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BOLETIM TÉCNICO-CIENTÍFICO PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO EM DESPORTO, SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO (ISSN 1647-3280) EDITORES - JAIME SAMPAIO; MÁRIO MARQUES; ANTÓNIO SILVA OUTUBRO-DEZEMBRO DE 2010 VOLUME 2, NÚMERO 6 PERFORMANCE DESPORTIVA Neste número: A Velocidade Crítica Anaeróbia em Natação. 1 Excelência desportiva... 2 Futebol...fadiga 4 Jogo de Voleibol... 6 Creatividade...perícia 9 Decorridos seis números do boletim Performance Desportiva, tivemos a contribuição de 48 autores. Destes autores, 41,7% são alunos de 1º, 2º e 3º ciclos das Instituições do CIDESD e 27,1% são membros do grupo da Performance Desportiva do CIDESD. A participação dos treinadores, directores técnicos nacionais e selecionadores nacionais é expressiva (14,6%), bem como a participação de empresas de I+D (8,3%). Continuamos empenhados em melhorar a comunicação entre cientistas e treinadores e comprometidos em criar um ambiente de desenvolvimento multidisciplinar, que combine resultados provenientes do conhecimento científico mais actual com as aplicações práticas e competências profissionais. Agradecemos o esforço e sentido de missão de todos os que nos têm ajudado. Os Editores, Editorial O aumento da eficiência do processo de treino decorre de uma ocupação mais racional e consequente do tempo destinado à preparação desportiva, sendo este aspecto extremamente importante na Natação Pura Desportiva. A velocidade crítica, conceito adaptado à Natação Pura Desportiva, definido como a velocidade máxima de nado que pode ser mantida sem exaustão durante um longo período de tempo, tem sido cada vez mais utilizada pelos treinadores como um parâmetro de controlo e avaliação do treino. Após o vínculo deste conceito a performances aeróbias, recentes estudos, constatando uma grande importância do sistema anaeróbio na maioria das provas de natação, iniciaram uma abordagem à relação deste conceito em performances anaeróbias. O objectivo deste estudo foi analisar e interpretar a velocidade crítica anaeróbia (VCAn) em jovens nadadores, nas quatro técnicas de nado, tentando assim obter um método simples, não invasivo e pouco dispendioso para a avaliação e controlo do treino anaeróbio. A amostra utilizada agrupou 20 nadadores (12 do género masculino e 8 do género feminino) pertencentes ao escalão de Infantis, de um clube representativo da natação portuguesa. Para a determinação da VCAn, cada nadador realizou, à velocidade máxima, as distâncias de 10, 15, 20 e 25m, intervaladas por 30min de nados contínuos e livres de baixa intensidade. Na análise das relações da VCAn com as velocidades de prova nos 50, 100 e 200m, verificou-se uma elevada relação com as duas primeiras distâncias de nado, nas técnicas de bruços, crol e costas. Pela comparação entre a VCAn e as diferentes velocidades de prova, constatámos que os valores da VCAn se assemelham significativamente com a velocidade de prova dos 200m nas quatro técnicas de nado. Assim, podemos concluir que, no nosso estudo, com a utilização de distâncias muito reduzidas para o cálculo da velocidade crítica, obtemos um conjunto de dados que nos podem fornecer importantes informações sobre a capacidade anaeróbia dos nadadores, podendo, desta forma, ser uma ferramenta prática para determinar intensidades de treino, monitorizar efeitos de treino e predizer as performances em natação. Referência: Amorim, R.A.M.G. (2010). A Velocidade Crítica Anaeróbia em jovens nadadores. Um estudo de caso em nadadores infantis nas quatro técnicas de nado. Covilhã: R.M.A.G. Amorim. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior. A Velocidade Crítica Anaeróbia em Natação. Rui A. Amorim 1,2 Daniel A. Marinho 1,2 1 Universidade da Beira Interior, Covilhã. 2. CIDESD

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BOLETIM TÉCNICO-CIENTÍFICO PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO EM DESPORTO, SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO (ISSN 1647-3280) EDITORES - JAIME SAMPAIO; MÁRIO MARQUES; ANTÓNIO SILVA

OUTUBRO-DEZEMBRO DE 2010 VOLUME 2, NÚMERO 6

PERFORMANCE DESPORTIVA

Neste número:

A Velocidade Crítica Anaeróbia em Natação.

