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PROPOSTAS DE REDAÇÃO COMENTADAS PROPOSTA DE REDAÇÃO – ENEM 2016 – 1ª APLICAÇÃO TEXTOS MOTIVADORES TEXTO I Em consonância com a Constituição da República Federativa do Brasil e com toda a legislação que asse- gura a liberdade de crença religiosa às pessoas, além de proteção e respeito às manifestações religiosas, a laicidade do Estado deve ser buscada, afastando a possibilidade de interferência de correntes religiosas em matérias sociais, políticas, culturais etc. Disponível em: www.mprj.mp.br. Acesso em: 21 maio 2015 (fragmento). TEXTO II O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão, mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém Comentários: Andressa Tiossi e Gabriela de Araújo Carvalho, coordenadoras de Redação do Curso Poliedro; Aman- da Rix, professora de Redação do curso Poliedro; Claudine Alves Willemann, professora de Português e Redação do Colégio Vértice; Giselle Dinardo, professora de Redação do Colégio EMECE; Juliana Alves, professora de Português e Redação do Colégio Mater Dei; Victor Ávila, professor de Língua Portuguesa do Colégio Eniac. em função de crença ou de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis. STECK, J. Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade. Jornal do Senado. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento). TEXTO III CAPÍTULO I Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou pertur- bar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspon- dente à violência. BRASIL. Código Penal. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento). TEXTO IV 22 Aprenda Fácil!

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PROPOSTAS DE REDAÇÃO COMENTADAS

PROPOSTA DE REDAÇÃO – ENEM 2016 – 1ª APLICAÇÃO

TEXTOS MOTIVADORES TEXTO IEm consonância com a Constituição da República

Federativa do Brasil e com toda a legislação que asse-gura a liberdade de crença religiosa às pessoas, além de proteção e respeito às manifestações religiosas, a laicidade do Estado deve ser buscada, afastando a possibilidade de interferência de correntes religiosas em matérias sociais, políticas, culturais etc.

Disponível em: www.mprj.mp.br. Acesso em: 21 maio 2015 (fragmento).

TEXTO II O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é

assegurado como liberdade de expressão, mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém

Comentários: Andressa Tiossi e Gabriela de Araújo Carvalho, coordenadoras de Redação do Curso Poliedro; Aman-

da Rix, professora de Redação do curso Poliedro; Claudine Alves Willemann, professora de Português e Redação do

Colégio Vértice; Giselle Dinardo, professora de Redação do Colégio EMECE; Juliana Alves, professora de Português e

Redação do Colégio Mater Dei; Victor Ávila, professor de Língua Portuguesa do Colégio Eniac.

em função de crença ou de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis. STECK, J. Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade. Jornal do Senado. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

TEXTO III CAPÍTULO I Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso Ultraje a

culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativoArt. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por

motivo de crença ou função religiosa; impedir ou pertur-bar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:

Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena

é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspon-dente à violência.

BRASIL. Código Penal. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

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PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores e com

base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA CLAUDINE ALVES WILLEMANN:

A intolerância religiosa, embora não muito noticiada, é bastante frequente entre os cidadãos, como pode ser observado no último texto presente na coletânea.

Por se tratar de um texto pequeno (apenas 30 linhas), o ideal é trabalhar com dois argumentos muito bem selecionados e diversificados para fundamentar sua opinião. Para finalizar a produção, deve-se elaborar sua proposta de intervenção. Espera-se que o candidato sugira algo exequível. Elementos necessários: ação – o que fazer; agente – quem fará; meio – como a ação será desenvolvida; finalidade – para que essa ação será feita. A correção do Enem é bastante criteriosa, apresentando uma grade de correção que avalia cinco competências do candidato (I – Domínio da norma culta; II – Compreensão da proposta e desenvolvimento do tema dentro do gênero dissertativo-argumentativo; III – Argumentação; IV – Mecanismos linguísticos; V – Proposta de Intervenção), pontuando de 0 a 200 pontos em cada competência, totalizando 1000 pontos.

Sobre a coletânea, é importante observar as referências bibliográficas dos textos motivadores, pois mostram a fonte, a origem do discurso apresentado. Como podemos ver, todas são oriundas do governo.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA ANDRESSA TIOSSI:

O tema é bastante claro e parte de uma premissa que precisa ser abordada pelo candidato: há intolerância religiosa em nosso país; isso significa que não há possibilidades de refutação da temática sob hipótese alguma. Os textos de apoio são bastante completos e dão margem a diversos caminhos de discussão, entre eles o majoritário preconceito para com as religiões de raízes afro-brasileiras, que, se abordado com pro-fundidade, pode render uma ótima análise. Só não se pode esquecer da menção à intolerância diante de outras religiões. Não há, então, grande necessidade de conhecimentos prévios.

É fundamental, ainda, que o candidato se apoie na

ideia de que muitas das práticas de intolerância em questão são crimes, além de desrespeitarem direi-tos básicos dos cidadãos. Ainda: há extrema rigidez quanto ao uso adequado da linguagem, portanto, se sairá melhor o candidato que mostrar pleno domínio do registro formal da língua.

EXEMPLO DE REDAÇÃO NOTA 1000Bernardo Lucas Pinñon de Manfredi, nota 1000

no Enem 2016:Sob o olhar das raízesO Brasil é mundialmente reconhecido por sua diver-

sidade religiosa. Ao longo da sua formação e com as influências externas e internas, o país tornou-se um grande exemplo de miscigenação, evidenciando a sua riqueza cultural. Porém, apesar desses fatos, o Brasil sofre com um grave problema de intolerân-cia religiosa, formado pelo reflexo de uma filosofia etnocêntrica marcada nas raízes da sociedade bra-sileira. Como combater esta realidade que implica na harmonia?

Primeiramente, é preciso entender que a intolerân-cia religiosa começa na educação, ou seja, na falta de conhecimento das religiões. As famílias costumam seguir as religiões tradicionais, no caso o cristianismo, e adotam uma filosofia etnocêntrica. Essa adoção é influenciada por preconceitos históricos, como racis-mo, e baseada num processo radical de “cristianizar” o Brasil. A partir disso, todas as outras religiões são consideradas inferiores e acabam sofrendo um total desrespeito, sendo vítimas de violência.

Além disso, é necessário analisar o choque entre o Estado laico e o conservadorismo social. Apesar de o cidadão ser constitucionalmente livre para escolher sua religião, os conservadores (muitos deles políticos, padres e pastores) obrigam que tal indivíduo siga o ritual referente, e pior, pregando atos fundamentalistas e modificando a conduta dos fiéis. Há também uma silenciosa mistura de política com religião, fazendo instensificar a intolerância por meio de discurso pre-conceituoso e desmoralizador que afeta o olhar para as diferenças e o convívio entre elas.

