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46 A pulsão de morte de Freud. Um conceito multifatorial Roberto Henrique Amorim de Medeiros Pulsional Revista de Psicanálise, ano XIV, n o 142, 46-54 I N as últimas décadas estamos assistindo a um retorno das questões metapsi- cológicas ao foco das preocupações dos teóricos da psicanálise e dos ana- listas de modo geral. Este artigo procura propor uma reflexão sobre um dos conceitos de cunho metapsicológico mais controversos da obra de Freud: a Pulsão de morte. Através de um passeio pelo texto freudiano de “Além do prin- cípio do prazer”, o leitor terá a oportunidade de perceber as circunstâncias da construção do conceito de pulsão de morte associada à evolução da teoria das pulsões. Dessa forma, será possível argumentar que o conceito em questão deva possuir um caráter multifatorial e apontar a possibilidade de equívoco em analisá-lo de maneira a priorizar apenas um de seus aspectos. Por fim, será chamada a atenção para o fato de que os principais desenvolvimentos teóricos encontrados na literatura psicanalítica para o entendimento da pulsão de morte parecem seguir linhas unívocas e independentes de outros aspectos que con- correm e igualmente dizem respeito ao conceito em questão. Palavras-chave: Pulsão de morte, metapsicologia, princípio do prazer n recent decades, we have seen metapsychological issues returning to the field of interest not only of psychoanalytic theoreticians, but of psychoanalysts in general as well. The present article consists of considerations on one of Freud’s most controversial concepts, the death drive. A brief reading of his “Beyond the Pleasure Principle” will give the reader an opportunity to observe the circunstances involving the construction of the death drive in relation to the evolution of the theory of the drives. It could be argued that the concept of the death drive has a multifaceted character. The danger of giving too much weight to only one of its aspects is therefore discussed. Finally, the

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A pulsão de morte de Freud.Um conceito multifatorial

Roberto Henrique Amorim de Medeiros

Pulsional Revista de Psicanálise, ano XIV, no 142, 46-54

I

Nas últimas décadas estamos assistindo a um retorno das questões metapsi-cológicas ao foco das preocupações dos teóricos da psicanálise e dos ana-

listas de modo geral. Este artigo procura propor uma reflexão sobre um dosconceitos de cunho metapsicológico mais controversos da obra de Freud: aPulsão de morte. Através de um passeio pelo texto freudiano de “Além do prin-cípio do prazer”, o leitor terá a oportunidade de perceber as circunstânciasda construção do conceito de pulsão de morte associada à evolução da teoriadas pulsões. Dessa forma, será possível argumentar que o conceito em questãodeva possuir um caráter multifatorial e apontar a possibilidade de equívocoem analisá-lo de maneira a priorizar apenas um de seus aspectos. Por fim, seráchamada a atenção para o fato de que os principais desenvolvimentos teóricosencontrados na literatura psicanalítica para o entendimento da pulsão de morteparecem seguir linhas unívocas e independentes de outros aspectos que con-correm e igualmente dizem respeito ao conceito em questão.Palavras-chave: Pulsão de morte, metapsicologia, princípio do prazer

n recent decades, we have seen metapsychological issues returning to thefield of interest not only of psychoanalytic theoreticians, but of

psychoanalysts in general as well. The present article consists of considerationson one of Freud’s most controversial concepts, the death drive. A brief readingof his “Beyond the Pleasure Principle” will give the reader an opportunity toobserve the circunstances involving the construction of the death drive inrelation to the evolution of the theory of the drives. It could be argued that theconcept of the death drive has a multifaceted character. The danger of givingtoo much weight to only one of its aspects is therefore discussed. Finally, the

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urante este primeiro século de histó-ria da psicanálise, a metapsicologia

freudiana constituiu-se em um tema am-plamente debatido e de referência àsquestões da teoria psicanalítica. Muitasvezes, em nome de uma priorização daprática clínica, os psicanalistas houve-ram por bem relegar a um plano inferiora necessidade de proceder desenvolvi-mentos no nível da metapsicologia. Aoque parece, nas últimas décadas, esta-mos assistindo o que seria um retornodas questões metapsicológicas ao focodas preocupações dos teóricos da psi-canálise e dos analistas de modo geral.A metapsicologia é o meio, a ferramen-ta da qual podemos fazer uso para che-garmos mais perto do entendimento dealgo tão pouco imediato e tangível comoo que é da ordem psíquica. Sendo pen-sada dessa forma, a metapsicologia pas-sa a ter também uma importância práti-ca dentro da psicanálise e o seu desen-volvimento torna-se extremamente in-dispensável.Nas páginas deste trabalho, há uma re-flexão sobre um dos conceitos de cu-nho metapsicológico mais controversosda obra de Freud: a Pulsão de morte.Surgida nas publicações freudianas no

