas
polticas educacionais e de dados disponveis on line sobre aes do Instituto Ayrton Senna e
da Fundao Lemann, o texto apresenta dados parciais de pesquisa em andamento sobre a
atuao do terceiro setor no municpio de Ponta Grossa PR, em diferentes perodos
governamentais. A partir da produo acadmica sobre o assunto, ao final conclui-se que as
aes implementadas em diferentes perodos evidenciam o alinhamento do poder pblico com
os interesses do terceiro setor.
Palavras-chave: Parcerias pblico-privadas. Terceiro setor. Poltica educacional municipal.
Gesto da Educao.
INTRODUO
A atuao do terceiro setor tem sido recorrente nas polticas educacionais brasileiras,
em especial nas realidades municipais. Analisar como o terceiro setor, em especial o Instituto
Ayrton Senna e Fundao Lemann, tem atuado na gesto de polticas municipais o objetivo
do presente texto.
A partir de pesquisa bibliogrfica so apresentados alguns fundamentos da Terceira Via
que justificam a atuao do Terceiro Setor na execuo de polticas pblicas, em especial
aquelas entendidas como polticas sociais, dentre as quais se situa a educao. Em seguida
apresentamos a realidade do municpio de Ponta Grossa quanto s parcerias pblico- privadas
para o campo educacional, com foco no Instituto Ayrton Senna e Fundao Lemann em
diferentes perodos governamentais.
mailto:[email protected]
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Ao final, conclui-se que as aes implementadas revelam a fragilidade do poder pblico
em definir polticas com base na efetivao da gesto democrtica e que possibilitem a melhoria
da educao oferecida populao. Em contrapartida, os dados tambm revelam como as duas
organizaes exercem a centralidade na definio de polticas educacionais.
A TERCEIRA VIA E O TERCEIRO SETOR NA EDUCAO PBLICA
Nas ltimas dcadas, a teoria e a prtica das polticas educacionais no Brasil tm sofrido
forte influncia do movimento global do capitalismo, o qual ultrapassa fronteiras territoriais
reestruturando o modo de produo, de forma a aprofundar a lgica de explorao da classe
trabalhadora.
Desde a dcada de 1970, os efeitos da crise mundial contriburam para o
desenvolvimento do pensamento neoliberal, o qual impactou no papel do Estado, pois este foi
entendido como o responsvel pela crise, sendo necessrio reduzir a sua atuao (dentre outras
estratgias), principalmente em relao s polticas sociais. Nesse sentido tornou-se central o
papel do mercado, pois a lgica mercantil deve prevalecer inclusive no Estado, para que ele
possa ser mais eficiente e produtivo (PERONI, 2008, p. 113). A estratgia central do
neoliberalismo para a superao da crise do Estado privatizao dos servios pblicos,
passando esses a serem executados pelo mercado.
Entretanto, outra concepo para a superao da crise dada pela chamada Terceira
Via, a qual se apresenta como alternativa para o neoliberalismo, incorporando tanto elementos
neoliberais quanto elementos da socialdemocracia. Giddens (2001, p. 40) defende que a
poltica da terceira via no uma continuao da filosofia do neoliberalismo, mas uma
filosofia poltica alternativa a ele.
Diferentemente do neoliberalismo que enfatiza o processo de privatizaes, a terceira
via no o nega, mas defende que a responsabilidade das polticas sociais seja repassada para a
sociedade civil representada pelo terceiro setor, o qual caracterizado pelas instituies no-
estatais que atuam na esfera pblica e que, em tese, no tm fins lucrativos6. Peroni (2008)
alerta que quando a Sociedade Civil passa a ser entendida como Terceiro Setor ocorre, dentre
outros fatores: a redefinio do papel do Estado em razo da no definio clara entre o pblico
6 Podemos citar como instituies do terceiro setor os Institutos e Fundaes, Entidades beneficentes,
filantrpicas ou de caridade; Organizaes No Governamentais ONGS, dentre outras.
25
e o privado, a reconfigurao e o esvaziamento da democracia, a qual se materializa em polticas
sociais em detrimento do processo participativo dos cidados. Nessa perspectiva, a educao
sofre os efeitos mais perversos, pois a conquista do princpio da gesto democrtica
subsumida pelas parcerias pblico-privadas, as quais impem a lgica do privado no setor
pblico.
Tais questes podem ser visualizadas na crescente atuao de Institutos e Fundaes na
execuo de polticas educacionais, seja por meio da difuso de materiais didticos e
pedaggicos, formao de professores e gestores educacionais ou sistemas de monitoramento
das redes escolares. A justificativa que tem sido utilizada tornar o sistema educacional mais
produtivo, por meio de eficincia e eficcia.
Assim, o discurso da conquista da qualidade da educao pblica seduz os gestores, que
acabam por impor um modus operandi que atropela profissionais e alunos e, ainda,
desconsidera as necessidades locais e as conquistas em prol da gesto democrtica com
participao de profissionais e comunidade na definio, acompanhamento e avaliao das
aes escolares.
