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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PROPOSTA PARA ELABORAÇÃO DE UM PLANO MESTRE DE VALIDAÇÃO DE PROCESSOS FARMACÊUTICOS Cecília de Fátima Queiroz Rokembach Porto Alegre, 2004

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

PROPOSTA PARA ELABORAO DE UM PLANO MESTRE DE VALIDAO DE PROCESSOS FARMACUTICOS

Ceclia de Ftima Queiroz Rokembach

Porto Alegre, 2004

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE PRODUO

PROPOSTA PARA ELABORAO DE UM PLANO MESTRE DE VALIDAO DE PROCESSOS FARMACUTICOSCeclia de Ftima Queiroz Rokembach

Orientador: Professor Dr. Jos Luis Duarte Ribeiro

Banca Examinadora: Arton Monza da Silveira, Dr. Prof. Faculdade de Farmcia / ULBRA Cludia Medianeira Cruz Rodrigues, Dra. Pesquisadora PPGEP / UFRGS Fernando Gonalves Amaral, Dr. Prof. PPGEP / UFRGS

Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo como requisito parcial obteno do ttulo de MESTRE EM ENGENHARIA DE PRODUO rea de concentrao: (Qualidade e Gerncia de Servios) Porto Alegre, maio de 2004.

Esta dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia de Produo e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora designada pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo.

Prof. Jos Luis Duarte Ribeiro Dr. Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientador

Prof. Jos Luis Duarte Ribeiro, Dr. Coordenador PPGEP/UFRGS

Banca Examinadora: Arton Monza da Silveira, Dr. Prof. Faculdade de Farmcia / ULBRA Claudia Medianeira Cruz Rodrigues, Dra. Pesquisadora PPGEP / UFRGS Fernando Gonalves Amaral, Dr. Prof. PPGEP / UFRGS

Dedico este trabalho aos meus familiares. De modo especial minha filha, Alice.

AGRADECIMENTOS

Agradeo ao Prof. Dr. Jos Lus Duarte Ribeiro pela orientao deste trabalho. Aos meus familiares, especialmente a Daura C. Rokembach, pelo carinho e apoio durante o perodo de realizao de meu curso de mestrado. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPQ), pela Bolsa de Estudos, possibilitando a minha dedicao ao desenvolvimento desta pesquisa. Aos profissionais que participaram e integraram a equipe do projeto. A empresa farmacutica, que me recebeu com ateno durante os meses de pesquisa. Aos professores e colegas do LOPP pelo auxlio e comentrios sobre este estudo. A Istefani Carisio, a Cludia Rodrigues e Ceres Oliveira, pela amizade e coleguismo que estabelecemos durante este perodo. A Deus pela oportunidade de crescer.

SUMRIO

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................9 RESUMO .....................................................................................................................................11 ABSTRACT.................................................................................................................................12 INTRODUO..........................................................................................................................13 1.1 Comentrios Iniciais..........................................................................................................13 1.2 Tema e Objetivos...............................................................................................................15 1.3 Justificativa do Tema e Objetivos .....................................................................................15 1.4 Mtodo de trabalho............................................................................................................17 1.5 Limitaes .........................................................................................................................19 1.6 Estrutura ............................................................................................................................20 2 REVISO BIBLIOGRFICA ...............................................................................................22 2.1 Validao e a Indstria Farmacutica................................................................................22 2.2 A Validao de Processos e suas Alternativas na Indstria Farmacutica ........................24 2.3 Princpios Bsicos para a Validao..................................................................................33 2.4 A Validao como um Projeto...........................................................................................35 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4 Ferramentas da Qualidade...........................................................................................36 Participantes do Projeto ..............................................................................................36 Papis dos Participantes ..............................................................................................38 Regras do Projeto ........................................................................................................40

2.5 Organizar para a Validao ...............................................................................................42 2.6 Documentao ...................................................................................................................46 2.6.1 Documentao da Qualidade ......................................................................................46

2.6.2 Documentao da Validao.......................................................................................48 3 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO .............................................................................59 3.1 Descrio da Empresa .......................................................................................................59 3.2 Fase Conceitual .................................................................................................................60 3.2.1 Definio do Escopo e Objetivos do Projeto ..............................................................60 3.2.2 Definio da Equipe e Apresentao do Projeto.........................................................61 3.3 Fase do Planejamento ........................................................................................................62 3.4 Fase da Execuo...............................................................................................................64 3.4.1 3.4.2 3.4.3 3.4.4 3.4.5 3.4.6 3.4.7 3.4.8 3.4.9 Reviso dos Conceitos sobre Validao de Processos na Indstria Farmacutica.64 Definir o Objetivo do PMV ........................................................................................65 Descrio da Seo de Produo de Medicamentos Semi-slidos .............................65 Descrio dos Processos da Seo de Produo de Medicamentos Semi-slidos......67 Protocolos de Validao, Conceito, Contedo e Relao de Protocolos ....................83 Conceito e Contedo do Relatrio de Validao. .......................................................85 Plano de Monitoramento do Processo.........................................................................86 Critrios de Identificao de Situao. .......................................................................87 Pessoal Apto Aprovao da Validao ....................................................................87

3.5 Fase Final...........................................................................................................................87 4 PROPOSTA PARA O PLANEJAMENTO DE UM PLANO MESTRE DE VALIDAO .............................................................................................................................92 4.1 Fase Conceitual .................................................................................................................99 4.1.1 Definio do Objetivo, do Escopo e das Metas ..........................................................99 4.1.2 Esboo da Matriz de Responsabilidades...................................................................100 4.2 Fase de Planejamento ......................................................................................................103 4.2.1 Aprovao da Matriz de Responsabilidades .............................................................103 4.2.2 Regras do Projeto ......................................................................................................103 4.3 Fase de Execuo.............................................................................................................105 4.3.1 4.3.2 4.3.3 4.3.4 4.3.5 4.3.6 Reviso dos Conceitos sobre Validao e Definio do objetivo do PMV ..............105 Descrio da Seo e dos Processos .........................................................................106 Protocolos de Validao: Contedo, Relao e Elaborao .....................................108 Contedo dos Relatrios ...........................................................................................109 Definir Pessoal Apto Aprovao da Validao......................................................110 Plano de Monitoramento do Processo.......................................................................110

4.4 Fase Final.........................................................................................................................111 4.5 Consideraes sobre a proposta.......................................................................................111 4.5.1 Vantagens..................................................................................................................111

4.5.2 Desvantagens e Generalidades da Proposta ..............................................................112 5 COMENTRIOS FINAIS ..................................................................................................113 5.1 Concluses ......................................................................................................................113 5.2 Sugestes para trabalhos futuros ....................................................................................116 REFERNCIAS ........................................................................................................................117 APNDICE A CRONOGRAMA INICIAL DE ATIVIDADES........................................121 APNDICE B FICHA DE REGISTRO DE REUNIES ...................................................123 APNDICE C PLANO MESTRE DE VALIDAO ........................................................125 GLOSSRIO ............................................................................................................................132

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mtodo de trabalho ....................................................................................................19 Figura 2 Modelo de Validao de Processo............................................................................24 Figura 3 Etapas da validao prospectiva...............................................................................28 Figura 4 Modelo de validao retrospectiva ..........................................................................31 Figura 5 Seleo de candidatos para validao retrospectiva..............................................32 Figura 6 Distribuio do nvel de atividade ao longo do ciclo de vida de um projeto ....35 Figura 7 Identificao dos participantes .................................................................................37 Figura 8 Contribuio dos participantes do projeto..............................................................38 Figura 9 Exemplo de Matriz de Responsabilidades ..............................................................42 Figura 10 Pirmide .....................................................................................................................47 Figura 11 Aes bsicas para elaborao de um documento normativo ...........................48 Figura 12 Contedo do Plano Mestre de Validao..............................................................49 Figura 13 Contedo do PMV de acordo com a RDC 134 .....................................................51 Figura 14 Categorias de Procedimentos Operacionais Padro............................................52

Figura 15 Matriz de Responsabilidades- Lista de atividades do projeto ...........................63 Figura 16 Organograma.............................................................................................................66 Figura 17 Fluxograma do processo de produo de cremes................................................69 Figura 18 Equipamentos utilizados na produo do creme de dexametasona.................70 Figura 19 Relao dos problemas com suas possveis causas e as etapas .........................71 Figura 20 Matriz da qualidade obtida no estudo do processo de produo da Dexametasona Creme ................................................................................................................77 Figura 21 Priorizao das caractersticas de qualidade do processo da Dexametasona Creme ...........................................................................................................................................77 Figura 22 Matriz das etapas do processo de produo da Dexametasona Creme............79 Figura 23 Priorizao das etapas do processo da Dexametasona Creme...........................79 Figura 24 Matriz dos parmetros .............................................................................................80 Figura 25 Priorizao dos Parmetros do processo...............................................................81 Figura 26 Diagrama de causa e efeito para a contaminao microbiolgica .....................82 Figura 27 Diagrama de causa e efeito para a dosagem inadequada devido a variabilidade do teor ..................................................................................................................83 Figura 28 Lista de necessidades levantadas pela equipe......................................................88 Figura 29 Tipos de Validao ...................................................................................................94 Figura 30 Etapas da validao prospectiva ............................................................................96 Figura 31 Etapas ps-validao Figura 23 Proposta para elaborao de PMV de uma seo de produo de medicamentos ......................................................................................97 Figura 32 Proposta para elaborao de PMV de uma seo de produo de medicamentos .............................................................................................................................98 Figura 33 Organograma da cadeia de comando do projeto...............................................104

RESUMO

Este trabalho abordou o tema validao de processos farmacuticos, tendo como objetivos o levantamento do referencial terico relativo ao tema, o acompanhamento do projeto de elaborao de um Plano Mestre de Validao (PMV) em uma empresa Farmacutica e a apresentao de uma proposta para a elaborao de um Plano Mestre de Validao de processos farmacuticos. De acordo com a reviso da literatura, a validao na produo de medicamentos em empresas farmacuticas deve ser resultado do trabalho de uma equipe de profissionais de diferentes departamentos da empresa. Este perfil multifuncional da equipe implica em comprometimento com o trabalho a ser realizado, definio de responsabilidades e atividades. A proposta apresentada sugere um caminho para a elaborao desse Plano, contemplando as validaes do tipo prospectivas, atravs da abordagem de projetos e das etapas que o caracterizam: definio conceitual, planejamento, execuo e concluso. Alm da reviso bibliogrfica, a proposta foi concebida com base no trabalho realizado junto a uma empresa farmacutica, resultando na construo de trs fluxos, referentes a: tipos de validao, etapas da validao e etapas ps-validao. O trabalho prtico conduzido junto empresa permitiu a estruturao de um PMV para um processo de produo especfico. Palavras-chave: validao prospectiva; Plano Mestre de Validao; processos farmacuticos.