ano de 1920, a idéia da existência de umtipo de pulsão que se diferenciava dasaté então conhecidas pulsões autocon-servativas e sexuais, impondo restriçõesao primado do prazer no aparelho psí-quico, trouxe uma nova problemática aocampo teórico da psicanálise. Comopensá-la? Quais são suas implicaçõespsíquicas? Qual sua utilidade para o pro-cesso analítico? Tem ela consistênciapara ser considerada um novo elemen-to do saber psicanalítico?Embora não comporte o objetivo de darrespostas a essas questões, este texto,que corresponde a uma pequena partede uma monografia realizada pelo au-tor, pretende conduzir o leitor a um pas-seio pelo texto de “Além do princípio doprazer” procurando identificar onde esob que condições o conceito de Pul-são de morte surge ou é referido porFreud naquele trabalho. A partir dessepasseio, teremos condições de proceder-mos alguns questionamentos sobre aforma como é encarada a Pulsão demorte atualmente no âmbito psicanalí-tico.Iniciar um texto que, entre outras coi-sas, irá abordar um conceito psicanalí-tico de muita importância e complexi-

D

article treats of the fact that the main theoretical developments found in thepsychoanalytic literature for understanding the death drive seem to follow linesthat are univocal and independent of other aspects also related to the conceptof the death drive.Key words: Death drive, metapsychology, pleasure principle

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dade como a pulsão de morte gera noautor uma certa hesitação. A questãoque aqui se coloca é saber escolher omelhor caminho a ser seguido para queo resultado seja satisfatório. Refletindomelhor, nisso já se encontra muito doque se refere à pulsão e às suas vicissi-tudes, tendo em vista a idéia de percur-so, de caminho pulsional que os quatroelementos da pulsão – fonte, pressão,objeto e finalidade – por suas defini-ções, nos sugerem.1

Depois de feita a alusão, talvez seja im-portante começar diretamente por essetexto que já de início nos coloca umaidéia de difícil digestão quando diz queo conceito de pulsão se situaria entre omental e o somático. Mais ainda, que elateria um caráter constante – o que a di-ferenciaria de um instinto – e só pode-ria ser aprendida pelo seu representantena vida mental (Freud, 1969). Em “Apulsão e suas vicissitudes”, encontrare-mos o primeiro aspecto importante queinteressa diretamente aos propósitosdeste trabalho. Embora Freud demons-tre o cuidado de não afirmar o que se-gue de maneira definitiva, o texto nosdeixa com a noção de que existem pelomenos dois grupos de pulsões primor-diais – as autopreservativas e as sexuais.As primeiras pulsões, também chama-das pulsões do ego, estariam envolvidasna conservação do organismo, na satis-

fação de suas necessidades vitais, nãopossuindo o caráter libidinal encontra-do nas pulsões sexuais.Alguns anos depois dessa primeira teo-rização sobre as pulsões, com o avan-ço da pesquisa psicanalítica, surgiu a ne-cessidade de ser elaborada uma segun-da teoria que supostamente desse con-ta de certos aspectos estranhos aos pri-meiros achados. No decorrer de sua ex-periência dentro da psicanálise, Freud sen-tiu-se compelido a circunscrever as for-ças que resistem à análise e opõem-seao sucesso do tratamento psicanalítico.Essa segunda teorização sobre as pul-sões (Laplanche, apud Green, 1988;Garcia-Roza, 1988) aparece, então, em1920, com “Além do princípio do pra-zer”, que trazia fundamentalmente umaintrigante questão à psicanálise por ir deencontro ao postulado básico de quetodo o psiquismo deveria funcionar deacordo com o princípio do prazer. Ora,como admitir, para citar um dos aspec-tos, que ocorra no aparelho psíquico umevento com a força de uma compulsãoque leva as pessoas a repetirem situa-ções supostamente desagradáveis, sejaem realizações, relacionamentos, em so-nhos ou na própria análise?No texto de “Além do princípio do pra-zer”, Freud escreve como se estivesseconstruindo naquele mesmo momentotoda sua argumentação. Apresenta seu

1. A partir de uma estimulação orgânica na fonte, estabelece-se uma pressão, uma exigênciade trabalho que, através do objeto – que poderá ser uma parte do próprio corpo do indivíduo–, passa-se à satisfação pela eliminação do estímulo na fonte.

