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UNIVERSID ADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO TE CNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ANDRÉ MAINARDES BEREZOWSKI PROPOST A DE UM MODELO CONCEITUAL – TEÓRICO PARA AUDITORIA EM OBRAS PÚBLICAS: CRITÉRIOS PARA OS TRIBUNAIS DE CONTAS Vitória 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

ANDRÉ MAINARDES BEREZOWSKI

PROPOSTA DE UM MODELO CONCEITUAL – TEÓRICO PARA AUDITORIA EM OBRAS PÚBLICAS:

CRITÉRIOS PARA OS TRIBUNAIS DE CONTAS

Vitória

2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

PROPOSTA DE UM MODELO CONCE ITUAL – TEÓRICO PARA AUDITORIA EM OBRAS PÚBLICAS: CRITÉRIOS PARA

OS TRIBUNAIS DE CONTAS

Dissertação de Mestrado do programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Espírito Santo, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil.

André Mainardes Berezowski

Prof. Dr. Ing. Marcel Olivier Ferreira de Oliveira (orientador)

Vitória, 2008

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PROPOSTA DE UM MODELO CONCE ITUAL – TEÓRICO

PARA AUDITORIA EM OBRAS PÚBLICAS: CRITÉRIOS PARA OS TRIBUNAIS DE CONTAS

André Mainardes Berezowski

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – Centro

Tecnológico – Universidade Federal do Espírito Santo como parte dos requisitos para

obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil.

Aprovada em:

___________________________________________

Prof. Dr. Ing. Marcel Olivier de Oliveira (Orientador da Dissertação)

___________________________________________

Prof. Dr. Prof. Dr. Luiz Herkenhoff Coelho (Examinador Interno)

___________________________________________

Prof. Dr. Ing. Béda Barkokébas Jr. (Examinador Externo - UPE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Berezowski, André Mainardes, 1956- B492p Proposta de um modelo conceitual-teórico para auditoria em

obras públicas : critérios para os tribunais de contas / André Mainardes Berezowski. – 2008.

214 f. : il. Orientador: Marcel Olivier de Oliveira. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo,

Centro Tecnológico. 1. Obras públicas – Auditoria. 2. Tribunais de contas. 3.

Programação linear. I. Oliveira, Marcel Olivier de. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro Tecnológico. III. Título.

CDU: 624

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“Aos professores do mestrado que pacientemente souberam transmitir seus conhecimentos durante todo curso quando tive o prazer de freqüentar as suas aulas”.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador professor Marcel Olivier Ferreira de Oliveira que muito contribui na

elaboração deste trabalho por sua orientação, dedicação, incentivo, paciência e pelas

suas criativas idéias.

Ao programa de Mestrado da Universidade Federal do Espírito Santo por ter me

proporcionado a possibilidade de usufruir do conhecimento de todos os seus

professores.

A minha esposa Maria Célia e ao meu filho André Luis que souberam compreender as

inúmeras horas em que estive ausente de seu convívio.

Ao Tribunal de Contas do Espírito Santo por ter me possibilitado realizar a pesquisa,

principalmente ao colega Holdar que me orientou nos primeiros passos, ao Tribunal de

Contas de Santa Catarina com todo seu corpo técnico que sempre se colocou a minha

disposição, ao Tribunal de Contas de Pernambuco que enviou farto material que serviu

para elaboração deste trabalho ao Tribunal de Contas da União que com seus inúmeros

trabalhos publicados serviu como material principal de pesquisa.

A todos os professores do curso do mestrado que direta ou indiretamente contribuíram

para a minha formação, ao colega Carlos Alberto que sempre me incentivou nesta

caminhada.

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Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.

Rui Barbosa

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LISTA DE FIGURAS Figura 2.1: Esquema indicativo da atuação dos grupos econômicos nas sociedades “não Organizadas”, na formulação das políticas públicas 28 Figura 2.2: Esquema indicativo da atuação dos grupos econômicos nas sociedades “Organizadas”, na formulação das políticas públicas 29 Figura 2.3: O mapa destaca as regiões onde floresceram as primeiras civilizações, num período denominado Antigüidade Oriental 32 Figura 4.1 – Modelo de utilização de recursos segundo a INTOSAI, 2005 (input/output) 87 Figura 5.1 – Aspectos que devem ser observados durante aos trabalhos de Auditoria de Obras 95

Figura 5.2 - O Processo de Auditoria – segundo a ASOSAI 100

Figura 6.1 – Quatro pontos importantes durante a realização das Auditorias de Obras Públicas 104 Figura 6.2 – Fluxograma para solução do Problema de Seleção de Contratos para Auditorias 117 Figura 6.3 - Seqüência recomendada para solucionar problemas utilizando modelos, Creative Thinking in the Decision and Management (Cincinnati, OH: South – Western, 1991) 121

Figura 6.4 – Solução do problema utilizando o aplicativo Solver 134

Figuras 6.5 Fonte – TCU Recomendações Básicas para Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Públicas 152

Figura 6.6 Fluxograma – Procedimentos para execução de obras 168

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Figura 6.7 – Planilha utilizada no Tribunal de Contas do ES que compara os preços e quantitativos executados com os contratados e com os pagos 172

Figura 6.8 - Esquema do funcionamento do sistema ESFINGE - Obras (Fonte TCE SC) 182

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LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Mostra as características e os períodos em que vigoraram as diversas formas de Administração Pública no Brasil 15 Quadro 2.2 – Mostra as datas e instituições de controle desde a antiguidade em vários países 41 Quadro 3.1 – Mostra a evolução e competências dos Tribunais de Contas no Brasil de 1890 a 1988 56 Quadro 3.2 – Mostra os anos que foram instituídos os Tribunais de Contas no Brasil 61 Quadro 4.1 – Características das diversas Entidades Fiscalizadoras Superiores no mundo segundo Ribeiro, 2002 84 Quadro 4.2 – Quadro comparativo entre o significado de Eficiência x Eficácia segundo Chiavenato, 1982 85 Quadro 6.1 - Mostra as práticas adotadas relativas às Auditorias de Obras nos Tribunais de Contas do Brasil 147

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LISTA DE TABELAS

Tabela 6.1 - Evolução do numero de Jurisdicionados Auditados de Obras de 2002 a 2006 109

Tabela 6.2 - Quantidade de contratos auditados entre os anos de 2002 e 2006 110 Tabela 6.3 - Pesos relativos aos riscos 125 Tabela 6.4 – Matriz de risco p/ contratos de obras de engenharia 135 Tabela 6.5 – Relação das horas para realização das Auditorias 136 Tabela 6.6 – Tipos de Irregularidades encontradas nos contratos Auditados no Espírito Santo pelo Tribunal de Contas do ES de 2002 a 2006 143 Tabela 6.7 – Percentuais relativos das Irregularidades encontradas nos contratos de Obras Públicas no Espírito Santo de 2002 a 2006 144

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS LISTA DE QUADROS LISTA DE TABELAS RESUMO ABSTRACT

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO .................................................................................1

I. 1 – Objetivos Gerais .................................................................................. 3 I. 2 – Objetivos Específicos........................................................................... 4 I. 3 – Hipóteses / Conclusões Esperadas ...................................................... 4 I. 4 – Metodologia ......................................................................................... 5 I. 5 – Organização do presente trabalho ........................................................ 5

CAPÍTULO II – EMBASAMENTO TEÓRICO........................................................8

II. 1 – Da Administração Pública ................................................................... 8 II. 2 – Princípios da Administração Pública – “LIMPE”.................................... 9 II. 3 – Definições......................................................................................... 11 II. 4 – A Evolução das Administrações Publicas no Mundo .......................... 13 II. 4.1 - A Administração Patrimonialista ...................................................... 15 II. 4.2 - Administração Burocrática............................................................... 16 II. 4.3 - Administração Pública Gerencial ..................................................... 20 II. 5 – Formulação das Políticas Públicas .................................................... 24 II. 6 – O Controle Externo ........................................................................... 30 II. 6.1 - Histórico do Controle Externo nas Administrações Públicas ............. 30 II. 6.2 - O Controle Externo das Administrações Públicas na atualidade ....... 40 II. 6.3 - Controle Externo no Brasil............................................................... 43 II. 6.4 - O controle do mérito nas Administrações Públicas........................... 44 II. 6.5 - Inspeções e Auditorias .................................................................... 45 II. 6.6 - Formas de Controle Externo............................................................ 47 II. 6.7 - O Controle Externo e os Tribunais de Contas .................................. 48

CAPÍTULO III – O TRIBUNAL DE CONTAS NO BRASIL................................51

III. 1 – Introdução ....................................................................................... 51 III. 2 – A mensagem de Rui Barbosa instituindo o Tribunal de Contas.......... 55 III. 3 – O Tribunal de Contas de 1930 a 1945 .............................................. 59 III. 4 – O Tribunal de Contas no período da Constituição de 1946 ................ 60 III. 5 – O Tribunal de Contas e a INTOSAI ................................................... 61 III. 6 – Os Tribunais de Contas de 1964 até a Constituição de 1967............. 62 III. 7 – A Declaração de INTOSAI em Lima – 1977 ...................................... 65

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III. 8 – A Constituição Federal de 1988 e os Tribunais de Contas................. 68

CAPÍTULO IV – O TRIBUNAL DE CONTAS do ES e as AUDITORIAS OPERACIONAIS........................................................................................................70

IV. 1 – Da Auditoria Operacional ................................................................. 73 IV. 2 – Definições ....................................................................................... 75 IV. 3 – Legislação que regulamenta as Auditorias Operacionais. ................. 78 IV. 4 – Os três “Es” da Auditoria Operacional. ............................................. 82 IV. 5 – Critérios de Auditoria. ...................................................................... 86

CAPÍTULO V - AUDITORIAS DE OBRAS PÚBLICAS ......................................89

V. 1 – Introdução ........................................................................................ 89 V. 2 – Auditorias de Obras Públicas no Estado do Espírito Santo (ES)......... 90

CAPÍTULO VI - PROPOSTA DE UM MODELO CONCEITUAL TEÓRICO PARA AUDITORIAS DE OBRAS PÚBLICAS NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO101

VI. 1 – Critério para Seleção dos Contratos ............................................... 102 VI. 2 – Justificativa para a Seleção dos Jurisdicionados............................. 103 VI. 3 – Metodologia para a Seleção de Contratos ...................................... 107 VI. 4 – Matriz de Risco em Auditoria de Obras .......................................... 108 VI. 5 – Fundamentos da Metodologia a ser utilizada VI. 6 – Descrição do problema .................................................................. 117 VI. 7 – Auditoria “a Priori”, “Concomitante” e “a Posteriori” ........................ 132 VI. 7.1 - Introdução ................................................................................... 132 VI. 7.2 - Irregularidades encontradas nos contratos de Obras Públicas ..135 VI. 8 – Métodos e Procedimentos para Auditorias de Obras Públicas......... 146 VI. 8.1 – Auditorias dos Preços e quantidades........................................... 166 VI. 9 – Sistema Informatizado de Auditoria de Obras................................. 171 VI. 9.1 – Introdução .................................................................................. 171 VI. 9.2 – Transparência e Controle Social.................................................. 174 CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ......................................179

VII. 1 – Conclusões .................................................................................. 179 VII. 2 – Perspectivas futuras ..................................................................... 184

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................185

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RESUMO

Neste trabalho propõe-se a adoção de técnicas e procedimentos para realização das

Auditorias de Obras com o objetivo de aperfeiçoar os recursos à disposição do Tribunal

de Contas e tornar suas ações mais efetivas. Para fundamentar nossa proposta foi

realizada uma pesquisa nos Relatórios de Auditoria de Obras realizados dos anos de

2002 a 2006 no Tribunal de Contas do Espírito Santo e identificadas as irregularidades

mais freqüentes, e sugeridos métodos capazes de identificar os desvios em tempo hábil.

Foram verificadas as ações tomadas por diversos organismos de controle em todo o

mundo e principalmente pelos Tribunais de Contas do Brasil de forma que pudéssemos

identificar as ferramentas mais adequadas na realização dos trabalhos de Auditoria de

Obras e sugerimos a sua adoção no Tribunal de Contas do Espírito Santo.

A principal conclusão deste trabalho é que a utilização de métodos e procedimentos

normatizados nos trabalhos de Auditoria de Obras pode trazer um incremento

significativo na efetividade dos trabalhos. Propomos utilizar conceitos de Programação

Linear, do aplicativo “Solver” e da “Matriz de Risco” na seleção das amostras que serão

alvo das Auditorias, a utilização de “Sistemas Informatizados de Auditoria de Obras“ e a

realização de “Auditorias a Priori e Concomitantes” além das “a Posteriori” que já vem se

realizando no Tribunal de Contas do Espírito Santo.

Palavras chave – Auditoria de Obras, Tribunais de Contas, técnicas e procedimentos,

Matriz de Risco, Sistemas Informatizados.

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ABSTRACT

In this study it is proposed the adoption of techniques and procedures for carrying out

works audit in order to improve the resources available to the Court of the Accounts and

make its actions more effective. To support our proposal a research was carried out on

2002 to 2006 Works Audit Reports of the Court of Accounts of Espírito Santo, the most

common irregularities were listed, and methods capable of identifying deviations in an

able time were suggested.

The actions taken by various control agencies throughout the world and especially by the

Courts of Accounts in Brazil were also verified so that we could identify the most

appropriate tools for works auditing and suggest their adoption by the Court of Accounts

of Espírito Santo.

The main finding of this study is that the use of standardized methods and procedures

concerning the auditing of works can bring a significant increase in the effectiveness of

the job. We propose the use of the "Solver" and "Risk Matrix" in the selection of samples

to be target of the audits, the use of "Sistemas Informatizados de Auditoria de Obras"

and conducting "Auditorias a Priori e Concomitantes" beyond those "a Posteriori" which

already have been performing at the Court of Accounts of Espírito Santo.

Keywords – Works Audit, Court of Accounts, techniques and procedures, risk analysis,

computerized systems.

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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a

desonra, de tanto ver crescer a injustiça.De tanto ver

agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem

chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter

vergonha de ser honesto”.

“Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal,

subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva,

razão de estado, interesse supremo, como quer te chames,

prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos.

O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz

cobarde”. (RUI BARBOSA)

A Administração Pública no país é a pessoa que mais consome, concorre com

as maiores consumidoras nacionais e se coloca em 1º lugar entre as que mais

compram, e são muitos os caminhos que levam ao desperdício de recursos públicos,

principalmente na execução de contratos de obras públicas.

Na atualidade os investimentos em obras públicas envolvem um significativo

volume de recursos e são responsáveis pela geração de elevado numero de empregos,

a correta utilização destes recursos é responsabilidade do gestor público.

“Se quisermos alcançar o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, de reduzir

pela metade o número de pessoas que vivem na extrema pobreza, até 2015, os

governos precisam tomar medidas sérias para enfrentar a corrupção nas contratações

públicas (...)”. Há uma estimativa, de 2004, de que as perdas provenientes dos subornos

em contratações dos governos alcançam no mundo, pelo menos 400 bilhões de

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dólares/ano. Até quando vamos ser incapazes de evitar, ou, ao menos, reduzir tal

monstruosidade? (EIGEN, 2005).

Em junho de 2007 o Tribunal de Contas da União (TCU) fez um amplo diagnóstico

das obras inacabadas financiadas com recursos da União em todo o país. O

levantamento detectou que das 400 obras inconclusas, no valor de R$ 3,5 bilhões, 130

são empreendimentos executados pela União e as outras 270 são executadas por

estados e municípios, mediante recursos federais transferidos. A paralisação desses

empreendimentos acarreta prejuízo de R$ 1 bilhão aos cofres públicos (CORREIO

BRASILIENSE, 2007).

Os legisladores, os dirigentes do governo e o publico em geral desejam saber

se os serviços públicos estão sendo prestados de forma eficiente, efetiva e econômica e

em conformidade com as leis e regulamentos oficiais. Eles também querem saber se os

programas de governo estão alcançando seus objetivos e resultados propostos e a que

custo. Os administradores públicos têm responsabilidade de responder ao legislativo e

ao público em geral por suas atividades e resultados correspondentes. A Auditoria

permite todos os interessados (governo e stakeholders1) confiarem nas informações

apresentada sobre os resultados dos programas ou operações, assim como nos

correspondentes sistemas de controle interno. (GAO, 2003). Neste trabalho estaremos

propondo que o Tribunal de Contas do Espírito Santo no decorrer dos trabalhos de

Auditoria de Obras em seus jurisdicionados2 utilize os procedimentos e as técnicas

recomendadas de modo a que possa aumentar a eficiência, eficácia e economicidade

de suas ações.

1 Stakeholder ou, em Português, parte interessada ou interveniente, refere-se a todos os envolvidos em um processo, por exemplo, clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, comunidade etc. O processo em questão pode ser de caráter temporário (como um projeto) ou duradouro (como o negócio de uma empresa ou a missão de uma organização sem fins lucrativos). 2 Jurisdicionados são chamados os órgãos da Administração Pública que têm as suas contas verificadas pelos Tribunais de Contas.

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Neste estudo nos ativemos principalmente a quatro assuntos que julgamos de

fundamental importância nos trabalhos de Auditoria, quais sejam:

§ A questão da seleção da amostra, dos jurisdicionados que são alvo das

Auditorias anualmente.

§ Discutimos a ocasião em que devem realizar-se os trabalhos de Auditoria

de Obras (no inicio, durante ou após a conclusão dos serviços).

§ Estudamos brevemente os Métodos e Procedimentos que devem ser

levados a cabo durante a execução dos contratos de Obras Públicas.

§ E sugerimos a utilização de um Sistema Informatizado de Auditoria de

Obras a exemplo de outros Tribunais cuja finalidade é manter um banco

de dados atualizado em tempo real dos contratos de Obras Públicas em

todo o estado.

I. 1 – Objetivos Gerais

O objetivo deste trabalho é propor um modelo conceitual teórico, baseado em

estudo de caso e avaliação da situação das Auditorias de Obras Públicas realizadas

pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES) no estado com uma proposta de

procedimentos que visem otimizar os trabalhos de Auditoria de Obras.

Pretende-se propor uma metodologia que possibilite selecionar as obras que

estão sendo realizadas no estado, utilizando-se parâmetros de uma Matriz de Risco, de

modo a possibilitar a obtenção de uma amostra dos contratos das obras em execução.

Objetiva-se ainda que o modelo proposto otimize a utilização de recursos humanos na

realização das auditorias.

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4

Avaliar-se-á comparativamente os demais Tribunais de contas do Brasil frente

ao tribunal de Contas do Espírito Santo no que concerne aos procedimentos de

Auditoria de Obras.

Ainda, através de uma analise critica, no embasamento teórico, pretende-se

também verificar quais as irregularidades encontradas nas Auditorias de Obras no

período de 2002 a 2006 no estado do Espírito Santo e propor pelo modelo a ser

desenvolvido, procedimentos específicos para que estes itens sejam obrigatoriamente

verificados durante a realização das Auditorias de Obras.

Dessa forma, objetiva-se que o modelo proposto além da otimização técnica

também contribua para a minimização do erro e até mesmo da má-fé.

I. 2 – Objetivos Específicos

Propor um modelo conceitual teórico para Auditoria de Obras que forneça

subsídios para que o Tribunal de Contas do Espírito Santo adote procedimentos de

Auditoria, capazes de identificar com razoável grau de precisão se a utilização dos

recursos públicos aplicados na execução de obras está se fazendo de maneira

tecnicamente adequada e atendendo de forma legal os interesses públicos.

I. 3 – Hipóteses / Conclusões Esperadas

No decorrer da pesquisa consideraremos que as Auditorias de Obras realizadas

pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo, não está refletindo corretamente a situação

dos contratos das obras públicas, tendo em vista principalmente a falta de critérios

científicos que orientem o processo de amostragem para auditoria dos contratos

relativos às obras públicas.

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A pesquisa visa identificar falhas e propor melhorias com relação aos métodos e

procedimentos utilizados nas Auditorias realizadas nas obras públicas do Espírito Santo.

I. 4 – Metodologia

Estaremos no transcorrer deste trabalho fazendo uma análise critica dos

Métodos e procedimentos utilizados por outros Tribunais de Contas do Brasil nas

Auditorias de Obras para que possa servir de comparativo com os utilizados pelo

Tribunal de Contas do Espírito Santo.

Propor-se-á a utilização da “Programação Linear” de modo a resolver o

problema da Seleção da Amostra para Auditoria de Obras.

No decorrer do trabalho estaremos fazendo uma análise das irregularidades

encontradas nas Auditorias de Obras de 2002 até 2006 no estado do Espírito Santo de

modo a que possamos verificar quais as mais freqüentes e estaremos propondo ações

para coibir essas práticas que levam ao desperdício dos recursos públicos.

I. 5 – Organização do presente trabalho

O presente trabalho está dividido em sete capítulos. O primeiro deles apresenta

a justificativa do desenvolvimento do tema, os objetivos da dissertação metodologia da

pesquisa.

No segundo capítulo fizemos uma retrospectiva das formas de atuação das

Administrações Públicas no mundo e no Brasil para que pudéssemos entender as

preocupações dos Gestores Públicos com o trato da coisa pública desde a monarquia,

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passando pelos regimes de exceção no Brasil, até chegar à Administração Pública

Gerencial quando os organismos de controle passaram a verificar além dos aspectos

legais das despesas públicas a questão da eficiência da gestão, ocasião em que passou

a encarar as Auditorias de Obras como aspecto fundamental nos trabalhos dos

Tribunais de Contas do Brasil.

Faz-se também uma discussão a respeito do tema formulação das políticas

públicas com o intuito de ressaltar a importância dos organismos de controle no contexto

das tomadas de decisões dos Gestores Públicos. A seguir um breve histórico da

atividade de Controle desde as sociedades mais remotas até as sociedades mais

modernas.

Verifica-se a importância do controle externo nas Administrações Públicas como

forma de prevenir desvios que podem ocorrer na gestão dos contratos de obras

públicas, observando o controle da eficácia, eficiência e economicidade. A importância

das Inspeções e Auditorias de obras pelos Tribunais de Contas constituiu uma mudança

de paradigma nas Administrações Públicas e atualmente em todo o mundo se

reconhece a sua importância.

No terceiro capítulo faz-se um relato dos acontecimentos mais importantes que

influenciaram as ações dos Tribunais de Contas do Brasil desde sua criação até os

nossos dias. Procuramos também contextualizar as ações dos Tribunais de Contas no

Brasil com as normas utilizadas nas Entidades Fiscalizadoras Superioras do mundo

inteiro.

O quarto capítulo apresenta uma síntese das competências dos Tribunais de

Contas do ES e os conceitos relativos à Auditoria Operacional utilizados em vários

países e que começam a emergir nos Tribunais de Contas do Brasil. A Constituição de

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1988 introduziu seus conceitos e a partir daí alguns Tribunais de Contas do Brasil

passaram a realizá-las.

No capítulo quinto apresenta-se os conceitos fundamentais relativos às

Auditorias de Obras Públicas, os aspectos mais importantes que devem ser levados em

consideração quando da realização dos trabalhos e algumas considerações a respeito

da conveniência, legalidade, economicidade e qualidade dos contratos realizados pela

Administração Pública.

No capitulo sexto propor-se-á um Modelo Conceitual Teórico para Auditorias de

Obras Públicas no Estado do Espírito Santo baseado em técnicas e procedimentos

adotados em outros Tribunais de Contas do Brasil, além de pesquisa realizada nas

Auditorias de Obras realizadas pelo Tribunal de Contas do ES entre os anos de 2002 a

2006 e a utilização de um método de Otimização para orientar o trabalho de Seleção de

Amostra de Auditoria.

No capítulo sétimo apresenta-se as conclusões, os procedimentos que devem

ser adotados de modo a melhorar a eficiência dos Tribunais de Contas e particularmente

do Tribunal de Contas do Espírito Santo e sugestões para trabalhos futuros.

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CAPÍTULO II – EMBASAMENTO TEÓRICO

II. 1 – Da Administração Pública

“A Administração Pública Moderna deve preocupar-se com

a gestão de resultados. No caso de obras públicas, a gestão

é eficiente quando atende ao interesse público e executa

obras de qualidade e com economicidade, respeitando as

normas legais” (DI PIETRO, 2001).

As Auditorias de Obras Públicas efetuadas pelos Tribunais de Contas são

executadas em órgãos da Administração Pública e estas têm evoluído ao longo dos

anos desde a Administração Patrimonialista passando pela Burocrática até a

Administração Gerencial, procuraremos neste capitulo fazer uma breve retrospectiva

das principais escolas de pensamento da Administração desde o século XVIII até

nossos dias para que possamos entender a conjuntura dos órgãos públicos em que são

conduzidos os trabalhos de auditoria.

Já no século XVIII, compreendeu-se a importância de proteger o individuo

contra um Estado oligárquico e, no século XIX, a importância de proteger os pobres e os

fracos contra os ricos e poderosos, mas a importância de proteger o patrimônio público

da ação de grupos de interesse só passou a ser dominante na segunda metade do

século XX. A respeito dos grupos de interesse que direcionam os investimentos dos

governos, Martins escreveu sobre a privatização do Estado em 1978 e a economista

norte americana conservadora “Krueger” em 1974, esta definiu de “rent-seeking”. Ambos

se referiram ao mesmo problema: percebiam que era necessário proteger a “res-pública”

contra a ganância de indivíduos e grupos poderosos.

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O Estado deve ser público, as organizações não-estatais e sem fins lucrativos

(ou organizações não-governamentais) devem ser públicas. Bens estritamente públicos,

como um meio ambiente protegido, devem ser públicos. Direitos públicos são os direitos

que nos asseguram que o patrimônio público – a “res-pública” - entendido em sentido

amplo, seja público; que seja de todos e para todos, e não objeto de “rent-seeking”, algo

privatizado por grupos de interesse.

À medida em que a proteção aos direitos públicos passava a ser dominante em

todo o mundo, foi-se tornando cada vez mais claro que era preciso refundar a república,

que a reforma do Estado ganhava nova prioridade, que a democracia e a administração

burocrática – as duas instituições criadas para proteger o patrimônio público –

precisavam mudar: a democracia devia ser aprimorada para ser mais participativa ou

mais direta, e a administração pública burocrática devia ser substituída por uma

administração pública gerencial. (BRESSER & SPINKS, 2003).

II. 2 – Princípios da Administração Pública – “LIMPE”

A Administração Pública compreende três órgãos do Estado: Poder Legislativo,

Poder Executivo e Poder Judiciário. É considerada como conjunto de órgãos e

entidades que a integram, são os órgãos da Administração Direta e as entidades da

Administração Indireta, esta última integrada pelas Autarquias, Sociedades de Economia

Mista, Empresas Públicas e Fundações Públicas. Para nortear as ações dos

administradores públicos a Constituição Federal de 1988, no art. 37 elenca quatro

princípios da Administração nas esferas federal, estadual, distrital e municipal. São eles:

o princípio da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade.

A estes foi acrescentado o princípio da eficiência, pela Emenda Constitucional

nº. 19/98.

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O Princípio da Legalidade significa que o administrador público está, em toda

sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e as exigências do bem comum,

e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido ou expor-se a

responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. A administração sujeita

que está ao princípio da legalidade, não tem o poder ou a competência para praticar

atos em desconformidade com a lei3.

O Princípio da Impessoalidade decorre do fato de que o agente público é

administrador de bens alheios e deve atuar voltado para o coletivo. Todo o ato que se

afastar deste objetivo, estará sujeito à invalidação.

O Princípio da Moralidade administrativa está intimamente ligada ao conceito

do “bom administrador” que é aquele que, usando de sua competência legal, se

determina não só pelos preceitos vigentes, mas também pela moral comum.

O Princípio da Publicidade entende que a Sociedade sendo legitima

proprietária da coisa pública – o Estado é apenas o gestor – tem o direito e o dever de

controlar a Administração com vistas a impedir a atuação com abuso de poder ou desvio

de finalidade, desta forma os atos da Administração Pública, devem ser divulgados para

a população (MEIRELES, 1998).

Segundo o Princípio da Eficiência, nas administrações modernas, a

Administração Pública deve atuar em observância à máxima relação custo / benefício, o

3 O artigo 5º II da Constituição da República de 1988, diz: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”, entretanto a posição do particular em face da lei é distinta da posição do agente público. O agente público só pode praticar ato se determinado ou permitido pela lei.

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administrador deve planejar as atividades do órgão de forma a gastar menos e obter o

máximo resultado econômico e social (DI PIETRO, 2001)4.

II. 3 – Definições

Ao longo dos anos o significado da palavra Administração tem sido modificado e

suas definições têm sido alteradas na medida em que os atos de gestão tenham seus

objetivos modificados seja pela legislação ou por movimentos ocorridos na sociedade.

Podemos verificar fazendo um retrospecto das diversas definições do

significado do termo Administração Pública que ele tem evoluído, estando ligado nos

tempos atuais aos aspectos relacionados à satisfação da sociedade, ao atendimento às

necessidades dos cidadãos e busca da eficiência da gestão.

O termo vem do latim “ad” (direção para, tendência para) e “minister”

(subordinação ou obediência), onde se conclui que o significado etimológico da palavra

administração é “aquele que realiza uma função sob o comando de outra pessoa, e

aquele que presta um serviço” (CHIAVENATO, 1983).

Na administração pública o objetivo final é realizar da melhor forma as práticas

administrativas do governo, para desta forma melhor servir aos interesses públicos, aos

ideais e às necessidades da sociedade. (JAMESON, 1962).

4 A respeito do princípio da eficiência:

(CABRAL, 2002) “o princípio da eficiência impõe ao agente público um modo de atuar que produza resultados favoráveis à consecução dos fins que cabe ao Estado alcançar”.

(DI PIETRO, 2001) “pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público”.