Diante desse grave cenário é possível compreender que a intolerância religiosa no Brasil está enraizada e deve, portanto, ser combatida. É necessário implantar o ensino de religião em todas as escolas de fundamental e médio formando os jovens dotados de conhecimento sobre a diversidade religiosa no país e assim ajudar a combater a intolerância. Além disso, deve-se criar ONGs de parceria com o Estado e a Unesco, fazendo valer a laicidade e fornecer projetos culturais que influenciem um novo olhar das pessoas, entendendo melhor as

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diferenças, e assim combater o radicalismo que tanto prejudica a harmonia da sociedade.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA CLAUDINE ALVES WILLEMANN:

O texto parte da noção de que a intolerância religiosa no Brasil é reflexo de uma filosofia etnocêntrica enraizada na cultura brasileira. Tal pressuposto é fundamentado com dois argumentos, sendo o primeiro a falta de conhecimento sobre as diversas religiões existentes no país, devido a predominância do cristianismo. O segundo é pautado na laicidade do Estado, que, devido ao conservadorismo, à política e à religião, que muitas vezes se fundem, existem discursos preconceituosos.

Ao concluir seu texto, o candidato propões duas medidas, ambas voltadas para o primeiro argumento, sendo elas a implementação de aulas sobre as diversas religiões do país e a existência de projetos culturais que promovam um novo olhar das pessoas sob questões religiosas.

Sobre seu texto é importante observar algumas questões:-Não havia necessidade de encerrar o primeiro parágrafo

com o questionamento “Como combater esta (o correto seria ESSA) realidade que implica na harmonia?”, pois correu o risco de construir um texto injuntivo, composto por propostas. Além disso, a pergunta é bastante próxima ao tema e não apresenta função nesse trecho do texto. Portanto, totalmente desnecessária;

-Com relação ao segundo, pode-se afirmar que não se trata de um argumento forte, pois falta comprovação. Poderia ter citado como exemplo o Estatuto da Família, aprovado em 2015.

-Quanto à proposta, na primeira o candidato apresenta apenas uma ação e sua finalidade, faltando o agente e o meio. Já a segunda proposta apresenta agente (ONGs em parceria com o Estado e a Unesco), ação (projetos culturais), finalidade (para influenciar um novo olhar, a fim de se combater o radicalismo), faltando, portanto, o meio.

Trata-se de um bom texto, mas que, como visto, há as-pectos a serem aprimorados, principalmente com relação à argumentação e à elaboração da proposta.

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILA: De forma bastante organizada, Bernardo constrói uma

redação clara e objetiva, defendendo a tese de que a intolerância religiosa no Brasil decorre de um processo histórico de longa data. Para isso, fundamenta seu ponto de vista em diferentes argumentos e utiliza de dados visíveis da nossa sociedade, como a falta do estudo das religiões na formação escolar.

Bernardo soube utilizar da estrutura padrão da dis-sertação, pois introduz o tema e apresenta sua tese no primeiro parágrafo; no segundo e terceiro parágrafos,

fundamenta seu posicionamento por meio de argumen-tos e, no quarto e último, elabora uma conclusão para o tema, oferecendo diferentes propostas de solução para o problema apresentado.

Bernardo elaborou uma redação coesa e coerente, sem desvios da norma-padrão, organizando e relacionando suas ideias nos moldes de um texto dissertativo. Por fim, propôs soluções possíveis e reflexivas para o problema. São estes elementos que, sem a necessidade de recorrer a um eruditismo demasiado, tornam possíveis a nota máxima na redação Enem.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA ANDRESSA TIOSSI:

Já na introdução do texto, o candidato apresenta o tema mostrando conhecimentos históricos de modo organiza-do e bem articulado ao posicionamento assumido; estes recursos passam credibilidade. O primeiro parágrafo de desenvolvimento corresponde a uma ideia previamente mencionada, o que mostra progressão do raciocínio; além disso, a ideia abordada mescla referências históricas com uma análise cultural que, embora sintetizada, funciona para problematizar o tema. Na sequência, o candidato parte para uma discussão interessante e que vai além do que os textos de apoio fornecem: a laicidade do Estado. Desse modo, mostra-se crítico o suficiente para o cumprimento do que lhe foi pedido.

A conclusão sugere intervenções que solucionariam com provável eficácia os problemas apontados nos pa-rágrafos argumentativos. O aspecto sobressalente nesta redação é o planejamento, o candidato mostra-se capaz de selecionar e organizar as informações do início ao fim de modo articulado e objetivo, deixando-as claras ao leitor. Vale também comentar que há raros desvios de linguagem, o que contribui não apenas para a nota máxima, mas também para a qualidade do texto.

Laryssa Cavalcanti De Barros E Silva, nota 1000 no Enem 2016:

O ser humano é social: necessita viver em comunidade e estabelecer relações interpessoais. Porém, embora intitulado, sob a perspectiva aristotélica, político e naturalmente sociável, inúmeras de suas antiéticas práticas corroboram o contrário. No que tange à ques-tão religiosa no país, em contraposição à laicização do Estado, vigora a intolerância no Brasil, a qual é resul-tado da consonância de um governo inobservante à Constituição Federal e uma nação alienada ao extremo.

Não obstante, apesar de a formação brasileira ser oriunda da associação de díspares crenças, o que é fruto da colonização, atitudes preconceituosas acarre-tam a incrédula continuidade de constantes ataques

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a religiões, principalmente de matriz africana. Diante disso, a união entre uma pátria cujo obsoleto ideário ainda prega a supremacia do cristianismo ortodoxo e um sistema educacional em que o estudo acerca das disparidades religiosas é escasso corrobora a cristali-zação do ilegítimo desrespeito à religiosidade no país.

Sob essa conjectura, a tese marxista disserta acer-ca da inescrupulosa atuação do Estado, que assiste apenas a classe dominante. Dessa forma, alienados pelo capitalismo selvagem e pelos subvertidos valores líquidos da atualidade, os governantes negligenciam a necessidade fecunda de mudança dessa distópica realidade envolta na intolerância religiosa no país. Assim, as nefastas políticas públicas que visem a coi-bir o vilipêndio à crença – ou descrença, no caso do ateísmo – alheia, como o estímulo às denúncias, por exemplo, fomentam a permanência dessas incoeren-tes práticas no Brasil. Porém, embora caótica, essa situação é mutável.

Convém, portanto, quem primordialmente, a socie-dade civil organizada exija do Estado, por meio de protestos, a observância da questão religiosa no país. Desse modo, cabe ao Ministério da Educação a criação de um programa escolar nacional que vise a contemplar as diferenças religiosas e o respeito a elas, o que deve ocorrer mediante o fornecimento de palestras e peças te-atrais que abordem essa temática. Paralelamente, ONGs devem corroborar esse processo a partir da atuação em comunidades com o fito de distribuir cartilhas que informem acerca das alternativas de denúncia dessas desumanas práticas, além de sensibilizar a pátria para a luta em prol de tolerância religiosa.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA CLAUDINE ALVES WILLEMANN:

O texto apresenta vocabulário bastante rebuscado e diversificado, além de atender às regras da norma padrão, o que comprova que a candidata provavel-mente tem o hábito da leitura, pois apresentou uma escolha lexical adequada e uma tese bem elaborada com relação ao assunto, fundamentando-a com bons argumentos.

Seu primeiro argumento, como pode ser visto na última afirmação do primeiro período, é oriundo da coletânea. Porém, não se trata de uma simples paráfrase. A autora soube interpretar o gráfico e utilizá-lo a favor de sua tese, dando à informação indícios de autoria.