ABSTRACT

The subject of this work is the validation of pharmaceutical processes, having as objectives a literature review on validation of pharmaceutical processes, the accompaniment of the elaboration of a Validation Master Plan (VMP) in a Pharmaceutical company, and the elaboration of a proposal for the conduction of the validation. In accordance with the literature review, process validation in pharmaceutical companies must be a result of teamwork, involving professionals of different departments of the company. Besides the multi-functional profile, it is necessary commitment with the work to be carried out, as well as a clear definition of responsibilities and activities. The presented proposal suggests a way for the elaboration of this Plan, contemplating prospectives validations, using the project approach and the stages that characterize it: conceptual definition, planning, execution and conclusion. Besides the literature review, the proposal was conceived also based on a case study conducted at a pharmaceutical company. The work contributed for the construction of three flows, concerning types of validation, stages of the validation and stages after-validation. The practical application allowed the construction of a VMP framework for a specific production process. Key words: Prospective validation, Validation Master Plan, Pharmaceutical process.

INTRODUO

Este captulo apresenta comentrios iniciais, o tema e os objetivos do trabalho. Expe, alm disto, a justificativa do tema, o mtodo de trabalho, sua estrutura e as limitaes.

1.1 Comentrios Iniciais

Pode-se verificar a preocupao com a qualidade e com os possveis efeitos nocivos dos medicamentos desde os tempos antigos. Segundo Rozenfeld (1998), a histria da identificao das reaes adversas de medicamentos est ligada a da criao pelo Estado de normas para garantir a sade da populao contra o charlatanismo e a fraude. Isso ocorreu ao longo dos tempos, tendo como pano de fundo as mudanas sociais, o avano das cincias bsicas e, particularmente, a atuao da sade pblica, atravs dos seus rgos de controle e regulamentao. Tais rgos esto hoje implantados na maioria dos pases.

As primeiras Farmacopias surgiram na poca do Renascimento, por volta de 1500 a 1750, e outras novas Farmacopias foram criadas, mais tarde, em vrios pases no incio do sculo XIX, estabelecendo-se pela primeira vez os padres de pureza dos frmacos. Nesta poca foi criado, tambm, o primeiro estatuto de controle da qualidade dos frmacos nos Estados Unidos. Nesse mesmo sentido, o de regular os medicamentos, no Brasil, em 1744, foi proibida a distribuio de drogas por estabelecimentos no habilitados; a fiscalizao governamental passou a fixar multas, fiscalizar a conservao das drogas e dos vegetais medicinais e apreender estoques nos casos de violao da lei. Criou-se, tambm, a figura do profissional responsvel (ROZENFELD, 1998).

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De acordo com Rozenfeld, (1998), em 1937, o Congresso norte-americano aprovou o Food, Drug and Cosmetic Act, alterando o regulamento dos medicamentos e influenciando outros pases. A nova legislao proibiu a comercializao de novos frmacos sem a autorizao do FDA (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION), concedida mediante comprovao de sua segurana pelo fabricante. Na mesma poca, entre a segunda metade do sculo XIX e a primeira metade do sculo XX, no Brasil, apareceram as primeiras regulamentaes para garantir a qualidade dos medicamentos.

J no mbito internacional, desde 1965, representantes dos pases-membros da Comunidade Econmica Europia elaboraram normas para harmonizar dispositivos legais e reguladores. Difundiu-se para todos os pases a obrigatoriedade da autorizao prcomercializao, posterior comprovao, pelo fabricante, da qualidade, da inocuidade e da eficcia, mediante os resultados dos ensaios experimentais e clnicos (MINISTRIO DE SANIDADE Y CONSUMO apud ROZENFELD, 1998).

Mais recentemente, no Brasil, foi criada pelo Ministrio da Sade a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) em 19 de abril de 1999 (LARA; MOREIRA, 2003). O modelo adotado no Brasil, conforme Prado Neto (2000), similar ao das agncias europias e dos Estados Unidos e apresenta como misso, proteger a sade da populao atravs do controle de produtos, bens e servios que so submetidos Vigilncia Sanitria.

Esta seqncia de fatos conduziu pesada regulamentao que recai sobre os produtos farmacuticos que, segundo Rozenfeld (1998), se deve, inicialmente, necessidade de normatizar a competio entre os fabricantes e, em parte, ao impacto da difuso dos eventos adversos pela utilizao de medicamentos nocivos.

A crescente globalizao e uso de normas internacionais visando a garantia de qualidade, aliada ao crescimento da concorrncia no setor farmacutico, fizeram com que as empresas fossem obrigadas a buscar a excelncia em processos e produtos. Segundo Blecher et al. (2001), as empresas, em conseqncia do comrcio de excipientes industriais farmacuticos entre as naes, esto obtendo uma viso mais ampla de todo o sistema. Assim, a tendncia construir padres globais de qualidade atravs de novas normas. Esses novos

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padres, por sua vez, tendem a favorecer o controle e a validao dos processos, por meio de procedimentos que buscam a homogeneidade da qualidade das substncias a serem adquiridas.

Segundo Cerioni; Emanuelli (2002), o conceito de validao faz parte do conceito de qualidade, no qual a preveno tornou-se primordial e economicamente mais interessante, principalmente em uma realidade cada vez mais competitiva. Hoje, a validao tornou-se uma das principais ferramentas da Garantia da Qualidade, contradizendo alguns conceitos ultrapassados de apenas se controlar a qualidade.

1.2 Tema e Objetivos

Esta dissertao aborda a validao de processos na Indstria Farmacutica. Esse um tema que necessita ser desenvolvido considerando as exigncias do mercado atual em relao qualidade dos medicamentos, bem como s exigncias de Agncias reguladoras como a ANVISA (Agncia de Vigilncia Sanitria).

O objetivo geral desta dissertao formular uma proposta para elaborao de um de um Plano Mestre de Validao de processos farmacuticos. Como objetivos especficos, encontram-se: o estudo e levantamento do estado da arte relativo validao apropriada aos processos das Indstrias Farmacuticas. acompanhar o planejamento de um Plano Mestre de Validao em uma empresa Farmacutica, atravs de uma pesquisa-ao. 1.3 Justificativa do Tema

Atualmente, as exigncias de qualidade recaem sobre os mais diversos segmentos industriais, e a indstria farmacutica, como parte do setor produtivo, um deles. Entre as exigncias de qualidade, destaca-se um dos itens abordados pela norma Quality System (QS 9000): a validao. No mbito da indstria farmacutica Brasileira, esse tambm assunto

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de recente Resoluo (BRASIL, 2001). O estudo deste tema tem sido conduzido com o objetivo de estabelecer princpios e conceitos dos procedimentos de validao, de forma a complementar outra legislao obrigatria do setor, as BPF (Boas Prticas para a Fabricao dos Medicamentos).

A norma Quality System (QS 9000) define a validao de processos como o estabelecimento de evidncias objetivas de que um processo produz consistentemente um resultado ou um produto dentro de especificaes pr-determinadas (FDA, 1999). Campenella apud Prosser (1999), por sua vez, conceitua a validao como o custo preventivo de estabelecer aes com o propsito de assegurar a capacidade de novos mtodos de produo, processos, equipamentos, maquinrios e ferramentas de executarem inicialmente e consistentemente dentro dos limites exigidos. Verifica-se, a partir dessas definies, que a validao deve possibilitar, por meio de evidncias objetivas, ou seja, atravs de provas documentais, o estabelecimento e a execuo de atividades que venham a garantir que os processos possam fornecer resultados e produtos dentro de especificaes e que os elementos envolvidos no processo, tais como equipamentos, instrumentos de medio, utilidades e outros, estejam instalados e operando dentro do planejado.

Segundo Chow e Liu (1995), os conceitos de controle e validao de processos no so novos e esto bem estruturados em indstrias nos Estados Unidos. A indstria farmacutica, no entanto, diferente das outras indstrias em dois aspectos principais. Primeiro, os medicamentos produzidos so geralmente administrados em seres humanos. Por outro lado, na indstria farmacutica, o tamanho de um lote (por exemplo, comprimidos), usualmente medido na unidade de milhes de comprimidos. Dependendo do resultado de comprimidos amostrados, o lote todo pode ser aceito ou rejeitado, implicando em perdas considerveis.

Alguns autores (CHOW; LIU, 1995; DONNA, 1997; PROSSER, 1999; SOFER; ZABRISKIE, 2000) tm abordado a questo da validao de processo na indstria farmacutica. Entende-se tal preocupao, uma vez que, se esses processos no forem validados, podem acarretar em produtos que coloquem diretamente a vida humana em risco; causando, tambm, prejuzos para a imagem da empresa. A necessidade da validao parece ser bem aceita, mas para implement-la necessrio que se conhea seu conceito, os tipos de

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validao, onde eles podem ser aplicados, suas fases; enfim, preciso entender o assunto, o que se pretende atingir com o levantamento do referencial terico, que representa o primeiro objetivo especfico do trabalho.

Alm desse, o segundo objetivo especfico, do trabalho, de acompanhar e participar do planejamento de um Plano Mestre de Validao de processos em uma indstria farmacutica do Estado do Rio Grande do Sul, com a finalidade de colaborar com o entendimento de como o planejamento da validao ocorre na prtica e quais as facilidades e dificuldades encontradas no seu desenvolvimento. Acredita-se que a carncia de relatos de exemplos prticos, nesse sentido, possa justificar essa ao. Tendo em vista que, as prprias legislaes no so suficientemente claras para facilitar o planejamento e a implementao da validao do processo.

