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PROVISÃO PARA A CRIANÇA NA SAÚDE E NA CRISE (1962)

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PROVISÃO PARA A CRIANÇA NA SAÚDE E NA CRISE

(1962)

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•Interesse no desenvolvimento emocional da criança e no estabelecimento das bases de uma vida de saúde mental;

•Para garantir o desenvolvimento emocional se faz necessária a discussão sobre duas temáticas centrais:

ambiente facilitador;mãe suficientemente boa;

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Ambiente Facilitador• Prover a criança é prover um ambiente que facilite a

saúde mental individual e o desenvolvimento emocional. Mesmo o cuidado físico é afetado pela capacidade das crianças ou pais de recebê-lo;

• Para que a criança possa se desenvolver, se faz necessário o estabelecimento de um ambiente que possibilite o amadurecimento emocional;

• a provisão ambiental suficientemente boa tende a prevenir a doença esquizofrênica ou psicótica mas, apesar do maior cuidado a criança ainda está sujeita aos distúrbios associados com os conflitos originados da vida instintiva que se manifestam como ansiedades ou defesas contra a ansiedade;

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• É a tendência inata no sentido da integração e do crescimento que produz a saúde e não a provisão ambiental. Ainda assim é necessária provisão suficientemente boa, de forma absoluta no início e de forma relativa em estágios posteriores;

• a provisão facilita a tendência inata da criança de habitar o corpo e de apreciar as funções dele, de aceitar as limitações que a pele acarreta separando o eu do não eu;

• O fornecimento de um ambiente suficientemente bom na fase mais primitiva capacita o bebê a começar a existir, a ter experiências, a construir um ego pessoal, a dominar instintos e a defrontar-se com todas às dificuldades inerentes à vida;

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Mãe suficientemente boa• para prover tal ambiente a mãe, o pai ou mesmo

um cuidador não necessitam de uma compreensão intelectual das necessidades do lactente para satisfazê-los;

1. Preocupação materna primária:• as mães que se encontram suficientemente bem

para se entregarem à maternidade se tornam identificadas com os seus bebês, partindo de uma forte identificação no período que circunda a gravidez, diminuindo gradativamente conforme o bebê vai necessitando menos da mãe;

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• trata-se de um estado psicológico especial vivido pela mãe de sensibilidade exarcebada. É a exclusão temporária de quaisquer outros interesses;

• É esta identificação que permite com que a mãe saiba mais ou menos do que seu bebê precisa naquele momento: ser segurado no colo, alimentado, mudado de lado, deitado, levantado, acariciado;

• desta maneira a mãe cria um ambiente suficientemente bom que possibilita ao bebê alcançar a cada etapa, as satisfações, os conflitos e as ansiedades pertinentes do mesmo;

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• a emergência deste estado materno possibilita que as tendências ao desenvolvimento comecem a desdobrar-se e para que o bebê comece a experimentar movimentos espontâneos e se torne dono destas sensações correspondentes a essa etapa inicial da vida;

• As falhas da mãe não são sentidas enquanto falhas próprias, mas sim enquanto ameaças à existência pessoal do eu. Desta maneira, a mãe que falha não é vista como frustrante;

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• A constituição inicial do ego é silenciosa. A primeira organização do ego deriva da experiência de ameaças de aniquilação que não chegam a se cumprir e das quais o bebê se recupera. A partir destas experiências de recuperação o ego vai desenvolvendo a capacidade de suportar frustrações;

• A base para o estabelecimento do ego é “continuar a ser” não interrompido por reações de intrusão, o que é facilitado pelo estabelecimento deste estágio materno;

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2. A importância da mãe após o estado de preocupação materna primária:

• Continua a ser central, mas já não precisa ser tão intenso;

• Para oferecer então este ambiente facilitador é preciso saber que:

A continuidade do ambiente humano auxilia na integração da personalidade do indivíduo;

A confiança se faz necessária, é ela que torna o comportamento da mãe previsível;

A adaptação gradativa às necessidades cambiantes da criança se faz necessária;

Prover os impulsos criativos da criança;

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• a mãe sabe que deve se manter vivaz e fazer o bebê sentir e ouvir sua vivacidade. Saber que precisa adiar seus próprios impulsos até a época em que a criança possa utilizar sua existência separada de modo positivo. Sabe que não deve deixar a criança só por mais minutos, horas ou dias acima da capacidade da mesma de conservar a lembrança dela vivaz e amiga;

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• Verifica-se que o aspecto principal é que a mãe sabe o que o lactante necessita através de sua identificação com ele. Do mesmo modo, não temos que planejar os detalhes do que prover para as crianças sob o nosso cuidado. Devemos nos organizar de modo que em cada caso haverá alguém com tempo e inclinação para saber do que a criança precisa;

• A mãe suficientemente boa é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente segundo a crescente capacidade do bebê em tolerar frustrações;

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o processo maturacional• O primeiro princípio é que saúde é maturidade: o

desenvolvimento emocional ocorre na criança se se provêm condições suficientemente boas, vindo o impulso para o desenvolvimento de dentro da própria criança;

• As forças no sentido da vida, da integração da personalidade e da independência são tremendamente fortes: com condições suficientemente boas a criança progride; quando as condições não são suficientemente boas essas forças ficam contidas dentro da criança e de uma forma ou de outra tendem a destrui-la;

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•A maturidade psíquica envolve também a riqueza da realidade psíquica interna: riqueza de qualidade, ainda mais do que saúde, é o que fica no topo da escala do progresso humano;

