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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986 TERESINA-PI 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA

JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR

A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986

TERESINA-PI 2010

0

JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR

A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Acadêmico em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciência Política, na área de Estado, movimentos sociais, cidadania e comportamento político. Orientação: Profa. Dra. Guiomar Oliveira

Passos.

TERESINA-PI 2010

1

FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí

Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico

B732p Borges Junior, Jerônimo Rodrigues

A participação política da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Estado do Maranhão pós-1986 / Jerônimo Rodrigues Borges Junior. – 2010.

118 f.:il.

Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Universidade Federal do Piauí, 2010.

Orientação: Profª. Dra. Guiomar Oliveira Passos 1. Política - Religião. 2. Assembleia de Deus - Política.

3. Política Eleitoral - Maranhão. I. Título. CDD: 322.1

2

JERÔNIMO RODRIGUES BORGES JUNIOR

A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS NO ESTADO DO MARANHÃO PÓS-1986

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Acadêmico em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciência Política.

Aprovada em 27 de setembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Profa. Dra. Guiomar Oliveira Passos (Orientadora) Programa de Mestrado em Ciência Política - UFPI

_________________________________________________ Prof. Dr. Cleber de Deus Pereira da Silva

Programa de Mestrado em Ciência Política - UFPI

_________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Oliveira Barros Junior

Programa de Mestrado em Políticas Públicas - UFPI

3

À minha esposa, Elizangela (Mariza), ao meu filho David Levy e à minha filha Davinny Samily.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço, antes de tudo e de todos, a Deus. Sem a sua permissão e ajuda, este

trabalho não seria realizado. Nele, sempre encontrei refúgio nos momentos de adversidades;

À Professora Doutora Guiomar Oliveira Passos, orientadora desta dissertação, as

críticas e sábios conselhos, sem os quais jamais teria conseguido concluir este trabalho;

À Professora Doutora Diana Nogueira de Oliveira Lima (IUPERJ), as orientações e

questionamentos, que são as bases de sustentação desta dissertação;

Ao meu Pastor Euvaldo Pereira de Sá, presidente da Assembleia de Deus em Timon

(MA), e sua família, o apoio no início, durante e no final da pesquisa. Agradeço-lhes a palavra

de incentivo e motivação que revigoraram minhas forças no momento mais difícil deste

trabalho e, sobretudo, pela amizade;

Ao Pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da Convenção Estadual das

Assembleias de Deus no Estado do Maranhão (CEADEMA), que foi imprescindível no

processo de coleta de informação e desenvolvimento da pesquisa, além do apoio e confiança;

Ao Professor Doutor Cléber de Deus Pereira da Silva, o apoio, amizade e as

cobranças para cumprimento dos prazos estabelecidos;

Ao Professor Doutor Raimundo Batista dos Santos Junior, solícito nas horas de

dificuldades, que sempre nos transmitiu segurança e confiança diante dos desafios a serem

superados, às vezes desempenhando o papel de um pai;

Ao Professor Doutor Francisco Oliveira Barros Junior, compor a banca examinadora

desta dissertação e ter me ajudado em minhas dificuldades desde a graduação, inclusive no

nascimento desse trabalho de pesquisa;

Aos Professores que contribuíram com incentivos, indicações, sugestões e críticas:

Professora Doutora Ana Beatriz Saraine, Professor Doutor Ricardo Alaggio, Professor Doutor

Valeriano Costa (UNICAMP);

À Professora Mestra Maria Ilza da Silva Cardoso, o apoio logístico;

5

À minha querida e amada esposa Elizangela Guimarães Nunes Borges, fonte de

alegria e vigor; ao meu filho David Levy Nunes Borges e à minha filha Davinny Samily

Nunes Borges. Seus sorrisos e afetos me disseram que devia continuar;

Aos meus pais, Jerônimo Borges da Silva e Liozete Rodrigues Borges, exemplos de

vida desde minha tenra idade;

À Joice e à Dejane, a colaboração na correção ortográfica dos textos;

À Capes, o apoio financeiro.

6

RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo analisar a organização política da Assembleia de Deus no Estado do Maranhão pós-1986, no âmbito da competição político-eleitoral. Para esta pesquisa, analisou-se a relação entre religião e política no Brasil, com ênfase na expansão evangélica, em especial da Assembleia de Deus, que resultou na multiplicação de espaços sociais ocupados por esta igreja na sociedade brasileira. Com base em sua membresia, a Assembleia de Deus procura atualmente transformar suas demandas em matéria política fazendo internamente a mediação entre os fiéis e a política através das vias de identificação religiosa, tendo por base a rede de sociabilidade que estabelece. Com o objetivo de obter maior eficácia na política eleitoral, também assimilou internamente a lógica partidária com o lançamento de candidatos oficiais, formação de Conselhos Políticos, realização de prévias, acompanhamento de mandatos e assistência a seus parlamentares. No plano externo à igreja, a pesquisa constatou que, na competição político-eleitoral, a Assembleia de Deus apresentou certa regularidade no comportamento eleitoral, isto é, reduzido número de candidatos (no máximo dois para cada cargo) em todas as eleições que concorreu. O objetivo era favorecer a concentração de votos em seus candidatos e, desse modo, ter votação suficiente para conquistar cadeiras nos parlamentos estadual e federal. Enfim, constatou-se que, nos meandros da relação entre religião e política, a Assembleia de Deus tem se comportado como agente calculador, estrategicamente analisando e executando seu projeto de participação política ao assumir a lógica partidária no contexto da competição político-eleitoral.

Palavras-chave: Organização política. Assembleia de Deus. Partidos políticos. Identificação religiosa. Política eleitoral.

7

ABSTRACT

This dissertation aims at analyzing the political organization of Assembly of God in the state of Maranhão post 1986 under the political and electoral competition. For this research it was analyzed the relationship between religion and politics in Brazil with emphasis on evangelical expansion in particular of Assembly of God, which resulted in the multiplication of social spaces occupied by this church in Brazilian society. Based on its membership, Assembly of God currently seeks to transform their demands in political theme doing internally the mediation between the faithful and politics through the process of religious identification based on the sociability network that provides. With the aim of achieving greater efficiency in electoral politics, also assimilated internally the party logic with the release of official candidates, training of Political Councils, achievement of previous, monitoring of mandates and assistance to their parliamentary. Externally the church, the research found that in political and electoral competition, Assembly of God showed certain regularity in electoral behavior, that is, low number of candidates (at most two for each office) every election that it applied for. The aim was to foment the concentration of votes for their candidates and, thereby, to have enough votes to win seats in state or federal parliaments. Finally, it was found that in the meanders of the relationship between religion and politics Assembly of God has behaved as a calculator agent, strategically analyzing and executing its project of political participation when it takes on the party logical in the context of political and electoral competition.

Keywords: Political organization. Assembly of God. Political party. Religious identification. Electoral politics.

8

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evangélicos no Brasil, de 1980 a 2010....................................................... 30

Gráfico 2 - As maiores denominações evangélicas do Brasil....................................... 39

Gráfico 3 - As maiores denominações evangélicas do Maranhão................................ 78

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Maiores denominações evangélicas, por região.................................................. 40

Figura 2- Percentuais da Assembleia de Deus entre os evangélicos, por região brasileira 41

Figura 3- Modelo de organização das Assembleias de Deus: igrejas-mãe e filiadas......... 65

Figura 4- Votos válidos de Anthony Garotinho na eleição presidencial de 2002.............. 91

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Denominações evangélicas, segundo ano de fundação no Brasil,

classificação doutrinária e local de origem.................................................. 27

Quadro 2- Convenções e Ministérios assembleianos afiliados à Convenção

Geral das Assembleias de Deus no Brasil................................................... 61

Quadro 3- Deputados Federais da Assembleia de Deus eleitos para a Assembleia

Nacional Constituinte em 1986.................................................................... 67

Quadro 4- Modelo político adotado pelas principais religiões brasileiras.................. 73

Quadro 5- Deputados Federais eleitos em 1998 no Maranhão..................................... 85

Quadro 6- Deputados Estaduais eleitos em 1998 no Maranhão................................... 86

Quadro 7- Deputados Federais eleitos em 2002 no Maranhão..................................... 93

Quadro 8- Deputados Estaduais eleitos em 2002 no Maranhão................................... 94

Quadro 9- Deputados Federais eleitos em 2006 no Maranhão..................................... 99

Quadro 10- Deputados estaduais eleitos em 2006 no Maranhão ................................. 101

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Percentual da população católica em relação à população total do Brasil,

de 1940 a 2007............................................................................................... 25

Tabela 2- Percentual da população evangélica em relação à população total do

Brasil, de 1890 a 2010.................................................................................... 29

Tabela 3- Distribuição do número de deputados evangélicos na Câmara dos

Deputados, de 1983 a 2011............................................................................ 48

Tabela 4- Atitude das principais religiões brasileiras em relação aos partidos

políticos, em percentuais................................................................................. 51

Tabela 5- Percentual das principais religiões no Estado do Maranhão, entre 1991

e 2000 ........................................................................................................... 77

Tabela 6- Percentual das principais denominações evangélicas em relação à

população do Maranhão, em 2000................................................................ 78

Tabela 7- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a

Câmara Federal em 1998................................................................................. 84

Tabela 8- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a

Assembleia Legislativa em 1998..................................................................... 86

Tabela 9- Desempenho eleitoral dos primeiros quatro presidenciáveis, no primeiro

turno das eleições de 2002.............................................................................. 89

Tabela 10- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a

Câmara Federal em 2002............................................................................... 92

Tabela 11- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a

Assembleia Legislativa em 2002................................................................... 94

Tabela 12- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para

a Câmara Federal em 2006........................................................................... 99

Tabela 13- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a

Assembleia Legislativa em 2006.................................................................. 100

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LISTA DE SIGLAS

AD - Assembleia de Deus

ANC - Assembleia Nacional Constituinte

ARENA - Aliança Renovadora Nacional

CADEESO - Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo e Outros

CADESGO - Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Goiás

CBB - Convenção Batista Brasileira

CBN - Convenção Batista Nacional

CCHN - Comitê Cristão de Homens de Negócio

CEADAM – Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas

CEADEB - Convenção Estadual das Assembleias de Deus na Bahia

CEADEMA - Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado do Maranhão

CEADEP - Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do Piauí

CEADERJ - Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Brasil no Estado do Rio de

Janeiro

CEADER - Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro

CEADDIF - Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Distrito Federal

CEDADER - Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Roraima

CEIMADAC - Convenção Estadual de Igrejas e Ministros das assembléias de Deus no Acre

CEMADERON - Convenção Estadual dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de

Rondônia

CEMADERN - Convenção das Assembleias de Deus no Rio Grande do Norte

CEMADES - Convenção Evangélica dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do

Espírito Santo

CEMEADAP - Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de

Deus no Estado do Amapá

CGADB - Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil

13

CIADESCP - Convenção da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Santa Catarina e

Sudoeste do Paraná

CIADSETA-PA/MT - Convenção Interestadual dos Ministros das Igrejas Assembleias de

Deus do SETA nos Estados do Pará e Mato Grosso

CIADSETA-TO - Convenção Interestadual das Assembleias de Deus do SETA no Estado do

Tocantins e Igrejas Filiadas

CIEADEP - Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado do Paraná

CIEADESPEL - Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado de São

Paulo e Estados Limítrofes

CIEPADERGS - Convenção dos Pastores das Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus

no Estado do Rio Grande do Sul

CIMADEC-CE - Convenção de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus Ministério no

Estado do Ceará

COMADAL - Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Alagoas

COMADALPE - Convenção Estadual de Ministros da Assembleia de Deus com sede em

Abreu e Lima - Pernambuco

COMADEBG - Convenção dos Ministros das assembléias de Deus de Brasília e Goiás

COMADEMAT - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Mato

Grosso

COMADEMG - Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de

Deus no Brasil

COMADEP - Convenção de Ministros das Assembleias de Deus no Estado da Paraíba

COMADEPLAN - Convenção dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus do

Planalto Central

COMADERJ - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Rio de

Janeiro

COMADESMA - Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do

SETA no Sul do Maranhão

COMADESP - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do São Paulo

COMADETRIM - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Triângulo Mineiro

COMADVARDO - Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Vale do Rio Doce

COMEAD-CGPB - Convenção de Ministros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em

Campina Grande e no Estado da Paraíba

14

COMEADEC - Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de

Deus no Ceará

COMIEADEPA - Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no

Estado do Pará

COMOESPO - Convenção dos Ministros Ortodoxos das Assembleias de Deus do Estado de

São Paulo

CONADEP - Convenção da Assembleia de Deus de Pernambuco

CONAMAD - Convenção Nacional das Assembleias de Deus

CONEADESE - Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Sergipe

CONFRADECE - Convenção Fraternal de Ministros das Assembleias de Deus do Estado do

Ceará

CONFRADERJ - Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro

CONFRADESP - Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus no

Ministério do Belém - SP

CONFRATERES - Convenção Fraternal dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado

do Espírito Santo

ELAD - Encontro de Líderes da Assembleia de Deus

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil

IPB - Igreja Presbiteriana do Brasil

IURD - Igreja Universal do Reino de Deus

ITEJ - Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus

PAN - Partido dos Aposentados da Nação

PC do B - Partido Comunista do Brasil

PDT - Partido Democrático Trabalhista

PFL/DEM - Partido da Frente Liberal/ Democratas

PDS/PPB/PP - Partido Democrático Social/ Partido Progressista Brasileiro/ Partido

Progressista

PHS - Partido Humanista da Solidariedade

PL/PR - Partido Liberal/ Partido da República

PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro

15

PMN - Partido da Mobilização Nacional

PMR/PRB - Partido Municipalista Renovador/ Partido Republicano Brasileiro

PPS - Partido Popular Socialista

PRB - Partido Republicano Brasileiro

PRN - Partido Republicano Nacional

PRP - Partido da Representação Nacional

PRTB - Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

PSB - Partido Socialista Brasileiro

PSC - Partido Social Cristão

PSD - Partido Social Democrático

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileiro

PSDC - Partido Social Democrata Cristão

PSL - Partido Social Liberal

PST - Partido Social Trabalhista

PT - Partido dos Trabalhadores

PT do B - Partido Trabalhista do Brasil

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

PTN - Partido Trabalhista Nacional

PTR - Partido Trabalhista Renovador

PV - Partido Verde

TSE - Tribunal Superior Eleitoral

UIECB - União das Igrejas Evangélicas Congregacionais no Brasil

16

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 18

2 RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL: EXPANSÃO EVANGÉLICA E

SEU REFLEXO NA POLÍTICA ................................................................................ 21

2.1 PREDOMÍNIO POLÍTICO E SOCIAL DO CATOLICISMO ................................... 22

2.2 A CHEGADA E O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO NO

BRASIL ....................................................................................................................... 26

2.3 O PENTECOSTALISMO ............................................................................................ 31

2.3.1 Fase genética – características institucionais da AD ............................................ 33

2.3.1.1 A influência nórdica ............................................................................................... 34

2.3.1.2 A influência nordestina ........................................................................................... 36

2.3.2 As dimensões da AD no Brasil ................................................................................ 38

2.3.3 A expansão social e política da AD.......................................................................... 42

3 DENOMINAÇÃO E PARTIDO: A LÓGICA DA IGREJA NO CONTEXTO

PARTIDÁRIO E A LÓGICA PARTIDÁRIA NO CONTEXTO DA IGREJA ...... 46

3.1 OS EVANGÉLICOS NO CONTEXTO DA POLÍTICA MULTIPARTIDÁRIA ....... 47

3.1.1 A presença dos evangélicos na Câmara dos Deputados ....................................... 47

3.1.2 Partido e denominação: identificação religiosa no contexto político partidário. 49

3.1.3 Os evangélicos no contexto do sistema eleitoral .................................................... 55

3.2 A LÓGICA PARTIDÁRIA NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

ECLESIÁSTICA DA AD ............................................................................................. 60

3.2.1 A Convenção Geral – CGADB ................................................................................ 60

3.2.2 A CEADEMA ........................................................................................................... 64

3.3 NOVA POSTURA DA AD ANTE A POLÍTICA ....................................................... 65

3.3.1 Projeto cidadania AD Brasil ................................................................................... 68

3.3.1.1 Conselho Político Nacional ..................................................................................... 69

3.3.2 Revés na escalada política ....................................................................................... 70

3.3.3 Conselho Político Estadual ...................................................................................... 71

17

4 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD NO ESTADO DO

MARANHÃO ............................................................................................................... 75

4.1 A AD, EM NÚMEROS, NO ESTADO DO MARANHÃO ...................................... 76

4.2 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD MARANHENSE ............... 79

4.2.1 Eleições 1998 ............................................................................................................ 82

4.2.2 Eleições 2002 ............................................................................................................ 88

4.2.2.1 O Maranhão nas eleições para presidente da República ........................................ 88

4.2.2.2 Eleições proporcionais ........................................................................................... 92

4.2.3 Eleições 2006 ............................................................................................................ 96

4.2.4 Corrida eleitoral 2010 ............................................................................................. 103

4.2.4.1 A AD na corrida presidencial ................................................................................ 103

4.2.4.2 Evangélicos na corrida eleitoral 2010 no Maranhão .............................................. 105

5 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 108

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 112

18

1 INTRODUÇÃO

A segunda metade da década de 1980 é marcada pelo ascenso dos evangélicos na

política partidária no Brasil. A Ciência Política vem, desde essa época, estudando as razões

que têm levado esses atores coletivos a participarem ativamente do processo eleitoral

nacional, analisando estruturas, processos e mecanismos de persuasão político-eleitoral dos

mesmos. Entre as correntes teóricas que analisam tal fenômeno, pode-se destacar o novo

institucionalismo sociológico (HALL; TAYLOR, 2003), segundo o qual as instituições são

essenciais na formação de práticas políticas e no posicionamento de atores.

Nessa perspectiva, o processo de decisão do eleitor é compreendido como reflexo da

estrutura social, estando relacionado diretamente a decisões de caráter coletivo, mais do que a

processos de escolhas individuais. Seria essa a razão pela qual os grupos sociais, com

diferentes interesses, tendem a se fazer representar por candidato ou partido que melhor

represente o desejo coletivo.

O processo de abertura política ocorrido no Brasil a partir de 1979, principalmente

com a Constituição de 1988, ampliou a entrada de diferentes atores e organizações na

competição eleitoral, inclusive religiosos. Os evangélicos que, segundo Freston (1994, p.

117), iniciaram sua participação na política, em 1962, com a Igreja Pentecostal O Brasil para

Cristo, elegendo dois deputados federais, voltaram a participar lançando e elegendo

parlamentares nas eleições de 1986. A Assembleia de Deus (AD), sozinha, elegeu 14

deputados (PIERUCCI, 1989), inclusive a AD do Maranhão, que elegeu o seu primeiro

deputado (federal).

O que se investiga nesta pesquisa é essa participação política da AD, analisando sua

atividade política no contexto partidário. Questiona-se: o que levou uma instituição que esteve

exclusivamente voltada para as atividades religiosas durante 75 anos a incluir a política em

suas ações ou, dito de outro modo, a incluir assuntos mundanos nos extramundanos?

As igrejas evangélicas, principalmente as pentecostais Igreja Universal do Reino de

Deus (IURD) e a AD, têm se sobressaído neste novo “mister.” A primeira, além de sua

expressão numérica, sobressai-se através de estratégias inovadoras (utilização da mídia e de

19

programas assistencialistas) adotadas tanto no campo religioso como no político, tornando-se

uma das principais representantes do neopentecostalismo.1 A segunda, além das estratégias

(que, em muitos casos, imitam as da IURD), destaca-se pelo expressivo número de fiéis em

todo o território nacional e se apresenta como uma representante do pentecostalismo clássico.

A temática religiosa no campo do comportamento eleitoral tem sido objeto de análise

de vários estudiosos como Freston (1993) e Pierucci (1989), que abordam a relação entre

religião e política, especificamente as experiências de denominações como o de Oro (2003),

sobre a IURD, e o de Silva (2009), sobre a atuação da AD em Feira de Santana, na Bahia. Este

estudo procura compreender a participação política da AD no Estado do Maranhão.

A AD maranhense é ligada à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil

(CGADB)2; é a principal denominação3 do protestantismo no Estado, atuando há 24 anos, na

política, de forma organizada, com participação nas alianças políticas e presente na Câmara

dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Estado. A partir do exposto, fazem-se os

seguintes questionamentos: que estratégias a AD tem adotado no contexto partidário? A

participação da AD na competição político-eleitoral faz com que a mesma assuma, no plano

interno da denominação, características de um partido político e, no plano externo, adota a

lógica dos pequenos partidos do sistema partidário brasileiro? Seu papel na política eleitoral é

fazer a mediação entre eleitores e eleitos? Em síntese, procura-se saber como a AD

maranhense se organiza para participar da política eleitoral.

A esse propósito, analisou-se a estratégia da AD no contexto partidário e sua

estrutura eclesiástica e, depois, seu desempenho eleitoral nas eleições proporcionais de 1998,

2002 e 2006, identificando a lógica de sua participação política eleitoral.

A investigação se valeu de fontes bibliográficas, documentais e informantes. As

bibliografias enfocam o fenômeno religioso, de forma geral e, em particular, a análise da

religião majoritária do Brasil, a Igreja Católica. As fontes documentais foram do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da AD.

Na pesquisa com informantes, utilizaram-se entrevistas, visando a analisar como a AD se

1 Movimento religioso formado por várias denominações evangélicas que incorporam a lógica de “mercado

religioso” e uma racionalidade pragmática, de tipo empresarial. Prega a valorização da felicidade “aqui e agora”, a partir da prosperidade financeira, da boa saúde e do sucesso profissional (CONRADO, 2006, p. 31).

2 A CGADB é o órgão encarregado de tratar dos assuntos próprios da igreja e está organizada nos níveis local, estadual e nacional.

3 Neste trabalho, não se utilizou a tipologia clássica de Max Weber (2005, 1982), igreja/seita, para classificar as organizações religiosas evangélicas, por se acreditar que estas organizações apresentam um quadro de maior complexidade, variando entre uma igreja em sua organização, burocracia e tamanho e uma seita, por apresentar característica de protesto e concentração, na comunidade de fiéis. Nesse sentido, os termos denominação ou igreja são utilizados neste trabalho para classificar as organizações evangélicas.

20

organiza internamente para o processo eleitoral.

Os documentos do IBGE informaram sobre a expansão geográfica e demográfica da

AD no Brasil, em particular no Estado do Maranhão. Os dados do TSE foram relativos às

eleições de 1998, 2002 e 2006, no Maranhão. Dos produzidos pela própria AD, destaca-se o

seu principal periódico, o jornal Mensageiro da Paz, que trouxe dados sobre orientações e

ações dessa igreja voltadas para estratégias eleitorais. Também foram analisados os materiais

de campanha dos candidatos assembleianos que forneceram dados sobre o discurso religioso,

no âmbito da política.

A pesquisa com informantes ocorreu com entrevistas estruturadas. Essas entrevistas

foram realizadas com quatro candidatos da igreja e o pastor presidente da Convenção Estadual

das Assembleias de Deus no Estado do Maranhão (CEADEMA).

O resultado é expresso, neste texto, em cinco capítulos. Após o capítulo introdutório,

o segundo capítulo, intitulado Religião e política no Brasil: a expansão evangélica e seu

reflexo na política, expõe o avanço demográfico e geográfico dos evangélicos e suas

consequências para a política.

O terceiro capítulo, Denominação e partido: a lógica da igreja no contexto

partidário e a lógica partidária no contexto da igreja, analisa a relação entre denominação

evangélica e o sistema partidário proporcional e majoritário, com destaque para a

identificação religiosa. Também enfoca a organização política interna com bases em sua

estrutura eclesiástica.

O desempenho político-eleitoral da AD no Estado do Maranhão, quarto capítulo,

trata especificamente da atuação político-eleitoral efetiva da AD no Estado do Maranhão.

Primeiramente, será examinado o contingente efetivo de fiéis da AD e sua relevância para o

crescimento evangélico no Estado. Num segundo momento, trata-se da análise pormenorizada

do desempenho eleitoral dos candidatos assembleianos no contexto da competição político

partidária nas eleições de 1998, 2002 e 2006.

Finalmente, serão abordadas considerações sobre o apelo dos candidatos evangélicos

com base no discurso estritamente religioso e a lógica adotada pela AD no cenário da política

eleitoral. Em seguida, analisa-se como se caracteriza esta participação política, destacando as

estratégias de que se aproveita a AD para eleger seus candidatos. Longe de esgotar a questão

em discussão, espera-se contribuir para melhorar a compreensão das fronteiras entre religião e

política no Estado do Maranhão.

21

2 RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL: EXPANSÃO EVANGÉLICA E SEU

REFLEXO NA POLÍTICA

Os evangélicos se estabeleceram no Brasil a partir do século XIX, após inúmeras

tentativas fracassadas. Isso não se deu sem restrições e nem tampouco de forma definitiva. As

restrições legais foram aos poucos sendo superadas, possibilitando a concorrência em âmbito

religioso. Nesse contexto, os evangélicos foram chegando, paulatinamente, com a vinda de

denominações provenientes da Europa e Estados Unidos e, depois, já no século XX, a vertente

pentecostal.

Dentre as denominações pentecostais, para efeito deste estudo, destacou-se a AD,

com suas características institucionais e sua expansão, que tem repercutido no campo

religioso.4 Essa expansão permitiu que a AD se inserisse no campo religioso brasileiro, a

partir do suporte numérico que deu bases para a ampliação de sua participação social. Sua

expansão numérica e demográfica aproximou a denominação de uma postura mais

participativa ante os problemas de natureza social, inclusive aqueles relacionados à política.

Os efeitos dessa aproximação podem ser percebidos na diferença entre os antigos

modelos comportamentais e as novas atitudes frente à política. Assim, torna-se importante o

entendimento da formação do ethos assembleiano para a análise de sua postura frente à

política partidária, nos últimos anos. Embora a AD tenha uma grande membresia, só

recentemente essa denominação se lançou para influir mais diretamente nos assuntos de

interesse político. Para entender o longo período da história assembleiana que a caracterizou

4 Toma-se como exemplo a concepção de campo religioso de Pierre Bourdieu (1992, p. XXV). Segundo esta

metáfora, o campo religioso no mundo moderno se traduz em termos de um campo de forças onde se enfrentam o corpo de agentes altamente especializados (os sacerdotes), os leigos (os grupos sociais cujas demandas por bens de salvação os agentes religiosos procuram atender) e o “profeta”, enquanto encarnação típica do agente inovador e revolucionário que expressa, mediante um novo discurso e por uma nova prática, os interesses e reivindicações de determinados grupos sociais. As posições que esses grupos ocupam configuram um campo de batalha ideológica, expressão da luta de classes e do processo prevalecente de dominação. O alvo explicativo consiste em abranger as configurações particulares que o campo religioso assume em diversas formações sociais, tendo sempre como quadro de referência o campo de forças propriamente religiosas no interior do qual se defrontam os representantes religiosos dos grupos dominantes e dominados, e cuja dinâmica depende das transformações por que passa a estrutura social, seja pelo surgimento de novos grupos com interesses determinados, seja pela ruptura ou crise do sistema de dominação, seja pelas novas alianças entre grupos e/ou frações que detêm o papel hegemônico.

22

como instituição antipolítica, será importante resgatar alguns pontos importantes de sua

história.

Por fim, a inserção das igrejas evangélicas no campo religioso também repercutiu no

campo da política partidária. Esse avanço ocorre num contexto de transformação que permitiu

às igrejas evangélicas concorrerem, com mais facilidade, com as demais confissões religiosas,

tirando proveito das mudanças religiosas e políticas.