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raciocínio ao leitor como numa con-versa na qual cada passo nem sempreleva na direção da conclusão final, masé dado no sentido persuasivo de desve-lar o porquê da necessidade de se che-gar a ela.Partindo de idéias básicas e chegando àsmais complexas, o texto desconcerta,tomando rumos diametralmente opostosem algumas passagens. O primeiro ca-pítulo é consagrado à constatação de queparece não ser possível admitir domina-ção do princípio do prazer na vida men-tal (Freud, 1976) pois, se assim fosse,todos os processos mentais deveriaminvariavelmente conduzir-nos a ele.Aqui, o argumento ainda é singelo, po-rém eficaz.O primeiro exemplo de uma suposta ini-bição desse princípio viria porintermédio das próprias pulsões autopre-servativas que o substituiriam pelochamado princípio de realidade. Entre-tanto, Freud alerta que a substituição doprincípio do prazer pelo princípio de re-alidade não pode ser responsabilizadapela maioria das experiências desagra-dáveis oriundas do psíquico.Na segunda parte dessa obra, o autor dáoutro passo importante na argumenta-ção, quando escreve o capítulo sobre ossonhos nas neuroses traumáticas e asbrincadeiras infantis, ambos trazendo acaracterística de reeditar situações de-sagradáveis para a pessoa. Nota-se que,tanto pelo lado da neurose quanto peloda normalidade representada pelo jogoinfantil (fort-da), encontramos um mes-

mo elemento de repetição de algo des-prazeroso, não obstante a dominância doprincípio do prazer.O que havia sido dito até aqui vai per-mitir a Freud uma reflexão importantís-sima que é levada a cabo no capítulotrês de “Além do princípio do prazer”.Um dos principais conceitos psicanalí-ticos será mais diretamente trabalhadonesse momento, a partir de considera-ções sobre a neurose de transferência,trata-se do conceito de repetição. A re-petição é evocada aqui como o efeito depressão que o reprimido inconscienteprovoca no sentido de sua descarga, pormeio de alguma ação real (Freud, 1976:32-33) que causa desprazer ao ego exa-tamente por trazer à luz as atividadesdos impulsos reprimidos.É importante salientar que, até esse mo-mento do texto, Freud continua confir-mando a prevalência do Princípio doPrazer, pois o próprio fenômeno da re-petição traria desprazer para um dos sis-temas e, por outro lado, satisfação parao outro. No entanto, o indício de umprimeiro abalo mais contundente ao pri-mado do prazer vem logo a seguir, quan-do percebemos um Freud pasmado comos casos em que o sujeito tem uma ex-periência na qual não parece exercer ne-nhuma influência ativa, mas se defrontacom a repetição do mesmo evento. É nofinal deste capítulo que o criador da psi-canálise leva em conta a possibilidade deuma compulsão à repetição sobrepujaro princípio do prazer. O tema da repe-tição nos parece ser central para o de-

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bate proposto neste trabalho e, portan-to, será retomado adiante.Frente ao primeiro grande dilema, Freudparte para uma mudança de enfoque naargumentação, tal qual um lutador queinterrompe a primeira investida para tro-car a arma e a estratégia para o próxi-mo ataque.Ele nos convida a imaginar a formamais simples de um organismo vivo sus-cetível a uma estimulação, buscandona biologia metáforas que o auxiliem.A observação científica, nos diz o au-tor, mostra que o impacto incessante deestímulos externos sobre a superfíciedo organismo provoca a transformaçãoda camada cortical em um escudo pro-tetor que reduzirá a exigência da estimu-lação, tornando-a aceitável. O aumentodemasiado de estímulos sem que oescudo aumente também a sua ener-gia teria conseqüências danosas ao or-ganismo.As aproximações que Freud procededesses fatos com o aparecimento do sis-tema Pcpt-Consc. no aparelho psíquicosugerem uma semelhança com o pró-prio surgimento do ego consciente e omecanismo de sua ruptura no caso dasneuroses. Embora a advertência encon-trada no início deste quarto capítulo de“Além do princípio do prazer” sobre seuteor especulativo, as idéias nele conti-das revelaram-se bastante úteis e pro-porcionaram material importante paraalgumas considerações posteriores aFreud sobre a própria questão da pul-são de morte relacionada às catexias