1

Excelência desportiva... 2

Futebol...fadiga 4

Jogo de Voleibol... 6

Creatividade...perícia 9

Decorridos seis números do boletim Performance Desportiva, tivemos a contribuição de 48 autores. Destes autores, 41,7% são alunos de 1º, 2º e 3º ciclos das Instituições do CIDESD e 27,1% são membros do grupo da Performance Desportiva do CIDESD. A participação dos treinadores, directores técnicos nacionais e selecionadores nacionais é expressiva (14,6%), bem como a participação de empresas de I+D (8,3%). Continuamos empenhados em melhorar a comunicação entre cientistas e treinadores e comprometidos em criar um ambiente de desenvolvimento multidisciplinar, que combine resultados provenientes do conhecimento científico mais actual com as aplicações práticas e competências profissionais. Agradecemos o esforço e sentido de missão de todos os que nos têm ajudado.

Os Editores,

Editorial

O aumento da eficiência do processo de treino decorre de uma ocupação mais racional e consequente do tempo destinado à preparação desportiva, sendo este aspecto extremamente importante na Natação Pura Desportiva. A velocidade crítica, conceito adaptado à Natação Pura Desportiva, definido como a velocidade máxima de nado que pode ser mantida sem exaustão durante um longo período de tempo, tem sido cada vez mais utilizada pelos treinadores como um parâmetro de controlo e avaliação do treino. Após o vínculo deste conceito a performances aeróbias, recentes estudos, constatando uma grande importância do sistema anaeróbio na maioria das provas de natação, iniciaram uma abordagem à relação deste conceito em performances anaeróbias. O objectivo deste estudo foi analisar e interpretar a velocidade crítica anaeróbia (VCAn) em jovens nadadores, nas quatro técnicas de nado, tentando assim obter um método simples, não invasivo e pouco dispendioso para a avaliação e controlo do treino anaeróbio. A amostra utilizada agrupou 20 nadadores (12 do género masculino e 8 do género feminino) pertencentes ao escalão de Infantis, de um clube representativo da natação portuguesa. Para a determinação da VCAn, cada nadador realizou, à velocidade máxima, as distâncias de 10, 15, 20 e 25m, intervaladas por 30min de nados contínuos e livres de baixa intensidade. Na análise das relações da VCAn com as velocidades de prova nos 50, 100 e 200m, verificou-se uma elevada relação com as duas primeiras distâncias de nado, nas técnicas de

bruços, crol e costas. Pela comparação entre a VCAn e as diferentes velocidades de prova, constatámos que os valores da VCAn se assemelham significativamente com a velocidade de prova dos 200m nas quatro técnicas de nado. Assim, podemos concluir que, no nosso estudo, com a utilização de distâncias muito reduzidas para o cálculo da velocidade crítica, obtemos um conjunto de dados que nos podem fornecer importantes informações sobre a capacidade anaeróbia dos nadadores, podendo, desta forma, ser uma ferramenta prática para determinar intensidades de treino, monitorizar efeitos de treino e predizer as performances em natação.

Referência: Amorim, R.A.M.G. (2010). A Velocidade Crítica Anaeróbia em jovens nadadores. Um estudo de caso em nadadores infantis nas quatro técnicas de nado. Covilhã: R.M.A.G. Amorim. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior.

A Velocidade Crítica Anaeróbia em Natação.

Rui A. Amorim 1,2 Daniel A. Marinho1,2

1 Universidade da Beira Interior, Covilhã.

2. CIDESD

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PERFORMANCE DESPORTIVA

Para além da literatura científica, seja em periódicos, capítulos de livros ou mesmo obras inteiras, encontramos vários textos que exploram a temática do talento, por vezes de forma inevitavelmente comercial. Não obstante a contribuição de alguns desses textos, um deles merece-nos especial atenção – o livro recente de Daniel Coyle (2009) – “O código do talento. Ora o autor, na esteira de tantos outros livros de dominância editorial, alicia ao potencial leitor a revelação do “segredo” para se tornar um executante excepcional em distintas áreas (o desporto, a arte, a música e mesmo a m a t e m á t i c a ) . S e r i a u m t a n t o decepcionante para académicos e cientistas de diferentes domínios, que os últimos 50 anos de investigação em aprendizagem motora, treino e expertise fossem resolvidos por Coyle, um treinador de basebol infantil do Alasca, após uma viagem épica ao estilo Darwinista aos ditos viveiros de talentos.