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A Gestão deve se preocupar tanto com a eficiência de suas operações – isto é,

em obter o melhor resultado possível, dados os recursos e objetivos – quanto sua

eficácia – isto é, com a propriedade do que está fazendo, com a devida alocação dos

recursos para obtenção de resultados extraordinários (DRUCKER, 1973).

Peter Drucker, em 1973, mostra sua preocupação com a questão da eficácia e

eficiência das gestões públicas, esta tendência tem se propagado em todo o mundo com

maior ou menor intensidade e nos dias de hoje no Brasil é o novo paradigma das

Administrações Públicas.

Nos anos 80 surge o conceito de cidadão como cliente, em 1987 a OCDE5

publicou o documento “Administration as Service, the Public as Client”, onde o cidadão é

o foco das organizações públicas.

No Plano Diretor (Brasil, 1995), a dimensão usuário cidadão coloca em termos

da identificação do cidadão como cliente privilegiado dos serviços públicos e da previsão

de mecanismos de controle social, com a participação de entidades da sociedade civil.

Com a implementação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado em

1995 foi adotado o seguinte conceito para a administração pública: “É todo o aparelho

do Estado pré-orientado à realização de seus serviços, visando à satisfação das

necessidades coletivas” (INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA,

2001).

5 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, ou OECD em inglês) é uma organização internacional dos países desenvolvidos e industrializados com os príncipios da democracia representativa e da economia de livre mercado. A sede da organização fica em Paris, na França.

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Esta definição está em consonância com a nova relação que deve existir entre o

Estado e a sociedade, onde se vê o cidadão como contribuinte de impostos e como

cliente dos seus serviços. Os resultados da ação do Estado são considerados bons não

porque os processos administrativos estão sob controle e são seguros, mas porque as

necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas (PLANO DIRETOR DA

REFORMA DO APARELHO DO ESTADO, 1995).

A idéia central de voltar as organizações públicas para seus clientes, tornando-

as preocupadas com a acessibilidade e qualidade dos serviços prestados e com a

satisfação das necessidades de seu público, buscando a maior eficiência no

atendimento e desburocratização dos procedimentos (CAULLIRAUX, 2004).

Atualmente o modelo jurídico-formal vigente, que dita o agir do administrador

público brasileiro sofre criticas ferrenhas, sob o argumento de que os resultados

indesejados alcançados na gestão pública são decorrentes dos passos burocráticos e

excessivos, previstos no ordenamento que impõe a necessidade de obediência ao

regime e o dever de eficiência a Administração (NETO 2006).

II. 4 – A Evolução das Administrações Públicas no Mundo

A administração pública evoluiu historicamente através de três modelos básicos:

a administração pública patrimonialista, a administração burocrática e a administração

gerencial. Estas três formas se sucedem no tempo, sem que qualquer uma delas seja

inteiramente abandonada.

ADMINISTRAÇÃO PATRIMONIALISTA

ADMINISTRAÇÃO BUROCRÁTICA

ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL

Patrimônio público se confunde Severos mecanismos de Não existe a necessidade de

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com o patrimônio privado. controle, hierarquia, estrutura

piramidal do poder.

procedimentos rígidos,

descentralização de

responsabilidades.

Não existia parlamento. Regimes democráticos. Nova Administração Pública.

Todos os direitos eram dos

reis.

Autoridade racional-legal,

combate o nepotismo e a

corrupção.

Utilização de técnicas

gerenciais modernas surge o

New Public Management

(NPM).

No Brasil de 1891 a 1930. A partir de 1936.

Inicia-se nos anos 30, porém

só após 1996 com a Reforma

do Aparelho do Estado

começou a ser implantada,

ainda em fase incipiente no

Brasil.

Quadro 2.1 – Mostra as características e os períodos em que vigoraram as diversas formas de Administração Pública no Brasil. FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA

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II. 4.1 - A Administração Patrimonialista

Segundo SCHWARTZMAN (1988), na concepção de Weber o patrimonialismo é

uma forma de dominação onde não existe a diferenciação clara entre a esfera pública e

a privada. Esse patrimonialismo existia em sociedades pré-capitalistas e caracterizava-

se pela inexistência parcial ou total de propriedade privada.

A característica que definia o governo nas sociedades pré-capitalistas e pré-

democráticas era a privatização do Estado, isto quer dizer que o patrimônio público e o

patrimônio do príncipe se confundiam. A administração do Estado pré-capitalista era

uma administração patrimonialista. Com o surgimento do capitalismo e da democracia,

estabeleceu-se uma distinção clara entre a “res-pública” e bens privados. (BRESSER &

SPINKS, 2003)

No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do

poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real.

Os cargos são considerados prebendas. A “res-pública” não é diferenciada da “res-

princípios”. Em conseqüência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de

administração. No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam

dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se distinguir do Estado. Neste

novo momento histórico, a administração patrimonialista torna-se uma excrescência

inaceitável (PLANO DIRETOR DA REFORMA DO APARELHO DO ESTADO, 1995).

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II. 4.2 - Administração Burocrática

A administração burocrática clássica, baseada nos princípios da administração

do exército prussiano, foi implantada nos principais países europeus no final do século

XIX; nos Estados Unidos no começo do século XX e no Brasil em 1936, com reforma

administrativa promovido por Maurício Nabuco e Luis Simões Lopes (BRESSER, 1997).

Uma vez que pretendeu se contrapor às práticas clientelistas e corruptas, o

modelo burocrático caracterizou-se pela implantação de severos mecanismos de

controle. Conformou-se, pois, uma administração baseada na centralização das

decisões, na hierarquia traduzida no princípio da unidade de comando, na estrutura

piramidal do poder, nas rotinas rígidas, no controle “passo a passo” dos processos

administrativos e no recrutamento e treinamento de administradores profissionais que

respondem de forma neutra aos políticos (BRESSER PEREIRA, 1998).

No Brasil o “paradigma burocrático” na Administração Pública vai ser lançado na

década de 30, e se consolidar na primeira metade da década de 40 e se tornar

dominante a partir da segunda metade da década de 40 do século passado.

O DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público, que representou

não apenas a primeira reforma administrativa do país, com a implantação da

administração burocrática, mas também a afirmação dos princípios centralizadores e

hierárquicos da burocracia clássica. Embora, na época de sua implementação, tenham

sido valorizados instrumentos importantes, tais como o sistema de méritos através do

recrutamento por meio de concurso público, o treinamento sistemático dos funcionários

e a observância do cumprimento do regime jurídico do pessoal, não se chegou a adotar

uma política consistente de recursos humanos que respondesse às necessidades do

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Estado. Coube ao DASP fazer cumprir a norma constitucional da proibição do acúmulo

de cargos públicos e ainda o aperfeiçoamento da técnica de elaboração orçamentária

(AVELLAR, 1976).

A democracia e a administração pública burocrática emergiram como principais

instituições que visavam proteger o patrimônio público contra a privatização do estado.

Democracia é o instrumento político que protege os direitos civis contra a tirania, que

assegura os direitos sociais contra a exploração e que afirma os direitos públicos em

oposição ao “rent-seeking”. Burocracia é a instituição administrativa que usa como

instrumento para combater o nepotismo e a corrupção – dois traços inerentes à

administração patrimonialista -, os princípios de um serviço público profissional e de um

sistema administrativo impessoal, formal e racional.

Foi um grande progresso o surgimento no século XIX, de uma administração

pública burocrática em substituição às formas patrimonialistas de administrar o Estado.

Weber (1922), o principal analista deste processo, destacou com muita ênfase a

superioridade da autoridade racional-legal sobre o poder patrimonialista. Apesar disso,

quando, no século XX, o Estado ampliou o seu papel social e econômico, a estratégia

básica adotada pela administração pública burocrática – o controle hierárquico e

formalista dos procedimentos – provou ser inadequada. Essa estratégia podia evitar a

corrupção e o nepotismo, mas era lenta cara e ineficiente (BRESSER & SPINKS, 2003).

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KATZ & KHAN (1966) na década de 60 expõem as seguintes disfunções da

burocracia:

1) Internacionalização das normas;

2) Excesso de formalismo e papelório;

3) Resistência a mudanças;

4) Despersonalização do relacionamento;

5) Categorização do relacionamento;

6) Superconformidade;

7) Exibição de sinais de autoridade;

8) Dificuldades com clientes; e

9) Imprevisibilidade do funcionamento.

Privilegiou-se a produção de leis, regulamentos e rotinas, com o objetivo de

minimizar o espaço para a discricionariedade dos administradores públicos. O controle –

exercido “a Priori” – transformou-se, entretanto, na própria razão de ser do funcionário.

A inadequação do modelo burocrático foi se tornando mais evidente na

medida em que o Estado expandia as suas funções econômicas e sociais – inicialmente

restritas a manter a ordem, administrar a justiça e garantir os contratos e a propriedade

– passando a assumir o papel de provedor de educação, saúde, cultura, seguridade

social básica, incentivos à ciência e à tecnologia, investimentos na infra-estrutura e

proteção ao meio ambiente (BRESSER PEREIRA, 1997).

O modelo burocrático que trazia em si a promessa de conformidade com

padrões, previsibilidade e redução de riscos começa a entrar em colapso frente ao

aumento da instabilidade dos ambientes, e a realidade da administração na década de

70 começa a ser mais bem explicadas pelas teorias Sistêmicas e Contingencial, que,

paradoxalmente, ao mesmo tempo em que mostravam alternativas para atuação em

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cenários turbulentos, não invalidavam a aplicação do modelo burocrático em cenários de

maior previsibilidade.

Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes

que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos

elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo resultado é

maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem

independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser considerado

um sistema, desde que as relações entre as partes e o comportamento do todo seja o

foco de atenção (BERTALANFFY, 1975).

A Teoria da Contingência nasceu a partir de uma série de pesquisas feitas para

verificar quais os modelos de estrutura organizacionais mais eficazes em determinados

tipos de indústrias. Essas pesquisas e estudos foram contingentes na medida em que

procuravam compreender e explicar o modo pelo quais as empresas funcionavam em

diferentes condições. Estas condições variam de acordo com o ambiente ou contexto

que as empresas escolheram como seu domínio de operações. Em outras palavras,

essas condições são ditadas de acordo com o seu ambiente externo. Essas

contingências externas podem ser consideradas como oportunidades ou como

restrições que influenciam a estrutura e os processos internos das organizações.

Pesquisas foram realizadas na década de 1960 sobre a relação entre modelos de

estruturas organizacionais e a eficácia em determinados tipos de indústria.

A Teoria da contingência ou Teoria contingencial enfatiza que não há nada de

absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo. Tudo depende. A

abordagem contingencial explica que existe uma relação funcional entre as condições

do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos

objetivos da organização. As variáveis ambientais são variáveis independentes,

enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes dentro de uma relação

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funcional. Na realidade, não existe uma causalidade direta entre essas variáveis

independentes e dependentes, pois o ambiente não causa a ocorrência de técnicas

administrativas. Em vez de uma relação de causa e efeito entre as variáveis do

ambiente (independentes) e as variáveis administrativas (dependentes), existe uma

relação funcional entre elas. Essa relação funcional é do tipo "se-então" e pode levar a

um alcance eficaz dos objetivos da organização (BERTALANFFY, 1975).

II. 4.3 - Administração Pública Gerencial

“Nosso problema fundamental é o fato de termos o tipo

inadequado de governo. Não necessitamos de mais ou

menos governo: precisamos de melhor governo. Para

sermos mais precisos, precisamos de uma melhor atividade

governamental” (OSBORNE & GAEBLER, 1994).

A administração pública gerencial se contrapõe à burocracia partindo do

principio que não existe a necessidade de procedimentos rígidos e prega a

descentralização com delegação de autoridade e de responsabilidade ao gestor público,

bem como o rígido controle sobre o desempenho mediante a aferição de indicadores

acordados e definidos por contrato de gestão.

A partir dos anos 90 a rapidez das mudanças tecnológicas e a flexibilidade

exigida pela nova ordem mundial tornaram as grandes organizações burocráticas e

centralizadas inteiramente obsoletas.

O velho aparato estatal tornou-se exageradamente lento, ineficiente e oneroso,

não logrando mais acompanhar o novo ritmo de desenvolvimento tecnológico e

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gerencial que exige decisões céleres e estruturas organizacionais mais

descentralizadas.

O modelo burocrático, baseado na centralização das decisões, na hierarquia

rígida e no controle passo a passo dos processos administrativos, que Max Weber

descrevia como uma forma de dominação “racional - legal” tornou-se “auto– referido” e a

partir dos anos 70, com a redefinição do papel do Estado e a globalização da economia,

apresentou seu esgotamento, uma vez que era incapaz de atender às novas demandas

de democratização e eficiência do serviço público, que exigiam novas formas de gestão

mais participativas, mais compatíveis com os avanços tecnológicos, bem como

estruturas mais ágeis, flexíveis, descentralizadas e mais voltadas para o controle de

resultados do que para o controle de procedimentos.

Nesse contexto emerge na segunda metade deste século, em resposta à crise

da forma burocrática de administrar o estado, a administração pública gerencial,

orientada pelos valores da eficiência e da eficácia, como forma de aumentar a sua

governança6 e proteger o patrimônio público “res-pública” do “rent-seeking”, isto é, da

apropriação por grupos de interesse (BRESSER PEREIRA, 1998).

A experiência internacional da Administração Pública gerencial tem seus

precedentes ainda nos anos 60, porém, a sua implantação, de fato, só ocorre, nos anos

80, no Reino Unido, na Nova Zelândia e na Austrália, e nos anos 90 nos Estados Unidos

quando o tema ganha a atenção do grande público com a publicação de “Reinventing

Governement” e a adoção do “Performance Rewiew” pelo governo Clinton.

A abordagem gerencial, também conhecida como “Nova Administração Pública”

parte do reconhecimento de que os Estados democráticos contemporâneos não são

simples instrumentos para garantir a propriedade e os contratos, mas formulam e

6 Governança é um termo relativamente novo que vem sendo utilizado pelo Banco Mundial. Existe governança em um Estado quando seu governo tem condições financeiras e administrativas para transformar em realidade as decisões que toma.

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implementam políticas públicas estratégicas para as suas sociedades tanto na área

social quanto na cientifica e tecnológica. E para isso é necessário que o Estado utilize

práticas gerenciais modernas, sem perder de vista sua função eminentemente pública.

Não se trata, porém da simples importação de modelos idealizados no mundo

empresarial, mas sim do reconhecimento de que as novas funções do Estado em um

mundo globalizado exigem novas competências, novas estratégias administrativas e

novas instituições (BRESSER & SPINKS, 2003).

Durante as décadas de 1980 e 1990 surgiu nos EUA e na Europa um

movimento internacional de reforma do Estado.

O New Public Management (NPM) aparece como um conjunto de idéias e

teorias decorrentes do movimento de reforma do Estado que surgiu por conseqüência

da Crise do Estado do fim da década de 70 e inicio da década de 80 do século passado

(HOOD & JACKSON, 1991).

Osborne & Gaebler (1994), em “Reinventando o Governo”, retira o problema da

burocracia pública (e, por conseguinte, dos servidores públicos) e foca a questão da

redefinição da ação governamental.

No Brasil, a idéia de uma administração pública gerencial é antiga, começou a

ser delineada ainda na primeira reforma administrativa, nos anos 30, com a criação das

autarquias.

A primeira tentativa de reforma gerencial da administração pública brasileira,

entretanto, ocorreu no final dos anos 60, com a expedição do Decreto-Lei 200 de 1967,

cujas modificações introduzidas representaram uma tentativa de superação da rigidez

burocrática, podendo, portanto ser considerado como o primeiro momento da

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administração gerencial no Brasil. Toda a ênfase foi dada à descentralização mediante

autonomia da administração indireta, a partir do pressuposto da rigidez da administração

direta e da maior eficiência da administração descentralizada. Instituíram-se como

princípios a racionalidade administrativa, o planejamento e o orçamento, a

descentralização e o controle dos resultados. Nas unidades descentralizadas foram

utilizados empregados celetistas, submetidos ao regime privado de contrato de trabalho.

O momento era de grande expansão das empresas estatais e das fundações. Mediante

a flexibilização de sua administração, buscava-se maior eficiência das atividades

econômicas do Estado (TCDF, 2004).

Em decorrência da implantação do modelo gerencial na Administração Pública

Brasileira, as instituições fiscalizadoras devem repensar a sua forma de atuação, sendo

crucial a sua participação, não apenas como inibidores das irregularidades e desvios

que possam prejudicar o atingimento dos objetivos estatais, mas, principalmente, como

agentes avaliadores da eficiência, eficácia e economicidade da gestão pública, com

especial atenção para o controle dos resultados que devem estar sintonizados com o

interesse público.

Para tanto, faz-se necessário que aqueles órgãos reorientem seus

procedimentos de forma a romper com os limites de uma abordagem meramente

legalista da função de controle incorporando técnicas mais modernas de fiscalização a

exemplo das auditorias operacionais que devem se sobrepor às tradicionais auditorias

de legalidade, uma vez que, além do controle dos resultados alcançados, permitem uma

avaliação mais ampla da gestão governamental. (TCDF, 2004).

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II. 5 – Formulação das Políticas Públicas

O Estado é constituído pelo território, pelo povo e pelo governo, desenvolvendo

funções para o atendimento do bem público, consoante uma intensa atividade financeira

exercitada por intermédio de seus organismos, “Órgãos Públicos”, os quais são geridos

por agentes públicos, que devem pautar suas ações mediante princípios constitucionais

dirigidos à administração pública.

Portanto, a ação estatal envolve a administração do patrimônio e a utilização dos

dinheiros públicos, que são atos de poder político, praticados pelo governo, cujo

exercício está afeto às autoridades governamentais. A autoridade estatal, como

expressão dinâmica da ordem pública, é suprema e o seu poder tem como fim o bem

estar da sociedade (MILESKI, 2003).

Desde que as primeiras sociedades começaram a se organizar e os tributos

foram instituídos surgiram as Organizações de Controle para monitorar o controle dos

gastos. Os governantes têm gerido os recursos arrecadados através dos impostos sob o

pretexto de os utilizarem em beneficio da sociedade. Em vários países surgiram

diferentes modos de exercer a fiscalização do orçamento público, e até mesmo aqueles

em que as finanças do Estado se confundiam com as finanças do Rei (LOPES, 1947).

Os governos ao utilizarem os recursos arrecadados da sociedade através de

impostos algumas vezes o fazem atendendo interesses próprios principalmente em

regimes absolutistas e autoritários.

O direcionamento dos recursos para atender as políticas públicas pressupõe o

estabelecimento de uma escala de prioridades que fazem parte do rol de necessidades

da sociedade, estas, entretanto são ilimitadas e as disponibilidades não, desta maneira

haverá um confronto entre setores sociais distintos da sociedade no sentido de obter

recursos governamentais para atender suas necessidades (MONTEIRO 1982).

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Os governantes tenderão a atender prioritariamente seus afetos e a deixar para

um segundo plano a parcela da população que possua menor influencia na formulação

das políticas governamentais, esta característica do sistema de governo atual representa

uma distorção dos sistemas democráticos, pois se espera que os governos representem

os anseios da população que os elegeu e cumpram seus compromissos de campanha,

ocorre que não existe nenhum compromisso formal de que os discursos de campanha

sejam transformados em ações por ocasião dos mandatos (MONTEIRO 1982).

Os representantes eleitos ao exercerem suas funções nas administrações muitas

vezes agem como se fossem “proprietários” dos órgãos públicos, e ficam cercados de

representantes dos mais variados segmentos da sociedade que os cercam para que

possam materializar projetos de seu interesse.

As políticas públicas formuladas pelos governos nem sempre atendem aos

interesses da maioria da população, uma vez que cada política é direcionada a um

determinado grupo de interesse e evidentemente os grupos que exercem a maior

influência no direcionamento dos recursos públicos fazem parte de pequena parcela da

sociedade e na maioria das vezes visa atender interesses próprios.

Nas “Sociedades Não Organizadas” as quais chamaremos as sociedades onde

a população e os órgãos de controle não exercem na plenitude seus direitos e deveres

de fiscalizar a aplicação dos recursos arrecadados da sociedade na materialização dos

serviços públicos, os grupos econômicos de maior influência nos governos que

possivelmente financiaram as campanhas dos governantes eleitos tendem a obter

grande parte dos recursos direcionados aos projetos de seu interesse.

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Figura 2.1 - Esquema indicativo da atuação dos grupos econômicos nas sociedades “não Organizadas”, na

formulação das políticas públicas.

Fonte: elaboração própria.

Desta forma em nosso país apesar do sistema atual não ser autoritário, a forma

como é concebido o direcionamento dos recursos públicos arrecadados da população

não atendem na maioria das vezes os anseios de grande parte da população e são

desvinculados dos compromissos assumidos pelos governantes por ocasião das

campanhas eleitorais.

O desenvolvimento das sociedades modernas tem levado sistematicamente à

população reagir a estas situações.

GOVERNOS POLITICAS PÚBLICAS

GRUPOS ECONOMICOS

SOCIEDADE NÃO ORGANIZADA

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Este panorama vem sendo modificado com a elaboração de leis que não

permitem que os administradores do patrimônio público utilizem o erário da forma que

melhor lhes convir, entretanto muito ainda a sociedade deverá avançar até que os

administradores utilizem totalmente os recursos arrecadados em projetos prioritários

para o desenvolvimento da sociedade.

A influência dos grupos econômicos que financiam as campanhas eleitorais dos

governantes eleitos na formulação de políticas públicas tende a se reduzir à medida que

as sociedades se organizam e através de seus mecanismos de controle são capazes de

coibir a má utilização do dinheiro público (MONTEIRO 1982).

Nas “Sociedades Organizadas” aqui chamadas aquelas em que a população e

os organismos de controle exercem na sua plenitude sua ação fiscalizadora das

políticas públicas as ações dos gestores públicos são permanentemente verificadas e

adequadas aos anseios da população.

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Figura 2.2 - Esquema indicativo da atuação dos grupos econômicos nas sociedades “Organizadas”, na

formulação das políticas públicas.

Fonte: elaboração própria

À medida que as nações do mundo vão se tornando mais evoluídas e as

sociedades se organizam e exigem que os governos prestem contas dos recursos

arrecadados da população, elas mesmas passam a exercer um papel fundamental no

controle dos atos de gestão dos governantes, a condição indispensável para que esta

condição seja atingida é a de que as ações governamentais sejam transparentes isto é,

sejam colocadas à disposição da população e sejam de fácil entendimento.

A partir do momento em que as informações sobre as políticas púbicas vão

sendo colocadas à disposição da população é possível que a sociedade se organize

para exercer o “Controle Social” isto é, seu papel fiscalizador no controle dos gastos

públicos.

Atualmente em todo o mundo os organismos de controle discutem o tema sob a

denominação de “Transparência e Controle Social”.

GOVERNOS POLITICAS PÚBLICAS

SOCIEDADE ORGANIZADA

GRUPOS ECONOMICOS

CONTROLE

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O argumento mais forte utilizado na defesa deste tipo de controle é o de que,

quem está mais próximo do local onde a despesa está sendo realizada tem a

possibilidade de exercer um controle mais efetivo e tempestivo dos gastos públicos.

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II. 6 – O Controle Externo

“Todo o homem que tem o poder é levado à dele abusar; ele

vai até onde encontra limites; para que não se possa abusar

do poder é necessário que, pela disposição das coisas, o

poder detenha o poder”. L’ESPRIT DÊS LOIS, CHARLES

DE SECONDAT – BARÃO DE MONTESQUIEU 1748.

II. 6.1 - Histórico do Controle Externo nas Administrações Públicas

Desde os princípios dos tempos, já nas primeiras sociedades os soberanos

sentiram a necessidade de proteger seu patrimônio e controlar os recursos arrecadados

através dos impostos.

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Figura 2.3: O mapa destaca as regiões onde floresceram as primeiras civilizações, num período

denominado Antiguidade Oriental.

O Egito localiza-se no nordeste da África, banhado ao norte pelo Mar

Mediterrâneo, a leste pelo Mar Vermelho, a oeste pelo deserto da Líbia e ao sul pelo

Sudão. Seu território é cortado no sentido sul-norte pelo Rio Nilo. O rio é responsável

pela fertilidade das terras do vale, onde se desenvolveu uma das primeiras civilizações,

já que era responsável pela irrigação natural da terra, facilitando o trabalho agrícola das

comunidades que passaram a produzir excedentes, possibilitando a organização do

Estado e de uma sociedade mais complexa.

As primeiras manifestações do controle e fiscalização deram-se por volta de

três mil anos antes de Cristo, conforme registro nos papiros referentes ao Faraó Menés I

do Egito, no Código Indiano de Manu, no Eclesiastes do Rei Salomão e nos escritos

romanos de Cícero e Plínio. Alguns autores, todavia, alegam que aquelas primeiras

manifestações ocorreram na legislação romana, com os “Proeffecti Aerariie”, em

particular, nos “Tabularii e Numerarii” (ARAÚJO, 1990).

Por volta de 3.200 AC, o rei Menés, do Alto Egito, unificou as coroas dos dois

reinos existentes: o reino do sul, lugar do monarca, cuja capital era a cidade de

Hieracômpolis; e o reino do norte (Baixo Egito), com a capital na cidade de Buto. A partir

dessa data, o Egito transformou-se num só império e passou a ter um governo

fortemente centralizado, em que todos os poderes locais se submetiam ao poder central

absoluto, exercido pelo imperador.

Em razão da força política que possuía, o imperador passou a chamar-se Faraó

Menés I do Egito adotando uma dura política centrada na cobrança de impostos,

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retirando dos camponeses todos os excedentes agrícolas, submetendo-os como

escravos.

Além desse imposto coletivo, deviam serviços ao Faraó, trabalhando na

abertura de canais de irrigação, na construção de represas, templos, palácios e

pirâmides, recebendo como pagamento apenas o alimento diário.

Para fiscalizar o cumprimento dessas atividades, existia uma classe de

funcionários públicos, os escribas, indivíduos muito cultos que supervisionavam toda a

administração pública, responsabilizando-se pela cobrança de impostos (ARAÚJO,

1990).

No século XIII a.C. apareciam os primeiros indícios de “Sistemas de Controle”

no Antigo Testamento da Sagrada Escritura uma delas está no livro de Êxodo - que

narra a saída dos hebreus do Egito - onde se acha registrada uma recomendação divina

dizendo que: “Se alguém der a guardar ao seu próximo um jumento, um boi, uma

ovelha, ou outro qualquer animal, e se esta coisa for furtada, indenizará o dono do

prejuízo”. (BÍBLIA SAGRADA).

Há mais de dois mil anos, na história grega, encontrou-se o primeiro “traço do

Tribunal de Contas”. Naquele modelo de tribunal, anualmente, eram eleitos dez

tesoureiros – os “hellenotamiai” – da deusa Atenas, perante os quais todos quantos

exerciam parcela da administração deveriam não só justificar os atos de sua gestão,

bem como prestar contas do dinheiro público recebido. Ademais, as contas públicas, na

Grécia, estavam sujeitas à aprovação pela assembléia grega, as quais eram gravadas

em pedra, para permitir um exame perene dos cidadãos. Salienta-se que no Museu

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Britânico, em Londres, encontra-se, bem conservado, um daqueles exemplares

(FERREIRA, 1978).

Na Antiguidade Oriental, em face da organização política monárquica absoluta

dos Estados, com poderosa influência das castas sacerdotais, os problemas políticos e

administrativos tinham soluções orientadas, basicamente, pelas tradições e dogmas, por

isso a sua atividade financeira era rudimentar e a fiscalização das arrecadações

tributárias era feita por emissários especiais dos monarcas (MILESKI, 2003).

A antiguidade Indiana – século XIII AC – por meio do código de Manu tinha

regulamentado a percepção de tributos anuais em todos os domínios, por comissários

da confiança do rei, com designação de inspetores encarregados de examinar a conduta

dos funcionários arrecadadores. Na antiga China, consoante o pensamento político

decorrente de Confúcio e Mêncio, a administração financeira e as demais atividades do

Estado deveriam ser realizadas sempre em beneficio do povo, por isso as rendas

públicas não podiam ser consideradas bens privados dos reis, como também estavam

submetidas a uma rigorosa fiscalização pra não sofrerem depurações. (GETTEL, 1941).

Na história francesa, desde 1256, encontram-se indícios da existência da Corte

de Contas, quando os éditos de Luís IX, Rei da França, fazem menção a uma instituição

chamada “Chambre de Comptes”, que tinha a função de vigiar os dispêndios públicos.

A Revolução Francesa de 1789, extinguindo o poder absolutista do rei, suprimiu

a existência da Câmara de Contas, transferindo suas atribuições à Assembléia

Constituinte este organismo, entretanto, foi mais bem organizado, em 1807, quando

surgiu o Tribunal de Contas ou ”Cour des Comptes”, adotando o exame das contas “a

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Posteriori”, enquanto que o exame prévio atribui-se ao Ministério Ordenador da Despesa

e ao da Fazenda (CARNEIRO, 1990).

A partir da sua criação em 1807, na França, os Tribunais de Contas tiveram

uma notável evolução, com a implantação na Holanda em 1820, na Bélgica em 1831, na

Itália em 1862, estendendo-se após, pelo mundo inteiro (MILESKI, 2003).

Por estarem entre os primeiros países a instituírem Tribunais de Contas como

órgão estatal destinado a fiscalizar a atividade financeira da Administração, os três tipos

fundamentais e clássicos de Tribunais de Contas citados pelos doutrinadores são:

Francês, o Belga e o Italiano (CRETELLA, 1972).

O Sistema Francês está estruturado com base numa Corte de Contas (ou

Câmara de Contas), Tribunal independente de grande prestígio, com funções de caráter

jurisdicional, mas isso não significa inexistência de um controle interno dos órgãos

administrativos e de outro, final, realizado pelo parlamento (RAMOS, 1980).