Por fim, a formulao de uma proposta, apropriada elaborao de um Plano Mestre de Validao de processos na Indstria Farmacutica, justifica-se na medida que pode vir a facilitar o entendimento e a aplicao deste assunto, o qual j contedo de nova Resoluo (BRASIL, 2001). Segundo Tzortzopoulos (1999), uma das caractersticas mais importantes da modelagem est relacionada viso sistmica do processo, que demonstra que qualquer faceta do trabalho deve ser vista e analisada em relao ao todo. Alm disso, conforme Bordin (2003), a modelagem possibilita que todos os intervenientes passem a ter uma viso global do processo e seus papis e responsabilidades possam ser definidas de forma clara e sistmica.

1.4 Mtodo de Trabalho

O desenvolvimento desta dissertao foi elaborado a partir de trs etapas, a saber (figura 1): a reviso bibliogrfica, uma interveno em uma empresa farmacutica e a construo de uma proposta para a elaborao de um Plano Mestre de Validao. O levantamento do referencial terico foi realizado durante todo o desenvolvimento da pesquisa, no sentido de fornecer embasamento para o trabalho proposto. A tarefa de reviso bibliogrfica foi mais acentuada em primeiro momento, mas foi enriquecida ao longo do trabalho, conforme as necessidades apresentadas.

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Foi efetuado levantamento do estado da arte, relativo a tipos de validao utilizados na indstria farmacutica, onde se buscou conhecimento referente a conceitos, tipos de validao e orientaes das normas, legislao vigente e farmacopias. Esse levantamento est embasado em consultas a bibliografia publicada da rea farmacutica, a artigos cientficos via base de dados, Farmacopia Brasileira, a normas de qualidade e legislao da Agncia de Vigilncia Sanitria (Ministrio da Sade) vigente no Brasil. Essa reviso bibliogrfica abrange, ainda, noes sobre gerenciamento de projetos e documentao da qualidade com o fim de reforar a base terica, necessria ao desenvolvimento do trabalho.

A segunda etapa aborda o estudo de uma empresa farmacutica do Estado do Rio Grande do Sul, seguindo os preceitos da pesquisa-ao. Neste estudo, foi realizado o acompanhamento de um projeto de planejamento de validao de processos. O estudo contemplou: formao de equipe para planejamento da validao de um processo especfico, assistncia e participao em reunies de planejamento com a equipe envolvida (engenheiros, farmacuticos e tcnicos), identificao de etapas estabelecidas, identificao de limitaes constatadas e anlise e discusso dos resultados obtidos.

Para o acompanhamento e participao no projeto de planejamento de validao, o mtodo de pesquisa cientfica utilizado, nesta dissertao, seguiu os preceitos da metodologia de pesquisa-ao. A pesquisa-ao consiste essencialmente em acoplar pesquisa e ao em um processo no qual os atores implicados participam, junto com os pesquisadores, identificando problemas coletivos, buscando e experimentando solues em situao real (THIOLLENT, 1997). Uma caracterstica dessa metodologia, que vale ressaltar, a implicao recproca dos atores e dos autores da pesquisa. Conforme conceitua Thiollent, a pesquisa-ao :

[...] um tipo de pesquisa social com base emprica, que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo e participativo (1998).

Ainda, segundo Thiollent:

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[...] a pesquisa-ao pode permitir a captao de fenmenos interativos entre as pessoas e os grupos que participam do projeto e desemboca em propostas de mudana coletivamente cogitadas e negociadas, com pressupostos democrticos, o que chega a ser condio favorvel a uma efetiva realizao dos projetos (1997).

REVISO BIBLIOGRFICA

INTERVENO EMPRESA

-

Validao Farmacutica Abordagem Gerenciamento Projetos

-

Projeto : estruturar PMV de uma seo(produto especfico)

PROPOSTA PARA PLANEJAMENTO DE UM PMV

Consideraes Finais

Figura 1: Mtodo de trabalho

A terceira etapa envolve a elaborao de uma proposta para o planejamento de um Plano Mestre de Validao para os processos em estudo, fundamentada nas informaes obtidas nas etapas anteriores, ou seja, na reviso bibliogrfica e no acompanhamento do planejamento de um processo de validao.

1.5 Limitaes

Este trabalho apresenta algumas limitaes, entre as quais podem ser destacadas:

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O estudo de caso foi realizado em Empresa Farmacutica do Estado do Rio Grande do Sul que, devido atual legislao, dever realizar a validao de seus processos (BRASIL, 2003). Este trabalho no pretende avaliar a implementao e manuteno da validao.

O estudo foi focado em um processo de produo de um produto especfico e limita-se apenas a uma empresa da indstria farmacutica, portanto, as generalizaes devero ser feitas com reservas.

O enfoque da validao de processos fica restrito ao ambiente industrial farmacutico. O modelo proposto no considera inicialmente custos envolvidos e tampouco propor mudanas na cultura organizacional. A validao do modelo apresentado, atravs do emprego em outras empresas farmacuticas, no faz parte deste estudo. A proposta apresentada nesta dissertao restringe-se a validaes do tipo prospectivas.

1.6 Estrutura

A presente dissertao se encontra dividida em cinco captulos, cujos contedos so descritos brevemente a seguir.

O primeiro captulo traz uma introduo ao trabalho, colocando alguns comentrios iniciais, tema e objetivos, justificativa do tema e dos objetivos, metodologia, assim como a estrutura do trabalho e suas limitaes.

Na seqncia, o segundo captulo apresenta uma reviso bibliogrfica sobre validao de processos na indstria farmacutica, noes sobre gerenciamento de projetos e documentao da qualidade.

O captulo trs apresenta o estudo aplicado e seus resultados. Este estudo foi focado em um processo de produo de um produto especfico em uma empresa Farmacutica do Estado do Rio Grande do Sul.

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O quarto captulo abrange uma proposta para o planejamento de um Plano Mestre de Validao para uma seo de produo de medicamentos em empresas farmacuticas resultante da integrao das informaes levantadas nos demais captulos.

E por fim, o captulo cinco reservado s principais concluses do trabalho realizado, e acrescenta sugestes para trabalhos futuros.

2 REVISO BIBLIOGRFICA

2.1 Validao e a Indstria Farmacutica

A indstria de produtos farmacuticos se enquadra na categoria das indstrias de processos, as quais, segundo Juran (1993), realizam em geral, alteraes fsicas e qumicas nos materiais com o propsito de melhor adequao ao uso do consumidor. Atualmente, recaem sobre os produtos farmacuticos uma pesada regulamentao.

Donna (1997) afirma que a validao de processos farmacuticos um dos maiores desafios que enfrentam atualmente as agncias reguladoras, bem como os prprios gerentes industriais. Embora haja um consenso geral dentro da indstria farmacutica a respeito da necessidade de validar seus processos, existe alguma divergncia sobre as GMP (GOOD MANUFACTURING PRACTICES), publicada pela FDA (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 1987), um rgo regulamentador dos Estados Unidos, que aborda as Boas Prticas de Fabricao, incluindo o assunto validao. Uma das finalidades indicadas neste guia a de assegurar que os ingredientes ativos sejam produzidos sob um sistema de garantia de qualidade, que garanta as caractersticas dos ingredientes para o seu uso posterior.

Apesar de existir um consenso sobre a necessidade da validao dos ingredientes ativos, permanece a dificuldade de decidir em que etapas da produo a validao deve ser aplicada. O FDA, apud Donna (1997) apresenta as quatro abordagens possveis, a seguir: controlar e validar todas as etapas do processo de produo; controlar e validar todas as etapas crticas do processo de produo;

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controlar todas as etapas do processo e validar as etapas crticas do processo; controlar e validar as etapas finais.

Martinez apud Donna (1997) cita o terceiro cenrio como a abordagem mais racional para as finalidades reguladoras, j que requer controles apropriados, que seguem as boas prticas de manufatura, em todas as etapas de produo, e a validao das etapas determinadas como crticas que, em geral, referem-se qualidade e a pureza do produto qumico farmacutico. No entanto, observa-se que as estratgias de validao variam de fabricante para fabricante e, ainda, conforme a complexidade do processo e produto.

Amer apud Donna (1997) aponta uma possvel abordagem para este assunto. Ele indica que, inicialmente, o projeto original do processo revisto. Em seguida, o processo subdividido em subsistemas, definem-se os componentes do sistema, so identificadas as especificaes do projeto, assegura-se de que estas especificaes esto de acordo com as boas prticas de manufatura, os protocolos so preparados com as especificaes a serem utilizadas nas etapas do processo e, finalmente, testa-se o sistema para comprovar que ele se encontra dentro dos requisitos especificados. Normalmente, verifica-se que possvel produzir consistentemente com a mesma qualidade, eficcia, pureza e segurana.

De acordo com Chow e Liu (1995), a validao farmacutica inclui a validao de equipamentos do laboratrio, tais como os de Cromatografia a gs (GC), mtodos de testes especficos baseados em processos do GC ou do HPLC (HIGH PERFORMANCE LIQUID CHROMATOGRAPHY) ou validao de fabricao para compostos especficos. A cromatografia, de acordo com a Farmacopia Brasileira (1988), constitui processo de separao, identificao ou determinao quantitativa dos componentes de uma amostra. A GMP (GOOD MANUFACTURING PRACTICES) requer que os fabricantes farmacuticos estabeleam a confiabilidade de resultados de teste. Mais especificamente, o GMP (GOOD MANUFACTURING PRACTICES) requer que: a exatido, a preciso, o limite de deteces, os limites de quantificao, a linearidade, a escala e a reprodutibilidade dos mtodos dos testes empregados estejam estabelecidos e validados. A validao de um instrumento, procedimento de teste, ou processo de fabricao muito importante, j que as anlises estatsticas dependem fortemente dos resultados de teste das amostras obtidas do instrumento, do procedimento de teste, ou do processo de fabricao. Se os mesmos no forem validados,

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as concluses extradas destes resultados podem no ser confiveis ou mesmo at serem falsas.

2.2

A Validao de Processos e suas Alternativas na Indstria Farmacutica

Um projeto de validao geralmente encaminhado para estabelecer evidncia documental sobre o processo de produo proposto (CHAPMAN apud CHOW; LIU, 1995). A validao de processo tem sido definida como um programa documentado que fornece um alto grau de segurana de que o processo especfico produz consistentemente um produto dentro de especificaes pr-determinadas (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 1987).

