PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA RELIGIO

PROTESTANTISMO E NEOPENTECOSTALISMO

RUPITURAS E DISTANCIAMENTOS

Dinia Fontoura Gonalves

Belo Horizonte

2014

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Dinia Fontoura Gonalves

PROTESTANTISMO E NEOPENTECOSTALISMO

RUPITURAS E DISTANCIAMENTOS

Artigo apresentado disciplina Campo Religioso Brasileiro do

Programa de Ps-graduao em Cincias da Religio da Pontifcia

Universidade Catlica de Minas Gerais.

Professor: Rodrigo Coppe Caldeira

Belo Horizonte

2014

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PROTESTANTISMO E NEOPENTECOSTALISMO

RUPITURAS E DISTANCIAMENTOS

Dinia Fontoura Gonalves 1

RESUMO

Atualmente muito se tem ouvido sobre o crescimento dos evanglicos e da participao dos protestantes nas mdias e grandes meios de comunicao de massa.

Percebe-se, porm, a dificuldade em discernir e separar os evanglicos protestantes

de outros grupos que esto nas mdias pregando uma mensagem mgica e

prometendo mudanas milagrosas a partir de frmulas encantadoras. O

protestantismo nasceu propondo intenes fortemente pragmticas: pretendia ser

elemento transformador da sociedade atravs da transformao dos indivduos,

comprometido com um conjunto de princpios doutrinrios. O neopentecostalismo

nasceu de uma ideologia, propondo uma guerra contra o mal, cresceu, fortaleceu e se tornou um dos maiores movimentos do Brasil, rompendo com a velha mensagem

da cruz protestante.

O neopentecostalismo tem na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a

representao mais expressiva desse movimento. Assim, o presente artigo prope esclarecer a diferena entre o protestantismo que chegou ao Brasil, sua mensagem e

o neopentecostalismo bem como sua mensagem. A partir desta distino, mostrar,

qual o distanciamento entre um e outro, e em quais pontos o neopentecostalismo

rompe com a mensagem protestante.

Palavras-chave: Protestantismo. Neopentecostalismo. Mensagem da Cruz.

INTRODUO

O Protestantismo nasce na Europa propondo mudanas no cristianismo catlico. Chega ao

Brasil e sofre vrias modificaes dando origem a grandes desdobramentos. Entre estes

encontramos o neopentecostalismo, movimento que mais cresce no Brasil. O neopentecostalismo

trouxe ao Brasil uma nova forma de ser igreja, Lenski (1965). Rompendo com a centralizada

mensagem da cruz protestante (LIBANIO; CUNHA, 2011) promove distanciamentos e rupturas que

parecem lan-lo para outro vis religioso. Neste artigo se prope refletir sobre o protestantismo,

sua chegada ao Brasil e seu distanciamento do neopentecostalismo.

1Mestranda em Cincias da Religio- PUC-Minas, Especialista em Cincias da Religio-Unida, Especialista em

psicopedagogia Clnica e Institucional Cepemg-, Especialista em Transferncia em Psicanlise Clnica- NEPP, Especialista em Psicopatologia Analtica- NEPP, Especialista em Teorias Psicanalticas- Unida, Graduada em

Pedagogia- UEMG. (Universidade do Estado de Minas Gerais).

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O PROTESTANTISMO E SUA CHEGADA AO BRASIL

O protestantismo fruto de uma srie de movimentos que surgiram na Europa a partir do

sculo XVI seguindo os movimentos de Lutero com a finalidade de questionar diversos pontos da

doutrina catlica. Lutero foi apoiado por vrios religiosos e governantes europeus provocando uma

revoluo religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Sua, Frana, Pases Baixos, Reino

Unido, Escandinvia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Pases Blticos e a

Hungria. O resultado da Reforma Protestante foi a diviso da chamada Igreja do Ocidente entre os catlicos

romanos e os reformados ou protestantes. A origem do Protestantismo deu incio a massacres e perseguies

por parte da Igreja Catlica Romana como, por exemplo, o Massacre da noite de So Bartolomeu (VEIGA,

2012).

