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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”,ao abrigo da Lei do Mecenato.

N.º 28 - Outubro / Novembro / Dezembro 2005Propriedade e edição:GECoRPA – Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor CóiasCoordenação: Cátia MarquesConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número:A. Jaime Martins, Alexandra Curvelo, AméliaDionísio, António Vicente, Carlos Ferreira, Carlos Mesquita, Dora Ferreira, Francisco SousaLobo, Francisco Vizeu Pinheiro, João Varandas,José Manuel Fernandes, José Maria Lobo deCarvalho, Mário Gouveia, Mário Nascimento,Miguel Brito Correia, Miguel Silva, Nuno Teotónio Pereira, Walter Rossa

Design gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua de D. Estefânia, n.º 22 – 1º Dt.º 1150-134 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Onda Grafe – Artes Gráficas, Ld.ªRua da Serra, n.º 1 – A-das-Lebres 2670-791 S.to Antão do TojalDistribuição: VASP S.A.

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548ISSN: 1645-4863Tiragem: 3000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

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Ficha Técnica 2EDITORIAL

44CONSULTÓRIO GECoRPA

49ASSOCIADOS GECoRPA

4REFLEXÕES

Capa

Forte de Jesus em Mombaça (Quénia)Foto: Rui Ochôa

Património Português no Mundo

Valorização do património urbanístico português

(Walter Rossa)

9ENTREVISTA

João Pedro Garcia, Fundação Calouste Gulbenkian

Conservação do património português no mundo

(Dora Ferreira)

26PROJECTOS & ESTALEIROS

Torre de MindeloRecolha da informação de suporte à

elaboração do projecto da intervençãoestrutural

(Carlos Mesquita e António Vicente)

“Património Português no Mundo”(José Maria Lobo de Carvalho)

ICOMOS: 40 anos pelo património(Miguel Brito Correia)

43e-pedra e cal

14CASO DE ESTUDO

A Fortaleza Real de S. Filipe(Francisco Sousa Lobo)

22PATRIMÓNIO MODERNO

Património construído moderno lusófono:um valor a reconhecer e proteger

(José Manuel Fernandes)

52PERSPECTIVAS

Ainda o levantamento do património construído…

…Um notável empreendimento nos Açores

(Nuno Teotónio Pereira)

7Arte colonial portuguesa dos séculos XVI – XVIII:

breve perspectiva(Alexandra Curvelo)

30Reabilitar fachadas revestidas

a pedra ou ladrilhoEm busca da solução ideal

(Blau, Ld.ª))

17Centro histórico de Macau classificado

como Património Mundial(Francisco Vizeu Pinheiro)

24A embaixada de Portugal em Londres:

um projecto decorativo(Mário Gouveia e Mário Nascimento)

48PERFIL DE EMPRESA

36NOTÍCIAS

39AGENDA

40VIDA ASSOCIATIVA

42DIVULGAÇÃO

“Salitre”: o que é, como se forma e comominimizar os seus efeitos?

(Amélia Dionísio)

31PREVENÇÃO & PLANEAMENTO

Iniciativa “TI – Transparência Internacional”Para combater a corrupção em

empreendimentos de construção(Transparency International)

34AS LEIS DO PATRIMÓNIO

O preço “anormalmente” baixo nas empreitadas de obras públicas

(A. Jaime Martins)

28Museu José Malhoa

Reabilitação da cobertura e sobre-céu da Sala Cinco

(João Varandas)

29MATERIAIS & SERVIÇOS

Placa Onduline PlusNovidade em Portugal…

(Carlos Ferreira e Miguel Silva)

46LIVRARIA

01-01 Ficha+Sum.qxp 12/13/05 4:29 PM Page 1

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 20052

EDITORIAL

Por onde andaram, os Portugueses construíram. Sobretudo fortalezas, para defender as praças e feitorias onde se es-tabeleceram, mas também igrejas e outras construções religiosas, palácios para alojamento dos representantes do po-der, ou simples habitações e lojas destinadas aos colonos e ao seu comércio. Assim aconteceu por todo o império, des-de as capitanias do Brasil até às costas da Malásia, de Timor e da China. Assim aconteceu na África Ocidental e Orien-tal portuguesas. Obras que foram feitas para durar, e duraram. Construções que os descendentes dos antigos coloni-zados hoje prezam e de que nós nos podemos orgulhar, testemunhos que são de uma gesta, por vezes truculenta mas,no todo, engrandecedora.

Construíram e continuam, hoje em dia, a construir. Mas em vez de o fazerem em paragens longínquas, os portugue-ses de hoje preferem construir no seu próprio quintal. E a construção deixou de ser ditada pela necessidade de defen-der contra a cobiça das potências rivais ou a agressividade de um ambiente inóspito: passou a ser, vezes de mais, o re-sultado de uma conjugação de interesses ilegítimos e ligações sombrias. Também deixou de ser feita para durar: Emvez de séculos, os novos construtores contentam-se com escassas décadas.

Começa-se, agora, a ver que não pode ser assim e, por todo o mundo, os decisores começam a aceitar que a geração aque pertencem tem um dever em relação às gerações que se seguirão, dever esse bem expresso no compromisso éti-co para a sustentabilidade na engenharia civil do ECCE (Conselho Europeu dos Engenheiros Civis):

“Empregaremos a nossa determinação e influência profissional para o benefício do bem-estar das futuras geraçõesde todo o mundo”.

Volta-se, esperemos, à boa construção: à obra que não é feita para satisfazer a cupidez de certos promotores ou a am-bição de certos autarcas, mas no interesse da sociedade no seu conjunto, tendo em conta que não somos donos dos recursos, mas apenas, e durante um certo tempo, seus gestores e usufrutuários. Sendo o edificado e a infra-estruturaconstruída a principal parcela do investimento fixo de um país, boa construção significa ajudar a gerir bem esse inves-timento, mantendo-o em bom estado e prolongando a sua vida útil. Boa construção significa construir apenas onde épreciso e apenas o que é preciso. Por isso, em lugar de tentarem espremer o depauperado PIDDAC, ou os magros orça-mentos das autarquias, os construtores portugueses devem concentrar-se numa nova e nobre missão: partir para os locais onde as populações realmente deles precisam, curiosamente, muitos dos lugares onde os construtores portugue-ses do passado deixaram obra durável. Em vez de se baterem, neste rectângulo já tão betonizado, por mais projectos faraónicos, de utilidade e rentabilidade duvidosa, devem dirigir a sua influência e o poder do seu lóbi para os centros dedecisão comunitários. Portugal, com a experiência que lhe advém do facto de ser uma das três mais importantes antigaspotências coloniais africanas, está em posição de vantagem para, através dos seus empreiteiros, contribuir para a me-lhoria das condições de vida das populações do continente negro e, com isso, tirar partido dos fundos que a Europa para tal vai canalizar.Alguns empreiteiros portugueses já disso se aperceberam e já estão no terreno. É preciso que outrossigam o exemplo e a febre construtora baixe em Portugal, a bem do que resta do nosso património natural e das nossascidades e aldeias históricas. É preciso que a boa construçãosubstitua a má construção.

Vítor Cóias

Boa e má construção

02 Editorial 12/7/05 5:11 PM Page 2

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

GECoRPA

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Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Conservação e Restauro doPatrimónio Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

ONDULINEMateriais de Construção, S.A.

03-03 Quadro de Honra.qxp 12/7/05 5:12 PM Page 3

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REFLEXÕES

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Tema de Capa

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Assim tem acontecido com a temáticada reabilitação urbana, sendo esta en-tendida segundo as vertentes econó-micas, sociais e culturais mais corren-tes e actuais, mas também tendo ematenção que reabilitação urbana não éo mesmo que reabilitação urbanísticae que, se esta pode ser menos interes-sante do ponto de vista económico eaté social, a verdade é que é nesse do-mínio — o da fisionomia urbana (ur-banismo) e da sua história — a pers-pectiva cultural do património tem lu-gar e eixos para a acção.Urbanismo e sociedade interagem deforma incessante e dinâmica, mas a so-ciedade e a economia evoluem segun-do processos e ritmos completamentediversos dos que ocorrem no edifica-do. Com maior lentidão, o suporte físi-co — o urbanismo — integra e sinteti-za as transformações decorrentes doprocesso histórico, mantendo-as noactivo que oferece à comunidade.Num cenário de grandes mutações só-cio-económicas, o património urba-nístico fica sujeito a permanentes ame-

aças, mas também a acções criativasde desenvolvimento. É um patrimó-nio histórico pela acumulação e expe-riência, vivo e actual porque necessa-riamente contemporâneo. Pode su-portar ciclos de pujança/depressão,alterações funcionais e/ou sócio-eco-nómicas, modernizações infra-estru-turais, etc., tudo isso num processo dedesenvolvimento pensado segundouma lógica de salvaguarda. Nãoaguenta é o vandalismo economicista,novo rico, a obra arbitrária descontex-tualizada e sem conceito sócio-cultu-ral como sinónimo de progresso.Vem isto bem a propósito do convitepara uma visão global e necessaria-mente breve sobre o património urba-nístico de matriz portuguesa no mun-do, aquilo que um projecto promovi-do pela Comissão dos Descobrimen-tos entre 1997 e 2001 designou por Universo Urbanístico Português 1415--1822 [UUP]. E porquê? Porque o quenele basicamente nos surpreende éque na sua espantosa diversidade decontextos sociais, económicos e geo-

gráficos, seja quase imediata a per-cepção de algo de comum, quer na for-ma de ocupar o território, quer no am-biente que caracteriza cada um dosseus espaços públicos. Todos tão ób-via e materialmente diversos, todostão imediatamente familiares.Durante décadas procuraram-se eavançaram-se explicações para a coin-cidência de tais experiências de identi-dade sensorial, mas cedo se verificavaque qualquer uma delas serviria parajustificar paralelos ou semelhançascom outras culturas urbanísticas. Afi-nal de contas os traçados e a morfolo-gia urbanos são extraordinariamentediversificados, mesmo aqueles onde amatriz fundacional foi determinadapor um desenho prévio. Igual sucedecom os materiais e as cores dos edifí-cios, as texturas e os detalhes decorati-vos, etc..O que separa a arquitectura do urba-nismo é apenas uma questão de âmbi-to e escala, não o método, sendo este aessência da arquitectura, quer naacção projectual quer na reflexão críti-

Valorização do patrimóniourbanístico português

No convite para a elaboração des-te texto a dado momento lê-se:“a P&C tem procurado de-monstrar que o patrimónioarquitectónico do País é muitomais do que igrejas e castelos”.Nesse “mais” tem cabido mui-to, designadamente a arquitec-tura que além da monumentalfaz cidade, os edifícios queconsubstanciam a identidadeespacial e paisagística dos nú-cleos urbanos.

Praça em Cachoeira — Bahia, Brasil

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ca e analítica. Urbanismo não é maisdo que a arquitectura da cidade, pois oprocesso de composição urbana éigual ao da arquitectura, sendo issomuito evidente precisamente no UUP.Há uma grande diferença no tempo,nas dinâmicas de concretização, mas averdade é que também há uma arqui-tectura de tempo urbano, sem idade. Éprecisamente a tal arquitectura que,sem referencial ou ambição monu-mental, faz cidade.Na maior parte dos casos no UUPeram as mesmas pessoas quem deter-minavam as características do traçadourbano e da sua morfologia, mas tam-bém as da arquitectura dos edifíciosque os consubstanciaram. Frequente-mente eram essas mesmas persona-gens quem, residindo e trabalhando,construindo, administrando e advo-gando, acabavam por contribuir paraa urbanidade dessa nova realidade ur-banística. Faziam-no repetindo pro-cessos e soluções com especial solici-tude, pois sabiam da sua eficácia. Acriatividade estava mais na sagezaexercida na interpretação do lugar, doque na inventividade e composição denovas formas arquitectónicas.Essas personagens tinham origens eestatutos variados, de juristas a milita-res, de clérigos a nobres, mas tinhamintuída uma lógica e uma dinâmica de

organização espacial que podemosconsiderar sintetizada pela engenhariamilitar portuguesa, em especial ao lon-go do século XVIII. É essa a idade áureada urbanização, do reconhecimento,formação e urbanização do actual terri-tório brasileiro. Tão resplandecenteque todos se julgavam uma elite que al-guns pretenderam ver a governar o rei-no. Não era caso para menos.Para trás, para além de uma marcanteenão descontinuada experiência de re-ordenamento do suporte territorial danova realidade nacional durante a Bai-xa Idade Média, estavam dois séculosde experiência-erro na ocupação e or-denamento de novos territórios, comvelhos ocupantes muito diversificadose em contextos geo-políticos e civiliza-cionais bem diferentes: no Magreb, nasilhas do Atlântico, na América do Sul,no Hisdustão, no Ceilão e até no Extre-mo Oriente. Nos últimos destes casos,mas em especial na Índia, dinâmicassociais mais recentes produziramtransformações radicais. Ali as matri-zes da arquitectura e do urbanismoportugueses foram apenas um contri-buto de percurso para a cultura do ter-ritório autóctone. No Brasil não. NoBrasil são a matriz, o material seminalde todo os sistema urbano e territorial.A lógica global do Império acabou porlevar a que todos os seus agentes agis-

sem com base em protocolos de matrizmilitar, notoriamente nas acções de or-denamento e urbanização do(s) territó-rio(s): disciplina, ordem, rotina, se-riação,… Para quê mudar quando oque se fazia já dera provas? Para alémdo mais essa lógica de regras não tinhapropriamente modelos, o que deixavaao urbanizador — povoador seria maiscorrecto — uma larga margem criativa.Esse espaço para a criatividade conju-gava-se com uma proverbial falta derigor na execução. Mesmo nos casosmais geometricamente estruturadose/ou arquitectonicamente cuidados, atransgressão, por vezes o improviso,surge assumida com uma criatividadede cariz popular que encanta, masnem sempre abona em favor dasrazões e brio então arrogados pelos en-genheiros militares. Foi nessa trans-gressão plástica, sobre um rigor meto-dológico e geométrico, que a apro-priação e identificação das comunida-des mestiças embrionariamente seproduziu. Como já atrás poderia ter fi-cado dito, o urbanismo não resiste aoquotidiano da cidade, mas se a matrizfor clara e forte permite integrar semautofagia a mais ampla das diversida-des. São inúmeros os casos onde bemdepois da independência se continua-va a urbanizar e construir segundo osmesmo princípios.

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REFLEXÕESTema de Capa

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Rua em Diamantina — Minas Gerais, Brasil Rua em Mindelo — S. Vicente, Cabo Verde

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REFLEXÕES

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Tema de Capa

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Tudo isto para enquadrar a forma sim-ples como entendo o urbanismo portu-guês, o qual é, enquanto tal e necessa-riamente, daqueles tempos anterioresao liberalismo e à europeização de Por-tugal, ainda que durante muitas déca-das em diversas paragens se tenha con-tinuado a fazer da mesma forma. Trata--se da resultante de um processo contí-nuo de experimentação-erro-experi-mentação em que a matriz caracteriza-dora, comum, consiste na simplicidadee vigor da sua composição geométrica,na coordenação rígida mas criativa doseu sistema de dimensões e pro-porções, na sujeição do todo estruturala esses princípios e na liberdade do de-talhe, da textura, da cor, da forma urba-na e dos usos concedida por um siste-ma de regras/princípios que não con-formam ou emanam de modelos.

Como numa formulação mais precisajá tive oportunidade de o publicar, ca-racteriza-se também “pela ocorrênciade um padrão morfológico e cadastralregular; pelo traçado e dimensiona-mento global em função do espaço pú-blico; pelo mono-direccionamento damalha e correspondente hierarqui-zação de ruas e travessas; pelo recursoa sistemas proporcionais algébrico--geométricos abrangentes, os quais sebaseiam no quadrado e progridem pa-ra rectângulos de proporção √2, √3,duplos, etc.; pela integração estrita daarquitectura nesse sistema de relaçõesregulares e proporcionais e conse-quente florescimento de uma arqui-tectura de programa”.Tudo vai sendo cada vez mais difícilde verificar e desenvolver em Portu-gal, quiçá o país do UUP mais sujeito a

dinâmicas de mudança renovadoras.Mesmo nas acções ditas de reabili-tação, reposição ou restauro, a igno-rância dos princípios, o desconheci-mento sumário da cultura e processosde trabalho dos colegas de outros tem-pos têm conduzido a um processo in-consciente (porque ignorante), masresponsável (porque feito em nome debons princípios) de continuada oblite-ração do que é matricial no patrimó-nio urbanístico e correspondente cul-tura espacial portuguesa. Talvez porum menor desenvolvimento de mui-tas das recônditas regiões do antigoImpério, mas por certo por uma maiorconsciência e identidade colectivas, omesmo não sucede com igual extensãoà escala do UUP. Quando a reabili-tação urbana não é urbanística, nãopassa de um negócio especulativo, ile-gítimo e necessariamente com resulta-dos de má qualidade.Por tudo, mas também por experiên-cia própria, entendo que o estudo e sal-vaguarda do património urbanísticoportuguês apenas é possível sem im-perialismos mas à escala do antigo Im-pério. Só quando foi possível conhe-cer e conjugar todos os dados é quepassámos a adquirir um conhecimen-to mais próximo da realidade históri-ca e cultural que o urbanismo portu-guês conforma. E não foi apenas poruma questão de dimensão, número decasos, extensão, continuidade crono-lógica — entre D. Manuel I e o Mar-quês de Pombal escassas ou nulas fo-ram as realizações urbanísticas ex-pressivas no actual território nacional—, mas também porque o estado e ritmo de destruição em Portugal nãotem paralelo com o que tem sucedidonoutras paragens. Felizmente ou não,conscientemente ou nem por isso, aidentidade urbanística portuguesa —a nossa cultura do território — é hoje,por mérito próprio, bem mais brasilei-ra que da origem.

WALTER ROSSA, Arquitecto, Professor no Departamento deArquitectura da Universidade de Coimbra

Rua no Serro — Minas Gerais, Brasil Edifícios Públicos — Pangim, Índia

Praça em Icó (c.1930) — Ceará, Brasil

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Porém, no campo da arte verificamosque, sobretudo no que toca à mobili-dade – ou viagem – das formas, os fac-tos históricos têm por vezes alcancesou interferências diferentes daquelasque poderíamos esperar. Referimo--nos a uma época em que às constantesrivalidades entre potências inimigas eàs trocas de poder internas nos dife-rentes reinos ocidentais e orientais; aoaparecimento de Holandeses e Ingle-ses nas águas do Atlântico, Índico enos Mares da China e do Japão; ao sur-

gimento das Companhias de Comér-cio europeias; aos inúmeros interessesem causa – da Coroa, de Ordens reli-giosas, de privados –, à união e poste-rior separação das Coroas ibéricas; àsprofundas e por vezes radicais mu-danças no domínio do saber científicoe tecnológico com efeitos em camposcomo o da Filosofia e da teorização po-lítica, correspondeu uma real e profí-cua troca de mercadorias e de objec-tos, e com eles de saberes, tradições,crenças e vivências.

