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Distribuição Gratuita aos Associados Preço Avulso 4,50 Euros (I.V.A. Incluído) Apoio www.apotec.pt Ano XXXVI Nº 420 |Março 2012 | Publicação Mensal | ISSN 0870-8789 ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA CURSO DE PREPARAÇÃO PARA O EXAME DE TOC – LISBOA AINDA A VII JORNADA DE HISTÓRIA DA CONTABILIDADE ALTERAÇÕES REMUNERATÓRIAS NOS INSTITUTOS PÚBLICOS

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Ano XXXVI Nº 420 |Março 2012 | Publicação Mensal | ISSN 0870-8789

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADEINSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA

CURSO DE PREPARAÇÃOPARA O EXAME DE TOC– LISBOA

AINDA A VII JORNADA DE HISTÓRIA DA CONTABILIDADE

ALTERAÇÕES REMUNERATÓRIAS NOS INSTITUTOS PÚBLICOS

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ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADEINSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA

O Jornal de Contabilidade é o mensário técnico e científico que permite tomar conhecimento de todos os aspectos das técnicas contabilística, fiscal e jurídica.

É distribuído gratuitamente a todos os associados e é editado ininterruptamente desde Abril de 1977, constituindo um importante elo de ligação entre a APOTEC e os Associados.

Está disponível aos Associados na Área Reservada as edições desde 2006.

Os destaques da edição deste mês encontram-se em www.apotec.pt/jornal/

www.apotec.pt

JORNAL DE CONTABILIDADE

Nº 420 | Março 2012

ÍNDICE

35 Anos 79

A APOTEC está de parabéns 81

Preços de Transferência e Medidas Anti-Abuso 82

E depois da Aula de Comércio (1844)? Digressão através do ensino da contabilidade na Lisboa oitocentista 87

As recentes alterações remuneratórias nos Institutos Públicos 101

Síntese Económica 104

Consultório 106

Bibliografia 109

Noticiário 112

SEPARATA

- Formação

Braga | Coimbra | Lisboa | Madeira | Porto | Viseu

FICHA TÉCNICA

Director: Severo Praxedes SoaresDirectora-Adjunta: Maria Teresa NetoCoordenação: Isabel Maria CiprianoColaboradores: Cristina Moura Mendes; Manuel Benavente Rodrigues; Paulo Nogueira FilhoMensário Técnico, fundado por Martim Noel MonteiroPropriedade e Edição: Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade – APOTEC (Instituição de Utilidade Pública)NIF: 500910847

Redacção e Administração: Rua Rodrigues Sampaio, 50, 3º Esq. 1169-029 LISBOATelefone: 213 552 900 / Telefax: 213 552 909Site: www.apotec.pt / E-mail: [email protected]

Tiragem: 8000 exs.Depósito Legal: 53873/92Registo nº 105076 ICS

Assessores: Abílio Sousa; António José Neves Casaca; Brito Nascimento; Graça Lopes; Isabel Amado; João Filipe Gonçalves Pinto; José de Oliveira Sales Pires.

Composição e impressão: PENTAEDRO - Tel. 218444340 1700-249 LISBOA

Normas de publicação: Os originais recebidos para publicação são aceites na condição de que nem eles, nem qualquer tradução deles, tenham sido “adquiridos” ou publicados, e que não tenham sido apresentados para publicação em qualquer parte e que, será autorizada a sua livre publicação na nossa revista.

Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores e não vinculam a APOTEC.

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35 Anos

MENSAGEM

Manuel PatuleiaPresidente da Direcção Central

Caros Consócios,

Procurar historiar em breves palavras o intenso trabalho realizado nos 35 anos de existência da APOTEC é uma tarefa algo difícil, mas é meu dever tentar de alguma maneira aproveitar a ocasião e salientar a actividade nacional associativa da APOTEC:

– Registam-se actualmente 5.500 associados individu-ais e 230 colectivos;

– Existem 9 Secções Regionais activas, o que ilustra a acção descentralizadora da APOTEC;

– A Formação Profissional qualificada e adequada às continuas exigências dos profissionais, sendo nos dias actuais, um desafio à qualidade e às capaci- dades técnicas, bem como à sobrevivência face à concorrência desleal e às medidas corporativas do sector;

– A edição mensal, desde 1977, do “Jornal de Conta-bilidade”;

– A edição trimestral, desde 1997 do “Boletim do Centro de Estudos da História de Contabilidade”;

– A edição de diversos Livros;– Uma Biblioteca, onde estão registadas mais de 3.700

obras;– Vinte e sete promoções de Jornadas sobre Contabi-

lidade e Fiscalidade, História da Contabilidade, Con-gressos e Conferências;

– Os Protocolos com Associações Privadas nacionais e internacionais de Contabilidade e Fiscalidade, Ban-cos, Seguradoras, Instituições de Ensino Superior da Contabilidade e Editoras, etc.;

– Disponibilização gratuita aos Associados do Consul-tório Técnico que responde a uma média de 1.000 questões por ano;

– E desde 1987 e até 2009, presença constante na comissão executiva e no conselho geral da Comissão de Normalização Contabilística. A saída das Associa-ções Privadas da Contabilidade do seio da CNC é algo que até hoje se encontra por explicar e por corrigir!

Sabendo quanto é difícil a existência de Associações independentes dos poderes públicos pode-se compre-ender a trajectória da APOTEC, que só foi e continua a ser possível com grande espírito democrático, de se-riedade, de conhecimento, de entendimento, de rigor e ética.

Os 35 anos que neste ano se comemoram dão-nos satisfação, maior responsabilidade e também alguma preocupação.

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Satisfação – porque a APOTEC continua viva e deter-minada, sobretudo em continuar a apoiar o desempe-nho dos profissionais, com ética e competência.

Maior responsabilidade – naturalmente face às constan-tes alterações legislativas, declarativas e responsabiliza-doras desta classe profissional, que se encontra à mer-cê da publicação de leis, que não sendo pensadas maduramente têm a agravante de não serem também introduzidas atempadamente, de modo a alcançarem a tão desejada eficácia e eficiência tributárias. Alguma preocupação – a situação económica e finan-ceira do país e da Europa, não é alheia aos profissio- nais que no dia-a-dia movimentam os números, as contas!

Uma sociedade onde em muitos casos o sucesso de-pende apenas de sensibilidades e oportunismos, onde o trabalho e a competência não formam por si só uma componente de orgulho mas sim de inveja, tem que ter a coragem de mudar mentalidades, tornando-se mais exigente, mais rigorosa e menos corporativa.

Tememos que, se não houver um acentuado desenvol-vimento económico, se a justiça não for mais célere, se o mundo académico não se aproximar o suficiente da realidade empresarial e profissional, e se não forem transmitidos exemplos de excelência e valorização de padrões de conhecimento efectivo sem subserviência a interesses instalados, e se a gestão das empresas não caminhar rapidamente para uma cultura de rigor, cer-tamente a sociedade portuguesa irá continuar a sofrer consequências bastante desastrosas.

A APOTEC ocupa o lugar que os Associados determi-nam e deseja que as relações, em especial, com o mundo da contabilidade, fiscalidade e gestão se pro-cessem dentro de um espírito de entendimento, cola-boração e respeito.

Para alcançarmos os objectivos a que nos propomos e para bem dos profissionais e empresários teremos que saber responder a estes desafios.

Obrigado a todos os que nos têm acompanhado neste apaixonante percurso de 35 anos.

Parabéns à APOTEC!

MENSAGEM

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A APOTEC está de parabéns

Severo Praxedes SoaresDirector Jornal de Contabilidade

EDITORIAL

A abrir esta Edição, Manuel Patuleia, Presidente da Direcção Central da APOTEC, resume a actividade de-senvolvida pela nossa Associação ao longo dos 35 anos da existência da APOTEC, em benefício dos associados, dos profissionais de contabilidade, fiscalidade e matérias afins, em suma na defesa do interesse público; Manuel Patuleia deixa também pistas de acção e de reflexão.

Parabéns à APOTEC pelo 35.º aniversário e também pela excelência da VII Jornada de História de Contabi-lidade, organizada e concretizada no passado dia 16 de Fevereiro de 2012 no Auditório do Montepio Geral, em Lisboa.

Os temas abordados nesta VII Jornada tiveram em co-mum a característica de focarem aspectos que nos transportam desde os contributos da Contabilidade para o surgimento da escrita fonética na Mesopotâmia no ano 3500 a.C. e dos acontecimentos contabilísticos, económicos, financeiros e sociais dos séculos XVIII, XIX e XX, para as questões actuais no domínio da escrita/ /ortografia, do ensino, da economia e das finanças públicas, e deste modo, para os temas que nesta edição o Jornal de Contabilidade leva aos seus leitores.

No domino das finanças públicas, e de um modo mais restrito, da consolidação orçamental e da redução da despesa pública, e no momento em que já estão a ser aperfeiçoados os procedimentos inerentes à prestação de contas de 2011, incluindo a vertente fiscal, destaca-mos o artigo relativo a “Preços de Transferência e Medidas Anti-Abuso”, matérias que podem gerar di-vergências entre os sujeitos passivos e a Administração Fiscal, e o artigo “As recentes alterações remuneratórias nos Institutos Públicos”, que também podem dar ori-gem a situações desconfortáveis e de conflito na Ad-ministração Pública, sobretudo se medidas legislativas adicionais não forem tomadas em tempo oportuno.

No que toca ao ensino, nomeadamente da Contabili-dade, o artigo “E depois da Aula de Comércio (1844)? Digressão através do ensino da contabilidade na Lisboa oitocentista”, constitui, a nosso ver, um elemento de referência para a reflexão relativamente a aspectos que, noutras perspectivas, os constrangimentos financeiros poderiam relegar para um segundo plano e sem hori-zonte expectável de concretização.

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fIScALIDADE

Preços de Transferência e Medidas Anti-Abuso (I)

Lucília MarquesTOC/Docente Universitária/Formadora Certificada

Introdução

O tema sobre os preços de transferência e as medidas anti- -abuso é um tema que está na “ordem do dia”, pois por um lado a legislação fiscal adopta cada vez mais medidas para evitar a “fraude e evasão fiscal” e acautelar a receita fiscal, tal como previsto no Plano Estratégico de Combate À Fraude e Evasão Fiscal e Aduaneira 2012 /2014, apresen-tado pelo Governo, onde este ”estabeleceu como vector prioritário da sua política fiscal o reforço significativo do combate à fraude e evasão fiscais e aduaneiras, como forma de garantir uma justa repartição do esforço fiscal e sancionar de uma forma mais efectiva as práticas dolosas de incumpri-mento fiscal”.Neste contexto, assumem vital importância os preços de trans-ferência que se encontram consagrados no Código do Impos-to sobre o Rendimento das Pessoas colectivas (art.º 63.º e 138.º), Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado (art.º 16.º) e legislação complementar sobre o tema (Portaria 1446- -C/2001 e Portaria 620-A/2008).

Enquadramento Nacional

Tendo por base o contexto internacional e a existência de cada vez mais multinacionais os preços de transferência estão na ordem do dia, no que respeita à fiscalidade e à avaliação de desempenho das empresas. O sistema dos Preços de Trans-ferência visa salvaguardar a plena concorrência de mercado, assegurando que determinadas entidades não adulterem os preços dos seus produtos ou serviços que são adquiridos ou fornecidos a entidades consigo relacionadas, evitando ainda as transferências internas de resultados entre sectores da mesma entidade, mas sujeitos a regimes fiscais diferentes. Os preços pelos quais as empresas e entidades relaciona- das transaccionam os seus produtos e serviços são designados

por preços de transferência e assumem habitualmente a for-ma de: – Preços de venda de produtos e serviços, – Prazos de pagamento, – Taxas de juro, – Fees de gestão, – Entre outras. Isto mais numa óptica de gestão das organizações, sendo, neste sentido, fiscalmente neutral. A regulamentação dos preços de transferência exige que, as entidades relacionadas, pratiquem entre si preços, termos e condições substancial-mente idênticos aos que, em condições de normalidade, se-riam efectuados em operações semelhantes com entidades independentes. Ao nível fiscal o objectivo é controlar as tran-sacções inter-grupo, impedindo a fuga de receitas. A Portaria 620-A/2008 de 16 de Julho define os Acordos Prévios sobre Preços de Transferência (APPT), previsto no art.º 138.º do CIRC. A principal novidade das actuais regras de preços de transferência é uma definição mais precisa do princípio da plena concorrência, a introdução do conceito de relações especiais. A legislação em vigor é dirigida a entidades em situação de relações especiais, quer sejam entre entidades residentes no nosso país, entidades residentes e qualquer outra entidade não residente; estabelecimento está-vel português de entidade estrangeira e essa mesma entidade ou um outro estabelecimento estável da mesma entidade situado noutro país; e entidades sujeitas a mais do que um regime fiscal, ou a um regime fiscal privilegiando.O Orçamento do Estado para 2012 através da Lei N.º 64-B/ /2011, de 30 de Dezembro, altera o art.º 16.º do IVA, “impor-tando” do IRC o Regime de Preços de Transferência.Assim, é pela primeira vez, introduzido um novo regime rela-tivo à determinação do valor tributável para as transmissões de bens e prestações de serviço efectuadas por sujeitos pas-sivos que tenham entre si relações especiais. Tal como defini-das no n.º 4 do art.º 63.º do IRC, deixando, nestas situações, de aplicar o IVA à contraprestação obtida.

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fIScALIDADE

O CIVA amplia o conceito de relações especiais, na medida em que as considera como tal as estabelecidas entre um empregador e um empregado, a família deste ou qualquer pessoa com este estreitamente relacionado.O valor tributável passa a ser o valor normal de merca-do, em detrimento do valor transaccional, quando se verifiquem qualquer uma das seguintes situações:1. A contraprestação seja inferior ao valor normal e o adqui-

rente não tenha direito a deduzir integralmente o IVA;2. A contraprestação seja inferior ao valor normal e o trans-

mitente dos bens ou o prestador dos serviços não tenha direito a deduzir integralmente o imposto e a operação esteja isenta ao abrigo do art.º 9.º:

O valor tributável passa a ser o valor de mercado, em detrimento do valor transaccional, quando se verifique qualquer das seguintes;

3. A contraprestação seja superior ao valor normal e o trans-mitente dos bens ou o prestador dos serviços não tenha direito a deduzir integralmente o IVA.

Este regime é também aplicável à transmissão ou locação de bens imóveis efectuadas com renúncia à isenção de IVA cons-tantes do art.º 7.º do regime de renúncia à isenção de IVA nas operações relativas a imóveis, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 21/2007, de 29 de Janeiro.

Enquadramento Internacional

Princípios da OCDE

A OCDE através do seu Comité dos assuntos fiscais tomou a dianteira em fiscalidade internacional tornando-se numa fon-te preciosa de recomendações e trabalhos de investigação nesta área. O objectivo da OCDE no que diz respeito à fisca-lidade procura incentivar as Administrações Fiscais e contri-buintes a adoptar princípios internacionais comuns de tribu-tação, com o propósito de estimular o comércio e evitar a dupla tributação internacional. Os Estados recorrem aos con-tributos da OCDE para harmonizar e implementar as suas leis fiscais, do qual destacamos os Preços de Transferência. Os “Preços de Transferência” identificam a fiscalização a que se encontram submetidas as operações comerciais (por exem-plo sobre bens, direitos ou serviços) ou as operações finan-ceiras, realizadas entre “sujeitos relacionados”. O controlo dos Preços de Transferência tem como objectivo a prevenção de perda de receitas fiscais resultantes da fixação de preços “arti- ficiais” entre empresas relacionadas. Portugal como Estado- -membro da OCDE adoptou através da portaria n.º 1446-C/ /2001, de 21 de Dezembro, os princípios directores sobre preços de transferência dirigidos às empresas multinacionais

e às Administrações Fiscais. Esta portaria contém regras de aplicação da pluralidade de métodos do Artigo 63º do Códi-go do IRC e enuncia para a determinação dos termos e condições que seriam normalmente estabelecidos em situação de plena concorrência e adopta o regime de obrigatoriedade de recurso mais apropriado para cada operação. O princípio de plena concorrência é uma norma internacional da OCDE e deve ser posta em prática para efeitos fiscais pelos gru- pos multinacionais e pela Autoridade Fiscal com vista à fixa- ção dos PT. No Caderno de Ciência e Técnica Fiscal n.º 189 a OCDE – Princípios aplicáveis em matéria e PT destinados às empresas multinacionais e às Administrações Fiscais podemos observar algumas orientações na aplicação deste princípio de plena concorrência que se podem resumir nas seguintes: 1. Análise da comparabilidade a. Razão justificativa do exame de comparabilidade b. Factores determinantes da comparabilidade: caracterís-

ticas dos bens ou serviços; análise funcional; cláusulas contratuais; enquadramento económico; estratégias empresariais.

2. Reconhecimento das operações efectivamente realizadas 3. Avaliação de operações separadas e combinadas 4. Utilização do intervalo de plena concorrência 5. Utilização de dados relativos a vários anos 6. Prejuízos 7. Incidência das medidas tomadas pelos poderes públicos 8. Compensações internacionais 9. Utilização do valor aduaneiro 10. Utilização dos métodos de fixação dos Preços de Transfe-

rência

Conceito Fiscal

A temática dos PT prende-se essencialmente com a valoriza-ção dos fluxos de trabalho existentes entre os diversos depar-tamentos de uma determinada organização ou no caso de entidades com relações especiais. Esta medida deve ser abor-dada numa perspectiva de custos e de proveitos, isto é, tem implícita uma avaliação do desempenho ao nível da gestão. De acordo com os autores do livro Controlo de Gestão, (HU-GUES Jordan, 2002), “o preço de transferência interna é um instrumento para valorizar os fluxos reais de bens ou serviços entre centros de responsabilidade”. Os centros de responsa-bilidade são, nesta óptica, considerados como um nível supe-rior na hierarquia que devem ter por base o cumprimento dos objectivos delineados assim como uma equidade na avaliação de desempenho dos gestores. Em termos fiscais a utilização de preços desadequados nas transacções entre entidades relacionadas principalmente se estivermos perante empresas

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Resulta ... a possibilidade de nos termos da lei duas entidades serem relacionadas ainda que entre elas não exista qualquer relação de participação ou sequer relações familiares entre os seus órgãos de gestão.

multinacionais dará origem a distorções na base tributável das entidades envolvidas. Com base neste pressuposto podemos concluir que perante uma deslocalização dos lucros estaremos perante uma erosão das receitas fiscais. De acordo com o artigo 63º, n.º 1 do CIRC é exigido que os preços de trans-ferência que as entidades adoptem sejam aqueles que seriam estabelecidos em condições de plena concorrência, ou seja, numa situação de open market e em que as entidades não tenham qualquer relação entre si.As entidades que se encontrem numa situação de preços de transferência deverão determinar os termos e condições que seriam normalmente acordados, aceites ou praticados, entre entidades independentes recorrendo a métodos susceptíveis

de assegurar o maior grau de comparabilidade possível entre operações com entidades relacionadas e operações com en-tidades independentes. É importante referir que, a divergência de regimes fiscais existente entre os diversos países pode conduzir a diferentes níveis de tributação, e tal como veremos nos capítulos seguintes, as empresas acabam por transferir indirectamente os seus lucros, através da manipulação dos PT para os países com menores níveis de tributação. Os grandes grupos económicos costumam usar esta prática com maior regularidade, utilizando a sua influência para serem debitados, com ou sem apoio contratual, por vendas ou prestações de serviços fictícios melhorando desta forma os seus resultados até aos limiares de zero ou de um determinado lucro alvo fiscal que pretendam atingir. Desta forma, as grandes empre-sas reduzem os seus lucros, a sua matéria colectável e suces-sivamente o seu imposto a pagar.

