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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO
PROPOSTA DE UMA METODOLOGIA DE RECOMPENSAS PARA PROFISSIONAIS DO CONHECIMENTO
FLORIANPOLIS / SC 2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO
PROPOSTA DE UMA METODOLOGIA DE RECOMPENSAS PARA PROFISSIONAIS DO CONHECIMENTO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo.
Orientador: Dr. Roberto Carlos dos Santos Pacheco
FLORIANPOLIS / SC 2005
DANIELLA P. VIEIRA
PROPOSTA DE UMA METODOLOGIA DE RECOMPENSAS PARA PROFISSIONAIS DO CONHECIMENTO
Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo.
_________________________ Edson Pacheco Paladini, Dr.
Coordenador do Curso de Ps-Graduao em Engenharia de Produo
Banca Examinadora:
_________________________________ Prof. Roberto Carlos dos Santos Pacheco, Dr.
Orientador
_________________________________ Prof. Aran Bey Tcholakian Morales, Dr.
Membro
_________________________________ Prof. Vincius Medina Kern, Dr.
Membro
_________________________________ Prof. Andrea Valria Steil, Dra.
Membro
Este trabalho foi resultado da iniciativa de vrias pessoas
que acreditam que o Brasil est em p de igualdade com
qualquer pas do mundo no que se refere tecnologia e
gesto. Dessa forma, dedico este estudo a todos aqueles que
contriburam para o seu desenvolvimento.
AGRADECIMENTOS
Agradeo aos que de alguma forma contriburam para que
eu alcanasse esta meta de minha vida.
Aos mestres, amigos e familiares, muito obrigada!
Um dia, preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir.
Almir Klink
SUMRIO
RESUMO ................................................................................................................................. 7 ABSTRACT ............................................................................................................................. 8 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 9 LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................... 11 1 INTRODUO.................................................................................................................... 12
1.1 Apresentao ................................................................................................. 12 1.2 Objetivos......................................................................................................... 14 1.3 Justificativa ..................................................................................................... 14 1.4 Metodologia de pesquisa ............................................................................... 16 1.5 Delimitao do trabalho.................................................................................. 17 1.6 Estrutura da dissertao ................................................................................ 18
2 CONTEXTO CONCEITUAL DA METODOLOGIA DE RECOMPENSAS .......................... 20
2.1 A evoluo das relaes salariais .................................................................. 20 2.2 Organizaes com o foco no conhecimento .................................................. 23 2.3 A atual forma de trabalho ............................................................................... 25 2.4 A questo de remunerao ............................................................................ 27
2.4.1 Remunerao por competncias ........................................................................................ 28 2.4.2 Tendncias no campo da remunerao .............................................................................. 30
2.5 Matriz ER sob a tica organizacional atual .................................................... 32 3 METODOLOGIA DE RECOMPENSAS PARA PROFISSIONAIS DO CONHECIMENTO 34
3.1 A metodologia da matriz ER........................................................................... 34 3.1.1 Etapa 1: Definir as dimenses de atuao do trabalho ....................................................... 36 3.1.2 Etapa 2: Definir os indicadores e pesos do esforo ............................................................ 41 3.1.3 Etapa 3: Definir os critrios de recompensa........................................................................ 46 3.1.4 Etapa 4: Avaliar o ciclo........................................................................................................ 49
4 VALIDAO DA MATRIZ ER NO GRUPO DE PESQUISA.............................................. 53
4.1 O contexto organizacional dos grupos de pesquisa ...................................... 53 4.2 Validao do estudo da matriz ER................................................................. 55 4.3 Etapa 1: Definir as dimenses de atuao do trabalho ................................. 57 4.4 Etapa 2: Definir os indicadores e pesos do esforo....................................... 59 4.5 Etapa 3: Definir os critrios de recompensa .................................................. 63 4.6 Etapa 4: Avaliar o ciclo ................................................................................... 65
5 DISCUSSO E CONSIDERAES FINAIS...................................................................... 67 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................... 72 APNDICE A......................................................................................................................... 78 APNDICE B......................................................................................................................... 89
RESUMO
No contexto da sociedade do conhecimento muitas organizaes se deparam com a questo da como remunerar os profissionais cujos meios de produo se baseiam no conhecimento. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo definir uma metodologia de recompensas com base nos esforos de indivduos integrantes de equipes de alto desempenho com atuao profissional em organizaes do conhecimento. A metodologia, denominada Matriz de Esforo e Recompensa, descreve quatro etapas que permitem organizao definir como ir atribuir recompensas aos esforos realizados por profissionais do conhecimento. Na primeira etapa so definidas as dimenses de atuao da organizao. Na segunda etapa so mapeados os indicadores de esforos que efetivamente contribuem para a organizao. Na terceira etapa a organizao define um conjunto de recompensas que podem ser oferecidas e que correspondem aos esforos realizados. Na ltima etapa so feitas as avaliaes profissionais com o intuito de definir a pontuao e a correspondente recompensa do profissional. Assim, para aferir os resultados da Matriz de Esforo e Recompensa, foram realizadas a simulao e a validao de uma matriz em uma organizao voltada para o conhecimento cujos profissionais se dedicam pesquisa. Os resultados deste trabalho apontaram uma forma de como a organizao pode balancear esforo e recompensa de modo a cumprir sua misso e alcanar sua viso.
Palavras-chave: Remunerao; Profissionais do Conhecimento; Matriz de Esforo e Recompensa.
ABSTRACT
In the context of Knowledge society, many organizations come across to the question about how to reward the professional whose production means are based on knowledge. Following this, the present thesis is proposed to define a rewards methodology based on the relation between integrants of high performance team s efforts whose professional performance has been realized in knowledge organizations. The methodology, called Matrix of Effort and Rewards, describes four stages which allow the organization to define how it will attribute rewards to the efforts realized by knowledge professionals. In the first stage the performance dimensions of the organization are defined. In the second stage the pointers of efforts that effectively contribute for the organization are mapped. In the third stage the organization defines a set of rewards that can be offered and that correspond to the efforts. In the last stage the professional evaluations intended to define the punctuation and the respective professional rewards are realized. Thus, to survey the results of the matrix of effort and rewards, there was realized a study in an organization which is directed toward to knowledge, and whose professionals are dedicated to research. The results of this work had pointed a form concerning how the organization can balance effort and rewards in order to fulfill its mission and to carry through its vision.
Keywords: Remuneration; Knowledge professionals; Matrix of effort and reward.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Metodologia do trabalho................................................................................................... 16 Figura 1.2 - Ilustrao da arquitetura da metodologia da matriz ER.................................................... 35 Figura 1.3 - Ilustrao da metodologia da matriz ER .......................................................................... 35 Figura 1.4 - Processo que envolve a metodologia da Matriz de Esforo e Recompensa .................... 36 Figura 1.5 - Modelo organizacional ..................................................................................................... 37 Figura 1.6 - Matriz de esforo sob as dimenses organizacionais ...................................................... 38 Figura 1.7 - Percentual de respostas sobre a pergunta: qual a melhor parte do seu trabalho?........... 47 Figura 1.8 - Metodologia da matriz por unidade de atuao do colaborador....................................... 50 Figura 1.9 - Representao da estrutura organizacional em clulas do Grupo Stela .......................... 57
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tabela de questes para elaborar as dimenses.............................................................. 40 Quadro 2 - Dimenses da matriz ER para uma organizao baseada em projetos ............................ 41 Quadro 3 - Indicadores da matriz ER para uma organizao de ensino ............................................. 45 Quadro 4 - Recompensas com base nas dimenses organizacionais ................................................ 48 Quadro 5 - Redutor aplicado ao indicador de atuao profissional na dimenso Instituio ............... 51 Quadro 6 - Mdia ponderada aplicada ao caso de atuao em duas unidades .................................. 51 Quadro 7 - Mapeamento dos segmentos de atuao do grupo .......................................................... 58 Quadro 8 - Estrutura das dimenses da Matriz de Esforo e Recompensa do Grupo Stela ............... 58 Quadro 9 - Itens relacionados direta e indiretamente ao esforo ........................................................ 60 Quadro 10 - Indicadores da dimenso Instituio do Grupo Stela ...................................................... 61 Quadro 11 - Indicadores da dimenso Aprendizagem do Grupo Stela ............................................... 62 Quadro 12 - Indicadores e pesos do Grupo Stela ............................................................................... 63 Quadro 13 - Sntese das respostas relacionadas ao termo recompensa .......................................... 64 Quadro 14 - Recompensas da organizao nas duas dimenses analisadas .................................... 64 Quadro 15 - Resultado da simulao.................................................................................................. 65
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BSC - Balanced Scorecard
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CLT - Consolidao das Leis do Trabalho
CT&I - Cincia, Tecnologia e Inovao
ER - Esforo e Recompensa
E - Esforo
FNT - Frum Nacional do Trabalho
HP - Hewlett-Packard
ILO - International Labour Organization
Matriz ER - Matriz de Esforo e Recompensa
ONG - Organizao No-Governamental
PPGEP - Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo
R - Recompensa
RH - Recursos Humanos
12
1 INTRODUO
1.1 Apresentao
A questo da remunerao afeta o oramento das pessoas, o que implica no
padro social e na manuteno da famlia. Os princpios da remunerao vo alm
das fronteiras financeiras quando esta compreendida como recompensa, porque
todos os benefcios direta ou indiretamente favorecem o bem-estar do indivduo. O
dinheiro constitui apenas uma das razes pelas quais a maioria das pessoas
trabalha, porm outros tipos de recompensa so apreciados.
crescente a preocupao das organizaes1 em: (a) estruturar seus
processos buscando maior qualidade; (b) proporcionar o aprendizado; (c)
desenvolver um ambiente saudvel e propcio a interaes; e (d) principalmente,
quando se aborda a produo subjetiva, definir uma poltica correta de remunerao.