A ATUAO DO IAS E DA FUNDAO LEMANN EM PONTA GROSSA
Ponta Grossa um dos municpios mais importantes do estado do Paran e atendeu em
2017 em torno de 31.000 alunos em 84 escolas e 59 Centros Municipais de Educao Infantil.
Segundo dados disponveis no website da Secretaria Municipal de Administrao e Recursos
Humanos, o municpio contou com aproximadamente 3500 professores (dentre efetivos e
contratados com prazo determinado). O IDEB de 5,8 para os anos iniciais em 2015 ficou abaixo
da meta municipal que era estimada em 6,0. Os dados atuais demonstram a amplitude do
atendimento da educao pblica e indica o quo significativo pode ser os resultados de
parcerias com o terceiro setor.
A atuao do Terceiro Setor no municpio de Ponta Grossa tem sido recorrente nos
ltimos anos, especialmente a partir de ano de 2001, quando o Instituto Ayrton Senna
conquistou espao da gesto educacional, atuando junto Rede Municipal por 12 anos e, mais
recentemente, em 2017 pela entrada da Fundao Lemann para a formao de profissionais da
educao. O Quadro 1 demonstra que o Terceiro Setor se faz presente no municpio em
diferentes perodos e sob o comando de diferentes correntes partidrias.
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Quadro 1 - atuao do terceiro setor em ponta grossa pr em diferentes perodos governamentais
Perodo Prefeito Partido Terceiro
Setor Programas/Foco de atuao
2001 - 2004 Pricles de
Holleben Mello PT IAS
Programa Escola Campe / Aprendizagem
/ Monitoramento
2005 - 2012 Pedro Wosgrau
Filho PSDB IAS
Programas: Circuito Campeo
e Gesto Nota 10 / Aprendizagem
/Formao de Gestores / Monitoramento
2017 - ... Marcelo Rangel
de Oliveira PPS
Fundao
Lemann
Programa Formar / Gesto da SME /
Formao Continuada de Profissionais
Nota: Organizado pela autora, conforme dados disponveis nos Websites da Prefeitura Municipal, IAS e Fundao
Lemann (2018)
No perodo 2001 2004, quando a administrao municipal esteve sob a
responsabilidade do Partido dos Trabalhadores, a parceria com o IAS teve como foco a busca
pelo sucesso da aprendizagem dos alunos e, alm dessa questo foi justificada pela equipe da
SME como alinhamento entre o pblico e o privado quanto efetivao da gesto democrtica.
A esse respeito Rocha (2003, p. 211) alertou que ou a SME est equivocada quanto ao real
significado da gesto democrtica ou no percebeu que a gesto democrtica oportunizada
pelo Escola Campe um embuste.
No perodo 2005 2012, sob a administrao vinculada ao PSDB, a Rede Municipal
viveu o aprofundamento do encaminhamento educacional do IAS. No entanto, o foco mais
significativo ocorreu com a participao no Programa Gesto Nota 10, o qual influenciou a
reorganizao da gesto escolar, aprofundou o controle do trabalho e das atividades
pedaggicas desenvolvidas. Sob a influncia do IAS o municpio foi premiado em 2006, pelo
MEC/INEP, com o Prmio Inovao em Gesto Educacional, fato que colocou em evidncia
mtodos gestionrios divulgados pelo IAS em relao gesto administrativa, pedaggica e
financeira das escolas com vistas aos resultados de desempenho dos alunos.
Em que pese anlise de Rocha (2003) ter sido feita em outro perodo, j indicava a
preocupao que se evidenciou posteriormente quando afirmou que do ponto de vista da
privatizao e despolitizao, exemplos como o de Ponta Grossa so preocupantes [...] por
representar uma realidade que est adquirindo status de natural (ROCHA, 2003, p. 221). Tal
fato, alm de naturalizar a atuao do Terceiro Setor na educao pblica, contribui para o
fortalecimento de uma cultura escolar, conforme evidenciado em Relatrio do IAS.
27
O municpio paranaense de Ponta Grossa hoje um campeo da gesto escolar. Desde
2001 a Secretaria de Educao vem implementando a metodologia e as prticas do
Programa Gesto Nota 10, desenvolvendo uma cultura de trabalho articulado, em que
toda a rede se envolve e se empenha para proporcionar condies de aprendizado
efetivo aos alunos. (IAS, 2012, p. 18)
Pode-se afirmar que findo a parceria com o IAS, as prticas divulgadas em 12 anos de
atuao permaneceram, visto que as mudanas no so imediatas e necessitam de oportunidades
e condies para serem gestadas superando a realidade anterior.
Em 2017, novamente o poder pblico municipal firmou parceria com a Fundao
Lemann, por meio do Programa Formar, o qual atua em duas frentes: reviso e
desenvolvimento de polticas e processos pedaggicos; e, formao continuada de professores,
gestores escolares e equipe da SME. Segundo a Fundao Lemann o programa customizado
e atende os desafios da rede e as formaes fortalecem e aprimoram as prticas dos
educadores a fim de promover melhores aulas e mais qualidade na aprendizagem dos alunos
(FUNDAO LEMANN, 2018).