Relações Especiais

A regulamentação existente sobre a matéria dos PT, nomea-damente no que respeita às relações especiais está prescrita no artigo 9.º n.º 1 da Convenção Modelo da OCDE: “Empre-sas associadas 1. Quando:a) Uma empresa de um Estado contratante participar, directa

ou indirectamente, na direcção, no controle ou no capital de uma empresa do outro Estado contratante; ou;

b) As mesmas pessoas participarem directa ou indirectamen-te, na direcção, no controle ou no capital de uma empre-

sa de um Estado contratante e de uma empresa do outro Estado contratante, e em ambos os casos, as duas empre-sas, nas suas relações comerciais ou financeiras, estiverem ligadas por condições aceites ou impostas que difiram das que seriam estabelecidas entre empresas independentes, os lucros que, se não existissem essas condições, teriam sido obtidos por uma das empresas, mas que não o foram por causa dessas condições, podem ser incluídos nos lucros dessa empresa e, tributados como tal.”

No âmbito do artigo 63.º n.º 4 do CIRC apresenta-se a se-guinte definição: “Considera-se que existem relações especiais entre duas entidades nas situações em que uma tem o poder de exercer, directa ou indirectamente, uma influência signifi-

cativa nas decisões de gestão da outra, o que se considera verificado, designadamente, entre:a) Uma entidade e os titulares do respectivo capital, ou os

cônjuges, ascendentes ou descendentes destes, que dete-nham, directa ou indirectamente, uma participação não inferior a 10% do capital ou dos direitos de voto;

b) Entidades em que os mesmos titulares do capital, respec-tivos cônjuges, ascendentes ou descendentes detenham, directa ou indirectamente, uma participação não inferior a 10% do capital ou dos direitos de voto.

c) Uma entidade e os membros dos seus órgãos sociais, ou de quaisquer órgãos de administração, direcção, gerência ou fiscalização, e respectivos cônjuges, ascendentes e des-cendentes;” Também existem relações especiais nas situa-ções em que os órgãos das duas entidades são maiorita-riamente compostas pelas mesmas pessoas.

d) Entidades em que a maioria dos membros dos órgãos sociais, ou dos membros de quaisquer órgãos de adminis-tração, direcção, gerência ou fiscalização, sejam as mesmas pessoas ou, sendo pessoas diferentes, estejam ligadas en-tre si por casamento, união de facto legalmente reconhe-cida ou parentesco em linha recta;”

Conforme se observa da transcrição das normas de preços de transferência, no que à definição de relações especiais concerne, deve prestar-se especial atenção à existência ou não do poder de controlo de uma sociedade na outra, o qual decorre de relações societárias ou de relações fami-liares nos órgãos de administração das duas sociedades. Considera-se ainda existirem relações especiais, com algum

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contra-senso face ao limite mínimo de 10%, naquelas si-tuações previstas na lei, comercial e contabilística, em que se entende haver dependência legal ou económica entre as entidades, como:

e) Entidades ligadas por contrato de subordinação, de grupo paritário ou outro de efeito equivalente;

f) Empresas que se encontrem em relação de domínio, nos termos em que esta é definida nos diplomas que esta- tuem a obrigação de elaborar demonstrações financeiras consolidadas;” Por último, a norma prevê ainda a existên-cia de relações especiais em situações em que, como assinala Fernando Rocha Andrade “entidades têm interes-ses divergentes e são por isso “hoc sensu” entidades independentes”. Continuando, “como é evidente o preço obtido pode afastar-se do que existiria num mercado totalmente concorrencial, mas isso acontece precisamen- te porque há uma situação de imperfeição de concor- rência – ou seja, porque a realidade económica não é conforme aos modelos de mercado concorrencial”, tais como:

g) Entidades entre as quais, por força das relações comerciais, financeiras, profissionais ou jurídicas entre elas, directa ou indirectamente estabelecidas ou praticadas, se verifica si-tuação de dependência no exercício da respectiva activida-de, nomeadamente quando ocorre entre si qualquer das seguintes situações:

1. O exercício da actividade de uma depende substancial-mente da cedência de direitos de propriedade industrial ou intelectual ou de know-how detidos pela outra;

2. O aprovisionamento em matérias-primas ou o acesso a canais de venda dos produtos, mercadorias ou servi-ços por parte de uma dependem substancialmente da outra;

3. Uma parte substancial da actividade de uma só pode realizar-se com a outra ou depende de decisões desta;

4. O direito de fixação dos preços, ou condições de efei-to económico equivalente, relativos a bens ou serviços transaccionados, prestados ou adquiridos por uma encontra-se, por imposição constante de acto jurídico, na titularidade da outra;

5. Pelos termos e condições do seu relacionamento co-mercial ou jurídico, uma pode condicionar as decisões de gestão da outra, em função de factos ou circuns-tâncias alheios à própria relação comercial ou profissio-nal.”

Resulta do exposto e merece particular destaque, a possibi-lidade de nos termos da lei duas entidades serem relaciona-das ainda que entre elas não exista qualquer relação de participação ou sequer relações familiares entre os seus ór-gãos de gestão. Acreditamos que, a menos que exista algu-

ma atenção redobrada por parte da Autoridade Tributária na aplicação desta parte da norma, o recurso à via jurisdicional pelos contribuintes nestas condições será o único meio de afastarem uma presunção da lei que parece fazer parte da nossa realidade económica, em que a subcontratação das grandes marcas internacionais é um facto comum, bem como a existência de novas vias de comercialização e expan-são de que o franchising constitui um exemplo bem comum. De qualquer modo a aplicação desta norma ao abrigo das convenções internacionais celebradas por Portugal para evi-tar a dupla tributação pode não ser suficientemente clara dado não se tratarem de entidades associadas sendo que prevalecem os acordos internacionais sobre as normas na-cionais. Menos dúvidas causam o cálculo das participações directas e indirectas, cujas regras estão definidas no n.º 5 do mesmo artigo: “Para efeitos do cálculo do nível percentual de participação indirecta no capital ou nos direitos de voto a que se refere o número anterior, nas situações em que não há regras especiais definidas, são aplicáveis os critérios previstos no n.º 2 do ar-tigo 483.º do Código das Sociedades Comerciais.”

Extensão do conceito de relação especial

Nos últimos anos temos assistido a um esforço por parte da Administração Fiscal, no âmbito da sua luta contra a evasão fiscal, principalmente a nível internacional, que sem-pre que sejam realizadas operações com entidades locali-zadas em regimes de tributação privilegiada, sejam adopta-das medidas anti-abuso assim como introduzidas práticas restritivas no âmbito dos impostos sobre o rendimento, benefícios fiscais e imposto do selo. A alínea h) do n.º 4 do artigo 63.º prevê que as relações especiais são também as relações existentes entre “uma entidade residente e uma entidade sujeita a um regime fiscal claramente mais favo- rável residente em país, território ou região constante da lista aprovada pelo Ministério das Finanças”. A lista que consta na Portaria 292/2011, de 8 Novembro, apresenta uma lista de países, territórios ou regiões com regimes de tributação privilegiada claramente mais favorável. Esta lista tem sido, ao longo dos tempos, objecto de sucessivas alte-rações de modo a torná-la mais correcta e precisa. A Auto-ridade Fiscal procura desta forma evitar as distorções exis-tentes ao nível da tributação pela utilização das entida- des residentes em países, regiões ou territórios submetidos a regimes de tributação claramente mais favoráveis. Existe uma norma anti-abuso prevista no CIRC, que visa evitar a verificação de endividamento excessivo da entidade resi- dente para com entidades não residentes relacionadas,

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aproveitando assim a dedutibilidade fiscal dos juros cobra- dos ao invés dos dividendos que em alternativa seriam dis-tribuídos. 1. Quando o endividamento de um sujeito passivo para com

entidade não residente em território português com a qual existam relações especiais, nos termos definidos no n.º 4 do artigo 63.º, com as devidas adaptações, for excessivo, os juros suportados relativamente à parte considerada em excesso não são dedutíveis para efeitos de determinação do lucro tributável;

2. É equiparada à existência de relações especiais a situação de endividamento do sujeito passivo para com um terceiro não residente em território português, em que tenha ha-vido prestação de aval ou garantia por parte de uma das entidades referidas no n.º 4 do artigo 63.º;

3. Existe excesso de endividamento quando o valor das dívidas em relação a cada uma das entidades referidas nos núme-ros anteriores, com referência a qualquer data do período de tributação, seja superior ao dobro do valor da corres-pondente participação no capital próprio do sujeito passi-vo;

4 Para o cálculo do endividamento são consideradas todas as formas de crédito, em numerário ou em espécie, qual-quer que seja o tipo de remuneração acordada, concedido pela entidade com a qual existem relações especiais, in-cluindo os créditos resultantes de operações comerciais quando decorridos mais de seis meses após a data do respectivo vencimento;

5 Para o cálculo do capital próprio adiciona-se o capital social subscrito e realizado com as demais rubricas como tal qualificadas pela regulamentação contabilística em vigor, excepto as que traduzem mais-valias ou menos-valias po-tenciais ou latentes, designadamente as resultantes de reavaliações não autorizadas por diploma fiscal ou da aplicação do método da equivalência patrimonial;

6 Não é aplicável o disposto no n.º 1 se, encontrando-se excedido o coeficiente estabelecido no n.º 3, o sujeito passivo demonstrar, tendo em conta o tipo de actividade, o sector em que se insere, a dimensão e outros critérios pertinentes, e tomando em conta um perfil de risco da operação que não pressuponha o envolvimento das enti-dades com as quais tem relações especiais, que podia ter obtido o mesmo nível de endividamento e em condições análogas de uma entidade independente;

7. A prova a que se refere o número anterior deve ser apre-sentada dentro de 30 dias após o termo do período de tributação em causa.” Com esta norma podemos observar que existe um alargamento ao conceito de relação especial. No âmbito do artigo 486.º n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais – Extensão do conceito de relações especiais

está disposto o seguinte: “É equiparada à existência de relações especiais a situação de endividamento do sujeito passivo para com um terceiro não residente em território português, em que tenha havido prestação de aval ou garantia por parte de uma das entidades referidas no n.º 4 do artigo 63.º.” Esta norma pretende que a interpo-sição de uma entidade não relacionada não residente como financiadora do sujeito passivo residente, afaste a aplicação das regras da subcapitalização, quando materialmente tudo se passa como se fossem as entidades que se enqua-dram no âmbito do n.º 1 a efectuar o financiamento, em virtude de terem sido chamadas a prestar garantia ou aval. Realçamos que constitui procedimento normal das entida-des bancárias a solicitação de avais ou garantias aos accio-nistas das sociedades a quem conferem empréstimos, pelo que uma interpretação mais literal deste n.º 2 poderá colocar em situações indesejáveis sujeitos passivos de IRC, que tenham solicitado fundos a sucursais em Portugal, de instituições de crédito não residentes. Com efeito muito embora tais sucursais sejam tributadas em IRC nas mesmas condições gerais de uma instituição de crédito residente, o que é um facto é que em termos jurídicos, se tratam efectivamente de entidades não residentes, pelo que veri-ficando-se o excesso de endividamento a seguir referido, os juros incidentes sobre esse excesso podem eventualmen-te não ser dedutíveis para efeitos de apuramento do lucro tributável do mutuário.

Na próxima edição serão abordados os métodos de determi-nação dos Preços de Transferência, tendo em consideração as divergências que normalmente surgem entre os contri-buintes, que procuram minimizar os custos, designadamente os custos fiscais, e o Estado, que no exercício da sua sobe-rania fiscal tenta cobrar os impostos que considerem serem devidos.

Bibliografia

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FERNENDO, Rocha – Preços de Transferência e tributação de multi-nacionais: As evoluções recentes e o novo enquadramento ju-rídico português – Boletim de Ciências Económicas da Faculdade de Direito de Coimbra – Volume XLV-A - 2002

PIRES Joaquim – Os Preços de Transferência. Vida Económica, 2006. 438 p. ISBN 972-788-171-8

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VIEIRA, J. D., Planeamento Operacional e Preços de Transferência Interna. Lisboa. 2009

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Resumo

O ensino oficial de Comércio e Contabilidade em Portugal data de 1759, com a fundação da Aula de Comércio de Lisboa. Esta iniciativa institucional registou considerável suces-so durante a segunda metade do século XVIII, tendo no en-tanto entrado em decadência nos últimos anos que antece-deram a sua despromoção ao ensino secundário, em 1844. Neste contexto, os objectivos do artigo passam por examinar os principais marcos que de alguma forma possam identificar a evolução histórica do ensino da Contabilidade no XIX sécu-lo português, no período pós-Aula de Comércio, restringindo- -se o critério de análise à exploração de instituições de ensino localizadas no maior pólo comercial do país – a cidade de Lisboa. A exposição elege como alicerces da institucionaliza-ção do ensino público de Contabilidade, na época que se seguiu à Aula de Comércio lisboeta (1759-1844), a Escola de Comércio (1844-1869) e o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (1869). Muito particularmente, no que concerne a este último estabelecimento, o nosso trabalho conclui que a cria-ção do Curso Superior de Comércio, ali ministrado em 1884, assinala a entrada da Contabilidade como estudo especializa-do no Ensino Superior em Portugal. Contudo, os resultados obtidos sugerem que depois da extinção da Aula de Comér-cio, em 1844, o ensino da Contabilidade ficou marcado por um retrocesso de conteúdos programáticos, circunstância que associada à ausência de medidas tendentes a proteger as saídas profissionais dos estudantes, concorreu para a perda de prestígio social e institucional da Contabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade. História da Contabilida-de. Ensino. Escola de Comércio. Século XIX.

E depois da Aula de Comércio (1844)? Digressão através do ensino da contabilidade na Lisboa oitocentista(*)

Miguel GonçalvesISCA de COIMBRALicenciatura em Organização e Gestão de Empresas (Univer-sidade de Coimbra)Pós-Graduação em Economia (Universidade de Coimbra)Mestrado em Contabilidade e Auditoria (Universidade de Aveiro)Doutorando em Contabilidade (Universidade do Minho)Centro de Estudos de História da Contabilidade da APOTEC

1. Introdução

Em Portugal, a pesquisa tocante à problemática da institucio-nalização do ensino da Contabilidade tem merecido particular atenção na última década, devido em especial à investigação de Rodrigues e Gomes (2002), Rodrigues et al. (2003, 2007, 2004a, 2004b, 2010a, 2010b) e Rodrigues e Craig (2004, 2005, 2009). Estes contributos são válidos fundamentalmen-te numa óptica de análise do contexto social, político e insti-tucional subjacente às razões que motivaram a intervenção do Estado na instrução comercial na segunda metade do século XVIII. Apresentam também o mérito de trazer para a literatura contabilística reflexões críticas relevantes no âmbito da Nova História da Contabilidade (Hopwood, 1985, 1987; Laughlin, 1999).Também Martins (1937, 1960), Felismino (1960), Gonçalves (1960), Azevedo (1961), Portela (1968), Baptista da Costa (1980, 2009), Cardoso (1984), Santana (1985), Lopes (1992), Pires Caiado (2000), Cardão Machado (2009), Estevens (2009) e Silva (2009), em estudos de cariz mais tradicional em His-tória da Contabilidade (Stewart, 1992; Gomes e Rodrigues, 2009) ou convencional (Fleischman et al., 1996; Gomes e Rodrigues, 2009), enunciam o ano de 1759 e a Aula de Co-mércio de Lisboa (1759-1844), como referências da fundação do ensino público, oficial e gratuito da Contabilidade em Portugal.Sem prejuízo da apresentação dos principais traços do primei-ro estabelecimento de ensino contabilístico português, o objectivo crucial do trabalho é o de dar a conhecer os prin-cipais marcos identificadores da evolução histórica do ensino da Contabilidade na Lisboa oitocentista, no período pós-Aula de Comércio, fase que julgamos insuficientemente explorada pela comunidade contabilística nacional. Nestes termos, a exposição visa contribuir para o aumento do conhecimento contabilístico posterior a 1844, maxime aquele que respeita à segunda metade de oitocentos em matéria de estabeleci-mentos de ensino de Contabilidade em Lisboa.

