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Psicologia Ciência e Profissão ISSN: 1414-9893 [email protected] Conselho Federal de Psicologia Brasil Vectore, Celia Psicologia e Acupuntura: Primeiras Aproximações Psicologia Ciência e Profissão, vol. 25, núm. 2, 2005, pp. 266-285 Conselho Federal de Psicologia Brasília, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=282021732009 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Psicologia Ciência e Profissão

ISSN: 1414-9893

[email protected]

Conselho Federal de Psicologia

Brasil

Vectore, Celia

Psicologia e Acupuntura: Primeiras Aproximações

Psicologia Ciência e Profissão, vol. 25, núm. 2, 2005, pp. 266-285

Conselho Federal de Psicologia

Brasília, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=282021732009

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Psicologia e Acupuntura:Primeiras Aproximações

Psychology and acupuncture: The first approaches

Arti

go266

Celia Vectore

Universidade Federalde Uberlândia

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2005, 25 (2), 266-285

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Resumo:Trata-se de um estudo teórico buscando identificar as possibilidadesde utilização da prática da acupuntura pelos psicólogos, haja vista aResolução nº05/02, do Conselho Federal de Psicologia, que aponta taltécnica como um instrumento do profissional de Psicologia. O trabalhoapresenta os principais conceitos que embasam a acupuntura, considerandoa sua inserção na medicina tradicional chinesa e na filosofia taoísta, alémde fazer uma revisão acurada dos trabalhos científicos que vêm sendoproduzidos em diferentes países, oportunizando estudos que mostram apertinência do conhecimento da acupuntura no tratamento das patologiasmentais.Palavras-chave: acupuntura, patologias mentais, tratamento, Psicologia.

Abstract:This work is a theoretical study searching to identify thepossibilities of the use of acupuncture by psychologists, as the Resolutionnº05/02 of the Federal Counsel of Psychology (Conselho Federal dePsicologia-CFP) determines that this technique is an instrument of theprofessional of Psychology. This study also presents the main conceptsthat acupuncture is based on, considering its insertion in the Chinesetraditional medicine and the taoist philosophy. An accurate revision of thescientific work that has been produced in different countries, carrying outstudies that show the relevance of the knowledge of acupuncture in thetreatment of the available mental pathologies is also presented.Key Words: acupuncture, mental pathologies, treatment, Psychology.

Em nenhum momento da história dahumanidade a busca pela integração corpo emente se fez tão presente, como atesta, emescala mundial, a avalanche de literatura sobrealternativas terapêuticas, buscandoproporcionar melhor qualidade de vida.

Embora a preocupação por uma saúde integrale harmônica, conforme definido pelaOrganização Mundial de Saúde, ou seja, ocompleto bem-estar - físico, psíquico e sociale não simplesmente a ausência de sintomas -seja tão antiga quanto o homem, o terceiromilênio parece ter-se iniciado com a esperançae com o desejo de se viver mais, porém deforma digna, independente e sem as contínuas

mazelas que acometem o ser humano aolongo de seu desenvolvimento.

É evidente que proporcionar saúde física emental constitui uma tarefa bastante árdua,em virtude das inúmeras variáveis presentesna determinação de melhor condição de vidaà população, como o acesso à informação, àeducação, às boas condições de moradia eoutras que sempre fazem parte das promessaspolíticas e que infelizmente, em nosso meio,são pouco cumpridas.

A despeito dos inegáveis avanços da ciênciaem todas as áreas do conhecimento, onde osestudos têm propiciado maior expectativa de

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vida humana na maior parte das culturas, afalta de saúde tanto física quanto mental éainda um dos problemas que insistem emdesafiar os estudiosos, os especialistas e osresponsáveis por políticas públicas na buscade soluções eficazes e eficientes, capazes deserem implementadas para um grandenúmero de pessoas.

Nesse sentido, os conhecimentos oriundos daPsicologia, dentro das mais diversasramificações teóricas que compõem talciência, muito têm contribuído ao demonstrara íntima relação existente entre mente e corpoe, na seqüência, a relação entre algumasperturbações orgânicas e os aspectos denatureza emocional, subjetiva, do indivíduo,nas assim denominadas doençaspsicossomáticas, isto é, doenças que, emboraapresentem sintomas físicos, têm causa noscomprometimentos mentais.

Por outro lado, a utilização da acupuntura,técnica milenar da medicina chinesa, temdespertado interesse nos mais diversospesquisadores ocidentais e, entre eles, nosprofissionais da Psicologia, em virtude da suaênfase numa visão holística e integradora doser humano, ou seja, considerando-o parteindissociável do universo, buscando, dessemodo, um modelo científico baseado nainteração do homem com os fenômenos danatureza.

A acupuntura é uma especialidade que foidesenvolvida na China há mais de cinco milanos e, com a moxibustão, o qi gong e afitoterapia, compõe a medicina tradicionalchinesa; visa a prevenir e tratar as doençasatravés do equilíbrio das energias circulantesno corpo, pois acredita-se que um organismoequilibrado não adoece.

Baseia-se na existência de acupontos,distribuídos ao longo de doze linhasimaginárias, chamadas meridianos (coração,fígado, baço-pâncreas, pulmão, estômago,

Psicologia e Acupuntura: Primeiras Aproximações

rim, circulação-sexo, intestino delgado, vesículabiliar, intestino grosso, bexiga e triploaquecedor), que percorrem o corpo no sentidovertical, formando pares simétricos nas facesdorsal e ventral da superfície corporal, os quais,devidamente estimulados, normalmente, poragulhas, são capazes de promover uma sériede benefícios à saúde do indivíduo.

Segundo a abordagem bioenergética, da qualfaz parte a acupuntura, a doença não é umfenômeno alienado no corpo. A acupunturacompreende a integração mente-corpo comoum círculo de interação entre os sistemasinternos e os aspectos emocionais, passível deser concretizado através de três tesouros, ouseja, a Essência, o Qi e a Mente.

A Organização Mundial da Saúde (OMS)reconhece o uso da acupuntura para váriostipos de patologias, como, por exemplo,enxaquecas, problemas gastro-intestinais,alergias e dores diversas. Além disso, váriosestudos têm demonstrado que a acupunturaapresenta uma influência profunda sobre osproblemas emocionais e mentais, sendorecomendável a combinação dessa técnicacom outras psicoterápicas.

Desse modo, é interessante que o psicólogopossa conhecer os pressupostos básicos daacupuntura, um dos recursos terapêuticosutilizados pela milenar medicina tradicionalchinesa que, por meio de um profundoconhecimento filosófico e de ricas alegorias,demonstra a importância da visão holística,onde o homem e a natureza se encontraminterligados ao universo, contrapondo-se àexcessiva mecanização e racionalidade doparadigma cartesiano-newtoniano.

Assim, o objetivo do presente artigo é introduziros pressupostos básicos da acupuntura bemcomo o estado da arte dos estudos voltados

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para a interação entre Psicologia e acupuntura,buscando identificar as possibilidades deutilização da prática da acupuntura pelospsicólogos, haja vista a Resolução nº05/02, doConselho Federal de Psicologia, que apontatal técnica como um instrumento doprofissional de Psicologia.