Goa, Malaca, Macau e Nagasaki, qua-tro cidades do Oriente português quese tornaram em pontos nevrálgicosfundamentais enquanto centros deprodução artística e literária, emergi-ram como principais portos de chega-da de matérias-primas e de peças, apartir dos quais são embarcadas asmaravilhas que, por vezes já na Euro-pa, serão alvo da minúcia de artistascom vista a integrar colecções espan-tosas e as Wundere Schatzkammern(Maravilhosas câmaras de tesouros)das cortes centro-europeias. Portugalnão assiste a um fenómeno da mesmaamplitude e solidez, mas aqui se reú-nem, por vezes num amontoar algoaleatório, objectos assombrosos, pre-ciosos e raros. As memórias que nos fi-caram, tanto através do registo escritocomo visual, testemunham as quanti-dades por vezes quase inacreditáveisque chegavam à Península. A contextos tão complexos como esti-mulantes correspondeu uma respostano domínio artístico que se caracterizapor uma absoluta capacidade de adap-tação aos locais, gentes, clima, técnicasemateriais de construção, criando umaarte que não sendo já europeia tambémnão se pode integrar plenamente nasartes locais. Trata-se de um fenómenode hibridização que apresenta corres-pondência directa com uma diferentevivência do quotidiano imposta igual-mente, e em larga medida, pela distân-cia do Reino e pela curiosidade desper-

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REFLEXÕESTema de Capa

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Ouniverso da arte colonial portuguesa caracteriza-se por um arco cronológico vasto e por um domínio terri-torial que engloba uma extensão à escala planetária, do Atlântico até ao Mar da China. Entramos, assim, numperíodo de mais de trezentos anos, que se estende desde meados do século XV até ao final da centúria deSetecentos, em que foram muitas e profundas as alterações e rupturas políticas, culturais e mentais no domí-nio da História europeia e portuguesa em particular.

Breve perspectiva

Arte colonial portuguesa dos séculos XVI-XVIII

“Gente Portuguesa de Ormuz. Estão comendo dentro d’ágoa por ser a terra muito calmosa”. Códice portuguêsdo século XVI, Roma, Biblioteca Casatenese

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REFLEXÕES

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Tema de Capa

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tada pelo contacto directo com cultu-ras, crenças e hábitos diversos. Destacapacidade de assimilação, apro-priação e reinvenção, resultaram so-luções originais tanto a nível do urba-nismo e da arquitectura religiosa, civile militar, como da miríade de peças e

objectos que então se produziram. Re-ferimo-nos aos marfins afro-portugue-ses, os primeiros dos testemunhos tra-zidos para a Europa, a toda uma cons-telação de peças de mobiliário em ma-deiras de novas cores e odores, aos têx-teis indo e sino-portugueses, à porcela-

na chinesa e aos biombos japoneses,para mencionar apenas os exemplosmais conhecidos. São estes artefactos,verdadeiros testemunhos vivos de his-tórias que por vezes ficam por contarna documentação escrita, que nos au-xiliam na tentativa de entender a histó-ria da presença portuguesa nestas pa-ragens longínquas, presença essa quepor vezes era mais simbólica do queefectiva e que esteve muitas vezes su-jeita a ameaças de vária ordem. Daquidecorre, por exemplo, que o mobiliárioutilizado pelos Portugueses seja fácilde transportar e manusear, de di-mensões relativamente reduzidas ou,não o sendo, apto a ser rapidamentemontado e desmontado. Neste senti-do, os materiais e técnicas empreguesrevelam uma observação e aprendiza-gem com os artistas e artífices autócto-nes, aliando-se assim a formas euro-peias um saber estrangeiro. Também aprópria iconografia é reveladora desteintercâmbio, quer se trate das fachadaseinteriores das igrejas construídas des-de o Brasil até Macau, passando pelosmarfins africanos e asiáticos, os têxteisdo Índico ou à pintura kirishitan japo-nesa. Aqui entramos num dos territó-rios mais intrincados e que maior de-

safios coloca ao historiador de arte pe-lo entrecruzamento de conhecimentose sensibilidades que exige, obrigandoa uma descentralização do nosso olharque permanece, ainda e fundamental-mente, eurocêntrico.

ALEXANDRA CURVELO,Historiadora da Arte do Instituto Portuguêsde Conservação e Restauro, presentementecom bolsa de doutoramento da Fundaçãopara a Ciência e Tecnologia

“Deste modo se deixam transportar os portugueses que são de ascendência nobre e de posses”. Itinerário, Viagemou Navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias Orientais ou Portuguesas, Amsterdão, 1596

Pormenor do biombo nanbam (um de um par) atri-buído a Kano Domi, finais do século XVI, Lisboa,Museu Nacional de Arte Antiga

Taça com a inscrição “Em tempo de pêro de Faria1541”. Porcelana azul e branca, China, DinastiaMing. Beja, Museu Rainha D. Leonor

Cofre filigranado. Goa, século XVII. Viena,Künsthistorisches Museum

Garrafa brasonada, 1550/66. Porcelana azul e bran-ca, China, Dinastia Ming. Lisboa, Fundação Me-deiros e Almeida

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Como surgiu o convite para dirigir oServiço Internacional da FundaçãoCalouste Gulbenkian?Durante cerca de dez anos fui diplo-mata no Ministério dos Negócios Es-trangeiros. Estava na Embaixada dePortugal em Paris, quando fui convi-dado para vir para o Serviço Interna-cional da Fundação Calouste Gulben-kian. Embora desde muito jovem meinteressasse pelos assuntos culturais,foi um grande desafio, na medida emque a minha actividade não estava di-rectamente relacionada com esta área.Deixei a embaixada no dia 30 de Se-tembro de 1992 e comecei a trabalharna Fundação a 1 de Outubro.

Como tem início um processo de res-tauro e que tipos de apoio são dispo-nibilizados pela Fundação?Os processos são todos diferentes, mastêm um esqueleto comum. Aprimeiracondição está relacionada com o facto

do processo se iniciar sempre por umconvite por parte do proprietário domonumento (Estado, Igreja, CâmarasMunicipais,...) – pois trata-se de patri-mónio que actualmente não pertenceaPortugal, o que, normalmente, se tra-duz numa primeira viagem de pros-pecção para verificar o que está emcausa, qual o estado do edifício e se épossível recuperá-lo. Asegunda condição prende-se com osacordos que poderão vir a ser estabele-cidos em relação ao que a Fundação po-de fazer, já que, em princípio, a entida-de local deverá garantir uma parte doscustos da intervenção. Assim, as auto-ridades locais têm de assegurar umaparte dos custos, seja através de mate-riais, de mão-de-obra ou de facilidadesalfandegárias, para que haja algumaforma de compromisso que demons-tre o seu empenho no restauro. Aterceira condição implica que as auto-ridades se comprometam na manu-

tenção do monumento e no seu bomfuncionamento após a inauguração dostrabalhos. Depois de garantidas estascondições preliminares podemos entãodar início à concretização dos trabalhos.O apoio pode efectivar-se a diversosníveis: financeiro, técnico, ou financei-ro e técnico. Depende das circunstân-cias especiais dos países, da disponibi-lidade dos proprietários dos edifícios.No entanto, a decisão de prestar apoioé sempre tomada depois dos parece-res dos nossos consultores (museólo-gos, historiadores, arquitectos).

Há algumas directrizes ao nível dorestauro e manutenção de obras ar-quitectónicas que a Fundação façaquestão que sejam cumpridas?Somos uma fundação portuguesa que,ao nível internacional, entre outrasáreas, se ocupa da promoção da cultu-ra e da História de Portugal. Enquantotal, a nossa missão passa obrigatoria-

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ENTREVISTATema de Capa

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Monumentos, documentos e in-fluências linguísticas são algunsdos vestígios da presença portu-guesa espalhados pelos diversoscontinentes.Através do seu Serviço Interna-cional, dirigido por João PedroGarcia, a Fundação CalousteGulbenkian apoia a recuperaçãodo Património Histórico cons-truído pelos portugueses nomundo.

João Pedro Garcia, Fundação Calouste Gulbenkian

Conservação do PatrimónioPortuguês no Mundo

TELMOMILLER

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ENTREVISTA

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Tema de Capa

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mente por valorizar a componenteportuguesa. Preservar o monumentosignifica assegurar-lhe o futuro. Paracumprir esse objectivo e no caso da ar-quitectura, isso passa pelo respeito epela aplicação das recomendações in-

ternacionais sobre o restauro de mo-numentos. Refira-se que o arquitectoJoão Campos, nosso principal consul-tor nesta área, é membro do ICOMOSe está naturalmente a par das directri-zes emanadas por aquele órgão.

Durante um processo de restauro háobstáculos a ultrapassar?Todos os processos são diferentes, nãopodendo fazer-se comparações, nemfalar de um caso tipo. Construir e or-ganizar um museu em Cochim é dife-

Palácio da Água (Taman Sari, Indonésia) – Vista das piscinas e do pavilhão do Sultão (antes e depois da intervenção, respectivamente)

Forte de Jesus em Mombaça (Quénia), antes e depois da intervenção, respectivamente

Igreja do Santo Rosário (Dhaka, Bangladesh) – Vista exterior a partir do cemitério (antes e depois do restauro, respectivamente)

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rente de restaurar um palácio na In-donésia. Um projecto pode apresentar vicissitu-des de vária ordem, desde os aspectospolíticos (uma revolução armada porexemplo, impediria o acesso ao monu-mento) às causas naturais, como ummaremoto (veja-se os estragos do re-cente tsunamino Índico que felizmentenão trouxe consequências para qual-quer dos monumentos que restaurá-mos na região). Ou seja, há processosmais lentos e outros mais rápidos. Todo o trabalho tem dificuldades e en-volve algumas vezes questões sobrecritérios de valorização de determina-do aspecto, mais histórico ou mais tu-rístico, do monumento. Mas as moti-vações de ambas as partes levam sem-pre ao encontro da solução ideal. Re-corde-se que está em causa patrimó-nio que exerce um apelo tão forte paraPortugal como para o país onde se lo-caliza. Por exemplo, foi com surpresaque recebemos um pedido do Irão pa-ra a reabilitação da fortaleza de Or-muz, um marco com forte carga políti-ca, histórica e diplomática.

Quais as acções mais marcantes que aFundação já efectuou?As acções mais marcantes inscrevem--se em duas ordens de classificação: ob-jectiva, face à reconhecida importânciado monumento, e subjectiva, ou seja,encarada de um ponto de vista pessoal.O Forte de Jesus, em Mombaça, noQuénia, é uma fortaleza imponentíssi-ma, que começámos a restaurar em1958, quando o Quénia ainda erainglês. O Quénia tem imensas particu-laridades étnicas e religiosas. Todavia,o Forte é visitado por diversas escolasde todas as comunidades da cidade,funcionando como um elemento depacificação dos conflitos latentes nopaís. Decorridos mais de quarentaanos desde a primeira intervenção, foinecessário um novo arranjo e realizartrabalhos de estabilização, tendo estaúltima fase de reconstrução ficadoconcluída em 2001. É de salientar também o Forte de SãoJoão Baptista de Ajudá, no Benim, umenclave português que em 1960 se tor-

nou independente. Além de que visi-tar o Benim foi uma experiência como-vente, nomeadamente o facto de, nafachada principal do Forte, ver dese-nhado o escudo português tendo porbaixo escrito “Forte de S. João Baptistade Ajudá” e, na entrada, deparar coma frase “Bem-vindo seja quem vier porbem” escrita num azulejo.Posso, ainda, referir a Torre de Arzila,mandada construir por D. Manuel I edesenhada pelo mesmo arquitecto doMosteiro dos Jerónimos, Diogo Boy-tac, que, para o efeito, teve de inter-romper os trabalhos que aqui dirigiapara partir para Marrocos e construira fortaleza onde a torre se inscreve. Alenda diz que foi lá que D. Sebastiãopassou a última noite antes da batalhade Alcácer Quibir.No segundo caso, e de um ponto devista subjectivo, destaco o museu daDiocese de Cochim, na Índia, onde noJardim do Paço Episcopal existia umterreno vago. Ali viemos a construir omuseu que é um dos mais modernos eo primeiro totalmente acessível a defi-cientes motores em todo o país. Bene-ficiou das mais diversas tecnologiasmuseológicas. Em Fevereiro de 2001inaugurámos um edifício arejado que,não sendo muito grande, permiteapresentar ao público objectos impor-tantes da História religiosa indo-por-

tuguesa, de uma forma atraente e pe-dagógica. Este projecto levou-me à Ín-dia 26 vezes, acompanhado pela nossaconsultora para a área das artes deco-rativas (a Senhora D. Maria HelenaMendes Pinto, uma pessoa notável).Destaco, também, a Igreja do SantoRosário em Dacca, no Bangladesh. De-pois de formalizado o acordo, antes decomeçarmos as obras de restauro, oempreiteiro anunciou o dia em que iaser inaugurada a obra e disse tambémquanto ia custar. Num país onde exis-tem tantas dificuldades, inaugurámosefectivamente a Igreja exactamente nodia em que o empreiteiro comunicarae custou precisamente o que fora pre-visto. Esta experiência ficou marcadana minha memória até hoje.

Está em curso algum processo? Qual,onde e de que forma está a decorrer?Entregámos recentemente às autori-dades de Marrocos o projecto para res-taurar a Catedral de Safim; tambémentregámos ao Governo do Irão o pro-jecto de restauro de duas fortalezas – de Ormuz e de Queshm. Estamosactualmente à espera de uma respostaquanto à continuidade da nossa parti-cipação nos projectos e quanto à parti-cipação local. Depois disso, entrar-se--á em nova fase de negociações, em queserá definido o apoio da Fundação.

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ENTREVISTATema de Capa

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TELMOMILLER

“ (…) Há que proporcionaras condições para que

os países se interessempelo património comum:

já recuperámos vários monumentos - mais de trinta - mas

os portugueses estiveramum pouco por todo

o mundo, o que significaque ainda há muito

para fazer. (…)”

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ENTREVISTA

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Tema de Capa

Quem são os responsáveis dos pro-jectos feitos pela Fundação?Os responsáveis são os nossos arqui-tectos, pois são eles que os elaboram.Por vezes nem existem plantas dosedifícios que se pretendem recuperar,exigindo, por isso, um levantamentoarquitectónico, embora todo o traba-lho feito pela Fundação, incluindo levantamentos e projectos, fique nosnossos arquivos. Além disso, para ca-da monumento intervencionado aFundação manda executar uma ma-queta, o que permite uma melhorapreciação das propostas e uma visua-lização global do projecto.

A Fundação considera importantemostrar à sociedade o trabalho queefectua em termos de recuperação dopatrimónio? De que modo é feita es-sa divulgação?Adivulgação é muito importante. Nãose trata apenas de “publicitar” o tra-balho realizado, mas é igualmenteuma forma de mobilizar o interesse pa-ra um património que a todos respeita.Divulgamos a nossa acção através deentrevistas e de artigos na imprensa. Temos também uma exposição itene-rante com projectos, maquetes e foto-grafias dos monumentos, antes e de-pois da intervenção. Aexposição já foiapresentada em várias cidades estran-geiras (Bilbau, Barcelona, Paris) e, emPortugal, esteve em Lisboa e no Porto.Existe uma brochura que é distribuídagratuitamente ao público que a visita.Foi também há alguns anos publicadoum excelente livro que aborda os pro-jectos da Fundação, da autoria de Ma-ria João Avillez, com fotografias de RuiOchôa, do qual foi feita uma edição eminglês para divulgação internacional.Por sua vez, a página do Serviço no si-te da Fundação é um instrumento ca-da vez mais consultado.

Qual a relevância da colaboração doGoverno Português (por exemplo, doMinistério dos Negócios Estrangei-ros) nestas iniciativas da Fundação?Temos tido pontualmente uma exce-lente colaboração do Ministério dos

Negócios Estrangeiros, ao nível dasembaixadas e dos consulados portu-gueses nos países onde decorrem asnossas intervenções. Para exemplifi-car, posso referir o caso específico daFortaleza de Ormuz, em que recebe-mos um apoio extraordinário do entãoembaixador de Portugal em Teerão,José Manuel Arsénio, que acompa-nhou sempre as nossas missões e faci-litou todos os contactos com as autori-dades daquele País.

Como tem sido encarada pelas popu-lações e autoridades locais a acção daFundação na conservação e restaurode construções históricas no seu ter-ritório?São as autoridades daqueles paísesque nos pedem para restaurar o mo-numento, havendo um diálogo per-manente até chegarmos à inaugu-ração. Assim, encaram bem a nossa co-laboração, não só porque são elas quenos pedem para restaurar o monu-mento, mas também porque vão assis-tindo a toda a evolução. Em relação às populações, há muitoscasos em que estas encaram com ale-gria a renovação dos edifícios. Veja-seo já mencionado exemplo do Forte deJesus em Mombaça, no Quénia, ondetodas as comunidades (cristãs, muçul-manas, animistas) sentem que o Forteé um monumento importante.

E em relação à sociedade portuguesa,esta tem demonstrado estar preocu-pada com a salvaguarda e valorizaçãodo património e interessada nasacções da Fundação?Pelo número de pessoas que têm vi-sitado as nossas exposições, é possí-vel afirmar que a nossa acção é tidacomo significativa. Esse interessetambém pode ser comprovado pelospedidos que nos chegam (nomeada-mente das universidades) para pro-ferirmos conferências sobre esta te-mática.Além disso, a própria comunicaçãosocial tem estado atenta ao nosso tra-balho, o que reflecte o interesse da so-ciedade civil.

Que medidas são necessárias tomarde forma a valorizar e incrementar asacções de conservação e restauro dopatrimónio português espalhado pe-lo mundo?Há que proporcionar as condições paraque os países se interessem pelo patri-mónio comum: já recuperámos váriosmonumentos – mais de trinta – mas osportugueses estiveram um pouco portodo o mundo, o que significa que ain-da há muito para fazer.