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A metodologia utilizada na investigação cumpriu o seguinte protocolo: 1) quanto aos objectivos, descritiva; 2) quanto aos procedimentos, documental e bibliográfica; e 3) quanto à abordagem do problema, qualitativa. Para Raupp e Beuren (2006), a pesquisa descritiva traduz-se num estudo interme-diário entre a pesquisa exploratória e a explicativa, isto é, não se apresenta tão preliminar como a primeira nem tão apro-fundada como a última. Para os mesmos autores – Raupp e Beuren (2006) –, as pesquisas documentais são elaboradas tendo por suporte fontes de investigação primárias (por exem-plo: leis, decretos, relatório e contas de empresas), ao passo que as bibliográficas são desenvolvidas mediante material já trabalhado, ou seja, fontes de evidência secundárias, princi-palmente livros e artigos científicos (e técnicos e/ou académi-cos). A investigação qualitativa é aquela que não recorre a instrumentos matemáticos (Raupp e Beuren, 2006; Vieira et al., 2009). No que tange ao processo de recolha de informação para este estudo privilegiaram-se fontes primárias (arquivos da Bibliote-ca Nacional de Portugal) e secundárias (artigos de revistas científicas e profissionais, bem como manuais, especialmente os oitocentistas). Quanto à classificação do artigo em História da Contabilidade, reputamos a investigação de narrativa (Pre-vits et al., 1990a) e tradicional (Stewart, 1992).Naquilo que se prende com a tipologia do estudo, o campo no qual a nossa abordagem se movimentará no abrangente território da História da Contabilidade, corresponde à parti-cular área da História Geral da Contabilidade (American Accounting Association, 1970; Previts, 1984; Previts et al., 1990b; Carnegie e Napier, 1996).Para além da secção inicial introdutória, o texto está estrutu-rado em mais seis secções. A segunda aborda as principais características da primeira escola de Contabilidade portugue-sa (1759), conferindo-se especial destaque à protecção legal das saídas profissionais dos aulistas, por intermédio da Carta de Lei de 30 de Agosto de 1770. Seguidamente, a terceira secção oferece uma panorâmica dos principais motivos que contribuíram para o declínio da importância deste estabeleci-mento de transmissão do saber comercial, em sede de uma reforma geral de ensino levada a cabo em 1844 por Costa Cabral. Na oportunidade da quarta secção dedica-se atenção ao quartel 1844-1869, período pós-Aula de Comércio, no qual o ensino da nossa especialidade viria a ser ministrado no Liceu Nacional de Lisboa, sob o nome de Escola de Comércio. A secção seguinte, centrada a partir do ano de 1869, introduz o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (IICL) como veícu-lo de difusão do saber contabilístico, por via da transformação da Escola de Comércio na secção comercial do já existente Instituto Industrial (1852). Apresentar a institucionalização da Contabilidade no ensino superior em Portugal (1884), por

intermédio da criação do Curso Superior de Comércio no IICL, constitui temática a explorar na sexta secção. A exposição termina com a apresentação das conclusões, limitações e recomendações essenciais do trabalho.Faz-se notar que ao longo do texto as transcrições em itálico respeitam a ortografia oficial da época, opção que, a par do acatamento pela sintaxe de então, manteremos consistente ao longo de todo o trabalho. Por último, optámos por nos desviar do protocolo de citar e referenciar pelo último apelido os autores que são conhecidos diferentemente (por exemplo, Baptista da Costa em vez de Costa).

2. Memória histórica da primeira Instituição de ensino da Contabilidade em Portugal

Em 1 de Setembro de 1759 foi inaugurada em Lisboa a primeira escola pública de ensino técnico profissional no nosso país (Cardão Machado, 2009) – a Aula de Comércio de Lisboa – cuja iniciativa se ficou a dever a Sebastião José de Carvalho e Melo (comummente conhecido por Marquês de Pombal, título que adquiriu em 1769). Os dois grupos de disciplinas que se ministravam na Aula de Comércio eram constituídos por: (1) Aritmética e suas aplicações (pesos, medidas, câmbios, seguros, fretamentos, comissões); e (2) Escrituração Comercial (Contabilidade) pelo método italiano das partidas dobradas.Começa-se por acentuar que o vocábulo “Contabilidade”, mais concretamente “Comptabilidade”, não apareceu nos textos e tratados particulares – e muito menos oficiais – pelo menos até ao início do terceiro quartel do século XIX.(1) Inte-ressa-nos, deste modo, mais do que colocar em evidência a discussão de questões semânticas, demonstrar que o termo “Contabilidade” (e, por maioria de razão, a expressão “Ensi-no de Contabilidade”), não foi, nem de facto, nem de jure, aquele que primeiramente entrou nos costumes e usos mer-cantis dos Portugueses, mas sim a terminologia “Escritura-ção”. A este respeito, Ferreira Borges (1839: p. 122) confes-sa-nos que “rigorosamente fallando, não careciamos muito do termo [Contabilidade], por que contas, calculo, ou escrip-turação expressão o mesmo”.Observa-se igualmente que em Portugal as antigas escolas especializadas em Contabilidade designavam-se Aulas de Co-mércio e, em Espanha(2(, eram denominadas Escolas de Co-mércio. Os estudos em Contabilidade intitulavam-se por isso de Comércio (Ferreira, 2010).No que releva ao ensino prático da Aritmética nos cursos de Comércio, daremos apenas um elucidativo exemplo da afinidade entre ambas as disciplinas, consubstanciado nas pa-lavras de Tua Pereda (1988: p. 5). Assim, sublinha o autor que

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aunque la expresión `Algebra del Derecho´ aplicada a la Contabilidad es relativamente reciente [Garnier, 1947], no cabe duda de que las primeras manifesta-ciones de nuestra disciplina [a Contabilidade] se adscri-bieron a ámbitos próximos a la Matemática y, en es-pecial, a la Aritmética comercial. No podría ser de otro modo, si tenemos en cuenta la utilidad de ambas disciplinas en el campo de los negocios; las dos servían al comerciante que, en su actividad todavía primitiva, estaba obligado a hacer numerosos, complejos y fre-cuentes cálculos, con utilización abundante de las cuatro reglas, procediendo, lógicamente, al registro ordenado y adecuado del resultado de tales operacio-nes.

Sob outro prisma, as informações de Cardoso (1984) e San-tana (1985), patentes na TABELA 1, mostram-nos a popula-ridade da Aula de Comércio de Lisboa em face da grande procura dos seus serviços de ensino técnico comercial, não obstante a restrição estatutária de cinquenta praticantes (aulistas), no máximo, por lente:

Tabela 1: Indicadores da Aula de Comércio de Lisboa

Curso Ano de início N.º de alunos matriculados

N.º de cartas de aprovação

1.º 1759 61 30

2.º 1763 109 52

3.º 1767 288 161

4.º 1771 não disponível 207

5.º 1776 307 87

6.º 1783 193 80

7.º 1787 215 152

8.º 1790 188 não disponível

9.º 1792 174 não disponível

10.º 1794 154 96

11.º 1798 225 não disponível

Total 1914 865

Fontes: Cardoso (1984: p. 89) e Santana (1985: p. 28)

O ensino na Aula de Comércio tinha uma função mais social do que individual, porquanto apresentava como finalidade a própria economia do país, no seu conjunto, apoiada por uma apertada legislação que visava assegurar a maior projecção possível dos fins sociais. Com efeito,

passada cerca de uma década, através da Carta de Lei de 30 de Agosto de 1770, é tornada obrigatória a posse do diploma do curso da Aula de Comércio para guarda-livros, caixeiros, sobrecargas, caixas e escritu-rários de navios, escrivães da armada, empregados das companhias privilegiadas e para os ofícios da adminis-tração e arrecadação da Fazenda Pública (Cardão Ma-chado, 2009: p. 5).

A mencionada Carta de Lei de 30 de Agosto de 1770 pode ter sido a primeira tentativa registada em Portugal para a legalização do exercício da profissão de Guarda-Livros, actualmente designada por Técnico Oficial de Contas.Em nossa interpretação, aqui residem o gérmen e as bases da primeira regulamentação (Pimenta, 1934; Guerra, 1948; Brito, 1949; Carvalho, 1953; Rodrigues e Gomes, 2002) que mais tarde irá ditar as directrizes da profissão: habilitações académicas e organização colegial.Das disposições iniciais deste diploma de 1770 respigamos como principais notas de destaque o desvelo e a dedicação do Governo ao comércio, cuja importância vem assinalada no seu proémio, e o respeito pela muito proveitosa, nobre e necessária profissão dos homens de negócio.Terão sido suficientes os onze anos de existência da Acade-mia para grangeamento de tanto prestígio e consequente determinação, por via de lei, do provimento de numerosos cargos de interesse público e privado subordinados em ex-clusivo, ou de preferência, aos antigos praticantes da Aula de Comércio. Vários privilégios, como então por costume se dizia, foram assegurados para os alunos que concluíssem o curso comer-cial. Destarte, só os matriculados na Junta de Comércio de Lisboa podiam exercer a profissão de Guarda-Livros e, num sinal claro de protecção à Aula, os cargos públicos para as contadorias (repartições ou escritórios de Contabilidade), ad-ministração e arrecadação da Fazenda (hoje Finanças) deve-riam ser preenchidos com aulistas aprovados. O impacto real e concreto da Aula de Comércio traduziu-se no reconhecimento que os poderes públicos lhe fizeram em 1770, em sede de carta de lei, é certo, mas fundamentalmen-te porque o mercado, no hiato de tempo que compreendeu a fundação da escola e o sobredito alvará de 1770, atestou a qualidade dos diplomados dos três primeiros cursos(3).Estima-se que em 26 de Janeiro de 1793 o curso tenha sido dividido em dois anos, 1.º ano e 2.º ano, repartidos de forma independente (Rodrigues et al., 2003). Esta reforma do curso de três para dois anos, mereceu de Campos (1859: p. 4) críticas e agravos, na medida em que, como justifica, “dando--se mais desenvolvimento á parte mathematica, não nos pa-rece que ganhasse muito a instrucção especial dos alumnos”. Sensivelmente na mesma altura, pelo ano de 1793, Francisco Stockler, antigo professor da Real Academia de Marinha de Lisboa, apresentou um plano de reforma da Aula de Comér-cio, com três anos de curso, no sentido de a transformar numa escola político-mercantil, com matérias de Economia Política. Todavia, estes putativos estudos foram considerados demasia-do revolucionários para a época (Stockler, 1826). A despeito do príncipe regente D. João (futuro D. João VI em 1816) a princípio ter concedido luz verde a esta reforma, convencen-

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do-se da utilidade das ideias de Francisco Stockler, o plano não obteve vontade política para a sua implementação.Vale a pena, para concluir, referenciar que os primeiros cur- sos da Aula de Comércio funcionaram no Solar dos Soares de Noronha. Posteriormente, em 1769, assistiu-se a mudan-ça de instalações, para o piso nobre que esquina o edifício da Praça do Comércio para a Rua Augusta, onde se encon-trava também a sede da Junta do Comércio. Em Junho de 1821, ardendo a construção, passou a Aula a funcionar no Convento da Boa-Hora, até 1824. Desde esta data até à sua extinção em 1844(4), a Aula do Comércio ficou instalada no “edifício que forma a esquina ocidental da Praça do Comércio com a Rua da Prata, com janelas para esta (1.ª andar) e para a arcada (sobreloja)” (Santana e Sucena, 1994: p. 114).E é justamente ao crepúsculo desta Academia que as seguin-tes breves notas reportarão.

3. Razões para o ocaso da primitiva Aula de Comércio Lisboeta

Um livro de matrículas do último quinquénio em que a Aula funcionou proporciona-nos os seguintes dados, em conformi-dade com a TABELA 3:

Tabela 3: Alunos matriculados nos últimos 5 anos lectivos da Aula de Comércio de Lisboa

Anos Lectivos Alunos matriculados

1839-1840 63

1840-1841 79

1841-1842 58

1842-1843 67

1843-1844 46

Fonte: Santana (1985: p. 28)

Subsídios para uma contextualização e explicação da redução do número de matrículas são-nos dados por Corrêa (1930), Portela (1968), Rodrigues et al. (2003, 2004b) e Rodrigues e Craig (2005). São diversas as possíveis causas para esta dimi-nuição, de entre as quais se ponderam:1) o surgimento, no primeiro quartel do século XIX, das dou-

trinas de liberalismo económico, as quais, reclamando um intervencionismo menos asfixiante, não defendiam uma necessidade premente de desenvolvimento da actividade comercial e de aumento da riqueza das nações;

2) a cessação de medidas legislativas, com referência ao rei-nado de D. Maria I (1777-1816)(5), que favorecessem os estudos da Academia, significando que no campo do en-sino não avançar é retroceder;

3) a diminuição dos níveis de actividade mercantil motivados pela abertura dos portos brasileiros (como os do Rio de Janeiro e da Baía) a navios e frotas estrangeiras e pela independência do Brasil em 1822, com naturais impactos nos rendimentos da Junta de Comércio, organismo finan-ciador da Aula;

4) a extinção da Junta do Comércio de Lisboa (Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, nova designação de 1788), pelo decreto de 30 de Junho de 1834, “com o fundamento de ser onerosa à Fazenda e incompatível com a forma de governo estabelecido na Carta Constitucional da Monarquia” (Portela, 1968: p. 793);

5) as invasões francesas (1807-1811), a revolução liberal de 1820, a instabilidade vivida nos catorze anos que se segui-ram à revolução liberal (1820-1834) e a guerra civil portu-guesa entre miguelistas absolutistas e pedristas liberais (1828-1834);

6) a desregulamentação que, num contexto de cenários libe-rais, constituiu também factor de declínio da Academia, nomeadamente por via da Carta de Lei de 7 de Abril de 1838, a qual não obrigava a aprovação na Aula de Comér-cio para o exercício da profissão de Guarda-livros; e

7) a criação, em 1836, por decreto de 17 de Dezembro de Passos Manuel, de Liceus como escolas de ensino secun-dário nas capitais de distrito, inaugurando-se em 1839 o Liceu Nacional de Lisboa e, em 1840, o Liceu Nacional do Porto.(6)

Com uma meritória existência autónoma de oitenta e cinco anos (1759-1844), abalada no entanto pela morte de Pombal, em 1777, a Aula, encontrada decadente em sede de reorga-nização do ensino liceal, foi rebaixada ao nível do ensino secundário pelo decreto orgânico da instrução pública de 20 de Setembro de 1844, obra de Costa Cabral. Aboliu-se, des-ta forma, a autonomia que até aí gozara a Academia. Para tanto, foi anexada ao Liceu Nacional de Lisboa, sob a desig-nação de Escola de Comércio ou Secção Comercial, muito embora continuasse a ser correntemente referida por Aula de Comércio, como nos clarifica Carqueja (2002), mas “perden-do muito do seu prestígio por ser pouco frequentada” (Gon-çalves, 1960: p. 13).Muito distante de um tipo de ensino caracterizado por um obstinado sentido académico e, no entanto, muito próxima de uma formação educativa para o mundo do trabalho, a Aula do Comércio, à frente do seu próprio tempo, inaugurou consigo uma controversa e visionária dualidade que ainda presentemente se mantém actual quando se pretendem es-boçar as fronteiras entre um ensino universitário, de pendor teórico, e um politécnico, de cunho marcadamente mais prático.(7)

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Para terminar, sublinhamos que os comentários finais que a Aula nos merece, enquanto veículo institucionalizador e pro-motor da aprendizagem do ensino público de Contabilidade, estão em harmonia com os que Ribeiro (1871: p. 278) for-mulou, numa secção especialmente a ela destinada, na via-gem que empreendeu pelos estabelecimentos científicos, lite-rários e artísticos criados em Portugal: “Restringindo-nos ao reinado de D. José [1750-1777], devemos dizer que não houve um instituto, que mais agradavelmente fosse recebido pela opinião publica, e que tão cedo produzisse excellentes fructos, como foi a Aula do Commercio”.

4. O ensino da contabilidade no pós-aula de comércio: A Escola de Comércio (1844-1869)

O quarto de século de vida da sucessora da Aula de Comér-cio, a Escola de Comércio de Lisboa, criada em 1844 e extin-ta em 1869, será desdobrado em duas fases, tendo em conta que o ano de 1866 vem marcado por uma reestrutu-ração que, contudo, se mostrou bastante efémera, subsistin-do apenas três anos.

4.1 Período 1844-1866

Já aqui foram tecidas considerações quanto à decadência dos últimos anos da Aula de Comércio de Lisboa. Na oportunida-de, efectuou-se também ligeira referência ao decreto de 20 de Setembro de 1844, o qual extinguiu a autonomia de que beneficiara a Aula desde 1759. Num cenário de reorganização da instrução pública nacional, Costa Cabral(8), no poder como Presidente do Ministério (car-go hoje equivalente ao de Primeiro-Ministro), rebaixa-a ao nível do ensino secundário, integrando-a no Liceu Nacional de Lisboa, embora em secção própria. Com efeito, dispõe o citado decreto, no seu art.º 52.º: “A Aula do Comércio (…) ficará anexa ao Liceu de Lisboa, com o nome de Escola de Comércio ou Secção Comercial” (Portugal, 1844).Do ponto de vista nominal, Costa (1900: p. 23) aclara-nos que, correntemente, no dia-a-dia da Escola de Comércio continuava a utilizar-se a já consolidada referência “Aula de Comércio”. Sublinhamos o seu registo: “Malgré la dénomi-nation réglementaire de Section Commerciale, on continua à se servir communément […] de la dédignation primitive de Cours ou Classe [Aula] du Commerce”.Visualizamos na TABELA 4 a divisão das matérias (disciplinas) do curso, a ministrar em dois anos:

Tabela 4(9): Plano curricular da Escola de Comércio | Decreto de 20 de Setembro de 1844: art.º 52.º, § 1.º

Escola de Comércio – Liceu de Lisboa (4.ª Secção) – ano 1844

Cadeiras Disciplinas

1.ª cadeira Aritmética Comercial (moedas, pesos e medidas); Ele-mentos de Álgebra e Geometria

2.ª cadeira Geografia (especialmente a Comercial); Cronologia; História

3.ª cadeira Escrituração; Câmbios; Letras; Seguros; Prática

4.ª cadeira Economia Política; Direito Administrativo; Direito Co-mercial

Fonte: Elaboração própria

Num outro sentido, nem precisaríamos da observação de Pe-reira (2001) para, tal como o autor, anteciparmos que as razões da reforma da Aula de Comércio se justificaram com a dimi-nuição de custos da área educativa. É neste contexto e será com toda a certeza sob este pano de fundo que devemos in-terpretar e compreender o desabafo de Campos (1859: p. 4):

Ultimamente uniu-se a Aula do Commercio ao Liceu de Lisboa, do qual constitue uma secção. É para la-mentar, que os negociantes da Praça de Lisboa sejão tão pouco avaros dos interesses commerciaes deste porto, que não promovam a creação de um estabele-cimento digno dos tempos em que vivemos, para satisfazer á educação da mocidade, que se destina para a importante carreira commercial.

A julgar pelas palavras de Rómulo de Carvalho (2001: p. 579), a servidão da Escola de Comércio à desorganização do Liceu não trouxe frutos ao ensino comercial lisboeta:

à semelhança da reforma de Passos Manuel, por inve-rosímil que pareça, também nesta reforma nada se diz quanto ao número de anos que o curso liceal deveria ter, nem quanto ao número de aulas de cada discipli-na, nem quanto à sua distribuição nos horários.(10)

No que respeita aos privilégios dos diplomados pela Escola de Comércio do Liceu de Lisboa, o decreto reformador de Costa Cabral, no seu art.º 74.º, e o Código Comercial de Ferreira Borges, de 1833 (Pereira, 2001), estipulavam as (poucas) garantias a conferir aos alunos e que visavam, também, ani-mar o movimento discente da 4.ª secção. Desta forma,

quando em 20 de Setembro de 1844 foi reformado o curso da Aula de Comércio, mantiveram-se ainda al-guns dos privilégios, como por exemplo, o que man-dava admittir os alumnos, sem outras quaisquer for-malidades, nos logares do Thesouro Publico e das Alfandegas (Pequito, 1914: p. 7).