No Brasil os primeiros protestantes a chegaram foram os franceses. Desembarcaram na baa

de Guanabara no dia 10 de maro de 1557, se estabeleceram entre 1555 e 1560 (FILHO, 1990).

Mais tarde vieram os holandeses entre 1630 e 1654, no comeo do sculo XIX. Neste primeiro

momento o fenmeno foi de natureza imigratria devida abertura dos portos brasileiros ao comrcio

ingls em 1810 e do incentivo governamental imigrao europia. Na Constituio de 1824 se

oferece certa liberdade de culto, todavia, permanece reconhecendo a Igreja Catlica Apostlica

Romana como a igreja oficial do Imprio sendo D. Pedro efetivo ainda no padroado (CARNEIRO,

1950). Tal condio impunha uma srie de restries aos protestantes relacionadas : casamento

civil; uso de cemitrio e educao. Assim se permitiu a instalao no Brasil de anglicanos,

episcopais (anglicanos norte-americanos) e grande nmero de luteranos.

Ainda no Brasil colnia, os franceses realizaram aquele que foi o primeiro culto protestante

da histria do Brasil e das Amricas. Em 1558 produziram um documento chamado Confisso de f

de Guanabara oferecendo respostas a uma srie de perguntas levantadas acerca desta nova maneira

de crer. Trs integrantes do grupo foram executados por causa de sua f. Assim, a Frana Antrtica

foi a primeira tentativa real de estabelecer uma igreja, um trabalho missionrio protestante na

Amrica Latina.

Os holandeses em 1630 criaram sua prpria igreja no modelo da Igreja Reformada da

Holanda, fundaram 22 igrejas e congregaes, dois presbitrios e um snodo. Desempenharam forte

ao beneficente junto aos ndios e, em 1654 foram expulsos pelos portugueses. Somente em 1808

fora permitido a presena de protestantes novamente no Brasil, agora, de forma legal.

O segundo momento do contato protestante no Brasil denominado protestantismo

missionrio. As igrejas protestantes souberam aproveitar a expanso do comrcio e da colonizao

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promovido pelo hemisfrio norte, Case (1999). O Brasil independente se v necessitado de atrair

imigrantes europeus. Recebe entre estes europeus, protestantes e, com os tais, vieram tambm os

primeiros missionrios que buscam explicitamente propagar sua f, conforme atesta Velasques

Filho.

Mas a populao brasileira s foi diretamente afetada pela presena de cristos no-

catlicos quando comearam a chegar ao Brasil, nos anos 1850, os primeiros missionrios protestantes que vieram com a finalidade explcita de propagar a sua f. Esse segundo

impulso responde pela insero no pas do chamamos aqui protestantismo missionrio. (VELASQUES FILHO, 1990. p.12).

Assim, chegara ao Brasil as igrejas chamadas de igrejas livres: Igreja Congregacional,

Presbiteriana, Metodista, Batista e Episcopal. A grande maioria dos missionrios protestantes que

atuaram no Brasil veio dos Estados Unidos da Amrica, pas preponderantemente protestante,

(LUEBKE, 1987). Da o fato do protestantismo brasileiro ser uma projeo do protestantismo norte-

americano.

A primeira igreja de misso a fixar-se definitivamente em solo brasileiro foi a

Congregacional iniciada pelo Dr. Robert Reid Kalley (1809-1888). Os Presbiterianos em 1859

enviaram seu primeiro missionrio para o Brasil, o pastor Ashbel Green Simonton (1833-1867). A

Igreja Batista nasceu no Brasil em 15 de outubro de 1882, fundada por Willian Buck Bagby e

Zachery C. Taylor e suas respectivas esposas, na cidade de Salvador, Bahia, aps vrios trabalhos

missionrios empreendidos, tendo como seu primeiro pastor brasileiro o ex-padre Antnio Teixeira

de Albuquerque. Com a igreja batista chega ao Brasil um modelo de poder descentralizado, tanto do

ponto de vista teolgico quanto do ponto de vista da organizao eclesistica onde cada

congregao tem liberdade de decidir e expressar a sua f (PARCKER, 1988).

