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LEANDRO TORRES DI GREGORIO
PROPOSTA DE FERRAMENTAS PARA GESTO DA RECUPERAO
HABITACIONAL PS-DESASTRE NO BRASIL COM FOCO NA POPULAO
ATINGIDA
Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do Grau de Doutor em Engenharia Civil. rea de concentrao: Tecnologia da Construo.
Orientador: Prof. Carlos Alberto Pereira Soares, D. Sc.
Niteri
2013
Ficha Catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computao da
UFF
D575 Di Gregrio, Leandro Torres
Proposta de ferramentas para gesto da recuperao habitacional ps-desastre no Brasil com foco na populao atingida / Leandro Torres Di Gregrio. Niteri, RJ : [s.n.], 2013.
314 f.
Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Universidade Federal Fluminense,
2013. Orientador: Carlos Alberto Pereira Soares. 1. Construo civil; aspecto social. 2. Habitao de emergncia. 3. Desastre
natural. 4. Recuperao habitacional. 5. Abrigo. 6. Administrador pblico. 7. Gesto. I. Ttulo.
CDD 692.5
DEDICATRIA
Aos sobreviventes de desastres e
conflitos de todo mundo, meu respeito por seu
sofrimento e sincero desejo por sua
recuperao.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Carlos Alberto Pereira Soares, pelo apoio e orientao constantes.
Aos Professores Orlando Celso Longo, Joo Alberto Neves dos Santos, Marcos Muniz
Moreira e Jos Abrantes, pela gentileza em fazer parte da banca examinadora deste trabalho e
pelo empenho nas atividades de docncia.
A meus familiares e minha esposa, que me apoiaram em todos os momentos com
pacincia, amor e incentivo.
Aos atingidos pelo desastre da Regio Serrana do Rio de Janeiro, em especial nos
municpios de So Jos do Vale do Rio Preto e Areal, cujos depoimentos e histrias de vida
acrescentaram muita energia a este projeto.
s prefeituras dos municpios de So Jos do Vale do Rio Preto e Areal, que
colaboraram para realizao desta pesquisa.
Secretaria de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro e aos profissionais de defesa
civil do Estado do Rio de Janeiro, cuja cooperao e troca de experincias muito contriburam
para minha vivncia em situaes de resposta de desastres.
Ao Centro Nacional de Monitoramento e Alertas em Desastres Naturais (CEMADEN)
e sua equipe, que me permitiram uma ampla viso sobre os temas relacionados a desastres
naturais.
Ao Centro Nacional de Gesto de Riscos e Desastres (CENAD) e sua equipe, pelo
importante trabalho que realizam frente do Sistema Nacional de Proteo e Defesa Civil.
Ao Departamento de Polticas de Acessibilidade e Planejamento Urbano da Secretaria
Nacional de Acessibilidade e Programas Urbanos do Ministrio das Cidades e sua equipe, em
especial s pessoas do Sr. Marcel Santana, Sra. Fernanda Barbosa e do Diretor Yuri Rafael,
que possibilitaram meu envolvimento nas discusses com diversos atores de recuperao no
cenrio nacional e internacional.
Plataforma Internacional de Recuperao de Desastres das Naes Unidas, em
especial pessoa do Sr. Sanjaya Bhatia, cujas discusses foram fundamentais para o
amadurecimento das questes de recuperao de desastres.
Agncia Internacional de Cooperao do Japo (JICA) e sua equipe, em especial s
pessoas do Sr. Chiaki Kobayashi, Sra. Patrcia Takeda e aos membros da comitiva japonesa
do projeto Fortalecimento da Estratgia Nacional de Gesto Integrada de Riscos de Desastres
Naturais, pela troca de conhecimentos e parceira de trabalho engrandecedora.
Ao CNPQ / CAPES, cujo apoio tornou possvel a dedicao a este trabalho.
Fundao Carlos Chagas Filho de Apoio Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
(FAPERJ), por seu apoio ao Projeto SHS Soluo Habitacional Simples para Situaes de
Emergncia e Calamidade, cuja experincia foi determinante para a escolha do tema deste
trabalho.
Ao Sistema FIRJAN, em especial s pessoas do Sr. Alberto Besser, Superintendente
do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), e do Sr. Roberto da Cunha, Coordenador do Setor de
Construo Civil do SENAI-RJ, pela colaborao na pesquisa.
organizao sem fins lucrativos Cruzada do Menor, pela colaborao na pesquisa.
Aos professores, colegas e funcionrios do Programa de Ps-Graduao em
Engenharia Civil da UFF, que fazem acontecer esta importante estrutura de ensino e
pesquisa.
NDICE DE QUADROS
Quadro 1: Distribuio de atividades segundo as dimenses e fases do macroprocesso de recuperao...............................................................................................................................44 Quadro 2: Questes- chave a serem respondidas no planejamento pr-desastre da recuperao..................................................................................................................................................55 Quadro 3: Questes-chave a serem respondidas no planejamento pr-desastre da recuperao..................................................................................................................................................71 Quadro 4: Anlise crtica sobre o processo de abrigo temporrio e habitao provisria .......77 Quadro 5: Anlise crtica sobre o processo de reparo em residncias danificadas ..................79 Quadro 6: Anlise crtica sobre o processo de construo no quintal ..................................81 Quadro 7: Anlise crtica do processo de concesso de emprstimos e/ou subsdios financeiros..................................................................................................................................................82 Quadro 8: Anlise crtica do modelo de recuperao dirigido pela agncia / pelo doador ......94 Quadro 9: Perfil da amostra utilizada na pesquisa comparativa entre os modelos de recuperao dirigidos pelo dono e pelo doador ........................................................................96 Quadro 10: Resultados da pesquisa comparativa entre os modelos de recuperao dirigidos pelo dono e pelo doador............................................................................................................97 Quadro 11: Resumo dos resultados da pesquisa comparativa entre os modelos de recuperao dirigidos pelo dono e pelo doador ............................................................................................97 Quadro 12: Questes de vulnerabilidades relativas terra.....................................................102 Quadro 13: Fatores impactantes e questes a serem observados na seleo dos locais para construo...............................................................................................................................112 Quadro 14: Anlise crtica sobre a utilizao de sistemas pr-fabricados de construo ......118 Quadro 15: Anlise crtica sobre a utilizao de materiais provenientes de casas danificadas ou destrudas ...........................................................................................................................121 Quadro 16: Principais pontos e anlises referentes a desastres no Brasil e no exterior .........219 Quadro 17: Interpretao dos parmetros e classes da anlise de valor a ser aplicada na escolha das modalidades de recuperao................................................................................279 Quadro 18: Resultado da aplicao da Matriz Decisria I no caso simulado ........................282 Quadro 19: Resultado da aplicao da Matriz Decisria III no caso simulado......................288 Quadro 20: Valores de calibrao utilizados como pesos na aplicao da Matriz Decisria IV no caso simulado e suas respectivas justificativas..................................................................291 Quadro 21: Resultado da aplicao da Matriz Decisria IV no caso simulado (perfil da recuperao)............................................................................................................................295 Quadro 22: Resultado da aplicao da Matriz Decisria III no caso simulado (governana do processo).................................................................................................................................296
NDICE DE FIGURAS
Figura 1: Fatores-chave para o sucesso da reconstruo dirigida pelo dono............................84 Figura 2: Entrada do abrigo temporrio Condomnio Vale da Esperana ..........................142 Figura 3: Vista interna do condomnio de tendas ...................................................................143 Figura 4: Vista dos acessos externos de barraca Shelter Box.................................................144 Figura 5: Diviso interna entre ambientes da barraca Shelter Box ........................................144 Figura 6: Vista externa das tendas, voltadas para o nascente do sol ......................................145 Figura 7: Distribuio das tendas ao longo de linhas e o arruamento existente entre elas .146 Figura 8: Identificao das ruas do condomnio .................................................................146 Figura 9: Vista da estrutura de apoio provisria contendo posto de sade, rea de coordenao, almoxarifado e sanitrios (no subsolo).............................................................147 Figura 10: Vista interna da rea de apoio, com rea de atendimento aos desabrigados e sistema de som para comunicao com as tendas ..................................................................148 Figura 11: direita, vista da tenda utilizada para cozinha e refeitrio..................................148 Figura 12: Adaptao do vestirio do estdio para instalao de vasos sanitrios.................149 Figura 13: Adaptao do vestirio do estdio para instalao de chuveiros .........................149 Figura 14: Tenda utilizada para creche...................................................................................150 Figura 15: Tenda adaptada para sala de TV ...........................................................................150 Figura 16: Biblioteca infantil..................................................................................................151 Figura 17: rea de recreao externa / parque infantil ..........................................................151 Figura 18: Distribuio dos entrevistados por sexo................................................................154 Figura 19: Perfil etrio da populao entrevistada .................................................................154 Figura 20: Perfil de escolaridade da populao entrevistada .................................................155 Figura 21: Estado civil da populao entrevistada .................................................................155 Figura 22: Renda mensal da populao entrevistada, em salrios mnimos (S.M.) ...............156 Figura 23: Perfil de ocupao da populao entrevistada ......................................................156 Figura 24: Recebimento de aluguel social (A.S.)...................................................................157 Figura 25: Interesse da populao entrevistada em participar de reconstruo em mutiro ..158 Figura 26: Experincia dos entrevistados em atividades da construo civil.........................159 Figura 27: Sistema de trabalho dos trabalhadores da construo civil entrevistados.............160 Figura 28: Dificuldades profissionais relatadas pelos trabalhadores da construo civil entrevistados ...........................................................................................................................161 Figura 29: Renda mensal dos trabalhadores da construo civil entrevistados......................161 Figura 30: Limitaes de sade da populao entrevistada ...................................................162 Figura 31: Local de produo dos artesos entrevistados ......................................................163 Figura 32: Dificuldades profissionais apontadas pelos artesos entrevistados ......................163 Figura 33: Vista frontal do Centro de Capacitao Profissional Daschu ...............................165 Figura 34: Vista em perspectiva do Centro de Capacitao Profissional Daschu..................165 Figura 35: Vista interna do hall de entrada do Centro de Capacitao Profissional Daschu .166
