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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA
JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR
A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986
TERESINA-PI 2010
0
JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR
A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Acadêmico em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciência Política, na área de Estado, movimentos sociais, cidadania e comportamento político. Orientação: Profa. Dra. Guiomar Oliveira
Passos.
TERESINA-PI 2010
1
FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico
B732p Borges Junior, Jerônimo Rodrigues
A participação política da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Estado do Maranhão pós-1986 / Jerônimo Rodrigues Borges Junior. – 2010.
118 f.:il.
Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Universidade Federal do Piauí, 2010.
Orientação: Profª. Dra. Guiomar Oliveira Passos 1. Política - Religião. 2. Assembleia de Deus - Política.
3. Política Eleitoral - Maranhão. I. Título. CDD: 322.1
2
JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR
A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Acadêmico em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciência Política.
Aprovada em 27 de setembro de 2010.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________ Profa. Dra. Guiomar Oliveira Passos (Orientadora) Programa de Mestrado em Ciência Política - UFPI
_________________________________________________ Prof. Dr. Cleber de Deus Pereira da Silva
Programa de Mestrado em Ciência Política - UFPI
_________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Oliveira Barros Junior
Programa de Mestrado em Políticas Públicas - UFPI
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço, antes de tudo e de todos, a Deus. Sem a sua permissão e ajuda, este
trabalho não seria realizado. Nele, sempre encontrei refúgio nos momentos de adversidades;
À Professora Doutora Guiomar Oliveira Passos, orientadora desta dissertação, as
críticas e sábios conselhos, sem os quais jamais teria conseguido concluir este trabalho;
À Professora Doutora Diana Nogueira de Oliveira Lima (IUPERJ), as orientações e
questionamentos, que são as bases de sustentação desta dissertação;
Ao meu Pastor Euvaldo Pereira de Sá, presidente da Assembleia de Deus em Timon
(MA), e sua família, o apoio no início, durante e no final da pesquisa. Agradeço-lhes a palavra
de incentivo e motivação que revigoraram minhas forças no momento mais difícil deste
trabalho e, sobretudo, pela amizade;
Ao Pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da Convenção Estadual das
Assembleias de Deus no Estado do Maranhão (CEADEMA), que foi imprescindível no
processo de coleta de informação e desenvolvimento da pesquisa, além do apoio e confiança;
Ao Professor Doutor Cléber de Deus Pereira da Silva, o apoio, amizade e as
cobranças para cumprimento dos prazos estabelecidos;
Ao Professor Doutor Raimundo Batista dos Santos Junior, solícito nas horas de
dificuldades, que sempre nos transmitiu segurança e confiança diante dos desafios a serem
superados, às vezes desempenhando o papel de um pai;
Ao Professor Doutor Francisco Oliveira Barros Junior, compor a banca examinadora
desta dissertação e ter me ajudado em minhas dificuldades desde a graduação, inclusive no
nascimento desse trabalho de pesquisa;
Aos Professores que contribuíram com incentivos, indicações, sugestões e críticas:
Professora Doutora Ana Beatriz Saraine, Professor Doutor Ricardo Alaggio, Professor Doutor
Valeriano Costa (UNICAMP);
À Professora Mestra Maria Ilza da Silva Cardoso, o apoio logístico;
5
À minha querida e amada esposa Elizangela Guimarães Nunes Borges, fonte de
alegria e vigor; ao meu filho David Levy Nunes Borges e à minha filha Davinny Samily
Nunes Borges. Seus sorrisos e afetos me disseram que devia continuar;
Aos meus pais, Jerônimo Borges da Silva e Liozete Rodrigues Borges, exemplos de
vida desde minha tenra idade;
À Joice e à Dejane, a colaboração na correção ortográfica dos textos;
À Capes, o apoio financeiro.
6
RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo analisar a organização política da Assembleia de Deus no Estado do Maranhão pós-1986, no âmbito da competição político-eleitoral. Para esta pesquisa, analisou-se a relação entre religião e política no Brasil, com ênfase na expansão evangélica, em especial da Assembleia de Deus, que resultou na multiplicação de espaços sociais ocupados por esta igreja na sociedade brasileira. Com base em sua membresia, a Assembleia de Deus procura atualmente transformar suas demandas em matéria política fazendo internamente a mediação entre os fiéis e a política através das vias de identificação religiosa, tendo por base a rede de sociabilidade que estabelece. Com o objetivo de obter maior eficácia na política eleitoral, também assimilou internamente a lógica partidária com o lançamento de candidatos oficiais, formação de Conselhos Políticos, realização de prévias, acompanhamento de mandatos e assistência a seus parlamentares. No plano externo à igreja, a pesquisa constatou que, na competição político-eleitoral, a Assembleia de Deus apresentou certa regularidade no comportamento eleitoral, isto é, reduzido número de candidatos (no máximo dois para cada cargo) em todas as eleições que concorreu. O objetivo era favorecer a concentração de votos em seus candidatos e, desse modo, ter votação suficiente para conquistar cadeiras nos parlamentos estadual e federal. Enfim, constatou-se que, nos meandros da relação entre religião e política, a Assembleia de Deus tem se comportado como agente calculador, estrategicamente analisando e executando seu projeto de participação política ao assumir a lógica partidária no contexto da competição político-eleitoral.
Palavras-chave: Organização política. Assembleia de Deus. Partidos políticos. Identificação religiosa. Política eleitoral.
7
ABSTRACT
This dissertation aims at analyzing the political organization of Assembly of God in the state of Maranhão post 1986 under the political and electoral competition. For this research it was analyzed the relationship between religion and politics in Brazil with emphasis on evangelical expansion in particular of Assembly of God, which resulted in the multiplication of social spaces occupied by this church in Brazilian society. Based on its membership, Assembly of God currently seeks to transform their demands in political theme doing internally the mediation between the faithful and politics through the process of religious identification based on the sociability network that provides. With the aim of achieving greater efficiency in electoral politics, also assimilated internally the party logic with the release of official candidates, training of Political Councils, achievement of previous, monitoring of mandates and assistance to their parliamentary. Externally the church, the research found that in political and electoral competition, Assembly of God showed certain regularity in electoral behavior, that is, low number of candidates (at most two for each office) every election that it applied for. The aim was to foment the concentration of votes for their candidates and, thereby, to have enough votes to win seats in state or federal parliaments. Finally, it was found that in the meanders of the relationship between religion and politics Assembly of God has behaved as a calculator agent, strategically analyzing and executing its project of political participation when it takes on the party logical in the context of political and electoral competition.
Keywords: Political organization. Assembly of God. Political party. Religious identification. Electoral politics.
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Evangélicos no Brasil, de 1980 a 2010....................................................... 30
Gráfico 2 - As maiores denominações evangélicas do Brasil....................................... 39
Gráfico 3 - As maiores denominações evangélicas do Maranhão................................ 78
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Maiores denominações evangélicas, por região.................................................. 40
Figura 2- Percentuais da Assembleia de Deus entre os evangélicos, por região brasileira 41
Figura 3- Modelo de organização das Assembleias de Deus: igrejas-mãe e filiadas......... 65
Figura 4- Votos válidos de Anthony Garotinho na eleição presidencial de 2002.............. 91
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Denominações evangélicas, segundo ano de fundação no Brasil,
classificação doutrinária e local de origem.................................................. 27
Quadro 2- Convenções e Ministérios assembleianos afiliados à Convenção
Geral das Assembleias de Deus no Brasil................................................... 61
Quadro 3- Deputados Federais da Assembleia de Deus eleitos para a Assembleia
Nacional Constituinte em 1986.................................................................... 67
Quadro 4- Modelo político adotado pelas principais religiões brasileiras.................. 73
Quadro 5- Deputados Federais eleitos em 1998 no Maranhão..................................... 85
Quadro 6- Deputados Estaduais eleitos em 1998 no Maranhão................................... 86
Quadro 7- Deputados Federais eleitos em 2002 no Maranhão..................................... 93
Quadro 8- Deputados Estaduais eleitos em 2002 no Maranhão................................... 94
Quadro 9- Deputados Federais eleitos em 2006 no Maranhão..................................... 99
Quadro 10- Deputados estaduais eleitos em 2006 no Maranhão ................................. 101
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Percentual da população católica em relação à população total do Brasil,
de 1940 a 2007............................................................................................... 25
Tabela 2- Percentual da população evangélica em relação à população total do
Brasil, de 1890 a 2010.................................................................................... 29
Tabela 3- Distribuição do número de deputados evangélicos na Câmara dos
Deputados, de 1983 a 2011............................................................................ 48
Tabela 4- Atitude das principais religiões brasileiras em relação aos partidos
políticos, em percentuais................................................................................. 51
Tabela 5- Percentual das principais religiões no Estado do Maranhão, entre 1991
e 2000 ........................................................................................................... 77
Tabela 6- Percentual das principais denominações evangélicas em relação à
população do Maranhão, em 2000................................................................ 78
Tabela 7- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a
Câmara Federal em 1998................................................................................. 84
Tabela 8- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a
Assembleia Legislativa em 1998..................................................................... 86
Tabela 9- Desempenho eleitoral dos primeiros quatro presidenciáveis, no primeiro
turno das eleições de 2002.............................................................................. 89
Tabela 10- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a
Câmara Federal em 2002............................................................................... 92
Tabela 11- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a
Assembleia Legislativa em 2002................................................................... 94
Tabela 12- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para
a Câmara Federal em 2006........................................................................... 99
Tabela 13- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a
Assembleia Legislativa em 2006.................................................................. 100
12
LISTA DE SIGLAS
AD - Assembleia de Deus
ANC - Assembleia Nacional Constituinte
ARENA - Aliança Renovadora Nacional
CADEESO - Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo e Outros
CADESGO - Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Goiás
CBB - Convenção Batista Brasileira
CBN - Convenção Batista Nacional
CCHN - Comitê Cristão de Homens de Negócio
CEADAM – Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas
CEADEB - Convenção Estadual das Assembleias de Deus na Bahia
CEADEMA - Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado do Maranhão
CEADEP - Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do Piauí
CEADERJ - Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Brasil no Estado do Rio de
Janeiro
CEADER - Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro
CEADDIF - Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Distrito Federal
CEDADER - Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Roraima
CEIMADAC - Convenção Estadual de Igrejas e Ministros das assembléias de Deus no Acre
CEMADERON - Convenção Estadual dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de
Rondônia
CEMADERN - Convenção das Assembleias de Deus no Rio Grande do Norte
CEMADES - Convenção Evangélica dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do
Espírito Santo
CEMEADAP - Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de
Deus no Estado do Amapá
CGADB - Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil
13
CIADESCP - Convenção da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Santa Catarina e
Sudoeste do Paraná
CIADSETA-PA/MT - Convenção Interestadual dos Ministros das Igrejas Assembleias de
Deus do SETA nos Estados do Pará e Mato Grosso
CIADSETA-TO - Convenção Interestadual das Assembleias de Deus do SETA no Estado do
Tocantins e Igrejas Filiadas
CIEADEP - Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado do Paraná
CIEADESPEL - Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado de São
Paulo e Estados Limítrofes
CIEPADERGS - Convenção dos Pastores das Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus
no Estado do Rio Grande do Sul
CIMADEC-CE - Convenção de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus Ministério no
Estado do Ceará
COMADAL - Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Alagoas
COMADALPE - Convenção Estadual de Ministros da Assembleia de Deus com sede em
Abreu e Lima - Pernambuco
COMADEBG - Convenção dos Ministros das assembléias de Deus de Brasília e Goiás
COMADEMAT - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Mato
Grosso
COMADEMG - Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de
Deus no Brasil
COMADEP - Convenção de Ministros das Assembleias de Deus no Estado da Paraíba
COMADEPLAN - Convenção dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus do
Planalto Central
COMADERJ - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Rio de
Janeiro
COMADESMA - Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do
SETA no Sul do Maranhão
COMADESP - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do São Paulo
COMADETRIM - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Triângulo Mineiro
COMADVARDO - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce
COMEAD-CGPB - Convenção de Ministros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em
Campina Grande e no Estado da Paraíba
14
COMEADEC - Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de
Deus no Ceará
COMIEADEPA - Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no
Estado do Pará
COMOESPO - Convenção dos Ministros Ortodoxos das Assembleias de Deus do Estado de
São Paulo
CONADEP - Convenção da Assembleia de Deus de Pernambuco
CONAMAD - Convenção Nacional das Assembleias de Deus
CONEADESE - Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Sergipe
CONFRADECE - Convenção Fraternal de Ministros das Assembleias de Deus do Estado do
Ceará
CONFRADERJ - Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro
CONFRADESP - Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus no
Ministério do Belém - SP
CONFRATERES - Convenção Fraternal dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado
do Espírito Santo
ELAD - Encontro de Líderes da Assembleia de Deus
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil
IPB - Igreja Presbiteriana do Brasil
IURD - Igreja Universal do Reino de Deus
ITEJ - Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus
PAN - Partido dos Aposentados da Nação
PC do B - Partido Comunista do Brasil
PDT - Partido Democrático Trabalhista
PFL/DEM - Partido da Frente Liberal/ Democratas
PDS/PPB/PP - Partido Democrático Social/ Partido Progressista Brasileiro/ Partido
Progressista
PHS - Partido Humanista da Solidariedade
PL/PR - Partido Liberal/ Partido da República
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro
15
PMN - Partido da Mobilização Nacional
PMR/PRB - Partido Municipalista Renovador/ Partido Republicano Brasileiro
PPS - Partido Popular Socialista
PRB - Partido Republicano Brasileiro
PRN - Partido Republicano Nacional
PRP - Partido da Representação Nacional
PRTB - Partido Renovador Trabalhista Brasileiro
PSB - Partido Socialista Brasileiro
PSC - Partido Social Cristão
PSD - Partido Social Democrático
PSDB - Partido da Social Democracia Brasileiro
PSDC - Partido Social Democrata Cristão
PSL - Partido Social Liberal
PST - Partido Social Trabalhista
PT - Partido dos Trabalhadores
PT do B - Partido Trabalhista do Brasil
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PTN - Partido Trabalhista Nacional
PTR - Partido Trabalhista Renovador
PV - Partido Verde
TSE - Tribunal Superior Eleitoral
UIECB - União das Igrejas Evangélicas Congregacionais no Brasil
16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 18
2 RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL: EXPANSÃO EVANGÉLICA E
SEU REFLEXO NA POLÍTICA ................................................................................ 21
2.1 PREDOMÍNIO POLÍTICO E SOCIAL DO CATOLICISMO ................................... 22
2.2 A CHEGADA E O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO NO
BRASIL ....................................................................................................................... 26
2.3 O PENTECOSTALISMO ............................................................................................ 31
2.3.1 Fase genética – características institucionais da AD ............................................ 33
2.3.1.1 A influência nórdica ............................................................................................... 34
2.3.1.2 A influência nordestina ........................................................................................... 36
2.3.2 As dimensões da AD no Brasil ................................................................................ 38
2.3.3 A expansão social e política da AD.......................................................................... 42
3 DENOMINAÇÃO E PARTIDO: A LÓGICA DA IGREJA NO CONTEXTO
PARTIDÁRIO E A LÓGICA PARTIDÁRIA NO CONTEXTO DA IGREJA ...... 46
3.1 OS EVANGÉLICOS NO CONTEXTO DA POLÍTICA MULTIPARTIDÁRIA ....... 47
3.1.1 A presença dos evangélicos na Câmara dos Deputados ....................................... 47
3.1.2 Partido e denominação: identificação religiosa no contexto político partidário. 49
3.1.3 Os evangélicos no contexto do sistema eleitoral .................................................... 55
3.2 A LÓGICA PARTIDÁRIA NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
ECLESIÁSTICA DA AD ............................................................................................. 60
3.2.1 A Convenção Geral – CGADB ................................................................................ 60
3.2.2 A CEADEMA ........................................................................................................... 64
3.3 NOVA POSTURA DA AD ANTE A POLÍTICA ....................................................... 65
3.3.1 Projeto cidadania AD Brasil ................................................................................... 68
3.3.1.1 Conselho Político Nacional ..................................................................................... 69
3.3.2 Revés na escalada política ....................................................................................... 70
3.3.3 Conselho Político Estadual ...................................................................................... 71
17
4 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD NO ESTADO DO
MARANHÃO ............................................................................................................... 75
4.1 A AD, EM NÚMEROS, NO ESTADO DO MARANHÃO ...................................... 76
4.2 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD MARANHENSE ............... 79
4.2.1 Eleições 1998 ............................................................................................................ 82
4.2.2 Eleições 2002 ............................................................................................................ 88
4.2.2.1 O Maranhão nas eleições para presidente da República ........................................ 88
4.2.2.2 Eleições proporcionais ........................................................................................... 92
4.2.3 Eleições 2006 ............................................................................................................ 96
4.2.4 Corrida eleitoral 2010 ............................................................................................. 103
4.2.4.1 A AD na corrida presidencial ................................................................................ 103
4.2.4.2 Evangélicos na corrida eleitoral 2010 no Maranhão .............................................. 105
5 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 108
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 112
18
1 INTRODUÇÃO
A segunda metade da década de 1980 é marcada pelo ascenso dos evangélicos na
política partidária no Brasil. A Ciência Política vem, desde essa época, estudando as razões
que têm levado esses atores coletivos a participarem ativamente do processo eleitoral
nacional, analisando estruturas, processos e mecanismos de persuasão político-eleitoral dos
mesmos. Entre as correntes teóricas que analisam tal fenômeno, pode-se destacar o novo
institucionalismo sociológico (HALL; TAYLOR, 2003), segundo o qual as instituições são
essenciais na formação de práticas políticas e no posicionamento de atores.
Nessa perspectiva, o processo de decisão do eleitor é compreendido como reflexo da
estrutura social, estando relacionado diretamente a decisões de caráter coletivo, mais do que a
processos de escolhas individuais. Seria essa a razão pela qual os grupos sociais, com
diferentes interesses, tendem a se fazer representar por candidato ou partido que melhor
represente o desejo coletivo.
O processo de abertura política ocorrido no Brasil a partir de 1979, principalmente
com a Constituição de 1988, ampliou a entrada de diferentes atores e organizações na
competição eleitoral, inclusive religiosos. Os evangélicos que, segundo Freston (1994, p.
117), iniciaram sua participação na política, em 1962, com a Igreja Pentecostal O Brasil para
Cristo, elegendo dois deputados federais, voltaram a participar lançando e elegendo
parlamentares nas eleições de 1986. A Assembleia de Deus (AD), sozinha, elegeu 14
deputados (PIERUCCI, 1989), inclusive a AD do Maranhão, que elegeu o seu primeiro
deputado (federal).
O que se investiga nesta pesquisa é essa participação política da AD, analisando sua
atividade política no contexto partidário. Questiona-se: o que levou uma instituição que esteve
exclusivamente voltada para as atividades religiosas durante 75 anos a incluir a política em
suas ações ou, dito de outro modo, a incluir assuntos mundanos nos extramundanos?
As igrejas evangélicas, principalmente as pentecostais Igreja Universal do Reino de
Deus (IURD) e a AD, têm se sobressaído neste novo “mister.” A primeira, além de sua
expressão numérica, sobressai-se através de estratégias inovadoras (utilização da mídia e de
19
programas assistencialistas) adotadas tanto no campo religioso como no político, tornando-se
uma das principais representantes do neopentecostalismo.1 A segunda, além das estratégias
(que, em muitos casos, imitam as da IURD), destaca-se pelo expressivo número de fiéis em
todo o território nacional e se apresenta como uma representante do pentecostalismo clássico.
A temática religiosa no campo do comportamento eleitoral tem sido objeto de análise
de vários estudiosos como Freston (1993) e Pierucci (1989), que abordam a relação entre
religião e política, especificamente as experiências de denominações como o de Oro (2003),
sobre a IURD, e o de Silva (2009), sobre a atuação da AD em Feira de Santana, na Bahia. Este
estudo procura compreender a participação política da AD no Estado do Maranhão.
A AD maranhense é ligada à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil
(CGADB)2; é a principal denominação3 do protestantismo no Estado, atuando há 24 anos, na
política, de forma organizada, com participação nas alianças políticas e presente na Câmara
dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Estado. A partir do exposto, fazem-se os
seguintes questionamentos: que estratégias a AD tem adotado no contexto partidário? A
participação da AD na competição político-eleitoral faz com que a mesma assuma, no plano
interno da denominação, características de um partido político e, no plano externo, adota a
lógica dos pequenos partidos do sistema partidário brasileiro? Seu papel na política eleitoral é
fazer a mediação entre eleitores e eleitos? Em síntese, procura-se saber como a AD
maranhense se organiza para participar da política eleitoral.
A esse propósito, analisou-se a estratégia da AD no contexto partidário e sua
estrutura eclesiástica e, depois, seu desempenho eleitoral nas eleições proporcionais de 1998,
2002 e 2006, identificando a lógica de sua participação política eleitoral.
A investigação se valeu de fontes bibliográficas, documentais e informantes. As
bibliografias enfocam o fenômeno religioso, de forma geral e, em particular, a análise da
religião majoritária do Brasil, a Igreja Católica. As fontes documentais foram do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da AD.
Na pesquisa com informantes, utilizaram-se entrevistas, visando a analisar como a AD se
1 Movimento religioso formado por várias denominações evangélicas que incorporam a lógica de “mercado
religioso” e uma racionalidade pragmática, de tipo empresarial. Prega a valorização da felicidade “aqui e agora”, a partir da prosperidade financeira, da boa saúde e do sucesso profissional (CONRADO, 2006, p. 31).
2 A CGADB é o órgão encarregado de tratar dos assuntos próprios da igreja e está organizada nos níveis local, estadual e nacional.
3 Neste trabalho, não se utilizou a tipologia clássica de Max Weber (2005, 1982), igreja/seita, para classificar as organizações religiosas evangélicas, por se acreditar que estas organizações apresentam um quadro de maior complexidade, variando entre uma igreja em sua organização, burocracia e tamanho e uma seita, por apresentar característica de protesto e concentração, na comunidade de fiéis. Nesse sentido, os termos denominação ou igreja são utilizados neste trabalho para classificar as organizações evangélicas.
20
organiza internamente para o processo eleitoral.
Os documentos do IBGE informaram sobre a expansão geográfica e demográfica da
AD no Brasil, em particular no Estado do Maranhão. Os dados do TSE foram relativos às
eleições de 1998, 2002 e 2006, no Maranhão. Dos produzidos pela própria AD, destaca-se o
seu principal periódico, o jornal Mensageiro da Paz, que trouxe dados sobre orientações e
ações dessa igreja voltadas para estratégias eleitorais. Também foram analisados os materiais
de campanha dos candidatos assembleianos que forneceram dados sobre o discurso religioso,
no âmbito da política.
A pesquisa com informantes ocorreu com entrevistas estruturadas. Essas entrevistas
foram realizadas com quatro candidatos da igreja e o pastor presidente da Convenção Estadual
das Assembleias de Deus no Estado do Maranhão (CEADEMA).
O resultado é expresso, neste texto, em cinco capítulos. Após o capítulo introdutório,
o segundo capítulo, intitulado Religião e política no Brasil: a expansão evangélica e seu
reflexo na política, expõe o avanço demográfico e geográfico dos evangélicos e suas
consequências para a política.
O terceiro capítulo, Denominação e partido: a lógica da igreja no contexto
partidário e a lógica partidária no contexto da igreja, analisa a relação entre denominação
evangélica e o sistema partidário proporcional e majoritário, com destaque para a
identificação religiosa. Também enfoca a organização política interna com bases em sua
estrutura eclesiástica.
O desempenho político-eleitoral da AD no Estado do Maranhão, quarto capítulo,
trata especificamente da atuação político-eleitoral efetiva da AD no Estado do Maranhão.
Primeiramente, será examinado o contingente efetivo de fiéis da AD e sua relevância para o
crescimento evangélico no Estado. Num segundo momento, trata-se da análise pormenorizada
do desempenho eleitoral dos candidatos assembleianos no contexto da competição político
partidária nas eleições de 1998, 2002 e 2006.
Finalmente, serão abordadas considerações sobre o apelo dos candidatos evangélicos
com base no discurso estritamente religioso e a lógica adotada pela AD no cenário da política
eleitoral. Em seguida, analisa-se como se caracteriza esta participação política, destacando as
estratégias de que se aproveita a AD para eleger seus candidatos. Longe de esgotar a questão
em discussão, espera-se contribuir para melhorar a compreensão das fronteiras entre religião e
política no Estado do Maranhão.
21
2 RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL: EXPANSÃO EVANGÉLICA E SEU
REFLEXO NA POLÍTICA
Os evangélicos se estabeleceram no Brasil a partir do século XIX, após inúmeras
tentativas fracassadas. Isso não se deu sem restrições e nem tampouco de forma definitiva. As
restrições legais foram aos poucos sendo superadas, possibilitando a concorrência em âmbito
religioso. Nesse contexto, os evangélicos foram chegando, paulatinamente, com a vinda de
denominações provenientes da Europa e Estados Unidos e, depois, já no século XX, a vertente
pentecostal.
Dentre as denominações pentecostais, para efeito deste estudo, destacou-se a AD,
com suas características institucionais e sua expansão, que tem repercutido no campo
religioso.4 Essa expansão permitiu que a AD se inserisse no campo religioso brasileiro, a
partir do suporte numérico que deu bases para a ampliação de sua participação social. Sua
expansão numérica e demográfica aproximou a denominação de uma postura mais
participativa ante os problemas de natureza social, inclusive aqueles relacionados à política.
Os efeitos dessa aproximação podem ser percebidos na diferença entre os antigos
modelos comportamentais e as novas atitudes frente à política. Assim, torna-se importante o
entendimento da formação do ethos assembleiano para a análise de sua postura frente à
política partidária, nos últimos anos. Embora a AD tenha uma grande membresia, só
recentemente essa denominação se lançou para influir mais diretamente nos assuntos de
interesse político. Para entender o longo período da história assembleiana que a caracterizou
4 Toma-se como exemplo a concepção de campo religioso de Pierre Bourdieu (1992, p. XXV). Segundo esta
metáfora, o campo religioso no mundo moderno se traduz em termos de um campo de forças onde se enfrentam o corpo de agentes altamente especializados (os sacerdotes), os leigos (os grupos sociais cujas demandas por bens de salvação os agentes religiosos procuram atender) e o “profeta”, enquanto encarnação típica do agente inovador e revolucionário que expressa, mediante um novo discurso e por uma nova prática, os interesses e reivindicações de determinados grupos sociais. As posições que esses grupos ocupam configuram um campo de batalha ideológica, expressão da luta de classes e do processo prevalecente de dominação. O alvo explicativo consiste em abranger as configurações particulares que o campo religioso assume em diversas formações sociais, tendo sempre como quadro de referência o campo de forças propriamente religiosas no interior do qual se defrontam os representantes religiosos dos grupos dominantes e dominados, e cuja dinâmica depende das transformações por que passa a estrutura social, seja pelo surgimento de novos grupos com interesses determinados, seja pela ruptura ou crise do sistema de dominação, seja pelas novas alianças entre grupos e/ou frações que detêm o papel hegemônico.
22
como instituição antipolítica, será importante resgatar alguns pontos importantes de sua
história.
Por fim, a inserção das igrejas evangélicas no campo religioso também repercutiu no
campo da política partidária. Esse avanço ocorre num contexto de transformação que permitiu
às igrejas evangélicas concorrerem, com mais facilidade, com as demais confissões religiosas,
tirando proveito das mudanças religiosas e políticas.