2.1 PREDOMÍNIO POLÍTICO E SOCIAL DO CATOLICISMO

A relação entre Igreja Católica e Coroa portuguesa foi essencial para a

construção do tipo de sociedade que aqui se estabeleceu. O entrelaçamento entre

ação política do Estado e atuação religiosa da Igreja Católica estava regulado pelo

Padroado Régio, uma gama de privilégios concedidos pelos papas aos reis

portugueses. Em troca, a Igreja seria a religião oficial do Estado, exercendo o

monopólio religioso com a exclusão de qualquer outra fé religiosa, estendendo,

assim, seu manto salvacionista a todos os domínios da Coroa portuguesa.

A colonização das terras brasileiras coincidiu com as querelas políticas e

religiosas que tiveram lugar na Europa no século XVI, o que deu impulso ao

avivamento missionário encabeçado pela Contra-Reforma e fez com que a união

entre Estado e Igreja tivesse a tarefa de construção da consciência nacional. Na

execução desse papel, por muitas vezes, fez com que os brasileiros superassem suas

diferenças em favor da unidade religiosa, que se confundia com a unidade nacional.

Daí, é necessário observar que a cultura brasileira e a própria identidade nacional,

desde o início de sua gestação, estiveram resguardadas pelo manto de um

“catolicismo afetivo”5, que não admitiria expressões do protestantismo em terras

portuguesas.

5 O termo catolicismo afetivo designa as relações afetivas que caracterizaram um tipo de catolicismo doce,

doméstico, de relações quase de família entre os santos e os homens, ou seja, predominaram, com relação aos santos, as relações afetivas, a busca de aproximações e maior familiaridade. Conforme Gilberto Freyre (2006, p. 438) foi este tipo de religião que presidiu o desenvolvimento social brasileiro, o que dificilmente teria ocorrido se outro tipo de cristianismo aqui tivesse predominado. Da mesma forma, Sérgio Buarque de Holanda (2005, p. 61) concorda com Gilberto Freyre quando afirma que o peculiar da vida brasileira parece ter sido uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional [...] Uma suavidade dengosa e açucarada invade, desde cedo, todas as esferas da vida colonial.

23

Assim, conforme Gilberto Freyre (2006, p. 92), não foi a diferença de raças o

elemento distintivo trazido pelos portugueses, como ocorreu com outros povos, mas o

diferencial religioso, pois,

[...] temia-se no adventício acatólico o inimigo político capaz de quebrar ou de enfraquecer aquela solidariedade que em Portugal se desenvolvera junto com a religião católica. Essa solidariedade manteve-se entre nós esplendidamente através de toda a nossa formação colonial, reunindo-nos contra os calvinistas franceses, contra os reformados holandeses, contra os protestantes ingleses. Daí ser tão difícil, na verdade, separar o brasileiro do católico: o catolicismo foi realmente o cimento de nossa unidade.

Somente a partir do século XIX, o protestantismo marcou presença sistemática e

continuada no Brasil. Contudo, neste século, o protestantismo não chegaria a representar um

segmento religioso significativo, comparado à religião dominante. Mas, com a chegada das

denominações protestantes vindas da Europa e Estados Unidos, junto à modernização do

Estado brasileiro, tem início o processo de estabelecimento, crescimento e consolidação das

igrejas cristãs reformadas.

A presença protestante se consolidou efetivamente a partir da abertura paulatina de

espaços sociais, iniciada no Império, quando a Constituição de 1824, embora tenha mantido o

Padroado Régio, declarando a religião Católica como oficial, deu permissão para que as

demais religiões, inclusive as protestantes, fossem professadas no espaço doméstico, no

entanto, vedando o direito de suas casas possuírem a forma ou aparência de templo.

De todo modo, o pertencimento a outra profissão religiosa não seria mais empecilho

para a aquisição da cidadania brasileira, contudo, limitava em muito os direitos políticos,

como participar dos comícios, mas não de votar, pois “os ocupantes de cargos políticos

deviam fazer o juramento sobre o mantimento da Igreja Católica” (SILVA, 2006, p. 102). As

dificuldades políticas eram apenas um dos obstáculos enfrentados pelos não católicos, pois,

além das listas paroquiais, no momento do voto, dos batismos, dos casamentos e dos óbitos,

havia o problema dos cemitérios eclesiásticos, que permitiam o enterro somente de católicos.

Por isso, os evangélicos construíram seus próprios cemitérios. De outra forma, eram

enterrados em qualquer lugar.

A laicização, a partir daí, passou a caminhar a passos largos. Segundo Beozzo (2006,

p.40),

após 1870 as elites dirigentes brasileiras foram se laicizando rapidamente. Não tardou a estalar o conflito entre a Igreja e o Estado a propósito da eleição de membros franco-maçons para a direção das irmandades religiosas, que gozavam de

24

estatuto civil e religioso. Eclesiasticamente, os maçons eleitos não foram aceitos pelo jovem bispo de Pernambuco, o capuchinho frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844-1878) e pelo bispo do Pará, Dom Antônio Macedo Costa (1830-1891), mas civilmente ganharam nos tribunais, por ter sido regular a sua eleição.

Em 1888, protestantes já lutavam por espaços sociais e religiosos, causando tensões

com a cúpula da religião oficial. Como destaca Silva (2006, p. 17),

a hierarquia católica sempre reagiu à concorrência, porém nenhum outro fato agravou tanto as tensas relações entre católicos e protestantes no Brasil quanto a aprovação, pelo Senado imperial, da liberdade de cultos. Quando da tramitação do projeto em 1888, o arcebispo - primaz do Brasil protestou com veemência contra aquilo que, em sua opinião, “dissolveria entre os brasileiros a unidade de doutrina em matéria de fé”.

A proclamação da República celebrou o divórcio entre Igreja Católica e Estado

Republicano,6 possibilitando a secularização política dos órgãos estatais. No entanto, esta

separação deve ser relativizada, pois a Igreja Católica continuou tendo a primazia como

religião majoritária, pois a relação entre Igreja e Estado seguiu uma nova orientação que se

baseava na tradicional atuação da Igreja junto à população brasileira, num ambiente de clara

fragilidade das instituições democráticas.

Com efeito, a Igreja Católica se adaptou ao novo modelo político, vindo a

reconfigurar seu lugar e papel político, principalmente através dos vínculos estabelecidos com

o Estado, no período Vargas (1930-1945). De acordo com o que afirma Tiago Borges (2007,

p. 58), “um vínculo formal entre Igreja Católica e Estado foi restabelecido com o atendimento

a muitas exigências católicas: o ensino religioso se tornou obrigatório, o divórcio proibido e o

financiamento público às instituições católicas permitido”.

Essa relação acontecia principalmente por meio da colaboração entre poder público e

instituições religiosas, no âmbito da assistência social. Segundo Beozzo (2006, p. 42), “após o

golpe de 1937, os Círculos Católicos Operários assumiram um papel de destaque no repasse

de programas assistenciais do governo destinados para o segmento dos trabalhadores”.

Essa relação ficou conturbada com o surgimento da ditadura militar, principalmente

no período de maior repressão do regime. Embora a maioria católica tenha apoiado o golpe,

6 A autoridade concedida ao Estado brasileiro como único e legítimo mediador das relações entre religiões ou

grupos religiosos no país se consolidou com o Decreto número 119A, de 7 de janeiro de 1890, sancionado pelo Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, de autoria de Rui Barbosa, proibindo autoridades e órgãos públicos de expedir leis, regulamentos ou atos administrativos que estabelecessem a religião ou a vedassem e instituiu plena liberdade de culto e religião para os indivíduos de todas as confissões, igrejas e agremiações religiosas (GRUMAN, 2005).

25

em 1964, pelo temor do comunismo, não demorou muito para que os atritos e conflitos entre o

Estado e importantes segmentos da Igreja se manifestassem. A repressão de movimentos

católicos colocou Igreja e Estado em campos de atuação política diferentes, caracterizando a

oposição da Igreja ao regime autoritário na década de 70. Esses atritos levaram a Igreja a certo

distanciamento da órbita estatal, sofrendo o processo de esquerdização em seus vários setores

de atuação política, inclusive a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Tais atritos entre Estado e Igreja Católica levaram esta a repensar seu papel social e

político na sociedade brasileira,

assumindo-o muito mais como o de uma das instituições da sociedade civil brasileira, parceira de suas lutas e projetos como o da defesa do estado de direito, dos direitos humanos políticos, mas também econômicos, sociais, culturais, parceira na luta contra a pobreza, pela anistia e redemocratização (BEOZZO, 2006, p.43).

Nesse período, que vai do regime militar à redemocratização, os dados do IBGE

apontam para uma maior diversificação das confissões religiosas no país. Indo na mesma

direção, a pesquisa Datafolha7 (maio de 2007) confirma o andamento desse processo, no ano

de 2007.

Tabela 1- Percentual da população católica em relação à população total do Brasil, de 1940 a 2007

Ano 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007

Percentual da população

95,2

93,7

93,1

91,8

89,0

83,3

73,8

64,0

Fonte: Campos (2008) Nota: IBGE, censos demográficos de 1940-2000.

A Tabela 1 demonstra o percentual dos que se declaram católicos, de 1940 a 2007.

De 1940 a 1980, num período de 40 anos, a redução foi de apenas 6,2%. Tal processo de

redução se acentuou nas duas últimas décadas do século passado, isto é, de 1980 a 2007, a

população que se declarou católica caiu 25%.

7 A expectativa para o próximo censo é grande. No entanto, para suprir essa carência de dados, utilizou-se, neste

trabalho, a pesquisa Datafolha do ano de 2007. A Datafolha, empresa pertencente à Folha de São Paulo, preparou uma pesquisa para aguardar a visita do Papa Bento XVI, em 2007.

26

Embora os números apontem para a redução do percentual de católicos no país, este

continua com um número muito elevado de fiéis, em comparação às demais religiões. Ainda

assim, não tem mais lugar a afirmação de que o Brasil é um país radicalmente católico.

Apesar destas limitações, a instituição da liberdade religiosa e de culto permitiu, no

curso do século XX, uma nova configuração de forças no campo religioso brasileiro, abrindo

espaços para a livre concorrência religiosa.

2.2 A CHEGADA E O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO EVANGÉLICO NO BRASIL

Já se aproxima os duzentos anos da chegada dos primeiros evangélicos no Brasil. Os

primeiros que vieram foram os anglicanos, por intermédio das relações comerciais entre

Inglaterra e Portugal, resguardados pelo Tratado de Navegação e Comércio que declarava, no

seu artigo 12,

[...] “que os vassalos de S.M. Britânica residentes nos territórios e domínios portugueses não seriam perturbados, inquietados, perseguidos ou molestados por causa de sua religião, e teriam perfeita liberdade de consciência, bem como licença para assistirem e celebrarem o serviço em honra do Todo-Poderoso Deus, quer dentro de suas casas particulares, quer nas suas particulares igrejas e capelas” [...] (SILVA, 2006, p. 15).

Logo após a independência, os luteranos, em 1824, vêm para o Brasil a fim de

substituir a mão-de-obra escrava. Diferentemente do protestantismo missionário, esses se

caracterizaram como protestantismo de imigração,8 por formarem igrejas étnicas, a fim de

preservarem sua origem cultural. Depois, viriam, definitivamente, com o projeto de conquistar

o “Brasil para Cristo” os protestantes de missão norte-americanos, representados por

diferentes denominações evangélicas: congregacionais, aportados em 1855; presbiterianos,

em 1859; metodistas, em 1867; cristãos evangélicos, em 1879; batistas, em 1882, e

8 O protestantismo de imigração ocorreu a partir da política imigratória adotada durante o período imperial,

quando se buscava resolver o problema da mão-de-obra, composta em grande parte por escravos, sendo os imigrantes europeus uma alternativa viável. Grande parte desses imigrantes era formada de luteranos vindos da Alemanha (SILVA, 2006, p. 15).

27

adventistas do sétimo dia, no ano de 1894. Destas, cinco vieram dos Estados Unidos,9 onde

predominou o interdenominacionalismo entre as várias manifestações religiosas.

Os pentecostais chegaram em 1910, vindos dos Estados Unidos. Com efeito, a

implantação do pentecostalismo no país tem início no mesmo ano, com a fundação da

Congregação Cristã no Brasil e, em 1911, com a fundação da AD. Esses congregados

inovaram ao se aproximarem da cultura popular, à proporção que foram se diversificando e se

expandindo sobre o país, ao longo do século XX.

Dentre outras, uma das características que irá moldar a face do protestantismo, seja

histórico10 ou pentecostal, será o antagonismo ao catolicismo e aos cultos de origem afro,

observando como marco diferenciador a alteridade religiosa. Apesar disso, a religião

protestante já não pode mais ser pensada como religião importada ou estrangeira. O quadro

abaixo mostra a diversificação do protestantismo no Brasil.

Período Ano Denominação Classificação Local de origem

Séc. XIX

1808

1824

1855

1859

1867

1879

1882

1890

1894

Anglicana

Luterana (IECLB)

Congregacional (UIECB)

Presbiteriana (IPB)

Metodista

Cristã Evangélica

Batista (CBB)

Luterana (IELB)

Adventista

Histórica

Histórica

Histórica

Histórica

Histórica

Histórica

Histórica

Histórica

Histórica

Reino Unido

Alemanha

Estados Unidos

Estados Unidos

Estados Unidos

Reino Unido

Estados Unidos

Estados Unidos

Estados Unidos

Séc. XX

1900-1940

1903

1910

1911

1922

1925

1932

Presbiteriana Independente

Congregação Cristã

Assembleia de Deus

Exército da Salvação

Adventista da Reforma

Adventista da Promessa

Histórica

Pentecostal

Pentecostal

Histórica

Pentecostal

Pentecostal

São Paulo

Estados Unidos

Pará

Reino Unido

Rio de Janeiro

Pernambuco

9 Nessa época, era corrente nos Estados Unidos a concepção do “Destino Manifesto”. Tal concepção, de fundo

religioso acreditava na predestinação dos Estados Unidos para levar a democracia, a liberdade e o protestantismo a outros povos.

10 Igrejas fundadas durante a Reforma Protestante do século XVI e pouco depois, que são: Luterana, Presbiteriana, Anglicana, Metodista, Batista, Congregacional, entre outras.

28

1934 Metodista Ortodoxa Pentecostal Rio de Janeiro

Séc. XX 1950-1969

1950 1953 1956 1958 1960 1961 1962 1964 1964 1965 1965 1967 1967 1968

Igreja Escandinava Evangelho Quadrangular O Brasil para Cristo Nazareno Nova Vida Restauração Deus é Amor Igreja em (sic) Casa da Benção (ITEJ) Batista (CBN) Congregacional Independente Metodista Wesleyana Cristã Evangélica Renovada Batista Bíblica

Histórica Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Histórica

Suécia Estados Unidos São Paulo Estados Unidos Rio de Janeiro Rio de Janeiro São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro

Séc. XX 1970-1979

1970 1970 1970 1972 1973 1975 1975 1976 1977 1978 1979

Sinais e Prodígios Cristã Chinesa Igreja Cristã Maranata Maranata (Amém) Socorrista Presbiteriana Renovada Salão da Fé Evangélica da Renovação Universal Presbiteriana Unida Evangélica Maranata

Pentecostal Histórica Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Histórica Pentecostal

Rio de Janeiro China Espírito Santo Rio de janeiro Rio de Janeiro Paraná Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Espírito Santo Rio de Janeiro

Séc. XX 1980-1991

1980 1983 1983 1986 1987

Igreja da Graça Jesus é a Verdade Pentecostal Presbiteriana Cristo Vive Cristã Antioquia

Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal Pentecostal

Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro

1989 1989 1989 1989 1990 1991

Assemb. de Deus (CONAMAD) Cristo Rei Assembleia de Cristo Projeto Vida Nova Batista Independente Templo da Benção

Quadro 1- Denominações evangélicas, segundo ano de fundação no Brasil, classificação doutrinária e local de origem

Fonte: Freston (1994). Nota: Quanto ao ano de fundação, algumas denominações consideram a chegada de missionários como a data

inicial dos trabalhos brasileiros. Outras preferem considerar a organização de igrejas locais. Adotou-se a data mais corrente no meio evangélico ou a data oficial da denominação.

O Quadro 1 mostra, ao longo do século XIX e século XX, o estabelecimento e a

diversificação do protestantismo no Brasil, enfocando o ano de fundação, a classificação e o

local de origem das denominações evangélicas.

29

Todas as denominações que vieram ao Brasil no século XIX eram históricas e de

origem europeia ou norte-americanas. Logo no início do século XX, tem início o processo de

diversificação protestante, principalmente com as denominações de classificação pentecostal.

Distribuído em centenas de denominações, históricas e pentecostais, o protestantismo

encontrará pontos de convergência com o processo de modernização do país no decorrer do

século XX. A mobilidade dessas igrejas, organizadas na forma de comunidades-igrejas,

facilitou sua organização nos grandes centros urbanos, principalmente nas regiões periféricas.

Assim, os evangélicos se adaptam, com mais facilidade, a novos ambientes.

Nesse contexto, as denominações pentecostais incorporaram as necessidades e

valores da grande cidade. Tais denominações trazem consigo o modelo interdenominacional

de concorrência religiosa, a exemplo do norte-americano, primeiro modelo de pluralismo

religioso (BERGER, 1985). Conforme Passos (2005, p. 65), “através do modelo de

comunidades-igrejas as camadas menos favorecidas recriam seus laços familiares perdidos e

as pessoas têm suas identidades reconhecidas dentro do anonimato da grande cidade”.

A diversificação do campo religioso, com fundação de várias denominações

evangélicas pelo país, ao lado da adaptação ao ambiente brasileiro, expressa-se no crescente

número de fiéis. Os dados do IBGE confirmam o avanço numérico desse segmento da

população brasileira.

Tabela 2- Percentual da população evangélica em relação à população total do Brasil, de 1890 a 2010

Ano 1890 1900 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Percentual da população

0,99

1,07

2,6

3,35

4,03

5,16

6,62

9,1

15,57

26,8

Fonte: Lopes Junior (1997) de 1890-1991; IBGE, censo demográfico de 2000. Nota: Os números referentes a 2010 são projeção do censo demográfico do IBGE 1991-2000 (ZILNER, 2009).

Segundo o IBGE, a taxa de crescimento médio anual do conjunto dos evangélicos

entre 1991 e 2000 foi de 7,9%. A expectativa, conforme Eunice Zilner (2009), é que, no ano

corrente, 26,8% da população seja evangélica. Caso isso se confirme, serão mais de 53

milhões de pessoas fazendo do Brasil o segundo país do mundo em número de evangélicos,

30

ficando atrás apenas dos Estados Unidos (FIGUEIRA, 2007). O Gráfico abaixo expressa este

vertiginoso crescimento.

Gráfico 1- Evangélicos no Brasil, de 1980 a 2010 Fonte: Zilner (2009). Nota: Informação: 2002-2010 (projeções).

Esses números revelam a presença constante dos evangélicos no dia-a-dia: seus

numerosos templos abertos cotidianamente, que reúnem milhares de fiéis, seus programas de

rádio e TV, propagando a mensagem das várias denominações, a conversão de artistas e

atletas famosos e sua associação sectária para eleger candidatos de seu ciclo religioso na

política nacional. Tal visibilidade social é possível, principalmente devido às estratégias e

inovações utilizadas pelas denominações do pentecostalismo brasileiro.

0

10

20

30

40

50

60

1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

Tot

al d

e ev

angé

licos

(m

ilhõe

s)

1980-2000; 2002-2010 (projeções)

31

2.3 O PENTECOSTALISMO

O pentecostalismo desembarca em terras brasileiras no início do século XX,

representado pelas igrejas pioneiras Congregação Cristã no Brasil e Assembleia de Deus,

ambas relacionadas ao movimento pentecostal que eclodiu nos Estados Unidos em 1906. Esse

movimento religioso teve como centro irradiador da mensagem pentecostal para o mundo a

Rua Azusa, em Los Angeles, no Estado da Califórnia (EUA), de onde se espalhou

rapidamente (MARIANO, 1999). O Batismo no Espírito Santo e a atualidade dos dons

espirituais se tornariam as características diferenciadoras do movimento pentecostal em

relação às outras denominações do protestantismo, isto é, seria a dotação da capacidade

sobrenatural do crente para levar o evangelho acompanhado de milagres para conversão de

almas. Esse impulso missionário era fortemente revigorado pela expectativa da iminente volta

de Cristo ao mundo e alimentado pelas rápidas transformações que a sociedade passava

naquele período (PASSOS, 2005).

A tipologia utilizada por Paul Freston, já considerada como clássica, tenta captar o

processo de formação do pentecostalismo no Brasil. Esse autor divide sua chegada em três

fases diferentes que impulsionaram o crescimento do pentecostalismo no país. As três fases

são compreendidas como períodos históricos de implantação de igrejas e são denominadas

ondas pela força irradiadora que tiveram para formação de expressivas denominações do

pentecostalismo brasileiro. Assim, o pentecostalismo tem início com a AD e a Congregação

Cristã no Brasil, que chegam quase que simultaneamente ao país, sendo que a primeira foi

fundada em 1911 e a segunda, em 1910. Elas foram hegemônicas nos primeiros quarenta anos

do pentecostalismo no Brasil. Por conseguinte, essa fase inicial de implantação de igrejas

também recebe o nome de pentecostalismo clássico (FRESTON, 1994).

A segunda fase se inicia na década de 50, indo até o começo dos anos 60. Ela tem

começo com a instalação, em solo brasileiro, da Igreja do Evangelho Quadrangular, vinda dos

Estados Unidos. Ainda nesse período, têm início as atividades da Igreja O Brasil para Cristo,

que teve como fundador o brasileiro Manoel de Mello. Além dessas duas igrejas, outra grande

igreja fundada nesse período foi à Igreja Pentecostal Deus é Amor, tida como a mais rigorosa

em questões comportamentais. Este momento do pentecostalismo trouxe muitas inovações ao

32

ascetismo11 pentecostal, como maior ênfase na cura divina, menor exigência nas questões

comportamentais (Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja o Brasil para Cristo), grandes

eventos realizados nos estádios do país, construção de megatemplos, incursões pela política

partidária, utilização da mídia para fins evangelísticos, entre outros. Devido a essas inovações,

essa segunda onda é entendida como uma fase de transição de um pentecostalismo mais

ascético e sectário para o pentecostalismo mais acomodado ao mundo que virá em seguida,

sendo denominado de terceira onda.

A terceira onda surge a partir da segunda metade dos anos 70 e início dos anos 80,

com a fundação de sua principal representante, a IURD, em 1977, seguindo, logo após, com a

fundação da Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo e Sara Nossa Terra

(FRESTON, 1994). Se, na primeira e segunda fase, as igrejas inovaram em muitas questões,

na terceira fase, trará no bojo de sua atuação práticas consideradas paradoxais,12 tanto para

evangélicos como para não evangélicos. As igrejas dessa fase tomaram a dianteira das

inovações no televangelismo, na mudança dos costumes de santidade e na política.

As ondas de implantação do pentecostalismo brasileiro não somente se baseiam no

recorte histórico-institucional, mas também na relevância de cada fase, marcada pela inovação

estratégica na evangelização, seguindo a um processo de acomodação e adaptação às

condições socioculturais do país. Todavia, vale ressaltar que o campo protestante segue a

dinâmica de igrejas autônomas, dando sequência ao “sacerdócio universal dos crentes,”

inaugurado com a Reforma Protestante do século XVI. Tal fato que permite a multiplicação

das várias denominações protestantes através de dissidências, conflitos doutrinários, invasão

de campo etc. Contudo, a dinâmica do pentecostalismo implantado em suas diversas fases

permite o nascimento, mesmo nos dias hodiernos, de novas denominações tanto relacionadas

às igrejas da terceira, segunda, como da primeira onda. É o caso da AD que, mesmo chegando

11 Para Max Weber (2005; 1982), o ascetismo está relacionado às religiões de salvação que procuram direcionar

a conduta de seus fiéis negando os prazeres e estilo de vida mundanos. Por este meio, o indivíduo vive em constante tensão com o mundo, na medida em que supervisiona seu estado de graça por intermédio de seu comportamento cotidiano, a fim de obter a certeza da salvação. Esse ascetismo ético é vivido em meio ao mundo e suas instituições, pois é no mundo e diante de suas provações que o cristão adquire os sinais de sua salvação.

12 Conforme Ricardo Mariano (1999, p. 226), “a promessa de salvação paradisíaca no pentecostalismo sempre foi acompanhada de forte rejeição e desvalorização do mundo. O neopentecostalismo transformou as tradicionais concepções pentecostais acerca da conduta e do modo de ser do cristão no mundo. Ser cristão tornou-se o meio primordial para permanecer liberto do Diabo e obter prosperidade financeira, saúde e triunfo nos empreendimentos terrenos”.

33

próxima dos cem anos de existência, continua na lista das denominações que mais crescem no

país, tendo várias igrejas dissidentes.13

De fato, o paradigma pentecostal segue vigoroso e dinâmico que nem mesmo as

denominações do protestantismo histórico ficaram fora de sua influência. Enquanto na

primeira fase do pentecostalismo as igrejas do protestantismo histórico se integravam às

denominações pentecostais, na segunda e terceira ondas, muitas aderiram à doutrina

pentecostal sem, contudo, abandonarem suas peculiaridades na organização institucional.

Essas igrejas foram denominadas de protestantes históricas “renovadas”.14

Em cada momento histórico de implantação do pentecostalismo, pode-se encontrar o

diferenciador institucional de suas principais denominações. Entre estas destacamos a AD e

suas características institucionais permeadas pelos seus fundadores e pela influência de seus

primeiros líderes nacionais.

2.3.1 Fase genética – características institucionais da AD

Da efervescência religiosa pentecostal nos Estados Unidos, em 1906, saíram, rumo

ao Brasil, os missionários fundadores da AD, os suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Eles

chegaram ao Brasil em 19 de novembro de 1910, na cidade de Belém, no Estado do Pará.

Logo na chegada, entraram em contato com o pastor metodista Justos Nelson, que os

apresentou ao responsável pela Igreja Batista, Adriano Nobre, quando passaram a congregar-

se e morar nas dependências da igreja. Até aquele momento, os missionários pertenciam à

Igreja Batista americana (CONDE, 2006).

A mensagem pentecostal se espalhou na pequena comunidade batista em Belém,

provocando o cisma de dezenove pessoas que aderiram à nova mensagem. Posteriormente, no

dia 18 de junho de 1911 (data oficial da fundação da AD), após sete meses da chegada dos

missionários ao Brasil, ocorreu a fundação da nova denominação, que inicialmente recebeu o

13 O outro grande ramo da AD é a CONAMAD (Convenção Nacional das Assembleias de Deus) – Ministério de

Madureira, desde 1989. Há ainda vários ministérios e um grande número de igrejas independentes que usam a nomenclatura da AD, em diversas regiões do país, que atuam sem vinculação com a CGADB e CONAMAD, entre outras convenções.

14 São denominações dissidentes do protestantismo histórico que se pentecostalizaram ao adotar a teologia pentecostal, além de várias inovações teológicas identificadas com o neopentecostalismo.

34

nome dos primeiros grupos pentecostais dos Estados Unidos, isto é, Missão da Fé Apostólica,

passando a ser chamada de Assembleia de Deus, em janeiro de 1918 (SILVA, 2001).

Não demorou muito para que a nova igreja recebesse reforços com a vinda de mais

missionários vindos da Suécia. Nessa época, o número de obreiros era insignificante. As

notícias da abertura e do progresso de novos campos de atuação chegaram às igrejas da Suécia

e da América do Norte. Contudo, é na década de vinte que se intensificou a vinda de

missionários para atender as necessidades da igreja (OLIVEIRA, 1997; CONDE, 2006).

2.3.1.1 A influência nórdica

Esses primeiros anos de atividades da AD em solo brasileiro são essenciais para

entendermos o núcleo organizacional que se formou sob influência dos missionários suecos.

