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A EXPRESSÃO CORPORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Susi Manoela de Fátima Zorzo1
Yara Aparecida Couto (O)2
1 – INTRODUÇÃO
Se observarmos uma criança podemos ver que é puro movimento, é o
próprio ritmo com sons, cores e fantasias. Estas fantasias presentes em seu pensamento,
contribui para sua autoconstrução como forma de elaborar o que percebe do meio que a
circunda.
Segundo Koren e Nista-Piccolo (2001:141), a criança na idade pré-escolar
está no estágio elementar de execução dos movimentos fundamentais, por meio de
atividades naturais bem diversificadas poderá ocorrer a descoberta de novas formas de
utilização das habilidades motoras, nesta fase as situações imaginárias estão muito
presentes o que contribui para a execução as atividades de uma forma mais lúdica e
criativa. Quanto mais experiências as crianças tiverem maior será seu acervo motor, o que
será muito importante para o seu desenvolvimento tanto no aspecto psicomotor como no
aspecto sócio-afetivo.
Para FREIRE (1997:83), a educação corporal, é um dos objetivos da
Educação Física. A criança pode apresentar movimentos cada vez mais coordenados, e isso
se consegue tanto pelas necessidades impostas pelo meio como por uma educação
sistemática, com orientação do professor. Esta seria a “educação do movimento” também
se conhece a “educação pelo movimento” onde todos os movimentos produzidos num certo
nível podem e devem servir de base para outros mais elaborados.
A pré-escola continua representando uma fase de mudança para a criança,
nesse período ela troca a segurança do lar e passa a conviver em um novo ambiente, repleto
de desafios e novidades. Contudo, é extremamente importante que esta mudança seja
cercada de cuidados e atenção (BRASIL, 1998).
1 Professora da Rede Municipal de Ensino de Conchal/SP e aluna da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. 2 Professora Assistente do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.
Oportunizar as crianças a experimentar, criar e recriar, significar e mostrar,
através de vivências com o corpo constitui realmente o processo de aprendizagem, as
crianças apresentam alegria e cumplicidade na execução das tarefas proporcionando assim
o despertar de sua criatividade.
O trabalho com a arte e o corpo, oferece elementos para a construção do
indivíduo enquanto ser pensante, ser afetivo e ser social; capaz de reconhecer-se na
coletividade bem como traz para a criança a possibilidade de pensar e articular estruturas de
pensamentos, de conhecer a si próprio, de ter consciência de si e de seu corpo para que
possa ter consciência do que é exterior a ela.
O conhecimento sociocultural da arte dá a criança o direito ao fazer artístico e
utilizam corpo e mente não como partes, mas como totalidade. Através das brincadeiras as
crianças descobrem este mundo da criação de utilizar a arte com os movimentos corporais;
as brincadeiras cantadas e as atividades que envolvam linguagens de expressão, são
exemplos de atividades que utilizam os movimentos corporais com a arte. Ao realizar
brincadeiras que utilizam cantigas, sendo geralmente em roda, as crianças revivem uma
tradição importante da cultura popular brasileira. Já as atividades com linguagem de
expressão (observar figuras, representar uma história) contribui para o resgate das histórias
infantis e melhora no potencial criativo e de interpretação. As cantigas de roda e as histórias
infantis encantam e sensibilizam, estimulando o convívio social e criando uma rica
oportunidade de desenvolvimento cultural, social e artístico.
O eixo a ser trabalhado será a Expressão Corporal, porém, para que o
desenvolvimento ocorra é preciso bem mais do que apenas permitir que a criança expresse,
é fundamental que toda atividade seja mediada por um adulto ou por crianças mais
experientes. A mediação nesta perspectiva refere-se a interferência de pessoas, com um
maior repertório de vivências, na realização de tarefas propostas as crianças, permitindo
possíveis avanças no desenvolvimento infantil.