A mudana nas relaes de trabalho nos ltimos anos fez com que muitas
organizaes recorressem administrao de cargos e salrios para implementar
sistemas de recompensas que mantivessem as relaes salariais adequadas
(RESENDE, 1991). Sua funo era estabelecer um regime de incentivos para o
aumento da eficincia e da produtividade do colaborador que se ajustasse ao
sistema de remunerao do mercado (NASCIMENTO, 2001). No Brasil, grande parte
das empresas tem suas reas de recursos humanos (RH) estruturadas em torno de
funes operacionais ou est em processo de desenvolvimento em busca de
padres mais modernos de organizao e atuao (LACOMBE; TONELLI apud
MASCARENHAS; VASCONCELOS, 2004).
1 Entende-se por organizao um arranjo sistemtico de duas ou mais pessoas que cumprem papis formais e que compartilham um propsito comum (ROSINI, 2003).
13
As questes trabalhistas apoiadas pelas leis aplicveis em empresas e
rgos pblicos no permitem flexibilizar o processo da gesto de remunerao. A
Consolidao das Leis do Trabalho (CLT, 2004) estatui as normas que regulam as
relaes individuais e coletivas de trabalho. Essa importante conquista protege a
atuao profissional de diversas pessoas desde a Era Industrial. Porm, as
mudanas nas perspectivas organizacionais sobre como o conhecimento pode ser
aplicado para gerar resultados fizeram surgir uma nova sociedade. Nessa
sociedade, da Era do Conhecimento, as regras trabalhistas apoiadas pela CLT
devem ser ajustadas. Nesse sentido, a remunerao deve ser repensada com o
intuito de se tornar recompensa. Isso se justifica pelo fato de que os profissionais do
conhecimento so donos dos meios de produo o conhecimento , e dessa forma
natural almejarem maior participao nos resultados do seu trabalho.
Nesse contexto, visando atender ao trabalho de equipes de alto desempenho2
em organizaes do conhecimento, esta pesquisa trata das seguintes questes:
quais esforos e recompensas uma organizao deve considerar para a
remunerao de profissionais do conhecimento?
como atribuir recompensas aos esforos realizados por profissionais do
conhecimento?
como balancear esforo e recompensa de modo a ajudar a organizao
a cumprir sua misso e alcanar sua viso?
2 Equipes de alto desempenho so compreendidas aqui como equipes de trabalho com alto grau de instruo e qualificao profissional cujo meio de produo o seu prprio conhecimento.
14
1.2 Objetivos
O objetivo geral deste trabalho definir uma metodologia de recompensas
com base nos esforos de indivduos integrantes de equipes de alto desempenho
com atuao profissional em organizaes do conhecimento.
Como objetivos especficos pretende-se:
elaborar uma metodologia de recompensas prpria para profissionais
do conhecimento denominada Matriz de Esforo e Recompensa;
validar a metodologia em um grupo de pesquisa em que atuam
profissionais do conhecimento;
investigar e relatar o conceito de esforo
e de recompensa
sob a
tica dos profissionais do conhecimento; e
revisar de forma crtica os estudos relacionados interseco das
reas de produo, recursos humanos e conhecimento.
1.3 Justificativa
A questo da remunerao apresenta um contexto histrico que acompanha a
humanidade desde a Era Agrcola. Porm, a Era do Conhecimento trouxe mudanas
para grande parte da populao profissionalmente qualificada. As empresas da Era
do Conhecimento caracterizam-se por investir na gesto dos seus ativos intelectuais
(KAPLAN; NORTON, 1997). Nesse contexto, a questo do direito do trabalho no se
mostrou flexvel a ponto de criar meios adequados para remunerar os profissionais
do conhecimento. H limitaes nos termos da lei, a irreversibilidade salarial e o
instituto do direito adquirido inibem as iniciativas das organizaes de conceder
melhores remuneraes e benefcios a seus colaboradores em circunstncias
economicamente favorveis (RESENDE, 1991).
15
Para tentar solucionar essa questo, vrias metodologias so propostas e
aprimoradas pelas organizaes. Porm, poucas contabilizam na remunerao a
questo da inovao, da gerao de produtos, do aprendizado ou at mesmo das
solues propostas.
Dessa forma, no atual contexto profissional que se apresenta, as pessoas que
possuem mais talento e competncia tornam-se valorizadas e desejadas pelas
organizaes. Assim, uma nova forma de gerir o trabalho das pessoas adotada
visando colaborao.
Baseado no princpio social de reciprocidade, o indivduo investe seus
esforos em troca de um retorno atravs de recompensas (VEGCHEL et al., 2004).
Dessa forma, prope-se apresentar neste trabalho o processo de implantao da
Matriz de Esforo e Recompensa (matriz ER), que estabelece a relao entre o
trabalho e a remunerao para indivduos integrantes de organizaes do
conhecimento.
A metodologia proposta objetiva apresentar uma alternativa que possa ser
aplicada em organizaes flexveis formadas por profissionais do conhecimento. A
elaborao da matriz ER procura contribuir para a obteno de uma forma justa de
recompensas e uma conseqente reteno do capital intelectual das organizaes.
Como argumentos finais, cabe ressaltar que este trabalho focaliza a
interseco das reas de produo e do conhecimento. Essa interseco motivada
pela revoluo da tecnologia da informao e da comunicao nas tcnicas da
administrao cientfica. Considerando o escopo da gesto do conhecimento, os
resultados deste trabalho afetam potencialmente o modelo de organizaes
inovadoras. Assim, a nfase deste trabalho vai ao encontro da expectativa da
Engenharia de Produo citada a seguir.
16
A Engenharia de Produo busca o cenrio mais amplo, no qual a sociedade tem melhor desempenho. Ela projeta combinaes timas de pessoas, informaes, materiais e equipamentos para produzir organizaes inovadoras e eficientes (PPGEP, 2005).
1.4 Metodologia de pesquisa
A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho do tipo aplicada sob o
ponto de vista da sua natureza, pois objetiva gerar conhecimentos para a execuo
prtica dirigida soluo de problemas especficos envolvendo verdades e
interesses locais (SILVA, 2001). Dessa forma, foram definidas trs etapas para a
concluso do trabalho: pesquisa, desenvolvimento e discusso. A Figura 1.1 ilustra
uma viso esquemtica da metodologia usada neste trabalho.
Figura 1.1 - Metodologia do trabalho
Com relao etapa de pesquisa, conforme ilustra a Figura 1.1, foi realizado
inicialmente um levantamento bibliogrfico, o qual abrange autores estrangeiros e
17
brasileiros, constitudo de livros, artigos de peridicos, dissertaes, teses e material
disponibilizado na Internet.
Aps o levantamento bibliogrfico, na etapa de desenvolvimento, realizou-se
o trabalho de elaborao da matriz ER e de definio das variveis de esforo e
recompensa que fossem capazes de influenciar o objeto de estudo. A partir disso,
foram feitas simulaes de forma incremental, seguidas da anlise dos resultados
para ajustes da metodologia. Posteriormente, realizou-se a aplicao da
metodologia da matriz ER em um grupo de pesquisa cujos pesquisadores so
profissionais do conhecimento.
Ainda no que diz respeito aos procedimentos metodolgicos, na etapa de
discusso, o trabalho de validao possibilitou avaliar situaes e ampliar a
discusso sobre os resultados obtidos com a utilizao da metodologia da matriz
ER. Por fim, concluiu-se o trabalho com as recomendaes para a implantao da
metodologia e as sugestes de trabalhos futuros.
1.5 Delimitao do trabalho
O presente trabalho limita-se concepo e validao de uma proposta de
metodologia de recompensas para profissionais do conhecimento. Com relao
validao, o trabalho se restringe a apresentar as simulaes realizadas em um
grupo de pesquisa caracterizado como organizao do conhecimento. O trabalho
no descreve a implementao da metodologia em diferentes formas legais de
organizao. Essa implementao pode ser realizada em trabalhos futuros que
ampliem a implantao da metodologia proposta.
18
Alm disso, neste trabalho aborda-se apenas a relao entre o esforo e a
recompensa individual no trabalho. O enfoque nas relaes coletivas no
discutido.
Outro fator no aprofundado neste trabalho a questo da gesto por
competncias. O estudo no aprofunda esse modelo, mas faz apenas uma reviso
sobre a questo da remunerao por competncias.
1.6 Estrutura da dissertao
Visando atender aos objetivos estabelecidos e responder aos problemas da
pesquisa apresentados, estruturou-se a dissertao em cinco captulos, os quais so
descritos nesta seo.
No Captulo 2 apresenta-se o estudo comentado da literatura, que trata dos
temas relacionados pesquisa, para fornecer o embasamento terico do trabalho.
Como foco da metodologia proposta o captulo inicia-se com uma sntese da
evoluo das relaes salariais, seguida da apresentao do contexto atual das
organizaes do conhecimento e do novo perfil profissional. Complementa-se o
estudo com o levantamento bibliogrfico dos modelos atuais de remunerao e
finaliza-se a seo com a apresentao da matriz ER.
O Captulo 3 discorre sobre a relao entre os esforos realizados por
profissionais do conhecimento e as recompensas recebidas. Nesse sentido,
apresenta-se o detalhamento da pesquisa demonstrando os passos que compem a
metodologia da matriz ER. As etapas so expostas de forma a nortear a implantao
da matriz. Alm disso, apresentada uma sntese sobre indicadores e dimenses
organizacionais relacionados ao presente trabalho.
19
No Captulo 4, descrito como se deu a validao da matriz ER em um grupo
de pesquisa. A partir desse estudo descrevem-se os dados levantados e os
resultados obtidos com a utilizao da metodologia referida. Neste captulo tambm
apresentada a pesquisa conceitual dos termos esforo e recompensa realizada
com profissionais atuantes nesse grupo.
No Captulo 5, discutem-se os resultados e as questes que so relacionados
adaptao da matriz aos diversos contextos organizacionais. Assim sendo,
apresentada, de forma breve, uma sntese interpretativa dos principais argumentos
usados na elaborao da metodologia. Alm disso, algumas sugestes para
trabalhos futuros so apontadas de forma a ampliar o estudo realizado.
20
2 CONTEXTO CONCEITUAL DA METODOLOGIA DE
RECOMPENSAS
Neste captulo ser apresentada uma anlise dos aspectos conceituais da
literatura que tratam dos temas relacionados pesquisa no intuito de fornecer
embasamento terico ao trabalho. O captulo segue com a reviso sobre a evoluo
das relaes salariais e do novo modelo organizacional da Era do Conhecimento.