Um pouco de história

A acupuntura, conforme anteriormenteespecificado, está inserida no conjunto detécnicas relativas à medicina tradicional chinesa(MTC), que busca compreender e tratar asdoenças a partir de uma visão integradora entreo corpo e a mente. A primeira informaçãosobre a técnica veio através de uma coleçãode manuscritos chineses do século XVIII a.C.– O Nei Jing (Nei Ching), comumenteconhecido como o Tratado do ImperadorAmarelo, uma figura mitológica que conversacom os seus médicos, revelando os dogmasda medicina chinesa.

Especificamente, a acupuntura começou a seraplicada e estudada pela Medicina ocidentalna década dos anos setenta, embora osprimeiros relatos dessa técnica no Ocidentetenham sido feitos por missionários queviajaram ao Oriente nos séculos XII e XIII.

Segundo Sabbatini (2003), a ocidentalizaçãoda acupuntura ocorreu “quando a filosofiaoriental foi apropriada pelos hippies e outrosmovimentos sociais alternativos em rebeldiacontra o ‘establishment’ americano responsávelpela Guerra do Vietnã”. Além disso, foiimpulsionada pelo fato ocorrido em 1971,durante a visita do então presidente norte-americano Richard Nixon à China, quandodois cirurgiões americanos assistiram àextirpação de um ovário com anestesia pelaacupuntura, apenas.

Atualmente, a prática existe no mundo inteiroe é crescente sua procura, em virtude,principalmente, da simplicidade da técnica, da

Celia Vectore

A acupuntura,conformeanteriormenteespecificado, estáinserida noconjunto detécnicas relativas àmedicinatradicional chinesa(MTC), que buscacompreender etratar as doençasa partir de umavisão integradoraentre o corpo e amente .

sua eficácia, rapidez e busca do equilíbrio bio-psíquico dos pacientes. Por outro lado, osfatores apontados pela MTC como causadoresdas patologias (clima, emoções, dieta etc) seaplicam a qualquer sociedade, bem como ossentimentos de fúria, tristeza, dor epreocupação, são básicos em qualquer serhumano.

No Brasil, a técnica começou a ser praticadaem 1810, pelos imigrantes chineses, e, maistarde, em 1908, pelos japoneses. No início dadécada de cinqüenta, a acupuntura foiintroduzida no país por Frederico Spaeth, quefoi um dos fundadores do Instituto Brasileirode Acupuntura - IBRA, atualmente denominadoAssociação Brasileira de Acupuntura – ABA.

Em relação às bases científicas da acupuntura,tem-se que, segundo princípios anatômicos efisiológicos, o estímulo da acupuntura obedecea impulsos nervosos, considerando que a maiorparte dos pontos de inserção localiza-se nasproximidades dos nervos periféricos. Outrasteorias apontam uma natureza humoral daacupuntura.

Yin-Yang

O conceito do Yin-Yang é um dos maisimportantes na medicina tradicional chinesa.Baseia-se na existência do Tao como força divinaque dá origem ao Universo e que imprime leise lógica à energia universal, permitindo que elase organize, criando os planetas e as estrelas,os elementos da natureza e, por fim, a vida.

O Tao organizou as forças do universo criandoas chamadas “polaridades universais”, forçasopostas, mas complementares, que regulam ospadrões de organização na natureza, ou seja, oYin e o Yang. Essa lógica é, segundo Maciocia(1996), radicalmente diferente da lógicaocidental, estruturada na oposição doscontrastes, premissa fundamental da lógicaaristotélica. Assim, Yin e Yang representam o

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desenvolvimento de todos os fenômenos nouniverso, sendo o resultado de uma interaçãode dois estágios opostos que contêm ambosos aspectos, em diferentes graus demanifestação, num movimento cíclico erelativo.

Lao Zi ou Lao–Tse (570 a.C.), um dosprincipais filósofos chineses e um dosformuladores da doutrina do Tao, escreveu:

...“Do Tao surgiram os opostos Yin e Yang. Elessão complementares e interdependentes. Setodo o povo da Terra sabe que bom é bom,isto significa o reconhecimento do mal. Entãoser e não ser são interdependentes emcrescimento, difícil e fácil são interdependentesem atitude, e alto e baixo são interdependentesem posição” (Lao-Tse apud Botsaris, 1999,pp.23-4).

É interessante observar que o Yang representao estado mais rarefeito e imaterial da substância(Céu), e o Yin simboliza o estado mais materiale denso (Terra). Desse modo, pode-seacrescentar mais alguns atributos nacorrespondência Yin-Yang, como:

Yang: produz energia, gera, não substancial,energia, expansão, ascendência, acima, fogo,rapidez, mudança.

Yin: produz forma, cresce, substancial,matéria, contração, descendência, abaixo,água, lentidão, conservação.

Quatro aspectos dorelacionamento Yin-Yang

Oposição do Yin e Yang: contradição que seconstitui na força motriz de toda mudança,desenvolvimento e deterioração dosfenômenos. Entretanto, a oposição é relativa,e não absoluta, pois tudo contém a sementedo seu oposto, e ser Yin ou Yang édependente do fenômeno ao qual estárelacionado; por exemplo, o clima de São

Paulo é Yin em relação ao clima de RibeirãoPreto, porém é Yang em relação ao daGroelândia.

Interdependência do Yin e Yang: emborasejam opostos, são interdependentes, pois umnão pode existir sem o outro; como exemplo,observa-se que não há atividade sem descanso,contração sem expansão, etc.

Consumo mútuo do Yin e do Yang: o Yin e oYang devem estar em constante equilíbrio;contudo, há quatro estados passíveis dedesequilíbrio: (1) preponderância do Yin; (2)preponderância do Yang; (3) debilidade do Yin;(4) debilidade do Yang.

Inter-relacionamento do Yin e Yang: o Yin eo Yang não são estáticos, mas transformam-semutuamente. Essa mudança acontece somenteem determinados estágios dodesenvolvimento, como, por exemplo, o verãose transforma em inverno, a vida em morte,etc.

Os Cinco Elementos

Junto à teoria do Yin-Yang, a teoria dos cincoelementos ou movimentos constitui a base damedicina tradicional chinesa, e foi elaboradapelos filósofos chineses para explicar ocomportamento da natureza e dos seres vivos.Há um ciclo de transformação, com ordemespecífica, chamado de ciclo de geração e dedominância.

“A Madeira corresponde à Primavera, sendoassociada ao nascimento; o Fogo correspondeao Verão e está associado ao crescimento; oMetal corresponde ao Outono, associado àcolheita; a Água corresponde ao Inverno e estáassociada ao armazenamento; a Terracorresponde à estação anterior, associada atransformação” (Maciocia, 1996; p.25).

Seqüência de geração: cada elemento gera ooutro, sendo, ao mesmo tempo, gerado.

...“Do Tao surgiramos opostos Yin e

Yang. Eles sãocomplementares einterdependentes.

Se todo o povo daTerra sabe que

bom é bom, istosignifica o

reconhecimentodo mal. Então ser

e não ser sãointerdependentesem crescimento,

difícil e fácil sãointerdependentes

em atitude, e altoe baixo são

interdependentesem posição”

Lao-Tse apudBotsaris

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Os cinco elementos nodiagnóstico

A correspondência entre os cinco elementose a cor, o sabor, as emoções, os odores, eos sons, entre outros aspectos, é amplamenteutilizada no diagnóstico. É interessante lembrarque o diagnóstico, na MTC, tem como objetivoreconhecer e corrigir padrões de desarmonia.Além disso, de acordo com Brewington, Smithe Lipton (1994), o pensamento, nessa medicina,é holográfico, isto é, o todo pode serreconhecido em cada uma das partes.

