PUBLICIDADE E SEU PODER DE PERSUASÃO

Evanete Garcia de Andrade1

Nilda Aparecida Barbosa2

RESUMO: Este artigo apresenta um trabalho voltado à prática de leitura com textos de circulação

social, direcionado ao oitavo ano do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Arnaldo Busato – Ensino Fundamental e Médio, núcleo de Cianorte-PR. E tem como objetivo levar para a sala de aula textos do gênero anúncio publicitário como modalidade de leitura persuasiva, uma vez que nosso aluno vive constantemente impactado por propagandas, seja na rua, em casa ou nas redes sociais. Foram desenvolvidas atividades de pesquisas, análise linguística, reflexão da intencionalidade e recursos utilizados pela publicidade. A proposta foi completada com a apresentação dos trabalhos realizados pelos alunos, superando as expectativas pela dedicação às atividades sugeridas. Diante disso, é importante estarmos atentos à leitura deste gênero e assim, evitarmos a alienação consumista promovida pela sedução da publicidade. Frente a esse quadro, cabe ao educador, o maior formador de opinião, despertar no aluno uma visão crítica, consciente capaz de fazer suas próprias escolhas frente à diversidade de opções. PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Publicidade. Visão Crítica.

1- INTRODUÇÃO

Este artigo é parte dos requisitos do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE - 2012 e 2013). Realizado pela Secretaria de Educação do

Estado do Paraná. O programa é oferecido aos professores no intuito de ampliarem

seus conhecimentos teóricos, levando-os para a sala de aula e contribuindo para a

superação das dificuldades de ensino e aprendizagem enfrentadas no cotidiano

escolar. Após observações e pesquisas selecionamos como objeto de estudo a

leitura crítica, a partir do gênero anúncio publicitário.

Este estudo tem o intuito de contribuir no desenvolvimento cognitivo do aluno

possibilitando-o posicionar-se criticamente diante da sedução imposta pela

1Professora licenciada em Letras pela FAFIPA - Fundação Faculdade Municipal de Educação

Ciências e Letras de Paranavaí, Pós-graduada em Didática e Metodologia do Ensino; Administração, Supervisão e Orientação Educacional e faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE - turma 2012. Atua como professora de Língua Portuguesa no Colégio Estadual “Arnaldo Busato” – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Guaporema-Paraná.

2Possui graduação em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (1990) e Mestrado em Letras

(Língua e Literatura Francesa) pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é professora assistente da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Tem experiência na área de Letras, com ênfase no ensino de Línguas Estrangeiras Modernas e literatura do Francês. .

publicidade. Essa prática passa pelo acesso e pelo estudo dos gêneros por meio

dos quais nos comunicamos e agimos socialmente.

A metodologia usada está de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais

(DCEs) de língua portuguesa, (2008) que tem como base as reflexões do Círculo de

Bakhtin a respeito da língua. As palavras estão carregadas de conteúdo ideológico,

elas “são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a

todas as relações sociais em todos os domínios” (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p.

41). E para nortear as atividades de leitura as quais foram esmiuçadas e

aprofundadas ao longo do trabalho, foram utilizadas as técnicas e estratégias de

Isabel Solé.

Segundo as DCEs (2008) a leitura enriquece a visão de mundo do leitor, e é

capaz de articular suposições, contribui para a formação de opinião pessoal, usa

recurso fundamentado no conhecimento linguístico do próprio leitor e na sua

vivência sociocultural.

Pautadas nessas propostas curriculares e diante da evolução de um mundo

globalizado que propõe inúmeras leituras e interpretações, cabe à escola, instituição

formadora de opinião e visão crítica, estar atualizada e corresponder às

necessidades contemporâneas. Assim de acordo com as DCEs:

Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais: jornalísticas, artísticas, judiciária, científica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens não-verbais. A leitura de imagens, como: fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano. (DCEs, 2008, p. 45)

Portanto, partindo dessa realidade, a proposta de trabalho com o texto

discursivo - anúncio de publicidade - objetiva também, oportunizar ao professor e ao

aluno uma grande interação, instigando-os a questionamentos mais profundos e,

motivando-os a buscar mais informações a cada texto proposto.

Diante da presença sedutora e manipuladora da publicidade que se faz

presente no cotidiano do educando, não há como o professor ignorá-la, devendo

então desenvolver, um novo olhar, sobre esse gênero e assim contribuir com o

desenvolvimento educacional.