Alm disso, apresentado o estudo sobre as questes de remunerao por
competncias e as tendncias que vm surgindo nesse campo.
2.1 A evoluo das relaes salariais
Ao longo da histria a questo do pagamento adquiriu diversas nuanas. A
retribuio do trabalho assalariado tendeu inicialmente a se efetuar em espcie
atravs da prtica da troca de pes, sandlias, trajes, azeite e outros. Com o
surgimento da Era Industrial e com a evoluo das relaes de trabalho, a
retribuio foi sendo substituda pela moeda. Porm, no havendo normas que
obrigassem a contraprestao do trabalho inteiramente em pecnia, logo surgiram
abusos do poder econmico, principalmente no meio rural, em que os trabalhadores
eram forados a adquirir bens de consumo nos armazns do prprio empregador a
preos elevados de modo a sempre estarem devendo (CALVO, 2004).
Para sanar os problemas ocorridos, entrou em vigor, em 1952, a Conveno
n. 95 de Proteo do Salrio, aprovada na 32 reunio da Conferncia Internacional
do Trabalho. A proteo do salrio restringiu as prestaes em espcie e determinou
medidas para que o valor a elas atribudo fosse justo, como define o Art. n. 3.
21
Art. 3 - 1. Os salrios pagveis em espcie sero pagos exclusivamente em moeda de curso legal; o pagamento sob forma de ordem de pagamento, bnus, cupons, ou sob qualquer outra forma que se suponha representar a moeda de curso legal, ser proibido (ILO, 2004).
Ficou estabelecido pela conveno que salrio
significa a remunerao ou
os ganhos suscetveis de serem avaliados em espcie ou fixados por acordo ou pela
legislao nacional, os quais so devidos em virtude de um contrato de aluguel de
servios, escrito ou verbal, firmado por um empregador a um trabalhador, seja por
trabalho efetuado ou pelo que dever ser efetuado, seja por servios prestados ou
que devam ser prestados (ILO, 2004). Enquanto o salrio ajustado no contrato de
trabalho, a remunerao pode ser composta de parcelas que vo surgindo no seu
curso, tais como prmios, gratificaes habituais, adicional por tempo de servio,
entre outros. Para Milkovich e Boudreau (2000), a remunerao inclui o retorno
financeiro e os servios e benefcios tangveis que os empregados recebem como
parte de pagamento em uma relao de trabalho. Assim, a remunerao representa
o total dos ganhos obtidos, incluindo os valores recebidos de terceiros (CALVO,
2004).
No Brasil, em 1 de maio de 1943, aprovada a Consolidao das Leis do
Trabalho, atravs do Decreto-Lei n. 5.452, por Getlio Vargas. Essa consolidao
estatui as normas que regulam as relaes individuais e coletivas de trabalho (CLT,
2004). A CLT protege a atuao profissional de diversas pessoas desde a Era
Industrial. Porm, o contexto scio, o poltico e o econmico do Brasil e do mundo
fazem com que o governo e a sociedade repensem a legislao vigente.
Dessa forma, em 2003, foi criado pelo Ministrio do Trabalho e Emprego o
Frum Nacional do Trabalho (FNT), cujo objetivo promover a democratizao das
22
relaes de trabalho por meio da adoo de um modelo de organizao sindical
baseado em liberdade e autonomia (FNT, 2005). Esse frum pretende tambm
atualizar a legislao do trabalho, tornando-a compatvel com as novas exigncias
do desenvolvimento nacional, e modernizar as instituies de regulao do trabalho.
Os representantes dos trabalhadores e empregadores e o Governo Federal
compem o FNT.
As partes consideram que a legislao do trabalho brasileira necessita de uma ampla adequao de seus dispositivos s condies de trabalho, de produo e de relacionamento entre trabalhadores e empregadores e seus respectivos representantes coletivos, sem prejuzo dos princpios e valores universais e fundamentais do Direito do Trabalho e da cidadania (FNT, 2003).
Contudo, as discusses atuais no consideram a questo dos profissionais do
conhecimento. O Frum no abrange a perspectiva de como o conhecimento pode
ser aplicado e de como pode gerar resultados para as organizaes e para a
sociedade.
Segundo Drucker (2001), a sociedade do conhecimento tambm uma
sociedade de organizaes, tendo em vista que o objetivo e a funo de toda
organizao, comercial ou no, so a integrao de conhecimentos especializados
em uma tarefa comum. Nessa sociedade, o conhecimento o recurso bsico para
os indivduos e para a economia em geral, sendo compreendido como um conjunto
formado por experincias, valores, informao e criatividade aplicada avaliao de
novas experincias (TEIXEIRA FILHO, 2000).
23
2.2 Organizaes com o foco no conhecimento
Para Sveiby (1998), as organizaes do conhecimento so aquelas que
contam com uma estrutura voltada para o conhecimento e no para o capital, cujos
ativos intangveis so muito mais valiosos do que os seus ativos tangveis. Segundo
o autor (1999), nas organizaes do conhecimento as pessoas so as geradoras
dos rendimentos e no as dos custos das organizaes. As pessoas, que atuam
nessas organizaes, esto mais prximas do mercado e dos clientes e transformam
seus conhecimentos em estruturas intangveis para a organizao. Alm disso, a
finalidade do aprendizado nessas organizaes a criao de novos ativos. Um dos
desafios mais importantes impostos s organizaes do conhecimento o de
desenvolver prticas sistemticas para administrar a autotransformao, pois essas
organizaes tm que estar preparadas para abandonar o conhecimento que se
tornou obsoleto e aprender a criar um novo (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Isso s
alcanado por meio da melhoria contnua de suas equipes de trabalho, do estudo e
da aplicao prtica dos seus sucessos, e, ainda, pela busca incessante da
inovao contnua como um processo organizado (CARDOSO JR., 2003).
Gesto do Conhecimento
um termo fortemente relacionado com as
organizaes do conhecimento e tem sido usado para descrever as aes
relacionadas ao gerenciamento dos conhecimentos dos colaboradores. Segundo
Teixeira Filho (2005), as atividades relacionadas Gesto do Conhecimento so:
compartilhar o conhecimento internamente; atualizar, processar e aplicar o
conhecimento para algum beneficio; adquirir conhecimento externamente; reutilizar
conhecimento; criar novos conhecimentos e compartilh-los com a comunidade
externa.
24
Para fazer uso das prticas da gesto do conhecimento, deve-se fazer com
que as pessoas conheam seu capital intelectual e transfiram-no de forma a
contribuir para o aumento da competitividade da organizao. Quando a Gesto do
Conhecimento aplicada, pode-se constatar uma melhoria na tomada de deciso, a
possibilidade de distinguir que tipo de conhecimento possui cada indivduo e o
compartilhamento das melhores prticas (BALERINI, 2003). Segundo Lapa (apud
BALERINI, 2003), para implantar a Gesto do Conhecimento necessrio definir os
assuntos e as fontes de interesse, estruturar o projeto, mapear o material j
existente, mapear agentes e medidores, definir processos de gerenciamento de
contedo, criar massa crtica e procedimentos de consulta e atualizao, definir uma
poltica de incentivo, criar programas de disseminao, apurar indicadores e prover
feedback aos colaboradores.
O conhecimento leva vantagem competitiva, e o sucesso competitivo
baseia-se na habilidade de produzir algum produto ou servio tido como valioso por
algum grupo de consumidores de forma que no possa ser imitado. Assim,
especialistas consideram as pessoas que formam uma organizao como a primeira
fonte de vantagens competitivas sustentveis (KAPLAN; NORTON, 1997). Se a
empresa emprega as melhores pessoas e capaz de mant-las, ento ela dispe
de uma fonte de vantagem competitiva que dificilmente ser alcanada por outra
organizao (PFEFFER, 1995). Segundo Wagner III e Hollenbeck (2003), um estudo
realizado sobre quase 100 pequenas empresas constatou que as que se dedicaram
a prticas gerenciais de ponta obtiveram ndices de sobrevivncia 20% mais
elevados que as demais. Nesse sentido, em termos de resultados financeiros, nada
substitui a captao, motivao e reteno dos melhores profissionais.
25
Um ponto importante que as organizaes, hoje, gerenciam e exploram o
conhecimento de que dispem, porm esse processo nem sempre feito de forma
clara para o colaborador. Os profissionais muitas vezes no tm cincia dos
resultados gerados pelo seu conhecimento. A matriz ER foi concebida com o intuito
de manter transparentes as relaes de causa e efeito do conhecimento. Nesse
contexto, a base da concepo da matriz ER est solidificada no modo de se verem
as relaes trabalhistas associadas s organizaes do conhecimento.
2.3 A atual forma de trabalho
No final do sculo XX, a automao e a produtividade reduziram o percentual
de funcionrios que desempenhavam funes de trabalho tradicionais, enquanto a
demanda competitiva aumentou o nmero dos que desempenhavam funes
analticas, tais como engenharia, marketing, gerenciamento e administrao. Mesmo
os indivduos ainda envolvidos diretamente na produo e na prestao de servios
eram valorizados por suas sugestes sobre como melhorar a qualidade, reduzir
custos e diminuir ciclos (KAPLAN; NORTON, 1997).
As mquinas so projetadas para operar automaticamente, j as pessoas
pensam e solucionam problemas. Em organizaes como a Ford, as pessoas so
vistas como solucionadoras de problemas, no como custos variveis (KAPLAN;
NORTON, 1997). Nesse sentido, denomina-se trabalhador do conhecimento
aquele que retm os meios de produo
o seu conhecimento
e possui alta
aceitao na organizao. Os colaboradores devem agregar valor pelo que sabem e
pelas informaes que podem fornecer. Segundo Drucker (2001), o trabalhador
tende a se tornar mais dinmico e a buscar sempre o aperfeioamento contnuo.
