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CESA – CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁ ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS MARIA HELENA GUEMBARSKI FLÁVIO PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM NO HOSPITAL ZONA SUL DE LONDRINA LONDRINA 2008

Proposta de Implantacao Da Comissao de Etica Em Enfermagem

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CESA – CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS ESCOLA DE GOVERNO DO PARANÁ

ESPECIALIZAÇÃO EM FORMULAÇÃO E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

MARIA HELENA GUEMBARSKI FLÁVIO

PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM NO HOSPITAL ZONA SUL DE

LONDRINA

LONDRINA 2008

MARIA HELENA GUEMBARSKI FLÁVIO

PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM NO HOSPITAL ZONA SUL DE

LONDRINA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Formulação e Gestão de Políticas Públicas, da Universidade Estadual de Londrina - UEL, como requisito final de avaliação. Orientador: Prof. Gerson Antonio Melatti.

Londrina 2008

MARIA HELENA GUEMBARSKI FLÁVIO

PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM NO HOSPITAL ZONA SUL DE

LONDRINA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Formulação e Gestão de Políticas Públicas, da Universidade Estadual de Londrina - UEL, como requisito final de avaliação.

COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Gerson Antonio Mellati Universidade Estadual de Londrina Profª. Marli de Lourdes Verni Universidade Estadual de Londrina

______________________________________ Profª. Lucia Helena Machado do Car mo Universidade Estadual de Londrina Londrina,____de_________________de 200 8.

FLÁVIO, Maria Helena Guembarski. Proposta de Implantação do Comitê de Ética em Enfermagem no Hospital Zona Sul de Londrina, 2008. 98 fls. Monografia de Especialização (Curso de Especialização em Formulação e Gestão de Políticas Públicas) – Universidade Estadual de Londrina, Londri na, 2008.

RESUMO

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da coletividade, atuando na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais. As Comissões de Ética em Enfermagem têm como objetivo ensinar, pesquisar, prestar consultorias e sugerir normas institucionais em assuntos éticos e têm se demonstrado relevantes para o aprimoramento profissional dos Enfermeiros. Este trabalho surgiu da necessi dade de se instituir uma Comissão de Ética de Enfermagem no HZSL como uma forma de resolver impasses do di a-a-dia, para que os dil emas éticos e os apr ofundamentos de problemas envolvendo profissionais de enfermagem, cliente e família possam ser discutidos. Assim, teve como objetivo de pesquisa conhecer a opinião dos profissionais de saúde do Hospital Zona Sul de Londrina quanto à implantação da Comissão de Ética de Enfermagem. Foi realizado através de pesquisa descritiva tanto de base qualitativa quanto quantitativa, junto á Direção da Instituição, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, envolvendo 46 profissionais. Concluiu-se, ao final da pesquisa que a formação dessa Comissão é desejada por parte dos profissionais, pois estes acreditam que a mesma poderá sanar e proporcionar oportunidade de resolução de muitos problemas vividos pelos mesmos nos dias atuais através de regulamentação, orientação no sentido de humanização das ações de enfermagem com o intuito de promover a saúde e proteger o paciente, vislumbrando atendimento com a melhor qualidade possível. Também consideram a fiscalização tanto do exercício da profissão como das condições de trabalho oferecidas, como fatores relevantes.

Palavras-chave: Comissão de Éti ca, Enfermagem, Hospi tal Zona Sul, Londrina.

FLÁVIO, Maria Helena Guembarski. The implementation of nursing ethics committee in Londrina South Zone Hospital, 2008. Specialization Monograph. 98 fls. (Curso de Especialização em Formulação e Gestão de Políticas Públicas) – Universidade Estadual de Londri na, Londrina, 2008.

ABSTRACT

Nursing is a profession committed to the community and human beings’ health, acting in order to have promotion, protection, health recuperation and patient’s rehabilitation, respecting the lawful and ethical precepts. The Nursing Ethic Commissions have as objective to teach, to research, to counsel and to suggest institutional norms in ethical issues and they have been relevant for the development of nurses. This study is to express the necessity of having a Nursing Ethic Commission at HZSL as manner to solve everyday problems, as well as in order to discuss ethical dilemmas and other serious problems involving nursing professional, client and family. Then, it had as objective to know HZSL health professional’s opinion about the implementation of a Nursing Ethic Commission there. It was carried out through a descriptive research, consisting of qualitative and quantitative aspects, answered by the Institution director department, nurses and nursing technicians, involving 46 professionals. It was concluded that having a Commission is desired by part of the professionals, because they believe that is a manner to solve issues and an opportunity of elucidation for the everyday problems lived by them through regulation, humanistic orientation in the sense of nursing actions that aim to promote health, protect the pat ient and a good quali ty service. They also consider a prominent factor the inspection of professional acting and the working conditions offered.

Key words: Nursing Ethic Commissions, Nursing, HZSL – South Zone Hospital, Londrina.

A Deus, por me abençoar em minha caminhada. Aos meus familiares, pela paciência e incentivo. Aos meus amigos, pelos maravilhosos momentos vividos.

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AGRADECIMENTOS À minha família, pelo suporte emocional quando decidi concluir o curso, pela

confiança e esperança.

Aos amigos, por compartilhar os momentos de dificuldades e de alegrias vividos

durante o período do curso.

Aos professores, pelos ensinamentos e pelo apoio proporcionado para nossa

capacitação profissional e pessoal .

A todos que de alguma forma foram imprescindíveis para a minha conquista

espiritual, intelectual e pessoal.

Ao meu coordenador Prof. Gerson Antonio Melatti pelo apoio, dedicação e paciência

que me dispensou durante a realização deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Organograma do Hospi tal Zona Sul de Londrina ................................ ... 50

Figura 2 – Representação da necessi dade de cr iação de uma Co missão de

Ética em Enfermagem no HZSL ................................ ............................. 57

Figura 3 – Cargo ocupado pel os profissionais de nível técnico do HZSL ................ 65

Figura 4 – Grau de instrução dos profissionais de nível técnico do HZSL ............... 66

Figura 5 – Tempo de atuação em enfer magem dos profissionais de nível técnico

do HZSL ................................ ................................ ................................ . 66

Figura 6 – Tempo de atuação no HZ SL dos profissionais de nível técnico

entrevistados ................................ ................................ .......................... 67

Figura 7 – Setor de atuação dos profissionais de nível técnico do HZSL ................ 68

Figura 8 – Turno de trabalho dos profissionais de nível técnico do HZSL................ 68

Figura 9 – Definição de ética segundo a opinião dos profissionais de nível técnico

do HZSL ................................ ................................ ................................ . 69

Figura 10 – Função mais importante da Comissão de Ética para os profissionais

de nível técnico do HZSL................................ ................................ ...... 71

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................. ......................................... ..................................... 10 2 METODOLOGIA......................... .............................. ...................................... 12 2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA 12 3 REFERENCIAL TEÓRICO............... .............................................................. 14 3.1 HISTÓRIA DA ÉTICA......................................................................................... 14 3.2 ÉTICA E SOCIEDADE........................................................................................ 19 3.3 ÉTICA E SAÚDE........................................................ ...................................... 21 3.3.1 Tipos de ética........................................................................................... 22 3.3.2 Desenvol vimento tecnológico/doença e a ética........................................ 23 3.3.3 Paciente e ética........................................................................................ 24 3.4 ÉTICA NA MEDICINA........................................................................................ 24 3.4.1 Breve histórico da ética na medicina........................................................ 24 3.4.2 Objetivos imediatos da formação ética do profissional de saúde.... ......... 27 3.4.3 Par ticipação dos consel hos no processo de divulgação da ética............. 28 3.4.4 Legislação de apoi o à formação ética do profissional de saúde..... ......... 29 3.4.5 O model o ética na saúde à luz dos interesses da soci edade................... 30 3.5 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM............................................................................. 30 3.5.1 A implantação da enfermagem moderna no Brasil................................... 32 3.5.2 As primeiras escolas de enfermagem moderna no Brasil........................ 32 3.5.3 Distinção entre normas éticas e moral..................................................... 33 3.5.4 Evolução das legislações de enfermagem................... ............................ 34 3.5.5 Legislação atual do exercício da enfermagem....................... .................. 34 3.5.6 Responsabilidade ética, civil e penal........................................................ 35 3.6 ÉTICA NA ENFERMAGEM.................................................................................. 36 3.6.1 Princípios fundamentai s da ética em enfermagem...................... ............. 37 3.6.2 Norma moral e conduta profissional......................................................... 38 3.7 ÉTICA E MORAL.............................................................................................. 41 3.7.1 Ética e condição humana................ ......................................................... 41 3.7.2 Conf litos inevitáveis.................................................................................. 42 3.7.3 Consciência ética...................................................................................... 43 3.8 Ética em Ambiente Hospital ar..................................................................... 44 4 CARACTERIZAÇÃO DO HOSPITAL ZONA SUL......................................... 47 5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DA PESQUISA ....................... ...... 56 5.1 PESQUISA COM ALTO ESCALÃO DO HZSL........................................................ 56 5.2 PESQUISA QUANTITATIVA COM OS FUNCIONÁRIOS DE NÍVEL TÉCNICO................ 65 6 PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA..................... 74 8 CONCLUSÃO .................... ....................................... .................................... 76 REFERÊNCIAS...................... ...................................... ...................................... 78 APÊNDICES .................. .............................................. ...................................... 81

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Apêndice A - ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM PROFISSIONAIS DO HOSPITAL ZONA SUL.......................................................................

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Apêndice B - ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO PARA AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM.................................................................................

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ANEXOS....................... ................................................ ...................................... 85 Anexo A - CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM........................ 86 Anexo B – FOLDER DE DIVULGAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA ................................ 95 Anexo C – BANNER DE DIVULGAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA ............................... 97

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1 INTRODUÇÃO

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser

humano e da coletividade, atuando na promoção, proteção, recuperação da saúde e

reabilitação das pessoas, respei tando os preceitos éticos e legais.

Entre as responsabilidades do profissional de enfermagem está em

garantir ao cliente uma assistência de enfermagem sem danos decorrentes de

imperícia, negligência ou imprudência, além de cumprir e fazer cumprir os preceitos

éticos e legais da profissão e determinar a execução de atos contrários ao código de

ética e demais legislações que regulamentam a profissão.

Há tempos atrás, a ética se preocupava unicamente com as

condutas individuais do ponto de vista do bem e do mal e era foco de estudo apenas

de teólogos e filósofos, porém, com o desenvolvimento científico e tecnológico,

ocorreram mudanças em sua concepção.

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) institui a Comissão

de Ética de Enfermagem através da Resolução do COFEN nº 172/94 (Anexo A)

como órgão de caráter educativo, consultivo e fiscalizador do exercício profissional e

ético dos profissionais de enfermagem.

Após a implantação das Comissões de Ética, surgiram as

Comissões de Ética em Pesquisa em Saúde e, mais recentemente, as Comissões

de Bioética.

A enfermagem possui um código de Deontologia que foi aprovado

pela resolução COFEN de nove de outubro de 1975, no qual estão expostos os

princípios e deveres que norteiam e conduzem a atividade profissional para que a

enfermagem não se desvincule do próprio bem que é o objetivo de sua atuação.

Quanto às Comissões de Bioética são definidas como corpo

interdisciplinar de pessoas que têm por objetivo ensinar, pesquisar, prestar

consultorias e sugerir normas institucionais em assuntos éticos. Estas comissões

foram criadas como alternativa para ajudar os médicos tomarem decisões quando

estas se tornam difíceis de serem tomadas individualmente, pois se tratando da

assistência ao paciente, muitos impasses podem surgir.

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A bioética possui uma relevância significativa por organizar o

tratamento de diferentes questões utilizando-se para tanto de princípios e fins

comuns. Dispõe também dos princípios éticos básicos que devem guiar a bioética, a

autonomia ou respeito às pessoas por suas escolhas e pareceres, de acordo com

seus valores e crenças pessoais.

É fundamental que os Comitês de Ética não restrinjam seu trabalho

somente às questões éticas de uma instituição, mas também aos profissionais da

saúde, aos pacientes e seus familiares juntamente com todo o corpo administrativo

de uma instituição de saúde.

A realização deste trabalho surgiu pela necessidade de se instituir

uma Comissão de Ética de Enfermagem como uma forma de resolver impasses do

dia a dia que surgem, para que os dilemas éticos e os aprofundamentos de

problemas envolvendo profissionais de enfermagem, cliente e família possam ser

discutidos.

Espera-se que este estudo possa servir como facilitador para a

implantação de uma Comissão de Ética de Enfermagem no Hospital Zona Sul de

Londrina.

Nesse contexto, tem-se como objetivo geral propor a implantação da

Comissão de Ética em Enfermagem no Hospital Zona Sul de Londrina, e como

objetivos específicos:

a) Levantar a opinião dos profissionais de saúde do HZSL sobre o

conceito de ética, implantação e atribuições da Comissão de Ética

de Enfermagem;

b) Conscientizar e inserir a equipe de enfermagem sobre a

importância da ética na assistência por meios de ações

educativas;

c) Verificar a possibilidade de melhorar tornando a assistência de

enfermagem ao cliente mais humanizada e ét ica;

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2 METODOLOGIA

Para atingir os objetivos propostos no presente trabalho, foi

realizada, inicialmente, pesquisa bibliográfica que, de acordo com Mattar (1999,

p.82), é uma das formas mais rápidas de amadurecer ou aprofundar um problema de

pesquisa [...]”, e descritiva, pois, segundo Vergara (2005, p.47) “a pesquisa

descritiva tem como objetivo expor características de determinada população, não

tendo o compromisso de explicar os fenômenos descritos”; buscando embasamento

teórico, bem como amostragens de dados, além de pesquisa qualitativa e

quantitativa, pois esta foi realizada em duas fases distintas.

Optou-se inicialmente pela pesquisa qualitativa por ser esta, de

acordo com Mattar (1999, p.77), tecnicamente, a que “identifica a presença ou

ausência de algo” [...] e também porque, a “pesquisa qualitativa tem seus dados

colhidos através de entrevistas individuais em profundidade”, que é o que se busca

aqui.

2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Na primeira fase foi realizada uma pesquisa qualitativa com

perguntas abertas com profissionais de alto escalão do hospital em estudo, através

de questionário com perguntas abertas e em profundidade (Apêndice A) visando

identificar a opinião destes com relação à ética hospitalar. Os profissionais

entrevistados foram o Diretor Clínico, o Coordenador de Bioética, a Direção e

Enfermagem e os Enfermeiros, totalizando sete entrevistas. A coleta de dados foi

realizada nos meses de dezembro a janeiro de 2008.

Na segunda fase foi realizada pesquisa quantitativa estruturada

através de questionário contendo 12 questões de múltipla escolha (Apêndice B),

com 44 auxiliares e técnicos de enfermagem e também auxiliares de saúde, entre os

dias 03 a 15 de janeiro de 2008 durante o horário de expediente dos profissionais.

Optou-se aqui, pela pesquisa quantitativa por ser, segundo Mattar (1999, p.77), “a

mais indicada para aquisição de dados de um grande número de respondentes e

estes são submetidos a análises estatísticas formais”. Foram abordados todos os

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auxiliares de enfermagem do hospital, em todos os períodos, o quais receberam os

questionários pessoalmente da entrevistadora e os mesmo foram retirados

respondidos após 24 horas.

A opção pela pesquisa de campo se deve ao fato que, de acordo

com Fortes (2003, p.74), “utilizar a pesquisa de campo é essencial não somente

para obter informações, mas para julgar a eficácia de uma campanha ...”. Segundo

ele, este modo é o mais eficaz para alcançar o objetivo da pesquisa, ou seja,

levantar o entendimento dos membros de enfermagem sobre o conceito de ética e

as atribuições da comissão de ética de enfermagem.

Após a aplicação da pesqui sa, os dados foram tabulados, analisados

e seus resultados foram expostos juntamente com embasamento teórico relacionado

ao tema das questões.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 HISTÓRICO DA ÉTICA

Neste capítulo registra-se a compreensão de Vasquez (2003) sobre

as contribuições dos grandes filósofos da humanidade, como Sócrates, Platão,

Aristóles, Kant, Kirkegaard e Marx, que foram os pilares da ética.

As doutrinas éticas nascem do estudo dos juízos de apreciação que

se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e

do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja do modo absoluto.

Portanto as doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas sim,

num processo de sucessão que const itui a sua história.

Ética e história andam de mãos dadas, seja na vida social com suas

normas morais, ou a história própria de cada doutri na. Sobre o fundo histórico social

e histórico-moral, para melhor entendimento, traçaremos um paralelo entre algumas

doutrinas fundamentais.

Segundo Vasquez (2003) a ética surge na Grécia, com a

democratização de vida política na antiga Gr écia e de Atenas, apar ece o naturalismo

dos filósofos e com ele, uma preocupação com os problemas do homem, problemas

políticos e morais. Sócrates, Platão e Aristóteles defendem a idéia de uma

comunidade democrática limitada e local ou o Estado-cidade ou polis.

Também segundo o autor, um importante movimento intelectual foi o

sofismo, que trata-se de movimento intelectual na Grécia no século V, onde a

palavra "sofista" ficou conhecida como mestre ou sábio, análogo ao vocábulo Grego

sofia que quer dizer sabedoria. Os sofistas ignoravam o saber a respeito do mundo

por considerá-lo estéril e impõem um saber a respeito do homem político e jurídico,

adotando um conhecimento prático que tendem a influenciar a vida do homem na

medida em que ensinam a ele a arte de convencer através da retórica como método.

Protágora destaca-se por afirmar ser o homem a medida de todas as coisas, e

Geórgias que atribuiu grande importância à linguagem e que é impossível saber o

que existe e o que não exi ste.

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Vasquez (2003) registra os principais filósofos e a evolução da ética,

entre os quais destacam-se:

Sócrates: Doutrina caracterizada sobretudo pela consideração de

problemas morais humanos e pel o abandono expresso dos temas l igados a natureza

e que visa, mediante o diálogo, à definição do bem. Para Sócrates, bondade,

conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente, o homem que conhece o

bem, não dei xa de praticá-lo e, portanto é um ser feliz.

Platão: Sua doutrina e de seus seguidores, pregava a teoria das

idéias e preocupação com os temas éticos visando toda meditação filosófica ao

conhecimento do bem, em conseqüênci a, via-se a implantação da justiça entre os

estados e entre os homens. "Em a República, Platão constrói um estado ideal a

semelhança da alma. Cada parte desta corresponde uma classe especial que deve

ser guiada pela respectiva virtude: à razão, a classe dos governantes - filósofos,

guiados pela prudência; ao ânimo ou vontade, a classe dos guerreiros, defensores

de Estados, guiados pela fortaleza; e ao apetite os artesãos e os comerciantes,

encarregados dos trabalhos materiais e utensílios guiados pela temperança. Cada

classe social deve consagrar-se a sua tarefa especial e abster-se de realizar outras"

(VASQUES, 2003, p.28) .

Aristóteles: São temas centrais deste filósofo grego, a teoria da

abstração e do silogismo, os conceitos de ato e potência, forma e matéria,

substância e acidente, doutrinas todas que serviram a criação da lógica formal e da

ética, e que exerceram enorme influência no pensamento oci dental.

