psicanálise

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  • Psicologia ClnicaISSN: [email protected] Universidade Catlica do Rio deJaneiroBrasil

    Celes, Luiz AugustoPsicanlise o nome de um trabalho

    Psicologia Clnica, vol. 17, nm. 2, 2005, pp. 157-171Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro

    Rio De Janeiro, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=291022005012

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    157ISSN 0103-5665

    PSIC. CLIN., RIO DE JANEIRO, VOL.17, N.2, P.157 171, 2005

    157ISSN 0103-5665

    PSICANLISE O NOME DE UM TRABALHO1

    Luiz Augusto Celes*

    RESUMOEste texto parte integrante de uma investigao em busca do sentido da

    psicanlise, ou dos sentidos que ela possa apresentar. Busca-se justificar e apreen-der o sentido originrio e fundamental da psicanlise. Enfoca-se a compreensofreudiana que a entende inicialmente como uma intencionalidade puramente te-raputica, mostrando-se que, antes de constituir-se como conhecimento, a psica-nlise assumida como ato, isto , trabalho de tratamento da neurose. Psicanli-se foi o nome dado por Freud a esse trabalho. Em concluso, discute-se o sentidodesse trabalho, cujo nome permite circunscrever, apontando-se o seu mtodo e oseu objeto.

    Palavras-chave: sentido da psicanlise, teraputica, trabalho, -anlise depsicanlise, psico- de psicanlise

    ABSTRACTPSYCHOANALYSIS IS THE NAME OF A LABOUR

    This text is part of an investigation on the meaning of psychoanalysis, or the meanings itmay(can) present. It aims to justify and apprehend the originary and fundamental meaning ofpsychoanalysis. Freudian comprehended psychoanalysis as having a purely therapeutic aim.Before consisting of knowledge, psychoanalysis was understood as a therapeutic act, that is, aslabour of treatment of the neurosis. This labour circumscribed by the name psychoanalysis is discussed, and its method and object are pointed out.

    Keywords: meaning of psychoanalysis, therapeutic, labour, analysis of psychoanalysis,psycho- of psychoanalysis

    * Psicanalista; Professor titular do Departamento de Psicologia Clnica do Instituto de Psicolo-

    gia da Universidade de Braslia; Doutor em Psicologia Clnica.

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    TRABALHO PSICANLISE

    1. SIGNIFICAO E VALOR DA PSICANLISE COMO INTENCIONALIDADETERAPUTICA

    A psicanlise constituiu-se, inicialmente e nas palavras de Freud (1925e, AE:228; SB: 266) como uma intencionalidade puramente teraputica, na busca deum novo tratamento eficaz para as enfermidades neurticas. Freud (1919a) atmesmo afirmou ser essa intencionalidade teraputica a sua mais importantesignificao, devendo-se a ela o prestgio da psicanlise na sociedade dos homens.Dessa maneira, parece que a intencionalidade teraputica da psicanlise no so-mente designa seu sentido primeiro, mas tambm seu motivo de existncia e seuvalor, o que nos leva a afirmar que um sentido tico est fundamentalmente esta-belecido desde a origem da psicanlise2.

    Neste momento, no entanto, no interessa reanimar as infindveis discussessobre a tica em psicanlise, mas somente fazer uma aproximao de tal questopara dar fundamento abordagem do sentido da psicanlise a partir de seu entendi-mento como trabalho de tratamento. Isso que , afinal, o objetivo deste texto.

    A tendncia de etificao da interpretao da psicanlise tem obedecido aopropsito de fazer um deslocamento da preocupao epistemolgica para a preocu-pao tica, uma vez constatado o difcil enquadramento do estatuto cientfico dapsicanlise. No entanto, esse propsito acaba por manter a psicanlise circunscri-ta na dualidade saber versus valor, o que no a distingue de grande parte dastradicionais reflexes sobre as cincias que se constituram na modernidade. Sejasob o abrigo epistemolgico ou tico, tais reflexes caracterizam-se por constituirmeditaes sobre..., ou seja, que se sustentam na diferena entre a natureza dameditao (epistemolgica ou tica) e a disciplina sobre a qual se medita, tomadacomo objeto da meditao. Nessas tradicionais abordagens, as cincias e, nocaso especfico que discutimos, a psicanlise permanecem alheias meditao,ausentes da determinao do carter da prpria reflexo.