26
Stewart (1998) cita que a fbrica da General Electric em Bayamn, Porto
Rico, uma organizao em perptuo aprendizado, dedicada a transformar
operrios em trabalhadores do conhecimento. Essas pessoas fazem rodzios de
cargos a cada seis meses, passando por todas as reas da fbrica. Todos aprendem
as tarefas que esto executando, bem como os efeitos que o trabalho produz. A
recompensa pelo aprendizado um plano de remunerao de trs nveis que
premia, segundo a habilidade e o conhecimento da pessoa, considerando o
desempenho da empresa. As decises relacionadas a promoes ou demisses so
tomadas com base no que as pessoas sabem e no no tempo de casa.
A informao a matria-prima da maioria dos trabalhadores. Segundo
Stewart (1998), a cesso de propriedade do capital humano a uma empresa tem que
ser voluntria. As empresas deveriam ser comunidades-membros, pois elas no so
coisas, so administradas pelas pessoas. Para manter as pessoas dentro da
empresa preciso haver algum tipo de continuidade e uma noo de pertencimento.
Os trabalhadores do conhecimento [...] provavelmente dividiro sua lealdade entre sua profisso e seus pares, por um lado, e a organizao empregadora, por outro. Eles permanecem comprometidos com empresas especficas desde que estas lhes forneam os recursos necessrios para trabalhar em projetos interessantes. Se isso no ocorrer os trabalhadores do conhecimento procuraro espaos maiores para brincar com suas idias [...]. Para serem eficazes, os trabalhadores do conhecimento precisam ter laos com a empresa empregadora (KATHRYN; DALMIA, 1991).
Sob o enfoque empresarial, estabelece-se uma parceria na qual as pessoas
provem organizao o conhecimento que lhes pertence. Em contrapartida, a
organizao realiza os investimentos necessrios para que as pessoas possam
transformar seus conhecimentos em ao, originando produtos e servios. Essa
relao de parceria entre colaborador e organizao permite gerar resultados
melhores para ambas as partes. Essa troca um dos pontos centrais da matriz ER,
27
tendo em vista que para implement-la necessrio estabelecer regras e
indicadores compatveis com esse princpio.
No contexto da gesto do conhecimento, a viso usual da remunerao como
fator de custo foi sendo adequada para uma viso da remunerao como fator de
aperfeioamento e como impulsionador de processos de melhoria para o aumento
da competitividade. Os objetivos dos sistemas de remunerao so motivar
comportamentos produtivos e controlar os custos trabalhistas, ao mesmo tempo que
buscam a satisfao das necessidades e do sentimento de justia dos
colaboradores (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000). Enquadram-se como sistemas de
remunerao o salrio indireto, a remunerao por habilidade, a remunerao
varivel, a participao acionria e todas as alternativas criativas em que se incluem
prmios, gratificaes e reconhecimento (CALVO, 2004).
2.4 A questo de remunerao
Para Milkovich e Boudreau (2000), mesmo na sociedade do conhecimento a
remunerao ainda o principal fator para atrair, manter e motivar os colaboradores.
Porm, as decises sobre esse assunto so afetadas por variveis internas e
externas organizao, tais como a poltica interna da organizao, a economia, as
regulamentaes governamentais e os sindicatos. Para os autores, os sistemas de
pagamento podem ser projetados para, entre outros fatores, melhorar a
produtividade e a satisfao do cliente, controlar os custos, promover a justia,
atender s exigncias legais e aperfeioar o desempenho individual ou de equipe.
28
2.4.1 Remunerao por competncias
A estrutura organizacional e os sistemas de recompensa geralmente premiam
o desempenho individual, e esse procedimento gera a percepo compartilhada de
que o conhecimento uma importante fonte de poder na organizao. Dessa forma,
uma tendncia de reteno de conhecimento individual permeia as organizaes
(STEIL, 2002, p. 86).
Com relao a esse aspecto, h um consenso generalizado da necessidade de construo de uma cultura de compartilhamento do conhecimento juntamente com o delineamento de um sistema de incentivos que premie esse processo (Idem).
O trabalho com as competncias das pessoas pode proporcionar
organizao a possibilidade de participao em novas oportunidades nos mercados
futuros. Segundo Fleury e Fleury (2000), a competncia pode ser definida como o
saber agir de maneira responsvel, que implica em mobilizar, integrar, transferir
conhecimentos, recursos, habilidades, agregando valor econmico organizao e
valor social ao indivduo. A competncia tambm relacionada ao que as pessoas
produzem. A competncia no um estado ou um conhecimento que se tem, e nem
resultado de treinamento. A competncia , na verdade, a aplicao do que se
sabe em um determinado contexto.
A remunerao e a carreira so questes presentes em todas as
organizaes, sejam elas pblicas ou privadas, instituies de ensino e pesquisa,
organizaes no-governamentais (ONGs), associaes ou cooperativas. Quando o
modelo de remunerao por competncias referenciado, as pessoas tendem a
perceb-lo como algo prximo s suas realidades. De fato, no cotidiano social
pessoas que prestam servios so remuneradas conforme sua competncia. Por
exemplo, quando algum se depara com um problema domstico, ou quando se
29
deseja mobiliar a casa de forma personalizada, ou quando surgem problemas com o
automvel, em geral so chamados profissionais capazes de resolver tal problema, e
eles so remunerados conforme sua maior ou menor competncia.
Sendo assim, o contexto organizacional atual no permite que as
organizaes que esto voltadas para a qualidade e produtividade utilizem o modelo
tradicional de remunerao, o qual valoriza mais a disciplina e o comportamento do
que os fatores relacionados com resultados, como a competncia. Alm disso, no
modelo tradicional de remunerao, a avaliao de desempenho normalmente
compunha-se de fatores de conduta e comportamento (RESENDE, 2002).
Os critrios de assiduidade, pontualidade e dedicao so predominantes na
diferenciao salarial. Porm, esses critrios no garantem que as pessoas
agreguem valor s organizaes, o que no quer dizer que no sejam relevantes e
que no possam ser utilizados como formas de incentivo, mas esses critrios devem
deixar de ser a referncia principal para a diferenciao salarial. Dessa forma, a
remunerao caracterizar-se- como custo e no como investimento (RESENDE,
2002).
O modelo de remunerao por competncias requer maior detalhamento e
ateno no que diz respeito definio dos parmetros da remunerao e dos
critrios de avaliao. Esses itens sero a base que define a remunerao e por isso
devem ser definidos de forma objetiva, mesmo quando se trata de fatores subjetivos
(DUTRA, 2001).
Segundo esse modelo, as pessoas recebem e so reconhecidas pelas coisas
que sabem fazer bem, alm do seu conhecimento tcnico. As mudanas
relacionadas remunerao propostas ocorrem mais na parte da diferenciao
salarial entre pessoas e menos nos critrios de determinao do valor relativo dos
30
cargos. O cargo passa a no ser mais garantia de remunerao. So avaliados as
atitudes, as habilidades e o conhecimento do profissional.
Uma das primeiras empresas a adotarem essa prtica no Brasil foi a Dow
Chemical Company (2003). A empresa definiu oito competncias bsicas para todos
os funcionrios, entre elas, apresentam-se a iniciativa, a liderana, o aprendizado
constante e o foco no mercado. Em seguida, elaborou uma lista de competncias
especficas para cada profissional. O funcionrio de vendas, por exemplo, precisava
estar atento aos movimentos do cliente e deveria possuir habilidades interpessoais.
Para incentivar o autodesenvolvimento, a Dow criou faixas salariais que podem ser
conquistadas medida que o funcionrio se aprimora nas suas competncias. Um
gerente de nvel mdio que mudar de faixa salarial pode ganhar at 25% de
aumento, mesmo sem sair do cargo que ocupa.
importante salientar que o modelo de remunerao por competncias
uma tendncia. Porm, existem outros modelos de remunerao que podem ser
aplicados s organizaes e so descritos a seguir.
2.4.2 Tendncias no campo da remunerao
Nesta seo so apresentadas, de forma sucinta, algumas tendncias no
campo da remunerao, as quais so aplicveis de acordo com a remunerao e os
incentivos de trabalho.
Benefcios flexveis
um modelo de incentivos no qual as pessoas decidem quais so os
benefcios adicionais que desejam incorporar ao salrio. Esse modelo foi implantado
na filial brasileira da Hewlett-Packard (HP). O programa de remunerao da HP
adaptado conforme o pas e procura atender s necessidades individuais de seus
31
empregados e dependentes. No Brasil, existem trs categorias de benefcios
salariais, so elas: legal, geral e flexvel.
Os benefcios legais so assegurados pela lei brasileira, tais como licena-
maternidade, salrio-educao, entre outros. Os benefcios gerais so aqueles
oferecidos a todos os empregados com o objetivo de proporcionar sade e bem-
estar, como assistncia mdica, vale-alimentao, previdncia privada, entre outros.
Os benefcios flexveis so aqueles oferecidos para complementar os benefcios
legais e gerais. Nessa categoria o empregado personaliza seu pacote de benefcios,
podendo escolher, inclusive, um plano de assistncia a fatalidades.Um gerente da
HP, por exemplo, pode receber uma quantia por ms para ser usada na
complementao do plano de assistncia mdica ou odontolgica, ou na creche dos
filhos (HP, 2003).
Remunerao total (Total Rewards)
Este modelo aplicado em organizaes que oferecem um ambiente de
trabalho motivador com programas de qualidade de vida, treinamento, chefias
acessveis, horrios flexveis e programas de reconhecimento. Esses benefcios so
chamados de ganhos no mensurveis, de extrema importncia para a reteno de
bons profissionais. Este modelo foi implantado na empresa InSystems, que oferece
um programa de remunerao total designado para atrair, reter e motivar seus
colaboradores. A empresa compreende que as pessoas so motivadas por suas
necessidades individuais e circunstanciais, bem como pelo trabalho que elas
realizam (INSYSTEMS, 2003).
32
Luvas
Modelo empregado principalmente em ambientes esportivos que beneficiava
jogadores de futebol e presidentes de grandes empresas. Agora as luvas esto
sendo aplicadas em camadas intermedirias, especialmente no setor financeiro.
Entende-se por luvas a importncia paga pelo empregador ao atleta, na forma do
que for convencionado, pela assinatura do contrato (BOUDENS, 2004).