2.1 PREDOMÍNIO POLÍTICO E SOCIAL DO CATOLICISMO
A relação entre Igreja Católica e Coroa portuguesa foi essencial para a
construção do tipo de sociedade que aqui se estabeleceu. O entrelaçamento entre
ação política do Estado e atuação religiosa da Igreja Católica estava regulado pelo
Padroado Régio, uma gama de privilégios concedidos pelos papas aos reis
portugueses. Em troca, a Igreja seria a religião oficial do Estado, exercendo o
monopólio religioso com a exclusão de qualquer outra fé religiosa, estendendo,
assim, seu manto salvacionista a todos os domínios da Coroa portuguesa.
A colonização das terras brasileiras coincidiu com as querelas políticas e
religiosas que tiveram lugar na Europa no século XVI, o que deu impulso ao
avivamento missionário encabeçado pela Contra-Reforma e fez com que a união
entre Estado e Igreja tivesse a tarefa de construção da consciência nacional. Na
execução desse papel, por muitas vezes, fez com que os brasileiros superassem suas
diferenças em favor da unidade religiosa, que se confundia com a unidade nacional.
Daí, é necessário observar que a cultura brasileira e a própria identidade nacional,
desde o início de sua gestação, estiveram resguardadas pelo manto de um
“catolicismo afetivo”5, que não admitiria expressões do protestantismo em terras
portuguesas.
5 O termo catolicismo afetivo designa as relações afetivas que caracterizaram um tipo de catolicismo doce,
doméstico, de relações quase de família entre os santos e os homens, ou seja, predominaram, com relação aos santos, as relações afetivas, a busca de aproximações e maior familiaridade. Conforme Gilberto Freyre (2006, p. 438) foi este tipo de religião que presidiu o desenvolvimento social brasileiro, o que dificilmente teria ocorrido se outro tipo de cristianismo aqui tivesse predominado. Da mesma forma, Sérgio Buarque de Holanda (2005, p. 61) concorda com Gilberto Freyre quando afirma que o peculiar da vida brasileira parece ter sido uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional [...] Uma suavidade dengosa e açucarada invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial.
23
Assim, conforme Gilberto Freyre (2006, p. 92), não foi a diferença de raças o
elemento distintivo trazido pelos portugueses, como ocorreu com outros povos, mas o
diferencial religioso, pois,
[...] temia-se no adventício acatólico o inimigo político capaz de quebrar ou de enfraquecer aquela solidariedade que em Portugal se desenvolvera junto com a religião católica. Essa solidariedade manteve-se entre nós esplendidamente através de toda a nossa formação colonial, reunindo-nos contra os calvinistas franceses, contra os reformados holandeses, contra os protestantes ingleses. Daí ser tão difícil, na verdade, separar o brasileiro do católico: o catolicismo foi realmente o cimento de nossa unidade.
Somente a partir do século XIX, o protestantismo marcou presença sistemática e
continuada no Brasil. Contudo, neste século, o protestantismo não chegaria a representar um
segmento religioso significativo, comparado à religião dominante. Mas, com a chegada das
denominações protestantes vindas da Europa e Estados Unidos, junto à modernização do
Estado brasileiro, tem início o processo de estabelecimento, crescimento e consolidação das
igrejas cristãs reformadas.
A presença protestante se consolidou efetivamente a partir da abertura paulatina de
espaços sociais, iniciada no Império, quando a Constituição de 1824, embora tenha mantido o
Padroado Régio, declarando a religião Católica como oficial, deu permissão para que as
demais religiões, inclusive as protestantes, fossem professadas no espaço doméstico, no
entanto, vedando o direito de suas casas possuírem a forma ou aparência de templo.
De todo modo, o pertencimento a outra profissão religiosa não seria mais empecilho
para a aquisição da cidadania brasileira, contudo, limitava em muito os direitos políticos,
como participar dos comícios, mas não de votar, pois “os ocupantes de cargos políticos
deviam fazer o juramento sobre o mantimento da Igreja Católica” (SILVA, 2006, p. 102). As
dificuldades políticas eram apenas um dos obstáculos enfrentados pelos não católicos, pois,
além das listas paroquiais, no momento do voto, dos batismos, dos casamentos e dos óbitos,
havia o problema dos cemitérios eclesiásticos, que permitiam o enterro somente de católicos.
Por isso, os evangélicos construíram seus próprios cemitérios. De outra forma, eram
enterrados em qualquer lugar.
A laicização, a partir daí, passou a caminhar a passos largos. Segundo Beozzo (2006,
p.40),
após 1870 as elites dirigentes brasileiras foram se laicizando rapidamente. Não tardou a estalar o conflito entre a Igreja e o Estado a propósito da eleição de membros franco-maçons para a direção das irmandades religiosas, que gozavam de
24
estatuto civil e religioso. Eclesiasticamente, os maçons eleitos não foram aceitos pelo jovem bispo de Pernambuco, o capuchinho frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844-1878) e pelo bispo do Pará, Dom Antônio Macedo Costa (1830-1891), mas civilmente ganharam nos tribunais, por ter sido regular a sua eleição.
Em 1888, protestantes já lutavam por espaços sociais e religiosos, causando tensões
com a cúpula da religião oficial. Como destaca Silva (2006, p. 17),
a hierarquia católica sempre reagiu à concorrência, porém nenhum outro fato agravou tanto as tensas relações entre católicos e protestantes no Brasil quanto a aprovação, pelo Senado imperial, da liberdade de cultos. Quando da tramitação do projeto em 1888, o arcebispo - primaz do Brasil protestou com veemência contra aquilo que, em sua opinião, “dissolveria entre os brasileiros a unidade de doutrina em matéria de fé”.
A proclamação da República celebrou o divórcio entre Igreja Católica e Estado
Republicano,6 possibilitando a secularização política dos órgãos estatais. No entanto, esta
separação deve ser relativizada, pois a Igreja Católica continuou tendo a primazia como
religião majoritária, pois a relação entre Igreja e Estado seguiu uma nova orientação que se
baseava na tradicional atuação da Igreja junto à população brasileira, num ambiente de clara
fragilidade das instituições democráticas.
Com efeito, a Igreja Católica se adaptou ao novo modelo político, vindo a
reconfigurar seu lugar e papel político, principalmente através dos vínculos estabelecidos com
o Estado, no período Vargas (1930-1945). De acordo com o que afirma Tiago Borges (2007,
p. 58), “um vínculo formal entre Igreja Católica e Estado foi restabelecido com o atendimento
a muitas exigências católicas: o ensino religioso se tornou obrigatório, o divórcio proibido e o
financiamento público às instituições católicas permitido”.
Essa relação acontecia principalmente por meio da colaboração entre poder público e
instituições religiosas, no âmbito da assistência social. Segundo Beozzo (2006, p. 42), “após o
golpe de 1937, os Círculos Católicos Operários assumiram um papel de destaque no repasse
de programas assistenciais do governo destinados para o segmento dos trabalhadores”.
Essa relação ficou conturbada com o surgimento da ditadura militar, principalmente
no período de maior repressão do regime. Embora a maioria católica tenha apoiado o golpe,
6 A autoridade concedida ao Estado brasileiro como único e legítimo mediador das relações entre religiões ou
grupos religiosos no país se consolidou com o Decreto número 119A, de 7 de janeiro de 1890, sancionado pelo Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, de autoria de Rui Barbosa, proibindo autoridades e órgãos públicos de expedir leis, regulamentos ou atos administrativos que estabelecessem a religião ou a vedassem e instituiu plena liberdade de culto e religião para os indivíduos de todas as confissões, igrejas e agremiações religiosas (GRUMAN, 2005).
25
em 1964, pelo temor do comunismo, não demorou muito para que os atritos e conflitos entre o
Estado e importantes segmentos da Igreja se manifestassem. A repressão de movimentos
católicos colocou Igreja e Estado em campos de atuação política diferentes, caracterizando a
oposição da Igreja ao regime autoritário na década de 70. Esses atritos levaram a Igreja a certo
distanciamento da órbita estatal, sofrendo o processo de esquerdização em seus vários setores
de atuação política, inclusive a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Tais atritos entre Estado e Igreja Católica levaram esta a repensar seu papel social e
político na sociedade brasileira,
assumindo-o muito mais como o de uma das instituições da sociedade civil brasileira, parceira de suas lutas e projetos como o da defesa do estado de direito, dos direitos humanos políticos, mas também econômicos, sociais, culturais, parceira na luta contra a pobreza, pela anistia e redemocratização (BEOZZO, 2006, p.43).
Nesse período, que vai do regime militar à redemocratização, os dados do IBGE
apontam para uma maior diversificação das confissões religiosas no país. Indo na mesma
direção, a pesquisa Datafolha7 (maio de 2007) confirma o andamento desse processo, no ano
de 2007.
Tabela 1- Percentual da população católica em relação à população total do Brasil, de 1940 a 2007
Ano 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007
Percentual da população
95,2
93,7
93,1
91,8
89,0
83,3
73,8
64,0
Fonte: Campos (2008) Nota: IBGE, censos demográficos de 1940-2000.
A Tabela 1 demonstra o percentual dos que se declaram católicos, de 1940 a 2007.
De 1940 a 1980, num período de 40 anos, a redução foi de apenas 6,2%. Tal processo de
redução se acentuou nas duas últimas décadas do século passado, isto é, de 1980 a 2007, a
população que se declarou católica caiu 25%.
7 A expectativa para o próximo censo é grande. No entanto, para suprir essa carência de dados, utilizou-se, neste
trabalho, a pesquisa Datafolha do ano de 2007. A Datafolha, empresa pertencente à Folha de São Paulo, preparou uma pesquisa para aguardar a visita do Papa Bento XVI, em 2007.
26
Embora os números apontem para a redução do percentual de católicos no país, este
continua com um número muito elevado de fiéis, em comparação às demais religiões. Ainda
assim, não tem mais lugar a afirmação de que o Brasil é um país radicalmente católico.
Apesar destas limitações, a instituição da liberdade religiosa e de culto permitiu, no
curso do século XX, uma nova configuração de forças no campo religioso brasileiro, abrindo
espaços para a livre concorrência religiosa.
2.2 A CHEGADA E O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO NO BRASIL
Já se aproxima os duzentos anos da chegada dos primeiros evangélicos no Brasil. Os
primeiros que vieram foram os anglicanos, por intermédio das relações comerciais entre
Inglaterra e Portugal, resguardados pelo Tratado de Navegação e Comércio que declarava, no
seu artigo 12,
[...] “que os vassalos de S.M. Britânica residentes nos territórios e domínios portugueses não seriam perturbados, inquietados, perseguidos ou molestados por causa de sua religião, e teriam perfeita liberdade de consciência, bem como licença para assistirem e celebrarem o serviço em honra do Todo-Poderoso Deus, quer dentro de suas casas particulares, quer nas suas particulares igrejas e capelas” [...] (SILVA, 2006, p. 15).
Logo após a independência, os luteranos, em 1824, vêm para o Brasil a fim de
substituir a mão-de-obra escrava. Diferentemente do protestantismo missionário, esses se
caracterizaram como protestantismo de imigração,8 por formarem igrejas étnicas, a fim de
preservarem sua origem cultural. Depois, viriam, definitivamente, com o projeto de conquistar
o “Brasil para Cristo” os protestantes de missão norte-americanos, representados por
diferentes denominações evangélicas: congregacionais, aportados em 1855; presbiterianos,
em 1859; metodistas, em 1867; cristãos evangélicos, em 1879; batistas, em 1882, e
8 O protestantismo de imigração ocorreu a partir da política imigratória adotada durante o período imperial,
quando se buscava resolver o problema da mão-de-obra, composta em grande parte por escravos, sendo os imigrantes europeus uma alternativa viável. Grande parte desses imigrantes era formada de luteranos vindos da Alemanha (SILVA, 2006, p. 15).
27
adventistas do sétimo dia, no ano de 1894. Destas, cinco vieram dos Estados Unidos,9 onde
predominou o interdenominacionalismo entre as várias manifestações religiosas.
Os pentecostais chegaram em 1910, vindos dos Estados Unidos. Com efeito, a
implantação do pentecostalismo no país tem início no mesmo ano, com a fundação da
Congregação Cristã no Brasil e, em 1911, com a fundação da AD. Esses congregados
inovaram ao se aproximarem da cultura popular, à proporção que foram se diversificando e se
expandindo sobre o país, ao longo do século XX.
Dentre outras, uma das características que irá moldar a face do protestantismo, seja
histórico10 ou pentecostal, será o antagonismo ao catolicismo e aos cultos de origem afro,
observando como marco diferenciador a alteridade religiosa. Apesar disso, a religião
protestante já não pode mais ser pensada como religião importada ou estrangeira. O quadro
abaixo mostra a diversificação do protestantismo no Brasil.
Período Ano Denominação Classificação Local de origem
Séc. XIX
1808
1824
1855
1859
1867
1879
1882
1890
1894
Anglicana
Luterana (IECLB)
Congregacional (UIECB)
Presbiteriana (IPB)
Metodista
Cristã Evangélica
Batista (CBB)
Luterana (IELB)
Adventista
Histórica
Histórica
Histórica
Histórica
Histórica
Histórica
Histórica
Histórica
Histórica
Reino Unido
Alemanha
Estados Unidos
Estados Unidos
Estados Unidos
Reino Unido
Estados Unidos
Estados Unidos
Estados Unidos
Séc. XX
1900-1940
1903
1910
1911
1922
1925
1932
Presbiteriana Independente
Congregação Cristã
Assembleia de Deus
Exército da Salvação
Adventista da Reforma
Adventista da Promessa
Histórica
Pentecostal
Pentecostal
Histórica
Pentecostal
Pentecostal
São Paulo
Estados Unidos
Pará
Reino Unido
Rio de Janeiro
Pernambuco
9 Nessa época, era corrente nos Estados Unidos a concepção do “Destino Manifesto”. Tal concepção, de fundo
religioso acreditava na predestinação dos Estados Unidos para levar a democracia, a liberdade e o protestantismo a outros povos.
10 Igrejas fundadas durante a Reforma Protestante do século XVI e pouco depois, que são: Luterana, Presbiteriana, Anglicana, Metodista, Batista, Congregacional, entre outras.
28
1934 Metodista Ortodoxa Pentecostal Rio de Janeiro
Séc. XX 1950-1969
1950 1953 1956 1958 1960 1961 1962 1964 1964 1965 1965 1967 1967 1968
Igreja Escandinava Evangelho Quadrangular O Brasil para Cristo Nazareno Nova Vida Restauração Deus é Amor Igreja em (sic) Casa da Benção (ITEJ) Batista (CBN) Congregacional Independente Metodista Wesleyana Cristã Evangélica Renovada Batista Bíblica
Histórica Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Histórica
Suécia Estados Unidos São Paulo Estados Unidos Rio de Janeiro Rio de Janeiro São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro
Séc. XX 1970-1979
1970 1970 1970 1972 1973 1975 1975 1976 1977 1978 1979
Sinais e Prodígios Cristã Chinesa Igreja Cristã Maranata Maranata (Amém) Socorrista Presbiteriana Renovada Salão da Fé Evangélica da Renovação Universal Presbiteriana Unida Evangélica Maranata
Pentecostal Histórica Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Histórica Pentecostal
Rio de Janeiro China Espírito Santo Rio de janeiro Rio de Janeiro Paraná Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Espírito Santo Rio de Janeiro
Séc. XX 1980-1991
1980 1983 1983 1986 1987
Igreja da Graça Jesus é a Verdade Pentecostal Presbiteriana Cristo Vive Cristã Antioquia
Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal
Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro
1989 1989 1989 1989 1990 1991
Assemb. de Deus (CONAMAD) Cristo Rei Assembleia de Cristo Projeto Vida Nova Batista Independente Templo da Benção
Quadro 1- Denominações evangélicas, segundo ano de fundação no Brasil, classificação doutrinária e local de origem
Fonte: Freston (1994). Nota: Quanto ao ano de fundação, algumas denominações consideram a chegada de missionários como a data
inicial dos trabalhos brasileiros. Outras preferem considerar a organização de igrejas locais. Adotou-se a data mais corrente no meio evangélico ou a data oficial da denominação.
O Quadro 1 mostra, ao longo do século XIX e século XX, o estabelecimento e a
diversificação do protestantismo no Brasil, enfocando o ano de fundação, a classificação e o
local de origem das denominações evangélicas.
29
Todas as denominações que vieram ao Brasil no século XIX eram históricas e de
origem europeia ou norte-americanas. Logo no início do século XX, tem início o processo de
diversificação protestante, principalmente com as denominações de classificação pentecostal.
Distribuído em centenas de denominações, históricas e pentecostais, o protestantismo
encontrará pontos de convergência com o processo de modernização do país no decorrer do
século XX. A mobilidade dessas igrejas, organizadas na forma de comunidades-igrejas,
facilitou sua organização nos grandes centros urbanos, principalmente nas regiões periféricas.
Assim, os evangélicos se adaptam, com mais facilidade, a novos ambientes.
Nesse contexto, as denominações pentecostais incorporaram as necessidades e
valores da grande cidade. Tais denominações trazem consigo o modelo interdenominacional
de concorrência religiosa, a exemplo do norte-americano, primeiro modelo de pluralismo
religioso (BERGER, 1985). Conforme Passos (2005, p. 65), “através do modelo de
comunidades-igrejas as camadas menos favorecidas recriam seus laços familiares perdidos e
as pessoas têm suas identidades reconhecidas dentro do anonimato da grande cidade”.
A diversificação do campo religioso, com fundação de várias denominações
evangélicas pelo país, ao lado da adaptação ao ambiente brasileiro, expressa-se no crescente
número de fiéis. Os dados do IBGE confirmam o avanço numérico desse segmento da
população brasileira.
Tabela 2- Percentual da população evangélica em relação à população total do Brasil, de 1890 a 2010
Ano 1890 1900 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Percentual da população
0,99
1,07
2,6
3,35
4,03
5,16
6,62
9,1
15,57
26,8
Fonte: Lopes Junior (1997) de 1890-1991; IBGE, censo demográfico de 2000. Nota: Os números referentes a 2010 são projeção do censo demográfico do IBGE 1991-2000 (ZILNER, 2009).
Segundo o IBGE, a taxa de crescimento médio anual do conjunto dos evangélicos
entre 1991 e 2000 foi de 7,9%. A expectativa, conforme Eunice Zilner (2009), é que, no ano
corrente, 26,8% da população seja evangélica. Caso isso se confirme, serão mais de 53
milhões de pessoas fazendo do Brasil o segundo país do mundo em número de evangélicos,
30
ficando atrás apenas dos Estados Unidos (FIGUEIRA, 2007). O Gráfico abaixo expressa este
vertiginoso crescimento.
Gráfico 1- Evangélicos no Brasil, de 1980 a 2010 Fonte: Zilner (2009). Nota: Informação: 2002-2010 (projeções).
Esses números revelam a presença constante dos evangélicos no dia-a-dia: seus
numerosos templos abertos cotidianamente, que reúnem milhares de fiéis, seus programas de
rádio e TV, propagando a mensagem das várias denominações, a conversão de artistas e
atletas famosos e sua associação sectária para eleger candidatos de seu ciclo religioso na
política nacional. Tal visibilidade social é possível, principalmente devido às estratégias e
inovações utilizadas pelas denominações do pentecostalismo brasileiro.
0
10
20
30
40
50
60
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Tot
al d
e ev
angé
licos
(m
ilhõe
s)
1980-2000; 2002-2010 (projeções)
31
2.3 O PENTECOSTALISMO
O pentecostalismo desembarca em terras brasileiras no início do século XX,
representado pelas igrejas pioneiras Congregação Cristã no Brasil e Assembleia de Deus,
ambas relacionadas ao movimento pentecostal que eclodiu nos Estados Unidos em 1906. Esse
movimento religioso teve como centro irradiador da mensagem pentecostal para o mundo a
Rua Azusa, em Los Angeles, no Estado da Califórnia (EUA), de onde se espalhou
rapidamente (MARIANO, 1999). O Batismo no Espírito Santo e a atualidade dos dons
espirituais se tornariam as características diferenciadoras do movimento pentecostal em
relação às outras denominações do protestantismo, isto é, seria a dotação da capacidade
sobrenatural do crente para levar o evangelho acompanhado de milagres para conversão de
almas. Esse impulso missionário era fortemente revigorado pela expectativa da iminente volta
de Cristo ao mundo e alimentado pelas rápidas transformações que a sociedade passava
naquele período (PASSOS, 2005).
A tipologia utilizada por Paul Freston, já considerada como clássica, tenta captar o
processo de formação do pentecostalismo no Brasil. Esse autor divide sua chegada em três
fases diferentes que impulsionaram o crescimento do pentecostalismo no país. As três fases
são compreendidas como períodos históricos de implantação de igrejas e são denominadas
ondas pela força irradiadora que tiveram para formação de expressivas denominações do
pentecostalismo brasileiro. Assim, o pentecostalismo tem início com a AD e a Congregação
Cristã no Brasil, que chegam quase que simultaneamente ao país, sendo que a primeira foi
fundada em 1911 e a segunda, em 1910. Elas foram hegemônicas nos primeiros quarenta anos
do pentecostalismo no Brasil. Por conseguinte, essa fase inicial de implantação de igrejas
também recebe o nome de pentecostalismo clássico (FRESTON, 1994).
A segunda fase se inicia na década de 50, indo até o começo dos anos 60. Ela tem
começo com a instalação, em solo brasileiro, da Igreja do Evangelho Quadrangular, vinda dos
Estados Unidos. Ainda nesse período, têm início as atividades da Igreja O Brasil para Cristo,
que teve como fundador o brasileiro Manoel de Mello. Além dessas duas igrejas, outra grande
igreja fundada nesse período foi à Igreja Pentecostal Deus é Amor, tida como a mais rigorosa
em questões comportamentais. Este momento do pentecostalismo trouxe muitas inovações ao
32
ascetismo11 pentecostal, como maior ênfase na cura divina, menor exigência nas questões
comportamentais (Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja o Brasil para Cristo), grandes
eventos realizados nos estádios do país, construção de megatemplos, incursões pela política
partidária, utilização da mídia para fins evangelísticos, entre outros. Devido a essas inovações,
essa segunda onda é entendida como uma fase de transição de um pentecostalismo mais
ascético e sectário para o pentecostalismo mais acomodado ao mundo que virá em seguida,
sendo denominado de terceira onda.
A terceira onda surge a partir da segunda metade dos anos 70 e início dos anos 80,
com a fundação de sua principal representante, a IURD, em 1977, seguindo, logo após, com a
fundação da Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo e Sara Nossa Terra
(FRESTON, 1994). Se, na primeira e segunda fase, as igrejas inovaram em muitas questões,
na terceira fase, trará no bojo de sua atuação práticas consideradas paradoxais,12 tanto para
evangélicos como para não evangélicos. As igrejas dessa fase tomaram a dianteira das
inovações no televangelismo, na mudança dos costumes de santidade e na política.
As ondas de implantação do pentecostalismo brasileiro não somente se baseiam no
recorte histórico-institucional, mas também na relevância de cada fase, marcada pela inovação
estratégica na evangelização, seguindo a um processo de acomodação e adaptação às
condições socioculturais do país. Todavia, vale ressaltar que o campo protestante segue a
dinâmica de igrejas autônomas, dando sequência ao “sacerdócio universal dos crentes,”
inaugurado com a Reforma Protestante do século XVI. Tal fato que permite a multiplicação
das várias denominações protestantes através de dissidências, conflitos doutrinários, invasão
de campo etc. Contudo, a dinâmica do pentecostalismo implantado em suas diversas fases
permite o nascimento, mesmo nos dias hodiernos, de novas denominações tanto relacionadas
às igrejas da terceira, segunda, como da primeira onda. É o caso da AD que, mesmo chegando
11 Para Max Weber (2005; 1982), o ascetismo está relacionado às religiões de salvação que procuram direcionar
a conduta de seus fiéis negando os prazeres e estilo de vida mundanos. Por este meio, o indivíduo vive em constante tensão com o mundo, na medida em que supervisiona seu estado de graça por intermédio de seu comportamento cotidiano, a fim de obter a certeza da salvação. Esse ascetismo ético é vivido em meio ao mundo e suas instituições, pois é no mundo e diante de suas provações que o cristão adquire os sinais de sua salvação.
12 Conforme Ricardo Mariano (1999, p. 226), “a promessa de salvação paradisíaca no pentecostalismo sempre foi acompanhada de forte rejeição e desvalorização do mundo. O neopentecostalismo transformou as tradicionais concepções pentecostais acerca da conduta e do modo de ser do cristão no mundo. Ser cristão tornou-se o meio primordial para permanecer liberto do Diabo e obter prosperidade financeira, saúde e triunfo nos empreendimentos terrenos”.
33
próxima dos cem anos de existência, continua na lista das denominações que mais crescem no
país, tendo várias igrejas dissidentes.13
De fato, o paradigma pentecostal segue vigoroso e dinâmico que nem mesmo as
denominações do protestantismo histórico ficaram fora de sua influência. Enquanto na
primeira fase do pentecostalismo as igrejas do protestantismo histórico se integravam às
denominações pentecostais, na segunda e terceira ondas, muitas aderiram à doutrina
pentecostal sem, contudo, abandonarem suas peculiaridades na organização institucional.
Essas igrejas foram denominadas de protestantes históricas “renovadas”.14
Em cada momento histórico de implantação do pentecostalismo, pode-se encontrar o
diferenciador institucional de suas principais denominações. Entre estas destacamos a AD e
suas características institucionais permeadas pelos seus fundadores e pela influência de seus
primeiros líderes nacionais.
2.3.1 Fase genética – características institucionais da AD
Da efervescência religiosa pentecostal nos Estados Unidos, em 1906, saíram, rumo
ao Brasil, os missionários fundadores da AD, os suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Eles
chegaram ao Brasil em 19 de novembro de 1910, na cidade de Belém, no Estado do Pará.
Logo na chegada, entraram em contato com o pastor metodista Justos Nelson, que os
apresentou ao responsável pela Igreja Batista, Adriano Nobre, quando passaram a congregar-
se e morar nas dependências da igreja. Até aquele momento, os missionários pertenciam à
Igreja Batista americana (CONDE, 2006).
A mensagem pentecostal se espalhou na pequena comunidade batista em Belém,
provocando o cisma de dezenove pessoas que aderiram à nova mensagem. Posteriormente, no
dia 18 de junho de 1911 (data oficial da fundação da AD), após sete meses da chegada dos
missionários ao Brasil, ocorreu a fundação da nova denominação, que inicialmente recebeu o
13 O outro grande ramo da AD é a CONAMAD (Convenção Nacional das Assembleias de Deus) – Ministério de
Madureira, desde 1989. Há ainda vários ministérios e um grande número de igrejas independentes que usam a nomenclatura da AD, em diversas regiões do país, que atuam sem vinculação com a CGADB e CONAMAD, entre outras convenções.
14 São denominações dissidentes do protestantismo histórico que se pentecostalizaram ao adotar a teologia pentecostal, além de várias inovações teológicas identificadas com o neopentecostalismo.
34
nome dos primeiros grupos pentecostais dos Estados Unidos, isto é, Missão da Fé Apostólica,
passando a ser chamada de Assembleia de Deus, em janeiro de 1918 (SILVA, 2001).
Não demorou muito para que a nova igreja recebesse reforços com a vinda de mais
missionários vindos da Suécia. Nessa época, o número de obreiros era insignificante. As
notícias da abertura e do progresso de novos campos de atuação chegaram às igrejas da Suécia
e da América do Norte. Contudo, é na década de vinte que se intensificou a vinda de
missionários para atender as necessidades da igreja (OLIVEIRA, 1997; CONDE, 2006).
2.3.1.1 A influência nórdica
Esses primeiros anos de atividades da AD em solo brasileiro são essenciais para
entendermos o núcleo organizacional que se formou sob influência dos missionários suecos.