Seu segundo argumento é empregado no intuito de reforçar o primeiro, porém, dessa vez, a candidata apresenta informações oriundas de seu repertório so-ciocultural, visando fundamentar a afirmação de que o governo é negligente em questões ligadas à intole-

rância religiosa. Entretanto, nesse parágrafo, poderia ter empregado um recurso argumentativo, como uma exemplificação, que comprovasse as afirmações feitas.Sua conclusão é muito bem elaborada, apresentando três propostas de intervenção, referentes à discussão promovida no desenvolvimento. Todas elas bastante completas, como se pode avaliar a seguir:

Proposta 1:

AGENTESociedade civil

AÇÃOExigir do estado a observância da ques-

tão religiosa no país

MEIOProtestos

Proposta 2:

AGENTEMinistério da Educação

AÇÃO

Criar um programa escolar nacional que vise contemplar as diferenças religiosas e o respeito a elas

MEIOFornecimento de palestras e peças te-

atrais que abordem a temáticaProposta 3:

AGENTEONGs

AÇÃO

Atuação em comunidades para infor-mar acerca das alternativas de denúncia dessas práticas desumanas;

Sensibilizar a pátria para lutar em prol da tolerância religiosa

MEIODistribuição de cartilhas

Atualmente, o Enem não exige mais três propostas de intervenção como o fez no ano de 2015. É importante que o candidato a elabore de acordo com seu posicio-namento e com a discussão promovida no decorrer do texto, apresentando agente, ação, meio, finalidade e detalhamento da proposta.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA ANDRESSA TIOSSI:

Já no parágrafo introdutório, a candidata chama atenção pelo domínio de linguagem evidenciado, além de mostrar-se clara quanto ao posicionamento que

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pretende sustentar ao longo do texto; ainda: associa aos seus raciocínios referências externas de modo coe-rente. Tais aspectos conferem credibilidade às reflexões desde o início. Embora a candidata não mantenha o enfoque no desenvolvimento das ideias iniciais (inob-servância governamental e alienação), ela retoma tais aspectos nos parágrafos de desenvolvimento, além de complementá-los com outras características sociais que contribuem para a manutenção do problema. É importante ressaltar que o texto ganha muito em forma, mas que a candidata demonstra propriedade para tratar das informações apresentadas, muitas delas oriundas de um repertório sociocultural abrangente. A proposta de intervenção, por fim, é muito organizada, detalhada e suficientemente articulada com os problemas apon-tados na discussão, o que garante sua consistência e o cumprimento de tudo o que é exigido pela prova.

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILA:Estruturado em quatro parágrafos, seguindo o mo-

delo padrão de um texto dissertativo-argumentativo, Laryssa compôs um texto coerente, no qual as ideias estão todas relacionadas e direcionadas para defender a tese de que “No que tange à questão religiosa no país, em contraposição à laicização do Estado, vigora a intolerância no Brasil”.

Apesar da excepcional organização coesa e coe-rente das suas ideias, salta aos olhos a profundi-dade das ideias apresentadas pela estudante que extrapola, em muito, as referências oferecidas pela coletânea, e, com isso, apresenta diferentes con-ceitos da sua bagagem estudantil pessoal. Essa rica bagagem intelectual reverbera, também, no léxico da estudante que possui um enorme acervo de referências e construções, evitando repetições de termos e expressões.

Um erro que era possível Laryssa cometer seria oscilar o seu registro de linguagem, ou seja, iniciar o texto recorrendo a um linguajar mais rebuscado e culto, para, no final, utilizar termos e construções mais comuns. Entretanto, Laryssa mantém o rebuscamento linguístico com o qual inicia e atinge seu objetivo: estruturar um texto dissertativo-argumentativo para discutir a questão da intolerância religiosa no Brasil e propor soluções concretas para isso.

PROPOSTA – ENEM 2016 – 2ª APLICAÇÃO

TEXTOS MOTIVADORES TEXTO IAscendendo à condição de trabalhador livre, antes

ou depois da abolição, o negro se via jungido a novas formas de exploração que, embora melhores que a escravidão, só lhe permitiam integrar-se na sociedade e no mundo cultural, que se tornaram seus, na condição de um subproletariado compelido ao exercício de seu antigo papel, que continuava sendo principalmente o de animal de serviço. [...] As taxas de analfabetismo, de criminalidade e de mortalidade dos negros são, por isso, as mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade brasileira em cumprir, na prática, seu ideal professado de uma democracia racial que integrasse o negro na condição de cidadão indiferenciado dos demais.

RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995 (fragmento).

TEXTO IILEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989Define os crimes resultantes de preconceito de raça

ou de corArt. 1º — Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes

resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

TEXTO III

TEXTO IVO que são ações afirmativas?Ações afirmativas são políticas públicas feitas pelo

governo ou pela iniciativa privada com o objetivo de corrigir desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos.

Uma ação afirmativa busca oferecer igualdade de opor-

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tunidades a todos. As ações afirmativas podem ser de três tipos: com o objetivo de reverter a representação negativa; para promover igualdade de oportunidades; e para combater o preconceito e o racismo.

Em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as ações afirmativas são constitucionais e políticas essenciais para a redução de desigualdades e discriminações existentes no país.

No Brasil, as ações afirmativas integram uma agenda de combate à herança histórica de escravidão, segregação racial e racismo contra a população negra.

Disponível em: www.seppir.gov.br. Acesso em: 25 maio 2016 (fragmento).

PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores e com base

nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Cami-nhos para combater o racismo no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA CLAUDINE ALVES WILLEMANN:

Assim como a proposta da primeira aplicação, o Enem abordou um problema social de grande relevância em nosso país: o racismo.

A coletânea, como característico dessa prova, contou com textos motivadores, oriundos, em sua maioria, de fontes ligadas ao governo, exceto o texto I. É bastante ampla, abordando diversos aspectos do tema, o que torna a prova exequível a qualquer candidato. Entretanto, vale lembrar que aqueles que leem e apresentam repertório são capazes de posicionar-se criticamente diante do tema e de defender seu posicionamento com argumentos fortes, pautados em fatos, exemplos e comparações.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA ANDRESSA TIOSSI:

Novamente, aqui, há uma premissa a ser abordada pelo candidato: há racismo em nosso país; isso significa que não há possibilidades de refutação da frase temática. Nesse caso, os textos de apoio dão subsídios para que as discussões perpassem problemas históricos, como a escravidão, além de seus reflexos ainda hoje – atualizar a discussão é fundamental –, como as desigualdades nas diversas esferas sociais (ensino, mercado de trabalho, representatividade, entre outros). Há, também, cometi-mento de violências simbólicas e físicas, de crimes, além do ferimento a direitos básicos; todos aspectos que podem render boa problematização.

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILA:Para sua segunda aplicação em 2016, o objetivo foi

verificar a capacidade dos estudantes de assumir um ponto de vista e, com isso, construir textos dissertativo--argumentativos coesos e coerentes para, por fim, apre-sentar medidas de solução. Os vestibulandos na prova do Enem devem tomar cuidado com o recorte temático proposto, ou seja, no caso dessa segunda aplicação, é necessário discutir a questão do racismo no Brasil, obser-vando dados da nossa realidade, sem recorrer apenas a discussões mais universais sobre a existência do racismo em outros países.