Celia Vectore

Desse modo, a Madeira gera o Fogo, o Fogo gera a Terra, a Terra gera o Metal, o Metal gera aÁgua e a Água gera a Madeira.

Seqüência do controle: cada elemento controla o outro, ao mesmo tempo que é controlado.Portanto, a Madeira controla a Terra, a Terra controla a Água, a Água controla o Fogo, o Fogocontrola o Metal e o Metal controla a Madeira.

Seqüência da lesão: ocorre quando o equilíbrio é afetado, ou seja, a Madeira lesa o Metal, oMetal lesa o Fogo, o Fogo lesa a Água, a Água lesa a Terra e a Terra lesa a Madeira.

Os cinco elementos correspondem às cinco estações da vida na Terra; os seres vivos têm aspectosque se identificam com cada movimento, e a existência da saúde implica a harmonia entre todosos movimentos.

É interessante observar que um dos aspectos mais marcantes da medicina tradicional chinesa é aressonância entre os fenômenos da Natureza e os do organismo. Algumas das principaiscorrespondências são apresentadas na tabela 1.

Tabela 1: Principais correspondências dos cinco elementos

Madeira Fogo Terra Metal ÁguaPtos Cardeais Leste Sul Centro Oeste NorteEstações Primavera Verão 5

a. estação Outono Inverno

Clima Vento Calor Umidade Secura FrioCores Verde Vermelho Amarelo Branco PretoSabores Ácido Amargo Doce Picante SalgadoMovimentos Nascimento Crescimento Transformação Recepção ConservaçãoSentidos Visão Tato Paladar Olfato AudiçãoEmoções Cólera Prazer Reflexão Tristeza Medo

Em virtude dessa interação, o equilíbrio decada um dos “cinco elementos” depende doequilíbrio das outras funções que, todavia,podem estar em desarmonia, devido aagressões comprometedoras do equilíbrioentre o Yin e o Yang.

Os princípios contidos no Nei Jing (Nei Ching),que sustentam a MTC, sugerem que “nãoexiste doença, mas, sim, doentes”, o que supõea necessidade de uma visão global eintegradora entre todos os sistemas quecompõem o organismo vivo.

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Segundo a medicina tradicional chinesa (MTC),a integração mente-corpo é vista como umcírculo de energia e substâncias vitais emconstante interação com os sistemas, de modoa formar o organismo. As substâncias vitais são:

Qi: corresponde a todas as funções da energiacorporal, representadas pelo funcionamento dometabolismo; é a “raiz do homem” (Nei King).O Qi produz o Sangue, o Qi faz circular oSangue e o Qi segura o Sangue nos vasos.Botsaris (op. cit.) compara o conceito do Qiaos ensinamentos da física quântica, ondeeletricidade e matéria são energias. Osprincipais tipos de energia corporal são:

● Energia nutridora (Yin Qi) – é a energiaresultante da alimentação e da respiraçãocombinadas, que circula no sangue, a fim denutrir os órgãos e tecidos.

● Energia de defesa (Wei Qi) – é a energiaresponsável pelos processos de defesa doorganismo, correspondente às ações dosistema imunológico.

● Energia do tórax (Zong Qi)- é a energiacorrespondente ao funcionamento do pulmãoe do coração.

● Energia dos alimentos (Jing Qi) – relativa àssubstâncias absorvidas dos alimentos pelo tubodigestivo.

● Energia ancestral (Yuan Qi)- ligada àsmanifestações dos gens, localizados no DNAdas células, regulando o desenvolvimento doembrião até a formação de um ser humanoadulto.

Sangue: é formado de fluido corporal, daessência da medula óssea, do Yin Qi, ouenergia nutridora, e Wei Qi, ou energia dedefesa. Tem como funções: a nutrição, adefesa, a promoção do crescimento, ahidratação e a prevenção de tumores.

Essência ou Jing: é a origem da “energiaancestral”, que representa a expressão dosgens; por isso, vários autores o interpretamcomo simbolizando o DNA. Segundo a MTC,a essência está localizada no Rim, que adistribui pelo sistema nervoso central e medulaóssea, estando presente em todos os órgãos etecidos para que tenham vitalidade.

Fluidos corpóreos ou Jin Ye: componenteanálogo ao líquido extracelular da Medicinaocidental. É composto de água e outrassubstâncias produzidas pelo baço-pâncreas.

Desse modo, segundo Sobrinho (2001), atravésda boca são introduzidos alimentos noestômago (yin) que, ao serem processados,transformam-se em sangue (Terra) pelo Baço-Pâncreas. A seguir, o sangue é encaminhadoao Pulmão, onde será oxigenado (yang). DoPulmão, o sangue segue para o Rim, onde éfiltrado e aquecido pela energia ancestral. DoRim, o sangue é encaminhado ao Fígado, ondeserá armazenado e controlado. O Fígado équem controla a corrente sangüínea emcirculação. Por fim, o Coração representa abomba que impulsiona o sangue energizadopara todo o organismo.

Finalizando, pode-se dizer que a

“fisiologia humana é baseada na transformaçãodo Qi. O Qi em condensação forma o corpomaterial, sendo de natureza Yin. O Qi na formadispersa move-se, sendo de natureza Yang...Se o Qi é transformado adequadamente,movimento, nascimento, crescimento ereprodução podem ocorrer...Se o Qi floresce,há saúde, se débil, há patologia, se éequilibrado, há tranqüilidade, caso se movana direção errada, há patologia” (Maciocia,1996, p.79).

Portanto, a cura ocorre quando o Qi (força vital)do indivíduo é mobilizado e corrigido, demodo a restabelecer o correto fluxo da energia.

“fisiologia humanaé baseada na

transformação doQi. O Qi em

condensaçãoforma o corpo

material, seno denatureza Yin. O Qina forma dispersa

move-se, sendode natureza Yang...

Se o Qi étransformado

adequadamente ,movimento,nascimento,

crescimento ereprodução

p o d e mocorrer...Se o Qi

floresce, há saúde,se débil, há

patologia, se éequilibrado, há

tranqüilidade, casose mova na

direção errada, hápatologia”

Maciocia

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Acupuntura e psiquismo

Considerando a visão holística adotada pelamedicina tradicional chinesa, tem-se que ospensamentos e as emoções influenciamdiretamente a força vital, aumentando, ou aocontrário, paralisando o fluxo de energia pelocorpo. Esse processo pode ser consideradouma via de mão-dupla, onde o psiquismo nãopode ser separado dos órgãos e vice-versa,isto é, as perturbações psíquicas, relativas àsemoções, podem perturbar diretamente osórgãos e as alterações orgânicas podem agirsobre o psiquismo.

Assim, o psiquismo é basicamente Yang, e,como tal, depende da energia Yang oriundado ar e da luz. Entretanto, deve-se mencionarque tal psiquismo é, por sua vez, alimentadopela força Yin, oriunda dos alimentos e daterra, numa dependência e interpenetraçãoconstantes. Considerando que o fluxo do Qiinfluencia a psique, tem-se que ossentimentos localizados nos órgãos atuamcausando insuficiências ou plenitudes.