O “segredo” é revelado por Coyle logo nos primeiros capítulos; nestes percebemos a influência marcante, quase obsessiva, das teorias evolucionistas de Charles Darwin. Assim, tal como para

Darwin (“sempre defendi que, exceptuando os idiotas, os homens não diferem muito no intelecto, apenas no zelo e no trabalho árduo”), a expressão de talento depende quase exclusivamente do modo como o treino é conduzido. Esse treino, designado de treino intensivo, assentará num paradoxo onde o esforço para o desempenho de determinada tarefa ou sub-tarefa pressupõem a presença do erro e “ao parecermos estúpidos, tornamo-nos mais inteligentes”. Com efeito, afirma o autor, que nessas experiências repetitivas devemos entender que somos obrigados a abrandar o ritmo, a cometer erros de execução e, mais importante, a corrigi-los. A chave estará na racionalização dessa correcção por parte do executante.

Coyle oferece um exemplo concreto de como funciona essa racionalização: “imaginemos que está numa festa e luta por se lembrar do nome de um conhecido. Se alguém lhe fornecer o nome, as hipóteses de o esquecer de novo são altíssimas. Mas se conseguir lembrar-se do nome sem ajuda – disparando o sinal para si próprio, ao contrário de receber essa informação – irá gravá-lo na sua memória. Não porque o nome tenha alguma importância ou porque a

A excelência desportiva a descoberto – uma contribuição fora do círculo

académico

1 Universidade da Beira Interior, Covilhã.

2. CIDESD

3. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.

António J. Silva2,3

[email protected] Aldo M. Costa1,2

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VOLUME 2, NÚMERO 6

A excelência desportiva a descoberto – uma contribuição fora do círculo

académico (cont.)

sua memória tenha melhorado mas, simplesmente, porque treinou de forma mais intensiva”.

Ao longo do livro são apresentados vários outros exemplos de como essa racionalização no domínio motor (por exemplo) funciona e de que maneira ela é distinta dos contextos de treino a que estamos habituados a defender. Entre muitos, o mais evidente reporta-se à existência de futebolistas de elite brasileiros, que parecem surgir quase sem interrupção ao longo dos últimos 50 a 70 anos. A justificação encontra-se na designada “incubadora” de talentos – a modalidade futsal. De facto, muitos dos jogadores históricos apenas tomaram contacto com a bola e campo regulamentar de futebol de onze muito depois de se tornarem jogadores exímios de futsal, onde a dimensão do terreno de jogo e do peso da bola obrigam a execuções técnicas de maior complexidade e rapidez, a par de uma tomada de decisão com muito menos opções viáveis de sucesso. Assim, tal como no basquetebol, a oportunidade de repetição de determinada tarefa motora (esforço) e consequente racionalização é significativamente superior (dada a menor dimensão do terreno de jogo). A par disso, assiste-se ainda à explosão do futebol de rua, que assume um papel extraordinário no aumento dessa oportunidade de prática, colocando os futebolistas brasileiros adolescentes com 3 a 4 vezes mais tempo de prática do que outros congéneres europeus.

Coyle dá-nos outra informação reveladora, assente agora em estudos preliminares da área da neurofisiologia - sugere a mielina como a “chave da fala, da leitura e da capacidade de aprendizagem”. Desta modo o neurónio liberta o epicentro biológico da aprendizagem motora para a matéria isoladora que envolve as fibras nervosas – a mielina, responsável pelo aumento da potência, velocidade e precisão do impulso nervoso.

http://thetalentcode.com/

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No jogo de Futebol de alto nível destaca-se a importância associada aos princípios de jogo na dinâmica das equipas, como os que estão relacionados com os esquemas tácticos (bolas paradas), com a dinâmica sectorial ofensiva e defensiva, com os aspectos de transição inerentes, enfim, com o c o n j u n t o d e “ n o r m a s comportamentais” ou “referenciais de comportamento” que dão identidade e que caracterizam uma forma de jogar.