Estóicos e Epicuristas: Estoicismo era designação dada às

doutrinas dos filósofos gregos Zenão de Cicio e seus seguidores Cleanto, Criscipo e

os romanos Epicteto e Marco Aurélio, caracterizadas sobretudo pela consideração

do problema moral, constituindo a ataraxia o ideal do sábio. Já os espicuristas são

representados por Epicerio, na Grécia, e por Tito Lucrécio Caro, em Roma. Esta

doutrina é caracterizada na física, pelo atomismo e na moral pela identificação do

bem soberano com o prazer, o qual concretamente a de ser encontrado na prática

da virtude e na cultur a do espírito.

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Ética Cristã Medieval: O cristianismo transforma-se na religião

oficial de Roma e impõem o seu domínio durante dez séculos. A moral concreta,

efetiva e a ética, como doutrina moral, estão impregnadas, também de um conteúdo

religioso que encontr amos em todas as mani festações da vida medi eval.

Ética Religiosa: A ética cristã parte de verdades reveladas por

Deus. Dele e de sua relação com o homem, e que este ser obterá a salvação no

outro mundo. O cristianismo como religião oferece ao homem certos princípios

supremos morais que, por virem de Deus, têm para ele o caráter de ordens

absolutas e inquestionáveis.

Ética Cristã Filosófica: Na idade média para esclarecer e justificar,

lançando mão da razão, o cristianismo era visto como uma filosofia. Subordinando a

filosofia à teologia também se subordina a ética. Destacam-se nesta ética de Santo

Agostinho e de Santo Tomas de Aquino. Santo Agostinho se afasta do pensamento

grego antigo pregando que, o valor da experiência pessoal da interioridade da

vontade e do amor, é que prevalece para ele. Na ética tomista, Deus é o bem

objetivo ou fim supremo, cuja posse causa gozo ou felicidade, que é um bem

subjetivo, considerando que todo o poder deriva de Deus e o poder supremo caiba à

Igreja.

Ética Moderna: Vai do século XVI até o início do século XIX. Tinha

uma tendência antropocêntrica, em contraste com a ética teocêntrica e teológica da

idade Média, que at inge seu ponto cul minante na ét ica de Kant.

Ética Antropocêntrica no Mundo Moderno: Caracterizada por

uma série de mudanças em todas as ordens. Considera o homem como o centro ou

a medida do Universo, sendo-lhe por isso, destinadas a todas as coisas. O homem

aparece, portanto, no centro da política, da ciência, da arte e também da moral. Ao

se transferir o centro de Deus par a o homem este acabará por apresentar-se como o

absoluto.

Ética de Kant: É a mais perfeita expressão da ética moderna, pela

mudança que r epresenta, dentro da evolução do pensamento éti co que culminará na

nossa época. A ética de Kant, caracterizada principalmente pela intenção de

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determinar os limites, o alcance e o valor da razão, concluindo pela redução do

conhecimento racional aos objetivos de experiência possível (o que significa a

negação da possibilidade de conhecimento racional dos objetivos da metafísica e da

religião) e pela necessidade de fundamentar a moral em imperativos categóricos

gerados pela razão prática. Kant é o ponto de par tida de uma filosofia e de uma éti ca

na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou criador.

Ética Contemporânea: Ainda exerce o seu influxo em nossos dias.

Tal é o caso das idéias de Kierkegaard, Stiner ou Marx. No plano filosófico, a ética

contemporânea se apresenta em suas origens como uma reação contra o

formalismo e o racionalismo abstrato Kantiniano, sobretudo contra a forma absoluta

que este adquire em Hegel. O pensamento ético reage contra o formalismo e o

universalismo abstrato e em favor do homem concreto, contra o racionalismo

absoluto e em favor do reconhecimento do irracional no comportamento humano,

contra a fundamentação transcendente da ética e em favor da procura da sua

origem no próprio homem.

Para Vasquez (2003), as doutrinas fundamentais contemporâneas

no campo da éti ca são as seguintes:

a) De Kierkegaard ao Existencialismo : Kierkegaard é considerado

hoje como o pai do existencialismo, para a qual o objeto próprio da reflexão filosófica

é o homem na sua existência concreta, sempre definida nos termos de uma situação

determinada, mas não necessária, o ser-em-situação, o "ser-no-mundo", a partir da

qual o homem, condenado a liberdade, por já não ser portador de uma essência

abstrata e universal, surge como o arquiteto da sua vida, o construtor do seu próprio

destino, submetido embora a limitações concretas, filosofias existenciais, filosofias

da existência.

Mas Stirgner, autor de O único e sua propriedade, pode ser

considerado como um dos únicos precursores do anarquismo moderno.

Já o existencialismo de Jean Paul Sartre renova em nossos dias a

orientação individualista de Keirkegaard que, como vimos também passa por

Stirgner. Sartre afasta-se de ambos, pois para ele, Deus não existe e é preciso

deduzir desta verdade todas as conseqüências, recorda a este propósito as palavras

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de Dostoiéviski, "Se Deus não exi stisse, tudo seria permitido". O homem é liberdade,

cada um de nós é absolutamente livre e mostra a sua liberdade sendo o que

escolheu ser.

b) Pragmatismo: Doutrina de Charles Sanders Pierce, cuja tese

fundamental é que a idéia que temos de um objeto qualquer nada mais é senão a

soma das idéias de todos os efeitos imagináveis e atribuídos por nós a esse objeto,

que possam ter um efeito prático.

c) Psicanálise e Ética: A corrente psiquiátrica e psicoterapêutica foi

fundamentada por Sigmund Freud. O pressuposto básico da psicanálise é a

afirmação de que existe uma zona da personalidade da qual o sujeito não tem

consciência, e que é precisamente o inconsciente.

Freud distingue três zonas da personalidade: o id, conjunto de

forças, impulsos ou tendências inconsciente, o ego, que é a consciência em sentido

próprio e o superego, conjunto de morais e prescrições que são impostas ao sujeito

de maneira autoritária e inconsciente, o superego, do qual fazem parte os valores e

normas morais adquiridos no período da educação, apresenta-se como uma espécie

de consciência inconsciente - o que não deixa de ser uma contradição em termos -

que entra em conflito com a consciência moral (consciente).

d) O Marxismo : Doutrina dos filósofos alemães Karl Marx e

Friedrich Engels, fundada no materialismo dialético e que se desenvolveu através

das teorias das lutas de classes e da colaboração do relacionamento entre o capital

e o trabalho, do quê resultou a criação da teoria e da tática da revolução proletária.

Destas premissas, deduziu-se as seguintes teses fundamentai s para a ética:

1) A moral tem um caráter de classe;

2) Diferentes morais de classes, já que cada classe corresponde

uma moral particular;

3) A moral proletária e a moral de uma classe que está destinada a

abolir a si mesmo como classe, para ceder lugar a uma

sociedade verdadeiramente humana;

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4) Os homens necessi tam da moral como necessi tam da produção;

5) Uma nova moral, com as suas novas virtudes, se transformam

numa necessidade;

6) A possibilidade de que a história tome outro rumo, se o homem

não atua conscientemente como seu sujeito, coloca-lhe um

problema moral e,

7) O homem deve interagir na transformação da sociedade naquilo

que Marx, de certa feita, chamou de " a impotência em ação".

e) Neopositivismo e Filosofia Analítica: Estas correntes têm como

principais porta-vozes Ayer, Stevenson, Noewell-Smith e Toumim. Declaram-se

neutros no terreno da posição nas grandes questões morais tradicionalmente

preocuparam a ética. Todas as analogias e modelos destinados a esclarecer a

linguagem ética têm o aspecto de tentativas preparatórias para limpar a mesa do

jogo. E é natural que nos sintamos logrados quando comprovamos que uma vez

limpada a mesa, par ece estar terminado o jogo.

3.2 ÉTICA E SOCIEDADE

Segundo Vall s (1989, p. 7) “a ética como reflexão científica, filosófica

e até teológica, vem sendo estudada desde a antigüidade pelos mais renomados

filósofos”. Sócrates, consagrado "fundador da moral", destacou-se nesta área da

filosofia por buscar em suas indagações, a convicção pessoal dos transeuntes para

obter uma melhor compreensão da justiça. Sócrates acreditava nas leis, mas como

pensador capaz de por em prova o próprio subjetivo, às questionava, gerando um

descontentamento aos conservadores gregos da época. A condenação de Sócrates

a beber veneno ainda é um questionamento, cuja resposta possa estar nas

entrelinhas dos argumentos conservadores do poder: "as leis existiam para serem

obedecidas e não para serem justificadas".

Se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta por Deus aos humanos, é porque nossa bondade foi pervertida pela sociedade quando criou a propriedade privada e os interesses privados. (VALLS, 1989, p.7)

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De acordo com Chauí (1994) ainda hoje nos deparamos com

situações que fogem aos anseios de uma Ética universal, onde pessoas injustiçadas

perdem a vida, morrem de fome, passam as piores necessidades e situações de

constrangimento por serem negras ou pobres. Instituições como a família, Igreja e

organizações culturais ainda cultivam no seio de suas atividades valores

representativos de uma Ética padrão e de valores condizentes com a noção

humanitária de vida, porém por outro lado, sentimos na pele ações de uma minoria

que infringe as normas legais e ultrapassam as barreiras do Ético na ânsia de

adquirir ou conservar seu poder. Em apoio e como cúmplice deste processo de

decadência moral, encontramos os meios de comunicação de massa. Com enorme

força de poder de conscientização, eles funcionam de maneira a levar aos lares da

sociedade, as situações mais ilusórias e pervertida do social, fazendo com que seu

público caia no abismo do amoral. Lamentavelmente, a televisão como meio de

comunicação que atinge em maior proporção a população em todas as camadas,

desponta na fr ente como meio que mais distorce a realidade e infiltra na população a

ideologia dominante, quando ao invés disso, poderia utilizar tal poder no sentido de

esclarecer, educar e conscientizar a população, almejando uma sociedade iguali tária

onde o branco, o negro, o rico e o pobre tenham direitos iguais.

Segundo Chauí (1994) o Brasil dos últimos 50 anos enfrentou

algumas altas e baixas no que tange a liberdade de vida de maneira digna. A que

mais repercutiu foi o golpe de 64 que originou o despertar da comunidade estudantil

e da sociedade em geral para questões primárias como liberdade e democracia. A

repressão originada pelo golpe sacrificou toda uma geração com todos os meios

possíveis de tortura e constrangimento. Uns mortos, outros torturados e outros para

não serem mortos ou presos passaram a viver no exílio, mesmo assim não

escapavam das perseguições. Os quase 10 mil brasileiros que viviam no exterior,

principalmente na América latina, não se intimidaram com essas repressões, mesmo

exilados em países diferentes, formaram uma corrente contra-ditadura não deixando

o espírito do patriotismo morrer. Pessoas como Paulo Freire, Gilberto Gil, Herbert de

Souza e outros, trouxeram do exílio verdadeiras lições de vida e conhecimentos,

contribuindo com a educação, cultura e dando sua participação de solidariedade

humana.

25

No final de década de 90, sentia-se que foram alcançadas algumas

melhorias na sociedade, principalmente no que tange à conscientização de uns

poucos para as questões morais que norteiam a sensibilidade do homem às

situações críticas e polêmicas da sociedade. Projetos como a Ação da cidadania

contra a miséria e pela vida, e a própria tentativa de dar um basta na corrupção

política do país, resgatou a confiança do povo para um Brasil melhor onde habite o

dever do valor moral e de uma postur a socialmente Ética.

Com certeza, disparidades sociais são vividas em todo o mundo. A

existência de dominantes e dominados parece ser o requisito principal para se viver

em sociedade. Mas estamos caminhando para essa superação e, certamente, a

educação é a melhor maneira de montarmos a nossa estratégia no sentido de

alcançarmos uma padronização nas ações e comportamentos dos homens.

3.3 ÉTICA E SAÚDE

Collet (1995) acredita ser imprescindível pensar em ética na saúde,

devido à situação do dia a dia em que profissionais do setor saúde e pacientes

usuários acabam enfrentando por causa do descaso do sistema sócio-político e

econômico com este setor. Descaso este percebido nas desigualdades quanto ao

acesso aos serviços de saúde, distribuição insuficiente de serviços para os

programas da área, e principalmente pela necessidade de maiores incentivos e

investimentos aos recursos humanos da área. São todos agravantes que ocasionam

a evasão dos prof issionais das instituições públicas como os hospi tais, o fechamento

de leitos, doentes que ficam dias sobre macas nos corredores a espera de vagas,

moléstias infecto-contagiosas que acabam sendo tratadas inadequadamente,

doentes que são transportados e transferidos sem as condições apropriadas e sem

uma comunicação eficaz com o serviço que vai receber o paciente, acarretando

muitas vezes no r etorno deste ao serviço de origem.

De acordo com Collet (1995) os profissionais da área da saúde não

devem ter seu olhar unidirecional para a manutenção da saúde ou a recuperação de

corpos enfermos tão somente, pois incondicionalmente estão inseridos nesse

contexto com di ferentes atores sociais e em permanente transformação.

26

Sauthier (1999) enfoca questionamentos éticos que surgem quando

o cliente/consumidor faz uso dos serviços de saúde. Foram constatadas várias

infrações aos direitos do paciente como a rejeição de uma instituição no

fornecimento de recibo sobre gastos hospitalares, falha de recursos materiais, que

prejudicam a qualidade dos serviços ofertados, desrespeito ao valor da vida,

exemplificados por casos em que foram falsificados medicamentos, uso inapropriado

de antibióticos, estar em atividades clínicas de aborto, displicência na assistência ao

parto e a falta de respeito com a saúde do idoso através de tratamentos indignos.

Este mesmo autor enfatiza que o grande problema vivido pela política de saúde está

no fato desta se submeter à política econômica, além de outros agravantes como a

crise de valores éticos que atualmente a sociedade capitalista tem vivido e o

neoliberalismo.

Segundo Soares e Lunardi (2002), a atuação do profissional de

saúde não somente deve estar baseada na busca pela melhora, mas também deve

ser norteada para o respeito à liberdade de escolha do cliente, perante o contexto

que este vive, devendo ser informado uma vez que a informação é um direito do

homem, porém nunca se esquecendo que o corpo, a dor, a enfermidade, pertencem

a ele. Sendo assim, cada vez que infringimos a sua autonomia, estaremos julgando-

o como um mero meio e não como o ator de sua melhora, além do que à medida

que o indivíduo faz suas escolhas, compreendendo quais são seus deveres e

direitos, estará contribuindo para a construção de sua cidadania.

3.3.1 Tipos de Ética

Soares e Lunardi (2002) referem à existência de três tipos de ética

profissional: a ética legitimadora, a ética idealizante e a ética problematizadora. A

ética legitimadora diz respeito à norma moral determinada pela própria prática, a

ética problematizadora acontece com a problematização das práticas usuais e todas

as vezes que a prática se apresentar inadequada será oferecido uma proposta

alternativa. Existe ainda a ética idealizante, onde as regras são compostas apenas

no discurso, sem uma ligação com a realidade.

27

3.3.2 Desenvolvimento Tecnológico/Doença e a Ética

De acordo com Boemer e Sampaio (1997), o final do milênio é

caracterizado por muitas transformações em diferentes áreas do saber e dos

relacionamentos humanos, o desenvolvimento tecnológico no setor da saúde tem

trazido à tona discussões e questionamentos acerca dos possíveis tratamentos que

esse avanço pode oferecer ao homem e também o que pode ser acarretado no que

se refere à qualidade de vida para o ser humano, além de intensificar no campo da

ética, interrogações acerca das melhores condutas a serem tomadas para cada

paciente e enriquecendo o ambiente hospitalar de discussões entre os profissionais

das diferentes áreas da saúde envolvendo também pacientes e familiares. Essa

conduta vem auxiliando na formação de um sujeito ético constituído dentro das

relações humanas.

Ainda segundo os autores, em unidades hospitalares especializadas

como as Unidades de Terapia Intensiva (UTI), Unidades Coronarianas e Unidades

de Transplantes compõem campos onde emergem situações éticas conflitantes em

que cada integrante como o paciente, o médico, o enfer meiro, os familiares possuem

muitas vezes perspectivas distintas. Uma característica indissociável e um tanto

quanto pertinente destas unidades é a presença constante da vida e da morte,

portanto as relações entre a equipe e o paciente acontecem nesse ambiente, onde

se reconhece uma pressão de todos os espectadores, tanto dos profissionais que se

empenham em possibilitar uma chance de sobrevida aos pacientes, quanto da

sociedade, no êxito de seus objetivos. Assim, em situações onde o sucesso não é

alcançado, os profissionais são tomados pelo sentimento de impotência e de luto,

que uma vez superados, possibilita a esses profissionais compreenderem que

existem limites e aprender em a lidar com esses sent imentos.

Segundo Greco (1999), a discussão em torno das doenças que

estão surgindo é pertinente em razão de uma imensa e variada gama de desafios

tanto econômico, legal e principalmente relacionado a questões éticas que os

acompanham. Desafios estes que se incluem em diferentes classes como de

reposição e substituição de recursos escassos; proteção da saúde pública versus

28

proteção individual (saúde pública versus necessidades individuais); discriminação;

pesquisa com seres humanos e a apli cação dos princípios da equidade.

3.3.3 Paciente e Ética

A ética pode estar presente em uma gama imensa de situações

envolvendo pacientes e profissionais da saúde, portanto, é importante que todo e

qualquer profissional da saúde não se esqueça de dois princípios fundamentais que

direcionam o seu agi r ético: o direito à informação e a privacidade do paciente.

De acordo com Fortes e Martins (2000), o indivíduo tem direito à

informação, pois é através dela que o paciente poderá refletir sobre suas

necessidades e tomar uma decisão, quando este estiver em sua plena capacidade

mental, além de estar usufruindo sua autonomia. É importante ressaltar aqui, a

postura do profissional que fará o uso da palavra, pois uma postura paternalista

pode interferir na escolha do paciente.

Embora Fortes e Martins (2000) faça referência ao Programa Saúde

da Família, é importante salientar suas reflexões acerca da ética em razão de serem

cabíveis também em todos os setores da saúde, principalmente referentes ao

paciente, este ressalta o respeito ao princípio ético da privacidade das informações.

3.4 ÉTICA NA MEDICINA

3.4.1 Breve Histórico da Ética na Medicina

No princípio, talvez no estágio pré-hominídeo, centro do processo

evolutivo da humanidade, o primeiro cuidado de atenção com o se melhante ferido ou

enfermo representou a promoção de preceito ético, mais primordial, na vida de

relação, ou seja, a solidariedade, o cuidado beneficente intervivos e interpares

revestido da forma singular de atenção à saúde. Estava inaugurado o princípio da

afeição, a relação subjetiva fora dos estreitos limites do indivíduo. O princípio em

sua origem antropológica representa, a rigor, uma estratégia de preservação da

29

espécie ou se traduz em defesa coletiva das partes solidárias, onde o "todo é maior

do que a soma das partes" e se destaca o princípio da sobrevivência da unidade

maior (espécie) através da defesa da uni dade menor (indivíduo) (GOMES, 2007) .

Segundo Gomes (2007) a ética constitui-se no princípio e fim da

própria vida, na medida em que se torna o próprio sentido da existência, a razão

essencial de ser e haver, o motivo pelo qual a existência se relaciona com o todo,

pelo qual se transforma e por sua vez transforma o próprio meio como agente e

sujeito dessa mudança. A ética vem a ser, sob este prisma interessante, o tecido

conjuntivo da medicina, ou o plasma germinativo da conduta que oferece o sentido

benemerente da ação e preenche os vazios do conhecimento aplicado à medicina,

além de resguardar o bem maior da vida, acima da própria vontade humana.