Sinteticamente, tem-se que:

O Coração, o órgão mais Yang dos órgãos, éa sede da mente; atua sobre a vidaintelectual, equilibrando a razão econservando a energia mental;o Baço-Pâncreas atua sobre o consciente, facilitandoa concentração do pensamento e acompreensão, principalmente emMatemática; o Rim, o órgão mais Yin, é ogerador de energia; atua sobre os processosde tomada de decisão, conservando avontade e a vitalidade; o Fígado, consideradoa sede das emoções da alma, mantém olivre fluxo da energia do corpo, atuando sobrea ação, a inveja e o ciúme; o Pulmão capta aenergia vital, atuando na defesa do organismoe nas perdas afetivas. O vaso-governador eo vaso-concepção atuam sobre a percepçãoda realidade.

Os sentimentos que causam plenitude, ouseja, excesso de Yang, são, normalmente,identificados pelo descontentamento, pesar,obsessão, preocupação, como também pelosilêncio e pela ociosidade. Os sentimentos quecausam insuficiência, ou seja, vazio de Yin,são, normalmente, identificados pela alegria,medo e também fadiga.

Desse modo, tem-se que a acupunturacontempla cinco emoções (alegria, tristeza,reflexão, cólera e medo), sendo o estado desaúde dependente da harmonia entre as cincoemoções; as alterações emocionais levam aosquadros de excesso ou deficiência.

Principais desequilíbrios

Emoções na MTC:

● Fúria: inclui ressentimento, fúria contida,irritabilidade, frustração, ódio, indignação,animosidade ou amargura. Qualquer umdesses estados emocionais pode afetar oFígado e, se persistir ao longo do tempo, podecausar a Estagnação do Qi desse órgão com amanifestação de muitos sintomas na cabeça,como: cefaléia, zumbido, tontura, manchasvermelhas na parte frontal do pescoço, ruborfacial, sede, língua vermelha e gosto amargona boca.Há a possibilidade de se ter tambémsintomas como submissão, depressão (fúriareprimida – língua vermelha escura e seca) epalidez.

● Alegria: deve ser entendida não como umestado saudável de felicidade, mas umexcitamento excessivo que pode lesar oCoração, como, por ex., em uma crise deenxaqueca causada por boas notíciasrepentinas.

● Tristeza: debilita o Pulmão, mas tambémafeta o Coração. O Pulmão governa o Qi e atristeza depaupera o Qi, provocando sintomascomo dispnéia, cansaço, depressão ou choro,e, nas mulheres, pode provocar amenorréia.

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Psicologia e Acupuntura: Primeiras Aproximações

● Preocupação e Abstração: pensar demais, exercer um trabalho mental ou estudo excessivo debilitao Baço e causa cansaço, anorexia e diarréia. A preocupação depaupera o Qi do Baço, paralisando o Qido Pulmão e provocando sintomas como ansiedade, dispnéia e rigidez nos ombros e pescoço.

● Medo: depaupera o Qi do Rim e faz o Qi descender. Nas crianças, situações geradoras de medo einsegurança levam à descida do Qi, podendo provocar a enurese noturna. Em adultos, medo e ansiedadeprovocam a deficiência do Yin do Rim, levando à sensação de calor na face, sudorese noturna, palpitação,boca e garganta secas.

● Choque emocional: suspende o Qi e afeta o Coração e o Rim, causando sintomas como palpitação,dispnéia, insônia, sudorese noturna, boca seca, tontura ou zumbido.

Causas Externas:

Seis excessos – Vento (primavera), Frio (inverno), Calor (verão), Umidade (fim do verão), Secura(outono) e Fogo (verão).

Outras causas patológicas:

compleição debilitada, excesso de exercícios físicos, excesso de atividade sexual, dieta irregular, trauma,parasitas e venenos e tratamento inadequado.

Jing Luo

Jing Luo (Jing – dirigir, caminhar e Luo - rede) é habitualmente traduzido por meridianos ou canaisenergéticos que, apesar de invisíveis, são considerados um mecanismo físico, com trajeto definido,marcado por pontos cutâneos sensíveis – os pontos de acupuntura, os quais, ao serem estimulados,podem provocar tanto a sensação de calor quanto de parestesia. São pontos de baixa resistênciaelétrica na pele. Para as pessoas saudáveis, cada canal energético tem, durante as vinte e quatro horasdo dia, um período de duas horas cuja atividade é máxima.

Assim, pode-se dizer que a personalidade, isto é, a organização dos sistemas cognitivo, afetivo e decomportamento do indivíduo socialmente pertinentes, é formada tanto pela adequada função dosórgãos quanto pelas interações sociais vivenciadas pelo sujeito.

Segundo Oyanedel (2002), a apreciação subjetiva dos fatos por parte do indivíduo definirá o órgão emque o sintoma irá manifestar-se. Por exemplo, um indivíduo preocupado consigo mesmo poderádesenvolver uma úlcera gástrica e, se a preocupação for voltada aos outros, o órgão a ser afetado seráo baço-pâncreas. A tabela 2 apresenta as alterações nos padrões de equilíbrio.

Tabela 2: Alterações nos padrões de equilíbrio energético.

Elemento Equilíbrio Desequilíbrio Excesso DeficiênciaTerra Reflexão Preocupação Autoritário DependênciaMetal Serenidade Ansiedade Euforia InsegurançaÁgua Calma Apreensão Imprudência Medo

Segundo Steiner (1990), desde a Antiguidade, já se distinguem os temperamentos sangüíneo,melancólico, colérico e fleumático, os quais podem estar diretamente relacionados aos seguintesórgãos:

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Fleumático: relativo ao baço-pâncreas (I),quando em plenitude, apresenta serenidadee calma excessivas, obsessão, fixação nopassado, idéias fixas e sem realizações; ooposto relaciona-se à falta de memória,“branco”, ansiedade (não fica quieto) eangústia.

Sanguíneo: relativo ao pulmão (PRO) ,quandoem plenitude, apresenta excesso de auto-estima, agressividade, tristeza, obsessão pelofuturo; o oposto relaciona-se ao medo, àpreocupação, à perda do instinto deconservação e dos reflexos de defesa.

Colérico: relativo ao fígado (ROUNN), quandoem plenitude, apresenta animação, cólera, irae hiperatividade; o oposto relaciona-se à faltade imaginação e concatenação de idéias e decapacidade de expressão.

Melancólico: relativo ao rim (TCHE), quandoem harmonia, representa a força de vontade,a determinação, a capacidade de execuçãodas intenções, poder de decisão. Em plenitude,apresenta autoritarismo (problemas depróstata, neoplasias) e impulsividade; o opostorelaciona-se ao medo, à indecisão e à angústia.

Reunião dos quatro temperamentos: relativoao coração (CHENN), representa a razão tantoindividual quanto coletiva. Em plenitude,apresenta excitação mental, dificuldade deconcentração, alegria exagerada, risoexagerado, histeria; o oposto relaciona-se aoabatimento, à timidez excessiva e àincapacidade de fazer esforços. Quando emharmonia, apresenta-se como a soma desensibilidade, alegria e poder de decisão.

Um outro modo de se relacionar a acupunturacom o psiquismo é através da pulsologia, ouseja, do diagnóstico realizado de acordo comas pulsações do indivíduo. Segundo Morant(1990), o quarto pulso está relacionado comas características psicológicas oriundas dosórgãos.

Bases científicas da acupunturaMecanismo de ação da acupuntura

Embora os efeitos da acupuntura já tenhamsido relatados há milhares de anos, foi apenasno séc. XX que tal técnica começou a serinvestigada cientificamente, em virtude dointeresse de médicos chineses com formaçãocientífica ocidental em buscar explicar o seumecanismo de ação.