Segundo Weber (2001), a validao de processo pode ser estruturada em seis etapas (figura 2): o Planejamento, a Qualificao de Instalao (QI), a Qualificao Operacional (QO), a Qualificao Processo/Produto, Monitoramento do processo e Revalidao.

5.Monitoramento do processo 4. Qualificao do produto/processo 6.Revalidao

Validao de processos

1.Planejamento

3. Qualificao Operacional 2.Qualificao de Instalao

Figura 2: Modelo de Validao de Processo (WEBER, 2001)

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Em relao Qualificao de Instalao (QI) e Qualificao Operacional (QO) a legislao farmacutica define:

Qualificao de Instalao (QI) um conjunto de operaes que estabelece, sob condies especificadas, que a instalao dos equipamentos, utilidades, instrumentos de pesagem e medidas e reas de produo; na fabricao de medicamentos, foram selecionadas adequadamente e encontram-se corretamente instalados de acordo com as especificaes estabelecidas (BRASIL, 2003, p.48).

A Qualificao Operacional (QO) um conjunto de operaes que estabelece, sob condies especificadas, que o sistema ou subsistema apresenta desempenho, conforme previsto, em todas as faixas operacionais consideradas. Todos os equipamentos, considerados na execuo dos testes, devem ser identificados e calibrados antes de serem usados (BRASIL, 2003, p.48).

A Qualificao do Desempenho (Processo /Produto) o estabelecimento de evidncias objetivas de que o processo, sob condies previstas, produz consistentemente um produto dentro de todos os requisitos predeterminados (GHTF apud WHITBY, 2001).

Quanto a Revalidao, a Resoluo RDC 210 define como:

Repetio do processo de validao aprovado, que mudanas introduzidas no processo/equipamento, de procedimentos, ou repetio peridica realizada a afetam adversamente as caractersticas do processo (BRASIL, 2003).

fornece a garantia de que as acordo com as mudanas dos intervalos programados, no nem a qualidade do produto

Esta Resoluo recomenda que sejam programadas revalidaes peridicas, mesmo que no haja mudanas intencionais, j que mudanas podem ocorrer por falhas humanas ou por desgaste de equipamentos.

Segundo a RDC 210 (BRASIL, 2003), existem duas abordagens para a validao do processo: a abordagem experimental (validao prospectiva e concorrente) e a abordagem baseada na anlise de dados histricos (validao retrospectiva). Basicamente, os trs tipos de validao de processos utilizados na indstria farmacutica, so descritos da seguinte forma (CHAPMAN; KOLBERGER apud CHOW; LIU, 1995):

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Validao Prospectiva o estabelecimento de evidncia documental de que o processo proposto baseia-se em um protocolo pr-planejado.

A validao prospectiva de um processo de produo geralmente aplicada quando (CHOW; LIU, 1995): Dados histricos no esto disponveis ou no so suficientes; e no adequado testar os dados do material em processo ou do produto final. So usados novos equipamentos ou componentes. Apresentam-se modificaes substanciais ou trocas no processo de produo, novos produtos ou reformulao de um produto j existente. Transfere-se um processo de produo de um laboratrio de desenvolvimento para uma produo em escala.

Para a validao prospectiva, tem-se pouqussima ou nenhuma informao sobre o processo de produo (como acontece, por exemplo, no caso de novos medicamentos). Este tipo de validao trabalhoso e leva tempo para ser estabelecido. Ele requer que sejam produzidos e testados trs lotes, e, se o produto final estiver dentro das especificaes, o mesmo liberado (CHOW; LIU, 1995). No caso da validao prospectiva (figura 3) no ser aprovada, a produo no liberada at que se efetue uma validao adicional.

Na Legislao Brasileira consta que:

A validao prospectiva realizada durante o estgio de desenvolvimento do produto, atravs da anlise dos riscos do processo de fabricao, o qual detalhado em passos individuais; estes por sua vez, so definidos com base na experincia passada para determinar se os mesmos podem ocasionar situaes crticas (BRASIL, 2003, 19.4.1.1, p. 49).

A Legislao Brasileira (BRASIL, 2003) tambm considera que a validao prospectiva pode ser utilizada em caso de novos processos, sistemas, equipamentos ou instrumentos. Autores como Chow e Liu (1995) levam em conta que em outros momentos, que no no desenvolvimento do produto, a validao prospectiva pode se fazer necessria. Por

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exemplo, a validao retrospectiva fica inviabilizada quando dados histricos no esto disponveis ou no so suficientes. Neste caso, optar-se-ia pela validao concorrente. Mas, se neste momento, testar os dados em processo, ou os dados do produto final, fosse invivel, por algum motivo; ento, a validao prospectiva se faria necessria.

Para que a validao prospectiva, segundo Chao et al. (1993), seja completada com sucesso necessrio um programa pr-planejado e organizado, com reas claramente definidas de responsabilidade e autoridade. Uma estrutura de gerenciamento de projeto eficiente dever ser estabelecida em seqncia para planejar, executar e controlar o programa. Sem responsabilidades claramente definidas, algumas partes do programa de validao podem no ser completadas por falta de quem as cumpra. O inverso, tambm, pode ocorrer, duas ou mais pessoas ou grupos podem assumir sozinhos responsabilidades, resultando em duplicao de esforos e desperdcio de tempo e dinheiro. Conforme Chao et al. (1993), com um planejamento organizado pode-se minimizar esses problemas.

Um programa eficiente de validao prospectiva deve ser sustentado por documentao que se estenda desde o desenvolvimento do produto at a produo em escala (full-scale). O pacote completo da documentao pode ser chamado, conforme Chao et al. (1993), como Arquivo Mestre de Documentao (MASTER DOCUMENTATION FILE), que deve fornecer um histrico completo do produto e explicar como um conceito de produto evolui at o ponto de ser passado para a produo em escala.

O arquivo ser resultado do trabalho de muitas pessoas e dever conter relatrios, procedimentos, protocolos, especificaes, mtodos analticos e qualquer outro documento crtico pertencente formulao e ao processo. Os relatrios devem ser atuais ou utilizar referncias cruzadas para documentos formais, internos ou externos organizao. Em suma, o pacote deve conter um histrico completo do produto final a ser produzido. Torna-se, desta maneira, a fonte de referncia para todas as questes relacionadas com a produo de qualquer produto da fbrica. Todavia, este documento no deve ser confundido com o Documento Mestre do Produto (MASTER PRODUCT DOCUMENT).

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calibraes

Qualificao da Instalao (IQ)

Qualificao Operacional (OQ)

Aprovao do Protocolo de Validao

Execuo da Validao

Anlise dos dados

Relatrio das Tarefas

Aprovao dos resultados (Certificao)

Figura 3: Etapas da validao prospectiva. Adaptado de Chapman apud Chow e Liu (1995)

O pacote de documentos que so necessrios produo do produto torna-se o Documento Mestre do Produto, e os itens que devem ser includos no mesmo, conforme Chao et al. (1993), so: registros de lotes produzidos, formulao mestre, fluxograma do processo, instrues de empacotamento, especificaes, amostragens, mtodos de testes e, dados de qualificao do processo. Cada um dos itens deve ser suficientemente detalhado, a fim de permitir que o Documento Mestre do Produto se torne um pacote simples e independente, que fornea toda a informao necessria para o setup e produo de um produto. No contexto nacional farmacutico acredito que o termo Documento Mestre de Produto poderia ser substitudo, sem prejuzo de entendimento, por Ordem de produo.

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Validao Concorrente o estabelecimento de evidncia documental de que o processo proposto baseia-se em informaes geradas durante a implementao atual do processo. uma opo usada nas seguintes situaes (CHAPMAN; KOLBERGER, apud CHOW; LIU, 1995): uma etapa de um processo modificada; um fornecedor de um ingrediente inerte (excipiente) trocado; o produto no produzido com freqncia; quando um processo de revestimento ou a frmula de uma soluo para revestimento sofre alguma modificao; uma nova matria prima deve ser introduzida; quando no existem dados suficientes ou disponveis sobre o desenvolvimento de produtos j comercializados. A validao concorrente pode fornecer informaes valiosas para modificar ou corrigir o processo de produo quando um problema encontrado durante a validao; conseqentemente, um lote pode ser aprovado simultaneamente sua produo.

Validao Retrospectiva o estabelecimento de evidncia documental de que o processo proposto baseia-se em uma reviso e anlise de informaes histricas (CHAPMAN; KOLBERGER apud CHOW; LIU, 1995).

Segundo o FDA (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 1987), a validao retrospectiva aquela de um processo para um produto j em distribuio, baseada na produo acumulada, anlise e controle dos dados. Este tipo de validao utiliza informaes e dados histricos, possivelmente fundamentados em registros de lotes, livros de registros da produo, grficos de controle, testes e inspeo de resultados, queixas dos clientes, relatrios de falhas de campo e de auditorias.

Dados histricos devem conter informaes suficientes para refletir com profundidade a imagem de como o processo tem operado, e se o produto tem estado dentro das especificaes. Se os dados no forem coletados adequadamente, ou se dados apropriados

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no forem obtidos em uma mquina que permita a anlise adequada, a validao retrospectiva no possvel.

Informaes incompletas desfavorecem a validao retrospectiva. Alguns exemplos de informaes incompletas so: Queixas dos clientes que no tenham sido investigadas completamente para determinar a causa do problema, incluindo a identificao de queixas que so devidas falhas no processo; Queixas investigadas, mas aes corretivas no so tomadas; Decises de descartes e retrabalho no so registradas, investigadas ou justificadas; Excessivo retrabalho; Lacunas em registros de lotes, as quais no foram justificadas; Relatrios que no demonstram a variabilidade do processo.

Se dados histricos so coletados adequadamente e se so representativos do processo, pode ser conduzida uma anlise para determinar se o processo tem sido operado sob estado de controle e se tem produzido consistentemente produtos dentro das especificaes e atributos pr-determinados, realizando, ento, a validao retrospectiva (figura 4).