    A afirmao freudiana de que o valor da psicanlise a sua intencionali-dade teraputica introduz um ponto de partida para a reflexo sobre o sentidoda psicanlise que toma outro caminho que no os acima indicados, constitu-dos na modernidade. A afirmao freudiana indica a possibilidade de se com-porem meditaes propriamente psicanalticas sobre o valor da psicanlise.Sendo tal valor a sua intencionalidade teraputica, precisamente o que consti-tui sua significao originria e fundamental, o discernimento dessa intencio-nalidade da psicanlise revelar seu sentido e, ao mesmo tempo, constituir-se- uma reflexo tica. Se o valor da psicanlise est naquilo que faz, perguntar-lhe o

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    que faz dirigir-lhe uma pergunta de carter tico a resposta, esta ser psicanalti-ca. A meditao sobre o que a psicanlise faz, sobre o seu valor, portanto, umameditao que no se distancia da prpria psicanlise acrescentando-lhe valor oumoldando-a segundo consideraes ticas alheias. A afirmao freudiana acima re-petida fornece, assim, um ponto de partida para uma tica psicanaltica.

    Com isso no se quer somente justificar a antecipao da reflexo tica emdetrimento da reflexo epistemolgica. A formulao do tipo pensar o sentido dapsicanlise pelo seu valor pens-la eticamente apenas tem cabimento comoreveladora do sentido da psicanlise se esse valor for especificado: deve-se tomar,pois, a intencionalidade teraputica como o valor da psicanlise, como o que lheconfere sentido.

    Nestes primeirssimos passos da investigao sobre o sentido da psicanli-se, procura-se mostrar que caracterizar o ato teraputico da psicanlise leva auma aproximao de seu ser sua interpretao e sua tematizao , portanto,uma aproximao ao seu sentido. Assim, a proposta que aqui se toma no a dedelimitar o sentido tico da psicanlise, embora o trabalho a realizar seja umamaneira de se chegar a isso. O que de fato interessa uma abordagem da psica-nlise como intencionalidade teraputica, ou seja, como tratamento das en-fermidades neurticas.

    So tantas as propostas de terapia das neuroses e a psicanlise nasceu emconfronto com algumas delas (cf. Freud, 1905a) que falar da intencionalidadeteraputica como sentido originrio da psicanlise ainda muito pouco e insufi-ciente para caracteriz-la. necessrio estimar essa teraputica buscando suas par-ticularidades, para circunscrever de maneira mais precisa o que se pode entenderpor psicanlise, na acepo originria dentro da qual Freud a designa.

    A investigao que se segue empenha-se numa compreenso positiva da psi-canlise e, interpretando sua significao inicial, procura estabelecer a condiooriginria ou os fundamentos nos quais a psicanlise se assenta, fundamentosesses que permanecem at seus desenvolvimentos mais tardios. Mas que tambmfundamentam os aspectos da psicanlise que a constituram como pesquisa e co-nhecimento. Neste texto, busca-se delimit-la legitimamente como ato, isto ,trabalho. Como plano seqencial destas investigaes, tratar-se- da caracteriza-o desse trabalho para se chegar, posteriormente, ao sentido da psicanlise comopesquisa dos processos inconscientes e como conhecimento desses mesmos pro-cessos. Assim, este texto trabalha com a questo: o que psicanlise, originria efundamentalmente?

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    2. INTERPRETAO DA PSICANLISE COMO INTENCIONALIDADETERAPUTICA

    A) PSICANLISE ANTES TRABALHO QUE CONHECIMENTO notvel que Freud entenda a psicanlise como procedimento de tratamen-

    to, antes mesmo de compreend-la como conhecimento ou teoria. Ao vir de Freud precisamente aquele que inicia e legitima a preocupao terica em psicanlise ,a anterioridade do ato psicanaltico ganha importncia plena. Assim, afasta-se aidia de que o privilgio dado clnica seja caracterstica de alguma escola psica-naltica posterior a Freud. Na primeira das chamadas obras psicanalticas, os Estu-dos sobre a histeria, como procedimento de tratamento da neurose que Freud eBreuer (1895d) introduzem a psicanlise.

    Realmente, os Estudos mostram uma srie de casos de cura de histeria;alguns deles, seno todos, tornaram-se famosos e constituem referncias, at hoje,para o entendimento do trabalho de anlise. Os Estudos... so concludos com ocaptulo A psicoterapia da histeria, onde Freud estabelece, de forma descritiva, osentido geral do trabalho que ele e Breuer descobriam e inventavam. Pois isso oque embasa a compreenso inicial da psicanlise como uma intencionalidade te-raputica: trata-se de um trabalho a psicanlise no nasceu como projeto de conhe-cimento, mas como efetivo trabalho de cura dos sintomas histricos.