Para tanto, h encontros presenciais e a distncia, sendo que nesses o profissional recebe
uma senha de acesso para o desenvolvimento de atividades propostas, as quais visam
padronizao de procedimentos educacionais e administrativos, sem considerar a realidade de
cada municpio, escola ou aluno. Tais questes podem colocar a educao em risco.
CONCLUSO
Os dados parciais apresentados demonstram como o municpio de Ponta Grossa vem
efetivando parcerias com o Terceiro Setor para a execuo de polticas educacionais. Tais
parcerias evidenciam, em diferentes perodos governamentais, o alinhamento do poder pblico
com os interesses do terceiro setor.
Tais dados evidenciam a necessidade do aprofundamento da discusso a respeito de
como os grupos do terceiro setor oferecem opes para a execuo de servios pblicos e como
tais propostas se alinham com os interesses do capitalismo global.
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REFERNCIAS
FUNDAO LEMANN. Formar: redes que transformam a educao. Disponvel em:
Acesso em: 12. jan. 2018.
PERONI, V. A relao pblico/privado e a gesto da educao em tempos de redefinio do
papel do Estado. In: ADRIO, T.; PERONI, V. M. (Org.). Pblico e privado na educao:
novos elementos para o debate. So Paulo: Xam, 2008.
GIDDENS, A. A terceira via e seus crticos. Rio de Janeiro: Record, 2001. IAS. Instituto Ayrton
Senna. Relatrio de resultados 2012. Disponvel em: http://educacaosec21.org.br/wp-
content/uploads/2013/07/relatorio institucional2012.pdf. Acesso em: 10. jan. 2018.
ROCHA, J. M. Parcerias na educao: uma efetiva participao da sociedade civil? 2003. 242
f. Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Federal do Paran. Curitiba, 2003.
http://educacaosec21.org.br/wp-content/uploads/2013/07/relatorio%20institucional2012.pdfhttp://educacaosec21.org.br/wp-content/uploads/2013/07/relatorio%20institucional2012.pdf
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A ATUAO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARAN NO
MONITORAMENTO DA META 1 DO PLANO NACIONAL DE EDUCAO
Ktia Cristina Sommer Schmidt UFPR
Lusiane Ferreira Gonalves UFPR
E-mail: [email protected]
Resumo: As anlises apresentadas nesse trabalho fazem parte de uma pesquisa de mestrado
ainda em andamento que objetiva analisar a atuao do Tribunal de Contas do Estado do Paran
(TCE-PR) no monitoramento da Meta 1 do Plano Nacional de Educao (2014-2024), que
trata da expanso das matrculas na Educao Infantil. Este artigo se atm anlise do
documento PAF 2016 EDUCAO que apresenta os dados da auditoria de 40 municpios
paranaenses realizada no ano de 2016 pelo TCE-PR.
Palavras-chave: Tribunal de Contas. Monitoramento do PNE. Educao Infantil.
INTRODUO
Os Tribunais de Contas (TCs), representados pela Associao dos Membros dos
Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), firmaram em maro de 2016 um Acordo de
Cooperao Tcnica e Operacional junto ao Instituto Rui Barbosa (IRB), o MEC e o Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE), que prev a realizao de aes conjuntas
para implementao da Lei n 13.005/2014, no que se refere execuo dos Planos de
Educao, nacional, estaduais e municipais (BRASIL, 2016).
No estado do Paran, o TCE-PR iniciou em 2015 um projeto piloto de fiscalizao
integrada para avaliar a situao dos entes municipais em relao ao cumprimento da Meta 1
do PNE, projeto que teve continuidade no ano de 2016 com a auditoria de 40 municpios do
estado (TCE-PR, 2016) e, em 2017, com a previso de auditar outros 30 (TCE-PR, 2017). Os
dados referentes auditoria realizada no ano de 2016 foram organizados no Relatrio intitulado
PAF 2016 EDUCAO Educao Infantil: Universalizao da educao na pr-escola para
30
crianas de 4 a 5 anos e ampliao da oferta de vagas em creche para crianas at 3 anos,
publicado em 2017. Desse modo, entende-se a relevncia da anlise do Relatrio para
compreenso, ainda que parcial, da atuao desse TC no monitoramento da Meta 1 do PNE.
METODOLOGIA
Para realizao desse trabalho recorreu-se pesquisa do tipo documental, que conforme
Cellard (2014, p. 298) toma o documento como seu objeto de estudo, entendendo que, o exame
minucioso de alguns documentos ou bases de arquivos abre, s vezes, inmeros caminhos de
pesquisa e leva formulao de interpretaes novas, ou mesmo a modificao de alguns
pressupostos iniciais. O documento analisado refere-se ao Relatrio Geral de Auditoria do
Plano Anual de Fiscalizao (PAF) Educao elaborado pelo TCE-PR a partir da auditoria
realizada no ano de 2016 em 40 municpios paranaenses para fiscalizar o cumprimento da Meta
1 do PNE.