A fiscalização exercida pela Corte de Contas francesa é “a Posteriori”, com

atribuições administrativas e jurisdicionais. As administrativas ocorrem sobre os

ordenadores. As jurisdicionais sobre os contadores, que são os pagadores. Por esse

fator de fiscalização resulta um princípio de contabilidade pública: a autoridade que

ordena a execução da despesa não pode ser a mesma que efetua o pagamento

(MILESKI, 2003).

O Modelo Belga de Tribunal de Contas realizou importantes inovações no

sistema de controle jurisdicional, na medida em que a sua Lei Orgânica de 21 de junho

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de 1820, “regulamentando a Câmara de Contas dos Paises Baixos, estabelecera que

nenhum pagamento do Estado poderia ser feito, se a despesa não fosse previamente

verificada e liquidada pela Câmara de Contas, reservada ao poder real, entretanto a

faculdade ilimitada de autorizar pagamentos provisórios, ou adiantamentos” (LOPES,

1947).

A característica do sistema de fiscalização adotado pelo Tribunal de Contas

Belga é de que o controle prévio executado se utiliza do método admonitório, qual seja,

não há recusa absoluta do registro da despesa, o veto possui natureza suspensiva,

revelando-se como uma advertência ao administrador. No caso de recusa ao registro de

despesa – seja por a verba estar esgotada, seja por a despesa não se enquadrar na

verba -, há previsão para as razões da recusa sejam examinadas pelo Conselho de

Ministros, podendo este mandar efetuar o pagamento sob sua responsabilidade,

circunstancia em que a Corte de Contas coloca seu visto de reserva (GUALAZZI, 1992).

O Tribunal de Contas italiano exerce funções de controle sobre os atos do

Poder Executivo, assim como pratica atos jurisdicionais em matéria contábil e de

pensões, com atribuições consultivas e administrativas internas, procedendo a um

controle preventivo e sucessivo. O preventivo verifica a regularidade dos atos praticados

no decorrer da execução orçamentária, enquanto o sucessivo ou “a Posteriori” é

efetuado sobre as contas do exercício financeiro encerrado (MILESKI, 2003).

Na Alemanha o Tribunal de Contas teve sua origem na “Alta Câmara Prussiana

de Contas“ em 1714.

Em Portugal de (1389 – 1761) pela “Casa de Contos”, de (1761 – 1832) pelo

“Erário Régio”, de (1832 – 1844) pelo ”Tribunal do Tesouro Público“, de (1844 – 1849)

pelo “Conselho Fiscal de Contas”, de (1849 – 1911) pelo "Tribunal de Contas” de (1911

– 1919), pelo ”Conselho Superior de Administração Financeira do Estado“, de (1919 –

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1930) pelo ”Conselho de Finanças“, e desde 1930, pelo atual “Tribunal de Contas“

(CITADINI, 1995).

Foi criado nos tempos dos reis normandos, na Inglaterra, um Tribunal de

Justiça, em matéria de finanças, denominado “Exchequer”, que funcionava como um

controlador de despesas oficiais, composto de certo número de barões feudais,

chamados de “Barons of the Exchequer”, responsáveis pelas operações contábeis do

governo.

A extensão da idéia estava bem difundida, ao ponto que no Império Austríaco,

em 1661, criou-se uma “Câmara de Contas”, com uma influência preponderante na

administração financeira do Estado (ARAÚJO, 1990).

Na Prússia, antiga região do norte da Alemanha, desde 1714, organizou-se a

“Câmara Superior de Contas”, e em 1874 foi modificada, tendo seus poderes ampliados,

passando a denominar-se “Corte de Contas do Império Alemão”. Sob o regime da

Alemanha Imperial, em 1871, a “Câmara Superior” foi transformada em “Tribunal de

Contas do Império Alemão” e na Constituição de Weimar de 1919 era o Parlamento, sob

a supervisão dos seus órgãos, que se incumbia do exame e fiscalização das contas.

Recentemente, a Constituição Federal de Bonn de 1949 recomendou uma

“Corte de Contas – Reschnungshof” - como instrumento de controle dos gastos

governamentais.

Nos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes tem comissões técnicas,

com o assessoramento do “Comptroller-General” nomeado pelo Presidente da

República com aprovação do Senado, que julgam as contas e a execução do orçamento

em instância única e final.

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Na Suécia, qualquer pessoa do povo tem amplo direito de livre acesso aos

documentos dos ministérios e dos arquivos públicos, a fim de fiscalizar a execução

orçamentária.

Muitas nações experimentaram, ao longo da história, várias formas de controle

do dinheiro.

Na atualidade, quase que a totalidade dos Estados Democráticos, utiliza um

sistema de controle, para que os atos praticados pela Administração Pública, possam

ser verificados por um órgão externo.

O princípio do surgimento dos mencionados “Tribunais de Contas”, segundo a

estrutura adotada em cada país, deveu-se basicamente a dois fatos: ao

desenvolvimento da vida em sociedade e à presença cada vez mais marcante do

Estado, como elemento arrecadador e distribuidor de recursos públicos, sob as formas

de impostos ou de serviços sociais. Concomitantemente àqueles dois fatos, houve

também a instituição dos regimes democráticos de direito, decorrentes de uma maior

liberdade e consciência social crítica, através das quais os cidadãos pagadores de

impostos desejavam cada vez mais acompanhar e fiscalizar os atos dos seus dirigentes,

com o escopo de certificarem a boa aplicação ou não do que era arrecadado pelos seus

respectivos chefes de Estado.

A partir daquele momento de conscientização social crítica, o chamado “Direito

Divino dos Reis” foi sendo limitado por pressões sociais, que, com o auxílio dos

parlamentos, impulsionavam a criação das leis orçamentárias, que estabelecessem aos

reis de cada país os limites de arrecadação e gastos, além de proibirem os soberanos

de criarem impostos sem a permissão do povo, o qual era representado pelo

Parlamento. Este órgão foi, inicialmente, o responsável pela fiscalização da boa

aplicação dos recursos públicos pelos soberanos, a qual seria atingida somente através

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do fiel cumprimento pelos reis das suas respectivas leis orçamentárias. Entretanto, a

complexidade de tal fiscalização e a necessidade do seu tratamento especializado

exigia a criação de órgãos técnicos que auxiliassem o Parlamento no conhecimento

efetivo das finanças públicas, possibilitando, dessa forma, um julgamento seguro das

contas públicas dos soberanos. Para aquela finalidade, foram, portanto, criados os

chamados “Tribunais de Contas” e as “Controladorias”, dependendo da estrutura

adotada por cada país. Conseqüentemente, em perfeita proximidade e harmonia, os

parlamentos e aqueles órgãos de controle da contas públicas passaram a representar,

definitivamente, a participação da sociedade na fiscalização dos atos dos seus

governantes (TENÓRIO, 1973).

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O Quadro 2.2 mostra os períodos da história em que as sociedades começaram

a se organizar e surgiram de alguma forma os mecanismos de controle dos gastos

chamados atualmente de EFS (ENTIDADES FISCALIZADORAS SUPERIORES), no

Brasil de Tribunal de Contas.

Período

Localidade

Controle

3000 AC Egito – Rei Menés Escribas

XIII AC Antigo testamento – livro do êxodo

Registro - Se alguém der a guardar ao seu próximo um jumento, um boi, uma ovelha, ou outro qualquer animal, e se esta coisa for furtada, indenizará o dono do prejuízo.

Ano de cristo Grécia Dez tesoureiros – “hellenotamiai”

1256 França “Chambre de Comptes” 1807 França “Cour dês Comptes” 1714 Alemanha Alta Câmara Prussiana de Contas 1389 Portugal Casa de Contos 1761 Portugal Erário Régio 1832 Portugal Tribunal do Tesouro Público 1844 Portugal Conselho Fiscal de Contas 1911 Portugal Conselho Superior de Administração Financeira do Estado 1919 Portugal Conselho de Finanças 1930 Portugal Tribunal de Contas 1550 Inglaterra “Exchequer” 1661 Áustria Câmara de Contas 1714 Alemanha Câmara Superior de Contas 1874 Alemanha Corte de Contas 1919 Alemanha Parlamento fiscalizava as contas 1949 Alemanha Corte de Contas – “Reschnungshof” 1820 Holanda Tribunal de Contas 1831 Bélgica Corte de Contas 1921 Estados Unidos “Comptroller-General” 1891 Brasil Tribunal de Contas 1946 Brasil Poder legislativo 1967 Brasil Tribunais de Contas 1988 Brasil Constituição Federal de 1988 trouxe mudanças significativas

Quadro 2.2 – Mostra as datas e instituições de controle desde a antiguidade em vários países Fonte: elaboração própria

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II. 6.2 - O Controle Externo das Administrações Públicas na atualidade

A função de controle nas Administrações Públicas tem evoluído no decorrer dos

tempos ao mesmo tempo em que as doutrinas administrativas foram sendo introduzidas

em todo o mundo.

As sociedades modernas reconhecem a importância do controle externo nas

administrações públicas como forma de coibir e orientar as ações dos gestores na

condução das despesas efetuadas com o dinheiro arrecadado dos cidadãos.

Independentemente do seu sistema de governo, ao lado das instituições que

dão funcionalidade aos três Poderes existe um organismo de controle técnico das

finanças públicas, em geral vinculado ao Poder Legislativo, responsável pelo controle

externo da Administração. São as chamadas Entidades Fiscalizadoras Superiores

(EFS), que em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, Portugal e Brasil possuem a

configuração de Tribunais de Contas, órgãos colegiados com função judicante, criados a

partir do modelo francês, recentemente adotado também pela Comunidade Econômica

Européia. Já nos países de cultura anglo-saxônica essas instituições geralmente estão

estruturadas sob a forma de órgãos singulares, sem função judicante, denominados

Auditorias ou Controladorias Gerais, como no Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e

Austrália (BARRETTO, 2003).

O sistema de tripartição do poder estatal idealizado por Montesquieu,

posteriormente adotado em quase todas as Constituições do mundo civilizado

democrático, prevê a atuação independente e harmônica dos três poderes do Estado,

num esquema de pesos e contrapesos, ou “checks and balances”, segundo o qual os

poderes Executivo, Legislativo e Judiciário se auxiliam e se controlam mutuamente

(MARINOT, 2004).

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Para (FERNANDES, 2003), a função de controle tem sido tema importante na

atualidade, seja pela corrupção das administrações, seja pelo emprego dos recursos

públicos.

A fiscalização do cumprimento da lei constitui fator essencial à prevenção de

possíveis desvios das disposições constantes na legislação, cuja eficiência pode ser

considerada como a melhor forma de atuação no sentido de evitar a lesão ao patrimônio

público, impedindo que se estabeleça prejuízo ao erário, pois:

“As ações visando à reparação dos danos serão sempre mais custosas e de

resultados incertos”.

A Administração Pública age de acordo com normas legais que fixam as

competências dos seus órgãos, delimitando o seu campo de atuação e estabelecendo

controles aos quais deve se sujeitar. Isto significa que não pode agir com absoluta

independência, praticando atos não autorizados em lei e sem objetivar o interesse ou

fim público. Para que sejam observadas essas normas, é que se faz necessário o

exercício do controle da Administração Pública7.

Segundo a INTOSAI (INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SUPREME AUDIT

INSTITUITIONS) a utilização regular e racional dos recursos públicos constitui uma das

condições essenciais para garantir um bom uso das finanças públicas e da eficácia das

finanças públicas e das decisões adotadas pela autoridade competente. Para lograr este

objetivo, é imprescindível que cada Estado conte com uma entidade fiscalizadora eficaz,

cuja independência seja garantida por lei, e que a existência desta entidade é mais

7 “Controle da Administração pública é a verificação da conformidade desta a um cânone, possibilitando ao agente controlador a adoção de medida ou proposta em decorrência do juízo formado” (Bergeron apud Medauar, 1993). “Fiscalização exercida sobre as atividades de pessoas, órgãos, departamentos, ou sobre produto, etc, para que tais atividades, ou produtos, não se desviem de normas pré-estabelecidas”. (Ferreira, 1986). “Controle consiste em estabelecer a conformidade de uma coisa em relação à outra coisa”. Há controle quando há uma relação, aproximação ou confrontação entre o objeto de controle e uma referência que serve de escala de valor para apreciação.

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necessária, na medida em que o Estado estenda suas atividades a diversos setores da

economia.

Em 1977 no Congresso de Lima a INTOSAI referindo-se ao controle:

“... ao controlo” tradicional da legalidade e regularidade da gestão e da

contabilidade, se deve juntar um “controlo” orientado para rentabilidade, a eficácia, a

economicidade e a eficiência das ações do Estado, abarcando, não apenas cada caso

de gestão individual, mas também a atividade total da Administração, incluindo a sua

organização e sistemas administrativos (INTOSAI, 2007).

Os objetivos específicos da fiscalização são verificar a apropriada e eficaz

utilização dos recursos públicos, a busca por uma gestão rigorosa, e a regularidade da

ação administrativa, mediante a publicação dos atos administrativos.

A instituição de controle é inerente à economia financeira pública. O controle

não representa uma finalidade em si mesma, senão uma parte imprescindível de um

mecanismo regulador que deve sanar, oportunamente, os desvios das normas e as

infrações aos princípios da legalidade, rentabilidade, utilidade e racionalidade das

operações financeiras, de tal modo que possa adaptar-se as medidas corretivas

convenientes em cada caso, determinar a responsabilidade do órgão, exigir a

indenização correspondente e adotar as medidas que impeçam, ou pelo menos,

dificultem a repetição das infrações no futuro.

Tradicionalmente as entidades fiscalizadoras consideraram a legalidade como o

aspecto mais importante a ser verificado nas Administrações Públicas, contudo nos

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últimos anos a Auditoria de Desempenho (Performance Auditing)8 tem-se dado maior

importância a questões relacionadas com a rentabilidade, utilidade, economicidade e

eficiência das operações praticadas pelos órgãos públicos (INTOSAI, 2007).

II. 6.3 - Controle Externo no Brasil

No Brasil, o controle externo compete ao Poder Legislativo, exercido com o

auxílio dos Tribunais de Contas. É o controle sobre a totalidade da administração

pública. O controle externo não pode prescindir de sua vertente técnica, sendo-lhe

estritamente vinculado. Daí a concepção de uma instância de controle independente, o

controle externo dito técnico, personificado pelos Tribunais de Contas, dedicando-se à

fiscalização contábil, orçamentária, financeira, patrimonial e operacional, abrangendo a

administração pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre

dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a Administração responda, ou que, em

nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária (PASCOAL 2002).

Segundo (SOUTO, 2001; VILAÇA, 1997) é ultrapassada a atuação de um

controle externo voltada simplesmente para a legalidade dos atos administrativos, de rito

burocrático, do cumprimento do regulamento, da observância das formalidades. Os

Tribunais de Contas tem a atribuição de avaliar os resultados obtidos pelas gestões

administrativas, atuando de forma orientadora, preventiva, proativa, tempestiva,

antecipando-se as demandas que lhe possam ser colocadas, implantando-se um

8 Auditoria de Desempenho (Performance auditing) – é o nome reconhecido internacionalmente como modalidade de auditoria que visa avaliar os aspectos de economicidade, eficiência e efetividade de programas, políticas, organizações e atividades públicas. Evidências empíricas demonstram que a auditoria de desempenho inclui outras modalidades de revisão além da eficiência, efetividade e economicidade (3E’s), tais como: atendimento de metas, boas práticas de gestão, boa governança, capacidade de gerenciamento de desempenho, análise de risco, qualidade de serviço, entre outros.

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controle voltado para o cumprimento dos objetivos governamentais e para a avaliação

dos resultados das ações públicas, inclusive como indutor de melhoria da gestão, sem,

contudo, esquecer da responsabilização do gestor por atos ilegais e “não-econômicos”.

II. 6.4 - O controle do mérito nas Administrações Públicas

O controle de mérito tem por finalidade constatar a eficiência da Administração

Pública, verificando se foram atingidas as metas programadas para o atendimento das

necessidades públicas; se esta ação administrativa além de eficiente foi também eficaz,

ou seja: produziu resultado compatível, satisfatório e de resolução das necessidades

coletivas; se estes atos da Administração, mais do que eficientes e eficazes, também

foram realizados com economicidade, que é a busca da solução econômica mais

adequada a circunstância – “o princípio da economicidade objetiva o máximo de

realização com o mínimo de dispêndio” (FREITAS, 1999).

Compreendendo-se a Administração pública como instrumento de viabilização

de Governo, é desejável que se imponha aos órgãos instituídos para desincumbirem-se

de seus misteres a submissão aos princípios constitucionais insculpidos no art. 37 da

Constituição Federal: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,

princípios estes basilares no Estado Democrático de Direito, servindo assim como

parâmetro à atividade de controle (ZYMLER, 2005).

O objeto da função de controle, na atualidade, deve ser compreendido em sua

visão mais nobre, enquanto vetor do processo decisório na busca do redirecionamento

das ações programadas. São assim, instrumentos da função: a revisão dos atos, a

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anulação, a admoestação e a punição dos agentes, sempre visando à reorientação do

que está em curso, para obter aperfeiçoamento (FERNANDES, 2005).

II. 6.5 - Inspeções e Auditorias

O Controle Externo realizado pelos Tribunais de Contas se dá através de

inspeções e auditorias realizadas nos órgãos públicos.

Auditoria é a atividade de controle e fiscalização da administração, destinada a

oferecer informações e dados sobre os serviços controlados, desprovida do poder de

decisão, e que se conclui na elaboração de relatórios destinados à autoridade com poder

decisório, onde se expõem os fatos verificados.

Este conceito de auditoria foi estabelecido em razão da atividade de controle

que deve ser realizada pelo Estado e, especificamente, por intermédio dos Tribunais de

Contas (CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE, 1988).

Este exame auditorial se constitui no exercício da função de controle, realizada

através dos Tribunais de Contas, e que, embora fosse inicialmente restrito aos aspectos

financeiros e legais, a partir das novas posturas assumidas pela Constituição de 1988,

passou a dar ênfase, também, na avaliação dos critérios de economia, eficiência e

eficácia das ações administrativas e dos resultados das operações realizadas, em

relação aos objetivos pretendidos.

Auditoria é o exame analítico e pericial, desenvolvido pelas Cortes de Contas,

que se segue ao desenvolvimento das operações. “É o procedimento voltado à

verificação e avaliação dos sistemas adotados, visando minimizar os erros ou desvios

cometidos na gerência da coisa pública” (GUERRA, 2005).

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As inspeções, por sua vez, visam suprir omissões e lacunas de informações,

esclarecerem dúvidas ou apurar denúncias quanto à legalidade e a legitimidade de atos

e fatos administrativos praticados por responsáveis sujeitos à jurisdição do Tribunal.

As fiscalizações de natureza operacional têm como objetivo definir padrões de

desempenho e avaliar os resultados da gestão a luz de parâmetros de eficiência,

eficácia e economicidade. Como as decisões do administrador, respeitadas as normas

legais, situam-se no campo da discricionariedade, as conclusões atingidas por essa

modalidade de fiscalização dão origem a recomendações, que são encaminhadas ao

órgão ou entidade fiscalizada.

Eficácia é a relação entre o que foi planejado e o que foi alcançado na realidade

pelos projetos, programas ou atividades governamentais, ou seja, é a observação dos

resultados obtidos, verificando se estão situados nas metas preestabelecidas para os

programas de governo.

Mediante o princípio da eficiência, o mais moderno princípio da função

administrativa, busca-se a obtenção do mais alto nível de produtividade com o mínimo

de recursos possível, revelando um desempenho satisfatório na produção de serviços

de qualidade a custos operacionais reduzidos.

O princípio da economicidade, introduzido pela cabeça do art. 70 da

Constituição, determina a observância da relação custo/benefício, isto é, impõe o

controle da despesa em face dos recursos disponíveis; a parcimônia, a contenção ou

moderação nos gastos; a ausência de desperdício na execução dos programas; enfim,

determina o necessário respeito aos interesses econômicos do povo, que se encontram

sob proteção jurídica do Estado. Com efeito, a economicidade é o dispêndio dos

escassos recursos na quantia necessária, no momento adequado à consecução dos

objetivos anteriormente propostos em lei (GUERRA, 2000).

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47

II. 6.6 - Formas de Controle Externo

No Brasil a exemplo de outros países como Portugal, Espanha, França, Itália,

Alemanha Ocidental, Uruguai, Japão, Grécia, Bélgica o controle dos gastos públicos é

feito por órgãos colegiados, aqui chamados de Tribunais de Contas.

Outros adotam as Controladorias e Auditorias que são órgãos singulares a

exemplo dos Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Peru, Venezuela, Áustria, China,

Alemanha Oriental, Grã-Bretanha, Israel, Nova Zelândia, etc.

A efetividade das decisões dos órgãos fiscalizadores difere em cada país,

podendo ter natureza administrativa ou jurídica conforme estejam ou não sujeitos a

revisão de suas decisões pelo poder judiciário.

Odete Medauar (1993) citando José Cretella Júnior (1966) e Carlos S. de Barros

Júnior (1969), reconhece, na doutrina brasileira, habitualmente três modalidades

tradicionais de fiscalização financeira, que configura como:

O tipo italiano, o tipo belga e o tipo francês. O tipo italiano e o tipo belga

consistem em fiscalização efetuada antes da realização da despesa; no modelo italiano

o veto prévio acarreta impedimento, absoluto ou relativo, à despesa, no sentido de

proibir ou suspender, respectivamente o ato submetido ao controle (veto absoluto e veto

limitado). No modelo belga só ocorre veto limitado, configurando, então, fiscalização

prévia admonitória, como afirma Carlos S. de Barros Júnior. O tipo francês caracteriza-

se pela fiscalização “a Posteriori”, após a realização da despesa.

Historicamente no Brasil o sistema de controle utilizado tem sido orientado para

o controle “a Posteriori”, após a realização da despesa. Atualmente muitas ações dos

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Tribunais de Contas têm sido orientadas para o controle prévio e também para o

controle concomitante.

Nas auditorias realizadas na obras públicas tem sido cada vez mais freqüentes

as Auditorias realizadas antes da contratação das obras onde são verificados os

aspectos relacionados à elaboração dos projetos e adequabi lidade das especificações e

da elaboração da planilha orçamentária.

Importante também são as auditorias realizadas pelos Tribunais de Contas

durante a execução dos contratos chamadas de “concomitantes”, pois são capazes de

verificar se as despesas que estão se realizando correspondem aos serviços

executados.

No capítulo VI item 2 deste trabalho – “Proposta de um Modelo Conceitual

Teórico” propomos discutir a questão da ocasião em que devem ser procedidas as

Auditorias de Obras Publicas para que seus resultados tenham maior efetividade.

II. 6.7 - O Controle Externo e os Tribunais de Contas

"Estado não tem dinheiro. Nenhum dinheiro é do Estado. O

dinheiro, antes e depois de entrar nos cofres públicos, é do

povo e, como tal, o seu controle paira acima de qualquer

outro direito" (FEDER, 2005).

A Constituição Federal de 1988 determinou que a fiscalização contábil,

financeira, orçamentária, operacional e patrimonial será exercida pelo Congresso

Nacional, mediante controle externo, com auxílio do Tribunal de Contas, e pelo sistema

interno de cada Poder.

As atribuições dos Tribunais de Contas foram ampliadas consideravelmente

pela Constituição Federal de 1988.

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Pelo parágrafo único do art. 70, da Constituição Federal, verificamos uma

ampliação quanto às pessoas que deverão ser fiscalizadas pelo Tribunal de Contas.

Qualquer pessoa, física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde,

gerencie ou administre dinheiros, bens ou valores públicos ou pelos quais a União

responda, ou que, em nome desta assuma obrigações de natureza pecuniária, fica

obrigada à prestação de contas; primeiramente a tomada de contas se dá pelo controle

interno, depois através do Tribunal de Contas.

A Constituição de 1988 enfatizou, ampliou e aperfeiçoou as características de

outros Tribunais de Contas que forneceram inspiração para o nosso. De conseqüência,

o TCU (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO) passou a ser dotado de absoluta

autonomia funcional, administrativa e financeira, não se subordinando,

hierarquicamente, a nenhum outro órgão ou Poder. Ao mesmo tempo, viu ampliadas

suas competências e aumentado seu campo de ação. Não há ato de administração que

esteja isento de fiscalização do Tribunal, nem conta pública ou de interesse público que

não deva ser prestada. Se é verdade que sua função fiscalizadora auxilia o Congresso

Nacional em sua missão de controle externo, não é menos verdade que a maior parte

desse auxílio está na razão direta da eficiência de atuação do Tribunal. (PARDINI,

1997).

A atuação dos Tribunais de Contas extrapola a verificação da legalidade da

gestão governamental. Haverão de cuidar também do controle operacional dos atos

administrativos. Não bastam à confiabilidade publica correta e ausência de delitos.

Cada vez mais, os critérios tradicionais – e algo envelhecidos – das auditorias

se substituem por aqueles cujas vertentes se aproximam da Teoria dos Resultados, pois

o que mais importa é, sem dúvida, avaliar os resultados obtidos pela gestão

governamental (VILAÇA, 1997).

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O art. 71 da Constituição elenca as competências exclusivas destinadas às

Cortes de Contas do Brasil, nestes termos:

“O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio

do tribunal de Contas da União, ao qual compete, dentre outras atribuições, realizar, por

iniciativa própria, da Câmara dos deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica

ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes legislativo,

Executivo e Judiciário e demais administradores e responsáveis por dinheiros, bens e

valores públicos”.

A fiscalização através de inspeções e auditorias exerce importante papel dentre

as atividades de controle externo a cargo do Tribunal de Contas, por diversas razões.

Primeiro não há limitação constitucional ou legal acerca do exercício desta competência;

segundo visa à apuração imediata de ilegalidades e irregularidades, agindo de forma

preventiva; terceiro, permite uma ação pedagógica, no sentido de instruir os fiscalizados

sobre a melhor forma de execução das atividades e correção de eventuais falhas; quarto

causa forte pressão intimidativa, visando coibir a ação de atos ilícitos (GUERRA, 2005).

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CAPÍTULO III – O TRIBUNAL DE CONTAS NO BRASIL

É o Tribunal de Contas um órgão da maior relevância para

a administração e o melhor desempenho do sistema

democrático. JARBAS MARANHÃO, 1960.

III. 1 – Introdução

Procuraremos fazer um resumo dos fatos históricos importantes que

influenciaram na atuação dos Tribunais de Contas desde a sua criação em 1890 até os

nossos dias concluindo que a atuação dos órgãos de controle esta relacionada à

situação política em que está inserido.

Todas as pesquisas levam a crer que o vestígio da existência de um sistema de

controle das contas públicas no Brasil remonta a uma longa data. Estudos indicam que,

mesmo antes de declarada a Independência do Brasil de Portugal, surgiram algumas

idéias sugerindo a criação de um órgão com atribuições para controlar as finanças do

Estado.

A criação de um organismo com essa finalidade fazia parte do plano financeiro

do governo lusitano. Figuram-se aí as primeiras manifestações em busca do efetivo

surgimento do Tribunal de Contas.

O controle de contas no Brasil remonta ao período colonial, sendo expresso,

inicialmente, pelas ordenações Afonsinas (1446), Manoelinas (1516) e Filipinas

(FERREIRA, 1992).

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O Quadro 3.1 resume as principais datas e a atuação dos Tribunais de Contas

do Brasil nos períodos que marcaram sua trajetória desde a sua institucionalização em

1891 até o advento da promulgação da Constituição Federal de 1988 que trouxe

profundas mudanças na forma de conduzir os trabalhos de auditoria nestes órgãos de

controle, que passaram a verificar não só a legalidade da despesa efetuada como

também aspectos relacionados à “boa utilização dos recursos9”.

9 Quanto à “boa utilização dos recursos” trataremos no capítulo referente à Auditoria Operacional onde será definida Eficiência, Eficácia e Economicidade.

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ANO

ATO DE

CRIAÇÃO

COMPETÊNCIAS DOS

TRIBUNAIS DE CONTAS

AÇÃO

1891

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.

Liquidar as contas da receita e despesa e verificar a sua legitimidade, antes de serem prestadas ao Congresso.

Sua ação consistia simplesmente no registro prévio do crédito global, de acordo com as tabelas de despesa organizadas pelo Ministério da Fazenda.

1930 a 1937

Estado Novo

Tribunal de Contas perdeu importantes atribuições

Governo Provisório dispôs que o mesmo iria exercer em toda a sua plenitude, as funções e atribuições, não só do Poder Executivo como também do Poder Legislativo.

1946 Constituição de 1946

Fortalecimento da atuação dos Tribunais de Contas teve ampliada sua área de atuação.

Funcionou como elo na corrente de redemocratização do país, aliado ao reforço das instituições e da garantia das liberdades individuais.

1953

Gestão do Ministro Mário Bittencourt

Tribunal de Contas ganhava projeção internacional

Iniciaram-se os congressos internacionais de entidades fiscalizadoras superiores, organizadas pela INTOSAI (International Organization of Supreme Audit Institutions).

31 de

março de 1964

Revolução de

1964

Era previsível ao Tribunal de Contas que a nova Carta elaborada no seio de um governo com liberdades democráticas restritas, poderia trazer reflexos extremamente negativos ao sistema de controle.

O Tribunal de Contas encaminhou o Aviso nº371 – SP/GP, datado de 13 de outubro de 1965, endereçado ao marechal Castelo Branco, no qual oferecia contribuições à elaboração do texto constitucional.

ANO

ATO DE

CRIAÇÃO

COMPETÊNCIA

AÇÃO

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****1967

Constituição Federal

A Constituição viria a ratificar todos os atos institucionais já baixados, aumentando o poder do Executivo e reduzindo os poderes e as prerrogativas do próprio Congresso, que aceitara votá-la.