Antunes, citado por Petrilli (2005), demonstra a importância que todos os
envolvidos no setor educacional devem atribuir ao processo de ensino e aprendizagem, e no
caso específico deste estudo a Expressão Corporal, que além de contribuir com o
desenvolvimento físico da criança, também possibilita ganhos nas relações afetivas e na
cognição do aluno.
No entanto, apesar de sabermos a importância da realização de atividades de
movimento incluindo a expressividade entre as crianças, apenas recentemente e em
algumas cidades, o professor de Educação Física foi incluído na Educação Infantil. Esse
novo fator impulsiona alguns pesquisadores a refletir, discutir e adquirir maior clareza
sobre o papel da Educação Física na escola e na vida da criança.
A Educação Física escolar precisa repensar sua função na escola, tendo por objeto de estudo e trabalho a intencionalidade do movimento humano, concebido como toda a produção histórico-cultural da sociedade, a qual não é restrita à prática cultural de movimentos como o esporte, a dança, a ginástica, os jogos, as lutas, os brinquedos e as brincadeiras. O domínio do conteúdo, a clareza dos objetivos a serem atingidos, o conhecimento sobre as necessidades das crianças e a criatividade do professor são fatores que permitem ultrapassar as atividades convencionais de Educação Física e criar novos movimentos e atividades, além de motivar os alunos de diversas séries a participar de suas aulas (MELLO, 2002 citado por PETRILLI, 2005).
Assim, designaremos para este estudo, o termo “Expressão Corporal” como
atividades rítmicas, expressivas e musicais, que utilizam-se tanto de brincadeiras cantadas
(cantigas de roda), bem como faremos uso das múltiplas linguagens (observar uma figura,
representar uma história). Acreditando que estas atividades podem ser um meio facilitador
do convívio social, da expressão de sentimentos e obtenção de tempo e espaço próprio,
capaz ainda de proporcionar alegria, descontração e espontaneidade, deveria ser utilizada
de forma adequada pelos educadores, potencializando assim, todos os ganhos que esta
atividade pode trazer a quem a vivência.
A faixa etária escolhida (3 a 4 anos) corresponde ao estágio de
desenvolvimento no qual o aparecimento da linguagem e a formação de símbolos trazem a
possibilidade de representação das coisas e das pessoas (KOREN; NISTA-PICCOLO,
2001), contribuindo para a exploração de sua criatividade na execução dos movimentos.
Temos como objetivo geral revisar alguns estudos sobre o papel da
Expressão Corporal na Educação Infantil, e a partir desta elaborar e propor aulas com
brincadeiras cantadas e atividades historiadas aos alunos da pré-escola, de três a quatro
anos de idade, de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) da cidade de
Conchal.
Como objetivo específico, buscaremos observar nas crianças possíveis
alterações no decorrer das aulas com relação aos aspectos como participação, universo
criativo, cooperação e autonomia nas brincadeiras, pois entendemos que o ambiente lúdico
permite a liberdade de expressão e incentiva a atividade coletiva, sendo possível garantir o
crescimento pessoal e coletivo dos alunos, assim como, a construção do conhecimento.
2- REVISÃO TEÓRICA 2.1- EDUCAÇÃO INFANTIL
Segundo o Referencial curricular Nacional para a Educação Infantil:
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inscrita em uma sociedade, com uma determinada cultura em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas que também o marca. A Educação Infantil é considerada a primeira etapa da educação básica (título V, capítulo II, seção II, art.29), tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade (BRASIL, 1998).
O desenvolvimento integral deve ser entendido enquanto expressão de uma
totalidade, podendo ser trabalhado pela Educação Física de uma forma integrada com a
Proposta Pedagógica que a escola oferece, fazendo o aluno perceber o corpo como forma
de comunicação, a LDB determina que:
A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação
Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (p. 12).