Panebianco (2005, p. 92) destaca que para compreender as características peculiares de uma

determinada instituição, entre outros fatores, será muito importante empreender uma análise

histórica de como a organização nasceu e se consolidou, pois “toda organização traz consigo a

marca das suas modalidades de formação e das principais decisões político-administrativas de

seus fundadores, as decisões que modelaram a organização”.

Nesse mesmo sentido, Freston (1994, p. 76) destaca duas características essenciais

para que se compreenda a identidade da AD. É o que ele vai denominar de “ethos sueco-

nordestino”,15 que nasce com os missionários fundadores, passando, em seguida, a receber

influência dos nordestinos. A primeira contribuição está relacionada à força que o influxo

sueco exerceu sobre a formação da AD nos seus primeiros quarenta anos de existência,16

através dos vínculos com as igrejas suecas. Esses vínculos se estabeleceram em razão da

nacionalidade de seus fundadores. A Igreja Pentecostal Escandinava e, em particular, a Igreja

de Estocolmo, deram suporte aos missionários fundadores, além de se responsabilizarem pelo

envio de outros missionários, a fim de suprir a carência do trabalho que se espalhava

rapidamente pelo Brasil.

15 A própria literatura histórica da denominação destaca a importância do “entrosamento e da comunhão entre os

obreiros nacionais e os missionários [que] resultou [n]o grande progresso da igreja. As principais lideranças da Assembleia de Deus enfatizam ainda hoje que não se deve perder de vista o modelo deixado pelos missionários” (OLIVEIRA, 1997, p. 184).

16 Conforme Freston (1994, p. 82), “o auge da presença sueca foi nos anos trinta, com cerca de trinta famílias missionárias, depois de 1950 o fluxo praticamente cessou”.

35

Esse primeiro momento da denominação muito contribuiu para a consolidação de

algumas características assembleianas, provenientes dos missionários nórdicos encarregados

não apenas da fundação, como também da manutenção de novas igrejas ligadas à AD.

Como dirigentes da denominação, os fundadores suecos repassaram seu modelo de

religião adotado em seu país de origem. Os missionários traziam consigo as marcas da

vivência num país pobre da virada do século XIX para o século XX,17 acompanhada da

marginalização econômica e religiosa.

Diferentemente da tradição protestante sueca da igreja majoritária luterana, os

missionários adotaram uma postura contrária à erudição teológica e secular da Suécia. Nesse

sentido, transmitiram para a AD o ethos sueco de marginalidade social, caracterizado pela

simplicidade teológica e anti-intelectualista18 do clero, além de uma atitude contracultural e

antipolítica (FRESTON, 1994). Este modelo de religião fez com que os fundadores

formassem os primeiros fiéis dentro de uma visão ascética e de sofrimento, sem pretensões de

amplas conquistas neste mundo, principalmente aquelas que levassem os fiéis a ascender

socialmente.

Estas características, por certo, também foram reforçadas pela visão dual do mundo.

Para Mendonça (2008, p. 213),

o protestantismo se apresenta, ainda, como uma visão maniqueísta do mundo, o mundo presente é mau, e o homem nele luta e sofre como um peregrino até chegar a uma terra feliz, e este final venturoso depende da forma de vida que ele escolher. A idéia de peregrinação foi sempre, sem dúvida, um patrimônio comum das denominações protestantes no Brasil, pelo menos das de origem missionária. Por essa doutrina o indivíduo é levado a conformar-se com sua situação penosa atual, uma vez que sua permanência nela é efêmera em comparação com a feliz eternidade futura.19

Tal visão fazia com que as pequenas comunidades assembleianas se fechassem em

torno de si mesmas, preocupando-se, quase que exclusivamente, com a evangelização para a

salvação de almas. Nesse sentido, importava converter pessoas a Cristo antes de sua volta ao

mundo. Com esse estilo de vida, não almejavam amplas conquistas, influência ou

17 Daniel Berg e Gunnar Vingren fazem parte dos milhares de migrantes que se mudaram da Europa para os

Estados Unidos, na virada do Século XIX para o século XX, à procura de melhores condições de vida. Chegando a esse país, assumiram ocupações modestas. O primeiro, logo que chegou aos Estados Unidos, com a ajuda de amigos, conseguiu emprego em uma fazenda. O segundo foi, respectivamente, foguista, porteiro de uma loja e jardineiro, antes de se tornar pastor da Igreja Batista (OLIVEIRA, 1997).

18 A partir da segunda metade dos anos 30, a AD brasileira passou a ter maior colaboração das ADs dos Estados Unidos através dos missionários enviados ao país, os quais se envolveram de forma mais direta no trabalho de estruturação teológica da denominação.

19 O livro O Peregrino, do puritano John Bunyan, do século XVII, retrata bem essa atitude protestante diante do mundo.

36

respeitabilidade social, contentando-se com o sofrimento pela sua condição de

marginalização, tendo por consolo a expectativa da segunda vinda de Cristo, único meio de

redenção e salvação das intempéries desse mundo mau.

2.3.1.2 A influência nordestina

Esse período de formação institucional da AD contou com a influência nordestina

como foco de sua constituição, atuando como segundo elemento da “fase genética” da

organização, como destaca Panebianco (2005, p. XVII), ao afirmar que

a organização sofrerá, certamente, modificações e adaptações profundas, interagindo, durante todo o seu ciclo de vida, com as contínuas modificações do ambiente. Porém, os resultados das primeiras “partidas”, metáforas à parte, as escolhas políticas cruciais realizadas pelos fundadores, as modalidades dos primeiros conflitos visando ao controle organizativo e o modo como a organização se consolidam deixarão uma marca indelével. Poucos aspectos da fisionomia atual e das tensões que se desenvolvem diante dos nossos olhos em tantas organizações parecem compreensíveis se não se retroceder à sua fase constitutiva.

Assim, a segunda força de formação do ethos assembleiano tem relações com a

extensão inicial da AD sobre as regiões Norte e Nordeste. Até 1920, a AD havia se estendido

sobre nove Estados destas regiões.20 Somente em 1922, a AD se estende para fora do eixo

Norte-Nordeste, restringindo suas atividades evangelísticas apenas a estas duas regiões,

durante seus primeiros 11 anos de fundação.

Nesse primeiro momento de expansão, a AD contou com a atividade missionária

exercida pelos leigos para disseminação da denominação nos vários Estados dessas regiões.21

De fato, os leigos antecederam os missionários e pastores criando pontos de pregação que, 20 Região Norte: Pará (1911), Amapá (1917) e Amazônia (1918); Região Nordeste: Ceará (1914), Alagoas

(1915), Pernambuco (1916), Rio Grande do Norte (1918), Paraíba (1918) [e Maranhão (1918?]). Com relação à última data, há um desencontro nas informações relacionadas à separação do pastor Clímaco Buena Asa e da data da chegada da AD no Estado do Maranhão. De acordo com o Livro História das Assembléias de Deus no Brasil, de autoria de Emílio Conde (2006), a AD chega ao Maranhão em 1921 e o pastor Clímaco Bueno Asa, fundador da AD nesse Estado, é separado a pastor no dia 10 de março de 1918. Já no livro As Assembléias de Deus no Brasil: sumário histórico ilustrado, de Joanyr de Oliveira (1997), 10 de março de 1918 é a data de fundação da AD no Estado do Maranhão e sua separação para o pastorado ocorre no ano de 1917. Pela proximidade geográfica, adotou-se a primeira data, deixando espaços abertos para correção e contestação.

21 Antes da chegada de missionários ou pastores, estados como Ceará, Amazonas, Rondônia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio grande do Norte, Bahia, Sergipe, Piauí, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina receberam a mensagem pentecostal apregoada por leigos. A mensagem era pregada, principalmente, para conversão de parentes e amigos. Tão vigoroso era o dinamismo evangelístico dos crentes que chegaram a pentecostalizar várias igrejas do protestantismo histórico, transformando-as em ADs (CONDE, 2006).

37

posteriormente, viriam a ser congregações. Cada crente era um potencial propagador de sua

denominação em plena execução da liberdade de atuação garantida pelo “sacerdócio universal

dos crentes” (CONDE, 2006).

Esses evangélicos se mobilizaram seguindo as vias da migração em busca de

melhores condições de vida, sentindo-se encarregados de levar a mensagem pentecostal. O

jornal da AD, o Mensageiro da Paz, retrata esse período da expansão assembleiana:

[...] a Amazônia havia se tornado alvo de pesados investimentos de multinacionais, sobretudo da borracha. Os trabalhadores rurais, em sua maioria nordestinos, se convertiam e espalhavam a doutrina pentecostal por todos os lugares onde iam trabalhar, exatamente aqueles onde as mega corporações faziam seus investimentos. Por isso, o movimento pentecostal na Amazônia deve aos nordestinos a maior parte do trabalho de divulgação (TANTOS..., 2001, p.3).

A fundação da AD ocorre no período econômico chamado de ciclo da borracha

(1879 a 1912), cuja principal cidade era Belém, capital do Pará. O crescimento da AD,

segundo Passos (2005, p. 90), está ligada às rotas migratórias do início do século XX, que

teria relações com a rápida expansão da produção de borracha, que atraiu grande quantidade

de trabalhadores para a região que, ao final do ciclo, retornaram ao Estado de origem, levando

a mensagem da denominação.

A difusão dos leigos pelo território nacional abriu pontos de pregação que, depois,

seriam organizados pelos missionários e pastores. É o caso da transferência do missionário

Gunnar Vingren para o Rio de Janeiro, em abril de 1924, a pedido de vários crentes que

haviam se mudado do Estado do Pará para a então capital federal, em busca de trabalho

(CONDE, 2006).

Os missionários estrangeiros encontravam dificuldades de penetração entre as

camadas populares pelo estranhamento aos costumes e hábitos do povo. Por outro lado, os

obreiros nativos tinham consigo a identificação popular através de práticas religiosas do meio

em que viviam. Se os fiéis encontravam dificuldades para organizar a nova denominação,

burocrática e doutrinariamente, os missionários supriam essas necessidades, com sua

experiência e formação teológica. Dessa maneira, a organização da igreja, em seus

primórdios, contou com esses dois pilares fundamentais para sua consolidação em terras

brasileiras.

A inserção da AD na sociedade nortista e nordestina, segundo Freston (1994),

contribuiu para a consolidação de uma organização marcada pelo autoritarismo pastoral, no

contexto de adaptação à cultura de dominação da região.

38

No ano de 1930, a organização da AD sofreu significativas alterações por ocasião da

primeira Convenção Geral da denominação, na cidade de Natal. Neste ano, a igreja brasileira

adquiriu autonomia interna em relação à missão sueca. Dessa forma, naquela Convenção, os

rumos da igreja foram entregues às lideranças nacionais, passando a ser administrada pelos

pastores nativos. A partir daí, os missionários estrangeiros se deslocaram para o Sul e

Sudeste, onde o trabalho começava a se expandir (SILVA, 2001).

Nesse período, as características da igreja já eram marcantemente nordestinas. Tais

características parecem estar sedimentadas até hoje em seus fundamentos institucionais. As

últimas eleições para a presidência da Convenção Geral das ADs, realizadas em abril de 2009,

podem ser um bom exemplo disso, pois os dois concorrentes para a presidência do órgão

máximo da denominação eram o nortista pastor Samuel Câmara e o nordestino José

Wellington, que está à frente da Convenção Geral desde maio de 1988 (PASTOR..., 2009).22

Em suma, Freston (1994, p. 84) define as duas fontes de formação do ethos

assembleiano da seguinte forma: “a mentalidade da AD carrega as marcas dessa dupla

origem: da expectativa sueca das primeiras décadas do século; e da sociedade patriarcal e pré-

industrial do Norte/Nordeste dos anos 30 e 60”.

2.3.2 As dimensões da AD no Brasil

A partir desse núcleo organizacional, a AD se expandiu na população brasileira,

durante o século XX, tendo, conforme o censo de 2000, 8.418.154 fiéis, apresentando

5.255.454 a mais que a segunda colocada, a Igreja Batista, que contou com 3.162.700 fiéis.

22 As eleições foram realizadas “no dia 23 de abril de 2009, por ocasião da 39ª Assembleia Geral Ordinária

(AGO) realizada nos dias 20 a 24 no estado do Espírito Santo” (PASTOR..., 2009, p. 3).

39

Gráfico 2- As maiores denominações evangélicas do Brasil Fonte: IBGE, censo demográfico de 2000.

Em terceiro lugar em número de adeptos vem a Congregação Cristã do Brasil, com

2.489.079 fiéis e, em quarto, a IURD, com 2.101.884 fiéis. Conforme os dados acima, entre as

cinco maiores denominações evangélicas, quatro são da vertente pentecostal. A AD possui

quase a metade (47%) dos pentecostais (JACOB et al., 2003) e, conforme demonstrado na

figura abaixo, a AD está presente em todas as regiões do país.

0 2 4 6 8 10

Presbiterianos

Luteranos

Adventistas

Outras evangélicas

Evangelho Quadrangular

Universal do Reino de Deus

Congregação Cristã no Brasil

Batista

Assembleia de Deus

Milhões (fiéis)

40

Figura 1- Maiores denominações evangélicas, por região Fonte: Marcos Zilner; Eunice Zilner (2005).

Diferentemente de algumas denominações protestantes, como a luterana que se

concentra na região Sul, desaparecendo nas demais, a AD tem presença em todas as regiões

do país, sendo maior nas regiões Norte e Nordeste e menor na região Sul, conforme

demonstrado na figura abaixo.

41

Figura 2- Percentuais da Assembleia de Deus entre os evangélicos, por região brasileira Fonte: Marcos Zilner; Eunice Zilner (2005).

Nas regiões Norte e Nordeste, seu primeiro campo de atuação, de onde se difundiu

para o restante do país, a denominação chega a ter em torno de 45% a 55% do total de

evangélicos. Na região Centro-Oeste, fica em torno de 35% a 45%; na região Sudeste, de 25%

a 35% e, na região Sul, cerca de 25%. Pode-se afirmar que “nos estados do Amazonas, Pará,

Tocantins, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte, em média, em cada três pentecostais,

dois são membros da Assembléia de Deus” (JACOB et al., 2003, p. 42).

Com efeito, o peso demográfico dessa denominação incide sobre sua postura

ascética, causando transformações, pois, conforme Hay, citado por Zurbriggen (2006, p. 73),

[...] a criação institucional é um processo contínuo, sustentado com a base de regras construídas socialmente em determinados contextos históricos e políticos. No entanto, por mais sólida e permanente que seja uma instituição, os agentes podem

42

optar por romper determinadas regras. Assim, estas não são permanentes e podem mudar, em parte, em função das decisões estratégicas dos agentes dentro da estrutura, e estas decisões estratégicas representam respostas tanto a fatores endógenos como exógenos.

A AD mostrou, sobretudo nas últimas décadas, maior disposição para adaptar-se a

mudanças em processo no pentecostalismo e na sociedade brasileira, não deixando fora de seu

campo de atuação a política partidária.

Com seus quase cem anos de existência, a AD não é a mesma da data de sua

fundação, pois a história do Brasil no século XX passou por alterações políticas e religiosas.

Tais transformações provocam alterações significativas nas instituições sobre as quais atuam,

levando-as a um processo de adaptação às novas exigências sociais. Nesse sentido, o peso

numérico da AD e sua abrangência territorial nacional, quando canalizados, lhes dão respaldo

ante questões sociais mais amplas, inclusive no âmbito da política.

2.3.3 A expansão social e política da AD

Durante muito tempo, predominou entre evangélicos, principalmente entre

assembleianos, as seguintes expressões: “política é pecado”, “política é coisa de ímpio” ou

“esse assunto não interessa à Igreja” (ELIAS, 2005, p. 32, 38, 3). Estas expressões revelavam

certo tipo de negação do poder terreno acompanhado do zelo conservador contra as

influências mundanas sobre as denominações de raízes puritanas. Assim, caracterizaram um

forte ascetismo proveniente do dualismo ético evangélico, que situava a política partidária no

campo das ações mundanas e pecaminosas. A santificação rigorosa, a preservação dos

costumes, juntamente com um forte espírito missionário, além da manifestação dos dons do

Espírito Santo, foram características quase que exclusivas da AD durante a maior parte de sua

história (MARIANO, 1999).

Daí, pode-se dizer que, no início de sua organização, o projeto central dessa igreja

era marcado por um proselitismo agressivo de oposição à Igreja Católica. Ao tempo que a

negava, esforçava-se para lançar longe de si as características básicas desta religião. Negava

sua forma de atuação na sociedade brasileira, principalmente com referência à política que, na

época, tinha influência de padres, fazendeiros e latifundiários em muitas localidades do país.

Como atesta Irmão Elias (2005, p. 32),

43

no começo da evangelização do Brasil um grande contingente de pastores e obreiros não possuía maiores conhecimentos intelectuais e das verdades bíblicas. Eram pessoas simples, semi-alfabetizadas, conhecedoras apenas de alguns rudimentos fundamentais do evangelho. Não tinham tempo nem condição para estudos mais profundos. Os crentes eram pobres, humildes, sem qualquer projeção social. Política, àquela época, era atividade exclusiva de “coronéis”, doutores e milionários.

Alguns autores ressaltaram, em seus trabalhos, a desvalorização política como algo

intrínseco das denominações pentecostais. Por conseguinte, predominava um tipo de

ascetismo quase monástico, manifestado de forma severa, ao negar os prazeres, as vaidades, a

corrupção da matéria, o mundo e suas tentações como meio de assegurar costumes e hábitos

que conduzem à salvação (ou à certeza de estar salvo), que liberta do sofrimento e de uma

vida de privações e do mundanismo em geral. Como “cidadãos dos céus”, esses fiéis

observavam o rigor comportamental contra as corrupções mundanas, na esperança de

alcançarem o paraíso de delícias, gozo e alegrias eternas (PRANDI apud ALMEIDA, 1999, p.

177).

Isso foi aceito sem grandes tensões internas, enquanto foram esmagadoramente

pobres e estiveram privados dos mais elementares bens materiais, culturais e educacionais.

Mas,

diante da mobilidade social de parte dos fiéis, das promessas da sociedade de consumo, dos serviços de crédito ao consumidor, dos sedutores apelos do mundo da moda, do lazer e das opções de entretenimento criadas pela indústria cultural, essa religião ou se mantinha sectária e ascética, aumentando sua defasagem em relação à sociedade e aos interesses sociais e materiais dos crentes, ou fazia concessões. Diante de mudanças na sociedade e das novas demandas no mercado religioso, diversas lideranças pentecostais optaram por ajustar gradativamente sua mensagem e suas exigências religiosas à disposição e às possibilidades de cumprimento por parte dos fiéis e virtuais adeptos. O sectarismo e o ascetismo cederam lugar à acomodação ao mundo, acompanhando o processo de institucionalização, ou a rotinização do carisma do pentecostalismo (MARIANO, 1999, p. 148).

A acomodação ao mundo se expressa, segundo Mariano (1999), no abandono de sua

antiga maneira de ser, em direção aos valores e interesses do mundo, isto é, à sociedade de

consumo. O fato de muitos evangélicos estarem se tornando empresários e políticos ilustra

esse processo pelo qual vem passando não somente as ADs, como também muitas outras

denominações no Brasil. Nem mesmo as denominações mais rigorosas como a Igreja

Pentecostal Deus é Amor escaparam do processo de transformações que atingiu o

pentecostalismo, nos últimos anos.

44

Além das transformações internas provocadas pela ascensão dos membros da AD,

não é de estranhar que para ela tenha afluído grande número de pessoas da camada média e

número menor da camada alta da sociedade.23

Para Freston (1994, p. 94),

a AD hoje em dia parece uma enorme banheira enchendo de água, mas com profundas rachaduras e água saindo de cima pelo “latrão”. Ficou demasiadamente diversificada em termos sociais para continuar como estava, mas hesita entre opções contraditórias para o novo momento. Já tem todas as classes dentro dela, desde empresários de porte razoável até mendigos. Há uma tensão entre o desejo de aderir explicitamente a valores burgueses, e a tradição assembleiana de um certo populismo religioso que tende a gloriar-se na escolha dos humildes por parte de Deus. Mas a nova geração de homens de negócios tende a rejeitar não só os elementos disfuncionais do moralismo restritivo, como também a própria tendência de idealizar teologicamente a pessoa “humilde”. Isso causa uma perda de atratividade embaixo.

Essas alterações provocaram, conforme Mariano (1999), o arrefecimento da ênfase

apocalíptica que desvalorizava este mundo, a retração do ascetismo que proibia até a prática

de esportes, sem prejuízo imediato de seu moralismo de cunho bíblico. Por conseguinte, a

aversão à educação formal, ao intelectualismo, à busca de riquezas, às profissões rendosas e à

participação na política partidária, que poderiam provocar orgulho, paixão e amor pelo

mundo, tornaram-se, atualmente, meios de ascensão e reconhecimento social entre os

membros da AD (MARIANO, 1999).

Contudo, vale ressaltar que a AD, desde os primórdios de sua existência, mantém

relações com políticos tradicionais, para adquirir legitimidade social ou alcançar favores e

benesses. Nesse sentido, à proporção que a igreja crescia, atraía partidos e políticos

tradicionais que tentavam conquistá-la por meio de favores, ajuda financeira, doações, e

principalmente pelas promessas de proteção aos seus direitos (ELIAS, 2005). Esta era a forma

mais antiga de fazer política na AD, ou seja, não se intrometer diretamente na política, mas

estabelecer aliança tácita com políticos regionais ou locais.

Para muitos assembleianos, isto não significava fazer política, mas reconhecer e dar

honra às “autoridades constituídas por Deus”, isso porque ocupavam os cargos de governança.

23 Conforme Ricardo Mariano (1999, p. 16), “a vertente pentecostal tem passado, nos últimos anos, por

significativas mudanças que, além da ascensão social de parte de novas gerações de crentes, há igrejas que direcionam, com relativo sucesso, seu evangelismo às camadas médias da população. Três instituições interdenominacionais, a Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno (ADHONEP), dissidência da Associação Internacional dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno (AIHNEP), também estabelecida no Brasil, e o Comitê Cristão de Homens de Negócio (CCHN), promovem jantares, cafés da manhã em bons hotéis e restaurantes, para, por meio de testemunhos pessoais de conversão e de bênçãos recebidas, converterem empresários, profissionais liberais e políticos”.

45

Os governantes, por sua vez, sempre acharam espaços para a troca de favores com as

lideranças da igreja. Na maioria das vezes, tiravam proveito da carência material dessas

denominações que, frequentemente, viam-se diante da incompatibilidade entre seu projeto

expansionista e a realidade financeira de seus membros. Dessa forma, abriam-se espaços para

trocas no âmbito do religioso e político.

Esse é um fator de suma importância para a compreensão das atitudes primárias

dessas denominações. Além disso, contribui para se entender como essas transformações

acontecem no decorrer do dinamismo institucional, as quais se refletem na mudança do lema:

“crente não se mete em política” para um segundo momento, agora com bases no

corporativismo político, herdeiro do sectarismo religioso: “irmão vota em irmão”.

46

3 DENOMINAÇÃO E PARTIDO: A LÓGICA DA IGREJA NO CONTEXTO

PARTIDÁRIO E A LÓGICA PARTIDÁRIA NO CONTEXTO DA IGREJA

Este capítulo analisa a atuação da AD no contexto do sistema eleitoral brasileiro, a

lógica adotada no sistema proporcional e majoritário e suas implicações para o

posicionamento da igreja ante os partidos políticos. No plano interno da denominação, analisa

o processo de organização política com base em sua organização eclesiástica, seu governo e

seu modelo de crescimento.

Também examina a importância da identidade religiosa para o sucesso de

candidaturas evangélicas, no contexto do sistema partidário brasileiro. Para tanto, faz-se

necessária uma análise do material de campanha política dos candidatos da igreja e como se

utilizam dessa identidade, com o segmento, para obtenção de votos e, além disso, busca-se

apreender tal identificação nos discursos dos parlamentares evangélicos concentrados na

Bancada Evangélica, na Câmara Federal.

Como novo elemento na política partidária brasileira, a participação de religiosos

protestantes tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores e instituições. Entre tantas,

pode-se elencar o estudo da formação da Bancada Evangélica (PIERRUCI, 1989),24 o seu

posicionamento no sistema partidário (RODRIGUES, 2006), sua dispersão partidária e não

formação de um partido evangélico (BORGES, 2007).

A descrição do modelo de governo da AD, de sua organização política interna e de

sua estrutura eclesiástica é importante para entendermos como essa igreja se lança na política

para eleger seus candidatos. Algumas denominações, como a IURD, têm seu sistema de

governo centralizado, enquanto outras, como a AD, têm governo centralizado, com autonomia

local. Essas diferenças podem influir no resultado político.

Essas são as denominações evangélicas que mais tem alcançado destaque na política

partidária, merecendo destaque por sua forma de organização para concorrer na política

eleitoral. Dessa forma, tais igrejas têm se organizado com base em sua estrutura eclesiástica.

24 No ano de 2003, a Bancada Evangélica passou a ser denominada de Frente Parlamentar Evangélica.

47

Enfim, o entendimento da participação política da AD também passa pelo entendimento de

sua estrutura eclesiástica.

3.1 OS EVANGÉLICOS NO CONTEXTO DA POLÍTICA MULTIPARTIDÁRIA

3.1.1 A presença dos evangélicos na Câmara dos Deputados

A participação das igrejas evangélicas no cenário político teve como suporte a

reorganização partidária que se deu com o restabelecimento do pluripartidarismo, após a

Reforma Partidária de 1979, quando o bipartidarismo compulsório foi substituído pela

liberdade de criação de partidos políticos. Este foi o marco para o processo de transição

política do regime autoritário, instalado em 1964, para a República, que permitiu a entrada de

diferentes atores e organizações para a competição eleitoral, no âmbito da política partidária.

A implementação do multipartidarismo criou vias de participação política de grupos

anteriormente sem expressão política nas casas legislativas do país, num processo de

ampliação da participação democrática. Nesse sentido, partidos políticos exercem o papel de

mediadores entre eleitores e seus interesses. Conforme versam Dalton e Wattemberg (2000, p.

8), “os partidos políticos são uma das poucas organizações políticas que devem combinar

articulação de interesses com agregação de interesses, distinguindo-os, desse modo, dos

indivíduos políticos, grupos de interesses e atores políticos”.

Os partidos políticos atuam como canais interativos entre os vários grupos sociais e o

Estado, tornando possível a participação, inclusive, das organizações religiosas. É nesse

contexto partidário que atores e organizações podem definir seu campo de atuação política. O

crescimento do número de deputados evangélicos na Câmara dos Deputados é concomitante

ao surgimento do multipartidarismo promulgado com o processo de abertura política.

A participação política dos evangélicos se tornou visível, principalmente, a partir da

atuação organizada de políticos evangélicos, vindos de várias denominações protestantes, na

Assembleia Nacional Constituinte (ANC) (PIERUCCI, 1989).

48

A elaboração da Carta Magna da nação brasileira, por exemplo, serviu como mote

para mobilização, criando “incentivos coletivos”25 para eleição dos deputados evangélicos nas

eleições legislativas de 1986.26

A presença dos deputados evangélicos constituintes foi registrada por Antônio Flávio

Pierucci (1989, p. 108), que afirmou:

estamos, pois, assistindo a uma passagem. A barulhenta presença dos parlamentares protestantes conservadores no Congresso Constituinte, desde a sua abertura em fevereiro de 1987, pode ser vista como um ato de celebração desta passagem, de inauguração solene de uma nova era para essas igrejas cristãs e seus fiéis, suas crenças, seus pontos de vista, seus diagnósticos, suas práticas, seus valores, bem como para seus interesses corporativos de curto e longo prazos. A julgar por seu entusiasmo, tudo indica que, no final desses anos 80, num Brasil em processo de institucionalização do estado de Direito e da democracia representativa e competitiva, a hora do ativismo político soou também para aqueles grupos religiosos cristãos que, diferentemente dos católicos de todos os matizes, caracterizam-se pela determinação, que parecia inabalável, de manterem-se afastados da vida pública, do debate político, da luta ideológica para além das querelas religiosas e teológicas.