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Exposição Itinerante do Serviço Internacional da Fundação Calouste Gulbenkian

DORA FERREIRA,Loja da Imagem

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CASO DE ESTUDO

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A DEFESA DA CIDADE VELHANo período Filipino (1580-1640) cres-cem as ameaças marítimas sobre aspraças portuguesas e espanholas noAtlântico. As riquezas que circulavamneste espaço, vindas das Índias Oci-dentais e Orientais atraíam os corsá-rios de forma crescente. Os Francesestinham começado a tentar a sua sorte apartir da década de trinta, surgindodepois os Ingleses e Holandeses comintensa acção de corso no último quar-tel do século XVI. Os ataques de Drakeem 1582 e de outros aventureiros reve-lam a fragilidade dos sistemas defen-sivos portugueses e espanhóis. Com aartilharia concentrada nas frentes ma-rítimas, os recintos claudicavam pe-rante os ataques feitos por envolvi-mento. As frentes terrestres mostra-

vam-se totalmente vulneráveis. Dra-ke utilizou esse recurso diversas ve-zes, em ataques às possessões espa-nholas e portuguesas nos dois lados doAtlântico. Além de resolver este pro-blema das frentes terrestres, o PeríodoFilipino introduz um novo conceito nocontrolo das cidades marítimas. Assis-te-se, tanto em Portugal como nas Ilhas Atlânticas, no Brasil, e nas ÍndiasOrientais e Ocidentais, à construçãode grandes recintos fortificados ribei-rinhos. Destinados a funcionar comograndes redutos defensivos, tinhamcapacidade para resistir sozinhosquando isolados e cercados. Eles po-deriam sobreviver mesmo com as ci-dades controladas por forças contrá-rias à Coroa. Os projectos dessas forta-lezas atingiam uma dimensão pouco

comum. Tinham, por vezes, a própriafrente terrestre voltada de forma so-branceira à cidade em que se inseriam.Não eram mais fortalezas marítimas,mas sim verdadeiras cidadelas, ca-beças de um vasto sistema defensivo.Os casos mais notáveis dessas fortale-zas marítimas nos territórios portu-gueses são Santiago da Barra em Via-na do Castelo, S. Filipe em Setúbal, S.João Baptista (S. Filipe) em Angra doHeroísmo, Forte do Pico, no Funchal eForte da Aguada, em Goa. Todas elasforam iniciadas no final do século XVIpor ordem de Filipe II de Espanha(r.1556-1598), depois de ter sido acla-mado, em 1580, rei de Portugal.No caso da fortaleza de S. Filipe da Ri-beira Grande, em Cabo Verde, terá si-do João Nunes o responsável pela suaexecução, com projecto que tem sidoatribuído ao arquitecto Filipe Terzi.Vê-se que a solução foi amadurecidacom o contributo dos capitães e daamarga experiência dos ataques à cida-de. Para além da fortaleza foram me-lhorados os baluartes ou baterias de tiro preexistentes da Vigia, Ribeira e S. Brás. A cidade foi parcialmenteabraçada por muralhas que, partindoda orla costeira marítima, rematavama nascente no forte de S. Filipe e a nor-te na encosta da achada sobranceira aoForte de S. Lourenço. Observando oterreno, vemos que só com uma con-cepção original se poderia constituirum sistema de defesa eficaz. Era es-sencial impedir o ataque directo pormar e evitar o cerco e assalto à cidade apartir de terra. A configuração do ter-reno era invulgar e só permitiria a ins-talação de um sistema defensivo, maisbaseado no tiro dos pequenos fortesdestacados, do que numa barreira físi-ca contínua. Esta é a chave do proble-ma. A implantação da fortaleza, so-branceira à Ribeira Grande, foi feita nosítio mais favorável. Isto é facilmenteobservável olhando o terreno local-mente. Tinha a fortaleza no entantooutras funções, para além de frente

A Fortaleza Real de S. Filipe“ (…) A implantação da fortaleza, sobranceira à cidade foi feita no sítio maisfavorável. Isto é facilmente observável olhando o terreno localmente. Tinhaa fortaleza no entanto outras funções, para além de frente terrestre do siste-ma defensivo e cabeça militar do conjunto. Ela poderia servir de refúgio paraas pessoas em caso de conflito, embora, não tivesse condições para estadiasprolongadas. (…) ”

Porta da Cidade

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terrestredo sistema defensivo e cabeçamilitar do sistema. Ela poderia servirde refúgio para as pessoas em caso deconflito, embora, não tivesse con-dições para estadias prolongadas. Eralimitada a capacidade de reserva deágua. Devido à dificuldade de escavaro terreno rochoso, o fosso foi simplifi-cado, bem como o próprio desenho dosistema abaluartado. O projecto reflec-te um traçado moderno de desenhoitaliano. Os flancos dos meios baluar-tes estão reduzidos ao mínimo, de-nunciando uma clara intenção do usode fogos frontais como técnica domi-nante. As cortinas são curtas e aslinhas de defesa razante reflectem es-sa opção. O forte foi projectado base-ando as suas dimensões no alcance domosquete. As dimensões exíguas dasfachadas reflectem esse critério de pre-

domínio da arma ligeira sobre a arti-lharia. A técnica construtiva das pare-des dos baluartes e cortinas era poucoadequada conferindo insuficiente for-taleza. Os muros foram construídoscom pedra e barro, certamente por nãohaver cal em abundância. Isso enfra-quecia a sua resistência ao impacto dosprojécteis da Artilharia. Os engenhei-ros estavam certamente convictos deque o forte só seria atacado por armasligeiras, dada a dificuldade de trans-portar a artilharia dos navios para umlocal de acesso tão difícil.

VULNERABILIDADESE CONDICINANTESO sistema estava avançado cem anos anível conceptual, ao assentar numa filo-sofia de fortes destacados, mas o terre-no da Ribeira Grande forçou a solução.Ofacto dos fortes costeiros estarem emparte isolados, criava uma situaçãovulnerável de segurança e reabasteci-mento, exigindo guarnições muitotreinadas e forças militares com mobi-lidade, defendendo a retaguarda dosfortes. Era uma autonomia que au-mentava os riscos de insucesso na de-fesa desses pequenos redutos costei-ros. O clima insalubre era um factor extremamente negativo para a defesa

da cidade. Uma fortificação vale o quevalerem os seus defensores e a popu-lação, muito diversa e mais voltadapara o trabalho no campo ou nos en-genhos, não era gente feita às armas.Os documentos coevos fazem enten-der claramente esta falta de vocaçãomilitar por parte da população. Mes-mo quando foi constituída uma guar-nição militar, esta não teve treino eequipamento suficiente. Existiam nofinal do século XVI, adstritos à Forta-leza Real um condestável que recebia30.000 reis por ano, três bombardeiroscom 20.000 reis, um porteiro com12.000, um armeiro com 8.000 e seis fa-cheiros com 16.000. Este número defacheiros é um indicador claro quehavia provavelmente dois postos deobservação com turnos de oito horas,ou mais provavelmente um único pos-to com turno de seis horas, com trans-lação nos tempos de vigia. Existia emmeados do século XVII um númeroconsiderável de homens válidos queconstituíam a “guarnição militar”,mas que estavam mal armados e maltreinados. Aactividade militar não erao seu dia-a-dia. A grande maioria erade origem africana e não estava fami-liarizada com armas de fogo. Tinhatreino de zagaia, arma que estava em

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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Fortaleza vista do mar com a Sé em baixo

Baluarte da Poterna Planta da Fortaleza Real, ca. 1778

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Cúpula da Cisterna

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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clara desvantagem com o mosquete,sempre que o combate ocorria em gru-po ou em formações.Acidade cresceu com um traçado e umamalha urbana que foram condiciona-dos mais pela configuração do terrenodo que por razões de carácter defensi-vo. Há que ter a maior atenção às no-vas condicionantes que se foram esta-belecendo a partir do século XVI e queno século seguinte já constituíam re-gra. Era essencial garantir a razança e campos de tiro desimpedidos. Estefacto iria introduzir condicionantesnovas no desenvolvimento urbano. Aslimitações à construção mais impor-tantes no século XVII situavam-se a sulda fortaleza de S. Filipe. Era indispen-sável manter a observação e camposde tiro livres encosta abaixo até juntoda Sé. Era necessário, além disso, con-trolar o caminho de acesso à cidade,evitando edificações ao longo do seutraçado. A decadência da cidade de-veu-se a um conjunto complexo de fac-tores. Os problemas da defesa tiveramimportância relevante nesta decisão.A Cidade da Praia tinha à partida me-lhores condições de defesa por ter nas-cido em terreno mais favorável. A de-cadência da Cidade Velha permitiusalvaguardar o essencial do seu siste-ma defensivo e o seu carácter único. AFortaleza foi reabilitada por uma equi-pa da Cooperação Espanhola em 1999e o plano de Salvaguarda da CidadeVelha entregue ao Arquitecto SizaVieira. Existe o propósito de candida-tar a Cidade Velha a Património Mun-dial.

FRANCISCO SOUSA LOBO, Engenheiro Militar e Presidente da APAC

Porta da Fortaleza que ligava com a Cidade

Vale luxuriante entre a aridez das achadas

Plano da Fortaleza Real, ca. 1778

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A15 de Julho, em Durban, a candidaturafoi finalmente reconhecida por unanimi-dade, vendo Macau o seu Centro Histó-rico classificado como Património Mun-dial, justificado nos seguintes termos:“(...) a mais antiga, completa e rica he-rança europeia que permanece actual-mente intacta no Território Chinês, con-sequência de um fluxo cultural e de as-similação Sino-Occidental num perío-do de cerca de 400 anos(...)”.“(...) Estes monumentos também são tes-temunhas da longa história das missõescristãs no Extremo Oriente e, o mais im-portante, elas são o símbolo da pacífica eharmoniosa coexistência social e do plu-ralismo e diversidade cultural”. A proposta inicial foi elaborada com a

pretensão de incluir apenas 12 monu-mentos, de origem Portuguesa e Chine-sa. No entanto, estes monumentos fica-vam órfãos e isolados na malha urbanada cidade, uma vez que a maioria estárodeada por estruturas modernas. Esta“contaminação” de estruturas moder-nas deve-se ao facto de não existirem di-rectrizes ou plano urbano para as zonashistóricas. Cada projecto é visto caso acaso, permitindo soluções sui generis(de volumetrias variadas, anacronismode fachadas, etc.) que rompem a ante-rior harmonia de conjunto. Para resol-ver este dilema, o Instituto culturalcriou guidelines particulares. Especia-listas do ICOMOS foram mais longe aosugerirem a inclusão de um corredor

urbano que ligasse os vários monu-mentos propostos na lista anterior eabarcasse largos espaços públicos e ou-tros edifícios Patrimoniais neste “Cor-redor Histórico”. Este corredor está isolado por uma zona de protecção (Buffer Zone) do resto da cidade. As zo-nas de protecção não são áreas neutras,mas de intervenção condicionada des-tinadas a ambientar e introduzir os visi-tantes e residentes na zona do CentroHistórico. É precisamente nestas zonasque residem as maiores dificuldadesem evitar a construção de edifícios altose de estilo que contrastem com ambien-te e escala e linguagem tradicional daarquitectura de Macau, pois, muitas ve-zes, o novo destrói e retira o contextonatural do antigo. Perante a recente ex-plosão da especulação do sector imobi-liário e da febre de construção de casi-nos, muitos manifestaram a preocu-pação que esta febre construtiva com-prometa ou destrua o resto do patrimó-nio da RAEM, sobretudo aquele quenão está incluído na lista da UNESCO. Os portugueses fundaram a primeiracidade europeia na China, rodeada portrês colinas (Fig. 4) coroadas por forta-lezas. As povoações chinesas foram--se organizando em redor de templos,criando os Bairros de Amá, Patane eMong Há, com a evidência histórica earqueológica apontando para uma épo-ca posterior à chegada e assentamentodos portugueses cerca de 1555.Mas voltemos ao centro histórico deMacau, que corresponde em termos ge-rais ao núcleo da antiga cidade cristã de-signada por “Cidade do Nome de Deusde Macau”2, com as suas Igrejas, con-ventos, escolas, pomares, armazéns,contida dentro de muralhas de taipaprotegidas pelos canhões das fortifi-cações estrategicamente colocadas nas

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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Na defesa da candidatura de Macau como Património da Huma-nidade, Portugal participou através do IPPAR. Num gesto de coope-ração, o seu Presidente, Arq.º João Rodeia, proporcionou um impor-tante apoio que contribuiu para a aceitação final da proposta1

submetida pelo Governo da República Popular da China à UNESCO.

Centro Histórico de Macauclassificado como

Património Mundial

1 – O Largo do Senado com o edifício do Senado ao fundo e a Santa Casa da Misericórdia em primeiro plano. Astorres de habitação ameaçando invadir o Centro Histórico

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CASO DE ESTUDO

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cristas das colinas e no sopé das encos-tas à beira rio. Esta cidade com dois por-tos (Fig. 5) é, sem dúvida, uma Porta doOriente para a Europa e do Ocidente pa-ra a China e Japão. A espinha dorsal da cidade cristã era aantiga Rua Direita (Fig. 3 e 4) que se es-tendia ao longo da estreita península deMacau, percorrendo paralela às duaspraias formadas pela bacia do Porto In-terior e da Praia Grande. Este eixo liga-va a sul o Templo de Amá à beira do Rio

da Pérola, com o centro da cidade cristãlocalizado a norte. No seu percurso, durante as subidas e descidas, à seme-lhança de um caminho de ronda pelascristas das colinas, servia espaços resi-denciais, militares (Quartel dos Mou-ros) e religiosos (a Igreja paroquial deSão Lourenço, o Convento de SantoAgostinho, o Seminário de São José), de-sembocando finalmente no Largo da SéCatedral. Apesar do nome “direita”, asua forma era torcida como uma espi-

nha de peixe, que serpenteava pela si-nuosa topografia do terreno. A cidadecresceu de uma forma orgânica, dentroda tradição medieval portuguesa3.Paralelamente, Manila, fundada pelosespanhóis em 1571, organiza-se na ma-lha regular em tabuleiro de xadrez, comcasas e fortes construídos em adobe,madeira e palha4.Acidade chinesa cres-ceu virada para o Porto Interior e a cida-de ocidental para a Praia Grande. So-mente no século XX, a abertura da Ave-nida Almeida Ribeiro (1910-1922) cor-tou a 90 graus a Rua Direita (Fig. 6) e aantiga malha urbana chinesa5 do PortoInterior (também conhecido por PraiaPequena), para estabelecer comuni-cação directa com a Praia Grande. O no-vo “epicentro” da zona histórica ficouno cruzamento da nova avenida com oLargo do Senado a partir do qual se ace-de às actuais ruínas do Colégio Jesuítade São Paulo (1594-1762), que foi a pri-meira universidade europeia na Ásia6.Os portugueses trouxeram consigo umADN cultural que se manifesta na ar-quitectura, com influências celtas, ro-manas, visigóticas, árabes, moçárabes,renascentistas, barrocas, neoclássicas,do Estado Novo (a Casa Portuguesa deRaul Lino) etc.; que fazem parte do ricobackground cultural e histórico de Por-tugal. É interessante verificar que as

2 – Igreja do antigo Convento de Santo Domingos

3 – A cidade cristã contida ente as três colinas,A) Nossa Senhora do Monte, B) Guia e C) Barra-Penha

4 – Imagem alargada da figura 3 representa o percurso desde o Templode Amá até à Sé Catedral. As vilas Chinesassão: 1) Patane, 2) Amá, 3) Mong Há

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

práticas urbanas do medievo portu-guês, as leis de fachadas do período ma-nuelino, se reflectem em Macau de ummodo natural, talvez inconsciente, pelaforça da inércia cultural trazida com osportugueses da diáspora. Macau é uminteressante laboratório para historia-dores como para especialistas em teoriade arquitectura. Neste ambiente tãolongínquo sentimo-nos perto de casa, evem-me à memória o poema de Fer-nando Pessoa na sua visão do Mar Por-tuguês...“Ó mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”... lá-grimas agora de saudade, de orgulho etambém de alegria.

REFERÊNCIAS(1) Publicado no The Historical Monuments of Macau

(2001), 6. By the State Administration of CulturalHeritage of the People’s Republic of China.

(2) Bocarro, António (1642) – O livro das plantas de to-das as Fortalezas e Povoações do Estado da ÍndiaOriental, Estampa XLVII, Lisboa: Instituto NacionalCasa da Moeda, 1992 (Reimpressão), pp. 260-272.

(3) Baracho, Carlos (2001) – Macau Focus Magazine,Vol 1., n.º 3, Macau: Instituto Internacional de Ma-cau, p. 34.

(4) Zaragoza, Ramon (1997) – Old Manila, Oxford: Oxford University Press, p. 6.

(5) Cody, Jeffrey W (1999) – “Taiwan. Cutting Fabric -San Ma Lo”, in Dialogue Magazine, Salem: Blinds-kills, Inc., p. 53.

(6) Amaro, C. Cacao, A. Moreno, C. Pereira, F. Graça,J. Teixeira, M. Silva, B. (1999) – A Museum in a His-torical Site, p. 115.

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FRANCISCO VIZEU PINHEIRO,Professor Adjunto do IIUM,Arquitecto do IACM

5 – Macau, a cidade dos portos contida intramuros. Reprodução de uma pintura do século XVIII de autor anónimo

6 – Detalhe do corredor do centro histórico de Macau com os monumentos portugueses mais significativos.Note-se a Avenida Almeida Ribeiro, perpendicular ao eixo peninsular percorrido pela Rua Direita

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PATRIMÓNIO MODERNO

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Tema de Capa

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PORTUGAL: UMA PROFUNDA “HISTÓ-RIA ARQUITECTÓNICA”; A RELAÇÃOENTRE PATRIMÓNIO CONSTRUÍDOARQUITECTÓNICO E URBANOPortugal, pequena nação peninsulardo sudoeste europeu, criada e sobre-tudo firmada a partir da Baixa IdadeMédia, desenvolveu no seu territóriode finisterra uma ocupação do espaçoconstruído com características origi-nais, quer no desenho ou traçado dasvilas e cidades que foram erigidas,quer nas obras arquitectónicas quepreencheram os espaços urbanos eainda outras áreas de carácter rural. Podemos falar do urbanismo luso e daarquitectura portuguesa, desde os sé-culos XII-XIII, como inseridos na do-minante tradição e influência do oci-dente europeu, caldeados pela tam-bém presente tradição oriental. Efecti-vamente, sobre uma base castreja pro-vinda da pré-história, as litorâneasculturas Grega e Fenícia, depois apro-priadas e transformadas por uma du-

radoura e estruturante Romanização,seguida esta pela presença germânicaSuevo-Visigótica, e sequentementepela longa permanência do Islão (estesobretudo a sul do Mondego e Tejo),foram determinantes – aquando do re-tomar cristão – na definição de um es-pírito de lugar, na escolha dos sítios,no entendimento de uma relação coma paisagem e a sua geografia, até mes-mo de uma determinada escala de edi-ficação arquitectónica e de um modode construção dos espaços e da opçãopor determinadas formas, materiais ecores.Com o avançar dos séculos, e o sedi-mentar desta prática, pôde firmar-seem Portugal uma cultura urbana e ar-quitectónica sólida, base para o valordo vasto conjunto existente actual-mente, do nosso Património Construí-do, nas nossas cidades, espaços urba-nos, vilas e aldeias e no território rural.Os exemplos qualificados atravessamos tempos do Românico e do Gótico,

do Manuelino, do Renascimento e doBarroco, do Chão e do Pombalino, doRomantismo, da Arquitectura do Fer-ro e do Moderno.