    Em Novos caminhos da terapia psicanaltica, Freud (1919a) nomeia detrabalho a psicanlise na seguinte passagem: Temos chamado psicanlise o tra-balho [die Arbeit] por cujo intermdio levamos conscincia do enfermo o anmiconele recalcado (Freud, 1919a, AE: 155; SB: 201; AS: 241). Arbeit tem o significa-do de trabalho, como conceito da fsica, mas tambm implica labor, isto ,trabalho humano. Arbeit tem por sinnimo Ttigkeit: atividade, ao. Psica-nlise o nome de um trabalho; o que sugere a expresso, para design-la dandonfase a esse seu primeiro sentido, trabalho psicanlise, como uma contrao daproposio trabalho que a psicanlise.

    A designao mtodo de psicanlise tambm utilizada por Freud, e issono incio de sua obra3. Mais ainda: em, por exemplo, Sobre psicoterapia, Freud(1905a) trata a psicanlise como mtodo ao lado de outros mtodos depsicoterapia e, em um determinado momento, se refere a ela como o mtodoanaltico da psicoterapia (die analytische Methode der Psychotherapie) (AE: 249,SB: 270, AS: 111). Porm as expresses mtodo de psicanlise ou mtodo ana-ltico da psicoterapia mostram bem que a psicanlise no se qualifica como ummtodo, mas, ao inverso, como qualificativo de um mtodo. Psicanlise, naexpresso mtodo de psicanlise, nomeia o modo do mtodo, caracterizando-o:apreende-se que esse mtodo analtico. Trata-se de psico-anlise, de anlise ps-

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    quica, para lembrar uma outra denominao tentada por Freud, antes de cham-lo psicanlise. Psicanlise assinala, portanto, a ao desse mtodo o trabalho, de tal modo que se pode interpretar a expresso mtodo de psicanlise comomtodo de trabalho. Assim, psicanlise no denomina o mtodo, mas o traba-lho que o informa: um trabalho especfico, o de anlise.

    Essa concepo de mtodo contraria a idia originria estabelecida na filoso-fia do conhecimento: nesta, o mtodo procedimento controlado de construode conhecimento. Ou seja, o mtodo procedimento controlado de observao,pois por meio dela que se erige o conhecimento. Na psicanlise, no entanto, omtodo procedimento controlado de trabalho, de transformao, de manipula-o, de ao, com efeitos especficos inicial e basicamente, o efeito de remoodos sintomas neurticos. A psicanlise deixar-se-ia caracterizar, pois, mais comotcnica que mtodo.

    O trabalho psicanlise um trabalho controlado, um trabalho especfico:no qualquer trabalho. Sua especificidade pode ser caracterizada pelas regras queo controlam; alis, trata-se de uma nica regra bsica, a da associao livre. Ela aregra psicanaltica fundamental (psychoanalytische Grundregel) a nortear o traba-lho psicanlise, e de um modo especfico, com um fim determinado. Se a questosobre o fim objetivo ou meta da psicanlise sugere mltiplas respostas, pode-se afirmar que esse fim no a observao. O fim do mtodo de trabalho chamadopsicanlise, guiado pela associao livre, no constituir um campo privilegiadode observao do psiquismo daqueles que se submetem a esse trabalho: no sebuscam condies de observao do psiquismo, seja do analisando ou do analista.

    A multiplicidade de respostas para o que constitui o fim da psicanlise nosignifica que se esteja incerto quanto ao seu objetivo ou a haver efeito ou meta notrabalho psicanlise (aqui h referncia meta concreta, ao ponto a que cadaanlise chega, e no meta como horizonte imaginrio ou conceitual do fim dapsicanlise). As mltiplas respostas para o fim da psicanlise indicam, isso sim,que em cada interpretao se revela alguma coisa da verdade psicanaltica, enco-brindo-se, no obstante, outra forma de sua tematizao. Explica-se: que, a cadarevelao temtica do fim da psicanlise, impe-se uma ocultao, exigindo-sesempre um esforo continuado de reflexo. Alis, isso no caracterstica somenteda reflexo sobre o objetivo da psicanlise. Aps cem anos de sua criao, a reto-mada de um projeto de empreender a busca do sentido da psicanlise reproduz amesma caracterstica essencial: ela se justifica pela ocultao que implica umaclarividncia. Revisitando a psicanlise, suas origens, julgou-se que seu sentidofundamental de trabalho ocultara-se em sua histria, em favor de sua apreensocomo teoria ou como pensamento e, mesmo, como aplicao. Uma ocultaodessa ordem no absoluta. Na histria da psicanlise, a presena de seu carter

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    de trabalho apareceu na proeminncia dada clnica em algumas das mais in-fluentes escolas de psicanlise. A clnica parece ocupar esse preciso lugar da pre-sena do trabalho que a psicanlise e ser um deslocamento de sua nfase. Nestapesquisa, pretende-se alcanar, inclusive, o que se ocultou com a clnica e quepermita fundamentalmente articular o sentido da psicanlise como prtica e comoteoria. Certamente outras consideraes sero encobertas, no se podendo colo-car toda a psicanlise na clareira de nossos entendimentos.