Após a ANC, os evangélicos marcaram presença continuada na Câmara dos

Deputados. A tabela abaixo enumera a quantidade de deputados evangélicos deste a

legislatura formada com a eleição multipartidária de 1982.

Tabela 3- Distribuição do número de deputados evangélicos na Câmara dos Deputados, de 1983 a

2011 Legislatura Nº

1983-1987 12

1987-1991 34

1991-1995 23

1995-1999 32

1999-2003 51

2003-2007 60

2007-2011 32

Fonte: Borges (2007); Pierrucci (1989); Figueira (2007).

25 Conforme Panebianco (2005, p. 18, grifo do autor), “a teoria dos incentivos coletivos distingue entre

incentivos de identidade (participa-se pela identificação com a organização), incentivos de solidariedade (participa-se por solidariedade aos outros participantes), ideológicos (participa-se pela identificação com a “causa” da organização)”.

26Nesse ano aconteceram eleições gerais para o legislativo (Assembleias Legislativas estaduais e Congresso Nacional) e os governos estatuais.

49

A evolução de 12 deputados na legislatura de 1983-1986 para 34 deputados na

legislatura de 1987-1991 fez dos evangélicos “a quarta maior bancada no Congresso

Constituinte, atrás apenas do PMDB, do PFL e do PDS” (PIERUCCI, 1989, p. 109). A marca

dos 34 deputados eleitos para a ANC foi superada somente na legislatura de 1999-2003,

quando somaram 51 deputados federais. Na legislatura de 2003-2007, os deputados

evangélicos formaram a terceira maior bancada na Câmara dos Deputados, com 60 deputados

federais. Este número foi reduzido quase pela metade na legislatura seguinte quando não

passaram dos 32 deputados federais.

3.1.2 Partido e denominação: identificação religiosa no contexto político partidário

A literatura especializada que trata da criação de partidos políticos destaca, entre

tantas, a clivagem religiosa como origem do surgimento de partidos. Na Europa, por exemplo,

partidos confessionais foram criados para concorrerem nas eleições. Dito de outra forma, as

clivagens sociais se traduziram em vários partidos políticos (LIJPHART, 2003).

Na Suíça, por exemplo, segundo Lijphart (2003, p. 56), o sistema partidário tem

relação com a estrutura social, quando afirma que

as divergências religiosas separam os democratas cristãos – apoiados principalmente pelos católicos praticantes – dos social democratas e dos radicais, que recebem a maior parte do apoio dos católicos que quase nunca, ou nunca, freqüentam a igreja, e os protestantes.

O mesmo autor, em seu estudo de 36 democracias, analisa as dimensões temáticas de

seus sistemas partidários, no período de tempo que vai de 1945 a 1996. A dimensão

socioeconômica vem relacionada em primeiro lugar, sendo que a dimensão temática religiosa,

expressão das diferenças entre os partidos religiosos e seculares, constitui a segunda dimensão

temática. Desta forma, Lijphart (2003) procura ligações entre o número de dimensões

temáticas com o número efetivo de partidos, demonstrando a identificação das clivagens

sociais com os partidos políticos.

Muitos autores têm procurado, em fontes teóricas que tratam da formação dos

partidos políticos, respostas para as questões político-partidárias brasileiras, inclusive para

50

responder os motivos da não formação de um partido evangélico no Brasil, já que este

fenômeno tem acontecido não somente na Europa, como também na América Latina,

inclusive em países como Argentina, Paraguai, Chile, Venezuela, Colômbia e Peru

(BORGES, 2007).

Este tema foi objeto de estudo, por exemplo, de Tiago Borges (2007), que procurou

saber por que os evangélicos, apesar de sua significância eleitoral, permanecem dispersos

entre vários partidos da política brasileira. Sua dissertação traz a seguinte hipótese: “um

partido evangélico não foi formado devido à ausência de uma identidade, tanto entre os

representantes evangélicos, quanto entre os eleitores que declaram pertencer a alguma igreja”

(BORGES, 2007, p. 74).

No entanto, segundo Lijphart (2003, p. 190), “sistemas eleitorais diferentes

produzem impactos diversos sobre os sistemas partidários”. Esse efeito pode ser percebido na

quantidade de partidos (seja no bipartidarismo ou pluripartidarismo) e na transformação dos

votos em mandatos para as cadeiras no Legislativo e Executivo, além de esses sistemas

influenciarem na determinação de estratégias dos diferentes agentes e organizações dentro do

sistema partidário.

Embora as clivagens sociais não estejam dissociadas do conjunto da sociedade, não

se pode buscar compreender partidos políticos simplesmente como reflexos dos grupos

sociais. A esse respeito, Mainwring (apud FERREIRA, 2002, p. 17) afirma que

as instituições não podem ser consideradas elementos secundários, epifenômenos ou meros reflexos das estruturas sociais, econômicas e culturais, pois gozam de certa autonomia diante desses elementos, caso contrário não faria sentido estudá-las.

Determinadas abordagens sobre partidos políticos têm encontrado muitas

dificuldades para analisá-los, ao perceberem que sua organização desfruta de certa

independência em relação aos segmentos sociais. A dificuldade está, principalmente, em

tentar atribuir os motivos de sua existência às estruturas sociais. Assim, essas teorias

procuram estabelecer vínculos de estrita dependência entre ambos, não reconhecendo os

limites destas relações e a autonomia dos partidos para adotarem as mais variadas causas que

surgem dentro da dinâmica das questões sociais.

Com o surgimento de novas demandas das sociedades contemporâneas, os partidos

políticos se colocam diante de uma gama de novas questões. Embora não estejam obrigados a

mudarem seus antigos programas, são capazes de absolver novas demandas sociais. Assim,

51

pode-se observar certo grau de autonomia dos partidos para agregar novos elementos no

cenário político da representação.

Atribuir aos partidos políticos dependência das divisões sociais consiste em não

atentar para determinadas particularidades que dizem respeito à sua atuação no sistema

partidário. Panebianco (2005, p. 4) denomina esta atitude de “preconceito sociológico,”

quando afirma que esta vertente

consiste em considerar as atividades do partido [...] como produto das “demandas” dos grupos sociais por eles representados e, mais em geral, que os próprios partidos nada mais são do que a manifestação das divisões sociais em âmbito político. Segundo essa mesma perspectiva, expressões como “partidos operários”, “partidos burgueses”, “partidos camponeses” etc. [...] O preconceito sociológico, portanto, impede tanto que se represente corretamente as complexas relações entre o partido e o seu eleitorado quanto que sejam individuadas as desigualdades específicas inerentes ao agir organizativo como tal.

Embora Panebianco fale da estrutura organizacional interna dos partidos, as

abordagens que procuram a razão de ser dos mesmos apenas nas divisões sociais, ou seja, nas

clivagens sociais e políticas, fazem parte de uma vertente que despreza a complexidade

institucional dos partidos políticos. Por conseguinte, podem existir baixos percentuais de

identificação partidária de um grupo social sem que, necessariamente, isso signifique ausência

de interesse nas questões de ordem pública.

Os dados da Tabela 4 demonstram a atitude das principais religiões brasileiras em

relação aos partidos políticos, levando em conta a identificação e a simpatia partidária.

Tabela 4- Atitude das principais religiões brasileiras em relação aos partidos políticos, em percentuais

Religião Identificação partidária Simpatia partidária

Não Sim Não Sim

Católica 55,7 39,2 47,7 52,3

Evangélica 65,7 32,3 59,3 40,7

Kardecista 49,2 50,8 46,0 54,6

Afro-brasileira 59,1 40,9 45,5 54,6

Sem religião 64,1 32,6 60,0 40,0

Fonte: Bohn (2004).

52

A identificação partidária desses dados está relacionada à questão de como os fiéis

dessas denominações se sentem representados pelos partidos políticos em sua maneira de

pensar. Enquanto que a simpatia partidária diz respeito aos gostar de algum partido político.

(BOHN, 2004).

Na relação entre os grupos religiosos e identificação partidária, constatou-se que a

maioria dos grupos não se identifica com nenhum partido político, com exceção dos

Kardecistas, que estiveram abaixo dos demais grupos, com um percentual apenas de 49.2%

relativo aos que não se identificam. Entre os que se identificam, os evangélicos foram os que

apresentaram o percentual mais baixo com 32.3%. No tocante à simpatia partidária os Sem

religião foram os que apresentaram o percentual mais baixo, somente 40.0% simpatizam com

algum partido político. Os evangélicos ficam em penúltimo com 40.7% de simpatizantes. Os

Kardecistas e os Afro-brasileiros são os grupos que mais simpatizam com 54.6% cada um. A

maioria dos católicos também simpatizou com algum partido político, 52.3%.

Embora identificados com seus grupos religiosos, isso não se traduz em identificação

partidária, seja com os partidos existentes ou na criação de partidos que venham representar

os interesses religiosos. Tal fato indicaria uma representação política paradoxal, quando

considerada a representação partidária, principalmente em relação às denominações religiosas

que se fazem representar frequentemente na política.

Para analisar a identificação política dos evangélicos, é importante que se leve em

conta as características do mundo evangélico relacionadas às igrejas que o compõem. Embora

possa haver identificação em torno do nome evangélico, são várias as denominações que

formam esse segmento religioso, cada uma com interesses institucionais próprios. Dessa

forma, podem se unir em torno de questões que dizem respeito às suas crenças e interesses

religiosos comuns e se dividirem em questões de interesses próprios de cada denominação.

(MACHADO, 2006).

Dentro do ambiente de convivência evangélico, o voto constitui-se como meio de

expressão de uma identidade religiosa. Nesse sentido, os candidatos oficiais de denominações

evangélicas têm como principal trunfo político, para conquista do eleitorado evangélico, o

apelo à identidade religiosa (MACHADO, 2006).

Os materiais de campanha utilizados pelos candidatos vão nessa direção, desde

panfletos, explicitando a vocação e o chamado divino para a política, a santinhos e

marcadores de bíblias e cartas, todos com versículos bíblicos, como no verso usado pelo

53

deputado Costa Ferreira que diz: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”, ou o verso “o Senhor

dos exércitos está conosco,” utilizado por Telma Pinheiro em suas campanhas.

Os candidatos a deputado estadual também lançam mão de linguagem bíblica que os

identifiquem com os eleitores evangélicos. A deputada Eliziane Gama utiliza em suas

campanhas, inclusive em projetos de iniciativa parlamentar, a frase “Fome e sede de justiça”,

como pode ser vista na unidade móvel de saúde da mulher que percorre o Estado do

Maranhão, principalmente nos eventos religiosos promovidos pela AD.

O pastor Pedro Lindoso (2010, grifo do autor), em carta aos evangélicos, também

apelou ao voto de seus irmãos, quando afirmou que

[...] a Bíblia tem ensinos que justificam a tese de que “irmão vota em irmão”. Moisés profetizou um período em que a nação israelita pediria um rei, assim como as demais nações tinham os seus (Dt 17.14). Esclarecido disso, Moisés estabelecera dois requisitos básicos para o cidadão ou a cidadã israelita constituir um líder político, primeiro: o líder político deveria ser escolhido por Deus. “Estabelecerás com efeito sobre ti como rei aquele que o Senhor Deus escolher...” (Dt 17.15a); em segundo lugar o líder político deveria ser escolhido dentre os irmãos e nunca dentre os estranhos “...homem estranho que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás sobre ti, e sim dentre eles” (Dt 17.15). Irmão vota em irmão.

E finaliza, citando personagens bíblicos como modelo:

Prezado (a) irmão (a), tomarei o exemplo de José, Samuel e Daniel que sendo homens de Deus ingressaram na vida pública para servirem seus irmãos. É isto que pretendo fazer a serviço da sociedade maranhense e sobre tudo do Reino de Deus. Por essa razão peço humildemente seu voto de confiança (LINDOSO, 2010).

As frases e versículos bíblicos identificam os candidatos com o segmento evangélico,

diferenciando-os dos demais e aproximando-os deste, principalmente pela ênfase dada à

identidade religiosa. Dessa maneira, inseridos no universo evangélico, tais políticos

demonstram, em períodos eleitorais, afinidades com o referido segmento, objetivando lograr

proveitos eleitorais.

Dessa forma, espera-se que o compartilhamento de valores religiosos e a participação

na rede de sociabilidade tecida pela igreja sejam fatores que afetem as decisões eleitorais dos

fiéis e favoreçam a concentração de votos nos candidatos apoiados pela liderança da igreja. A

identidade religiosa serve como ponto de intermediação entre a esfera religiosa e a esfera

política, para a conquista de votos e na atuação conjunta de parlamentares evangélicos que,

54

desde a ANC, formaram a Bancada Evangélica27, com ênfase na moral social de suas

denominações.

Ainda que dispersos em vários partidos políticos e vindos de denominações

evangélicas diferentes, os interesses comuns dos políticos evangélicos confirmam que a

dispersão partidária não significa dispersão em questões de interesses relacionados à religião,

estando no fundo dessa atuação, no cenário político, a identificação religiosa. Sendo assim, a

pertença religiosa funciona como fator de identificação na política entre evangélicos.

Conforme Fernandes (1998, p. 148, grifo do autor), “os dados levantados pela pesquisa Novo

Nascimento demonstram que a crença evangélica é efetivamente relevante para o

comportamento cívico e político dos fiéis”.

Nesse caso, os evangélicos se destacam entre os demais grupos religiosos não apenas

pela ênfase dada à sua filiação religiosa, como também pela declaração explícita, entre os

parlamentares, de representantes de suas igrejas. Segundo Paul Freston (1993, p. 246),

a discussão da bancada evangélica não seria completa sem tentativa de comparação com os representantes de outras confissões. Mas há uma dificuldade: estes não colocavam a mesma ênfase pública na origem religiosa da ação política, muito menos se declaravam representantes de suas confissões. Os protestantes foram o único grupo religioso nítido na ANC.

Em discurso na Câmara dos Deputados, Costa Ferreira relacionou sua atividade

parlamentar aos interesses da AD maranhense, ao fazer menção, em plenário, das reuniões de

pastores realizadas pela Convenção Estadual da AD no Maranhão:

nós gostaríamos de deixar patente a nossa gratidão a Deus por um acontecimento importante como este ocorrido no nosso Estado, durante o qual a Igreja cuidadosamente se reuniu para tratar da evangelização e também da estruturação da família no Brasil. Todos nós estamos preocupados com o rumo de muitos projetos de lei que tramitam nesta Casa, que tentam destruir em parte a estabilidade da família. Nós e nossa Igreja no Maranhão estamos firmes no melhor propósito de fazer a sua voz chegar também ao Congresso, dizendo a todos os Parlamentares que a família é uma instituição divina, sacramentada por Deus, que jamais será destruída por qualquer iniciativa de quem quer que seja (BRASIL, 2008).

A situação dos evangélicos chama a atenção como grupo religioso que se faz

representar, crescentemente, chegando a formar, em algumas legislaturas, a terceira bancada

parlamentar no Congresso Nacional, com base na identificação religiosa e, por outro lado,

como grupo mais distante da identificação com os partidos políticos.

27 Conforme Pierucci (1989, p. 119), foi o primeiro “grupo de constituintes” a se organizar em bloco parlamentar

suprapartidário para as atividades constitucionais em 1987.

55

Nesse caso, identidade religiosa e identidade partidária, apesar de não serem

incompatíveis, também não estão sempre relacionadas. Assim, os blocos parlamentares

também, não necessariamente, possuem uma relação de dependência, para existirem com

expressão partidária. Lima Junior (1993, p. 24) percebe essa disjunção, quando afirma que

[...] a Constituição define o partido político como associação com personalidade jurídica regulada pelo direito privado. Estabelece ainda que a representação no Congresso seja parlamentar e não partidária. Paradoxalmente, porque não acolhe a candidatura avulsa, uma vez que a filiação partidária é requisito de elegibilidade, atribui ao partido, na prática, o monopólio da representação. Finalmente, a Constituição prevê, no Congresso, o funcionamento de bancadas e blocos parlamentares e não de partidos.

Em suma, a despeito de sua dispersão partidária, os evangélicos são um segmento

social com participação política crescente no cenário nacional. Essa participação é permeada

pela identidade que se constrói no ambiente das igrejas evangélicas, mais que no ambiente da

competição e defesa de ideologias e programas partidários. Nesse sentido, a identidade

religiosa faz a mediação entre religião e política, tanto em períodos eleitorais como nas

atividades parlamentares na Bancada Evangélica.

3.1.3 Os evangélicos no contexto do sistema eleitoral

O importante para se entender a participação política dos evangélicos, não é

simplesmente procurar uma lei de causalidade entre identidades sociais e partidos políticos,

mas analisar o relacionamento estratégico dos diferentes grupos sociais e o contexto

institucional político, ou seja, estudar a estrutura institucional que regula a competição

partidária e sua importância para a definição de custos e incentivos que poderão justificar a

dispersão partidária, ou não.

Com efeito, vale ressaltar a importância do sistema eleitoral brasileiro, em particular,

o sistema eleitoral proporcional. Segundo Jairo Nicolau (2004, p. 37),

a fórmula proporcional tem duas preocupações: assegurar que a diversidade de opiniões de uma sociedade esteja refletida no Legislativo e garantir uma correspondência entre os votos recebidos pelos partidos e sua representação. A principal virtude da representação proporcional, segundo seus defensores estaria em sua capacidade de espelhar no Legislativo todas as preferências e opiniões relevantes existentes na sociedade.

56

Nesse sentido, o sistema eleitoral proporcional é o mais adequado, em comparação

com o majoritário,28 para que se apreendam as várias diferenças políticas existentes no seio de

uma determinada sociedade. Eis o motivo pelo qual grupos minoritários como os evangélicos

podem alcançar sucesso eleitoral nas eleições proporcionais.

Quanto mais proporcional é a divisão de cadeiras mais os evangélicos se fazem

presentes entre as instituições representativas, a exemplo da Câmara dos Deputados e das

Assembleias Legislativas. É nessas casas que podemos encontrar o maior número de políticos

evangélicos, diminuindo seu número para o Senado Federal e para os cargos de chefia do

Executivo, isto é, no nível da competição majoritária.

Outro ponto a destacar é o fato de que o sistema proporcional também estimula o

multipartidarismo. Por conseguinte, o multipartidarismo seria um incentivo a mais para a

formação de agremiações partidárias, visto que os distritos, por consequência, seriam

plurinominais, permitindo a eleição de mais de um representante, isto é, com mais cadeiras

em disputa, os grupos minoritários aumentam suas chances de obter representação, mesmo

que seja em um pequeno partido.29

Contudo, o sistema de lista aberta contribui para a dispersão partidária, pois tende a

personalizar a escolha eleitoral, diferentemente do modelo de lista fechada, quando os cabeças

de lista são alocados conforme a disposição do partido. Sendo assim, neste modelo, o eleitor

vota no partido, não tendo como favorecer diretamente um determinado candidato.

Conforme Jairo Nicolau (2004), há duas singularidades que diferenciam o sistema de

lista aberta no Brasil. A primeira é que

[...] o eleitor brasileiro tem a opção de votar exclusivamente em um partido (voto de legenda). Nesse caso, o voto é contabilizado para a distribuição das cadeiras, mas não afeta a disputa entre os candidatos da lista. Outra singularidade é a formação de uma única lista de candidatos quando diferentes partidos estão coligados. Pelo sistema em vigor no Brasil os candidatos mais votados, independentemente do partido ao qual pertençam, ocuparão as cadeiras eleitas pela coligação (NICOLAU, 2004, p. 57).

A estrutura institucional partidária não oferece constrangimentos para a agregação de

parte do eleitorado, mesmo que religioso, nos partidos existentes. Tal eleitorado se utiliza da

lista aberta para depositar votos em candidatos de sua preferência, dando importância aos 28 Conforme Nicolau (2004, p. 17), “o sistema majoritário tem o propósito de assegurar apenas a representação

do(s) candidato(s) mais votado(s) em uma eleição. Em geral, a fórmula majoritária é utilizada em distritos uninominais”.

29 Jairo Nicolau (2004, p. 14) cita o seguinte exemplo: “um partido com 5% dos votos provavelmente não elegeria ninguém, num distrito com M = 10, mas garantiria um representante num distrito com M = 25”.

57

fatores pessoais ou atendendo as orientações de organizações não partidárias na escolha de

seus representantes. Assim, os eleitores podem votar em seus candidatos independentemente

de sua agremiação partidária.

Além disso, o sistema de lista aberta, ao tempo que favorece a personalização da

escolha eleitoral, traz como ponto negativo o estímulo à “competição entre os candidatos de

um mesmo partido, prática que enfraqueceria os partidos na arena eleitoral” (NICOLAU,

2004, p. 56). Para evitar a competição entre candidatos da mesma igreja, os evangélicos não

concorrem para o mesmo cargo público, em um mesmo partido político, nas eleições

proporcionais. Os candidatos da AD no Maranhão, por exemplo, estão distribuídos entre o

PPS e PSC para deputado estadual e PSDB e PSC para deputado federal.

Nesse sentido, os políticos evangélicos podem se acomodar entre os vários partidos

oferecidos pelo sistema partidário brasileiro. Costa Ferreira, político evangélico com a mais

longa trajetória política no Estado do Maranhão na Câmara dos Deputados, esteve na

ARENA, PDS, PFL, PTR, PP e, atualmente, está no PSC (BRASIL, 2008).

Enfim, o sistema proporcional de lista aberta e os distritos plurinominais possibilitam

representação política a uma minoria unida e coesa eleitoralmente, mais que a uma maioria

dispersa. Este é o ambiente de atuação política dos pequenos grupos e igrejas que contam com

pequenos percentuais da população para participar da discussão pública nas casas legislativas.

Com o crescimento de suas pretensões políticas, os evangélicos vêm ampliando sua

participação eleitoral, da concorrência no nível proporcional para o majoritário. A IURD é o

melhor exemplo dessa ampliação de participação política. A passagem do bispo Carlos

Rodrigues pela presidência estadual do PL30 do Estado do Rio de Janeiro aproximou esse

partido da IURD, a qual se esforçou para recrutar políticos de várias denominações

evangélicas (MACHADO, 2006) e lançou, nas eleições de 2002, Marcelo Crivella para o

Senado Federal e o vice-presidente de Lula, José Alencar.

Segundo André Ricardo de Souza (2009, p. 15),

o escândalo do mensalão, iniciado em maio de 2005, provocou uma reviravolta no arranjo político brasileiro. O Partido Liberal - PL, com o qual a IURD até então mais tinha se envolvido, foi profundamente abalado, de modo que a igreja de Macedo e Crivella teve que procurar uma alternativa. Ironicamente, buscaram se articular com católicos carismáticos do Partido Humanista da Solidariedade (PHS) para fundar em

30 Essa participação para uma instituição religiosa resultou em sérios prejuízos para suas atividades no campo

religioso. Citamos como exemplo o caso da IURD e de seu principal articulador político o bispo Carlos Rodrigues que após se envolver em vários escândalos políticos, prejudicou a atuação política da igreja na legislatura de 2007-2011, sendo expulso da denominação (MACHADO, 2006).

58

agosto daquele ano o Partido Municipalista Renovador - PMR. Três meses depois, a nova legenda já havia acolhido o vice-presidente da República – José Alencar – e mudado de nome para Partido Republicano Brasileiro - PRB.

Com uma agremiação partidária da igreja, a IURD fluminense lançou candidaturas

oficiais em todas as eleições para o executivo municipal e estadual. Em 2004, Marcelo

Crivella concorreu à prefeitura da capital fluminense; em 2006, concorreu ao governo do

Estado e, em 2008, novamente concorreu à prefeitura do Rio de Janeiro (SOUZA, 2009).

Embora não tenha obtido sucesso, a partir de 2004, o candidato iurdiano competiu em todas as

eleições para o executivo. Em 2004, ficou em segundo lugar, perdendo para César Maia

(DEM, antigo PFL); em 2006, em terceiro lugar e, em 2008, perdeu para Eduardo Paes

(PMDB), após liderar as pesquisas de intenção de voto (SOUZA, 2009).

Semelhantemente, a AD maranhense, em preparação para as eleições de outubro de

2010, abriu uma vaga para pré-candidato ao Senado Federal. Dessa forma, a AD maranhense

passaria da concorrência no nível proporcional para o majoritário. No entanto, o partido do

pré-candidato assembleiano ao Senado Federal, o PP, integra a chapa que apoia a candidatura

da Governadora Roseana Sarney (PMDB) à reeleição, que já tinha seus pré-canditatos ao

Senado. Após ameaças de ir para a oposição, o pré-candidato assembleiano, pastor Bel,

aceitou a segunda suplência na candidatura ao Senado Federal do ex-ministro das Minas e

Energia, Edson Lobão (PMDB). A outra vaga ficou com João Alberto (PMDB).

Com a proposta de um candidato assembleiano ao Senado Federal inviabilizada, o

presidente da CEADEMA, pastor Pedro Aldi Damasceno, em entrevista, mostrou sua

insatisfação:

[...] o nosso pensamento seria de nós lançarmos dois [deputados] estaduais, dois [deputados] federais e um [candidato a] senador. Mas, lamentavelmente, houve um engodo que o [pré-candidato a] senador terminou não dando certo, o enganaram. Não enganaram a ninguém, enganaram eles próprios, pensou que nós íamos entrar, não vamos entrar sabemos que se trata de malandragem (informação verbal).31

Pastor Pedro Aldi se referiu ao grupo político da governadora Roseana Sarney,

especificamente, ao candidato ao senado Edson Lobão, que recrutou o pré-candidato

assembleiano com a intenção de obter apoio da AD. Tendo suas intenções políticas frustradas

e pretensões de resolver problemas dessa natureza, o presidente da Convenção Estadual da

AD afirmou, em entrevista:

31 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o

pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.

59

[...] o que nós pretendemos é que na próxima eleição, tenhamos nós um partido nosso definitivo para lançarmos os nossos candidatos via diretamente os nossos partidos políticos, porque aí nós vamos deixar de ser manobrados por esses políticos baratos que tem por aí (informação verbal).32

O crescimento das pretensões políticas da IURD e AD, sua entrada nas alianças

políticas e lançamento de candidatos nas eleições majoritárias evidenciam a existência de um

caminho para a criação de um partido político que seja o braço político dessas igrejas na

competição política eleitoral.

No entanto, a direção de lideranças religiosas evangélicas sobre partidos políticos ou

a efetiva criação de um partido apontam mais para as relações pragmáticas dessas igrejas no

cenário de alianças políticas ou para o lançamento de candidaturas a cargos da competição

majoritária do que para a concentração de interesses ideológicos com base na identificação

com temas que unem os evangélicos, como o veto ao aborto e à união civil entre

homossexuais, entre outros.

Com efeito, a relação pragmática dessas igrejas com os partidos se dá ao nível dos

interesses institucionais das denominações. Assim, os interesses denominacionais se

restringem a cada igreja na luta pelo aumento de sua influência política. Dessa maneira, tais

partidos dependeriam da concentração do aparato institucional da denominação patrocinadora

e de sua influência política sobre candidatos e denominações menores para alcançarem

destaque no cenário político.

Portanto, a identidade religiosa pode se traduzir em resultados políticos e a

participação dos evangélicos está de acordo com seus interesses e os constrangimentos e

incentivos do sistema eleitoral, seja proporcional ou majoritário. Tudo isso tem relações com

o quadro institucional, pois o curso da ação política dos vários agentes envolvidos na

competição eleitoral tem ligações com o sistema partidário.

Nesse sentido, o sistema partidário institucional não é neutro, no que se refere à

organização estratégica para obtenção de resultados políticos. Dessa forma, o desenho do

quadro partidário atua como importante fator de incentivo ou constrangimento a determinados

cursos da ação política, quando, nesse contexto competitivo pelo voto, busca-se a

maximização de tais objetivos de forma articulada, levando líderes políticos e religiosos a

adotarem determinadas estratégias para alcançarem esses propósitos.