A ARQUITECTURA MODERNA LUSÓ-FONA E O PATRIMÓNIO MODERNODO SÉCULO XX NO MUNDOO ADVENTO DOS TEMAS DO PATRI-MÓNIO DA ARQUITECTURA DO SÉ-CULO XX E DO PATRIMÓNIO MODER-NO: O DOCOMOMO E A SUA ACÇÃO Com o dealbar dos anos 1990, e a tran-sição para o novo século, foi crescendoa consciência internacional e o signifi-cado atribuído às obras ditas “moder-nas”, ou do “Património Moderno” (ou“do Século XX”). Trata-se de um sinalhistórico claro da importância que es-tas obras gradualmente ganharam, co-mo representativas de uma cultura ur-bana e recente, mas nem por isso me-nos fundamentais no entendimento danossa civilização e dos seus destinos. Foi a partir de 1990 que, com a activação

Um valor a reconhecer e proteger…

Património construídomoderno lusófono“Com o dealbar dos anos 1990, e a transição para o novo século, foi crescendo a consciência internacional e o significadoatribuído às obras ditas modernas, ou do Património Moderno (ou do Século XX). Trata-se de um sinal histórico claro daimportância que estas obras gradualmente ganharam, como representativas de uma cultura urbana e recente, mas nempor isso menos fundamentais no entendimento da nossa civilização e dos seus destinos.”

Capitólio. Lisboa, 1931 Mexicana (Pastelaria Mexicana). Lisboa, 1962

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do DOCOMOMO internacional (Docu-mentation and Conservation of Modern Mo-vement Architecture), constituído poruma série de grupos de trabalho em diversos países do mundo, que, por viada divulgação (em congressos, publi-cações e acções mediáticas), se foi reco-nhecendo a importância de edifícios eespaços modernos, antes não conside-rados como valores culturais. Em Portugal as primeiras classificaçõesde obras arquitectónicas datadas do sé-culo XX ocorreram nos anos de 1970,sendo as obras modernistas dos anos1930-40 classificadas nas décadas de1980 e 90 (pelo então IPPC). Mais recen-temente começa a apreciar-se e a avaliar--se a arquitectura das décadas de 1950 e60, para o que contribuiu sem dúvida aacção do Grupo do DOCOMOMO Ibé-rico (com Portugal e Espanha, sendo aparticipação de Portugal por via da Or-dem dos Arquitectos e do IPPAR): tal fi-cou patente no “caso” da pastelaria Me-xicana, em Lisboa, cuja destruição foiimpedida pela acção mediática em1993-94, e em publicações recentes so-bre arquitectura moderna e industrial(1996 e 2005). Em 2003-2006, está em cur-so no Continente e Ilhas o IAPXX (“In-quérito à Arquitectura do século XX emPortugal”), vasto levantamento a cargoda Ordem dos Arquitectos com objecti-vos editoriais e de divulgação.

Na recente lista de edifícios modernosem perigo no Mundo, pela WMF (WorldMonuments Fund), elaborada para 2005-2006, estão referidos dois casos “lu-sófonos”: um edifício (o Capitólio, emLisboa, classificado pelo Estado masameaçado pelo projecto da CML para oParque Mayer) e um conjunto, o antigoCampo de Concentração do Tarrafal, emSantiago de Cabo Verde.

O PATRIMÓNIO MODERNO DE ORI-GEM PORTUGUESA NO MUNDO(PALOP, MACAU, EMBAIXADA DEBRASÍLIA)Assim, e para além das obras e aspectosatrás referidos, sobreaarquitectura mo-derna do século XX no mundo e em Por-tugal, há que considerar ainda a im-portância do designado PatrimónioModerno de origem portuguesa noMundo, pois tal como para séculos an-teriores (e para o século XIX, que aquinão se desenvolveu), os espaços da co-lonização portuguesa, hoje ditos “lusó-fonos”, receberam ao longo deste perío-do estruturas urbanas, edifícios e cons-truções infra-estruturais de grande significado e qualidade. Estes espaços e construções estão actu-almente integradas nos diversos paí-ses que entretanto ganharam a inde-pendência, ou em regiões antes coloni-zadas e recentemente inseridas noutras

nações soberanas – ou ainda nas áreasdas representações oficiais lusas no es-trangeiro (embaixadas, etc.). De ummodo muito sintético, há que referir trêsgrandes grupos de Património Lusófo-no Moderno, edificado ao longo de No-vecentos:- na antiga “África Portuguesa”, nas ci-dades e territórios de Cabo Verde, Gui-né-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angolae Moçambique, até 1975;- em Macau, até 1999;- e nas representações estrangeiras, co-mo por exemplo em Brasília, com a no-tável obra da Embaixada, por ChorãoRamalho, dos anos 1960-70.Este património apresenta os mesmosproblemas (desconhecimento, conside-rado sem valor “histórico”) e levantaquestões idênticas ao património mo-derno no Mundo e em Portugal – com aagravante de, embora de raiz lusa, po-der estar sobre alçada de outros domí-nios políticos. Tal é o caso da Antiga Es-cola Portuguesa de Macau, conjuntoedificado de grande valor estético e ur-bano, dos anos 1960, ameaçado presen-temente de demolição em Macau.

BIBLIOGRAFIAArquitectura do Movimento Moderno – Inventário DO-COMOMO Ibérico – 1925-1965, Barcelona: FundaçãoMies Van Der Rohe / DOCOMOMO / Associação dosArquitectos Portugueses / IPPAR, 1996.Fernandes, José Manuel – “Arquitectura do SéculoXX: O Moderno É Património?”, in Arquitectura Por-tuguesa. Temas Actuais II, Lisboa: Livros Cotovia, 2005,pp. 99-104.Fernandes, José Manuel – “Arquitectura do “MundoLusófono”” in Revista Camões, n.º 11, Lisboa: InstitutoCamões, 2000.Fernandes, José Manuel - Cidades e Arquitecturas,Lisboa: Livros Horizonte, 1999.Fernandes, José Manuel – “Arquitectura no EspaçoLusófono”, in Expresso, Lisboa, 21/5/2005.Fernandes, José Manuel – “Os 10 Edifícios ModernosMais Ameaçados”, in Expresso, Lisboa, 30/7/2005.

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PATRIMÓNIO MODERNOTema de Capa

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JOSÉ MANUEL FERNANDES,Arquitecto

Correios de S.Tomé e Príncipe, anos 60

Francisco de Castro- Banco em Quelimane, anos 60 Escola Portuguesa de Macau, 1965

Embaixada Portuguesa em Brasília, 1974

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PATRIMÓNIO MODERNO

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Tema de Capa

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A escolha recaiu num edifício de estiloneoclássico George IV, no número 11 deBelgrave Square, onde ficariam instala-das a embaixada, a chancelaria e a re-sidência do embaixador. O imóvel de-senvolvia-se em altura, como é comumnas residências georgianas e a compar-timentação original da casa foi manti-da: no rés-do-chão, situavam-se o ves-tíbulo, o hall e a sala de jantar, uma salade trabalho e o escritório. As salas deestar continuavam no primeiro andar e os restantes pisos foram destinadosaos quartos de dormir e de vestir.Adecoração foi conduzida pela embai-xatriz Genoveva de Lima Mayer Ulrich(a escritora Veva de Lima), numa pri-meira fase ainda a partir de Lisboa. AEmbaixatriz convida para a elaboraçãodo projecto o arquitecto Vasco Regalei-ra (Vasco de Morais Palmeiro, 1897-1968), licenciado pela Society of Archi-tecture de Londres e graduado pelo Re-al Instituto de Arquitectos Britânicos.Com o empenho de Veva de Lima, fo-ram contratados e adquiridas obras deuma série de pequenas manufacturas eartistas nacionais, mas também foi da-da uma grande abertura a produtosmodernos e estrangeiros. Esta nova

embaixada de Portugal, em Londres,gozou de grande popularidade peloseu espírito moderno e pela sumptuo-sidade dos seus interiores, tendo me-recido um artigo muito elogioso na re-vista TheQueen, the ladie’s newspaper,emDezembro de 1935.O projecto foi materializado por VascoRegaleira num álbum de aguarelas in-titulado “Esquissos de Decorações deInteriores para a Embaixada de Portu-gal em Londres” 1, e ditado pelo gos-to e escolhas pessoais da embaixatriz,cuja residência em Lisboa fora já notí-cia em periódicos dos anos 20. Neste ál-bum foram apenas contemplados os es-paços de representação da embaixada(hall, escadaria, sala de estar, salão e sa-la de jantar) e foi dada grande im-portância à exactidão das cores e aca-bamentos a usar (recorrendo a re-ferências internacionais do The Archi-tects Paint Specifications Book ) e à por-menorização dos interiores (desenhosdos elementos estruturais e de mobi-liário, mas também a disposição dosquadros, dos vasos com flores, do

local exacto dos objectos decorativos).Por ter sido executado em Lisboa, oprojecto inicial foi posteriormente cor-rigido. Desta correcção, a decoração fi-nal da casa perde alguma da moderni-dade e da originalidade prometidas noprojecto inicial, a favor de uma repre-sentação do país. A embaixada acabouassim por ser, neste período de 1933 a1936, um compromisso entre um pro-jecto Art Deco e uma decoração maisconvencional que representasse o pa-trimónio artístico do país, as suas in-dústrias e que promovesse também asua identidade cultural. Algumas imagens denunciam a mime-se da casa do embaixador em Lisboa 2,com a utilização de escaiolas de gostoitalianizante, o uso de pesados cortina-dos a distinguir os espaços, o gosto porum cromatismo forte e a omnipresençada cenografia. Por outro lado, o espíritoArt Deco reflecte-se no projecto da salade jantar, com a cópia de candeeiros eapliques de Jacques-Emile Ruhlmannpara o Grand-Salon do Hotel du Collec-tionneur (da Exposição de Artes Deco-

A embaixada de Portugal em Londres...

…um projecto decorativoEm 1932, Ruy Ennes Ulrich,advogado, professor de direitoe administrador de várias com-panhias portuguesas, é nomea-do Embaixador de Portugal emLondres. Por essa ocasião, oEstado Português decide adqui-rir um novo edifício para alegação e encarrega o diploma-ta da escolha do local bem comoda respectiva decoração.

Projecto para a Sala Salmão ou Sala Vermelha

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rativas de Paris, em 1925). As consolasdessa sala sugerem os trabalhos de Ray-mond Subes em ferro e a utilização deum portão de ferro forjado de risco deRegaleira como divisória de dois salões,filiam este projecto no que de melhor seproduzia internacionalmente.Em consonância com as preferências daépoca, o projecto integra uma nota deexotismo, em pormenores decorativos,que evidenciam um gosto oriental quenão tem apenas a interpretação políticada multiculturalidade do povo portu-guês, mas num genuíno interesse pelaarte oriental e “artes primitivas” (de Áfri-ca, Oceânia, etc.) que, na época, levaramàformação de importantes colecções co-mo a dos Barões Stoclet, em Bruxelas.A sala de jantar, a mais fiel em relaçãoao croquis e a que mais surpreendeu ajornalista do The Queen Magazine em1935, desenvolvia-se em torno de umamesa desenhada por Victor Ramos, ins-pirada num modelo francês de Adnet,em pau santo e marfim e um grandeaparador de ferro forjado, numa evo-cação das ferroneries de Edgar Brandt.Esta sala, forrada a brocado prateado eazul, era indirectamente iluminada porquatro candeeiros em vidro venezianodesenhados por Zecchin Martinuzzipara Pauly & C.C.V.M, em 1933. Estas notas internacionais em nadacontradiziam as produções nacionaisda sala: nomeadamente os têxteis pa-rietais ou o tapete de Beiriz, copiandoum desenho de tapete oriental dos anos30 e em perfeita sintonia cromática e es-tilística com o conjunto.O projecto contemplou também umasérie de alusões nacionalistas que, dadaa sua exuberância teatral, foram poste-riormente abandonadas: nas escaiolasdos vestíbulos, os nomes de Viriato eSertório encimavam os acessos às res-tantes divisões do piso. Da lanterna pro-jectada, de rico cromatismo, pendiamas letras que compõem a palavra Lu-sitânia. No entanto, quer o projecto,quer o resultado final da embaixadaeram indefinidos quanto à orientaçãodo espaço interior como espaço de re-presentação de um país ou como inte-rior doméstico dos seus ocupantes. Adisposição dos objectos nas mesas, tão

pormenorizada nos esboços, coloca emprofundo contraste retratos pessoais eretratos oficiais. Um pequeno urso decerâmica de LeManceau para a Manu-factura de St-Clement ou os tapetes depeles, o “descuido” da colocação de almo-fadas que surgem nas imagens de inte-riores da época como sugestão de umaíntima domesticidade que muito poucose adequariam à ideia que actualmentefazemos dos espaços oficiais. Esta inde-finição foi ainda sublinhada com a utili-zação dos móveis, pinturas, ourivesariae bibelots, propriedade do embaixador,eque constituíram, sem dúvida, as peçasque conferiram à embaixada grandeparte do seu prestígio.Neste conjunto, que foi colocado a pardas peças mais modernas, destacam-seuma mesa de talha de Adolfo Marques,idêntica à comprada pela Rainha D.Maria Pia; pinturas da escola portu-guesa e um óleo atribuído a Luca Gior-dano; um conjunto de salão em pausanto, contadores indo-portugueses,ourivesaria antiga e da Casa Leitão e

Irmão; porcelanas, cristais e uma exten-sa colecção de arte oriental.Em1936, Ruy Ulrich foi afastado do seucargo em Londres. Na sequência deuma polémica diplomática e pessoal envolvendo o pretendente ao trono, D. Duarte Nuno (1907-1976) 3, o embai-xador é afastado e substituído por Ar-mindo Monteiro. A embaixada perde,então, toda a sua originalidade. Todo oespaço foi redecorado, num trabalhocoordenado por José de Figueiredo ematerializado pelos Arquitectos Rebelode Andrade. Quando chegou a Londreso novo embaixador descreveu assimaquela que a The Queen Magazine con-siderava uma das mais interessantes erequintadas Legações da Capital Ingle-sa: “não posso deixar de dizer que cau-sa espanto – indignação ou vontade derir – a maneira como foram arranjadasas paredes da casa. Por toda a parte fin-gimentos de mármores de cores varia-das – verde, cor de laranja, encarnado –cores berrantes, dourados ou prateadosabsolutamente impróprios de uma Em-baixada. Um paiz de mármores, como onosso, não pode ter aqueles ridículosfingimentos nas paredes da sua Embai-xada. E não me parece que seja decenteo recurso à cenografia. Tudo tem de serrepintado, de maneira sóbria e digna, jáque não pode ser rica. Os tons cremesdariam plena satisfação”.Deste modo, o valor do álbum do pro-jecto da embaixada vale sobretudo pelo documento que constitui e peloreflexo de um gosto mais ou menospessoal mas em sintonia com uma de-terminada época. Mas vale também como memória de um património na-cional; quer pela materialização dasmodas e ideias quer como projecto derepresentação patrimonial, artística epolítica de Portugal no estrangeiro.

NOTAS(1) – Este álbum é actualmente propriedade da FundaçãoMaria Ulrich e encontra-se na Casa Veva de Lima.(2) – Artigo publicado na revista Pedra&Cal n.º 27. (3) – Pai de D. Duarte Nuno, actual Duque de Bragança.

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PATRIMÓNIO MODERNOTema de Capa

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MÁRIO GOUVEIA, Técnico da C.M.Lisboa – Reabilitação UrbanaMÁRIO NASCIMENTO, Técnico da C. M. Lisboa – Museu da Cidade

Desenho de Vasco Regaleira para o portão de ferrodo salão

Um dos projectos para a Sala de Jantar

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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Em Agosto de 2000, dando seguimentoà solicitação da Secretaria de Estadodos Negócios Estrangeiros e da Coope-ração, a Oz iniciou a sua colaboração,com a recolha de informação de supor-te sobre as características construtivas eestruturais (levantamento estrutural) esobre as anomalias presentes na cons-trução, atendendo a que pouca ou ne-nhuma informação se encontrava dis-ponível sobre o edifício e que o seu es-tado de conservação era deplorável.Posteriormente, em parceria com aLEB, foi elaborado o projecto de reabili-tação estrutural.O presente artigo, cujo tema já foi abor-dado na edição da Pedra & Cal n.º 10, de Junho de 2001, reporta, mais em por-menor, os trabalhos de inspecção e en-saios realizados (fig. 2).

LEVANTAMENTO CONSTRUTIVO E ESTRUTURAL DO IMÓVELConsistiu na caracterização dos ele-mentos estruturais e, por consequên-cia, não estruturais, em termos da suadisposição no imóvel, da sua geome-tria (obtida em parte no levantamentoarquitectónico) e na avaliação das pro-priedades mecânicas dos materiaisconstituintes dos elementos estrutu-rais.Através de sondagens superficiais, crite-riosamente executadas, em paredes da

torre, foi possível verificar, na maioriadelas, a sua constituição de alvenaria depedra irregular de origem vulcânica ar-gamassada com ligante de cal. A tensãode rotura à compressão da alvenaria,avaliada indirectamente através ensaioslaboratoriais sobre amostras de pedra ede argamassa recolhidas em diversos lo-cais, tomou valores da ordem de 1 MPa,assinalando-se a elevada dispersão.Através da abertura de poços de reco-nhecimento foi possível verificar asfundações directas das paredes exterio-res e interiores da torre, constituídaspor vigas de betão, assentes sobre en-

chimento de material rochoso de ori-gem vulcânica.Nos pavimentos dos pisos 1 a 3 foi cons-tatada a presença de vigas e soalho demadeira, com os respectivos tectos for-rados com o mesmo material, enquan-to no pavimento do piso 4 foi constata-da a presença de painéis de laje de betãoarmado com perfis metálicos embebi-dos e na cobertura do corpo superior apresença de um único painel de laje debetão armado, também com perfis me-tálicos embebidos. Nos elementos dosvãos das fachadas foi possível consta-tar a sua constituição de betão armado.