2.5 Matriz ER sob a tica organizacional atual
Sobre o que foi exposto anteriormente, percebe-se que o mtodo tradicional
de remunerar o trabalho das pessoas correspondia a uma poca de estabilidade,
poca em que o pagamento era em grande parte determinado pelo tempo de servio
e pela posio hierrquica. Porm, nos ltimos anos o modelo de pagamento a um
colaborador, baseado na CLT, tornou-se quase invivel para os empresrios, tendo
em vista a alta carga tributria em impostos e encargos sociais.
Ao vincular o pagamento a variveis de desempenho, como produtividade
individual e lucros da organizao, transformam-se despesas de mo-de-obra em
custos variveis. Segundo Parnell (1991), h cinco razes para vincular o
pagamento ao desempenho profissional: o incremento da satisfao com o trabalho,
tendo em vista que todos os colaboradores participam do processo; o aumento da
produtividade, porque o pagamento especificado conforme o comportamento do
colaborador; a reduo do absentesmo; a diminuio da rotatividade; e o aumento
da qualidade do trabalho.
Nesse sentido, o Balanced Scorecard (BSC) apresenta-se como uma
metodologia estruturada que utiliza indicadores para ajudar a estabelecer metas de
desempenho. Segundo Kaplan e Norton (1996), essas metas de desempenho tm
33
por objetivo permitir que a organizao aloque e priorize recursos, confirme ou altere
a direo de sua poltica, e reporte o sucesso ao alcance das metas. O BSC traduz a
viso e a estratgia da organizao em um conjunto coerente de medidas de
desempenho.
So apresentadas no BSC as perspectivas financeira, do cliente, dos
processos internos, do aprendizado e crescimento (KAPLAN; NORTON, 1997).
Essas quatro perspectivas permitem equilibrar os objetivos de curto e longo prazo,
bem como os resultados desejados e os direcionadores de desempenho
(MACDONALD, 2003).
Dessa forma, fez-se a escolha do BSC como facilitador no processo de
implantao da matriz ER. Nessa proposta, a forma de recompensar diretamente
relacionada aos esforos representados pelo atendimento aos indicadores das
dimenses estratgicas da organizao.
34
3 METODOLOGIA DE RECOMPENSAS PARA PROFISSIONAIS DO
CONHECIMENTO
A metodologia proposta neste trabalho tem por objetivo estabelecer uma
forma de aferir recompensas baseadas no esforo e em atitudes dos colaboradores
de uma organizao voltada para o conhecimento. Sob as bases da gesto do
conhecimento, a matriz ER contribui para a formalizao das recompensas dos
trabalhos realizados pelos profissionais.
A matriz faz parte de um conjunto de aes que envolvem as pessoas na
forma de conceber suas recompensas. O contexto metodolgico no qual a matriz se
enquadra compreende a gesto administrativa e de recursos humanos. Dessa
forma, as etapas so construdas com a participao dos lderes da organizao.
3.1 A metodologia da matriz ER
A metodologia da matriz compreende duas faces. A face do esforo (E) tem a
premissa de representar o que o profissional do conhecimento est oferecendo
empresa. A face da recompensa (R) tem por premissa traduzir o que a organizao
oferece como retorno tanto em termos de remunerao quanto em termos de
reconhecimento ao colaborador (PACHECO, 2004). Alm disso, a estrutura
organizacional representada por dimenses de atuao e a avaliao contnua do
mtodo so outros dois fatores considerados para que se possa balancear esforo e
recompensa de modo a ajudar a organizao a cumprir sua misso e alcanar sua
viso. A Figura 1.2 ilustra a arquitetura da metodologia da matriz ER.
35
Figura 1.2 - Ilustrao da arquitetura da metodologia da matriz ER
A metodologia da matriz ER est definida em quatro etapas cclicas que
compreendem: (1) definir as dimenses de atuao do trabalho; (2) definir os
indicadores e pesos relativos do esforo; (3) definir os critrios de recompensa; (4)
avaliar o ciclo. A Figura 1.3 ilustra a metodologia da matriz ER sob as dimenses
organizacionais representadas por duas engrenagens de faces ER, que so
movimentadas pela correia da avaliao profissional contnua.
Figura 1.3 - Ilustrao da metodologia da matriz ER
A ilustrao acima apresenta a viso da metodologia proposta em que h
uma relao aparente entre o esforo realizado por um grupo ou por um indivduo e
as recompensa recebidas. Porm, essa correspondncia se deve aos resultados
alcanados nas avaliaes. Essa ilustrao considera ainda que as engrenagens
36
trabalham para atender aos objetivos organizacionais e, dessa forma, proporcionam
o aumento da produtividade da organizao. Para tornar mais clara essa
metodologia, apresenta-se a seguir o detalhamento das quatro etapas que compem
a matriz ER.
3.1.1 Etapa 1: Definir as dimenses de atuao do trabalho
As dimenses de atuao do trabalho servem como contexto-base para a
definio dos indicadores que devem refletir o resultado dos esforos do colaborador
em sua correspondente recompensa. Cada organizao deve adotar as dimenses
que forem mais convenientes mensurao de suas atividades, mantendo sempre a
correspondncia com suas expectativas organizacionais de avaliao de esforo.
A definio das dimenses faz parte da primeira etapa, tendo em vista que,
para definir a relao ER, a organizao dever estabelecer indicadores que faro
parte de uma cadeia de relaes de causa e efeito entre o trabalho e os resultados
obtidos, efetivando assim a viso das engrenagens ER. Esses indicadores iro aferir
a participao dos colaboradores, o que culminar na melhoria do desempenho
profissional. A Figura 1.4 ilustra o processo de causa e efeito da metodologia de
esforo e recompensa.
Figura 1.4 - Processo que envolve a metodologia da Matriz de Esforo e Recompensa
As dimenses dependem da estrutura organizacional e do mercado no qual
se est inserido. De fato, organizaes cuja estrutura organizacional est baseada
em projetos podem deduzir dimenses distintas de uma organizao que atua por
Esforo
Ao
Avaliao
Recompensa
37
clientes ou por processos. Assim, cabe a cada organizao definir que dimenses
abrangem a sua estrutura.
As dimenses devem ser definidas por pessoas que atuam na gerncia
estratgica da organizao. O grupo deve estar preparado para realizar diversas
interaes at que todos estejam satisfeitos com o conjunto de dimenses e critrios
iniciais de indicadores. Primeiramente, para identificar as dimenses, sugere-se que
esse grupo crie um documento que relate a estrutura organizacional da empresa,
incluindo os objetivos estratgicos e o mapeamento dos processos. Com base nisso,
parte-se para um detalhamento sobre cada funo organizacional. Esse
detalhamento destaca as funes que so cruciais para o desenvolvimento da
organizao, cujo resultado da atividade realizada por um grupo de pessoas ou por
um nico colaborador fator determinante para o seu sucesso. Com a identificao
das funes pode-se fazer o agrupamento em conjuntos de atuao e gerar assim
as dimenses. A Figura 1.5 mostra a viso da composio do modelo
organizacional.
Figura 1.5 - Modelo organizacional
De forma a compor a metodologia de pesquisa, as dimenses usadas
inicialmente na matriz ER foram inspiradas nas quatro perspectivas apresentadas
pelo sistema de gesto estratgica Balanced Scorecard (BSC). A Figura 1.6 ilustra a
metodologia da matriz ER sob as dimenses organizacionais de esforo. O BSC foi
38
criado a partir da necessidade de se ter uma metodologia estruturada que utilize
indicadores para ajudar a estabelecer metas de desempenho. Segundo Kaplan e
Norton (1996), essas metas de desempenho tm por objetivo permitir que a
organizao aloque e priorize recursos, confirme ou altere a direo de sua poltica,
e reporte o sucesso ao alcance das metas.
Figura 1.6 - Matriz de esforo sob as dimenses organizacionais
So apresentadas no BSC as perspectivas financeira, do cliente, dos
processos internos, do aprendizado e crescimento (KAPLAN; NORTON, 1997).
Essas quatro perspectivas permitem equilibrar os objetivos de curto e longo prazo,
bem como os resultados desejados e os direcionadores de desempenho
(MACDONALD, 2003).
No exemplo da Figura 1.6, na especificao da matriz ER, as dimenses
foram definidas sob trs aspectos: a instituio, o cliente e o aprendizado. A figura
representa a estrutura da matriz formada para cada colaborador, em que as colunas
traduzem as dimenses de atuao da organizao, os indicadores, pesos e pontos,
e as linhas traduzem onde ser disposto cada indicador de desempenho relevante
para a organizao por dimenso, alm de seu respectivo peso e ponto.
A princpio no ser considerada a dimenso Finanas do BSC, tendo em
vista a dificuldade de se atribuir a responsabilidade de resultados a um nico
colaborador da organizao, considerando que os resultados financeiros so
39
alcanados com a participao de todos. Cabe salientar que a dimenso financeira,
na viso da matriz ER, de suma importncia. Sendo assim, quando o processo
alcanar maturidade na organizao ela deve ser inserida. Portanto, excluem-se os
casos em que a organizao atua diretamente no mercado financeiro ou est
aplicando seus recursos.
Na dimenso Instituio, considera-se a atuao do colaborador nos
processos organizacionais e tambm de parceiros. Nessa dimenso, as linhas da
matriz so compostas de indicadores de desempenho, que representam os
resultados do profissional. So exemplos de indicadores as atividades realizadas, o
cargo assumido, o cumprimento do cronograma, a qualidade do produto ou servio e
a capacidade de apresentar solues alternativas. Considerando o foco da
organizao, essa dimenso tem a capacidade de se adaptar conforme a estrutura
de cada empresa. No coerente que uma organizao manufatureira desenvolva
os mesmos indicadores que uma que presta servios.