Para que um produto seja considerado apto para uma validao retrospectiva, o mesmo deve ter um processo relativamente estvel, isto , seus mtodos de produo devem ter permanecido sem mudanas essenciais por um determinado perodo de tempo. O primeiro passo na seleo de um produto obter, para cada um, o resumo das mudanas nos mtodos de fabricao; que em muitas companhias faz parte de um arquivo de registro de lote. Usando-se uma estimativa do volume da produo anual, seleciona-se um intervalo de tempo que represente os ltimos vinte lotes (TRUBINSKI, 1993). Ento, os dados dos testes em processo e dos testes finais do produto devem ser compilados e avaliados estatisticamente. A RDC 134 (BRASIL, 2001), da mesma forma, evidencia a necessidade de que a produo, durante o perodo anterior a validao, tenha se desenvolvido sem problemas. Alm disso, a informao sobre problemas relacionados ao produto tambm analisada. A Confiabilidade

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do processo demonstrada se, durante um tempo considervel, no h rejeies, reclamaes, devolues, reaes adversas imprevistas, etc. (BRASIL, 2001).

Dados dos lotes Relatrio da Investigao G.Q. Resultados dos testes no processo Anlise de dados Relatrio da anlise de tendncia Descartes Resultado dos Testes no produto

Calibraes OK?

No

No

Sistemas qualificados

?

Sim

Corrigir calibrao

Qualificar sistemas prospectivamente

Sim

No

Variao de parmetros de controle OK?

Conduzir validao Prospectiva selecionada

Sim

Documentar resumo dos resultados

Aprovar concluses (certificao)

Figura 4: Modelo de validao retrospectiva. Adaptado de Chow e Liu (1995, p. 210)

O segundo passo, localizar onde a situao de mudana no mtodo de produo foi implementada nos ltimos vinte lotes produzidos. O fato de uma mudana ter ocorrido, no desqualifica automaticamente o produto para a validao retrospectiva. Segundo Trubinski

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(1993), deve-se verificar, antes, se as modificaes particulares causaram resultados diferentes dos anteriormente obtidos nos demais lotes. Os autores sugerem uma investigao no histrico das seguintes mudanas antes de tomar-se alguma deciso para validar retrospectivamente: mudanas na formulao, envolvendo um ou mais ingredientes ativos ou excipientes-chave, introduo de novos equipamentos no equivalentes aos usados anteriormente, mudanas de testes do produto e, mudanas no mtodo de produo.

Produtos no previamente validados

Histrico produo (20 lotes) Sim Produto ser suspenso?No

No As mudanas so significativas ? Sim Acumular 20 lotes

Sim Ele ser suspenso agora? Sim Baixa prioridade de validao No

No

Candidato para validao retrospectiva

. Figura 5: Seleo de candidatos para validao retrospectiva, adaptado de Trubinski (1993, p.252)

O terceiro e ltimo passo, nessa seleo, identificar que produtos sero provavelmente suspensos (descontinuados) ou reformulados, por causa de carncia de mercado ou requisitos regulamentares. O conjunto destes eventos ir ditar quando um produto ser um candidato vivel para validao retrospectiva (figura 5). A indicao de um ou outro

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tipo de validao, no processo de produo, depende do modo e do momento em que as informaes para a validao so coletadas do processo.

2.3 Princpios Bsicos para a Validao

A proposta de validao de processo demonstrar a capacidade e reprodutibilidade do processo de produo (CHOW; LIU, 1995). Para garantir a uniformidade e integridade do lote de medicamentos produzidos, o GMP (GOOD MANUFACTURING PRACTICES), um guia americano sobre as Boas Prticas de Fabricao e que aborda o assunto validao, requer validao do processo de produo com fins farmacuticos.

Amer (2000) sugere que um Processo de Validao (PV) deve ser conduzido com os seguintes objetivos: garantir a qualidade do medicamento produzido e tambm a consistncia das operaes de produo e da reprodutibilidade do processo, demonstrar a robustez do processo, estabelecer a existncia de um sistema de garantia de qualidade na organizao, propiciar que o pessoal envolvido na produo seja treinado apropriadamente e qualificado para produzir o produto. Estas providncias devem ser documentadas e fundamentadas por coleta de informaes necessrias e testes apropriados com o propsito de demonstrar que o processo est capacitado a fazer o que foi proposto.

Com este fim, para produzir prospectivamente, geralmente, desenvolvido um protocolo de validao. Esse protocolo um documento da empresa, especfico para cada atividade, que descreve os procedimentos a serem realizados na validao, incluindo os critrios de aceitao para aprovao de um processo de produo ou de parte do mesmo (BRASIL, 2003). Segundo Chow e Liu (1995), este protocolo um documento escrito que define e detalha as partes crticas do processo de produo, estabelece a maneira como a validao dever ser conduzida e lista critrios para uma validao bem sucedida. Um protocolo de validao deveria incluir, tambm, os procedimentos de produo, objetivos, planos amostrais e planos de testes.

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importante, para desenvolver um protocolo de validao, que se possua um bom conhecimento sobre o processo de produo. Chow e Liu (1995) sugerem que discusses com os projetistas sobre os estgios crticos, equipamentos a serem usados em cada um destes estgios, possveis problemas, testes a serem executados, planos amostrais, critrios de aceitao e outras informaes pertinentes devem ajudar a construir este protocolo.

Conforme o FDA (FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 1987), os princpios bsicos para a validao so especificados como: Estabelecer que o equipamento utilizado no processo tem a capacidade de operao dentro dos parmetros requisitados; Demonstrar atravs do controle e de monitorao que os instrumentos de medio so capazes de operar dentro dos parmetros prescritos; Executar ciclos de rplicas rpidas representando a variao operacional requerida pelo equipamento, para demonstrar que o processo tem operado dentro dos parmetros prescritos, e que o produto satisfaz s especificaes de qualidade pr-determinadas; Monitorar o processo durante a operao rotineira. Quando necessrio requalificar e recertificar o equipamento.

Similarmente, a Resoluo RDC 210 (BRASIL, 2003) estabelece pr-requisitos para a validao de um processo produtivo. Conforme esta Resoluo, antes de iniciar a validao do processo, deve-se qualificar os equipamentos, instrumentos de controle e a formulao utilizada na produo. A formulao do medicamento deve ser estudada e qualificada detalhadamente no estgio de desenvolvimento do produto. Ainda estabelece que outros aspectos de produo devem ser validados, o que inclui as utilidades (gua, ar, nitrognio e outras) e as operaes de suporte, como limpeza e sanitizao de equipamentos e instalaes. A Resoluo RDC 210 (BRASIL, 2003) ressalta, tambm, que fazem parte dos pr-requisitos para uma validao bem-sucedida, o treinamento adequado e a motivao do pessoal.

Em relao Organizao, consta da Resoluo RDC 210, que:

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No organograma da empresa devem estar estabelecidas as responsabilidades para as atividades de validao. Para esta finalidade, a Diretoria da empresa deve definir uma pessoa responsvel pelas atividades de validao (chefe de validao), que institui um grupo de validao (equipe, comit). [...] O grupo prepara um programa de validao definindo suas prioridades, a programao, os recursos necessrios, etc. O programa deve ser revisado e aprovado pelos setores envolvidos. A reviso final e aprovao so de responsabilidade do chefe de validao (BRASIL, 2003).

2.4 A Validao como um Projeto

Projetos podem ser definidos (HUBBARD apud MAXIMIANO, 2002) como tarefas finitas, complexas, singulares que com recursos limitados se compem de inmeras tarefas menores inter-relacionadas. Verzuh (2000), por sua vez, considera como projeto todo aquele trabalho que tem comeo e fim e que acontece uma nica vez. Pode-se distinguir projetos de operaes permanentes dado que os mesmos possuem caractersticas opostas. As operaes permanentes, de acordo com Verzuh (2000), geram produtos similares e no tm um fim determinado, enquanto os projetos assumem um carter singular e temporrio .

Um projeto, em geral, divide-se em quatro fases que compem seu ciclo de vida (figura 6): a conceitual, a de planejamento, a execuo, e a fase final. Para, Maximiano (2002), o ciclo de vida permite visualizar o projeto do incio concluso, possibilitando o estudo e a aplicao sistmica das tcnicas de administrao de projeto.

Nvel de atividade do projeto

Fase conceitual

Fase do planejamento

Fase de execuo

Fase final

Incio

Tempo

Fim

Figura 6: Distribuio do nvel de atividade ao longo do Ciclo de vida de um projeto Fonte: adaptado de Dinsmore, (1998)

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Na fase de preparao (conceituao ou concepo), define-se o objetivo do projeto e seus planos preliminares, considerando as expectativas do cliente. O planejamento (estruturao) a fase em que prevalecem atividades de detalhamento dos planos operacionais e a organizao da equipe do projeto, mobilizando-se meios e recursos para a realizao do mesmo. A execuo (desenvolvimento e implementao) a fase em que se colocam os planos em prtica. Enquanto que, no encerramento, o projeto atinge o seu resultado (MAXIMIANO, 2002).

Conforme Keelling (2002), as organizaes esto cada vez mais recorrendo ao uso de projetos para alcanar mudanas tcnicas ou organizacionais, e sugerindo como exemplo, a introduo de novos sistemas de controle de qualidade. Nesse contexto, o processo de validao pode ser gerido como um projeto com suas respectivas fases. Segundo Prosser (1999), as atividades de validao so mais bem compreendidas como um projeto que possa ser desdobrado em uma srie de subprojetos e controlado em suas divises menores, que consistem em uma srie de objetivos e tarefas previstas. Maximiano (2002) define subprojeto como uma parte de um projeto de grande porte, considerando como exemplo de subprojetos uma fase de um projeto ou uma tarefa especfica.

2.4.1 Participantes do Projeto

Os participantes so todos que, de uma maneira ou de outra, possam colaborar no projeto. Segundo Verzuh (2000, p.61):

Os clientes, as pessoas que tomam as decises, os representantes e empregados pertencem obviamente a esse grupo, mas, no sentido mais amplo, qualquer um que participe do projeto e seja afetado por seus resultados um participante.

Uma das primeiras tarefas a serem cumpridas, a identificao dos componentes, j que os mesmos participaro das decises nos estgios de definio e planejamento,

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estabelecendo limites e metas do projeto. Neste sentido, necessrio definir as pessoas e suas responsabilidades.

Conforme Verzuh (2000), os participantes primrios podem ser definidos em cinco categorias: o Gerente de Projeto, Equipe de Projeto, Gerenciamento Funcional, Apoios e Clientes. Cada um com seu papel a desempenhar, conforme apresentado na figura 7.