O controle externo seria exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União e compreenderia: a) a apreciação das contas do presidente da República; b) o desempenho das funções de auditoria financeira e orçamentária; e c) o julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos.

1977 Declaração de Lima – INTOSAI

Estabeleceu as Linhas básicas da fiscalização

Independência das Auditorias. Premissas básicas: democracia e respeito às leis.

1988 Constituição Federal

O Tribunal de Contas da União teve a sua jurisdição e competências substancialmente ampliadas.

Aliou-se à competência de fiscal da legalidade dos gastos públicos, a de avaliador do desempenho operacional dos órgãos e entidades sob sua jurisdição. Desse modo, a Corte de Contas passava a acompanhar a eficiência da gestão governamental, além de ver reforçadas suas funções fiscalizadora, judicante e punitiva.

***** 1967 Embora atravessasse o Tribunal uma fase de perdas, o estabelecimento da prerrogativa de realizar inspeções visando melhor instruir o exame das contas deve ser considerado como um grande avanço em matéria de ampliação das competências da Corte, posto que o controle deixou de ser exercido em caráter de exame meramente formal de documentos, passando a contar com a verificação in loco. Quadro 3.1 – Mostra a evolução e competências dos Tribunais de Contas no Brasil – período de 1890 a 1988 Fonte: elaboração própria

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III. 2 – A mensagem de Rui Barbosa instituindo o Tribunal de Contas

O Tribunal de Contas foi institucionalizado pela primeira Constituição da

República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada a 24 de fevereiro de 1891,

inspirada no modelo da Constituição dos Estados Unidos da América, abrigado em seu

artigo 89, no Título V – Disposições Gerais:

“É instituído um Tribunal de Contas para liquidar as contas de receita e da

despesa e verificar a sua legalidade, antes de serem prestadas ao Congresso”, que na

exposição de motivos que justificava a medida definiu-lhe as características como

sendo:

“... corpo de magistratura intermediária à Administração e à

Legislatura que, colocado em posição autônoma, com

atribuições de revisão e julgamento, cercado de garantias

contra quaisquer ameaças, possa exercer as suas funções

vitais no organismo constitucional, sem risco de converter-

se em instituição de ornato aparatoso e inútil”.

“... convém levantar, entre o Poder que autoriza

periodicamente a despesa e o Poder que cotidianamente a

executa, um mediador independente, auxiliar de um e de

outro, que, comunicando com a Legislatura, e intervindo na

Administração, seja não só o vigia, como a mão forte da

primeira sobre a segunda, obstando a perpetração das

infrações orçamentárias por um veto oportuno aos atos do

Executivo, que direta ou indireta, próxima ou remotamente,

discrepem da linha rigorosa das leis de finanças” (RUI

BARBOSA, 1890).

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Podemos verificar nestes trechos a preocupação com a autonomia que o

Tribunal de Contas deveria possuir de maneira que pudesse exercer suas funções sem

sofrer intervenções dos poderes executivo e legislativo, e pudesse agir oportunamente

contra as infrações orçamentárias.

A ação do Tribunal de Contas consistia simplesmente no registro prévio do

crédito global, de acordo com as tabelas de despesa organizadas pelo Ministério da

Fazenda.

De posse de tais créditos, as delegacias do Tesouro empregavam os dinheiros

públicos, desordenadamente, sem atenção alguma à especialização do crédito e ao

limite das verbas. O que corresponde a dizer que a fiscalização exercida sobre os atos

dos ministros, ordenadores principais de despesas, era eficaz, com o veto concebido por

Rui Barbosa. Os ordenadores secundários, entretanto, podiam dilapidar impunemente o

erário.

Para corrigir essa incoerência, defendia o Tribunal de Contas a necessidade de

instituição de delegações, constituídas como um prolongamento da Corte, que viessem

a exercer nos estados a fiscalização prévia da administração financeira e demais

atribuições (SILVA, 1998).

Oito anos após a criação do Tribunal de Contas da União, em 1899 foi instituído

o Tribunal de Contas do Estado do Piauí até o mais recente em 1991 nos estados de

Roraima e do Amapá passaram-se 81 (oitenta e um anos), isto demonstra que cada

estado da federação julgou oportuna a criação de seu Tribunal de Contas em períodos

distintos da história do Brasil.

Possivelmente este quadro reflita a realidade dos Tribunais de Contas

Estaduais no Brasil, que até os dias de hoje, que com todos os avanços possibilitados

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pelos sistemas de informação, não dispõe de uma base de dados nacional que sirva de

referência para os trabalhos de auditoria utilizada em todas as unidades da federação,

veremos no decorrer deste trabalho que os métodos e procedimentos adotados nas

Auditorias de Obras Públicas nos diversos estados do Brasil vão desde estados que

contam com sistemas de controle “on-line” da execução dos contratos das obras

públicas até estados que sequer tenham setores de engenharia estruturados dentro de

seus quadros técnicos, o que impossibilita o exercício de qualquer tipo de controle

relativo às Auditorias dos contratos de obras públicas.

O quadro 3.2 mostra os anos de criação dos diversos Tribunais de Contas nas

diversas unidades da federação.

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TRIBUNAL DE CONTAS ANO DE CRIAÇÃO

Tribunal de Contas da União 1891 Tribunal de Contas do Piauí 1899 Tribunal de Contas da Bahia 1915 Tribunal de Contas de São Paulo 1923 Tribunal de Contas do Ceará 1935 Tribunal de Contas de Minas Gerais 1935 Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul 1935

Tribunal de Contas do Rio de Janeiro 1936 Tribunal de Contas do Maranhão 1946 Tribunal de Contas de Goiás 1947 Tribunal de Contas do Alagoas 1947 Tribunal de Contas do Mato Grosso 1947 Tribunal de Contas do Pará 1947 Tribunal de Contas de Santa Catarina 1947 Tribunal de Contas do Paraná 1947 Tribunal de Contas do Amazonas 1950 Tribunal de Contas do Espírito Santo 1957 Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte 1961

Tribunal de Contas de Pernambuco 1967 Tribunal de Contas do Sergipe 1969 Tribunal de Contas da Paraíba 1970 Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul 1980

Tribunal de Contas do Acre 1987 Tribunal de Contas de Tocantins 1989 Tribunal de Contas do Amapá 1991 Tribunal de Contas de Roraima 1991

Quadro 3.2 – Anos em que foram instituídos os Tribunais de Contas estaduais no Brasil Fonte: elaboração própria

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III. 3 – O Tribunal de Contas de 1930 a 1945

No período compreendido entre a Revolução de 1930 e a ditadura imposta ao

país em 1937, com o denominado Estado Novo e a outorga de nova Constituição, que

vigoraria até 1945, o Tribunal de Contas perdeu importantes atribuições, sofrendo

pesados golpes e profunda mutilação no exercício de suas competências em

decorrência da discricionariedade conferida ao chefe do Executivo pelos decretos

editados, a começar pelo antes mencionado que, ao instituir o Governo Provisório,

dispôs que o mesmo iria exercer “em toda a sua plenitude, as funções e atribuições, não

só do Poder Executivo como também do Poder Legislativo” (SILVA, 1998).

O Tribunal de Contas perdeu força, juntamente com o Congresso Nacional,

fechado por Getúlio Vargas. Em mensagem lida ao povo brasileiro, assim se referiu o

presidente ao Poder Legislativo:

“A manutenção desse aparelho inadequado e dispendioso

era de todo desaconselhável. Conservá-lo seria

evidentemente obra de espírito acomodatício e displicente,

mais interessado pelas acomodações da clientela política do

que pelo sentimento das responsabilidades assumidas”.

Até nos dias atuais alguns políticos advogam a teoria de que os Organismos de

Controle são órgãos dispendiosos e sem finalidade, contrariando uma tendência mundial

de valorização destas instituições.

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III. 4 – O Tribunal de Contas no período da Constituição de 1946

A Constituição de 1946 exerceu papel fundamental no fortalecimento da

atuação dos Tribunais de Contas em suas competências que teve ampliada a sua área

de atuação, funcionou como forte elo na corrente de redemocratização do país, aliado

ao reforço das instituições e da garantia das liberdades individuais.

Essa nova fase, um verdadeiro renascimento do Tribunal, viria a perdurar até

1964, quando o país mergulhou novamente na ditadura, desta vez imposta pelo regime

militar.

Relativamente ao controle das contas públicas, um dos últimos atos do governo

João Goulart foi a edição da Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964. Com vigência a

partir de 1º de janeiro de 1964, aquela lei estatuiu as normas gerais de direito financeiro

para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos

municípios e do Distrito Federal.

Ao controle externo, a cargo do Poder Legislativo, cabia a verificação da

probidade da administração, a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos e o

cumprimento da lei de orçamento (SILVA, 1998).

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III. 5 – O Tribunal de Contas e a INTOSAI

A INTOSAI10 (INTERNATIONAL ORGANIZATION OF SUPREME AUDIT

INSTITUTIONS) foi fundada em 1953 inicialmente com 34 países e atualmente conta

com mais de 170 EFS (Entidades Fiscalizadoras Superiores) dos países pertencentes

às Nações Unidas.

A participação brasileira se iniciou no ano de 1953, o Tribunal de Contas

ganhava projeção internacional em seu 60º ano de existência, iniciaram-se os

congressos internacionais de entidades fiscalizadoras superiores, realizados a partir de

então a cada três anos com vistas ao debate das mais relevantes questões envolvendo

as entidades de fiscalização dos diversos países membros, promovendo o intercâmbio

de experiências e técnicas no campo do controle das despesas públicas.

Presente ao primeiro congresso, realizado em Havana, Cuba, em novembro

daquele ano, o Tribunal se fez representar, em complementação à participação nos

congressos da INTOSAI, dez anos mais tarde, em 1963, o Tribunal participaria do 1º

Congresso Latino-americano de entidades fiscalizadoras superiores, realizado em

Caracas, Venezuela. Os congressos latino-americanos, evento sob a responsabilidade

de organização antes denominada ILACIF, hoje OLACEFS – Organização Latino-

americana e do Caribe de Entidades Fiscalizadoras Superiores, associada a INTOSAI,

igualmente realizados de três em três anos, representam importante contribuição em

matéria de fiscalização superior, abordando temas específicos e adequados à realidade

particular da América Latina (SILVA, 1998).

10 A INTOSAI (International Organization of Supreme Audit Instituitions) é uma organização internacional que congrega organismos de controle em todo o mundo com a finalidade de difundir práticas de auditoria.

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62

A cada três anos os países membros se reúnem com o objetivo de compartilhar

experiências, debater questões e aprovar recomendações com o propósito de melhorar

em todo o mundo o exame da prestação de contas dos governos.

Foram criados grupos de trabalho regionais para discutir questões específicas:

- OLACEFS - Organización Latinoamericana y del Caribe de Entidades Fiscalizadoras

Superiores , 1965

- AFROSAI - Organización de Entidades Fiscalizadoras Superiores de Africa, 1976

- ARABOSAI Organización Árabe de las Entidades Fiscalizadoras Superiores, 1976

- ASOSAI Organización de las Entidades Fiscalizadoras Superiores de Asia, 1978

- SPASAI Organización de Entidades Fiscalizadoras Superiores del Pacífico del Sur,

1987

- CAROSAI Organización de las Entidades Fiscalizadoras Superiores del Caribe, 1988

- EUROSAI Organización de las Entidades Fiscalizadoras Superiores de Europa, 1990.

(INTOSAI, 2007)

III. 6 – Os Tribunais de Contas de 1964 até a Constituição de 1967

A Revolução de 31 de março de 1964 trouxe profundas modificações nas

prerrogativas dos Tribunais de Contas do Brasil era de se prever que em um regime em

que as liberdades democráticas estavam cerceadas traria reflexos negativos ao sistema

de controle.

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63

Freitas Cavalcanti divulgou, em 9 de dezembro de 1966 uma nota à imprensa

relativa às reformas que seriam introduzidas pela Constituição de 1967 que seria

prejudicial ao controle exercido pelo Tribunal.

“O processo de fiscalização financeira e orçamentária

preconizado no Projeto, além de desfigurar inteiramente as

instituições de controle das finanças públicas, está longe de

corresponder à própria inspiração regeneradora da

Revolução de março de 1964”.

...

“Perde o Tribunal, por inteiro, o controle dos atos da gestão

financeira, segundo os princípios consagrados no Direito

Constitucional do país, com fundamento na jurisdição

preventiva, na expressão de Rui Barbosa; perde a

competência de julgar a legalidade de contrato, das

aposentadorias, reformas e pensões; perde a atribuição de

acompanhar, passo a passo, a execução orçamentária;

perde a competência de manter controle direto sobre as

contas dos responsáveis por dinheiros e outros bens

públicos, e as dos administradores das entidades

descentralizadas. O Poder Executivo passa, portanto, a

exercer as funções até então deferidas ao órgão de

fiscalização e controle das finanças do Estado, erigindo-se,

de instituição fiscalizada, em instituição fiscalizadora,

através de controle interno”.

Em 24 de janeiro de 1967 o Congresso Nacional promulgou a nova

Constituição, a quinta Carta da República, que viria a entrar em vigor em 15 de março

seguinte, sob o protesto do MDB, que exigia sua revisão.

A Constituição viria a ratificar todos os atos institucionais já baixados,

aumentando o poder do Executivo e reduzindo os poderes e as prerrogativas do próprio

Congresso, que aceitara votá-la. A oposição foi duramente reprimida e marginalizada.

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64

Promulgada a Constituição, antes de entregar o poder a Costa e Silva o

marechal Castelo Branco assinou vários decretos-leis, entre eles: o Decreto-lei nº. 199 e

o Decreto-lei nº. 200 ambos de 25 de fevereiro de 1967. Este último implantou no país a

chamada “Reforma Administrativa”, trazendo profundas modificações na estrutura da

administração federal. O primeiro, de nº. 199 transformou-se na nova lei orgânica do

Tribunal de Contas em face da Constituição de 1967.

Com o advento da nova Carta, instalou-se um novo e mais extenso sistema de

controle no qual a fiscalização financeira e orçamentária da União seria exercida pelo

Congresso Nacional, através de controle externo e do sistema de controle interno do

Poder Executivo, instituído por lei.

O controle externo seria exercido com o auxílio do Tribunal

de Contas da União e compreenderia:

a) A apreciação das contas do presidente da República;

b) O desempenho das funções de auditoria financeira e

orçamentária; e:

c) O julgamento das contas dos administradores e demais

responsáveis por bens e valores públicos.

Por força da nova legislação introduzida o Tribunal de Contas passou por

profunda reorganização, tendo disciplinado vários setores de suas atividades, a exemplo

da coleta e processamento de dados a serem enviados pelos órgãos e entidades da

administração direta e indireta.

Embora atravessasse o Tribunal uma fase de perdas, o estabelecimento da

prerrogativa de realizar inspeções visando melhor instruir o exame das contas deve ser

considerado como um grande avanço em matéria de ampliação das competências da

Corte, posto que o controle deixou de ser exercido em caráter de exame meramente

formal de documentos, passando a contar com a verificação “in loco” (SILVA, 1998).

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65

A figura da inspeção como meio de controle concomitante viria a se revelar uma

ferramenta essencial na implantação das auditorias de resultado, consignada na

Constituição de 1988 como auditorias de natureza operacional (PAINEL - TCU 1998).

III. 7 – A Declaração de INTOSAI em Lima – 1977

No final dos anos 70 vários países passavam por mudanças significativas em

suas estruturas de governo passando para regimes democráticos. Esta nova onda

mundial ficou explicita em um documento publicado no congresso da INTOSAI em Lima

em 1977 no qual os países participantes considerando que a atividade de controle para

ser exercida em sua plenitude necessita ser independente dos sistemas de governo é

natural que com o avanço da democratização surjam entidades de auditoria

independentes em países que tenham passado por um processo de democratização.

As EFS publicaram um documento intitulado Declaração de Lima no qual

estabeleceram normas relativas à atuação dos Organismos de Controle, segundo este

documento:

Todos que propõe sinceramente a necessidade da auditoria governamental não

podem deixar de defender sua independência, que só é possível em uma autêntica

democracia. A auditoria governamental, a independência e a democracia formam uma

unidade indivisível e são requisitos indispensáveis para que as EFS possam exercer

suas tarefas de maneira eficaz. Em conseqüência é natural que com o avanço da

democratização tenham surgido entidades de auditoria independentes em países que

tenham passado por um processo de democratização.

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66

Considerando que a utilização regular e racional dos recursos públicos constitui

uma das condições essenciais para garantir a boa utilização dos recursos públicos e da

eficácia das decisões adotadas pela autoridade competente:

• Que para alcançar este objetivo é indispensável que cada Estado conte

com uma Entidade Fiscalizadora Superior eficaz, e cuja independência

esteja garantida por lei;

• Que a existência desta entidade é cada vez mais necessária à medida

que o estado tem estendido suas atividades a setores socioeconômicos;

• Que os objetivos da fiscalização são a apropriada e eficaz utilização dos

recursos públicos, a busca por uma gestão rigorosa, a regularidade da

ação administrativa e da informação, tanto aos poderes públicos como

ao país, mediante informes objetivos, são necessários para a

estabilidade e desenvolvimento dos Estados, como postulado pelas

Nações Unidas.

Sobre os Contratos de Obras Públicas a Declaração de Lima referiu-se assim:

• Contratos Públicos e Obras Públicas.

1. Os recursos consideráveis que o Estado emprega para contratos públicos e

obras públicas justificam um controle especialmente cuidadoso dos recursos

empregados.

2. A licitação pública é o procedimento mais recomendável para obter a oferta

mais favorável em preço e qualidade. A Entidade Fiscalizadora Superior deve investigar

as razões que levaram a contratação de uma obra pública sem licitação.

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3. No controle das obras públicas, a Entidade Fiscalizadora Superior deve

estabelecer normas apropriadas que regulem a atividade da administração das obras.

4. No controle das obras públicas não só deve ser verificada a regularidade dos

pagamentos, como também a rentabilidade da obra e a qualidade de sua execução.

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III. 8 – A Constituição Federal de 1988 e os Tribunais de Contas

Após o estabelecimento do sistema democrático no Brasil, a Carta Federal de

1988 ampliou e consolidou em seu art. 11 e seguintes, as competências dos Tribunais

de Contas.

Segundo MILESKI, 2003:

“Manteve o sistema de fiscalização assentado na dualidade do controle, mas

ampliou seu universo de abrangência para contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial, com alcance a todos os órgãos da administração direta e

indireta e colocou o Tribunal de Contas como órgão autônomo e independente, fixando-

lhe competência que o elevaram a um estágio de atuação em muito superior ao que era

previsto no Diploma Maior de 1946”.

A Constituição Federal de 1988 em relação aos Tribunais de Contas

acompanhando uma tendência mundial incorporou as linhas gerais do documento

produzido no Congresso da INTOSAI em 1977 e produziu um texto avançado, com

inovações de relevante importância.

Pela Constituição de 1988, o Tribunal de Contas da União teve a sua jurisdição

e competências substancialmente ampliadas. Recebeu poderes para, no auxílio ao

Congresso Nacional, exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,

operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,

quanto à legalidade, legitimidade e economicidade e a fiscalização da aplicação das

subvenções e renúncia de receitas.

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69

Aliou-se à competência de fiscal da legalidade dos gastos públicos a de

avaliador do desempenho operacional dos órgãos e entidades sob sua jurisdição. Desse

modo, a Corte de Contas passava a acompanhar a eficiência da gestão

governamental, além de ver reforçadas suas funções fiscalizadora, judicante e punitiva.

Essa transformação que se processava no Tribunal

acompanhava tendência verificada no mundo inteiro, na

direção cada vez mais determinada a romper as barreiras

do mero exame da legalidade e regularidade dos atos

administrativos, passando a assinalar e a fiscalizar o grau

de eficiência, eficácia e economicidade da gestão (SILVA, 1998).

A partir da Constituição de 1988 o Tribunal de Contas da União e

posteriormente os demais Tribunais de Contas Estaduais passaram a estruturar seus

quadros funcionais para fazer verificações visando examinar a relação custo/beneficio

da aplicação dos recursos públicos.

Como os recursos públicos aplicados na execução de obras são significativos

os Tribunais de Contas (TCs) passaram a dar importância às “Auditorias de Obras

Públicas” e a partir daí os TCs do Brasil procuraram estruturar seus quadros funcionais

com profissionais habilitados para estas tarefas.

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CAPÍTULO IV – O TRIBUNAL DE CONTAS do ES e as AUDITORIAS OPERACIONAIS

O Tribunal de Contas do Estado do ES (TCE-ES) foi criado pela lei 1287 de

24 de setembro de 1957, e seus trabalhos foram instalados em 07 de junho de 1958.

De acordo com a Lei Complementar nº. 32 de 14/01/1993 – Diário Oficial do

Estado de 19/01/1993, no que se refere à natureza e competência, que o Tribunal de

Contas do Espírito Santo é órgão de controle externo do Estado e dos Municípios, ao

qual, compete:

A - exercer a fiscalização, contábil, financeira, orçamentária, operacional e

patrimonial do Estado, dos Municípios e das entidades da administração direta e indireta

dos poderes constituídos, da aplicação das subvenções e renúncias de receitas , quanto

aos aspectos da legalidade, legitimidade e economicidade;

B - Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por

dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta do Estado e dos

Municípios incluídas as fundações e sociedades por eles instituídas e mantidas, bem

como as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de

que resulte prejuízo ao erário,

O Tribunal de Contas do Estado tem jurisdição própria e privativa em todo o

território estadual, sobre as pessoas e matérias relativas à utilização dos recursos

públicos.

A fiscalização a cargo do Tribunal de Contas tem como objetivo a verificação

da legalidade, legitimidade e economicidade de todos os atos da administração pública de

que resultem receita, despesa ou qualquer alteração patrimonial, com vistas a assegurar

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71

a eficácia do controle que lhe compete e a instruir o julgamento das contas, bem como

prestará à Assembléia Legislativa e às Câmaras Municipais o auxílio que solicitarem para

desempenho do controle externo a seu cargo.

A fiscalização consiste no acompanhamento, exame e avaliação dos atos de

natureza orçamentária, financeira, patrimonial, contábil, operacional da Administração

Pública, sob a luz da legalidade, legitimidade e economicidade.

Para assegurar a eficácia do controle e instruir o julgamento das contas, o

Tribunal de Contas efetuará a fiscalização dos atos e contratos de que resultem receita ou

despesa praticada pelos responsáveis sujeitos à sua jurisdição.

De acordo com a Resolução TC nº. 182 de 12 de dezembro de 2002, de

23/12/2002:

“A fiscalização a cargo do Tribunal, mediante a realização de auditorias de

natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, tem por objetivo

verificar a legalidade, legitimidade, moralidade, economicidade, impessoalidade,

publicidade, eficácia e eficiência da gestão”.

O Tribunal, também verificará, por meio das auditorias, a eficiência e a eficácia

do sistema de controle interno mantido pelos órgãos e pelas entidades das

administrações estadual e municipal.

As auditorias realizadas pelo TCES objetivam verificar se os princípios básicos

da Administração Pública estão sendo observados pelos gestores públicos.

As auditorias desenvolvidas pelo TCES são do tipo:

- Ordinárias

- Especiais.

- Extraordinárias.

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72

As Auditorias Ordinárias serão realizadas de forma rotineira, segundo

programação estabelecida no Plano Anual de Auditoria.

As Auditorias Especiais, realizadas independentemente de programação

visando suprir omissões, falhas ou esclarecer aspectos atinentes a atos, documentos ou

processos.

As Auditorias Extraordinárias realizadas para fins específicos, cuja relevância

ou gravidade exijam exame urgente, serão determinadas pelo plenário.

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73

IV. 1 – Da Auditoria Operacional

As Auditorias Operacionais surgiram à medida que novos paradigmas

administrativos foram incorporados nas gestões públicas em todo o mundo, o Brasil tem

acompanhado esta tendência embora muito ainda há o que se fazer até que sua cultura

seja completamente implementada em nossos órgãos de controle.

Pela sua disseminação ainda muito recente, ainda não permitiu uma

consolidação do conhecimento profissional semelhante àquele disponível para a auditoria

estritamente contábil (TCU, 1998).

A auditoria de natureza operacional consiste na avaliação sistemática dos

programas, projetos, atividades e sistemas governamentais.

O objetivo da auditoria de desempenho operacional é examinar a ação

governamental quanto aos aspectos da economicidade, eficiência e eficácia, enquanto a

avaliação do programa busca examinar a efetividade dos programas e projetos

governamentais.

O termo “Auditoria Operacional” originou-se no VII Congresso Internacional de

Entidades Fiscalizadoras Superiores (INTOSAI), realizado em 1971 e, desde então,

diversos países, como o Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Suécia, entre

outros, adotam-no como Instrumento de controle. Na América Latina, foi introduzido pela

Organização Latino Americana e do Caribe das Instituições Superiores de Auditoria

(OLACEFS) (SOUZA, 1988).

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74

Segundo a INTOSAI, 1977 a tarefa tradicional das Entidades Fiscalizadoras

Superiores é o controle da legalidade e regularidade das operações. A este tipo de

controle que segue mantendo sua importância e transcendência se une um controle

orientado para a rentabilidade, utilidade, economicidade e eficiência das operações

estatais, que não só abarca a cada operação como também a atividade total da

administração, incluindo sua organização e os sistemas administrativos.

Os objetivos do controle das Entidades Fiscalizadoras Superiores, legalidade,

regularidade, rentabilidade, utilidade e racionalidade das operações, têm basicamente a

mesma importância, não obstante, a Entidade Fiscalizadora Superior tem a faculdade de

determinar, em cada caso concreto, qual destes aspectos deve dar-se prioridade.

A partir da concepção da Administração Pública Gerencial repercutiram na

forma de atuação dos organismos de controle. EFS de diversos países, organizadas tanto

sob a forma de controladoria como de Tribunal de Contas, passaram a priorizar o controle

de desempenho e, se não deixando de lado, pelo menos relativizando a importância do

controle formal, voltado para a legalidade e para os demonstrativos financeiros (TCU,

1999).

Para o exercício do controle de desempenho, as EFS passaram a desenvolver

uma nova modalidade de auditoria, que ficaria conhecida, entre outros rótulos, como

auditoria operacional ou auditoria de desempenho7. Consulta realizada em 1995 pela

Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que

dos treze países-membros que encaminharam respostas, doze realizavam tipos de

revisão governamental que poderiam ser classificados como auditoria de desempenho:

Austrália, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia,

Noruega, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos (BARZELAY, 2002).

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75

No Government Accountability Office8 (GAO), EFS norte-americana, cerca de

85% da força de trabalho de auditoria passou a ser usada em auditorias operacionais

(TCU, 1999).

A tendência de desenvolvimento das auditorias de desempenho decorre não

apenas das mudanças por que tem passado a administração pública, mas, também, da

necessidade verificada pelas próprias EFS de dar respostas em maior sintonia com as

aspirações da sociedade, relacionadas ao controle dos gastos e da qualidade dos

serviços públicos. Segundo identificou a pesquisa, isso tem se revelado mais facilmente

alcançável com as auditorias de desempenho, através das quais as principais EFS

mundiais vêm marcando sua presença nos parlamentos e na sociedade e mostrando que

têm uma contribuição a oferecer para assegurar o bom uso dos recursos públicos e

melhorar a Administração (TCU, 1999).

IV. 2 – Definições

Várias são as definições adotadas para o termo Auditoria Operacional segundo

diversos autores procuremos reproduzir algumas delas de forma que possamos utilizar

seus conceitos no estudo das Auditorias de Obras Públicas.

Dentre os variados rótulos disponíveis, pode-se enumerar: auditoria

operacional, auditoria de desempenho (performance audit), auditoria de valor pelo

dinheiro (value-for-Money audit), auditoria administrativa, auditoria de gestão, auditoria de

rendimento e auditoria de resultados (FREITAS, 1999).

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76

Ao editar, em 2004, normas específicas para tratar dessa modalidade

auditorial, a Organização Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores (INTOSAI)

adotou a expressão “performance auditing”, normalmente traduzida para o português

como Auditoria de Desempenho.

Esse foi o termo escolhido pelo TCU ao editar, em 1998, o seu Manual de

Auditoria de Desempenho (TCU, 1998). O vigente Manual de Auditoria de Natureza

Operacional, aprovado em 2000.

No Brasil, o TCU divide a sua denominada Auditoria de Natureza Operacional

em duas modalidades: a Auditoria de Desempenho Operacional, que objetiva examinar a

ação governamental quanto aos aspectos da economicidade, eficiência e eficácia; e a

avaliação de programa, que busca examinar a efetividade dos programas e projetos

governamentais (TCU, 2000).

A definição recentemente cunhada pela INTOSAI, 2004 nas suas Diretrizes

para Aplicação de Normas de Auditoria Operacional, divulgadas simultaneamente em

cinco idiomas, resultou desse consenso profissional:

“La auditoría del rendimiento es un examen independiente de

la eficiencia y la eficacia de las actividades, los programas o

los organismos de la Administración pública, prestando la

debida atención a la economía, y con el propósito de llevar a

cabo mejoras.” (INTOSAI, 2004).

A Auditoria Operacional tem por objetivo o levantamento das atividades de

operação de um órgão ou entidade, considerados na sua inteireza, abrangendo o exame

econômico-financeiro num sentido analítico, ao passo que as inspeções se dirigem à

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verificação de fatos ou conjunto de fatos determinados (CONGRESSO DA INTOSAI,

1971).