A medicina, então, vem a ser a ética na sua expressão de cuidado

com o semelhante, torna-se uma das possibilidades éticas de zelo com a espécie e

com a própria unidade (indivíduo).

De acordo com Gomes (2007) a profissão médica tem como origem

remota a função tribal do curandeiro, do sacerdote visto como líder religioso. E nada

mais justo do que oferecer ao sacerdote o privilégio de curar a doença e remir a

"culpa" do pecado num período em que a enfermidade era considerada como

castigo pela violação da vontade de Deus. O sacerdote neste caso, ou líder

espiritual, da comunidade primitiva traz como paradigma o modelo da virtude

suprema, onde os precei tos éticos se cristalizam na figura do Supremo Criador.

Para Gomes (2007) ética e medicina são indissociáveis na origem,

não havendo plano de clivagem para saber onde começa uma e termina outra.

Quanto ao surgimento do ensino da ética em medicina em nosso país, não há

registro histórico adequado e disponível, ressalvado o ensino da medicina legal nos

primórdios do século XX, onde se destacam figuras notáveis como Afrânio Coutinho,

Flamínio Favero, Oscar Freire, Leonídio Ribeiro, Estácio de Lima e Fernando

Magalhães, entre outros que introduzem na literatura médica lições magistrais de

deontologia e diceologia como parte integrante do acervo médico legal.

Coutinho ensina que:

O estudo da ética propicia uma análise sistemática de ideais e objetivos morais, de escolhas e modelos de boa ou má conduta. Isso

30

faz entender que a ética se preocupa com o viver corretamente dando conseqüência a uma forma de ação ou prática moral. Ética é, pois, a definição daquilo que é bom e correto. A ética preocupa-se com o estudo dos atos voluntários do homem, que sejam praticados após suficiente conhecimento, análise e escolha. A moral refere-se a modelos concretos de conduta e a regras práticas de ação. A ética dá a fundametação para a ação moral, e sem esta, aquela seria apenas uma abstração formal, sem utilidade para a vida e para o comportamento do homem na sociedade (COUTINHO, 2006, p. 13).

Na concepção de Gomes (2007) o médico detém, como profissional

de saúde em sua função delegada, o supremo privilégio de acesso aos bens mais

valiosos e privados do indivíduo. A saber: a alma, o domicílio e o próprio corpo.

Como confidente necessário goza da confiança a priori para prescrutar os mais

secretos sentimentos da condição humana, devassar-lhe o corpo ou adentrar em

sua residência, tudo em nome do benefício que será prestado. A confiança, no caso,

constitui patrimônio moral da categoria e decorre da boa-fé do paciente em abrir as

portas para receber o bem da cura. Daí decorre o dever irrestrito de respeito ao

corpo, associado ao dever de sigilo, lacre inviolável de uma relação fraternal de

beneficência e amor, imposta ao profissional de saúde.

O médico e demais profissionais de saúde são, em conjunto,

gestores naturais dos meios de preservação da espécie, além do processo biológico

natural e evolucionista responsável pelo aprimoramento da espécie. A diferença

essencial reside na condição já referida de que os mecanismos naturais estão

voltados para a espécie, enquanto o acervo de conhecimentos adquiridos está

voltado para o indivíduo e somente por meio dele para a espécie, ao contrário

daquele.

Segundo Gomes (2007), cabe ao médico gerir, administrar ou agir

sobre os “buracos negros ” da cultura, oferecer respostas sem o conheci mento prévio

da questão ou atuar no limite pardo do insondável, na inóspita região das sombras

ou no vale das mortes: “consolar sempre, curar às vezes”, conforme Miguel Couto.

Até porque a medicina sabe que é um compromisso de meios, apesar da

desesperada busca de resultados. A medicina, além de proposta terapêutica,

constitui um campo permanente de provas, uma eterna fonte de pesquisa in anima

nobili e, como tal, carece de rigoroso controle ético para não sobrestar o interesse da

31

ciência ao interesse individual do mais mísero e remoto cidadão, início e fim da

condição humana.

De acordo com Coutinho (2006) a ética de uma profissão é regulada

pelo código profissional que estabelece modelos de conduta para membros daquela

comunidade. O código profissional existe com o objetivo de assegurar padrões de

competência em um determinado campo, fortalecer as relações entre os pares e

visão deontológica por procurar relacionar os deveres éticos a que estão afetos

aqueles profissionais e para que a prática não se afaste da moral e dos costumes

estabelecidos.

Para Coutinho (2006) a ética profissional deve ser fruto de uma

reflexão iniciada cedo, ainda na fase de formação do profissional, até mesmo antes

da iniciação daquele aluno em estágios práticos. Ao fazer o juramento, ao término

da formação de nível superior, o médico demonstra sua adesão e comprometimento

com o código de normas da categoria onde formalmente ingressa. A partir daí fica

sob a égide dessa norma em todas as situações de exercício profissional. Por isso é

importante que a reflexão seja iniciada anteriormente a esse estágio, nos mesmos

moldes que o período de graduação fornece aprendizado e treinamento técnico-

científico da profissão.

3.4.2 Objetivos Imediatos da Formação Ética do Profissional de Saúde

De acordo com Gomes (2007) os objetivos imediatos são aqueles

dirigidos para o r econhecimento e fomento de valores na consci ência do profissional.

E, a propósito, o que vem a ser valor? Na ética axiológica representa um atributo de

consciência ou elemento formador do caráter particularmente dos valores morais,

que oferece ao indivíduo a polaridade pelo bem ou pelo mal, pelo certo ou pelo

errado, pelo falso ou verdadeiro, etc. Enfim, responde pela maior ou menor aptidão

para a opção natural de conduta motivada por princípios. Os princípios são pontos

de apoio indispensáveis à consecução do discernimento para a conduta de relação

com o semelhante, ou com o meio ambiente. Como exemplo de valores

considerados essenciais na formação do caráter, temos na cultura grega, antiga, os

elementos primordiais da temperança, coragem, prudência e justiça, segundo

32

Aristóteles. São Tomaz de Aquino, por sua vez, relacionava essas virtudes gregas

com as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade como preceitos ou princípios

essenciais na modelagem do caráter, ou da consciência cristã.

A formação do caráter ou do acervo ético crítico para dotação do

profissional de saúde, considera-se como princípios fundamentais: a justiça, a

bondade, o respeito, a autonomia, a beneficência não-maleficência, solidariedade,

sigilo, preservação da vida, índole para alívio do sofrimento.

Portanto, o objetivo imediato da educação ética em medicina vem a

ser inculcar valores, moldar o caráter, promover os princípios essenciais e alcancar

como resultado a modelagem das virtudes, mínima e consistente, para uma conduta

profissional adequada.

Segundo Gomes (2007) as razões ditas antigas na modelagem ética

do profissional de saúde estão ligadas à necessidade de formar uma consciência

ética de relação ou imprimir na personalidade um forte acento de respeito

incondicional aos direitos fundamentais. Essas razões estão ligadas, ainda, à

necessidade de oferecer ao profissional de saúde a postura ética aprendida e

estimulada, saudável e proveitosa na relação com o paciente, outros profissionais e

a sociedade em geral.

3.4.3 Participação dos Conselhos no Processo de Divulgação da Ética

Segundo Souza e Dantas (1985) os Conselhos Regionais de

Medicina da Paraíba e do Paraná dispõe, de um Código de Ética para o estudante

de medicina. Coube à Universidade de Goiás a primazia de oferecer aos estudantes

o primeiro código de ética no Brasil. A propósito, o Conselho Federal de Medicina

estuda novamente a possibilidade de adoção de um código oficial para o estudante

de medicina, uniforme e válido para todo o país.

O trabalho de Souza e Dantas publicado em 1985 mostrou que a

maior concentração do ensino da deontologia no 8º e 9º períodos do curso se

apresentava compatível com o aprendizado clínico e concluía que o "ensino da ética

médica, portanto, deve-se constituir um momento de reflexão pessoal de cada um

dos alunos sobre valores, objetivos de vida, preceitos éticos e legais", que deverão

33

exercer com sua qualidade, direitos e deveres. Sugere a formação de profissionais

para o ensino da ética médica e arremata: "a constatação de poucos livros ou testos

que possam ser úteis para o ensino da deontologia apoia a conclusão de que parece

haver uma apatia e desinteresse na área de ética médica nas Escolas de medicina".

3.4.4 Legislação de Apoio à Formação Ética do Profissional de Saúde em Medi cina

De acordo com Gomes (2007) em 1832, no período da regência

trina, Brasil Império, vem à luz um interessante decreto imperial que determina às

faculdades de medicina (duas apenas: Bahia e Rio de Janeiro) a formação de

"regimentos policiais para controle e supervisão da prática médica". Há neste

dispositivo, sem dúvida, o germe da preocupação ética que reflete o compromisso

do Estado no sentido de evitar no exercício da medicina formas anti-sociais ou,

última forma, desvios éticos de conduta.

A partir deste mesmo princípio, o Decreto-Lei 20931/32, assinado

pelo Pres. Getúlio Vargas e pelo jurista Francisco Campos em plena vigência do

Estado Novo, traz, no artigo 15, uma resenha sobre Deveres Médicos que

representam normas disciplinadoras com força delei e, sem dúvida, traduzem a

preocupação educativa do Estado com o exercício da medicina dentro de um

modelo ético. Estabelece um paradigma para a prática da medicina com permissões

e vedações claras nos seus objetivos legais, mas pretende sobretudo educar,

ensinar uma postura ética para uma profissão de alto relevo social, consagrada no

rol das atividades nobres e de real proveito, como a medicina. Há no decreto,

inobstante sua genuína estirpe legalista, uma força educativa prevalente.

Segundo Gomes (2007) o Código de Ética do estudante de medicina

de alto valor didático para fomento de uma consciência ética no estágio de formação

não tem, para nossa surpresa, o reconhecimento oficial dos Conselhos de medicina;

talvez em parte porque sua existência constitua preceito específico das escolas

médicas e, como tal, deva ser solicitado e aprovado por estas unidades, até para

preservação do princípio da autonomi a universitária.

34

3.4.5 O Modelo Ética na Saúde à Luz dos Interesses da Soci edade

Acima de tudo, convém recordar que as escolas médicas, em sua

maioria, ou os hospitais universitários e outros centros de treinamento são

financiados pelo Estado, como aplicação da receita fiscal oriunda do trabalho

assalariado e das contribuições geradas pela sociedade como um todo.

Para Gomes (2007) a cultura médica é o patrimônio da humanidade.

A Constituição Federal, através do art. 6º, capítulo da seguridade social, garante a

todo cidadão o direito de receber atenção médica de boa qualidade e gratuita.

Diante destas preliminares fica difícil entender que a prática da medicina não seja

simples, geral e irrestrita como a própria anistia da doença, ou sua revogação no

contexto social, quer dizer, voltada para os anseios da sociedade usuária,

expurgada dos instintos mercantilistas e empenhada na p reservação da vida.

A ética vem a ser o selo de qualidade do médico que age como

escopo humani tário, que aproxima o homem dos deuses pel o poder excepcional que

lhe é conferido sobre a morte e a vida, tudo para sua reinvenção ou ruína, glória ou

miséria.

O impacto social da medicina é estimulado pela demanda colossal

de recursos indispensáveis às ações de proteção à saúde, a expectativa mágica da

sociedade leiga sobre os poderes excepcionais e limitados do médico, a

transformação das fronteiras convencionais da vida e, sobretudo, por conta da

necessidade imperiosa de uma disciplina ética, além dos rigores da lei.

O direito à vida, considerado pilar no montante crítico dos direitos

humanos, por maioria, é por excelência, garantido pela distribuição justa dos

recursos destinados à saúde, de tal forma que o mais abastado e o mais

despossuído dos ser es humanos tor nem-se iguais diante da atenção do médico.

3.5 HISTÓRIA DA ENFERMAGEM

Segundo Bertolote (apud OGUISSO, 2005, p. 3) o gênero Homo, a

que todos pertencemos, surgiu na superfície terrestre há aproximadamente 2

milhões de anos, ao passo que a nossa espécie, Homo sapiens, existe há apenas

35

cerca de 100 mil anos. O homem primitivo vivia em cavernas e saía para coletar

alimentos como animais, pássaros, peixes e frutas. O processo civilizatório teve

início há uns 10 mil anos, quando o homem abandonou o estilo de vida nômade e

passou a fi xar-se na terra, dando início à sua transformação de caçador e coletor em

agricultor e criador de animais.

Nessa perspectiva do processo civilizatório, destacam-se alguns

grandes marcos históricos, como a invenção da imprensa de tipos móveis, há cerca

de quinhentos anos; a Revolução Industrial, há aproximadamente duzentos anos, e

a descoberta da pílula anticoncepcional, há cerca de cinqüenta anos. Já a era da

informática teve início há cerca de duas décadas.

De acordo com Bertolote (apud OGUISSO, 2005) para se estudar

como os grupos primitivos cuidavam de doentes, seria preciso antes de tudo

examinar os achados arqueológicos, pois a arqueologia é a ciência que traz à luz as

marcas da existência do homem no passado remoto para ser escrutinadas. A

história tem sido registrada através dos tempos em pedras, objetos, instrumentos,

inscrições hieroglíficas ou cuneiformes, papiros e finalmente livros e documentos.

Por séculos, o Egito foi considerado o berço da civilização humana, até que

escavações na região da antiga Mesopotâmia, no século XVII, mostraram que esse

seria, de fato, o berço da civilização.

Segundo Oguisso (2005) o conhecimento dos meios de cura

conferia poder no seio dos grupamentos humanos, e o homem, aliando tal

conhecimento ao misticismo, fortaleceu esse poder e apoderou-se dele,

transformando-se muitas vezes em figura mística ou religiosa para aplacar as forças

do mal. Essas figuras tornaram-se conhecidas como pajés, feiticeiros, xamãs e

sacerdotes, que utilizavam magias, danças e beberagens para afugentar os

demônios que, segundo cr ença da época, pr ovocavam as doenças.

Nota-se, pois, uma aceleração exponencial da evolução humana,

com a concentração de mudanças si gnificativas muito próximas de nós.

36

3.5.1 A Implantação da Enfermagem Moderna no Brasil

De acordo com Oguisso (2005) em 1894, foi fundado em São Paulo

o Hospital Samaritano, graças aos esforços de homens e mulheres da comunidade

evangélica, estrangeiros e brasileiros, residentes em sua maioria em São Paulo. O

serviço de enfermagem era feito por enfermeiras estrangeiras, sobretudo inglesas. A

partir de 1896, o hospi tal começou a receber alunas em regime de internato. O curso

é considerado o primeiro a adotar o sistema de ensino nightingaleano no Brasil. As

alunas entravam como praticantes, moravam no hospital e ficavam sob a supervisão

da matron (título adotado por Florence Nightingale que corresponde ao atual cargo

de gerente de enfermagem).

Segundo Oguisso (2005) apenas dois anos depois da inauguração

do Samaritano, em 1896, a diretoria do hospital recebeu o primeiro pedido de

inscrição. O número maior de aprendizagem passou a freqüentar o curso a partir de

1902. Em 1905, o número de enfermeiras formadas pelo hospital somava apenas

cinco. A partir de 1908, o pessoal que trabalhava no Samaritano já não era

totalmente composto de enfermeiras formadas no exterior; havia uma parte de

mulheres brasileiras, de origem estrangeira, ou de imigrantes vivendo no país.

3.5.2 As Primeiras Escolas de Enfer magem Moderna no Brasil

Como parte da missão técnica e do acordo entre a Fundação

Rockefeller e o DNSP, foi criada a Escola de Enfermeiras no Depar tamento Nacional

de Saúde Pública, que implantou o sistema nightingaleano-americano para o ensino

de enfermagem no Brasil.

De acordo com Oguisso (2005) o primeiro curso de enfermagem foi

inaugurado no dia 19 de fevereiro de 1923, com quinze alunas em regime de

internato. Logo no início, Kieninger instituiu a Associação do Governo Interno das

Alunas, com regimento próprio e sob orientação de Anni ta Lander.

As enfermeiras diplomadas na primeira turma da escola tentaram

formar uma associação de ex-alunas, como era comum nos Estados Unidos. Esse

grupo, que se encontrava reduzido porque várias enfermeiras estavam cursando

37

pós-graduação no exterior, ao reunir-se com as alunas que estavam prestes a se

formar em 1926, fez ressurgir a idéia de organizar uma associação de ex-alunas que

congregasse as diplomadas da escola. Atualmente essa organização se chama

Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), cuja primeira presidente foi Edith de

Magalhães Fraenkel.

3.5.3 Distinção Entre Normas, Ética, Moral e Deontologia

Para Boff (2003), o homem está mergulhado na experiência ética ou

moral, vive-a no meio de ambigüidade e conflitos. Assim, a ética, que vem do grego

ethos, consiste na teia das relações sociais em que o homem nasce e se

desenvolve. A ética, portanto, é a reflexão questionadora da realidade que circunda

o ser humano, englobando suas experiências, vivências, dilemas, problemas e as

relações sociais no mundo da vi da e do trabalho.

A moral, por sua vez, é o caminho da realização do homem, é uma

exigência de humanização e de crescimento.

De acordo com Reale (apud OGUISSO, 2005), toda norma ética

expressa um juízo de valor, ao qual se liga uma obrigação. Isso decorre de uma

necessidade soci al de garantia a conduta que é decl arada permitida, determinada ou

proibida. Cabe aos usuários, mas também aos profissionais de saúde, lutar em

parceria para assegurar de fato os seus direitos. Quem sabe dessa maneira o

Estado e a iniciativa privada invistam em recursos humanos e materiais necessários

para atender as reais necessidades da população.

Quanto à deontologia, segundo Gelain (1987), etimologicamente

provém do grego deon, deontos (dever) e logos (tratado), é qualificada como sendo

a ciência que estuda os deveres de um grupo profissional. Em relacionando à

enfermagem, deontologia é a ciência que se preocupa com os deveres, as

responsabilidades dos enfermeiros e de toda a equipe de enfermagem.

Também segundo Gelain (1987) não há grandes diferenças entre

ética, moral e deontologia, pois todas se referem diretamente ao comportamento

humano, com apenas algumas características diferentes. Atribui-se à ética uma

conotação mais filosófica na análise dos problemas. Entendeu-se e ainda se

38

entende por ética, além das considerações expostas, o enfoque de aspectos

diretamente relacionados com a honestidade profissional, como justiça, lealdade,

prudência e outros. A moral é frequentemente confundida com religião. À

deontologia atribui-se a preocupação mais direta com os deveres de um grupo

profissional em relação às suas at ribuições e responsabilidades profissionais.

3.5.4 Evolução das Legislações de Enfermagem

A legislação específica da enfermagem teve início com o Decreto nº

791, de 28 de setembro de 1890, determinando a criação da primeira escola

profissional de enfermeiros e enfermeiras no Hospital Nacional de Alienados. Esse

curso tinha a duração de dois anos e as aulas eram ministradas por médicos, como

eram, em geral, em todos os cursos e escolas de enfermagem, no seu início, no

Brasil e no mundo.