RESULTADOS E DISCUSSES
O TCE-PR visitou 40 municpios do estado do Paran entre 13/06/2016 a 07/10/2016 e
organizou os dados no mencionado Relatrio, publicado em 2017. Conforme enunciado no
documento, a apresentao dos dados seria organizada em dois momentos, sendo o primeiro
destinado exposio do contexto geral e o segundo s especificidades de cada municpio, no
entanto, o documento disponibilizado na pgina eletrnica do TCE-PR contm apenas a
primeira parte (TCE-PR, 2017).
A parte disponibilizada do referido Relatrio constituda por seis captulos. No
captulo 1, Introduo, o texto apresenta brevemente o documento e lembra que o projeto
realizado em 2016 estava em conformidade com o Projeto Piloto de Fiscalizao Integrada
realizado por esta Corte no ano de 2015 (TCE-PR, 2017, p. 1), desse modo, percebe-se que o
trabalho de monitoramento feito pelo TCE-PR teve incio um ano aps a aprovao do PNE
(2014-2014), sendo anterior ainda ao Acordo de Cooperao Tcnica e Operacional firmado
entre a Atricon, o IRB, o FNDE e o MEC (BRASIL, 2016).
O captulo 2, intitulado Motivao e antecedentes necessrios expe a justificativa do
TCE-PR para essa atuao. O texto ressalta a concepo de educao tomada pelo rgo, que
em consonncia com a Constituio Federal (1988) reconhece a educao enquanto um direito
fundamental. Nesse sentido, Silveira (2006) esclarece que a instituio da educao como
31
direito fundamental implica na constituio dessa como dever do Estado, que deve garanti-lo a
todos quantos precisarem. O texto tambm se refere ao PNE como um importante passo para a
materializao desse direito, mas recorda que os objetivos expostos nos Planos Nacional e
Estadual afiguram-se distantes de boa parte dos Municpios do Estado do Paran, registrando-
se casos de elevado nvel de eficincia nos gastos pblicos na educao e casos extremamente
opostos (p. 2), sendo esta constatao o principal motivo para o monitoramento realizado pelo
TCE-PR.
No captulo 3, so expostos os objetivos e escopo da auditoria, sendo estabelecido
como objetivo geral verificar as medidas planejadas e executadas pelos Municpios em
cumprimento a Meta n 01 do PNE e do PEE, tanto no que diz respeito universalizao do
acesso pr-escola (4 e 5 anos) a partir de 2016, quanto progressiva expanso do acesso as
creches (0 a 3 anos) at 2024 (TCE-PR, 2017, p. 3). Para atender ao objetivo proposto foram
elaboradas onze questes de auditoria que se referem a trs eixos centrais: o planejamento
municipal, a adequao dos espaos fsicos e a adequao do corpo tcnico (TCE-PR, 2017).
O captulo 4 reserva-se apresentao da Metodologia utilizada pelo TCE-PR.
Conforme consta no Relatrio, todas as fases da auditoria foram conduzidas por uma equipe
multidisciplinar de servidores, com a participao, na fase de planejamento, de especialistas e
estudiosos da rea da Educao Infantil. A definio da amostra foi realizada com base em
indicadores ligados performance do municpio no atingimento da Meta 1 do PNE e PEE.
Alm dos indicadores, levou-se em conta limites populacionais e geogrficos, sendo a amostra
final constituda por dois grupos, um formado por 10 municpios com elevado desempenho nos
ndices mencionados e o outro por 30 municpios com baixo desempenho7. Desse modo, a
amostra de municpios auditados no ano de 2016 refere-se a quase 10% dos 399 municpios
daquele estado.
No captulo 5 esto elencados os Resultados Agregados. O TCE-PR (2017) destaca a
existncia de cinco fatores externos que influenciam no atingimento da Meta 1 do PNE,
quais sejam: extenso territorial, populao rural, populao ocupada na agropecuria,
populao que vive abaixo da linha da pobreza e o ndice de Gini.
Em relao ao atendimento da Meta 1 do PNE, o TCE-PR afirma que apenas 13 dos
40 municpios visitados universalizaram o atendimento na pr-escola, que se refere a parte A
da Meta 1 do PNE, no entanto, no indicam a situao dos municpios quanto ao atendimento
7 O Relatrio no informa em qual dos dois grupos est cada municpio.
32
na creche. Importante destacar que apesar do prazo final para o cumprimento dessa parte da
Meta 1 ser maior (2024), conforme lembra Flores (2015), o alcance desse objetivo somar ao
final desse PNE um prazo de 24 anos, j que a meta de atendimento de 50% da populao de 0
a 3 anos esteve presente tambm no PNE 2001-2010, e nesse sentido, crianas e famlias tm
sido privadas do acesso Educao Infantil durante esse tempo, o que sinaliza a urgncia e a
necessidade do monitoramento do atendimento essa subetapa tambm.