Fase do Projeto/ Atividade

Tipo de participante

Fase de Definio Estabelecer o propsito do projeto Criar organograma Criar matriz de responsabilidades Publicar a minuta do projeto Definir processo de gesto de mudanas Plano de comunicao Fase do Planejamento Planejamento dos riscos Desenvolvimento de oramento e cronograma detalhados Estimativas Cliente, apoiador, gerncia funcional , equipe Cliente, apoiador, gerncia funcional , equipe Gerncia funcional , equipe Cliente Apoiador, gerncia funcional, equipe Cliente , apoiador e gerncia funcional Gerente do projeto e apoiador Cliente, apoiador e gerncia funcional Cliente, apoiador, gerncia funcional, equipe

Figura 7: Identificao dos participantes Fonte: adaptado de Verzuh (2000, p. 62)

Cada participante tem sua contribuio a dar ao projeto (Figura 8), e todas essas contribuies so essenciais para assegurar o sucesso do mesmo. Para identificar estes participantes, Verzuh (2000) sugere que, ao invs de perguntar: Quem o cliente? ou Quem faz parte da equipe do projeto?; pergunte-se: Quem ir contribuir?.

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Papel Gerente do projeto Equipe do projeto Apoiador Cliente Gerente de funo

Contribuio Define, planeja, controla e lidera o projeto Habilidade e empenho para executar tarefas Autoridade, dirige e mantm a prioridade do projeto Exigncias do produto, verbas Poltica da Empresa, recursos

Figura 8. Contribuio dos participantes ao projeto Fonte: Verzuh (2000, p.63)

2.4.2 Papis dos participantes

O Gerente de Projeto tem como funo estimular a integrao dos recursos do projeto tais como: de pessoal, materiais, equipamentos e informaes. Este gerente pode no ter autoridade sobre gerentes funcionais ou pessoal do cliente (DINSMORE, 1998).

O Gerente de Apoio (Apoiador ou Facilitador) uma pessoa com autoridade formal, que responsvel pelo projeto e, segundo Verzuh (2000), pode usar seu poder em nome do Gerente de Projeto, aconselhar ou influenciar na prioridade do projeto. Em suma, vem a suprir a autoridade formal da qual carece, geralmente, o Gerente de Projeto na Organizao. A importncia do Gerente de Apoio advm da sua responsabilidade direta pelo sucesso do projeto. Responsabilidade esta, que est embasada em seu ttulo e cargo na Organizao. Sua principal tarefa auxiliar a equipe de projeto a ter xito. O papel do Gerente de Apoio o de aconselhar o Gerente de Projeto e discutir o status do projeto regularmente, envolvendo-se no mesmo a fim de contribuir para a soluo de possveis problemas.

Dentre as formas que o Apoiador pode utilizar para contribuir com o sucesso do projeto, est a emisso de uma Minuta de Projeto para os provveis componentes da equipe. Este um documento em forma de memorando, que aponta o novo projeto, seu propsito e apresenta o Gerente de Projeto. Em um segundo momento, analisar e aprovar uma Declarao

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de Trabalho (DT) elaborada pelo Gerente de Projeto. A Declarao de Trabalho apresenta uma lista de metas, limitaes e critrios que possam contribuir com o sucesso do projeto e denominada por Verzuh (2000) como regras do projeto. Esta DT fica sujeita a reviso, modificao e aprovao pelos integrantes da equipe.

Scholtes (2002, p.8) define o papel de lder de equipe como a pessoa que dirige a equipe: convocando e sendo o facilitador de reunies, resolvendo e delegando detalhes administrativos, orquestrando todas as atividades da equipe e supervisionando a preparao dos relatrios e apresentaes. Em seu livro, Times da Qualidade, Scholtes (2002) parece englobar no lder da equipe os papis de Gerente de Projeto (GP) e de Gerente de Apoio; mais tarde citados por Verzuh (2000), pois considera que: os lderes de equipe so supervisores ou gerentes na rea do projeto que detm autoridade, como gerente ou supervisor. Para Verzuh (2000), a representao da autoridade formal na organizao, cabe ao Gerente de Apoio, que auxiliar o Gerente de Projeto atravs da mesma. Dinsmore (1998) considera, como Verzuh (2000), que o padrinho ou apoiador do projeto fornece apoio e assume a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do projeto e, d apoio fixao da autoridade necessria ao Gerente de Projeto.

A Equipe do Projeto constituda por todos os grupos ou indivduos que contribuem com seu tempo, habilidades e empenho para o projeto. A determinao de quem far parte da equipe acontece no incio do projeto, durante a definio e o planejamento. Esse processo termina quando os membros concordam com suas responsabilidades e papis no projeto (VERZUH, 2000). Para Dinsmore (1998), a interatividade entre o Gerente de Projeto (GP) e a equipe particularmente importante, pois so os membros da equipe que executaro a maior parte do trabalho necessrio para se implantar um projeto. A natureza do projeto (SCHOLTES, 2002) determina quem sero os membros da equipe, selecionados de maneira que representem os diversos estgios do processo em estudo.

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2.4.3 Regras do Projeto

Os projetos diferem um do outro quanto s pessoas, produtos, cronogramas e outros aspectos. Procurar fazer com que os participantes entendam e concordem com os caminhos que se pretende seguir tarefa para o Gerente de Projeto, contando com a colaborao do Gerente de Apoio.

Verzuh (2000) afirma que trs fatores dependem da redao das regras do projeto: o acordo quanto s metas do mesmo entre todas as partes envolvidas, o controle da abrangncia do projeto e o apoio gerncia. Para que as metas e as limitaes do projeto no venham a mudar todo o dia, todos os participantes devem aceitar as regras do projeto.

A fase inicial a fase ideal para resolver diferenas de pontos de vista dos participantes. Deve haver, conforme Verzuh (2000), uma troca de opinies entre os mesmos, levando ao acordo quanto s metas. Essas diferenas devem ser resolvidas no incio, mesmo que haja presso para que se d andamento ao projeto. Para garantir que todos os participantes esto entendendo as regras e concordam com elas, Verzuh (2000) sugere quatro mtodos: a minuta de projeto, a declarao de trabalho, a matriz de responsabilidades e o plano de comunicao. Eles formam o documento contendo as regras de projeto.

A Minuta de Projeto um documento que anuncia o incio do projeto, na qual deve constar o propsito e uma declarao de apoio da gerncia ao gerente do projeto. Pode ter a forma de uma carta, memorando ou at mensagem de correio eletrnico. Sua inteno, na prtica, criar o projeto e o Gerente de Projeto. O termo minuta de projeto tambm utilizado para se referir ao documento de definio do projeto, que Verzuh (2000) denomina como declarao de trabalho.

A Declarao de Trabalho (DT) apresenta uma lista de metas, limitaes e critrios de sucesso do projeto, chamadas de regras do projeto. Depois de redigida, a DT submetida aos participantes para que faam as devidas modificaes e, ento, aprovem o seu contedo. A DT uma ferramenta que esclarece as responsabilidades e aes que fazem parte do relacionamento entre os participantes. Esta declarao deve conter no mnimo a declarao de

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propsito, que a resposta ao porqu do projeto; a declarao do escopo (abrangncia); resultados (o que o projeto deve produzir); estimativas de custos e prazos; objetivos; participantes e cadeia de comando (quem est subordinado a quem) (VERZUH, 2000).

A Matriz de Responsabilidades (MR) estabelece as principais atividades do projeto e os grupos de participantes-chave (VERZUH, 2000). Atravs desta matriz (figura 7), todos os participantes da equipe tm uma viso clara das atividades e de suas responsabilidades. Desta forma, conforme Verzuh (2000), evita-se possveis falhas na comunicao entre os departamentos envolvidos. No Mapa de Distribuio, Scholtes (2002) lista a pessoa responsvel por cada atividade enquanto Verzuh (2000) utiliza o nome dos departamentos, ou nome da equipe ou, ainda, o nome do cargo/funo. O posicionamento de Verzuh (2000) leva a entender que, mesmo com a mudana da pessoa titular do cargo/funo, equipe ou departamento, a responsabilidade pela atividade, a princpio, no mudar.

Os cdigos utilizados na matriz de responsabilidades (figura 9) so os mais usuais e indicam, segundo Verzuh (2000): o nvel de envolvimento, o papel de autoridade e responsabilidade de cada participante. O cdigo E indica a responsabilidade sobre a execuo, caracterizando o grupo que far a atividade. O cdigo C sinaliza para quem precisa ser consultado quando da execuo da atividade. O grupo ou as pessoas que precisam ser somente informadas sobre as atividades indica-se com o cdigo I. E, por fim, utiliza-se o cdigo A para o indivduo ou grupo que detm a autoridade para a aprovao.

O Plano de Comunicao a estratgia escrita para dar as informaes certas para as pessoas certas no tempo certo (Verzuh, 2000). Este Plano vai esclarecer quem receber quais informaes, de que maneira ser informado e quem ser responsvel por passar a informao adiante. Esta uma forma de manter todos os participantes atualizados quanto ao andamento do projeto. Dinsmore (1998) considera que uma comunicao eficiente entre as pessoas, grupos e organizaes significa zelar pela qualidade da comunicao escrita, interpessoal e em reunies.

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Atividade

Desenvolver C/A A A objetivos de treinamento Equipar salas de E A E treinamento E C A C Ter condies de usar/ modificar os materiais de treinamento Modificar material E I de treinamento E A C Estabelecer processos de produo de material Contratar I C/A A E orientadores qualificados Treinar e formar E instrutores Promover o E E E E E treinamento nas divises Agendar a turma e E I I E os instrutores Gerenciar a s E I viagens Padronizar as I E A I prticas de gesto de projetos Identificar os E E pacientes em treinamento Administrar a I E logstica do local Legenda: E= Responsabilidade sobre a execuo; A= Autoridade para aprovar; C= Precisa ser consultado; I= Precisa ser informado.

Equipe de treinamento/ Gerente de Projeto E

Escritrio de projeto

VP de Operaes (Apoiador)

Coordenadores Locais

Diretor de Recursos Humanos A

Figura 9: Exemplo de Matriz de Responsabilidades. Adaptado de Verzuh (2000, p.91)

2.5 Organizar para a validao

Organizar um projeto de validao, segundo Lee (1993), inclui coletar informaes apropriadas para preparar os procedimentos e as especificaes, assinalar as responsabilidades para garantir que as tarefas requisitadas sejam cumpridas e preparar o protocolo de validao. No entanto, primeiro necessrio determinar a abrangncia e os objetivos do projeto.

