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PSC_resumo 1 I. ESTUDAR OS PROBLEMAS SOCIAIS Dos Problemas sociais aos problemas sociológicos O que são problemas sociais 1. Rubington e Weinberg – um problema social é uma alegada situação incompatível com os valores de um significativo número de pessoas, que concordam ser necessário agir para a alterar. 2. Spector e Kitsuse – um problema social é constituído pelo conjunto das acções que indivíduos ou grupos levam a cabo ao prosseguirem reivindicações relativamente a determinadas condições putativas. A primeira definição centra-se na situação que é considerada problema, a segunda definição privilegia o processo pelo qual uma situação é considerada como problema. A definição consensual é difícil porque depende da perspectiva (dos sociólogos) que se adopta Os problemas sociais, imbuídos de um significado social (porque se definem em função de um conjunto de valores sociais), ao passarem pelo crivo do método científico, adquirem um significado sociológico, isto é, reflectem valores sociológicos relativos às perspectivas teóricas e metodológicas seguidas. Para que um problema social possa ser considerado problema sociológico deve possuir as condições de regularidade, uniformidade, impessoalidade e repetição. A problematização sociológica dos problemas sociais implica mesmo a des-construção destes, o desmantelar do significado social de maneira a criar um significado de acordo com o discurso científico (Quivy, Campenhoudt 1992). Os investigadores sociais debruçam-se sobre uma realidade autoconstruída e encontram representações sociais que moldam a realidade e condicionam os próprios investigadores. Transformação de problema social em problema sociológico aludindo ao s fenómenos da juventude e da velhice. A juventude – é problematizada relativamente a aspectos variados como a inserção profissional, a emancipação adulta, a toxicodependência, a crise dos valores tradicionais. Mas, problematizar sociologicamente a juventude será questionar se os jovens sentem este problemas. Será questionar a definição de jovem, quais as soluções que a sociedade preconiza para os problemas da juventude e quais as suas consequências. A velhice – constitui um problema para algumas sociedades e não para outras. Foi com a industrialização, a urbanização e o envelhecimento demográfico que começaram a criar-se as condições para a definição da velhice enquanto problema social a ser solucionado. Problematizar a velhice enquanto problema social será questionar “que transformações ocorreram nas famílias e na sociedade portuguesa que possam explicar a emergência do problema social quais os efeitos sociais da institucionalização de espaços e práticas especificamente orientados para as gerações mais velhas.

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I. ESTUDAR OS PROBLEMAS SOCIAIS Dos Problemas sociais aos problemas sociológicos O que são problemas sociais 1. Rubington e Weinberg – um problema social é uma alegada situação incompatível com os

valores de um significativo número de pessoas, que concordam ser necessário agir para a alterar. 2. Spector e Kitsuse – um problema social é constituído pelo conjunto das acções que indivíduos ou

grupos levam a cabo ao prosseguirem reivindicações relativamente a determinadas condições putativas.

A primeira definição centra-se na situação que é considerada problema, a segunda definição privilegia o processo pelo qual uma situação é considerada como problema. A definição consensual é difícil porque depende da perspectiva (dos sociólogos) que se adopta Os problemas sociais, imbuídos de um significado social (porque se definem em função de um conjunto de valores sociais), ao passarem pelo crivo do método científico, adquirem um significado sociológico, isto é, reflectem valores sociológicos relativos às perspectivas teóricas e metodológicas seguidas. Para que um problema social possa ser considerado problema sociológico deve possuir as condições de regularidade, uniformidade, impessoalidade e repetição. A problematização sociológica dos problemas sociais implica mesmo a des-construção destes, o desmantelar do significado social de maneira a criar um significado de acordo com o discurso científico (Quivy, Campenhoudt 1992). Os investigadores sociais debruçam-se sobre uma realidade autoconstruída e encontram representações sociais que moldam a realidade e condicionam os próprios investigadores. Transformação de problema social em problema sociológico aludindo ao s fenómenos da juventude e da velhice. A juventude – é problematizada relativamente a aspectos variados como a inserção profissional, a emancipação adulta, a toxicodependência, a crise dos valores tradicionais. Mas, problematizar sociologicamente a juventude será questionar se os jovens sentem este problemas. Será questionar a definição de jovem, quais as soluções que a sociedade preconiza para os problemas da juventude e quais as suas consequências. A velhice – constitui um problema para algumas sociedades e não para outras. Foi com a industrialização, a urbanização e o envelhecimento demográfico que começaram a criar-se as condições para a definição da velhice enquanto problema social a ser solucionado. Problematizar a velhice enquanto problema social será questionar “que transformações ocorreram nas famílias e na sociedade portuguesa que possam explicar a emergência do problema social quais os efeitos sociais da institucionalização de espaços e práticas especificamente orientados para as gerações mais velhas.

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A questão do positivismo versus relativismo O conhecimento sociológico pode ser situado num contínuo epistemológico que vai do Positivismo ao Relativismo. A sociologia positivista • Defende a procura de leis sociais (à semelhança das leis do mundo natural) a partir de um

método indutivo-quantitativo, e advoga uma separação absoluta entre a Ciência e a Moral, isto é, entre os factos e os valores.

• Para a ciência positivista é possível conhecer objectivamente a realidade social, uma vez que existem critérios universais do conhecimento e da verdade. Estuda situações objectivas, que são definidas como problemas em razão de características que lhe são próprias. Daí a necessidade de se conhecerem as suas causas e de se chegar à elaboração das leis que regem o fenómeno.

Posição relativista • Não existe nenhum critério universal para o conhecimento e para a verdade. Todos os critérios

utilizados serão sempre internos ao sistema cogniscente e, como tal, será relativo e não universais.

• A definição é sempre relativa, será antes de mais um rótulo colocado a determinadas situações, e não uma característica inerente à situação em si mesma.

Assim, face ao exposto o que importa estudar é a definição subjectiva dos problemas sociais. A aplicabilidade da ciência e o desenvolvimento teórico Um problema pressupõe uma solução. Durante o século XIX o desenvolvimento das ciências sociais, sociologia, esteve intimamente ligado ao estudo das preocupações humanas para as quais os actores sociais pensaram e desenvolveram soluções humanas, isto é, sociais. A percepção dos fenómenos ligados à industrialização, à urbanização e ao desenvolvimento tecnológico proporcionaram o nascimento de um novo tipo de cientistas, que deviam aplicar à realidade social o método científico, que tanto sucesso demonstrava no mundo natural. Desde o início, os sociólogos tentam equacionar o que Rubington e Weinberg denominam de mandato duplo: 1. Por um lado, dar atenção aos problemas existentes na sociedade, numa perspectiva de correcção

da realidade social, através de conhecimento empíricos adquiridos; 2. Por outro lado, desenvolver teórica e metodologicamente a sociologia enquanto ciência. A ênfase que cada sociólogo coloca num prato ou noutro da balança condiciona o modo como problematiza a sociedade e o seu trabalho como investigador. O primeiro objectivo estudam os “problemas sociais”. O segundo objectivo estudam “problemas sociológicos”.

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Hester e Eglin, consideram que o primeiro tipo de perspectiva pode ser denominado de sociologia correctiva que parte dos seguintes pressupostos: 1. Equivalência de problema social a problema sociológico 2. As questões sociológicas derivam das preocupações sociais 3. O grande objectivo do estudo sociológico é a melhoria dos problemas sociais 4. Preocupação central com as causas ou etiologia dos problemas 5. Compromisso com os princípios positivistas da ciência Para estes autores, a sociologia correctiva falha nos seus propósitos precisamente porque não separa a aplicabilidade da ciência do seu corpus teórico-metodológico, e não reconhece os viezes que tal situação origina. Ao concentrar-se em responder à questão porque é que os comportamentos acontecem, não questiona porque é que as situações são definidas como problema, aceitando as definições socialmente estabelecidas. Encara as pessoas como objectos e não como sujeitos que constróem a realidade social. Kurt Lewin defendia que uma boa teoria é sempre prática, e a prática empírica é sempre indispensável ao desenvolvimento teórico. A separação entre os dois domínios é um falso problema. Sociologia de Intervenção – é a questão da aplicabilidade da sociologia e doutras ciências sociais. A Sociologia de Intervenção não é uma especialidade ou ramo sociológico, mas sim um modo de ver o trabalho do cientista social que, em vez de isolar assepticamente o investigador do seu objecto de estudo, o desafia a ser contaminado por este, o leva intervir activamente na realidade que estuda e a não separa os papéis de investigar e de cidadão. A investigação social deve ser utilizada para melhorar a sociedade, segundo princípios humanista de solidariedade de libertação. As perspectivas de estudo dos problemas sociais As perspectivas da sociologia Positivista Patologia Social No século XIX as disciplinas como a biologia e a medicina influenciaram os sociólogos a adoptarem a analogia do organismo ao seu objecto de estudo: a sociedade. Adoptaram igualmente um modelo médico de diagnóstico e de tratamento. Os problemas sociais são entendidos como doenças ou patologias sociais. O pensamento organicista do britânico Herbert Spencer – defende que a sociedade e os seus elementos podem sofrer malformações, desajustamentos e doenças, à semelhança dos organismos vivos. Pressupõe um estado de saúde ou de normalidade do organismo, sendo que as pessoas e as situações interfiram com este estado de normal funcionamento do organismo social são assim considerados problemas sociais. Para a corrente da Patologia Social, um problema social é uma violação de expectativas morais. A condição de saúde ou normalidade do organismo é definida por valorações do Bem do do Mal. A patologia pode ser encontrada no indivíduo ou no mau funcionamento institucional. Os primeiros autores desta corrente, meados do século XIX até cerca da I Guerra Mundial enfatizaram as más formações dos indivíduos. Foi a perspectiva do Homem Delinquente, da escola positiva italiana de criminologia, donde se destacaram Cesare Lombroso, Ferri e Garófalo.

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Cesare Lombroso – as características fisiológicas particulares dos indivíduos, tamanho de maxilares, assimetria facial etc. No século XX assiste-se à anormalidade cromossomática, predisposição genética para a extroversão, comportamentos de violação de normas. Na década de 1960 entram-se nas deficiências na socialização – Aqui os problemas sociais seriam o resultado da incorporação de valores “errados” pelos indivíduos, fruto de uma “sociedade doente”. Neste sentido, a solução para os problemas sociais passaria pela educação moral da sociedade e pela incorporação de valores moralmente correctos. Vytautos Kavolis – propôs a conceptualização de patologia como sendo um comportamento destrutivo ou auto-destrutivo. Para Kavolis a definição de comportamento destrutivo seria possível em termos absolutos, isto é, igual em todas as sociedades humanas. A patologia social estudaria os comportamentos destrutivos, como patologias sociais, e igualmente as condições que causassem ou contribuíssem para a existência desse comportamento. Rosenquist – como é difícil chegar a uma definição objectivo do que é patológico a única forma de se estudarem os problemas sociais é passando ao lado do que constitui a sua condição problemática e aceitar o julgamento social como um dado. Desorganização Social Com a década de 1920, a perspectiva da desorganização social ganha claramente terreno na sociologia norte-americana. Esta nova abordagem iniciou um pensamento sociológico mais voltado para o amadurecimento e para o desenvolvimento teórico e metodológico da sociologia enquanto ciência. Os autores da patologia social trabalharam com conceptualizações e termos emprestados de outras ciências e consideraram sobretudo a aplicabilidade prática dos conhecimentos sociológicos na resolução de problemas sociais. Em contraste, os autores da perspectiva da desorganização social utilizam um conceito claramente sociológico e que apresenta um maior potencial de operacionalização do que o conceito de patologia social. Os teóricos da desorganização social foram Charles Cooley, Thomas, Znainiecki e William Ogburn. Cooley – distinção entre grupos primários e secundários. Nos grupos primários os indivíduos vivem relacionamentos face a face, mais intensos e duradouros. Nos grupos secundários as relações sociais são mais impessoais e menos frequentes. Obra de Cooley – Social Organization – definiu a desorganização social como sendo a desintegração das tradições. As regras sociais deixam de funcionar. Thomas e Znaniecki – (estudo sobre os imigrantes polacos) concepctualizaram a desorganização social como a quebra de influência das regras sociais sobre os indivíduos. Ogburn – centrou-se no conceito de desfasamento cultural. A sociedade não é um organismo mas sim um sistema composto por várias partes interdependentes. As partes do sistema cultural podem modificar-se a ritmos diferentes, produzindo um desfasamento no sistema que origina a desorganização social.

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Robert Park, Ernest Burgess e Rodrick McKenzie – estudaram a organização espacial da cidade, o fenómeno da urbanização é central para a perspectiva da desorganização social ao estar relacionado com o enfraquecimento das relações face a face e das tradições sociais. Críticas de Marshal Clinard ao conceito de desorganização social: 1. O seu poder explicativo para a sociedade em geral é reduzido, por ser um conceito demasiado

vago e subjectivo. Será mais adequado para a análise de grupos mais específicos e não para toda a sociedade.

2. Confundiu-se desorganização social com mudança social, o que desde já deixa por explicar porque é que nem todas as mudanças originam desorganização, e implica que se prove que a situação anterior era de desorganização.

3. É um conceito fortemente sujeito aos julgamentos de valor do investigador, tal como o conceito de patologia. Por um lado, tende-se a considerar desorganização numa perspectiva negativa, como se todas as situações de desorganização sejam por essência “más”.

4. Aplicou-se o conceito de desorganização social a situações que não são de desorganização, mas que, pelo contrário, traduzem outros tipos de organização, de que é um exemplo típico do que se passa nos bairros de lata.

5. O sistema social pode acolher em si focos de desorganização ou a existência de comportamentos desviados sem que tal comprometa o seu funcionamento, desde que outros objectivos do sistema estejam a ser alcançados, contrabalançando as influências desestabilizadoras que possam existir.

6. No seguimento da crítica anterior, ao constatarmos a existência de diferentes formas de organização social, não podemos inferir que tal situação seja desastrosa para a sociedade, podendo pelo contrário ser indispensável para a manutenção da coesão social.

Outra crítica é que a perspectiva da desorganização social utiliza frequentemente explicações circulares para os problemas de desorganização (Aggleton 1991) ou seja o mesmo facto é considerado indicador e causa de desorganização social (desemprego). Conflito de Valores Outro modo de ver os problemas sociais é considerá-los como o reflexo de um conflito de valores na sociedade relativamente a uma dada situação. Ou seja, confrontos de grupos sociais com interesses diferentes, em que o conflito é a dinâmica central da vida social. A patologia social e a desorganização social equacionaram os problemas sociais como condições objectivas menos-prezando a definição subjectiva que os indivíduos pudessem fazer da situação em causa. Assim o conflito de valores evidência a importância da definição subjectiva sem a qual a condição objectiva de base não seria só por si um problema social. Os teóricos desta corrente (c/ especial impacto nos ano 30 e anos 50 grande Depressão e II guerra mundial) foram Richard Fuller e Richard Myers e distinguiram três tipos de problemas que afectam as sociedades. 1. Problemas físicos 2. Problemas remediáveis 3. Problemas morais

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Problemas físicos – que não são causados pela acção humana (sismos) existe um consenso geral de que a condição objectiva é indesejável e nada se pode fazer para controlar as causas do problema. Podem surgir conflitos quando ao que fazer para tratar as suas consequências. Problemas remediáveis – (delinquência juvenil), apresentam consenso quanto à indesejabilidade da situação e quanto à necessidade de agir para a corrigir, mas criam-se conflitos no que diz respeito ao conteúdo da acção. Problemas morais – (consumo de marijuana, eutanásia) são os mais complexos, pois não existe consenso quanto à própria indesejabilidade da situação. Segundo Fuller e Myers, os problemas sociais evoluem segundo três fases: 1. A tomada de consciência do problema, quando os grupos sociais começam a encarar uma dada

situação incompatível com os seus valores, reconhecendo a necessidade de agir. 2. Fase de determinação política – um processo de clarificação dos valores e das posições em

presença e definição de propostas de acção. 3. Fase das reformas – na qual são postas em prática determinadas soluções para o problema, que

podem ser levadas a cabo por agentes públicos ou por organizações privadas. Comportamento Desviado Em meados do século XX havia cada vez maior disposição para a integração entre teoria, pesquisa empírica e aplicação prática. Esta intenção de integrar campos observou uma clara tentativa de conciliar as duas grandes escolas que dominavam o pensamento académico da sociologia norte-americana: 1. A Escola de Harvard, de ênfase teórica, 2. A Escola de Chicago, empírica e descritiva. É Harvard que Mertons irá dar um importante contributo para a perspectiva do comportamento desviado. Durkheim – o conceito de anomia significava uma ausência de normas. Em períodos de mudança rápida, as regras que normalmente limitam os indivíduos perdiam essa influencia, deixando-os à deriva e sujeitos à frustração o que podia levar ao suicídio. Merton – Conceito de anomia refere-se ao desfasamento entre metas culturais a atingir e os meios que a sociedade proporciona para o efeito. Merton referiu que a sociedade norte-americana que sobrevaloriza o valor do sucesso, deixa de lado largos segmentos da população sem os meios para o alcançar. Daqui resulta que o comportamento desviado é entendido como normal em relação a situação anormais. O comportamento desviado dependerá da assimilação das metas culturais e das normas institucionais, e da acessibilidade dos meios legitimados pela sociedade.

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Segundo Merton, o desfasamento entre meios e metas dá origem a quatro tipos de adaptação individual: 1. Invocação, na qual as metas são mantidas mas são utilizados novos meios para as alcançar

(roubar, ou subornar) 2. Ritualismo, pelo qual se renuncia às metas, mas se sobrevalorizam os meios; 3. Evasão – na qual tanto os meios como as metas são renunciados (alcoolismo) 4. Rebelião – quando se pretende instaurar novas estruturas de metas e de meios. Edwin Sutherland – teoria da associação diferencial – centrou-se no processo pelo qual se dá o comportamento desvidado. Apresenta em conjunto dom Donald Cressey nove pontos este processo de génese do comportamento criminoso: 1. O comportamento criminoso é aprendido, não é inato 2. É aprendido pela interacção com outros indivíduos num processo de comunicação. 3. A aprendizagem mais importante é feita em grupos primários. 4. A aprendizagem envolve, por um lado, as técnicas necessárias ao crime e, por outro lado, os

motivos, as racionalizações e as atitudes a ele ligadas. 5. Os motivos e os impulsos são aprendidos segundo a definição favorável ou desfavorável aos

códigos legais. 6. Um indivíduo torna-se delinquente pela razão de encontrar um excesso de definições favoráveis

à violação da lei em detrimento das definições desfavoráveis à violação da lei 7. A associação diferencial varia em termos de frequência, duração, proximidade e intensidade, 8. O processo de aprendizagem dos comportamentos criminosos e não criminosos integra todos os

aspectos normalmente envolvidos em qualquer tipo de aprendizagem 9. As necessidades e os valores gerais (segurança, riqueza material) que são reflectidos pelo

comportamento criminoso não explicam este mesmo comportamento, uma vez que outros comportamentos não criminosos também os reflectem.

