Provas Admitidas. Interceptação, Escuta e Gravação

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Análise das provas admitidas no direito brasileiro

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  • Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 2, Abr. 2012

    Valor probatrio das gravaes ambientais1

    Nailson Ferreira zara Jnior2, Luiz Henrique B. de Azevedo Silva

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    Resumo: Atravs de uma pesquisa exploratria baseada em reviso bibliogrfica, a proposta deste trabalho

    elucidar momentos em que a gravao de conversas servir como fundamento a processo judicial. A

    Constituio Federal de 1988 elencou diversas garantias individuais em seu 5 artigo, que, a priori, trouxeram a

    interpretao de este tipo probatrio ser ilegal, violando direitos fundamentais da intimidade e privacidade.

    Portanto, para que o impasse de admissibilidade ou ilegalidade da gravao seja resolvido, diante da omisso

    legislativa e da pequena abordagem doutrinria, torna-se necessria uma anlise especfica dos princpios

    constitucionais relacionados, patrocinada pelas decises da jurisprudncia moderna dos tribunais brasileiros.

    Palavras chaves: Gravao. Intimidade. Privacidade. Prova ilcita. Jurisprudncia.

    Probative value of the ambient recordings

    Abstract. Through an exploratory research based on bibliographic review, this study purposes to elucidate

    when recording conversations can serve as basis for prosecution. The Brazilian Federal Constitution of 1988

    lists several individual guarantees on its 5th article, which, initially, brought the interpretation of this type of

    evidence being illegal, since it violates fundamental rights of intimacy and privacy. Therefore, so the

    admissibility or illegality impasse of conversation recordings is resolved, taking into account legislative

    omission and little doctrinal approach, it becomes necessary to realize specific analysis of constitutional

    principles related, sponsored by decisions of modern jurisprudence from Brazilian courts.

    Key words: Recording. Intimacy. Privacy. Illicit evidence. Jurisprudence.

    1 Artigo produzido para concluso do curso de Direito da Faculdade Montes Belos (FMB).

    2 Acadmico do curso de Direito da FMB.

    3 Professor orientador da FMB.

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    Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 2, Abr. 2012

    1.0. Introduo

    A tecnologia no mundo contemporneo

    trouxe, ao homem, novos meios de se defender nas

    demandas judiciais. Com o advento de aparelhos

    eletrnicos de gravao e registro de dilogos, a

    invaso de privacidade surgiu, trazendo ao Estado

    novas preocupaes.

    A ameaa de leso aos indivduos obrigou

    que o legislador se preocupasse, na redao da

    Carta Magna de 1988, com diversos direitos e

    garantias fundamentais, enumerados em seu 5

    artigo.

    No entanto, a existncia de tantos preceitos

    normativos, algumas vezes opostos em conflitos

    judiciais, fez com que a margem entre o legal e o

    ilcito se tornasse indeterminvel aos cidados.

    Diversas leis ordinrias e especiais foram

    sancionadas para dirimir tais disputas, entretanto,

    com a solidificao das normas que definem a

    interceptao telefnica, o legislador esqueceu-se

    de definir limites aos institutos assemelhados.

    Trata-se, o presente trabalho, de uma

    pesquisa terica, tomando por base uma

    metodologia dialtica na discusso de se saber se a

    gravao ambiental ou no legal no Direito

    brasileiro.

    Assim, sero abordados os princpios

    constitucionais que norteiam o tema, bem como as

    definies e diferenciaes das espcies de

    gravao (ou registro) de conversas trazidas pela

    doutrina e, ao final, comparar-se-o as decises

    jurisprudenciais mais pertinentes para dirimir o

    assunto que ser foco deste trabalho.

    2.0. Histrico

    Desde o princpio da humanidade, o ser

    humano convive com a sua espcie em sociedades.

    Auferir vantagens sobre o prximo sempre fez parte

    de sua ndole. Regramentos foram criados para

    garantir direitos e impor deveres, conforme os

    interesses da classe dominante.

    Da mesma forma, grande caracterstica do

    homem foi sua habilidade de inventar. Passados

    anos de sua evoluo, surgiu o aparelho telefnico,

    sem o qual a polmica da interceptao

    provavelmente jamais teria nascido.

    Hoje, no Brasil, sua populao vive sob a

    guarda da Constituio Federal da Repblica,

    promulgada em 05 de outubro de 1988. Este

    documento, primeiro a ser redigido na era ps-

    ditadura vivenciada pelo pas, confirmou antigos

    direitos conquistados e trouxe novas protees

    populao brasileira, focando-se, especificamente,

    nos direitos humanos.

    Em seu texto, mormente artigo 5, esto

    previstas as garantias fundamentais, que so

    condies intocveis (artigo 60, 4, IV,

    Constituio Federal de 1988) da populao

    brasileira. Os direitos e garantias individuais se

    tornaram uma verdadeira aquisio do povo,

    mediante manifestos e rebelies que marcaram as

    dcadas anteriores elaborao do atual texto

    constitucional.

    Destaca-se, dentre as protees elencadas no

    dispositivo, o inciso XII, que, quando da sua

    elaborao, trouxe polmica, como tantas outras

    redaes inovadoras:

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    inviolvel o sigilo da correspondncia e das

    comunicaes telegrficas, de dados e das

    comunicaes telefnicas, salvo, no ltimo

    caso, por ordem judicial, nas hipteses e na

    forma que a lei estabelecer para fins de

    investigao criminal ou instruo processual

    penal (Constituio Federal da Repblica

    Federativa do Brasil de 1988, artigo 5, XII).

    Com essa novidade legislativa, dvida pairou

    diante das interceptaes j existentes no pas,

    especialmente quanto s que estavam em curso no

    momento. Mas, antes de abordar este assunto,

    convm noticiar que a matria to recente que

    sequer estava prevista na Constituio de 1946. Na

    poca, defendia-se a ilegalidade da violao de

    telecomunicao baseando-se no artigo 141, 6, o

    qual ilustrava, to-somente, a inviolabilidade do

    sigilo de correspondncia (GOMES, 1997).

    Todavia, a Constituio Federal de 1967, em

    seu artigo 152 2, e, autorizava, durante estado

    de stio, a adoo de medidas coercitivas, dentre

    elas, censura de correspondncia, da imprensa, das

    telecomunicaes e diverses pblicas, admitindo-

    se, portanto, a interceptao dos meios de

    comunicao.

    Posteriormente, com a Carta Magna de 1969,

    nasceu a proibio expressa da violao do sigilo das

    comunicaes telegrficas e telefnicas (art. 153,

    9), ressalvado caso de estado de stio (art. 156, 2,

    f, inserido pela Emenda Constitucional n 11 de

    1978). Todavia, naqueles anos tambm vigorava o

    Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes (Lei 4.117 de

    27 de agosto de 1962), que assim dizia:

    Art 57. No constitui violao de

    telecomunicao:

    I - A recepo de telecomunicao dirigida por

    quem diretamente ou como cooperao esteja

    legalmente autorizado;

    II - O conhecimento dado:

    a) ao destinatrio da telecomunicao ou a seu

    representante legal;

    b) aos intervenientes necessrios ao curso da

    telecomunicao;

    c) ao comandante ou chefe, sob cujas ordens

    imediatas estiver servindo;

    d) aos fiscais do Govrno junto aos

    concessionrios ou permissionrios;

    e) ao juiz competente, mediante requisio ou

    intimao dste.