AVALIAÇÃO DO ESTADO GERAL DE CONSERVAÇÃOA avaliação do estado geral de conser-vação do edifício, que envolveu obser-vações, quer directas, quer indirectas(boroscopia) e ensaios não destrutivosou reduzidamente intrusivos, foi fun-damental para a definição das medidascorrectivas mais adequadas. Dada a di-versidade da natureza dos elementosconstituintes do edifício, foram utiliza-das diferentes técnicas de diagnóstico.

• Levantamento de anomaliasConsistiu na identificação das anoma-lias visíveis, em particular as de índoleestrutural, levantamento da sua dispo-sição e extensão nos elementos da cons-trução, através de referenciação sobredesenhos. Para além da deterioração ge-neralizada, muito severa, dos elementosde betão armado (fig. 4), com reduçãosignificativa da secção dos varões, desta-ca-se, também, pela sua importância, a presença de fissuras com orientaçãobem definida nas paredes (fig. 5), denun-ciando a ocorrência de deformações im-portantes.

Conforme consta do site do IPAD, a Torre do Mindelo (réplica daTorre de Belém), antigo edifício da Capitania do Porto Grande doMindelo, República de Cabo Verde, foi recentemente objecto deobras de consolidação, reforço e acabamentos interiores (fig. 1), ten-do sido concluída a 1.ª fase do projecto de recuperação, cuja elabo-ração contou com o apoio da Oz, Ld.ª no que concerne à estrutura.

Torre de Mindelo Recolha da informação

de suporte à elaboração do projectoda intervenção estrutural

1 – Vista geral após a intervenção de recuperação

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O soalho e vigas de madeira dos pavi-mentos apresentavam sinais de ataquese infestação por agentes xilófagos, emespecial por caruncho pequeno e térmi-tas, que foram identificados em labora-tório nas amostras recolhidas em obra.

• Levantamento topográfico de desaprumosFoi feito o levantamento topográficodas fachadas da torre a fim de seremavaliados os desaprumos aparentes,tendo-se verificado a rotação, em plan-ta, da torre no sentido horário, assumin-do nalguns casos valores significativos.

• Avaliação do estado de conservaçãode elementos de madeira Para se avaliar com maior rigor a dete-rioração dos elementos de madeira fo-ram realizados ensaios de resistografia,que através dos perfis de densidade demadeira traçados foi possível averiguarda presença de eventuais descontinui-dades importantes no interior da secção.

• Avaliação sumária da corrosão das armadurasAavaliação da importância da corrosãodas armaduras foi feita, sumariamente,através da confrontação de três parâme-tros: a espessura de recobrimento das ar-maduras (medida com o pacómetro), aprofundidade de carbonatação dosbetões (determinada com uma soluçãoalcoólica de fenolftaleína) e o teor decloretos nos betões a várias profundida-des (eléctrodo de cloretos). Foi verifica-do que a frente de carbonatação dosbetões encontrava-se ao nível ou por trásdas armaduras e, principalmente, que oteor de cloretos nos pontos ensaiados eraexcessivo, devido a contaminação dosbetões (ambiente marítimo), podendo--se considerar como a principal causa da severidade da deterioração por cor-rosão dos elementos de betão armado.

CONCLUSÕESDe um modo geral, o edifício, votadoao abandono por demasiado tempo,apresentava um estado de degradaçãogeneralizada, muito severo, nalgumaszonas com risco de colapso. Aextensãodas anomalias, bem como a sua génese,apontava para a necessidade de imple-

mentar, de um modo generalizado, me-didas de consolidação e reforço.Recomendou-se a substituição dos pa-vimentos de madeira por lajes de betãoarmado calculadas em função da utili-zação pretendida para os espaços. Deigual modo, recomendou-se, também,asubstituição dos pavimentos de betão,bem como de todos os restantes ele-mentos de betão armado constituintesdas varandas e dos elementos decorati-vos dos alçados (guaritas, merlões,ameias, etc.), respeitando-se a geome-tria original, devido a não se considerarviável a sua reabilitação, que obrigavaa medidas demasiado intrusivas, quedificilmente seriam duráveis, devido,em particular, à contaminação dosbetões por cloretos.De forma a restabelecer o monolitismoda secção das paredes com fendas im-portantes recomendou-se a injecção decaldas cimentícias reo-plásticas, e, noscasos mais críticos, as superfícies defractura deveriam ser reforçadas atra-vés da introdução de pregagens metá-licas protegidas contra a corrosão.Para o aumento da resistência das pa-redes exteriores, recomendou-se a apli-cação de reboco armado, em ambas asfaces, por exemplo, com rede de metaldistendido, protegida contra a corro-são, ou rede de fibra de vidro com tra-tamento anti-alcalino.

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PROJECTOS & ESTALEIROSTema de Capa

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CARLOS MESQUITA, Eng.º Civil, Director Técnico da Oz, Ld.ªANTÓNIO VICENTE, Eng.º Civil (antigo colaborador da Oz, Ld.ª)

2 – Localização das zonas de ensaios

3 – Pormenor de sondagem numa parede, expondo a alvenaria

4 – Sintomas muito severos de corrosão das armaduras

5 – Corte transversal evidenciando a disposição dasfissuras de índole estrutural

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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Tema de Capa

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Foi pretensão do Instituto Português deMuseus, com a cooperação da DirecçãoRegional de Edifícios e Monumentos doCentro, proceder a um conjunto de in-tervenções ao nível do sistema de co-bertura, tais como: demolições e des-montes do actual sistema de revesti-mento em caixilharia metálica e placasdepolicarbonato; colocação de uma fai-xa periférica em telhado tipo luso; subs-tituição da estrutura de suporte em as-nas de madeira; remodelação do siste-ma de drenagem pluvial da cobertura eexecução de revestimentos interiores.O Museu de Arte Popular é constituídopela integração de quatro blocos, for-mando uma disposição funcional dosespaços (salas), em planta, de forma simétrica em relação ao seu eixo trans-versal (unindo a entrada principal aoclaustro central). A Sala 5, sobre a qual recaiu a fase deintervenção, é uma das duas salas demaior destaque na orgânica de utili-

zação do Museu, a qual apresentavaanomalias graves no estado de conser-vação geral de alguns elementos, comespecial enfoque na alteração das con-dições de apoio dos elementos princi-pais de madeira (com consequente afec-tação da alvenaria) e a ocorrência de fe-nómenos de torção e cedência localiza-da em alguns elementos resistentes. A intervenção assumiu, pois, especialrelevância no que toca à substituição daestrutura de madeira por um sistemade asnas em madeira lamelado colado,na montagem de um sistema compostode revestimento e drenagem pluvialque assegureasegurança estrutural im-posta de forma regulamentar, e a neces-sária estanquidade, acrescida do ade-quado escoamento das águas pluviais.Após remoção dos revestimentos exte-riores e interiores, efectuou-se uma ins-pecção de pormenor a todos os elemen-tos da cobertura a intervencionar (tec-tos, estrutura de suporte, revestimentos

e caminhos de drenagem), permitindoreorientar, em tempo útil, a execuçãodos trabalhos, face a uma ocorrência di-ferenciada em termos da evolução dasanomalias.O ordenamento dos trabalhos seguiu oseguinte faseamento geral:Fase A - Montagem de estaleiro e pro-tecções temporárias de obras de arteatravés da fixação de placas de contra-placado de madeira e papel protectordo tipo “Melinex”; desmontes e demo-lições de revestimento de cobertura(placas de policarbonato e revestimen-to de telha); sistemas de drenagem; as-nas estruturais; estruturas e revesti-mentos de tectos interiores.Fase B -Execução de estrutura de supor-te – lamelado colado; execução de novosuporte para revestimento de coberturaem madeira (telha) e estrutura metálica(policarbonato); execução de nova estru-tura metálica em caixilharia de suporteao revestimento de tecto sobre-céu; mon-tagem de passadiço metálico.Fase C - Execução de sistema de drena-gem; montagem de instalações de elec-tricidade; execução de revestimentosno tecto central em vidro e lateral emplaca de gesso cartonado; execução derebocos e estuques em paramentos.

A Monumenta cooperou, desta forma,na realização de trabalhos essenciais pa-ra a manutenção de um edifício com ele-vado valor cultural, museu de maiorimportância da Região Oeste, contri-buindo para a realização da exposiçãocomemorativa de dois artistas de re-ferência nacional.

AMonumenta, Ld.ª executou recentemente a reabilitação da cober-tura e sobre-céu da Sala Cinco do Museu José Malhoa, sito nasCaldas da Rainha, com vista à realização da exposição comemora-tiva dos 150 anos do nascimento de José Malhoa intitulada “Malhoae Bordalo: confluências duma geração”.

JOÃO VARANDAS,Engenheiro, Monumenta, Ld.ª

Museu José Malhoa Reabilitação da cobertura

e sobre-céu da Sala Cinco

Antes da intervenção Durante a intervenção

28 Proj&Estaleiros#2.qxp 12/7/05 5:41 PM Page 28

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

MATERIAIS & SERVIÇOS

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Acapacidade de investigação e inovação da multinacional Ondulinepermite a actualização e o desenvolvimento de produtos que seadaptam às necessidades reais e à evolução do mercado dos mate-riais para a construção civil.Através de um novo perfil de onda e de um significativo aumentoda quantidade de matéria-prima, em cerca de 30%, as Placas Onduline Plus apresentam características que as colocam no pata-mar de QUALIDADE mais elevado. À semelhança de todas as outras referências de placas fabricadas edisponibilizadas pela Onduline Portugal, também estas cumprema Norma Europeia específica para este tipo de placas fibro-betumi-nosas, a EN534.

O lançamento da nova Placa Onduline Plus vai ao encontro das ne-cessidades e expectativas dos Arquitectos, Engenheiros e Constru-tores Civis:

• Elevada Resistência;• Maior Isolamento;• Maior Ventilação;• Maior Facilidade de Aplicação;• Superior Performance das coberturas;• Adaptabilidade a todo o tipo de Telhas.*

De forma a resolver definitivamente o problema das infiltrações, aOnduline Roof-Systems apresenta Sistemas para Coberturas de su-perior QUALIDADE e sempre enquadrados nos processos cons-trutivos tradicionais.

*excepto telhas cerâmicas de canudo com largura superior a 185mm

Linha Directa de Apoio Comercial e Técnico em [email protected]

CARLOS FERREIRA, EngenheiroDirector de Marketing e QualidadeMIGUEL SILVA, EngenheiroDirector Técnico-ComercialOnduline, S. A.

Com um novo perfil de onda e um significativo aumento da quantidade de matéria-prima, as novas placas Onduline Plus são o mais recente produto da Onduline.

Novidade em Portugal...

Placa Onduline Plus

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MATERIAIS & SERVIÇOS

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 200530

Uma vez confrontados com este pro-blema, a solução que se nos apresenta éa de re-fixar as placas de ladrilho oupedra natural com buchas de nylon dealta resistência. Esta é actualmente asolução que oferece mais garantias dequalidade e resistência ao longo dotempo, permitindo obter um acaba-mento com elevado nível de perfeição.

Na escolha da fixação ideal devemos terem conta as seguintes condicionantes:

Universalidade - A bucha deve seradequada ao material base da fachada(devido à alternância do ladrilho,reboco e betão, a bucha utilizada deveráser universal, ou seja, tanto pode seraplicada em material oco como maciço).

Esforço de aperto -Abucha não deverátransmitir esforço de flexão às placas derevestimento. Esta condição impôe autilização das buchas de nylon, já que operno da fixação química ou metálica ésempre submetido a um aperto que setransmitiria às placas.

Comprimento - A bucha deve sersuficientemente longa para atravessara placa, o espaço entre a placa e omaterial base (reboco ou cola) e entrarno material resistente (betão ou tijolo) auma profundidade suficiente em todosos pontos da fachada.

Corrosão - O elemento de fixaçãodeverá ser de aço inoxidável, poisapesar de parcialmente protegido pela

bucha de nylon e pela própria pedra,esta é porosa e pode ter juntas abertaspor onde entra a água.

Carga - A fixação deverá suportar omomento de flexão transmitido pelopeso da placa, como um braço dealavanca, em função do espaço entre aplaca e o material base (atenção que oreboco não constitui um apoio fiável,pois não está sempre distribuído deforma homogénea e pode estar bas-tante degradado).

SOLUÇÃO FISCHER - BUCHALONGA UNIVERSAL FISCHER FURDentro da gama fischer a bucha uni-versal fischer FUR constitui a melhoropção nestas aplicações, pelo seucomportamento universal e pela vasta

gama de diâmetros, comprimentos eacabamentos (todas as medidas eversões galvanizadas e INOX A4).

SELECÇÃO DA SOLUÇÃO DEFIXAÇÃO IDEALA resistência mínima aceitável de unFUR em ladrilho oco é de 0,3 kN (embetão chega até 2,1 kN), o que, emconjunto com pelo menos duas fixaçõespor placa, faz com que em qualquersituação esta resistência seja mais doque suficiente, e o cálculo determi-nante não dependa tanto da união dabucha com a placa ou o betão, mas antesdo comportamento do elemento defixação entre a placa e a estrutura.

Em busca da solução ideal

Reabilitar fachadas revestidas a pedra ou ladrilho

BLAU, Ld.a

O desprendimendo de placas de revestimento, em fachadas de ladrilho ou pedra natural, é umfenómeno frequente e já quase considerado um problema normal. A solução ideal será sempre a deprevenir e evitar esta situação na fase de projecto através da construção de uma fachada ventiladaou a aplicação directa com cimento cola adequado, com juntas de dilatação e buchas de retenção.

Comportamento em material maciço

Comportamento em material oco

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

PREVENÇÃO & PLANEAMENTO

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Coincidindo com a publicação do re-latório global da corrupção de 2005, aTI lançou uma iniciativa internacio-nal que visa combater a corrupção emempreendimentos de construção. Oseguinte conjunto de documentosdestina-se a prevenir a corrupção nosector. São documentos de discussãoe a TI agradece todos os comentáriosque possam conduzir à melhoria dosdocumentos originais ou à adição denovos documentos. Os comentáriosdevem ser enviados para: [email protected].

Poderá aceder a alguns dos seguintesdocumentos através do link:1. "Risk assessment and proposed

actions for project owners" 2. "Risk assessment and proposed

actions for banks, export creditagencies, guarantors and insu-rers"

3. "Risk assessment and proposedactions for construction and en-gineering companies and consul-ting engineering firms"

4. "Examples of corruption"5. "Independent assessment"6. "Construction integrity pacts"7. "Model construction integrity

pact - sector"8. "Model construction integrity

pact - project - prequalificationand tender"

9. "Model construction integritypact - project - execution"

10. "Model claims management code"

1. "Avaliação de risco e acções pro-postas para proprietários do em-preendimento"

Este documento:- dá exemplos de tipos diferentes depráticas de corrupção que podemocorrer durante as várias fases deconstrução de um empreendimento;- mostra como o efeito do custo dasvárias práticas de corrupção pode en-carecer o empreendimento, e causardanos a todos os envolvidos;- avalia o risco para os donos dos em-preendimentos em consequência dacorrupção;

- propõe acções a serem tomadas pe-los proprietários do empreendimen-to para reduzir o risco de corrupçãona construção.

2. "Avaliação do risco e acções pro-postas para bancos, instituiçõesde crédito à exportação, avalistase seguradoras"

Este documento:- dá exemplos de tipos diferentes depráticas de corrupção que podemocorrer durante as várias fases deconstrução de um empreendimento;- mostra como o efeito das várias prá-ticas de corrupção pode encarecer oempreendimento, com danos paratodos os envolvidos;- avalia o risco dos bancos, agên-

cias de crédito à exportação, aosavalistas e aos seguradores ("finan-ciadores") em consequência da cor-rupção;- propõe acções que poderiam ser to-madas pelos financiadores para redu-zir o risco de corrupção em empreen-dimentos de construção.

Por todo o mundo, o sector da construção é avaliado regularmente como um dos mais corruptos.Mesmo assim, a escala e os efeitos da corrupção são frequentemente subestimados. A edição 2005do relatório global de transparência internacional destaca o impacto devastador da corrupção naconstrução e o que pode ser feito para a evitar.

Iniciativa “TI - Transparência Internacional” Para combater a corrupção em

empreendimentos de construçãoTradução do documento ”TI INITIATIVE PREVENTING CORRUPTION ON CONSTRUCTION PROJECTS” http://www.transparency.org/in_focus_archive/gcr/neill/2005.03.16.TI_construct_projects.html

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PREVENÇÃO & PLANEAMENTO

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 200532

3. "Avaliação do risco e recomen-dações para empresas construto-ras e empresas de consultoria deengenharia"

Este documento:- examina o modo como as acções decorrupção dos empregados, empresassubsidiárias e associadas, agentes,parceiros de “joint ventures” e consór-cios, sub-empreiteiros, consultores,fornecedores, concorrentes, donos deobra e funcionários do governo po-dem causar efeitos adversos durante aconstrução de um empreendimento;- avalia os prejuízos e a responsabili-dade civil e criminal em que uma em-presa pode incorrer em consequênciadas acções de corrupção por estas en-tidades;- propõe as acções que podem ser to-madas por empresas de construção eempresas de consultoria de engenha-ria para reduzir o risco de corrupçãona construção de empreendimentos.

4. "Exemplos de corrupção"Este documento:- examina o inter-relacionamento en-tre o suborno e a fraude, e comenta al-guns dos métodos para ocultar su-bornos;- examina o modo como a naturezacomplexa, diversa e fragmentada deum empreendimento de construção,contribui para a existência da cor-rupção na construção;- resume algumas das práticas maiscomuns que podem ocorrer duranteas diferentes fases de um empreendi-mento de construção;- fornece exemplos detalhados depráticas de corrupção, com uma aná-lise destes exemplos;- mostra o efeito destrutivo e cumula-tivo que o suborno e a fraude, do tipodescrito neste relatório, pode ter nocusto de um empreendimento deconstrução.