De acordo com Oguisso (2005) o Decreto nº 50.387/61 foi o que

definiu o exercício da enfermagem, que consistia em observação e cuidado de

doente, gestante e acidentando; administração de medicamentos e tratamentos

prescritos pelo médico; educação sanitária e aplicação de medidas preventivas de

doenças. Ademais, definiu quem poderia exercer legalmente a profissão, incluindo-

se obstetrizes e parteiras. Neste diploma legal, quatro funções diferenciavam o

enfermeiro das outras categorias de enfermagem, a saber: administrar serviços de

enfermagem, participar do ensino em escolas de enfermagem e de auxiliares de

enfermagem ou treinar pessoal de enfermagem; dirigir e inspecionar escolas de

enfermagem e participar de bancas examinadoras.

3.5.5 Legislação Atual do Exercício da Enfermagem

A Lei 7.498/86 regulamenta o exercício da enfermagem em todo o

território nacional, estabelecendo os direitos e as competências de cada categoria

da enfermagem.

39

A responsabilidade sempre teve uma conotação de obrigação, encargo, compromisso ou dever de satisfazer ou executar alguma coisa que se convencionou ou deva ser satisfeita ou executada, ou ainda, suportar as sanções ou penalidades decorrentes dessa obrigação (OGUISSO; SCHMIDT, 1999, p.64).

Somente na Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, é que as

categorias são discriminadas quanto às suas atribuições específicas, inclusive a do

técnico de enfermagem. Assim, o art. 7º destaca quem são os técnicos de

enfermagem e o art. 12 determina quais as atividades que lhes competem.

Atualmente, a Lei do Exercício, nº 7.498/86, art. 11, inc. I, m,

estabelece que ao enfermeiro competem, privativamente, cuidados de enfermagem

de maior complexidade técnica que exijam conhecimentos de base científica e

capacidade de tomar decisões imediatas. As atividades elementar es de enfermagem

são aquelas que compreendem ações de fácil execução e atendi mento.

A Lei nº 8.697, de 28 de dezembro de 1994, alterou a redação do

art. 23 da Lei nº 7.498/86, assegurando "aos atendentes de enfermagem admitidos

antes da vigência desta lei o exercício de atividades elementares de enfermagem".

3.5.6 Responsabili dade Ética, Civil e Penal

O Dicionário Michaelis da língua portuguesa define responsabilidade

como "o dever jurídico de responder pelos próprios atos ou de outrem, como que

estes violem os direitos de terceiros protegidos por lei, e de reparar os danos

causados" .

De acordo com Oguisso e Schmidt (1999) dois aspectos merecem

destaque quanto à responsabilidade: primeiro, a responsabilidade pode ser uma

imposição legal ou moral de restabelecer o dano ou prejuízo acarretado. Dessa

maneira, o pai é o responsável legal pelo filho menor, devendo cuidar de seu

sustento físico. Mas um parente abastado financeiramente poderia sentir-se

obrigado, do ponto de vista moral, a contribuir para o sustento e educação de seu

sobrinho. A obrigação é originariamente do pai, mas o tio poderá sentir-se

40

moralmente responsável por ele. A responsabilidade moral tem origem na

transgressão de nor ma moral, cujo terreno é a consciência individual.

Segundo Oguisso (2005) a responsabilidade ética se caracteriza

pela infração ética, a qual pode estar prevista no Código de Ética dos Profissionais

de Enfermagem (CEPE). Assim, um comportamento profissional pode ser tido como

antiético mesmo não havendo pr evisão no CEPE sobr e ele.

Os arts. 16 e 24 do CEPE mencionam a obrigação dos profissionais

de enfermagem de prestar assistência livre de danos ou de riscos decorrentes de

negligência, imperícia ou imprudência. Tal norma descreve a conduta esperada do

profissional, a fim de evitar a ocorrência de quaisquer daquelas modalidades de

culpa no exercício de atividades de enfer magem.

Quanto a responsabilidade civil Oguisso (2005) argumenta que a

responsabilidade profissional transcende os aspectos ético e penal, podendo ser de

natureza civil. Na esfera cível, tendo como parâmetro a Lei nº 10.406, de 10 de

janeiro de 2002, discute-se a responsabilidade do profissional, diante da ocorrência

de prejuízo a outrem e a reparação ou ressarcimento do dano acarretado por culpa

profissional, bem como o valor da indenização à vítima.

É comum nos dias de hoje verificar-se que lesões ou prejuízos de

ordem física ou moral têm provocado discussões na Justiça, principalmente

buscando caracterizar a responsabilidade da instituição prestadora do serviço,

imputando-se ao profissional determinada culpa e à instituição o dever de indenizar

os prejuízos, comprovadamente causados pelo atendi mento.

Para a Legislação Penal Brasileira (Decreto-lei nº 2.848, de 7 de

dezembro de 1940), a responsabilidade penal é, via de regra, subjetiva, ou seja,

responde pelo delito o sujeito que o praticou e lesou direito alheio.

3.6 ÉTICA NA ENFERMAGEM

O CEPE, aprovado pela Resolução Cofen-240, de 30 de agosto de

2002, foi resultado dos estudos originários de seminários realizados pelo próprio

41

Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) com participação dos diversos segmentos

da profissão.

Nele encontram-se reunidos os princípios fundamentais de

enfermagem, os direitos, responsabil idades, deveres, proibições e deveres

disciplinares pertinentes às condutas dos profissionais, além de caracterizar os tipos

de infrações e aplicação das penalidades, caso o profissional incorra em alguma

infração ética ou disciplinar.

O presente código aplica-se a todos os profissionais de enfermagem

habilitados e inscritos no Conselho Regional de Enfermagem: enfermeiros, técnicos

de enfermagem, auxiliares de enfermagem, parteiras e atendentes de enfermagem.

Segundo Sant'ana e Ennes (2006) na prática profissional, a

enfermagem vê-se diante de situações e dilemas que precisa enfrentar com

sabedoria, dignidade e com base nos preceitos legais exigidos à categoria,

respeitando os valores éticos e os seus princípios fundamentais. E para melhor

compreender esses valores e princípios é necessário compreender a significação

dos termos ética, moral, ética profissional, deontologia e bioética.

Para o médico Paulo Fortes (1998), a ética quando observada por

sua origem semântica se equivale à moral. E como o termo moral é derivado do

latim mos ou more, significando "costumes", "conduta de vida", ética então se refere

às regras de conduta humana no cot idiano.

De acordo com Boff (2003) a ética profissional é uma reflexão crítica

sobre a realidade social do trabalho, das atividades profissionais e do agir pautado

nos valores do grupo ou da categoria profissional. A ética profissional não pode ser

entendida como resultante de um conjunto cristalizado de normas de condutas

profissionais, pois ela é produto de transformações sociais e históricas. É, portanto,

um conceito mais amplo que deontologia por refletir um conjunto de valores, não

somente deveres de um grupo profissional.

3.6.1 Princípios Fundamentais da Ética em Enfermagem

Na concepção de Sant'ana e Ennes (2006) as teorias éticas contêm

princípios que são guias para tomada de decisões e ações morais e que sustentam

42

a formação de juízos morais na prática profissional. Os princípios éticos comuns que

se aplicam na enfermagem abrangem a beneficência, a não-maleficência, a

autonomia, o sigilo profissional, a justiça, entre outros.

O profissional de enfermagem tem o dever de "respeitar e

reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua pessoa, seu tratamento e seu

bem-estar". (Art. 27 do CEPE) .

Segundo Sant'ana e Ennes (2006) a enfermagem, quando tem em

mãos uma prescrição médica, entende a importância de administrar corretamente os

medicamentos, de certificar-se da natureza das drogas que compõe, de existir risco

para o cliente e de esclarecer ao cliente sobre a medicação. Entretanto, muitas

vezes, na prática, não é dada a opção para o cliente aceitar ou não a medi cação.

Não é fato raro clientes recusarem a medicação ou mesmo o

tratamento por desconhecerem do que se trata. Há situações em que o paciente

desconhece, inclusive, o motivo de sua internação. Isso revela que os profissionais

de saúde o desconsideram como pessoa, não lhe garantindo uma informação, que

representa apenas um mínimo de respeito.

De acordo com Sant'ana e Ennes (2006) o profissional não deve

ignorar que, em seu tratamento, o cl iente tem o di reito de negar-se a receber alguma

droga com a qual não concorde. E se ele quiser convencer o cliente do contrário,

pois é importante para o tratamento, é preciso, primeiro, considerar e avaliar o

motivo da recusa, para, enfim, contra-argumentar.

3.6.2 Norma Moral e Conduta Profissional

Segundo Beauchamp e Childress (2002) toda profissão é uma

atividade que mantém organizações reguladoras que controlam o ingresso nos

papéis ocupacionais, certificando formalmente os candidatos que adquiriram o

conhecimento e a perícia necessários para o desenvolvimento de sua prática.

Portanto, o que se espera desses pr ofissionais é uma conduta co m responsabili dade

tanto científica como moral compromissada com proporcionar serviços de qualidade

para seus clientes e/ou consumidores. Na saúde, esses compromissos merecem um

43

olhar especial, pois o objeto da prática é o ser humano, condição que especifica e

impõe obrigações profissionais correlatas aos direitos das outras pessoas.

Por isso, com objetivo de estabelecer as normas de conduta para os

profissionais no exercício de sua profissão foram criados os códigos profissionais.

Conforme Beauchamp e Childress (2002), um código profissional representa uma

declaração articulada do papel moral dos membros da profissão. Alguns códigos são

considerados benéficos, dentre eles destacam-se os códigos específicos da área da

ciência, da medicina e da saúde, quando os mesmos abordam ou incorporam

normas morais defensáveis em sua estrutura.

Na maioria dos capítulos do CEPE, encontramos em seus artigos os

princípios gerais da ética que podem garantir uma boa conduta profissional. Em

particular no Capítulo IV que trata "Dos Deveres" encontram-se normatizados 21

padrões de condutas do profissional em suas relações como membros da própria

categoria, com profissionais de outras categorias, com seus clientes, famílias de

clientes, com relatório de pesquisa, entre outros. São eles:

1. Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e legais da profissão;

2. Exercer a enfermagem com justiça, competência,

responsabilidade e honestidade;

3. Prestar assistência de enfermagem à clientela, sem

discriminação de qualquer natur eza;

4. Prestar à clientela uma assistência de enfermagem livre dos

riscos decorrentes de imperícia, negligência e imprudência;

5. Garantir a continuidade da assistência de enfermagem;

6. Prestar adequadas informações ao cliente e à família a respeito

da assistência de enfermagem, possíveis benefícios, riscos e

conseqüências que possam ocor rer;

7. Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre sua

pessoa, seu tr atamento e seu bem-estar;

8. Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente;

9. Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento

em razão de sua atividade profissional, exceto nos casos

previstos em Lei ;

44

10. Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento do cliente e

família sobre o seu estado de saúde e tratamento, possíveis

benefícios, riscos e conseqüências que possam ocorrer;

11. Colaborar com a equipe de saúde na orientação do cliente ou

responsável, sobre os riscos dos exames ou de outros

procedimentos aos qua is se submeterá;

12. Respeitar o ser humano na si tuação de mor te e pós-morte;

13. Proteger o cliente contra danos decorrentes de imperícia,

negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da

equipe de saúde;

14. Colocar seus serviços profissionais à disposição da comunidade

em casos de emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear

vantagens pessoais;

15. Solicitar consentimento do cliente ou do seu representante legal,

de preferência por escrito para realizar ou participar de pesquisa

ou atividade de ensino em enfermagem, mediante apresentação

da informação completa dos objetivos, riscos e benefícios;

16. Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo para a

vida e a integridade da pessoa;

17. Ser honesto no relatóri o dos resultados de pesquisa;

18. Tratar os colegas e outros profissionais com respeito e

consideração;

19. Alertar o profissional, quando diante de falta cometida por

imperícia, imprudência e negligência;

20. Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que

infrinjam preceitos do presente Código e a Lei do Exercício

Profissional;

21. Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem

fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou

emprego, motivados pela necessidade do profissional de

preservar os postulados éticos e legais da profissão.

Portanto, para que o trabalhador da área de enfermagem tenha uma

boa conduta profissional, é necessário que ele utilize as normas conditas no seu

45

código de ética como guia para utilização de um bom raciocínio moral, ou seja,

pensamento crítico sobre o que é certo e errado, sobre o bem e mal. Dessa forma,

diante de uma situação, ele pare para pensar na expectativa da ação, buscando a

melhor coisa a fazer, procurando agi r.

3.7 ÉTICA E MORAL

Na concepção de Sung e Silva (2007, p. 12) “as normas da

sociedade têm muito a ver com os valores morais. Elas são os meios pelos quais os

valores morais de uma sociedade são expressos e adquirem um caráter normativo,

isto é, obrigatório”. Normas, normativo, normal, moral e costumes são palavras que

estão interligadas em torno da questão que está sendo analisada. Aliás, a palavra

moral vem do latim mos (singular), e mores (plural), que significa costumes. Por isso,

muitos utilizam a expressão "bons costumes" como sinônimo de moral ou

moralidade.

De acordo com Sung e Silva (2007, p. 13) “quando se diferencia a

ética da moral, geralmente visa-se distinguir o conjunto das práticas morais

cristalizadas pelo costume e convenção social dos princípios teóricos que as

fundamentam ou criticam”. O conceito de ética é usado aqui para se referir à teoria

sobre a prática moral. Ética seria então uma reflexão teórica que analisa e critica ou

legitima os fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral

(dimensão prática).

3.7.1 ÉTICA E CONDIÇÃO HUMANA

Para Sung e Silva (2007) conhecer alguns pontos fundamentais

sobre a ética não é apenas uma questão acadêmica ou restrita a alguns momentos

em que a sociedade discute mais acaloradamente - por exemplo, os problemas

éticos na política - mas é também uma necessidade para a convivência social. O ser

humano deve, portanto, construir ou conquistar o seu ser. Ele não nasce pronto, se

faz ser humano, se torna pessoa. O grande desafio de nossas vidas é este processo

de construção do nosso ser .

46

Sung e Silva tecem o seguinte comentários a cerca da ética:

O fato de sermos diferentes de outros animais não quer dizer que não tenhamos nada em comum com eles. Nós também partilhamos de certas determinações da natureza, certas "necessidades naturais" que não podemos ignorar. Ninguém pode deixar de comer, respirar, beber, dormir, sonhar etc. sem correr o risco de morrer. Mas, ao mesmo tempo, nós temos um espaço de liberdade em nossas vidas. Os nossos sonhos, os desejos, as soluções para essas necessidades e outros aspectos da vida não são determinados pela natureza ou pelo destino (SUNG; SILVA, 2007, p. 15).

O fato de sermos livres, mesmo que não o sejamos de uma forma

absoluta, levanta o problema da responsabilidade. Se a nossa vida não está pré-

programada pela natureza ou destino, a nós temos um ato voluntário. Ao contrário

do que muitos podem pensar, somente uma pequena parte das nossas ações tem

motivações consci entes e são voluntárias.

De acordo com Sung e Silva (2007, p. 19) “o conhecimento da

possibilidade dos efeitos não-intencionais levanta a necessidade de não reduzir as

questões éticas às intenções das pessoas e também de entender melhor estas

estruturas ou sistemas que interferem nas nossas ações e vi das”.

3.7.2 Conflitos Inevitáveis

Para Sung e Silva (2007) o questionamento ética revela algumas

contradições que fazem parte de nossas vidas. A primeira é o conflito que pode

existir entre meu interesse a curto prazo e meus objetivos a médio ou a longo

prazos. Podemos to mar como exemplo uma experiência comum na nossa infância: a

vontade de brincar sem parar e o objetivo de passar de ano na escola. São dois

objetivos bons "em si", mas que, na maioria dos casos, são contraditórios se

colocados dentro da linha do tempo. Infelizmente ou felizmente a nossa vida não é

linear e os nossos interesses e objetivos não são necessariamente acumulativos.

Existem opções e interesses imediatos ou menores que se chocam com os objetivos

maiores e a longo prazo.

É claro que neste exemplo apontado por Sung e Silva, não há uma

resposta que si rva para todos. Cada um q ue se vê neste ti po de situação deve pesar

47

as vantagens e desvantagens de cada opção e fazer, se não forem absolutamente

excludentes, uma escolha que permita atingir o bem maior sem negar totalmente os

interesses imediatos.

Segundo Sung e Silva (2007) ninguém, ou quase ninguém pode

viver totalmente isolado, não somente por causa das necessidades afetivas, mas

também por causa das necessidades materiais. É muito difícil para uma só pessoa

produzir todas as coisas de que necessita para sobreviver dignamente. A

necessidade de conviver com outros nos leva à necessidade de estabelecermos

relações que permitam a sobrevivência de todos os que compõem a coletividade.

Isso significa na prática que os direitos e interesses não podem ser absolutizados

na medida em que entram em conflito com interesses e direitos de outros com os

quais necessita conviver.

3.7.3 Consciência Ética

De acordo com Sung e Silva (2007) nós somos seres morais e as

comunidades humanadas sempr e criaram sistemas de valores e normas morais para

possibilitar a convivência social, porque somos seres não determinados pela

natureza ou pelo destino. E no processo de conquista da liberdade e do nosso ser

descobrimos a diferença entre o ser e o dever -ser e a vontade de const ruir um futuro

diferente e a melhor do que o presente. Para esta construção não basta boas

intenções, mas também um controle sobre os efeitos não intencionais das nossas

ações e o conhecimento de que o questionamento moral pressupõe um conflito

entre interesse imediato e a longo prazo e entre interesse particular e o da

coletividade.

A consciência ética que surge desse conjunto é diferente de uma

simples assimilação de valores e normas morais vigentes na sociedade. Ela surge

com a "desconfiança" de que os valores morais da sociedade - ou os meus -

encobrem algum interesse particular não confessável ou inconsciente que rompe

com as próprias causas geradoras da moral. Desconfiança de que interesses

imediatos e menores são colocados acima dos objetivos maiores, os interesses

particulares acima do bem da coletividade, ou que é negada aos seres humanos a

48

sua liberdade e a sua dignidade em nome de valores petrificados ou de

pseudoteorias.

3.8 ÉTICA EM AMBIENTE HOSPITALAR

As comissões de ética hospitalar nasceram da necessidade de se

dar respostas aos graves dilemas éticos que surgiram na prática da medicina, com a

introdução de novas tecnologias médicas e, também, com a nova consciência social

orientada para avaliação de tratamentos prolongados, decisões de não tratamento

em recém-nascidos com deformações graves e outras deliberações de índole ética.

(BARCHIFONTAINE; PESSINI, 1991) .

A primeira comissão de ética hospitalar foi criada em Morris View

Nursing Home (New Jersey, USA, 1976). Para decidir a respeito da continuação ou

não de tratamento no célebre caso de Karen Ann Quilan, que desencadeou uma

disputa judicial entre os pais da paciente, que estava em estado vegetativo

persistente, devido a causa nunca convenientemente esclarecidas, e o médico a

qual estava assistindo, Dr. Morse. A família queria que a paciente fosse retirada do

respirador e o médico se negava, argumentando que este recurso era necessário a

sua sobrevivente, e que a paciente não preenchia aos critérios de morte cerebral. A

família foi a justiça solicitar autorização para suspender todas as medidas

extraordinárias, alegando que a paciente havia manifestado, anteriormente que não

gostaria de ficar viva mantido por aparelhos. O juiz Muir, responsável pelo caso em

1975, não autorizou a retirada dos aparelhos, baseou a sua negativa no fato da

paciente ter dado esta decl aração fora do contexto r eal, ora vigente. A famíl ia apelou

a Suprema Corte de New Jersey, que designou o Comitê de Ética do Hospital St.