    O trabalho de investigao do sentido da psicanlise e o trabalho psicanliseso dois modos de trabalho que se assemelham e pedem renovadas reflexes. Parase cumprirem as duas tarefas neles implicadas, retorna-se s origens da psicanlise,seja com a volta s obras originrias, seja revisitando seu lugar primordial, aanlise. Por isso corriqueiro dizer que a psicanlise se constri de novo aindaque no exatamente a mesma coisa em cada anlise. Tal assertiva reafirma ainterpretao da psicanlise como trabalho e nesse trabalho, e fundamental-mente nele, que a psicanlise se constitui.

    No momento inicial da compreenso da psicanlise, pode-se dizer que a suafinalidade foi teraputica. Segundo formulao de Mezan (1995: 27), perseguia-se a cura prtica do doente (die praktische Genesung des Kranken)4. Observe-se,no entanto, que a investigao aqui proposta no fez ainda uma primeira aproxi-mao do significado dessa teraputica. A abordagem desse segundo aspecto not-vel da compreenso freudiana da psicanlise em sua origem a tarefa seguinte.

    B) O TRABALHO DE QUE SE TRATA O TRATAMENTO CHAMADO PSICANLISEAvanando-se nesta progressiva aproximao do sentido da psicanlise como

    trabalho, buscar-se- uma caracterizao semntica do tratamento de que falaFreud em sua obra para, em seguida, distinguir o termo psicanlise na medidaem que ele encerra em si o objeto (ou material) do trabalho (psique), o meiono qual o trabalho se efetiva (o psquico, tambm contido em psique) e o mto-do do mesmo trabalho (anlise).

    Tratamento, cuidado e cura. Nas citaes mencionadas, Freud faz uso do termotratamento. a denominao que Freud (1913c) tambm utiliza para cunharuma de suas obras, Sobre o incio do tratamento [Behandlung]. Behandlungpossui o sentido de tratamento mdico; o termo empregado, por exemplo, naexpresso tratamento por penicilina. Pode significar, ainda, cuidados (oscuidados votados a uma enfermidade), sendo tambm referido em enunciadoscomo cuidados mdicos, cuidados dentrios5. A psicanlise, tomando suaherana da medicina e assumindo o termo tratamento para expressar-se, in-

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    troduz, no entanto, uma certa toro na concepo dessa palavra. Tratamen-to ganha a significao de um desvelo pelo enfermo, e no pela enfermidade. poca do incio da psicanlise, esse tratamento era inusual em relao con-duta teraputica psiquitrica de ento, pois, contrariamente a ela, cuidava doenfermo e no da enfermidade. O cuidado que se dispensa ao enfermo noconstituiria, j no entendimento freudiano, uma cortesia extra, exercendo efei-tos benficos sobre a cura de modo coadjuvante. Muito mais radicalmente, talcuidado constitui-se parte integrante do tratamento. Num dos momentos emque Freud tematiza as diferenas entre o trabalho psicanaltico e o psiquitrico,faz ele a seguinte observao a respeito da oposio dos mdicos psicanlise:Talvez provenha [a oposio] de que os mdicos se comprometem muito pou-co com os neurticos; ouvem com to pouca ateno o que eles tm que lhesdizer que se alienam da possibilidade de extrair algo valioso de suas comunica-es e, portanto, de fazer neles observaes em profundidade (Freud, 1916-17, AE: 224; SB: 290).

    Ao utilizar a metfora de profundidade, Freud designa aquilo que, no es-tando imediatamente dado, , no obstante, o mais singular de um sujeito daanlise. Isso conduz a uma boa compreenso do valor conferido fala particularde cada neurtico. Aquilo que o neurtico relata (queixas de sintomas, sonhos,sofrimentos etc) tomado como o aspecto mais peculiar de sua neurose, capaz derevelar seu segredo, a gnese, a constituio e a manuteno dessa neurose, aban-donando-se a idia de que a neurose constitui uma enfermidade independentedaquele que a sofre e de sua histria. Essa compreenso sustenta o modo prpriodo cuidado, da ateno ao neurtico e sua fala, ao que lhe mais caracterstico,como sendo qualificativo da psicanlise.