    Pargrafo nico. No esto compreendidas nas

    proibies contidas nesta lei as radio-

    comunicaes destinadas a ser livremente

    recebidas, as de amadores, as relativas a navios

    e aeronaves em perigo, ou as transmitidas nos

    casos de calamidade pblica (Lei 4.117 de 27 de

    agosto de 1962).

    Ada Pellegrini Grinover, renomada jurista

    talo-brasileira, estudou com afinco o assunto

    naquela poca, concluindo pela existncia da

    natureza relativa do direito ao sigilo das

    comunicaes telefnicas. Desta maneira, tratava-se

    de direito sujeito a excees e restries, sendo

    admissvel sua violao quando atendidos os

    requisitos do art. 57 do Cdigo Brasileiro de

    Telecomunicaes (GRINOVER, apud Vrios

    autores, 2009).

    Seguindo sua postura doutrinria, a

    jurisprudncia daqueles anos tratou-se de se

    posicionar sobre a ilegalidade desta espcie de prova

    quando obtida por particular. O Supremo Tribunal

    Federal, ao analisar o HC 63.834-1-SP (julgado em

    18/06/1986 e publicado no DJ em 05/06/1987)

    decidiu pelo trancamento do inqurito policial em

    questo devido obteno de interceptao por

    particular, considerando-a prova ilcita. Logo,

    tratava-se de meio probatrio exclusivo do Estado.

    Todavia, o que ningum esperava era que,

    com o advento da Constituio de 1988, houvesse

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    uma mudana radical dos preceitos relacionados

    interceptao. O que antes era utilizado de forma

    banal se tornou direito constitucional inviolvel. De

    conformidade nova redao legal, a interceptao

    telefnica s era cabvel com autorizao judicial e

    para fins de investigao criminal, desde que

    respeitadas as hipteses permissveis elencadas em

    lei.

    Entretanto, a exceo apresentada ainda no

    era passvel de utilizao, haja vista existir um

    buraco legislativo. O artigo 57 da Lei 4.117 de

    1962 j no era mais aplicvel, posto que o

    Supremo Tribunal Federal decidiu ser impossvel

    sentena penal baseada na quebra de sigilo

    telefnico enquanto no fosse editada lei especfica

    que regulamentasse o assunto, tornando todas as

    provas obtidas em desacordo com este

    entendimento ilcitas. Em outras palavras, o

    dispositivo do Cdigo Brasileiro de

    Telecomunicaes no foi recepcionado pela atual

    Lei Mxima, tornando-se impossvel utiliz-lo para

    realizar interceptaes telefnicas.

    Igualmente, o uso deste meio probatrio

    veio a ser incabvel nos demais institutos

    processuais brasileiros. Com a Constituio

    Cidad taxando o uso apenas no campo penal,

    ficou, a contrrio senso, proibida a utilizao nos

    demais ramos do direito, a exemplo do civil,

    trabalhista e administrativo.

    De 1988 a 1996, o Brasil vivenciou um

    perodo de muita polmica, com autorizaes

    judiciais de escutas telefnicas fundadas no citado

    artigo 57 do Cdigo Brasileiro de

    Telecomunicaes. E foi pela presena dos

    requisitos legais de existncia de autorizao

    judicial, dada por juiz competente; operao

    realizada por rgos oficiais; e ordem judicial

    motivada que Damsio E. de Jesus, da

    Procuradoria Geral de Justia, ao ser acionada pela

    Ordem dos Advogados do Brasil, acabou por dar

    parecer favorvel a uma interceptao telefnica de

    magistrado contra um advogado (DAMSIO,

    1993).

    Posicionando-se contrrio ao entendimento

    da Suprema Corte, Damsio assim manifestou:

    No deixa de ser curioso: na vigncia da CF

    anterior, que, em seu art. 153, 9, previa o

    princpio da inviolabilidade da comunicao

    telefnica sem abrir exceo, no era proibido

    ao Juiz autorizar a interceptao telefnica para

    fim de produo de prova judicial. E, hoje,

    quando a CF expressamente autoriza a

    interceptao mediante ordem judicial, entende-

    se proibido faz-lo (JESUS, 1993, p. 24).

    Contudo, apenas com o advento da Lei n

    9.296, de 24 de julho de 1996, com oito anos de

    atraso, que se renovou a possibilidade de violao

    do sigilo telefnico no processo penal.

    Apesar disso, pelo princpio tempus regit

    actum, todas as autorizaes deferidas em processo

    judicial antes do dia 25/07/1996, data de publicao

    da nova lei, so ilegais e desprovidas de

    fundamento jurdico, no podendo produzir efeitos

    por violao ao princpio da legalidade (GOMES,

    1997).

    3.0. Provas lcitas, ilcitas e ilegtimas

    Prova, do latim probatio (verificao,

    ensaio, exame, aprovao, confirmao) o

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    conjunto de aes praticadas pelas partes, e

    terceiros (como, por exemplo, peritos), direcionadas

    ao Juiz, com o intuito de convenc-lo da existncia

    ou inexistncia de um fato alegado, da veracidade

    ou falsidade de uma determinada alegao (CAPEZ,

    2008). Trata-se de um meio usado para induzir o

    magistrado a conceder ou no a tutela jurisdicional

    pleiteada.

    Tal forma de persuaso produzida com

    respeito ao ordenamento jurdico de um pas. Diante

    da amplitude das informaes que podem ser listadas

    como meios probatrios, e as disparidades

    financeiras e de recursos de pesquisa existentes entre

    o Estado e o indivduo, necessrio se fez limitar os

    meios de produo de provas.

    Assim, a elaborao de provas restringida

    aos preceitos constitucionais e legais, que visam

    diminuir a desigualdade existente entre Estado e

    cidado, de forma a proteger este das violaes de

    seus direitos e garantias por parte daquele, que detm

    os mais amplos poderes de uma sociedade: impor

    regras, fiscalizar, julgar e punir.

    Portanto, as leis de uma nao existem no

    apenas para limitar as aes dos indivduos, mas

    tambm para impor permetros aos poderes do

    Estado. Grande exemplo desta forma de restrio

    o artigo 5, inciso LVI, da Magna Carta de 1988:

    so inadmissveis, no processo, as provas obtidas

    por meios ilcitos.

    O Cdigo de Processo Penal vai alm,

    dizendo que devem (...) ser desentranhadas do

    processo, as provas ilcitas, assim entendidas as

    obtidas em violao a normas constitucionais ou

    legais (Cdigo de Processo Penal, 157, caput,

    alterado pela Lei 11.690/2008).

    Da mesma forma, ser tambm inadmitida a

    prova derivada da ilcita, salvo quando no

    evidenciado o nexo de causalidade entre elas, ou

    quando a derivada puder ser obtida por uma fonte

    independente da ilcita (Cdigo de Processo Penal,

    157, 1, alterado pela Lei 11.690/2008).