O captulo 6, ltima parte do Relatrio, apresenta a Proposta de Encaminhamento do
TCE-PR. Conforme previsto em uma das diretrizes da auditoria, o TCE-PR previa a promoo
de Termos de Ajustamento de Gesto (TAG) junto aos municpios, no entanto, estes no foram
autorizados pela inexistncia de regulamentao, desse modo, a equipe de trabalho elaborou
uma proposta de Resoluo Normativa, da qual ainda no se teve acesso.
CONCLUSO
Entendendo as limitaes inerentes a este breve estudo, ainda assim possvel perceber
aspectos importantes da atuao do TCE-PR no monitoramento da Meta 1 do PNE. Nesse
sentido, destaca-se aqui a iniciativa desse TC, anterior ao acordo firmando pela Atricon com
outros rgos para esse fim, bem como a continuidade dos trabalhos, iniciados em 2015, com
sequncia nos anos de 2016 e 2017. Outro aspecto relevante, como destacado no Relatrio
(TCE-PR, 2017), a movimentao causada pela presena do TCE-PR nos municpios, que ao
saberem da visita do rgo passaram a buscar mecanismos para resoluo dos problemas.
Em relao ao cumprimento da Meta 1 do PNE, conforme definido pelo TCE-PR,
haveria a fiscalizao da universalizao da pr-escola e a ampliao das matrculas em creches,
todavia apenas dados referentes pr-escola foram apresentados nos resultados, sem fazer
meno situao dos municpios quanto ao atendimento da parte B da meta, que se refere
creche.
Faz-se necessrio ainda, refletir sobre as competncias definidas a este rgo pela
Constituio Federal (1988), que se referem prioritariamente ao controle e fiscalizao dos
recursos pblicos, j que no campo educacional, pesquisas como as de Nicholas Davies (2003)
tm denunciado a ineficincia por parte dos TCs na verificao da correta aplicao dos
recursos vinculados manuteno e desenvolvimento do ensino, o que compromete
diretamente o cumprimento das metas estabelecidas no PNE, pois como relatado no prprio
documento, um dos problemas encontrados de forma recorrente nos municpios auditados
33
refere-se a ausncia (total ou parcial) de estudos prvios do impacto econmico e financeiro
para o cumprimento das metas do PME.
Desse modo, ainda que a iniciativa do TCE-PR analise importantes elementos no mbito da
poltica de educao infantil, contribuindo para ampliao do nmero de vagas, conforme relatou
Flores (2015) sobre a experincia do TCE-RS, este no pode deixar de se atentar para orientao e
fiscalizao da correta aplicao dos recursos pblicos na rea, contribuindo assim, para garantia
do melhor investimento e consequentemente, no alcance das metas e objetivos do PNE. Por fim,
destaca-se a necessidade da ampliao dessa investigao e consequentemente de suas anlises para
melhor compreenso da atuao do TCE-PR no monitoramento da Meta 1 do PNE.
REFERNCIAS
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TCE-PR. PAF 2016 educao: educao infantil: universalizao da educao na pr-escola
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TCE-PR. TC 70: 2017-2018 Plano de Gesto. Curitiba, 2017.
34
A EDUCAO SUPERIOR NA ENCRUZILHADA: ATENDER AOS INTERESSES
DO MERCADO OU FORMAR PARA A CIDADANIA DEMOCRTICA?
Diego Bechi Universidade de Passo Fundo
Maria Dinora Baccin Castelli IDEAU
Resumo: A pesquisa suscita o urgente debate sobre os rumos que a educao superior e a
formao acadmica precisam tomar num contexto marcado pela
instrumentalizao/mercantilizao da educao superior. Para tanto, parte-se do pressuposto
de que a educao superior ir atender aos anseios da populao e proporcionar melhorias nas
condies societais na medida em que valorizar o desenvolvimento intelectual e moral dos
indivduos, por meio de um processo formativo calcado nos ideais democrticos e na
valorizao da reflexo e da pesquisa. Em oposio ao modelo empresarial de ensino, as
instituies devem propiciar aos alunos, com o apoio das disciplinas humanas e sociais, prticas
pedaggicas que os levem a pensar de modo reflexivo sobre o ser humano e sua relao com o
mundo.
Palavras-chave: Educao superior. Mercantilizao. Formao humana. Cidado reflexivo.
Democracia.
O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre os desafios da formao acadmica
e o papel das disciplinas humanas e sociais na formao de profissionais reflexivos e
comprometidos com as causas sociais. Primeiramente, faz-se uma anlise das transformaes
polticas, econmicas e socioculturais ocorridas no bojo da sociedade global que incidiram
sobre o processo de expanso e de mercantilizao do ensino superior no pas. Em seguida, so
apresentadas as caractersticas que compe o atual cenrio educacional e as consequncias
provenientes das reformas educacionais de carter neoliberal e do modelo de gesto empresarial
s instituies de educao superior. Por fim, so descritos os desafios e as reais funes da
educao superior frente a uma sociedade complexa e dinmica, acrescidas de mudanas que
35
exigem a formao de profissionais reflexivos, capazes de pensar de forma independente e de
respeitar a dignidade humana.