Figura 36: Ambiente para aulas prticas do Curso Profissionalizante de Pedreiro de Alvenaria do Centro de Capacitao Profissional Daschu......................................................................166 Figura 37: Ambiente para aulas prticas do Curso Profissionalizante de Eletricista de Obras do Centro de Capacitao Profissional Daschu......................................................................167 Figura 38: Ambiente para aulas prticas do Curso Profissionalizante de Costura Industrial do Centro de Capacitao Profissional Daschu...........................................................................167 Figura 39: Ambiente para aulas prticas do curso de Educao Bsica de Jovens e Adultos do Centro de Capacitao Profissional Daschu...........................................................................168 Figura 40: Ambiente para aulas prticas do curso de Informtica do Centro de Capacitao Profissional Daschu ................................................................................................................168 Figura 41: Trecho de parede no Centro de Capacitao Daschu que foi conservado sem pintura, contendo a marca do nvel atingido pelas guas do Rio Preto, durante o desastre de 2011. .......................................................................................................................................169 Figura 42: Fluxograma representativo dos macroprocessos de Proteo e Defesa Civil (contrado) ..............................................................................................................................225 Figura 43: Fluxograma expandido representativo dos macroprocessos de Proteo e Defesa Civil com foco em abrigo / habitao e meios de subsistncia (parte I) ................................226 Figura 44: Fluxograma expandido representativo dos macroprocessos de Proteo e Defesa Civil com foco em abrigo / habitao e meios de subsistncia (parte II) ...............................227 Figura 45: Matriz Decisria I - Roteiro de aes para recuperao do ambiente e seus imveis, localizados em rea de risco, supondo recursos disponveis ..................................................267 Figura 46: Matriz Decisria II: Anlise de restries de recursos na determinao do portflio de recuperao ........................................................................................................................270 Figura 47: Matriz Decisria III: Anlise da governana no processo de recuperao, com base nas limitaes apresentadas pelos atores ................................................................................273 Figura 48: Matriz Decisria IV Anlise de valor das modalidades de recuperao restantes, sob a tica do beneficirio ......................................................................................................280 Figura 49: Ilustrao da aplicao da Matriz Decisria I, para o caso simulado ...................283 Figura 50: Ilustrao da aplicao da Matriz Decisria IV na anlise de valor da modalidade de recuperao contratao por atacado para o caso simulado...........................................292 Figura 51: Ilustrao da aplicao da Matriz Decisria IV na anlise de valor da modalidade de recuperao contratao por varejo para o caso simulado .............................................293 Figura 52: Ilustrao da aplicao da Matriz Decisria IV na anlise de valor da modalidade de recuperao autoconstruo / mutiro para o caso simulado .........................................294
RESUMO
Dentre os maiores desafios da recuperao ps-desastre est a questo da proviso habitacional adequada e tempestiva. Outro ponto fundamental que muitas vezes negligenciado o envolvimento da populao atingida no processo de recuperao, que no s confere legitimidade s solues a serem empregadas, mas tambm pode incrementar o grau de organizao e conscientizao dessa populao. O principal objetivo deste trabalho propor instrumentos prticos que auxiliem o gestor pblico nos processos decisrios sobre este tema e proporcionem maior poder de participao e autonomia s populaes atingidas, de forma a contribuir para a gesto da recuperao habitacional em situaes ps-desastre no Brasil. Partindo de uma reviso da bibliografia, buscou-se retratar de forma ampla as questes tpicas de situaes de recuperao aps desastres e conflitos, sobre as quais se procedeu recorte com nfase no planejamento e gesto da proviso de abrigo / habitao. So abordados aspectos tcnicos especficos da recuperao habitacional, bem como da reconstruo cooperativa no Brasil. Na sequncia so apresentadas pesquisas baseadas em casos reais e em anlises realizadas a partir destas. A primeira parte explora a pesquisa de campo efetuada no municpio de So Jos do Vale do Rio Preto aps o megadesastre da Regio Serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 2011. J a segunda parte retoma 53 (cinquenta e trs) casos de recuperao de desastres e conflitos nacionais e estrangeiros citados na literatura, dos quais se extraram as lies aprendidas com adaptaes para o contexto brasileiro. Finalmente, so apresentadas as ferramentas desenvolvidas para gesto da recuperao ps-desastre no Brasil, com nfase no aspecto habitacional e sua interface com a recuperao dos meios de subsistncia, concebidas com foco no cliente final, ou seja, na populao atingida. Esses instrumentos consistem em quatro matrizes de apoio deciso e em um fluxograma de processos de recuperao integrado com os processos de preveno, preparao e resposta a desastres. Ao final do trabalho, realiza-se a aplicao das matrizes decisrias em um caso semifictcio.
Palavras-chave: Desastres naturais; recuperao; abrigo e habitao; ferramentas de gesto; reconstruo.
ABSTRACT
Among the major challenges of post-disaster recovery is the issue of housing provision adequate and timely. Another key point that is often overlooked is the involvement of the affected population in the recovery process, which not only gives legitimacy to the solutions to be employed, but can also increase the degree of organization and awareness of this population. The main objective of this work is to propose practical tools to assist public managers in decision-making on this issue and provide more power for participation and autonomy to the affected populations, in order to contribute to the management of the housing recovery in post-disaster in Brazil. Starting from a bibliographic review, we attempted to portray in a broadly manner the typical issues that come from situations of conflict and disaster recovery, on which we proceeded to clip with emphasis on planning and shelter / housing provision management. We present specific technical aspects of housing recovery and cooperative reconstruction in Brazil. In sequence it is presented a research based on real cases and the analysis from these. The first part explores the field research conducted in the municipality of So Jos do Vale do Rio Preto following the mega disaster in the mountainous region of the State of Rio de Janeiro in 2011. The second part takes over 53 (fifty three) cases of disaster recovery and conflicts, domestic and foreign, cited in the literature, which we drew on the lessons learned from adaptation to the Brazilian context. Finally, we present the developed tools for management of post-disaster recovery in Brazil, with emphasis on the housing and its interface with the recovery of livelihoods, conceived with focus on the final client, ie the affected population. These instruments consist of four matrices for decision support and a flowchart of recovery processes integrated with the processes of prevention, preparedness and response to disasters. At the end of the work it is carried out the implementation of the decision matrices in a simulated case.
Key-words: Natural disasters; recovery; shelter and housing; management tools; reconstruction.
SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................................14 1.1 CARACTERIZAO DO PROBLEMA .................................................................14 1.2 OBJETIVOS ..............................................................................................................20 1.2.1 Objetivo geral ...........................................................................................................20 1.2.2 Objetivos especficos ................................................................................................20 1.3 RESULTADOS / IMPACTOS DA PESQUISA .......................................................21 1.4 ORGANIZAO DO TRABALHO.........................................................................22
2 METODOLOGIA....................................................................................................24 2.1 METODOLOGIA EMPREGADA NO CAPTULO 3..............................................24 2.2 METODOLOGIA EMPREGADA NO CAPTULO 4..............................................28 2.2.1 Trabalhos de campo.................................................................................................28 2.2.2 Casos de recuperao de desastres nacionais e estrangeiros ...............................32 2.3 METODOLOGIA EMPREGADA NO CAPTULO 5..............................................32 2.3.1 Fluxograma e glossrio de processos de Recuperao .........................................33 2.3.2 Matriz decisria I.....................................................................................................34 2.3.3 Matriz decisria II ...................................................................................................34 2.3.4 Matriz decisria III..................................................................................................35 2.3.5 Matriz decisria IV..................................................................................................35 2.3.6 Aplicao das ferramentas......................................................................................36
3 REVISO BIBLIOGRFICA ...............................................................................37 3.1 A RECUPERAO APS DESASTRES E CONFLITOS .....................................37 3.1.1 Conceituao ............................................................................................................37 3.1.2 Objetivos da recuperao........................................................................................38 3.1.3 Escopo e princpios da recuperao .......................................................................39 3.1.4 A evoluo da recuperao no tempo ....................................................................42 3.1.5 Estrutura institucional e polticas de recuperao e reconstruo .....................45 3.1.6 Diferenas entre os contextos ps-desastre e ps-conflito ....................................49 3.1.7 Planejamento da recuperao.................................................................................51 3.1.8 Avaliao de danos, capacidades e necessidades no ps-desastre / ps-conflito 58