32 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o

pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.

60

3.2 A LÓGICA PARTIDÁRIA NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ECLESIÁSTICA

DA AD

A politização do segmento evangélico tem relações com a estruturação do ambiente

eclesiástico para a atuação na política partidária, com o objetivo de tornar eficiente o

lançamento de candidatos oficiais e sua eleição, com o apoio e votação dos fiéis. É o caso da

AD e sua organização religiosa e política no Estado do Maranhão, como atesta Rodrigues

(2006, p. 80):

com um eleitorado semicativo composto por uma população evangélica que não tem parado de aumentar, com apoio de recursos financeiros de doações variadas, [...] e com auxílio de uma militância voluntária que se assemelha à dos partidos políticos de mobilização política, o sucesso do empreendimento político-eleitoral dos evangélicos [...] foi amplo e rápido.

A estrutura eclesiástica da AD foi construída paulatinamente, conforme a

necessidade da denominação de se impor no campo religioso brasileiro. A constituição dos

vários ministérios assembleianos pelo país se estendeu sobre grandes áreas geográficas, como

Estados e regiões do país. Atualmente, ministérios e convenções estão afiliados à Convenção

Geral, tronco originário da AD no país.

3.2.1 A Convenção Geral - CGADB

O órgão da AD responsável pelas diretrizes da organização política é a Convenção

Geral. Este é o órgão máximo da denominação e considerado o seu tronco originário, pelo

fato de ter dado à denominação, desde o início, um corpo organizacional. Contudo, ela apenas

institucionalizou os anseios e aspirações políticas das várias lideranças estaduais e regionais

representadas nas Convenções a ela afiliadas. Com relação às ADs locais, elas atuam em cada

lugar, sem estarem ligadas administrativamente a uma instituição nacional.

A ligação nacional entre as igrejas é feita através dos seus pastores, que são afiliados

a convenções estaduais, que, por sua vez, vinculam-se a uma convenção de caráter nacional.

Dessa maneira, em cada Estado, os pastores estão ligados a Convenções estaduais e a

Ministérios. Essas Convenções, em geral, credenciam evangelistas e pastores, cuidam de

61

assuntos da liderança e de direção das igrejas. Nesse sentido, as convenções estaduais operam

um tipo de liderança regional entre as igrejas locais e a Convenção Geral.

A Convenção Geral, na verdade, é um “centro fraco”, sem poder deliberativo sobre

as igrejas. Embora seja uma associação de pastores, ela não tem poder para demitir ou admitir

obreiros, no exercício pastoral. Sua principal importância, como instância máxima, está em

dirimir eventuais pendências entre ministérios e convenções afiliadas. Também é responsável

pela produção de materiais usados por toda a igreja, através da mídia impressa e formação

teológica formal e informal (FRESTON, 1994).

O Quadro 2 mostra a organização da AD em território nacional. Atualmente 48

convenções estaduais, regionais e ministérios estão ligados à Convenção Geral. Os Estados de

São Paulo e Rio de Janeiro são sede de quatro delas. No Distrito Federal e nos Estados do

Ceará, Espírito Santo e Minas Gerais existem três convenções; no Maranhão, Pará, Paraíba e

Pernambuco, duas e, em cada um dos demais Estados da federação, há uma convenção

afiliada à Convenção Geral.

Convenção Sigla Sede/Cidade Estado

Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus, no Maranhão

CEADEMA São Luís Maranhão

Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus, do SETA, no Sul do Maranhão

COMADESMA Imperatriz Maranhão

Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus do Piauí

CEADEP Teresina

Piauí

Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Ceará

COMEADEC Fortaleza Ceará

Convenção de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus, Ministério no Estado do Ceará

CIMADEC-CE Fortaleza Ceará

Convenção Fraternal de Ministros das Assembleias de Deus do Estado do Ceará

CONFRADECE Fortaleza Ceará

Convenção Estadual de Ministros da Assembleia de Deus, com Sede em Abreu e Lima – Pernambuco

COMADALPE Abreu e Lima

Pernambuco

Convenção da Assembleia de Deus de Pernambuco

CONADEP Recife Pernambuco

Convenção de Ministros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Campina Grande e no Estado da Paraíba

COMEAD-CGPB Campina Grande

Paraíba

Convenção de Ministros das Assembleias de Deus no Estado da Paraíba

COMADEP João Pessoa Paraíba

62

Convenção das Assembleias de Deus do Rio Grande do Norte

CEMADERN Natal Rio Grande do Norte

Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Sergipe

CONEADESE Aracaju Sergipe

Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Alagoas

COMADAL Maceió Alagoas

Convenção Estadual das Assembleias de Deus na Bahia

CEADEB Salvador Bahia

Convenção Estadual das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado do Pará

COMIEADEPA Ananindeua Pará

Convenção Interestadual dos Ministros das Igrejas Assembleia de Deus do SETA nos Estados do Pará e Mato Grosso

CIADSETA-PA/MT Redenção Pará

Convenção Estadual de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Acre

CEIMADAC Rio Branco Acre

Convenção Estadual dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de Rondônia

CEMADERON Cacoal Rondônia

Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas

CEADAM Manaus Amazonas

Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangelicas Assembleia de Deus no Estado do Amapá

CEMEADAP Macapá Amapá

Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Estado de Roraima

CEDADER Boa Vista Roraima

Convenção Interestadual das Assembleias de Deus do SETA no Estado do Tocantins e Igrejas Filiadas

CIADSETA-TO Palmas Tocantins

Convenção das Assembleias de Deus no Estado de Goiás

CADESGO Rio Verde Goiás

Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Mato Grosso

COMADEMAT Cuiabá Mato Grosso

Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus de Brasília e Goiás

COMADEBG Taguatinga Distrito Federal

Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Distrito Federal

CEADDIF Brasília Distrito Federal

Convenção dos Ministros Evangélicos das Assembleias de Deus do Planalto Central

COMADEPLAN Brasília Distrito Federal

Convenção Estadual dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil

COMADEMG Belo Horizonte

Minas Gerais

Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Triângulo Mineiro

COMADETRIM Uberlândia Minas Gerais

Convenção dos Ministros das Assem-bleias de Deus do Vale do Rio Doce

COMADVARDO Timóteo Minas Gerais

Convenção dos Ministros Ortodoxos das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo

COMOESPO São Paulo São Paulo

63

Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus no Ministério do Belém - SP

CONFRADESP São Paulo São Paulo

Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo

COMADESPE São Paulo São Paulo

Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado de São Paulo e Estados Limítrofes

CIEADESPEL São Paulo São Paulo

Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Brasil no Estado do Rio de Janeiro

CEADERJ Duque de Caxias

Rio de janeiro

Convenção Evangélica das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro

CEADER Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no Estado do Rio de Janeiro

CONFRADERJ Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Estado do Rio de Janeiro

COMADERJ Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Convenção das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo e Outros

CADEESO Vila Velha Espírito Santo

Convenção Evangélica dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo

CEMADES Vila Velha Espírito Santo

Convenção Fraternal dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado do Espírito Santo

CONFRATERES Vitória Espírito Santo

Convenção da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná

CIADESCP Itajaí Santa Catarina

Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Estado do Paraná

CIEADEP Curitiba Paraná

Convenção dos Pastores das Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus no Estado do Rio Grande do Sul

CIEPADERGS Porto Alegre Rio Grande do Sul

Quadro 2- Convenções e Ministérios assembleianos afiliados à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil

Fonte: Convenção Geral..., 2010.

A organização da AD em convenções regionais e estaduais possibilitou sua

participação política, no âmbito do distrito estadual da competição eleitoral. A disputa pelas

cadeiras das Assembleias Legislativas, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e as

alianças com lideranças políticas estaduais ficam a cargo das convenções estaduais. Entre

estas, a AD maranhense, por intermédio de sua Convenção Estadual, tem participado

ativamente do processo político eleitoral iniciado pela Convenção Geral, lançando candidatos,

desde as eleições de 1986.

64

3.2.2 A CEADEMA

A AD Ministério das missões no Estado do Maranhão está submetida a duas

convenções, a CEADEMA e a COMADESMA, ambas afiliadas à Convenção Geral. A

primeira abrange a maior extensão geográfica do Estado, agregando maior número de fiéis.

Esta convenção estadual participa ativamente da política desde a ANC, apresentando e

elegendo representantes políticos no plano nacional e estadual.

A AD maranhense está ligada à Convenção Geral das ADs desde o seu início, em

1930. Seguindo o exemplo da Convenção Geral, as ADs no Maranhão também se

organizaram em convenção estadual. Dessa forma, a primeira Assembleia Geral Ordinária

(AGO) aconteceu no dia 15 de novembro de 1934, na cidade de Coroatá, no interior do

Estado, presidida pelo pastor Nels Julius Nelson. A primeira Convenção Estadual contou com

a presença de dois pastores, dois diáconos e vários auxiliares (SILVA, 2001).

Dessa forma, a CEADAMA, desde o início, contribuiu para a organização da

Convenção Geral, sendo uma das primeiras afiliada da organização, inclusive dando para a

Convenção Geral alguns de seus presidentes.33

As AGO’s da CEADEMA acontecem, ordinariamente, uma vez por ano, sempre no

último trimestre, em sua sede ou em qualquer igreja no Estado e, extraordinariamente, para

tratar de assuntos relevantes, sempre no período entre as AGO’s. Esta Convenção é composta

de pastores, evangelistas e missionários devidamente credenciados por ela. É nas reuniões da

Convenção Estadual, principalmente nas AGO’s, que os pastores locais apresentam seus

auxiliares para serem consagrados (afiliados) a evangelistas e pastores. Depois de afiliados,

são enviados às cidades do Estado para expandir o trabalho de evangelização.

A Figura 3, abaixo, ilustra a forma de organização das ADs situada nas várias

cidades do Estado.

33 Entre eles, Nels Julius Nelson primeiro presidente da CEADEMA, presidindo a Convenção Geral de 1949 a

1951; Francisco Pereira do Nascimento, que presidiu a Convenção Geral por duas vezes de 1953 a 1955 e de 1959 a 1962 e Alcebíades Pereira de Vasconcelos, de 1987 a 1988, ano da primeira eleição do atual presidente, José Wellington Bezerra da Costa (CONVENÇÃO Geral..., 2010).

65

Figura 3- Modelo de organização das Assembleias de Deus: igrejas-mãe e filiadas Fonte: Freston (1994).

Conforme a Figura 3, as ADs brasileiras estão organizadas em forma de árvore, em

que cada ministério é constituído pela igreja-sede com suas respectivas afiliadas,

congregações e pontos de pregação (subcongregações). A partir desse modelo, a AD estende

sobre seu campo de atuação uma rede de congregações com autonomia para abrir, através do

evangelismo, novas frentes de trabalho estendendo sua influência com a formação de novas

igrejas nos vários pontos da cidade ou fora dela.

Quando determinada congregação cresce o suficientemente para fazer frente à igreja-

mãe, pode ocorrer ali o nascimento de uma nova igreja-sede ou mãe de um campo. Tal fato

pode ocorrer pela ameaça de cisão no local ou pela impossibilidade de a igreja-mãe dar

assistência pastoral e evangelística naquela localidade. Neste caso, por pressão ou questões

administrativas, surge um novo campo com uma igreja-mãe e suas congregações satélites.

3.3 NOVA POSTURA DA AD ANTE A POLÍTICA

A nova posição da AD ante a política partidária pode ser percebida nas palavras do

pastor e senador José Virgínio de Carvalho. Segundo ele, “não devemos ver a política como

algo negativo, mas sim, como algo que pode dar sustentação a uma vida melhor para o povo”

66

(LÍDER..., 2008, p.7). Essas palavras destacam uma visão diferente daquela defendida pela

igreja antes de 1986. Por conseguinte, a participação política da AD tem a ver com a mudança

paulatina de postura de sua liderança e fiéis que viram potencial eleitoral na igreja para eleger

representantes políticos.

Nesse sentido, a participação política da AD, no primeiro momento, não se deu

simplesmente como resultado da oportunidade participativa promovida pela redemocratização

do país, mas havia um interesse da cúpula assembleiana de tirar proveito de seu potencial

religioso, transformando-o em potencial político (BURITY, 2006). Freston (1993, p. 93)

destaca que o processo de institucionalização organizativa34 pelo qual passava a AD também

teve efeitos sobre a participação política e eficiência eleitoral, ao afirmar:

[Um...] sinal de institucionalização e que teve influência direta sobre o esforço político pós-1986 é a re-estruturação da Convenção Geral em moldes burocráticos em 1979, o que permitiu que se encorajassem as convenções estaduais, muitas das quais tinham existência precária, a fazerem o mesmo. Essa maior burocratização foi, provavelmente, indispensável para o sucesso das candidaturas coordenadas à Constituinte tivesse tanto sucesso.

Chama a atenção o fato de que uma denominação com as características da AD tenha

surpreendido nas eleições de 1986. Com efeito, isso se deu graças à mobilização promovida

pela cúpula da organização no momento de declínio da ditadura militar, instalada em 1964, às

vésperas do advento da redemocratização do país. Via-se aí uma oportunidade para influir nos

meios de representação política. Para Freston (1993, p. 35),

a mudança de postura política por parte da AD em 1985 foi fundamental para que o fenômeno político protestante tivesse abrangência nacional. Tanto pelo tamanho (uns 35% do campo protestante) como pela dispersão geográfica, era a única igreja capaz de imprimir uma dimensão nacional à irrupção política.

A mobilização político-eleitoral da AD no país resultou na conquista de 14 cadeiras

na Câmara dos Deputados (PIERUCCI, 1989). Esse resultado eleitoral foi consequência das

decisões tomadas pela Convenção Geral em duas convocações que teve como um de seus

principais assuntos a participação política da denominação. A primeira na AGO, realizada em

34 Para compreendermos o processo de “institucionalização organizativa”, utilizamos o conceito de Panebianco

(2005, p. 36), que afirma que esse processo ocorre com “a consolidação da organização, e passa de uma fase de fluidez estrutural inicial, quando a recém-nascida organização ainda se encontra em construção, em uma fase em que a organização se estabiliza, desenvolvendo interesses estáveis para a sobrevivência e lealdades organizativas igualmente estáveis, todos estes fatores relacionados ao desenvolvimento de uma burocracia”.

67

janeiro e, logo após, no Encontro de Líderes da Assembleia de Deus (ELAD)35, em abril do

ano de 1985 (FRESTON, 1994). Com efeito, estava em pauta, debaixo de calorosos debates

entre os convencionais, a escolha de uma comissão para estudo da contribuição da Convenção

Geral para a nova constituição brasileira e o incentivo à participação política da igreja para a

eleição de representantes nas casas legislativas do país. Foi nestes encontros que as lideranças

das ADs começaram a demonstrar interesse pela política e a salientar a importância da

participação da igreja no contexto político do país nas três esferas da União: federal, estadual

e municipal. Também havia uma preocupação com o apoliticismo da denominação e sua

tradicional omissão em assuntos da vida pública nacional (FRESTON, 1993).

Em consequência, a maioria das Convenções estaduais se mobilizaram para a

indicação de candidatos a deputado federal e deputado estadual. Dessa forma, a AD passou a

atuar no âmbito do distrito eleitoral estadual, concorrendo às vagas para o Congresso

Nacional e Assembleias Legislativas. Contudo, vale ressaltar que a visão predominante desta

participação era demonstrada como uma necessidade de representação junto às instituições

políticas, a fim de barrar, na ANC, as iniciativas consideradas “anti-cristãs” e privilégios de

outras correntes religiosas, como, por exemplo, da igreja majoritária (PIERUCCI, 1989).

O Quadro 3 enumera os deputados eleitos pertencentes à AD em 13 Estados do país e

suas agremiações partidárias.

Nº Deputado (a) Partido Estado

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

Antônio da Jesus

Benedita da Silva

Costa Ferreira

Eliel Rodrigues

Gidel Dantas

João de Deus

José Fernandes

José Viana

Manoel Moreira

Matheus Iense

PMDB

PT

PFL

PMDB

PMDB

PDT

PDT

PMDB

PMDB

PMDB

GO

RJ

MA

PA

CE

RS

AM

RO

SP

PR

35 ELAD é um fórum de debates com a presença exclusiva de pastores e evangelistas das ADs, devidamente

credenciados na Convenção Geral, e suas esposas. Seu objetivo é trazer à discussão assuntos relevantes que não foram devidamente examinados e resolvidos nas AGOs (CONVENÇÃO Geral..., 2010).

68

11

12

13

14

Milton Barbosa

Orlando Pachêco

Salatiel Carvalho

Sotero Cunha

PMDB

PFL

PFL

PDC

BA

SC

PE

RJ

Quadro 3- Deputados Federais da Assembleia de Deus eleitos para a Assembleia Nacional Constituinte, em 1986

Fonte: Pierruci (1989). Nota: Algumas informações consideram o Dep. Gidel Dantas como membro da Igreja de Cristo.

A AD conseguiu eleger representantes nos seguintes Estados: Goiás, Maranhão,

Pará, Ceará, Rio Grande do Sul, Amazonas, Roraima, São Paulo, Paraná, Bahia, Santa

Catarina e Pernambuco, sendo um deputado federal em cada Estado e dois no Estado do Rio

de Janeiro. Metade dos 14 deputados era filiada ao PMDB, três ao PFL, dois ao PDT. PT e

PDC elegeram um parlamentar, cada.

Após as eleições para a ANC, em 1986, a AD foi paulatinamente se enfraquecendo,

enquanto a IURD começou a crescer. “A Assembleia de Deus foi a igreja com maior

representação parlamentar em Brasília até as eleições de 1998. Naquele ano, ela elegeu 12

deputados federais, sendo superada pela IURD, que conseguiu fazer 17 deputados” (SOUZA,

2009, p. 5). A IURD seguia o caminho inverso da AD, demonstrando evolução política em

comparação às demais igrejas evangélicas. Segundo Pedro Oro (2003, p. 59), esse sucesso da

IURD parece estar provocando um “efeito mimético” no campo da política evangélica,

inclusive sobre a AD.

3.3.1 Projeto Cidadania AD Brasil

O rápido crescimento da IURD teve efeitos sobre as principais denominações que

participam com mais frequência da política partidária, especificamente sobre a AD. Os

desdobramentos desse êxito da IURD alcançados pela AD e suas lideranças podem ser evidenciados

nas averbações, por exemplo, de Samuel Malafaia (1996 apud MACHADO, 2006, p. 25), ao dizer:

votar e ser votado é legal e não contraria a Palavra de Deus [...] Queremos, portanto, exaltar o bonito exemplo da igreja Universal, que define muito bem seus

69

representantes no Legislativo. As outras denominações deveriam imitá-la, pois só assim o segmento evangélico, como um todo, estaria mais representado e, com certeza, evitaríamos que homens inescrupulosos se intrometessem no meio do povo de Deus.

Como reação ao decréscimo de sua bancada e da ineficiência política, a AD, em

franca imitação da IURD se organizou muito mais que em tempos anteriores, voltando à

predominância entre parlamentares nas eleições de 2002. Assim, segundo Paul Freston (2006,

p. 183), “a organização assembleiana de hoje é diferente da de vinte anos atrás; está muito

mais compacta e unificada. Ela aprendeu algumas coisas com a Universal, mesmo que tenha

sido apenas para concorrer”.

3.3.1.1 Conselho Político Nacional

O Conselho Político Nacional da AD foi criado por ocasião da 35ª Convenção Geral,

na capital do país, Brasília, nos dias 15 a 19 de janeiro de 2001. Esse encontro marcou o início

do projeto político da AD coordenado pelo Conselho Político da Convenção Geral, que

contou com o apoio das convenções estaduais, regionais, ministérios e dezenas de deputados

federais e estaduais assembleianos de todo país (APROVADO..., 2001).

A criação do Conselho Político marcou uma nova fase na denominação: a de atuar de

forma organizada na política. Tal Conselho tem como principal finalidade coordenar e

supervisionar o projeto sócio-político denominado de “Cidadania AD Brasil”. O documento

foi aprovado no dia 03 de agosto de 2001, com planos e metas para inserir, de forma

articulada, as ADs, no contexto político nacional, contribuindo para desenvolver a consciência

política participativa, com foco em princípios cristãos, nas lideranças e nos fiéis

assembleianos. Além disso, o Conselho também gerencia o lançamento de candidatos oficiais

da denominação em pleitos eleitorais em todo o país. Com esse projeto, a “visão da AD é de

que o espaço da fé não pode estar reduzido à vida pessoal e privada, mas também se estende à

esfera política” (APROVADO..., 2001, p. 3).

Assim, a pretensão da AD se estende ao campo da atuação dos deputados com a

elaboração de cadastro de parlamentares que a represente institucionalmente, junto aos

poderes públicos, nos assuntos de interesse da denominação. O Conselho Político também

supervisiona e avalia atuações parlamentares para, finalmente, prestar relatórios junto à

70

Convenção Geral. Além de deputados federais, há também deputados estaduais e até prefeitos

e vereadores, todos sob a chancela de igrejas ligadas à Convenção Geral. A todos os seus

membros, o Conselho Político Nacional também provê assessoria nos mais variados assuntos

parlamentares. O Conselho Político Nacional da Convenção Geral realizou, em Brasília, nos

dias 12 e 13 de julho de 2003, seu primeiro seminário, que reuniu deputados e líderes

eclesiásticos em torno da discussão da alteração dos artigos 44 e 2.031 do novo Código Civil,

principalmente no que diz respeito ao tratamento dado às igrejas (LEI..., 2003, p. 4). Já, com

relação aos eleitores, a orientação da Convenção Geral das ADs é no sentido de não exercer

forte “pressão ou orientação direta sobre os fiéis” (ORO, 2003, p. 59).

Os resultados das estratégias do Conselho Político Nacional vieram logo no ano

seguinte, quando as ADs voltaram à predominância política entre os evangélicos na Câmara

dos Deputados, no ano de 2003, contribuindo para o aumento da Frente Parlamentar

Evangélica, na Legislatura de 2003 a 2007. Segundo Oro (2003, p. 60), ao citar o jornal Folha

de São Paulo de 10 de outubro de 2002,

a bancada evangélica de deputados federais eleitos tem pelo menos sessenta parlamentares, donos de 5,1 milhões de votos, sendo 23 deputados filiados às Assembléias de Deus, 22 vinculados ou apoiados pela Universal, oito batistas e os demais de outras denominações, o que significa um aumento de 25% em relação à bancada anterior [...] Também no Senado houve um aumento de senadores evangélicos. Eram dois (Iris Rezende e Marina Silva) e agora são quatro (Marina Silva, Magno Malta, Bispo Crivella e Paulo Otávio).

A estes se uniu o líder da AD no Estado de Sergipe, pastor Virgínio José de Carvalho

Neto (PSC-SE), que assumiu, no dia 26 de março de 2008, uma vaga no Senado Federal como

suplente da senadora Maria do Carmo Alves (DEM). Pastor Virgínio Neto entrou para a

política ao filiar-se, em 2006, ao PSC, com o apoio da Convenção Geral (PASTOR..., 2009).

3.3.2 Revés na escalada política

Às vésperas das eleições, em 2006, abateram-se, sobre 72 congressistas, acusações

de um esquema de superfaturamento na compra de ambulâncias, em troca de emendas

parlamentares, escândalo que repercutiu nacionalmente, denominado de “máfia dos

sanguessugas”. Neste escândalo, constatou-se a presença de 23 parlamentares evangélicos,

71

inclusive do assembleiano, líder da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Adelor Vieira,

do PMDB-SC (SOUZA, 2009).

Os efeitos desse escândalo político refletiram nas eleições de 2006, resultando na

redução da Frente Parlamentar Evangélica. Dos 60 deputados que compunham a Bancada

Evangélica, somente 15 conseguiram se reeleger. Isto é, somente 25% continuaram no cargo.

Entre os deputados evangélicos que não se reelegeram ou não se candidataram, 26 foram

denunciados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) “dos sanguessugas” por

envolvimento com o esquema de compra de superfaturamento de ambulâncias. Nenhum dos

15 reeleitos estava sob investigação (BANCADA..., 2006, p. 3).

Esse resultado brecou o crescimento da Bancada Evangélica. O auge foi exatamente

em 2002. O revés maior foi na bancada da IURD que, diante do escândalo, proibiu a

candidatura à reeleição de parlamentares ligados a ela que estivessem sob suspeita (SOUZA,

2009). Com isso, apenas dois membros da igreja tentaram a reeleição sem sucesso. Já a AD,

após retomar o crescimento no número de parlamentares, no ano de 2002, teve nas eleições de

2006 sua bancada reduzida. Todos os seus 23 deputados federais se candidataram à

reeleição.36

3.3.3 Conselho Político Estadual

As ADs maranhenses – assim como mais doze convenções e ministérios

assembleianos afiliados à Convenção Geral – lançaram e elegeram seu primeiro representante

para a ANC, em 1986 (FRESTON, 1994). Além disso, acompanhou a evolução e decisões

tomadas em nível nacional, pela Convenção Geral, fazendo parte da ação política organizada

com a formação de seu Conselho Político Estadual.

Sob a responsabilidade deste está a organização das prévias para a seleção de

candidatos. Em entrevista, o presidente da Convenção Estadual afirma que a seleção do pré-

candidato se inicia pelo

36 Os deputados federais reeleitos pertencentes às ADs foram os seguintes: Antônio Cruz (PST-MG), João

Campos (PSDB-GO), Silas Câmara (PTB-AM), Hedekazu Takayama (PMDB-PR), Zequinha Marinho (PSC-PA), Sérgio Nechar (PP-SP), Manoel Ferreira (PP-RJ), Filipe Pereira (PSC-RJ) e Jurandy Loureiro (PSC-ES) (BRASIL, 2010).

72

bom testemunho dessas pessoas. Todos são membros das Assembleias de Deus em nosso Estado, de boa reputação, senhores e senhoras de bem, que têm uma vida pregressa relativamente equilibrada e no presente uma vida de verdadeira harmonia e paz, pessoas tementes a Deus preocupados com o social, preocupados com a família (informação verbal).37

Passada esta etapa, segundo relata em mesma entrevista,

a maneira de selecionar é uma pré-eleição que nós fazemos em Convenção e saber quais são os candidatos que a Convenção concorda. São muitos os que se candidatam, mas são escolhidos aquele tanto que nós julgamos que nós podemos elegê-los (informação verbal).

O número de pretendentes a cargos eletivos depende do potencial eleitoral que a

igreja dispõe. O caminho seguido é o seguinte: antes das eleições, faz-se um levantamento

regionalizado que se aproxima do número de fiéis da igreja. Com base nesses dados, o

Conselho Político Estadual decide quantos candidatos podem ser lançados. O segundo passo é

a realização das prévias para escolha dos candidatos que preencham as vagas oferecidas pela

denominação.

Muitos daqueles que veem reduzidas suas chances de ganharem as prévias pela igreja

por não manterem boas relações com a liderança lançam suas candidaturas

independentemente do apoio da igreja, dividindo o eleitorado evangélico. Esta é uma das

principais causas da ineficiência política da AD. O problema é que não há um controle rígido

sobre a quantidade de candidatos que pertencem à igreja. Dessa maneira, a disputa pelo voto,

no interior da igreja, diminui as chances de as candidaturas oficiais conquistarem uma cadeira

na Câmara dos Deputados.

O quadro abaixo demonstra o modelo de organização política para seleção e apoio

institucional de candidatos nas principais religiões brasileiras que concorrem na política

eleitoral.

37 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o

pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.

73

Religião Prévias Candidato oficial

Tipo de pressão para direcionar o voto dos fiéis Forte Fraca Não exerce

AD Sim Sim ----- Sim -----

IURD Não Sim Sim ----- -----

Quadrangular Sim Sim ----- Sim -----

Católica Não Não ----- ----- Sim

Afro-brasileira Não Não ----- ----- Sim

Quadro 4- Modelo político adotado pelas principais religiões brasileiras Fonte: Adaptado de Oro (2003).