Os sociólogos da corrente do comportamento desviado consideraram que as teorias da anomia e da associação diferencial se completavam, e desenvolveram tentativas de síntese das duas teorias. Albert Cohen (1968) – na sua teoria da subcultura delinquente – sustentou que os jovens da classe trabalhadora enfrentavam uma situação de anomia no sistema escolar, pensado segundo os valores da classe média. Na a escola eram ensinados os valores mas eram vedados os meios legítimos para os poderem atingir. Em resultado, os jovens uniam-se e formavam uma cultura própria que violava os códigos legais. As novas normas eram socializadas através do processo da associação diferencial. Richard Cloward e Lloyd Ohlin (1966) – teoria da oportunidade – sustentam que não basta considerarmos a estrutura de oportunidades legítimas na génese do comportamento delinquente; é igualmente essencial ter em conta a estrutura de oportunidades ilegítimas. Não é só uma questão de ausência de oportunidades legais, mas também da presença de oportunidades ilegais.

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A perspectiva do comportamento desviado entende que os problemas sociais reflectem, de forma mais ou menos directa, violações das expectativas normativas da sociedade, sendo que todo o comportamento que viola essas expectativas é um comportamento desviado. A solução para os problemas de comportamento desviado deverá passar pela ressocialização dos indivíduos e pela mudança da estrutura social de oportunidades, de forma a que sejam aumentadas as oportunidades legítimas e diminuídas as oportunidade ilegítimas. As perspectivas da Sociologia Relativista Três perspectivas que seguem uma visão relativista da ciência, de base interaccionista (o labeling e o constructivismo social) e estruturalista (a perspectiva crítica). Nelas se defende, em oposição ao positivismo, que o conhecimento é socialmente construído. Se assim é, a questão é saber como é que a realidade faz sentido para as pessoas e através de que processos estas dão e partilham significados sociais. Labeling Na descrição da teoria de labeling ou teoria da rotulagem os nomes importantes foram Georg Herbert Mead, Blumer e Goffman Mead – (concebeu a formação do Ego como o resultado das interacções sociais com Outros Significativos) Os indivíduos aprendem a ver-se como objectos sociais e comportam-se de acordo com esta percepção. As pessoas interagem fundamentalmente através de símbolos (sons, imagens) e os seus significados emergem da interacção social. O comportamento irá depender do entendimento que fizerem desses símbolos, num processo de reajustamento continuado. Herbert Blumer – desenvolveu a ideia de que os significados não são dados, mas requerem uma interpretação activa por parte dos actores sociais envolvidos. Erving Goffman – introduziu o conceito de identidade social, para se referir às qualidades pessoais que permanecem constantes em diferentes situações. Defendeu ainda que a identidade social pode ser consolidada pelas reacções dos outros ao comportamento dos indivíduos. Se as reacções forem negativas, as pessoas podem ser forçadas a aceitar uma spoiled identity, processo que Goffman define como de estigmatização. Embora os autores acima referidos terem sido fundamentais para a teoria do labeling, os nomes pioneiros da perspectiva propriamente dita são Edwin Lemert e Howard Becker. Edwin Lemert – defendeu a teoria de que o desvio é definido pelas reacções sociais e introduziu os conceitos de desvio primário e desvio secundário. Esta distinção de conceitos baseia-se noutra distinção que Lemert estabeleceu entre comportamento desviado e papel social desviado. O desvio primário comporta causas biológicas e sociais. Mas a causalidade dos papéis sociais desviados, ou desvio secundário, reside na interacção social entre o indivíduo que é definido como desviado e a sociedade onde se insere. A reacção social ao desvio primário está assim na origem do desvio secundário.

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Sequência de interacção que leva ao desvio secundário: 1. Ocorrência do desvio primário 2. Sanções Sociais 3. Recorrência do desvio primário 4. Sanções sociais mais pesadas e maior rejeição social 5. Continuação do desvio, agora com possível hostilidade e ressentimento por parte do indivíduo

desviado para com aqueles que o sancionam. 6. O coeficiente de tolerância chega a um ponto crítico, que se reflecte nas acções formais de

estigmatização do indivíduo levadas a cabo pela comunidade. 7. Fortalecimento do comportamento desviado como reacção à estigmatização e às sanções. 8. Aceitação do estatuto de desviado por parte do indivíduo estigmatizado e consequentes

ajustamentos com base no novo papel social. Esta perspectiva é reforçada por Howard Becker ao introduzir o conceito de labeling e conceito de carreira desviante. Becker defendeu que o comportamento desviado é aquele que a sociedade define como desviado. Para que alguém seja rotulado de desviado é necessário percorrer uma série de fases sequenciais, num processo de interacção dinâmico, a que Becker apelidou de carreira desviante. O que a perspectiva do labeling constatou é que nem todos os que violam as normas são rotulados de desviados, o que nos leva a considerar que, em última instância, todo este processo traduz uma certa equação do poder na sociedade: quem define as regras, que aplica os rótulos, quem é rotulado. A crítica à corrente labeling é que por um lado, afirmar que o desvio é originado antes de mais pela formulação das regras que são violadas e pelas reacções a esta violação das normas, soa como uma desculpabilização e desresponsabilização dos comportamentos em vez de uma explicação dos mesmos. Não ligou a este processo as desigualdades na estrutura social. Perspectiva Crítica A perspectiva crítica é também denominada perspectiva radical e centrou-se na questão da influência do poder na definição dos comportamentos desviados e dos problemas sociais, e numa concepção alargada da contextualização social do desvio. Partilham com a corrente interaccionista a posição de que os problemas sociais são definições sociais. A fundamentação desta corrente está no pensamento marxista. Tem assim uma postura de conflito na génese dos problemas sociais. Segundo a tradição marxista, os modos de produção da infraestrutura económica determinam relações sociais distintas. No estádio capitalista de desenvolvimento, a divisão social mais importante é a que separa os que possuem os meios de produção, a classe capitalista, dos que têm unicamente a sua força de trabalho para vender, e que constituem a classe trabalhadora. Para a perspectiva crítica os problemas sociais advêm das relações sociais impostas pelo modo de produção, e traduzem a necessidade de controle da classe capitalista e a necessidade de resistência e acomodação das classes exploradas. O tipo e a gravidade dos problemas sociais ficam particularmente dependentes das condições económicas conjunturais e da consciência de classe que os trabalhadores possam ter. a solução para os problemas sociais reside na mudança (revolucionária) do sistema social de classes para uma sociedade sem classes.

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Os anos 70 são uma década de crise de profunda crítica social e foi um período de renascimento das grandes discussões teóricas. Os autores mais significativos são Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young que deu o nome à corrente da nova criminologia ou criminologia radical. Segundo eles, o desvio deve ser analisado de forma materialista e histórica: materialista porque deve ser analisado o contexto material e histórica porque se deve relacionar o desvio com a evolução histórica dos modos de produção. Esta perspectiva tem sido fortemente criticada por autores positivistas que argumentam ser este tipo de abordagem mais uma ideologia do que uma teoria científica. Ou seja a perspectiva crítica centrou-se na explicação da génese das leis e no funcionamento das instituições de controle e negligenciou a explicação dos comportamentos desviados, esqueceram-se de outras fontes de conflito social como o género, a idade ou diferenças raciais. Constructivismo Social Refere-se a correntes teóricas cuja ideia central e geradora é a de que as pessoas criam activamente a sociedade. Os autores são Peter Berger e Thomas Luckmann que defendem que a sociedade é uma produção humana e o Homem é uma produção social. A sociedade é ao mesmo tempo uma realidade objectiva e subjectiva. È objectiva porque é exteriorizada, relativamente aos actores sociais que a produzem, e é objectivada, sendo constituída por objectos autónomos dos sujeitos sociais. É uma realidade subjectiva porque é interiorizada através da socialização. Os críticos foram John Kitsuse e Malcolm Spector a questão deverá ser colocada antes de mais, saber porque é que algumas situações são consideradas problemas sociais e outras não, tentando explicar o surgimento do próprio rótulo de problema social. Só através da problematização sociológica será possível chegar a uma teoria social dos problemas sociais. A condição objectiva do problema social é, portanto, posta de lado pela perspectiva constructivista pois esta não é essencial para a existência de um problema social. É a definição subjectiva do problema social que se revela essencial para a existência do mesmo e como tal só esta deve ser investigada pelos sociólogos. (violência conjugal, trabalho infantil) situações que só se converteram em problemas sociais quando se estabeleceu com sucesso um movimento de reivindicação que definia estas situações como problemas e onde os mass media tiveram uma enorme importância. Um problema social só se constitui em razão de todo um processo de reivindicação e reacção social. Importa identificar quem define uma dada situação, real ou virtual, como problema social; quais as razões que apresenta, quem reage a esta pretensão e que tipo de dinâmica se estabelece entre as duas partes. Somente após o estudo empírico do processo de definição de cada problema social é que podem ser elaboradas possíveis soluções para o mesmo. Ao contrário das correntes que abordámos anteriormente, a perspectiva constructivista não apresenta soluções a priori para os problemas sociais.

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Ou estudamos a delinquência juvenil, investigando aspectos como as causas do comportamento desviado pelos jovens, a evolução dos casos de delinquência, ou a sua distribuição pelos estratos sócio-económicos, ou então estudamos o problema social da delinquência juvenil, ou seja, como é que a sociedade veio a reconhecer este fenómeno como problema social, e neste caso não é essencial que se saibam as causas do comportamento desviado em questão. SÍNTESE

Sumário das sete perspectivas de abordagem dos problemas sociais. Aspectos chave

Perspectiva Definição de Problema Social Elemento Central Patologia Social Violação de expectativas morais Pessoas Desorganização Social Falha no funcionamento das regras

sociais Regras sociais

Conflito de Valores Situação incompatível com os valores de um grupo social

Valores e Interesses

Comportamento Desviado Violação de expectativas normativas Papéis sociais Labeling Resultado da reacção social a alegada

violação de normas ou expectativas Reacções sociais

Perspectiva Radical Resultado da exploração da classe trabalhadora

Relações de classes sociais

Constructivismo Social Processo pelo qual grupos sociais reivindicam que uma dada situação é um problema social

Processo de reivindicação

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II. PERSPECTIVAS POLÍTICO-DOUTRINÁRIAS SOBRE OS PROBLEMAS SOCIAIS

Os problemas sociais e a alteração do papel do Estado

O Estado Protector

Estado protector é o modelo, que segundo alguns autores, surgiu com a desagregação da sociedade do Ocidente medieval que se encontrava no poder do soberano. O poder não uma simples capacidade de obrigar, mas que traduz a resultante da tensão entre tal capacidade e a vontade de obedecer., a centralização registada resultou de duas tendências • Um processo de concentração da capacidade de obrigar por parte do poder político, de que

foram expressão entre outras, a criação dos exércitos nacionais e a concentração progressiva do poder tributário;

• A emergência de um consenso crescente sobre a vontade de obedecer, do sector que mais tarde se viria a chamar sociedade civil.

O modelo de Estado que daqui resultou, privilegiou os fins de segurança e de justiça em detrimento do fim de bem estar social que, por regra, foi remetido para a sociedade civil, ainda que por vezes se tenham observado incursões orientadoras dessa actividade por parte de acções das casas reais e aristocracia. Um modelo de intervenção claramente assistencial como é o caso Das Misericórdias. Estado Protector

Desagregação da sociedade feudal

Concentração da capacidade de obrigar pelo poder político

Maior consenso na vontade de obedecer por parte da sociedade civil

Estado Protector Objectivos: • Produzir segurança • Reduzir a incerteza Fins dominantes do Estado: • Segurança • Justiça Características dominantes do aparelho de Estado: • Pequeno dimensão • Organização relativamente difusa • Pilotagem centralizada Para garantir a eficiência do Estado Protector, o príncipe recorreu a dois tipos de pessoas: Políticos profissionais e semi-profissionais que pertenciam a grupo de clérigos, literatos humanístas, nobreza cristã, gentries inglesa e os juristas. Aos funcionários profissionais que pouco a pouco foram aumentando na Europa em função da progressivamente maior complexidade dos problemas que ao Estado competia resolver. Administração financeira, da técnica guerreira e da actividade jurídica com um profissionalismo especializado , que deu origem ao predomínio do absolutismo do príncipe em que os funcionários profissionais auxiliaram e foram indispensáveis para vencer o poder feudal.

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O Estado Providência A revolução industrial e a emergência de problemas económicos e sociais resultaram em que o Estado foi chamado a assumir funções de regulação e de orientação cada vez maiores tendo emergido a consciência de que o Bem-Estar constituía um fim do Estado. As tendências foram para um papel cada vez mais intervencionista da Administração Pública. Estado Providência

Revolução Industrial

Problemas económicos Problemas sociais

Crescimento e radicalização das funções do Estado

Estado Providência Objectivos: • Produzir segurança • Reduzir a incerteza • Promover a regulação e a orientação sócio-económica Fins dominantes do Estado: • Segurança • Justiça • Bem estar Características dominantes do aparelho de Estado: • Dimensão progressivamente maior • Organização progressivamente mais complexa • Pilotagem progressivamente mais profissionalizada

As perspectivas liberais A perspectiva liberal foi resultado de uma lenta sedimentação de natureza económica, doutrinária e política que ocorreu na Europa a partir do século XV. Génese Com a expansão europeia e a consequente diversificação de mercados e acumulação de capitais, a burguesia consolidou-se como classe social e intensificou-se com a Revolução Industrial emergindo uma nova ordem económica internacional. A ordem política foi alterada, apresentando traços com a centralização do Poder real e o consequente enfraquecimento da velha aristocracia apoiada na ascensão da burguesia. Surgiram diversas doutrinas económicas e sociais, como o mercantilismo, a fisiocracia e todo um corpo filosófico que procurou limitar o despotismo do príncipe que criou condições para a revolução francesa. Para os adeptos da perspectiva liberal, os problemas sociais e económicos resultam de uma acção desastrada do Estado que, na mira de os resolver, intervém em demasia nos mecanismo de regulação do mercado. O liberalismo deve ser compreendido no seu sentido mais global (como uma) doutrina baseada na denúncia de um papel demasiado activo do Estado e na valorização das virtudes reguladoras do mercado.

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As Teses Defensores do liberalismo positivista clássico - Adam Smith, Jeremias Bentham, Burke, Humbold Defensores do liberalismo utópico - Paine e Godwin Defensores do neoliberalismo – Robert Nozick ou John Rawls. Em todos este autores encontramos uma forte crítica à excessiva dimensão do Estado, variando, no entanto, nos critérios definidores das suas funções e na definição do seu campo de actuação. É o caso mais recente, da corrente neoliberal, que deve ser entendida como um crítica, da crítica à economia de mercado.

Génese económica

Movimentos de legitimação doutrinária

Génese política

Expansão (séculos XV e XVI)

(implica diversificação de mercados; acumulação de capital)

Industrialização

Nova ordem económica

(consolidação da burguesia)

•Mercantilismo •Fisiocracia • Movimentos de reacção aos excessos do Príncipe que culminam na Revolução francesa

Centralização do poder real

Guerras religiosas (séculos XVII)

Consolidação da nova ordem política (o Estado-Nação ao serviço da economia subsidiada)

Liberalismo

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De acordo com a teoria das internalidades de Rosanvallon a acção do Estado tem efeitos imprevistos (internalidades) que pervertem as intenções de justiça e de promoção do Bem-Estar das suas políticas. Por exemplo o ciclo vicioso das despesas públicas • O crescimento das necessidades dos cidadãos (económicas, sociais, de segurança, etc.) implica

uma pressão sobre o Estado no sentido de as colmatar (aumento da procura de Estado). • O aumento da procura de Estado, obriga este a concentrar recursos e articulá-los para dar

resposta às necessidades (aumento da oferta de Estado). • Para que a oferta de Estado cresça, este é obrigado a fazer mais despesas públicas. • O aumento das despesas públicas determina um aumento dos impostos para lhes fazer face. • O aumento da carga fiscal sobrecarrega os cidadãos o que, naturalmente, lhes aumenta as

necessidades e a procura de Estado, e assim sucessivamente. No que respeita aos problemas sociais e económicos, o pensamento liberal tem evoluído, ainda que partilhe de uma ideia comum: o mercado é melhor regulador que o Estado e, por consequência, os problemas sócio-económicos devem ser atacados predominantemente pela sociedade civil. A posição liberal face aos problemas sócio-económicos pode resumir-se em dois aspectos: • A maior parte dos problemas sociais e económicos resultam de uma excessiva intervenção do

estado. • A resolução dos problemas sociais e económicos deveria ser deixada aos mecanismos (naturais)

de auto-regulação do mercado. As limitações Os críticos à perspectiva liberal apontam-lhes as seguintes limitações: • Os limites da acção do Estado são em regra insuficientemente operacionalizados • Os efeitos imprevistos do funcionamento do mercado que condicionam fortemente a emergência

e o agravamento dos problemas sócio-económicos não são convenientemente equacionados. Suzanne de Brunhoff faz referência à contradição entre a apregoada liberalização de pessoas, bens, serviços e capitais – tese central da corrente liberal – e a realidade observada no terreno muitas vezes proteccionistas. Segundo esta autora o cenário de guerra económica implica, por parte dos decisores políticos, uma atitude de nacionalismo económico. As funções do económicas e sociais do Estado procuram atingir dois objectivos: • Reforçar a frente de combate económica, apostando em políticas de obtenção de encomendas

no estrangeiro e em estratégias de financiamento e de proteccionismo dos sectores sociais mais fortes, como os segmentos que apostam no desenvolvimento tecnológico e nas exportações;

• Ajudar a tratar dos feridos da guerra económica (pobres e novos pobres, jovens, mulheres, idosos, imigrantes e desempregados de regiões industriais sinistradas).

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As perspectivas marxistas (1813-1883) Génese O pensamento marxista enquadra-se historicamente na Europa do século XIX, revolução industrial. A sua teoria deve ser entendida como uma teoria em permanente evolução, por vezes contraditória. Escreveu o Manifesto com Engels. Os seus comentadores apontam três tipos de correntes que lhe serviram de referência: a filosofia alemã (Hegel e Feurbach) o socialismo francês (Proudhon e Saint Simon) e a economia política inglesa (Ricardo e Adam Smith). As teses O pensamento de Marx relativamente ao papel do Estado não é idêntico ao longo da sua obra: • Desde uma posição idealista defendida na Gazeta Renana, em 1843, em que descrevia a

possibilidade da existência de uma associação de homens verdadeiramente livre num estado idealizado, concebido, com base no modelo hegeliano, como uma incarnação da razão.

• Passando pela afirmação de que o Estado era uma expressão da alienação humana semelhante à

religião, ao direito e à moralidade, um biombo que esconde as verdadeiras lutas inter-classes, assumindo-se como instrumento da classe dominante (ideologia alemã) uma mera comissão de gestão dos assuntos da burguesia (Manifesto).

• Até à afirmação de que poderia desempenhar, apesar de todas as críticas, algum papel positivo

em favor das classes oprimidas (A guerra civil em França), ou mesmo que poderia ser, quando em situação de ditadura do proletariado, instrumento de mudança para a sociedade comunista. (Crítica do Programa de Gotha).

Apesar da aparente ambivalência, parece ser constante o reconhecimento do importante papel que cabe ao Estado como instrumento da classe dominante (burguesia ou proletariado) nas funções de regulação e orientação da sociedade global. Na perspectiva marxista os problemas económicos e sociais são resultantes da situação de exploração de uma classe em benefício de outro, de uma permanente luta de classes, poderemos entender as duas estratégias defendidas por esta corrente, consoante detenha ou não o controle do Estado: • Quando o Estado não é controlado pela classe trabalhadora

Às organizações desta classe cabe fazer pressão, para que o poder político lhe faça concessões, no sentido de prevenir e atenuar os problemas sociais; assim deve ter atenção a conquista do poder pela classe trabalhadora.