3.1.9 Implementao da recuperao..............................................................................61 3.1.10 Recuperao de meios de subsistncia e Capital Social .......................................64 3.1.11 Aspectos psicossociais da recuperao...................................................................67 3.2 ASPECTOS DE PLANEJAMENTO E GESTO NA PROVISO DE ABRIGO / HABITAO APS DESASTRES E CONFLITOS .............................................................71 3.2.1 Conceituao de abrigo / habitao .......................................................................71 3.2.2 Modos de proviso habitacional .............................................................................73 3.2.3 Abrigo temporrio e habitao provisria ............................................................76 3.2.4 Reparos em residncias danificadas.......................................................................78 3.2.5 Construo no quintal ou no local..................................................................79 3.2.6 Emprstimo e/ou subsdio financeiro.....................................................................81 3.2.7 Reconstruo dirigida pelo dono ............................................................................82 3.2.8 Reconstruo cooperativa ou dirigida pela comunidade .....................................89 3.2.9 Reconstruo dirigida pela agncia ou pelo doador .............................................93 3.2.10 Comparao entre os sistemas RDD / RDC e RDA..............................................94 3.3 ASPECTOS TCNICOS ESPECFICOS DA RECUPERAO HABITACIONAL. ...................................................................................................................................97 3.3.1 Reduo de riscos de desastres ...............................................................................99 3.3.2 Seleo de beneficirios .........................................................................................100 3.3.3 Ocupao e propriedade da terra.........................................................................102 3.3.4 Deciso de realocao ............................................................................................105 3.3.5 Escolha da localizao e seleo do terreno.........................................................110 3.3.6 Projetos de engenharia, arquitetura e urbanismo ..............................................113 3.3.7 Tecnologias e materiais de construo.................................................................116 3.3.8 Qualidade................................................................................................................119 3.3.9 Meio ambiente ........................................................................................................120 3.3.10 Planejamento das obras.........................................................................................121 3.3.11 Trabalho Tcnico Social (TTS).............................................................................124 3.3.12 Entrega e questes ps-ocupao .........................................................................129 3.4 A RECONSTRUO COOPERATIVA NO BRASIL ..........................................129 3.4.1 Histrico da construo comunitria...................................................................129 3.4.2 Instrumentos auxiliares para viabilizar a utilizao da construo comunitria no portflio de recuperao habitacional ps-desastres ...................................................133
4 TRABALHOS DE CAMPO E ANLISE DE CASOS ......................................140 4.1 TRABALHOS DE CAMPO....................................................................................140 4.1.1 Caracterizao do desastre ...................................................................................140 4.1.2 Atividades realizadas.............................................................................................141 4.1.3 Proviso de abrigo emergencial e temporrio.....................................................141 4.1.4 Proviso de habitao temporria e encaminhamentos para habitao permanente............................................................................................................................152 4.1.5 Entrevistas com os desabrigados ..........................................................................153 4.1.6 Centro de Capacitao Profissional Daschu ...................................................164 4.1.7 A recuperao econmica: as aes do SEBRAE e da FIRJAN........................169 4.2 CASOS DE RECUPERAO DE DESASTRES NACIONAIS E ESTRANGEIROS: ANLISE E LIES APRENDIDAS ..................................................172
5 FERRAMENTAS DESENVOLVIDAS PARA GESTO DA RECUPERAO HABITACIONAL PS-DESASTRE NO BRASIL COM FOCO NA POPULAO ATINGIDA............................................................................................................................220
5.1 FLUXO DE PROCESSOS DE RECUPERAO COM NFASE EM ABRIGO / HABITAO E MEIOS DE SUBSISTNCIA ....................................................................220 5.2 GLOSSRIO DE PROCESSOS .............................................................................228 5.3 FERRAMENTAS DE APOIO DECISO NA RECUPERAO .....................265 5.3.1 Matriz Decisria I ..................................................................................................265 5.3.2 Matriz Decisria II.................................................................................................268 5.3.3 Matriz Decisria III ...............................................................................................271 5.3.4 Matriz Decisria IV ...............................................................................................274 5.3.5 Aplicao das ferramentas....................................................................................281
6 CONCLUSO........................................................................................................297
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...............................................................................301
ANEXO: QUESTIONRIO APLICADO AOS DESABRIGADOS DE S.J.V.R.P. ......310
1 INTRODUO
1.1 CARACTERIZAO DO PROBLEMA
Entende-se por desastre as consequncias de um evento adverso (fenmeno
provocado pelo homem e/ou pela natureza) sobre um ambiente vulnervel, que excede a
capacidade de resposta do sistema social atingido. Essas consequncias so representadas por
danos humanos, materiais e ambientais e seus consequentes prejuzos socioeconmicos,
patrimoniais e ambientais. Assim, o desastre no o fenmeno em si (enchente, furaco etc.),
mas os efeitos adversos provocados no ecossistema atingido. Os efeitos nocivos do desastre
so diretamente proporcionais vulnerabilidade e exposio dos elementos em risco em seus
diversos aspectos: fsico, ambiental, econmico, poltico, organizacional, institucional,
educativo e cultural (VARGAS, 2010).
Para fazer frente aos desastres, sociedades organizadas de todo o mundo possuem
servios pblicos voltados para proteo e defesa de suas populaes. No Brasil, esta funo
desempenhada pelo Sistema Nacional de Proteo e Defesa Civil (SINPDEC) que, segundo o
Manual de Planejamento em Proteo e Defesa Civil v.1 (CASTRO et al, 2003), possui a
finalidade de garantir os direitos vida, sade, segurana, propriedade e incolumidade
a todos os brasileiros e aos estrangeiros que residem no Brasil, em circunstncias de desastres.
Segundo os autores, as atividades que visam reduo e mitigao dos desastres podem ser
agrupadas nos macroprocessos de Preveno, Preparao, Resposta e Reconstruo:
a) Preveno
A Preveno de Desastres compreende a avaliao e a reduo de riscos de desastres,
que por sua vez podem ser desmembradas da seguinte forma:
A avaliao de riscos de desastres desenvolve-se em trs etapas: estudo das ameaas de desastres; estudo do grau de vulnerabilidade dos cenrios dos desastres (sistemas receptores e corpos receptivos); sntese conclusiva, objetivando a
15
avaliao e a hierarquizao dos riscos de desastres e a definio de reas de maior risco.
O estudo das reas de risco permite a elaborao de bancos de dados e de mapas temticos sobre ameaas, vulnerabilidades e riscos de desastres. (CASTRO et al, 2003, p. 18)
As aes de reduo de riscos de desastres podem ser desenvolvidas com o objetivo de: minimizar a magnitude e a prevalncia das ameaas de acidentes ou eventos adversos; minimizar a vulnerabilidade dos cenrios e das comunidades em risco aos efeitos desses eventos.
Em ambos os casos, caracterizam-se dois grandes conjuntos de medidas preventivas: medidas noestruturais, dentre as quais destaca-se o planejamento da ocupao e da utilizao do espao geogrfico, em funo da definio de reas de risco, e o aperfeioamento da legislao sobre segurana contra desastres; medidas estruturais, tambm chamadas de medidas de pedra-e-cal, que tm por finalidade aumentar o nvel de segurana intrnseca dos bitopos humanos, atravs de atividades construtivas. (CASTRO et al, 2003, p. 18)
b) Preparao
A Preparao para emergncias e desastres tem por objetivo otimizar o funcionamento
do SINPDEC, especialmente das aes de resposta aos desastres e de reconstruo,
constituindo-se de: desenvolvimento institucional; desenvolvimento de recursos humanos;
desenvolvimento cientfico e tecnolgico; mudana cultural; motivao e articulao
empresarial; informaes e estudos epidemiolgicos sobre desastres; monitorizao, alerta e
alarme; planejamento operacional e de contingncia; planejamento de proteo de populaes
contra riscos de desastres focais; mobilizao; aparelhamento e apoio logstico.
c) Resposta
A Resposta segue-se imediatamente ocorrncia dos desastres e compreende as
seguintes atividades gerais:
Socorro s populaes em risco, desenvolvido em trs fases: pr-impacto:
intervalo de tempo que ocorre entre o prenncio e o desenvolvimento do
desastre; impacto: momento em que o evento adverso atua em sua plenitude;
limitao de danos (tambm chamada fase de rescaldo): corresponde situao
imediata ao impacto, quando os efeitos do evento adverso iniciam o processo
de atenuao.
Assistncia s populaes afetadas, que depende de atividades: logsticas;
assistenciais; de promoo da sade.
16
Reabilitao dos cenrios dos desastres, compreendendo as atividades de:
avaliao de danos; vistoria e elaborao de laudos tcnicos; desmontagem de
estruturas danificadas, desobstruo e remoo de escombros; sepultamento;
limpeza, descontaminao, desinfeco e desinfestao do ambiente;
reabilitao dos servios essenciais; recuperao de unidades habitacionais de
baixa renda.
Quando um grande desastre acontece, em geral instala-se uma comoo proporcional
perda de vidas humanas e ao grau de desarticulao da ordem social, seguida de mobilizao
tempestiva para assistncia por parte de governos, instituies e indivduos. No perodo que
se segue imediatamente ao desastre, observa-se um afluxo de doaes, auxlios financeiros,
esforo de trabalho e ateno da mdia na direo da regio afetada. Este movimento, no
entanto, perde fora na medida em que o perodo emergencial transcorre, dando lugar ao
perodo de recuperao.
d) Reconstruo (Recuperao)
Segundo CASTRO et al (2003), a Reconstruo tem por finalidade restabelecer em
sua plenitude: os servios pblicos essenciais; a economia da rea; o bem-estar da populao;
o moral social.
Ressalta-se que a terminologia empregada pelos autores apresenta como Reconstruo
um conjunto de atividades cujo escopo vai alm das obras de reconstruo em si, avanando
para o restabelecimento da economia, do bem-estar da populao e do moral social. Para fins
de diferenciao e alinhamento com a literatura internacional, este escopo mais amplo de
atividades ps-desastre ser tratado sob a terminologia geral de Recuperao, reservando ao
termo Reconstruo as questes especficas de obras estruturais no ps-desastre que visam o
restabelecimento da parte fsica atingida e a mitigao de riscos futuros com medidas
estruturais.
Os autores sustentam ainda que, de certa forma, a recuperao confunde-se com a
preveno e procura: recuperar os ecossistemas; reduzir as vulnerabilidades dos cenrios e das
comunidades a futuros desastres, racionalizar o uso do solo e do espao geogrfico, relocar
populaes em reas de menor risco, modernizar as instalaes e reforar as estruturas e as
fundaes e recuperar a infraestrutura urbana e rural.
17
Na fase de recuperao, a dinmica costuma ser bastante distinta da fase assistencial.