De Pereira (2001: p. 287) coligimos também importante con-teúdo, mencionando que o Código Comercial de 1833 dis-punha no seu art.º 1063.º que “o escrivão dos tribunaes do

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commercio deve ter feito o curso das Aulas de Commercio de Lisboa ou da Academia [Real da Marinha e Comércio da Cidade do Porto] com certidão de approvação”.Das condições de acesso dos alunos à Escola de Comércio de Lisboa nos dá conta Gomes (1980: p. 77), aludindo ao De-creto de 20 de Setembro de 1844:

os alunos que quiserem matricular-se no primeiro ano da escola apresentarão certidão de idade de 14 anos completos e de aprovação nas disciplinas de Gramáti-ca Portuguesa e Francesa e bem assim nas quatro operações fundamentais de Aritmética. […] E não se passará o diploma do curso sem o exame e aprovação de Língua Inglesa (art.º 52.º, § 4.º).

De notar que Ricardo José de Sá(11) (1844-1912), um dos primeiros tratadistas de mérito da Contabilidade em Portugal, “foi aluno da Escola de Comércio de 1859 a 1862“, de acor-do com Carqueja (2002: p. 74).

4.2 Período 1866-1869

Em 1866 o decreto de 9 de Outubro fixa uma nova organi-zação do curso de estudos comerciais, ainda adstrito à Secção Comercial do Liceu de Lisboa. O curso continua a ter a dura-ção de dois anos, mas vê ampliado o quadro de matérias, ainda que a reforma seja de curtíssima duração. Observem-se os dados da TABELA 5:

Tabela 5: Plano curricular da Escola de Comércio – Decreto de 9 de Outubro de 1866

Escola de Comércio – Reorganização de 1866 – Liceu Nacional de Lisboa

Ano Aula Disciplinas Carga Lectiva

1.º ano

1.ª AulaAritmética Comercial, Álgebra Ele-mentar e Geometria

4 lições | semana

2.ª AulaPrimeira Parte: Geografia Matemáti-ca, Comercial e Industrial e História dos Produtos Comerciais

3 lições | semana

3.ª AulaPrimeira Parte: Escrituração e suas Principais Aplicações; Usos do Co-mércio

4 lições | semana

2.º ano

2.ª AulaSegunda Parte: História Geral do Comércio e da Indústria

2 lições | semana

3.ª AulaSegunda Parte: Escrituração Comer-cial; Exercícios práticos do 1.º ano

4 lições | semana

4.ª aulaEconomia Política e Estatística Co-mercial

2 lições | semana

5.ª aula

Primeira Parte: Elementos de Direito Comercial e Marítimo, Legislação Económica e Administração de Al-fândegas

3 lições | semana

Segunda Parte: Exercícios de Língua Inglesa ou Alemã

5 lições | semana

Fonte: Tradução (livre) de Costa (1900: p. 25)

Quanto à duração das lições, o tempo lectivo era de hora e meia, com excepção das aulas de Escrituração e de Línguas Vivas, que se prolongavam a duas horas.Costa (1900: p. 26) esclarece-nos que os privilégios dos estu-dantes continuam a ser aqueles que o decreto de 20 de Setembro de 1844 estipulara. De acordo com o autor: “le diplôme du cours d’études, ainsi que l’équivalent de l’Academie Polytechnique de Porto(12), serait le seul titre admis pour con-courir aux places de commis de l’administration des douanes et du trésor public”.O funcionamento da 4.ª secção do Liceu de Lisboa – Escola de Comércio – ao longo do quarto de século da sua existên-cia (1844-1869), tomou lugar, referem Santana e Sucena (1994), no edifício que forma a esquina ocidental da Praça do Comércio com a Rua da Prata. Relembre-se que a Aula de Comércio já aí estava estabelecida desde 1824.Entretanto, como antevimos, pelo ano de 1869, o decreto de 30 de Dezembro incorpora o ensino comercial no Instituto Industrial de Lisboa, passando este último a designar-se Insti-tuto Industrial e Comercial de Lisboa. Aí seria leccionado, a partir do período lectivo de 1870 para 1871, o ensino comer-cial, suprimindo-se desta forma a Escola de Comércio ou Secção Comercial do Liceu Nacional de Lisboa.

5. Notícias sobre o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (1869)

O decreto de 30 de Dezembro de 1852, assinado por Fontes Pereira de Melo, pouco tempo depois de criar o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, estabelece a criação de duas escolas de ensino técnico industrial, não superior, em Portugal: o Instituto Industrial, em Lisboa, e a Escola Industrial, no Porto. Em 1864 a Escola Industrial do Porto mudou a sua designação para Instituto Industrial do Porto.O diploma de 30 de Dezembro de 1869, assinado pelo Du-que de Loulé e por Joaquim Tomás Lobo d’Ávila, assinala uma data importante na história do ensino das Ciências Económicas em Portugal (Portela, 1968). Na opinião de Sou-sa e Morais (2009: p. 64) “o decreto em causa foi respon-sável pelo início da aposta no ensino técnico comercial.” Transformando a Escola de Comércio, anexa ao Liceu Nacio-nal de Lisboa, na Secção Comercial do Instituto Industrial – – passando assim a Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (IICL) –, os preliminares da resolução ministerial de 1869 explicam também, em simultâneo, a não introdução do ensino comercial no Instituto Industrial do Porto por ser “professado na Academia Polytechnica d’aquella cidade, pa-recendo conveniente ali permanecer […]” (Portugal, 1870: p. 865).

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O relatório que antecede o decreto de 30 de Dezembro ajuda-nos a sistematizar as principais ideias-chave da reforma de ensino técnico comercial operada em Lisboa, no ano de 1869:

o ensino commercial, até agora organisado em Lisboa segundo o decreto de 9 de Outubro de 1866, póde assim ser professado com vantagem no Instituto In-dustrial, que tomará a denominação de “Instituto In-dustrial e Commercial de Lisboa”, supprimindo-se a Escola de Commercio, ou Secção Commercial do Lyceu da capital. Creando-se no Instituto apenas uma nova cadeira de escripturação e contabilidade industrial e commercial, seguros, câmbios, letras, geographia commercial e exercicios praticos, póde n’este estabe-lecimento organisar-se um curso commercial mais completo do que o actual do Lyceu […] (idem, ibidem).

Esta especificidade obrigava, portanto, a recorrer às cadeiras ministradas na secção industrial do Instituto, que Portela (1968) e Gomes (1980) fazem corresponder às cadeiras de (i) Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria, (ii) Econo-mia Política e Industrial, (iii) Direito Comercial, Estatística e História Geral do Comércio, (iv) Língua Francesa e Língua Inglesa e (v) Física e Química. A intenção do legislador era, assim, a de formar um programa conveniente para o curso de Comércio, com as cadeiras já estabelecidas no Instituto, a par da nova cadeira de Contabilidade a criar.Centrando a análise ainda no diploma de 1869, estabelecia o seu art.º 47.º que o curso seria professado no IICL a partir do ano lectivo de 1870 para 1871. Por conseguinte, nesta linha de raciocínio, o decreto de 5 de Agosto de 1870 des-dobra em duas cadeiras as disciplinas que constituíam a 7.ª cadeira(13), criada no IICL pela determinação de 30 de Dezem-bro de 1869;

(1.ª cadeira) – que compreendia Contabilidade comer-cial teórica e prática; escrituração e correspondência comercial nas línguas portuguesa, francesa e inglesa; exercícios práticos sobre câmbios, seguros, letras e facturas; usos das principais praças de Comércio, e (2.ª cadeira) – que compreendia Geografia e História Comercial; Elementos de Direito Comercial e Marítimo; Estatística comercial; Conhecimento prático dos prin-cipais produtos naturais e manufacturados emprega-dos no Comércio; Prática de manipulação no labora-tório de química industrial(14) (Portugal, 1871: p. 450)

As disciplinas pertencentes à 1.ª cadeira constituíam o curso elementar de Comércio e as relativas à 1.ª e 2.ª cadeiras conferiam o direito ao diploma do curso completo de Comér-cio. Para a obtenção de cartas de capacidade do curso com-pleto de Comércio, os alunos, antes do exame, deveriam mostrar-se habilitados com os preparatórios de aprovação em

exame de (1) instrução primária, em (2) Caligrafia, em (3) Francês e Inglês, em estabelecimento de ensino público, em (4) Aritmética, Álgebra e Geometria, em (5) Matemática Ele-mentar dos Liceus, em (6) Física e Química, dos Liceus Nacio-nais, em (7) Introdução à História Natural, também dos Liceus Nacionais e, por último, em (8) Economia Política em quais-quer estabelecimentos de instrução pública. O curso elemen-tar de Comércio tinha como preparatórios apenas as cadeiras (1), (2), (3) e (4). Num outro registo, Portela (1968) sustenta que não foram renovados os privilégios que normalmente eram conferi- dos aos aulistas de Comércio, pelo que o novo curso era inte-gralmente dirigido aos quadros privados da economia nacio-nal.(15) As suas observações vão, no entanto, mais longe, quando refere que o curso elementar poderia produzir bons calculadores, escriturários e arrumadores de livros, ao passo que o curso completo seria apropriado para o negociante instruído que pretendesse empreender as transacções e espe-culações comerciais (idem, ibidem).Tendo como ponto de apoio o autor que temos vindo a seguir, consegue-se estabelecer uma interessante dicotomia compa-rativa entre o ensino de Contabilidade que aqui estudamos, proposto pela reorganização de 1869/1870 no IICL, e o pro-fessado na antiga Aula de Comércio. Em conformidade, re-flicta-se nos dados da TABELA 6:

Tabela 6: Comparação entre o ensino de Contabilidade ministra-do na Aula de Comércio e no IICL

Variáveis de análise

Aula de Comércio Instituto Industrial e Comercial de Lisboa

Período pombalino – 1759/1777

Reorganização de 1869/1870

Tipo de Ensino SuperiorElementar e Secundário

Função do ensino Social Individual

Formação de Base Especializada Não especializada

Objectivo PolíticoFormação de quadros públicos

Formação de quadros privados

Privilégios aos Alunos

Carta de Lei de 30 de Agosto de 1770

Não renovados

AcessibilidadeNão popular (preferência dada à Burguesia)

Popular

Fonte: Elaboração própria

Inventariadas as principais características e circunstâncias de enquadramento do ensino de Contabilidade no IICL e firma-das que estão as bases da reforma do ensino comercial de 1869/1870, avança-se agora para 1872, ano que traz a lume o programa das cadeiras que aí eram professadas. Na parte que mais aproveita ao nosso discurso, o curso comercial re-partia-se agora em duas cadeiras, com as matérias programá-ticas resumidas como segue na TABELA 7:

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Tabela 7: Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (1872) – Pro-grama das cadeiras do Curso Comercial

Programa resumido da 1.ª e 2.ª cadeiras do Curso Comercial para o ano lectivo de 1872 a 1873

1.ª cadeira

1.ª parte

# Contabilidade geral – analyse do seu estudo em Portugal e nos paizes estrangeiros

# Calculo commercial (descontos, juros, seguros, letras)

# Contractos commerciaes

# Cambios; Letras de cambio

# Fretamentos

# Seguros maritimos e seguros terrestres

# Sociedade: em nome collectivo; em commandita simples; em comamandita por acções; anonyma; em conta de participação

# Commissões, consignações, corretagens

2.ª parte

Escripturação commercial – Parte theorica# Systemas de escripturar, antigos e modernos; Origem, importancia e utilidade das partidas dobradas: primeiros livros sobre este systema

# Livros ordenados por lei

# Livros principaes usados no commercio

# Livros auxiliares

# Contas: de capital; geraes; particulares

# Extornos: systemas de extornar

# Inventarios

# Balanços

# Liquidações

# Fallencias

Escripturação commercial – Parte pratica# Simular a escripturação de uma casa de commercio, pelo systema das partidas dobradas, e correspondencia nas linguas portugueza, francesa e inglesa

# Usos das principaes praças de commercio

3.ª parte# Contabilidade industrial ou da industria manufactureira (generalidades)

# Contabilidade agricola (generalidades)

2.ª cadeira

1.ª parte # Geographia commercial

2.ª parte# Historia commercial (commercio dos tempos antigos; principais povos commerciantes)

3.ª parte # Direito commercial e maritimo

Fonte: Adaptação de Programa (1872: pp. 41-55)

No ano lectivo 1872-1873, o magistério da 1.ª cadeira estava atribuído ao professor Rodrigo Affonso Pequito (1849-1931). O professor Henrique Midosi tinha a seu cargo a responsabi-lidade de leccionação da 2.ª cadeira.O lugar do professor Rodrigo Pequito na história da Contabi-lidade portuguesa corresponde ao de primeiro académico português da nossa disciplina (Carqueja, 2002).(16) Assim, de entre outros méritos, saliente-se que em 1875 publicou um importante livro de Contabilidade à época – Curso de Con-tabilidade Comercial –, manual que chegou a ser, de acordo com Pereira (2001), o único compêndio de Escrituração Co-

mercial adoptado na 11.ª cadeira (Comércio) da Academia Politécnica do Porto, regida pelo professor J.J. Rodrigues de Freitas. Fazendo a ponte com esse notável professor de Contabilida-de (José Joaquim Rodrigues de Freitas – o Freitinhas da Aca-demia Politécnica do Porto), recorremos a Freitas (1879) para atestarmos ser o curso de Comércio professado no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa melhor organizado do que o seu congénere levado a cabo na Academia Politécnica do Porto.Outro aspecto a merecer atenção prende-se com a reforma de 1880, por decreto de 1 de Outubro, modificando-se, por sua prescrição, o plano curricular do curso de Comércio ad-ministrado no IICL. Dele constavam agora as cadeiras discri-minadas na TABELA 8:

Tabela 8: Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (1880) – Re-forma do Curso Comercial

A Contabilidade como cadeira do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa | 1880

Ano Disciplinas Cadeira

1.º anoFísica Geral e suas aplicações 3.ª cadeira

Contabilidade (Escrituração e Correspondên-cia Comercial em Francês e Inglês)

13.ª cadeira

2.º ano

Química aplicada às artes, Prática de Mani-pulações Químicas

4.ª cadeira

Princípios de Economia Política e Industrial 11.ª cadeira

Geografia e História Comercial, Direito Co-mercial e Marítimo

14.ª cadeira

Fonte: Freitas (1881) – Adaptação

Nos primeiros oito anos da secção comercial do Instituto (1870-1878), o curso comercial contou com 388 alunos ma-triculados, o que nos permite concluir que, com uma média de quase cinquenta estudantes por ano, era o curso da capi-tal incomparavelmente mais frequentado do que o curso de Comércio da Academia portuense (a média na Polytechnica na década de 70 não ultrapassava os dois alunos (!) por ano lectivo).De uma forma geral, no Instituto que aqui tratamos, à medi-da que o século XIX se aproximava do seu fim, no que con-cerne à dimensão do número de alunos, os inscritos na secção comercial foram ultrapassando os matriculados na secção industrial. Rómulo de Carvalho (2001: p. 638), por exemplo, faz-nos saber que “no último ano escolar de oitocentos, no IICL matricularam-se 130 alunos nos cursos industriais e 207 nos comerciais”.A terminar, queremos aqui deixar a nota final de que, em 1911, é extinto o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, procedendo-se ao desdobramento deste estabelecimento de ensino em duas escolas que viriam a deixar uma marca de

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indelével qualidade no panorama geral do ensino superior nacional:– o Instituto Superior de Comércio (mais tarde, Instituto

Superior de Ciências Económicas e Financeiras, em 1930, convertido em 1972 em Instituto Superior de Economia (ISE), e este em Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em 1989);(17) e

– o Instituto Superior Técnico, este ainda em pujante activi-dade.

Todavia, a secção secundária do extinto IICL, transferida em 1913 para as instalações da escola industrial Marquês de Pombal, foi transformada pelo decreto n.º 954, de 14 de Outubro de 1914, na Escola de Construções, Indústria e Co-mércio (escola de ensino técnico médio), tendo por objectivo a formação de auxiliares de comércio (Sousa e Morais, 2009). A escola existiu até 1918. Nesse ano, com a reforma levada a cabo por Azevedo Neves, Ministro do Comércio, pelo decreto n.º 5029, de 1 de De-zembro, este estabelecimento de ensino médio (secção co-mercial) deu lugar ao Instituto Comercial de Lisboa (ICL). Segundo Baptista da Costa (1980), os alunos eram admitidos com o curso geral do liceu e, em 1918, o Curso Comercial tinha a duração de 4 anos. Em 1931 foi criado no ICL o Curso de Contabilista com um curricula também de 4 anos.

Ainda em linha com o mesmo autor, “em Novembro de 1950, o Decreto 38031 reduz de quatro para três anos a duração do Curso de Contabilista professado nos Institutos Comer-ciais” (Baptista da Costa, 1980: p. 398).Como se sabe, mais recentemente, em 1976, pelo Decreto-Lei 327/76, com Vítor Alves como Ministro da Educação e da Investigação Científica (Baptista da Costa, 2009a) do VI Go-verno Provisório, o Instituto Comercial de Lisboa (ICL) foi convertido no ISCAL – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa – nele se conferindo o grau acadé-mico de bacharel em 3 anos.(18) Um bocadinho de História da Contabilidade que em nossa opinião ajuda a explicar a legítima reivindicação do ilustre ISCAL como instituição sucessora do espírito e da cultura politécnica da pioneira Aula de Comércio de Lisboa.(19) Abra-se pois aqui um parênteses para nos co-locarmos ao lado de todos aqueles que se opõem à argumen-

tação utilizada pelo ISEG no sentido de para si reclamar a herança da Aula de Comércio de Lisboa.