Reforçamos que a preocupação em desenvolver uma leitura que progrida as

habilidades essenciais dos educandos deve estar presente desde a mais tenra

idade, por Isso dará ao aluno estrutura para superar todas as dificuldades que uma

leitura pode apresentar. Para Freire (2005) “Linguagem e realidade se prendem

dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica

implica a percepção das relações entre o texto e o contexto”.

Para desenvolver uma prática eficiente, na implementação do projeto, foi

usado o material didático-pedagógico Unidade Didática, que compõe um conjunto de

atividades ligadas entre si, planejadas para desenvolver a visão crítica do aluno,

tendo sido elaborada etapa por etapa para ir de encontro com objetivo que o

professor quer alcançar com o gênero estudado.

As atividades foram sendo aplicadas passo a passo com o cuidado de iniciar

sempre do conhecimento prévio do aluno, o que contribuiu para despertar no grupo

uma interação positiva e motivadora. No decorrer do trabalho o grau de dificuldade

das atividades oferecidas aos alunos foi sendo apresentado gradativamente, sempre

com o intuito de despertar uma visão de mundo mais crítica e seletiva, levando o

aluno a desenvolver mais autonomia na hora de tomar suas decisões frente ao que

a publicidade lhe oferece.

Para desenvolvimento do trabalho, selecionamos jornais, revistas, vídeos,

algumas propagandas para análise, músicas, slides e textos que abordavam o

gênero. Todos esses recursos contribuem para despertar no aluno um novo olhar

sobre a intencionalidade da publicidade que usa estratégias de sedução para o

adulto e até mesmo para a criança, causando muitas vezes conflitos familiares, pois

a criança não tem poder aquisitivo.

Para tanto, o presente trabalho apresenta-se organizado da seguinte forma:

na primeira parte apresentamos a fundamentação teórica, abordando os

fundamentos teórico-metodológicos para a prática de leitura, desafios da leitura, uso

de textos das esferas sociais em sala de aula, gênero discursivo

propaganda/publicidade; na segunda parte descrevemos o projeto pedagógico e sua

aplicação na escola e, por fim, passamos às considerações finais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA A PRÁTICA DE

LEITURA

Na atualidade, não é tarefa fácil despertar no educando o gosto e o prazer

pela leitura, o que leva o educador a um grande desafio. Nem todas as práticas de

leitura realizadas em sala de aula contribuem para a formação de um leitor

competente. Assim, procurando contribuir para a melhoria da prática de leitura em

sala de aula, propusemo-nos a trabalhar com os alunos das séries finais do ensino

fundamental, com o objetivo de desenvolver uma leitura aprofundada e reflexiva, a

partir do gênero anúncio publicitário, dando significado ao texto, seja ele verbal ou

não verbal.

Na busca de encontrar respostas e argumentação para uma prática

pedagógica, cheias de desafios, faz-se necessário ir de encontro às pesquisas de

alguns teóricos para fundamentar e, consequentemente, nortear a prática na sala de

aula.

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná

(DCEs), a leitura promove no leitor capacidade de formular e reformular hipóteses, a

capacidade de elaborar sua conclusão, possui argumento linguístico, demonstra

experiência na sua vivência sociocultural. E ser capaz de ler é relacionar-se com

textos variados em diversas esferas sociais.

Diante dos benefícios da leitura Bamberger (2004, p.32), acrescenta que os

interesses e motivação influenciam o modo de vida do indivíduo. Daí, a importância

de trabalhar o incentivo desde a mais tenra idade, a criança diante de seu assunto

preferido apresenta bom resultado. Desta forma, o educador deve apresentar várias

possibilidades, porque a preferência é algo relativamente passivo, ao passo que o

interesse é dinâmico e ativo.

A pesquisa de Bamberger ainda conclui que a criança ao aprender a ler se

sente motivada para praticar a habilidade recém-adquirida, cabendo ao professor

dar continuidade a essa motivação com material de leitura acessível, apropriado à

idade específica e apresentar à criança material com grau de dificuldade crescente.

2.1 Desafios da leitura

Para Koch (2011 p. 20), a leitura para ser compreendida pelo leitor, não deve

ser simplesmente decodificada, pois deve levar em conta as experiências e os

conhecimentos do leitor. E Kleiman (2011 p.20) confirma que para ser capaz de

realizar uma boa leitura se faz necessário ter conhecimento prévio, em diversos

níveis, e conhecimento linguístico para facilitar nas dificuldades diversas. Assim a

incompreensão de um texto se deve a um frágil conhecimento de mundo, ou seja, o

indivíduo deve ter noção das diversas áreas. O Conhecimento linguístico, o

conhecimento textual e o conhecimento de mundo são ativados durante a leitura,

contribuindo para uma compreensão de qualidade.