Assim nasce o protestantismo brasileiro, movimento religioso que se estabelece, cresce e

origina vrios desdobramentos, assimilando culturas e comportamentos. Sua base era a mensagem

da cruz, tendo cristo como centro de tudo, o arrependimento dos pecados e uma mudana genuna

de vida que fosse capas de atestar transformao e converso a Cristo. Na mensagem protestante se

deve ajudar o ser humano a encontrar o verdadeiro valor e sentido da vida. Para tal se deve

personalizar Cristo, pois nele encontramos o verdadeiro sentido e valor da vida. (GONALVES,

2013).

O NEOPENTECOSTALISMO

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No Brasil da segunda metade dos anos 70, v-se nascer aquele que se tornaria seu maior

fenmeno religioso das ltimas dcadas, o neopentecostalismo, Gonalves (2013). Consequncia de

um terceiro desdobramento do pentecostalismo Freston (1993). Conforme Mariano (2010), estas

trs ondas se classificam em trs vertentes: pentecostalismo clssico, deuteropentecostalismo e

neopentecostalismo. Encontra-se nesta terceira onda um corte histrico-institucional da formao da

corrente pentecostal, que passa ento a ser chamada de neopentecostal. Estes so os processos do

nascimento do neopentecostalismo no Brasil.

O neopentecostalismo cresceu e expandiu pregando uma mensagem centralizada na vitria e

no sucesso. Com uma oferta de superao para tudo cunhou uma estratgia de sucesso, se tornou a

igreja da mdia. De forma geral, por meio de notvel eficincia de comunicao com as massas e do

uso habilidoso dos meios de comunicao para estas, conforme visualiza Mariano:

Sua expanso se deve, em grande medida, sua eficincia no uso dos meios de

comunicao de massa, sobretudo o rdio, veculo no qual sempre fez proselitismo. Nos

primrdios, procurava alugar horrio nas emissoras logo aps o trmino de programas de

pais ou mes de santo, para aproveitar a audincia dos cultos afro-brasileiros. (MARIANO,

2010, p. 66).

Encontra-se no movimento neopentecostal a inaugurao de fato de uma nova etapa na

realidade religiosa do universo brasileiro. O sagrado ganhou uma nova interpretao e o religioso,

uma nova configurao. Criaram caractersticas que oferecem aos fiis respostas para s crises da

vida. O modelo neopentecostal, conforme observam Oro, Corten e Dozon (2003) de forma criativa

traz uma proposta para alcanar solues para todas as esferas dos infortnios sociais. Na

religiosidade neopentecostal existe uma audcia que visa atrair o fiel, conquistando cada vez mais,

novos adeptos. O movimento neopentecostal que gerou a igreja da vitria.

Segundo observam Oro, Corten e Dozon (2003), o neopentecostalismo da IURD (Igreja

Universal do Reino de Deus), bero e maior smbolo neopentecostal, construiu um sistema religioso

que foi capaz de inovar conceitos, valores, trazendo uma nova linguagem que alcana o popular.

Prope oferecer aquilo que se busca como respostas e solues imediatas para os sofrimentos.

Encontra-se na tica religiosa neopentecostal iurdiana uma lgica onde as solues para a

vida j esto dadas por Jesus e a igreja a autoridade de Deus para oferecer o ritual de aquisio por

meio de gestos que permitem aos fiis demonstrarem sua f no poder de Jesus, Passos (2005).