Prosser (1999) recomenda que o projeto inicie reunindo cpia de toda a documentao pertinente, o que facilitar a elaborao do protocolo e a incluso no pacote da documentao que fornece suporte validao. Durante o projeto, ferramentas da qualidade

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podem ser usadas para ajudar a acompanhar, organizar e fornecer custos da qualidade para as tarefas de validao.

Depois que o projeto foi identificado, deve-se recolher tudo quanto for informao disponvel sobre os parmetros do equipamento, os desenhos, o histrico, etc. Outras fontes de informao teis incluem: manuais do equipamento, especificaes do projeto, relatrios do servio, validaes precedentes, ordens de compra, desenhos, folhas de dados de calibrao, procedimentos e contrato com fabricante.

Assim, como em qualquer projeto, as habilidades de gerncia do projeto e as ferramentas de qualidade podem ser utilizadas para dinamizar o mesmo, assegurando um processo mais eficiente. Por exemplo, as folhas de verificao e as cartas de Gantt so mtodos teis para acompanhar todas as tarefas ao longo da linha de tempo do projeto. Os fluxogramas podem ajudar a fornecer uma viso geral dos caminhos crticos. O Brainstorming, pode ajudar a determinar os pontos principais do sistema e as reas de interesse potenciais. Tcnicas de QFD (Desdobramento da Funo da Qualidade) podem ser usadas para identificar as maiores exigncias de validao. Prosser (1999) afirma, ainda, que para diminuir os custos de operao na etapa de pr-validao e desenvolvimento do projeto, pode-se utilizar ferramentas da qualidade, tais como: QFD, planejamento de experimentos, diagramas de causa e efeito. Essas ferramentas ajudam na otimizao de processo/produto. Em geral, durante o projeto, tcnicas e ferramentas de qualidade podem ser usadas para ajudar a acompanhar e organizar as tarefas de validao.

A Legislao Farmacutica Brasileira estabelece, que:

No Organograma da empresa deve estar estabelecido como se gerencia as atividades de validao. Para esta finalidade, a Diretoria da empresa, deve definir uma pessoa responsvel pelas atividades de validao (chefe de validao), que institui um grupo de validao (equipe, comit) (BRASIL, 2003, p.53).

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O grupo deve representar os principais setores (Desenvolvimento, Produo, Engenharia, Manuteno, Garantia e Controle da Qualidade). Este deve preparar um programa de validao, que deve ser revisado e aprovado pelos setores envolvidos, sendo que a reviso final e aprovao so de responsabilidade do Chefe de Validao.

Conforme Cullen, Jeater e Papariello (1993), baseado em pesquisas bibliogrficas e conversas com especialistas, o trabalho de validao de processos na indstria farmacutica organizado usando uma das seguintes estruturas: o consultor, o conceito de fora tarefa (task force) ou o grupo dedicado.

Os consultores so pessoas ou grupo de pessoas contratadas pela companhia. As vantagens e desvantagens de ter um trabalho feito por consultores so as mesmas para a validao como para outras situaes. Consultores, neste caso, so considerados pessoas aptas a rever o processo e apresentar os protocolos para a validao. Eles tm condies de aplicar as experincias adquiridas em outras empresas e resolver problemas que pessoas de dentro da companhia no puderam prever. Com a consultoria, a companhia contratante no precisa consumir tempo e esforos para recrutar pessoas com talentos especializados e os trabalhadores associados ao consultor no so, necessariamente, membros permanentes da empresa contratante. Esse aspecto torna-se economicamente vantajoso se os consultores trabalharem em concordncia com os custos e cronograma estabelecidos.

O conceito de Fora Tarefa se refere abordagem organizacional em que um conjunto de funcionrios nomeado para o trabalho de validao formado por indivduos das vrias divises da organizao. Para este trabalho, designado um comit de dentro da organizao, que constitudo de membros da produo, engenharia, garantia da qualidade e departamento de pesquisa e desenvolvimento. Deste modo, pode-se garantir a representatividade das opinies para os requisitos da validao e tambm a aceitao dos resultados obtidos. O chefe deste comit geralmente uma pessoa responsvel pelo trabalho de validao e documentao. Esta pessoa tem a tarefa de delegar trabalho para os outros membros do comit.

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As maiores vantagens deste modo de trabalho so que os membros da Fora Tarefa trazem experincia dos departamentos de origem para aplicar no assunto a ser trabalhado. Quando o trabalho chega ao fim, os membros do comit retornam em tempo integral para as suas funes originais. Dessa maneira, evita-se os custos de contratar profissionais em tempo integral para o trabalho de validao. Por outro lado, as pessoas do comit podem ser substitudas, dependendo do trabalho do seu desempenho, ou do seu conhecimento especfico. A desvantagem bvia deste conceito que os membros do comit podem ter dupla responsabilidade dentro da organizao. Isto, muitas vezes, implica em dupla cobrana de desempenho, uma pelo trabalho realizado no comit e outra pelo trabalho normal em seu departamento.

O grupo interno dedicado, por sua vez, formado por um conjunto de pessoas cujo propsito principal a validao. O departamento de validao pode existir como um subgrupo dentro de um outro departamento, mas deve ser autnomo. As vantagens deste tipo de organizao so que os envolvidos no grupo dedicam-se totalmente e se responsabilizam pelo esforo de validao, o que pode reduzir a trajetria para a reviso dos sistemas de produo e desenvolver protocolos desde o incio deste trabalho. Segundo Cullen, Jeater e Papariello (1993), o uso de um grupo dedicado proporciona uma melhora na viso da situao. inerente a este conceito de grupo dedicado o estabelecimento das responsabilidades das novas posies (funes) departamentais criadas.

Esses so aspectos positivos e negativos em cada um dos mtodos de organizao. Mas a escolha pelo tipo de grupo de validao, da maneira como sero desenvolvidos e controlados, depender do local e circunstncias, tamanho da organizao, estruturas e personalidades das pessoas que so apresentadas para desempenhar o trabalho de validao.

Depois de decidir a estrutura para o grupo de validao, necessrio, ento, definir qual departamento ter a responsabilidade de dirigir os trabalhos de validao de processos. Conforme Cullen, Jeater e Papariello (1993), os quatro maiores departamentos que podem tipicamente assumir esta responsabilidade so: a produo, departamento de garantia da qualidade, a engenharia ou o departamento de pesquisa e desenvolvimento. O departamento escolhido deve ter capacidade de transmitir a informao e promover a aceitao das mesmas para todos os demais departamentos. Os processos de validao requerem a colaborao

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mtua de todos os setores envolvidos, tais como: desenvolvimento, produo, engenharia, manuteno, garantia da qualidade e controle de qualidade (BRASIL, 2003).

2.6 Documentao

2.6.1 Documentao da Qualidade

O tema Documentao da Qualidade, de acordo com Azambuja (1996), tem sido um dos aspectos mais problemticos em relao prtica da qualidade nas empresas; dado que preciso disciplina e organizao pessoal para seguir diretrizes e procedimentos, implicando em compromisso e empenho de cada pessoa em relao as suas responsabilidades e atribuies. Incluem-se, nesta postura, as aes para a melhoria contnua do prprio sistema documentado da empresa (AZAMBUJA, 1996).

Conforme Azambuja (1996), o documento normativo se destina a demonstrar a normalidade de qualquer atividade (processo). Deve, ainda, estabelecer objetivos e metas, e indicar os meios para alcan-los, seja nos nveis estratgico, ttico ou operacional, estabelecendo diretrizes e prticas do sistema tcnico-administrativo da empresa. Um Sistema Documentado da Qualidade (SDQ), geralmente, possui trs nveis de documentao (figura 10): o estratgico, o ttico e o operacional (VITERBO JUNIOR, 1996). O primeiro nvel (estratgico) aborda as informaes, dados e diretrizes gerais sobre a organizao da empresa, especialmente no que se refere a polticas, planejamento, objetivos e metas, definio de responsabilidades (atribuies) e autoridades.

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Nvel estrat gico

Manual da Qualidade

Nvel t tico

Procedimentos

Nvel operacional

Instru es de trabalho

Registros da Qualidade

Figura 10: Pirmide com nveis da organizao da documentao, de acordo com as normas ISO 9000 Fonte: Adaptado de Azambuja (1996, p. 156)

O segundo nvel (ttico), por sua vez, trata de aes necessrias integrao das atividades por todos os setores da empresa, enfatizando as interfaces organizacionais e as regras e/ou procedimentos aplicveis ao sistema como um todo, respeitadas as diretrizes e premissas dos documentos do nvel estratgico.

Por fim, o terceiro nvel deve cobrir informaes tcnicas e administrativas ou de apoio, em funo dos documentos estabelecidos no primeiro e no segundo nvel (AZAMBUJA, 1996).

Viterbo Junior (1996) sugere que as instrues de trabalho (IT) que atendam norma BPF devem ser colocadas sob a forma de documentao controlada do SDQ sempre que possvel no terceiro nvel.

Na elaborao de um documento normativo para um processo, Azambuja (1996) sugere que se considerem algumas aes bsicas (Figura 11).

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AES BSICAS Partir da prtica atual com a participao das pessoas envolvidas no processo Fazer o fluxograma atual do processo Delimitar o fluxo do processo, s vrias tarefas Verificar os padres de qualidade finais (clientes ou prximo processo) e padres de qualidade intermedirios ( dentro do processo) Determinar objetivos do processo Reavaliar o fluxograma e adequar os padres de qualidade intermedirios aos padres de qualidade finais desejados Delimitar tarefas e indicadores de qualidade e de produtividade Definir limites de responsabilidades e autoridade para o processo, principalmente para as atividades de gerenciamento, execuo e verificao Incorporar aspectos relacionados com sade, segurana, higiene de trabalho, manuteno, meio-ambiente e outros, onde pertinentes Elaborao da montagem do documento de acordo com regras estabelecidas para a normalizao Revises peridicas para a atualizao do documento

Figura 11: Aes bsicas para elaborao de um documento normativo para um processo

2.6.2 Documentao da Validao

Prosser (1999) recomenda que se planeje protocolos e formulrios similares, quando for possvel, para eliminar a possibilidade de confuso, visando obter-se maior consistncia, assim como, para minimizar o tempo de reviso. O protocolo de validao, segundo Chow e Liu (1995), um documento escrito que define e detalha as partes crticas do processo de produo, estabelece a maneira como o programa de validao dever ser conduzido e, lista critrios para uma validao bem sucedida. Um protocolo de validao deveria incluir, tambm, a formulao do medicamento, os procedimentos de produo, objetivos, planos amostrais e planos de testes.