    Prova lcita aquela obtida por meios legais

    que no contrariam a moral e os bons costumes e

    que se limita aos preceitos ticos e jurdicos do

    homem. No mbito do direito, lcita a prova

    colhida em respeito aos direitos e s garantias

    fundamentais. Desta forma, a princpio, o Estado,

    ou qualquer cidado, no deve intrometer na vida

    particular de um indivduo, de forma a lesionar sua

    privacidade e liberdade individual, para formular

    prova judicial (GOMES, 1997).

    Entretanto, a inviolabilidade da privacidade

    tornou-se um empecilho permissivo ao homem para

    lesionar o seu prximo ou a coletividade.

    Consequentemente, leis surgiram com a finalidade

    de fornecer possibilidade para que o Estado consiga

    obter, de forma legal, provas que, a princpio,

    seriam apenas colhidas ilicitamente.

    Como os limites impostos entre a legalidade

    e a ilicitude das provas so muito pequenos e, por

    diversas vezes, confundidos ou intencionalmente

    desiludidos pelos aplicadores do direito, tem-se a

    origem das provas ilcitas.

    Provas ilcitas so aquelas colhidas com

    infringncia ao direito material. Por serem imorais,

    ilegais e inconstitucionais, devero ser

    imediatamente excludas do processo, no podendo

    o magistrado fundar-se nelas para formar sua

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    convico. Por exemplo, trata-se da obrigao do

    judicirio de inocentar um poltico que, apesar de

    sabidamente ter recebido propina para benefcio de

    uma empresa, foi processado exclusivamente com a

    prova de ter sido flagrado por meio de um grampo

    telefnico realizado sem autorizao judicial

    (GOMES, 1997).

    No se devem confundir provas ilcitas

    com ilegtimas, pois estas violam regra de direito

    processual no momento em que so obtidas em

    juzo. Luiz Flvio Gomes (1997) leciona que tanto a

    oitiva de pessoas que no podem depor, a exemplo

    do advogado proibido de informar sobre o que

    houve no exerccio de sua profisso (artigo 207 do

    Cdigo de Processo Penal), quanto o interrogatrio

    realizado sem a presena de advogado so meios

    probatrios ilegtimos, vez serem nulidades

    meramente procedimentais.

    Da mesma maneira, Grinover apud Capez

    (2009), tambm defendia que a prova ilcita viola

    normas de natureza material, enquanto a ilegtima

    conflita com normas de carter processual.

    Destarte, convm reiterar que as

    interceptaes autorizadas previamente publicao

    da Lei 9.296, ou seja, antes de 25/07/1996, so provas

    ilcitas pela ausncia de previso legal, nos termos do

    inciso XII do artigo 5 da Constituio Federal de

    1988. Violado o princpio da legalidade, todas as

    provas produzidas neste sentido no possuem

    qualquer validade jurdica, nem mesmo as derivadas

    (GOMES, 1997).

    3.1. Provas ilcitas ou ilegtimas por derivao

    No Brasil, no havia manifestao legal e

    tipificada sobre essa espcie de prova. A

    jurisprudncia, ento, viu-se obrigada a adotar o

    princpio estadunidense do fruto podre (tainted

    fruit) para dirimir tal questo. Desta forma, toda

    prova produzida em decorrncia de outra

    considerada ilcita, mesmo se fosse licitamente

    obtida, tambm seria invalidada. Trata-se de

    entendimento do Supremo Tribunal Federal, que

    vinha sendo adotado pelos juristas brasileiros.

    Assim defendeu o Ministro Seplveda Pertence, em

    seu voto vencedor:

    (...) o caso demanda a aplicao da doutrina que a

    melhor jurisprudncia americana constituiu sob a

    denominao de princpios dos fruits of the

    poisonous tree; que s provas diversas do prprio

    contedo das conversaes telefnicas

    interceptadas, s se pode chegar, segundo a prpria

    lgica da sentena, em razo do conhecimento

    delas, isto , em consequncia da interceptao

    ilcita de telefonemas (...) estou convencido de que

    essa doutrina da invalidade probatria do fruit of the

    poisonous tree a nica capaz de dar eficcia

    garantia constitucional da inadmissibilidade da

    prova ilcita (...) De fato, vedar que se possa trazer

    ao processo da prpria degravao das conversas telefnicas, mas admitir que as informaes nela

    contidas possam ser aproveitadas pela autoridade,

    que agiu ilicitamente, para chegar a outras provas,

    que sem tais informaes no colheria,

    evidentemente, estimular e no reprimir a

    atividade ilcita da escuta e da gravao clandestina

    de conversas privadas (HC 69.912-0-RS, publicado

    no Dirio da Justia da Unio de 25/03/1994).

    Entrementes, no mbito internacional, h

    muita polmica quanto a este tema, pois pensar de

    tal forma seria impossibilitar a condenao de um

    grande traficante de substncias entorpecentes cuja

    mercadoria foi descoberta e apreendida em

    decorrncia de uma escuta telefnica que visava

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    combater contrabando de produtos, a qual acabou

    por ser julgada ilegal.

    Ainda assim, pode o magistrado chegar

    condenao do ru, desde que a fundamente em

    provas colhidas com total independncia que foi

    considerada ilcita. Trata-se da teoria da fonte

    independente da prova, que deve ser usada com

    cautela para se evitar burlar a proibio do uso da

    prova derivada.

    Para que a teoria da fonte independente tenha

    correta aplicao, impe-se a demonstrao ftica

    inequvoca de que a prova valorada pelo Juiz

    efetiva-mente nasceu de fonte autnoma, isto ,

    no est na mesma linha de desdo-bramento das

    informaes colhidas com a prova ilcita. (...)

    Havendo dvida, tudo se resolve em favor do ru

    (in dubio pro reo) (GOMES, 1997, p. 146).

    Enquanto grande maioria dos juristas

    mundiais defende a inadmissibilidade desse tipo de

    prova, existem alguns que manifestam o contrrio.

    O alemo Schnke (AVOLIO, 2003) explica que o

    interesse da coletividade deve prevalecer sobre uma

    formalidade antijurdica no procedimento. Logo, na

    busca pela verdade real, poderia o Judicirio fazer uso

    de todos os meios de prova possveis,

    independentemente de lesar ou no direitos dos

    cidados.

    Outros defensores admissibilidade da prova

    ilcita so o espanhol Jaime Guasp, que reputa eficaz a

    prova ilicitamente obtida para aplicao das sanes

    civis, penais ou disciplinares cabveis, o norte

    americano Fleming, que condena a supresso da

    prova ilcita, e Wigmore, que entende que a regra de

    excluso prejudica a comunidade lesada diante de um

    indivduo criminoso inescrupuloso (AVOLIO, 2003).

    A Lei 11.690, de 09 de junho de 2008, foi

    responsvel por vrias inovaes no velho texto do

    Cdigo de Processo Penal. Dentre elas, destaca-se a

    que socorreu este tema, trazendo a seguinte redao

    ao 1 do artigo 157: So tambm inadmissveis

    as provas derivadas das ilcitas, salvo quando no

    evidenciado o nexo de causalidade entre umas e

    outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas

    por uma fonte independente das primeiras.

    Em curta explicao, restou solucionado, no

    momento, o problema da prova ilcita por

    derivao, sendo admitido apenas se verificar no

    ter qualquer ligao com a prova proibida ou

    quando existir a figura da fonte independente.