NAKAGAWA e SHAW (2004) observam que atividades de resgate e assistncia so
conduzidas de forma relativamente rpida nas comunidades e na maior parte do mundo,
entretanto, as coisas mudam durante o perodo de reabilitao, quando interesses individuais
em bens particulares esto em questo.
O apoio s famlias afetadas por desastres requer aes imediatas, amplas e
colaborativas e a viso realista que, aps as organizaes humanitrias terem completado seu
trabalho de assistncia e a mdia ter se retirado, as necessidades para abrigo e habitao de
qualidade permanecem por meses e anos (HABITAT FOR HUMANITY GREAT BRITAIN,
2013). Assim, a ateno dos servios de emergncia raramente se estende aos compromissos
de longo prazo da recuperao e o trabalho mais longo e custoso dificilmente conta com
mesmo grau de assistncia e de suporte, ainda que possa determinar o bem- estar da
comunidade por anos no futuro (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME -
UNDP; INTERNATION RECOVERY PLATAFORM IRP, 2007). Os autores apontam que,
para alm da reconstruo fsica, as demandas mais desafiadoras para a verdadeira
recuperao (por exemplo, a restaurao dos meios de subsistncia dos grupos afetados) so
muito frequentemente deixadas aos interesses de funcionrios de governos locais e da sofrida,
mas determinada, populao.
Dentre os maiores desafios da recuperao ps-desastre (seja de curto, mdio ou longo
prazos), est a questo da proviso habitacional adequada e tempestiva. BARAKAT (2003)
destaca que a perda de uma casa constitui no s uma privao fsica, mas tambm uma perda
de dignidade, identidade e privacidade. Esse tipo de sinistro pode causar trauma psicolgico,
desafiar percepes de identidades culturais, romper estruturas sociais e comportamentos
socialmente aceitos, representar uma ameaa segurana e ter um impacto econmico
negativo significante.
De acordo com UNDP e IRP (2010b), cada casa construda representa um projeto
individual, e agrupar centenas, milhares e at milhes de residncias constitui programas de
reconstruo muito mais amplos. Sob essa tica, deve-se considerar que a recuperao precisa
ser abordada sob dois aspectos: solues coletivas e solues individuais, que reflitam as
necessidades de cada famlia e forneam roteiros de recuperao especficos que considerem
as peculiaridades de cada ncleo.
18
Os autores sustentam que a recuperao habitacional uma funo complexa em
grande parte por causa das interaes que existem entre a proviso e a ocupao de casas
reparadas e/ou reconstrudas e outros setores de recuperao (por exemplo, meios de
subsistncia). Somando-se a isso, existe o desafio de levar em considerao os fatores de
vulnerabilidade pr-existentes, buscando assim a minimizao do risco. BARAKAT (2003)
aponta que, onde programas de reconstruo so executados, os desafios particulares do
aspecto da recuperao tendem a ser subestimados; o planejamento geralmente pobre e a
coordenao entre agncias mostra-se difcil, as oportunidades para melhorar a recuperao
ps-desastre ou introduo de medidas mitigadoras so normalmente negligenciadas e pouca
ou nenhuma distino feita entre a proviso de abrigos fsicos e a proviso de casas. UNDP
e IRP (2010b) corroboram, apontando alguns obstculos para uma recuperao habitacional
consistente:
Presses para reconstruir rpido ou substituir as casas;
Negao do risco futuro a unidades habitacionais semelhantes;
Pobreza, que oferece maiores dificuldades de recuperao por parte dos
indivduos e famlias;
Desigualdades no processo de reconstruo habitacional, pois certos indivduos
e grupos buscam meios de se privilegiar;
A (in)disponibilidade e o custo dos materiais de construo e mo de obra;
A perda ou falta de terras apropriadas para construo;
Falta de consenso na comunidade;
Dependncia de infraestrutura e facilidades que podem inclusive no existir
mais, mas que devem ser pensadas para uma implementao futura, o que
aumenta a complexidade da implementao.
Por tais motivos, BARAKAT (2003) sugere que a reconstruo de casas deve ser um
elemento mais proeminente nos programas de ps-conflito e ps-desastre do que
atualmente, uma vez que dificilmente h agncias devotadas especificamente para esta
questo e poucas ONGs que trabalham com assistncia afirmam ser especialistas no assunto.
O autor menciona ainda a falta de experincia, que conduz a avaliaes que no fornecem
informaes relevantes e projetos que no sejam apropriados s necessidades e anseios dos
beneficirios.
19
Outro ponto fundamental que muitas vezes negligenciado o envolvimento da
populao atingida no processo de recuperao, que no s confere legitimidade s solues a
serem empregadas, mas tambm pode incrementar o grau de organizao e conscientizao
dessa populao. JAYARAJ (2003) acredita que a recuperao deve reforar sentimentos de
solidariedade e capacidades de barganha, abordar questes relacionadas a direitos de
propriedade e contribuir para o crescimento coletivo. Os parceiros deste processo,
independentemente de sua posio e status, devem trabalhar pela transparncia,
responsabilizao, democratizao, capacitao e crescimento coletivo, e conduzir a
comunidade para gerenciar um processo controlado do prprio desenvolvimento sustentado.
UN-HABITAT (2008) aponta a necessidade de conectar processos de recuperao com
estratgias de desenvolvimento econmico, preservao cultural e empoderamento social e
com a participao das comunidades. Compartilhamento do conhecimento, parcerias e
cooperao entre todos os atores envolvidos no setor habitacional devem ser encorajados.
Sinteticamente, entende-se que trs abordagens so fundamentais numa estratgia de
recuperao habitacional bem sucedida:
Viso sistmica do macroprocesso de Recuperao e seu inter-relacionamento
com os macroprocessos de Preveno, Preparao e Resposta, que permita um
gerenciamento integrado;
Decises acertadas e rpidas sobre o processo de Recuperao, que reflitam os
interesses da populao atingida e permitam as articulaes necessrias de
forma tempestiva;
Envolvimento dos parceiros (em especial a populao) por meio de um
processo participativo, utilizando da melhor forma os recursos disponveis e
aproveitando a oportunidade de recuperao para agregar valor e autonomia s
comunidades.
A partir do exposto, este trabalho busca fornecer respostas, ainda que parciais, sobre as
seguintes questes-chave relacionadas recuperao ps-desastre:
1 H ferramentas de gesto que podem ser utilizadas para indicar a modalidade mais
adequada de recuperao habitacional, que reflita os interesses da populao?
2 A recuperao habitacional cooperativa (dirigida pelo dono / pela comunidade) aplicvel
ao Brasil?
20
Com base nas questes-chave elencadas, foram estabelecidas as seguintes hipteses
iniciais:
1 Sim, possvel obter ferramentas de gesto que permitam indicar a modalidade de
recuperao habitacional mais adequada situao ps-desastre e que reflita os interesses da
populao afetada.
2 Sim, a recuperao habitacional na modalidade dirigida pelo dono / pela comunidade
aplicvel ao contexto brasileiro.
Ao longo do trabalho, tambm sero explorados aspectos da recuperao em situaes
ps-conflito em muito semelhantes s situaes ps-desastre. Desta forma, acredita-se que os
produtos deste trabalho possam ser extrapolados para situaes ps-conflito, porm, o foco do
desenvolvimento e da aplicao foi mantido em situaes ps-desastre, em especial por conta
da realidade brasileira, na qual a necessidade do ltimo tipo de recuperao recorrente.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
O principal objetivo deste trabalho propor instrumentos prticos que auxiliem o
gestor pblico nos processos decisrios sobre este tema e proporcionem maior poder de
participao e autonomia s populaes atingidas, de forma a contribuir para a gesto da
recuperao habitacional em situaes ps-desastre no Brasil.
1.2.2 Objetivos especficos
Como objetivos especficos deste trabalho:
Analisar contextos, prticas e casos de recuperao habitacional em situaes
de ps-desastres e ps-conflitos no Brasil e no exterior, obtendo-se uma lista
de lies aprendidas adaptadas ao contexto brasileiro;
Explorar as observaes do trabalho de campo realizado durante as fases de
resposta e recuperao (parte) no municpio de So Jos do Vale do Rio Preto,
relacionado ao desastre da Regio Serrana do Rio de Janeiro, ocorrido em
janeiro de 2011;
Propor um fluxograma de processos de recuperao que incorpore as melhores
prticas e viso sistmica sobre os diversos aspectos da recuperao (com
nfase na recuperao habitacional e nos meios de subsistncia) e sua
21
integrao com os macroprocessos de Preveno, Preparao e Resposta a
desastres;
Propor ferramentas decisrias que auxiliem na escolha da modalidade de
recuperao habitacional mais adequada para a situao em questo e que
reflitam as necessidades e expectativas da populao afetada.
1.3 RESULTADOS / IMPACTOS DA PESQUISA
A partir das anlises das lies aprendidas em casos de recuperao ps-desastre / ps-
conflito em diversos pases e da pesquisa de campo realizada no municpio de So Jos do
Vale do Rio Preto aps o megadesastre da Regio Serrana do Estado do Rio de Janeiro em
janeiro de 2011, espera-se proporcionar uma reflexo ampla sobre diversos aspectos da
recuperao ps-desastre, com nfase para mecanismos participativos de recuperao
habitacional onde os moradores e as comunidades possuem um papel ativo e no apenas de
expectadores desses processos.
Por meio da proposta de um fluxograma de processos de Recuperao integrados com
os macroprocessos de Preveno, Preparao e Resposta, pretende-se fornecer ao poder
pblico em nvel local (municipal) e regional (estadual) uma estrutura de processos e
atividades que permita uma viso sistmica e integrada das operaes Proteo e Defesa
Civil, refletindo as nuances da recuperao, a participao dos diversos atores e seus inter-
relacionamentos. Dentre os impactos esperados, destacam-se a melhor organizao e
estruturao de instituies participantes do processo de recuperao, a otimizao do fluxo
de trabalho, maior clareza e objetividade na definio de responsabilidades de todos os
envolvidos nas atividades de Proteo e Defesa Civil e a melhoria na eficincia do processo
como um todo.