Clair como responsável para estabelecer o prognóstico da paciente e assegurar que

a mesma nunca seria capaz de retornar a um "estado cognitivo sapiente". O comitê

não existia, até então. O juiz presumiu, erradamente, que a maioria dos hospitais

americanos possuíam comitês de ética. Baseou-se para tal no artigo da Dra. Karen

Teel. O comitê foi criado e deu parecer de irreversibilidade. Em 1976 a Suprema

Corte de New Jersey concedeu, o direito da família em solicitar o desligamento dos

equipamentos de supor te extraordinário. Após i sso, a paciente sobrevi veu mais nove

49

anos, sem uso de respirador e sem qualquer melhora no seu estado neurológico.

Alguns autores consideram como primeira precursora das comissões de ética

hospitalar a comissão instituía em 1960 por Beldin Scribner em Seatle EUA para

decidir a respeito de quais paciente renais crônicos se submeteriam a hemodiálise

diante da escassez de equi pamentos e o excesso de paci entes (BARCHIFONTAINE;

PESSINI, 1991) .

Em 1982 a 1984 os casos "Baby Doe" (neonatos que nasceram com

malformações e cujos pais se recusaram a tratá-los), foi uma outra disputa judicial,

entre os pais, que não autorizaram a realização de uma cirurgia, necessária a sua

sobrevivência. Buscou-se uma instância intermediária entre decisão dos médicos ou

a decisão dos juizes junto com o informe da comissão presidencial para o estudo

dos problemas éticos na medicina, pesquisa biomédica e de comportamento, em

1983 considerou a prática e deu impulso decisivo para comissão de ética hospitalar,

propondo-lhe a formação e a utilização dessas comissões para a tomada de

decisões a cerca de pacientes terminais.

A partir daí as comissões de ética hospitalar não se restringiam

somente a decisões sobre pacientes terminais; mas ampliaram o horizonte para

pesquisa, aspectos teóricos práticos de tomada de decisões éticas, uso de novas

tecnologias de reprodução, assistência e o prolongamento da vida e o direito entre

outras questões (BARCHIFONTAINE; PESSINI, 1991) .

As comissões de ética hospitalares são grupos multidisciplinadores

que surgem nas instituições da saúde como respostas aos velhos e novos

problemas morais de saúde nas instituições, tem como objetivo a introdução de uma

mudança conceitual no modelo de saúde, articulações de um novo método na

tomada de deci sões 'eticamente problemática e o desenvol vimento de novas nor mas

que regulem a complexidade dos termos abordados. As comi ssões resultam ser hoje

um instrumento importante na reformulação atual do modelo médico, porque são

capazes de gerar um espaço para introdução da reflexão ética, na atenção a saúde,

destacando os valores da paciente e comuni dade fortalecendo o vínculo profissional-

paciente e instituição de saúde-comunidade. As comissões necessi tam um tempo

para estar em condições de desenvolver suas funções; em primeiro lugar a

educativa, depois a consultiva e a normativa (BARCHIFONTAINE; PESSINI, 1991),

a educativa - os componentes devem passar por uma etapa de autofor mação prévia,

50

a tarefa educativa no hospital consta de conferências, cursos, jornadas, seminários.

Na função consultiva - começa com a revisão dos casos já resolvidos, para adquirir

habilidade em identificar os problemas. Na função normativa - deve-se começar com

o levantamento e difusão das normas já existentes, para elaborar em seguida

normas relativas à problemática específica de algum setor do hospital, antes de criar

normas mais amplas que envol verão todos os setor es do hospi tal.

51

4 CARACTERIZAÇÃO DO HOSPITAL ZONA SUL

Razão Social: Instituto de Saúde do Par aná.

Nome Fantasia: Hospital Zona Sul de Londrina.

Data da Fundação: 16/04/1990

Natureza Jurídica: Pública Estadual

Endereço: Rua das Orquídeas, 75, Parque Ouro Branco

Região: Sul de Londrina

Ramo: Atividade de Assistência Médica Hospitalar

População Atendida: Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)

Nível de Atendimento: Secundário

Porte: Médio

Administração: Secretaria Estadual de Saúde (SESA-ISEP) em

convênio com o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema

(CISMEPAR) e Autarquia Municipal de Saúde.

Administradores: Atualmente conta com 1 diretor geral, 1 diretor

administrativo, 1 diretor clínico, 1 diretor de enfermagem.

Número de Funcionários: Atualmente conta com 176

colaboradores, sendo: 60 funcionários contratados pelo Consórcio Intermunicipal de

Saúde, 1 funcionário federal e 115 do Instituto de Saúde do Paraná (ISEP). Também

recebe o reforço de prestadores de serviço para cobertura de férias, licenças, etc,

pagos pelo CISMEPAR. Após reforma e ampliação o quadro de funcionários

aumentará.

Leitos: Em fase de ampliação. Atualmente conta com 12 macas de

observação no pronto socorro e 41 leitos de internação (14 pediátricos, 15 clínica

médica, 12 cirúrgicos). Após ampliação contará com 30 leitos de observação no

pronto atendimento, 40 leitos na clínica médica, 40 leitos cirúrgicos, 20 leitos

pediátricos.

Serviços Oferecidos: Atualmente oferece atendimento clínico de

pronto socorro, atendimento ambulatorial de cardiologia. Realiza cirurgias eletivas de

52

pequeno e médio porte nas áreas de ginecologia, infantil, otorrino, vascular, plástica,

oftalmologia e geral.

Área Física e Serviços: O Hospital Zona Sul de Londrina é uma

instituição pública estadual com assistência médica de média resolução, que

funciona 24 horas por dia. Atende exclusivamente o Sistema Único de Saúde (SUS)

com uma média de 6.000 atendi mentos por mês.

Vinculado territorialmente à 17ª Regional de Saúde, da Secr etaria de

Saúde do Paraná, situa-se na região sul de Londrina, incluindo os distritos

circunvizinhos, beneficiando uma população de, aproximadamente 150 mil

habitantes.

Contando com uma área de 1.700 m2 de construção, possui pronto

atendimento de pediatri a, clínica médica e internações nas ár eas de pediatria, clínica

médica e clínica cirúrgica. Possui ainda um serviço de cirurgia eletiva de pequeno e

médio porte.

Atualmente possui 41 leitos de internação e 12 leitos de observação

assim distribuídos: 15 leitos da clínica médica com uma taxa mensal de 114% de

ocupação, 12 leitos da cl ínica cirúrgica com uma taxa mensal de 65% de ocupação e

14 leitos pediátricos com 57% de ocupação mensal e um ambulatório de cardiologia

com uma média mensal de 81 atendimentos mês.

Possui serviço de Raios-X e laboratório de análises clínicas

funcionando 24 horas. Conta com as seguintes unidades de apoio técnico:

Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, Laboratório de Análises Clínicas,

Farmácia, Serviço de Nutrição e Dietética, SAME (Serviço de Arquivo Médico e

Estatística), Serviço Social, Central de Material Esterilizado, Enfermagem, Direção

Clínica, Serviço de Higienização e Comissão de Prontuário).

As áreas administrativas são compostas dos seguintes setores:

direção geral e administrativa, almoxarifado, departamento pessoal, contas médicas,

setor de transporte, manutenção, r ouparia, telefonia, registro, portaria.

Os setores de processamento e abastecimento de materiais de

assistência à saúde são: farmácia, almoxarifado, central de material e esterilização e

serviços terceirizados de lavanderia e esterilização a óxido de etileno.

O Hospital Zona Sul passa atualmente por um período de ampliação

e reestruturação de seu espaço físico e recursos humanos. Em plena fase de

53

reforma e ampliação com término previsto para início de 2008, se amplia de uma

área de 1.700 m2 para uma área de 5.618 m2 de construção. Passará a contar com

100 leitos de internação e 30 leitos de observação no pronto socorro. Com isso,

amplia os serviços oferecidos à comunidade tais como: cirurgia, ortopedia,

neurologia, diagnóstico e imagem, fisioterapia, psiquiatria, agilizando e otimizando a

assistência aos pacientes do SUS.

Recursos Humanos: O HZS é composto por uma equipe

multidisciplinar: médicos (clínico-geral, cardiologista, neurologista, pediatras,

anestesistas, cirurgião geral e infantil), enfermeiros, auxiliares de enfermagem,

bioquímicos, auxiliar de laboratório, assistente social, nutricionistas, farmacêuticos,

auxiliar administrativo, totalizando atualmente 230 funcionários. Com a ampliação do

hospital teremos o quadro de funcionários aumentado, assim como a inserção de

outras categorias profissionais tais como: fisioterapeutas, psicólogos, psiquiatra,

ortopedistas e radiologistas.

Diretoria de Enfermagem: É composto por vários departamentos,

entre eles, destacamos al guns:

- Competências do Gerente do Departamento de Enfermagem:

• estruturar, organizar, coordenar e dirigir todas as ações do

Departamento de Enfermagem, apresentando estratégias

inovadoras, assegurando a qualidade assistencial e mantendo

atualizados os sistemas de quali dade;

• desenvolver estratégias e planos de ação, a cur to, médio e longo

prazos, estabelecendo um Planejamento Estratégico que

focalize a identificação e desenvolvimento de lideranças;

atenção centr ada no cliente, informação, análise e r esultados;

• Criar diretrizes básicas com objetivos e metas do Departamento

de Enfermagem e cada um de seus serviços, buscando sempre

como diferencial a visão holística e a assistência humanizada,

globalizada e personalizada;

50

Figura 1 – Organograma do Hospi tal Zona Sul de Londrina – Hospital Regional Porte II Fonte: Hospi tal Zona Norte de Londrina (2008).

DIRETOR GERAL

Núcleo de Controle de Infecção Hospitalar

NUCIH

Núcleo de Informações e Análises da Situação

NUIAS

Diretoria Administrativa

DAD

Diretoria Técnica

DTC

Seção Técnica Assistencial SCTCA

Seção de Recursos Financeiros SCRFI

Seção de Gestão de Pessoas SCGPE

Seção de Serviços de Enfermagem

SCSEN

Seção de Manutenção, Material e Serviços SCMMP

51

• Desenvolver um processo de aculturamento entre a filosofia da

instituição e o Departamento de Enfermagem, visando um

alinhamento de propósito no alcance dos objetivos e metas

institucionais;

• Prover a assistência globalizada, individualizada e humanizada de

enfermagem ao paciente/cliente e sua família, através da

valorização, especialização, interação e aprimoramento da

equipe, bem como a utilização racional de procedimentos,

normas, processos e tratamentos específicos da Enfermagem,

num contexto multiprofissional;

• Promover e facilitar relacionamento favorável entre todo o pessoal

da área da enfermagem, articulando o seu envolvimento com a

missão, visão e comprometimento com a qualidade, objetivos e

metas institucionais;

• Colaborar e oferecer contribuições nos projetos de atualização e

aperfeiçoamento técnico-administrativo, apresentando inovações

viáveis de implantação e desenvolvimento;

• Interesse por manter-se sempre atualizado no seu campo de

atividade, investindo tempo no conhecimento, aprimoramento e

difusão de novos projetos científicos e tecnológicos;

• Interesse contínuo em estimular e apoiar o desenvolvimento

pessoal e profissional dos funcionários, atendendo à suas

expectativas e potencialidades, prevendo ascensão e crescimento

através de Plano de Cargos, Salários e Carreira, conforme

diretrizes organizacionais;

• Elaborar orçamento anual, prevendo recursos humanos, materiais

e equipamentos, definindo prioridades que visem possibilitar e

assegurar a qualidade assistencial aos pacientes/clientes, bem

como avaliar sistematicamente a relação custo/benefício

envolvida em todo o pr ocesso operacional;

• Criar e manter um conselho de enfermagem, formado pelos

enfermeiros executivos e um representante clínico, para tomadas

de decisões de maior vulto.

52

- Competência da Diretoria de Enfermagem:

• Manter a integração interdisciplinar com todos os profissionais da

instituição e extra-instituição, visando atendimento digno aos

pacientes e comunidade;

• Conhecer as políticas de Saúde - SUS - Política Nacional de

Humanização;

• Participa de consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre

matéria relacionada a enfermagem;

• Dirige, organiza o serviço de enfermagem;

• Planeja, coordena, executa e avali a o processo de trabalho;

• Promove reuniões trimestrais e/ou sempre que necessário para

avaliar e replanejar as atividades de equipe;

• Participa do setor de Educação Continuada: avalia e solicita

treinamentos e reciclagem em locus;

• Participa das comissões internas que visam aprimorar a

legalidade do processo de trabalho de enfermagem técnico-

administrativo;

• Atua como órgão consultor na Comissão de Controle de Infecção

Hospitalar;

• Participa nas comissões de prontuário e de óbito;

• Participa nos Programas de Humanização da instituição;

• Representa o departamento de enfermagem em questões éticas,

legais;

• Elabora e prove escala de dimensionamento de recursos

humanos;

• Remaneja funcionários sempre que necessário;

• Realiza controle de freqüência diária e extraordinária;

• Participa no processo de construção de reformas ou ár eas físicas;

• Participa na requisição de recursos materiais permanentes e de

consumo em conjunto com a CCIH, para assistência de

enfermagem;

• Mantém espírito de harmonia, respeito e solidariedade junto à

equipe;

53

• Cumpri e faz cumprir normas e rotinas institucionais de acordo

com preceitos éticos e legais;

• Coordena e participa ativamente da elaboração de rotinas e

protocolos institucionais;

• Executa assistência de enfermagem de maior complexidade

sempre quando solicitado e que exigem conhecimento adequado

com capacidade de tomar decisões imediatas;

• Avalia através de instrumentos a satisfação de usuários e

profissionais;

• Mantém-se atualizado quanto a busca de novos conhecimentos

sobre gerenciamento de enfermagem com meios próprios e

institucionais.

Unidades no Hospital Zona Sul de Londrina: Unidades de

internação - CM pediátrica e clínica cirúrgica e pronto socorro.

Nº de Profissionais: 9, sendo 2 enfermeiros no período da manhã

no PS e Enfermaria; 2 enfermeiros no período da tarde no PS e Enfermaria 1. 1

enfermeiro em cada noite; 1 supervisor de enfermagem; 1 gerente de enfermagem e

1 enfermeiro de centro cirúrgico.

O número de profissionais de saúde do Hospital Zona Sul de

Londrina está em número de 65. São distribuídos das seguintes formas entre SESA

e CISMEPAR:

SESA: Enfermeiros: 6 - Auxiliares e Técnicos de Enfermagem: 8 e

Auxiliar de Saúde: 7;

CISMEPAR: Enfermeiros: 3 e Auxili ar e Técnico de Enfer magem: 41.

Histórico: O Hospital Zona Sul foi inaugurado em 16/04/1990, na

cidade de Londrina e leva o nome do Dr. Eulalino de Andrade, numa homenagem

prestada ao médico pioneiro, que dedicou sua vida à medicina com verdadeiro

sacerdócio. Sendo sempre amigo e solidário, atendia a todos com muita

humanidade.

Este hospital é uma conquista da população da região Sul que lutou

para ter atendimento próximo. Faz parte da história da saúde de Londrina, pois é um

54

dos quatros hospitais públicos da cidade. Os outros são o Hospital Zona Norte,

também estadual , o Hospital Universitário também estadual e a Maternidade

Municipal de Londrina, administrado pela Prefeitura de Londrina.

Na época de sua inauguração possuía uma área construída de

aproximadamente 900 m2, atendendo 24 horas com os ser viços na área de pediatria,

clínica médica, ginecologia, ortopedia com capacidade para 27 leitos.

Em 1993 foi desativado o serviço de obstetrícia, devido a construção

da maternidade municipal e foram implantadas as cirurgias eletivas de pequeno e

médio porte nas especialidades de ginecologia e geral.

O hospital passou por muitas dificuldades, mas contou com a

parceria da Fundação Kellogs - PRO-UNI Londrina que doou aparelho de radio X,

eletrocardiógrafo, TV, vídeo cassete, computadores; melhorando a qualidade do

atendimento prestado. Na parte social recebe constante colaboração do Conselho

de Saúde da Região Sul (CONSUL), Pastoral da Criança, Associação de Bairros e

comunidade local.

Em 01/01/1995 foi fundado o CISMEPAR, estabelecendo uma

modalidade de parceria intergestores: União, Estado e Município, para estruturar um

rol de especialidades no sentido de suprir as deficiências. Essa estrutura se apóia

num órgão decisório máximo, o Conselho de Prefeitos, e no plano técnico recorre a

uma instância executora. Os municípios se associam tendo como referência a 17ª

Regional de Saúde (Regional da Secretaria Estadual de Saúde).

O Consórcio gerencia a contratação de profissionais,

complementando o quadro funcional do ISEP; efetuando aquisições de bens de

consumo e medicamentos, com verba do Governo Federal arrecadada pela

produção do atendimento no hospital e verba encaminhada pelo Governo Estadual,

ambas enviadas pelo fundo Municipal de Saúde. O ISEP encaminha,

trimestralmente, alimentação, mater ial de limpeza e demais produtos.

Em 1999 iniciou-se a ampliação da área administrativa e

assistencial, com adequação da área de recepção para melhor acomodação de

pacientes, mudança na fachada e entrada do Pronto-Socorro, construção de caixa

d'água, reforma da enfermaria com aumento de número de leitos, totalizando 41

leitos de internação. Feito importante para me lhora da qualidade do atendi mento.

Em 2002 ganhou prêmio do Ministério da Saúde, por ser

considerado pelo usuário do SUS, de acordo com a pesquisa realizada pelo

55

Ministério da Saúde no ano de 2000 o segundo hospital do Estado do Paraná em

melhor oferecer atenção aos seus pacientes.

No ano de 2001 foi implantado pelo Governo Federal o Programa

Nacional de Humanização - PNHA, que levou o hospital a iniciar no ano de 2002

com projetos de humanização com o intuito de promover a qualidade de vida no

trabalho, propiciando ambiente saudável, participativo, viabilizando um atendimento

de respeito ao ser humano.

Com o programa deu-se início a projetos como: reforço escolar, café

executivo, integração intersetorial, caixas de sugestões, plantão sorriso, entre outros.

Essas ações têm contribuído para o estabelecimento de um clima de harmonia e

cooperativismo entre os membros da instituição.

Tem participação importante na formação de profissionais na área

da saúde, pois atua como campo de estágio para alunos de graduação e pós

graduação em enfermagem e medicina da Universidade Estadual de Londrina,

alunos de graduação do curso de enfermagem, farmácia bioquímica da Universidade

Norte do Paraná e cursos técnicos de enfermagem.

Tem vínculo estreito com a comunidade através da Pastoral da

Saúde e o Conselho de Saúde da Região Sul (CONSUL), desde a sua fundação,

propiciando maior integração com o usuár io.

56

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DA PESQUISA

5.1 PESQUISA COM ALTO ESCALÃO DO HZSL

A pesquisa qualitativa foi aplicada junto à Direção Clínica e Direção

Geral do Hospital, à Coordenadoria de Bioética, a Gerência de Enfermagem e

Enfermeiros do Hospital Zona Sul. A Direção Geral e Clínica não responderam à

pesquisa e do total de sete enfermeiros, apenas seis responderam, e também a

Gerente de Enfermagem, total izando oito respondentes ao todo.