Han Jisheng, fundador do Centro de Pesquisaem Neurociências da Universidade de Beijing(China), descobriu, em 1972, que aacupuntura era capaz de induzir o encéfalo ea medula espinhal a produzir uma ou maissubstâncias capazes de modificar o limiar dador (aumento do nível de serotonina).Paralelamente a tal descoberta, o mapeamentoda estrutura molecular da encefalina(analgésico) levou à suposição que adescoberta dos antagonistas mostraria o modocomo a acupuntura utilizava os opióidesendógenos para suprimir a dor.

Atualmente, o mecanismo de ação daacupuntura já está relativamente desvendado,em virtude da descoberta de que 366 pontosda acupuntura clássica (são conhecidos maisde 2000 pontos) estão relacionados a doistipos de fibras nervosas, conhecidas como ADelta e C.

Segundo Franceschini Filho (2001), as fibras ADelta são mais superficiais, reagem a estímulosfortes e são ativadas eletricamente com girosrápidos das agulhas, uma média de cincorotações por segundo, e são usadas, em geral,como pontos de sedação, isto é, têm efeitocalmante. Por outro lado, as fibras C reagema estímulos mais suaves, em geral, de cercade duas rotações por segundo, sendoconsideradas pontos de tonificação, ou seja,capazes de estimular o organismo. Ao ser estimulada a área de cinco mm sob ospontos (localizados sobre grandesconcentrações de terminações nervosas), há

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Embora os efeitosda acupuntura játenham sidorelatados hámilhares de anos,foi apenas no séc.XX que tal técnicacomeçou a serinvestigadacientificamente,em virtude dointeresse demédicos chinesescom formaçãocientífica ocidentalem buscar explicaro seu mecanismode ação.

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o envio do estímulo para o sistema nervosocentral. Da medula espinhal, o estímulo vaipara uma região denominada formaçãoreticular, localizada no tronco cerebral,atingindo o mesencéfalo, que é a porção docérebro situada acima do tronco cerebral. Aseguir, o feixe nervoso dirige-se para váriasregiões do cérebro, em especial para ohipocampo, área responsável pela memória,e para o hipotálamo, área que controla osistema nervoso central autônomo e o sistemahormonal. Ao realizar o referido trajeto, há aliberação de endorfina pelo cérebro, que éuma espécie de analgésico fabricado pelopróprio organismo. A substância precursora dabeta endorfina, a pró-opiome lanocortina,libera o cortisol, que tem ação antinflamatória.Em relação aos efeitos da eletroacupunturana otimização da analgesia, pesquisadorescomo Pomeranz e Chiu (1976) observaramque tanto alta como baixa freqüência deestímulos eliminam a dor. Assim, sabe-se queestímulos com freqüência equivalente a até5 hertz, o que corresponde a cinco rotaçõesda agulha de acupuntura, levam o corpo aproduzir encefalina, um analgésico natural.Acima de 100 hertz, os giros das agulhascausam a sensação de formigamento na áreae a liberação de dinorfina (substância maispotente que a morfina) na medula espinhal(Han et al, 1991).

Deve-se considerar que a percepção da dorocorre porque a pele possui receptoresespecíficos para os diversos tipos de estímulos- temperatura, tato e pressão, pela existênciade terminações nervosas livres, principaisresponsáveis pela percepção do estímuloálgico, em virtude da sensibilidade àsdiferentes substâncias químicas (potássio,histamina, prostaglandinas e outras capazesde ativar a dor). Assim, tem-se, por exemplo,que uma lesão na pele libera potássio, queestimula fortemente as terminações nervosaslivres, enviando a mensagem ao tálamo, quea processa e a envia ao córtex cerebral,possibilitando a sensação de dor.

Portanto, o efeito da acupuntura pode serexplicado ao se considerar que a sensação dedor é proporcional à quantidade de potássioliberado nas terminações nervosas.Experimentos introduzindo íons de potássioatravés da pele, usando corrente elétrica deintensidade crescente, até a produção da dor,tiveram o seu limiar medido tanto semacupuntura (ficou inalterado após noventaminutos de teste) como com acupuntura, oqual foi aumentando lentamente (atingindo umpico após vinte ou trinta minutos),permanecendo constante até duas horas.

Desse modo, as pesquisas sobre os efeitos daacupuntura têm demonstrado que,estimulando os pontos de acupuntura, ocorreuma reação, que se dá através da liberaçãode peptídios opióides no sistema nervoso, quetêm efeito analgésico, conforme aponta White(2001). A conceituação filosófica da medicinatradicional chinesa pode ajudar ao mostrar que,para haver equilíbrio, é necessária a existênciados opostos, no caso, se há opióides, hátambém antiopióides, conforme explicita HanJisheng (cit. p. Jayasuriya, 1995).

Estudos científicos atuaisenvolvendo a utilização daacupuntura

Bresler e Kroening (1976) evidenciaram trêsfatores essenciais na terapia efetiva deacupuntura, que são: (1) as reações imunes einflamatórias são mobilizadas quando qualquerárea da pele é suficientemente estimulada; (2)a estimulação periférica neural ocorre quandopontos de acupuntura são mecanicamente,eletricamente, quimicamente ou termicamenteativados; (3) o componente psicológico é umfator importante no tratamento comacupuntura.

Outros estudos científicos, como o realizadopor O’Callaghan e Jordan (2003), têm

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demonstrado uma alta correlação entre osvalores pós-modernos e a utilização damedicina complementar e alternativa, emespecial, o uso da acupuntura, o que podesugerir que, cada vez mais, trata-se de umatécnica extremamente atual na sociedadecontemporânea, sendo bem-vindos todos osesforços para o estudo científico de talabordagem, como, por exemplo, a “ArizonaIntegrative Outcomes Scale” (AIOS),desenvolvida por Bell et al. (2004).

A acupuntura é utilizada com freqüência cadavez maior em crianças com problemas dehiperatividade e déficit de atenção, conformeestudo de Chan, Rappaport e Kemper (2003),muito embora somente 11% dos pais discutam,com o especialista responsável pela criança, autilização de tal técnica, o que, segundo osautores, deve suscitar novas pesquisas sobrea eficácia da terapêutica, agregando essesconhecimentos à prática dos profissionais.

O trabalho efetuado por Nayak et al. (2003)mostrou a prevalência do uso da medicinacomplementar e alternativa em indivíduos comesclerose múltipla. Güthlin, Lange e Walach(2004) apresentaram a evidência do benefíciosubjetivo de técnicas como a da acupuntura ehomeopatia em pacientes portadores dedoenças crônicas e MacPherson et al. (2004)mostraram a importância da empatia com oacupunturista na percepção dos resultadosalcançados pelos pacientes. É interessanteobservar que a busca por abordagensalternativas, entre elas a acupuntura, se deve,principalmente, a um desencanto com amedicina convencional e ao desejo de receberum cuidado holístico, ou seja, um tratamentoque reconheça a integração entre a mente, ocorpo e o espírito. Os autores concluem queas terapias alternativas devem ser estudadasjunto à comunidade científica por serem cadavez mais procuradas pelas pessoas.