    Por exemplo, caso a polcia federal obtenha a

    informao de transporte de entorpecentes via

    grampo telefnico irregular e, por isso, monte uma

    blitz para apreender a droga e flagrar o traficante,

    ilcita a prova originria, ou seja, a interceptao.

    Entretanto, tambm sero ilcitas todas as provas

    derivadas desta, a listar, o auto de priso em

    flagrante e os depoimentos dos condutores, devendo

    a priso ser relaxada e a ao penal ser

    impossibilitada de prosseguimento pela ausncia de

    provas vlidas.

    Contudo, se o traficante for preso em blitz

    montada com finalidade diversa, por autoridade

    policial que sequer tinha o conhecimento da

    interceptao telefnica irregular, descarta-se

    apenas esta prova ilcita, admitindo-se a priso em

    flagrante e os depoimentos colhidos como meios

    probatrios independentes.

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    3.2. Uso da prova ilcita ou ilegtima em favor

    do acusado

    A inutilizao da prova ilcita pelo Estado

    contra o particular garantia constitucional (art. 5,

    inciso LVI, CF88). No entanto, no possvel dizer

    o contrrio. Existem direitos que so superiores a

    esta proibio. Depois da vida, a liberdade a

    garantia constitucional mais importante que o

    homem detm (SILVA, 2011).

    Para Gomes (1997), a nica exceo regra

    de inadmissibilidade do uso de prova obtida por

    meio ilcito quando interessa mais a proclamao

    de inocncia do ru que a preservao da intimidade

    ou privacidade.

    E assim, grande parte da doutrina nacional

    defende esse entendimento. Na coliso de princpios

    constitucionais, prevalecer aquele de maior valor,

    especialmente quando beneficiar o acusado, ou

    melhor, a sua liberdade.

    Como exemplo, o ru que gravou,

    clandestinamente, sua conversa com outro interlocutor

    poder usar tal prova para atingir sua absolvio,

    sendo impossibilitado empregar tal dilogo para

    condenar outrem. Assim, leciona o mestre que a

    gravao poder ser usada apenas pelo interlocutor, e

    to somente em seu benefcio, compreendendo-se

    inadmissvel a gravao clandestina servir de prova

    contra outra pessoa, pois ter uso apenas para

    absolver, jamais para condenar (GOMES, 1997).

    3.3. Direito intimidade

    Previsto no artigo 12 da Declarao da

    Organizao das Naes Unidas de 1948, o direito

    intimidade atualmente encontra-se moldado em

    preceitos constitucionais de diversas naes,

    incluindo o Brasil. So inviolveis a intimidade, a

    vida privada, a honra e a imagem das pessoas (...),

    o que diz a Constituio Federal contempornea,

    em seu art. 5, inciso X.

    Considerado por vrios juristas como

    integrante do princpio da personalidade, juntamente

    com os direitos autoral, imagem, defesa do nome

    e inviolabilidade do domiclio, o direito

    intimidade evoluiu muito nos ltimos sculos.

    O que, no passado, era praticamente

    inexistente, diante da realidade vivida pela

    populao, que dificilmente via sua intimidade

    violada pelo fato de residir em comunidades

    pequenas e isoladas, hoje passou a ter enorme

    importncia perante a crescente evoluo humana

    (CARVALHO, 2009).

    Para esse autor com o advento das

    constantes revolues industriais, a tecnologia e a

    informtica, o direito intimidade deparou-se com

    frequentes violaes e limitaes, sempre presentes,

    independentemente das aes legislativas e

    judiciais. Da mesma forma, o direito vida privada

    tambm sofre, a cada dia mais, com as constantes

    usurpaes decorrentes das aes humanas diretas

    (investigaes particulares) e indiretas

    (averiguaes policiais).

    4.0. Invaso de privacidade.

    Para Vianna (2007, p. 73), a privacidade de

    um indivduo implica a tutela de uma trade de

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    N. F. Azara Junior & L. H. B. A. Silva Valor probatrio das gravaes ambientais

    Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 2, Abr. 2012

    interesses jurdicos bastante definidos: o direito de no

    ser monitorado, o direito de no ser registrado e o

    direito de no ser reconhecido. Logo, o cidado tem

    a garantia de no ser visto, ouvido, ou ter imagens ou

    conversas suas gravadas, registradas ou divulgadas

    em qualquer meio de comunicao.

    O direito vida privada nada mais do que

    um poder dado ao particular para selecionar quais

    de seus atributos sero revelados ao pblico. Trata-

    se, tambm, de direito no intromisso, seja do

    Estado ou de qualquer indivduo (indireta e direta),

    na esfera ntima de uma pessoa (VERGUEIRO,

    2005).

    nesta linha de pensamento que o sistema

    jurdico brasileiro previu a privacidade como direito

    e garantia fundamental, em suas inmeras espcies.

    Tm-se as privacidades poltica, do consumidor,

    mdica, privada, de informao (proteo de

    dados), corporal, de comunicao (inviolabilidade

    de correspondncia e telecomunicao), territorial

    (inviolabilidade do domiclio) etc.

    No entanto, a prpria Lei que veio proteger

    a privacidade tambm trouxe hipteses de violao

    mesma, permitindo, por exemplo, que segredos

    fossem revelados sem a anuncia do particular, que

    escutas telefnicas fossem implantadas sem o

    conhecimento do interlocutor, e at que um

    domiclio fosse invadido sem a liberao de seu

    morador, desde que preenchidos os requisitos por

    ela indicados.

    Corroborando a esta ideia, as leis brasileiras

    demonstraram, atravs da Emenda Constitucional

    45, de 30 de dezembro de 2004, que o direito

    privacidade individual tem menos fora diante do

    direito do povo publicidade dos atos processuais.

    Logo, a alterao legislativa sobreps o direito

    informao ao direito intimidade das partes

    (VERGUEIRO, 2005).

    Nesta linha de raciocnio, conclui-se que no

    se deve considerar o direito individual privacidade

    como superior ao direito/dever do Estado de aplicar

    sanes aos que descumprem com a Lei.

    Destarte, justifica-se a possibilidade de

    invaso da privacidade de um particular, por parte

    do judicirio, representado pelo magistrado, que d

    a ordem, nos termos da lei, e pela polcia civil, que

    realiza as investigaes cabveis.

    Portanto, no resta dvida com relao

    capacidade do Estado de invadir a privacidade de

    seus cidados. Entretanto, o que justifica uma

    pessoa comum fazer o mesmo com o prximo?

    Seria correto permitir que algum faa uso de uma

    gravao, por ele feita durante um dilogo, contra o

    outro interlocutor? E, o que diferencia a gravao

    da interceptao e escuta?

    5.0. Gravao, interceptao e escuta

    Quando se fala em gravao, interceptao e

    escuta, comum ter uma ideia de semelhana entre

    os seus significados, pois geralmente so palavras

    utilizadas como sinnimos. No entanto, isso no

    verdade.

    Rabonese (1998) explica que, na gravao, o

    registro da conversa feita por um dos seus

    interlocutores via aparelho eletrnico ou telefnico.

    J na interceptao, h sempre interveno de

    terceiro na conversa mantida entre pessoas alheias.