móveis nos elementos dos sistemas psí-quicos (Freud, 1976: 42)Nos capítulos que seguem daqui até ofinal de “Além do princípio do prazer”encontraremos várias hipóteses, antíte-ses, autocríticas e argumentações bus-cadas na biologia, na literatura, e atémesmo na mitologia, que fazem com quea leitura dessa parte traga enormes difi-culdades para o acompanhamento do ra-ciocínio desenvolvido e para acontemplação do alcance do que estásendo construído. Certamente, trata-sede um texto de fôlego do qual, no mo-mento, este trabalho procura trazer suasdiretrizes principais a serem ampliadasposteriormente.Freud elabora nesse momento uma hi-pótese que parte de dois pressupostosessenciais: existem as catexias móveisou desligadas, cujo propósito de descar-ga é o de restaurar um estado anteriorde coisas – relacionando-se, assim, coma compulsão à repetição – e, por outrolado, existem os estratos mais elevadosdo aparelho mental com a função de su-jeitar – ligar – essas catexias. Então, se-gundo Freud, parece que tudo na eco-nomia psíquica tende a levar a um es-tado anterior de coisas, porém, isso sópoderia ser feito mediante um certo per-curso. O objetivo de toda a vida é amorte, mas ela não poderá ser alcança-da senão por determinado circuito a sercumprido (Freud, 1976: 56). São as pul-sões autopreservativas que fazem comque o organismo deva seguir o seu pró-prio caminho para a morte. Com respei-

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to à sua hipótese, Freud não hesita emproduzir a seguinte frase de efeito so-bre as pulsões de conservação: “... as-sim, esses guardiões da vida eram tam-bém os lacaios da morte” (Ibid.: 57).Mas essa hipótese tem vida curta no tex-to freudiano. Imediatamente Freud se dáconta de que a outra ordem de pulsões,ditas sexuais, surge sob um aspecto di-ferente, pois aquelas rabalham contra amorte, e passa a conceder a elas o títu-lo de verdadeiras pulsões de vida.Quem, a essa altura de “Além do prin-cípio do prazer”, mais precisamente aofinal do quinto capítulo, pensar que ne-nhuma surpresa mais será encontrada,estarrece-se ao chegar aproximadamen-te na sexta linha do capítulo seguinte edeparar-se com a assertiva de Freud deque a conclusão que o leitor conseguiuapreender até ali está fadada ao fra-casso.Novamente Freud recorre à biologia ea um debate envolvendo vários autoresacerca do conceito de morte naturalpara realizar o movimento que conside-ramos crucial na teoria desenvolvidanesse texto. Talvez para criar um efeitosemelhante a quando algo de inusitadoacontece bem à nossa frente e nos fazvoltar a atenção à cena, Freud lança acarta que muda o jogo quase em seufinal. Como já referido, uma constata-ção vinda da biologia serve de ilustra-ção para que o autor faça a seguinte afir-mação levando em conta sua teoria dalibido e do narcisismo (Freud, 1976: 70):devemos considerar que uma parte daspulsões ditas do ego, aquelas envolvidas

na autopreservação, ocorre pela retira-da da libido dos objetos e é dirigida parao próprio ego. Dessa forma, é neces-sário considerarmos o caráter libidinaldas pulsões autopreservativas, e a opo-sição anterior entre pulsões do ego epulsões sexuais deixa de ter sentido.As conseqüências e críticas desse con-ceito amplo de libido ainda serão deba-tidas antes de chegar o momento deFreud dar conta do fato de que a últi-ma conclusão praticamente anularia apossibilidade da existência de uma pul-são orientada para a restituição do esta-do anterior de coisas, isto é, a morte doorganismo.Freud passa a teorizar sobre o que se-ria a agressividade vinda de Eros, evo-cando a polaridade amor e ódio deocorrência simultânea no amor objetal(Ibid.: 74). Ainda outro argumento nosé dado para que se continue a acreditarna necessidade da existência da pulsãode morte. Esse é a tendência dominan-te da vida mental para reduzir, manterconstante ou até mesmo remover a ten-são proveniente dos estímulos internos(Ibid.: 76) e que encontra expressão noPrincípio do Prazer (o chamado princí-pio de Nirvana).Tornando-se, então, insustentável a opo-sição original entre pulsões do ego ouautopreservativas e pulsões sexuais,chegamos a nova distinção, composta,de um lado, por Eros (pulsões de vida)que passa a incluir as pulsões autopre-servativas narcísicas de caráter libidinale, de outro, pela pulsão de morte.

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O conceito de pulsão de morte em“Além do princípio do prazer” represen-ta o ponto de convergência da teoria en-contrada nesse texto. A novidadetrazida, ou seja, a impossibilidade de ad-mitir-se o princípio do prazer como úni-co regulador do funcionamentopsíquico vai resultar na necessidade daconstrução daquele conceito, considera-do ora essencial, ora descartável, duran-te o desenrolar da história da psicanálise.