Todos os estudos relacionados à leitura apresentam resultados e conclusões

relevantes e que devem ser levadas em consideração. Kleiman (2011, p. 34) afirma

que para obter um resultado satisfatório de uma leitura, o leitor deve ter um objetivo

claro, lembrando que cada leitor tem sua maneira de atingir o objetivo na leitura. E

acrescenta “Não há objetivos na leitura por prazer. O objetivo é o prazer”.

E refletindo ainda sobre a leitura, Koch (2011) critica a metodologia usada

pela escola com relação à tipologia textual, pois não há ligação entre as práticas

sociais e o gênero estudado em sala de aula, perdendo assim, o sentido, como

objeto e ferramenta de trabalho, que contribui para o desenvolvimento da língua de

forma precisa e definida.

Bakhtin (2003) diz que a internalização dos discursos, de um indivíduo, se faz

a partir da convivência nas variadas esferas sociais. Assim, uma pessoa pode

vivenciar diariamente inúmeras situações de leitura, discursos em diversificados

gêneros textuais. Esta convivência, para o educando, com discursos alheios é

importante para a construção do próprio discurso. A prática da leitura em várias

instâncias da sociedade torna o leitor mais crítico.

2.2 Uso de textos das esferas sociais em sala de aula

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná

(DCEs) realizar leituras é conviver com textos diversificados das esferas sociais

como: jornalístico, artístico, didático-pedagógico, receitas, bulas, literário,

publicitário, etc. Não se esquecendo das linguagens não verbais e leituras de

imagens. Portanto, faz-se necessário despertar, no aluno, um olhar crítico e

coerente para esses diferentes discursos que o cercam, cabendo ao professor

realizar leituras com objetivo de desenvolver, no educando, o senso crítico para ser

capaz de se posicionar como cidadão consciente e letrado.

Marcondes comenta que:

A ausência de trabalhos, em sala de aula, com textos que circulam socialmente, como jornal, letras de música, anúncios ou outdoors, surge como sintoma de recusar a experiência do aluno como cidadão fora do espaço acadêmico. Constata-se que cada vez mais os jovens têm grandes

dificuldades com a leitura, no entanto, isso é medido apenas por seu contato com os textos que circulam na escola. (MARCONDES, 2011, p.9)

Refletindo sobre este ponto de vista selecionamos o gênero propaganda e

publicidade para diminuir a distancia entre o que se faz no espaço escolar e o que

se exige socialmente. Este objeto de estudo, publicidade, foi selecionado em função

de ser o gênero com os quais os alunos mais interagem em seu cotidiano, seja

através dos meios eletrônicos (tevê, internet), seja por intermédio da mídia impressa

(panfleto, jornais, revistas, outdoors, etc.).

E para que o aluno seja capaz de enxergar as intenções implícitas, nos

variados textos publicitários que o rodeiam no cotidiano, o professor deve propor

uma leitura buscando todas as possibilidades de interpretação. Rossi (2009, p. 29)

nos ensina que “Além das imagens da arte, a publicidade fornece um rico material

para ser usado em sala de aula. A compreensão das imagens publicitárias

desenvolve um olhar que pode desmistificar ideias veiculadas pela mídia”.

E ainda percebe-se, no gênero anúncio publicitário, uma forte sedução,

normalmente, voltada para o consumo ou para a não reflexão dos problemas e

conflitos sociais. Cabendo assim, segundo Lajolo (2001, p. 21) “inteligentes

estratégias de leitura que oportunize ao aluno perceber e reconhecer intenções

manipuladoras”.

Passamos agora a apresentar algumas considerações a respeito do objeto de

nosso estudo e aplicação pedagógica, o gênero publicidade.

2.3 Gênero Discursivo propaganda/publicidade

Segundo Carvalho (1996) a linguagem publicitária faz uso da linguagem estilística e argumentativa, voltada para informar e manipular:

A propaganda política (institucional, religiosa, ideológica) está voltada para a esfera dos valores éticos e sociais, enquanto a publicidade comercial explora o universo dos desejos, um universo particular. A publicidade é mais “leve”, mais sedutora que a propaganda. Como não tem autoridade para ordenar, o emissor utiliza a manipulação disfarçada: para convencer e seduzir o receptor, não deixa transparecer suas verdadeiras intenções, ideias e sentimentos, podendo usar de vários recursos:

A ordem (fazendo agir) – “Beba Coca-Cola”:

A persuasão (fazendo crer) – “Só Omo lava mais branco”; ou

A sedução (buscando o prazer) – “Se algum desconhecido lhe oferecer flores, isto é Impulse”. (CARVALHO, 1996, p. 10.)