• Quando o Estado é controlado pela classe trabalhadora,

deve centralizar a definição de rumos e a articulação de meios para fazer face aos problemas sociais e económicos; neste sentido, deve-lhe competir um papel dominante no planeamento e organização da economia e da protecção social.

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As limitações Críticas à perspectiva marxista • Do ponto de vista doutrinário, ao privilegiar a luta de classes como instrumento de intervenção,

o marxismo provocou danos elevados na coesão social, lançando as classes sociais umas contra as outras, gastando consideráveis energias sociais necessárias ao crescimento económico e ao desenvolvimento social, em nome da igualdade e em detrimento da liberdade.

• Do ponto de vista político, as que o acusam de falta de eficácia e de eficiência uma vez que, nos

países em que foram aplicadas as concepções marxistas os resultados obtidos foram muito inferiores aos previstos (ineficácia), e os avanços conseguidos foram-no frequentemente a custos económicos e sociais muito elevados (ineficiência), uma vez que exigiram uma máquina estatal excessivamente pesada.

As perspectivas conciliatória Se nos reportarmos a três valores centrais de Revolução Francesa, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, os dois primeiros são de cariz liberal (liberdade) e marxista (igualdade) em detrimento do terceiro. O elemento Fraternidade foi remetido para a sociedade civil, pois não é politicamente tão relevante como o da Liberdade e Igualdade. Procurando conciliar as doutrinas liberal e marxista, emergiu uma terceira tendência no século XIX que veio dar origem ao que se convencionou chamar Estado-Providência. Os fundamentos Os fundamentos da intervenção do Estado relativamente aos problemas sociais e económicos podem encontrar-se na constatação de efeitos imprevistos (positivos ou negativos) do funcionamento do mercado a que Pigou chamou externalidades e que servia para legitimar a itnervenção do Estado no próprio interior da lógica liberal, criando paradoxalmente uma fonte inesgotável de motivos de extensão do estado-regulador.. Os pilares do Estado Intervencionista A expressão Estado-Providência surge na França. Procurava fazer referência a um modelo de Estado intervencionista, que na Alemanha da década de 1880 era eplidado de Estado Social e no Reuno Unido nos anos 40 do século XX de Estado de Bem-Estar. Este modelo de Estado integrou três tipos de contribuições principais: 1. O primeiro pilar: o seguro obrigatório de Bismark

Bismark (1879/1880) em resposta à pressão conjugada, do movimento trabalhista alemão devida à situação de alto risco em que se encontravam os trabalhadores da indústria e da acção de grupos de académicos e políticos que se juntaram, para denunciar os malefícios das opções liberais e para defender uma intervenção do Estado no combate aos problemas sociais. A resposta política foi um conjunto de leis que procuraram melhorar a protecção social dos trabalhadores através de mecanismos de seguro obrigatório, numa altura em que os sistemas de protecção eram meramente mutualistas. As leis estruturantes de tal sistema foram as seguintes: • Lei da responsabilidade limitada dos industriais em caso de acidentes de trabalho (1871). • Lei do seguro obrigatório (1881) • Leis do seguro-doença, dos acidentes de trabalho e do seguro velhice-invalidez que aplicaram

a lei de 1881 a essas três áreas de risco social.

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2. O segundo pilar: a teoria intervencionista de Keynes Economista John Maynard Keynes – este autor mostrou a forma como o capitalismo de mercado podia ser estabilizado através da gestão da procura e da adopção de um sistema de economia mista. Os princípios defendidos por este autor, aplicados para combater a crise de 1929 pelo presidente Roosevelt na política do New Deal, basearam-se numa vigorosa intervenção estatal através de investimentos públicos que criaram muitos empregos. Aumentaram o poder de compra provocando um acréscimo na procura, , revitalizou a economia e consequentemente reduziu os problemas sociais e económicos.

3. O terceiro pilar: o relatório Beveridge

No Reino Unido o intervencionismo estatal pode-se situar no reinado de Isabel I, século XVI, com a Lei dos pobres, obrigava as paróquias a dar trabalho como medida de protecção. Em plena segunda guerra mundial o relatório Beveridge lançam-se as bases recentes dos sistemas de segurança social de acordo com quatro princípios: • O princípio da universalidade (de população-alvo) segundo o qual a protecção social seria

devida a toda a população, qualquer que fosse a sua situação face ao emprego ou ao rendimento.

• O princípio da unicidade (de inputs do sistema), pelo qual uma única quotização cobriria todos os riscos de privação de rendimentos.

• O princípio da uniformidade (de outputs do sistema), que preconizava a uniformidade das prestaões, independentemente do rendimento dos beneficiários.

• O princípio da centralização (organizacional), que obrigava à criação de um sistema único de protecção social (saúde e segurança social) para todo o país.

O relatório Beveridge constituiu um avanço pois contemplara as mulheres domésticas, crianças e outros inactivos relativamente às medidas de Bismarck. A situação actual Após a segunda guerra mundial, o modelo intervencionista (baseado no modelo Beverage) foi aplicado nos países mais industrializados auxiliado pela conjuntura propícia à conjugação de reconstrução e de expansão económica. Os ingredientes deste modelo de Estado intervencionista foram três: 1. O pleno emprego como obejctivo estratégico 2. Sistema de serviços universais ou quase universais para satisfação das necessidades básicas 3. Manter um nível nacional mínimo de condições de vida Com as duas crises do petróleo na década de 70 a situação económica mundial alterou-se iniciando-se um período de recessão que teve dois efeitos conjugados: 1. Por um lado, aumento a procura de Estado, devido ao crescimento do desemprego provocado

pela recessão; 2. Por outro lado, a diminuição das contribuições para o sistema de segurança social, em função da

crise e do envelhecimento demográfico dos países industrializados, condicionou a redução da oferta de Estado, para fazer face às necessidades.

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Esta situação fez perder a confiança no modelo Estado-providência tendo sido estabelecidas políticas neoconservadores por Ronal Regan e Margaret Tatcher. No modelo neoconservador, sendo que grande parte dos problemas sociais decorrentes passava pela redução da oferta do Estado, operacionalizada numa política de privatizações, tanto da economia como dos serviços sociais. O excessivo custo social das medidas implementadas, e a sua ineficácia conduziram a que os sociais-democratas adaptassem o modelo de Estado Providência aos novos desafios, pelo que surgiram novas proposta políticas. Em Portugal A perspectiva intervencionista na evolução constitucional

Evolução doutrinária quanto ao entendimento das funções económicas e sociais do Estado. Constituição Características

Constituição de 1822 • Pretende criar instituições liberais e democráticas. • Não passou de um projecto pois o seu suporte social era débil

(burguesia mercantil), os inimigos, muitos e, a secessão do Brasil, uma questão urgente, que remeteu a organização das FESE para segundo plano

Carta Constitucional de 1826 • Sendo conservadora mantém as FESE numa perspectiva liberal

Constituição de 1838 • Mantém a concepção de uma monarquia liberal assente na aliança do Rei com a burguesia (Jorge Miranda)

Constituição de 1911 • Não altera a perspectiva liberal das funções do Estado, condimentando-as de laicismo, anti-clericalismo e municipalismo.

• Dá grande realce à política de Educação. Constituição de 1933 • Corporativsta, apresenta uma cariz muito mais

intervencionista, pretendendo ser a pedra de toque em que as FESE são sensivelmente maiores e mais complexas.

• Explicita princípios de protecção à família, incumbências económicas do Estado, organização de interesses sociais, da empresa e do direito do trabalho

Constituição de 1976 • É influenciada pelas doutrinas marxistas e do Estado-Providência.

• Consolida medidas socializantes das FESE • Identifica três sectores de propriedade (público, cooperativo e

privado) • Consagra direitos liberdades e garantias democráticos • Explicita princípios de protecção aos cidadãos e aos

trabalhadores em particular, em diversos domínios das FESE: Educação, Saúde, Segurança Social, Habitação, Trabalho, etc.

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• As constituições do período monárquico foram marcadas por concepções liberais, os problemas

económicos e sociais não era um dever do Estado. • A constituição republicana de 1911, mantém a tradição liberal no entanto, o laicismo e o anti-

clericalismo dominante fez com que a educação fosse um dever do Estado. • A constituição de 1933 é intervencionista num quadro corporativista. Política de protecção à

família e de conciliação dos interesses laborais. Incentivado o papel da Igreja Católica na política nacional. O modelo de intervenção social preconizado foi marcado pela visão de Bismarck, separando claramente os subsistemas de previdência (de seguro obrigatório) e de assistência (em que ao Estado competia uma função supletiva em relação à intervenção da sociedade civil).

• A constituição de 1976 foi intervencionista, mas influenciada pela perspectiva marxista quanto ao controlo da economia, social e política. O modelo beveridgeano foi consagrado através da criação de um sistema de segurança social, serviço nacional de saúde, sistema educativo, e ainda em cooperação com a sociedade civil e foi perdendo o cunho marxista, nas sucessivas revisões constitucionais, aproximando-se de outros países da Europa ocidental

A perspectiva intervencionista na evolução do planeamento A função planeamento está presente em todos os sistemas políticos contemporâneos, expressando um quadro normativo que pretende traduzir o querer comum dos respectivos povos. Assim, pela análise dos sucessivos planos, é possível inferir as representações dos decisores políticos sobre o modo como concebem as funções económicas e sociais do Estado e, em particular, o seu papel relativamente à resolução de problemas sociais e económicos. Em Portugal, o primeiro planeamento foi em 1935 tendo como base a Lei de 1914 que ficou conhecida por Lei da Reconstituição Económica e que serviu de base para os planos seguintes. Primeiro Plano de Fomento (1953-58) intervencionismo económico destinados ao Ultramar correspondendo a 2% do PNB. Segundo Plano de Fomento (1959-64) conceito de pólos de desenvolvimento, regiões onde se iriam concentrar recursos para promover a modernização do país. (Criação do Banco de Fomento Nacional) Plano Intercalar (1965-67) calcular se o acréscimo de despesas com a defesa obrigaria a recorrer a empréstimos externos. Observa-se uma preocupação de natureza social, desequilíbrios regionais. Terceiro Plano de Fomento (1968-73) medidas de Planeamento Regional. Quarto Plano de Fomento (1973-79) suspenso pela revolução de 1974. Plano Económico Social (1975) – não entrou em vigor devido aos acontecimentos de 11 de Março. Constituição de 1976 – perspectiva marxista valorizou o Pano como instrumento básico para construir a sociedade socialista. De referir que as preocupações de intervencionismo económico foram anteriores às sociais.

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III. GRANDES PROBLEMAS AMBIENTAIS Gestão da Água A água é um bem essencial. Cobre dois terços da superfície terrestre, mas é escasso devido à desigual distribuição geográfica e relativa escassez de água doce 3% do total necessária ao consumo do homem. Uma grande parte está solidificada nos calotes polares, nos glaciares, no sub-solo. Só 0,03% está facilmente acessível ao consumo humano. Os resíduos resultantes das diferentes actividades do homem, ou seja, os efluentes de origem antropogénica, são descarregados nos diferentes maios receptores, em especial no meio aquático. O impacte da descarga destes efluentes são diversos de acordo com a morfologia, hidrodinamismo, o grau de contaminação e poluição, o nível de eutrofização (nutrientes com fostatos e nitratos que em exagero desenvolvem fitoplâncton) e a existência de captação de água a jusante do ponto de descarga. Diferenças entre Conceito de contaminação e Conceito de poluição: Contaminação – presença de concentrações elevadas de uma dada substância no ambiente, que se situam acima dos níveis de fundo. Originados por causas naturais (erupções vulcânicas) Poluição – é de introdução antropogénica directa ou indirecta de substâncias ou energia que prejudicam os organismos vivos. Descargas residuais que podem ser físicos (sólidos suspensos), químicos (metais pesados) biológicos (microorganismos patogénicos). Disponibilidade de água Na Europa o consumo irá manter-se mas prevê-se um aumento nos outros países nomeadamente devido ao aumento do desenvolvimento económico e crescimento da população (Àfrica, América Latina, China Sul e Sudoeste da Ásia). O aumento do consumo da água de 1990 para 2050 é projectado por um factor de 2,12 relativamente ao uso doméstico e 2,37 para uso industrial, 1,06 para uso agrícola. Estes valores resultam da combinação do aumento da pressão demográfica. A quantidade de água disponível tem tendência a aumentar de 6 a 12% devido ao aumento de temperatura terrestre que ocasiona a fusão da água nas calotes polares. No entanto, existem problemas graves de escassez nalguma zonas que podem ter implicações no bem estar populacional. A disponibilidade de água poderá ainda ocasionar conflitos entre países cujos cursos de água atravessam diferentes fronteiras mas uma política de regulamentação legal poderá colmatar com uma análise por bacia hidrográfica bem administrada. (Portugal/Espanha) A pressão que homem exerce pode conduzir à redução da quantidade que pode ser afectada pela sobre-exploração de aquíferos/e ou o desvio de cursos de água originando a diminuição do seu caudal. Uma das soluções passa pela dessalinização e pela reutilização da água. Qualidade da água Põe-se em causa a qualidade quando ocorrem fenómenos de eutrofização (enriquece com nutriente mas tem falta de oxigénio) ou seja descargas pontuais ou difusas de elevadas concentrações de contaminantes e quando ocorre intrusão salina. Na Europa a implementação de normas regulamentadoras nos sistemas de tratamento de águas residuais reduziram substancialmente as descargas de nutrientes e matéria orgânica. É previsível que a quantidade de esgotos contaminados aumente e que as práticas de agricultura intensiva continuem com a consequente utilização excessiva de fertilizantes, originando a eutrofização das zonas costeiras e contaminação de aquíferos. Os aquíferos podem ser igualmente contaminados por intrusão salina devido à exploração de águas subterrâneas ao longo da costa devido a exploração industrial, áreas urbanas e turismo.

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Efeito de estufa e alterações climáticas O balanço térmico ideal para a manutenção da vida na Terra é proporcionado principalmente pela presença de vapor de água e dióxido de carbono (CO2) existente na atmosfera. Estes gases absorvem a radiação solar infravermelha, emitida pela superfícies terrestre impedindo assim que a radiação seja perdida para o espaço. Este fenómeno natural denomina-se efeito de estufa uma vez que permite aquecer a superfície terrestre e promove a subida da temperatura da troposfera com consequente aumento da evaporação e precipitação. A libertação de CO2 resultante da conversão dos combustíveis fósseis tem sido responsável pela amplificação do fenómeno, em conjunto com outros gases como o metano (utilização de fertilizantes) , os óxidos de azoto, Cloro-Fluor Carbonetos e ozono troposférico. Outras actividade humanas como a agricultura, a desflorestação, processos industriais e a deposição de resíduos em aterros sanitários também contribuem para o efeito de estufa. Alterações climáticas Não existe ainda uma certeza na relação causa-efeito entre o aumento da temperatura e emissão de alguns gases que contribuem para o efeito de estufa. Dado que é previsível o crescimento económico estima-se o aumento das concentrações médias globais dos três gases que mais contribuem para o efeito de estufa se alterem. Protocolo de Quioto O encontro mundial onde pela primeira vez se regulamentaram as emissões de gases com efeito de estufa foi a III Conferência das Partes da Convenção 1997. Onde vários países assinaram um protocolo no sentido da redução global de 5,2% em relação aos níveis de 1990. Permitiu ainda a implementação de mecanismos de mercado denominados mecanismo de Quioto, ou seja o comércio de emissões entre países industrializados e cooperação para o desenvolvimento para implementação de mecanismo de tecnologias limpas. O encontro em Buenos Aires 1998 Plano de acção para 2000 dos quais se destacam (EEA, 1999) • Os mecanismos de financiamento para apoiar os países em desenvolvimento relativamente aos

efeitos adversos das alterações climáticas, nomeadamente através de medidas de adaptação; • O desenvolvimento e transferência de tecnologias para os países em desenvolvimento; • As actividades implementadas conjuntamente; • O programa de trabalhos dos Mecanismos de Quioto, com prioridade no desenvolvimento de

mecanismos de tecnologias limpas; Formas para modificar a utilização de combustíveis fósseis e que se baseiam em três metodologias: • Substituição por um combustível fóssil com maior capacidade de retenção de calor e com baixos

teores de carbono e enxofre, reduzindo assim as emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa e para a acidificação (chuva ácida)

• Utilização de energias alternativas (eólica, solar, geotérmica); • Melhorias na eficiência/conservação de energia, levando a reduções significativas no

combustível gasto.

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Rarefacção da Camada de Ozono O zono é um gás cuja molécula contém 3 átomos de oxigénio, formada por acção da luz a partir do oxigénio molecular (O2). As maiores concentrações são na estratosfera formando o que se designa de camada de ozono, e que funciona como filtro às radiações solares ultra-violeta prejudiciais à fauna, flora e saúde. A acção antropogénica tem destruído a molécula do ozona originando o composto que lhe deu origem, oxigénio molecular. O buraco de ozono é o nome que se dá à rarefacção da camada de ozono observada na Antárctida através do satélite Nimbux 7. O protocolo de Montreal (1988) Objectivo alcançar uma redução de 50% na utilização de CFCs (queima de combustíveis fosseis) até 1999. Halons até 1994, tetracloreto de carbono e o metil-clorofórmio até 1996. Biodiversidade A tendência para a diversificação, é uma propriedade inerente à progressão ecológica e à evolução biológica em geral. A destruição massiva de espécies ao longo de milhões de anos foram resultado de fenómenos naturais. No entanto, hoje o ritmo de desaparecimento de espécies é assustador e cuja responsabilidade se atribui ao homem. O suo do fogo, da agricultura, da industria aliado aos incêndios e chuvas ácidas conduziu ao desaparecimento de muitas espécies florestais.Assim, cada alteração num ecossistema pode ter repercussões mais ou menos directas sobre os vários ecossistemas com os quais se relaciona. Diminuição da biodiversidade Para além da destruição de habitats, a introdução de espécies exóticas vegetal ou animal podem procar desequilíbrio, a contaminação e a exploração excessiva de recursos podem conduzir ao desaparecimento de espécies. A contaminação mais frequente é a de origem quimícia. A colheita excessiva de plantas endémicas (farmacêuticas ou culinárias), recolha de corais, pesca de arrasto etc. que muitas vezes fazem parte da economia dos países. Para lutar contra esta situação, foi assinado em Washington (1973) o Convénio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestre 8CITES) que incita a cada um dos 23 países a criar legislação que proteja os seus recursos selvagens. Biodiversidade aplicada A diversidade genética dos seres vivos, deve ser guardada, constituindo-se bancos de genes para utilização futura. A biotecnologia e a engenharia genética podem contribuir para a criação de novos organismos transgénicos para aumentar a eficiência de medicamentos naturais e descobrir novas substâncias terapêuticas, modos de controlo biológico de pragas agrícolas e inventar novos produtos de interesse industrial. Protecção da biodiversidade Conferência do Rio em 1992, resolução com o Acordo Internacional sobre a Biodiversidade em que os países envolvidos se comprometeram-se a realizar um inventário sobre as espécies existentes nos seus territórios, os países mais pobres têm direito a benefícios económicos pela transacção dos seus recursos biológicos com terceiros, no entanto os países compradores, com poder económico, são os que têm em regra geral grandes empresas multinacionais farmacêuticas , químicas ou agro-alimentares, preferem tirar partido de um recurso de outrem do que pagar direitos sobre eles. Neste caso, há que actuar, sendo obrigação da sociedade civil ou das ONGs fazer valer os direitos e proteger este património genético.