Panebianco (2005, p. 92) destaca que para compreender as características peculiares de uma
determinada instituição, entre outros fatores, será muito importante empreender uma análise
histórica de como a organização nasceu e se consolidou, pois “toda organização traz consigo a
marca das suas modalidades de formação e das principais decisões político-administrativas de
seus fundadores, as decisões que modelaram a organização”.
Nesse mesmo sentido, Freston (1994, p. 76) destaca duas características essenciais
para que se compreenda a identidade da AD. É o que ele vai denominar de “ethos sueco-
nordestino”,15 que nasce com os missionários fundadores, passando, em seguida, a receber
influência dos nordestinos. A primeira contribuição está relacionada à força que o influxo
sueco exerceu sobre a formação da AD nos seus primeiros quarenta anos de existência,16
através dos vínculos com as igrejas suecas. Esses vínculos se estabeleceram em razão da
nacionalidade de seus fundadores. A Igreja Pentecostal Escandinava e, em particular, a Igreja
de Estocolmo, deram suporte aos missionários fundadores, além de se responsabilizarem pelo
envio de outros missionários, a fim de suprir a carência do trabalho que se espalhava
rapidamente pelo Brasil.
15 A própria literatura histórica da denominação destaca a importância do “entrosamento e da comunhão entre os
obreiros nacionais e os missionários [que] resultou [n]o grande progresso da igreja. As principais lideranças da Assembleia de Deus enfatizam ainda hoje que não se deve perder de vista o modelo deixado pelos missionários” (OLIVEIRA, 1997, p. 184).
16 Conforme Freston (1994, p. 82), “o auge da presença sueca foi nos anos trinta, com cerca de trinta famílias missionárias, depois de 1950 o fluxo praticamente cessou”.
35
Esse primeiro momento da denominação muito contribuiu para a consolidação de
algumas características assembleianas, provenientes dos missionários nórdicos encarregados
não apenas da fundação, como também da manutenção de novas igrejas ligadas à AD.
Como dirigentes da denominação, os fundadores suecos repassaram seu modelo de
religião adotado em seu país de origem. Os missionários traziam consigo as marcas da
vivência num país pobre da virada do século XIX para o século XX,17 acompanhada da
marginalização econômica e religiosa.
Diferentemente da tradição protestante sueca da igreja majoritária luterana, os
missionários adotaram uma postura contrária à erudição teológica e secular da Suécia. Nesse
sentido, transmitiram para a AD o ethos sueco de marginalidade social, caracterizado pela
simplicidade teológica e anti-intelectualista18 do clero, além de uma atitude contracultural e
antipolítica (FRESTON, 1994). Este modelo de religião fez com que os fundadores
formassem os primeiros fiéis dentro de uma visão ascética e de sofrimento, sem pretensões de
amplas conquistas neste mundo, principalmente aquelas que levassem os fiéis a ascender
socialmente.
Estas características, por certo, também foram reforçadas pela visão dual do mundo.
Para Mendonça (2008, p. 213),
o protestantismo se apresenta, ainda, como uma visão maniqueísta do mundo, o mundo presente é mau, e o homem nele luta e sofre como um peregrino até chegar a uma terra feliz, e este final venturoso depende da forma de vida que ele escolher. A idéia de peregrinação foi sempre, sem dúvida, um patrimônio comum das denominações protestantes no Brasil, pelo menos das de origem missionária. Por essa doutrina o indivíduo é levado a conformar-se com sua situação penosa atual, uma vez que sua permanência nela é efêmera em comparação com a feliz eternidade futura.19
Tal visão fazia com que as pequenas comunidades assembleianas se fechassem em
torno de si mesmas, preocupando-se, quase que exclusivamente, com a evangelização para a
salvação de almas. Nesse sentido, importava converter pessoas a Cristo antes de sua volta ao
mundo. Com esse estilo de vida, não almejavam amplas conquistas, influência ou
17 Daniel Berg e Gunnar Vingren fazem parte dos milhares de migrantes que se mudaram da Europa para os
Estados Unidos, na virada do Século XIX para o século XX, à procura de melhores condições de vida. Chegando a esse país, assumiram ocupações modestas. O primeiro, logo que chegou aos Estados Unidos, com a ajuda de amigos, conseguiu emprego em uma fazenda. O segundo foi, respectivamente, foguista, porteiro de uma loja e jardineiro, antes de se tornar pastor da Igreja Batista (OLIVEIRA, 1997).
18 A partir da segunda metade dos anos 30, a AD brasileira passou a ter maior colaboração das ADs dos Estados Unidos através dos missionários enviados ao país, os quais se envolveram de forma mais direta no trabalho de estruturação teológica da denominação.
19 O livro O Peregrino, do puritano John Bunyan, do século XVII, retrata bem essa atitude protestante diante do mundo.
36
respeitabilidade social, contentando-se com o sofrimento pela sua condição de
marginalização, tendo por consolo a expectativa da segunda vinda de Cristo, único meio de
redenção e salvação das intempéries desse mundo mau.
2.3.1.2 A influência nordestina
Esse período de formação institucional da AD contou com a influência nordestina
como foco de sua constituição, atuando como segundo elemento da “fase genética” da
organização, como destaca Panebianco (2005, p. XVII), ao afirmar que
a organização sofrerá, certamente, modificações e adaptações profundas, interagindo, durante todo o seu ciclo de vida, com as contínuas modificações do ambiente. Porém, os resultados das primeiras “partidas”, metáforas à parte, as escolhas políticas cruciais realizadas pelos fundadores, as modalidades dos primeiros conflitos visando ao controle organizativo e o modo como a organização se consolidam deixarão uma marca indelével. Poucos aspectos da fisionomia atual e das tensões que se desenvolvem diante dos nossos olhos em tantas organizações parecem compreensíveis se não se retroceder à sua fase constitutiva.
Assim, a segunda força de formação do ethos assembleiano tem relações com a
extensão inicial da AD sobre as regiões Norte e Nordeste. Até 1920, a AD havia se estendido
sobre nove Estados destas regiões.20 Somente em 1922, a AD se estende para fora do eixo
Norte-Nordeste, restringindo suas atividades evangelísticas apenas a estas duas regiões,
durante seus primeiros 11 anos de fundação.
Nesse primeiro momento de expansão, a AD contou com a atividade missionária
exercida pelos leigos para disseminação da denominação nos vários Estados dessas regiões.21
De fato, os leigos antecederam os missionários e pastores criando pontos de pregação que, 20 Região Norte: Pará (1911), Amapá (1917) e Amazônia (1918); Região Nordeste: Ceará (1914), Alagoas
(1915), Pernambuco (1916), Rio Grande do Norte (1918), Paraíba (1918) [e Maranhão (1918?]). Com relação à última data, há um desencontro nas informações relacionadas à separação do pastor Clímaco Buena Asa e da data da chegada da AD no Estado do Maranhão. De acordo com o Livro História das Assembléias de Deus no Brasil, de autoria de Emílio Conde (2006), a AD chega ao Maranhão em 1921 e o pastor Clímaco Bueno Asa, fundador da AD nesse Estado, é separado a pastor no dia 10 de março de 1918. Já no livro As Assembléias de Deus no Brasil: sumário histórico ilustrado, de Joanyr de Oliveira (1997), 10 de março de 1918 é a data de fundação da AD no Estado do Maranhão e sua separação para o pastorado ocorre no ano de 1917. Pela proximidade geográfica, adotou-se a primeira data, deixando espaços abertos para correção e contestação.
21 Antes da chegada de missionários ou pastores, estados como Ceará, Amazonas, Rondônia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio grande do Norte, Bahia, Sergipe, Piauí, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina receberam a mensagem pentecostal apregoada por leigos. A mensagem era pregada, principalmente, para conversão de parentes e amigos. Tão vigoroso era o dinamismo evangelístico dos crentes que chegaram a pentecostalizar várias igrejas do protestantismo histórico, transformando-as em ADs (CONDE, 2006).
37
posteriormente, viriam a ser congregações. Cada crente era um potencial propagador de sua
denominação em plena execução da liberdade de atuação garantida pelo “sacerdócio universal
dos crentes” (CONDE, 2006).
Esses evangélicos se mobilizaram seguindo as vias da migração em busca de
melhores condições de vida, sentindo-se encarregados de levar a mensagem pentecostal. O
jornal da AD, o Mensageiro da Paz, retrata esse período da expansão assembleiana:
[...] a Amazônia havia se tornado alvo de pesados investimentos de multinacionais, sobretudo da borracha. Os trabalhadores rurais, em sua maioria nordestinos, se convertiam e espalhavam a doutrina pentecostal por todos os lugares onde iam trabalhar, exatamente aqueles onde as mega corporações faziam seus investimentos. Por isso, o movimento pentecostal na Amazônia deve aos nordestinos a maior parte do trabalho de divulgação (TANTOS..., 2001, p.3).
A fundação da AD ocorre no período econômico chamado de ciclo da borracha
(1879 a 1912), cuja principal cidade era Belém, capital do Pará. O crescimento da AD,
segundo Passos (2005, p. 90), está ligada às rotas migratórias do início do século XX, que
teria relações com a rápida expansão da produção de borracha, que atraiu grande quantidade
de trabalhadores para a região que, ao final do ciclo, retornaram ao Estado de origem, levando
a mensagem da denominação.
A difusão dos leigos pelo território nacional abriu pontos de pregação que, depois,
seriam organizados pelos missionários e pastores. É o caso da transferência do missionário
Gunnar Vingren para o Rio de Janeiro, em abril de 1924, a pedido de vários crentes que
haviam se mudado do Estado do Pará para a então capital federal, em busca de trabalho
(CONDE, 2006).
Os missionários estrangeiros encontravam dificuldades de penetração entre as
camadas populares pelo estranhamento aos costumes e hábitos do povo. Por outro lado, os
obreiros nativos tinham consigo a identificação popular através de práticas religiosas do meio
em que viviam. Se os fiéis encontravam dificuldades para organizar a nova denominação,
burocrática e doutrinariamente, os missionários supriam essas necessidades, com sua
experiência e formação teológica. Dessa maneira, a organização da igreja, em seus
primórdios, contou com esses dois pilares fundamentais para sua consolidação em terras
brasileiras.
A inserção da AD na sociedade nortista e nordestina, segundo Freston (1994),
contribuiu para a consolidação de uma organização marcada pelo autoritarismo pastoral, no
contexto de adaptação à cultura de dominação da região.
38
No ano de 1930, a organização da AD sofreu significativas alterações por ocasião da
primeira Convenção Geral da denominação, na cidade de Natal. Neste ano, a igreja brasileira
adquiriu autonomia interna em relação à missão sueca. Dessa forma, naquela Convenção, os
rumos da igreja foram entregues às lideranças nacionais, passando a ser administrada pelos
pastores nativos. A partir daí, os missionários estrangeiros se deslocaram para o Sul e
Sudeste, onde o trabalho começava a se expandir (SILVA, 2001).
Nesse período, as características da igreja já eram marcantemente nordestinas. Tais
características parecem estar sedimentadas até hoje em seus fundamentos institucionais. As
últimas eleições para a presidência da Convenção Geral das ADs, realizadas em abril de 2009,
podem ser um bom exemplo disso, pois os dois concorrentes para a presidência do órgão
máximo da denominação eram o nortista pastor Samuel Câmara e o nordestino José
Wellington, que está à frente da Convenção Geral desde maio de 1988 (PASTOR..., 2009).22
Em suma, Freston (1994, p. 84) define as duas fontes de formação do ethos
assembleiano da seguinte forma: “a mentalidade da AD carrega as marcas dessa dupla
origem: da expectativa sueca das primeiras décadas do século; e da sociedade patriarcal e pré-
industrial do Norte/Nordeste dos anos 30 e 60”.
2.3.2 As dimensões da AD no Brasil
A partir desse núcleo organizacional, a AD se expandiu na população brasileira,
durante o século XX, tendo, conforme o censo de 2000, 8.418.154 fiéis, apresentando
5.255.454 a mais que a segunda colocada, a Igreja Batista, que contou com 3.162.700 fiéis.
22 As eleições foram realizadas “no dia 23 de abril de 2009, por ocasião da 39ª Assembleia Geral Ordinária
(AGO) realizada nos dias 20 a 24 no estado do Espírito Santo” (PASTOR..., 2009, p. 3).
39
Gráfico 2- As maiores denominações evangélicas do Brasil Fonte: IBGE, censo demográfico de 2000.
Em terceiro lugar em número de adeptos vem a Congregação Cristã do Brasil, com
2.489.079 fiéis e, em quarto, a IURD, com 2.101.884 fiéis. Conforme os dados acima, entre as
cinco maiores denominações evangélicas, quatro são da vertente pentecostal. A AD possui
quase a metade (47%) dos pentecostais (JACOB et al., 2003) e, conforme demonstrado na
figura abaixo, a AD está presente em todas as regiões do país.
0 2 4 6 8 10
Presbiterianos
Luteranos
Adventistas
Outras evangélicas
Evangelho Quadrangular
Universal do Reino de Deus
Congregação Cristã no Brasil
Batista
Assembleia de Deus
Milhões (fiéis)
40
Figura 1- Maiores denominações evangélicas, por região Fonte: Marcos Zilner; Eunice Zilner (2005).
Diferentemente de algumas denominações protestantes, como a luterana que se
concentra na região Sul, desaparecendo nas demais, a AD tem presença em todas as regiões
do país, sendo maior nas regiões Norte e Nordeste e menor na região Sul, conforme
demonstrado na figura abaixo.
41
Figura 2- Percentuais da Assembleia de Deus entre os evangélicos, por região brasileira Fonte: Marcos Zilner; Eunice Zilner (2005).
Nas regiões Norte e Nordeste, seu primeiro campo de atuação, de onde se difundiu
para o restante do país, a denominação chega a ter em torno de 45% a 55% do total de
evangélicos. Na região Centro-Oeste, fica em torno de 35% a 45%; na região Sudeste, de 25%
a 35% e, na região Sul, cerca de 25%. Pode-se afirmar que “nos estados do Amazonas, Pará,
Tocantins, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte, em média, em cada três pentecostais,
dois são membros da Assembléia de Deus” (JACOB et al., 2003, p. 42).
Com efeito, o peso demográfico dessa denominação incide sobre sua postura
ascética, causando transformações, pois, conforme Hay, citado por Zurbriggen (2006, p. 73),
[...] a criação institucional é um processo contínuo, sustentado com a base de regras construídas socialmente em determinados contextos históricos e políticos. No entanto, por mais sólida e permanente que seja uma instituição, os agentes podem
42
optar por romper determinadas regras. Assim, estas não são permanentes e podem mudar, em parte, em função das decisões estratégicas dos agentes dentro da estrutura, e estas decisões estratégicas representam respostas tanto a fatores endógenos como exógenos.
A AD mostrou, sobretudo nas últimas décadas, maior disposição para adaptar-se a
mudanças em processo no pentecostalismo e na sociedade brasileira, não deixando fora de seu
campo de atuação a política partidária.
Com seus quase cem anos de existência, a AD não é a mesma da data de sua
fundação, pois a história do Brasil no século XX passou por alterações políticas e religiosas.
Tais transformações provocam alterações significativas nas instituições sobre as quais atuam,
levando-as a um processo de adaptação às novas exigências sociais. Nesse sentido, o peso
numérico da AD e sua abrangência territorial nacional, quando canalizados, lhes dão respaldo
ante questões sociais mais amplas, inclusive no âmbito da política.
2.3.3 A expansão social e política da AD
Durante muito tempo, predominou entre evangélicos, principalmente entre
assembleianos, as seguintes expressões: “política é pecado”, “política é coisa de ímpio” ou
“esse assunto não interessa à Igreja” (ELIAS, 2005, p. 32, 38, 3). Estas expressões revelavam
certo tipo de negação do poder terreno acompanhado do zelo conservador contra as
influências mundanas sobre as denominações de raízes puritanas. Assim, caracterizaram um
forte ascetismo proveniente do dualismo ético evangélico, que situava a política partidária no
campo das ações mundanas e pecaminosas. A santificação rigorosa, a preservação dos
costumes, juntamente com um forte espírito missionário, além da manifestação dos dons do
Espírito Santo, foram características quase que exclusivas da AD durante a maior parte de sua
história (MARIANO, 1999).
Daí, pode-se dizer que, no início de sua organização, o projeto central dessa igreja
era marcado por um proselitismo agressivo de oposição à Igreja Católica. Ao tempo que a
negava, esforçava-se para lançar longe de si as características básicas desta religião. Negava
sua forma de atuação na sociedade brasileira, principalmente com referência à política que, na
época, tinha influência de padres, fazendeiros e latifundiários em muitas localidades do país.
Como atesta Irmão Elias (2005, p. 32),
43
no começo da evangelização do Brasil um grande contingente de pastores e obreiros não possuía maiores conhecimentos intelectuais e das verdades bíblicas. Eram pessoas simples, semi-alfabetizadas, conhecedoras apenas de alguns rudimentos fundamentais do evangelho. Não tinham tempo nem condição para estudos mais profundos. Os crentes eram pobres, humildes, sem qualquer projeção social. Política, àquela época, era atividade exclusiva de “coronéis”, doutores e milionários.
Alguns autores ressaltaram, em seus trabalhos, a desvalorização política como algo
intrínseco das denominações pentecostais. Por conseguinte, predominava um tipo de
ascetismo quase monástico, manifestado de forma severa, ao negar os prazeres, as vaidades, a
corrupção da matéria, o mundo e suas tentações como meio de assegurar costumes e hábitos
que conduzem à salvação (ou à certeza de estar salvo), que liberta do sofrimento e de uma
vida de privações e do mundanismo em geral. Como “cidadãos dos céus”, esses fiéis
observavam o rigor comportamental contra as corrupções mundanas, na esperança de
alcançarem o paraíso de delícias, gozo e alegrias eternas (PRANDI apud ALMEIDA, 1999, p.
177).
Isso foi aceito sem grandes tensões internas, enquanto foram esmagadoramente
pobres e estiveram privados dos mais elementares bens materiais, culturais e educacionais.
Mas,
diante da mobilidade social de parte dos fiéis, das promessas da sociedade de consumo, dos serviços de crédito ao consumidor, dos sedutores apelos do mundo da moda, do lazer e das opções de entretenimento criadas pela indústria cultural, essa religião ou se mantinha sectária e ascética, aumentando sua defasagem em relação à sociedade e aos interesses sociais e materiais dos crentes, ou fazia concessões. Diante de mudanças na sociedade e das novas demandas no mercado religioso, diversas lideranças pentecostais optaram por ajustar gradativamente sua mensagem e suas exigências religiosas à disposição e às possibilidades de cumprimento por parte dos fiéis e virtuais adeptos. O sectarismo e o ascetismo cederam lugar à acomodação ao mundo, acompanhando o processo de institucionalização, ou a rotinização do carisma do pentecostalismo (MARIANO, 1999, p. 148).
A acomodação ao mundo se expressa, segundo Mariano (1999), no abandono de sua
antiga maneira de ser, em direção aos valores e interesses do mundo, isto é, à sociedade de
consumo. O fato de muitos evangélicos estarem se tornando empresários e políticos ilustra
esse processo pelo qual vem passando não somente as ADs, como também muitas outras
denominações no Brasil. Nem mesmo as denominações mais rigorosas como a Igreja
Pentecostal Deus é Amor escaparam do processo de transformações que atingiu o
pentecostalismo, nos últimos anos.
44
Além das transformações internas provocadas pela ascensão dos membros da AD,
não é de estranhar que para ela tenha afluído grande número de pessoas da camada média e
número menor da camada alta da sociedade.23
Para Freston (1994, p. 94),
a AD hoje em dia parece uma enorme banheira enchendo de água, mas com profundas rachaduras e água saindo de cima pelo “latrão”. Ficou demasiadamente diversificada em termos sociais para continuar como estava, mas hesita entre opções contraditórias para o novo momento. Já tem todas as classes dentro dela, desde empresários de porte razoável até mendigos. Há uma tensão entre o desejo de aderir explicitamente a valores burgueses, e a tradição assembleiana de um certo populismo religioso que tende a gloriar-se na escolha dos humildes por parte de Deus. Mas a nova geração de homens de negócios tende a rejeitar não só os elementos disfuncionais do moralismo restritivo, como também a própria tendência de idealizar teologicamente a pessoa “humilde”. Isso causa uma perda de atratividade embaixo.
Essas alterações provocaram, conforme Mariano (1999), o arrefecimento da ênfase
apocalíptica que desvalorizava este mundo, a retração do ascetismo que proibia até a prática
de esportes, sem prejuízo imediato de seu moralismo de cunho bíblico. Por conseguinte, a
aversão à educação formal, ao intelectualismo, à busca de riquezas, às profissões rendosas e à
participação na política partidária, que poderiam provocar orgulho, paixão e amor pelo
mundo, tornaram-se, atualmente, meios de ascensão e reconhecimento social entre os
membros da AD (MARIANO, 1999).
Contudo, vale ressaltar que a AD, desde os primórdios de sua existência, mantém
relações com políticos tradicionais, para adquirir legitimidade social ou alcançar favores e
benesses. Nesse sentido, à proporção que a igreja crescia, atraía partidos e políticos
tradicionais que tentavam conquistá-la por meio de favores, ajuda financeira, doações, e
principalmente pelas promessas de proteção aos seus direitos (ELIAS, 2005). Esta era a forma
mais antiga de fazer política na AD, ou seja, não se intrometer diretamente na política, mas
estabelecer aliança tácita com políticos regionais ou locais.
Para muitos assembleianos, isto não significava fazer política, mas reconhecer e dar
honra às “autoridades constituídas por Deus”, isso porque ocupavam os cargos de governança.
23 Conforme Ricardo Mariano (1999, p. 16), “a vertente pentecostal tem passado, nos últimos anos, por
significativas mudanças que, além da ascensão social de parte de novas gerações de crentes, há igrejas que direcionam, com relativo sucesso, seu evangelismo às camadas médias da população. Três instituições interdenominacionais, a Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno (ADHONEP), dissidência da Associação Internacional dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno (AIHNEP), também estabelecida no Brasil, e o Comitê Cristão de Homens de Negócio (CCHN), promovem jantares, cafés da manhã em bons hotéis e restaurantes, para, por meio de testemunhos pessoais de conversão e de bênçãos recebidas, converterem empresários, profissionais liberais e políticos”.
45
Os governantes, por sua vez, sempre acharam espaços para a troca de favores com as
lideranças da igreja. Na maioria das vezes, tiravam proveito da carência material dessas
denominações que, frequentemente, viam-se diante da incompatibilidade entre seu projeto
expansionista e a realidade financeira de seus membros. Dessa forma, abriam-se espaços para
trocas no âmbito do religioso e político.
Esse é um fator de suma importância para a compreensão das atitudes primárias
dessas denominações. Além disso, contribui para se entender como essas transformações
acontecem no decorrer do dinamismo institucional, as quais se refletem na mudança do lema:
“crente não se mete em política” para um segundo momento, agora com bases no
corporativismo político, herdeiro do sectarismo religioso: “irmão vota em irmão”.
46
3 DENOMINAÇÃO E PARTIDO: A LÓGICA DA IGREJA NO CONTEXTO
PARTIDÁRIO E A LÓGICA PARTIDÁRIA NO CONTEXTO DA IGREJA
Este capítulo analisa a atuação da AD no contexto do sistema eleitoral brasileiro, a
lógica adotada no sistema proporcional e majoritário e suas implicações para o
posicionamento da igreja ante os partidos políticos. No plano interno da denominação, analisa
o processo de organização política com base em sua organização eclesiástica, seu governo e
seu modelo de crescimento.
Também examina a importância da identidade religiosa para o sucesso de
candidaturas evangélicas, no contexto do sistema partidário brasileiro. Para tanto, faz-se
necessária uma análise do material de campanha política dos candidatos da igreja e como se
utilizam dessa identidade, com o segmento, para obtenção de votos e, além disso, busca-se
apreender tal identificação nos discursos dos parlamentares evangélicos concentrados na
Bancada Evangélica, na Câmara Federal.
Como novo elemento na política partidária brasileira, a participação de religiosos
protestantes tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores e instituições. Entre tantas,
pode-se elencar o estudo da formação da Bancada Evangélica (PIERRUCI, 1989),24 o seu
posicionamento no sistema partidário (RODRIGUES, 2006), sua dispersão partidária e não
formação de um partido evangélico (BORGES, 2007).
A descrição do modelo de governo da AD, de sua organização política interna e de
sua estrutura eclesiástica é importante para entendermos como essa igreja se lança na política
para eleger seus candidatos. Algumas denominações, como a IURD, têm seu sistema de
governo centralizado, enquanto outras, como a AD, têm governo centralizado, com autonomia
local. Essas diferenças podem influir no resultado político.
Essas são as denominações evangélicas que mais tem alcançado destaque na política
partidária, merecendo destaque por sua forma de organização para concorrer na política
eleitoral. Dessa forma, tais igrejas têm se organizado com base em sua estrutura eclesiástica.
24 No ano de 2003, a Bancada Evangélica passou a ser denominada de Frente Parlamentar Evangélica.
47
Enfim, o entendimento da participação política da AD também passa pelo entendimento de
sua estrutura eclesiástica.
3.1 OS EVANGÉLICOS NO CONTEXTO DA POLÍTICA MULTIPARTIDÁRIA
3.1.1 A presença dos evangélicos na Câmara dos Deputados
A participação das igrejas evangélicas no cenário político teve como suporte a
reorganização partidária que se deu com o restabelecimento do pluripartidarismo, após a
Reforma Partidária de 1979, quando o bipartidarismo compulsório foi substituído pela
liberdade de criação de partidos políticos. Este foi o marco para o processo de transição
política do regime autoritário, instalado em 1964, para a República, que permitiu a entrada de
diferentes atores e organizações para a competição eleitoral, no âmbito da política partidária.
A implementação do multipartidarismo criou vias de participação política de grupos
anteriormente sem expressão política nas casas legislativas do país, num processo de
ampliação da participação democrática. Nesse sentido, partidos políticos exercem o papel de
mediadores entre eleitores e seus interesses. Conforme versam Dalton e Wattemberg (2000, p.
8), “os partidos políticos são uma das poucas organizações políticas que devem combinar
articulação de interesses com agregação de interesses, distinguindo-os, desse modo, dos
indivíduos políticos, grupos de interesses e atores políticos”.
Os partidos políticos atuam como canais interativos entre os vários grupos sociais e o
Estado, tornando possível a participação, inclusive, das organizações religiosas. É nesse
contexto partidário que atores e organizações podem definir seu campo de atuação política. O
crescimento do número de deputados evangélicos na Câmara dos Deputados é concomitante
ao surgimento do multipartidarismo promulgado com o processo de abertura política.
A participação política dos evangélicos se tornou visível, principalmente, a partir da
atuação organizada de políticos evangélicos, vindos de várias denominações protestantes, na
Assembleia Nacional Constituinte (ANC) (PIERUCCI, 1989).
48
A elaboração da Carta Magna da nação brasileira, por exemplo, serviu como mote
para mobilização, criando “incentivos coletivos”25 para eleição dos deputados evangélicos nas
eleições legislativas de 1986.26
A presença dos deputados evangélicos constituintes foi registrada por Antônio Flávio
Pierucci (1989, p. 108), que afirmou:
estamos, pois, assistindo a uma passagem. A barulhenta presença dos parlamentares protestantes conservadores no Congresso Constituinte, desde a sua abertura em fevereiro de 1987, pode ser vista como um ato de celebração desta passagem, de inauguração solene de uma nova era para essas igrejas cristãs e seus fiéis, suas crenças, seus pontos de vista, seus diagnósticos, suas práticas, seus valores, bem como para seus interesses corporativos de curto e longo prazos. A julgar por seu entusiasmo, tudo indica que, no final desses anos 80, num Brasil em processo de institucionalização do estado de Direito e da democracia representativa e competitiva, a hora do ativismo político soou também para aqueles grupos religiosos cristãos que, diferentemente dos católicos de todos os matizes, caracterizam-se pela determinação, que parecia inabalável, de manterem-se afastados da vida pública, do debate político, da luta ideológica para além das querelas religiosas e teológicas.