Certamente um bom espaço para estimular e possibilitar a criança
movimentar de uma forma natural e espontânea e que se relacione consigo mesmo e com o
ambiente, se dá nas aulas de Educação Física, onde a criança tem a oportunidade de
apropriar-se de um rico repertório da cultura na qual esta inserida, seja pela brincadeira ou
pelo movimento. E ainda, pode melhorar sua forma de comunicação, desenvolver o respeito
aos demais companheiros, bem como, aprender a lidar com as diferenças dentro do grupo.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional, a prática na Educação
Infantil está organizada em objetivos de modo que as crianças desenvolvam as seguintes
capacidades:
• uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com
confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações;
• descubram e conheçam progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus
limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem
estar;
• estabeleçam vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-
estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação
social;
• estabeleçam e ampliam cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a
articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e
desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração;
• observam e exploram o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez
mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e
valorizando atitudes que contribuam para sua conservação;
• brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades;
• utilizam as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às
diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser
compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no
seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade
expressiva;
• conheçam algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse,
respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade.
A compreensão do caráter lúdico e expressivo das manifestações do
movimento infantil poderá ajudar o professor a organizar melhor a sua prática, baseando
sempre nas necessidades das crianças. É importante salientar que as vivências motoras,
quando selecionadas pelo professor devem ser adequadas do ponto de vista afetivo,
cognitivo e motor. Embora as crianças estejam reunidas em grupos da mesma faixa etária,
cada uma apresenta uma variabilidade maturacional sendo assim, compartilhar
experiências, reconhecer gestos e expressões dos outros e perceber-se enquanto corpo
inteiro proporcionando um aumento significativo de vivências observando que nem todas
as crianças apresentam o mesmo nível cognitivo e afetivo.
Nos primeiros anos de vida a brincadeira é a atividade principal da criança,
“pois ao prover uma situação imaginativa por meio da atividade livre, a criança desenvolve
a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais” (KISHIMOTO, 1998, p.
43).
Magnani, citado por Petrilli (2005), relata que é brincando que a criança
experimenta, inventa, descobre suas limitações e habilidades, e ainda, tem a curiosidade,
iniciativa e autoconfiança estimuladas. Além disso, proporciona o desenvolvimento da
aprendizagem, da linguagem, do pensamento e da concentração. Brincando, a criança
desenvolve a sociabilidade, faz amigos, aprende a conviver, respeitando o direito dos outros
e as normas estabelecidas pelo grupo, aprende a engajar-se nas atividades e preparar-se para
o futuro.
Desta maneira, é primordial que as brincadeiras sejam introduzidas e
valorizadas dentro da escola, visto que, estas são aprendidas pelas crianças no contexto
social, seja através da orientação do professor ou pelo convívio com crianças mais velhas.
Também é importante ressaltar o papel do professor ao utilizar-se das brincadeiras no
ambiente educacional, sendo que este deve preocupar-se com a organização do espaço,
seleção dos materiais e colaboração na interação dos alunos (KISHIMOTO, 1998).
2.2- Expressão Corporal na Educação Infantil
A Expressão Corporal é uma conduta espontânea, é uma linguagem através
da qual o ser humano expressa sensações, emoções, sentimentos e pensamentos com seu
corpo, integrando-o, assim, as suas outras linguagens expressivas como fala, o desenho e a
escrita (Stokoe, Harf; 1987).
Trabalhar as atividades expressivas na Educação Infantil, contribui para o
desenvolvimento da expressão de forma geral. Qualquer ação efetuada pela criança durante
a sua atividade pode se tornar um movimento de expressão corporal a ser explorado.
De acordo com ANDRADE (2006), o uso da consciência corporal por parte
da criança, de forma lúdica e expressiva, da-lhe, num primeiro momento, a satisfação da
descoberta e do alivio de tensões e ansiedades e, num segundo momento, favorece a sua
percepção das possibilidades e limitações do próprio corpo. Com isso, a criança descobre
meios de usar o gesto de forma inventiva e adequada ao espaço.
Quando nos referimos expressão através do corpo, estamos aplicando
aprendizados com conteúdos que encaminha o indivíduo a criatividade a comunicação e a
integração. STOKOE e HARF (1987) destaca que o indivíduo que se expressa com seu
corpo deve aprender que vive numa sociedade com outros indivíduos que também se
expressam com seus corpos.