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Desertificação e desflorestação Ainda hoje se verifica em muitos países do hemisfério Sul, onde a necessidade de encontrar meios de sobrevivência leva as populações que lutam contra a fome à destruição maciça de árvores e países que pactuam com esta destruição em busca de madeiras exóticas. Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization) das Nações Unidas na década de 80 foram destruídas 155 milhões de hectares de floresta tropical o que é preocupante. Floresta e protecção ambiental Na América Central e do Sul, Indonésia e Ásia encontram-se florestas luxuriantes que são os pulmões do planeta pois absorvem muita quantidade de CO2 contribuindo assim para atenuar a importância das emissões deste gás e equilibrar os teores existentes na atmosfera. A falta de protecção por uma camada de folhagem e exposição aos raios solares, o solo sofre a erosão e sob influência dos factores climáticos lentamente transforma-se em deserto. A este processo regressivo em que os ecossistemas tendem para situação de deserto dá-se o nome de desertificação. Floresta e biodiversidade Madagascar é um caso emblemático, onde a desflroestação tem assumido proporções devastadoras. Nesta ilha do Pacífico a imensa riqueza biológica estava outrora protegida por uma floresta tropical, a colonização francesa até à independência foi desastrosa. Hoje os solos encontram-se esgotados e deixados à mercê de agentes climáticos e existe um deserto. A autoregulação do planeta proposto nos anos 70, por Lovelock na Teoria Gaia, até há pouco tempo, as actividades humanas eram assimiladas pela bioesfera no entanto hoje já não se consegue fazer frente ao CO2 existente na atomosfera, notando-se o seu aquecimento global. Medidas futuras Os impactes antropogénicos sobre a floresta são demasiado alarmantes para não se tome qualquer atitude. Muitas das soluções que se propõem são político-económicas, mas o problema tem importância social e ética. Propor que os países do Norte, que têm climas temperados e solos de melhor qualidade, produzam bens para vender aos países do Sul, a preços baixos, é uma hipótese que não é fácil de aceitar por uns nem por outros. Resíduos O aumento de resíduos nos últimos 50 anos tomou proporções alarmantes obrigando os indivíduos e os governos a uma mudança de atitude para além de uma maior responsabilização na sua eliminação e valorização. Na Conferência do Rio, 1992, os países desenvolvidos afirmaram ter intenção de reduzir a sua produção de resíduos assim como o consumo de produtos com componentes tóxicos. Apostando na redução, reutilização e reciclagem e verificou-se uma maior preocupação em legislar quanto à qualidade como quantidade.

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RSU Resíduos Sólidos Urbanos Os indicadores financeiros de que dispomos para avaliar o crescimento económico de uma sociedade é o rendimento disponível das famílias. Assim quanto maior é o rendimento per capita mais se considera o desenvolvimento de uma determinada sociedade. Aliado ao poder de compra há sempre um crescimento de consumo e que é uma característica das sociedades modernas. Em aditamento o marketing publicitário leva as famílias a adquirem produtos que não consomem e que deitam fora com facilidade e que faz que haja um crescimento dos resíduos urbanos. Em Portugal 231/kg ano em 1991 a mais baixa capitação de RSU da União Europeia. Nessa altura a eliminação de resíduos e tratamento era em Portugal a mais baixa da Europa sendo a os resíduos depositados em lixeiras preferencialmente à compostagem (produto final para aproveitamento agrícola), incineração ou à deposição em aterro sanitário (deposição para degradação natural e lenta por via biológica até à mineralização). Presentemente verifica-se uma maior preocupação em erradicar as lixeiras procedendo de forma tão controlada quanto possível ao tratamento dos resíduos urbanos. As autarquias procedem à recolha selectiva, no sentido de valorizar os resíduos através dos eco-pontos que posteriormente são tratados em indústrias de reprocessamente dos materiais aí depositados. Resíduos Industriais Distinguem-se dos domésticos pela maior variação na sua composição e pelas quantidades produzidas. Variação no seu carácter tóxico dependendo do ramo da indústria e existem alguns que são classificados de perigosos com características de perigosidade para a saúde e/ou ambiente. Verifica-se em Portugal uma distribuição heterogénea por distrito sendo a maior incidência no distrito de Setúbal devido à elevada concentração de indústrias químicas e à presença de centrais térmicas, seguido de Aveiro com as indústrias químicas e pasta de papel e Castelo Branco com indústrias extractivas. O mais alarmante é o facto dos resíduos serem eliminados por descarga no solo e no subsolo registando-se uma pequena percentagem de tratamento por incineração. As indústrias são responsáveis pela produção de resíduos perigosos e emissão de produtos tóxicos ocasionando contaminações de lençóis freáticos, águas superficiais, atmosfera e cadeiras tróficas, emissão de gases tóxicos ou pela deposição no solo e no subsolo conducentes à destruição de muitos ecossistemas. Ao longo de anos, a eliminação de resíduos perigosos industriais transformou-se numa actividade altamente técnica, controlada pelos poderes públicos. O tratamento é feito por dois tipos físico-químicos e incineração. O primeiro é utilizado no tratamento de resíduos constituídos por metais pesados e ácidos e o segundo destina-se a matérias orgânicas não biodegradáveis, sendo nas incineradoras ser possível recuperar energia da combustão para produção de electricidade, mas a emissão de dióxinas para a atmosfera leva as populações a contestarem a instalação de incineradoras nos seus perímetros urbanos. Apesar da valorização dos resíduos conduzir a um menor consumo de matérias primas virgens, os custos de valorização tornam por vezes os produtos obtidos mais caros que as matérias primas provenientes da extracção.

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Instrumentos de Política de Ambiente Em 1984 foi constituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento (CMAD), como um órgão independente e integrado por 21 países. Esta Comissão foi criada com o objectivo de: • Reexaminar os problemas vitais do ambiente e do desenvolvimento, e formular propostas de

acção inovadoras, concretas e realistas para tentar remediá-los. • Reforçar a cooperação internacional nos domínios do ambiente e do desenvolvimento, bem como

estudar e propor novas formas de cooperação, que possam surgir a partir dos padrões existentes e influenciar as políticas e os acontecimentos no sentido da mudança necessário;

• Aumentar o nível de compreensão e de compromisso dos cidadãos, organizações voluntárias, empresas, instituições e governos;

A CMAD publicou um relatório em 1987, denominado O Nosso Futuro Comum e também conhecido como relatório Bruntland, que introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja satisfazer as necessidades das gerações actuais, sem comprometer as gerações futuras envolvendo a itnegração das políticas sócio-económicas e ambientais. O desafio consiste em atribuir aos Organismos da Administração Central, Sectorial e Local a responsabilidade pelos efeitos das suas decisões, na qualidade do ambiente humano. Na Conferência das Nações Unidas de 1992 conhecida por Eco’92 teve como objectivos pré-definidos a elaboração de Documentos como a Carta da Terra (princípios de respeito pela Terra), as Convenções sobre Alterações Climáticas, Biodiversidade e Florestas. Das três convenções apenas a do Clima e da Biodiversidade foram concretizadas. Na Conferência do Rio de Janeiro surgiu um documento denominado Agenda 21 com o objecto de preparar para os desafios do século XXI, e que levou à criação em 1993 da Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (CDS). Em 1997 teve lugar a Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGASS) denominada Cimeira Rio +5 que deveria ser entendida como factor decisivo para a efectiva implementação da Agenda 21, enquanto Plano Global de Acção para o desenvolvimento sustentável do Planeta., concluiu-se que os EUA e Alemanha não tinham vontade política para incrementar medidas de combate à população e por falta de recursos financeiros, o Programa de Cooperação Ambiental das Nações Unidas ficou praticamente parado. Estratégias para a implementação da Agenda 21 De uma maneira geral a integração de políticas ambientais com as económicas e as sociais é fundamental para a implementação da Agenda 21. Assim é necessário modificar as acções do homem que passam pelo seguinte: • Alterar os sistemas intensivos de produção de alimentos para sistemas sustentáveis, que reduzam

a degradação do solo e que preservem os recursos naturais (como água, e a biodiversidade), garantindo assim o seu uso pelas gerações futuras.

• Promover uma gestão integrada da água que balance os consumos da sociedade humana com os dos ecossistemas e que salvaguarde o abastecimento de água a longo prazo através, i.e., da minimização do gasto de recursos fósseis de águas subterrâneas e utilizando a água de uma forma mais eficiente.

• Aumentar a eficiência na conversão, utilização e produção de energia assim como na transição da utilização de combustíveis fósseis para energias alternativas.

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• Reduzir a utilização intensiva de materiais na produção e consumo, i.e., evitar o esgotamento dos recursos mantendo o consumo abaixo dos níveis que requerem substituição a longo prazo, no caso dos recursos não renováveis ou dentro da capacidade de regeneração, no caso dos recursos renováveis. Estas medidas incluem a redução da produção de resíduos e de emissões de poluentes, que podem ser efectuadas através da modificação de tecnologias, incentivo à reciclagem ou substituição de produtos ou processos por outros menos poluentes.

Principais instrumentos de política ambiental para se efectuar a transição ambiental que integre o ambiente e os processos de decisão económica. Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) – Procedimento administrativo que garante que, antes da autorização de um projecto, os seus potenciais impactes significativos sobre o ambiente sejam satisfatoriamente avaliados e tidos em consideração. Avaliação Ambiental Estratégica – Procedimento que visa a aplicação da Avaliação de Impacte Ambiental a politicas, planos e programas. Colmatar lacunas dos AIA evitando que as medidas de protecção ambiental sejam sugeridas já numa fase tardia de planeamento. Legislação Ambiental – Regulamentar e proteger por lei o ambiente. A eficiência depende da implementação e fiscalização. Gestão Ambiental e Auditorias Ambientais . Avaliação da qualidade ambiental de uma empresa em todos os níveis da sua actividade, consumo de matérias primas, energéticos, produção de resíduos e emissão de efluentes, ambiente de trabalho. As Normas Internacionais ISSO 14000. O regulamento europeu é o EMAS Análise do Ciclo de Vida de Produtos (ACV) – técnica de avaliação dos impactes ambientais associados a um produto ou serviço (desde a extracção de matérias primas ou transformação de recursos naturais, até à deposição final do produto). Rótulos Ecológicos – rótulos ecológicos a equipamentos que são submetidos a um licenciamento perante a análise do ciclo de vida do produto. Acordos voluntários – acordos com os governos de cada país no sentido de motivar o tecido industrial a considerar critérios de natureza ambiental nos seus processos produtivos. Tecnologias limpas – processo de implementação de tecnologias menos poluidoras nas industrias. Subsídios – apoios para ajudar a incrementar àqueles que beneficiam as condições ambientais. Taxas Ambientais – Processo que consiste na incorporação dos custos da poluição e outros custos ambientais nos preços. Princípio do Poluidor Pagador. Existem três tipos de taxas: taxa por serviço prestado, taxas de incentivo (redução nos impostos), taxas fiscais ambientais (geram receitas). Comércio ambiental e implementação conjunta – Fixação total de uma quantidade de poluição permitida sendo permitido o comércio de emissões entre diferentes países desde que o balanço total seja mantido. Saliente-se que a globalização do mercado económico coloca em particular um sério desafio ao desenvolvimento sustentável, dado que privilegia as desigualdades nos níveis de desenvolvimento e a falta de estruturas efectivas para a governação internacional.

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IV. PROBLEMAS DEMOGRÁFICOS Evolução da população mundial O primeiro bilião da população humana foi atingido em 1801.. Irá atingir o pico em 1986 para depois iniciar uma queda. Evolução da população mundial Até ao século XVIII, o crescimentos da população foi lento, ainda que a taxa da natalidade fosse alta a taxa da mortalidade era também muito alta (derivado à falta de higiene, contracção de doenças). De 1750 a 1950 – a melhoria das condições sanitárias, os progressos da medicina, a higiene contribuíram para a baixa da taxa da mortalidade e o aumento da esperança média de vida, consequentemente o aumento populacional incidiu sobretudo na Europa e América do Norte. 1950 até 1999 – nos países menos desenvolvidos verificou-se uma acentuada melhoria das condições de vida, cuidados médicos e água potável permitindo um decréscimo de mortalidade e uma elevada taxa da natalidade. 1999 – foi o ano dos seis biliões com um quantitativo de uma população muito jovem. De 1999 até 2050 – continuar-se-á a verificar um crescimento da população mundial de acordo com as projecções da Divisão de População do Departamento de Assuntos Económicos e sociais das Nações Unidas. Causas principais do crescimento demográfico 1. Estatuto e papel da Mulher centrados na maternidade - A progenitura é considerada como o

meio de se alcançar muitos objectivos da vida quotidiana. 2. Valor da Criança - As crianças sãos vistas como garante do futuro dos mais velhos, devido à

inexistência de segurança social. 3. Mortalidade infantil elevada – o número de crianças que conseguem sobreviver é reduzido, o

que origina a necessidade de famílias numerosas. 4. Baixo nível educacional da mulher – tende a reduzir a idade média do primeiro casamento. 5. Planeamento familiar reduzido e baixo uso de contraceptivos Consequências principais do acelerado crescimento demográfico Consequências sócio-económicas • Maior pressão demográfica • Maior urbanização • Aumento do desemprego e subemprego • Maior número de pobres; • Fome e Subnutrição • Maiores tensões sociais • Recurso à emigração

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Consequências políticas • Mudança na composição do eleitorado • Surgimento de novas ideologias e de novos partidos • Instabilidade política • Corrupção • Tendência para a formação de governos autocráticos; • Intervenção das forças militares e de segurança, na governação Consequências ambientais • Escassez de água potável ou útil em determinadas regiões (provoca desertificação e salinação das

terras • Redução das florestas • Decréscimo da terra de cultivo per capita • Aquecimento gradual da atmosfera • Mudanças climáticas mundiais em grande escala (subida do nível do mar, aumento de

pluviosidade) Que medidas tomar • Acelerar o desenvolvimento social e económico • Aumentar o controlo das mulheres e dos homens sobre a sua vida, nomeadamente sobre a sua

vida reprodutiva e permitir que gozem os seus direitos humanos fundamentais. Envelhecimento demográfico ou populacional Assiste-se hoje nas sociedades mais desenvolvidas o fenómeno do envelhecimento demográfico ou seja aumento da percentagem relativa de indivíduos com 65 e mais anos de idade no conjunto da população total, que começou a acentuar-se na segunda metade do século XX. Os reflexos nos sistemas sociais e de segurança social dos países mais ricos do planeta tem justificado que o envelhecimento mereça hoje mais atenção até do que a explosão demográfica nos países em vias de desenvolvimento. Evolução da população por grupos etários nas grandes Regiões Mundo A proporção dos jovens desde a década de 50 que baixou de 34% para 30% enquanto a população com mais de 60 anos aumento de 8% para 10%. Regiões mais desenvolvidas Em 2050 a população com mais de 60 anos representará 33%, mais do dobro, da proporção de jovens com menos de 15 anos. Regiões menos desenvolvidas Processo de envelhecimento da população tem sido mais lento. Em 2050 irá assistir-se a um aumento significativo quase o triplo da população com 60 e mais anos que atingirá 21% enquanto que os jovens com menos de 15 anos baixarão para 20%.

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Evolução do número de indivíduos com 65 e mais anos no total da população mundial. Existe uma tendência para o envelhecimento da população no Mundo. Causas do envelhecimento demográfico Razões principais: 1. Envelhecimento natural do topo resultante do acréscimo da percentagem da população idosa,

em consequência de tendências demográficas endógenas normais. O acréscimo do número de indivíduos com 65 e mais anos resulta, da baixa da taxa de mortalidade e da mortalidade infantil com consequente aumento da esperança média de vida, resultado do avanço da medicina e de melhores condições de vida.

2. Envelhecimento artificial do topo, que acrescenta à primeira, a concentração de idosos em

regiões particularmente atraentes, devido, entre outras causas, às boas condições climáticas e existência de serviços especializados. A presença e intensidade destes e outros factores exógenos às normas tendências demográficas, tem por paradigma o caso da Florida que, por isso mesmo, tem constituído um verdadeiro laboratório de pesquisa, com antevisão do que virá a ser a curto prazo a estrutura das idades da população dos E.U.A. e as de outros países desenvolvidos, ou ainda devido ás migrações, quer internas quer internacionais, dado serem os jovens que maior tendência têm para migrar.

3. Envelhecimento natural na base, resultante da quebra da natalidade característica de

sociedades urbanas e industriais, com a consequente redução progressiva da camada mais jovem, no total da população. A baixa da taxa da natalidade resultou de múltiplos factores, como o avanço da medicina, melhores condições de vida, baixa da mortalidade infantil, maiores habilitações literárias da mulher, maior participação da mulher na vida activa, ao aumento da idade média à data do primeiro casamento e uso de métodos de contracepção.

Consequências do envelhecimento populacional ou demográfico Consequências económicas O aumento de populações envelhecidas traz consequências a nível económico, político, social e também a nível individual, quer físico, psíquico e psicossocial. A nível económico, o aumento da população idosa acarreta maiores custos com a segurança social (pensões e reformas) com a saúde (hospitais e medicamentos) com a criação de infra-estruturas (lares, centros de dia). Todos estes encargos financeiros para com o Estado serão suportados por uma população activa, cada vez mais reduzida, o que implicará uma diminuição na qualidade de vida. Consequências políticas Os idosos terão maior poder eleitoral podendo alterar indirectamente o funcionamento da sociedade e da economia. Uma sociedade com menor percentagem de população activa, poderá apresentar certas características: • Inflação baixa (os eleitores idosos não querem ver as suas poupanças diminuídas pela inflação) • Taxa de desemprego baixa (devido á queda na proporção de pessoas no activo • Criminalidade baixa (os mais velhos não têm tendência a tolerar o crime) • Baixa tolerância da desordem e do comportamento anti-social • Maior aceitação da autoridade no controlo deste tipo de comportamento.

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Consequências individuais do envelhecimento Quer a nível físico quer a nível individual e social os mais idosos têm maior tendência para se sentirem mais isolados e excluídos da sociedade. Consequências físicas

• Com a idade o organismo fica mais debilitado. Consequências económicas e sociais

• A entrada para a reforma ou dependência de pensões ou subsídios estatais significa para a maioria da população idosa uma redução dos seus rendimentos.

Existe por parte dos mais jovens a criação de estereótipos contra os mais idosos, considerando-os política e economicamente mais conservadores, mais intolerantes e socialmente inúteis e fisicamente incapazes. Tendências do envelhecimento populacional • A maioria da população com 60 ou mais viverá em países mais desenvolvidos. • Feminização da população envelhecida. • Aumento do número de pessoas com 80, 90 e 100 anos. • Redução do número de activos por cada idoso. • Possíveis estratégias de intervenção • Fomentar a natalidade com recurso a políticas natalistas • Aumentar a idade da reforma • Redefinir o papel e imagem do idoso • Educar para a vida na terceira idade • Criar medidas para apoio de idosos na vida activa; • Promover acções de formação para os idosos; • Reintegrar os idosos na vida activa; • Fomentar a participação de idosos em regime de cooperação com países em desenvolvimento. Migrações Classificação das migrações • Internas • Internacionais Migrações internas São os movimentos definitivos (exôdo rural) ou sazonais (i.e. vindimas) das populações dentro de um país, território ou área restrita. Causas das migrações internas Ordem económica – de natureza laboral Ordem não económica – ecológica (escassez de água, infertilidade das terras) e sociais (conflitos, inexistência de infra-estruturas, escolas etc.)