5. "Avaliação independente"Este documento:- comenta o facto de as práticas de cor-rupção serem cuidadosamente oculta-das, tornando-se muito difícil paraquem não esteja envolvido directamen-te na construção do empreendimentoimpedir ou denunciar estas práticas;- dá exemplos de tipos diferentes depráticas de corrupção que podemocorrer durante as várias fases de umempreendimento de construção;- propõe a redução deste tipo de prá-ticas de corrupção através da nome-ação, pelos intervenientes no empre-endimento de construção, de um pe-rito assessor independente, que tenhao acesso total aos registos e emprega-dos, e cujo o papel seja impedir práti-cas corruptas, e descobrir e relatartais práticas;- sugere o âmbito do trabalho, o me-canismo da nomeação e a estruturada retribuição do assessor.

6. "Pactos de integridade na cons-trução"

Este documento:- dá exemplos de tipos diferentes depráticas corruptas que podem ocor-rer durante as várias fases de um em-preendimento de construção;- avalia os riscos que os intervenien-tes na construção do empreendimen-to enfrentam em consequência destaspráticas;- propõe o recurso a pactos de integri-dade independentemente monitora-dos e aplicados para ajudar a reduzirestes riscos;- analisa os tipos diferentes de pactosde integridade que podem ser postosem prática.

7. "Modelo de integridade na cons-trução - sector"

Este documento é um modelo de pacto entre as empresas que traba-

lham no mesmo sector para agir comintegridade quando em concorrên-cia, em qualquer parte do mundo.

8. "Modelo de integridade na cons-trução - empreendimento – pré-qualificação e concurso"

Este documento é um modelo de pacto entre o dono de obra, projectis-ta e todos os concorrentes para agircom integridade em relação à pré--qualificação e/ou processo de con-curso para um empreendimento deconstrução específico.

9. "Modelo de pacto de integridadena construção - empreendimento -execução"

Este documento é um modelo de pac-to entre o dono de obra, fiscalização eadjudicatário para agir com integri-dade em relação à execução de umempreendimento de construção es-pecífico.

10. "Código para a gestão das recla-mações"

Este documento é um código de con-duta modelo que pode ser incorpora-do em contratos da construção, emque os signatários se comprometem alitigar com absoluta integridade.

Ver também o “Relatório Global daCorrupção 2005” da TI, que foca a cor-rupção na indústria de construção eengenharia a nível internacional, bemcomo o comunicado à imprensa da TI:"Combatendo a corrupção em empre-endimentos de construção".

TRANSPARENCY INTERNATIONAL (TI) Alt Moabit 96 - 10559 Berlin, GermanyPhone :+49-30-343 8200 Fax :+49-30-3470 3912e-mail: [email protected] www.transparency.org

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Project1 12/13/05 4:57 PM Page 1

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 200534

Se isto é verdade, também o é que, aentidade pública, dona da obra, temo poder discricionário de excluir umconcorrente com fundamento no“preço anormalmente baixo” da suaproposta, se se tratar duma emprei-tada por preço global ou, se for porsérie de preços, se alguns dos preçosunitários que apresentar forem“anormalmente” baixos.Efectivamente, atente-se no teor don.º 2 do art.º 105º do DL 59/99, de 02

de Março, que aprovou o Regime Ju-rídico das Empreitadas de Obras Pú-blicas (RJEOP), sob a epígrafe “Crité-rio de adjudicação”: “2 - O dono da obra não pode rejeitaras propostas com fundamento empreço anormalmente baixo sem an-tes solicitar, por escrito, ao concor-rente que, no prazo de 10 dias, presteesclarecimentos sobre os elementosconstitutivos da proposta que consi-dere relevantes, os quais devem ser

analisados tendo em conta as expli-cações recebidas (...)”.Para sermos claros, mais do que a lei,tal significa que o dono da obra podeexcluir um concorrente cuja propos-ta se apresente com um preço maisbaixo, por suspeitar que o mesmonão conseguirá cumprir os preços aque se propõe executar os trabalhos,seja o preço global da empreitada, se-jam os preços unitários da mão-de--obra, equipamentos ou materiaisnecessários à execução dos trabalhos. Alei dá aqui ao dono da obra um con-siderável poder discricionário para,por um lado, ter ele o entendimentode que o preço apresentado pelo con-corrente é “anormalmente” baixo, e,por outro, aceitar ou rejeitar as expli-cações dadas pelo concorrente paraaquilo que o dono da obra entendeser um “preço anormalmente baixo”.E, surpreendentemente, começa avulgarizar-se o procedimento de no-tificação ao concorrente para vir ex-plicar no processo concursal comoconseguirá cumprir os preços a quese propõe realizar os trabalhos.

É tido como assente pelas empresas titulares de alvarás deempreitadas de obras públicas que, num concurso público paraadjudicação duma empreitada de obras públicas, o critério noqual se baseia a adjudicação é o da “proposta economicamentemais vantajosa, implicando a ponderação de factores variáveis,designadamente o preço, o prazo de execução, o custo de utili-zação, a rendibilidade, a valia técnica da proposta e a garantia”(art.º 105º, n.º 1 do DL n.º 59/99, de 02 de Março, que aprovou oRegime Jurídico das Empreitas de Obras Públicas).

Opreço “anormalmente” baixo

nas empreitadas de obras públicas

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Caso o empreiteiro incorra emomissão e não responda no prazo de10 dias úteis a contar do recebimentoda notificação da entidade pública,ou, mesmo respondendo, a sua expli-cação não convença o dono da obra,o resultado será com toda a certeza aexclusão.Na explicação a dar por escrito ao do-no da obra, nos termos do n.º 3 doart.º 105º do RJEOP, o concorrente po-derá defender que os preços não sãoabaixo dos do mercado, ou que, sen-do-o, se justificam por uma ou váriasdas seguintes razões: a) originalida-de do projecto da autoria do concor-rente (só se a obra for de con-cepção/execução); b) economia doprocesso de construção; c) soluçõestécnicas adoptadas; d) condições ex-cepcionalmente favoráveis que o

concorrente disponha para a exe-cução dos trabalhos. Enquadrar-se-ão naquelas situações,por exemplo: a propriedade da em-preiteira dos equipamentos, que até jápoderão estar amortizados; a proxi-midade geográfica dos equipamentosa afectar à obra; a existência de meioshumanos destacados no local, que atépodem pertencer ao quadro da em-presa; a identificação da solução téc-nica aplicada que permite a dimi-nuição dos custos, a especial técnicautilizada pela empresa que é especia-lizada naquele tipo de trabalho, etc..O limite para as explicações a dar de-ve ser o da preservação do segredoindustrial do concorrente, tendosempre presente que a omissão po-derá resultar contra ele.Aexplicação deve ser o mais comple-

ta possível, por forma a que, o concor-rente, mesmo que excluído, possa re-clamar e se necessário recorrer hie-rarquicamente do acto de exclusão,que a manter-se deixa ao concorrentecomo única via possível de reacção, acontenciosa, para se ressarcir dosprejuízos e lucros cessantes, casoconsiga demonstrar que, se não fosseexcluído por alegada prática de “pre-ços anormalmente baixos” ganharia oconcurso.

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A. JAIME MARTINS, Advogado-Sócio de ATMJ, Sociedade de Advogados, RLDocente universitá[email protected]

Soc. Construções José MoreiraAv. Manuel Alpedrinha 15 • 2720 - 352 Amadora, PORTUGAL

Tel: +351 21 496 1270 • Dct: +351 21 499 8655 • Mob: +351 91 7230 635 • Fax: +351 21 495 [email protected][email protected] • www.josemoreira.com

Capital Social € 750.000, CRC Amadora 4482, Alvará Construção 2294, NIF 501337300

34-35_Leis do património.qxp 12/7/05 5:48 PM Page 35

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Em destaque na nona edição da ECDJPlano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Pombalino de Vila Real de Santo António

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

NOTÍCIAS

O Departamento Histórico e Artísticoda Diocese de Beja (DPHA) recebeurecentemente o prémio Europa Nostrana categoria de “contributo exemplarpara a preservação do património”.Atribuído pela União Europeia e aEuropa Nostra (federação pan-euro-peia de associações de defesa do patri-mónio), este prémio visa distinguir rea-lizações excepcionais e exemplares naárea do património cultural.O DPHA da Diocese de Beja, a funcio-nar desde 1984 e composto por umaequipa de voluntários, tem como prin-cipal função proteger e salvaguardar opatrimónio religioso da diocese contraa destruição e o abandono. O abandono de mais de 100 igrejas da

diocese (incluindo capelas), o rouboconstante de obras de arte e a desvalo-rização do património como resultadode intervenções efectuadas por pesso-as e empresas não qualificadas para oefeito levaram à criação deste organis-mo local de salvaguarda e valorizaçãodo património. Uma das acções maisimportantes do DPHA foi o desenvol-vimento de um moderno inventáriotemático do património religioso dadiocese de Beja (que inclui uma basede dados informatizada), que abrange,entre outros, alfaias litúrgicas (ourive-saria e joalharia), esculturas, pinturas,paramentos, arquivos, peças de arque-ologia e artes decorativas (talha, pintu-ra mural, azulejaria). Foram inventa-

riados cerca de 500 edifícios e perto de200 mil objectos. Até à data, o DPHAjá restaurou mais de50 igrejas históricas e aproximadamentemil obras de arte. Para os principaismonumentos que se encontram abertosao público, o DPHA criou comissõeslocais de protecção e salvaguarda.Das várias acções levadas a cabo poreste organismo, convém ainda desta-car o desenvolvimento de uma redede museus espalhados pela diocese ea organização de diversas exposiçõesde arte sacra como “As Formas deEspírito” e “Entre o Céu e a Terra”,tendo esta última sido galardoadacom o prémio Professor Reynaldo dosSantos.

Já saiu a nona edição da revista EmCima Do Joelho (ECDJ), dedicada aoPlano de Pormenor de Salvaguardado Núcleo Pombalino de Vila Real deSanto António e ao Projecto Urbanode Coimbra (programa preliminar deum projecto urbano para a área deinfluência dos HUC e do Pólo dasCiências da Saúde da Universidadede Coimbra).Além dos Planos, a publicação incluinotícias sobre o processo de elabo-ração, reflexões preliminares e apre-ciações críticas produzidas durante osrespectivos desenvolvimentos, como éocaso de algumas comunicações apre-sentadas nas Jornadas sobre o Ante-

Plano de Pormenor de Salvaguarda deVila Real de Santo António.A revista ECDJ é uma publicação dodepartamento de Arquitectura daFaculdade de Ciências e Tecnologiasda Universidade de Coimbra e temcomo principal função ser veículo deregisto e divulgação de algumas dasactividades académicas e / ou científi-cas do departamento e do Centro deEstudos de Arquitectura.Nesta edição, a revista contou com oapoio editorial de Walter Rossa eAdelino Gonçalves.A revista ECDJ foi publicada pela pri-meira vez em Outubro de 1999, tendoabordado a Polémica do Freixo. As pro-

blemáticas da arquitectura da cidade eourbanismo têm sido as temáticas cen-trais abordadas em números anterio-res desta publicação.

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DPHA da Diocese de Beja recebe prémio Europa Nostra

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NOTÍCIAS

Colóquio “As Linhas de Torres hoje. História e memória”

37Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

No ano em que se comemora o centená-rio da morte do artista, reabriu, no passa-do dia 5 de Outubro, o Museu RafaelBordalo Pinheiro. Sito no Campo Gran-de, 382, este equipamento cultural dacidade de Lisboa instalado numa antigamoradia (de 1916) está de novo aberto aopúblico, após beneficiar de profundasobras de reabilitação que, não tendo alte-rado a traça do edifício, o requalificarampara a sua função museológica.

Apar da utilização de tecnologia audio-visual e multimédia que permite a con-textualização da vida e obra de BordaloPinheiro, uma nova disposição doespólio concretiza com critério a rotati-vidade de peças seleccionadas do acer-vo, garantindo ao público a renovaçãoperiódica dos exemplares expostos. Oacervo geral foi iniciado com a doaçãoàcidade, em 1924, da colecção do colec-cionador Arthur Cruz Magalhães, que

igualmente doou a moradia que hoje aacolhe. Este acervo inclui hoje 1200peças de cerâmica, 3500 exemplares degravura, 3000 originais de pintura edesenho e 1300 publicações, para alémde um significativo acervo documen-tal, e que entretanto foi também alvode um processo de requalificação, atra-vés de operações de limpeza e conser-vação e/ou restauro.Outra novidade consiste na Galeria deExposições Temporárias, instaladanum edifício independente datado de1992 mas agora significativamentealterado e ampliado. Neste edifíciofuncionam também uma loja doMuseu (onde se podem adquirir peçasinéditas inspiradas no universo borda-liano) e actividades pedagógicas infan-to-juvenis. A reabertura do Museu foi tambémassinalada com o lançamento de umasérie de edições relacionadas com aobra de Bordalo, as exposições e asoutras actividades do Museu. A suaBiblioteca, com cerca de 3000 espé-cies, disponibiliza aos investigado-res originais da sua colecção de reser-vados.O Museu Rafael Bordalo Pinheiro estáaberto ao público de Terça-feira a Do-mingo, das 10h00 às 18h00, encerran-do às Segundas e Feriados. Mais informações através do sitewww.museubordalopinheiro.pt.

Talha Manuelina – FaiançaMarcada: “FFCR” e “Raphael B. Pinheiro”

O Soberano ! – Litografia coloridaAss: “Raphael Bordallo Pinheiro”Publicado n’ Álbum das Glórias, 1882

Museu Rafael Bordalo Pinheiro

O bicentenário das invasões france-sas (1807-10) aproxima-se e um con-junto de entidades ligadas à históriamilitar e ao património e as seisautarquias atravessadas pelas duaslinhas de defesa de Lisboa (as“Linhas de Torres Vedras”) estãoempenhadas em assinalar este acon-tecimento decisivo da História dePortugal. O projecto de salvaguarda

dos cerca de 150 fortes, baterias eredutos destas Linhas foi realizadoem 2001-02 pelas Câmaras de Mafra,Sobral de Monte Agraço, Arruda dosVinhos, Loures, Torres Vedras e VilaFranca de Xira e agora chegou omomento de criar os mecanismosque permitam a conservação e valo-rização dos sítios mais significativos.O Colóquio, que decorreu a 21 de

Setembro, em Vila Franca, procurourelançar o debate e encontrar siner-gias para comemorar o bicentenárioda epopeia de resistência dos portu-gueses e ingleses aos exércitos napo-leónicos. As Linhas de Torres foramo local onde o marechal Massena foitravado e a partir do qual se iniciou ofim do império francês.

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NOTÍCIAS

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 200538

Oz acreditada pelo IQFcomo entidade formadoraAOz, Ld.ª foi recentemente acreditadapelo IQF (Instituto para a Qualida-de na Formação) como entida-de formadora nos domínios de organização / promoção edesenvolvimento / execuçãode intervenções ou actividadesformativas nas áreas da Ar-quitectura, Construção Civil eEngenharia Civil, entre outras. A empresa pretende oferecer for-mação em sectores que correspon-dem à sua especialização, dando con-tinuidade, agora de um modo maisformal, a iniciativas formativas quetem tido nos últimos anos.

A acreditação consiste numa vali-dação técnica e no reconhecimento

formal da capacidade formativade uma entidade, de acordo

com um conjunto decondições e requisitos

mínimos. As entidadessão acreditadas nos domí-

nios de intervenção em que demons-tram deter as competências, meios erecursos adequados. Estando a Oz acreditada, poderá can-didatar-se a apoios comunitários àrealização de acções de formação, tor-nando-as, assim, mais acessíveis aosinteressados.

ERA-ARQUEOLOGIA: umnovo logótipo para uma “nova” marca A Era - Arqueologia foi fundada em 1997,orientando a sua actividade para aactuação nas áreas da Arqueologia,Conservação e Restauro e Gestão doPatrimónio. Em oito anos de actividademuito mudou em Portugal, na Arqueo-logia e na Era. O contexto em que a empre-sa actuava evoluiu, a sua personalidade

alterou-se e a sua marca transformou-se,adaptando-se à actualidade. O novo lo-gótipo traduz o arranque da nova marcada Era-Arqueologia: do trabalho daarqueologia à prestação de serviços degrande qualidade técnica e científica naárea do Património Histórico e Arqueo-lógico.

O projecto Casa Virtual da EnergiaA Casa Virtual da Energia é umaferramenta virtual concebidarecentemente pela QUERCUS/ ECOCASA com vista à pro-moção da alteração de hábi-tos adquiridos por todos nósna forma como gerimos osconsumos em nossas casas. De uma forma inovadora, pretende-seque a CVE seja um meio de infor-mação, visualização e sensibilizaçãopara um conjunto de acções que todos

podem desenvolver em suascasas em prol do ambiente, edas suas carteiras.

Numa primeira fase, a CVE irá dedicar--se à problemáticada conservação da

energia, a sua inter-relaçãocom demais áreas de impacte e assoluções possíveis ao alcance de cadaconsumidor, numa escala crescente deaumento da eficiência do sistema

energético. Esta ferramenta permiteao utilizador simular os consumos de

energia que faz na sua casa, bemcomo o comportamento térmico

da habitação. Terá ainda simu-ladores para a aquisição deequipamentos de energiasrenováveis, nomeadamentede painéis solares térmicos e

fotovoltaicos.Já disponível em http://www.ecoca-sa.org/CVE_site.php .

O que eles dizem...“A grande mudança que os muni-cípios têm de introduzir nos próxi-mos 10 ou 15 anos é a transição domunicípio investidor, em que o queimportava para os executivos epara os presidentes da câmara eraa obra feita, para o município bomgestor. (…) Não vejo por que razãonão se deva introduzir no nívelcamarário uma panóplia de instru-mentos de gestão financeira seme-lhante ao que já existe no sector pri-vado. Isto poderá significar umaumento da transparência e a per-cepção de que uma boa gestão nãosignifica fazer obra.”