    Freud (1919a) tambm chama cura o trabalho psicanlise na expresso acura analtica [die analytische Kur], quando afirma que a cura analtica deveexecutar-se num estado de privao de abstinncia (AE: 158; SB: 205, AS:244). A abstinncia , como se sabe, derivao da regra fundamental da associa-o livre. Ela se refere ao modo especfico do cuidado como trabalho psicanlise,um cuidado na abstinncia e um cuidado de abstinncia; por meio da abstinncia,so indicadas as posies distintas nas quais a psicanlise se esfora para que ana-lista e analisando se mantenham. Psicanlise um trabalho, cuidado ou cura quese realiza na abstinncia. Assim, o trabalho psicanlise no qualquer forma decuidado, mas o cuidado na abstinncia.

    Kur, termo traduzido como cura ou processo, diferencia-se de Genesung,mais especificamente traduzido como cura, significando o objetivo a que se

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    quer chegar para que algum esteja efetivamente curado. Em psicanlise, toma-setambm a cura (Genesung) no sentido de finalidade, ainda que, como j obser-vado, tal finalidade no possa ser sequer oferecida como horizonte que, emborano se alcance, funcione como guia de direo do trabalho psicanlise. Cura(Kur), no entanto, tem o sentido de tratamento, se refere ao processo de tratamen-to, ao trabalho em sua execuo. Assim, a ltima formulao de Freud menciona-da mostra que a cura (Kur) a que ele se refere se revela como o trabalho psicanlisepropriamente dito, e no como a sua finalidade, ainda que constitua tambm seuobjetivo, isto , o tratamento que se quer estabelecer. Deste modo, o trabalhopsicanlise tambm o esforo para que acontea psicanlise. Ou seja, a curacomo trabalho psicanlise o seu processo o que se busca instalar a cadamomento de uma psicanlise, constituindo o seu objetivo. Poder-se-ia aproximaressa significao de cura de elaborao, tal como Freud a prope em 1914(g).Derivado dessa compreenso, o fim no sentido de trmino de uma psicanlise ganha ento o significado de uma possibilidade de anlise, e no simplesmente ode uma meta a ser alcanada ou do horizonte em direo ao qual uma psicanlisecaminha uma psicanlise, ainda que se interrompam os contatos entre o analistae o analisando, no termina, sendo essa a questo precisa que Freud (1937c) dis-cute em Anlise terminvel e interminvel. Por outro lado, pode-se compreen-der que a finalidade no um estado que, em dado momento, se alcana e, emconseqncia, interrompe-se uma anlise; a finalidade de uma psicanlise alcan-ar o trabalho psicanlise, cuidar para que ele prossiga. somente nesse sentidoque noes como as de resistncia, reao teraputica negativa e mesmo a de trans-ferncia podem ser compreensveis como partes integrantes da anlise e no umdesvio ou erro seu, como convidados indesejveis. Isso no somente uma ques-to retrica: desconsiderando-se essa integrao, no haver psicanlise que serealize, no haver tratamento psicanaltico que se efetue.

    At aqui, alcanou-se o seguinte resultado: psicanlise ato, trabalho psica-nlise. Esse trabalho um tratamento especfico de cuidado (dirigido ao sujeitoda anlise, mas tambm instalao do trabalho a cada sesso, a cada associao,a cada interpretao etc); o cuidado em psicanlise um cuidado particular, umcuidado na abstinncia e de abstinncia; esse cuidado cura no somente comofim-sem-findar de uma psicanlise , mas tambm processo, sempre e a cadavez em uma psicanlise. A interpretao da psicanlise como intencionalidadeteraputica mostra a perspectiva do trabalho psicanlise, que encontra na sua rea-lizao o seu objetivo; apontou-se, ainda, que nessa perspectiva no h sentido emse falar do trmino de uma psicanlise como Genesung como cura a ser alcanada, mas sim que faz sentido falar de sua permanncia como trabalho de psicanlise.

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    Esse resultado deixa ainda intocadas as questes sobre o que se trabalha o obje-to do trabalho e como se trabalha isto , o mtodo do trabalho.

    3. O MTODO E O OBJETO DO TRABALHO PSICANLISE

    A anlise de psicanlise. Para explicitar o que entende por anlise, Freud(1919a) inicia seu argumento aproximando-se da anlise qumica. Como nesta, aanlise do trabalho psicanlise busca decompor em seus elementos fenmenoscomplexos no caso, os sintomas, os sonhos, as idias obsessivas etc. Trata-se, napsicanlise, de conduzir o paciente anlise de seus prprios fenmenos comple-xos (sobredeterminados, deslocados etc). A comparao com a anlise qumica,no entanto, termina a. Isso porque, em psicanlise, procura-se distinguir o traba-lho de anlise para marcar sua oposio a um trabalho de sntese. No se deve diz Freud explicitamente construir snteses para os analisandos, porque, assimagindo, se estaria prximo de um trabalho de sugesto6.