As reformas e modernizao dos Estados nacionais, implantadas a partir da dcada de
1990, em especial nos pases da Amrica Latina, possibilitaram a disseminao e a legitimao
das polticas de ajuste estrutural, consubstanciadas pelos organismos financiamento
internacionais (Banco Mundial, FMI, OMC, BID, dentre outros). Os Estados-nao tm
incorporado as metamorfoses que esto se produzindo na relao capital/trabalho e as diretrizes
poltico-econmicas inerentes ao novo regime de acumulao capitalista. Os programas de
estabilizao e ajuste estrutural, propostos pelo Consenso de Washington, condicionaram as
polticas educacionais aos moldes da racionalidade econmica, imanente nova fase de
universalizao do capitalismo. O economicismo e o privatismo adotados por vrios pases em
desenvolvimento, inclusive pelo Brasil, em favor do ajuste econmico proposto pelo receiturio
neoliberal, incidiram majoritariamente sobre a gesto e o financiamento da educao superior.
As medidas oramentrias e a reestruturao da produo capitalista estimularam o processo de
mercantilizao desse nvel de ensino, mediante a expanso do setor privado/mercantil e a
crescente subordinao das universidades pblicas s regras do mercado (BECHI, 2013).
As reformas implementadas no mbito da educao superior estimularam a
diversificao das fontes de financiamento mediante o estabelecimento de parcerias entre as
instituies pblicas e o setor privado. Os precursores do neoliberalismo acreditavam que, com
a consolidao desse marco estratgico, a eficincia e a qualidade desse setor transcenderiam
os limites impostos pelo financiamento pblico. O reconhecimento das instituies privadas
com fins lucrativos (empresas comerciais) e a implantao de polticas de diversificao
institucional aceleraram o processo de privatizao do ensino superior no Brasil. As facilidades
de criao de IES privadas, de natureza civil ou comercial, transformaram a educao superior
em objeto de lucro ou acumulao; uma mercadoria ou a educao-mercadoria de interesse
dos empresrios da educao, que viria se completar com seu par gmeo de interesse de todos
os empresrios dos demais ramos industriais e comerciais, a mercadoria-educao
(RODRIGUES apud SGUISSARDI, 2008, p. 1000-1001).
As polticas educacionais, implementadas em sintonia com as transformaes de ordem
econmica e cultural retratadas pelo padro de acumulao capitalista, estimularam a
transformao desse setor em um bem de servio comercializvel, caracterizado pela
predominncia dos interesses privado/mercantis. A atual fase da globalizao do capitalismo,
despertada pela chamada revoluo tecnolgica e pela flexibilizao dos processos de trabalho
e produo, vinculou o conhecimento e o processo pedaggico s leis do mercado,
36
transformando a educao superior em negcio rentvel. O processo de comercializao da
educao superior, assegurado pelas reformas poltico-econmicas de carter neoliberal, levou
a uma acirrada disputada entre universidades, grupos educacionais e empresas, pela presena
nos mercados educacionais mais promissores. A diversificao das fontes de financiamento
pelas instituies pblicas e o reconhecimento legal da IES privadas com fins lucrativos
fortaleceram o clima de competio entre as instituies e alteraram a lgica do trabalho
acadmico. Na interpretao de Oliveira (1999, p. 152), o autofinanciamento e o intenso
processo de privatizao da educao superior poder lev-las a tomar forma de instituies
ou empresas, preocupadas com a prpria sobrevivncia e/ou obteno de dividendos. Isso
poder, ainda, alterar a identidade, o papel institucional, os compromissos sociais e a concepo
de universidade pblica.
A reduo dos investimentos pblicos e a expanso do setor privado/mercantil, aliada
ao aumento da competitividade, levaram as instituies de ensino superior (IES) pblicas e
privadas a assumir novas estratgias polticas e administrativas. Para que as instituies,
gerenciadas por uma proposta de gesto empresarial, possam garantir sua sustentabilidade
econmica e financeira, o produto ofertado deve ser flexvel s exigncias do mercado. Por
conta disso, o desenvolvimento cientfico e cultural da comunidade acadmica vem sendo
prejudicado pela eliminao e pela reorganizao das atividades que no agregam valor
econmico. Para garantir suas atividades no mercado educacional, muitas delas optaram por
encurtar o tempo de durao dos cursos e passaram a incentivar a formao de tecnlogos. Os
altos ndices de expanso da educao superior no Brasil e a transformao dos institutos e das
faculdades em unidades de negcios so fatores responsveis pela gradativa eliminao e
marginalizao das disciplinas humanas e sociais. O constante empobrecimento dos currculos,
com o intuito de aumentar a lucratividade em meio efervescncia do mercado educacional,
est impossibilitando o desenvolvimento de profissionais crticos e comprometidos com as
causas sociais. O enxugamento e a flexibilizao dos currculos, de acordo com as demandas
do mercado educacional, vm ameaando a formao integral do ser humano. Se isso no
bastasse, a flexibilizao e adaptao das atividades acadmicas aos interesses do mercado vm
prejudicando o acesso e a produo livre do conhecimento.