José CostaDirector da Faculdade de Economia do Porto

Fonte: Revista Municípios & Regiões dePortugal, Junho 2005

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Protecção catódica na ponte Vasco da GamaComo parte do projecto de I&D ”Novos Avanços naProtecção Catódica para Reabilitação de Estruturas deBetão Armado” e ao abrigo do acordo estabelecido entre oconsórcio do projecto, formado pela ZetaCorr, A2P, IST e aUniversidade de Vigo, e a Lusoponte foi instalado um sis-tema piloto de Protecção Catódica num dos pilares daPonte Vasco da Gama. O sistema foi instalado pela STAP,no âmbito do protocolo de cooperação entre a STAP e aZetaCorr. O sistema introduzido pode ser classificadocomo de Prevenção Catódica uma vez que tem como objec-tivo evitar a corrosão das armaduras que se encontram ain-

da passivadas.A Protecção Catódicado betão armado per-mite prevenir ou eli-minar a corrosão dasarmaduras, que cons-titui o principal pro-blema associado àdurabilidade das es-truturas de betão ar-mado, e que resulta,em geral, da carbo-natação e da conta-minação por cloretos.A técnica de Pro-tecção Catódicaconsiste essencial-mente em tornar opotencial eléctricodo aço mais negati-vo, isto é, catódico. Oabaixamento do po-tencial eléctrico doaço é obtido atravésda passagem de umacorrente contínua debaixa intensidade deum ânodo exteriorpara o aço, através dobetão. As interven-ções de Protecção Ca-tódica envolvem um

conjunto de actividades que são específicas de cada projecto eque dependem do tipo de ânodo adoptado para a inter-venção. A STAP dispõe de todos os meios necessários para arealização eficaz das intervenções de Protecção Catódica.

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

NOTÍCIAS / AGENDA

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Figura 2 – Aspecto final dos trabalhos de insta-lação da Protecção Catódica

Figura 1 – Instalação dos ânodos

PATORREB 20062.º Encontro sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios20 e 21 de Março de 2006, Faculdade de Engenharia daUniversidade do PortoOrganização: Faculdade de Engenharia da Universidadedo Porto; Universidade Politécnica da CatalunhaA reabilitação é uma área estratégica que deve não só preo-cupar-se com as construções históricas e os edifícios antigos,mas também com aqueles cujo tempo de utilização exigeintervenções de adaptação às exigências actuais. Por outrolado, nas últimas décadas foram construídas centenas defogos que nem sempre apresentam o desempenho esperado,o que exige o diagnóstico das patologias e a sua reparação. Nestas circunstâncias, pretende-se que este encontro téc-nico-científico de dimensão ibérica constitua um novoimpulso para a definição de uma estratégia clara para ofuturo da reabilitação.Informações: FEUP - Departamento de Engenharia CivilRua Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto – Fax: 225 081 940, E-mail: [email protected], Website: http://paginas.fe.up.pt/patorreb2006

Heritage in changing societies - Heritage and development22-25 de Maio de 2006, Lovaina, BélgicaOrganização: K.U.Leuven - Raymond Lemaire Interna-tional Centre for Conservation, RWTH e EAAE.Após 30 anos de educação multidisciplinar, é tempo dereflectir no passado e no futuro das filosofias e práticas daConservação concebidas pelo programa do Centro deLemaire, repensando o que foi formulado, ensinado e difun-dido pelo RLICC. Será abordado o tópico da globalização(pensamento e prática), para debater a “aproximação multi-cultural vs ideologia” e avaliar a aplicabilidade das diferen-tes teorias da Conservação.Informações: Raymond Lemaire International Centre for ConservationE-mail: [email protected]: www.asro.kuleuven.ac.be/rlicc/conservation2006

Spaces of Memory and Practicesof Restoration22-26 de Março de 2006, Firenze / Montecatini Terme, ItáliaEste tema é parte integrante de vários workshops organi-zados para o 7th Mediterranean Social and PoliticalResearch e é dirigido pelo Departamento de Antropologiada Universidade de São Francisco (EUA) e pela Unidadede Conservação Riwaq do Centro Ramallah para aConservação da Arquitectura (Palestina).Pretende-se que os workshops contribuam para o estabele-cimento de uma perspectiva mediterrânica para o debatesobre a memória. Informações: http://www.iue.it/RSCAS/Research/Mediterranean/mspr2006/Index.shtml

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VIDAASSOCIATIVA

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VIII Jantar GECoRPA

Realizou-se no passado dia 19 de Outubro, no HotelSheraton em Lisboa, o VIIIJantar GECoRPA, que contoucom a presença da Presidente da Ordem dos Arquitectos,Helena Roseta, como convida-da de honra e com a partici-pação de cerca de 50 pessoas(entre representantes da Or-dem dos Engenheiros, INH,CML, de empresas de Conser-vação e Restauro) e da comuni-cação social especializada.No final do jantar, após a apresentação da oradora feita peloPresidente do GECoRPA, Vítor Cóias, Helena Roseta fez umacomunicação sobre o tema, proposto pelo GECoRPA,Negócio imobiliário e salvaguarda da cidade histórica:como conciliar, que motivou um interessante debate comintervenções de vários participantes. No seu discurso, a oradora convidada começou por salien-tar o factor “competitividade” como um dos elementos fun-damentais para o desenvolvimento das cidades contem-porâneas. Este factor exige às cidades uma imagem actual,para a sua “emergência” como centro de grandes fluxos naconjuntura do mercado global. Entendendo que Portugalnão dispõe de “cidades globais”, Helena Roseta realçou ahistoricidade das nossas urbes como um recurso que pode edeve ser usado na competitividade global.Como maus gestores do património, na sua generalidade,os portugueses têm mantido os centros históricos numa con-tradição sócio-económica: são as zonas urbanas com maisvalor cultural e financeiro, e, no entanto, mantêm-se margi-nalizadas pelo congelamento das rendas, pelo decaimentoda população residente e pela ausência de manutenção.

A partir dos anos 80, tentou-se inverter a situação criandosucessivos modelos de reabilitação: as candidaturas aPatrimónio Mundial de Évora e Guimarães, a criação dosGabinetes Técnicos Locais nas autarquias, a intervenção--modelo da Expo 98, o Programa Polis e a criação recente dasSociedades de Reabilitação Urbana (SRUs). No entanto, per-manecem as contradições, que não permitem a implantaçãodo negócio imobiliário nos centros das cidades. Hoje, osmodos de vida evoluíram para novas exigências de habita-bilidade, condicionados pelas mudanças estruturais nasfamílias, que exigem uma nova liberdade de intervençãonos edifícios antigos – uma “arquitectura de reciclagem”. O centro histórico mantém-se uma “zona incompressível”,nas palavras da oradora, e, para ser reabilitado, precisa deurgentes parcerias. E o papel fundamental das entidadespúblicas é o do atendimento à questão social. Não são osapetecidos condomínios privados que constituem a desejá-vel solução à cidade, já que representam um atentado a essaliberdade urbana com 800 anos de tradição na Europa.Citando o caso de estudo de Baltimore, nos EUA, a soluçãoreside, segundo a Arq.ª Helena Roseta, na educação dapopulação para o orgulho local. Após a intervenção da convidada de honra, o Presidente doINH realçou o trabalho de incentivo levado a cabo peloPrograma RECRIA, através dos GTLs e dos proprietários.José Teixeira Monteiro considerou que as autarquiasdeverão entender o investimento no património privadocomo uma aposta exemplar e estimulante na reabilitação deedificado. A nova dinâmica da reabilitação urbana só seráconseguida aquando da reabilitação de conjuntos.A Presidente da Ordem dos Arquitectos comentou que oinvestimento privado na reabilitação se torna frustrantedada a demora na aprovação dos Planos de Pormenor. Noentanto, considerou um bom sinal que o Governo incluíssenos Programas de Apoio da União Europeia a questão darevitalização das cidades.

Perspectiva do jantar, com o Presidente do GECoRPA, Vítor Cóias, a dar inícioao debate

José Teixeira Monteiro, Presidente do INH; Helena Roseta, Presidente da Ordem dosArquitectos; Vítor Cóias, Presidente do GECoRPA, Nuno Teotónio Pereira, Arquitecto

Helena Roseta, convidada de honrado VIII Jantar, na sua intervençãosobre o tema proposto.

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

VIDAASSOCIATIVA

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2.º Seminário sobre Reabilitação de Edifícios organizado pela Ordem dos Engenheiros e GECoRPAO ciclo de seminários promovido pela Ordem dosEngenheiros e GECoRPA foi encerrado com a realização dosegundo dedicado ao tema Selecção e aplicação dos materiaispara a reabilitação de edifícios,no passado dia 26 de Outubro,no auditório da sede da Ordem dos Engenheiros. Com o patrocínio da empresa STAP, S. A., o seminário focoufundamentalmente, dada a vastidão do tema, as partes dosedifícios onde a necessidade de intervenções de reabilitação secoloca, normalmente, com maior acuidade: o “envelope”, ouseja, as coberturas, fachadas e caves; e a estrutura. Para um uni-verso de cerca de 200 participantes, a problemática dos produ-

tos usados na reabilitação construtiva e estrutural foi apresen-tada dos quatro pontos de vista mais importantes: da con-cepção do produto; do seu fabrico e distribuição; da suaselecção, face aos requisitos de cada caso concreto; da sua apli-cação em obra. Os especialistas convidados para a análise destas questõesforam os engenheiros: João Bordado (IST); Dario Rossignoli(Tecnocrete/Tecnochem, Itália); Vasco Pereira (Weber--Cimenfix); Thomaz Ripper (LEB); António Costa (IST);Amélia Dionísio (IST); Esteves Ferreira (LNEC); Vítor Cóias(GECoRPA/ STAP, S. A.).

GECoRPA na Concreta 2005

Foi a vez de Fernando Santo, Bastonário da Ordem dosEngenheiros, intervir, desacreditando os modelos de reabi-litação existentes e focando a Lei das Rendas como um dosprincipais entraves à conservação dos imóveis.ADirectora Municipal da Conservação e Reabilitação Urbana,Mafalda de Magalhães Barros, foi mais optimista no que res-peita à reabilitação de Lisboa, onde tem havido um esforço

para uma contextualizaçãoglobal da cidade no seu todo.Foi lançada a ideia de inspecçõesperiódicas dos imóveis, por umrepresentante de uma empresaprivada, à semelhança do queacontece com os automóveis.Ideia de que Nuno TeotónioPereira lançou mão para denun-ciar décadas de políticas erradasepara apontar a penalização fis-cal por fogos devolutos comouma das medidas para promo-ver a reabilitação.

O debate foi encerrado por Vítor Cóias, que apontou a urgên-cia da reabilitação dos imóveis das zonas antigas das cidades,recuperando os requisitos actuais de habitabilidade, confortoesegurança. Para tal, torna-se necessária, por parte de todos osintervenientes, desde o proprietário aos responsáveis pelaintervenção e aos governantes, uma nova mentalidade queperspective a cidade como um bem cultural a preservar.

O GECoRPA participou na última ediçãoda Concreta, na Exponor, com um stand,com o objectivo de divulgar os seus princí-pios, actividades e serviços, e sócios. Algunsdos associados aderiram ao projecto, publi-citando os seus serviços através de painéisinformativos e distribuição de folhetos.Para além da representação da associação,oGECoRPAorganizou conjuntamente coma EXPONOR um seminário dedicado aotema Conhecer antes de intervir: Inspecções e ensaios comvista à reabilitação estrutural de edifícios antigos, no dia 29de Outubro. Com uma audiência de cerca de 200 participantes,

foram oradores os engenheiros AníbalCosta (FEUP), Vítor Cóias (GECoRPA/Oz,Ld.ª) e Rita Moura (BEL, S.A.). Pretendeu este seminário sensibilizar opúblico para trabalho preparatório derecolha da informação necessária à defi-nição da estratégia de intervenção, envol-vendo a inspecção dessas construções e arealização de levantamentos, inspecçõese ensaios de natureza diversa, tendo em

vista a caracterização da construção, da sua estrutura, dosmateriais que a constituem e das anomalias eventualmenteexistentes.

Fernando Santo, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, e Helena Roseta,durante o debate

Vítor Cóias no encerramento do Jantar

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DIVULGAÇÃO

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A ideia de criar uma organização in-ternacional desta natureza surgiumuito antes, em Outubro de 1931,durante a Conferência que redigiu afamosa “Carta de Atenas sobre o res-tauro de monumentos”. Entre 1933 e39, graças ao empenho do Serviço In-ternacional de Museus (organismoda Sociedade das Nações que pro-movera a Conferência de Atenas),funcionou a Comissão Internacionaldos Monumentos Históricos, quepoderá ser considerada antecessorado ICOMOS. A ideia foi retomadaem Maio de 1957, durante o 1.º Con-gresso Internacional de Arquitectose Técnicos dos Monumentos Histó-ricos, em Paris, mas só foi finalmen-te materializada na sequência do 2.ºCongresso, em Maio de 1964, em Ve-neza, por ocasião do qual foi consti-tuída a comissão organizadora queiria preparar a fundação do ICO-MOS no ano seguinte.A nível internacional, o ICOMOS écomposto por uma Comissão Execu-tiva, que dirige a instituição e é elei-ta trienalmente em Assembleia Ge-ral, por uma Comissão Consultiva,que agrupa os presidentes das co-missões nacionais e das comissõescientíficas internacionais, e por um

Secretariado. Cerca de 120 países jáformaram a sua própria ComissãoNacional (a de Portugal foi fundadaem 1980) e existem actualmente maisde 20 Comissões Científicas Interna-cionais, que agrupam peritos em áre-as especializadas (arte rupestre, vi-tral, madeira, arquitectura de terra,etc.). O ICOMOS tem cerca de 7000membros e sede em Paris.Desde o início, o ICOMOS tem tido apreocupação de promover os princí-pios de intervenção em edifícios an-tigos, que garantissem a sua correctapreservação. O documento fundadoré a “Carta de Veneza sobre a conser-vação e o restauro de monumentos esítios” (1964), a partir da qual o Con-selho elaborou as suas restantes car-tas sobre aspectos específicos do pa-trimónio (turismo cultural, jardinshistóricos, cidades históricas, arqueo-logia terrestre e sub-aquática, etc.).Também tem organizado numerososcolóquios sobre temas da actualida-de internacional na área do patrimó-nio, de que se destacam os simpósiostrienais que decorrem durante as As-sembleias Gerais (a 15.ª realiza-se es-te ano em Xi’an, na China).Um aspecto que muito prestigia oConselho é o de ser o principal con-

sultor da UNESCO para o patrimó-nio cultural, no quadro da “Con-venção para a protecção do patrimó-nio mundial, natural e cultural”(1972). Cada candidatura de um bemcultural ou misto à Lista do Patrimó-nio Mundial é avaliada por um peri-to escolhido pelo ICOMOS de entreos seus membros e, geralmente, estasó é aprovada pelo Comité do Patri-mónio Mundial se tiver o parecer po-sitivo do ICOMOS. No Centro deDocumentação do Conselho, em Pa-ris, estão depositados e acessíveis aopúblico todos os dossiês de candida-tura dos 628 bens culturais e 24 mis-tos inscritos na Lista do PatrimónioMundial. Além da UNESCO, o ICO-MOS tem uma relação próxima comorganizações inter-governamentaiscomo o Conselho da Europa ou o ICCROM e associações como a Euro-pa Nostra ou a TICCIH.Pode ser membro do ICOMOS qual-quer pessoa competente em matériade conservação de monumentos,conjuntos e sítios, podendo exerceras profissões de arquitecto, arqueó-logo, urbanista, engenheiro, gestorde património, conservador-restau-rador, historiador, arquivista, juris-ta, etc. Para se tornar membro pode-rá contactar a Comissão NacionalPortuguesa, com sede na DGEMN(Tel.: 218 817 035).Apesar da crescente sensibilidadedo público para as questões da sal-vaguarda do património, são muitase variadas as ameaças a que está su-jeito e, por isso, pode ser hoje deter-minante, como tem sido há 40 anos,o papel do ICOMOS na preservaçãode uma herança que temos a respon-sabilidade de legar às futuras ge-rações.

MIGUEL BRITO CORREIA, Arquitecto

O Conselho Internacional dosMonumentos e dos Sítios (ICO-MOS) foi fundado há 40 anos,em Junho de 1965, para congre-gar os profissionais do patrimó-nio construído e promover oestudo, conservação e salva-guarda dos monumentos, con-juntos e sítios de todo o mundo.

ICOMOS40 anos pelo património

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Quando entrei para a DGEMN, em1997, iniciou-se o desenvolvimentode um novo projecto do Inventáriodo Património Arquitectónico (IPA)no qual viria a participar activamen-te, o Inventário dos Conjuntos Urba-nos. Este projecto pretendia desen-volver uma metodologia de registo ecaracterização de centros históricos,nomeadamente através de um regis-to gráfico e fotográfico que comple-mentasse a ficha textual, permitindouma melhor leitura e caracterização:toponímia, malha urbana, evoluçãourbana, hierarquia viária, tipologiado edificado, características arqui-tectónicas, etc. Foi a isso que nos de-dicamos e a primeira aplicação donovo método de registo foi o núcleohistórico da Cidade Velha, em CaboVerde, a que se seguiram dois centroshistóricos no Brasil (Sobral, no esta-do do Ceará e Santana de Parnaíba,no estado de São Paulo). Deste mo-do, a DGEMN dava um grande pas-so na inventariação e estudo do Pa-trimónio Português no mundo, cujotrabalho realizado, desde então, po-de ser consultado em www.monu-mentos.pt.Mas como chegou Portugal a terrastão longínquas como África, Brasilou Oriente? Para quem gosta de co-meçar pelo princípio, aconselho aconsulta do site sobre as NavegaçõesPortuguesas (Instituto Camões), emwww.instituto-camoes.pt, onde po-de ficar a conhecer melhor as viagensdos portugueses, a arte e ciência de

navegar e a biografia de grandes na-vegadores e cartógrafos portugue-ses. A eles devemos, certamente, ofacto de terem espalhado o nosso pa-trimónio mais valioso, a língua Por-tuguesa, a sexta língua mais fala-da no mundo, segundo dados de 1995 do Summer Institute of Linguis-tics, da Universidade do Texas(www.sil.org). Sem demoras nestetópico, fica apenas a sugestão de con-sulta da grande obra épica “Os Lusí-adas” (integral on-line) em http://lu-siadas.gertrudes.com.Voltando ao tema de capa, a propósi-to do património português no Brasil(entenda-se o construído), aconselhoo site do Instituto do Património His-tórico e Artístico Nacional (IPHAN),o equivalente brasileiro do IPPAR,em www.iphan.gov.br, onde pode-rá procurar pelo riquíssimo patrimó-nio tombado (classificado) de raizportuguesa, e ainda o site do Minis-tério das Relações Exteriores, emwww.mre.gov.br/cdbrasil/itama-raty/web/port/index.htm , onde po-de conhecer melhor a história e ar-quitectura de centros históricos co-mo Olinda, Ouro Preto ou Salvador.Quanto ao património português emÁfrica, é incontornável o trabalho de-senvolvido pela Fundação Gulben-kian, através do seu Serviço Interna-cional, consultável em www.gul-benkian.pt/act_internacionais/pa-trimonio2.asp, saliente-se que estaacção inclui intervenções em África(Forte de São João Baptista de Ajudá,

no Benim, a Torre de Menagem deArzila, em Marrocos ou o Forte de Je-sus em Mombaça, no Quénia), naAmérica do Sul (Casa de Nacareloem Colónia de Sacramento, no Uru-guai ou o restauro de um painel emSão Luís de Maranhão, no Brasil) e noOriente (Igreja de São Paulo em Ma-laca, na Malásia, Campo Portuguêsde Ayutthaya, na Tailândia ou o Mu-seu de Arte Sacra Indo-Portuguesa,em Goa, na Índia). Ressalto ainda orestauro do Palácio Vilhena, em Mal-ta e a secção de publicações sobre es-tes temas.Finalmente, destaco a inclusão do“Centro Histórico de Macau”, o anti-go território sobre administraçãoPortuguesa, na lista do patrimónioMundial, em http://www.macauhe-ritage.net (infelizmente nunca refe-rem Portugal, mas o “mundo oci-dental”…) e uma breve referência ao site da Fundação Oriente emhttp://www.foriente.pt, onde reco-mendo conhecer o património cons-truído propriedade da própria fun-dação e a sua excepcional colecção dearte sobre a temática do Oriente, embreve exposta no futuro Museu doOriente, em Lisboa.