O Quadro 4 demonstra que a AD e Quadrangular selecionam seus candidatos por

intermédio de prévias internas, enquanto a IURD e Igreja Católica não adotam esse modelo de

seleção. A Igreja Católica não apresenta candidatos oficiais, enquanto todas as evangélicas

apresentam candidatos oficiais. O tipo de pressão para direcionar o voto dos fiéis é forte na

IURD, fraco na AD e Quadrangular, enquanto a Igreja Católica não exerce pressão sobre o

voto de seus fiéis.

Indagado, em entrevista, sobre como a igreja orienta o voto de seus membros e fiéis,

o pastor presidente da Convenção Estadual afirmou que:

[o] voto é democrático, todo mundo é livre pra votar em quem desejar. Ninguém vai obrigar a quem quer que seja a votar em candidato “a” ou “b” [...] Nós temos os nossos candidatos e procuramos aclarar eles para os nossos irmãos. Contudo, nós não obrigamos nem compramos e nem concordamos que ninguém o compre ou venham a comprá-los para tais coisas, pelo contrário o voto é livre, vota em quem quer, nós deixamos a vontade do povo fazer a escolha (informação verbal).38

A apresentação dos candidatos da AD ao público evangélico é de responsabilidade

dos pastores locais, que abrem espaços nos eventos da igreja, solicitando o voto dos fiéis e

permitindo que os candidatos façam o mesmo. Conforme Machado (2006, p. 139),

[...] em algumas igrejas a política eleitoral é um tema tratado no púlpito, o que possibilita a socialização das opiniões e a influência das lideranças religiosas sobre os fiéis que têm pouca ou nenhuma participação em movimentos sociais, organizações de caráter associativista ou político-partidária. Assim, a comunidade de fiéis torna-se também uma base eleitoral importante, e a rede de relações religiosas desdobra-se em uma poderosa rede de relações políticas.

38 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o

pastor Pedro Aldi Damasceno, presidente da CEADEMA.

74

Embora recebam a incumbência de orientar o voto dos membros, nem todos os

pastores seguem as orientações da Convenção Estadual, por estarem ligados com candidaturas

de políticos de sua região. No entanto, os pastores que apoiam os candidatos oficiais militam

para concentrar o voto de suas igrejas nos candidatos da denominação.

Em suma, embora a AD indique e declare apoio a alguns candidatos e tente por

vários meios, principalmente através dos grandes eventos da denominação, apresentá-los ao

público evangélico, ela dá liberdade a seus fiéis de votar em quem desejarem e não

desaconselha outros fiéis a apresentarem seus nomes a cargos eletivos.

75

4 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD NO ESTADO DO

MARANHÃO

A AD lança candidatos próprios há mais de 24 anos na política partidária do Estado,

participando ativamente da competição político-eleitoral e compondo alianças eleitorais com

os grupos políticos do Estado. Essa participação tem acontecido no âmbito das eleições

proporcionais. Portanto, este estudo expõe o desempenho político-eleitoral da AD para a

Câmara Federal e Assembleia Legislativa do Estado nas eleições de 1998, 2002 e 2006, com

base nos dados do TSE. A partir de 1998, a AD ampliou o lançamento de candidatos, além de

uma pré-candidatura para a Câmara Federal e abriu duas para a Assembleia Legislativa.

Alguns autores têm relacionado a ampliação da participação política com o

crescimento das denominações evangélicas. Segundo Rodrigues (2006, p. 78),

o crescimento dos pastores [deputados] na CD [Câmara dos Deputados] decorre de um movimento de mudanças no mapa religioso, que é a retração do catolicismo e a expansão das igrejas evangélicas, especialmente as pentecostais da IURD e da Assembléia de Deus. Esse fenômeno tem conseqüências no plano político, levando o grande crescimento da “bancada evangélica” na Câmara dos Deputados e em outros órgãos legislativos.

Dessa maneira, o número de fiéis, quando canalizados para a política, pode se

traduzir em potencial eleitoral. Em entrevista, Costa Ferreira afirmou que “95% de seus votos

procedem do meio evangélico” (informação verbal),39 enquanto a deputada Eliziane Gama,

afirmou que “90% de seu eleitorado também são de evangélicos” (informação verbal).40

Além de analisar o crescimento dos evangélicos e o número de fiéis da AD,

comparados às demais denominações e à população no Estado, busca-se entender a dinâmica

político-eleitoral da AD através da análise de seus candidatos na competição eleitoral. Para

isso, será analisada a votação da cada candidato, no contexto da competição eleitoral, para a

Câmara Federal e Assembleia Legislativa.

39 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com Costa

Ferreira. 40 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com a

deputada Eliziane Gama.

76

4.1 A AD, EM NÚMEROS, NO ESTADO DO MARANHÃO

Começamos a analisar os números a partir do censo de 1991, pois, entre 1991 e

2000, tem início a intensificação do crescimento evangélico no Maranhão. Essa tendência

pode ser confirmada no censo de 2000 com a constatação de maior diversificação das

religiões no Estado. Em nove anos, de 1991 e 2000, esse crescimento foi de cerca de seis

pontos percentuais.

No presente estudo, também serão analisados os dados, comparando as principais

religiões maranhenses, a fim de mostrar a relevância da AD no contexto local e sua

significativa contribuição para o crescimento do total de evangélicos no Maranhão. Embora os

números da AD tenham sido subestimados pelo censo demográfico do IBGE de 1991, que

constatou 37.308 assembleianos maranhenses, no censo de 2000, esses números atingiram a

cifra espetacular de 400.017 fiéis. Acrescente-se a isso os 191.946 evangélicos que não foram

identificados por nenhuma denominação.

Ricardo Mariano questiona o real crescimento da AD, que provavelmente não tenha

sido tão grande, como indicaram os dados do censo demográfico de 2000. Segundo nota do

mesmo autor (2001, p. 84),

com base no último Censo, a Assembléia de Deus teria saltado de 2.439.770 para 8.418.154 adeptos entre 1991 e 2000, o que representa um crescimento de 14,8% ao ano. Por certo, o número de assembleianos foi subestimado no Censo de 1991, o que elevou artificialmente sua taxa de crescimento na década seguinte, taxa que não deve alcançar sequer a metade dos 14,8%. Indício de subestimação pode ser observado, por exemplo, no fato de o Censo de 1991 apontar que a Assembléia de Deus tinha apenas 17,2% dos evangélicos da região Norte e meros 10,2% dos crentes do Estado do Pará, onde foi fundada. Dados improváveis, decorrentes, sobretudo, da dificuldade do IBGE em identificar a denominação de considerável parte dos evangélicos daquela e de outras regiões do país, o que levou a subestimar o montante de fiéis da Assembléia de Deus. De modo geral, pode-se afirmar que o Censo de 1991 subestimou o tamanho da maioria das principais igrejas evangélicas do país. Isso permite explicar, em parte, sua espetacular taxa de crescimento no Censo de 2000.

Embora o censo do IBGE de 1991 possa conter incorreções, o comparativo com o

censo de 2000 atende a um dos interesses desse trabalho, que é discorrer sobre os números da

AD maranhense. Evidências dessa situação podem ser observadas na comparação das tabelas

e do gráfico demográfico das principais religiões, em particular da AD no Estado maranhense,

com as demais denominações do segmento evangélico.

77

Tabela 5- Percentual das principais religiões no Estado do Maranhão, entre 1991 e 2000 Religião 1991 2000

Católicos 90.7% 82.2%

Evangélicos 6.25% 11.5%

Sem religião 2.15% 5.0%

Fonte: IBGE, censos demográficos de 1991 e 2000.

A Tabela acima apresenta os números em percentuais das principais religiões

maranhenses, nos anos de 1991 e 2000. O percentual de católicos em 1991 era de 90,7%; caiu

para 82.2%, em 2000. Os evangélicos eram 6,25%, em 1991; subiram para 11,5%, em 2000.

Os sem religião eram 2,15%, em 1991 e, em 2000, subiram para 5%.

Embora os números do catolicismo tenham caído 8,5%, entre 1991 e 2000, a

distância em relação as demais religiões é muito grande, sendo a religião hegemônica no

Estado. Já os evangélicos, nesse mesmo período, quase dobraram seu percentual.

Semelhantemente, ainda que com baixos percentuais em relação às demais confissões

religiosas, os sem religião mais que dobraram seus números, nesse mesmo período.

Os percentuais das principais denominações evangélicas, em relação ao total da

população do Estado, podem ser verificados na Tabela 6, que demonstra o percentual das

principais denominações evangélicas em relação à população residente no Maranhão. Os fiéis

da AD eram 7,08%, enquanto os da igreja Batista somaram 1,45%. Já os da igreja Adventista

se revelaram 1,14% e os da IURD, 0,52%. Os fiéis da Congregação Cristã no Brasil

resultaram em 0,24% e os da Igreja Presbiteriana apenas 0,22% da população do Estado do

Maranhão.

78

Tabela 6- Percentual das principais denominações evangélicas em relação à população do Maranhão, em 2000

Denominações Fiéis

AD 7,08%

Igreja Batista 1,45%

Igreja Adventista 1.14%

IURD 0,52%

Congregação Cristã no Brasil 0.24%

Igreja Presbiteriana 0,22%

Fonte: IBGE, censo demográfico de 2000.

A AD apresentou os maiores percentuais de fiéis em relação à população residente.

A igreja Batista e Adventista passou a marco de um por cento, enquanto as demais

denominações não passaram de um por cento. A partir desses dados, constata-se que há

concentração de evangélicos na AD.

O Gráfico abaixo ilustra a diferença entre as principais denominações evangélicas no

Estado.

Gráfico 3- As maiores denominações evangélicas do Maranhão Fonte: IBGE, censo demográfico de 2000.

O Gráfico compara as maiores denominações evangélicas do Maranhão. Os

assembleianos somaram 400.017; os batistas, 81.499; os adventistas eram 64.916; os

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000

Presbiterianos

Congregação Cristã no Brasil

Universal do Reino de Deus

Adventistas

Batistas

Assembleia de Deus

Milhares

79

iurdianos, 29.525; os fiéis da Congregação Cristã no Brasil, 13.594, e os presbiterianos eram

12.423.

A AD ultrapassou a marca do 400.000, enquanto as demais denominações

evangélicas não passaram dos 100.000. Somente a igreja Batista se aproximou dessa marca.

Estes números demonstram a relevância da AD para a elevação dos números do total de

evangélicos no Estado. Sendo a denominação com maior expressividade numérica, ela

representa 61,5% de um total de 649.970 evangélicos.

4.2 O DESEMPENHO POLÍTICO-ELEITORAL DA AD MARANHENSE

A representação política da AD na Câmara Federal teve início com o mandato

parlamentar de José Fernandes, que legislou entre 1982-1983 e depois se elegeu para um

segundo mandato entre 1983-1987, pelo Estado do Amazonas, com um eleitorado

basicamente não religioso (FRESTON, 1993). No Senado, teve início com Marina Silva, que,

eleita em 1994, converteu-se durante o mandato, em 1997 (LEITÃO; AMARAL, 2009).

A inserção da AD maranhense na política partidária, segundo Freston (1993), está

diretamente relacionada às decisões tomadas pela Convenção Geral da AD nacional41, em

preparação para as eleições proporcionais de 15 de novembro de 1986. Segundo este autor

(1993, p. 210),

na sua Convenção Geral em janeiro de 1985, em Anápolis-GO, vários líderes falaram da importância da Constituinte. Tudo indica que a cúpula já decidira lançar candidatos, mas que era necessário ir devagar para vencer resistências e manter a unidade. Para isso, foi estratégica a presença de políticos evangélicos de outras denominações, como Íris Rezende e Daso Coimbra, pedindo que a AD se envolvesse [...] A Convenção marcou um encontro de todos os presidentes das convenções estaduais para discutir a questão, o qual teve lugar em Brasília em abril de 1985. A decisão lá tomada foi apresentada no órgão oficial em linguagem que visava superar resistências [...] A nossa igreja tem suficiente potencial para colocar um representante em cada estado no Parlamento... O compromisso da igreja, nesse caso,

41 O governo da AD é complexo, pois a combinação de poder está relacionada às decisões da Convenção Geral,

na esfera nacional, às convenções estaduais e ministérios, nas esferas estaduais e regionais, e às igrejas-sede de campo, na esfera municipal ou local. Embora os dois últimos níveis desfrutem de certa autonomia, indo de baixo para cima, a força do governo hierárquico da Convenção Geral se impõe principalmente quando as decisões se relacionam a problemas de caráter nacional. Foi nessa ordem que se deu o processo de candidaturas oficiais na AD maranhense, isto é, da Convenção Geral, representada por sua mesa diretora, partiu a decisão de lançar candidatos assembleianos. Da Convenção Estadual, representada por seu presidente, partiu a incumbência de organizar e coordenar o processo de seleção para o lançamento de candidaturas oficiais. Finalmente, os pastores de igrejas-sede são encarregados de dar orientação eleitoral para fiéis.

80

não pressupõe um envolvimento político-partidário, pois a nossa segurança está em Deus, mas representa um esforço da igreja de manifestar sua benéfica influência nas mais altas esferas da vida pública.

Em cumprimento das decisões tomadas pela Convenção Geral, a maioria das

convenções estaduais e ministérios escolheu pré-candidatos a deputado federal. A Convenção

da AD maranhense já tinha seu candidato natural, o assembleiano, então vereador de São

Luís, Antônio da Conceição Costa Ferreira, que contou com o apoio do presidente da

Convenção da AD no Estado, pastor Estevam Ângelo de Souza.42

Além da autoridade carismática43 e centralizadora do presidente da CEADEMA, tido

por muitos pastores e membros como o “lixa de ferro”, outro fator contribuiu para que a

escolha de um candidato à Câmara Federal ocorresse sem concorrência. O outro fato está

relacionado ao ascetismo assembleiano que se opunha à atividade política para fiéis da igreja,

inclusive para os fiéis que optavam por seguir uma carreira política autônoma em movimentos

sociais ou em algum partido político. Estes fatores foram essenciais para inibir as aspirações

daqueles que sonhavam com a vaga disponibilizada pela Convenção da igreja.

Como afiliada à Convenção Geral, a CEADEMA lançou mão de seu potencial

demográfico e geográfico em campanhas no interior da denominação, tendo nos pastores,

distribuídos pelas várias cidades e povoados do Estado, seu principal “cabo eleitoral”.

É muito comum, na AD maranhense, em períodos pré-eleitorais ou em campanhas

eleitorais, a visita dos candidatos da denominação às igrejas. Já é tradição das ADs

maranhenses promoverem eventos festivos que geralmente obedecem a um calendário anual,

com três eventos principais, que são o aniversário da igreja na cidade, congresso ou

confraternização de mocidade e o aniversário do círculo de oração de senhoras. Estes eventos

também têm, além dos fiéis da denominação da cidade, a presença das ADs de cidades

circunvizinhas e de outras denominações evangélicas, agregando público variado das diversas

cidades do Estado. Nestes eventos, o púlpito é usado pelos candidatos evangélicos como

palanque.

Ao invés dos tradicionais pregadores da denominação, nessa ocasião, a oportunidade

é facultada aos candidatos da denominação para ministrarem estudos e pregações aos fiéis. 42 Pastor Estevam Ângelo foi empossado co-pastor da AD, na capital maranhense, em 04 de janeiro de 1954.

Neste ano, a igreja contava com apenas três congregações na cidade. Em 16 de dezembro de 1957, assume a igreja em definitivo, até sua morte, em fevereiro de 1996, em consequência de acidente automobilístico, deixando a igreja com 167 templos. Sendo um dos principais líderes da AD no estado, pastor Estevam Ângelo foi presidente da AD na capital por 42 anos e da CEADEMA por 38 anos (SILVA, 2001).

43 Para Max Weber, líder carismático é aquele que exerce o domínio com base no devotamento efetivo de seus seguidores, justificado pelo caráter sagrado de seus dotes sobrenaturais no contexto de uma ordem revelada ou pelo heroísmo, poder intelectual e de oratória (1982).

81

Esta é uma forma que a igreja encontrou de ocultar as intenções político-eleitorais da cúpula

dirigente, dando espaço para que seus candidatos cativem o eleitorado evangélico. Além dos

candidatos evangélicos, também tem destaque, no púlpito da igreja, políticos locais, como

vereadores e prefeitos que têm oportunidades para saudarem os fiéis.

Como a atividade político-partidária ainda é vista com desconfiança por muitos

assembleianos, esses encontros também servem para que os fiéis analisem o grau de

“santidade” do candidato e seu compromisso com a igreja. Embora participando de todo

contexto de problemas sociais, nesses encontros predomina sempre o espírito sectário da AD.

Por conseguinte, o interesse do eleitorado evangélico não está tão voltado para projetos

sociais que visem a solucionar problemas mais amplos da sociedade, mas para aqueles que

estão relacionados à esfera moral e comportamental dos brasileiros. Enfim, o candidato

precisa provar aos fiéis que será um defensor e porta-voz dos interesses da igreja nas casas

legislativas, para que obtenha legitimidade política no meio.

Mesmo sem a presença dos candidatos nas igrejas espalhadas pelas cidades do

Estado, pastores e dirigentes orientam e pedem o voto dos fiéis. Alguns para se certificarem

do acerto, no dia que antecede as eleições, simulam o voto utilizando pedagogicamente

imitações de urnas eletrônicas nos templos, a fim de maximizar o voto dos fiéis. E, por fim,

ao final do culto, na porta do templo, é feita a distribuição do material de campanha com foto,

nome, partido e número do candidato.

Entre os candidatos assembleianos destaca-se, na história política da AD

maranhense, o nome do deputado Costa Ferreira, presente em todas as legislaturas, desde a

ANC. A representação da AD maranhense se confunde com o nome do deputado Costa

Ferreira, desde a legislatura que teve início no ano de 1987.

Costa Ferreira, antes de iniciar sua carreira política, pertenceu à igreja Batista, em

sua cidade natal, Guimarães, no interior do estado. Ainda nos primórdios de sua fé evangélica,

uniu-se à AD. A partir daí, integrou-se às atividades evangelísticas e sociais promovidas pela

igreja. Além de membro ativo da denominação, também foi torneiro mecânico, advogado,

professor e auditor fiscal do trabalho. Atualmente, é aposentado pelo desempenho de sua

última atividade profissional (informação verbal).44

Costa Ferreira foi lançado na política eleitoral pela AD da capital maranhense em

1976, dando início à sua trajetória ao ser eleito vereador de São Luís. A ligação com José

44 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com Costa

Ferreira.

82

Sarney45 e com a direção de programas radiofônicos evangélicos por mais de 15 anos,

segundo Freston (1993), contribuiu para o sucesso em sua primeira eleição.

A aproximação com um grupo político em ascensão permitiu o estabelecimento de

uma aliança em que ambos somavam para ganhar. José Sarney contou então com o apoio de

um segmento religioso crescente que começava a engatinhar na política e, de contrapartida, a

igreja contou com as benesses e favores do governismo que tem, sob seu poder, o controle de

recursos redistributivos com os quais faziam campanhas e ganhavam apoio eleitoral. A longa

experiência no rádio permitiu que Costa Ferreira se aproximasse do público evangélico mais

amplo, além dos limites de sua denominação.

Após seu primeiro mandato como vereador, na cidade de São Luís, entre 1977-1983,

Costa Ferreira foi reeleito vereador para a legislatura de 1983-1987. Dispondo da experiência

adquirida em duas legislaturas na Câmara dos Vereadores, na capital maranhense, Costa

Ferreira era o nome indicado para concorrer pela AD a uma das dezoito vagas para deputado

federal. Costa Ferreira foi eleito juntamente com o batista Enoc Vieira, sendo este reeleito

para sua segunda legislatura. Ambos foram os únicos deputados evangélicos eleitos pelo

Maranhão em 1986. Este número subiu para três, com o batista suplente de deputado federal,

Edivaldo Holanda (PFL), que foi efetivado em 1988.

Nas legislaturas seguintes, a representação parlamentar evangélica diminuiu

no Estado do Maranhão, saindo de três, entre 1991 a 1995, para um deputado e

depois para um suplente, entre 1995 a 1999. Nesse período, Costa Ferreira foi o

único representante evangélico na Câmara dos Deputados.46

4.2.1 Eleições 1998

Após confirmar os nomes dos pré-candidatos nas prévias realizadas na 57ª

AGO, no ano de 1996, na cidade de Codó, a AD lançou, para concorrer nas eleições

de 1998, o nome de três candidatos para as eleições proporcionais. Dois candidatos

concorreram à Assembleia Legislativa, Pedro Alves Santos (PPB) e Telma Pinheiro

45 O domínio de Sarney sobre a política maranhense teve início com sua eleição, em 1965, para o governo do

estado que contou com a chancela do novo regime instaurado pelo golpe militar, em 1964, pondo fim aos 20 anos do domínio de Vitorino Freire (vitorinismo) sobre a política do estado.

46 Costa Ferreira assumiu o mandato de março de 1995 a abril de 1998, para finalmente ser efetivado, ao término da legislatura, isto é, em setembro de 1998.

83

Ribeiro (PFL) e, mais uma vez, o deputado Costa Ferreira (PFL) para a reeleição (COSTA,

2002).

Os dois partidos em que se abrigaram os assembleianos tinham candidatos diferentes

diferentes ao governo do Estado, sendo do PFL Roseana Sarney, que tentava a reeleição,47 e

reeleição,47 e do PPB o ex-governador e ex-aliado do grupo Sarney Epitácio Cafeteira.

Cafeteira.

A divisão dos três candidatos assembleianos entre os principais candidatos ao

governo do Estado também revela os interesses pragmáticos, os quais a denominação costuma

fazer uso no mundo da política. Em entrevista ao jornal da denominação, Costa Ferreira diz:

“o aspirante ao poder se posiciona para galgar o poder de conformidade com o momento”

(SOUSA, 2009, p.16).

Assim como Costa Ferreira, Telma Pinheiro também foi lançada na política pela AD

maranhense. Em entrevista, a candidata afirmou que faz parte de família tradicional

evangélica. É engenheira, tendo inclusive trabalhado na construção de templos da igreja, ao

lado do pastor Estevam Ângelo. Após ser motivada e aconselhada pelo pastor Estevam a

entrar na política, Telma Pinheiro foi lançada pré-candidata pela igreja, em 1995, à Câmara

dos Vereadores e eleita vereadora de São Luís em 1996 (informação verbal).48

A candidata assembleiana lançou-se no campo eleitoral, principalmente pelos

eventos religiosos das ADs maranhenses. Para fazer-se conhecida do público evangélico, sua

campanha eleitoral se caracteriza pelo apelo eleitoral aos jovens da denominação. Também

aproveita a condição de mulher evangélica para fazer apelo eleitoral ao público feminino.49

Por ocasião do 28º Congresso de Dirigentes de Círculo de Oração e Esposas de Obreiros,

realizado na cidade de Barra do Corda, de 21 a 23 de julho de 2010, a candidata disse:

aproveito a oportunidade para agradecer o apoio que jamais nos falta, com suas orações e incentivos durante toda minha vida pública. Nestes 25 anos, sempre estivemos neste evento levando o ensino da palavra de Deus e abençoando famílias, pois o povo de Deus merece o nosso melhor. Neste ano me foi proposto mais uma vez o desafio de representar a igreja como candidata a Deputada Federal, fundamentando esta disposição em continuar contribuindo na busca de uma sociedade mais justa e na melhoria da qualidade de vida do povo maranhense. Com

47 Roseana Sarney foi beneficiada pela emenda constitucional 16/97, aprovada pela Câmara e Senado Federal e

promulgada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (BRASIL, 1997) 48 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com Telma

Pinheiro. 49 Conforme o censo demográfico de 2000, entre os evangélicos, o número de mulheres superou o número de

homens no estado do Maranhão. Os homens eram 279.214, enquanto o número de mulheres era de 370.756. No caso específico da AD, também não é diferente. Os homens representam um total de 175.221 e as mulheres de 224.797 do total de assembleianos no Estado.

84

grande convicção, afirmo que Deus tem aprovado a minha caminhada política, por isso, conto com vosso apoio, oração e voto para juntas alcançarmos a vitória (PINHEIRO, 2010).

Já o candidato Pedro Alves Santos foi professor da rede pública municipal e depois

foi pastor da AD. Durante mais de 15 anos, ele participou ativamente de movimentos sociais

na região do Mearim (EX-DEPUTADO..., 2005). Diferentemente da maioria dos candidatos

oficiais evangélicos, Pedro Alves é o tipo de político evangélico que alcançou projeção

política pelo envolvimento em movimentos sociais e por haver participado ativamente da

política antes de se tornar evangélico, atuando de maneira autônoma e, depois de convertido,

foi cooptado pela igreja para a política.

Para as 18 cadeiras na Câmara Federal disponíveis para o Maranhão, concorreram 80

candidatos e 20 partidos políticos. A competição eleitoral ficou em 4,5 vagas por candidato,

com o quociente eleitoral em torno de 85.572 votos. A coligação partidária formada por PTB /

PSC /PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL e PMDB conquistou 13

das 18 cadeiras. O PFL conquistou seis cadeiras, uma delas sendo ocupada por Costa Ferreira,

que teve 37.923 votos que representaram 2,46% dos votos válidos, sendo o quinto mais

votado da legenda.

Tabela 7- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a Câmara Federal em 1998

Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras

Válidos 1.540.309 80 18

Coligação PFL / PTB / PSC / PC do B PRP /

PSD / PRTB / PSDC / PL / PST /

PSL e PMDB

990.209 38 13

Partido PFL (nominais / legenda) 459.102 8 6

Candidato

assembleiano

Costa Ferreira 37.923 1 1

Fonte: TSE.

85

Nome Partido / Coligação Votação

João Castelo Ribeiro Gonçalves PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 96.535 José Sarney Filho PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB /

PSDC / PL / PST / PSL / PMDB 96.349

Nice Lobão PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

91.106

Roberto Coelho Rocha PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 78.485 Gastão Dias Vieira PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB /

PSDC / PL / PST / PSL / PMDB 76.879

Pedro Fernandes Ribeiro PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

64.774

Mauro de Alencar Fecury PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

63.311

Francisco de Assis Milhomem Coelho

PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

62.395

José Guimarães Neiva Moreira PB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 51.291 Paulo Celso Fonseca Marinho PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB /

PSDC / PL / PST / PSL / PMDB 48.706

Eliseu Barroso de Carvalho Moura

PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

47.758

Remi Abreu Trinta PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

45.442

Pedro Novais Lima PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

44.949

Carlos César Branco Bandeira PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

42.902

José Antônio Figueiredo de Almeida da Silva

PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 39.529

Sebastião Torres Madeira PPB / PT do B / PDT / PRN / PSB / PSDB / PMN 38.932

Antônio da Conceição Costa Ferreira

PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

37.923

Alberico de França Ferreira Filho

PTB / PSC / PFL / PC do B / PRP / PSD / PRTB / PSDC / PL / PST / PSL / PMDB

37.742

Quadro 5- Deputados federais eleitos em 1998 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.

Para a Assembleia Legislativa, concorreram às 42 vagas 497 candidatos de 26

partidos. A competição ficou em torno de 12 candidatos por vaga e o quociente eleitoral, em

41.335 votos. Os candidatos da AD obtiveram votações parecidas, mas somente o pastor

86

Pedro Alves conseguiu se eleger com 13.740 votos, pela coligação PPB e PSDB. Telma

Pinheiro ficou com 13.601 votos, não conseguindo se colocar entre os 20 primeiros colocados

de sua coligação (PMDB / PFL e PSD), ficando como primeira suplente. No ano seguinte, a

suplente assembleiana se tornou titular.