6. Criação do curso superior de comércio (1884)

As questões relacionadas com o emergir do ensino superior de Contabilidade constituem temáticas ainda muito por ex-plorar em termos de uma História da Contabilidade em Por-tugal. Não obstante, (1) Carqueja (2001), (2) Portela (1968), (3) Baptista da Costa (1980) e (4) Pequito (1914) dedicaram- -lhe atenção:– o primeiro (1), para concluir que o Curso Superior de Co-

mércio foi criado em 1884, em Lisboa, no Instituto Indus-trial e Comercial, tendo como catalisador o professor Ro-drigo Affonso Pequito (1849-1931);

– o segundo, (2) para acrescentar que, inicialmente, era prevista a duração de quatro anos para a sua instrução, figurando a cadeira de Contabilidade Geral e Operações Comerciais como a 1.ª de um total de oito;

– o terceiro, (3) para esclarecer que, com a legislação de 1886 e consequente reorganização de Emídio Navarro, o curricula do Curso Superior de Comércio seria professado

em cinco anos (não quatro, conforme previra a Lei de 6 de Março de 1884) e

– o último, (4) para reiterar “que o ensino commercial de gráo superior foi creado em Portugal pela lei de 6 de Março de 1884“(20) (Pequito, 1914: p. 3).

Coube a Emídio Navarro – “um dos ministros a quem o ensino comercial (e industrial) mais deve, pela sua bela e preciosa organização” (Costa, 1925: p. 12) – dar seguimen-to à Lei de 6 de Março de 1884, através da publicação do decreto de 30 de Dezembro de 1886, de sua autoria, colo-cando assim um ponto de ordem no ensino comercial (e industrial). No que tange à parte comercial, a reorganização ministerial de 1886 divide o ensino nos graus elementar(21), preparató-rio(22) e superior. Os dois primeiros seriam ministrados no re-cém-criado Instituto Industrial e Comercial do Porto, sendo que o superior apenas seria professado no Instituto Industrial

depois da extinção da Aula de Comércio, em 1844, o ensino da Contabilidade ficou marcado por um retrocesso de conteúdos programáticos, circunstância que (...) concorreu para a perda de prestígio social e institucional da Contabilidade.

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e Comercial de Lisboa (a par do ensino comercial elementar e preparatório, também). O Curso Superior de Comércio administrado em Lisboa, no Instituto Industrial e Comercial, assumia como principal objectivo a tarefa de “habilitar com os conhecimentos espe-ciais e indispensáveis aqueles que se destinam às carreiras de negociantes, banqueiros, administradores, directores, guarda-livros e empregados de estabelecimentos industriais e comer-ciais e a determinados lugares da administração pública” (art.º 1.º da Lei de 6 Março de 1884, apud Gomes (1980: p. 90)).O decreto de 3 de Fevereiro de 1888, igualmente assinado por Emídio Navarro, procede à execução do Decreto de 30 de Dezembro de 1886, regulamentando o ensino comercial no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, estipulando as seguintes cadeiras submetidas ao Curso Superior de Comér-cio: (TABELA 9)

Tabela 9: Entrada da Contabilidade no Ensino Superior | Decreto de 3 de Fevereiro de 1888

Curso Superior de Comércio – Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (IICL) | ano 1888

Ano Cadeira no IICL Disciplina

1.º ano

7.ª Física Geral e suas aplicações à Indústria

17.ª (2.ª parte) Desenho de Figura e Paisagem ao natural

24.ª Língua Inglesa

2.º ano

6.ª Trigonom. plana, Princípios de Geometria Analítica, de Álgebra Superior e de Cálculo Infinitesimal

9.ª Química Mineral e Orgânica; Análise Química

25.ª Língua Alemã

3.º ano

10.ªTecnologia Química (cerâmica, tinturaria, estamparia e outras aplicações químicas)

20.ª (2.ª parte) Geografia e História Comerciais

22.ª Contabilidade Geral e Operações Comerciais

4.º ano

11.ªZoologia e Botânica; Higiene das indústrias e das construções

15.ª Mineralogia; Geologia

21.ªEconomia Política e Princípios de Direito Administrativo; Legislação Industrial

5.º ano

26.ªMatérias Primas e Mercadorias; Legislação Aduaneira

27.ªDireito Comercial, Marítimo e Internacional; Legislação Consular

28.ª Operações Financeiras

Fonte: Baptista da Costa (1980: pp. 390-391) – Adaptação

É manifesto que a Rodrigo Affonso Pequito são justamente atribuídos merecidos créditos pelo activismo desempenhado na defesa da criação de um Curso Superior de Comércio em Portugal. Efectivamente, foi o professor o líder de um movi-mento que visava sensibilizar a opinião pública, recorrendo para o efeito à publicação de artigos na imprensa generalista, em ordem à realização de uma nova organização do ensino

comercial no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, que passasse, necessariamente, pela fundação de um Curso Su-perior de Comércio.Pode, pois, dizer-se, na linha de Carqueja (2002), que na história da Contabilidade portuguesa, o lugar de primeiro impulsionador do Curso Superior de Comércio cabe, por inteira justiça, ao professor Rodrigo Pequito(23). A entrada da Contabilidade no Ensino Superior em Portugal fica assim a dever-se, muito particularmente, ao empenho, dedicação e prestígio académico do mestre e professor Pequito. Neste particular, Carqueja (2001) refere não estarmos mal colocados, em termos cronológicos, no que respeita à data da entrada da Contabilidade no ensino superior, em Portugal. Discorre o autor (ibidem) que, se o ano de 1884 marca a entrada da nossa especialidade na Academia, 1833 assinala a introdução da Contabilidade como disciplina universitá- ria nos Estados Unidos, na Wharton School. Já Barata (1999: p. 25) refere que “em 1834 a Contabilidade é confirmada como disciplina de nível universitário em França”. O ano de 1857 constitui a data de referência em Espanha para a en-trada da Contabilidade no ensino superior (Fernández Agua-do, 1997c) como especialidade autónoma, ao passo que, na Suíça e no Reino Unido, a Contabilidade ingressa no ensino superior em 1899 e 1902, respectivamente. Para terminar, vale a pena acentuar que em Portugal, no fecho do século XIX, o Curso Superior de Comércio apenas existe em Lisboa, nele se atribuindo uma considerável ponde-ração às disciplinas científicas (Física, Química, Botânica, Zo-ologia), jurídicas (Direitos: Comercial, Fiscal, Marítimo, Con-sular e Internacional), humanísticas (Geografia, História do Comércio, Língua Inglesa e Alemã), para citarmos apenas algumas e, claro, também, à Contabilidade – 17.ª cadeira(24) do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.

7. Conclusões, limitações do trabalho e pistas para futura investigação

A Aula do Comércio prefigurou-se como “uma das mais perduráveis instituições da política pombalina, mostrando o interesse do grande ministro em criar uma classe válida para acompanhar o surto do comércio” (Serrão, 1982: p. 249). Primeira escola pública a formar profissionais de Contabilida-de, é manifesto que a Aula (1) representou um instrumento de desenvolvimento do comércio e do Mercantilismo em Portugal e (2) esteve na génese de uma classe profissional reconhecida em termos sociais – os Guarda-Livros ou Conta-bilistas.A Carta de Lei de 30 de Agosto de 1770, estabelecendo um conjunto de posições tendentes a proteger a Aula de Comér-

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cio e os seus alunos, fazendo beneficiar a economia da nação dos seus úteis e proveitosos conhecimentos mercantis, está na origem do reconhecimento que hoje a Contabilidade pres-ta ao Marquês de Pombal, no sentido de o considerar figura grada e patrono da primeira regulamentação da profissão dos técnicos (oficiais) de contas.Nos oitenta e cinco anos de existência do primitivo estabele-cimento de ensino público da nossa especialidade (1759- -1844), a Aula de Comércio de Lisboa contribuiu para formar agentes de Contabilidade ao serviço de um país que, com Pombal, passou a considerar o Comércio uma nobre profissão.Todavia, como refere Baptista da Costa (1980), a importância da Aula diminui com o advento do século XIX. Por conseguin-

te, em 1844, não causará estranheza a sua despromoção a ensino liceal, numa lógica de perda de autonomia e de privi-légios dos aulistas que a seu tempo devidamente focámos, nomeadamente através da Carta de Lei de 7 de Abril de 1838, a qual não exigia a aprovação na Aula de Comércio para o exercício do ofício de Guarda-Livros. Com a agregação da Aula de Comércio à 4.ª secção do Liceu de Lisboa, o ensino da Contabilidade ficou marcado por um retrocesso de conteúdos programáticos, e até, diga-se, de prestígio institucional. Campos (1859: p. 4) parece estar em sintonia com a nossa apreciação: “é facto que os estudos commerciaes tem decahido sucessivamente, e apesar do que está decretado pode-se affirmar que em Lisboa não existe estabelecimento algum, onde a especialidade, a que nos re-ferimos, seja convenientemente ensinada“.O ensino técnico comercial e o da Contabilidade, por maioria de razão, sofreram ambos com as indecisões políticas muito próprias do XIX século português. Isto será tanto mais verda-de quanto pensamos que, especialmente na primeira metade de oitocentos, nunca terá havido em Portugal uma efectiva e verdadeira aposta no ensino comercial (a situação era, aliás, extensível, ao ensino técnico industrial).A circunstância de, num contexto de Liberalismo, terem tam-bém diminuído os privilégios conferidos aos diplomados de Comércio, fez naturalmente com que os estudantes mostras-sem relutância em candidatar-se a este tipo de ensino, facto demonstrado posteriormente pela pouca procura da formação em Contabilidade ministrada no Instituto Industrial e Comer-cial de Lisboa (IICL) – em média, cerca de cinquenta estudan-

tes por ano, nos primeiros oito da existência do IICL (1870- -1878).No entanto, a institucionalização do Curso Superior de Co-mércio, em 1884, com a consequente entrada na Contabili-dade no ensino superior em Portugal, fez recuperar alguma da dignidade académica da nossa especialidade, perdida com a despromoção do ensino comercial a secundário com a re-forma de Costa Cabral no ano de 1844.O objectivo do artigo foi o de reunir elementos válidos para a discussão das especificidades do ensino comercial e conta-billístico do período a que se seguiu à perda da autonomia da Aula de Comércio de Lisboa, em 1844. Espera-se que a exposição represente uma contribuição científica para o au-

mento do conhecimento sobre as principais etapas identifica-doras da evolução do ensino da Contabilidade na capital de Portugal na segunda metade de oitocentos. Para tanto, uma análise mais aprofundada de fontes primárias relacionadas com os estabelecimentos de ensino pós-Aula do Comércio aqui focados, abrirá novas avenidas de investigação associadas, por exemplo, a saídas profissionais dos discentes, à frequência de alunos mais categorizados, às condições de exercício do magistério dos docentes, ao exame de instituições particulares de ensino da Contabilidade e a um estudo bio-bibliográfico dos professores de Contabilidade que neles te-nham desempenhado funções de docência.Como consequência, vale a pena concluir que, por um lado, se as observações/limitações evidenciadas acima traduzem a convicção de que o trabalho se encontra inacabado, por outro, configuram a saudável expectativa de que podem e devem servir de metas pessoais e linhas de investigação fu-turas, no domínio da História da Contabilidade Portuguesa. Afinal, “a exploração da história da Contabilidade em Portu-gal só agora começou” (Carnegie, 2005: p. 15).

Note bene

No protocolo de citações usaram-se as duas seguintes regras: 1) transcrições textuais longas (mais de 40 palavras, inclusive) – inseridas no texto em linhas retraídas, sem aspas; (2) trans-crições textuais curtas (menos de 40 palavras) – inseridas no texto de forma normal.

A criação do Curso Superior de Comércio, ministrado no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa em 1884, assinala a entrada da Contabilidade como estudo especializado no Ensino Superior em Portugal

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Dedicatória

Este trabalho foi motivado pela leitura do artigo O Ensino da Contabilidade em Portugal – a necessidade de uma Licencia-tura em Contabilidade, de Baptista da Costa (1980), publica-do na Revista de Contabilidade e Comércio, mas apresentado dois anos antes numa comunicação nas I Jornadas de Con-tabilidade, no ISCA, em Aveiro. Foi o pensamento do autor que serviu de mote à presente exposição. Ela é, portanto, dedicada ao Doutor Carlos Baptista da Costa – operoso pu-blicista e extraordinário Professor de Contabilidade (e Audito-ria) em Portugal.

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(*) Menção honrosa, candidato ao prémio B do Prémio de História da Contabilidade “Martim Noel Monteiro”, edição 2010.

(1) Em todo o caso, data de 1816 a referência original em que pela pri-meira vez vimos reproduzida num manual nacional a nomenclatura “Contabilidade”. Cf., expressamente neste sentido, Stockler (1826: p. 372). O compêndio em causa foi impresso no ano de 1826, mas re-digido dez anos antes.

(2) Sobre a primeira Escola de Comércio pública em Espanha (a de Cádiz, criada em 1799, mas inaugurada em 1819) siga-se a Arquero Montaño e Donoso Anes (2005). Para um exame de outras que se lhe seguiram, veja-se, por exemplo, García Fuentes (1984) (Escola de Comércio da Coruña) e Fernández Aguado (1997a, 1997b, 1997c) (Escola de Co-mércio de Madrid).

(3) Embora o curso começasse por ter a duração de um triénio, os pri-meiros cursos excederam em alguns meses os três anos que lhes competiam. O quadro infra (TABELA 2) mostra-nos as datas de inau-guração dos cinco primeiros cursos da Academia:

Tabela 2: Cursos da Aula de Comércio no reinado de D. José (1750-1777) Fonte: Cardoso (1984: p. 89)

Curso Data de Início

1.º 1 de Setembro de 1759

2.º 1 de Julho de 1763

3.º 11 de Junho de 1767

4.º 15 de Fevereiro de 1771

5.º 21 de Agosto de 1776

(4) A secção comercial do Liceu de Lisboa (1844-1869), sucessora da Aula de Comércio, ficará instalada no mesmo edifício.

(5) Com regência a partir de 1792 a cargo do príncipe D. João, futuro D. João VI, como escrevemos.

(6) Verifica-se assim que a implementação do ensino contabilístico e co-mercial no nosso país precedeu em mais de três quartos de século a criação do ensino liceal secundário, facto demonstrativo do interesse e peso históricos da Aula de Comércio no contexto da formação e do ensino em Portugal.

(7) Para uma reflexão séria sobre as relações e articulações Universidade//Politécnico, estude-se Barata-Moura (2009).

(8) Em 1844, Costa Cabral (1803-1889) foi promotor de uma nova refor-ma geral do ensino, oito anos após a de Passos Manuel, também global.

(9) Registe-se que na TABELA 4, segundo Costa (1900), a 2.ª cadeira correspondia à 6.ª cadeira do Liceu e a 4.ª cadeira professava-se na Escola Politécnica de Lisboa (era a 10.º cadeira desta instituição). Os professores que regiam a 1.ª e 3.ª cadeiras eram equiparados, para todos os efeitos legais, aos professores do Liceu Nacional de Lisboa.

(10) Também em Rómulo de Carvalho (2001: p. 595) colhemos esta notícia que reputamos de interesse para a coerência da nossa exposição: “apenas em 1860 é promulgado um regulamento para os liceus que declara o que Passos Manuel e Costa Cabral omitiram: que o curso liceal era de 5 anos“.

(11) Para uma revisão bio e bibliográfica do autor, veja-se Dória (1973) e Carqueja (2002, 2002a). Quanto à importância deste autor para a história da revisão de contas em Portugal, maxime o seu manual Ve-rificações e Exames de Escripta, de 1912, estude-se Guimarães (2004).

(12) A Academia Politécnica do Porto (1837-1911) foi estabelecida em 1837, após a extinção, no mesmo ano, da Academia Real da Marinha e do Comércio da Cidade do Porto (1803-1837). Ministravam ambas o Curso de Comércio. Tinham, portanto, as suas próprias Aulas de Comércio; mas a Politécnica do Porto foi um estabelecimento de en-sino não gratuito (cobrava propinas) e a Academia Real da Marinha e do Comércio foi uma instituição pública (gratuita) de ensino.

(13) “Comprehendendo o estudo da escripturação e contabilidade indus-trial e commercial, seguros, cambios, lettras, exercicios praticos com-merciais e geographia commercial” (Ribeiro, 1873: p. 41).

(14) Art.os 1.º e 2.º do Decreto de 5 de Agosto de 1870 que organiza o ensino comercial no IICL.

(15) Na ausência de leis proteccionistas do ensino comercial em Portugal, somos forçados a questionar, na linha de Beça (1918: p. 21):

de que serve reformar o ensino comercial se aos seus diplomados se não concede o direito de qualquer regalia, se pelo facto de terem uma carta de curso não têm mais garantias legais do que um sim-ples aluno de instrução primária?

(16) Rodrigo Pequito exerceu actividade docente durante 48 anos e desem-penhou um relevante papel, como veremos, como impulsionador do Curso Superior de Comércio, em 1884. Para perfis mais completos deste professor, atenda-se a Carqueja (2002, 2002b).

(17) Desde 1930 que estes estabelecimentos de ensino (ISCEF, depois ISE, depois ISEG) pertencem à Universidade Técnica de Lisboa.

(18) Também os Institutos Comerciais de Aveiro, Coimbra e Porto foram reconvertidos em Institutos Superiores de Contabilidade e Administra-ção.

(19) Ver, neste sentido, Silva (2009). (20) Para apontamentos sobre a evolução do ensino técnico comercial e

contabilístico de finais do século XIX em Portugal, consulte-se a Cos-ta (1925), Rodrigues (1938), Oliveira (1957), Portela (1968) e Gomes (1980).

(21) De acordo com Tavares (1999: p. 32), o ensino comercial elementar “destinava-se a fornecer noções gerais sobre operações de comércio e especiais sobre Contabilidade Mercantil”.

(22) “O ensino comercial preparatório destinava-se a dar instrução prelimi-nar necessária aos indivíduos que se dediquem ao Curso Superior de Comércio” (idem, ibidem).

(23) O professor terá sido ainda o primeiro comercialista a ascender a um cargo de Governo, no caso concreto, a Ministro da Fazenda (Finanças), no ano de 1904.

(24) Na reorganização de final de século, no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, no ano de 1898, a 17.ª cadeira intitulava-se, na íntegra, Contabilidade e Operações Comerciais; Instituições Comerciais.