Weier e Beal (2004) mostraram a relevânciadas abordagens alternativas em quadros de

depressão pós-parto, e um estudo realizadopor Manber et al. (2003) apresentou aimportância da percepção da própria doençadepressiva por um grupo de pacientes tratadospela acupuntura como um fator de predição àaderência ao tratamento, às expectativas e àscrenças nas terapias alternativas. O trabalho,embora não visasse especialmente mensuraros efeitos da acupuntura em relação àdepressão, mostrou que tal técnica tem sidouma importante aliada em investigações queobjetivam conhecer os aspectos psicológicosdos pacientes, relacionados aos diferentesmodos de se lidar com as doenças e com ador.

Pesquisadores gregos, como Fassoulaki et al.(2003), investigaram o efeito da acupressãono ponto “extra 1” por dez minutos econcluíram que houve uma redução nosescores relacionados ao stress verbal quandocomparados com a aplicação em um pontoqualquer, efetuada no grupo de controle. Oefeito da inserção de agulhas no ponto “C7”na redução do stress psicológico foi observadopor Chan et al. (2003).

Os estudos têm mostrado, ainda, a capacidadeda acupuntura em modificar neuroquimicamenteo sistema límbico (relacionado às emoções),aumentando o nível de serotonina e sendo,desse modo, indicada para o tratamento dedepressões e alguns quadros de esquizofrenia,evitando os efeitos colaterais dos antidepressivostricíclicos.

Spence et al. (2004) mostraram o aumentoda melatonina e a significativa redução dainsônia e ansiedade em pacientes tratadoscom acupuntura durante cinco semanas. Chen,Zhang e Han (2004) evidenciaram que atécnica não invasiva de estimulação magnéticatranscranial (TMS), cujos princípios sãoderivados da acupuntura, apresenta efeitos na

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modulação cerebral, sendo, portanto, indicadana pesquisa de doenças neurológicas,distúrbios psiquiátricos e na investigaçãofarmacológica. Um outro estudo utilizando amagnetopuntura, desenvolvido por Li et al.(2003), encontrou evidências fisiológicas deque tal técnica pode reduzir a fadiga mentalem motoristas saudáveis.

Por outro lado, Cohen, Rousseau e Carey(2004) apontaram a eficiência da acupunturana diminuição dos sintomas da menopausa,como as ondas de calor e os distúrbios dosono. Chang, Chung e Rosenwaks (2002)enfatizaram a necessidade de maioresinvestigações utilizando a técnica daacupuntura ao referirem-se aos estudosenvolvendo a utilização do procedimento notratamento da infertilidade feminina, os quaismostram uma íntima relação entre a liberaçãode opióides endógenos, particularmente abeta-endorfina após sessões de acupuntura,o que pode ocasionar um impacto no ciclomenstrual através desses neurtopeptídeos.Tori DeAngelis (2002) afirma que os estudosda psiconeuroimunologia relacionados aocâncer de mama deverão incluir a acupunturacomo uma terapia alternativa, capaz depropiciar benefícios aos pacientes.

Em relação ao tratamento da AIDS, não existeconsenso sobre a eficácia das terapiasalternativas, entretanto, segundo McGuire(2001), cerca de um terço de todos ospacientes fazem uso de abordagenscomplementares, entre elas a acupuntura.Desse modo, sugere que os pesquisadoresdevam investigar a eficácia de tais terapias.

Petry (2000) enfatiza a importância de estudosque investiguem a relação entre técnicasalternativas e a redução do stress psicológicoem cirurgias.

Estudos brasileiros, como o realizado pelo Ambulatório de Acupuntura Aplicada à

Enxaqueca, do Departamento de Neurologiado Hospital das Clínicas da Unicamp, têmbuscado avaliar a eficácia da acupuntura notratamento da enxaqueca, uma vez que essadoença atinge de 16 a 30 milhões debrasileiros.

A enxaqueca é, geralmente, de origemhereditária, e tem como principal sintoma ador de cabeça latejante, podendo seracompanhada por sensibilidade exagerada aobarulho e à luz e sensação de náusea eintolerância a determinados cheiros. Uma dasexplicações para a enxaqueca é a diminuiçãoda taxa de serotonina do cérebro. Como essasubstância tem papel fundamental napercepção dos estímulos dolorosos, suacarência torna as pessoas mais sensíveis à dor.A acupuntura pode complementar otratamento com medicamentos porque agesobre a dor, liberando os opióides endógenoscapazes de suprimi-la. Além disso, trata-se deuma técnica já aceita pela AssociaçãoAmericana de Medicina e pela AssociaçãoBrasileira de Cefaléia como modalidadeterapêutica (Maciel cit. p. Klinger, 2002).

Importância do conhecimentoda acupuntura pelo profissionalde Psicologia: aplicações juntoaos transtornos psicológicos

Em relação às desordens psicológicas, observa-se que a depressão e suas diferentesmanifestações têm sido objeto de investigaçãode um grande número de profissionais,especialmente da área de saúde, no sentidode melhor compreendê-la, diagnosticá-la e,assim, tratá-la com maior eficácia. A ciênciapsicológica tem contribuído com diferentesformas de se intervir terapeuticamente nofenômeno depressivo, e, dentre as abordagensmais promissoras, encontra-se a terapiacognitiva, desenvolvida por Aaron Beck (1991).

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Entretanto, ao se considerar as publicaçõesenvolvendo as diferentes formas de tratamentodas manifestações depressivas, constata-se umgrande interesse de pesquisadores da área dePsicologia (Manber et al., 2003; Gallagher et al.,2002; Unutzer et al., 2000; Knaudt et al., 1999;Allen et al., 1998) em investigar a efetividadeda terapêutica com acupuntura em relação a taisdesordens e a outras, de naturezaeminentemente emocional. Eich et al. (1999)mostraram a eficácia da acupuntura notratamento de episódios depressivos e ansiedadegeneralizada por meio do agulhamento empontos como CS 6, C 7 ,VC 6, B 62.

White (2000) escreveu um interessante artigo,na prestigiosa revista americana “ProfessionalPsychology: Research and Practice”, intituladoPsicologia e Medicina Complementar eAlternativa. Ao longo do texto, a autora discorresobre a importância de os psicólogosconhecerem e estudarem cientificamente asabordagens alternativas, como a acupuntura,a homeopatia, a medicina ayurvédica e anaturopatia, pois estatísticas mostram que, em1997, 42% da população americana utilizouum tratamento não convencional, gastandocerca de $21.2 bilhões de dólares com essaspráticas, conforme aponta Eisenberg et al.(1998), e, dentre as patologias mais suscetíveisa tais terapêuticas, encontram-se a dor nascostas, a ansiedade, a depressão e as doresde cabeça; há que se considerar queprincipalmente a ansiedade e a depressão sãopatologias prioritariamente tratadas porpsicólogos. Assim, a referida autora concluique, possivelmente, os pacientes estão tantofazendo terapia psicológica junto a uma práticanão convencional quanto substituindo a terapiapor práticas alternativas.

Contudo, deve-se considerar as dificuldadesem se realizar estudos clínicos controlados eaceitos pela comunidade científica utilizando-se a acupuntura, pois Lewith e Kenvon (1984)

já demonstraram que qualquer agulhamentono corpo produz algum efeito psicológico.

Lanza (1986) mostrou que a combinação daacupuntura com o biofeedback é duas vezesmais efetiva que apenas o biofeedback naredução da ansiedade e tensão muscular.