    Medeiros-pcRealce

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    N. F. Azara Junior & L. H. B. A. Silva Valor probatrio das gravaes ambientais

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    Adotando-se a conceituao de Rabonese

    (1998), comparada de Gomes (2009), possvel

    obter dois instantes na diferenciao dos significados.

    Em primeiro lugar, em se considerando o

    uso de aparelho de telecomunicao como telefone,

    celular ou assemelhado, define-se interceptao

    telefnica stricto sensu como sendo o registro de

    conversa por terceiro, sem o conhecimento de

    qualquer dos falantes. Agora, se o dilogo

    registrado por terceiro, mas com a cincia de um

    dos participantes, tem-se a escuta telefnica. Por

    ltimo, ocorre a gravao telefnica (ou gravao

    clandestina) quando um dos interlocutores realiza o

    registro sem que o outro saiba.

    Por outro lado, levando-se em conta o uso

    de aparelho eletrnico de gravao, alheio

    telecomunicao (p. ex. gravador, mp3/mp4 player)

    tem-se que, na interceptao ambiental o registro

    realizado por terceiro sem a cincia dos envolvidos

    na conversa. Havendo conhecimento de um dos

    participantes do dilogo de que este est sendo

    gravado por terceiro, tem-se a escuta ambiental. Por

    ltimo, a gravao ambiental a captao da

    comunicao por um dos dialogadores, sem a

    cincia do outro (GOMES, 2009).

    Melhor explanando, na interceptao

    prevalece o total desconhecimento dos participantes

    da conversa de que ela est sendo registrada por um

    terceiro. Enquanto isso, na escuta, apesar de ser o

    registro feito por pessoa alheia ao dilogo, h o

    importante aspecto de um dos interlocutores saber

    que tal prtica est ocorrendo. Enfim, se o registro

    realizado por um dos comunicadores, sem que o

    outro (ou outros) tenha cincia, tem-se a gravao.

    Em qualquer dos casos, haver invaso de

    privacidade, mas somente ser caracterizada infrao

    penal a interceptao stricto sensu, quando no

    respeitados os requisitos legais. As outras hipteses

    sero tpicas apenas se no houver justa causa e

    ocorrer divulgao de segredo de forma a produzir

    dano, nos termos do artigo 153 do Cdigo Penal

    (SILVA, 2001).

    6.0. Admissibilidade da gravao ambiental.

    Pela regra, inaceitvel a utilizao de

    provas obtidas por meio ilcito ou ilegtimo, bem

    como as delas derivadas. Independentemente se a

    violao material ou procedimental, o que

    prevalece sua inaplicabilidade em processo

    judicial, por ferir garantias fundamentais do

    cidado. Entretanto, tal norma constitucional e

    processual penal possui excees.

    Desta maneira, apesar de, a princpio, as

    gravaes e interceptaes no terem valor

    probatrio, podem vir a ser providas de

    admissibilidade quando preenchidos certos

    requisitos legais.

    Com relao interceptao stricto sensu,

    devem estar presentes os seguintes requisitos: (1)

    autorizao judicial originada de juzo competente;

    (2) indcios razoveis de autoria ou participao em

    infrao penal; (3) impossibilidade de obteno da

    prova por outro meio legal disponvel; e (4) fato

    investigado deve ser punvel com pena de recluso

    (Lei 9.296 de 24 de julho de 1996). Todavia, no se

    pode dizer o mesmo para a gravao ambiental.

    Inexiste legislao, no Brasil, que regulamente seu

    Medeiros-pcRealce

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    procedimento ou admissibilidade.

    Consequentemente, a tarefa de disciplinar esta

    matria recai jurisprudncia, a qual tem criado

    requisitos de permissividade em analogia.

    Assim, a gravao ambiental pode ser

    utilizada em processo judicial, como meio de prova,

    desde que (1) o interessado tenha tomado parte no

    dilogo, (2) haja justa causa para violar o direito

    intimidade de outro, e (3) no seja usado em

    benefcio de terceiros. Como justa causa, neste

    aspecto, entende-se a defesa de um direito

    individual que est sendo violado. o caso de

    assdio sexual ou moral sofrido pelo indivduo que

    realiza a gravao, ou o registro de ameaas para

    fins de preenchimento de uma ocorrncia policial.

    Em outros termos, a teoria da

    proporcionalidade, comentada em vrias obras

    sobre provas ilcitas. por meio dela que se

    justifica ferir um direito em detrimento de outro,

    quando prevalecer um bem maior. Logo, a

    intimidade e a privacidade do particular podero ser

    violadas, pois nenhum direito absoluto, sempre

    podendo perder espao para outros direitos e

    garantias constitucionais igualmente importantes

    (COSTA JNIOR, 1997).

    Ademais, a estas regras existe, tambm, a

    exceo pro reo. Havendo possibilidade de um

    indivduo se inocentar em processo penal, qualquer

    meio de prova permitido, no importando se houve

    algum vcio no momento de sua produo. Tanto a

    gravao ambiental, quanto qualquer outra forma de

    interceptao, gravao ou escuta, ter validade se

    estiver em jogo o direito do ru liberdade.

    Porm, estes meios probatrios devem ser

    usados com moderao, pois o entendimento da

    jurisprudncia sobre este assunto ainda novo e

    instvel, podendo ser alterado a qualquer instante,

    vez que tanto na aplicao da Lei ou dos costumes

    h justificao para qualquer pensamento. Os

    tribunais superiores so exemplos disso, haja vista

    que, apesar de o entendimento aqui descrito ser

    adotado pela maioria dos juristas, ainda no

    unanimidade.

    7.0. Proibies e permissivos.

    Ainda no existe uniformidade nas decises

    do Judicirio sobre a legalidade de utilizao da

    gravao ambiental como meio probatrio em juzo.

    No se discute a possibilidade da utilizao da

    gravao ambiental em caso de benefcio ao ru no

    processo penal, visto que tal possibilidade pode ser

    aventada mesmo nos casos da interceptao

    telefnica, que uma prova ilcita quando no

    autorizada.

    A discusso paira no tocante gravao

    ambiental ser ou no admissvel como meio

    probatrio em processo judicial para motivar

    eventual condenao. O Tribunal de Justia de

    Minas Gerais, por exemplo, entende ser ilcito o

    emprego deste meio de prova em benefcio de

    terceiros:

    AGRAVO DE INSTRUMENTO -

    GRAVAO AMBIENTAL POR UM DOS IN-

    TERLOCUTORES - APROVEITAMENTO

    PROCESSUAL POR TERCEIRO NO

    PARTICIPANTE - PROVA OBTIDA POR MEIO

    ILCITO VIOLAO INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. - Conforme mencionado no art.

    5, LXVI, da Car-ta Magna, "so inadmissveis, no

    processo, as provas obtidas por meios ilcitos". A

    Constituio veda, portanto, a utilizao processual

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    de provas engendradas com violao ao

    ordenamento jurdico, consoante propugna a teoria

    dos frutos da rvore envenenada (the fruit of

    poisonous tree). - Jurisprudncia e doutrina

    assentem ser ilcita a prova obtida

    mediante gravao ambiental ou telefnica

    realizada por aquele que no seja interlocutor, ou

    seja, emissor ou receptor do dilogo. - A parte que

    no participou da conversa entabulada a partir da

    qual se extraiu a gravao digital se equipara a

    terceiro no interlocutor, vedada a utilizao da

    prova produzida (no obstante forjada por obra de

    partcipe do dilogo), sob pena de violao ao art.