Nessa dinâmica comportamental da equipa, existem determinados detalhes que são decisivos na concretização dos objectivos e daí a sua importância em entendê-los e em exercitá-los convenientemente em contexto de treino.

O remate enquadra-se nessa lógica e o seu entendimento adequado e exercitação conveniente em contexto de treino pode ser importante na procura de condições que conduzam a uma maior eficácia individual e colectiva.

O remate, de forma genérica, podemos entendê-lo como o resultado de um conjunto encadeado e sequencial de acções ofensivas que devem obedecer a determinados princípios de jogo do modelo de jogo do treinador. É a consequência final visível do objectivo permanente e incessante na procura intencional de zonas próximas da baliza e na criação de situações de finalização.

A análise dos factores que o possam potenciar ou inibir, em treino e/ou competição reveste-se, por isso, de grande importância nessa lógica de conhecimento e interacção.

A fadiga, por exemplo, é um factor claramente inibidor da performance de remate. Se olharmos para o jogo de futebol rapidamente compreendemos que todas as acções que nele ocorrem não são realizadas em condições óptimas. De facto, parece existir um impacto negativo na coordenação muscular com altos níveis de c o n c e n t r a ç ã o d e l a c t a t o c o m consequentes alterações cinemáticas nos membros inferiores (por exemplo, menor velocidade angular dos membros inferiores). Essas alterações na performance de remate parecem ser acompanhadas de um declínio significativo dos níveis de activação da capacidade muscular o que indicía que as mudanças na qualidade técnica por efeito da fadiga podem dever-se à incapacidade muscular gerada bem como às mudanças no padrão de coordenação muscular por razões fisiológicas inerentes. Não obstante, ainda não é claro o efeito concreto da fadiga na performance multisegmentar. Com efeito, embora os efeitos negativos da fadiga sobre a força e a potência muscular estejam bem documentados na literatura, a importância dessas mudanças na performance de remate carece de um maior desenvolvimento embora facilmente se depreenda da sua importância.

Nesta perspectiva, o treino do remate deve obrigar a uma atenção prática especial. Deve-se treinar o remate/situações de finalização criando-se condições próximas do contexto do jogo e, sobretudo, próximas do jogo que idealizamos que a nossa equipa apresente.

Ainda existe na prática a ideia, sobretudo se a equipa apresenta alguns problemas na finalização, em treinar-se a mesma de forma analítica sem ter em conta os potenciais factores que decorrem do jogo e com ela relacionados. Não nos parece adequado treinar o remate, por exemplo, em

Futebol, Remate e Fadiga

PÁGINA 4

PERFORMANCE DESPORTIVA

Mário Marques 1,2

[email protected]

1 Universidade da Beira Interior, Covilhã.

2. CIDESD

Ricardo Ferraz 1,2

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VOLUME 2, NÚMERO 6

condições facilitadoras, sem condicionantes de execução, sem oposição e sem ter em conta o impacto fisiológico do jogo, visível no aparecimento da fadiga.

A questão parece portanto surgir ao nível do como treinar. Concentremo-nos no factor fadiga.

A aquisição de um determinado princípio de jogo obriga a um rigor acérrimo nos meios e métodos a utilizar tendo como base a Especificidade como p r i n c í p i o m e t o d o l ó g i c o referencial. Não fará grande sentido exercitar o remate em situação de repouso sem ter em conta a componente de esforço relacionada com o jogo. Assim acontecendo, desvirtuam-se os objectivos do treino. Deverá, pois, exercitar-se de forma integrada em tarefas onde se relacione com a componente de esforço de forma a aproximar-se de uma situação real. Por exemplo, ser integrado em situações de trabalho táctico intenso onde a componente de esforço seja exacerbada. Ou então ser integrado no decorrer ou no final da sessão de treino em contexto de esforço similar ao jogo.

Neste sentido também devemos ter presente a fadiga relacionada com o esforço “mental”, associado, por exemplo, ao grau de dificuldade dos exercícios que levará o jogador a um determinado nível de superação comportamental e que nos levará a o u t r a d i m e n s ã o n o entendimento do esforço e do treino.