Inicialmente, os profissionais foram questionados sobre seu conceito

particular com relação à ética, cujas respostas, através de diversos argumentos se

traduziram em: caráter, padronização de conduta, é o agir corretamente, sem causar

dano moral a terceiros, respeito, justiça, compromisso, responsabilidade, postura.

Um dos entrevistados afirmou que ética é “e o ordenamento das ações humanas

baseado na cultura e tradições”. Outro profissional afirmou que “visa a não

maleficência, a abertura para discussões que fogem ao senso comu m”.

Na segunda pergunta os profissionais foram questionados quanto à

importância da ética hospitalar. No geral, as respostas se relacionaram a: qualidade

de assistência, cuidados com os direitos e deveres dos profissionais, valorização da

instituição, norteamento das ações dos profissionais de saúde. Algumas respostas

específicas: “proteger a dignidade humana, a vida, proteger o paciente em toda a

dimensão biopsicosocial”. “Manter diretrizes de trabalho dentro da organização, uma

filosofia em busca do bem estar institucional”. “Tornar a assistência adequada e

humanizada, respeitando o cliente e acompanhantes e demais membros da equipe”.

Na visão de Freitas e Oguisso (2007), é dever ético do profissional

de saúde garantir um atendimento isento de eventos prejudiciais ao cliente, de

acordo com o art. 16 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Por

conseguinte, é um direito dos pacientes/clientes dos serviços de enfermagem que

lhes sejam assegurados que os riscos sejam evitados pelos profissionais que os

assistem. Poderá haver concomitância de responsabilidades ética, civil, ou mesmo

penal por parte do profissional envolvido em ocorrência ética, quando os riscos

forem previsíveis ou evitáveis. Também é um direito do paciente/cliente de

enfermagem, que sejam fornecidas as informações sobre os riscos, os benefícios e

57

os custos, bem como as medidas tomadas para minimização das ocorrências éticas

danosas à cli entela.

A terceira pergunta relaciona ética e avanço tecnológico dentro da

área da saúde, questionando quais os benefícios que tal relação pode oferecer. As

análises positivas dessa relação foram: promoção da vida profissional, investimento

em defesa da qualidade de vida do paciente. “A ética está baseada na cultura das

sociedades humanas que evolui constantemente, introduzindo novos padrões. A

ética deve acompanhar a evolução dos povos”. “A tecnologia valorizou muito a

questão da biologia, das tecnologias frias (equipamentos). A ética provoca uma

reflexão sobre o sofrimento humano e sobre o bem estar do paciente ”. “É uma busca

constante para não ferir conceitos predeterminados por uma cultura, o discurso da

legalidade terá amparo segundo condutas éticas”. Entretanto, houve também,

aqueles que viram esta relação de forma negativa, afirmando que “os profissionais

estão se tornando mecanizados. Às vezes, esquecemos que por trás dos

equipamentos há um ser humano”.

Na quarta questão se perguntou aos entrevistados se eles

consideram necessária a criação de uma Comissão de Ética de Enfermagem, cujas

respostas são demonstr adas no gráfico abaixo.

Criação da Comissão de Ética de Enfermagem

85,7%

14,3%

Sim Não

Figura 2 – Representação da necessidade de criação de uma Comissão de Ética em

Enfermagem no HZSL.

As alegações com relação às respostas positivas foram: “Tem a

função de orientar, esclarecer e ‘cobrar’ os profissionais a agir eticamente”. “Espaço

para discutir, orientar de forma humanizada as ações de enfermagem com o intuito

58

de promover a saúde e proteger o paciente, evitando danos”. “Orientar as ações dos

profissionais, visando um atendimento da melhor qualidade possível”. “Para

incentivar o estudo, fiscalizar o exercício da profissão, discutir a avaliar casos

adversos, analisando a qualidade dos serviços prestados e as condições de

trabalhos oferecidas”.

O único entrevistado que afirmou não haver necessidade da criação

da Comissão de Ética, não justificou sua resposta.

Segundo Ducati e Boemer (2001), são as Comissões de Ética de

cada profissão que fiscalizam o seu exercício, discutem e divulgam seu Código de

Ética. O Regimento dessas Comissões estabelece normas referentes à sua

constituição e eleição de seus membros, dispondo também sobre suas finalidades, a

conduta a ser seguida no caso de infração ética para com o Conselho Regional de

Enfermagem (COREN) e para com a instituição e as atribuições de cada membro.

De acordo com esse Regimento, as Comissões de Ética de Enfermagem são órgãos

representativos do COREN, com função educativa, consultiva e fiscalizadora do

exercício profissional e ético dos profissionais de enfermagem; são reconhecidas

pela instituição e têm com esta uma relação de autonomi a.

Sua criação é importante em qualquer instituição de saúde,

independentemente do número de enfermeiros empregados e sua ausência abre

espaço para que outros profissionais possam julgar questões éticas pertinentes à

Enfermagem. Sua importância foi ressaltada, pela conselheira do 1º Seminário sobre

"Formação das Comissões de Ética de Enfermagem", realizado em maio/93. “A

criação das Comissões de Ética de Enfermagem nos hospitais é de extraordinária

importância; com elas, as sindicâncias sobre problemas profissionais de

Enfermagem serão melhor encaminhadas e avaliadas. Com isso, teremos melhores

condições de analisar a qualidade da assistência prestada e as condições de

trabalho oferecidas” (ARONE, 1993) .

Essa importância também é evidenciada em pesquisa realizada por

uma enfermeira e coordenadora das Comissões de Ética de Enfermagem nas

instituições de saúde do Estado de São Paulo, a qual abrangeu 958 instituições e

detectou um aumento no número dessas Comissões. Assim, do total atualmente

existente, apenas 200 deveriam, obrigatoriamente, manter uma Comissão, de

acordo com os cr itérios previstos na Decisão do COREN - SP/DIR/003/96 .

59

Na quinta questão, os entrevistados foram questionados com

relação ao papel que a ética exerce na área da enfermagem e as respostas se

relacionaram, no geral à educação, orientação das ações dos profissionais,

informação, defesa dos direitos dos profissionais e também de seus pacientes, ou

seja, regular os trabalho dentro dos preceitos legais.

Sobre tal premissa, Malvárez (2007) discorre que no contexto do

mundo atual, o descuido parece converter-se em uma das conseqüências mais

dramáticas do mundo atual, mostrando uma crise civilizatória generalizada, que se

expressa justamente na falta de cuidados com os pobres, idosos e crianças, enfim,

no fim do sonho da generosidade e da solidariedade, na concentração individual e

também no abandono da coi sa pública. Parecem estes, tempos de impiedade.

Ainda na visão de Malvárez (2007), por isso, o cuidado da

comunidade nessa realidade, representa um verdadeiro desafio. O serviço de

enfermagem, cuja razão é o cui dado, enfrenta este desaf io, ao mesmo tempo que se

trata de um imperativo ético, de uma mudança da maneira de pensar, de posição e

ação para fazer frente às necessidades de cuidado das comunidades em um

contexto éti co e condizente com as prerrogativas da prof issão.

A seguir, os entrevistados foram questionados quanto a diferença

entre ética e o código de deontologia de enfermagem, cujas respostas, na

generalidade, relacionaram a deontologia ao direcionamento das ações dos

profissionais através de normas e condutas estabelecidas e a ética à avaliação de

tais ações. Um dos entrevistados afirmou não conhecer a diferença entre os termos

citados.

Sobre o assunto, Santiago e Palácios (2006) fazem uma crítica

bastante construtiva aos códigos de deontologia na enfermagem quando os autores

afirmam que os mesmos são bem-vindos quando incorporam normas morais

defensáveis, mas em alguns casos, pela simplificação exagerada das exigências

morais podem mascarar a compreensão dos profissionais, levando-os a supor que

apenas o cumprimento de todas as regras do código será suficiente para os

eximirem de suas obrigações morais. Eventualmente, os códigos parecem se opor

às regras morais mais gerais ou que estão em condição superior a elas, podendo

sugerir nestes casos, maior proteção aos interesses profissionais que introduzir uma

perspectiva moral imparcial e abrangente.

60

Ainda segundo as autoras, na abordagem utilitarista, o que faz uma

ação ser correta ou errada são suas conseqüências. A conseqüência mais

importante é o aumento ou diminuição da quantidade de bem-estar de todos os

afetados pela ação. Nesse sent ido, a melhor ação é a que pr oduz o máximo de bem-

estar. A noção de bem-estar está relacionada à obtenção de alto grau ou grau

razoável de qualidade de vida que no todo a pessoa almeja ou prefere ter. Incluem-

se todos os seres sencientes como objeto de preocupação moral. Em resumo, a

abordagem utilitarista propõe agir de forma a garantir o maior bem-estar para o

maior número de pessoas.

Assim, também segundo Santiago e palácios (2006), ética do

cuidado é uma forma de compreensão do agir ético e está baseada em 5 idéias

centrais: Atenção moral, Compreensão com simpatia, Consciência das relações,

Acomodação e Resposta. A voz do cuidado compreende que os agentes estão

envolvidos em contextos sociais particulares, relações e narrativas pessoais, que

dirigem suas atenções morais a outros reais e estão abertas a compreender com

simpatia e identificar-se com esses outros. A ética do cuidado pressupõe relações

humanas no interior das equipes de saúde respeitando as especificidades técnicas

de cada profissional e colocando as questões morais para reflexão de forma aberta

e igualitária, condições indispensáveis para que se possa construir consensos nas

situações concretas onde os dilemas morais acontecem.

Posteriormente, os profissionais foram questionados quanto às

competências da Comissão de Ética de Enfermagem e as respostas englobaram os

seguintes tópicos: tem objetivos diversos, como ensino, pesquisa, discussão de

normas institucionais, esclarecimento, orientação, educação em serviço, etc; “rever

questões polêmicas que envolvem assistência humana e os profissionais

envolvidos”.

Segundo a Decisão DIR 019/2003 do Coren do Paraná, em seu

artigo 9º, as competênci as da Comissão de Ética de Enfermagem são:

I. Promover a divulgação dos objetivos da Comissão de Ética da

Enfermagem;

II. Divulgar o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e

demais normas disciplinares e éticas do exercício profissional;

III. Promover e/ou participar de reuniões, seminários ou atividades

similares, que visem a interpretação do Código de Ética e a

61

conscientização de questões ét icas e disciplinares, encaminhando

as conclusões e recomendações ao Cor en-PR.

IV. Assessorar a diretoria e o órgão de enfermage m da entidade, nas

questões ligadas a ética profissional;

V. Promover a necessár ia orientação a equi pe de enfermagem sobre

comportamento ético-profissional e as implicações advindas de

atitudes anti-éticas;

VI. Orientar clientes, familiares e demais interessados sobre

questões éti cas;

VII. Promover e/ou participar de atividades multiprofissionais

referentes a ética;

VIII. Apreciar e emitir parecer sobre questões éticas de enfermagem,

sempre que necessári o.

IX. Analisar e dar parecer sobre a questão ét ica de todos os projetos

de pesquisas que envolvam profissionais de enfermagem.

X. Zelar pelo exercício ético dos profissionais de enfermagem.

XI. Fiscalizar:

a) O exercício ético da profissão;

b) As condições oferecidas pela instituição e sua compatibilidade

com o desempenho ético-profissional;

c) A qualidade de atendimento dispensado a clientela pelos

profissionais da enfermagem;

XII. Averiguar denúncias ou fato anti-ético de que tenha

conhecimento;

XIII. Notificar ao Coren-PR as irregularidades, reivindicações,

sugestões e infr ações éticas detectadas;

XIV. Encaminhar, anualmente ao Coren-PR, relatório das atividades

desenvolvidas;

XV. Solicitar assessoramento da Comissão de Ética do Coren-PR

sempre que necessári o.

XVI. Cumprir e fazer cumprir as disposições deste ato deci sório.

A seguir, os entrevistados foram abordados em relação à sua visão

sobre como tais comissões deveri am se relacionar com as demais áreas do hospital,

62

cujas respostas privilegiaram termos como, de forma imparcial e integral, com

cautela, prudência e conhecimento, de forma educativa, cuidando do relacionamento

interpessoal. “As ações da Comissão deveriam ser realizadas em conjunto com a

Bioética para melhorar o atendimento”. “A Comissão de Enfermagem deve se

envolver diretamente com o cliente/paciente, quando o mesmo sofreu qualquer

agravo ético”.

Na nona pergunta, os profissionais foram abordados com relação a

qual deve ser o envolvimento da Comissão de Ética de Enfermagem com os

clientes/pacientes e estes responderam que tal Comissão deve protegê-lo em todos

os seus direitos, cuidados no assistir humanizado e qualificado, deve elaborar

panfletos e banners de orientações, ouvir e ser ouvido, publicar normas e

regulamentos da instituição.

Segundo Ducati e Boemer (2001) as Comissões atuam junto ao

cliente/paciente com o objetivo de fiscalizar o exercício profissional de Enfermagem

e detectar infrações éticas cometidas pelos profissionais de qualquer categoria.

Essas infrações compreendem qualquer deslize ético, ou seja, qualquer falha

cometida pelos profissionais de enfermagem que infrinja o Código de Ética da

profissão.

A décima pergunta se relacionava a aos futuros trabalhos a serem

desenvolvidos pela Comissão de Ética do HZSL de Londrina, a qual foi respondida

da seguinte forma: “Promover a justiça, equidade e imparcialidade”; “profissionalizar

de forma mais humana e ética as ações de assistência”; “melhorar o relacionamento

interpessoal na equipe”; “promover uma melhora na relação entre os profissionais e

os pacientes, discutindo dilemas e impondo a ética dentro do hospital, priorizando o

respeito entre as classes”; “a Comissão de Ética deve ser um segmento preventivo e

educativo, visando um atendimento melhor e ético”. Um dos entrevistados afirmou

não ter opinião formada a respeito do assunto.

Para Ducati e Boemer (2001) A ética é conduta essencial e se

constitui em atributo de consciência formador do caráter, possibilitando uma reflexão

a respeito de valores morais e trazendo conhecimento em relação à profissão,

direitos e deveres. As Comissões de Ética devem ter como tarefas a criação de

espaços para a discussão de casos clínicos relacionados à ética e para um estudo

mais profundo do Código de Ética de Enfermagem.

63

Os profissionais de saúde também foram perguntados se a

Comissão de Ética pode melhorar as condições de trabalho/atendimento no hospital

e a totalidade dos entrevistados respondeu afirmativamente, sendo que alguns

alegaram que esta “deve estar atenta às irregularidades e injustiças”, “deve provocar

uma reflexão ética e apontar caminhos para que o profissional saia do automati smo”,

“pode orientar os membros da equipe a agir adequadamente junto aos pacientes,

acompanhantes e demai s membros da equi pe”, “a maioria dos profissionais não está

acostumada com a ética, será uma construção para melhorar o relacionamento com

os pacientes e entre os profissionais”.

Na última pergunta os entrevistados foram convidados a explanar

sobre as características de um profissional ético e uma instituição ética, cujas

respostas são r elatadas abaixo.

“Profissionais competentes e responsáveis e uma instituição ética é

aquela que respeita o seu concor rente”.

“Eticamente o profissional atua de forma sigilosa, justa, igualitária,

sem distinção de raça, credo, cor, situação sócio-econômica, política e cultural e a

instituição deve segui r os mesmos preceitos”.

“O profissional que se coloca no lugar do outros, reconhece a

vulnerabilidade do paciente e o auxilia. Sabe qual o seu papel. Vai além da

obrigação. É educado e sensível aos problemas alheios e busca sempre uma

solução. Uma instituição ética valoriza seus profissionais, torna-se um canal aberto

entre os pacientes e os funcionários. Busca a satisfação do usuário, se preocupa

com a questão soci al e ambiental”.

“O profissional ético age de forma a não ferir moralmente o paciente

e os demais membros da equipe. A instituição ética proporciona condições

adequadas para que o profissional trabalhe com qualidade e assim oferecendo

qualidade aos paci entes”.

“Um profissional ético respeita a intimidade do paciente sem fazer

comentários sobre sua doença ou problemas pessoais. Respeita os colegas de

profissão e superiores, evitando críticas destrutivas. A instituição ética é aquela que

zela pelo cumprimento dos dever es e direitos dos trabalhadores e pacientes”.

“Todo profissional deve ser ético, caso contrário, não pode exercer a

sua profissão. Toda instituição deve ser dirigida por profissionais éticos, obedecendo

normas estabelecidas no código, caso contrário, sofrerá sanções legais”.

64

“Profissional ético respeita a filosofia de trabalho da instituição e o

nível cultural do paciente. A instituição ética deve respeitar a questão da lei da

isonomia em todos os aspectos r elacionados ao trabalho”.

Como pode ser verificado através das falas dos profissionais, as

linhas de raciocínio segue o mesmo padrão, tanto em relação ao profissional como

em relação à instituição.

Para Gomes, Moura e Amorim (2006) o campo ético é constituído

pelos valores e obrigações que formam o conteúdo das condutas morais,

especialmente das virtudes. Estas são realizadas pelo sujeito ético, pessoa que só

pode existir preenchendo as condições de ser consciente de si e dos outros, ser

dotado de vontade, ser responsável e ser livre, no sentido de poder se determinar.

Sobre esse assunto, é assinalado que a maturidade humana é alcançada,

sobretudo, no estádio ético, ou seja, na fase em que o homem, autônomo e livre,

age segundo val ores adequados ao seu mod o de existir.

Os autores ainda afirmam que o campo da Bioética compreende um

amplo campo filosófico, científico e sociopolítico, e integra duas vertentes do

conhecimento humano: o saber simbólico, que explicita e esclarece os sentidos da

realidade; e o saber científico, que explica seu objeto de estudo específico. A partir

da Bioética, esses dois saberes se complementam e se integram. Ocorre crescente

interesse pela reflexão e formulação de saberes sobre o comportamento moral do

profissional de saúde e a ética da vida sob diversas dimensões: filosófica, religiosa,

social, política, legal e econômica.

Ainda defendem a idéia de que o estudo da Ética e da Bioética deva

constituir prioridade, uma vez que esses profissionais se ocupam do cuidado da

saúde de pessoas, de seres humanos. Apesar da necessidade indiscutível do

conhecimento técnico, cada vez mais se reconhece a premência da dimensão

humana do cuidado no campo da saúde. O encontro intersubjetivo do cuidar

inerente à relação profissional-paciente mostra-se singular, pois ocorre em momento

de vulnerabilidade, dor ou incerteza, revestido de projeções fundadas no poder do

saber médico que permeia essa relação, tendo um componente éti co imprescindível .

65

5.2 PESQUISA QUANTITATIVA COM OS FUNCIONÁRIOS DE NÍVEL TÉCNICO

O Hospital Zona Sul tem, em seu quadro funcional, 54 cargos de

nível técnico, sendo que destes, nove estão em período de férias e um se encontra

em licença médica, resultando em 44 funcionários em atividade na época da

pesquisa. Do total de colaboradores em atividade, 38 responderam ao questionário,

cujo resultado é demonstrado a seguir .

A primeira parte do questionário procurou conhecer os dados

profissionais dos entrevistados, como cargo, grau de instrução, tempo de atuação

profissional, turno, setor e tempo de atuação no HZSL.

A figura 3 representa o resultado apresentado em relação ao cargo

dos entrevistados.