Na compreenso neopentecostal a beno um propsito de Deus que Senhor e criador de

todas as coisas para a vida do ser humano, Macedo (2000). Uma pessoa abenoada vive em

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constante vitria, um verdadeiro cidado do Reino de Deus, pois tem participao efetiva em sua

obra, conforme atesta Macedo:

Nisto, vemos a vontade de Deus para o homem: participao efetiva em toda a sua obra.

Quando vejo pessoas sendo curadas, recebendo o enchimento do Esprito Santo,

prosperando financeiramente e vivendo constantemente num estado de vitria, me alegro

grandemente e me rejubilo. Chamo a isto viver no Reino de Deus, pois a pessoa que assim vive um verdadeiro cidado deste Reino. (MACEDO, 2000, p. 13).

O mtodo de interpretao das Escrituras utilizado no neopentecostalismo consiste em geral

numa atualizao ou transposio das experincias religiosas de personagens bblicos para os dias

atuais. Macedo parece ver a Bblia como um livro de experincias religiosas, comeando com Israel

no Antigo Testamento, experincias que podem ser repetidas nos mesmos moldes, nos dias atuais.

Tem-se no Antigo Testamento ambiente mais farto e fcil para encontrar smbolos a partir do qual

se possam construir atos motivacionais, necessrios na estratgia da IURD de construir os ritos que

preencham seus cultos. O sucesso da mensagem neopentecostal maior ou menor, na medida em

que faz descobrir os smbolos das culturas locais, e estabelece uma conexo com a sua retrica.

Uma vez descoberto o veio, rapidamente ali se estabelece um fecundo processo de comunicao.

Cria-se condio para que pessoas com vises diferentes possam conviver numa mesma

comunidade de culto, afetiva ou de ideias, Campos (1997).

O discurso neopentecostal se fundamenta na teologia da prosperidade, que se justifica, por

ser sua teologia uma teologia em que Deus um Deus que no se contenta com o fato de seus filhos

serem pobres, segundo Campos (1997).

Um emergente elemento tico-religioso na teologia da prosperidade que a vida do cristo

deve ser livre de qualquer problema. Ele deve morar em manses, ter muito dinheiro e muita sade

(ROMEIRO, 2005, p. 93). Se isso no ocorrer, estar caracterizada a ausncia de f, a vida em

pecado ou ento o domnio de Satans.

A Teologia da Prosperidade tem um discurso positivista onde possvel alcanar tudo, caso

no funcione, a responsabilidade recai toda sobre o fiel. aqui que entra a questo dos dzimos e

ofertas de amorque passa a ser uma maneira de atingir o sagrado e alcanar suas bnos. Neste

sentido esta teologia confirma a ideia tradicional de que as ofertas materiais ou em dinheiro movem

obstculos entre o ser humano e a divindade. O neopentecostalismo prope, portanto, a construo

de uma ordem social baseada na ddiva e contra-ddiva, Campos (1997).

O neopentecostalismo detentor de uma homilia triunfalista onde o fiel encontra um Deus

poderoso para conceder no presente todos os direitos de herana aos seus filhos e mais ainda,

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provem sobre todas as necessidades, at mesmo sobre aquelas que ainda viro: A vida abundante

que Deus, pelo Seu grande amor, nos garante atravs de Jesus Cristo, inclui todas as bnos e

provises de que necessitamos, ou mesmo que venhamos a desejar. (MACEDO, 1990, p.27).

As principais expresses neopentecostais hoje no Brasil so: Igreja Universal do Reino de

Deus (IURD); Renascer em Cristo; Igreja Internacional da Graa; Mundial do Poder de Deus e

Igreja do Evangelho Quadrangular. Gonalves (2013).

PROTESTANTISMO E NEOPENTECOSTALISMO: RUPTURAS E DISTANCIAMENTOS

Conforme pode-se observar a construo da Igreja Evanglica na Sociedade Brasileira se

deu a partir de movimentos protestantes europeus, no perodo da Contra-Reforma, ainda num Brasil

colnia. Movimento que passou por vrias transformaes institucionais, teolgicas e, culturais,

alem de sofrer forte influncia do protestantismo americano.

