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IBSN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO RÁPIDA (PAR’s) PARA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE CURSOS D´ÁGUA: APLICAÇÃO NO RIBEIRÃO DA PRATA (QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG) Nayara Mariana Gonzaga Rosa (a) , Antônio Pereira Magalhães Jr (b) (a) Departamento de geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected] (b) Departamento de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected] Eixo: Dinâmica e Gestão de Bacias Hidrográficas Resumo Informações qualificadas dão bases para a gestão e proteção de recursos hídricos. No Brasil, os diagnósticos ambientais de rios se baseiam principalmente em análises de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos da água. Estas avaliações ocorrem por meio das estações de monitoramento que, apesar de gerarem dados significativos, apresentam alto custo de funcionamento. Assim, torna-se desejável a utilização de ferramentas práticas e pouco onerosas para avaliar a qualidade ambiental de sistemas fluviais. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo discutir as potencialidades dos Protocolos de Avaliação Rápida (PARs) para avaliação ambiental de cursos d’água a partir do estudo de caso do Ribeirão da Prata (Quadrilátero Ferrífero, MG). Os resultados demonstraram que o PAR pode ser considerado como uma ferramenta viável para o diagnóstico, uma vez que a partir de sua aplicação foi possível detectar alterações gradativas na qualidade ambiental do curso d’água avaliado. Palavras chave: Sistemas fluviais, Protocolos de Avaliação Rápida (PARs), Qualidade ambiental. 1. Introdução Os processos decisórios de gestão de bacias hidrográficas dependem de informações qualificadas, pautadas na realidade e diversidade dos sistemas hídricos (LEMOS, et al. 2014). No Brasil, o diagnóstico ambiental de cursos d’água se dá principalmente por meio de estações de monitoramento de parâmetros quantitativos e qualitativos da água. Apesar de gerarem dados significativos, estas análises são onerosas, já que envolvem a manutenção de equipamentos e contratação de profissionais especializados (CASTRO e RODRIGUES, 2008). Este aspecto se reflete em lacunas de informações, já que o número de estações varia entre localidades devido a restrições financeiras (MAGALHÃES JR, 2000). Considerando esta limitação, são desejáveis iniciativas voltadas para o monitoramento de rios através de ferramentas práticas e de baixos custos. Neste contexto se inserem os Protocolos de Avaliação Rápida (PARs), que consistem em instrumentos

PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO RÁPIDA (PAR’s) PARA ......“sinais de usos humanos”; e “proximidade de residências ou estabelecimentos”. Do trabalho de Minatti - Ferreira e Beaumord

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PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO RÁPIDA (PAR’s) PARA AVALIAÇÃO

AMBIENTAL DE CURSOS D´ÁGUA: APLICAÇÃO NO RIBEIRÃO DA PRATA

(QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MG)

Nayara Mariana Gonzaga Rosa (a), Antônio Pereira Magalhães Jr (b)

(a) Departamento de geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]

(b)Departamento de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]

Eixo: Dinâmica e Gestão de Bacias Hidrográficas

Resumo Informações qualificadas dão bases para a gestão e proteção de recursos hídricos. No Brasil, os diagnósticos

ambientais de rios se baseiam principalmente em análises de parâmetros físico-químicos e bacteriológicos da

água. Estas avaliações ocorrem por meio das estações de monitoramento que, apesar de gerarem dados significativos, apresentam alto custo de funcionamento. Assim, torna-se desejável a utilização de ferramentas

práticas e pouco onerosas para avaliar a qualidade ambiental de sistemas fluviais. Neste contexto, o presente

trabalho teve como objetivo discutir as potencialidades dos Protocolos de Avaliação Rápida (PARs) para

avaliação ambiental de cursos d’água a partir do estudo de caso do Ribeirão da Prata (Quadrilátero Ferrífero,

MG). Os resultados demonstraram que o PAR pode ser considerado como uma ferramenta viável para o

diagnóstico, uma vez que a partir de sua aplicação foi possível detectar alterações gradativas na qualidade

ambiental do curso d’água avaliado.

Palavras chave: Sistemas fluviais, Protocolos de Avaliação Rápida (PARs), Qualidade ambiental.

1. Introdução

Os processos decisórios de gestão de bacias hidrográficas dependem de informações

qualificadas, pautadas na realidade e diversidade dos sistemas hídricos (LEMOS, et al. 2014).