ANDRADE (2006), destaca a expressão corporal como um patrimônio do
homem. Citando que “foi através do corpo que o homem primitivo pôde buscar recursos
para sua sobrevivência. Naquele momento lhe foi exigida grande destreza e, sobretudo,
percepção para ver e avaliar o mundo a sua volta. Foi com gesto, acompanhado ou não de
sons, que o homem construiu, desse material primitivo, uma linguagem”.
O educador tem um papel importante quando se aplica atividades de
expressão, deve estar atento a participação do universo das fantasias da criança favorecendo
a formação de alguém sensível a transformações.
“ Num ambiente lúdico, torna-se possível à criança expressar fantasias. A nós, educadores, cabe o papel de, entrando em contato com a imaginação da criança, viabilizar a transformação desse rico material num projeto realizável, que poderá ter a forma de desenho, de poesia, de musica, de uma dança, de um simples objeto feito de caixas, ou de uma estória representada ou apenas para o grupo ” ( ANDRADE, 2006).
Segundo BRASIL(1998), a expressão corporal está inserida dentro do bloco
Atividades Expressivas, sendo que “este bloco de conteúdo inclui as manifestações da
cultura corporal que tem como característica comum a intenção explicita de expressão e
comunicação por meio dos gestos na presença de ritmos, sons e da música na construção da
expressão corporal ”.
A utilização dessas atividades colabora para enriquecer o processo de
informação e formação como indivíduo, melhorando o convívio em grupos e muitas vezes
resgatando a cultura popular da região.
STOKOE e HARF (1987) inclui a expressão corporal como um conceito
integrado a dança, esta pode ser entendida como uma resposta corporal a determinadas
motivações. Não podemos esquecer que estamos falando da dança dentro do contexto
expressão corporal, onde os movimentos são adquiridos através da criatividade de cada um,
de forma espontânea mas organizada; diferente do contexto de dança coreografada onde o
professor impõe os movimentos a serem executados, o objetivo não é formar bailarinos e
sim trabalhar a expressão e a criatividade.
Destaco importante um trecho de Bertazzo (2004), que infere que:
“ Na diversidade do corpo, expressão concreta da diversidade de gestos, traduz-se a multiplicidade de pensares, imagens, sonhos e desejos, cada qual respeitando em sua integridade, particularidade e autonomia. Constrói-se um movimento de harmonia praticando o improvável – a reunião do diferente no comum, do semelhante no diverso.”
Podemos definir a dança como um meio diferente da criança experimentar a
expressão sem ser pelas palavras. Ao “falar” com o corpo, ela abre a possibilidade de
conhecer a si mesmo de outra maneira e melhorar a sua auto-estima.
A introdução da Expressão Corporal na Educação Infantil pode mudar
significamente as atitudes da criança na escola, a expressão corporal no espaço escolar
busca o desenvolvimento não apenas das capacidades motoras, mas também das
capacidades imaginativas e criativas. Dentro do conteúdo Expressão Corporal, será
trabalhado as brincadeiras cantadas, as linguagens de expressão e o movimento.
2.2.1- Brincadeiras cantadas na Educação Infantil
Cantigas de roda são pequenos cantos que pertencem à tradição popular
brasileira, as brincadeiras cantadas são tão antigas quanto nossa história civilizatória, pois
crianças e adultos, em diversos períodos históricos, brincavam, cantavam e dançavam como
forma de celebração ou como instrumento de transferência cultural.
O homem antes mesmo de expressar-se ou comunicar-se por palavras criou
com o próprio corpo, padrões rítmicos de movimento e passou a desenvolver uma forma de
interação e comunicação com seu grupo.
Ao brincar de roda com as mãos dadas olhando-se de frente e entoando as
cantigas, as crianças constroem parcerias que serão repetidas em outros espaços onde o
ritmo individual cede espaço ao ritmo do grupo.