A partir dessa linguagem sedutora e manipuladora se faz necessário

despertar no educando uma visão crítica e consciente ao manipular textos de

publicidade. Koch (2002, p.10) destaca que o ato linguístico fundamental é o ato de

argumentar, pois, “o ato de argumentar é visto como o ato de persuadir que procura

atingir a vontade, envolvendo a subjetividade, os sentimentos, a temporalidade,

buscando adesão e não criando certezas”.

Diante da leitura que faz parte do cotidiano do aluno Rossi (2009) acredita

que a leitura de imagens da publicidade é obrigatória, para o autor, “Na publicidade,

as imagens sugerem o que devemos fazer, do que devemos necessitar o que

devemos valorizar ou desejar.” Segundo Rossi, a leitura de imagens é uma forma de

conscientizar que somos destinatários dessas imagens que tem como intenção

impor valores, ideias e comportamentos que não escolhemos.

A responsabilidade de desenvolver no indivíduo uma leitura aprofundada dos

mais variados gêneros leva o educador a uma reflexão sobre a sua

responsabilidade. Bamberger (2004) assinala que a leitura desperta aptidões

intelectuais e espirituais, como a fantasia, o pensamento, a capacidade de identificar

e familiarizar-se com o mundo que nos rodeia.

Dessa forma, para realizar um trabalho que contribua para a melhoria da

prática de leitura de sala de aula e despertar o senso crítico do educando,

escolhemos o gênero publicidade, visto que, atualmente, ela se encontra em

destaque no âmbito da linguagem, imagens e cores, com a finalidade de seduzir o

leitor/consumidor. Exigindo, assim, do educador, uma leitura orientada e reflexiva

para que o aluno possa perceber as intenções implícitas.

2.4 Procedimentos Metodológicos

Conforme preconiza Solé (2009) sobre a questão metodológica:

Poder ler, isto é, compreender e interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes intenções e objetivos contribui de forma decisiva para a autonomia das pessoas, na medida em que a leitura é um instrumento necessário para que nos manejemos com certas garantias em uma sociedade letrada. (SOLÉ, 2009, p. 18.)

E com o objetivo de proporcionar ao aluno oportunidade de desenvolver

diferentes leituras, selecionamos o Gênero “Anúncio Publicitário” com certeza de sua

importância no desenvolvimento cognitivo do educando. Segundo, (Marcondes,

2011) “Ler o que circula socialmente é, portanto, atuar na sociedade, participando e

não se limitando a pequenos universos”.

Considerando que o trabalho com publicidade é importante para o aluno

observar com mais atenção tudo que o rodeia e o seduz, apresentaremos todo

desenvolvimento das atividades desenvolvidas neste período e seu resultado obtido

com os alunos do 8º ano do Ensino fundamental do Colégio Estadual Arnaldo

Busato – Ensino Fundamental.

Para iniciar a Implementação organizamos a apresentação do tema em slides,

tentando pensar em todos os detalhes, com o objetivo de motivar o aluno a ter um

olhar diferenciado para o gênero sugerido. Escolhemos um ambiente diferente da

sala de aula, na biblioteca municipal que fica ao lado do colégio.

Neste momento ressaltamos a importância da leitura, questionando: Por que

ler? E a importância de desenvolver nossa capacidade de compreender o mundo e

de sermos críticos diante das imposições e manipulações impostas pela sociedade.

Em seguida definimos o título do projeto: “Publicidade e seu poder de

persuasão”. Questionamos o que é publicidade e persuasão. Após a definição e

troca de ideias entre os educandos, continuamos a exibição dos slides refletindo as

estratégias da publicidade para nos seduzir, por isso a importância de realizar uma

leitura crítica deste gênero que faz parte do cotidiano de todos.