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Consequências das migrações internas A crescente urbanização que trará sérios e vários níveis de problemas: 1. Ao nível demográfico – desertificação do interior e zonas rurais e aumento da densidade

populacional nas áreas urbanas 2. Ao nível familiar – abandono de mulheres, crianças e idosos 3. Ao nível social – desemprego ou subemprego, baixos salários, bairros precários, tensões sociais

e pressão sobre os sistemas de prestação de serviços. Migrações Internacionais São movimentos populacionais que ocorrem entre países. Emigrante é o indivíduo que sai do seu país para ir trabalhar noutro, chegado ao destino chama-se imigrante. Migrações internacionais. Alguns factores • Natureza das motivações, que podem ser políticas (guerras, revoluções perseguições étnicas ou

religiosas) e migrações económicas (desemprego, salários baixos, más condições de vida) • Distância percorrida, poderá ser transoceânica ou de curtas distâncias. • Duração de permanência – poderá ser definitiva ou temporária (migrações sazonais, anuais ou

plurianuais – contratos por temporada. • As qualificações dos migrantes facilitarão as sua entrada e integração sócio-profissional nos

países de destino. • Proximidade cultural entre os migrantes e a população anfitriã (língua, etnia, cultura). Causas das migrações internacionais Ordem económica – natureza laboral (desemprego,) Ordem não económica – políticas (guerra), demográficas, sociais (falta de infra-estruturas), religiosas/culturais, familiar, pessoal (gosto de viver no estrangeiro) Consequências das Migrações internacionais Ordem económico: excesso de oferta e aumento da população menos qualificada. Ordem demográfica: rejuvenescimento das suas populações Ordem socio-política – surgimento de sentimentos de xenofobia Consequências para os países de origem Ordem económica – contribuição financeira dos seus emigrantes Ordem demográfica – envelhecimento das suas populações Ordem social – abandono de mulheres e crianças, contacto com outras culturas e tradições que poderão levar à extinção de determinadas práticas tradicionais ou adopção de práticas novas. Tendências das migrações internacionais para os próximos 20 anos Globalização das Migrações – tendência para que um maior número de países seja afectado ao mesmo tempo por movimentos migratórios (possível implementação de medidas restritivas) Crescimento das Migrações – tendência para que o volume dos movimentos migratórios se torne cada vez maior.

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Indiferenciação das Migrações – Inicialmente eram só de um tipo trabalhadores sou refugiados. Hoje, assise-se a movimentos de vários tipos que se tornam um obstáculo à tomada de medidas restritivas, por envolverem critérios diferentes. Feminização das Migrações – hoje assistem-se a movimentos de migração feminina, por exemplo as mulheres turcas precedem os maridos na emigração para a Alemanha. Processo migratório internacional: o modelo das 4 fases Etapa temporária, prolongamento da estada, reagrupamento familiar, fixação permanente. Políticas demográficas ou políticas da população Entende-se por políticas demográficas, o conjunto de medidas tomadas pelas entidades governamentais, que de forma directa ou indirecta, visam alterar a evolução da população. Estas alterações do movimento da população podem ser feitas com base nas áreas do processo populacional, ou seja: • Área da natalidade (é nesta área onde as políticas têm mais incidido e onde os governos mais

intervêm). • Área da mortalidade – políticas de melhores condições de vida, água potável, saneamento básico. • Área das migrações – variam com as características demográficas dos países em função do seu

grau de desenvolvimento. Políticas demográficas ou da população na área da natalidade As políticas na área da natalidade têm como principal objectivo alterar o volume dos nascimentos, para o aumentar, manter ou baixar: • Políticas natalistas – aumento da taxa da natalidade (benefícios fiscais, infra-estruturas sociais,

apoio à maternidade, proibição do aborto, área laboral – horários especiais, propaganda anticoncepcional i.e. França)

• Políticas anti-natalistas ou neomalthusianas – diminuição da taxa da natalidade (i.e. china limitou a idade dos casamentos uma política de filho único)

• Políticas de neutralidade – cujos resultados variarão de acordo com as circunstâncias de cada país. Caso do Canada e Austrália, aumento da população activa e rejuvenescimento demográfico com as políticas de emigração.

Políticas que podem influenciar as migrações • Factores profissionais – limitar ou facilitar a entrada de mão de obra qualificada. • Factores sanitários – recusando indivíduos pelo seu cadastro criminal, controlos sanitários

impedindo a entrada de indivíduos portadores ou potenciais portadores de determinadas doenças. • Factores étnicos e raciais – adoptando medidas a beneficiar determinadas etnias em detrimento

de outras.

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Conferências mundiais sobre a população Foram organizadas pela Organização das Nações Unidas até hoje três conferências mundiais sobre a população: 1. Conferência Mundial de Bucareste (1974) 2. Conferência Internacional do México sobre a População (1984) 3. Conferência Internacional do Cairo sobre a População e Desenvolvimento (1994) As três partem da premissa de que o crescimento da população é um potencial obstáculo ao desenvolvimento económico e que o bem estar das populações passa por uma estratégia de limitação do crescimento populacional. A prioridade em consenso foi a redução da moralidade, ainda que o seu decréscimo provoque uma maior pressão demográfica. A conferência do Cairo introduziu a importância social atribuída às mulheres e aos direitos da saúde reprodutiva. A promoção da participação dos homens como parceiros capazes de dar apoio.

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V. GLOBALIZAÇÃO ECONÓMICA Principais conceitos usados na análise dos determinantes da globalização, moldura básica necessária para a compreensão das relações entre globalização, desnacionalização e vulnerabilidade externa. O argumento central é que o processo de globalização económica provoca relações mais complexas e profundas de interdependência entre economias nacionais e, no caso de alguns países (Brasil, - e toda a América Latina) essas relações levam à consolidação ou ao agravamento de uma situação de vulnerabilidade externa. A entrada desqualificada de abertura a capital estrangeiro provoca uma desnacionalização agravando a vulnerabilidade externa da economia. A entrada de empresas de capital estrangeiro (ECE), transnacionais, por virem acompanhadas de extraordinárias fontes internas de poder e principalmente de fontes externas de poder. IED - O Investimento Externo Directo refere-se a todo o fluxo de capital estrangeiro destinado a uma empresa (residente) sobre a qual o estrangeiro (não-residente) exerce controlo sobre a tomada de decisão. ECE – Empresas de Capital Estrangeiro – empresa matriz (não residente), da filial ou subsidiária (residente) no país. É uma empresa internacional, multinacional, transnacional. Da internacionalização á globalização A globalização pode ser definida como a interacção de três processos distintos que têm ocorrido ao longo dos últimos vinte anos e afectam as dimensões financeira, produtiva, comercial e tecnológica das relações económicas internacionais. 1. A expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais;

• Refere-se à expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais. Nos fluxos de capitais, os dados mostram que os empréstimos internacionais mais o investimento de acções em bolsa aumentaram 400 biliões em 1987 para 1,6 triliões de dólares em 1996. Os fluxos de capitais em todos os mercados compõem o sistema financeiro internacional (títulos, acções, empréstimos, financiamentos, moedas e derivados).

• Globalização na esfera produtiva – refere-se sempre que um país que tem acesso a bens e serviços com origem noutros países, que ocorre por meio do comércio internacional, investimento externo directo e relações contratuais. Em termos de inserção produtiva dos países no sistema económico internacional, os mecanismos relevantes são o investimento externo directo e as relações contratuais. As exportações e as importações são formas de inserção comercial no sistema económico mundial.

• Investimento externo directo significa que um agente económico estrangeiro actua na economia nacional por meio de subsidiárias ou filiais, enquanto as relações contratuais permitem que agentes económicos nacionais produzam bens ou serviços que têm origem no resto do mundo. Os contratos de transferência de know-how, marcas, patentes, franquias, parcerias e alianças estratégicas são os exemplos mais comuns.

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2. A concorrência desenfreada nos mercados internacionais;

• Ou seja o acirramento/agitação da concorrência internacional. A competitividade internacional na agenda da política económica dos países sugere que há uma rivalidade cada vez maior no sistema económico mundial. Manifesta-se numa maior disputa por transacções financeiras internacionais envolvendo um maior numero de bancos e instituições financeiras não bancárias. O maior banco de investimentos dos EUA é o Merrill Lynch que ocupou o primeiro lugar na emissão internacional de títulos.

• Os investimentos em Bolsa com bases geográficas, são efectuados por investidores que podem actuar por meio de instituições financeiras internacionais, ou, então, directamente nos mercados nos quais têm interesse. Estes centros de investimento, mercados emergentes, situam-se em Singapura e Hong Kong, S. Paulo e Cidade do México e Varsóvia e Budapeste na Europa.

3. A maior integração entre os sistemas económicos nacionais ou seja crescente integração dos

sistemas económicos nacionais. • Este processo manifesta-se quando no caso da globalização financeira, uma proporção

crescente de activos financeiros emitidos por residentes está nas mãos de não-residentes e vice-versa. Ou seja o indicador é o diferencial entre as taxas de crescimento das transacções financeiras internacionais e nacionais.

• Participação de títulos estrangeiros na carteira dos fundos de pensões norte-americanas. Durante o final do século XIX o contramovimento proteccionista atingiu as transacções internacionais das mercadorias estratégicas, durante este período do nacionalismo liberal transformava-se um liberalismo nacional, com os seus mercados apoiando-se no proteccionismo e no imperialismo na área externa e no conservadorismo monopolista na área interna. A especificidade da globalização económica no final do século XX consistiu na simultaneidade dos processos de crescimento extraordinário dos fluxos internacionais, acirramento da concorrência no sistema internacional e integração crescente entre os sistemas económicos nacionais. Contudo, esse processo ocorre sem o contramovimento proteccionista, intervencionista e regulador, que marcou, por exemplo, o final do século XIX. Essa especificidade é particularmente importante e merece um nome específico globalização. Determinantes da globalização Os determinantes da globalização podem ser agrupados em três conjuntos de factores: 1. Tecnológicos

• Desenvolvimentos tecnológicos associados à revolução informática e das telecomunicações. Redução dos custos operacionais e dos custos de transacção numa escala global.

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2. Institucionais

• Envolve factores de ordem política e institucional vinculados à ascensão das ideias liberais na década de 80, Tatcher e Reagan. O resultado dessa ascensão foi uma onda de desregulamentação do sistema económico à escala global., no entanto na década de 70 a pressão para uma maior liberdade forçou a ruptura do sistema de Bretton Woods que foi acompanhada da instabilidade de taxas de juros e câmbios. Assim, a liberdade de escolha, diante de opções políticas e ideológicas mais liberalizantes, parece ter desempenhado um papel coadjuvante no processo de liberalização, tendo em vista a força avassaladora e a gravidade da realidade económica, bem como a própria fragilidade e a incapacidade das elites nacionais de definirem projectos alternativos de ajuste e desenvolvimento.

• Ao longo dos anos 80, os fundos mútuos, as companhias de seguros e os fundos de pensões dos países desenvolvidos defrontaram-se com a instabilidade das taxas de juros e das taxas de câmbios o resultado foi uma mudança de orientação na estratégia de diversificação dos seus recursos, no sentido de uma maior dispersão geográfica.

3. Sistémicos

• Os factores são de ordem sistémica e estrutural. O ponto central reside em ver a globalização económica como parte integrante de um movimento de acumulação à escala global caracterizado pelas dificuldades de expansão da esfera produtiva das economias capitalistas sólidas/maduras. A questão central refere-se ao menor potencial de crescimento dos mercados domésticos dos países desenvolvidos, ricos em capital, isto é, trata-se do problema clássico de realização do capital. Como resultado, há um deslocamento de recursos da esfera produtiva para a esfera financeira e, portanto, um efeito de expansão dos mercados de capitais domésticos e internacional.

As economias capitalistas desenvolvidas defrontavam-se com quatro respostas básicas para sair da crise de acumulação 1. Saída keynesiana . Com políticas fiscais expansionistas e défices públicos. A expansão dos investimentos públicos é

uma das principais formas de realizar essa saída da crise. Entretanto, essa saída tem retornos decrescentes na medida em que os défices públicos recorrentes provocam o crescimento da dívida pública interna e acabam mais tarde por gerar políticas monetárias restritivas.

2. Saída schumpeteriana . De indução do processo de destruição criadora, por meio do qual se promove uma nova onda de

inovações tecnológicas e organizacionais capaz de aumentar os gastos (consumo e investimento). No entanto, do ponto de vista da procura interna pode ocorrer que esse processo provoque mais destruição do que criação ou seja as inovações tecnológica e organizacionais podem poupar a mão-de-obra e acaba por reduzir a massa de salários na economia. Assim temos o conhecido mecanismo do acelerador por meio do qual o maior crescimento da procura provoca aumento dos investimentos..

3. Distribuição do produto e riqueza . Ainda que essa resposta seja muito mais efectiva em economias atrasadas, com populações

pobres e enormes desigualdades, ela pode ter algum impacto nas economias desenvolvidas. O problema central é de natureza política.

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. Mercado externo . Tentam transformar as exportações na locomotiva da economia nacional. Nesse sentido as

economias avançadas devem alcançar uma trajectória de crescente competitividade internacional, as restrições pelo lado da procura externa são também cada vez maiores, considerando o lento crescimento da economia mundial, as suas flutuações cíclicas e as ondas de proteccionismo.

O processo de globalização dos últimos anos tem servido para interromper e, eventualmente, reverter a tendência da queda das taxas dos lucros nas economias capitalistas desenvolvidas entre o início dos anos 70 e 80 ou seja, o processo de globalização por meio da abertura e exploração dos mercados externos – tem permitido uma recuperação das taxas de lucro. Na realidade, a saída preferencial usada pelas economias capitalistas desenvolvidas desde o início dos anos 80 tem sido aquela que procura maior acesso aos mercados internacionais de bens, serviços e capitais. Essa estratégia surge como reacção à insuficiência de procura interna nos países capitalistas desenvolvidos, sendo activamente promovida por governos e empresas transnacionais. Portanto, a insuficiência da procura colectiva nos países desenvolvidos constitui-se no mais importante e determinante fenómeno da globalização económica deste final de século. Capital estrangeiro e poder O conhecimento sistemático das fontes ou dos elementos da base de poder de empresas de capital estrangeiro (ECE) é fundamental não somente para uma melhor compreensão da distribuição dos benefícios entre as ECE e os países, mas também em ajudar a entender a razão porque as ECE são capazes de ter determinados efeitos sobre as economias nacionais. Há três diferentes formas de exercício de poder nas ECE: coacção, autoridade e influência 1. Coacção existe quando o consentimento é baseado na privação física, ou a ameaça de privação

física; 2. Autoridade refere-se a consentimento legitimado; 3. Influência é um termo residual, referindo-se a um consentimento não-legitimado e não coercivo. O papel das ECE como um agente de mobilização de viés, isto é, não se deixa de lado os efeitos das ECE sobre a tomada de não-decisão. A não-decisão é uma decisão que resulta na supressão ou impedimento de um desafio latente ou manifesto para os valores ou interesses do tomador de decisões. A tomada de não-decisão pela ECE parece ser significativo quando se considera a capacidade dessas empresas de influenciar ou moldar percepções e preferências por meio dos tipos de bens e serviços fornecidos, assim como pelo uso dos meios de comunicação de massa. As fontes ou elementos da base de poder de ECE são divididas em dois tipos: externas e internas 1. As fontes externas são derivadas de elementos fora do controlo dos países receptores do IED

(investimento externo directo), de modo que o governo tem pouca, se alguma probabilidade de mudar esses elementos. Assim, estes podem ser vistos como parâmetros na análise do papel político das ECE.

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2. As fontes internas de poder pode, até certo ponto e sob certas circunstâncias, ser colocadas sob o

controlo dos governos dos países receptores e, consequentemente, vistas como variáveis a serem usadas para reduzir o poder das ECE.

É difícil definir um elemento da base de poder das ECE como externo ou interno. Além disso esses elementos nem sempre são independentes uns dos outros, já que a própria existência de um elemento externo pode criar condições para o aparecimento de um elemento interno. No que se refere às fontes internas de poder das ECE pode-se mencionar:

• A estrutura do mercado interno • Controlo de associações patronais • Liderança de mercado • Acesso aos decisores governamentais • Efeito fiscal • Padrões de associação com grupos industriais e financeiros locais • Interligação de administrações/direcções • Conexões políticas locais • Padrão ideológico hegemónico • Influência do nacionalismo • Conjuntura política • Disponibilidade de formas alternativas de internacionalização da produção • Importância estratégica dos bens e serviços produzidos • Potencialidade do mercado interno • Controlo e uso dos meios de comunicação • Controlo e uso dos meios de comunicação • Níveis de alfabetização/educação/formação profissional do país receptor • Atitudes culturais • Coerência da política governamental • Natureza das políticas públicas (comercial, cambial, financeira) • Institucionalidade (aparelho repressivo/coercivo do Estado) • Grau de desnacionalização, e vulnerabilidade externa do país

Uma parte substantiva das fontes internas mencionadas também se aplica ao caso das empresas privadas nacionais, particularmente aos grandes grupos económicos nacionais. Quanto mais importantes forem os recursos da propriedade das ECE, maior tende a ser a sua capacidade de usar diferentes métodos para controlar mercados, criar poder económico e, consequentemente, poder político. A especificidade das ECE está de facto nas fontes externas de poder e que são as seguintes: 1. Capacidade de mobilização de recursos à escala global

• As ECE deslocam recursos de uma subsidiária para outra, de um país para outro. Podem realizar uma política de dumping em qualquer mercado específico por um longo período usando os recursos obtidos noutros mercados e países. Controlam mercados, geram poder económico e poder político.

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• 2. Grau de integração do sistema matriz-filiais

• É uma maior flexibilidade no uso dos mecanismos dos preços de transferência, realizando a sua própria vontade apesar da resistência do país receptor. Operam em mercados de concorrência monopolista, onde as políticas de controlo de preços de transferência têm uma baixa eficácia.

3. Assimetria da informação • Possuem informações sobre a situação e perspectivas a respeito de produtos e mercados

que não estão disponíveis. 4. Estrutura do mercado à escala global

• Tendem a aumentar o poder de comercialização menos claro das ECE. A rivalidade entre os competidores afecta a conduta das ECE que entram como conluios no mercado internacional.

5. Interdependência à escala global

• A natureza da concorrência oligopolista ou monopolista pode rstringir a rivalidade por meio da moderação ou cooperação.

6. Concentração segundo a origem

• Deve-se esperar maior probabilidade de acordos formais ou informais quando há um grau mais elevado de concentração do país de origem das ECE. Semelhantes heranças socioculturais de executivos tendem a aproximá-los, aumentando a probabilidade de acordos e de acção comum., Câmaras de Comércio como espaço de discussão e instrumento de pressão, mostra a importância da origem comum do capital estrangeiro.

7. Importância relativa do país receptor

• O poder das ECE num determinado país está inversamente relacionado com a importância relativa do país receptor no cenário internacional. As ECE correm mais riscos quando estão dispersas entre vários países do que quando se concentram em poucos.

8. Dinâmica da inovação tecnológica

• As ECE caracterizam-se por um dinamismo tecnológico, pois maior tende a ser o poder de intervenção económica.