Toda brincadeira empregada na escola, surge como um recurso para a
realização das finalidades educativas e como elemento primordial ao desenvolvimento
infantil, “ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos
dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da
criança” (KISHIMOTO, 1998, p. 22).
Brincar possibilita a criança desenvolver autonomia, criatividade e
cooperação, adentrando ao mundo do trabalho, da cultura e da afetividade, através da
representação e da experimentação. É ainda uma atividade social, dependente de regras de
convivência e de regras imaginárias estabelecidas por seus participantes, quanto maiores e
mais diversificadas forem as experiências vividas pela criança, maior será a capacidade de
buscarem soluções a novas situações vividas.
Neste estudo, o termo “brincadeiras cantadas” se refletirá em atividades
rítmicas, expressivas e musicais, tendo como conteúdos as brincadeiras tradicionais, sendo
as cantigas de roda e as brincadeiras de faz de conta, de forma a complementar o processo
da criatividade e da imaginação.
São consideradas brincadeiras tradicionais, aquelas filiadas ao folclore, ou
seja, incorporadas a cultura popular, cujas características são representadas pelo anonimato,
tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e universalidade. E brincadeira
de faz de conta, aquela onde a criança começa a alterar o significado dos objetos, a
manifestar sonhos e fantasias e a assumir diferentes papéis relacionados ao contexto social
(KISHIMOTO, 1998).
As cantigas de roda possibilita a escola ampliar o repertório da criança e
estimula a sensibilidade com relação ao conteúdos das letras, onde abordam diversos
aspectos da vida.
2.2.1.1 – RITMO
O ritmo é uma tendência inata na vida da criança, desde cedo participa dos
ritmos naturais que a criança possui em seu interior e sempre está a sua disposição.
Segundo PAIVA (2000), a criança de pre escola apresenta um pouco de
dificuldade em relação a ritmos mais complexos, mas devemos incentivá-las a se expressar
dentro de seus limites.
PAIVA (2000) ainda explica que para o professor ensinar uma canção, deve
levar em conta uma seqüência de atividades a fim de favorecer seu aprendizado:
• Explicar a letra e a que se destina, caso esteja associada a outra área de estudo;
• Ensinar primeiramente a letra, pedindo para que sejam repetidos em pequenos trechos;
• Ensinar a melodia;
• Deixar que a criança se expresse livremente, durante o ensino da melodia;
• Associar a letra à melodia e aos gestos;
• Cantar a canção inteira;
• Levar em consideração a criatividade e a liberdade de expressão da criança;
• Deve-se levar em consideração a maturidade musical da criança, para crianças menores
as canções devem ser curtas e fáceis de cantar.
2.2.2 - LINGUAGEM DE EXPRESSÃO
Toda criança gosta de ouvir várias vezes a mesma história ou ficar
observando figuras que lhe chamam a atenção. Quando a criança interage junto a história
fica mais fácil a memorização e a compreensão do conteúdo transmitido.
Quando trabalhamos com figuras, é importante destacar sua contribuição
para o desenvolvimento visual e interpretativo com relação ao que a figura transmite.
Todo ser humano, mesmo antes de aprender a ler e a escrever, reage
positivamente aos estímulos artísticos. Se tem um lápis rabisca ou desenha, se ouve uma
música dança, cantarola ou pelo menos apresenta uma reação. Todo homem é um artista em
sua atividade criadora (Yolanda, 1970).
A criação infantil pode se expandir através de meio como o ritmo, canto e
dança geralmente a criança utiliza estes meios para expressão própria e individual, mais se
tais atividades, forem trabalhadas em grupos produzem ótimos resultados no sentido de
integração social, pois as crianças sentem a necessidade de organizar num todo harmonioso
esse conjunto de expressões pessoais.
Para que as crianças possam exercer suas capacidade de criar é importante
que haja riqueza e diversidade nas atividades propostas, sejam elas mais voltada a
brincadeira ou a aprendizagem.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para o brincar:
“ Para brincar é preciso apropriar-se de elementos da
realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados.