Na dimenso Aprendizado, considera-se a busca pelo autodesenvolvimento,
pelo aprendizado contnuo e pela capacitao. Tendo em vista a revoluo do
pensamento da Era Industrial para a Era do Conhecimento, o aprendizado visto
hoje como recurso para a execuo dos objetivos organizacionais. O enfoque est
nos esforos dos colaboradores em reas no tradicionais, tais como pesquisa,
desenvolvimento de novos produtos e servios, e inovao. Nesta dimenso, as
linhas da matriz ER sero compostas de indicadores de desempenho, que
representaro os resultados proporcionados pela aprendizagem do profissional. So
exemplos de indicadores o grau de escolaridade, as produes tcnicas e
cientficas, as orientaes acadmicas que envolvam temas de interesse, os projetos
de pesquisa, os registros e as patentes, e os cursos de capacitao.
40
J a dimenso Cliente envolve o trabalho voltado ao mercado da organizao,
seja ele interno ou externo. Consideram-se aqui os resultados relacionados com a
satisfao, fidelidade, reteno e lucratividade. bvio que, para obter um
desempenho financeiro superior em longo prazo, as unidades de negcios precisam
criar e oferecer produtos e servios valorizados pelos clientes (KAPLAN; NORTON,
1997, p. 68).
Dimenso Perguntas sobre atividades e colaborao Cliente - Como so realizadas as vendas?
- Como medido o grau de satisfao do cliente? - Como estimulada a captura de novos clientes? - Quantos tipos (reas de mercado) de clientes?
Instituio - Quais so as reas de atuao organizacional? - Qual o grau de importncia de cada rea? - Como as reas so avaliadas? - Quais so os principais processos de cada rea? - Como so avaliados os processos? - Quais so os clientes internos e externos de cada rea? - Como cada rea se organiza?
Aprendizagem
- Como a organizao define sua rea de aprendizagem? - Como a organizao define planos de formao profissional? - Como avaliado o programa de formao? - Como recompensada a aprendizagem individual? - Como a organizao avalia a projeo de aprendizagem individual e coletiva? - Como a inovao e a pesquisa so percebidas e premiadas?
Quadro 1 - Tabela de questes para elaborar as dimenses
Como exemplo pode-se apresentar o caso ilustrativo de organizaes cuja
estrutura definida por projetos. O Quadro 2 ilustra a estrutura organizacional
convertida nas dimenses. A manuteno e os servios so funes que esto
relacionadas diretamente ao cliente externo. So funes porque tanto manuteno
como servios so macroatividades que envolvem uma srie de processos tcnicos
e administrativos para serem realizados. Da mesma forma, finanas, administrao e
projetos foram agrupados na dimenso Instituio porque representam a
organizao em si. Na dimenso Aprendizagem, destaca-se o foco pela formao
dos profissionais que atuam no desenvolvimento dos projetos.
41
Matriz de Esforo e Recompensa
Dimenses Funes organizacionais
Manuteno Cliente
Servios
Finanas
Administrao Instituio
Projetos
Formao acadmica
Formao complementar Aprendizagem
Inovao
Quadro 2 - Dimenses da matriz ER para uma organizao baseada em projetos
Cabe ressaltar que todas as dimenses so criadas sob a tica do retorno
direto ou indireto para a organizao, seja ele financeiro ou no. As competncias
do colaborador, quando aplicadas em cada uma das dimenses, sero avaliadas e
mensuradas com o intuito de formalizar as aes. A partir da formalizao, a
organizao pode ratificar sua parceria com o colaborador aferindo recompensas,
que podem abranger desde os termos financeiros at os termos humanos.
3.1.2 Etapa 2: Definir os indicadores e pesos do esforo
Para definir uma forma de avaliao de esforo e aferio de recompensas,
faz-se necessrio compreender os conceitos relacionados sob a tica dos
profissionais envolvidos. Para tanto, pode-se utilizar enquetes ou entrevistas com o
intuito de obter tal resposta. Com a definio dos conceitos presumem-se as
dimenses de atuao dos colaboradores da organizao.
Para Vegchel et al. (2004), esforo
caracterizado por representar uma
demanda de trabalho ou uma obrigao que imposta ao empregado. Segundo o
dicionrio Aurlio, por definio, esforo
a mobilizao de foras fsicas,
42
intelectuais ou morais, para vencer uma resistncia ou dificuldade, para atingir algum
fim (FERREIRA, 1999).
A partir desses conceitos devem ser definidos os indicadores de esforo sob a
tica dos profissionais da organizao com o intuito de escolher quais deles podem
ser introduzidos na matriz ER. Nela sero dispostos indicadores que apontam o grau
de atuao dos colaboradores nas aes a serem realizadas para alcanar as metas
estabelecidas pela organizao.
O significado da palavra indicador originrio do latim, que significa
descobrir, apontar, anunciar, estimar. Os indicadores podem representar um
determinado objetivo (ANDRADE JR., 2003). Um indicador, quando comparado com
os outros tipos ou formas de informao, possui como caracterstica a relevncia
para o processo de tomada de deciso. Para ser representativo, o indicador tem que
ser considerado importante tanto pelos tomadores de deciso quanto pelo pblico
(GALLOPIN apud BELLEN, 2002). Alm disso, os indicadores mais desejados so
aqueles que simplificam as informaes relevantes, aspecto particularmente
importante na Gesto do Conhecimento.
Segundo Moreira (2002), os indicadores mais utilizados so os qualitativos e
os quantitativos. Os qualitativos indicam um juzo de valor e podem contar com
critrios do tipo sim ou no , passa ou no passa , aceita ou rejeita . J os
indicadores quantitativos relatam um processo organizacional a partir da coleta de
valores numricos representativos do processo considerado.
Os indicadores possibilitam o estabelecimento de metas quantificadas e o seu
desdobramento na organizao, bem como a anlise crtica do desempenho
organizacional para as tomadas de decises. So formas de representao
quantificveis das caractersticas de produtos e processos, e o seu
43
acompanhamento deve demonstrar nveis, tendncias e comparaes (ANDRADE
JR., 2003).
Na matriz, para cada unidade de trabalho nas funes organizacionais sero
disponibilizados conjuntos de indicadores sobre os quais o colaborador atua direta
ou indiretamente. A partir desses critrios sero realizadas avaliaes de
desempenho, as quais ilustram as contribuies reais dos esforos realizados pelo
indivduo. Com base nesses dados, a organizao pode distribuir as recompensas
cabveis.
Segundo Takashina e Flores (apud ANDRADE JR., 2003), existem alguns
critrios na gerao de um indicador, so eles: (1) seletividade ou importncia; (2)
simplicidade e clareza; (3) abrangncia, que torna o indicador suficientemente
representativo, inclusive em termos estatsticos; (4) rastreabilidade e acessibilidade,
que permitem o registro e a adequada manuteno e disponibilidade dos dados,
resultados e das memrias de clculo, incluindo os responsveis envolvidos; (5)
comparabilidade, que facilita a comparao com referncias apropriadas, tais como
o melhor concorrente, a mdia do ramo e o referencial de excelncia; (6)
estabilidade e rapidez de disponibilidade, que levam a uma condio perene; e (7)
baixo custo de obteno, que procura utilizar unidades adimensionais ou
dimensionais simples, como proporo ou percentual, unidade de tempo, taxa de
variao, relao entre dois fatores etc.
Os indicadores sintetizam as informaes sobre os mais diversos eventos
tentando deix-los mais compreensveis e quantificveis. Nesse sentido, para utilizar
indicadores adequados preciso conhecer o contexto de esforo e recompensa no
qual eles sero aplicados.
44
Para a concluso desta etapa sugere-se delegar a um grupo representativo
de pessoas, que atuem na rea estratgica da organizao, a tarefa de propor aos
demais integrantes um conjunto norteador de indicadores que sero utilizados na
avaliao da matriz. A compreenso e a definio dos indicadores a serem aplicados
nas dimenses descritas so o norteador da implantao e do bom uso da matriz
ER. Dessa forma, coerente que a equipe de implantao da matriz juntamente com
os colaboradores definam os indicadores com base em critrios adequados.
Alm disso, o grupo deve atribuir os pesos e a faixa de pontos dos
indicadores de acordo com o seu contexto. O peso representa o grau de importncia
que um indicador possui. O Quadro 3 apresenta exemplos de indicadores da matriz
de esforo para uma organizao de ensino bem como os pesos e a faixa de pontos
atribudos. Na instituio de ensino supe-se haver o professor e o coordenador de
curso. Ambos recebem a mesma matriz ER tendo em vista que os indicadores de
esforos podem ser produzidos em qualquer rea de atuao. Porm, a faixa de
pontos definida por rea dependendo da estratgia da organizao. Observa-se,
tambm, que no exemplo o somatrio dos pontos resultantes da multiplicao dos
pesos e pontos por indicador maior para o coordenador. Isso se deve ao fato de
que o coordenador possui, em princpio, mais responsabilidade em sua funo do
que o professor.
45
Matriz para uma organizao de ensino
Dimenses Indicadores Peso Pontos
Grau de satisfao do cliente 7 [0 - 300]
Nmero de clientes atendidos 3 [0 - 200] Cliente
Nmero de negcios realizados 2 [0 - 300]
Atuao profissional 10 [0 - 200]
Tempo de atuao na empresa 8 [0 - 100] Instituio
Carga horria de trabalho 10 [0 - 100]
Certificao profissional 10 [0 - 500]
Publicaes realizadas 25 [0 - 300] Aprendizagem
Grau de escolaridade 25 [0 - 500]
Professor
X
Total
100 32100
Matriz para uma organizao de ensino
Dimenses Indicadores Peso Pontos
Grau de satisfao do cliente 7 [0 - 300]
Nmero de clientes atendidos 3 [0 - 200] Cliente
Nmero de negcios realizados 2 [0 - 400]
Atuao profissional 10 [0 - 200]
Tempo de atuao na empresa 8 [0 - 100] Instituio
Carga horria de trabalho 10 [0 - 200]
Certificao profissional 10 [0 - 400]
Publicaes realizadas 25 [0 - 300] Aprendizagem
Grau de escolaridade 25 [0 - 500]
Coordenador
de curso y
Total
100 32300
Quadro 3 - Indicadores da matriz ER para uma organizao de ensino
Conforme os princpios da organizao, os gestores podem decidir de que
forma iro implantar a matriz ER. Os pesos podem ser definidos de maneira
equivalente ou distinta para todas as funes da organizao. A forma equivalente
apresentada no decorrer deste trabalho. Quanto forma distinta, considerando-se
as funes que os profissionais exercem, podem ocorrer casos em que alguns
indicadores no se aplicam. Por exemplo, para um professor o indicador de nmero
46
de orientaes deve ser considerado, em contrapartida, para um webdesigner esse
no um indicador relevante. Assim, se os gestores julgarem que as funes devem
ser tratadas de forma distinta, o grupo pode definir pesos e faixa de pontos de
acordo com o perfil profissional. Dessa forma, cada profissional receber uma matriz
ER adaptada ao seu contexto.