Após a ANC, os evangélicos marcaram presença continuada na Câmara dos
Deputados. A tabela abaixo enumera a quantidade de deputados evangélicos deste a
legislatura formada com a eleição multipartidária de 1982.
Tabela 3- Distribuição do número de deputados evangélicos na Câmara dos Deputados, de 1983 a
2011 Legislatura Nº
1983-1987 12
1987-1991 34
1991-1995 23
1995-1999 32
1999-2003 51
2003-2007 60
2007-2011 32
Fonte: Borges (2007); Pierrucci (1989); Figueira (2007).
25 Conforme Panebianco (2005, p. 18, grifo do autor), “a teoria dos incentivos coletivos distingue entre
incentivos de identidade (participa-se pela identificação com a organização), incentivos de solidariedade (participa-se por solidariedade aos outros participantes), ideológicos (participa-se pela identificação com a “causa” da organização)”.
26Nesse ano aconteceram eleições gerais para o legislativo (Assembleias Legislativas estaduais e Congresso Nacional) e os governos estatuais.
49
A evolução de 12 deputados na legislatura de 1983-1986 para 34 deputados na
legislatura de 1987-1991 fez dos evangélicos “a quarta maior bancada no Congresso
Constituinte, atrás apenas do PMDB, do PFL e do PDS” (PIERUCCI, 1989, p. 109). A marca
dos 34 deputados eleitos para a ANC foi superada somente na legislatura de 1999-2003,
quando somaram 51 deputados federais. Na legislatura de 2003-2007, os deputados
evangélicos formaram a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, com 60 deputados
federais. Este número foi reduzido quase pela metade na legislatura seguinte quando não
passaram dos 32 deputados federais.
3.1.2 Partido e denominação: identificação religiosa no contexto político partidário
A literatura especializada que trata da criação de partidos políticos destaca, entre
tantas, a clivagem religiosa como origem do surgimento de partidos. Na Europa, por exemplo,
partidos confessionais foram criados para concorrerem nas eleições. Dito de outra forma, as
clivagens sociais se traduziram em vários partidos políticos (LIJPHART, 2003).
Na Suíça, por exemplo, segundo Lijphart (2003, p. 56), o sistema partidário tem
relação com a estrutura social, quando afirma que
as divergências religiosas separam os democratas cristãos – apoiados principalmente pelos católicos praticantes – dos social democratas e dos radicais, que recebem a maior parte do apoio dos católicos que quase nunca, ou nunca, freqüentam a igreja, e os protestantes.
O mesmo autor, em seu estudo de 36 democracias, analisa as dimensões temáticas de
seus sistemas partidários, no período de tempo que vai de 1945 a 1996. A dimensão
socioeconômica vem relacionada em primeiro lugar, sendo que a dimensão temática religiosa,
expressão das diferenças entre os partidos religiosos e seculares, constitui a segunda dimensão
temática. Desta forma, Lijphart (2003) procura ligações entre o número de dimensões
temáticas com o número efetivo de partidos, demonstrando a identificação das clivagens
sociais com os partidos políticos.
Muitos autores têm procurado, em fontes teóricas que tratam da formação dos
partidos políticos, respostas para as questões político-partidárias brasileiras, inclusive para
50
responder os motivos da não formação de um partido evangélico no Brasil, já que este
fenômeno tem acontecido não somente na Europa, como também na América Latina,
inclusive em países como Argentina, Paraguai, Chile, Venezuela, Colômbia e Peru
(BORGES, 2007).
Este tema foi objeto de estudo, por exemplo, de Tiago Borges (2007), que procurou
saber por que os evangélicos, apesar de sua significância eleitoral, permanecem dispersos
entre vários partidos da política brasileira. Sua dissertação traz a seguinte hipótese: “um
partido evangélico não foi formado devido à ausência de uma identidade, tanto entre os
representantes evangélicos, quanto entre os eleitores que declaram pertencer a alguma igreja”
(BORGES, 2007, p. 74).
No entanto, segundo Lijphart (2003, p. 190), “sistemas eleitorais diferentes
produzem impactos diversos sobre os sistemas partidários”. Esse efeito pode ser percebido na
quantidade de partidos (seja no bipartidarismo ou pluripartidarismo) e na transformação dos
votos em mandatos para as cadeiras no Legislativo e Executivo, além de esses sistemas
influenciarem na determinação de estratégias dos diferentes agentes e organizações dentro do
sistema partidário.
Embora as clivagens sociais não estejam dissociadas do conjunto da sociedade, não
se pode buscar compreender partidos políticos simplesmente como reflexos dos grupos
sociais. A esse respeito, Mainwring (apud FERREIRA, 2002, p. 17) afirma que
as instituições não podem ser consideradas elementos secundários, epifenômenos ou meros reflexos das estruturas sociais, econômicas e culturais, pois gozam de certa autonomia diante desses elementos, caso contrário não faria sentido estudá-las.
Determinadas abordagens sobre partidos políticos têm encontrado muitas
dificuldades para analisá-los, ao perceberem que sua organização desfruta de certa
independência em relação aos segmentos sociais. A dificuldade está, principalmente, em
tentar atribuir os motivos de sua existência às estruturas sociais. Assim, essas teorias
procuram estabelecer vínculos de estrita dependência entre ambos, não reconhecendo os
limites destas relações e a autonomia dos partidos para adotarem as mais variadas causas que
surgem dentro da dinâmica das questões sociais.
Com o surgimento de novas demandas das sociedades contemporâneas, os partidos
políticos se colocam diante de uma gama de novas questões. Embora não estejam obrigados a
mudarem seus antigos programas, são capazes de absolver novas demandas sociais. Assim,
51
pode-se observar certo grau de autonomia dos partidos para agregar novos elementos no
cenário político da representação.
Atribuir aos partidos políticos dependência das divisões sociais consiste em não
atentar para determinadas particularidades que dizem respeito à sua atuação no sistema
partidário. Panebianco (2005, p. 4) denomina esta atitude de “preconceito sociológico,”
quando afirma que esta vertente
consiste em considerar as atividades do partido [...] como produto das “demandas” dos grupos sociais por eles representados e, mais em geral, que os próprios partidos nada mais são do que a manifestação das divisões sociais em âmbito político. Segundo essa mesma perspectiva, expressões como “partidos operários”, “partidos burgueses”, “partidos camponeses” etc. [...] O preconceito sociológico, portanto, impede tanto que se represente corretamente as complexas relações entre o partido e o seu eleitorado quanto que sejam individuadas as desigualdades específicas inerentes ao agir organizativo como tal.
Embora Panebianco fale da estrutura organizacional interna dos partidos, as
abordagens que procuram a razão de ser dos mesmos apenas nas divisões sociais, ou seja, nas
clivagens sociais e políticas, fazem parte de uma vertente que despreza a complexidade
institucional dos partidos políticos. Por conseguinte, podem existir baixos percentuais de
identificação partidária de um grupo social sem que, necessariamente, isso signifique ausência
de interesse nas questões de ordem pública.
Os dados da Tabela 4 demonstram a atitude das principais religiões brasileiras em
relação aos partidos políticos, levando em conta a identificação e a simpatia partidária.
Tabela 4- Atitude das principais religiões brasileiras em relação aos partidos políticos, em percentuais
Religião Identificação partidária Simpatia partidária
Não Sim Não Sim
Católica 55,7 39,2 47,7 52,3
Evangélica 65,7 32,3 59,3 40,7
Kardecista 49,2 50,8 46,0 54,6
Afro-brasileira 59,1 40,9 45,5 54,6
Sem religião 64,1 32,6 60,0 40,0
Fonte: Bohn (2004).
52
A identificação partidária desses dados está relacionada à questão de como os fiéis
dessas denominações se sentem representados pelos partidos políticos em sua maneira de
pensar. Enquanto que a simpatia partidária diz respeito aos gostar de algum partido político.
(BOHN, 2004).
Na relação entre os grupos religiosos e identificação partidária, constatou-se que a
maioria dos grupos não se identifica com nenhum partido político, com exceção dos
Kardecistas, que estiveram abaixo dos demais grupos, com um percentual apenas de 49.2%
relativo aos que não se identificam. Entre os que se identificam, os evangélicos foram os que
apresentaram o percentual mais baixo com 32.3%. No tocante à simpatia partidária os Sem
religião foram os que apresentaram o percentual mais baixo, somente 40.0% simpatizam com
algum partido político. Os evangélicos ficam em penúltimo com 40.7% de simpatizantes. Os
Kardecistas e os Afro-brasileiros são os grupos que mais simpatizam com 54.6% cada um. A
maioria dos católicos também simpatizou com algum partido político, 52.3%.
Embora identificados com seus grupos religiosos, isso não se traduz em identificação
partidária, seja com os partidos existentes ou na criação de partidos que venham representar
os interesses religiosos. Tal fato indicaria uma representação política paradoxal, quando
considerada a representação partidária, principalmente em relação às denominações religiosas
que se fazem representar frequentemente na política.
Para analisar a identificação política dos evangélicos, é importante que se leve em
conta as características do mundo evangélico relacionadas às igrejas que o compõem. Embora
possa haver identificação em torno do nome evangélico, são várias as denominações que
formam esse segmento religioso, cada uma com interesses institucionais próprios. Dessa
forma, podem se unir em torno de questões que dizem respeito às suas crenças e interesses
religiosos comuns e se dividirem em questões de interesses próprios de cada denominação.
(MACHADO, 2006).
Dentro do ambiente de convivência evangélico, o voto constitui-se como meio de
expressão de uma identidade religiosa. Nesse sentido, os candidatos oficiais de denominações
evangélicas têm como principal trunfo político, para conquista do eleitorado evangélico, o
apelo à identidade religiosa (MACHADO, 2006).
Os materiais de campanha utilizados pelos candidatos vão nessa direção, desde
panfletos, explicitando a vocação e o chamado divino para a política, a santinhos e
marcadores de bíblias e cartas, todos com versículos bíblicos, como no verso usado pelo
53
deputado Costa Ferreira que diz: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”, ou o verso “o Senhor
dos exércitos está conosco,” utilizado por Telma Pinheiro em suas campanhas.
Os candidatos a deputado estadual também lançam mão de linguagem bíblica que os
identifiquem com os eleitores evangélicos. A deputada Eliziane Gama utiliza em suas
campanhas, inclusive em projetos de iniciativa parlamentar, a frase “Fome e sede de justiça”,
como pode ser vista na unidade móvel de saúde da mulher que percorre o Estado do
Maranhão, principalmente nos eventos religiosos promovidos pela AD.
O pastor Pedro Lindoso (2010, grifo do autor), em carta aos evangélicos, também
apelou ao voto de seus irmãos, quando afirmou que
[...] a Bíblia tem ensinos que justificam a tese de que “irmão vota em irmão”. Moisés profetizou um período em que a nação israelita pediria um rei, assim como as demais nações tinham os seus (Dt 17.14). Esclarecido disso, Moisés estabelecera dois requisitos básicos para o cidadão ou a cidadã israelita constituir um líder político, primeiro: o líder político deveria ser escolhido por Deus. “Estabelecerás com efeito sobre ti como rei aquele que o Senhor Deus escolher...” (Dt 17.15a); em segundo lugar o líder político deveria ser escolhido dentre os irmãos e nunca dentre os estranhos “...homem estranho que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti, e sim dentre eles” (Dt 17.15). Irmão vota em irmão.
E finaliza, citando personagens bíblicos como modelo:
Prezado (a) irmão (a), tomarei o exemplo de José, Samuel e Daniel que sendo homens de Deus ingressaram na vida pública para servirem seus irmãos. É isto que pretendo fazer a serviço da sociedade maranhense e sobre tudo do Reino de Deus. Por essa razão peço humildemente seu voto de confiança (LINDOSO, 2010).
As frases e versículos bíblicos identificam os candidatos com o segmento evangélico,
diferenciando-os dos demais e aproximando-os deste, principalmente pela ênfase dada à
identidade religiosa. Dessa maneira, inseridos no universo evangélico, tais políticos
demonstram, em períodos eleitorais, afinidades com o referido segmento, objetivando lograr
proveitos eleitorais.
Dessa forma, espera-se que o compartilhamento de valores religiosos e a participação
na rede de sociabilidade tecida pela igreja sejam fatores que afetem as decisões eleitorais dos
fiéis e favoreçam a concentração de votos nos candidatos apoiados pela liderança da igreja. A
identidade religiosa serve como ponto de intermediação entre a esfera religiosa e a esfera
política, para a conquista de votos e na atuação conjunta de parlamentares evangélicos que,
54
desde a ANC, formaram a Bancada Evangélica27, com ênfase na moral social de suas
denominações.
Ainda que dispersos em vários partidos políticos e vindos de denominações
evangélicas diferentes, os interesses comuns dos políticos evangélicos confirmam que a
dispersão partidária não significa dispersão em questões de interesses relacionados à religião,
estando no fundo dessa atuação, no cenário político, a identificação religiosa. Sendo assim, a
pertença religiosa funciona como fator de identificação na política entre evangélicos.
Conforme Fernandes (1998, p. 148, grifo do autor), “os dados levantados pela pesquisa Novo
Nascimento demonstram que a crença evangélica é efetivamente relevante para o
comportamento cívico e político dos fiéis”.
Nesse caso, os evangélicos se destacam entre os demais grupos religiosos não apenas
pela ênfase dada à sua filiação religiosa, como também pela declaração explícita, entre os
parlamentares, de representantes de suas igrejas. Segundo Paul Freston (1993, p. 246),
a discussão da bancada evangélica não seria completa sem tentativa de comparação com os representantes de outras confissões. Mas há uma dificuldade: estes não colocavam a mesma ênfase pública na origem religiosa da ação política, muito menos se declaravam representantes de suas confissões. Os protestantes foram o único grupo religioso nítido na ANC.
Em discurso na Câmara dos Deputados, Costa Ferreira relacionou sua atividade
parlamentar aos interesses da AD maranhense, ao fazer menção, em plenário, das reuniões de
pastores realizadas pela Convenção Estadual da AD no Maranhão:
nós gostaríamos de deixar patente a nossa gratidão a Deus por um acontecimento importante como este ocorrido no nosso Estado, durante o qual a Igreja cuidadosamente se reuniu para tratar da evangelização e também da estruturação da família no Brasil. Todos nós estamos preocupados com o rumo de muitos projetos de lei que tramitam nesta Casa, que tentam destruir em parte a estabilidade da família. Nós e nossa Igreja no Maranhão estamos firmes no melhor propósito de fazer a sua voz chegar também ao Congresso, dizendo a todos os Parlamentares que a família é uma instituição divina, sacramentada por Deus, que jamais será destruída por qualquer iniciativa de quem quer que seja (BRASIL, 2008).
A situação dos evangélicos chama a atenção como grupo religioso que se faz
representar, crescentemente, chegando a formar, em algumas legislaturas, a terceira bancada
parlamentar no Congresso Nacional, com base na identificação religiosa e, por outro lado,
como grupo mais distante da identificação com os partidos políticos.
27 Conforme Pierucci (1989, p. 119), foi o primeiro “grupo de constituintes” a se organizar em bloco parlamentar
suprapartidário para as atividades constitucionais em 1987.
55
Nesse caso, identidade religiosa e identidade partidária, apesar de não serem
incompatíveis, também não estão sempre relacionadas. Assim, os blocos parlamentares
também, não necessariamente, possuem uma relação de dependência, para existirem com
expressão partidária. Lima Junior (1993, p. 24) percebe essa disjunção, quando afirma que
[...] a Constituição define o partido político como associação com personalidade jurídica regulada pelo direito privado. Estabelece ainda que a representação no Congresso seja parlamentar e não partidária. Paradoxalmente, porque não acolhe a candidatura avulsa, uma vez que a filiação partidária é requisito de elegibilidade, atribui ao partido, na prática, o monopólio da representação. Finalmente, a Constituição prevê, no Congresso, o funcionamento de bancadas e blocos parlamentares e não de partidos.
Em suma, a despeito de sua dispersão partidária, os evangélicos são um segmento
social com participação política crescente no cenário nacional. Essa participação é permeada
pela identidade que se constrói no ambiente das igrejas evangélicas, mais que no ambiente da
competição e defesa de ideologias e programas partidários. Nesse sentido, a identidade
religiosa faz a mediação entre religião e política, tanto em períodos eleitorais como nas
atividades parlamentares na Bancada Evangélica.
3.1.3 Os evangélicos no contexto do sistema eleitoral
O importante para se entender a participação política dos evangélicos, não é
simplesmente procurar uma lei de causalidade entre identidades sociais e partidos políticos,
mas analisar o relacionamento estratégico dos diferentes grupos sociais e o contexto
institucional político, ou seja, estudar a estrutura institucional que regula a competição
partidária e sua importância para a definição de custos e incentivos que poderão justificar a
dispersão partidária, ou não.
Com efeito, vale ressaltar a importância do sistema eleitoral brasileiro, em particular,
o sistema eleitoral proporcional. Segundo Jairo Nicolau (2004, p. 37),
a fórmula proporcional tem duas preocupações: assegurar que a diversidade de opiniões de uma sociedade esteja refletida no Legislativo e garantir uma correspondência entre os votos recebidos pelos partidos e sua representação. A principal virtude da representação proporcional, segundo seus defensores estaria em sua capacidade de espelhar no Legislativo todas as preferências e opiniões relevantes existentes na sociedade.
56
Nesse sentido, o sistema eleitoral proporcional é o mais adequado, em comparação
com o majoritário,28 para que se apreendam as várias diferenças políticas existentes no seio de
uma determinada sociedade. Eis o motivo pelo qual grupos minoritários como os evangélicos
podem alcançar sucesso eleitoral nas eleições proporcionais.
Quanto mais proporcional é a divisão de cadeiras mais os evangélicos se fazem
presentes entre as instituições representativas, a exemplo da Câmara dos Deputados e das
Assembleias Legislativas. É nessas casas que podemos encontrar o maior número de políticos
evangélicos, diminuindo seu número para o Senado Federal e para os cargos de chefia do
Executivo, isto é, no nível da competição majoritária.
Outro ponto a destacar é o fato de que o sistema proporcional também estimula o
multipartidarismo. Por conseguinte, o multipartidarismo seria um incentivo a mais para a
formação de agremiações partidárias, visto que os distritos, por consequência, seriam
plurinominais, permitindo a eleição de mais de um representante, isto é, com mais cadeiras
em disputa, os grupos minoritários aumentam suas chances de obter representação, mesmo
que seja em um pequeno partido.29
Contudo, o sistema de lista aberta contribui para a dispersão partidária, pois tende a
personalizar a escolha eleitoral, diferentemente do modelo de lista fechada, quando os cabeças
de lista são alocados conforme a disposição do partido. Sendo assim, neste modelo, o eleitor
vota no partido, não tendo como favorecer diretamente um determinado candidato.
Conforme Jairo Nicolau (2004), há duas singularidades que diferenciam o sistema de
lista aberta no Brasil. A primeira é que
[...] o eleitor brasileiro tem a opção de votar exclusivamente em um partido (voto de legenda). Nesse caso, o voto é contabilizado para a distribuição das cadeiras, mas não afeta a disputa entre os candidatos da lista. Outra singularidade é a formação de uma única lista de candidatos quando diferentes partidos estão coligados. Pelo sistema em vigor no Brasil os candidatos mais votados, independentemente do partido ao qual pertençam, ocuparão as cadeiras eleitas pela coligação (NICOLAU, 2004, p. 57).
A estrutura institucional partidária não oferece constrangimentos para a agregação de
parte do eleitorado, mesmo que religioso, nos partidos existentes. Tal eleitorado se utiliza da
lista aberta para depositar votos em candidatos de sua preferência, dando importância aos 28 Conforme Nicolau (2004, p. 17), “o sistema majoritário tem o propósito de assegurar apenas a representação
do(s) candidato(s) mais votado(s) em uma eleição. Em geral, a fórmula majoritária é utilizada em distritos uninominais”.
29 Jairo Nicolau (2004, p. 14) cita o seguinte exemplo: “um partido com 5% dos votos provavelmente não elegeria ninguém, num distrito com M = 10, mas garantiria um representante num distrito com M = 25”.
57
fatores pessoais ou atendendo as orientações de organizações não partidárias na escolha de
seus representantes. Assim, os eleitores podem votar em seus candidatos independentemente
de sua agremiação partidária.
Além disso, o sistema de lista aberta, ao tempo que favorece a personalização da
escolha eleitoral, traz como ponto negativo o estímulo à “competição entre os candidatos de
um mesmo partido, prática que enfraqueceria os partidos na arena eleitoral” (NICOLAU,
2004, p. 56). Para evitar a competição entre candidatos da mesma igreja, os evangélicos não
concorrem para o mesmo cargo público, em um mesmo partido político, nas eleições
proporcionais. Os candidatos da AD no Maranhão, por exemplo, estão distribuídos entre o
PPS e PSC para deputado estadual e PSDB e PSC para deputado federal.
Nesse sentido, os políticos evangélicos podem se acomodar entre os vários partidos
oferecidos pelo sistema partidário brasileiro. Costa Ferreira, político evangélico com a mais
longa trajetória política no Estado do Maranhão na Câmara dos Deputados, esteve na
ARENA, PDS, PFL, PTR, PP e, atualmente, está no PSC (BRASIL, 2008).
Enfim, o sistema proporcional de lista aberta e os distritos plurinominais possibilitam
representação política a uma minoria unida e coesa eleitoralmente, mais que a uma maioria
dispersa. Este é o ambiente de atuação política dos pequenos grupos e igrejas que contam com
pequenos percentuais da população para participar da discussão pública nas casas legislativas.
Com o crescimento de suas pretensões políticas, os evangélicos vêm ampliando sua
participação eleitoral, da concorrência no nível proporcional para o majoritário. A IURD é o
melhor exemplo dessa ampliação de participação política. A passagem do bispo Carlos
Rodrigues pela presidência estadual do PL30 do Estado do Rio de Janeiro aproximou esse
partido da IURD, a qual se esforçou para recrutar políticos de várias denominações
evangélicas (MACHADO, 2006) e lançou, nas eleições de 2002, Marcelo Crivella para o
Senado Federal e o vice-presidente de Lula, José Alencar.
Segundo André Ricardo de Souza (2009, p. 15),
o escândalo do mensalão, iniciado em maio de 2005, provocou uma reviravolta no arranjo político brasileiro. O Partido Liberal - PL, com o qual a IURD até então mais tinha se envolvido, foi profundamente abalado, de modo que a igreja de Macedo e Crivella teve que procurar uma alternativa. Ironicamente, buscaram se articular com católicos carismáticos do Partido Humanista da Solidariedade (PHS) para fundar em
30 Essa participação para uma instituição religiosa resultou em sérios prejuízos para suas atividades no campo
religioso. Citamos como exemplo o caso da IURD e de seu principal articulador político o bispo Carlos Rodrigues que após se envolver em vários escândalos políticos, prejudicou a atuação política da igreja na legislatura de 2007-2011, sendo expulso da denominação (MACHADO, 2006).
58
agosto daquele ano o Partido Municipalista Renovador - PMR. Três meses depois, a nova legenda já havia acolhido o vice-presidente da República – José Alencar – e mudado de nome para Partido Republicano Brasileiro - PRB.
Com uma agremiação partidária da igreja, a IURD fluminense lançou candidaturas
oficiais em todas as eleições para o executivo municipal e estadual. Em 2004, Marcelo
Crivella concorreu à prefeitura da capital fluminense; em 2006, concorreu ao governo do
Estado e, em 2008, novamente concorreu à prefeitura do Rio de Janeiro (SOUZA, 2009).
Embora não tenha obtido sucesso, a partir de 2004, o candidato iurdiano competiu em todas as
eleições para o executivo. Em 2004, ficou em segundo lugar, perdendo para César Maia
(DEM, antigo PFL); em 2006, em terceiro lugar e, em 2008, perdeu para Eduardo Paes
(PMDB), após liderar as pesquisas de intenção de voto (SOUZA, 2009).
Semelhantemente, a AD maranhense, em preparação para as eleições de outubro de
2010, abriu uma vaga para pré-candidato ao Senado Federal. Dessa forma, a AD maranhense
passaria da concorrência no nível proporcional para o majoritário. No entanto, o partido do
pré-candidato assembleiano ao Senado Federal, o PP, integra a chapa que apoia a candidatura
da Governadora Roseana Sarney (PMDB) à reeleição, que já tinha seus pré-canditatos ao
Senado. Após ameaças de ir para a oposição, o pré-candidato assembleiano, pastor Bel,
aceitou a segunda suplência na candidatura ao Senado Federal do ex-ministro das Minas e
Energia, Edson Lobão (PMDB). A outra vaga ficou com João Alberto (PMDB).
Com a proposta de um candidato assembleiano ao Senado Federal inviabilizada, o
presidente da CEADEMA, pastor Pedro Aldi Damasceno, em entrevista, mostrou sua
insatisfação:
[...] o nosso pensamento seria de nós lançarmos dois [deputados] estaduais, dois [deputados] federais e um [candidato a] senador. Mas, lamentavelmente, houve um engodo que o [pré-candidato a] senador terminou não dando certo, o enganaram. Não enganaram a ninguém, enganaram eles próprios, pensou que nós íamos entrar, não vamos entrar sabemos que se trata de malandragem (informação verbal).31
Pastor Pedro Aldi se referiu ao grupo político da governadora Roseana Sarney,
especificamente, ao candidato ao senado Edson Lobão, que recrutou o pré-candidato
assembleiano com a intenção de obter apoio da AD. Tendo suas intenções políticas frustradas
e pretensões de resolver problemas dessa natureza, o presidente da Convenção Estadual da
AD afirmou, em entrevista:
31 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o
pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.
59
[...] o que nós pretendemos é que na próxima eleição, tenhamos nós um partido nosso definitivo para lançarmos os nossos candidatos via diretamente os nossos partidos políticos, porque aí nós vamos deixar de ser manobrados por esses políticos baratos que tem por aí (informação verbal).32
O crescimento das pretensões políticas da IURD e AD, sua entrada nas alianças
políticas e lançamento de candidatos nas eleições majoritárias evidenciam a existência de um
caminho para a criação de um partido político que seja o braço político dessas igrejas na
competição política eleitoral.
No entanto, a direção de lideranças religiosas evangélicas sobre partidos políticos ou
a efetiva criação de um partido apontam mais para as relações pragmáticas dessas igrejas no
cenário de alianças políticas ou para o lançamento de candidaturas a cargos da competição
majoritária do que para a concentração de interesses ideológicos com base na identificação
com temas que unem os evangélicos, como o veto ao aborto e à união civil entre
homossexuais, entre outros.
Com efeito, a relação pragmática dessas igrejas com os partidos se dá ao nível dos
interesses institucionais das denominações. Assim, os interesses denominacionais se
restringem a cada igreja na luta pelo aumento de sua influência política. Dessa maneira, tais
partidos dependeriam da concentração do aparato institucional da denominação patrocinadora
e de sua influência política sobre candidatos e denominações menores para alcançarem
destaque no cenário político.
Portanto, a identidade religiosa pode se traduzir em resultados políticos e a
participação dos evangélicos está de acordo com seus interesses e os constrangimentos e
incentivos do sistema eleitoral, seja proporcional ou majoritário. Tudo isso tem relações com
o quadro institucional, pois o curso da ação política dos vários agentes envolvidos na
competição eleitoral tem ligações com o sistema partidário.