No treino procura-se a e x a c e r b a ç ã o d e comportamentos e nesta lógica d e v e m o s p r o c u r a r a exacerbação da acção de remate em contexto de fadiga próximo do jogo e por isso aqui denominado de contexto específico. Podemos, por isso, falar em “fadiga específica” e “esforço específico” a partir do qual deverá assentar o treino de competências específicas para o jogo e, neste caso concreto, o treino da acção de remate/situações de finalização relacionado com o “jogar” que pretendemos que a nossa equipa expresse em campo.

Para isso deveremos escolher e identificar claramente os princípios de jogo que pretendemos que a nossa equipa apresente na procura de situações de finalização e treiná-los através de exercícios especí f icos e portanto contextualizados. Só nesta p e r s p e c t i v a c r i a r e m o s condições que contribuirão para um aumento de eficácia da nossa equipa.

Futebol, Remate e Fadiga (cont.)

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PERFORMANCE DESPORTIVA

No desporto actual, a observação e a análise do jogo têm ganho uma importância crucial, possibili-tando o melhoramento do rendimento individual e colectivo, contribuindo para o planeamento do pro-cesso de treino e para uma caracterização da modalidade. Segundo Garganta (2001), a importân-cia da “análise do jogo” é um elemento fundamen-tal e indispensável na busca de factores que condi-cionam não só o rendimento desportivo, mas tam-bém, na procura de respostas que expliquem o aumento ou diminuição da eficácia, dos diferentes procedimentos do jogo (acções do jogo: serviço, recepção, distribuição, ataque, bloco e defesa).

Cada vez mais, a observação é orientada para a análise situacional. Se anteriormente era necessário saber o rendimento em cada acção de jogo, hoje em dia é fundamental a observação e análise de cada acção de uma forma muito específica. Devemos ter conhecimento, para além do sucesso da acção, a situação em que foi realizada.

Neste contexto, pretendemos identificar a eficácia das acções de jogo nas equipas finalistas do Campeonato do Mundo (CM) de Voleibol de 2010.

O CM de Voleibol é considerado o expoente máxi-mo das competições internacionais. Após várias fases de qualificação realizadas em todo o mundo, resultam 24 equipas que disputam entre si o título de Campeão Mundial. Com a regularidade de se disputar de 4 em 4 anos, esta competição é um mo-mento excepcional para avaliar o desenvolvimento da modalidade ao mais alto nível. Foram analisados os últimos 10 jogos do CM (realizado em Itália entre os dias 25 de Setembro e 10 de Outubro de 2010), num total de 38 sets, registando-se os seguintes resultados: 4 jogos disputados a 3-0, 4 jogos dispu-tados a 3-1 e 2 jogos disputados a 3-2.Os dados foram recolhidos em directo através do software Data Volley e Data Vídeo, e confirmados com a es-tatística oficial da prova. Foi utilizada uma câmara, colocada atrás da linha final do campo de voleibol, num plano superior ao recinto de jogo, garantindo uma recolha de imagens simultânea, pormenoriza-da e contextualizada. Este posicionamento teve

como critério ser o local reservado aos observado-res e scouters, constituindo o local ideal para recolha das informações sobre o posicionamento, deslocamento, execução e finalização das diferentes acções avaliadas. A área de filmagem foi composta pela totalidade do terreno de jogo.

Os resultados apontam para uma eficácia do serviço entre os 22% e os 32%. Estes valores traduzem a noção actual do serviço, o qual, hoje em dia, não se limita ao gesto que permite colocar a bola em jogo, constituindo a primeira acção que pretende dificul-tar a tarefa ao adversário. As equipas analisadas apresentam uma média de erro de 15,75%, o que denota um número elevado de faltas nesta acção do jogo. No entanto, este número é compensado pelo valor médio de serviços ponto (3,25%), conjunta-mente com o valor médio de serviços positivos (16,5%). A percentagem de erro poderá reflectir a atitude agressiva imposta no serviço. Se, por um lado, verificamos uma elevada percentagem de erro, os valores que permitem uma recepção fácil (59,5%), por outro, observa-se uma adaptação fo-mentada pela qualidade técnica e organização tácti-ca colectiva das equipas recebedoras.

Em relação à recepção (ver quadro 1), o valor médio de eficácia encontrado foi de 67,5%. O valor médio de recepção positiva (perfeita e mais) foi de 67,75%. Claramente acima da média surge a selecção bra-sileira. Esta acção, associada à anterior, é o ponto de partida para o jogo. Não temos dúvidas que o suces-so da sua execução influencia a organização ofen-siva de uma equipa.