Para reativar o conhecimento prévio do aluno foram realizados vários

questionamentos e em seguida refletimos sobre o tema através de várias perguntas:

Para que(m) a propaganda é produzida? Quem as produz? Como e onde elas são

divulgadas? O que vocês costumam observar em uma propaganda? O que mais

chama atenção na propaganda, as cores, o texto escrito, a imagem ou outro

detalhe? Vocês já pararam para pensar na intenção da propaganda? Para que elas

servem? Se não existisse a propaganda como seria nossa postura diante do

consumismo? Será que não consumiríamos bem menos? Será que a propaganda

influencia na nossa decisão de adquirir ou não um determinado produto? Agora que

vocês já sabem que as propagandas são feitas com o intuito de induzir o consumidor

a adquirir um produto, qual será a sua atitude na hora de comprar algo? Quais

critérios você utiliza na hora de comprar um produto: analisa bem, compra por

impulso por que é bonito, ou por que os colegas têm?

Neste primeiro contato foi possível perceber que os alunos nunca haviam

refletido sobre a sedução da publicidade, mas muitos fizeram colocações críticas

interessantes. A participação e a aceitabilidade do projeto superaram todas as

expectativas o que contribuiu para o sucesso da implementação do projeto.

Na aula seguinte os alunos tiveram o primeiro contato com o gênero através

de revistas. A turma foi dividida em cinco grupos de cinco alunos. Cada grupo tinha

em mãos várias revistas direcionadas a públicos diferentes. Desta forma os grupos

tinham que selecionar uma propaganda de cada revista e preencher o quadro

fornecido a eles.

Propaganda/revista Público alvo Recurso

utilizado

Ponto

negativo

Ponto

Positivo

Após o trabalho realizado, na aula seguinte, os grupos apresentaram suas

reflexões sobre as propagandas escolhidas. Todos realizaram a atividade, alguns

alunos precisaram de ajuda, mas a maioria concluiu a atividade, com facilidade.

Dando continuidade, a tarefa seguinte foi analisar as propagandas televisivas

em diferentes horários e redes. Nem todos os alunos realizaram a pesquisa, mas as

equipes que apresentaram os trabalhos foram detalhistas e realizaram observações

minuciosas, com uma visão critica bastante madura.

E para dar ênfase ao gênero usamos a música como instrumento de reflexão.

Cada aluno recebeu uma cópia da música “Propaganda”, do grupo Nação Zumbi.

Após a exibição do clip da música foi realizado um debate sobre a mensagem

transmitida pela música. Os alunos observaram que há muitas músicas alertando

sobre a influência da propaganda nas nossas decisões.

Em seguida, os alunos receberam um texto, cujo objetivo era agregar

conhecimento histórico sobre a publicidade. O texto abordou desde a primeira forma

de publicidade até os dias atuais.

Assim para observar a evolução da publicidade e o quanto ela historicamente

vai revelando o comportamento e os hábitos dos consumidores foram exibidas, em

slides, várias propagandas antigas.

Esta atividade despertou em alguns alunos curiosidade por propagandas

antigas. Isso os levou a realizar pesquisas, por iniciativa deles, sobre a história das

propagandas da Coca-Cola. Organizaram em slides e pediram para apresentar para

a sala. Com esta iniciativa vários alunos realizaram suas pesquisas abordando

propagandas antigas. Fizeram muitas descobertas o que contribuiu para a turma

incorporar a temática.

As atividades de análise de propagandas, neste momento, têm como objetivo:

Reconhecer o público alvo das propagandas apresentadas.

Analisar criticamente as propagandas e vídeos sobre o tema.

Identificar e realizar leitura dos textos verbais e não verbais.

Pesquisar e selecionar propagandas direcionadas às crianças e refletir

sobre o seu poder sobre elas.

Saber que a publicidade faz uso dos mais variados recursos para seduzir

o consumidor, inclusive o uso da arte.

Fonte: http://www.topkids.com.br/acontece/kapo2007.jpg Figura retirada do Portal do Professor – MEC

Neste momento do trabalho foi realizada uma leitura detalhada das

propagandas com direcionamento das seguintes questões: Quais empresas estão

anunciando? Qual o público alvo? Que recursos são usados para chamar a

atenção? A escrita chama a atenção e esclarece qual produto está sendo

anunciado, porém podemos observar que a segunda propaganda não possui texto

escrito, isso a faz incompreensível? Por quê? Qual a temática explorada? Qual

propaganda você gostou mais? Por quê? Com que objetivo elas foram produzidas?

Quais os pontos positivos e negativos dos anúncios? Por que o Mc’Donald usa as

cores amarela e vermelha? Quais os benefícios e os prejuízos que esses produtos

podem trazer para o consumidor? As propagandas direcionadas às crianças vêm

aumentando a cada dia, porém adquirir um produto cabe ao adulto. Isso pode

causar conflito na família?