Cargo Ocupado

84,3%

10,5% 5,2%

Auxiliar Enfermagem Técnico EnfermagemAuxiliar Saúde

Figura 3 – Cargo ocupado pelos profissionais de nível técnico do HZSL.

Como era previsto, a grande maioria dos profissionais é de auxiliares

de enfermagem, perfazendo 84,3% do tot al.

Tais dados conferem com o resultado verificado por Gehring Junior

et al. (2007) que, em seu estudo, identificaram 82,6% de auxil iares de enfermagem.

Conforme Chiodi, Marziale e Robazzi (2007) os auxiliares de

enfermagem representam mais da metade do total de trabalhadores que compõe a

força de trabalho da enfermagem no país. Segundo dados divulgados pelo Conselho

Federal de Enfermagem (COFEN), a força de trabalho na enfermagem é composta

66

por enfermeiros (13,35%), técnicos de enfermagem (24,47%), auxiliares de

enfermagem (59,04%) e atendentes de enfermagem (3,12%).

A segunda pergunta se relacionava ao grau de instrução daqueles

profissionais, conforme mostra a figura 4.

5,2% 0,0%

65,8%

13,2%15,8%

0,0%10,0%20,0%

30,0%40,0%

50,0%60,0%70,0%

Grau de Instrução

Ensino Fundamental

Ensino Médio Incompleto

Ensino Médio Completo

Ensino Superior Incompl.

Ensino SuperiorCompleto

Figura 4 – Grau de instrução dos profissionais de nível técnico do HZSL.

Por se tratar de auxiliares e técnicos de enfermagem, é natural que a

maioria possua o ensino médio completo, perfazendo 65,8% das respostas. Por se

tratarem de cargos técnicos, é bastante compreensível o grande número de

profissionais com o nível médio.

Com relação ao tempo de atuação em enfermagem, a figura 5

mostra os resultados alcançados.

2,6%

10,5%

10,5%

7,9%68,5%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

até 1 ano

de 1 a 3 anos

de 3 a 5 anos

de 5 a 8 anos

mais de 8 anos

Tempo de Atuação em Enfermagem

Figura 5 – Tempo de atuação em enfermagem dos profissionais de nível técnico do HZSL.

67

Segundo a figura 5, 68,5% dos profissionais entrevistados atuam na

profissão há mais de oito anos. Esses dados são confirmados por Gehring Junior et

al. (2007), que demonstraram em seu trabalho que a maior parte (56,3%) deles está

na faixa de 4 a 8 anos de trabalho.

Quanto ao tempo de atuação no Hospital Zona Sul, os resultados

foram:

Tempo de Atuação no HZSL

5,2%

26,3%

10,5% 7,9%

47,5%

2,6%0,0%5,0%

10,0%15,0%20,0%25,0%30,0%35,0%40,0%45,0%50,0%

até 1 ano de 1 a 2 anos de 2 a 4 anos de 4 a 6 anos mais de 6anos

NãoRespondeu

Figura 6 – Tempo de atuação no HZSL dos profissionais de nível técnico entrevistados.

Segundo a figura 6, a maioria dos profissionais atuam no HZSL há

mais de seis anos (47,5%), seguidos daqueles que se encontram ali entre 1 e 2

anos.

Como pode verificado, há estabilidade dos profissionais, pois,

praticamente 66% dos entrevistados presta serviços no hospital há mais de dois

anos.

Na figura sete demonstra-se os setores nos quais os profissionais

prestam serviços.

68

Setor de Atuação Atualmente

2,6%

2,6%

34,3%

34,3%

10,4%

13,2%

2,6%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%

Acolhimento

CCIH

Enfermaria

Pronto Socorro

Pediatria

Centro Cirúrgico

Não respondeu

Figura 7 – Setor de atuação dos profissionais de nível técnico do HZSL.

De acordo com a figura 7, os setores que mais demandam estes

profissionais são o Pronto Socorro e a Enfermaria. Tais setores, via de regra,

normalmente apresentam maior carga de trabalho, exigindo assim, maior número de

funcionários.

Quanto ao turno de trabalho, houve uma homogeneidade, conforme

mostra a figura 8.

Turno de Trabalho

34,3%

28,9%

31,6%

5,2%

Matutino Vespertino NoturnoOutros

Figura 8 – Turno de trabalho dos profissionais de nível técnico do HZSL

De acordo com a figura 8, os horários de trabalho apresentaram uma

freqüência bastant e homogênea, vari ando entre 28,9 e 34,3% entr e os três períodos,

com pequena el evação no período matuti no.

69

Após serem questionados sobre suas características profissionais,

os entrevistados foram convidados a dar sua opinião em relação ao termo ética,

Comissão de Ética, suas funções, at ribuições e como esta deve ser composta.

O gráfico 9 demonstra o opinião dos entrevistados quanto à

definição do termo ética, cujas opções propostas for am:

A – O estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo

ou injusto, adequado ou inadequado;

B – Senso de coletividade, trabalho em equipe sem interferência no

processo de trabalho ideal;

C – A necessidade de fazer o bem, o que implica o reconhecimento

no comportamento do outro, valores culturais.

Segundo os pr ofissionais, ética é:

Definição de Ética

60,5%26,3%

13,2%

ABC

Figura 9 – Definição de ética segundo a opinião dos profissionais de nível técnico do HZSL.

Conforme a figura 9, 60,5% dos entrevistados definem ética como

sendo o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto,

adequado ou inadequado.

Segundo Freitas e Oguisso (2007) a enfermagem vem se

desenvolvendo com base em conhecimentos empíricos e teóricos fundamentados

em múltiplas atividades profissionais voltadas para a assistência, o ensino, o

gerenciamento e a pesquisa. Nesse desenvolvimento da profissão, é levado em

consideração o processo de trabalho da equipe de enfermagem, a fim de propiciar

70

uma assistência segura e isenta de riscos ou de danos à cli entela. Faz-se importante

que os profissionais de enfermagem conheçam as normas legais que regulamentam

os direitos e as obrigações relativos ao exercício da profissão. Contudo, esse

conhecimento não deve significar a substituição das dimensões ética e moral que

permeiam as ações desses pr ofissionais.

A seguir, os profissionais deram sua opi nião quanto à importância da

formação de uma Comissão de Ética de Enfermagem para o HZSL e, 100% dos

entrevistados responderam afirmativamente a esta questão, confirmando a

relevância da existência de tal Comissão para o bom andamento dos trabalhos.

Em relação à importância da criação da Comissão, as opções

propostas foram:

A – Nasce da necessidade de fazer o bem a todos, visando lucros e

benefícios próprios;

B – A comissão serve apenas para penalizar e punir o servidor

quando necessário;

C – Tem função educativa, opinativa, consultiva, fiscalizadora e de

assessoria nas questões éticas do exercício profissional.

Nessa questão, houve unani midade na alternativa C.

Esta importância também é defendida por Ducati e Boemer (2001),

como já relatado anteriormente, quando as autoras afirmam que sua criação é

importante em qualquer instituição de saúde, independentemente do número de

enfermeiros empregados e sua ausência abre espaço para que outros profissionais

possam estar julgando questões éticas pertinentes à Enfermagem.

Essa importância também é evidenciada em pesquisa realizada pela

enfermeira e coordenadora das Comissões de Ética de Enfermagem nas instituições

de saúde do Estado de São Paulo, que abrangeu 958 instituições e detectou um

aumento no número dessas Comissões (CHAMMA, 1997) .

Quanto à composição da Comissão de Ética, os entrevistados,

também por unanimidade, afirmaram que esta deva ser formada por enfermeiros,

técnicos e auxiliares de enfermagem, do estabelecimento onde atuam

profissionalmente.

71

Segundo a Decisão Coren–DIR 019/2003, que normatiza a criação

de Comissão de Ética de Enfermagem (COREN-PR, 2003), em seu Art. 3º, reza que

“A Comissão de Ética de Enfermagem será composta por enfermeiro, técnico e/ou

auxiliar de enfermagem, em igual número, com vínculo na entidade e registro no

Coren-PR”.

Já o Art. 4º decreta que “A Comissão de Ética de Enfermagem

deverá ser formada com, no mínimo, 06 (seis) membros, sendo 03 (três) membros

efetivos e 03(três) membros suplentes”.

Sendo assim, os profissionais entrevistados se demonstraram

cientes da legislação em relação à Comissão de Ética.

A seguir, os profissionais foram questionados quanto às funções da

Comissão de Ética e qual delas pode ser considerada a mais importante, sendo que

foram oferecidas as seguintes opções:

A - Órgão fiscalizador;

B - órgão fortalecedor, educativo e esclarecedor;

C – Órgão disciplinador;

D – Órgão punitivo.

Os resultados são demonstr ados na f igura 10.

Função Mais Importante da Comissão de Ética

2,6%

92,1%

5,3%0,0%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

100,0%

A B C D

Figura 10 – Função mais importante da Comissão de Ética para os profissionais de nível técnico do

HZSL.

72

Quase a totalidade dos profissionais consideram a função de

fortalecimento, educação e esclarecimento como sendo a mais importante da

Comissão de Ética.

Tal afirmação também vai de encontro à Decisão Coren–DIR

019/2003 (COREN-PR, 2003) que, em seu Art. 1º declara que a Comissão de Ética

tem “finalidade educativa, opinativa, consultiva, fiscalizadora e de assessoramento

nas questões éticas do exercício profissional, nas áreas de assistência, ensino,

pesquisa e administração”.

Na última questão os entrevistados foram convidados a emitir sua

opinião sobre o que esperam com a formação da comissão de ética de enfermagem

do HZSL, cujas respostas são compiladas abaixo.

A maioria afirmou, de forma genérica, que a formação da Comissão

de Ética irá proporcionar uma melhoria geral, para profissionais, usuários e

instituição, com maiores informações sobre os direitos, deveres e educação

continuada para os profissionais.

Algumas respostas chamar am a atenção, como por exemplo:

“Que os profissionais tomem consciência das competências de seu

cargo e quais tarefas estão habilitados legalmente para exercer, não fazendo

procedimentos que não sej am de sua compet ência”.

“Instruir os funcionários da necessidade de todos participarem da

Comissão, com sugestões, assi m, será uma Comissão participativa”.

“Zelar pelas condições de trabalho em que vive o profissional;

condições de saúde física, psicológica; trabalhar para amenizar ambientes com alto

nível de est resse; quando um pr ofissional era, oferecer caminhos, ajuda”.

“Espero da Comissão de Ética, um trabalho de fiscalização e

esclarecimento de muitas dúvidas e falhas, para podermos prestar um serviço

correto para os clientes e também ficarmos atentos às falhas que podem prejudicar o

profissional de enfermagem”.

“Espero mais dignidade no tratamento dos doentes, com estrutura

física e quantidade suficiente de funcionários, visando melhor atendimento, com

restabelecimento da saúde e prevenção de novas doenças; só assim haverá

respeito de ambas as par tes”.

73

Como pode ser verificado na fala dos profissionais, a criação da

Comissão de Ética é muito bem vinda entre eles, inclusive, percebe-se, é esperada

com expectativa pelos entrevistados.

74

6 PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA EM ENFERMAGEM

NO HOSPITAL ZONA SUL DE LONDRINA

De acordo com o material teórico disponibilizado neste trabalho

quanto aos conflitos éticos vivenciados pelo profissional de saúde, com o código de

ética das profissões, em específico o Código de Ética de Enfermagem, a pesquisa

quantitativa e qualitativa realizada no Hospital Zona Sul quanto a necessidade da

criação da comissão de ética, confirmou a importância da implantação de uma

Comissão de ética de Enfermagem no Hospi tal Zona Sul.

Devido aos grandes problemas vivenciados hoje pelos profissionais

de saúde, inclusive no hospital em questão, como por exemplo, alta demanda de

pacientes, tecnologia cada vez mais presente prolongando a vida biológica e criando

conflitos de valores, estrutura física inadequada e baixa quantidade de profissionais

para atender com dignidade o paciente e sua família, a Comissão de Ética de

enfermagem se faz importante para garantir, acima de tudo, a reflexão ética no

cuidado com o outro, seja o paciente, sua famíli a e o próprio colega de trabalho.

Além disso, deve ter como missão, profissionalizar de forma mais

humana e ética as ações de assistência, procurando melhorar o relacionamento

inter-pessoal na equipe, bem como criar espaços para discussões de casos clínicos

relacionados à ética e para um estudo mais profundo do Código de Ética de

Enfermagem.

A Comissão de Ética está comprometida com o Código de Ética de

Enfermagem, cujas finalidades, composi ção e objetivos são as seguintes:

Finalidades:

Educativa, opinativa, consultiva, fiscalizadora e de assessoramento nas

questões éticas do exercício profissional na área de assistência, ensino, pesquisa e

administração.

Composição e organização:

Constituída através de eleição direta.

Composta por enfermeiros e auxiliares/ técnicos de enfermagem em

igual número, com vinculo na entidade e registro no COREM (Conselho Regional de

Enfermagem do Paraná), sendo:

75

Um Presidente.

Um Vice Presidente.

Uma Secretária e três membros suplentes.

Formada no mínimo por seis membros três efetivos e três suplentes.

Objetivos:

A Comissão terá como objetivo orientar e estabelecer as bases de

atuação profissional, com o fim de humanizar o atendimento e garantir a assistência

de enfermagem ao cliente e sua família dentro de princípios que valorizam a vida, o

bem estar físico, psicológico e social do paciente.

Normas Gerais :

Mandato de doi s anos. Podendo ser reconduzido por igual período.

A divulgação da comissão será realizada através de folder e banner

educativos.

A sede da comi ssão será no mes mo local da gerência de enfermagem.

Proposta de trabalho ou atividade da comissão de ética:

1) Realizar reuniões e atividades de divulgação dos objetivos da

comissão de ét ica de enfermagem.

2) Realizar orientação aos familiares pacientes e demais interessados

sobre as questões ét icas.

3) Analisar e emitir parecer sobre as questões éti cas de enfermagem.

4) Dar parecer sobre a questão ética de todos os projetos de pesquisa

que envolva profissionais de enfermagem.

5) Averiguar denuncia ou fato antiético de que tenha conheci mento.

6) Educação continuada para profissionais em atividade, de forma que

possam obter novos conheci mentos:

- aspectos éticos e legais das anotações de enfer magem;

- promoção e/ou participação em atividades multiprofissionais

referentes à ética.

Divulgação da Comissão:

Através de folder s e banners (anexos B e C) .

76

7 CONCLUSÃO

Ao concluir-se este estudo, pode-se afirmar que o objetivo foi

alcançado, pois a Comissão de Ética de Enfermagem do Hospital Zona Sul de

Londrina encontra-se em fase de instalação. Quanto aos objetivos específicos,

relata-se que foram atingidos em virtude da realização da pesquisa com a Diretoria

do Hospital e com a equipe de enfermagem e através da proposta apresentada de

implantação da Comi ssão de Ética.

Após análise dos resultados obtidos na pesquisa realizada junto aos

profissionais de saúde do Hospital Zona Sul de Londrina, conclui-se que, dos 46

profissionais que atenderam à solicitação e responderam à pesquisa, apenas um

deles, pertencente à parcela de profissionais que participaram da pesquisa

qualitativa, afirmou não haver necessidade da criação da Comissão de Ética em

Enfermagem na Instituição estudada, sendo que esse profissional não justificou sua

resposta, passando a impressão de não possui r argumentos para tal posição.

Notou-se na fala dos entrevistados, que a formação dessa Co missão

é desejada e recebe muitos anseios por parte dos profissionais, pois estes acredi tam

que a mesma poderá sanar e proporcionar oportunidade de resolução de muitos

problemas vividos pelos mesmos nos dias atuais através de regulamentação,

orientação no sentido de humanização das ações de enfermagem com o intuito de

promover a saúde e proteger o paciente, vislumbrando atendimento com a melhor

qualidade possível. Também consideram a fiscalização tanto do exercício da

profissão como das condi ções de trabalho oferecidas, como fator es relevantes.

Esse estudo evidencia que os profissionais sentem-se

despreparados e mal orientados para lidar com questões éticas, sobretudo, pela

falta de conhecimento acerca do Código de Ética da profissão, pois, principalmente

entre os profissionais de nível técnico, a fala sobre a função de educação e

esclarecimento Comissão de Ética foi quase unânime.

A Ética se constitui atributo formador do caráter, possibilitando uma

reflexão a respeito de valores morais e trazendo conhecimento em relação à

profissão, direitos e deveres. É necessário que mais espaços sejam abertos para a

discussão de casos clínicos relacionados à ética e para um estudo mais profundo do

Código de Ética de Enfermagem. Na educação em saúde, as questões éticas

77

emergem das especificidades das mais diversas clínicas, ou seja, pediatria,

obstetrícia, cirurgia e tantas outras, se transformando em momentos ricos e

fecundos, precisando ser fortalecidos, pois são revestidos de grande potencial

acadêmico para a construção de uma consci ência ética.

É necessário que haja educação continuada dos profissionais em

atividade, de forma que possam obter novos conhecimentos e estejam sempre

reconstruindo o já absorvido a partir dos avanços nas vár ias esferas do aprendizado,

estando, assim, capacitados par a o exercício profissional em suas várias dimensões.

Finalmente, pode-se concluir que o desenvolvimento deste trabalho

muito contribuiu para o crescimento desta profissional, abrindo caminho para outros

estudos a serem desenvolvidos por alunos e profissionais de enfermagem.

78

REFERÊNCIAS

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81

APÊNDICES

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Apêndice A - ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM PROFISSIONAIS DO HOSPITAL ZONA SUL

Ø Diretor Geral Ø Diretor Clinico Ø Coordenador da Bioética Ø Direção de Enfermagem Ø Enfermeiros 1) O que é ética para você ?

R: 2) Qual a importância da ética hospitalar ?

R: 3) Qual a relação da ética com o avanço da tecnologia no contexto da área da saúde?

R: 4) Há necessidade da criação de uma Comissão da Ética de Enfermagem?

( ) Sim ( ) Não Justifique: R:

5) Qual o papel da ética na área da enfermagem ?

R: 6) Você sabe a diferença entre ética e o código de Deontologia de enfermagem?

R: 7) Quais são as competências da Comissão de Ética de enfermagem?

R: 8) Como essa Comissão deveria se relacionar com as demais áreas do hospital?