O estudante pode utilizar dados além da realidade bra-sileira, entretanto, sua discussão deve estar centrada no nosso Brasil, assim como nas suas propostas de solução devem ser medidas que sejam viáveis à nossa realidade. Deve-se ter atenção a isso, pois é recorrente aos estudan-tes a falta de atenção para com o recorte, deixando de lado um dos comandos apresentados pela prova, o que implica em desconto na nota.

PROPOSTA DE REDAÇÃO – FUVEST 2017 – 2ª FASEExamine o texto* abaixo, para fazer sua redação. Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento? Esclarecimento é a saída do homem de sua menori-

dade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de servirse de seu próprio entendimento sem direção alheia. O homem é o próprio culpado des-sa menoridade quando ela não é causada por falta de entendimento mas, sim, por falta de determinação e de coragem para servirse de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. Sapere aude!** Ousa fazer uso de teu próprio entendimento! Eis o lema do Esclarecimento.

A preguiça e a covardia são as causas de que a imensa maioria dos homens, mesmo depois de a natureza já os ter libertado da tutela alheia, permaneça de bom grado a vida inteira na menoridade. É por essas mesmas causas que, com tanta facilidade, outros homens se colocam como seus tutores. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, se tenho um diretor espiritual que assume o lugar de minha consciência, um médico que por mim escolhe minha dieta, então não preciso me esforçar. Não tenho necessidade de pensar, se é suficiente pagar. Outros se encarregarão, em meu lugar, dessas ocupações aborrecidas.

A imensa maioria da humanidade considera a passa-gem para a maioridade, além de difícil, perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaramna sob sua su-pervisão. Depois de terem, primeiramente, emburrecido seus animais domésticos e impedido cuidadosamente essas dóceis criaturas de darem um passo sequer fora do andador de crianças em que os colocaram, seus tutores mostramlhes, em seguida, o perigo que é tentarem andar

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sozinhos. Ora, esse perigo não é assim tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar, finalmente, depois de algumas quedas. Basta uma lição desse tipo para intimidar o indivíduo e deixálo temeroso de fazer novas tentativas.

Immanuel Kant

* Para o excerto aqui apresentado, foram utilizadas as traduções de Floriano de Sousa Fernandes, Luiz Paulo Rouanet e Vinicius de Figueiredo.

** Sapere aude: cit. lat. de Horácio, que significa “Ousa saber”.

Estes são os parágrafos iniciais de um célebre texto de Kant, nos quais o pensador define o Esclarecimento como a saída do homem de sua menoridade, o que este alcançaria ao tornarse capaz de pensar de modo livre e autônomo, sem a tutela de um outro. Publicado em um periódico, no ano de 1784, o texto dirigiase aos leitores em geral, não apenas a especialistas.

Em perspectiva histórica, o Esclarecimento, também chamado de Iluminismo ou de Ilustração, consiste em um amplo movimento de ideias, de alcance internacional, que, firmandose a partir do século XVIII, procurou estender o uso da razão, como guia e como crítica, a todos os campos da atividade humana. Passados mais de dois séculos desde o início desse movimento, são muitas as interrogações quanto ao sentido e à atualidade do Esclarecimento.

Com base nas ideias presentes no texto de Kant, acima apresentado, e valendose tanto de outras informações que você julgue pertinentes quanto dos dados de sua própria observação da realidade, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha o seu ponto de vista sobre o tema: O homem saiu de sua menoridade?

Instruções: A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma-

-padrão da língua portuguesa. Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível. Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de reda-

ção. Dê um título a sua redação.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA JULIANA ALVES:O texto de Imannuel Kant, de 1784, tem a intenção de

expor ao leitor o conceito de Esclarecimento como uma espécie de liberdade intelectual do homem sobre a qual ele próprio é responsável. Basicamente, o filósofo afirma ser a menoridade uma espécie de vício a que o próprio homem se condena, pois, sendo livre para lutar por seus direitos e ideais de justiça, prefere permanecer na acei-tação e na mediocridade, pois há aqueles que assumem tarefas e as executam em seu lugar.

Esse texto sobre Esclarecimento traz uma série de

reflexões sobre as situações que vivemos em nosso cotidiano. Pode-se explorar, por exemplo, o momento político e como a população se posiciona em relação às decisões e propostas governamentais. De que forma nos posicionamos diante dessas situações que tanto nos pre-judicam, direta e indiretamente? Quais as nossas reações diante das pressões e dos domínios exercidos pelos mais fortes, ainda nos dias de hoje? Essas são algumas possi-bilidades de reflexão que podem engendrar a construção de argumentos.    

Se o candidato compreendeu o que se pede nesta proposta e se preparou adequadamente no que diz res-peito à leitura e aos gêneros textuais, já pode planejar sua produção com mais segurança, considerando os seguintes passos:

a. Quais são as ideias principais presentes no texto de Kant? Aqui, a competência da interpretação de texto é avaliada. Você pode elaborar um esquema, considerando as principais informações.   

b. Que outras ideias posso considerar pertinentes quanto a minha observação da realidade (que têm relação com as ideias expostas no texto-base da proposta)? O que tenho visto, lido, observado na sociedade que se relaciona com o tema proposto? (Aqui, cabem as notícias sobre corrupção no país, por exemplo!).

c. Qual é o meu posicionamento sobre o tema? O homem permanece ou não na menoridade? (Quais argumentos posso construir para sustentar meu ponto de vista?) Podem ser elaborados argumentos de causa e consequência, de analogia, de senso comum.

d. Na organização do texto, ainda vale seguir o modelo “introdução-desenvolvimento-conclusão”, mas não “enges-se” sua redação. Procure explorar com a maior sagacidade possível os argumentos levantados para sustentar sua tese. (E não se esqueça de conferir se o título que lhe foi dado está adequado ao que foi produzido.)

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILAA Fuvest é um dos vestibulares de maior enverga-

dura no nosso país e, na sua redação, constantemente apresenta temas de caráter mais filosófico e reflexivo que os demais vestibulares. Com isso, espera obser-var no aluno um repertório individual que extrapole e dialogue com as ideias apresentadas pelo tema e pelos textos da coletânea.

Os critérios de correção para a prova são apenas três: tipo de texto e abordagem; estrutura e expressividade. Solicitada a estrutura dissertativa, o vestibulando deve prezar por uma organização coesa e coerente do texto, respeitando, sempre, a norma culta da linguagem, sem perder de vista as etapas e a estrutura que esse tipo textual requer.

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COMENTÁRIOS DA PROFESSORA GABRIELA CARVALHO:

Os temas de Redação propostos pela Fuvest têm ge-ralmente um caráter sociológico, ou seja, analítico. A pergunta-base a ser feita é quase sempre “como o fe-nômeno descrito pela coletânea pode ser observado na sociedade?”. No caso da Fuvest 2017, essa perspectiva não muda: o que se espera é que a partir do texto forne-cido como estímulo – de Emmanuel Kant – se observe a sociedade atual; teria o homem, a partir do que se pode observar hoje em dia, saído da chamada “menoridade”?