Nesse sentido, o sistema partidário institucional não é neutro, no que se refere à
organização estratégica para obtenção de resultados políticos. Dessa forma, o desenho do
quadro partidário atua como importante fator de incentivo ou constrangimento a determinados
cursos da ação política, quando, nesse contexto competitivo pelo voto, busca-se a
maximização de tais objetivos de forma articulada, levando líderes políticos e religiosos a
adotarem determinadas estratégias para alcançarem esses propósitos.
32 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o
pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.
60
3.2 A LÓGICA PARTIDÁRIA NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ECLESIÁSTICA
DA AD
A politização do segmento evangélico tem relações com a estruturação do ambiente
eclesiástico para a atuação na política partidária, com o objetivo de tornar eficiente o
lançamento de candidatos oficiais e sua eleição, com o apoio e votação dos fiéis. É o caso da
AD e sua organização religiosa e política no Estado do Maranhão, como atesta Rodrigues
(2006, p. 80):
com um eleitorado semicativo composto por uma população evangélica que não tem parado de aumentar, com apoio de recursos financeiros de doações variadas, [...] e com auxílio de uma militância voluntária que se assemelha à dos partidos políticos de mobilização política, o sucesso do empreendimento político-eleitoral dos evangélicos [...] foi amplo e rápido.
A estrutura eclesiástica da AD foi construída paulatinamente, conforme a
necessidade da denominação de se impor no campo religioso brasileiro. A constituição dos
vários ministérios assembleianos pelo país se estendeu sobre grandes áreas geográficas, como
Estados e regiões do país. Atualmente, ministérios e convenções estão afiliados à Convenção
Geral, tronco originário da AD no país.
3.2.1 A Convenção Geral - CGADB
O órgão da AD responsável pelas diretrizes da organização política é a Convenção
Geral. Este é o órgão máximo da denominação e considerado o seu tronco originário, pelo
fato de ter dado à denominação, desde o início, um corpo organizacional. Contudo, ela apenas
institucionalizou os anseios e aspirações políticas das várias lideranças estaduais e regionais
representadas nas Convenções a ela afiliadas. Com relação às ADs locais, elas atuam em cada
lugar, sem estarem ligadas administrativamente a uma instituição nacional.
A ligação nacional entre as igrejas é feita através dos seus pastores, que são afiliados
a convenções estaduais, que, por sua vez, vinculam-se a uma convenção de caráter nacional.
Dessa maneira, em cada Estado, os pastores estão ligados a Convenções estaduais e a
Ministérios. Essas Convenções, em geral, credenciam evangelistas e pastores, cuidam de
61
assuntos da liderança e de direção das igrejas. Nesse sentido, as convenções estaduais operam
um tipo de liderança regional entre as igrejas locais e a Convenção Geral.
A Convenção Geral, na verdade, é um “centro fraco”, sem poder deliberativo sobre
as igrejas. Embora seja uma associação de pastores, ela não tem poder para demitir ou admitir
obreiros, no exercício pastoral. Sua principal importância, como instância máxima, está em
dirimir eventuais pendências entre ministérios e convenções afiliadas. Também é responsável
pela produção de materiais usados por toda a igreja, através da mídia impressa e formação
teológica formal e informal (FRESTON, 1994).
O Quadro 2 mostra a organização da AD em território nacional. Atualmente 48
convenções estaduais, regionais e ministérios estão ligados à Convenção Geral. Os Estados de
São Paulo e Rio de Janeiro são sede de quatro delas. No Distrito Federal e nos Estados do
Ceará, Espírito Santo e Minas Gerais existem três convenções; no Maranhão, Pará, Paraíba e
Pernambuco, duas e, em cada um dos demais Estados da federação, há uma convenção
afiliada à Convenção Geral.
Convenção Sigla Sede/Cidade Estado
Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus, no Maranhão
CEADEMA São Luís Maranhão
Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus, do SETA, no Sul do Maranhão
COMADESMA Imperatriz Maranhão
Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Piauí
CEADEP Teresina
Piauí
Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Ceará
COMEADEC Fortaleza Ceará
Convenção de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus, Ministério no Estado do Ceará
CIMADEC-CE Fortaleza Ceará
Convenção Fraternal de Ministros das Assembleias de Deus do Estado do Ceará
CONFRADECE Fortaleza Ceará
Convenção Estadual de Ministros da Assembleia de Deus, com Sede em Abreu e Lima – Pernambuco
COMADALPE Abreu e Lima
Pernambuco
Convenção da Assembleia de Deus de Pernambuco
CONADEP Recife Pernambuco
Convenção de Ministros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Campina Grande e no Estado da Paraíba
COMEAD-CGPB Campina Grande
Paraíba
Convenção de Ministros das Assembleias de Deus no Estado da Paraíba
COMADEP João Pessoa Paraíba
62
Convenção das Assembleias de Deus do Rio Grande do Norte
CEMADERN Natal Rio Grande do Norte
Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Sergipe
CONEADESE Aracaju Sergipe
Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Alagoas
COMADAL Maceió Alagoas
Convenção Estadual das Assembleias de Deus na Bahia
CEADEB Salvador Bahia
Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado do Pará
COMIEADEPA Ananindeua Pará
Convenção Interestadual dos Ministros das Igrejas Assembleia de Deus do SETA nos Estados do Pará e Mato Grosso
CIADSETA-PA/MT Redenção Pará
Convenção Estadual de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Acre
CEIMADAC Rio Branco Acre
Convenção Estadual dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de Rondônia
CEMADERON Cacoal Rondônia
Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas
CEADAM Manaus Amazonas
Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangelicas Assembleia de Deus no Estado do Amapá
CEMEADAP Macapá Amapá
Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Roraima
CEDADER Boa Vista Roraima
Convenção Interestadual das Assembleias de Deus do SETA no Estado do Tocantins e Igrejas Filiadas
CIADSETA-TO Palmas Tocantins
Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Goiás
CADESGO Rio Verde Goiás
Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Mato Grosso
COMADEMAT Cuiabá Mato Grosso
Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus de Brasília e Goiás
COMADEBG Taguatinga Distrito Federal
Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Distrito Federal
CEADDIF Brasília Distrito Federal
Convenção dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus do Planalto Central
COMADEPLAN Brasília Distrito Federal
Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil
COMADEMG Belo Horizonte
Minas Gerais
Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Triângulo Mineiro
COMADETRIM Uberlândia Minas Gerais
Convenção dos Ministros das Assem-bleias de Deus do Vale do Rio Doce
COMADVARDO Timóteo Minas Gerais
Convenção dos Ministros Ortodoxos das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo
COMOESPO São Paulo São Paulo
63
Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus no Ministério do Belém - SP
CONFRADESP São Paulo São Paulo
Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo
COMADESPE São Paulo São Paulo
Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado de São Paulo e Estados Limítrofes
CIEADESPEL São Paulo São Paulo
Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Brasil no Estado do Rio de Janeiro
CEADERJ Duque de Caxias
Rio de janeiro
Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro
CEADER Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro
CONFRADERJ Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Estado do Rio de Janeiro
COMADERJ Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo e Outros
CADEESO Vila Velha Espírito Santo
Convenção Evangélica dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo
CEMADES Vila Velha Espírito Santo
Convenção Fraternal dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo
CONFRATERES Vitória Espírito Santo
Convenção da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná
CIADESCP Itajaí Santa Catarina
Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado do Paraná
CIEADEP Curitiba Paraná
Convenção dos Pastores das Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus no Estado do Rio Grande do Sul
CIEPADERGS Porto Alegre Rio Grande do Sul
Quadro 2- Convenções e Ministérios assembleianos afiliados à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil
Fonte: Convenção Geral..., 2010.
A organização da AD em convenções regionais e estaduais possibilitou sua
participação política, no âmbito do distrito estadual da competição eleitoral. A disputa pelas
cadeiras das Assembleias Legislativas, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e as
alianças com lideranças políticas estaduais ficam a cargo das convenções estaduais. Entre
estas, a AD maranhense, por intermédio de sua Convenção Estadual, tem participado
ativamente do processo político eleitoral iniciado pela Convenção Geral, lançando candidatos,
desde as eleições de 1986.
64
3.2.2 A CEADEMA
A AD Ministério das missões no Estado do Maranhão está submetida a duas
convenções, a CEADEMA e a COMADESMA, ambas afiliadas à Convenção Geral. A
primeira abrange a maior extensão geográfica do Estado, agregando maior número de fiéis.
Esta convenção estadual participa ativamente da política desde a ANC, apresentando e
elegendo representantes políticos no plano nacional e estadual.
A AD maranhense está ligada à Convenção Geral das ADs desde o seu início, em
1930. Seguindo o exemplo da Convenção Geral, as ADs no Maranhão também se
organizaram em convenção estadual. Dessa forma, a primeira Assembleia Geral Ordinária
(AGO) aconteceu no dia 15 de novembro de 1934, na cidade de Coroatá, no interior do
Estado, presidida pelo pastor Nels Julius Nelson. A primeira Convenção Estadual contou com
a presença de dois pastores, dois diáconos e vários auxiliares (SILVA, 2001).
Dessa forma, a CEADAMA, desde o início, contribuiu para a organização da
Convenção Geral, sendo uma das primeiras afiliada da organização, inclusive dando para a
Convenção Geral alguns de seus presidentes.33
As AGO’s da CEADEMA acontecem, ordinariamente, uma vez por ano, sempre no
último trimestre, em sua sede ou em qualquer igreja no Estado e, extraordinariamente, para
tratar de assuntos relevantes, sempre no período entre as AGO’s. Esta Convenção é composta
de pastores, evangelistas e missionários devidamente credenciados por ela. É nas reuniões da
Convenção Estadual, principalmente nas AGO’s, que os pastores locais apresentam seus
auxiliares para serem consagrados (afiliados) a evangelistas e pastores. Depois de afiliados,
são enviados às cidades do Estado para expandir o trabalho de evangelização.
A Figura 3, abaixo, ilustra a forma de organização das ADs situada nas várias
cidades do Estado.
33 Entre eles, Nels Julius Nelson primeiro presidente da CEADEMA, presidindo a Convenção Geral de 1949 a
1951; Francisco Pereira do Nascimento, que presidiu a Convenção Geral por duas vezes de 1953 a 1955 e de 1959 a 1962 e Alcebíades Pereira de Vasconcelos, de 1987 a 1988, ano da primeira eleição do atual presidente, José Wellington Bezerra da Costa (CONVENÇÃO Geral..., 2010).
65
Figura 3- Modelo de organização das Assembleias de Deus: igrejas-mãe e filiadas Fonte: Freston (1994).
Conforme a Figura 3, as ADs brasileiras estão organizadas em forma de árvore, em
que cada ministério é constituído pela igreja-sede com suas respectivas afiliadas,
congregações e pontos de pregação (subcongregações). A partir desse modelo, a AD estende
sobre seu campo de atuação uma rede de congregações com autonomia para abrir, através do
evangelismo, novas frentes de trabalho estendendo sua influência com a formação de novas
igrejas nos vários pontos da cidade ou fora dela.
Quando determinada congregação cresce o suficientemente para fazer frente à igreja-
mãe, pode ocorrer ali o nascimento de uma nova igreja-sede ou mãe de um campo. Tal fato
pode ocorrer pela ameaça de cisão no local ou pela impossibilidade de a igreja-mãe dar
assistência pastoral e evangelística naquela localidade. Neste caso, por pressão ou questões
administrativas, surge um novo campo com uma igreja-mãe e suas congregações satélites.
3.3 NOVA POSTURA DA AD ANTE A POLÍTICA
A nova posição da AD ante a política partidária pode ser percebida nas palavras do
pastor e senador José Virgínio de Carvalho. Segundo ele, “não devemos ver a política como
algo negativo, mas sim, como algo que pode dar sustentação a uma vida melhor para o povo”
66
(LÍDER..., 2008, p.7). Essas palavras destacam uma visão diferente daquela defendida pela
igreja antes de 1986. Por conseguinte, a participação política da AD tem a ver com a mudança
paulatina de postura de sua liderança e fiéis que viram potencial eleitoral na igreja para eleger
representantes políticos.
Nesse sentido, a participação política da AD, no primeiro momento, não se deu
simplesmente como resultado da oportunidade participativa promovida pela redemocratização
do país, mas havia um interesse da cúpula assembleiana de tirar proveito de seu potencial
religioso, transformando-o em potencial político (BURITY, 2006). Freston (1993, p. 93)
destaca que o processo de institucionalização organizativa34 pelo qual passava a AD também
teve efeitos sobre a participação política e eficiência eleitoral, ao afirmar:
[Um...] sinal de institucionalização e que teve influência direta sobre o esforço político pós-1986 é a re-estruturação da Convenção Geral em moldes burocráticos em 1979, o que permitiu que se encorajassem as convenções estaduais, muitas das quais tinham existência precária, a fazerem o mesmo. Essa maior burocratização foi, provavelmente, indispensável para o sucesso das candidaturas coordenadas à Constituinte tivesse tanto sucesso.
Chama a atenção o fato de que uma denominação com as características da AD tenha
surpreendido nas eleições de 1986. Com efeito, isso se deu graças à mobilização promovida
pela cúpula da organização no momento de declínio da ditadura militar, instalada em 1964, às
vésperas do advento da redemocratização do país. Via-se aí uma oportunidade para influir nos
meios de representação política. Para Freston (1993, p. 35),
a mudança de postura política por parte da AD em 1985 foi fundamental para que o fenômeno político protestante tivesse abrangência nacional. Tanto pelo tamanho (uns 35% do campo protestante) como pela dispersão geográfica, era a única igreja capaz de imprimir uma dimensão nacional à irrupção política.
A mobilização político-eleitoral da AD no país resultou na conquista de 14 cadeiras
na Câmara dos Deputados (PIERUCCI, 1989). Esse resultado eleitoral foi consequência das
decisões tomadas pela Convenção Geral em duas convocações que teve como um de seus
principais assuntos a participação política da denominação. A primeira na AGO, realizada em
34 Para compreendermos o processo de “institucionalização organizativa”, utilizamos o conceito de Panebianco
(2005, p. 36), que afirma que esse processo ocorre com “a consolidação da organização, e passa de uma fase de fluidez estrutural inicial, quando a recém-nascida organização ainda se encontra em construção, em uma fase em que a organização se estabiliza, desenvolvendo interesses estáveis para a sobrevivência e lealdades organizativas igualmente estáveis, todos estes fatores relacionados ao desenvolvimento de uma burocracia”.
67
janeiro e, logo após, no Encontro de Líderes da Assembleia de Deus (ELAD)35, em abril do
ano de 1985 (FRESTON, 1994). Com efeito, estava em pauta, debaixo de calorosos debates
entre os convencionais, a escolha de uma comissão para estudo da contribuição da Convenção
Geral para a nova constituição brasileira e o incentivo à participação política da igreja para a
eleição de representantes nas casas legislativas do país. Foi nestes encontros que as lideranças
das ADs começaram a demonstrar interesse pela política e a salientar a importância da
participação da igreja no contexto político do país nas três esferas da União: federal, estadual
e municipal. Também havia uma preocupação com o apoliticismo da denominação e sua
tradicional omissão em assuntos da vida pública nacional (FRESTON, 1993).
Em consequência, a maioria das Convenções estaduais se mobilizaram para a
indicação de candidatos a deputado federal e deputado estadual. Dessa forma, a AD passou a
atuar no âmbito do distrito eleitoral estadual, concorrendo às vagas para o Congresso
Nacional e Assembleias Legislativas. Contudo, vale ressaltar que a visão predominante desta
participação era demonstrada como uma necessidade de representação junto às instituições
políticas, a fim de barrar, na ANC, as iniciativas consideradas “anti-cristãs” e privilégios de
outras correntes religiosas, como, por exemplo, da igreja majoritária (PIERUCCI, 1989).
O Quadro 3 enumera os deputados eleitos pertencentes à AD em 13 Estados do país e
suas agremiações partidárias.
Nº Deputado (a) Partido Estado
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Antônio da Jesus
Benedita da Silva
Costa Ferreira
Eliel Rodrigues
Gidel Dantas
João de Deus
José Fernandes
José Viana
Manoel Moreira
Matheus Iense
PMDB
PT
PFL
PMDB
PMDB
PDT
PDT
PMDB
PMDB
PMDB
GO
RJ
MA
PA
CE
RS
AM
RO
SP
PR
35 ELAD é um fórum de debates com a presença exclusiva de pastores e evangelistas das ADs, devidamente
credenciados na Convenção Geral, e suas esposas. Seu objetivo é trazer à discussão assuntos relevantes que não foram devidamente examinados e resolvidos nas AGOs (CONVENÇÃO Geral..., 2010).
68
11
12
13
14
Milton Barbosa
Orlando Pachêco
Salatiel Carvalho
Sotero Cunha
PMDB
PFL
PFL
PDC
BA
SC
PE
RJ
Quadro 3- Deputados Federais da Assembleia de Deus eleitos para a Assembleia Nacional Constituinte, em 1986
Fonte: Pierruci (1989). Nota: Algumas informações consideram o Dep. Gidel Dantas como membro da Igreja de Cristo.
A AD conseguiu eleger representantes nos seguintes Estados: Goiás, Maranhão,
Pará, Ceará, Rio Grande do Sul, Amazonas, Roraima, São Paulo, Paraná, Bahia, Santa
Catarina e Pernambuco, sendo um deputado federal em cada Estado e dois no Estado do Rio
de Janeiro. Metade dos 14 deputados era filiada ao PMDB, três ao PFL, dois ao PDT. PT e
PDC elegeram um parlamentar, cada.
Após as eleições para a ANC, em 1986, a AD foi paulatinamente se enfraquecendo,
enquanto a IURD começou a crescer. “A Assembleia de Deus foi a igreja com maior
representação parlamentar em Brasília até as eleições de 1998. Naquele ano, ela elegeu 12
deputados federais, sendo superada pela IURD, que conseguiu fazer 17 deputados” (SOUZA,
2009, p. 5). A IURD seguia o caminho inverso da AD, demonstrando evolução política em
comparação às demais igrejas evangélicas. Segundo Pedro Oro (2003, p. 59), esse sucesso da
IURD parece estar provocando um “efeito mimético” no campo da política evangélica,
inclusive sobre a AD.
3.3.1 Projeto Cidadania AD Brasil
O rápido crescimento da IURD teve efeitos sobre as principais denominações que
participam com mais frequência da política partidária, especificamente sobre a AD. Os
desdobramentos desse êxito da IURD alcançados pela AD e suas lideranças podem ser evidenciados
nas averbações, por exemplo, de Samuel Malafaia (1996 apud MACHADO, 2006, p. 25), ao dizer:
votar e ser votado é legal e não contraria a Palavra de Deus [...] Queremos, portanto, exaltar o bonito exemplo da igreja Universal, que define muito bem seus
69
representantes no Legislativo. As outras denominações deveriam imitá-la, pois só assim o segmento evangélico, como um todo, estaria mais representado e, com certeza, evitaríamos que homens inescrupulosos se intrometessem no meio do povo de Deus.
Como reação ao decréscimo de sua bancada e da ineficiência política, a AD, em
franca imitação da IURD se organizou muito mais que em tempos anteriores, voltando à
predominância entre parlamentares nas eleições de 2002. Assim, segundo Paul Freston (2006,
p. 183), “a organização assembleiana de hoje é diferente da de vinte anos atrás; está muito
mais compacta e unificada. Ela aprendeu algumas coisas com a Universal, mesmo que tenha
sido apenas para concorrer”.
3.3.1.1 Conselho Político Nacional
O Conselho Político Nacional da AD foi criado por ocasião da 35ª Convenção Geral,
na capital do país, Brasília, nos dias 15 a 19 de janeiro de 2001. Esse encontro marcou o início
do projeto político da AD coordenado pelo Conselho Político da Convenção Geral, que
contou com o apoio das convenções estaduais, regionais, ministérios e dezenas de deputados
federais e estaduais assembleianos de todo país (APROVADO..., 2001).
A criação do Conselho Político marcou uma nova fase na denominação: a de atuar de
forma organizada na política. Tal Conselho tem como principal finalidade coordenar e
supervisionar o projeto sócio-político denominado de “Cidadania AD Brasil”. O documento
foi aprovado no dia 03 de agosto de 2001, com planos e metas para inserir, de forma
articulada, as ADs, no contexto político nacional, contribuindo para desenvolver a consciência
política participativa, com foco em princípios cristãos, nas lideranças e nos fiéis
assembleianos. Além disso, o Conselho também gerencia o lançamento de candidatos oficiais
da denominação em pleitos eleitorais em todo o país. Com esse projeto, a “visão da AD é de
que o espaço da fé não pode estar reduzido à vida pessoal e privada, mas também se estende à
esfera política” (APROVADO..., 2001, p. 3).
Assim, a pretensão da AD se estende ao campo da atuação dos deputados com a
elaboração de cadastro de parlamentares que a represente institucionalmente, junto aos
poderes públicos, nos assuntos de interesse da denominação. O Conselho Político também
supervisiona e avalia atuações parlamentares para, finalmente, prestar relatórios junto à
70
Convenção Geral. Além de deputados federais, há também deputados estaduais e até prefeitos
e vereadores, todos sob a chancela de igrejas ligadas à Convenção Geral. A todos os seus
membros, o Conselho Político Nacional também provê assessoria nos mais variados assuntos
parlamentares. O Conselho Político Nacional da Convenção Geral realizou, em Brasília, nos
dias 12 e 13 de julho de 2003, seu primeiro seminário, que reuniu deputados e líderes
eclesiásticos em torno da discussão da alteração dos artigos 44 e 2.031 do novo Código Civil,
principalmente no que diz respeito ao tratamento dado às igrejas (LEI..., 2003, p. 4). Já, com
relação aos eleitores, a orientação da Convenção Geral das ADs é no sentido de não exercer
forte “pressão ou orientação direta sobre os fiéis” (ORO, 2003, p. 59).
Os resultados das estratégias do Conselho Político Nacional vieram logo no ano
seguinte, quando as ADs voltaram à predominância política entre os evangélicos na Câmara
dos Deputados, no ano de 2003, contribuindo para o aumento da Frente Parlamentar
Evangélica, na Legislatura de 2003 a 2007. Segundo Oro (2003, p. 60), ao citar o jornal Folha
de São Paulo de 10 de outubro de 2002,
a bancada evangélica de deputados federais eleitos tem pelo menos sessenta parlamentares, donos de 5,1 milhões de votos, sendo 23 deputados filiados às Assembléias de Deus, 22 vinculados ou apoiados pela Universal, oito batistas e os demais de outras denominações, o que significa um aumento de 25% em relação à bancada anterior [...] Também no Senado houve um aumento de senadores evangélicos. Eram dois (Iris Rezende e Marina Silva) e agora são quatro (Marina Silva, Magno Malta, Bispo Crivella e Paulo Otávio).
A estes se uniu o líder da AD no Estado de Sergipe, pastor Virgínio José de Carvalho
Neto (PSC-SE), que assumiu, no dia 26 de março de 2008, uma vaga no Senado Federal como
suplente da senadora Maria do Carmo Alves (DEM). Pastor Virgínio Neto entrou para a
política ao filiar-se, em 2006, ao PSC, com o apoio da Convenção Geral (PASTOR..., 2009).
3.3.2 Revés na escalada política
Às vésperas das eleições, em 2006, abateram-se, sobre 72 congressistas, acusações
de um esquema de superfaturamento na compra de ambulâncias, em troca de emendas
parlamentares, escândalo que repercutiu nacionalmente, denominado de “máfia dos
sanguessugas”. Neste escândalo, constatou-se a presença de 23 parlamentares evangélicos,
71
inclusive do assembleiano, líder da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Adelor Vieira,
do PMDB-SC (SOUZA, 2009).
Os efeitos desse escândalo político refletiram nas eleições de 2006, resultando na
redução da Frente Parlamentar Evangélica. Dos 60 deputados que compunham a Bancada
Evangélica, somente 15 conseguiram se reeleger. Isto é, somente 25% continuaram no cargo.
Entre os deputados evangélicos que não se reelegeram ou não se candidataram, 26 foram
denunciados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) “dos sanguessugas” por
envolvimento com o esquema de compra de superfaturamento de ambulâncias. Nenhum dos
15 reeleitos estava sob investigação (BANCADA..., 2006, p. 3).
Esse resultado brecou o crescimento da Bancada Evangélica. O auge foi exatamente
em 2002. O revés maior foi na bancada da IURD que, diante do escândalo, proibiu a
candidatura à reeleição de parlamentares ligados a ela que estivessem sob suspeita (SOUZA,
2009). Com isso, apenas dois membros da igreja tentaram a reeleição sem sucesso. Já a AD,
após retomar o crescimento no número de parlamentares, no ano de 2002, teve nas eleições de
2006 sua bancada reduzida. Todos os seus 23 deputados federais se candidataram à
reeleição.36
3.3.3 Conselho Político Estadual
As ADs maranhenses – assim como mais doze convenções e ministérios
assembleianos afiliados à Convenção Geral – lançaram e elegeram seu primeiro representante
para a ANC, em 1986 (FRESTON, 1994). Além disso, acompanhou a evolução e decisões
tomadas em nível nacional, pela Convenção Geral, fazendo parte da ação política organizada
com a formação de seu Conselho Político Estadual.
Sob a responsabilidade deste está a organização das prévias para a seleção de
candidatos. Em entrevista, o presidente da Convenção Estadual afirma que a seleção do pré-
candidato se inicia pelo
36 Os deputados federais reeleitos pertencentes às ADs foram os seguintes: Antônio Cruz (PST-MG), João
Campos (PSDB-GO), Silas Câmara (PTB-AM), Hedekazu Takayama (PMDB-PR), Zequinha Marinho (PSC-PA), Sérgio Nechar (PP-SP), Manoel Ferreira (PP-RJ), Filipe Pereira (PSC-RJ) e Jurandy Loureiro (PSC-ES) (BRASIL, 2010).
72
bom testemunho dessas pessoas. Todos são membros das Assembleias de Deus em nosso Estado, de boa reputação, senhores e senhoras de bem, que têm uma vida pregressa relativamente equilibrada e no presente uma vida de verdadeira harmonia e paz, pessoas tementes a Deus preocupados com o social, preocupados com a família (informação verbal).37
Passada esta etapa, segundo relata em mesma entrevista,
a maneira de selecionar é uma pré-eleição que nós fazemos em Convenção e saber quais são os candidatos que a Convenção concorda. São muitos os que se candidatam, mas são escolhidos aquele tanto que nós julgamos que nós podemos elegê-los (informação verbal).
O número de pretendentes a cargos eletivos depende do potencial eleitoral que a
igreja dispõe. O caminho seguido é o seguinte: antes das eleições, faz-se um levantamento
regionalizado que se aproxima do número de fiéis da igreja. Com base nesses dados, o
Conselho Político Estadual decide quantos candidatos podem ser lançados. O segundo passo é
a realização das prévias para escolha dos candidatos que preencham as vagas oferecidas pela
denominação.
Muitos daqueles que veem reduzidas suas chances de ganharem as prévias pela igreja
por não manterem boas relações com a liderança lançam suas candidaturas
independentemente do apoio da igreja, dividindo o eleitorado evangélico. Esta é uma das
principais causas da ineficiência política da AD. O problema é que não há um controle rígido
sobre a quantidade de candidatos que pertencem à igreja. Dessa maneira, a disputa pelo voto,
no interior da igreja, diminui as chances de as candidaturas oficiais conquistarem uma cadeira
na Câmara dos Deputados.
O quadro abaixo demonstra o modelo de organização política para seleção e apoio
institucional de candidatos nas principais religiões brasileiras que concorrem na política
eleitoral.