R: 9) Qual o envolvimento que a Comissão de Ética de enfermagem deveria ter em relação

cliente/ paciente? R:

10) Quais são as suas expectativas com relação aos trabalhos a serem desenvolvidos pela

Comissão de Ética de enfermagem do HZSL? R:

11) A Comissão de ética pode melhorar as condições de trabalho/ Atendimento no

Hospital? ( ) Sim ( )Não Porque? R:

12) Diferencia as característica de uma profissional ético. E uma instituição ética para

você? R:

83

Apêndice B – ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO PARA AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM

1. Cargo ocupado ( ) Auxiliar de Enfermagem ( ) Técnico de Enfermagem ( ) outro. Qual?__________________________________ 2. Grau de instrução ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo 3. Tempo de atuação em enfermagem ( ) até 1 ano ( ) de 1 a 3 anos ( ) de 3 a 5 anos ( ) de 5 a 8 anos ( ) acima de 8 anos 4. Tempo de atuação no HZS? ( ) até 1 ano ( ) de 1 a 2 anos ( ) de 2 a 4 anos ( ) de 4 a 6 anos ( ) acima de 6 anos 5. Em qual setor trabalha atualmente?________________________________ 6. Qual é o seu turno de trabalho? ( ) matutino ( ) vespertino ( ) noturno ( ) outro 7. Ética é: ( ) o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado. ( ) senso de coletividade, trabalho em equipe sem interferência no processo de trabalho ideal. ( ) a necessidade de fazer o bem, o que implica o reconhecimento no comportamento do outro, valores culturais. 8. Você considera importante a formação de uma Comissão de Ética de Enfermagem para o Hospital Zona Sul? ( ) Sim ( ) Não

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9. Em relação à importância da Comissão de Ética de Enfermagem, é correto afirmar que: ( ) Nasce da necessidade de fazer o bem a todos, visando lucros e benefícios próprios. ( ) A comissão serve para apenas para penalizar e punir o servidor quando necessário. ( ) Tem função educativa, opinativa, consultiva, fiscalizadora e de assessoria nas questões

éticas do exercício profissional 10. No que se refere à Comissão de Ética de Enfermagem, é correto afirmar que ela é

composta por: ( ) somente enfermeiros. ( ) somente membros da diretoria e técnicos de enfermagem. ( ) enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, do estabelecimento onde atuam

profissionalmente. 11. Dentre as funções da Comissão de Ética em Enfermagem, qual você considera a mais importante? ( ) órgão fiscalizador ( ) órgão fortalecedor, educativo e esclarecedor ( ) órgão disciplinador. ( ) órgão punitivo. 12.O que você espera com a formação da comissão de ética de enfermagem do Hospital Zona Sul de Londrina. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXOS

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Anexo A - CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM Preâmbulo A Enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida.

O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional configurado pela responsabilidade no plano das relações de trabalho com reflexos no campo científico e político.

A Enfermagem Brasileira, face às transformações sócio-culturais, científicas e legais, entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (Cepe).

A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de Enfermagem com a participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, inclui discussões com a categoria de Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por assunto e inclui princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes à conduta ética dos profissionais de Enfermagem.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração a necessidade e o direito de assistência em Enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa, família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de Enfermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda população.

O presente Código teve como referência os postulados da Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada pela Convenção de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem (1975). Teve como referência, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975) e a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde (1996)].

Princípios fundamentais A Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e qualidade de vida da pessoa, família e coletividade.

O Profissional de Enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais.

O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos serviços de saúde.

O Profissional de Enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em todas as suas dimensões.

O Profissional de Enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano na sua integridade, de acordo com os princípios da ética e da bioética.

O Profissional de Enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção da saúde do ser humano na sua integridade, de acordo com os princípios da ética e da bioética.

Capítulo I Das relações profissionais

Direitos

Art. 1º Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos.

Art. 2º Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão sustentação à sua prática profissional.

87

Art. 3º Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à defesa dos direitos e interesses da categoria e da sociedade.

Art. 4º Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Conselho Regional de Enfermagem.

Responsabilidades e deveres

Art. 5º Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade, resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade.

Art. 6º Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito, na solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.

Art. 7º Comunicar ao Coren e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício profissional.

Proibições

Art. 8º Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de membro da Equipe de Enfermagem, Equipe de Saúde e de trabalhadores de outras áreas, de organizações da categoria ou instituições.

Art. 9º Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer outro ato, que infrinja postulados éticos e legais.

SEÇÃO I Das relações com a pessoa, família e coletividade

Direitos

Art. 10. Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e coletividade.

Art. 11. Ter acesso às informações relacionadas à pessoa, família e coletividade, necessárias ao exercício profissional.

Responsabilidade e deveres

Art. 12. Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.

Art. 13. Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem.

Art. 14. Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em benefício da pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão.

Art. 15. Prestar Assistência de Enfermagem sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 16. Garantir a continuidade da Assistência de Enfermagem em condições que ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades profissionais decorrentes de movimentos reivindicatórios da categoria.

Art. 17. Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da Assistência de Enfermagem.

Art. 18. Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem-estar.

Art. 19. Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.

Art. 20. Colaborar com a Equipe de Saúde no esclarecimento da pessoa, família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca de seu estado de saúde e tratamento.

Art. 21. Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da Equipe de Saúde.

Art. 22. Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos de emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.

Art. 23. Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa do cidadão, nos termos da lei.

88

Art. 24. Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preservação do meio ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de poluição e deteriorização que comprometam a saúde e a vida.

Art. 25. Registrar no Prontuário do Paciente as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar.

Proibições

Art. 26. Negar Assistência de Enfermagem em qualquer situação que se caracterize como urgência ou emergência.

Art. 27. Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da pessoa ou de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte.

Art. 28. Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação.

Parágrafo único – Nos casos previstos em Lei, o profissional deverá decidir, de acordo com a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo. Art. 29. Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a antecipar a morte do cliente.

Art. 30. Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-se da possibilidade dos riscos.

Art. 31. Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos previstos na legislação vigente e em situação de emergência.

Art. 32. Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a segurança da pessoa.

Art. 33. Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissional, exceto em caso de emergência.

Art. 34. Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma de violência.

Art. 35. Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

SEÇÃO II Das relações com os trabalhadores de Enfermage, saúde e outros

Direitos

Art. 36. Participar da prática profissional multi e interdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liberdade.

Art. 37. Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica, onde não conste a assinatura e o número de registro do profissional, exceto em situações de urgência e emergência.

Parágrafo único – O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou ilegibilidade. Responsabilidades e deveres

Art. 38. Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe.

Art. 39. Participar da orientação sobre benefícios, riscos e conseqüências decorrentes de exames e de outros procedimentos, na condição de membro da equipe de saúde.

Art. 40. posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissional seja por imperícia, imprudência ou negligência.

Art. 41. Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias para assegurar a continuidade da assistência.

Proibições

Art. 42. Assinar as ações de Enfermagem que não executou, bem como permitir que suas ações sejam assinadas por outro profissional.

Art. 43. Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização, fecundação artificial e manipulação genética.

SEÇÃO III Das relações com as organizações da categoria

Direitos

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Art. 44. Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de cumprir o presente Código, a legislação do Exercício Profissional e as Resoluções e Decisões emanadas pelo Sistema Cofen/Coren.

Art. 45. Associar-se, exercer cargos e participar de Entidades de Classe e Órgãos de Fiscalização do Exercício Profissional.

Art. 46. Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e convocações.

Art. 47. Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, medidas cabíveis para obtenção de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional.

Responsabilidades e deveres

Art. 48. Cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e legais da profissão.

Art. 49. Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que firam preceitos do presente Código e da legislação do exercício profissional.

Art. 50. Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela necessidade do profissional em cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional.

Art. 51. Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações do Conselho Federal e Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 52. Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.

Art. 53. Manter seus dados cadastrais atualizados e regularizadas as suas obrigações financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 54. Apor o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem em assinatura, quando no exercício profissional.

Art. 55. Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de enfermagem no desempenho de atividades nas organizações da categoria.

Proibições

Art. 56. Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 57. Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela necessidade do profissional em cumprir o presente código e a legislação do exercício profissional.

Art. 58. Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou comprometam a finalidade para a qual foram instituídas as organizações da categoria.

Art. 59. Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exercício profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem.

SEÇÃO IV Das relações com as organizações empregadoras

DIREITOS

Art. 60. Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do seu aprimoramento técnico-científico, do exercício da cidadania e das reivindicações por melhores condições de assistência, trabalho e remuneração.

Art. 61. Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições dignas para o exercício profissional ou que desrespeite a legislação do setor saúde, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente por escrito sua decisão ao Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 62. Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de formação, a jornada de trabalho, a complexidade das ações e responsabilidade pelo exercício profissional.

Art. 63. Desenvolver suas atividades profissionais em condições de trabalho que promovam a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus cuidados, e dispor de material e equipamentos de proteção individual e coletiva, segundo as normas vigentes.

Art. 64. Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica.

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Art. 65. Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou privada onde trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.

Art. 66. Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício profissional e do setor saúde.

Art. 67. Ser informado sobre as políticas da instituição e do Serviço de Enfermagem, bem como participar de sua elaboração.

Art. 68. Registrar no prontuário e em outros documentos próprios da Enfermagem informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

Responsabilidades e deveres

Art. 69. Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento técnico, científico e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação e supervisão.

Art. 70. Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias deliberativas da instituição.

Art. 71. Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar.

Art. 72. Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de forma clara, objetiva e completa.

Proibições

Art. 73. Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou jurídicas que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profissional de Enfermagem.

Art. 74. Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de concorrência desleal.

Art. 75. Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de saúde, unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento congênere sem nele exercer as funções de Enfermagem pressupostas.

Art. 76. Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e coletividade, além do que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de qualquer natureza para si ou para outrem.

Art. 77. Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas físicas ou jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem.

Art. 78. Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para impor ordens, opiniões, atentar contra o pudor, assediar sexual ou moralmente, inferiorizar pessoas ou dificultar o exercício profissional.

Art. 79. Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou particular de que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem.

Art. 80. Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de Enfermagem ou de saúde, que não seja Enfermeiro.

Capítulo II Do sigilo profissional

Direitos

Art. 81. Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao sigilo.

Responsabilidades e deveres

Art. 82. Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal.

§ 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento público e em caso de falecimento da pessoa envolvida.

§ 2º Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando necessário à prestação da assistência.

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§ 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemunha deverá comparecer perante a autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de revelar o segredo.

§ 4º O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido, mesmo quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, exceto nos casos em que possa acarretar danos ou riscos ao mesmo. Art. 83. Orientar, na condição de Enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade sobre o dever do sigilo profissional.

Proibições

Art. 84. Franquear o acesso a informações e documentos a pessoas que não estão diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos previstos na legislação vigente ou por ordem judicial.

Art. 85. Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os envolvidos possam ser identificados.

Capítulo III >>> Do ensino, da pesquisa e da produção técnico-científica

Direitos

Art. 86. Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeitadas as normas ético-legais.

Art. 87. Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desenvolvidos com as pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local de trabalho.

Art. 88. Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção técnico-científica.

Responsabilidades e deveres

Art. 89. Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos, segundo a especificidade da investigação.

Art. 90. Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da pessoa.

Art. 91. Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados.

Art. 92. Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e sociedade em geral.

Art. 93. Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da profissão no ensino, na pesquisa e produções técnico-científicas.

Proibições

Art. 94. Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos.

Art. 95. Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos ou estagiários, na condição de docente, Enfermeiro responsável ou supervisor.

Art. 96. Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa, família ou coletividade.

Art. 97. Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los para fins diferentes dos pré-determinados.

Art. 98. Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do estudo sem sua autorização.

Art. 99. Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou instrumento de organização formal do qual não tenha participado ou omitir nomes de co-autores e colaboradores.

Art. 100. Utilizar sem referência ao autor ou sem a sua autorização expressa, dados, informações, ou opiniões ainda não publicados.

Art. 101. Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais tenha participado como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições sob concordância ou concessão do autor.

Art. 102. Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome como autor ou co-autor em obra técnico-científica.

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Capítulo IV Da publicidade

Direitos

Art. 103. Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas ou divulgar eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e de interesse social.

Art. 104. Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

Responsabilidades e deveres

Art. 105. Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedignidade no conteúdo e na forma publicitária.

Responsabilidades e deveres

Art. 106. Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas de divulgação.

Proibições

Responsabilidades e deveres

Art. 107. Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área profissional.

Art. 108. Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e instituições sem sua prévia autorização.

Art. 109. Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar.

Art. 110. Omitir, em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições.

Art. 111. Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários que caracterizem concorrência desleal.

Capítulo V Das infrações e penalidades

Art. 112.

A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das respectivas penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros dispositivos legais.

Art. 113. Considera-se Infração Ética a ação, omissão ou conivência que implique em desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem.

Art. 114. Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem.

Art. 115. Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou dela obtiver benefício, quando cometida por outrem.

Art. 116. A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos fatos, do dano e de suas conseqüências.

Art. 117. A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos do Código de Processo Ético das Autarquias dos Profissionais de Enfermagem.

Art. 118. As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são as seguintes:

I - Advertência verbal;

II - Multa;

III - Censura;

IV - Suspensão do Exercício Profissional;

V - Cassação do direito ao Exercício Profissional.

§ 1º A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reservada, que será registrada no Prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.

§ 2º A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (um) a 10 (dez) vezes o valor da anuidade da categoria profissional à qual pertence o infrator, em vigor no ato do pagamento.

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§ 3º A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação.

§ 4º A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da Enfermagem por um período não superior a 29 (vinte e nove) dias e serão divulgados nas publicações oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada aos órgãos empregadores.

§ 5º A cassação consiste na perda do direito ao exercício da Enfermagem e será divulgada nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação. Art. 119. As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e suspensão do exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de Enfermagem, serão registradas no prontuário do profissional de Enfermagem; a pena de cassação do direito ao exercício profissional é de competência do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo primeiro, da Lei n° 5.905/73.

Parágrafo único – Na situação em que o processo tiver origem no Conselho Federal de Enfermagem, terá como instância superior a Assembléia dos Delegados Regionais. Art. 120. Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se:

I - A maior ou menor gravidade da infração;

II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;

III - O dano causado e suas conseqüências;

IV - Os antecedentes do infrator. Art. 121. As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, segundo a natureza do ato e a circunstância de cada caso.

§ 1º São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental ou moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que venham a difamar organizações da categoria ou instituições.

§ 2º São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida, debilidade temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou as que causem danos patrimoniais ou financeiros.

§ 3º São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, deformidade permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral irremediável em qualquer pessoa. Art. 122. São consideradas circunstâncias atenuantes:

I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com eficiência, evitar ou minorar as conseqüências do seu ato;

II - Ter bons antecedentes profissionais;

III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação;

IV - Realizar ato sob emprego real de força física;

V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração. Art. 123. São consideradas circunstâncias agravantes:

I - Ser reincidente;

II - Causar danos irreparáveis;

III - Cometer infração dolosamente;

IV - Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;

V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outra infração;

VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima;

VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo ou função;

VIII - Ter maus antecedentes profissionais.

94

Capítulo VI Da aplicação das penalidades

Art. 124. As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas, cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo.

Art. 125. A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38 a 40; 49 a 55; 57; 69 a 71; 74; 78; 82 a 85; 89 a 95; 89; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111 deste Código.

Art. 126. A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48 a 51; 53; 56 a 59; 72 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110; e 111 deste Código.

Art. 127. A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 12; 13; 15; 16; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a 59; 71 a 80; 82; 84; 85; 90; 91; 94 a 102; 105; 107 a 111 deste Código.

Art. 128. A pena de Suspensão do Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26; 28; 29; 31; 33 a 35; 41 a 43; 48; 56; 58; 59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a 102; 105; 107 e 108 deste Código.

Art. 129. A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º, 12; 26; 28; 29; 78 e 79 deste Código.

Capítulo VII Das disposições gerais Art. 130. Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de

Enfermagem.

Art. 131. Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem, por iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos Regionais.

Parágrafo único – A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a categoria, coordenada pelos Conselhos Regionais. Art. 132. O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.

95

Anexo B – Folder Divulgação Comissão de Ética

Nosso endereço: RUA: DAS ORQUIDEAS, 75

PARQ. OURO BRANCO LONDRINA-PR CEP 86042180

MEMBROS DA COMISSÃO:

Presidente

Vice presidente

Secretaria

Vice secretaria

Suplentes

1

2

3

4

Eleitos por voto direto

AAAAAA

Da Finalidade As finalidades da Comissão de Ética de Enfermagem são; educativa, opinativa, consultiva, fiscalizadora e de assessoramento nas questões éticas do exercício profissional, nas áreas de assistência, ensino, pesquisa e administração.

HOSPITAL EULALINO

IGNÁCIO DE ANDRADE

(ZONA SUL DE LONDRINA

E-MAIL:[email protected] http://br.geocities.com/pnhhzs

l/ www.saude.pr.gov.br/HZS/index.htm

www.corenpr.org.br/legislacao/decisoes/de

cisao019-2003.htm

96 Nosso objetivo é oferecer a voce

Objetivos: " Divulgar o Código de Ética dos profissionais de

Enfermagem e demais Normas Disciplinares e Ética do exercício

profissional. " Estimular os profissionais de

Enfermagem sobre a importância da notificação e averiguação das intercorrencias no exercício ético dos profissionais de Enfermagem. " Fortalecer o componente ético

nas áreas de Assistência, Administração, Ensino e Pesquisa

de Enfermagem.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

A Comissão de Ética de Enfermagem terá suas atividades, disciplinadas pelo seu regimento e pelas normas ético-legais do Sistema Cofen/Corens.

a)O exercício ético da profissão; b)As condições oferecidas pela instituição e sua compatibilidade com o desempenho ético-profissional; c)A qualidade de atendimento dispensado a clientela pelos profissionais da enfermagem;

XII. Averiguar denuncias ou fato anti-ético de que tenha conhecimento; XIII. Notificar ao Coren-PR as irregularidades, reivindicações, sugestões e infrações éticas detectadas; XIV. Encaminhar, anualmente ao Coren-PR, relatório das atividades desenvolvidas; XV. Solicitar assessoramento da Comissão de Ética do Coren-PR sempre que necessário. XVI. Cumprir e fazer cumprir as disposições deste ato decisório

CADA ESTRELA DO NOSSO LOGOTIPO

CORRESPONDE AOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM QUE ATUAM NA COMISSÃO:

ENFERMEIROS

TECNICOS DE ENFERMAGEM

Conheça a comissão de ética de enfermagem.

Este folder tem como objetivo divulgar a finalidade e as Competências da Comissão de Ética de Enfermagem atendendo a (Resolução Cofen 172/94 e Decisão Coren-PR-DIR 019/2003),

I. Promover a divulgação dos objetivos da Comissão de Ética da Enfermagem; II. Divulgar o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e demais normas disciplinares e éticas do exercício profissional; III. Promover e/ou participar de reuniões, seminários ou atividades similares, que visem a interpretação do Código de Ética e a conscientização de questões éticas e disciplinares, encaminhando as conclusões e recomendações ao Coren-PR. IV. Assessorar a diretoria e o órgão de enfermagem da entidade, nas questões ligadas a ética profissional; V. Promover a necessária orientação a equipe de enfermagem sobre a necessidade de um comportamento ético-profissional e das implicações advindas de atitudes anti-éticas; VI. Orientar clientes, familiares e demais interessados sobre questões éticas; VII. Promover e/ou participar de atividades multiprofissionais referentes a ética; VIII. Apreciar e emitir parecer sobre questões éticas de enfermagem, sempre que necessário. IX. Analisar e dar parecer sobre a questão ética de todos os projetos de pesquisas que envolvam profissionais de enfermagem.

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Anexo C – Banner de Divulgação da Comissão de Ética

" Divulgar o Código de Ética dos profissionais de Enfermagem e demais Normas

Disciplinares e Ética do exercício profissional.

" Estimular os profissionais de Enfermagem sobre a importância da notificação e

averiguação das intercorrências no exercício ético dos profissionais de Enfermagem.

" Fortalecer o componente ético nas áreas de Assistência, Administração, Ensino

e Pesquisa de Enfermagem.

A Comissão de Ética de Enfermagem terá suas atividades, disciplinada pelo seu regimento e pelas normas ético-legais do Sistema COFEN/COREN

CONHEÇA O OBJETIVO DA COMISSÃO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM DO HOSPITAL ZONA SUL DE LONDRINA

PROFISSIONA L DE ENFERMAGEM

A SUA PARTICIPAÇÃO É PRIMORDIAL PARA O SUCESSO DA NOSSA COMISSÃO DE ÉTICA.