No Brasil, o diagnóstico ambiental de cursos d’água se dá principalmente por meio de

estações de monitoramento de parâmetros quantitativos e qualitativos da água. Apesar de

gerarem dados significativos, estas análises são onerosas, já que envolvem a manutenção de

equipamentos e contratação de profissionais especializados (CASTRO e RODRIGUES,

2008). Este aspecto se reflete em lacunas de informações, já que o número de estações varia

entre localidades devido a restrições financeiras (MAGALHÃES JR, 2000).

Considerando esta limitação, são desejáveis iniciativas voltadas para o

monitoramento de rios através de ferramentas práticas e de baixos custos. Neste contexto se

inserem os Protocolos de Avaliação Rápida (PARs), que consistem em instrumentos

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desenvolvidos para o diagnóstico ambiental de cursos d’água, a partir da avaliação de

parâmetros macroscópicos (BIZO et. al; 2014). Os PARs se configuram como ferramentas de

fácil aplicação, que permitem uma análise prática, eficaz e pouco onerosa.

Diante da problemática, o presente trabalho pretende discutir as potencialidades dos

Protocolos de Avaliação Rápida (PARs) para avaliação ambiental de sistemas fluviais a partir

do estudo de caso do Ribeirão da Prata (Serra do Gandarela, MG). Buscou-se elaborar um

PAR específico e aplicá-lo para fins de teste em segmentos do Riberão, que nasce no Parque

Nacional da Serra do Gandarela (PARNA Gandarela- MG) e se estende até o município de

Raposos (MG).

2. A bacia hidrográfica do Ribeirão da Prata

A Serra do Gandarela localiza-se no domínio geológico-geomorfológico do

Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais.Devido à riqueza paisagística, biodiversidade e potencial

hídrico, em 2014 a área foi indicada para a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela

(Decreto s/n, de 13 de Outubro de 2014) (Figura 1). Conforme levantamento do ICMBio

(2010), no parque foram encontradas mais de mil nascentes, além de rios enquadrados nas

Classes Especial e 1, conforme a resolução CONAMA nº 357 de Março de 2005.

Figura 1 - Localização do PARNA Gandarela

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Com nascentes no interior do Parque, a bacia hidrográfica do Ribeirão da Prata

apresenta uma área de 100km², desaguando na altura do município de Raposos (Figura 2).

Enquadrado na classe 1 conforme resolução CONAMA nº 357 (op. Cit), acredita-se que o

Ribeirão contribui com a melhora de qualidade do Rio das Velhas, seu receptor. Além disso,

configura-se como o principal bem natural com potencial de lazer em Raposos, sendo

utilizado para fins recreacionais de contato primário (LEITE, et al. 2015).

Figura 2 - Bacia hidrográfica do Ribeirão da Prata (MG)

3. Procedimentos metodológicos

A elaboração do protocolo se deu a partir de um levantamento bibliográfico.

Baseando-se na literatura, foi selecionado um modelo de PAR de onde foram adaptados

indicadores e o sistema de pontuação. A este modelo foram incluídos parâmetros encontrados

em outros trabalhos. O protocolo modelo selecionado foi o Quadro I apresentado por Callisto,

et al (2002), em estudo intitulado “Aplicação de um protocolo de avaliação rápida da

diversidade de habitats em atividades de ensino e pesquisa (MG – RJ)”:

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Tabela 1 - Quadro 1 aplicado por Callisto, et al. 2002

Este protocolo atribui notas de 0 a 4 aos parâmetros. A partir do somatório de todos

os valores têm-se as pontuações finais de cada segmento fluvial, que refletem seu nível de

conservação (impactados, alterados e naturais). Deste modelo foram incluídos os indicadores:

tipo de ocupação das margens do corpo d’água; avaliação de focos de erosão próxima e/ou

nas margens do rio; alterações antrópicas; odor da água; oleosidade da água e transparência.

Foram selecionados outros três estudos de referência. Do trabalho de Gomes, et al.

(2005), que avaliou impactos ambientais em nascentes, foram incluídos os parâmetros

“presença de resíduos sólidos”; “materiais flutuantes”; “espumas”; “presença de animais”;

“sinais de usos humanos”; e “proximidade de residências ou estabelecimentos”. Do trabalho

de Minatti - Ferreira e Beaumord (2006), cujo objetivo foi adequar um PAR para avaliar

ecossistemas fluviais, foram utilizados os indicadores “estabilidade dos barrancos”; “proteção

dos barrancos por vegetação”; e “grau de sombreamento das margens”. Por fim, o último

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parâmetro adaptado (“alterações nos canais fluviais”) está no estudo de Rodrigues (2008), que

elaborou um PAR para monitoramento de rios inseridos em campos rupestres.