37 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o
pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.
73
Religião Prévias Candidato oficial
Tipo de pressão para direcionar o voto dos fiéis Forte Fraca Não exerce
AD Sim Sim ----- Sim -----
IURD Não Sim Sim ----- -----
Quadrangular Sim Sim ----- Sim -----
Católica Não Não ----- ----- Sim
Afro-brasileira Não Não ----- ----- Sim
Quadro 4- Modelo político adotado pelas principais religiões brasileiras Fonte: Adaptado de Oro (2003).
O Quadro 4 demonstra que a AD e Quadrangular selecionam seus candidatos por
intermédio de prévias internas, enquanto a IURD e Igreja Católica não adotam esse modelo de
seleção. A Igreja Católica não apresenta candidatos oficiais, enquanto todas as evangélicas
apresentam candidatos oficiais. O tipo de pressão para direcionar o voto dos fiéis é forte na
IURD, fraco na AD e Quadrangular, enquanto a Igreja Católica não exerce pressão sobre o
voto de seus fiéis.
Indagado, em entrevista, sobre como a igreja orienta o voto de seus membros e fiéis,
o pastor presidente da Convenção Estadual afirmou que:
[o] voto é democrático, todo mundo é livre pra votar em quem desejar. Ninguém vai obrigar a quem quer que seja a votar em candidato “a” ou “b” [...] Nós temos os nossos candidatos e procuramos aclarar eles para os nossos irmãos. Contudo, nós não obrigamos nem compramos e nem concordamos que ninguém o compre ou venham a comprá-los para tais coisas, pelo contrário o voto é livre, vota em quem quer, nós deixamos a vontade do povo fazer a escolha (informação verbal).38
A apresentação dos candidatos da AD ao público evangélico é de responsabilidade
dos pastores locais, que abrem espaços nos eventos da igreja, solicitando o voto dos fiéis e
permitindo que os candidatos façam o mesmo. Conforme Machado (2006, p. 139),
[...] em algumas igrejas a política eleitoral é um tema tratado no púlpito, o que possibilita a socialização das opiniões e a influência das lideranças religiosas sobre os fiéis que têm pouca ou nenhuma participação em movimentos sociais, organizações de caráter associativista ou político-partidária. Assim, a comunidade de fiéis torna-se também uma base eleitoral importante, e a rede de relações religiosas desdobra-se em uma poderosa rede de relações políticas.
38 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o
pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.
74
Embora recebam a incumbência de orientar o voto dos membros, nem todos os
pastores seguem as orientações da Convenção Estadual, por estarem ligados com candidaturas
de políticos de sua região. No entanto, os pastores que apoiam os candidatos oficiais militam
para concentrar o voto de suas igrejas nos candidatos da denominação.
Em suma, embora a AD indique e declare apoio a alguns candidatos e tente por
vários meios, principalmente através dos grandes eventos da denominação, apresentá-los ao
público evangélico, ela dá liberdade a seus fiéis de votar em quem desejarem e não
desaconselha outros fiéis a apresentarem seus nomes a cargos eletivos.
75
4 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD NO ESTADO DO
MARANHÃO
A AD lança candidatos próprios há mais de 24 anos na política partidária do Estado,
participando ativamente da competição político-eleitoral e compondo alianças eleitorais com
os grupos políticos do Estado. Essa participação tem acontecido no âmbito das eleições
proporcionais. Portanto, este estudo expõe o desempenho político-eleitoral da AD para a
Câmara Federal e Assembleia Legislativa do Estado nas eleições de 1998, 2002 e 2006, com
base nos dados do TSE. A partir de 1998, a AD ampliou o lançamento de candidatos, além de
uma pré-candidatura para a Câmara Federal e abriu duas para a Assembleia Legislativa.
Alguns autores têm relacionado a ampliação da participação política com o
crescimento das denominações evangélicas. Segundo Rodrigues (2006, p. 78),
o crescimento dos pastores [deputados] na CD [Câmara dos Deputados] decorre de um movimento de mudanças no mapa religioso, que é a retração do catolicismo e a expansão das igrejas evangélicas, especialmente as pentecostais da IURD e da Assembléia de Deus. Esse fenômeno tem conseqüências no plano político, levando o grande crescimento da “bancada evangélica” na Câmara dos Deputados e em outros órgãos legislativos.
Dessa maneira, o número de fiéis, quando canalizados para a política, pode se
traduzir em potencial eleitoral. Em entrevista, Costa Ferreira afirmou que “95% de seus votos
procedem do meio evangélico” (informação verbal),39 enquanto a deputada Eliziane Gama,
afirmou que “90% de seu eleitorado também são de evangélicos” (informação verbal).40
Além de analisar o crescimento dos evangélicos e o número de fiéis da AD,
comparados às demais denominações e à população no Estado, busca-se entender a dinâmica
político-eleitoral da AD através da análise de seus candidatos na competição eleitoral. Para
isso, será analisada a votação da cada candidato, no contexto da competição eleitoral, para a
Câmara Federal e Assembleia Legislativa.
39 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com Costa
Ferreira. 40 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com a
deputada Eliziane Gama.
76
4.1 A AD, EM NÚMEROS, NO ESTADO DO MARANHÃO
Começamos a analisar os números a partir do censo de 1991, pois, entre 1991 e
2000, tem início a intensificação do crescimento evangélico no Maranhão. Essa tendência
pode ser confirmada no censo de 2000 com a constatação de maior diversificação das
religiões no Estado. Em nove anos, de 1991 e 2000, esse crescimento foi de cerca de seis
pontos percentuais.
No presente estudo, também serão analisados os dados, comparando as principais
religiões maranhenses, a fim de mostrar a relevância da AD no contexto local e sua
significativa contribuição para o crescimento do total de evangélicos no Maranhão. Embora os
números da AD tenham sido subestimados pelo censo demográfico do IBGE de 1991, que
constatou 37.308 assembleianos maranhenses, no censo de 2000, esses números atingiram a
cifra espetacular de 400.017 fiéis. Acrescente-se a isso os 191.946 evangélicos que não foram
identificados por nenhuma denominação.
Ricardo Mariano questiona o real crescimento da AD, que provavelmente não tenha
sido tão grande, como indicaram os dados do censo demográfico de 2000. Segundo nota do
mesmo autor (2001, p. 84),
com base no último Censo, a Assembléia de Deus teria saltado de 2.439.770 para 8.418.154 adeptos entre 1991 e 2000, o que representa um crescimento de 14,8% ao ano. Por certo, o número de assembleianos foi subestimado no Censo de 1991, o que elevou artificialmente sua taxa de crescimento na década seguinte, taxa que não deve alcançar sequer a metade dos 14,8%. Indício de subestimação pode ser observado, por exemplo, no fato de o Censo de 1991 apontar que a Assembléia de Deus tinha apenas 17,2% dos evangélicos da região Norte e meros 10,2% dos crentes do Estado do Pará, onde foi fundada. Dados improváveis, decorrentes, sobretudo, da dificuldade do IBGE em identificar a denominação de considerável parte dos evangélicos daquela e de outras regiões do país, o que levou a subestimar o montante de fiéis da Assembléia de Deus. De modo geral, pode-se afirmar que o Censo de 1991 subestimou o tamanho da maioria das principais igrejas evangélicas do país. Isso permite explicar, em parte, sua espetacular taxa de crescimento no Censo de 2000.
Embora o censo do IBGE de 1991 possa conter incorreções, o comparativo com o
censo de 2000 atende a um dos interesses desse trabalho, que é discorrer sobre os números da
AD maranhense. Evidências dessa situação podem ser observadas na comparação das tabelas
e do gráfico demográfico das principais religiões, em particular da AD no Estado maranhense,
com as demais denominações do segmento evangélico.
77
Tabela 5- Percentual das principais religiões no Estado do Maranhão, entre 1991 e 2000 Religião 1991 2000
Católicos 90.7% 82.2%
Evangélicos 6.25% 11.5%
Sem religião 2.15% 5.0%
Fonte: IBGE, censos demográficos de 1991 e 2000.
A Tabela acima apresenta os números em percentuais das principais religiões
maranhenses, nos anos de 1991 e 2000. O percentual de católicos em 1991 era de 90,7%; caiu
para 82.2%, em 2000. Os evangélicos eram 6,25%, em 1991; subiram para 11,5%, em 2000.
Os sem religião eram 2,15%, em 1991 e, em 2000, subiram para 5%.
Embora os números do catolicismo tenham caído 8,5%, entre 1991 e 2000, a
distância em relação as demais religiões é muito grande, sendo a religião hegemônica no
Estado. Já os evangélicos, nesse mesmo período, quase dobraram seu percentual.
Semelhantemente, ainda que com baixos percentuais em relação às demais confissões
religiosas, os sem religião mais que dobraram seus números, nesse mesmo período.
Os percentuais das principais denominações evangélicas, em relação ao total da
população do Estado, podem ser verificados na Tabela 6, que demonstra o percentual das
principais denominações evangélicas em relação à população residente no Maranhão. Os fiéis
da AD eram 7,08%, enquanto os da igreja Batista somaram 1,45%. Já os da igreja Adventista
se revelaram 1,14% e os da IURD, 0,52%. Os fiéis da Congregação Cristã no Brasil
resultaram em 0,24% e os da Igreja Presbiteriana apenas 0,22% da população do Estado do
Maranhão.
78
Tabela 6- Percentual das principais denominações evangélicas em relação à população do Maranhão, em 2000
Denominações Fiéis
AD 7,08%
Igreja Batista 1,45%
Igreja Adventista 1.14%
IURD 0,52%
Congregação Cristã no Brasil 0.24%
Igreja Presbiteriana 0,22%
Fonte: IBGE, censo demográfico de 2000.
A AD apresentou os maiores percentuais de fiéis em relação à população residente.
A igreja Batista e Adventista passou a marco de um por cento, enquanto as demais
denominações não passaram de um por cento. A partir desses dados, constata-se que há
concentração de evangélicos na AD.
O Gráfico abaixo ilustra a diferença entre as principais denominações evangélicas no
Estado.
Gráfico 3- As maiores denominações evangélicas do Maranhão Fonte: IBGE, censo demográfico de 2000.
O Gráfico compara as maiores denominações evangélicas do Maranhão. Os
assembleianos somaram 400.017; os batistas, 81.499; os adventistas eram 64.916; os
0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000
Presbiterianos
Congregação Cristã no Brasil
Universal do Reino de Deus
Adventistas
Batistas
Assembleia de Deus
Milhares
79
iurdianos, 29.525; os fiéis da Congregação Cristã no Brasil, 13.594, e os presbiterianos eram
12.423.
A AD ultrapassou a marca do 400.000, enquanto as demais denominações
evangélicas não passaram dos 100.000. Somente a igreja Batista se aproximou dessa marca.
Estes números demonstram a relevância da AD para a elevação dos números do total de
evangélicos no Estado. Sendo a denominação com maior expressividade numérica, ela
representa 61,5% de um total de 649.970 evangélicos.
4.2 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD MARANHENSE
A representação política da AD na Câmara Federal teve início com o mandato
parlamentar de José Fernandes, que legislou entre 1982-1983 e depois se elegeu para um
segundo mandato entre 1983-1987, pelo Estado do Amazonas, com um eleitorado
basicamente não religioso (FRESTON, 1993). No Senado, teve início com Marina Silva, que,
eleita em 1994, converteu-se durante o mandato, em 1997 (LEITÃO; AMARAL, 2009).
A inserção da AD maranhense na política partidária, segundo Freston (1993), está
diretamente relacionada às decisões tomadas pela Convenção Geral da AD nacional41, em
preparação para as eleições proporcionais de 15 de novembro de 1986. Segundo este autor
(1993, p. 210),
na sua Convenção Geral em janeiro de 1985, em Anápolis-GO, vários líderes falaram da importância da Constituinte. Tudo indica que a cúpula já decidira lançar candidatos, mas que era necessário ir devagar para vencer resistências e manter a unidade. Para isso, foi estratégica a presença de políticos evangélicos de outras denominações, como Íris Rezende e Daso Coimbra, pedindo que a AD se envolvesse [...] A Convenção marcou um encontro de todos os presidentes das convenções estaduais para discutir a questão, o qual teve lugar em Brasília em abril de 1985. A decisão lá tomada foi apresentada no órgão oficial em linguagem que visava superar resistências [...] A nossa igreja tem suficiente potencial para colocar um representante em cada estado no Parlamento... O compromisso da igreja, nesse caso,
41 O governo da AD é complexo, pois a combinação de poder está relacionada às decisões da Convenção Geral,
na esfera nacional, às convenções estaduais e ministérios, nas esferas estaduais e regionais, e às igrejas-sede de campo, na esfera municipal ou local. Embora os dois últimos níveis desfrutem de certa autonomia, indo de baixo para cima, a força do governo hierárquico da Convenção Geral se impõe principalmente quando as decisões se relacionam a problemas de caráter nacional. Foi nessa ordem que se deu o processo de candidaturas oficiais na AD maranhense, isto é, da Convenção Geral, representada por sua mesa diretora, partiu a decisão de lançar candidatos assembleianos. Da Convenção Estadual, representada por seu presidente, partiu a incumbência de organizar e coordenar o processo de seleção para o lançamento de candidaturas oficiais. Finalmente, os pastores de igrejas-sede são encarregados de dar orientação eleitoral para fiéis.
80
não pressupõe um envolvimento político-partidário, pois a nossa segurança está em Deus, mas representa um esforço da igreja de manifestar sua benéfica influência nas mais altas esferas da vida pública.
Em cumprimento das decisões tomadas pela Convenção Geral, a maioria das
convenções estaduais e ministérios escolheu pré-candidatos a deputado federal. A Convenção
da AD maranhense já tinha seu candidato natural, o assembleiano, então vereador de São
Luís, Antônio da Conceição Costa Ferreira, que contou com o apoio do presidente da
Convenção da AD no Estado, pastor Estevam Ângelo de Souza.42
Além da autoridade carismática43 e centralizadora do presidente da CEADEMA, tido
por muitos pastores e membros como o “lixa de ferro”, outro fator contribuiu para que a
escolha de um candidato à Câmara Federal ocorresse sem concorrência. O outro fato está
relacionado ao ascetismo assembleiano que se opunha à atividade política para fiéis da igreja,
inclusive para os fiéis que optavam por seguir uma carreira política autônoma em movimentos
sociais ou em algum partido político. Estes fatores foram essenciais para inibir as aspirações
daqueles que sonhavam com a vaga disponibilizada pela Convenção da igreja.
Como afiliada à Convenção Geral, a CEADEMA lançou mão de seu potencial
demográfico e geográfico em campanhas no interior da denominação, tendo nos pastores,
distribuídos pelas várias cidades e povoados do Estado, seu principal “cabo eleitoral”.
É muito comum, na AD maranhense, em períodos pré-eleitorais ou em campanhas
eleitorais, a visita dos candidatos da denominação às igrejas. Já é tradição das ADs
maranhenses promoverem eventos festivos que geralmente obedecem a um calendário anual,
com três eventos principais, que são o aniversário da igreja na cidade, congresso ou
confraternização de mocidade e o aniversário do círculo de oração de senhoras. Estes eventos
também têm, além dos fiéis da denominação da cidade, a presença das ADs de cidades
circunvizinhas e de outras denominações evangélicas, agregando público variado das diversas
cidades do Estado. Nestes eventos, o púlpito é usado pelos candidatos evangélicos como
palanque.
Ao invés dos tradicionais pregadores da denominação, nessa ocasião, a oportunidade
é facultada aos candidatos da denominação para ministrarem estudos e pregações aos fiéis. 42 Pastor Estevam Ângelo foi empossado co-pastor da AD, na capital maranhense, em 04 de janeiro de 1954.
Neste ano, a igreja contava com apenas três congregações na cidade. Em 16 de dezembro de 1957, assume a igreja em definitivo, até sua morte, em fevereiro de 1996, em consequência de acidente automobilístico, deixando a igreja com 167 templos. Sendo um dos principais líderes da AD no estado, pastor Estevam Ângelo foi presidente da AD na capital por 42 anos e da CEADEMA por 38 anos (SILVA, 2001).
43 Para Max Weber, líder carismático é aquele que exerce o domínio com base no devotamento efetivo de seus seguidores, justificado pelo caráter sagrado de seus dotes sobrenaturais no contexto de uma ordem revelada ou pelo heroísmo, poder intelectual e de oratória (1982).
81
Esta é uma forma que a igreja encontrou de ocultar as intenções político-eleitorais da cúpula
dirigente, dando espaço para que seus candidatos cativem o eleitorado evangélico. Além dos
candidatos evangélicos, também tem destaque, no púlpito da igreja, políticos locais, como
vereadores e prefeitos que têm oportunidades para saudarem os fiéis.
Como a atividade político-partidária ainda é vista com desconfiança por muitos
assembleianos, esses encontros também servem para que os fiéis analisem o grau de
“santidade” do candidato e seu compromisso com a igreja. Embora participando de todo
contexto de problemas sociais, nesses encontros predomina sempre o espírito sectário da AD.
Por conseguinte, o interesse do eleitorado evangélico não está tão voltado para projetos
sociais que visem a solucionar problemas mais amplos da sociedade, mas para aqueles que
estão relacionados à esfera moral e comportamental dos brasileiros. Enfim, o candidato
precisa provar aos fiéis que será um defensor e porta-voz dos interesses da igreja nas casas
legislativas, para que obtenha legitimidade política no meio.
Mesmo sem a presença dos candidatos nas igrejas espalhadas pelas cidades do
Estado, pastores e dirigentes orientam e pedem o voto dos fiéis. Alguns para se certificarem
do acerto, no dia que antecede as eleições, simulam o voto utilizando pedagogicamente
imitações de urnas eletrônicas nos templos, a fim de maximizar o voto dos fiéis. E, por fim,
ao final do culto, na porta do templo, é feita a distribuição do material de campanha com foto,
nome, partido e número do candidato.
Entre os candidatos assembleianos destaca-se, na história política da AD
maranhense, o nome do deputado Costa Ferreira, presente em todas as legislaturas, desde a
ANC. A representação da AD maranhense se confunde com o nome do deputado Costa
Ferreira, desde a legislatura que teve início no ano de 1987.
Costa Ferreira, antes de iniciar sua carreira política, pertenceu à igreja Batista, em
sua cidade natal, Guimarães, no interior do estado. Ainda nos primórdios de sua fé evangélica,
uniu-se à AD. A partir daí, integrou-se às atividades evangelísticas e sociais promovidas pela
igreja. Além de membro ativo da denominação, também foi torneiro mecânico, advogado,
professor e auditor fiscal do trabalho. Atualmente, é aposentado pelo desempenho de sua
última atividade profissional (informação verbal).44
Costa Ferreira foi lançado na política eleitoral pela AD da capital maranhense em
1976, dando início à sua trajetória ao ser eleito vereador de São Luís. A ligação com José
44 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com Costa
Ferreira.
82
Sarney45 e com a direção de programas radiofônicos evangélicos por mais de 15 anos,
segundo Freston (1993), contribuiu para o sucesso em sua primeira eleição.
A aproximação com um grupo político em ascensão permitiu o estabelecimento de
uma aliança em que ambos somavam para ganhar. José Sarney contou então com o apoio de
um segmento religioso crescente que começava a engatinhar na política e, de contrapartida, a
igreja contou com as benesses e favores do governismo que tem, sob seu poder, o controle de
recursos redistributivos com os quais faziam campanhas e ganhavam apoio eleitoral. A longa
experiência no rádio permitiu que Costa Ferreira se aproximasse do público evangélico mais
amplo, além dos limites de sua denominação.
Após seu primeiro mandato como vereador, na cidade de São Luís, entre 1977-1983,
Costa Ferreira foi reeleito vereador para a legislatura de 1983-1987. Dispondo da experiência
adquirida em duas legislaturas na Câmara dos Vereadores, na capital maranhense, Costa
Ferreira era o nome indicado para concorrer pela AD a uma das dezoito vagas para deputado
federal. Costa Ferreira foi eleito juntamente com o batista Enoc Vieira, sendo este reeleito
para sua segunda legislatura. Ambos foram os únicos deputados evangélicos eleitos pelo
Maranhão em 1986. Este número subiu para três, com o batista suplente de deputado federal,
Edivaldo Holanda (PFL), que foi efetivado em 1988.
Nas legislaturas seguintes, a representação parlamentar evangélica diminuiu
no Estado do Maranhão, saindo de três, entre 1991 a 1995, para um deputado e
depois para um suplente, entre 1995 a 1999. Nesse período, Costa Ferreira foi o
único representante evangélico na Câmara dos Deputados.46
4.2.1 Eleições 1998
Após confirmar os nomes dos pré-candidatos nas prévias realizadas na 57ª
AGO, no ano de 1996, na cidade de Codó, a AD lançou, para concorrer nas eleições
de 1998, o nome de três candidatos para as eleições proporcionais. Dois candidatos
concorreram à Assembleia Legislativa, Pedro Alves Santos (PPB) e Telma Pinheiro
45 O domínio de Sarney sobre a política maranhense teve início com sua eleição, em 1965, para o governo do
estado que contou com a chancela do novo regime instaurado pelo golpe militar, em 1964, pondo fim aos 20 anos do domínio de Vitorino Freire (vitorinismo) sobre a política do estado.
46 Costa Ferreira assumiu o mandato de março de 1995 a abril de 1998, para finalmente ser efetivado, ao término da legislatura, isto é, em setembro de 1998.
83
Ribeiro (PFL) e, mais uma vez, o deputado Costa Ferreira (PFL) para a reeleição (COSTA,
2002).
Os dois partidos em que se abrigaram os assembleianos tinham candidatos diferentes
diferentes ao governo do Estado, sendo do PFL Roseana Sarney, que tentava a reeleição,47 e
reeleição,47 e do PPB o ex-governador e ex-aliado do grupo Sarney Epitácio Cafeteira.
Cafeteira.
A divisão dos três candidatos assembleianos entre os principais candidatos ao
governo do Estado também revela os interesses pragmáticos, os quais a denominação costuma
fazer uso no mundo da política. Em entrevista ao jornal da denominação, Costa Ferreira diz:
“o aspirante ao poder se posiciona para galgar o poder de conformidade com o momento”
(SOUSA, 2009, p.16).
Assim como Costa Ferreira, Telma Pinheiro também foi lançada na política pela AD
maranhense. Em entrevista, a candidata afirmou que faz parte de família tradicional
evangélica. É engenheira, tendo inclusive trabalhado na construção de templos da igreja, ao
lado do pastor Estevam Ângelo. Após ser motivada e aconselhada pelo pastor Estevam a
entrar na política, Telma Pinheiro foi lançada pré-candidata pela igreja, em 1995, à Câmara
dos Vereadores e eleita vereadora de São Luís em 1996 (informação verbal).48
A candidata assembleiana lançou-se no campo eleitoral, principalmente pelos
eventos religiosos das ADs maranhenses. Para fazer-se conhecida do público evangélico, sua
campanha eleitoral se caracteriza pelo apelo eleitoral aos jovens da denominação. Também
aproveita a condição de mulher evangélica para fazer apelo eleitoral ao público feminino.49
Por ocasião do 28º Congresso de Dirigentes de Círculo de Oração e Esposas de Obreiros,
realizado na cidade de Barra do Corda, de 21 a 23 de julho de 2010, a candidata disse:
aproveito a oportunidade para agradecer o apoio que jamais nos falta, com suas orações e incentivos durante toda minha vida pública. Nestes 25 anos, sempre estivemos neste evento levando o ensino da palavra de Deus e abençoando famílias, pois o povo de Deus merece o nosso melhor. Neste ano me foi proposto mais uma vez o desafio de representar a igreja como candidata a Deputada Federal, fundamentando esta disposição em continuar contribuindo na busca de uma sociedade mais justa e na melhoria da qualidade de vida do povo maranhense. Com
47 Roseana Sarney foi beneficiada pela emenda constitucional 16/97, aprovada pela Câmara e Senado Federal e
promulgada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (BRASIL, 1997) 48 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com Telma
Pinheiro. 49 Conforme o censo demográfico de 2000, entre os evangélicos, o número de mulheres superou o número de
homens no estado do Maranhão. Os homens eram 279.214, enquanto o número de mulheres era de 370.756. No caso específico da AD, também não é diferente. Os homens representam um total de 175.221 e as mulheres de 224.797 do total de assembleianos no Estado.
84
grande convicção, afirmo que Deus tem aprovado a minha caminhada política, por isso, conto com vosso apoio, oração e voto para juntas alcançarmos a vitória (PINHEIRO, 2010).
Já o candidato Pedro Alves Santos foi professor da rede pública municipal e depois
foi pastor da AD. Durante mais de 15 anos, ele participou ativamente de movimentos sociais
na região do Mearim (EX-DEPUTADO..., 2005). Diferentemente da maioria dos candidatos
oficiais evangélicos, Pedro Alves é o tipo de político evangélico que alcançou projeção
política pelo envolvimento em movimentos sociais e por haver participado ativamente da
política antes de se tornar evangélico, atuando de maneira autônoma e, depois de convertido,
foi cooptado pela igreja para a política.
Para as 18 cadeiras na Câmara Federal disponíveis para o Maranhão, concorreram 80
candidatos e 20 partidos políticos. A competição eleitoral ficou em 4,5 vagas por candidato,
com o quociente eleitoral em torno de 85.572 votos. A coligação partidária formada por PTB /
PSC /PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL e PMDB conquistou 13
das 18 cadeiras. O PFL conquistou seis cadeiras, uma delas sendo ocupada por Costa Ferreira,
que teve 37.923 votos que representaram 2,46% dos votos válidos, sendo o quinto mais
votado da legenda.
Tabela 7- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a Câmara Federal em 1998
Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras
Válidos 1.540.309 80 18
Coligação PFL / PTB / PSC / PC do B PRP /
PSD / PRTB / PSDC / PL / PST /
PSL e PMDB
990.209 38 13
Partido PFL (nominais / legenda) 459.102 8 6
Candidato
assembleiano
Costa Ferreira 37.923 1 1
Fonte: TSE.
85
Nome Partido / Coligação Votação
João Castelo Ribeiro Gonçalves PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 96.535 José Sarney Filho PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB /
PSDC / PL / PST / PSL / PMDB 96.349
Nice Lobão PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
91.106
Roberto Coelho Rocha PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 78.485 Gastão Dias Vieira PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB /
PSDC / PL / PST / PSL / PMDB 76.879
Pedro Fernandes Ribeiro PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
64.774
Mauro de Alencar Fecury PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
63.311
Francisco de Assis Milhomem Coelho
PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
62.395
José Guimarães Neiva Moreira PB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 51.291 Paulo Celso Fonseca Marinho PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB /
PSDC / PL / PST / PSL / PMDB 48.706
Eliseu Barroso de Carvalho Moura
PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
47.758
Remi Abreu Trinta PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
45.442
Pedro Novais Lima PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
44.949
Carlos César Branco Bandeira PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
42.902
José Antônio Figueiredo de Almeida da Silva
PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 39.529
Sebastião Torres Madeira PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 38.932
Antônio da Conceição Costa Ferreira
PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
37.923
Alberico de França Ferreira Filho
PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB
37.742
Quadro 5- Deputados federais eleitos em 1998 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.
Para a Assembleia Legislativa, concorreram às 42 vagas 497 candidatos de 26
partidos. A competição ficou em torno de 12 candidatos por vaga e o quociente eleitoral, em
41.335 votos. Os candidatos da AD obtiveram votações parecidas, mas somente o pastor
86
Pedro Alves conseguiu se eleger com 13.740 votos, pela coligação PPB e PSDB. Telma
Pinheiro ficou com 13.601 votos, não conseguindo se colocar entre os 20 primeiros colocados
de sua coligação (PMDB / PFL e PSD), ficando como primeira suplente. No ano seguinte, a
suplente assembleiana se tornou titular.