A Auditoria Operacional ou de Gestão preocupa-se em verificar a economia, a

eficiência e a eficácia, e tem por objetivo determinar:

a) se a Administração desempenhou suas atividades com economia, de acordo

com princípios, práticas e políticas administrativas corretas;

b) se os recursos humanos, financeiros e de qualquer outra natureza são

utilizados com eficiência, incluindo o exame dos sistemas de informação, dos

procedimentos de mensuração e controle do desempenho e as providencias adotadas

pelas entidades auditadas para sanar as deficiências detectadas e;

c) a eficácia do desempenho das entidades auditadas em relação ao alcance

de seus objetivos e avaliar os resultados alcançados em relação àqueles pretendidos

(INTOSAI, 2005).

A Auditoria Operacional visa avaliar o conjunto de operações e indicar

procedimentos que devem ser revistos, objetivando o aperfeiçoamento das atividades

para a consecução da missão institucional, servindo mais à Administração que pretenda

uma radiografia de sua “performance” (NAGEL, 1998).

Segundo o Tribunal de Contas da União, “Auditoria Operacional é o exame

objetivo, sistemático e profissional das operações, identificando e revisando,

profundamente, as áreas consideradas críticas, e realizando com a finalidade de verificá-

las e revisá-las; estabelecer e aumentar o grau de eficiência, eficácia e economia de seu

planejamento, organização e controle interno; informar sobre constatações significativas

resultantes, apresentando comentários, conclusões e recomendações para melhoria; e

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determinar o cumprimento das disposições legais relacionadas às impropriedades

constatadas” (TCU, 2000).

O Governement Audit Office (GAO), dos EUA define “Auditoria Operacional”

como um exame objetivo e sistemático de evidências, com o propósito de fornecer uma

avaliação independente do desempenho de uma organização, programa, atividade ou

função governamental, de maneira a fornecer informações que aperfeiçoem a

responsabilização dos agentes públicos e facilitem a tomada de decisão por parte dos

agentes com responsabilidade de supervisionar ou iniciar ações corretivas.

IV. 3 – Legislação que regulamenta as Auditorias Operacionais.

Apesar da Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 ter sido

promulgada em um regime ditatorial que privilegiou o poder do executivo ela atribuiu ao

Tribunal de Contas competência para realizar inspeções de acordo com o artigo 71 & 3º:

“A auditoria financeira e orçamentária será exercida sobre as

contas das unidades administrativas dos três Poderes da

União, que, para esse fim, deverão remeter demonstrações

contábeis ao Tribunal de Contas, a quem caberá realizar as

inspeções que considerarem necessárias”. (grifo nosso)

A partir daí as auditorias realizadas pelos Tribunais de Contas deixaram de ser

o da mera verificação dos aspectos legais e formais e passaram gradativamente a

examinarem aspectos relacionados às gestões públicas.

A Constituição de 1988 representou um avanço significativo nas instituições

democráticas e conferiu às cortes de contas a atribuição de realizar auditorias de

natureza operacional de acordo com o Art. 71, IV:

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79

Art. 71 - O controle externo, a cargo do Congresso Nacional,

será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União,

ao qual compete:

...

IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados,

do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito,

inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,

orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades

administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e

Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; (grifo

nosso)...

Mais recentemente, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) atribuiu aos

Tribunais de Contas o dever de alertar os Poderes quando da constatação de fatos que

comprometam os custos ou os resultados dos programas governamentais conforme

disposto no art. 59, § 1º, inciso V da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar

nº. 101, de 4 de maio de 2000), reiterando o comando constitucional no sentido da

fiscalização orientada para o desempenho (NUNES, 2005).

As alterações introduzidas na Constituição de 1988 acompanharam uma

tendência mundial das organizações de controle em que cada vez mais se busca verificar

além da legalidade, a eficiência, eficácia e economicidade dos atos administrativos

praticados pelos gestores públicos.

Este novo tipo de auditoria denominou-se chamar de Auditoria Operacional,

conferiu aos Tribunais de Contas a prerrogativa de avaliar aspectos relativos à utilidade,

conveniência e oportunidade dos gastos públicos.

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80

Muitos países atualmente em todo o mundo vêm dando ênfase às auditorias

que visam verificar as “boas práticas de gestão” que são os aspectos relativos à:

eficiência, eficácia e economicidade das ações dos gestores públicos.

O quadro a seguir resume algumas características dos órgãos de controle em

diversos países, segundo Ribeiro, 2002.

Da análise deste quadro observamos que a grande maioria dos paises

desenvolvidos adota as Auditorias Operacionais como prática usual nos trabalhos

realizados pelas suas EFS.

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Quadro 4.1 – Características das diversas Entidades Fiscalizadoras Superiores no mundo.

Fonte: Ribeiro, 2002

Países

Decisão

“colegial ou

Monocrática”

Fiscalização

“à priori”

Fiscalização

“à posteriori” Legalidade

Boa gestão

Auditoria

Operacional

Alemanha Colegial Não Sim Sim Sim

Áustria Colegial Não Sim Sim Sim

Bélgica Colegial Sim Sim Sim Não

Brasil Colegial Sim Sim Sim Não Cabo Verde Colegial Sim Sim Sim Sim

Canadá Singular Não Sim Sim Sim Comunidade

Européia Colegial Não Sim Sim Sim

Dinamarca Singular Não Sim Sim Sim Espanha Colegial Não Sim Sim Sim

EUA Singular Não Sim Sim Sim Finlândia Colegial Não Sim Sim Sim França Colegial Não Sim Sim Sim Grécia Colegial Sim Sim Sim Sim Irlanda Singular Não Sim Sim Sim Israel Singular Não Sim Sim Sim Itália Colegial Sim Sim Sim Sim Japão Colegial Não Sim Sim Sim

Luxemburgo Colegial Sim Sim Sim Não

Paises

Baixos Colegial Não Sim Sim Sim

Portugal Colegial Sim Sim Sim Sim Reino Unido Colegial Não Sim Sim Sim

Suíça Singular Não Sim Sim Sim Cuba Singular Não Sim Sim Sim

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IV. 4 – Os três “Es” da Auditoria Operacional.

Os três “Es” da Auditoria Operacional estão relacionados à eficiência,

eficácia e efetividade das ações realizadas pelos administradores públicos.

"A eficiência está voltada para a melhor maneira,” the best way”, pela qual as

coisas devem ser feitas ou executadas,”métodos”, a fim de que os recursos “pessoas,

máquinas, matérias-primas” sejam aplicados da forma mais racional possível. A

eficiência preocupa-se com os meios, com os métodos e procedimentos mais

indicados que precisam ser devidamente planejados e organizados a fim de assegurar

a otimização da utilização dos recursos disponíveis. A eficiência não se preocupa com

os fins, mas simplesmente com os meios. O alcance dos objetivos visados não entra

na esfera de competência da eficiência; é um assunto ligado à eficácia"

(CHIAVENATO, 1982).

EFICIÊNCIA EFICÁCIA

ENFASE NOS MEIOS ENFASE NOS RESULTADOS

FAZER CORRETAMENTE AS COISAS FAZER AS COISAS CORRETAS

RESOLVER PROBLEMAS ATINGIR OBJETIVOS

SALVARGUARDAR OS RECURSOS OTIMIZAR A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS

CUMPRIR TAREFAS E OBRIGAÇÕES OBTER RESULTADOS

TREINAR OS SUBORDINADOS PROPORCIONAR EFICÁCIA AOS

SUBORDINADOS

Quadro 4.2 – Quadro comparativo entre o significado de Eficiência x Eficácia

Fonte: Chiavenato, 1982.

Segundo BACK, 1991:

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83

Eficiência é o rendimento efetivo sem desperdício desnecessário. A

consecução das metas e outros objetivos constantes de programas de maneira

sistemática, contribuindo para minimizar os custos operacionais, sem diminuir o nível,

qualidade e oportunidade dos serviços a serem oferecidos pela entidade, projeto ou

empresa pública.

Economicidade é a operacionalidade ao mínimo custo possível.

Administração correta dos bens, boa distribuição do tempo, economia de trabalho,

tempo e dinheiro, etc. redução dos gastos num orçamento. Em resumo, é a

administração prática e sistemática das operações de uma entidade, projeto ou

empresa pública, assegurando custos operacionais mínimos ao realizar as funções que

lhe são atribuídas.

Eficácia - Considera-se a administração, plano projeto ou entidade que, na

consecução de seus objetivos, consegue os efeitos desejados, ou seja, atinge as metas

a que se propôs.

Segundo a INTOSAI 2005, A base da Auditoria Operacional está constituída

por determinadas noções:

§ O ponto inicial é a importância de avaliar a economia, a eficiência e a

eficácia de todas as atividades do governo. Para isso, necessita-se de

uma auditoria que examine e avalie essas matérias e que contribua

para a melhoria do gasto público, dos serviços públicos, da prestação

de contas da gestão pública.

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84

§ Em segundo lugar, é importante dispor de informação confiável e

independente. Necessita-se de auditor que represente o interesse

público, que possa pensar e atuar com independência, com objetivo e

apresentar e avaliar a situação existente.

§ Por último, são importantes um resumo geral e perspectivas sobre as

atividades da Administração Pública, e a capacidade de auditoria de

influenciar sobre o desempenho dessa e melhorá-lo. Requer-se um

auditor competente que possa desempenhar esse papel, e que

promova incentivos para aprendizagem e a mudança, e melhores

condições para a tomada de decisões.

Compromisso Input Ação / Output Impacto

Produção (Resultado)

Propósito Recursos Ação Serviços Objetivos

Definido alocados realizada prestados cumpridos

Figura 4.1 – Modelo de utilização de recursos (input/output)

Fonte: INTOSAI, 2005

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85

A eficiência é sinônima de eficácia, ou seja, de algo com qualidade de

produzir bons resultados, que funciona de acordo com o padrão esperado, ou, pelo

menos, aceitável, esclarece, no particular de seu significado científico, peculiar à ciência

da Administração, encontrar-se aquela voltada para o ótimo aproveitamento dos

recursos disponíveis, com abstração da responsabilidade pelo cumprimento de metas

(FILHO, 2002).

SANDULLI, 1984, conceitua que a economicidade impõe à Administração

Pública o dever de empregar um adequado uso dos recursos a sua disposição.

A eficácia exprime a necessidade de que a Administração ponha em

movimento uma ação idônea à obtenção de determinado resultado.

Já a eficiência reclama, com referencia à manifestação do sujeito

administrativo, o balanço entre custos despendidos e as vantagens alcançadas,

cabendo a existência de saldo favorável a estas últimas “balanço custo – benefício”.

Para a professora DI PIETRO (1999) “o princípio da eficiência, acrescentando

no caput do art. 37 da Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº. 19/1998

possui como objetivo assegurar que os serviços públicos sejam prestados com

adequação as necessidades da sociedade que os custeia”, e apresenta dois aspectos

de suma importância: “relativamente à forma de atuação do agente público, onde se

espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, a fim de obter os melhores

resultados; e quanto ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração

Pública, onde se exige que seja o mais racional possível, com o intuito de alcançar os

melhores resultados na prestação dos serviços públicos”.

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86

Segundo o TCU a Auditoria Operacional procura responder as seguintes

questões:

§ Como os órgãos e entidades públicas adquirem, protegem e

utilizam seus recursos?

§ Quais as causas de práticas anti-econômicas e ineficientes?

§ As metas previstas estão sendo cumpridas?

§ Os dispositivos legais aplicáveis aos aspectos da economicidade,

eficiência e eficácia da gestão estão sendo aplicados? (MANUAL DE AUDITORIA

DE NATUREZA OPERACIONAL, TCU).

IV. 5 – Critérios de Auditoria.

A Auditoria Operacional pretende como regra, avaliar (e não só descrever)

múltiplas dimensões da entidade auditada. O primeiro passo para planejar uma auditoria

é, naturalmente, definir cuidadosamente o seu objetivo, especificando que aspecto ou

aspectos da entidade serão examinados. A tradução destes aspectos da realidade em

enunciados, definindo-os qualitativa e/ou quantitativamente em sua estrutura lógica e

em seus valores esperados ou desejáveis, representa a construção de critérios de

auditoria. Critérios são, portanto padrões contra os quais se poderá contrastar a

adequação do desempenho do ente auditado (GAO, 1992) ou, o que é o mesmo,

parâmetros em relação aos quais os achados são medidos para obtenção de uma

opinião sobre o desempenho atingido (NAO, 1993).

“Em sua expressão mais simples, a avaliação reside em confrontar os dados

do processo de transformação da realidade (custos, produtos, resultados), com

parâmetros de julgamento (metas-meio, metas-ação e metas-fim), para daí concluir pela

margem de êxito ou fracasso alcançada, inferir suas causas e realimentar os ciclos

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seqüenciais do processo. Nesses termos, os parâmetros se encontram incorporados no

plano e no orçamento, usualmente engessados em valores nominais de comparação

complexa, expressos em metas físicas indiferentes a qualquer dinâmica situacional.

Convém recorrer a outros parâmetros além desses que se lastreiam no passado, e

submetê-los a outros crivos de apreciação, para conceder, sobretudo, flexibilidade ao

processo” (COSTIN, 1991).

Os critérios de auditoria são fixados como parte indissociável do

planejamento dos trabalhos, ao final do qual devem estar suficientemente precisos e

detalhados para que possam desempenhar os papéis de (TCU, 1998):

a) arcabouço conceitual básico, facilitando a comunicação entre as equipes

auditoras e o ente auditado e permitindo que a metodologia adotada seja conhecida de

forma inequívoca pelo próprio auditado;

b) delimitação da extensão da auditoria, tornando palpáveis seus objetivos e

facilitando que todos aqueles vinculados ao trabalho tenham uma visão clara da

natureza estimada das conclusões;

c) orientação da coleta de dados, indicando como obter evidências

significativas e os métodos a serem empregados para coleta e análise de dados;

d) fixação de parâmetros balizadores das conclusões e recomendações da

auditoria.

A vinculação da construção de critérios à própria essência da Auditoria

Operacional é tal que os critérios são o próprio ponto de partida lógico das conclusões

da auditoria (FERNANDEZ-MOLINA, 1996). Na prática, a existência ou possibilidade de

divergências significativas sobre os critérios empregados, dentro da equipe auditora ou

mesmo com o ente auditado, lança sérias dúvidas quanto à possibilidade de realização

de uma auditoria (NAO, 1993). As constatações que poderá gerar a auditoria

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estruturam-se logicamente da forma “critério-condição-causa-efeito” (GAO, 1992), ou

seja:

a) critério, especificando qualitativa e/ou quantitativamente um aspecto

esperado ou desejável da realidade a ser auditada;

b) condição verificada quanto à situação real da dimensão definida pelo

critério;

c) o resultado (diferença entre o critério fixado e a condição observada);

d) causa provável de eventuais divergências significativas entre critério e

condição, com análise de efeito (nexo de causalidade) entre a causa apontada e a

discrepância observada.

Os critérios podem ser selecionados de várias fontes, de acordo com o juízo

profissional do auditor. Na área pública, pela sua própria natureza, a fonte primária da

fixação de critérios é o ordenamento legal e regulamentar, isoladamente ou em conjunto

com padrões de outra natureza (GAO, 1992).

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89

CAPÍTULO V - AUDITORIAS DE OBRAS PÚBLICAS

Obra pública é considerada toda a construção, reforma,

fabricação, recuperação ou ampliação de bem público,

realizada de forma direta pela administração ou

indiretamente, por intermédio de 3º contratado por meio de

licitação, observada a legislação vigente.

Obra pública é aquela que se destina a atender os

interesses gerais da comunidade, contratada por órgão ou

entidade pública da Administração Direta ou Indireta,

Federal, Estadual ou Municipal, executada sob sua

responsabilidade ou delegada, custeada com recursos

públicos compreendendo a construção, reforma, fabricação,

recuperação ou ampliação de um bem público (TCU, 2002).

V. 1 – Introdução

As Auditorias de Obras Públicas realizadas pelos órgãos de controle externo

no Brasil, Tribunais de Contas (TCs), têm a finalidade de verificar se os recursos

utilizados pelos gestores públicos estão sendo utilizados em benefício da sociedade e

de maneira adequada.

A Auditoria de Obras Públicas atua, validando a forma, procedimentos e

conduta dos responsáveis, indicando em quais etapas ocorreram as falhas e onde os

desvios foram encontrados, de modo a corrigir e orientar os gestores públicos, no

sentido do cumprimento da legislação, visando o bem público.

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90

V. 2 – Auditorias de Obras Públicas no Estado do Espírito Santo (ES)

O Controle Externo dos Contratos de Obras Públicas é executado pelos

Tribunais de Contas da União, dos Estados e em alguns casos pelos Tribunais de

Contas dos Municípios, aos quais cabe avaliar se os recursos aplicados na execução

das obras foram utilizados observando os princípios básicos da Administração Pública.

Nos capítulos anteriores verificamos que somente após a promulgação da

Constituição de 1988 os Tribunais de Contas passaram a verificar aspectos relativos à

economicidade na execução dos contratos e a partir desta data os TCs do Brasil com

maior ou menor intensidade passaram a estruturar seus quadros funcionais com

profissionais ligados à área de engenharia para executar estas tarefas.

A nossa análise estará voltada primordialmente para quatro aspectos

importantes relacionados aos trabalhos de Auditorias de Obras quais sejam:

1- Quais os órgãos da administração sob a jurisdição dos Tribunais de

Contas devem ser alvo das Auditorias em um determinado período?

2- Quando as Auditorias nos contratos de obras públicas devem ser

efetuadas?

3- Como devem ser realizados os trabalhos de Auditorias de Obras?

4- Quais as técnicas mais modernas utilizadas nos Tribunais de Contas do

Brasil podem ser utilizadas nos trabalhos do Tribunal de Contas do

Espírito santo?

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Durante o processo de Auditorias de Obras, as diversas fases da execução

das obras devem fazer parte do plano de auditoria para que sejam verificados

aspectos relativos à:

Figura 5.1 – Aspectos que devem ser observados durante os trabalhos de Auditoria de Obras

Fonte: elaboração própria

1. Conveniência está relacionada à opção do Gestor direcionar os recursos a sua

disposição por determinada alternativa de investimento, e se está prevista nos

planos e programas de governo, inclusive com a previsão de recursos, é

necessário também verificar se foram analisadas alternativas e o critério adotado

para a escolha do objeto contratado. Organismos financiadores de Obras

Públicas Internacionais adotam como pré-requisito para a concessão de seus

OBRAS PÚBLICAS

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AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS

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92

financiamentos a “Análise dos Projetos” utilizando critérios da relação

custo/beneficio, taxa de retorno do investimento entre outras.

Os Tribunais de Contas do Brasil com relação às Auditorias de Obras ainda não

questionam os Gestores Públicos a respeito do direcionamento que é dado à

utilização dos recursos públicos que estão a sua disposição. A questão é

complexa, contudo o direcionamento dos recursos públicos certamente necessita

de um critério estabelecido em estudos que levem em conta a “melhor” relação

entre o custo despendido na consecução de um determinado empreendimento e

os benefícios atingidos.

Entretanto até a presente data os Tribunais de Contas do Brasil ainda não

incluem estes critérios durante suas Auditorias de Obras ficando a cargo dos

Administradores Públicos utilizarem os recursos do erário da forma que melhor

lhes convierem.

Este assunto por si só é deveras interessante, entretanto foge ao escopo deste

trabalho e não será tratado por nós nesta ocasião.

2. O controle da legalidade constitui a principal fonte de aspiração dos legisladores

que criaram os Tribunais de Contas (TCs). Esta forma de controle, em que a

instituição de fiscalização verifica se o responsável pela Administração agiu de

acordo com a lei ou não, foi a primeira tarefa dos TCs. Sob o aspecto da

legalidade, os procedimentos de auditoria visam verificar se foram cumpridas as

formalidades legais, observados os princípios da Administração Pública,

buscando obter a proposta mais vantajosa para a administração. No caso das

Auditorias de Obras a Lei que regulamenta o processo de licitação e contratação

de Obras Públicas é a Lei 8666/93. Nesta etapa são verificados principalmente

os documentos relativos à licitação, e a adequação das propostas dos

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93

concorrentes ao interesse público. Nesta fase cabe ao administrador utilizando a

legislação pertinente, contratar com empresas prestadoras de serviços, obras de

qualidade e preços de mercado. Vários desvios ocorrem nesta fase dos contratos

relacionados com obras, devido principalmente à ineficiência da atuação dos

mecanismos de controle da Administração. A importância do acompanhamento

dos processos licitatórios nos órgãos públicos pode coibir abusos e ilegalidades

nesta fase (TCU, 2000).

Quando os órgãos de controle agem nesta fase dos contratos de obras diz-

se que estão se realizando “Auditorias á Priori” isto é estão se verificando os

procedimentos antes das despesas serem realizadas e neste caso as

irregularidades são sanadas antes de causarem prejuízo ao erário.

Em alguns países os Tribunais de Contas dão grande importância à

Auditoria de Projetos quando é possível verificar todos os condicionantes que

poderão influir nos preços finais dos contratos e analisados os critérios adotados

para a escolha dos projetos.

Esta é uma cultura que ainda não está implementada nas Administrações

Públicas do Brasil onde muitas vezes os contratos de obras são realizados sem

que os projetos estejam completamente definidos o que acarreta quase sempre

em dificuldades e improvisações por ocasião da execução das obras.

A legislação brasileira prevê que para a contratação de uma Obra ou

Serviços de Engenharia deve haver projeto básico e os projetos executivos

poderão ser desenvolvidos por ocasião da execução dos serviços.

3 - O controle do mérito visa apreciar se os atos da Administração Pública

atingiram seus objetivos adequadamente com menor custo para a Administração.

Nos últimos anos os TCs vêm-se libertando do mero controle da legalidade , para

adotar meios de fiscalização mais eficientes , dentre eles os que privilegiam as

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auditorias visando verificar a relação existente entre o serviço ou obra realizada e

o seu custo11. Quanto ao aspecto da economicidade, a verificação de que os

preços praticados pelas prestadoras de serviço estão adequados e atendem as

especificações fornecidas pelos órgãos licitantes. A elaboração do Projeto

Básico, especificações técnicas, manual de procedimentos de execução

detalhados, planilha de quantitativos e preços, baseados em índices apropriados.

Na fase de licitação da obra é fundamental para que se obtenham valores

adequados para a contratação das obras. As auditorias possibilitam verificar se

estes requisitos foram cumpridos por ocasião do processo licitatório, e indicar as

formas da consecução destes objetivos.

Durante a execução do contrato da obra, a Auditoria verifica se os valores

efetivamente pagos estão consubstanciados em serviços executados de acordo

com as medições efetuadas pela fiscalização do órgão gestor do contrato,

conforme cronograma físico e financeiro da obra. Quando os valores pagos são

11 Para Citadini (1995):

“O permanente alargamento dos serviços e de ação do Estado na economia acabou trazendo aos Tribunais de Contas a necessidade de buscar formas de controle dos atos da Administração que ultrapassem o mero controle formal dos atos do governante. Envolvendo-se cada vez mais em atividades complexas no mundo dos negócios, o Estado levou os Tribunais a objetivarem novas formas de Controle da execução das leis orçamentárias, procurando apreciar não apenas a legalidade do ato da Administração, mas também seu resultado econômico”.

Ponde (1998):

“O controle pode ser preventivo ou repressivo, de legalidade ou de mérito, sobre atividade material ou ato jurídico. O controle é preventivo quando antecede a emissão do ato controlado ou os efeitos deste, é repressivo quando incide sobre um ato já executado ou em execução. No controle da legalidade, o ato controlado é aferido por uma norma legal, no controle do mérito, por sua conveniência, oportunidade, ou critérios de ordem técnica. Diz-se externo o controle quando o órgão que o exerce é externo, em relação ao poder a que pertence à autoridade que emite o ato controlado”.

No controle da legalidade, o ato controlado é aferido por uma norma legal, no controle do mérito, por sua conveniência, oportunidade, ou critérios de ordem técnica. Diz-se externo o controle quando o órgão que o exerce é externo, em relação ao poder a que pertence à autoridade que emite o ato controlado ““.

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95

superiores aos valores efetivamente realizados obtidos pela multiplicação dos

quantitativos executados pelos preços contratados chamamos de “Pagamentos

Indevidos”

Quanto aos preços: a Auditoria verifica se os preços contratados são compatíveis

com os valores praticados no mercado. Aos serviços contratados com valores

acima do mercado convencionou-se chamar de “Superfaturamento de Preços”.

4. Quanto à qualidade são observados se os serviços executados obedecem as

especificações do contrato e as demais prescrições da ABNT (Associação

Brasileira de Normas Técnicas), os laudos técnicos dos ensaios laboratoriais

relativos aos materiais empregados.

A maioria dos Tribunais de Contas do Brasil até a presente data não dispõe de

procedimentos formalizados para executarem Auditorias de Qualidade nos

contrato de Obras Públicas.

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Segundo a ASOSAI durante os trabalhos de Auditoria o processo de analisar

evidências, desenvolver resultados e apresentar recomendações para solucionar as

deficiências nas áreas examinadas é resumido no seguinte diagrama:

Figura 5.2 - O Processo de Auditoria

Fonte: ASOSAI

As Auditorias de Obras Públicas são realizadas com a finalidade de verificar

se a seqüência lógica para a execução de obras está sendo observada pelos gestores

Critérios de auditoria (o que deveria ser)

Evidencias de Auditoria (o que é)

Resultado da auditoria (o que é comparado com o que deveria ser)

Determinar as causas e os efeitos do resultado

Desenvolver as conclusões e recomendações da auditoria

Estimar os prováveis efeitos das recomendações, sempre que possível

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públicos desde o momento em que se optou por determinado empreendimento,

passando pela fase da elaboração dos projetos, licitação, contratação, execução da

obra até a entrega definitiva dos serviços.

Durante estas fases os Auditores incumbidos de realizarem os trabalhos de

Auditoria verificam se as medidas adotadas durante a execução dos contratos são

adequadas para cada tipo de situação, ou melhor, se as providencias que foram

tomadas pelos gestores se refletem como medidas que visaram à boa utilização do

dinheiro público.

§ Seqüência dos trabalhos realizados durante as Auditorias de Obras Públicas:

A.

Durante o procedimento de Auditoria de Obras é necessário inicialmente que

se estabeleçam parâmetros que sirvam de comparativos para que se possa estabelecer

uma relação entre a situação dos preços e quantitativos existente em determinado

contrato para execução de uma Obra Pública e a situação que se esperava isto é os

quantitativos e preços que deveria ser esperado para cada tipo de obra.

Na indústria da Construção Civil já há algum tempo existem tabelas que

estabelecem para cada tipo de obra as composições de custos e planilha de preços

para Obras e Serviços de engenharia, e várias instituições no país elaboram uma

pesquisa de preços mensais dos materiais usados na execução de obras e as

composições de custos unitários para cada tipo de serviço.

O Tribunal de Contas do ES utiliza como parâmetros comparativos durante os

trabalhos de Auditoria de Obras as tabelas de preços e composições de custo

fornecidas pelo ITUFES (Instituto Tecnológico da Universidade Federal do ES), do

DERTES atual IOPES (Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo) e da EMOP

Critérios de auditoria (o que deveria ser)

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(Empresa de Obras Públicas) para que sejam comparados os valores contratados pelas

administrações públicas com os preços obtidos no mercado.

B - Por ocasião das auditorias são realizados os levantamentos dos quantitativos

dos projetos e nas inspeções “in loco” se verificam se os serviços que foram contratados

correspondem aos projetos e ao quantitativo de serviços executados é feito um

“levantamento físico da obra”.

§ É feita a confrontação entre as inspeções e levantamentos e os serviços

efetivamente realizados – Relatório de Engenharia

C -

A partir da confrontação do que é com o que deveria ser é elaborado o

Relatório de Auditoria onde é apresentada uma planilha comparativa das diferenças de

preços e/ou quantitativos entre os serviços contratados, os serviços executados e os

serviços pagos.

Deste resultado o Tribunal de Contas solicita ao agente responsável pela

execução do contrato que apresente suas justificativas para as discrepâncias porventura

existentes.

§ No Relatório de Engenharia conclui-se a respeito da regularidade do contrato e

são feitas as recomendações aos gestores públicos.

Evidencias de Auditoria (o que é)

Resultado da auditoria (o que é comparado com o que deveria ser)

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99

D -

Na elaboração do Relatório de Auditoria pelo Tribunal de Contas a partir dos

resultados obtidos durante a análise dos documentos relativos à execução do contrato e

das inspeções “in loco” conclui-se pela regularidade da execução, pela regularidade com

ressalvas isto é quando no contrato ocorreram erros formais, mas que não causaram

prejuízo ao erário ou pela irregularidade, quando os erros encontrados por ocasião da

Auditoria de Obras acarretou ou poderá acarretar prejuízo ao erário seja por

superfaturamento de preços (preços contratados e pagos acima dos valores de

mercado) ou por pagamentos indevidos (serviços pagos e não executados, serviços

pagos de má qualidade ou de qualidade inferior aos contratados ou serviços pagos

acima dos valores executados).

Nestes casos o Relatório de auditoria aponta as irregularidades encontradas

e recomenda as medidas de modo que as irregularidades sejam sanadas ou mesmo de

que elas não se repitam.

§ Relacionam-se os efeitos das medidas sugeridas no relatório

E -

Nas recomendações enviadas aos gestores públicos a partir da elaboração

do relatório de Auditoria de Obras sempre que possível é enviada ao gestor público uma

relação com as providencias a serem tomadas de modo que as irregularidades

Desenvolver as conclusões e recomendações da auditoria

Estimar os prováveis efeitos das recomendações, sempre que possível

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100

encontradas não se repitam e as conseqüências que cada medida terá na gestão dos

contratos.

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101

CAPÍTULO VI - PROPOSTA DE UM MODELO CONCE ITUAL

TEÓRICO PARA AUDITORIAS DE OBRAS PÚBLICAS NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO

Neste capitulo estudaremos quatro tópicos principais no campo das Auditorias

de Obras Públicas que serão a base do modelo que se pretende propor:

1. Seleção de Contratos

2.