Com essa leitura direcionada foi possível perceber o que os alunos

observavam e o que eles nunca tinham percebido nos textos publicitários. A partir de

então foi necessário acrescentar algumas informações acerca do uso das cores na

publicidade. Neste momento os alunos receberam um texto sobre a influência

psicológica que as cores exercem sobre o ser humano. As demais dúvidas foram

sanadas no decorrer do desenvolvimento dos trabalhos.

Diante da leitura que faz parte do cotidiano do aluno, Rossi (2009, p. 71)

acredita que a leitura de imagens na publicidade é obrigatória. “Na publicidade, as

imagens sugerem o que devemos fazer, do que devemos necessitar o que devemos

valorizar ou desejar.” E comenta que a leitura de imagens é uma forma de

conscientizar que somos destinatários dessas imagens que tem como intenção

impor valores, ideias e comportamentos que não escolhemos.

Para finalizar essa reflexão, que deu mais ênfase a influência da publicidade

no público infantil, apresentamos o vídeo “Pare e Pense”, e “Criança a alma do

negócio” o que gerou uma reflexão profunda com uma grande participação da turma.

A análise das próximas propagandas tem como objetivo:

Refletir sobre a intencionalidade dos recursos utilizados no anúncio

publicitário.

Identificar as ideologias difundidas pelo discurso publicitário.

Identificar e analisar o uso do verbo no imperativo com o objetivo de dar

força à argumentação.

Perceber a presença da arte na divulgação da propaganda.

E além da imagem, Carvalho (1996) acredita que a publicidade usa uma

linguagem autoritária, destacando o verbo no imperativo que sustenta uma

argumentação que seduz o consumidor a consumir consciente ou

inconscientemente.

FONTE: Revista Capricho (maio de 2009) – Portal do professor MEC

A reflexão desta propaganda foi direcionada pelos seguintes

questionamentos:

1. Essa propaganda é direcionada a que público?

2. A frase: ”Capricho do Boticário para uma vida mais feliz” vende uma ideia

de felicidade ao fazer uso do produto. Qual a veracidade dessa

afirmação?

3. A propaganda determina às adolescentes: “Tenha sempre um brilho labial

extra”, com que intenção?

4. O que insinua as imagens dos beijos?

5. O que a cor roxa pode proporcionar ao consumidor?

6. Você se sente atraída pela propaganda? Por quê?

7. Quais os pontos positivos e negativos dessa propaganda?

Durante os questionamentos os alunos apresentaram uma visão bem crítica e

acrescentaram questionamentos da intencionalidade da propaganda. Foram

analisadas as cores e sua influência psicológica sobre o ser humano e também o

quanto o verbo no imperativo pode manipular e determinar uma ideia ou um produto.

Diante da influência que a publicidade pode exercer sobre nós selecionamos

para este momento a propaganda da Coca-Cola que faz uso de slogan com verbos

no imperativo.

Slogan: “abra a felicidade coca cola”

A partir dos questionamentos abaixo iniciou toda a reflexão sobre a

propaganda da Coca-Cola:

Qual a empresa que anuncia?

Que tipo de felicidade o anúncio propõe?

Coca-Cola

Há alguma informação sobre os prejuízos que o consumo de coca cola

pode trazer para o organismo humano?

Pesquisa

Por que a coca cola usa as cores branca e vermelha?

Quais os malefícios que o consumo excessivo de coca cola pode provocar

no organismo humano? (Professor, neste momento é importante

informar ao aluno que todo refrigerante traz prejuízo à saúde e não

somente a coca cola.)

No decorrer do tempo, essa empresa fez uso de vários slogans. Pesquise

e analise se todas as propagandas propõem felicidade ao consumir o

produto e sua intencionalidade.

Na aula anterior, foi sugerido aos alunos que pesquisassem os malefícios que

o consumo da coca-cola pode provocar no organismo humano, mas não

esquecendo que todos os refrigerantes tambem trazem prejuízo à saúde. E ainda

o porquê do uso das cores vermelha e branca.

A aula foi iniciada com a definição do que é Slogan:

Slogan: Segundo Carrascoza (2003), é uma linguagem compacta, destinada a

permanecer na memória do coletivo, associando uma marca à argumentação

persuasiva capaz de levar o consumidor a comprar um determinado produto.