Outros estudos, como o de Guizhen et al (1998),evidenciaram que a associação da acupunturana dessensibilização comportamental éclaramente superior a qualquer outroprocedimento usado no tratamento de pacientescom quadros de ansiedade.

Estudos americanos (Unutzer et al., 2000;Knaudt et al., 1999) têm demonstrado quepessoas com diagnóstico de doenças comosíndrome do pânico e depressão são as quemais utilizam técnicas alternativas para otratamento, muitas vezes sem o conhecimentodo terapeuta, embora relatem melhoria emseus sintomas. Existe a dificuldade em avaliarexperimentalmente, com métodosquantitativos, tais técnicas, principalmenteporque, em muitas dessas técnicas, a forçacurativa advém da relação entre terapeuta epaciente. Além disso, estudos sérios a respeitoda utilização de abordagens alternativas, namaioria das vezes, são publicados em veículosespecíficos, gozando, normalmente, de menorcredibilidade que os jornais científicos para osprofissionais da Medicina e da Psicologia.

Bassman e Uellendahl (2003) realizaram umestudo objetivando conhecer como astendências alternativas eram vistas pelospsicólogos, membros da AmericanPsychological Association (APA). Para tanto,elaboraram um instrumento contendoquestões acerca do conhecimento sobre aspráticas alternativas bem como do seu usopelos referidos profissionais, e encaminharam,via correio, as questões para 1000 membros

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da referida associação. É interessante observarque, a despeito do pequeno número derespondentes (202), os psicólogos mostraramuma tendência a reconhecer a importânciadas técnicas com relação a determinadosproblemas psicoterápicos, além do desejo deaprender a utilizar algumas dessas técnicas(acupuntura, ervas etc). Entretanto, há apreocupação legal e ética sobre o uso de taisprocedimentos.

As autoras do supracitado estudo concluemsobre a pertinência de novos estudos queampliem o conhecimento sobre a efetividadedas técnicas junto à abordagem psicológica,de modo que venham a respaldar possíveisações legais.

É importante o investimento em novosestudos, como os que permitiram ao NovoMéxico a possibilidade de incorporar apsicofarmacologia na prática psicológica. Oatual crescimento e demanda por práticasalternativas, além da intensa focalização naespiritualidade, nas sociedades pós-modernas,têm levado os psicólogos a repensarem o seupróprio trabalho, o que, segundo Daw (2002,p.24), “é um exemplo do contínuocrescimento e evolução da Psicologiaenquanto uma profissão da saúde“.

É digno de nota que a publicação em inglêsde estudos controlados utilizando aacupuntura demonstrou a eficácia daacupuntura em relação à depressão (Luo; Jiae Zhan, 1985; Yang et al., 1994; Hitt, Allen eSchnyer, 1995) e ao abuso de drogas (Meng;Luo e Halbreich, 2002; Shwatz et al. 1999).

Manber et al. (2003) enfatizam que apercepção da doença tem sido descrita naliteratura psicológica como um importanteprognóstico de saúde, embora tal fator tenhasido pouco contemplado no campo das

desordens mentais. Assim, os autoresempreenderam um estudo buscando validaro instrumento PDIQ – percepção da depressãopelo paciente, um questionário contendoquatro sub-escalas relativas a: eficácia do eu:reflete a crença do paciente no controle desua doença; externalização: reflete a crençado paciente de que a sua doença tem causasexternas; desesperança/cisão: reflete a crençade que a depressão é uma característicapessoal, havendo pouca esperança de cura;holística: reflete a crença em terapiasalternativas.

A importância do instrumento se deve àpossibilidade de predizer a aderência dopaciente ao tratamento bem como asexpectativas, as preferências e a aliançaterapêutica, o que pode corroborar os achadosdo estudo que mostram a importância darelação terapeuta – paciente no sucesso deum tratamento por meio, por exemplo, daacupuntura.

Na tentativa de fornecer indicadores maisfidedignos em relação à avaliação de crençasna efetividade da acupuntura para o tratamentodos sintomas psiquiátricos, Dennehy, Webb eSuppes (2002) desenvolveram a escala “TheAcupuncture Beliefs Scale”, considerandotodas as propriedades psicométricas queenvolvem a construção de instrumentos demedida.

Dominicus (2002), num interessante estudosobre os resultados e as expectativas geradospela acupuntura, concluiu que a percepçãodos resultados da acupuntura não estádiretamente relacionada ao efeito placebo eàs expectativas do paciente, mas, ao contrário,aos fatores referentes ao relacionamento entreterapeuta e paciente. Entretanto, o autorressalta que o achado deverá ser investigado

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É digno de notaque a publicação

em inglês deestudos

controladosutilizando aacupuntura

demonstrou aeficácia da

acupuntura emrelação à

depressão (Luo; Jiae Zhan, 1985; Yang

et al., 1994; Hitt,Allen e Schnyer,

1995) e ao abusode drogas (Meng;

Luo e Halbreich,2002; Shwatz et al.

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com maiores detalhes, incluindo a construçãode instrumentos de medida capazes demensurarem a qualidade de tal relacionamento.Os estudos devem priorizar tanto a pesquisaqualitativa, considerando a eficiência dotratamento focalizado no paciente, quanto apesquisa quantitativa com estudosexperimentais controlados, de modo a severificar a eficácia do tratamento.

Wang e Kaing (2001) relataram a eficiênciada acupuntura auricular no tratamento dasdesordens crônicas de ansiedade. Através deprocedimento experimental, foi comprovadoque a acupuntura auricular no ponto de“relaxamento” diminuiu a ansiedade emvoluntários saudáveis. O estudo foi conduzidopela formação de três grupos distintos, sendoque, no grupo 1, era utilizado o pontoShenmen (porta do espírito), no grupo 2, o de“relaxamento”, e, no grupo 3, um pontoqualquer na orelha.

Em 1998, o Instituto Norte-Americano deSaúde (NIH) organizou uma conferência comdiversos especialistas sobre a eficiência daacupuntura. Através do levantamentobibliográfico do período compreendido entrejaneiro de 1970 a outubro de 1997 (MEDLINE,Allied and Alternative Medicine, EMBASE EMANTIS), foram encontradas 2302 referências.Os estudos foram analisados considerando ametodologia adotada e os resultados obtidos.Desse modo, tem-se que a acupunturamostrou ser uma técnica eficaz, entre outras,no tratamento pós-operatório e na redução dostranstornos da quimioterapia. Há evidênciasda adequação do uso da acupuntura, junto aoutras modalidades terapêuticas, nostratamentos de adição, dor de cabeça efibromialgia, entre outros.

Vale lembrar que, entre as dificuldadesapontadas em estudos dessa natureza,

encontra-se o fato de que a colocação dasagulhas em qualquer lugar da pele elicia umaresposta biológica, dificultando estudosexperimentais que envolvam a eficácia dospontos (Lewith e Kenvon, op. cit.).

Estudos mostram que a acupuntura podecausar múltiplas respostas biológicas emvirtude do papel desempenhado pelosopióides endógenos na analgesia pelaacupuntura. A estimulação pela acupunturapode ativar o hipotálamo e a glândula pituitária,resultando em um largo espectro de efeitossistêmicos. Há também evidências dealterações nas funções imunológicasdeflagradas pela acupuntura. Muitos fatoresdeterminam o resultado terapêutico, como aqualidade do relacionamento e acompatibilidade de crenças entre terapeuta-paciente, além do grau de confiança e dasexpectativas do cliente.