9. Concentração do desenvolvimento tecnológico

• A intervenção dos proprietários de tecnologia é uma fonte de pressão, pois pode levar a uma maior vunerabilidade externa dos países.

10. Política externa do governo do país de origem

• As ECE tentam a influenciar a política externa dos seus países para obter vantagens nos países receptores e que podem variar da protecção diplomática às operações militares.

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11. Marco jurídico e institucional no sistema internacional

• As ECE podem apelar de forma directa ou indirecta para elementos externos de natureza institucional podendo ampliar o seu poder. Este elementos referem-se a princípios, normas, procedimentos que se encontram nos acordos internacionais. É razão porque desde 1995 há uma forte resistência à criação do Acordo Multilateral de Investimentos (AMI) no âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). O objectivo central do AMI é definir um conjunto de direitos para as ECE e, por outro lado, restringir o grau de manobra de governos na direcção da regulamentação dessas empresas.

Os consumidores e a globalização Num tempo em que as campanhas eleitorais se mudam dos comícios para a televisão, das polémicas doutrinárias para o confronto de imagens e da persuasão ideológica para as pesquisas de marketing, embora ainda nos interpelem como cidadãos é mais fácil e coerente sentirmo-nos convocados como consumidores. Do Nacional ao global Vamo-nos afastando da época em que as identidades se definiam por essências a-históricas: actualmente configuram-se no consumo, dependem daquilo que se possui, ou daquilo que se pode chegar a possuir. Nos séculos XIX e XX as culturas nacionais pareciam sistemas razoáveis para preservar, dentro da homogeneidade industrial, certas diferenças e certo enraizamento territorial, que mais ou menos coincidiam com os espaços de produção e circulação dos bens., o valor simbólico de consumir “nosso” era sustentado por uma nacionalidade económica, a procura de marcas estrangeiras era um recurso de prestígio. No entanto hoje, os objectos perdem a relação de fidelidade com os territórios de origem. A cultura é um processo de montagem multinacional, uma articulação flexível de partes, uma colagem de traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ler e utilizar. O que diferencia a internacionalização da globalização é que no tempo de internacionalização das culturas nacionais era possível não se estar satisfeito com o que se possuía e ir procurá-lo noutro lugar. A internacionalização foi uma abertura das fronteiras geográficas de cada sociedade para incorporar bens materiais e simbólicos das outras. A globalização supõe uma interacção funcional de actividades económicas e culturais dispersas, bens e serviços gerados por um sistema com muitos centros, no qual é mais importante a velocidade com que se percorres o mundo do que as posições geográficas a partir das quais se está agir. As manifestações culturais foram submetidas aos valores que dinamizam o mercado e a moda: o consumo incessantemente renovado, a surpresa e o divertimento. As decisões políticas e económicas são tomadas em função das seduções imediatistas do consumo, o livre comércio sem memória dos seus erros, a importação desenfreada dos últimos modelos que nos faz cair, uma e outra vez, como se cada uma fosse a primeira, nesse consumismo. A maneira neoliberal de fazer a globalização consiste em reduzir empregos para reduzir custos, competindo entre empresas transnacionais, cuja direcção tem origem a partir de um ponto desconhecido, de modo que os interesses sindicais e nacionais quase não podem ser exercidos. A consequência é que mais de 40% da população das sociedades em vias de desenvolvimento se encontra privada de trabalho estável e de condições mínimas de segurança.

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A cidadania numa época de consumo • Primeiro, existem muitas dúvidas fundamentadas que o global se apresente como substituto do

local. • Segundo, os últimos acontecimentos mundiais, nomeadamente a reunião do OMC, fragilizou

completamente a ideia que o modo neoliberal de nos globalizarmos seja o único possível. O crescimento vertiginoso das tecnologias audiovisuais de comunicação provocaram a mudança do desenvolvimento do público e o exercício da cidadania. Desiludido com as burocracias estatais, partidárias e sindicais, o público recorre à rádio e à televisão para conseguir o que as instituições públicas não proporcionam: serviços, justiça, reparações ou simples atenção. A aparição destes meios põe em evidência uma reestruturação geral das articulações entre o público e o privado que pode ser percebida também no reordenamento da vida urbana, no declínio das nações como entidades que comportam o social e na reorganização das funções dos actores políticos tradicionais. O novo cenário sociocultural perante a Globalização As mudanças podem ser sintetizadas em cinco processos: 1. Um redimensionamento das instituições e dos circuitos de exercício do público: perda de peso

dos órgãos locais e nacionais em benefício dos conglomerados empresariais de alcance transnacional;

2. Reformulção dos padrões de ordenamento e convivência urbanos: do bairro aos condomínios,

das interacções próximas à disseminação policêntrica da mancha urbana, sobretudo nas grandes cidades, onde as actividades básicas têm lugar, frequentemente, longe do lugar de residência e onde o tempo empregue para se deslocar por lugares desconhecidos da cidade reduz o tempo disponível para habitar a própria;

3. A reelaboração do próprio e do nosso, devido ao predomínio dos bens e mensagens provenientes

de uma economia e uma cultura globalizadas sobre aqueles gerados na cidade e na nação a que se pertence.

4. A consequente redifinição do lugar de pertença e identidade, organizado cada vez menos por

lealdades locais ou nacionais e mais pela participação em comunidades transnacionais ou desterritorializadas de consumidores.

5. A passagem do cidadão como representante de uma opinião pública ao cidadão interessado em

desfrutar de uma certa qualidade de vida. O que é novidade na segunda metade do século XX é que estas modalidades audiovisuais e massivas de organização da cultura foram subordinadas a critérios empresariais de lucro, assim como a um ordenamento global que desterritorializa os seus conteúdos e as suas formas de consumo. Esta reestruturação das práticas económcias e culturais leva a uma concentração hermética das decisões nas elites tecnológico-económicas e gera um novo regime de exclusão das maiorias incorporadas como clientes. As sociedades reorganizam-se para nos fazerem consumidores do século XXI. O direito de ser cidadão de decidir como são produzidos, distribuídos e utilizados esses bens, restringe-se novamente às elites. O público é o marco mediático graças ao qual o dispositivo institucional e tecnológico próprio das sociedades pós-industriais é capaz de apresentar a um público os múltiplos aspectos da vida social.

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VI. SAÚDE, DOENÇA E SOCIEDADE Apesar de ser difícil formular a definição de saúde, foi incluída na definição clássica formulada pela Organização Mundial de Saúde, segundo a qual a saúde é o bem estar físico, psíquico e social do indivíduo. A partir do século XVII, numa perspectiva funcionalista, o modelo de saúde acentua o aspecto curativo das ciências da saúde, partindo da ideia que o equilíbrio no indivíduo saudável se pode romper quando adoece, havendo então que reparar a avaria, papel que confiado aos profissionais de saúde, nomeadamente médicos e enfermeiros, cujo número passou a ser um indicador de qualidade de cuidados de saúde. Segundo o modelo preventivo, prevenção da doença, o importante é evitar que indivíduo adoeça. Aqui desempenham um papel importante o uso das vacinas, consumo de citrinos para prevenir o escorbuto e deixar de fumar na prevenção do cancro do pulmão. Nas últimas décadas do século XX acentuou-se o uso da expressão promoção de saúde, que traduz um modelo mais alargado de saúde e que abrange atitudes, comportamentos e estilos de vida que traduzem o bem estar físico, psíquico e social do indivíduo. Nos programas de promoção de saúde destaca-se a necessidade de considerar a população como um todo. Os indicadores de saúde mais utilizados têm sido o número de médico e enfermeiros por 100.000 habitantes, a taxa de mortalidade geral, a taxa de mortalidade infantil e a esperança de vida. Os indicadores mostram que o nível de saúde é maior nos países industrializados do que nos países em vias de desenvolvimento. Uma das tendências que se tem verificado em todos os países é a da crescente procura de serviços e cuidados de saúde o que faz com que os recursos, mesmo quando crescem, pareçam sempre insuficientes. Assimetrias no campo da saúde Países desenvolvidos e países menos desenvolvidos É nos países menos desenvolvidos que se encontra uma maior percentagem de pessoas atingidas por doenças infecciosas sendo a SAI a pior. A nível geral as principais causas de morte são as doenças cardiovasculares, infecciosas, cancro, acidentes, respiratórias e do tubo digestivo.

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Sexo e classe social Saúde e doença não se encontram uniformemente distribuídas na sociedade. Por exemplo a esperança de vida das mulheres em maior do que a dos homens, que têm sido apontadas causas genéticas, no entanto controversas, mas que tudo indica que a relação tem a ver com o comportamento da mulher e do homem. É de notar que existe também um incidência maior nas classes mais baixas causada por um menor conhecimento de como utilizar os serviços de saúde e como se proteger das doenças mais comuns. O Inquérito Nacional de Saúde em Portugal mostra que é a classe social com as habilitações literárias mais baixas. Assim, existe uma relação significativa entre a pobreza e o menor nível de saúde. O problema da SIDA SIDA – Síndroma da Imunodeficiência Humana, é uma doença infecciosa causada por um retrovírus o qual infecta os linfócitos T4, justamente as células que têm por missão conduzir a defesa do organismo contra as infecções. Para além do problema da SIDA como doença infecciosa, esta doença tem desencadeado em todo o mundo reacções de carácter emocional, levando a fenómenos de exclusão social dos indivíduos infectados, uma verdadeira epidemia social como tem sido designada. As perturbações mentais Segundo Gulbinat o aumento de pessoas com perturbações mentais, neurológica ou de problemas psicossociais está ligado ao aumento da esperança de vida, crescente número de indivíduos que atingirá a idade onde o risco é maior Em Portugal a política no campo da saúde mental está definida na Lei nº36/98 de 24 de Julho, a qual estabelece que A protecção da saúde mental efectiva-se através de medidas que contribuam para assegurar ou restabelecer o equilíbrio psíquico dos indivíduos, para favorecer o desenvolvimento das capacidade envolvidas na construção da personalidade e para promover a sua integração crítica no meio social em que vive.

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VII. A EDUCAÇÃO COMO PROBLEMA SOCIAL Nos primeiros anos do século XX; Durkheim definia educação como uma: • Acção exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda se não encontram amadurecidas para a

vida social. Ela tem por objectivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de condições físicas, intelectuais e morais que dela reclamam, seja a sociedade política, no seu conjunto, seja o meio especial a que ela se destina particularmente.

O fundador da primeira cátedra de Educação e Sociologia da Sorbonne referia a ideia de que a educação se traduzia num processo unilinear de preparação das novas gerações, pelas mais antigas, para o exercício de papéis sociais. Esta convergência de opiniões existia porque até há bem poucos anos, quando se discutia sobre educação quase todos os interlocutores se referiam ao que hoje se chama formação inicial. Estava-se numa época em que o ciclo de vida do conhecimento, isto é, o tempo que mediava entre o momento da sua criação e o da sua morte, era longo, podendo mesmo exceder o ciclo de vida humano. Assim, considerava-se que os conhecimentos acumulados na primeira parte da vida de um indivíduo constituíam património cognitivo suficiente para o desempenho dos vários papéis que ele iria ter ao longo da sua vida. A complexificação do conceito de educação Hoje, o Futuro entra cada vez mais depressa no Presente e que segundo Margaret Mead nos confere o estatuto de migrantes do Tempo levando outros autores a considerar estarmos a entrar numa espécie de Idade do Ferro Planetária. Resultante da força conjugada do aumento da esperança média de vida das populações e da redução drástica do ciclo de vida do Conhecimento, a formação inicial perdeu peso relativo, circunscrevendo-se à aprendizagem básica de conhecimentos, técnicas e atitudes, susceptíveis de virem alicerçar a aprendizagem ao longo do resto do ciclo de vida. Em contrapartida regista-se o alargamento da formação contínua. Assim, a educação no mundo contemporâneo assume-se como um processo que acompanha o ciclo de vida humano. Existem duas vertentes principais do processo educativo: 1. A educação formal

• É educação que abrange a chamada formação contínua e de formação contínua superior, esta última em contexto académico (pós-graduação) ou mais direccionada para a investigação e desenvolvimento de unidades produtivas (formação avançada).

2. A educação não formal

• Existe uma consciência de que a educação institucionalizada, educação formal, não cobre todas as necessidades educativas assim as necessidades educativas, não formais, foram agrupadas em dois conjuntos: 1. Uma educação que permita às gerações vivas, não só adaptarem-se à mudança

acelerada da sociedade contemporânea, mas também aprenderem a geri-la em seu proveito. Educação ambiental, consumidor, media, saúde etc.

2. Educação cívica e comunitária, que apela ao exercício da cidadania e do foro privado como educação para a democracia e para a solidariedade, educação familiar e educação intercultural.

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O processo de complexificação do conceito de educação que se acabou de esboçar resulta de três macrotendências da sociedade contemporânea: 1. Tendências para a aceleração da mudança 2. Tendências para assimetrias sociais 3. Tendências para alteração dos sistemas de poder Efeitos da mudança na educação Numa sociedade de informação, o sistema educativo encontra-se sob o fogo cruzado de variados críticos. Os diversos sinais traduzem esse desajustamento: • No relatório da Comissão Nacional (EUA) para a Qualidade do Ensino (1983),

significativamente intitulado Uma Nação em Risco, refere-se que a presente geração de finalistas do liceu é a primeira na história da América a concluir o curso com menos conhecimentos do que os seus pais;

• Em consequência do desajustamento do sistema educativo à mudança, no princípio dos anos oitenta os analfabetos funcionais nos EUA variava entre 18 e 64 milhões. Não sabem ler e escrever suficientemente.

• As taxas de absentismo e de abandono no ensino secundário aumentaram dramaticamente. • Para agudizar a crise, à invasão dos postos de trabalho pelos computadores, obrigando os

titulares a uma familiarização mínima com estas ferramentas da sociedade da informação, o sistema educativo não conseguiu responder ao mesmo ritmo, correndo-se sérios riscos de estar a criar uma geração de analfabetos informáticos.

A UNICEF no relatório anual de 1999 refere que 1000 milhões de pessoas vão entrar no século XXI sem os conhecimentos necessários para ler um livro ou assinar o nome. Podemos tipificar essas novas necessidades educativas em dois grupos que mutuamente se interligam: necessidades relacionadas com a adaptação ao processo de mudança e necessidades ligadas à gestão dos conteúdos dessa mudança (2ª característica do mundo contemporâneo). 1. Aprender adaptar-se à mudança

O adulto, o jovem e a criança têm necessidade de aprender estratégias adaptativas face ao choque cultural provocado pelo acelerado ritmo de mudança. A compressão do Tempo, acelerando o metabolismo social torna imperiosa a aprendizagem da adaptação aos novos ritmos de vida através da racionalização de processos de decisão cada vez mais rápidos. Isto implica aprender a dominar o medo ao desconhecido e a assumir o estatuto de imigrante no tempo interiorizando que o novo, o diverso e o transitório não são maus em si, assim é importante aprender: • Adaptar-se a novos instrumentos e a novos processos de trabalho para que deles possa

extrair um desempenho qualificado. • A ser um consumidor crítico e não um mero objecto das estratégias de venda do sistema

massificador da sociedade de consumo; • A adaptar-se rapidamente a novos lugares e ambientes sabendo deles tirar partido. Terá,

por exemplo, de aprender técnicas de reconhecimento, de observação e de integração a novos ambientes.

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Assim é cada vez mais imperativo que se ganhem novas competências comunicacionais de modo a poder com maior rapidez e melhor qualidade estabelecer relações sociais aos níveis interpessoal, grupal organizacional e institucional. Quanto á relação com o saber o cidadão contemporâneo necessita de ter consciência que há necessidade de reaprender pois o saber é degradável e a ignorância uma constante. O fenómeno da planetarização, torna urgente o investimento na aprendizagem sobre a unidade e sobre a diversidade da espécie humana, combatendo toda a espécie de etnocentrismos.

2. Aprender a gerir a mudança

Há necessidades educativas às gerações contemporâneas, no sentido de aprenderem a gerir os conteúdos da mudança como protagonistas activas da sua história e não como meros objectos da colisão civilizacional em curso. Assim em necessário aprender: • Tirar partido dos recursos e sistemas energéticos • Utilizar as novas tecnologias como instrumentos e não como fins em si, contrapondo à

dominante cultura do individualismo uma cultura da solidariedade; • Produzir, distribuir e consumir bens e serviços, à escala mundial, tendo em vista a melhoria

da qualidade de vida; • Lidar com a diversidade de modelos de organização social • Orientar e controlar a sua vida de forma autónoma; • Utilizar de maneira ética e crítica os media • Aprender novas formas de se relacionar com o tempo e com as culturas vigentes em

presença Margaret Mead (1969) chama a atenção para que em virtude da mudança singular a que a sociedade contemporânea está sujeita, o processo de socialização integrar três diferentes sentidos, por vezes conflituais e que nos remete para o alargamento das necessidades educativas a todas as gerações tem vindo a criar uma sobrecarga de exigências aos sistemas educativos contemporâneos: 1. Uma socialização de tipo tradicional, das gerações mais velhas com as mais novas; 2. Uma socialização semelhante à que os grupos migrantes sofrem. 3. Uma socialização de sentido inverso, das gerações mais novas para as mais velhas; A educação e as assimetrias sociais (segunda característica do mundo contemporâneo) O agravamento das desigualdades da qualidade de vida das populações, emerge um conjunto de necessidades educativas e de formação para toda a população que poderíamos englobar na expressão educação para o desenvolvimento e para a solidariedade. A necessidade de educar as gerações contemporâneas para o Desenvolvimento, ou seja • Tirar partido, de forma sustentada, do meio ambiente dos recursos que dispõe; • Evitar mortes desnecessárias e prolongar a vida com qualidade; • Pôr a render as potencialidades humanas de produção, distribuição e consumo de bens escassos

no quadro de uma efectiva cidadania económica; • Necessidade de educar para a solidariedade que aqui mais do que um dever moral um imperativa

de sobrevivência da humanidade.

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A própria questão ambiental, muitas vezes posta de forma meramente tecnocrática, pode e deve ser posta em termos de solidariedade inter-geracional, uma vez que as acções das gerações actuais irão condicionar fortemente a qualidade de vida das gerações futuras. A educação e alteração dos sistemas de Poder (terceira característica do mundo contemporâneo) Alteração dos sistemas de poder deve-se principalmente a duas características: 1. O avanço das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs) e o desenvolvimento da

sociedade de informação fizeram com que a principal fonte de poder deixasse de ser a riqueza e passasse a ser o conhecimento.

2. Como expressão política do duplo processo de planetarização e de localização registado na segunda metade do século XX, observou-se um aumento dos protagonistas políticos e uma diversificação das suas relações, de acordo com uma tendência para complexidade crescente.