No que se refere às acções ofensivas de ataque (KI ou side out - a resposta ao serviço adversário, com-posto por recepção, distribuição e ataque e o KII – denominado por contra - ataque), as equipas apresentam valores próximos dos 50% na eficácia geral. Verifica-se que a classificação final é propor-cional aos valores de side-out e KII. Se fizermos uma análise linear da dependência do side-out para equilibrar o marcador e o KII para distanciar uma equipa no marcador, o Brasil apresenta valores ni-tidamente acima do seu adversário. Se associarmos

A eficácia nas acções do jogo de Voleibol de Alto Nível no último Campeonato do Mundo 2010 – Roma.

Paulo Vicente João2,3 [email protected]

1.Director Técnico Nacional da Federação Portu-

guesa de Voleibol

2. CIDESD

3. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.

Daniel Lacerda 1

[email protected]

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VOLUME 2, NÚMERO 6

as acções de ataque com a recepção positiva (perfeita e mais), o campeão do mundo apresenta 64% de eficácia no side-out (KI) e 59% na transição (KII).

Relativamente à tendência das zonas de acção de ataque (ver quadro 2), podemos verificar que a zona mais solicitada é a zona 4. No entanto, a zona 3 aparece na maioria das equipas como sendo a se-gunda mais solicitada. De referir que esta predom-inância é bem mais notória no side-out, o que demonstra a extraordinária capacidade técnica e táctica das equipas avaliadas na acção de recepção. A zona defensiva, ou 2ªlinha, apresenta valores de eficácia superiores às zonas mais utilizadas, zona ofensiva ou 1ª linha. É pertinente salientar a im-portância actual do jogador oposto, sendo consider-ado o jogador mais preponderante numa equipa, visto que toda a organização táctica da própria equi-pa assim o obriga. O Brasil utiliza todas as zonas do campo, primeira e segunda linha, demonstrando a complexidade ofensiva em termos espaciais apresentada ao longo deste CM.

Passando à acção de bloco (ver quadro 3), os valores são considerados excepcionais, num total de 130 blocos ponto em 38 sets disputados, resultam uma média de 3,42 blocos ponto por set, o que a este nível nos parece invulgar. Actualmente a quali-dade técnica dos centrais trouxeram uma melhoria de toda a organização defensiva da equipa, con-tribuindo para a obtenção destes valores. Constatou-se ainda um contacto positivo com a bola na acção de bloco (permitindo o contra-ataque) em 22,25% das acções de ataque. Verificou-se uma superiori-dade do ataque em relação ao bloco e o mesmo em relação à defesa. No entanto, nos ataques de 3º tem-po as equipas conseguiram efectuar quase sempre uma oposição de bloco triplo nas zonas 4 e 2 nomeadamente.

O Brasil apresenta uma média superior às restantes equipas, com 3,1 blocos por set, superiorizando-se a Cuba, com 2,5 de acções, à Servia, com 2,6 de acções, e à Itália, com 2,4 de acções por set.

Por último a defesa, os valores encontrados dizem apenas respeito às acções em que existiu contacto com a bola. Constatando-se uma superioridade clara do ataque em relação à defesa. Perante análise real-izada, podemos verificar que em termos médios apenas 14,5% das acções de ataque possibilitaram contacto com a bola na defesa e que apenas 11,5% do total de acções possibilitaram manter a bola em jogo.

As equipas apresentam uma preocupação pela or-ganização da 1ª linha de defesa (bloco), sendo esta, fundamental para o sucesso defensivo da equipa. A

possibilidade de contactar a bola nesta linha ou a possibilidade de esta ocupar de forma organizada uma determinada parte do terreno, é crucial para obter sucesso no contacto com a bola.

De referir que, em termos tácticos, a opção pela utilização do libero na zona 5 em situações de defesa foi unânime. Verificámos que a equipa que possui um maior número de acções de bloco positivas foi aquela que maior número de acções de defesa real-izou. Podemos mencionar que a questão da defesa depende directamente da qualidade e capacidade organizativa, disciplina táctica e estratégica. A relação com o bloco é fundamental para uma boa prestação defensiva.