    5, X, da Constituio da Repblica. V.V.P (TJMG

    AI 1290269-90.2004.8.13.0686. Relator Des.

    Francisco Kupidlowski. Acrdo em 19/06/2008.

    Publicado em 09/08/2008.).

    Em linha de raciocnio tambm negativa, o

    posicionamento do Tribunal de Justia de Gois

    mostrou-se mais conservador ao decidir que a

    gravao ambiental realizada pela polcia, por

    ocasio do interrogatrio judicial do ru, ilcita:

    HABEAS CORPUS. TRFICO ILCITO DE

    SUBSTNCIA ENTORPECEN-TE. PRISO

    PREVENTIVA.

    GRAVAO AMBIENTAL FEITA NA

    POLCIA. ESPCIE DE INTERROGATRIO

    SUB-REPTCIO. PROVA ILCITA.

    DESENTRANHAMENTO DOS AUTOS.

    INTELIGNCIA DO ARTIGO 157 DO

    CDIGO DE PROCESSO PENAL. 1. A

    'gravao clandestina' de conversa informal do

    indiciado com policiais constitui modalidade de

    'interrogatrio' sub-reptcio e, portanto, prova

    ilcita, porquanto, alm de realizar-se sem as

    formalidades legais previstas no artigo 6, inciso

    V, do CPP, se faz sem que o indiciado seja

    advertido do seu direito ao silncio, de assento

    constitucional. 2. A prova considerada ilcita

    deve ser desentranhada dos autos, conforme

    dispe o artigo 157 do Cdigo de Processo

    Penal, com a redao que lhe foi conferida pela

    Lei 11.690/08. ORDEM CONCEDIDA (TJGO

    HC 43918-57.2010.8.09.0000. Relator Des. J.

    Paganucci Jr. Acrdo em 22/02/2011.

    Publicado no DJ 790 de 31/03/2011).

    preciso, entretanto, ressalvar a

    particularidade desta deciso onde a gravao foi

    feita pela prpria polcia. Houve vcio na obteno

    da prova por conta de os desembargadores terem

    considerado que a gravao foi feita pela polcia e

    compararam-na a um interrogatrio. Assim, diante

    da ausncia de advogado e a falta de advertir ao ru

    que este pudesse permanecer em silncio, foram

    violados diversos preceitos constitucionais,

    acarretando na invalidade da prova obtida.

    J numa deciso em matria cvel, a 5

    Cmara Cvel do Tribunal de Justia de Gois, definiu

    pela impossibilidade de admisso da gravao

    ambiental. Neste caso, diferente do tribunal de justia

    mineiro, a gravao realizada por um dos

    interlocutores foi usada em seu proveito, fato que no

    impediu a inadmissibilidade da prova colhida.

    APELAO CVEL. AO CIVIL PBLICA

    POR ATO DE IMPROBIDADE

    ADMINISTRATIVA. GRAVAO

    AMBIENTAL FEITA POR UM INTERLO-

    CUTOR. VIOLAO AOS DIREITOS

    INTIMIDADE E PRIVACIDADE. PROVA

    ILCITA. IMPROBIDADE

    ADMINISTRATIVA. DANO EFETIVO AO

    ERRIO. DESNECESSRIO. REPASSE DE

    SALRIO DE SERVIDOR PBLICO.

    UTILIZAO DE VECULO PBLICO E

    OFERECIMENTO DE CARGO PBLICO

    PARA FINS PARTICULARES.

    INADMISSVEL. ENRIQUECIMENTO

    ILCITO. VIOLAO DOS PRINCPIOS DA

    MORALIDADE, IMPESSOALIDADE E

    DEVER DE HONESTIDADE. 1- A gravao

    ambiental feita por um interlocutor sem o

    conhecimento do outro no deve ser utilizada

    como prova no processo, pois ilcita em

    decorrncia da violao aos direitos

    intimidade e privacidade do investigado. (Art.

    5, X e LVI da Constituio Federal). (...) 4-

    Apelo conhecido e provido. Sentena

    Reformada. (TJGO Apelao Cvel 151095-

    2/188. Relator Des. Geraldo Gonalves. Julgado

    em 25/02/2010. Publicado no DJ 550 de

    05/04/11).

    Posteriormente a esta deciso, o mesmo

    tribunal goiano, em sua 1 Cmara Cvel,

    reconheceu a admissibilidade, embasando-se em

    decises da esfera criminal:

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    N. F. Azara Junior & L. H. B. A. Silva Valor probatrio das gravaes ambientais

    Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 2, Abr. 2012

    APELAO CVEL. AO DE NULIDADE DE

    ATO ADMINISTRATIVO. NULI-DADE DA

    PORTARIA QUE DEU INCIO AO PROCESSO

    ADMINISTRATIVO. AUSNCIA DO

    PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS

    LEGAIS DO RELA-TRIO-DENNCIA.

    IRREGULARIDADES NA FORMAO DA

    COMISSO PROCESSANTE. CERCEAMENTO

    DE DEFESA - DEFENSORES DATIVOS

    IMPEDIDOS DE EXERCER A ADVOCACIA GRAVAO SEM AUTORIZA-O

    JUDICIAL PENA DE DEMISSO COMINADA

    SEM FUNDAMENTAO LEGAL.

    AUSNCIA DE SENTENA PENAL

    CONDENATRIA. (...) IV - A gravao ambiental

    tem sido admitida pela Suprema Corte como

    legtima desde que atendidas algumas exigncias,

    tais como ser gravao de comunicao prpria e

    no alheia, estar em jogo relevantes interesses e

    direitos da vtima como, por exemplo, em caso de

    ocorrncia de crime. Assim, presentes essas

    circunstncias, a prova aceita como vlida e

    prescindvel de autorizao judicial. (...)

    APELAO CVEL CONHECIDA E

    IMPROVIDA (TJGO Apelao Cvel 104195-

    0/188. Relator Des. Abro Rodrigues Faria. Julgado

    em 25/08/2009. Publicado no DJ 426 de

    24/09/2011).

    O Tribunal do Rio Grande do Sul, a respeito

    de um assunto bastante polmico, que a flagrncia

    de violncia praticada por empregada domstica

    contra infantes, chegou a decidir pela

    admissibilidade da gravao de ambiente.

    APELAO CRIME. PRELIMINAR.

    GRAVAES AMBIENTAIS. PROVA

    LCITA. GRAVAO DE AMBIENTE

    RESIDENCIAL FEITA PELOS

    EMPREGADORES, QUE SUSPEITAM DE

    ABUSO POR PARTE DA EMPREGADA

    DOMSTICA. A jurisprudncia dos Tribunais

    Superiores firmou entendimento de que as

    gravaes efetuadas pelas vtimas dos fatos

    tidos como criminosos prova lcita, que pode

    servir de elemento probatrio para a instaurao

    de ao penal contra os agentes criminosos. No

    ocorre ilicitude na gravao ambiental feita

    pelos pais do menor a fim de verificar as

    suspeitas de maus tratos por parte da empregada

    domstica por eles contratada para auxiliar nos

    servios domsticos e para cuidar do filho de

    sete meses de idade do casal empregador. (...)