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As recentes alterações remuneratórias nos Institutos Públicos

Antónia PereiraMestre em DireitoDocente no ensino superior

GESTãO púBLIcA

Entraram em vigor, a 18/Jan/2012, alterações significativas ao regime legal dos Institutos Públicos (IP). Trata-se da Lei n.º 5/2012, de 17/Jan, que altera a Lei-quadro dos IP (Lei n.º 3/2004, de 15/Jan). O que está subjacente a essa alteração é, mais uma vez, o contexto de consolidação orçamental e de redução da despesa pública. Os IP seguem, em regra, um regime comum à generali-dade dos Institutos. Outros, a exceção, seguem um regime especial. É ao nível dos IP de regime comum que se repercutem as alterações agora adotadas. Estabelecem-se dois tipos de limites relativamente aos Con-selhos Diretivos dos IP: por um lado, passam a estar confina-dos a um máximo de dois vogais. Os IP cujos Conselhos Di-retivos tenham uma composição superior, têm 60 dias para procederem à adaptação, o mesmo é dizer, tem 60 dias para proporem as alterações, já que nos encontramos perante matéria, em regra, a aprovar legalmente e, portanto, fora do âmbito decisório dos próprios Conselhos Diretivos. Certo é que, a prazo, isto é, logo que o legislador proceda à aprova-ção da necessária legislação, veremos reduzido o número de elementos de alguns Conselhos, precisamente os que atual-mente tenham mais do que dois vogais. O outro limite que se estabelece é ao nível remuneratório. Os Presidentes dos Conselhos Diretivos dos IP veem reduzido, mais uma vez, o respetivo pacote retributivo, agora por ali-nhamento com os Diretores-Gerais da Administração Pública (DG). Assim, aqueles Presidentes deixam de auferir a remu-neração indexada ao cargo de gestor público e passam a receber a mesma remuneração e despesas de representação dos dirigentes máximos da administração direta do Estado (DG). O mesmo se passa com os vogais desses IP, os quais passam a vencer pela remuneração base e despesas de repre-sentação dos Subdiretores-Gerais. A grande novidade que o legislador introduziu foi sujeitar a estas alterações não apenas os dirigentes que viessem a ser nomeados, mas também aqueles que atualmente se encon-

tram em exercício de funções. Sabendo-se que os mandatos dos atuais Conselhos Diretivos têm a duração de 3 anos, era expectável, na ótica dos visados, que as condições do seu exercício se mantivessem até ao seu termo. Podemos mesmo ver nesses mandatos alguma contratualização, por parte dos dirigentes, quanto mais não seja por adesão às condições remuneratórias que lhes são apresentadas. O mandato era, portanto, de 3 anos, prazo esse e condições remuneratórias que são bilaterais enquanto o mandato estiver a decorrer. Deveriam, portanto, vincular também o ente público. Não é isso que agora se verifica. Os membros dos Conselhos Dire-tivos já nomeados estão abrangidos pelas novas regras e, como tal, passam, a partir de 18/Jan/2012(1), a auferir a re-muneração de Diretor-Geral e de Subdiretor-Geral, isto é, a receber menos. Assim, em cada IP de regime comum, o pro-cessamento remuneratório de Fev/2012 deve ter sido já inferior ao de Jan/2012 pela aplicação dos montantes corres-pondentes a Diretor-Geral ao mês de Fevereiro. No que se reporta ao período de 18 a 30/Jan/2012 deverá ter-se verifi-cado uma de duas situações: a compensação no processa-mento de Fevereiro ou a emissão de guias de reposição para que seja entregue pelos visados o valor recebido em excesso relativamente àquele período. Este alinhamento remuneratório com as Direcções-Gerais con-substancia o afastamento face ao estatuto do gestor público e a adoção, para os IP, de parte do estatuto do pessoal diri-gente da Administração Pública.Durante um determinado período de tempo, assistimos ao boom dos institutos públicos, na sequência aliás da Lei de Bases da Contabilidade Pública (Lei 8/90, de 20/Fev) e demais legislação da década de 90. Operou-se, ao tempo, a transfor-mação de direções-gerais em organismos dotados de autono-mia financeira e personalidade jurídica, devendo em regra estar-lhes subjacente a existência de receitas próprias prove-nientes da respetiva atividade na ordem de 2/3 das despesas totais. A coberto da maior eficiência que gerariam esses IP e do pressuposto, dado como adquirido, de que teriam que

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dispor, para trabalhadores e dirigentes intermédios, de tabelas remuneratórias superiores às da administração direta, foram sendo sucessivamente aplicadas nos IP tabelas remuneratórias casuísticas. A aprovação dessas tabelas não foi uniforme, não seguiu sempre os mesmos trâmites, não é ainda hoje pacífica. O certo é que o pagamento de remunerações, superiores às da AP, foi posto em prática. Em princípio, em matéria remuneratória haveria equilíbrio entre aquelas tabelas e a remuneração dos Conselhos Direti-vos, dado que estes venciam como gestores públicos e, como tal, situavam-se num plano remuneratório superior ao dos seus dirigentes intermédios e trabalhadores. Porém, agora que deixam de auferir como gestores públicos, pode acontecer que as suas remunerações como Diretores-Gerais e Subdire-tores-Gerais sejam inferiores às dos dirigentes intermédios,

porque as remunerações destes não foram (ainda) alteradas no sentido do alinhamento com o estatuto do pessoal diri-gente. Acresce a situação de muitos trabalhadores que terão celebrado contratos de trabalho de valores significativamente superiores aos da AP e que, mercê do abaixamento do valor auferido pelos dirigentes máximos, podem, em 18/Jan/2012, ter ficado a auferir mais do que esses dirigentes, isto é, mais do que os seus superiores hierárquicos. Estes trabalhadores têm, nesta data, um vínculo jurídico-público, encontrando-se ope legis abrangidos por um contrato de trabalho em funções públicas (CTFP) e, como tal, estão integrados nos mapas de pessoal dos IP. Porém, a mesma legislação que operou essa transição de título jurídico (de contrato individual de trabalho para CTFP) assegura a manutenção de condições remunera-tórias desses trabalhadores (Lei n.º 12-A/2008, de 27/Fev). Basta atentarmos nas listas nominativas de transição elabora-das por cada IP em aplicação dessa lei, listas essas que devem estar publicadas nas respetivas páginas eletrónicas, para cons-tatarmos que esses trabalhadores oriundos de contratos indi-viduais de trabalho frequentemente extravasam o nível remu-neratório mais elevado das carreiras da AP. O mesmo não se diga de todos os restantes trabalhadores dos IP, ex-funcioná-rios públicos (atuais trabalhadores públicos), provenientes de direções-gerais, que continuaram sempre, até hoje, a auferir pela tabela remuneratória da função pública. Coexistem, na

atualidade, no mesmo IP, estes trabalhadores com aqueles outros que celebraram contratos individuais de trabalho. Am-bos estão, agora, abrangidos pelo mesmo vínculo e integrados na mesma carreira. Estão sujeitos ao mesmo regime jurídico- -funcional. Porém, auferem remunerações significativamente diferentes. Resta saber se lhes correspondem também funções significativamente diferentes… Ora, sobre este desequilíbrio remuneratório e provavelmente iníquo entre trabalhadores dos IP, ainda não foram adotadas medidas legais tendentes à sua correção. A alteração que agora se introduziu para os Conselhos Dire-tivos, se não for seguida de outras medidas ao nível dos di-rigentes intermédios e dos trabalhadores, é suscetível de in-troduzir entropias nas organizações envolvidas. Aguardemos para ver os desenvolvimentos de tal matéria.

Mas, a alteração remuneratória dos Conselhos Diretivos é mais uma etapa num procedimento legislativo de inflexão do regi-me jurídico dos IP. Na fase florescente dos IP a par de remunerações superiores, assistimos também a significativa liberdade para contratar recursos humanos, à aprovação de normas jurídico-financeiras que asseguravam uma maior autonomia na realização de despesas. O quadro legal, ou a falta dele, radicava numa suposta capacidade dos IP para gerar receita. A pressuposta eficiência impunha o distanciamento das regras supostamen-te “burocráticas” que impendiam sobre os serviços apenas dotados de autonomia administrativa e que, segundo alguns, evidenciavam um controlo excessivo e desajustado face à agilidade de que os IP careciam.Algumas Direcções-Gerais foram, assim, sendo transformadas em serviços personalizados do Estado, outros IP foram sendo criados de origem. Em 2004, é aprovada a Lei-quadro dos institutos públicos numa época em que a tendência para criação de IP era já mais do que isso, já estava consolidada e os institutos públi-cos instalados. Mas, nem todos os IP geravam receita e os que a geravam, nem sempre atingiam 2/3 das despesas. A transformação dos serviços da administração directa revelou-se muito mais uma alteração estrutural e organizativa, uma alteração de regime

Com as alterações significativas ao regime legal dos Institutos Públicos, os Conselhos Directivos dos do regime comum passam a estar limitados a dois vogais e o nível remuneratório dos seus Presidentes passa a estar alinhado com os Directores Gerais da Administração Pública

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jurídico, com os seus custos associados, do que o alargamen-to de funções. Fica a convicção de que a substância, a ativi-dade, ou a missão como passou a ser referida, não sofreu alterações significativas por ser IP, o que mudou foi o enqua-dramento, a estrutura, necessariamente formal. Também nestes casos nos podemos questionar se aquela missão não poderia tão bem ser prosseguida através de ser-viços despersonalizados, sem que para tal seja necessária a forma jurídica de IP e tudo o que lhe está associado, espe-cialmente em matéria de despesa pública. Outra ordem de razões reforça a nossa questão: as receitas geradas pela ati-vidade do IP, se deixassem de ser receitas próprias e passassem a ser diretamente receitas do Estado, geridas em primeira linha por este e não por aquele, não permitiriam afetar as receitas em função de um interesse público mais alargado, tendo em conta as várias necessidades orçamentais num nível mais elevado e transversal? O atual alinhamento da Lei-quadro dos IP com a administra-ção direta do Estado evidencia, em nosso entender, mais uma aproximação às origens dos IP. Já se vinha desenhando essa tendência, através da perda de autonomia de alguns, do controlo da contratação de recursos humanos, da fixação de regras financeiras tendencialmente mais rígidas. Mais recen-temente, as regras de recrutamento e de provimento de diri-gentes intermédios bem como de trabalhadores dos IP pas-saram a ser as mesmas da administração directa. As carreiras, regime laboral e avaliação de desempenho foram uniformiza-dos, com a Lei n.º 12-A/2008, de 27/Fev, Lei n.º 59/2008, de 11/Set e Lei n.º 66-B/2007, de 28/Set, entre outros. Esse alinhamento foi agora alargado, para além da remune-ração, ao processo de recrutamento, seleção e provimento dos dirigentes superiores. Os membros dos Conselhos Direti-vos passam a estar sujeitos ao mesmo tipo de procedimento concursal dos dirigentes da administração direta, sob a inter-venção da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Ad-ministração Pública. O mandato passa a ter a duração de 5 anos, ao invés dos atuais 3 anos, tal como estes.

Porém, as alterações que entraram em vigor a 18/Jan apenas se aplicam aos Conselhos Diretivos dos IP de regime comum. De fora está um significativo número de institutos públicos de regime especial. Já aí se enquadravam as universidades, escolas de ensino superior politécnico e estabelecimentos do serviço nacional de saúde. A essas entidades foi acrescenta-do um outro conjunto de institutos públicos que assim pas-saram a ficar fora do regime comum e a fazer parte do grupo dos muitos IP sujeitos a um regime especial. Este passa, designadamente, por remunerações indexadas aos gestores públicos. Assim, se por um lado foi reduzido o nível remuneratório dos Conselhos Diretivos de muitos IP, por outro foi alargado o número de institutos públicos que passam a vencer como gestores públicos, como resulta do art.º 48.º da Lei n.º 3/2004, de 15/Jan, na redação agora introduzida pelo DL n.º 5/2012, de 17/Jan e do DL n.º 8/2012, de 18/Jan que introduz alte-rações ao estatuto do gestor público.Por último, importa referir que essas alterações remuneratórias para os novos IP de regime especial não produzem efeitos imediatos. Já a redução remuneratória dos Conselhos Direti- vos tem efeitos no processamento de Fev/2012 e retroage a 18/Jan2012, ou através de compensação ou de emissão de guia de reposição nos Cofres do Estado.

(1) O DL n.º 5/2012, de 17/Jan, retroage a 1/Jan/2012 (art.º 7.º), embora em matéria de redução remuneratória os efeitos se produzam apenas a partir da entrada em vigor, isto é, 18/Jan/2012. Nesse sentido, aliás, foi proferido o Despacho n.º 285/2012, do Senhor Secretário de Esta-do da Administração Pública.

A alteração seguida para os Conselhos Directivos, se não for seguida de outras medidas ao nível dos dirigentes intermédios e dos trabalhadores, é susceptível de gerar situações em que estes têm remunerações superiores aos dirigentes de topo.

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Breves notas sobre a actualidade económica

Paulo Nogueira Filho (Jorna lista)

SíNTESE EcONÓMIcA

Nobel da Economia diz que Grécia deve sair do Euro e Portugal ficar

A probabilidade de a Grécia sair da Zona Euro é muito ele-vada, mas Portugal tem “75%” de possibilidades de se man-ter na moeda única, disse em Lisboa o economista norte-americano Paul Krugman. “Ninguém sabe ao certo” como vai evoluir a crise financeira da Zona Euro, disse Krugman numa conferência de imprensa. “Acredito bastante que a Grécia vai abandonar o Euro. Por-tugal deve ficar? Depende do que se passar nos próximos dois ou três anos”, disse o prémio Nobel da Economia de 2008. Krugman recebeu em finais de Fevereiro, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, o grau de Doutor Honoris Causa atribuído pela primeira vez juntamente pelas três uni-versidades públicas de Lisboa (Clássica, Técnica e Nova). Antes da cerimónia, respondeu a uma série de perguntas da im-prensa, afirmando que Portugal “está em muito melhor forma que a Grécia”. Isso, no entanto, é “fraco elogio”, acrescentou Krugman, que também recusou a ideia de que a Irlanda seja um “caso de sucesso” de recuperação face à crise. “Estão sempre a dizer isso, mas a Irlanda não voltou ao cres-cimento nem aos mercados de capitais. Não queiram ser a Irlanda”, afirmou o economista.

Troika aprova nova tranche

O Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, anunciou que o Governo reviu em baixa a sua previsão de crescimento para 2012, prevendo agora uma contração de 3,3%, idêntica à das mais recentes previsões da Comissão Europeia. Na proposta de Orçamento do Estado para 2012, o Governo previa uma contração da economia de 2,8%. As declarações do Ministro das Finanças foram feitas numa conferência de imprensa, no mesmo dia em que a troika anuncia os resulta-dos da terceira avaliação ao programa de ajustamento portu-guês. Vítor Gaspar já disse que Portugal vai receber os 14,6 mil milhões de Euros previstos. O Ministro das Finanças informou também que a taxa de desemprego vai atingir os 14,5% em 2012 e diminuirá “apenas ligeiramente” em 2013. A média prevista pelo Governo no Orçamento do Estado para 2012 era de 13,4%. No quarto trimestre de 2011, recorde-se, a taxa de desemprego atingiu os 14% segundo o Instituto Nacional de Estatística.Na mesma conferência de imprensa, Vítor Gaspar anunciou que o Governo vai avançar com o pagamento de 1500 mi-lhões de Euros em dívidas do sector da saúde, que deverá ser possível já a partir de Abril.O Ministro das Finanças explicou que durante o mês de Mar-ço o Governo terá de entregar à troika um relatório com uma estratégia global para controlar e reduzir estas dívidas atrasa-das, mas que acabou por ter luz verde para fazer os paga-mentos.“Os pagamentos no sector da saúde poderão começar já em Abril, depois da verificação de conformidade dos compromis-sos e da operacionalidade dos mecanismos de controlo pela Inspeção-Geral de Finanças”, disse o governante. O pagamento das dívidas será incluído no Orçamento Retifi-cativo que o Governo pretende apresentar, como já havia dito, até ao final do primeiro trimestre.

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SíNTESE EcONÓMIcA

Em comunicado, a troika composta pelo Banco Central Euro-peu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional considera que a execução do programa de ajuda financeira a Portugal “está no bom caminho”, mas alerta que “subsistem desafios” ao cumprimento do acordo. A missão espera que, em 2012, o PIB português se reduza 3,25 por cento – previsão equivalente aos 3,3 por cento avançados por Vítor Gaspar. No entanto, em 2013, “deverá registar-se uma pequena recuperação, apoiada sobretudo no investimento privado e nas exportações”.A meta estabelecida para o défice orçamental do próximo ano (4,5 por cento) “permanece exequível”, acrescenta a troika, que recomenda, no entanto, “esforços adicionais para recuperar o atraso de Portugal”, nomeadamente a nível dos setores dos “serviços de rede e setores protegidos”. A troika destaca especialmente a necessidade de intensificar os “es-forços de reforma” no setor da energia, em particular da eletricidade.

Gasolina atinge máximos históricos

O preço dos combustíveis atingiu um preço proibitivo para a bolsa dos consumidores portugueses, com a gasolina a ultra-passar em vários postos de abastecimento a barreira psicoló-gica dos 1,7 Euros por litro e o gasóleo a chegar aos €1,549.Este agravamento dos preços dos refinados reflete um au-mento do preço do barril de petróleo. No caso do petróleo do norte da Europa – o Brent –, a cotação do barril chegou aos 124 Dólares em Londres, o que em Euros corresponde a €93,6 por barril.Apesar de poder ser importado gasóleo e gasolina, em Por-tugal as refinarias de Sines e do Porto pertencem ao grupo Galp, que tem vindo a registar margens muito baixas na re-finação, e que chegam mesmo a ser negativas em momentos pontuais.Com esta alta de preços de venda da gasolina e do gasóleo, é previsível que haja uma maior queda no consumo em Por-tugal, o que penalizará as empresas com maior rede de postos de abastecimento, sobretudo a Galp Energia.

Cinco câmaras são responsáveis por 22% das dívidas dos municípios

As Câmaras Municipais de Lisboa, Vila Nova de Gaia, Aveiro, Portimão e Porto foram responsáveis, no ano de 2010, por 22% da dívida global das autarquias. Ainda assim, os dois líderes da tabela foram também os municípios que registaram uma maior diminuição da sua dívida em relação ao ano anterior.Estes dados constam do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2010, recentemente apresentado numa confe-rência promovida pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Con-tas e pela TSF. O documento, coordenado por João Carvalho, da Universidade do Minho, apresenta uma análise económi-ca e financeira das contas das 308 autarquias e do sector empresarial local, incluindo empresas e serviços municipali-zados.No anuário constata-se que na globalidade dos municípios o peso dos passivos financeiros “desceu drasticamente, passan-do para perto de metade do peso que tinha alcançado em 2009, isto é, para 6,6%”. Esta redução é atribuída ao con-trolo do limite ao endividamento estabelecido na Lei das Fi-nanças Locais, que se traduziu “na diminuição do montante total dos empréstimos realizados em 2010, o qual ficou abai-xo do montante utilizado em 2008”. As dívidas de médio e longo prazo baixaram 19,8 milhões de Euros de 2009 para 2010, mas as dívidas de curto prazo subiram 275,4 milhões no mesmo período. “Boa parte da dívida começa a ser suportada pelos fornecedores, o que prejudica os sectores locais e regionais”, constatou João Car-valho, afirmando que esta “é uma situação preocupante”. Mais ainda, se se tiver em conta que em 2010 “mais de metade dos municípios” teve um prazo médio de pagamen-to superior a 90 dias.