Os protestantes com o tempo passaram a adotar novas formas para se denominarem. A partir

dos anos 1850 os missionrios que comearam a organizar grupos protestantes adotaram o vocbulo

crente para identificar as pessoas que iam aderindo a esses grupos. O crente no era uma pessoa

que apenas passava a acreditar, mas que, abandonava suas antigas crenas e prticas religiosas,

passando a crer em Jesus Cristo com o compromisso de mudana de vida. O termo crente

ultrapassava os limites denominacionais e significava o fiel preenchido de honra, privilgio,

respeito, porem que, acima de tudo gozava de testemunho ilibado perante a sociedade e os fiis,

Gonalves (2013).

No incio do sculo XIX a Europa v nascer um movimento conhecido como evangelical,

que chega aos Estados Unidos, posteriormente vem para o Brasil por volta de 1903. Este

movimento expressando-se atravs de vrias ligas e alianas buscava unir as igrejas protestantes em

torno de princpios doutrinrios comuns.

Em julho de 1903, em So Paulo, organizou-se a Aliana Evanglica, tendo como primeiro

presidente o missionrio metodista Hugh Clarence Tucker. Em 1923 foi organizada a Aliana

Evanglica Mundial. Assim nasce a auto-identificao de evanglico, que era individual e

significava o compromisso da pessoa com aquele conjunto de princpios doutrinrios; antes de

pertencer a esta ou quela denominao, o indivduo era evanglico. Com o tempo este termo foi

apropriado pelos membros das igrejas de origem protestante tornando-se a designao mais comum

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no Brasil (FILHO, 1990). Era uma espcie de frente unida evanglica visando garantir a integridade

do que se tornariam os evanglicos, Gonalves (2013).

Diante do acima citado pode-se perceber vrios rompimentos e distanciamentos do

protestantismo para o neopentecostalismo.

O neopentecostalismo caminha dentro de uma religiosidade ps-moderna que irrompe a

partir de uma reconfigurao religiosa, distanciando do protestantismo conforme atestam Oro,

Corten e Dozon:

Surge uma religiosidade que Garrard- Burnett qualificar [...] como ps-moderna. A Igreja

Universal seria a ilustrao por excelncia do fenmeno (Ruth e Rodrigues, 1999). Ela

consegue apresentar uma concepo do religioso que, imediatamente, leva em conta os

problemas cotidianos de uma populao maltratada pelas mutaes sociais e econmicas.

Esse religioso transformado responde a um individualismo e a uma proporo do indivduo

consigo mesmo que atinge os rinces mais afastados do planeta. (ORO; CORTEN;

DOZON, 2003, p.14,15).

Esta religiosidade neopentecostal traz um novo modelo de culto, envolvente, numa f muito

sobrenaturalista, otimista, capaz de vencer tudo que se levanta contra o fiel. As igrejas

neopentecostais surgem com uma nova roupagem, dentro de uma nova linguagem, abandonando o

velho modelo pelo qual os crentes eram conhecidos, propondo significativas mudanas, grandes

feitos, sucesso, enfim.

[...] so as igrejas neopentecostais [...] que realizaram as mais profundas acomodaes

sociedade, abandonando vrios traos sectrios, hbitos ascticos e o velho esteretipo pelo

qual os crentes eram reconhecidos e, implacavelmente estigmatizados. Na verdade, elas no

s aboliram certas marcas distintivas e tradicionais de sua religio, como propuseram novos

ritos, crenas e prticas, relaxaram costumes e comportamentos e estabeleceram inusitadas

formas de se relacionar com a sociedade. (MARIANO, 2010, p.8).

O neopentecostalismo se posiciona com uma nova linguagem. No se encontra nas

igrejas neopentecostais uma preocupao com um mtodo de interpretao da bblia.