Tabela 8- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Assembleia

Legislativa em 1998 Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras

Válidos 1.736.080 497 42

Coligação PPB e PSDB 202.287 36 5

Partido PPB (nominais/legenda) 120.154 19 4

Candidato assembleiano Pedro Alves 13.740 1 1

Coligação PFL / PMDB e PSD 870.698 72 20

Partido PFL (nominais/legenda) 318.926 21 9

Candidata assembleiana Telma Pinheiro 13.601 1 0

Fonte: TSE.

Nome Partido / Coligação Votação

Manoel Nunes Ribeiro PMDB / PFL / PSD 39.719 Magno Augusto Bacelar Nunes PMDB / PFL / PSD 34.657 Maura Alves de Melo Ribeiro PMDB / PFL / PSD 27.253 Humberto Ivar Araujo Coutinho PMDB / PFL / PSD 26.793 Carlos Alberto Milhomem de Sousa PMDB / PFL / PSD 25.980 Edmar Serra Cutrim PMDB / PFL / PSD 21.355 Antônio Arnaldo Alves de Melo PMDB / PFL / PSD 20.894 José Raimundo Rodrigues PMDB / PFL / PSD 20.743 Mercial Lima de Arruda PMDB / PFL / PSD 20.321 João Jorge Jinkings Pavão PMDB / PFL / PSD 19.113 Stênio dos Santos Rezende PMDB / PFL / PSD 18.520 Marly Gonçalves Abdala PMDB / PFL / PSD 18.157 Rigo Alberto Teles de Sousa PMDB / PFL / PSD 18.061 Janice Santos Braide PMDB / PFL / PSD 17.979 José Gerardo de Abreu PPB / PSDB 16.677 Julião Amin Castro PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 16.671 José Orlando Ferreira da Silva PMDB / PFL / PSD 16.296 Antônio Carlos Bacelar Nunes PMDB / PFL / PSD 16.165

87

Jurandir Ferro do Lago Filho PMDB / PFL / PSD 15.652 João Evangelista Serra dos Santos PMDB / PFL / PSD 14.597 Francisco Caíca Wchoa Marinho PRTB 14.349 Nilson Santos Garcia PST / PL 14.049 Deoclides Antonio Santos Neto PTB / PSL / PSC / PSDC / PC do B 13.873 Júlio Pires Monteles PMDB / PFL / PSD 13.797 Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo PMDB / PFL / PSD 13.756 Pedro Alves Santos PPB / PSDB 13.740 Luzivete Botelho da Silva PPB / PSDB 13.529 João Macedo da Silva PPB / PSDB 13.445 Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel PRP 13.258 Sandra Maria Carvalho R. de Deus PTB / PSL / PSC / PSDC / PC do B 13.119 Maria Aparecida Queiroz Furtado PST / PL 12.948 Soliney de Sousa e Silva PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 12.771 Maria Teresa Trovão Murad PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 12.459 Jomar Fernandes Pereira Filho PT / PCB 11.324 Aderson de Carvalho Lago Filho PPB / PSDB 11.291 Malrinete dos Santos Valerio PRP 10.911 Lourival Mendes da Fonseca Filho PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 10.454 Jônatas Lopes Freitas PRTB 10.380 Antônio Pontes de Aguiar PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 10.256 João Pavão Filho PDT / PMN / PRN / PSB / PT do B 9.927 Rubens Pereira e Silva PST / PL 9.585 Hélio Oliveira Soares PST / PL 9.334

Quadro 6- Deputados estaduais eleitos em 1998 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.

Para deputado estadual, nenhum dos eleitos conseguiu atingir o quociente eleitoral de

41.335 votos. A soma dos votos dos dois candidatos assembleianos não foi o suficiente para

obter uma cadeira na Assembleia Legislativa, tendo sido beneficiados pelos votos da

coligação.

Costa Ferreira foi o menos votado entre os candidatos eleitos pelo PFL e o penúltimo

entre os eleitos de sua coligação partidária. O pastor Pedro Alves também teve votação

inferior ao quociente eleitoral, mas, diferentemente de Costa Ferreira, foi o segundo mais

votado de sua coligação, que elegeu cinco deputados estaduais.

A atuação de Pedro Alves adquiriu notoriedade pelas críticas ao governo de Roseana

Sarney e pelas denúncias de corrupção que, para ele, seriam a causa da miséria de milhares de

maranhenses, não se limitando ao espaço da Assembleia Legislativa, mas chamou a atenção

88

do país indo a Brasília, onde levantou uma barraca com um estande e o tema “Maranhão da

Corrupção”, que denunciava irregularidades no governo de Roseana Sarney (EX-

DEPUTADO..., 2005).

Pedro Alves se integrou no grupo parlamentar independente, tendo assinado o pedido

de instalação de CPI para apurar e investigar desvios de recursos públicos do projeto

Salangô.50 Dessa forma, rompia com a tradicional posição política dos líderes asembleianos e,

segundo Costa (2002, p. 2), “a CEADEMA estava disposta a deixar de apoiar o nome do

deputado estadual Pedro Alves, em razão de alguns fatos dignos de esclarecimento

envolvendo a sua pessoa”.

Ainda segundo o mesmo autor (2002), Pedro Alves sofreu críticas dos líderes

assembleianos que, reunidos na 62ª AGO da AD, realizada na cidade de Zé Doca, em 2001,

discutiram a retirada de apoio à sua candidatura para as próximas eleições. Entretanto, diante

das explicações e justificativas do deputado perante os convencionais, foi decidido pela

CEADEMA manter apoio ao referido parlamentar (COSTA, 2002).

4.2.2 Eleições 2002

4.2.2.1 O Maranhão nas eleições para presidente da República

Nas eleições de 2002, vários candidatos evangélicos concorreram aos cargos

proporcionais e majoritários. Pela primeira vez, um candidato evangélico concorreu à

presidência da República. Era o então governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho

(PSB).

A Tabela abaixo demonstra o desempenho eleitoral dos quatro primeiros

presidenciáveis no Brasil nos Estados e Distrito Federal, nas eleições de 2002.

50 Projeto de irrigação que deveria ter beneficiado cerca de 10 mil hectares da região banhada pelo rio Mearim. O

objetivo era gerar emprego e renda e promover exportações de produtos agrícolas da região, principalmente da cidade de São Mateus. Calcula-se que foram desviados em torno de R$ 30 milhões de reais (EX-DEPUTADO..., 2005).

89

Tabela 9- Desempenho eleitoral dos primeiros quatro presidenciáveis no primeiro turno das eleições de 2002

Bra/UF/DF

Candidato a Presidente da República Lula José Serra Anthony Garotinho Ciro Gomes Votação % Votação % Votação % Votação %

BRA 39.454.692 46,44 19.705.061 23,20 15.179.879 17,87 10.170.666 11,97

AC 123.999 46,81 50.250 18,97 46.229 17,45 43.995 16,61

AL 307.751 28,60 314.739 29,25 281.015 26,11 168.925 15,70

AM 530.246 47,73 166.145 14,95 249.007 22,41 160.132 14,41

AP 116.507 49,94 20.537 8,80 61.026 26,16 32.007 14,57

BA 2.899.280 55,28 884.291 16,86 703.738 13,42 738.949 14,09

CE 1.353.339 39,36 293.425 8,53 256.879 7,47 1.529.623 44,49

DF 592.977 49,07 202.410 16,75 220.989 18,29 184.558 15,27

ES 717.646 44,52 334.697 20,76 436.028 27,05 114.308 7,09

GO 1.069.398 42,10 709.025 27,91 493.038 19,41 259.088 10,20

MA 843.132 40,88 248.621 12,05 508.006 24,63 455.860 22,10

MG 4.990.085 53,01 2.151.597 22,86 1.359.073 14,44 862.231 9,16

MS 446.438 41,49 308.905 28,71 170.957 15,89 145.271 13,50

MT 508.610 40,64 371.684 29,70 187.380 14,97 180.812 14,45

PA 1.070.416 42,27 673.488 26,60 510.470 20,16 269.687 10,65

PB 754.329 47,77 466.346 29,53 215.207 13,63 138.789 8,79

PE 1.657.476 46,44 1.015.496 28,45 651.445 18,25 235.145 6,59

PI 616.157 46,85 358.986 27,29 196.157 14,91 141.624 10,77

PN 2.540.328 50,13 1.367.384 26,98 722.438 14,16 409.135 8,07

RJ 3.284.258 40,17 721.081 8,82 3.449.001 42,18 657.725 8,04

RN 581.544 43,68 296.856 22,30 229.896 17,27 218.880 16,44

RO 283.279 45,04 128.000 20,35 154.074 24,50 60.663 9,64

RR 71.952 44,97 19.195 % 12,00 39.974 24,98 28.063 17,54

RS 2.667.451 45,18 1.913.186 32,41 709.904 12,02 588.560 9,97

SC 1.719.739 56,60 707.239 23,28 373.683 12,30 217.695 7,16

SG 357.557 44,27 160.348 19,85 151.155 18,72 133.887 16,58

SP 9.106.914 46,11 5.633.365 28,52 2.781.712 14,09 2.087.617 10,57

TO 225.291 43,10 177.547 33,97 72.256 13,82 46.562 8,91

Fonte: TSE.

90

O candidato Lula venceu em todos os Estados, com exceção do Ceará e Rio de

Janeiro, onde Ciro Gomes e Anthony Garotinho se projetaram na política partidária,

respectivamente, e Alagoas, onde a votação foi equilibrada entre os três primeiros colocados,

porém único Estado em que José Serra venceu.

O candidato ao executivo Garotinho obteve votos acima da média nacional (17,87%)

em cinco Estados do Norte (Amazonas 22,41%, Pará 20,16%, Roraima 24,98%, Rondônia

24,50% e Amapá 22,41%) e em quatro Estados do Nordeste (Alagoas 26,11%, Pernambuco

18,25%, Sergipe 18,72% e Maranhão 24,63%). É nestes Estados onde a AD tem o maior

número de fiéis, em comparação com a população local.

No Norte, o candidato evangélico foi o segundo na preferência do eleitorado,

vencendo seu opositor tucano nos Estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Amapá. No

Nordeste, o Estado do Maranhão foi o segundo na preferência do eleitorado, tendo sua média

no Estado superado a nacional.

Esta candidatura não apenas representava maior visibilidade com a concorrência de

um evangélico ao principal cargo da representação como também conseguiu mobilizar

milhares de evangélicos em todo país em torno da sua campanha eleitoral. Os dois principais

braços da AD, a Convenção Geral e a CONAMAD, não apenas apoiaram a candidatura como

“funcionaram como verdadeiros comitês eleitorais, e muitos pastores assumiram o papel do

tradicional cabo eleitoral” (MACHADO, 2006, p. 84).

91

Figura 4- Votos válidos de Anthony Garotinho na eleição presidencial de 2002 Fonte: Jacob et al. (2003), p. 48.

A figura 4 apresenta o percentual de votos de Anthony Garotinho por todo o país.

Observa-se a semelhança entre o mapa de votação e o percentual de assembleianos na

população total. Quanto maior o percentual de assembleianos maior o percentual de votos do

candidato evangélico (JACOB, 2003, p. 39).

Outros fatores, além da filiação religiosa, influenciaram o eleitor na escolha do

candidato evangélico. No Rio de Janeiro, onde Garotinho foi governador, o percentual de seus

eleitores superou o percentual de eleitores evangélicos. Conforme os dados do IBGE, em

2000, o Estado do Rio de Janeiro tinha 3.163.741 evangélicos, enquanto a votação de

Garotinho no Estado foi de 3.449.001 votos. Contudo, vale ressaltar a concentração de votos

em um candidato por questões religiosas nos demais Estados do país que o tornaram mais que

um candidato regional.

92

4.2.2.2 Eleições proporcionais

Os candidatos da AD maranhense nas eleições de 2002 foram os mesmos da eleição

anterior. A CEADEMA decidiu apoiá-los, considerando-os como candidatos naturais da

denominação (COSTA, 2002). O deputado federal Costa Ferreira e a deputada estadual Telma

Pinheiro continuaram no PFL, ligados ao grupo político Sarney. Já o deputado Pedro Alves

(PSB), que continuou na oposição ao governo, já não era mais tido como legítimo

representante da denominação, havendo incompatibilidade entre sua postura política e os

interesses da igreja.

A votação de Costa Ferreira foi a seguinte:

Tabela 10- Candidato assembleiano no contexto da competição eleitoral para a Câmara Federal em

2002 Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras

Válidos 2.427.031 133 18

Coligação PFL / PSC / PSD / PSDC / PST / PMDB e PV

1.120.715 27 9

Partido PFL (nominais / legenda) 739.806 13 7

Candidato evangélico Costa Ferreira 64.719 1 1

Fonte: TSE.

O candidato praticamente dobrou sua votação, chegando a 64.719 votos. Contudo,

ficou com a última das 9 cadeiras conquistadas por sua coligação. Costa Ferreira teve 2,66%

dos votos válidos, ficando com a 13ª cadeira na Câmara dos Deputados, entre as 18 vagas

destinadas ao Estado.

93

Nome Partido / Coligação Votação

João Castelo Ribeiro Gonçalves PSDB 123.474

Sebastião Torres Madeira PSDB 112.017

José Sarney Filho PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 111.479

Gastão Dias Vieira PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 106.516

Pedro Novais Lima PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 99.679

Pedro Fernandes Ribeiro PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 93.024

Clóvis Antônio Chaves Fecury PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 83.078

Nice Lobão PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 82.812

Paulo Celso Fonseca Marinho PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 74.393

Antônio Joaquim Araújo Filho PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 70.041

Remi Abreu Trinta PL / PT / PMN / PC do B 68.347

Carlos César Branco Bandeira PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 66.312

Antônio da Conceição Costa Ferreira

PFL / PST / PSDC / PSC / PMDB / PSD / PV 64.719

Terezinha das Neves Pereira PL / PT / PMN / PC do B 57.583

José Guimarães Neiva Moreira PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 57.185

Luciano Ferreira de Sousa PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 47.432

Ricardo Wagner de Carvalho Lago

PPB / PDT / PTB / PTN / PPS / PAN 41.700

José de Ribamar Costa Alves PSB 34.468

Quadro 7- Deputados federais eleitos em 2002 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.

Para a Assembleia Legislativa, a concorrência foi de 10,21 candidatos por vaga. O

número de partidos políticos permaneceu o mesmo da eleição anterior. O quociente eleitoral

foi de 57.553 votos.

94

Tabela 11- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Assembleia Legislativa em 2002

Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras

Válidos 2.417.261 429 42

Coligação PFL e PST 753.363 42 14

Partido PFL (nominais/legenda) 752.158 40 14

Candidata assembleiana Telma Pinheiro 33.641 1 1

Partido PSB (nominais/legenda/

sem coligação)

93.282 29 1

Candidato assembleiano Pedro Alves 13.948 1 0

Fonte: TSE.

A candidata assembleiana, Telma Pinheiro, mais que dobrou sua votação, alcançando

33.661 votos, sendo a quinta candidata mais votada no Estado e a terceira de sua coligação e

partido (Quadro 8). A votação de Pedro Alves foi semelhante à do pleito anterior, mas não foi

o suficiente para obter mais um mandato parlamentar. Com 13.948 votos, foi o terceiro mais

votado de seu partido e não conseguiu conquistar a única cadeira obtida pela sua legenda.

Nome Partido / Coligação Votação

Manoel Nunes Ribeiro Filho PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 79.253

Carlos Alberto Milhomem de Sousa PFL / PST 38.185

Maura Alves de Melo Ribeiro PFL / PST 37.612

José Max Pereira Barros PFL / PST 35.438

Telma Pinheiro Ribeiro PFL / PST 33.641

Rigo Alberto Teles de Sousa PFL / PST 30.850

Antônio Arnaldo Alves de Melo PFL / PST 30.745

Hélio Oliveira Soares PFL / PST 29.106

Stênio dos Santos Rezende PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 28.559

Humberto Ivar Araújo Coutinho PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 27.152

Rubens Pereira e Silva PFL / PST 26.842

Camilo de Lellis Carneiro Figueiredo PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 26.734

João Evangelista Serra dos Santos PFL / PST 26.618

95

Carlos Antônio Muniz Filho PFL / PST 25.527

Geovane Silva de Castro PFL / PST 25.405

Carlos Alberto Franco de Almeida PSDB 24.844

Francisco de Assis Castro Gomes PFL / PST 24.809

Julião Amim Castro PDT / PTB 24.766

César Henrique Santos Pires PFL / PST 24.490

Soliney de Sousa e Silva PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 24.408

Wilson Pereira de Carvalho Filho PFL / PST 24.197

Maria da Graça Fonseca Paz PDT / PTB 24.061

Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel PDT / PTB 22.359

Janice Santos Braide PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 20.701

Maria Cristina Ceppas Archer PSBD 20.616

Mauro de Araújo Bezerra PDT / PTB 20.258

Rubem Moreira de Brito PDT / PTB 19.831

Deusdedith Alves Sampaio PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 19.497

João Pavão Filho PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 19.463

Antônio Carlos Braide PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 19.438

Maria Tereza Trovão Murad PSB 18.850

Helena Barros Heluy PL / PT / PMN / PC do B 17.512

Aderson de Carvalho Lago Filho PSDB 17.469

Reginaldo Costa Nunes PL / PT / PMN / PC do B 17.362

Manoel Sousa Viana PDT / PTB 16.242

Maria do Socorro Almeida Waquim PSD / PSC / PSDC / PV / PMDB 15.400

Domingos Francisco Dutra Filho PL / PT / PMN / PC do B 14.415

Antônio Pereira Filho PPS / PTN / PPB / PAN 14.236

Luiz Pedro de Oliveira e Silva PDT / PTB 14.125

Elígio Alves de Almeida PPS / PTN / PPB / PAN 12.955

José Lima dos Santos Filho PT do B / PGT / PHS / PTC / PRTB / PSL 11.367

Paulo Roberto Almeida Neto PT do B / PGT / PHS / PTC / PRTB / PSL 11.341

Quadro 8- Deputados estaduais eleitos em 2002 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.

96

Assim, nestas eleições, a representação da AD na Câmara Federal, mais uma vez,

ficou por conta de Costa Ferreira, eleito para sua quinta legislatura (2003-2007) e de Telma

Pinheiro para a Assembleia Legislativa.

A mudança de representação para a Assembleia Legislativa entre os candidatos a

deputado estadual pela AD pode revelar o quanto o apoio da denominação e a estrutura

eclesiástica são decisivos para a eleição de seus candidatos. A derrota de Pedro Alves pode

ser creditada à falta de apoio de sua denominação, tendo votação semelhante à anterior.

Alguns fatores contribuíram para este feito. Além de sua organização interna em

Conselhos Políticos, outro fator externo contribuiu para maior euforia política dos

evangélicos, neste pleito, que é a candidatura de um evangélico à presidência da República.

Assim, líderes e fiéis muito arredios a qualquer manifestação política, pelo menos, admitiam a

possibilidade de votar em candidatos indicados pela igreja (FRESTON, 2006). Não faltou

nem aulas de votação, com urnas eletrônicas espalhadas nos templos, a fim de aproveitar ao

máximo possível o voto dos fiéis. Enfim, candidatos e lideranças em todas as esferas da

disputa eleitoral souberam utilizar muito bem a identidade evangélica para atrair milhares de

eleitores desse segmento religioso, distribuídos nos vários Estados do país.

4.2.3 Eleições 2006

A ruptura do grupo Sarney, anterior às eleições municipais de 2004, aqueceu o clima

político das eleições de 2006 no Estado. Tal cisão foi ocasionada pela saída do governador

José Reinaldo Tavares (PSB), afiliado político do ex-presidente e senador José Sarney

(PMDB-AP).51

O eleitorado evangélico passou a ser disputado pelos aspirantes ao governo do

Estado. O principal candidato do grupo anti-Sarney, Jackson Lago (PDT), ofereceu a

candidatura do vice aos presbiterianos.52 O nome escolhido foi do pastor Luiz Carlos Porto

(PPS), que se encarregou de aproximá-lo desse segmento religioso. Por sua vez, a ex-

51 No mandato de José Sarney na presidência da República (1985-1990), José Reinaldo Tavares assumiu a pasta

dos transportes. Também foi vice-governador de Roseana Sarney nos dois mandatos (1995-2003) dela, à frente da administração do estado. Em 2002, José Reinaldo Tavares se elegeu governador do estado do Maranhão com o apoio do grupo Sarney (BORGES, 2006).

52 Conforme o censo demográfico de 2000, a Igreja Evangélica Presbiteriana tinha um total de 12.423 fiéis, no estado do Maranhão (ver na primeira parte deste capítulo).

97

governadora Roseana Sarney (PFL) trouxe ao Estado o bispo da IURD e senador Marcelo

Crivella (PRB), do Rio de Janeiro, para apoiar sua candidatura no segmento evangélico.

Nesse clima político, não faltaram visitas aos eventos da AD em busca de apoio

político. Esta se encontrava diante de um dilema, pois, desde a época do regime militar, a

orientação das lideranças da igreja era para que “se votasse em candidatos governistas

(ARENA e depois PDS) em obediência ao ensinamento bíblico: Aquele que se opõe à

autoridade resiste à ordenação de Deus” (FRESTON, 2006, p.77). Nesse sentido, desde a

eleição de seu primeiro representante no cargo de deputado federal, a igreja assumiu uma

postura de apoio ao grupo Sarney, por ser o grupo governista. No entanto, para o pleito de

2006 o cenário eleitoral se revertia com tal grupo político fora do governo e, por

consequência, na oposição.

Assediada pelos dois grupos53 em disputa, a AD dividiu seus candidatos entre

governistas e oposicionistas, apresentando dois pré-candidatos para a Câmara dos Deputados:

Costa Ferreira (PSC) e Telma Pinheiro (PSDB), sendo esta aliada do governador José

Reinaldo. Desse modo, a intenção dos governistas era tirar proveito do eleitorado evangélico

através da deputada Telma Pinheiro e assim pegar “carona” na sua candidatura, além da

possibilidade de contar com uma aliada na Câmara dos Deputados ou mesmo dividir o

eleitorado assembleiano e impedir a reeleição do deputado Costa Ferreira.

Com Telma Pinheiro concorrendo para a Câmara dos Deputados e a morte do pastor

Pedro Alves,54 ficaram abertas as duas pré-candidaturas da igreja disponíveis para a

Assembleia Legislativa. Por conseguinte, essas duas pré-candidaturas foram preenchidas pelo

pastor Pedro Cardoso Lindoso (PSC) e a jornalista Eliziane Pereira Gama (PPS), ambos dos

quadros assembleianos.

Pedro Lindoso se tornou fiel da AD aos sete anos de idade juntamente com sua

família, que seguiu a decisão tomada por seu pai, que havia se convertido à AD. Após se

dedicar à pregação, tornou-se pastor da igreja. Atualmente, pastoreia a igreja de Coque,

município de Vitória do Mearim. Além de pastor, sua principal atividade, Pedro Lindoso é

reitor da Faculdade de Teologia Hokemâh (FATHE). Sua entrada para concorrer na política

partidária foi motivada por um grupo de pastores da AD no ano de 2004, que lhe fizeram

53 Aqui, nos referimos aos grupos políticos maranhenses como dois: o grupo Sarney, representado pela candidata

Roseana Sarney e os anti-sarneístas. A frente anti-Sarney se dividiu em três candidaturas: Jackson Lago (PDT), Aderson Lago (PSDB) e Edison Vidigal (PSB). A intenção era dividir o voto dos maranhenses, levando a disputa para o segundo turno, para então somarem forças contra a candidata Roseana Sarney.

54 Pastor Pedro Alves morreu no dia 10 de maio de 2005 vítima de falência múltipla dos órgãos, causada por leucemia (EX-DEPUTADO..., 2005).

98

proposta, para que ele concorresse nas prévias da igreja para a vaga de pré-candidato a

deputado estadual (informação verbal).55

Eliziane Gama foi criada na AD, filha de pastor, teve educação cristã rigorosa

aplicada pelos pais e pela igreja. Antes de entrar na política partidária, exerceu a função de

jornalista em rádio, TV e jornais impressos. A ideia de entrar na política nasceu com sua

participação em movimentos universitários evangélicos. Eliziane Gama trabalhou na Aliança

Bíblica Universitária (ABU) e no Movimento Evangélico Progressista (MEP), no período que

estudou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) (informação verbal).56

A distribuição dos candidatos assembleianos, entre os grupos políticos, ficou assim: a

deputada estadual Telma Pinheiro concorreu para a Câmara Federal e, para deputada estadual,

a candidata Eliziane Gama, ambas aliadas do grupo anti-Sarney. A composição política para o

outro grupo ficou novamente com o deputado federal, mais uma vez candidato ao mesmo

cargo, Costa Ferreira e o candidato a deputado estadual pastor Pedro Lindoso.57

Vale ressaltar que a campanha eleitoral de 2006 pesou para os candidatos

evangélicos que realizaram suas campanhas debaixo da repercussão negativa do “escândalo

dos sanguessugas”, inclusive para a AD maranhense, com acusações que insidiam sobre seu

principal candidato, Costa Ferreira. Some-se a isto o fato de ter dois candidatos concorrendo

para a Câmara Federal, numa eleição que apresentou maior competitividade entre os

candidatos.

De fato, em apenas oito anos, os votos válidos e o número de candidatos quase

dobrou nas eleições de 2006. Os votos válidos foram 2.900.385 e o número de candidatos,

153. Semelhantemente, o quociente eleitoral mais que dobrou ficando em torno dos 161.132

votos. Com 1.072.690 votos, a coligação formada por PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL /

PFL e PV, denominada de a “A Força do Povo”, conquistou 7 cadeiras. Costa Ferreira teve

55.131 votos, sendo o oitavo candidato mais votado de sua coligação, com 9.588 votos a

menos que nas eleições anteriores, ficando na primeira suplência.

55 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 23 de julho de 2010, com o

pastor Pedro Lindoso. 56 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com

Eliziane Gama. 57 Em visita à 66ª AGO da AD, no Estado do Maranhão, em 2005, na cidade de Santa Luzia, a então senadora

Roseana Sarney se fez presente para pedir aos convencionais apoio às candidaturas de Costa Ferreira e de Pedro Lindoso.

99

Tabela 12- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Câmara Federal em 2006

Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras

Válidos 2.900.385 153 18 Coligação PP / PTB / PMDB / PTN /

PSC / PL / PFL e PV 1.072.690 34 7

Partido PSC (nominais/legenda) 60.301 1 0 Candidato assembleiano Costa Ferreira 55.131 1 0 Partido PSDB (nominais/legenda/sem

coligação) 662.782 13 4

Candidata assembleiana Telma Pinheiro 60.714 1 0 Fonte: TSE.

O PSDB, partido de Telma Pinheiro, sem coligação, somou 662.782 votos

conquistando quatro cadeiras parlamentares. Telma Pinheiro teve 60.714 votos, sendo mais

votada que Costa Ferreira. Todavia, diferentemente deste, conquistou a segunda suplência.

Nome Partido / Coligação Votação

Roberto Coelho Rocha PSDB 139.294

José Sarney Filho PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 136.873

Carlos Orleans Brandão Junior PSDB 134.643

Flávio Dino de Castro e Costa PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 123.597

Gastão Dias Vieira PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 114.889

Clovis Antônio Chaves Fecury PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 102.402

Sebastião Torres Madeira PSBD 98.857

José Eleonildo Soares PSDB 90.637

Pedro Novais Lima PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 87.582

Nice Lobão PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 87.344

Domingos Francisco Dutra

Filho

PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 82.017

Pedro Fernandes Ribeiro PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 81.618

Davi Alves Silva Junior PDT / PPS / PAN 77.595

Sétimo Waquim PP / PTB / PMDB / PTN / PSC / PL / PFL / PV 75.193

Cleber Cordeiro Mendes PDT / PPS / PAN 71.734

100

Waldir Maranhão Cardoso PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 64.286

José de Ribamar Costa Alves PRB / PT / PMN / PSB / PC do B 62.952

Julião Amim Castro PDT / PPS / PAN 61.095

Quadro 9- Deputados federais eleitos em 2006 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.