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cONSuLTÓRIO

Recibos verdes e/ou facturas

Questão Sócio n.º 5343

Um contribuinte que está obrigado ao envio electrónico da Declaração de IVA e que tem um volume anual de Prestação de Serviços superior a 10.000,00 €/ano é obri-gado a emitir recibos verdes electrónicos? Esse mesmo contribuinte, presentemente emite facturas pelas suas prestações de serviços, será que passará a emitir só o recibo verde electrónico em substituição das facturas? Ou emite a Factura e também o recibo verde electróni-co aquando do recebimento?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. Consideram-se rendimentos empresariais e profissionais (rendimentos da categoria B) – (alínea a), b) c) do n.º 1 do artigo 3.º do CIRS): Alínea a) – «os decorrentes do exercício de qualquer actividade comercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária»; Alínea b) – «os auferidos no exercício, por con-ta própria, de qualquer actividade de prestação de serviços, incluindo as de carácter científico, artístico ou técnico, qualquer que seja a sua natureza, ainda que conexa com actividades de natureza comercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária»; e Alínea c) – «os provenientes da propriedade intelectual ou industrial ou da prestação de informações respeitantes a uma experiência adquirida no sector industrial, comercial ou cientí-fico, quando auferidos pelo seu titular originário».2. Os titulares de rendimentos da categoria B são obrigados (artigo 115.º do CIRS):2.1. – A passar recibo, em modelo oficial, de todas as impor-tâncias recebidas, pelas prestações de serviços referidas na alínea b) do n.º 1 do artigo 3.º do CIRS, ainda que a título de provisão, adiantamento ou reembolso de despesas, bem como pelos rendimentos indicados na alínea c) do n.º 1 do mesmo artigo (alínea a) do n.º 1 do artigo 115.º do Código do IRS);2.2. – A emitir factura ou documento equivalente por cada transmissão de bens, prestação de serviços ou outras opera-ções efectuadas, e a emitir documento de quitação de todas as importâncias recebidas (alínea b) do n.º 1 do artigo 115.º do Código do IRS).3. A Portaria n.º 879-A/2010, de 29 de Novembro, aprovou os «modelos oficiais do recibo, designado de recibo verde electrónico», a que se refere a alínea a) do n.º 1 do artigo 115.º do Código do IRS, e tornou obrigatória a sua emissão «a todos os sujeitos passivos que se encontrem obrigados ao envio da declaração periódica do imposto sobre o valor acres-centado (IVA) ou da declaração de IRS por via electrónica» (n.º 3, do artigo 2.º da referida Portaria).

Esclareça as suas dúvidas

4. Os titulares de rendimentos da categoria B não abrangidos pelo n.º 3 do artigo 2.º do diploma anteriormente referido e que não optem pela emissão de recibos verdes electrónicos, como faculta o n.º 4 do mesmo normativo, podem adquirir nos serviços de finanças recibos em suporte de papel sem preenchimento, ao preço unitário de € 0,10.Face ao exposto, é de concluir o seguinte:1) A emissão de recibos, em modelo oficial, é obrigatória para os titulares de rendimentos da categoria B auferidos no exer-cício, por conta própria, de qualquer actividade de prestação de serviços, incluindo as de carácter científico, artístico ou técnico, qualquer que seja a sua natureza, ainda que conexa com actividades de natureza comercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária e ainda para aqueles que obtenham rendimentos «provenientes da propriedade intelectual ou industrial ou da prestação de informações respeitantes a uma experiência adquirida no sector industrial, comercial ou cien-tífico, quando auferidos pelo seu titular originário».2) Todos os titulares de rendimentos da categoria B obrigados à emissão de recibos, em modelo oficial, conforme 1) «que se encontrem obrigados ao envio da declaração periódica do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) ou da declaração de IRS por via electrónica», estão obrigados à emissão do «reci-bo verde electrónico».3) Todos os titulares de rendimentos da categoria B não abran-gidos pelo n.º 3 do artigo 2.º da Portaria n.º 879-A/ /2010, ou seja, todos os que estando obrigados a emitir recibo, em modelo oficial, mas que não estejam obrigados à emissão do designado «recibo verde electrónico» e que não optem pela sua emissão, como faculta o n.º 4 do referido artigo 2.º, podem adquirir nos serviços de finanças recibos em suporte de papel sem preenchimento, ao preço unitário de € 0,10.Neste sentido, se o contribuinte é titular de rendimentos da categoria B resultantes do exercício, por conta própria, de uma actividade de prestação de serviços e está obrigado ao envio electrónico da declaração do IVA ou da declaração de IRS, está unicamente obrigado à emissão do designado «re-cibo verde electrónico» de todas as importâncias recebidas, de acordo com a alínea a) do n.º 1 do artigo 115.º do Códi-go do IRS e n.º 3 do artigo 2.º da Portaria n.º 879-A/2010, de 29 de Novembro.Nos casos em que o contribuinte aufira rendimentos da cate-goria B resultantes da prestação de serviços não abrangidas pelo disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 3.º do CIRS, ou seja, que não resultem do exercício por conta própria, de qualquer actividade de prestação de serviços, incluindo as de carácter científico, artístico ou técnico, qualquer que seja a sua natureza, ainda que conexa com actividades de natureza co-mercial, industrial, agrícola, silvícola ou pecuária, nestas cir-cunstâncias, terá de emitir factura ou documento equivalente

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cONSuLTÓRIO

por cada prestação de serviço que efectue e emitir documen-to de quitação de todas as importâncias recebidas (alínea b) do n.º 1 do artigo 115.º do Código do IRS. Este documento de quitação não é o «recibo verde electrónico», mas o docu-mento a que se refere o artigo 787.º do Código Civil (alínea b) do n.º 1 do artigo 115.º do Código do IRS).

SP – 2011-05-31

Taxa de Tributação Autónoma sobre as viaturas ligeiras de passageiros em renting/locação operacional

Questão Sócio n.º 8936

As taxas de tributação autónoma elencadas no artigo 88.º do CIRC, são de aplicação às viaturas ligeiras de passageiros em regime de renting/locação operacional?

Resposta do Assessor Fiscal:

O artigo 88.º do Código do IRC é aplicável aos encargos re-lacionados com todas as viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, quer sejam propriedade da empresa, quer estejam a ser usadas ao abrigo de um contrato de locação operacional ou de um contrato de locação financeira. O n.º 5 deste pre-ceito, ao enumerar, a título exemplificativo, vários encargos relacionados com estas viaturas, refere expressamente «rendas e alugueres», pelo que não restam dúvidas que estão também sujeitos a tributação autónoma os encargos relacionados com as viaturas ligeiras de passageiros ou mistas que estejam a ser utilizadas pela empresa em regime de locação operacional ou financeira.

PFC – 2011-06-09

Activos Fixos Tangíveis

Questão Sócio n.º 17932

Um estabelecimento comercial no ramo da restauração cessou a sua actividade. Os seus activos fixos tangíveis possivelmente vão ser vendidos a um profissional para o mesmo ramo de actividade. Estes activos ao serem facturados estão sujeitos a IVA à taxa normal ou podem ser considerados Bens em 2.ª Mão?

Resposta do Assessor Fiscal:

Apenas estão abrangidos pelo regime de tributação pela margem as transmissões de bens em segunda mão, efectua-das por um sujeito passivo revendedor, desde que este tenha

adquirido esses bens no interior da Comunidade, em qualquer uma das condições previstas no n.º 1 do artigo 3.º do DL 199/96,18.10. Não sendo esse o caso que se verifica na situ-ação descrita, a venda dos bens fixos tangíveis do estabele-cimento cessante, ainda que a um profissional do mesmo ramo de actividade (restauração), está sujeita a IVA à taxa normal do imposto, por não ser aplicável na circunstância o disposto no n.º 4 do artigo 3.º do CIVA.

SP – 2011-06-20

Equivalência Patrimonial

Questão Sócio n.º 7140

Empresa faz equivalência patrimonial: debita 41 e cre-dita 78X. Na DR faz a devida correcção, não sendo pro-veito fiscal. Quando recebe os dividendos no ano seguin-te faz o devido lançamento em bancos e conta 41. Existe tributação aquando do recebimento (n.º 8 art.º 18.º CIRC!!)?

Resposta do Assessor Fiscal:

Nos termos do n.º 8 do artigo 18.º do Código do IRC, os rendimentos e gastos, assim como quaisquer outras variações patrimoniais, relevados na contabilidade em consequência da utilização do método de equivalência patrimonial não concor-rem para a determinação do lucro tributável. Os rendimentos provenientes dos lucros distribuídos são imputados ao perío-do de tributação em que se adquire o direito aos mesmos. Assim, no período de tributação em que a quantia correspon-dente à proporção nos resultados líquidos da entidade parti-cipada é contabilizada na conta 78X, ela é deduzida no campo 758 do quadro 07 da declaração modelo 22. No pe-ríodo de tributação em que os lucros são distribuídos, a res-pectiva quantia (ilíquida de retenção na fonte, sendo caso disso) deve ser acrescida no campo 712 do quadro 07. Só deste modo se dá cumprimento à regra estabelecida no n.º 8 do referido artigo 18.º.

PFC – 2011-06-15

Donativos de e para Fundação

Questão Sócio n.º 14454

Na contabilidade de uma Fundação (ainda não oficial-mente reconhecida) mas que nos seus Estatutos tem por fins entre outros a Defesa da Natureza e a Protecção dos animais (entidade sem fins lucrativos).

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A – A Fundação estabeleceu um protocolo com entida-des, algumas que se dedicam à protecção dos animais e que estão declaradas de utilidade pública publicada por LEI, em que até um montante predefinido pagam as facturas que lhe forem emitidas relativas a medicamen-tos ou alimentação para os animais. 1) O IVA destas facturas não é dedutível? 2) O valor total da factura é considerado como donativo aceite fiscalmente bem como a respectiva majoração?B – Quando o seu Fundador ou outra Entidade faz um donativo à Fundação, seja de carácter monetário seja em espécie como é que o mesmo deve ser contabilizado sendo que a maioria das vezes o mesmo vai reverter para apoiar os fins a que a Fundação se propõe?

Resposta do Assessor Fiscal:

1. Só pode deduzir-se o imposto que tenha incidido sobre bens ou serviços adquiridos, importados ou utilizados pelo sujeito passivo para a realização das operações tributáveis (n.º 1 do artigo 20.º do CIVA).2. Se os bens adquiridos pelas entidades protectoras dos animais se destinam ao exercício de uma actividade isenta, o imposto contido nas facturas não é dedutível.3. De acordo com o artigo 61.º do EBF apenas têm relevância fiscal “os donativos em dinheiro ou em espécie concedidos sem contrapartidas que configurem obrigações de carácter pecuniário ou comercial às entidades públicas ou privadas, previstas nos artigos seguintes, cuja actividade consista pre-dominantemente na realização de iniciativas nas áreas social, cultural, ambiental, desportiva ou educacional.4. Nestes termos, apenas estão abrangidos pelo regime do «mecenato» os donativos, ou seja, as prestações de carácter gratuito em que impera o espírito de liberalidade do doador.5. Não existindo esse «espírito de liberalidade» não estaremos perante um «donativo» com relevância fiscal.6. Neste sentido, são considerados custos ou perdas do exer-cício, até ao limite de 8/1000 do volume de vendas ou dos serviços prestados, os donativos atribuídos às «pessoas colec-tivas de utilidade pública administrativa e de mera utilidade pública que prossigam fins de caridade, assistência, benefi-cência e solidariedade social e cooperativas de solidariedade social» (alínea b) do n.º 3 do artigo 62.º do EBF.7. Sendo a entidade protectora dos animais «uma pessoa colectiva de utilidade pública administrativa» como parece resultar da consulta, os «donativos» que lhe sejam atribuídos nos termos referidos são de aceitar como custo do exercício, nos termos da alínea b) do n.º 3 do artigo 62.º do EBF. 8. No caso da pergunta formulada, é óbvio que se a Sociedade Protectora dos Animais tem de pagar uma parte do valor da

factura (até um montante predefinido, como se diz) não esta-remos perante uma «liberalidade», e, nesta circunstância, o valor total da factura não pode ser aceite como um «donativo».A parte B é de natureza contabilística pelo que o assunto deve ser colocado ao assessor da especialidade.

SP – 2011-06-22

Resposta do Assessor Contabilístico:

Embora seja de aplicação obrigatória só a partir do exercício de 2012, sugerimos a utilização do sistema de normalização contabilística para as entidades do sector não lucrativo como instrumento de apoio e de orientação. De acordo com o previsto na Portaria n.º 106/2011, de 4 de Março, que apro-va o Código de Contas Específico para as entidades do sector não lucrativo, os subsídios destinados à exploração, ou seja os que se destinam directamente ao financiamento em di-nheiro ou em espécie das actividades estatutárias da entidade devem ser contabilizados numa conta da classe 7, num caso do Código de Contas, na conta 75 – Subsídios, doações e legados à exploração. Também de acordo com o mesmo Código de Contas, os subsídios de fundadores/associados/ /membros, bem como os donativos que estejam associados a activos fixos tangíveis ou intangíveis devem ser registados numa conta da classe 5 – Fundos patrimoniais, no caso con-creto numa subdivisão da conta 59 – Outras variações nos fundos patrimoniais.

BN – 2011-07-07

IES – Juntas de Freguesia

Questão Sócio n.º 18316

As Juntas de Freguesia, para o ano de 2010, estão obri-gadas a entregar a IES?

Resposta do Assessor Fiscal:

Nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 117.º do Código do IRC, os sujeitos passivos de IRC, ou os seus representantes, são obrigados a apresentar a declaração anual de informação contabilística e fiscal (IES), nos termos do artigo 121.º. Embo-ra os n.os 6, 7 e 8 do artigo 117.º venham permitir a dispen-sa da apresentação da declaração periódica de rendimentos (modelo 22) aos sujeitos passivos que reúnam as condições aí previstas, o certo é que não foi contemplada, nem o artigo 117.º nem o artigo 121.º, qualquer dispensa de apresentação relativamente à declaração anual (IES). Portanto, sendo as Juntas de Freguesia sujeitos passivos de IRC, estão obrigados à apresentação da referida declaração anual (IES).

PFC – 2011-06-28

cONSuLTÓRIO

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BIBLIOGRAfIA

As profundas transformações económicas, financeiras, polí-ticas e sociais ocorridas após a 2.ª Guerra Mundial, espe- cialmente no último quartel do século XX, impulsiona- das pela tecnologia de informação e pela liberalização do comércio, deram origem à mundialização e à globalização, com o consequente acréscimo de concorrência e colocação de novos desafios às empresas e outras organizações produ-tivas.Face aos desafios colocados, a disponibilidade de um ade-quado sistema de controlo de gestão torna-se indispensável e constitui uma ajuda fundamental no sucesso da empresa ou organização envolvida, contexto que impõe a divulgação dos objectivos e das técnicas do controlo de gestão, tarefa para a qual Hugues Jordan, João Carvalho das Neves e José Azevedo Rodrigues prestam há várias décadas um contributo inestimável colocando à disposição dos interessa-dos a obra “O CONTROLO DE GESTÃO ao serviço da estratégia e dos gestores” agora na sua 9.ª edição e edi-ção da Áreas Editora.O Prefácio esclarece de forma inequívoca o pensamento dos autores, os seus objectivos, o conhecimento técnico-científi-co transmitido, o papel do controlador de gestão na orga-nização e as ferramentas à sua disposição.Desde logo aí os autores chamam a atenção para o facto do controlo de gestão nem sempre ser visto com bons olhos pelos gestores, que por vezes lhe atribuem conotações de “policiamento” e “burocratização” da gestão, criando-se barreiras e resistências à sua implementação, visão que nada tem a ver com o sistema em si, mas com a forma como ele é concebido e implantado na empresa.No dizer dos mesmos, a implementação do sistema de con-trolo de gestão não poderá ser feita à revelia dos gestores operacionais, antes pelo contrário, sendo eles os clientes privilegiados do controlo de gestão, os produtos deste de-verão dar resposta às suas necessidades e aos seus interesses, como utilizadores.

Com efeito, o sistema de controlo de gestão deve ser en-tendido como factor de desenvolvimento da empresa, na medida em que, afectando o comportamento dos gesto-res, os orienta no sentido da implementação da estratégia, devendo envolver todos os membros da organização por forma a melhorar os desempenhos individuais e organizacio-nais.Alinhar o presente no sentido da estratégia, significa conce-ber um conjunto de instrumentos orientados mais para o futuro do que para o passado, envolvendo a necessidade de diagnóstico das realidades passadas e presentes e defini-ção de um domínio de actuação para o futuro. A fixação de objectivos, a escolha de planos de acção e a concep- ção de relatórios de acompanhamento e de apoio à deci- são, constituem actividades fundamentais para gerir esse futuro.Influenciar o comportamento organizacional dos gestores significa conceber instrumentos orientados para a motivação e o empenho dos gestores no cumprimento de objectivos alinhados com a estratégia. A definição de uma adequada estrutura organizacional e a flexibilização do funcionamento interno, constituem factores-chave para desenvolver o espí-rito empreendedor do gestor.