Quanto maior for a participao dos gestores da organizao nesse processo,
maiores sero as chances de sucesso na implantao da matriz ER. A metodologia
deve ser ajustada conforme os ciclos de execuo. No se pode esperar uma
metodologia esttica para a matriz ER.
3.1.3 Etapa 3: Definir os critrios de recompensa
Segundo o dicionrio Aurlio, por definio, recompensa
reconhecimento
pelos servios de algum, o prmio, a retribuio, o pagamento, a indenizao
(FERREIRA, 1999). Quando se utiliza a palavra recompensa no mundo
empresarial, quase sempre um eufemismo para referir-se a dinheiro. Salrios,
gratificaes e benefcios so os tipos de recompensa financeira.
Para Vegchel et al. (2004), recompensas consistem em dinheiro, estima,
segurana no trabalho e oportunidades. Os termos financeiros so apenas uma das
razes para o trabalho. Assim, outros tipos de recompensa devem ser considerados
e merecem destaque, tais como o reconhecimento e o auto-respeito, porque
estimulam a participao dos profissionais (LEVINE; CROM, 2003).
Uma pesquisa realizada em 2003, nos Estados Unidos, com 1400 pessoas,
entre engenheiros, desenvolvedores e gerentes da indstria, identificou que apenas
cerca de 22% consideram o salrio a parte mais importante do seu trabalho. Mais de
45% consideraram que o sentimento de realizao o fator principal para o
47
desenvolvimento do trabalho. A Figura 1.7 apresenta o percentual de respostas da
pesquisa sobre o trabalho.
Figura 1.7 - Percentual de respostas sobre a pergunta: qual a melhor parte do seu trabalho?
Fonte: Adaptado de: ADAMS (2003).
Dessa forma, faz-se necessrio estabelecer de forma clara quais sero as
recompensas oferecidas e em que condies elas sero repassadas aos
colaboradores. Essa definio deve ser disseminada e apoiada por todos para evitar
frustraes.
A satisfao por receber a recompensa por um esforo realizado depende das
necessidades motivacionais de cada indivduo (TOMASIA, 2000). Entendendo que
as pessoas devem ser motivadas e reconhecidas para continuarem produzindo,
cabe organizao construir um ambiente propcio que possua polticas
administrativas bem definidas. Nesse sentido, torna-se necessrio um estudo
direcionado a essas questes, principalmente no que tange s recompensas dos
resultados alcanados.
Ao se especificarem as dimenses de atuao, na primeira etapa, dos
esforos e dos pesos relacionados, j se tem idia do retorno que tal esforo ir
proporcionar. Com base nisso, a organizao pode estabelecer um conjunto de
recompensas para cada dimenso definida. A matriz de recompensas pode ser
48
construda com um conjunto de recompensas por faixa de pontos. Dependendo da
pontuao, o colaborador poder escolher quais so os benefcios que ele ir
receber. O Quadro 4 apresenta o exemplo de recompensas com base nas
dimenses definidas neste trabalho.
Recompensas da organizao Cliente
Pontos de 100 a 199 Pontos de 200 a 299 Pontos de 300 a 399 Pontos de 400 a 499 Cesta de caf da manh
Almoo com a famlia em um restaurante
Gratificao atravs de brinde da organizao, escolha, no valor de
R$ 60,00
Gratificao atravs de brinde da organizao, escolha, no valor de
R$ 160,00 ... ... Cesta de produtos de
beleza no valor de
R$ 100,00
Notebook da organizao para uso exclusivo
Instituio Pontos de 100 a 199 Pontos de 200 a 299 Pontos de 300 a 399 Pontos de 400 a 499
Recompensa financeira: acrscimo de 10%
Recompensa financeira: acrscimo de 20%
Recompensa financeira: acrscimo de 30%
Recompensa financeira: acrscimo de 40%
... ... Troca de equipamento de trabalho
Um final de semana em um Spa
Aprendizagem Pontos de 100 a 199 Pontos de 200 a 299 Pontos de 300 a 399 Pontos de 400 a 499
Curso de 8 horas Inscrio em evento nacional
Inscrio em evento internacional
Passagem de ida e volta para viagem de estudo no trajeto de 200 milhas
... ... Curso de 20 horas Curso de 40 horas
Quadro 4 - Recompensas com base nas dimenses organizacionais
Alm disso, para que a metodologia seja implantada de forma a no aniquilar
financeiramente a organizao, preciso dispor abertamente o que efetivamente
contribui para o provimento de recursos organizacionais que possam ser repassados
aos colaboradores em forma de recompensa. Cabe ressaltar que a organizao
deve equilibrar, atravs de uma correspondncia, o total de pontos obtidos por todos
os colaboradores com o montante de recompensas disponveis. Assim, o
colaborador receber sua recompensa proporcionalmente aos recursos.
Com base no exemplo da primeira etapa, supondo que um professor alcance
em sua avaliao 340 pontos na dimenso Aprendizagem, ele poderia optar por
receber a inscrio em um evento internacional ou por realizar um curso de 20
horas. Alm disso, caso 100 pontos sejam alcanados na dimenso Cliente, ele
49
poderia receber tambm uma cesta de caf da manh. O total de pontos obtidos foi
convertido de forma a corresponder com os recursos da organizao.
Ao receberem as recompensas, os colaboradores devem selecionar os itens
que atendem s suas necessidades. Porm, cabe ressaltar que a recompensa pode
ser analisada atravs de dois pontos de vista: da organizao e do colaborador.
No exemplo acima, supondo que o professor no tenha alcanado sua
pontuao, no entanto, o evento de interesse da organizao, sugere-se efetivar a
inscrio sem prejuzo para ambos. A organizao, vislumbrando um benefcio,
tambm recompensada com o esforo do colaborador em participar e levar o nome
da organizao para tal meio. Nessa perspectiva a organizao investe.
Por outro lado, alm de poder receber recompensas por mrito de pontos, o
colaborador, percebendo a presteza da organizao, pode se sentir motivado a
trabalhar com afinco para o crescimento de todos. Nessa perspectiva o colaborador
investe. Essa a troca que realizam os parceiros da organizao.
3.1.4 Etapa 4: Avaliar o ciclo
Esta etapa procura adaptar-se metodologia de avaliao utilizada pela
organizao. A qualidade de uma avaliao ser diretamente proporcional ao tempo
gasto para reunir dados e para compreender a entidade a ser avaliada
(DAMODARAN, 1997). Aqui o princpio bsico usar a avaliao profissional para
estabelecer o nmero de pontos por indicador definido.
Cada rea de atuao profissional deve realizar a sua correspondente
avaliao, tendo em vista que um colaborador pode trabalhar em mais de uma rea.
Na Figura 1.8 ilustrada a metodologia da matriz por unidade de atuao do
colaborador.
50
Figura 1.8 - Metodologia da matriz por unidade de atuao do colaborador
Nessa figura percebe-se a atuao do colaborador Pedro nas unidades 1 e 2
da sua organizao. Pedro avaliado pelas duas unidades, recebendo tratamento
distinto para cada uma delas. Com relao s recompensas, no recomendado
que o colaborador some os pontos obtidos por rea de atuao, visto que o maior
nmero de atuaes pode no corresponder a uma maior produtividade. Nesse
caso, a organizao pode estabelecer formas de ajustar esses totais usando
redutores ou a mdia ponderada.
O redutor adequado quando a organizao presume um limite aceitvel de
esforo. Nesse caso, um colaborador que aceita coordenar um projeto despende um
certo esforo e tempo para essa atividade. Se este mesmo colaborador aceitar
coordenar mais trs projetos, sua dedicao e empenho no sero os mesmos.
Dessa forma, no aceitvel que o acmulo de funo represente um acmulo de
pontos e conseqentemente maiores recompensas. Assim, a organizao pode
adotar o redutor e estabelecer que para um limite de funes certos pontos sero
acessveis, porm, para o acmulo de funes, os pontos sero reduzidos
51
proporcionalmente. O Quadro 5 ilustra o redutor aplicado ao indicador de atuao
profissional na dimenso Instituio.
Dimenso Indicador Nmero atividades Faixa de pontos
1 [0 100]
2 [0 50] Instituio
Atuao profissional
3 [0 20]
Quadro 5 - Redutor aplicado ao indicador de atuao profissional na dimenso Instituio
No quadro acima, a atuao profissional em uma atividade representa 100
pontos. J em trs atividades representa 170 pontos no mximo e no 300 pontos
caso fosse aplicado o somatrio.
Com relao mdia ponderada, so estabelecidos pesos para as unidades
de atuao do colaborador. Esses pesos so multiplicados pelo somatrio de pontos
por unidade e divididos pelo nmero de unidades em que o colaborador atua. Assim,
as recompensas sero fornecidas de acordo com o desempenho dessa mdia. No
caso ilustrado acima, Pedro atua nas unidades 1 e 2. Sua funo principal
exercida na unidade 2 e por isso tem maior peso. O Quadro 6 apresenta uma
sntese do uso da mdia ponderada nesse exemplo.
Colaborador Unidade Peso Total de pontos
Unidade 1 2 100 Pedro
Unidade 2 5 200
Total
7 1200
Quadro 6 - Mdia ponderada aplicada ao caso de atuao em duas unidades
A matriz elaborada em ciclos, que so definidos conforme a disponibilidade
da organizao para obter recursos suficientes para manter as recompensas.
Sugere-se que as avaliaes sejam realizadas a cada trs meses com vistas
melhoria contnua. O feedback mais prximo proporciona a todos a chance de
reverem suas aes e, dessa forma, sentirem-se mais motivados para o trabalho.