O neopentecostalismo no conhece nenhum mtodo de interpretao bblica. A bblia se

torna um joguete lanado de um lado para o outro, ao sabor das convenincias. Tomam-se

diferentes declaraes, episdios e smbolos bblicos e, sem esforo algum de interpretao,

passa-se diretamente para a aplicao, muitas vezes de uma maneira que nada tem a ver

com o prprio original do passado. (LIBANIO; CUNHA, 2011, p.73).

Observa-se que as interpretaes bblicas so soltas, no existe um critrio. Na linguagem

neopentecostal os textos bblicos so usados de forma mgica, a bblia apresentada

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prioritariamente como um livro de promessas e beno para solucionar os problemas cotidianos. O

que mais grave, usam os textos bblicos de modo mgico, com se fossem amuletos, como se

tivessem poder imanente e intrnseco. Encara-se a bblia prioritariamente como um livro de

promessas, de bnos e de formulas para solues de problemas. (LIBANIO; CUNHA 2011, p.73).

A mensagem neopentecostal parte de uma linguagem distanciada dos conceitos bblicos

tradicionais, com novas terminologias que apontam para uma pseudoespiritualidade

antropocntrica, inclinada para as necessidades, desejos e ambies humanas. O

neopentecostalismo trabalha uma nova linguagem regida sob o impacto da experincia humana,

Gonalves (2013).

Outro rompimento a se considerar que o neopentecostalismo desconsidera o peso do

evangelho e prope uma nova forma de relao com o Cristo e sua graa. Aceitam uma tica que de

forma geral barateia a graa para promover sucesso, segundo observam Libanio e Cunha (2011). A

perspectiva neopentecostal rompe com a busca do sucesso econmico calvinista, aplicando-lhe uma

nova verso contendo um esvaziamento tico.

Na nova perspectiva teolgica neopentecostal, a tese weberiana [...] segundo a qual os

calvinistas buscavam o sucesso econmico e evidncia da sua eleio, recebeu nova verso:

as coisas mais importantes que Deus tem a oferecer so bom emprego, estabilidade financeira, vida confortvel, felicidade no amor e nas coisas de gnero. Alm disso,

enquanto aquela tese suscitava a tica protestante, esta no tem tica alguma. (LIBANIO;

CUNHA, 2011, p.75).

A partir de tais caractersticas, fica claro que o neopentecostalismo deixa para trs a velha

mensagem da cruz, base da mensagem das igrejas histricas, substitudas por uma mensagem na

qual, meios infalveis so propostos para os fiis se sarem bem. Conforme observam Oro, Corten e

Dozon (2003) o neopentecostalismo se adapta ao contexto neoliberal. Tal caracterstica se distancia

com os valores apontados para ser considerado evanglico, gestando ao que parece uma nova

modalidade de cristianismo, Gonalves (2013).

CONSIDERAES FINAIS

Encontramos na histria protestante uma vocao que vai alm do plpito e percorre as ruas

discernindo suas necessidades mais urgentes, sendo participante das elaboraes de respostas para a

transformao social e fundamentao tica. De fato a histria evanglica busca deixar um legado

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para o Brasil, representada por uma mensagem que busca oferecer alteridade, fomentar

transformao e gestar identidade crist baseada na mudana de vida e carter.

O protestantismo se articula bem com a modernidade, todavia, se atrela s funes

evanglicas de esforo e dedicao crist, distanciada da leitura crist neopentecostal que se aplica a

promover o sucesso e oferecer a vitria qualquer preo. Tambm se observa que no culto

evanglico a tnica Cristo como Senhor da vida e no culto neopentecostal o culto valoriza a

instituio e usa Cristo para promover o homem, um culto antropocntrico, Gonalves (2013).

Considero que tais rupturas e distanciamentos devem promover a discusso se efetivamente deve-se

considerar o neopentecostalismo um movimento evanglico.

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