Como considerações finais, denota-se que as equi-pas analisadas apresentam valores elevados de eficácia, demonstrando uma grande qualidade téc-nico-táctica dos seus jogadores, resultando um equilíbrio constante ao longo do jogo. Os dados demonstram existir uma predominância de acções positivas ou capazes de criarem grandes dificuldades, em detrimento de acções negativas nas acções de ataque (KI e KII).

De todas as acções ofensivas, o serviço é aquela que demonstra uma maior percentagem de erro, bem como uma maior percentagem de acções de con-tinuidade de pouca dificuldade (o que indica que a qualidade técnico-táctica do adversário é bastante elevada). Parece-nos a acção em que os atletas as-sumem um maior risco, tentando criar dificuldades ou obter ponto directo;

A qualidade da primeira acção (serviço ou bloco) tem grande influência no resultado final do rally. No entanto, a relação serviço/bloco não é directa, isto é, a equipa que apresenta melhor eficácia de serviço não é aquela que apresenta melhor índice de bloco;

Já a relação recepção/ataque é directa: ou seja, a equipa que apresenta maior eficácia na recepção é aquela que apresenta melhor eficácia no ataque em side-out (KI) e por sua vez uma grande superiori-dade em relação à defesa.

Apesar de existirem acções do jogo que contribuem mais para o desfecho final do jogo que outras, é fun-damental orientar o treino não só para o domínio das acções de jogo de maior eficácia (como o serviço e o ataque, pela sua influência directa no resultado do jogo de Voleibol) mas para o seu enquadramento táctico com uma forte componente decisional.

Referência

Garganta, J. (2001) A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da análise do jogo. Rev Port Ciências do Desporto 1 (1): 57-64.

A eficácia nas acções do jogo de Voleibol de Alto Nível no último Campeonato do Mundo 2010 – Roma (cont.).

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PERFORMANCE DESPORTIVA

A eficácia nas acções do jogo de Voleibol de Alto Nível no último Campeonato do Mundo 2010 – Roma (cont.).

Quadro 1. Rendimento do Brasil

Quadro 3. Rendimento da acção bloco por equipa.

Quadro 2. Distribuição de acções de ataque por zona e por equipa.

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VOLUME 2, NÚMERO 6

Criatividade, Inteligência e Perícia

Jaime Sampaio1,2 [email protected]

Nuno Leite1,2 [email protected]

Existe alguma controvérsia entre os conceitos de inteligência táctica e criatividade no desporto. A inteligência táctica refere-se a comportamentos que expressam a habilidade de encontrar a solução ideal perante o problema colocado. Por exemplo, quando um jogador de basquetebol em situação defensiva toma a decisão de se antecipar e colocar na trajectória de determinado atacante no sentido de lhe provocar uma falta ofensiva. Por outro lado, a criatividade refere-se a comportamentos que expressam decisões inabituais, raras e até únicas como solução para os problemas colocados. Por exemplo, quando os jogadores realizam passes sem olhar para um local onde estará um receptor ou quando se utiliza uma acção técnica fora de qualquer padrão habitual para fazer chegar uma bola em boas condições a um companheiro de equipa. Esta capacidade de improvisar de forma eficaz em situação de jogo parece estar relacionada com o desenvolvimento motor e perceptivo, como sejam a atenção, a antecipação, o reconhecimento de padrões e o conhecimento de probabilidades da situação. Aliás, a capacidade diferenciada de controlar um elevado número de elementos do jogo pode explicar como Cristiano Ronaldo passa a bola para um espaço aparentemente vazio sabendo que um companheiro de equipa estará colocado para receber o passe.