Estas alterações em termos mundiais são as três macrotendências políticas: 1. A participação crescente dos cidadãos, 2. O fim do socialismo de economia centralizada 3. A privatização do Estado-providência Assim, as novas formas de regulação e de orientação da sociedade exigem novas aprendizagens por parte dos cidadãos; • Aprender a planear, a definir rumos, adoptando a atitude prospectiva: olhando o presente a partir

de um futuro desejável. • Aprender a decidir sozinho e em grupo para o que precisa de ganhar competências no domínio

da identificação de problemas. • Aprender a ser autónomo, sem se insularizar no individualismo; • Aprender democracia, quer como meta a alcançar quer como método a desenvolver no dia-a-dia. Três níveis de análise A questão da educação em qualquer sociedade, configura-se como um problema social complexo, com efeitos imediatos na sua coesão interna e na sua locomoção em direcção a objectivos globais como o Desenvolvimento e Democracia. A variável estratégica, conferida à educação, na sociedade contemporânea foi a escolha de dois indicadores de educação entre os quatro seleccionado para integrarem o índice de desenvolvimento humano do Plano da Nações Unidas para o Desenvolvimento. A análise pode ser efectuada de acordo com três conjuntos: 1. Numa perspectiva macro-sociológica, a questão da educação deve ser concebida como um

problema económico e político. 2. Numa óptica meso-sociológica é indispensável é indispensável entendê-la como um problema

organizacional, uma vez que a organização dos recursos tem efeitos imediatos na eficácia e na eficiência do processo educativo.

3. Numa aproximação micro-sociológica interessa equacioná-la como um problema psico-social, dado o processo educativo resultar fundamentalmente de relações inter-pessoais, estabelecidas entre os diversos protagonistas envolvidos no processo.

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A educação como problema económico e político A perspectiva do ensino como indústria – Khôi Lê Thành Estamos habituados a tratar a educação como um direito do homem, origem do seu desenvolvimento

moral e intelectual, instrumento de elevação social e condição para a democracia política. Mas os

progressos das ciências e das técnicas, as exigências do crescimento e da pesquisa impõem também

que se peça à educação uma produtividade máxima que corresponda às necessidades da nossa época.

Nesta perspectiva o ensino constitui também: A maior indústria da nossa época, tanto pelos recursos humanos e financeiros que absorve desempenhando nos diversos cargos, administrativos, científicos e técnicos, um papel motor no desenvolvimento das sociedades actuais. Edgar Faure – Aprender a Ser 1977 afirmava: A educação tornou-se desde o fim da 2ª Guerra Mundial o maior ramo de actividade do mundo, em termos globais. Em termos orçamentais vem em segundo lugar seguido às despesas militares. A análise incide nos factores de produção e produtos: Os factores de produção são: 1. os recursos humanos entre os quais se encontram os aprendentes (alunos e fomandos),

• aumentaram nos ultimos anos devido à crescente consciência da importância que tem a melhoria do nível de educação.

• Aumento da população infantil e juvenil. • Aumento das necessidades de formação contínua da população adulta.

2. os ensinantes (professores e formadores), 3. os recursos materiais englobam as verbas, instalações, equipamentos e materiais de ensino 4. os recursos ambientais que integram as infraestruturas de comunicações e telecomunicação, o

ambiente social, económico e político. Os sistemas educativos têm-se confrontado com um duplo problema político: os recursos são escassos e frequentemente são desviados para fins militares. Os recursos encontram-se igualmente assimetricamente distribuidos em detrimento dos países mais pobres conforme revelado pelo Indíce do Desenvolvimento Humano (IDH). Os ensinantes perderam o monopólio que detinham na distribuição do saber em detrimento de outros agentes (rádio, cinema, televisão, etc.), por exemplo sistemas audio-visual e informático. Os produtos: Qualidade das qualificações produzidas pelo sistema e no número de pessoas qualificadas nos vários níveis de ensino. Em termos mundiais, existe um baixo número de anos de estudos na população adulta para a necessidade da sua formação complementar de forma a fazer face às novas exigências profissionais.

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A educação como problema organizacional A eficácia no processo educativo • Tem a ver com a convergência entre objectivos (resultados) previstos e alcançados; A eficiência no processo educativo • Relaciona os objectivos alcançados com os recursos afectados para os atingir. Muitas vezes a ineficiência compromete a sustentatiblidade da eficácia. Encarando a escola como organização, para que se assuma como um instrumento de solução dos problemas de educação e não um obstáculo adicional, há diversos aspectos que devem ser bem geridos. Os que exigem uma relação com o ambiente externo e os que têm a ver com a dinâmica interna da escola. Gestão da dinâmica externa A organização da escola deve ser posta ao serviço de um projecto educativo comum procurando assim coordenar diversas áreas-chaves: 1. Circuitos de decisão devem ser bem definidos e garantir a participação de quem deve tomar

parte no processo. 2. Estrutura formal – os diversos orgãos da escola devem exercer o papel atribuído pelo sistema

normativo vigente num quadro de cooperação institucional evitando situações de competição e conflito.

3. Estrutura informal – A gestão da escola deve estar atenta à estrutura informal, particularmente aos grupos de pares e aos líderes informais, procurando tirar partido do seu potencial em favor do projecto educativo.

4. Rede comunicacional – deve funcionar adequadamente quer na vertical como na horizontal. 5. Cultura é o conjunto de assunções básicas (valores, padrões de actuação). Os orgãos gestores da

organização da escola devem ajudar a sedimentar uma cultura orientada para os grandes objectivos educativos.

A educação como problema psicossocial Procedendo a uma terceira aproximação, de natureza micro-sociológica, podemos equacionar a educação como um problema psico-social, dado o processo educativo ocorrer sobretudo numa moldura de relações interperssoais. Em qualquer acto educativo formal estão presentes três subsistemas que o condicionam: 1. Um sistema aprendente 2. Um sistema ensinante 3. Um sistema de comunicação educacional.

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Condicionadores do aprendente Os factores que condicionam o desempenho do aprendente podem agrupar-se em dois conjuntos: os factores exógenos e os factores endógenos: 1. Factores exógenos

• o meio social donde provém o aluno, e o sistema de recursos que ele dispõe, fora do meio familiar, para poder gerir o seu processo de aprendizagem.

• Entre as variáveis decorrentes do meio social podem referir-se como de grande relevância a situação sócio-económica da família, o seu grau de instrução, a língua materna e a etnia.

• O sistema de recursos do meio (a existência ou ausência de locais de estudo, bibliotecas, cantinas,) pode compensar ou agravar as dificuldades do meio familia.

2. Factores endógenos

• são aqueles em que o aprendente encontra em si para gerir com êxito o processo de aprendizagem, como a sua ambição pessoal, a capacidade de se auto-motivar, etc.

Condicionadores do ensinante Os factores que condicionam o desempenho do ensinante podem agrupar-se em duas variáveis: as exógenas e as endógenas: 1. Variáveis exógenas

• A coerência curricular, os recursos disponíveis na escola e na comunidade envolvente. 2. Variáveis endógenas

• A competência científica e pedagógica adquirida através da formação inicial e contínua, e a inteligência emocional.

Condicionadores da comunicação educacional Para haver sucesso é necessário que o sistema de comunicação educacional seja adequado assim é necessário: • Materiais educativos de qualidade em suporte escrito, audio-visual e informático. • Espaços específicos como laboratórios, bibliotecas, ginásios, espaços polivalentes. • Estratégias activas para melhorar a comunicação educacional, programas de educação

intercultural, meios para fazer face aos alunos com necessidades educativas especiais, etc.

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Algumas Políticas Relevantes São estratégias educativas Escala Macro – os sistemas educativos devem procurar responder à sobrecarga da procura com uma política que privilegie a qualificação e a diversificação da oferta e cujas medidas de estratégia mais importantes são: (maior procura educativa oferta educativa insuficiente) � Política de coerência curricular – parece que o sistema educativo se deverá orientar para as seis

necessidades educativas básicas: a adaptação e gestão da mudança, o desenvolvimento, a solidariedade, a autonomia e a democracia.

� Controlo sistemático da ajuda internacional destinada ao desenvolvimento das populações para que não seja desviada para fins militares.

� Relativamente aos aprendentes todo o processo educativo deve visar a sua autonomização progressiva (ensino à distância).

� Uso de recursos exteriores ao sistema educativo tradicional, através de parcerias com os agentes da comunidade envolvente.

Escala Meso – a uma escala organizacional, as políticas educativas têm vindo a direccionar-se em três diferentes sentidos: (problemas de eficácia e de eficiência) � Na clarificação dos papéis e das regras de comunicação entre a escola e os organismos de tutela. � No estabelecimento de parcerias entre a organização escola e a comunidade envolvente, a fim de

procurar potenciar os recursos mútuos para o desenvolvimento de projectos educativos. � Na qualificação da gestão interna da escola, registando-se uma consciência crescente de que o

desempenho da função de gestão exige competências específicas. Escala Micro – é uma escala psicossocial, têm vindo a defender-se a implementação de uma gama muito diversificada de políticas de intervenção: (tem como factores condicionantes do aprende (classe social, instrução, língua etnia e da comunicação materiais espaços estratégias) � Relativamente aos aprendentes, têm vindo a multiplicar-se programas compensatórios, que

procuram criar uma situação de discriminação positiva relativamente aos diversos tipos de handicaps (sócio-económicos, étnicos, linguísticos, relativos a deficientes, etc.)

� No que respeita aos ensinantes, a formação contínua tem vindo a assumir-se como um direito e um dever, constituindo uma valorização na carreira docente.

� Os principais protagonistas do processo educativo têm vindo a ser dotados de empowerment para vencer as dificuldades quotidianas do processo complexo que é ensinar e aprender em circunstâncias por vezes muito difíceis.

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Síntese • A sociedade contemporânea confronta-se com novas necessidades educativas decorrentes de três

processos à escala planetária, que mutuamente se influenciam: 1. A aceleração da mudança 2. A planetarização dos problemas sociais 3. A alteração dos sistemas de poder

• A aceleração da mudança fez emergir dois tipos de necessidades educativas, que reclamam políticas de adaptação ao choque cultural provocado pela mudança e de condução do processo de mudança, através da gestão dos seus conteúdos;

• A planetarização dos problemas sociais determinou novas necessidades que apelam para duas estratégias educativas: educação para o desenvolvimento e educação para a solidariedade;

• A alteração dos sistemas de poder, por seu turno, chama a atenção para a necessidade de duas outras estratégias educativas: educação para a autonomia e educação para a democracia;

• As novas necessidades educativas, afectam toda a população no seu conjunto, e não só os seus segmentos infantil e juvenil. A generalização dos públicos-alvo, a universalização das necessidades de formação inicial e o alargamento das necessidades de formação contínua, implicaram um aumento de pressão sobre os sistemas educativos tradicionais;

• Os sistemas educativos convencionais, estão longe de conseguir garantir respostas, quantitativa e qualitativamente adequadas, sendo indispensável introduzir reformas conducentes a criar uma oferta correspondente à sobrecarga de exigências do lado da procura;

• Tal oferta, deverá obedecer a um perfil de diversidade, quer quanto às agências de educação, empenhando as organizações públicas (administrações centrais, regionais e locais) e não governamentais (ONGs), quer quanto às formas de resposta, diversificando as estratégias de ensino e formação.

Neste contexto, a educação assume-se como um problema social complexo, que deve ser observado a várias escalas de análise, cada uma das quais exige medidas de intervenção adequadas.

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VIII. PROBLEMAS DE ORIGEM IDEOLÓGICA Os fenómenos do racismo e do sexismo têm como denominador comum uma visão essencialista dos seres humanos, que alimenta um projecto de sociedade onde o tratamento desigual entre as pessoas é justificado pelas diferenças de características físicas. É pela via da exclusão que se assiste constantemente ao desrespeito dos Direitos Humanos, embora o mundo tenha assumido o compromisso de instituir a sua universalidade. Racismo O conceito de racismo é uma construção recente. Foi com o impulso da ciência nos séculos XVIII e IXX que se iniciou a discussão política em torno da raça devido ao desenvolvimento de várias teorias de raça. As teorias da raça dividiam a espécie humana em categorias biológicas distintas e atribuíam a cada uma delas uma posição específica numa hierarquia de capacidades culturais e de estádios de civilização. Raças superiores e raças inferiores e a legitimação da supremacia das primeiras face a estas designa-se por racialismo. A noção de raça servia também para racializar populações que atravessavam um processo de construção de Estados Nacionais foi assim que nasceu o projecto ideológico de construção de uma nação alemã, unificada pela pertença ancestral a uma raça ariana, sustentado pela classificação convergente de raça e nação, justificando assim a exclusão da raça judia. O determinismo biológico A Europa do século XIX assistia ao estabelecer de laços estreitos entre a ciência e as doutrinas teóricas, estas alicerçadas nas interpretações que as ciências avançavam sobre a Humanidade. O pensamento social era, então dominado pelo determinismo biológico, em que se destacavam três teorias fundamentais para a legitimação científica do racismo: 1. A obra de Gobineau, “Essai sur l’inégalité des races humainres” (1852) que alertava para a

degenerescência das “raças” como resultado da mistura entre si; 2. O darwinismo social, de Spencer (1862) teoria que vai aplicar às sociedades humanas a tese

selectiva que Darwin avançou quanto aos organismo vivos, defendendo a rejeição dos elementos mais fracos e menos adaptados da sociedade em prol da sobrevivência e evolução desta;

3. O eugenismo, de Francis Galton (1883), teoria que defendia a melhoria da espécie humana

através de um processo de selecção semelhante àquele que se utilizava no reino animal – selecção dos progenitores para assegurar uma melhor descendência – e que se propunha identificar os genes “bons” e os genes “maus” afirmando que para acabar com a criminalidade e outros vícios bastava eliminar os genes por eles responsáveis.

A evolução do racismo no século XX A passagem para o século XX é feita com a herança do determinismo biológico. Mas é nos finais da década de 20 que nasce o conceito de racismo, definido como uma ideologia que defende a superioridade de determinadas raças e legitima a sua supremacia em relação às raças identificadas como inferiores. A construção sociológica deste conceito tem a sua origem na oposição que cientistas sociais Europeus e Norte-Americanos faziam ao impulso do nacionalismo e da ideologia nacional-socialista na Alemanha. As primeiras críticas incidiram sobre o racismo enquanto ideologia, mas não rejeitavam o princípio da divisão das populações em raças.

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Foi com o horror nazi que a ideologia que legitimava a desigualdade entre os grupos ganhasse nova importância após 1945. É só a partir da década de 60 que o conceito raça vai desaparecendo na Europa e nos EUA. Ou seja a demonstração científica de que o conceito de raça é uma construção social sem fundamentação biológica. Ao nível político, o conceito de raça tornou-se inaceitável para justificar a supremacia de um povo face a outros. A emergência do novo racismo A classificação das populações em raças foi substituída pela definição de grupos étnicos ou culturais, substituindo-se a ênfase na raça pela ênfase na cultura e económico (o imigrante), ou seja o novo racismo construído por oposição ao velho racismo biológico. O racismo institucional Defendido pelo movimento Black Power nos EUA, anos 60, assenta no pressuposto de que a sociedade está estruturada de maneira a manter a exclusão de um grupo específico e a evitar a sua progressão na sociedade. Políticas que tendiam à marginalização dos negros pois estão inscritas no normal funcionamento das instituições e não têm necessidade de serem legitimadas por uma ideologia. A adesão ao Acto Único Europeu, em 1993, foi interpretada por várias organizações anti-racistas europeias como um exemplo de racismo institucional, pois um efeito directo da livre circulação entre as fronteiras da União Europeia para os seus nacionais era a exclusão do direito a essa liberdade para os não-nacionais e a instituição de uma estrutura discriminatória no normal funcionamento daqueles países. As facetas da desigualdade e da diferença O racismo encerra em si três componentes, para ser racismo tem que incorporar as três componentes pois se só incorporar i.e. discriminação não é uma expressão de racismo 1. A naturalização de um grupo, que consiste na identificação desse grupo com base em

características físicas naturais; 2. A percepção do outro como ameaça; 3. O apelo a medidas de protecção, discriminação ou segregação. O racismo combina dois princípios de exclusão 1. Desigualdade – até ao século XX as explicações eram científicas, biológicas. 2. Diferença – hoje ocupa o lugar central no discurso de exclusão, por exemplo as culturas ou a

incompatibilidade de modos de vida. Taguieff defende que as duas dimensões, desigualdade e diferença, estão separadas resultando em dois tipos de racismo: a desigualdade está relacionada com a naturalização do outro (sobretudo o outro enquanto colonizado ou sujeito à dominação por parte de outrem) e com a sua inferiorização; a diferença está ligada à ideia de preservação da especificidade de cada cultura.

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Wieviorka define o racismo pela complementaridade entre as duas dimensões, afirmando que se o tema da desigualdade está fortemente ligado à dominação colonial, o racismo só existe se a consciência da inferioridade dos povos colonizados por acompanhada pelo medo de invasão ou de perda da identidade do colonizador. Por outro lado, a percepção da diferença cultural só produz racismo se a cultura ou culturas minoritárias forem entendidas como ameaçadoras pela cultura dominante. Para que o racismo se manifeste é necessário que haja o sentimento de que o superior está ameaçado pelo inferior, a qualidade pela quantidade, a riqueza pela pobreza, numa associação da diferença e da inferioridade. O racismo como uma doença da Modernidade O esbater das diferenças pelo contacto entre culturas, ao invés de reforçar uma consciência universal e tender à globalização cultural, reforça o receio da perda das especificidades e faz nascer o racismo ou outras manifestações de rejeição e discriminação dos outros, razão porque Todorov define o racismo como uma doenças de passagem para a Modernidade. Assim faz nascer o ressurgimento de valores holistas sob novas formas (pós renascimento) – nacionalismo, racismo, totalitarismo. O novo racismo surge na 2ª metade do século XX numa relação de causa-efeito entre a pertença a grupos culturais minoritários e um estatuto socioeconómico desfavorecido que frequentemente empurra imigrantes para a exclusão social e económica e cujo projecto ideológico universalista falha pois não consegue igualar as relações sociais e o funcionamento da sociedade. Apareceram novos partido de extrema direita, i.e. o Front National em França, os skin-heads etc. O próprio direito à diferença é absorvido pela ideologia racista contemporânea como forma de justificar a incompatibilidade das culturas minoritárias com a cultura dominante, facto que colocaria em risco a homogeneidade cultural da nação (ideia que alicerçou os nacionalismo emergentes nos finais do século XIX). Nos dias de hoje o racismo manifesta-se de uma forma pluralista , biológico, cultural, económico, político ao contrário da unidade ideológica a que assistimos nos séculos anteriores. Xenofobia e fundamentalismos O conceito xenofobia tem um leque muito mais abrangente de diferenciações atendendo que diz respeito a um leque mais abrangente de diferenciações traduzindo toda a rejeição de outrem, significa medo do estrangeiro. È a conugação de duas caracteristicas – rejeição daquele que identificamos como diferente e medo face a ele – que fazem associar frequentemente o fenómeno da xenofobia à questão dos fundamentalismos. O fundamentalismo reporta-se à crença e à defesa de um conjunto de princípios religiosos (ou fundamentos), que são entendidos como verdades fundamentais. Nas interpretações fundamentalistas, defende-se que esses princípios religiosos deverão alicerçar a organização social de toda uma sociedade. Enquanto que o modernismo teológico propõe a interpretação dos livros sagrados das três grandes religiões monoteístas – Cristianismo, Judaísmo e Islamismo – o fundamentalismo avança uma interpretação estrita desses mesmos textos. Assim os fundamentalismos emergentes nas últimas décadas do século XX são um símbolo ímpar dos paradoxos da Modernidade, onde as sociedades evoluem no sentido da abertura e da expansão de fronteiras, não só físicas como mentais, e simultaneamente, desenham novas restrições e limites a essas mesmas fronteiras.