O Controlo de Gestão – ao serviço da estratégia e dos gestores9.ª Edição

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BIBLIOGRAfIA

Assim, no entender dos autores, o controlo de gestão não é um domínio de actuação simplesmente do controlador de gestão. São os gestores operacionais os principais actores do processo de controlo de gestão, competindo a estes negociar objectivos, planos de acção, acompanhar as suas realizações e propor medidas correctivas. São, na prática os principais decisores. Ao controlador de gestão compete-lhe dotar o gestor de instrumentos que lhe permitam responder com êxito às exigências anteriores. Assim, a sua função será fun-damentalmente de “design” e “consulta”. O “design” deve estar presente na concepção dos instrumentos e a “consul-ta” na sua implementação e utilização. É esta forma de olhar para os sistemas de controlo de gestão, como instrumentos de ajuda à empresa a ter sucesso, que está espelhada na estrutura do livro que sistematiza esta temática em quatro partes distintas.Na parte introdutória, que compreende o capítulo I, des- creve-se a filosofia geral que deve estar presente num siste-ma de controlo de gestão e as suas fases de desenvolvi- mento.Na segunda parte trata-se dos instrumentos de pilotagem, ou seja, dos produtos que o controlo de gestão pode ofe- recer aos gestores. Compreende os capítulos II a V que de-senvolvem os principais aspectos relacionados com o pla- neamento e o acompanhamento das realizações. A arti- culação desses instrumentos e a sua adequação às neces- sidades e ajuda dos gestores constituem factores chave na sua escolha.Na terceira parte incide-se sobre uma estrutura organizacio-nal baseada em centros de responsabilidade, sistemas de preços internos e modelos de avaliação do desempenho, procurando-se demonstrar de que forma a estrutura pode orientar as decisões dos gestores no sentido da estratégia da empresa. Compreende os capítulos VI a IX, que incidem sobre um conjunto de conceitos virados para o dinamismo dos gestores e a criação de um espírito empreendedor.Por último, a quarta parte trata dos aspectos relacionados com a concepção e implementação do sistema de controlo de gestão. Compreende os capítulos X e XI que incidem sobre as necessidades de diagnóstico do sistema de contro-lo de gestão e sobre o papel do controlador de gestão em todo o processo de controlo.

Os autores são sobejamente conhecidos, pela sua vasta acção, nomeadamente como formadores no CIFAG – Centro de Informação, Formação e Aperfeiçoamento em Gestão do IPE – Instituto das Participações do Estado, como docentes, profissionais nos domínios da contabilidade e auditoria e autores de um elenco significativo de obras.Em termos sintéticos:

Hugues Jordan é professor na HEC (Paris) desde 1970, consultor e professor visitante em empresas e instituições de formação na Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Itália, Mé-xico, Portugal e Uruguai e ainda autor ou co-autor de vários livros e dirigente da Associação para o Desenvolvimento do Controlo de Gestão (França)

João Carvalho das Neves é Presidente da ACSS – Admi-nistração Central do Sistema de Saúde desde 2011, Cate-drático do ISEG, autor ou co-autor de vários livros, tendo sido administrador do Grupo SLN e do BPN, sócio e ROC da “Neves, Azevedo Rodrigues e Batalha, SROC” e professor convidado em HEC.

José Azevedo Rodrigues é professor associado convidado do ISCTE, revisor oficial de contas e sócio da “ABC – Aze-vedo Rodrigues, Batalha e Costa, SROC”, Membro do Con-selho Directivo da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, consultor de empresas no domínio da concepção e imple-mentação de modelos de controlo de gestão e autor e co- -autor de um número significativo de livros.

TÍTULO: O CONTROLO DE GESTÃO AO SERVIÇO DA ESTRATÉGIA E DOS GESTORES

AUTORES: Huges Jordan João Carvalho das Neves José Azevedo RodriguesEDITORA: Áreas Editora

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BIBLIOGRAfIA

O motivo deste apontamento é o livro com o título Before and after Luca Pacioli, editado por Esteban Hernandez Y Matteo Martelli.O livro contém as diversas comunicações apresentadas pelas personalidades que enriqueceram o evento realizado em Itália em Junho de 2011, nas cidades de Sansepolcro, Perugia com encerramento em Florença, sob a designação “II Inter-national Conference – Before and after Luca Pacioli”. Esteban Hernandez, presidente da Comissão de História da Contabilidade da AECA e Matteo Martelli, director do Centro Estudo “Mario Pancrazi” e de “La Societá Italiana di Storia della Ragioneria” tomaram em mãos a tarefa árdua de reu-nirem em 911 páginas todas as matérias apresentadas e discutidas na conferência acima referida.O livro inicia-se com a apresentação da conferência num capítulo designado por INDICE, segue a PARTE PRIMA que versa fundamentalmente sobre a importância da matemática e da aritmética comercial antes mesmo da Summa de Luca Pacioli. Encontram-se duas comunicações muito interessantes neste capítulo que respeitam ao estudo da contabilidade na China e Turquia no tempo de Luca Pacioli.Mesa Redonda – INTERMEZZO, o capítulo do livro onde en-contra vários trabalhos sobre a historia da contabilidade que serão também história económica.PARTE SECONDA onde se encontram as intervenções que relatam a vida académica de Luca Pacioli, como professor de matemática e divulgador das partidas dobradas.

O livro da II Conferência Internacional – BEFORE AND AFTER LUCA PACIOLI

Segue-se as intervenções das SESSIONI PARALLELE onde se encontram dois trabalhos de investigadores portugueses. Em APPENDICE entre outros o tema Pacioli e la costruzione della Modernitá que realça a importância da contabilidade na era actual do capitalismo.O livro encerra com um Documentário Fotográfico e com os agradecimentos às entidades colaboradores e apoiantes da Conferência.A APOTEC para além de ter feito parte das entidades apoian-tes esteve representada por 11 participantes, sete dos quais membros do Centro de Estudo da História da Conta-bilidade.

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Protocolo APOTEC-OPACC-CV em acção

No âmbito do Protocolo de Cooperação entre a APOTEC e a Ordem Profissional dos Auditores e Contabilistas Certifica-dos de Cabo Verde, o Dr. José Araújo esteve nas Ilhas de Cesária Évora na semana de 13 a 17 de Fevereiro de 2012, tendo orientado a acção “SNCRF – Prática de aplicação das Normas de Relato Financeiro”, que decorreu na cidade da Praia nos dias 13 e 14/2 e na cidade do Mindelo nos dias 16 e 17/2.O Dr. José Araújo deslocar-se-á novamente a Cabo Verde na semana de 12 a 16 de Março, para assegurar a acção “Encerramento de contas no contexto do SNCRF”.O SNCRF – Sistema de Normalização Contabilística e de Relato Financeiro vigora em Cabo Verde desde 2009, na se-quência da adaptação às Normas Internacionais de Relato Financeiro.

Eleições Secção Regional do Porto

Dia 12 de Abril de 2012, pelas 17 horas, na sede da Secção Regional do Porto, na Av. dos Aliados, n.º 162, 2.º Esq. Fte., no Porto, realizar-se-ão as Eleições para os Corpos Sociais Regionais da Secção Regional do Porto da APOTEC, tendo a Convocatória sido remetida a todos os Associados dessa região.A Convocatória está também disponível para consulta em www.apotec.pt

Regulamento de Formação de Créditos – Condenação da OTOCPonto da Situação

Como é do conhecimento público correu termos um proces-

so instaurado pela Autoridade da Concorrência contra a

OTOC a propósito do “Regulamento de Formação de Créditos”. Este processo teve início em Julho de 2007.

Tal processo culminou em 29-04-2011 com uma sentença do

Tribunal de Comércio condenando a OTOC, por considerar

que as práticas em causa eram ilícitas e declarando nulas as

normas constantes do dito Regulamento de Créditos e que

violam normas vigentes, as quais por este motivo perderiam imediatamente a sua eficácia.

Sucede que a OTOC, fazendo uso dos mecanismos proces-

suais existentes, e tendo como objectivo prolongar este

processo o máximo possível, recorreu da sentença que a

condenou.

Ou seja, tendo já existido uma condenação da OTOC em sede

de Autoridade da Concorrência, seguida de uma outra con-

denação em sede de Tribunal Judicial, não será já por convic-

ção mas apenas para adiar os efeitos práticos que resultam

daquelas Decisões.

Também o Ministério Público se pronunciou entretanto pela

confirmação da condenação da OTOC.

Em suma, o processo encontra-se agora no Tribunal da Rela-

ção, sendo que a OTOC já solicitou que o mesmo seja apre-

ciado no Tribunal de Justiça da União Europeia.

Quando depois, este processo chegar de novo ao Tribunal da

Relação e o Acórdão for proferido, a OTOC certamente e

usando mais uma vez um mecanismo processual legalmente

ao seu dispor, encaminhará o processo para o Tribunal Cons-

titucional.

O presente texto informativo destina-se a dar conhecimento

aos muitos interessados de que o referido processo não

morreu.

Pelo contrário, o Regulamento em causa já sofreu portanto

duas claras condenações, só se encontrando ainda em vigor,

por força dos sucessivos expedientes legais utilizados pela

OTOC visando evitar o que já duas instituições com credibili-

dade indubitável (Autoridade da Concorrência e Tribunal do

Comércio) determinaram!

Resta aguardar que o tempo decorra, se esgotem os recursos

e a justiça finalmente impere, para que a liberdade de escolha

da formação seja uma realidade para os Técnicos Oficiais de

Contas.

NOTIcIÁRIO

Actualidades / Notícias

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NOTIcIÁRIO

VII Jornada de História da ContabilidadeCentro de Estudos e História da Contabilidade da APOTECLisboa. Auditorio do Montepio Geral.

Integrado nos eventos comemorativos do 35.º aniversário da Associação, o Centro de Estudos de História da Contabilidade (CEHC) da APOTEC levou a efeito no passado dia 16 de Fe-vereiro de 2012, em Lisboa, no aprazível Auditório do Mon-tepio Geral, a VII Jornada de História da Contabilidade, su-bordinado ao tema geral “Histórias da Contabilidade Ibérica”.Estiveram presentes cerca de oitenta personalidades do do-mínio da história da contabilidade e vários investigadores convidados, nomeadamente: Hernâni Carqueja; Manuel Benavente Rodrigues; Rita Martins de Sousa; Juan La-nero; Esteban Hernandez Esteve; Joaquim A. Cochi- cho; Olga Silveira; Miguel Gonçalves; Maria da Concei-ção da Costa Marques; Matilde Estevens e António Campos Pires Caiado.

A Sessão de Abertura foi presidida pelo Senhor Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins.A abrir a Sessão, usou da palavra o Presidente da Direcção Central da APOTEC, Manuel Patuleia, que saudou os convi-dados, os oradores, os participantes, congratulou-se com a realização do evento, endereçou um especial agradecimento ao Montepio Geral e a todas as entidades e personalidades que apoiaram a realização da Jornada e apresentou uma síntese dos principais marcos e actividades relevantes da APO-TEC ao longo dos 35 anos da sua existência.No seu discurso, após agradecer o convite para presidir à Sessão de Abertura da VII Jornada, o Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins realçou o prestígio da APOTEC sobretudo quanto se fala de boas contas e frisou quão importante é o conhecimento do percurso histórico, que nos aponta os caminhos do aperfeiçoa-mento. A propósito chamou à colação o exemplo do Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo, que se reunia aos domingos com os responsáveis pelas suas contas particu-lares/privadas e exigia o uso das partidas dobradas no sentido de assegurar a prestação de boas contas, pois “quem não tem boas contas privadas também não tem boas contas pú-blicas”.Ainda no âmbito da Sessão de Abertura e da entrega do Prémio de História da Contabilidade, assinalamos o apelo lançado pelo Professor Eduardo Paz Ferreira, Presidente do IDEF – Instituto do Direito Económico, Financeiro e Fiscal, a um permanente grito de revolta no sentido de obstar a que o acelerado quotidiano, e a noção de produtividade

Almoço Comemorativo 35.º Aniversário da APOTEC

No âmbito das comemorações do 35.º Aniversário da APOTEC – Associação Portuguesa de Técnicos de Conta-bilidade, lembramos no próximo dia 17 de Março 2012 decorreu o Almoço Comemorativo, em Coimbra – Ceira, conforme divulgação efectuada e cuja noticia daremos des-taque na próxima edição deste Jornal.No decorrer deste ano mais iniciativas terão lugar. Celebre com a APOTEC estes 35 anos de serviço aos Profissionais da Contabilidade e da Fiscalidade!

Reuniões Mensais 2012Secção Regional de Braga

Calendário de Reuniões Livres, gratuitas, a decorrer na Secção Regional de Braga, das 21h30m às 23h00, assessoradas pelo Dr. José Soares Roriz.

Mês Dias

MAR. 26

ABR. 23

MAI. 28

JUN. 25

SET. 24

OUT. 29

NOV. 26

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habitualmente veiculada, ponha em causa reflexões como as possibilitadas pelas Jornadas da História da Contabilidade.O programa da VII Jornada de História da Contabilidade, di-vulgado de forma resumida no Jornal de Contabilidade, en-contra-se disponível no sítio da APOTEC.

No Tema I “O Século XX” Esteban Hernandez Esteve, Pre-sidente de la Comision de Historia de la Contabilidad de AECA – España e Conselheiro Correspondente do CEHC da APOTEC, abordou “La Revolución Contable de Comienzos do Siglo XX”; e Joaquim António Calado Cochicho, Conselheiro do CEHC, “A Contabilidade e a Imoralidade no Estado Novo (Anos 30 e 40)”.A intervenção de Esteban Hernandez, foi dedicada à análise das novas ideias surgidas nos inícios do Século XX sobre os objectivos e fins da contabilidade.Joaquim Cochicho na sua comunicação salientou que a Con-tabilidade Pública, nos anos 30 e 40 do século XX, foi um instrumento decisório na moralização da política económica e social de Salazar.

O Tema II “O Século XVIII” teve como oradores: Hernâni Olímpio Carqueja, Presidente do Conselho Científico do CEHC da APOTEC, acerca de “Mathieu DE LA PORTE, e a CIÊNCIA dos Negociantes (1704)”; Manuel Benavente Rodrigues, Pre-sidente do Conselho Executivo do CEHC da APOTEC, sobre “Os Homens do Erário Régio”; Rita Martins de Sousa, Mem-bro do Conselho Científico do Gabinete de História Económi-ca e Social do ISEG e Conselheira do CEHC da APOTEC, acerca “Alterações das práticas contabilísticas na Casa da Moeda de Lisboa (século XVIII)” e Juan Lanero, da Universi-dade de León – España e Conselheiro Correspondente do CEHC da APOTEC, sobre “De Bristol a Espanã Passando por Francia: La Controvertida Propuesta de um Método Inglês de Teneduria de Libros (1796)”.Hernâni Olímpio Carqueja, na sua intervenção, tomou por objectivo esclarecer o contributo de Mathieu DE LA PORTE para o aperfeiçoamento e divulgação das partidas dobradas e, especialmente, registar a aparente utilização do texto “por perguntas e respostas” pelo autor anónimo do «Tratado sobre as Partidas Dobradas», editado em português, em Turim, em 1764.Manuel Benavente Rodrigues, na sua comunicação “Os ho-mens do Erário Régio” teve como objectivo descortinar o percurso social e profissional de uma parte dos funcionários do Erário Régio e aquilatar das continuidades e rupturas que aconteceram com as reformas pombalinas no que respeita aos actores que exerciam o controlo das Despesas e Recitas do Reino.

A intervenção de Rita Martins de Sousa, sobre “Alterações das práticas contabilísticas na Casa da Moeda de Lisboa (sé-culo XVIII)”, teve como finalidade explicar a alteração das práticas contabilísticas na Casa da Moeda, enquadrando-as na difusão da contabilidade por partidas dobradas na esfera pública, em Portugal, na segunda metade do século XVIII.Seguiu-se a comunicação de Juan Lanero “De Bristol a Espa-nã Passando por Francia: La Controvertida Propuesta de um Método Inglês de Teneduria de Libros (1796)”.

No Tema III “O Século XIX”, foram oradores: Olga Silveira, Conselheira do CEHC da APOTEC, que abordou “Da organi-zação do orçamento português de 1820 a 1850; Miguel Gonçalves e Maria da Conceição Marques do ISCAC (Institu-to Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra) e Conselheiros do CEHC da APOTEC, sobre “Evolução do ensi-no da Contabilidade em Portugal na 2.ª metade do século XIX: uma análise histórica, 1844-1888”; Matilde Estevens, Conselheira do CEHC da APOTEC, acerca de “A Escripturação Commercial e Bernardo Moreira de Sá” e; António Campos Pires Caiado, Presidente do CEHC da APOTEC, sobre os “Os Custos de Produção na Literatura Contabilística em Portugal no Século XIX”.Na sua exposição a propósito “Da organização do orçamento português de 1820 a 1850”, levou os presentes de forma quase directa ao momento actual das finanças públicas por-tuguesas, Olga Silveira destacou o espaço de relevante impor-tância e inovação que os debates parlamentares ocuparam durante a monarquia constitucional.Na sua comunicação sobre “Evolução do ensino da Contabi-lidade em Portugal na 2.ª metade do século XIX: uma análise histórica, 1844-1888”, Miguel Gonçalves e Maria da Concei-ção Marques definiram como objectivo contribuir para o aumento do conhecimento associado às escolas difusoras dos saberes contabilísticos no Portugal Oitocentistas e examinar os principais marcos identificadores da evolução do ensino da contabilidade no XIX século português. Na sua comunicação sob o título “A Escripturação Commercial e Bernardo Moreira de Sá”, este celebre cultor da música clássica e que compilou a obra “Guia de Correspondência e Escripturação Commercial”, Matilde Estevens sintetizou as principais ideias a reter.António Campos Pires Caiado, na sua comunicação “Os cus-tos de produção na literatura contabilística no século XIX”, após explanar os aspectos fundamentais relacionados com os conceitos de custos de produção e objectos de custo, custos directos e indirectos e sua relevância na época da produção artesanal e da produção mecânica, das implicações da Revo-lução Industrial nos custos de produção e de se referir à lite-ratura contabilística na 1.ª metade do Século XIX, identifican-

NOTIcIÁRIO

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NOTIcIÁRIO

do as obras públicas e o tratamento que deram aos custos de produção.Tal como previsto, a anteceder a Sessão de Encerramento, José Joaquim Marques de Almeida, Presidente do Conselho Científico do ISCAC, desenvolveu o tema “Evolução Histórica da Contabilidade e da Pintura: uma visão macro das seme-lhanças e diferenças”.

Na Sessão de Encerramento, Maria Teresa Neto, Vice-Presi-dente da Direcção Central da APOTEC, congratulou-se com a excelência da Jornada, renovou os agradecimentos aos

oradores, aos presentes, ao Montepio Geral e a todos quan-tos contribuíram para o sucesso do evento e concluiu lançan-do a todos os membros do Centro de Estudos de História da Contabilidade da APOTEC o repto do alargamento e aprofun-damento do magnífico trabalho já desenvolvido.A concluir, registamos a triste notícia do falecimento do Pro-fessor Rafel Donoso, da Universidade de Sevilha, e a home-nagem que lhe foi prestada por Juan Lanero e à qual se as-sociaram Rita de Sousa e os participantes na VII Jornada de História de Contabilidade, organizada pelo Centro de Estudos de História da Contabilidade da APOTEC

Sessão de Abertura

Sessão de Encerramento

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