3. Figura 6.1 – Mostra quatro pontos importantes durante a realização das Auditorias de Obras Públicas

Fonte; elaboração própria

1 - Quais contratos auditar? – A questão da Seleção dos Contratos

2 - Quando auditar? – Auditoria à priori, concomitante ou à posteriori

3 - O que verificar nas Auditorias? – Métodos e Procedimentos

4 - Melhores práticas para Auditoria – Ferramentas de Auditoria

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Torna-se necessário estabelecer critérios que devem ser observados durante

as Auditorias de Obras Públicas baseados em experiências adotadas em vários

Tribunais de Contas do Brasil desse modo pode-se identificar as ações que conduzam à

consecução dos objetivos propostos.

VI. 1 – Critério para Seleção dos Contratos

Em todo o país os órgãos de controle vêm sendo sistematicamente acusados

de não coibir os abusos cometidos pelos gestores públicos e direcionar seus trabalhos

para determinadas administrações de acordo com o seu livre arbítrio de modo a permitir

que os gestores públicos de órgãos que mantém “boas relações” com os TCs não

fiquem sujeitos às suas Auditorias.

Os trabalhos de auditorias de obras não podem ser efetuados em todos os

contratos, desta forma é necessário que se estabeleça um critério para a seleção das

obras a serem examinadas e este deverá priorizar os contratos mais susceptíveis a

apresentarem desvios e onde as possíveis irregularidades possam acarretar maiores

prejuízos ao erário.

Os recursos utilizados nas Auditorias são escassos e a maneira como vamos

utilizá-los da melhor forma para atingir determinados objetivos é a questão que

propomos responder.

Nos dias de hoje a utilização dos recursos disponíveis de maneira otimizada é a

busca constante das administrações em todo o mundo.

Tipicamente isto envolve determinar como alocar recursos em determinada

ação para maximizar os resultados e diminuir os custos.

Programação Matemática (PM) é a ferramenta da ciência da administração

utilizada para encontrar a maneira ótima e mais eficiente para atingir determinado

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objetivo utilizando recursos limitados, esta programação matemática que estamos nos

referindo é a Otimização.

Os trabalhos executados pelos Tribunais de Contas envolvem serviços de

Auditorias que são realizadas nos diversos órgãos da Administração Pública que estão

sob sua jurisdição.

Pretendemos neste item do trabalho discutir o seguinte questionamento:

§ Quais jurisdicionados deverão ser auditados em determinado período?

§ Quanto tempo deverá ser gasto em cada jurisdicionado de maneira que os

recursos disponíveis nos Tribunais de Contas sejam utilizados da melhor forma a

obtenhamos o máximo resultado nas auditorias realizadas? Pretendemos sugerir

um método de seleção de contratos que otimize os recursos disponíveis.

§ Propomos estabelecer uma metodologia para a Seleção dos

jurisdicionados/Contratos de Obras Públicas que serão alvo das Auditorias pelos

TCs utilizando a “Matriz de Risco12” e o aplicativo “Solver” do programa EXCEL.

A utilização da Matriz de risco já é utilizada em alguns casos para seleção

de amostras para Auditorias Contábeis, estaremos utilizando seus conceitos e aplicando

à Seleção das Amostras de Obras e Serviços de Engenharia e inserindo os conceitos

relativos à Programação Linear.

VI. 2 – Justificativa para a Seleção dos Jurisdicionados no estado do

Espírito Santo

12 Matriz de risco – relaciona os fatores capazes de gerar erros ou desvios durante a execução dos contratos de obras públicas e atribui peso a cada fator denominado “fator de risco”.

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104

Elaboramos uma pesquisa no Tribunal de Contas do Espírito Santo nos

trabalhos de Auditoria de Obras realizados desde 2002 até 2006 a qual passaremos a

transcrever a seguir:

No Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCE ES) os setores responsáveis pela

realização das Auditorias são as Controladorias Técnicas que realizam tradicionalmente

as Auditorias de legalidade.

A partir do ano de 2004 o TC ES passou a estruturar seu quadro funcional com

Engenheiros para que pudessem ser incrementados os trabalhos relativos às Auditorias

de Engenharia, e a partir deste ano foi criada a Controladoria Técnica de Engenharia

chamada de 9ª CT, que seria responsável pela execução das Auditorias nos contratos

de engenharia do estado do Espírito Santo.

No ano de 2007 o Tribunal de Contas do ES teve sob a sua jurisdição 247

órgãos públicos entre empresas públicas, sociedades de economia mista e órgãos da

administração direta como prefeituras e secretarias.

Tradicionalmente a maioria dos trabalhos de Auditoria realizados pelo Tribunal

de Contas do ES é relativa às Auditorias “a Posteriori”, isto é Auditorias realizadas para

examinar a regularidade das ações realizadas pelos gestores públicos no ano anterior

ao que esta sendo feita a Auditoria.

Desta forma as Auditorias realizadas no ano de 2005 quando a Controladoria de

Engenharia passou a fazer o planejamento de seus trabalhos, se referem aos contratos

realizados no ano de 2004.

Verificamos de acordo com os quadros a seguir um aumento significativo do

numero de Auditorias de Obras realizadas a partir do ano de 2004.

Tabela 6.1

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Evolução do numero de Jurisdicionados Auditados de Obras de 2002 a 2006.

Ano Jurisdicionados auditados

2002 7

2003 9

2004 33

2005 20

2006 * 7

* as auditorias de 2006 estão sendo realizadas no ano de 2007 e não estão concluídas, estima-se que sejam auditados aprox. 25 jurisdicionados.

Fonte: elaboração própria

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106

Tabela 6.2

Quantidade de contratos auditados entre os anos de 2002 e 2006.

Ano Contratos auditados

2002 28

2003 14

2004 128

2005 127

2006* 18

Da análise dos jurisdicionados que tiveram Contratos de Obras Auditados pelos

Tribunais de Contas do ES verificamos que:

§ 21 jurisdicionados tiveram seus contratos auditados 1 x

§ 17 jurisdicionados tiveram seus contratos Auditados por 2 x

§ 4 jurisdicionados por 3 x

§ 1 jurisdicionado por 4 x

§ 1 jurisdicionado por 5 x

Consideramos para o nosso estudo que no ano de 2007 existiam 169 órgãos da

Administração Pública que poderiam estar executando contratos relativos à execução de

obras e serviços de engenharia.

Entre os anos de 2002 a 2006 o Tribunal de Contas do ES auditou contratos de

44 jurisdicionados o que equivale a aproximadamente 27% do total dos jurisdicionados

do Estado.

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Caso se confirme a tendência de que serão auditados a partir de 2005 em torno

de 25 (vinte e cinco) jurisdicionados por ano serão necessários em torno de 6 (seis)

anos para que todos os jurisdicionados do estado sejam incluídos na amostra da

auditoria.

Esta situação não é a mais adequada uma vez que alguns jurisdicionados pelo

volume de recursos envolvidos ou por outras razões que veremos a seguir poderão

necessitar de um acompanhamento mais rigoroso.

Daí surge a necessidade de se estabelecer critérios para a seleção dos

contratos de obras que serão alvo das Auditorias em cada exercício.

Estaremos em nosso estudo nos referindo às Auditorias Ordinárias, isto é

àquelas que são planejadas para serem executadas durante cada ano, as Auditorias

Ordinárias e Extraordinárias não fizeram parte deste estudo, entretanto o mesmo

tratamento que estaremos dando às ordinárias poderia ser dado a estas.

VI. 3 – Metodologia para a Seleção de Contratos

Considerações iniciais:

Estaremos apresentando a solução do problema para uma situação hipotética,

uma vez que o TC ES ainda não dispõe de um banco de dados com as informações

relativas aos contratos de obras do Estado necessárias para a resolução da questão.

Utilizaremos conceitos relativos aos Riscos em Auditorias e programação linear,

com o objetivo de, utilizando recursos disponíveis nos Tribunais de Contas

(homens/hora), utilizá-los nas Auditorias em contratos que tenham a maior probabilidade

de apresentarem irregularidades.

Desta maneira estaremos formulando e resolvendo o problema teoricamente.

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No tópico “Melhores Práticas de Auditoria – Ferramentas de Auditoria”

estaremos apresentando um sistema informatizado que está sendo utilizado em alguns

TCs do Brasil e, que uma vez implementado será capaz de fornecer os dados

necessários para a resolução do problema da Seleção de Contratos.

VI. 4 – Matriz de Risco em Auditoria de Obras Matriz de risco

A matriz de risco constitui-se de um conjunto de variáveis que representam as

situações de risco passiveis de mensuração nos jurisdicionados. Cada variável, por sua

vez, apresenta um elenco de pontuação correspondente ao status encontrado na

auditada, sendo essa pontuação tanto maior quanto for o risco envolvido.

O risco apontado pela referida Matriz representa o potencial de perda oriundo

da probabilidade da ocorrência de erro, irregularidade, ineficiência, ineficácia, gestão

antieconômica, ilegalidade, materialidade significativos no contexto em que a matriz é

utilizada.

Obviamente, não é possível estabelecer uma equação matemática sem a

influência de quesitos sujeitos a certo grau de subjetividade, porém a referida matriz se

afasta do empirismo.

Segundo o Instituto de Auditores Internos do Brasil (Procedimentos de Auditoria

Interna – Organização Básica. Pag. 175)

1. Materialidade entende-se pela importância relativa, em termos de

valores e cifras, que um bem, operação ou fato tem num determinado contexto.

Em princípio, quanto maiores forem os valores envolvidos (materialidade) maior

deverá ser a atenção do auditor, posto que qualquer problema existente e não

identificado poderá influir significativamente e acarretar grandes prejuízos ao erário.

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2. Relevância entende-se a importância relativa da informação em

termos de sua representatividade, independentemente de valor, que um bem,

operação ou fato possa ter num determinado contexto abrangido pela auditoria.

Segundo o OAG – Office of the Auditor General of Canadá, relevância, tal como

importância relativa, é definida em relação à probabilidade de um assunto influenciar

nos julgamentos ou decisões de um usuário de um relatório de auditoria.

Para a INTOSAI, em termos gerais, uma questão pode ser considerada

relevante quando seu conhecimento puder influenciar os usuários das demonstrações

financeiras ou do relatório de auditoria de otimização de recursos. A relevância é

normalmente estimada em termos de valores monetários , mas a natureza ou

características de um item ou grupo de itens também podem tornar um assunto

significativo. Além de haver a possibilidade de determinado assunto ser relevante em

função de seu valor e natureza, ele também pode sê-lo em função de seu contexto.

Para os contratos de obras públicas alguns tipos de obras pelas suas

peculiaridades de execução e medições apresentam maiores possibilidades de

ocorrerem desvios e fraudes em sua execução.

3. Risco de Auditoria compreende três vertentes, que devem ser

avaliadas individualmente, em um primeiro momento, e em conjunto,

posteriormente, para assim ser concebido em sua totalidade.

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• Risco Inerente ou implícito é a percepção da possibilidade

de ocorrência de erros ou irregularidades relevantes mesmo antes de se

conhecer e avaliar a eficácia do sistema de controle da empresa. (José

Hernandez Perez Junior – Auditoria de demonstrações Contábeis).

• Risco de Controle é o risco de não haver um bom sistema

de controles internos que previna ou detecte em tempo hábil erros ou

irregularidades relevantes.

• Risco de detecção é o risco de não descobrirmos eventuais

erros ou irregularidades relevantes.

Nestas condições o risco de Auditoria consiste no resultado da seguinte

equação: RA = RI*RC*RD

A avaliação de riscos é procedimento contínuo, devendo ser efetuado a cada

fase do processo de auditoria. Por conseguinte pode-se afirmar que existirão tantas

analises de riscos quantos forem os procedimentos levados a efeito.

Em nosso modelo simplificado para a elaboração da Matriz de Risco levaremos

em consideração as seguintes características dos contratos das obras públicas

realizadas pelos jurisdicionados:

• Valor relativo dos contratos

• Histórico das irregularidades encontradas em Auditorias passadas

• Existência ou não de controle interno no órgão

Evidentemente inúmeros outros fatores relevantes poderiam ser levados em

consideração para elaboração da Matriz de Risco que servirá como parâmetro de

entrada para a resolução do problema da Seleção dos Jurisdicionados que serão alvo

das Auditorias, contudo um dos objetivos principais deste trabalho é introduzir a

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111

ferramenta da Programação Linear aplicada ao estudo das Auditorias de Obras,

devendo cada Tribunal de Contas de acordo com suas peculiaridades elencar as

variáveis que julgar mais importantes para definição da Matriz de Risco.

VI. 5 – Fundamentos da Metodologia a ser utilizada na resolução do problema

A partir do Banco de Dados que contenha todos os contratos de Obras Públicas

realizados no período em que se proponha a Auditar, e dos riscos associados a cada

jurisdicionado, elaborar-se-á uma Matriz de Risco em que cada jurisdicionado, levado

em consideração fatores que contribuem significativamente para a possibilidade de

ocorrerem desvios e fraudes nas gestões de seus respectivos empreendimentos, será

pontuado com um valor que representa sua maior ou menor probabilidade de ocorrência

de desvios durante a execução de seus contratos.

O aplicativo que será utilizado para resolver a questão da “Alocação de recursos

humanos nos trabalhos de Auditorias de Obras” será o software “Solver” do Excel.

Certas condições e restrições são impostas ao problema e aí cabe uma

discussão aprofundada sobre a questão, que não está dentro do escopo deste trabalho,

contudo para aperfeiçoamento do Modelo que está sendo apresentado outras restrições

devem ser estudadas.

A seguir apresentamos um fluxograma com a seqüência em que são

apresentadas as etapas de formulação e resolução do problema da “Seleção da

Amostra de Auditoria”.

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Banco de Dados

Obras/ jurisdicionados

Riscos associados aos

jurisdicionados

Horas necessárias /

disponíveis para realização das Auditorias

Condições estipuladas pelo

Tribunal de Contas

Matriz de Risco

Restrições do problema

SOLVER

Alocação de R

ecursos Otim

izada

Figura 6.2 – Fluxograma para solução do Problema de Seleção de Contratos para Auditorias

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1. Modelagem e análise de decisão utilizando a planilha eletrônica.

Segundo RAGSDALE, 2006 boas decisões raramente não são fáceis de ser

tomadas geralmente as decisões são complexas face ao grande numero de opções

disponíveis.

Durante a década passada milhões de pessoas do mundo dos negócios

descobriram que um dos mais efetivos métodos para analisar e avaliar alternativas de

decisões envolvia métodos eletrônicos utilizando modelos de decisão.

Um modelo computacional é uma serie de relações matemáticas e associações

lógicas implementadas no computador para representar alguma decisão de um

problema ou fenômeno no mundo real.

Hoje em dia métodos eletrônicos são os mais utilizados e convenientes para

analisar problemas de modelagem.

Através dos modelos computacionais as pessoas podem analisar alternativas

de decisão antes de implementar um planejamento.

Em um passado não muito distante esta ciência era altamente especializada e

praticamente só podia ser praticada onde existiam computadores de grande porte e por

pessoas que possuíam conhecimento em matemática e linguagem de programação

avançada.

Hoje em dia com a proliferação dos computadores pessoais e o

desenvolvimento de softwares essa ferramenta ficou acessível a um grande numero de

pessoas.

2. Modelagem para tomada de decisão

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A idéia da utilização de modelos na resolução de problemas e analise de

decisões não é nova, e certamente não esta condicionada ao uso dos computadores.

Todos nós usamos modelos ao tomarmos decisões para solucionarmos

problemas.

Ao analisarmos diversas opções de resolvermos um determinado problema,

damos prioridade a determinado número de variáveis em detrimento de outras. A

formulação de modelos matemáticos permite que analisemos as diversas opções das

soluções e encontremos uma otimizada.

Esta priorização de determinadas restrições adjuntas ao problema conduz a

diferentes soluções que podem ser estudadas através de um exame da sensibilidade do

modelo sujeito a determinadas condições, o que pode ser facilmente resolvido através

de modelos matemáticos com a utilização das planilhas eletrônicas.

Muitos problemas complexos que envolvem diversas variáveis e grande

número de condições restringentes do problema não podem ser resolvidos através de

modelos mentais e exigem que sejam estabelecidos modelos matemáticos para sua

solução (Ragsdale, 2006).

.

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3. Características e benefícios do modelo

Modelos matemáticos podem ser resolvidos através de planilhas eletrônicas, o

modelo é uma simplificação da realidade e modelos mais completos representam

melhor a realidade. A validade do modelo está relacionada às características relevantes

do problema a ser estudado.

A utilização de modelos permite que com baixo custo se estudem soluções

alternativas e se aperfeiçoe o modelo à medida em que ele for sendo utilizado.

Através dos modelos podemos alterar certos parâmetros considerados

inicialmente e verificar a sua influencia nas soluções dos problemas.

Modelos freqüentemente nos ajudam a examinar situações que seriam

impossíveis realizar na prática.

Finalmente e provavelmente o mais importante é que os modelos nos permitem

ganhar conhecimento e percepção do problema que estamos estudando. É possível no

decorrer da construção do modelo estabelecer e compreender as variáveis envolvidas

(RAGSDALE, 2006).

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4. O processo de solução do problema

A solução do problema envolve as técnicas de modelagem que representam

uma pequena parte no processo de resolução dos problemas. A concepção de um

modelo efetivo é importante para entender como o ajuste da solução do problema é

encontrada.

A figura abaixo sumariza de que forma é conduzida a solução dos problemas:

Figura 6.3 - Figura – Mostra a seqüência recomendada para solucionar problemas utilizando modelos

Fonte: Creative Thinking in the Decision and Management (Cincinnati, OH: South – Western, 1991)

O primeiro passo no processo de resolução de problemas é identificar o

problema, que é muito importante, caso o problema não seja corretamente identificado

todos os esforços na resolução do problema serão inúteis.

Dependendo da natureza do problema podemos usar o modelo mental, um

modelo visual, um modelo em escala ou um modelo matemático.

Após a seleção e apropriada representação e formulação do problema o

próximo passo é a formulação da planilha eletrônica.

Formular e implementar modelo

Analisar modelo

Testar resultados

Implementar solução

Resultados insatisfatórios

Identificar o problema

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Ao analisar o problema podemos verificar a influência de cada variável no

resultado encontrado pelo modelo proposto e fazer uma analise da sensibilidade de

cada variável adequando a situação desejada.

Encontrado o modelo desejado o próximo passo é colocá-lo em execução e

verificar a efetividade de seus resultados, caso sejam positivos passamos à fase de

implementação da solução encontrada, caso contrario reformulamos o modelo e

repetimos as operações.

VI. 6 – Descrição do problema

Propomos responder a seguinte questão:

A partir de um banco de dados que contenha todos os contratos de engenharia

realizados em determinado período, a questão é maximizar o valor da função Ea

(representa a efetividade obtida pelas auditorias) em função das horas alocadas em

cada jurisdicionado e dos riscos inerentes a eles.

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Em nosso modelo vamos supor que a Efetividade das Auditorias é diretamente

proporcional às horas que são gastas na sua realização e ao risco que cada contrato

tem de apresentar desvios assim:

Ea à efetividade das auditorias

hi à horas gastas nas auditorias

ri à risco inerente aos jurisdicionados auditados

O modelo matemático que representa esta função é:

Ea = f (hi. ri)

Ea à efetividade das auditorias é a variável dependente

h i à variável independente

r i à risco associado a cada jurisdicionado

Pretendemos neste problema maximizar o valor de Ea.

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Função que representa a máxima eficiência obtida nos trabalhos de Auditoria.

n 3

Max Ea = Σ hi x Σ rj x pj i = 1 j = 1

Onde: Ea à efetividade das auditorias h i à horas gastas em cada jurisdicionado rj à risco associado a cada jurisdicionado pj à peso associado ao risco n à numero total dos jurisdicionados O risco associado a cada jurisdicionado pode ser analisado observando os aspectos

relativos à:

Risco 1 à r1 à Valor dos contratos realizados em determinado jurisdicionado dividido

pelo total dos contratos realizados na jurisdição do Tribunal à r1.

Risco 2 à r2 à Histórico dos últimos 2 anos das auditorias realizadas nos

jurisdicionados.

Risco 3 à r3 à Ausência ou não ausência de controle interno.

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A Matriz abaixo representa os riscos associados a cada jurisdicionado e aos

fatores de risco associados:

Tabela 6.3 Pesos relativos aos riscos apresentados na execução das obras:

Jurisdicionado 1 2 3 ... N

Fator de

risco ri

R1

R2

R3

Admitindo que o fator mais importante na seleção da amostra dos contratos que

serão auditados seja o seu valor percentual relativo ao total dos valores dos contratos

executados, e que o histórico isto é a avaliação de que ocorreram desvios nas duas

últimas auditorias realizadas, e a existência de controle interno pelo órgão gestor do

contrato tem igual importância para o critério de seleção da amostra.

Estabelecemos que:

1. Peso relativo ao valor dos contratos à peso 3

2. Peso relativo ao histórico apresentado nas ultimas 2 auditorias à peso 1

3. Peso relativo à existência de controle interno adequado à peso 1

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Restrições associadas ao problema da maximização da eficiência das auditorias.

Ao elaborarmos o modelo que representa a função efetividade das auditorias

Ea, determinadas restrições devem ser consideradas para que possamos encontrar a

solução desejada para o problema.

As variáveis de decisão representam as quantidades de horas que vamos

auditar em cada jurisdicionado hi à i = 1, 2, 3,..., n.

As restrições em problemas de Otimização são representadas pelas condições

impostas a determinadas variáveis:

Em nosso caso supomos que dispomos de 10 equipes para os trabalhos de

Auditoria durante 8 meses do ano.

Iremos supor também que cada Auditoria tenha a duração de no mínimo 120

horas e no máximo de 600h.

Assim:

§ Σ hi < horas totais disponíveis para auditoria por ano = 10 equipes x 8

meses x 240 = 19200h

§ hi > 120 h à número mínimo de horas em cada jurisdicionado por ano § hi < 600 h à número máximo de horas em cada jurisdicionado por ano

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Modelando e resolvendo o problema utilizando Programação Linear e a Planilha

Eletrônica

Várias técnicas matemáticas existem para resolver problemas de programação

linear envolvendo qualquer numero de variáveis.

Utilizando programas de computador podemos resolver facilmente problemas

de programação linear.

Utilizaremos a ferramenta do Excel chamada “Solver”, para resolver os

problemas de otimização, outros programas podem ser utilizados para resolver este tipo

de problema, contudo os detalhes de implementação podem ser diferentes.

Resolvendo o problema utilizando a planilha eletrônica.

O problema consiste em maximizar a função objetiva,

n 3

Max Ea = Σ hi x Σ rj x pj i = 1 j = 1

Sujeita as restrições:

§ Σ h i < H total à somatório das horas gastas em auditoria deve ser menor que o

total de horas disponíveis para realização das auditorias. Esta restrição está relacionada a quantidades de horas disponíveis pelos

Tribunais de Contas na realização das Auditorias pelo seu corpo de técnicos. Carecem

os Tribunais de Contas do Brasil de indicadores que determinem qual o número de

técnicos que devem estar envolvidos nos serviços de Auditorias de Obras, e cada

Tribunal de Contas estrutura sua área de Auditorias de Obras da forma que melhor lhe

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convier e muitas vezes ficando a mercê de decisões Administrativas das Cortes de

Contas que não levam em consideração as necessidades locais. § h i > 120 h à cada auditoria deve gastar no mínimo 120h.

Esta restrição está ligada ao mínimo de horas que devem ser gastas nas

Auditorias de Obras para que seja possível a elaboração de um Relatório de Auditoria

com um mínimo de dados capaz de refletir a situação dos contratos.

§ h i < 600 h à cada auditoria deve gastar no máximo 600h. Esta restrição está relacionada ao fato de que os trabalhos de Auditorias de

Obras possam ser efetuados em um numero significativo de jurisdicionados

possibilitando no decorrer de um curto espaço de tempo cobrir a totalidade dos

jurisdicionados.

Poderá haver casos em que o número de horas gastas em uma auditoria

poderá ser menor que o valor mínimo estipulado, e em outros os que as horas

despendidas nos serviços poderá ter que ultrapassar as horas máximas estipuladas

neste modelo preliminar, e a partir destes dados deverá ser ajustado o modelo até que

ele possa refletir adequadamente a realidade dos trabalhos.

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124

Em nosso modelo consideraremos três tipos de riscos envolvidos nos trabalhos de

Auditoria de Obras, r1 (Risco relativo aos valores percentuais envolvidos nos contratos),

r2 (risco relativo ao histórico das ultimas auditorias realizadas no jurisdicionado), r3

(risco relativo a existência ou não de controle interno), definidos para nosso estudo da

seguinte forma :

Fator de risco 1 – r1 à valor dos contratos dos jurisdicionados - Vj / valor total dos

contratos Vt:

A tabela abaixo representa os valores dos fatores de risco para os jurisdicionados de

acordo com o valor percentual relativo do total dos contratos executados em relação ao

total geral.

Júris 1

2

3

4

...

N

Fator de risco

r 1

Valor dos

contratos dos

júris. / valor total

dos contratos na

jurisdição do TC

em determinado

período

Estabelecendo que o risco associado ao jurisdicionado cujo valor relativo do

contrato seja < 1,5% do valor total dos contratos realizados no período seja igual a 1.

De 1,5% a 2,5% =2 e assim por diante:

§ Vj / Vt < 1,5% à r1 = 1

§ 1.5% < Vj / Vt < 2,5% à r1 = 2

§ 2,5% < Vj / Vt < 3,5% à r1 = 3

§ 3,5% < Vj / Vt < 7,0% à r1 = 4

§ Vj / Vt > 7,0% à r1 = 5

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125

Fator de risco 2 – r2 à relacionado ao histórico de avaliação das auditorias nos últimos

2 anos.

A tabela abaixo representa os valores dos fatores de risco para os

jurisdicionados relacionado ao histórico de avaliação das auditorias nos últimos 2 anos.

Jurisdicionado 1

2

3

4

...

N

Fator de risco

r2

O resultado das Auditorias pode ser dividido em:

A – Regulares – os resultados das Auditorias mostraram que não foram encontradas

irregularidades nos contratos que foram objeto de Auditoria.

B – Regular com ressalva – foram encontradas irregularidades dignas de nota mas não

foram consideradas como relevantes para que resultassem em multas.

C – Irregular com multa – foram encontrados procedimentos contrários aos

determinados pela legislação e consideradas irregulares as contas sujeitas à multa.

D – Irregular com multa e ressarcimento – neste caso as irregularidades encontradas

geraram multas e ressarcimento ao jurisdicionado.

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126

Consideramos para o nosso estudo fatores de risco associado ao jurisdicionado

variando de 1 a 4 conforme o resultado das auditorias obtido nos últimos dois anos.

§ Auditoria dos últimos 2 anos - Regular à r2 = 1

§ Regular com ressalva à r2 = 2

§ Irregularidade com multa à r2 = 3

§ Irregularidade com multa e ressarcimento à r2 = 4

Fator de risco 3 – r3 à relacionado a existência ou não de controle interno.

A tabela abaixo representa os valores dos fatores de risco para os

jurisdicionados relacionado à existência ou não de órgão de auditoria interna.

Jurisdicionado 1

2

3

4

...

N

Fator de risco

r3

§ Jurisdicionado possui controle interno à r3 = 3

§ Jurisdicionado não possui controle interno à r3 = 5

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127

Consideramos que os riscos inerentes a cada jurisdicionado têm os pesos:

§ r1 à peso 3 - associado ao valor dos contratos § r2 à peso 1 – associado ao histórico das auditorias dos últimos 2 anos § r3 à peso 1 – associado à existência ou não de controle interno.

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Desta forma teremos para a matriz de risco dos jurisdicionados:

Fonte: elaboração própria

Matriz de Risco - Contratos de Obras de Engenharia

Total de obras Julgamento das Contas Controle Interno Pontuação

Jurisdicionado R$ Pontuação 2003 2002 Pontuação Pontuação Total 1 $1 R1 r2 r2 Media r2 R3 3 r1 + r2 + r3 2 $2 R1 r2 r2 Media r2 R3 3 . . . . . . 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . N . . . . . .

TOTAL Σ$

Tabela 6.4

Matriz de risco para os contratos de Obra de engenharia

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Aplicação do software “Solver do Excel”

Uma vez elaborada a Matriz de Risco onde devem estar listados todos os

jurisdicionados e o risco total relativo a cada um e relacionadas todas as restrições

envolvidas no problema fazemos o lançamento destes dados em uma planilha do

“Excel” e utilizamos o aplicativo “Solver” que apresentará uma solução na qual as

alternativas de utilização dos recursos disponíveis (horas disponíveis dos técnicos

) será alocada preferencialmente nos jurisdicionados que apresentem maiores

riscos de apresentarem irregularidades na execução de seus contratos de

engenharia.

É possível com este aplicativo também avaliar a sensibilidade relativa de

cada variável utilizada na elaboração do Modelo e fazer simulações de modo a

aperfeiçoar o modelo baseado em experimentações.

A aplicação de Modelos na Seleção de contratos de engenharia possibilita

a utilização racional dos recursos nos trabalhos de Auditoria de Obras.

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Figura 6.4 – Solução do problema utilizando o aplicativo Solver Fonte: aplicativo Solver do Excel

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Obtemos a quantidade de horas que deve ser utilizada em cada

jurisdicionado de modo a obter uma eficiência máxima nos trabalhos.