A propaganda foi apresentada em slides para facilitar a reflexão em todos os

detalhes. Usando os questionamentos sugeridos foi iniciada a reflexão, nesta fase

os alunos já apresentaram uma visão crítica e detalhista.

Os educandos apresentaram suas pesquisas sobre os malefícios dos

refrigerantes em slides, demonstrando conhecimento e dedicação na tarefa.

Dividiram-se em grupo, mas dois alunos não se envolveram na pesquisa. Todos

apresentaram suas pesquisas trazendo muitas informações. A turma ficou admirada

com algumas informações do prejuízo causado pelo consumo do refrigerante e o

quanto as cores e a arte usada são minuciosamente pensada para atrair o

consumidor.

A atividade foi finalizada com a análise do verbo no imperativo e com uma

pesquisa, em diversas revistas, do uso deste verbo em outras propagandas.

Em outro encontro propomos leitura e reflexão do texto: “Dona Leonor” de

Luiz Fernando Veríssimo. (Retirado do livro: “Novas comédias da vida privada”)

Nessa atividade os alunos foram instigados a refletir sobre a importância de

se posicionar de forma consciente diante da sedução da publicidade. E ainda, a

essência da publicidade é criar necessidades, despertar desejo de consumo de

produtos, na maioria das vezes, desnecessário à sobrevivência.

Refletindo e questionando

Numa sociedade capitalista onde somos, desde a infância, bombardeados de

anúncios estratégicos, vendendo produtos e ideologias, faz-se necessário

desenvolver uma visão crítica e consciente diante dessa realidade. Hoje, não somos

nem capazes de medir a interferência da publicidade no nosso jeito de pensar e agir.

Assim, Luis Fernando Veríssimo, usando o humor, procura retratar, no texto Dona

Leonor, o quanto a publicidade pode influenciar na nossa maneira de agir.

Após a leitura do texto e reflexão da temática abordada os alunos

responderam as questões sugeridas por escrito individualmente.

1) Apesar de Dona Leonor apresentar um comportamento estranho, ela

demostrava estar muito feliz. Por quê?

2) O que deixa claro que dona Leonor ouviu e viu os anúncios daqueles

produtos muitas vezes? A repetição é comum na propaganda?

3) As atitudes da dona de casa deixam dúvida sobre a influência da

publicidade em sua vida? Por quê?

4) Mesmo sabendo que o autor usa o humor para retratar uma realidade, o

que podemos aprender e pensar com essa crônica?

A participação do professor é importante para conduzir a finalização da

reflexão, lembrando sempre da importância de realizar uma leitura crítica, seja um

texto verbal ou não, observando o que está implícito, ou seja, sua intencionalidade.

Os alunos perceberam o humor presente no texto, mas também o quanto a

publicidade pode influenciar no poder de decisão das pessoas.

2.5 Uma Prática Orientada na Leitura Crítica da Publicidade

Para o momento final foi realizado um trabalho para avaliar o grau de

compreensão adquirido pelo aluno no decorrer de todas as atividades. No primeiro

momento foram sugeridos quatro trabalhos que foram enriquecidos com algumas

ideias dos alunos. A turma foi dividida em 4 grupos para trabalharem as seguintes

temáticas:

Elaborar um trabalho deixando claro sua visão crítica com relação ao

consumismo estimulado pela publicidade.

O grupo deverá selecionar uma propaganda e analisar todo recurso utilizado

para seduzir o consumidor. (cores, imagens, texto verbal, não verbal e

outros).

Selecionar propagandas infantis e apresentar ao grupo, posicionando-se

criticamente, verificando como a criança é induzida a tornar-se um consumista

voraz, causando conflito familiar.

A publicidade instiga, de todas as formas, a população a consumir. Assim,

cada vez mais chamativa faz-se uso de propagandas destinadas à

comunicação visual como cartazes publicitários, anúncios, placas, pichações,

outdoors, entre outros gerando desconforto visual para a população.

Baseando-se nessa informação o grupo deverá apresentar uma pesquisa

sobre poluição visual.

Durante a preparação dos trabalhos percebeu-se uma grande mobilização por

parte dos alunos. Antes da data marcada para a apresentação os alunos simularam

uma exibição para observar se tudo estava em ordem. Todas as equipes fariam uso

do Datashow. Os pais dos alunos foram convidados para assistirem a apresentação

dos trabalhos, além da equipe pedagógica, professores e funcionários.

Para o momento foi organizado um ambiente adequado com todos os

recursos necessários. Chegou o grande dia, a sala estava cheia e eles muito

ansiosos.