Tabela 8- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Assembleia
Legislativa em 1998 Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras
Válidos 1.736.080 497 42
Coligação PPB e PSDB 202.287 36 5
Partido PPB (nominais/legenda) 120.154 19 4
Candidato assembleiano Pedro Alves 13.740 1 1
Coligação PFL / PMDB e PSD 870.698 72 20
Partido PFL (nominais/legenda) 318.926 21 9
Candidata assembleiana Telma Pinheiro 13.601 1 0
Fonte: TSE.
Nome Partido / Coligação Votação
Manoel Nunes Ribeiro PMDB / PFL / PSD 39.719 Magno Augusto Bacelar Nunes PMDB / PFL / PSD 34.657 Maura Alves de Melo Ribeiro PMDB / PFL / PSD 27.253 Humberto Ivar Araujo Coutinho PMDB / PFL / PSD 26.793 Carlos Alberto Milhomem de Sousa PMDB / PFL / PSD 25.980 Edmar Serra Cutrim PMDB / PFL / PSD 21.355 Antônio Arnaldo Alves de Melo PMDB / PFL / PSD 20.894 José Raimundo Rodrigues PMDB / PFL / PSD 20.743 Mercial Lima de Arruda PMDB / PFL / PSD 20.321 João Jorge Jinkings Pavão PMDB / PFL / PSD 19.113 Stênio dos Santos Rezende PMDB / PFL / PSD 18.520 Marly Gonçalves Abdala PMDB / PFL / PSD 18.157 Rigo Alberto Teles de Sousa PMDB / PFL / PSD 18.061 Janice Santos Braide PMDB / PFL / PSD 17.979 José Gerardo de Abreu PPB / PSDB 16.677 Julião Amin Castro PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 16.671 José Orlando Ferreira da Silva PMDB / PFL / PSD 16.296 Antônio Carlos Bacelar Nunes PMDB / PFL / PSD 16.165
87
Jurandir Ferro do Lago Filho PMDB / PFL / PSD 15.652 João Evangelista Serra dos Santos PMDB / PFL / PSD 14.597 Francisco Caíca Wchoa Marinho PRTB 14.349 Nilson Santos Garcia PST / PL 14.049 Deoclides Antonio Santos Neto PTB / PSL / PSC / PSDC / PC do B 13.873 Júlio Pires Monteles PMDB / PFL / PSD 13.797 Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo PMDB / PFL / PSD 13.756 Pedro Alves Santos PPB / PSDB 13.740 Luzivete Botelho da Silva PPB / PSDB 13.529 João Macedo da Silva PPB / PSDB 13.445 Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel PRP 13.258 Sandra Maria Carvalho R. de Deus PTB / PSL / PSC / PSDC / PC do B 13.119 Maria Aparecida Queiroz Furtado PST / PL 12.948 Soliney de Sousa e Silva PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 12.771 Maria Teresa Trovão Murad PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 12.459 Jomar Fernandes Pereira Filho PT / PCB 11.324 Aderson de Carvalho Lago Filho PPB / PSDB 11.291 Malrinete dos Santos Valerio PRP 10.911 Lourival Mendes da Fonseca Filho PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 10.454 Jônatas Lopes Freitas PRTB 10.380 Antônio Pontes de Aguiar PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 10.256 João Pavão Filho PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 9.927 Rubens Pereira e Silva PST / PL 9.585 Hélio Oliveira Soares PST / PL 9.334
Quadro 6- Deputados estaduais eleitos em 1998 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.
Para deputado estadual, nenhum dos eleitos conseguiu atingir o quociente eleitoral de
41.335 votos. A soma dos votos dos dois candidatos assembleianos não foi o suficiente para
obter uma cadeira na Assembleia Legislativa, tendo sido beneficiados pelos votos da
coligação.
Costa Ferreira foi o menos votado entre os candidatos eleitos pelo PFL e o penúltimo
entre os eleitos de sua coligação partidária. O pastor Pedro Alves também teve votação
inferior ao quociente eleitoral, mas, diferentemente de Costa Ferreira, foi o segundo mais
votado de sua coligação, que elegeu cinco deputados estaduais.
A atuação de Pedro Alves adquiriu notoriedade pelas críticas ao governo de Roseana
Sarney e pelas denúncias de corrupção que, para ele, seriam a causa da miséria de milhares de
maranhenses, não se limitando ao espaço da Assembleia Legislativa, mas chamou a atenção
88
do país indo a Brasília, onde levantou uma barraca com um estande e o tema “Maranhão da
Corrupção”, que denunciava irregularidades no governo de Roseana Sarney (EX-
DEPUTADO..., 2005).
Pedro Alves se integrou no grupo parlamentar independente, tendo assinado o pedido
de instalação de CPI para apurar e investigar desvios de recursos públicos do projeto
Salangô.50 Dessa forma, rompia com a tradicional posição política dos líderes asembleianos e,
segundo Costa (2002, p. 2), “a CEADEMA estava disposta a deixar de apoiar o nome do
deputado estadual Pedro Alves, em razão de alguns fatos dignos de esclarecimento
envolvendo a sua pessoa”.
Ainda segundo o mesmo autor (2002), Pedro Alves sofreu críticas dos líderes
assembleianos que, reunidos na 62ª AGO da AD, realizada na cidade de Zé Doca, em 2001,
discutiram a retirada de apoio à sua candidatura para as próximas eleições. Entretanto, diante
das explicações e justificativas do deputado perante os convencionais, foi decidido pela
CEADEMA manter apoio ao referido parlamentar (COSTA, 2002).
4.2.2 Eleições 2002
4.2.2.1 O Maranhão nas eleições para presidente da República
Nas eleições de 2002, vários candidatos evangélicos concorreram aos cargos
proporcionais e majoritários. Pela primeira vez, um candidato evangélico concorreu à
presidência da República. Era o então governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho
(PSB).
A Tabela abaixo demonstra o desempenho eleitoral dos quatro primeiros
presidenciáveis no Brasil nos Estados e Distrito Federal, nas eleições de 2002.
50 Projeto de irrigação que deveria ter beneficiado cerca de 10 mil hectares da região banhada pelo rio Mearim. O
objetivo era gerar emprego e renda e promover exportações de produtos agrícolas da região, principalmente da cidade de São Mateus. Calcula-se que foram desviados em torno de R$ 30 milhões de reais (EX-DEPUTADO..., 2005).
89
Tabela 9- Desempenho eleitoral dos primeiros quatro presidenciáveis no primeiro turno das eleições de 2002
Bra/UF/DF
Candidato a Presidente da República Lula José Serra Anthony Garotinho Ciro Gomes Votação % Votação % Votação % Votação %
BRA 39.454.692 46,44 19.705.061 23,20 15.179.879 17,87 10.170.666 11,97
AC 123.999 46,81 50.250 18,97 46.229 17,45 43.995 16,61
AL 307.751 28,60 314.739 29,25 281.015 26,11 168.925 15,70
AM 530.246 47,73 166.145 14,95 249.007 22,41 160.132 14,41
AP 116.507 49,94 20.537 8,80 61.026 26,16 32.007 14,57
BA 2.899.280 55,28 884.291 16,86 703.738 13,42 738.949 14,09
CE 1.353.339 39,36 293.425 8,53 256.879 7,47 1.529.623 44,49
DF 592.977 49,07 202.410 16,75 220.989 18,29 184.558 15,27
ES 717.646 44,52 334.697 20,76 436.028 27,05 114.308 7,09
GO 1.069.398 42,10 709.025 27,91 493.038 19,41 259.088 10,20
MA 843.132 40,88 248.621 12,05 508.006 24,63 455.860 22,10
MG 4.990.085 53,01 2.151.597 22,86 1.359.073 14,44 862.231 9,16
MS 446.438 41,49 308.905 28,71 170.957 15,89 145.271 13,50
MT 508.610 40,64 371.684 29,70 187.380 14,97 180.812 14,45
PA 1.070.416 42,27 673.488 26,60 510.470 20,16 269.687 10,65
PB 754.329 47,77 466.346 29,53 215.207 13,63 138.789 8,79
PE 1.657.476 46,44 1.015.496 28,45 651.445 18,25 235.145 6,59
PI 616.157 46,85 358.986 27,29 196.157 14,91 141.624 10,77
PN 2.540.328 50,13 1.367.384 26,98 722.438 14,16 409.135 8,07
RJ 3.284.258 40,17 721.081 8,82 3.449.001 42,18 657.725 8,04
RN 581.544 43,68 296.856 22,30 229.896 17,27 218.880 16,44
RO 283.279 45,04 128.000 20,35 154.074 24,50 60.663 9,64
RR 71.952 44,97 19.195 % 12,00 39.974 24,98 28.063 17,54
RS 2.667.451 45,18 1.913.186 32,41 709.904 12,02 588.560 9,97
SC 1.719.739 56,60 707.239 23,28 373.683 12,30 217.695 7,16
SG 357.557 44,27 160.348 19,85 151.155 18,72 133.887 16,58
SP 9.106.914 46,11 5.633.365 28,52 2.781.712 14,09 2.087.617 10,57
TO 225.291 43,10 177.547 33,97 72.256 13,82 46.562 8,91
Fonte: TSE.
90
O candidato Lula venceu em todos os Estados, com exceção do Ceará e Rio de
Janeiro, onde Ciro Gomes e Anthony Garotinho se projetaram na política partidária,
respectivamente, e Alagoas, onde a votação foi equilibrada entre os três primeiros colocados,
porém único Estado em que José Serra venceu.
O candidato ao executivo Garotinho obteve votos acima da média nacional (17,87%)
em cinco Estados do Norte (Amazonas 22,41%, Pará 20,16%, Roraima 24,98%, Rondônia
24,50% e Amapá 22,41%) e em quatro Estados do Nordeste (Alagoas 26,11%, Pernambuco
18,25%, Sergipe 18,72% e Maranhão 24,63%). É nestes Estados onde a AD tem o maior
número de fiéis, em comparação com a população local.
No Norte, o candidato evangélico foi o segundo na preferência do eleitorado,
vencendo seu opositor tucano nos Estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Amapá. No
Nordeste, o Estado do Maranhão foi o segundo na preferência do eleitorado, tendo sua média
no Estado superado a nacional.
Esta candidatura não apenas representava maior visibilidade com a concorrência de
um evangélico ao principal cargo da representação como também conseguiu mobilizar
milhares de evangélicos em todo país em torno da sua campanha eleitoral. Os dois principais
braços da AD, a Convenção Geral e a CONAMAD, não apenas apoiaram a candidatura como
“funcionaram como verdadeiros comitês eleitorais, e muitos pastores assumiram o papel do
tradicional cabo eleitoral” (MACHADO, 2006, p. 84).
91
Figura 4- Votos válidos de Anthony Garotinho na eleição presidencial de 2002 Fonte: Jacob et al. (2003), p. 48.
A figura 4 apresenta o percentual de votos de Anthony Garotinho por todo o país.
Observa-se a semelhança entre o mapa de votação e o percentual de assembleianos na
população total. Quanto maior o percentual de assembleianos maior o percentual de votos do
candidato evangélico (JACOB, 2003, p. 39).
Outros fatores, além da filiação religiosa, influenciaram o eleitor na escolha do
candidato evangélico. No Rio de Janeiro, onde Garotinho foi governador, o percentual de seus
eleitores superou o percentual de eleitores evangélicos. Conforme os dados do IBGE, em
2000, o Estado do Rio de Janeiro tinha 3.163.741 evangélicos, enquanto a votação de
Garotinho no Estado foi de 3.449.001 votos. Contudo, vale ressaltar a concentração de votos
em um candidato por questões religiosas nos demais Estados do país que o tornaram mais que
um candidato regional.
92
4.2.2.2 Eleições proporcionais
Os candidatos da AD maranhense nas eleições de 2002 foram os mesmos da eleição
anterior. A CEADEMA decidiu apoiá-los, considerando-os como candidatos naturais da
denominação (COSTA, 2002). O deputado federal Costa Ferreira e a deputada estadual Telma
Pinheiro continuaram no PFL, ligados ao grupo político Sarney. Já o deputado Pedro Alves
(PSB), que continuou na oposição ao governo, já não era mais tido como legítimo
representante da denominação, havendo incompatibilidade entre sua postura política e os
interesses da igreja.
A votação de Costa Ferreira foi a seguinte:
Tabela 10- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a Câmara Federal em
2002 Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras
Válidos 2.427.031 133 18
Coligação PFL / PSC / PSD / PSDC / PST / PMDB e PV
1.120.715 27 9
Partido PFL (nominais / legenda) 739.806 13 7
Candidato evangélico Costa Ferreira 64.719 1 1
Fonte: TSE.
O candidato praticamente dobrou sua votação, chegando a 64.719 votos. Contudo,
ficou com a última das 9 cadeiras conquistadas por sua coligação. Costa Ferreira teve 2,66%
dos votos válidos, ficando com a 13ª cadeira na Câmara dos Deputados, entre as 18 vagas
destinadas ao Estado.
93
Nome Partido / Coligação Votação
João Castelo Ribeiro Gonçalves PSDB 123.474
Sebastião Torres Madeira PSDB 112.017
José Sarney Filho PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 111.479
Gastão Dias Vieira PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 106.516
Pedro Novais Lima PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 99.679
Pedro Fernandes Ribeiro PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 93.024
Clóvis Antônio Chaves Fecury PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 83.078
Nice Lobão PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 82.812
Paulo Celso Fonseca Marinho PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 74.393
Antônio Joaquim Araújo Filho PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 70.041
Remi Abreu Trinta PL / PT / PMN / PC do B 68.347
Carlos César Branco Bandeira PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 66.312
Antônio da Conceição Costa Ferreira
PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 64.719
Terezinha das Neves Pereira PL / PT / PMN / PC do B 57.583
José Guimarães Neiva Moreira PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 57.185
Luciano Ferreira de Sousa PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 47.432
Ricardo Wagner de Carvalho Lago
PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 41.700
José de Ribamar Costa Alves PSB 34.468
Quadro 7- Deputados federais eleitos em 2002 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.
Para a Assembleia Legislativa, a concorrência foi de 10,21 candidatos por vaga. O
número de partidos políticos permaneceu o mesmo da eleição anterior. O quociente eleitoral
foi de 57.553 votos.
94
Tabela 11- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Assembleia Legislativa em 2002
Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras
Válidos 2.417.261 429 42
Coligação PFL e PST 753.363 42 14
Partido PFL (nominais/legenda) 752.158 40 14
Candidata assembleiana Telma Pinheiro 33.641 1 1
Partido PSB (nominais/legenda/
sem coligação)
93.282 29 1
Candidato assembleiano Pedro Alves 13.948 1 0
Fonte: TSE.
A candidata assembleiana, Telma Pinheiro, mais que dobrou sua votação, alcançando
33.661 votos, sendo a quinta candidata mais votada no Estado e a terceira de sua coligação e
partido (Quadro 8). A votação de Pedro Alves foi semelhante à do pleito anterior, mas não foi
o suficiente para obter mais um mandato parlamentar. Com 13.948 votos, foi o terceiro mais
votado de seu partido e não conseguiu conquistar a única cadeira obtida pela sua legenda.
Nome Partido / Coligação Votação
Manoel Nunes Ribeiro Filho PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 79.253
Carlos Alberto Milhomem de Sousa PFL / PST 38.185
Maura Alves de Melo Ribeiro PFL / PST 37.612
José Max Pereira Barros PFL / PST 35.438
Telma Pinheiro Ribeiro PFL / PST 33.641
Rigo Alberto Teles de Sousa PFL / PST 30.850
Antônio Arnaldo Alves de Melo PFL / PST 30.745
Hélio Oliveira Soares PFL / PST 29.106
Stênio dos Santos Rezende PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 28.559
Humberto Ivar Araújo Coutinho PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 27.152
Rubens Pereira e Silva PFL / PST 26.842
Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 26.734
João Evangelista Serra dos Santos PFL / PST 26.618
95
Carlos Antônio Muniz Filho PFL / PST 25.527
Geovane Silva de Castro PFL / PST 25.405
Carlos Alberto Franco de Almeida PSDB 24.844
Francisco de Assis Castro Gomes PFL / PST 24.809
Julião Amim Castro PDT / PTB 24.766
César Henrique Santos Pires PFL / PST 24.490
Soliney de Sousa e Silva PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 24.408
Wilson Pereira de Carvalho Filho PFL / PST 24.197
Maria da Graça Fonseca Paz PDT / PTB 24.061
Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel PDT / PTB 22.359
Janice Santos Braide PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 20.701
Maria Cristina Ceppas Archer PSBD 20.616
Mauro de Araújo Bezerra PDT / PTB 20.258
Rubem Moreira de Brito PDT / PTB 19.831
Deusdedith Alves Sampaio PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 19.497
João Pavão Filho PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 19.463
Antônio Carlos Braide PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 19.438
Maria Tereza Trovão Murad PSB 18.850
Helena Barros Heluy PL / PT / PMN / PC do B 17.512
Aderson de Carvalho Lago Filho PSDB 17.469
Reginaldo Costa Nunes PL / PT / PMN / PC do B 17.362
Manoel Sousa Viana PDT / PTB 16.242
Maria do Socorro Almeida Waquim PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 15.400
Domingos Francisco Dutra Filho PL / PT / PMN / PC do B 14.415
Antônio Pereira Filho PPS / PTN / PPB / PAN 14.236
Luiz Pedro de Oliveira e Silva PDT / PTB 14.125
Elígio Alves de Almeida PPS / PTN / PPB / PAN 12.955
José Lima dos Santos Filho PT do B / PGT / PHS / PTC / PRTB / PSL 11.367
Paulo Roberto Almeida Neto PT do B / PGT / PHS / PTC / PRTB / PSL 11.341
Quadro 8- Deputados estaduais eleitos em 2002 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.
96
Assim, nestas eleições, a representação da AD na Câmara Federal, mais uma vez,
ficou por conta de Costa Ferreira, eleito para sua quinta legislatura (2003-2007) e de Telma
Pinheiro para a Assembleia Legislativa.
A mudança de representação para a Assembleia Legislativa entre os candidatos a
deputado estadual pela AD pode revelar o quanto o apoio da denominação e a estrutura
eclesiástica são decisivos para a eleição de seus candidatos. A derrota de Pedro Alves pode
ser creditada à falta de apoio de sua denominação, tendo votação semelhante à anterior.
Alguns fatores contribuíram para este feito. Além de sua organização interna em
Conselhos Políticos, outro fator externo contribuiu para maior euforia política dos
evangélicos, neste pleito, que é a candidatura de um evangélico à presidência da República.
Assim, líderes e fiéis muito arredios a qualquer manifestação política, pelo menos, admitiam a
possibilidade de votar em candidatos indicados pela igreja (FRESTON, 2006). Não faltou
nem aulas de votação, com urnas eletrônicas espalhadas nos templos, a fim de aproveitar ao
máximo possível o voto dos fiéis. Enfim, candidatos e lideranças em todas as esferas da
disputa eleitoral souberam utilizar muito bem a identidade evangélica para atrair milhares de
eleitores desse segmento religioso, distribuídos nos vários Estados do país.
4.2.3 Eleições 2006
A ruptura do grupo Sarney, anterior às eleições municipais de 2004, aqueceu o clima
político das eleições de 2006 no Estado. Tal cisão foi ocasionada pela saída do governador
José Reinaldo Tavares (PSB), afiliado político do ex-presidente e senador José Sarney
(PMDB-AP).51
O eleitorado evangélico passou a ser disputado pelos aspirantes ao governo do
Estado. O principal candidato do grupo anti-Sarney, Jackson Lago (PDT), ofereceu a
candidatura do vice aos presbiterianos.52 O nome escolhido foi do pastor Luiz Carlos Porto
(PPS), que se encarregou de aproximá-lo desse segmento religioso. Por sua vez, a ex-
51 No mandato de José Sarney na presidência da República (1985-1990), José Reinaldo Tavares assumiu a pasta
dos transportes. Também foi vice-governador de Roseana Sarney nos dois mandatos (1995-2003) dela, à frente da administração do estado. Em 2002, José Reinaldo Tavares se elegeu governador do estado do Maranhão com o apoio do grupo Sarney (BORGES, 2006).
52 Conforme o censo demográfico de 2000, a Igreja Evangélica Presbiteriana tinha um total de 12.423 fiéis, no estado do Maranhão (ver na primeira parte deste capítulo).
97
governadora Roseana Sarney (PFL) trouxe ao Estado o bispo da IURD e senador Marcelo
Crivella (PRB), do Rio de Janeiro, para apoiar sua candidatura no segmento evangélico.
Nesse clima político, não faltaram visitas aos eventos da AD em busca de apoio
político. Esta se encontrava diante de um dilema, pois, desde a época do regime militar, a
orientação das lideranças da igreja era para que “se votasse em candidatos governistas
(ARENA e depois PDS) em obediência ao ensinamento bíblico: Aquele que se opõe à
autoridade resiste à ordenação de Deus” (FRESTON, 2006, p.77). Nesse sentido, desde a
eleição de seu primeiro representante no cargo de deputado federal, a igreja assumiu uma
postura de apoio ao grupo Sarney, por ser o grupo governista. No entanto, para o pleito de
2006 o cenário eleitoral se revertia com tal grupo político fora do governo e, por
consequência, na oposição.
Assediada pelos dois grupos53 em disputa, a AD dividiu seus candidatos entre
governistas e oposicionistas, apresentando dois pré-candidatos para a Câmara dos Deputados:
Costa Ferreira (PSC) e Telma Pinheiro (PSDB), sendo esta aliada do governador José
Reinaldo. Desse modo, a intenção dos governistas era tirar proveito do eleitorado evangélico
através da deputada Telma Pinheiro e assim pegar “carona” na sua candidatura, além da
possibilidade de contar com uma aliada na Câmara dos Deputados ou mesmo dividir o
eleitorado assembleiano e impedir a reeleição do deputado Costa Ferreira.
Com Telma Pinheiro concorrendo para a Câmara dos Deputados e a morte do pastor
Pedro Alves,54 ficaram abertas as duas pré-candidaturas da igreja disponíveis para a
Assembleia Legislativa. Por conseguinte, essas duas pré-candidaturas foram preenchidas pelo
pastor Pedro Cardoso Lindoso (PSC) e a jornalista Eliziane Pereira Gama (PPS), ambos dos
quadros assembleianos.
Pedro Lindoso se tornou fiel da AD aos sete anos de idade juntamente com sua
família, que seguiu a decisão tomada por seu pai, que havia se convertido à AD. Após se
dedicar à pregação, tornou-se pastor da igreja. Atualmente, pastoreia a igreja de Coque,
município de Vitória do Mearim. Além de pastor, sua principal atividade, Pedro Lindoso é
reitor da Faculdade de Teologia Hokemâh (FATHE). Sua entrada para concorrer na política
partidária foi motivada por um grupo de pastores da AD no ano de 2004, que lhe fizeram
53 Aqui, nos referimos aos grupos políticos maranhenses como dois: o grupo Sarney, representado pela candidata
Roseana Sarney e os anti-sarneístas. A frente anti-Sarney se dividiu em três candidaturas: Jackson Lago (PDT), Aderson Lago (PSDB) e Edison Vidigal (PSB). A intenção era dividir o voto dos maranhenses, levando a disputa para o segundo turno, para então somarem forças contra a candidata Roseana Sarney.
54 Pastor Pedro Alves morreu no dia 10 de maio de 2005 vítima de falência múltipla dos órgãos, causada por leucemia (EX-DEPUTADO..., 2005).
98
proposta, para que ele concorresse nas prévias da igreja para a vaga de pré-candidato a
deputado estadual (informação verbal).55
Eliziane Gama foi criada na AD, filha de pastor, teve educação cristã rigorosa
aplicada pelos pais e pela igreja. Antes de entrar na política partidária, exerceu a função de
jornalista em rádio, TV e jornais impressos. A ideia de entrar na política nasceu com sua
participação em movimentos universitários evangélicos. Eliziane Gama trabalhou na Aliança
Bíblica Universitária (ABU) e no Movimento Evangélico Progressista (MEP), no período que
estudou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) (informação verbal).56
A distribuição dos candidatos assembleianos, entre os grupos políticos, ficou assim: a
deputada estadual Telma Pinheiro concorreu para a Câmara Federal e, para deputada estadual,
a candidata Eliziane Gama, ambas aliadas do grupo anti-Sarney. A composição política para o
outro grupo ficou novamente com o deputado federal, mais uma vez candidato ao mesmo
cargo, Costa Ferreira e o candidato a deputado estadual pastor Pedro Lindoso.57
Vale ressaltar que a campanha eleitoral de 2006 pesou para os candidatos
evangélicos que realizaram suas campanhas debaixo da repercussão negativa do “escândalo
dos sanguessugas”, inclusive para a AD maranhense, com acusações que insidiam sobre seu
principal candidato, Costa Ferreira. Some-se a isto o fato de ter dois candidatos concorrendo
para a Câmara Federal, numa eleição que apresentou maior competitividade entre os
candidatos.
De fato, em apenas oito anos, os votos válidos e o número de candidatos quase
dobrou nas eleições de 2006. Os votos válidos foram 2.900.385 e o número de candidatos,
153. Semelhantemente, o quociente eleitoral mais que dobrou ficando em torno dos 161.132
votos. Com 1.072.690 votos, a coligação formada por PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL /
PFL e PV, denominada de a “A Força do Povo”, conquistou 7 cadeiras. Costa Ferreira teve
55.131 votos, sendo o oitavo candidato mais votado de sua coligação, com 9.588 votos a
menos que nas eleições anteriores, ficando na primeira suplência.
55 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o
pastor Pedro Lindoso. 56 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com
Eliziane Gama. 57 Em visita à 66ª AGO da AD, no Estado do Maranhão, em 2005, na cidade de Santa Luzia, a então senadora
Roseana Sarney se fez presente para pedir aos convencionais apoio às candidaturas de Costa Ferreira e de Pedro Lindoso.
99
Tabela 12- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Câmara Federal em 2006
Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras
Válidos 2.900.385 153 18 Coligação PP / PTB / PMDB / PTN /
PSC / PL / PFL e PV 1.072.690 34 7
Partido PSC (nominais/legenda) 60.301 1 0 Candidato assembleiano Costa Ferreira 55.131 1 0 Partido PSDB (nominais/legenda/sem
coligação) 662.782 13 4
Candidata assembleiana Telma Pinheiro 60.714 1 0 Fonte: TSE.
O PSDB, partido de Telma Pinheiro, sem coligação, somou 662.782 votos
conquistando quatro cadeiras parlamentares. Telma Pinheiro teve 60.714 votos, sendo mais
votada que Costa Ferreira. Todavia, diferentemente deste, conquistou a segunda suplência.
Nome Partido / Coligação Votação
Roberto Coelho Rocha PSDB 139.294
José Sarney Filho PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 136.873
Carlos Orleans Brandão Junior PSDB 134.643
Flávio Dino de Castro e Costa PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 123.597
Gastão Dias Vieira PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 114.889
Clovis Antônio Chaves Fecury PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 102.402
Sebastião Torres Madeira PSBD 98.857
José Eleonildo Soares PSDB 90.637
Pedro Novais Lima PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 87.582
Nice Lobão PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 87.344
Domingos Francisco Dutra
Filho
PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 82.017
Pedro Fernandes Ribeiro PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 81.618
Davi Alves Silva Junior PDT / PPS / PAN 77.595
Sétimo Waquim PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 75.193
Cleber Cordeiro Mendes PDT / PPS / PAN 71.734
100
Waldir Maranhão Cardoso PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 64.286
José de Ribamar Costa Alves PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 62.952
Julião Amim Castro PDT / PPS / PAN 61.095
Quadro 9- Deputados federais eleitos em 2006 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.