Vale lembrar um mito que ronda a prova da Fuvest e que a coloca como uma prova que exige Filosofia. Esse olhar é bastante ingênuo dado que a Filosofia já é forne-cida. O essencial é o ponto de vista e o posicionamento do candidato. É importante perceber que em nenhum momento a prova pedia um conhecimento prévio do candidato acerca do filósofo e de suas ideias já que toda a base foi fornecida. O que se espera é um posicionamento autoral frente à questão proposta.

PROPOSTA DE REDAÇÃO – UNESP 2017 – 2ª FASE

TEXTO 1Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...].

(Constituição da República Federativa do Brasil. www.planalto.gov.br)

TEXTO 2Art. 295. Serão recolhidos [...] a prisão especial, à dispo-

sição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva:

I. os ministros de Estado; II. os governadores ou interventores de Estados ou

Territórios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;

III. os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;

IV. os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; V. os oficiais das Forças Armadas e os militares dos

Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; VI. os magistrados; VII. os diplomados por qualquer das faculdades supe-

riores da República; VIII. os ministros de confissão religiosa; IX. os ministros do Tribunal de Contas;

X. os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função de jurado [...];

XI. os delegados de polícia e os guardas-civis dos Es-tados e Territórios, ativos e inativos.

(Código de Processo Penal. www.planalto.gov.br)

TEXTO 3 A prisão especial, no Brasil, é um instituto que visa

favorecer algumas pessoas levando-se em consideração os serviços prestados à sociedade. Esta diferenciação é garantida apenas durante o período em que aguardam o resultado de seu julgamento. Se condenadas, são transfe-ridas da prisão especial para a prisão comum. Esse tema suscita uma polêmica que divide tanto a opinião pública quanto os políticos e legisladores.

A defesa do privilégio da prisão especial para portadores de diploma é feita por autores como Basileu Garcia, ex--professor da Faculdade de Direito da USP, que diz merecer maior consideração pública as pessoas que, “pela sua edu-cação [leia-se: portadores de diploma], maior sensibilidade devem ter para o sofrimento no cárcere”. Também Arthur Cogan, ex-procurador de justiça, considera que a prisão especial “não afronta a Constituição, já que a todos os cida-dãos estão abertos os caminhos que conduzem à conquista das posições que dão aos seus integrantes a regalia de um tratamento sem o rigor carcerário”, ou seja, o autor parece entender que no Brasil quaisquer pessoas, sem exceção, têm condições de, se pretenderem, cursar uma faculdade.

(Valquíria Padilha e Flávio Antonio Lazzarotto. “A distinção por trás das grades: reflexões sobre a prisão especial”. https://sociologiajuridicadotnet.wordpress.com. Adaptado.)

TEXTO 4 A desigualdade social se manifesta de diversas formas.

A prisão especial para quem tem diploma é uma das mais descaradas. Afinal, se duas pessoas cometem o mesmo crime, mas uma delas estudou mais, esta poderá ficar em uma cela especial, separada dos demais presos até condenação em definitivo.

O artigo 5o da Constituição Federal diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza’’. Mas, na prática, a legislação brasileira confere o privilé-gio de não ficar em cárcere comum para alguns grupos. Em certos casos, como juízes e delegados de polícia, por exemplo, isso faz sentido. Em outros, como os portadores de diploma de curso superior, não.

Quem teve acesso à educação formal desfruta de direitos sobre quem foi obrigado, em determinado momento, a escolher entre estudar e trabalhar. Ou que, por vontade própria, simplesmente optou por não fazer uma faculdade. Afinal de contas, só o pensamento limitado é capaz de considerar alguém superior por ter um bacharelado ou uma licenciatura.

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(Leonardo Sakamoto. “Eike Batista, cela especial e o Brasil que discrimina por anos de estudo”. http://blogdo-sakamoto.blogosfera.uol.com.br, 30.01.2017. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma- -padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Prisão especial para portadores de diploma: afronta à constituição?

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA ANDRESSA TIOSSI

O tema é bastante objetivo e direciona o candidato para uma tomada de posicionamento clara: a resposta “sim” ou “não” acompanhada das justificativas para tal escolha. Para fazê-lo, recomenda-se que a resposta completa à pergunta fique explícita.

São particularidades do vestibular da Unesp o apreço por um tom mais categórico, taxativo, muito comum em modelos clássicos de dissertação-argumentativa.

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILA:Para avaliar a capacidade de argumentação e articulação

de ideias dos estudantes, é solicitado um texto dissertativo na norma-padrão culta que será avaliado pela abordagem da proposta e do tema, pelo desenvolvimento e também pelo domínio da escrita, sendo estes os três critérios de correção da prova.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA JULIANA ALVES:A proposta da Unesp é avaliar a distinção feita entre os

cidadãos, numa espécie de paradoxo em que são iguais perante a lei, mas diferentes no cumprimento destas. De-pois de entender a questão central de cada texto de apoio, pense a proposta. Antes de definir seu posicionamento, o escritor deve retomar (fazendo algumas anotações em esquema, por exemplo) quais conhecimentos ele tem sobre o assunto. Questionamentos também são bem-vindos.

É importante que o candidato procure dispensar ao menos 30 minutos para planejar sua tese, pois, assim, haverá tempo para organizar adequadamente o texto no formato essencial de uma dissertação.

PROPOSTAS DE REDAÇÃO - UNIFESP 2017

TEXTO 1 Na história, o voto nulo já foi uma bandeira ideológica.

Era uma ideia básica dos anarquistas, um dos movimentos utópicos que nasceram no século XIX e fizeram sucesso no começo do século XX. Para eles, votar nulo era uma condição para manter a própria liberdade, se recusando a entregá-la na mão de um líder. “Não mais partidos, não mais autoridade, liberdade absoluta do homem e do ci-

dadão”, pregava o filósofo francês Pierre-Josef Proudhon. O sonho dos anarquistas era uma sociedade organizada pelas próprias pessoas, sem funcionários, sem autorida-des e sem líderes.

Hoje, esse discurso utópico parece estar empoeirado. Mas há quem se pergunte se um pouco da utopia da década de 1930 não serviria como uma opção coerente diante de tantos problemas da democracia. A favor ou contra o voto nulo, todos concordam que o atual sistema político do Brasil tem problemas muito mais profundos que a escolha de um ou outro candidato. Segundo o IBGE, mais de 30% dos brasileiros não sabem quem é o governador de seu estado. Dois em cada 10 brasileiros não conseguem dizer quem é o presidente da República, e só 18% praticaram alguma ação política, como fazer uma reclamação ou preencher um abaixo-assinado.

Para Edson Passetti, pesquisador do Departamento de Política da PUC-SP, votar nulo não serve para eliminar corruptos da política, mas pode funcionar como uma crítica generalizada: “Optar pelo voto nulo é saudável como protesto contra todo um sistema.” Já para Marco Aurélio Mello, presidente do TSE, o voto nulo não seria um ato responsável: “Dar uma de avestruz, enfiando a cabeça na areia e deixar o vendaval passar, é a melhor forma de comprometer negativamente o futuro do país.”

(Liliana Pinheiro. “Adianta votar nulo?”. Superinteressante, setembro de 2006. Adaptado.)