Para a Assembleia Legislativa, o número de concorrentes diminuiu com relação às

duas eleições anteriores. O número foi de 372 candidatos, isto é, quase 9 candidatos por vaga.

Com o aumento contínuo do eleitorado, o quociente eleitoral subiu para 67.648 votos. A

coligação de Eliziane Gama formada pelos partidos políticos PPS e PAN obtiveram 74.300

votos, conquistando somente uma cadeira para o legislativo estadual. Esta cadeira ficou com a

candidata assembleiana que obteve a maior votação em seu partido e em sua coligação,

15.084 votos. Tal votação deu à candidata assembleiana a 39ª posição entre os deputados

estaduais eleitos para a legislatura de 2007-2011, conforme o Quadro abaixo.

Tabela 13- Candidatos assembleianos no contexto da competição eleitoral para a Assembleia Legislativa em 2006

Níveis de votação Votos Candidatos Cadeiras

Válidos 2.841.187 372 42 Coligação PPS e PAN 74.300 24 1 Partido PPS (nominais/legenda) 45.184 8 1 Candidata assembleiana Eliziane Gama 15.084 1 1 Coligação: PSC / PTN e PL 115.654 23 1 Partido PSC (nominais/legenda) 75.675 9 1 Candidato assembleiano Pedro Lindoso 16.503 1 0

Fonte: TSE.

A coligação formada por PSC / PTN e PL somou 115.654 votos. Não teve votos

suficientes para conquistar duas cadeiras, conquistando apenas uma vaga, ocupada por

Penaldo Jorge Ribeiro Moreira (PSC), o mais votado da coligação, com 20.503 votos. O

candidato assembleiano, Pedro Lindoso foi o terceiro colocado com 16.503 votos, ficando

como segundo suplente.

101

Nome Partido / Coligação Votação

Afonso Manoel Borges Ferreira PRB / PMN / PSB 71.372

Cleide Barroso Coutinho PSDB 56.634

João Evangelista Serra dos Santos PSDB 55.092

Marcelo Tavares Silva PRB / PMN / PSB 50.985

Soliney de Sousa e Silva PSDB 50.116

Carlos Alberto Franco de Almeida PSDB 46.670

Rigo Alberto Teles da Silva PSDB 42.566

Carlos Victor Guterres Mendes PFL / PMDB / PV / PTB / PP 41.735

Raimundo Soares Cutrim PFL / PMDB / PV / PTB / PP 40.627

Antônio Arnaldo Alves de Melo PSDB 39.938

João Batista dos Santos Silva PFL / PMDB / PV / PTB / PP 39.493

Hélio Oliveira Soares PFL / PMDB / PV / PTB / PP 39.459

Camilo de Lellis Carneiro Figuereido PDT 37.488

Graciele de Maria Trabulsi Lisboa PSDB 37.368

José Max Perreira Barros PFL / PMDB / PV / PTB / PP 37.037

Ricardo Jorge Murad PFL / PMDB / PV / PTB / PP 35.521

Rubens Pereira e Silva Junior PRTB / PHS / PRP 34.837

Antônio Carlos Bacelar Nunes PDT 34.612

Maria da Graça Fonseca Paz PDT 34.491

Maura Jorge Alves de Melo Ribeiro PDT 34.126

João Pavão Filho PDT 33.124

Joaquim Nagib Haickel PFL / PMDB / PV / PTB / PP 32.791

Stenio dos Santos Rezende PSDB 30.402

Jurandir Ferro do Lago Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 30.238

Francisco Dantas Ribeiro Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 30.039

Carlos Alberto Milhomem de Sousa PFL / PMDB / PV / PTB / PP 29.668

Paulo Roberto Almeida Neto PRB / PMN / PSB 28.257

José Lima dos Santos Filho PRB / PMN / PSB 27.124

Carlos Antônio Muniz Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 26.474

102

Antônio Carlos Braide PDT 25.976

Francisco de Assis Castro Gomes PFL / PMDB / PV / PTB / PP 25.676

Antônio Pereira Filho PFL / PMDB / PV / PTB / PP 25.212

César Henrique Santos Silva PFL / PMDB / PV / PTB / PP 24.294

Maria de Fátima Vieira Lins de Oliveira Lima PSDB 23.816

Penaldo Jorge Ribeiro Moreira PTN / PSC / PL 20.530

Domingos Alburqueque Paz PRB / PMN / PSB 17.255

Helena Barros Heluy PT / PC do B 16.199

Marcos Antônio Carvalho Caldas PSL / PTC / PT do B 15.091

Eliziana Pereira Gama PPS / PAN 15.084

Edvaldo de Holanda Braga PSL / PTC / PT do B 14.023

Raimundo Nonato Amaral Aragão PSL / PTC / PT do B 12.428

Valdinar Pereira Barros PT / PC do B 11.290

Quadro 10- Deputados estaduais eleitos em 2006 no Maranhão Fonte: TSE. Nota: O partido político em negrito indica aquele pelo qual o candidato se elegeu.

Assim ficou a situação dos candidatos assembleianos: Telma Pinheiro e Pedro

Lindoso ficaram como segundo suplentes, enquanto Costa Ferreira ficou na primeira

suplência de deputado federal e Eliziane Gama conquistou seu primeiro mandato parlamentar

para a Assembleia Legislativa.

Ao final da corrida eleitoral de 2006, a AD perdeu sua representação na Câmara

Federal que, segundo Costa Ferreira, foi “arrancada através de uma manobra que trouxe

prejuízos incalculáveis ao povo de Deus” (SOUSA, 2009, p. 16), possivelmente se referindo à

candidatura concorrente de sua irmã Telma Pinheiro, incentivada e apoiada pelo ex-

governador José Reinaldo.

No segundo turno das eleições para o governo do Estado, a coligação da qual fazia

parte Telma Pinheiro, encabeçada por José Reinaldo, somou forças ao lado da candidatura de

Jackson Lago contra Roseana Sarney. Jackson Lago ficou com 1.393.754 da preferência do

eleitorado e Roseana Sarney58 com 1.295.880, com diferença de apenas 97.874 votos. Com

58 Após a derrota, Roseana foi expulsa do PFL em novembro, por fazer, durante as eleições presidenciais de

2006, campanha para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inclusive, participado de comício com Lula na cidade de Timon. Como o PFL é um partido de oposição, supunha-se que Roseana deveria ter apoiado o candidato a presidente do PSDB, Geraldo Alckmin. Posteriormente, para integrar a base do governo federal, filiou-se ao PMDB em 2006, tornando-se uma das líderes do governo Lula no Congresso brasileiro, até 17 de abril de 2009.

103

Jackson Lago no governo, Telma Pinheiro foi beneficiada, sendo convidada para assumir a

Secretaria de Infraestrutura e Cidades do Estado.

Mas, a reviravolta política estava por vir com uma ação que seria chamada de

“terceiro turno” da política maranhense, quando Jackson Lago teve seu mandato contestado

pelo TSE a pedido da coligação “Maranhão – A Força do Povo” (PFL / PDT / PTB e PV)

ligada à candidatura de Roseana Sarney. As denúncias acusavam o governador de ter

distribuído cestas básicas a pescadores, desvios de dinheiro para uma associação de

moradores, distribuição de combustível, reforma e construção de residências. Enfim, na noite

de 16 de abril de 2009, o TSE confirmou a cassação do mandato de Jackson Lago e do vice-

governador pastor Luis Porto, por abuso de poder econômico e político nas eleições de 2006.

Com a cassação, foi ordenada a posse imediata de Roseana Sarney (PMDB) como

governadora do Maranhão e de João Alberto como vice-governador. Após assumir o governo

do Estado, Roseana Sarney convidou o deputado federal Gastão Vieira para a Secretaria de

Estado do Planejamento e Costa Ferreira, sendo o primeiro suplente, assumiu como deputado

federal em 20 de maio de 2009. Logo após, Costa Ferreira licenciou-se do cargo de suplente

de deputado federal para, a convite da governadora Roseana Sarney, assumir a Secretaria de

Desenvolvimento Social do Estado.

4.2.4 Corrida eleitoral 2010

4.2.4.1 A AD na corrida presidencial

Os principais candidatos à presidência da República para as eleições de 2010

apontam para um cenário político parecido com as eleições de 2002 com, mais uma vez, a

disputa ocorrendo entre PT, PSDB, acompanhados de perto por candidato evangélico, tendo

uma candidata petista, Dilma Roussef, o mesmo candidato tucano, José Serra, e uma

candidata evangélica, Marina Silva, do partido verde, num cenário que, mais uma vez,

aproxima os evangélicos do cerne da disputa eleitoral. Mais uma vez, os candidatos buscam

apoio das igrejas evangélicas, estando presentes nos seus eventos.

104

O cortejo começou com a ex-ministra-chefe da casa civil Dilma Roussef, em outubro

de 2009, por ocasião do aniversário do presidente da Convenção Geral, José Welington

Bezerra da Costa, também presidente da AD Ministério de Belém em São Paulo. A candidata

petista esteve representando o presidente Lula na comemoração de 75 anos do pastor José

Welington. Além desta, compareceu também o candidato a deputado federal pelo Estado do

Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR), entre outros políticos e líderes religiosos de vários

Estados.

Já o presidenciável José Serra, que tem a simpatia de muitos líderes assembleianos e

que contou com o apoio da denominação, no segundo turno das eleições de 2002, esteve na

cidade catarinense de Balneário Comboriú, em primeiro de maio de 2010, participando da

abertura do 28º Encontro Internacional de Missões do Gideões Missionários da Última Hora

(GMUH),59 organizado pela AD.

Por sua vez, Marina Silva entra na disputa eleitoral como a única evangélica entre os

presidenciáveis. Convertida em 1997 à AD, a candidata tem sua identificação com os

evangélicos60 como um dos seus principais trunfos políticos nestas eleições. Apesar de não

dispor de estrutura partidária que possa competir com seus concorrentes e, com pouco a

oferecer às lideranças das igrejas, tem apostado no voto evangélico através do encontro com

vários líderes em sua agenda de campanha. Em consonância com os símbolos e crenças do

segmento, Marina atribui sua ascensão política a “um plano de Deus em sua vida e não apenas

a méritos pessoais, e vê tudo como fruto da graça e misericórdia de Deus” (MEMBRO...,

2003, p. 3). Contudo, Marina Silva procura fazer uma campanha com mais cautela que

Anthony Garotinho, em 2002, pois o fato de ser evangélica pode lhe atribuir vantagens

eleitorais, na medida em que traz à tona temas polêmicos, como: o ensino, nas escolas, da

concepção criacionista, ou seja, a de que o mundo foi criado por deus, a descriminalização do

aborto, a legalização das drogas e os direitos dos homossexuais (LEITÃO; AMARAL, 2009).

59 O evento é um dos mais concorridos do país, reunindo caravanas nacionais e internacionais e personalidades

do mundo evangélico. 60 Filha de retirantes nordestinos pobres vindos do Ceará, Marina Silva nasceu em 1958 no seringal Bagaço,

numa plantação de árvores de borracha no meio da Amazônia, onde morou até sua adolescência. Ex-doméstica, ex-seringueira, semianalfabeta até os 16 anos, construiu sua trajetória política engajada em movimentos sociais. Ao lado de Chico Mendes, ajudou a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Acre. No ano seguinte, filiou-se ao PT. Em 1988, foi eleita para a Câmara Municipal, sendo a vereadora mais bem votada do Rio Branco. Com apenas 35 anos de idade, em 1994, elegeu-se senadora pelo PT. Em 2002, foi, mais uma vez, eleita para o Senado Federal e, em 2003, foi nomeada ministra do Meio Ambiente do Governo Lula. Após atritos com a ministra Dilma Rouseff a respeito de licenças ambientais, Marina Silva foi substituída por Carlos Minc (LEITÃO; AMARAL, 2009).

105

Tais temas, além das questões ambientais, fazem parte da agenda política do seu

partido, o PV, tendo como principal defensor o deputado Fernando Gabeira (PV),61 tido como

um dos principais opositores da Frente Parlamentar Evangélica e aliado de Marina Silva, o

que pode causar desconfiança por parte dos evangélicos. Portanto, entre liberais e

conservadores do comportamento, Marina Silva, precisa dar uma resposta satisfatória a ambos

os lados, sob o risco de perda de apoio político.

Enfim, com uma estrutura partidária minúscula, a candidata verde não dispõe de uma

base que possa competir com seus concorrentes, tendo pouco a oferecer às lideranças das

grandes igrejas.

4.2.4.2 Evangélicos na corrida eleitoral 2010 no Maranhão

Para as eleições do corrente ano, a AD maranhense realizou prévias em sua 69ª

AGO, na cidade de Coroatá, de 9 a 13 de dezembro de 2008. Conforme o pastor presidente da

CEADEMA, Pedro Aldi Damasceno, o objetivo da AD é recuperar o espaço perdido,

dobrando a representatividade na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa (LUZZAN,

2009) e conquistar uma vaga no Senado Federal.

Nessas eleições, o apoio da AD segue direcionado aos mesmos candidatos que

concorreram em 2006. Dessa forma, não houve alteração para as vagas às pré-candidaturas

para as eleições de 2010, novamente duas para a Assembleia Legislativa e duas para a Câmara

Federal. A direção da denominação confirmou, mais uma vez, o nome da deputada Eliziane

Gama (PPS) e do pastor Pedro Lindoso (PPS), para a Assembleia Legislativa, e do deputado

Costa Ferreira (PSC) e Telma Pinheiro (PSDB), para a Câmara dos Deputados.

Tanto Costa Ferreira como Telma Pinheiro foram aceitos por aclamação dos

convencionais, já que eram os únicos inscritos para as duas vagas, não havendo votação.62 Já

61 Segundo o jornal da AD, Mensageiro da Paz, o pastor Ronaldo Fonseca, líder do Conselho Político da

Convenção Geral, atribuiu a redução da Bancada da AD a uma jogada política que tem como principal articulador e porta-voz da CPI “dos sanguessugas”, o deputado federal Fernando Gabeira, opositor ferrenho da Frente Parlamentar Evangélica e que teve seus projetos travados na Câmara Federal pela ação conjunta dos parlamentares evangélicos (BANCADA..., 2006).

62 Posteriormente, um grupo de pastores protocolou um abaixo assinado que contestou a escolha por aclamação dos pré-candidatos a deputado federal, ao tempo que pedia para rever a decisão de escolhas dos pré-candidatos através da realização de novas prévias. Tal fato provocou reações por parte dos pré-candidatos que elaboraram requerimento solicitando a manutenção da decisão tomada na AGO da denominação, na cidade de Coroatá, em 2008.

106

os seis inscritos que almejavam concorrer para o parlamento estadual tiveram que ser

submetidos à votação secreta: Samuel Campelo obteve 9 votos; Fernando Veiga, 13 votos;

pastor Sandro Henrique, 69 votos; Eliziane Gama, 228 votos; e pastor Pedro Lindoso, 358

votos (CONVENÇÃO Estadual..., 2008). A deputada Eliziane Gama teve que se submeter às

prévias devido a mudanças internas para a escolha dos pré-candidatos. Anteriormente, as

regras estabeleciam que o detentor de mandato não precisaria se submeter às prévias, pois

tinha a indicação natural, por ser detentor de mandato parlamentar.

Definidos os nomes e confirmadas as candidaturas, os candidatos assembleianos têm

a chancela da AD para transitar entre o público evangélico e pedir seus votos. Para isso, tais

candidatos têm adotado um discurso que faz a mediação entre as crenças religiosas da

denominação e o mundo político, relacionando sua atuação com a causa evangélica, seja na

esfera moral ou social.

A deputada estadual Eliziane Gama, em carta aos pastores da AD, destacou sua

atuação contra a pedofilia como uma missão dada por Deus (GAMA, 2009). A deputada tem

alcançado destaque e visibilidade na política maranhense à frente da Comissão de Defesa da

Infância, Adolescência e Idoso, na Assembleia Legislativa, e tem apostado nessa atuação para

as eleições que se aproximam.

Por sua vez, indo na mesma direção, Costa Ferreira atribui as mudanças do mundo

político à ascensão dos governantes evangélicos convertidos a Cristo, para implementação da

justiça social, prosperidade e honestidade. Em entrevista ao jornal assembleiano Ceadema em

Foco, o candidato aposta no trabalho prestado à igreja e destaca em suas seis legislaturas:

o PL-2479/1989 que instituiu o Dia da Bíblia no segundo domingo de dezembro, o PL-1010/2003, que modifica os artigos 44 e 2.031 do novo Código Civil, restabelecendo as igrejas como pessoa jurídica de direito privado de forma autônoma das associações e o PL-2865/2004, que modifica o Estatuto das Cidades dispensando o aval da comunidade para a construção de templos religiosos (SOUSA, 2009, p. 16).

Em entrevista, o candidato assembleiano destacou como suas metas básicas de

atuação parlamentar

a educação, os direitos sociais coletivos e a família. A família pra nós foi o ponto máximo, o clímax de nosso trabalho, por quê? Por que a família numa sociedade dá os rumos, os parâmetros de vida. Se a família é ajustada, a sociedade vai bem, se a família não é ajustada a sociedade, ela vive numa ebulição. Como o pessoal do PT e outros partidos de esquerda queriam implantar no Brasil várias loucuras como a legalização da maconha [...]. Somos contra, somos contra a união civil de pessoas do

107

mesmo sexo [...] contra também a legalização da prostituição que é outra aberração (informação verbal).63

Embora Costa Ferreira se considere defensor dos princípios que a igreja evangélica

classifica como cristãos, assumindo a posição de seu representante no parlamento, querendo

ampliar seu agregado eleitoral, o candidato também destaca sua atuação em defesa dos

direitos dos trabalhadores e da educação. A intenção do deputado é mostrar que não legisla

somente em prol dos evangélicos, numa tentativa de expandir seu eleitorado, não se

restringindo apenas à comunidade evangélica.

Outros políticos evangélicos, conduzidos por suas igrejas à política partidária

também concorrerão neste pleito eleitoral de 2010. A disputa entre evangélicos promete ser

acirrada, pois, além dos vários “irmãos” e “irmãs” evangélicos que provavelmente aparecerão

nas campanhas, entram na corrida eleitoral, além da AD, a igreja Batista, a IURD e a igreja

Presbiteriana, todas apoiando os seus candidatos. Com estas igrejas na disputa, o número de

aspirantes evangélicos com o endosso denominacional dobra para a Câmara Federal e

Assembleia Legislativa.

Assim, além dos candidatos oficiais assembleianos para a Câmara dos Deputados,

concorrerão, do meio evangélico, a irmã Lúcia (PV), o irmão Samoel (PHS) e o batista e

vereador de São Luís Edvaldo de Holanda Júnior (PTC); para a Assembleia Legislativa, o

também batista Edvaldo de Holanda (PTC), que tenta a reeleição e o iurdiano Santos Roque

(PRB).

63 Informação coletada em entrevista realizada em Barra do Corda (MA), no dia 22 de julho de 2010, com Costa

Ferreira.

108

5 CONCLUSÃO

Este trabalho analisou a participação política dos evangélicos ligados à AD,

enfocando as mudanças institucionais a partir dos anos 80 que estimularam a participação

desse segmento na atividade político-partidária. Tais mudanças criaram um novo contexto

institucional, dentro do qual as religiões entram num processo de competitividade pelos fiéis e

por maior influência político-social. Para tanto, as instituições religiosas atualmente tendem a

criar mecanismos de representação política para defesa de seus interesses institucionais.

Dessa forma, a politização das igrejas evangélicas é uma resultante da multiplicação

dos espaços ocupados por esse segmento na sociedade brasileira, com o intuito de que as

demandas desse setor sejam transformadas em matéria política. Esses novos espaços

compreendem a multiplicação dos interesses patrimoniais, financeiros e burocráticos dos

mesmos.

Tais práticas, buscando espaços para além do âmbito religioso, têm uma relação com

os números do crescimento da população evangélica e da luta para serem reconhecidos como

segmento influente na sociedade brasileira. Com efeito, os velhos e novos membros, através

de suas lideranças eclesiásticas, contribuíram para a crescente presença dos evangélicos na

política, fazendo com que alcançassem mais visibilidade social. Contudo, nem sempre as

bases eleitorais seguem automaticamente a orientação que vem de cima. Embora a AD

obtenha sucesso eleitoral em muitos empreendimentos políticos, isso só acontece depois de

trabalhosos processos de consulta e deliberação, numa tentativa explícita de traduzir capital

religioso em capital político.

Os dados permitem inferir que a participação dos evangélicos na escolha de seus

representantes é reflexo da explosão numérica de conversões, principalmente, dos anos 1980

até o presente, coincidindo com a redemocratização do país e com a inserção dos evangélicos

na política, em especial a AD. Daí o aumento de pretendentes a cargos públicos da

representação política para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Senado

Federal, inclusive para a presidência da República.

Assim, a AD atua como sujeito político calculador, estrategicamente analisando e

109

executando um projeto de transformação de seu crescimento numérico em representação

política, com o intuito de estabelecer interlocuções diretamente com o Estado.

Nos meandros da relação entre religião e política, um dos elementos essenciais no

direcionamento do comportamento dos fiéis é o apelo à identidade religiosa, em detrimento da

identificação com ideologias políticas ou causas estritamente relacionadas à política

partidária. Nunca a pertença religiosa tinha sido tão expressamente usada e reconhecida pelos

candidatos. Por conseguinte, nesse processo de transformação do capital religioso para o

capital político, a AD procura fazer a mediação entre seus fiéis e a política pela absolvição da

lógica partidária no plano interno da denominação. Nesta relação de ambiguidade entre

partido político e AD, a identidade religiosa ganha peso muito maior que a identificação

partidária.

Também foi constatado, entre os candidatos evangélicos, um modo próprio de

discurso que traz, para o campo político, importantes elementos simbólicos do campo

religioso evangélico. Com efeito, os candidatos oficiais evangélicos entram no jogo político

com um discurso recheado de conteúdo religioso, que procura estabelecer uma ponte entre a

política e a linguagem evangélica, valendo-se da cosmovisão protestante. Fatores de cunho

estritamente religioso como o sectarismo evangélico, a coesão comunitária em torno da igreja

e o sentimento de missão estabelecem uma relação com o corporativismo religioso e o

messianismo político.

A participação política dos evangélicos tem relações com o corporativismo religioso,

que se baseia na premissa de “colocar um dos nossos lá” e no “voto irmão”, com vistas a

atender os interesses da comunidade evangélica. Nesse sentido, os candidatos evangélicos

expressaram um tipo de chamamento para a política como uma missão designada por Deus.

Portanto, o apelo ao público evangélico se reveste de características messiânicas para solução

dos problemas sociais, isto é, os candidatos evangélicos se articulam com um discurso

religioso que os legitime como um tipo de “messias político”.

O contato com os candidatos evangélicos permitiu detectar, em momentos de euforia

e entusiasmo, em períodos eleitorais, o transbordamento de suas crenças e valores despertados

pelos discursos afinados com o ideário religioso do segmento. Enfim, o público evangélico é

sensível a esse tipo de apelo político, com ênfase em argumentos bíblicos e nas crenças

compartilhadas na igreja.

No âmbito da política externa à igreja, podemos observar, através das eleições de

1998, 2002 e 2006, que o voto evangélico vem assumindo uma posição estratégica no âmbito

110

da competição eleitoral maranhense. Tal fato tem acontecido devido à forma como a AD,

entre outras igrejas evangélicas, vem se inserindo no contexto da política partidária do Estado.

De fato, assim como no cenário político nacional, o eleitorado evangélico não pode ser

ignorado para aqueles que almejem sucesso político, sendo alvo da competição entre os

principais grupos políticos do Estado.

Neste cenário, a AD assume a dianteira do segmento evangélico como principal

igreja do Estado, principalmente devido ao seu potencial numérico e pela forma como tem se

organizado para competir na política eleitoral. Tal organização política segue a lógica

partidária adotada pela AD para eleger seus candidatos oficiais. Assim, considerando a

votação de três eleições eleitorais (1998, 2002, 2006), pode-se encontrar certa regularidade na

forma como a AD se comportou no cenário político, nos limites do distrito eleitoral

maranhense, e como seus votos podem ser contabilizados para se transformarem em mandato

parlamentar.

Com efeito, podemos observar que a AD adotou a lógica partidária em seu projeto

político, de conformidade com os benefícios que o sistema eleitoral pode proporcionar.

Embora não seja um partido do ponto de vista jurídico, a AD tem assumido características de

um partido em sua organização interna, com a criação de Conselhos Políticos, prévias,

lançamento de candidatos oficiais, acompanhamento de mandatos, assistência a seus

parlamentes etc. Assim, a AD tem assumido estrategicamente características de um pequeno

partido político e, como tal, tem se comportado atualmente.

Ciente do seu eleitorado, a AD não passou da concorrência política, no âmbito das

eleições proporcionais para as duas casas legislativas, fazendo desta via o seu campo de

atuação política, pois este sistema possibilita a representação política de pequenos grupos e

segmentos sociais como as igrejas evangélicas no legislativo estadual e federal. Por

conseguinte, presumindo um aumento de seu eleitorado, a AD tentou lançar um candidato

para o Senado Federal, com o objetivo de ampliar sua influência política. No entanto, as

pretensões políticas da AD foram barradas pelas alianças partidárias encabeçadas pelos

políticos tradicionais do Estado. Diante de tal frustração, a AD se direciona para criar ou fazer

de um partido seu braço político na competição eleitoral. Tal fato indica que, com a ampliação

das pretensões políticas da AD para o sistema majoritário, surgem novas necessidades

políticas, que levam a igreja a organizar-se estrategicamente criando meios que possibilitem

sua participação efetiva no cenário eleitoral.

Para tornar a candidatura de seus candidatos oficiais mais eficiente e regulamentar a

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competição interna, a AD estabeleceu prévias entre os aspirantes a mandato parlamentar.

Depois de escolhidos os nomes, a igreja investe em suas candidaturas por meio de sua

estrutura eclesiástica. Esta lógica leva em conta a soma dos votos do partido e coligação para

conquista de cadeiras parlamentares, pois as cadeiras conquistadas pela coligação numa

eleição não são distribuídas proporcionalmente à contribuição que cada partido deu à votação

final, mas à quantidade de votos adquirida pelos candidatos divididos nos vários partidos da

coligação, ou somente no partido, caso não esteja coligado. Portanto, para conseguir

representação, basta apenas que a AD garanta que seu candidato adquira votos suficientes

para posicionar-se entre os primeiros candidatos da lista.

Inseridos neste universo partidário e de coligações, os candidatos que concentrarem

mais votos entre seus pares de coligação ficarão com as vagas conquistadas pela soma

conjunta de todos os votos, independentemente de qual partido pertença. Por isso, em todas as

eleições, a AD apresentou um número reduzido de candidatos, não passando de um ou dois, a

fim de que a concentração de votos nesses nomes obtenha eficiência eleitoral por meio de

uma votação expressivamente suficiente para conquistar cadeiras nos parlamentos estadual e

federal. Em suma, o voto personalizado do sistema de lista aberta64 e não estritamente o

partidário permite que a AD organize sua participação eleitoral pautada nesta lógica política e,

na maioria das vezes, obtenha sucesso político-eleitoral no âmbito do sistema proporcional.

64 A Bancada evangélica mereceu destaque como principal obstáculo ao avanço da reforma partidária que

pretendia ampliar o prazo de fidelidade partidária de um para dois anos. Também pretendia estabelecer o sistema de lista fechada. Nesse sistema, os partidos políticos tem a primazia sobre o voto nominal, isto é, os partidos decidem, antes da eleição, a ordem dos nomes da lista partidária sem que o eleitor possa expressar sua preferência por um dos candidatos da lista. Dessa forma, os primeiros nomes da lista serão aqueles que ocuparão as cadeiras no parlamento (LIMA, 2003).

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