Evidências empíricas têm revelado diferenças entre desportistas peritos e novatos nalgumas destas habilidades perceptivas. Apesar de diversos autores sugerirem que os programas de detecção e acompanhamento de talentos poderiam beneficiar de uma melhor compreensão dos desportos a partir do desenvolvimento de soluções tácticas originais em crianças e jovens (a infância é o período onde a treinabilidade destes aspectos é mais acentuada), normalmente somos confrontados com orientações metodológicas contraditórias e que limitam o potencial de desenvolvimento cognitivo e atlético dos desportistas. Alguns estudos recentes podem ser vistos como importantes contributos para a descoberta de novos paradigmas de investigação e de aplicação prática, ligados à criatividade, atenção e à influência contextual na preparação desportiva (Kannekens, Elferink-Gemser & Visscher, 2009; Porter & Magill, 2010; Memmert, 2011). Na generalidade, reforça-se a

n e c e s s i d a d e d e i n c o r p o r a r s i t u a ç õ e s deliberadamente tácticas nos programas de preparação desportiva, preferencialmente com cooperação e oposição, onde os jogadores sejam estimulados a descobrir os companheiros melhor colocados para lançar ao cesto ou rematar à baliza. Ao mesmo tempo, a intervenção dos treinadores deverá ser menos frequente durante o jogo para favorecer o desenvolvimento dos mecanismos que influenciam o foco de atenção dos jogadores. A criatividade e a atenção poderão ser igualmente desenvolvidas recorrendo a métodos de ensino centrados em aumentos progressivos da interferência contextual. Um exemplo da manipulação desta interferência contextual pode ser treinar a precisão do passe no basquetebol através de diferentes técnicas, passe com duas mãos por cima da cabeça, passe de peito com duas mãos e passe lateral com uma mão. O treino em blocos ou com aumento gradual da interferência contextual parecem ser formas complementares de aumentar progressivamente a dificuldade do contexto de prática. No alto-rendimento desportivo, qualquer uma das habilidades referidas ao longo deste documento podem ser consideradas como factores de selecção e exclusão. O avanço dos sistemas de observação e análise dos adversários tem possibilitado às equipas conhecer as rotinas tácticas individuais dos jogadores e as estratégias das equipas para os jogos, pelo que a criatividade e a capacidade de improvisação podem ajudar os jogadores a solucionar os problemas colectivos.

Referências

Kannekens, R., Elferink-Gemser, M. and Visscher, C. (2009) Tactical skills of world-class youth soccer teams. Journal of Sports Sciences, 27:8, 807-812.

Porter, J. and Magill, R.(2010) Systematically increasing contextual interference is beneficial for learning sport skills. Journal of Sports Sciences, First published on: 15 September 2010 (iFirst)

Memmert, D. (2011) Creativity, expertise, and attention: Exploring their development and their relationships. Journal of Sports Sciences, 29: 1, 93 - 102, First published on: 18 November 2010 (iFirst)

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O Boletim técnico-científico Performance Desportiva é um boletim técnico-científico que tem o ob-jectivo de publicar material que combine os resultados provenientes do conhecimento científico mais actual com as aplicações práticas e o conhecimento profissional. Pretende divulgar informação e produzir conhecimento em três linhas de investigação prioritárias: 1) Determinantes genéticos, biomecânicos e fisiologicos da performance, através do desenvolvimento de modelos descritores e preditivos do movimento humano e a sua relação com a performance desportiva; 2) Análise da per-formance desportiva, através da observação, tratamento e interpretação de registos de performance desportiva estáticos e dinâmicos; 3) Análise da performance motora, através da avaliação e controlo das performances motoras. O âmbito de aplicação destas linhas é durante ou após o processo de treino ou competição desportivas e centra-se nos desportistas, nos treinadores e nos juízes, mascu-linos e femininos, envolvidos no desporto de formação e no desporto de alto-rendimento.

PERFORMANCE DESPORTIVA

Doutoramento

Ciências do Desporto — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Mestrado

Jogos Desportivos Colectivos — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Avaliação nas Actividades Físicas e Desportivas — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Ciências do Desporto — Universidade da Beira Interior

Licenciatura

Ciências do Desporto. Ramos: Desportos Individuais; Jogos Desportivos Colectivos — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Licenciatura em Desporto — Instituto Politécnico de Bragança

Cursos de Especialização Tecnológica

Treino Desportivo do Jovem Atleta — Instituto Politécnico de Bragança

Formação técnica e científica no âmbito da Performance Desportiva

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Contribuições para o Boletim...

O Performance Desportiva é um boletim sujeito a revisão científica e técnica, mas é aberto e encoraja-se à participação de todos os interessados nesta àrea do conhecimento. Os artigos a submeter deverão ter entre 1000-1500 palavras, podendo também conter quadros e/ou figuras (até o máximo de 2).