    Porm o carter analtico do trabalho psicanlise no impede a sntese. Nes-se caso, ela ou um trabalho secundrio ou um trabalho no mais singular, masgenrico ou terico, que se afasta do sentido de psicanlise que ainda estamosenfocando como trabalho de tratamento. Por exemplo, a sntese da interpretaode um sonho revela o trabalho do sonho isso que constitui o que Freud designou,na Interpretao dos sonhos, de processos psquicos inconscientes , tendo o cartergeral de uma compreenso metapsicolgica, em oposio interpretao dosonho, que constitui, sempre, como trabalho de anlise, um trabalho singular acada sonho, a cada interpretao. Tambm se pode ensaiar a sntese de uma psica-nlise; no que Freud (1918b) repetidamente se empenha no Caso Homem dosLobos. Nessa ltima possibilidade, a sntese sempre parcial e, mesmo em suamxima completude, secundria, ou seja, derivada e posterior ao trabalho deanlise, e no se constitui como seu objetivo. A sntese tem, nesse caso, o sentidoprospectivo, mas do j passado (isto , da interpretao j realizada).

    O psico de psicanlise. Psicanlise significa, como j se viu Freud mencionaranteriormente, anlise psquica. Dito assim, psico de psico-anlise assume o as-pecto de um qualificativo da anlise: a anlise de que se trata psquica; no qualquer anlise, mas uma anlise, ela prpria, de carter psquico. Portanto, nes-sa primeira interpretao, psico no indica o objeto que se analisa e nem a suanatureza, qualificando, isso sim, o mtodo do trabalho mtodo esse que,rigorosamente, como foi visto no item anterior, se confunde com o trabalho. Tra-ta-se, ento, de um trabalho de natureza psicolgica? Fala-se, aqui, de uma anlisepsicolgica?

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    TRABALHO PSICANLISE

    A resposta para essas questes no simples e exige, mesmo para seu esboo,um percurso que no se vai realizar, agora, em sua totalidade. Neste momento,pretende-se indicar algumas balizas que marcam um caminho possvel para arti-cular, de maneira mais proveitosa, as ltimas questes propostas.

    Perguntar se o trabalho de que ora se trata um trabalho de natureza psico-lgica indagar se o tratamento que o caracteriza uma psicoterapia. A respostamais imediata para essa segunda pergunta sim.

    Freud (1905a) designa seu trabalho psicoterapia; o termo j foi citado aci-ma: mtodo analtico da psicoterapia (AE: 249; SB: 270; AS: 111). Trata-se, noentanto, de um caso particular de psicoterapia. No texto mencionado, Freud asso-cia a psicanlise s diversas formas da psicoterapia, com o propsito de distinguiro modo psquico de tratamento daquele que envolve processos de interveno nocorpo. J na concluso do Caso Dora, Freud (1905e) introduzira de maneira exem-plar a mesma discusso, afirmando que a tcnica teraputica da psicanlise pura-mente psicolgica; a teoria, alm de psicolgica, estaria comprometida com apon-tar as bases orgnicas da neurose.

    A respeito da caracterizao do trabalho psicanlise como psicoterapia, Mezan(1995) desenvolve um argumento que se apia numa contextualizao da psica-nlise quando de seu nascimento. O autor argumenta que, ao se tomar a afirma-o freudiana de que a psicanlise psicoterapia, deve-se levar em conta que Freudestava inventando a psicoterapia no sentido em que hoje ela conhecida. Assim,sob esse pressuposto, deve-se considerar que, inversamente, psicoterapia psica-nlise. Ao se atentar para o que hoje se entende por psicoterapia, na afirmaomais acima de que a psicanlise seria um caso particular de psicoterapia necessrio que se assuma caso particular como elemento suficiente para separara psicanlise da psicoterapia. De fato, e Mezan assim o desenvolve, a psicanliseno se confunde e nem se aproxima em natureza de quaisquer das formas hojeconhecidas de psicoterapia. imperativo levar-se em considerao exatamente ofato de a psicanlise ter sido fonte, ou, melhor dizendo, fator de legitimaopara a constituio das formas de psicoterapias, de terapias psquicas que hoje seconhecem.

    O que se desenvolveu anteriormente leva de maneira indutiva a respondernegativamente questo-origem do problema discutido. Ou seja, a natureza daanlise do trabalho psicanlise no psicolgica, no se trata de uma anlisepsicolgica.