    Negado provimento (TJRS Apelao Criminal

    n 70035930668, Relator Des. Marco Antnio

    Ribeiro de Oliveira, Julgado em 25/08/2010.

    Publicado em 22/09/2010).

    Os julgadores gachos inovaram, neste

    acrdo, criando uma ressalva ao conceito de

    gravao ambiental, admitindo a filmagem como

    meio cabal probatrio, apesar de realizado na

    ausncia dos responsveis pelo registro. Priorizaram

    a dignidade da criana sobre a intimidade da

    empregada domstica, por considerarem-na bem

    maior.

    Com relao aos tribunais superiores, tem-se

    que o STJ legalizou a gravao ambiental, desde que

    se trate de (...) registro de comunicao prpria (...)

    em que h apenas os interlocutores, e cuja causa

    motivadora no foi (...) com o intuito de violar a

    intimidade (...) mas com o fito de demonstrar a

    coao que vinha sofrendo (...).

    PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL.

    COAO NO CURSO DO PROCESSO (ART.

    344, CP). CONSUMAO. CRIME FORMAL.

    GRAVAO AMBIENTAL REALIZADA POR

    UM DOS INTERLOCUTORES. LICITUDE DA

    PROVA. AUTORIA E MATERIALIDADE

    COMPROVADAS. SUBSTITUIO DA

    PENA. IMPOSSIBILIDADE. ACRDO

    RECORRIDO EM HARMONIA COM A

    JURISPRUDNCIA DOS TRIBUNAIS

    SUPERIORES. (...) 4. De outra parte, em regra, a

    violao do sigilo das comunicaes, sem

    autorizao dos interlocutores, proibida, pois a

    Constituio Federal assegura o respeito

    intimidade e vida privada das pessoas, bem como

    o sigilo da correspondncia e das comunicaes

    telegrficas e telefnicas (art. 5, XII, da CF 88). 5.

    Entretanto, no se trata nos autos de gravao da

    conversa alheia (interceptao), mas de registro de

    comunicao prpria, ou seja, em que h apenas os

    interlocutores e a captao feita por um deles

    sem o conhecimento da outra parte. 6. No caso, a

    gravao ambiental efetuada pela corr foi obtida

    no com o intuito de violar a intimidade de

    qualquer pessoa, mas com o fito de demonstrar a

    coao que vinha sofrendo por parte da ora

    recorrente, que a teria obrigado a prestar

    declaraes falsas em juzo, sob pena de demisso.

    Medeiros-pcRealce

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    N. F. Azara Junior & L. H. B. A. Silva Valor probatrio das gravaes ambientais

    Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 2, Abr. 2012

    7. Por no se enquadrar nas hipteses de proteo

    constitucional do sigilo das comunicaes,

    tampouco estar disciplinada no campo

    infraconstitucional, pela Lei n 9.296/96, a

    gravao unilateral feita por um dos interlocutores

    com o desconhecimento do outro deve ser

    admitida como prova, em face do princpio da

    proporcionalidade. (...) 13. Recurso especial a que

    se nega provimento (STJ RESP 1113734-SP.

    Relator Ministro OG Fernandes. Julgado em

    28/09/10. Publicado no DJe de 06/12/10).

    Aufere-se, ento, que o emrito julgador

    elevou a importncia da legtima defesa sobre o

    direito privacidade, ou seja, deixou implcito no

    ser, tal meio de prova, ilcito em todas as ocasies,

    devendo-se ater causa motivadora do registro, que

    deve ser maior que a violao da garantia

    constitucional de intimidade.

    Com relao ao STF, o seguinte j foi

    decidido:

    AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE

    INSTRUMENTO. GRAVAO AMBIENTAL

    FEITA POR UM INTERLOCUTOR SEM

    CONHECIMENTO DOS OUTROS:

    CONSTITUCIONALIDADE. AUSENTE

    CAUSA LEGAL DE SIGILO DO CONTEDO

    DO DILOGO. PRECEDENTES. 1. A gravao

    ambiental meramente clandestina, realizada por

    um dos interlocutores, no se confunde com a

    interceptao, objeto clusula constitucional de

    reserva de jurisdio. 2. lcita a prova consistente

    em gravao de conversa telefnica realizada por

    um dos interlocutores, sem conhecimento do

    outro, se no h causa legal especfica de sigilo

    nem de reserva da conversao. Precedentes. 3.

    Agravo regimental desprovido (STF AI 560223

    AgR / SP. Relator Min. Joaquim Barbosa. Julgado

    em 12/04/2011. Publicado no DJe 079 de

    29/04/2011).

    Assim, entende o Supremo ser admissvel

    como prova qualquer gravao ambiental, desde

    que no viole sigilo ou reserva legal. Neste acrdo,

    o entendimento uniforme foi de que (...) o fato de a

    conversa ter sido gravada no interior de escritrio

    de advocacia no tem relevncia, pois o contedo

    do dilogo no guarda qualquer relao com o

    exerccio da profisso (...).

    Por ltimo, convm destacar a seguinte

    deciso do Supremo Tribunal Federal, que

    reconheceu repercusso geral para o caso de

    admissibilidade da gravao ambiental em Ao

    Penal:

    AO PENAL. Prova. Gravao ambiental.

    Realizao por um dos interlocutores sem

    conhecimento do outro. Validade. Jurisprudncia

    reafirmada. Repercusso geral reconhecida.

    Recurso extraordinrio provido. Aplicao do art.

    543-B, 3, do CPC. lcita a prova consistente

    em gravao ambiental realizada por um dos

    interlocutores sem conhecimento do outro.

    Deciso: O Tribunal, por maioria, vencido o

    Senhor Ministro Marco Aurlio, reconheceu a

    existncia de repercusso geral, reafirmou a

    jurisprudncia da Corte acerca da admissibilidade

    do uso, como meio de prova, de gravao

    ambiental realizada por um dos interlocutores e

    deu provimento ao recurso da Defensoria Pblica,

    para anular o processo desde o indeferimento da

    prova admissvel e ora admitida, nos termos do

    voto do Relator (STF RE 583937 OO-RG / RJ.

    Julgado em 19/11/2009. Publicado no DJe 237 de

    18/12/2009).

    Diante das posies jurisprudenciais, aufere-

    se que a gravao ambiental pode ser usada como

    meio de prova em processo judicial, desde que

    exista justa causa que possibilite ferir os princpios

    da privacidade e intimidade.

    Neste sentido, vital que se fundamente no

    princpio da proporcionalidade para justificar a leso

    dos bens jurdicos protegidos pela Constituio

    Federal. A exemplo disso, os tribunais de justia vm

    decidindo que a gravao ambiental meio de prova

    cabvel em processo criminal para inocentar ru, a fim

    de preservar-lhe a liberdade.

    Enquanto isso, nas demais reas do Direito,

    a sua aplicabilidade mais limitada e, ainda,

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    geradora de polmicas entre os tribunais. Ao passo

    que existem decises permissivas que se

    fundamentam na proporcionalidade, outras colocam

    como incabvel tal meio de prova diante da violao

    dos princpios constitucionais.