O PAR elaborado foi aplicado na análise de 6 segmentos do Ribeirão da Prata,

representados na figura 3. Para que diferentes condições do ambiente fluvial fossem

representadas, foram selecionados trechos localizados no interior e fora dos limites do parque.

A cada parâmetro foram atribuidas notas que variam de 0 a 4, conforme o protocolo modelo.

Ao final as notas foram totalizadas, gerando os diagnósticos de qualidade ambiental dos

segmentos fluviais, enquadrados nas categorias “ótima”, “intermediária” ou “ruim”.

Figura 3 - Segmentos avaliados no Ribeirão da Prata

4. Resultados

A proposta de PAR elaborada encontra-se apresentada na tabela 2. Esta foi aplicada

nos seguimentos selecionados, gerando os resultatos descritos a seguir.

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Tabela 2 – Protocolo elaborado

4 pontos 2 pontos 0 pontos Avaliação

1. Tipos de ocupação das

margens Vegetação natural

Campo de

pastagem/agricultura/monocultura/

reflorestamento

Residencial/comercial/

industrial

2. Proximidade de

instalações residenciais,

comerciais ou industriais

Mais de 100 metros Entre 50 em 100 metros Menos de 50 metros

3. Obras e estruturas

hidráulicas

Ausência. O curso d’água

segue com padrão natural

Presença de área para apoio de

pontes; canalização pouco

extensiva

Preseça de barragens

ou desvios; margens

revestidas por gabiões

ou cimento; extensa

canalização do curso

d’água

4. Fontes pontuais de

emissão de efluentes Ausência.

Emissão de esgoto/efluentes

domésticos

Emissão de efluentes

químicos/industriais

5. Resíduos sólidos nas

margensAusência Pouco Muito

6. Materiais flutuantes Ausência Pouco Muito

7. Espumas Ausência Pouca Muita

8. Odor da água Nenhum Esgoto Químico/industrial

9. Oleosidade da água Ausente Moderada Abundante

10. Transparência da água Transparente Turva/cor de chá forte Opaca ou colorida

11. Proteção das margens

70% ou mais da superfície

coberta por vegetação natural,

afloramentos rochosos ou

outras estruturas naturais

estáveis

40 a 70% da superfície coberta por

vegetação, afloramentos rochosos

e outras estruturas naturais

estáveis

Menos de 40% das

superfície coberta por

vegetação,

afloramentos rochoros

e outras estruturas

naturais estáveis

12. Estabilidade das

margens à erosão e

movimentos de massa

Poucas evidências de

cicatrizes de rupturas

(quedas) e focos de erosão

acelerada (sulcos, ravinas)

Moderada perda de massa

sedimentar, com sinais recentes

de erosão e/ou quedas

Evidências de

deslizamentos e

quedas recentes, com

barrancos instáveis

13. Sombreamento Vegetação com várias alturasSombreamento completo da

superfície da água

Superfície da água

totalmente exposta à

luz solar

14. Uso por animais

domésticosNão detectado Sinais pouco expressivos Presença

15. Usos humanos Não detectado Sinais pouco expressivos Presença

Localização:

Data da coleta: __/___/___ Hora da coleta:

Tempo (situação do dia):

ParâmetrosPontuação

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O Segmento 1 (Figura 4) corresponde a um trecho da zona de cabeceira do Ribeirão

da Prata. Este foi classificado com 60 pontos (nota máxima), sendo enquadrado na categoria

de condição ambiental “ótima”. A ocupação no entorno corresponde a vegetação natural

ciliar, que se associa a afloramentos rochosos garantindo estabilidade às margens. A

vegetação também exerce o papel de fornecer sombreamento adequado para a superfície.

Figura 4 - Segmento 1

O Segmento 2 (Figura 5) também se insere no alto curso da bacia. Classificado com

56 pontos (categoria “ótima”), o trecho possuía margens ocupadas por vegetação natural

ciliar, que não apresentavam processos erosivos. Além disso, existiam boas condições de

sombreamento, proporcionadas pelos diferentes estratos da vegetação. Como alterações

antrópicas, foi identificada uma pequena ponte.

Figura 5 – Segmento 2

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O Segmento 3 (Figura 6) insere-se na porção média da bacia, no município de

Raposos. Classificado com nota 48 (categoria “ótima”), têm as margens recobertas por

vegetação natural, não havendo ocupações humanas próximas. Haviam poucas evidências de

processos erosivos. Apesar das boas condições aparentes de qualidade, a água foi

caracterizada como opaca, indicando significativa carga sólida em suspensão. No que se

refere ao uso por animais domésticos, foi identificada a presença de fezes e pegadas (nota 0).