TEXTO 2 Qual é, em comparação com outras estratégias de pro-

testo, a eficácia do voto nulo? Em que medida e sob que circunstâncias ele produz realmente o efeito desejado?

Afastemos, desde logo, a suposição de que um alto percentual de votos nulos acarreta a nulidade da própria eleição. Trata-se de uma crença totalmente desprovida de fundamento; a Constituição vigente nada estipula nesse sentido. A questão a considerar é, pois, o objetivo dos proponentes do voto nulo. Protestar contra o quê, exatamente?

O atual estado de coisas é lastimável, mas a contribui-ção do voto nulo à correção dele é rigorosamente zero. Neste caso, nada há na anulação que se possa chamar de público – ou seja, de político, no melhor sentido da palavra. Nas condições do momento, ele apenas expri-me um mal-estar subjetivo, difuso, de caráter individual. Qualquer que seja seu peso nos números finais da eleição, ele será apenas uma soma desses mal-estares e da apatia que deles decorre.

(Bolívar Lamounier. “Voto nulo: como, quando, para quê?”. Folha de S.Paulo, 12.07.2014. Adaptado.)

TEXTO 3 Não concordo com o sistema de representação política

do Brasil. Minha alternativa de protesto é o voto nulo. Na hora de divulgar os resultados, reais ou de pesquisas,

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a imprensa costuma somar os votos nulos e brancos. O significado dos dois é diferente. O voto nulo é, em prin-cípio, um protesto, inclusive contra o próprio processo eleitoral. Já o voto branco diz que o eleitor concorda com a decisão da maioria.

Votar nulo não se trata de atacar o governo ou a oposição, mas o sistema político inteiro, dizendo não à promiscuidade partidária que confunde o eleitor com essa miscelânea de acordos nacionais e regionais que querem reduzir a cidadania a uma negociata por horários na TV.

(Hugo Possolo. “Protestar pelo voto nulo”. Folha de S.Paulo, 14.07.2014. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O voto nulo é um ato político eficaz?

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA AMANDA RIX:Como estratégia de construção, é recomendável já

explicitar o ponto de vista a ser defendido na introdução. Os textos que integram a coletânea de apoio da proposta dão subsídios tanto para que se corrobore a eficácia da anulação do voto quanto para contestá-la. No entanto, o candidato não pode perder de vista que, em ambos os casos, ele precisa definir o que considera ser um “ato político eficaz”. Afinal, o texto 2 deixa claro que a nulidade do voto não tem impacto direto na eleição. Nesse sentido, argumentos como o apresentado no texto 1, embasados na ideia de “crítica generalizada ao sistema”, seriam mais pertinentes para a defesa de uma resposta afirmativa à pergunta orientadora da escrita.

Nesse sentido, vale ressaltar que o desenvolvimento do raciocínio argumentativo precisa ser construído com segurança e clareza. São avaliadas a coesão e a coerência entre as ideias e a pertinência de exemplos, relatos histó-ricos ou atuais, descrições e analogias para a construção eficiente dos argumentos.

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILA:De maneira semelhante às provas da Fuvest, Enem e

Unesp, a prova de redação da Unifesp solicita um texto dissertativo-argumentativo. A avaliação dessa prova consis-te em três critérios, são eles: tema, estrutura e expressão. No critério tema é observado se o aluno compreendeu o assunto e relacionou suas ideias corretamente a ele; no critério estrutura é observada a construção do texto disser-tativo que deve ser pautado, portanto, em argumentos; por fim, a expressão observa o uso da norma-padrão da língua.

O vestibulando deveria ler uma coletânea que não o encaminha para nenhum posicionamento específico, para que o estudante possa optar livremente, lembrando-se, é claro, de não ferir direitos humanos. Entretanto, a atenção

que os alunos devem ter na elaboração da redação é, ao optar por um ponto de vista, deve-se possuir argumentos que o sustentem. Ou seja, uma opinião só é válida a partir do momento em que é fundamentada por justificativas.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA JULIANA ALVES:Como, para produzir seu texto, é preciso considerar os

três textos apresentados (aqui, vale fazer um esquema com as principais informações) e seus próprios conhe-cimentos, escrever uma dissertação sobre a eficácia ou ineficácia do voto nulo não será tarefa árdua desde que o candidato tenha se mantido atualizado sobre a situação política do país. Os escândalos mais recentes de cor-rupção, uma constatação da força do poder político por meio da representação partidária e de forma indecorosa são alguns dos cenários que podem ajudar o escritor a construir sua produção.  

PROPOSTA DE REDAÇÃO – UNICAMP 2017 – 2ª FASE

Proposta 1TEXTO 1Como um(a) aluno(a) do Ensino Médio interessado(a)

em questões da atualidade, você leu o artigo “A volta de um Rio que faz sonhar”. Sentindo-se desafiado(a) pelos questionamentos levantados no texto, você decidiu es-crever uma carta para a Seção do Leitor da revista Rio Pesquisa. Em sua carta, discuta a relação estabelecida pela autora entre o conceito de Brasil cordial e a presença de estrangeiros no Brasil, apresentando argumentos em defesa de um ponto de vista sobre a questão.

A volta de um Rio que faz sonharReverenciada mundialmente por suas belezas naturais, a

cidade do Rio de Janeiro tem se transformado em espaço sonhado para aqueles que buscam construir seu futuro em terra estrangeira. Imigrantes, de origens variadas, vêm chegando à cidade, buscando garantir sua sobrevivência, fugir à pobreza ou transformar seus sonhos em realidade. Esse processo insere-se em um quadro mais geral de transformações. Graças à situação assumida pelo Brasil, como uma das maiores economias do mundo, polo de atração na América do Sul, o país vem se tornando, mais uma vez na história, importante lugar de chegada, em um momento em que políticas de vigilância e controle sobre os estrangeiros aprofundam-se nos países ricos em crise. Essa nova situação exige estudos que ultrapassem as questões pontuais para incluir análises sobre as relações presente e passado; entre o local, o nacional e o internacional e entre as práticas e as representações sobre o “outro”. O recente episódio da entrada abrupta de haitianos no Brasil, sem dúvida, apontou a necessidade dessas análises ampliadas.

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Para além da conjugação entre a necessidade de partir e o conhecimento adquirido sobre um país que se tornou “próximo” pela presença das tropas brasileiras em solo haitiano, o processo revestiu-se de preocupantes aspectos de mudança. Dentre eles, a ação dos coiotes na efetivação dos deslocamentos, marca indicativa do ingresso do país em um contexto no qual grupos organizados vivem da imigração ilegal e máfias internacionais enriquecem com o tráfico humano. O episódio pode ser visto, assim, como a ponta de um iceberg que tende a envolver a América Latina e o Caribe, considerando-se uma das tendências dos processos migratórios da atualidade: as migrações regionalizadas, realizadas no interior dos subsistemas internacionais.