Com base nas preocupações e nos estudos quevêm sendo sistematicamente empreendidos edivulgados na literatura internacional, no quediz respeito principalmente à eficácia e àeficiência de terapêuticas complementares,entre elas, a prática da acupuntura porpsicólogos, ressalta-se a necessidade de se terescolas credenciadas, devidamente fiscalizadase reconhecidas, para o ensino e a prática dareferida técnica terapêutica.

Considerações Finais

Embora os efeitos da acupuntura já tenhamsido relatados há milhares de anos, foi apenasno séc. XX que tal técnica começou a serinvestigada cientificamente, em virtude dointeresse de médicos chineses com formaçãocientífica ocidental em buscar explicar o seu

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mecanismo de ação. Responder a essa questãoé uma tarefa hercúlea em virtude das inúmerasvariáveis que gravitam em torno de umfenômeno de tal natureza, indo desde fatoresde ordem econômica até o nível de formaçãoexigido para a aplicação da técnica, em outraspalavras, sobre quem pode efetivamente aplicara referida técnica, haja vista os recentesembates que, principalmente, o ConselhoFederal de Medicina tem travado com outrosconselhos profissionais a fim de garantir que aacupuntura seja apenas uma especialidademédica e, assim, só médicos possam prescrevê-la e aplicá-la.

Não entrando no mérito de tais discussões,pois nos parecem extremamente carentes deargumentação técnica e teórica, incapazes dejustificar a supremacia de um profissional emrelação a outro, o certo é que os profissionaisde Psicologia devem buscar conhecer o estadoda arte em que se encontram as discussõessobre a pertinência da acupuntura na práticapsicológica.

Nesse sentido, é digno de nota observar ainédita decisão judicial, proferida pelo JuizFederal Alexandre Vidigal de Oliveira, em 23de agosto de 2004, considerandoimprocedente o pedido do Conselho Federalde Medicina de suspensão da Resoluçãonº005/2002, editada pelo Conselho Federalde Psicologia, que reconhece o uso daacupuntura como um recurso complementarao trabalho do psicólogo.

Na tentativa de encaminhar uma reflexão sériasobre a necessidade extremamente atual deque a formação de psicólogo englobe tanto oconhecimento de práticas alternativas quantosobre o modo como tais práticas podem serutilizadas na efetivação do trabalho

psicológico, a American Psycchology Association(APA) iniciou um processo, organizandoseminários educativos sobre a referida temáticanas suas reuniões anuais. Além disso, percebe-se que houve um relativo incentivo deperiódicos consagrados internacionalmente emaceitar artigos que trazem à tona tais temáticas,como as aqui levantadas; surpreendeu-nos ogrande número de artigos encontrados nas basesPsyinfo e MedPlus sobre estudos envolvendoescalas psicométricas e localização de acupontospara o tratamento dos transtornos mentais, emespecial da depressão, entre outros.

Desse modo, no estágio atual dosconhecimentos produzidos, o estudo daacupuntura pode fornecer ao psicólogo novasformas de compreensão e tratamento dasperturbações mentais, em especial, as denatureza psicossomática.

Entretanto, ao se analisarem os estudosexperimentais desenvolvidos em relação àacupuntura, é possível observar uma certafragilidade dos resultados obtidos, devidoprincipalmente à qualidade metodológica dotrabalho, normalmente evidenciada pelacarência de informações a respeito do tipo deagulha utilizado, a profundidade de inserção damesma e outros dados importantes, como, porexemplo, o tamanho da amostra (na maioriadas vezes, é pequeno), o que não permitegeneralizações. Além disso, a própria técnicade manipulação das agulhas tem sofridoalterações dependendo das culturas onde éaplicada.

A constatação de tais dificuldades, longe de serum obstáculo intransponível, deve ser encaradacomo um desafio para os pesquisadores, nabusca de um novo paradigma que permita oestudo da acupuntura, de maneira que os seus

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achados possam ter credibilidade junto àcomunidade acadêmica. Assim, éimprescindível a realização de pesquisas sobreo efeito da técnica com adequada amostragem,além da utilização de métodos rigorosos queelucidem os princípios e práticas evidenciandoo procedimento realizado.

A ciência psicológica, com um pouco mais deum século de existência, em muito já avançoue contribuiu na compreensão dos fatoresrelacionados às patologias mentais. Entretanto,o preciso diagnóstico das mesmas nem sempreé acompanhado de intervenções capazes depromover o almejado equilíbrio mental doindivíduo, daí a necessidade de se investigarcientificamente a pertinência de novas técnicas.

White (2000) sugere a proveitosa utilização dacombinação da Psicologia com técnicasalternativas, enfatizando a necessidade de sepromover novos estudos e pesquisas. Maisrecentemente, Bassman et al. (2003) sugeremque a adoção de práticas alternativas pelospsicólogos pode representar uma significativamudança para um paradigma mais holístico,podendo propiciar o incremento e a efetividadena prática profissional desde que as pesquisascontinuem a lançar luz sobre a eficácia datécnica.

Em relação especificamente à acupuntura, éinteressante destacar que, nos Estados Unidos,trinta e oito Estados mais o Distrito de Columbialicenciam ou regulam a sua prática. Para tanto,o acupunturista deve completar um programade estudos de três a quatro anos, cujo númerode horas-aula é aproximadamente o mesmoexigido para a obtenção de um PhD ou PsyDem Psicologia.

De tudo o que já foi dito, depreende-se que autilização da acupuntura na prática clínica do

profissional de Psicologia é altamente desejável,pois possibilita a exploração dos aspectospsicológicos que podem contribuir para oaparecimento de doenças físicas e também paraos fatores fisiológicos que podem estarpresentes no desenvolvimento de alteraçõespsicológicas, propiciando uma visão integradorado ser humano.

Assim, a discussão sobre a relevância daassociação entre Psicologia e acupuntura ébastante pertinente, sendo, portanto,necessário e desejável um incremento nonúmero de publicações, estudos e pesquisassobre a eficiência de tal técnica no contextopsicológico. Além disso, deve-se considerar quemuitos psicólogos brasileiros já utilizamseparadamente a acupuntura em suas práticasprofissionais; o Jornal do Conselho Federal dePsicologia, publicado em julho de 2003 (n. 76),trouxe uma nota divulgando a existência daSOBRAPA (Sociedade Brasileira de Psicologia eAcupuntura), que tem empreendido esforçosno sentido de cadastrar os psicólogos que sãotambém acupunturistas.

Desse modo, nada mais desejável que aResolução nº05/2002, do Conselho Federal dePsicologia, seja respeitada, salvaguardando aospsicólogos o direito de estudar cientificamentea acupuntura e de utilizá-la em sua práticaprofissional.

Vale enfatizar que o avanço do CFP, ao admitira utilização da acupuntura desde que oprofissional tenha formação na referida técnica,possibilitará maior produção de conhecimentose permitirá aos psicólogos brasileiros o direitode acompanhar e de experimentarcientificamente todos os desenvolvimentos daciência psicológica em relação à acupuntura,os quais vêm ocorrendo em escala mundial,como atestam os trabalhos citados neste estudo.

Celia Vectore

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Referências

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Celia Vectore

Instituto de Psicologia da UniversidadeFederal de Uberlândia

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Recebido 22/11/04 Reformulado 30/06/05 Aprovado 13/10/05

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