Com relação ao uso por humanos, este foi identificado através da existência de trilhas logo ao

lado do curso (nota 0).

Figura 6 – Segmento 3

O segmento 4 (Figura 7), foi classificado com 34 pontos (categoria “intermediária”).

A ocupação das margens é predominantemente natural, sendo poucas as evidências de

processos erosivos. A água apresentava-se opaca e, ao longo das margens, foram encontrados

resíduos sólidos. Foi identificada uma barragem de pequeno porte, que modifica a dinâmica

do sistema fluvial. Deste modo, foi atribuída nota 0 ao parâmetro “obras e estruturas

hidráulicas”. O parâmetro “usos humanos” também foi avaliado com nota 0. Além da própria

barragem, foi identificada a existência de dois casebres; de uma pequena instalação comercial

nas proximidade; da trilha que deu acesso ao local; resíduos sólidos nas margens e escritos

nas estruturas de concreto. Além disso, no momento da avaliação observou-se a presença de

um grupo de pessoas que utilizava o rio para recreação com contato primário.

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Figura 7 – Segmento 4

O Segmento 5 (Figura 8) encontra-se inserido no centro de Raposos e foi classificado

com nota 24 (categoria “intermediária”). Neste contexto, a ocupação era predominantemente

residencial e comercial e as margens possuíam menos de 40% de área protegida por vegetação

natural. Haviam poucos sinais de processos erosivos. Foi identificada grande quantidade de

resíduos sólidos ao longo das margens. A água possui odor característico de esgoto, que é

despejado diretamente no rio através de estruturas visíveis.

Figura 8 – Segmento 5

O segmento 6 (Figura 9) corresponde à confluência do Ribeirão da Prata com o Rio

das Velhas e foi classificado com nota 20 (categoria “ruim”). As margens são ocupadas por

construções residenciais e comerciais que despejam efluentes diretamente no curso. Foram

identificadas grandes quantidades de resíduos sólidos nas margens e materiais flutuantes na

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água. Esta possui odor forte de esgoto e grau elevado de opacidade. No que se refere a

processos erosivos, foram detectadas evidências recentes. Com relação a obras e alterações,

foi identificada a presença de área para apoio de uma ponte. Não foram identificados trechos

canalizados, tendo-se ainda um padrão morfológico natural do canal.

Figura 9 – Segmento 6

5. Discussões

A partir da aplicação do PAR foi possível perceber que, por se tratar de uma

ferramenta qualitativa, este carrega certo grau de subjetividade que pode acarretar em

variações na avaliação. Além disso, os critérios utilizados para pontuar os segmentos, como

qualquer outro modelo, podem levar à desconsideração de certos aspectos importantes para o

diagnóstico ambiental. Uma forma de reduzir a distorção é aumentar o número de categorias

avaliadas. Essa ação, no entanto, pode levar a um aumento da complexidade da ferramenta,

limitando sua aplicação.

Apesar destas limitações, a aplicação do PAR permitiu a obtenção de resultados

coerentes acerca das condições ambientais dos segmentos fluviais avaliados: dentro dos

limites do Parque os segmentos apresentaram qualidade satisfatória. No entanto, na medida

em que se aproxima do município de Raposos nota-se uma deterioração gradativa nas

condições ambientais do rio, em consonância com o aumento nos níveis de intervenções

antrópicas. Sendo assim, entende-se que o PAR cumpriu seu propósito como ferramenta de

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avaliação. A viabilidade de aplicação do instrumento também favorece sua utilização: além do

baixo custo, sua aplicação é rápida, levando cerca 20 minutos no caso do protocolo utilizado.

Diante deste contexto, acredita-se que o PAR deva ser utilizado como um

instrumento para avaliação ambiental preliminar, cuja aplicação deverá ser sucedida por

estudos mais aprofundados. A ferramenta pode ter grande utilidade para o monitoramento de

recursos hídricos e pode ser utilizada, também, para ações de educação e conscientização

ambiental.

6. Considerações finais

A elaboração do PAR adaptado para avaliação da qualidade de sistemas fluviais e sua

aplicação no estudo de caso do Ribeirão da Prata (MG) demonstrou uma ferramenta potencial

para análises práticas, pouco onerosas e consistentes das condições ambientais. Os avanços e

aprimoramentos da técnica, por sua vez, podem contribuir para a elaboração de outras

ferramentas com este caráter, dando subsídio a ações de gestão e planejamento.

7. Referências bibliográficas

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