Com o propsito de organizar o trabalho de validao, elabora-se um documento chamado de Plano Mestre de Validao (VALIDATION MASTER PLAN VMP). Conforme Nash e Wachter (1996), o Plano Mestre de Validao um documento que resume totalmente a filosofia, intenes e abordagens para serem usadas com o propsito de proporcionar o desempenho adequado. Este documento deve orientar para o planejamento e preparao de todos os trabalhos de validao, de uma forma ordenada, estruturada e previamente acordada

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entre os envolvidos (MARTINS, 2001, p.7-8). De maneira clara, resumida e informativa, identifica-se quais itens esto sujeitos validao, define-se a natureza e extenso dos testes que se espera fazer para cada item, resume-se os protocolos e procedimentos a serem seguidos para realizar a validao, descreve-se as responsabilidades funcionais e relatam-se os requisitos definidos para documentar os resultados obtidos e a aprovao do trabalho. Nash e Wachter (1996) sugerem observar o contedo presente no VMP, conforme aparece na figura 12. Conforme Blank e Feuerhelm (2001), um Plano Mestre de validao simplesmente uma lista de todos os estudos que validam um processo de fabricao e a questo do que e como validar aparecem quando cria-se este plano. Blank e Feuerhelm (2001) afirmam que executar o Plano Mestre de Validao garante que seus estudos cobrem todos os aspectos importantes do processo.

ITENS Introduo

CONTEDO Escopo (abrangncia) das operaes cobertas pelo VMP, Orientaes para a validao, procedimentos e padres (SOPS)

Estrutura Organizacional para as atividades de validao Planta/Processo/descrio do produto

Pessoal responsvel pelo trabalho de validao, documentos, aprovao. Incluir justificativa para a abrangncia do trabalho de validao planejado

Operaes especficas do projeto Operaes especficas do projeto em questo em questo Lista de Produtos/Processos/ sistemas a serem validados Critrios-chave de aprovao Formato da documentao Procedimentos padro requeridos Critrios-chave de aprovao Formato da documentao Tabela de todos os itens crticos e abordagem selecionada para validao

operacionais Procedimentos operacionais padro requeridos Inclui qualificao do pessoal necessrio e treinamento Controle de mudanas

Planejamento e Programao Controle de mudanas

Figura 12: Contedo do Plano Mestre de Validao Fonte: Nash e Wachter (1996)

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Berry (1993), por sua vez, sugere que a primeira etapa em direo validao de processo estabelecer um sistema de registros organizados que considere todos os aspectos de um processo de fabricao, incluindo os testes. Se um sistema de registros organizados no existe, ento deve ser estabelecido com o objetivo de duplicar resultados favorveis e prevenir repeties de resultados desfavorveis.

A Resoluo RDC 134 (BRASIL, 2001) sugeria como contedo, para o Plano Mestre de Validao e Relatrio de Validao, o apresentado na Figura 13. Atualmente, a RDC 210 (BRASIL, 2003) sugere como contedo os seguintes tpicos: Objetivo (e os requisitos prvios); Apresentao da totalidade do processo e dos sub-processos, fluxograma, pontos crticos / riscos; Estrutura organizacional das atividades de validao; Motivo para incluso ou excluso de determinada validao; Sistema de rastreabilidade para referncias e revises; Treinamentos necessrios para o programa de validao; Tipo de validao definido para cada sistema ou processo; Planejamento e cronograma das atividades a serem realizadas, Referncia cruzada a outros documentos.

O Plano Mestre de Validao deve incluir, ainda, a validao dos procedimentos de limpeza e dos mtodos analticos. Alm de documentar o desenvolvimento das operaes, os registros favorecem as revises, interpretaes e possibilitam passar o conhecimento adiante. O sistema de registros organizados tem vrias faces (BERRY, 1993): procedimentos operacionais padro (POP), especificaes, procedimentos de testes, frmulas de fabricao, instrues de fabricao e a aprovao do processo.

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CONTEDO DO PLANO MESTRE DE VALIDAO 1. Objetivo e requisitos prvios 2. Apresentao da Totalidade do Processo e dos sub-processos, diagrama de fluxo, pontos crticos/riscos. 3. Protocolo de validao Aprovado 4. Qualificao da Instalao 5. Protocolo/ relatrio de qualificao 6. Caractersticas do Produto, dados dos testes para validao dos lotes. 7. Avaliao e comparao c/critrios de aceitao e recomendaes (freqncia de revalidao e qualificao) 8. Certificao (Aprovao) 9. Preparao de uma verso resumida do relatrio de validao

Figura 13: Contedo do Plano Mestre de Validao de acordo com a RDC 134

Procedimentos Operacionais Padro (POP) so procedimentos escritos que descrevem como se desenvolvem as operaes bsicas de fabricao. Este documento descreve os requisitos necessrios para garantir um nvel mnimo de controle para operar o processo, bem como, fornece embasamento para a validao. Estes procedimentos devem ser escritos em linguagem simples, que permita o entendimento de um leigo. Tambm, qualquer pessoa com experincia mnima deve ser capaz de seguir estes procedimentos. Segundo Campos (1999), o procedimento operacional preparado para as pessoas diretamente ligadas tarefa, com o objetivo de atingir de forma eficiente e segura os requisitos de qualidade. Ele feito, ainda conforme Campos (1999), para o operador e contm: listagem dos equipamentos, peas e materiais utilizados na tarefa (incluindo-se os instrumentos de medida); padres de qualidade; descrio dos procedimentos da tarefa por atividades crticas, condies de fabricao e de operao e pontos proibidos em cada tarefa; pontos de controle (itens de controle e caractersticas de qualidade) e os mtodos de controle; anomalias passveis de ao e inspeo diria dos equipamentos de produo. Os POP so aplicveis, segundo Berry (1993), para muitas fases diferentes de uma operao de fabricao. Estes POP incluem as categorias de instalaes fsicas, equipamentos, pessoal e procedimentos mais gerais (que no esto cobertos pelas outras trs categorias). Tais categorias esto representadas na figura 14.

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A primeira categoria de POP utilizada para as instalaes fsicas da fbrica. Segundo Berry (1993), escrevem-se procedimentos que indiquem a freqncia, a lista de etapas que deve ser seguida e como deve ser concluda.

CATEGORIAS DE PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRO

EXEMPLOS Procedimentos de limpeza de divisrias, chos e tetos. Controle ambiental

Instalaes fsicas da fbrica

Manuteno preventiva Segurana Housekeeping Procedimentos de limpeza dos equipamentos

Equipamentos

Esterilizao (se necessrio) Manuteno preventiva Operao dos equipamentos Atividades de trabalho

Pessoal

Limpeza pessoal Treinamento de pessoal Controle dos processos de recepo, amostragem e armazenamento Testes de estabilidade

Gerais Programas de reprodutibilidade dos lotes Rotao dos estoques

Figura 14: Categorias de Procedimentos Operacionais Padro

Este POP tambm importante para indicar as datas e quem deve realizar quais operaes. Isto se faz necessrio j que as fbricas so diferentes e os tipos de produtos fabricados em cada fbrica podem ser totalmente diversos. Com estes POP de instalaes, procura-se cobrir todas as operaes desenvolvidas na fbrica, enfocando prevenir problemas

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potenciais, baseando-se especificamente no conhecimento das instalaes fsicas, na natureza dos produtos, nos materiais utilizados e no pessoal empregado. Dentro desta categoria de POP de instalao, primeiramente, pode-se citar os procedimentos de limpeza de divisrias, pisos e tetos. Eles devem incluir a freqncia de limpeza, as diferentes etapas que so necessrias e os agentes de limpeza que so aceitveis. Diferentes reas de uma fbrica devem requerer diferentes POP. Por exemplo, uma sala estril deve requerer uma limpeza mais elaborada que uma outra rea e, portanto, um procedimento diferente.

Outro POP na categoria de instalaes fsicas o de controle ambiental. Toda fbrica deve ser livre de roedores e insetos. Um POP pode indicar o uso de materiais aceitveis, precaues para prevenir a contaminao dos produtos e do pessoal, freqncia e procedimentos de controle. Em algumas operaes, em reas de fabricao como as de produtos estreis, os POP podem indicar outros requisitos de controle como temperatura do ar, umidade e outras particularidades.

Um terceiro POP, ainda na categoria de instalaes fsicas, relaciona as instalaes com a funo de manuteno. Conforme Berry (1993), uma considerao importante para a fabricao de um produto de alta qualidade a manuteno preventiva. Os POP de manuteno preventiva devem cobrir basicamente os sistemas de ar-condicionado, sistemas de gua, estruturas fsicas como divisrias e tetos, sistemas de aquecimento e resfriamento e sistemas de remoo dos descartes. Podem incluir ainda, reposio de peas gastas, lubrificao, reposio de filtros e checagem de vazamentos.

O quarto tipo de POP citado por Berry (1993) como de instalao, o de Segurana. Quando condies de insegurana se apresentam em uma fbrica, a probabilidade que um acidente possa ocorrer aumenta. Alm do fato que o pessoal pode ser afetado prejudicialmente, esta ocorrncia pode afetar incidentalmente um lote de produtos. prudente estabelecer POP que incluam preocupaes de segurana como a importncia dos pisos secos, armazenamento adequado de materiais perigosos como solventes inflamveis, prticas de pessoal como evacuao da fbrica, e inspees de segurana da fbrica. Um programa de POP como este dever, segundo Berry (1993), reforar o moral dos empregados demonstrando a preocupao com o bem estar deles, tendo em vista que um moral alto um fator muito importante na produo de um produto de qualidade.

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Tambm relacionados com as instalaes fsicas, esto os POP de Tarefas da casa (housekeeping). Estas tarefas so conhecidas como manter os materiais, es