Para o exemplo ilustrado teríamos:

TABELA 6.5

RELAÇÃO DAS HORAS PARA REALIZAÇÃO DAS AUDITORIAS

Jurisdicionado

Horas que devem ser gastas nos

serviços de auditoria (h)

01 300 02 300 03 300 04 0 04 0 05 300 06 120 07 60 08 0 09 120

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132

VI. 7 – Auditoria “a Priori”, “Concomitante” e “a Posteriori” (Quando Auditar)

A instituição do controle é própria da economia

financeira pública. O controle não representa uma

finalidade em si mesmo, é uma parte imprescindível de

um mecanismo regulador que deve assinalar

oportunamente os desvios das normas e as infrações

aos princípios da legalidade, rentabilidade, utilidade e

racionalidade das operações financeiras, de tal modo

que se possam adotar medidas corretivas

convenientes em cada caso, determinar a

responsabilidade do órgão, exigir a indenização

correspondente e adotar as determinações que

impeçam ou pelo menos dificultem tais infrações no

futuro. INTOSAI 1977 - Declaração de Lima.

VI. 7.1 - Introdução

No Brasil historicamente as Auditorias realizadas pelos Tribunais de

Contas são realizadas “a Posteriori” isto é, depois que as despesas foram

realizadas, segundo relatório da FIA-USP (Fundação Instituto de Administração –

Universidade de São Paulo), em 2001, apenas 4,3 % dos débitos imputados pelos

Tribunais de Contas foram recolhidos.

Este pequeno valor ressarcido aos cofres públicos relativo às

irregularidades apontadas na execução dos contratos públicos sugere que as

ações desenvolvidas pelos Tribunais de Contas não surtem o efeito desejado, seja

pela dificuldade de se executar os débitos dos gestores públicos ou por inúmeras

outras razões de ordem política ou processual, desta maneira em todo o mundo

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133

conforme já pudemos observar no quadro que apresenta as formas de controle

das EFS, as ações destes organismos procuram voltar suas ações para prevenir

os desvios e irregularidades.

A ação do controle “a Priori” e “Concomitante” permite a adoção de

medidas corretivas e não apenas punitivas. (PEREIRA, 2005).

O controle da Administração Pública visa precipuamente, a que o

procedimento administrativo, na realização das atividades do Estado, ocorra de

forma regular e adequada, buscando evitar a prática de atos ilegais ou com desvio

de finalidade, com acompanhamento da atividade administrativa, procedendo à

avaliação desses após a sua prática. Assim, o controle pode ser exercido em

diversos momentos da atividade administrativa, podendo, por isso, ser prévio “a

Priori”, “Concomitante” ou “a Posteriori” (MILESKI, 2003).

O controle prévio, “a Priori”, quando antecede a realização do ato

administrativo, no sentido de evitar procedimento contrário à lei e ao interesse

público, com o intuito de manter a ação administrativa dentro de princípios

adequados à boa prestação de serviços públicos.

O controle “Concomitante” é exercido no momento em que se realiza a

atividade administrativa, acompanhando a regularidade da ação desenvolvida pela

Administração Pública, com o objetivo de evitar distorções e proceder as correções

imediatamente, para manter a atuação pública dentro de uma continuidade de

procedimentos regulares.

O controle “a Posteriori” ocorre após a realização do ato praticado em

decorrência da ação administrativa desenvolvida, com a finalidade de proceder a

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134

uma avaliação sobre sua correção e legalidade, com o objetivo de promover a sua

aprovação ou homologação e, no caso de encontrar erros, falhas e vícios, adotar

medidas que levem à sua correção ou desfazimento (MILESKI, 2003).

Segundo a INTOSAI, 1977 se o controle é feito antes da realização das

operações financeiras e administrativas, se trata de um controle prévio, caso

contrário, um controle “a posteriori”.

• Um controle prévio eficaz é imprescindível para uma sã

administração financeira pública. Pode ser exercido por uma

Entidade Fiscalizadora Superior, como também por outras

instituições de controle.

• O controle prévio exercido por uma Entidade Fiscalizadora Superior

implica na vantagem de poder impedir um prejuízo antes de ele

produzir-se, porém tem a desvantagem de comportar um trabalho

excessivo e de que a responsabilidade baseada no direito público

não é claramente definida. O controle a posteriori exercido por uma

Entidade Fiscalizadora Superior atribui responsabilidade ao órgão

culpado, pode levar a indenização do prejuízo produzido e é

apropriado para impedir no futuro a repetição das infrações.

• A situação legal, as circunstâncias e necessidades de cada país

determinam se uma Entidade Fiscalizadora exerce um controle

prévio. O controle à posteriori é uma função inalienável de cada

entidade fiscalizadora Superior, independente do controle prévio

exercido.

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135

Os contratos relativos às obras e serviços de engenharia envolvem uma

gama muito grande de atividades que compreendem a construção:

§ Edificações como: escolas, hospitais, presídios, delegacias,

prédios públicos, reformas, manutenção predial entre outros.

§ Estradas: construção e manutenção de pavimentos, pontes,

serviços de drenagem, etc.

§ Saneamento: sistemas de abastecimento de água, redes de

esgotos, drenagem, manutenção e operação etc...

§ Além de outros serviços como aeroportos, ferrovias, hidrovias,

limpeza urbana, iluminação pública.

VI. 7.2 - Irregularidades encontradas nos contratos de Obras Públicas no

Estado do Espírito santo de 2002 a 2006.

A pesquisa realizada nos relatórios de Auditoria de Obras dos anos de 2002 a

2006 verificou que durante este período foram auditados 76 jurisdicionados e um

numero de 315 contratos de Obras Publicas, e foram encontradas 602

irregularidades divididas principalmente em seis categorias:

1- Irregularidade formal

2- Pagamentos indevidos

3- Irregularidades na licitação

4- Superfaturamento

5- Projeto básico e

6- Qualidade

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136

Verificamos que nos últimos anos com a intensificação dos trabalhos de auditorias

nos contratos de obras públicas os desvios e irregularidades observados têm

mudado o seu perfil.

Até um passado recente alguns contratos de obras eram firmados com a

administração pública e nenhum serviço era realizado e o total dos valores pagos

era desviado para outras finalidades.

Atualmente este quadro já não é mais observado no estado do Espírito

Santo, e as irregularidades têm apresentado outro perfil como pudemos verificar.

Para o nosso estudo consideramos as seguintes irregularidades, definidas

como:

• Licitação são as irregularidades encontradas por ocasião do

processo licitatório e contrariam a Lei 8666/93.

• Superfaturamento refere aos preços contratados com valores

superiores aos valores de mercado.

• Projeto básico quando os projetos fornecidos pelo contratante não

têm o nível de detalhamento suficiente para possibilitar o

procedimento licitatório.

• Formal quando algum procedimento não foi observado desde o

procedimento licitatório até a entrega da obra, contudo não

ocasionou prejuízo aos cofres públicos.

• Pagamento indevido diz-se quando são pagos valores do contrato

que não tem correspondência com os serviços executados.

• Qualidade quando os componentes do empreendimento não

atendem os requisitos mínimos que possibilitem a sua utilização.

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137

No quadro a seguir estão listadas as principais irregularidades

encontradas durante as Auditorias de Obras entre os anos de 2002 a 2006.

De posse desses dados sugere-se a ocasião em que deve ser realizados os

trabalhos de Auditorias de Obras de modo a coibir as irregularidades mais

freqüentes.

A seguir apresenta-se o resultado da pesquisa realizada no Tribunal de Contas do

Espírito Santo:

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138

TABELA 6.6 - TIPOS DE IRREGULARIDADES ENCONTRADAS NOS CONTRATOS AUDITADOS NO ESPÍRITO SANTO PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO ES DE 2002 A 2006.

AUDITORIAS 2002 A 2006

Ano

Nº. de jurisdicionados

auditados

Nº. de contratos auditados

Nº. de irregularidades Tipo da irregularidade

Quantidade de

irregularidades

2002 7 28 35 Licitação 1 Superfaturamento 4 Projeto básico 1 Formal 13 Pagamento 6 Regular 10

2003 9 14 26 Licitação 2 Superfaturamento 2 Projeto básico 3 Formal 12 Pagamento 7

2004 33 128 259 Licitação 6 Superfaturamento 46 Projeto básico 51 Formal 93 Pagamento 54 Qualidade 7 Regular 2

2005 20 127 244 Licitação 64 Superfaturamento 19 Projeto básico 14 Formal 73 Pagamento 63 Qualidade 2 Regular 9

2006 7 18 59 Licitação 10 Superfaturamento 11 Projeto básico 10 Formal 13 Pagamento 14

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139

Da análise das Auditorias de Obras realizadas no Espírito Santo de 2002 a 2006

verificamos que as irregularidades encontradas nos contratos concentram-se

principalmente em:

TABELA 6.7 PERCENTUAIS RELATIVOS DAS IRREGULARIDADES ENCONTRADAS NOS CONTRATOS DE OBRAS PÚBLICAS NO ESPÍRITO SANTO DE 2002 A 2006

Tipo de Irregularidade

Nº. de irregularidades

% relativo

Irregularidade formal

204 33,89

Pagamento indevido

144 23,92

Irregularidades na licitação

83 13,79

Superfaturamento

82 13,62

Projeto Básico

79 13,12

Qualidade

10 1,66

Total

602 100,00

Fonte: elaboração própria

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140

Verificamos que mais de 50% dos desvios encontrados nos contratos de

obras públicas refere-se a irregularidades ocorridas antes do inicio dos serviços:

1. Irregularidade na licitação aprox. 13% das irregularidades

2. Superfaturamento aprox. 13%

3. Falta de projeto básico aprox. 13%

4. Irregularidades formais antes da execução dos contratos aprox. 15%

Estas irregularidades que ocorrem antes da obra ser contratada poderiam

ser corrigidas sem que acarretassem prejuízos ao erário se as Auditorias fossem

realizadas nesta fase anterior a execução dos contratos.

Os desvios relativos aos pagamentos indevidos em torno de 24% ocorrem

por ocasião da execução das obras e se referem principalmente a serviços que

são pagos e não são executados, e poderiam ser corrigidas se as Auditorias se

realizassem concomitantemente à execução dos contratos ou principalmente

através do “Controle Interno” do órgão.

A fiscalização do cumprimento da lei constitui fator essencial à prevenção

de possíveis desvios das disposições constantes na legislação, cuja eficiência

pode ser considerada como a melhor forma de atuação no sentido de evitar a

lesão ao patrimônio público, impedindo que se estabeleça prejuízo ao erário, pois:

“As ações visando à reparação dos danos serão sempre mais custosas e

de resultados incertos” (Fernandes, 2003).

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141

Um controle interno eficiente com a realização de Auditorias Internas

concomitantes com a execução do contrato e uma fiscalização atuante reduziriam

estes desvios.

Atualmente as Auditorias realizadas pelos Tribunais de Contas do ES são

realizadas “à Posterior” isto significa que as despesas já foram realizadas, estima-

se que menos de 1% dos valores apurados como fraude e desvios voltem aos

cofres públicos (TCU, 2006).

Elaboramos uma pesquisa com os Tribunais de Contas do Brasil e

verificamos que as instituições que estão mais avançadas no campo das

Auditorias de Obras Públicas possuem sistemas informatizados capazes de

diagnosticar oportunamente a ocasião mais adequada de se efetuar os trabalhos

de Auditoria em cada caso, o quadro a seguir foi elaborado a partir de um

questionário enviado a todos os Tribunais de Contas do país.

Podemos verificar que as práticas adotadas nos diversos Tribunais de

Contas do Brasil com relação às Auditorias de Obras se dividem em três grupos de

Tribunais conforme pode ser demonstrado pelas praticas adotadas nos diversos

Estados da federação:

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Tribunal de Contas

Setor de Engenharia

Sistema Informatizado Ouvidoria ISSO

9000 Critério de Seleção de

amostra

Manual de

auditoria Tipo de Auditoria

Grupo I

União Sim Sim Sim - Regionalização/valor

do contrato/histórico Sim À priori/Concomitante

Pernambuco Sim Sim Sim - Sistema informatizado - Priori/concomitante/á

posteriori Rio Grande

do Sul Sim Sim Sim Sim Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori Santa

Catarina Sim Sim Sim - Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori

Paraná Sim Sim Sim - Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori

São Paulo Sim Sim Sim - Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori Município

Rio de Janeiro

Sim Sim Sim - Materialidade/valor dos contratos Sim Priori/concomitante/á

posteriori

Município Bahia Sim Sim - - Sistema

informatizado - Priori/concomitante/á posteriori

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143

Tribunal de Contas

Setor de Engenharia

Sistema Informatizado Ouvidoria ISSO

9000 Critério de Seleção de

amostra

Manual de

auditoria Tipo de

Auditoria

Grupo II

Mato Grosso Sim Sim Sim - Regionalização/valor

do contrato/histórico Sim À priori/Concomitante

Tocantins Sim Sim Sim - Sistema informatizado - Priori/concomitante/á

posteriori

Amazonas Sim Sim Sim Sim Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori

Pará Sim Sim Sim - Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori

Piauí Sim Sim Sim - Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori

Paraíba Sim Sim Sim - Sistema informatizado Sim Priori/concomitante/á

posteriori Espírito Santo Sim Sim Sim - Materialidade/valor

dos contratos Sim Priori/concomitante/á posteriori

Grupo III

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144

Tribunal de Contas

Setor de Engenharia

Sistema Informatizado Ouvidoria ISSO

9000 Critério de Seleção de

amostra

Manual de

auditoria

Tipo de Auditoria

Distrito Federal Não Implantação Sim - Editais e preços mais

elevados - A priori/concomitante

Mato Grosso Sul Não não Sim - - - -

Rondônia Não - - - - - - Sergipe Não - - - - - - Roraima Não - Sim - - - -

Acre Não - - - - - - Amapá Não - Sim - - - - Ceará Não - - Sim - - -

Município do Ceará Não - - - - - -

Maranhão Não - - - - - -

Município do Pará Não - - - - -

-

Rio Grande Norte Não - - - - - -

Goiás Não Não Sim - - - -

Alagoas Não - Sim - - - -

Bahia Não Não Sim - - não Auditoria

governamental concomitante

Quadro 6.1 - Mostra as práticas adotadas relativas às Auditorias de Obras nos Tribunais de Contas do Brasil - Fonte: elaboração própria.

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O primeiro grupo são os Tribunais de Contas que possuem dentro de seus

quadros funcionais equipes especificas para realizarem Auditorias de Obras,

possuem sistemas informatizados capazes de sinalizar quais os contratos tem

maiores possibilidades de apresentarem desvios em suas execuções e possuem

canal aberto com a população para que esta possa realizar denúncias de

irregularidades cometidas, nestes Tribunais as Auditorias são realizadas tanto ”a

Priori”, “Concomitantemente” e “a Posteriori” uma vez que as informações a

respeito da execução dos contratos são feitas simultaneamente com o

desenvolvimento das atividades.

O segundo grupo e neste se inclui o Tribunal de Contas do ES possuem

dentro de sua estrutura organizacional setores específicos para a realização de

auditorias de Obras, porém ainda não dispõe das demais ferramentas necessárias

para a otimização de seus trabalhos, quais sejam: Sistemas informatizados de

controle de obras, canal aberto com a população para apresentação de denuncias,

critérios estabelecidos de seleção de amostras capazes de otimizar os serviços de

auditoria e manuais de procedimentos de forma a uniformizar os trabalhos nestes

Tribunais as Auditorias de Obras são quase sempre realizadas depois que os

acontecimentos se sucederam.

O terceiro grupo dos Tribunais de Contas do Brasil até os dias de hoje não

tem dentro de sua estrutura organizacional quadros técnicos capazes de

realizarem sistematicamente Auditorias de Obras o que abre uma vasta

possibilidade de ocorrerem desvios e fraudes na execução dos contratos de obras

púbicas.

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146

VI. 8 – Métodos e Procedimentos para Auditorias de Obras Públicas

“Obra cara é obra parada. Uma obra paralisada

penaliza a população duplamente: pela ausência da

obra e pelos recursos já aplicados, sem falar na

riqueza em que se deixa de produzir, em prejuízo de

desenvolvimento econômico e social do país”

(CAMPOS, 1995).

As Auditorias das Obras Públicas podem ser realizadas em várias fases

do processo da execução das obras, desde a fase de planejamento até após a

conclusão dos serviços, apresenta-se nesta parte do trabalho a seqüência

recomendada que deve ser observada pelos gestores públicos das ações que se

deve tomar de modo que possam ser obtidos resultados satisfatórios na utilização

dos recursos públicos quando estes estiverem sendo utilizados na execução de

contratos públicos.

O TCU – Tribunal de Contas da União elenca as seguintes etapas como

as principais desde a decisão de se optar pelo atendimento de determinada

necessidade até o recebimento da obra conforme seqüência a seguir:

1 - Programa de Necessidades

2 – Escolha do Terreno

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147

Figuras 6.5 - Recomendações Básicas para Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Públicas.

Fonte: TCU – Tribunal de Contas da União

3 – Estudo e Viabilidade

4 – Elaboração do Projeto

5 – Projeto Básico

6 – Projeto executivo

7 – Licitação da Obra

8 - Contratação

9 - Fiscalização

10 – Recebimento da Obra

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148

1. Programa de Necessidades

Pretende-se que o órgão executor demonstre que a opção por

determinado empreendimento foi feita obedecendo a critérios que atendam

preferencialmente as necessidades da população e esteja pautada pelas metas

estabelecidas nos planos plurianuais de investimentos e recursos previstos na lei

orçamentária.

Um estudo de viabilidade detalhado deve ser elaborado para indicar a

melhor solução possível de modo a atender os objetivos pretendidos.

A respeito da alocação de recursos públicos, (CLEMENTE, 1998), cita:

“Os critérios de decisão relativos à alocação dos

recursos, obtidos por meio de decisões embasadas

em métodos de avaliação econômica clássicos,

validam as ações governamentais e sugerem

transparência e objetividade em suas finalidades”.

“A avaliação das ações tomadas pelos

administradores públicos, uma vez comprovadas sua

viabilidade, através de estudos preliminares que

tenham demonstrado a sua supremacia perante

alternativas, não poderá em momento algum ser posta

em dúvida, é, portanto um instrumento decisório que o

administrador deve utilizar de modo a validar suas

ações, na utilização dos recursos públicos na escolha

de alternativa de investimentos públicos “.

2. Escolha do Terreno

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149

Pretende-se que o gestor público ao optar pela escolha de determinado

terreno o faça observando aspectos relacionados à:

§ Infra-estrutura disponível para realização da obra

§ Condições de ocupação da região

§ Facilidade da aquisição de materiais

§ Topografia do terreno inclusive utilização de sondagens caso necessário

§ Documentação do terreno

3. Estudo de Viabilidade

Objetiva-se o estudo de viabilidade analisar e escolher a solução que

melhor responda ao programa de necessidades, sob os aspectos legal, técnico,

econômico, social e ambiental.

A relação custo/beneficio da obra é fundamental para justificar a

prioridade da edificação proposta, em relação a outras obras públicas que

poderiam ser realizadas pela administração.

Precisa ser levada em conta a compatibilidade entre os recursos

disponíveis e as necessidades da população a ser atendida.

Devem ser definidos os métodos e os prazos de execução, e ser

avaliado o custo da obra a fim de se encontrar a melhor solução possível.

Importante também nesta fase é observar a legislação ambiental, de

modo a promover a perfeita adequação da obra com o meio ambiente.

Lei 6938/81 dispõe:

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150

“Art. 1º - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de

estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados

efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes sob qualquer forma,

de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento por órgãos

estadual competente, integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente, e do

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais IBAMA, em caráter

supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis”.

“Art. 2º - A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e

operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais

consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os

empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental,

dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo

de outras licenças legalmente exigíveis”.

4. Elaboração do Projeto

Uma vez demonstrado o correto direcionamento dos recursos públicos

rumo a determinada alternativa de investimento, inicia-se o processo de

operacionalização do projeto, com o processo de licitação, contratação,

gerenciamento da execução e recebimento do empreendimento.

Os projetos para construção, reforma ou ampliação de edificações ou

conjunto de edificações serão realizados em três etapas sucessivas:

§ Estudo preliminar ou anteprojeto

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151

§ Projeto básico

§ Projeto executivo

A responsabilidade pela elaboração dos projetos será de profissionais

ou empresas legalmente habilitadas pelo Conselho Regional de Engenharia,

Arquitetura e Agronomia – CREA local.

Os projetos devem ser elaborados de acordo com leis, decretos,

regulamentos, portarias e normas federais, estaduais, distritais e municipais direta

e indiretamente aplicáveis à obra pública, além das normas técnicas devidas.

Grande parte dos questionamentos objeto de auditorias realizadas em

edificações públicas refere-se ao superfaturamento na realização de obras.

A falta de projeto básico13, ou inadequado para a elaboração de

orçamento ou incapaz de caracterizar a obra objeto da licitação, é um fator

preponderante para as irregularidades na execução das edificações.

Quando da elaboração do projeto básico, é necessário verificar se o

empreendimento necessita de licença ambiental, conforme dispõem as resoluções

do Conselho Nacional de Meio Ambiente nº. 001/86 e nº. 237/97 e a Lei nº.

6938/81. Se necessário, deve-se elaborar Estudo de Impacto Ambiental e

Relatório de Impacto Ambiental como parte integrante do projeto básico.

13 O projeto básico é o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de

precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objetos da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade técnica e o adequado impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e prazos de execução.

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152

A elaboração do projeto básico e do projeto executivo, além de observar

as características e condições do local da execução dos serviços ou obras e

impacto ambiental, têm que considerar os seguintes requisitos:

§ Segurança

§ Funcionalidade e adequação ao interesse público.

§ Possibilidade de emprego de mão de obra, materiais, tecnologia

e matérias primas existentes no local para execução, de modo a

diminuir o custo de transporte.

§ Facilidade e economia na execução, conservação e operação,

sem prejuízo da durabilidade da obra ou do serviço.

§ Adoção de normas técnicas de saúde e de segurança do

trabalho adequadas.

§ Infra-estrutura de acesso.

§ Aspectos relativos à insolação, iluminação e ventilação.

5. Projeto Básico

Projeto Básico é o conjunto de desenhos, memoriais descritivos,

especificações técnicas, orçamento, cronograma e demais elementos técnicos

necessários e suficientes à precisa caracterização da obra a ser executada,

atendendo às Normas Técnicas e à legislação vigente, elaborado com base em

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153

estudos anteriores que assegurem a viabilidade e o adequado tratamento

ambiental do empreendimento. Devem estabelecer com precisão, através de seus

elementos constitutivos, todas as características, dimensões, especificações, e as

quantidades de serviços e de materiais, custos e tempo necessários para

execução da obra, de forma a evitar alterações e adequações durante a

elaboração do projeto executivo e realização das obras.

Todos os elementos que compõem o Projeto Básico devem ser

elaborados por profissional legalmente habilitado, sendo indispensável o registro

da respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica, identificação do autor e sua

assinatura em cada uma das peças gráficas e documentos produzidos. (IBRAOP,

2006).

6. Projeto Executivo

O projeto executivo é o conjunto de elementos necessários e suficientes

à execução completa da obra, de acordo com as normas da Associação Brasileira

de Normas técnicas - ABNT.

Após a elaboração do projeto básico, a Administração deve providenciar

o projeto executivo, que apresentará os elementos necessários à realização do

empreendimento com nível máximo de detalhamento possível de todas as suas

etapas.

7. Licitação da Obra

A Constituição Federal, no seu artigo 37, inciso XXI, dispõe sobre contratos

relativos às obras:

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154

“Ressalvados os casos especificados na legislação, as

obras, serviços, compras e alienações serão

contratados mediante processo de licitação pública

que assegurem igualdade de condições a todos os

concorrentes, com cláusulas que estabeleçam

obrigações de pagamento, mantidas as condições

efetivas da proposta, nos termos da lei, a qual

somente permitirá as exigências de qualificação

técnica e econômica, indispensáveis à garantia do

cumprimento das obrigações”.

A lei 8666 de 21 de junho de 1993 institui normas para licitações e

contratos da Administração Pública, relativos às obras, serviços no âmbito dos

Poderes da União, Estados, Distrito Federal e dos Municípios.

A licitação destina-se a garantir a observância do principio constitucional

da isonomia e selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração.

As obras e serviços só poderão ser licitados quando:

- Houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível

para exame dos interessados em participar do processo licitatório.

- Existir orçamento detalhado em planilhas que expressem a composição de

todos os seus custos unitários.

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155

- Houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento

das obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executados no

exercício financeiro em curso, de acordo com o respectivo cronograma.

As obras da administração pública, quando contratadas com terceiros,

serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas

na Lei 8666/93 art. 24 e 2514.

O objetivo da licitação é garantir a observância do princípio

constitucional da isonomia e selecionar a proposta mais vantajosa para a

Administração.

14 Os art. 24 e 25 da Lei 8666 elenca os casos em que a “licitação” é dispensada ou inexigível.

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156

8. Contratação

Após a deliberação da autoridade competente quanto à homologação e

adjudicação do objeto da licitação são celebrados os contratos administrativos

para realização das obras.

Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições

para sua execução, expressas em cláusulas que definam os direitos, obrigações e

responsabilidades das partes, em conformidade com os termos da licitação e da

proposta a que se vinculam.

Conforme dispõe o art. 55 da Lei nº. 8666/93, são cláusulas obrigatórias

em todos os contratos:

§ Objeto e seus elementos característicos;

§ Regime de execução e forma de fornecimento;

§ Preços e condições de pagamento, os critérios, data-base e

periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de

atualização monetária entre a data de adimplemento das

obrigações e a do efetivo pagamento;

§ Os prazos de inicio de etapas de execução, de conclusão, de

entrega, de observação e de recebimento definitivo conforme o

caso;

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157

§ Crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da

classificação funcional programática e da categoria econômica;

§ As garantias oferecidas para assegurar sua plena execução,

quando exigidas no edital;

§ Os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades

cabíveis e os valores das multas;

§ Os casos de rescisão;

§ Reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de

rescisão administrativa prevista no art. 77 da Lei nº. 8666/93;

§ A vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou

ou a inexigiu, ao convite e a proposta do licitante vencedor;

§ A legislação aplicável à execução do contrato e especialmente

aos casos omissos;

§ A obrigação do contratado de manter, durante toda a execução

do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele

assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação

exigidas na licitação;

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158

9. Fiscalização

É a atividade que deve ser realizada de modo sistemático pelo

contratante e seus prepostos com a finalidade de verificar o cumprimento das

disposições contratuais, técnicas e administrativas, em todos os seus aspectos.

O contratante manterá, desde o início dos serviços até o seu

recebimento definitivo, profissional ou equipe de fiscalização constituída de

profissionais habilitados, os quais deverão ter experiência técnica necessária ao

acompanhamento e controle dos serviços relacionados com o tipo de obra que

esta sendo executada.

A fiscalização caberá dentre outras, as seguintes atribuições:

§ Aprovar a indicação pelo contratado do coordenador

responsável pela condução dos trabalhos;

§ Verificar se estão sendo colocadas à disposição dos trabalhos

as instalações, equipamentos e equipe técnica previstos na

proposta e no contrato de execução dos serviços;

§ Esclarecer ou solucionar incoerências, falhas ou omissões

eventualmente constatadas no projeto básico ou executivo, ou

nas demais informações e instruções complementares do

caderno de encargos15, necessárias ao desenvolvimento dos

serviços;

15 Caderno de encargos – Parte integrante do projeto básico, que tem por objetivo definir detalhadamente o objeto do contrato bem como estabelecer requisitos, condições e diretrizes técnicas e administrativas para sua execução. Contém o detalhamento do método executivo de cada serviço, cabe a fiscalização acompanhar a execução dos serviços , conforme descrito no caderno de encargos.

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159

§ Aprovar materiais similares propostos pelo contratado, avaliando

o atendimento à composição, qualidade, garantia e desempenho

requerido pelas especificações técnicas;

§ Exercer rigoroso controle sobre o cronograma de execução dos

serviços;

§ Analisar e aprovar partes, etapas ou a totalidade dos serviços

executados, em obediência ao caderno de encargos.

§ Verificar e atestar as medições dos serviços, bem como conferir

e encaminhar para pagamento as faturas emitidas pelo

contratado.

10. Recebimento da Obra

Recebimento provisório.

Recebimento definitivo.

O Tribunal de Contas de Santa Catarina sintetiza as fases que devem ser

observadas pelos gestores públicos para a execução de uma obra pública, o

acompanhamento destas diversas etapas é monitorado por um sistema

informatizado de controle de obras atualmente denominado “Esfinge - Obras”,

outros Tribunais de Contas do Brasil possuem sistemas semelhantes que são

utilizados nas Auditorias de Obras Públicas.

Segundo o TCE SC, para um adequado procedimento licitatório,

devemos responder:

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160

"Por que fazer" – tem origem no planejamento da administração com

relação ao programa de obras, estudo de viabilidade, o benefício social da obra no

atendimento às expectativas da população (a real necessidade da obra).

“Pode ser feito” – será respondido sob o ponto vista legal, se obra

consta do PPA16, da LDO17 e da LOA18 se há recursos orçamentários para o

exercício e a previsão para mais dois exercícios, se a obra alcançar esse prazo.

Vinculadas à elaboração do Projeto Básico, surgem as seguintes

questões:

"O que fazer" - através dos desenhos do projeto, caracterizando a

forma e as grandezas geométricas, possibilitam a quantificação dos vários serviços

a serem executados;

"Quando fazer" - o cronograma físico, evidenciando o início, prazo total

e a seqüência de execução dos vários serviços, permite adequar os procedimentos

construtivos a serem empregados às condições de tempo que foram

estabelecidas;

16 PPA - Lei de periodicidade quadrienal, de hierarquia especial e sujeita a prazos e ritos peculiares de tramitação, que estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Vigora por quatro anos, sendo elaborado no primeiro ano do mandato, entrando em vigor no segundo ano do mandato e estende-se até o primeiro ano do mandato subseqüente. 17 LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias Lei que define as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subseqüente, orienta a elaboração da Lei Orçamentária Anual, dispõe sobre as alterações na legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. 18 LOA - Lei especial que contém a discriminação da receita e da despesa pública, de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. É também conhecida como Lei de Meios, porque possibilita os meios para o desenvolvimento das ações relativas aos diversos órgãos e entidades que integram a administração pública.