Brasil: país cordial? A predisposição do Brasil em receber o estrangeiro de

braços abertos é ideia consagrada que necessita sofrer o peso da crítica. Pesquisas variadas têm demonstrado que o país nunca foi imune aos processos de discriminação do “outro”. Um exemplo, entre vários, pode ser dado pela prática da expulsão de estrangeiros na Primeira República (1907-1930), que se caracterizou por extrema violência, mes-mo contra aqueles que já eram considerados residentes, portanto com os mesmos direitos constitucionais dados aos brasileiros. A representação de um Brasil cordial, desta forma, deve ser entendida como uma construção forjada em determinado momento de nossa história. Lógico que as reações diferiam e diferem de acordo com os diferentes tipos de estrangeiros com os quais travamos contato, ocorrendo diferenças de tratamento em relação àqueles que, pelo local de nascimento ou pela cor, classificamos como superiores ou inferiores. Vários indícios vêm de-monstrando que as atitudes discriminatórias não ficaram perdidas no passado, mas podem ser encontradas com relativa facilidade, quando treinamos nosso olhar para melhor observar aquilo que nos cerca. As tensões entre brasileiros e bolivianos nos locais onde estes estão mais presentes, por exemplo, já são bastante visíveis. Isso sem falar no triste espetáculo do subemprego e da exploração a que estão sujeitos latino-americanos fixados ilegalmente no país. É urgente, portanto, que nos perguntemos como tendemos a ver e sentir a presença cada vez mais visível de estrangeiros em solo brasileiro, principalmente daqueles que são oriundos de países pobres, muitos deles necessi-tando do foco dos direitos humanos. Seremos sensíveis aos discursos e às práticas xenófobas? Defenderemos políticas restritivas e repressoras? Caminharemos para a sofisticação dos instrumentos de vigilância sobre um “outro” que possa ser visto como ameaça? Responder a essas questões, aqui e agora, seria um exercício de profecia que não nos cabe fazer. Isso não exclui, entretanto, que a reflexão sobre essas possibilidades esteja proposta, por

mais penosa que ela possa ser, principalmente se consi-derarmos a rapidez dos processos em curso e a tensão mundial presente no embate entre interesses nacionais e direitos humanos.

(Adaptado de Lená Medeiros de Menezes, A volta de um Rio que faz sonhar. Rio Pesquisa, Rio de Janeiro, ano V, nº 20, p. 48-50, set. 2012.)

Proposta 2Como voluntário(a) da biblioteca Barca dos Livros, você

ficou responsável por escrever o texto de apresentação de uma campanha de arrecadação de fundos para a instituição. Em seu texto, que estará disponível no site da Barca dos Livros, apresente, com base na notícia abaixo, o histórico e as ações da biblioteca, mostrando a importância das doações para a continuidade do projeto.

Barca dos Livros corre o risco de fechar por falta de apoio financeiro

Em 2014, a Barca dos Livros foi eleita a melhor biblio-teca comunitária do país pelo Ministério da Cultura e da Educação. Graças ao trabalho de voluntários apaixonados por literatura e que a consideram uma arte fundamental para a infância, a instituição vem há quase uma década formando leitores e promovendo a cultura em Floria-nópolis. Precisa, no entanto, de um impulso material para que continue existindo. Para chegar ao posto de referência no país, a Barca dos Livros navegou por mares calmos e revoltos. Hoje, nove anos e dois meses depois da inauguração, conta com um precioso acervo de 15 mil livros, dois terços dos quais de literatura infantil e infanto--juvenil, aproximadamente 5 mil carteirinhas de sócios e a incerteza do futuro. Desde maio do ano passado, está com o aluguel atrasado na atual sede, um espaço de 125 m² no Lagoa Iate Clube.

“Estamos sem nenhum patrocínio, convênio, subvenção. Além do aluguel, estamos devendo também o salário de três funcionários. A Barca é tocada por voluntários. Acontece que nunca foi fácil, mas nunca esteve a ponto de quase fechar” – lamenta a coordenadora do projeto, Tânia Piacentini. De 2010 até maio do ano passado, um convênio com a Fun-dação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes garantia o pagamento do aluguel, no valor de R$ 6,5 mil por mês. Mas a parceria não foi renovada. “Todas as atividades são gratuitas. Apenas para os passeios de barco com contação de histórias, realizados no segundo sábado de cada mês, é cobrado o valor de 5 reais para adultos que acompanham as crianças. Nosso material, espaço, livros, tudo é renovado graças ao trabalho dos voluntários. Precisamos de parceiros fixos que queiram ajudar.”

Acolhimento literário De 2007 até hoje, os voluntários da Barca viram crianças

que engatinhavam lerem as primeiras palavras e depois amarem a leitura. Despertaram a paixão pela ficção,

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contaram histórias, viram mães com bebês de colo pe-gando no sono nos confortáveis sofás da sala de leitura, aconchegadas pelo ambiente de acolhimento literário.

Nascida em Nova Veneza, sul do Estado, há 68 anos, Tânia Piacentini começou a dar aulas aos 14 anos. Cursou Letras e fez mestrado e doutorado na área de educação e literatura. Foi a primeira representante de Santa Catarina, nos anos 1970, a selecionar livros para a Fundação Nacio-nal do Livro Infantil, que a cada ano premia as melhores publicações para crianças e jovens.

Duas décadas depois, com o aumento de livros editados para esse público – quando começou, eram no máximo 10 por ano, hoje são cerca de 1.200 novas edições –, passou a convidar pessoas para ajudar a selecioná-los. Daí surgiu um núcleo de 25 leitores e especialistas que formou a Sociedade Amantes da Leitura, ONG que criou e sustenta legalmente a Barca.

“Nem sabíamos que ficaria grande. Queremos continu-ar e aumentar o atendimento. Abrir ao público todos os dias é um sonho. Temos que estar disponíveis e manter a qualidade. Mas sem dívidas pessoais e crises financeiras”, suspira Tânia.

Hoje a Barca abre ao público de terça a sábado, das 14 às 20 horas – chegou a ser de terça a domingo, em três turnos. Mesmo com as dificuldades, promove atividades semanais, como A Escola Vai à Barca (que recebe alunos de escolas da rede pública e particular), palestras, saraus para adultos, lançamentos de livros, leituras coletivas de livros e passeios mensais de barco pela Lagoa da Concei-ção. O cadastro custa 1 real e dá ao pequeno sócio uma carteirinha que permite pegar três obras emprestadas por 15 dias.

Mais informações sobre a programação no site da Barca dos Livros.

(Adaptado de Carol Macário, Barca dos Livros corre o risco de fechar por falta de apoio financeiro. Disponível em: http://dc.clicrbs.com.br/sc/entretenimento/noticia/2016/04/barca-dos-livros-corre-o-risco-de-fechar-por-falta-de-apoiofinanceiro 5754089.html. Publicado em 05/04/16.)

COMENTÁRIOS DO PROFESSOR VICTOR ÁVILA:A prova de redação da Unicamp é reconhecida por ser

o ponto fora da curva no âmbito dos vestibulares. Anual-mente, dois gêneros textuais diferentes são cobrados dos seus vestibulandos, o que requer, por parte dos estudantes, um conhecimento amplo. Em 2017, solicitou-se uma carta do leitor e um texto de apresentação.