Por fim, espera-se que as ferramentas decisrias propostas forneam ao poder pblico
em nvel local (municipal) e regional (estadual) uma estrutura lgica e tcnica para a tomada
de deciso tempestiva e consistente sobre a escolha das modalidades de recuperao
habitacional a serem empregadas, considerando aspectos como as restries de recursos e
limitaes dos atores presentes na situao real, bem como o alinhamento com as
necessidades e expectativas dos beneficirios. As seguintes ferramentas foram propostas:
Matriz decisria I: Roteiro de aes para recuperao do ambiente e seus
imveis, localizados em rea de risco, supondo recursos disponveis;
22
Matriz decisria II: Anlise de restries de recursos na determinao do
portflio de recuperao.
Matriz decisria III: Anlise da governana no processo de recuperao, com
base nas limitaes apresentadas pelos atores;
Matriz decisria IV: Anlise de valor das modalidades de recuperao
remanescentes sob a tica do beneficirio.
Dentre os impactos esperados na aplicao das ferramentas desenvolvidas, destacam-
se a reduo no tempo de implementao das medidas de proviso habitacional emergencial /
provisria / permanente, o melhor aproveitamento dos recursos disponveis para a
recuperao (sejam eles provenientes do poder pblico, de doadores ou dos prprios
beneficirios), a maior eficcia no processo (incluindo o aspecto de aceitao da soluo por
parte da populao) e um maior valor agregado ao processo como um todo.
Acredita-se que as ferramentas propostas possam ser empregadas no apenas no
Brasil, mas tambm em outros pases, respeitando-se as peculiaridades socioeconmicas de
cada contexto. Contribui para este entendimento o fato do processo de construo das
ferramentas ter sido baseado em experincias ps-desastre tanto nacionais quanto
internacionais. Alm disso, a prpria filosofia de concepo das ferramentas (em especial a
matriz decisria IV) primou pela flexibilidade e incorporao de mecanismos de ponderao
que, se adequadamente empregados, podero refletir o juzo de valor do grupo-alvo.
1.4 ORGANIZAO DO TRABALHO
O trabalho est estruturado em seis captulos.
O corrente captulo constitui-se da apresentao do trabalho, a caracterizao do
problema, as hipteses e a relevncia do tema. Os objetivos so abordados, assim como os
resultados e impactos esperados.
O segundo captulo contm a metodologia empregada, com detalhamento dos mtodos
e tcnicas utilizados em todas as etapas do trabalho.
O terceiro captulo trata de uma reviso da bibliografia, no qual so apresentadas de
forma ampla as questes de situaes de recuperao aps desastres e conflitos, sobre as quais
foi realizado recorte no tema planejamento e gesto da proviso de abrigo / habitao. Na
sequncia so apresentados aspectos tcnicos especficos da recuperao habitacional, bem
como da reconstruo cooperativa no Brasil.
23
O quarto captulo consiste na apresentao de pesquisas baseadas em casos reais e em
anlises realizadas a partir destas. A primeira parte explora a pesquisa de campo efetuada no
municpio de So Jos do Vale do Rio Preto aps o megadesastre da Regio Serrana do
Estado do Rio de Janeiro, em 2011. J a segunda parte retoma 53 (cinquenta e trs) casos de
recuperao de desastres e conflitos nacionais e estrangeiros citados na literatura, dos quais
se extraiu as lies aprendidas com adaptaes para o contexto brasileiro.
O quinto captulo apresenta as ferramentas desenvolvidas para gesto da recuperao
ps-desastre no Brasil, com nfase no aspecto habitacional e sua interface com a recuperao
dos meios de subsistncia, concebidas com foco no cliente final, ou seja, na populao
atingida.
O sexto captulo apresenta as concluses do trabalho e recomendaes de trabalhos
futuros.
2 METODOLOGIA
O trabalho se baseou numa pesquisa bibliogrfica sobre recuperao aps desastres e
conflitos (com nfase nos aspectos da recuperao habitacional e dos meios de subsistncia),
em uma pesquisa de campo e em anlises de casos internacionais de recuperao.
A pesquisa de campo foi realizada no municpio de So Jos do Vale do Rio Preto
aps o megadesastre ocorrido em janeiro de 2011, na Regio Serrana do Rio de Janeiro e
contou com a realizao de entrevistas com os desabrigados alojados no abrigo temporrio
construdo pelo administrador do desastre (condomnio de tendas).
Os produtos do trabalho consistiram de ferramentas para auxiliar o gestor da
recuperao no processo de proviso habitacional e foram obtidos a partir de anlises,
interpretaes e experimentaes em uma situao semifictcia.
A explanao da metodologia empregada ser efetuada a partir da estrutura de
captulos e sees do trabalho, buscando-se detalhar os mtodos e tcnicas utilizados em cada
etapa.
2.1 METODOLOGIA EMPREGADA NO CAPTULO 3
O captulo de reviso bibliogrfica foi construdo a partir de uma pesquisa
bibliogrfica ampla, por meio da qual foram obtidas as bases de conhecimento necessrias
para compreender a dinmica dos processos de recuperao aps desastres e conflitos, seus
requisitos e desafios, as melhores prticas, a viso da populao sobre o processo, o potencial
de aplicao de modelos de proviso habitacional participativos nessas circunstncias e as
questes tcnicas relevantes.
A pesquisa bibliogrfica foi dividida em quatro sees em ordem crescente de
especificidade, ou seja, as sees posteriores apresentam-se como recortes das anteriores,
25
objetivando detalhar e conhecer melhor os aspectos direcionados pelas perguntas-chave
formuladas no captulo 1.
A reviso bibliogrfica apresenta-se propositalmente ampla, uma vez que o tema
envolve numerosos aspectos que precisam ser compreendidos (ou ao menos mencionados),
para que seja possvel formar um cenrio coerente e integrado das diversas questes que
influenciam no processo de recuperao. Como no trabalho sero desenvolvidos produtos de
valor estratgico baseados em viso sistmica e anlise de valor, entendeu-se que, apesar de
longa, a reviso bibliogrfica nos moldes apresentados necessria e acredita-se que no se
tenha incorrido em repeties enfadonhas. Onde julgado adequado, procedeu-se detalhamento
do material obtido da literatura (por exemplo, nas questes de planejamento da recuperao e
nas fases de recuperao aps traumas), por se considerar que seu contedo apresenta uma
riqueza de detalhes em alinhamento direto essncia do trabalho.
A primeira parte da pesquisa bibliogrfica abordou diversos aspectos pertinentes ao
tema recuperao em situaes de ps-desastre / ps-conflito, proveniente, em sua maioria, de
fontes internacionais, j que foram encontradas poucas referncias nacionais sobre o assunto.
Desse material buscou-se apreender as caractersticas gerais das diversas atividades que
envolvem os processos de recuperao, as principais dificuldades enfrentadas, sua relao
com os contextos socioeconmicos, culturais e polticos e a representao da recuperao no
mundo presumido dos atingidos. Assim, na primeira seo do captulo 3, foram abordadas
questes relacionadas aos seguintes aspectos:
O conceito de recuperao e suas implicaes;
Os objetivos da recuperao aps situaes de desastres e conflitos;
O escopo das atividades e os princpios norteadores da recuperao;
A evoluo da recuperao no tempo;
O modo pelo qual a estrutura institucional e as polticas de recuperao e
reconstruo impactam no processo;
As diferenas entre os contextos de recuperao aps desastres e aps
conflitos;
A importncia e as caractersticas de um planejamento adequado da
recuperao;
A importncia e metodologias para avaliao de danos, capacidades e
necessidades no ps-desastre / ps-conflito;
26
Os requisitos desejveis na implementao de uma recuperao bem sucedida;
As caractersticas da recuperao dos meios de subsistncia e sua relao com
o capital social da comunidade;
Os aspectos psicossociais da recuperao.
A segunda parte da pesquisa bibliogrfica definiu um recorte no universo da
recuperao no sentido da reconstruo, abordando questes de planejamento e gesto da
proviso de abrigo / habitao aps desastres e conflitos. Por meio das fontes pesquisadas,
buscou-se apreender a dinmica da proviso de abrigo / habitao no contexto da recuperao
ampla, as modalidades de implementao e suas caractersticas, os tipos de apoio, as
possibilidades de governana sobre o processo e os resultados em termos de satisfao do
cliente final (ou seja, dos beneficirios), a partir das diversas alternativas disponveis. Assim,
na segunda seo do captulo 3, foram abordadas questes relacionadas aos seguintes itens:
Conceituao de abrigo / habitao em situaes de desastres e conflitos;
Modos de proviso habitacional;
Caractersticas de abrigo temporrio e habitao provisria;
Possibilidades de reparos em residncias danificadas;
Caractersticas da modalidade de construo no quintal ou no local;
Possibilidades de emprstimo e/ou subsdios financeiros;
Caractersticas da modalidade de reconstruo dirigida pelo dono;
Caractersticas da modalidade de reconstruo cooperativa ou dirigida pela
comunidade;
Caractersticas da modalidade de reconstruo dirigida pela agncia / pelo
doador;
Comparao entre os sistemas dirigido pelo dono / pela comunidade e
dirigido pela agncia / pelo doador.