52
Alm disso, considerar a atuao profissional em um perodo de tempo permite que
um bom colaborador, que no tenha a disponibilidade de exercer suas tarefas por
algum motivo excepcional, no seja prejudicado.
Aps a avaliao, a contabilizao dos pontos e o clculo dos valores, realiza-
se a distribuio das recompensas conforme especificado na terceira etapa. No caso
de organizaes que adotem outras metodologias e queiram adaptar-se matriz ER,
recomenda-se que essa matriz seja simulada. Na simulao deve ocorrer a
correspondncia entre o somatrio de todos os pontos dos colaboradores e o
montante disponvel para as recompensas. Com essa correta relao a matriz pode
ser implantada.
53
4 VALIDAO DA MATRIZ ER NO GRUPO DE PESQUISA
Como mencionado anteriormente, a matriz ER pode ser aplicada em
instituies que considerem o valor do trabalho do profissional do conhecimento.
Nesse contexto, implantou-se a matriz ER de forma ilustrativa em um grupo de
pesquisa destinado ao desenvolvimento de Cincia, Tecnologia e Inovao (CT&I)
o Grupo Stela.
4.1 O contexto organizacional dos grupos de pesquisa
As definies comumente encontradas dos grupos de pesquisa, cuja gnese
de formao est mais nos propsitos da atividade que exercem do que na
vinculao formal entre seus integrantes, so frutos de estudos de agncias de
governo interessadas em registrar, fomentar ou divulgar as atividades e os
resultados de seus trabalhos. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico (CNPq) no projeto Diretrio dos Grupos de Pesquisa3, no
Brasil um grupo de pesquisa definido como:
um conjunto de indivduos organizados hierarquicamente: cujo fundamento organizador da hierarquia a experincia, o destaque e a liderana no terreno cientfico ou tecnolgico; envolvidos, profissional e permanentemente com atividades de pesquisa; cujo trabalho se organiza em torno de linhas comuns de pesquisa; e que, em algum grau, compartilham instalaes e equipamentos (CNPq, 2004).
Um grupo visa pesquisa, estudo, desenvolvimento e aplicaes de
metodologias em uma rea de atuao. Na quase totalidade dos casos, na
3 Diretrio dos Grupos de Pesquisa. Disponvel em: < http://lattes.cnpq.br/pl/diretorio/> Acesso em: 24 jul. 2004.
http://lattes.cnpq.br/pl/diretorio/>
54
experincia de 10 anos do Diretrio dos Grupos de Pesquisa, cerca de 10% do total
de grupos so formados pelo pesquisador lder e seus estudantes.
O pesquisador lder de grupo o personagem que detm a liderana
acadmica e intelectual naquele ambiente de pesquisa. Em geral, assume a
responsabilidade de coordenao e planejamento dos trabalhos de pesquisa do
grupo apontando horizontes e novas reas de atuao dos trabalhos (CNPq, 2004).
Pesquisadores so os membros graduados ou ps-graduados envolvidos com a
realizao de projetos e com a produo cientfica, tecnolgica e artstica do grupo
(CNPq, 2004). Estudantes em iniciao cientfica e ps-graduao, exceto os
estagirios em nvel de ps-doutoramento que devem ser considerados
pesquisadores, participam ativamente das linhas de pesquisa desenvolvidas pelo
grupo, sob a orientao de pesquisadores do grupo (CNPq, 2004).
Cabe aos lderes de grupos a definio de quais so os pesquisadores,
estudantes e tcnicos de seus grupos. Por outro lado, cabe aos dirigentes
institucionais de pesquisa a definio quanto aos grupos e seus lderes.
Linhas de pesquisa representam temas de estudos cientficos que se
fundamentam em tradio investigativa, de onde se originam projetos cujos
resultados guardam afinidades entre si. J projeto de pesquisa a investigao com
incio e final definidos, fundamentada em objetivos especficos, visando obteno
de resultados, de causa e efeito, ou colocao de fatos novos em evidncia
(CNPq, 2004).
No Brasil existem mais de 15 mil grupos de pesquisa segundo o ltimo censo
do Diretrio dos Grupos de Pesquisa (CENSO, 2002). Os dados foram coletados em
cerca de 268 instituies, entre universidades, instituies no universitrias de
ensino superior, institutos de pesquisa cientfica e tecnolgica, laboratrios de
55
pesquisa e desenvolvimento de empresas estatais e algumas organizaes no
governamentais que realizam pesquisa. Alm disso, existem cerca de 57 mil
pesquisadores sendo 34 mil doutores aproximadamente. Apesar do crescimento,
nos ltimos anos, do nmero de pesquisadores e doutores ainda representam
menos de 1% da populao nacional. A Tabela 1.1 mostra os dados sobre a
evoluo histrica dos grupos de pesquisa no Brasil.
Nmero de instituies, grupos, pesquisadores e pesquisadores doutores (1993-2002).
1993 1995 1997 2000 2002
Instituies
99
158
181
224
268
Grupos
4.402
7.271
8.632
11.760
15.158
Pesquisadores (P)
21.541
26.799
34.040
48.781
56.891
Doutores (D)
10.994
14.308
18.724
27.662
34.349
(D)/(P) em % 51 53 55 57 60 Nota: parcela significativa da tendncia de crescimento observada decorre do aumento do nmero de instituies includas no levantamento e da taxa de cobertura do levantamento no mbito das instituies.
Tabela 1.1 Dados sobre a evoluo histrica dos grupos de pesquisa (CENSO, 2002).
Basicamente, a remunerao dos integrantes de um grupo de pesquisa se d
atravs de bolsas de estudo que variam conforme o grau de formao do
profissional. As bolsas so especificadas de acordo com as entidades universitrias.
Como os grupos de pesquisa no viso lucro, os recursos financeiros so aplicados
na prpria instituio. Nesse sentido, a remunerao de pesquisadores pode ser
objeto de estudo.
4.2 Validao do estudo da matriz ER
O Grupo Stela4 foi criado em 1995 no Programa de Ps-Graduao em
Engenharia de Produo (PPGEP), da Universidade Federal de Santa Catarina, com
4 Website do Grupo Stela. Disponvel em: . Acesso em: 10 set. 2004.
http://www.stela.org.br>
56
o objetivo inicial de constituir um sistema que automatizasse os processos da
Secretaria da ps-graduao. O grupo combina a pesquisa acadmica e o
desenvolvimento de tecnologia de ponta. Sua equipe inclui doutores, mestres e
graduados que trabalham na criao de novas metodologias e tecnologias nas reas
de sistemas de informao, inteligncia aplicada e engenharia e gesto do
conhecimento. Como indicadores dos resultados das pesquisas do grupo esto os
artigos, os trabalhos em eventos cientficos, as dissertaes de mestrado e as teses
de doutorado desenvolvidas por seus integrantes.
A estrutura do Grupo Stela est formada por clulas de produo, ou seja,
pequenos subgrupos que so estruturados por rea de atuao. Cada clula
responsvel por realizar um conjunto de servios, que podem ser utilizados por
outras clulas com o intuito de promover a pesquisa e compartilhar o conhecimento.
Dessa forma, as atividades de cada clula so subdivididas e coordenadas para
atender s tarefas de cada projeto de pesquisa. So clulas que compem o grupo:
Anlise de Negcio, Banco de Dados, Desenvolvimento, Design, Documentao,
Gesto do Conhecimento, Integrao de Sistemas e Qualidade e Testes.
Os pesquisadores do grupo podem assumir perfis profissionais definidos,
como: coordenador geral, cujo papel gerenciar o grupo de pesquisa; coordenador
de clula, responsvel por gerenciar a equipe de pesquisa da clula; coordenador
tcnico, cuja funo gerenciar os projetos de pesquisa; e colaborador, cuja tarefa
a pesquisa e o desenvolvimento. E podem ainda assumir mais de um papel
simultaneamente. A Figura 1.9 ilustra a integrao entre as clulas e seus
colaboradores, representada por suas ligaes.
57
Figura 1.9 - Representao da estrutura organizacional em clulas do Grupo Stela
Inicialmente, constatou-se no grupo de pesquisa a necessidade de se
estruturar a questo da recompensa dos colaboradores. Sua estrutura relativamente
complexa, os resultados das pesquisas, os desenvolvimentos e as inovaes do
grupo permitiram levantar a hiptese de estudo sobre a aplicao da matriz ER.
Assim sendo, realizou-se a validao do estudo no grupo, executando-se as etapas
da metodologia proposta atravs de simulaes com dados dos seus colaboradores.
Cabe ressaltar que a metodologia da matriz ER incremental e por isso os seus
resultados so melhorados a cada interao.
4.3 Etapa 1: Definir as dimenses de atuao do trabalho
Criou-se primeiramente uma equipe com os gestores do grupo que colocou
em prtica um conjunto de aes. Em seguida, procurou-se detalhar atravs das
reunies da equipe a estrutura organizacional e as macroatividades com o objetivo
de descrever formalmente a organizao e definir onde esto dispostos os esforos
dos profissionais. Este trabalho resultou no Quadro 7, que ilustra o mapeamento dos
segmentos de atuao do grupo de pesquisa.
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Funes organizacionais Descrio
Projetos Itens de esforos relacionados a funes executadas em projetos (coordenao e trabalho como colaborador).
Pesquisa Itens de esforos relacionados produo cientfica.
Administrao Itens de esforos relacionados s gerncias (estratgia, direo, operao e controle).
Produtos Itens de esforos relacionados a softwares licenciados (venda, suporte, instalao, treinamento).
Formao de extenso Itens de esforos relacionados a cursos criados e ministrados.
Servios Itens de esforos relacionados a atividades de consultoria.
Inovao Itens de esforos relacionados s idias, patentes, aos registros e outros.
Quadro 7 - Mapeamento dos segmentos de atuao do grupo
Observa-se no Quadro 7 que as funes podem ser agrupadas. As funes
de administrao, projetos, produtos e servios esto diretamente relacionadas
dimenso institucional, tendo em vista que pertencem atividade-fim do grupo e por
isso so essencialmente produtivas. J as funes de pesquisa, formao de
exten