Toda brincadeira é uma imitação transformada; no ato de brincar
os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam
outra coisa daquilo que aparentam ser.”
Brincar de imitar a realidade faz com que a criança aceite melhor como ela imagina
ser ou poderia ser; é importante salientar que as atividades devem ser adequadas ao
desenvolvimento de cada criança, respeitando seu ritmo, ambiente e estímulo que recebe.
2.2.3 - MOVIMENTO
Educação Física é uma prática pedagógica que trata da cultura corporal de
movimentos. Quando as crianças ingressam na escola, trazem consigo uma pequena
bagagem sobre o movimento, corpo e cultura corporal, experiência de vivência pessoal. Os
padrões de movimento não são inatos, mas sim adquiridos com o tempo e a vivência, como
as crianças dessa idade pré escolar estão em um acelerado processo de desenvolvimento,
deve-se preocupar em realizar atividades que contribuam para aumentar e melhorar esses
conhecimentos.
Segundo BRUN (2006), os padrões fundamentais de movimento pode ser
divididos em:
• Locomoção: permitem a exploração de todo o ambiente e incluem atividades como
andar, correr, saltar e suas variações, alem de todos os movimentos que deslocam o
corpo no espaço.
• Manipulação: envolvem o relacionamento do indivíduo com os objetos que estão à sua
volta. Podemos dividi-los em dois tipos de ações: no primeiro, o objeto aproxima-se do
corpo da pessoa, e esta deve interromper a sua trajetória. No segundo, o objeto deve ser
afastado do corpo da pessoa, com o auxílio do próprio corpo ou com a utilização de
outro objeto.
• Equilíbrio: permitem as pessoas manter a postura do corpo no espaço e estão
relacionados com a forca que a gravidade exerce sobre o corpo. Embora as suas
posições sejam estáticas, esses padrões são importantes para os padrões de locomoção e
manipulação, porque o equilíbrio auxilia na coordenação do movimento durante uma
ação. Como exemplos podemos citar: ficar em pé, sentar, equilibra-se entre outras.
LIMA (1992), afirma que o movimento tem lugar de destaque na infância,
pois serve para a criança se relacionar com o outro, explorar o espaço situando-se nele, bem
como o objeto e o próprio corpo, a partir desta é possível o desenvolvimento integral do ser
humano, de forma que este aproprie-se tanto de novas possibilidade de expressão quanto da
sua cultura, e segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, as
atividade desenvolvidas na pré-escola, para crianças devem permitir:
- ampliar as possibilidades expressivas do próprio movimento, utilizando gestos diversos e o ritmo corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interação; - explorar diferentes qualidades e dinâmicas do movimento, como força, velocidade, resistência e flexibilidade, conhecendo gradativamente os limites e as potencialidades de seu corpo; - controlar gradualmente o próprio movimento, aperfeiçoando seus recursos de deslocamento e ajustando suas habilidades motoras para utilização em jogos, brincadeiras, danças e demais situações; - utilizar os movimentos de preensão, encaixe, lançamento etc., para ampliar suas possibilidades de manuseio dos diferentes materiais e objetos; - apropriar-se progressivamente da imagem global de seu corpo, conhecendo e identificando seus segmentos e elementos e desenvolvendo cada vez mais uma atitude de interesse e cuidado com o próprio corpo. (BRASIL, 1998, p. 26).
MELLO (2001), explica que o movimento não pode significar o
desenvolvimento apenas do corpo, como se o pensamento e as emoções estivessem fora
dele. É importante salientar que podemos utilizar os padrões de movimento, mas sempre
respeitando os limites das crianças e não força-las a fazer alguma atividade sem que
estejam preparadas para isso.
BRASIL (1998), destaca o movimento como uma importante dimensão do
desenvolvimento e da cultura humana:
“as crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo.
Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupos, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço, constitui-se de uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo.”
De acordo com TANI (1988), a educação física escolar possibilita a
preparação de um ambiente de aprendizagem e de desenvolvimento que favoreça a todas as
crianças desenvolverem ao máximo as suas potencialidades de movimento, e os fatores que
o influenciam, levando-se em consideração suas características e limitações.