A universidade precisa definir novos objetivos e finalidades a fim de superar o modelo
de ensino baseado exclusivamente na transmisso e inculcao de informaes. O ideal de
universidade a ser construdo deve promover o desenvolvimento de competncias e de
aprendizagem nos alunos, alm de conscientiz-los sobre o papel do cidado no seio da
sociedade contempornea. A prtica pedaggica voltada pura e simples transmisso de
37
conhecimentos, centradas na sociedade do trabalho, deve ser substituda por um modelo
pedaggico embasado na aprendizagem de novos mtodos e novos processos capazes de
integrar as pessoas sociedade. A educao superior requer um processo formativo que prima
pelo desenvolvimento de cidados crticos e responsveis. Paviani (2009, p. 49-50) afirma que
a aprendizagem dos estudantes dever ser orientada visando ao desenvolvimento de
habilidades e competncias no apenas profissionais, mas tambm pessoais; no apenas
imediata, mas tambm ao longo de suas vidas. Para que os sujeitos sejam capazes de responder
complexidade e s exigncias do mundo contemporneo, a universidade precisa expandir seu
processo formativo para alm das atividades limitadas preparao para o mercado de trabalho.
No entanto, por se tratar de uma sociedade plural e dinmica, acrescida de vrios
problemas que afligem a humanidade, a formao acadmica deve transcender as necessidades
apresentadas pelo vis produtivo/econmico, centrada na formao de sujeitos flexveis, geis
e abertos a mudanas a curto prazo, levadas a cabo pelas transformaes ocorridas no mundo
do trabalho e da produo. A expanso da lgica de mercado, preconizada pela racionalidade
neoliberal, tem estimulado a concorrncia generalizada, a competitividade e a individualizao,
contrariando o processo de singularizao e a formao para a democracia. Quando analisada
sob o ponto de vista social e cultural, a sociedade contempornea requer a formao de
profissionais reflexivos e comprometidos com o futuro da humanidade. Nesses termos, os
alunos precisam participar de prticas que os instiguem a pesquisar, a pensar e a refletir sobre
questes sociais e ticas que envolvam a sua formao profissional e suas relaes
interpessoais. O ensino estritamente tcnico no forma sujeitos autnomos, dispostos a
sustentar sua independncia e sua integridade espiritual diante dos mecanismos massificadores
e perante os iderios consumistas que permeiam a vida contempornea. A reflexo e a
deliberao so essenciais a uma slida democracia e busca permanente pela justia.
(DEWEY, 1959; NUSSBAUM, 2005).
Aliado a uma nova concepo terico-metodolgica, calcada nas estratgias de
problematizao e na construo de prticas reflexivas, os cursos de graduao devem
estruturar-se de maneira a estimular os participantes a analisar e discutir rigorosamente sobre
temas interculturais e pertinentes ao relativismo cultural. A educao multicultural e a reflexo
crtica sobre diversos enfoques inerente a diversidade humana, mediante o questionamento
filosfico segundo a tradio socrtica, torna-se condio necessria formao de cidados
reflexivos, capazes de pensar de forma independente e de respeitar a dignidade da humanidade
em cada pessoa e/ou cidado. A problematizao, ao fortalecer a interao e o embate de ideias,
rompe com a normalidade das coisas, possibilitando que os alunos reconstruam e enriqueam
38
suas experincias de forma intersubjetiva. A reflexo e a argumentao crtica em mbito
acadmico, desenvolvidas com o intuito de problematizar as normas e tradies da sociedade,
conduzem formao de pessoas responsveis, com aptides necessrias para controlar de
forma autnoma seus raciocnios e emoes. De acordo com Nussbaum (2005, p. 51), la
argumentacin crtica conduce al poder intelectual y a la libertad por si misma una notable
transformacin del propio yo, si antes el yo haba sido indolente y perezoso , y tambin a una
modificacin de las motivaciones y deseos del alumno. Tomando por base o estoicismo, a
filsofa estadunidense parte do pressuposto de que as pessoas que costumam fazer um exame
crtico de suas crenas so melhores cidados, no que diz respeito s suas emoes e
pensamentos.
A formao de cidados interconectados com as necessidades humanas e conscientes
dos problemas sociais que, por sua vez, afetam os relacionamentos interpessoais, requer a
construo de um modelo terico-metodolgico que propicie a reconstruo das experincias
subjetivas dos alunos, oferecendo-lhes novas possibilidades de interpretao dos problemas
humanos e sociais. Para Dewey (1959, p. 118), a educao deve ampliar o horizonte de
interpretaes e as perspectivas de esprito: quanto mais completa for a concepo, de algum,
das futuras realizaes possveis, menos sua atividade presente se sentir manietada por um
pequeno nmero de alternativas, condicionadas enfoques ideolgicos e hbitos dominantes.