A terceira parte da pesquisa bibliogrfica restringiu ainda mais o recorte, abordando
aspectos tcnicos especficos da recuperao habitacional. Ressalta-se que o objetivo dessa
seo no foi o de detalhar os numerosos aspectos tcnicos necessrios a uma recuperao
habitacional bem sucedida, mas sim o de apresentar sucintamente as principais questes
tcnicas envolvidas com potencial de impacto direto sobre a gesto da recuperao
habitacional como um todo. Assim, os itens dessa seo foram trazidos tona, visando a
formar um cenrio abrangente da recuperao habitacional cujo desempenho ser diretamente
27
influenciado pelas escolhas tcnicas da equipe de gesto. Por isso, na terceira seo do
captulo 3, foram abordadas questes relacionadas aos seguintes aspectos:
Reduo do risco de desastres por meio de construo resiliente;
Seleo dos beneficirios;
Ocupao e propriedade da terra;
Deciso de realocao;
Escolha da localizao e seleo do terreno;
Projetos de engenharia, arquitetura e urbanismo;
Tecnologias e materiais de construo;
Qualidade;
Meio ambiente;
Planejamento das obras;
Trabalho tcnico social;
Entrega dos imveis e questes de ps-ocupao.
Por fim, a quarta parte da pesquisa bibliogrfica prosseguiu por meio da investigao
de assuntos relacionados proviso de habitao de interesse social com a aplicao de
modelos de construo participativos, onde a comunidade possui um papel ativo na soluo
de problemas de natureza habitacional. Foram encontradas amplas fontes nacionais que
abordaram essas questes, no entanto, normalmente dissociadas de situaes ps-desastre, tais
como os mutires habitacionais utilizados predominantemente na dcada de 80 no Brasil. Na
literatura internacional, entretanto, percebeu-se extensa experincia na aplicao de modelos
participativos de proviso habitacional no ps-desastre / ps-conflito, podendo ou no
envolver a mo de obra dos beneficirios no processo. Assim, na quarta seo do captulo 3,
foram abordadas questes relacionadas aos seguintes pontos:
Histrico da construo cooperativa no Brasil;
Fundamentos para utilizao da construo cooperativa no portflio de
recuperao habitacional ps-desastres;
Instrumentos legais e de financiamento aplicveis a sistemas de reconstruo
participativa.
28
2.2 METODOLOGIA EMPREGADA NO CAPTULO 4
O captulo 4 versa sobre trabalhos de campo e anlise de casos reais e, portanto,
converge para a descrio e anlise de experincias prticas, algumas vivenciadas pelo autor e
outras obtidas da literatura.
2.2.1 Trabalhos de campo
A primeira parte do captulo 4 apresenta os trabalhos de campo que tiveram incio com
uma pesquisa exploratria no municpio de So Jos do Vale do Rio Preto, aps o
megadesastre da Regio Serrana do Estado do Rio de Janeiro de 2011, onde foi possvel
acompanhar atividades de resposta ao desastre, reabilitao, abrigo emergencial, abrigo
temporrio, habitao provisria e parte do processo de proviso de habitao permanente,
uma vez que esse no havia sido encerrado at o momento da concluso deste trabalho.
Segundo RAPOSO (2010), a pesquisa de campo pretende buscar a informao
diretamente com a populao ou com o fenmeno a ser pesquisado, sendo necessrio que o
pesquisador esteja presente no espao em que o fenmeno ocorre ou ocorreu, reunindo um
conjunto de informaes. A partir da familiarizao com o problema, a pesquisa exploratria
assumiu um carter descritivo, o qual apresenta como objetivo principal a descrio das
caractersticas de determinada populao ou fenmeno ou, ento, o estabelecimento de
relaes entre variveis.
Em relao ao mtodo, a pesquisa realizada priorizou a abordagem qualitativa,
privilegiando os dados qualitativos nas informaes disponveis e no empregando um
referencial estatstico como base do processo de anlise do problema. Nessa modalidade
optou-se por realizar descries detalhadas de fenmenos e comportamentos, descrever as
interaes entre indivduos, grupos e organizaes, bem como transcrever trechos de
entrevistas e discursos (RAPOSO, 2010). A abordagem quantitativa foi utilizada brevemente
na apresentao de alguns resultados das entrevistas com os desabrigados.
Amostra e respondentes
A pesquisa de campo contemplou entrevistas com 55 pessoas afetadas pelo desastre,
todas desabrigadas, permitindo entender diversos aspectos do perfil socioeconmico dessa
populao, suas perspectivas para o futuro e sua aceitao em atuar em um processo de
proviso habitacional participativo na forma de mutiro. Um ano aps a ocorrncia do
29
desastre, nova visita foi realizada no municpio e, ento, constatada a evoluo das questes
habitacionais.
A amostra contou com todos os desabrigados que se dispuseram a participar das
entrevistas, convocados no alto-falante do condomnio de tendas, representando 38 famlias
de um universo de 67 alojadas poca no abrigo temporrio Vila Esperana. As entrevistas
foram realizadas ao longo de dois dias inteiros de trabalho, em trs turnos (manh, tarde e
noite), para possibilitar a participao do maior nmero de interessados.
Instrumentos de coleta de dados
Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados entrevista e questionrios.
Foram aplicados ao todo trs tipos de questionrio: questionrio geral, questionrio especfico
para os artesos e questionrio especfico para os profissionais de construo civil. Os trs
questionrios esto conjugados e apresentados no ANEXO deste trabalho.
As entrevistas foram conduzidas buscando deixar o entrevistado vontade para
responder s perguntas, por meio da tentativa do estabelecimento de uma relao de confiana
e respeito.
As perguntas foram explicadas em linguagem simples, para que o entendimento de
pessoas de diferentes capacidades de interpretao e nveis de instruo fosse possvel.
Buscou-se tambm explorar elementos que foram relatados pelos entrevistados, ainda que no
explicitamente mencionados no questionrio, o que permitiu compreender o contexto de
forma bastante enriquecedora e no restrita apenas a questes tcnicas.
O questionrio geral foi aplicado a todos os entrevistados e abordou questes comuns
a todos, tais como documentos, endereo, escolaridade, qualificao profissional, alocao no
mercado de trabalho, questes de: moradia, sade fsica e mental, religio, talentos,
participao no sistema de mutiro, percepo sobre a situao de abrigo, dentre outras.
O questionrio especifico para os artesos foi aplicado aos entrevistados que relataram
exercer essa atividade como ocupao principal ou secundria (ao todo nove pessoas) e
abordou questes relacionadas a tempo de atividade, renda obtida, problemas enfrentados,
local e condies de produo, sistema de trabalho, dentre outras.
O questionrio especifico para os profissionais de construo civil foi aplicado aos
entrevistados que relataram exercer essa atividade como ocupao principal ou secundria (ao
todo oito pessoas) e abordou questes relacionadas a tempo de atividade, renda obtida,
30
problemas enfrentados, sistema de trabalho, qualificao possuda, qualificao desejada,
dentre outras.
Procedimento
Os dados provenientes da aplicao dos questionrios foram ento transferidos para
uma planilha Excel, possibilitando a elaborao de diversos grficos elucidativos do perfil
socioeconmico da populao entrevistada. Os parmetros utilizados nos grficos foram
selecionados visando obteno de informaes consideradas relevantes para atingir os
objetivos deste trabalho.
Outras atividades de campo
Por meio de observao no participante, foi possvel monitorar as atividades do
Comandante do Desastre, ou no trabalho prtico ou em reunies com o poder pblico,
sociedade civil e empresrios locais. J por meio de observao participante, foi possvel
acompanhar os trabalhos do SEBRAE (Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas
Empresas) e do Sistema FIRJAN (Federao das Indstrias do Rio de Janeiro) em seus
esforos para acelerar a recuperao econmica de empresas e empreendedores, bem como
participar da articulao para constituio de um centro de capacitao profissional em
parceria com o SENAI-RJ (Servio Nacional de Aprendizagem Industrial do Rio de Janeiro),
o SESI-RJ (Servio Social da Indstria do Rio de Janeiro) e a organizao sem fins lucrativos
Cruzada do Menor.
Tambm se contou com a observao participante realizada por meio de outras
atividades de campo: participao em eventos e em projetos / reunies de trabalho com
importantes atores do cenrio de gesto integral de riscos de desastres naturais brasileiros,
durante a atuao deste pesquisador no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (CEMADEN). Uma viso ampla das peculiaridades operacionais e
institucionais dos trs entes federativos (Unio, estados e municpios) foi viabilizada por meio
das seguintes atividades:
Visita s defesas civis nos municpios de Petrpolis, Terespolis e Nova
Friburgo, com a participao do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e do
Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM), em
setembro de 2012;
31
Visita ao Centro Estadual de Administrao de Desastres do Rio de Janeiro
(CESTAD) e Secretaria Estadual de Defesa Civil RJ, em setembro de
2012;
Visita ao Servio Geolgico Brasileiro (CPRM), em setembro de 2012;
Visita ao Centro de Operaes da Prefeitura do Rio de Janeiro, em setembro de
2012;
Participao das atividades de monitoramento e alertas de desastres naturais,
no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(CEMADEN), e sua interface com as atividades do Centro Nacional de
Gerenciamento de Riscos de Desastres (CENAD), de dezembro de 2011 at o
momento;
Participao no 1 Congresso Brasileiro Sobre Desastres Naturais, na cidade de
Rio Claro, SP, em maio de 2012;
Participao no Simpsio Estadual de Polticas para a Previso de
Deslizamentos de Terra e a Preveno de Desastres, organizado pela Secretaria
Estadual de Planejamento e Gesto RJ, em julho de 2012;
Troca de conhecimento com profissionais e pesquisadores do Japo durante a
construo da proposta do Projeto Fortalecimento da Estratgia Nacional de
Gesto Integrada de Riscos de Desastres Naturais, em conjunto com a Agncia
Internacional de Cooperao do Japo (JICA), a Agncia Brasileira de
Cooperao (ABC), O Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI),
o Ministrio das Cidades (MCid), o Ministrio da Integrao Nacional (MI) e o
Ministrio de Minas e Energia (MME), em agosto e setembro de 2012;
Participao de reunio de trabalho sobre a IRP (International Recovery
Platform), plataforma da ONU de boas prticas para recuperao /
reconstruo ps-desastres, na Secretaria Nacional de Acessibilidade e
Programas Urbanos do Ministrio das Cidades, em outubro de 2012;
Visita s Defesas Civis Estaduais de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, So
Paulo, Maranho e Par, ao longo do primeiro semestre de 2013.
importante mencionar ainda a contribuio dos conhecimentos sobre situaes de
emergncias e desastres adquiridos por este pesquisador durante os estudos de ps-graduao
latu sensu em Gesto de Emergncias e Desastres pela FGF (Faculdade Integrada da Grande
Fortaleza), concludo em 2012.