“ O trabalho com o movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança ” ( BRASIL, 1998).
BRASIL (1998) também explícita que o movimento para a criança pequena
significa muito mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se
expressa e se comunica por meio dos gestos e das mímicas faciais e interage utilizando
fortemente o apoio do corpo.
3- METODOLOGIA 3.1- PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Com o objetivo de recolher dados que permitissem encontrar respostas e
validar esta pesquisa, foi elaborado um questionário para avaliar a observação da professora
de sala com relação ao comportamento e atitudes da criança em outro ambiente (sala de
aula ou caixa de areia) e foram realizadas observações com relação ao ritmo, coordenação
dos movimentos, criatividade, participação e comportamento dos alunos durante as
atividades propostas.
O questionário aplicado foi elaborado com 6 questões dissertativas, onde
buscou avaliar no professor de sala:
1. A dificuldade encontrada para trabalhar com essa faixa etária;
2. O que se entende por expressão corporal;
3. Se trabalha com atividades que envolvam a expressividade (cantigas e histórias);
4. A opinião sobre a inserção do professor de Educação Física na Educação Infantil;
5. Se notou alguma diferença no comportamento e atitudes dos alunos, após o inicio das
aulas de Educação Física;
6. Com relação a criatividade, se houve evolução e melhora ( em outro ambiente como a
sala ou a caixa de areia).
Segundo MOREYRA (2003), o questionário é um instrumento de coleta de
dados, constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por
escrito e sem a presença do pesquisador. A vantagem da utilização deste material na
pesquisa, foi a obtenção de respostas rápidas e precisas com relação ao aproveitamento do
aluno nas atividades vivenciadas.
Durante a aplicação das atividades a técnica utilizada foi a observação, com
relação à aceitação e ao desenvolvimento (ritmo, coordenação dos movimentos,
criatividade) das vivências.
MOREYRA (2003), explica que a observação é uma técnica de coleta de
dados para conseguir informações e para a obtenção de determinados aspectos da realidade,
é um elemento básico de investigação científica. Desempenha papel importante nos
processos observacionais e obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade.
Considero a observação como instrumento facilitador no momento de
avaliar a atividade desenvolvida e diagnosticar com clareza as expectativas e objetivos a
serem contemplados.
É importante destacar que a observação e a vivência das aulas foram
realizadas pela própria pesquisadora, na escola onde ministra as aulas e aplicadas durante o
horário das aulas de Educação Física.
3.2 - Sujeitos participantes
Esta pesquisa foi desenvolvida em uma Escola Municipal de Educação
Infantil da cidade de Conchal – SP, situada no centro da cidade. A população analisada
pertence a classe média, com faixa etária de 3 à 4 anos de idade, deste sendo, 11 meninos e
11 meninas com um total de 22 alunos, todos pertencendo a mesma sala – Pré I.
Segundo FERREIRA e CALDAS (1982), a faixa etária escolhida de acordo
com o desenvolvimento infantil, corresponde:
• 2a fase (2 a 4 anos ) – Período Preconceitual, em que a criança começa a encarar os
estímulos como representativos de outros objetos. É o inicio do desenvolvimento da
função simbólica que é a base para a aquisição da linguagem, fator preponderante para
o aprendizado da leitura.
FERREIRA e CALDAS (1982) também explica a fase do ensino pré escolar
e sua característica correspondente a faixa etária trabalhada:
1a fase ( 3 a 4 anos ) – características motoras: a atividade motora está em primeiro plano,
pois ela imita facilmente os movimentos que observa nos outros, tem uma melhora na
coordenação de movimentos, o equilíbrio se desenvolve, a exploração sensorial e motora é
intensa. Já no desenvolvimento intelectual a criança descobre a existência da realidade
exterior independente dela e pode compreender a necessidade de fazer bem feito o que é
preciso. O desenvolvimento social mostra que a criança nessa fase realiza maior número de
contatos sociais e começa a aceitar brincadeiras mais associativas em grupos pequenos,
começando a aparecer a competição por ocasião das atividades comuns.