•A maturidade consiste também em uma progressão da dependência para a independência: é preciso examinar as necessidades da criança que vão se modificando da dependência para a independência

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•Graus de dependência:Dependência extrema: aqui as condições

precisam ser suficientemente boas para que o bebê dê início ao seu desenvolvimento inato; (falha ambiental: deficiência mental não orgânica, esquizofrenia infantil)

Dependência: as falhas das condições traumatizam de fato, mas já existe uma pessoa para ser traumatizada; (predisposição a distúrbios afetivos, tendência anti-social)

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Mesclas de dependência-independência: a criança faz experiências de independência, mas ainda precisa algumas vezes reexperimentar a dependência; (dependência patológica)

Independência – dependência: (arrogância, surtos de violência)

Independência: uma capacidade por parte da criança de cuidar de si mesma (não necessariamente prejudicial)

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Desenvolvimento emocional primitivo• 5 ou 6 meses: O bebê assume que sua mãe

também tem um interior que pode ser rico ou pobre, bom ou mau, organizado ou caótico. O bebê começa a dar importância à mãe e a seus estados de espírito: relacionamento entre pessoas totais;

• Alguma coisa importa antes deste momento?Três processos ocorrem muito cedo: integração,

personalização e realização (apreciação do tempo, do especo e de outros aspectos da realidade)

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Teoria do desenvolvimento emocional: estágios essenciais

1) desenvolvimentos em termos de vida instintiva: fase oral a genital;

2) desenvolvimento em termos de estrutura da personalidade (ego): integração, inserção, desenvolvimento da capacidade de estabelecer relações com os objetos, tendências no sentido da independência, capacidade para sentimentos de preocupação e culpa, capacidade de amar, capacidade de sentir felicidade em momentos apropriados;

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integração•Tudo aquilo que tendemos a considerar óbvio

tem um começo e uma condição a partir das quais iniciou-se o seu desenvolvimento;

•Existe portanto uma não-integração primária da personalidade;

•Este estado não integrado primário fornece a base para a desintegração: o atraso ou falha na integração primária predispõe à desintegração quando a regressão se dá ou quando fracassa algum outro tipo de defesa

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• A integração começa imediatamente após o início da vida;

• O bebê precisa ser conhecido, ser integrado por alguém. O bebê que não teve uma única pessoa que lhe juntasse os pedaços começa com desvantagem a sua tarefa de autointegrar-se de uma forma confiante

• A tendência a integrar-se é ajudada por dois conjuntos de experiências: 1) cuidados básicos e nominação 2) agudas experiências instintivas que tendem a aglutinar a experiência para dentro

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• Existem alguns períodos da vida do bebê que este não se importa em ser uma porção de pedacinhos ou um único ser, desde que de tempos em tempos ele se torne uno e sinta alguma coisa;

• Desintegração x não-integração: a desintegração é assustadora mas a não-integração não é;

• Somente gradualmente o ambiente, ou seja, os pedaços de cuidados, dos rostos vistos, sons ouvidos e cheiros cheirados são transformados em um único ser: a mãe;

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personalização• Além da integração, também é importante o sentimento

de estar dentro do próprio corpo;• Essa noção de personalização é construída a partir da

experiência instintiva e da experiência de estar sendo cuidado;

• Dissociação: O problema da não-integração acarreta o fenômeno da dissociação

• O bebê não sente o mesmo em seus estados de quietude ou agressividade

• A dissociação é um mecanismo de defesa extremamente freqüente. Na infância a dissociação surge em fenômenos tais como o sonambulismo, a incontinência fecal;

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Adaptações à realidade• Adaptações à realidade:é permitida pelo fenômeno da

integração• A mãe tolerante e compreensiva, produz uma situação que

pode resultar no primeiro vínculo estabelecido pelo bebê: o vínculo com o seio materno;

• O bebê vem ao seio, enquanto faminto, pronto para alucinar alguma coisa que pode ser atacada. Nesse momento aparece o bico real e ele pode sentir que este bico era exatamente o que ele estava alucinando. Assim, suas idéias são enriquecidas por detalhes reais da visão, sensação, cheiro, conseguindo construir a capacidade de conjurar aquilo que está de fato ao alcance – A MÃE DEVE CONTINUAR FORNECENDO ESTE TIPO DE EXPERIÊNCIA

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•Presença vital das mães nos primeiros meses: ela preciso protegê-lo das complicações que ele ainda não pode entender, fornecendo acesso ao bebê a um mundo simplificado

•A garantia de um contato com a realidade externa depende de alguém, que desempenhe um trabalho permanente de trazer o mundo em um formato compreensível e de um modo limitado. Por isso não é possível o bebê existir sozinho, física ou psicologicamente

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A agressividade primitiva infantil• Ausência primitiva de compaixão: envolve dois

tipos de relacionamento mais primitivo entre o bebê e sua mãe

• Existência de um relacionamento objetal inicial impiedoso, ausente de compaixão

• A criança normal tem prazer na relação impiedosa com a mãe, geralmente em meio à brincadeira;

• ela precisa da mãe porque esta é a única que se pode esperar que tolere sua ausência de compaixão na brincadeira;

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• Quando a criança atinge o estágio de concernimento, ele não pode mais esquecer as conseqüências de seus impulsos;

• A retaliação primitiva; é a forma mais primitiva de relação objetal em que o objeto agem de modo retaliatório. Neste caso, o objeto e o ambiente fazem parte do eu tanto quanto os instintos que o desejaram;

• O objeto de amor primitivo sofre também quando é amado, quando a criança sente prazer, e não só quando é odiado;