Para a Assembleia Legislativa, o número de concorrentes diminuiu com relação às
duas eleições anteriores. O número foi de 372 candidatos, isto é, quase 9 candidatos por vaga.
Com o aumento contínuo do eleitorado, o quociente eleitoral subiu para 67.648 votos. A
coligação de Eliziane Gama formada pelos partidos políticos PPS e PAN obtiveram 74.300
votos, conquistando somente uma cadeira para o legislativo estadual. Esta cadeira ficou com a
candidata assembleiana que obteve a maior votação em seu partido e em sua coligação,
15.084 votos. Tal votação deu à candidata assembleiana a 39ª posição entre os deputados
estaduais eleitos para a legislatura de 2007-2011, conforme o Quadro abaixo.
Tabela 13- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Assembleia Legislativa em 2006
Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras
Válidos 2.841.187 372 42 Coligação PPS e PAN 74.300 24 1 Partido PPS (nominais/legenda) 45.184 8 1 Candidata assembleiana Eliziane Gama 15.084 1 1 Coligação: PSC / PTN e PL 115.654 23 1 Partido PSC (nominais/legenda) 75.675 9 1 Candidato assembleiano Pedro Lindoso 16.503 1 0
Fonte: TSE.
A coligação formada por PSC / PTN e PL somou 115.654 votos. Não teve votos
suficientes para conquistar duas cadeiras, conquistando apenas uma vaga, ocupada por
Penaldo Jorge Ribeiro Moreira (PSC), o mais votado da coligação, com 20.503 votos. O
candidato assembleiano, Pedro Lindoso foi o terceiro colocado com 16.503 votos, ficando
como segundo suplente.
101
Nome Partido / Coligação Votação
Afonso Manoel Borges Ferreira PRB / PMN / PSB 71.372
Cleide Barroso Coutinho PSDB 56.634
João Evangelista Serra dos Santos PSDB 55.092
Marcelo Tavares Silva PRB / PMN / PSB 50.985
Soliney de Sousa e Silva PSDB 50.116
Carlos Alberto Franco de Almeida PSDB 46.670
Rigo Alberto Teles da Silva PSDB 42.566
Carlos Victor Guterres Mendes PFL / PMDB / PV / PTB / PP 41.735
Raimundo Soares Cutrim PFL / PMDB / PV / PTB / PP 40.627
Antônio Arnaldo Alves de Melo PSDB 39.938
João Batista dos Santos Silva PFL / PMDB / PV / PTB / PP 39.493
Hélio Oliveira Soares PFL / PMDB / PV / PTB / PP 39.459
Camilo de Lellis Carneiro Figuereido PDT 37.488
Graciele de Maria Trabulsi Lisboa PSDB 37.368
José Max Perreira Barros PFL / PMDB / PV / PTB / PP 37.037
Ricardo Jorge Murad PFL / PMDB / PV / PTB / PP 35.521
Rubens Pereira e Silva Junior PRTB / PHS / PRP 34.837
Antônio Carlos Bacelar Nunes PDT 34.612
Maria da Graça Fonseca Paz PDT 34.491
Maura Jorge Alves de Melo Ribeiro PDT 34.126
João Pavão Filho PDT 33.124
Joaquim Nagib Haickel PFL / PMDB / PV / PTB / PP 32.791
Stenio dos Santos Rezende PSDB 30.402
Jurandir Ferro do Lago Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 30.238
Francisco Dantas Ribeiro Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 30.039
Carlos Alberto Milhomem de Sousa PFL / PMDB / PV / PTB / PP 29.668
Paulo Roberto Almeida Neto PRB / PMN / PSB 28.257
José Lima dos Santos Filho PRB / PMN / PSB 27.124
Carlos Antônio Muniz Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 26.474
102
Antônio Carlos Braide PDT 25.976
Francisco de Assis Castro Gomes PFL / PMDB / PV / PTB / PP 25.676
Antônio Pereira Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 25.212
César Henrique Santos Silva PFL / PMDB / PV / PTB / PP 24.294
Maria de Fátima Vieira Lins de Oliveira Lima PSDB 23.816
Penaldo Jorge Ribeiro Moreira PTN / PSC / PL 20.530
Domingos Alburqueque Paz PRB / PMN / PSB 17.255
Helena Barros Heluy PT / PC do B 16.199
Marcos Antônio Carvalho Caldas PSL / PTC / PT do B 15.091
Eliziana Pereira Gama PPS / PAN 15.084
Edvaldo de Holanda Braga PSL / PTC / PT do B 14.023
Raimundo Nonato Amaral Aragão PSL / PTC / PT do B 12.428
Valdinar Pereira Barros PT / PC do B 11.290
Quadro 10- Deputados estaduais eleitos em 2006 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.
Assim ficou a situação dos candidatos assembleianos: Telma Pinheiro e Pedro
Lindoso ficaram como segundo suplentes, enquanto Costa Ferreira ficou na primeira
suplência de deputado federal e Eliziane Gama conquistou seu primeiro mandato parlamentar
para a Assembleia Legislativa.
Ao final da corrida eleitoral de 2006, a AD perdeu sua representação na Câmara
Federal que, segundo Costa Ferreira, foi “arrancada através de uma manobra que trouxe
prejuízos incalculáveis ao povo de Deus” (SOUSA, 2009, p. 16), possivelmente se referindo à
candidatura concorrente de sua irmã Telma Pinheiro, incentivada e apoiada pelo ex-
governador José Reinaldo.
No segundo turno das eleições para o governo do Estado, a coligação da qual fazia
parte Telma Pinheiro, encabeçada por José Reinaldo, somou forças ao lado da candidatura de
Jackson Lago contra Roseana Sarney. Jackson Lago ficou com 1.393.754 da preferência do
eleitorado e Roseana Sarney58 com 1.295.880, com diferença de apenas 97.874 votos. Com
58 Após a derrota, Roseana foi expulsa do PFL em novembro, por fazer, durante as eleições presidenciais de
2006, campanha para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inclusive, participado de comício com Lula na cidade de Timon. Como o PFL é um partido de oposição, supunha-se que Roseana deveria ter apoiado o candidato a presidente do PSDB, Geraldo Alckmin. Posteriormente, para integrar a base do governo federal, filiou-se ao PMDB em 2006, tornando-se uma das líderes do governo Lula no Congresso brasileiro, até 17 de abril de 2009.
103
Jackson Lago no governo, Telma Pinheiro foi beneficiada, sendo convidada para assumir a
Secretaria de Infraestrutura e Cidades do Estado.
Mas, a reviravolta política estava por vir com uma ação que seria chamada de
“terceiro turno” da política maranhense, quando Jackson Lago teve seu mandato contestado
pelo TSE a pedido da coligação “Maranhão – A Força do Povo” (PFL / PDT / PTB e PV)
ligada à candidatura de Roseana Sarney. As denúncias acusavam o governador de ter
distribuído cestas básicas a pescadores, desvios de dinheiro para uma associação de
moradores, distribuição de combustível, reforma e construção de residências. Enfim, na noite
de 16 de abril de 2009, o TSE confirmou a cassação do mandato de Jackson Lago e do vice-
governador pastor Luis Porto, por abuso de poder econômico e político nas eleições de 2006.
Com a cassação, foi ordenada a posse imediata de Roseana Sarney (PMDB) como
governadora do Maranhão e de João Alberto como vice-governador. Após assumir o governo
do Estado, Roseana Sarney convidou o deputado federal Gastão Vieira para a Secretaria de
Estado do Planejamento e Costa Ferreira, sendo o primeiro suplente, assumiu como deputado
federal em 20 de maio de 2009. Logo após, Costa Ferreira licenciou-se do cargo de suplente
de deputado federal para, a convite da governadora Roseana Sarney, assumir a Secretaria de
Desenvolvimento Social do Estado.
4.2.4 Corrida eleitoral 2010
4.2.4.1 A AD na corrida presidencial
Os principais candidatos à presidência da República para as eleições de 2010
apontam para um cenário político parecido com as eleições de 2002 com, mais uma vez, a
disputa ocorrendo entre PT, PSDB, acompanhados de perto por candidato evangélico, tendo
uma candidata petista, Dilma Roussef, o mesmo candidato tucano, José Serra, e uma
candidata evangélica, Marina Silva, do partido verde, num cenário que, mais uma vez,
aproxima os evangélicos do cerne da disputa eleitoral. Mais uma vez, os candidatos buscam
apoio das igrejas evangélicas, estando presentes nos seus eventos.
104
O cortejo começou com a ex-ministra-chefe da casa civil Dilma Roussef, em outubro
de 2009, por ocasião do aniversário do presidente da Convenção Geral, José Welington
Bezerra da Costa, também presidente da AD Ministério de Belém em São Paulo. A candidata
petista esteve representando o presidente Lula na comemoração de 75 anos do pastor José
Welington. Além desta, compareceu também o candidato a deputado federal pelo Estado do
Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR), entre outros políticos e líderes religiosos de vários
Estados.
Já o presidenciável José Serra, que tem a simpatia de muitos líderes assembleianos e
que contou com o apoio da denominação, no segundo turno das eleições de 2002, esteve na
cidade catarinense de Balneário Comboriú, em primeiro de maio de 2010, participando da
abertura do 28º Encontro Internacional de Missões do Gideões Missionários da Última Hora
(GMUH),59 organizado pela AD.
Por sua vez, Marina Silva entra na disputa eleitoral como a única evangélica entre os
presidenciáveis. Convertida em 1997 à AD, a candidata tem sua identificação com os
evangélicos60 como um dos seus principais trunfos políticos nestas eleições. Apesar de não
dispor de estrutura partidária que possa competir com seus concorrentes e, com pouco a
oferecer às lideranças das igrejas, tem apostado no voto evangélico através do encontro com
vários líderes em sua agenda de campanha. Em consonância com os símbolos e crenças do
segmento, Marina atribui sua ascensão política a “um plano de Deus em sua vida e não apenas
a méritos pessoais, e vê tudo como fruto da graça e misericórdia de Deus” (MEMBRO...,
2003, p. 3). Contudo, Marina Silva procura fazer uma campanha com mais cautela que
Anthony Garotinho, em 2002, pois o fato de ser evangélica pode lhe atribuir vantagens
eleitorais, na medida em que traz à tona temas polêmicos, como: o ensino, nas escolas, da
concepção criacionista, ou seja, a de que o mundo foi criado por deus, a descriminalização do
aborto, a legalização das drogas e os direitos dos homossexuais (LEITÃO; AMARAL, 2009).
59 O evento é um dos mais concorridos do país, reunindo caravanas nacionais e internacionais e personalidades
do mundo evangélico. 60 Filha de retirantes nordestinos pobres vindos do Ceará, Marina Silva nasceu em 1958 no seringal Bagaço,
numa plantação de árvores de borracha no meio da Amazônia, onde morou até sua adolescência. Ex-doméstica, ex-seringueira, semianalfabeta até os 16 anos, construiu sua trajetória política engajada em movimentos sociais. Ao lado de Chico Mendes, ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Acre. No ano seguinte, filiou-se ao PT. Em 1988, foi eleita para a Câmara Municipal, sendo a vereadora mais bem votada do Rio Branco. Com apenas 35 anos de idade, em 1994, elegeu-se senadora pelo PT. Em 2002, foi, mais uma vez, eleita para o Senado Federal e, em 2003, foi nomeada ministra do Meio Ambiente do Governo Lula. Após atritos com a ministra Dilma Rouseff a respeito de licenças ambientais, Marina Silva foi substituída por Carlos Minc (LEITÃO; AMARAL, 2009).
105
Tais temas, além das questões ambientais, fazem parte da agenda política do seu
partido, o PV, tendo como principal defensor o deputado Fernando Gabeira (PV),61 tido como
um dos principais opositores da Frente Parlamentar Evangélica e aliado de Marina Silva, o
que pode causar desconfiança por parte dos evangélicos. Portanto, entre liberais e
conservadores do comportamento, Marina Silva, precisa dar uma resposta satisfatória a ambos
os lados, sob o risco de perda de apoio político.
Enfim, com uma estrutura partidária minúscula, a candidata verde não dispõe de uma
base que possa competir com seus concorrentes, tendo pouco a oferecer às lideranças das
grandes igrejas.
4.2.4.2 Evangélicos na corrida eleitoral 2010 no Maranhão
Para as eleições do corrente ano, a AD maranhense realizou prévias em sua 69ª
AGO, na cidade de Coroatá, de 9 a 13 de dezembro de 2008. Conforme o pastor presidente da
CEADEMA, Pedro Aldi Damasceno, o objetivo da AD é recuperar o espaço perdido,
dobrando a representatividade na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa (LUZZAN,
2009) e conquistar uma vaga no Senado Federal.
Nessas eleições, o apoio da AD segue direcionado aos mesmos candidatos que
concorreram em 2006. Dessa forma, não houve alteração para as vagas às pré-candidaturas
para as eleições de 2010, novamente duas para a Assembleia Legislativa e duas para a Câmara
Federal. A direção da denominação confirmou, mais uma vez, o nome da deputada Eliziane
Gama (PPS) e do pastor Pedro Lindoso (PPS), para a Assembleia Legislativa, e do deputado
Costa Ferreira (PSC) e Telma Pinheiro (PSDB), para a Câmara dos Deputados.
Tanto Costa Ferreira como Telma Pinheiro foram aceitos por aclamação dos
convencionais, já que eram os únicos inscritos para as duas vagas, não havendo votação.62 Já
61 Segundo o jornal da AD, Mensageiro da Paz, o pastor Ronaldo Fonseca, líder do Conselho Político da
Convenção Geral, atribuiu a redução da Bancada da AD a uma jogada política que tem como principal articulador e porta-voz da CPI “dos sanguessugas”, o deputado federal Fernando Gabeira, opositor ferrenho da Frente Parlamentar Evangélica e que teve seus projetos travados na Câmara Federal pela ação conjunta dos parlamentares evangélicos (BANCADA..., 2006).
62 Posteriormente, um grupo de pastores protocolou um abaixo assinado que contestou a escolha por aclamação dos pré-candidatos a deputado federal, ao tempo que pedia para rever a decisão de escolhas dos pré-candidatos através da realização de novas prévias. Tal fato provocou reações por parte dos pré-candidatos que elaboraram requerimento solicitando a manutenção da decisão tomada na AGO da denominação, na cidade de Coroatá, em 2008.
106
os seis inscritos que almejavam concorrer para o parlamento estadual tiveram que ser
submetidos à votação secreta: Samuel Campelo obteve 9 votos; Fernando Veiga, 13 votos;
pastor Sandro Henrique, 69 votos; Eliziane Gama, 228 votos; e pastor Pedro Lindoso, 358
votos (CONVENÇÃO Estadual..., 2008). A deputada Eliziane Gama teve que se submeter às
prévias devido a mudanças internas para a escolha dos pré-candidatos. Anteriormente, as
regras estabeleciam que o detentor de mandato não precisaria se submeter às prévias, pois
tinha a indicação natural, por ser detentor de mandato parlamentar.
Definidos os nomes e confirmadas as candidaturas, os candidatos assembleianos têm
a chancela da AD para transitar entre o público evangélico e pedir seus votos. Para isso, tais
candidatos têm adotado um discurso que faz a mediação entre as crenças religiosas da
denominação e o mundo político, relacionando sua atuação com a causa evangélica, seja na
esfera moral ou social.
A deputada estadual Eliziane Gama, em carta aos pastores da AD, destacou sua
atuação contra a pedofilia como uma missão dada por Deus (GAMA, 2009). A deputada tem
alcançado destaque e visibilidade na política maranhense à frente da Comissão de Defesa da
Infância, Adolescência e Idoso, na Assembleia Legislativa, e tem apostado nessa atuação para
as eleições que se aproximam.
Por sua vez, indo na mesma direção, Costa Ferreira atribui as mudanças do mundo
político à ascensão dos governantes evangélicos convertidos a Cristo, para implementação da
justiça social, prosperidade e honestidade. Em entrevista ao jornal assembleiano Ceadema em
Foco, o candidato aposta no trabalho prestado à igreja e destaca em suas seis legislaturas:
o PL-2479/1989 que instituiu o Dia da Bíblia no segundo domingo de dezembro, o PL-1010/2003, que modifica os artigos 44 e 2.031 do novo Código Civil, restabelecendo as igrejas como pessoa jurídica de direito privado de forma autônoma das associações e o PL-2865/2004, que modifica o Estatuto das Cidades dispensando o aval da comunidade para a construção de templos religiosos (SOUSA, 2009, p. 16).
Em entrevista, o candidato assembleiano destacou como suas metas básicas de
atuação parlamentar
a educação, os direitos sociais coletivos e a família. A família pra nós foi o ponto máximo, o clímax de nosso trabalho, por quê? Por que a família numa sociedade dá os rumos, os parâmetros de vida. Se a família é ajustada, a sociedade vai bem, se a família não é ajustada a sociedade, ela vive numa ebulição. Como o pessoal do PT e outros partidos de esquerda queriam implantar no Brasil várias loucuras como a legalização da maconha [...]. Somos contra, somos contra a união civil de pessoas do
107
mesmo sexo [...] contra também a legalização da prostituição que é outra aberração (informação verbal).63
Embora Costa Ferreira se considere defensor dos princípios que a igreja evangélica
classifica como cristãos, assumindo a posição de seu representante no parlamento, querendo
ampliar seu agregado eleitoral, o candidato também destaca sua atuação em defesa dos
direitos dos trabalhadores e da educação. A intenção do deputado é mostrar que não legisla
somente em prol dos evangélicos, numa tentativa de expandir seu eleitorado, não se
restringindo apenas à comunidade evangélica.
Outros políticos evangélicos, conduzidos por suas igrejas à política partidária
também concorrerão neste pleito eleitoral de 2010. A disputa entre evangélicos promete ser
acirrada, pois, além dos vários “irmãos” e “irmãs” evangélicos que provavelmente aparecerão
nas campanhas, entram na corrida eleitoral, além da AD, a igreja Batista, a IURD e a igreja
Presbiteriana, todas apoiando os seus candidatos. Com estas igrejas na disputa, o número de
aspirantes evangélicos com o endosso denominacional dobra para a Câmara Federal e
Assembleia Legislativa.
Assim, além dos candidatos oficiais assembleianos para a Câmara dos Deputados,
concorrerão, do meio evangélico, a irmã Lúcia (PV), o irmão Samoel (PHS) e o batista e
vereador de São Luís Edvaldo de Holanda Júnior (PTC); para a Assembleia Legislativa, o
também batista Edvaldo de Holanda (PTC), que tenta a reeleição e o iurdiano Santos Roque
(PRB).
63 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com Costa
Ferreira.
108
5 CONCLUSÃO
Este trabalho analisou a participação política dos evangélicos ligados à AD,
enfocando as mudanças institucionais a partir dos anos 80 que estimularam a participação
desse segmento na atividade político-partidária. Tais mudanças criaram um novo contexto
institucional, dentro do qual as religiões entram num processo de competitividade pelos fiéis e
por maior influência político-social. Para tanto, as instituições religiosas atualmente tendem a
criar mecanismos de representação política para defesa de seus interesses institucionais.
Dessa forma, a politização das igrejas evangélicas é uma resultante da multiplicação
dos espaços ocupados por esse segmento na sociedade brasileira, com o intuito de que as
demandas desse setor sejam transformadas em matéria política. Esses novos espaços
compreendem a multiplicação dos interesses patrimoniais, financeiros e burocráticos dos
mesmos.
Tais práticas, buscando espaços para além do âmbito religioso, têm uma relação com
os números do crescimento da população evangélica e da luta para serem reconhecidos como
segmento influente na sociedade brasileira. Com efeito, os velhos e novos membros, através
de suas lideranças eclesiásticas, contribuíram para a crescente presença dos evangélicos na
política, fazendo com que alcançassem mais visibilidade social. Contudo, nem sempre as
bases eleitorais seguem automaticamente a orientação que vem de cima. Embora a AD
obtenha sucesso eleitoral em muitos empreendimentos políticos, isso só acontece depois de
trabalhosos processos de consulta e deliberação, numa tentativa explícita de traduzir capital
religioso em capital político.
Os dados permitem inferir que a participação dos evangélicos na escolha de seus
representantes é reflexo da explosão numérica de conversões, principalmente, dos anos 1980
até o presente, coincidindo com a redemocratização do país e com a inserção dos evangélicos
na política, em especial a AD. Daí o aumento de pretendentes a cargos públicos da
representação política para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Senado
Federal, inclusive para a presidência da República.
Assim, a AD atua como sujeito político calculador, estrategicamente analisando e
109
executando um projeto de transformação de seu crescimento numérico em representação
política, com o intuito de estabelecer interlocuções diretamente com o Estado.
Nos meandros da relação entre religião e política, um dos elementos essenciais no
direcionamento do comportamento dos fiéis é o apelo à identidade religiosa, em detrimento da
identificação com ideologias políticas ou causas estritamente relacionadas à política
partidária. Nunca a pertença religiosa tinha sido tão expressamente usada e reconhecida pelos
candidatos. Por conseguinte, nesse processo de transformação do capital religioso para o
capital político, a AD procura fazer a mediação entre seus fiéis e a política pela absolvição da
lógica partidária no plano interno da denominação. Nesta relação de ambiguidade entre
partido político e AD, a identidade religiosa ganha peso muito maior que a identificação
partidária.
Também foi constatado, entre os candidatos evangélicos, um modo próprio de
discurso que traz, para o campo político, importantes elementos simbólicos do campo
religioso evangélico. Com efeito, os candidatos oficiais evangélicos entram no jogo político
com um discurso recheado de conteúdo religioso, que procura estabelecer uma ponte entre a
política e a linguagem evangélica, valendo-se da cosmovisão protestante. Fatores de cunho
estritamente religioso como o sectarismo evangélico, a coesão comunitária em torno da igreja
e o sentimento de missão estabelecem uma relação com o corporativismo religioso e o
messianismo político.
A participação política dos evangélicos tem relações com o corporativismo religioso,
que se baseia na premissa de “colocar um dos nossos lá” e no “voto irmão”, com vistas a
atender os interesses da comunidade evangélica. Nesse sentido, os candidatos evangélicos
expressaram um tipo de chamamento para a política como uma missão designada por Deus.
Portanto, o apelo ao público evangélico se reveste de características messiânicas para solução
dos problemas sociais, isto é, os candidatos evangélicos se articulam com um discurso
religioso que os legitime como um tipo de “messias político”.
O contato com os candidatos evangélicos permitiu detectar, em momentos de euforia
e entusiasmo, em períodos eleitorais, o transbordamento de suas crenças e valores despertados
pelos discursos afinados com o ideário religioso do segmento. Enfim, o público evangélico é
sensível a esse tipo de apelo político, com ênfase em argumentos bíblicos e nas crenças
compartilhadas na igreja.
No âmbito da política externa à igreja, podemos observar, através das eleições de
1998, 2002 e 2006, que o voto evangélico vem assumindo uma posição estratégica no âmbito
110
da competição eleitoral maranhense. Tal fato tem acontecido devido à forma como a AD,
entre outras igrejas evangélicas, vem se inserindo no contexto da política partidária do Estado.
De fato, assim como no cenário político nacional, o eleitorado evangélico não pode ser
ignorado para aqueles que almejem sucesso político, sendo alvo da competição entre os
principais grupos políticos do Estado.
Neste cenário, a AD assume a dianteira do segmento evangélico como principal
igreja do Estado, principalmente devido ao seu potencial numérico e pela forma como tem se
organizado para competir na política eleitoral. Tal organização política segue a lógica
partidária adotada pela AD para eleger seus candidatos oficiais. Assim, considerando a
votação de três eleições eleitorais (1998, 2002, 2006), pode-se encontrar certa regularidade na
forma como a AD se comportou no cenário político, nos limites do distrito eleitoral
maranhense, e como seus votos podem ser contabilizados para se transformarem em mandato
parlamentar.
Com efeito, podemos observar que a AD adotou a lógica partidária em seu projeto
político, de conformidade com os benefícios que o sistema eleitoral pode proporcionar.
Embora não seja um partido do ponto de vista jurídico, a AD tem assumido características de
um partido em sua organização interna, com a criação de Conselhos Políticos, prévias,
lançamento de candidatos oficiais, acompanhamento de mandatos, assistência a seus
parlamentes etc. Assim, a AD tem assumido estrategicamente características de um pequeno
partido político e, como tal, tem se comportado atualmente.
Ciente do seu eleitorado, a AD não passou da concorrência política, no âmbito das
eleições proporcionais para as duas casas legislativas, fazendo desta via o seu campo de
atuação política, pois este sistema possibilita a representação política de pequenos grupos e
segmentos sociais como as igrejas evangélicas no legislativo estadual e federal. Por
conseguinte, presumindo um aumento de seu eleitorado, a AD tentou lançar um candidato
para o Senado Federal, com o objetivo de ampliar sua influência política. No entanto, as
pretensões políticas da AD foram barradas pelas alianças partidárias encabeçadas pelos
políticos tradicionais do Estado. Diante de tal frustração, a AD se direciona para criar ou fazer
de um partido seu braço político na competição eleitoral. Tal fato indica que, com a ampliação
das pretensões políticas da AD para o sistema majoritário, surgem novas necessidades
políticas, que levam a igreja a organizar-se estrategicamente criando meios que possibilitem
sua participação efetiva no cenário eleitoral.
Para tornar a candidatura de seus candidatos oficiais mais eficiente e regulamentar a
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competição interna, a AD estabeleceu prévias entre os aspirantes a mandato parlamentar.
Depois de escolhidos os nomes, a igreja investe em suas candidaturas por meio de sua
estrutura eclesiástica. Esta lógica leva em conta a soma dos votos do partido e coligação para
conquista de cadeiras parlamentares, pois as cadeiras conquistadas pela coligação numa
eleição não são distribuídas proporcionalmente à contribuição que cada partido deu à votação
final, mas à quantidade de votos adquirida pelos candidatos divididos nos vários partidos da
coligação, ou somente no partido, caso não esteja coligado. Portanto, para conseguir
representação, basta apenas que a AD garanta que seu candidato adquira votos suficientes
para posicionar-se entre os primeiros candidatos da lista.
Inseridos neste universo partidário e de coligações, os candidatos que concentrarem
mais votos entre seus pares de coligação ficarão com as vagas conquistadas pela soma
conjunta de todos os votos, independentemente de qual partido pertença. Por isso, em todas as
eleições, a AD apresentou um número reduzido de candidatos, não passando de um ou dois, a
fim de que a concentração de votos nesses nomes obtenha eficiência eleitoral por meio de
uma votação expressivamente suficiente para conquistar cadeiras nos parlamentos estadual e
federal. Em suma, o voto personalizado do sistema de lista aberta64 e não estritamente o
partidário permite que a AD organize sua participação eleitoral pautada nesta lógica política e,
na maioria das vezes, obtenha sucesso político-eleitoral no âmbito do sistema proporcional.
64 A Bancada evangélica mereceu destaque como principal obstáculo ao avanço da reforma partidária que
pretendia ampliar o prazo de fidelidade partidária de um para dois anos. Também pretendia estabelecer o sistema de lista fechada. Nesse sistema, os partidos políticos tem a primazia sobre o voto nominal, isto é, os partidos decidem, antes da eleição, a ordem dos nomes da lista partidária sem que o eleitor possa expressar sua preferência por um dos candidatos da lista. Dessa forma, os primeiros nomes da lista serão aqueles que ocuparão as cadeiras no parlamento (LIMA, 2003).
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