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, MA in Conservation Studies(York), desenvolve o Doutoramento no IST, com o apoio da [email protected]

“Património Português no Mundo”

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As eflorescências salinas, vulgo “salitre”, maisnão são do que a acumulação de sais na super-fície de materiais porosos como a pedra, a cerâ-mica, os rebocos, as argamassas, entre outros.Este tipo de patologia é identificado pela for-mação de agregados cristalinos, de fraca coe-

são, granulares, filamentosos e pulveriformes, geralmentede coloração esbranquiçada. Os sais acumulam-se nos materiais (à superfície ou no seu in-terior) devido à presença de iões solúveis de proveniência di-versa, incluindo o aerossol marinho, a água do subsolo, ospróprios materiais de construção, a atmosfera (natural oucontaminada), o metabolismo dos organismos e tratamentosinapropriados efectuados no passado. A água, no estado lí-quido (por capilaridade ou infiltração), ou no estado de va-por (por condensação ou higroscopicidade) constitui o prin-cipal veículo de transporte dos sais.Os sais são largamente reconhecidos como um dos princi-pais factores conducentes a perdas significativas do patrimó-nio cultural construído. O decaimento salino é, per si, umacausa de degradação e simultaneamente um factor que favo-rece os efeitos de outras causas de decaimento. As formas dedegradação tipicamente associadas à cristalização de sais pa-ra além da formação de eflorescências salinas, os fenómenosde desintegração granular e enfarinhamento ou pulveriza-ção das superfícies. Tais fenómenos de decaimento podemconduzir a perdas significativas de material, com a conse-quente perda do pormenor original e mesmo, em caso limite,ao colapso total da estrutura/artefacto.Em termos químicos, estes sais apresentam composição va-riável podendo ser carbonatos, sulfatos, cloretos, nitratos ouoxalatos.

O QUE ACONTECE AOS SAIS EM SOLUÇÃO?A água transportando sais em solução pode, ao atingir a su-perfície ou no interior destes materiais porosos, evaporar-see depositar sais, de acordo com o estado termohigrométricoda atmosfera envolvente. Apresença em solução de mais deum composto salino vai igualmente condicionar a movi-mentação da solução salina e a sua cristalização. Quando acristalização dos sais é efectuada à superfície do material po-roso dá-se o nome de eflorescência e criptoeflorescência ousub-eflorescência no caso de se formar no seu interior. Esteúltimo mecanismo de cristalização é deveras mais perigosopara a integridade do elemento considerado, uma vez que oscristais precipitam no interior dos poros, sendo consequente-mente maior o seu efeito deletério. Aformação de criptoeflo-rescências é frequente em superfícies em que a taxa de eva-poração da água circulante nos poros é elevada não se for-mando, na superfície do material, um filme líquido. Os cris-tais formam-se e crescem ao longo da interface entre as zonashumedecidas e as zonas secas.A ocorrência de criptoeflorescências é habitualmente de-

tectada pelo destacamento do material em placas (escamação)paralelas à sua superfície e pela sua desintegração em frag-mentos arenosos e pulveriformes (arenização, pulverização).Estes depósitos salinos não são estáveis, transformam-se como tempo em função da temperatura e humidade do ar, ou se-ja, o microclima condiciona a actividade dos sais solúveisque precipitam sempre que a água se evapora. Também cris-talizam quando a humidade relativa da atmosfera envolven-te diminui. Alguns sais dissolvem-se e cristalizam (delis-quescência) e mudam o estado de hidratação (higroscopici-dade) periodicamente conforme as oscilações da humidadee temperatura do ar. Estes fenómenos de cristalização, porvezes cíclica, contribuem para a degradação dos materiaisporosos devido sobretudo às pressões geradas por cristaliza-ção (por vezes cíclica) e exercidas sobre as paredes dos porosdestes materiais. A pressão que os sais exercem sobre as pa-redes dos poros ao cristalizar depende da temperatura e dograu de sobressaturação da solução enquanto que a pressãode hidratação depende da humidade relativa do ar.Acristalização e a hidratação dão-se apenas para valores de-terminados de humidade relativa do ambiente. Então, podeevitar-se o decaimento do material, mantendo a humidaderelativa do ambiente acima ou abaixo destes valores críticos.Todavia, a questão não é tão simples como pode parecer àprimeira vista porque apenas se conhecem as humidades re-lativas para os sais puros, sendo mais complexo o comporta-mento de misturas salinas.Na Tabela 1, indicam-se, a título exemplificativo, a humida-de relativa de equilíbrio para vários sais e, na Tabela 2, a hu-midade relativa de hidratação de alguns sais solúveis.

Tabela 2- Humidades relativas de hidratação para váriossais a 25ºC

Verifica-se que muitos dos sais solúveis têm pontos higroscó-picos a humidades relativas consideravelmente inferiores a100%. Isto significa que eles podem tornar-se deliquescentesquando a sua humidade relativa é excedida e cristalizar quan-do a sua humidade relativa baixar aquém do ponto crítico.

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CONSULTÓRIO GECoRPA

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“Salitre”: o que é, como se forma e como

Sulfato de sódio

Sulfato depotássio

Sulfato de cálcio

Sulfato demagnésio

Sulfato deamónio

92%

98%

99.96%

90%

81%

Nitrato de sódio

Nitrato depotássio

Nitrato de cálcio

Nitrato demagnésio

Nitrato de amónio

75%

94%

56%

53%

66%

Cloreto de sódio

Cloreto depotássio

Cloreto de cálcio

Cloreto demagnésio

Cloreto de amónio

75%

85%

33%

44%

80%

Tabela 1- Humidades relativas de equilíbrio para vários sais

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 2005

CONSULTÓRIO GECoRPA

COMO SE DISTRIBUEM OS SAIS NUMA PAREDE?Numa parede em que há infiltração de água a partir do ter-reno de fundação os sais cristalizam a diferentes cotas, fun-ção da actividade iónica das fases salinas e da solubilidadedestas mesmas fases. Nas zonas mais baixas encontram-se ossais menos solúveis e higroscópicos (sulfatos e carbonatos),enquanto que os mais solúveis e higroscópicos migram aténíveis mais elevados (cloretos e nitratos). Definem-se por-tanto quatro zonas, as chamadas Zonas de Arnold. Aprimei-ra (A), próxima do chão, apresenta menores fenómenos dedecaimento do que a segunda (B), que em geral é a que estámais deteriorada. Acima desta zona, a terceira área (C) é ca-racterizada por se apresentar mais escurecida do que as ou-tras e marca o limite superior da ascenção de água a partir dosolo de fundação. Aquarta área (D) corresponde à parede sã.Na área A, os sais mais insolúveis como o gesso e os carbona-tos de cálcio e de magnésio precipitam. Na zona B, precipi-tam os nitratos de potássio e sulfatos de magnésio e sódio. Nazona C, encontram-se os sais mais solúveis, nitrato e cloretode sódio, assim como os sais deliquescentes de nitrato e clo-reto de magnésio. Estes últimos são responsáveis pela manu-tenção dessa área humedecida, mesmo em condições de tem-po seco.Esta distribuição de sais será afectada, caso sais alcalinos se-jam introduzidos no sistema, como por exemplo a utilizaçãoe injecção de cimento Portland ou de outros materiais alcali-nos para prevenir a ascenção de água a partir do solo de fun-dação.

COMO MINIMIZAR OS EFEITOS DOS SAIS NOS MATERIAIS POROSOS?Existem diversas formas de intervenção que podem ser leva-das a cabo com o objectivo de eliminar/minimizar os efeitosdos sais nos materiais porosos aplicados em património cul-tural construído. Poder-se-ia pensar que eliminar as eflores-cências salinas constituiria a melhor solução. Todavia, como

não há qualquer intervenção sobre a origem das mesmas, es-ta solução é provisória e mais cedo ou mais tarde voltam aformar-se, caso as restantes condições permaneçam inalterá-veis.Em algumas situações o avançado estado de degradação dosmateriais porosos exige que sejam substituídos por outrosque se querem de características idênticas, mas novamente,se nada for feito quanto à origem dos sais, estes voltarão aprecipitar com os consequentes efeitos negativos sobre osmateriais.Aprotecção contra os agentes agressivos, neste caso os sais, épor vezes a solução adoptada que, sem eliminar as causas,procura impedir a sua acção directa sobre os materiais poro-sos. Constituem exemplos destas acções o corte e criação deuma zona estanque em paredes com fenómenos de ascençãode água por capilaridade e a aplicação de produtos com ca-racterísticas hidrofugantes sobre os materiais porosos. Noentanto esta solução pode vir a acentuar os problemas já evi-denciados caso o produto aplicado não permita a “respira-ção” dos materiais porosos.Aeliminação das causas dos sais é, sem dúvida, o tipo de in-tervenção mais eficaz, embora nem sempre exequível. Podecitar-se como exemplo a correcta ventilação dos espaços e adrenagem do terreno de fundação. Estas medidas, ao evita-rem o humedecimento periódico dos elementos porosos, le-var a que os fenómenos de cristalização/deliquescência desais solúveis deixem de ocorrer, evitando desta forma o acen-tuar dos fenómenos de degradação. Contudo, caso sejaadoptada uma solução deste tipo, será espectável que, du-rante algum tempo, se observe o aparecimento de sais sobreas superfícies dos materiais porosos que tenderá a desapare-cer uma vez que terá sido eliminada a principal fonte de hu-midade neste monumento.

Amélia DionísioLaboratório de Mineralogia e Petrologia

do Instituto Superior Técnico

45

O GECoRPAconstituiu um grupo técnico de apoio para tentar responder a questões práticas que surjamdurante as diferentes fases do trabalho de conservação do património e da reabilitação do edificado.

Este grupo de apoio é constituído pelos Engenheiros Carlos Mesquita, da OZ, Ld.ª (área de diagnóstico), Vítor Cóias e Silva, doGECoRPA (área estrutural), Paulo Ludgero Castro, da A. Ludgero Castro, Ld.ª (área de gessos e estuques ornamentais) e MariaAmélia Dionísio, do Instituto Superior Técnico (IST), para questões relacionadas com a pedra. Estes especialistas responderão àsquestões que os nossos leitores encontrem nas diversas fases de um trabalho de conservação e reabilitação do património arqui-tectónico e das construções antigas, dando o seu parecer e concorrendo, assim, para a boa prática da actividade. Para outras ques-tões que não estejam directamente relacionadas com estas áreas, o GECoRPA encarregar-se-á, dentro do possível, de procurar oespecialista indicado para responder aos nossos leitores.

Envie as suas questões para: Consultório GECoRPARua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º • 1050-170 Lisboa • [email protected] • Fax: 213 157 996

Nota: As respostas devem ser enviadas directamente via e-mail e, posteriormente, serão publicadas na Pedra & Cal e no site.

minimizar os seu efeitos?

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Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 200546

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Edição: GECoRPARealização e Produção OZ, Ld.ªPreço: €29.75 (Vídeo)€39.00 (DVD)Código: GE.DOC.1

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volveu por todo o país – e seus prolongamentos coloniaisde então – sobretudo pelas décadas de 1940 e de 1950.Sucedendo a uma dinâmica época de modernismo inter-nacionalista, a qual se afirmara no arranque do novo regimepolítico instaurado em 1926, foi essencialmente um frutodesse novo processo político, social e cultural, espelhandomuitos dos seus defeitos e virtudes.José Manuel Fernandes, um autor que se tem dedicado aoestudo da arquitectura portuguesa do século XX em largosestudos e artigos, procura neste livro enquadrar historica-mente a Arquitectura do Estado Novo e apresentar as suasimagens arquetípicas e mais significativas.Edição: IPPARPreço: €18.00Código: IP.E.13

Materiais pétreos e similares.Terminologia das formas de alteração e degradaçãoAutores: Luís Aires-Barros, FernandoM. A. Henriques, Nuno Proença, J.Delgado RodriguesEsta publicação contém a defini-ção das formas de alteração e de-gradação mais comuns nas super-fícies arquitectónicas de pedra e

de reboco, juntamente com ilustrações de situações típi-cas e símbolos gráficos adequados para a representaçãocartográfica das formas definidas. Edição: LNECPreço: €15.00Código: LN.E.12

Reabilitação de Edifícios“Gaioleiros”Autor: João Appleton “Gaioleiro”é a designação dada à gene-ralidade dos “prédios de rendimento”construídos em Lisboa desde a décadade 70 do século XIX até à década de 30 doséculo XX. Agrande concentração destesedifícios surge nas áreas de expansão ur-bana ocorrida neste período, em Lisboa.Os “gaioleiros” sofrem actualmente de

profundos desajustes face às exigências da função habitar, encon-trando-se muitos em estado de acentuada degradação.Este estudo procura definir metodologias de intervenção nosedifícios numa abordagem que conjuga as dimensões físico/es-pacial e construtivo/estrutural. Desta obra são de destacar asrecomendações técnicas para suprimir as patologias e carên-cias identificadas, respeitando as características do edificado,apontando soluções verdadeiramente inovadoras e con-siderando, numa visão abrangente e articulada, todos os as-pectos em causa. Edição: OrionPreço: €22.50Código: OR.E.2

Manual de Educação emPatrimónio ArquitectónicoAutor: Vítor Cóias, Catarina ValençaGonçalves (texto); João Carlos Farinha,Marcos Oliveira (ilustrações)Uma obra desenvolvida a pensarnos mais novos, que partiu da con-sciência de que a sensibilização dasnovas gerações é uma das formasmais eficazes de assegurar a preser-vação do património.

Constituído por 10 fichas de texto e jogos educativos, oManual está redigido numa linguagem simples, objecti-va e adequada às crianças, procurando estimular a suasensibilidade, levando-os a reconhecer, apreciar, e de-fender o património arquitectónico.Edição: GECoRPAPreço: €40.00Código: GE.M.1

A Rua das Flores no Século XVI:Elementos para a história ur-bana do Porto QuinhentistaAutor: José Ferrão AfonsoA Rua das Flores foi, no século XVI, arua “nobre” portuense, resposta dacidade às necessidades de crescimen-to populacional e desenvolvimentoeconómico de Quinhentos. Mudançassociais e económicas produzem alter-ações urbanas, tornando-se a fachada

aimagem da cidade. Esse novo conceito ao ser posto em práti-ca inaugura a tipologia posterior da rua do Porto: lotes uni-formes, fachada disciplinada e traseira livre e orgânica. Esteestudo relata a história da construção da Rua da Flores e daárea urbana a ela associada como também fornece uma ex-tensa recolha documental que permite conhecer os primeirosproprietários e o ritmo de construção da via.Edição: Livros HorizontePreço: €19.38 Código: FAUP.E.3

Conservação e renovação de revestimentos de paredes de edifícios antigosAutores: M.ª do Rosário Veiga; JoséAguiar; António Santos Silva; FernandaCarvalhoO estado de conservação dos revesti-mentos de paredes condiciona signi-ficativamente o aspecto dos edifícios e

dos bairros antigos. Opções mal fundamentadas e inade-quadas, que têm originado o desaparecimento de grandeparte dos rebocos e pinturas de cal originais e causadoanomalias graves nas próprias paredes.Apresente publicação procura desenvolver e sistematizaruma metodologia de abordagem das intervenções emrevestimentos de paredes antigas e fornecer elementospara a escolha de soluções, com base em parte dos resulta-dos obtidos pelo LNEC no Projecto OLDRENDERS.Edição: LNECPreço: €20.00Código: LN.E.13

Degradação e conservaçãoda pedra em estruturas de alvenaria. Terminologia e conceitos petrograficosAutores: : Marco A. Marques; José D. Rodrigues; Beatriz L. MarquesNa sequência de um outro estudopreviamente realizado pelo IPPAR,em 1997, intitulado, "Intervenções noPatrimónio. 1995-2000. Nova Políti-ca", surge este novo estudo que pre-

tende fazer o balanço dos trabalhos realizados entre 1996 e1999, dando conta das metas atingidas. Também nos é apre-sentado o plano de trabalhos para o período compreendidoentre 2000 e 2006, conjugando o que se fez, como se fez e porque se fez com as perspectivas para os próximos anos. Edição: LNECPreço: €15.00Código: LN.E.11

O urbanismo português:séculos XII-XVIII Portugal-BrasilAutores: Manuel Teixeira;Margarida VallO tema deste livro é a HistóriaUrbana portuguesa até ao finaldo século XVIII. Nele se abor-dam as principais etapas dourbanismo planeado em Por-

tugal, através do estudo detalhado de núcleos urbanos queconstituem exemplos significativos das principais fases deevolução e dos principais tipos de traçados urbanos emPortugal e no Brasil.Edição: Livros HorizontePreço: €62.34 Código: HT.E.18

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N.º 3, Julho/Ago./Set. 1999Preço: €3,74

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PERFIL DE EMPRESA

Pedra & Cal n.º 28 Outubro . Novembro . Dezembro 200548

48 Perfil de Empresa.qxp 12/13/05 4:56 PM Page 48

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