    Psicanlise no se confunde com psicologia. Em psicanlise no se grafalogia; psicanlise no se estabelece como logos, isto , como discurso coerente,auto-controlado e auto-fundamentado7. Independentemente da interpretao

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    qualificada do discurso como logos que se acabou de sugerir (e que agora no sejustifica desenvolver), o trabalho psicanlise como cuidado e cura no se definecomo discurso, mas, em vez disso e justamente, como anlise. Isto , anlise, eno logia, o suporte da psicanlise.

    A anlise de que se trata em psicanlise no psicolgica, pois o trabalho deanlise, sendo especfico, pretende situar-se alm do psicolgico se por psicol-gico for entendido o discurso sobre a experincia ou a conscincia8. De qualquermaneira, essa questo somente pode encontrar uma elucidao mais adequada secaracterizado o que Freud avoca quando escreve Psyche.

    Quando se diz que em psicanlise se analisam os sintomas, os sonhos, asfalhas da fala do paciente; quando se afirma que o trabalho psicanlise o cuidadoem acolher o que o neurtico conta, em receber a sua fala para se alcanar o que hde profundo, est-se indicando um campo prprio para o trabalho de anlise. dessa maneira que psico de psicanlise aponta para a qualidade no somente domtodo, como se discutiu at aqui, mas do campo de trabalho, daquilo onde setrabalha e com que se trabalha. O trabalho psicanlise se realiza no mbito psquico.

    J em 1890 antes, portanto, de se constituir tematicamente a psicanlise ,Freud escrevia:

    Psique [Psyche] uma palavra grega que em alemo se traduz Seele [alma].Assim sendo, tratamento psquico [Psychische Behandlung] o mesmo quetratamento da alma [Seelenbehandlung]. Poder-se-ia crer, ento, que por tal seentende tratamento dos fenmenos patolgicos da vida anmica. Mas no este o significado da expresso. Tratamento psquico quer dizer, mais propria-mente, tratamento desde a alma seja de perturbaes anmicas ou corporais com recursos que de maneira primeira e imediata influem sobre o anmico dohomem (1890a, AE, 1: 115; S, 7: 297; AS, Ergnzungsband (volume comple-mentar): 17).

    Deve-se observar, de incio, que Freud utiliza dois termos e seus derivadosquando nomeia o seu objeto, ou o seu campo de trabalho: Psyche e Seele usadoscomo sinnimos. Ele no se refere conscincia no sentido dos filsofos, no demente como algo ligado ao pensamento ou intelectualidade que se trata, mes-mo que a edio inglesa das obras de Freud assim insista em traduzir Seele (aspectolevado adiante pela edio brasileira da Imago, que foi, em sua primeira verso,traduo direta da inglesa).

    Hanns (1996: 332ss) tambm afirma que Freud emprega esses dois termoscomo sinnimos; no entanto, aquele autor discute como os significados e asconotaes de Psyche e Seele no se confundem totalmente em alemo. Assim,

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    TRABALHO PSICANLISE

    psique, psiquismo (Psyche) ou psquico (psychische) tm, como em portugus, umsignificado tcnico que no abrange a totalidade dos sentidos de alma (Seele) ouanmico (seelische), possuindo, ainda, acepes que no so prprias a Seele. Seele,em uso literrio e coloquial, nos quais Freud sempre se apoiou, enfeixa simulta-neamente as noes de intelecto, sentimento e chama vital (idem: 333), sem ter,contrariamente ao que acontece em portugus, um sentido animista ou religioso.Dessa forma, a oscilao de Freud entre os dois termos parece trazer para a psica-nlise tanto um significado tcnico como uma conotao do senso comum sobreo que seria o esprito, sem um acento religioso ou animista do que constituiria oseu material de trabalho.

    O aspecto de material de trabalho merece ser destacado. Na citao freudianamais acima, chama ateno o entendimento de que psico em psico-anlise nonomeia primariamente o alvo do trabalho de anlise aquilo que com ele se queralcanar , mas a partir do que se trabalha, a matria do trabalho, aquilo com o quese trabalha. Esse termo psico designa, tambm, a qualidade psquica dos recursosque so utilizados para o trato do psquico, da alma, para influir sobre o anmico.