A formao de cidados verdadeiramente livres no sentido socrtico requer o desenvolvimento
de pessoas capazes de pensar por si mesmas e de argumentar criticamente sobre os diferentes
problemas que envolvem a diversidade humana e a sociedade. O desenvolvimento da
conscincia sobre a diferena cultural essencial para promover o respeito e a melhoria das
relaes interpessoais. A vida examinada, caracterizada pela flexibilidade proporcionada pela
abertura ao dilogo e ao autoquestionamento, constitui-se o objetivo central para a democracia.
Uma sociedade que no atenda a essas necessidades cria barreiras para o livre intercambio e a
comunicao da experincia humana. Por conta disso, no aceitvel que os sistemas de ensino,
em especial a educao superior, continuem produciendo ciudadanos estrechos de mente con
dificultades para entender a las personas diferentes de ellos, y cuya imaginacin raramente se
aventure a ir ms all de su medio local (NUSSBAUM, 2005, p. 34).
O sistema de educao superior precisa preocupar-se com a formao dos futuros
cidados numa poca de diversidade cultural e de crescente internalizao, em que o ser
humano constantemente desafiado a tomar decises que requerem algum tipo de compreenso
sobre os grupos raciais, tnicos, religiosos, bem como sobre a situao das mulheres e de grupos
considerados minoria em funo de sua inclinao sexual. Nesses termos, Nussbaum (2005,
39
p. 25) acredita que a nova nfase atribuda diversidade nos currculos das faculdades e
universidades es, sobre todo, un modo de hacerse cargo de los nuevos requisitos de la
condicin de ciudadano, de los deberes, derechos y privilegios que le son propios; un intento
en producir adultos que puedan funcionar como ciudadanos [...] de un mundo complejo e
interconectado. Diante desses desafios, a filosofia e demais disciplinas ligadas s cincias
humanas e sociais deveriam assumir um lugar central nos programas de graduao, em
contrapartida ao enxugamento dos currculos, sobretudo pela extino das disciplinas humanas
e sociais, proliferado em decorrncia do atual processo de mercantilizao da educao
superior.
REFERNCIAS
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40
A EDUCAO SUPERIOR NO PLANO NACIONAL DE EDUCAO (2001-2010 E
2014-2024): DESDOBRAMENTOS E PERSPECTIVAS
Talita Zanferari UNOESC
Thales Fellipe Guill UOESC
Resumo: Este texto parte de uma pesquisa realizada no Mestrado em Educao da
Universidade do Oeste de Santa Catarina, que tem como objetivo identificar as relaes entre
os Planos Nacionais de Educao (2001-2010 e 2014-2024), verificando os desdobramentos e
perspectivas das metas destinadas a educao superior. O estudo teve como norte a metodologia
histrico-crtica, o que permitiu fazer tensionamentos sobre o tema e problema investigados.
Foi utilizado a anlise de contedo de Lawrence Bardin. Esta pesquisa se faz importante haja
vista a necessidade de se expor o discurso do Estado em ambos os planos no que se refere a
Educao Superior no Brasil, uma vez que a atuao do Estado Avaliador valoriza a
universidade enquanto formadora de mo-de-obra.
Palavras-chave: Plano Nacional de Educao (2001-2010 e 2014-2024). Metas de Educao
Superior. Polticas de Educao Superior.
INTRODUO
Este texto parte de uma pesquisa na rea da educao superior desenvolvida na Linha
de Pesquisa Educao, Polticas Pblicas e Cidadania do Programa de Mestrado em Educao
da Universidade do Oeste de Santa Catarina, financiado pelo Programa de Bolsas Universitrias
de Santa Catarina (Uniedu/Ps-Graduao). Neste tivemos como objetivo identificar as
relaes entre os Planos Nacionais de Educao (2001-2010 e 2014-2024), verificando os
desdobramentos e perspectivas das metas destinadas a educao superior e o que o ltimo PNE
traz sobre a realidade das universidades brasileiras.
A importncia de pesquisar a educao superior se d ao fato de que a universidade
sempre foi uma arena de intervenes usada pelos governos para implantar aes que a atendem
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a poltica neoliberal do pas, visando a produo de qualificao profissional que sirva aos
interesses e necessidades do capital. Estudar o Plano Nacional de Educao (PNE) permitiu
compreender o perfil do Estado brasileiro a partir de 2001 em que foi tomando um carter de
Estado Avaliador, visto que ambos os PNEs aprovados foram usados como instrumentos para
legitimao e ao do mesmo.
METODOLOGIA
A metodologia desse estudo classificada como histrico-crtica. A abordagem
histrico-crtica foi proposta por Dermeval Saviani, a partir das bases da pedagogia histrico-
crtica. A inteno, nesta elaborao, foi [...] ultrapassar o carter reprodutivista das anlises
crticas, no campo educacional. Alicerada na dialtica, ou seja, [...] essa relao do
movimento e das transformaes [...] (CORSETTI, 2009, p. 89), tem como objetivo a
compreenso e explicao de [...] todo desse processo, abrangendo desde a forma como so
produzidas as relaes sociais e suas condies de existncia at a insero da educao nesse
processo. (SAVIANI, 2008, apud CORSETTI, 2009, p. 89).
Sendo assim, objetivamos fazer uma com