É importante observar que essas fases servem de base para o conhecimento e
nem sempre são adequadas à faixa etária correspondente.
3.3 - Estruturação e conteúdo das aulas
As aulas foram organizadas semanalmente, no período de 13 de abril a 22 de
junho no ano de 2006; sendo realizada uma vez por semana no período da tarde (
vespertino), constando um total de 10 aulas aplicadas com duração de 50 minutos cada
aula, sendo divididas em três partes: inicial, principal e final. A parte inicial era trabalhado
o alongamento cantado com músicas infantis ( Vem cá meu pezinho e borboletinha ); já na
parte principal foram trabalhados os seguintes temas:
1. Cultura corporal – explorando o movimento livre;
2. Aula historiada – explorando a fantasia ( O porco espinhudo);
3. Arte – banda da folia com sucata;
4. Musicalização - Explorando sons e ritmo;
5. Linguagem de expressão – figuras de animais;
6. Brincadeiras cantadas – cantigas de roda;
7. Aula historiada – explorando a fantasia ( O coelho e a tartaruga );
8. Linguagem de expressão – fotos de crianças brincando;
9. Cantigas infantis – criatividade no minhocão;
10. Cultura corporal – brincando de circo.
E a parte final, foram trabalhados atividades de relaxamento ou cantigas de
roda. Essas aulas foram formuladas a partir de alguns conceitos bibliográficos do ambiente
expressivo e infantil. O processo de vivência e aprendizagem foi centralizado no potencial
criativo de cada criança, considerando sua exploração de movimentos, a percepção e
expressão dos sentimentos a partir da apreciação das atividades aplicadas.
O trabalho desenvolvido explorou além da expressão corporal, uma
diversidade de linguagens ( gestual, verbal e musical) onde a liberdade para a criança criar
e se desenvolver deve ser garantida com a ajuda do professor.
3 – ANÁLISE DE DADOS
Analisando em primeiro momento as respostas da professora de sala com
relação a evolução dos alunos, pude relatar que a maior dificuldade no início era a
adequação dos alunos ao novo espaço – sala de aula; com a inserção do profissional da área
de Educação Física junto com o trabalho de expressão corporal, houve uma melhora muito
grande com relação a coordenação, criatividade e participação nas atividades de sala, a
professora também relatou que até em casa as crianças utilizam das músicas e de algumas
atividades.
Analisando em segundo momento a observação realizada durante a
aplicação das aulas, pude constatar um avanço muito significativo com relação ao ritmo, a
criatividade e a coordenação dos movimentos; já em relação a participação e ao
comportamento não houve problema, pois as crianças sentiam prazer em realizar as
atividades. Quando foi trabalhado as cantigas de roda ou as histórias o interesse foi maior,
pois as crianças contruíram com o próprio corpo o que a música ou a história narrava.
Todas demonstraram envolvimento a cada descoberta que faziam de suas possibilidades
corporais, mentais e emocionais.
4 – CONCLUSÃO
Ao desenvolvermos nossa atividade em um ambiente lúdico, onde haja
liberdade de expressão e o incentivo ao trabalho em grupo, buscamos criar um meio
facilitador do convívio social e da afetividade, de forma a tornar o processo de construção
de conhecimento em um momento de alegria e descontração. Assim, será possível permitir
a criança fazer amigos, aprender as regras de convivência e sociais, respeitar os outros e
buscar soluções para a resolução de problemas. Ainda, desenvolver autonomia, criatividade
e cooperação.
A conclusão após toda essa análise, é que havendo estímulo do professor
pode ocorrer uma evolução quanto a expressão corporal, as crianças conseguiram
desenvolver seus conhecimentos e melhorar seu padrão de movimento, onde antes não era
estimulado. Por isso é importante inserir um profissional da área de Educação Física para
trabalhar esses conteúdos na Educação Infantil.
5 – REFERÊNCIAS
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