32
Cita-se tambm como relevante para o entendimento do contexto tcnico-social a
experincia adquirida durante as pesquisas realizadas no mbito do Projeto SHS Soluo
Habitacional Simples para Reconstruo em Calamidades / Emergncias, apoiado pela
FAPERJ (Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro)
no perodo 2010-2012, bem como a experincia profissional do pesquisador no planejamento
e execuo de obras por cerca de 10 anos, dentre elas a construo de uma escola, utilizando a
tecnologia de alvenarias em tijolos de solo-cimento, em 2004, no municpio de Duque de
Caxias, RJ.
2.2.2 Casos de recuperao de desastres nacionais e estrangeiros
A segunda parte do captulo 4 fundamenta-se em 53 (cinquenta e trs) casos nacionais
e internacionais de recuperao de desastres e conflitos, destacando-se os pontos mais
relevantes, os sucessos e insucessos presentes em cada contexto. Em verdade foram
analisados todos os casos encontrados no universo pesquisado.
A partir de anlises sobre esse material, buscou-se extrair as lies aprendidas e as
melhores prticas de recuperao em situaes ps-desastre e ps-conflito, adaptando-as para
o contexto brasileiro. As lies aprendidas foram ento identificadas por meio de uma
numerao crescente, com o objetivo de permitir o futuro referenciamento s mesmas, quando
necessrio.
2.3 METODOLOGIA EMPREGADA NO CAPTULO 5
O captulo 5 apresenta uma proposta de ferramentas para gesto da recuperao e
contm os produtos finais do trabalho, na forma das seguintes sadas (outputs):
Fluxograma de processos de Recuperao com nfase em abrigo / habitao e
meios de subsistncia, acompanhado do respectivo glossrio de processos;
Matriz decisria I: Roteiro de aes para recuperao do ambiente e seus
imveis, localizados em rea de risco, supondo recursos disponveis;
Matriz decisria II: Anlise de restries de recursos na determinao do
portflio de recuperao.
Matriz decisria III: Anlise da governana no processo de recuperao, com
base nas limitaes apresentadas pelos atores;
33
Matriz decisria IV: Anlise de valor das modalidades de recuperao
remanescentes, sob a tica do beneficirio.
2.3.1 Fluxograma e glossrio de processos de Recuperao
O fluxograma de processos de Recuperao foi obtido por meio de anlises efetuadas
sobre a reviso da literatura, dos resultados dos trabalhos de campo e das lies aprendidas,
extradas dos casos descritos no captulo 4. O material coletado contribuiu para a percepo
de um contexto sobre o qual se buscou desenhar a estrutura lgica de atividades e processos
de preveno, preparao, resposta e recuperao.
O mapeamento de processos iniciou-se pelos macroprocessos de Preparao e
Resposta, bem difundidos na literatura nacional sobre Proteo e Defesa Civil. Em paralelo,
buscou-se agrupar, sistematizar e sequenciar as atividades de recuperao apresentadas (de
forma expositiva), principalmente, na literatura internacional, constituindo o esboo de uma
estrutura de processos de recuperao.
A partir dessas estruturas iniciais, buscou-se identificar os processos de preparao e
resposta que apresentassem interfaces com os processos de preveno e de recuperao. Tais
ligaes permitiram a conexo entre as atividades e processos de Preveno, Preparao,
Resposta e Recuperao.
Os resultados do trabalho de campo e as lies aprendidas dos diversos casos
analisados permitiram criar processos, ligaes e novas estruturas de gesto, de modo a
incorporar a participao ativa dos beneficirios em todas as etapas da recuperao, ampliar
as possibilidades de autonomia dos atingidos no processo, otimizar o fluxo de operaes e
incorporar as melhores prticas adaptadas ao contexto brasileiro.
O fluxograma tambm aborda a delimitao dos processos, segundo as seguintes fases
ou etapas: Preveno e Preparao, Resposta e Recuperao Imediata, Recuperao
Estruturada de Curto, Mdio e Longo Prazos.
O glossrio de processos apresenta consideraes sobre os processos de Recuperao,
com nfase para aspectos de meios de subsistncia e habitao permanente. Os processos
de Preveno e Resposta foram sucintamente descritos para permitir a contextualizao dos
processos de Recuperao.
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Ao fim da descrio de cada processo, so apontadas as lies aprendidas relacionadas
ao assunto (referenciadas pela numerao), a partir das anlises de casos anteriormente
apresentadas. Desta forma, foi possvel obter uma correlao entre as lies aprendidas e a
estrutura de processos proposta, revelando que uma determinada lio por vezes impacta em
diversos processos.
2.3.2 Matriz decisria I
A matriz decisria I consiste num roteiro de aes para recuperao do ambiente e
seus imveis, localizados em rea de risco, supondo recursos disponveis. Essa ferramenta foi
obtida a partir de uma anlise sobre as questes crticas envolvidas no processo decisrio
inicial do gestor da recuperao, quais sejam: viabilidade tcnico-econmica da recuperao,
a definio das medidas a serem tomadas de acordo com cada situao e os locais onde seriam
aplicadas essas medidas.
Com base nas questes mencionadas, buscou-se obter uma representao grfica do
processo decisrio, que fosse simples de ser utilizada e cujos resultados contribussem de
forma qualitativa para uma deciso rpida.
2.3.3 Matriz decisria II
A matriz decisria II permite a anlise de restries de recursos na determinao do
portflio de recuperao. Essa ferramenta foi obtida a partir de um levantamento dos
principais recursos envolvidos no processo de recuperao e do estudo dos fatores
condicionantes crticos para cada modalidade de recuperao habitacional.
Portanto, nas situaes em que haja escassez de um ou mais recursos crticos, as
modalidades de recuperao dependentes dos recursos acabam sendo inviabilizadas. Essa
relao causa-efeito permitiu elaborar uma ferramenta grfica simples, que permite obter, a
partir de anlises qualitativas, as opes viveis de recuperao perante as restries de
recursos observadas na prtica.
Buscou-se tambm elaborar uma lista de opes de mitigao a partir da hiptese de
escassez de cada recurso, fornecendo um panorama de medidas com potencial de ampliar as
opes do portflio de recuperao, a serem avaliadas pelo usurio da ferramenta.
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2.3.4 Matriz decisria III
A matriz decisria III permite a anlise da governana no processo de recuperao,
com base nas limitaes apresentadas pelos atores sob os aspectos de interesse / vontade,
capacidade / expertise, disponibilidade de pessoal e disponibilidade de recursos materiais /
financeiros.
A ferramenta foi obtida a partir da anlise das limitaes e possibilidades dos diversos
atores envolvidos no processo de recuperao e de como essas limitaes e possibilidades
impactam nas diferentes possibilidades de governana. De forma anloga matriz decisria
II, caso um ou mais atores possuam uma ou mais limitaes consideradas crticas para uma
determinada modalidade de operao, essa excluda do portflio de possibilidades, restando
apenas as opes viveis.
Tambm se buscou estabelecer os tipos de apoio mais adequados s possibilidades de
cada ator no processo.
2.3.5 Matriz decisria IV
A matriz decisria IV permite uma anlise de valor das modalidades de recuperao
remanescentes, sob a tica do beneficirio. Essa ferramenta baseia-se em um mecanismo de
juzo de valor associado a pesos e notas, resultando em uma anlise fundamentada no mtodo
AHP (Analytic Hierarchy Process) + Teoria da Utilidade (NEVES S. et al., 2012). Segundo
os autores, a estruturao de um problema AHP comea com a definio de um objetivo
global desejado, a partir do qual definem-se os subobjetivos ou critrios numa estrutura de
rvore, sendo o objetivo global a raiz. Aps a diviso do problema em nveis hierrquicos, o
mtodo AHP determina de forma clara e por meio da sntese dos valores dos agentes de
deciso, uma medida global para cada uma das alternativas, priorizando-as ou classificando-as
ao finalizar o mtodo. Os autores esclarecem que a Teoria da Utilidade assume que um
decisor deseja fazer uma escolha que corresponde ao maior nvel de satisfao (ou utilidade),
a partir de alternativas discretas associadas a diferentes nveis de satisfao.
Os resultados so apresentados na forma de classes, dependendo da pontuao final
obtida para os parmetros de urgncia, relao benefcio / prejuzo e confiana no processo.
Mediante as pesquisas realizadas, percebeu-se que esses parmetros refletem a percepo de
valor dos beneficirios no processo de recuperao.
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Desta forma, a ferramenta foi programada em Excel para refletir um sistema dinmico
de anlise e seu mecanismo explicado em detalhes no captulo 5.
2.3.6 Aplicao das ferramentas
Apresenta-se, na sequncia, uma aplicao das matrizes I, II, III e IV em uma situao
semifictcia, baseada na pesquisa de campo descrita no captulo 4. Diz-se que o carter da
situao analisada semifictcia, pois nem todos os elementos para avaliao estiveram
disponveis ou foram sistematicamente avaliados pelo autor quando da poca da pesquisa,
havendo, portanto, necessidade de preencher as lacunas com dedues e inferncias baseadas
na percepo do autor sobre o contexto.