Iniciaram a apresentação demonstrando segurança e conhecimento. Os

educandos tinham como objetivo: todos que participarem da apresentação levarão

algum conhecimento para a vida. Os participantes interagiram durante as

apresentações o que contribuiu para o sucesso do resultado final.

Todos os alunos apresentaram uma boa pesquisa. Ao finalizar as

apresentações todos os presentes elogiaram muito e a diretora solicitou que

apresentassem para outras turmas. Foram realizadas várias sessões atendendo

turmas do ensino fundamental e médio. Faltaram nas apresentações três alunos. O

resultado foi gratificante. Os alunos participaram da Semana Pedagógica do mês de

julho, apresentando as pesquisas para todos os professores, a pedido da diretora.

Convém ressaltar ainda que, durante as ações da implementação do Projeto

de Intervenção, o professor PDE é tutor de um grupo de trabalho em rede (GTR)

através da EaD (Educação à Distância) com professores da Rede Estadual de

Ensino. Durante o curso GTR os participantes têm acesso ao projeto e ao material

didático e Através de troca de experiências, discussões e de estudos, a partir da

temática proposta, há importantes contribuições que enriquecem o trabalho do

professor PDE.

Todos os professores participantes do GTR relataram quanto à viabilidade de

trabalhar a proposta em suas escolas dando ênfase nas atividades que mais

chamaram a atenção. E para destacar, cito uma das muitas contribuições

importantíssimas: “O aspecto relevante e que particularmente me chamou a atenção

na Produção Didático-Pedagógica foi a Publicidade Infantil (Criança a alma do

negócio), assunto indispensável em sala de aula. Os valores materialistas

reforçados pela publicidade concorrem para o aumento de problemas sociais, como

a erotização precoce (conforme vídeo em que a criança está maquiada, produzida

como uma adulta) até mesmo a questão da obesidade, hábitos alimentares, quando

crianças não reconhecem alimentos, pois consomem alimentos não saudáveis como

os salgadinhos dos comerciais da TV. Nesse sentido as crianças são consumidoras

em potencial, mesmo porque criança não tem capacidade crítica necessária para

compreender as peças publicitárias. Enfim as sugestões aqui trazidas são

instrumentos interessantes que possibilitarão a interação do aluno com a linguagem

publicitária, se posicionado mais criticamente diante das informações recebidas”.

(Professora D.)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta pedagógica apresentada teve como meta desenvolver um trabalho

de incentivo à leitura, que pudesse despertar no educando um olhar diferenciado

para o gênero – anuncio publicitário – que o cerca e o seduz a todo o momento, seja

através de imagens, cores ou da escrita.

Os resultados foram positivos, superando todas as expectativas,

demonstrando que o objetivo da proposta foi alcançado, pois as atividades

proporcionaram aos alunos: 1) Leitura crítica e reflexiva partindo do conhecimento

prévio do aluno, e assim gradativamente sugerindo um passo maior frente às

reflexões; 2) Perceber os recursos apelativos usados pela publicidade para seduzir

os consumidores desde a infância; 3) interpretações de textos observando o uso do

verbo no imperativo como estratégia de vender produtos e ideias; 4) uso das

linguagens verbal e não-verbal e o efeito que produzem no discurso.

O trabalho desenvolvido oportunizou ao aluno vivenciar o emprego da língua

a partir de textos que circulam socialmente, diminuindo assim a distância entre o que

se faz no espaço escolar e o que se exige socialmente. Levou também o aluno a

repensar sua postura diante do consumismo e o quanto somos seduzidos a partir

dos mais variados recursos utilizados pela publicidade, sejam eles, através de

jornais, panfletos, revistas, outdoors, tevê, internet ou cartazes.

Todas as leituras realizadas conduziram os alunos a perceberem as intenções

implícitas e explicitas na publicidade. E a necessidade de realizar uma leitura

detalhada e reflexiva, desse gênero, pelo fato da mesma fazer parte do nosso

cotidiano.

É importante ressaltar que este trabalho exige acompanhamento e motivação

do professor que representa o mediador entre o objetivo a ser alcançado e as

dificuldades de leitura dos educandos. Para o sucesso desta implementação é

necessário vivenciar todas as etapas com a participação efetiva dos alunos.

Por fim despertar no aluno o senso crítico frente as mais variadas leituras

impostas pela nossa sociedade capitalista é prepará-lo como cidadão consciente e

letrado.

REFERÊNCIAS

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