A carta do leitor, encaminhada para uma revista, deveria se posicionar sobre uma das matérias. Desta forma, o vestibulando deveria compreender a estrutura dessa carta – vocativo, corpo do texto, despedida e assinatura – para veicular sua opinião. Ou seja, duas coisas são solicitadas: a estrutura textual da carta do leitor e a expressão coesa e coerente, na norma-padrão da língua, por parte do

vestibulando. Era, para o gênero, necessária a tomada de posição e a argumentação de forma concisa, dado o número limitado de linhas.

No texto de apresentação, o vestibulando deve saber selecionar as informações de maior importância contidas nos textos da coletânea e saber organizá-las para compor um bom texto de apresentação para uma campanha de arrecadação de fundos.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA AMANDA RIX:A proposta 1 exige uma carta argumentativa. Para

estabelecer bem o gênero, é preciso estar atento tanto à configuração da interlocução quanto à defesa de um ponto de vista sobre o tema. O candidato preci-sa se colocar como um estudante do Ensino Médio interessado em atualidades (1ª pessoa do singular) e como alguém que leu o artigo publicado na revista Rio Pesquisa e resolveu comentá-la. Dessa forma, ele estará construindo sua imagem enquanto autor da carta (quem é; por que escreve). É importante estar atento ao fato de que se escreve para a revista, e não para a autora do texto. Afinal, a carta se destina à “Seção do Leitor”. Assim, cabe direcionar-se à Rio Pesquisa e é possível, também, dialogar com os demais leitores.

A proposta 2 exige a elaboração de um texto de apre-sentação. É esperado que ele não escreva na 1ª pessoa do singular, mas opte pela 1ª do plural ou pela 3ª pessoa, configurando o caráter institucional e coletivo da men-sagem. Deve-se estar atento ao cumprimento do que foi exigido pelo enunciado: apresentar o histórico da biblioteca e salientar a importância das doações para a continuidade do projeto. A interlocução precisa ser estabelecida entre a instituição e todos aqueles que porventura venham a acessar o site. Para um bom acabamento da apresentação da campanha, é importante destacar por qual meio as doações podem ser feitas.

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA GISELLE DI-NARDO:

O tema proposto para a carta traz em si os índices da contemporaneidade, visto que muito se tem discutido a res-peito da fuga de refugiados  que entraram na Europa  em 2015. Quanto ao   gênero, o aluno deverá considerar três elementos essenciais: a intencionalidade da mesma (se escreve para manifestar apoio, discórdia em relação a um texto publicado, ou para acrescentar outras informações); o segundo elemento a se considerar é o perfil do jornal ou revista (quem é o público leitor) e o terceiro, o perfil do autor (seus gostos, idade, nível de cultural). Na carta argumentativa, a  linguagem com a qual o candidato deverá trabalhar é a culta formal.

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Aprenda Fácil! - Ano 2, nº 3 - 2017

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PROPOSTA DE REDAÇÃO FAMERP 2017 TEXTO 1O respeitabilíssimo Dicionário Oxford, o mais extenso

da língua inglesa, anunciou que um novo verbete passaria a figurar em suas páginas: selfie, que reúne o substan-tivo “self” (eu, a própria pessoa) e o sufixo “-ie”. Eis sua definição: “Fotografia que alguém tira de si mesmo, em geral com smartphone ou webcam, e carrega em uma rede social.”

(Rafael Sbarai. “Selfie é a nova maneira de expressão e autopromoção”. veja.abril.com.br, 23.11.2013. Adaptado.)

TEXTO 2 O professor de psicologia da Universidade da Geórgia,

nos Estados Unidos, Keith Campbell, sugere que um dos motivos que nos fazem amar selfies é porque elas são uma forma de expressão criativa. Ele afirma que a selfie é uma variação moderna dos autorretratos dos artistas.

As selfies também nos permitem exercer um nível de controle maior sobre como os outros nos enxergam online, e isso é um grande apelo. Graças às câmeras dos celulares localizadas na frente, podemos tirar inúmeras fotos de nós mesmos até conseguir a imagem que nos mostra exatamente como queremos – uma imagem a qual nos sentimos felizes de compartilhar com o mundo online. Curioso notar que uma pesquisa sugere que essa “auto representação seletiva” pode na verdade aumentar nossa autoestima e confiança.

E os benefícios potenciais da selfie não param aí. As selfies têm uma característica espontânea e íntima que vem mudando a maneira com que documentamos, com-partilhamos e celebramos eventos. Quando encontramos uma celebridade, não buscamos mais um autógrafo impessoal, nem precisamos usar cartões postais para di-vidir as memórias de uma viagem bacana. Pelo contrário, capturamos esses momentos únicos e compartilhamos com nossos amigos imediatamente. A Dra. Andrea Le-tamendi explica que “psicologicamente, podem haver benefícios em se compartilhar selfies porque essa prática está impregnada em nossa cultura e é uma maneira de se interagir socialmente com outros.”

(“O que seu selfie diz sobre você? A ciência por trás da nossa obsessão”. www.shutterstock.com. Adaptado.)

TEXTO 3 Na mitologia grega, Narciso era conhecido por sua

beleza, mas, ao ver-se refletido nas águas de uma fonte,

apaixonou-se por si mesmo. E, em busca desse amor impossível, fundiu-se consigo mesmo e sucumbiu na própria imagem. Trazendo para o atual contexto, podemos ver o narcisismo nas tecnologias, principalmente com o uso das redes sociais e as tão faladas selfies, que não estariam ligadas apenas à intenção de se expor, através de um autorretrato, mas também a uma busca pelo elogio e pelo olhar do outro para ser admirado, reconhecido e, assim, amado.

O que é muito discutido atualmente é se toda essa expo-sição e busca revela um sintoma da sociedade, cada vez menos interessada nas relações de fato e reais, à medida que apenas investe na proliferação de imagens, que não necessariamente traduzem o sentido real, ou seja, se o indivíduo de fato está feliz e bem. Mas essa busca por ser admirado e amado, de modo tão instantâneo, traduz os reais sentimentos? E, ao final, o indivíduo que terá muitas curtidas e elogios realmente se sentirá melhor?

Dessa forma, cada vez mais as relações se tornam su-perficiais, ou seja, quando o indivíduo está realmente em contato com o outro, pouco expõe o que deseja, sente, pensa, já que está tão voltado para a sua selfie.

(“O narcisismo na contemporaneidade: o mal-estar da era das selfies”. http://lounge.obviousmag.org, setembro de 2014. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, de acordo com a norma- -padrão da língua portuguesa, sobre o seguinte tema:

Selfies: mecanismo de interação social ou narcisismo em excesso?

COMENTÁRIOS DA PROFESSORA GABRIELA CARVALHO

A proposta sugere uma pergunta com dois posiciona-mentos quase inteiramente opostos. Quando isso ocorre, é importante ter em mente a necessidade de não apenas escolher um lado, mas também de explicitá-lo.

Sem contar que sempre haverá um interlocutor que poderia escolher o outro caminho e que a argumentação não pode considerar a própria escolha a mais óbvia e correta.

Em 2017, o candidato poderia tentar encontrar res-postas em sua própria vivência social, dado que é um tema bastante atual. Além disso, os textos motivadores trouxeram pontos de vista diversos, o que auxilia a composição argumentativa.

APRENDAFACIL

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