Neste momento, parece ser importanteque este passeio pelo texto de Freud emquestão tenha servido para que um de-talhe importante não seja negligenciado.A construção do conceito de pulsão demorte em “Além do princípio do prazer”não teve como alicerce apenas um úni-co aspecto. O quadro abaixo nos dáuma visão geral dos vários aspectosatravés dos quais foram feitas referên-cias à pulsão de morte.

Pulsões Autopreservativas Pulsões Sexuais Não libidinais libidinais

Pulsões do Ego Pulsões de Objeto (Pulsões de caráter ñ libidinal) Narcisismo (Pulsões de caráter libidinal ego tomado como objeto)

Pulsão de Morte ErosFig. 1

t t

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t

Referências à Pulsão de morte em “Além do princípio do prazer”

1a Parte: Argumentação sobre o problema em considerar o princípio do pra- zer como regulador do aparelho psíquico.Cap. 3: Compulsão à repetição.Cap. 4: Catexias móveis que tendem à descarga.Cap. 6: Princípio do Nirvana: tendência a remover as tensões causadas pela estimulação.Ao final: observação de que não é possível atribuir a repetição às pulsões sexuais e nem derivar os impulsos de amor/ódio (logo, pulsões de vida e de morte devem estar unidas).

Fig. 2

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Após as primeiras formulações deFreud, observamos uma variedade decaminhos desenvolvidos separadamen-te na teoria psicanalítica para dar contade um mesmo conceito. É necessárioque se estabeleça, primeiramente, que apulsão de morte não pode ser entendi-da apenas através de um único aspec-to, pois, nesse caso, estaríamos igno-rando sua característica global. Fundadanuma primeira hipótese, essencialmen-te biológica, de tendência do organismoà redução completa das tensões, o con-ceito vai ter implicações diversas, comoa do dualismo pulsional fundamental, dacompulsão à repetição e da origem daagressividade, por exemplo.O modo como foi pensada a questão dapulsão de morte nesse importante textoinfluenciou grande parte dos psicanalis-tas que se entregaram à tarefa de teori-zar sobre as suas implicações daí emdiante. Entretanto, parece que cada ob-servação de Freud, obtida no continuumde sua pesquisa pioneira no assunto,serviu de modo individual como pontode partida para as subseqüentes formu-lações acerca do conceito, gerandograndes lacunas entre as argumenta-ções. O desencontro dessas opiniõessobre o tema no meio psicanalítico é fla-grante. Não é difícil encontrarmos de-bates muitas vezes acalorados sobre a

pulsão de morte, embora com argumen-tos incompatíveis entre si. Temos exem-plos disso em situações como aprotagonizada pelo psicanalista CliffordYorke no I Simpósio da Federação Eu-ropéia, encontrada no livro intituladoPulsão de morte (Green, 1988) o qualrecomenda-se a leitura.2

Exemplos desse tipo nos dão algumaidéia de como esse tema de extrema im-portância pode, em determinadas épo-cas da história do movimentopsicanalítico, ser relegado ao ostracis-mo. O esfacelamento produzido pelosrumos tomados pela teoria talvez sejaresponsável pelos esvaziamentos recor-rentes da questão, indicando que redu-cionismos a apenas um aspecto dapulsão de morte devem ser evitados.Duas foram as metas principais que nor-tearam este texto. A primeira foi a dedestacar a pulsão de morte como umsistema importante de interação dos pro-cessos psíquicos. Em segundo lugar,demonstrar a impossibilidade de fazer-mos um juízo correto do que represen-ta o conceito, se o reduzirmos a apenasuma ou algumas de suas manifestações.Acredito que ao menos essas duas con-dições devam ser levadas em conta atodo o momento que quisermos dar efi-cácia e importância conceitual à pulsãode morte.

2. No simpósio da Federação Européia de Psicanálise, que, após a apresentação de váriostrabalhos priorizando a agressividade da pulsão de morte como efeito da energia desligada,declarou concordar com a importância do conceito, mas não entender qual a relação dissocom a pulsão de morte (ver Green, 1988, p. 85).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, S. Além do princípio do prazer, psico-logia de grupo e outros trabalhos. E.S.B.Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XVIII.

____ . Os instintos e suas vicissitudes.In A história do movimento psicana-lítico, artigos de metapsicologia e ou-tros trabalhos. E.S.B. Rio de Janeiro:Imago, 1969. v. XIV.

GARCIA-ROZA, L.A. Freud e o inconsciente.4a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

GREEN, A. et al. A pulsão de morte. SãoPaulo: Escuta, 1988.

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