    De fato, a anlise parte da narrativa do sonho, do sintoma, dos atos falhos.Como se viu acima, o trabalho psicanlise caracteriza-se pela ateno dada falado neurtico, dela se originando e a ela se atendo. O trabalho psicanlise tem seuincio na fala do neurtico e assume como campo de trabalho essa mesma falapara alcanar fenmenos psquicos como, por exemplo, as fantasias e os desejos, mas tambm fenmenos corporais, o sintoma conversivo e, at mesmo, os modoscaractersticos da satisfao sexual dos analisandos, ou seja, suas atitudes.

    Bem cedo (1890) Freud delimitou e caracterizou o que entende por trata-mento psquico: tratamento que parte do anmico e se utiliza de recursos anmicos recursos esses que acabam por influenciar o prprio anmico. Mas a ascendnciasobre o anmico do homem, acompanhando-se essa ltima citao de Freud, aprimeira influncia; outras no esto descartadas, ainda que no sigam nomeadas.Est a implicado, no entanto, que a influncia sobre o anmico o meio (a medi-ao) para se alcanar outras realidades.

    Psico de psicanlise, portanto, se refere ao anmico do qual se parte, da qua-lidade dos recursos que se utilizam e do anmico que se influencia trabalhando-se psiquicamente o anmico, modifica-se a alma. Resumem-se, assim, os significa-dos de psico que se elucidaram: trata-se do qualificativo da anlise e do material (apartida, o meio e o objeto) que se analisa. Pode-se, ento, entender que psican-lise exprime: tratamento (cuidado, cura) analtico de perturbaes anmicas ecorporais que se d a partir, e por meio, da psique (alma, fala).

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    169TRABALHO PSICANLISE

    Se, neste texto, foram feitas diversas aproximaes do sentido da psicanlisecomo trabalho e especificados alguns de seus aspectos, resta, no entanto, dizercomo concretamente se d esse trabalho, caracterizando os seus termos de modoconcreto e no somente formal no basta, para definir o trabalho psicanlise, adeterminao do seu fim, seu objeto e seu procedimento, ainda que tais passossejam necessrios. Para que se alcance a concretude do trabalho psicanlise, a suademonstrao deve partir e permanecer na regra fundamental que o guia, a associ-ao livre. Esse extenso trabalho no cabe em um nico artigo. Ser objeto deoutras aproximaes.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    TRABALHO PSICANLISE

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    NOTAS

    1 O presente artigo resultado parcial de pesquisa financiada pelo CNPq. Este o segundo

    artigo de uma srie de outros que refletem sobre o sentido da psicanlise. O primeiro discute

    a convenincia e oportunidade dA questo sobre o sentido da psicanlise; esse artigo est,

    at o presente momento, indito. Os seguintes abordam os diversos aspectos do sentido da

    psicanlise como prtica e conhecimento e sero em breve encaminhados para publicao.

    Este e os outros textos pertinentes, alm de apresentarem a pesquisa mencionada, tm um

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    171TRABALHO PSICANLISE

    carter didtico foram inicialmente formulados como apostilas de cursos de graduao e

    de ps-graduao.2 Tambm se formula da que o sentido tico mais originrio da psicanlise pode e deve ser

    buscado no seu modo teraputico de insero na sociedade. Nessa perspectiva de tica das

    disciplinas psicolgicas clnicas e, dentre elas, da psicanlise, sugiro leitura dos textos do

    professor Lus Claudio Figueiredo, que as situa no confronto entre as demandas pelas prti-

    cas clnicas psicolgicas socioculturais e historicamente constitudas e as respostas que

    essas mesmas prticas clnicas, assim estabelecidas, oferecem. Em particular, os livros: Fi-

    gueiredo (1992, 1995, 1996).3 Ver, por exemplo, Freud (1896a e 1896b); infelizmente, essas obras no esto publicadas na

    edio alem Studienausgabe.4 Na referncia freudiana indicada por esse autor, em Sobre psicoterapia, a passagem por ele

    citada no foi encontrada, ainda que seu sentido esteja presente no texto.5 Langenscheidts Groes Schulwrterbuch Deutsch Franzsisch.6 Laplanche (1999: 238) sugere a necessria sntese que o ego vai construindo ou reconstruin-

    do medida que a anlise desconstri. Essa uma perspectiva interessante, uma vez que

    parece vir ao encontro do inacabado, do sem-fim, no qual se constitui uma psicanlise. No

    entanto, tal perspectiva pode levar a consideraes muito mais amplas e crticas; elas no

    sero aqui desenvolvidas, pois extrapolam os objetivos deste texto.7 Sobre a caracterstica do logos como discurso auto-controlado e auto-fundante, ver Vaz (1974).8 Ver, a respeito dessa compreenso do que seja o psicolgico, Figueiredo (1986).

    Recebido em 10 de maio de 2005Aceito para publicao em 10 de agosto de 2005