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A origem dos fundamentalismos modernos A emergência dos fundamentalismos modernos remonta aos anos 70 do século XX através do desenvolvimento de movimentos religiosos, tanto no Cristianismo como no Judaísmo e no Islamismo com a reinterpretação de textos sagrados com o objectivo de mudar a ordem social existente. A origem está no objectivo de mudar a ordem social, moral e cultural da sociedade após a época gloriosa dos anos 30 e o fim da 2ª guerra mundial tinham dado lugar a crescentes desigualdades sociais. A nova ordem económica influenciou as formas de interacção social e os valores traduzindo-se no enfraquecimento das solidariedades, no aumento da competição entre os grupos e no reforço de valores individualistas por oposição ao colectivo. Assim a religioso tornou-se num refúgio para que as pessoas se sentissem protegidas e à construção de novos projectos para a sociedade marcados pelo retorno ao religioso dando origem aos movimentos fundamentalistas nas três religiões monoteístas. No entanto no mundo islâmico existe uma mais forte base social de apoio ao fundamentalismo religioso. A Europa Ocidental vê nos finais do século XX no fundamentalismo islâmico a grande ameaça do futuro, sendo este o motor para sentimentos xenófobos contra as comunidades imigrantes muçulmanas instaladas na Europa. Muitas vezes o reforço no fundamentalismo islâmico é uma reacção a essas manifestações de rejeição., por exemplo em França a pertença de jovens aos princípios religiosos é uma forma de proporcionar segurança e bem-estar. A interligação entre xenofobia, fundamentalismos e nacionalismos A xenofobia e o fundamentalismo têm porém uma estreita ligação com o nacionalismo uma vez que a identificação a uma nação integra uma quota parte de exclusão senófoba, muitas vezes a identificação nacionalista levada ao extremo pode resultar em manifestações de fundamentalismo onde o motor político se confunde com o religioso, assim no século XX as manifestações xenofobas e fundamentalistas podem ser uma reacção colectiva de medo face ao futuro provocada pelo enfraquecimento do poder dos Estados nacionais a favor de formas de organização política e económica supra-nacionais e pleas fronteiras impostas durante a 2ª guerra mundial. A interligação entre xenofobia fundamentalismos e conflitos étnicos. O enfraquecimento de poder dos Estados e a sua incapacidade em assegurar segurança e bem-estar para todos os grupos é uma condição directa para a emergência de conflitos de cariz étnico. A nova ordem mundial com a queda do muro de Berlim veio fragmentar as políticas muitos Estados multiétnicos da Europa de Leste pois os grupos étnicos passaram a contabilizar os seus recursos não em termos nacionais mas em termos de grupos étnicos, surge assim a reivindicação do direito a uma identidade étnica especifica com o desejo de autonomia. I.e. Jogosláiva (Eslocénios e Croatas) e no Burundi e no Rwanda entre Tutsis e Hutus tiveram por base um conflito económico provocado pela escassez de recursos, que foi absorvido pela questão da etnicidade. Sexismo O sexismo define-se por preconceitos, estereótipos e discriminações baseadas no sexo da pessoa. Relacionam-se papéis ou funções sociais identificados como específicos de homens e mulheres. Os homens não choram é uma expressão que ilustra a mentalidade sexista ao negar aos homens exprimirem emoções. A análise de desigualdade e da discriminação das mulheres face aos homens gira em torno de três grandes temas: a natureza, a família e o trabalho.

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A questão da natureza feminina As diferenças físicas e de personalidade distinguem e opõem a feminilidade da masculanidade, estando associados à primeira a emotividade, a intuição e a submissão e à segunda a racionalidade, a lógica e a dominação, ou seja determinismo biológico, a medicina remeteu a mulher devido ao útero para o mundo da natureza e o ciclo menstrual concedia à mulher uma certa irracionalidade daí a oposição ao mundo da lógica e da racionalidade masculina. A Família como fonte de desigualdades A revolução industrial veio a criar postos de trabalho femininos retirando a exclusividade da mulher ao espaço do lar questão da compatibilidade ou incompatibilidade da feminilidade com o trabalho assalariado. A mulher do século XX tornou-se num problema devido às incompatibilidades lar/trabalho, maternidade/salário, feminilidade/produtividade. O salário da mulher é visto como um complemento do orçamento familiar por isso as funções que lhe são destinadas são vistas como compatíveis com a sua natureza feminina., daí resultando o exercício de funções que podemos designar por maternidade social (profissões de educadora, enfermeiras). A visão capitalista é essencialmente baseada nas diferenças biológicas entre os sexos para justificar as diferenças de tratamento entre homens e mulheres, justificando assim a diferença no valor de remuneração. O novo rosto das desigualdades no século XX O século XX herda os pressupostos da Economia Política do século anterior e, apesar de se assistir à entrada maciça das mulheres no mundo da educação e do trabalho, as desiguldades entre sexos persistem. O pós-guerra exigiu o retorno das mulheres ao lar. Dois exemplos de sistemas político-ideológicos sexistas 1. A política natalista do regime fascista italiano comandado por Mussolini. A defesa da raça e a

mulher deveria procriar e educar os filhos da pátria contribuindo assim para a aplicação do programa político.

2. A política sexual nacional-socialista da Alemanha de Hitler. A pureza da raça e a esterilização de pessoas consideradas não válidas evitando a degeneração da raça germânica e a proibição de casamentos com Judeus, Ciganos e outras pessoas de qualidade hereditária inferior.

Os efeitos da democratização Acesso das mulheres à educação e a consequente democratização das relações sociais. No entanto, muitas vezes a igualização é aparente pois o próprio sistema socioeconómico ao mesmo tempo que democratiza acentua as desigualdades. O trabalho a tempo parcial na Escandinávia. O trabalho domiciliário. O trabalho a prazo e o trabalho temporário A expansão do sector terciário confinou as mulheres a esse sector.

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A presença dos filhos tem um efeito positivo para a promoção profissional do homem, sucedendo um efeito inverso na mulher. O sexismo contemporâneo, à semelhança do novo racismo, revela-se com um rosto multifacetado onde os argumentos naturalistas e culturalistas se interpenetram para justificar a manutenção de uma ordem social alicerçada no poder masculino – ao nível económico, científico, político, jurídico. As análises feministas e o conceito de género Enquanto o conceito de sexo analisa ilustra as diferenças físicas entre homens e mulheres, o conceito de género analisa as razões históricas, culturais, económicas e sociais que num determinado momento e num determinado espaço moldam as relações entre as pessoas, destacando o carácter relacional e assimétrico entre os dois sexos. Atentados aos Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos assinada a 10 de Dezembro de 1948 simboliza a vontade dos Estados com assento nas Nações Unidas de introduzirem um novo quadro legal que regulasse as relações internacionais. Uma nova ordem mundial assente no repúdio da violência dos conflitos entre os povos e na defesa de uma diplomacia internacional que assegurasse a manutenção da paz, a declaração realça a unidade da espécie humana, embora e apesar da sua diversidade cultural, proclamando a universalidade dos direitos. A ONU e a nova ordem mundial A Declaração Universal surge com um primeiro passo da Organização das Nações Unidas constituída em Maio de 1945, o artigo 55º da Carta da ONU proclamava que a ONU deveria promover o respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais sem distinção de raça, sexo língua ou religião. • A nova ordem mundial assentava na realização dos seguintes objectivos • A manutenção da paz internacional. • O desenvolvimento de relações amigáveis entre as nações. • A realização de cooperação internacional na solução de problemas internacionais de carácter

social, económico, cultural, humanitário A evolução dos Direitos Humanos A Declaração Universal remonta aos séculos XVII e XVIII. A Declaração de Independência dos Unidos da América (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) saída da Revolução Francesa marcam a primeira geração dos Direitos Humanos caracterizada pela fase da proclamação jurídica, dignidade dos cidadãos. A segunda geração nasce em meados do século XIX constituindo a fase da socialização caracterizada pelo reconhecimento de que as liberdades não estavam garantidas e corresponde à visão marxista e é parte integrante das Constituições dos Estados socialistas no século XX. A terceira geração a Declaração Universal de 1948 que corresponde à internacionalização, que vê nascer os direitos de solidariedade após a emergência de novos Estados que tinham alcançado a sua independência.

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O desrespeito pelos Direitos Humanos O texto da Declaração no artigo 28 refere que os Estados subscritores deverão assegurar o cumprimento e o reconhecimento efectivo desses direitos mediante medidas progressivas, nacionais e internacionais. Assim o não desenvolvimento destas medidas conduz à violação do que está consagrado na Declaração i.e. a incapacidade dos Estados subscritores de assegurarem o cumprimento dos princípios que aprovaram. A persistência e a extensão da pobreza devido a guerras ou devido ao subdesenvolvimento. O desrespeito pelos povos autóctones i.e. índios nos EUA que vivem como reféns nas suas reservas. A situação de crise da ONU é um dos sinais visíveis da crise da ordem internacional. A tendência actual para o reforço dos Direitos Humanos Existe uma tendência para a celebração de acordos regionais por exemplo no Conselho Europeu a Convenção europeia para a salvaguarda dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, a Carta social Europeia e a Convenção para a prevenção da tortura.

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Síntese Desde o século XVIII, que inaugurou o primado da razão, que o pensamento científico-social tem influenciado fortemente a doutrina política. É, precisamente, a aplicação das teorias ou opiniões, sejam elas do foro científico ou público, à vida política que as transforma em ideologias. Vimos como o racismo se tornou uma ideologia legitimada pelas teses científicas dos teóricos da raça do século XIX, na mesma medida em que o sexismo se enraizou nas teses essencialistas que diferenciam os sexos e os aprisionam em atributos imutáveis relativos a uma natureza masculina e a uma natureza feminina. Por outro lado, se a xenofobia, ao contrário do racismo, não constitui uma ideologia, também ela é justificada mediante a defesa de um ideal de nações culturalmente homogéneas, onde a diferença é diluída (quando não esmagada) tendo em vista a construção da identidade nacional. Vimos como os fundamentalismos religiosos se alimentam das reacções xenófobas de medo do estranho e se confundem com nacionalismos, onde a questão da etnicidade é manipulada para mascarar projectos de sociedade discriminatórios. A diferença e a desigualdade que separam os seres humanos nas sociedades contemporâneas é o resultado do projecto inacabado da Modernidade, que falhou na concretização do ideal de Liberdade, Igualdade, Fraternidade. O grande dilema com que o mundo contemporâneo se defronta é o da ciência não ter sabido resolver todos os problemas da Humanidade e, paradoxalmente, ter contribuído para gerar novos problemas Um exemplo incontestável é a concorrência do Holocausto, efeito de um projecto político-ideológico legitimado por explicações científicas que recorreram ao eugenismo e determinismo biológico do século XIX, colocando a ciência como alicerce da ideologia e prática discriminatória. Devido precisamente aos horrores do nazismo e para evitar a eclosão de conflitos de tão grande barbaridade no futuro, desenvolvem-se, a partir de meados do século XX, os esforços da diplomacia internacional no sentido de assegurar um standard mínimo de direitos, à luz da trilogia herdada da Revolução Francesa. Tendo em mente este objectivo, os temas do racismo, xenofobia, fundamentalismos e sexismo vão confluir na elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O constante não cumprimento dos Direitos Humanos em muitos países subscritores da Declaração Universal constitui um reflexo das relações contraditórias da Modernidade, que balança entre particularismos e universalismo, que atravessam a história dos povos e que nem o progresso científico nem a evolução do pensamento político souberam, ainda, ultrapassar.

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XI. O SUICÍDIO – UM PROBLEMA SOCIAL CONTEMPORÂNEO Generalidades O suicídio ou a tentativa de suicídio constituem sempre actos de solidão, angústia, chamada de atenção radicando no desconforto da vida quotidiana e/ou traços depressivos. O meio cultural e as relações sociais marcam a forma como o Homem exprime um impulso íntimo. A posição da sociedade face ao suicídio tem sofrido alterações consoante as épocas em análise. À neutralidade da Roma Clássica seguiu-se a rejeição com Santo Agostinho a partir do século IV. O Concílio de Arles em 452 proclamou o suicídio um crime. O Concílio de Praga determinaria sanções penais. O Santo Sacrifício da missa e o Cântico dos Salmos não acompanhariam o seu corpo na descida ao túmulo. Na Idade Média foi acentuado o carácter de pecado. Jean-Jacques Rousseau (século XVIII) modifica a análise do discurso relativo ao suicídio ao considerar que sendo o Homem naturalmente bom é a sociedade que é responsável pela sua maldade e crimes. David Hume escreve um ensaio sobre o suicídio. Com a Revolução Francesa é suprimido dos crimes legais. Em 1823 é legalizado o enterro dos que se suicidavam com uma cerimónia religiosa. Emile Durkheim foi o primeiro sociólogo que sistematizou a problemática do suicídio Obra suicide. Freud e Menninger (obra Man against himself) lançaram as bases psicanalíticas. O suicídio em Durkheim Explica o fenómeno com uma perspectiva sociológica demonstrando que o suicídio ofende a consciência moral e considerando-o um fenómeno de patologia social. Durkheim define-o como toda a morte que resulta mediata ou imediatamente de um acto positivo ou negativo, realizado pela própria vítima. Os católicos suicidam-se menos que os protestantes. Os dois factores que explicam o suicídio segundo Darkheim são extra-sociais e sociais. 1. Estados psicóticos identificando quatro tipos de suicídios vesânicos. Maníaco, melancólico,

obsessivo, impulsivo ou automático. A neurastenia predispõe ao suicídio. 2. Efeitos de raça e hereditariedade 3. Factores cósmicos: clima e temperatura. 4. Imitação por contágio. O fenómeno pode ser social quando não se prendem com os factores de constituição organicopsíquica dos indivíduos nem o meio físico. Egoísta motivado pelo excessivo isolamento do indivíduo face à sociedade, à família e à religião. Altruísta: quando a existência do indivíduo vale pouca coisa face à colectividade. Anómico – ocorre por ocasião das grandes transformações sociais e em que há dificuldade de integração.

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Causas do suicídio e dados estatísticos Os pacientes deprimidos têm uma parcela maior. Alcoolismo, toxicomania, desistência de viver, e Existem os para-suicídios como por exemplo a velocidade excessiva em viação pois a intenção da morte não é aqui assumida de forma consciente. O suicídio em Portugal O Prof. Fragoso Mendes diz que o suicídio se manifesta principalmente nos estados de depressão e de ansiedade e se deve muitas vezes à solidão e isolamento sóciopsicológico. Problemas sociais e pessoais. Para Daniel Sampaio o acto é sempre de desistência. No nosso país os suicídios correspondem a factores históricos: início da II Grande Guerra, período de crise económica (1984). O homem comete suicídio três vezes mais frequentemente que a mulher. Em síntese A problemática do suicídio tem acompanhado a humanidade ao longo dos tempos desconhecendo-se qualquer sociedade ou micro-cultura em que o fenómeno não tenha ocorrido. As explicações encontradas são várias e complexas e a abordagem sociológica foi efectuada pela primeira vez em 1897 por durkheim. As taxas de suicídio são particularmente importantes na velhice e na adolescência e são muito variáveis de país para país. No contexto europeu a Hungria apresenta a taxa de suicídio mais elevada e a Grécia a mais baixa. Em Portugal, o fenómeno é preocupante no Alentejo e no Algarve.

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X. O ALCOOLISMO E AS USAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS A utilização das bebidas alcoólicas remonta ao período paleolítico e que no período neolítico já se fabricava cerveja. A destilação do vinho e maior alcoolização das bebidas generalizou-se na Europa a partir do século XI, sendo visto como vício (a embriaguez) e só na segunda metade do século XIX é que passa a ser entendido como doença. O alcoolismo crónico, é uma doença e um problema social. assim devido às suas repercussões no tecido social conduziram a uma abordagem do problema em termos científicos devendo-se a Thomas Sutton a primeira descrição do Delirium Tremens que é um estado de hiperactividade confusa e desorganizada, que se segue normalmente a um excessivo abuso de bebidas alcoólicas. No Século XIX vamos encontrar alcoólicos internados nos hospitais psiquiátricos que consideravam o abuso do álcool uma causa da doença mental. o alcoolismo pode constituir um risco de suicídio pelo que o internamento em instituições psiquiátricas é justificável e necessário. Para a ºM.S. os alcoólicos são bebedores excessivos cuja dependência é tal que apresentam perturbações mentais e com perturbações orgânicas e psíquicas, familiar, profissional e social e com implicações económicas, legais e morais. Para Fouquet o alcoólico é todo aquele que perdeu a liberdade de se abster do álcool e por conseguinte não exerce controlo no seu consumo. Para Jellinek o alcoolismo é todo o uso de bebidas alcoólicas susceptíveis de causar prejuízo no indivíduo, na sociedade ou em ambos. Jellinek foi o criador da formula que assenta nas mortes conhecidas por cirrose alcoólica. A = PD – 100 K A = número total de alcoólicos O = percentagem de mores por cirrose hepática atribuíveis nessa população ao alcoolismo D = número total de óbitos declarados nesse ano por cirrose hepática K = 0,694 – constante (% de mortes dividas a cirrose hepática, resultado da verificação de centenas de milhar de autópsias). A dependência do álcool pressupõe um primeiro contacto inicial entre o tóxico (o álcool da bebida alcoólica) e o organismo vulnerável. O álcool etílico é o agente da doença, mas os factores são individuais e do meio que condicionam o consumo excessivo, favorecendo a acção patogénica do factor tóxico. As causas são económicas e sócio culturais e a natureza do país viti-vinícola, preceitos religiosos, hábitos, mitos, razões individuais de ordem fisiológica e psicológica e razões externas decorrentes de exigências profissionais. As consequências prendem-se com factores e índole social e económica associadas ao meio familiar, suicídio, criminalidade, absentismo acidentes de viação e acidentes domésticos.

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O Consumo do álcool na Comunidade Europeia A O.M.S. recomendava a redução do consumo de álcool de 25% para o ano 2000. Uma nova consciencialização dos perigos do álcool tende a considerá-lo como uma droga dura. Como um inimigo da saúde pública. A problemática do alcoolismo em Portugal Em Portugal o consumo do vinho está associado a preconceitos – como o vinho aquece, dá força e em certas regiões serve como pagamento complementar da jorna e é utilizado como alimentação pobre – as sopas de cavalo cansado – justifica que sejamos um dos maiores consumidores europeus de álcool per capita. O âmbito do consumo de álcool alargou-se combinado às bebidas destiladas e à cerveja. De acordo com o World Drink Tendes (1998) Portugal é indicado como o primeiro consumidor de álcool com 11,3 per capita. Verificando-se presentemente um aumento crescente por parte de jovens e mulheres. O fígado não metaboliza o etanol antes dos 18 anos pelo que consumo de bebidas nos adolescentes é desaconselhável. Alcocops (misturas de álcool com aromas naturais), shots. O enquadramento do fenómeno terá de articular as motivações do consumo do álcool e a inserção/participação dos jovens na sociedade com estratégias de promoção educacional e campanhas de informação sobre os malefícios do abuso do álcool. A implicação das famílias e da escola são também de grande importância. O aumento dos problemas ligados ao álcool e o acentuado consumo global e entre os grupos etários mais jovens levou à constituição em 1999 de uma comissão interministerial. A finalidade desta comissão foi a de analisar e integrar os múltiplos aspectos associados à luta contra o alcoolismo num plano de acção que reforce e aprofunde a implementação de uma estratégia para a saúde.

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XI A REGULAÇÃO SOCIAL DO COMPORTAMENTO SEXUAL