Desta forma, reconhece-se que a aplicao em questo pode apresentar divergncias
do contexto real, porm, buscou-se minimizar as incertezas, valendo-se de uma avaliao
crtica imparcial sobre os fatos observados e as informaes disponveis. Em algumas
ocasies houve necessidade de completar lacunas com informaes totalmente fictcias, que
foram identificadas no texto.
3 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 A RECUPERAO APS DESASTRES E CONFLITOS
3.1.1 Conceituao
O termo recovery (ou recuperao) definido pela UN-ISDR (sigla em ingls para
Estratgia Internacional para Reduo de Desastres das Naes Unidas) como decises e
aes tomadas aps o desastre com uma viso de restaurar e aprimorar as condies de vida
da comunidade afetada em relao fase anterior ao pr-desastre, encorajando e facilitando os
ajustes necessrios para reduzir o risco (UN-ISDR, 2009). Ou seja, a recuperao muda o
foco de salvar vidas para restaurar meios de vida, efetivamente prevenindo a recorrncia
dos desastres e das condies perigosas e deve ser entendida como uma parte integral do
processo de desenvolvimento nos nveis: nacional, regional e local (UNPD, 2012). De acordo
com UNPD e IRP (2011), a recuperao frequentemente entendida na viso do pblico em
geral como consistindo principalmente da reconstruo fsica de instalaes e de servios
bsicos.
O Ato de Reconstruo da Califrnia de 1986 (USA, 1994, p.10) define o termo
recuperao como a restaurao geral de atividades sociais, econmicas e institucionais
a nveis comparveis ou superiores queles existentes antes do desastre e aponta que o
termo reconstruo geralmente entendido como a realocao ou reconstruo de
facilidades fsicas danificadas ou destrudas. Segundo JAYARAJ (2003), na sequncia da fase
de reabilitao est a fase de reconstruo, a qual fornece oportunidades de introduzir novos
modos de organizao comunitria e reduo de vulnerabilidades aos perigos.
De uma forma simples, pode-se dizer que o termo recuperao remete a fazer com
que o sistema afetado torne-se melhor do que era antes do evento, em diversos aspectos.
Ressalta-se, no entanto, que a recuperao no possui uma dimenso espacial fixa, podendo
incluir a realocao de populaes. Sob essa tica, a recuperao traz em si o sentido de
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resilincia e de valor agregado, cabendo talvez cunhar o termo recuperao resiliente com
agregao de valor ou mesmo recuperao para melhor. J o termo reconstruo
remete recuperao fsica dos sistemas atingidos, sendo, portanto, parte da recuperao num
sentido mais amplo, entendimento que foi adotado neste trabalho. Analogamente, no desastre
provocado pelo tsunami de 2004 no sul da sia, o ex-presidente americano Bill Clinton
apresentou o termo build back better ou reconstruir melhor, para expressar a importncia
da incorporao do aspecto da resilincia nova infraestrutura fsica a ser construda.
3.1.2 Objetivos da recuperao
Em praticamente todos os desastres naturais, a recuperao comea quase que
imediatamente. As primeiras aes de recuperao, tais como remoo de entulhos,
restabelecimento do fornecimento de gua etc., esto muito ligadas com processos de resposta
na emergncia e so descritas como atividades de reabilitao (CASTRO et al, 2003). Na
sequncia da reabilitao, surgem as atividades que buscam a restaurao dos nveis de
normalidade econmica, social e servios, podendo fazer uso de facilidades temporrias ou
reparadas.
Os objetivos da recuperao de curto prazo (com durao estimada de semanas at
poucos meses do evento) so restaurar casas, empregos, servios e facilidades de forma rpida
e eficiente (UNITED STATES OF AMERICA, 1994). Neste perodo, portanto, as atividades
de reabilitao devem permitir que os indivduos reassumam suas vidas com o mnimo de
estabilidade assegurada, uma vez que UNDP e IRP (2010b) sustentam que os residentes no
podem viver em uma casa a menos que possam ter alguma renda, alimentar suas famlias,
deslocar-se livremente, comunicar-se uns com os outros, dentre diversos outros fatores.
De uma forma resumida, UNDP e IRP (2012) destacam alguns principais objetivos de
uma recuperao:
Restaurao da base econmica das reas e empregos afetados pelo desastre;
Reestabelecimento de fornecimento adequado de habitao permanente para
repor o que foi destrudo e fornecer oportunidades seguras de habitao
transitria;
Restaurao de longo prazo da infraestrutura pblica, servios sociais e bens
ambientais danificados pelo desastre;
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Redesenvolvimento sadio e sustentvel, utilizando padres de uso do solo
resilientes a desastres.
Entretanto, os autores no mencionam explicitamente alguns itens de fundamental
importncia, porm mais subjetivos, como a recuperao psicossocial e a recuperao do
capital social da comunidade afetada. NAKAGAWA (2004) define capital social como uma
funo de confiana mtua, redes sociais de indivduos e grupos, e normas sociais (como
obrigaes e boa vontade) na direo de aes coletivas para benefcio mtuo. Os apoiadores
desse novo conceito acreditam que os nveis de confiana, normas sociais e redes de trabalho
podem ser mensurados e uma alta acumulao desse capital contribui significativamente para
o desempenho social, poltico e at mesmo econmico.
Nesta mesma linha, UNDP (2011) apresenta a recuperao como uma oportunidade de
reduzir a vulnerabilidade de certos grupos sociais e incrementar a equidade de gnero, assim
como NAKAGAWA (2004) afirma que os processos de recuperao ps-desastre devem ser
considerados como oportunidades para desenvolvimento por meio da revitalizao da
economia local e melhoria de meios de subsistncia e condies de vida e tambm que o
capital social da recuperao ser facilitado e/ou reforado pela confiana em lderes
comunitrios e pela maturidade poltica da comunidade. Segundo o autor, a maturidade
poltica significa que a comunidade est acostumada construo de consenso por meio de
reunies e discusses entre os seus membros.
3.1.3 Escopo e princpios da recuperao
Conforme a declarao assinada pela Comisso Europeia, as Naes Unidas e o Banco
Mundial sobre ps-crise (Joint Declaration on Post-Crisis Assessments and Recovery
Planning, 2008), o escopo e abordagem do programa de recuperao dependero no somente
das perdas quantificadas, danos e necessidades, mas dos recursos mobilizados e das
prioridades nacionais definidas numa estratgia de recuperao que pode incluir uma deciso
explcita de reconstruir melhor.
O escopo da recuperao reflete-se na abrangncia do processo, ou seja, onde comea
e termina o processo de recuperao em seus diversos aspectos. UNITES STATES OF
AMERICA (2011) e UNDP (2011) apontam as seguintes dimenses da recuperao:
Preparao. Responsvel pelo aspecto de construo da capacidade de
recuperao e planejamento de todo o processo, com envolvimento da
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comunidade. Neste ponto destaca-se o planejamento da recuperao no pr-
desastre, que contribui fortemente para a rapidez e preciso das aes a serem
implementadas no ps-desastre. Entretanto, este no exime a necessidade de
um planejamento de recuperao ps-desastre, onde o planejamento pr-
desastre ser adaptado s demandas geradas pelo desastre ocorrido.
Econmica. Diretamente relacionada retomada da capacidade produtiva das
empresas locais, proviso de empregos e meios de subsistncia para a
populao afetada (a reconstruo de casas empregando tecnologias locais,
materiais de construo e know-how local podem ter um impacto positivo
direto na economia local).
Sade e servios sociais. Com foco em infraestrutura primria (abrigo, gua,
esgoto, coleta de lixo, ainda que temporria), apoio psicossocial e facilidades
(sade, educao e outras).
Habitao. Proviso de habitao provisria e permanente, com ou sem o
reassentamento de famlias, buscando a recuperao resiliente com agregao
de valor.
Sistemas de infraestrutura. Reabilitao / recuperao do ambiente
construdo e infraestrutura fsica local, dentro da filosofia de recuperar para
melhor.
Recursos naturais e culturais. Contm medidas para reabilitao dos recursos
naturais afetados pelo desastre e do fortalecimento da cultura local nas
comunidades afetadas, buscando a preservao da identidade cultural do grupo.
Os princpios da recuperao constituem diretrizes para que o processo seja planejado
e implementado de forma a atingir os objetivos traados. Autores ressaltam os seguintes
princpios de uma abordagem bem sucedida de recuperao:
Estabelecimento do planejamento de recuperao pr-desastre, que agrega
eficincia aos esforos de planejamento e implementao ps-desastre e
aumenta a eficcia da recuperao (USA, 2011);
Estabelecimento de uma estrutura institucional para implementao da
reconstruo (ENVIRONMENTAL PLANNING COLLABORATIVE - EPC
et al, 2004) com tomada de deciso gil, coordenao efetiva (UNDP e IRP,
2012; USA, 2010; USA, 2011) e unidade de esforo (USA, 2011);
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Estabelecimento de uma estrutura para participao pblica no planejamento e
implementao da reconstruo (EPC et al., 2004), com engajamento dos
cidados e uma estrutura de comunicao pblica adequada (USA, 2010 e
2011) na qual comunidades e famlias tenham uma forte voz em determinar a
abordagem de reconstruo no ps-desastre e um papel central no processo de
reconstruo (JHA et al, 2010; UNDP; IRP, 2012 e USA, 2011);
Utilizao de um processo que dirigido pela comunidade e gerenciado
localmente, desenhado para promover tomadas de decises locais e autoria do
planejamento da recuperao e do esforo de implementao (USA, 2010 e
2011);
Estabelecimento de parcerias e incluso (USA, 2011);
A poltica de reconstruo deve considerar as neces