    Todavia, infere-se das decises do STF que,

    no estando presentes quaisquer clusulas legais de

    sigilo ou reserva de informao, cabvel a

    gravao clandestina, com fora de prova lcita em

    processo judicial, desde que esteja presente a justa

    causa para seu registro, como, por exemplo, a

    defesa de algum direito violado do responsvel pela

    gravao.

    A gravao de conversa entre interlocutores no

    constitui prova ilcita; esse entendimento

    majoritrio tem foro no s entre os doutrinadores

    (Ada Pelegrini Grinover, Antnio Scarance

    Fernandes, Nelson Nery Jnior, entre outros)

    como tambm em nossos Tribunais Superiores

    (CASTRO, 2010, p. 137).

    Entretanto, a abordagem da admissibilidade

    bastante vaga pelo doutrinador, sendo que, no

    prprio acrdo citado em sua obra, existe meno

    ao princpio da proporcionalidade, que acaba por

    impedir a referida regra de legalidade da gravao

    ambiental por ele alegada, impondo-a condies de

    admissibilidade.

    Castro (2010) comenta, ainda, que Luiz

    Flvio Gomes e Celso Damando defendem (...)

    que o ato de gravar, to somente gravar, no

    configura uma violao intimidade alheia (...).

    Muito lgico o seu raciocnio, mas deixa de abordar

    o aspecto mais importante, que a utilizao desta

    gravao para fundamentar uma ao judicial.

    8.0. Consideraes gerais

    Abordada com mais importncia, a

    interceptao telefnica stricto sensu a muito

    comentada pelos doutrinadores brasileiros, restando

    esquecidas as figuras da gravao e escuta.

    Logicamente, ante o maior carter de

    privacidade que envolve uma conversa via telefone,

    e face aparente invaso praticada por terceiro em

    conversa alheia, h de se compreender que

    houvesse mxima preocupao do legislador em

    proteg-la, criando dispositivos constitucionais e

    legais para tutel-la, olvidando-se das demais

    figuras igualmente importantes.

    Ento, surge o impasse de ter que mensurar

    a capacidade probatria em juzo das escutas e

    gravaes, sabendo-se que a sua produo viola

    princpios constitucionais, mas que, sem estes

    meios probatrios, direitos fossem lesados.

    Partindo deste aspecto parte da doutrina se

    disps em separar os conceitos de interceptao,

    gravao e escuta, bem como oferecer uma opinio

    a respeito de sua validade probatria.

    Obviamente, para os doutrinadores, a

    interceptao somente ter fora de prova lcita se

    preenchidos os requisitos legais (Lei 9.296 de

    1996). Enquanto isso, a gravao seria uma prova

    sempre legal, pois a prpria pessoa que participou

    do dilogo fez o registro, no havendo qualquer

    invaso de privacidade.

    Todavia, este pensamento mostrou-se

    fragilizado, especialmente porque quando se trata

    dos princpios da privacidade e intimidade, no h

    diferena se a violao deles no mbito telefnico

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    ou pessoal.

    Melhor explicando, no importa se um

    terceiro est registrando o dilogo, ou se o registro

    feito por um dos interlocutores. O que prevalece a

    quebra das garantias fundamentais de intimidade e

    privacidade.

    Inmeros aspectos devem ser analisados.

    Isso foi demonstrado neste trabalho, nas vrias

    jurisprudncias citadas. A premissa aplicar o

    princpio neoconstitucional da proporcionalidade.

    Com ele, o Judicirio pode estudar o caso em

    concreto e dizer se, naquela situao, o direito

    privacidade ou intimidade foi violado em

    detrimento de um bem maior.

    Portanto, colocam-se, em cada lado da

    balana, os direitos violados da vtima e do ru,

    pesando-os, de forma a desvendar qual prevalecer.

    Nada mais do que a justa causa tanto aludida nos

    acrdos citados.

    Todavia, enquanto no houver reforo

    legislativo delimitando a matria, no ser possvel

    obter segurana jurdica. Apesar de reiteradas vezes

    ter sido comentado que a aplicao da proporo

    entre os direitos violados a sada lgica mais

    adotada, ela no a nica soluo. Os juzes tm

    livre convico. Podem decidir conforme desejam,

    desde que no ofendam a Lei ou as provas

    apresentadas e assim o faam de forma

    fundamentada (CF, art. 93, IX). Diante da

    imprevisibilidade legislativa, nada os impede de

    definir pela inadmissibilidade da gravao

    ambiental por violar os direitos constitucionais

    privacidade e intimidade.

    9.0. Referncia Bibliogrfica

    AVOLIO, Luiz Francisco Torquato. Provas

    ilcitas: interceptaes telefnicas, ambientais e

    gravaes clandestinas. 3 ed. So Paulo: RT, 2003.

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    1946. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/

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    BRASIL. Constituio (1967). Constituio da

    Repblica Federativa do Brasil de 1967. Disponvel

    em

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/

    constituio 67.htm. Acesso em 20 nov. 2011.

    BRASIL. Constituio (1967). Emenda

    constitucional n 1, de 17 de outubro de 1969.

    Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil

    _03/ constituicao/ emendas/emc_ anterior1988/

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    BRASIL. Constituio (1967). Emenda

    constitucional n 11, de 13 de outubro de 1978.

    Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_

    03/ constituicao/ emendas/emc _anterior1988/emc

    11-78.htm. Acesso em 20 nov. 2011.

    BRASIL. Constituio (1988). Constituio da

    Repblica Federativa do Brasil: promulgada em 05

    de outubro de 1988. Braslia, DF: Senado, 1988. p.

    i.

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    de 1941. Cdigo de Processo Penal. Disponvel

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    lei/Del3689.htm. Acesso em 12 ago. 2011.

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    Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_

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    BRASIL. Tribunal de Justia de Gois. Apelao

    Cvel n 151095-2/188. Goinia, GO: 05 de abril de

    2011. s.p.

    BRASIL. Tribunal de Justia de Gois. Apelao

    Cvel n 104195-0/188. Goinia, GO: 24 de

    setembro de 2011. s.p.

    BRASIL. Tribunal de Justia de Gois. Habeas

    Corpus 43918-57.2010.8.09.0000. Goinia, GO: 31

    de maro de 2011. s.p.

    BRASIL. Tribunal de Justia de Minas Gerais.

    Agravo de Instrumento 1290269-90.2004.8.13.

    0686. Belo Horizonte, MG: 09 de agosto de 2008.

    s.p.

    BRASIL. Tribunal de Justia do Rio Grande do

    Sul. Apelao Criminal n 70035930668. Porto

    Alegre, RS: 22 de setembro de 2010. s.p.

    BRASIL. Superior Tribunal de Justia. Recurso

    Especial n 1113734. So Paulo. Braslia, DF: 06 de

    dezembro de 2010. s.p.

    BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de

    Instrumento n 560223. So Paulo. Braslia, DF: 29

    de abril de 2011. s.p.

    BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso

    Especial n 583937. Rio de Janeiro. Braslia, DF: 18

    de dezembro de 2009. s.p.

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