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161

"Como fazer" - os documentos escritos (caderno de encargos,

especificações e memoriais descritivos) permitem identificar, os vários serviços

que serão executados, caracterizar os materiais intervenientes;

"Onde fazer" - os memoriais descritivos aliados aos desenhos

permitem conhecer os locais onde os serviços serão executados;

“A que custo” – através do orçamento base que expresse a

composição de todos os seus custos unitários, bem como, os preços unitários

(com a estimativa de BDI), fica estabelecida a previsão do desembolso pela

administração.

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162

Durante as Auditorias de Obras faz-se a confrontação entre o “O que

deveria ser” e “O Que foi” ou “o que está sendo executado”, com o objetivo de

fornecer subsídios para que se previnam desvios dos recursos aplicados, e no

caso destes já terem sidos desviados que se impute multas e ressarcimentos aos

gestores públicos que não observaram as etapas necessárias para a correta

aplicação dos recursos públicos na execução das Obras Públicas.

Da análise do fluxograma que indica a seqüência de etapas que devem

ser seguidas para a execução das Obras Públicas, verificamos que na maioria das

vezes somente a partir da sétima etapa (Licitação da Obra), os Tribunais de

Contas do Brasil rotineiramente efetuam seus trabalhos de Auditorias, ficando as

etapas anteriores a critério dos gestores públicos que executam estas etapas sem

que sejam questionados os critérios utilizados para a escolha de determinadas

alternativas de investimento.

Esta situação é substancialmente diferente de outras Entidades

Fiscalizadoras internacionais que atualmente utilizam grande parte de seu tempo

na análise dos projetos e alternativas de investimento anteriores à fase de licitação

e contratação.

As Auditorias de Obras Públicas realizadas pelos Tribunais de Contas

do Espírito Santo, até a presente data, têm se concentrado na verificação dos

acontecimentos ocorridos após a realização da despesa. Entretanto grande parte

das irregularidades que ocorrem durante a realização dos contratos públicos se

verificam nas fases iniciais dos empreendimentos.

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163

A seguir de acordo com o fluxograma abaixo passamos a analisar as

fases da obra em que são realizadas as Auditorias de Obras.

Figura 6.6 Fluxograma – procedimentos para execução de obras. Fonte;

elaboração própria.

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164

Estudos preliminares

• Definição da Obra

Os Tribunais de Contas no Brasil não tem questionado os critérios

utilizados pelos gestores públicos para optar por determinado tipo de

empreendimento ficando esta responsabilidade adstrita aos órgãos de

planejamento dos órgãos do executivo. Entendemos que tais critérios deveriam

estar explicitados para que pudessem a qualquer momento justificar a ação dos

administradores públicos, entretanto até a presente data não existe nenhum

procedimento nos organismos de controle externo que contemple a avaliação

destas ações.

• Viabilidade

A previsão dos recursos a serem utilizados na consecução dos

contratos de obras públicas deve estar prevista nos Planos Plurianuais de governo,

na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na Lei de Orçamento anual. Atualmente os

Tribunais de Contas durante suas Auditorias de Obras não dispõe de

procedimentos definidos que permitam fazer uma avaliação dos atos de gestão

relativos à escolha do terreno, anteprojeto, orçamento estimativo e a análise da

relação custo/benefício.

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165

Projetos

• Projeto

Algumas Entidades Fiscalizadoras Superiores atualmente tem dado

grande importância à Auditoria de Projetos que é um tipo de Auditoria realizada “a

priori” e pode trazer grandes benefícios para a execução dos contratos de obras

uma vez que os custos despendidos com a análise e elaboração dos projetos são

sempre menores que os custos ocasionados por improvisações durante a

construção.

Esta é um tipo de Auditoria de Obras altamente recomendável nesta fase da

execução dos trabalhos e sempre que possível deverá ser efetuada, no Brasil

atualmente somente o Tribunal de Contas da União tem tido experiência neste tipo

de trabalho.

Contratação

• Licitação

Esta fase está diretamente relacionada com o aspecto legal da

contratação dos serviços públicos e é também um ponto em que se observa

grande numero das irregularidades uma vez que muitas empresas almejam

contratar com a Administração Pública e ocorre toda a sorte de irregularidades.

A modalidade recomendada para esta fase é a Auditoria “concomitante” de modo

que se impeça a contratação de obras de maneira irregular que na maioria das

vezes vai acarretar um aumento nos preços pagos pelos serviços pelos gestores

públicos.

• Contratação

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166

Nesta fase devem ser observados os aspectos legais observada a

legislação vigente e as condições previstas no edital de licitação.

Execução

• Execução

Durante a execução do contrato são realizados grande parte dos

serviços de Auditorias de Obras, quando se verifica:

• a compatibilidade dos preços contratados pelos serviços com os preços

praticados no mercado;

• a quantidade dos serviços executados comparados com a quantidade de

serviços contratados e pagos;

• a qualidade dos serviços executados.

VI. 8.1 – Auditorias dos Preços e quantidades

As Auditorias de Obras realizadas pelos Tribunais de Contas

tradicionalmente tem sido do tipo “a posteriori” quando são analisados os serviços

executados e verificado a sua compatibilidade com a contratação e verificado os

preços praticados no mercado.

A planilha da fig. 6.7 tem sido utilizada pelo Tribunal de Contas do ES para

verificar se os preços contratados estão de acordo com os preços máximos

sugeridos pelos Institutos que elaboram pesquisa de preços médios praticados no

mercado.

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PLANILHA DEMONSTRATIVA DAS DIFERENÇAS DE QUANTIDADES E/OU PREÇOS

Órgão Jurisdicionado

CONTRATO: 05/2007 - REFORMA DA PENITENCIÁRIA

DATA BASE: jul/2007

Quantidade Preço unitário Preço total TCEES item Especificação

Uni

dad

e

Contratada Paga Executada Contratado Valor Fonte Código

Pago TCEES Diferença Irregular

1

GRADE COM PORTÃO

KG

30.000,00

69.437,47

11,47

10,30

796.447,78

0,00

1, 2 e 3

2

PORTA DE CELA EM BARRAS

KG

31.374,61

31.051,40

11,47

9,50

356.159,56

0,00

2 e 3

3

TRANSPORTE HORIZONTAL DE ENTULHO DE OBRA

T

25.000,00

25.690,23

25.690,23

10,19

1,28

261.783,44

32.000,00

TOTAL

4.493.239,34

360.246,12 0,00

Fonte: I (Itufes) - P (Pini) - D (DERTES/ES) - E (Emop) - C (Preço Contratual)

Irregularidades encontradas 1 - Quantidade paga superior à quantidade contratada, sem aditivo contratual 2 - Quantidade paga superior à quantidade executada 3 - Preço unitário contratual acima do preço unitário de referência (TCEES)

Figura 6.7 – Planilha utilizada no Tribunal de Contas do ES que compara os preços e quantitativos executados com os contratados e com os pagos -

Fonte: 9ª Controladoria Técnica – Tribunal de Contas do Espírito Santo

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A Resolução nº180 do Tribunal de Contas do ES regulamenta a base de

preços que deve ser utilizada para a verificação dos preços contratados das Obras

Públicas no estado do Espírito Santo, neste comparativo são utilizados os preços

fornecidos pelo ITUFES órgão associado a Universidade Federal do ES que

elabora mensalmente pesquisa com os preços de serviços e insumos utilizados

nos contratos de obras públicas, além das tabelas do DERTES (Departamento de

Estradas e Rodagem do ES), EMOP (Empresa de Obras Públicas), PINI e em

outros casos através de pesquisa de preços no mercado.

Esta planilha permite comparar as quantidades:

§ Contratada – é a quantidade do serviço que consta na planilha do

contrato que foi elaborada de acordo com o projeto básico.

§ Paga – é a quantidade paga durante a execução dos serviços

atestada pela fiscalização da obra.

§ Executada – é a quantidade que os Engenheiros dos Tribunais de

Contas verificam que foram executadas durante as inspeções às

obras.

Com relação às quantidades podem ocorrer as seguintes

incompatibilidades:

1. A quantidade paga é maior do que a contratada –

neste caso a irregularidade consiste em efetuar o pagamento de um serviço sem o

respectivo contrato isto é “está se pagando um quantitativo de serviço que não foi

contratado”.

2. A quantidade executada é menor do que a quantidade

paga, neste caso foi efetuado pagamento indevido de serviços que não foram

executados.

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169

De acordo com a legislação vigente (Lei 8666/93) a quantidade

contratada é estabelecida de acordo com os levantamentos efetuados no projeto

básico da obra que deve ser capaz de estipular com precisão os quantitativos dos

serviços.

Com relação aos preços a planilha permite comparar o valor dos serviços

contratados com os valores estabelecidos pelos institutos de pesquisas de preços.

Desta forma para a questão dos preços praticados nos Contratos das

Obras Pública no ES foi estabelecido um critério de aceitabilidade levando-se em

conta os preços praticados no mercado para Obras comuns que está sendo

utilizado como referencia para as Obras Públicas.

O tema necessita ser mais bem debatido principalmente porque se

questiona a legalidade da resolução que o Tribunal de Contas do ES utiliza para

limitar os preços ofertados pelas empresas nas licitações públicas, contudo como

ponto de partida parece bastante razoável a adoção desta prática nos Tribunais de

Contas, evidentemente que até que seja estabelecida uma base nacional de

preços de obras e serviços para o setor público muito ainda há do que se discutir

sobre o assunto.

Com relação à comparação dos quantitativos executados com os

quantitativos pagos a situação é bem mais complexa e as Auditorias

concomitantes poderiam melhor avaliar este quadro uma vez que em grande parte

dos contratos de obras e serviços de engenharia não é possível verificar a

compatibilização dos serviços executados com os quantitativos pagos, esta

verificação em grande parte dos serviços só é possível por ocasião da execução

dos serviços e das medições mensais desta maneira entendemos que o controle

interno dos órgãos gestores dos contratos deveriam se cercar das medidas

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170

necessária a garantir que os serviços pagos foram realmente executados. Todavia

o que se verifica na prática é que os órgãos gestores dos contratos públicos não

dão a devida importância aos serviços de fiscalização das obras.

Conforme constatamos em nossa pesquisa das irregularidades

encontradas nas obras públicas no estado do ES de 2002 a 2006, grande parte

das irregularidades referentes à execução do contrato diz respeito a falta de

controle interno adequado, falta de registro em Diário de Obras, alteração de

projetos , modificação das especificações além de pagamentos indevidos por

serviços que não foram executados.

Com relação a qualidade dos serviços pudemos verificar que nas

Auditorias de Obras até a presente data não se estabeleceu um padrão de

comparação de modo que ao final da Auditoria possa se afirmar seguramente que

a obra apresenta padrões aceitáveis ou não. Quando se fala em qualidade nos

relatórios de Auditoria são analisados aspectos específicos baseados na

experiência e sentimento de cada equipe de Auditoria. Muito ainda há de se

avançar neste quesito até que sejam estabelecidos critérios objetivos de

comparação para os Contratos Públicos de Obras e Serviços.

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171

VI. 9 – Sistema Informatizado de Auditoria de Obras VI. 9.1 – Introdução

Na atualidade com a inserção da informática nas atividades humanas

surge um fator importante na melhoria dos serviços prestados pelo setor público

que se refere à Tecnologia da Informação que possibilita obter consistência na

prestação de serviços através do uso de banco de dados e maior acessibilidade e

agilidade no atendimento pela implantação de canais eletrônicos de atendimento

com o cidadão.

GRÖULUND (2002) define “e-governement” como uma maneira do setor

público usar novas tecnologias, a fim de fornecer às pessoas um acesso mais

conveniente às informações e aos serviços públicos, de aumentar a qualidade dos

serviços e de prover maiores oportunidades de participação nas instituições e nos

processos democráticos para:

§ Aumentar a eficiência e efetividade das funções executivas de governo,

incluindo a prestação de serviços públicos;

§ Possibilitar maior transparência, dando acesso a mais informações;

§ Facilitar mudanças fundamentais na relação entre cidadãos e estado e

entre órgãos de Estado, com implicações na estrutura democrática.

Informação de qualidade, fornecida através de ferramentas flexíveis e de

fácil utilização é um elemento vital para o bom desempenho, pelas entidades de

controle externo, de suas atribuições constitucionais.

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172

A utilização de sistemas de informações permite ao controle externo obter

um panorama das atividades dos órgãos auditados de forma a direcionar os

trabalhos para àqueles que apresentem maiores incongruências em suas

informações.

O melhor resultado para a construção de obras públicas depende de um bom

planejamento, significando, assim, definir o que fazer, quando fazer, como fazer,

onde fazer, a que custo se espera fazer, definindo ainda seus mecanismos de

controle. Esse planejamento envolve diversas etapas, entre as quais podemos

destacar: a viabilidade; o projeto básico; o orçamento; o projeto executivo; a

execução propriamente dita e o controle, além da pós-execução.

Cada uma dessas etapas deverá ser adequadamente estudada, planejada e

subdividida de forma a cumprir, não somente os aspectos legais e formais, mas,

acima de tudo, resultar em uma obra de boa qualidade, segura, adequada à

finalidade que se destina e a um preço justo, cabendo ao Tribunal de Contas

verificar se as ações de seus jurisdicionados estão se processando dentro dos

princípios constitucionais.

O estabelecimento de um “SISTEMA INFORMATIZADO” que possibilite

receber informações via internet em tempo real da situação dos contratos de

engenharia de todos os jurisdicionados possibilita otimizar os recursos na

realização dos trabalhos de auditoria, pois será possível elaborar um planejamento

a partir de um banco de dados que contenha todas as informações em tempo real

dos contratos relativos às obras de engenharia inclusive com as alterações no

momento em que elas estiverem ocorrendo.

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173

A partir das informações prestadas oportunamente pelos jurisdicionados é

possível adotar um critério de escolha dos contratos que serão alvo das auditorias

de modo que as ações de fiscalização sejam refinadas e direcionadas para pontos

de maior significância.

O Sistema destina-se à remessa de informações necessárias para o controle

e acompanhamento da execução das obras públicas, incluindo-se os serviços de

engenharia, no âmbito da Administração Direta e Indireta do Estado e dos

Municípios, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo poder público, bem

como a promover a transparência dos atos de gestão na área de engenharia (TC

SC – Sistema Informatizado de Controle de Obras).

Alguns Tribunais de Contas no Brasil, já dispõe desta ferramenta e sua

utilização tem se mostrado perfeitamente adequada não só aos serviços de

auditoria dos Tribunais de Contas, mas também como uma ferramenta que orienta

os jurisdicionados nas ações a serem tomadas desde a fase de licitação do

contrato até a entrega da obra.

A fiscalização das obras e serviços de engenharia nos termos ora

propostos é convergente com o que dispõe a Lei Complementar Federal nº.

101/2000, também chamada de Lei de Responsabilidade Fiscal, a qual instituiu

instrumentos de transparência da gestão pública, inclusive através de meios

eletrônicos para ampla divulgação, atribuindo, além disso, aos Tribunais de Contas

a competência para a fiscalização do seu cumprimento.

Neste contexto, tendo em vista o impacto financeiro das obras públicas

paralisadas ou irregulares, acentua-se a necessidade de efetuar acompanhamento

em meio informatizado da situação das obras públicas no âmbito da Administração

Pública Estadual e Municipal

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174

VI. 9.2 – Transparência e Controle Social

A sociedade tem direito de solicitar prestação de contas a

cada agente público da sua administração.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E

DO CIDADÃO, 1798.

Segundo Culau e Fortis, 2006 a transparência é entendida como

produção e divulgação sistemática de informações, conferir transparência, além de

se constituir em um dos requisitos fundamentais da boa governança, cumpre a

função de aproximar o Estado da sociedade, ampliando o nível de acesso do

cidadão às informações sobre a gestão pública. Os governantes, ao estarem

obrigados a prestar contas de sua gestão, submetem o seu desempenho à

avaliação da sociedade.

A criação de instrumentos de transparência de gestão fiscal,

consubstanciada na divulgação periódica de relatórios, na realização de

audiências públicas regulares, na prestação de contas dos chefes dos poderes

fortalece o controle social e representa incentivo à participação popular.

Um dos fatores primordiais para o desenvolvimento de uma cultura de

transparência e de controle social sobre as ações públicas é a disponibilização, ao

cidadão e à sociedade organizada, de informação de qualidade de forma simples,

abrangente e tempestiva.

Embora não se espere que tal controle parta de um cidadão individualmente

mas sim do que se costuma denominar sociedade organizada (sindicatos,

associações de classes, partidos políticos, ONGs, etc), para que se possa

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175

proporcionar à sociedade a possibilidade de participação no ciclo de controle

externo – especialmente na prevenção de fraudes – torna-se necessária a

promoção da publicidade da informação.

Dentro desta perspectiva, um papel fundamental a ser desempenhado pelas

entidades de controle externo na promoção do controle social deve ser o de

garantir que a publicidade dos atos dos entes auditados está se dando conforme a

legislação vigente, além de possibilitar, através de seus próprios meios (como

páginas de Internet, por exemplo), que a sociedade tenha acesso de forma rápida e

fácil a informações do controle externo as quais, via de regra, também são públicas

(TCE PR, 2005).

Visando otimizar o Controle Externo deve-se modernizar a função

fiscalizadora dos Tribunais de Contas, em termos técnicos, procedimentais e

quanto à tecnologia utilizada, de forma a torná-lo dinâmico e tempestivo no

monitoramento das ações governamentais e na avaliação dos seus impactos sócio-

econômicos e, almejando inserir-se no contexto de inovações organizacionais e

tecnológicas ao qual estão compelidas as instituições.(TCE SC)

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176

VI. 9.3 - Sistemas Informatizados de Auditoria de Obras Públicas

São sistemas informatizados através dos quais os jurisdicionados prestam

informações via Internet e “on line” cadastrando as obras públicas, logo após a

conclusão do processo licitatório e registrando, periodicamente, os eventos

ocorridos e o andamento dos contratos, com o preenchimento de formulários

disponibilizados nas telas do Sistema.

A programação de auditorias, o acompanhamento do andamento das obras,

a emissão de relatórios automáticos das obras iniciadas e das não iniciadas, a

agilização das auditorias, constituem-se em vantagens destes Sistemas (Sistema

de Controle de Obras, TCE SC) .

Após a implementação desta ferramenta em todos os jurisdicionados do

Estado será possível obter um banco de dados em tempo real de todos os

contratos de obras em andamento e a partir destas informações será possível

estabelecer critérios e metodologias para a seleção dos contratos que serão alvo

das Auditorias a cada ano.

O Sistema é capaz de sinalizar “quando realizar as Auditorias”, uma vez que

as informações são prestadas desde a licitação até a entrega da obra e torna

possível que o TCE ES analise a cada momento os fatos que ocorrem no decorrer

da execução dos contratos e estabelecer critérios para que sejam programadas as

Auditorias desde a fase da licitação “a Priori”, durante a execução “Concomitante”

até a entrega da Obra “a Posteriori”.

O Sistema orienta os jurisdicionados sobre os procedimentos que devem ser

observados para execução da obra. As informações que devem ser prestadas

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pelos jurisdicionados servem como orientação para as etapas que devem ser

observadas no transcurso da execução dos contratos desde a licitação até a

entrega da obra.

Abaixo esquema do funcionamento do Sistema Informatizado utilizado no

Tribunal de Contas de Santa Catarina.

Figura 6.8 - Esquema do funcionamento do sistema ESFINGE – Obras

Fonte TCE SC

U.G.

Contrato

Cadastramentos Licitação

N.º do Ato Data de abertura Modalidade Regime de execução Data base vencedora

coletivo

Obra

Licitação

Ocorrências

Licitação Contrato e

Obra

Internet

Base de Dados

Internet

Análise TCE

DDADOS

OBRAS

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O sistema faz, automaticamente, críticas de consistência das informações

prestadas e permite a emissão de relatórios e estatísticas, tanto ao Tribunal de

Contas, como aos jurisdicionados.

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179

CAPÍTULO VII – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

VII. 1 – Conclusões

Em todo o mundo se reconhece cada vez mais a importância dos

mecanismos de controle dos gastos públicos e os Tribunais de Contas devem

cada vez mais aprimorar seus métodos e procedimentos de Auditoria para que

possam dar respostas à sociedade com relação à aplicação dos recursos

arrecadados através de impostos da população e aplicados pela máquina

administrativa estatal.

Em muitos casos os governantes ao chegarem ao poder tendem a se

cercar de seus aliados de campanha, e utilizam o erário do modo que melhor lhes

provier, é necessário que órgãos independentes da Administração Pública

fiscalizem suas ações de modo que o direcionamento dos recursos se faça em

beneficio da sociedade nas palavras do Barão de Montesquieu “é necessário que

pela disposição, das coisas que o poder detenha o poder”.

Em situações onde a democracia é exercida em sua plenitude se faz

necessário que os Tribunais de Contas exerçam suas funções constitucionais com

autonomia e independência e utilizem seus recursos humanos e materiais de

modo a colaborar para que os recursos públicos sejam utilizados da melhor

maneira em prol da sociedade.

A partir da Constituição de 1988 os Tribunais de Contas passaram a ter

a incumbência de verificar a eficiência das Administrações Públicas e partir daí

surgiu a necessidade de estruturarem seus quadros técnicos para realizarem

Auditorias de Obras Públicas, principalmente devido ao fato de que estes contratos

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realizados pelas Administrações Públicas envolviam elevadas somas de dinheiro e

os desvios e fraudes não podiam ser avaliados pelos Tribunais de Contas uma vez

que seus quadros técnicos não estavam preparados para a realização deste tipo

de Auditorias.

Com o desenvolvimento dos regimes democráticos e na medida em que

as atividades governamentais são aprimoradas é necessário que os Tribunais de

Contas estejam equipados com ferramentas de controle adequadas de modo que

possam dar respostas satisfatórias e em tempo hábil para a população sobre a

utilização dos recursos públicos.

Considerando que a atividade do controle consiste na verificação de

que a situação existente está conforme um padrão estabelecido é necessário que

sejam estabelecidos parâmetros que sirvam como comparativos para obras.

Na atualidade as sociedades modernas estão preocupadas não só com

a legalidade das gestões públicas, mas também principalmente com a eficiência e

eficácia da utilização dos recursos públicos.

Em Estados onde prevalecem os regimes democráticos, as

Administrações públicas modernas já estão superando as práticas adotadas em

épocas remotas quando prevalecia o patrimonialismo e depois disto a burocracia,

a nova gestão pública deve estar ciente de que a sociedade exige que as práticas

da gestão pública privilegiem ações pautadas na otimização da utilização dos

recursos.

Como resultado de nossa pesquisa verificamos que grande parte das

irregularidades nos contratos das Obras Públicas ocorre antes da contratação,

sugerimos que os Tribunais de Contas do Brasil dêem a devida importância a

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estas fases iniciais de concepção dos empreendimentos de modo minimizar as

irregularidades apontadas por ocasião das Auditorias.

Apesar das Auditorias de Obras não terem o mesmo significado das

Auditorias Operacionais os conceitos utilizados são os mesmos e quando tratamos

de contratos de obras as questões referentes à rentabilidade, utilidade,

economicidade e eficiência são amplamente utilizadas como princípios básicos

norteadores dos serviços de engenharia.

A necessidade do estabelecimento de critérios objetivos para a

realização das Auditorias de Obras além do estabelecimento de parâmetros que

sirvam de comparativos para as diversas obras e serviços de engenharia é

fundamental para respaldar os trabalhos realizados pelas equipes técnicas dos

Tribunais de Contas.

As Auditorias de Obras Públicas devem atentar principalmente para

aspectos relacionados à:

• Conveniência de se executar determinado projeto nesta fase estudos de avaliação

de projetos devem ser de fundamental importância para estudar alternativas de

investimento de modo que os recursos públicos possam ser utilizados trazendo

maiores beneficio para a sociedade. Até a presente data nenhum Tribunal de

Contas do Brasil tem feito este tipo de avaliação, ficando a critério dos gestores

públicos a definição dos projetos que melhor lhe convier e muitas vezes

completamente dissociados dos compromissos assumidos com a população por

ocasião das campanhas eleitorais.

• A questão da legalidade é a principal fonte de aspiração dos legisladores, as Leis

relativas aos Contratos de Obras Públicas têm evoluído bastante nos últimos anos

desde o Decreto Lei nº. 200 passando pelo Decreto Lei 2300 até a Lei 8666/93

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atualmente em vigor, que esta em vias de ser atualizada, muito tem se evoluído no

sentido da legalidade das contratações públicas nos últimos anos e novas formas

de contratação, como por exemplo, o Pregão deve estar em futuro próximo em

vigor aumentando a eficiência dos processos licitatórios.

• Com relação à economicidade atualmente os Tribunais de Contas vêm dando

atenção à questão,e esta deve,na medida em que forem estabelecidos padrões

comparativos para os diversos tipos de serviços e a melhoria dos métodos de

controle utilizados pelos órgãos de controle interno e pelos Tribunais de Contas

forem sendo introduzidos, deve ser o novo paradigma da Administração Pública.

• Relativo à qualidade dos materiais e métodos construtivos adotados nos contratos

de obras públicas muito ainda há que se evoluir até que o setor se equipare às

obras executadas pela iniciativa privada. O que se observa é que muitas vezes a

utilização de tecnologia de construção e materiais aplicados completamente

dissociados da finalidade que se destinam isto se deve muitas vezes devido á

deficiências na contratação de projetos e serviços necessários á fase anterior a

contratação das obras.

Os Tribunais de Contas não são capazes de auditar a totalidade dos

contratos de obras e serviços de engenharia realizados pelos órgãos da

Administração Pública, sendo assim é necessário que se estabeleçam critérios

objetivos para a escolha dos contratos que serão alvo das Auditorias. A

implementação de um modelo baseado nos riscos de ocorrerem desvios ou

fraudes nos contratos públicos (Matriz de Risco) e a utilização de um programa

computacional (Solver do Excel) capaz de selecionar a amostra de contratos que

estejam sujeitos aos maiores fatores de riscos associados sujeitos a determinadas

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condições previamente estabelecidas (restrições) nos parece estar de acordo com

as mais modernas técnicas de tomada de decisão (implementação de modelo).

Os gestores públicos devem ao executar contratos de Obras e serviços de

engenharia observar uma seqüência lógica de procedimentos de modo que se

garanta que o empreendimento a ser levado a cabo se faça atendendo todos os

requisitos legais necessários.

As Auditorias de Obras Públicas devem apontar tempestivamente as

irregularidades cometidas em cada fase das execuções das obras uma vez que se

alguma etapa não for observada durante os trabalhos possivelmente outras etapas

serão comprometidas.

Quando são realizadas as Auditorias “a Posteriori” observamos que falhas

no processo que ocorrem no início são refletidas até o final da obras, como por

exemplo, projetos básicos deficientes que acarretam modificações substanciais no

objeto do contrato durante a execução dos serviços e pode levar até a

paralisações indesejáveis, estas falhas se detectadas no momento em que

estiverem ocorrendo poderiam ser corrigidas e se evitariam desperdícios e

interrupções no andamento das obras.

A implantação do Sistema Informatizado de Auditoria de Obras Públicas no

Tribunal de Contas do ES possibilitará fazer a verificação instantânea dos

empreendimentos de engenharia desde a fase da elaboração dos projetos básicos,

passando pela licitação, contratação, execução até a entrega definitiva das obras,

julgamos que no atual estágio do Tribunal de Contas do ES em relação às

Auditorias de Obras é a ferramenta capaz de permitir um avanço significativo nos

serviços relacionados aos contratos de engenharia.

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É também capaz de dar respostas instantâneas à sociedade a respeito da

situação dos contratos de obras públicas no ES o que possivelmente criará um

efeito multiplicador nas fiscalizações na medida em que a sociedade organizada

terá condições de acompanhar o desenvolvimento de projetos de seu interesse.

Com este avanço tecnológico, o TCE ES estará equiparado aos mais

avançados Tribunais de Contas do país no que diz respeito ao acompanhamento

dos serviços de engenharia.

Será possível a partir da implantação deste sistema que o TCE ES dirija

suas ações de controle aos pontos onde houver os maiores riscos de haver

desperdícios nas obras ocasionados por erros ou fraudes.

O Sistema possibilitará que os recursos utilizados nas Auditorias de Obras

sejam utilizados da melhor maneira de modo a otimizar o tempo nos trabalhos de

auditoria.

VII. 2 – Perspectivas futuras

A adoção de modelos para a Seleção de Amostra requer uma discussão

mais aprofundada sobre o tema que é de fundamental interesse nos trabalhos de

Auditorias de Obras sugere-se que este estudo seja efetuado comparativamente

com os critérios adotados em outros Tribunais de Contas do país.

Os critérios para a realização das Auditorias de Obras antes da fase de

contratação envolvem questões relativas a Análise de Projetos e necessitam de

um estudo minucioso de modo a que possam ser estabelecidos critérios para a

seleção de alternativas de investimentos pelos gestores públicos.

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Determinados contratos de obras públicas devido a suas características

peculiares não encontram em sistemas referencias de preços valores que possam

ser utilizados como comparativos para os trabalhos realizados pelos Tribunais de

Contas, impõe-se que se estabeleça uma base nacional destes serviços para a

contratação de obras públicas.

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